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INTRODUÇÃO

Por que mais um livro sobre predestinação e livre arbítrio? Bem, Deixe-me
explicar com os seguintes pontos:

Primeiramente, esse opúsculo representa minha própria forma de pensar e


expressar o assunto. Embora o rotulo ´´Calvinista´´ sintetize e represente vários
pontos dos quais eu creio, não concordo necessariamente com todos os
pressupostos desse ´´sistema´´ teológico. Sendo assim, essa obra representa
somente minha compreensão, muito embora muitas das convicções que
abordarei estejam em inteira harmonia com a teologia reformada. Também é
preciso dizer que ao longo de minha caminhada encontrei muito material
excelente sobre o assunto, mas em geral, sempre topei em pontos de
discordâncias que julguei serem essenciais, e mesmo que indique algumas
obras como sendo minhas maiores referências (1), elas ainda assim não me
representam de forma absoluta. Queria algo que tivesse minha cara e que
fosse de minha inteira responsabilidade – embora seja ousado e arriscado, foi
assim que surgiu o livro!

Em segundo lugar, por mais que esse assunto já tenha sido exaustivamente
debatido, ensinado, averiguado e contestado, ele permanece como fundamento
inabalável da doutrina cristã; isto é, doutrinas como predestinação, eleição,
Soberania Divina, responsabilidade humana e salvação pela Graça são as
verdades mais sublimes, maravilhosas e impactantes da mensagem cristã.
Reafirma-las, sempre se faz necessário.

Uma terceira razão pela qual escrevi este opúsculo fundamenta-se na tese
essencial de que tanto a Soberania Divina quanto a Liberdade humana são
verdades incontestáveis da fé, não podendo serem esquecidas, contrastadas,
ou polarizadas para uma contra a outra. O conteúdo que o leitor tem em mãos
não focaliza-se essencialmente nas conhecidas questões do debate
"Calvinista-Arminiano". Eventualmente, alguns aspectos dessa discussão
podem aparecer em pauta, mas, a proposta a seguir é uma defesa da
Interpretação bíblica que quer preserva tanto a predestinação quanto o livre
arbítrio.

Ainda uma quarta e última finalidade desta obra, diz respeito às aplicações
de caráter prático e devocional de tais doutrinas. Ao que parece,
predestinação, eleição e livre arbítrio são questões triviais para os cristãos que
não conhecem ou estudam teologia. É como se em geral, isso não faça sentido
prático na vida de ninguém, a não ser dos teólogos que adoram passar o
tempo discutindo esses assuntos. Espero descontruir esse mito, e mostrar o
quanto essas verdades afetam nosso caráter, nossa espiritualidade e nossa
devoção.

1 – Minhas principais referências foram, sobretudo, os livros de J.I. Packer ´´Evangelização e a


Soberania de Deus´´, do Norman Geisler ´´Eleitos, mas livres´´, e o sermão de Charles
Spurgeon ´´A soberana graça de Deus e a responsabilidade humana´´.
Por fim, preciso dizer que tentei assumir uma didática simples, onde os
capítulos são curtos e a linguagem é simplificada. Espero que o opúsculo seja
lido com um olhar crítico. Que o leitor análise, averigue e conteste tudo que
escrevi a luz dos textos sagrados; estou certo de que ninguém é obrigado a
concordar comigo, mas todos hão de confessar que me esforcei ao máximo
para manter meu argumento amparado no conteúdo bíblico, e que julgue o
leitor se eu fui bem sucedido ou não. Boa leitura!
PARTE 1

Nesta primeira parte do opúsculo, minha proposta é lançar as bases


bíblicas e teológicas da minha tese. Definindo, diagnosticando,
explicando e argumentando em prol de uma interpretação teológica que
compreenda tanto a predestinação quanto o livre arbítrio como verdades
incontestavelmente bíblicas.

Combatendo o racionalismo excessivo, a exegese polarizada, e se


valendo de provas bíblicas tal qual do amparo teológico de expoentes
eruditos, pretendo convidar o leitor a repensar estas verdades, analisar
tudo a luz das Escrituras e julgar se minha causa é digna ou não de
aceitação. Como afirmei introdutoriamente, essa é a exposição de minha
própria forma de pensar este assunto, estou certo das oposições, mas
me animo com a capacidade de provocação do livro. Se alguém
concordar comigo, que não se sinta sozinho, como se estivesse isolado
numa ilha onde somente você crer de tal forma. Muitos e muitos pensam
este assunto nos termos que coloquei aqui, mas, por conveniência
eclesiástica, prestígio teológico ou medo da censura por parte da
maioria, prefere se omitir. Caso o leitor seja um dos tais, permita que a
leitura lhe energize para sua real confissão pessoal, afinal de contas,
todos nós cristãos cremos e defendemos estas verdades, quer seja de
uma forma ou de outra.
1 - A PROBLEMÁTICA
É fato mais que comprovado, que uma das discussões mais divisórias no
contexto evangélico, é exatamente o debate que gira em torno das doutrinas da
predestinação e da liberdade humana. Ao que parece, essas duas verdades
representam dois times, dois grupos, duas ramificações, duas tradições e,
segundo alegam, dois caminhos distintos.

O que acontece, na realidade, é que uns cristãos taxativamente, estão no


time da predestinação, e vestem a "camisa" da Soberania de Deus como a
verdade mais sublime e absoluta das Escrituras; outros, com igual entusiasmo,
constituem o time do livre-arbítrio humano, defendendo a ferro e fogo esse
pressuposto como inabalável e essencial a doutrina cristã. Com certeza,
ninguém dúvida que a predestinação seja uma doutrina bíblia, tal qual, o bom
senso bíblico-teológico sempre reconhece a liberdade humana no escopo
doutrinário, mas, tem sido um grande problema definir, explicar e conciliar
estas verdades em uma compreensão ou argumento que não gere oposição,
discórdia ou relutância. Tamanha é a problemática que, como bem observou o
renomado historiador Justo L. Gonzáles "A doutrina cristã sobre a graça, a
predestinação e o livre-arbítrio nunca foi formalmente definida pela igreja em
sua totalidade." (2)

UM RÁPIDO DIAGNÓSTICO
Apesar da longa tradição histórica da igreja nos informar de toda essa
´´rixa´´, será mesmo que ela faz sentido? Estariam mesmo os adeptos da
Soberania de Deus andando num caminho diferente dos que creem na
liberdade humana? E os que defendem que o homem é livre e responsável por
suas escolhas, não poderiam também crer na predestinação e soberania
absoluta de Deus? Será que essa guerra de fato existe, ou fomos nós que a
projetamos em torno de nossas interpretações bíblicas seriamente
prejudicadas pela lente interpretativa do racionalismo e da exegese polarizada?

Respondendo de forma direta: não! As Escrituras Sagradas não


reconhecem essa problemática! Os autores bíblicos não enxergavam como
contraditório, ilógico ou irracional a afirmação destas duas verdades. Mesmo
que esse dilema esteja presente nos nossos melhores teólogos, credos e
tradições, ele não existia na mente de Paulo, de Pedro ou do próprio Senhor
Jesus. Bem sabemos que em certo sentido, Agostinho, Lutero, Calvino,
Armínio, John Wesley e outros, trataram a relação destas doutrinas como um
problema extremamente delicado e difícil de ser solucionado. Contudo, essa
não é a realidade bíblica, que por sua vez apresenta estas duas verdades
andando lado a lado, sem tensão, sem cisão, sem drama e sem contradição
alguma. Se há a pressuposição de contraditoriedade, ilógica ou irracionalidade,
essa pressuposição é fruto apenas das nossas próprias elaborações
equivocadas, como demonstro no decorrer da obra.

2 – Justo L. González, ´´Uma breve história das doutrinas cristãs´´, Pag 128
Respondendo de forma direta: não! As Escrituras Sagradas não
reconhecem essa problemática! Os autores bíblicos não enxergavam como
contraditório, ilógico ou irracional a afirmação destas duas verdades. Mesmo
que esse dilema esteja presente nos nossos melhores teólogos, credos e
tradições, ele não existia na mente de Paulo, de Pedro ou do próprio Senhor
Jesus. Bem sabemos que em certo sentido, Agostinho, Lutero, Calvino,
Armínio, John Wesley e outros, trataram a relação destas doutrinas como um
problema extremamente delicado e difícil de ser solucionado. Contudo, essa
não é a realidade bíblica, que por sua vez apresenta estas duas verdades
andando lado a lado, sem tensão, sem cisão, sem drama e sem contradição
alguma. Se há a pressuposição de contraditoriedade, ilógica ou irracionalidade,
essa pressuposição é fruto apenas das nossas próprias elaborações
equivocadas, como demonstro no decorrer da obra.

Alguém então pode inquiri que estou desprezando ou até mesmo, por um
ato de insanidade (e de fato, se eu arrogar-se tal posição seria mesmo insano)
me colocando acima de homens como Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley , e
muitos outros que foram campeões na exposição, reflexão e argumentação em
torno destas doutrinas. Jamais! Meu único sentimento, e este eu de fato
assumo, é que se qualquer um deles ousou explicar o mistério que há entre a
predestinação e a responsabilidade humana, eles foram longe demais; e, se
algum deles de igual forma, ousou rejeitar ou a Soberania de Deus por causa
da liberdade humana, ou a liberdade humana por causa da Soberania divina,
eles ficaram com menos do que o que a revelação nos proporciona. Sou
consciente do risco avassalador de críticas que posso receber com essa
postura, mas é exatamente assim que creio.

No fim, o diagnóstico é que, nas Escrituras, não existe problemática


nenhuma com estas verdades. Tudo que chamamos de tensão, ou dilema
teológico/filosófico é apenas nossa incapacidade em reconhecermos e
discernirmos o mistério. Desse ponto de vista, se existe realmente algum
dilema em volta disso tudo, esse dilema surgiu de nossa cabeça, é fruto de
nossa teimosia em especular o que não está revelado, e isso resulta numa
fraca posição exegética que torna estas verdades inimigas uma da outra. Como
bem asseverou Packer ´´Na Bíblia, não há nenhuma inimizade entre a
Soberania divina e a responsabilidade humana. Elas não são vizinhas
briguentas; elas não estão em um estado de guerra fria interminável. Na
verdade elas são amigas e trabalham juntas´´. (3)

3 – J.I. Parcker, ´´Evangelização e Soberania de Deus´´, Pag 33.


CONCLUSÃO
Vimos nesta sessão que toda problemática em torno da Soberania de Deus e
da Responsabilidade humana consiste apenas na nossa própria teologia e
discussão filosófica, não na bíblia. Fomos nós, com nossas inferências
teológicas, com nossas teses filosóficas, com nossos ranços doutrinários e com
nossas sistematizações empobrecidas, que colocamos essas doutrinas uma
contra a outra. Não há cisão, briga, contenda, dilema, contradição,
irracionalidade ou irreconciliação entre predestinação e livre arbítrio. Tudo isso
é fruto apenas da nossa insistência, teimosia e interpretação equivocada. Na
sequência dos capítulos explico melhor os fatores que determinaram nossa
visão equivocada acerca do assunto. Por hora, era preciso iniciar com esse
diagnóstico e deixar claro já desde o início que no que diz respeito à bíblia, não
há nenhuma contradição entre a predestinação e a livre-escolha dos homens.
2 - QUE DIZ AS ESCRITURAS?
Bem, já afirmei que não há, nas Escrituras, problema algum entre as verdades
da Predestinação e do Livre Arbítrio. Agora é hora de mostrar os textos e
dados bíblicos que afirmam e embasam estas doutrinas.

PREDESTINAÇÃO
Indiscutivelmente, a Bíblia ensina a doutrina da predestinação. Definir este
termo, no entanto, não algo tão simples, pois toda definição desencadear uma
série de implicações lógicas que nem sempre são pressuposições estritamente
bíblicas. Mas, de forma sucinta, vamos desenvolver o significado do termo e
olhar os principais textos desta doutrina.

O termo grego (proorizõ) frequentemente traduzido por ´´prederterminar´´ ou


´´predestinar´´ aparece seis vezes no Novo Testamento (At 4.28; 1 Co 2.7; Rm
8.29,30; Ef 1.5,11). Em síntese, podemos dizer que ´´predestinação´´ significa
decidir ou determinar de antemão. A luz de um conceito bíblico-teológico,
predestinação diz respeito ao eterno decreto desígnio e propósito redentor de
Deus sobre aqueles que ele chamou, elegeu e adotou como filhos (Rm 8.29,30;
Ef 1.5). (4) Desse modo, quando dizemos que somos predestinados, queremos
afirmar com isto a certeza de que se somos salvos, foi porque Deus decidiu,
decretou e estabeleceu desde a eternidade (por sua infinita e inescrutável
graça!) a nossa salvação.

ELEIÇÃO
A eleição também é uma doutrina autenticamente bíblica. Como disse John
Sttot sobre ela: ´´Não foi inventada por Agostinho de Hipona, nem por Calvino
de Genebra. Pelo contrário, é sem dúvida uma doutrina bíblica, e nenhum
cristão bíblico pode ignorá-la´´. (5) De fato, é impossível negar ou fugir da força
e dos muitos textos que ensinam a eleição; é um tema sobremaneira
proeminente em toda a Escritura.

Em termos definição, poderemos encontrar quatro termos gregos que nos


ajudam a estabelecer esse conceito. Primeiro o verbo grego (eklego), que se
traduz por ´´escolher´´ ou ´´eleger´´. O segundo termo é o substantivo
(eklektos) que se refere à expressão ´´eleito´´. Acrescenta-se ainda o terceiro
termo (ekloge) que significa ´´eleição´´, e (haireo) que quer dizer ´´escolher´´.
Na realidade, nem todas essas referências estão relacionadas à salvação,
mas, a ênfase predominante da maior parte destas ocorrências se referem a
homens e mulheres como os objetos da eleição para a vida eterna. (6)

4 – Essa definição está restringindo o conceito apenas ao contexto salvífico. Contudo, no decorrer da obra, o termo
predestinação também englobará os atos humanos, como por exemplo na explicação do texto de Atos 2.23 (Cap 6)
onde veremos que ainda assim, o ato predestinador de Deus não anula ou contradiz a liberdade humana.

5 – John Sttot, ´´A mensagem de Efésios´´, Pag 17.

6 – Os textos refentes a doutrina da eleição são: Mt 22.14; 24.22,24,31; Mc 13.20; Lc 6.13; 9.35; 10.42; 14.7; Jo 6.70;
13.18; 15.16,19; 18.7; 23.35; At 1.2,24; 6.5; 13.17; 9.15; 15.7,22,25; Rm 8.33; 9.11; 11.5,7,28; 16.13; 1Co 1.27,28; Ef
1.4; Cl 3.12; 1Ts 1.4; 2Ts 2.13; 1Tm 5.21; 2Tm 2.10;Tt 1.1 Tg 2.5; 1Pd 1.2; 2.4,6,9; 2Pd 1.10; 2Jo 1, 13; Ap 17.14.
Portanto, a definição mais simples e precisa que podemos dar doutrina da
eleição, é a afirmação categórica e incisiva de que Deus nos escolheu, nos
separou e nos elegeu para a salvação, e fez isso antes da fundação do mundo
(Ef.1.4).

LIBERDADE HUMANA

Curiosamente, a mesma bíblia que ensina claramente a predestinação e a


eleição, também atribui ao homem liberdade e responsabilidade por todos os
seus atos e todas as suas decisões. Essa é uma equação insolucionável para
nós que temos uma estrutura intelectual e espiritual tão limitada. Porém, fato é
que o conceito de liberdade de escolha é algo real no conteúdo bíblico-
teológico, e isso nós não podemos (e nem queremos!) negar.

Defino a realidade do arbítrio humano, exatamente como a própria


expressão já deixa explícito, ou seja, os homens são livres para tomarem as
suas decisões, não sendo, portanto, coagidos ou violentados a agirem contra a
própria vontade. Os homens agem conforme o próprio querer, e por isso fazem
escolhas livres. De forma categórica, o conteúdo do ensino bíblico
responsabiliza os homens por suas escolhas, e é exatamente por optarem
escolher o caminho oposto ao caminho de Deus que são justamente
considerados culpados e réus de juízo. Termos como ´´aceitar´´ (Mt 23.37),
´´resistir´´ (At 7.51), ´´escolher´´ (Js 24. 14-20) e ´´rejeitar ´´(Jo 12.48) indicam
claramente o arbítrio e a responsabilidade humana. No que diz respeito à
salvação este aspecto do livre arbítrio pode ser sintetizado na máxima do
próprio Senhor Jesus quando ensinou que, quem crer (escolha positiva ao
evangelho) será salvo, mas quem não crer (escolha negativa ao evangelho)
será condenado (Jo 3.16,18).

Antes de prosseguir para a conclusão desta sessão, é preciso abordar ainda


que passageiramente um ponto importante em relação ao arbítrio humano e a
capacidade de escolha para salvação. Nesse contexto, não podemos esquecer
que muito embora as Escrituras tratem os homens como agentes livres e
responsáveis por suas escolhas, às mesmas Escrituras Não escondem o fato
de que após a queda, o homem se tornou um miserável escravo do pecado. A
depravação da transgressão atingiu, danificou e escravizou todas as
faculdades que constituem o ser do homem, e aqui, aparentemente, temos
mais uma questão paradoxalmente insolucionável. Os homens são livres e
responsáveis, muito embora sejam escravos impotentes diante da força
abrupta do pecado em suas vidas. Francamente, após refletir muito sobre o
assunto, a única conclusão que pude tirar desse ponto foi que não há
respostas na Escritura para esta indagação. Muito provavelmente, a postura
mais sensata a ser tomada em relação ao assunto seja apenas afirmar a
incapacidade do arbítrio humano para salvação sem a ação soberana da graça
de Deus, afirmar a influência esmagadora e, sobretudo escravizadora do
pecado sobre toda esfera da vida do homem, incluindo sua vontade, e ainda
assim, afirmar a livre vontade de escolha dos homens, muito embora todas
essas sentenças não se encaixarem muito bem na nossa compreensão.

Depois destas considerações, também é importante dizer que, afirmar o


livre arbítrio não deve significar que é o livre arbítrio o fator determinante que
causa a salvação. Como já enfatizamos, a liberdade humana está fatalmente
afetada pelo pecado, e sem a ação soberana, sobrenatural e vivificadora do
Espírito, o homem jamais buscará ou desejará a Deus (Rm 3.10-23).
Afirmamos a liberdade humana, mas não a consideramos a causa da salvação.
Defender tal coisa é negar o evangelho da graça, tal qual como explicitou
Martinho Lutero quando disse:

´´Se algum homem, de alguma maneira, atribuir a salvação ao livre arbítrio


do homem – mesmo a ínfima parte – nada sabe sobre a graça e não conheceu
Jesus Cristo corretamente.´´ (7)

CONFUSÃO? CONTRADIÇÃO? OU MISTÉRIO?


Muito provavelmente, o leitor deve estar em parafusos com todas as
afirmações dos parágrafos acima. Por um lado, afirmei que a salvação é fruto
da eterna, maravilhosa, graciosa e soberana decisão divina (predestinação e
eleição). Por outro, defendi que os homens possuem liberdade, são realmente
livres, agem conforma a própria vontade e são responsabilizados por essas
decisões. Como resolver este ´´dilema´´? Bem, devemos lembrar que essa
tensão se deve somente a nossa finita capacidade de compreender, assimilar e
discernir essas profundas doutrinas bíblicas. À bíblia afirma ambas as
realidades sem problema algum. É necessário reconhecer que nem tudo nos
foi revelado ou explicado em relação a estes verdades.

Não sabemos como a predestinação, a eleição e a soberania de Deus


executam a salvação, e ainda assim não anulam, cancelam ou fatalizam a
liberdade humana. Não é questão de confusão ou contradição de termos, o
âmago da questão é que tudo isso envolve um mistério muito profundo, muito
além de toda nossa compreensão e capacidade interpretativa. Devemos
afirmar que Deus é graciosamente soberano em eleger e predestinar para
salvação, e devemos declarar também que os homens possuem livre arbítrio,
sendo, portanto, responsáveis por seus atos, e por isto, inclusive, condenáveis
diante de Deus quando rejeitam a mensagem do evangelho. Talvez Theo G.
Donner nos ajude a compreender melhor esta realidade quando diz que ´´A
evidência bíblica nos leva a afirmar ao mesmo tempo a soberania de Deus e a
responsabilidade do homem, mesmo que as duas pareçam logicamente
incompatíveis´´.

7 – Charles Spurgeon, ´´Livre-Arbítrio: um escravo,

8 - Theo G. Donner ´´A soberania de Deus e a responsabilidade do homem´´, Pag 75-76


CONCLUSÃO
A bíblia ensina tanto a predestinação, quanto a doutrina da eleição e da
liberdade humana. São doutrinas amigas, verdades que caminham juntas na
história da humanidade e no plano de Deus. Não é correto anular uma em prol
da outra, como se estas fossem afirmações ilógicas ou contraditórias. Ainda
veremos mais adiante, de forma ainda mais detalhada, que o "X" da questão
não repousa em contradição ou irracionalidade, antes, o ´´grande segredo´´
deste ponto chama-se mistério! Por hora, nos coube apenas pincelar estes
aspectos e mostrar, onde na bíblia, tais doutrinas são ensinadas.
UM OU OUTRO? O PROBLEMA DA POLARIZAÇÃO
Acabamos de ver na sessão passada que a Bíblia ensina claramente tanto a
Soberania Divina como a responsabilidade do homem. Contudo, como já
dissemos anteriormente, a cristandade é dividida em uma acirrada disputa em
torno destas duas verdades. A partir de agora vamos abordar alguns pontos
que nos ajudam a entender o porquê de toda essa complicação.

O QUE É A EXGESE POLARIZADA?


O que chamo de exegese polarizada é uma das respostas que explica o
problema que causa a divisão já exposta acima. A exegese polarizada significa,
de forma simples, uma interpretação tão extremada de determinado ponto, que
cancela, anula ou despreza a verdade de outro ponto paralelo que é
igualmente verdadeiro, muito embora seja aparentemente antagônico. Deixe-
me explicar de forma mais clara. O indivíduo converteu-se no meio de irmãos
que enfatizam veementemente a Soberania Divina, a predestinação e a
doutrina da eleição, o que normalmente vai acontecer com este indivíduo?
Quase que em geral, ele vai abraçar estas verdades com tanta determinação e
zelo (não que isso seja necessariamente errado) que vai fechar os olhos para a
questão da liberdade humana, desprezando-à ou a interpretando como
inconsistente e impossível diante da Soberania de Deus. Semelhantemente,
alguém que nasce na fé rodeado de irmãos que ressaltam com ênfase o livre-
arbítrio, quase que invariavelmente, abraçam com tanta empolgação o aspecto
da responsabilidade humana que ficam com uma visão enfraquecida,
comprometida e equivocada da predestinação e da eleição.

A realidade é que a exegese polarizada é uma interpretação que se fixa nos


extremos polos; isto é, no caso abordado aqui, uns no polo da Predestinação,
outros no polo do livre arbítrio. É como se uns estivessem no polo Norte, e
outros do polo Sul, para ilustrar. Daí por diante, os desastres são irreparáveis.
Os extremados no polo da Soberania divina, logo se tornam fatalistas! Ora, se
Deus é Soberano sobre tudo, e se tudo está debaixo de seus decretos, e se o
homem não é livre nesse processo, só resta à teologia fatalizadora. Os homens
serão meros robôs da vontade caprichosa de Deus, e os eventos, inclusive os
maléficos e horríveis (Nazismo, estupros, por exemplo) serão jogados todos na
conta dos decretos de Deus. A teologia fatalista é um absurdo, tal qual horrível
é a teologia humanista. Sim, "teologia humanista" é a consequência dos que
ficam no polo da liberdade humana. São os que centralizam tudo na
capacidade de escolha dos homens, e fazem dos homens, portanto, o centro
da história, e tudo passa a depender do querer e da vontade do homem. Esses
enfraquecem o conceito de predestinação, diminuem o significado da eleição e,
alguns até negam os efeitos do pecado sobre a humanidade, conferindo ao
livre arbítrio pode total e absoluto até em relação à salvação. A consequência é
que nesse caso, quase não faz (se é que faz) sentido as doutrinas da
depravação total da humanidade e da salvação unicamente pela graça de
Deus. Deste modo, fica evidente que uma exegese polarizada, que enxerga
apenas parte e não o todo da revelação é uma exegese fraca, deficiente,
equivocada e por que não dizer herética?
PREDESTINAÇÃO OU LIVRE ARBÍTRIO?
A grande questão é que a exegese polarizada decepa a informação da
revelação. Como alguém já falou, esse tipo de interpretação acaba gerando
uma "teologia da Saci-pererê", ou seja, uma teologia de uma perna só. Uns
com a perna da predestinação e da Soberania divina, outros com a perna do
árbitrio e da responsabilidade humana. Um grupo olha só para os textos que
enfatizam Deus e sua Soberania na Salvação. Estes acertam em afirmar o
caráter gracioso, absoluto e determinante da Graça, da predestinação e da
eleição. Mas erram ao anular a responsabilidade humana nesse processo. O
outro time tem em alto prestígio o aspecto da liberdade humana, e acertam em
afirmar que o homem é responsável por todos os seus atos, e que prestarão
contas diante de Deus pelas escolhas tomadas nesta vida, pois, de fato, suas
decisões não são ilusórias ou friamente programadas por um decreto fatalista
da vontade divina. Contudo, estes também erram feio, pois negam a força da
doutrina da predestinação e da eleição, não aceitando que no fim, a salvação é
uma obra imperiosa da Graça e da Soberania de Deus - não dependendo de
nada a não ser da vontade absoluta de Deus.

Por fim, tudo isso irá desencadear num processo no qual o indivíduo se ver
diante da absurda (digo absurda a luz da Escritura) interrogação: predestinação
ou livre arbítrio? De qualquer lado eu devo ficar? A exegese polarizada é tão
prejudicial que tem um potencial maléfico de colocar uma doutrina contra a
outra, fazendo com que se pareça que ambas estão se degladiando até a
morte. Via de regra, o fim dessa "disputa", como já afirmei, é determinado pelo
ambiente no qual o intérprete está, o pêndulo recai sempre para o lado
enfatizando pela tradição e o contexto que ele reside, o impedindo de ver a
informação da revelação de forma equilibrada. Espero francamente, que tudo
dito acima faça o leitor rever sua exegese, a fim de examinar se ela não está
drasticamente polarizada.

Conclusão
Após todas as explicações dos parágrafos acima, finalizo o argumento com
uma citação extremamente precisa do teólogo J.I. Packer, quando
brilhantemente elucidou estes pontos da seguinte maneira:

´´O perigo que corrermos é descartar e mutilar uma verdade pelo modo
como enfatizamos a outra; defender de tal modo a responsabilidade do homem
que acabamos ignorando a soberania de Deus, ou então afirmar tanto a
soberania de Deus, que acabamos destruindo a responsabilidade humana.´´

8 – J.I. Packer, ´´Evangelização e a Soberania de Deus´´, Pag 23


4 - CONTRADIÇÃO? O PROBLEMA DO RACIONALISMO
Além da exegese polarizada, ainda outro equívoco afeta nossa maneira de ler
as Escrituras: o racionalismo excessivo! A racionalização da fé e das doutrinas
bíblicas prejudicam boa parte de nossa teologia, e consequentemente, esse
processo tem afetado significativamente nossa compreensão sobre o tema que
estamos abordando.

IRRACIONAL? ILÓGICO?
Muitos enxergam um infinito abismo e uma contradição total entre a
predestinação e o livre-arbítrio. Estou me referindo aos racionalistas. Estes
argumentam que não é possível a partir da lógica e da razão que as duas
premissas sejam verdadeiras. Para os tais, se existe predestinação, não tem
como se conceber que também exista liberdade de escolhas por parte dos
homens, uma vez que estes dois conceitos são incompatíveis. Segundo
alegam, afirmar as duas coisas é uma burrice filosófica, uma irracionalidade,
uma contradição total. O racionalista como o próprio termo indica, não aceitam
dimensões de mistério em suas interpretações, tudo tem que ser
absolutamente explicável e tudo tem que caber nos esquemas da lógica e da
razão. Para os adeptos do racionalismo na bíblia não há nenhuma doutrina
absolutamente transcendente, misteriosa ou suprarracional. Infelizmente, esse
conceito de interpretação é abraçado por muitos, e no caso aqui exposto, esse
tipo de argumentação acaba decepando o conteúdo da revelação e dividindo
os cristãos entre a Soberania de Deus e a responsabilidade humana.

Segundo o teólogo, linguista e hebraísta Luis Sayão, a teologia cristã,


sobretudo no Ocidente, foi drasticamente prejudica pelo racionalismo, e eu
concordo plenamente com ele. Esse mal arrebatou de nós a consciência do
mistério na revelação, e não só isto, mas também nos roubou a noção de
dimensões da fé que são igualmente validas, embora aparentem contradição
diante da finita e limita capacidade racional. Luiz Sayão pontua que o
racionalismo limita nossa teologia e torna nossa visão extremamente
simplificada, como se vê em suas palavras:

´´Uma das razões pelas quais criamos uma teologia limitada assim é a
nossa herança racionalista. Os antigos hebreus e cristãos sabiam que a
realidade era muito mais complexa do que nossa razão. Além disso, entendiam
que certas dimensões da fé aparentemente distintas não eram
necessariamente contraditórias. O problema é que quando nossa teologia se
´´helenizou´´ exageradamente, adotamos uma logicamente simplista que nos
trouxe diversos problemas´´ (9)

9 – Luis Sayão, ´´Agora sim! Teologia na prática do começo ao fim´´, Pag 16


Luiz Sayão também afirma, corretamente, que a bíblia não está preocupada
ou incomodada em ofender nossas convicções racionalizadas. (10) Nós
sistematizamos, racionalizamos, equacionamos e juntamos a peças dos textos
bíblicos como se eles se encaixassem perfeitamente em uma brilhante palestra
de teologia sistemática ou de argumentação filosófica. A coisa não é bem
assim. A Escritura nos apresenta, por vezes, ensinos paralelos que estão
aparentemente em situação de tensão ou contraditoriedade. Nesses casos
(como é o caso da predestinação e do livre arbítrio), não é a razão que
complica a situação, ao contrário, a razão aliada à informação da revelação
cede espaço ao mistério, e assim podemos chegar ao ponto onde Deus quer
nos encaminhar. O racionalismo, por sua vez, acaba por prejudicar e distorcer
o ensino, pois não cedendo espaço ao transcendente, torce o texto e o faz
afirmar muito mais do que o que originalmente pretendia dizer.

IRRACIONAL OU SUPRA-RACIONAL?
A grande questão é que quando alguém diz que é absolutamente irracional
e ilógico afirmar tanto predestinação quanto o livre-arbítrio, ele não percebe
que está atolado na arrogância intelectual e no extremo racionalismo filosófico.
Certa vez Charles Spurgeon disse o seguinte: "A predestinação por Deus e a
responsabilidade do homem são dois fatos percebidos por poucos e
considerados inconsistentes e contraditórios. Mas não são! A culpa está na
nossa própria débil capacidade de julgamento. Duas verdades de Deus não
podem se contradizer." (11) Em outras palavras, o que o príncipe dos
pregadores queria dizer era que é tolice, arrogância, idiotice, e muita ignorância
teológica pressupor que duas verdades de Deus podem entrar em contradição.
Realmente, é muita ousadia, e por que não dizer ironia, supor que duas
sentenças da Escritura são ilógicas, irracionais ou incompatíveis. Seria mais
interessante, aos que fazem oposição a estas doutrinas pelo argumento da
lógica e da excessiva racionalidade, refletir se no fim o que de fato é ilógico e
absurdamente irracional não é a coragem que possuem ao ponto de chegarem
a questionar Deus e sua perfeita Palavra. Isso sim se constitui um ato de total
loucura e irracionalidade!

O ponto totalmente rejeitada pelos que estão com as lentes do racionalismo


é a possibilidade do mistério. Isto é, a solução para os dilemas que aparentam
ser contraditórios e irracionais, repousa no reconhecimento de uma dimensão
misteriosa que transcende a razão. Não me refiro a algo irracional, mais algo
de natureza suprarracional! Não são doutrinas que militam contra a razão, mas
estão acima dela. Estas doutrinas podem ser igualmente afirmadas, e nem por
isso estamos cometendo um equívoco racional. Estas verdades são tão
sublimes, tão profundas, tão elevadas, que ultrapassam toda nossa intelecção,
são de fato, como já afirmei, suprarracionais. O Dr. Norman Geisler é perfeito e
definitivo nesse ponto quando diz :

10 – Ibdem, Pag 16.

11 - Charles Spuergon, ´´A soberana graça de Deus e a responsabilidade do homem´´, pag


´´A predestinação de Deus e a livre-escolha do ser humano são um mistério,
mas não uma contradição. Elas permanecem além da razão, mas não contra
ela. Isto é, elas não são incongruentes, mas também não podemos entender
como se complementam. Aprendemos como cada uma delas é verdadeira,
mas não compreendemos como ambas são verdadeiras.´´ (12)

CONCLUSÃO
Quero finalizar este capítulo deixando para os racionalistas um conselho do
renomado teólogo anglicano J.I. Packer, que em resumo, disse tudo que julgo
ser o necessário para confrontar a teologia racionalizadora:

´´É preciso atribuir a aparência de contradição à deficiência da nossa


própria capacidade de compreensão; encarar esses dois princípios
(predestinação e liberdade humana) não como duas alternativas rivais, mas
como algo que, de alguma maneira, você não consegue compreender no
presente momento, mas que são mutuamente complementares.´´ (13)

12 – Norman Geisler, ´´Eleitos, mas livres´´, pag 61

13 – J.I.Parcker ´´Evangelização e a Soberania de Deus´´ Pag 20


5- MISTÉRIO
Já descobrimos que o antídoto para toda problemática em torno da Soberania
de Deus e da liberdade humana consiste na confissão e reconhecimento do
mistério. Vamos discorrer um pouco mais sobre este ponto.

ACEITANDO O MISTÉRIO!
Norman Geisler, renomado Teólogo e apologista cristão, observou que "o
mistério do relacionamento entre a soberania divina e o livre arbítrio humano
tem desafiado os maiores pensadores cristãos ao longo dos séculos." (14) Eu
já penso que o grande desafio da história foi, e continua sendo, tomar a atitude
de não querer resolver esse "dilema". Agostinho, Lutero, Erasmo, Calvino,
Armínio, Wesley, C,S, Lewis e tantos e tantos outros enfrentaram esse desafio.
A comprovação de que o desafio é invencível se evidencia na vida deles
mesmos. Isto é, se essas mentes brilhantes de Deus não puderam dissecar o
assunto e matar todas as interrogações envolvidas, isso já é a prova histórica
de que o nosso real desafio está na aceitação de que fomos todos vencidos, e
não há mais porque ´´lutar´´, pois a vitória não está na resolução do ´´dilema´´,
mas sim, na aceitação do mesmo. (15)

Somado a todos estes fatos, ainda permanece o argumento maior de que a


Bíblia não nos convida ao desafio da resolução, e sim, ao desafio da aceitação.
J.I. Packer está mais uma vez certíssimo ao notar que "a bíblia não nos pede
que conciliemos estas doutrinas, mas que as aceitemos". (16) É exatamente
isto! A bíblia não nos apresenta um quadro onde estas doutrinas estão com os
ânimos aflorados para guerrear. Não a contradição, dilema ou irracionalidade
nestas verdades. Elas se apresentam dilemáticas para nós, apenas em função
da nossa compreensão finita, limitada e desfigurada pelo pecado. (17) Mas, em
essência, estas doutrinas são harmoniosas, estão entrelaçadas e, sobretudo,
procedem igualmente da parte de Deus. Por isso, o desafio não é a resolução,
mas sim a aceitação - É um mistério que transcende toda capacidade do saber.

14 – Norman Geisler, ´´Eleitos, mas livres´´ Pag 41

15 – Ou como Packer notou em sua obra ´´Evangelização e a soberania de Deus´´, quando


afirmou que a Soberania de Deus e a responsabilidade humana são duas verdades
aparentemente conflitantes, e é preciso reconhecer que isto é um mistério que não devemos
esperar ser capazes de solucionar nesta vida. Pag 23

16 – J. I. Parcker, ´´Evangelização e a soberania de Deus´´, Pag

17 – Na teologia, denominamos essa realidade de ´´efeitos noéticos da queda´´, que quer dizer
que a aqueda de Adão também afetou e interferiu as faculdades intelectuais dos seres
humanos. ´´Dessa forma, seguindo de perto Agostinho e Anselmo, entendemos que a nossa
inteligência, por mais que seja uma das expressões mais fortes e significativas da imago Dei
(isto é, imagem de Deus), ainda assim, não está blindada contra os efeitos intelectuais do
pecado´´, Conf. Jonas Maduerreira, ´´Inteligência humilhada´´, Pag 79-80.
VENCENDO A RELUTÂNCIA
O Teólogo J.I. Packer escreveu, e por sinal ele está certíssimo, que ´´as
pessoas não se conformam em deixar essas duas (a Soberania de Deus e a
responsabilidade dos homens) verdades conviverem lado a lado, como
acontece nas Escrituras. (18) Concordo com Packer, pois há da parte de
muitos uma relutância ferrenha para se aceitar o aspecto do mistério como
solução teológica para este caso. Essa relutância nasce exatamente do
aspecto que abordo a seguir.

Refiro-me ao fator humilhação! Isto é, muitos se recusam em aceitar o


mistério porque isso os humilha, pois toda capacidade filosófica, teológica e
racional se torna insuficiente e incapaz de decifrar ou resolver os delicados
contornos desta questão. Jonas Madurreira, prolífico escrito brasileiro,
corrobora com isto quando assevera que ´´O mistério humilha a razão humana
e a torna ainda mais dependente de Deus, o único ser que conhece
exaustivamente todas as coisas.´´ (19) Para tanto, em vez de silenciar diante
de Deus e aceitar estas duas grandes verdades da fé, muitos preferem ousar
responder, tatear no escuro, ou se perder na exegese polarizada, como já
expliquei anteriormente. Como uma bactéria ´´teimosa´´ e resistente a
antibióticos, assim é nossa relutância em confessar e reconhecer que nossa
teologia não esgota o ser de Deus e sua revelação. Semelhantemente, somos
duros em baixar a guarda e assumir que nossa razão é pequena, finita e
acentuadamente frágil demais para assimilar o mistério da predestinação.

Aceitar que predestinação e livre escolha é um mistério, não um crime


intelectual, uma heresia teológica ou um descaso da razão. Aceitar o mistério,
equivale o que Joseph Scaliger chamou de ´´Sábia ignorância´´. (18) Às vezes
pensamos que estamos sendo teologicamente profundos, racionalmente
eficazes e filosoficamente prolíficos em tentar desdobrar essa questão tão
complexa. Realmente, todos nós queremos uma teologia perfeita, uma
exegese impecável, um argumento invencível, uma sistematização intocável,
mas não podemos esquecer que somos seres humanos, e isso implica dizer
que somos limitados. Com isso, obviamente, não quero desmotivar ou
desacreditar o esforço de ninguém. Ao contrário, até onde pudermos, vamos
exaurir nossas capacidades, mas quando tudo se esgotar, e nos enxergamos
diante do transcendente, do que está para além da razão, do que não é
atingido ou apalpado nem pelo melhor de nossa teologia, nos curvemos diante
do misterioso, e ousemos nos calar – isso nada mais será, do que a ´´sabia
ignorância´´!

18 - J.I. Packer, ´´A Evangelização e a Soberania divina´´, Pag 15-16

19 - Jonas Maduerreira, ´´Inteligência humilhada´´, Pag 126.

20 – Apud, Jonas Madurreira, ´´Inteligência humilhada´´, Pag


CONCLUSÃO
Vou concluir esta sessão com uma das afirmações que compõem o que o
Rev. Augustos Nicodemus intitulou ser seu credo sobre a Soberania de Deus e
a liberdade humana:

´´Encaro a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana


como sendo parte dos mistérios do ser de Deus, como a doutrina da Trindade e
das duas naturezas de Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade
humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem
confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas. (21)

21 – Augustos Nicodemus, ´´Teologia Relacional´´, Pag 56


6- MISTERIO E RAZÃO
Neste capítulo, pretendo discorrer ainda um pouco mais os sobre mistério e
racionalidade. Temendo que o leitor pense equivocadamente que estou
repudiando as faculdades racionais ou, apelando ao mistério como se isso
fosse um argumento cego ou algo novo dentre da teologia, desenvolvi os
pontos a seguir.

O ARGUMENTO DO MISTÉRIO NA TEOLOGIA


O argumento do mistério não é novo e nem estranho à teologia cristã. Em
vários aspectos doutrinários, os teólogos reconhecem, assumem e recorrem ao
mistério. Isso nada mais é que o reconhecimento da transcendência e
magnitude infinita do Ser de Deus e de seus inescrutáveis propósitos. Na
realidade, o argumento do mistério deve ser absolutamente normal para nós,
que somos extremamente limitados em relação às elevadas verdades da
Palavra de Deus. Nossa teologia é produto de uma compreensão que, embora
esforçada e até mesmo iluminada pelo Espírito, ainda assim carrega muitas
falhas, várias imperfeições (em decorrência das interferências humanas) e
muitos traços de nossas limitações. Tudo isso faz com que a profundidade do
assunto se torne muito distante de nossa capacidade. Desta forma, não é
absurdo afirmar o mistério, o absurdo é querer compreender exaustivamente
algo tão elevado, com tão pouca capacidade.

O Renomado teólogo R.C. Sproul toca no âmago de toda essa questão


quando observa que o ´´mistério envolve uma falha de entendimento ou
ausência de conhecimento´´. (22) Note que, conforme observa Sproul, o
mistério não é resultado de uma reflexão irracional, ou sem intelecção.
Acertadamente, ele demonstra que a realidade do mistério existe exatamente
porque não temos absoluto e perfeito entendimento e conhecimento possível.
Nossa compreensão sempre é parcial, limitada e condicionada a finitude.
Desse modo, se estabelece mais uma vez o argumento de que as doutrinas
abordadas estão para além de nosso entendimento, embora não estejam
contra nossa razão. Nós podemos até discerni alguns pontos e entender
algumas afirmações, mas o todo, somente Deus compreende, pois somente
Ele possui de forma plena e exaustiva todo o conhecimento, e por isso Ele
sabe perfeitamente como a sua Soberania e a predestinação são
absolutamente compatíveis com a liberdade de escolha do homem.

Para comprovar ainda mais os argumentos dos parágrafos acima, deixe-me


mostrar algumas doutrinas pilares da fé, que foram historicamente
confessadas, mas não totalmente explicadas, exatamente por estarem, a luz de
uma análise mais apurada, no campo do mistério. As doutrinas da Trindade e
das duas naturezas de Cristo, por exemplo, são verdades que sempre
desafiaram o intelecto humano. Claro, os cristãos nunca pensaram ou
defenderam que estas fossem doutrina irracionais ou contraditórias. Mas como
explica ou conciliar as duas naturezas de Cristo? Como postular apenas com a

22 - R.C.Sproul, ´´Defendendo sua fé´´, Pag 41.


razão a triunidade divina? Como Cristo era Deus e homem ao mesmo tempo?
Como Deus subsiste em três personalidades distintas, mas é um único Deus?
Obviamente estas doutrinas estão em tamanho grau de profundidade, que
estão envoltas em um mistério que está para além de toda e qualquer
capacidade de discernimento do humano. Como se explica exaustivamente as
doutrinas da Triunidade Divina e das duas naturezas de Cristo? Até certo
ponto, é possível explicar e fazer afirmações, mas no grau mais elevado destas
verdades, há uma profundidade tão inescrutável que se constitui um santo
mistério para nós. (23) Como ressalta o teólogo Theo G. Donner: ´´Cabe
mencionar que a doutrina da eleição e da graça não é a única doutrina ´ilógica´
na fé cristã. A igreja acredita que há várias doutrinas, inclusive as mais
importantes, que não cabem em nossos esquemas de lógica humana´´. (24).
Em absoluta concordância com este autor, às doutrinas da eleição e da
predestinação de fato não cabem em nossos esquemas lógicos e
filosoficamente racionalistas. E como enfatizado além da predestinação e livre
arbítrio, existem outras doutrinas importantíssimas da fé que também são
misteriosas e confrontam nossa maneira lógica de pensar.

RAZÃO SIM! RACIONALIZAÇÃO NÃO!


Ao lado dos argumentos em defesa do mistério, cabe tratar um pouco
também sobre o lugar correto e legítimo do uso da razão na interpretação
cristã. Já deixei absolutamente claro que a teologia cristã não adere a verdades
irracionais, ou pressupostos contraditórios. A racionalidade é de suma
importância na compreensão das doutrinas cristãs, tanto é que podemos
elencar estes dois aspectos como indispensáveis "ferramentas" hermenêuticas:
"fé e razão" !

A razão, a inteligência, a intelecção e o raciocínio são legítimos a história do


pensamento cristão. Porém, não podemos confundir isso com o racionalismo,
como até já foi abordado. A razão se complementa com o mistério, o
racionalismo não. O racionalismo é humanista, não aceita transcendência, não
compactua com uma realidade espiritual, só válida o que se pode ver a olho nu.
A fé não descarta a razão, mas está sempre acima dela, e por isso que é
impossível conciliar fé e racionalismo, embora seja absolutamente conciliável fé
e razão. Desse modo, usamos a razão em seu máximo potencial afim de extrair
tudo que for possível de ser compreender entre a Soberania de Deus e a
responsabilidade humana. Sim, devemos usar todos os nossos recursos
mentais, nossas ferramentas filosóficas e nossas premissas

23 – Tomemos como exemplo histórico deste ponto o Concílio de Calcedônia (451), onde os
cristãos oficialmente ´´destrincharam´´ a doutrina das duas naturezas de Cristo, afirmando tudo
quanto pôde e estabelecendo os limites ortodoxos pelos quais toda igreja deve entender o
assunto. Contudo, como nota Roger Olson, os bispos reunidos em Calcedônia não tinham a
pretensão de dissecar o assunto ao ponto de racionaliza-lo e deixa-lo sem dimensões
transcendentes. Olson diz que os bispos ´´jamais tiveram a intenção de que esse modelo fosse
uma explicação do mistério da encarnação. Pelo contrário, visaram à proteção paradoxal do
mistério contra explicações nacionalizantes que efetivamente destroem o mistério. (Roger
Olson, ´´História das controvérsias na teologia cristã´´ Pag 321)

24 - Theo G. Donner, ´´A Soberania de Deus e a responsabilidade humana´´, Pag 12.


teológicas. Porém, quando tudo isso se esgotar, então curvemos nossa fronte,
e creiamos que aquilo que está para além da nossa compreensão é mistério
divino que somente nos pertence saber quando adentrarmos na eternidade.
Até lá, afirmamos a fé, e também a razão.

CONCLUSÃO
Depois de todas as coisas ditas acima, ninguém deve estranhar a afirmação
de que é um mistério o relacionamento entre as doutrinas da predestinação e
do livre arbítrio. Inclusive, os exemplos acima mostram como é perigoso anular
as dimensões misteriosas da doutrina. Imagine se alguém enxerga a doutrina
da trindade somente com os óculos da lógica e da razão. Não resta dúvida que
sem a fé, e apenas com o racionalismo, é um absurdo afirmar que um Ser pode
ser uno, subsistindo em três pessoas distintas! Tal qual, se alguém faz uma
exegese polarizada da natureza divina de Cristo, acaba anulando sua natureza
humana, ou vice-versa (e isso já aconteceu muito no decorrer da história!). (24)
O mistério é algo comum à teologia cristã, afinal de contas, por mais que
sejamos mestres na teologia e na filosofia, nenhum de nós (eu suponho, pelo
menos) deve pensar que dissecou toda doutrina bíblica acerca de Deus e seus
propósitos. Em resumo, cito mais uma vez o Dr. Norman Geisler que de certa
forma reafirma tudo que já disse quando assevera que a Soberania divina e a
liberdade humana ´´é um dos grandes mistérios da fé cristã, juntamente com o
da Trindade e o da encarnação´´. (25)

24 – Para uma excelente análise deste ponto indico a leitura da obra do Roger Olson ´´História
da teologia cristã´´, capítulo 13, Páginas 205-214.

25 - Norman Gesiler, ´´Eleitos, mas livres´´, Pag 42


7- ANALISANDO A BÍBLIA MAIS UMA VEZ
Já discorremos sobre a evidência bíblica das doutrinas que estamos
abordando. Mostramos como tanto a verdade da Soberania de Deus e da
Responsabilidade humana encontram amparo nos textos sagrados. Nesse
momento, vamos aprofundar ainda mais essa compreensão, olhando e
interpretando alguns ´´textos-exemplos´´ (26) que apresentam de forma mais
explícita estas realidades incontestáveis.

A MORTE DE CRISTO
Em atos 2.23 está escrito assim: "Este homem lhes foi entregue por
propósito determinado e pré-conhecimento de Deus; e vocês, com a ajuda de
homens perversos, o mataram, pregando-o na Cruz". Ora, duas asseverações
claras decorrem deste texto e elucidam nossa interpretaçaõ; Primeiro o
apóstolo afirma categoricamente que a morte de Cristo foi determinada,
implicando nesse ponto a soberania de Deus. Segunda observação é que o
mesmo texto que afirma a Soberania de Deus sobre a morte de Cristo é o texto
que responsabiliza os judeus e os romanos por terem executado esse evento!
Como notou Norman Geisler sobre o texto "Conquanto Deus tenha
determinado as ações deles desde toda eternidade, [...] eram mesmo assim
livre para executar suas ações - e por isso foram moralmente responsáveis por
elas". (27)

Bem, concluímos portanto que o texto ensina tanto soberania divina quanto
a responsabilidade dos homens. Este é um ´´texto-prova´´ de como estas
verdades caminham juntas, são igualmente autênticas e em nada se opõe
uma contra a outra na Escritura. Não sabemos explicar exatamente como tudo
isso acontece, por isso chamamos isto de mistério. Mas, ainda que seja um
mistério, está suficientemente claro, a partir de textos como este, que ambas as
doutrinas são verdadeiramente incontestáveis.

26 – Por ´´texto-exemplo´´ refiro-me aos textos que apresentam as duas verdades em uma
sentença só. Diferentemente da abordagem inicial (Cap 1) onde analisámos de forma separada
os textos que falavam da Soberania de Deus, e depois os textos que tratam das livres escolhas
dos homens, esses ´´textos-exemplos´´ contém juntamente a afirmação de ambas as
realidades. Em tese, os textos que abordarei são At 2.23; 4.23-29; Lc 22.22; Gn 45.5-8; 50.19-

27 – Norman Geisler,´´Eleitos, mas Livress´´, Pag 43.


A TRAIÇÃO
O evangelho de Lucas nos apresenta um outro ´´texto-exemplo´´, no
capítulo 22 e também verso 22, quando registra as seguintes palavras: "O filho
do homem vai, como foi determinado; mas ai daquele que o trair!" Este é mais
um exemplo onde a predestinação e a responsabilidade humana é ensinada
num texto só. Conforme Jesus está vaticinando, a traição que já havia sido
determinada por Deus, que, ao mesmo tempo, responsabilizaria seriamente
aquele por meio de quem a traição acontecesse. Outra vez o comentário do
Geisler é extremamente valioso, pois ele nota que "Deus determinou que a
traição deveria acontecer, mas quando ocorreu, foi considerada resultado de
uma ato livre e responsável de Judas. Não há contradição entre essas duas
verdades". (28)

Esse texto é explicito, não há como mudar a rota da argumentação, o


Senhor Jesus está tanto afirmando tanto a determinação de Deus, quanto a
liberdade e responsabilidade humana juntas no mesmo evento. Se fossemos
recorrer à lógica ou a razão filosófica, logo diríamos que esse texto é
contraditório, pois ele afirma que as mesmas ações que provocaram a traição
foram determinadas e ainda eram livres. Ora, essa interpretação deve ser
descartada porque anula o mistério divino destes fatos, e pior, pressupõe um
erro ou equívoco nas afirmações do próprio Senhor Jesus.

Plano Divino e Conspiração humana


Mais um ´´texto-prova´´ que podemos analisar é Atos 4.23-29. O verso 27 e
28 em especial, diz o seguinte ´´Porque, verdadeiramente, contra o teu santo
Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos,
com os gentios e os povos de Israel. Para fazerem tudo o que a tua mão e o
teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer´´.
Indubitavelmente, essa passagem ensina o plano ordenado, estabelecido e
decretado por Deus, ao passo que também mostrar claramente uma
conspiração da parte de Herodes, Pilatos e demais. Que seria isso, senão a
Soberania de Deus e a responsabilidade humana? Nas palavras de D.A.
Carson esse texto é comentado da seguinte forma ´´ Observe cuidadosamente:
por um lado, houve uma terrível conspiração que arrebatou de uma só vez
autoridades gentílicas e Herodes e Pilatos e líderes judeus. Foi uma
conspiração, e eles deveriam ser considerados responsáveis. Por outro lado,
eles fizeram o que o poder e a vontade de Deus tinham anteriormente
determinado que acontecesse. (29)

28 – Ibdem, Pag 44.

29 - D.A. Carson, ´´A difícil doutrina do amor de Deus´´, Pag 55.


VENDIDO PELOS HOMENS E ENVIADO POR DEUS
É bastante conhecida a história de José que se tornou governador do Egito.
Todos sabem que ele era filho de Jacó, e que seus irmãos o invejaram,
tramando sua morte, mas por fim o vendendo como escravo aos ismaelitas.
Bem, a história é longa, vamos direto ao ponto. Tempo depois, José que se
tornara governador de toda terra do Egito, reencontra-se com seus irmãos, que
presumiam dele já estar morto. Nesse reencontro, surpreendentemente, José
perdoa seus irmãos, e lhes afaga o coração, pedindo que estes não se
sentissem culpados pelo que haviam feito, afinal de contas, eles haviam
planejado o mal para José, mas no fim, fora o próprio Deus que estava
executando seu plano, para fazer de Jose Governador e administrador de todo
Egito (Gn 45.5-8; 50.19-21).

Diante destes fatos, chegamos à mesma conclusão interpretativa dos textos


já apresentados anteriormente, isto é, o evento decorrente das ações humanas
dos irmãos de José, era também compatível com o plano soberano Deus, de
modo que podemos ver claramente nesse texto a operação tanto da
predestinação quanto do livre arbítrio. Não há como negar que ´´o mesmo
evento é resultado é resultado tanto do plano de Deus quanto da livre-escolha
do ser humano, embora Deus tenha pretendido somente o bem por meio desse
acontecimento´´. (30)

CONCLUSÃO
Após a explicação desses textos, só me resta finalizar essa sessão com
mais uma citação que compõe o credo do Rev. Augustos Nicodemus em
relação à soberania de Deus e a liberdade do homem:

´´Creio que Deus é absolutamente soberano e onisciente sem que isso,


contudo, anule a responsabilidade humana do homem diante dEle. Para mim,
isso é um mistério sem solução debaixo do sol. Não sei como Deus consegue
ser soberano sem que a vontade de Suas criaturas seja violentada. Apesar
disso, convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão
reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num
mesmo versículo!´´ (31)

30 – Norman Geisler, Ibdem, pag 45.

31 - Augustos Nicodemus, ´´Teologia Relacional´´, Pag 55.


PARTE 2
Depois de lançar as bases teológicas em favor da interpretação que
resguardar tanto a Predestinação quanto o livre arbítrio, é hora de mostrar
como estas doutrinas desempenham papel fundamental na vida e
espiritualidade cotidiana do cristão.

Veremos como estas verdades são intrínsecas a nossa devoção, adoração,


evangelização e, sobretudo, a real responsabilidade que temos que ter nas
escolhas e decisões de nossa vida. Portanto, predestinação e livre arbítrio não
são conceitos etéreos, não são apenas assuntos das cátedras teológicas, isto
tem a ver como a forma pela qual cremos, agimos e nos comportamos.
8 - ADORAÇÃO
Ao falar de predestinação e eleição, é inevitável também não falar em
adoração! As verdades da salvação estão intrinsecamente ligadas à adoração
cristã. Na realidade, a base da contrição na adoração depende exatamente da
compreensão de que Deus nos elegeu (Ef 1.4) e nos predestinou (Ef 1.5) para
o louvor da sua glória (textos..)

Mais que qualquer outra coisa, essas verdades são como forças inspirativas
que aquecem no coração o senso de gratidão e louvor a Deus. Ao
compreender as verdades que estamos abordando, o cristão não irá se
ensoberbecer ou vangloriar-se teologicamente. Longe disso! Quem crer e
entende as doutrinas da predestinação e da eleição, quebranta-se, arrepende-
se, e louva a Deus com o fundo da alma e com toda gratidão de um coração
redimido. Caso não seja assim, podemos concluir que tais doutrinas não foram
ainda definitivamente compreendidas.

PARA O LOUVOR DE SUA GLÓRIA


Particularmente, sempre me queixei deste ponto, pois ao que me parece, ou
pelo menos em minha própria experiência, ouvi pouquíssimos relatos do valor
experiencial da doutrina da eleição na adoração devocional. Isso sempre me foi
estranho, pois sempre fiquei profundamente tocado, constrangido, contristado e
estarrecido diante destas verdades. Afinal, como pode o Senhor ter mim
escolhido? Como? Um indivíduo sem méritos, pecador, indigno de sua
santidade, como podes ter escolhido a mim? Sinceramente, não a como refletir
estes aspectos e não adentrar em uma atmosfera de profundo choro,
quebrantamento, alegria, contrição, risos de gratidão e cânticos de
enaltecimento.

Na carta aos efésios, o Apóstolo Paulo deixa este ponto absolutamente


claro, quando enfatiza que a adoração é o fim maior da eleição e da
predestinação; no argumento do Apóstolo, Deus nos elegeu e nos predestinou
para ´´o louvor de sua glória´´ (Ef 1.4-6-11). Como disse Sam Storms ´´Ele
(Deus) nos predestinou à filiação, santidade e inocência para que todos nós,
com alegria e humildade, louvemos ´a sua gloriosa graça´´. (32) Na mente do
Apóstolo, não havia como pensar em eleição e predestinação sem ser levado
ao profundo senso de adoração que devemos prestar a Deus. Ele nos escolheu
desde antes da fundação do mundo (1.4). Ele nos predestinou para si e nos
adotou como filhos (1.5). Ele nos salvou por sua imensurável graça ao enviar
seu filho como sacrifício por nossa redenção (1.7). Ele nos concedeu seu
Espírito e nos selou para eternidade (1.13-14). Como, pois, poderia indagar o
apóstolo Paulo aos seus leitores, não o louvaremos pelos séculos dos séculos
diante de sua tamanha e gloriosa graça?

32 – Sam Storms, ´´Escolhidos´´, Pag 40.


A eleição foi feita para estabelecer uma plataforma na qual a glória da
misericórdia salvífica de Deus pudesse ser vista, exaltada, adorada e louvada.
(33). Deste modo, com toda segurança posso afirmar que estas doutrinas
possuem uma dimensão devocional extraordinária. Mais do que discutir sobre
eleição, mais importante do que ler bons livros sobre predestinação, mais
essencial do que saber o que Agostinho e Calvino disseram sobre o assunto, é
essencial desenvolver uma consciência que habita uma dimensão espiritual de
profundo louvor, gratidão e adoração para Ele, que nos escolheu para o louvor
da sua Glória.

DÊEM GRAÇAS!
Em 2Ts 2.13, o Apóstolo Paulo rendeu graças a Deus pelo fato de que os
tessalonicenses haviam sido elegidos desde o princípio para a salvação. Ora,
não é esse o espírito de quem entende a doutrina da eleição? Um coração
grato é a primeira evidência de um cristão que genuinamente crer e entende o
significado de ser eleito!

Infelizmente, há muita discussão sobre a eleição, mas poucas lágrimas da


gratidão. Há uma efervescência teológica e filosófica sobre predestinação,
sobre Calvino, sobre Armínio, sobre Romanos 9, etc. O academicismo nessa
área, é fértil, mas, a prática de tudo isso mais se assemelha a uma terra seca e
árida. Lembro-me do tempo de seminário, onde por várias vezes vi colegas se
"degladiando" em torno destas doutrinas. Francamente, a verdade é que
depois de acirrados debates, ninguém voltava para casa com o coração
fervendo de alegria. Ninguém voltava para casa quebrantado ou orando da
seguinte forma: "Hô Deus, Tu me livraste do inferno, me elegeste desde a
eternidade, me predestinaste para ser teu filho, glórias ao teu Nome." Não!
Todos voltavam para casa maquinando sobre seus argumentos, sobre como
fazer a defesa do outro colega fraquejar, e prevalecer na disputa. Enfim, é
temível que para muitos, todo esse assunto seja apenas mero objeto de
estudo, meras afirmações complexas das elucubrações teológicas. É temível
que jovens gastem todo tempo que possuem lendo Calvino, Berkofh, Wesley
Armínio e outros, buscando compreender, e não passem sequer uma hora
prostrados em oração, para sentir a indescritível e gloriosa certeza de que Ele
nos amou e escolheu como seus filhos. É temível!

Nós devemos dar graças a Deus pelo pão que temos na mesa, dar graças
pela saúde, dar graças pelos filhos, dar graças pela nossa profissão, enfim,
temos inúmeras razões para render graças a Deus. Entretanto, a razão mais
crucial pela qual nós devemos render graças a Deus, é pelo fato Dele ter nos
elegido desde o princípio para a salvação. Pode nos faltar o pão, pode nos
faltar a profissão, pode até ser que nos falte a família e a saúde, mas nada
pode nos roubar da certeza e felicidade inesgotável de ter o nome inscrito no
Livro da vida desde antes da fundação do mundo (Ap ). Como escreveu Theo
G. Donner ´´A doutrina da eleição e da graça enfatiza a gratidão profunda que
nós devemos a Deus, pois nos mostra que é somente seu amor que nos
salva´´. (34)
33 - Ibem, Pag 40.
34 – Theo G. Donner, ´´A soberania de Deus e a responsabilidade humana´´, Pag 78
CONCLUSÃO
A adoração cristã é o processo natural e espontâneo do coração que foi
alcançado pela graça de Deus. Sabendo que Deus nos amou, nos escolheu, e
que Ele teve um propósito desde da eternidade para nossa vida, mesmo a
despeito de sermos miseráveis pecadores, é a grande razão pela qual nos
prostramos e adoramos seu maravilhoso Nome.
9 - AS DURAS IMPLICAÇÕES DA RESPONSABILIDADE
HUMANA
Tenho defendido até aqui, que a livre escolha dos homens é uma verdade
bíblica tal como as doutrinas da eleição e predestinação. É hora de estabelecer
alguns princípios e implicações decorrentes deste conceito.

A RESPONSABILIDADE DE SER LIVRE


A liberdade de escolha em todo esse debate e, sobretudo, no argumento
que tenho em proposto, deve ser uma doutrina decisivamente prática e
cotidiana. Mais do que discutir a capacidade de livre escolha, é preciso abrir
bem os olhos para discernir a seriedade do que isto significa. O fato do homem
ter livre-arbítrio não é motivo de regozijo, prepotência ou enaltecimento. Afinal,
como já ressaltamos, o homem por si só, entregue a sua própria vontade e
desejos, fará as piores escolhas possíveis em relação a Deus e seu estado
espiritual (Rm 3.10 - 23). Até por isso é que enfatizamos que o livre-arbítrio não
é meritório para salvação. A salvação é pela graça soberana, e ponto! Contudo,
nesse contexto de Graça Soberana, o Deus Soberano frequentemente nos
exorta a vivermos a vida com muita responsabilidade, prudência, sem desleixo
espiritual e moral, sabendo que qualquer opção tomada na direção errada pode
abarcar em sérias e drásticas consequências – e isso não é mera advertência
hipotética!

A bíblia nos ensina que Deus nos trata como agentes morais responsáveis,
e isso implica dizer que o que escolhemos, o que fazemos, o que optamos e o
que deliberamos para nossa vida desencadeiam em uma série de eventos com
suas respectivas consequências. Cabe sempre ao homem analisar a prudência
de suas escolhas e sensatez de suas motivações. Enquanto não tomarmos
consciência de que estas coisas fazem parte da vida real, de fato, este ensino
só vai fazer sentido no imaginário teológico, infelizmente.

PREDESTINAÇÃO COMO SUBTEFURGIO


O árbitro humano vem nos lembrar sobretudo que não somos robôs de uma
fria Soberania Divina, embora muitos tentem usar este argumento para se
esquiva de suas respectivas responsabilidades. Tenho visto muitos que tomam
conselhos errados, decisões equivocadas, e até mesmo optam por pecados
mortais, arrebentam a vida e, ainda assim, não assumem seus atos, pois
utilizam a doutrina da predestinação como subterfúgio de seus erros. Isso é
leviano, parte de um pressuposto exegético insustentável e em nada pode
diminuir a culpa do mau uso da liberdade para dar ocasião à carnalidade e ao
pecado. A mensagem prática e aplicável da doutrina da livre escolha é
exatamente essa: devemos viver com responsabilidade. Não culpe Deus ou a
doutrina da predestinação por seus pecados, seus equívocos ou suas decisões
mal tomadas. Não ponha o saldo negativo dos seus pecados na conta da
Deus. Não use o jargão "mas tudo já estava predestinado". Lembre-se que,
embora a doutrina da predestinação seja forte e veementemente ensinada nas
Escrituras, ela não anula liberdade humana, como eu tanto já discorri
anteriormente. Não se anule de viver uma vida com responsabilidade, pense
análise e reflita em todas as decisões de sua vida. Caso não seja assim, você
terá entendido de forma errônea a predestinação, e ainda estará sendo omisso
e dúbio em seu dever de viver a vida fazendo escolhas a luz dos princípios do
evangelho.

PREDESTINAÇÃO, INFERNO E LIBERDADE HUMANA


Em relação às consequências das escolhas e caminhos ímpios que os
homens podem tomar, surge então à dura e polêmica indagação sobre a causa
que levam os homens a condenação eterna. Bem, embora um número extenso
de intérpretes conceituados das Escrituras defenda que também existe
predestinação para o inferno, não consigo ver isto nas escrituras, (35) e advogo
que a causa dos homens serem culpados e punidos ao inferno, seja nada mais
nada menos que a própria e justa ira de Deus, derramada sobre aqueles que
recusaram, rejeitaram e agarram-se aos seus pecados ao invés da salvação
em Cristo.

Neste ponto, é perceptível a dura responsabilidade de liberdade que cada


indivíduo carrega sobre si na jornada de sua vida. Há um caminho que levam
ao inferno, a perdição eterna, a destruição no fogo inextinguível, e se o
indivíduo toma esses caminho, rejeitando a luz do evangelho, com certeza, é
para lá que ele vai, e Deus ou as doutrinas da predestinação e eleição nada
tem a ver com isto. Se os homens escolhem o pecado, nada mais lhes restará
que o salário do mesmo (Rm 6.). Como perfeitamente asseverou Charles
Erdman, professor erudito do seminário de Princeton: ´´O pecado é a causa da
morte; não a eleição, ou a predestinação, nem a falta de conhecimento ou
ignorância de Cristo, mas o pecado voluntário, propositado, a desobediência à
Lei, a inconformidade com a luz, isso é que ocasionará a ´´morte´´.(36)

CONCLUSÃO
O livre arbítrio é real, diz respeito a escolhas reais, e isso significa uma
dura responsabilidade para com a vida, para com tudo aquilo que deliberamos,
sobretudo no que diz respeito às orientações do evangelho. Saber que os
homens são seres livres, agentes morais que tomam decisões reais é algo
muito sério, exige uma vida com responsabilidade. Não esqueça disto!

35 – Neste ponto, não estou fazendo nada mais do que seguir uma linha renomada de teólogos
e exegetas que postulam a predestinação somente para a salvação; são alguns deles, John
Stott, Dwight L. Moody, Warren Wiersbe, Leon Morris, Norman Geisler, C.E.B. Cranfield, etc...

36 – Charles Erdman, ´´Comentários de Romanos´´, Pag 41-42.


10 - PREDESTINAÇÃO E EVANGELIZAÇÃO
Um claro aspecto prático que deveria salta diante de nossos olhos ao
estudar e analisar as doutrinas da predestinação, da graça e da eleição, é a
tremenda confiança, inspiração e conforto que temos para exercermos nossa
tarefa evangelizadora. Ao contrário do que se queixa, a doutrina da eleição e
predestinação não desmotiva, desanima ou relaxa os cristãos em levar adiante
a mensagem do evangelho. Se isso acontece, é a prova de que tais verdades
não foram compreendidas ainda, e de que esse ensino ainda não desceu ao de
fato ao coração.

A doutrina da soberania divina estaria sendo brutalmente mal aplicada se,


ao invoca-la, provocássemos uma redução da urgência, pressa, prioridade e
coerção comprometedora do imperativo evangelístico. (37) Deduzi incoerência
entre predestinação e eleição com a missão evangelística da igreja é um
equívoco teológico besta, é uma desinformação histórica absurda, uma
relutância e ignorância teológica colossal.

UMA MISSÃO IMPOSSÍVEL?

Já notamos que por causa da queda no pecado os homens nascem com um


coração depravado, pervertido e totalmente afastado de Deus (Rm 3.10-23; Ef
2;1-4). Olhando por essa perspectiva, podemos afirmar categoricamente que a
Bíblia nos apresenta um quadro onde a humanidade está perdida, sem forças,
desejo e vontade de procurar a salvação. Ainda somado a estes fatos, também
é necessário dizer que em decorrência da natureza pecaminosa, os homens
não conseguem entender e abraçar o evangelho, a não ser que haja uma ação
soberana, graciosa, libertadora e iluminadora do Espírito de Deus nos seus
corações. Como notou J.I. Packer ´´A soberania de Deus em graça nos fornece
a única esperança de sucesso na evangelização´´. (35) Caso não seja assim,
evangelizar seria uma missão impossível, pois, a situação humana diante de
seu pecado é tamanha, que até a Deus a humanidade passou a odiar (Rm
1.30). Nesse cenário caótico, o cristão busca força, animo e encorajamento
para pregar exatamente no poder da Graça Soberana de Deus - sim, por causa
da Graça Soberana, a missão se torna absolutamente possível!

Apesar de alguns taxarem as doutrinas da eleição e predestinação como


água fria na tarefa evangelística e desejo missionário, a história da igreja
testifica o contrário. A história registra um sem número de homens que
acreditavam piamente na doutrina da predestinação, mas que nem por isso
deixaram de ser missionários nas terras mais longínquas e perigosas da face
da terra, e entregaram suas vidas pela causa do evangelho e salvação dos
pecadores. Caso alguém ainda duvide que tais doutrinas podem ser alento e
combustível espiritual inesgotável para o empenho na evangelização, leias as
biografias de John Eliot, David Brainerd, Jonathan Edwards, William Carey,
David Livingstone, Jonathan Goforth, etc...

37 – J.I. Packer, ´´A Evangelização e a Soberania de Deus´´, Pag 31.

38 – Ibdem, pag 95.


Na realidade, a história eclesiástica é uma prova viva do quanto as doutrinas
da eleição e da predestinação fazem parte da consciência missionária da
igreja. É porque Deus amou pecadores, escolheu pecadores, decidiu salvar
pecadores e convencerá pecadores a sua maravilhosa e soberana graça, é por
esta sublime verdade que a pregação do evangelho avança, traspõe barreiras
e não enxerga limites. É muita infantilidade supor qualquer contradição de
termos nestas questões.

ENTÃO PARA QUE PREGAR?


Outra forma equivocada de pensar na eleição como algo que reduz seu
valor prático na evangelização está impregnada nessa boba e ultrapassada
indagação ´´se Deus já tem os seus eleitos, então para que eu vou pregar(*).
Já ouvi inúmeras vezes alegações que postulam ser contraditório ou sem
sentido ir pregar o evangelho, se de fato Deus já possui seus eleitos e
predestinados. Bem, esse raciocínio deve ser visto apenas como um
subterfugio ou de quem não quer aceitar estas doutrinas, ou de quem não quer
vive-las na prática. Paulo tanto creu e ensinou estas verdades que entregou a
própria vida ao sofrimento de trabalhos e prisões para que os eleitos se
achegassem a salvação em Cristo (II Tm 2.9-10). Estaria Paulo tremendamente
equivocado? Estaria ele tão empenhado em suas viagens missionários se isso
fosse uma tarefa sem sentindo?

Saímos para pregar o evangelho porque os pecadores precisam ouvir sobre


a salvação. É assim que a bíblia nos ensina. Os homens nascem no berço do
pecado, e não na camisa de força das doutrinas da predestinação e eleição.
Não é assim que funciona. É Por isso que pregamos, que investimos em
missões, que enviamos servos de Deus a lugares longínquos e desabitados da
mensagem evangélica. Os homens nascem em pecado (Sl 51.5 ), mortos em
delitos e transgressões (Ef 2.1), depravados e corrompidos (Rm 1.18-32) e
carentes da glória de Deus (Rm 3.23). Será que nós, passados tantos séculos
de história cristã, depois de compreender a doutrina do pecado exaustivamente
ainda vamos ficar com essa brincadeira boba de criança que não quer
evangelizar por causa da doutrina da eleição? Desculpe-me leitor, mas faça-me
favor!

CONCLUSÃO
Por fim, Devemos ir pregar porque Deus nos ordenou que fosse assim!
Porque amamos os perdidos, e, sobretudo, porque muitos destes perdidos são
os eleitos de Deus. Porque a predestinação e eleição são gloriosamente
vivenciadas na prática quando um pecador se rende diante de nossos olhos.
Porque a predestinação não é um toque de mágica divino, mas um decreto
gracioso de Deus que, na maioria das vezes, se efetua por intermédio da
pregação. Enfim, esse ponto é tão óbvio que peço ao leitor para avançar e não
ficar preso na idade da pedra refletindo sobre aquilo que é tão facilmente
discernido. E caso o leitor resmungue não entender ou aceitar tal fato, finalizo
com as palavra do próprio Apóstolo quando escreveu:
´´Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele
de quem não ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue?´´ (39)

39 – Romanos 10.14-15.
CONCLUSÃO
Chego ao fim do opúsculo com satisfação, creio que minha impressão e
percepção sobre o tema ficou bastante esclarecida. Que venham as críticas, o
corações abertos, e, sobretudo a promoção da reflexão da Palavra de Deus.
No que cabe ao autor, prossigo sem medo, sem reservas e sem desculpas. Me
sinto fiel ao que leio nas páginas da bíblia, e lá, tudo que me é permitido dizer é
que Deus é absolutamente soberano sobre tudo, e que ainda assim o homem é
livre. Eu aprendi a dormir com esse barulho.
37 – No livro ´´Escolhidos: uma exposição da doutrina da eleição´´, Sam Storms pontou quatro
pontos de vistas sobre a interpretação deste texto: 1) a voz do particípio grego pode ser média,
não passiva; por conseguinte, os vasos da ira são concebidos como tendo preparados a si
mesmos para a destruição; 2) preparados para destruição pode ser simplesmente uma frase
descritiva, sem implicar qualquer agente da preparação; 3) Paulo se expressa deliberadamente
dessa maneira para deixar o assunto envolto em mistério; ou 4) Deus é o agente ou a causa de
os vasos da ira serem preparados para destruição. Pag.151.

dute@xgmailoo.com

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