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ral, sendo inspirado por Hei- uma tabela, em que tais catego-
degger a propósito da Filoso- rias se cruzam.
fia. Para falar sobre a disciplina No domínio intelectualis-
no Brasil, ele a toma, primei- ta/sincronia o paradigma identi-
ramente, em sua universalida- ficado é o “racionalista” – a
de, isto é, em suas formas pri- partir da evidência histórica da
mordiais, partindo do geral “Escola Francesa de Sociolo-
para o particular. Sendo assim, gia” (de onde se originou a
ele parte de dois procedimen- vertente racionalista da Antro-
tos: o primeiro consiste na pologia Social, de Mauss a
elaboração de um modelo ma- Lévi-Struss); no domínio empi-
tricial da disciplina por meio rista/sincronia, o paradigma é
do qual se cruzam às tradições estrutural-funcional exemplifi-
intelectualista e empirista; segun- cado pela “Escola Britânica de
do, com os termos de uma Antropologia Social” (com
antinomia temporal, que ex- especial destaque a W.H.R.
prima a relação tempo e sua Rivers e Radcliffe-Brown); no
negação ou não tempo, de domínio empirista/diacronia,
maneira a identificar em cada evidenciou-se o paradigma
uma daquelas tradições “esco- culturalista, surgido no interior
las” ou vertentes da disciplina da “Escola Histórico-Cultural
que estejam marcadas, umas Norte-Americana”, liderada
pela neutralização ou anulação por Boas; e finalmente, no
do tempo, outras pela conside- domínio intelectualista/diacronia,
ração do tempo ou da dimen- o autor identificou o paradi-
são histórica como categoria gma hermenêutico, como um
fundamental do seu modo de desenvolvimento tardio de
conhecer. Essa antinomia é uma Antropologia Interpreta-
formada pelas seguintes cate- tiva, observada em algumas
gorias: sincronia/diacronia10, que universidades norte-
possibilitou a construção de americanas. Esta organização
de paradigmas e suas respecti-
vas maneiras de lidar com a
história ou o tempo é que
10 Termos preferidos pelo autor
dado à familiaridade que gozam em formam o SER da Antropolo-
nossa disciplina. gia, mas sem deixar de enfati-
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namento faz com que olhemos das a nosso ver, que poderiam
diretamente para nós mesmos: nortear o estudo das relações
“O que é nossa sociedade?” entre os membros das socie-
Uma sociedade que nos acos- dades tribais e os da sociedade
tumamos a aceitar como cor- nacional?”.
dial, acolhedora, pacifista, Uma ideia preliminar
avessa à iniquidade, ao precon- é a de que a sociedade tribal
ceito racial, etc? Tudo isso é mantém com a sociedade en-
colocado em cheque a partir da volvente (nacional ou colonial)
realidade dos índios em nosso relações de oposição, histórica
país. Já que não se é possível e estruturalmente demonstrá-
falar de um ponto de vista veis. Roberto Cardoso faz
utópico, Roberto Cardoso se questão de ressaltar que não se
volta para o subdesenvolvi- trata de relações entre entida-
mento de certas áreas regionais des contrárias, simplesmente
do país reveladas pela presença diferentes ou exóticas, umas
do índio e, sobretudo, pelo seu em relação a outras; mas con-
estado de sobrevivência. Sendo traditórias, isto é, que a exis-
o índio um indicador socioló- tência de uma tende a negar a
gico de válida utilização pelos da outra. Não sendo por outra
que estudam a sociedade naci- razão que ele se valeu do ter-
onal, seu processo expancio- mo fricção interétnica para enfa-
nista, sua luta pelo desenvol- tizar a característica básica da
vimento. situação de contato. Por
Em O Índio e o Mundo exemplo, o processo de expan-
dos Brancos (1981), uma pesqui- são da sociedade brasileira
sa sobre as relações entre ín- sobre os territórios tribais,
dios e brancos no alto Soli- resultando na destruição dos
mões, o autor ressalta o seu indígenas (depopulação, desor-
olhar sobre o fenômeno de ganização tribal, desagregação
contato interétnico, que será e dispersão das populações
estudado enquanto relações de tribais etc.); a sobrevivência de
“fricção”. Sendo, nesta obra, algumas sociedades tribais não
ressaltada através de uma ques- é suficiente para esconder o
tão fundamental: “Quais as sentido destruidor do contato.
ideias diretrizes, as mais fecun- Em consequência, devido a
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MOTTA, Roberto. Gilberto ______ Sobre o pensamento an-
Freyre: uma lembrança. Revista tropológico – Rio de Janeiro:
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mas Fundamentais nos Estudos
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Sincretismo e Desenvolvimento no
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