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ANTIGOS, SÓCRATES, PLATÃO

I. Gregos arcaicos
A ética antiga tinha por objetivo alcançar o ideal de um Homem Superior. Neste
ideal condensavam-se ideias como:
 Nobreza;
 Coragem;
 Heroísmo guerreiro;
 Inteligência e estratégia;
 Cavalheirismo, refinamento e “boas maneiras”;
 Honra e aprovação de todos;
 Glória duradoura.
Os antigos viam os heróis das mitologias (ex.: Aquiles, Ulisses, Perseu e etc.)
como pessoas que atingiram este ideal e como exemplos que deviam ser imitados. Por
isso, os antigos cultivavam a ânsia de se distinguir entre os demais, aspiravam à honra e
à aprovação e desejavam o reconhecimento da sociedade à qual pertenciam.
Os antigos entendiam por virtude (areté)1 o seguimento das condutas próprias
aos guerreiros valorosos e corteses. Esta concepção de virtude distingue-se da que hoje
temos: entendemos por virtudes os bons hábitos, ou seja, o hábito de ser justo, caridoso,
corajoso, temperante e etc. Em nossos dias, a virtude antiga seria vista como sinônimo
de vaidade e de ambição.
Vale lembrar que este ideal e as ideias que dele decorriam eram passadas de
geração em geração entre os membros da classe aristocrática. Deste modo, a educação
moral antiga só era dada aos nobres, uma vez que só eles (por serem, como se pensava,
descendentes dos deuses e dos heróis) podiam cultivar a virtude e, consequentemente,
alcançar o ideal do Homem Superior.
No que concerne à relação entre a ética antiga e a religião grega, podemos
apresentar pelos menos três pontos:
 A religião grega não apresentava leis e mandamentos aos seus membros;
 Os deuses também procuravam, como os aristocratas, a honra e o prestígio. Por
isso, os mortais deveriam prestar a devida honra a eles. Não lhes dar a devida
honra era o pior dos crimes, merecendo castigos e maldições;

1Etimologicamente, a palavra areté significa “a realização perfeita das suas atividades próprias”. Por
exemplo, a areté do escultor consiste em produzir a melhor estátua possível, ou seja, em realizar
perfeitamente a sua atividade de esculpir; a areté do professor consiste em fazer os alunos aprenderem o
máximo possível, ou seja, em realizar perfeitamente a sua atividade de ensinar; a areté do computador
consiste em processar dados de maneira mais eficaz possível, ou seja, em realizar perfeitamente a sua
atividade de processar dados e etc.
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 Para os antigos, não existiam noções como “responsabilidade moral”, “culpa”,


“livre-arbítrio” e etc. Os seres humanos cometiam atos ruins porque eram
movidos pelos deuses e não porque assim escolhiam.

II. Pré-socráticos, sofistas e Sócrates

1. Pré-socráticos
Os pensadores pré-socráticos (ou seja, os filósofos que vieram antes de Sócrates.
Exemplos: Tales, Anaximandro, Heráclito, Parmênides e etc.) estavam preocupados em
conhecer a origem do mundo, em saber qual era a origem de todas as coisas. Seu
pensamento estava voltado para o universo e não para o interior dos homens. Deste
modo, não temos neles uma preocupação eminentemente ética. A titulo de curiosidade,
vale enumerar, rapidamente, as ideias de alguns pré-socráticos.

PRÉ-SOCRÁTICOS PRINCÍPIO DO UNIVERSO


Tales Água
Anaximandro Ápeiron (ilimitado)
Heráclito Fogo
Pitágoras Número
Parmênides Ser
Empédocles Quatro elementos (fogo, terra, água e ar)
Demócrito Átomos

2. Sofistas
Os sofistas, ao contrário dos pré-socráticos, preocupavam-se com o homem e a
sua educação. Estes pensadores tiveram grande fama especialmente no século V a.C.,
época em que a Grécia não seguia o regime aristocrático, mas sim o democrático.
Segundo a democracia então em voga, os cidadãos (diga-se, os homens gregos adultos e
livres) tinham o papel de discutir em praça pública (na chamada ágora) os rumos que a
cidade devia tomar, as leis que deviam ser instauradas e etc. Nesta época, portanto,
ganhou grande importância o uso da palavra para o convencimento das multidões.
Para suprir esta demanda, surgiram os sofistas. Sábios itinerantes, os sofistas
passavam pelas cidades gregas ensinando a arte da argumentação e do convencimento.
Tal formação era paga e, por isso, acessível somente aos dotados de boa condição
financeira. Algumas características dos sofistas são:
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 Crítica às mitologias. Para os sofistas, os deuses eram nada mais do que criações
humanas. Para Pródico de Ceos, eles eram seres inventados pelo homem que
possuíam características humanas; para Crítias, os deuses eram seres que foram
inventados por políticos ilustres com o intuito de fazer os seus subordinados
obedecerem às leis. Esta concepção levou-os facilmente ao ateísmo e ao
agnosticismo;
 Concepção relativista da verdade. Pelo fato de viajarem por vários lugares e
perceberem as diferenças no que diz respeito às leis e aos costumes, os sofistas
chegaram à conclusão de que não havia uma verdade e um bem absolutos que se
impusessem a todos os seres humanos. Ao contrário, a verdade e o bem eram
contingentes e relativos, dependendo das culturas e das circunstâncias que são
levadas em consideração. Para Protágoras de Abdera, aquilo que é bom e
verdadeiro é medido pelo fato de ser útil a determinada pessoa ou sociedade, já
aquilo que é mau e falso é medido pelo fato de ser danoso a alguém ou a uma
sociedade;
 Distinção entre natureza e lei. Para Hípias de Élida e Antifonte, as leis da
natureza eram entendidas como necessárias e válidas universalmente (diga-se
que as leis da natureza eram entendidas por eles simplesmente como leis
biológicas: é uma lei da natureza, por exemplo, que os homens se alimentem e
respirem), já as leis positivas eram vistas como contingentes e relativas. Pelo
fato de as leis positivas serem relativas e contingentes, os sofistas criticavam as
distinções sociais (aristocracia x povo) e culturais (gregos x bárbaros), pois elas
refletiam diferenças que não eram naturais aos seres humanos. Em oposição a
isto, eles defendiam a igualdade natural entre os homens: todos eles, não
importando a condição social e a cultura, estavam submetidos às mesmas
necessidades naturais, às mesmas leis da natureza (ex.: todos os homens
precisam se alimentar, precisam respirar e etc.);
 Noção de virtude. Para Protágoras de Abdera, a virtude consistia em saber
utilizar a razão para tornar forte um argumento fraco; para Górgias de Leontini, a
virtude consistia em saber usar as palavras para persuadir a multidão e atingir
interesses pessoais; para Pródico de Ceos, a virtude consistia em saber usar as
palavras e seus sinônimos para tornar o discurso convincente; para Hípias de
Élida e Antifonte, a virtude consistia em viver segundo as leis da natureza; para
Crítias, Trasímaco e Cálicles, a virtude consistia em dominar os mais fracos.
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3. Sócrates
Diferentemente dos pré-socráticos, que buscavam conhecer a origem do
universo, e dos sofistas, que davam atenção ao poder humano de convencer e dominar
pela palavra e encaravam as noções de verdade e de bem como relativas, Sócrates
voltou seu olhar para o ser humano com o intuito de investigar a sua essência e de,
assim, determinar como ele devia viver. 2 Para Sócrates, a essência do homem era a sua
alma (psyché), sede do conhecimento intelectual (pensamento) e da avaliação sobre o
certo e o errado (consciência moral). Assim, o homem deveria cuidar de si mesmo, ou
seja, deveria cuidar de sua alma mais do que do seu corpo.
Algumas ideias de Sócrates são:
 Intelectualismo. Se a essência do homem é a alma, ou seja, a sua capacidade de
conhecer e de julgar, então a virtude será sinônimo de conhecimento e o vício
será sinônimo de ignorância. Segundo Sócrates, a virtude é aquilo que
desenvolve a essência humana, ou seja, a sua razão. Uma vez que aquilo que
desenvolve a razão é o conhecimento, então a virtude consistirá no
conhecimento. Por outro lado, o vício consiste naquilo que impede o
desenvolvimento da essência humana. Se a ignorância é o fator que impede o
desenvolvimento da razão, então o vício será a ignorância.
Por exemplo, para que o homem aja de maneira justa, ele deve conhecer
primeiro o que é a justiça (qual é a natureza da justiça). Sabendo o que ela é, o
homem não terá dificuldades em agir justamente. Para que o homem aja de
maneira prudente, ele deve conhecer primeiro o que é a prudência (qual é a
natureza da prudência). Sabendo o que ela é, o homem não terá dificuldades em
agir prudentemente.
Disto, Sócrates retira a seguinte conclusão: aquele que sabe o que é o certo,
nunca cometerá erros. Todo erro moral é fruto da ignorância quanto ao que é o
bem. Em outras palavras, ao saber qual é a natureza da justiça, é impossível que
se aja de maneira injusta. Ações injustas são consequências necessárias,
portanto, de uma destas coisas: ou da ignorância total quanto à natureza da
justiça ou de uma definição imprecisa da natureza da justiça. Ações justas são

2Por isso, Sócrates tomou como sua a sentença inscrita na entrada do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti
mesmo”.
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consequências necessárias de um conhecimento preciso sobre a natureza da


justiça.
Sócrates, portanto, não aceitaria a afirmação paulina “não faço o bem que quero,
mas pratico o mal que não quero” (Rm 7, 19). Uma vez conhecido o bem, segui-
lo torna-se uma condição irresistível. É impossível conhecer o bem e não
praticá-lo. Só se pratica o mal porque ainda não houve um conhecimento preciso
sobre o bem.
 Método socrático. A fim de que os seus interlocutores abandonassem definições
imprecisas sobre o bem e a virtude e chegassem a conceituações precisas sobre
estes, Sócrates seguia um método pedagógico divido em duas etapas:
1ª) Refutação ou ironia. Nesta etapa, Sócrates fingia se interessar pelas ideias de
seu interlocutor e lhe pedia que as expusesse (ironia significa, literalmente,
simulação ou fingimento). Depois, partindo das próprias ideias do interlocutor,
Sócrates mostrava as suas inconsistências e contradições. Com isto, ele forçava o
seu ouvinte a admitir que nada sabe, ou seja, a admitir a sua ignorância;
2ª) Maiêutica. Em uma segunda etapa, Sócrates guiava o interlocutor a
apresentar outras ideias ou definições. A cada definição apresentada, Sócrates
mostrava suas inconsistências. O objetivo de Sócrates era fazer com que, no fim,
o interlocutor chegasse a uma definição precisa sobre o assunto debatido. O
interlocutor, segundo Sócrates, estava “grávido” desta definição precisa, ou seja,
ele já a possuía, ainda que de modo latente. O papel de Sócrates consistia, como
o de uma parteira, em auxiliar o interlocutor a “dar a luz” a esta definição
(maiêutica significa, literalmente, arte de partejar).
 Liberdade. Para Sócrates, a liberdade não consistia na capacidade de escolher
entre a e b (o que hoje é chamado de liberdade positiva), mas sim no domínio da
razão sobre o corpo (autodomínio ou, em grego, autarkeia). Em outras palavras,
o homem livre é aquele que consegue dominar a sua animalidade (os seus
instintos) através da razão; o homem escravo é aquele que tem a sua razão
dominada pela animalidade (pelos seus instintos).
 Felicidade. Para Sócrates a felicidade (eudaimonia) não era proveniente do
corpo e daquilo que a ele estivesse relacionado (fama, honra, riqueza e etc.), mas
sim da alma e daquilo que a ela se relacionasse (conhecimento). Deste modo, era
feliz o homem que se deixava governar pela razão e que dominava o seu corpo.
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Era infeliz, ao contrário, aquele que se deixava governar pelos instintos e que era
dominado pelo seu corpo.

IV. Platão
Discípulo de Sócrates, Platão buscou utilizar-se do método socrático com o
objetivo não só de investigar temas ligados à ética, mas também temas ligados à
metafísica (ou seja, à explicação da estrutura, dos princípios e das causas da realidade
que nos cerca). De início, portanto, devemos entender a metafísica de Platão. A partir
disto, entenderemos melhor todo o seu pensamento.
Segundo Platão, o mundo sensível (ou seja, o mundo que nos cerca) é marcado
pelo movimento e pela constante mudança. Nada que nele existe é permanente, tudo se
altera, deixando de ser o que era para se tornar outra coisa. Assim, parece que o mundo
sensível não pode ser conhecido e que, portanto, não podemos conhecer a verdade sobre
o mundo. De fato, se o mundo muda continuamente, então nele não há nada de estável,
nada que garanta um conhecimento seguro e definitivo.
Contudo, se olharmos o mundo com mais atenção, veremos que nele se repetem
certos padrões. Por exemplo, ainda que existam passarinhos de variadas cores e
espécies, ainda que estes animais um dia estejam vivos e em outro estejam mortos,
existe algo que nos permite identificá-los como passarinhos. Estes diferentes pássaros
parecem repetir os mesmos padrões (eles voam, têm bico, põem ovos, têm penas e etc.).
O que são estes padrões? Para Platão, estes padrões seriam:
(a) realidades que existem fora do mundo sensível;
(b) modelos através dos quais as coisas existentes no mundo sensível foram
criadas;
(c) padrões que nos permitem conhecer as coisas que existem no mundo
sensível.
Tais padrões ou modelos eram denominados por Platão como Ideias e estavam
localizados no que ele chamava de mundo inteligível. As coisas existentes no mundo
sensível imitam estes (ou participam destes) modelos existentes no mundo inteligível.
Em outras palavras, as coisas materiais são cópias das Ideias. Exemplos:
 Uma flor é bonita porque imita a (ou participa da) Ideia de Beleza existente no
mundo inteligível. A beleza desta flor é uma cópia da Ideia de Beleza;
 Um cavalo assim o é porque imita a (ou participa da) Ideia de Cavalo existente
no mundo inteligível. Este cavalo é uma cópia da Ideia de Cavalo;
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 Um cachorro assim o é porque imita a (ou participa da) Ideia de Cachorro


existente no mundo inteligível. Este cachorro é uma cópia da Ideia de Cachorro;
 Uma ação é boa porque imita a (ou participa da) Ideia do Bem existente no
mundo inteligível. A bondade desta ação é uma cópia da Ideia do Bem.
Esquematizando, temos o seguinte:

IDEIAS
Exemplos: Ideia de Cavalo, Ideia de Cachorro, Ideia de
Beleza e etc.
A mais importante delas é a Ideia do Bem. MUNDO
INTELIGÍVEL
ENTES MATEMÁTICOS
Exemplos: números, triângulos, retângulos, quadrados e
etc.
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COISAS MATERIAIS
Exemplos: cavalo, cachorro e etc.
MUNDO
SIMULACROS SENSÍVEL
Exemplos: pintura de um cavalo, escultura de um
homem, imagem refletida em um espelho e etc.

Assim, só conhecemos a essência de um cavalo (isto é, o que é ser um cavalo), a


essência de um cachorro (ou seja, o que é ser um cachorro) e a essência de um ato
bondoso (ou seja, o que é um ato bondoso) quando conhecemos as Ideias que estas
coisas imitam: a Ideia de Cavalo, a Ideia de Cachorro e a Ideia do Bem.
Igualmente, só podemos agir eticamente quando nos voltamos para o mundo
inteligível e conhecemos as Ideias. Conhecendo as Ideias, o homem se purifica,
esquecendo-se do seu corpo e dos valores a ele relacionados (honra, fama, riqueza,
prazeres e etc.) e buscando cuidar da sua alma e dos valores a ela relacionados
(conhecimento, virtudes e etc.). É conhecendo as Ideias que o homem se torna virtuoso.
Algumas ideias de Platão são:
 Homem. Platão pensava que a essência do homem era somente a sua alma. Esta
alma estava encarcerada em uma prisão material e miserável: o corpo. Assim,
podemos dizer que Platão era um dualista, ou seja, alguém que pensava na alma
e no corpo como duas realidades em completa oposição.
Através de sua alma, o homem podia acessar o mundo inteligível e conhecer as
Ideias. O corpo era considerado por Platão como um impeditivo a este acesso.
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Por isso, para atingir o mundo inteligível, o homem deveria se libertar da


sujeição ao corpo.
Para Platão, a alma humana se dividia em três partes, sendo cada uma delas sede
de determinadas capacidades humanas:
(a) Parte racional: sede do pensamento. É a parte responsável pelo
conhecimento, em especial por atingir o mundo inteligível e por conhecer as
Ideias. Ela deve comandar as outras partes da alma;
(b) Parte irascível: sede da vontade. Ela deve se subordinar à parte racional e
fazer com que a parte concupiscível obedeça aos ditames da parte racional;
(c) Parte concupiscível: sede dos desejos e dos prazeres. É a parte mais baixa e
mais ligada ao corpo, devendo ser governada pela parte racional através da parte
irascível.
Para ilustrar a relação entre estas partes, Platão se utiliza da metáfora da carroça
puxada por dois cavalos. O homem é a carroça; o cocheiro é a parte racional da
alma; um dos cavalos, bom e belo, é a parte irascível da alma; o outro cavalo,
mau e feio, é a parte concupiscível. A carroça (homem/alma) deve ser conduzida
para o seu destino (para o mundo inteligível). O responsável por conduzi-la é o
cocheiro (a parte racional da alma). Um dos cavalos é dócil e aceita os
comandos do cocheiro (a parte irascível da alma). O outro é rebelde, devendo ser
a todo o tempo controlado pelo cocheiro (a parte concupiscível da alma).
 Virtudes cardeais. Estas virtudes são consequências do conhecimento das Ideias
presentes no mundo inteligível.3 Há virtudes para cada uma das partes da alma.
Em outras palavras, há uma realização perfeita das atividades correspondentes a
cada uma das partes da alma.
(a) Sabedoria/prudência: é a virtude relacionada com a parte racional da alma.
Em outras palavras, a sabedoria é a realização perfeita da atividade
correspondente à parte racional: o pensamento. A parte racional da alma age
sabiamente quando conhece as Ideias, em especial a Ideia do Bem, e quando
comanda as partes irascível e concupiscível;
(b) Fortaleza/coragem: é a virtude relacionada com a parte irascível da alma.
Em outras palavras, a fortaleza é a realização perfeita da atividade
3Vemos aqui certa similaridade entre Platão e Sócrates, na medida em que ambos viam a virtude como
consequência do conhecimento. A posição de Sócrates e Platão diverge do posicionamento de Aristóteles.
Para Aristóteles, a virtude consiste em um bom hábito, ou seja, em uma disposição que surge como
consequência da repetição de um ato. Por exemplo, o homem adquire a virtude da justiça ao exercer
várias ações justas até o ponto em que agir de modo justo se torna fácil e automático.
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correspondente à parte irascível: o querer. A parte irascível age corajosamente


quando obedece à parte racional, controla sua vontade e permanece subordinada
à parte racional em meio às adversidades;
(c) Temperança: é a virtude relacionada com a parte concupiscível. Em outras
palavras, a temperança é a realização perfeita da atividade correspondente à
parte concupiscível: o desejo e o prazer. A parte concupiscível age
temperantemente quando obedece aos ditames da parte racional apresentados
pela parte irascível, controlando e disciplinando os seus prazeres e desejos.
Além destas três virtudes, existe também a virtude da Justiça. Tal virtude não
está relacionada com uma parte da alma. Ela consiste na relação harmoniosa
entre as partes da alma. Instaura-se na alma a virtude da Justiça quando (a) as
partes irascível e concupiscível obedecem à parte racional e (b) cada parte
realiza perfeitamente a sua função.
A Sabedoria, a Fortaleza e a Temperança se resumem na Justiça: só há Justiça na
alma quando a parte racional age sabiamente (comandando as partes irascível e
concupiscível), a parte irascível age corajosamente (obedecendo à parte racional)
e a parte concupiscível age temperantemente (obedecendo à parte racional
através da irascível).
Estas quatro virtudes serão chamadas posteriormente de virtudes cardeais
(cardeal vem da palavra latina cardo que significa dobradiça ou eixo).
 Política. Para Platão, os homens não podem naturalmente viver sozinhos, uma
vez que eles possuem várias necessidades que só podem ser supridas quando
vivem em grupo (por exemplo, proteção e alimentação). Por isso, eles tendem
naturalmente a se organizar politicamente (a palavra grega pólis significa
cidade).
Assim como há modelos e padrões (Ideias) imitados pelas coisas existentes no
mundo sensível, também há um modelo ideal de Estado que deve ser imitado
pelos governos existentes. Este modelo ideal de Estado é desenvolvido no
diálogo República.
O modo como este Estado ideal ou paradigmático se organiza é um espelho de
como se relacionam as partes da alma. Assim como há três partes na alma,
também há no Estado ideal três classes:
(a) Governantes: são aqueles no qual prevalece a parte racional da alma. Eles
contemplaram as ideias e veem no bem do povo algo acima do seu próprio bem.
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Por isso, eles têm condições de governar as outras classes. São guiados pela
virtude da sabedoria. Para Platão, somente os filósofos podiam ser governantes;
(b) Guardiões: são aqueles nos quais prevalece a parte irascível. Eles são
responsáveis por garantir com que as ordens dos governantes sejam obedecidas e
por proteger o povo. São guiados pela virtude da fortaleza;
(c) Trabalhadores: são aqueles nos quais prevalece a parte concupiscível. Eles
são responsáveis por trabalhar e por manter os guardiões e os governantes. São
guiados pela virtude da temperança.
A virtude da justiça se instaura na sociedade na medida em que há uma relação
harmoniosa entre as classes. Só há esta relação quando se respeitam duas
condições: (a) cada classe deve realizar perfeitamente a sua função; (b) cada
classe deve ocupar seu lugar correspondente (por exemplo, alguém da classe dos
trabalhadores não pode ingressar na classe dos governantes, alguém da classe
dos guardiões não pode ingressar na classe dos trabalhadores e etc.).
Como se pode perceber, as virtudes cardeais guiam não só os indivíduos (ou
seja, os cidadãos), mas também devem guiar a organização da sociedade.
Segundo Platão, só se instaura uma sociedade justa (uma sociedade onde cada
um ocupa seu lugar devido e onde todos vivem harmoniosamente) quando os
seus cidadãos são justos (onde, em cada cidadão, as partes da alma ocupam seu
lugar devido e todas elas se relacionam harmoniosamente).
Além disso, o governante é capaz de instaurar leis justas (a palavra lei vem do
grego nomos) porque estas são frutos daquilo que ele conheceu no mundo
inteligível. Estas leis, por serem justas, darão a cada um aquilo que lhe é devido.
Por exemplo:
-é uma lei injusta aquela que premia alguém da classe dos trabalhadores por
trabalhar somente para o seu benefício e não em benefício da sociedade. Em
outras palavras, não se deu a este trabalhador egoísta aquilo que lhe era devido:
a punição por um crime;
-é também uma lei injusta aquela que premia alguém da classe dos governantes
por utilizar-se do seu poder para ficar rico. Em outras palavras, não se deu a este
governante corrupto aquilo que lhe era devido: a punição por um crime;
-é uma lei justa aquela que pune alguém da classe dos guardiões por utilizar sua
força com excessos. Em outras palavras, deu-se a este guardião violento aquilo
que lhe era devido: a punição por um crime;
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-é uma lei justa aquela que permite a um cidadão fazer parte da classe dos
governantes pelo fato de ter aptidão para tal. Em outras palavras, deu-se a este
cidadão aquilo que lhe era devido: a oportunidade de ocupar sua função
específica na sociedade;
-é uma lei injusta aquela impede um cidadão de fazer parte da classe dos
trabalhadores, mesmo tendo aptidão para tal. Em outras palavras, não se deu a
este cidadão aquilo que lhe era devido: a oportunidade de ocupar sua função
específica na sociedade.

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