Só havia os dois no mundo, não se sabia o motivo. Acordaram em horários
diferentes e não tinha mais ninguém ao redor. Ele desceu as escadas do prédio onde morava, tocou a campainha de todas as casas que encontrou e nada aconteceu, tentou ligar para os amigos e os parentes, mas ninguém atendeu, gritou no meio da rua mas não conseguiu chamar a atenção de ninguém, pois não havia ninguém lá. Ela esfregou os olhos e levantou calmamente, há tempos não dormia tão bem, pois hoje o silêncio era absoluto, após sair do banheiro se deu conta que o silêncio tornara-se assustador, trocou de roupa, penteou o cabelo e resolveu sair para entender o que estava acontecendo. A rua estava vazia, Alguns carros estavam estacionados, mas não havia sinal de pessoas no local. Ela entrou novamente em casa e tentou telefonar para sua família, mas ninguém atendia ao chamado. Ele voltou para dentro, tentou se acalmar e pensou em mil explicações para o acontecimento, mas não conseguiu encontrar uma resposta. Ela permaneceu calma e voltou para a cama com a intenção de fechar os olhos e abri-los novamente, pois tudo podia ser um sonho. Ele, ainda desconcertado, saiu novamente de casa e contemplou a paisagem vazia. Após alguns minutos parado deu alguns tapas leves no rosto e resolveu andar até uma praça a poucos metros dali. Ela após perceber que realmente estava sozinha caiu no chão de joelhos e começou a chorar. Depois de algum tempo ela se levantou, enxugou as lágrimas e saiu. Ele se sentou em um balanço onde as crianças costumavam brincar. Pensou por mais um tempo, balançou-se um pouco, cogitou a possibilidade de ser apenas uma brincadeira muito bem elaborada de seus amigos, mas logo descartou a possibilidade. Resolveu em fim aceitar o fato de que estava sozinho. Levantou-se e chutou o balanço onde estava sentado e saiu sem rumo definido. Ela caminhou pelo jardim e foi até a garagem, abriu a porta do carro disposta a dirigir pela vizinhança. Primeiro deu uma volta na quadra depois seguiu por uma avenida, antes movimentada, à procura de algum sinal de vida. Ele após andar por algum tempo passou em frente a várias lojas algumas estavam abertas, mas vazias. Pensou por alguns instantes em pegar alguma coisa para si, não havia ninguém lá mesmo, mas sua consciência o impediu. Ela olhava para todos os lados a procura de outras pessoas, mas não encontrou ninguém, até que passou ao lado de uma praça, observou atentamente e enxergou um balanço vazio onde apenas um único assento estava balançando ainda que fraco. Parou o carro de repente, correu até a praça e olhou ao redor, mas não avistou ninguém, seu coração sentiu esperança nesse momento então ela começou uma busca desesperada. Entrou novamente no carro e saiu pelas ruas em alta velocidade, pois queria cobrir a maior área possível. Ele se sentou em um meio-fio e foi quando ouviu um barulho por perto, virou-se apressado, mas percebeu que era um cachorro que se aproximara dele. Era um cachorro bem cuidado de pelo liso e macio, trazia em seu pescoço uma coleira e um pingente na forma de um osso. O cachorro foi até ele e depois de cheirar e latir demonstrando o que parecia ser felicidade o homem se sentiu um pouco aliviado ao menos os animais não desapareceram. Continuaram os dois brincando e “conversando” por algum tempo até que o cachorro levantou as orelhas e saiu em disparada como se ouvisse algo. O homem correu atrás dele. Ela estava ansiosa então abriu a janela do carro para se refrescar um pouco, além de seu coração batendo rapidamente aquele era, também, um dia quente. Ao abrir a janela o vento que entrou fez com que uma foto que estava no painel do carro caísse no chão então ela ainda dirigindo abaixou-se para pegar a foto. Ele seguiu o cachorro que atravessou a quadra e parou no meio da rua latindo em uma direção. O homem percebeu que algo se aproximava do cachorro então cegamente correu em sua direção. Notou naquele momento que era um carro se aproximando, mas não enxergou ninguém dirigindo, não teve tempo para raciocinar pensou apenas em salvar seu “amigo” que corria perigo diante de um carro desgovernado. O homem salvou o cão, mas foi atropelado pelo carro em alta velocidade. A mulher parou o carro e desceu às pressas, correu até o lugar onde o homem estava caído e segurou a sua mão chorando a tempo de ouvir suas últimas palavras. - Que bom, não estou sozinho – Disse o homem antes de fechar os olhos para sempre. Só havia ela no mundo, não se sabia o motivo...