do Biodiesel na Amazônia Paraense Kátia Fernanda Garcez Monteiro ções alternativas que afetem menos o meio energético para o desenvolvimento do ambiente e a comunidade, e com oportu- país, cria o PROBIODIESEL, instituído Coord. Projeto Biodiesel-MDA/SZMPEG nidade de absorver um enorme contin- pela portaria n° 702 de 30.12.02, do MCT, Kfgarcez@amazon.com.br gente de mão-de-obra ociosa e carente dando origem mais tarde ao PNPB - Pro- na região. grama Nacional de Produção e Uso de Nos últimos anos, governos e a soci- Realizando uma breve contex- Biodiesel, através do decreto-lei n° 11.097/ edade civil tomaram consciência da im- tualização geral sobre os programas 2005, criando a figura do Produtor de portância que as energias alternativas de- energéticos para a Amazônia, pode-se des- biodiesel e estabelecendo metas e sempenham no contexto mundial. Saben- tacar o PROÓLEO, instituído pela reso- obrigatoriedade da comercialização de B2 do-se que 1/5 de toda energia utilizada no lução n° 07 de 22 de outubro de 1980, da em 2008 e B5 em 2013, em todo territó- planeta são de fontes renováveis e alter- Comissão Nacional de Energia, visando, rio nacional. nativas, e que por sua vez os combustí- primordialmente, a parcial substituição do A abundância da biomassa vegetal e veis fósseis estão com suas reservas li- óleo diesel através da utilização de óleos animal na Amazônia fazem com que a re- mitadas. O tema tem merecido destaque vegetais. Com objetivos comuns o go- gião tenha um papel de destaque para o no cenário geopolítico mundial, e contri- verno brasileiro cria o PROBIOAMAZON setor energético nacional. Um exemplo buiu de forma substancialmente para os – Programa de Biomassa Energética em são as experiências dos estados do Ama- debates na comunidade científica inter- Assentamentos do INCRA na Amazônia, zonas, Acre e Pará, que com a utilização nacional sobre a produção e uso de com- instituído entre o Ministério da Ciência e da biomassa vegetal tem proporcionado a bustíveis alternativos. Tecnologia (MCT) e o Ministério de De- constituição de pequenas ilhas energéticas A biomassa oleaginosa constitui uma senvolvimento Agrário (MDA), pela Por- na região, através da extração e uso dire- alternativa possível com diversas opções taria Interministerial de 11.10.2001. to de óleos vegetais, produzido mediante técnicas aplicáveis para nossa sociedade, No decorrer das atividades, em de- agricultura familiar e extrativista. como a redução das importações de com- zembro de 2001, é realizado o Termo de A utilização de biocombustíveis na bustível diesel de petróleo, disponibilida- Cooperação Técnica para implantação do Amazônia, embora com uma participação de de energia elétrica para comunidades projeto-piloto de exploração da cultura do bastante restrita se levarmos em conside- isoladas, o que no Brasil, principalmente dendê no assentamento de reforma agrá- ração o universo da demanda por energia na região amazônica, significa atender ria Tarumã-Mirim (Manaus - AM), assi- na região, poderá possibilitar a melhoria aproximadamente 10.000.000 de pesso- nado entre o INCRA, SEBRAE, das condições ambientais, geração de as sem acesso à energia e combustíveis EMBRAPA, IDAM, SUFRAMA e emprego e renda no meio rural, principal- (MME, 2006), sendo que, apoiando-se nos IBAMA. A partir destas experiências pro- mente aquelas famílias que adotaram o atuais programas energéticos brasileiros, missoras em relação ao uso de óleo vege- cultivo de dendê (Elaeis Guineensis jaq.) a energia para a região pode ser tal como combustível, o governo enten- com vistas a atender o mercado de conseguida, passando também por solu- dendo a importância deste setor biodiesel . Atualmente o Estado do Pará lidera a Bezerra,2006
Colheita de dendê- Comunidade Arauaí-PA maior área plantada e produção de óleo
de dendê (Palma) no país. Estudos de- monstram que o primeiro plantio comer- cial de dendezeiro no estado foi realizado em 1968, com uma plantação piloto de 1.500 ha, com a experiência da Superin- tendência do Plano de Valorização Eco- nômica da Amazônia (SPVEA) com pe- quenos produtores, onde mais tarde fo- ram absorvidos pela extinta Denpasa Ltda. Os produtores de dendê no Estado es- tão organizados em grandes (com planta- ções normalmente superiores a 1.000 ha) médias e pequenas empresas com plan- MARÇO DE 2007 REVISTA BIODIESEL ARTIGO TÉCNICO tações normalmente dispersas, além de sis- Principais municípios produtores de dendê no Pará temas de produção em cooperativas e as- sociações comunitárias, embora estes úl- timos com pouca participação na dendeicultura no Pará. De acordo com Müller (2005) atual- mente distinguem-se dois grandes pólos de desenvolvimento da dendeicultura no Estado do Pará. O primeiro abrangendo os Municípios de Tailândia, Mojú e Acará, situados ao sul de Belém, o segundo, com- preende os Municípios de Benevides, San- ta Izabel do Pará, Santo Antônio do Tauá,
Monteiro et al., 2006a
Castanhal, Igarapé-Açu, localizados à nor- deste da capital paraense. De acordo com a Secretaria de Agricultura do Estado do Pará ( SAGRI,2005), a produção de dendê (Cacho de Fruto Fresco) no Estado che- ga a 747.666 ton/ano (Tabela 1), signifi- cando uma participação considerável na Pode-se esboçar através desta experi- biomassa e óleos vegetais podem contri- arrecadação de receitas para o Estado, ência piloto na Amazônia, que este cenário buir substancialmente para a diminuição segundo dados da mesma secretaria, esta que o mundo moderno vem delineando nos das emissões de CO2 para a atmosfera. Por cadeia produtiva tem uma participação últimos anos, com metas bem definidas outro lado, a utilização deste combustível considerável no PIB agropecuário do entre países industrializados e em vias de poderá ainda gerar vantagens econômicas Pará, estando concentrado no vale dos desenvolvimento, com a utilização de para o país, ao qual, poderia enquadrar o Municípios de Acará e Mojú, área de con- biomassa para a produção de combustí- biodiesel nos acordos estabelecidos pelo centração de empresas processadoras de veis ou geração de energia, deverá tam- protocolo de Kyoto e nas diretrizes dos dendê, entre as quais o grupo agropalma. bém, além de agregar mais renda para suas Mecanismos de Desenvolvimento Limpo populações, gerar um ambiente mais lim- (MDL). Das reflexões apresentadas fica Tabela 1: Produção de dendê po e sustentável em longo prazo, com o evidente que os caminhos a seguir são inú- fornecimento de vetores energéticos mo- meros, e de grande complexidade no con- no Estado do Pará dernos a comunidades rurais, a redução texto da utilização de biomassa para pro- dos níveis de emissão de CO2 , o controle dução de biodiesel, ressalta-se que o gran- de resíduos e reclicagem de nutrientes. de desafio neste momento é aliar a política Por outro lado, a produção de biodiesel energética nacional em escalas regionais e iria totalmente ao encontro das preocupa- locais, de modo a aproveitar as oportuni- ções ambientais atuais quanto à utilização dades do uso de biomassa como fonte al- dos combustíveis fósseis e sua relação com ternativa de energia e contribuindo tam- as mudanças climáticas globais, especial- bém para o desenvolvimento sustentável O dendê, por ser considerado uma das mente com o aumento do “efeito estufa”. da região com maior geração de renda e culturas mais versáteis que se tem co- As atividades de geração de energia e uso qualidade de vida dos trabalhadores e tra- nhecimento neste momento, tem demons- de combustíveis alternativos a partir de balhadoras rurais da Amazônia. trado uma considerável participação no acréscimo da renda de 160 famílias no Produção mensal de CFF/ha, dendê-Comunidade Arauaí-PA Pará, que trabalham em regime de con- tratos negociados com a Companhia Refinadora da Amazônia, única empresa de biodiesel na região norte com o selo do combustível social, expedido pelo MDA. Neste momento a produção fami- liar, embora ainda em suas primeiras pro- duções, tem alcançado a média mensal de 2.000 ton/CFF (Cacho de Fruto Fresco), Fonte: Monteiro,2006
com envolvimento direto de 100 famílias
em aproximadamente 1.000 ha. O rendi- mento mensal médio destas famílias se aproxima a R$ 2.900,00 somente com comercialização de dendê. REVISTA BIODIESEL MARÇO DE 2007 35