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COMO SOBREVIVER AO

SEU MÉDICO

DESCUBRA AS PRINCIPAIS MENTIRAS CONTADAS POR SEU


MÉDICO E POR QUE ELE PRECISA TE ENGANAR PARA
SOBREVIVER

DR. RENATO PAULA DA SILVA

2A EDIÇÃO.
Direitos autorais do texto original

– copyright 2016 –

Renato Paula da Silva

Todos os direitos reservados


“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem
dos desonestos, nem dos sem caráter, nem dos sem ética.
O que mais preocupa é o silêncio dos bons... “

Martin Luther King Jr. (1929-1968)


Dedico este livro aos grandes médicos do nosso país, não aos que se
aproveitam de um sistema de saúde que desvaloriza a figura do médico para
aumentarem seus lucros e de suas empresas, mas aos que são vítimas desse
sistema maldoso e cruel e, ainda assim, se dedicam com amor e seriedade às
suas profissões.

Também dedico (in memoriam) às sras. Maria Oneida Mendonça de Paula,


minha tia e segunda mãe; a Vandira Clara da Silva, minha amada sogra e
Josiane Porto de Paula, minha avó.
ÍNDICE

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - AS CAUSAS DA BAIXA EFICÁCIA NA


ASSISTÊNCIA MÉDICA PRIVADA -

CAPÍTULO II - FACULDADE DE MEDICINA, A RAIZ DO


PROBLEMA -

SITUAÇÃO ATUAL DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS E


PARTICULARES

CAPÍTULO III - AS SEGURADORAS DE SAÚDE -

COMO O TRABALHO DO MÉDICO CONTRIBUI PARA OS ALTOS


CUSTOS RELACIONADOS AOS PLANOS DE SAÚDE?

CAPÍTULO IV - OS HOSPITAIS E EMERGÊNCIAS MÉDICAS -

OS EXAMES DE IMAGEM NA EMERGÊNCIA

UM CASO QUE PASSOU DE TODOS OS LIMITES!

HEMATOMA SUBCORIÔNICO (OU RETRO CORIÔNICO) NO


INÍCIO DA GRAVIDEZ - PORQUE OS MÉDICOS ERRAM TANTO?

CAPÍTULO V - O GRANDE RISCO PARA A SAÚDE DOS EXAMES


DE IMAGEM MAL INDICADOS -

OS EXAMES DE IMAGEM E A ROTINA PARA PESQUISA DE


CÂNCER

OS EXAMES DE IMAGEM E AS CRIANÇAS

CAPÍTULO VI - LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS E A


MÁFIA DOS EXAMES DE ROTINA -

A PROPINA DOS EXAMES

CAPÍTULO VII - A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA -

O CASO VIOXX

A MÍDIA E OS MEDICAMENTOS

A MÍDIA E OS ALIMENTOS

CAPÍTULO VIII - O FUTURO DA MEDICINA E OS NOVOS


PLANOS DE SAÚDE -

CAPÍTULO IX - OS DEZ MANDAMENTOS PARA SOBREVIVER AO


SEU MÉDICO -
SOBRE O AUTOR
PREFÁCIO
– O que é medicina racional? -

Com o aumento constante da utilização de exames, procedimentos e remédios


por parte da população geral, têm-se falado muito em medicinas e terapias
alternativas, com a vantagem de serem menos agressivas e mais
individualizadas, mas com desvantagens que as tornam menos confiáveis
diante de doenças mais graves! As críticas à medicina tradicional, incluem
altos custos (e que vêm aumentando cada vez mais), tratamentos muito
agressivos ao doente (às vezes, piores que as próprias doenças), falta de
atenção e cuidado por parte dos médicos, excesso de exames, de
procedimentos e de remédios! Sendo assim, fica a pergunta: qual medicina é
melhor: a tradicional ou a alternativa?

Como médico com mais de vinte anos de experiência prática, hoje me


questiono se realmente seguimos a medicina tradicional aqui no Brasil (no
serviço privado) ou, ao contrário, seguimos uma medicina puramente
comercial e completamente diferente da medicina tradicional, que também é
chamada de medicina racional!

Medicina racional ou medicina hipocrática, é definida como a prática médica


voltada a prevenir, diagnosticar e tratar as mais variadas doenças, através do
estudo dos fatores a elas relacionados e da avaliação cuidadosa de cada
paciente através de anamnese, exame físico e eventualmente exames
complementares (propedêutica médica), utilizando raciocínio clínico para
realizar o diagnóstico diferencial e empreender o tratamento mais adequado a
cada perfil específico de paciente e de doença. Essa medicina desenvolvida
inicialmente por Hipócrates (460 a.c.), veio substituir o antigo conceito de
medicina que associava as doenças a "maus espíritos" e "carmas" do passado!

Seguindo os preceitos da medicina tradicional (ou racional), toda a estrutura


de atendimento médico se baseia em duas coisas fundamentais: anamnese e
exame físico.

A anamnese consiste na conversa com o paciente, não um simples bate-papo


informal, mas uma conversa direcionada que indaga sobra a história de vida
daquela pessoa, doenças pregressas e sintomas relacionados com a queixa
atual. O exame físico, sempre completo, inclui uma boa olhada no paciente
como um todo, do fio de cabelo, às pontas dos pés! A partir desses dados, o
médico já constrói sua hipótese diagnóstica e, em 60-70% dos casos, já pode
iniciar o tratamento sem problemas.... Nos 30-40% restantes, ele pode utilizar
de um exame complementar, que vai servir para excluir ou confirmar sua
hipótese diagnóstica (exame de sangue, raio X, ultrassonografia, ressonância
magnética, tomografia, etc.), mas apenas o mínimo necessário para ajuda-lo a
confirmar a sua suspeita, e sempre um exame de cada vez.... Apesar dessa
forma de fazer medicina ser considerada a única forma aceita, parece que a
medicina Hipocrática só existe no papel! Hoje, ao contrário do que julgam a
maioria das pessoas, as condutas médicas e os tratamentos medicamentosos
não são mais pautados pelo conhecimento científico, e muito menos pelo
desenvolvimento tecnológico!

Desde que as leis de mercado, da oferta e da procura, passaram a reger todas


as práticas médicas, o foco de interesse deixou de ser a saúde e passou a ser a
doença! No mundo mercantilizado e capitalista, os médicos, hospitais,
clínicas e laboratórios passaram a considerar a doença como LUCRO e a
saúde como PREJUÍZO! Também desapareceram completamente os
conceitos de raciocínio clínico e propedêutica médica, já que o "moderar" foi
substituído pelo "exagerar", foi nesse momento que surgiu a medicina
comercial!

Do outro lado, as pessoas percebem que estão fazendo muito mais exames e
usando muito mais remédios que antigamente, mas não ficam mais saudáveis
com isso, ao contrário, têm adoecido mais vezes, além de estarem observando
doenças raras e mais graves se tornando cada vez mais comuns! É nítido para
o paciente que, apesar de munidos da mais avançada tecnologia em exames e
medicamentos, os médicos de hoje estão errando muito mais diagnósticos que
os médicos de antigamente, que só tinham estetoscópio[1] e tensiômetro[2]!

Maus profissionais existem em todas as áreas, é verdade, mas na medicina o


buraco é mais embaixo! Principalmente porque parte-se do pressuposto que o
objetivo do médico é sempre curar! A grande maioria das pessoas ainda
confia nos médicos como se eles fossem infalíveis, e infelizmente não são!
Quando procuramos um médico, tomamos um remédio ou fazemos algum
outro tipo de tratamento, é porque acreditamos na medicina e na ciência, e
temos a certeza de que isso nos trará mais saúde do que simplesmente ficar
em casa esperando a doença passar!

Mas será que ocorre realmente dessa forma?

Apesar de vivermos em um muito onde os avanços tecnológicos nos


impressionam e surpreendem a cada dia, a promessa de uma vida mais longa
e com menos doenças parece mais bonita na propaganda do que na vida real!
De fato, não estamos mais saudáveis como seria esperado. Se a medicina
avançou junto com a ciência e se tornou um produto caro e para poucos
privilegiados, porque nem os mais ricos estão conseguindo viver com mais
saúde e por mais tempo, mesmo que vivam com mais conforto?

Não discuto que a expectativa de vida da população cresceu, mas é preciso


esclarecer que esse fato ocorreu muito mais devido à melhoria nas condições
básicas de saúde, do que pelos últimos avanços da medicina![3] Saneamento
básico (acesso a esgoto e água potável), moradia (acesso à habitação de
qualidade) e alimentação (queda das taxas de desnutrição), coisas que antes
eram privilégio de poucos, hoje em dia são os principais responsáveis pelo
fato de as pessoas estarem vivendo mais! Essa melhoria das condições de
saúde que ocorreu no início do século passado em países desenvolvidos,
infelizmente está acontecendo apenas agora em nosso país (nos últimos 20
anos)!

Para piorar isso tudo, os médicos vêm perdendo a capacidade de raciocínio


clínico e pautando as suas condutas em receitas de “bolo” prontas,
acreditando que o tratamento bom para Chico, também serve para Francisco!
Infelizmente, compartimentalizar e padronizar a medicina de forma excessiva
não traz benefícios à saúde das pessoas, pelo contrário, vem aumentando
quantidade de erros e equívocos de diagnóstico!

Não é mais verdade que, ao procurarmos um médico ou tomarmos algum


remédio, nossa saúde vai melhorar! Muitas das doenças (a maioria das que
tratamos hoje em dia), representam complicações de medicamentos mal
prescritos, tratamentos desnecessários e procedimentos ineficazes, mas quase
ninguém toma consciência disso!

A ciência médica se voltou exclusivamente para o lado comercial, e o pouco


conhecimento científico a que o cidadão comum tem acesso, sempre está
condicionado a um determinado grupo de interesses: Enquanto o fabricante
do hormônio A prova, através da mídia televisiva, que a ingestão dele é
indispensável para nossa saúde, o concorrente do hormônio B, usando a
mesma mídia, prova que o hormônio A causa câncer e só o hormônio B deve
ser usado! Por conta disso, o fabricante do hormônio A cria o hormônio C e
derruba os outros dois! Nessa guerra de “gigantes”, verdades científicas
ficam subordinadas à vontade de grandes grupos comerciais, cujo único
objetivo é a satisfação do cliente[4], ainda que esse conceito não tenha
relação direta com a cura da doença! Fazer uma pessoa acreditar que está
recebendo o melhor tratamento é muito mais lucrativo do que, efetivamente,
promover o melhor tratamento! Até mesmo porque o melhor tratamento de
muitas doenças (a maioria) é, simplesmente, não fazer nada e esperar o
problema passar! Mas quem lucraria com isso?

Infelizmente senhoras e senhores, é nesse mundo que vivemos! Angustia-me


saber que, a cada formatura de medicina, o grande pai dos médicos
(Hipócrates) se revira ao ouvir seu juramento ser entoado por pessoas que
nunca irão cumpri-lo! Por outro lado, não perco as esperanças: Acredito que
um dia as pessoas vão tomar a inciativa de exigir novamente a medicina
tradicional (racional), em detrimento da medicina comercial, isso trará
melhorias na saúde geral, nos gastos com saúde e na prevenção de doenças!
Nesse dia, Dr. Hipócrates terá seu merecido descanso...

(o autor)
INTRODUÇÃO
As mensalidades dos nossos planos de saúde parecem uma caixinha de
surpresas quando o assunto é reajuste, e a surpresa é sempre muito
desagradável! No último ano[5], o reajuste anual dos planos individuais foi
de 13,5% em dados oficiais, mas passou de 50% para a maioria dos planos
coletivos! Se considerarmos que a inflação no período foi inferior a 3%,
como justificar um valor de reajuste tão alto?

Mensalidades de planos familiares, que representavam uma pequena fração


do nosso salário, já chegam a abocanhar mais da metade do que recebemos;
sem falar que os planos para pessoas mais idosas chegam a ser tão caros
quanto o aluguel de um apartamento de luxo! Apesar disso, não percebemos
melhorias na qualidade dos serviços prestados, ao contrário, os hospitais
estão sempre cheios; os médicos não conversam e mal encostam nos seus
pacientes; existe excesso de exames, de procedimentos e de remédios...

Fica claro para o paciente que o preço pago é abusivo, mas as operadoras de
planos de saúde se justificam dizendo ser culpa da maior frequência de
utilização do plano, do aumento da longevidade da população brasileira e da
ampliação de coberturas com a incorporação de novas tecnologias. Mas é
verdade que isso realmente justifica um valor tão alto de mensalidade?
Infelizmente não!

Vivemos tão envolvidos pelo medo das doenças (com razão, afinal elas estão
aumentando em frequência e gravidade a cada dia) e esquecemos do que mais
importa na hora de cuidar da saúde! Um excelente exemplo disso, é o caso
real de uma paciente com quem tive chance de conversar durante um exame
de ultrassonografia, ela estava internada em um dos hospitais privados que já
trabalhei aqui em Brasília e me contou a sua pequena história; foi quando
pude perceber como um médico, com as melhores intenções possíveis, pode
prejudicar muito a saúde de sua paciente, sem que ela se dê conta disso! Um
tipo de realidade vivida por todos os usuários de planos de saúde da
atualidade e que contarei a seguir...

(o nome real da paciente foi omitido, sendo assim, irei chama-la apenas de
Marta)
Marta é uma jovem saudável de 32 anos, que vinha apresentando um leve
inchaço nas pernas nos últimos três meses, acompanhado de dores leves.
Influenciada por amigas e colegas de trabalho, ao final de mais um dia,
decidiu procurar a emergência do melhor hospital particular da sua cidade
para tentar fazer um exame de Doppler venoso de membro inferior, pois ela
tinha ouvido de uma de suas amigas que as dores dela poderiam ser uma
“trombose”, e a única forma de descobrir a doença era fazer um exame desse
tipo!

Ao chegar no hospital, ela foi atendida por Dr. F. Tabajara[6], clínico geral e
plantonista da emergência. Falou para ele o que estava sentido e que queria
muito fazer o exame de Doppler, pois acreditava estar com trombose! Dr.
Tabajara pensou (mas não teve coragem de falar) que os sintomas dela não
tinham nada a ver com trombose[7], mas havia recebido uma orientação do
diretor do hospital, Dr. Rich[8], para não desagradar os clientes e sempre
atender prontamente a todas as solicitações!

Sendo assim, ele atendeu a solicitação de Marta com intuído de acalma-la,


pois sabia que o resultado seria normal e decidiu pedir logo um exame das
duas pernas...

- “Assim o hospital ganha dois exames ao invés de um e a paciente fica ainda


mais satisfeita...” – pensou ele![9]

Para tanto, Marta foi encaminhada até o setor de radiologia para fazer o
exame, tendo esperado mais meia hora até conseguir ser atendida por Dr.
Fast6, que é um médico experiente, mas não especialista na área de Doppler!
Ao realizar o exame, Dr. Fast chegou a ter dúvida da presença (ou não) de
trombose numa pequena veia do tornozelo direito de Marta, porém, cansado
após dia exaustivo de plantão e no meio da madrugada, ele não tinha tempo
(nem paciência) para ficar decidindo se aquela pequena veia tinha ou não
trombose e achou melhor considerar a existência de uma pequena trombose,
recomendando um controle precoce para o especialista avaliar melhor a
paciente em outro momento! (durante o dia). Como sempre, ele decidiu pecar
por excesso[10] e liberou o exame com diagnóstico de trombose da veia tibial
anterior, mas não quis comentar nada com Marta para não ter que ficar dando
explicações, deixou isso para o Dr. Tabajara, que era o responsável por ela!

Marta retornou para retirar o exame duas horas depois, ela mesma olhou o
resultado e ficou apavorada! Voltou correndo à emergência e exigiu uma
conduta imediata por parte de Dr. Tabajara, que acabou por interna-la e
iniciar um tratamento de anticoagulação plena - tratamento recomendado
apenas quando há uma grande área de trombose venosa profunda no membro
inferior e considerado muito exagerado par o caso de Marta, no entanto, ela
ficou bastante satisfeita com a conduta e isso era a única coisa que importava
para eles! Nenhum outro médico questionou a conduta de Dr. Tabajara,
alguns porque sabiam que isso colocaria a competência dele à prova, outros
porque simplesmente não sabiam que a conduta tinha sido errada
(exagerada)! Tampouco, ninguém queria desagradar o Dr. Rich, diretor do
hospital, e que teve um belo lucro com todo o ocorrido! Ninguém lembrou
que o tratamento de anticoagulação plena apresenta muitos riscos e efeitos
colaterais (inclusive risco de acidente vascular cerebral hemorrágico
(derrame), hemorragia uterina, hematomas, elevação de enzimas hepáticas,
queda de cabelo e osteoporose). Talvez, por lidarem com tantas doenças no
dia-a-dia, os médicos simplesmente ignoraram todos esses riscos em nome do
menor esforço, ou de “apenas” agradar o seu cliente!

Felizmente, Marta não sofreu nenhuma sequela decorrente do tratamento,


digo isso pois fui eu quem fiz seu exame de controle seis dias depois (e não
no dia seguinte, como Dr. Fast imaginou), enquanto ela ainda estava
internada! Foi nesse dia que soube do seu caso e decidi conta-lo aqui. O
problema é que tanto Marta (que acredita ter sido salva pelo exame), quanto
Dr. Tabajara (que deu o tratamento que ela quis e não o que ela precisava) e
Dr. Fast (que acredita ser sempre melhor pecar por excesso) jamais saberão o
que realmente aconteceu! Eu não poderia contar isso para ela, pois apesar do
exame que ela fez comigo estar normal, seria constrangedor provar que o
outro estava errado, ainda mais se tratando de uma situação que envolve dois
médicos. Se eu tentasse abrir os olhos dela, provavelmente sairia de vilão! A
única notícia que eu pude dar para ela, é que ela já não tinha mais trombose
nenhuma, poderia parar o tratamento e ir para casa. (Estava curada de uma
doença que nunca teve!)
Não quero nem me ater a todo dinheiro que foi desperdiçado com a
internação e o tratamento de uma pessoa totalmente saudável, mas
principalmente ao risco de vida e de saúde a que ela foi submetida,
lembrando que esse caso realmente aconteceu e acontece com frequência nos
dias de hoje! Há uma proliferação irresponsável de falsos diagnósticos,
procedimentos desnecessários e medicamentos potencialmente perigosos, que
estão piorando, de forma lenta e pouco perceptível, a saúde e qualidade de
vida da população produtiva brasileira![11] Conheço histórias reais que não
acabaram nada bem para o paciente (sem que ele soubesse que foi vítima de
um erro), inclusive, situações onde o tratamento gerou sequelas irreversíveis
e até fatais, além de ter sido completamente desnecessário e evitável![12]
Casos semelhantes e alguns bem piores não são mais exceção nos grandes
hospitais privados, ao contrário, acontecem com uma frequência cada vez
maior, mostrando como excesso de gastos não indicam excesso de cuidados!

Apenas nos Estados Unidos, ocorrem 12 milhões de erros de diagnóstico por


parte dos médicos todos os anos, com possibilidade de dano ao paciente em
até 50% dos casos! Além disso, procedimentos sem valor científico
consomem, de maneira direta, 210 bilhões de dólares/ano[13] ao sistema
privado!

No Brasil, não existem dados oficiais, mas estimativas (baseadas em


resultados encontrados na literatura e nas estatísticas de internações) indicam
que entre 104.187 e 434.112 óbitos/ano estejam associados a eventos
adversos assistenciais hospitalares (erro médico)[14], podendo chegar a ser a
segunda maior causa de óbito em hospitais privados!

Uma estatística oficial de uma grande rede de hospitais privados do Brasil,


constatou que cerca de 30% de todos os procedimentos realizados eram
simplesmente desnecessários! Um outro levantamento, realizado pelo
Hospital Albert Einstein (São Paulo), revelou que 60% das cirurgias de
coluna realizadas naquele hospital não tinham indicação. (Por mais incrível e
estranho que esse dado estatístico possa parecer!)

Os remédios não ficam atrás nessas estatísticas: A GlaxoSmithKline (uma


das maiores produtoras de medicamentos do mundo) estima que 90% dos
seus remédios funcionem em apenas 30 a 50% das pessoas, ou seja: Aquele
receio que temos com os remédios naturais, pelo fato de não terem
comprovação científica que funcionem, deveríamos ter com os de farmácia
também, já que a maioria dos remédios vendidos nela também não têm essa
comprovação! A desvantagem, no caso destes últimos, são os efeitos
colaterais bem mais graves!

É importante lembrar que são números oficiais e quem os fornece são os


próprios fabricantes de remédios e donos de redes de hospitais! No final, os
médicos são seduzidos pelos representantes da indústria farmacêutica a
prescreverem remédios sem conhecer exatamente a real eficácia e os riscos
do que está sendo prescrito, principalmente se o medicamento for recém-
lançado no mercado! Todas essas situações, além de prejudicarem a sua
saúde, ajudam a aumentar os lucros dos hospitais, das clínicas, dos
laboratórios de exames, dos laboratórios farmacêuticos e também servem
para embasar os aumentos abusivos dos planos de saúde, comentados no
início deste capítulo[15]! A regra é simples: Se um único usuário utiliza
excessivamente o seu plano de saúde, é provável que isso gere algum
prejuízo à operadora, porém, quando a maioria dos usuários de um mesmo
plano utiliza excessivamente, isso impacta diretamente no índice de reajuste
anual! As regras que permitem esse tipo de prática aparecem naquelas
letrinhas miúdas que ninguém lê, e são válidas para quase 80% dos planos de
saúde do Brasil, que são os planos corporativos (feitos a partir de uma
empresa, cooperativa ou associação). Com o aumento excessivo e
progressivo dos gastos de todos os usuários, tanto os planos individuais
quanto os coletivos acabaram reajustando suas mensalidades em valores
muito acima da inflação, fazendo com que o lucro médio das operadoras não
tenha parado de crescer nos últimos anos[16], representando um aumento de
70,6% em 2016 e encerrando o ano com um lucro de 6,2 bilhões de reais!

Com a desculpa do encarecimento da assistência médica pelo avanço da


tecnologia, as operadoras de planos de saúde trabalham com margens de
lucros generosas, isso torna os planos privados cada vez mais onerosos e
inacessíveis à população! Para completar o quadro, temos um sistema de
saúde pública que simplesmente não funciona, a despeito de pagarmos uma
carga tributária que está entre as maiores do mundo!
A boa notícia é que podemos mudar essa realidade, se houver vontade
política e união dos usuários do sistema de saúde! A mensalidade do plano de
saúde pode ser muito menor e a assistência poderia ser de muito mais
qualidade (vide exemplos no Canadá, alguns países da Europa, Coréia do Sul,
Japão e etc...), o que refletiria na nossa qualidade de vida e na nossa relação
com as doenças! Para falar desses assuntos e ajudar você a se proteger dos
maus profissionais é que escrevi esse livro, e é disso que vamos tratar a partir
de agora...
*Gráfico mostrando que o crescimento da receita das operadoras tende a ser
maior que o crescimento das despesas.

Elaboração: IESS (Guia da Saúde Suplementar).


“As pessoas pagam mais caro pelo atendimento e não têm suas necessidades
atendidas, ou quando acham que as têm, acabam sendo enganadas pelos
médicos e pelo sistema como um todo!”
CAPÍTULO I

- As causas da baixa eficácia na


assistência médica privada -
“Quando o médico se torna um homem de negócios e o homem precisa de
um médico de verdade, a quem ele deve recorrer? “
Em novembro de 2015, a médica formada pela universidade de Nova Iorque,
Dra. Érica Schwartz, publicou o livro: “Don't Let Your Doctor Kill You:
How to Beat Physician Arrogance, Corporate Greed and a Broken System”
(“Não deixe seu médico te matar: como vencer a arrogância médica, a
ganância corporativa e um sistema quebrado”), ainda sem versão em
português, mas que fala de um tema delicado e cheio de tabus,
principalmente na nossa realidade brasileira! Mundialmente famosa por seus
livros e suas publicações em sites de saúde, a Dra. Érica conseguiu perceber o
grande equívoco que se tornou o modelo de assistência médica implementado
pelos Estados Unidos e amplamente replicado pela assistência privada do
Brasil! (Que copia o modelo norte americano em seus mínimos detalhes!)
Quando comecei a escrever o meu livro, em 2013, estava realmente muito
desiludido com a forma equivocada de se tratar a atenção à saúde,
principalmente no serviço privado, e não conseguia enxergar nenhuma
possibilidade de melhora à época! Porém, depois de conhecer trabalhos como
o da dra. Érica, do médico inglês Vernon Coleman (um grande crítico da
mercantilização da medicina), além de campanhas internacionais como a
Choosing Wisely (que alerta sobre os riscos à saúde ocasionados pelo excesso
de exames), percebi que não era a única voz a clamar nesse deserto! Aqui no
Brasil, no entanto, movimentos desse tipo possuem pouco ou nenhum alcance
na grande mídia, sendo totalmente sufocados por essa “onda” que vem
transformando a medicina privada brasileira numa indústria de doenças!

Nos últimos anos, as coisas têm piorado de forma constante e significativa,


sendo alimentadas pelo impulso consumista que se tem dado à assistência
médica! Existem quatro fatores principais e que formam a base desse sistema
de fabricar doenças e gerar procedimentos de eficácia duvidosa, que são:

- Em primeiro lugar: Uma necessidade em manter e elevar os lucros das


clínicas, hospitais e laboratórios de análises clínicas, que se tornaram
sociedades anônimas mantidas por grandes investidores internacionais e
movimentam cifras astronômicas em dinheiro todos os anos. Em comum
acordo com as operadoras de planos de saúde, essas grandes empresas estão
barateando a mão de obra médica[17] para ganhar no volume de
atendimentos e aumentar a necessidade de exames e procedimentos![18]
Quem mais perde com tudo isso é o cliente do plano, que paga reajustes
muito acima da inflação e sofre com os efeitos colaterais de tratamentos
desnecessários e excesso de exames!

- Em segundo lugar: Os laboratórios farmacêuticos, que movimentam uma


gigantesca máquina de lucro com suas patentes de medicamentos caríssimos,
remédios muitas vezes insuficientemente testados, mas que precisam ir para o
mercado para promover lucro aos seus fabricantes! Só para se ter uma ideia,
quando compramos um remédio recém lançado, o custo com a produção do
mesmo não chega nem a 1% do valor total pago! Toda a diferença restante
é referente a custos com pesquisas (muitas vezes manipuladas), pagamentos a
médicos pesquisadores e despesas com marketing! Aliás, hoje em dia, mais
de 50% desses gastos são apenas com propaganda: os médicos clínicos e
especialistas ganham passagens de avião, hospedagem em resorts, inscrições
em cursos e congressos, brindes (i-pods, pen-drives, bolsas, canetas, revistas,
etc.), tudo isso para dar preferência por este ou aquele medicamento.

- Em terceiro lugar, uma mudança total de paradigma na relação médico-


paciente! O mundo passou por uma transformação ideológica, baseada
exclusivamente na valorização do capital, essa atitude, nas mais variadas
áreas de atuação, trouxe avanços que melhoraram significativamente a
qualidade de vida das pessoas: Hoje, andamos em grandes aeronaves e
potentes veículos, temos internet, iphone e todo o conforto que a tecnologia
pode nos proporcionar! Infelizmente, essa mercantilização produziu o efeito
contrário ao que deveria na área médica: O produto comercializado passou a
ser a DOENÇA (e não a saúde), e o médico virou um homem de negócios
que lucra com as doenças!

- Em quarto lugar: Nos últimos anos, tanto no Brasil como nos Estados
Unidos, tivemos uma piora bastante considerável na qualidade dos cursos de
medicina e na forma com que o conteúdo médico é apresentado aos
estudantes! Principalmente aqui, isso foi agravado pelo aumento
descontrolado na quantidade de escolas médicas e na falta de controle dos
órgãos de fiscalização! Para se ter uma ideia, no último exame feito pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 61% dos recém-
formados foram reprovados, e apesar disso, já estão atuando como médicos!

Alunos ruins se formam por falta de mais cobrança dos professores, estes
últimos andam tão atarefados em cursos, congressos e apresentações, que não
têm tempo para dedicar aos seus alunos, conhece-los melhor ou cobrar deles
uma postura mais ética! Para completar esse quadro, observa-se um total
desinteresse dos formadores de opinião e da própria classe médica em
"filtrar" o nível de profissional que está sendo colocado no mercado.

Além desses quatro fatores principais, outro ponto relevante é o medo


crescente de processos, que induz o profissional médico a não mais visar a
“cura” de seus pacientes, mas procurar apenas “agradar” seus clientes e
proteger-se de qualquer possibilidade de questionamento de suas atividades!

Sendo assim, a máquina que movimenta a medicina atual: planos de saúde,


hospitais, clínicas, laboratórios, indústrias farmacêuticas e médicos[19]
trabalham exclusivamente em prol de aumentar a quantidade de doenças e de
doentes, promovendo o consumo descontrolado de remédios e os gastos com
exames e procedimentos desnecessários!

Algumas verdades incômodas precisam ser ditas sobre nosso sistema de


saúde e é desses assuntos (e de mais alguns) que passaremos a tratar de forma
detalhada nos próximos capítulos...
“...O problema é que o produto comercializado passou a ser a DOENÇA (e
não a saúde), e o médico virou um homem de negócios que lucra com as
doenças! “
CAPÍTULO II

– Faculdade de medicina, a raiz do


problema -
“[...] no último exame feito pelo Conselho Regional de Medicina do Estado
de São Paulo – onde estão algumas das melhores escolas do país -, 61% dos
recém-formados foram reprovados, [...]”
Ainda me lembro, no ano de 1996, quando eu cursava o segundo ano da
faculdade de medicina e os médicos mais antigos (a maioria deles em vias de
se aposentar) alertavam sobre o fato de que mudanças profundas vinham
ocorrendo na profissão médica, e que isto, em um futuro próximo, destruiria a
nossa medicina tradicional! Na verdade, nessa época, estávamos passando
por uma fase de transição entre a velha medicina e a nova medicina e, no
início, até achei que a mudança seria positiva! Os médicos mais novos, por
exemplo, falavam muito dessa mudança de paradigma, onde o paciente
deixava de ser "paciente" e passava a ser "cliente" e a relação entre médico e
cliente passava a ser puramente comercial, como em qualquer outra área do
segundo setor! A ideia era que a livre concorrência estimulasse o progresso
da ciência médica e isso refletisse de forma positiva no tratamento e
recuperação dos pacientes, mas no final das contas as coisas não saíram
exatamente como eles imaginavam! Infelizmente, a medicina se tornou algo
bem diferente daquela visão otimista de futuro que foi passada na faculdade.
Mas a questão é: como um modelo de medicina coerente, racional e baseada
no raciocínio lógico e puramente científico (idealizada por Hipócrates, o pai
da medicina), se transformou em algo puramente comercial?

Tudo começa na formação, é claro!

Como em qualquer outra área, a maior parte dos jovens e adolescentes que
ingressam na faculdade de medicina, o fazem por realmente acreditar na
possibilidade de ajudar os outros e de curar doenças! Outra parte, o faz
pensando na estabilidade financeira e/ou na possibilidade de ingressar nos
negócios já lucrativos da própria família!

Infelizmente, mesmo os que ingressam com intenção de ajudar, acabam tendo


que se acomodar e aceitar todas as falsas verdades que lhe são passadas para
se manterem competitivos, participando de forma inconsciente ou
semiconsciente de todo esse processo de mercantilização médica! Muitos
jovens recém-formados são convencidos a pensar e agir seguindo uma lógica
criada pelas grandes corporações médicas, sendo ensinados a solicitar todos
os tipos de exames e procedimentos, ainda que desconheçam a utilidade
deles, e trabalhar cuidando apenas de números (resultados de exame), ao
invés de tratar o paciente ao qual o resultado pertence! Um pensamento como
esses pode ser muito saudável em uma empresa de consultoria da bolsa de
valores, de venda de carros ou de outros produtos, porém, ao ser adaptada de
forma equivocada para a área de saúde, criou uma situação onde o único
objetivo passou a ser de atender um número máximo de pacientes, em um
mínimo período de tempo, sem levar em conta as particularidades de cada
caso!

O modelo de ensino passado pelas faculdades de medicina da atualidade trata


o corpo humano como se fosse apenas um conjunto de órgãos e tecidos,
loteando o ensino médico por cada órgão específico e ignorando as infinitas
possibilidades de conexões entre os mesmos! Esse modelo de ensino foi
importado, de forma equivocada, pelo modelo adotado nas escolas norte-
americanas! A diferença é que lá, os professores-doutores mais respeitados já
mostram um profunda preocupação com essa forma medíocre de se fazer
medicina, isso pode notado pelos inúmeros artigos publicados em revistas
especializadas da área médica, sendo que até já criaram até um nome para
essa “síndrome” que acomete esses profissionais de pouca competência,
chamam-na de hyposkillia, ou “deficiência de habilidades clínicas”, em livre
tradução.

O corpo humano é muito mais complexo que um simples conjunto de


órgãos... Para se conhecer bem qualquer um destes órgãos, é preciso entender
como cada um influencia em todo o resto do corpo, do fio de cabelo, às
pontas dos pés! Se uma peça de um computador quebra, trocamos a peça e o
restante do equipamento permanece intacto, voltando a funcionar
normalmente! O corpo humano definitivamente não funciona como um
computador, e a medicina moderna ainda está longe de entender as inúmeras
possibilidades de conexões entre órgãos e tecidos que determinam quando,
como e por que adoecemos!

Entendemos muito menos do que supomos, realizamos muito menos do que


achamos!
“[...] é ético a um médico dar diagnósticos imprecisos e equivocados e
prescrever medicamentos de eficácia duvidosa apenas para promover seus
patrocinadores ou ganhar vantagens? “
Para entender e curar doenças, não adianta ter feito especialização nas
melhores faculdades do mundo, se o médico não souber fazer uma boa
anamnese (conversa direcionada com o paciente) e um bom exame físico,
utilizando raciocínio clínico em suas decisões! Um exame de sangue ou de
imagem (ainda que seja muito avançado) não substitui a atuação do médico, e
um verdadeiro especialista teria que entender um pouco de tudo, apenas
tendo um conhecimento mais específico naquela área de sua especialidade,
porém, estamos precisando urgentemente de mais médicos generalistas,
médicos de família, que saibam cuidar das pessoas e focalizar todos os
aspectos biológicos (ou não) que influenciam na saúde do indivíduo! O
conhecimento precisava ser mais democrático e os médicos sempre deveriam
agir em conjunto, pois uma doença nunca afeta apenas um órgão ou tecido,
mas sim, todas as relações existentes daquele órgão ou tecido com o resto do
corpo!

Os médicos de hoje (mesmo os formados por boas faculdades), já são


direcionados muito cedo para as suas especialidades, não sendo sequer
cobrados sobre as outras áreas da medicina durante o curso! É bem provável
que um estudante de medicina que deseja trabalhar com dermatologia,
consiga terminar a faculdade sem nunca ter assistido a um parto, ou que um
estudante que deseje ortopedia, nunca tenha aprendido na prática sobre
doenças renais[20]!

Existem especialistas teoricamente conceituados que fizeram duas ou três


pós-graduações (nos Estados Unidos, na Europa), mas não sabem conversar
com seus pacientes, passando apenas a repetir as "receitas de bolo" que
aprenderam nessas especializações e ganhar rios de dinheiro por se
associarem a fabricantes de medicamentos e promoverem seus produtos!

Se de lado temos os médicos “estrelas”, que só entendem de ganhar dinheiro,


de outro lado temos uma grande massa de médicos que ganham pouquíssimo
por cada atendimento e precisam atender uma grande quantidade de pessoas
no mínimo período de tempo para melhorar seus rendimentos mensais. (tanto
nos convênios, quanto no S.U.S) Esse segundo grupo engloba desde bons
profissionais que aprenderam o certo, mas precisam “dançar conforme a
música”, até médicos que se formaram em faculdades do tipo: “pagou-
passou” e não entendem absolutamente nada de medicina (repetem receitas
de bolo, da mesma forma que os médicos “estrelas”)

O problema é que as pessoas estão ficando sem muita opção, pois a escassez
de bons profissionais atinge até os convênios mais caros, obrigando o
paciente a recorrer a consultas particulares quando precisam procurar um
profissional de qualidade (e estes, cobram verdadeiras fortunas por uma
consulta)! Essas pessoas não sabem que, mesmo esses profissionais, nem
sempre são 100% honestos! Tem muito “médico estrela” ganhando rios de
dinheiro apenas para enrolar seus “clientes” e prescrever tratamentos caros e
de eficácia duvidosa!

Essa falta de competência dos novos profissionais acontece em faculdades de


nome reconhecido e até em faculdades públicas que exigem muito de seus
alunos, porque os métodos de avaliação não são adequados, na grande
maioria das vezes! O aluno "decora" a matéria um dia antes da prova e
esquece tudo dois dias depois! Mais grave ainda é a situação dos
internatos[21], que é uma fase fundamental para a formação do médico
durante a faculdade! Nessa fase, o nível de aprendizado varia muito de
acordo com o hospital onde o aluno for alocado e se os preceptores estão
avaliando qualitativamente seus alunos, ou considerando sua frequência no
hospital como suficiente para que aprendam. (A qualidade do médico que
será formado vai depender diretamente da cobrança, ou não, de cada
preceptor!)

Na época de internato da minha faculdade, por exemplo, o aluno escolhia o


internato de sexto ano que mais lhe agradasse para ficar o ano inteiro!
Haviam internatos que cobravam muito dos alunos e eram rigorosos, outros
(em hospitais menos conhecidos), sequer cobravam a presença do aluno no
hospital! Acontecia que: muitos dos alunos que almejavam especialidades
mais difíceis de passar, como: oftalmologia, radiologia, neurologia e
neurocirurgia, por exemplo, decidiam simplesmente passar o ano inteiro em
casa estudando ou fazendo cursinho pré-residência, e nem sequer
compareciam ao internato, apenas passavam uma vez por semana para assinar
a lista de presença!

Certa vez, ouvi de um preceptor de internato que só o fato de o aluno ter


chegado até o ponto que chegou, já o credenciava a ser médico, não sendo
nem ético cobrar qualquer coisa dele, pois o mesmo já poderia ser
considerado “um colega”. Esse preceptor me confirmou nunca ter reprovado
nenhum aluno dele!

Não sei se minha faculdade continua formando alunos dessa forma, afinal já
se passaram 20 anos, mas acredito que esse não era, nem seja, o problema
mais grave! O grande “X” da questão envolve o direcionamento muito
precoce do aluno para a especialidade, e acontece de forma sistemática em
todas as faculdades do país e de boa parte do mundo! Para o sucesso de um
médico na residência de oftalmologia ou de neurocirurgia, não faz nenhuma
diferença seu grau de conhecimento em clínica médica ou pediatria, porém,
faria toda a diferença para a saúde e para a vida do paciente que ele cuida!
Além disso, mesmo que hoje se cobre mais a presença dos alunos, apenas ser
obrigado a comparecer ao internato não credencia uma pessoa em
determinada área médica, pois é fundamental que ele seja cobrado, exigido e
fiscalizado de todas as formas possíveis! A medicina é uma área muito nobre
para formar pessoas da maneira que vem formando!

Esta é a nossa realidade: quem realmente gosta de cuidar da saúde das


pessoas, muitas vezes nem consegue entrar na faculdade, devido à alta
concorrência das públicas e o alto preço das privadas! Do outro lado, as
faculdades privadas só querem mesmo é formar mais alunos, pois isso
aumenta a lucratividade do seu negócio! Adianta encher o país de médicos
desse tipo?
“Esta é a nossa realidade! Quem gosta, de verdade, de cuidar da saúde das
pessoas, muitas vezes nem consegue entrar na faculdade, devido à alta
concorrência das públicas e o alto preço das privadas! “
SITUAÇÃO ATUAL DAS
UNIVERSIDADES PÚBLICAS E
PARTICULARES

Depois de formado, sempre gostei de estar no ambiente acadêmico, seja na


função de professor, como quando trabalhei na cidade de Marília/SP e na
maternidade escola ligada à Universidade Federal da Bahia; seja como
preceptor, como quando trabalhei com os residentes de radiologia no Hospital
Universitário de Brasília. Eu conheci, na prática, desde faculdades
particulares no estilo: “pagou-passou”, até universidades públicas sucateadas
e outras que não cobravam sequer a presença dos alunos!

Na cidade de Marília, onde lecionei numa universidade particular, o curso já


era considerado caríssimo para a época (2003 a 2006). Vi muitos alunos que
tiravam nota 2 ou 3 em provas valendo 10 e apareciam “misteriosamente”
aprovados no ano seguinte! Todos receberam seus diplomas e hoje
prescrevem remédios e fazem cirurgias, espalhados pelo Brasil! Dentro da
faculdade, havia muito pouca aula prática e tinha gente que quase nunca
aparecia na aula, mas mesmo assim, conseguia se formar sem nenhuma
dificuldade! (Uma verdadeira “fábrica de médicos”.)

Em faculdades públicas, por outro lado, tive experiências completamente


diferentes nas duas em que trabalhei: uma em Salvador e outra em Brasília.
Na primeira, o problema era a falta de equipamentos e de condições básicas
de higiene e infraestrutura, sendo salvo apenas pela atuação de alguns
professores heróis, que tentavam manter o nível de ensino dentro do hospital-
escola! Na segunda, as coisas eram bem piores: a despeito de haver uma
relativa estrutura e equipamentos de melhor qualidade, o problema estava no
material humano: médicos desmotivados, professores displicentes e ausentes,
falta de cobrança e total desorganização! Um local que deveria seguir o rigor
do ensino científico, resolveu dar lugar ao menor esforço e a displicência! Vi
médicos aprenderem errado e ensinarem errado, por simples falta de
conhecimento científico básico (e nenhuma vontade de aprender). Nem a
presença dos residentes nos ambulatórios era cobrada por parte dos
professores e coordenadores! Como minha função era apenas de preceptor,
não podia punir alunos que nunca apareciam no meu ambulatório, mas me
incomodava a ideia de saber que seriam aprovados sem problema, tanto que
desisti de continuar lá nessa função!

Sou titulado e especialista em ultrassonografia, uma área que atrai muito


pouco interesse dos futuros radiologistas em formação, apesar de ser o tipo de
exame mais solicitado e mais executado em todas as clínicas e hospitais do
Brasil! O motivo disso é simples: ultrassonografia remunera muito pouco por
exame (em comparação com ressonância magnética e tomografia
computadorizada), apesar de ser o exame mais trabalhoso de todos, pois o
médico precisa executar o exame e ainda dar o laudo! É a única área da
radiologia onde isso ocorre, notem que nos casos de raio-x, mamografia,
densitometria, ressonância magnética e tomografia computadorizada, quem
executa o exame não é o médico, e sim, o técnico de radiologia; o médico
apenas interpreta as imagens e emite o laudo! No caso da ultrassonografia (ou
ecografia), o médico faz o exame e ainda interpreta as imagens, porém, a
despeito disso, ganha menos que nas outras áreas![22] Como os radiologistas
mais experientes não gostam e não querem fazer ultrassonografia, esse exame
acaba sendo direcionado aos recém-formados (os mesmos que eu já disse não
se interessarem em aprender essa área, pois almejam exames “mais
rentáveis”!) Se o residente não for obrigado a estudar, acaba aprendendo a
fazer o exame de qualquer jeito, muitas vezes sendo orientado por um colega
que sabe tão pouco quanto ele! Quando trabalhei com residentes, tive alunos
interessados e outros que nem apareciam, apenas por não gostar da área! Não
foi coincidência ter visto exames realizados por estes últimos com graves
erros de interpretação, geralmente inventando doenças que as pessoas não
tinham! Como eu não podia obrigar ninguém a aprender, já que não tinha
status de professor (eu era apenas um preceptor e os professores não estavam
nem aí), me restringia a ensinar aos que queriam aprender alguma coisa!

Os alunos que mostram interesse em aprender, geralmente o fazem por puro


senso de responsabilidade e ética, pois uma área tão mal remunerada com a
ultrassonografia não costuma cobrar qualidade na hora de contratar
profissionais, mesmo que seja para trabalhar em clínicas privadas e de nome
reconhecido, isso ocorre porque a demanda de exames é imensamente maior
que a oferta de profissionais do mercado! Geralmente, qualidade de
atendimento e bom currículo só são exigidos para os exames que remuneram
melhor, como ressonância magnética e tomografia computadorizada. Sendo
assim, um médico recém-formado que trabalhe fazendo ultrassografia, pode
estar utilizando aquela área apenas como um “quebra-galho” (pela facilidade
de conseguir emprego), mas vai deixar de trabalhar com esse tipo de exame
na primeira oportunidade que tiver!

Resultado disso tudo: Milhares de jovens médicos radiologistas recém-


formados trabalhando na área de ultrassonografia por não conseguirem
emprego nas áreas mais rentáveis (ressonância e tomografia), fazendo exames
“de qualquer jeito”, ganhando pouco e emitindo diagnósticos falsos,
geralmente “falso-positivos”[23], para não serem questionados pelos
pacientes.
“Não foi por coincidência ter visto exames realizados por estes últimos com
graves erros de interpretação, geralmente inventando doenças que as pessoas
não tinham! “
CAPÍTULO III

- As seguradoras de saúde -
“Por que os planos de saúde estão tão caros no Brasil? “
Todos nós sabemos que os planos de saúde no Brasil, não só estão entre os
mais caros, como são os piores do mundo em termos de qualidade de
assistência, apesar do mercado brasileiro ser o segundo maior em planos de
saúde privados do planeta![24] Porém, o que as pessoas não têm ideia, é o
motivo disso!

Segundo as operadoras de planos de saúde, um dos principais motivos para o


grande aumento do preço nas mensalidades dos planos nos últimos 20 anos
está principalmente relacionado ao aumento dos gastos decorrentes do avanço
tecnológico que norteou a medicina nesse período, mas isto é uma grande
mentira! A despeito de realmente haver ocorrido um importante avanço
tecnológico, a medicina de hoje inclui exames, procedimentos e tratamentos
que são completamente inúteis e ineficazes, por serem realizados em
quantidade e frequência muito superior ao necessário, além de serem de
baixíssima qualidade![25] Ao contrário do que muitos pensam, o prejuízo das
despesas com esses gastos excessivos e ineficazes não ficam com as
operadoras de saúde, pois elas têm carta branca na ANS para negociar
livremente os reajustes com as empresas contratantes (que pagam pelos
planos), usando essas despesas como “desculpa” para justificar reajustes
muito acima da inflação do período! Quanto mais gastos, maiores serão os
reajustes, e ainda que a margem de lucro teoricamente se mantenha a mesma
em valores proporcionais, ela aumenta em valores brutos, o que eleva o lucro
das operadoras! Essa regra é valida para nada menos que 80% dos planos de
saúde no Brasil, que são os planos coletivos! No caso dos planos individuais,
as regras são diferentes, por isso, as melhores seguradoras do país não se
interessam em oferecer este tipo de plano! O mesmo vale para os planos ditos
“populares”, são mais baratos porque não oferecem qualidade! Ora, se os
planos bons já causam sérios prejuízos à saúde de seus segurados, o que dizer
de planos “populares”?

Como os planos de saúde trataram de desvalorizar o preço das consultas


médicas para tirar o poder de mobilização dos médicos, apenas 10 a 15% do
que é pago pelo paciente corresponde a honorários médicos, sendo que todo o
restante do valor pago (85 a 90%) vai direto para o bolso dos hospitais e das
grandes clínicas de diagnóstico, ou seja, serve exclusivamente para pagar
esses mesmos exames, procedimentos e tratamentos altamente questionáveis!
Ao gastar muito com exames e procedimentos, os convênios encontram
motivos para um reajuste muito acima da inflação do período e ainda
agradam aos seus segurados, pois acreditam que quanto mais exames o
cliente fizer, mais satisfeito ficará; criando uma verdadeira bola de neve que
encarece a medicina de forma desnecessária e cria graves distorções na
assistência à saúde!
“A despeito de ter havido um grande avanço tecnológico, a medicina de hoje
inclui exames, procedimentos e tratamentos que são completamente inúteis e
ineficazes, por serem realizados em quantidade e frequência muito superior
ao necessário, além de serem de baixíssima qualidade! “
Um bom médico deveria ganhar, com consultas, o suficiente para cobrir seus
gastos, os gastos do seu consultório, todo o tempo necessário à dedicação
com o paciente e ainda sustentar sua família! Mas o que dizer de ganhar entre
R$ 60,00 e R$80,00 por consulta? (Valor pago pelos melhores convênios do
mercado.) Será que esse valor é justo?

Um médico que ganhe R$ 60,00 por consulta e gaste, em média, entre R$


10.000,00 e R$ 15.000,00[26], por mês para manter seu consultório, precisa
atender quantos pacientes por dia para conseguir sobreviver apenas de
consultas?

Agora vamos pensar juntos: Em uma consulta médica de qualidade, o médico


deve: ouvir detalhadamente as queixas do paciente, perguntar sobre fatores
associados à doença atual e fatores do seu histórico de vida que possam
influenciar na doença atual, fazer um exame físico detalhado, formular
hipóteses diagnósticas baseadas na história e no exame físico do paciente e,
por fim, decidir quais exames serão necessários solicitar (caso sejam
necessários[27]). Para fazer tudo isso, um médico experiente levaria de trinta
minutos a uma hora para cada paciente! Então ficamos assim: Se o médico
trabalhar da forma correta e atender dez pacientes por dia (um atendimento
decente), ele teria que pagar para trabalhar...

Sendo assim, para ele ter um salário líquido entre R$ 5.000,00 e R$


10.000,00 por mês, teria que atender em torno de 20 pacientes por dia, não
poderia adoecer ou tirar férias, não poderia atender nenhum retorno e nenhum
paciente jamais poderia faltar... Considerando que ele é obrigado a atender os
retornos sem cobrar, a quantidade de atendimentos já pula para cerca de 35
pacientes por dia, sem aumentar em um centavo a sua renda! Para atender
com essa velocidade, só enchendo o paciente de exames mesmo... Ao pedir
um exame, o médico consegue se livrar mais rapidamente do paciente, se
resguardar do risco de processos (agradando seu “cliente”) e até, em alguns
casos, obter algum lucro direto com essa solicitação, pois os grandes
hospitais e clínicas costumam ser “gratos” com quem pede mais exames[28].

E quem leva o pior prejuízo? Infelizmente são os “clientes” ou pacientes!


Além do fato óbvio de que alguns exames usam radiação e podem ser
cancerígenos[29], todo exame possui taxas de falso positivo e falso negativo!

Falso positivo é uma situação onde o exame indica a existência de uma


doença que na verdade não existe! Quando o médico é bom e atento, ele pode
facilmente reconhecer um falso positivo, porém nos dias de hoje, os médicos
que atendem demandas de convênio não são nem uma coisa nem outra, isso
vem fazendo com que cada vez mais pessoas tenham diagnósticos errados e
tratamentos onerosos e completamente desnecessários, encarecendo a
assistência para todos os usuários e resultando em um serviço de péssima
qualidade! Esse tipo de prejuízo não pode ser mensurado ou documentado,
mas é real, acontece todos os dias, e faz com que as pessoas percam o seu
bem mais precioso: A SAÚDE! Enfim, se não dá para confiar nos médicos,
confiar nos exames, definitivamente não é a solução!

Solicitar exames inúteis e desnecessários por não ter tido condições de avaliar
seu paciente pode ser a única opção para o médico, mas pode ser um desastre
para o paciente! Isso quer dizer que, quanto mais pessoas estiverem usando
seus planos de saúde, mais reajustes, e quanto mais reajustes, mais lucros
para as operadoras... O mais lucrativo é que a operadora tenha muitos
usuários gastando muito! Claro que as operadoras criam dificuldades em
liberar exames mais caros, pois elas querem evitar custos excessivamente
altos, por outro lado, se todos os usuários usassem seus planos o mínimo
possível, elas não teriam como negociar aumentos generosos nas
mensalidades! Elas não querem perder dinheiro nem de um lado (impedindo
que um único usuário gaste excessivamente), nem do outro (lucrando com o
gasto excessivo de todos os usuários)!

Temos a ideia que gastando muito com saúde ficamos menos doentes e, por
isso, não pensamos duas vezes para cometer qualquer sacrifício com o intuito
de pagar um bom plano para nós e nossos familiares! Está enraizada a ideia
que quanto mais cara, melhor será nossa saúde, mas infelizmente esse
conceito não corresponde à realidade! Num sistema de saúde
verdadeiramente eficiente, gastaríamos muito menos do que gastamos
atualmente, adoeceríamos menos e, caso ficássemos doentes, nos
recuperaríamos mais rápido, vivendo melhor, com menos remédios, menos
cirurgias e menos procedimentos! Tem fórmula melhor para chegar aos 120
anos?
Claro que existem problemas semelhantes em todo o mundo, sempre
envolvendo interesses escusos das grandes corporações médicas! A diferença
é que, nos países ricos onde estão ocorrendo esses problemas, existe uma
preocupação muito maior com o bem-estar dos usuários e com as
consequências dos erros e equívocos de conduta em relação à violação de
direitos individuais! Os Estados Unidos, por exemplo, tentaram reduzir os
gastos para o lado do consumidor estimulando os planos coparticipativos, no
entanto, a forma equivocada de remunerar os serviços prestados (muito
criticada pelos próprios especialistas de lá) custa caro e cria graves
distorções, encarecendo muito os custos com saúde e não garantindo o acesso
irrestrito ao atendimento básico!

No Brasil, a maior complacência da lei torna as coisas muito piores, pois


utilizamos uma forma deturpada do modelo norte-americano, criando nossa
própria forma de gerar medo nas pessoas para estimular o consumo de
tecnologia médica! Existem muitas distorções absurdas e casos escandalosos,
que seriam considerados como loucura em qualquer outro país do mundo,
mas a despeito disso, tornaram-se práticas rotineiras de determinados grupos
herméticos de especialistas médicos brasileiros! Posso dar um exemplo bem
prático disso que estou dizendo, como a seguir:

O caso dos partos do tipo cesárea[30] no Brasil, por exemplo, onde mulheres
são induzidas a achar que não existe parto normal sem dor para não exigirem
isso de seus obstetras, sendo levadas a acreditar que existem apenas duas
opções: Ser obrigada a sofrer todas as dores do parto normal ou passar por
uma tranquila cesárea! No final, são convencidas a crer que foram elas que
escolheram a forma de parto, o que é um absurdo! Os hospitais ganham com
aumento dos dias de internação e possíveis complicações para a mãe e o bebê
e as operadoras de saúde ganham com a simplificação e o barateamento do
parto! Para o médico obstetra, resta aceitar e tentar fazer a maior quantidade
possível de partos, para não abrir falência! Os que mais perdem são sempre o
bebê e a mãe!

Outro exemplo (que será contado com mais detalhes nos próximos capítulos),
é a invenção de exames de rotina ou periódicos, sem qualquer critério ou
rigor científico pré-estabelecido! Exames de sangue de validade questionável,
exames de imagem que deveriam ser solicitados apenas em pacientes com
algum tipo de queixa (como ultrassonografia de abdome, rins, ginecológica,
tireoide, próstata, testículos, todos os tipos de tomografia, entre muitos
outros) e as clínicas de “check-up executivo”, onde o paciente é tratado como
um carro que vai para a revisão dos 10.000 Km, como se isso realmente
pudesse evitar que ele apareça com um câncer avançado no mês seguinte!
(Pois é, infelizmente não evita!)

Por isso é que afirmo: a crise na medicina privada pode ser mundial, mas
aqui, o buraco é mais embaixo. Não há dúvida que as operadoras têm culpa e
lucram muito com todo esse caos, mas certamente nunca irão assumir o ônus!
“Num sistema de saúde verdadeiramente eficiente, gastaríamos muito menos
do que gastamos atualmente com os planos de saúde, [...]”
COMO O TRABALHO DO MÉDICO
CONTRIBUI PARA OS ALTOS CUSTOS
RELACIONADOS AOS PLANOS DE
SAÚDE?

Quando um jovem médico se forma e termina sua especialidade,


teoricamente está pronto para entrar no mercado de trabalho! Nesse ponto da
carreira, o grande sonho é crescer profissionalmente e adquirir uma clientela
fiel! Ao abrir sua primeira clínica, geralmente necessita atender pelos
convênios, devido à alta demanda de pacientes que os convênios atraem, mas
logo percebe que o valor pago pela consulta mal chega a cobrir os gastos com
o consultório! Seu ex-colega de faculdade também abre uma pequena clínica
de ultrassonografia no mesmo prédio; apesar de os exames de
ultrassonografia também pagarem mal, pagam muito melhor que a consulta
médica! Sendo assim, para não ficar sem pacientes, os dois decidem fazer um
acordo e o dono da clínica de ultrassonografia decide dar 10% do valor de
cada exame indicado pelo médico especialista, como forma de
“agradecimento” (propina) pela indicação!

O especialista aumenta muito os seus rendimentos, pois começa a ganhar


também pelos exames solicitados e indicados para o colega da clínica de
ultrassonografia (além de ganhar pela consulta médica) e o médico que
realiza os exames também aumenta seus ganhos, pois começa a receber todos
os pacientes indicados, a maioria fazendo exames que não vão servir para
nada! A partir daí o dono da clínica decide também conversar com o dono do
laboratório de análises (exames de sangue, urina, etc...), que tem uma unidade
de coleta no mesmo prédio da clínica e, acertados todos os detalhes do
“negócio”, ele também passa a receber uma porcentagem pelos exames
solicitados! Alguns pacientes chegam até a ficar desconfiados:

- “...esse médico exagera nos exames...”


- “...nunca fiz tantos exames assim na minha vida...”

Eles ficam insatisfeitos por não terem sidos bem avaliados e, muitas vezes,
nem olhados “cara-a-cara”, mas imensa maioria dos pacientes acaba achando
boa essa quantidade exagerada de exames, entendendo como uma
compensação pela consulta ruim! É como se aquele “check-up” pudesse
cuidar de sua saúde, já que o próprio médico não o fez! A repercussão de
solicitar excesso de exames atrai mais pacientes ao primeiro médico e
aumenta os lucros dele e dos outros dois! Quando esses exames
desnecessários indicam alguma doença, mesmo que o paciente não sinta
nada, ele fica extremamente agradecido ao médico que solicitou o exame,
ignorando o fato de o exame ter chances enormes de estar errado, por ter sido
solicitado sem uma indicação precisa! Motivado pelo diagnóstico dado no
resultado, o paciente realiza quaisquer tratamentos, cirurgias ou toma todos
os medicamentos prescritos como se o exame fosse uma verdade absoluta e
infalível, no final, acredita ter sido curado de uma doença que nunca teve!
“Geralmente ficam insatisfeitos por não terem sidos bem avaliados e, muitas
vezes, nem olhados “cara-a-cara”, mas imensa maioria acaba achando boa
essa quantidade exagerada de exames, entendendo como uma compensação
pela consulta ruim! “
O comportamento de solicitar exames de forma descontrolada e
irresponsável, ainda que não seja praticado por todos os profissionais, atinge
toda a estrutura do sistema privado de saúde! Por associar excesso de exames
e medicamentos a excesso de cuidados, os próprios pacientes não denunciam
ou condenam seus médicos! Ao dar preferência a médicos totalmente
incompetente e despreparados, apenas porque estes passam listas
intermináveis de exames, os pacientes acabam obrigando os médicos
honestos a pedirem muitos exames também, o que vira uma verdadeira bola
de neve! Na cabeça do leigo fica gravado:

“Médico bom é o que passa muito exame! “

Esse tipo de ideia tem todo o apoio da indústria farmacêutica e da indústria de


clínicas, hospitais e laboratórios, que investem milhões e milhões todos os
anos na mídia, para que essa mentira “cole” na cabeça das pessoas! Os lucros
dessas empresas, como já foi citado anteriormente, estão entre os maiores do
mercado financeiro atual! (em comparação com os outros mercados
consumidores, como o de automóveis, alimentos, cosméticos e etc...)

Como vocês podem ver, estando ou não no esquema, todo médico é obrigado
a se comportar igual: Seja para não ser considerado ruim por passar poucos
exames, seja para não ser considerado ultrapassado, por não estar
prescrevendo os medicamentos mais modernos (e mais perigosos) do
mercado!

Notem como a pressão das duas industrias acima citadas é decisiva para não
deixar que outro tipo profissional consiga se sobressair na área! Vou dar um
último exemplo, bem prático, de como isso funciona:

Imaginemos um bom médico cardiologista, que seja sincero e atencioso com


seus pacientes, não prescreva excesso de remédios e só solicite exames
quando estritamente necessário! Também saiba orientar e consiga curar a
maioria de seus pacientes sem lhes prescrever nada, a não ser vários minutos
de preciosas orientações! Digamos que esse médico atenda apenas pacientes
particulares, mas devido o fato de ter poucos pacientes dispostos a pagar por
sua consulta, opte por passar a atender também pelos convênios! Apesar de
passar a atender muitos pacientes e estes ficarem bem satisfeitos, com o
pouco dinheiro que passa a ganhar dos convênios (alguns não chegam a pagar
R$50,00/R$60,00 por consulta), ele passa a ter sérias dificuldades financeiras
e vai sobrevivendo aos trancos e barrancos!

De repente, se instalam na mesma região que ele atende, mais três médicos
que já se conheciam entre si: um cardiologista, um dono de clínica de exames
de imagem e um dono de laboratório de análises clínicas, e os três decidem se
associar com o intuito de aumentar os lucros! O cardiologista desonesto passa
a atender os mesmos convênios que o outro cardiologista (mais antigo) já
atendia!

Um dos pacientes que costumava ir ao cardiologista antigo lê em uma revista


e assiste uma reportagem numa grande rede de TV sobre uma campanha que
um famoso fabricante de medicamentos está fazendo para alertar as pessoas
sobre uma doença rara, que só pode ser descoberta por um novo exame
(caríssimo) e cujo único tratamento é justamente o novo remédio lançado por
esse fabricante (qualquer semelhança com a vida real não é mera
coincidência)!

O paciente então vai ao médico antigo, querendo realizar o tal exame que ele
viu ne televisão, para saber se tem a doença! O médico examina
cuidadosamente o paciente, mas percebe que ele não precisa de exame
nenhum, pois ele não tem a menor possibilidade de ter a tal doença; sendo
assim, orienta e libera o paciente para casa! Porém, ainda pressionado pelas
reportagens que assistiu e por saber que seu vizinho descobriu recentemente
que tem essa tal doença depois de fazer o famoso exame, o paciente retorna
ao médico, mas dessa vez resolve procurar o outro cardiologista (o
desonesto)! O charlatão mal conversa com ele, mas prescreve todos os
exames que ele quer e mais cinquenta outros tipos diferentes, de todas as
partes do corpo! O paciente sai muito satisfeito, pois teve seu pedido atendido
e faz os exames nas clínicas dos amigos do charlatão!

A reportagem da televisão não falou isso, mas esse novo exame tem uma taxa
de 10% de falso positivo (apesar de ser extremamente alta, é uma taxa bem
“normal” para exames novos, alguns chegam a ter até mais); é por isso que o
fabricante, oficialmente, só recomenda realiza-lo em pacientes que
apresentem os sinais e sintomas da doença, caso contrário, uma pessoa que
não tenha os sintomas corre o grande risco de ter um resultado falso positivo!
Esse risco aumenta exponencialmente se o exame for feito na clínica do
amigo do charlatão, porque ele está acostumado a só fazer exames normais, e
já é hábito em sua clínica, inventar um diagnóstico alterado de vez em
quando, para não pegar mal em ter tantos resultados normais! Como o
médico charlatão, além de lucrar com a comissão pelos exames, também
recebe vantagens do fabricante do medicamento, ele não está nem aí para
esses casos de falso positivo, é vantajoso para ele prescrever mais remédios!

Nosso paciente em questão foi um dos contemplados pelo “falso-positivo” e


voltou ao charlatão 100% satisfeito, pois o mesmo descobriu a síndrome que
ele achava que tinha, mas que o outro foi incapaz de descobrir! Além disso,
o vizinho não pode mais se gabar dele, pois os dois vão ter que tomar o
mesmo remédio! O nosso paciente inicia o tratamento com o novo remédio,
gastando um valor astronômico por mês e passa a ser acompanhado pelo
cardiologista charlatão, achando-o muito atencioso, já que pede um check-up
de seis e seis meses, com dezenas de exames de sangue e cinco ou seis
exames de imagem de cada vez (tudo para ganhar os 10% dos colegas)!

Pena não ser o fim da história, pois remédios novos são sempre pouco
testados e cheios de efeitos colaterais, efeitos esses que vão levar o paciente a
procurar outros especialistas, achando estar com outras doenças e fazer mais
uma bateria de exames, tomar mais remédios e etc... Tudo vira uma bola de
neve!

O cardiologista charlatão saiu ganhando e o pobre médico honesto, ou se


aposenta, ou começa a atender pacientes mais rápido e pedir centenas de
exames para sobreviver! Mesmo que ele não se envolva diretamente com os
donos das clínicas e amigos do charlatão, os mesmos vão se beneficiar do
fato dele pedir mais exames! Por ele ser naturalmente mais competente que o
outro, pode até conseguir se manter no mercado, mas vai ser obrigado a
continuar pedindo exames desnecessários, fazendo com que ele também
acabe tratando de pessoas saudáveis e prescrevendo medicamentos
potencialmente perigosos, sendo obrigado a se comportar exatamente como o
charlatão, levado, principalmente, pela pressão da mídia e dos maus
profissionais!
“[...] estando ou não no esquema, todo médico é obrigado a se comportar
igual: Seja para não ser considerado ruim por passar poucos exames, seja
para não ser considerado ultrapassado, por não estar prescrevendo os
medicamentos mais modernos (e os menos testados) do mercado! “
CAPÍTULO IV

- Os hospitais e emergências médicas -


“Nada contra ganhar dinheiro com saúde, mas o que ocorre hoje é que se
ganha dinheiro com doença, sendo assim, quanto mais doenças e mais
doentes para aumentar os lucros, melhor para eles...”
No prefácio deste livro, descrevi o caso em que uma paciente foi prejudicada
por um diagnóstico errado de trombose, mas felizmente conseguiu sobreviver
sem sequelas! Porém, conheço casos que não acabaram tão bem assim, como
o da bebê Yasmin[31], que se passou na emergência de um grande e famoso
hospital privado aqui de Brasília!

Yasmin tinha 8 meses de vida e foi levada por sua mãe na emergência
pediátrica por estar apresentando febre baixa (38o C) e recusa da
alimentação, além de choro frequente! Na emergência, a médica pediatra
decidiu fazer um check-up geral para saber a causa da infecção e pediu
exames de: hemograma, PCR, VHS, exame de urina, Rx de tórax, Rx de
seios da face e ecografia (ultrassonografia) de abdome total! Além de
custarem uma verdadeira fortuna para a cliente que paga o plano[32], nenhum
destes exames vai ajudar em absolutamente nada para se chegar ao
verdadeiro diagnóstico de Yasmin, vou explicar por que:

- Rx de seios da face: não tem utilidade nenhuma em um bebê de 8 meses (os


seios nasais ainda não estão totalmente formados), além irradiar a face da
criança;

- Rx de tórax e ultrassonografia de abdome total não têm nenhuma utilidade


em relação aos sintomas apresentados por Yasmin, e vão dar resultado
sempre normal;

- Hemograma, PCR e VHS sempre estarão alterados em qualquer situação


que envolva febre em crianças, o fato de estarem alterados não significa
absolutamente nada;

- Exame de urina é o mais perigoso de todos (pelo risco de estar errado),


porque geralmente é colhido com um “saquinho” posicionado no genital da
criança! Mesmo que se faça uma higienização no local, a SBP (Sociedade
Brasileira de Pediatria) afirma que os resultados do exame não são
confiáveis pelo alto risco de contaminação[33], tanto do exame de urina,
quanto da urocultura!

Ainda segundo a SBP, só é possível colher exame de urina ou urocultura de


forma totalmente confiável em um bebê de 8 meses através de punção supra
púbica com agulha! (Ou seja, colocar uma agulha na barriguinha da criança
para colher a urina!). Por isso mesmo, infecção urinária em bebês deve ser
um diagnóstico de exclusão, quando todas as outras possibilidades mais
prováveis tiverem sido esgotadas!

No caso da paciente Yasmin; o hemograma, o PCR e o VHS deram alterados


(porque já iam dar mesmo) e o resultado do exame de urina indicou infecção
(Na verdade, foi contaminação da amostra por coleta inadequada!) Os pais
demonstraram satisfação com o atendimento prestado e a confirmação do
diagnóstico de infecção urinária, sendo que Yasmin foi para casa usando um
antibiótico de amplo espectro, além de analgésicos e antitérmicos!

Infelizmente ela piorou, o antibiótico abalou seu sistema imunológico e


facilitou com que uma bactéria adquirida no período em que ela esteve no
hospital se alojasse em seu pulmão, causando uma pneumonia severa (... e
que não era sensível ao antibiótico que ela já estava tomando!) A mãe dela
retornou à emergência e a pequena Yasmin foi internada e medicada! O
tratamento não surtiu o resultado esperado, pois a bactéria que colonizou o
pulmão de Yasmin era uma superbactéria (adquirida na primeira visita ao
hospital). Ela evoluiu para uma insuficiência respiratória grave, que
ocasionou intubação, uso de drogas vasoativas e cuidados de UTI!

Yasmin permaneceu um mês internada e sobreviveu graças aos cuidados


intensivos e às constantes orações da família! Porém, ela terá problemas
respiratórios pelo resto de sua vida, já que perdeu parte de seu pulmão
direito!

O que ninguém ficou sabendo (nem mesmo a mãe de Yasmin), é que ela só
passou por tudo isso por ter sido “excessivamente” cuidada pela pediatra que
a atendeu da primeira vez na emergência! O que Yasmin realmente tinha, na
verdade, eram sintomas devido ao nascimento de um de seus dentinhos, algo
completamente normal! Se Yasmin não tivesse ido ao hospital e não tivesse
tomado aquele antibiótico, nada disso teria acontecido!

- Para as pediatras que atenderam Yasmin o erro foi bom? Sim, elas
ganharam com o atendimento, ganharam com a internação e com todos os
cuidados médicos!
- Para os acionistas da empresa que mantém o hospital o erro foi bom? Sim,
excelente, eles lucraram muito com tudo isso, principalmente com as diárias
em UTI!

- Para a seguradora de saúde de Yasmin, o erro foi bom? Nem bom, nem
ruim, a operadora vai repassar os gastos no aumento do ano que vem e fica
tudo na mesma para eles!

O fato é que os hospitais e emergências privadas se tornaram empresas


altamente lucrativas! Não sou economista, mas qualquer alto investidor sabe
que a área médica tem um dos melhores ROI[34] do mercado! Nada contra
ganhar dinheiro com saúde, mas o que ocorre hoje é que se ganha dinheiro
com doença, sendo assim, quanto mais doenças e mais doentes para aumentar
os lucros, melhor para eles...

Na verdade, vivemos duas realidades bem distintas em nosso país: de um


lado o SUS, com emergências lotadas, mal equipadas, sujas e desorganizadas,
além de profissionais ganhando pouco e sem disposição para trabalhar; do
outro lado, emergências menos lotadas e sempre muito bem equipadas; nestas
últimas, geralmente atuam profissionais pouco experientes e de qualidade
duvidosa, que esbanjam pedidos de exames de laboratório e exames de
imagem para tentar compensar uma consulta rápida e ineficaz, onde não se
conversa e não se examina o paciente! A tecnologia médica seduz os usuários
de planos, que encontram nela a única saída possível para não amargar nas
filas do SUS!

Qual a diferença básica entre as duas situações?

Muito simples: No SUS falta dinheiro e as pessoas não conseguem, sequer,


ser atendidas! No hospital particular as pessoas conseguem atendimento,
tentando compensar a qualidade inferior do mesmo através de excesso de
exames e procedimentos, que fazem mais mal do que bem à saúde dos seus
usuários! Nesse último caso, é o “excesso de dinheiro” que causa todo o
problema!

A imensa maioria dos atendimentos de emergência poderiam ser evitados


apenas com orientações simples e cuidados de prevenção! Porém, à exceção
de algumas tentativas pouco eficazes de alguns planos de saúde em criar
supostos "programas de prevenção", a maioria deles não está nem aí, até
mesmo porque obtém parte de seus lucros justamente desses excessos que são
cometidos!

Pode parecer que não, mas uma ida excessiva dos pacientes às emergências,
não apenas é muito lucrativa para os donos de hospitais (o que é óbvio), mas
também é lucrativo para as administradoras de planos de saúde empresariais,
pois os reajustes dependem dos gastos de seus usuários no ano anterior!
“A imensa maioria dos atendimentos de emergência, poderiam ser evitados
apenas com orientações simples e cuidados de prevenção! “
Conheço hospitais privados que pedem, sistematicamente, a toda criança
atendida na emergência (independentemente da queixa), exames de: Rx de
tórax, Rx de seios da face, hemograma, exame de urina, e ainda incluem no
"pacote", outros tipos de exames de sangue, ultrassonografia e tomografia!
Os pais ficam confortados, pois acham que seus filhos estão sendo bem
cuidados! Não percebem que o filho está recebendo uma radiação para fazer
um exame “quase” inútil (como no caso do Rx de tórax), ou totalmente inútil
(como no caso do Rx de seios da face, que atualmente não serve nem para
diagnóstico de sinusite). Um simples exame de urina, se for mal indicado e
colhido de forma errada, pode causar um grave prejuízo à saúde da criança!
Um simples “falso positivo”, que é muito comum nesse tipo de exame, pode
levar a criança a um tratamento desnecessário e potencialmente prejudicial,
com grande risco de efeitos colaterais que geram outras doenças e mais
remédios, num ciclo vicioso que pode terminar numa doença grave, com
possibilidade de sequelas!

Outra situação muito comum nas emergências é o médico de plantão pedir


exames para se livrar do paciente, isso tem se tornado tão frequente que
praticamente já virou regra! A coisa é tão escancarada, que não há mais
vergonha ou medo de ser descoberto!

Conheço alguns exemplos clássicos disso, onde o médico pede um exame


mais complexo (por exemplo uma tomografia) e, diante de um resultado
normal, pede um bem mais simples (por exemplo, uma ecografia)! O
contrário até faria algum sentido, mas depois que um paciente fez uma
tomografia, fazer um exame mais simples como uma ultrassonografia
(ecografia) ou um Rx não faz o menor sentido, indicando que ele apenas quer
empurrar o caso para o próximo plantão, ou está lucrando com a solicitação
dos exames! Tenho visto situações como estas praticamente todos os dias que
trabalho nos hospitais!

Por isso, é importante destacar: evitem ao máximo ir a emergências de


hospitais e, principalmente, levar seus filhos a elas! Prefiram sempre os
consultórios, apesar de também pressionados a pedir exames inúteis e
prescrever medicamentos caros e desnecessários, os médicos de consultório
têm mais autonomia, e é possível escolher o de sua preferência e confiança!
Se seu médico é daqueles que sempre lhe passa duas ou três paginas de
exames e remédios, repense bem suas escolhas! Existem prejuízos que podem
ser causados, principalmente à saúde de uma criança, decorrentes de exames
inúteis e medicamentos muito novos no mercado!
“Se seu médico é daqueles que sempre lhe passa duas ou três paginas de
exames e remédios, repense bem suas escolhas! “
OS EXAMES DE IMAGEM NA
EMERGÊNCIA

Como eu já disse antes, emergência de hospital privado virou linha de


produção, com o único objetivo de produzir doenças para aumentar os lucros!
Um dos exames mais lucrativos e mais solicitados em uma emergência é a
famosa tomografia computadorizada de abdome total, atualmente solicitado
para qualquer tipo de dor abdominal ou lombar que o paciente tenha! Como
queixa de dor na região do abdome é, disparadamente, a queixa mais comum
nas emergências, esse exame é solicitado às centenas, todos os dias!

Dor abdominal e dor lombar podem ter muitas causas: problemas funcionais
do intestino, problemas de coluna, dor muscular, mas em nenhum dos casos
que acabei de citar, a tomografia de abdome vai ser capaz de mostrar a causa
da dor! Claro que é ela um exame muito útil na suspeita de uma doença grave
(com risco de vida), porém, a confiabilidade do seu resultado, ao contrário do
que a maioria das pessoas pensa, depende tanto do médico que vai dar o
laudo, quanto da qualidade do equipamento onde o exame foi realizado!
Depende também se este médico está sobrecarregado, se está de bom humor
ou estressado, se tem experiência suficiente na área ou está apenas cobrindo
um colega de fim de semana e etc...

Canso de ver tomografias solicitadas para mulheres com dor abdominal típica
de “dor da ovulação”, uma dor que pode ser forte, mas melhora com uso de
analgésicos e se resolve sozinha em dois ou três dias no máximo! Por terem
ovulado, desenvolvem o chamado corpo lúteo[35], algo normal, mas que está
causando uma dor que ela não considera normal! Se o médico que faz o laudo
do exame de tomografia não for prudente, não reconhece a imagem como um
corpo lúteo normal e emite o resultado com um diagnóstico de cisto no
ovário, sugerindo complementar avaliação com uma ultrassonografia
transvaginal (eles adoram sugerir um complemento de avaliação para gerar
outro exame)! Se quem fizer a ultrassonografia transvaginal for um médico
bem experiente no assunto, ele saberá diferenciar um cisto de ovário de um
corpo lúteo normal! Infelizmente, nos casos onde ele não consegue
diferenciar (ou não quer), tudo pode acontecer a essa paciente! Já vi mulheres
saudáveis fazerem cirurgias e tratamentos completamente desnecessários,
tudo por causa de um erro da tomografia! Também já vi diagnósticos errados
de doenças muito graves, como apendicite e pielonefrite, tudo porque o
médico solicitou o exame de tomografia sem ter feito um exame físico
detalhado no paciente! Além desses riscos já citados, não podemos esquecer
que a tomografia emite altos índices de radiação ionizante, chegando ao
ponto de uma única tomografia de abdome total possuir a mesma carga de
radiação que 20.000 exames de Rx de tórax!
“[...]a confiabilidade do seu resultado [do exame de tomografia], ao contrário
do que a maioria das pessoas pensa, depende tanto do médico que vai dar o
laudo, quanto da qualidade do equipamento onde o exame foi realizado! “
Outro exame muito solicitado e “quase” inútil, é a ultrassonografia de
abdome total! Esta, não serve para quase nada num ambiente de emergência e
costuma dar normal! Por isso, ela é usada, basicamente, para enrolar o
paciente e empurrar o caso para o próximo plantonista! Muitas vezes as
vítimas são crianças, já que é um exame que costuma confortar os pais!
Apesar de não emitir radiação, há sempre o risco de falso positivo,
principalmente nas crianças, pois os médicos são menos treinados a lidar com
as diferenças sutis que existem nos exames delas em relação aos exames dos
adultos! É por este motivo, por exemplo, que se dá muito diagnóstico errado
de sinusite no exame de Rx de seios da face e de adenite mesentérica em
ecografia (ultrassonografia) de abdome, sendo que esta última é uma doença
que nem existe![36]

Outro caso assustador é o exagero das solicitações de ultrassonografia


obstétrica, geralmente nos serviços especializados em obstetrícia! São poucas
as verdadeiras indicações de ultrassonografia obstétrica na emergência, pois
ela não ajuda muito em casos de cólica uterina (contrações), parada de
movimentação fetal (salvo em fetos de alto risco, onde se indica o exame com
Doppler) e perda líquida via vaginal, mas apesar disso, é sempre solicitada
em todas essas situações!

A ultrassonografia transvaginal é outra que mais atrapalha do que ajuda


quando mal indicada, principalmente na emergência! Em casos de dor pélvica
e sangramento ela pode até ser útil, mas também pode atrapalhar muito!
Costumo escrever alguns artigos para internet e, de todos eles, o que fez e faz
mais sucesso é um artigo que fala de hematoma coriônico na gravidez,
mostrando que mais de 95% dos diagnósticos dessa condição estão errados!
[37] Sendo assim, se a mulher decide procurar uma emergência para fazer um
exame de ultrassonografia transvaginal diante de uma ameaça de aborto, há
muito mais risco de ela ser prejudicada do que beneficiada pelo exame
(considerando a alta taxa de exames errados)!

Observam-se abusos em praticamente quaisquer tipos de exames solicitados


nas emergências, não só os exames de imagem! Já presenciei situações onde
o médico pede exames que não existem, apenas para se livrar do paciente!
Outras vezes, o exame até existe, mas não é indicado para o caso em questão,
como alguns exemplos que citei acima, e muitos outros mais[38]. Aliás, esse
problema não ocorre exclusivamente em serviços de urgência, mas também
nos consultórios!

Não esqueçam que nenhum diretor de hospital vai ficar bravo com médicos
que peçam exames inúteis nos serviços de emergência, pois é a renda desses
exames que garante os lucros do hospital! Como a consulta em si, rende
muito pouco, a vantagem é mesmo pedir exame!
“[...] já vi diagnósticos errados de doenças muito graves como apendicite e
pielonefrite, tudo porque o médico solicitou o exame de tomografia sem ter
feito um exame físico detalhado no paciente! “
UM CASO QUE PASSOU DE TODOS OS
LIMITES!

Uma tarde tranquila de terça-feira e lá estou eu atendendo as ecografias de


emergência do hospital onde trabalho, já acostumado aos exames “sem pé
nem cabeça” que chegam constantemente. (A baixa qualidade dos médicos
que atendem na emergência desse hospital privado chega a ser caricata, eles
mostram desconhecer noções básicas de medicina!) Sei que sou obrigado a
realizar os exames para não entrar em conflito com a direção do hospital, mas
apesar de ganhar bem por cada um deles, não me sinto à vontade para realiza-
los, pois sei que são inúteis! Desde pedido de ultrassonografia de rins e vias
urinárias para cistite, até pedido de ultrassonografia de região cervical para
avaliar parotidite/caxumba (que não tem nenhuma utilidade), já vi de quase
tudo por aqui! Me sinto inútil quando sou obrigado a fazer um exame que não
vai trazer nenhum benefício ao paciente, a não ser enrolar para que o mesmo
se sinta bem cuidado!

Porém, de todos os absurdos que já havia visto, nada chegou perto do exame
que caiu em meu colo naquela tarde de terça-feira! A médica, aparentemente,
havia perdido totalmente a razão ou senso de ridículo, ao solicitar oito
exames de Doppler ao mesmo tempo para a sua paciente: Doppler Venoso de
membro superior direito e esquerdo; Doppler Arterial de membro superior
direito e esquerdo; Doppler Venoso de membro inferior direito e esquerdo;
Doppler Arterial de membro inferior direito e esquerdo.

Loucura? Esperteza? Algum tipo de “vingança” dela?

Sinceramente, não sei...

O fato é que o convênio autorizou tal loucura (provando, mais uma vez, que
eles não estão nem aí, pois se estivessem, não teriam permitido uma
solicitação completamente sem sentido como essas) e eu tive que fazer os
exames! Como não consigo mentir, expliquei à paciente que não fazia sentido
o pedido da médica e que os resultados dos exames seriam, fatalmente,
normais! Também expliquei que, caso ela quisesse deixar de faze-los, ficasse
à vontade, pois os sintomas que ela estava referindo não tinham nenhuma
relação com os exames solicitados! Mesmo assim, a paciente insistiu que
queria fazer (não sei que tipo de lavagem cerebral a médica fez) e os exames,
obviamente, deram normais...

Fico imaginando a gozação que a médica que solicitou os exames deve ter
feito entre os colegas, nos bastidores! Se a paciente fosse um pouco mais
esclarecida, a médica poderia ter se dado muito mal! (Podendo, inclusive, ter
perdido um processo na justiça!) Os médicos não costumam ser tão
escancarados ao pedir exames e procedimentos desnecessários, mas já vi
absurdos que provam estar havendo uma relativa perda do senso crítico por
parte dos profissionais mais novos, só não sei aonde isso deve parar!
HEMATOMA SUBCORIÔNICO (OU
RETRO CORIÔNICO) NO INÍCIO DA
GRAVIDEZ - PORQUE OS MÉDICOS
ERRAM TANTO?
(Íntegra do artigo escrito por mim e publicado em meu blog, no dia 25 de
abril de 2014)

O hematoma subcoriônico ou área de descolamento ovular (alguns chamam


erroneamente de “deslocamento”) vem sendo motivo de grande apreensão
por parte das gestantes e seus companheiros, pois têm se tornado um
problema muito comum no início da gravidez; com um aumento importante
de incidência nos últimos anos!

O curioso é que esse aumento só está sendo observado no Brasil, em serviços


privados, nos locais de pouca tradição em medicina de excelência! Esse
excesso de “hematomas retrocoriônicos”, coincide com a popularização da
ultrassonografia e o barateamento dos cursos de “fim-de-semana”, que
ensinam a qualquer médico fazer um exame de ecografia (ultrassonografia)
básico, com pouquíssimo conhecimento teórico!

Engraçado perceber que muitas dessas pacientes que passaram a apresentar


esses supostos “hematomas”, sequer haviam apresentado algum sangramento
por via vaginal na época do exame, o que seria muito improvável, do ponto
de vista médico-científico!

Já trabalho com ultrassonografia de emergência em clínicas e hospitais


privados há mais de dez anos e vejo como os médicos que fazem exames em
gestantes, no início da gravidez, costumam estar despreparados para esse tipo
de caso! É preciso ter muita experiência ao fazer uma ultrassonografia
transvaginal de uma gestante de menos de três meses, pois estruturas muito
semelhantes a áreas de descolamento são comuns (como lagos venosos, áreas
não preenchidas da cavidade endometrial e outros) e sempre são confundidas
com descolamento verdadeiro por médicos com pouco conhecimento teórico!

Há um parágrafo em um dos livros de ultrassonografia mais respeitados do


Brasil, chamado: Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia, do autor
Ayrton Roberto Pastore, que diz o seguinte:

“…. Lembrar sempre que a fusão das membranas corioamnióticas ocorre ao


redor de 14 semanas de gestação e que o achado de uma interface líquida
entre as decíduas capsular e parietal é normal e não deve ser confundido
com área de descolamento ovular. “

Na prática, nos locais onde costumo atender hoje em dia, as taxas de


ocorrência de hematoma retrocoriônico oscilam entre 20 a 40% de todas as
gestações iniciais, quando deveriam ser de apenas 2 a 4% (assim como
ocorre em todo o resto do mundo, sem grandes variações locais!) Esse erro se
tornou tão comum devido a um aumento muito grande pela demanda de
exames de ultrassonografia e uma oferta de profissionais de qualidade
insuficiente para atender a essa demanda! Associado a isso, ocorre uma
formação deficitária durante a residência médica de radiologia, que dá
prioridade ao aprendizado de tomografia computadorizada e ressonância
magnética, em detrimento à especialidade de ultrassonografia, considerada
secundária!

Mas o que a gestante pode fazer diante de um resultado que indique


hematoma retrocoriônico?

Bom, aqui vão algumas dicas que podem ajudar:

1 - Em primeiro lugar, independentemente de a gestante ter sentido ou estar


sentido dor na parte inferior do abdome, não existe descolamento coriônico
(ou placentário) verdadeiro se não houver ocorrido sangramento! Portanto, se
não ocorreu sangramento, considere desde já o resultado como errado e
procure uma terceira opinião independente (não vinculada a interesses de
terceiros)!

2 - Mesmo que tenha ocorrido um pequeno sangramento vaginal e o resultado


do exame mostre alguma área de descolamento, a possibilidade deste
resultado estar errado é grande! É fundamental sempre procurar uma segunda
opinião de um profissional mais gabaritado, e não informar a ele a existência
dessa alteração no exame anterior! Diante de dois resultados discrepantes,
sempre deve-se procurar, ainda, uma terceira opinião!

3- Persistindo a dúvida, cuidado com médicos que orientem repouso e


prescrevam progesterona como a solução para seus problemas, esses estão
desatualizados ou querem apenas te agradar! Vários trabalhos científicos
recentes (compilados na biblioteca Cochrane, uma das mais respeitadas do
mundo - vide a bibliografia abaixo), mostram que nem o repouso (seja
absoluto ou relativo), nem o uso de progesterona, conseguem diminuir o risco
de perda da gestação no caso de hematoma retrocoriônico verdadeiro!

Na realidade, segundo essa mesma literatura científica, em casos como esses


não há nada que possa ser feito para aumentar as chances de a gravidez seguir
adiante, porém, ela segue mesmo assim, na imensa maioria dos casos...

Portanto, apenas procure manter a calma e tranquilidade para lidar com a


situação e aguarde o transcorrer da gravidez!

A propósito, cuidado com o repouso absoluto, está comprovado


cientificamente que ele aumenta muito o risco de trombose venosa profunda
na gestação, além de favorecer a obesidade na gestante! Obesidade é a
principal causa de Diabetes Mellitus gestacional!
CAPÍTULO V

- O grande risco para a saúde dos


exames de imagem mal indicados -
“Digo enganadas, pois são levadas a achar que aqueles exames que estão
fazendo vão ajudar o médico a chegar em algum diagnóstico, ou descobrir
algum tumor ou doença rara, quando na verdade, não vão servir para nada! “
Há 14 anos atrás, tomei a decisão de deixar minha carreira de ginecologista e
obstetra e me dedicar exclusivamente à área de diagnóstico por imagem, o
motivo: Não me sentir à vontade de atuar como clínico e ficar à mercê das
operadoras de planos de saúde e, principalmente, dos laboratórios
farmacêuticos! Mergulhei de cabeça na área de ultrassonografia e hoje possuo
três títulos nessa especialidade, reconhecidos pelo Colégio Brasileiro de
Radiologia!

Pelo fato de atuar exclusivamente com diagnósticos, tive oportunidade de


presenciar os maiores absurdos possíveis em termos solicitação de exames de
imagem, e como aqui no Brasil[39] não temos autonomia para recusar
exames absurdos, sou obrigado a realiza-los, mesmo sabendo que não estou
trazendo nenhum benefício à saúde daquelas pessoas e que elas estão sendo
enganadas por seus respectivos médicos! Digo enganadas, pois são levadas a
achar que aqueles exames vão ajudar o médico a chegar em algum
diagnóstico ou descobrir algum tumor ou doença rara, quando na verdade,
não vão servir para nada! São exames que não trazem nenhum tipo de
benefício ao paciente, mas podem trazer graves prejuízos!

Mesmo quando tento alertar meus pacientes de que estão sendo enganados,
acabo não obtendo sucesso, pois a maioria acha que excessos de exames
estão associados à excessos de cuidados!

Poderia citar centenas e mais centenas de solicitações absurdas que chegaram


até mim, mas vou me ater aos casos mais escancarados, onde a falta de
caráter de quem está pedindo o exame fica bem evidenciada por total falta de
lógica e coerência nas solicitações! Em todos os casos, tenho cópias
guardadas das solicitações em meus arquivos pessoais, mas é evidente que
esses médicos sempre vão negar que receberam propina! São situações onde
fica muito difícil provar o delito do médico, pois apenas os pedidos não
provam o crime, sem que haja o testemunho dos envolvidos!

Um dos casos mais descarados que presenciei foi de um especialista em


endocrinologia e medicina do esporte e com muitos títulos internacionais, que
solicitava para pacientes atletas e sem sintomas ou queixas, uma lista de mais
de dez tipos de Doppler diferentes, como se os exames fizessem parte de uma
rotina especial para atletas![40] A lista incluía: Doppler de tireoide, Doppler
de carótidas e vertebrais, Doppler de aorta e ilíacas, Doppler de aorta e
artérias renais, Doppler de veia cava, Doppler de veia porta, Doppler de
testículos, Doppler arterial de membros inferiores e Doppler venoso de
membros inferiores.[41]

Tenho cópias desses pedidos de exame guardadas em meus arquivos, porque


dois dos pacientes desse médico, por engano, ao invés de procurarem a
clínica indicada por ele (e com quem dividiria a propina), foram ao hospital
onde eu trabalhava! Após avaliar os pedidos, fiz questão de deixar claro para
os pacientes que se tratava de um check-up muito estranho e com exames não
faziam o menor sentido, sendo assim, se eles quisessem cancelar os exames,
poderiam ficar a vontade (eu perderia uma quantia considerável em dinheiro,
mas dormiria com a consciência mais tranquila por não ter feito aqueles
exames inúteis e desnecessários, que nenhum benefício traria aos atletas!)
Infelizmente, não tinha como avisar a eles sobre o esquema de propina, pois
seria a minha palavra contra a palavra o médico deles, o famoso e
conceituado endocrinologista da cidade! Mesmo com meu aviso de se
tratarem de exames de pouca utilidade e nenhum resultado benéfico, os dois
insistiram em faze-los mesmo assim, pois foram definitivamente convencidos
pelo médico famoso!

Também tenho cópias guardadas de alguns pedidos de reumatologistas e


ortopedistas desonestos, que pedem exames de seis ou oito articulações
diferentes no mesmo paciente e ao mesmo tempo! Claro que tem propina
envolvida, não faz sentido nenhum pedir exame de mais de duas articulações
ao mesmo tempo, salvo em raros casos isolados!

Ainda na área de ortopedia, tenho casos registrados onde o médico pediu


ecografia (ultrassonografia) e ressonância magnética do mesmo local e ao
mesmo tempo (por exemplo: ultrassonografia e ressonância magnética de
ombro direito), outro caso que deixa claro existir má fé por parte do médico,
pois não faz o menor sentido pedir os dois exames ao mesmo tempo, já que
não há nada que possa ser visto na ultrassonografia e que a ressonância não
consiga demostrar!

Também presenciei casos de exames que caíram na minha mão por engano,
provenientes de um cirurgião plástico que sempre pede Doppler venoso e
arterial de membros inferiores para pacientes que vão fazer cirurgia plástica
abdominal, como se esses exames fizessem parte da rotina pré-operatória! É
muita ganância, pois certamente a cirurgia será particular e ele já vai ganhar
muito com a cirurgia, não satisfeito, quer lucrar também com os exames!
Alguns usam uma desculpa dizendo que o Doppler venoso é necessário como
pré-operatório de cirurgia plástica para avaliar risco de trombose venosa
profunda! Uma grande mentira, pois esse exame não consegue avaliar risco
de trombose, mas apenas uma trombose já existente! Além de trombose ser
uma doença aguda, se resolve em poucos dias sozinha ou complica para uma
situação bem mais grave, portanto, fazer exame de Doppler para avaliar risco
de trombose é uma grande inutilidade, já que nunca vai dar positivo para
trombose em alguém que não esteja sentido nada e, mesmo dando negativo,
não significa que pessoa não terá trombose depois da cirurgia!

Houve uma época (felizmente curta), que trabalhei em uma conceituada


clínica particular da cidade e rapidamente percebi que existia um esquema
entre esta clínica e uma famosa clínica de neurologia que funcionava no
mesmo prédio! O neurologista pedia sistematicamente e a todos os pacientes
que ele atendia, independentemente da idade e da queixa, exames de
ecografia com Doppler de Tireoide, Doppler de carótidas e Doppler de
vertebrais! Não satisfeito, ele repetia as solicitações anualmente a todos os
pacientes que retornavam ao consultório! Cheguei ao ponto de presenciar
adolescentes de 15 ou 16 anos fazendo Doppler de carótidas anualmente![42]

A corrupção era tão escancarada, que a clínica de neurologia possuía um


carimbo com os nomes dos exames para carimbar nos pedidos e o médico
apenas assinava, como em um tipo de “linha de produção”! As atendentes
também orientavam muito bem os pacientes sobre o fato deste médico aceitar
exames vindo apenas dessa única clínica de imagem, com o risco de ter que
repetir os exames, caso fossem feitos em outro local!

Há também o caso de um respeitado ginecologista da cidade, famoso por


pedir muitos exames a seus pacientes e que sempre solicita ressonância
magnética de pelve e ultrassonografia transvaginal com Doppler (dois
exames que se superpõem, totalmente) a todas as mulheres que atende no
consultório! A “desculpa” para os exames, seria uma suspeita de
endometriose (todas tinham a mesma suspeita, independente do que
estivessem sentindo). É um caso clássico onde o médico, ou ganha de quem
realiza os exames, ou está levando algum por fora do laboratório que vende o
medicamento para endometriose! Se o médico exagera nos pedidos, aumenta
a chance de um falso positivo e, portanto, aumenta as possibilidades de
convencer o paciente a usar um determinado medicamento, geralmente
fabricado pelo laboratório que patrocina o médico!

É sempre preciso ter muito cuidado em situações onde o médico pede mais de
um exame diferente para a mesma região! Se pediu ressonância, não faz
sentido pedir também tomografia! Se pediu tomografia, não faz sentido pedir
também ultrassonografia (ecografia)! A ultrassonografia é sempre um exame
de triagem, então, se o médico pediu primeiro uma ultrassonografia, teve
alguma dúvida e pediu uma ressonância ou tomografia em seguida, isso pode
ser normal! O contrário, porém, nunca deveria acontecer! Também não faz
sentido pedir os dois exames juntos (ao mesmo tempo)! Um médico que peça
ultrassonografia da mesma região que o paciente já fez tomografia ou
ressonância, geralmente está ganhando propina ou tentando enrolar o
paciente (empurrando o caso dele com a barriga), por isso, é preciso ficar
atento!

Outra situação que vejo com muita frequência, são os casos onde o médico
solicita dois exames do mesmo tipo e que mostram as mesmas coisas, como
ultrassonografia de abdome total, junto com ultrassonografia de rins e vias
urinárias ou ultrassonografia de abdome superior, junto com ultrassonografia
de rins e vias urinárias! Nos dois casos, apenas a ultrassonografia de abdome
total seria suficiente, pois ela inclui os outros exames! Pedir e realizar esses
exames separadamente, indica que o médico está tentando ganhar dois
exames em um só![43] Sempre que isso acontecer, há um forte indício de
envolvimento (do médico) em esquemas de favorecimento financeiro pela
indicação de exames a colegas!

Exames de imagem, assim como todos os outros tipos de exames, precisam


ser bem indicados para que não se tornem inúteis ou até mesmo prejudiciais!
Em casos de exames de tomografia, mamografia, Raio X e densitometria, os
prejuízos à saúde são óbvios, pois a radiação emitida por estes equipamentos
é potencialmente cancerígena, principalmente no caso da tomografia, que tem
os mais altos índices de radiação! Só para se ter uma ideia, uma única
tomografia de abdome total por ano, durante 10 anos, já seria uma carga de
radiação suficiente para causar câncer![44] Existem vários casos, registrados
na literatura, de adultos que desenvolveram linfomas e tumores cerebrais
decorrentes de excesso de tomografias na infância[45]; e ainda que a
quantidade de exames seja menor, se forem feitos em um curto intervalo de
tempo, os riscos à saúde podem ser ainda mais graves!

Além do perigo evidente da tomografia, a ressonância também não pode ser


considerada totalmente segura, e deve ser evitada se não for estritamente
necessária! Quando o exame envolve algum tipo de contraste, os riscos são
ainda maiores: Novos meios de contraste podem parecer mais seguros, mas
possuem reações raras e ainda pouco estudadas! Ninguém tem conhecimento,
a longo prazo, dos efeitos deletérios decorrentes do uso exagerado dos meios
de contraste intravenosos!
“O grande risco da ultrassonografia e do Doppler, quando são mal indicados,
são os frequentes erros de diagnóstico! “
No caso da ultrassonografia simples e do Doppler, apesar de não haver risco
de radiação, não são exames totalmente inofensivos! Para piorar, os médicos
(principalmente os mal-intencionados) costumam abusar bastante na
solicitação desses tipos de exame, conforme os exemplos que já citei! O
grande risco da ultrassonografia e do Doppler, quando são mal indicados, são
os frequentes erros de diagnóstico! Infelizmente, a área de ultrassonografia é
uma das especialidades de exames que mais apresenta erros de diagnóstico na
atualidade, com taxas altíssimas de resultados falso-positivos (muito mais
comum que o falso-negativo).

O resultado falso-negativo, quase todo paciente conhece, é quando uma


pessoa apresenta uma determinada doença e o exame não mostra, como no
exemplo: “- Ele tinha um cálculo, mas o médico que fez o exame não viu...”
– isso é um falso negativo...

Mas o exame falso-positivo? É um erro muito mais grave que o falso-


negativo, pois induz o paciente a achar que ele tem uma doença, quando na
verdade ele tem outra[46]!

Vou citar como exemplo, o caso do paciente Valter[47], de 38 anos, que


começou a sentir dor em região lombar esquerda por um problema de hérnia
de disco que ele nem desconfiava que tinha! Como seu irmão já teve cálculo
renal, ele achava estar com o mesmo problema de seu irmão, pelo fato de a
dor ser no mesmo lugar (nesse tipo de caso, é impossível para o leigo
distinguir a origem da dor) e decidiu pedir ao médico um exame de
ultrassonografia de abdome total! Valter teve o azar do seu exame acusar um
falso positivo para cálculo renal (o exame foi realizado em apenas 2 minutos
e o médico era bastante inseguro), o que o levou a ter certeza que o seu
problema era cálculo renal mesmo! (E não a doença que ele realmente tinha!)
Como o exame de abdome total não avalia a coluna, ele nunca descobriu seu
problema original, até porque os remédios usados para dor de cálculo renal
também faziam efeito na dor da coluna!

Nenhum paciente questiona um diagnóstico dado (ainda que errado), apenas


questiona um diagnóstico não dado (um exame normal)! É por isso que os
médicos preferem pecar por excesso e “chutar” para todos os lados, assim
nunca serão questionados pelos pacientes!
Acreditem, mas já vi muitos casos como o que citei acima, eles ocorrem
todos os dias! E ainda existem casos mais graves e que são tão comuns ou
mais comuns que esses: cirurgias para cistos de ovário que não existem;
tratamentos hospitalares de trombose em pacientes que não têm e nunca
tiveram essa doença; intervenções caríssimas e totalmente inúteis em nódulos
de mama que não são nódulos de verdade (lóbulos de gordura); retiradas de
pólipos que não são pólipos (imagem mal avaliada); tratamento de cálculos
em pacientes que não tinham cálculo de verdade; etc...

Notem que, nestes casos, foi lucrativo para o médico e para o hospital, mas o
paciente foi severamente prejudicado, porém, ele nunca saberá disso, pois
acha que foi aquele tratamento que resolveu seu problema!

Ainda que um tratamento errado possa resolver parcialmente o problema de


um paciente, a tendência é que, com o passar do tempo, o problema retorne
de forma mais grave! Como o paciente já foi direcionado de forma errada na
primeira vez, a chance do seu problema real ser descoberto é menor ainda, a
despeito que ele faça baterias e mais baterias de exames de imagem...
Geralmente, quanto mais exames ele fizer, mais irá se afastar do diagnóstico
real de sua doença!

Exames são realmente muito lucrativos para clínicas e hospitais, e isso é o


que mais importa hoje em dia para os donos desses lugares! Erros de
diagnóstico geram procedimentos que aumentam os lucros dessas clínicas e,
dessa forma, todo mundo ganha!

Posso dar um exemplo bem real disso tudo: Houve uma época que trabalhei
numa famosa clínica especializada em diagnóstico de doenças da mama e
considerada uma das melhores (se não a melhor) da cidade! Nessa clínica, me
chamou a atenção o fato de um dos médicos da equipe de ultrassonografia ser
um profissional de péssima qualidade, chegando a contrastar com os outros
profissionais de lá! Sempre que eu via exames feitos por ele para fazer
comparações com o exame atual, mais de 50% destes tinham erros grosseiros
de diagnóstico! Era comum esse profissional inventar nódulos de mama em
pacientes que não tinham nada, devido a imagens montadas de forma
caprichosa nas fotos de ultrassom! Eu não entendia porque um profissional de
qualidade tão ruim podia trabalhar numa clínica tão bem-conceituada! Certa
vez, perguntei a uma das ajudantes de sala mais antigas da clínica (e que
tinha certa intimidade com o dono), porque aquele “ogro” trabalhava lá, e a
resposta dela foi a seguinte:

“- Doutor Renato, ninguém gosta dele aqui, ele erra demais e precisamos
ficar encobrindo os erros dele, além do mais, ele nos trata mal, trata mal as
pacientes e tem comportamentos estranhos, achamos até que ele é meio
maluco! Já conversei com o chefe (o dono da clínica) sobre ele e o chefe me
falou que também não gosta dele, mas não pode colocar ele para fora, porque
ele é o médico que trabalha mais rápido e dá um lucro bruto mensal para a
clínica de mais de R$ 150.000,00! “

Depois, descobri que não era só isso: Na clínica, havia um exame caríssimo
chamado de mamotomia (à vácuo). Essa mamotomia é útil no diagnóstico de
câncer de mama e é um exame extremamente caro por utilizar equipamentos
importados e de alto custo! Esse exame deve ser destinado a casos de suspeita
real de câncer e realizado apenas uma vez por paciente, sempre em um único
nódulo suspeito! Nessa clínica, durante conversas com pacientes, descobri
casos de mulheres que tinham 3 nódulos em uma mama e 4 na outra, e o
mastologista havia indicado fazer o exame sete vezes (um em cada nódulo),
um absurdo sem classificação que faria rir qualquer mastologista mais
experiente e sério, mas que nessa clínica, era perfeitamente normal!

Agora, junte a loucura do médico que achava nódulo em quem não tinha,
com a vontade de lucrar dos mastologistas que pediam mamotomia sem
indicação, e você pode tranquilamente multiplicar aquele lucro de R$
150.000,00 por dez, pelo menos! Não é à toa que a clínica cresceu
rapidamente e hoje possui muitas filiais, é muito fácil ganhar dinheiro assim!
As pacientes sequer desconfiam o quanto foram prejudicadas, pois todas com
quem tive oportunidade de conversar, reclamaram do exame de mamotomia
(por ser extremamente doloroso e incômodo), mas se mostravam aliviadas
por saberem que o resultado da biópsia tinha sido benigno! Nenhuma delas
desconfiava que seria impossível o resultado ser diferente, já que foi retirado
um pedaço qualquer de suas mamas, e não um nódulo suspeito de câncer! (Já
que eram nódulos inventados pelo exame mal feito do médico)
“Nenhum paciente questiona um diagnóstico dado (ainda que errado), apenas
questiona um diagnóstico não dado (um exame normal)! É por isso que os
médicos preferem pecar por excesso e “chutar” para todos os lados, assim
nunca serão questionados! “
As pessoas precisam parar de achar que excesso de exames e exames mais
caros são melhores para a saúde! Infelizmente, isso ocorre devido a um
conceito que está definitivamente enraizado em todos os seres humanos:
Temos a plena convicção de que tudo que é mais caro é melhor! Chega a ser
algo tão subconsciente, que na maioria das vezes não percebemos que
fazemos praticamente todas as escolhas de nossas vidas utilizando esse
conceito! Ele é realmente verdadeiro, para a grande maioria das coisas com
as quais lidamos no dia-a-dia: Nossa casa, nosso carro, as roupas que usamos,
os produtos de tecnologia, etc. Não há dúvida que um carro de R$ 100.000,00
é muito melhor que um carro de R$ 50.000,00. Como também de que uma
roupa de R$ 300,00 é melhor que uma de R$ 30,00, e por aí vai... O problema
é que em medicina esse conceito não funciona, já que muitos exames são
caros por serem específicos para determinados tipos de doenças raras, ou por
incorporarem tecnologias novas e pouco testadas, que não têm sua eficácia
comprovada, mas que exigem equipamentos mais avançados e profissionais
mais habilitados para executa-las!

O Doppler, por exemplo, é um método fantástico, que consegue identificar o


fluxo de sangue nos tecidos, mas possui indicações específicas, sendo
fundamental para determinados tipos de doenças, mas inútil ou até prejudicial
em outros tipos, devido à possibilidade de levar a interpretações diagnósticas
errôneas quando é mal utilizado! O que causa espanto, é a criatividade de
muitos médicos que se utilizam do método com fins escusos, chegando ao
ponto de solicitar o exame com Doppler apenas para impressionar e agradar o
paciente!

Um exame raro ou caro pode também estar sendo solicitado apenas para gerar
lucro ao médico executor, que vai dividi-lo com o solicitante do exame! Sem
falar que, ao executar um exame que não tem possibilidade de dar alterado, o
médico executor poderá realiza-lo de forma muito mais rápida, não perdendo
tempo procurando doença![48]

Sendo assim, é preciso entender que não existe exame milagroso e perfeito,
por mais caro que seja, ele pode errar! E tem mais, a chance de ele estar
errado é inversamente proporcional à real necessidade de o exame ter sido
realizado! Exames mal indicados, ainda que caros e de tecnologia avançada,
possuem enormes chances de estarem errados e mostrarem doenças que não
existem, não mostrando a doença que o paciente realmente tem!

Cito, como exemplo prático, o famoso PET Scan (ou PET-CT), que é um dos
exames de imagem mais avançados no diagnóstico de câncer e representa um
avanço fantástico da medicina nessa área, quando é bem indicado! Porém,
como possui altas taxas de falso positivo para câncer, se ele for indicado de
forma aleatória, pode gerar biópsias e cirurgias completamente
desnecessárias!

Já perdi as contas de quantas vezes precisei fazer exame de ultrassonografia


cervical de pacientes que tinham realizado PET-CT e a mesma indicou
suspeita de câncer na região cervical! Em todos os casos: falso-positivos! Se
o paciente der azar de ser examinado por um ultrassonografista pouco
experiente, ele pode ficar em cima do muro apenas por ter visto o exame
anterior (a PET-CT) e não querer se responsabilizar, mantendo a suspeita de
câncer e indicando uma biópsia desnecessária!

Enfim, por mais que a tecnologia seja fascinante, a forma de interpretação das
imagens continua artesanal e operador-dependente! Exames de imagem são
uma faca de dois gumes, se não podemos confiar no médico que solicitou e
no médico que vai interpreta-lo, o melhor é nem fazer o exame, sua saúde só
agradece!
“[...], por mais que a tecnologia seja fascinante, a forma de interpretação das
imagens continua artesanal e operador-dependente! “
OS EXAMES DE IMAGEM E A ROTINA
PARA PESQUISA DE CÂNCER
(O que ajuda de verdade e o que é apenas embromação)

O medo do câncer tem crescido de forma assustadora na população devido ao


aumento considerável no número de casos da doença, principalmente nos
últimos anos, tanto no Brasil, como no resto do mundo! Em países onde a
forma de ganhar dinheiro com medicina é mais justa, as pessoas costumam
ser esclarecidas pelos médicos sobre que exames podem ajudar ou não na
hora de procurar um tumor em fase inicial! No Brasil, devido ao nosso
sistema de saúde privado remunerar por exame, médicos de pouco escrúpulo
se aproveitam disso para passar listas intermináveis de pedidos e mais
pedidos, usando o câncer como desculpa! Na verdade, na maioria das vezes,
nem os próprios médicos sabem o que estão pedindo e nem por que estão
pedindo, simplesmente repetem uma mesma lista de pedidos (padrão) para
todos os seus pacientes! Conforme eu já disse antes, o médico quer apenas
impressionar o paciente ou ganhar um dinheiro a mais, recebendo propina da
clínica que vai realizar os exames!

São casos que presencio todos os dias no meu consultório, de pacientes que
tiveram câncer na família e decidem procurar um oncologista para fazer um
check-up geral! Só para citar como exemplo, atendi recentemente uma
paciente que perdeu o irmão com tumor de pâncreas diagnosticado em fase
terminal e, por conta disso, decidiu procurar um oncologista e fazer uma lista
de dezenas de exames de imagem, que iam desde ultrassonografia de mamas,
tireoide, abdome total e transvaginal, até exames mais complexos como
cintilografia e tomografia! São listas de exames de sangue e de imagem que,
supostamente, deveriam servir para um diagnóstico precoce de câncer, mas
na prática não servem para absolutamente nada ou acabam prejudicando a
saúde da paciente!

O paciente, por sua vez, se conseguir escapar dessa lista enorme sem nenhum
erro de diagnóstico, vai criar uma sensação de proteção em relação a câncer
totalmente falsa, pois, a exemplo da paciente que eu citei acima, nada impede
que ela possa desenvolver um tumor de pâncreas 2 ou 3 meses após o suposto
check-up e descobrir apenas na fase terminal, como aconteceu com seu
irmão! Por isso, é fundamental que o paciente saiba o que serve e o que não
serve para o diagnóstico de um tumor em fase inicial! Mais uma vez, meu
objetivo não é ajudar o convênio a economizar dinheiro, mas sim, livrar o
paciente de um exame inútil, que pode prejudicar gravemente a sua saúde!
Sendo assim, separei uma lista dos exames mais comuns que são usados
como se fossem exames de rotina (seja para diagnóstico de câncer ou de
outras doenças), seguido de uma explicação dos que servem e dos que não
servem!

Vamos a eles:
“[...]na maioria das vezes, nem os próprios médicos sabem o que estão
pedindo e nem por que estão pedindo, simplesmente repetem uma mesma
lista de pedidos (padrão) para todos os seus pacientes! “
Mamografia: Do ponto de vista técnico-científico, é o único exame de
imagem que pode ser considerado como exame de rotina para pesquisa de
câncer, pois consegue detectar o câncer de mama numa fase mais precoce!
Porém, só é vantajoso se realizado após os 40 anos (pode ser feito um aos 35
anos para futuras comparações) e repetido anualmente, ou a cada dois anos!

Apesar de algumas pesquisas recentes e de reconhecido valor científico


haverem apontado que a mamografia não é melhor que uma palpação de
mama bem-feita (em relação à capacidade de detectar um câncer na fase
inicial) ela ainda é reconhecida internacionalmente como um bom método!
Não existe diferença importante entre a mamografia digital e a tradicional,
porém, muito mais importante é saber se o médico que irá emitir o laudo é
realmente bem preparado e especialista no assunto!

Ultrassonografia mamária: Não serve como um exame de rotina, ele foi


criado e é utilizado até hoje como um complemento à mamografia, devendo
ser realizado apenas nos casos onde a mamografia se mostrou duvidosa!

Muitos médicos, no serviço privado do Brasil, pedem esse exame junto com a
mamografia para todas as suas pacientes, independente delas precisarem dele,
ou não! O motivo, mais uma vez, é apenas “parecer” ser cuidadoso, pois se o
médico da esquina pede o exame e o outro não pede, a paciente vai preferir o
médico da esquina!

Infelizmente, a medicina atual ainda não conseguiu um exame adequado para


detecção precoce de câncer de mama em mulheres mais jovens (abaixo dos
40 anos). Mesmo que essas mulheres façam mamografia e ultrassonografia
anuais, a maioria dos casos de câncer continua sendo descoberta pela
palpação! São nódulos que podem aparecer até de um mês para o outro,
mesmo que a paciente tenha feito seu “check-up” anual recentemente, pois o
câncer pode se desenvolver muito rápido em pessoas jovens!

Ultrassonografia transvaginal: Definitivamente não serve como exame de


rotina para pesquisa de câncer, mas se for realizado por um profissional
habitado e experiente, pode ajudar a detectar uma série de doenças do útero e
dos ovários, podendo até ser realizado a cada dois ou três anos, sem
problemas!

O grande problema da ultrassonografia transvaginal é que se trata de um


exame com muitos falso-positivos para cistos de ovário e ovários policísticos
(em mais de 90% das vezes os diagnósticos estão errados) e deve ser
realizado apenas por um especialista muito experiente na área de ginecologia!
Se não for possível conseguir um profissional assim para realizar o exame, é
melhor nem fazer, pois a chance de um resultado falso é enorme!

Ultrassonografia pélvica abdominal: Exame que, com limitações, substitui


o transvaginal em pacientes que ainda não iniciaram a vida sexual. Também é
um exame que nunca deveria ser solicitado como rotina, pelo mesmo motivo
do transvaginal: o risco de mostrar um falso cisto de ovário! Meninas que
ainda não menstruaram e adolescentes jovens deveriam fazer esse exame
apenas quando houvesse uma indicação formal, no caso, uma suspeita de
tumor ovariano! Fora isso, suas indicações são altamente restritas e ele é
muito pouco útil em suspeitas de puberdade precoce!

Ultrassonografia de tireoide: Outro caso que virou exame de rotina, mas


não serve para isso! Ele também não tem utilidade no diagnóstico ou
acompanhamento de tireoidite ou de hipo e hipertireoidismo, servindo
exclusivamente para a identificação e acompanhamento de nódulos
tireoidianos!

Já existem muitas evidências científicas sugerindo que: procurar nódulos de


tireoide em pessoas saudáveis e sem sintomas é mais prejudicial do que
benéfico à saúde delas! Esses dados científicos foram relatados em um
trabalho recente realizado na Coréia do Sul, que possui uma medicina 100%
pública e de qualidade (não confundir com a Coréia do Norte) e se deve ao
fato de que nódulos pequenos (menores que 1 cm), ainda que tenham um
diagnóstico de malignidade dado por exame de biópsia/punção, não precisam
ser operados se não estiverem crescendo! O trabalho mostrou que esses
nódulos malignos (ou suspeitos), quando são pequenos e não estão crescendo,
podem ficar dezenas de anos sem mudar de tamanho nem dar metástases,
sendo que a cirurgia pode ser mais prejudicial para a saúde da pessoa que o
próprio nódulo! Como os nódulos maiores são palpáveis, seria mais correto o
médico fazer um exame de palpação rigoroso na tireoide de seu paciente e só
solicitar o exame se ele perceber algum nódulo maior! Esse cuidado (tão
difícil de ser conseguido com o nível de médicos que temos hoje) evitaria
exames, procedimentos (biópsias) e cirurgias desnecessárias, melhorando
significativamente a qualidade de vida dos pacientes!

Ecodoppler de tireoide: Conforme já foi dito acima, também não serve


como exame de rotina e não deve ser solicitado como tal! É um exame que
deve ser realizado apenas se o exame simples (sem Doppler) mostrar algum
nódulo importante, fora isso, não tem nenhuma utilidade!

Ultrassonografia de abdome total e/ou de abdome superior: Outro exame


que virou “de rotina”, mas acaba não tendo nenhuma utilidade para este fim!
Primeiro porque ele não consegue detectar os tipos de câncer mais comuns do
abdome, como o câncer de estômago, câncer de intestino (cólon) e nem o
câncer de pâncreas! Segundo, porque ainda que ele possa detectar um raro
câncer de fígado ou de rins, são tumores que aparecem e crescem
rapidamente, o que não impede uma pessoa que tenha feito um exame desses
há 02 ou 03 meses atrás, apareça com um grande tumor nesses órgãos pouco
tempo depois! Fora isso, é um exame que não detecta doenças hepáticas
(como hepatite ou cirrose na fase inicial) e nem doenças renais (como
insuficiência renal)!

Mas se ele não serve para nenhuma destas situações, porque é um exame tão
solicitado, afinal?

Talvez por causa do seu nome: abdome total, que induz o paciente a achar
que está fazendo um exame completo e avaliando todo o abdome, quando na
verdade, não está! Em outras palavras: E para enrolar os pacientes mesmo!
Não é que ele não sirva para nada, pois é claro que possui suas indicações,
mas em 9 de cada 10 vezes que ele é solicitado, sempre é mal indicado! Por
isso, tenham muito cuidado com médicos que solicitam muito esse tipo de
exame, costumam ser típicos embromadores!

Ultrassonografia de rins e vias urinárias: Já que falamos de um exame


muito utilizado para “enrolar” o paciente, vamos falar agora do grande
campeão de todos na matéria “embromação”, a famosa ultrassonografia de
rins e vias urinárias! Nenhum exame é mais mal solicitado do que esse,
dentre todos os exames existentes no ramo de diagnóstico por imagem!

Acreditem, mas em muitos hospitais que trabalho, convencionou-se solicita-


lo a todo paciente com infecção urinária, apesar de ele não ter nenhuma
utilidade para esse fim, pois não mostra infecção urinária e nem infecção
renal, ainda que elas estejam graves! Muitos cardiologistas também solicitam
esse exame em pacientes com doenças renais ou diabéticos e hipertensos,
ainda que o exame também não sirva para esse fim, pois mesmo que o
paciente apresente uma doença renal grave, a ultrassonografia continua
mostrando os rins como normais!

É um exame de utilidade relativa em acompanhamento de cálculo renal, mas


na urgência a preferência é que seja feita tomografia e não ultrassonografia!
Fora essa situação, ele realmente tem muito pouca utilidade!

Urologistas também adoram esse exame, mesmo sabendo que não vai servir
para (quase) nada! Parece que ele funciona quase como um brinde: entrou no
consultório do urologista, ganha um exame de ultrassom de rins e vias
urinárias! Sem falar que muitos urologistas possuem equipamentos de
ultrassonografia em suas clínicas, assim, o exame a mais já serve como
complemento para sua renda!
Ultrassonografia de próstata: Este exame é a maior prova de como a
medicina está totalmente comercial! Aproveitando a onda do “novembro
azul”, sempre recebo muitos pedidos de exame de ultrassonografia de
próstata, como se ele fosse um exame de rotina para detecção de câncer de
próstata! Ora, a rotina para detecção de câncer de próstata inclui um exame
de sangue chamado PSA e o toque retal! Mesmo que a pessoa esteja com um
grande tumor na próstata (grande ou pequeno, tanto faz) a ultrassonografia
não vai conseguir mostrar esse tumor! Porque os urologistas estão pedindo
então?

Acredito que seja por “preguiça” de fazer o toque retal, como o paciente é
ignorante sobre a utilidade da ultrassonografia de próstata, o médico acaba
levando-o a acreditar que o exame substitui o toque retal mesmo! Já conheci
até médicos de outras áreas que eram enganados pelos próprios colegas e
levados a fazer um exame de pouquíssima utilidade, como se servisse para
detecção de câncer!

Ultrassonografia de testículos ou de bolsa testicular: Outra tentativa de


aumentar os custos para o paciente foi quando alguns médicos criaram uma
lista de exames de rotina para homens de meia idade, tentando imitar a lista já
existente para mulheres e com o mesmo (suposto) objetivo de detectar câncer
na fase inicial! Criou-se uma lista de exames inúteis, apenas para iludir os
pobres pacientes e a ultrassonografia de testículos foi incluída nessa lista!
Infelizmente, ela também não serve para diagnosticar um câncer de testículo
na fase inicial e o motivo é bem simples: Os tumores de testículo aparecem e
crescem muito rápido, ainda que alguém faça esse exame de 6 em 6 meses,
nada impede que, no intervalo de tempo, a pessoa não possa desenvolver um
câncer em fase avançada! Por outro lado, devido ao fato de o testículo ser um
órgão muito superficial, um paciente que palpe seu testículo com frequência
tem muito mais chance de descobrir um tumor oculto do que aquele que faz
seus check-ups de rotina no médico, o problema é que a mídia não se
interessa em divulgar esse fato, pois isso não traria lucro aos donos das
clínicas de imagem!
Outros tipos de Doppler: À única exceção do Doppler de carótidas, que
recentemente vem sendo utilizado para predizer risco de aterosclerose em
pacientes acima de 50 anos, não existe nenhum tipo de Doppler que sirva
como exame de rotina para diagnóstico de câncer ou de qualquer outra
doença! São exames que têm indicação muito específica e devem ser
solicitados apenas nos casos de suspeita de doença que justifique a sua
utilização! Médico que solicita exame com Doppler como se fosse de rotina,
geralmente está ganhando para pedir o exame, pois são exames mais caros
que os exames sem Doppler!

Exames de tomografia e ressonância: Em casos de suspeita clínica


consistente de câncer, eles geralmente são os mais indicados, por outro lado,
nunca deveriam ser solicitados de forma periódica, como se fossem exames
de rotina! (...e realmente não são!) Além de causarem uma falsa impressão no
paciente (induzindo a achar que um exame normal é uma garantia de que ele
não tenha câncer), podem causar sérios riscos à saúde!

Infelizmente, o serviço de saúde privado do Brasil é um dos que mais solicita


esses tipos de exames no mundo inteiro (em quantidade de exames por mil
habitantes), com taxas extremamente superiores à de países com sistemas de
saúde muito mais desenvolvidos que o nosso! Só para se ter uma ideia,
segundo dados recentes da ANS[49], os médicos do serviço privado
brasileiro solicitam cerca de 30% mais tomografias que a média dos países
membros da OCDE[50] e 300% mais ressonâncias! Detalhe: as taxas desses
países são consideradas muito altas e já existem campanhas para a sua
redução! (vide o próximo parágrafo)

Conforme já citei anteriormente neste livro, existem vastas evidências da


associação entre câncer e excesso de exames de tomografia, fato que já foi
comentado até pelo famoso oncologista Dr. Dráuzio Varela em um vídeo
publicado em seu site! Em países onde existem políticas públicas para
redução da incidência de morte por câncer, importantes campanhas vêm
sendo feitas para reduzir a utilização desse tipo de exame, a exemplo da
Choosing Wisely[51], que já ganhou até jingle para a TV!

Além desses riscos, não podemos esquecer que são exames totalmente
dependentes da competência do médico que vai dar o laudo, com o agravante
que esse médico quase nunca chega a conhecer o paciente[52], obtendo todas
as informações de um questionário pouco consistente! Acredito que este seja
um dos principais motivos de estarmos vendo um aumento muito
preocupante na quantidade de erros de diagnóstico com esses tipos de exame!
Certamente, uma simples conversa (ainda que rápida) entre o paciente e o
médico que vai dar o laudo, reduziria de forma drástica a quantidade absurda
de erros que vêm ocorrendo!

Eu tenho 42 anos e sou saudável, nunca fiz tomografia em minha vida e nem
pretendo fazer (salvo em caso de extrema necessidade)! Ressonância, fiz
apenas duas vezes, mas porque realmente foi indispensável! Eu prezo pela
minha saúde e me cuido muito bem, mas não vou criar uma falsa ilusão de
proteção fazendo exames à toa, por isso, esse é o conselho que dou a todas as
pessoas: Cuidem da saúde, evitem exames e procedimentos desnecessários e
procurem médicos que cuidem e examinem seus pacientes, só assim
poderemos (verdadeiramente) evitar o câncer!
“[...] existem vastas evidências da associação entre câncer e excesso de
exames de tomografia, fato que já foi comentado até pelo famoso oncologista
Dr. Dráuzio Varela em um vídeo publicado no seu site!”
OS EXAMES DE IMAGEM E AS
CRIANÇAS

Conforme eu já comentei no capítulo anterior sobre as emergências de


hospitais, exames de imagem mal-empregados em crianças podem ser
extremamente nocivos à saúde dos pequenos! A anatomia particular da fase
de crescimento, com ossos e cartilagens em formação, proporciona um risco
adicional de exames falso-positivos! É importante ressaltar que alterações em
exames (que tenham algum significado clínico) são extremamente raras nas
crianças, apesar dos exames falso-positivos serem comuns!

Exames como: Rx do cavum, Rx de seios da face e Rx de tórax precisam ser


solicitados e avaliados com muito cuidado, não sendo exames que devam ser
feitos de rotina em crianças! Os dois primeiros, inclusive, são considerados
inúteis e já deveriam ter deixado de existir!

As ultrassonografias de pelve, abdome total, rins e vias urinárias também são


exames que não devem ser realizados de rotina em crianças,
independentemente da faixa de idade, mas apenas solicitados em situações
onde haja uma forte suspeita de alguma doença!

Uma ressalva muito grande deve ser feita em exames de tomografia, pensar
sempre duas ou três vezes antes de fazer, pois, os efeitos da radiação
ionizante são acumulativos ao longo de toda a vida da criança! Não se
justifica pedir uma tomografia para fazer um diagnóstico de sinusite,
principalmente em uma criança! Se o pediatra de minha filha (que já
diagnosticou duas vezes sinusite nela, sem uso de nenhum exame
complementar) decidisse pedir uma tomografia para confirmar uma suposta
sinusite, eu trocaria imediatamente de pediatra e não aceitaria fazer o exame!

A tomografia é um exame fantástico quando é bem indicada, mas é preciso


ter muito critério e cuidado ao solicita-la, avaliando se o risco compensa o
benefício! O mesmo vale para a ressonância magnética, que apesar de não
emitir radiação, geralmente exige sedação da criança, tornando o
procedimento muito mais complicado e de alto risco! Como sempre, pode
ajudar muito nos momentos certos, mas não deve ser realizado se não houver
uma justificativa importante!

Um grande vilão das crianças é a ultrassonografia (ou ecografia) cervical


(com ou sem Doppler colorido) e é solicitado sempre que se observa algum
nódulo ou caroço crescendo no pescoço! Realmente, o aparecimento de um
nódulo indolor e que comece a crescer numa criança totalmente saudável,
sem dor ou febre, e que também não esteja resfriada, gripada, nem com coriza
ou tosse, é bastante preocupante!

Acontece que, em mais de 99% das vezes que uma criança apresenta um
nódulo crescendo no pescoço, ela está com algum dos sintomas que eu citei
acima e, nesses casos, esse nódulo é perfeitamente normal, sendo que todos
os pediatras sabem muito bem disso (ou deveriam saber)! Trata-se de um
linfonodo reacional ao processo infeccioso que está se desenvolvendo, que
pode ser desde o mais simples dos resfriados até uma infecção severa! Se
criança estiver com uma infecção severa, esses linfonodos podem crescer
muito! É claro que a infecção precisa ser tratada, mas não há nada de errado
com o linfonodo, ele está apenas reagindo da forma esperada ao processo
infeccioso e isso é um bom sinal!

Sempre que um pediatra decide solicitar um exame de ultrassonografia


cervical a uma criança com sintomas de infecção ou com suspeita de
caxumba (parotidite) ele está incorrendo em um grave erro! Além de não
ajudar em nada no diagnóstico[53], o exame apresenta alto risco de dar um
resultado falso-positivo nesse tipo de situação! O problema é que muitos dos
ultrassonografistas e radiologistas que realizam esses exames, sentem-se
inseguros em afirmar que os linfonodos são normais, devido ao fato de as
crianças reagirem de forma diferente às infecções, quando comparado aos
adultos! Na criança, os linfonodos crescem muito mais e ficam mais
chamativos, ainda que sejam completamente normais! Se o médico que
realizar o exame não tiver muita experiência nesses tipos de caso, ele vai
tender a ficar em cima do muro e é bem provável que ele indique uma punção
com agulha no pescoço, que não vai servir para nada!

Nas crianças, assim como nos adultos, afirmo mais uma vez que excesso de
exames não indicam excesso de proteção, mas pode indicar um grave
prejuízo à saúde dos infantes! Tenha cuidado, uma relação de confiança com
o pediatra é fundamental!
CAPÍTULO VI

- Laboratórios de análises clínicas e a


máfia dos exames de rotina -
“Ele é induzido a achar que está sendo mais bem cuidado, por estar fazendo
muitos exames laboratoriais, quase sempre exames inúteis ou de pouca
utilidade, além de alguns até prejudiciais! “
“- Meu médico me revirou às avessas com tantos exames de sangue, me
sinto totalmente cuidada..."

"- Nunca havia feito tantos exames de sangue assim de uma única vez na
minha vida, meu novo médico é muito meticuloso e detalhista..."

Essas frases destacadas acima têm se tornado mais comuns a cada dia! Os
pacientes frequentemente associam quantidade de exames com qualidade de
atendimento, como forma de compensar a verdadeira atenção que todo
paciente precisa e deveria receber! Ele é induzido a achar que está sendo mais
bem cuidado, por estar fazendo muitos exames laboratoriais, quase sempre
exames inúteis ou de pouca utilidade, além de alguns até prejudiciais! Além
de gerarem excesso de custos, podem trazer graves riscos à saúde! O
desperdício com exames de laboratório é tanto, que estatísticas levantadas
pelos próprios laboratórios afirmam que até 30% dos resultados de exames
não são resgatados pelos pacientes (exames que ninguém chega a ver o
resultado, nem os próprios pacientes), imaginem quanto isso representa em
custo que é repassado para o segurado do plano através dos reajustes?

Excesso de exames nunca foi sinal de zelo! Muita gente não sabe, mas a
última coisa que um médico pensa quando solicita duas ou três páginas de
exames laboratoriais aos seus pacientes é em excesso de cuidados! Existem
os que querem apenas agradar e existem aqueles que lucram com exames,
através de propinas! Mas como saber se um exame é realmente útil ou vai
levar o paciente a achar que tem uma doença que ele não tem?

Com a variedade de exames de laboratório que possuímos hoje em dia,


muitos exames de sangue são solicitados como se fossem exames de rotina,
sem que tenham, realmente, essa finalidade! O mais importante é que as
pessoas, ao lerem este capítulo, saibam reconhecer o que é útil e o que é
excesso por parte dos médicos! Como lido no meu dia a dia comparando
resultados de exames de laboratórios com meus próprios exames de imagem,
tenho acesso a muitos deles todo o tempo!

Vale a pena comentarmos aqui sobre alguns exames de laboratório que são
extremamente comuns, mas que frequentemente são solicitados de forma
equivocada, são eles:
Hemograma/Leucograma

Eis um exame muito mal utilizado (...talvez, o mais de todos!) Já vi casos de


pessoas que sofreram graves prejuízos à saúde apenas porque tinham um
aumento de leucócitos no sangue e isso foi considerado infecção! Nunca me
esquecerei do caso de uma médica grávida, que não sentia absolutamente
nada e, durante um hemograma de rotina, constatou um importante aumento
de leucócitos no sangue! É claro que uma leucocitose[54] pode estar
relacionada a algum tipo de infecção, mas nem sempre, pois existem outras
causas[55]! Essa médica simplesmente se apavorou com o resultado do
exame, exigiu ser internada e foi medicada com antibióticos potentes de uso
endovenoso, enquanto fazia uma bateria de exames para tentar descobrir o
local de sua infecção! Claro que ela nem pensou em sua gravidez ou no seu
bebê, na verdade, ela não pensou em nada! Simplesmente, ela agiu de acordo
com o que achava lógico, se submetendo a uma bateria de exames que não
chegaram a lugar nenhum e um tratamento agressivo para algo que ela não
tinha ideia do que fosse!

Quando a conheci, ela já estava internada há 01 semana, havia feito todos os


tipos de exames possíveis e tomado os mais potentes antibióticos existentes
no mercado! (Todos eles potencialmente prejudiciais ao seu bebê!) Nenhum
dos médicos que a acompanhou conseguiu dar uma explicação para um
exame de sangue “doente” em uma pessoa completamente saudável, mas
ninguém ousou parar o tratamento! Pouco tempo depois, o exame voltou ao
normal como num passe de mágica e sem nenhuma explicação! Claro que os
exames anteriores estavam errados, mas nunca descobriram a causa do erro,
nem souberam explicar o porquê!

Ela foi de alta e o bebê felizmente sobreviveu, mas teve alguns prejuízos na
esfera auditiva por conta dos antibióticos! Esse fato realmente ocorreu e eu
sei disso tudo porque conheci a médica, apesar de não termos muita
intimidade! Se tivéssemos, teria tido chance de alerta-la! Imagino que, se ela
trata assim a si própria, o que ela não faz com os pacientes que cuida?

No geral, é preciso ter muito cuidado com o resultado de exames de


hemograma, principalmente no que se refere à infecção! É muito comum que
pacientes saudáveis apresentem um leve aumento na contagem de leucócitos
sem que, necessariamente, estejam apresentando algum tipo de infecção!
Grandes aumentos, como o ocorrido com o caso da médica citada acima,
devem ser vistos com mais cautela, mas nada justifica a atitude tomada pelos
médicos dela no caso em questão!

Lembrar também que gripes e resfriados (infecções virais que, quando


instaladas, não têm tratamento pela medicina tradicional) podem aumentar
significativamente a contagem de leucócitos e, nesses casos, não há nada que
possa ser feito pelo médico, a não ser esperar!
“Lembrar também que gripes e resfriados [...] podem aumentar
significativamente a contagem de leucócitos e, nesses casos, não há nada que
possa ser feito pelo médico, a não ser esperar! “
Exame de urina/ Urocultura

Considero um dos casos mais graves de erro, pois é um tipo de exame que só
tem alguma utilidade quando é muito bem colhido! (Sendo mal colhido,
induz o médico a tratar uma infecção que não existe!).

Em primeiro lugar, é um exame que nunca deveria ser solicitado de rotina em


recém-nascidos e crianças pequenas, pelo menos enquanto elas não
conseguem controlar a vontade de urinar! É que nesses tipos de paciente, o
exame muitas vezes é colhido através de saquinhos de coleta, que
apresentam, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), altíssimo
risco de contaminação![56] Em bebês e crianças pequenas, ainda segundo a
SBP, a única forma 100% confiável de colher urina é por punção com agulha
(ainda que seja doloroso e desconfortável). O diagnóstico desse tipo de
infecção em crianças pequenas deve ser de exclusão (ou seja, quando outras
possibilidades mais comuns tiverem sido completamente descartadas!)

No caso de adultos e crianças maiores, é mais fácil colher; porém, percebo


que nem os médicos e nem os técnicos dão as orientações corretas na hora da
coleta (já presenciei situações assim, sem que soubessem que eu era médico)
e, apesar disso, os pacientes confiam nos exames como se fossem verdades
absolutas! Uma coleta malfeita (que não siga, a rigor, todos os passos de
limpeza e higienização dos genitais) pode induzir a resultados falsos,
indicando infecção em quem não tem!

Mesmo que a coleta seja feita da forma correta, pelas definições da Sociedade
Brasileira de Urologia, o exame não tem valor em pacientes que não tenham
sintomas de infecção urinária[57]! Em outras palavras, mesmo que o exame
de urina e/ou a urocultura mostrem presença de bactérias, não se considera
infecção urinária se o paciente não tiver sintomas e também não há
necessidade de tratamento! Por este motivo, não faz sentido pedir este tipo de
exame (e com esta finalidade) em pacientes que não tenham sintomas típicos
de infecção! (A única exceção são as grávidas.)

Tomar antibióticos de forma desnecessária por conta de exames mal


interpretados, ou pior, exames mal colhidos, é um prejuízo irreparável à
saúde! Estamos induzindo resistência bacteriana e nascimento de
superbactérias por conta do uso indiscriminado e equivocado desses
antibióticos!
“Considero [o exame de urina / urocultura] um dos casos mais graves de erro,
pois é um tipo de exame que só tem alguma utilidade quando é muito bem
colhido! (Sendo mal colhido, induz o médico a tratar uma infecção que não
existe!). “
TGO, TPG, Fosfatase Alcalina, Gama GT, PCR, VHS, CA 125

Quem nunca teve pelo menos uma destas taxas alteradas no sangue, alguma
vez em sua vida?

Parte integrante de alguns “check-ups de rotina”, o que estes exames têm em


comum é que apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade, com altas
taxas de falso positivo, ou seja, podem estar levemente alterados em
pacientes sem absolutamente nenhuma doença, devendo sempre serem
solicitados e interpretados com cautela! Se usados da forma correta, são
armas poderosas na mão de médicos experientes, no entanto, quando
solicitados indiscriminadamente, se tornam verdadeiros vilões, pois induzem
a conclusões erradas e equivocadas! Muitos associam, por exemplo, TGO,
TGP, fosfatase alcalina e gama GT alterados, em pessoas sem sintomas, com
a necessidade de uma ultrassonografia de abdome total ou superior! Uma
associação que não faz sentido e é desprovida de qualquer fundamentação
científica! Médicos que tenham essa conduta demonstram pouco
conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia do fígado!

Outra associação muito comum (e errada) é relacionar as taxas de CA 125


diretamente com o câncer! É verdade que esse exame de sangue pode ser útil
em alguns casos de câncer, mas ele também se altera em inúmeras outras
situações, devendo ser solicitado apenas em casos muito especiais! Fora isso,
acaba sendo inútil ou até prejudicial!

No caso do PCR e do VHS, são marcadores de infecção que aumentam em


mais de uma centena de situações, a grande maioria delas completamente
banal! Muitos profissionais pouco qualificados têm prescrito antibióticos de
forma sistemática para pacientes com alteração nesses exames e no
hemograma, ainda que não tenham nenhum sintoma de infecção!
“[...]podem estar levemente alterados em pacientes sem absolutamente
nenhuma doença, devendo sempre serem solicitados e interpretados com
cautela! “
Dosagens hormonais, como TSH, T3, T4, FSH, LH, testosterona livre,
prolactina, androstenediona, SDHEA

Outro caso comum de abuso, pois estas taxas hormonais têm sido solicitadas
de forma sistemática (como se fossem exames de rotina, mas não são) e suas
alterações analisadas como se o corpo humano funcionasse como uma piscina
de clube: É só dosar todas as taxas e sair corrigindo o que está baixo ou alto
demais para equilibrar o organismo! Infelizmente, ou felizmente, não
funciona assim! Primeiro, porque os próprios valores de normalidade de
muitos hormônios são relativos, depende de fatores externos e internos, se o
paciente está fazendo uso de medicação, a fase da vida em que se encontra e
se existem doenças associadas! Seria muito bom que fosse tão simples, nem
precisaríamos dos médicos: Dosaríamos todas as taxas hormonais e,
simplesmente, procuraríamos o farmacêutico para repor tudo que estivesse
em baixa e eliminar tudo que estivesse alto, o problema é que uma dosagem
hormonal baixa não significa necessariamente que precisemos repor aquele
hormônio, pois vai depender de muitos outros fatores associados: o nível real
de redução do hormônio, se aquela redução não seria esperada para a idade,
se existem outros hormônios também abaixo do normal e, principalmente, o
motivo do hormônio estar baixo! Em muitas situações, o problema está em
alguma medicação que o paciente esteja fazendo uso, ou que tenha feito uso
recentemente! É preciso lembrar que sair tomando hormônios sem nenhum
tipo de controle pode trazer graves prejuízos à nossa saúde e os médicos têm
prescrito esses hormônios sem muita noção da utilidade e dos riscos que eles
carregam! Um dos principais, é o risco de câncer associado ao uso abusivo de
testosterona, principalmente em pacientes que desejam melhorar a forma
muscular e/ou mudar de sexo!

Acho que as pessoas devem ter liberdade de ser o que quiserem, homens ou
mulheres, mas infelizmente a medicina ainda precisa encontrar uma forma
segura de fazer isso, pois os hormônios usados por via injetável hoje em dia
representam um grave risco para a saúde, eles podem causar câncer (que só
vai se manifestar dez anos depois), insuficiência hepática e muitas outras
doenças graves! Os laboratórios, com a necessidade de vender mais
medicamentos, simplesmente “esquecem” de contar esses detalhes quando
estão interessados em vender seu produto a alguém e patrocinam campanhas
televisivas para aumentar suas vendas!
“É preciso lembrar que sair tomando hormônios sem nenhum tipo de controle
pode trazer graves prejuízos à nossa saúde [...] “
Dosagem sérica de vitamina D

Há pouco tempo atrás, tivemos uma "moda" de deficiência de vitamina D!


Associações de laboratórios que fabricam a vitamina D e seus derivados
fizeram grandes campanhas entre médicos e serviços de saúde para que
solicitassem a dosagem sérica de vitamina D nos seus check-ups de rotina!
Esse exame é relativamente novo e tem limites de normalidade ainda mal
estabelecidos, principalmente se a dosagem sérica de um outro hormônio (o
PTH) estiver alterada também! Além do mais, com altas incidências de raios
solares em praticamente todas as regiões do Brasil, é raro quem tenha níveis
reais de deficiência dessa substância no sangue em situações normais! Ou
seja, não apenas o fato de o exame ser questionável e ainda pouco confiável
(com o passar dos anos a tendência é que ele se torne mais confiável), mas
também a falta de uma avaliação clínica e laboratorial adequadas, contribuem
para que tenhamos uma grande quantidade de diagnósticos equivocados de
deficiência dessa vitamina!

E, ao contrário de ser orientado a tomar banhos de sol (que seria muito mais
sensato por parte dos pediatras e clínicos), toda criança ou adulto com esse
suposto diagnóstico acaba tomando comprimidos de vitamina D e sofrendo
os riscos de uma superdosagem (felizmente muito rara, mas não impossível)!

Aliás, toda criança deveria tomar sol regularmente, independente de sua


dosagem de vitamina D estar normal ou não! A minha filha toma banhos de
sol regulares, quando um pediatra que a atendeu eventualmente solicitou a
dosagem sérica de vitamina D como exame de rotina, eu rasguei o pedido e
nunca mais retornei a ele! Por sinal, ele “esqueceu” de solicitar a dosagem
sérica de vitamina A, que comumente está baixa em crianças da idade dela e
que faz parte da rotina de solicitações, segundo a Sociedade Brasileira de
Pediatria! Ele não apenas solicitou um exame inútil, mas deixou de solicitar
um exame útil, por puro modismo!

Bom, existem muitos outros exames que não foram citados aqui (a grande
maioria dos exames não foi citada), mas é importante ressaltar que o mesmo
raciocínio deve sempre ser usado para todos eles: Nunca faça mais exames do
que precisa, pois isso pode trazer graves prejuízos à sua saúde! Tenha
cuidado ao interpretar resultados de seus próprios exames ou de seus
parentes, os valores de normalidade (aqueles que aparecem junto do
resultado) são relativos e sujeitos à várias interpretações! Um valor alterado
pode não estar verdadeiramente alterado e nem sempre um valor normal
indica normalidade, é preciso ter muita cautela e procurar um médico de
confiança para avaliar os resultados! Resultados de exames são como peças
de quebra-cabeças, se o médico não possuir um bom raciocínio clínico para
juntar todas as peças, nunca irá chegar a uma conclusão correta! Uma opinião
fundamentada na experiência pessoal e embasada na metodologia científica é
milhões de vezes mais correta que qualquer pesquisa ao “Dr. Google”, por
isso a relação médico-paciente tem que ser de extrema confiança! Não
adianta chegar a um médico exigindo os exames que quer e depois ir para a
internet analisar os resultados, agindo assim, a possibilidade de você chegar a
um diagnóstico errado é superior a 90%! Exame de sangue não deve ser regra
ao final de uma consulta médica, deve ser exceção!

E o mais importante de tudo: Exija explicações sobre cada exame que o seu
médico solicitar, se ele solicitou dez tipos de exames de sangue, exija dele
uma explicação sobre cada um dos dez, qual a finalidade deles e como vão
ajudar na suspeita diagnóstica! Se o médico se recusar a dar tais explicações,
recuse-se a fazer os exames e não volte nunca mais ao médico, sua saúde só
irá lucrar com isso!
“Tenha cuidado ao interpretar resultados de seus próprios exames ou de seus
parentes, os valores de normalidade (aqueles que aparecem junto do
resultado) são relativos e sujeitos à várias interpretações! “
A PROPINA DOS EXAMES

Engraçado tendermos a achar que, diferentemente do economista, do


advogado, do comerciante, do vendedor, o único objetivo de muitos médicos
não seria apenas ganhar dinheiro.... Por que consideramos razoável que um
vendedor possa querer nos empurrar um produto que não precisamos, apenas
para lucrar com essa venda, mas achar que não existam médicos que
tentariam nos empurrar produtos (exames e remédios) que não precisamos
com o mesmo objetivo?

Sim, sei que é antiético e imoral (e até ilegal!); o problema é que médicos são
seres humanos regidos pelas mesmas leis de mercado que os outros
profissionais! Muitos deles acabam aceitando “benefícios” de laboratórios de
análises clínicas, proporcionais à quantidade e o valor dos exames que
solicitam a seus pacientes e, em retribuição, recomendam o laboratório para
realização dos exames solicitados! Esse tipo de controle é muito fácil de ser
feito pelo laboratório, pois o nome do médico solicitante aparece em todos os
exames!

Uma vez, atendi o dono de uma das gráficas mais antigos de Brasília; no
meio da nossa conversa, ele me disse que sabia da existência de um esquema
“pesado” de pagamento de propinas por parte dos grandes laboratórios da
cidade! (Não especificou quais!) Ainda segundo ele, antes da era da
informática, esses laboratórios encomendavam bloquinhos impressos com a
relação dos exames e o nome dos médicos solicitantes para facilitar a
“contagem” da propina a ser paga ao médico, já que tudo era feito de forma
manual! E ainda completou:

- “Hoje é tudo eletrônico, mas naquela época eles contavam as propinas


usando boletos impressos na minha gráfica, sem nenhuma vergonha, como se
não estivessem fazendo nada de errado!” -
Pois é, essa é uma história que parece louca ou exagerada, mas que ocorre até
hoje, exatamente da mesma forma que antes, mas com uma quantidade de
exames infinitamente maior!

Existe até um caso engraçado que aconteceu comigo, por não ter a “conta
corrente” cadastrada numa das unidades de uma rede nacional de laboratórios
(muito famosa aqui em Brasília)! Eu não costumo solicitar exame para
ninguém, pois sou especializado em diagnóstico por imagem e não atuo
atendendo consultas, mas apenas fazendo exames de ultrassonografia! Como
também sou ginecologista de formação, às vezes, atendo e solicito exames
para minha esposa e ela confia muito em meu trabalho! Certa vez, ela foi até
uma das unidades desta grande rede de laboratórios com uma requisição feita
por mim, para realizar alguns exames! Ao pegar o resultado, percebeu que o
nome que aparecia como médico solicitante era de outro profissional e não o
meu! Questionou na hora o ocorrido e a atendente informou que era porque
eles não tinham o meu “cadastro”! Por não entender do assunto, minha
esposa se deu por conformada e foi embora!

Ora, as informações que a atendente supostamente precisava para fazer meu


cadastro estavam bem claras no pedido do exame: meu nome e meu CRM,
não havia motivo para que eu não estivesse cadastrado, já que meu registro
era do próprio Distrito Federal! Comentei com minha esposa que ficou muito
brava, sabíamos que algo estava cheirando mal!

Deixamos o ocorrido para lá, mas ela precisou retornar ao mesmo laboratório
para fazer um outro exame, pouco tempo depois! Quando foi buscar o
resultado, foi preciso que fizesse uma reclamação formal e ameaçasse não
fazer mais exames lá, pois o nome do médico solicitante estava errado de
novo, mas agora com nome de um outro médico (não o mesmo do primeiro
ocorrido)! O laudo foi corrigido após muita reclamação e, depois disso,
passamos a evitar essa rede!

Tempos depois, um colega do hospital me falou que era normal os médicos


da cidade receberem “benefícios” (propina) desse laboratório que minha
esposa fez exames! Essa propina é proporcional à quantidade e o valor dos
exames solicitados (daí a necessidade de ter um cadastro) e é depositada
diretamente na conta corrente do médico! Quando algum médico que não está
no cadastro dos beneficiários do laboratório solicita algum exame, as
atendentes são orientadas a colocar o pedido em nome de um dos que já são
recebedores regulares, para aumentar a propina deles!

- “Geralmente os pacientes nem notam que o nome do médico solicitante


saiu trocado! “- disse-me outro colega, quando comentei o ocorrido com ele!
Ele achou minha revolta totalmente desnecessária, pois tudo isso era muito
normal (para eles)!

Claro que nem todos os médicos recebem propinas de laboratórios, mas é


difícil não solicitar muito mais exames que o necessário, pois os próprios
pacientes costumam cobrar isso dos médicos! As consultas são sempre muito
rápidas e o paciente nunca é avaliado como deveria, sendo assim, os exames
servem para compensar a consulta ruim, deixando o paciente satisfeito no
final (ainda que com a saúde pior do que antes)! Na realidade, não há como
escapar do sistema e todos os médicos são obrigados a "dançar conforme a
música", pois precisam dos lucros gerados com exames e medicamentos para
sobreviver, seja direta ou indiretamente!

Os próprios laboratórios têm um cuidado especial em disseminar (na mídia) a


ideia de:

- QUANTO MAIS EXAMES, MELHOR! -

Claro, pois se não é isso que fazem as montadoras de carros, fabricantes de


geladeiras, televisores, celulares, etc... Todo o tipo de propaganda é válido
para aumentar as vendas! O problema é que, nesses casos, os empresários se
esquecem que estão lidando com vidas e criam novos exames, ainda com
aplicabilidade duvidosa e níveis de normalidade muito questionáveis, mas
que são repetidamente solicitados pelos médicos por serem caros e gerarem
grandes lucros!

É importante sabermos que existem profissionais declaradamente corruptos e


outros que apenas “seguem a onda”, mas muitas vezes, médicos tomam
determinadas condutas sem pensar muito nos riscos para os pacientes, afinal
vender doenças é muito lucrativo! Diagnósticos duvidosos deveriam ser
dados com mais responsabilidade e os médicos deveriam pensar duas vezes
antes de pedir qualquer exame, ainda que seja um simples hemograma! Vejo,
todos os dias, exames duvidosos e questionáveis serem utilizados por maus
profissionais para diagnósticos equivocados e promoção de medicamentos
caríssimos! Quanto mais doenças e doentes eles tiverem, mais dinheiro entra,
mais estes médicos ganham com consultas, mais laboratórios ganham com
exames, mais a indústria farmacêutica ganha com remédios e mais pacientes
perdem sua saúde!

Nunca esqueça: médicos que solicitam listagens imensas de exames de


"check-up", certamente ganham propina por esses exames, por isso, sempre
desconfie de exames difíceis e raros, ou exames muito caros que não são
aceitos pelos convênios, ou mesmo exames que só podem ser feitos em um
único laboratório da cidade, geralmente é golpe! Todos temos medo de
doença, principalmente de uma doença rara e pouco conhecida, e os médicos
aproveitam isso para vender doenças raras a seus pacientes, geralmente
doenças que têm diagnósticos discutíveis ou difíceis e necessitam de exames
igualmente questionáveis, portanto, é preciso estar atento a tudo! Outra coisa
fundamental é sempre procurar mais de uma opinião, com o cuidado de não ir
em dois médicos diferentes que façam parte do mesmo grupo, pois grupos
assim são muito fechados e todos trabalham com o mesmo tipo de conduta!

Por fim, use exames com responsabilidade e cobre isso do seu médico! Não
há nenhum intuito em economizar dinheiro para a operadora do plano de
saúde nesse caso, o objetivo é de economizar saúde mesmo, pois ela é o
nosso bem mais precioso!
“Nunca esqueça: médicos que solicitam listagens imensas de exames de
"check-up", certamente ganham propina por esses exames, por isso, sempre
desconfie de exames difíceis e raros, [...] “
CAPÍTULO VII

- A indústria farmacêutica -
Estudos científicos bem embasados já provaram que dar risadas ajuda a
emagrecer e casar aumenta consideravelmente o risco de morte! Outros,
mostraram coisas óbvias: Que as pessoas são mais felizes aos finais de
semana e quem as pessoas dirigem mal quando estão usando o celular! Existe
estudo científico para quase tudo: coisas banais, temas religiosos (um estudo
científico bem embasado já provou que oração pode ajudar a melhorar um
doente), até estudos altamente complexos que provam que a nova e
revolucionária droga, patenteada pelo famoso laboratório, é o melhor remédio
para aquela doença raríssima! Mas será que todos esses estudos são realmente
confiáveis?

Sempre que utilizamos um medicamento novo, prescrito pelo médico, nunca


questionamos se aquela é realmente a única e a melhor opção para o
tratamento da nossa doença ou da doença de nossos filhos! Também, nunca
questionamos porque esses remédios novos custam tão caro! O que encarece
um remédio não são seus custos de produção, mas sobretudo os custos
relacionados ao marketing necessário para a venda, os custos com pesquisas
científicas realizadas durante seu processo de criação, além é claro, de uma
generosa margem de lucro para o laboratório que fabrica o remédio! Quanto
mais exclusivo e inovador for o remédio, mas aumenta essa margem de lucro!
O problema é que remédios desse tipo, principalmente quando surgem
verdadeiras epidemias de doenças raras, são lançados no mercado antes
mesmo de terem sua eficácia comprovada!

Os consumidores de medicamentos deveriam saber que, na maioria das


vezes, o médico que prescreveu o remédio também se beneficia com a venda,
com coisas que vão desde pequenos brindes (canetas, bloquinhos, enfeites de
mesa, tablets), até mesmo passagens de avião, finais de semana em resorts,
inscrições em congressos com tudo pago, entre outras benesses... E essa conta
é sempre paga pelo consumidor final!

Notem que não questiono aqui quem deve ou não usar o remédio! Conheço
casos em que remédios novos salvaram vidas, mas sem dúvida nenhuma,
conheço muito mais casos onde eles as tiraram, ou causaram sequelas graves!
No entanto, os laboratórios nunca foram e nunca serão responsabilizados por
essas mortes, já que nas bulas de todos esses medicamentos constam
observações sobre “efeitos inesperados” que podem advir do seu uso,
isentando o laboratório de qualquer responsabilidade! O laboratório está
sempre legalmente coberto e o médico também, pois ofereceu o que havia de
mais avançado para o tratamento daquela doença! A família do paciente
sequer desconfia que, em determinadas situações, se a pessoa não tivesse
tomado nada, estaria em melhor saúde do que tomando o remédio! Se a
indústria farmacêutica realmente se preocupasse com o bem-estar e a saúde
de seus usuários, não cobraria por novos medicamentos até os mesmos
estivessem bem testados e com efeitos colaterais bem conhecidos; nem que
para isso fossem necessários vinte ou trinta anos de pesquisa!

Fazer remédio não deveria ser tão lucrativo se a saúde do paciente viesse em
primeiro lugar! A própria forma de fazer ciência e “driblar” a metodologia
científica, cria um ambiente extremamente fértil para a manipulação de dados
sobre medicamentos! Vale lembrar que nos Estados Unidos, por exemplo,
pessoas ganham dinheiro para participar de pesquisas, muitas vezes se
submetendo a medicamentos altamente perigosos e quase totalmente
desconhecidos, apenas porque precisam desesperadamente daquele dinheiro!
Todos os dados utilizados para a confiabilidade e a eficácia de um
medicamento, se ele funciona ou não e se tem efeitos colaterais, são dados
colhidos justamente dessas pessoas! É difícil confiar em relatos de pessoas
que estão ali apenas por dinheiro, elas dirão qualquer coisa que queiram que
elas digam, pois dependem dessa ninharia para prover o seu sustento e,
muitas vezes, de seus filhos (existem muitos imigrantes ilegais nessa
situação)!

Se no Brasil, oferecer dinheiro para participar de pesquisa é proibido, não faz


nenhuma diferença: o impacto dentro da comunidade científica brasileira de
um estudo norte-americano é infinitamente maior que o impacto de um
estudo brasileiro! Além do mais, no Brasil, acabamos nos aproveitando da
ignorância da população de usuários do S.U.S, para conseguir voluntários nos
trabalhos científicos!

Não é que a ciência e a metodologia científica não prestem! E como na


política: não é a política que é ruim, os políticos é que são ruins....

Com a ciência é a mesma coisa...


“A família do paciente sequer desconfia que, em determinadas situações, se a
pessoa não tivesse tomado nada, estaria em melhor saúde do que tomando o
remédio! “
Os grandes laboratórios ganham muito dinheiro com medicamentos novos,
por deterem suas patentes por um período de dez anos! O problema é que: do
início da validade da patente, até o remédio efetivamente começar a ser
vendido, se passam aproximadamente quatro anos! Sendo assim, o
laboratório precisa cobrir todos os custos com as pesquisas relacionadas ao
remédio, todos os custos com produção e propaganda e ainda ter um lucro
considerável apenas nos seis anos que sobraram... Se cada comprimido de um
determinado remédio custa R$ 100,00; R$ 2,00 são para a produção, R$
50,00 reais são gastos com marketing e os outros R$ 48,00 são os custos com
pesquisas e margem de lucro! A coisa funciona assim: quando o remédio é
lançado, o que determina seu preço é a previsão de pessoas que vão precisar
do remédio, a gravidade da doença que ele cuida e se é o único, ou não, capaz
de tratar aquela doença!

São os próprios laboratórios que patrocinam todas aquelas campanhas de


prevenção e orientação, aconselhando às pessoas que, se estiverem com
determinados sintomas ou se enquadrarem em determinadas faixas de risco,
devem procurar um médico o mais rápido possível! Paralelamente a estas
campanhas de orientação, os laboratórios patrocinam pesquisas para provar
“cientificamente” a melhor eficácia daquele remédio (em comparação com
outros) e patrocinam reportagens em grandes redes de televisão, revistas
sobre saúde, jornais, e etc..., tudo com intuito de divulgar os resultados e
promover o remédio! Assim, conseguem obter lucros expressivos com o
remédio até o final da validade da patente e, passado esse tempo, os mesmos
pesquisadores que publicaram trabalhos qualificando o remédio, começam a
publicar outros trabalhos falando de potenciais riscos, de efeitos colaterais
perigosos e anteriormente desconhecidos e do fato deste remédio não
funcionar tão bem quanto se achava antes! Ao mesmo tempo, uma nova
droga derivada de uma pequena modificação na molécula da droga anterior é
lançada pelo mesmo laboratório, porém a um preço muito mais alto e
prometendo não possuir os mesmos efeitos colaterais supostamente
“perigosos”! No final de tudo, o remédio mais antigo continua sendo vendido
para quem não pode pagar o mais novo! (Que custa de 50 a 100 vezes o preço
do antigo!) Esse remédio novo, mesmo ainda pouco testado e de efeitos
colaterais pouco conhecidos, começa a ser prescrito por todos os médicos,
com a desculpa de ser ultima evolução tecnológica para aquele tratamento!
Perceba que nada do que foi dito aqui, apesar de imoral, pode ser considerado
ilegal, portanto, os laboratórios são totalmente respaldados pela lei! Como
confiar tanto em uma empresa que prospera mais, quanto mais doente você
ficar e mais remédios você tomar? E que quanto mais rara e grave a sua
doença for, maior serão os seus lucros?

Existe algum limite entre a ética e o livre mercado consumidor?

São perguntas que, infelizmente, não possuem respostas!


“Como confiar tanto em uma empresa que prospera mais, quanto mais doente
você ficar e mais remédios você tomar? “
O CASO VIOXX

Para mostrar como as situações que citei acima são muito mais comuns do
que parecem, vou citar um caso real que ocorreu e foi noticiado pela mídia, o
caso do anti-inflamatório Vioxx!

Este anti-inflamatório foi criado com a proposta de causar menos efeitos


nocivos ao estômago, em comparação aos mais antigos, sendo, portanto, mais
tolerado nos pacientes idosos e com problemas gastrointestinais! Não foi
proposta inicial do laboratório que ele fosse mais forte ou mais eficaz que os
outros anti-inflamatórios[58] do mercado, mas apenas mais tolerado pelo
estômago!

Lembro-me perfeitamente da época do lançamento do remédio, pois ainda


atuava como médico clínico em um posto de saúde da família numa cidade
do interior de São Paulo chamada Quintana! (em 2003) Nessa época, lembro-
me de como o laboratório fez uma grande campanha de divulgação do
remédio junto aos médicos: Eles mostravam, com muito orgulho, a alta
tecnologia que tornava o medicamento altamente seletivo e quase desprovido
de efeitos colaterais! Nomes complicados como COX-1 e COX-2 ilustravam
os belos e grandiosos panfletos que eram fartamente distribuídos para a toda
a classe médica! Nos congressos, os “stands” que faziam publicidade do
remédio promoviam fartos coquetéis e coffee breaks, distribuíam muitos
brindes: Desde canetas, bloquinhos, pesos de papéis, enfeites, além de sorteio
de tablets, notebooks e viagens de navio e avião! A publicidade foi tanta que
o remédio passou rapidamente a ser receitado por praticamente todos os
ortopedistas da época! Eu não costumava prescreve-lo, por achar um remédio
muito caro para o benefício que prometia! Pela minha concepção, achava que
compensava mais ao paciente usar um anti-inflamatório mais barato e tomar
junto um medicamento para estômago dos mais simples, e o resultado seria o
mesmo, porém com uma economia absurda! Nem eu tinha ideia do grave
perigo que esse remédio novo representava aos usuários!
Logo, ele pegou fama de mais forte e mais eficaz contra dor, se tornando
também o preferido dos pacientes que tinham dores crônicas e precisavam
fazer uso contínuo da medicação! Rapidamente ele se tornou um fenômeno
de vendas no mercado e a empresa chegou a faturar 2,5 bilhões de dólares,
apenas no ano de 2003!

Quando se aproximou o período de quebra de sua patente, o próprio


laboratório fabricante admitiu que o remédio poderia causar graves
problemas cardíacos em idosos que fizessem uso prolongado dele e o
laboratório precisou pagar várias indenizações (principalmente nos Estados
Unidos[59]). O remédio foi retirado rapidamente do mercado sem muito
alarde na imprensa (apenas algumas notas de rodapé de jornal) e não existe
mais até hoje!

O Vioxx foi substituído por um outro, do mesmo laboratório, que existe até
hoje e é muito parecido com o seu predecessor! Já existem evidências que
essa nova droga pode causar efeitos colaterais parecidos com o Vioxx, mas
essas evidências não foram suficientes para tira-lo do mercado!
“[...] a mídia se utiliza com frequência de meias verdades e verdades
questionáveis para promover determinados medicamentos ou
tratamentos[...]”
A MÍDIA E OS MEDICAMENTOS

Quando a mídia busca informação científica confiável com grandes


laboratórios farmacêuticos para informar e esclarecer à população, quem mais
lucra é a nossa saúde! Porém, infelizmente não é o que vem acontecendo
atualmente: No nosso mundo, são os grandes laboratórios e indústrias
farmacêuticas que se utilizam da mídia para promover a venda de seus
produtos, muitas vezes manipulando informação, distorcendo verdades e
criando atmosferas que favorecem a comercialização de determinados
medicamentos, vacinas ou tratamentos!

Não falo de teorias de conspiração e muito menos quero afirmar que tudo que
é veiculado pela mídia seja falso! Mas a mídia se utiliza com frequência de
meias verdades e verdades questionáveis para promover determinados
medicamentos ou tratamentos, vemos isso o tempo todo nos programas
matutinos destinados à saúde e veiculados pelos grandes canais abertos de
TV! Não se impressione, já vi programas de TV famosos divulgarem
verdadeiros absurdos como se fossem reais e sempre ao lado de informações
verdadeiras, para que não caia em descrédito toda a reportagem! A ideia é
que, usando uma base científica verdadeira, sejam introduzidas pequenas
‘lorotas” para promover a venda de um determinado produto, seja ele um
medicamento, uma vacina ou um tratamento! As vacinas, por exemplo, são
fundamentais na nossa sociedade e promoveram uma verdadeira revolução na
medicina preventiva, mas não fazem milagres! É preciso ter muito cuidado,
pois alguns laboratórios se aproveitam de epidemias para aumentarem seus
lucros, alguns até ajudam a criar e aumentar o pânico diante de situações
quase banais! Não é coincidência que redes de TV, revistas, jornais e toda
mídia relacionada à internet, frequentemente se mobilizem sobre um único
assunto relacionado à saúde, criando uma grande comoção sobre um único
tema, para induzir as pessoas a acreditarem que realmente precisam muito
daquele tratamento!

É como culpar o sol como causador de câncer para vender mais protetor
solar, esquecendo que ele é fundamental para a produção de vitamina D! (Ou
seja, criando um outro problema!) Quando se trata de vender um novo
medicamento ou vacina, ainda é pior, pois são substâncias novas e pouco
testadas, não se tendo a real dimensão do alcance de seus efeitos colaterais e
da sua eficácia, colocando a saúde das pessoas em risco, apenas para vender
mais!

Vimos coisas assim acontecerem com muitas vacinas lançadas recentemente


no mercado, um dos casos mais emblemáticos é o da vacina contra o HPV:
Promoveu-se uma campanha fabulosa a favor da vacina, vimos médicos
famosos e bem-conceituados recomendarem seu uso, inclusive para pessoas
que já tinham tido contato com vírus (mulheres adultas e com vida sexual
ativa), o que é um absurdo, visto que o próprio fabricante da vacina não
recomenda esse tipo de uso! (Pode conferir na bula, se quiser!)

A vacina contra HPV é nova e deveria ter sido mais testada antes de usada
em larga escala no Brasil! Em vários países do mundo, seu uso foi suspenso
pelo risco de efeitos colaterais não previsíveis e potencialmente graves!
Ainda que consigamos desenvolver vacinas melhores e mais seguras com
passar dos anos, os fabricantes tinham que esperar mais antes de
disponibilizar em escala comercial algo que ainda não oferece a segurança
necessária, principalmente se tratando dos casos de câncer de colo de útero,
um tipo de câncer quase 100% evitável quando a mulher faz seus exames
preventivos de forma adequada! Esse exame (preventivo ginecológico ou
exame de Papanicolau) é cientificamente comprovado como tão eficaz quanto
a vacina, sendo dezenas de vezes mais barato que ela!

Nos Estados Unidos, o fabricante da vacina contra HPV pagou pesadas


indenizações por conta de graves sequelas advindas de efeitos colaterais
extremamente raros e imprevisíveis; porém, perder um milhão de dólares
aqui e outro acolá por conta de processos judiciais não faz a menor diferença,
já que estas “despesas” geralmente são incluídas no preço final do produto! E
este exemplo não serve só para vacinas, mas para todo tipo de medicamento
ou tratamento veiculado pela grande mídia! Não que seja errado mobilizar
pessoas em torno de um tema da área de saúde, é assim que funciona a
medicina preventiva: conscientizam-se as pessoas sobre as doenças e suas
causas, para que as mesmas possam se prevenir! Mas daí a causar pânico e
induzir pessoas a acreditarem em factoides apenas com o intuito de vender
produtos, serviços ou medicamentos é o cúmulo da canalhice!

A mídia costuma ser manipulada e estimular as pessoas a consumirem


qualquer coisa que seja! Por outro lado, se a notícia não for economicamente
rentável, mesmo que algo grave, a mesma imprensa praticamente fecha os
olhos, ou comenta o caso em textos de rodapé!

Vejam um exemplo recente: Tentou-se criar um pânico envolvendo o zica


vírus! Ainda que ele cause uma virose muito menos grave que a dengue, sua
relação com um significativo aumento nos casos de malformações cerebrais
em crianças foi suficiente para causar um verdadeiro pânico geral!

É muito mais fácil culpar um mosquito do que culpar todo um sistema de


saneamento básico ineficiente por falta de controle na destinação do lixo
urbano e, o pior de tudo, uma saúde pública totalmente incompetente! (E
quase inexistente, do ponto de vista assistencial!) Todos os anos a dengue
sempre foi uma causa importante de morte e de graves complicações,
principalmente em relação à população mais pobre! Porém, enquanto o aedes
aegypti não começou a ser motivo para ganhos com venda de repelente (entre
outras coisas), não houve grande interesse da mídia pelo caso! O mosquito
sempre existiu e vai existir, não é possível erradica-lo totalmente, porém, a
doença só conseguiu se proliferar devido a total falta de controle dos órgãos
públicos! Parece ser muito mais lucrativo esperar a situação se agravar para
vender determinado produto ou serviço, do que evitar que ela ocorra!
“Parece-nos que, do dia para a noite, tudo que nos faz bem passou a ser
veneno e tudo que achávamos ser veneno passou a ser alimento essencial! “
A MÍDIA E OS ALIMENTOS

Assim como a mídia funciona como máquina de manobra para a indústria


farmacêutica, com os alimentos e suplementos alimentares não poderia ser
diferente: Parece-nos que, do dia para a noite, tudo que nos faz bem passou a
ser veneno e tudo que achávamos ser veneno passou a ser alimento essencial!
É impressionante a volatilidade com que a mídia condena ou santifica
determinados grupos de alimentos ao seu bel prazer, enquanto nós, pobres
mortais, temos que ficar antenados para nos adaptar a todas essas mudanças!

Os grandes vilões da vez são o glúten e a lactose, mas já foram: o ovo, o óleo,
a gordura, o açúcar, o adoçante, enfim.... Ufa! Parece que respirar também
faz mal! Mas o que é verdade e mentira nisso tudo?

Bom, é verdade que somos o que comemos e, portanto, precisamos nos


alimentar bem para ter saúde! É verdade também que, independentemente do
que a gente coma, pessoas acima do peso ter um risco muito mais elevado de
contrair uma série de doenças, como pressão alta, diabetes, infarto, derrame e
câncer! Mas o que representa uma boa ou uma má alimentação?

De todos os estudos e pesquisas que já tive acesso na área de alimentação, os


que me pareceram mais sensatos são os relacionados com a quantidade de
proteína animal na dieta! Ao que os estudos indicam, se essa quantidade for
muito significativa, isso aumenta muito o risco de câncer e doenças
cardiovasculares! Acho bastante sensato, pois o câncer obteve um aumento
significativo de sua incidência nos últimos anos e isso coincidiu com um
maior acesso por parte da população geral às proteínas animais! Antigamente,
a população mais pobre consumia pouca proteína animal, alimentando-se de
carboidratos, proteínas e gorduras de origem vegetal, pois a proteína animal
era caríssima e mais destinada a pessoas da classe alta! Ora, a classe alta
sempre teve taxas mais elevadas de câncer! Claro que o papel dos alimentos
artificiais também é preponderante, haja visto que eles não existiam
antigamente! Se nossos avós, ainda que consumissem algum agrotóxico,
conseguiam evitar o câncer com dietas pobres em proteína animal e isenta de
produtos artificiais, porque nós também não podemos?

Parece ser essa a direção apontada pelos mais sérios pesquisadores da área!
Uma estudiosa da Harvard Medical School chamada Mingyang Song
conduziu um estudo com mais de 130.000 pessoas, durante 30 anos,
concluindo que uma dieta rica em proteína de origem animal está associada
ao surgimento de diversos tipos de câncer! Alguns poderão dizer: mas sempre
comemos carne! Sim, é verdade!! Mas sempre comemos pouca carne e a base
da alimentação sempre foi o arroz e o feijão, porque ser diferente?

Porém, muito mais maléfico que carne são os alimentos artificiais! Em


relação a estes, não existem controvérsias na ciência sobre suas fortes
ligações com o câncer! Todo e qualquer processo mais elaborado de
produção envolve agentes químicos e biológicos que podem resultar em
compostos novos e pouco testados! No caso dos alimentos, a situação é mais
grave do que no caso dos medicamentos, pelo seguinte: é muito mais fácil
liberar um novo suplemento alimentar do que um novo medicamento!

O problema é que, um novo suplemento, assim como um novo medicamento,


não foi testado suficientemente e pode possuir efeitos colaterais advindos do
seu uso que levarão anos ou décadas para se tornarem de conhecimento geral!
Dentre esses efeitos colaterais, podemos ter desde efeitos adversos ao
esperado pelo suplemento (como ganho de peso, retenção hídrica, etc.), até
doenças raras e vários tipos de câncer! Porque se arriscar com um suplemento
ou alimento artificial novo, apenas porque ele promete um resultado em seu
corpo que não foi conseguido por todos os outros semelhantes a ele?

Somos induzidos a achar que a ciência faz milagres por nós e pode nos trazer
a saúde e a felicidade eternas! Porém, qualquer pessoa que viveu muito e
viveu com saúde, sabe que nada disso realmente funciona! A fórmula para a
saúde e juventude eternas é tão simples que ninguém quer seguir, pois
demanda muito esforço individual, entrega e dedicação! São coisas que as
pessoas não estão muitos dispostas a dar, portanto, é mais fácil acreditar
numa pílula milagrosa que vem numa embalagem enfeitada e custa os “olhos
da cara”, do que acordar cedo, fazer atividade física todos os dias e preparar
seus próprios alimentos, restringindo a dieta às suas necessidades diárias!
Todos temos a chave da saúde e juventude dentro de nós mesmos, mas temos
preguiça de abrir a porta, pois sabemos que não basta ir a uma farmácia e
desembolsar R$ 400,00 ou R$ 500,00! Quando sabemos utilizar com
sabedoria as informações sobre boa saúde e boa alimentação, nossas contas
no supermercado e na farmácia se tornam mais baratas, e isso, nenhuma
empresa do ramo quer!

Precisamos abrir mais os olhos e fechar mais a boca!

Por outro lado, se tiver dúvida do que é bom ou não para comer, prefira
pergunta à sua avó do que olhar na internet ou na televisão, e você se
surpreenderá com o resultado!
“Somos induzidos a achar que a ciência faz milagres por nós e pode nos
trazer a saúde e a felicidade eternas! “
CAPÍTULO VIII

- O futuro da medicina e os novos


planos de saúde -
“[...]a premissa básica é que percebamos a gravidade do momento que
estamos vivendo em relação à saúde privada no Brasil! “
Mudar não é fácil, mas a premissa básica é que percebamos a gravidade do
momento que estamos vivendo em relação à saúde privada no Brasil! Nos
Estados Unidos, onde a lei fica do lado do paciente, existem muito menos
abusos do que são observados aqui, mas ainda assim eles vêm enfrentando
sérios problemas relacionados a essa forma equivocada de fazer medicina,
que encarece muito a assistência e não traz nenhum benefício aos pacientes!
Nos países de primeiro mundo, professores e especialistas já alertam sobre a
necessidade de mudanças radicais no sistema de saúde privado, que envolva
os prestadores de serviço (hospitais, clínicas e laboratórios), os donos das
empresas privadas (que pagam pelos planos de saúde dos seus funcionários),
as operadoras de planos de saúde e os laboratórios farmacêuticos (que
produzem os medicamentos)! A diferença do que acontece lá para o que
acontece aqui, reside também no fato de não punirmos adequadamente os
grandes esquemas formados em nosso país, criando uma situação de
permissividade que faz surgir grandes distorções!

Por isso, além de punir de forma exemplar os que se aproveitam das brechas
do sistema para uso próprio, também precisaríamos passar por uma
reformulação profunda na forma de prestar assistência médica, começando
pelo ensino na faculdade! Formamos muito mais especialistas que
generalistas porque esta última área é muito desvalorizada, tanto do ponto de
vista financeiro, como do próprio prestígio perante a classe médica!
Precisamos de profissionais que se dediquem, desde a sua formação, em
cuidar dos indivíduos e suas famílias, tendo uma noção mais abrangente da
medicina e conhecendo o básico de cada especialidade! Não é fácil ser um
profissional assim, mas a baixa remuneração dos ditos “médicos de família”
afasta essa especialidade do sonho de qualquer formando em medicina! Ora,
dentre todas as especialidades, eles é quem deveriam ganhar mais, pois todas
elas dependem deles! A carreira de médico de família deveria ser a mais
valorizada e a mais prestigiada de toda a classe médica, e deveria conduzir e
harmonizar todas as outras especialidades!

Já no âmbito do sistema público (SUS), sem dúvida que o maior problema é a


má gestão do dinheiro público e a falta de um controle de qualidade na
atividade profissional! Fica claro que existem interesses particulares que
obrigam o SUS a ser ruim! Com a baixíssima qualidade e o elevado preço
dos planos de saúde privados, se o SUS não fosse tão ruim, provavelmente
não teríamos clientes na saúde privada, ou teríamos um sistema de saúde
exclusivamente público, como acontece em vários pequenos países de
primeiro mundo onde essa lógica funciona! Em um país tão grande como o
nosso, para ter um sistema de saúde 100% público e de qualidade, teríamos
que triplicar ou quadruplicar a verba destinada ao financiamento da
saúde[60]! Com tanto dinheiro sendo gasto com corrupção e tanto imposto
sonegado pelas grandes empresas, sobrecarregando a carga tributária da
classe média, é impossível cogitar um aumento tão grande nos repasses de
recursos para o SUS! Porém, mesmo dentro da nossa realidade, muita coisa
pode melhorar: Se a gestão do dinheiro público passasse a ser feita de forma
responsável e honesta, os grandes hospitais públicos teriam muito mais verba
disponível, apenas com redução dos desperdícios e o fim do desvio de
dinheiro! Sei que nada disso é fácil, mas é o primeiro passo que precisa ser
tomado para melhorar o SUS, não tem outro jeito!
“Serão levados a achar que compraram um “plano de saúde”, quando
compraram, na verdade, um “plano de doença”, que vai deixa-los na mão
quando verdadeiramente precisarem dele! “
Na época em que escrevi este livro, estava em discussão uma proposta do
governo para flexibilizar as regras de cobertura dos planos de saúde, com o
intuito de criar planos mais populares! Uma coisa é fato, essa nova proposta
do governo não vai ajudar em nada! Criar planos com regras de cobertura
mais flexíveis só beneficia as operadoras de planos de saúde e mais ninguém!
Se os planos hoje são muito caros, não é por culpa das regras atuais que
regem a saúde suplementar (saúde privada), mas culpa da política aplicada
pelas grandes redes de hospitais e clínicas, em comum acordo com as
operadoras de planos de saúde!

As grandes empresas de capital aberto, que detém o controle das redes de


hospitais e de clínicas de diagnóstico, são as que mais lucram com esse
esquema! Ao flexibilizar mais as regras de cobertura dos planos, as
operadoras poderão abocanhar uma grande fatia de lucro com pessoas de
baixa renda que vão comprar planos de atendimento exclusivamente
ambulatorial. Quando essas pessoas tiverem uma doença de verdade e
precisarem um atendimento hospitalar, terão de recorrer ao SUS, que ficará
cada vez mais sobrecarregado! Um plano de saúde exclusivamente
ambulatorial não vai diminuir a quantidade de doentes do SUS, mas
aumentar, podendo tornar o sistema insuportável! Escrevam o que eu digo:
essa nova proposta do governo será um desastre para a população mais pobre
do país e que utiliza o SUS como única opção (quase 150 milhões de
brasileiros)! Serão levados a achar que compraram um “plano de saúde”,
quando compraram, na verdade, um “plano de doença”, que vai deixa-los na
mão quando verdadeiramente precisarem dele!

Os planos coparticipativos, que estão começando aqui e já são bastante


comuns nos Estados Unidos, também não resolvem a questão, empurrando o
prejuízo para os pacientes e criando mais dificuldades para a população que
tem uma renda curta e fica com receio de se recusar a fazer um exame ou
procedimento exigido pelo médico!

No serviço privado, o problema não é a falta de dinheiro, mas talvez o


excesso dele em lugares errados! É preciso que seja feita uma mudança
estrutural na forma de pagar e receber pelos serviços de saúde!
Provavelmente, a única forma segura do paciente ter o melhor atendimento de
saúde no sistema particular, seria se os grandes hospitais, clínicas e redes de
laboratórios lucrassem para manter as pessoas saudáveis e não para mantê-las
doentes! Precisaríamos romper totalmente com o sistema atual de
remuneração por serviço realizado e migrar para um sistema totalmente
diferente, em que os prestadores de saúde recebessem remuneração fixa pelos
seus serviços, independentemente da quantidade de pessoas doentes, dessa
forma, seria mais vantajoso e lucrativo manter as pessoas saudáveis, do que
inventar doenças que não existem! Isso, sem dúvida, resolveria 99% dos
problemas e erros que temos na atualidade! Porque não sonhar alto?

Para chegar a um ideal como esses, muitos passos terão que ser dados,
porém, existem soluções menos radicais: se os hospitais recebessem pelo
resultado bem-sucedido do procedimento e não pelo procedimento em si, isso
já traria melhorias e seria bem mais fácil de ser implantado! O foco tem que
ser no resultado (a cura ou melhora da doença), só assim o paciente pode ser
beneficiado! Enquanto as redes de hospitais, clínicas e laboratórios puderem
enrolar o paciente para aumentar os lucros eles farão isso, sem dúvida!
Afinal, eles pensam: “- Curar para quê?”

Definitivamente não é o objetivo obter a cura, até mesmo porque pessoas


saudáveis não geram exames, não geram procedimentos e não tomam
remédios, portanto, causam prejuízo!

Por fim, escrevi este livro principalmente para alertar o maior número
possível de pessoas sobre os grandes riscos que podem colocar a si e a suas
famílias ao procurarem médicos, emergências de hospitais e clínicas de
diagnóstico; como também sobre os riscos do abuso de remédios e
procedimentos!

Sabemos que todos precisamos ou vamos precisar de médicos um dia, pois


não vivemos sem a medicina, médicos salvam vidas! Infelizmente, hoje em
dia, se não tomarmos muito cuidado na hora de procurar um serviço de saúde,
podemos acabar pior do que entramos! Por isso, não quero que as pessoas
deixem de ir aos médicos, mas trouxe argumentos que visam equilibrar
melhor a balança, e pela primeira vez, em favor dos pacientes!

Espero que meu livro cumpra seus objetivos e possa ser bem aproveitado
pelo maior número possível de pessoas; que o teor de sua denúncia possa
repercutir numa profunda mudança da forma de enxergarmos a saúde, só
assim poderemos ter uma saúde verdadeiramente moderna, eficaz e
resolutiva, e não a “embromaterapia” que existe hoje!
CAPÍTULO IX

- Os dez mandamentos para sobreviver


ao seu médico -
“Definitivamente não é o objetivo obter a cura, até mesmo porque, pessoas
saudáveis não geram exames, não geram procedimentos e não tomam
remédios, portanto, causam prejuízo! “
PRIMEIRO:

EVITE AS EMERGÊNCIAS DE HOSPITAIS PRIVADOS, EXCETO EM


ÚLTIMO CASO

Se pode esperar para o outro dia, faça uso de um analgésico ou antitérmico


comum e marque uma consulta imediata com o seu médico de confiança!
Emergências são locais insalubres que geralmente terceirizam profissionais
recém-formados e de pouca experiência! Para compensar a consulta ruim,
estes mesmos profissionais abusam dos pedidos de exames, de procedimentos
e na prescrição de remédios, levando grave risco aos pacientes! (Sobretudo
nas emergências privadas!)

Infelizmente, dependemos das emergências para uma situação mais grave e


imediata, nesses casos, devemos procurar o que há de melhor e sempre exigir
nossos direitos! Porém, sempre que for possível fazer uma escolha, evite ir às
emergências e, principalmente, evite fazer exames em um ambiente de
emergência, a chance de erro é muito maior!
SEGUNDO:

TENHA CUIDADO AO FAZER CHECK-UPS

Check-ups são importantes, desde que solicitados na medida certa! Excessos


de exames sempre serão prejudiciais à saúde e levam os médicos a
cometerem erros de interpretação! Sempre gosto de lembrar o infeliz exemplo
do exame de ecografia de próstata por via abdominal, onde muitos pacientes
são induzidos a acreditar que o mesmo faz parte da rotina urológica para
pesquisa para câncer de próstata (o que é uma grande mentira) e acabam
fazendo o exame sem nenhuma necessidade, apenas para aumentar os lucros
do médico solicitante ou causar uma boa impressão ao paciente!

Exames de check-up devem incluir uma lista pequena e seleta, apenas com
exames que realmente façam alguma diferença na detecção precoce de
doenças mais graves, como o câncer! Médicos que exageram nos pedidos de
check-up, demonstram incompetência ou esperteza (ou os dois)! Seja qual for
o caso, o paciente sempre será o maior prejudicado no final!
TERCEIRO:

EVITE TOMAR REMÉDIOS, PRINCIPALMENTE REMÉDIOS


RECÉM-LANÇADOS (ESTES, SÓ EM ÚLTIMO CASO)

TODOS os remédios possuem efeitos colaterais (desde uma simples dipirona,


até o mais potente quimioterápico contra câncer), uns mais raros, outros mais
comuns, uns mais inofensivos, outros bastante graves, chegando a serem mais
prejudiciais que a própria doença para qual foram indicados!

Em se tratando de remédios novos, o cuidado precisa ser redobrado, pois a


possibilidade de efeitos colaterais inesperados é muito maior, conforme tratei
de forma detalhada no capítulo sobre os laboratórios farmacêuticos! Sempre
que for possível, utilize medicamentos com mais de dez ou vinte anos de
mercado, nesses casos, a possiblidade de um efeito colateral inesperado e
grave, cai consideravelmente!

Por fim, independentemente de se utilizar medicamentos genéricos, similares


ou de marca, o fato daquele remédio específico já possuir um genérico indica
que ele não é tão novo (tem, pelo menos, dez anos de mercado) e, portanto, é
mais confiável que algum que não tenha similares!
QUARTO:

LEIA ATENTAMENTE A BULA DE TODOS OS REMÉDIOS QUE


FOR USAR, PRINCIPALMENTE AS LETRAS MIÚDAS

Garanto que, apenas adotando essa simples atitude, você irá preferir deixar de
tomar muitos remédios! Lembre-se, alguns efeitos colaterais de remédios
podem ser muito piores que a própria doença e o médico geralmente não se
preocupa com isso! Outra coisa, quando o médico prescreve algum
medicamento mais novo (lançamento), quase sempre existe um substituto
semelhante com mais tempo de mercado, mas eles sempre preferem passar os
recém-lançados por estarem nas vitrines dos grandes laboratórios
farmacêuticos!

Hoje em dia, com a internet, você não precisa nem comprar o remédio para
ter acesso à bula; sendo assim, só compre se o custo (dos efeitos colaterais)
para sua saúde, compensar o benefício do tratamento!
QUINTO:

QUANDO FOR AO MÉDICO, EXIJA CONSULTAS MINUCIOSAS E


PROFISSIONAIS QUE SAIBAM INDAGAR, CONVERSAR,
ESCLARECER E EXAMINAR DETALHADAMENTE SEUS
PACIENTES

Uma consulta médica eficaz tem que durar, no mínimo, trinta minutos!
(Exceto se for um retorno.) Não aceite consultas rápidas!

Anamnese detalhada e exame físico completo[61] são peças fundamentais


para um diagnóstico correto, por isso, nunca faça exames laboratoriais ou de
imagem, se forem solicitados por um médico que não examinou você!
Sempre que um paciente faz exames (sejam de imagem, sejam de sangue)
sem o respaldo de uma avaliação clínica bem-feita, a chance de o exame estar
errado aumenta consideravelmente!
SEXTO:

EXIJA SEMPRE QUE O MÉDICO EXPLIQUE O MOTIVO DE CADA


EXAME SOLICITADO POR ELE, UM POR UM

Lembrando que isso vale desde um simples hemograma, até uma complicada
tomografia ou ressonância magnética, nem que para isso ele precise perder
muito tempo na consulta!

Já ao final da primeira consulta com o seu médico, ele deve saber explicar as
hipóteses diagnósticas levantadas para o seu caso e por que cada um daqueles
exames é importante para se chegar ao diagnóstico final! Se o médico não
conseguir explicar os motivos de cada um dos exames que solicitou e de que
forma eles (os exames) vão ajudar a confirmar ou excluir o provável
diagnóstico, pode ter 100% de certeza que será mais saudável não realizar o
exame!
SÉTIMO:

EM CASOS DE CIRURGIAS E PROCEDIMENTOS MAIS


COMPLEXOS, PEÇA SEMPRE UMA SEGUNDA OPINIÃO

Há casos urgentes, onde não dá para esperar; mas sempre que for possível,
ouvir uma segunda opinião de um médico independente é fundamental!
Médicos são muito unidos e conheço especialistas que criam verdadeiros
cartéis em suas cidades para defenderem seus interesses! Em casos assim,
pode ser necessário até trocar de cidade para se ter uma opinião isenta por
parte de outro profissional, nossa saúde não vale esse esforço? Afinal, tudo
deve ser tentado para evitar uma cirurgia ou procedimento desnecessário,
ninguém quer viver resto vida com o ônus das consequências de um
procedimento errado!

Por fim, se tiver duas opiniões discordantes, vale a pena pesquisar mais sobre
o assunto e ouvir uma terceira ou quarta opinião!
OITAVO:

TOME MUITO CUIDADO COM TUDO QUE VOCÊ LÊ E VÊ NA


INTERNET E NA TELEVISÃO

Vale lembrar que cerca de 99% da informação que circula sobre saúde na
internet é falsa e é preciso saber separar o que é confiável do que é apenas
“fake news”! Sites confiáveis (como os ligados a universidades, sites de
bibliotecas científicas e revisões sistemáticas) não costumam opinar, mas
apenas apresentar os assuntos de forma imparcial, deixando a análise crítica
para o leitor! Para quem não tem conhecimento na área de saúde, não é fácil
utilizar esse tipo de ferramenta, mas mesmo em alguns sites científicos já
existem seções destinadas ao público leigo! Um site destinado a pacientes
que eu recomendo, por apresentar conteúdo sério, embasado cientificamente
e sempre atual, é o da campanha Choosing Wisely (www.choosingwisely.org
/ proqualis.net/choosing-wisely-brasil), destinada à esclarecer a população
sobre os riscos da sobreutilização de exames e procedimentos e mantida pela
ABIM Foundation[62]! Os links citados se referem à Choosing Wisely
internacional e à Choosing Wisely Brasil, ainda que o site brasileiro
(patrocinado pelo Proqualis) não possua o conteúdo completo! Apesar das
sociedades de especialidades brasileiras apoiarem “em teoria” a iniciativa, a
grande fonte de lucro gerada aos donos de redes de hospitais pela medicina
comercial, impede uma maior penetração da campanha no nosso mercado!

Por isso, evite obter informações de sites de saúde patrocinados por


laboratórios, clínicas, redes de hospitais ou mesmo os ligados às redes de
televisão, pois eles costumam ser altamente tendenciosos! Também é
importante não acreditar diretamente em reportagens e notícias veiculadas
pelos canais de comunicação (abertos ou fechados), pois é comum que as
informações sejam manipuladas para promoverem seus patrocinadores!
Nunca esqueça que todas as informações precisam ser checadas, antes que
sejam consideradas como verdadeiras!
NONO:

TENHA SEMPRE UM MÉDICO CLÍNICO DE CONFIANÇA, COM


QUEM VOCÊ POSSA CONTAR PARA TUDO

Ele tem que ser um médico de família, especializado nessa área, ou com
muita experiência em clínica médica! É o seu médico de confiança que deve
te encaminhar para eventuais especialistas, e apenas quando isso for
estritamente necessário!

Ser tratado diretamente pelo especialista pode mais complicar do que resolver
o seu problema! Se você for a um especialista em rins, por exemplo, todas as
causas de dor no local dos rins e que não tiverem a ver com os rins (coluna,
por exemplo) serão totalmente ignoradas pelo médico, e é bem capaz que ele
ache algum problema no rim que você não tenha! (Um falso-positivo)
DÉCIMO:

PROCURE FAZER SEUS EXAMES EM LOCAIS ONDE VOCÊ POSSA


CONHECER E CONFIAR NOS PROFISSIONAIS MÉDICOS, TANTO O
MÉDICO QUE VAI FAZER O EXAME (NO CASO DA
ULTRASSONOGRAFIA), COMO O QUE VAI EMITIR O LAUDO (NO
CASO DE RESSONÂNCIA, TOMOGRAFIA, RX, ENTRE OUTROS)

A relação com estes profissionais também tem que ser de extrema confiança,
pois isso pode interferir de forma decisiva no resultado! Na grande maioria
dos hospitais e clínicas, o paciente não chega nem a conhecer o médico que
irá fazer o laudo do seu exame, o que é um absurdo! As informações frias,
coletadas através de um questionário padronizado, é que vão ajudar o médico
a acertar (ou errar) o diagnóstico, pois apenas a análise das imagens
fornecidas pelo equipamento não é suficiente para se concluir um exame
como normal ou alterado! Conheço dezenas de diagnósticos falsos de
apendicite e até de câncer, que foram dados apenas porque o paciente
preencheu a ficha de forma errada e omitiu informações substanciais para o
médico!

Se o próprio médico que for dar o laudo conversasse com seu paciente, a
avaliação seria muito mais precisa e o resultado estaria muito menos sujeito a
erros...
SOBRE O AUTOR

Em 1995, com 17 anos, o jovem Renato ingressou na escola baiana de


medicina e saúde pública, ainda cheio de dúvidas sobre a sua real vocação!
Aos poucos, se apaixonou pelo estudo do corpo humano e pela arte de cuidar
de pessoas, porém, no quarto ano de faculdade, passou por uma situação que
começou a mudar sua visão sobre como os médicos encaravam a relação
médico-paciente: Nesse período, se iniciavam as aulas práticas das
especialidades médicas e a aula prática de urologia ocorria no ambulatório
daquela especialidade, localizado no hospital-escola! No dia daquela aula
prática (a primeira), o professor simplesmente pediu ao paciente (um senhor
humilde de mais de 60 anos) que abaixasse as calcas para mostras aos
quatorze alunos (entre homes e mulheres) que estavam na sala, uma alteração
que ele apresentava nos testículos! Incapaz de prestar atenção às explicações
do professor, a única coisa que vinha na mente de Renato era a falta de
respeito com que aquele paciente estava sendo tratado e a cara de desespero
estampada nos olhos dele diante daquela plateia incômoda e curiosa!

Ainda recém formado, o já Dr. Renato passou por outras situações onde o
desrespeito com a dignidade do paciente o fizeram quase desacreditar de sua
profissão: Na residência de ginecologia e obstetrícia em São Paulo era odiado
pelos colegas e amado pelos pacientes, pois atendia as gestantes do setor de
emergência com total dignidade e respeito, conversando, examinando e
explicando tudo, sem se importar se a consulta iria demorar vinte ou trinta
minutos e atrasar o atendimento dos seus colegas! A fama de “quebra mão”,
dada pelos outros colegas do setor de emergência jamais o fizeram desistir de
tratar seus pacientes com a dignidade que ele julgava necessária e a gratidão
por parte dos pacientes era visível e emocionante, chegando até a ganhar
presentes de suas pacientes mais próximas, lembrando que se tratava de um
serviço público e que atendia exclusivamente a pacientes do S.U.S. (Hospital
e Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo/ SP)!

Após concluir sua residência médica, passou a atuar como ginecologista e


obstetra no interior de São Paulo, mantendo sua filosofia de atender com
respeito e dignidade quem quer que fosse, independentemente de se tratar de
paciente do SUS ou convênio! Porém, uma nova reviravolta precisou
acontecer em sua vida quando percebeu que os representantes dos
laboratórios (que o visitavam com frequência no consultório) tinham acesso
às farmácias da região e sabiam se os medicamentos que estavam sendo
promovidos por eles eram realmente prescritos ou não pelos médicos! Um
representante chegou ao cúmulo de perguntar porque ele estava prescrevendo
menos um determinando medicamento que acabava de ser colocado no
mercado, pois as vendas haviam caído de um mês para o outro! Incomodado
com essa situação, Dr. Renato decidiu que era o momento de procurar outra
área de atuação, onde não precisasse prescrever remédios, ingressando na
residência de ultrassonografia geral (na cidade de Ribeirão Preto), decidindo
deixar de ser ginecologista/obstetra, para atuar exclusivamente como
ultrassonografista! Dessa forma, ele conseguiria ficar alheio a essa verdadeira
“máfia” que atuava na venda e distribuição de remédios pelos representantes!

A decisão de atuar na área de diagnostico por imagem se mostrou bastante


acertada, foi assim que ele descobriu uma vocação natural para a
ultrassonografia geral, desconhecida até então! De tão apaixonado e
envolvido com a especialidade de ultrassonografia, Dr. Renato decidiu
dedicar-se exclusivamente a isso nos anos seguintes de sua vida, até hoje...

Após terminar a residência de ultrassonografia em 2007, voltou a morar em


Salvador e depois recebeu uma proposta de mudança para Brasília (em
2012/2013), cidade onde vive com sua esposa e filhos até hoje! Ainda em
Salvador, começou a perceber existirem associações entre médicos e
ultrassonografistas com o único intuito de arrancar dinheiro dos pacientes
através da solicitação de exames inúteis e desnecessários; porém foi em
Brasília onde viu que essa máfia funcionava de forma escancarada e
sistemática, e os médicos envolvidos não tinham, sequer, pudor em admitir
que participavam dela! Trabalhou em várias clínicas das asas sul e norte que
participavam de esquemas de pagamento de propina para médicos, mas
sempre que descobria a existência do “esquema”, dava alguma desculpa aos
donos das clínicas e se desligava, procurando outra! Chegou a entrar e sair de
vários lugares, sempre por iniciativa própria, até conseguir condições de
trabalho que não contrariassem as suas convicções!

Hoje, felizmente, Dr. Renato atua numa clínica tradicional da cidade, que
pela postura ética do seu dono e pela grande tradição em Brasília, não
aparenta participar de nenhum tipo de esquema de corrupção! Também
trabalha em dois grandes hospitais e, apesar de não concordar com as
condutas de suas diretorias em relação à excesso de exames e procedimentos,
consegue exercer seu trabalho e expressar sua opinião com total liberdade e
independência junto à empresa que participa como sócio, sem precisar se
evolver diretamente com nenhum tipo de esquema e ainda continuar sua luta
na busca de uma medicina mais justa e honesta!

[1] Aparelho usado para auscultar o coração e pulmão, principalmente.

[2] Aparelho usado para medir a pressão.

[3] Exatamente o contrário do que é veiculado pela mídia televisiva.

[4] Trocar o termo “paciente” pelo termo “cliente” foi uma das primeiras
providências da medicina moderna, já prevendo esse apelo mais comercial da
relação médico-paciente.

[5] Dados de 2017/2018

[6] Nome fictício.


[7] E realmente não tinham. Na verdade, com aqueles sintomas, seria
impossível um médico experiente pensar nessa possibilidade.

[8] Nome fictício.

[9] Fazer exame das duas pernas não faz sentido nenhum, pois a trombose,
em condições normais, acomete apenas uma perna.

[10] Todos os médicos têm medo de pecar por falta, mas não de pecar por
excesso, simplesmente porque nenhum paciente processa um médico que
tenha pecado por excesso!

[11] E em vários países do mundo também, guardadas as devidas


peculiaridades inerentes a cada um deles.

[12] O paciente não precisava do tratamento, muitas vezes o médico estava


apenas querendo agradar ou causar boa impressão.

[13] Fonte: estudo ERROS ACONTECEM, realizado pela Universidade


Federal de Minas Gerais e pelo IESS (Instituto de Estudos de Saúde
Suplementar), tendo sido apresentado em 2017 no seminário internacional
"Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços
na saúde”.

[14] Essas falhas, chamadas de “eventos adversos”, representam


problemas que vão desde erro de dosagem ou de aplicação de medicamentos,
até uso incorreto de equipamentos e infecção hospitalar.

[15] Vide gráficos na página 29.

[16] Vide gráficos na página 29.


[17] Apenas 11% a 15% das despesas dos planos de saúde privados é com
honorários médicos, contra 50% de gastos com tecnologia.

[18] Exames e procedimentos custam muito mais caro e geram margens de


lucros muito mais altas que os honorários médicos.

[19] Muitos dos médicos que participam disto, o fazem de forma inconsciente
ou semiconsciente, sem ter muita noção de como funciona todo o sistema.
Outros doutores até sabem dos esquemas, mas acabam não tendo muita
opção!

[20] O pior disso tudo: uma das principais causas de doenças renais nos dias
de hoje, são os anti-inflamatórios prescritos pelos ortopedistas.

[21] No quinto e sexto ano de medicina, os alunos não mais frequentam aulas
regulares, são alocados em hospitais-escola onde ficam todos os dias da
semana (o dia todo), além de alguns fins de semana!

[22] Isso se deve ao fato do preço de um exame leva em conta, quase que
exclusivamente, o preço dos custos com o equipamento para sua realização!
Na verdade, um exame depende muito mais do médico, pois todas as
conclusões obtidas são parciais e subjetivas e dependem da capacidade
interpretativa de quem está analisando as imagens! No caso da ecografia (ou
ultrassonografia), por exemplo, o resultado sempre depende 90% do médico e
10% da máquina!

[23] Falso positivo é quando o exame mostra uma doença que não existe! O
contrário é o falso-negativo, quando o exame deixa de mostrar uma doença
existente! Geralmente os pacientes questionam muito os falso-negativos, mas
nunca os falso-positivos.

[24] Atrás, apenas, dos Estados Unidos.


[25] Existem dados concretos, das próprias operadoras, mostrando que a
quantidade de exames realizados por paciente é proporcionalmente muito
maior que a média de países com sistemas de saúde tecnologicamente
superiores ao nosso.

[26] Do ganho bruto por consulta, deve-se levar em conta as despesas fixas
que o médico tem em seu consultório, a exemplo: aluguel da sala, salário da
secretária e da faxineira (incluindo INSS, FGTS, férias e 13O salário),
condomínio, água, luz e telefone, material de consumo médico, material de
limpeza, IPTU, despesas com impostos e taxas, anuidade do CRM, INSS
autônomo, sindicato, despesas para locomoção, entre outras....

[27] Na realidade, evidências apontam que, se os passos descritos fossem


sempre seguidos, os médicos só precisariam solicitar exames em 20% a 30%
das consultas, resolvendo o caso de imediato em todas as demais!

[28] Vide reportagem da folha de São Paulo do dia 26 de fevereiro de 2017:


“Hospitais premiam médicos que indicam mais exames”.

[29] Em pesquisa recente publicada pelo New England Journal of Medicine


(um dos jornais britânicos mais respeitados no mundo em literatura
científica), um paciente que faz uma tomografia computadorizada por ano,
durante 10 anos, recebe o mesmo nível de radiação que um sobrevivente da
bomba de Hiroshima!

[30] Somos campeões do mundo nessa prática.

[31] Nome fictício.

[32] Temos a falsa noção que os exames são pagos pelo plano, não é verdade,
eles sempre repassam os gastos extras no reajuste do ano seguinte!

[33] Em torno de 85% de falso-positivo, segundo a literatura (Fonte: Calado


A, Macedo Jr. Infecção Urinária na Infância, aspectos atuais, págs.: 151 a
162)

[34] ROI = Return on investment (retorno sobre investimento) é a relação


entre a quantidade de dinheiro ganho (ou perdido) como resultado de um
investimento e a quantidade de dinheiro investido (Fonte: Wikipédia)

[35] Alguns chamam de corpo lúteo hemorrágico, termo inadequado, já que,


do ponto de vista fisiológico, todo e qualquer corpo lúteo é hemorrágico.

[36] Você pode ler mais sobre este assunto em meu blog:
www.comosobreviveraomedico.blogspot.com

[37] Confira esse artigo na íntegra, nas próximas páginas.

[38] Um dos casos mais absurdos, de todos que já presenciei, está


detalhadamente descrito nas próximas páginas...

[39] Em alguns países, principalmente da Europa, o especialista em


diagnóstico por imagem tem autonomia para rejeitar pedidos de exame que
não tenham uma indicação clara e precisa.

[40] Óbvio que não existe uma avaliação desse tipo e, ainda que existisse,
não faria sentido que ela incluísse exames de imagem, mas apenas exames de
sangue.

[41] Todos esses exames somam um valor total aproximado de R$ 1.672,44,


considerando o valor médio pago pelo convênio Bradesco empresa,
atualizado em maio/2016, que dariam entre R$ 1.800,00 -1.900,00 em valores
atuais (2019).

[42] Um exame que só é feito à partir dos 50 anos.


[43] Em situações desse tipo, muitos convênios simplesmente glosam um dos
exames automaticamente, outros convênios deixam passar! O médico
geralmente tenta, para ver se cola!

[44] Fonte: New England Journal of Medicine.

[45] Fonte: Dr. Mark S Pearce PhD et al. - Radiation exposure from CT scans
in childhood and subsequent risk of leukaemia and brain tumours: a
retrospective cohort study; The Lancet Volume 380, Issue 9840, 4–10 August
2012, Pages 499-505.

[46] Apesar de não existirem estatísticas oficiais, o falso-positivo está se


tornando o tipo de erro mais comum, e hoje já é a principal causa de
procedimentos médicos mal indicados no Brasil.

[47] Nome fictício.

[48] Essa afirmação pode soar estranha para quem não é da área médica, mas
dependendo da idade e da condição física do paciente, há muitas situações
onde o médico executor da ultrassonografia já inicia o exame sabendo que o
resultado será normal! Nessas situações, não há necessidade de procura
alguma alteração ou doença, pois é impossível que ela exista!

[49] Agência Nacional de Saúde.

[50] Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico,


formada por 36 países desenvolvidos (alguns dos mais ricos do mundo),
dentre os quais: Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França,
Suíça, Austrália, Japão, entre outros...

[51] Choosing Wisely® é uma iniciativa da ABIM Foundation* para


estimular profissionais de saúde e pacientes a usarem os recursos
diagnósticos e terapêuticos de forma mais racional. Ela é amplamente
divulgada no Canadá, Inglaterra, Alemanha, Itália, Holanda, Suíça, Austrália,
Nova Zelândia e Japão. Apesar de já existir a Choosing Wisely Brasil, aqui
ainda se dá muito pouca visibilidade a este tipo de campanha, já que vai
contra os interesses financeiros das grandes corporações médicas!

[52] Muitas vezes ele nem está na clínica ou no hospital e dá o laudo à


distância (Telerradiologia).

[53] Basta consultar a literatura científica especializada no assunto para saber


disso! (Todos os livros e artigos especializados em pediatria não indicam esse
exame para casos de suspeita de caxumba e outras infeções mais comuns na
região do pescoço!)

[54] O mesmo que aumento de leucócitos no sangue.

[55] Desde uso de medicamentos, doenças associadas ou mesmo um erro de


exame!

[56] Conforme já foi destacado em um capítulo anterior!

[57] Dor e ardor ao urinar.

[58] Remédios que são anti-inflamatórios apenas no nome, já que sua ação no
organismo se resume apenas a aliviar a dor causada pelos diversos processos
inflamatórios, não atuando diretamente na causa da inflamação (todo e
qualquer médico, em teoria, sabe disso).

[59] É muito comum, nos Estados Unidos, que os grandes laboratórios


farmacêuticos paguem pesadas indenizações a usuários lesados pelo uso de
medicamentos novos e pouco testados, são cifras entre milhares até milhões
de dólares! Estas despesas entram na conta do custo final do medicamento,
antes mesmo de ocorrerem os processos, já que é quase certo que ocorram!
(Quem paga a conta final é sempre você!) Aqui no Brasil os processos ainda
são raros, pois a legislação é mais permeável em favor dos laboratórios.

[60] Que atualmente é de cerca de 90 bilhões de reais, em dados de 2013.

[61] A anamnese e o exame físico são considerados pecas chave na


propedêutica clínica e é fundamental que sejam bem feitos pelo médico, caso
contrário, há um risco de se errar feio no diagnóstico! Infelizmente, as
máquinas não têm a capacidade de substituir nenhuma das duas etapas: Nem
a anamnese, que consiste numa conversa direcionada que o médico tem com
o paciente, nem o exame físico!

[62] American Board of Internal Medicine - A ABIM é uma organização


independente, sem fins lucrativos, dirigida por médicos que desejam alcançar
padrões mais elevados para melhor atendimento em um mundo em rápida
mudança. (Dados retirados do site www.abim.org)

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