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SEU MÉDICO
2A EDIÇÃO.
Direitos autorais do texto original
– copyright 2016 –
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
O CASO VIOXX
A MÍDIA E OS MEDICAMENTOS
A MÍDIA E OS ALIMENTOS
Do outro lado, as pessoas percebem que estão fazendo muito mais exames e
usando muito mais remédios que antigamente, mas não ficam mais saudáveis
com isso, ao contrário, têm adoecido mais vezes, além de estarem observando
doenças raras e mais graves se tornando cada vez mais comuns! É nítido para
o paciente que, apesar de munidos da mais avançada tecnologia em exames e
medicamentos, os médicos de hoje estão errando muito mais diagnósticos que
os médicos de antigamente, que só tinham estetoscópio[1] e tensiômetro[2]!
(o autor)
INTRODUÇÃO
As mensalidades dos nossos planos de saúde parecem uma caixinha de
surpresas quando o assunto é reajuste, e a surpresa é sempre muito
desagradável! No último ano[5], o reajuste anual dos planos individuais foi
de 13,5% em dados oficiais, mas passou de 50% para a maioria dos planos
coletivos! Se considerarmos que a inflação no período foi inferior a 3%,
como justificar um valor de reajuste tão alto?
Fica claro para o paciente que o preço pago é abusivo, mas as operadoras de
planos de saúde se justificam dizendo ser culpa da maior frequência de
utilização do plano, do aumento da longevidade da população brasileira e da
ampliação de coberturas com a incorporação de novas tecnologias. Mas é
verdade que isso realmente justifica um valor tão alto de mensalidade?
Infelizmente não!
Vivemos tão envolvidos pelo medo das doenças (com razão, afinal elas estão
aumentando em frequência e gravidade a cada dia) e esquecemos do que mais
importa na hora de cuidar da saúde! Um excelente exemplo disso, é o caso
real de uma paciente com quem tive chance de conversar durante um exame
de ultrassonografia, ela estava internada em um dos hospitais privados que já
trabalhei aqui em Brasília e me contou a sua pequena história; foi quando
pude perceber como um médico, com as melhores intenções possíveis, pode
prejudicar muito a saúde de sua paciente, sem que ela se dê conta disso! Um
tipo de realidade vivida por todos os usuários de planos de saúde da
atualidade e que contarei a seguir...
(o nome real da paciente foi omitido, sendo assim, irei chama-la apenas de
Marta)
Marta é uma jovem saudável de 32 anos, que vinha apresentando um leve
inchaço nas pernas nos últimos três meses, acompanhado de dores leves.
Influenciada por amigas e colegas de trabalho, ao final de mais um dia,
decidiu procurar a emergência do melhor hospital particular da sua cidade
para tentar fazer um exame de Doppler venoso de membro inferior, pois ela
tinha ouvido de uma de suas amigas que as dores dela poderiam ser uma
“trombose”, e a única forma de descobrir a doença era fazer um exame desse
tipo!
Ao chegar no hospital, ela foi atendida por Dr. F. Tabajara[6], clínico geral e
plantonista da emergência. Falou para ele o que estava sentido e que queria
muito fazer o exame de Doppler, pois acreditava estar com trombose! Dr.
Tabajara pensou (mas não teve coragem de falar) que os sintomas dela não
tinham nada a ver com trombose[7], mas havia recebido uma orientação do
diretor do hospital, Dr. Rich[8], para não desagradar os clientes e sempre
atender prontamente a todas as solicitações!
Para tanto, Marta foi encaminhada até o setor de radiologia para fazer o
exame, tendo esperado mais meia hora até conseguir ser atendida por Dr.
Fast6, que é um médico experiente, mas não especialista na área de Doppler!
Ao realizar o exame, Dr. Fast chegou a ter dúvida da presença (ou não) de
trombose numa pequena veia do tornozelo direito de Marta, porém, cansado
após dia exaustivo de plantão e no meio da madrugada, ele não tinha tempo
(nem paciência) para ficar decidindo se aquela pequena veia tinha ou não
trombose e achou melhor considerar a existência de uma pequena trombose,
recomendando um controle precoce para o especialista avaliar melhor a
paciente em outro momento! (durante o dia). Como sempre, ele decidiu pecar
por excesso[10] e liberou o exame com diagnóstico de trombose da veia tibial
anterior, mas não quis comentar nada com Marta para não ter que ficar dando
explicações, deixou isso para o Dr. Tabajara, que era o responsável por ela!
Marta retornou para retirar o exame duas horas depois, ela mesma olhou o
resultado e ficou apavorada! Voltou correndo à emergência e exigiu uma
conduta imediata por parte de Dr. Tabajara, que acabou por interna-la e
iniciar um tratamento de anticoagulação plena - tratamento recomendado
apenas quando há uma grande área de trombose venosa profunda no membro
inferior e considerado muito exagerado par o caso de Marta, no entanto, ela
ficou bastante satisfeita com a conduta e isso era a única coisa que importava
para eles! Nenhum outro médico questionou a conduta de Dr. Tabajara,
alguns porque sabiam que isso colocaria a competência dele à prova, outros
porque simplesmente não sabiam que a conduta tinha sido errada
(exagerada)! Tampouco, ninguém queria desagradar o Dr. Rich, diretor do
hospital, e que teve um belo lucro com todo o ocorrido! Ninguém lembrou
que o tratamento de anticoagulação plena apresenta muitos riscos e efeitos
colaterais (inclusive risco de acidente vascular cerebral hemorrágico
(derrame), hemorragia uterina, hematomas, elevação de enzimas hepáticas,
queda de cabelo e osteoporose). Talvez, por lidarem com tantas doenças no
dia-a-dia, os médicos simplesmente ignoraram todos esses riscos em nome do
menor esforço, ou de “apenas” agradar o seu cliente!
- Em quarto lugar: Nos últimos anos, tanto no Brasil como nos Estados
Unidos, tivemos uma piora bastante considerável na qualidade dos cursos de
medicina e na forma com que o conteúdo médico é apresentado aos
estudantes! Principalmente aqui, isso foi agravado pelo aumento
descontrolado na quantidade de escolas médicas e na falta de controle dos
órgãos de fiscalização! Para se ter uma ideia, no último exame feito pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 61% dos recém-
formados foram reprovados, e apesar disso, já estão atuando como médicos!
Alunos ruins se formam por falta de mais cobrança dos professores, estes
últimos andam tão atarefados em cursos, congressos e apresentações, que não
têm tempo para dedicar aos seus alunos, conhece-los melhor ou cobrar deles
uma postura mais ética! Para completar esse quadro, observa-se um total
desinteresse dos formadores de opinião e da própria classe médica em
"filtrar" o nível de profissional que está sendo colocado no mercado.
Como em qualquer outra área, a maior parte dos jovens e adolescentes que
ingressam na faculdade de medicina, o fazem por realmente acreditar na
possibilidade de ajudar os outros e de curar doenças! Outra parte, o faz
pensando na estabilidade financeira e/ou na possibilidade de ingressar nos
negócios já lucrativos da própria família!
O problema é que as pessoas estão ficando sem muita opção, pois a escassez
de bons profissionais atinge até os convênios mais caros, obrigando o
paciente a recorrer a consultas particulares quando precisam procurar um
profissional de qualidade (e estes, cobram verdadeiras fortunas por uma
consulta)! Essas pessoas não sabem que, mesmo esses profissionais, nem
sempre são 100% honestos! Tem muito “médico estrela” ganhando rios de
dinheiro apenas para enrolar seus “clientes” e prescrever tratamentos caros e
de eficácia duvidosa!
Não sei se minha faculdade continua formando alunos dessa forma, afinal já
se passaram 20 anos, mas acredito que esse não era, nem seja, o problema
mais grave! O grande “X” da questão envolve o direcionamento muito
precoce do aluno para a especialidade, e acontece de forma sistemática em
todas as faculdades do país e de boa parte do mundo! Para o sucesso de um
médico na residência de oftalmologia ou de neurocirurgia, não faz nenhuma
diferença seu grau de conhecimento em clínica médica ou pediatria, porém,
faria toda a diferença para a saúde e para a vida do paciente que ele cuida!
Além disso, mesmo que hoje se cobre mais a presença dos alunos, apenas ser
obrigado a comparecer ao internato não credencia uma pessoa em
determinada área médica, pois é fundamental que ele seja cobrado, exigido e
fiscalizado de todas as formas possíveis! A medicina é uma área muito nobre
para formar pessoas da maneira que vem formando!
- As seguradoras de saúde -
“Por que os planos de saúde estão tão caros no Brasil? “
Todos nós sabemos que os planos de saúde no Brasil, não só estão entre os
mais caros, como são os piores do mundo em termos de qualidade de
assistência, apesar do mercado brasileiro ser o segundo maior em planos de
saúde privados do planeta![24] Porém, o que as pessoas não têm ideia, é o
motivo disso!
Solicitar exames inúteis e desnecessários por não ter tido condições de avaliar
seu paciente pode ser a única opção para o médico, mas pode ser um desastre
para o paciente! Isso quer dizer que, quanto mais pessoas estiverem usando
seus planos de saúde, mais reajustes, e quanto mais reajustes, mais lucros
para as operadoras... O mais lucrativo é que a operadora tenha muitos
usuários gastando muito! Claro que as operadoras criam dificuldades em
liberar exames mais caros, pois elas querem evitar custos excessivamente
altos, por outro lado, se todos os usuários usassem seus planos o mínimo
possível, elas não teriam como negociar aumentos generosos nas
mensalidades! Elas não querem perder dinheiro nem de um lado (impedindo
que um único usuário gaste excessivamente), nem do outro (lucrando com o
gasto excessivo de todos os usuários)!
Temos a ideia que gastando muito com saúde ficamos menos doentes e, por
isso, não pensamos duas vezes para cometer qualquer sacrifício com o intuito
de pagar um bom plano para nós e nossos familiares! Está enraizada a ideia
que quanto mais cara, melhor será nossa saúde, mas infelizmente esse
conceito não corresponde à realidade! Num sistema de saúde
verdadeiramente eficiente, gastaríamos muito menos do que gastamos
atualmente, adoeceríamos menos e, caso ficássemos doentes, nos
recuperaríamos mais rápido, vivendo melhor, com menos remédios, menos
cirurgias e menos procedimentos! Tem fórmula melhor para chegar aos 120
anos?
Claro que existem problemas semelhantes em todo o mundo, sempre
envolvendo interesses escusos das grandes corporações médicas! A diferença
é que, nos países ricos onde estão ocorrendo esses problemas, existe uma
preocupação muito maior com o bem-estar dos usuários e com as
consequências dos erros e equívocos de conduta em relação à violação de
direitos individuais! Os Estados Unidos, por exemplo, tentaram reduzir os
gastos para o lado do consumidor estimulando os planos coparticipativos, no
entanto, a forma equivocada de remunerar os serviços prestados (muito
criticada pelos próprios especialistas de lá) custa caro e cria graves
distorções, encarecendo muito os custos com saúde e não garantindo o acesso
irrestrito ao atendimento básico!
O caso dos partos do tipo cesárea[30] no Brasil, por exemplo, onde mulheres
são induzidas a achar que não existe parto normal sem dor para não exigirem
isso de seus obstetras, sendo levadas a acreditar que existem apenas duas
opções: Ser obrigada a sofrer todas as dores do parto normal ou passar por
uma tranquila cesárea! No final, são convencidas a crer que foram elas que
escolheram a forma de parto, o que é um absurdo! Os hospitais ganham com
aumento dos dias de internação e possíveis complicações para a mãe e o bebê
e as operadoras de saúde ganham com a simplificação e o barateamento do
parto! Para o médico obstetra, resta aceitar e tentar fazer a maior quantidade
possível de partos, para não abrir falência! Os que mais perdem são sempre o
bebê e a mãe!
Outro exemplo (que será contado com mais detalhes nos próximos capítulos),
é a invenção de exames de rotina ou periódicos, sem qualquer critério ou
rigor científico pré-estabelecido! Exames de sangue de validade questionável,
exames de imagem que deveriam ser solicitados apenas em pacientes com
algum tipo de queixa (como ultrassonografia de abdome, rins, ginecológica,
tireoide, próstata, testículos, todos os tipos de tomografia, entre muitos
outros) e as clínicas de “check-up executivo”, onde o paciente é tratado como
um carro que vai para a revisão dos 10.000 Km, como se isso realmente
pudesse evitar que ele apareça com um câncer avançado no mês seguinte!
(Pois é, infelizmente não evita!)
Por isso é que afirmo: a crise na medicina privada pode ser mundial, mas
aqui, o buraco é mais embaixo. Não há dúvida que as operadoras têm culpa e
lucram muito com todo esse caos, mas certamente nunca irão assumir o ônus!
“Num sistema de saúde verdadeiramente eficiente, gastaríamos muito menos
do que gastamos atualmente com os planos de saúde, [...]”
COMO O TRABALHO DO MÉDICO
CONTRIBUI PARA OS ALTOS CUSTOS
RELACIONADOS AOS PLANOS DE
SAÚDE?
Eles ficam insatisfeitos por não terem sidos bem avaliados e, muitas vezes,
nem olhados “cara-a-cara”, mas imensa maioria dos pacientes acaba achando
boa essa quantidade exagerada de exames, entendendo como uma
compensação pela consulta ruim! É como se aquele “check-up” pudesse
cuidar de sua saúde, já que o próprio médico não o fez! A repercussão de
solicitar excesso de exames atrai mais pacientes ao primeiro médico e
aumenta os lucros dele e dos outros dois! Quando esses exames
desnecessários indicam alguma doença, mesmo que o paciente não sinta
nada, ele fica extremamente agradecido ao médico que solicitou o exame,
ignorando o fato de o exame ter chances enormes de estar errado, por ter sido
solicitado sem uma indicação precisa! Motivado pelo diagnóstico dado no
resultado, o paciente realiza quaisquer tratamentos, cirurgias ou toma todos
os medicamentos prescritos como se o exame fosse uma verdade absoluta e
infalível, no final, acredita ter sido curado de uma doença que nunca teve!
“Geralmente ficam insatisfeitos por não terem sidos bem avaliados e, muitas
vezes, nem olhados “cara-a-cara”, mas imensa maioria acaba achando boa
essa quantidade exagerada de exames, entendendo como uma compensação
pela consulta ruim! “
O comportamento de solicitar exames de forma descontrolada e
irresponsável, ainda que não seja praticado por todos os profissionais, atinge
toda a estrutura do sistema privado de saúde! Por associar excesso de exames
e medicamentos a excesso de cuidados, os próprios pacientes não denunciam
ou condenam seus médicos! Ao dar preferência a médicos totalmente
incompetente e despreparados, apenas porque estes passam listas
intermináveis de exames, os pacientes acabam obrigando os médicos
honestos a pedirem muitos exames também, o que vira uma verdadeira bola
de neve! Na cabeça do leigo fica gravado:
Como vocês podem ver, estando ou não no esquema, todo médico é obrigado
a se comportar igual: Seja para não ser considerado ruim por passar poucos
exames, seja para não ser considerado ultrapassado, por não estar
prescrevendo os medicamentos mais modernos (e mais perigosos) do
mercado!
Notem como a pressão das duas industrias acima citadas é decisiva para não
deixar que outro tipo profissional consiga se sobressair na área! Vou dar um
último exemplo, bem prático, de como isso funciona:
De repente, se instalam na mesma região que ele atende, mais três médicos
que já se conheciam entre si: um cardiologista, um dono de clínica de exames
de imagem e um dono de laboratório de análises clínicas, e os três decidem se
associar com o intuito de aumentar os lucros! O cardiologista desonesto passa
a atender os mesmos convênios que o outro cardiologista (mais antigo) já
atendia!
O paciente então vai ao médico antigo, querendo realizar o tal exame que ele
viu ne televisão, para saber se tem a doença! O médico examina
cuidadosamente o paciente, mas percebe que ele não precisa de exame
nenhum, pois ele não tem a menor possibilidade de ter a tal doença; sendo
assim, orienta e libera o paciente para casa! Porém, ainda pressionado pelas
reportagens que assistiu e por saber que seu vizinho descobriu recentemente
que tem essa tal doença depois de fazer o famoso exame, o paciente retorna
ao médico, mas dessa vez resolve procurar o outro cardiologista (o
desonesto)! O charlatão mal conversa com ele, mas prescreve todos os
exames que ele quer e mais cinquenta outros tipos diferentes, de todas as
partes do corpo! O paciente sai muito satisfeito, pois teve seu pedido atendido
e faz os exames nas clínicas dos amigos do charlatão!
A reportagem da televisão não falou isso, mas esse novo exame tem uma taxa
de 10% de falso positivo (apesar de ser extremamente alta, é uma taxa bem
“normal” para exames novos, alguns chegam a ter até mais); é por isso que o
fabricante, oficialmente, só recomenda realiza-lo em pacientes que
apresentem os sinais e sintomas da doença, caso contrário, uma pessoa que
não tenha os sintomas corre o grande risco de ter um resultado falso positivo!
Esse risco aumenta exponencialmente se o exame for feito na clínica do
amigo do charlatão, porque ele está acostumado a só fazer exames normais, e
já é hábito em sua clínica, inventar um diagnóstico alterado de vez em
quando, para não pegar mal em ter tantos resultados normais! Como o
médico charlatão, além de lucrar com a comissão pelos exames, também
recebe vantagens do fabricante do medicamento, ele não está nem aí para
esses casos de falso positivo, é vantajoso para ele prescrever mais remédios!
Pena não ser o fim da história, pois remédios novos são sempre pouco
testados e cheios de efeitos colaterais, efeitos esses que vão levar o paciente a
procurar outros especialistas, achando estar com outras doenças e fazer mais
uma bateria de exames, tomar mais remédios e etc... Tudo vira uma bola de
neve!
Yasmin tinha 8 meses de vida e foi levada por sua mãe na emergência
pediátrica por estar apresentando febre baixa (38o C) e recusa da
alimentação, além de choro frequente! Na emergência, a médica pediatra
decidiu fazer um check-up geral para saber a causa da infecção e pediu
exames de: hemograma, PCR, VHS, exame de urina, Rx de tórax, Rx de
seios da face e ecografia (ultrassonografia) de abdome total! Além de
custarem uma verdadeira fortuna para a cliente que paga o plano[32], nenhum
destes exames vai ajudar em absolutamente nada para se chegar ao
verdadeiro diagnóstico de Yasmin, vou explicar por que:
O que ninguém ficou sabendo (nem mesmo a mãe de Yasmin), é que ela só
passou por tudo isso por ter sido “excessivamente” cuidada pela pediatra que
a atendeu da primeira vez na emergência! O que Yasmin realmente tinha, na
verdade, eram sintomas devido ao nascimento de um de seus dentinhos, algo
completamente normal! Se Yasmin não tivesse ido ao hospital e não tivesse
tomado aquele antibiótico, nada disso teria acontecido!
- Para as pediatras que atenderam Yasmin o erro foi bom? Sim, elas
ganharam com o atendimento, ganharam com a internação e com todos os
cuidados médicos!
- Para os acionistas da empresa que mantém o hospital o erro foi bom? Sim,
excelente, eles lucraram muito com tudo isso, principalmente com as diárias
em UTI!
- Para a seguradora de saúde de Yasmin, o erro foi bom? Nem bom, nem
ruim, a operadora vai repassar os gastos no aumento do ano que vem e fica
tudo na mesma para eles!
Pode parecer que não, mas uma ida excessiva dos pacientes às emergências,
não apenas é muito lucrativa para os donos de hospitais (o que é óbvio), mas
também é lucrativo para as administradoras de planos de saúde empresariais,
pois os reajustes dependem dos gastos de seus usuários no ano anterior!
“A imensa maioria dos atendimentos de emergência, poderiam ser evitados
apenas com orientações simples e cuidados de prevenção! “
Conheço hospitais privados que pedem, sistematicamente, a toda criança
atendida na emergência (independentemente da queixa), exames de: Rx de
tórax, Rx de seios da face, hemograma, exame de urina, e ainda incluem no
"pacote", outros tipos de exames de sangue, ultrassonografia e tomografia!
Os pais ficam confortados, pois acham que seus filhos estão sendo bem
cuidados! Não percebem que o filho está recebendo uma radiação para fazer
um exame “quase” inútil (como no caso do Rx de tórax), ou totalmente inútil
(como no caso do Rx de seios da face, que atualmente não serve nem para
diagnóstico de sinusite). Um simples exame de urina, se for mal indicado e
colhido de forma errada, pode causar um grave prejuízo à saúde da criança!
Um simples “falso positivo”, que é muito comum nesse tipo de exame, pode
levar a criança a um tratamento desnecessário e potencialmente prejudicial,
com grande risco de efeitos colaterais que geram outras doenças e mais
remédios, num ciclo vicioso que pode terminar numa doença grave, com
possibilidade de sequelas!
Dor abdominal e dor lombar podem ter muitas causas: problemas funcionais
do intestino, problemas de coluna, dor muscular, mas em nenhum dos casos
que acabei de citar, a tomografia de abdome vai ser capaz de mostrar a causa
da dor! Claro que é ela um exame muito útil na suspeita de uma doença grave
(com risco de vida), porém, a confiabilidade do seu resultado, ao contrário do
que a maioria das pessoas pensa, depende tanto do médico que vai dar o
laudo, quanto da qualidade do equipamento onde o exame foi realizado!
Depende também se este médico está sobrecarregado, se está de bom humor
ou estressado, se tem experiência suficiente na área ou está apenas cobrindo
um colega de fim de semana e etc...
Canso de ver tomografias solicitadas para mulheres com dor abdominal típica
de “dor da ovulação”, uma dor que pode ser forte, mas melhora com uso de
analgésicos e se resolve sozinha em dois ou três dias no máximo! Por terem
ovulado, desenvolvem o chamado corpo lúteo[35], algo normal, mas que está
causando uma dor que ela não considera normal! Se o médico que faz o laudo
do exame de tomografia não for prudente, não reconhece a imagem como um
corpo lúteo normal e emite o resultado com um diagnóstico de cisto no
ovário, sugerindo complementar avaliação com uma ultrassonografia
transvaginal (eles adoram sugerir um complemento de avaliação para gerar
outro exame)! Se quem fizer a ultrassonografia transvaginal for um médico
bem experiente no assunto, ele saberá diferenciar um cisto de ovário de um
corpo lúteo normal! Infelizmente, nos casos onde ele não consegue
diferenciar (ou não quer), tudo pode acontecer a essa paciente! Já vi mulheres
saudáveis fazerem cirurgias e tratamentos completamente desnecessários,
tudo por causa de um erro da tomografia! Também já vi diagnósticos errados
de doenças muito graves, como apendicite e pielonefrite, tudo porque o
médico solicitou o exame de tomografia sem ter feito um exame físico
detalhado no paciente! Além desses riscos já citados, não podemos esquecer
que a tomografia emite altos índices de radiação ionizante, chegando ao
ponto de uma única tomografia de abdome total possuir a mesma carga de
radiação que 20.000 exames de Rx de tórax!
“[...]a confiabilidade do seu resultado [do exame de tomografia], ao contrário
do que a maioria das pessoas pensa, depende tanto do médico que vai dar o
laudo, quanto da qualidade do equipamento onde o exame foi realizado! “
Outro exame muito solicitado e “quase” inútil, é a ultrassonografia de
abdome total! Esta, não serve para quase nada num ambiente de emergência e
costuma dar normal! Por isso, ela é usada, basicamente, para enrolar o
paciente e empurrar o caso para o próximo plantonista! Muitas vezes as
vítimas são crianças, já que é um exame que costuma confortar os pais!
Apesar de não emitir radiação, há sempre o risco de falso positivo,
principalmente nas crianças, pois os médicos são menos treinados a lidar com
as diferenças sutis que existem nos exames delas em relação aos exames dos
adultos! É por este motivo, por exemplo, que se dá muito diagnóstico errado
de sinusite no exame de Rx de seios da face e de adenite mesentérica em
ecografia (ultrassonografia) de abdome, sendo que esta última é uma doença
que nem existe![36]
Não esqueçam que nenhum diretor de hospital vai ficar bravo com médicos
que peçam exames inúteis nos serviços de emergência, pois é a renda desses
exames que garante os lucros do hospital! Como a consulta em si, rende
muito pouco, a vantagem é mesmo pedir exame!
“[...] já vi diagnósticos errados de doenças muito graves como apendicite e
pielonefrite, tudo porque o médico solicitou o exame de tomografia sem ter
feito um exame físico detalhado no paciente! “
UM CASO QUE PASSOU DE TODOS OS
LIMITES!
Porém, de todos os absurdos que já havia visto, nada chegou perto do exame
que caiu em meu colo naquela tarde de terça-feira! A médica, aparentemente,
havia perdido totalmente a razão ou senso de ridículo, ao solicitar oito
exames de Doppler ao mesmo tempo para a sua paciente: Doppler Venoso de
membro superior direito e esquerdo; Doppler Arterial de membro superior
direito e esquerdo; Doppler Venoso de membro inferior direito e esquerdo;
Doppler Arterial de membro inferior direito e esquerdo.
O fato é que o convênio autorizou tal loucura (provando, mais uma vez, que
eles não estão nem aí, pois se estivessem, não teriam permitido uma
solicitação completamente sem sentido como essas) e eu tive que fazer os
exames! Como não consigo mentir, expliquei à paciente que não fazia sentido
o pedido da médica e que os resultados dos exames seriam, fatalmente,
normais! Também expliquei que, caso ela quisesse deixar de faze-los, ficasse
à vontade, pois os sintomas que ela estava referindo não tinham nenhuma
relação com os exames solicitados! Mesmo assim, a paciente insistiu que
queria fazer (não sei que tipo de lavagem cerebral a médica fez) e os exames,
obviamente, deram normais...
Fico imaginando a gozação que a médica que solicitou os exames deve ter
feito entre os colegas, nos bastidores! Se a paciente fosse um pouco mais
esclarecida, a médica poderia ter se dado muito mal! (Podendo, inclusive, ter
perdido um processo na justiça!) Os médicos não costumam ser tão
escancarados ao pedir exames e procedimentos desnecessários, mas já vi
absurdos que provam estar havendo uma relativa perda do senso crítico por
parte dos profissionais mais novos, só não sei aonde isso deve parar!
HEMATOMA SUBCORIÔNICO (OU
RETRO CORIÔNICO) NO INÍCIO DA
GRAVIDEZ - PORQUE OS MÉDICOS
ERRAM TANTO?
(Íntegra do artigo escrito por mim e publicado em meu blog, no dia 25 de
abril de 2014)
Mesmo quando tento alertar meus pacientes de que estão sendo enganados,
acabo não obtendo sucesso, pois a maioria acha que excessos de exames
estão associados à excessos de cuidados!
Também presenciei casos de exames que caíram na minha mão por engano,
provenientes de um cirurgião plástico que sempre pede Doppler venoso e
arterial de membros inferiores para pacientes que vão fazer cirurgia plástica
abdominal, como se esses exames fizessem parte da rotina pré-operatória! É
muita ganância, pois certamente a cirurgia será particular e ele já vai ganhar
muito com a cirurgia, não satisfeito, quer lucrar também com os exames!
Alguns usam uma desculpa dizendo que o Doppler venoso é necessário como
pré-operatório de cirurgia plástica para avaliar risco de trombose venosa
profunda! Uma grande mentira, pois esse exame não consegue avaliar risco
de trombose, mas apenas uma trombose já existente! Além de trombose ser
uma doença aguda, se resolve em poucos dias sozinha ou complica para uma
situação bem mais grave, portanto, fazer exame de Doppler para avaliar risco
de trombose é uma grande inutilidade, já que nunca vai dar positivo para
trombose em alguém que não esteja sentido nada e, mesmo dando negativo,
não significa que pessoa não terá trombose depois da cirurgia!
É sempre preciso ter muito cuidado em situações onde o médico pede mais de
um exame diferente para a mesma região! Se pediu ressonância, não faz
sentido pedir também tomografia! Se pediu tomografia, não faz sentido pedir
também ultrassonografia (ecografia)! A ultrassonografia é sempre um exame
de triagem, então, se o médico pediu primeiro uma ultrassonografia, teve
alguma dúvida e pediu uma ressonância ou tomografia em seguida, isso pode
ser normal! O contrário, porém, nunca deveria acontecer! Também não faz
sentido pedir os dois exames juntos (ao mesmo tempo)! Um médico que peça
ultrassonografia da mesma região que o paciente já fez tomografia ou
ressonância, geralmente está ganhando propina ou tentando enrolar o
paciente (empurrando o caso dele com a barriga), por isso, é preciso ficar
atento!
Outra situação que vejo com muita frequência, são os casos onde o médico
solicita dois exames do mesmo tipo e que mostram as mesmas coisas, como
ultrassonografia de abdome total, junto com ultrassonografia de rins e vias
urinárias ou ultrassonografia de abdome superior, junto com ultrassonografia
de rins e vias urinárias! Nos dois casos, apenas a ultrassonografia de abdome
total seria suficiente, pois ela inclui os outros exames! Pedir e realizar esses
exames separadamente, indica que o médico está tentando ganhar dois
exames em um só![43] Sempre que isso acontecer, há um forte indício de
envolvimento (do médico) em esquemas de favorecimento financeiro pela
indicação de exames a colegas!
Notem que, nestes casos, foi lucrativo para o médico e para o hospital, mas o
paciente foi severamente prejudicado, porém, ele nunca saberá disso, pois
acha que foi aquele tratamento que resolveu seu problema!
Posso dar um exemplo bem real disso tudo: Houve uma época que trabalhei
numa famosa clínica especializada em diagnóstico de doenças da mama e
considerada uma das melhores (se não a melhor) da cidade! Nessa clínica, me
chamou a atenção o fato de um dos médicos da equipe de ultrassonografia ser
um profissional de péssima qualidade, chegando a contrastar com os outros
profissionais de lá! Sempre que eu via exames feitos por ele para fazer
comparações com o exame atual, mais de 50% destes tinham erros grosseiros
de diagnóstico! Era comum esse profissional inventar nódulos de mama em
pacientes que não tinham nada, devido a imagens montadas de forma
caprichosa nas fotos de ultrassom! Eu não entendia porque um profissional de
qualidade tão ruim podia trabalhar numa clínica tão bem-conceituada! Certa
vez, perguntei a uma das ajudantes de sala mais antigas da clínica (e que
tinha certa intimidade com o dono), porque aquele “ogro” trabalhava lá, e a
resposta dela foi a seguinte:
“- Doutor Renato, ninguém gosta dele aqui, ele erra demais e precisamos
ficar encobrindo os erros dele, além do mais, ele nos trata mal, trata mal as
pacientes e tem comportamentos estranhos, achamos até que ele é meio
maluco! Já conversei com o chefe (o dono da clínica) sobre ele e o chefe me
falou que também não gosta dele, mas não pode colocar ele para fora, porque
ele é o médico que trabalha mais rápido e dá um lucro bruto mensal para a
clínica de mais de R$ 150.000,00! “
Depois, descobri que não era só isso: Na clínica, havia um exame caríssimo
chamado de mamotomia (à vácuo). Essa mamotomia é útil no diagnóstico de
câncer de mama e é um exame extremamente caro por utilizar equipamentos
importados e de alto custo! Esse exame deve ser destinado a casos de suspeita
real de câncer e realizado apenas uma vez por paciente, sempre em um único
nódulo suspeito! Nessa clínica, durante conversas com pacientes, descobri
casos de mulheres que tinham 3 nódulos em uma mama e 4 na outra, e o
mastologista havia indicado fazer o exame sete vezes (um em cada nódulo),
um absurdo sem classificação que faria rir qualquer mastologista mais
experiente e sério, mas que nessa clínica, era perfeitamente normal!
Agora, junte a loucura do médico que achava nódulo em quem não tinha,
com a vontade de lucrar dos mastologistas que pediam mamotomia sem
indicação, e você pode tranquilamente multiplicar aquele lucro de R$
150.000,00 por dez, pelo menos! Não é à toa que a clínica cresceu
rapidamente e hoje possui muitas filiais, é muito fácil ganhar dinheiro assim!
As pacientes sequer desconfiam o quanto foram prejudicadas, pois todas com
quem tive oportunidade de conversar, reclamaram do exame de mamotomia
(por ser extremamente doloroso e incômodo), mas se mostravam aliviadas
por saberem que o resultado da biópsia tinha sido benigno! Nenhuma delas
desconfiava que seria impossível o resultado ser diferente, já que foi retirado
um pedaço qualquer de suas mamas, e não um nódulo suspeito de câncer! (Já
que eram nódulos inventados pelo exame mal feito do médico)
“Nenhum paciente questiona um diagnóstico dado (ainda que errado), apenas
questiona um diagnóstico não dado (um exame normal)! É por isso que os
médicos preferem pecar por excesso e “chutar” para todos os lados, assim
nunca serão questionados! “
As pessoas precisam parar de achar que excesso de exames e exames mais
caros são melhores para a saúde! Infelizmente, isso ocorre devido a um
conceito que está definitivamente enraizado em todos os seres humanos:
Temos a plena convicção de que tudo que é mais caro é melhor! Chega a ser
algo tão subconsciente, que na maioria das vezes não percebemos que
fazemos praticamente todas as escolhas de nossas vidas utilizando esse
conceito! Ele é realmente verdadeiro, para a grande maioria das coisas com
as quais lidamos no dia-a-dia: Nossa casa, nosso carro, as roupas que usamos,
os produtos de tecnologia, etc. Não há dúvida que um carro de R$ 100.000,00
é muito melhor que um carro de R$ 50.000,00. Como também de que uma
roupa de R$ 300,00 é melhor que uma de R$ 30,00, e por aí vai... O problema
é que em medicina esse conceito não funciona, já que muitos exames são
caros por serem específicos para determinados tipos de doenças raras, ou por
incorporarem tecnologias novas e pouco testadas, que não têm sua eficácia
comprovada, mas que exigem equipamentos mais avançados e profissionais
mais habilitados para executa-las!
Um exame raro ou caro pode também estar sendo solicitado apenas para gerar
lucro ao médico executor, que vai dividi-lo com o solicitante do exame! Sem
falar que, ao executar um exame que não tem possibilidade de dar alterado, o
médico executor poderá realiza-lo de forma muito mais rápida, não perdendo
tempo procurando doença![48]
Sendo assim, é preciso entender que não existe exame milagroso e perfeito,
por mais caro que seja, ele pode errar! E tem mais, a chance de ele estar
errado é inversamente proporcional à real necessidade de o exame ter sido
realizado! Exames mal indicados, ainda que caros e de tecnologia avançada,
possuem enormes chances de estarem errados e mostrarem doenças que não
existem, não mostrando a doença que o paciente realmente tem!
Cito, como exemplo prático, o famoso PET Scan (ou PET-CT), que é um dos
exames de imagem mais avançados no diagnóstico de câncer e representa um
avanço fantástico da medicina nessa área, quando é bem indicado! Porém,
como possui altas taxas de falso positivo para câncer, se ele for indicado de
forma aleatória, pode gerar biópsias e cirurgias completamente
desnecessárias!
Enfim, por mais que a tecnologia seja fascinante, a forma de interpretação das
imagens continua artesanal e operador-dependente! Exames de imagem são
uma faca de dois gumes, se não podemos confiar no médico que solicitou e
no médico que vai interpreta-lo, o melhor é nem fazer o exame, sua saúde só
agradece!
“[...], por mais que a tecnologia seja fascinante, a forma de interpretação das
imagens continua artesanal e operador-dependente! “
OS EXAMES DE IMAGEM E A ROTINA
PARA PESQUISA DE CÂNCER
(O que ajuda de verdade e o que é apenas embromação)
São casos que presencio todos os dias no meu consultório, de pacientes que
tiveram câncer na família e decidem procurar um oncologista para fazer um
check-up geral! Só para citar como exemplo, atendi recentemente uma
paciente que perdeu o irmão com tumor de pâncreas diagnosticado em fase
terminal e, por conta disso, decidiu procurar um oncologista e fazer uma lista
de dezenas de exames de imagem, que iam desde ultrassonografia de mamas,
tireoide, abdome total e transvaginal, até exames mais complexos como
cintilografia e tomografia! São listas de exames de sangue e de imagem que,
supostamente, deveriam servir para um diagnóstico precoce de câncer, mas
na prática não servem para absolutamente nada ou acabam prejudicando a
saúde da paciente!
O paciente, por sua vez, se conseguir escapar dessa lista enorme sem nenhum
erro de diagnóstico, vai criar uma sensação de proteção em relação a câncer
totalmente falsa, pois, a exemplo da paciente que eu citei acima, nada impede
que ela possa desenvolver um tumor de pâncreas 2 ou 3 meses após o suposto
check-up e descobrir apenas na fase terminal, como aconteceu com seu
irmão! Por isso, é fundamental que o paciente saiba o que serve e o que não
serve para o diagnóstico de um tumor em fase inicial! Mais uma vez, meu
objetivo não é ajudar o convênio a economizar dinheiro, mas sim, livrar o
paciente de um exame inútil, que pode prejudicar gravemente a sua saúde!
Sendo assim, separei uma lista dos exames mais comuns que são usados
como se fossem exames de rotina (seja para diagnóstico de câncer ou de
outras doenças), seguido de uma explicação dos que servem e dos que não
servem!
Vamos a eles:
“[...]na maioria das vezes, nem os próprios médicos sabem o que estão
pedindo e nem por que estão pedindo, simplesmente repetem uma mesma
lista de pedidos (padrão) para todos os seus pacientes! “
Mamografia: Do ponto de vista técnico-científico, é o único exame de
imagem que pode ser considerado como exame de rotina para pesquisa de
câncer, pois consegue detectar o câncer de mama numa fase mais precoce!
Porém, só é vantajoso se realizado após os 40 anos (pode ser feito um aos 35
anos para futuras comparações) e repetido anualmente, ou a cada dois anos!
Muitos médicos, no serviço privado do Brasil, pedem esse exame junto com a
mamografia para todas as suas pacientes, independente delas precisarem dele,
ou não! O motivo, mais uma vez, é apenas “parecer” ser cuidadoso, pois se o
médico da esquina pede o exame e o outro não pede, a paciente vai preferir o
médico da esquina!
Mas se ele não serve para nenhuma destas situações, porque é um exame tão
solicitado, afinal?
Talvez por causa do seu nome: abdome total, que induz o paciente a achar
que está fazendo um exame completo e avaliando todo o abdome, quando na
verdade, não está! Em outras palavras: E para enrolar os pacientes mesmo!
Não é que ele não sirva para nada, pois é claro que possui suas indicações,
mas em 9 de cada 10 vezes que ele é solicitado, sempre é mal indicado! Por
isso, tenham muito cuidado com médicos que solicitam muito esse tipo de
exame, costumam ser típicos embromadores!
Urologistas também adoram esse exame, mesmo sabendo que não vai servir
para (quase) nada! Parece que ele funciona quase como um brinde: entrou no
consultório do urologista, ganha um exame de ultrassom de rins e vias
urinárias! Sem falar que muitos urologistas possuem equipamentos de
ultrassonografia em suas clínicas, assim, o exame a mais já serve como
complemento para sua renda!
Ultrassonografia de próstata: Este exame é a maior prova de como a
medicina está totalmente comercial! Aproveitando a onda do “novembro
azul”, sempre recebo muitos pedidos de exame de ultrassonografia de
próstata, como se ele fosse um exame de rotina para detecção de câncer de
próstata! Ora, a rotina para detecção de câncer de próstata inclui um exame
de sangue chamado PSA e o toque retal! Mesmo que a pessoa esteja com um
grande tumor na próstata (grande ou pequeno, tanto faz) a ultrassonografia
não vai conseguir mostrar esse tumor! Porque os urologistas estão pedindo
então?
Acredito que seja por “preguiça” de fazer o toque retal, como o paciente é
ignorante sobre a utilidade da ultrassonografia de próstata, o médico acaba
levando-o a acreditar que o exame substitui o toque retal mesmo! Já conheci
até médicos de outras áreas que eram enganados pelos próprios colegas e
levados a fazer um exame de pouquíssima utilidade, como se servisse para
detecção de câncer!
Além desses riscos, não podemos esquecer que são exames totalmente
dependentes da competência do médico que vai dar o laudo, com o agravante
que esse médico quase nunca chega a conhecer o paciente[52], obtendo todas
as informações de um questionário pouco consistente! Acredito que este seja
um dos principais motivos de estarmos vendo um aumento muito
preocupante na quantidade de erros de diagnóstico com esses tipos de exame!
Certamente, uma simples conversa (ainda que rápida) entre o paciente e o
médico que vai dar o laudo, reduziria de forma drástica a quantidade absurda
de erros que vêm ocorrendo!
Eu tenho 42 anos e sou saudável, nunca fiz tomografia em minha vida e nem
pretendo fazer (salvo em caso de extrema necessidade)! Ressonância, fiz
apenas duas vezes, mas porque realmente foi indispensável! Eu prezo pela
minha saúde e me cuido muito bem, mas não vou criar uma falsa ilusão de
proteção fazendo exames à toa, por isso, esse é o conselho que dou a todas as
pessoas: Cuidem da saúde, evitem exames e procedimentos desnecessários e
procurem médicos que cuidem e examinem seus pacientes, só assim
poderemos (verdadeiramente) evitar o câncer!
“[...] existem vastas evidências da associação entre câncer e excesso de
exames de tomografia, fato que já foi comentado até pelo famoso oncologista
Dr. Dráuzio Varela em um vídeo publicado no seu site!”
OS EXAMES DE IMAGEM E AS
CRIANÇAS
Uma ressalva muito grande deve ser feita em exames de tomografia, pensar
sempre duas ou três vezes antes de fazer, pois, os efeitos da radiação
ionizante são acumulativos ao longo de toda a vida da criança! Não se
justifica pedir uma tomografia para fazer um diagnóstico de sinusite,
principalmente em uma criança! Se o pediatra de minha filha (que já
diagnosticou duas vezes sinusite nela, sem uso de nenhum exame
complementar) decidisse pedir uma tomografia para confirmar uma suposta
sinusite, eu trocaria imediatamente de pediatra e não aceitaria fazer o exame!
Acontece que, em mais de 99% das vezes que uma criança apresenta um
nódulo crescendo no pescoço, ela está com algum dos sintomas que eu citei
acima e, nesses casos, esse nódulo é perfeitamente normal, sendo que todos
os pediatras sabem muito bem disso (ou deveriam saber)! Trata-se de um
linfonodo reacional ao processo infeccioso que está se desenvolvendo, que
pode ser desde o mais simples dos resfriados até uma infecção severa! Se
criança estiver com uma infecção severa, esses linfonodos podem crescer
muito! É claro que a infecção precisa ser tratada, mas não há nada de errado
com o linfonodo, ele está apenas reagindo da forma esperada ao processo
infeccioso e isso é um bom sinal!
Nas crianças, assim como nos adultos, afirmo mais uma vez que excesso de
exames não indicam excesso de proteção, mas pode indicar um grave
prejuízo à saúde dos infantes! Tenha cuidado, uma relação de confiança com
o pediatra é fundamental!
CAPÍTULO VI
"- Nunca havia feito tantos exames de sangue assim de uma única vez na
minha vida, meu novo médico é muito meticuloso e detalhista..."
Essas frases destacadas acima têm se tornado mais comuns a cada dia! Os
pacientes frequentemente associam quantidade de exames com qualidade de
atendimento, como forma de compensar a verdadeira atenção que todo
paciente precisa e deveria receber! Ele é induzido a achar que está sendo mais
bem cuidado, por estar fazendo muitos exames laboratoriais, quase sempre
exames inúteis ou de pouca utilidade, além de alguns até prejudiciais! Além
de gerarem excesso de custos, podem trazer graves riscos à saúde! O
desperdício com exames de laboratório é tanto, que estatísticas levantadas
pelos próprios laboratórios afirmam que até 30% dos resultados de exames
não são resgatados pelos pacientes (exames que ninguém chega a ver o
resultado, nem os próprios pacientes), imaginem quanto isso representa em
custo que é repassado para o segurado do plano através dos reajustes?
Excesso de exames nunca foi sinal de zelo! Muita gente não sabe, mas a
última coisa que um médico pensa quando solicita duas ou três páginas de
exames laboratoriais aos seus pacientes é em excesso de cuidados! Existem
os que querem apenas agradar e existem aqueles que lucram com exames,
através de propinas! Mas como saber se um exame é realmente útil ou vai
levar o paciente a achar que tem uma doença que ele não tem?
Vale a pena comentarmos aqui sobre alguns exames de laboratório que são
extremamente comuns, mas que frequentemente são solicitados de forma
equivocada, são eles:
Hemograma/Leucograma
Ela foi de alta e o bebê felizmente sobreviveu, mas teve alguns prejuízos na
esfera auditiva por conta dos antibióticos! Esse fato realmente ocorreu e eu
sei disso tudo porque conheci a médica, apesar de não termos muita
intimidade! Se tivéssemos, teria tido chance de alerta-la! Imagino que, se ela
trata assim a si própria, o que ela não faz com os pacientes que cuida?
Considero um dos casos mais graves de erro, pois é um tipo de exame que só
tem alguma utilidade quando é muito bem colhido! (Sendo mal colhido,
induz o médico a tratar uma infecção que não existe!).
Mesmo que a coleta seja feita da forma correta, pelas definições da Sociedade
Brasileira de Urologia, o exame não tem valor em pacientes que não tenham
sintomas de infecção urinária[57]! Em outras palavras, mesmo que o exame
de urina e/ou a urocultura mostrem presença de bactérias, não se considera
infecção urinária se o paciente não tiver sintomas e também não há
necessidade de tratamento! Por este motivo, não faz sentido pedir este tipo de
exame (e com esta finalidade) em pacientes que não tenham sintomas típicos
de infecção! (A única exceção são as grávidas.)
Quem nunca teve pelo menos uma destas taxas alteradas no sangue, alguma
vez em sua vida?
Outro caso comum de abuso, pois estas taxas hormonais têm sido solicitadas
de forma sistemática (como se fossem exames de rotina, mas não são) e suas
alterações analisadas como se o corpo humano funcionasse como uma piscina
de clube: É só dosar todas as taxas e sair corrigindo o que está baixo ou alto
demais para equilibrar o organismo! Infelizmente, ou felizmente, não
funciona assim! Primeiro, porque os próprios valores de normalidade de
muitos hormônios são relativos, depende de fatores externos e internos, se o
paciente está fazendo uso de medicação, a fase da vida em que se encontra e
se existem doenças associadas! Seria muito bom que fosse tão simples, nem
precisaríamos dos médicos: Dosaríamos todas as taxas hormonais e,
simplesmente, procuraríamos o farmacêutico para repor tudo que estivesse
em baixa e eliminar tudo que estivesse alto, o problema é que uma dosagem
hormonal baixa não significa necessariamente que precisemos repor aquele
hormônio, pois vai depender de muitos outros fatores associados: o nível real
de redução do hormônio, se aquela redução não seria esperada para a idade,
se existem outros hormônios também abaixo do normal e, principalmente, o
motivo do hormônio estar baixo! Em muitas situações, o problema está em
alguma medicação que o paciente esteja fazendo uso, ou que tenha feito uso
recentemente! É preciso lembrar que sair tomando hormônios sem nenhum
tipo de controle pode trazer graves prejuízos à nossa saúde e os médicos têm
prescrito esses hormônios sem muita noção da utilidade e dos riscos que eles
carregam! Um dos principais, é o risco de câncer associado ao uso abusivo de
testosterona, principalmente em pacientes que desejam melhorar a forma
muscular e/ou mudar de sexo!
Acho que as pessoas devem ter liberdade de ser o que quiserem, homens ou
mulheres, mas infelizmente a medicina ainda precisa encontrar uma forma
segura de fazer isso, pois os hormônios usados por via injetável hoje em dia
representam um grave risco para a saúde, eles podem causar câncer (que só
vai se manifestar dez anos depois), insuficiência hepática e muitas outras
doenças graves! Os laboratórios, com a necessidade de vender mais
medicamentos, simplesmente “esquecem” de contar esses detalhes quando
estão interessados em vender seu produto a alguém e patrocinam campanhas
televisivas para aumentar suas vendas!
“É preciso lembrar que sair tomando hormônios sem nenhum tipo de controle
pode trazer graves prejuízos à nossa saúde [...] “
Dosagem sérica de vitamina D
E, ao contrário de ser orientado a tomar banhos de sol (que seria muito mais
sensato por parte dos pediatras e clínicos), toda criança ou adulto com esse
suposto diagnóstico acaba tomando comprimidos de vitamina D e sofrendo
os riscos de uma superdosagem (felizmente muito rara, mas não impossível)!
Bom, existem muitos outros exames que não foram citados aqui (a grande
maioria dos exames não foi citada), mas é importante ressaltar que o mesmo
raciocínio deve sempre ser usado para todos eles: Nunca faça mais exames do
que precisa, pois isso pode trazer graves prejuízos à sua saúde! Tenha
cuidado ao interpretar resultados de seus próprios exames ou de seus
parentes, os valores de normalidade (aqueles que aparecem junto do
resultado) são relativos e sujeitos à várias interpretações! Um valor alterado
pode não estar verdadeiramente alterado e nem sempre um valor normal
indica normalidade, é preciso ter muita cautela e procurar um médico de
confiança para avaliar os resultados! Resultados de exames são como peças
de quebra-cabeças, se o médico não possuir um bom raciocínio clínico para
juntar todas as peças, nunca irá chegar a uma conclusão correta! Uma opinião
fundamentada na experiência pessoal e embasada na metodologia científica é
milhões de vezes mais correta que qualquer pesquisa ao “Dr. Google”, por
isso a relação médico-paciente tem que ser de extrema confiança! Não
adianta chegar a um médico exigindo os exames que quer e depois ir para a
internet analisar os resultados, agindo assim, a possibilidade de você chegar a
um diagnóstico errado é superior a 90%! Exame de sangue não deve ser regra
ao final de uma consulta médica, deve ser exceção!
E o mais importante de tudo: Exija explicações sobre cada exame que o seu
médico solicitar, se ele solicitou dez tipos de exames de sangue, exija dele
uma explicação sobre cada um dos dez, qual a finalidade deles e como vão
ajudar na suspeita diagnóstica! Se o médico se recusar a dar tais explicações,
recuse-se a fazer os exames e não volte nunca mais ao médico, sua saúde só
irá lucrar com isso!
“Tenha cuidado ao interpretar resultados de seus próprios exames ou de seus
parentes, os valores de normalidade (aqueles que aparecem junto do
resultado) são relativos e sujeitos à várias interpretações! “
A PROPINA DOS EXAMES
Sim, sei que é antiético e imoral (e até ilegal!); o problema é que médicos são
seres humanos regidos pelas mesmas leis de mercado que os outros
profissionais! Muitos deles acabam aceitando “benefícios” de laboratórios de
análises clínicas, proporcionais à quantidade e o valor dos exames que
solicitam a seus pacientes e, em retribuição, recomendam o laboratório para
realização dos exames solicitados! Esse tipo de controle é muito fácil de ser
feito pelo laboratório, pois o nome do médico solicitante aparece em todos os
exames!
Uma vez, atendi o dono de uma das gráficas mais antigos de Brasília; no
meio da nossa conversa, ele me disse que sabia da existência de um esquema
“pesado” de pagamento de propinas por parte dos grandes laboratórios da
cidade! (Não especificou quais!) Ainda segundo ele, antes da era da
informática, esses laboratórios encomendavam bloquinhos impressos com a
relação dos exames e o nome dos médicos solicitantes para facilitar a
“contagem” da propina a ser paga ao médico, já que tudo era feito de forma
manual! E ainda completou:
Existe até um caso engraçado que aconteceu comigo, por não ter a “conta
corrente” cadastrada numa das unidades de uma rede nacional de laboratórios
(muito famosa aqui em Brasília)! Eu não costumo solicitar exame para
ninguém, pois sou especializado em diagnóstico por imagem e não atuo
atendendo consultas, mas apenas fazendo exames de ultrassonografia! Como
também sou ginecologista de formação, às vezes, atendo e solicito exames
para minha esposa e ela confia muito em meu trabalho! Certa vez, ela foi até
uma das unidades desta grande rede de laboratórios com uma requisição feita
por mim, para realizar alguns exames! Ao pegar o resultado, percebeu que o
nome que aparecia como médico solicitante era de outro profissional e não o
meu! Questionou na hora o ocorrido e a atendente informou que era porque
eles não tinham o meu “cadastro”! Por não entender do assunto, minha
esposa se deu por conformada e foi embora!
Deixamos o ocorrido para lá, mas ela precisou retornar ao mesmo laboratório
para fazer um outro exame, pouco tempo depois! Quando foi buscar o
resultado, foi preciso que fizesse uma reclamação formal e ameaçasse não
fazer mais exames lá, pois o nome do médico solicitante estava errado de
novo, mas agora com nome de um outro médico (não o mesmo do primeiro
ocorrido)! O laudo foi corrigido após muita reclamação e, depois disso,
passamos a evitar essa rede!
Por fim, use exames com responsabilidade e cobre isso do seu médico! Não
há nenhum intuito em economizar dinheiro para a operadora do plano de
saúde nesse caso, o objetivo é de economizar saúde mesmo, pois ela é o
nosso bem mais precioso!
“Nunca esqueça: médicos que solicitam listagens imensas de exames de
"check-up", certamente ganham propina por esses exames, por isso, sempre
desconfie de exames difíceis e raros, [...] “
CAPÍTULO VII
- A indústria farmacêutica -
Estudos científicos bem embasados já provaram que dar risadas ajuda a
emagrecer e casar aumenta consideravelmente o risco de morte! Outros,
mostraram coisas óbvias: Que as pessoas são mais felizes aos finais de
semana e quem as pessoas dirigem mal quando estão usando o celular! Existe
estudo científico para quase tudo: coisas banais, temas religiosos (um estudo
científico bem embasado já provou que oração pode ajudar a melhorar um
doente), até estudos altamente complexos que provam que a nova e
revolucionária droga, patenteada pelo famoso laboratório, é o melhor remédio
para aquela doença raríssima! Mas será que todos esses estudos são realmente
confiáveis?
Notem que não questiono aqui quem deve ou não usar o remédio! Conheço
casos em que remédios novos salvaram vidas, mas sem dúvida nenhuma,
conheço muito mais casos onde eles as tiraram, ou causaram sequelas graves!
No entanto, os laboratórios nunca foram e nunca serão responsabilizados por
essas mortes, já que nas bulas de todos esses medicamentos constam
observações sobre “efeitos inesperados” que podem advir do seu uso,
isentando o laboratório de qualquer responsabilidade! O laboratório está
sempre legalmente coberto e o médico também, pois ofereceu o que havia de
mais avançado para o tratamento daquela doença! A família do paciente
sequer desconfia que, em determinadas situações, se a pessoa não tivesse
tomado nada, estaria em melhor saúde do que tomando o remédio! Se a
indústria farmacêutica realmente se preocupasse com o bem-estar e a saúde
de seus usuários, não cobraria por novos medicamentos até os mesmos
estivessem bem testados e com efeitos colaterais bem conhecidos; nem que
para isso fossem necessários vinte ou trinta anos de pesquisa!
Fazer remédio não deveria ser tão lucrativo se a saúde do paciente viesse em
primeiro lugar! A própria forma de fazer ciência e “driblar” a metodologia
científica, cria um ambiente extremamente fértil para a manipulação de dados
sobre medicamentos! Vale lembrar que nos Estados Unidos, por exemplo,
pessoas ganham dinheiro para participar de pesquisas, muitas vezes se
submetendo a medicamentos altamente perigosos e quase totalmente
desconhecidos, apenas porque precisam desesperadamente daquele dinheiro!
Todos os dados utilizados para a confiabilidade e a eficácia de um
medicamento, se ele funciona ou não e se tem efeitos colaterais, são dados
colhidos justamente dessas pessoas! É difícil confiar em relatos de pessoas
que estão ali apenas por dinheiro, elas dirão qualquer coisa que queiram que
elas digam, pois dependem dessa ninharia para prover o seu sustento e,
muitas vezes, de seus filhos (existem muitos imigrantes ilegais nessa
situação)!
Para mostrar como as situações que citei acima são muito mais comuns do
que parecem, vou citar um caso real que ocorreu e foi noticiado pela mídia, o
caso do anti-inflamatório Vioxx!
O Vioxx foi substituído por um outro, do mesmo laboratório, que existe até
hoje e é muito parecido com o seu predecessor! Já existem evidências que
essa nova droga pode causar efeitos colaterais parecidos com o Vioxx, mas
essas evidências não foram suficientes para tira-lo do mercado!
“[...] a mídia se utiliza com frequência de meias verdades e verdades
questionáveis para promover determinados medicamentos ou
tratamentos[...]”
A MÍDIA E OS MEDICAMENTOS
Não falo de teorias de conspiração e muito menos quero afirmar que tudo que
é veiculado pela mídia seja falso! Mas a mídia se utiliza com frequência de
meias verdades e verdades questionáveis para promover determinados
medicamentos ou tratamentos, vemos isso o tempo todo nos programas
matutinos destinados à saúde e veiculados pelos grandes canais abertos de
TV! Não se impressione, já vi programas de TV famosos divulgarem
verdadeiros absurdos como se fossem reais e sempre ao lado de informações
verdadeiras, para que não caia em descrédito toda a reportagem! A ideia é
que, usando uma base científica verdadeira, sejam introduzidas pequenas
‘lorotas” para promover a venda de um determinado produto, seja ele um
medicamento, uma vacina ou um tratamento! As vacinas, por exemplo, são
fundamentais na nossa sociedade e promoveram uma verdadeira revolução na
medicina preventiva, mas não fazem milagres! É preciso ter muito cuidado,
pois alguns laboratórios se aproveitam de epidemias para aumentarem seus
lucros, alguns até ajudam a criar e aumentar o pânico diante de situações
quase banais! Não é coincidência que redes de TV, revistas, jornais e toda
mídia relacionada à internet, frequentemente se mobilizem sobre um único
assunto relacionado à saúde, criando uma grande comoção sobre um único
tema, para induzir as pessoas a acreditarem que realmente precisam muito
daquele tratamento!
É como culpar o sol como causador de câncer para vender mais protetor
solar, esquecendo que ele é fundamental para a produção de vitamina D! (Ou
seja, criando um outro problema!) Quando se trata de vender um novo
medicamento ou vacina, ainda é pior, pois são substâncias novas e pouco
testadas, não se tendo a real dimensão do alcance de seus efeitos colaterais e
da sua eficácia, colocando a saúde das pessoas em risco, apenas para vender
mais!
A vacina contra HPV é nova e deveria ter sido mais testada antes de usada
em larga escala no Brasil! Em vários países do mundo, seu uso foi suspenso
pelo risco de efeitos colaterais não previsíveis e potencialmente graves!
Ainda que consigamos desenvolver vacinas melhores e mais seguras com
passar dos anos, os fabricantes tinham que esperar mais antes de
disponibilizar em escala comercial algo que ainda não oferece a segurança
necessária, principalmente se tratando dos casos de câncer de colo de útero,
um tipo de câncer quase 100% evitável quando a mulher faz seus exames
preventivos de forma adequada! Esse exame (preventivo ginecológico ou
exame de Papanicolau) é cientificamente comprovado como tão eficaz quanto
a vacina, sendo dezenas de vezes mais barato que ela!
Os grandes vilões da vez são o glúten e a lactose, mas já foram: o ovo, o óleo,
a gordura, o açúcar, o adoçante, enfim.... Ufa! Parece que respirar também
faz mal! Mas o que é verdade e mentira nisso tudo?
Parece ser essa a direção apontada pelos mais sérios pesquisadores da área!
Uma estudiosa da Harvard Medical School chamada Mingyang Song
conduziu um estudo com mais de 130.000 pessoas, durante 30 anos,
concluindo que uma dieta rica em proteína de origem animal está associada
ao surgimento de diversos tipos de câncer! Alguns poderão dizer: mas sempre
comemos carne! Sim, é verdade!! Mas sempre comemos pouca carne e a base
da alimentação sempre foi o arroz e o feijão, porque ser diferente?
Somos induzidos a achar que a ciência faz milagres por nós e pode nos trazer
a saúde e a felicidade eternas! Porém, qualquer pessoa que viveu muito e
viveu com saúde, sabe que nada disso realmente funciona! A fórmula para a
saúde e juventude eternas é tão simples que ninguém quer seguir, pois
demanda muito esforço individual, entrega e dedicação! São coisas que as
pessoas não estão muitos dispostas a dar, portanto, é mais fácil acreditar
numa pílula milagrosa que vem numa embalagem enfeitada e custa os “olhos
da cara”, do que acordar cedo, fazer atividade física todos os dias e preparar
seus próprios alimentos, restringindo a dieta às suas necessidades diárias!
Todos temos a chave da saúde e juventude dentro de nós mesmos, mas temos
preguiça de abrir a porta, pois sabemos que não basta ir a uma farmácia e
desembolsar R$ 400,00 ou R$ 500,00! Quando sabemos utilizar com
sabedoria as informações sobre boa saúde e boa alimentação, nossas contas
no supermercado e na farmácia se tornam mais baratas, e isso, nenhuma
empresa do ramo quer!
Por outro lado, se tiver dúvida do que é bom ou não para comer, prefira
pergunta à sua avó do que olhar na internet ou na televisão, e você se
surpreenderá com o resultado!
“Somos induzidos a achar que a ciência faz milagres por nós e pode nos
trazer a saúde e a felicidade eternas! “
CAPÍTULO VIII
Por isso, além de punir de forma exemplar os que se aproveitam das brechas
do sistema para uso próprio, também precisaríamos passar por uma
reformulação profunda na forma de prestar assistência médica, começando
pelo ensino na faculdade! Formamos muito mais especialistas que
generalistas porque esta última área é muito desvalorizada, tanto do ponto de
vista financeiro, como do próprio prestígio perante a classe médica!
Precisamos de profissionais que se dediquem, desde a sua formação, em
cuidar dos indivíduos e suas famílias, tendo uma noção mais abrangente da
medicina e conhecendo o básico de cada especialidade! Não é fácil ser um
profissional assim, mas a baixa remuneração dos ditos “médicos de família”
afasta essa especialidade do sonho de qualquer formando em medicina! Ora,
dentre todas as especialidades, eles é quem deveriam ganhar mais, pois todas
elas dependem deles! A carreira de médico de família deveria ser a mais
valorizada e a mais prestigiada de toda a classe médica, e deveria conduzir e
harmonizar todas as outras especialidades!
Para chegar a um ideal como esses, muitos passos terão que ser dados,
porém, existem soluções menos radicais: se os hospitais recebessem pelo
resultado bem-sucedido do procedimento e não pelo procedimento em si, isso
já traria melhorias e seria bem mais fácil de ser implantado! O foco tem que
ser no resultado (a cura ou melhora da doença), só assim o paciente pode ser
beneficiado! Enquanto as redes de hospitais, clínicas e laboratórios puderem
enrolar o paciente para aumentar os lucros eles farão isso, sem dúvida!
Afinal, eles pensam: “- Curar para quê?”
Por fim, escrevi este livro principalmente para alertar o maior número
possível de pessoas sobre os grandes riscos que podem colocar a si e a suas
famílias ao procurarem médicos, emergências de hospitais e clínicas de
diagnóstico; como também sobre os riscos do abuso de remédios e
procedimentos!
Espero que meu livro cumpra seus objetivos e possa ser bem aproveitado
pelo maior número possível de pessoas; que o teor de sua denúncia possa
repercutir numa profunda mudança da forma de enxergarmos a saúde, só
assim poderemos ter uma saúde verdadeiramente moderna, eficaz e
resolutiva, e não a “embromaterapia” que existe hoje!
CAPÍTULO IX
Exames de check-up devem incluir uma lista pequena e seleta, apenas com
exames que realmente façam alguma diferença na detecção precoce de
doenças mais graves, como o câncer! Médicos que exageram nos pedidos de
check-up, demonstram incompetência ou esperteza (ou os dois)! Seja qual for
o caso, o paciente sempre será o maior prejudicado no final!
TERCEIRO:
Garanto que, apenas adotando essa simples atitude, você irá preferir deixar de
tomar muitos remédios! Lembre-se, alguns efeitos colaterais de remédios
podem ser muito piores que a própria doença e o médico geralmente não se
preocupa com isso! Outra coisa, quando o médico prescreve algum
medicamento mais novo (lançamento), quase sempre existe um substituto
semelhante com mais tempo de mercado, mas eles sempre preferem passar os
recém-lançados por estarem nas vitrines dos grandes laboratórios
farmacêuticos!
Hoje em dia, com a internet, você não precisa nem comprar o remédio para
ter acesso à bula; sendo assim, só compre se o custo (dos efeitos colaterais)
para sua saúde, compensar o benefício do tratamento!
QUINTO:
Uma consulta médica eficaz tem que durar, no mínimo, trinta minutos!
(Exceto se for um retorno.) Não aceite consultas rápidas!
Lembrando que isso vale desde um simples hemograma, até uma complicada
tomografia ou ressonância magnética, nem que para isso ele precise perder
muito tempo na consulta!
Já ao final da primeira consulta com o seu médico, ele deve saber explicar as
hipóteses diagnósticas levantadas para o seu caso e por que cada um daqueles
exames é importante para se chegar ao diagnóstico final! Se o médico não
conseguir explicar os motivos de cada um dos exames que solicitou e de que
forma eles (os exames) vão ajudar a confirmar ou excluir o provável
diagnóstico, pode ter 100% de certeza que será mais saudável não realizar o
exame!
SÉTIMO:
Há casos urgentes, onde não dá para esperar; mas sempre que for possível,
ouvir uma segunda opinião de um médico independente é fundamental!
Médicos são muito unidos e conheço especialistas que criam verdadeiros
cartéis em suas cidades para defenderem seus interesses! Em casos assim,
pode ser necessário até trocar de cidade para se ter uma opinião isenta por
parte de outro profissional, nossa saúde não vale esse esforço? Afinal, tudo
deve ser tentado para evitar uma cirurgia ou procedimento desnecessário,
ninguém quer viver resto vida com o ônus das consequências de um
procedimento errado!
Por fim, se tiver duas opiniões discordantes, vale a pena pesquisar mais sobre
o assunto e ouvir uma terceira ou quarta opinião!
OITAVO:
Vale lembrar que cerca de 99% da informação que circula sobre saúde na
internet é falsa e é preciso saber separar o que é confiável do que é apenas
“fake news”! Sites confiáveis (como os ligados a universidades, sites de
bibliotecas científicas e revisões sistemáticas) não costumam opinar, mas
apenas apresentar os assuntos de forma imparcial, deixando a análise crítica
para o leitor! Para quem não tem conhecimento na área de saúde, não é fácil
utilizar esse tipo de ferramenta, mas mesmo em alguns sites científicos já
existem seções destinadas ao público leigo! Um site destinado a pacientes
que eu recomendo, por apresentar conteúdo sério, embasado cientificamente
e sempre atual, é o da campanha Choosing Wisely (www.choosingwisely.org
/ proqualis.net/choosing-wisely-brasil), destinada à esclarecer a população
sobre os riscos da sobreutilização de exames e procedimentos e mantida pela
ABIM Foundation[62]! Os links citados se referem à Choosing Wisely
internacional e à Choosing Wisely Brasil, ainda que o site brasileiro
(patrocinado pelo Proqualis) não possua o conteúdo completo! Apesar das
sociedades de especialidades brasileiras apoiarem “em teoria” a iniciativa, a
grande fonte de lucro gerada aos donos de redes de hospitais pela medicina
comercial, impede uma maior penetração da campanha no nosso mercado!
Ele tem que ser um médico de família, especializado nessa área, ou com
muita experiência em clínica médica! É o seu médico de confiança que deve
te encaminhar para eventuais especialistas, e apenas quando isso for
estritamente necessário!
Ser tratado diretamente pelo especialista pode mais complicar do que resolver
o seu problema! Se você for a um especialista em rins, por exemplo, todas as
causas de dor no local dos rins e que não tiverem a ver com os rins (coluna,
por exemplo) serão totalmente ignoradas pelo médico, e é bem capaz que ele
ache algum problema no rim que você não tenha! (Um falso-positivo)
DÉCIMO:
A relação com estes profissionais também tem que ser de extrema confiança,
pois isso pode interferir de forma decisiva no resultado! Na grande maioria
dos hospitais e clínicas, o paciente não chega nem a conhecer o médico que
irá fazer o laudo do seu exame, o que é um absurdo! As informações frias,
coletadas através de um questionário padronizado, é que vão ajudar o médico
a acertar (ou errar) o diagnóstico, pois apenas a análise das imagens
fornecidas pelo equipamento não é suficiente para se concluir um exame
como normal ou alterado! Conheço dezenas de diagnósticos falsos de
apendicite e até de câncer, que foram dados apenas porque o paciente
preencheu a ficha de forma errada e omitiu informações substanciais para o
médico!
Se o próprio médico que for dar o laudo conversasse com seu paciente, a
avaliação seria muito mais precisa e o resultado estaria muito menos sujeito a
erros...
SOBRE O AUTOR
Ainda recém formado, o já Dr. Renato passou por outras situações onde o
desrespeito com a dignidade do paciente o fizeram quase desacreditar de sua
profissão: Na residência de ginecologia e obstetrícia em São Paulo era odiado
pelos colegas e amado pelos pacientes, pois atendia as gestantes do setor de
emergência com total dignidade e respeito, conversando, examinando e
explicando tudo, sem se importar se a consulta iria demorar vinte ou trinta
minutos e atrasar o atendimento dos seus colegas! A fama de “quebra mão”,
dada pelos outros colegas do setor de emergência jamais o fizeram desistir de
tratar seus pacientes com a dignidade que ele julgava necessária e a gratidão
por parte dos pacientes era visível e emocionante, chegando até a ganhar
presentes de suas pacientes mais próximas, lembrando que se tratava de um
serviço público e que atendia exclusivamente a pacientes do S.U.S. (Hospital
e Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo/ SP)!
Hoje, felizmente, Dr. Renato atua numa clínica tradicional da cidade, que
pela postura ética do seu dono e pela grande tradição em Brasília, não
aparenta participar de nenhum tipo de esquema de corrupção! Também
trabalha em dois grandes hospitais e, apesar de não concordar com as
condutas de suas diretorias em relação à excesso de exames e procedimentos,
consegue exercer seu trabalho e expressar sua opinião com total liberdade e
independência junto à empresa que participa como sócio, sem precisar se
evolver diretamente com nenhum tipo de esquema e ainda continuar sua luta
na busca de uma medicina mais justa e honesta!
[4] Trocar o termo “paciente” pelo termo “cliente” foi uma das primeiras
providências da medicina moderna, já prevendo esse apelo mais comercial da
relação médico-paciente.
[9] Fazer exame das duas pernas não faz sentido nenhum, pois a trombose,
em condições normais, acomete apenas uma perna.
[10] Todos os médicos têm medo de pecar por falta, mas não de pecar por
excesso, simplesmente porque nenhum paciente processa um médico que
tenha pecado por excesso!
[19] Muitos dos médicos que participam disto, o fazem de forma inconsciente
ou semiconsciente, sem ter muita noção de como funciona todo o sistema.
Outros doutores até sabem dos esquemas, mas acabam não tendo muita
opção!
[20] O pior disso tudo: uma das principais causas de doenças renais nos dias
de hoje, são os anti-inflamatórios prescritos pelos ortopedistas.
[21] No quinto e sexto ano de medicina, os alunos não mais frequentam aulas
regulares, são alocados em hospitais-escola onde ficam todos os dias da
semana (o dia todo), além de alguns fins de semana!
[22] Isso se deve ao fato do preço de um exame leva em conta, quase que
exclusivamente, o preço dos custos com o equipamento para sua realização!
Na verdade, um exame depende muito mais do médico, pois todas as
conclusões obtidas são parciais e subjetivas e dependem da capacidade
interpretativa de quem está analisando as imagens! No caso da ecografia (ou
ultrassonografia), por exemplo, o resultado sempre depende 90% do médico e
10% da máquina!
[23] Falso positivo é quando o exame mostra uma doença que não existe! O
contrário é o falso-negativo, quando o exame deixa de mostrar uma doença
existente! Geralmente os pacientes questionam muito os falso-negativos, mas
nunca os falso-positivos.
[26] Do ganho bruto por consulta, deve-se levar em conta as despesas fixas
que o médico tem em seu consultório, a exemplo: aluguel da sala, salário da
secretária e da faxineira (incluindo INSS, FGTS, férias e 13O salário),
condomínio, água, luz e telefone, material de consumo médico, material de
limpeza, IPTU, despesas com impostos e taxas, anuidade do CRM, INSS
autônomo, sindicato, despesas para locomoção, entre outras....
[32] Temos a falsa noção que os exames são pagos pelo plano, não é verdade,
eles sempre repassam os gastos extras no reajuste do ano seguinte!
[36] Você pode ler mais sobre este assunto em meu blog:
www.comosobreviveraomedico.blogspot.com
[40] Óbvio que não existe uma avaliação desse tipo e, ainda que existisse,
não faria sentido que ela incluísse exames de imagem, mas apenas exames de
sangue.
[45] Fonte: Dr. Mark S Pearce PhD et al. - Radiation exposure from CT scans
in childhood and subsequent risk of leukaemia and brain tumours: a
retrospective cohort study; The Lancet Volume 380, Issue 9840, 4–10 August
2012, Pages 499-505.
[48] Essa afirmação pode soar estranha para quem não é da área médica, mas
dependendo da idade e da condição física do paciente, há muitas situações
onde o médico executor da ultrassonografia já inicia o exame sabendo que o
resultado será normal! Nessas situações, não há necessidade de procura
alguma alteração ou doença, pois é impossível que ela exista!
[58] Remédios que são anti-inflamatórios apenas no nome, já que sua ação no
organismo se resume apenas a aliviar a dor causada pelos diversos processos
inflamatórios, não atuando diretamente na causa da inflamação (todo e
qualquer médico, em teoria, sabe disso).