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Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

História econômica, social e política do Brasil II


Prof.: Paulo Fontes
Graduanda: Natalie Rickli DRE: 116153480

Resenha de “O Mistério do Samba” de Hermano Vianna

O livro lançado em 1995 pela editora da UFRJ, é uma adaptação para o mercado
editorial da tese de doutorado do antropólogo Hermano Vianna no Programa de
Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional, sob a orientação de
Gilberto Velho. O propósito da pesquisa e do livro, segundo Vianna, é compreender o tal
mistério que se dá em torno de como o samba deixou de ser de um ritmo perseguido para ser
elevado à categoria de música nacional, embora, logo no primeiro capítulo, intitulado ​O
encontro​, o autor afirme que “não se trata de um livro sobre samba” (p. 33), mas “um estudo
das relações entre cultura popular (incluindo a definição do que é popular no Brasil) e a
construção da identidade nacional” (p.33).
Já na apresentação do livro, Vianna defende a escolha de dois eixos centrais que guiam
os oito capítulos seguintes: a hegemonia cultural do Rio de Janeiro, institucionalizada durante
os governos de Getúlio Vargas e a amálgama entre samba e a mestiçagem positivada, a partir
de Gilberto Freyre. Desta forma, o encontro entre intelectuais abastados brancos e músicos
negros na cidade da Guanabara, descrito no primeiro capítulo funciona como “alegoria, no
sentido carnavalesco da palavra, da ‘invenção de uma tradição’, aquela do Brasil mestiço”
(p.22). Encontros como este eram comuns, de acordo com Vianna, pelo menos desde o fim do
século XVIII quando a modinha, adaptação mulata da ​moda ​portuguesa e os tambores
africanos do lundu eram constantes nas casas de elites. Vianna dá o exemplo de Domingos
Calda Barbosa, que fez “sucesso nos salões mais aristocráticos de Lisboa” (p.38) dos fluxos e
contatos entre os músicos e consequentemente a hibridização de ritmos. Mais tarde, com a
chegada da corte, a moda lisboeta já misturada com a música italiana chegaria ao Rio de
Janeiro.
O foco do trabalho de Vianna é no contato entre “as elites e a música popular”, de certa
forma a ordem dos termos pode expressar o caminho escolhido pelo antropólogo nos capítulos
que se seguem. Dois capítulos trazem discussões intelectuais de outras construções que se
tornaram hegemônicas paralelamente ao samba: a unidade e o futuro da nação,
consequentemente. O quinto capítulo se chama Gilberto Freyre, personagem do encontro,
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descrito no primeiro capítulo, com os músicos Donga e Pixinguinha, considerado um


“mediador cultural” (p. 41). Os diários de Freyre e artigos publicados tanto em Pernambuco,
quanto no Rio de Janeiro demonstram como o autor de ​Casa Grande & Senzala já esboçava
anos antes, ideias que seriam trabalhadas em suas obras marcando uma reviravolta sob as
teorias raciais que viam a mestiçagem como uma degeneração das raças ou o branqueamento
como única possibilidade de futuro da nação. De acordo com Vianna, Freyre partia da ideia de
um “mestiço muito mais adaptado à exuberância do mundo tropical, podendo lidar com aquilo
que não é homogêneo” (p. 89). O mestiço era a definição do indefinido, como “um precário
equilíbrio de antagonismos” (p. 87).
Outro destes ​mediadores culturais​, segundo Vianna, foi o vanguardista francês Blaise
Cendrars, que conheceu Donga em Paris, Sérgio Buarque no Rio de Janeiro, assim como sua
já conhecida relação com os modernistas Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Mário de
Andrade, cujos manifestos ​Pau-Brasil e​ ​Antropofágico eram ​poiesis de uma arte moderna que
tentou interpretar o Brasil e os brasileiros. De acordo com o antropólogo, Cendrars foi o
sujeito que conseguiu cristalizar os disparos “interesses por coisas brasileiras” (p. 101) de
diversos intelectuais e artistas das elites carioca e paulista. O francês também havia conhecido
Donga em Paris, desta forma Vianna liga a elite artística e intelectual com a música popular.
Chama atenção a ausência de referência ao pintor Di Cavalcanti, nascido no bairro de São
Cristóvão e que também trouxe a festa, os tambores e a mulata sensualizada em suas pinturas
tendo o samba como temática. Isto porque o Vianna vai se debruçar sobre a criação da rádio
nacional e a hegemonia cultural do Rio de Janeiro no que diz respeito à música nacional, em
oposição à música estrangeira e também estrangeira ou americanizada.
O debate passa a girar em torno da ambiguidade com o qual o samba era visto pela
sociedade, perseguido pela polícia, mas bem vindo em casas de elite, como o exemplar caso
do pandeiro apreendido de João da Baiana, que recebeu outro instrumento de presente do
senador Pinheiro Machado (p. 114). O intercâmbio de pouco mais de um século entre as elites
e a música popular, com a participação de europeus e norte americanos permitiu o
intercâmbio de variadas influências permitiu a adaptabilidade do samba às mais diversas
classes, como exemplo do samba de origem branca de classe média como Noel Rosa. Por fim,
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o samba carioca havia tomado conta o carnaval e, impulsionado pelo estado através rádio
Nacional, foi considerado como símbolo nacional. De acordo com Vianna “A vitória do
samba era também a vitória de um projeto de nacionalização e modernização da sociedade
brasileira” (p. 127).
Este projeto de nacionalização, como toda comunidade imaginada, necessitou de um
outro do qual pudesse se diferenciar. Assim, acusações de “americanização” passaram a ser
frequentes entre os críticos mais partidários da ideia de unidade cultural nacional em torno do
que Vianna chama de “samba de morro” (p. 131). Tomado por autêntico, o samba de morro
rapidamente havia se transformado em algo a ser preservado diante de ameaças como a bossa
nova e o rock n’ roll. A questão do uso da guitarra elétrica pelos tropicalistas, motivo de
discussões, acusações e protesto, funciona como ponte que leva o autor para o rock brasileiro
da década de 80. Uma sucessão de letras demonstra que o ethos do rock é oposto ao samba,
ou seja, pessimista, voltado para uma individualização diante do fracasso e da desilusão
depois de vinte um anos de ditadura civil-militar. Cujos desdobramentos ganham ares
pós-modernos das lutas identitárias como a restrição a não brancos no bloco afro Ilê Aiyê.
Para Vianna, o samba autêntico está sempre a ser redescoberto, em um processo de
homogeneização, mesmo que parcial, e heterogeneização intercalados. O autor lança mão de
Lévi-Strauss para demonstrar os paralelos do samba e da mestiçagem em um sentido positivo.
Desta forma as diferenças culturais, ou seja, estes processo de heterogeneização, operam
como motores de desenvolvimento para logo em seguida serem englobados em um projeto
homogeneizante (p. 155). A defesa hesitante da mestiçagem que escapa como um fio de
esperança na conclusão encontra fôlego no segundo anexo da obra, movida do corpo do
trabalho para o anexo no processo de adaptação para o mercado editorial, do qual Vianna faz
uma breve análise do caso da teoria do ​Melting Pot n​ orte-americano, um equivalente da
mestiçagem que foi duramente condenado entre o fim do século XIX e início do seguinte.
Podemos afirmar que ​O Mistério do Samba dá ao samba espaço semelhante ao que foi
dado à senzala na maior obra de Gilberto Freyre. A grande ênfase que dá aos intelectuais e a
participação das elites na invenção do samba talvez se explique pela pouca atenção dada ao
samba, inclusive no Rio de Janeiro, cidade que para Vianna é central para a questão. O caso
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das censuras de letras pelo DIP e também da dificuldade da sociedade em lidar com a ligação
inextricável do samba com a malandragem carioca. Outro caso emblemático é o da Portela,
que foi registrada com este nome na delegacia de costumes pelo delegado Dulcídio
Gonçalves, que achava inapropriado o nome de “Vai Como Pode”. Por fim, concordamos
com as colocações de Christopher Dunn (1996. p. 210) em que “falta em O Mistério do
Samba uma análise mais detalhada da atuação tática dos compositores e músicos”. Também
somos levados a acreditar consoante a Tiago de Melo Gomes que o problema relativo às
fontes, o que fez com que o Vianna fizesse buscasse conexões não próximas assim, como o
contexto cultural carioca dos anos 20 e o modernismo paulistano (GOMES, 2001, p 527). O
mistério, portanto, continua sem resposta.

Referências
DUNN, Christopher. O mistério do samba. ​Mana​​, v. 2, n. 2, p. 208-211, 1996.
GOMES, Tiago de Melo. Resenha do livro O mistério do samba, de Hermano Vianna.
Revista Brasileira de História: Espaços da Política​​, v. 21, n. 42, p. 435-455, 2001.
VIANNA, Hermano. ​O mistério do samba​​. Zahar, 1995.

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