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Brasília/Distrito Federal
2018
Criança e Adolescente: módulo básico para Conselhos Tutelares e
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Apresentação
Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação básica em direitos
da criança e do adolescente de Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direitos
da Criança e do Adolescente. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel
do sistema de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portanto, o
eixo central dos conteúdos trabalhados.
O curso para Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos
Tutelares está dividido em dois módulos. No primeiro será abordado o tema
direitos humanos das crianças e adolescentes, a partir da construção histórica,
documentos internacionais e nacionais. No segundo, serão discutidas as
Políticas de Promoção, Garantia e Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes no Brasil, os novos temas e cenários que impactam no atendimento
individualizado a esse público.
Os módulos foram estruturados com o objetivo de proporcionar familiarização
em temas gerais ligados aos direitos humanos da criança e do adolescente.
Optou-se por trazer os conceitos básicos deste campo e propor o diálogo dos
aspectos teóricos com a prática dos conselhos por meio de infográficos, estudos
de caso, sugestão de vídeos e leituras externas. Ao final de cada aula o aluno
contará com um resumo do conteúdo e os resultados alcançados.
Trata-se, portanto, de um curso introdutório que servirá de linha de base para
o aprofundamento da prática dos conselhos embasada em aspectos teóricos
relevantes. Assim, não tem o objetivo de esgotar o debate, ao contrário, pretende
instrumentalizar a discussão sobre a importância da ação qualificada desses
conselhos e seu papel na garantia dos direitos das crianças e adolescentes no
Brasil e na afirmação da democracia.
Com essa premissa, alguns documentos normativos nacionais e internacionais,
como tratados internacionais, atos normativos, estudos, artigos científicos
e pesquisas serão referenciados durante as apresentações e também nas
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questões avaliativas.
CRIANÇA E ADOLESCENTE: MÓDULO BÁSICO PARA CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Apresentação
formação e capacitação dos conselheiros de direitos e conse - Módulo 2. Políticas Públicas de Promoção, Garantia e
lheiros tutelares, na área de direitos humanos da criança e do Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
adolescente.
Capacitar integrantes dos conselhos de direitos e conselhos Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e
tutelares para uma atuação embasada em preceitos normativos Adolescente.
nacionais e internacionais, a partir de metodologia interdisci- Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária.
plinar. Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducati-
Instrumentalizar conselhos de direitos e conselhos tutelares vo- SINASE.
para a atuação qualificada em prol da garantia dos direitos Aula 7. O Enfrentamento às Violências contra a Criança e
humanos da criança e do adolescente. ao Adolescente.
Aula 8. Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adoles-
centes.
METODOLOGIA Aula 9. A Diversidade e Interseccionalidade.
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O século XVIII ainda enxergava as crianças como “menores” que
precisariam de alguma proteção do Estado, através de um sistema disciplinador,
até conseguirem alcançar condições para ingressarem no modo de produção
econômica.
Em 1919, com a criação da OIT, sua Carta do Trabalho, do mesmo ano,
documento que regeria a atuação da OIT, explicitamente prevê na alínea “f” a
“abolição do trabalho Infantil.”
Em 1924, A Liga ou Sociedade das Nações, considerada a antecessora da
Organização das Nações Unidas (ONU), publicou a Declaração sobre os Direitos
da Criança, composta por um preâmbulo e cinco princípios. Esse documento
serviu de base para a Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959.
No pós-Segunda Guerra surge o Fundo de Emergência das Nações
Unidas para as Crianças (UNICEF), criado para auxiliar as crianças dos
países assolados pela guerra. Em 1953 o Fundo foi transformado em agência
permanente e especializada da ONU para a assistência à infância dos países em
desenvolvimento.
Com a criação das Nações Unidas surgiram inúmeros documentos
referenciais atinentes à infância. Declarações, Resoluções e Tratados
internacionais passaram a se ocupar da proteção da criança no âmbito global,
aliados a sistemas regionais de direitos humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 marcou
uma nova etapa do sistema de valores no âmbito internacional, transcendendo
a questões ideológicas, culturais ou religiosas, e se apresentou como universal
(direcionada a todos os seres humanos, sem distinção), além de situá-los no
mesmo plano os direitos civis, políticos econômicos, sociais e culturais.
A DUDH tornou-se referência e fundamentação de todas as declarações
e tratados internacionais de Direitos Humanos que lhe seguiram. Em relação
às crianças, a Declaração de 1948 faz expressa menção ao direito a cuidados
especiais para a maternidade e a infância, tema que foi retomado posteriormente
na Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, e na Convenção sobre os
Direitos da Criança (CDC), de 1989.
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A partir da Declaração dos Direitos da Criança a realidade da infância
sofre alteração, ainda numa perspectiva simbólica muito mais normativa do
que com reais participações sociais ou políticas. Porém, a alteração da norma
internacional impôs uma evolução hoje bastante sentida, sobretudo no Brasil,
que elaborou uma norma muito avançada do ponto de vista da garantia dos
direitos da criança.
Essa evolução tem imposto novos debates sobre reais práticas de
efetivação dos direitos protagonizados na Convenção sobre os Direitos da
Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
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positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem
contudo, perder a lógica da proteção de direitos.
Esse novo olhar permitirá o reconhecimento de uma infância muito mais
conectada com o mundo adulto e com o mundo de outras infâncias. A chamada
“ficção universalizante da infância” precisa ser repensada principalmente pelos
órgãos de atendimento e, no Brasil, pelo Sistema de Garantia dos Direitos.
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Estudo de caso:
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu
município para fazer o acompanhamento pré-natal. Ao chegar ao hospital não
consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada
para a ala infantil que tem prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada
procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse caso, o que pode
ser feito? Qual o embasamento legal?
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RESUMO AULA1
O Conceito de Infância e os
desafios da pós-modernidade.
CONTEÚDO
Origem e construção do conceito de infância no Brasil.
Estudo de caso
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu município para fazer o acompanhamento
pré-natal. Ao chegar ao hospital não consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada para a ala infantil que tem
prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse
caso, o que pode ser feito? Qual o embasamento legal?
O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com base no art. 136, inciso III, alínea “a” do
ECA que dá poderes administrativos ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
NA PRÁTICA serviço social, previdência, trabalho e segurança.
Nesse caso, a justificativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois a criança e o adolescente têm direito
a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º
é assegurado à gestante no pré e pós-parto, pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e
acompanhamento médico na fase pré-natal.
Adquiriu conhecimentos básicos sobre o conceito da infância no mundo e no Brasil, sua evolução histórica e os
atuais desafios para a garantia dos direitos da criança e do adolescente.
RESULTADO
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Aula 2. Normas Internacionais e Nacionais
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A partir da ratificação pelo Brasil da CDC, esta – tornando-se norma
supralegal (acima das demais legais) e infraconstitucional – passou a ser a
base normativa dos princípios contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e de todas as demais leis infraconstitucionais na área.
Durante a primeira década do século XXI a comunidade internacional
prosseguiu trabalhando ligada aos direitos humanos. Dentre os diversos
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documentos ligados à questão da infância destacam-se os três protocolos à
CDC:
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Esse conjunto de direitos deriva de bases normativas internacionais,
principalmente da CDC, que a Constituição de 1988, de forma antecipada, cuidou
de incorporar como lições cidadãs.
Toda essa conquista, na verdade, decorre de um processo histórico
cujo desfecho somente foi possível alcançar na década de 1990. Durante
vários anos, sobretudo na década de 1970, a construção da história social
brasileira em relação a esses segmentos foi sendo construída de forma
bastante equivocada, adotando por referência a Doutrina da Situação Irregular,
que permeou todo o conjunto das políticas sociais brasileiras com um caráter
paternalista, assistencialista e tutelar. Essa doutrina considerava que crianças
e adolescentes, hoje reconhecidos como sujeitos ou titulares de direitos, eram
apenas “portadores de necessidades”, cujas vidas ficavam quase sempre
vinculadas ao perfil dos então chamados Juízes de Menores. Essas autoridades
– dentro de uma nova concepção – passam a trabalhar com uma nova visão, não
mais considerando crianças e adolescentes como seres tutelados pela Justiça.
A superação do assistencialismo e do paternalismo ocorre quando se assume
a importância do atendimento das necessidades básicas dessa população não
como um favor ou caridade, mas como direitos assegurados por lei. Com a
vigência do ECA, impõe-se uma outra forma de compreender e agir em relação
a crianças e adolescentes, sustentada pela inovadora concepção da Doutrina
da Proteção Integral. Essa doutrina estabelece um novo paradigma nos campos
jurídico e social, ao criar vínculos normativos que asseguram a efetividade dos
direitos públicos subjetivos dessa população.
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seus atos administrativos, decisões ou recomendações. Todas as resoluções
são publicadas no Diário Oficial da União.
Estudo de caso:
O Sr. João Andrade, procura o Conselho de Direitos de seu Estado, no dia
02 de fevereiro de 2018, para fazer a doação de um terreno para os projetos
de atendimento a crianças e adolescentes do seu Estado, porém tem algumas
dúvidas: 1. Se ele pode doar um bem imóvel; se essa doação poderá ser
declarada na sua declaração anual de renda para obter desconto no valor a
pagar; como ele poderia formalizar essa doação?
Como Conselheiro como responderia para o Sr. João?
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Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema de
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD)
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infrações administrativas cometidas em prejuízo dos direitos da criança e do
adolescente (arts. 245 a 258).
Uma das inovações do ECA é a proteção judicial dos interesses individuais,
difusos e coletivos (artigos 208 a 224) assegurados à criança e ao adolescente.
O Estatuto dispõe sobre as ações de responsabilidade e as ações cíveis em caso
de violação desses direitos e seu foco fundamental constitui-se na democracia
participativa da sociedade civil para coordenar e controlar as Políticas Públicas
nos Conselhos dos Direitos .
Embora possam parecer uma reunião de conceitos com fortes
características de natureza subjetiva, a Doutrina da Proteção Integral impõe que
seja afirmada a concepção de responsabilidade ante as violações praticadas
contra crianças e adolescentes.
O ECA reúne todas as respostas possíveis quando se dá conta de que
o Estado, a família e a sociedade não favorecem o espaço necessário para a
garantia dos direitos. O Brasil dispõe de instrumentos jurídicos eficazes para
o exercício de uma avaliação comparativa entre o que determina a lei e o que
demonstra a realidade.
É essa dimensão jurídica que dá legitimidade e sustentação à Doutrina da
Proteção Integral. O ECA reconhece que a criança e o adolescente são sujeitos
de direitos, em desenvolvimento e, por isso, vulneráveis, a demandar a proteção
integral do Estado, da família e da sociedade. É importante observar que, ao
eleger essas três grandes figuras, o ECA impõe a cada uma delas obrigações
e responsabilidades: à família, a obrigação de criar, de educar; à sociedade,
a obrigação de zelar por todas essas crianças e adolescentes; e ao Estado, a
competência de executar e promover políticas públicas capazes de garantir o
atendimento dos direitos assegurados por lei.
Tratar do SGD à luz do ECA significa, portanto, assegurar que direitos
fundamentais relacionados a crianças e adolescentes sejam operacionalizados
por instituições que integram o referido sistema.
¹ art. 88., II, da Lei Federal nº 8.069/1990 – criação de conselhos municipais, estaduais e
nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das
ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações
representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais.
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Sistema, aqui, deve ser entendido como um conjunto ordenado de
instituições responsáveis pela garantia dos direitos previstos em lei. A partir do
art. 4º, do ECA, é feita toda uma incursão nesses direitos, definindo-se a quem
cabe a responsabilidade de assegurá-los. Para isso, o legislador, sabiamente,
faz uma descrição a partir da estrutura de um sistema.
Tudo deve funcionar de forma articulada e Art. 4º É dever da família, da
comunidade, da sociedade
integrada. Ao descrever o art. 19, referindo-se ao direito à
em geral e do poder público
convivência familiar e comunitária, o legislador estabelece assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos
um conjunto de situações que precisam ser destacadas.
direitos referentes à vida,
A criança nasce vocacionada para viver em família. É à saúde, à alimentação, à
tão forte esse sentimento em assegurar essa condição educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura,
que se ela não puder ser criada pela família original, são à dignidade, ao respeito, à
definidas opções: adoção, tutela ou guarda. Se ela não liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
tiver quem a adote, quem a tutele ou quem a guarde,
Parágrafo único. A garantia de
então cabe ao Estado funcionar como seu guardião, para prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção
garantir a sua vocação natural de viver e conviver com a
e socorro em quaisquer
família. circunstâncias;
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diferentes níveis e âmbitos: Executivo, Legislativo, Judiciário; federal, estadual,
municipal. Essas definições estão expressas no art. 86 do ECA, que trata da
política de atendimento de crianças e adolescentes. Nesse dispositivo, encontra-
se todo o conjunto de atribuições para cada um dos atores que compõem o
SGD, construído exatamente para que haja uma dinâmica na aplicação dos
instrumentos e uma total interação dos atores.
O SGD dispõe de uma arquitetura muito bem montada. Quando falha um
ator, o outro chega, discute e corrige. Tudo deve ser feito de maneira que esse
segmento não venha a sofrer situações graves de violação dos seus direitos.
Por que falar também de um sistema de proteção especial? Porque no
conjunto da população de crianças e adolescentes, encontram-se determinados
segmentos para os quais nunca foi garantido o acesso aos direitos básicos.
São aquelas situações consideradas as mais graves, como, por exemplo:
crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual; ou submetidos às mais
diferentes formas de tortura; ao trabalho infantil; ou envolvidas em situações
que demandam medidas socioeducativas, por cometimento de atos infracionais;
ou ainda, crianças em situação de alta vulnerabilidade social, pessoal (crianças
portadoras de HIV/aids, ou envolvidas com drogadição etc).
O SGD tem a finalidade específica de promover a exigibilidade do direito,
na hipótese em que o Estado, a sociedade e a família deixarem de cumprir
seus deveres. Nesse sentido, deve ser concebido exatamente para que possam
ser delimitadas as suas responsabilidades pessoais, familiares, profissionais
e institucionais. Discutir essas responsabilidades é também tratar dos direitos
que foram ameaçados ou violados. No eixo de defesa, propõe-se envolver os
atores que foram escolhidos pela sociedade ou pelo poder público, para garantir
a validade, a legitimidade e a eficácia da lei. O SGD também trata da construção
da igualdade da organização política e social por meio dos espaços públicos e
institucionais.
A responsabilidade pela correção do desvio da realidade social, econômica
e política envolve toda a sociedade. O SGD possibilita o exercícioda efetividade,
da eficiência e da eficácia na garantia dos direitos. Muitas vezes o poder público
considera que já está fazendo a sua parte. E acredita que com isso todos os
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problemas estão resolvidos. Mas é preciso ir além. É o compromisso de fazer e
fazer bem feito. É o compromisso da eficácia com a política pública, garantindo
que os recursos destinados a essa área efetivamente priorizem a população
mais vulnerável. É o SGD que vai garantir a democratização e a transparência
das ações públicas, das políticas, para que elas se tornem mais eficazes. Por
outro lado, deve-se fazer um acompanhamento sistemático de todas as ações
relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes.
Nessa perspectiva, deve-se destacar que o SGD só funciona se a
população de fato participar de todo o processo de implementação das políticas
públicas, inclusive na fiscalização da aplicação dos recursos destinados a essa
população.
Assim, toda a base do SGD está orientada para concretizar e operacionalizar
a política de atendimento à criança e ao adolescente. A legislação determina que
o município seja um ator privilegiado nesse processo. É no município que se
constrói e se consolida o direito.
O ECA, portanto, organiza suas ações por meio do SGD, que desenha
a ação de vários órgãos ou instituições de forma integrada. Para desenhar
melhor a atuação desses órgãos ou instituições, o ECA os distribuiu em três
eixos: promoção, defesa e controle.
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O EIXO PROMOÇÃO OU ATENDIMENTO caracteriza-se pelo
desenvolvimento da “política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente” e subdivide-se em três tipos de programas, serviços e ações
públicas:
I – serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas
sociais, afetos aos fins da política de atendimento dos direitos de crianças e
adolescentes;
II – serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos
humanos; e
III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e
assemelhadas.
Assim, de forma mais clara, como é possível reconhecer esse eixo?
É fácil. Pelos serviços, nas seguintes áreas:
• Assistência Social:
O Centro de Referência da Assistência Social (Cras) atua como a principal
porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e é responsável
pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de
vulnerabilidade e risco social, com serviços mais gerais, como prevenção e
aumento do acesso aos direitos de cidadania. O principal serviço ofertado pelo
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Cras é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif).
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas)
oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação
de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica e sexual, tráfico
de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto etc.). A
oferta de atenção especializada e continuada deve ter como foco a família e a
situação vivenciada. É comum que o CRAS e o CREAS funcionem no mesmo
espaço físico.
• Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange desde o simples atendimento
ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal
e gratuito para toda a população do país. O SUS compõe-se de diferentes
estruturas, destacando-se: Programa Saúde da Família (PSF); Postos de
Saúde; Unidades de Pronto Atendimento ou Pronto-Socorro; Hospitais; Centros
de Atenção Psicossocial (Caps).
• Educação
A educação escolar compõe-se de Educação Básica (Infantil, Fundamental
e Ensino Médio) e Ensino Superior.
A Educação Infantil abrange as creches e pré-escolas (0 a 6 anos de
idade). O Ensino Fundamental vai da 1ª à 9ª série (em 9 anos), e o Ensino Médio
vai do 1º ao 3º ano. Há, ainda, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional e Tecnológica e o
Ensino Superior.
• Serviços de Atendimento Socioeducativo.
• Serviços de Acolhimento Institucional.
• Disque Denúncia.
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• Forças de Segurança (Polícia) destacam-se: Polícia Militar, Polícia
Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
• Defensoria Pública.
• Sistema de Justiça – especialmente as varas da infância e da
juventude e suas equipes multiprofissionais, as varas criminais especializadas,
os tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de justiça, as
corregedorias gerais de Justiça.
• Ministério Público – especialmente as promotorias de justiça,
os centros de apoio operacional, as procuradorias de justiça, as procuradorias
gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério Publico.
• Ouvidorias.
• Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
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Estudo de caso:
Maria é uma criança com 7 anos, sua professora, suspeita que ela seja vítima de
maus tratos e negligência familiar. Chega sempre atrasada, sonolenta e triste. A
escola não conhece muito sobre a história de vida da aluna, pois todas as tentativas
de conversar com a família foram frustradas, ninguém nunca compareceu. A
professora resolve ocultar o caso da direção para evitar problemas.
Qual a orientação correta para a escola?
Ao fazer uma análise do caso com base no ECA, atendo-se principalmente nos
Títulos: II – Dos Direitos Fundamentais ( Cap. I – Art.º 7º e Cap. IV – Art. 56); II –
Das Medidas de Proteção (Cap. I e II) e VII – Das Infrações Administrativas (Cap.
II – Art. 245), verifica-se que de acordo com o ECA, esta criança deveria ser
encaminhada ao Conselho Tutelar para providências junto a sua família, podendo
ser aplicada algumas destas medidas a fim de sanar os problemas existentes
neste grupo familiar: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante,
termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários;
matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família,
à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial
ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
abrigo em entidade; colocação em família substituta.
Além disso, deveria ser tomada também medidas administrativas junto a
professora, pois estar ocultando um caso de maus-tratos dentro de seu âmbito
escolar, pois de acordo com o ECA, ela está sujeita a multa.
A escola e a professora deveria providenciar um relatório dos acontecimentos
da família, juntamente com os sintomas apresentados pela criança e levar ao
Conselho Tutelar da região para que sejam tomadas as devidas providências.
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MÓDULO 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO, GARANTIA E DEFESA
DOS DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
• Conteúdo Programático:
o Direitos de crianças e adolescentes no Brasil e a abordagem da mídia.
o Diretrizes de Direitos Humanos para Criança e Adolescente no Brasil.
o Direitos Humanos nas Relações Pedagógicas.
o A Base Nacional Comum Curricular e a Educação em Direitos Humanos
para a Criança e o Adolescente.
• Análise e discussão de estudos de caso.
• Estudo de caso 4:
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Algumas iniciativas nesse sentido ganham relevância, seja pelo
aprofundamento teórico do tema, ou pela publicação de diretrizes sobre o
tema quanto pela capilarização do debate, estendido para organizações
governamentais e não governamentais.
Assim, tal como ocorrido em outros países da América Latina, essa
proposta de educação no Brasil se apresenta como prática recente.
É nesse contexto que surgem as primeiras versões do Programa Nacional
de Direitos Humanos (PNDH), produzidos entre os anos de 1996 e 2002. Dentre
os documentos produzidos a respeito desse programa, no que diz respeito ao
tema da Educação em Direitos Humanos, destaca-se o PNDH-3, de 2010, que
apresenta um eixo orientador destinado especificamente para a promoção e
garantia da Educação e Cultura em Direitos Humanos.
Em 2003, Educação em Direitos Humanos ganhará um Plano Nacional
(PNEDH), revisto em 2006, aprofundando questões do Programa Nacional
de Direitos Humanos e incorporando aspectos dos principais documentos
internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário.
Esse documento é portanto, a política educacional voltada para os direitos
humanos e educação. O PNEDH está dividido em cinco áreas: educação básica,
educação superior, educação não-formal, mídia e formação de profissionais dos
sistemas de segurança e justiça.
Também define a Educação em Direitos Humanos como um processo
sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de
direitos, articulando as seguintes dimensões:
a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre
direitos humanos e
a sua relação com os contextos internacional, nacional e local;
b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a
cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade;
c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente
em níveis cognitivo, social, cultural e político;
d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos
e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
contextualizados;
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e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e
instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos
humanos, bem como da reparação das violações.
O Conselho Nacional de Educação também tem se posicionado a
respeito da relação entre Educação e Direitos Humanos por meio de seus
atos normativos. Como exemplo podem ser citadas as Diretrizes Gerais para a
Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e para o Ensino Médio. Nas Diretrizes
Gerais para a Educação Básica o direito à educação é concebido como direito
inalienável de todos/as os/as cidadãos/ãs e condição primeira para o exercício
pleno dos Direitos Humanos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes
curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação temática, em
função de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo ou pela
comunidade educacional, respeitadas as características próprias da etapa da
Educação Básica que a justifica (BRASIL, 2010, p. 24).
Neste sentido, afirma que uma escola de qualidade social deve considerar
as diversidades, o respeito aos Direitos Humanos, individuais e coletivos, na sua
tarefa de construir uma cultura de Direitos Humanos formando cidadãos plenos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes
curriculares.
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011 que fundamenta essas diretrizes reconhece
a educação como parte fundamental dos Direitos Humanos.
Nesse sentido, todos os órgãos do SGD precisam estar atentos à educação
em direitos humanos nos processos de formação de seus agentes. É necessário
implementar processos educacionais que promovam a cidadania, o conhecimento
dos direitos fundamentais, o reconhecimento e a valorização da diversidade
étnica e cultural, de identidade de gênero, de orientação sexual, religiosa, dentre
outras, enquanto formas de combate ao preconceito e à discriminação.
O CNE ainda aborda a temática dos Direitos Humanos na Educação por
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meio de normativas específicas voltadas para as modalidades da Educação
Escolar Indígena, Educação Para Jovens e Adultos em Situação de Privação de
Liberdade nos Estabelecimentos Penais, Educação Especial, Educação Escolar
Quilombola (em elaboração), Educação Ambiental (em elaboração), Educação
de Jovens e Adultos, dentre outras.
Quanto às escolas, atores que não estão tão integradas ao SGD, mas
que compõem esse sistema, precisam ser agregadas cada vez mais pois nesse
contexto assumem papel decisivo na garantia dos Direitos Humanos.
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com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação no Censo Escolar.
Nota Técnica nº 24 - Orientação aos Sistemas de Ensino para a implementação
da Lei nº 12.764-2012.
Nota Técnica nº 28 - Uso do Sistema de FM na Escolarização de Estudantes
com Deficiência Auditiva.
Nota Técnica nº 29 - Termo de Referência para aquisição de brinquedos e
mobiliários acessíveis.
Nota Técnica nº 35 / 2016 / DPEE / SECADI / MEC - Recomenda a adoção
imediata dos critérios para o funcionamento, avaliação e supervisão das
instituições públicas e privadas comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
fins lucrativos especializadas em educação especial.
Estudo de caso:
João Carlos, pai de Davi, criança com deficiência física de 7 anos, procura o
Conselho Tutelar para denunciar que tentou matricular seu filho em uma escola
particular e foi impedida porque o diretor alegou que não tem acessibilidade na
estrutura física de escola. Como o Conselho deve agir?
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Percebe-se, portanto, que por força do dever constitucional constante do artigo
205 da Lei Maior, compete às instituições públicas e privadas providenciar a
adaptação necessária ao efetivo desenvolvimento dos alunos portadores de
deficiência. Isto porque, apenas com a efetivação da educação inclusiva nas
escolas regulares é que os fundamentos e objetivos da República Federativa do
Brasil serão atingidos.
Assim, o Conselho Tutelar deve requisitar a inclusão da criança e caso não seja
atendido deve comunicar ao Ministério Público.
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Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária
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É um direito da criança e adolescente ser criado e educado no seio
de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada
a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral.
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pessoas da família extensa, aptas a recebê-las. A partir de uma alteração legal,
a omissão dos membros da família extensa, como o seu não comparecimento à
audiência, é suficiente para o juiz decretar a perda do poder familiar.
Essa modalidade de proteção é utilizada também pelo Programa de
Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte - PPCAAM (Instituído
pelo Decreto Presidencial 6.231/2007), casos em que a criança e o adolescente
possuem necessidade de proteção, porém não possuem uma retaguarda familiar
para acompanhá-lo.
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Com exceção de situações de emergência, a decisão de afastar a criança
ou o adolescente da sua família de origem deve ser baseada em recomendação
técnica, a partir de um diagnóstico elaborado por equipe qualificada de psicólogo,
assistente social e em articulação com a Justiça da Infância e da Juventude
e o Ministério Público.
O diagnóstico deve incluir uma avaliação dos riscos que a criança ou
adolescente corre, levar em conta sua segurança, seu bem-estar, cuidado
e desenvolvimento a longo prazo e as condições da família para superar as
violações e dar-lhe proteção.
A análise deve incluir todas as pessoas envolvidas, inclusive a criança ou
adolescente, pois a decisão pelo afastamento do convívio familiar é extremamente
séria e terá profundas implicações, tanto para a criança ou adolescente, quanto
para a família. Portanto, deve ser aplicada apenas quando representar o melhor
interesse da criança ou do adolescente e o menor prejuízo ao seu processo de
desenvolvimento.
Antes de se encaminhar a criança ou adolescente para um abrigo, é
preciso verificar se entre os parentes ou na comunidade há pessoas que lhe
tenham afeto e queiram se responsabilizar pelos seus cuidados e proteção. Nos
casos de violência física, abuso sexual ou outras formas de violência intrafamiliar,
a medida prevista no art. 130, do ECA (afastamento do agressor da moradia
comum) deve sempre ser considerada antes de se recorrer ao encaminhamento
para serviço de acolhimento.
Tem-se ainda o Plano Nacional de Proteção, Promoção e Defesa do Direito
da Criança e do Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária - PNCFC
(2006) que visa fortalecer, detalhar e aprofundar os conceitos básicos definidos
pelo ECA. Prioriza a família como núcleo do desenvolvimento e reafirma apoio e
proteção para que possa cuidar de seus filhos e protegê-los.
Três áreas temáticas compõem o Direito à Convivência Familiar e
Comunitária:
1º.A primeira diz respeito à importância de preservar os vínculos familiares
e comunitários e do papel das políticas públicas de apoio sociofamiliar;
2º.A segunda aborda a necessidade de intervenção institucional nas
situações de rompimento ou ameaça de rompimento dos vínculos familiares, do
38
reordenamento dos Programas de Acolhimento Institucional e da implementação
dos Programas de Famílias Acolhedoras (observado o caráter de excepcionalidade
destas medidas);
3º.Por último, a adoção.
39
Público, prestando esclarecimento sobre os motivos de tal entendimento e sobre
as providências já tomadas no sentido da orientação, apoio e promoção social
da família.
40
pessoas que compõem essas redes com legitimidade.
Quando o serviço de atendimento não é de qualidade ou prolonga-se
desnecessariamente, o afastamento do convívio familiar pode ter consequências
negativas sobre o processo de desenvolvimento dos sujeitos. Por isso, a
articulação e bom funcionamento intra e intersetorial da rede institucional é
fundamental na efetividade do seu trabalho que, apesar de transitório, deve ser
reparador.
Com relação à escola, deve-se favorecer a sua articulação com a família
e sensibilizar os educadores para que atuem como agentes facilitadores da
integração da criança e do adolescente em situação de abrigo no contexto
escolar, resgatando a autoridade perdida, incentivando o protagonismo juvenil,
fortalecendo os vínculos sociais e evitando possíveis situações de preconceito e
discriminação.
Tanto para os profissionais que atuam diretamente com esta problemática
como para todos aqueles que lutam pelo cumprimento dos direitos da criança e
do adolescente, o enfoque das ações deve ser no sentido da “prática de redes
sociais”.
Para isso, é preciso primeiramente compreender o que são “redes sociais”,
destacar sua importância na vida das pessoas, para em seguida apresentar uma
forma de se pensar o atendimento à criança e ao adolescente em situação de
abandono ou afastamento do convívio familiar a partir da sua “prática”.
41
quando se encontra em situação de risco, teve seus direitos violados e foram
esgotadas as possibilidades que permitiriam colocá-lo em segurança.
O apadrinhamento de crianças e adolescentes em situação de acolhimento
ou em famílias acolhedoras pode ser afetivo ou financeiro, sendo este último
caracterizado por uma contribuição financeira à criança ou adolescente
institucionalizada, de acordo com suas necessidades.
Já o apadrinhamento afetivo tem o objetivo de promover vínculos seguros
e duradouros entre eles e pessoas da comunidade que se dispõem a ser
padrinhos e madrinhas. As crianças e adolescentes aptos a serem apadrinhados
têm, quase sempre, mais de dez anos e, portanto, chances remotas de adoção.
A ideia é possibilitar um vínculo afetivo fora da instituição de acolhimento.
O apadrinhamento consiste em proporcionar e estimular que a criança ou
adolescente que estejam em abrigos (acolhimento institucional) ou em acolhimento
familiar possam formar vínculos afetivos com pessoas de fora da instituição ou
da família acolhedora onde vivem e que se dispõem a ser “padrinhos”.
42
O programa é voltado para as crianças e adolescentes que vão ficando
anos no abrigo ou na família acolhedora, justamente por isso, o legislador previu
no novo § 4º do art. 19-B do ECA:
Art. 19-B [...]
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido
no âmbito de cada programa de apadrinhamento, com prioridade para
crianças ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar
ou colocação em família adotiva.
Estudo de caso:
44
45
Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE
48
6.2. O SINASE e a Complementaridade de Outros Sistemas
49
6.4. Risco e Gerenciamento de Crises no Sistema Socioeducativo
50
O QUE DIZ A LEI?
As medidas socioeducativas estão previstas no art. 112 da Lei no 8.069/1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
A Resolução 119/2006 do CONANDA dispõe sobre o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo e á outras providências.
A Lei 12.594/2012, em ser art. 35, determina que a execução das medidas
socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso
do que o conferido ao adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas,
favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre
que possível, atendam às necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o
respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente);
51
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias
pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos
objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia,
gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou
associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo
socioeducativo.
Portaria MS/SEDH/SPM 1.426/2004 (Saúde no SINASE)
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/portaria_interministerial.htm
Estudo de caso:
52
53
Aula 7. O Enfrentamento das Violências contra a Criança e o Adolescente
• Conteúdo Programático:
o O enfrentamento ao trabalho infantil e a proteção ao trabalho adolescente.
o O enfrentamento da letalidade na adolescência.
o A proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte.
o O enfrentamento da violência sexual.
54
(Brasil, 2004).
•Violência Psicológica – Conjunto de atitudes, palavras e ações para
envergonhar, censurar e pressionar a criança de modo permanente. Ela ocorre
quando xingamos, rejeitamos, isolamos, aterrorizamos, exigimos demais
das crianças e dos adolescentes, ou, mesmo, os utilizamos para atender a
necessidades dos adultos (Brasil, 2004).
•Violência Sexual – É uma violação dos direitos sexuais, porque abusa
do corpo e da sexualidade, seja pela força ou outra forma de coerção, ao
envolver crianças e adolescentes em atividades sexuais impróprias para a sua
idade cronológica ou para seu desenvolvimento psicossexual. Trata-se de toda
ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga outra à realização de
práticas sexuais, por meio da força física, da influência psicológica (intimidação,
aliciamento, sedução) ou do uso de arma ou droga (Brasil, 2004).
O Brasil conta com um importante serviço que vem ampliando e sua
atuação, o disque denúncia nacional. Disque 100 é um serviço de discagem direta
e gratuita disponível para todos os estados brasileiros, que recebe denúncias de
transgressões aos direitos humanos, inclusive da criança e do adolescente e
presta orientações sobre os serviços e redes de atendimento e proteção nos
estados e municípios.
O Ministério dos Direitos Humanos disponibiliza três canais de denúncia:
o telefone Disque 100, o aplicativo Proteja Brasil e uma Ouvidoria Online. O
Disque 100 funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos
e feriados. A denúncia, após análise, é encaminhada aos órgãos de proteção,
defesa e responsabilização em direitos humanos.
55
O Disque 100 também serve como fonte de informações para subsidiar
políticas públicas na área de crianças e adolescentes, por meio da análise de
informações contidas na base de dados gerado pelo sistema.
56
As possibilidades de trabalho infantil são amplas e inesgotáveis e, via de
regra, sua existência sempre poderá descortinar uma realidade de exploração,
abuso, negligência ou violência, perante a qual incidirá a responsabilidade da
própria família, de terceiros beneficiários do labor e também do Poder Público,
podendo alcançar as esferas civil, penal, trabalhista e administrativa.
A legislação brasileira guarda consonância com os preceitos estabelecidos
na Constituição Federal, cujas normas incorporam os postulados de proteção
erigidos pela Convenção dos Direitos da Criança.
A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT destacou o Capítulo IV do seu
Título III, para tratar “Da Proteção do Trabalho do Menor”.
No âmbito internacional, o Brasil é signatário das Convenções Internacionais
do Trabalho nº 138 e 182, da OIT, ambas voltadas para a grave questão do
trabalho infantil. Em observância a esse compromisso internacional, foi editado
pelo Poder Executivo o Decreto 6.481/2008, que aprovou, no Brasil, a Lista das
Piores Formas de Trabalho Infantil.
57
como tal, com direitos trabalhistas e previdenciários assegurados) e que, na sua
vida de profissional, o aprendizado, o desenvolvimento pessoal e social são mais
importantes que o aspecto produtivo.
Não é qualquer profissão que se enquadra para oferecer um contrato de
aprendizagem. No art. 62, o Estatuto traz o conceito: “Considera-se aprendizagem
a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases
da legislação de educação em vigor.” E essa formação obedece a princípios
estabelecidos no art. 63:
• a garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;
• atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
• horário especial para o exercício das atividades.
O art. 67 destaca condições em que o trabalho não pode ser realizado pelo
aprendiz.
Tais itens estão em sintonia com a Convenção 182, da OIT, em vigor no Brasil
desde 2000, com a publicação do Decreto 3.597.
58
7.2. O Enfrentamento da Letalidade na Adolescência
59
7.2.1. A Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte
60
jurídica apropriada, levando em consideração que em todos os países do mundo
existem crianças e adolescentes vivendo em condições extremamente adversas
e necessitando de proteção especial. Nos artigos 19 e 34 abordar medidas
voltadas à proteção de crianças contra a violência sexual.
Artigo 34
Os Estados Partes se comprometem a proteger a criança contra todas as formas
de exploração e abuso sexual (ONU, 1989)
61
O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças
e Adolescentes, de 2014 , conceitua violência sexual como uma violação de
direitos, que se subdivide em exploração sexual e abuso sexual, os quais serão
a seguir aprofundados.
63
(CP). Seu art. 231 assim tipifica o Tráfico internacional de pessoa para fim de
exploração sexual: “Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de
alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração
sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro”. Já o tráfico
interno de pessoa para fim de exploração sexual está tipificado no art. 231-A:
“Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional
para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”. Outros
tipos penais também caracterizam o crime de tráfico de crianças e adolescentes,
no CP e no ECA, como o art. 245, do CP, que trata da entrega de filho menor
a pessoa inidônea, e os arts. 238 e 239, do ECA, que tratam respectivamente
de “prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa” e “promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio
de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades
legais ou com o fito de obter lucro”.
III. Exploração sexual no contexto do turismo: É a exploração sexual
de crianças e adolescentes por visitantes de países estrangeiros ou turistas
do próprio país, geralmente com o envolvimento, cumplicidade ou omissão de
estabelecimentos comerciais de diversos tipos.
IV. Pornografia infantil: é a expressão da exploração sexual que se
caracteriza por qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança
envolvida em atividades sexuais explícitas reais ou simuladas, ou qualquer
representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins primordialmente
sexuais, de acordo com o Decreto nº. 5.007, de 8 de março de 2004, que promulga
o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à
venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil. O ECA também
prevê crimes de pornografia infantil em seus artigos 240 a 241-E.
64
O sexting é a palavra originada da união de duas palavras em inglês:
“sex” (sexo) com “texting” (envio de mensagens), uma expressão de violência
recente, na qual adolescentes, jovens ou adultos usam celulares, e-mail, salas
de bate-papo, comunicadores instantâneos e sites de relacionamento, para
enviar fotos sensuais, mensagens de texto eróticas ou com convites sexuais
para conhecidos. Algumas vezes essa prática, ao cair na rede, pode configurar
abuso ou exploração sexual, a depender da forma como será utilizada. Segundo
o artigo 241-E do ECA, esse tipo de mensagem pode ser considerado pornografia
infantil e, portanto, crime.
O sexcasting consiste na troca de mensagens sexuais em serviços de
conversas instantâneas. O sexcasting tem se caracterizado principalmente pelo
envio de fotos ou vídeos de conteúdo sexual produzidos pelo próprio remetente
através da Internet, telefones celulares ou outras tecnologias de comunicação.
Outro formato comum de transmissão tem sido os de vídeos via webcam.
O sextosión se configura a partir do sexting. É a prática de chantagens
com fotografias ou vídeos da criança ou adolescente sem roupa ou em relações
íntimas que foram compartilhados por sexting com fins de exploração sexual;
O grooming é caracterizado pela ação de um adulto ao se aproximar de
crianças ou adolescentes via internet, por meio de chats ou redes sociais, com o
objetivo de praticar abuso sexual ou exploração sexual.
Estudo de caso:
Maria tem 13 anos e há um ano recebeu uma proposta de uma conhecida, Laura
de 18 anos, para fazer sexo com um homem, Carlos. Caso aceitasse, Mariana
ganharia uma passagem para conhecer Salvador, esse é o seu grande sonho.
Mariana topou. Foi a primeira relação sexual da adolescente. Mariana sabe que
ter vida sexual ativa sem usar preservativo pode contrair DSTs e engravidar, mas
não usou porque Carlos não quis. Diante disso, ela quis desistir do Programa,
mas Carlos a obrigou a ter relação sexual.
O Conselho Tutelar foi procurado por Maria para saber o que diz a lei sobre o
assunto. “Há crime(s) no caso acima narrado? Se engravidar e quiser realizar
um aborto, como o conselho orienta?”
65
Sim, há crime. O conselheiro deve orientar Maria que houve crime sim. Pode
inclusive requisitar o exame de corpo delito junto ao IML ou serviço de perícia
local e deve orientar no sentido de que nesse caso ela tem o direito de realizar
o aborto legal.
IMPORTANTE: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.
66
Aula 8. Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente
68
8.1. Gênero e Direitos Sexuais e Reprodutivos
69
•1975 – Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher. Tratou do
direito à integridade física, decisão sobre o corpo e as diferentes opções sexuais
e aos direitos reprodutivos, maternidade opcional;
•1978 – Conferência de Alma Ata. Defendeu a atenção primária e o enfoque
holístico;
•1979 – Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (CEDAW);
•1985 – Estratégias de Nairobi, orientada para o Futuro do Avanço da
Mulher;
•1993 – Conferência de Viena sobre os Direitos Humanos;
•1993 – Carta de Brasília - “Nossos direitos para Cairo 1994”;
•1994 – Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento –
Cairo. Definiu o conceito de direitos sexuais e reprodutivos;
•1995 – 4ª Conferência Mundial da Mulher – Beijing. Foi assumido o
compromisso da transformação do mundo usando as experiências das mulheres
como principal força no desenvolvimento de uma nova agenda de atuação.
Embora os direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes
sejam reconhecidos, ainda sim, a temática é complexa e contraditória. A própria
noção de infância e adolescência é uma construção social e cultural que pode
variar grandemente no tempo histórico ou entre as culturas, podendo variar
também a partir de fatores, como classe social.
A sexualidade e o comportamento reprodutivo de adolescentes e jovens
começam a ser vistos, hoje, menos como um problema social e mais como um
tema de direito sexual e reprodutivos.
As questões e discussões atinentes ao exercício da sexualidade e da
reprodução humana atravessaram todo o século XX com marcos internacionais
importantes, entre eles, as três Conferências Internacionais da Mulher (México,
1975, Copenhague, 1980, Nairóbi, 1985).
A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, no Cairo,
1994, pautou os direitos reprodutivos, incluindo os adolescentes e atentando
para o fato de que, enquanto grupo, os adolescentes são particularmente
vulneráveis e ignorados pelos serviços de saúde reprodutiva.
70
Em 1995, a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, retomou
a relação entre direitos e sexualidade, porém enquanto as diretrizes do Cairo
enfatizaram o direito à reprodução, foi no evento de Pequim que a sexualidade
assumiu relevância ao propor o respeito as diferentes expressões sexuais
que não seguem ao tradicional binômio normativo masculino/feminino; ou
seja, homossexuais, transexuais, travestis e transgêneros passaram a ter
seus direitos reconhecidos nas diretrizes de Pequim.
Desde o início dos anos 1990, praticamente todas as grandes conferências
da ONU, em diversos temas, realçam a importância dos direitos sexuais e
reprodutivos, em especial no tocante aos adolescentes, o que reforça um
processo global de conscientização em torno do tema e revela sua importância.
Os direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes são
reconhecidos amplamente no cenário internacional e nacional, uma vez que o
Brasil é signatário de documentos resultados dos eventos que asseguram estes
direitos.
71
Ao tratar do direito à vida, a Lei destaca a prioridade no atendimento, e
assegura à gestante adolescente por meio do SUS (Sistema Único de Saúde)
o pré e perinatal e as demais condições básicas para a mãe e para a criança.
No entanto, a sexualidade como componente da personalidade deve ter seu
desenvolvimento pleno assegurado como condição fundamental do ser humano.
72
o Quando o agressor não for integrante da família:
73
do Sistema Único de Saúde (SUS), que proporciona a produção do cuidado
desde a atenção primária até o mais complexo nível de atenção, exigindo ainda
a interação com os demais sistemas de garantia de direitos, proteção e defesa
de crianças e adolescentes.
O cuidado é uma atitude que demonstra preocupação, responsabilização
e solidariedade com a dor e o sofrimento do outro. A Política Nacional de
Humanização (PNH) coloca em evidência a dimensão do cuidado a partir da
compreensão do acolhimento como um ato de aceitação, credibilidade e
aproximação, ou seja, uma forma de fazer com que o outro se sinta pertencido.
Mais que uma atitude de solidariedade, uma atitude de inclusão.
A atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em
situações de violência em linha de cuidado fortalece a responsabilização dos
serviços, o envolvimento do profissional numa cadeia de produção do cuidado
em saúde e de proteção social no território.
74
Estudo de caso:
Mariana, criança de 2 anos não foi levada para vacinar por questões religiosas.
A vizinha ameaçou denunciar a mãe. Maria, a mãe de Mariana, ficou com receio
de ser presa. Como conselheiro tutelar, qual seria sua orientação?
Em que pese ser obrigatória a vacinação das crianças, nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias, o não cumprimento dessa obrigação pelos pais não
configura crime. Então não é o caso de prisão, porém cabe ao Conselho Tutelar
verificar a possibilidade de medida de proteção para o atendimento médico para
que a família conheça a importância da vacina.
“Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica
e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente
afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais,
educadores e alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias .”
75
Aula 9. A Diversidade e a Interseccionalidade
77
Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), as Comunidades Tradicionais constituem aproximadamente 5 milhões
de brasileiros e ocupam um quarto do território nacional. Por seus processos
históricos e suas condições específicas de pobreza e desigualdade, acabaram
vivendo em isolamento geográfico e/ou cultural, tendo pouco acesso às
políticas públicas de cunho universal, o que lhes colocou em situação de maior
vulnerabilidade socioeconômica, além de serem alvos de discriminação racial,
étnica e religiosa.
Crianças e adolescentes pertencentes a povos e comunidades tradicionais
são destinatárias da legislação nacional e de tratados internacionais de direitos
humanos pertinentes à infância e adolescência.
Visando efetivar os direitos e garantias de crianças e adolescentes
provenientes de povos e comunidades tradicionais, o CONANDA, em 2017,
instituiu, por meio da Resolução nº 197, a criação de Grupo Temático com a
finalidade de formular e propor estratégias de articulação de políticas públicas e
serviços para o atendimento e para a promoção, proteção e defesa dos direitos
dessas crianças e adolescentes.
78
propagar o respeito e minimizar estatísticas de violência e abandono da escola
em função de bullying, assédio, constrangimento e preconceitos.
A resolução do MEC também orienta no sentido de que as escolas de
educação básica estabeleçam diretrizes e práticas para o combate a quaisquer
formas de discriminação em função de orientação sexual e identidade de gênero.
A educação básica inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
médio. É importante destacar que a resolução é orientadora, mas não tem força
de Lei.
Outra resolução importante nesse contexto, foi publicada em 24 de
setembro de 2018 pelo Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS que
traz diretrizes para o atendimento da população LGBT no Sistema Único da
Assistência Social – SUAS, a resolução foi aprovada conjuntamente com o
Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – CNCD/LGBT (Resolução
Conjunta CNAS e CNCD/LGBT Nº 01/2018) e pode ser usada como referência.
79
mas sim uma conquista ao longo da história humana, a partir de evoluções,
das modificações nas realidades social, política, industrial econômica, enfim em
todos os campos da atuação humana.
No que se refere aos índios, a própria Constituição Federal estabelece
proteção especial à cultura indígena para impedir a imposição de regras e
comportamentos estranhos à sua organização social e cultural, ao mesmo tempo
em que cria certas barreiras à elegibilidade e ao direito de votar.
Não há dúvidas de que os indígenas e negros correspondem a uma parcela
da população brasileira em desigualdade e, não poderia ser diferente em relação
aos direitos de crianças e adolescentes indígenas e negros.
Que medidas são asseguradas às crianças e adolescentes indígenas?
O Brasil incorpora a Doutrina da Proteção Integral em seu art. 227 da
CF/88. No entanto, a responsabilidade em garantir a obediência a esses direitos
foi compartilhada solidariamente entre a família, sociedade e Estado. Embora
este artigo tenha sido definidor de direitos fundamentais e de imediata aplicação,
foi papel do ECA arquitetar o sistema de proteção integral.
Agora de acordo com a Doutrina da Proteção Integral, crianças e
adolescentes são sujeitos de direitos, detendo uma proteção especial e
complementar de seus direitos, dirigindo-se a absolutamente todas as crianças
e adolescentes, sejam brancas, negras e indígenas, não dando espaço para
exceções.
A busca por essa igualdade tem mobilizado o poder público a desenvolver
políticas especializadas para essa população a fim de garantir o vínculo com a
sua história e o respeito aos seus direitos de forma a tratá-los com a isonomia
necessária em relação às outras crianças e adolescentes do Brasil.
Recentemente é que esse quadro começou a mudar. Grupos organizados
da sociedade civil passaram a trabalhar junto com comunidades indígenas,
procurando alternativas à submissão desses grupos, como a garantia de seus
territórios e formas menos violentas de relacionamento e convivência entre essas
populações e outros segmentos da sociedade nacional.
O MEC vem desenvolvendo projetos educacionais especializados para
crianças e adolescentes indígenas. A escola entre grupos indígenas ganhou
80
um novo significado e um novo sentido, como meio para assegurar o acesso
a conhecimento gerais sem precisar negar as especificidades culturais e a
identidade daqueles grupos.
Os projetos educacionais foram construídos de acordo com a realidade
sociocultural e histórica de determinados grupos indígenas, praticando a
interculturalidade e o bilinguismo, bem como adequando-se ao projeto de futuro.
O tamanho reduzido da população indígena, sua dispersão e
heterogeneidade tornam difícil a implementação de uma política educacional
adequada. Por esse motivo, reafirma-se a importância da Constituição Federal
ter assegurado o direito das comunidades indígenas a uma educação escolar
diferenciada, específica, cultural e bilíngue, o que vem sendo regulamentado em
vários textos legais.
Uma ação importante foi a transferência da responsabilidade pela educação
indígena da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para o MEC, representando
não apenas uma mudança do órgão federal gerenciador do processo, mas uma
mudança em termos de execução (se antes as escolas indígenas eram mantidas
pela FUNAI ou secretarias estaduais e municipais de educação, agora cabe aos
Estados assumirem essa tarefa).
81
2. Universalizar imediatamente a adoção das diretrizes para a política nacional
de educação escolar indígena e os parâmetros curriculares estabelecidos pelo
Conselho Nacional de Educação e pelo Ministério da Educação.
3. Universalizar, em dez anos, a oferta às comunidades indígenas de programas
educacionais equivalentes às quatro primeiras séries do ensino fundamental,
respeitando seus modos de vida, suas visões de mundo e as situações
sociolinguísticas específicas por elas vivenciadas.
4. Ampliar, gradativamente, a oferta de ensino de 5ª a 8ª série à população
indígena, quer na própria escola indígena, quer integrando os alunos em
classes comuns nas escolas próximas, ao mesmo tempo que se lhes ofereça o
atendimento adicional necessário para sua adaptação, a fim de garantir o acesso
ao ensino fundamental pleno.
5. Fortalecer e garantir a consolidação, o aperfeiçoamento e o reconhecimento
de experiências de construção de uma educação diferenciada e de qualidade
atualmente em curso em áreas indígenas.
6. Criar, dentro de um ano, a categoria oficial de “escola indígena” para que a
especificidade do modelo de educação intercultural e bilíngüe seja assegurada.
7. Proceder, dentro de dois anos, ao reconhecimento oficial e à regularização
legal de todos os estabelecimentos de ensino localizados no interior das terras
indígenas e em outras áreas assim como a constituição de um cadastro nacional
de escolas indígenas.
8. Assegurar a autonomia das escolas indígenas, tanto no que se refere ao projeto
pedagógico quanto ao uso de recursos financeiros públicos para a manutenção
do cotidiano escolar, garantindo a plena participação de cada comunidade
indígena nas decisões relativas ao funcionamento da escola.
9. Estabelecer, dentro de um ano, padrões mínimos mais flexíveis de infraestrutura
escolar para esses estabelecimentos, que garantam a adaptação às condições
climáticas da região e, sempre que possível, as técnicas de edificação próprias
do grupo, de acordo com o uso social e concepções do espaço próprias de cada
comunidade indígena, além de condições sanitárias e de higiene.
10. Estabelecer um programa nacional de colaboração entre a União e os Estados
82
para, dentro de cinco anos, equipar as escolas indígenas com equipamento
didático-pedagógico básico, incluindo bibliotecas, videotecas e outros materiais
de apoio.
11. Adaptar programas do Ministério da Educação de auxílio ao desenvolvimento
da educação, já existentes, como transporte escolar, livro didático, biblioteca
escolar, merenda escolar, TV Escola, de forma a contemplar a especificidade
da educação indígena, quer em termos do contingente escolar, quer quanto aos
seus objetivos e necessidades, assegurando o fornecimento desses benefícios
às escolas.**
12. Fortalecer e ampliar as linhas de financiamento existentes no Ministério da
Educação para implementação de programas de educação escolar indígena,
a serem executados pelas secretarias estaduais ou municipais de educação,
organizações de apoio aos índios, universidades e organizações ou associações
indígenas.
13. Criar, tanto no Ministério da Educação como nos órgãos estaduais de
educação, programas voltados à produção e publicação de materiais didáticos
e pedagógicos específicos para os grupos indígenas, incluindo livros, vídeos,
dicionários e outros, elaborados por professores indígenas juntamente com os
seus alunos e assessores.
14. Implantar, dentro de um ano, as diretrizes curriculares nacionais e os
parâmetros curriculares e universalizar, em cinco anos, a aplicação pelas escolas
indígenas na formulação do seu projeto pedagógico.
15. Instituir e regulamentar, nos sistemas estaduais de ensino, a profissionalização
e reconhecimento público do magistério indígena, com a criação da categoria
de professores indígenas como carreira específica do magistério, com concurso
de provas e títulos adequados às particularidades linguísticas e culturais das
sociedades indígenas, garantindo a esses professores os mesmos direitos
atribuídos aos demais do mesmo sistema de ensino, com níveis de remuneração
correspondentes ao seu nível de qualificação profissional.
16. Estabelecer e assegurar a qualidade de programas contínuos de formação
sistemática do professorado indígena, especialmente no que diz respeito aos
83
conhecimentos relativos aos processos escolares de ensino-aprendizagem, à
alfabetização, à construção coletiva de conhecimentos na escola e à valorização
do patrimônio cultural da população atendida.
17. Formular, em dois anos, um plano para a implementação de programas
especiais para a formação de professores indígenas em nível superior, através
da colaboração das universidades e de instituições de nível equivalente.
18. Criar, estruturar e fortalecer, dentro do prazo máximo de dois anos, nas
secretarias estaduais de educação, setores responsáveis pela educação
indígena, com a incumbência de promovê-la, acompanhá-la e gerenciá-la.
19. Implantar, dentro de um ano, cursos de educação profissional, especialmente
nas regiões agrárias, visando à auto sustentação e ao uso da terra de forma
equilibrada.
20. Promover, com a colaboração entre a União, os Estados e Municípios e em
parceria com as instituições de ensino superior, a produção de programas de
formação de professores de educação a distância de nível fundamental e médio.
21. Promover a correta e ampla informação da população brasileira em geral, sobre
as sociedades e culturas indígenas, como meio de combater o desconhecimento,
a intolerância e o preconceito em relação a essas populações.
84
9.4. Crianças e Adolescentes com Deficiência
85
aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação.
Na Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994), o MEC
estabeleceu como diretrizes da Educação Especial apoiar o sistema regular de
ensino para a inserção dos portadores de deficiências, e dar prioridade quando
do financiamento a projetos institucionais que envolvam ações de integração.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96),
o Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, e as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução
CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001) também dão suporte jurídico para a
inclusão de crianças e adolescentes com deficiência na educação.
Verifica-se que muitos foram os avanços normativos nessa área. Hoje,
nenhuma escola pode se recusar a aceitar qualquer criança com deficiência. Mais
que isso, essas crianças e adolescentes conquistaram o direito de frequentar
a escola e participar plenamente de todos os aspectos da vida escolar. A Lei
Brasileira de Inclusão (LBI), aprovada em 2015, determina que o acesso de
crianças e adolescentes com deficiência à educação não pode mais ser negado,
sob qualquer argumento, tanto na rede pública quanto na privada. A lei proíbe,
ainda, a cobrança de qualquer valor adicional nas mensalidades e anuidades
para esse público.
86
Segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), 25,4
milhões de pessoas em 2017 foram forçadas a deixar suas comunidades e países
de origem, sendo consideradas refugiadas. Mais da metade desse contingente
era de crianças. Em contextos de deslocamento forçado ou migração, crianças
e adolescentes podem enfrentar vulnerabilidades específicas, com impactos
negativos de longo prazo para sua saúde física e mental.
Que medidas de atendimento são adotadas para crianças e adolescentes
migrantes?
Além de um atendimento prioritário, da sensibilidade na identificação, da
representação legal para os desacompanhados, a proteção e o referenciamento
especializado são essenciais, e devem estar sempre no melhor interesse da
criança e do adolescente.
Deve-se se assegurar que todos os atores envolvidos tenham
conhecimento das necessidades especiais no atendimento de crianças e
adolescentes, especialmente as medidas protetivas às crianças e adolescentes
migrantes, vítimas de tráfico de pessoas e refugiados, notadamente aquelas não
acompanhadas de responsáveis.
O direito a migrar é conferido pela Declaração Universal de Direitos
Humanos (art. 13.2). A obrigação de acolhida humanitária fixada na Lei de
Migração 13.445/2017 (art. 3º, VI). A necessidade de garantir o princípio da não
devolução aos solicitantes de refúgio está prevista na Convenção Relativa ao
Estatuto dos Refugiados (Decreto 50.215/1961) e na Declaração de Cartagena, de
1984, bem como a proteção internacional complementar ao refúgio estabelecida
na Lei 9.474/1997 (art. 32).
Outras normas ainda dispõem sobre o tema. Dentre elas: a Convenção
nº 169, da OIT, sobre Povos Indígenas e Tribais; a Resolução 01/2017, conjunta
entre CONANDA, Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), Conselho
Nacional de Imigração (CNIg) e Defensoria Pública da União (DPU), que
estabelece procedimentos de identificação preliminar e atenção para crianças e
adolescentes estrangeiros desacompanhados ou separados.
O fluxo migratório crescente em direção ao Brasil, que tem como principal
porta de entrada o estado de Roraima já se mostra presente em outros estados,
o que indica tratar-se de uma questão nacional.
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RECOMENDAÇÕES NORMATIVAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
1. Ao Sistema de Garantia dos Direitos, em nível estadual e municipal:
1.1. A busca ativa de crianças e adolescentes em situação de migração, bem
como de seus núcleos familiares;
1.2. A matrícula de crianças e adolescentes migrantes em escolas regulares; 1.3.
O desenvolvimento de ações de promoção dos direitos à alimentação saudável,
ao brincar, à convivência familiar e comunitária, à educação, ao lazer, à saúde;
1.4. O desenvolvimento de ações de prevenção de todas as formas de violência
contra crianças e adolescentes, especialmente o tráfico de pessoas, a exploração
sexual e o trabalho infantil;
1.5. Para a implementação das ações devem ser observados e preservados a
identidade cultural, etnia, hábitos e costumes, contemplando o público infanto-
juvenil, com relação a todas as políticas aplicadas e serviços executados.
2. Ao Poder Executivo federal:
2.1. O fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e
Adolescentes, a nível estadual e municipal, por meio da capacitação de seus
profissionais, especialmente conselheiros tutelares;
2.2. A priorização de crianças e adolescentes em situação de migração, bem
como de seus núcleos familiares, no âmbito das estratégias de interiorização
para estados.
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Estudo de caso:
89
ANEXO I – DOCUMENTOS REFERENCIAIS
91
Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema
de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD)
95
ANEXO II – REFERÊNCIAS DE FILMES E VÍDEOS
96
Requília – Renata Diniz (Brasil, 2013, 15’53”)
Um garoto de 7 anos se afeiçoa por um homem em situação de rua. O curta-
metragem traz a história dessa amizade inesperada entre personagens de
diferentes gerações e classes sociais.
97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
100