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São Paulo
2016
CLÁUDIA BRAGA DE LIMA
São Paulo
2016
CLÁUDIA BRAGA DE LIMA
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof. Dr. Fábio Caim, orientador
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
_________________________________________
_________________________________________
São Paulo
2016
Dedico este trabalho à pessoa mais
importante de minha vida, que hoje habita
apenas em minha memória e coração,
minha mãe.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12
1. A IMAGEM.......................................................................................................15
1.1. Os Paradigmas da Imagem.............................................................................17
1.1.1. O Paradigma Pré-Fotográfico..........................................................................17
1.1.2. O Paradigma Fotográfico.................................................................................19
1.1.3. O Paradigma Pós-Fotográfico.........................................................................21
1.1.4. A transição entre os Paradigmas.....................................................................23
1.1.5. O Quarto Paradigma da Imagem.....................................................................24
1.2. Fotografia Expandida.......................................................................................27
2. A IMAGEM PUBLICITÁRIA............................................................................34
2.1. A evolução visual dos anúncios – análise de peças........................................35
2.2. Estratégias da mensagem publicitária: Sugestão, Sedução e Persuasão......40
2.3. Os Paradigmas da Imagem na Publicidade....................................................47
2.3.1. O Paradigma Pré-Fotográfico..........................................................................49
2.3.2. O Paradigma Fotográfico.................................................................................50
2.3.3. O Paradigma Pós-Fotográfico.........................................................................52
2.3.4. O Quarto Paradigma da Imagem.....................................................................53
REFERÊNCIAS .........................................................................................................65
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INTRODUÇÃO
imagem, característica introduzida pelo Paradigma no qual ela faz parte: o Quarto
Paradigma da Imagem.
Visando discutir o papel da Fotografia Expandida dentro do universo
publicitário, a pesquisa tem como objetivo entender como os profissionais criativos
das agências de publicidade pensam as imagens deste universo e se, de fato, a
Fotografia Expandida é o principal método de produção de uma imagem que será
utilizada para fins publicitários.
Considerando o fato de que a Fotografia Expandida (e as demais imagens
híbridas presentes no Quarto Paradigma) possibilita uma maior flexibilidade no ato
de pensar a criação da imagem e, além disso, conta com uma abundante
quantidade de ferramentas e técnicas no processo criativo, é compreensível o seu
uso recorrente dentro do universo da publicidade.
A Fotografia Expandida dentro do universo publicitário foi escolhida como
tema desta pesquisa, por se tratar de um fenômeno recorrente e que cerca todos os
indivíduos. A Publicidade consegue refletir tendências, pensamentos,
comportamentos e demais características da sociedade em que se insere, então, tê-
la como parte do objeto da pesquisa é interessante para entender todo um cenário
ao redor. Além do mais, como fotógrafa e estudante de comunicação, a autora da
pesquisa entende que tal tema contribui para sua formação, visão e interesses
pessoais e profissionais.
A estrutura da pesquisa seguirá da seguinte maneira:
O primeiro capítulo conta com um apanhado teórico de diversos
estudiosos do campo da comunicação e da imagem, a fim de entender melhor o
conceito do que é imagem, seus paradigmas e problematizações através do tempo.
Tal estudo conta com o objetivo de introduzir o conceito de imagem de
forma ampla até chegar a um entendimento específico do que é imagem híbrida,
produto do Quarto Paradigma, mencionado por Santaella (2013). Tal apreensão
sobre a imagem híbrida e demais característica do Quarto Paradigma da Imagem
trazem à tona o conceito de Fotografia Expandida.
O segundo capítulo abrange a imagem dentro do universo publictário.
Para isso, esboça-se uma trajetória histórica que aborda os princípios da publicidade
no mundo e no Brasil, passando pelas diferentes formas de se utilizar as imagens
dentro dos anúncios publictários através do tempo. Em seguida, os Paradigmas da
14
1. A IMAGEM
1
Disponível em: <http://www.auladearte.com.br/#axzz3rP9ETngA>. Acesso em nov. 2015
17
esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais.” Para tais autores,
a relação entre estes dois domínios citados acima acontece da seguinte maneira:
Sendo assim, para que uma imagem seja transferida do mundo da mente
para o mundo material das representações visuais é preciso que um agente produtor
pense-as e as elabore em sua mente, em seguida faça uso da linguagem e de seus
códigos, sejam eles trabalhados nos suportes desenho, gravura, pintura, fotografia,
holografia, etc.
De acordo com a Santaella (2013) existem quatro maneiras de se pensar
essas imagens que agirão sobre o mundo visível, essas maneiras são propostas
pela autora como Pradigmas da Imagem, sendo eles: o Paradigma Pré-Fotográfico,
o Fotográfico, o Pós-Fotográfico e, por último, o Quarto Paradigma da Imagem.
Tal divisão ocorreu com base nos processos de produção das imagens,
que implica em mudanças signiticativas na maneira em que a imagem é produzida
dentro de cada Paradigma. O Pré-Fotográfico corresponde à todas as imagens que,
para existirem, dependem da habilidade manual e artesanal do indivíduo, como os
desenhos, pinturas e gravuras. O Paradigma Fotográfico corresponde à todas as
imagens que são capturadas através da mediação de um aparelho, como a
fotografia, cinema, holografia, entre outras. Já o terceiro Paradigma, o Pós-
Fotográfico diz respeito às imagens infográficas, provindas de matrizes de códigos
numéricos de computação, tendo como base os pixels. Por fim, tem-se o Quarto
Paradigma, onde ocorre a hibridização da imagem decorrente das mitsuras entre os
Paradigmas anteriores.
Fonte: Gravuraia 2
2
Disponível em <https://gravuraia.wordpress.com/>. Acesso em 11/05/2016.
19
Fonte: Behance 3
3
Disponível em: <http://www.behance.net/gallery/37080031/Mana-e-Gaya >. Acesso em 11/05/2016.
20
Figura 4 – “Woman carrying luggage accompanied by a small boy, Israel, 1949” – Robert
Capa.
4
Disponível em: < http://theredlist.com/wiki-2-16-601-795-view-war-reporting-photojournalism-profile-capa-
robert.html >. Acesso em 11/05/2016.
22
Fonte: Planwallpaper 5
5
Disponível em: <http://www.planwallpaper.com/abstract-wallpapers>. Acesso em 11/05/2016.
23
6
Disponível em < http://www.templodeatena.com/View/Arte/Melhores/Default.cshtml/6>. Acesso em nov.
2015.
25
7
Disponível em <http://www.lightfarmbrasil.com/br/imagem/fantasia/harmful-nature/>. Acesso em 12/05/2015.
26
8
Disponível em <http://www.lightfarmbrasil.com/br/imagem/fantasia/mitsubishi-pajero-tr4/>. Acesso em
12/05/2015.
27
Fonte: Facebook 9
9
Disponível em
<https://www.facebook.com/RobertoHungerFotografia/photos/a.595462973854391.1073741869.503724036361
619/1026816730719011/?type=3>. Acesso em 13/05/2016.
30
Fonte: Behance 10
Acima, temos uma imagem de base fotográfica, porém com uma cena
impossível de se capturar no mundo visível. A Fotografia Expandida consiste
exatamente nisso: imagens que utilizam a linguagem da fotografia com uma pitada
de manipulação e interferência, até mesmo para criar situações impossíveis.
O argentino diretor de arte e designer, De Pasquale, produz suas imagens
de acordo com o terceiro nível de intervenção, já mencionado acima: a interferência
10
Disponível em <https://www.behance.net/gallery/7876159/Shadows>. Acesso em 12/04/2015.
31
Fonte: Behance 11
11
Disponível em <https://www.behance.net/gallery/8951811/Karma>. Acesso em 12/04/2015.
32
12
Portal Instagram, Celebrating a Community of 400 Million. Disponível em:
<http://blog.instagram.com/post/129662501137/150922-400million>. Acessado em 19 de abril de 2016.
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Fonte: Instagram 13
13
Disponível em: < https://www.instagram.com/p/BEWuPUVlu4E/>. Acessado em 11 de maio de 2016.
34
2. A IMAGEM PUBLICITÁRIA
14
Encontrado em “A Evolução do Texto Publicitáro”, João Anzanello Carrascoza, Editora Futura, 2003, p. 78
15
Ibid.
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16
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 28 de abril de 2016.
37
17
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 28 de abril de 2016.
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corpo pelo corpo. O contexto em que a modelo se encontra não diz respeito à um
cenário lúdico ou composto de intensas interpretações, sendo apenas um ambiente
vazio com uma poltrona de couro.
Ao nos depararmos com o anúncio, o que mais chama a atenção é a
modelo em si, seu corpo e as roupas, sendo que nossa percepção não é levada a
acreditar que haja alguma história complexa por trás desses elementos. Ou seja, os
elementos contidos no anúncio simplesmente remetem formalmente aos elementos
do mundo visível, sendo que a modelo, seu corpo e as próprias roupas estão no
anúncio representadas de maneira que a forma seja igual ao que está no mundo
visível, fora da imagem. Neste sentido, podemos afirmar que os elementos
funcionam como ícones e o anúncio traz um caráter predominantemente icônico, ou
seja, representa aquilo que é por semelhança ao objeto referente, usando para isso
qualidades.
Abaixo, temos o anúncio da marca de jóias H.Stern, onde a imagem de
duas mulheres ocupa inteiramente a página dupla da revista. Os únicos elementos
textuais são o site e o telefone da empresa, no canto superior esquerdo e o logo da
marca com o slogan, no canto inferior direito. Embora o anúncio seja referente à
pulseiras, anéis, brincos e colares, nota-se que tais acessórios nas modelos não
estão sendo evidenciados como plano principal do anúncio. Infere-se, através dos
signos presentes na imagem, que as duas mulheres estão em uma balada, devido
aos pontos de luz nos cabelos, de seus corpos aparentemente em movimento e, ao
fundo, várias mãos levantadas. São índices que estão apontando para uma situação
fora da peça, que nos faz crer que seja uma balada. Essas informações não estão
escritas ou sinalizadas no anúncio e sim, indicadas através de certos elementos.
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Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 30 de abril de 2016.
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Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 10 de maio de 2016.
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Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 10 de maio de 2016.
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Um homem com uma feição tranquila e segura, com olhos carrados pelo
sol, vestindo belos trajes e um relógio chamativo, dentro de um carro de luxo, numa
paisagem de campo em um dia ensolarado. Todos estes elementos estão presentes
no anúncio, mesmo que de forma sutil – não vemos o sol, nem o carro por completo,
nem a paisagem como plano principal, mas existem alguns elementos que sugerem
e indicam isso. O anúncio tem por objetivo afirmar que ao adquirir o produto da
marca, o consumidor automaticamente estará adquirindo aquele estilo de vida. Isto
é, comprar o produto (a ação) faz com que o indivíduo pertença a um grupo que
possui aquele estilo de vida (a reação). É exatamente neste ponto em que a
sedução se faz predominantemente presente no anúncio: o ato da compra ganha
corpo no estilo de vida que o produto ofecere.
Enquanto que a sugestão opera no campo das incertezas, do indefinido e
das suposições; a sedução consiste em despertar o desejo e predisposição para a
atitude e ação; a persuasão “caminha pelos trilhos do argumento” (ibid, 2010, p. 95).
Portanto, a persuasão se relaciona a terceiridade uma vez que comporta leis e
generalidades, que realiza a mediação pelo que foi convencionado e acordado
intelectualmente. A persuasão argumenta e convence, através da racionalidade.
21
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 10 de maio de 2016.
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Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 10 de maio de 2016.
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aquela velocidade. Sendo assim, o ato de comprar o carro ganha corpo no momento
em que transporta, quase que imediatamente, o indivíduo para uma ocasião
daquelas: aventura, velocidade, cenário noturno.
Enquanto isso, a persuasão reside nos argumentos do anúncio. Nos
textos presentes do lado inferior esquerdo estão os diversos prêmios/títulos que a
marca já ganhou. Ou seja, através da quantidade de prêmios conquistados, a marca
objetiva convencer o consumidor de que ela é a escolha certa para adquirir. Sendo
assim, a marca faz uso de argumentos e elementos racionais para transmitir e
conseguir o que quer.
Este anúncio exemplificou como as três estratégias da mensagem
publicitária – sugestão, sedução e persuasão – conseguem andar juntas e em
harmonia.
A publicidade carrega tais estratégias em seus discursos com o objetivo
de captar a atenção do receptor e fazer com que ele realize, por vontade e impulso
próprios, determinadas ações especificas. É neste sentido que Chiachiri (2010, p. 8)
fala da força publicitária
imagem híbrida do Quarto Paradigma possibilitará que este cenário desejado seja
inserido na pós-produção, através de elementos 3D, por exemplo.
São inúmeras as situações em que a utilização da imagem híbrida
perante os outros tipos de imagem é vantajosa e necessária dentro do universo
publicitário, seja para suprir uma necessidade do clima, como na situação descrita
acima, ou para acrescentar elementos não existentes à cena (que não são possíveis
de serem captados com uma câmera fotográfica), ou então, por limitações regionais,
por exemplo, ao acrescentar uma pessoa em meio a um campo de trigo em uma
região onde não há essa vegetação, poupando o deslocamento da equipe até a
região adequada e diminuindo custos.
Mesmo a imagem do Quarto Paradigma sendo a mais recorrente no
universo publicitário, abaixo podemos ver diferentes situações onde é possível
observar como a imagem fruto de cada Paradigma está inserida dentro da
Publicidade.
23
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 18 de maio de 2016.
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24
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 18 de maio de 2016.
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Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 19 de maio de 2016.
54
26
Acervo digital da revista Veja. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/complemento/acervodigital/index-
novo-acervo.html>. Acessado em 19 de maio de 2016.
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27
A transcrição das entrevistas se encontra nos apêndices “A” e “B”, ao final da pesquisa.
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Disponível em: <http://cargocollective.com/gushs>. Acessado em 27 de março de 2016.
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“o ambiente meio escuro remete um pouco à isso... A luz da cena remete à essa
questão do glamour” (Henrique, 2016).
Em relação à composição da cena, Gustavo conta que a foto do carro não
foi produzida por eles, porém, tiveram que intervir e colocar, por meio da pós-
produção, o chão quadriculado e os pneus ao fundo. O publicitário também fala
sobre o aspecto fotográfico que a imagem apresenta ao afirmar que “(...) por mais
que a imagem tenha sido construída, parece uma foto. Parece que alguém foi lá e
tirou essa foto” (ibid, 2016). Nisso, podemos ver a característica da Fotografia
Expandida presente na imagem.
Ainda em relação à escolha estética da imagem, o publicitário afirma que
foi escolhida uma Fotografia, mesmo que Expandida, em detrimento a um desenho,
por exemplo, devido ao fato que:
Carros são assim como comida. No caso da comida, a gente precisa ter a
vontade de comer, precisamos sentir um apetite appeal... E carro tem que
ter um pouco disso, a gente precisa ver o brilho, a cor metálica e bonita, as
luzes.... E o desenho já não traz isso, por exemplo. O 3D, hoje em dia, é
muito bom, mas a fotografia ainda é perfeita para isso. (ibid, 2016)
Gustavo, conta também que, se for preciso, ele faz algumas fotos com a
finalidade de “briffar” o fotógrafo que vai realizar a foto oficial para a campanha, ou
seja, ele e sua equipe na agência fazem uma foto provisória para que o fotógrafo
contratado veja quais são as diretrizes a serem seguidas para a obtenção da
imagem planejada.
A respeito da fusão de imagens (quando é preciso justapor e mesclar
mais de uma imagem para obter uma única final), Gustavo (2016) explica que é uma
prática muito comum dentro da publicidade, principalmente pelo fato de que “tem
ideia que, às vezes, é impossível de se fazer em uma foto, um lugar que é
impossível de chegar e aí a gente opta pela fusão”. Além disso, ele também aponta
um fator muito relevante para a intensa prática da fusão dentro desse universo, que
é a grande quantidade de dinheiro que envolve a criação de uma campanha. Por
conta disso, Gustavo (2016) relata que “a gente não limita o pensamento. A gente
imagina qualquer coisa e qualquer coisa pode ser feita”. Isso quer dizer que, pela
necessidade de captar a atenção do consumidador, além da obrigação com a
criatividade que a mensagem publicitária requer, somado à grande quantidade de
dinheiro destinada à criação das campanhas, o processo criativo do publicitário não
se limita e, sendo assim, o profissional pode planejar qualquer situação e se valer da
Fotografia Expandida ou mesmo da imagem híbrida do Quarto Paradigma da
Imagem para obter o resultado desejado.
Abaixo, temos a campanha publicitária para a marca K-Y Gel, fabricante
de lubrificantes íntimos. Desenvolvida pelo diretor de arte Ulisses Razaboni, a
campanha traz como conceito criativo o termo “Love Machine”, a máquina do amor.
O publicitário conta que, para a criação da imagem, houve uma busca por
uma “máquina meio enferrujada e que quando você coloca o produto, volta a
funcionar. O resultado dessa máquina voltar a funcionar é a metáfora do sexo”
(Razaboni, 2016), ou seja, nada explícito ou vulgar, a intenção era trabalhar com o
humor, característica do posicionamento da marca.
Quer dizer, a metáfora como um recurso imagético é relevante para
aguçar o desejo do consumidor/leitor do anúncio através da estratégia da sedução e
sua característica de ação/reação, pois ele compreende que a ação de adquirir o
produto proporciona como reação, o sexo. Além disso, temos também a presença da
estratégia de persuasão, já que a expressão “molhar o biscoito” é de conhecimento
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popular e funciona como a mediação para uma outra ideia fora da frase em si, ou
seja, “molhar o biscoito” evoca “transar”.
Ulisses conta que a inspiração para a criação estética dessa imagem veio
de uma tendência chamada Steam Punk30, encontrada no filme “A invenção de Hugo
Cabret”, por exemplo. O diretor de arte explica que:
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Disponível em: < http://ulissesrazaboni.com/>. Acessado em 26 de março de 2016.
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Steam punk é considerado um subgênero da ficção científica especulativa, situado no contexto da era
Vitoriana.
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A gente assiste filmes como “Os Vingadores” ou qualquer outro que exige
muito 3D e muita coisa real e sabe que aquilo é falso mas, você olha um
prédio explodindo e se pergunta “Caramba, como eles fizeram isso? Será
que fizeram isso mesmo?” (ibid, 2016)
O criativo também fala do quanto este recurso facilita seu trabalho, por
mais que ele procure realizar a imagem em apenas um único click.
Você tem o fundo, a modelo e, óbvio que você faz umas fotos dela em
várias posições para depois escolher a melhor, às vezes a mão de uma
ficou melhor com o corpo da outra e você faz a fusão, não tem problema. O
que importa é você não perder a integridade do que você quer passar. (ibid,
2016)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
desejo. Nesse caso, a Fotografia Expandida é muito usada pelo universo publicitário
justamente por conta de sua característica: intervir na imagem sem perder a áurea
fotográfica que ela possui. Uma vez que a fotografia, mesmo não possuindo
comprometimento com a realidade do mundo visível, ainda consegue evocar a
tradição de conter traços do real, do que é visível e, principalmente, alcançável pelo
observador. Quando se trata de sedução, a Fotografia Expandida tem o poder de
seduzir o receptor da mensagem e fazê-lo acreditar no que vê na imagem, ou seja,
ele vê algo que aparenta estar em seu alcance e, logo, entende que a aquisição do
produto traz também o estilo de vida (e outros fatores intangíveis) prometido pelo
anúncio. Nisso, consiste a característica de ação/reação da estratégia de sedução.
Embora não haja um discernimento nítido entre os profissionais criativos
das agências de publicidade acerca de um pensamento teórico a respeito das
imagens e seus diferentes tipos, é perceptível que tais profissionais pensam as
imagens presentes em seus anúncios através da lógica de produção da imagem do
Quarto Paradigma, principalmente da Fotografia Expandida. Ou seja, é sabido e
aceito por eles a questão das infinitas possibilidades de técnicas e ferramentas
disponíveis que possuem ao optar por este caminho no momento do processo
criativo. Isso quer dizer que eles sabem que podem contar com as infinitas técnicas
e, assim, conseguir fomentar um pensamento livre das amarras encontradas nos
outros Paradigmas propostos por Santaella (2013). Deste modo, conclui-se que a
Fotografia Expandida e todas as imagens híbridas, que são fruto do Quarto
Paradigma da Imagem, habitam o imaginário do profissional criativo como
importantes recursos para obtenção do resultado planejado no que diz respeito à
imagens para anúncios publicitários. Além disso, são imagens que povoam
intensamente nosso cotidiano, seja na esfera virtual dos territórios das mídias
sociais e da internet no geral, ou no mundo concreto, através de diversos meios de
comunicação “off-line”, ou mesmo em qualquer lugar que o indivíduo está inserido,
afinal, ele é intensamente e obrigatóriamente cercado por imagens.
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REFERÊNCIAS
VIANA, Fábio Caim. Garoto Bombril: semiose da identidade midiática. São Paulo,
2002 (Dissertação de Mestrado apresentada no programa de mestrado da Cásper
Líbero).
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Data: 19/04/2016,
Local: Agência Santa Clara, Vila Madalena, São Paulo – SP.
Entrevistadora: Cláudia Braga.
Entrevistado: Gustavo Henrique. Publicitário, trabalha na Agênica Santa Clara há 1
ano e 4 meses e hoje assume a função de Assistente de Arte. Graduado em
Propaganda e Marketing pela FACAMP – Campinas, SP.
CB: Você disse que posta poucas fotos no instagram, mas quando você posta
é no intuito de registro ou mais pela questão estética da imagem?
GH: É pra registrar, é alguma coisa que me chamou muita atenção e que eu quero
que fique registrado. É mais para registro do que por uma questão estética.
CB: Como funciona seu processo de criação? Após chegar o brieffing, quais
os próximos passos?
GH: Aqui na Santa Clara a gente tem o esquema de grupo. Chega um projeto para o
grupo, e nele tem o DA (diretor de arte), mídia, planejamento. Nisso a gente
destrincha (o projeto) para cada setor responsável. Chegou uma campanha pra
fazer, o planejamento dá uma olhada, depois ele manda os insights (para a criação)
e a partir disso, a gente cria o esboço e depois de aprovado a gente transforma em
uma coisa mais visual.
Em seguida, é hora de ver muita referência. Eu, particularmente, busco muita coisa
fora da publicidade, . Através do Behance, Pinterest, links que salvei nos
meus favoritos. Coisas que não são conteúdo publicitário, como design, na arte...
CB: Se precisar utilizar uma imagem nesse anúncio (a ser cirado), como
funciona o processo de escolha dessa imagem, se vai ser uma foto, um
desenho... ?
GH: Isso depende muito da marca pra quem a gente está trabalhado, ela já tem um
histórico, que nos dá um norte. Também tem que adequar à ideia... Às vezes a
gente precisa de uma interpretação, mas não tem dinheiro e a campanha não
comporta o filme. Nisso vamos para o 3D, que é mais barato, por exemplo.
CB: E em caso de peças que utiizam mais a fotografia... Como é? Vocês tem
um fotógrafo aqui? Vocês contratam?
GH: A gente não tem fotógrafo aqui e nesse caso o que a gente faria: buscaria
referências para fazer um moodboard, com fotos que a gente acredita na iluminação,
no foco, essas coisas... E então a gente faz um layout com mais ou menos aquilo
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que a gente imagina que deve ser a foto. Nisso, a gente contrata uma produtora ou
fotógrafo e eles fazem essa foto.
CB: E depois que essa imagem veio do fotógrafo, por exemplo, vocês realizam
algum tipo de interferência? Ou ela chega geralmente pronta?
GH: A gente contratou um fotógrafo e ele tem uma equipe, depois de feito o click
essa equipe dá uma mudada na foto, uma adequada, alguma coisa assim. Se isso
não estiver de acordo com o que a gente imagina, se tem uma sombra, uma luz que
a gente falou “- não é isso!”, daí volta e vai retrabalhando até chegar onde a gente
quer. Se essa foto precisa de uma fusão, a gente manda pra uma produtora ou é a
própria equipe da agência que faz essa fusão, e nesse caso a gente faz o
direcionamento para o que a gente quer.
CB: A ideia da fusão vai de vocês? Se for preciso que tenha um elemento na
imagem que ali não existe...
GH: Sim. Provavelmente nós iremos “layoutar” isso antes. E colocar o elemento no
layout, nós fazemos. Falando assim parece que a gente quer uma coisa pronta e
não é assim. A gente precisa muito do olhar do fotógrafo. Semana passada fui
acompanhar um trabalho em Ribeirão Preto, de fotos para social media de uma
marca. Nós fizemos vários layouts de como a gente queria a foto e, chegando lá,
não tinha uma foto específica. Vai muito do olhar do fotógrafo.
CB: É comum acontecer a fusão? Como vocês pensam isso? É algo cotidiano?
GH: Sim, é uma coisa comum. Depende muito da ideia, tem ideia que, às vezes, é
impossível de se fazer em uma foto, um lugar que é impossível de chegar e aí a
gente opta pela fusão. O ponto é, por conta até da grande quantidade de dinheiro
que envolve a propagande de modo geral, a gente não limita o pensamento. A gente
imagina qualquer coisa e qualquer coisa pode ser feita.
70
CB: Me fale um pouco sobre esta peça que você criou (mostra a peça).
GH: É uma peça que eu fiz para um concurso, na verdade. É uma ação que a gente
propôs e a peça serve para as pessoas imaginarem como seria essa ação. Uma
ação do Mini Cooper, onde eles lançariam um aplicativo que falaria tudo sobre o
carro. É um aplicativo à parte, lançado depois que o carro foi vendido. Não vinha
com o carro. Daí vem a ideia de recall.
Data: 20/04/2016
Local: Agência LewLara\TBWA, Pinheiros, São Paulo – SP.
Entrevistadora: Cláudia Braga.
Entrevistado: Ulisses Razaboni. Publicitário, atua há 19 anos no mercado e já
passou por agências como AlmapBBDO e DM9DDB. Desde 2014 é Diretor de Arte
da Agênica LewLara\TBWA. Formado em Publicidade e Propaganda pela
Panamericana Escola de Arte e Design – São Paulo, SP.
imagens são manipuladas. Não tem jeito. E tudo bem! Óbvio que existem órgãos
regulamentadores do quanto você pode fazer essa manipulação. Eu fiz muito
(anúncio para) O Boticário e sempre tinha um limite do quanto você podia alterar no
rosto de uma pessoa para que ela não fique com uma beleza inatingível. Hoje está
até mais restrito, o que é bom. Mas também acho que hoje, a buca pelo real está
maior. E isso é bom, porque você não precisa ter aquele compromisso com a
perfeição.
CB: Você já teve que trabalhar com a fusão porque não tinha como conseguir
o cenário com um click só, por exemplo?
UR: Já, várias vezes. Várias vezes tivemos que fazer isso. Eu uso muito o 3D para
fazer as fusões. Uma vez eu fiz um trabalho para a KY...
CB: Sim, este aqui (mostra a peça). Poderia comentar um pouco sobre?
UR: Este trabalho é inteiro feito em 3D, com exceção da mão com o produto. E por
incrível que pareça a gente teve esse brieffing de KY, e foi muito legal para falar de
sexo de um jeito não explícito e óbvio, além de um jeito bem humorado, que é como
a marca se posiciona. Então fomos atrás de criar uma máquina que fosse a “Love
Machine”, a máquina do amor. O termo “Love Machine” é muito usado em músicas.
É uma coisa que já é do conhecimento das pessoas. A nossa busca foi pelo
seguinte “Como é essa máquina? Será que é uma máquina super erótica, cheia de
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órgãos sexuais?” E a gente achou que não. O que a gente tinha que fazer, na
verdade, era uma máquina meio enferrujada e que quando você coloca o produto,
volta a funcionar. O resultado dessa máquina voltar a funcionar é a metáfora do
sexo. Aí que entra o “molhar o biscoito”, “afogar o ganso”. A inspiração dessa
máquina veio de uma coisa que eu gosto muito que são aquelas coisas do gênero
Steam Punk, estilo (o filme) Hugo Cabret. São aqueles maquinários bem bonitos e
detalhados. É a máquina bonita pela engrenagem e não por fora. Então a gente se
baseou nisso para fazer uma máquina completamente maluca que fizesse, no final,
você “afogar o ganso”.
A mão e o produto são fotos e a máquina é toda 3D. Tem muita textura aqui (na
máquina) que é fotografada, principalmente a textura do metal. Então o que a gente
faz: fotografamos uma chapa de metal e usamos essa textura para modelar as
engrenagens.
CB: A intensão é você olhar para a máquina e ela parecer uma foto?
UR: Completamente. A intensão é que pareça real. O 3D foi feito pelo Marcos César
e a foto foi o Sérgio Prado. O Marcos César é um ilustrador 3D muito obstinado e,
segundo ele, se você visse essa máquina realmente, ela funcionaria. Ele fez o
máximo possível para que ela fizesse sentido, parafuso por parafuso.
A gente assiste filmes como “Os Vingadores” ou qualquer outro que exige muito 3D
e muita coisa real e sabe que aquilo é falso mas, você olha um prédio explodindo e
se pergunta “Caramba, como eles fizeram isso? Será que fizeram isso mesmo?”.
Então sempre surge uma curiosidade. Às vezes, uma ilustração mais simples já te
entrega a resposta. Um 3D bem feito e uma fusão com uma foto faz surgir a dúvida
de como aquilo foi feito.
CB: E quando você posta alguma coisa, é para a finalidade de registro ou mais
numa função estética da imagem?
UR: Total registro! Apenas registrar o momento. Até mesmo quando eu viajo, tenho
levado menos câmeras e feito registros menos estéticos e mais para mim. Com
todas as possibilidades de você se expor e mostrar onde você está, eu sinto que
cada vez menos eu uso isso. Eu gosto de ver o momento com os meus olhos e usar
(a tecnologia fotográfica) muito mais para um registro “- Eu estive aqui.”
Tenho uma Nikon semi-profissional e também uma Lomo (Lomography) que eu uso
mais para me divertir. Faz uns 6 ou 7 meses que eu não uso ela, porque está sem
filme, mas a “Lominha” é sempre boa para você ter perto. Estéticamente ela é muito
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difícil! A gente está tão acostumado com os visores, com filtros e tal e a Lomo você
tem o filtro nela, na gelatina que você coloca no flash.
CB: Em qual momento você usa a Lomo (analógica) e qual momento você usa
a Nikon (digital)?
UR: A Nikon eu uso pra viajar, às vezes ela fica um pouco guardadinha poque é
mais pesada. E a Lomo eu uso em finais de semana por aqui (São Paulo), porque
ela é fácil de transportar. Com a finalidade totalmente de registro. Tem uma coisa do
filme (fotográfico) que é o seguinte: você tem poucas poses, então a tendência é que
seu filtro seja melhor. Se eu for fazer uma foto de uma cena, eu não vou bater 5
fotos com a Lomo, vou bater 1 e com a digital pode ser que eu bata mais.