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APRESENTAÇÃO ORAL
Resumo
O extrativismo do pó de carnaúba gera emprego e renda no campo, contribuindo para a
redução da pobreza no Nordeste brasileiro. No entanto, os extrativistas são dependentes de
financiamento para capital de giro para viabilizar a atividade no Piauí. O objetivo geral do
estudo é analisar a evolução do financiamento do extrativismo do pó de carnaúba no Piauí no
período de 2007-2012, operacionalizado pelo BNB com recursos do FNE. Especificamente,
objetiva-se analisar o total das operações e valores financiados pelo FNE Rural e por agências
do BNB nos municípios piauienses para o extrativismo do pó de carnaúba e identificar a taxa
de crescimento do financiamento. A base da pesquisa foram estudos realizados sobre a cadeia
produtiva da carnaúba e sobre a política de crédito rural do Brasil e levantamento de dados
secundários no sítio do IBGE sobre o número de operações, os valores de financiamento do
BNB e quantidade produzida de pó cerífero no Piauí. Para a análise gráfica e tabulação dos
valores financiados fez-se deflação, utilizando o índice de preços IGP-DI. Os resultados
indicaram que os recursos financeiros aplicados no setor extrativo da carnaúba concentraram-
se nos municípios de Esperantina, Piripiri e Floriano e teve ligeira elevação no número de
operações e valor total financiado no Piauí, considerando o período de 2007 a 2012.
FNE Rural Program: funding of carnaúba powder extractivism in Piauí during the
period from 2007 to 2012
Abstract
The Extractivism of carnaúba powder creates employment and income in rural areas,
contributing to poverty reduction in Northeast Brazil. However, the extractivists are
dependent on funding for working capital to enable the activity in Piauí. The overall aim of
this study is to analyze the evolution of the funding for carnaúba powder extractivism in Piauí
during the period 2007-2012, operated by BNB with FNE funds. Specifically, it was aimed to
analyze the total operations and amounts funded by Rural FNE and BNB agencies in Piauí
municipalities for the carnaúba powder extractivism and to identify the growth rate of the
funding. The basis of the survey were studies about the carnaúba production chain and rural
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credit policy in Brazil and secondary data were collected on IBGE website about the number
of operations, the values of BNB funding and the amount of carnaúba wax powder produced
in Piauí. For graphical analysis and tabulation of the values financed it was produced
deflation, using the IGP-DI price index. The results showed that the financial resources
invested in the carnaúba extractive sector were concentrated in the municipalities of
Esperantina, Piripiri and Floriano and it had a slight increase in the number of operations
and in the total amount funded in Piauí, during the period from 2007 to 2012.
Key words: Rural credit policy, Extractivism, Carnaúba.
1. INTRODUÇÃO
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articulados – órgãos oficiais de valorização regional e entidades de prestação de assistência
técnica (BANCO DO BRASIL, 2004).
A política de crédito rural no seu primeiro momento, 1965-1980, enfatizou a
modernização tecnológica da agricultura e, consequentemente, o desenvolvimento do parque
produtivo para a indústria de insumos agrícolas e a consolidação das agroindústrias
processadoras (DAVID; CORRÊA, 2002; BITTENCOURT, 2003). Isso favoreceu a
concentração de terra e renda, beneficiando um pequeno número de proprietários. E deixou de
priorizar os pequenos agricultores, não contribuindo para reduzir a pobreza rural. Segundo
Bittencourt (2003), o SNCR, na década de 1960, beneficiou alguns produtos, regiões e
categorias de produtores. Deste modo, o SNCR contribuiu para aumentar a concentração de
renda e as desigualdades regionais. Jayme Júnior e Crocco (2005) explicam, de maneira geral,
que:
O FNE foi criado em 1988 através da Constituição Federal e regulamentado pela Lei
Nº 7827, de 27 de setembro de 1989. Seu objetivo é contribuir para o desenvolvimento
econômico e social do Nordeste, através da execução de programas de financiamento aos
setores produtivos, possibilitando a redução da pobreza e das desigualdades (BNB, 2012).
Além da região Nordeste, o FNE atende também o norte dos estados do Espírito Santo e
Minas Gerais, incluindo os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.
O Fundo constitui um instrumento de política pública federal, com dotação de recursos
federais, operada pelo Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB) com a finalidade de atender a
um objetivo fundamental da Constituição Federal, constante em seu artigo 3º e inciso III, que
diz “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
Contudo, o estudo de Almeida Junior, Silva e Resende (2008), ao relacionarem as
liberações do FNE por Estado com o PIB per capita e com o Índice de Desenvolvimento
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Humano (IDH), mostra que as liberações de recursos desse fundo não são movidas pelo seu
principal objetivo, a redução das desigualdades regionais, mas sim pela demanda.
Segundo Almeida Junior, Silva e Resende (2008), o FNE é o fundo que detém maior
volume de recursos dentre os três fundos constitucionais de financiamento. A principal fonte
de recursos para os fundos constitucionais provem dos repasses do Tesouro Nacional, através
do Ministério da Integração Nacional, aos bancos. No Gráfico 1 tem-se a evolução dos
recursos anuais repassados pelo Tesouro Nacional para os fundos constitucionais no período
de 1994 a 2005.
Gráfico 1 - Recursos anuais repassados pelo Tesouro Nacional para os fundos constitucionais no período de
1994-2005.
Fonte: ALMEIDA JUNIOR; SILVA; RESENDE (2008). Dados básicos do Ministério da Integração Nacional.
Almeida Junior, Silva e Resende (2008) analisaram que, ao longo desse período,
apenas nos anos de 1996 e 2004 as aplicações de recursos do FNE superaram os repasses do
Tesouro Nacional e que após 1998 até 2002 houve redução significativa das aplicações dos
recursos em consequência de dois fatores:
Gráfico 2 – Total de operações contratadas e valores financiados com recursos do FNE no Piauí, destacando o
setor produtivo rural (valores correntes em mil R$) – período 2003 a 2008.
3. Procedimentos Metodológicos
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agências do BNB-PI, que são Campo Maior, Piripiri, Picos, Parnaíba, Esperantina, Floriano,
Oeiras e Teresina, conforme podem ser visualizadas no Mapa 1.
Mapa 1 – Piauí: área de financiamento do FNE Rural pelas agências do BNB-PI para o extrativismo do pó de
carnaúba.
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É importante conceituar o termo extrativismo e definir o que é o extrativismo do pó de
carnaúba. Em termos gerais o extrativismo é definido como toda atividade de coleta de
produtos naturais, sejam estes produtos de origem animal, vegetal ou mineral, os produtos são
retirados de seu meio natural por meios que dispensam as atividades e os custos de cultivo
prévio. Contudo, com o progresso tecnológico e as mudanças ocorridas nas instituições e nas
culturas, atualmente o extrativismo não é mais conceituado como a simples coleta de
recursos. O termo ganhou outra conotação, sendo denominado de neoextrativismo que na
dimensão econômica “promove um salto de qualidade pela incorporação de progresso técnico
e envolve novas alternativas de extração de recursos associadas com cultivo, criação e
beneficiamento da produção” (RÊGO, 2009). No entanto, o conceito de extrativismo que mais
se adequa a este estudo é o conceito de extrativismo vegetal definido pelo IBGE, que de modo
mais abrangente inclui os termos racionalidade e sustentabilidade, partindo do pressuposto
que os agentes da sociedade são racionais e preocupam-se com a perpetuação dos produtos
para a posteridade. O extrativismo vegetal é:
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Esta modalidade de crédito tem por objetivo promover o desenvolvimento da
agropecuária e do setor florestal, com a observância da legislação ambiental e o consequente
incremento da oferta de matérias-primas agroindustriais através: 1) do fortalecimento,
ampliação, modernização da infraestrutura produtiva dos estabelecimentos agropecuários e
florestais; 2) de diversificação das atividades e 3) do melhoramento genético de rebanho e
culturas agrícolas em áreas selecionadas (BNB, 2012).
O público-alvo é constituído de produtores rurais, cooperativas e associações de
produtores rurais. E o prazo do financiamento é fixado de acordo com o ciclo de cada
atividade ou lavoura, observando os prazos máximos: até dois anos para o custeio agrícola e
custeio de beneficiamento ou industrialização; até um ano para custeio pecuário e até oito
meses para o custeio da extração do pó de carnaúba.
São cobradas taxas de juros diferenciadas dos produtores, sendo 5% a.a. para os
miniprodutores, suas cooperativas e associações; 6,75% a.a. para pequenos produtores, suas
cooperativas e associações; e 7,25% a.a. para pequenos-médios produtores, suas cooperativas
e associações. Os bônus de adimplência também são diferenciados, de acordo com a
localização dos empreendimentos, consistindo em 25% sobre os empreendimentos localizados
na região semiárida e em 15% para empreendimentos localizados fora do semiárido (BNB,
2011).
Os empreendimentos do extrativismo do pó de carnaúba estão localizados tanto na
região do semiárido quanto fora dela. Os municípios de Picos e Oeiras estão situados no
semiárido e os municípios de Parnaíba, Esperantina, Piripiri, Campo Maior, Teresina e
Floriano situam-se fora da região semiárida.
No período de 1998 a 2006 o BNB aplicou R$ 9 milhões na cadeia produtiva da
carnaúba nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte para aquisição isolada de
matéria-prima e insumos, custeio, investimentos fixos e semifixos e investimento rural
(ALVES; COÊLHO, 2008). Nesse período o Estado que deteve mais financiamento foi o
Piauí seguido do Ceará e Rio Grande do Norte, respectivamente.
Isto se justifica porque o Piauí é o estado onde há maior quantidade de extração de pó
cerífero e também concentra mais empresas industriais de cera de carnaúba que o Ceará. Na
Tabela 1 têm-se os valores dos financiamentos do extrativismo do pó de carnaúba contratados
pelas agências do BNB/Piauí por municípios, no período de 2007-2012.
Durante este período, 2007-2012, o município que deteve mais financiamento foi
Esperantina com 38,29% do total dos recursos e com 103 operações, seguido de Piripiri com
20,21% dos recursos e 37 operações, Floriano com 19,69% dos recursos e 40 operações, Picos
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com 8,72% dos recursos e 40 operações, Parnaíba com 7,54% dos recursos e 13 operações,
Oeiras com 4,58% dos recursos e 12 operações, Campo Maior com 0,95% dos recursos e 15
operações e Teresina com 0,02% e 1 operação. No Gráfico 3 tem-se o valor total do
financiamento por municípios no período de 2007-2012.
Gráfico 3 – Valor total do financiamento do extrativismo do pó de carnaúba por municípios no período de 2007-
2012.
Nos chama atenção o município de Esperantina por ter maior participação no valor
total do financiamento e do maior número de operações, isso porque esse município não é
onde se encontra a maior produção de pó cerífero. Ao contrário, dentre esses municípios é
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onde se tem menor produção, conforme se pode observar no Gráfico 4 a quantidade em
toneladas de produção de pó de carnaúba.
Gráfico 4 – Quantidade de pó de carnaúba produzido nos municípios onde se localizam as agências do BNB PI,
no período de 2007-2011.
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cerífero e identificaram que apenas uma pequena parcela de trabalhadores estava vinculada a
sindicatos ou associações de trabalhadores rurais e de moradores.
O município de Campo Maior se destaca entre os demais pelo maior volume
exportado de cera de carnaúba, constituindo um centro da cadeia produtiva onde o industrial e
os donos de armazéns estão articulados no sentido financiar o custeio da extração do pó
cerífero, consistindo numa base técnica de apoio, sobrando pouco espaço para a agência
financeira que não tem um suporte técnico de apoio. Conforme o gerente da agência do BNB
de Campo Maior, não é tradição dessa agência financiar este setor dada experiência negativa
do passado, em que houve inadimplência dos tomadores de crédito. Com isso a agência não
estimula os produtores da região a terem acesso a essa linha de crédito.
Portanto, esses dois fatores podem explicar o porquê do volume de recursos
financeiros do FNE Rural ser menor em Campo Maior, onde há maior produção de pó
cerífero, e maior aplicação de recursos e número de operações nos municípios de Esperantina,
Picos, Floriano e Piripiri, que as agências do BNB nesses municípios têm a tradição de
financiar esse setor.
Quanto à taxa de crescimento, observou-se que neste período, 2007-2012, o valor do
financiamento que mais cresceu foi Oeiras com 36,83%, seguido de Piripiri (13,15%), Picos
(6,83%), Esperantina (5,69%) e Floriano (2,38%). Tiveram taxa de crescimento negativo os
financiamentos dos municípios de Campo Maior (-40,22%) e Parnaíba (5,88%). O município
de Teresina como teve apenas uma operação em 2012 inviabilizou o cálculo da taxa de
crescimento, além disso, até 2011, nesse município não há registro de produção de pó de
carnaúba no banco de dados do IBGE. A taxa de crescimento total do financiamento no Piauí
foi de 6,95%. No Gráfico 5 se observa a taxa de crescimento dos valores financiados pelo
Piauí e pelos municípios no período de 2007-2012.
Gráfico 5 – Taxa de crescimento do valor financiado para o extrativismo do pó de carnaúba pelo Piauí e pelos
municípios no período de 2007-2012.
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As informações relatadas pelo gerente da agência do BNB de Campo Maior são
pertinentes com o citado por Almeida Junior, Silva e Resende (2008), conforme os quais, a
inadimplência dos tomadores de crédito faz com que haja desinteresse do banco em emprestar
para este segmento.
Verificou-se que o FNE Rural não contempla nenhuma exigência no que diz respeito o
processo de extração do pó de carnaúba com o manejo do carnaubal de forma sustentável. É
uma modalidade de crédito tradicional que não incorpora a nova visão de desenvolvimento
produtivo com sustentabilidade.
Em contraste com a pesquisa de Miranda, Mayorga e Lima (2008) no município
cearense de Limoeiro do Norte, que identificaram um nível médio de sustentabilidade entre as
classes de produtores que receberam recursos do FNE Rural, Schlischka et al (2009)
ressaltaram que ainda há pouca utilização de indicadores de desempenho ambiental e ausência
de uma auditoria ambiental, por parte dos bancos. Somam-se a isso fatores que limitam a
aplicação do crédito rural como: 1) a padronização dos projetos técnicos uma vez que há
distinções entre culturas permanentes e temporárias, podendo estas ser, ainda, consociadas ou
não com a pecuária e 2) os agentes financeiros das políticas de fomento que fazem opções a
investimentos em atividades que julgam mais lucrativas e seguras e que possuam um padrão
tecnológico que permita a responsabilização do tomador de empréstimo na aplicação dos
insumos e cumprimento do itinerário técnico (COUTO, 2004).
Ressalta-se que os objetivos da aplicação dos recursos do FNE estão voltados para o
desenvolvimento econômico e social da região Nordeste. Portanto, o programa FNE Rural se
propõe a expandir, diversificar, modernizar e implantar empreendimentos agropecuários.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A linha créditos de Custeio do Programa FNE Rural que tem como um de seus
objetivos o custeio das atividades agrícolas é uma importante fonte de recursos para o
segmento da extração do pó de carnaúba. O FNE tem a orientação política de reduzir as
desigualdades regionais ao ofertar recursos para o financiamento de atividades produtivas.
A aplicação desses recursos no setor extrativo da carnaúba no período de 2007 a 2012
está concentrada nos municípios de Esperantina, Piripiri e Floriano. A quantidade de
operações do financiamento foi maior nos municípios de Esperantina, Floriano, Picos e
Piripiri. O município de Parnaíba, ocupando o terceiro lugar na produção de pó cerífero no
Estado, também recebeu um volume de recursos significativo. Embora o município de Campo
Maior tenha destaque na produção de pó de carnaúba, foi aplicado um volume menor de
recursos e, consequentemente, teve uma quantidade de operações menor, com a
particularidade de nos anos de 2010 e 2012 não foi efetuado nenhuma operação. Isto se deve à
sua especificidade na cadeia produtiva da cera de carnaúba em que os industriais e donos de
armazéns financiam o custeio da extração do pó cerífero. No município de Teresina houve
apenas uma operação em 2012.
Quanto à taxa de crescimento, observou-se que os municípios de Campo Maior e
Parnaíba tiveram crescimento negativo do valor financiado, enquanto que o número de
operações variou entre dois e cinco em Campo Maior e entre um e quatro, em Parnaíba.
Oeiras foi o município que apresentou maior taxa de crescimento, sendo que em 2010 não
houve financiamento e o valor do financiamento de 2012 variou 123% em relação ao ano
anterior. Os outros municípios tiveram taxa de crescimento positivo e, no geral, o valor do
financiamento total teve crescimento positivo de 6,95%.
Embora a discussão ambiental esteja presente tanto no âmbito do agronegócio quanto
do industrial, não se observou nenhuma exigência do programa FNE Rural em relação à
preservação da carnaubeira e nenhum apoio técnico aos extrativistas quanto ao manejo da
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espécie, confirmando a tese de que os agentes financeiros optam por investir em atividades
lucrativas e que os tomadores de empréstimos tenham condições de honrar seus
compromissos com a instituição.
REFERÊNCIAS
SCHLISCHKA, H. E. et al. Crédito ambiental: análise para concessão de crédito sob a ótica
da responsabilidade socioambiental. BASE – Revista de Administração e Contabilidade da
Unisinos. Usininos, p. 37-48, jan./abr. 2009.
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