Sei sulla pagina 1di 105

GRANDES

ESCRITORES

***** W
UM GUIA ABRANGENTE SOBRE
OS GIGANTES DA LITERATI!RA
EDITOR GERAL COM PREFACIO DE
JULIAN PATRICK JOHN SUTHERLAND
GRANDES
ESCRITORES
EDITOR GERAL J U L I A N PATRICK
C O M PREFÁCIO DE J O H N SUTHERLAND

S E X T A N T E
PREFÁCIO
John Sutherland, escritor e crítico literário

N e n h u m a g e r a ç ã o a n t e s d a nossa d i s p ô s d e t a n t a O território é i m e n s o e t o r n a - s e c a d a v e z m a i o r .

i n l o r m a ç ã o literária o u d e t a n t a matéria-prima, H o u v e u m a é p o c a (a é p o c a d e S h a k e s p e a r e , p o r

<<>m t u d o f a c i l m e n t e a c e s s í v e l p e l a i n t e r n e t . S e e x e m p l o ) e m q u e a o b r a d e 501 g r a n d e s e s c r i t o -

v< >( <


>
" estiver p r o c u r a n d o u m "fato" o u u m a "grande res p r o v a v e l m e n t e d a r i a c o n t a d e t u d o . Isso j á

o b r a " basta a p e r t a r a l g u m a s t e c l a s e e n c o n t r a r o n ã o é mais possível. O universo d e "livros que

q u e deseja na tela d o c o m p u t a d o r . É v e r d a d e q u e p r e c i s a m ser lidos" amplia-se e m b e m mais d e

os fatos p o d e m n ã o ser t ã o c o n f i á v e i s e os t e x t o s , 5 0 1 t í t u l o s a c a d a s e m a n a . C o m o se m a n t e r c u l t o

n,lo necessariamente compreensíveis, mas nin- q u a n d o existe t a n t o para ser lido?

g u é m p o d e ter t u d o . S e v o c ê busca u m guia sobre Q u a n t o maior o território, mais necessidade

I li ms l i v r o s q u e s e j a m a i s a g r a d á v e l d e f o l h e a r e sentimos d e guias e recursos q u e nos a j u d e m a

mais confiável, creio que, pelos próximos anos selecionar a leitura, que possamos pegar e

( c p r o v a v e l m e n t e p o r m a i s t e m p o ) , v o c ê v a i preci- f o l h e a r . E s t e livro é a s s i m . E l e n ã o diz o q u e d e v e

I B I (le u m b o m livro. C o m o e s t e . ser l i d o , m a s a p o n t a o c a m i n h o p a r a a leitura

A literatura m u n d i a l é, p a r a m u i t o s d e n ó s , u m inteligente.

dos maiores prazeres da vida. M a s u m a d e suas A literatura, c o m o já disse, é m u i t o , m u i t o a b r a n -

,illi(,oes é o f a t o d e q u e , a o c o n t r á r i o d e o u t r o s gente. E o t e m p o , e m nosso acelerado mundo

m.ii.ivilhosos b e n s d e c o n s u m o , ela n ã o d e s a p a - m u l t i m í d i a , é a r t i g o d e luxo. P o d e m o s estar d e s f r u -

ici c d e p o i s d e c o n s u m i d a . A literatura é o mais t a n d o d e vidas mais longas d o q u e nossos a n t e p a s -

durável dos bens duráveis. A melhor produção sados, mas t a m b é m v i v e m o s b e m mais depressa.

sobrevive a seus criadores e a cada nova geração O q u e se s e g u e é o g u i a m a i s c o n f i á v e l e n t r e

d e l e i t o r e s . Ela p o d e a t é m e s m o s o b r e v i v e r à s os mais confiáveis guias. Cada artigo é u m a p o n t e

b i b l i o t e c a s o n d e é a r m a z e n a d a . E a m a s s a d e lite- para futuras leituras, ao m e s m o t e m p o q u e c o n -

ratura c r e s c e d e f o r m a a l a r m a n t e . N ã o se t r a t a tém informações essenciais, impecavelmente

. í p e n a s d o c r e s c i m e n t o d a literatura n a c i o n a l : o s acuradas e acessíveis, envoltas e m uma bela

l i v m s g a n h a m c a d a v e z m a i s t r a d u ç õ e s , atraves- e m b a l a g e m . U m g r a n d e livro s o b r e o s m e l h o r e s

•.,11 i d o ,is f r o n t e i r a s d e s e u s p a í s e s d e o r i g e m . livros e s e u s c r i a d o r e s .

Londres, j u n h o d e 2008

(. - r u i i Á c i o
INTRODUÇÃO
Julian Patrick, editor geral

" U m b o m p r e f á c i o " , c o m o d i s s e c e r t a v e z o escri- Cada artigo traz c o m e n t á r i o s biográficos e

i o r a l e m ã o Friedrich S c h l e g e l , " d e v e s e r ã o mesmo uma representativa seleção de obras que pre-

i i ' i m p o a raiz q u a d r a d a e o q u a d r a d o d o livro". É t e n d e ter mais o caráter d e s u g e s t ã o d o q u e d e

difícil n ã o p e n s a r n u m e r i c a m e n t e s o b r e o e s c o p o obrigação. C o m o outras formas d e escritos c o n -

d e s t e livro, c o n s i d e r a n d o - s e o t í t u l o . 501 grandes cisos, cada artigo pode funcionar como um

'•seniores dá sequência a outra série q u e inclui daqueles brinquedos japoneses descritos por

1001 livros para ler antes de morrer (volume que Proust, q u e p a r e c e m ser a p e n a s p e d a c i n h o s d e

\erá p u b l i c a d o e m b r e v e p e l a E d i t o r a S e x t a n t e ) . p a p e l , m a s , q u a n d o c o l o c a d o s na á g u a , s e d e s -

A " s e n t e n ç a d e m o r t e " p o d e ter sido abolida, m a s d o b r a m e revelam u m a riqueza oculta de cores

0 problema na s e l e ç ã o se t o r n o u t a l v e z ainda e f o r m a s . S e essa i m a g e m for sofisticada d e m a i s ,

m a i s p r e m e n t e , p o i s o f o c o d e i x o u d e ser uma t a l v e z v o c ê prefira refletir q u e v i v e m o s na era

obra e m particular e passou a se concentrar no da " b i o b i b " q u e significa a biografia e a biblio

1 o n j u n t o d a o b r a e n u m n o m e - e m 501 n o m e s , grafia j u n t a s .

p a r a ser p r e c i s o . A adição d o n ú m e r o " 1 " a o título ainda pode

O p o d e r d e concisão d o prefácio se e s t e n d e indicar a possibilidade d e acrescentar, sinali

.iqui p a r a a n a t u r e z a d e c a d a a r t i g o , q u e tem z a n d o q u e u m a lista d e s s e t i p o n u n c a é a b r a n g e u

t orno o b j e t i v o a p r e s e n t a r u m escritor: expressar, te n e m c o m p l e t a . N e m é preciso dizer q u e u m a

mesmo n u m espaço extremamente limitado, a lista, u m c o n j u n t o c o m o e s t e , só p o d e ser for

razão q u e t o r n a " g r a n d e " d e t e r m i n a d o escritor e mada por meio d e u m desalentador processo

p o r q u e s u a o b r a m e r e c e ser lida. Essa t a r e f a s e de subtração e concessões. Oferecemos não a

l o r n o u a i n d a m a i s desafiadora e satisfatória p e l o essência, mas um conjunto de sinais, indica

.ilcance histórico e pelo caráter internacional d e ções d e c a m i n h o s para fortalecer seus hábito',

n o s s a lista. E, e m b o r a i n e v i t a v e l m e n t e anglofila d e leitura, f a z e n d o c o m q u e s e j a m mais sistc

i ' e u r o c ê n t r i c a , essa lista r e s u l t o u d e u m e s f o r ç o máticos, proveitosos e estimulantes. Q u e seja

diversificado e cooperativo, e n v o l v e n d o muitos u m a f o r m a d e v i s l u m b r a r estradas q u e , u m dia,

( olaboradores e debates prolongados. v o c ê p o d e r á trilhar.

T o r o n t o , m a i o d e 200H

INTRODUÇÃO • 7
HOMERO
N a s c i m e n t o : Século VIII a.C

Estilo e g ê n e r o : Poeta épico grego cujos trabalhos celebravam eventos míticos e


heróicos, c o m atenção especial à aristocracia. Utilizava u m dialeto poético artificial,
fraseologia repetida e cenas, dando destaque aos discursos e a extensas comparações.

Da m e s m a forma q u e os ingleses c h a m a m Shakespeare d e "o Bardo"

os antigos gregos se referiam a H o m e r o simplesmente c o m o " o Poeta".

Assim c o m o Shakespeare, H o m e r o pertence a o mais alto escalão da

literatura ocidental e sua poesia revela u m a c o m p r e e n s ã o da n a t u r e -

za h u m a n a raramente igualada e jamais suplantada. Apesar disso,

n ã o s a b e m o s q u a s e nada sobre ele.

Principais obras M e s m o os a n t i g o s g r e g o s d i s p u n h a m d e p o u c a s i n f o r m a ç õ e s

sobre o personagem q u e reverenciavam não apenas c o m o funda-


• •«>.--. i

Ilíada, século V I I I a.C. d o r da poesia é p i c a , m a s t a m b é m c o m o da própria literatura. O s

<>c//\sr/«,c.700a.C. d e t a l h e s s o b r e a vida d e H o m e r o f o r a m recolhidos d e t r e c h o s

s u p o s t a m e n t e autorreferenciais d e seus p o e m a s . A lenda a r e s p e i -

to da c e g u e i r a d e H o m e r o , por e x e m p l o , deriva d e sua própria

descrição de u m bardo cego c h a m a d o D e m ó d o c o . Muitos estu-

diosos d e t o d a s as é p o c a s e v i t a m falar d e u m autor individual

c h a m a d o H o m e r o e p r e f e r e m encarar a poesia h o m é r i c a como

p r o d u t o d e u m a longa t r a d i ç ã o d e poesia oral. A e v i d ê n c i a linguís-

tica a p o n t a u m a o r i g e m j ó n i c a para a poesia h o m é r i c a , d a t a d a d o

fim d o século VIII o u início d o século VII a.C.

A( I M A : H o m e r o , na v e r s ã o d e R e m b r a n d t ,

I In/ida e m 1663. iSMBa&MBiatK

A I >llll I I A : M o s a i c o d a Tunísia, d o s é c u l o III,

m o s l r . i O d i s s e u e n f r e n t a n d o as s e r e i a s .

II • H O M E R O
HOMERO

M a i s t a r d e , os g r e g o s a t r i b u í r a m a H o m e r o v á r i o s p o e m a s A C I M A : O saque de Tróia, o b r a d o artista

francês J e a n M a u b l a n c .
a n t i g o s , m a s a p e n a s dois - Ilíada e Odisseia - p o d e m ser v e r d a d e i -

r a m e n t e descritos c o m o h o m é r i c o s . N ã o i m p o r t a se a m b o s f o r a m

i <impostos o u n ã o p e l o m e s m o a u t o r - eles c l a r a m e n t e p e r t e n - Homero: homem


ou mulher?
i c m à m e s m a t r a d i ç ã o d e poesia oral e se d e s t a c a m d e o u t r o s

e x e m p l a r e s da primitiva poesia épica g r e g a e m t e r m o s d e q u a l i d a -


Na Antiguidade, nunca houve dúvida de que
d e e t a m a n h o . A Ilíada, ambientada durante o décimo e último Homero fosse um homem e, durante a maior
parte do período moderno, essa conclusão nau
.1110 da mítica G u e r r a d e T r o i a , traça as c o n s e q u ê n c i a s c o m p l i c a d a s
foi questionada. Em raríssimas ocasiões, porém,
l le u m a d e s a v e n ç a e n t r e Aquiles e A g a m e m n o n , dois d o s c o m a n - uma voz dissonante se fez ouvir. O escritor bn
tàníco Samuel Butler, neto do estudioso de
l.intes g r e g o s no cerco d e Tróia. A Odisseia, q u e se passa d e p o i s
mesmo nome, desenvolveu a teoria de que
l la q u e d a d e Tróia, c o n t a a árdua v i a g e m d e volta a o lar d e o u t r o pelo menos a Odisseia teria sido escrita por
uma mulher da Sicília. Robert Graves adotou e
herói g r e g o , O d i s s e u (Ulisses, na v e r s ã o latina), e sua luta para se
aperfeiçoou essa teoria no romance^ filha (ir
restabelecer c o m o rei d e 1'taca. E m b o r a existam certas diferenças Homero. Mais recentemente, sugeriu-se qu< • < >

na l i n g u a g e m e na v i s ã o religiosa, os dois p o e m a s c h a m a m aten- poeta que supervisionou a versão escrita dos


poemas, e taívez até sua composição, poderia
(,.io p e l o d o m í n i o narrativo, p e l o brilho retórico d e suas falas e ter sido uma mulher.

pela s e n s i b i l i d a d e à a m p l i d ã o d a s e x p e r i ê n c i a s h u m a n a s . TP

H O M E R O • <>
SAFO
N a s c i m e n t o : (.630 a.C. (Lesbos, Grécia). Morte: c.580 a.C (lugar desconhecido,
provavelmente Lesbos).

Estilo e g ê n e r o : Poetisa d o século VI a.C, da Ilha de Lesbos, que mereceu de Platão a


alcunha d e "a décima musa". Suas canções sobrevivem e m fragmentos vívidos.

Coerente c o m sua reputação d e poetisa e a m a n t e , a obra d e Safo

mescla u m lirismo tangível c o m encantos eróticos. A l t a m e n t e c o n c e i -

tuados por toda a Antiguidade, seus p o e m a s foram reunidos e m n o v e

v o l u m e s para a extinta Biblioteca d e Alexandria. Safo c h e g o u a dar

n o m e a u m a métrica inspirada na estrutura d e seus versos, c o m três

estrofes longas e u m a final, mais curta, c o m o u m suspiro d e desejo.

Principais Obras Sua popularidade permitiu g u e fragmentos d e seus p o e m a s fossem

encontrados na prosa d e muitos filósofos gregos, b e m c o m o - d e

l'ovmas e fragmentos, 2003 forma mais romântica - e m pedacinhos d e papiro no deserto.

A vida d e S a f o é u m q u e b r a - c a b e ç a g u a s e t ã o c o m p l e x o q u a n -

t o suas o b r a s c o m p l e t a s , o q u e n ã o i m p e d i u q u e p o e t a s , d e O v í d i o

a Mary Robinson, escrevessem de m o d o ardente e fundamentado

s o b r e ela. A biografia mais aceita, q u e c o m b i n a i n t e r p r e t a ç ã o p o é -

tica e lendas, sustenta q u e era u m a aristocrata p e r t e n c e n t e a u m a

c o m u n i d a d e artística e religiosa f e m i n i n a e m Lesbos. Teria sido

exilada para a Sicília d e p o i s d e u m g o l p e , e d a d o à luz u m a filha,

Cieis. S e g u n d o a lenda, c o m e t e u suicídio por ter sido rejeitada

pelo barqueiro Faon.

O século XIX apresentou u m a Safo mais enquadrada, diretora d e

uma escola para meninas. Os estudiosos d o período clássico n o s é c u -

lo XX discutiram se seus p o e m a s belos e sensíveis, q u e l a m e n t a v a m o

c a s a m e n t o d e amigas queridas, seriam apenas

'Alguns h o m e n s d i z e m q u e u m a c a n ç ó e s t r a d i c i o n a i s d e n ú
P c i a s
- l n d e
P e n
-

d e n t e m e n t e dessas o b j e ç õ e s , Safo perma-

fruta d e naViOS é a COiSa maiS bela. ^ce u m a referência para as lésbicas por seu
olhar sensual s o b r e as m u l h e r e s , e m especial

D i g o q u e é O amor."- Fragmento 16 n o F r a g m e n t o 3 1 , e m q u e se imagina e m u m

triângulo amoroso, o b s e r v a n d o cheia d e d e s e -

j o a mulher g u e flerta c o m u m h o m e m . Baseados o u não e m fatos

A , I M A : Afresco q u e talvez represente biográficos, e sobrevivendo por meio d e f r a g m e n t o s e traduções, os

'.alo sua verdadeira aparência p o e m a s d e Safo são capazes d e e m o c i o n a r qualquer h o m e m o u

|H-iin.inece desconhecida. mulher q u e já tenha e x p e r i m e n t a d o o amor. SIM

10 • S A F O
ESQUILO
N.iMÍmento:c.525 a.C (Eléusls, próximo,) Atenas,Grã ia).Morte:r.ISSa.t. (< « i i / è ili.i).

i '.tilo e g ê n e r o : C o m uma linguagem repleta d e riqueza descritiva e imagens


• ii 11] ilexas, Ésquilo fez inovações ousadas na forma dramática e d e u destaque a
1'iii.r, políticos e religiosos.

1
I epitáfio d e Ésquilo dizia simplesmente q u e ele havia lutado contra

i i lersas e m Maratona, e m defesa da sua Atenas natal. Omitia, p o r é m ,

ip vigor d e seus feitos literários, pois suas i n o v a ç õ e s formais tive-

ram u m p a p e l d e c i s i v o nos p r i m ó r d i o s da tragédia g r e g a , e sua

poesia é n o t á v e l pela persistência d e seu p o d e r e pela beleza d a s

imagens.

N a s c i d o q u a n d o A t e n a s ainda era g o v e r n a d a por u m tirano, Principais obras


I squilo t e s t e m u n h o u a f u n d a ç ã o da d e m o c r a c i a a t e n i e n s e e a
Peças
aurora da era clássica. D u r a n t e u m a carreira q u e a b r a n g e u q u a s e Os persas, 472 a.C.

m e i o século, e l e produziu cerca d e 80 p e ç a s , d a s quais a p e n a s sete Os sete contra Tebas, 467 a.C.

s o b r e v i v e r a m . Cada u m a dessas sete p e ç a s d e m o n s t r a a influência As suplicantes, c.463 a.C.

Prometeu acorrentado, c.465-469 a.C.


da era d e t r a n s i ç ã o e m q u e f o r a m escritas, c a r a c t e r i z a d a s por
Oréstia (Agamemnon, Coéforas, Eumênitlr\
p r e o c u p a ç õ e s políticas c o m a d e m o c r a c i a q u e ainda d a v a seus
458 a.C.
primeiros passos. A c o m p a n h a n d o essa c o n s c i ê n c i a política está

u m a a r r a i g a d a sensibilidade religiosa q u e , a o r e c o n h e c e r a res-

p o n s a b i l i d a d e individual, considera q u e as a ç õ e s h u m a n a s e s t ã o

i n e x t r i c a v e l m e n t e v i n c u l a d a s à v o n t a d e divina. O progresso h u m a -

no é possível, m a s a p e n a s por m e i o d o s o f r i m e n t o i m p o s t o p e l o s

d e u s e s ( t e m a q u e é m a g i s t r a l m e n t e e x e m p l i f i c a d o na obra-prima

d e Ésquilo, a trilogia Oréstia).

A seriedade dos t e m a s e n f r e n t a d o s p e l o autor c o m b i n a c o m a

majestade d e seu estilo. Delicia-se e m enfilei-

rar u m a s e q u ê n c i a d e adjetivos c o m p o s t o s e "ZeUS d e C Í d Í l ! a SabedONÍ


misturar i m a g e n s , e valoriza mais a grandeza

misteriosa d o q u e a clareza. A l é m d e ser u m pOT ÍTieiO (JÓ SOfrimentO..


poeta d e primeira linha, Ésquilo foi o mais

i n o v a d o r d o s antigos autores d e tragédias e - Agamemnon


responsável pela introdução d o s e g u n d o ator

(a tragédia a n t e r i o r m e n t e envolvia a p e n a s u m ator e o coro). C o m

essa c o m b i n a ç ã o d e estilo refinado e i n o v a ç ã o ousada, Ésquilo abriu

c a m i n h o para a era d e ouro d o d r a m a clássico e preparou o palco A C I M A : B u s t o s e m d a t a d e Ésquilo d o s

para a entrada d e seus sucessores, Sófocles e Eurípides. TP M u s e u s Capitolinos, e m R o m a .

E S Q U I I o
PÍNDARO
N a s c i m e n t o : i .520 a.C (Cinoscéfalas, Grécia). Morte: c.440 a.C (Argos, Grécia).

Estilo e g ê n e r o : Considerado por muitos o maior poeta lírico da Grécia antiga,


Pindaro escreveu poesias celebradas por sua linguagem elaborada e elíptica, pela
complexidade d e sua métrica, pela visão aristocrática e pela consciência autoral.

Quintiliano, o retórico romano, d e s c r e v e u Pindaro c o m o s e n d o

" d e l o n g e o m a i o r " d o s p o e t a s líricos. P a s s a d o s m a i s d e 2 m i l

a n o s , o v e r e d i t o d e Q u i n t i l i a n o a i n d a se m a n t é m , p o i s p o u c o s

n o m e s d a p o e s i a lírica f o r a m c a p a z e s d e rivalizar c o m P i n d a r o

e m nobreza de expressão, inventividade de linguagem e domí-

nio da forma.

Principais obras C o m o a c o n t e c e c o m muitos autores da A n t i g u i d a d e , os detalhes

da vida d e Pindaro são obscuros. Nasceu na cidade d e Cinoscéfalas


Poesia

I títs pítícas, 498-446 a.C.


n o fim d o p e r í o d o a r c a i c o e m a n t e v e - s e a t i v o c o m o poeta d u r a n t e

I './.-. olímpicas, 488-460 a.C. o início d o p e r í o d o clássico. D e o r i g e n s aristocráticas, P i n d a r o


( Ulr\ nrmeias, 485-444 a.C. m a n t e v e i m p l a c a v e l m e n t e o p o n t o d e vista dessa classe social por
(>(/<•! Ístmicas, 480-454 a.C.
t o d a a carreira, e s c r e v e n d o sob o p a t r o c í n i o d e a l g u m a s d a s prin-

cipais famílias da Grécia.

M a i s t a r d e , e d i t o r e s o r g a n i z a r a m sua p o e s i a e m 17 livros, d o s

q u a i s a p e n a s q u a t r o s o b r e v i v e m . Estes c o n t ê m as o d e s d e vitória

d e P i n d a r o , p o e m a s corais líricos escritos para c e l e b r a r os êxitos

d o s a t l e t a s e m c o m p e t i ç õ e s o l í m p i c a s , pítícas, n e m e i a s e í s t m i -

cas. As o d e s f o r n e c e m p o u c o m a t e r i a l para a d e s c r i ç ã o d o s j o g o s

e m si. E m v e z disso, c o n c e n t r a m - s e e m l o u v a ç õ e s a c a d a a t l e t a , a

suas famílias e c i d a d e s . P i n d a r o c h a m a a t e n ç ã o para o m é r i t o

n o s feitos a o a c o m p a n h a r c a d a u m d e l e s c o m e p i s ó d i o s c u i d a -

d o s a m e n t e selecionados da mitologia, e m

" N ã o busque... a vida imortal; g e r a l


p r o t a
9 ° n i z a d o s
p ° r u m h e r ó i d a c i d a
-
d e d o atleta. M u i t a s o d e s , p o r é m , t a m b é m

m a s e s g o t e as possibilidades q u e *>™ como um i e r t a , e o v i t o r i o s o é a c o n


a

s e l h a d o a evitar atrair a inveja d o s d e u s e s .

e s t ã o a seu a l c a n c e . " - odes pítícas A poesia d e P i n d a r o revela u m a l t o nível d e

consciência de seu papel. C o n s t a n t e m e n t e

se c o m p a r a c o m os a t l e t a s q u e c e l e b r a e l e m b r a a eles d a r e c i -

p r o c i d a d e d e seu r e l a c i o n a m e n t o : a vitória atlética fornece

A C I M A : G r a v u r a d e J . W . C o o k , d o século u m a
o p o r t u n i d a d e para o p o e t a . A p o e s i a , p o r sua v e z , i m o r t a -
XIX, retrata P i n d a r o . liza O a t l e t a . TP

\1 • P Í N D A R O
SÓFOCLES
Nascimento:c.496 a.C. (Hippeios Colonus, Grée Morte: < .406 a.C (Atenas, Grécia).

i -.1 ilo e g ê n e r o : Sófocles foi u m dramaturgo d e escritos ousados, c o m p a c t o s e


j i nítidos (se c o m p a r a d o s c o m os d e Esquilo). Usava o contraste d e personagens,
h 'in.is e climas e empregava a ironia c o m g r a n d e habilidade.

I Hirante sua l o n g a v i d a , S ó f o c l e s d e A t e n a s e s c r e v e u 123 p e ç a s e

i o m p e t i u t a n t o c o m É s q u i l o q u a n t o c o m E u r í p i d e s . As s e t e t r a -

gedias remanescentes exploram a grandeza e o sofrimento d e

seres h u m a n o s e x c e p c i o n a i s , c o m h a b i l i d a d e s q u a s e d i v i n a s ,

que precisam escolher entre u m desastre certeiro ou u m c o m -

p r o m i s s o q u e trairia a natureza h e r ó i c a q u e os s e p a r a d o s m a i s

c o m u n s d o s m o r t a i s . A h a b i l i d a d e d r a m a t ú r g i c a d e S ó f o c l e s foi Principais obras


r e c o n h e c i d a d e s d e A r i s t ó t e l e s , q u e e l o g i a v a seu d o m í n i o d o rit-
Peças
m o narrativo e da tensão dramática, até e n t ã o sem paralelos. Aias, c.450-440 a.C.

Q u a n d o a loucura enviada pelos deuses faz c o m q u e Ajax traga a Antigona, c.442 a.C.

i lesgraça para si e m Tróia, e m Aias, u m feroz senso d e honra e d e ver- As traquínias, c.430 a.C.

Édipo rei, c.430-420 a.C.


g o n h a não permite q u e reste a o mais poderoso guerreiro (jjrego outra
Édipo em Colono, 410 a.C.
o p ç ã o a l é m d o suicídio. Édipo rei dramatiza c o m o a própria inteligên-
Electra, c.410a.C.
cia q u e outorga poder a o monarca c o n d u z sua busca implacável pela
Filoctetes, 409 a.C.
verdade, l e v a n d o e m seguida à loucura, à cegueira autoprovocada e

,io exílio. Esses dilemas trágicos p o d e m ser c o m p r e e n d i d o s e m ter-

mos políticos mais a m p l o s c o m o confronto entre os valores d e u m

passado homérico, q u e privilegiava o indivíduo, e os c o n t e m p o r â n e -

os, da democracia ateniense d o século V, q u e servia aos interesses da

c o m u n i d a d e e desencorajava c o m p o r t a m e n t o s extremos.

A intransigência heróica leva a u m isolamento total e assustador, até

m e s m o dos deuses, e m u m m u n d o governado

por u m destino misterioso e cruel. As traquínias

nos mostra q u e Zeus não salvará n e m m e s m o

seu filho Héracles (Hércules, na versão latina),

m o d e l o d o heroísmo grego, d e uma morte tor-

turante q u e o d e s p e tanto d e sua carne quanto c o m o eram. Aristóteles, em a


da sua celebrada masculinidade. Porém, a opção

livre e a u t ô n o m a d o sofrimento no lugar da aceitação das limitações

humanas dota os heróis d e Sófocles d e assombro e poder n u m m u n d o

o n d e o passado não lega qualquer conhecimento, o futuro não reserva A C I M A : Retrato sem data de Sófocles c o m

esperanças e o presente traz apenas padecimento. DS e m descrições d e seus contemporâneos.

S Ó F O C L E S • 13
EURIPIDES
N a s c i m e n t o : 480 a.C. (Salamis, (itét ia). Morte: 406 a.C. (Macedónia).

Estilo e g ê n e r o : Euripides foi o enfant terrible da tragédia grega d o século V a.C.


Seus protagonistas desfigurados pela guerra exibem u m ceticismo sofista e
sofisticado e m relação aos mitos e heróis.

Fascinado por d e u s e s e monstros, Eurípides poderia ser c h a m a d o

d e o primeiro d r a m a t u r g o m o d e r n o . E m b o r a evitasse a política - a o

contrário d e seus c o n t e m p o r â n e o s mais v e l h o s e d e Sófocles, seu

rival -, Eurípides deixava claro sua desilusão pela cultura ateniense,

v e s t i n d o seus heróis c o m farrapos. E m As troianas, c h e g o u a criticar

a b e r t a m e n t e a política d e relações exteriores da cídade-estado a o

c o m p a r a r o massacre d e M e i o s c o m a destruição d e Tróia - vista, d e

forma i n c o m u m , p e l o p o n t o d e vista d o s troianos.

AI,<dela 431 a C ^ a r a
P ° t e s t a r contra a Guerra d o Vietnã e m
r
1971, Michael

Hipólito, 428 a.C. Cacoyannis filmou As troianas valendo-se d e u m a tradução feita por

Hit uba, 424a.C. Edith Hamilton e m 1937, q u e via Eurípides c o m o u m pacifista v i v e n -


Iln tia, c.420-410a.C
d o e m uma era beligerante. Certamente, suas outras peças sobre os
Al troianas, 415 a.C.
mitos heroicos fundadores da Grécia - Helena, Ifigênia em Áulis e
W/tno, 4 1 2 a.C.
Hécuba p e r g u n t a m "Guerra? Para g u e serve?". Peças c o m o As bacan-
Itnirnia em Áulis, 410 a.C.

As binantes, 407-406 a.C tes, g u e satirizam os fundadores da Grécia, revelam o autor c o m o u m

iconoclasta. Seus deuses, c o m o o Baco s e l v a g e m e carismático, são

monstros. Mais d o q u e isso, são políticos.

E n q u a n t o as peças d e Ésquilo s u g e r e m u m t e m o r ritual pela

i n c o m p r e e n s ã o das ações dos deuses, e os dramas d e Sófocles explo-

ram sua lógica d e longo prazo, Eurípides v ê os deuses e os seres

h u m a n o s envolvidos e m u m a dança d o poder volúvel, egoísta, pro-

funda e d o l o r o s a m e n t e constrangedora. Em-

"[EU rípideS é ] COm tOClOS OS ' 5 0 r a c o n s


' d e r a c
' 0 u m
P o e t a
menor e m com-
paração a seus predecessores, Eurípides
SeUS defeitOS, O maiS trágiCO demonstra u m a sagacidade selvagem a o o l h a r

o lado oculto das palavras e dos personagens,

d o s poetas." - Aristóteles E m Medeia, várias vezes atribui-se à heroína a

q u a l i d a d e d e sophronsyne, o mais alto nível d e

sabedoria masculina para os gregos. Eurípides quer demonstrar, e m

parte, q u e sophronsyne é diferente para as mulheres e t a m b é m q u e o

At I M A : G r a v u r a d e J . w. Cook, d o século p e n s a m e n t o , c o m o todos os d o n s dos deuses, é u m a espada d e dois

xix, r e t r a t a n d o E u r í p i d e s . g u m e s . Suas peças ainda são afiadas o bastante para lacerar. SIM

14- EURÍPIDES
ARISTÓFANES
N a s c i m e n t o : c.448 a.C. (provavelmente e m Atenas, (iré< ia). M o r l e : t.388-385 a.C.
(I< ic al desconhecido).

I stilo e g ê n e r o : Considerado o mais representativo da comédia grega por seu estilo,


que unia d e b o c h e e invenções pessoais à sátira política e paródia sutil da literatura.

i ) primeiro perfil d e Aristófanes encontra-se e m Simpósio, d e Platão,

Um retrato amistoso d e u m h o m e m q u e apreciava os prazeres da vida

( era, c o m o suas comédias, ao m e s m o t e m p o divertido e sério.

A maior parte d o material biográfico sobre Aristófanes, p o r é m , não é

< (improvada e p r o v a v e l m e n t e baseia-se e m suas peças.

Os acarnenses, sua obra mais antiga a sobreviver, incorpora preo-

( upações altamente atuais e enredos fantásticos característicos das Principais obras


peças "políticas" da velha comédia na Atenas d o século V a n t e s da era
Peças
(ristã: u m herói simpático, frustrado c o m a situação, e m p r e g a toda a Os acarnenses, 425 a.C.

sua sagacidade maliciosa para superar seus inimigos c o m meios Os cavaleiros, 424 a.C.

sobrenaturais. O p o b r e fazendeiro Dicaeopolis passa a perna nos As nuvens, 423 a.C.

As vespas, 422 a.C.


d e m a g o g o s linha-dura d e Atenas a o obter, e m particular, a paz c o m
A paz, 421 a.C.
os espartanos, garantindo para si, dessa forma, todos os prazeres
As aves, 414 a.C.
i m p e d i d o s pela Guerra d o P e l o p o n e s o c o m i d a , v i n h o e sexo.
Lisistrata, 411 a.C.
A c o m p a n h a n d o a o b s c e n i d a d e onipresente e o h u m o r grosseiro, tais As tesmoforiantes, 411 a.C.

interesses genéricos da antiga c o m é d i a c o l o c a v a m a ação no m u n d o As rãs, 405 a.C.

(otidiano, no aqui e agora, e m contraste extremo c o m o passado A revolução das mulheres, c.393-392 a.( .

Um deus chamado dinheiro, 388 a . ( .


mitológico, altivo, austero e distante e m p r e g a d o pelo g ê n e r o rival, a

tragédia grega. Os acarnenses t a m b é m prima por conter o trecho

indiscutivelmente mais picante da literatura antiga, no qual o herói

negocia as filhas d e u m comerciante recorrendo a uma série d e troca-

dilhos muito explícitos sobre a vagina.

Aristófanes estilhaçou a ilusão dramática


P o s s o dizer m u i t o
preservada a t o d o custo pela tragédia graças

ao a b u s o d o ad hominem, recurso a d o t a d o q (J e

pela mais antiga tradição d e poesia iâmbica.

Para provocar riso, o poeta c ô m i c o desfazia dos e serio. - Coro, em As rãs


políticos, d e cidadãos, d e outros poetas e da

própria plateia c o m d e b o c h e disperso e persistente. O implacável

retrato d e Sócrates e m As nuvens, o n d e aparece c o m o u m charlatão

excêntrico e representativo d o crescente m o v i m e n t o sofista, levou A C I M A : G r a v u r a s e m data r e p r e s e n t a n d o

fama d e ter contribuído para a execução d o filósofo. DS o d r a m a t u r g o a t e n i e n s e Aristófanes.

A R I S T Ó F A N E S • 11
PLATÃO
Nascimento: < / .1.1 , (Atenas, Grécia). Morte: 347 a.C. (Atenas' Grécia).

Estilo e g ê n e r o : Platão foi u m renomado professor-filósofo e funil,nloi da


Academia cujos escritos t o m a r a m a forma d e diálogos sobre assuntos tão diversos
q u a n t o a política, o amor, o c o n h e c i m e n t o e o julgamento d e Sócrates.

Platão se m a n t é m a o lado d e seu professor Sócrates e de seu discípu-

lo Aristóteles c o m o u m dos três fundadores da tradição filosófica o c i -

dental. Mas, e n q u a n t o o próprio Sócrates nunca escreveu nada e o

q u e sobrevive da obra d e Aristóteles é p o u c o mais d o q u e anotações

para palestras, t e m o s a sorte d e possuir mais d e 30 trabalhos filosófi-

cos completos de Platão, obras q u e prestam t e s t e m u n h o tanto da sua

Principais obras flexibilidade e riqueza d e p e n s a m e n t o c o m o t a m b é m da sua c o n d i -

ção d e u m dos grandes mestres da prosa grega.


Diálogos

Butlfron, r.380a.C.
Platão, cujo n o m e verdadeiro p o d e ter sido Arístocles, descendia

notai/oras, c.380a.C. d e famílias n o t á v e i s p o r pai e m ã e . U m a t r a d i ç ã o informa q u e o


Apologia, C.360 a.C. pai d e Platão, Ariston, alegava d e s c e n d e r d e Codro, rei mítico d e
Críton, c.360 a.C.
Atenas. Ariston m o r r e u e n q u a n t o Platão ainda era u m a criança e
Mon, c.360 a.C.
sua m ã e , Perictione, casou c o m Pirilampes, a m i g o d o g r a n d e esta-
A Hrpública, c.360 a.C.

< I banquete, c.360 a.C.

A\ff/s c.360 a.C.

A( I M A : P i n t u r a d a e s c o l a f r a n c e s a d o s é c u l o

XVII r e t r a t a n d o P l a t ã o .

À I HltriTA: M o s a i c o c o m Platão e seus discípu-

l<>\ da casa d e T . Siminius, e m P o m p e i a .

16•PLATÃO
i lisi.i d e m o c r á t i c o Péricles. Apesar d e suas poderosas ligações poli- A C I M A : Pintura do século X V I I da c a v e m . .

11( as, Platão desprezou u m a carreira na política e devotou-se à filo- d e P L A T À O


' P R O D U Z I D A
P e l a e s r o l
" """"•"'i'

II ifia. As razões para essa escolha n ã o estão claras, m a s a e x e c u ç ã o

dl- s o u a m i g o e mestre Sócrates p o d e ter sido decisiva para q u e

Platão rejeitasse n ã o a p e n a s a política d e m o c r á t i c a d e Atenas, m a s


também a própria democracia c o m o u m siste-

maviáveL
"Sócrates, qual é o alimento da
Da vida adulta d e Platão existem p o u c o s

detalhes confiáveis. É provável q u e t e n h a feito alma? COíTl ÜSrteZa, CÜSSe eil, 0


muitas viagens, possivelmente a o Egito e c o m

ii 1(1,1 a certeza a o sul da Itália e à Sicília. A o vol- COn hecimentO..."- Apologia


tar para A t e n a s e m 387 a.C, f u n d o u a A c a d e m i a ,

Um instituto d e pesquisa e ensino d e v o t a d o à filosofia (incluindo a

matemática e a teoria política). A maior p a r t e d o resto d e sua vida

foi d e d i c a d a a o ensino e à escrita, m a s e l e realizou mais d u a s v i a -

g e n s à Sicília e m 367 (ou p o u c o depois) e 361 a.C. 0 objetivo seria

PLATÃO • i/
e d u c a r Dionísio II, tirano d e Siracusa, e torná-lo u m rei-filósofo. A
Platão, o criador de mitos iniciativa fracassou f r a g o r o s a m e n t e .

I In uni famoso trecho de A República, Platão


Introduz Sócrates, declarando que a maioria A forma inspiradora de diálogo
dai formas d e poesia, e especialmente a
U m a história a p ó c r i f a r e l a t a d a p o r D i ó g e n e s L a é r c i o c o n t a q u e
l .ia baseada e m mitos d e Homero e dos
aulnres das tragédias, deveria ser banida da a primeira c o m p o s i ç ã o d e P l a t ã o foi u m a t r a g é d i a , m a s g u e e l e a
l ii lai li' ideal. A razão para isso é que a
teria g u e i m a d o d e p o i s d e ouvir S ó c r a t e s falar. O s v e r d a d e i r o s t r a -
poesia mítica é responsável pela corrupção
11 ráter e m virtude da descrição d e b a l h o s d e P l a t ã o f o r a m t o d o s escritos sob a f o r m a d e d i á l o g o s e m
ipottamentos imorais. É irônico, pois, prosa (a única e x c e ç ã o seria Apologia, g u e t e m c o m o o b j e t i v o ser
q u e o próprio Platão seja famoso pelo uso
o discurso d e defesa d o j u l g a m e n t o d e Sócrates). O d i á l o g o r e p r e -
do mito e m sua própria obra.
senta t a n t o u m a escolha estilística q u a n t o filosófica. D o p o n t o d e
i icralmente, Platão fica feliz em adaptar
inili i. já existentes para que se enquadrem vista estilístico, p e r m i t e q u e P l a t ã o a p r e s e n t e u m a discussão filo-
.cu objetivo filosófico - o Mito de Er, por sófica d e f o r m a e l o q u e n t e e e n v o l v e n t e , c o m total c o m a n d o d e
txemplo, é uma reforma d e mitos gregos
suas c o n s i d e r á v e i s h a b i l i d a d e s . O banquete, por exemplo, não é
m >brc o submundo para discutira
KM nmpensa o u a punição da alma após a a p e n a s u m a discussão da natureza d o amor, é t a m b é m u m tourde
morte. Em outros casos, Platão simplesmente
force d r a m á t i c o . D o p o n t o d e vista filosófico, o d i á l o g o reforça a
Inventa seus próprios mitos.
crença d e P l a t ã o d e g u e o c o n h e c i m e n t o só é v a l o r o s o q u a n d o
i ) exemplo mais conhecido é o Mito d e
c o n q u i s t a d o por m e i o d o esforço i n d i v i d u a l . C a d a d i á l o g o inclui
Atlantis, inventado para desenvolver certas
I lei.is políticas. O mito descreve a u m a g a m a d e p e r s p e c t i v a s e o b j e t i v o s para estimular o q u e s t i o n a -
organização política da ilha d e Atlantis.
m e n t o filosófico d o leitor.
O Mito d e Atlantis é ficção d o início ao fim,
'. muita g e n t e se deixou seduzir pela A importância d e Platão para t o d o s o s ramos da filosofia é vasta,
precisão das descrições d e Platão, levando
m a s as contribuições mais d u r a d o u r a s foram na epistemologia e na
.1 mais d e uma busca infrutífera por sua
lo' alização. teoria política. S u a epistemologia é construída e m t o r n o d e u m a

cosmologia dualista, s e g u n d o a qual o m u n d o cotidiano é uma imita-

ção pálida d e u m m u n d o separado d e "formas" perfeitas e imutáveis.

O m u n d o das f o r m a s n ã o está a b e r t o à p e r c e p ç ã o sensorial e só

p o d e ser a l c a n ç a d o m e d i a n t e a c o n t e m p l a ç ã o filosófica. A teoria

política d e Platão é baseada na ideia d e q u e a estrutura d o Estado

d e v e refletir a estrutura da alma. A Justiça n o Estado, c o m o n o indi-

v í d u o , existe n o f u n c i o n a m e n t o h a r m o n i o s o d e suas partes: a classe

d o m i n a n t e , a militar e a e c o n ô m i c a . Tais teorias são p r i m o r o s a m e n -

te d e s e n v o l v i d a s e m A República.

O d i á l o g o r a p i d a m e n t e estabeleceu-se c o m o u m g ê n e r o filosófi-

c o e foi usado por autores d e s d e Aristóteles a D a v i d H u m e . A c o n -

c e p ç ã o dualista da realidade d e Platão foi revivida n o fim da A n t i -


A DIREITA: Aristóteles e Platão e m detalhe

d l p i n t u r a d e R a f a e l Escola de Atenas g u i d a d e pelos neoplatonistas e por i n t e r m é d i o deles exerce u m a

(1310-1511). profunda influência na filosofia cristã. TP

18 • P L A T Ã O
CAIO VALERIO CATULO
Principais obras N a s c i m e n t o : r.84 a.C. (Verona, Itália). Morte: C.54 a.C. (Roma, Itália). -

Estilo e g ê n e r o : Escritor ousado e moderno, Catulo ma p e o u o terreno entre o


1'i.rsia
ódio e o amor e m uma lírica pessoal d e intimidade estarrecedora e e m p e q u e n o s
' armlna, 1472 (baseada e m cópias feitas n o
épicos d e atordoante frescor.
'.»'( ulo XIII d e u m m a n u s c r i t o p o s s i v e l m e n t e
d o século IX)

Poemas, 1981
C a i o Valério C a t u l o foi o primeiro escritor m o d e r n o . D e c i d i d o a
() livro de Catulo, 1996
cultivar u m a a m i z a d e c o m J ú l i o Cesar, C a t u l o prestou u m o d i o s o

a n o d e serviço político na Bitínia e d e p o i s r e t o r n o u às luzes bri-

l h a n t e s d e R o m a , o n d e - s e g u n d o m u i t o s d e seus d e t r a t o r e s -

d e v o t o u - s e d e f o r m a r e b e l d e a o sexo, à b e b i d a e à poesia, c r i a n d o

u m círculo, o N e o t e r o i , inspirado na Grécia clássica, t ã o e m v o g a .

Entretanto, foi o relato mal dissimulado d e u m caso c o m a esposa

d o cônsul, Clódia Metella, sob o c o d i n o m e " L é s b i a " q u e garantiu a e l e

uma reputação d e ousadia social. Seus epílios, q u e c o n d e n s a v a m

narrativas épicas e m a p e n a s algumas páginas, demonstraram sua

ousadia literária. E m a m b a s as formas, ele inventou expressão poética

para as paixões q u e d o m i n a v a m seus heróis e a si m e s m o . SM

VIRGÍLIO
Principais obras N a s c i m e n t o : 1'uhllus Vergilius Maro, 15 d e outubro d e 70 a.C. (próximo a Mântua,
na Itália). M o r t e : 19 a.C. (Brindlsl, Itália).
Poesia
Estilo e g é n e r o : Para Dante, Virgílio é o mestre supremo e o criador de"/obe//o
/1 Im/as ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o Bucólicas),
sr/7e". Dryden c h a m o u as Geórgicas d e "o melhor p o e m a d o melhor poeta*
42-37 a.C.

Stórglcas, c.36-29 a.C.


/ nelda, 19 a.C. ( p u b l i c a d o e m 12 livros, m a s
Virgílio c o s t u m a ser c o n s i d e r a d o o mais i m p o r t a n t e poeta r o m a n o
i n c o m p l e t o q u a n d o da m o r t e d e Virgilio)
d o p e r í o d o clássico, e sua obra t e v e e n o r m e influência na literatura

europeia. S e u primeiro trabalho, Éclogas, é a m b i e n t a d o na idílica

Arcádia, e m b o r a e v e n t o s políticos c o n t e m p o r â n e o s sejam d e b a t i -

dos por pastores e fazendeiros q u e h a b i t a m esse paraíso. O poeta

incluiu maior senso d e realidade sobre a vida n o c a m p o e m Geórgicas,

sua obra seguinte, q u e descrevia a rotina diária d e u m a fazenda.

Talvez sua criação mais c o n h e c i d a , p o r é m , seja a Eneida. Virgílio

reconta a jornada d e Eneias, d e s d e o saque d e Tróia a t é a f u n d a ç ã o

d e R o m a , t a n t o c o m o u m a afirmação das origens heróicas d e R o m a


A DIREITA: Vénus pede a Vulcano armas

p.n.i E n e i a s , n a o b r a d e C h a r l e s - J o s e p h c o m o t a m b é m e m u m a tentativa d e fornecer à cultura r o m a n a u m a

N . i l o i r e d e 1734. obra c o m p a r á v e l à Ilíada e à Odisseia. PG

10 • ( A I O V A L É R I O C A T U L O • V I R G Í L I O
HORACIO
N a s c i m e n t o : Oiiinl i r . I loratius ll.u i u \ 8 do de/ombro rio 6 5 a.CXVenosa, Itália).
Morte: 2 7 d e n o v e m b r o d e 8 a.C (Roma, Itália).

Estilo e g ê n e r o : Satirlsta e crítico romano cuja obra está repleta de tolerância e de


(ri I n , , i ri. i i mi ii li •i.ii,. 1 ' i n i i m r i ' i i ml ii •
< imimti u m l i m nlii o d a bn vidado da vli la.

A vida de Horácio - de forma condizente c o m q u e m c u n h o u a

expressão carpe diem - foi repleta d e o p o r t u n i d a d e s a p r o v e i t a d a s .

S e u pai, a p e s a r d e escravo, fez m u i t o d i n h e i r o c o m o leiloeiro para

m a n d a r o filho estudar e m R o m a e d e p o i s e m A t e n a s . Horácio alis-

tou-se n o exército republicano d e Brutus e lutou e m Filipos (42 a.C).

C o m a m a r g a a u t o i r o n i a , mais t a r d e diria q u e largara o e s c u d o e

Principais obras fugira d o c a m p o d e batalha. A o retornar para casa, d e s c o b r i u g u e

suas p r o p r i e d a d e s h a v i a m sido confiscadas, m a s o b t e v e u m c a r g o


Poesia

sátiras, 35-30 a.C.


d e secretário n o t e s o u r o para g a n h a r seu sustento.

I pados, 3 0 a . C . A poesia q u e Horácio escreveu d u r a n t e os p o u c o s anos seguintes

Odes (Carmina), 23-13 a.C. impressionou Virgílio, q u e o a p r e s e n t o u a o g r a n d e patrono M e c e n a s .


Critica
Esse a c o n t e c i m e n t o m a r c o u o início d e u m a a m i z a d e q u e duraria a
Ar le poética o u Epistola aos pisões, 18 a.C.
vida inteira. Dali e m d i a n t e , H o r á c i o n ã o t e v e m a i s p r e o c u p a ç õ e s

financeiras. Circulava c o m desenvoltura entre os principais poetas e

estadistas d e R o m a . M e c e n a s lhe d e u u m a p r o p r i e d a d e agrícola nas

terras d e Sabina, próximas a R o m a , q u e foi fonte d e muita felicidade

para Horácio e inspiração d e alguns dos mais belos trechos d e seus

escritos. Epodos e Odes i n c l u e m p o e m a s curtos e m variadas m é t r i -

cas líricas, cujos t e m a s se relacionam c o m a m o r e amizade, vinho,

alegrias da vida no c a m p o e m u d a n ç a s d e estações, a grandeza roma-

na e o caráter d o c i d a d ã o ideal. Os p o e m a s urbanos e inteligentes e m

Sátiras z o m b a m s u a v e m e n t e das sandices e

d o s v í c i o s d o s h o m e n s . O Poema II, vi, é a


"É d o c e e a d e q u a d o
f a m o s a sátira da vida na c i d a d e e n o c a m p o ,

morrer por seu c o n h e c i d a c o m o a f á b u l a d o rato d a c i d a d e

e o rato d o c a m p o .

país." - Odes III D e p o i s da m o r t e d e Virgílio, e m 19 a . C ,

Horácio tornou-se o Poeta Laureado d e A u -

gusto e foi c o n t r a t a d o para lhe escrever o h i n o Carmen Saeculare.

A p r e s e n t a d o por u m coral d e 27 m e n i n a s e 27 m e n i n o s , e l e i n v o -
A< I M A : R e t r a t o d e H o r á c i o f e i t o p o r Luca

S i g n o r e l l i , c l 500-1504, na C a p e l a d e S a n cava os d e u s e s e pedia-lhes q u e g a r a n t i s s e m p r o s p e r i d a d e a R o m a

liii/io, e m Orvieto. e a o g o v e r n o d e A u g u s t o . PG

Jl- HORÁCIO
OVÍDIO
u.i li i m r n t o : Publlus Ovidius Naso, 20 d e março d e 43 a.C. (Sulmona, Itália). M o r t e :
mstança, Romênia).

I H L " ' - rjênero: A poesia d e Ovídio é marcada pela consciência literária, pelos temas
i »i« I IS, pela expressão elegante e concisa e por u m fluxo musical d e versos.

n h e c i d o c o m o o último d o s g r a n d e s p o e t a s da era d e

isto, O v í d i o s u p e r o u t o d o s os s e u s p r e d e c e s s o r e s e m inteli-

I I , e l e g â n c i a e c h a r m e . D e p o i s d e a b a n d o n a r u m a carreira

polltli a e m f a v o r d e u m a v i d a d e p o e s i a d e n t r o d o s c í r c u l o s d a

e d o s r e d u t o s literários d e R o m a , O v í d i o e n c o n t r o u suces-

" i m e d i a t o c o m suas p r i m e i r a s i n v e s t i d a s nas e l e g i a s d e a m o r .

I ml iora d e v o t a s s e a m a i o r p a r t e da sua carreira a o g ê n e r o elegía- Principais obras


ilvez seja mais c o n h e c i d o p e l o g r a n d i o s o p o e m a m i t o l ó g i c o
Poesia
niorfoses, sua ú n i c a o b r a na t r a d i ç ã o é p i c a . T e n d o como Amores, c.25-16 a.C.

iivi) u n i f i c a d o r a m u d a n ç a d e c o r p o s , o t e m a c e n t r a l d o a m o r Cartas de pônticas, d e p o i s d e 8 a.C.

unitivas embutidas que continuamente se reproduzem, Asheroides, c.5 a.C.

Curas para o amor, c.5 a.C.


niorfoses constitui o ápice d e t o d o o virtuosismo d e Ovídio.
A arte de amar, c. 1 a.C.
1 1
p o e m a é a o m e s m o t e m p o u m catálogo d e mitologia e u m
Metamorfoses, c.8 d.C.
m i e e r u d i t o d a c o n v e n ç ã o e h e r a n ç a literárias.
Tristezas, d e p o i s d e 8 d.C.
I i i i g e d o sucesso, e m 8 d . C , O v í d i o foi e x i l a d o e m T o m i s ,

Uma d a s p a r a g e n s m a i s d i s t a n t e s d o i m p é r i o , p o r razões a i n d a

iltas e m mistério. A suspeita é d e q u e , p o r trás d a a c u s a ç ã o

i i.il d e i m o r a l i d a d e d e sua p o e s i a , t e n h a sido p u n i d o p o r u m

i uni.ilo a d ú l t e r o e n v o l v e n d o a n e t a d o i m p e r a d o r . L o n g e d o s

ii'il'ilotos, O v í d i o r e t o r n o u às raízes e l e g í a c a s , l a m e n t a n d o a

|i n a ç ã o da s o c i e d a d e para a q u a l e s c r e v e r a sua P O E S I A e que


1
i i i . i p l a u d i d o sua e x c e l ê n c i a p o é t i c a d e

MI i ã o a r d e n t e . O exílio m a r c o u u m a
"Eu, que brinquei entre amores
lança a b r u p t a n o t o m e n o estilo d e

'I escritos, q u e se t o r n a r a m t a c i t u r n o s e delicados, fui assassinado por


IN . p e c t i v o s . A p r o d u ç ã o d o exílio, p o r é m ,

trai a m e s m a p a i x ã o pela própria f a m a e meu próprio talento." - Tristezas


|iel,i p e r m a n ê n c i a d e sua p o e s i a q u e já

ii I I l e r i z a v a m s e u s t r a b a l h o s e m R o m a . Foi, d e fato, a d e q u a d o

|U61 i v i d i o t e n h a p e r m a n e c i d o c o m o u m a p r e s e n ç a i n f l u e n t e n o
A C I M A : R e t r a t o d e O v í d i o f e i t o p o r I.ih .1 .
. n u m e ocidental. MP S i g n o r e l l i , c l 5 0 0 - 1 5 0 4 , n a C a p e l a d o San

Brizio, e m O r v i e t o .

OVÍDIO -i \
APULEIO
N a s c i m e n t o : I uclus Apuleius, cr. 12d (Madauros, Numídia, próximo ao q u e é hoje
M d a o u r o u c h , na Argélia). M o r t e : c 170 (Numídia).

Estilo e g é n e r o : A prosa de Apuleio é uma mistura divertida de mágica, farsa e mitolo-


gia, escrita e m u m estilo vivaz extremamente refinado e c o m frequência picaresco.

No papel, A p u l e i o levou u m a vida privilegiada. R e c e b e u u m a

substancial g u a n t i a e m dinheiro d e p o i s da m o r t e d o pai, u m

magistrado d e província, g u e rapidamente desperdiçou. Matri-

c u l o u - s e na u n i v e r s i d a d e e m C a r t a g o e d e p o i s e m A t e n a s , e

e s t u d o u filosofia p l a t ô n i c a . A p ó s sua i n i c i a ç ã o n o s m i s t é r i o s d e

Isis, e s t u d o u o r a t ó r i a latina e m R o m a e c o m e ç o u u m a carreira

Principais obras b e m - s u c e d i d a n o s t r i b u n a i s . Foi e s s e s u c e s s o q u e l h e p e r m i t i u

viajar m u i t o pela Ásia M e n o r e pelo Egito, e s t u d a n d o filosofia e reli-


Romance
Metamorfoses (O asno de ouro}, data
g i ã o . P o r é m , n e s s a é p o c a , foi a c u s a d o d e u s a r m a g i a e feitiçaria

desconhecida para g a n h a r o a f e t o e a f o r t u n a d a v i ú v a c o m q u e m h a v i a se

Discursos c a s a d o . A o fazer u m d i s c u r s o e m sua p r ó p r i a d e f e s a , t r a t a n d o ,


/l/Hj/oíy/íí, c.158
e m e s s ê n c i a , d o u s o d a m a g i a , e l e p r o v a v e l m e n t e g a r a n t i u sua

absolvição. Voltou a trabalhar no discurso e publicou uma ver-

são q u e c h a m o u d e Apologia.

Apuleio é renomado principalmente pelo romance episódi-

c o e p i c a r e s c o c o n h e c i d o c o m o Metamorfoses ou p o p u l a r m e n -

t e c o m o O asno de ouro - o ú n i c o r o m a n c e l a t i n o a s o b r e v i v e r

na í n t e g r a . C o n t a a s t u r b u l e n t a s e às v e z e s l i b e r t i n a s a v e n t u r a s

d e L u c i u s , u m g r e g o q u e faz e x p e r i ê n c i a s c o m a m a g i a e t e m o

azar d e s e r t r a n s f o r m a d o e m a s n o . Na p e l e d e s s e a n i m a l , e l e

v i v e muitas a v e n t u r a s , cai nas m ã o s d e ladrões, c o m p a r t i l h a

suas fantásticas proezas e finalmente

"A f a m i l i a r i d a d e g e r a o v o l t a a f o r m a h u m a n a g r a ç a s a i n t e r v e n
"
ção da deusa (sis. A c o n t e c e m múltiplas

d e S p r e Z O e r a r a m e n t e traZ a digressões: a mais longa é a f a m o s a f á b u l a

d o noivo encantado, Cupido e Psique (Livros

a d m i r a ç ã o . " - Apuleio IV-VI), g u e na Antiguidade tardia e na

Idade Média às vezes foi interpretada

c o m o u m a alegoria da a l m a (psique) e m relação ao a m o r ( c u p i -

d o ) . O asno de ouro foi u s a d o m a i s t a r d e p o r S h a k e s p e a r e c o m o

A C I M A : O asno de ouro, d e Apuleio, é o único u m a


d a s f o n t e s p a r a sua f a m o s a c o m é d i a Sonho de uma noite
romance latino a sobreviver integralmente. de verão. PG

J<\ • A P U L E I O
SANTO AGOSTINHO
N . m i m e n t o : Aurelius Augustinus, 13 d e n o v e m b r o d e 354 (Tagaste, Numídla).
Mi li In: 78 d e agosto d e 430 (Hipona, Numídia, atual Argélia).

i tilo e g ê n e r o : A análise d e Santo Agnslindo sobro o lado emocionn da


•K|M'i lenda cristã diante d o p e c a d o p e r m a n e c e insuperável.

1 1
pai d e A g o s t i n h o era p a g ã o , m a s sua m ã e ( S a n t a M ô n i c a ) e r a

Uma < ristã d e v o t a q u e e x e r c e u g r a n d e i n f l u ê n c i a s o b r e o filho.

lei Hortensius, d e Cícero, A g o s t i n h o t o r n o u - s e p r o f u n d a m e n -

i i i i i o r e s s a d o e m filosofia. C o n v e r t e u - s e à religião m a n i g u e í s t a ,

• l i q u a l m a n t e v e a l g u n s p r i n c í p i o s d e p o i s d e abrir sua p r ó p r i a

i ila d e retórica e m R o m a . D u r a n t e e s s e p e r í o d o , t e v e u m f i l h o

l e o d a t o ) c o m u m a m u l h e r q u e seria sua c o n c u b i n a p o r m a i s Principais obras


i i'i anos. E m Milão, r e c e b e u a oferta d e u m cargo d e profes-
Autobiografia
sofreu as influências d o n e o p l a t o n i s m o e d o s s e r m õ e s d e Confissões, 397-398
m i o Ambrósio. Obras teológicas

I i c p o i s d e intensos conflitos interiores, A g o s t i n h o r e n u n c i o u a A cidade de Deus, cA\3-426

todos os seus c r e d o s p o u c o ortodoxos e devotou-se inteiramente

i ' ' serviço d e D e u s e às práticas d o sacerdócio, e n t r e elas a castida-

i' I )e a c o r d o c o m seu próprio relato, l e v o u u m a vida d e p e c a d o

l i o i i c o n v e r s ã o a o cristianismo, a o s 32 a n o s . Ele retrata d e f o r m a

• • ' m o v e n t e suas lutas espirituais e a busca pela v e r d a d e n a s

Onfíssões, escritas c o m p r o f u n d a i n t r o s p e c ç ã o para a e d i f i c a ç ã o

dos leitores.

A o v o l t a r p a r a a África d o N o r t e , A g o s t i n h o c o n v e r t e u a casa

da l.imília e m u m a f u n d a ç ã o m o n á s t i c a para si e u m g r u p o d e

gos. C o m e ç o u e n t ã o a t r a b a l h a r n o s 22 livros d e A cidade

dtí >eus, tarefa q u e o o c u p a r i a p o r q u a s e 14

,mos. O s livros f o r a m escritos p a r a r e s t a u r a r "COnCeda-RIE a Castidade e d


' o n f i a n ç a d e s e u s c o m p a n h e i r o s cristãos,

lefiamente abalada depois d o saque d e Roma COíltínênCia, íTiaS a í n d a llãO."


• L O S v i s i g o d o s e m 4 1 0 . Na o b r a , e l e e s t a -

LEI eu a alegoria d e duas cidades: u m a - Confissões, VII, vii


•lestial, c o m p o s t a p e l o s v i r t u o s o s na terra

I os s a n t o s n o c é u , v i v e n d o d e a c o r d o c o m a v o n t a d e d e D e u s , e

mi ta t e r r e n a , g u i a d a p o r p r i n c í p i o s e g o í s t a s e c a r n a i s . A g o s t i n h o

morreu aos 75 anos, e n q u a n t o os invasores v â n d a l o s c e r c a v a m a A C I M A : D e t a l h e d e Santo Agostinho,

• i d a d e d e H i p o n a . PG d e Filippino ü p p i , c.l490.

S A N T O A G O S T I N H O
CHRÉTIEN DETROYES
N a s c i m e n t o : c l 130 (lugar desconhecido). Morte: c l 190 (lugar desconhecido).

Estilo e g ê n e r o : Chrétlen deTroyes foi o autor medieval dos contos d e cavalaria


c o m enredos complexos e entrelaçados e episódios misteriosos e mágicos q u e
d a v a m atenção especial ao amor e ao casamento.

C o m o a c o n t e c e c o m muitos autores medievais, p o u c o se sabe sobre

a vida d e C h r é t i e n . A dedicatória d e Lancelote, o cavaleiro da carreta

para Marie, condessa d e C h a m p a g n e , s u g e r e q u e ele p o d e ter sido

ligado a sua c o r t e e m Troyes, na França, e m b o r a n ã o esteja claro

como. Independentemente d o mistério, sua influência literária

expandiu-se pela Europa O c i d e n t a l d u r a n t e t o d a a I d a d e M é d i a .

Principais obras A carreira d e Chrétien desenrolou-se d u r a n t e u m p e r í o d o d e

m u d a n ç a s significativas na literatura francesa. Na s e g u n d a m e t a d e


Romances
trec et Enide, c l 170
d o século XII, os r o m a n c e s c o m versos l o n g o s tornaram-se cada vez

f llgéS, c l 176 mais populares, e m d e t r i m e n t o d o épico tradicional o u c a n ç ã o d e


Yvdin, o cavaleiro do leão, c 1177-1181 gesta. E n q u a n t o a c a n ç ã o discorria sobre batalhas e o destino d e
Perceval ou o conto do Graal, c. 1190
p o p u l a ç õ e s inteiras e m estrofes ousadas e repetitivas, o r o m a n c e
Poemas
t r a t a v a d a trajetória d e u m c a v a l e i r o o u d o s a c o n t e c i m e n t o s e m
/ ancelote, o cavaleiro da carreta, c l 177-1181
torno d e u m par d e a m a n t e s . Os melhores r o m a n c e s medievais,

c o m p r o f u n d o interesse pelas m o t i v a ç õ e s psicológicas d o s persona-

gens, p a r e c e m a n t e p a s s a d o s distantes d o r o m a n c e m o d e r n o .
A C I M A : P e r c e v a l e o S a n t o G r a a l , 1286.
Embora Chrétien pertença ao período inicial da tradição d o r o m a n -

ce, sua obra indiscutivelmente nunca foi superada. Seus cinco r o m a n -


A B A I X O : R e p r e s e n t a ç ã o d o s é c u l o XIII d e

u m a c e n a d a história d e P e r c e v a l . ces (dois inacabados) se passam na lendária Bretanha d o rei Arthur,

26- C H R É T I E N DE TROYES
CHRÉTIEN DE TROVES

|| .li ivcilando uma rica tradição d e lendas arturianas provenientes da A C I M A : A chegada do Graal (1350), d e uin.i

Ini ilaterra, da França e d o País d e Gales. Chrétien retirou o foco d o pró- i l u m i n u r a f r a n c e s a n o Roman de Perceval.

i i< 'i (que se tornou u m tanto sedentário e até moralmente ambíguo)

K entrou-se nos cavaleiros e e m suas aventuras longe da corte.

I nihora o m u n d o d e suas c o m p o s i ç õ e s seja repleto d e maravilhas

. .iv.ileiros heróicos, donzelas idealizadas, anéis mágicos - está b e m

l l l l t a n t e d e ser u m d o m í n i o da pura fantasia. Os r e l a c i o n a m e n t o s O Santo Graal


I ii ii 11.mos, sejam eróticos ou políticos, s e m p r e foram a principal preo-
Chrétien foi o primeiro autor a associar o (ii.i.il ,i
i| MI,,io d e Chrétien. E m mais d e u m a ocasião, ele z o m b a discreta- Arthur e seus cavaleiros. No inacabado Peri rvnl
ou o conto do Graal (que costuma ser considera
m e n t e dos elaborados códigos sociais d e estética da corte: Yvain, o
da sua última obra), não aparece comn.i i,n,.i ,1,
i i , ilciro do leão c o m e ç a c o m Arthur deixando a mesa d e jantar ines- Cristo, mas como um graal vazio, ou prato i\r
peixe, carregado em uma misteriosa prot ¡ss.li.
I ,i u d a m e n t e para ir para a cama c o m Guinevere. E m outro r o m a n c e ,
diante do herói Perceval. Os romances (I. •
i i i i o c e n t r a d o L a n c e l o t e é d e r r u b a d o d o c a v a l o , e n q u a n t o sonhava Chrétien estão mais preocupados com a livall

II i lidado c o m suas desventuras amorosas, sem perceber q u e inadver- dade dinástica do que com o misticismo.
Perceval precisa escolher entre sua lealdade a
iii I,intente havia aceitado o desafio d e u m cavaleiro rival. Arthur e as demandas de sua família, hoslil ,i».

S e a m e d i d a d e u m ideal é o grau d e sua c a p a c i d a d e para provo- rei. Enquanto alguns dos personagens alegam
q u e o G r a a l é u m ícone religioso, Chret li •! i
i ,n o p e n s a m e n t o , d e resistir aos q u e s t i o n a m e n t o s s e m necessaria-
demonstra com habilidade seu verd.ideín. ',1. i, il
m e n t e inspirar a d e v o ç ã o cega, e n t ã o pode-se dizer q u e o ideal da ficado como um símbolo de uma causa pollt l< a

, IV, il.iria p e r m a n e c e v i v o nos r o m a n c e s d e Chrétien. CT

C H R É T I E N D E T R O Y E S • 27
DANTE ALIGHIERI
N a s c i m e n t o : Maio d e 1265 (Florença, Itália). Morte: 13 o u 14 d e setembro d e 1321
(Ravenna, Itália).

Estilo e g ê n e r o : l'ai da poesia e m Italiano, viveu no exílio por razões políticas a partir
d e 1302. E m 1308, Iniciou o maior poema épico da Idade Média, A divina comédia.

No Pequeno tratado em louvor de Dante (cl355), Giovanni

B o c c a c c i o faz esta d e s c r i ç ã o : " n o s s o p o e t a d e estatura m e d i a n a

q u e havia a l c a n ç a d o a i d a d e m a d u r a e se tornara u m t a n t o p e s a -

do, d e a n d a r s o l e n e e s u a v e , s e m p r e v e s t i d o c o m as roupas mais

corretas, trajes q u e , na sua i d a d e , e r a m os q u e mais o f a v o r e c i a m .

S e u rosto era c o m p r i d o e o nariz, aquilino, c o m o l h o s g r a n d e s e

Principais obras p e q u e n o s a o m e s m o t e m p o . O q u e i x o era m a r c a n t e e o lábio

superior se sobressaía. S e u t o m d e pele era escuro e o c a b e l o e a


l'nesia

Vida nova, 1292-1295


barba, n e g r o s e c r e s p o s . O rosto era m e l a n c ó l i c o e meditativo."

lenquete, 1304-1307 U m a fortuita t r a d i ç ã o iconográfica confirma q u e as características

A divina comédia, 1308-1321 m a r c a n t e s da a p a r ê n c i a d e D a n t e e r a m o nariz, os lábios e o q u e i -


Lnsaios
xo. Os t e r m o s " m e l a n c ó l i c o " e "meditativo", e m p r e g a d o s por
A vulqar eloquência, 1303-1305
B o c c a c c i o , r e l e m b r a m o solitário i s o l a m e n t o d o p o e t a , s u s t e n t a d o ,

p o r é m , por u m a s e d e infinita d e c o n h e c i m e n t o e a l i m e n t a d o

p e l o e s p l ê n d i d o o r g u l h o q u e o i m p e d i a d e se s u b m e t e r a o s c a p r i -

c h o s d o s p o d e r o s o s m e s m o q u a n d o isso o o b r i g a v a a s u p o r t a r

u m a vida passada n o exílio.

A primeira obra d e literatura q u e p o d e ser atribuída a D a n t e

c o m a l g u m g r a u d e a c e r t o é Vida nova. É c o m p o s t a por u m a mis-

28 • D A N T E ALIGHIERI
luro tle 42 capítulos d e prosa e 31 p o e m a s d e métrica variada e A C I M A : D a n t e e Virgílio e n t r e adivinho-, r

. i n i 1,1 o a m o r d e D a n t e por Beatriz, d e seu primeiro e n c o n t r o a t é falsos profetas, cujas cabeças foram viradas

para trás c o m o f o r m a d e p u n i ç ã o .
t e d e l a . N o ú l t i m o capítulo, e n c o n t r a m o s a s f a m o s a s linhas

• i n u n d a m A divina comédia, u m a obra q u e D a n t e a l e g a ter

l(l(i i ( i n c e b i d a para h o m e n a g e a r sua a m a d a Beatriz: "Assim, se for

g r a d o D e l e a g u e m t o d a s a s coisas d e v e m a vida, se m e f o r e m

i d o s mais a l g u n s anos, e s p e r o escrever s o b r e ela a g u i l o g u e

a foi escrito s o b r e n e n h u m a mulher."

I . i m b é m escrito e m italiano vulgar, Banquete é uma coletânea

latro tratados criados c o m o objetivo d e servir d e convite para

s o s q u e se s e n t e m excluídos para partilhar da b e m favorecida

i d o C o n h e c i m e n t o . Trata-se d e u m exer-

c a d ê m i c o s o b r e a filosofia m e d i e v a l -
" O r g u l h o , inveja, avareza..
i i i ' nitras palavras, u m a tentativa d e reconci

¡tal a d o u t r i n a d a c r i s t a n d a d e c o m a escola p õ e m fogO PIOS COraÇÕeS (JOS


totélica clássica d e p e n s a m e n t o . E m A vui-

10/ eloquência, escrito e m latim e parcialmen- h o m e n s . " - Inferno, VI


tt Cl mcluído, o p o e t a d e b a t e a i m p o r t â n c i a d o

M i| n e g o da língua vulgar, caracterizando-a c o m o "ilustre", "funda-

mtntal", "culta" e "crítica". O s três livros r e u n i d o s e m Monarquia

(1313-1318) t a m b é m f o r a m escritos e m latim. Neles, p o r m e i o da

i.dora d o s dois sóis, D a n t e d e s c r e v e seus ideais políticos e

DANTE A L I G H i r i i l • n
d e f e n d e u m a clara s e p a r a ç ã o e n t r e o p o d e r imperial (política) e a
0 grande amor de Dante esfera d e influência p a p a l (religião).

Imortalizada na obra de Dante, Beatriz


Portinari foi transformada e m uma das A divina comédia
<jr,indes musas da literatura, no mesmo
A obra q u e torna D a n t e o s u p r e m o m o d e l o para os escritores ita-
patamar da Laura de Petrarca e da
íkitk Lady de Shakespeare. lianos é, s e m d ú v i d a , A divina comédia (iniciada e m 1308). O a d j e t i -

v o "divina" foi, na realidade, u m a c r é s c i m o d o s é c u l o X V I , i n f l u e n -


1 lante tinha apenas 9 anos e Beatriz, 8,
quando se encontraram pela primeira vez. c i a d o p e l o v e r e d i t o d e B o c c a c c i o s o b r e seus méritos. Consiste e m
I le alega ter se apaixonado à primeira vista,
14.233 versos d i v i d i d o s e m t e r c e t o s c o m ritmos c o n c a t e n a d o s .
apesar de nunca ter conversado com Beatriz
I , .1 partir dessa relação tão fugaz, devotou C e m c a n t o s são d i v i d i d o s e m três c â n t i c o s c o m 33 c a n t o s c a d a
( nnslderável volume de sua produção u m , a l é m d e u m c a n t o d e a b e r t u r a . O p e r s o n a g e m principal, q u e
literária à celebração de suas virtudes. De
acordo com Vida nova, eles se encontraram leva o n o m e d o autor, d e s c r e v e sua j o r n a d a aos 35 anos, "na m e t a -
apenas mais uma vez antes da morte de d e d o c a m i n h o d e nossas vidas". A obra se passa e m 1300 d u r a n t e
Beatriz, aos 24 anos, embora, como fossem
a S e m a n a S a n t a , nos três dias d e o r a ç õ e s q u e p r e c e d e m o b a n q u e -
membros de importantes famílias
florentinas, seja possível que Dante estivesse te. Nos três reinos s u b t e r r â n e o s d o p u r g a t ó r i o , inferno e paraíso,
minando certa licença poética.
D a n t e e seu guia Virgílio - o principal p o e t a da A n t i g u i d a d e clássi-

Apesar de se casar com G e m m a dl Manetto ca e a r a u t o d o cristianismo - e n c o n t r a m p e r s o n a l i d a d e s d o p a s s a -


I lonatí, Dante se desfez em elogios a Beatriz
d o e d o p r e s e n t e . D a n t e usa esses p e r s o n a g e n s c o m o p r e n ú n c i o s :
em Vida nova, e ela lhe serviu d e guia no
Paraíso, assumindo o papel desempenhado n o inferno, eles a n u n c i a m os p e c a d o s m o r t a i s q u e p o d e m levar à
no inferno por Virgílio. A adoração de uma
c o n d e n a ç ã o eterna. No purgatório, a alma t e m a capacidade de
vida inteira por uma mulher q u e ele dizia ter
encontrado apenas duas vezes levou os a s c e n d e r à glória celestial a o se purificar d e p e c a d o s m e n o s s e v e -
estudiosos a argumentarem q u e a
ros. Q u a n d o c h e g a à última zona, o paraíso terrestre, D a n t e troca a
importância de Beatriz para Dante poderia
não ser nada além de um símbolo da c o m p a n h i a d e V i r g í l i o pela d e B e a t r i z , sua b e m - a m a d a , e viaja
pureza. Ou ela pode ter simplesmente
p e l o s n o v e c é u s d o paraíso c o m ela a t é a l c a n ç a r a experiência
iornecido a Dante a oportunidade de
demonstrar suas habilidades com as s u p r e m a d e c o n t e m p l a r a f a c e d e D e u s . A divina comédia é uma
convenções do amor cortês. Real o u não, o obra f a s c i n a n t e , q u e a b r a ç a d e s d e as críticas a o s conflitos políticos
relacionamento permanece como uma das
mais marcantes histórias de amor não
q u e na é p o c a d i v i d i a m Florença a t é u m o b s c u r o d e b a t e t e o l ó g i c o
(orrespondido da literatura. s o b r e a natureza d o p e c a d o e os m e i o s para a r e d e n ç ã o . C o m b i n a

u m a v a r i e d a d e d e m e i o s e f o r m a s d e c o m u n i c a ç ã o , das e x p r e s -

sões e m d i a l e t o a n e o l o g i s m o s e da d i c ç ã o d e características d o

latim aos c o l o q u i a l i s m o s . Dessa f o r m a , é o e q u i v a l e n t e italiano aos

Contos de Cantuária, d e G e o f f r e y Chaucer, a o desafiar a p r e d o m i -

nância d o latim c o m o l i n g u a g e m da a r t e e a o d e f e n d e r o p o t e n c i a l

literário d o s d i a l e t o s italianos. Essas l i n g u a g e n s e esses t e m a s

d i v e r s o s são u n i f i c a d o s e m u m t e x t o s u b l i m e , p r o d u z i d o por
Á D I R E I T A : Cenas de A divina comédia

de Dante, 1842-1844, p o r Carl V o g e l


u m g ê n i o da poesia. CC

Von Vogelstein.

30- D A N T E ALIGHIERI
FRANCESCO PETRARCA
N a s c i m e n t o : 20 d e julho d e 1304 (Arezzo, Itália). Morte: 18 ou 19 de julho de 1374
(Arquà, Itália).

Estilo e g ê n e r o : Pai d o humanismo europeu, celebrou o potencial humano e justificou


a busca pelas conquistas Individuais e m termos religiosos.

Petrarca c o s t u m a ser c o n s i d e r a d o f u n d a m e n t a l pelos estudiosos

para o e s t a b e l e c i m e n t o d o m o v i m e n t o h u m a n i s t a na Europa. S e u s

escritos r e p r e s e n t a r a m u m a r e a ç ã o a u m a d o u t r i n a mais antiga da

Igreja, g u e d e f e n d i a a a c e i t a ç ã o passiva da v i d a , a r g u m e n t a n d o

e m v e z disso q u e o i n d i v í d u o era c a p a z d e escolher seu próprio

d e s t i n o e q u e d e v e r i a ter a p e r m i s s ã o d e perseguir essa escolha.

Principais obras Petrarca a p r o x i m o u essa nova filosofia à tradicional crença religio-

sa, a o sugerir q u e D e u s n ã o teria d o t a d o a h u m a n i d a d e c o m o


Poesia

(ancioneiro, c.1335-c.1374
intelecto s e m e s p e r a r q u e ela o e m p r e g a s s e para a p r i m o r a r a c o n -

O meu livro secreto, cA 342-C.1358 d i ç ã o h u m a n a . Ideias c o m o essas d e m o n s t r a r a m ser f u n d a m e n t a i s

Triunfos, 1351-1374 para o f l o r e s c i m e n t o criativo d o R e n a s c i m e n t o .


Cartas
O h u m a n i s m o d e P e t r a r c a foi c a l c a d o p e l a r e d e s c o b e r t a d o s
Cartas sobre assuntos familiares (Rerum
textos clássicos da Europa O c i d e n t a l . O próprio Petrarca desen-
familiarum), c.1325-1366
cavou uma coletânea até então desconhecida de cartas de
Cartas sobre a velhice (Rerum senilium),
1361-1373 C í c e r o , o Ad Attlcum. B o a p a r t e da r e p u t a ç ã o d e P e t r a r c a foi
FRANCESCO PETRARCA

l i i n i . i f l . i por seus escritos e m latim, d e r i v a d o s d e e x e m p l a r e s clás-

i i n i i o Cartas sobre assuntos familiares, Cartas sobre a velhice e

i i i i d l a posteridade (Epistula ad Pósteros, c l 372). T a m b é m é notá-

•i 1 1
meu livro secreto, u m t e s t a m e n t o espiritual s o b a f o r m a d e

Ilálogo e n t r e o p o e t a e S a n t o A g o s t i n h o . Os principais t e m a s

l i " I mi são o c o n f l i t o e n t r e a luta pela pureza da a l m a e as t e n t a -

da < a r n e ; a reflexão s o b r e a m o r t e ; o fluxo c o n t í n u o d o t e m p o ,

I n u lin.ições inconfessáveis c o m o a p r e g u i ç a - t u d o p a r t e da crise

• i Hl 1111<iI d e seu t e m p o , s e m q u a l q u e r s o l u ç ã o . O alpinista


' lutra g r a n d e realização d e Petrarca foi o Cancioneiro, inspirado
Além de estabelecer o humanismo
i lo .iinor d e sua v i d a , Laura. (Há p o u c a i n f o r m a ç ã o s o b r e Laura, europeu, reabilitar obras clássicas e
desenvolver e influenciar a feitura do ,1

ela era c a s a d a e, por isso, na v e r d a d e , tinha p o u c o c o n t a t o


sonetos, Petrarca t a m b é m alegava
mmile.) Petrarca t r a b a l h o u nesse texto d e 1335 a t é o a n o d e sua (erradamente) ser o primeiro a esc alai
montanhas por prazer desde Filipe V da
il te e o r e e s c r e v e u diversas vezes. N o c e n t r o d a c o l e t â n e a está a
Macedónia, depois d e ter alcançado e h >| >o
In ítórla d e u m a a l m a indócil, e t e r n a m e n t e dividida e n t r e a beleza do monte Ventoux, no sul da França, e m
1336. A escalada foi, desde então,
• I n ideal e a miséria da realidade, r e s u l t a n d o e m u m contínuo
interpretada c o m o uma alegoria da bir.< .i
MM m ó l o g o d o p o e t a . Na t r a d u ç ã o para o inglês, o Cancioneiro esta- por uma vida melhor, mas em uma < ai la

l i r l c c e u o estilo Petrarca, c o m seus p a d r õ e s i n c o n f u n d í v e i s de a u m amigo, com a descrição da viagem,


Petrarca aflrmava:"Meu único motivo eia o
BS e suas p r e o c u p a ç õ e s c o m o a m o r i n a l c a n ç á v e l , c o m o um desejo de ver o que tal elevação tinha ,i
li is ptincipais f o r m a t o s para a c o m p o s i ç ã o d e s o n e t o s . CC oferecer."

F R A N C E S C O PETRAItC A • I I
HAFIZ
Principais obras N a s c i m e n t o : Khwajeh S h a m s al-DIn M u h a m m e d Hafez-e Shlrazi, cl310-1325
(Shiraz, Pérsia, hoje Irá). Morte: c 1389 (Shiraz, Pérsia).

Estilo e g ê n e r o : Poeta < la i orte que tratava d o amor espiritual e professor d o Corão que
l)ivan-e-Hafiz, 1410 ( c o m p i l a ç ã o d e
obteve consciência cósmica, Hafiz incorporou a sofisticação erudita da Pérsia medieval.
M o h a m m a d Golandaam)

Os gazéis de Hafiz, 1944

C o m o P e t r a r c a , q u a s e s e u c o n t e m p o r â n e o , Hafiz criou u m a p o e -

sia cristalina s o b r e o a m o r d i v i n o e sexual. P o r mais d e 50 a n o s ,

e s c r e v e u m o v i d o pela i n s p i r a ç ã o d i v i n a , p o r é m m u i t o s d o s 500

gazéis c a n t a m a riqueza e a beleza d e S h a k h - e N a b a t , q u e o c u p a

e m sua o b r a o m e s m o lugar g u e Laura na d e P e t r a r c a . A l é m d e

ser p o e t a da c o r t e d e A b u Ishak e d e p o i s d o xá S h u j a , Hafiz foi

um mestre divino. Seus conhecimentos religiosos e s t ã o e m -

b u t i d o s e m seu n o m e d e escritor: Hafiz indica a q u e l e q u e m e m o -

rizou o C o r ã o . C o m o o p o e t a italiano, e l e h e r d o u u m a g r a n d i o s a

t r a d i ç ã o lírica e x e m p l i f i c a d a por R u m i e N i z a m i . P o r é m , a t r a d i -

ç ã o d e Hafiz, expressa e m sua o b r a , c e l e b r o u a i n t e r l i g a ç ã o e n t r e

o erótico e o espiritual. SM

GIOVANNI BOCCACCIO
Principais obras N a s c i m e n t o : limbo o u julho d e 1313 (prov.ivelmenle e m I lorença, llálla). M o r l e :
21 d e d e z e m b r o d e 1375 (Certaldo, próximo a Arezzo, Itália).
Poesia
Estilo e g ê n e r o : B o c c a c c l o é considerado u m dos três mestres da literatura italiana,
lilostrato, 1335-1340
.lo lado de I l.inle e IVttulc a.
Romances

Uccamerão, 1349-1353

Biografias
Entre muitas o b r a s m e n o r e s d e B o c c a c c i o , o Decamerão, uma cole-
SorVe os destinos de homens famosos,
t â n e a d e 100 c o n t o s , destaca-se por sua o r i g i n a l i d a d e . T e n d o
1355-1374
c o m o p a n o d e f u n d o a peste g u e fustigava Florença e m 1348, sete
Sobre mulheres famosas, c. 1362
crianças e três j o v e n s b u s c a m refúgio e m u m a casa fora d a c i d a d e .

A o l o n g o d e 10 dias, distraem-se c o n t a n d o 10 histórias c u r t a s por

dia. A obra c o m e ç a c o m u m prefácio dirigido às " m u l h e r e s n ã o

identificadas" g u e p e s s o a l m e n t e e x p e r i m e n t a r a m o amor, i n d i c a n -

d o o valor s i m b ó l i c o d e s s e s e n t i m e n t o c a p a z d e criar vida d i a n t e

d o s horrores da p e s t e . E m c a d a c o n t o , o leitor t e s t e m u n h a um

c o n f r o n t o e n t r e os vícios e as v i r t u d e s d a h u m a n i d a d e por m e i o

d e u m a galeria d e p e r s o n a g e n s e situações q u e e x e m p l i f i c a m o

h e r o í s m o , o sacrifício, a tolice, a inteligência e a m o d é s t i a . CC

14- H A F I Z • G I O V A N N I BOCCACCIO
GFOFFREY CHAUCER
Nati l i n e n t o : • I (40-1345 (Londres, Inglaterra). Morto: 25 d e outubro d e 1400
Uhilii".. Inglaterra).

M i l l " i'.i.iii-ro: • h.iucer é o m.ils inlluenle dos pi «'Lr. Ingleses medievais,


ti ml i " i» ii seu estilo coloquial e senso d e humor simples.

i de u m n e g o c i a n t e d e v i n h o , G e o f f r e y C h a u c e r foi p a r t e d e B B

l>urguesa e m e r g e n t e e d u c a d a q u e m a n t i n h a p o s i ç õ e s

i i • no g o v e r n o . O p r ó p r i o C h a u c e r o c u p o u diversos p o s t o s

i i h 's. E m b o r a sua inteligência t e n h a , s e m d ú v i d a , acentua-

sso, ser c u n h a d o d e J o h n d e G a u n t - tio d o rei Ricardo II

m.iqem i m p o r t a n t e na p e ç a d e S h a k e s p e a r e - t a m b é m n ã o Principals obras


«li.ip.ilhou.
Poesia
i l i a m r r v i v e u d u r a n t e u m d o s mais t u r b u l e n t o s p e r í o d o s da The Book of the Duchess, c. 1369-1372
i inglesa. N o estrangeiro, a G u e r r a d o s C e m A n o s d e v a s t a v a The House of Fame, c.1380

i l e r r a e a França. E m casa, os sinais d e a g i t a ç ã o c o m e ç a v a m a Troilus and Criseyde, c.1381 -c.1386

Romances
i. C h a u c e r t i n h a c o n h e c i m e n t o e t a l v e z simpatizasse
Os contos de Cantudria, c. 1387-1400
| ) | pi i| ii ilar heresia Lollard. Estava e m Londres d u r a n t e a Revolta

.,i d e 1 3 8 1 , q u a n d o os r e v o l u c i o n á r i o s e x e c u t a r a m o

l lo de Cantuária e saquearam o palácio d e J o h n d e Gaunt.

i i o d o t a m b é m a s s i s t i u a o s p r i m e i r o s f u l g o r e s d o Re-

i c n t o n o c o n t i n e n t e por i n t e r m é d i o d o s escritos d e p o e t a s

is c o m o Petrarca e B o c c a c c i o , a m b o s lidos por C h a u c e r .

''((imerão (1349-1353), d e B o c c a c c i o , foi u m a influência

i n a q u e l a q u e hoje é c o n s i d e r a d a a principal o b r a de

• i. O s contos de Cantuária. Chaucer empregou a mesma

I H e m q u e viajantes t r o c a m histórias d u r a n t e u m a j o r n a d a e

H L ih o f o c o para d e s e n v o l v e r u m rela-

- " ' - " t o repleto d e n u a n c e s psicológicas fá trabalhador, Seia


i c o n t o e o contador. O resultado é u m a

Conversa v i v a z e n t r e u m e l e n c o d e persona- e I e q U e IT1 f Ò f",/ qiieCOnSÍga


n i -iii e q u i l i b r a d o s q u e p e r m a n e c e fres-

i i i | i . i / d e fazer p e n s a r e (por mais incrível trabalhar bem e depressa."


i< , . i ) e x c i t a n t e há c e n t e n a s d e a n o s .

i m l ii n a i is p o e m a s d e C h a u c e r sobre visões oníricas e sua t r a g é d i a

' Iroilus and Criseyde t e n h a m sua própria sofisticação e seu „,,,„. n . ,


' e e i A C I M A : R e t r a t o q u e faz p a r t e d e u m

I ii ill ii i, o e n c a n t a d o r e sinuoso Os contos de Cantuária é o poema manuscrito d o século xv, hoje n o a c e r v o riu

• H L m u i t o s escritores, é O c o m e ç o d e t u d o . SY British M u s e u m , e m L o n d r e s .

G E O F F R E Y C H A U C F K • IS
FRANÇOIS VILLON
N a s c i m e n t o : François d e Monlcorbier, c. 1431 (Paris, França). Morte: c.1463 (lugar
desconhecido).

Estilo e g ê n e r o : A vida de violência e devassidão d e Villon - por tavernas, bordéis


e prisões - demonstrou ser d e uma atração irresistível para futuras gerações.

P o u c o se s a b e s o b r e a vida d e s s e poeta t ã o f a m o s o pela d e v a s s i -

dão, e o q u e se s a b e n e m s e m p r e c o m b i n a c o m o q u e ele d e s c r e -

v e u e m seus p o e m a s , s u p o s t a m e n t e e m primeira pessoa. N a s c i d o

sob o n o m e d e François d e M o n t c o r b i e r , era s o b r i n h o d e u m rico

s a c e r d o t e , G u i l l a u m e d e Villon, q u e se interessou por ele e f i n a n -

c i o u seus e s t u d o s u n i v e r s i t á r i o s no C o l l è g e d e N a v a r r e , e m Paris.

Principais Obras L e v o u u m a v i d a d i s s o l u t a : e m 1455, m a t o u u m p a d r e a f a c a d a s

d u r a n t e u m a rusga e, e m 1456, ele e u m g r u p o d e a m i g o s rouba-


Poesia J 3 r 3

O legado (Leiais ou Le Petit testament), c.1456 r a m a


escola. N ã o causa surpresa q u e t e n h a p r e c i s a d o deixar Paris

0 grande testamento (Le Grand testament), às pressas e q u e , m e s m o d e p o i s d e r e c e b e r p e r d ã o por esses cri-


c 1 4 6 2
m e s , t e n h a p a s s a d o b o a p a r t e da v i d a na c a d e i a . E m 1462, foi

c o n d e n a d o à m o r t e a p ó s outra briga v i o l e n t a e m Paris. D e p o i s d e

u m a p e l o , a s e n t e n ç a foi reduzida a 10 a n o s d e exílio. N ã o se s a b e

a o c e r t o para o n d e foi e o n d e m o r r e u , ainda na casa dos 30 a n o s .

A maior p a r t e da obra d e Villon consiste e m p o e m a s curtos,

escritos e m u m argot q u a s e indecifrável d o s u b m u n d o o u u s a n d o a

gíria d o s criminosos. M a s t a m b é m deixou dois p o e m a s mais longos,

c o n h e c i d o s c o m o O legado e O grande testamento, a d m i r a d o s pela

i n v e n t i v i d a d e e pelo h u m o r mordaz. O legado data d e sua primeira

t e m p o r a d a n o exílio e teria sido escrito d u r a n t e o Natal miserável d e

1456, e n q u a n t o e l e tiritava d e frio e m u m sótão, s e n t i n d o a falta

d e u m a mulher "dura e traiçoeira" por q u e m

"Mais oü sont les neiqes d'antan? h a v i a s e a


P a i x o n a d o
- E l e v a i e m f r e n t e e f a z

u m t e s t a m e n t o no qual deixa para os a m i g o s

objetos peculiares, c o m o placas d e estala-

g e n s , m e c h a s d e c a b e l o e sua própria reputa-

- Balada, 1 46 I ç ã o d ú b i a . T a m b é m faz legados o b s c e n o s e

injuriosos aos inimigos. O s e g u n d o p o e m a ,

mais extenso, t a m b é m é u m t e s t a m e n t o d e mentirinha, suposta-

m e n t e d i t a d o e m e s t a d o d e a r r e p e n d i m e n t o pelo poeta a u m secre-

A i I M A : U m a g r a v u r a d e 1810, d e Stich v o n t a r i o
< d e i x a n d o mais u m a vez legados m o r d a z e s e n q u a n t o reflete

H o l l m a n n , retrata François Villon. sobre a m o r t e e sua própria j u v e n t u d e d e s p e r d i ç a d a . RC

16- F R A N Ç O I S VILLON
NK OLAU MAQUIAVEL
•i i l o : ; I" maio d e 1469 (Florença, Itália). Morte: 21 d e j u n h o d e 1527

6ni.ii, n.iii.i)

Ih • u í n c r o : Autor d e poesia, peças d e teatro e novelas; c o n h e c i d o por seus


liin i i |ue refletem sobre exemplos históricos.

•Ira d e N i c o l a u M a q u i a v e l c o m o f u n c i o n á r i o d e d e s t a q u e e m

IH i l e v o u à autoria d e u m d o s mais f a m o s o s t r a t a d o s políti

i HM.lis escritos, O príncipe, d e d i c a d o a o d u q u e d e Florença,

• o d e M e d i c i . E m u m a carta a u m c o l e g a , e l e d e s c r e v e u a

ii i u m "capricho", m i n i m i z a n d o o e x a m e feroz d o s proble-

i ri lai n i n a d o s a o exercício d o p o d e r . C o m b i n a n d o citações

111«111.i-.. lílulos e m latim e d i t a d o s p o p u l a r e s , M a q u i a v e l analisa Principais obras


is principais c o n c e i t o s e m política - v i r t u d e , sorte e opor-
S o b r e politica
, Ilustrando seus a r g u m e n t o s c o m e x e m p l o s retirados Discursos sobre a primeira década de lito lívto,
indo ( l á s s i c o e m o d e r n o . 1512-1517

|0 c e n t r o d a s reflexões d e M a q u i a v e l , t a n t o e m O príncipe O príncipe, 1 5 1 3 , publ. 1 5 3 2

A arre da guerra, 1 5 1 9 - 1 5 2 0 , p u b l . 1 S 7 I
iin e m o u t r o s escritos políticos, está a crise política c o n t e m -
Peça
i .i ii.i Itália, c a u s a d a pela intensa c o m p e t i ç ã o e n t r e vários
A mandragora, 1 5 1 8 , publ. 1 5 2 4
i.ii des. T e n d o esse c e n á r i o t u r b u l e n t o c o m o p a n o d e f u n d o ,

lis fácil c o m p r e e n d e r a justificativa d e M a g u i a v e l a respeito

•••.idade o c a s i o n a l d o s g o v e r n a n t e s d e r e c o r r e r e m a u m

' I l a m e n t o a m b í g u o para garantir a e s t a b i l i d a d e . Embora

i m p i e d o s a s n ã o d e v a m ser t o m a d a s e n q u a n t o existe u m a

llli inativa, e m última instância, d e a c o r d o c o m o autor, para u m

i a i i i ) , é m e l h o r ser t e m i d o d o q u e a m a d o .

A i n l l u ê n c i a d e O príncipe g e r a l m e n t e obscurece os outros

- i -.de M a q u i a v e l , e n t r e eles a c o m é d i a

•m cinco atos a mandrágora. Nkia, o idoso "/\q u e | q u e é tido e m grande


e

i irldo da bela Lucrezia, está infeliz por n ã o

I,I herdeiros. E cai na a r m a d i l h a d o j o v e m e eStitTia ílãO Se tOma ODJetO d e


ii i ( a l l i m a c o , a p a i x o n a d o por Lucrezia.

Li é l e v a d o a crer q u e Lucrezia ficará grá- conspirações. - o príncipe


li Id se l o m a r u m p r e p a r a d o à b a s e d e m a n -

|i i i . i , m a s q u e a d r o g a matará o p r i m e i r o h o m e m q u e se deitar

11-la. C a l l i m a c o se o f e r e c e para a tarefa s u p o s t a m e n t e mortífe- ...... „ . „ . ,, , ,


r r
A C I M A : R e t r a t o d e M a q u i a v e l , f e i t o por

i . i i i q u a n t o Nícia c o n s e n t e a l e g r e m e n t e , p e r d e n d o a m u l h e r para S a n t 0 d n - i t o , q u e se e n c o n t r a n o Palazzo

• I i iv,il. CC Vecchio, e m Florença.

NICOLAU MAQUIAVEI •1/


ERASMO
Principais obras N a s c i m e n t o : I )esiderius Erasmus Roterodamus, 27 d e outubro d e 1466 (Roterdã,
I Iolanda). M o r t e : 12 d e julho de 1536 (Basileia, Suiça).
Sobre teologia
Estilo e g ê n e r o : Erasmo leva o crédito por popularizar expressões ainda d e uso
Manual do cristão militante, 1503
corrente c o m o "mal necessário" "ave rara","a ferro e fogo".
Elogio da loucura, 1509

Ecclesiastes, 1535

Retórica
P r e s s i o n a d o por seus g u a r d i õ e s , E r a s m o se t o r n o u u m monge
Adagios, 1500
b e n e d i t i n o , m a s t e v e p e r m i s s ã o para fazer l o n g a s v i a g e n s pela
( opia: De ultraque verborum ac rerum copia,
1512 E u r o p a . Por t o d a a vida, concentrou-se na p r o d u ç ã o d e n o v a s e d i -

ç õ e s c o m e n t a d a s d o N o v o T e s t a m e n t o , e m latim e g r e g o , q u e se

t o r n a r a m o p o n t o d e partida para as i n t e r p r e t a ç õ e s bíblicas

m o d e r n a s . R e c u s o u postos a c a d ê m i c o s , p r e f e r i n d o a a t i v i d a d e

literária i n d e p e n d e n t e c o m o Elogio da loucura, u m a sátira dirigida

a o s t e ó l o g o s , e Adágios, u m livro d e p r o v é r b i o s . E m b o r a t e n h a

escrito sobre assuntos religiosos e t a m b é m sobre a q u e l e s d e i n t e -

resse geral, p a r e c e ter c o n s i d e r a d o este s e g u n d o t e m a u m a a t i v i -

d a d e d e lazer, d e p o u c a i m p o r t â n c i a . P o r é m , são j u s t a m e n t e essas

o b r a s q u e lhe c o n f e r i r a m a f a m a atual. PG

LUDOVICO ARIOSTO
Principais obras N a s c i m e n t o : 8 d e setembro d e 1474 (Regglo I mllia, Itália). M o r t e : 6 d e julho d e
1533 (Ferrara, Itália).
Poesia
Estilo e g ê n e r o : Feitos ousados e emocionantes se alternam c o m passagens altivas
Orlando furioso, 1516-1532
sobre história e profecia na poesia sofisticada e ocasionalmente paródlca d e Ariosto.

A f a m a d e Ariosto se baseia n o z o m b e t e i r o p o e m a é p i c o Orlando

furioso, u m a das o b r a s mais i m p o r t a n t e s d o R e n a s c i m e n t o italia-

no. Mistura l e n d a s da c o r t e d e Carlos M a g n o à invasão sarracena

da França n u m a paródia m o r d a z d o r o m a n c e m e d i e v a l . O p o e m a

foi criado para exaltar a casa d e Este e s e u lendário ancestral

R o g e r o (Ruggiero) e para dar s e g u i m e n t o à história d o a m o r d e

O r l a n d o por A n g é l i c a , iniciada por M a t t e o Maria Boiardo em

Orlando Innamorato (c.1472-1486). F o r a m d e s e n v o l v i d a s três his-

tórias principais: o a m o r d e O r l a n d o por A n g é l i c a , a guerra entre

os francos e os sarracenos, e o a m o r d e R u g g i e r o , sarraceno, por

B r a d a m a n t e , u m a cristã. O p o e m a serviu d e " m o d e l o " para Faerie

Queene, d e E d m u n d Spenser, p u b l i c a d o e m 1590. PG

38- E R A S M O • LUDOVICO ARIOSTO


FRANÇOIS RABELAIS
NÃO l i n m i t o : . 1494 (perto d e Chinoii, I n d i e - e l l oire, I rança). M o r l e : 9 d e abril d e
H U (l'ail'., 11,inça).

I t l l l i . . .|.'ni.ro: Autor da s e r i n õinii ,11 niitiiiiUuael'nniiiqniel, Kiln 'lais li' NU 1,11 m 611
li sátira desbocada e por descrições irreverentes sobre a vida religiosa.

1 i . i b a l h a v a c o m o m é d i c o , m a s sua r e p u t a ç ã o s o b r e v i v e

1 aia c e l e b r a d a prosa e a o s t a l e n t o s d e h u m o r i s t a e sati-

g o s t o e x u b e r a n t e para a e x t r a v a g â n c i a . Filho d e u m

. a d v o g a d o , R a b e l a i s e s t u d o u m e d i c i n a na u n i v e r s i d a d e .

11 d e c o n t r a s t e s , t a m b é m i n g r e s s o u e m o r d e n s religiosas,

luis filhos c o m u m a v i ú v a e e n t ã o se e s t a b e l e c e u c o m o

e m L y o n . Foi lá q u e e s c r e v e u o p r i m e i r o d o s livros c o n - Principais obras


ni idos, d a n d o início e m 1530 a u m a série q u e se t o r n o u
Prosa
.•ni 1 1 ida c o l e t i v a m e n t e c o m o Gargantua e Pantagruel. O livro Os horríveis e espantosos feitos epalavra-, ih

H l o m o d o g i g a n t e G a r g a n t u a e seu f i l h o P a n t a g r u e l , nor- mui famoso Pantagruel, rei dos dipsodos,


1532
p e l o s p r i n c í p i o s d e " c o m e r , b e b e r e ficar alegre", e as
Gargantua, 1534
11 .r, d e s e u s a m i g o s m a l a n d r o s , q u e p a r t e m n u m a j o r n a d a
O terceiro livro dos fatos e ditos heroii os do
m 1 . U M ,1 d a G a r r a f a D i v i n a . E l e p u b l i c o u q u a t r o livros d a s é r i e e bom Pantagruel, 1545

linto foi l a n ç a d o a p ó s sua m o r t e ( e m b o r a a l g u n s e s t u d i o - O quarto livro dos fatos e ditos heróicos<l< > I.../

Pantagruel, 1552
• h a u t a m s e e s t e ú l t i m o foi r e a l m e n t e e s c r i t o por R a b e l a i s ) ,

d e suas c r i a ç õ e s fictícias c a r a c t e r í s t i c a s foi a A b a d i a de

I I n li'in.i, f u n d a d a por Gargantua, onde os monges viviam

I I 11 a lo o p r i n c í p i o d o "Fazer o q u e Quiser". T i n h a m c r i a d a s à

uma piscina.

P01 I r a t a r as i n s t i t u i ç õ e s cristãs c o m humor e sarcasmo,

i r , n ã o a n g a r i o u m u i t a s i m p a t i a d a Igreja. S e u s livros f o r a m

i. inldos e e l e e s t e v e s o b suspeita d e here-

I l'or s o r t e , t i n h a o a p o i o d a p o d e r o s a "S(BMPRC DES€?JAMOS


1 imilla D u B e l l a y e a a p r o v a ç ã o d o rei f r a n -

cas, F r a n c i s c o I. R a b e l a i s foi v á r i a s v e z e s O pÍ"OÍB¡DO..."


1 .1 1 R o m a c o m J e a n D u Bellay, b i s p o d e

1 h r., e na d é c a d a d e 1540 m o r o u e m T u r i m , - Gargantua e Pantagruel


• 11 1 i lelo q u e p a r e c e h o u v e t e m p o s e m q u e

O U se e s c o n d e r . D e a c o r d o c o m a l e n d a , seu t e s t a m e n t o

insistia e m a p e n a s u m a frase: " N ã o t e n h o n a d a , d e v o m u i t o e

o r e s t a n t e p a r a os pobres." S u a s ú l t i m a s p a l a v r a s f o r a m : A C I M A : U m a litografia d o século xix n a . . . i

' m b u s c a d e u m g r a n d e talvez." RC François Rabelais.

FRANÇOIS RABELAIS • 3
PIERRE DE RONSARD
N a s c i m e n t o : 11 d e setembro d e 1524 (Couture-sur-Loire, Loir-et-Cher, França). Morte:
dezembro de 1585 (Saint-Cosme, nas imediações deTours, Indre-et-Loire, França).

Estilo e g ê n e r o : Saudado na I rança c o m o "principe dos poetas", Ronsard


exemplificou o apaixonado entusiasmo renascentista pela Grécia e a Roma clássicas.

Ronsard passou o início da vida nos mais elevados círculos sociais.

Filho caçula d e u m a família nobre, q u a n d o m e n i n o foi designado

pajem real e suas obrigações incluíam viagens para E d i m b u r g o c o m a

princesa M a d e l e i n e , noiva d e J a i m e V da Escócia. Ronsard parecia

estar destinado a u m a carreira d e sucesso na diplomacia o u então no

Exército, mas os planos foram malogrados q u a n d o se descobriu q u e

Principals obras ele estava ficando surdo. C o m o consequência, ele se voltou para o

m u n d o dos livros, a p r e n d e n d o latim e grego, lendo os clássicos {Ilíada,


Poesia

Les Amours, 1552


d e Homero, lhe custou a p e n a s três dias d e leitura), f u n d a n d o u m

Les Hymnes, 1555-1556 g r u p o literário d e n o m i n a d o d e La Plêiade e iniciando u m a caudalosa

Remonstrance au peuple de France, 1563 p r o d u ç ã o poética. Suas obras incluem odes, sonetos, p o e m a s d e
La Franciade, 1572 ( i n a c a b a d o )
amor, p o e m a s sobre a natureza e memórias da sua guerida infância
Les Derniers Vers, 1586
no c a m p o , a l é m d e p o e m a s sobre a morte, a justiça o u o vinho, e

h o m e n a g e n s às grandes figuras da Antiguidade. A primeira coletânea

d e sua obra foi editada e m 1560, s u p o s t a m e n t e a pedido d e Maria,

rainha da Escócia, q u e t a m b é m era a rainha da França.

Ronsard o c u p a v a na França u m a posição s e m e l h a n t e à d o poeta

laureado da Inglaterra. Era u m católico praticante e foi inevitável

q u e se e n v o l v e s s e nas guerras civis religiosas g u e se iniciaram na

d é c a d a d e 1560. C o m o c o n s e g u ê n c i a , sua obra foi s e v e r a m e n t e cri-

ticada pelos protestantes zelosos. Ele p l a n e j o u u m g i g a n t e s c o épico

nacional, La Franciade, inspirado na Eneida,

"Quando você estiver velha dirá: deVirgíli0


' masascoisasnaocorreramcom

tanta tranquilidade e e l e a c a b o u interrom-

'Ronsard me fez versos quando eu p e n d o o projeto. Era m u i t o a d m i r a d o p o r

era bela.' Carlos IX, da França, q u e e n c o m e n d o u a o

Sonetos para Helene poeta versos e m h o m e n a g e m a Elizabeth da

Áustria, e m 1571. A c o m e t i d o d e u m a d o e n ç a

incurável, Ronsard passou seus últimos a n o s inválido, a n s i a n d o pela


„,-..»„ ^ •J j j- - c h e g a d a da m o r t e , m a s a o m e s m o t e m p o e s c r e v e n d o compulsiva-
A C I M A : Depois d e perder a audição, 3
i- r
R o n s a r d voltou-se para a poesia, m e n t e . S e u s últimos p o e m a s {Les Derniers Vers) foram publicados
e n c o n t r a n d o p r e s t í g i o j u n t o à realeza. d e p o i s da Sua m o r t e . R C

40 • P I E R R E DE RONSARD
LUÍS VAZ DE CAMÕES
LLLL iiM.tito: I III/VAZ DE CAMOENS OU I UÍS VAZ DE CAMÕES, C.152<1 (PROVAVELMENTE
tu 11 IN ia L'i IILIIQAL). MORTE: 1 0 DE JUNHO DE 1 580 (I ISBI IA, PORTUGAL).

Illlii i I|hin'i'o: i i GRANDE poeta n,u li MAL DE PORLUQUL LE/ HINOS j i IL.IÇÁO DE U M
ii|« mi 11 Mi >LII O MUNDIAL LIDERADO POR SEU PAÍS.

i ( M i . k , o e s s o b r e a vida d e C a m õ e s são escassas, m a s e l e apa-

i i i m e n t e d e s c e n d e d e u m a família d e aristocratas e m p o b r e c i -

i i M i h e c i m e n t o da c u l t u r a clássica s u g e r e q u e e l e t e v e

i u m a b o a e d u c a ç ã o . S e u p o e m a mais f a m o s o d e s c r e v e a

' I v i a g e m d e V a s c o da G a m a , g u e c o n t o r n o u o c a b o d a B o a

iin,.i a t é c h e g a r à índia. O p r ó p r i o C a m õ e s p a s s o u m u i t o s

l i Altica e na índia, g u e i x a n d o - s e a m a r g a m e n t e , e m v e r s o s , Principais obras


In u l d a d e s para g a n h a r a vida, d o azar e d a s injustiças q u e Poesia
i i i I le fez p a r t e d e e x p e d i ç õ e s navais. Teria a l c a n ç a d o M a c a u Os lusíadas, 1572

I n - I n u m n a u f r á g i o na costa c h i n e s a . E m outra o c a s i ã o , u m Rimas, 1595

ncontrou perdido e sem dinheiro e m M o ç a m b i q u e e o

ii .i voltar para Lisboa.


1
. i i i i o e s e s c r e v e u graciosos p o e m a s líricos expressando sonti-

I N I i ih I S i le profunda solidão e desejos n ã o realizados, h o m e n a g e a n -

liis m u l h e r e s (e, e m a n o s posteriores, lhe f o r a m atribuídos

« l e m a s d o q u e aqueles q u e e l e r e a l m e n t e escreveu). S e u

le épico, Os lusíadas, foi p u b l i c a d o e m Lisboa, e m 1572.

i I r . deriva d e Lusitânia, o a n t i g o n o m e r o m a n o para P o r t u g a l ,

i i i . i reconta toda a história d e seu país a t é o m o m e n t o da

i I.i i le Vasco da G a m a e m 1497. O s deuses d o O l i m p o a c o m p a -

iii i m i 1 1 >m interesse a expedição, s e n d o q u e V é n u s a apoia e B a c o

- iipfte. O s versos c o n t a m c o m o as caravelas

i l n ' i | . i t . i m à índia e f i n a l m e n t e v o l t a r a m e m "/\ff\Q[ Q (J ff\ fOQO CJUG AFEIE


• i'ii.iik,,i para casa, a c o m p a n h a d a s por gra-

, unias. U m a delas prevê as futuras con-

ii portuguesas. Fortemente partidário

DI Igreja católica (e opositor d o s ingleses), e n a o s e s e n t e . - Rimas


justificava o imperialismo p o r t u g u ê s .

lusíadas foi d e d i c a d o a o rei S e b a s t i ã o d e P o r t u g a l , e C a m õ e s

foi i n e m i d d o c o m u m a p e n s ã o d o g o v e r n o . T a m b é m e s c r e v e u „,,,„. „ . ., .
r 3
A C I M A : Retrato a oleo d e o r i g e m

is e sua o b r a e x e r c e u u m a p o d e r o s a influência sobre a literatu- portuguesa, d o M u s e u Nacional de

i -1 ii ii t u g u e s a e a brasileira. RC A r t e d e Antigua.

LUÍS V A Z DE C A M O I ' . - I I
MICHEL DE MONTAIGNE
N a s c i m e n t o : 28 i Ir fevereiro de 1553 (Château de Montaigne, Dordonha, França).
Morte: 13 d e setembro d e 1592 (Château de Montaigne, Dordonha, França).

Estilo e g ê n e r o : Estadista cétlco, amigo d e reis, Montaigne era apaixonado pela


liberdade e detestava a crueldade, a corrupção e a Injustiça.

Novelista e ensaísta, cético a s s u m i d o , M i c h e l d e M o n t a i g n e e s c o -

l h e u viver e m u m a e s p é c i e d e exílio. N o início d e sua vida adulta,

foi a d v o g a d o e m B o r d e a u x , tornou-se c o n s e l h e i r o d o p a r l a m e n t o

regional e casou-se c o m Françoise d e la C h a s s a i g n e , filha d e o u t r o

r e p r e s e n t a n t e . E m 1 5 7 1 , retirou-se para o c a m p o para dedicar-se a

seus escritos. Ali, publicaria, ampliaria, revisaria e publicaria n o v a -

Principais obras m e n t e os Ensaios {Essais), c u n h a n d o , dessa m a n e i r a , u m a nova

expressão. D e fato, e l e m a n t i n h a as próprias c r e n ç a s s o b j u l g a -


Ensaios

Ensaios, 1588
m e n t o , e n q u a n t o e x a m i n a v a a si m e s m o e o m u n d o a sua volta

Diários c o m rigor, e m infinitas c o n t e m p l a ç õ e s . R e c h e a d a s d e citações

íournaldu Voyage 1580-1581 ( p u b l i c a d o pela clássicas, essas c o m p o s i ç õ e s s o b r e t e m a s q u e v e r s a m da e d u c a ç ã o


primeira vez e m 1774)
à e m b r i a g u e z seriam u m t e s t e m u n h o n ã o a p e n a s da e v o l u ç ã o da

filosofia d e M o n t a i g n e , c o m o t a m b é m d e sua própria c r i a ç ã o - o

pai insistia q u e falasse a p e n a s latim na primeira infância. Ironica-

m e n t e , talvez, e l e e s c o l h e u e s c r e v e r e m francês c o l o q u i a l .

U m t e m a r e c o r r e n t e na obra d e M o n t a i g n e é o prejuízo c a u s a -

d o p e l o c o s t u m e . Ele a c r e d i t a v a q u e a p e r c e p ç ã o d a s pessoas e m

relação a o m u n d o é c e r c e a d a p e l o m e i o l i m i t a d o e m q u e v i v e m , e

q u e a q u i l o q u e p a s s o u a ser a t r i b u í d o à " n a t u r e z a " é, d e fato, u m a

série d e c o n c l u s õ e s m e s q u i n h a s b a s e a d a s na p o u c a informação

c o n c e b i d a pela m e n t e . Dessa f o r m a , por h a v e r t a n t a coisa i m p o s -

sível d e ser a p r e e n d i d a , os i n d i v í d u o s d e v e -

" T o d o s v ã o para o u t r o l u g a r r i a m t e n t a r a p e n a s c o m
P r e e n d e r a si mes
-
m o s n o c o n t e x t o d o m e i o q u e os c e r c a . De-

e r U m O aO fUtUrO, n i n g u é m pois d o sucesso d e suas primeiras e d i ç õ e s ,


q u a n d o c h e g o u a visitar o rei da França para

c h e g a a si m e s m o . - Da fisionomia presenteá-lo c o m u m e x e m p l a r da obra,

M o n t a i g n e d e t e r m i n o u q u e seu d e s e j o era

produzir u m retrato escrito d e si m e s m o . E m b o r a u m t a n t o n a r c i -

sista - talvez os leitores n ã o se i m p o r t e m e m saber q u e os r a b a n e -

A C I M A : R e t r a t o d e M o n t a i g n e feito n o t e s n
ã ° lhe c a í a m b e m -, a teoria por trás d e s s e exercício era a d e

séculoxix por Jean-Baptiste Mauzaisse. q u e e s c r e v e r s o b r e sua própria existência a i n d a interessaria a o s

42- M I C H E L DE MONTAIGNE
MICHEL DE MONTAIGNE

À E S Q U E R D A : O brasão d e Montaigne, legado

a o escritor Pierre C h a r r o n (1541-1603).

i li • t o d o s os lugares, pois os seres h u m a n o s seriam essen-

• i ilincnte feitos d o m e s m o material. Foi d u r a n t e esse p e r í o d o , A influência de Montaigne


l ' . H O e 1581, q u e e l e t a m b é m e s c r e v e u u m diário d e v i a g e m
Nunca saberemos quanto Shakesprair I, ,i
m c n t a n d o suas j o r n a d a s pela E u r o p a e registrando a s dife- influenciado por Montaigne. Porém, p.iii-i r
que a marca do ensaísta francês está
i q u e e n c o n t r o u e n t r e seus p o v o s .
deliciosamente presente na obra do bardo
i m p a c t o d o s escritos d e M o n t a i g n e n ã o se limitou a o s leito- inglês. A ideia de Montaigne de que .i I
humana é capaz de conceber muito poui 0
ri Di- fato, a literatura e a filosofia q u e t r a t a m s o b r e a c o n s c i ê n c i a
parece muito semelhante à perspet liva d e
H i a d e v e m m u i t o à o b r a d o ensaísta f r a n c ê s . E m b o r a os Hamlet - de que existem mais coisas além d l

iv l e n h a m se t o r n a d o l i t e r a l m e n t e a obra da sua vida e e l e os vá filosofia - e de Bottom, em Sonlui deuma


noite de verão, que proclama que o"homi ">
t ,'.c a t é sua m o r t e , e m 1592, o p o n t o d e vista a u t o d e p r e c i a t i - não é nada além de um "bufão maltiat illhl 1

ivli i n t a i g n e era d e q u e os leitores p o d e r i a m n ã o q u e r e r des- Ecos de Montaigne ressoam com (l.triv.i i-tii
A tempestade. Sua influência direta também I
i •, rdlçar l e m p o c o n t e m p l a n d o "assunto t ã o frívolo e árido". J S
encontrada em Pascal, Ralph Waldo I ini-r-i in
e Nietzsche, entre outros.

M I C H E L DE M O N T A l o NI •a i
TORQUATO TASSO
N a s c i m e n t o : 11 d e março d e 1544 (Sorrento, Itália). M a r t e : 25 de abril d e 1595
(Roma, Itália).

Estilo e g ê n e r o : Tasso tentou, e m sua Jerusalém libertada, unir o estilo clássico da


poesia épica d e Virgílio ao tema mais m o d e r n o da Primeira Cruzada.

Depois de uma vida de perambulações marcada por temporadas

e m hospitais e na c a d e i a , T o r q u a t o Tasso c o m e ç o u a r e c e b e r

a t e n ç ã o d o m u n d o literário c o m o p o e m a Rinaldo, q u e consiste

e m 12 c a n t o s . Foi p u b l i c a d o e m 1562 e d e s c r e v e a missão d o

p a l a d i n o R i n a l d o d a M o n t a l b a n o , t e m a i n e g a v e l m e n t e na t r a d i -

ç ã o d o s escritos d e L u d o v i c o Ariosto. O b r a m a i s o r i g i n a l é a peça

Principais obras Aminta, d e t e m á t i c a pastoril, a m b i e n t a d a na A n t i g u i d a d e clássi-

ca. E m c i n c o atos, Tasso d e s c r e v e o a m o r n ã o c o r r e s p o n d i d o d o


Poesia

Kinaldo, 1562 p a s t o r A m i n t a pela ninfa Silvia. E m d e s e s p e r o , A m i n t a se j o g a

lerusalém libertada, 1574 d e u m p e n h a s c o e, q u a n d o Silvia s a b e d e sua (falsa) m o r t e ,


Peças l a m e n t a tê-lo rejeitado a n t e r i o r m e n t e , g a r a n t i n d o u m final feliz a o
Aminta, 1573 descobrir g u e e l e s o b r e v i v e u .
Crítica
S e m e l h a n t e a essa c o m p o s i ç ã o é a c o l e t â n e a c o m cerca d e
/ liscorsi dei poema eroico, 1594
2 mil p a r t e s c h a m a d a As rimas, q u e apresenta influências d e

Petrarca. A poesia c o n t é m u m c o m p l e x o viés autobiográfico, r e p l e -

to d e angústia e i n s e g u r a n ç a .

A f a m a d e T a s s o é f o r t e m e n t e a s s o c i a d a a Jerusalém liberta-

da. O t e m a p r i n c i p a l d a o b r a é a P r i m e i r a C r u z a d a para l i b e r t a r

o Santo Sepulcro e m J e r u s a l é m , e v e n t o histórico c o m b i n a d o a

e p i s ó d i o s i m a g i n á r i o s e idílicos. Esse g r a n d i o s o p a n o d e f u n d o

para a n a r r a t i v a se d e s t a c a , b e m c o m o a p e s q u i s a meticulosa

e m r e l a ç ã o à s a r m a s , às b a t a l h a s e a o s cos-

tumes. Dentro desse cenário imponente,

tecem-se tramas q u e p a r e c e m ter impor-

d e CriadOr a l é m d e D e U S e dO tância menor, mas muito bem desenvolvi-

das, e m particular o tema do amor sob

v a r i a d a s f o r m a s . O t e x t o se b a s e i a na v i s ã o

d e Tasso d e q u e a h u m a n i d a d e é insignifi-

A C I M A : ilustração francesa s e m data q u e c a n t e


c o m p a r a d a à n a t u r e z a e d e q u e o h o m e m , e m ú l t i m a ins-

retrata o italiano Tasso. tância, é i m p o t e n t e diante das forças misteriosas q u e gover-

A D I R E I T A : Torquato Tasso lendo um poema n a m 0


mundo. CC

para Leonora D'Esté, d e Luigí M u s s i n i .

44 • T O R Q U A T O TASSO
CERVANTES
N a s c i m e n t o : Miguel d e Cervantes Saavedra, 29 d e setembro d e 1547 (Alcalá d e
Henares, Espanha). M o r t e : 23 d e abril d e 1616 (Madri, Espanha).

Estilo e g ê n e r o : G ê n i o c ô m i c o c o m delicioso senso d e absurdo, Cervantes


produziu descrições d e viagens repletas d e aventura e mistério.

Poeta, dramaturgo e celebrado autor do primeiro romance

m o d e r n o , Dom Quixote [El ingenioso hidalgo Don Quijote de la

Mancha), o espanhol Cervantes é u m dos mais importantes

n o m e s d a literatura. A g r a n d e z a d e Dom Quixote reside e m s e u

e n c a n t o d u r a d o u r o , capaz d e atravessar séculos e culturas dife-

rentes, c o m o e x e m p l i f i c a d o p e l o f a t o d e ter s i d o t r a d u z i d o e m

Principais obras m a i s d e 60 i d i o m a s . O s p r o t a g o n i s t a s , D o m Q u i x o t e e S a n c h o

P a n ç a , são d o i s d o s p e r s o n a g e n s m a i s a m a d o s e mais r e c o n h e c i -
Prosa

/ ii galatea, 1585
d o s da literatura m u n d i a l e o r o m a n c e c o s t u m a e n c a b e ç a r as lis-

/ )om Quixote, primeira parte, 1605 tas d e m a i o r e s o b r a s d e f i c ç ã o .

Nt ivclas exemplares, 1613 A vida d e C e r v a n t e s d e s p e r t a t a n t o interesse q u a n t o suas


/ )om Quixote, segunda parte, 1615
obras. Ele n u n c a foi para a u n i v e r s i d a d e . S u a primeira obra p u b l i -
()í trabalhos de Persiles e Segismuntla, 1617
cada, d a t a d a d e 1569, versava s o b r e a m o r t e da rainha Elizabeth
Poesia
d e Valois. N e s s e m e s m o a n o , C e r v a n t e s viajou para a Itália, alistou-
Vá i/i • dei Parnaso, 1614

Peças
se c o m o s o l d a d o e c o m b a t e u na Batalha d e L e p a n t o contra a frota

(k ho comedias e ocho entremeses nuevos, turca. Resistiu a três diferentes f e r i m e n t o s a bala, s e n d o q u e u m


nunca representados, 1615
deles d e i x o u sua m ã o e s q u e r d a aleijada. E m 1575, partiu para

A C I M A : Retrato de Cervantes (1600),

d e J u a n d e J a u r e g u i y A g u i l a r ( c l 566-1641 ).

A D I R E I T A : Dom Quixote parte em busca

de aventuras, d e G u s t a v e D o r é , 1863.

46-CERVANTES
„ t . . . ACIMA: Sancho Pança e ovendedoi'de no/<*\.
casa, m a s sua e m b a r c a ç ã o foi c a p t u r a d a p o r c o r s á r i o s b e r b e r e s .
t a p e ç a r i a d e 1735 d a oficina d e B r . n i v . i i s .
J u n t o c o m o i r m ã o R o d r i g o , foi v e n d i d o c o m o e s c r a v o na Argélia, . . . . ., . . ,,-,„„,,,,,
3
' 3
' b a s e a d a na o b r a d e N a t o i r e (1700 I III]

p e r m a n e c e n d o e m c a t i v e i r o por c i n c o anos, t e m p o e m q u e fez

quatro o u s a d a s t e n t a t i v a s p a r a r e c u p e r a r a

l i b e r d a d e . F o r a m os esforços d e sua família e h m e m é feítO à VOntade


0

dos m o n g e s da o r d e m da Santíssima T r i n d a d e

q u e a s s e g u r a r a m sua libertação, e n c e r r a n d o (JOS CélJS, E ãS VEZES PÍ0T Ò


u m p e r í o d o d e sua vida q u e seria f r e q u e n t e -

m e n t e revisitado e m suas criações literárias, e n c o m e n d a . " - Dom Quixote


D e volta à E s p a n h a , C e r v a n t e s c o n s e g u i u

iniciar u m a carreira literária c o m a p u b l i c a ç ã o d e seu primeiro

r o m a n c e , o b u c ó l i c o Lagalatea. N u m estilo p o p u l a r e m sua é p o c a ,

o livro e x a m i n a v a as q u e s t õ e s d o a m o r p e l o olhar d e pastores e

pastoras e, a p e s a r d e seu sucesso m o d e s t o , c h a m o u a a t e n ç ã o d o

C E R V A N I I •. - 1/
m u n d o literário para o autor. A n i m a d o pela r e c e p ç ã o a o livro,
A vida com Dom Quixote C e r v a n t e s esforçou-se e m g a n h a r d i n h e i r o c o m o d r a m a teatral.

C o n h e c e m o s a p e n a s d u a s dessas o b r a s , a tragédia histórica A des-


A i iei manente popularidade de Dom Quixote
t . 1 . . 'in p.irte, ampliada por sua Influência no truição da Numância (1582) e Ei Trato de Argel (1580), únicas s o b r e -
muni lo das artes e m geral. Numerosos artistas
v i v e n t e s d e seu t e m p o c o m o d r a m a t u r g o c o n t r a t a d o .
liaram no romance inspiração para suas
obras.
A ascensão de Dom Quixote
• Pintores tão diferentes entre si como
Honoré Daumier, Gustave Doré e Salvador A p e s a r d e t o d o s os esforços, C e r v a n t e s foi i n c a p a z d e g a n h a r a
I i.ili o retrataram, mas foi Pablo Picasso
vida a p e n a s c o m o escritor e t e v e d e e n c o n t r a r outras f o r m a s d e
< |iii I desenhou aquela que pode ser a
imagem definitiva de Dom Quixote e t r a b a l h o . E n q u a n t o passava u m a t e m p o r a d a c o m o fiscal d e i m p o s -
'..incho Pança. Em 1955, ele completou
tos na A n d a l u z i a , e l e d e i x o u d e recolher u m a s o m a d e v i d a a o
uma série de ilustrações amplamente
[{•produzidas, reforçando a imagem t e s o u r o e foi a p r i s i o n a d o e m Sevilha. D u r a n t e o cárcere, c o m e ç o u
popular dos dois heróis literários. a escrever Dom Quixote.

• Várias versões cinematográficas do P u b l i c a d a e m 1605, essa m o n u m e n t a l o b r a d e f i c ç ã o c o n t a ,


romance foram realizadas por diretores
d e f o r m a h i l a r i a n t e , as f a n t á s t i c a s a v e n t u r a s d e D o m Q u i x o t e ,
como Eric Rohmer, Arthur Hiller, Rafael Gil
('TerryGilllam - uma prova do apelo herói trágico, o b c e c a d o por romances d e cavalaria. E n v e r g a n d o
universal da história. uma antiga armadura, Quixote parte e m viagem m o n t a d o e m

" ( ) primeiro romance moderno por certo s e u c a v a l o , o e s q u á l i d o R o c i n a n t e , para d e f e n d e r os o p r i m i d o s e


encorajaria a reprodução, e alguns dos d e s t r u i r os p e r v e r s o s , t u d o e m n o m e d e s e u v e r d a d e i r o a m o r ,
melhores escritores abertamente se
voltaram para ele em suas obras. Em u m a c a m p o n e s a q u e e l e passa a c h a m a r d e D u l c i n é a dei T o b o s o .
Joseph Andrews, Henry Flelding assume, na Depois d e u m a primeira expedição fracassada, Quixote volta e
página do título, ter escrito à maneira de
c o n t r a t a s e u v i z i n h o S a n c h o P a n ç a c o m o e s c u d e i r o . O q u e se
Cervantes. Em outro clássico da literatura,
O idiota, Dostolevski explicitamente segue é uma jornada épica q u e incorpora numerosos incidentes
modelou o personagem principal, o
farsescos, e n t r e e l e s o m a i s m e m o r á v e l , o a t a q u e d e D o m Q u i x o -
príncipe Myshkin, com base no nobre
cavaleiro errante. t e a o s m o i n h o s d e v e n t o q u e , e m sua m e n t e d e l i r a n t e , e l e i d e n -

tifica c o m o g i g a n t e s .
• O compositor Richard Strauss criou o
poema sinfônico para orquestra, fazendo C e r v a n t e s reforçou sua r e p u t a ç ã o d e escritor c o m a p u b l i c a ç ã o
referências claras a diversos momentos
d e Novelas exemplares, Viaje dei Parnaso e a s e g u n d a parte d e Dom
marcantes do livro, como os episódios
do moinho e das ovelhas. Quixote. O s e g u n d o livro se c o n c e n t r a mais e m S a n c h o P a n ç a , leva-

d o a crer q u e é o g o v e r n a n t e d e u m f e u d o fictício. Pança " g o v e r n a "

c o m sabedoria s u r p r e e n d e n t e , mas, a o descobrir q u ã o exaustiva é

a responsabilidade, volta para o lado d e seu mestre. A obra termina

q u a n d o D o m Q u i x o t e renuncia à cavalaria, p o u c o antes d e sua

m o r t e . Dom Quixote foi u m marco, g e r a n d o a expressão p o p u l a r

" q u i x o t e s c o " e i n f l u e n c i a n d o u m u n i v e r s o d e escritores como


A D I R E I T A : D e s e n h o a lápis e n a n q u i m

de D o m Quixote, feito por P a b l o Picasso Defoe, Dostoievski e J o y c e . P e r m a n e c e c o m o uma das poucas

e m 1955. obras-primas da literatura a a l c a n ç a r a e t e r n i d a d e . SG

4H•CERVANTES
EDMUND SPENSER
N a s c i m e n t o : c l 552 (Londres). Morte: 13 d e Janeiro d e 1599 (Loodres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : "Sua poesia é culta sem apresentar dificuldade e assim p o d e ser


apreciada, o u ao m e n o s compreendida, pela maioria, mas julgada apenas pelos
mais esdarecldos."(lntrodução d e TheShepheardes Calender)

4,
E d m u n d S p e n s e r foi e d u c a d o e m L o n d r e s na M e r c h a n t Taylor's

S c h o o l e, e m 1569, se m a t r i c u l o u n o P e m b r o k e C o l l e g e , e m

C a m b r i d g e . Por i n t e r m é d i o d e seu colega Gabriel Harvey, e l e o b t e -

v e u m p o s t o j u n t o à família d o m a r g u ê s d e Leicester e c o n h e c e u

Philip S i d n e y . E m 1579, p u b l i c o u as 12 é c l o g a s d e The Shepheardes

Calender c o m g r a n d e sucesso e iniciou o é p i c o a l e g ó r i c o e r o m â n -

Principals obras t i c o The Faerie Queene. S e r v i u nas forças inglesas na Irlanda c o m o

secretário d o r e p r e s e n t a n t e da rainha, lorde Grey, e " g a n h o u " o


Potsia
J lie Shepheardes Calender, 1579
castelo K i l c o l m a n , e m C o u n t y Cork. Ali se e s t a b e l e c e u e se o c u p o u

I he faerie Queene, 1590,1596,1609 c o m o t r a b a l h o literário, e s c r e v e n d o a elegia para Philip S i d n e y e


I i 'In i < lout's Come Home Againe, 1595 a p r o n t a n d o os originais d e Faerie Queene para impressão, s e n d o
Astrophel: A Pastoral Elegy Upon the Death of
q u e os primeiros três livros f o r a m c o n f i a d o s à gráfica na visita d o
the Most Noble and Valorous Knight, Sir Philip
Sidney, 1595 p o e t a a L o n d r e s e m 1589. Ele e s p e r a v a assegurar u m lugar na

iimoretti, 1595 c o r t e por m e i o da sua poesia, m a s isso n u n c a a c o n t e c e u .


Eplthalamion, 1595 Relutante, Spenser retornou a Kilcolman, que considerava
/ owte Hymnes, 1596
l u g a r d e exílio, e e s c r e v e u a p a s t o r a l a l e g ó r i c a Colin Clout's
Prothalamion, 1596
Come Home Againe, gue dedicou a Walter Raleigh. Embora o

p o e m a c e l e b r e as g l ó r i a s d a r a i n h a E l i z a b e t h e d e s u a s d a m a s ,

t a m b é m c o n t é m u m a t a g u e a m a r g o à i n v e j a e às i n t r i g a s d a

c o r t e . E m 1594, S p e n s e r c a s o u - s e c o m E l i z a b e t h B o y l e , d e s c r e -

v e n d o a c o r t e n o s s o n e t o s d e Amoretti e celebrando o casamen-

to e m Epithalamion. Kilcolman foi i n c e n d i a d o

"É a mente que tra r


ma O e m U m a s
^^' t a
i N S U R R E
IÇ3°- e m
outubro de

1598, e a f a m í l i a , o b r i g a d a a f u g i r e b u s c a r

mal em bem, torna r e f ú g i o e m C o r k . As o p i n i õ e s d e S p e n s e r

sobre a g u e s t ã o irlandesa foram expressas


ou feliz, rico ou pobre." n o p o l ê m i c o p a n f l e t o e m prosa A View of

the Present State of Ireland (1596). E l e m o r -

reu e m L o n d r e s a o s 4 6 a n o s . S e u f u n e r a l c o n t o u c o m a p r e s e n ç a

da maior p a r t e d o s p o e t a s d e seu t e m p o , g u e l a n ç a r a m elegias

e m seu t ú m u l o . P G
A C I M A : Versão colorida d e uma gravura

r e t r a t a n d o S p e n s e r , feita p o r v o l t a d e 1590.

SO • E D M U N D SPENSER
PHILIP SIDNEY
N a s c i m e n t o : 3 0 d e n o v e m b r o d e 1 5 5 4 (Penshurst, Inglaterra). Morte: 1 7 d e
i mi ubro d e 1 5 8 6 ( A m h e m , Holanda).

I stilo e g ê n e r o : Poeta, cortesão, estadista, patrono das artes e soldado, Sidney foi
l 11| miar e n q u a n t o vivo e considerado u m perfeito "cavalheiro".

I Hirante sua v i d a , P h i l i p S i d n e y r e c e b e u g r a n d e a f e i ç ã o p ú b l i c a e

i h e g o u a r e p r e s e n t a r a essência d o c a v a l h e i r i s m o da é p o c a da

minha E l i z a b e t h . D e família i n f l u e n t e , foi e d u c a d o na S h r e w s b u r y

S i hool e e m s e g u i d a n o Christ C h u r c h , e m O x f o r d , q u e a b a n d o -

n o u a n t e s d e c o n c l u i r . Tornou-se u m e m i n e n t e c o r t e s ã o d a rai-

nha E l i z a b e t h I a t é 1580, q u a n d o caiu e m d e s g r a ç a p o r c o n t a d e

u m a c a r t a infeliz para a r a i n h a , s e n d o f o r ç a d o a d e i x a r a c o r t e Principais obras


por u m a t e m p o r a d a .
Poesia
A l é m d a a n i m a d a vida na c o r t e , S i d n e y t a m b é m era u m d o s The Countess of Pembroke's Arcadia, 1 5 8 0

m a i o r e s p o e t a s d e seu t e m p o e é l e m b r a d o p r i n c i p a l m e n t e p e l o Astrophel and Stella, 1 5 8 1

i o n j u n t o d e suas o b r a s e pela influência q u e t e v e n o d e s e n v o l v i - Ensaio

Defesas da poesia, c. 1 5 8 1
m e n t o d a p o e s i a i n g l e s a . Astrophel and Stella é um de seus

melhores trabalhos e u m a das primeiras e n t r e as famosas s e q u ê n -

i Ias d e s o n e t o s i n g l e s e s . Foi i n s p i r a d o por seu a m o r a P e n e l o p e

D e v e r e a u x , q u e se c a s o u r e l u t a n t e m e n t e c o m l o r d e Rich e m

1581. S i d n e y u s o u c o m o b a s e para o p o e m a o m o d e l o italiano,

l a m o s o g r a ç a s a Petrarca, m a s a l t e r o u o e s q u e m a d a s rimas. A p ó s

sua saída d a c o r t e , e s c r e v e u 77?e Countess of Pembroke's Arcadia,

para a i r m ã , M a r y S i d n e y . R o m a n c e literário c o m t r a m a s e n t r e l a -

ç a d a s b a s e a d a s e m u m a d e s c r i ç ã o a l t a m e n t e idealizada d a vida

pastoral, Arcadia t e v e grande influência e popularidade. William

S h a k e s p e a r e e os d r a m a t u r g o s J o h n D a y e

J a m e s S h i r l e y se r e f e r i r a m à o b r a e m seus "Q j3( 3 COÍSA EXCELEÍLTE, UÍTIA VEZ


escritos e o rei Carlos I s u p o s t a m e n t e teria

feito c i t a ç õ e s d e s s e t e x t o p o u c o a n t e s d e APRENDIDA, SERVE DE MEDIDA para


sua e x e c u ç ã o .

O mais importante trabalho de Sidney, TODOS OS OUTTOS COnheCÍmentOS."


p o r é m , seria Defesas da poesia, q u e enfatiza-

va a i m p o r t â n c i a d o p o e t a na s o c i e d a d e e seus p a p é i s artísticos

específicos. S u a f o r m a d e e m p r e g a r a l i n g u a g e m e as c o m p l e x a s

teorias h u m a n i s t a s m e s c l a d a s e m sua obra serviram a Percy B y s s h e ACIMA: Retrato póstumo de Sidney, p o r J o h n

Shelley, W i l l i a m W o r d s w o r t h e S a m u e l Taylor C o l e r i d g e . TP deCritz, o J o v e m , c l 6 2 0 .

PHILIP SIDNI Y • M
LOPE DE VEGA
N a s c i m e n t o : t o p e Félix de Vega Carpio, 25 de n o v e m b r o d e 1562 (Madri,
Espanha). Morte: 27 de agosto d e 1635 (Madri, Espanha),

Estilo e g ê n e r o : Poeta e dramaturgo prolífico, Lope d e Vega captou a atmosfera


e o estilo da Espanha e m seu a p o g e u c o m o potência mundial.

C o n h e c i d o c o m o "a fénix espanhola", acredita-se q u e Vega t e n h a

escrito cerca d e 1.800 peças, d a s q u a i s u m a s 400 s o b r e v i v e r a m .

T a m b é m e s c r e v e u suficiente prosa e poesia para c o m p o r 21 v o l u -

m e s . D e família h u m i l d e , na j u v e n t u d e f r e q u e n t o u u m c o l é g i o

jesuíta, p r e p a r a n d o - s e para o sacerdócio, m a s a b a n d o n o u os e s t u -

d o s para ir atrás d e u m a m u l h e r casada, u m a "beleza r e m o t a " q u e

Principais obras teria n u m e r o s a s sucessoras e m sua vida. A o c h e g a r à casa d o s 20

anos, g a n h a v a a vida c o m o d r a m a t u r g o e m M a d r i , a o mesmo


Peças

1'eças reunidas, publicadas a partir d e 1604


t e m p o g u e c o m p l e m e n t a v a seus v e n c i m e n t o s c o m serviços para

Poemas vários nobres, g e r a l m e n t e a g i n d o c o m o c a f e t ã o . E m 1588, Vega


"I ) r a g o n t e a " (sobre a m o r t e d e Sir Francis e n t r o u para a A r m a d a e s p a n h o l a e p a r t i c i p o u da m a l f a d a d a b a t a -
Drake), 1598
lha naval contra a Inglaterra. M a i s tarde, t r a b a l h o u para os d u q u e s
"La corona trágica" 1627
d e Alba e d e Sessa. Para tornar seu próprio n o m e mais aristocráti-
"El laurel d e Apolo", 1630
co, e l e o m u d o u para V e g a Carpio.
Prosa

Arcadia, 1598 A vida a m o r o s a d e V e g a foi v a r i a d a e p o l ê m i c a . Foi preso e

Crítica c o n d e n a d o a o exílio p o r e s c r e v e r a t a g u e s ferozes c o n t r a u m a


Arte nuevo de hacer comedias en este tiempo,
bela atriz, E l e n a O s o r i o , a p ó s ela r o m p e r o c a s o q u e m a n t i n h a m .
1609
M a i s t a r d e , f u g i u c o m u m a g a r o t a d e 16 a n o s , d e u m a família

aristocrática. E s c r e v e u - l h e p o e m a s a r d e n t e s , m a s só se c a s o u

o b r i g a d o pela família da m o ç a . D e p o i s da m o r t e da e s p o s a , m a n -

t e v e u m a l i g a ç ã o d e 21 a n o s c o m outra atriz, M i c a e l a d e L u j a n ,

para q u e m e s c r e v e u mais p o e m a s , e casou-se

pela s e g u n d a v e z , d e s s a feita c o m a filha


I udo bem, então, vou dizer. d e u m rico a ç o u g u e i r o . D e p o i s das mortes d e

Dante me deixa doente.'' M i c a e l a e da s e g u n d a e s p o s a , c o m e ç o u a

e s c r e v e r o b r a s e p e ç a s religiosas e c h e g o u

- últimas palavras de Lope de Vega a ser o r d e n a d o , m a s l o g o se e n v o l v e u e m

confusões amorosas. Muitas das peças d e

Vega eram c o m é d i a s d e capa e espada. C o m muito romance,

relacionamentos entre mestre e servos e comentários sagazes

A C I M A : P i n t u r a a ó l e o ( c 1630) d e V e g a , s o b r e a elite, sua o b r a deixa u m a viva i m p r e s s ã o d o q u e d e v e r i a

a t r i b u í d a a E u g e n i o Caxes. ser a vida na E s p a n h a na é p o c a . RC

52 • L O P E D E VEGA
( IRISTOPHER MARLOWE
N.r.f i m e n t o : Batizado e m 26 d e fevereiro d e 1564 (Cantuária, Inglaterra). M o r t e : 30
i d e 1593 (Deptford, Inglaterra).

t |Ulo e g ê n e r o : M a r l o w e aprimorou o verso branco para o palco, e m p r e g a d o


i cl| lalmente e m histórias q u e d e s c r e v e m a g u e d a d e personagens ambiciosos.

i Inistopher M a r l o w e atraiu tanta a t e n ç ã o para sua vida particular

t|uanto para seus feitos c o m o u m d o s principais dramaturgos da era

rli/abetana. Parte d e sua mística deriva simplesmente da falta d e

doi u m e n t a ç ã o s o b r e sua v i d a . M a s existe a i n t r i g a n t e s u g e s t ã o

I le q u e ele t e n h a se envolvido e m e s p i o n a g e m para o Estado. A Uni-

SIdade d e C a m b r i d g e estava prestes a lhe recusar o grau d e mestre

Ipor suspeitar d e q u e ele estivesse à beira d e se converter a o catolicis- Principais obras


mo r o m a n o e emigrar para o continente) q u a n d o h o u v e uma interfe-
Peças
lencia d o Conselho Privado solicitando q u e lhe fosse c o n c e d i d o o Tamburlaine, Parte 1, c. 1586

htulo por conta d e " b o n s serviços" n ã o especificados para a rainha, Tamburlaine, Parte 2, c. 1587

i ) enredo se complica c o m sua m o r t e precoce, d u r a n t e u m a escara- O judeu de Malta, c l 589

A história trágica do doutor Fausto, T. I SM')


muça por causa d o p a g a m e n t o d e u m a conta, q u e alguns acreditam

i i ligação c o m o suposto caso d e e s p i o n a g e m .

S e for l e v a d o e m consideração esse instigante p a n o d e fundo, tal-

vez seja inevitável q u e ele tenha sido considerado o verdadeiro autor

l le pelo m e n o s algumas das peças d e Shakespeare. É a l t a m e n t e d u v i -

doso g u e isso u m dia possa ser provado, m a s é inquestionável sua

autoria d e algumas das obras mais influentes d o palco elizabetano.

lamburlaine, e m particular, foi u m a das primeiras grandes obras e m

verso b r a n c o e t e v e i m e n s o sucesso q u a n d o e s t r e o u e m L o n d r e s ,

l a m b u r l a i n e , u m p e r s o n a g e m extraordinário, c o n q u i s t a u m v a s t o

império na Parte I, mas, depois d e profanar u m

exemplar d o Corão e alegar ser maior d o q u e " / ^ eStíelaS a i n d a Se MOVEITI,


Deus na Parte II, imediatamente a d o e c e e morre.

A história trágica do doutor Fausto t a m b é m lida


c o m u m protagonista igualmente arrogante -

u m a c a d ê m i c o q u e faz u m pacto c o m o d e m o - F a u s t o será c o n d e n a d o . "


nio para o b t e r c o n h e c i m e n t o e poder, d a n d o

e m troca sua alma. A percepção d e Fausto sobre as consequências d e

sua ambição, à m e d i d a q u e os segundos a v a n ç a m a t é a c h e g a d a da

meia-noite e o d e m ô n i o se aproxima para levar sua alma, fornece A C I M A : Retrato q u e está e m Corpus ( hrlitl,

uma das mais poderosas cenas d o d r a m a elizabetano. AS d e 1585, s u p o s t a m e n t e d e M a r l o w e .

CHRISTOPHER MARLOWI •'. l


WILLIAM SHAKESPEARE
N a s c i m e n t o : Crismado e m 26 de abril d e 1564 (Stratford-upon-Avon, Inglaterra).
Morte: 23 d e abril d e 1616 (Stratford-upon-Avon, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : Dramaturgo e poeta cujos versos vibrantes exploraram o espírito


d e seu t e m p o e a c o n d i ç ã o h umana c o m u m lirismo atordoante e acessível.

É u m truísmo d e s g a s t a d o dizer q u e Shakespeare é o tesouro nacional

da Inglaterra e o maior escritor d o m u n d o e m todos os t e m p o s .

Alguns discutem essa afirmação, mas o q u e parece estar acima d e

qualquer discussão é q u e Shakespeare tinha u m a extraordinária faci-

lidade no uso da l i n g u a g e m para sua época - o u para gualquer

época. O q u e ele tinha a dizer e c o m o ele o dizia encontrou e n o r m e

Principais obras popularidade e m vida, e foi reinventado d e formas incontáveis para

novas plateias d e s d e então.


IVças
Itnmeti e Julieta, 1597
S e g u n d o o g u e p o d e ser vislumbrado através da lente exuberante

Henrique IV, Parte 1,1598 d e provas d o c u m e n t a i s incompletas, contos tradicionais e mexericos

Trabalhos de amor perdidos, 1598 da época g u e c h e g a r a m até nós, Shakespeare, o h o m e m , parece


(l)//0( ésar, c l 599
merecer a fama d e superastro intrigante. Nascido d u r a n t e a era eliza-
' . o n / i o c/e u m a no/te de verao, 1 6 0 0
betana, época e s p e c i a l m e n t e estimulante para os artistas, ele c o n s e -
Henrique V, 1600
guiu deixar para trás suas raízes provincianas e se tornar o gueridinho
( o/nogosícj/s,c1600

Muito barulho por nada, 1600


da realeza. N o m e i o d o c a m i n h o , t a m b é m foi ator e andava c o m u m a

í ) mercador de Veneza, 1600 turma formada pelos principais escritores d e sua era (entre eles seu

Noite de reis, 1601 rival literário: B e n J o n s o n , 1572-1637). O anedotário popular costuma


()(,•/,), 1602-1604
retratá-lo c o m o u m caçador ilegal d e cervos q u e fugiu para Londres
Hamfef, 1603

Medida por medida, 1604

Re/tear, c l 604-1608

Macbeth, cl606

Antônio e Cleópatra, 1606-1607

tonto de inverno, 1610-1611

/l tempestade, 1611

Poesia

Ventise Adônis, 1593

Sonetos, p u b l i c a d o s e m 1609

A C I M A : O retrato Chandos - p r o v a v e l m e n t e

de S h a k e s p e a r e , m a s i m p o s s í v e l d e se provar.

A DIREITA: As três bruxas, d e H e n r y Fuseli,

i 1 7 8 3 , b a s e a d o e m Macbeth, d e S h a k e s p e a r e .
para escapar da perseguição, e t a m b é m c o m o o a m a n t e ilícito da ACIMA: A f a m o s a pintura de ofóli.i I.mi..

"Dark L a d y " ( d o s s o n e t o s ) . T a m b é m foi escrutinado por suas supostas M i l l a i s ( c 1 8 5 1


" 1 8 5 2 )
' i n s p i r a d
" ™'"'»"'-'

i tendências homossexuais o u bissexuais, acusado d e n ã o ter escrito

suas obras e f r e q u e n t e m e n t e a p o n t a d o c o m o t e n d o morrido depois

de uma longa sessão d e bebedeira.

O q u e p o d e m o s deduzir d e sua obra é q u e S h a k e s p e a r e tinha

u m a c o m p r e e n s ã o m u i t o h u m a n a d e t o d o s os

tipos d e p e r s o n a l i d a d e s e s i t u a ç õ e s - d e reis »f£| fá


e Q per t e n C Í a d Umã era,
escoceses enlouquecidos p e l o p o d e r a Isa-

bella, a p e r s o n a g e m m o r a l m e n t e c o m p r o m e - m aS g tOCJOS OS tempOS."


tida d e Medida por medida, das intrigas da

A n t i g u i d a d e d e Antônio e Cleópatra à trupe

teatral e s c r a c h a d a m e n t e c ô m i c a d e Sonho de

uma noite de verão. M u i t o d e s s e material d e v e ter se b a s e a d o e m

sua própria v i d a . Ele foi criado por u m a família d e classe m é d i a na

c i d a d e z i n h a d e Stratford-upon-Avon. S e u pai, J o h n , v e n d i a luvas e

era u m a p e r s o n a l i d a d e na região, m a s a c a b o u se e n d i v i d a n d o .
S h a k e s p e a r e era o terceiro d e oito filhos. Três i r m ã o s m o r r e r a m
Gênio ou impostor? ainda j o v e n s e a p e n a s u m sobreviveria a S h a k e s p e a r e ( q u e m o r r e u

n o início da casa d o s 50 anos). H a m n e t , seu próprio filho, u m dos


'.mi tilos afora se desenrolam discussões
.o .ili iradas - alimentadas pela falta de três q u e t e v e c o m A n n e H a t h a w a y (a m o ç a da região c o m q u e m
provas loncretas de sua vida e obra -
e l e se c a s o u aos 18 a n o s , q u a n d o ela estava grávida d e seu p r i m e i -
i | i i i " . I n m a n d o se Shakespeare teria ou não
•li rito as peças que lhe são atribuídas. U m ro filho), m o r r e u a i n d a na infância - vinculou-se esse e v e n t o a
ili li principais suspeitos é Francis Bacon
l a m e n t o s p r e s e n t e s e m m u i t a s obras, e n t r e elas Noite de reis.
(1561 1026), dono de intelecto elevado,
i".i litor talentoso e, por algum tempo,
|ulz supremo da Inglaterra. Um estudioso O mistério da vida de Shakespeare
v i l i i r i . i n o chegou a ter um colapso nervoso
.m lentar provar essa tese, Ben Jonson, amigo U m a neblina e n c o b r e a cronologia da vida e da obra d e Shakespeare.
i rival de Shakespeare, é outro suspeito.
1
Provavelmente se deixou contagiar pelo teatro ainda na infância,
I.unhem fazem parte da lista nobres como
g u a n d o Stratford recebeu u m a sucessão d e grupos teatrais itineran-
I dward de Vere e o conde de Oxford (teoria
defendida por Sigmund Freud). tes. D e v e ter recebido u m a sólida e d u c a ç ã o clássica na esplêndida

escola primária d e Stratford. Depois d e a n o s sem gualquer notícia


i ii il ni', suspeitos mencionados incluem o
I l.i o dramaturgo Christopher Marlowe e sua, ele aparece e m Londres, durante a década d e 1590 c o m o respei-
Walter Raleigh e a própria rainha Elizabeth,
t a d o ator-dramaturgo. D e v e ter c o m e ç a d o a escrever peças por volta
i ) pnnto em c o m u m a muitas dessas teorias
i ' I i.isicamente o esnobismo - a crença de d e 1590, e, p r o v a v e l m e n t e , a trilogia Henrique VI e Ricardo III estão
que um h o m e m com os antecedentes de
entre suas primeiras obras. Os sucessos na poesia incluem Vénus e
Shakespeare não poderia ter sido capaz de
i".( l e v e r peças que lançam mão de uma Adônis. N o início dos a n o s 1600, ele estava à frente da principal c o m -
gama tão ampla de alusões cultas. Também
panhia d e teatro da Inglaterra, King's M e n , e m h o m e n a g e m a seu
e pieciso considerara paixão que costumam
i lespertar as teorias conspiratórias. patrono, J a i m e II), q u e desfrutava na corte d e prestígio.

S h a k e s p e a r e p r o s s e g u i u sua a s c e n s ã o c o m u m a sucessão d e
A maioria dos estudiosos da obra de
'.h.ikespeare rejeita essas teorias, mas p e ç a s e s o n e t o s expressivos (1609). A maioria d a s p e ç a s foi escrita
lei onheceque alguns trechos (talvez até peças
e m g r u p o s d e c i n c o estrofes iâmbicas, q u e e l e t r a n s f o r m o u e m
inteiras) possam ter sido escritos parcial ou
mesmo completamente por outros autores. a l g o m á g i c o . C o n h e c i d o por sua s a g a c i d a d e , c o n s e g u i a escalar os
A colaboração entre os escritores era muito píncaros da poesia, c h a f u r d a r n o h u m o r mais rasteiro e produzir
i omum na época de Shakespeare.
inversões sábias c o m o "desperdicei t e m p o e a g o r a o t e m p o m e

d e s p e r d i ç a " {Ricardo II). U s o u a l i n g u a g e m para explorar p e r s o n a l i -

d a d e s c o m p l e x a s , criar climas v a r i a d o s e controlar e n r e d o s e s t o n -

teantes, r e c h e a d o s d e i d e n t i d a d e s t r o c a d a s .

S e g u n d o a tradição, S h a k e s p e a r e iniciou u m a aposentadoria

pacífica e confortável e m u m a d e suas p r o p r i e d a d e s e m Stratford

por volta d e 1610, m a s n ã o existem provas disso. Ele morreu e m

Stratford, p o r é m , s e g u n d o dizem alguns, por causa d e u m a febre

a p ó s u m a noite d e bebedeira c o m B e n J o n s o n e outros. A causa

A D I R E I T A : Sonho de uma noite de verão, por precisa d e sua m o r t e é mais u m mistério e m u m a vida repleta d e

QllStave Doré (sem data). charadas intrigantes. AK


JOHN DONNE
N a s c i m e n t o : Entre 24 d e janeiro e 19 d e j u n h o d e 1572 (Londres, Inglaterra).
M o r t e : 31 d e m a r ç o d e 1631 (Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : U m d o s grandes poetas metafísicos d e sua era, sua poesia


apresenta u m misto de e n g e n h o s l d a d e , paixão, erudição e sagacidade.

J o h n D o n n e p e r t e n c i a a u m a família c a t ó l i c a d e d e s t a q u e e m u m

t e m p o e m q u e era p e r i g o s o s e g u i r a b e r t a m e n t e essa fé. S e u pai

foi u m p r ó s p e r o f u n i l e i r o e a m ã e era filha d e J o h n H e y w o o d , o

d r a m a t u r g o . D o n n e foi e d u c a d o e m O x f o r d e d e p o i s na U n i -

versidade d e C a m b r i d g e , mas não p ô d e obter u m diploma das

d u a s instituições p o r c o n t a d e sua religião. A o s 20 a n o s , i n g r e s -

Principais obras s o u e m Lincoln's Inn para e s t u d a r Direito. P o r é m , a p e s a r d e sua

e v i d e n t e i n c l i n a ç ã o para o a p r e n d i z a d o , q u a n d o j o v e m era t a m -
Poesia

Poems, 1633 ( p u b l i c a ç ã o p ó s t u m a )
b é m m u l h e r e n g o e a v e n t u r e i r o . E m 1596, D o n n e p a r t i u d e n a v i o

Sermões na e x p e d i ç ã o d e C a d i z e e n t ã o , mais u m a v e z c o m W a l t e r R a l e i g h ,

/ XXX Sermons, 1640 ( p u b l i c a ç ã o p ó s t u m a ) e m 1597, foi c a ç a r t e s o u r o s d e n a v i o s a f u n d a d o s n o s A ç o r e s .


/ ilty Sermons, 1649 ( p u b l i c a ç ã o p ó s t u m a )
S e u s p o e m a s "A t e m p e s t a d e " (1597) e "A c a l m a r i a " (1597) l e m -
XXVi Sermons, 1660 ( p u b l i c a ç ã o p ó s t u m a )
b r a m essas e x p e r i ê n c i a s .
Prosa
E m 1 6 0 1 , D o n n e tornou-se m e m b r o d o p a r l a m e n t o r e p r e s e n -
Pseudo-Martyr, 1610
tgnotius His Conclave, 1611 t a n d o Brackley, m a s essa carreira civil a l t a m e n t e promissora foi

/ h-volion Upon Emergent Occasions, 1624 arruinada q u a n d o e l e se c a s o u s e c r e t a m e n t e c o m u m a a d o l e s c e n -

fssays in Divinity, 1651 (publicação póstuma) te, A n n e M o r e . A u n i ã o a c o n t e c e u à revelia d o pai d e A n n e e

D o n n e passou a l g u m t e m p o na c a d e i a . E m c o n s e q u ê n c i a , os 14

a n o s s e g u i n t e s d e sua vida f o r a m p r o f i s s i o n a l m e n t e p o u c o a u s p i -

ciosos e m a r c a d o s p o r p r o b l e m a s financeiros. D o n n e a c a b o u c a i n -

d o nas graças d e J a i m e I, q u e r e c o m e n d o u q u e e l e procurasse

u m a carreira na Igreja, c o n s e l h o q u e e l e

" N e n h u m h o m e m é u m a ilha. s e
9 u i u c o m m u i t o s u c e s s o a t é s u a m o r , e e m

1 6 3 1 . C o m o passar d o t e m p o n o púlpito, o

A mOrte d e q U a l q U e r U m m e p o d e r o s o c o n t e ú d o d e seus s e r m õ e s atraiu

muita a t e n ç ã o e e l o g i o s . O s escritos religio-

d i m i n u i . . . " - Meditação XVII sos t a m b é m o a j u d a r a m a o b t e r u m d o u t o -

r a d o na U n i v e r s i d a d e d e C a m b r i d g e e a dis-

putadíssima reitoria da catedral d e Saint Paul. Esses s e r m õ e s f o r a m

p u b l i c a d o s p o s t u m a m e n t e e m três v o l u m e s .

A C I M A : P i n t u r a d e D o n n e , d a escola inglesa, M u i t 0 d a
poesia d e D o n n e é difícil d e ser d a t a d a . P o r é m , costu-

imta em t o r n o d e 1595. ma haver c o n s e n s o e m atribuir seus p o e m a s d e a m o r e sátiras à

58 • J O H N DONNE
JOHN DONNI

A E S Q U E R D A : D o n n e p i n t o u sua p r ó p r i a

m á s c a r a f u n e r á r i a s e m a n a s a n t e s d e sua

morte em 1631.

L orjioriâ hce-cjlnimcejit SijndcniSifncioit (jes


Amen .

ttlartitftjtuj,. J h U » ; f, LjouU ¿y RR a nJ BtnjjflJfU,* y m a f u s ã o d g s a n g u e

Na tradição metafísica, boa parte da p ,ia de


l i i v e n t u d e e a poesia mais d e v o t a , b e m c o m o o s s e r m õ e s , a o s amor de Donne funde duas ideias disparatada , 1

para criar outra, elaborada e extravagante ( u i u . i


t e m p o s e m q u e serviu à Igreja. E m b o r a seus escritos circulassem
metáfora engenhosamente ampliada}, t|ue uni-
a m p l a m e n t e d u r a n t e sua vida, o grosso d e sua o b r a só foi p u b l i c a - os aspectos emocionais e intelectuais, I m
"A pulga" poema que se dirige ao objeto de
d o a p ó s a sua m o r t e .
um amor não correspondido, Donne i li v/e
A poesia mais antiga d e D o n n e e m geral é f r a n c a m e n t e sexual como a pequenina praga sugou sangue

e p o d e ter sido inspirada p e l o r e l a c i o n a m e n t o físico m u i t o próxi- de ambos. Esse incidente, ligeiramente


desagradável, é transformado em c a u s a f i.iia
m o c o m sua mulher, q u e l h e d e u 11 filhos, e m b o r a n e m t o d o s
a celebração romântica, quando a fusai i
l e n h a m s o b r e v i v i d o à infância. A luta d o escritor c o m a fé católica do sangue se transforma em símbolo < l<.
casamento, do sexo, da procriação, tudl I ao
e sua s u b s e q u e n t e c o n v e r s ã o à Igreja a n g l i c a n a são expressas e m
mesmo tempo. O poeta usa essa concepção
p o l ê m i c a s o b r a s e m prosa c o m o Pseudo-Martyr (1610) e Ignatius para defender sua união real.

His Conclave (1611). G M

JOHN DONNI
BENJONSON
N a s c i m e n t o : liinho d e 1572 (Londres, Inglaterra). Morte: 6 d e agosto d e 1637
(Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : Poeta e dramaturgo ellzabetano, maior rival c o n t e m p o r â n e o de


Shakespeare, J o n s o n é mais c o n h e c i d o por suas peças satíricas e licenciosas.

D e estatura a v a n t a j a d a , t a n t o e m t e r m o s d e r e p u t a ç ã o literária

q u a n t o e m presença física, B e n J o n s o n foi u m p e r s o n a g e m m a r c a n -

t e e curioso, q u e partiu d e origens humildes para se tornar o p r i m e i -

ro poeta laureado da Grã-Bretanha. C o m e ç o u a vida c o m o pedreiro,

mas logo p e r c e b e u g u e a a t i v i d a d e n ã o era para ele. Alistou-se n o

Exército, o n d e participou d e ações e m Flandres, m a t a n d o u m inimi-

Principals obras g o e m c o m b a t e . E n t ã o e n t r o u para u m a c o m p a n h i a d e atores itine-

rante e logo se t o r n o u u m ator-escritor. U m a ocasião, foi para a


Pecas

/ very Man in His Humour, 1598 cadeia por estar e n v o l v i d o e m u m a peça subversiva, IsleofDogs, e

The Poetaster, 1601 d e p o i s por ter m a t a d o u m colega ator e m u m duelo. Depois disso,
Sejanus His Fall, 1603 imaginou-se q u e J o n s o n optaria por sair d e circulação, m a s ele se
/ ustwardHo, 1604
m a n t e v e c o m o u m crítico e l o q u e n t e e d e s t e m i d o d e seus c o n t e m -
Volpone, ouA raposa, 1606
p o r â n e o s (entre eles, Shakespeare) e d e s c a r a d o p r o m o t o r d e seus
I he Alchemist, 1610
próprios talentos.
hai [holomew Fair, 1614

Poesia Every Man in His Humour, apresentada pela t r u p e d o lorde

I he Forest, 1616 C h a m b e r l a i n e m 1598, t r a n s f o r m o u J o n s o n e m c e l e b r i d a d e . C o m


Underwoods, 1640 Sejanus His Fali, sua f a m a se t o r n o u mais parecida c o m infâmia,
Prosa
q u a n d o foi l e v a d o a o C o n s e l h o P r i v a d o d a rainha para se d e f e n d e r
Iimber, or Discoveries, 1640
d e a c u s a ç õ e s d e " p a p i s m o e traição". D e p o i s , v o l t o u para a cadeia

por sua p a r t i c i p a ç ã o e m Eastward Ho, cujas referências antiescoce-

sas o f e n d e r a m J a i m e I. A r e p u t a ç ã o d e J o n s o n se m a n t é m c o m as

p e ç a s Volpone e The Alchemist, e n t r e outras,

"É a linguagem nas quais sua inteligência m o r d a z se c o m b i -

na a u m a e n g e n h o s a sátira. Foi t a m b é m

revela um homem: I 3 la Í pa ra c o m o poeta e bem-sucedido autor d e mas-

c a r a d a s q u e J o n s o n liderou o círculo literário

que possa vos ver." - Discoveries d o qual emergiu u m punhado de famosos

escritores. I n e v i t a v e l m e n t e , o fato d e ter sido

a m i g o e c o n t e m p o r â n e o d e S h a k e s p e a r e c o s t u m a encorajar t o d o s

os tipos d e c o m p a r a ç ã o . Nesses casos, costuma-se contrastar o

ACIMA: C ó p i a s e m d a t a d e u m r e t r a t o f e i t o
g ê n i o a u t o d i d a t a d e S h a k e s p e a r e e sua s a g a c i d a d e nata c o m a

por G e r r i t v a n H o n t h o r s t n o s é c u l o X V I I . e r u d i ç ã o , o classicismo e o d o m í n i o t é c n i c o d e J o n s o n . G M

(•0 . B E N JONSON
TIRSO DE MOLINA
| | u n e n t o : Gabriel Tellez, c l 571-1584 (Madri, Espanha). Morte: 12 d e março d e Principáis obras
•1» (Soria, Espanha).
Pecas
I l l " t g ê n e r o : Dramaturgo e poeta d o barroco espanhol, é c o n h e c i d o pela
El Vergonzoso en Palacio, 1611
iliiudidade d e seus personagens, por sua g a m a d e assuntos e sagacidade.
El Condenado por Desconfiado, 1624

O burlador de Sevilha e o convidado de pedia


1630
I le M o l i n a foi u m d o s g r a n d e s d r a m a t u r g o s da era d e o u r o da
La Venganza de Tomar, 1634
I spanha e talvez, e m talento, só f i g u e atrás d e seu c o m p a t r i o t a

Lope d e V e g a . Prolífico, D e M o l i n a a l e g a v a ter escrito 400 p e ç a s ,

I n t r e c o m é d i a s c o m o El Vergonzoso en Palacio e tragédias c o m o La

i i a* tanza de Jamar, m a s m e n o s d e 90 s o b r e v i v e r a m . A mais c o n h e -

Clda é O burlador de Sevilha e o convidado de pedra, na q u a l criou o

l o n a g e m d o l e n d á r i o sedutor D o n J u a n Tenório. Talvez seja

Irônico, c o n s i d e r a n d o - s e q u e D e M o l i n a era p a d r e . C a p a z d e ser

• ••i untuoso e c o m o v e n t e , criou p e r s o n a g e n s s i m p á t i c o s e a r g u -

m e n t o s realistas. Esse t a l e n t o lhe criou p r o b l e m a s e m 1625, q u a n -

do u m a p a r t e d e sua obra foi classificada c o m o o b s c e n a . CK

JOHN WEBSTER
N a s c i m e n t o : c l 5 8 0 (Londres, Inglaterra). Morte: c l 630 (Londres, Inglaterra). Principais obras
i stilo e g ê n e r o : Dramaturgo dos t e m p o s da rainha Elizabeth e d o rei J a i m e
Peças
Iiecido por suas tragédias, Webster enfrentava o lado negro da natureza
The White Devil, 1612
ii imana e tinha entre seus temas a revanche e a violência macabra.
The Duchess ofMalfi, 1623

The Devil's Law Case, 1623

P o u c o se s a b e d a vida d e J o h n W e b s t e r . Talvez t e n h a e s t u d a d o

Direito - h i p ó t e s e s u s t e n t a d a p e l o uso d e c e n a s d e tribunal e m

aias p e ç a s e p e l o senso d e justiça, o u melhor, d e falta d e justiça. O

primeiro registro d e sua carreira d e escritor s u r g e e m 1602 e e l e foi

autor o u c o a u t o r d e p e ç a s e t r a g i c o m é d i a s j u n t o c o m d r a m a t u r -

gos d e d e s t a q u e c o m o T h o m a s Dekker. P o r é m , c o s t u m a ser l e m -

b r a d o p o r d u a s t r a g é d i a s g u e se p a s s a m na Itália, The White Devil e

IheDuchess ofMalfi. R e c o n h e c i d a s pela violência s a n g r e n t a e p e l o

senso m a c a b r o , a m b a s e n f o c a m o lado mais o b s c u r o da natureza

h u m a n a . A plateia s e n t e g u e o m a l n u n c a está l o n g e e m u m a

s o c i e d a d e c o r r u p t a a t é a m e d u l a . Para W e b s t e r , a t é u m e x e m p l a r

da Bíblia p o d e servir c o m o a r m a letal. CK

T I R S O D E M O L I N A • J O H N W E B S T t l l • r. I
FRANCISCO DE QUEVEDO
N a s c i m e n t o : 171 le setembro d e 1580 (Madri, Espanha). Morte: 8 d e setembro d e
1645 (Villanueva d e los Infantes, Espanha).

Estilo e g é n e r o : Quevedo é famoso pela sátira e pela sagacidade, mas t a m b é m foi


u m erudito e autor d e p o e m a s d e amor, novelas, tratados filosóficos e teológicos.

Q u e v e d o , a o l a d o d e s e u arquirrlval Luis d e G o n g o r a , foi u m d o s

principais p o e t a s d o Siglo de Oro ( o u s é c u l o d e ouro) da E s p a n h a .

O s pais d e s c e n d i a m d a nobreza d e Castela e e r a m figuras d e d e s -

t a q u e na c o r t e e s p a n h o l a , m a s m o r r e r a m q u a n d o Q u e v e d o tinha

6 a n o s d e i d a d e . T o d o s o s relatos d ã o c o n t a d e q u e o g a r o t o era

u m p e r s o n a g e m e x t r e m a m e n t e interessante, q u e ficou f a m o s o

Principais obras por seus p o e m a s , sua prosa e o b r a s na c o r t e . Ele se c o r r e s p o n d i a

c o m o h u m a n i s t a J u s t u s Lipsius e c o n h e c i a M i g u e l d e C e r v a n t e s .
Prosa

I '•hiiiino: História da vida do gatuno chamado


D e a c o r d o c o m relatos c o n t e m p o r â n e o s , Q u e v e d o tinha n a t u -
Dom Pablo, exemplo de vagabundos e reza i m p u l s i v a e u m a t e n d ê n c i a à p e r v e r s i d a d e e g a n h o u f a m a
i'spelhodevelhacos, 1626
p e l o s c o m e n t á r i o s c á u s t i c o s a respeito da a p a r ê n c i a d a s p e s s o a s .
i )s sonhos ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o Los
''iimos y Discursos), 1627 A p e s a r d e t e r u m p é t o r t o e miopia, n ã o se f u r t a v a a atacar o u t r o s

Teologia homens pela a p a r ê n c i a , e s c r e v e n d o sátiras d e v a s t a d o r a s o u


l a cuna y Ia sepultura, 1612 p a r ó d i a s . T a m b é m t i n h a u m p é s s i m o g ê n i o e, e m mais d e u m a
l a providencia de Dios, 1641
ocasião, c h e g o u a desafiar u m adversário para d u e l o sob os
Política
m e n o r e s p r e t e x t o s . A m a i s f a m o s a d e s s a s r i v a l i d a d e s foi c o m
La política de Dios, 1617-1626
Luis d e G o n g o r a , cuja p o e s i a , estilo d e v i d a e a p a r ê n c i a física
/ a vida de Marco Bruto, 1632-1644
Quevedo satirizava i m p i e d o s a m e n t e . G o n g o r a , naturalmente,

retribuía na m e s m a m o e d a .

A vida na c o r t e e s p a n h o l a podia ser t e m p e s t u o s a , d e p e n d e n d o

d a s a m i z a d e s pessoais e l e a l d a d e s - o u melhor, d e p e n d e n d o d e

q u e m estava o c u p a n d o o p o d e r n o m o m e n -

"Morte, desperdiças teu t e m p o t 0


- D e p o i s d e u m a t e m
p ° r a d a n
° e x í l i
° -

p r o v o c a d o p o r ter e s c o l h i d o o l a d o e r r a d o

SObre m i n h a ferida, P 0 Í S a q u e l e e m uma escaramuça política -, Q u e v e d o

v o l t o u a viver na corte s o b u m n o v o rei,

Filipe IV. A o retornar, ainda estava mais b e l i -

c o s o d o q u e a n t e s - era u m b e b e d o r , f u -

m a n t e e f r e q u e n t a d o r d e bordéis. O rei Filipe IV, i g u a l m e n t e t u r b u -

lento, t i n h a Q u e v e d o e m g r a n d e c o n t a . E m 1632, ajudou-o a

A C I M A : T e l a a ó l e o d a escola e s p a n h o l a d o alcançar o a u g e d e sua a m b i ç ã o política a o n o m e á - l o seu secretá-

seculo XVII, localizada e m M a d r i . rio particular. REM

62 • F R A N C I S C O DE QUEVEDO
PEDRO CALDERON DE LA BARCA
Num i m e n t o : 1 7 d e janeiro d e 1600 (Madri, Fsp.iiili.i). Morte: 25 d e maio d e 1681
IM.n In. I spanha).

f i i i l n e g ê n e r o : Principal dramaturgo n o a u g e d o poder e da influência da


l l p a n h a , seus t e m a s t ê m c o m o inspiração a corte real

1
iMorón n a s c e u e m o r r e u e m M a d r i , p a s s a n d o a m a i o r p a r t e d e

lua vida nas c o r t e s d e Filipe III e d e Filipe IV, q u e r e u n i r a m e m

l o d e si u m g r u p o d e seus escritores favoritos. E m 1637, o rei

i 1111 ' i I V s a g r o u C a l d e r ó n Cavaleiro d e S a n t i a g o .


1

Os pais d e C a l d e r o n t i n h a m v i n d o d o n o r t e da E s p a n h a (diz-se

Que sua m ã e d e s c e n d i a d e f l a m e n g o s ) . Os dois m o r r e r a m ainda

|evens e, a o s 15 a n o s , C a l d e r ó n estava órfão. D e s t i n a d o inicial- Principáis obras


m e n t e a o sacerdócio, e n t r o u na escola jesuíta d e M a d r i , m a s m u d o u
Pecas
D E ideia e preferiu e s t u d a r Direito na U n i v e r s i d a d e d e S a l a m a n c a , El príncipe constante, 1629

i ihora os relatos c o s t u m e m variar, a p a r e n t e m e n t e e l e serviu, p o r El médico de su honra, 1635

I ii >uco t e m p o , nas forças a r m a d a s . L u t o u e m n o m e d o rei na revol- A vida é sonho, 1635

El alcalde de Zalamea, 1640


i.i i atalã d e 1640 e t a m b é m teria s e r v i d o e m c a m p a n h a s contra os
La hija del aire, 1653
il.ilianos e os h o l a n d e s e s .

D u r a n t e a t e m p o r a d a na u n i v e r s i d a d e , C a l d e r ó n c o m e ç o u a

i lanhar n o m e c o m o escritor e, a o v o l t a r para M a d r i , o estilo aces-

l l v e l e a i m a g i n a ç ã o vívida garantiram-lhe o sucesso. Escreveu

p e ç a s para a c o r t e real, b e m c o m o m a s c a r a d a s e ó p e r a s , e suas

obras t a m b é m f o r a m e n c e n a d a s e m t e a t r o s p ú b l i c o s , l e v a n d o

u n o m e a se t o r n a r c o n h e c i d o d e u m a plateia maior. S e u suces-

10 foi t a n t o q u e , d e p o i s da m o r t e d e L o p e d e V e g a , C a l d e r o n

lassou a ser c o n s i d e r a d o o p r i n c i p a l d r a m a t u r g o da E s p a n h a . Ele

n u n c a se c a s o u , e m b o r a t e n h a a s s u m i d o a

I i . i t e r n i d a d e d e u m filho i l e g í t i m o . E m 1 6 5 1 ,

v o l t o u para sua p r i m e i r a v o c a ç ã o , t o r n a n -
"Ele supera todos os modernos
do-se s a c e r d o t e , i n d i c a d o mais t a r d e para o
dramaturgos à exceção de
( a r g o d e c a p e l ã o real. C o n t i n u o u a e s c r e v e r

•.obre t e m a s religiosos e seculares, e n t r e os Shakespeare."- Percy Bysshe Shelley


q u a i s m u i t o s roteiros para a p r e s e n t a ç ã o na

lesta a n u a l d e C o r p u s Christi e m M a d r i . S u a s c o m é d i a s f o r a m

descritas c o m o f u n d a m e n t a l m e n t e sérias. " O q u e é a v i d a ? " p e r -

g u n t a e m u m a d e l a s . " U m a l o u c u r a . O q u e é a v i d a ? U m a ilusão, A C I M A : Retrato de Calderón pintado poi

u m a s o m b r a , u m a história."RC A n t o n i o Pereda y S a l g a d o no século XVII

PEDRO CALDERÓN DE LA B A R C A -6.1


PIERRE CORNEILLE
N a s c i m e n t o : 6 d e j u n h o d e 1606 {Rouen, França). Morte: 1 d e outubro d e 1684
,J

(Paris, França).

Estilo e g ê n e r o : Considerado o pai da tragédia clássica francesa, suas obras


geralmente giram e m torno d e u m dilema moral.

A f a m o s a peça d e Corneille O Cid, b a s e a d a e m histórias s o b r e o

g r a n d e herói e s p a n h o l El C i d , foi u m divisor d e á g u a s . É c o n s i d e r a -

da u m m a r c o d o t e a t r o francês por sua a b o r d a g e m inédita d o

d r a m a clássico. E m b o r a tenha sido u m sucesso, p r o v o c o u inflamada

p o l ê m i c a artística e n t r e pessoas nas altas esferas, l e v a n d o à d e s a -

p r o v a ç ã o oficial da A c a d é m i e Française.

Principais obras A p e s a r d e s s e a p a r e n t e revés e d o p o u c o t a t o d e Corneille, suas

peças p e r m a n e c e r a m muito populares. Foram admiradas pelo


Peças

Medée, 1635 p ú b l i c o e p e l o s principais d r a m a t u r g o s d e seu t e m p o , como

O Cid, 1637 Moliere, e ele a c a b o u s e n d o a d m i t i d o na A c a d e m i a e m 1647. N e s -


/ lorácio, 1640 sa é p o c a , b e m e s t a b e l e c i d o c o m o d r a m a t u r g o , Corneille já tinha
Cinna, 1641
n o currículo u m a série d e peças, e n t r e elas c o m é d i a s m u i t o espiri-
Polieucto, 1643
t u o s a s c o m o Le Menteur, a l é m d a s t r a g é d i a s pelas quais c o s t u m a
h-Menteur, 1643
ser l o u v a d o .
Andromède, 1650

Niœmède, 1651 Tornou-se b e m c o n h e c i d o por conta d e sua "tetralogía clássica",

Oedipe, 1659 produzida nas d é c a d a s d e 1630 e 1640: O Cid, Horácio, Cinna e

Polieucto. O d o m especial d e Corneille era a reinterpretação pessoal

da camisa d e força teatral e m v o g a n o seu t e m p o - a o b s e r v a ç ã o

das três u n i d a d e s s u p o s t a m e n t e clássicas d e t e m p o , lugar e a ç ã o -

d e u m a forma q u e permitia u m a expressiva p e r c e p ç ã o psicológica,

aliada a u m a clareza d e visão b e m equilibrada. Suas peças g e r a l -

m e n t e c o n t r a p õ e m interesses pessoais e ques-

"Quando não há riscos tões morais


' e o f e r e c e m u m h e r o í s m o edifi
"
c a n t e . Talvez o i n i m i t á v e l s e n s o d e o r d e m

na lUta, nãO há glÓria artística d e Corneille se d e v a a o fato d e per-

t e n c e r a u m a família d e a d v o g a d o s . Ele mes-

A C I M A : U m a cópia d o retrato d e Corneille


no triunto. - oad m o foi t r e i n a d o para a f u n ç ã o e t r a b a l h o u

c o m o magistrado e oficial local d u r a n t e sua


leito por Charles Le Brun, g u a r d a d o e m

V e r s a l h e s , na F r a n ç a . vida. C o n t i n u o u a produzir peças na velhice, m a s d e p o i s foi o b s c u r e -

cido por Racine, a q u e m m u i t o influenciou. Sua obra t a m b é m exer-


A D I R E I T A : F r o n t i s p í c i o d e O Cid, p u b l i c a d o

p o r A u g u s t i n C o u r b é e m 1637. c e u p r o f u n d o efeito e m personalidades c o m o o d r a m a t u r g o J o h n

D r y d e n , d u r a n t e a Restauração inglesa. AK

64- P I E R R E CORNEILLE
L E C I D
TRAGICOMEDIE

A P A R T S ,
C h e z A V G V S T I N C O V R B E , I m -
primeur & Libraire de Monieigneur
f i c r e d u R o y , d a n s la p e t i t e S a l l e d u
P a l a i s , à la P a l m e .

M. D C . X X X V I I .
JVEC trïv jlbç e vv rot.
JOHN MILTON
N a s c i m e n t o : 9 d e d e z e m b r o d e 1608 (Londres, Inglaterra). M o r t e : 8 d e n o v e m b r o
d e 1674 (Chalfont St. Giles, Buckinghamshire, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : I.'., I llot considerava Milton *de fato u m grande poeta" mas achava
que c o m o h o m e m era antipático, e sua poesia, caracterizada pela dominância d o som.

M i l t o n p e r m a n e c e c o m o o mais p o d e r o s o d o s p o e t a s da língua

inglesa, e n s e j a n d o releituras f r e q u e n t e s talvez mais d o q u e q u a l -

q u e r o u t r o escritor. A criança q u e se tornaria u m p o l e m i s t a selva-

g e m c o m sua prosa - e m boa m e d i d a e m razão da t e n d ê n c i a à

misoginia e m sua o b r a e pela p e r s o n a l i d a d e inflexível - foi b e m

e d u c a d a por pais a m b i c i o s o s , primeiro e m casa, c o m a ajuda d e

Principais obras tutores, d e p o i s na St. Paul S c h o o l e e m C a m b r i d g e . T e r m i n o u sua

e d u c a ç ã o por c o n t a própria, graças a u m i n t e n s o p e r í o d o d e leitu-


Poesia

Paraíso perdido, 1667 ras q u a n d o c h e g o u à casa d o s 20 anos, e a d i o u , para d e p o i s final-

Paraíso reconquistado, 1671 m e n t e a b a n d o n a r , u m a carreira na Igreja.

Sahsõo guerreiro, 1671 A p e s a r d o a p a r e n t e atraso (o t e m a da " l o n g a escolha e início


Poemas
tardio" é f r e q u e n t e e m sua o b r a ) , e l e havia c o m p o s t o antes d o s 30
" O n the m o r n i n g of Christ's Nativity", 1629
a n o s d e i d a d e q u a t r o brilhantes p o e m a s : "UAIlegro", "II P e n s e r o s o "
"I ycidas", 1637
" L y c i d a s " e Comus ( u m a m a s c a r a d a ) . Q u a n d o se f o r m o u , já era u m
Ensaios

Arcopagitica, 1644 m e s t r e d o latim e d o g r e g o , podia ler e e s c r e v e r e m francês e italia-

/ fw Tenure of Kings and Magistrates, 1649 no, sabia h e b r a i c o o b a s t a n t e para parafrasear, e m g r e g o , o s a l m o


Second Defence of the English People, 1654 114 e, mais t a r d e , d e f e n d e u Carlos I e m latim t ã o robusto q u e ficou
/ /ic Readie & Easie Way to Establish a Free
c o n h e c i d o por t o d a a E u r o p a n ã o a p e n a s c o m o u m b e m - s u c e d i d o
Commonwealth, 1659
p o l e m i s t a , m a s t a m b é m p e l o estilo q u e l e m b r a v a Cícero. Foi o
Peça
Comus, apresentada e m 1634, publicada e m
1637

ACIMA: Gravura representando Milton,

da escola inglesa d o século XIX.

A D I R E I T A : Satã tenta Eva, p o r J o h n M a r t i n ,

c e n a d e Paraíso perdido, de Milton.

66- JOHN MILTON


primeiro i n t e l e c t u a l da Inglaterra a c h e g a r á arena i n t e r n a c i o n a l . ACIMA: Satã, o pecado e a morte (1735-

M i l t o n e s c r e v e u g u a s e g u e e x c l u s i v a m e n t e prosa e n t r e 1 6 4 0 e 1740), esboço inacabado inspirado t m


, , , _i - _i i _i , ,. i Paraíso perdido.
i6, d u r a n t e a e m e r g ê n c i a g r a d u a l d o r e p u b l i c a n i s m o revolucio-

ii.ii io g u e e l e d e f e n d i a , v o l t a n d o para a poesia a p e n a s a o c o m e ç a r

Paraíso perdido. E m 1 6 4 2 , casou-se c o m a primeira e s p o s a , M a r y

1'owell, filha d e u m a família m o n a r q u i s t a q u e

devia d i n h e i r o a o pai d e M i l t o n . A s n ú p c i a s " r , ^ c e g Q ç U m a ITlÍSéNa


l o i a m a p e n a s dois m e s e s antes d o início da

guerra civil na Inglaterra. S u p o s t a m e n t e por ^ ¿ 0 SeT CapaZ d e SUpOltar a


l uísa d o conflito, a esposa o d e i x o u e foi se

ilnigar na casa da família e m Oxford, d e o n d e

IO sairia d e p o i s d e três a n o s inteiros. M i l t o n

i o m e ç o u a e s c r e v e r seus q u a t r o t r a t a d o s s o b r e o d i v ó r c i o d u r a n t e

essa s e p a r a ç ã o , a r g u m e n t a n d o q u e a v e r d a d e i r a base d e u m c a s a -

mento é o companheirismo, e que a incompatibilidade de t e m p e -

r a m e n t o s é u m a razão m e l h o r para o d i v ó r c i o d o q u e o adultério.

J O H N M I L T O N • (./
M a r y m o r r e u a o d a r à luz, d e i x a n d o - o c o m três m e n i n a s e u m
Satã sobre-humano m e n i n o q u e n ã o s o b r e v i v e u a o p a r t o . Ele v o l t o u a se c a s a r d u a s

v e z e s , s e n d o q u e a t e r c e i r a e s p o s a v i v e u m a i s u n s 50 a n o s a p ó s
O Satã de Milton é um novo tipo de
personagem na poesía épica, multo diferente sua m o r t e . T e v e p r o b l e m a s n o s o l h o s , p e r d e n d o a v i s ã o d o o l h o
das monstruosas representações do
e s q u e r d o e m 1648 e f i c a n d o c o m p l e t a m e n t e c e g o e m 1652
demônio na literatura medieval e
renascentista. O Lúcifer de Milton é ao ( e l e n u n c a v i u sua s e g u n d a e s p o s a , a m u i t o a m a d a Katherine
mesmo t e m p o super e subumano:
W o o d c o c k . Precisou q u e o guiassem e q u e lhe lessem pelo

Confiou em exército tamanho, resto d e s e u s d i a s ) .


aspirando no império a ter assento
De seus iguais acima, destinara
Ombrear com Deus, se Deus se lhe opusesse,
Paraíso perdido e Sansão guerreiro
E com tal ambição, com tal insânia,
E m b o r a Milton t e n h a escrito Paraíso perdido ininterruptamente e m
f)o Onipotente contra o Império e trono
Fez audaz e Ímpia guerra, deu batalhas. 1656, q u a n d o já estava claro q u e o Protetorado d e C r o m w e l l logo
Mas, da altura da abóbada celeste, seria substituído pela volta d o g o v e r n o m o n á r q u i c o , Milton planeja-
Deus, com a mão cheia de fulmíneos dardos,
va o p o e m a é p i c o d e s d e o fim da d é c a d a d e 1630. N e n h u m p o e m a
O arrojou de cabeça ao fundo Abismo,
Mar lúgubre de ruínas insondável, longo na língua inglesa t e m uma a m p l i t u d e espacial maior e n e n h u m
A fim que atormentado ali vivesse
outro t e m p e r s o n a g e n s mais b e m delineados. Agora o l e m o s c o m o
Com grilhões de diamante e intenso fogo
0 que ousou desafiar em campo o Eterno. u m p o e m a da consciência dramatizada, trágica, c o m a a t e n ç ã o volta-
Paraíso perdido, Livro 1,40-49
da para Satã, Eva no J a r d i m d o É d e n e a a p r e s e n t a ç ã o d o próprio

1 ni O casamento do Céu e do inferno, William Milton c o m o u m poeta "inalterado... e m b o r a vítima d e dias perver-
Blake comenta:"A razão para Milton escrever
sos/ E m dias perversos, e m b o r a vítima, e línguas perversas/ Na e s c u -
de algemas ao tratar dos Anjos e liberdade,
ao falar dos Demônios e do Inferno, é porque ridão e e n v o l t o e m perigos/ E solidão". Satã é glamouroso, sedutor e
ele era um poeta verdadeiro e partidário do
perverso, u m retrato sublime d e uma hipocrisia canastrona tão pers-
Demônio sem sabê-lo," Para Blake, Satã
simbolizava o desejo, a energia e as forças picaz q u e só poderia ser percebida por u m deus, e m b o r a ele próprio
criativas vitais que habilitam a humanidade a
seja franco e desiludido e m relação a o papel q u e passou a d e s e m p e -
viver uma existência plena: "Em Milton, o Pai
é o Destino, o Filho, uma Relação entre os nhar. " O n d e q u e r q u e e u v o e é o Inferno; e u m e s m o sou o Inferno/
cinco sentidos e o Espirito Santo, o vácuo." ...Todo o b e m m e foi perdido/ M a l , vós sois o m e u bem."

M i l t o n c o n f e r e a Eva u m a p e r s o n a l i d a d e i m e n s a m e n t e c o m p l e -

xa: narcisista e persuasiva na d i s c u s s ã o c o m A d ã o ; crédula ao

c o n h e c e r Satã s o b a f o r m a d e s e r p e n t e , e c o m o v e n t e c o m o a d e s -

g r a ç a d a m ã e da h u m a n i d a d e n o m o m e n t o e m q u e A d ã o e s c o l h e

segui-la na q u e d a . Q u a n d o seu paraíso está p e r d i d o , lhe é p r o m e -

tido " u m paraíso d e n t r o d e v ó s , ainda mais feliz".

A o f i m d e Paraíso perdido, M i l t o n enfatiza a i n t r o s p e c ç ã o da

m e s m a m a n e i r a e m q u e sua r e d e f i n i ç ã o da t r a g é d i a , e m Sansão

guerreiro, ele u n e o pessoal c o m o político e o histórico para forjar

A D I R E I T A : Satã anima os anjos rebeldes, u m a i n e s q u e c í v e l i m a g e m da solidão h u m a n a d i a n t e d o vazio d o

p i n t a d o e m 1808 p o r W i l l i a m B l a k e . desconhecido. JP

i>8- J O H N M I L T O N
ANDREW MARVELL
N a s c i m e n t o : 31 d e março d e 1621 ( W i n e s t e a d , Inglaterra). Morte: 16 d e agosto d e
1678 (Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : Poeta, panfletário e politico a serviço d e Cromwell, seus escritos


estão repletos d e dualidades, talvez reflexo d e u m a personalidade dividida.

N a s c i d o e m Yorkshire, e d u c a d o n o T r i n i t y C o l l e g e , e m C a m b r i d g e ,

t e n d o feito muitas viagens pelo c o n t i n e n t e , A n d r e w Marvell

t o r n o u - s e t u t o r d a filha d e T h o m a s Fairfax e m 1648. P r e s u m e - s e

g u e t e n h a e s c r i t o b o a p a r t e d e sua p o e s i a e n g u a n t o d e s e m p e -

nhava a função. E m algum momento, Marvell conheceu o gran-

d e p o e t a J o h n M i l t o n e u s o u d e sua i n f l u ê n c i a política para

Principals obras libertá-lo da p r i s ã o .

E m 1657, s o b r e c o m e n d a ç ã o d e M i l t o n , M a r v e l l foi d e s i g n a -
Poemas

"An Horatian Ode", 1650 d o s e c r e t á r i o a s s i s t e n t e d e l a t i m para o C o n s e l h o d e E s t a d o ,

T h e Coronet", c.1650-1652 sob a liderança d e Oliver Cromwell (desdobramento surpreen-


"A D i a l o g u e B e t w e e n t h e S o u l a n d t h e Body", d e n t e , pois M a r v e l l h a v i a se a l i a d o a n t e r i o r m e n t e a o s m o n a r -
c.1650-1652
q u i s t a s ) . E m 1659, M a r v e l l f o i e l e i t o r e p r e s e n t a n t e d e Hull n o
" lo His Coy Mistress", c l 650-1652
p a r l a m e n t o , p o s t o q u e m a n t e v e a t é sua m o r t e . Nas últimas
" t h e M o w e r Against the G a r d e n s " c.1650-1652
d u a s d é c a d a s d e s u a v i d a , e s t e v e s e m p r e m u i t o e n v o l v i d o na
" T h e Garden",c.l650-1652

" U p o n A p p l e t o n H o u s e , to m y Lord Fairfax", p o l í t i c a . E s c r e v e u n u m e r o s a s e m o r d a z e s sátiras p o l í t i c a s e p a r -

1651 ticipou d e missões diplomáticas e m lugares t ã o distantes quan-


Prosa to a Rússia.
/he Re-hearsal Transps'd or Animadversions
As t e n s õ e s q u e e r a m e v i d e n t e s na vida pública d e M a r v e l l per-
Upon a Late Book, Intituled A Preface,
Shewing What Grounds There Are of Fears m e i a m sua arte. E x a m i n o u c o m g r a n d e h a b i l i d a d e a natureza
and Jealousies of Popery, 1672
voraz d o t e m p o c o n t r a o prazer, ladrão q u e e l e c o n h e c i a m u i t o
the Growth of Popery and Arbitrary
Government, 1677 b e m p o r ter e x p e r i m e n t a d o p r e c o c e m e n t e as m o r t e s d o p a i e da

mãe. Marvell t a m b é m tratou d o conflito e n t r e

) s os prazeres m u n d a n o s e as responsabilida-

d e s morais da a l m a . Talvez o mais r e l e v a n t e

delÍCÍOSa P a r a s u a
p e r s o n a l i d a d e dividida seja a e x p l o -

ração d o p a p e l d o i n d i v í d u o c o m o esteta e m

solidão." - "The Gard u n i ã o c o m a natureza, e d o contraste i n e v i -

t á v e l c o m seu l a d o racional. Para M a r v e l l , e m

sua experiência d e vida e e m seus esforços artísticos, o s dois lados

.,,.„„.. ., „ s e m p r e e s t a r i a m e m conflito. M o r r e u d e u m a f e b r e terçã e m 1678


Aí I M A : U m a g r a v u r a p r o d u z i d a p o r v o l t a r Y

d e 1880 a partir d e oíd England Worthies, e é


l e m b r a d o c o m o u m leal patriota. S u a poesia só foi p u b l i c a d a

de Lord B r o u g h a m . depois de 1681. JS

70 • A N D R E W MARVELL
JEAN DE LA FONTAINE
Num i m e n t o : 8 de julho d e I 6 ? l (Châteuu-Thlerry, frança). Morte: 1 t d e abril d e
16<J'. (Paris, França).

I « l i l i i e g ê n e r o : Autor i | u i ' transformou a fábula e m seu próprio gênero, seus


•bre animais e antigos heróis foram emprestados d e Esopo e outras fontes.

rodos os e s t u d a n t e s d e língua francesa já o u v i r a m falar d a s Fábulas

de La F o n t a i n e . Essas e l e g a n t e s historinhas a r r e m a t a d a s por u m a

i al v ê m s e n d o recitadas por crianças nos últimos 300 a n o s .

P o r é m , u m e x a m e mais a t e n t o revela q u e a m o r a l d a s f a m o s a s

lai a tias d e La F o n t a i n e n ã o exemplifica a s a b e d o r i a caseira, m a s

enta d e f o r m a satírica a s o c i e d a d e c o n t e m p o r â n e a .

l a F o n t a i n e n a s c e u e m Château-Thierry, a leste d e Paris, filho d e Principals obras


i ii n funcionário d o g o v e r n o . E s t u d o u teologia, direito e talvez medi-
Prosa
i, mas era mais u m diletante e n u n c a pôs esses e s t u d o s e m práti- Contes et nouvelles en vers, 1644-1674

i a . N ã o c o m e ç o u a escrever antes dos 33 anos, mas a partir d e e n t ã o Fables choisies mises en vers, 1688-1694

•a • i ledicou à arte. Para financiar seus escritos, m a n t e v e vários cargos Les Amours de Psyché et de Cupidon, l (>(>•>

toverno q u e lhe g a r a n t i a m u m a renda, mas exigiam p o u c a a t e n -

ção. T a m b é m t e v e u m a série d e patronos aristocráticos a lhe dar

pioteção. O primeiro, Nicolas F o u q u e t , s u p e r i n t e n d e n t e d e finanças

i I r Luís X I V , lhe traria p r o b l e m a s no futuro. Q u a n d o F o u q u e t caiu e m

desgraça, La F o n t a i n e c o n t i n u o u a lhe oferecer apoio, d e s p e r t a n d o

lais suspeitas q u e o rei, p e s s o a l m e n t e , i m p e d i u por u m a n o sua

h Imissão à A c a d é m i e Française.

O p r i m e i r o sucesso literário d e La F o n t a i n e v e i o c o m Contes et

nouvelles en vers, c o l e t â n e a d e histórias o b s c e n a s s o b r e p a d r e s

lascivos, m u l h e r e s d e v a s s a s e m a r i d o s traídos. Q u a n d o se v o l t o u

para a religião, na v e l h i c e , La F o n t a i n e arre-

p endeu-se d o t o m licencioso d o s Contes e os "JqçJq ÜSONJEADOT VÍVE À CUSTCJ


l e t i e g o u . E n v o l v e u - s e c o m t o d a s as f o r m a s

d e escrita e m v o g a , d o r o m a n c e l o n g o à ele- DAQUELE QUE LHE DÁ OUVÍCLOS."


ijia, m a s foi c o m as 240 fábulas q u e ele c o n -

q u i s t o u u m lugar no p a n t e ã o da literatura

I r a n c e s a . E m u m a era e m q u e os a u t o r e s

e m p r e g a v a m u m a l i n g u a g e m f o r m a l e c o n t i d a , esses c o n t o s d e

.mimais e a n t i g o s heróis, escritos c o m u m a fabulosa riqueza d e lin-

g u a g e m e repletos d e p a l a v r a s arcaicas e c o l o q u i a l i s m o s , trans- A C I M A : R e t r a t o d e La F o n t a i n e d o e s t ú d i o

b o r d a m d e v i d a e s a g a c i d a d e . CW d e H y a c i n t h e R i g a u d (1659-1743).

J E A N D E LA F O N T A I NI
MOLIÈRE
N a s c i m e n t o : lean Baptiste Poquelin, 15 d e Janeiro d e 1622 (Paris, França). Morte:
17 d e fevereiro d e 1675 (Paris, França).

Estilo e g ê n e r o : I iiamalurqo (rances d o sé; ulo XVII, •iinplainenlc reconhecido


c o m o u m dos maiores autores d e comédias d e todos os tempos.

M o l i è r e , influente a u t o r d e c o m é d i a s , n a s c e u sob o n o m e d e J e a n

B a p t i s t e P o q u e l i n , filho d e u m b e m - s u c e d i d o e s t o f a d o r q u e t r a b a -

lhava para a c o r t e francesa. A i n d a j o v e m , M o l i è r e já a c h a v a mais

d i v e r t i d o fazer graça c o m a aristocracia d o q u e ser c o n t a d o e m

suas fileiras. U s a n d o sua p a r t e nos b e n s d e i x a d o s pela m ã e , m o n -

t o u u m g r u p o c h a m a d o L'Illustre Théâtre, g u e viajava pelas p r o v í n -

Principais obras c i a s e p e r m i t i u q u e M o l i è r e c o m e ç a s s e a d o m i n a r s e u ofício.

Q u a n d o v o l t o u a Paris, já havia a d o t a d o o n o m e d e M o l i è r e .
Peças

I Is i lûmes de Barbouillé, cl645


E m 1658, t e v e a o p o r t u n i d a d e d e fazer u m a apresentação para o

a medico volante, c.1648 rei Luís XIV, mas t a n t o este q u a n t o a corte n ã o se impressionaram

As preciosas ridículas, 1659 c o m a peça escolhida, u m a tragédia. Finalmente, Molière aproximou-


/ li ola de maridos, 1661
se d o rei e pediu-lhe permissão para apresentar " u m a das pecinhas
i '-, ola de mulheres, 1662
q u e c o s t u m a v a m regalar a província". O rei c o n c o r d o u e a farsa d o
i asnmento forçado, 1664
próprio M o l i è r e , Le docteur amoureaux, demonstrou sertão popu-
0 tartufo, 1664 (reescrita e m 1667 e 1669)
Don luan, 1665
lar q u e os atores tiveram permissão para utilizar o teatro d o Hôtel d u

( ) misantropo, 1666 Petit B o u r b o n . Foi ali q u e ele e n c e n o u seu primeiro sucesso parisien-
le Médecin malgré lui, 1666 se, As preciosas ridículas, peça q u e enfureceu integrantes da corte
0 avarento, 1668
francesa, q u e acreditavam q u e o texto falava sobre eles e por isso t e n -
Amphitryon, 1668
taram interromper sua carreira. Apesar disso, o rei c o n c e d e u a Molière
George Dadin, 1668

1 lu h quês fidalgo,
1
1670

A s artimanhas de Scapino, 1671

As eruditas, 1672

A C I M A : D e t a l h e d e u m retrato de Jean-

Itaptiste M a u z a i s s e q u e e s t á e m V e r s a l h e s .

A D I R E I T A : Crispin e Scapin ou Scapin e

Sylvester, c. 1863-1865, d e H o n o r é D a u m i e r .

12 • M O L I È R E
MOLIÈRE

0 uso d o Palais Royale, o n d e ficaria pelo resto d e sua vida e o n d e , mais A C I M A : Molière ceando com Luis XIV (1 H'> / ) ,

larde, sua c o m p a n h i a seria designada c o m o "a trupe d o rei". d e J e a n Auguste D o m i n i q u e Ingres.

Pelos 13 a n o s s e g u i n t e s , M o l i è r e escreveria criações c ô m i c a s

g u e c o n t i n u a r i a m a p r o v o c a r reações da aristocracia, d o s m é d i c o s
Molière e a religião
i' d o clero, e n t r e elas u m a das suas o b r a s mais f a m o s a s e p o l ê m i -
Molière passou boa parte da vida cercado
cas, Tartufo. Os conflitos c o m sua j o v e m esposa p a r e c e m ter inspi- de polémica, por causa de seu hábito de
fazer graça com as classes dominantes,
rado seus escritos t a m b é m , c o m o outra d e suas obras-primas
especialmente o clero da Igreja católica. I ni
< ômicas, O misantropo. 1664, quando escreveu Tartufo, um olhar
gozador sobre a hipocrisia reinante dentro
D e p o i s d e produzir u m a série d e peças d e dar inveja aos d r a m a -
da Igreja, o arcebispo de Paris ameaçou de
turgos dos séculos posteriores, M o l i è r e morreu a p ó s interpretar no excomunhão qualquer pessoa que

palco, ironicamente, o protagonista de O doente imaginário. A trupe participasse, assistisse ou mesmo lesse a
peça. Apesar da influência que exercia junte
lhe i m p l o r o u q u e n ã o continuasse, mas ele retrucou: "Existem 50 ao rei, passaram-se cinco anos e pelo menn\

trabalhadores p o b r e s q u e t ê m a p e n a s seu p a g a m e n t o diário para duas revisões para que a peça tivesse a
permissão de fazer uma apresentação
viver. O q u e vai a c o n t e c e r c o m eles se n ã o houver a p r e s e n t a ç ã o ? "
pública oficial.Tornou-se um grande sucesso,
Costuma-se dizer q u e e l e esteve t ã o b e m e m cena q u e a plateia n ã o mas rendeu, a Molière, numerosos InimlgOI

p e r c e b e u q u ã o d o e n t e e l e r e a l m e n t e estava. J M

M O L I È R E • 71
MADAME DE SEVIGNE
Principais obras N a s c i m e n t o : Marie d e Rabutin-Chantal, marquesa d e Sévigné, 5 d e fevereiro d e
1626 (Paris, França). Morte: 17 d e abril d e 1696 (Grignan, Drôme, França).
Cartas
Estilo e g ê n e r o : O fluxo d e sua correspondência c o m a alta sociedade parisiense a
lhel rfters of Madame de Sévigné to Her
transformou e m uma das mais famosas escritoras d e cartas d e todos os tempos.
i laughter and Friends, 1869

Selei led Letters.of Madame de Sévigné, 1947

Litters from Madame de Sévigné, 1955


Marie d e Rabutin-Chantal, aristocrata d e Borgonha muito b e m - e d u -

cada, viveu na e l e g a n t e Paris g u e descreve c o m perspicácia e m rela-

tos e x t r e m a m e n t e agradáveis. Havia se casado c o m u m nobre q u e

gastou a maior parte d o seu dinheiro antes d e ser morto e m duelo

por causa d e outra mulher, e m 1651. Sua vida e a daqueles à sua volta

foram registradas e m centenas d e cartas cheias d e mexericos, dirigi-

das a a m i g o s e à filha, M a d a m e d e Grignan. Escrevia sobre os últimos

eventos e sobre as pessoas e m Paris, tratando d e assuntos"do contro-

le da natalidade a penteados". Até M a d a m e d e Sévigné, esperava-se

q u e a correspondência se conformasse a determinadas regras. Ela

escolheu ignorá-las. Sua vivacidade e habilidade literária garantiram

u m lugar importante à escrita d e cartas na tradição francesa. RC

JOHN BUNYAN
Principals obras N a s c i m e n t o : Uai i/.n lo e m 10 d e n o v e m b r o d e 1678 (1 l.irrowden, Inglaterra).
Morte: 31 d e agosto d e 1688 (Londres, Inglaterra).
Alegorias
Estilo e g é n e r o : B u n y a n é mais famoso pela densa alegoria d e Operegrino - a ação
Operegrino, 1678
representa o progresso espiritual d e u m i r l s t ã o e m busca da salvação.
(•ueirasanta, 1682
Autobiografia

' iiai e Abounding to the Chief of Sinners, 1666


J o h n B u n y a n foi preso d u a s vezes p o r p r e g a r s e m licença, e foi na

primeira t e m p o r a d a na cadeia q u e iniciou Operegrino. Publicado

pela primeira vez e m 1678, seu c o n t o alegórico da busca cristã pela

salvação espiritual se t o r n o u u m a d a s o b r a s mais influentes da

literatura inglesa. B u n y a n n ã o foi c e r t a m e n t e o primeiro a transfor-

mar a c r i s t a n d a d e e m alegoria, m a s a s i m p l i c i d a d e d e sua lingua-

g e m , as d e s c r i ç õ e s v í v i d a s e as r e v e r b e r a ç õ e s estilísticas da m a g i s -

tral Bíblia d o rei J a i m e fizeram c o m g u e sua alegoria fosse mais

acessível a o leitor e m g e r a l . D e fato, o Dr. J o h n s o n acreditava q u e

a força d o livro estava n o fato d e q u e " n ã o há nada q u e u m h o m e m

culto possa e n c o n t r a r para louvar d e f o r m a mais e l e v a d a e para

divertir a criança q u e n ã o s a b e d e nada". A S

/4- M A D A M E DE SÉVIGNÉ •JOHN BUNYAN


JOHN DRYDEN
N . r . t i m e n t o : 19 d e agosto d e 1631 (Aldwinkle, Northamptonshire, Inglaterra).
12 d e maio d e 1700 (Londres, Inglaterra).

I sillo e g é n e r o : F e / da copla heroica u m I m p ó r t a m e c o m p o n e n t e da poesía, para


gi'iai efeito grandioso, e m versos satíricos e pseudo-heroicos.

I neos p e r s o n a g e n s t i v e r a m m a i o r i m p a c t o na literatura da

Inglaterra d a R e s t a u r a ç ã o d o q u e J o h n D r y d e n , E s c r e v e n d o e m

lempos de extrema tensão entre a monarquia e o parlamento,

lie achou p r u d e n t e c e l e b r a r os d o i s l a d o s . C o m p ô s Heroic

'•lanzas (1658) na o c a s i ã o d a m o r t e d e O l i v e r C r o m w e l l , l o u v a n -

d o a v i d a d o h o m e m r e s p o n s á v e l pela e x e c u ç ã o d e C a r l o s I, e

i n i s e g u i d a c e l e b r o u a r e s t a u r a ç ã o d e C a r l o s II c o m Astraea Principais obras


Redux ( 1 6 6 0 ) .
Poesia
E m 1 6 7 1 , D r y d e n foi d e s i g n a d o c o m o p o e t a l a u r e a d o , m a s Absalom and Achitophel, 1 6 8 1

em 1688 p e r d e u a p o s i ç ã o , q u e b r a n d o u m a t r a d i ç ã o v i t a l i c i a , Rcliglo Laid, 1 6 8 2

p o r q u e h a v i a se r e c u s a d o a j u r a r a p o i o a o g o v e r n o g u e se MacFlecknoe, 1682

A Song for St. Cecilia's Day, 1687,1687


s e g u i u à R e v o l u ç ã o G l o r i o s a e à d e p o s i ç ã o d e J a i m e II. E m urna
Tradução
t e v l r a v o l t a c r u e l d o d e s t i n o , o p o s t o foi p r e s e n t e a d o a T h o m a s
Juvenal: The Sixth Satire, 1 6 9 3
'ihadwell, d r a m a t u r g o q u e havia sido alvo de u m dos p o e m a s

satíricos m a i s c a u s t i c a n t e s d e D r y d e n , MacFlecknoe. Os feitos

d e D r y d e n i a m m u i t o a l é m d a p o e s i a . Era r e p u t a d o c o m o d r a -

m a t u r g o , c r í t i c o literário e t r a d u t o r d e p r i m e i r a l i n h a . M a s sua

influência poética mostrou-se e x t r e m a m e n t e durável graças à

popularização d e u m dos recursos poéticos mais c o m u n s d o

p e r í o d o - u m p a r d e e s t r o f e s c o m rima s e g u i n d o o p e n t á m e t r o

iâmbico. A p r o p r i a d a m e n t e , uma das mais famosas dessas c o -

plas v e m de Absalom and Achitopel: "Grande

inteligência p o d e m u i t o b e m servir à l o u -
"Tudo pode decair; quando
c u r a / e m u i t o t ê n u e é a linha g u e s e p a r a as

duas."Como o n o m e sugere, a forma serviu


o destino ordena, monarcas
d e b a s e para a p o e s i a é p i c a , h e r o i c a , m a s

t a m b é m serviu à zombaria, c o m boa parte d eve m S e rV i r." - MacFlecknoe


d a sátira d e r i v a n d o d a s e n s a ç ã o d e q u e o

a s s u n t o n ã o m e r e c e tal t r a t a m e n t o . MacFlecknoe é o melhor

e x e m p l o d a u t i l i z a ç ã o d e s s a f o r m a p o r D r y d e n e sua i n f l u ê n c i a

satírica p o d e ser c l a r a m e n t e p e r c e b i d a e m The Dunciad (1728),


A C I M A : Retrato de Dryden gravado poi

d e A l e x a n d e r P o p e . AS William Falthorne ( 1 6 1 6 - 1 6 9 1 ) .

J O H N D R Y D I N • /'.
SAMUEL PEPYS
N a s c i m e n t o : . ' ! cio lovorelro d e 1633 (I oncires, Inglaterra). Morte: 7í> d e março d e
1703 (Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : 1'epys é c o n h e c i d o por seus diários, q u e c o n t ê m relatos


detalhados da vida c o n t e m p o r â n e a e d e eventos históricos.

Talvez n ã o exista o u t r o retrato da vida na Inglaterra d o século XVII

tão cativante e historicamente esclarecedor c o m o aquele esboça-

d o n o s diários d e S a m u e l P e p y s , iniciados e m 1 " d e j a n e i r o d e

1660. I n f l u e n t e i n t e g r a n t e d o p a r l a m e n t o e a d m i n i s t r a d o r naval,

P e p y s l e v o u u m a vida m o v i m e n t a d a , t e n d o p a r a d o na c a d e i a e m

diversas o c a s i õ e s e sido a c u s a d o d e traição ( e m b o r a d e p o i s absol-

Principal Obra v i d o ) . Ele c o n t i n u o u a e s c r e v e r d u r a n t e o s n o v e a n o s s e g u i n t e s ,

D i i r j o s a t é 31 d e m a i o d e 1669, q u a n d o fez o ú l t i m o registro, c u l p a n d o a

The diariesof Samuel Pepys, 1 8 2 5 P e r d a d a v i s a 0


P e l a
i n t e r r u p ç ã o d o s escritos.

Os diários são u m relato pessoal da vida d e P e p y s e i n c l u e m

g e n e r a l i d a d e s d o m é s t i c a s e informações sobre o t e n s o relaciona-

m e n t o c o m a esposa, a l é m d e registrar vários e n v o l v i m e n t o s c o m

diferentes mulheres. Nessa categoria está u m a descrição particular-

m e n t e vívida d e u m incidente ocorrido e m 25 d e o u t u b r o d e 1668,

g u a n d o a m u l h e r o p e g o u a b r a ç a n d o D e b o r a h Willet, q u e por ironia

havia sido contratada c o m o d a m a d e c o m p a n h i a . J u n t o d e registros

a l t a m e n t e pessoais, g u e m u i t o fizeram para despertar o interesse

d o leitor m o d e r n o pela personalidade d o autor, estão relatos fasci-

nantes da atmosfera política e social da é p o c a e dos principais a c o n -

t e c i m e n t o s históricos. O s diários f o r n e c e m , por e x e m p l o , u m a d e s -

crição e m primeira m ã o da g r a n d e peste d e 1665 e d o incêndio d e

L o n d r e s n o a n o seguinte, escritos c o m tre-

"Feliz c o m o q u a l q u e r h o m e m m e n d a c o m
P a i x ã o e
perspicácia, aiém de

u m a vívida reconstituição da c o r o a ç ã o d e

CiomUndO, pOiSOmUndO Carlos l i e d e vários e v e n t o s o c o r r i d o s d u r a n -

( t e a s e g u n d a guerra a n g l o - h o l a n d e s a (1665-

inteirO p a r e C e m e SOrrir! 1667). O s diários f o r a m escritos e m u m a l i n -

g u a g e m repleta d e abreviaturas, p a d r ã o para

a é p o c a , e c l a r a m e n t e f o r a m c o n c e b i d o s c o m o registro pessoal,

A C I M A : R e t r a t o d e P e p y s feito o r G o d f r e y
P
n ã o
P a r a
P u b l i c a ç ã o . P e p y s , p o r é m , e n c a d e r n o u o s v o l u m e s para

Kneller, d o a c e r v o d a R o y a i S o c i e t y o f Arts, m e l h o r preservá-los, i n d i c a n d o q u e tinha c o n s c i ê n c i a d e q u e u m

em Londres. dia os livros p o d e r i a m ser lidos p o r outras pessoas. TP

76- S A M U E L PEPYS
MADAME DE LA FAYETTE
N a s c i m e n t o : Marie-Madeleine Pioche d e La Vergne, batizada e m 18 d e março d e
111 i4 (Paris, França), Morte: 25 d e maio d e 1693 (Paris, França).

i .tilo e g ê n e r o : La Fayette é saudada c o m o a fundadora da tradição francesa d e


ri nuances históricos sérios, q u e e m p r e g a m o passado para iluminar o presente.

M a d a m e d e La F a y e t t e fazia p a r t e d e u m a família d e m e n o r impor-

lància da n o b r e z a francesa. Casou-se c o m u m r e p r e s e n t a n t e d e

u m a família d e mais d e s t a q u e e m 1655. S e u m a r i d o era o c o n d e

i le La Fayette. V i v e r a m i n i c i a l m e n t e e m sua p r o p r i e d a d e rural e ela

l e v e dois filhos c o m e l e . D e p o i s d e a l g u n s a n o s , p o r é m , ela se

m u d o u para Paris, d e i x a n d o - o para trás, e se t r a n s f o r m o u e m u m a

das anfitriãs m a i s f o r m i d á v e i s da s o c i e d a d e parisiense. Era m u i t o Principais obras


a m i g a d e M a d a m e d e S é v i g n é e m u i t o s p e r s o n a g e n s f a m o s o s da
Romance
literatura se r e u n i a m e m seus f u l g u r a n t e s salões. E n t r e os f r e q u e n - A princesa de Clèves, 1678

tadores e s t a v a m o p o e t a J e a n d e Segrais, q u e c o l a b o r o u c o m La Romaneo

Fayette e m Zayde ( q u e tinha a E s p a n h a m o u r a c o m o c e n á r i o ) , o Zayde, 1670

g a l a n t e a d o r Gilles M é n a g e , g u e s u p o s t a m e n t e teria sido t u t o r

dela e d e M a d a m e d e S é v i g n é , e, p r i n c i p a l m e n t e , o d u q u e d e

La R o c h e f o u c a u l d , q u e d e s d e e n t ã o é f a m o s o por suas m á x i m a s

maravilhosamente desencantadas.

O m a r i d o d e M a d a m e d e La F a y e t t e c o n t i n u o u a m o r a r n o

c a m p o , e m b o r a a visitasse e m Paris c o m f r e q u ê n c i a , A t r a g é d i a d e

u m c a s a m e n t o s e m a m o r é t e m a d e vários d e seus r o m a n c e s , e n t r e

eles o mais f a m o s o , A princesa de deves, q u e c o s t u m a ser c h a m a d o

d e o primeiro r o m a n c e m o d e r n o por sua p r o f u n d i d a d e p s i c o l ó g i -

ca. C o n t é m u m retrato d e La R o c h e f o u c a u l d , q u e se e n v o l v e u d e

p e r t o c o m sua criação. A heroína é u m o r n a -

m e n t o a r r e b a t a d o r a m e n t e desejável da c o r t e
"A vergonha é a mais
francesa d o século XVI, casada c o m u m h o -

m e m a q u e m n ã o a m a . A o se p e r c e b e r a m e a - violenta das paixões."


ç a d a c o m e n r e d o s d e intriga e d e s e d u ç ã o

na corte, c o n s e g u e m a n t e r sua v i r t u d e intacta - A princesa de Clèves


a b a n d o n a n d o a corte e p a s s a n d o seus últi-

m o s a n o s sozinha. Os leitores a c h a r a m q u e a história sugeria q u e

c a s a m e n t o e a m o r v e r d a d e i r o são i n c o m p a t í v e i s e m u i t o s e s c r e v e -

r a m c a r t a s para a revista Mercure galant afirmando considerar a A C I M A : G r a v u r a colorida p o r Felix G r i l l e

heroína u m a pessoa real, d e seu próprio t e m p o . RC a partir d e F r i e d r i c h B o u t e r w e k .

MADAME D E LA F A Y I I I !
JEAN RACINE
N a s c i m e n t o : I i c v i n l un de r, '.' > (I ,i I ci le Milun, trança). M o i lo: 71 d e al)ril de
1 6 9 9 (Paris, França).

Estilo e g ê n e r o : I lin dos principais dramaturgos d e seu t e m p o (e rival d e Molière


e Corneille), Racine seguiu a tradição clássica, criando personagens convincentes.

J e a n R a c i n e p o d e ser c o n s i d e r a d o u m d o s principais d r a m a t u r g o s

d o século XVII. D u r a n t e sua vida, o b t e v e g r a n d e êxito c o m seus

d r a m a s e foi b e m - s u c e d i d o d o p o n t o d e vista crítico e financeiro,

t o r n a n d o - s e u m d o s primeiros p e r s o n a g e n s da literatura francesa

a g a n h a r a vida c o m s e u s escritos. S e u estilo era m a r c a d a m e n t e

d i f e r e n t e d a q u e l e d e seus principais rivais, M o l i è r e (1622-1673) e

Principais obras Pierre C o r n e i l l e (1606-1684), c a r a c t e r i z a d o por u m t o m mais rigi-

d a m e n t e clássico. A a b o r d a g e m direta e d e s p o j a d a d e Racine


IVças
leliaida ou Os irmãos inimigos, 1664
a g r a d o u o p ú b l i c o e o c o l o c o u e m v a n t a g e m j u n t o à crítica. Ele

\ltxandrele Grand, 1 6 6 5 t a m b é m era a m i g o d e u m d o s principais críticos da é p o c a , Nicolas

\ndr6maca, 1 6 6 7 B o i l e a u - D e s p r é a u x (1636-1711), o g u e c e r t a m e n t e a j u d o u .
Bérénice, 1670
R a c i n e foi c r i a d o pela a v ó , M a r í e d e s M o u l i n s , e e d u c a d o n o
Inllti, 1676
c o n v e n t o d e Port-Royal, dirigido por i n t e g r a n t e s d o polêmico
/•./e/, 1 6 8 9
m o v i m e n t o j a n s e n i s t a . R e c e b e u farta instrução a respeito da lite-
Atáliíl, 1 6 9 1
ratura e da l i n g u a g e m da Grécia e R o m a clássicas - e s p e c i a l m e n t e

e m relação à m i t o l o g i a -, c o n h e c i m e n t o s g u e m o l d a r i a m p o s t e -

r i o r m e n t e sua carreira literária. Os m e s t r e s o e n c o r a j a r a m a e s t u -

d a r Direito, m a s R a c i n e voltou-se para os círculos artísticos e literá-

rios d e Paris. C o m e ç o u a escrever poesia e d e s p e r t o u a a t e n ç ã o d e

Boileau-Despréaux. O crítico i n c e n t i v o u o j o v e m e s c r i t o r a p r o s s e -

guir seu c a m i n h o na literatura. E m s e g u i d a , R a c i n e e s c r e v e u sua

primeira peça, Amasie, q u e n u n c a c h e g o u a ser p r o d u z i d a . P o u c o

depois conheceu Molière.

E m 1664, M o l i è r e p r o d u z i u a s e g u n d a p e ç a d e R a c i n e , a t r a g é -

dia Tebaida, e, n o a n o s e g u i n t e , seu g r u p o teatral e n c e n o u outra

p e ç a d e R a c i n e , Alexandre le Grand, q u e r e c e b e u a c l a m a ç ã o e n t u s i -

ástica d o público. R a c i n e e n t ã o d e c i d i u a b o r d a r u m g r u p o teatral

rival, c o m mais r e p u t a ç ã o e m m o n t a g e n s d e t r a g é d i a s . Alexandre

le Grand t e v e a carreira i n t e r r o m p i d a n o t e a t r o d e M o l i è r e , seguida

por u m a reestreia c o m a t r u p e d o Hotel d e B o u r g o g n e m e n o s d e

Al I M A : Retrato de Racine, de J e a n Baptiste d u a s s e m a n a s a p ó s a primeira a p r e s e n t a ç ã o . E m o u t r o a t o d e t r a i -

S a n t e r r e ( c l 700). ção, R a c i n e r o u b o u a principal atriz d e M o l i è r e , T h é r è s e d u Pare,

/K • J E A N RACINE
JEAN RACINF

A C I M A : Racine lê "Athelie"para Lui', XIV,


' l u e f o i para a c o m p a n h i a d e B o u r g o g n e . É fácil d e c o m p r e e n d e r
1819, d e J u l i e P h i l i p a u l t .
por q u e M o l i è r e r o m p e u relações c o m R a c i n e e por q u e os dois

nunca se r e c o n c i l i a r a m .

R a c i n e c o n t i n u o u a produzir p e ç a s d r a m á t i c a s (e u m a c o m é -
Atrizes principais
dia), o b t e n d o c r e s c e n t e sucesso d e p ú b l i c o . A maioria d e l a s era
De acordo com alguns. Racine teria levado
b a s e a d a e m histórias clássicas, c o m o Berenice e Fedra. A essa uma vida privada um tanto Indoc oio-.,i r.11..
que teria Influenciado a interrupção d e -,u.i
.iltura, R a c i n e t a m b é m havia f e i t o u m p u n h a d o d e inimigos
carreira de escritor em 1 6 7 7 . Um e s i , n u l a i "
i m p o r t a n t e s , e foi e m p a r t e p o r e s s e m o t i v o q u e e l e p a r o u d e Irrompeu quando ele roubou a print Ipal a l i l /
da trupe de Molière,Thérèse du Parc, e
e s c r e v e r e a s s u m i u o c a r g o d e historiador na c o r t e d e Luís XIV.
Iniciou com ela um turbulento caso. A . i l i l / ,
P e l o s 12 a n o s s e g u i n t e s , t r a b a l h o u , casou-se e c u i d o u da família que era casada, morreu em circunstãnt l a s

a t é ser p e r s u a d i d o a v o l t a r às letras p o r M a d a m e d e M a i n t e n o n estranhas e, a princípio, Racine esteve sob a


suspeita de tê-la envenenado. Mais i a n le, l o i
(1635-1719), a m a n t e d e Luís XIV, q u e lhe p e d i u d u a s p e ç a s para absolvido, e a possível causa da morte pode

as c r i a n ç a s da escola d e Saint-Cyr. Ester e Atália foram b e m rece- ter sido um aborto malsucedido. I )i i n ils,
Raclne supostamente teria tido um caso t u m
bidas, m a s f o r a m suas ú l t i m a s o b r a s . Ele m o r r e u a l g u n s a n o s
outra atriz, La Champmeslé, protagonista da

d e p o i s , e m 1699. TP sua peça Bérénice.

JEAN RACINI • /•»


APHRA BEHN
Principais obras N a s c i m e n t o : Aphra Johnson, julho d e 1640 (Harbledown, Inglaterra). Morte: 1 6 d e
abril d e 1689 (Londres, Inglaterra).
IVi, ,i\
Estilo e g ê n e r o : Primeira mulher a se tornar escritora profissional na Inglaterra, sua
Ahdelazer, 1677
vida e obra foram p o u c o convencionais e avançadas para seu tempo.
The Rover, 1677-1681

I lie 11 Ii ky Chance, 1686

Homance
C o m o Christopher M a r l o w e , Aphra B e h n encontra-se envolta e m
Omonoko, ou O escravo real, IC
mistérios dignos d e u m a espiã. P o r é m , a o contrário d e M a r l o w e , ela

produziu u m expressivo v o l u m e d e obras entre 1670 e 1689, forma-

d o por 18 peças, dois r o m a n c e s e diversos p o e m a s celebrados a t u -

a l m e n t e pela e x p l o r a ç ã o sagaz d o desejo lésbico. E m b o r a suas

peças t e n h a m sido bem-sucedidas na é p o c a , p r i n c i p a l m e n t e por-

q u e i n c o r p o r a v a m o clima a n i m a d o da Restauração, sua r e p u t a ç ã o

c o n t e m p o r â n e a baseia-se g r a n d e m e n t e e m Oroonoko, ouOescravo

real. Primeira narrativa sobre a escravidão africana, é protagonizada

por O r o o n o k o , u m p e r s o n a g e m n ã o só d o seu t e m p o c o m o a v a n ç a -

d o para a é p o c a - tal c o m o B e h n , esperta e d e t e r m i n a d a , t a m b é m

u m a m u l h e r c o m essas características. S M

CARLOS DE SIGUENZA Y GONGORA


Principais obras N a s c i m e n t o : Agosto d e 1645 (Cidade d o México, México). Morte: 22 d e agosto d e
1700 (Cidade d o México, México).
Ciência
Estilo e g ê n e r o : Autêntico h o m e m d o Renascimento, Sigüenza escreveu poesia,
/ ihia astronómica y phllosóphica, 1691
foi da Companhia d e Jesus, historiador, cartógrafo real e geólogo.
Filosofia
Manifiesto philosóphico contra los cometas,
1681
O pai d e Sigüenza, antigo tutor da família real espanhola, ensinou
1'nrayso Occidental, plantado y cultivado en su
magnifico Real Convento de Jesus Maria de matemática e astronomia a o filho. O j o v e m Sigüenza fez votos para se
México, 1684 tornar u m religioso e m 1662, e m b o r a tenha sido expulso d o colégio
Poesia
por não observar a disciplina correta. Apesar disso, mais tarde se tor-
/ r/s Glorias de Oueretaro, 1668
n o u capelão e m u m hospital. Estudioso reverenciado por seus c o n h e -
Romances
c i m e n t o s , p u b l i c o u u m a l m a n a q u e e m 1671 e criou El Mercúrio
Inlortunios de Alonso Ramirez, 1690
Volante, o primeiro jornal da Nova Espanha, e m 1693. C o m o geógrafo

real, Sigüenza foi o primeiro cidadão nascido na colônia a preparar

u m mapa da Nova Espanha e, durante a década d e 1680, c o m e ç o u

seus aclamados escritos sobre a história d o México. Sua obra a b r a n g e

poesia, filosofia e astronomia, e ele exerceria u m a imensa influência

sobre romancistas latino-americanos posteriores. REM

HO. A P H R A B E H N - C A R L O S DE S I G Ü E N Z A Y GONGORA
JOHN WILMOT
N a s c i m e n t o : 1 d e abril d e 1647 (I likhley, Inglaterra). M o r t e : 26 d e julho d e 1680
Woodstock, Inglatetra).

I '.tilo e g ê n e r o : Cortesão no Início da Restauração Inglesa, sua pena espirituosa


In o u famosa ao satirizar a vida d e c a d e n t e da Inglaterra d o fim d o século XVII.

i' J o h n W l l m o t , s e g u n d o c o n d e d e R o c h e s t e r , i l u m i n a v a , a o

m e s m o t e m p o lançava s o m b r a s escuras. Estava s u b m e r s o na poli-

i i c a g e m (às vezes m e s q u i n h a e sexual) da c o r t e d e Carlos II. A i n d a

l o v e m , tornou-se u m favorito d o rei, s e r v i n d o c o m o c o r t e s ã o e

"Cavaleiro d e Alcova". O j o v e m c o n d e logo se associou a o g r u p o d e

engraçadinhos da corte q u e a d o t a v a m a licenciosidade moral e

sexual da R e s t a u r a ç ã o . N o início da casa d o s 20 a n o s , R o c h e s t e r Principais obras


i ontraiu sífilis, d o e n ç a q u e , c o m b i n a d a c o m a b e b i d a e m excesso,
Poesia
a c a b o u por matá-lo na flor d e seus 33 a n o s . A p e s a r d o s p r o b l e m a s A Ramble in St. James's Park, 1672
d e s a ú d e , e l e c o n t i n u o u a f r e q u e n t a r bordéis e a ter n u m e r o s a s Signior Dildo, 1673

.imantes. P a s s o u a m a i o r p a r t e d a vida c o r r e n d o atrás d e d i n h e i r o A Satyr Against Reason and Mankind, Id/5

To the Postboy, 1676


- • r a r a m e n t e p a g a v a suas dívidas.
The imperfect Enjoyment, 1685
R o c h e s t e r era f a m o s o por sua s a g a c i d a d e , g u e c o s t u m a v a se
Upon His Drinking Bowl, 1685
m a n i f e s t a r e m poesia satírica m o r d a z s o b r e pessoas da corte, e n t r e
Pecas
elas o rei e suas a m a n t e s . A sátira s o b r e as cortesãs, Signior Dildo, Valentinian, 1685

d e s p e r t o u o interesse d o rei, m a s e g u i v o c a d a m e n t e R o c h e s t e r lhe The Farce of Sodom, or the Quintessem rot


Debauchery, 1685
i n t r e g o u u m a c ó p i a d e Satyr on Charles II. Precisou deixar a c o r t e

,is pressas e se recolher a u m exílio t e m p o r á r i o . N ã o foi a primeira

n e m a última v e z g u e irritou o rei.

O d e s e n c a n t o d e R o c h e s t e r a u m e n t a v a c o n f o r m e sua s a ú d e

p i o r a v a , e sua poesia reflete os a r r e p e n d i m e n t o s e o a l c o o l i s m o .

Seus versos não foram publicados enguan-

to vivia. F o r a m passados d e m ã o e m m ã o , e m "Q hOÍTieíT) difeíG PTiaiS d(5


manuscrito, e frequentemente copiados

e m cadernos pessoais d e amigos e c o n h e c i - o u t r o h o m e m q u e d a s feras."


dos. M e s m o u m a p a r t e d e sua poesia mais

I m p r o v i s a d a foi p r e s e r v a d a p e l o s a m i g o s , - A Satyr Against Reason and Mankind


transcrita d a m e l h o r m a n e i r a q u e p o d i a m .

E m seu leito d e m o r t e , a r r e p e n d e u - s e d o s p e c a d o s e d o a t e í s m o .

S u a f a m í l i a q u e i m o u m u i t o s d e seus originais, e s p e c i a l m e n t e

a q u i l o q u e p a r e c i a ser l i c e n c i o s o . P o r isso, m u i t o d o q u e e l e ACIMA: Retrato de John Wilmot, d e P e t r i

e s c r e v e u está p e r d i d o . I J Lely (1618-1680).

JOHN Wll MOI • III


DANIEL DEFOE
N a s c i m e n t o : I )an¡el Foe, 1660 (Londres, Inglaterra). M o i t e : 26 de abril de 1 731
(Londres, Inglaterra).

Estilo e g é n e r o : Defoe Inventou o romance d e aventura. Seus protagonistas espelham


a ética d e trabalho protestante, mas n e m sempre a moralidade protestante.

D a n i e l D e f o e foi p r o l í f i c o n o m a i s a m p l o s e n t i d o d a palavra.

C o m o a u t o r d e p a n f l e t o s , e n s a i o s e livros, foi f a c i l m e n t e u m d o s

h o m e n s m a i s l i d o s d e sua e r a : os registros m a i s c o n s e r v a d o r e s

a t r i b u e m a e l e m a i s d e 300 o b r a s . S e u p e r i ó d i c o , The Review,

revolucionou o jornalismo inglês. Trabalhou c o m o p r o p a g a n -

dista e e s p i ã o e m L o n d r e s e E d i m b u r g o c o m tal s u c e s s o g u e

Principals obras c h e g o u a ser c h a m a d o d e " s e r v i ç o s e c r e t o e m pessoa". T e v e o i t o

filhos, seis d o s q u a i s c h e g a r a m à i d a d e a d u l t a . C o m o e c o n o m i s -
Romances

foblnson Crusoe, 1 7 1 9
ta, foi u m d o s p r i m e i r o s a e s b o ç a r as b a s e s d o I m p é r i o B r i t â n i c o

( < (/»(<!<> Singleton, 1 7 2 0 d o s é c u l o p o s t e r i o r . S e u p r i m e i r o r o m a n c e , Robinson Crusoé,


Coronet Jack, 1722 p u b l i c a d o g u a n d o e l e t i n h a 59 a n o s , i n s p i r o u l e v a s d e i m i t a d o -
Moll Handers, 1 7 2 2
res e - m a i s i m p o r t a n t e - n u n c a d e i x o u d e ser e d i t a d o .
I 'mi dldriodo ano dapeste, 1 7 2 2
A p e s a r d a a m p l a v a r i e d a d e d e g ê n e r o s e n f r e n t a d a por D e f o e ,
/\ N E W VOYAGE GROUND the World, 1 7 2 4
sua o b r a caracteriza-se por u m a s i n g u l a r clareza d e e n f o q u e : o
i I j segredos de Lady Roxana, 1 7 2 4
c o m é r c i o , p r a t i c a d o c o m justiça, d e a c o r d o c o m princípios p a c í f i -

c o s e racionais, f o r n e c e o m e l h o r m e i o para a p r i m o r a r a c o n d i ç ã o

h u m a n a . Isso n ã o g u e r dizer g u e D e f o e e s c r e v e s s e a p e n a s c o m o

u m cientista d e p l o r á v e l , e m b o r a a c a t a l o g a ç ã o o b s e s s i v a d e b e n s

m a t e r i a i s seja u m a c a r a c t e r í s t i c a n o t á v e l d e sua t é c n i c a . S e u

m e l h o r t r a b a l h o é m a r c a d o p o r perfis p s i c o l ó g i c o s a s t u t o s e s e n -

s i b i l i d a d e a o fato d e q u e p r o b l e m a s g e r a d o s pelas c i r c u n s t â n c i a s

e c o n ô m i c a s n ã o p o d e m ser r e s o l v i d o s f a c i l -

"O primeiro autor inglês a m e n t e . Os p r o t a g o n i s t a s d e seus r o m a n c e s ,

h o m e n s e m u l h e r e s , t e n d e m a ser m e r c e n á -

escrever sem imitar ou adaptar rios p o r força d e c i r c u n s t â n c i a s q u e f o g e m

a seu c o n t r o l e . E m b o r a n ã o t e n t e m j u s t i f i -

obras anteriores." - J a m e s J o y c e car seus atos, t a m b é m n ã o v e m o s razões

para julgá-los c o m s e v e r i d a d e . E m seus t e x -

At I M A : D a n i e l D e f o e e m g r a v u r a d e M i c h a e l tos, D e f o e t e v e êxito e m u m a difícil e d u p l a tarefa: d a r v o z à

V a n d e r G u c h t (1660-1725). e m e r g e n t e s o c i e d a d e capitalista e t a m b é m às p e s s o a s i m p i e d o -

A DIREITA: Capa da edição d e Robinson s a m e n t e v i t i m a d a s p o r ela. SY

Crusoe, d e D e f o e , p u b l i c a d a e m 1 8 8 1 .
JONATHAN SWIFT
N a s c i m e n t o : Í 0 d e n o v e m b r o d e 1667 (Dublin, Irlanda). Morte: 19 d e outubro d e
1745 (Dublin, Irlanda).

E s t i l o e g ê n e r o : Sacerdote relutante e c o m b a t i v o , satirizou as práticas religiosas


e políticas da Irlanda, p r o v o c a n d o riso e ultraje.

S w i f t l e v o u u m a v i d a d e e x p e c t a t i v a s f r u s t r a d a s . S e m pai a o n a s -

cer, foi t r a n s f e r i d o d e u m lugar para o u t r o d u r a n t e a infância,

f o r m a n d o - s e n o Trinity C o l l e g e , e m D u b l i n , e t o r n a n d o - s e s e c r e -

tário d e W i l l i a m T e m p l e n o sul da Inglaterra. Foi ali g u e c o m e ç o u

a e s c r e v e r poesia, e m b o r a v i e s s e a deixar suas m a i o r e s c o n t r i b u i -

ç õ e s e m prosa. Infeliz p o r ter sido e d u c a d o na Irlanda, descrita

Principals obras p o r e l e c o m o " u m vil país", S w i f t se v i u d e v o l t a a p ó s a m o r t e d e

T e m p l e e m 1699, c o m o c a p e l ã o d o l o r d e c h e f e d o j u d i c i á r i o .
Romance
A\ vlagens de Gulliver, 1726
P u b l i c o u e m 1704 suas p r i m e i r a s o b r a s satíricas, nas q u a i s a t a c o u

Prosa o p e d a n t i s m o e o f a n a t i s m o religioso.

l Ima hlstôria de um tonel, 1704 À m e d i d a q u e sua r e p u t a ç ã o literária c r e s c i a , a u m e n t a v a a


A batalha dos livros, 1704
a n i m o s i d a d e q u e i n s p i r a v a n o s i s t e m a , c o m sátiras c o m o Um
I Imargumento contra a abolicäo do
argumento contra a abolição do cristianismo, difícil d e ser e n g o -
• listianismo, 1711
lida p o r a g u e l e s g u e p o d e r i a m f a v o r e c ê - l o . V i s i t a n t e r e g u l a r d a
tUaftier's Letters, 1724

Mntlesta proposta, 1729 I n g l a t e r r a , o n d e se t o r n o u a m i g o d e a l g u n s d o s p r i n c i p a i s n o -

Pocsia m e s da literatura da é p o c a , e l e r e a l m e n t e só se a s s e n t o u na
( tulenus and Vanessa, 1713 I r l a n d a a o se t o r n a r r e i t o r d a c a t e d r a l d e S a i n t P a t r i c k , em
Mario a Stella, 1720
D u b l i n , a p a r t i r d e 1713. Foi n e s s e p o s t o q u e e s c r e v e u as o b r a s
llie( iiand Question Debated, 1729
q u e estariam para s e m p r e associadas a ele. O extraordinário
A Iteautiful Young Nymph, Going to Bed, 1731
As viagens de Gulliver, sátira d a i r r a c i o n a l i d a d e h u m a n a (e a g o r a
Vt-i m >s sobre a morte do Doutor Swift, 1731
u m f a v o r i t o d o p ú b l i c o i n f a n t i l ) , f o r n e c e u m u n i ç ã o para a g u e -

les q u e c o n s i d e r a v a m Swift apenas um

"Não me espanto com a m i s a n t r o p o . O p a n f l e t o Modesta proposta,

e m q u e ele i r o n i c a m e n t e defendia a cria-

perversidade dos homens, mas ç ã o d e c r i a n ç a s p o b r e s na I r l a n d a c o m fins

alimentares c o m o forma de resolver simul-


com sua falta de vergonha." t a n e a m e n t e os p r o b l e m a s da alta taxa de

n a t a l i d a d e e da f o m e n o país, r e f o r ç o u e s -

Aí I M A : Retrato d e J o n a t h a n Swift no estúdio, sa v i s ã o . U m t u m o r c e r e b r a l fez c o m q u e p a s s a s s e os ú l t i m o s

p i n t a d o por Charles J e r v a s n o século XVIII. a n o s d e sua v i d a s o f r e n d o d e d e m ê n c i a , final t r á g i c o , p o r é m

A D I R E I T A : Gulliverem Lilliput, a partir d e p e r v e r s a m e n t e a p r o p r i a d o para o m a i s p r e c i s o e provocante

d t s e n h o d e FrédericThéodore Lix. dos pensadores. P S


ALEXANDER POPE
N a s c i m e n t o : 22 d e maio d e 1688 (Londres, Inglaterra). M o r t e : 30 d e maio d e 1744
( I w k kenham, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : São características d e sua obra a sátira Inteligente, o sarcasmo


espirituoso e a profunda observação da natureza h u m a n a e d e suas fraquezas.

Alexander P o p e estava a c o s t u m a d o c o m a zombaria d e seus rivais

literários por ser u m adulto corcunda, d e saúde precária e altura infe-

rior a 1,50m, e ainda por cima católico e m meio a u m a ampla maioria

anglicana. A p r e n d e u a se defender dos abusos c o m u m azeitado

senso d e h u m o r e u m a língua ferina e sarcástica. A l é m d o mais, c o m o

filho d e u m h o m e m q u e v e n c e u pelo próprio esforço - u m c o m e r -

Principais obras ciante q u e se t o r n o u u m rico mercador -, ele inventou para si a n t e c e -

d e n t e s ilustres, c o m ancestrais aristocráticos e histórias d e valor. P o p e


I' .1.1

I i « i y on Criticism, 1711
herdou uma g r a n d e fortuna após a m o r t e d o pai, o g u e parecia dar

I he Hope of the Lock, 1712-1714 mais crédito a suas alegações d e origem nobre.

Windsor Forest, 1713 Incapaz d e praticar esportes na infância, ele adorava os livros e
/ folia to Abelard, 1717 c o m e ç o u a escrever ainda muito j o v e m , afirmando ter escrito sua pri-
/ lei/y in the Memory of an Unfortunate Lady,
meira obra apresentável, u m a " O d e à Solidão" antes d e completar 12
1717
anos. Influenciado pelo c o n d e d e Rochester, escreveu p o e m a s c o m
ThtDunciad, 1728
I uayonman, 1733-1734
temática sexual, disfarçando-os d e espirituosa c o m é d i a d e c o m p o r t a -

Traduções m e n t o . S e u mais famoso poema, The Rape oftheLock (O rapto da m a -


Ilíada, de Homero, 1715-1720 deixa), conta d e forma galhofeira a história d e uma mecha d e cabelo
(idtsseia, de Homero, 1726
roubada - tradicional presente trocado pelos e n a m o r a d o s . B a s e a d o

e m uma história real q u e originou uma rixa entre duas famílias, é

escrito e m estilo e m p o l a d o , c o m o t e m a prosaico d e l i b e r a d a m e n t e se

t r a n s f o r m a n d o e m u m d r a m a . Repleto d e simbolismos, o p o e m a

p o d e ser lido e m dois níveis: c o m o c o m é d i a

"Conheça a si mesmo, não exa- n


9 e i r a o u c o m o u m a v i s a o
corrosivamente

subversiva da s o c i e d a d e c o n t e m p o r â n e a .

mine Deus; / O estudo da h S u a s outras o b r a s , e n t r e elas "ensaios d e

mentirinha", faziam graça c o m a hierarquia d e

nIDADE CENTRA-Se nO h O m e m . C | a s s e s e as r í g i d a s r e g r a s s o c i a i s . M u i t a s

d e suas cartas t a m b é m f o r a m d e s t i n a d a s à

p u b l i c a ç ã o e escritas c o m esse o b j e t i v o . E m 1717, p o e t a a c l a m a d o

e favorito d e m u i t a s d a m a s da s o c i e d a d e , c o m p r o u u m a chácara

A C I M A : D e t a l h e d e Alexander Pope e m T w i c k e n h a m , e n t ã o u m vilarejo nas i m e d i a ç õ e s d e L o n d r e s , e

.• -.i-uiaoBounce, c l 7 1 8 , de J . Richardson. visitá-lo ali se t o r n o u m o d a . Foi lá q u e m o r r e u a o s 56 a n o s . L H

Híi - A L E X A N D E R POPE
SAMUEL RICHARDSON
N a s c i m e n t o : 19 d e agosto d e 1689 (Mackworth, Derbyshire, Inglaterra), M o r t e : ' !
de julho d e 1761 (Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : i lequcniemenlo i liamado de "pai d o romance" Richardson explorava


is questões da moral contemporânea por meio d o uso inovador da forma epistolar.

I: difícil imaginar a p o p u l a r i d a d e da obra d e S a m u e l Richardson no

século XVIII, g u a n d o as provas, os dilemas e o s infortúnios d o s per-

sonagens d e seus r o m a n c e s e r a m assunto d e conversa da m e s m a

forma q u e a c o n t e c e hoje c o m as novelas d e televisão. P o r é m , sua

c a p a c i d a d e d e criar p e r s o n a g e n s p s i c o l o g i c a m e n t e c o n v i n c e n t e s

resistiu a o teste d o t e m p o , e suas histórias românticas, escritas na

forma epistolar, p e r m a n e c e m u m a leitura gratificante. Principals obras


Richardson é f a m o s o pelos r o m a n c e s Pamela, or Virtue Rewarded;
Romances
Clarissa, or The Story ofa Young Lady e S/r Charles Grandison. Era grá- Pamela, or Virtue Rewarded, 1 /AO

fico d e profissão e n ã o c o m e ç o u a escrever antes d e entrar na casa Clarissa, or The Story of a Young Lady,

dos 50 anos. O r o m a n c e c o m o g ê n e r o literário estava ainda e m 1747-1748

Sir Charles Grandison, 1753-1754


forma embrionária g u a n d o e l e estreou c o m Pamela. Tinha c o m o

objetivo d e s p e r t a r o interesse d e u m a classe média letrada t a n t o

pela diversão c o m o por m e i o da instrução moral. O t o m moralista

desse e d e outros r o m a n c e s talvez c h o q u e os leitores m o d e r n o s ,

mas t a m b é m oferece u m olhar fascinante sobre a vida da Inglaterra

no s é c u l o XVIII. M e s m o e n t ã o , a história da p r o t a g o n i s t a d e

Richardson, a criada Pamela, e d e seus esforços para proteger sua

" v i r t u d e " contra as investidas d e seu patrão foi o b j e t o d e sátira. O s

e x e m p l o s mais c o n h e c i d o s são d e autoria d e H e n r y Fielding e m

r o m a n c e s c o m o Shamela (1741) e Joseph Andrews (1742).

A obra-prima d e R i c h a r d s o n é Clarissa,

q u e consiste e m c a r t a s escritas p o r diversos 'QUântO 1X13ÍS e l e Q lido


p e r s o n a g e n s , e m v e z d e a p e n a s u m autor,

c o m o a c o n t e c e e m Pamela, obtendo uma m a i s prazer s e extrai dele."


p e r s p e c t i v a mais a m p l a s o b r e os e v e n t o s e

u m a visão mais p r o f u n d a s o b r e o s s e n t i m e n - - Denis Diderot sobre Richardson


t o s e as m o t i v a ç õ e s d o s p e r s o n a g e n s . A

c a p a c i d a d e d e R i c h a r d s o n e m criar p e r s o n a g e n s realistas, t a n t o na

fala g u a n t o e m gestos, e a r g u m e n t o s plausíveis m a n t é m suas

obras c o m o u m a leitura e n v o l v e n t e e marca u m a d a s primeiras A C I M A : Samuel Richardson, retrato pini.i

t e n t a t i v a s d e transformar o r o m a n c e e m ficção r o m â n t i c a . CK por J o s e p h H i g h m o r e e m 1747.

SAMUEL RICHARDSON
VOLTAIRE
N a s c i m e n t o : I rançols-Marie Arouet, 21 d e n o v e m b r o d e 1694 (Paris, França).
Morte: 30 d e maio d e 1778 (Paris, França).

Estilo e g ê n e r o : Anlor d e obras históricas e dramas trágicos, Voltaire foi rim


polemista satírico q u e e m b e b e u suas obras d e crltli a c o m u m a inteligência mordaz.

Os escritos d e Voltaire são a e n c a r n a ç ã o da Era d a s Luzes, t r a n s b o r -

d a n d o d e s a g a c i d a d e a o desconstruir as g u e s t õ e s morais e sociais.

S u a obra a b r a n g e poesia, peças, ensaios e filosofia, e x p o n d o sua

crença nos direitos civis, na l i b e r d a d e d e c r e d o e na n e c e s s i d a d e

d e progresso social. E m b o r a boa p a r t e d e seu t r a b a l h o n ã o seja

mais acessível a o g r a n d e público, sua r e p u t a ç ã o c o m o opositor da

Principais obras tirania e d o s p r e c o n c e i t o s p e r m a n e c e intacta.

Voltaire foi e d u c a d o na f a c u l d a d e jesuíta d e Louis-le-Grand,


Prosa

ledig, 1741 q u a n d o e x p e r i m e n t o u pela primeira vez a s e n s a ç ã o d e desilusão

Mlcromegas, 1752 c o m a religião. A p e s a r d e se f o r m a r e m direito, e s c o l h e u se tornar


Cândido, 1759 u m escritor. N o início da carreira, e m e p i s ó d i o q u e se repetiria
0 ingénuo, 1767
r e g u l a r m e n t e , Voltaire e n f u r e c e u as a u t o r i d a d e s a o ousar z o m b a r
Poesia
d o d u q u e d e Orleans, o q u e p r o v o c o u seu b a n i m e n t o d e Paris e
.Henriada, 1723
e v e n t u a l a p r i s i o n a m e n t o na Bastilha. N e s s e p e r í o d o , e s c r e v e u a
Peças

Oedipe, 1/18 t r a g é d i a Oedipe ( É d i p o ) , u m sucesso t r i u n f a n t e a o ser e n c e n a d o

Alzlre, 1736 a p ó s sua libertação, e a s s u m i u o p s e u d ô n i m o d e Voltaire. D e d i c o u -

Mahomet, 1741 -se a u m p o e m a é p i c o s o b r e a vida d o p o p u l a r rei francês H e n r i q u e


/ o princesse de Navarre, 1745

N a o ficção

( artas filosóficas, 1733

/ lémt '!ifs de la philosophie de Newton, 1738

1 esiècle de Louis XIV, 1751

Tratado sobre a tolerância, 1763

Diiioi lário filosófico, 1764

A( I M A : Retrato d e Voltaire, de Nicholas de

I .iiqillière, p i n t a d o d e p o i s d e 1718.

A D I R E I T A : I l u s t r a ç ã o d e Cândido, a partir

d l obra d e J e a n Michel M o r e a u , o J o v e m .

HH • V O L T A I R E
VOLTAIHI

IV, q u e d e início t e v e dificuldade para o b t e r autorização d e publica- ACIMA: Voltaire conversa com camponeses

ç ã o por c o n t a da v i g o r o s a defesa da t o l e r â n c i a religiosa. Henriada e m


Ferney, d e J e a n H u b e r (1721 1 /tu,)

d e l i c i o u os l i v r e s - p e n s a d o r e s da elite p a r i s i e n s e e v a l e u a V o l t a i r e

u m a carreira c o m o p o e t a da c o r t e . E s t a b e l e c i d o na c o m p a n h i a

d e a l g u n s d o s m a i o r e s p e n s a d o r e s f r a n c e s e s da é p o c a , o d e s e n -

v o l v i m e n t o i n t e l e c t u a l d e V o l t a i r e p r o s p e r o u a t é q u e sua p e n a

v o l t o u a l h e criar p r o b l e m a s a o insultar u m m e m b r o d e u m a

i m p o r t a n t e família f r a n c e s a , o C h e v a l i e r d e

R o h a n . D e p o i s d e u m a visita à c a d e i a , V o l t a i r e "TodOS OS h O m e n S S ã O igUaiS.


a c e i t o u a o p ç ã o d o exílio e dirigiu-se para
L o n d r e s e m m a i o d e 1726.

P a s s o u dois a n o s na Inglaterra d o m i n a n d o

a l i n g u a g e m e d i g e r i n d o a filosofia d e J o h n 3 VI TtU U

Locke e o p e n s a m e n t o científico de Isaac

N e w t o n . Sua alta estima p e l o liberalismo das instituições inglesas

e por sua tolerância religiosa inspirou a escrita d e Cartas filosóficas,

q u a n d o v o l t o u para casa. O a t a q u e mal disfarçado à s o c i e d a d e

f r a n c e s a c a u s o u m a i s u l t r a j e , o b r i g a n d o - o a d e i x a r P a r i s e se

VOLTAIHI
VOLTAIRE

r e f u g i a r n o castelo d e M a d a m e d u C h a t e l e t , e m Cirey, na região d e


Voltaire e seus inimigos C h a m p a g n e . E s c r e v e u m u i t o s d r a m a s nesse p e r í o d o , e n t r e eles

Aizire, p e ç a q u e d e f e n d i a as ideias da s u p e r i o r i d a d e m o r a l d a q u e -
i l| atritos com as pessoas eram, para Voltaire,
mim modo d e vida. Enquanto estava na casa les q u e p r e g a m a t o l e r â n c i a n o l u g a r da r e p r e s s ã o , e t a m b é m
(Ids A ) e 30 anos, entrou e saiu da Bastilha
a p r e s e n t o u as c i ê n c i a s naturais para o p ú b l i c o e m Eléments de la
P< i| diversos ataques contra a aristocracia e a
i h ' inarquia francesas. Pareceu ter finalmente philosophie de Newton. N o v a s indiscrições t r o u x e r a m mais atritos
Ft is pazes com a nata da sociedade c o m a c o r t e francesa, a o m e s m o t e m p o q u e era b e m - s u c e d i d o nos
fnni esa até fazer um gracejo infeliz sobre
.1 Integridade d e certas pessoas durante u m palcos c o m Merope e Lo phneesse de Navarre. As constantes fugas
|i)!|o de cartas. Temendo a reação habitual para se p r o t e g e r e x a u r i r a m Voltaire e se t o r n a r a m f o n t e d e inspira-
-i mi.is observações espirituosas, retirou-se
ç ã o para o r o m a n c e Zad/g. A história d o filósofo Z a d i g , na Babilônia,
i.ipld.imente para a casa d e campo da
duquesa du Maine. q u e sofre c o m as p e r s e g u i ç õ e s e os azares e q u e s t i o n a a c a p a c i d a -

I trpois d e sucumbir aos repetidos convites


d e d o h o m e m d e d e t e r m i n a r seu próprio c a m i n h o e v e n c e r o d e s -

p.ii.i juntar-se a Frederico II em Berlim, t i n o , t e m mais d o q u e u m a l e v e s e m e l h a n ç a c o m as e x p e r i ê n c i a s


Voltaire não demorou a perturbar o rei ao
v i v i d a s p e l o p r ó p r i o autor.
ih Ih ularizar Maupertuis, presidente da
.li .iilrmia d e ciências d e Frederico, no E m j u l h o d e 1750, V o l t a i r e c h e g o u a B e r l i m , a c o n v i t e d e
l lanfleto Diatribe du DocteurAkakia. Tão
F r e d e r i c o I I . D u r a n t e a t e m p o r a d a n o p a l á c i o real, e l e c o m p l e -
tnfurei ido ficou o rei que ele chegou a
• olo< -ir Voltaire em prisão domiciliar em t o u a o b r a h i s t ó r i c a Le siècie de Louis XIV, e s t u d o e x a u s t i v o f e i t o
I i.inkdirt quando o escritor fazia o caminho
c o m base e m relatos d e t e s t e m u n h a s d o período. Diferenças
de volta para a França. Ele não chegou a
VOltar para casa, pois circulava a história de i n e v i t á v e i s c o m F r e d e r i c o o b r i g a r a m V o l t a i r e a d e i x a r a Prússia
i|iir I uis XV não permitiria seu retorno a Paris
e se m u d a r para F e r n e y , na S u í ç a , o n d e e s c r e v e u a o b r a - p r i m a
to punição por indiscrições passadas.
satírica Cândido. O romance acompanha o jovem Cândido em
Voltaire não reservou sua verve apenas aos
u m a o d i s s e i a p e l o m u n d o , na c o m p a n h i a d e s e u p r o f e s s o r , o
•teques às ciasses dominantes.Tinha
i onstantes conflitos com outro grande Dr. Pangloss, discípulo do otimismo filosófico de Gottfried
l ii 'i isador da época, Rousseau, sobre temas
Leibniz. As formidáveis atrocidades h u m a n a s t e s t e m u n h a d a s e
filosóficos. Para se vingar da crítica de Rousseau
as d i f i c u l d a d e s s u p o r t a d a s na o d i s s e i a o b r i g a m C â n d i d o a d e s -
• i '.cu trabalho, publicou anonimamente um
I uníleto informando o público de que cartar a crença d e seu mestre d e q u e " t u d o vai b e m no melhor
Rousseau havia abandonado seus filhos.
d o s mundos". A miséria infindável é m o d e r a d a pela inteligência
Mesmo depois d e morto, Voltaire foi capaz de e a sátira q u e a c o m p a n h a m c a d a t r a g é d i a , m a s c a r a n d o c o n v e -
despertarfortes sentimentos. Em 1814, um
i|iupo de fanáticos religiosos roubou seus
n i e n t e m e n t e c r í t i c a s a o E s t a d o e à Igreja.

restos mortais e os jogou em um buraco. Voltaire d e d i c o u b o a p a r t e d o f i m d e sua vida a c o n t i n u a r a

luta e m f a v o r da t o l e r â n c i a religiosa e p e l a a b o l i ç ã o da t o r t u r a ,

q u e o e s t i m u l a v a a interferir e m prol d a s vítimas d o f a n a t i s m o .

C o n s i d e r a d o u m herói pela R e v o l u ç ã o Francesa, seu c o r p o foi

f i n a l m e n t e posto e m d e s c a n s o no P a n t h é o n e m 1 7 9 1 . SG

A DIREITA: G r a v u r a d a escola francesa

ii.i .ibertura d e Eléments de la philosophie

</<• Newton.

«*() • V O L T A I R E
J U 4 JL-y sr s
D E L A

PHILOSOPHIE
DE N E U T O N
M i s à la povtée de tout le m o n d e .

Par M\ DE VOLTAIRE

HF. /)« Ji.

A A M S T E R D A M,
Chez J A C q U E S DESBORDES»
M. D C C X X X V I Í L
HENRY FIELDING
N a s c i m e n t o : 22 d e abril d e 1 707 ( S h a r p h a m Park, Somerset, Inglaterra). Morte: 8
d e outubro d e 1754 (Lisboa, Portugal).

Estilo e g ê n e r o : Magistrado, novelista e dramaturgo inglês, Fielding é famoso por suas


peças satíricas, pelo senso de humor e por seus romances volumosos e picarescos.

Apesar d o notável sucesso c o m o romancista, a primeira carreira d e

Fielding foi c o m o d r a m a t u r g o . Suas peças - da c ô m i c a Tom Thumb à

sátira política e m Pasquin e The Historical Register - d o m i n a r a m os

palcos londrinos na d é c a d a d e 1730. Sua carreira e s c r e v e n d o para o

teatro, p o r é m , foi interrompida c o m a introdução da censura pela

Lei d e L i c e n c i a m e n t o para o Teatro, a c o n t e c i m e n t o g u e literalmente

Principais obras o e m p u r r o u para o j o r n a l i s m o político, as t r a d u ç õ e s e o direito.

E m 1741, a carreira literária d e Fielding d e c o l o u e m nova direção,


lt->n i.inces
Shamela, 1741
c o m a p u b l i c a ç ã o d e Shamela, u m a cáustica paródia d e Pamela, or

kneph Andrews, 1742 Vlrtue Rewarded, d e S a m u e l Richardson. Fielding levou a d i a n t e essa


Inni Iones, 1749 forma r i c a m e n t e burlesca c o m c ô m i c a s inversões d e g ê n e r o e m seu
Amelia, 1751
s e g u n d o r o m a n c e , Joseph Andrews, g u e ele m e m o r a v e l m e n t e d e s -

creveu c o m o u m " p o e m a é p i c o c ô m i c o e m prosa".

C o m o escritor, F i e l d i n g é p r o v a v e l m e n t e m a i s c o n h e c i d o por

Tom Jones, r o m a n c e q u e c o m b i n a seu i n t e r e s s e pela natureza

h u m a n a ( a l é m da hipocrisia d a q u i l o q u e passa por " v i r t u d e " ) c o m

u m e n r e d o e l a b o r a d o , descrito por S a m u e l Taylor Coleridge

c o m o u m d o s m a i s p e r f e i t o s já p r o d u z i d o s . O r o m a n c e , c o m u m

n a r r a d o r i n t r o m e t i d o , u m a l o n g a lista d e p e r s o n a g e n s e d e s c r i -

ç ã o p a n o r â m i c a da v i d a inglesa na d é c a d a d e 1740, s e g u e as

a v e n t u r a s d o h e r ó i d e s d e as suas o r i g e n s h u m i l d e s e misteriosas

a t é a r e v e l a ç ã o final d e sua i d e n t i d a d e -

T r a n s f o r m e O ClinhGirO c
l u a n c
' < n a t u r a l m e n t e , conquista a m o c i n h a .
0

E m 1748, F i e l d i n g , a i n d a e n v o l v i d o a t i v a -
e m d e u s e ele o perseguirá m e n t e n o j o r n a l i s m o político e na escrita d e

panfletos sobre i m p o r t a n t e s q u e s t õ e s legais,


c o m o o demônio." foi n o m e a d o juiz d e paz d e W e s t m i n s t e r .

D e s s e p o s t o , f u n d o u a p r i m e i r a força p o l i -

cial d e L o n d r e s e por isso é h o m e n a g e a d o a t é h o j e na New

A< I M A : G r a v u r a d e 1762 r e t r a t a n d o S c o t l a n d Yard. U m fim a p r o p r i a d o para a l g u é m g u e , b e m no


I lenry Fielding a partir d e u m original espírito d e Tom Jones, foi para a c a d e i a a o s 18 a n o s , por ter t e n t a -
d l William Hogarth.
d o r a p t a r u m a h e r d e i r a . ST

<>2 • H E N R Y FIELDING
SAMUEL JOHNSON
N a s c i m e n t o : 18 d e setembro d e 1709 (Lichfield, Inglaterra). Morte: 13 d e
li i li nbro d e 1784 (Londres, Inglaterra).

I .tilo e g ê n e r o : C o n h e c i d o pelo t o m sério e moralista d e seus ensaios, a gtaça


s.iiiiica d e suas novelas e os epigramas astutos e rabugentos.

'..imuel J o h n s o n v e i o a ser c o n s i d e r a d o u m a d a s principais figuras

i l.i literatura inglesa d o século XVIII, t a n t o pela sua p e r s o n a l i d a d e

gtianto pela sua obra. V i n h a d e u m a família e m p o b r e c i d a e foi

Inrçado a deixar a U n i v e r s i d a d e d e Oxford d e p o i s d e a p e n a s u m

.mo d e e s t u d o , p o r q u e n ã o c o n s e g u i a b a n c a r as d e s p e s a s . S e u

titulo d e "Dr. J o h n s o n " v e i o d e títulos h o n o r á r i o s c o n f e r i d o s b e m

mais t a r d e por Oxford e p e l o Trinity College, e m D u b l i n . Principais obras


M a i s c o n h e c i d o p e l o i n o v a d o r Dicionário da língua inglesa e
Ensaios
pela n o v e l a A história de Rasselas, príncipe da Abissínia, Johnson The Rambler, 1750-1752

se e s t a b e l e c e u na c e n a literária d e L o n d r e s g r a ç a s a o s e n s a i o s The Idler, 1758-1760

11 losóficos e m o r a i s e m The Rambler, seguidos depois pelas sáti- Taxation No Tyranny, 1775

Novelas
ras e m The Idler, f a z e n d o g r a ç a d e t u d o , d a política a o c a s a m e n -
A história de Rasselas, príncipe da Ablsslnla,
to e a t é d a o b s e s s ã o inglesa p e l a s c o n d i ç õ e s d o t e m p o . O d i c i o -
1759
nário, p o r é m , foi sua t a r e f a m a i s e x a u s t i v a , l e v a n d o n o v e a n o s
Poesia
para ser c o m p i l a d o . N ã o h a v i a n o v i d a d e na ideia d e p r o d u z i r London, 1738

u m a c o l e t â n e a c o m t o d a s as p a l a v r a s d a l í n g u a i n g l e s a , p o r é m Prologue at the Opening of the Theatre If) / '/mm

,i o b r a d e J o h n s o n n ã o e n c o n t r a p a r a l e l o s na p r o f u n d i d a d e d e Lane, 1747

The Vanity of Human Wishes, 1749


sua p e s g u i s a , na a b r a n g ê n c i a e n o u s o d e c i t a ç õ e s d e o u t r o s
N ã o ficção
a u t o r e s para ilustrar o s i g n i f i c a d o . A p e s a r da n e c e s s i d a d e d e se
A Dictionary of the English Languutií; I /'.'.
manter objetivo, J o h n s o n ainda c o n s e g u i u injetar u m p o u c o d e

• ua p e r s o n a l i d a d e na o b r a : " P a t r o n o " foi d e f i n i d o c o m o " g e r a l -

m e n t e u m infeliz q u e a g u e n t a i n s o l ê n c i a e

é p a g o c o m lisonjas". E " l e x i c ó g r a f o " , c o m o « AC ÍVÍÜClaCle reCipíOCa ENTRE


"autor d e d i c i o n á r i o s , p e ã o i n o f e n s i v o " .

Parte i m p o r t a n t e da sua reputação, p o r é m , AUTORES É 11(718 CJAS CENAS


v e m da biografia feita por J a m e s B o s w e l l . E m

LifeofJohnson (1791) são relatadas a l g u m a s ÍT13ÍS NSÍVEÍS 113 VÍCÍ3.


d a g u e l a s q u e se t o r n a r i a m as mais c o n h e c i -

das histórias sobre o p e r s o n a g e m , e s t a b e l e c e n d o o g ê n e r o da

biografia m o d e r n a . AS

A C I M A : P i n t u r a a ó l e o d o Dr. S a m u e l

J o h n s o n (1775), d e J o s h u a R e y n o l d s .

SAMUEL JOHNSON • ') I


JEAN-JACQUES ROUSSEAU
N a s c i m e n t o : 78 d e j u n h o de 1/12 (Genebra, Suíça). Morte: 2 d e julho d e 1778
(Ermenonville, França).

Estilo e g ê n e r o : O suíço Rousseau foi u m filósofo e romancista famoso por suas


observações críticas a respeito da sociedade e da natureza d o h o m e m .

A profunda influência d e Rousseau c o m o filósofo político e novelista

ultrapassou as fronteiras da Era das Luzes, c o m a qual entrou f r e q u e n -

t e m e n t e e m conflito. G a n h o u destaque c o m o teórico social graças ao

Discurso sobre as ciências e as artes, escrito e m 1750 para u m concurso

d e ensaios q u e ele v e n c e u . Discurso e as obras seguintes anunciaram

u m a linha d e p e n s a m e n t o radicalmente nova. Suas opiniões sobre a

Principais obras religião, a defesa d e uma vida interior autêntica e m preferência à c o n -

formidade social exterior, o a r g u m e n t o d e q u e o h o m e m n o estado


tnsaios

/ to tirso sobre as ciências e as artes, 1750


natural é intrinsecamente virtuoso e moral, pois as instituições políti-

Romance cas e m e s m o as culturais são intrinsecamente corruptas, sua ênfase

tulle, ou La Nouvelle Héloïse, 1761 na liberdade individual e na igualdade, a franqueza e m relação às


Politica
sensações - t u d o isso atraiu a atenção d e filósofos c o m o Diderot e
( ' ( ontrato social, 1762
Voltaire e, e m última instância, tornou Rousseau u m a figura impor-
Filosofia
tante nos conflitos ideológicos g u e levaram à Revolução Francesa.
i'utile, ou De l'éducation, 1762

Autobiografias " O h o m e m n a s c e livre e e m t o d a p a r t e está a c o r r e n t a d o . " Assim

Rêveries du promeneur solitaire, 1782 inicia O contrato social, u m a das obras mais c o n h e c i d a s d e R o u s s e a u ,

Confissões, Parte ( , 1 7 8 2

i mi fissões, Parte 2,1789

• Ti.»ur„». .

ACIMA: Retrato de Jean-Jacques Rousseau,

d e M a u r i c e Q u e n t i n d e la Tour (1704-1788).

A DIREITA: Página d e uma das coleções d e

espécimes de plantas d e Rousseau.

94- J E A N - J A C Q U E S R O U S S E A U
JEAN-JACQUES ROUSSEAU

na q u a l d e f e n d i a u m a ligação próxima e n t r e l i b e r d a d e e justiça, e A C I M A : I l u s t r a ç õ e s d o s é c u l o XVIII d e / iii/í,

d e R o u s s e a u , d a escola f r a n c e s a .
t a m b é m a soberania da v o n t a d e coletiva. S e u r o m a n c e Emile, u m

tratado e m forma d e narrativa sobre e d u c a ç ã o , dramatizava as p o s i -

ções filosóficas d e R o u s s e a u e m relação a o i n d i v í d u o , à natureza e Desnudando tudo


à s o c i e d a d e . Tanto O contrato social q u a n t o Emile f o r a m c o n s i d e r a -
Rousseau considerava sua vida e seus.-,
d o s afrontas a o sistema religioso e político v i g e n t e , g u e i m a d o s e m interligados e costuma receber o crédito
por inventar a autobiografia moderna
G e n e b r a e b a n i d o s e m Paris. R o u s s e a u , c o m t o d a certeza, n u n c a se
Em Confissões, em especial, define a
r e c u p e r o u da v e e m ê n c i a desses a t a q u e s q u e l e v a r a m p e r i o d i c a - personalidade como sendo irredutivelmrntr
singular, mas sujeita a transformações.
m e n t e à falta d e m o r a d i a e à p a r a n ó i a .
Com sensibilidade, explora não apenas
E m seu ú l t i m o livro, Réveries, R o u s s e a u se d e d i c a à a u t o e x p l o - os acontecimentos de sua vida, mas seul
ração e a u t o d e f e s a . E s t r u t u r a d o e m t o r n o d e 10 c a m i n h o s , e l e sentimentos. Não trata só de circunsl.liu las
externas, mas do efeito que tiveram em sua
valorosamente argumenta com aqueles que o compreenderam
infância, bem como sobre suas crença! " 1

mal, celebra as v i r t u d e s da solidão, c o p i a música e estuda b o t â n i - adulto e suas tendências sexuais. Com
honestidade, analisa e defende seu' Illl. >•.
ca. I n a c a b a d o na o c a s i ã o d e sua m o r t e , o f e r e c e d e q u a l q u e r f o r m a
e relações, apresenta o texto como "a história
u m c o m o v e n t e retrato final. ST de sua a!ma"e se desnuda completai n.tii.

JEAN-JACQUES R O U S S E A U • CI'»
LAURENCE STERNE
N a s c i m e n t o : .M do m >v< •ml no do 1 /I i (( lonmi'1, Irlanda). M o n o : 18 d e março d e
1768 (Londres, Inglaterra).

Estilo e g ê n e r o : Sterne foi u m romancista e sacerdote inglês, famoso por seus


romances excêntricos e bem-humorados, entre eles, e m particular, insiram Shandy.

C r i a d o na Irlanda e e m Yorkshire, e d u c a d o e m C a m b r i d g e c o m

vistas a u m a carreira na Igreja, S t e r n e p a s s o u boa p a r t e da vida

a d u l t a d e d i c a n d o - s e a u m a p a r ó g u i a rural - e, na sua última d é c a -

d a , e s c r e v e u r o m a n c e s excêntricos e espirituosos. A primeira obra

p u b l i c a d a foi u m panfleto, A Politicai Romance, m a s foi o r o m a n c e

A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy q u e o transfor-

rincipais obras m o u e m c e l e b r i d a d e . Tristram Shandy foi criticado por a l g u n s por

seu h u m o r d e b o c h a d o - c o m t o d a certeza, brincava c o m as c o n -

Ida e us opiniões do cavalheiro Tristram


v e n ç õ e s narrativas -, m a s d e m o d o geral foi c o n s i d e r a d o u m t r i u n -
haiidy, 1 759-1767 ( p u b l i c a d o e m n o v e fo literário. A p e s a r d a s p r e t e n s õ e s biográficas, tinha p o u c o a dizer
• 'I .)
s o b r e "a vida e as o p i n i õ e s " d o herói d o título ( e m b o r a tivesse
•IR viaqem sentimental através da Franca e
tilMlia, 1768 m u i t o a dizer s o b r e classes sociais, sexualidade e fraquezas familia-

res n o s é c u l o XVIII) e p o u c o a v e r c o m e n r e d o o u p e r s o n a g e n s ,

esteios d a ficção narrativa. A j o v i a l i d a d e proposital d e S t e r n e -

q u e incluía d u a s p á g i n a s negras para celebrar o f a l e c i m e n t o d o

" p o b r e Y o r i c k " - inspirou m o n u m e n t a i s obras d e ficção e x p e r i m e n -

tal d o século XX, c o m o Ulysses, d e J a m e s J o y c e .

S t e r n e m o r r e u n o m e s m o a n o da p u b l i c a ç ã o d e Uma viagem

sentimental. C u r i o s a m e n t e , seu p e r s o n a g e m principal e narrador,

Parson Yorick, havia a p a r e c i d o (e morrido) e m Tristram Shandy e

f u n c i o n a v a c o m o u m alter e g o d e S t e r n e , q u e havia a s s i n a d o

c a r t a s e p u b l i c a d o s e r m õ e s sob esse n o m e .

O último romance de Sterne veio d e uma


" C o m p a r a d o s [a S t e r n e ] , o s
v i a g e m d e sete m e s e s pela França e pela Itá-

Dutras s ã o rígidos, i n t o l e r a n t e s lia. P o r é m , e m b o r a possa ser e n c a i x a d o na

categoria d e narrativa d e v i a g e m , n ã o é a p e -

e diretOS."- Nietzsche nas c h e i o d e desvios, mas t a m b é m d e s o r d e -

n a d o e p r a t i c a m e n t e s e m enredo, o f e r e c e n d o

u m retrato irônico e às vezes a b s u r d a m e n t e e n g r a ç a d o dos exces-

sos d o culto da sensibilidade. C o m o iria destacar Virgínia Woolf, sua

lieirato de Laurence Sterne "estrada atravessa f r e q u e n t e m e n t e sua própria m e n t e e as princi-

-in iilo XIX), d a e s c o l a i n g l e s a . pais aventuras [são]... c o m as e m o ç õ e s d e seu coração". ST

IAUHENCE STERNE
DENIS DIDEROT
N.iscimento: 5 d e outubro d e 1713 (Langres, Haute-Marne, Champagne-Ardenne, Principais obras
I lança). M o r t e : 31 d e j u l h o d e 1784 (Paris, França).
N ã o ficção
I m ilo e g ê n e r o : I ditor e colaborador da Encidopédia, Diderot foi filôsofo, escritor,
Carta sobre os cegos (endereçada àqueles que
Ir i< pensador e figura d e destague d o Ilumlnlsmo francês.
1

enxergam), 1749

Enciclopédia ou Dicionário raciocinado das

ciências, das artes e dos ofícios, 1751-1772


I >• -nis D i d e r o t f o i u m d o s g r a n d e s livres-pensadores d o i l u m i n i s m o
Peças
Francês, cujas ideias radicais e escrita i n o v a d o r a d e s a f i a r a m o p e n -
O filho natural, 1757
s a m e n t o c o n v e n c i o n a l e m t o d a a parte. Sua c o n t r i b u i ç ã o para o
Pai de família, 1758
I li n s a m e n t o i l u m i n a d o e para as f u n d a ç õ e s d o liberalismo moder- Romances

no p r a t i c a m e n t e n ã o e n c o n t r a paralelo, m a s sua c o m p l e x i d a d e e Jóias indiscretas, 1748

•.nas c r e n ç a s v i g o r o s a s t a m b é m f o r a m mal i n t e r p r e t a d a s o u sim- Jacques, o fatalista, e seu amo, 1796

A religiosa, 1796
I ilosmente rejeitadas e m seu t e m p o . O e s c o p o d e seus escritos varia

d e p e ç a s a r o m a n c e s , t r a d u ç õ e s e e n s a i o s s o b r e m u i t o s assuntos,

mas p r i n c i p a l m e n t e s o b r e religião e política.

Trabalhou d u r a n t e 25 a n o s c o m o editor e c o l a b o r a d o r da m o n u -

m e n t a l Enciclopédia ou Dicionário raciocinado das ciências, das

i irtes e dos ofícios. TP

TOBIAS SMOLLETT
N a s c i m e n t o : lobias G e o r g e Smollett, 19 d e março d e 1X21 (Dalgulium, West Principais obras
I iiimbartonshire, Escócia). M o r t e : 17 d e setembro d e 1771 (Livorno, Itália).
N ã o ficção
I .tilo e g ê n e r o : ' . . 'iis n unam es em a m a m o espírito d n iluminismo esc oi i".,
Travels through France and Italy, 1766
iliernando-se entre representação grotesca e surreal e observação realista.
Romances

The Adventures of Roderick Random, 1748

The Adventures of Peregrine Pickle, 1751


lobias S m o l l e t t e s c r e v e u p e ç a s , críticas, v i n h e t a s satíricas e litera-
77ie Adventures of Ferdinand Count Fathom,
i ura d e v i a g e m , m a s é mais f a m o s o por r o m a n c e s picarescos c o m o
1753
íhe Adventures of Roderick Random e The Adventures of Peregrine The Life and Adventures of Sir Launcelot

rickle. N a s c i d o na Escócia, e m u m a família d e proprietários d e t e r - Greaves, 1760

ras, S m o l l e t a m b i c i o n a v a seguir a carreira m é d i c a , m a s e m 1739 The History and Adventures of an Atom, 1769

77ie Expedition of Humphry Clinker, 1771


mudou-se para L o n d r e s para e m b a r c a r na literatura.
Tradução
Smollett costuma ser creditado c o m o o progenitor da novela
Dom Quixote, 1755
modernista, pois muitos d e seus trabalhos apresentam personagens

c o m dialetos distintos q u e a n t e c i p a m p e r s o n a g e n s da literatura

moderna c o m o a Molly B l o o m d e J a m e s J o y c e . Seus romances t a m -

b é m celebram a perspectiva individualizada q u e remete à experimen-

tação d e Virgínia W o o l f c o m a narrativa d o fluxo d e consciência. SD

DENIS DIDEROT -TOBIAS SMOLLETT • 9 7


GIACOMO CASANOVA
N a s c i m e n t o : ) d e abril d e 1725 (Veneza, Itália). M o r t e : A d e j u n h o d e 1798 (Dux,
Boémia, hoje Duchos, República Tcheca).

Estilo e g ê n e r o : Escritor, diplomata e ensaísta, Casanova não perde a pose a o recontar


o mundano e o lascivo e m seus escritos autobiográíicos libidinosos e eróticos.

E fácil d e m a i s a s s o c i a r o n o m e d e C a s a n o v a a o e s t e r e ó t i p o d o

h o m e m q u e t r a n s f o r m o u a busca da satisfação sexual e m u m a

f o r m a d e a r t e . A a u t o b i o g r a f i a d e C a s a n o v a (escrita e m f r a n c ê s

na e s p e r a n ç a d e atingir u m p ú b l i c o maior) o retrata c o m o b o ê m i o

e m b u s c a d e a v e n t u r a s . A s v i a g e n s s a t i s f a z i a m essa n e c e s s i d a -

d e , m a s t a m b é m o e x p u n h a m a o s riscos e n v o l v i d o s n o p r o c e s -

Principais obras so, n a g u e l a é p o c a . D e s s a f o r m a , o e s c r i t o r i n i c i a l m e n t e d e s c o -

n h e c i d o e s e m recursos a c a b o u passando noites e m hospedarias


Auiobiografias

/ llstolre de ma fuite des prisons de la


d e m á r e p u t a ç ã o , r e c o r r e n d o a o r o u b o e à v i o l ê n c i a . A l é m disso,
République de Venise qu'on appelle les havia o desejo sexual: t ã o Incontrolável g u e obscurece q u a l -
Plombs, 1787
q u e r literatura e r ó t i c a da é p o c a . A g a m a d e s e u s e n c o n t r o s
Memôrias de Casanova (Histoire de ma vie),
I 'n.O a m o r o s o s era e c l é t i c a . D e p o i s g u e C a s a n o v a p e n e t r o u n o c í r c u -

lo d a a r i s t o c r a c i a v e n e z i a n a , g r a ç a s a o c o n h e c i m e n t o d e u m

n o b r e d a r e g i ã o , sua v i d a p a s s o u p o r m u d a n ç a s drásticas g u e

lhe trouxeram, no fim d a s contas, u m breve p e r í o d o d e aflição e

fama eterna.

U m d o s m a i s f a m o s o s i n c i d e n t e s d e sua v i d a i m p r u d e n t e foi

sua p r i s ã o p e l a s a u t o r i d a d e s v e n e z i a n a s . C a s a n o v a conseguiu

f u g i r da f a m o s a p r i s ã o P i o m b i di V e n e z i a d e f o r m a g u a s e i n a -

creditável, revivida e m cenas extraordinárias da autobiografia,

impregnadas c o m sentido d e ritmo e enredo g u e lembram o

c i n e m a . Ele c o m b i n a a l g u m a s e m p r e i t a d a s

"É possível aprender muito m u n d a n a s c o m suas m a i o r e s


realizações
n a q u e l e q u e se t o r n o u o m a i s b e m - s u c e -

COm mulhereS inexperientes." dido livro de sua vida, H/sfo/re<fe ma fui!


des prisons de la Republique de Venise qu'on

appelle les Plombs. O f a t o é q u e , apesar d e

exilado da sua querida V e n e z a , sua r e p u t a -

ção o precedia e m cada corte da Europa, o n d e o escritor d e -

m o n s t r a v a sua i n t e l i g ê n c i a e m r e l a ç ã o à s e x u a l i d a d e , às f i n a n -
A C I M A : R e t r a t o d e C a s a n o v a feito p o r Ç a s e a t
é à medicina. FF

A n t o n R a p h a e l M e n g s (1728-1779).

98 • G I A C O M O CASANOVA
GOTTHOLD LESSING
Nascimento: 22 d e janeiro d e 1729 (Kamenz, Alemanha). Morte: 15 d e fevereiro d e 1781
(hninswlck, Alemanha).

I I t l l o e g ê n e r o : Na Alemanha ainda formada por Estados independentes, Lessing


|C lornou u m personagem importante na criação d e uma literatura alemã.

nsiderado o primeiro dramaturgo alemão digno de nota,

l e s s i n g era f i l h o d e u m p a s t o r l u t e r a n o . M e n i n o i n t e l i g e n t e e

h l r a d o q u e a p r e n d e u g r e g o , l a t i m e h e b r a i c o na e s c o l a , foi

' " . t u d a r t e o l o g i a na u n i v e r s i d a d e e m L e i p z i g , m a s e s t a v a m u i t o

mais interessado na literatura, nas artes e na filosofia. Para d e s e s -

pero d o pai, c o m e ç o u a escrever peças g u e foram e n c e n a d a s

e m L e i p z i g . E m u m a d e l a s , Die Juden, ele desfere um g o l p e c o n - Principais obras


tra o a n t i s s e m i t i s m o .
Peças
M a i s t a r d e , Lessing m o r o u e m diversas c i d a d e s a l e m ã s , e n t r e Die Juden, 1749

<-las B e r l i m , o n d e g a n h o u a r e p u t a ç ã o d e brilhante resenhista e Minna Von Barnhelm, 1767

i rítico literário. G r a n d e a d m i r a d o r d e S h a k e s p e a r e , foi c h a m a d o Emília Galotti, 1772

Nathan der Weise, 1779


i le "o pai da crítica alemã". T a m b é m t r a b a l h o u c o m o t r a d u t o r e foi
Ensaio
o n t r a t a d o por u m t e m p o por Voltaire, a t é g u e os dois se d e s e n -
Lacoonte, ou Sobre as fronteiras da pintai a r
l e n d e r a m . As p e ç a s d e Lessing f o r a m descritas c o m o " d r a m a s b u r -
da poesia, 1766
gueses", e n f o c a n d o a vida da classe m é d i a e seus p e r s o n a g e n s , e m Filosofia

vez d e se c o n c e n t r a r na aristocracia, c o m o era o c o s t u m e na é p o c a . Die Erziehung des Menschengeschlei Iii:. I /IN I

Minna Von Barnhelm, p e ç a d e 1767, foi a primeira c o m é d i a a l e m ã a

ter c o m o c e n á r i o o m u n d o a l e m ã o c o n t e m p o r â n e o .

A l é m d e p e ç a s , Lessing e s c r e v e u s o b r e pintura e produziu

obras filosóficas. D e f e n d i a o direito d o cristão d e ter suas próprias

ideias e, n o espírito d o iluminismo, acreditava no cristianismo da

razão n o lugar d o d o g m a religioso. G a n h a v a

muito p o u c o , m a s e m 1770 o b t e v e o p o s t o d e "£ PQSSIVEL DeÒer CLEITIAIS,


bibliotecário da corte d o d u g u e d e B r u n s w i c k .

C o m isso, p a s s o u a ter v e n c i m e n t o s regula- ITIAS NUFLCA O BASTANTÔ."


res e p ô d e f i n a l m e n t e se casar. A escolhida

foi u m a v i ú v a c h a m a d a Eva K ö n i g , mas, tragí- - prefácio de Lieder


c a m e n t e , dois a n o s d e p o i s ela m o r r e u d u r a n -

t e o parto, assim c o m o o b e b ê . S e u s últimos a n o s f o r a m infelizes e

e m p o b r e c i d o s . Foi e n t e r r a d o c o m o i n d i g e n t e . RC

A C I M A : R e t r a t o d o escritor a l e m ã o

Gotthold Lessing ( c l 7 6 9 ) .

G O T T H O L D L E S S I N í , • •>•>
BEAUMARCHAIS
N a s c i m e n t o : Pierre-Augustin Caron, 24 d e Janeiro d e 1732 (Paris, Franc,,i). Morte: 18
d e maio d e 1799 (Paris, França).

Estilo e g ê n e r o : 0 criador d e Fígaro fazia muitas coisas além d e escrever peças -


fol professor d e música, Inventor, negociante, fornecedor d e armas e editor.

0 criado habilidoso, i n t r i g a n t e e i n f i n i t a m e n t e c h e i o d e e x p e d i e n -

tes, q u e c o n t i n u a m e n t e passa a perna n o patrão, é u m a r q u é t i p o

q u e remonta aos palcos romanos, m a s o exemplar supremo d o

g ê n e r o é Fígaro, p e r s o n a g e m de duas populares peças de

B e a u m a r c h a i s t r a n s f o r m a d a s e m ó p e r a - O barbeiro de Sevilha e As

bodas de Fígaro - q u e d e l i c i a m as plateias d e s d e e n t ã o . As p e ç a s

Principais obras z o m b a m d a s classes superiores e d e m o n s t r a m u m s e n t i m e n t o

m u i t o particular d e identificação c o m o s d e s f a v o r e c i d o s .
IV.,.IS
I ) hiubi'iro de Sevilha, 1775 Pierre-Augustin C a r o n era filho d e u m relojoeiro d e Paris. Q u a n -

A\bùQOS de Figaro, 1785 d o j o v e m , i n v e n t o u u m n o v o m e c a n i s m o d e e s c a p o e, e m 1756,

casou-se c o m a primeira d e suas três e s p o s a s , u m a v i ú v a rica,

c l i e n t e d e seu p a i , M a d e l e i n e F r a n c q u e t . Esta era d o n a da p r o p r i e -

d a d e d e B e a u m a r c h a i s , q u e f o r n e c e u u m n o v o e mais g r a n d i o s o

s o b r e n o m e para ela e s e u m a r i d o . Ela f a l e c e u n ã o m u i t o t e m p o

d e p o i s d a s n ú p c i a s . B e a u m a r c h a i s era u m m ú s i c o h a b i l i d o s o e, a

essa altura, tinha sido c o n t r a t a d o para d a r aulas d e música para as

filhas d e Luís XV.

Por i n t e r m é d i o d a c o r t e , B e a u m a r c h a i s atraiu a a t e n ç ã o d e u m

rico financista, q u e o e m p r e g o u e m vários n e g ó c i o s r e l a c i o n a d o s

c o m o tráfico d e e s c r a v o s . B e a u m a r c h a i s fez m u i t o d i n h e i r o e, na

d é c a d a d e 1770, f o r n e c e u a r m a s para q u e o s a m e r i c a n o s l u t a s -

s e m contra o s ingleses, pela i n d e p e n d ê n c i a .

T a m b é m foi e n v i a d o por Luís X V e Luís XVI

para a Inglaterra e a Áustria e m missões secre-

c a s a m e n t o é a m a i s farsesca." t a s e . ™ década de i 7 8 o , u b i i c o u a r i m e i -
P P

ra e d i ç ã o c o m p l e t a d a s o b r a s d e V o l t a i r e ,

- As bodas de Fígaro e m 70 v o l u m e s , o q u e l h e c u s t o u u m a f o r -

t u n a . Objeto d e suspeita d u r a n t e a R e v o l u ç ã o

Francesa pelas l i g a ç õ e s na c o r t e , B e a u m a r c h a i s t e n t o u vender


» . . . . » r, . . j „ m o s g u e t e s h o l a n d e s e s para os r e v o l u c i o n á r i o s , m a s a c a b o u na
A( I M A : R e t r a t o d e B e a u m a r c h a i s p o r M r

p.uilSoyer, a partir d e u m original d e prisão, s e n d o solto graças à i n t e r v e n ç ã o d e u m a antiga a m a n t e ,

in.in Baptiste Greuze. M o r r e u r e l a t i v a m e n t e p o b r e . RC

100 • B E A U M A R C H A I S
RESTIF DE LA BRETONNE
N.iscimento: N k o l u s I d i n e Rétií, 74 d e outubro d e 1 / \A (Sucy, Yonne, I lança).
Mi ii te: 2 d e fevereiro d e 1806 (Paris, França).

I I t l l o e g ê n e r o : Seus temas preferidos são a vida c a m p o n e s a e o s u b m u n d o , c


|| larecem e m romances sexualmente explícitos, b e m c o m o e m ensaios.

M I i n c o m u m c o m b i n a ç ã o d e e r o t i s m o c o m zelo e x t r e m a d o pela

i r f o r m a social r e n d e u a Rétif a p e l i d o s c o m o " R o u s s e a u d a sarjeta"

• Voltaire da camareira". C o m e ç o u a vida t e n d o Rétif c o m o s o b r e -

n o m e , n a s c i d o e m u m a f a z e n d a na aldeia d e Sacy, na B o r g o n h a ,

i orno o o i t a v o e n t r e 14 filhos e o mais v e l h o por p a r t e d a s e g u n d a

esposa d e s e u p a i . M a i s t a r d e , e l e a d i c i o n o u seu n o m e a o n o m e

I f a z e n d a , La B r e t o n n e , para c e l e b r a r suas raízes rurais. D e p o i s , Principais obras


.linda a l t e r o u a f o r m a d e escrever seu s o b r e n o m e para Restif, para
Romances
sugerir g u e a e s t a b i l i d a d e era o principal e l e m e n t o d a sua p e r s o - t e Paysan perverti, 1775

nalidade. Ele era a l g u é m "qui est porte à rester, à ne pas avancer" ia Vie de mon père, 1779

inclinado a ficar e n ã o a a v a n ç a r " ) . La Paysanne pervertie, 1784

Les Parisennes, 1787


Restif n ã o se i m p o r t a v a c o m o m u n d o e m v e l o z t r a n s f o r m a ç ã o
Autobiografia
i |ue e n c o n t r o u a o se m u d a r para Paris. Lá, t r a b a l h o u c o m o gráfico
Monsieur Nicolas, 1794-1797
o, s e g u n d o dizia, t e v e m u l h e r e s e m n ú m e r o s e q u i v a l e n t e s a sua
N ã o ficção
r o t a d e livros. Escritor c o m p u l s i v o c o m imensa p r o d u ç ã o , d e s p e - t e Pornographe ou la prostitution réformt

jou a l g o e m t o r n o d e 250 v o l u m e s d e histórias, peças, ensaios e 1769

fantasias utópicas. E m LePornographe, d e f e n d e u a l i b e r d a d e social

e a criação d e b o r d é i s estatais. E n t r e suas outras o b r a s consta u m a

imensa e explícita a u t o b i o g r a f i a e m 16 v o l u m e s , MonsieurNicolas.

Boa p a r t e d o restante d e sua p r o d u ç ã o foi t a m b é m b a s e a d a e m

sua própria vida e se c o n c e n t r a na sua nostalgia pela i n o c ê n c i a e

s e g u r a n ç a da infância n o c a m p o , a o lado d e

sua a d o r a d a e deliciosa m ã e e a m o r o s o (mas


"Irei dissecar o homem comum
austero) p a i , c e l e b r a d o e m A vida de meu pai.

S e u s r o m a n c e s i d e a l i z a v a m a vida c a m p o n e - assim como Jean-Jacques


sa c o m o u m idílio pastoral e m c o n t r a s t e c o m

a agitação da vida urbana, c o m suas ruas p r o - Rousseau dissecou a grandeza."


pensas ao crime e à corrupção. T a m b é m pu-

blicou m u i t o s ensaios d e f e n d e n d o a reforma social. Por s e r e m

p r o t a g o n i z a d o s pelas classes c a m p o n e s a s e p e l o s u b m u n d o d e

Paris, os r o m a n c e s d e Restif n ã o fizeram g r a n d e sucesso j u n t o a o s A C I M A : D e t a l h e d e u m retrato d e Restil,

críticos literários e leitores e s n o b e s . RC d a escola f r a n c e s a d o s é c u l o X V I I I .

R E S T I F DE LA B R E T O N N E • l u i
MARQUÊS DE SADE
N a s c i m e n t o : 1 »< niatien Alphonse François d e Sade, 2 d e j u n h o d e 1740 (Paris,
França). Morte: 2 d e d e z e m b r o d e 1814 (Charenton, França).

Estilo e g ê n e r o : S a d e foi o polêmico autor francês d e obras eróticas e filosóficas


i |ui • eypl< nam o Lido mar, si uni nio il.i n.iluie/.i humana.

O m a r q u ê s d e S a d e v e i o d e u m a família aristocrática cuja p o s i -

ç ã o e riqueza l h e g a r a n t i r i a m u m f u t u r o p r i v i l e g i a d o . P o r é m , e l e

estava d e s t i n a d o a passar u m t e r ç o da v i d a na c a d e i a . Foi preso a

p e d i d o d a sogra d e p o i s d e c o n s t r a n g e r a família dela c o m e s c â n -

d a l o p ú b l i c o . S u b m e t i d o a u m a lettre de cachet ( o r d e m real d e

d e t e n ç ã o e a p r i s i o n a m e n t o ) , S a d e foi para a c a d e i a s e m j u l g a -

Principais obras m e n t o , s e m s a b e r q u a n d o o u se p o r v e n t u r a seria l i b e r t a d o . Por

isso, o m a r q u ê s é t i d o , p o r a l g u n s , c o m o u m s í m b o l o da o p r e s s ã o
Contos

í h ( rimes do amor, 1800


d o ancien regime ( a n t i g o r e g i m e ) , q u e l e v o u u m a v i d a a v e n t u r e i -

Peças ra d e d i c a d a à b u s c a d o prazer.

\ fílt >\ofia na alcova, 1795 Na c a d e i a , S a d e d i r i g i u suas e n e r g i a s para a e s c r i t a . Foi na


In mnteOxtiern ou les efíects du liberinage,
B a s t i l h a q u e e s c r e v e u Os 720 dias de Sodoma e m tiras d e p a p e l
1800
d e 10 c e n t í m e t r o s q u e e l e j u n t a v a e e n r o l a v a para q u e p u d e s -
/ Hálogo entre um padre e um moribundo, 1926

Romances s e m ser f a c i l m e n t e e s c o n d i d a s . C o m a q u e d a da B a s t i l h a em

lustlne, 1791 1789, o m a n u s c r i t o i n c o m p l e t o foi p e r d i d o , m a s r e a p a r e c e u u m


htliette, 1797 século depois. Durante a Revolução Francesa, ele p e r m a n e c e u
Os UOdiasdeSodoma, 1905
livre e p u b l i c o u Os crimes do amor s o b s e u p r ó p r i o n o m e . O s c o n -
N á o ficção
tos r e u n i d o s n o livro l i d a m c o m os m e s m o s t e m a s d o s r o m a n c e s
Adresse d'un citoyen de Paris au roi des
I rançais, 1791

A C I M A : D e t a l h e d e u m a gravura colorida

r e t r a t a n d o o M a r q u ê s d e S a d e ( c l 830).

A D I R E I T A : Thérèse (1748) era u m d o s livros

eróticos favoritos d e Sade.

102 • M A R Q U Ê S DE SADE
MARQUÊS DE SADE

À E S Q U E R D A : G r a v u r a d e E u s t a c h e l'Orsay

a p r e s e n t a n d o S a d e e m p o s e c a r a c t e r i s t u a.

v í c i o , a t e í s m o e c r i m e -, m a s t ê m finais m o r a l i s t a s . D e q u a l -

q u e r m a n e i r a , a c o l e t â n e a a p r e s e n t a u m a p a r t e da m e l h o r p r o -

dução de Sade. O Asilo de Charenton


Ele foi d e t i d o sob a c u s a ç õ e s e s p ú r i a s e m 1793, d u r a n t e o
O Asilo de Charenton era uma instituição
R e i n o d o Terror, e s e n t e n c i a d o à m o r t e . P o r é m , q u a n d o c h e g o u médica progressista, onde Sade desfiei I-
relativa liberdade. A amante e companheira
o dia da e x e c u ç ã o , e l e n ã o p ô d e ser e n c o n t r a d o , t a l v e z e m razão
de longa data Marle-Constance Oui",ma
d e u m e r r o b u r o c r á t i c o o u s u b o r n o . N o dia s e g u i n t e , M a x i m i l i e n viveu com ele, fingindo ser sua filha. 1 m
1805, sob a direção de Sade, o asilo aluiu
R o b e s p i e r r e foi e x e c u t a d o e e n c e r r o u - s e o R e i n o d o Terror. S a d e
um teatro como parte de seu programa
estava livre, m a s t a m b é m e m p o b r e c i d o . P u b l i c o u u m a versão terapêutico. Durante a vida inteira, elr lui

e x p a n d i d a d e Justine, c o m u m a n o v e l a s e g u i n t e s o b r e sua irmã apaixonado pelo teatro. Fracassou i i i n m


dramaturgo, pois faltava a suas peças o
d e v a s s a , Juliette, q u e é a m a i s c o m p l e t a e x p r e s s ã o d a filosofia mesmo fogo dos romances. O teatin di > .r.it >

libertina d e S a d e . caiu nas graças dos intelectuais de Paris,


quem Sade socializava e jantava. Porém,
E m 1 8 0 1 , foi t r a í d o p o r u m e d i t o r e p r e s o c o m o a u t o r d e
aumentaram também as objeçòes ao
o b r a s o b s c e n a s . E n c a m i n h a d o para u m asilo p o r e s t a r s u p o s t a - envolvimento de Sade no projeto e as
produções foram encerradas em 18 H .
m e n t e s o f r e n d o d e d e m ê n c i a l i b e r t i n a , lá p a s s o u o r e s t o d e

sua v i d a . IJ

MARQUÊS DE S A P I • III I
PIERRE CHODERLOS DE LACLOS
N a s c i m e n t o : l'ierre-Ambroise-François Choderlos d e Laclos, 18 d e outubro d e
1741 (Amiens, França). M o r t e : 5 de setembro d e 1803 (Taranto, Puglla, Itália).

Estilo e g ê n e r o : Autor d e u m dos primeiros romances psicológicos - dos mais


celebrados, condenados e perfeitos escritos e m forma epistolar d e todos os tempos.

A o s 40 a n o s , Pierre C h o d e r l o s d e L a d o s era s o l d a d o d o Exército

francês, l o t a d o e m u m t e d i o s o p o s t o a v a n ç a d o na baía d e Biscaia.

Para fazer o t e m p o passar, d e c i d i u escrever u m r o m a n c e a m b i e n -

t a d o no c o r a ç ã o da s o c i e d a d e parisiense. O r o m a n c e , Ligações

perigosas, se tornaria u m a s e n s a ç ã o literária.

N o livro, u m a d u p l a d e aristocratas, o v i s c o n d e d e V a l m o n t e a

Principais obras marquesa d e Merteuil, e m busca d e novas diversões q u e e s t i m u -

l e m suas v i d a s o c i o s a s e frívolas, se d e s a f i a m a seduzir a l g u n s


Nrto f i c ç ã o

/CÍRRE à MM. De l'Académie Française sur l'éloge i n o c e n t e s r e c é m - c h e g a d o s à s o c i e d a d e d e Paris. Escrito sob a

lie M. Le Maréchal de Vauban, 1786 f o r m a d e c a r t a s t r o c a d a s e n t r e os p r o t a g o n i s t a s , Ligações peri-


Ensaio gosas d e s n u d a o f u n c i o n a m e n t o da p s i c o l o g i a d e c a d a p e r s o n a -
/ v Iéducation des femmes, 1783
g e m c o m e s t a r r e c e d o r a eficácia, d e m o n s t r a n d o a i n t e n ç ã o m a l i -
Romance
ciosa de V a l m o n t e M e r t e u i l e o t u m u l t o moral das vítimas.
/ Igações perigosas, 1782
O e d i t o r fictício q u e " r e u n i u " as c a r t a s a l e g a g u e o livro t e m o b j e -
< Ipera

Intestine, 1776 t i v o s d i d á t i c o s e m o r a i s , m a s a v i r t u d e n ã o triunfa a o fim e, d e

fato, o leitor é l e v a d o d e certa f o r m a a a d m i r a r a fria i n t e l i g ê n c i a

d o s p e r s o n a g e n s . D e s d e sua primeira p u b l i c a ç ã o , Ligações peri-

gosas foi c o n s i d e r a d o e s c a n d a l o s o e, e m 1824, o r o m a n c e foi

b a n i d o da França p o r sua i m o r a l i d a d e .

Laclos p r o d u z i u o u t r o s escritos, m a s nada c h e g o u a o nível

dessa joia, o e x e m p l o mais perfeito d o r o m a n c e epistolar. Sua

Leffre à MM. De l'Académie Française sur

l'éloge de M. Le Maréchal de Vauban era u m a

explícita c o n d e n a ç ã o a o Exército e fez c o m

nãO é n a d a a l é m DE U M DISTÚRBIO q u e p e r d e s s e seu c a r g o na c o r p o r a ç ã o . Ele

p a s s o u para a política na d é c a d a d e 1780,

m e d i d a perigosa n a q u e l e s t e m p o s t u r b u l e n -

tos, e s o b r e v i v e u à R e v o l u ç ã o Francesa por

A( I M A : D e t a l h e d e u m r e t r a t o e m pastel d e u m triz. S o b N a p o l e ã o B o n a p a r t e , v o l t o u a o Exército e c h e g o u a o

I ar los d e u n i f o r m e , d o s é c u l o X V I I I . posto de general, participando da ação e m várias c a m p a n h a s .

A D I R E I T A : Casal se abraçando, de Georges M o r r e u d e disenteria e malária e n q u a n t o r u m a v a para N á p o l e s , na

ll.irbier, i n s p i r a d o e m Ligações perigosas. Itália, o n d e assumiria u m posto. CW

104- P I E R R E CHODERLOS DE LACLOS


JOHANN WOLFGANG VON GOETHE
N a s c i m e n t o : 28 d e agosto d e 1749 (Frankfurt a m M a l n , Alemanha). Morte: 22 d e
março d e 1832 (Welmar, Alemanha).

Estilo e g ê n e r o : E m Goethe, a linguagem e a voz germânicas tradicionais c o m -


binam, d e forma complexa, o pensamento intelectual c o m uma trama dramática.

P o u c o s escritores i n c o r p o r a m t ã o c o m p l e t a m e n t e a cultura literá-

ria d e u m a n a ç ã o c o m o G o e t h e faz por sua A l e m a n h a natal. U m

a u t ê n t i c o h o m e m d o R e n a s c i m e n t o , e x c e l e n t e e m poesia, d r a m a ,

literatura, ciências, filosofia, pintura e política, sua p o s i ç ã o c o m o

principal autor da língua a l e m ã p e r m a n e c e i n c o n t e s t e . Figura d e

d e s t a g u e nos m o v i m e n t o s culturais Sturm undDrang (tempestade

Principais obras e í m p e t o ) e d o classicismo d e W e i m a r , g u e b u s c a v a imitar o classi-

c i s m o g r e g o , a influência d e G o e t h e se e s p a l h o u por t o d a a Europa


ROMANCES

' ''. LI 'lamentos do jovem Werther, 1 7 7 4


c o m o a representação emblemática do romantismo.

( '•. anos de aprendizado de Wilhelm Meister, G o e t h e n a s c e u e m u m a família r e l a t i v a m e n t e privilegiada,


1795-1796 r e c e b e n d o a u l a s p a r t i c u l a r e s a n t e s d e s e g u i r os d e s e j o s d o pai e
A: afinidades eletivas, 1809
e s t u d a r Direito e m Leipzig. Na u n i v e r s i d a d e , preferiu c o m p a r e c e r
Poesia
às a u l a s d e poesia a recitar a n t i g a s leis, a p e r f e i ç o a n d o o estilo d e
Römische Elegien, 1790
sua escrita e q u e i m a n d o n u m e r o s a s o b r a s q u e c o n s i d e r a v a ina-
I In mann und Dorothea, 1798

Pecas c e i t á v e i s a n t e s d e iniciar a c o m é d i a m a d u r a Os cúmplices. Proble-

( a ií/ Vom Berlichingen, 1773 m a s d e s a ú d e p r e c i p i t a r a m sua v o l t a para F r a n k f u r t a n t e s d o fim


I /»wgo, 1774 d o curso e, d e p o i s d e u m a longa c o n v a l e s c e n ç a , G o e t h e se m u d o u
Die mitschuldigen, 1787
para E s t r a s b u r g o a f i m d e c o n c l u i r os e s t u d o s . Foi ali q u e experi-
Igmont, 1788

/ IN - / C/UNE des Verliebten, 1806

ftjusto, Porte 1,1808

lausto,Parte2,1832 Vi
N ã o ficção

Viagem à Itália, 1 8 1 6 - 1 8 1 7

At I M A : D e t a l h e d e Goethe em sua viagem

<) Itália (1788), d e J . H. W . T i s c h b e i n .

A D I R E I T A : O adeus de Dorothea, d e Heinrich

Maria V o n Hess, inspirado e m Hermann

and Dorothea.
m e n t o u u m d e s p e r t a r i n t e l e c t u a l , a o c o n h e c e r o crítico literário e A C I M A : O encontro de Fausto e Margarete

lilósofo J o h a n n G o t t f r i e d H e r d e r . Ele e n c o r a j o u G o e t h e a e n c a r a r (1860), p e l o p i n t o r f r a n c ê s J a m e s Tissot.

a l i n g u a g e m e a literatura d e f o r m a científica, e x p l o r a n d o os

c o n c e i t o s d e i d e n t i d a d e n a c i o n a l , as c a n ç õ e s f o l c l ó r i c a s e a

genialidade de indivíduos c o m o Martinho Lutero e m c o m p a -

ração c o m aqueles g u e e s t a v a m do outro

ladodasfronteirasdaAlemanha,comoWilliam «Q DEDFNJO DA ÜTERATUÍA


S h a k e s p e a r e . G o e t h e v i a j o u pela A l s á c i a f a -

m i l i a r i z á n d o s e c o m a t r a d i ç ã o o r a l d o s vila- INDICA o DECLÍNIO d e


rejos d e língua a l e m ã e c o m as raízes p o p u l a -

res d e sua língua-mãe, intensificando o desejo UMA n a ç ã o ,


d e escrever u m a peça germânica g u e obtivesse

a a p r o v a ç ã o d e Herder. Isso a c o n t e c e u c o m Götz Von Berlichingen,

história d e u m c a v a l e i r o d o s é c u l o X V I . S u a p u b l i c a ç ã o foi u m

m a r c o na história da literatura, p r o m o v e n d o por t o d a a E u r o p a o

ressurgimento d o d r a m a b a s e a d o na história d e nações individuais,


c o m o se refletiu nas o b r a s d e W a l t e r S c o t t , V i c t o r H u g o e A l e -
A onipresença de Fausto xandre Dumas.
na cultura popular Para G o e t h e , a peça trouxe f a m a imediata, e m b o r a ela fosse atin-

gir n o v o s píncaros c o m a p u b l i c a ç ã o d e Os sofrimentos do jovem


l iu< as obras da literatura forneceram tanta
ii r.| nr.icao ou foram referência tão constante Werther, r o m a n c e q u e c a p t u r o u a i m a g i n a ç ã o d e u m a g e r a ç ã o e
p.ir.i tantas mentes criativas como Fausto, de
q u e fez c o m q u e o autor fosse associado i n t i m a m e n t e a o m o v i m e n -
< inrthe. Desde a sua publicação, serviu de base
para incontáveis criações literárias, cinemato- to Sturm und Drang. W e r t h e r era u m j o v e m e m conflito c o m o
• ii.iíit IIS, artísticas e musicais. A influência do
m u n d o , incapaz d e se expressar e encontrar a felicidade. S e u a m o r
Iivk I ainda pode ser sentida hoje em dia.
obsessivo por Lotte, j o v e m c o m p r o m e t i d a , e seu fracasso e m s u p e -
Música
rar a dor da rejeição c o n t r i b u e m para levá-lo a u m v i o l e n t o suicídio.
* In iUiinbows, disco do Radiohead de 2007,
contém temas fundamentais da lenda de E m Werther, G o e t h e criou o s u p r a s s u m o da alma torturada, u m a
Fausto. Particularmente a canção "Faust's
criatura sensível d e m a i s para o m e i o hostil e m q u e vive, destinada a
Arp"e a faixa "Videotape", onde estão os
versos " W h e n Mephistopheles is just ser i n c o m p r e e n d i d a . O r o m a n c e d e u o r i g e m a u m verdadeiro culto,
beneath/And he's reaching up to grab
pois c e n t e n a s d e j o v e n s q u e se i d e n t i f i c a v a m c o m W e r t h e r v e s -
me" (Quando Mefistófeles está logo atrás
e tenta me pegar). tiam-se c o m calças a m a r e l a s e casacos azuis, c o m o o herói, e e m

• Durante a excursão do show Zooropa, do casos e x t r e m o s t r a g i c a m e n t e se suicidavam d e forma idêntica.


U2, no início dos anos 1990, apresentado
C o m o estrela e m a s c e n s ã o , G o e t h e a c e i t o u o p o s t o d e oficial
para um público de mais de 5 milhões de
pessoas, o cantor e militante mundial da c o r t e e c o n s e l h e i r o p r i v a d o d e Carlos A u g u s t o , o j o v e m d u q u e
Hono Vox apresentou nos palcos o
d e S a x e - W e i m a r - E i s e n a c h , e m 1776. Por 10 a n o s , s e r v i u d i l i g e n t e -
personagem do Sr. Macphísto - um
trocadilho com Mefistófeles. mente como conselheiro do duque, sendo alçado à nobreza.

P o r é m seu g e n e criativo v i n h a s e n d o o b s t r u í d o pelos d e v e r e s d e


Filmes
* Em E ai, meu irmão, cadê você? (O Brother, Estado. Foi a a m i z a d e c o m o p o e t a e d r a m a t u r g o Friedrich Schiller
Where Art Thou?), produção de 2000 dos q u e sinalizou u m n o v o p e r í o d o d e p r o d u t i v i d a d e . Dessa é p o c a são
irmãos Coen, o personagem Tommy
Johnson aparece insistindo ter vendido a
Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, r o m a n c e d e a u t o c o -
alma ao demônio para aprender a tocar n h e c i m e n t o , e o b e m - s u c e d i d o Hermann undDorothea, história d e
guitarra. Além de comparações com
a l e m ã e s c o m u n s e d o s efeitos da R e v o l u ç ã o Francesa.
Fausto, o episódio também reflete a
.história do pacto entre o cantor de blues Fausto, a inigualável obra-prima d e G o e t h e , tragédia na q u a l
Robert Johnson que teria vendido a alma
t r a b a l h o u d u r a n t e a m a i o r parte d e sua vida adulta, v e i o à tona mais
ao diabo para poder tocar.

* Motoqueiro fantasma (Ghost Rider) é um tarde. A primeira parte a c o m p a n h a Fausto, q u e e m sua busca pela
l i l m e d e 2007, baseado em um super- felicidade faz u m p a c t o c o m o d e m ô n i o s o b a forma d e Mefistófeles.
-herói do mesmo nome, da Marvel
Isso o c o n d u z à beira da d e g r a d a ç ã o moral, d e p o i s q u e o caso d e
Comics. Johnny Blaze (Nicolas Cage)
assina um contrato com Mefistófeles a m o r c o m M a r g a r e t e resulta e m infanticídio e execução. Na s e g u n -
(Peter Fonda) para curar o câncer do
da parte, r e c h e a d a d e alusões clássicas, política, história e psicolo-
pai em troca da sua alma.
gia, testemunha-se a r e d e n ç ã o d e Fausto graças a o d i v i n o a m o r d e

M a r g a r e t e . É u m a obra d e e s t o n t e a n t e c o m p l e x i d a d e e ousadia
A DIREITA: Poster d e Jules Massenet

pira uma produção parisiense de Werther, literária e, i n d i s c u t i v e l m e n t e , o á p i c e da literatura a l e m ã . SG

da 1893.
3)ra'meâ/rtque >

Goethi;
parinrm
£douard ' /3&u

-/ C ïvn/e,s
f ytartmann

XMASSENET
..vente au M E N E S T R E L 2 . R u e
is
Vivienne
[EXJGEL & . C ~ Editeurs p o u r tous Pays.PARUS
S'.'DES I M P ' ! S
LE M E R C I E R . P A R I ?

Potrebbero piacerti anche