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O ATENDIMENTO PSICANÁLITICO NA CLÍNICA DA PUCMINAS COMO

FORMA DE INCLUSÃO

Felipe Antônio Fernandes Gontijo


Puc minas
Supervisora: Miryam Weinberg

1 INTRODUÇÃO

O estágio extracurricular voluntário no Projeto de Assistência Psicológica aos


alunos da PUC (Projeto APP), fundado pela Prof a Ana Maria Sarmento, se constitui
como uma valiosa oportunidade na qual nós alunos do curso de Graduação em
Psicologia da PUC Minas Coração Eucarístico podemos exercitar nossa escuta clínica.
Um traço característico do Projeto é o fato de que seu modo de funcionamento é muito
próximo da prática clínica em consultório. O aluno da PUC, por iniciativa própria,
solicita o atendimento psicológico junto a uma das monitoras do Projeto que o
encaminha para um estagiário, o qual entrará em contanto por telefone agendando
uma primeira entrevista a partir da qual poderá ocorrer um processo psicoterápico, que
se dará através de seções semanais. No entanto, é preciso considerar o fato desse
atendimento se dar em uma instituição, a Clínica de Psicologia, uma vez que daí
decorrem atravessamentos, os quais perpassam o processo terapêutico, tais como a
disposição de salas e as férias escolares.
Assim como corre na prática clínica profissional, o estágio no Projeto APP nos
apresenta frequentemente alguns desafios. Um desses desafios é estar preparado para
a irrupção de imprevistos, que surgem, por exemplo, na forma de demandas
inesperadas de atendimento que se destacam da clientela que geralmente procura o
projeto. A paciente que temos atendido desde novembro de 2009, sobre a qual se
baseia este estudo de caso, nos apresenta uma dessas demandas de atendimento que
se destacam. Ao contrário do que geralmente acontece, ela chegou até o Projeto
através de um encaminhamento. Este foi feito pelo Núcleo de Assistência à Inclusão
(NAI), que se ocupa dos egressos nos diversos cursos da PUC classificados como
sujeitos portadores de necessidades especiais.
O NAI desenvolve programas de inclusão para alunos que apresentam
deficiências que podem ser visuais, auditivas ou motoras. A paciente em questão
possui déficit auditivo, para o qual usa um aparelho, mas não tem domínio da Língua
Brasileira de Sinais (Libras). Dessa forma, ela não se enquadra no programa
desenvolvido pelo NAI para os alunos surdos. Com efeito, ela foi encaminhada ao
Núcleo pelos professores de seu curso devido a uma suspeita de déficit intelectual.
Essa é uma situação sem precedentes na história do NAI. Sujeitos com limitações de
ordem cognitiva geralmente não chegam a cursar o Nível Superior de escolarização.
Diante desse impasse, a coordenadora do NAI, Nivânia Melo Reis, entrou em contato
com a Clínica de Psicologia solicitando uma avaliação psicológica. No entanto, a
coordenação da Instituição optou por encaminhar a aluna para o Projeto APP,
acreditando que ela poderia se beneficiar de um processo de escuta clínica. Foi assim
que viemos a atendê-la.

2 DISCUSSÃO DO CASO

Em Linhas de progresso na terapia psicanalítica Freud, interessado na


expansão da psicanálise, considera que em alguns casos é necessário fazer
adaptações em sua técnica, o que nos leva a “fundir o ouro puro da análise livre com o
cobre da sugestão direta”. (FREUD, 1919/2006, p. 181). Em nossos atendimentos no
Projeto APP, trabalhamos a partir da teoria psicanalítica, sob orientação da Prof a
Miryam Weinberg. Não obstante, ao entrarmos em contato com o caso em questão,
mesmo antes da primeira entrevista, tornou-se claro que seria necessário dispor de
outros recursos que fossem além da regra da associação livre, o que nos remete à
adaptação da técnica da qual fala Freud.
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Em nosso primeiro contato com a paciente, uma mulher de 40 anos, ficou claro
que ela não havia demandado espontaneamente um atendimento psicológico e que
nem mesmo sabia ao certo porque estava ali. Imediatamente após se acomodar, antes
mesmo que pudéssemos dizer-lhe qualquer coisa, ela enunciou em um tom imperativo:
– “Fala!” Deixando claro que desejava ser esclarecida sobre o motivo de sua presença
na Clínica. Decidimos que a conduta ética adequada seria expor-lhe o fato de termos
sido contatados pelo NAI, o qual nos informara a respeito da preocupação de seus
professores em relação às suas dificuldades intelectuais. Em seguida, convocamo-la a
se posicionar em relação à questão, perguntando-lhe o que ela achava sobre isso. Sem
hesitar, a paciente disse que, de fato, estava tendo grande dificuldade em apreender o
conteúdo das disciplinas, em realizar provas e em participar das apresentações de
trabalho, já que seu pensamento é “muito ruim, péssimo”.
Lembremos aqui as considerações de Jacques Lacan sobre a debilidade mental,
exploradas por Sandra Kruel em seu artigo Psicanálise e debilidade mental – até que
ponto uma criança débil pode se beneficiar de uma análise? Segundo a autora,
para Lacan, é preciso atentar-se para a posição do sujeito em relação àquilo que é da
ordem do orgânico na debilidade. Mais do que isso, para Lacan, mais-além da
debilidade orgânica, haveria a debilidade como uma posição subjetiva frente à
castração. Como se sabe, Lacan articula a noção de castração às suas formulações
sobre o grande Outro da linguagem. O sujeito lacaniano é castrado porque falta no
Outro um significante que o represente em sua absoluta singularidade, não lhe
restando outra alternativa, no caso da neurose, senão se inscrever na brecha existente
entre os significantes que constituem a cadeia significante (S1 → S2). O que significa
dizer que, para Lacan, o sujeito se constitui em relação à linguagem, que estrutura o
inconsciente. Sendo assim, os sintomas com os quais nos deparamos na prática
clínica, enquanto formações do inconsciente, podem ser considerados fenômenos de
linguagem.
Ora, é justamente na forma como lida com os sintomas que produz que Lacan
define o sujeito como débil. Kruel nos explica que o sujeito é débil quando “se zanga e
se desencoraja diante dos sintomas que o atrapalham” (Kruel, 1998, p. 92). Ela
distingue, a partir do Seminário 23 de Lacan, saber fazer (savoir-faire) e se virar (savor
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y faire) com o sintoma. Aquele que acredita saber fazer, ter o know-how, esbarra com o
fracasso do saber, com a impotência. O se virar com o sintoma, por outro lado,
caracteriza o final de análise, o qual pressupõe um atravessamento da debilidade
oriunda do fato de o ser falante negar os seus pontos de desconhecimento, acreditando
piamente naquilo que diz.
Embora não sejamos capazes de precisar a intensidade de seu déficit cognitivo 1,
é certo que nossa paciente possui certo grau de debilidade mental, o qual ela mesma
reconhece ao se queixar de seu pensamento ruim. Não obstante, o débil, apesar de
seu comprometimento na fala e compreensão, também assimila a linguagem por
inteiro, o que leva Kruel a afirmar “que a estrutura de linguagem habita o débil como a
todo sujeito e que, evidentemente, gera inúmeros efeitos”. (Kruel, 1998, p. 93). A partir
dessas considerações, temos orientado nossa atuação junto à paciente no sentido de
oferecer-lhe recursos para que não se desencoraje e nem se zangue com os efeitos
de sua debilidade e de seus sintomas.
Sobre isso, ela relatou um contato prévio com a Psicologia, no qual uma
profissional teria lhe afirmado que jamais seria capaz de trabalhar e estudar. Diante
disso, ela se orgulha de trabalhar como arquivista e de estar frequentando a
Universidade. Com efeito, a vaga em um curso de Nível Superior foi conquistada com
muito esforço, prestando vestibular por dez anos consecutivos. Ao ser questionada
sobre sua escolha acadêmica ela afirma que esta foi baseada no fato de seu curso ser
o que oferece um maior número de vagas, o que tornou mais fácil o seu ingresso.
Sobre suas expectativas profissionais, diz pretender dar palestras para professores
sobre como se deve ensinar.
Percebe-se que a paciente, embora reconheça suas limitações intelectuais, não
se coloca em uma posição débil em relação a estas no sentido proposto por Lacan.
Sua obstinação expressada no fato de ter prestado vestibular por dez anos
consecutivos nos mostra que ela não se desencoraja por causa de seu ‘‘péssimo’’
pensamento. Ela tampouco demonstra se zangar diante de seu quadro de debilidade.

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Chegamos a sugerir-lhe que fizesse um processo de avaliação psicológica com algum outro estagiário da clínica no
projeto de psicodiagnóstico, ela, no entanto, recusou afirmando temer que um mal resultado nos testes a levaria a
perder sua vaga na Universidade.
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De fato, o que se observa é que ela tem grandes expectativas no domínio intelectual,
acreditando poder vir a ser palestrante.
Como dissemos, cabe-nos auxiliá-la a sustentar essa posição de não
desencorajamento. Contudo, essa posição precisa ser articulada à realidade da
castração, não apenas da castração simbólica, mas também da castração real
expressa em seu déficit cognitivo. Em uma de nossas seções ela chegou angustiada
com o fato de que teria que escrever um mínimo de três páginas exigido por uma
professora para um trabalho acadêmico, sendo que havia tido grande dificuldade para
escrever meia página para um outro trabalho. Nossa intervenção consistiu em dizê-la
que, de fato, não seria possível cursar toda a faculdade escrevendo apenas meia
página para os trabalhos propostos pelos professores, mas que ela também não
deveria se desencorajar se não conseguisse escrever três páginas dessa vez, que
tentasse escrever pelo menos uma para esse trabalho, quem sabe duas para o
próximo e assim por diante. Acreditamos ter feito um uso legítimo da sugestão, tal
como Freud nos propõe no artigo supracitado.
Com o passar do tempo, outras questões têm surgido em nossas seções,
questões que vão além de suas dificuldades acadêmicas. Em uma seção na qual
discorria sobre como a angustiava ter que apresentar trabalhos oralmente, uma vez
que não conseguia dizer com suas próprias palavras aquilo que havia lido,
perguntamo-la sobre qual seria, de fato, o seu problema Ela respondeu afirmando que
seu problema na verdade é conversar com os outros, que nunca sabe o que dizer, que
não tem nenhum assunto, não tem “nem noção” do que dizer, e que, por isso, acaba
limitando-se a responder aquilo que lhe é perguntado. Nos intervalos entre as aulas, se
os colegas vão para um lado ela vai para o outro, “se eles vão pra cá, eu vou pra lá”,
quando se aproxima de algum deles é para se informar sobre a faculdade.
Em Princípios do ato psicanalítico Eric Laurent afirma que “o analista é
aquele a quem nenhum lugar pode ser atribuído a não ser o da questão sobre o
desejo”. (LAURENT, ..., p.). Disso decorre que a prática terapêutica orientada pela
psicanálise fundamenta-se em uma ética: a ética do bem dizer o desejo. Ora, tomar a
palavra para bem dizer o desejo significa assumir a posição de sujeito. Ao afirmar não
ser capaz de conversar com as pessoas, limitando-se a responder aquilo que lhe é
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perguntado, a nossa paciente se coloca na posição de objeto, isto é, de assujeitada ao
outro. Em seções mais recentes ela demonstrou assumir essa mesma posição em
outros contextos de sua vida. Ela afirma que nada lhe é encaminhado para fazer em
seu trabalho, já que outra pessoa foi contratada para fazer aquilo que fazia. Disse que
fica à toa em uma sala enquanto gostaria de estar trabalhando. Nossa intervenção
consistiu em sugeri-la que expressasse esse desejo no seu local de trabalho, que se
aproximasse das pessoas e se oferecesse fazer qualquer coisa que precisasse ser
feita. Novamente fizemos uso da sugestão proposta por Freud, respaldando-a, no
entanto, na ética da psicanálise.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O título de nosso trabalho Mais-além da Clínica de Psicologia se justifica por


mais de uma razão.
Em primeiro lugar, levamos em consideração esse ir além da clínica psicanalítica
“pura” do qual fala Freud. Sabe-se que o abandono da sugestão hipnótica constitui-se
enquanto um momento crucial no surgimento da Psicanálise. Não obstante, na
passagem supracitada de Linhas de progresso na terapia analítica, ele afirma que
em alguns casos a sugestão direta seria novamente aceita no tratamento analítico.
Acreditamos que, no caso em questão, ao fazer uso de intervenções diretivas
rompemos com a regra fundamental da psicanálise, a associação livre, porém não
rompemos com a ética da psicanálise, a ética do bem dizer o desejo.
Outro sentido para o nosso título é encontrado no fato do caso ter sido
encaminhado e permanecer sendo acompanhado pelo NAI. Após as duas primeiras
seções que tivemos com a paciente, foi feita uma reunião, na qual estiveram presentes
duas representantes do Núcleo, onde tivemos a oportunidade de expressar nossas
primeiras impressões sobre o caso e a direção que pretendíamos tomar. Foi nos
solicitado um relatório dos atendimentos, o qual foi entregue no início do atual semestre
letivo (1o de 2010).
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No momento da entrega desse relatório, uma das representantes do Núcleo, que
participou da reunião na qual foi discutido o caso em questão, expressou o quanto
considerava importante a existência de uma parceria com o Projeto APP. Ela destacou
o fato de muitos dos alunos assistidos pelo NAI apresentarem demanda de
atendimento psicológico. Em muitos desses casos, como, por exemplo, no dos alunos
portadores de deficiência motora, visual ou no dos surdos oralizados que fazem leitura
labial, não há qualquer impedimento para que um trabalho terapêutico se dê. Em outros
casos, como no dos surdos-mudos, nossas limitações se revelam um entrave para o
trabalho. No entanto, vale lembrar, para finalizar, que o NAI oferece oficinas de
capacitação em LIBRAS, daí a importância de irmos além da Clínica de Psicologia.

REFERÊNCIAS

FREUD, S. Linhas de progresso na terapia analítica (1919). In: FREUD, Sigmund.


Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud:
Rio de Janeiro: Imago, 2006. v. 17, p. 171-181.

KRUEL, Sandra Seara. Psicanálise e debilidade mental – até que ponto uma criança
débil pode se beneficiar de uma análise? Alétheia, Governador Valadares, n.2, p. 90-
100, março 1998.

LAURENT, Eric. Princípios do ato psicanalítico. Correio: revista da Escola Brasileira


de Psicanálise, São Paulo, n. 56, agosto 2006.

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