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CADERNO DE RESUMOS

IV JORNADA HISPÂNICA DA UNIFESP

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO


ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Guarulhos
2018
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica da Unifesp

Idealizadores
Diogo dos Santos Silva
Iago Victor Santos da Silva

Editoração e Diagramação
Diogo dos Santos Silva
Iago Victor Santos da Silva

Editores:
Fernanda Rodrigues
Kamila Arão
Marcelo Gercino

Realização:
Universidade Federal de São Paulo
Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
APRESENTAÇÃO

As jornadas acadêmicas, em especial as organizadas por discentes, são oportunidades


grandiosas oferecidas aos membros de uma comunidade acadêmica para mostrarem os frutos
de suas pesquisas, seus estudos e seus esforços, construídos ao longo de uma árdua vida
dedicada à pesquisa. Em um contexto político-social caótico onde a Educação é colocada
sempre como um problema e não como algo a ser aperfeiçoado, dar voz aos indivíduos que
fazem parte da Educação é essencial – ou mesmo cada vez mais necessário. Pequenos eventos,
quando trabalhados de forma laboriosa, com o empenho de seus organizadores, podem resultar
em grandes – inclusive, marcantes – eventos acadêmicos, como é o caso da Jornada Hispânica,
organizada anualmente pelos alunos da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na
Universidade Federal de São Paulo, já em sua IV edição.
Esse Caderno de Resumos, inédito para o evento, contém sínteses das apresentações
acadêmicas ocorridas durante a IV Jornada Hispânica da Unifesp no ano de 2018. O primeiro
texto, de Gabriel Contatori, dialoga sobre o ator, o personagem e o público, sob a perspectiva
de suas relações com o ensino e com o deleite no teatro espanhol no século de ouro. O segundo
texto, de Marcelo Brito, fala sobre a diversidade na Antologia Cátedra de Poesia na história da
poesia em língua espanhola. Mayra Guanaes discute no terceiro texto as significações do tempo
e do foco narrativo dentro do romance de Dulce Chacón: Algún amor que no mate. O quarto
texto apresenta os estudos de Diogo Silva sobre o contato linguístico do espanhol falado pelos
bolivianos com o português brasileiro encontrado na cidade de Guarulhos. O quinto resumo
fala sobre o voseo chileno, onde Kamila Arão fala sobre a política, o uso, a intensidade e o
prestígio da dialetologia hispano-americana. Jorge Edson aborda, no sexto resumo, o pacto de
silêncio, a memória coletiva e as histórias em quadrinhos dentro da Espanha Contemporânea.
O sétimo resumo traz, nas palavras de EgirLandia Pinheiro, um estudo sobre Dom Quixote de
La Mancha, analisando a adaptação cinematográfica como instrumento de trabalho didático
literário. Aline Expedita constrói uma análise ao longo do oitavo resumo sobre a relação entre
a literatura e a psicanálise, tendo como objeto de estudo a Graciela de Primavera com uma
esquina rota. Angela Dib, Iago Victor e Nathalia Schimith apresentam no nono texto um breve
ensaio que dialoga sobre as literaturas, artes e ditaduras que ocorreram no século XX na
América Latina. Por fim, o caderno se encerra com a pesquisa de Jarbas Izidio sobre a antologia
poética e a desigualdade social dentro do mundo hispanohablante.
Tais apresentações retratam parte da riqueza e da pluralidade de linhas de pesquisa
científica presentes dentro da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, em um evento
que, tímido e pouco divulgado em sua primeira edição, é agora um dos maiores eventos
discentes dentro da Unifesp Guarulhos. O presente Caderno de Resumos tem como objetivo
registrar academicamente, a partir da quarta edição, as produções apresentadas dentro da
Jornada Hispânica, como uma prova do esforço e reconhecimento do trabalho desenvolvido
pelo Departamento de Espanhol da Universidade Federal de São Paulo – Guarulhos.
É com muito prestígio por nossos colaboradores que nós iniciamos assim a primeira
edição do Caderno de Resumos da Jornada Hispânica da Unifesp.

Iago Victor
Sumário

Ator, personagem e público: relações a serviço do ensinar e do deleitar no teatro espanhol do


século de ouro ............................................................................................................................. 6

A diversidade na “Antología cátedra de poesía de las letras hispánicas” .................................. 9

As significações do tempo e do foco narrativo em “ALGÚN AMOR QUE NO MATE” ....... 13

O contato linguístico do espanhol dos bolivianos (e) com o português brasileiro (pb) na cidade
de Guarulhos: alguns resultados ............................................................................................... 16

O voseo chileno: políticas, usos, intensidade e prestígio .......................................................... 20

O “pacto de silêncio”, a memória coletiva e as histórias em quadrinhos na espanha


contemporânea. ......................................................................................................................... 23

Dom Quixote de La Mancha: a adaptação cinematográfica como instrumento de trabalho


didático literário........................................................................................................................ 26

Literatura y psicoanálisis: un analisis de Graciela de Primavera con una esquina rota, de Mario
Benedetti ................................................................................................................................... 29

Literaturas, Artes e Ditaduras no Século XX ........................................................................... 33

Antologia poética e a desigualdade social no mundo hispanohablante ................................... 37


Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

ATOR, PERSONAGEM E PÚBLICO: RELAÇÕES A SERVIÇO DO ENSINAR E DO


DELEITAR NO TEATRO ESPANHOL DO SÉCULO DE OURO

Autor: Gabriel Furine Contatori


Orientador:Prof. Dr. Érico Nogueira

1. Introdução

A produção poética do Século de Ouro espanhol é regulada pelos procedimentos


poético-retóricos oriundos da tradição clássica, notadamente, mas não somente, da Poética de
Aristóteles e da Arte Poética de Horácio. De Horácio, provieram os princípios do ensinar
(docere) e do deleitar (delectare). Com isso, dado que a poesia dramática é efetuada por meio
de agentes (dróntas), tal como aponta Aristóteles na Poética, este trabalho1 buscou evidenciar,
mediante análise das preceptivas poéticas e retóricas modernas seiscentistas, a importância do
ator e do personagem que representa a fim de suscitar no público ensino e deleite.

2. Resultados e Discussão

Nas preceptivas seiscentistas, que se alinham à tradição clássica, percebe-se grande


importância dada ao ator, pois, como os gêneros dramáticos são efetuados por meio de agentes,
é o representante que deve passar para o público os sentimentos (cólera, dor, ódio) que moveram
primeiro ao poeta. Com isso, como aponta Alonso López Pinciano em sua Philosophia antigua
poética (1596), nas mãos do ator está a vida do poema. É o ator que dá vida à imitação dramática
e, por isso, se as ações são más, por o ator ser bom, passam a ser boas; do mesmo modo que se
as ações são boas e o ator é mau, passam a ser más.
Com isso, parafraseando Horácio, Lope de Vega no Arte nuevo de hacer comedias en
este tiempo (1609), comenta que o ator deve se transformar na personagem que irá representar,
pois com o mudar-se a si, muda também ao ouvinte.

1
Este trabalho integra a pesquisa de iniciação científica, concluída em julho de 2018, titulada “Arte Nuevo de
Hacer Comedias en Este Tiempo, de Lope de Vega: tradução e comentários”, financiada pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Curiosamente, percebe-se pelas discussões nas preceptivas, que se o ator representa um


personagem mau, o público o odiará, enquanto que se faz um personagem bom o mesmo
público o aclamará, o honrará e o amará. É claro que tal assimilação entre ator e personagem
só pode ser efetuada diante do público se o ator se transformar no personagem que representa.
Além disso, para que os efeitos da poesia sejam suscitados no público por meio da
imitação efetuada pelo ator, este deveria ter uma conduta moral acordada com o personagem
representado. Como um dos argumentos que visavam a censurar o teatro era o de que atores de
péssima reputação representavam figuras nobres e sagradas (ARELLANO, 2008), o
personagem que o ator representaria deveria estar de acordo com sua conduta moral. Se o ator
tivesse conduta moral duvidosa, não poderia, por exemplo, encenar a Virgem Maria, exemplo
de virtude, como aponta Cotarelo y Mori (1904). Certamente, essa preocupação deve-se à
finalidade do ensino visada pela poesia seiscentista.

3. Conclusões

O teatro do século XVII espanhol busca garantir as finalidades horacianas da poesia:


ensino e deleite. Para o logro de tal objetivo, a preceptiva poético-retórica que regulamenta as
convenções dos gêneros dramáticos maiores praticados nos Seiscentos (tragédia, comédia e
tragicomédia) enfatiza que o ator, visto que a poesia dramática é efetuada por meio de agentes
e não pelo poeta que narra, deve se transformar no personagem que representará e, ao mesmo
tempo, deve ter uma conduta moral adequada a depender da personagem que fará. Isso porque,
deleite e ensino provém do palco e da imitação que o ator efetua.

4. Agradecimentos

A pesquisa de iniciação científica da qual proveio este trabalho foi financiada pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

5. Referências Bibliográficas

ARELLANO, Ignacio. Historia del teatro español del siglo XVII. Madrid: Cátedra, 2008.
ARISTÓTELES. Poética. trad. Eudoro de Sousa. Lisboa: Casa da Moeda, 1986.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

COTARELO Y MORI, Emilio. Bibliografía de las controversias sobre la licitud del teatro en
España. Madrid: Est. de la “Rev. De archivos, bibl y museos”, 1904.
HORÁCIO. Arte poética. intr., trad. e com. de R. M. Rosado Fernandes. Lisboa: Mem Martins,
Inquérito, 1984.
LOPE DE VEGA, Félix. Arte nuevo de hacer comedias en este tiempo. ed. Enrique García
Santo-Tomás. Madrid: Cátedra/Letras Hispánicas, 2012.
PINCIANO, Alonso López. Philosophia antigua poética. ed. José Rico Verdú. Madrid:
Biblioteca Castro, 1998.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

A DIVERSIDADE NA “ANTOLOGÍA CÁTEDRA DE POESÍA DE LAS LETRAS


HISPÁNICAS”

Marcelo Brito de Sousa Junior


Orientador: Prof. Dr. Ivan Rodrigues Martin

Realizada em 11/05/2018 na IV Jornada Hispânica na EFLCH-Unifesp a comunicação


oral: A Diversidade na “Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispànicas” se propunha
a apresentar os resultados até então obtidos da Atividade de Pesquisa Programada de mesmo
nome.
A pesquisa consistiu em analisar a diversidade presente na referida antologia poética da
renomada editora espanhola Cátedra que como o seu próprio nome denuncia pretende abarcar
toda a história da poesia feita em língua espanhola.
Para tanto, durante a análise do compilado foram levantados alguns pilares que
permitiam entender quão diversa é a antologia, considerando a quantidade e a diferença entre
poetas homens e mulheres, a quantidade de países hispanofalantes presentes na seleção da
mesma, a etnicidade dos poetas e também a variação dos temas.
A antologia estudada conta com seleção e introdução de José Francisco Ruiz Casanova,
doutor em Filologia Espanhola pela Universidade de Barcelona e foi publicada pela Ediciones
Cátedra. O recorte escolhido é o período compreendido entre o século XIX, século em que a
maioria do território espanhol na América se tornou independente, até o fim do século XX,
onde se encerra a oitava edição.
Meleagro de Gadara ao desenvolver sua Guirlanda, que hoje é conhecida como a
primeira antologia lírica ocidental (Casanova, 2001), comparou a poesía de alguns poetas a uma
flor e atribuiu à reunião de textos o nome grego ανθολογία, que significa coleção de flores.
Uma antologia é, normalmente, composta de prólogo, introdução, prefácio ou
justificativa (onde o autor ou compilador normalmente se dirige ao leitor antes que este inicie
a leitura) e os textos selecionados.
Poucos teóricos se dedicaram ao estudo da antologia e, tanto na tradição hispânica
quanto em outras, a bibliografia sobre o tema é bem escassa. No caso da literatura hispânica
existem duas referências essenciais: um artigo breve de Alfonso Reyes nomeado “Teoría de la
antología” e algumas páginas do ensaio de Claudio Guillén “Entre lo uno y lo diverso”.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Segundo Reyes (1930), toda história literária pressupõe uma antologia iminente e toda
antologia é resultado de um conceito de uma história literária, a ponto de às vezes as antologias
definirem marcos de controvérsias críticas, seja provocando-as ou surgindo como sua
consequência.
Já Claudio Guillén definiu as antologias como formas intratextuais que supõem a
reescrita ou reelaboração, por parte de um leitor, de textos já existentes por intermédio de sua
inserção em novos conjuntos (1985).
Se a antologia pode contar com textos escolhidos por gosto ou afeto do antólogo,
qualquer antologia está marcada também pela renúncia que refletirá nos parâmetros de escolha
de acordo com a militância estética do autor, a inovação do material, os critérios canônicos da
época e da comunidade que a recebe, bem como a autoridade do antólogo e dos textos.
A “Antología Cátedra de Poesía de las Letras Hispánicas”, foi desenvolvida como
forma de comemoração do aniversário de vinte e cinco anos da coleção Letras Hispánicas da
Editora Cátedra que desde 1973 até a data de publicação da antologia reuniu mais de seiscentos
e cinquenta títulos de autores clássicos espanhóis e hispano-americanos. O catálogo da editora,
segundo Casanova (2001), abrange praticamente toda a história da poesia em castelhano.
Essa antologia portanto surge como consequência que um projeto prévio, então, suas
limitações são as limitações da própria coleção da editora. O autor afirma em sua introdução
que na edição tentou respeitar ao máximo o texto apresentado nas edições correspondentes da
coleção.
Apesar de ser uma publicação espanhola, afirma Casanova; “ No hago distingos entre
autores españoles e hispanoamericanos, pues creo que adjetivo hispánicas del título hace
referencia a la lengua y no a cuestiones de tipo territorial o nacional (2001, pg. 72).”
Dentro do recorte escolhido (séculos XIX-XX), estão 561 poemas divididos entre 9
países e 161 poetas. Apesar de Casanova afirmar não fazer distinções na escolha de poetas e
poemas, existe uma discrepância entre o número de poemas de autores espanhóis e os de outras
nacionalidades, são 451 poemas de autores europeus contra 116 poesias de autores americanos.
A antologia apresenta apenas 77 poemas na divisão do século XIX da página 509 até a
622. São 55 poemas espanhóis divididos em 20 poetas homens e 4 mulheres enquanto as outras
nacionalidades aparecem da seguinte forma:

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

País Número de Poemas Poetas Homens Poetas Mulheres

Argentina 2 1 0

Colômbia 4 1 0

Cuba 5 1 1

México 3 1 0

Dentre os nomes selecionados encontram-se na antologia cânones da literatura


espanhola como Espronceda e Bécquer, escritores que participaram do Romantismo-Realismo
europeu.
O século XX historicamente conta com as últimas colônias se tornando independentes
da Espanha e também o boom da literatura hispanoamericana, ou Realismo Fantástico,
acontecimentos que devem refletir em um apanhado geral da literatura hispânica deste século.
Na antologia são selecionados 490 poemas para representar este período entre as páginas
623 e 1163, dentre esses poemas 395, pouco mais que 80% do total, são espanhóis que se
dividem entre 105 poetas homens e 10 poetas mulheres. Os outros quase 20% dos poemas deste
século são divididos da seguinte forma:

País Número de Poemas Poetas Homens Poetas Mulheres

Argentina 2 1 0

Chile 18 2 2

Cuba 20 3 0

México 12 2 0

Nicarágua 9 1 0

Peru 10 1 0

Uruguai 16 1 2

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Embora neste século apareçam mais países que o anterior, a proporção de poemas
espanhóis para os de outras nacionalidades é também bem maior. Dentre os nomes espanhóis
encontram-se representantes da Generación 1898 como Antonio Machado e grandes nomes da
Generación 27 como Federico Garcia Lorca, Rafael Alberti e Pedro Salinas.
Ainda que existam nomes extremamente importantes na antologia como os americanos
já citados e nomes como Gabriela Mistral, Nicolás Guillén e Octavio Paz, a seleção deixa de
apresentar neste período poetas essenciais da literatura latino americana como Jorge Luis
Borges que, apesar de citado na introdução, não consta nenhum poema na antologia. Não estão
presentes também Julio Cortázar, Juan Rulfo nem Mário Benedetti, para nomear alguns dos
grandes poetas que não estão presentes.

Conclusões:
Apresentei estes dados de acordo com os resultados obtidos na pesquisa até aquele
determinado momento (maio/2018) pois a mesma não havia sido finalizada.
No entanto, os dados levantados já permitiam chegar a algumas conclusões: Levando
em consideração o recorte escolhido, por exemplo, nota-se que poucas foram as mulheres que
conseguiam escrever poemas dentre os séculos XIX e XX, e muitas vezes as que conseguiam,
escreviam através de um pseudônimo masculino, essa condição reflete diretamente na diferença
de poetas homens e mulheres presentes no recorte estudado pela antologia.
Tal como a falta de poetas mulheres, nota-se também que, basicamente, não existem
poemas que discutam as questões de raça. A exceção é a presença do cubano Nicolás Guillén
que se dedicou ao tema ao longo de sua carreira.
A antologia demonstra que os poetas latino-americanos aparecem no acervo da
Ediciones Cátedra em uma proporção consideravelmente menor quando comparados aos
poetas espanhóis, este dado se torna mais expressivo ao pensar que pelo menos na antologia
(no recorte escolhido) são oito países em contraposição à Espanha em uma proporção de 117
poemas de autores latino-americanos e 450 poemas espanhóis.
A discussão que se deu após a apresentação do trabalho foi muito positiva e permitiu
que a APP assumisse outros caminhos, principalmente a partir das considerações que os
ouvintes levantaram, por exemplo, sobre a importância de se considerar a época estudada pois,
é comum afirmar a diferença entre homens e mulheres ou brancos e negros na antologia como
simplesmente uma escolha do selecionador, quando na realidade é um reflexo da sociedade da
época.

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AS SIGNIFICAÇÕES DO TEMPO E DO FOCO NARRATIVO EM “ALGÚN AMOR


QUE NO MATE”

Mayra Martins Guanaes


Orientação: Profª Dra. Paloma Vidal
Profª Dra. Ana Cláudia Romano Ribeiro

O romance Algún Amor Que No Mate foi o primeiro romance escrito pela autora
espanhola Dulce Chacón. Publicado em 1996, teve uma boa recepção pela crítica chegando a
ser adaptado para o teatro em 2002 pela própria autora. O romance é sobre uma mulher
maltratada pelo marido.
A condição social das mulheres é um tema comum na obra de Dulce Chacón (Zafra,
Badajoz, 1954 - Madrid, 2003) que, além de romances, escreveu também poemas, contos, peças
de teatro e biografias. A autora era bastante comprometida com as questões de gênero, inclusive
fora do campo literário, tendo participado da Associação de mulheres contra a violência de
gênero, Associação de mulheres contra a guerra e da Plataforma de cultura contra a guerra,
durante a invasão do Iraque.
Ainda que seja uma autora pouco conhecida no Brasil, sua obra contribui bastante para
a discussão a respeito da desigualdade de gênero porque apresenta personagens femininas que
buscam a libertação das imposições sociais. As escolhas estéticas feitas por Dulce Chacón em
sua obra também colaboraram para o avanço da produção de outras escritoras mulheres, que até
a década de 90 tinham pouco espaço na literatura hispânica devido ao contexto conservador
presente na Espanha.
Temos uma narradora que também é personagem e é quem conta a história de Prudência,
a protagonista do romance. A princípio, Prudência parece uma segunda personagem. No
entanto, quando chegamos à metade do enredo, é possível constatar que Prudência e a narradora
são a mesma pessoa, de modo que, ao narrar como se existissem duas personagens e não uma,
cria-se um efeito de distanciamento sobre os episódios narrados, pois quando conta os episódios
mais dramáticos sobre os maus tratos que sofre por parte do marido, a narradora-personagem
escolhe dizer que são acontecimentos da vida de Prudência e não da própria vida.
O foco do enredo de Algún Amor Que No Mate é a vida conjugal de Prudência, desde o
dia de sua noite de núpcias até o dia de sua morte. O enredo não é linear, sendo que os
acontecimentos narrados não seguem a sua ordem cronológica. Além disso, a narrativa alterna

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

as memórias da narradora-personagem e as de Prudência com acontecimentos do presente,


como o que essas duas personagens estão pensando e o que está acontecendo no momento em
que a narração acontece. No tempo presente, as personagens estão hospitalizadas após tentarem
suicídio e o romance é construído como se fosse uma reflexão sobre o que aconteceu antes
disso.
No decorrer da narrativa, as histórias da narradora e de Prudência passam a ter, cada vez
mais, um número maior de semelhanças, tornando possível ao leitor a constatação de que são a
mesma pessoa. As semelhanças tornam-se mais claras a partir das retomadas estabelecidas pela
narradora.
Primeiro, ela menciona um episódio que aconteceu consigo mesma e depois relata o
mesmo episódio, mas dizendo que aconteceu com Prudência, como no caso do primeiro
parágrafo do romance que se inicia com “Faz muitos anos que não faço amor. Não é uma queixa.
Vivo muito bem assim. Sem o costume forçado. Meu marido e eu nos deitávamos juntos na
sesta”2 (CHACÓN, 2017, p. 18, tradução nossa). Algumas páginas depois, temos novamente
um episódio sobre sestas: desta vez, no entanto, por parte de Prudencia: “Mas Prudência, sim.
E nas sestas tinha que fingir. E depois já não teve sestas”3 (CHACÓN, 2017, p. 25, tradução
nossa).
Além disso, a narradora vai diminuindo a distância entre ela e Prudência, como no trecho
seguinte: “Prudência e eu temos estado sempre juntas. Ninguém fala com Prudência e ela só
fala comigo”4 (CHACÓN, 2007, p. 35, tradução nossa).
No ensaio O narrador ensimesmado: O foco narrativo em Vergílio Ferreira, Maria Lúcia
Dal Farra (1976) discorre sobre o ponto de vista de primeira pessoa, o foco narrativo e a
existência do autor implícito no texto.
Dal Farra nos chama atenção para a importância de percebermos os aspectos que o
narrador vê e aqueles que ele não vê, tendo sido levado a “não enxergar” pelo autor implícito:

O ponto de vista do narrador, por mais amplo ou mais restrito que seja, é sempre um
recurso do autor-implícito para promover “lacunas” – por excesso ou carência de
lucidez – que juntas, visão e “cegueira”, num intercâmbio dialético – espécie de feixe
de diferentes interferências de tons – darão a coloração verdadeira ao romance. (DAL
FARRA, 1976, p. 24)

2
"Hace muchos años que no hago el amor. No es una queja. Vivo muy bien así. Sin la obligada costumbre. Mi
marido y yo nos echábamos juntos la siesta."
3
"Pero Prudencia sí. Y en las siestas tenía que fingir. Y después ya no hubo siestas.”
4
"Prudencia y yo hemos estado siempre juntas. Nadie habla con Prudencia y ella sólo habla conmigo.”
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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Em diálogo com Booth, que traz este conceito e denomina como retórica ficcional o
conjunto de escolhas feitas pelo autor-implícito, Dal Farra coloca que:

De acordo com as finalidades e consoante à escala de valores que o autor tem em


mente, cada romance revelará um determinado autor-implícito – o conjunto de pontos
coloridos dispostos pelo movimento de criação junto às paredes de espelhos no
caleidoscópio. Seu perfil e consistência, adensando-se à medida que o fluxo narrativo
prossegue, transparecerão, por fim, numa imagem completa para o leitor.
(DAL FARRA, 1976, p. 21)

No caso do romance Algún amor que no mate é evidente que a escolha pela narração
em primeira pessoa possibilita a exploração acerca das emoções da narradora-personagem e da
amante.
Entretanto, talvez seja viável o questionamento sobre quais efeitos de leitura o uso deste
código promove.
A leitura de Algún amor que no mate nos parece um exercício de intimidade entre a
narradora - ou as narradoras, se considerarmos a amante como uma segunda narradora - pois
ela traz detalhes sobre a sua vida dentro do espaço privado, relatando vários momentos de seu
casamento e da violência que sofreu.
Outro efeito possível seria dado pelo tom da narrativa que é informal, próximo à
oralidade, como se a narradora estivesse no nosso aqui agora, nos contando tudo o que
aconteceu. Diante disso é que talvez o leitor, a partir de um determinado momento, esteja imerso
e convencido pelas emoções da narradora.
Uma narrativa em terceira pessoa também poderia apresentar um tom de conversa, mas
a diferença neste caso reside na proximidade com que essa história é contada. O “eu” desta
narração está muito exposto, inclusive pelo conteúdo desagradável que está narrando. Tanto é
que no romance muitos episódios vividos pela narradora são contados como se tivessem
acontecido com outra pessoa (Prudência) e não com ela mesma.
Ademais, a narradora expõe suas emoções de forma tão profunda que observando a obra
em sua totalidade, outro efeito de leitura possível seria o desenvolvimento de uma empatia entre
o leitor e a temática da violência de gênero. E considerando a atualidade deste tema, são
importantes os meios, como a literatura, que facilitem a sensibilização para este debate. No caso
do romance, pode-se dizer que oferece bastante contribuição nesse sentido, por apresentar
através do jogo narrativo, a violência contra a mulher.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

O CONTATO LINGUÍSTICO DO ESPANHOL DOS BOLIVIANOS (E) COM O


PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB) NA CIDADE DE GUARULHOS: ALGUNS
RESULTADOS

Diogo dos Santos Silva, UNIFESP


Silvia Etel Gutiérrez Bottaro, UNIFESP

Palavras-chave: alternância de códigos; bolivianos; contato linguístico; espanhol; português


brasileiro.

Este trabalho apresenta alguns dos resultados de nosso estudo que teve como propósito
analisar a condição linguística dos bolivianos que vivem na periferia da cidade de Guarulhos-
SP. Bem como observar e descrever as ocorrências linguísticas, históricas e sociais dessa
comunidade, nosso objetivo foi também investigar a situação de contato entre línguas próximas,
o espanhol e o português brasileiro.
Associados às diversas pesquisas da área da Sociolinguística, das Línguas de contato e
dos Estudos Comparados (TARALLO & ALCKIMIN,1987; MORENO,1998; BOTTARO,
2002; ROBIM, 2017) investigamos o contato do português brasileiro (PB) com o espanhol (E)
e os fenômenos linguísticos nas quais se encontram presentes na comunicação entre essas duas
línguas, tais como: alternância de códigos, as transferências (lexicais e morfossintáticas) e a
mescla linguística.
Para uma melhor compreensão da situação de contato, reconstruímos o caráter sócio-
histórico da imigração boliviana no Brasil, especificamente na região metropolitana de São
Paulo, (RMSP) na qual a cidade de Guarulhos pertence (BAENINGER, 2012; AGUIAR, 2009),
como consequência do processo de migração boliviana que vem acontecendo desde os anos 50.
Para cumprir com nossos objetivos, realizamos um trabalho de campo utilizando
técnicas da Sociolinguística, como a observação do participante e a entrevista sociolinguística.
A amostra de nosso estudo está formada por 12 entrevistas, com informantes de ambos os sexos
e com idades entre 12 e 45 anos.
Em seguida, apresentamos um excerto da análise linguística realizada nas respectivas
áreas gramaticais em que observamos os fenômenos de transferência, transferências lexicais e
alternância de códigos (code switching)/mescla linguística, que surgem como consequência do
contato entre o português brasileiro (PB) com o espanhol (E) boliviano.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Através da análise linguística constatamos a presença do fenômeno de transferência


que pode ser definido como “elementos transferidos da língua nativa para língua alvo” (C.
Silva-Corvalán, 1994). Logo após, apresentamos as áreas gramaticais analisadas por meio dos
exemplos extraídos da amostra. Seguem exemplos de transferências:
(1)... com ϴ minha mãe e com ϴ minha irmã e com ϴ meu padrasto...(Informante
AH1, 14 anos, Grupo A)
(2) ...isso…. um poco de aymará… não muito. No corretamente…mais o básico…? Ai
maiormente um povo... (Informante C8H, 45 anos, Grupo C)

No exemplo (1), observamos a ausência dos artigos diante dos pronomes possessivos
que é uma possível transferência da gramática do E, uma vez que não se emprega artigos na
frente dos adjetivos possessivos na língua espanhola. Entretanto, conforme a gramática de usos
do português “não é necessário, (...) que ocorra nenhum determinante antes do grupo formado
por possessivo + substantivo, isto é, essa posição pode estar vazia” (Moura Neve, 2002:475
apud Bottaro, 2002: 85). Como vemos, no sistema gramatical do PB o emprego de possessivos
com ou sem determinantes é opcional e na amostra constatamos certa variação.
Vejamos no exemplo (2), o emprego de advérbios do sistema E, majoritariamente são
advérbios de negação e de frequência: poco e siempre e o por fim. O sufixo –mente são
empregados em abundância ao longo da amostra, sabemos que estes advérbios estão presentes
em ambos os sistemas e novamente nos deparamos com a proximidade entre eles.
A mescla linguística também está presente nesta amostra a identificamos por meio da
análise de dois fenômenos linguísticos: a alternância de códigos (code switching) e as
transferências lexicais. A alternância de códigos ou mescla linguística conforme Moreno
(Moreno:268) é um fenômeno que consiste na justaposição de orações em línguas diferentes no
discurso de um mesmo falante. Os autores Tarallo & Alkimin (op.cit.:13) reafirmam o conceito
e tratam a alternância de código como estado de mescla genuína, isto é, duas línguas em uma
mesma discurso. Para Silva-Corvalán (1989) as transferências lexicais podem manifestar-se
em ordem lexical, morfossintática e fonológica.
Vejamos outros exemplos presentes na amostra:
(3) Oh...no… al año una só vez...(Informante B6M, 21 anos, Grupo B)
(4)... eu ver nois fazemos todo de aqui de Brasil...lo que aqui hacen. de allá::: a ver
televisão daqui. radio ::: radio de allá da Bolívia ...(Informante B6M, 21 anos, Grupo
B)

Nestas sentenças podemos observar algo em comum, os informantes começam falando


em uma língua, e em seguida vemos que há elementos de outra e logo retomam a língua anterior,
isto é, há uma alternância dentro da mesma sentença. Os informantes também realizam
17
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

transferências de ordem lexical e morfosintáticas: advérbios, verbos, adjetivos, artigos


numerais, etc. como podemos destacar no exemplo (3).
No exemplo (4) observamos as estruturas do sistema E, como por exemplo, a
informante opta pelo uso da forma todo em lugar de tudo. Porém, em espanhol não há distinção,
conta apenas com todo para o masculino singular, quanto às generalizações (neutro) (Robim,
2015). Ainda neste exemplo a informante utiliza uma estrutura típica da língua espanhola, a
preposição de + dêitico locativo “de aquí”. Para um falante nativo do PB o mais esperado seria
a contração da preposição de + o dêitico locativo daquí. Novamente estamos diante de dois
casos de transferência da língua nativa do informante para a língua alvo, no caso o português
falado por esse grupo.
O processo de análise linguística nos permitiu identificar consequências geradas a partir
do contato entre línguas. As constatações foram: (i) os fenômenos linguísticos mais comuns são
as transferências (lexicais e morfossintáticas ) e alternância de códigos, (ii) o processo de
hibridização linguística acontecem ainda que em pequeno grau e (iii) nos fatores
extralinguísticos correlacionamos, o grupo de maior idade apresentou um maior número de
transferências.
Nossa investigação possibilitou evidenciar a situação linguística dos imigrantes na
cidade de Guarulhos e a presença de uma língua minoritária que está presente no país há mais
de 30 anos e desde a década de 1980 no estado de SP. Ademais devemos ressaltar o preconceito
linguístico que sofrem os bolivianos por não dominar o PB bem como relatar a ausência de
políticas públicas voltadas para o novo cenário de línguas faladas no Brasil. Julgamos também
ter aprofundado os estudos sobre o contato linguístico entre o PB e o E, corroborando para as
pesquisas sociolinguísticas e no campo dos estudos comparados.

Referências bibliográficas

AGUIAR, Ana Lídia O. Os bolivianos na periferia de Guarulhos, UNIFESP, São Paulo,


2009.
BAENINGER, R. (org). Imigração boliviana no Brasil. Campinas: Núcleo de estudos da
população – Nepo/UNICAMP, 2012.
BOTTARO, Silvia Etel G.: “O entreberado, esa língua que inbentemo aqui”: O contínuo
lingüístico na região fronteiriça Brasil - Uruguai. Dissertação de Mestrado. DLM∕FFLCH-
USP, São Paulo, 2002.

18
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

GONZÁLEZ, Neide T. Maia. KULIKOWSKI, María Zulma Moriondo. Brasil: La justa


medida de una cercanía lingüística, São Paulo, USP, 1999.
MORENO, Francisco Férnandez. Principios de Sociolingüística y Sociología del lenguaje,
Barcelona, Ariel Letras, 1998.
ROBIM, Renie. Construções pronominais e verbos existenciais:comparação da escrita de
alunos bolivianos e descendentes de primeiras geração com alunos brasileiros sem
nenhuma ascendência hispânica. Dissertação de mestrado USP, São Paulo, 2017.
ROCHA, Maurício J da C: Dissertação de Mestrado: Da flor dos Andes a qhathu no Pari.
Memórias discursivas e deslocamentos na Feira Kantuta. USP, São Paulo. 2015. Disponível
em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-06082015-103616/pt-br.php>.
Acessado em 17/01/2016
TARALLO Fernando & ALKIMIN, Tania, Falares Crioulos: Línguas em Contato, São
Paulo, Ed. Ática, 1987.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

O VOSEO CHILENO: POLÍTICAS, USOS, INTENSIDADE E PRESTÍGIO

Kamila Arão dos Santos Rojas


Orientadora: Silvia Etel Gutierrez Bottaro

O presente resumo se refere ao projeto de pesquisa de iniciação científica na área da


sociolinguística.
A dialetologia hispano-americana considera o uso do voseo um dos indícios
fundamentais para a classificação do espanhol da América em grupos dialetais (HELINCKS,
2010). No dialeto chileno encontramos várias nuances interessantes do ponto de vista
sociolinguístico, inclusive o uso intermitente do chamado voseo.
Denomina-se voseo ao uso do pronome pessoal vos em lugar da segunda pessoa tú para
aludir a um único interlocutor. Sobre a origem deste uso, muitos pesquisadores coincidem na
complexidade que consiste determinar a origem dos usos do voseo em séculos anteriores ao
XX, entretanto, sabe-se que desde o espanhol peninsular antigo (ROJAS, 2003 in
RESNICK,1980), no tratamento a inferiores ou no convívio íntimo a iguais, era comum usar o
tú e que o pronome vos se usava para os outros casos mais formais.
Quando usted (procedente de vuestra merced) se fortaleceu como forma de tratamento
respeitoso, o tú se firmou como forma de tratamento coloquial e familiar.
As colônias americanas adotaram rapidamente o usted, mas em algumas regiões, talvez
pela distância dos bi-reinados, o vos permaneceu, evoluindo, isso sim, para uma forma de
tratamento informal. Alguns países mantiveram seu uso e, atualmente, o voseo é uma
característica linguística muito forte desses países.
No Chile esse fenômeno linguístico é verificado na fala informal dos falantes nativos e
contém características morfológicas peculiares com relação às formas usadas em outros países
da América Latina, já que a variedade voseante chilena representa um número de conjugações
verbais mais alto: o voseo é elaborado em quase todos os tempos e modos, além de ter uma
desinência particular na primeira conjugação, inexistente em outros países, em combinação com
a segunda e terceira conjugações.
A título de exemplo, mencionaremos as conjugações dos verbos Hablar, Comer y Ser
de acordo com as formas de uso do espanhol standard, do espanhol rio-platense e do espanhol
chileno respectivamente na segunda pessoa do singular do tempo presente do modo indicativo
que corresponderiam a: hablas/ hablás/ hablái; comes/ comés/ comí; eres/ sos/ erí ou soi.

20
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Nosso projeto tem como objetivo geral aprofundar os estudos a respeito do fenômeno
linguístico denominado voseo no espanhol do Chile e como objetivos específicos, basear-nos
nas pesquisas sociolinguísticas (MORENO DE ALBA (2007); BAGNO (2002); HELINCKS
(2010); PETTORINO (1972-1973, 1998), ARAÚJO (2013) e de política linguística (CALVET
(2002); TARALLO (1985)) para: 1) demonstrar as particularidades deste fenômeno linguístico
em comparação com os demais países voseantes da América Latina; 2) analisar as atitudes
linguísticas e a questão do prestígio das formas de voseo no Chile e 3) verificar se há políticas
linguísticas que tratam a respeito da diversidade linguística no Chile, e, havendo, se incentivam
ou desanimam o uso destas formas tão características e representativas da fala dos chilenos.
A amostra do nosso estudo está constituída por um questionário e entrevistas orais sobre as
atitudes linguísticas, que será aplicado a 20 informantes chilenos, de ambos os sexos, de
diferentes faixas etárias e escolaridade.
Algumas perguntas nortearão nossa pesquisa. São elas:
1) Quais são as condições necessárias no ato da comunicação para o tratamento voseante
no Chile?
2) Qual a extensão territorial do uso dessa forma de tratamento?
3) Os níveis socioeconómicos e de escolarização influenciam no uso/desuso da mesma?
4) Há no país políticas lingüísticas referentes a esse uso/desuso?
5) O voseo no Chile desperta atitudes positivas ou negativas em seus falantes?
Para cumprir com os nossos objetivos, primeiramente realizaremos a revisão da literatura e
posteriormente a quantificação dos dados e os correlacionaremos com os fatores
extralinguísticos (sexo, idade, escolaridade), depois passaremos à análise qualitativa dos dados
referentes às atitudes linguísticas atribuídas às formas do voseo chileno na atualidade.
O estímulo para estas indagações e a fundamentação teórica desta pesquisa florescem das
palavras de Torrejon (1986, apud Moreno de Alba (2007, p. 172), quando diz que “el voseo
mixto es cada vez más frecuente en Chile entre los jóvenes y adultos y cada vez está siendo
objeto de menor censura por parte de los mayores”.
Conforme Cifuentes (2017, p. 6) são insuficientes a “cantidad de estudios dedicados a los
estudios glotopolíticos en Chile. Esto es aún más patente en el caso de la Academia Chilena,
donde existen solo unos pocos trabajos exploratorios dedicados a estudiarla como sujeto
glotopolítico relevante en el contexto nacional”. Ele ainda afirma que “el uso del lenguaje
supone una intervención sobre su contexto de uso, por lo que su estudio debe considerar la
dimensión formal siempre en conjunto con su dimensión social”.

21
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Magalhães (2011) aput Calvet (2002, p. 65) mostra que a relação entre o falante e sua língua
nunca é neutra e argumenta que “existe todo um conjunto de atitudes, de sentimentos dos
falantes para com suas línguas, para com as variedades de línguas e para com aqueles que as
utilizam”. Não é a toa que comumente as pessoas são julgadas pelo seu modo de falar.
Para concluir, acreditamos que com este estudo estaremos contribuindo para conhecer a
respeito do emprego deste fenômeno linguístico e as conotações sociais presentes nas diferentes
regiões do Chile e como estas se refletem nas atitudes linguísticas dos seus falantes. Nesse
sentido estamos de acordo com Tarallo (1985, p.14) quando afirma que “as atitudes linguísticas
são as armas usadas pelos residentes para demarcar seu espaço, sua identidade cultural, seu
perfil de comunidade, de grupo social separado”. Mapear essas armas e seus contextos de uso
são o afã deste estudo.

Referências bibliográficas

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. O que é, como se faz. 17. ed. São Paulo: Loyola,
2002.
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística, uma introdução crítica. Trad. Marcos Marcionilo. São
Paulo: Parábola, 2002.
CIFUENTES, Juan. Ideologías lingüísticas en Chile: el Boletín de la Academia Chilena de la
Lengua (1915-1931). Santiago do Chile: Informe final de Seminario de Grado para optar por al
grado académico de Licenciado de Lengua y Literatura Hispánicas con mención en Lingüística da
Universidad de Chile, 2017.
HELINCKS, Kris. La variación estilística y social del voseo chileno: Un estudio
sociolingüístico cuantitativo y cualitativo. Faculteit Letteren en Wijsbegeerte, 2010.
MORALES, Félix Pettorino. El voseo en Chile, en Boletín de filología, XXIII/XXIV: 261–273,
1972–1973.
MORALES, Félix Pettorino. Panorama del voseo chileno y rioplatense, en Boletín de filología,
XXXVII (2): 835–848, 1998–1999.
MORENO de ALBA, José G.Introducción al español americano. Madrid: Arco Libros, 2007.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ed. Ática S.A., 1986.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

O “PACTO DE SILÊNCIO”, A MEMÓRIA COLETIVA E AS HISTÓRIAS EM


QUADRINHOS NA ESPANHA CONTEMPORÂNEA.

Jorge Edson
Mestrando em História – Unifesp
Orientadora: Ana Nemi
Pós-Doutorado em História, pela USP e Universidade Lisboa

O “Pacto de Silêncio”, Memória Coletiva e Histórias em Quadrinhos


Em 27 de dezembro de 2007, durante o governo do Primeiro-Ministro José Luis
Rodriguez Zapatero, o Congresso dos Deputados na Espanha, aprovou a Ley 52/2007,
sancionada pelo Rei Juan Carlos I5. A Lei de Memória Histórica, como ficou conhecida, procura
estabelecer um discurso em defesa à democracia, condenando todas as barbáries promovidas
durante os anos da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e da Ditadura Franquista (1939-1975),
e suas atrocidades as liberdades políticas, ideológicas, religiosas, sociais e econômicas.
Com fim do regime franquista, deu-se início ao processo de transição na Espanha,
procurando estabelecer um acordo social, que proporcionasse uma transição pacífica para a
democracia. O acordo feito com as elites franquistas, remanescentes do regime, consideradas
“vitoriosas”, os “derrotados” republicanos, e grande parcela da sociedade, resultou no processo
de anistia política e ao chamado “pacto de silêncio”. Um processo, que para Helen Graham, foi
o ordenador dos mecanismos de censura e autocensura da ditadura na democracia, não
ocasionando um espaço público de discussão e reparação da memória social.
O direito a lembrança e ao esquecimento, fornecem uma dualidade na memória.
Segundo Le Goff “o estudo da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os
problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a memória está ora em retraimento,
ora em transbordamento”6. Os transbordamentos e os retraimentos da memória evidenciam-se
nesses eventos traumáticos do século XX, na qual o silêncio, por muitas vezes, é gerado pelos
indivíduos ou negado a eles, pela sociedade assim como ocorreu na Espanha, pelo “pacto de
silêncio”. Assim, a aprovação da Lei de Memória Histórica em 2007, as manifestações
individuais e coletivas e de instituições como da ARMH (Associação para a Recuperação da

5
Juan Carlos, foi nomeado rei da Espanha, e exerceu o título entre os anos de 1975 à 2014, quando abdicou ao
trono.
6
LE GOFF, Jacques. História e Memória. UNICAMP. 1990. p. 368
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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Memória Histórica), promovem na sociedade espanhola, principalmente no âmbito cultural e


social, discussões em torno da rememoração a este passado. Um passado que, como aponta
Maria Cristina Martinez7, produziu indiretamente um impacto, nas gerações de espanhóis que
surgiram entre os anos de 1950 e 1960, ainda com a Ditadura Franquista vigente, e que
consequentemente formaram as bases da sociedade espanhola contemporânea.
O impacto promovido por essas ações, se tornaram evidentes na indústria cultural, e
principalmente, se tornaram um reflexo narrativo nas Histórias em Quadrinhos espanholas.
Dentro desse panorama, o boom editorial das Graphic Novels no mundo, teve na Espanha, um
terreno a ser desenvolvido. Para Santiago Garcia “os autores espanhóis parecem concentrados
em descobrir novos campos temáticos - a memória pessoal ou histórica, a biografia (...)”8. Esses
campos temáticos, foram abordados e desenvolvidos em obras significativas, que se tornaram,
nos últimos anos, referências no universo dos Quadrinhos espanhóis. Autores como Paco Roca
em “Los Surcos Del Azar” (2013), “El Invierno Del Dibujante”(2010), Carlos Gimenez, em
sua série “Todo: 36-39.Malos Tiempos” (2011), ou “Un largo Silencio” (2012), de Miguel
Galhardo, isso para citar algumas, contribuíram de forma significativa para a construção de uma
memória coletiva, em relação ao século XX espanhol, constituída de testemunhos e memórias
individuais.
Um dos principais escritores, tendo essa temática como base é Antonio Altarriba. Dentre
inúmeras narrativas publicadas, o escritor e professor de literatura, em parceria com Kim,
publicaram obras como “El Ala Rota” (2016), que narra a história de Petra, mãe de Altarriba.
Uma mulher que procurou silenciar-se, para proteger os entes queridos durante a Ditadura
Franquista. A obra de mais sucesso “El Arte de Volar” (2008), apresenta a trajetória do Pai
(Antonio Altarriba Lope), um anarquista que vivenciou os conflitos promovidos pela Guerra
Civil, o cotidiano dos campos concentração, as dificuldades do exílio, a resistência ao Fascismo
e os impactos da Ditadura Franquista que resultaram no seu suicídio, aos 90 anos de idade.
Dessa forma, ao pensarmos as Graphic Novels, como objetos culturais, fruto e reflexo
de um momento de resgate e preservação da memória na Espanha, podemos acreditar que
existe, uma tentativa de mobilização social em prol da memória coletiva como apontada por
Maurice Halbwachs. Para o estadunidense David Lowenthal, “relembrar o passado é crucial
para nosso sentido de identidade: saber o que fomos confirma o que somos”9, ainda segundo

7
MARTINEZ SOTO, Maria Cristina. Os silêncios Falam. In: José Carlos Sebe Bom Meihy (org.). Guerra Civil
Espanhola: 70 anos depois. EdUSP. São Paulo, 2011. p.214
8
9
LOWENTHAL, David. Como conhecemos o Passado. São Paulo, 1998. p.83
24
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Lowenthal, “os grupos também mobilizam lembranças coletivas para sustentar identidades
associativas duradouras (...)10”. Assim, entendemos que a identidade seja ela individual ou
coletiva, entrelaçada pela memória, proporciona uma construção social e nacional,
transcorrendo a construção do presente, pela rememoração do passado.
As obras citadas, possuem por objetivo resgatar e transmitir a memória, de indivíduos que até
então, estavam esquecidos pela História “oficial”. Ao representar essas memórias, as Histórias
em Quadrinhos, apresentam-se como uma fonte de extrema potencialidade, para compreender
o século XX, dialogando diretamente com os objetivos da Lei de Memória Histórica, políticas
de memória da ARMH e as reivindicações sociais, pertinentes ao contexto atual.

10
Ibidem. p.84
25
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

DOM QUIXOTE DE LA MANCHA: A ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA COMO


INSTRUMENTO DE TRABALHO DIDÁTICO LITERÁRIO

Egirlandia Mendes Pinheiro


Orientadora: Profª Dra. Ana Lúcia Moura Novais
Faculdade Sumaré

RESUMO: O trabalho configura-se em apresentar uma proposta de ampliação do trabalho


pedagógico com o envolvimento do filme Don Quijote (2000), relacionando-o ao
ensino/aprendizagem de literatura em aulas de espanhol como língua estrangeira. A partir de
uma pesquisa bibliográfica e uma análise comparativa entre o clássico Dom Quixote de La
Mancha (1605) e o filme Don Quijote (2000), foi possível observar que o uso da adaptação
cinematográfica pode potencializar o ensino/aprendizagem de literatura e também linguístico,
na medida em que é usada como um recurso que não substitui a obra literária.

PALAVRAS-CHAVE: adaptação cinematográfica; Dom Quixote; leitura literária.

Introdução

O mundo hodierno fez com que novas tecnologias chegassem às escolas, oferecendo
aos docentes novos materiais para o aprimoramento de suas práticas pedagógicas. Se
antigamente para o ensino/aprendizagem era a proximidade entre professor e aluno que
contribuía para o êxito no que se refere ao apoderamento de informações propagadoras de
conhecimento, os atuais avanços das tecnologias, sejam elas da informação ou da comunicação,
transformaram o cenário da escola, que pode não ser mais considerada como a única
transmissora de conhecimento.
Diante disso, visou-se responder às seguintes questões: (a) Como a mídia audiovisual,
neste caso uma adaptação cinematográfica, pode ser usada como ferramenta de
ensino/aprendizagem? (b) Quais possíveis abordagens os docentes poderão utilizar para
desenvolver suas práticas pedagógicas trabalhando com uma adaptação cinematográfica de uma
obra literária?
Partiu-se da hipótese de que a adaptação da obra Dom Quixote de La Mancha para o
cinema, assim como outras adaptações que dialogam com correntes literárias, por suas
inovações no tocante à produção dramática e cênica, podem ser exploradas pelo docente nas

26
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

aulas de literatura espanhola. Desta maneira, abordando maneiras de usufruir da mídia


audiovisual, neste caso o cinema, como um canal de formação e não apenas entretenimento, o
trabalho apresenta uma proposta de ampliação do trabalho pedagógico com o envolvimento do
filme Don Quijote (2000), relacionando-o ao ensino/aprendizagem de literatura em aulas de
espanhol como língua estrangeira.
A proposta se encaixa no que Moran (1995, p.7) classifica como “vídeo espelho”, onde
é feita uma comparação entre uma obra literária e a adaptação para a linguagem
cinematográfica, para que semelhanças e diferenças sejam destacadas através de uma análise
contrastiva. Outrossim, a proposta visa a produção de “vídeos como expressão”, que voltada à
sensibilidade, dá ao aluno a oportunidade de fazer a sua própria adaptação cinematográfica.
Para o autor, a escola deve incentivar a produção em vídeo, pois a mesma abarca um espaço
lúdico, onde o manuseio da câmera permite que os alunos brinquem com a realidade, e
moderno, pois é um meio que integra outras linguagens.

Métodos

Para a pesquisa foram realizados levantamentos de cunho bibliográfico acerca do uso


da mídia audiovisual em sala de aula, e desta maneira, por intermédio das fundamentações
teóricas de Napolitano (2003) e Moran (1995), foi possível reunir materiais fundamentais para
o desenvolvimento do trabalho, e que auxiliam no processo de inserção da mídia audiovisual
no contexto sala de aula; utilizando-a como um recurso complementar que não substitui a obra
literária. Assim, foi realizado um estudo comparativo da primeira saída do personagem Dom
Quixote em Dom Quixote de La Mancha (1605), de Miguel de Cervantes, e na adaptação
cinematográfica Don Quijote (2000) com vistas ao desenvolvimento da proposta didática a ser
desenvolvida em aulas de espanhol como língua estrangeira no que concerne ao ensino de
literatura que abarca a disciplina.

Resultados e Discussões

Através de uma análise contrastiva, percebeu-se que de uma maneira geral, a adaptação
cinematográfica tenta reproduzir, com certo êxito, as características dos personagens, a
ambiência da obra literária e o seu enredo, onde são acrescentados novos elementos, assim
como alguns são extraídos ou mudados de sequência. A relação entre o enredo da obra literária

27
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Dom Quixote de La Mancha com a referida adaptação cinematográfica, por esta apresentar uma
sequência diferente, enriquece o trabalho de cunho comparativo entre ambas as obras mediado
pelo professor, e contribui para que este ofereça subsídios para que o aluno prossiga a leitura
das demais aventuras do Quixote.

Conclusões

O trabalho evidenciou que formas de tratar a literatura em sala de aula podem surgir ao
serem observadas as suas confluências com outros suportes, que por fazerem parte do contexto
social de modo geral, podem servir para potencializar o alcance das obras literárias. Através da
análise comparativa da primeira saída de Dom Quixote na obra literária e na adaptação
cinematográfica Don Quijote (2000), foi possível constatar que pelas semelhanças e diferenças,
a referida adaptação configura-se em uma ótima ferramenta de trabalho comparativo. Ademais,
foi evidenciado durante a elaboração deste, que a obra cinematográfica oferece além de um
estudo literário comparativo, um trabalho voltado para a análise linguística entre a linguagem
culta de Dom Quixote e a linguagem vulgar de Sancho, o que possibilita novas indagações
acerca do uso da mídia audiovisual em aulas de espanhol como língua estrangeira.

Referências bibliográficas

CERVANTES, Miguel de. Don Quixote de La Mancha. Ed. ALBA. Madrid; LIBSA, 2002.
MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Revista Comunicação & Educação. São Paulo,
ECA-Ed. Moderna, [2]: p. 27-35, jan./abr. 1995.
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 4. Ed., São Paulo: Contexto,
2009.

Audiovisuais

Don Quijote. Adaptação norte americana, dirigida por Peter Yates, 2000.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

LITERATURA Y PSICOANÁLISIS: UN ANALISIS DE GRACIELA DE


PRIMAVERA CON UNA ESQUINA ROTA, DE MARIO BENEDETTI

Aline Expedita
Graciela Foglia

O exílio é um tema recorrente na obra de Mario Benedetti. O autor, nascido em 1920,


desde muito jovem começou a interessar-se pela política de seu país, tornando-se um ativista
político. Em 1967, juntamente com outros membros do Movimiento de Liberación Nacional-
Tupamaros funda o Movimiento de Independientes 26 de Marzo. O grupo junta-se à coalizão
Frente Amplia. Depois do golpe de 27 de junho de 1973, Benedetti parte para o exílio, primeiro
no Peru, depois em Cuba e na Espanha. Ao todo foram doze anos exilado e, durante esses anos,
escreve diversos trabalhos, entre eles Primavera con una esquina rota, que tem como tema
central o exílio.
O papel das mulheres na obra de Benedetti, particularmente naqueles em que a questão
central é o exílio, passa por uma transformação no que se refere à suas tarefas sociais: as
mulheres, no contexto das ditaduras, não são apenas mães, esposas e donas de casa, são agora,
ao lado do homem, mais uma militante com responsabilidades políticas. A figura feminina
passa a ter uma consciência sociocultural, no entanto, seu papel como mãe e esposa não é posto
de lado, o que pode causar um conflito interno, conflito que se apresenta na personagem
Graciela, que é analisada no artigo.
De acordo com o que afirmava Sigmund Freud em O mal-estar da civilização (1929) é
possível observar que a maioria dos indivíduos é capaz de conduzir grande parte das forças
resultantes do instinto sexual para sua atividade profissional. A pulsão sexual é favorecida com
uma capacidade de sublimação, isto é, pode substituir seu objetivo imediato por outros sem
conotação sexual, que podem ser manifestados por meio da arte e da cultura. Desta maneira, é
correto afirmar que a sublimação da pulsão individual tem um importante papel no
desenvolvimento da vida em sociedade. É a psicanálise, pois, que pode explicar a oposição
entre o individual e o coletivo, colaborando para a valorização da cultura, sobretudo, por meio
do uso da linguagem como uma das ferramentas pela qual os desejos inconscientes poderiam
se apresentar.
Tendo isto em vista, segundo Jean Bellemin – Noël (1978), é por meio da literatura que
tomamos consciência de nossa humanidade, que pensa, que fala. É pela literatura que o homem

29
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

interroga a si mesmo, pensa sobre seu destino, sua história, seu funcionamento social e mental.
A literatura nos indica quem fomos e quem somos. Pensando nisto, a personagem Graciela foi
analisada sob uma perspectiva psicanalítica. Abaixo estão alguns dos resultados obtidos na
análise: São sete capítulos que dão voz à Graciela, eles são intitulados “Heridos y contusos” e
demonstram como Graciela se sente: ferida e machucada. São narrados por um narrador
observador e estão repletos de diálogos entre Graciela e os demais personagens da obra.
Graciela é uma mulher que aparenta ter entre 32 e 35 anos; ela não gosta do seu trabalho
como secretária e está deprimida, também pelo fato de estar lutando uma batalha interna sobre
contar ou não, por meio de carta, para o marido que está preso há quase cinco anos que ela não
o deseja mais. Ela, que segue os mesmos valores revolucionários que o marido, o vê agora
apenas como amigo de militância, não como homem. Graciela tem medo de que se contar para
Santiago que não o quer mais poderá destruí-lo, entretanto, guardar esse sentimento está, na
verdade, destruindo-a. É esse conflito que Graciela enfrenta durante o livro: contar ou não
contar? O capítulo “Heridos y contusos (hechos políticos) ” começa com um diálogo entre mãe
e filha. Aqui o narrador é muito mais descritivo do que no capítulo que inicia o livro; descreve
a filha e suas roupas, a mãe e seus comportamentos. Há neste capitulo uma série de indagações
tanto da pequena quanto da mãe, o que nos mostra o caráter reflexivo dos únicos personagens
femininos da obra. Neste primeiro momento Benedetti nos apresenta uma Graciela dona de
casa, mãe, modesta, tensa e um tanto desinteressada com os assuntos da filha. É inteligente,
sabe, quando quer, como responder as perguntas da filha de modo que a menina se sinta
satisfeita; é uma mulher de boa oratória. Vemos também que Graciela admira seu marido e se
inspira nele quando diz que falta muito para que seja uma mulher de cultura política como ele,
entretanto, esta admiração pode ser um dos mecanismos de defesa proposto por Freud: a
introjeção que consiste em incorporar qualidades positivas de uma pessoa a fim de beneficiar o
próprio ego. É possível inferir que a personagem concorda com os ideais políticos de Santiago
e acredita que ele está preso por um bom motivo.
Freud introduziu na psicanálise um modelo estrutural da mente humana dividido em três
partes que o ajudou a explicar as imagens mentais de acordo com seus propósitos e funções: id,
ego e superego. O id é a parte da mente humana que não tem qualquer contato com o mundo
externo e é totalmente inconsciente: sua única função é buscar o prazer e satisfazê-lo. O ego é
a única região da mente que tem contato com o mundo real, ele segue o princípio da realidade
e é a parte que toma as decisões pessoais. Estas decisões podem ser inconscientes, pré-
conscientes e conscientes. O superego representa os aspectos morais e ideias da personalidade;

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

não tem contato com o mundo externo, de forma que é irrealista em suas demandas por
perfeição. Através do diálogo entre Graciela e sua amiga Celia no capítulo “Heridos y contusos
(un miedo espantoso)” fica claro a divagação da esposa de Santiago entre o superego e o id.
Ora Graciela se culpa por sentir necessidade de fazer sexo com outra pessoa, ora crê que isso é
biológico no ser humano. Para Freud, uma pessoa em que o superego domina o id e o id domina
o ego, é uma pessoa carregada de culpa ou com sentimentos de inferioridade que pode
desenvolver a autopunição.
Benedetti nos mostra o mais profundo de Graciela diante da situação do exílio. A esposa
de Santiago demonstra sua confusão sentimental dizendo saber o que passa com ela, mas por
outro lado, diz que tem noção de que não confessa a ela mesma seus sentimentos, ou seja, a
moça sabe conscientemente o que sente, mas não quer sentir. Neste momento fica claro a
importância de Graciela mergulhar em si mesma e se autoconhecer, ou melhor, se reconhecer.
Compreender a relação psicanálise-literatura que se dá através do mecanismo de defesa
da sublimação convertido na arte de escrever, foi fundamental para a análise psicanalítica da
personagem estudada. Sabemos que qualquer forma de literatura, seja ela teatral, poética ou
literária é sempre uma maneira de interpretar uma sociedade.
Conclui-se que fazer usos dos conceitos da psicanálise freudiana para a interpretação
que busca um sentido nas ações de um personagem ficcional mostrou que seu autor calculou,
cuidadosamente, cada característica e cada ação da personagem em questão a fim de criar uma
identificação do público com ela e, o que faz com que uma obra conquiste um lugar de evidência
na cultura é exatamente isto: sua capacidade de causar uma identificação do leitor com o
personagem e é esta identificação do leitor com Graciela que a torna tão humana. Graciela é,
pois, uma mulher que sente, que sofre e que tem papeis dentro de uma sociedade, sociedade
esta nova para ela que busca aprender a lidar com conflitos internos que estão a todo momento
tornando-se sintomas, perturbando assim, sua vida.

Referências

BENEDETTI, Mario. Primavera con una esquina rota. Buenos Aires, Editorial Sudamericana,
2000.
BELLEMIN-NÖEL, Jean. Psicanálise e Literatura. Tradução de Álvaro Lorencini e Sandra
Nitrini. São Paulo: Cultrix, 1978.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

FEIST, Jess, FEIST, Gregory, ROBERTS, Tomi-Ann. Teorias da personalidade. Tradução:


Sandra Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015.
FREUD, Sigmund (1929). Mal estar na civilização. Trad. Paulo Cesar Souza. São Paulo: Cia
das Letras, 2011. Vol. 10.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

LITERATURAS, ARTES E DITADURAS NO SÉCULO XX

Angela Susco Dib11


Iago Victor12
Nathalia Schimith13

INTRODUÇÃO
Este breve ensaio é o resultado dos estudos e análises que compuseram o plano
pedagógico do curso de extensão “Compreensão leitora e auditiva de produções artísticas em
língua espanhola dos períodos de ditaduras latino-americanas do século XX” ofertado na
Universidade Federal de São Paulo no ano de 2017. Este ensaio tem como objetivo principal
traçar um panorama sobre as principais ditaduras do século e apontar particularidades do campo
artístico e mais especificamente do campo da literatura nos países latino americanos no século
XX.

AS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
Os períodos de ditaduras foram marcados, no campo artístico, pela forte repressão
contra os artistas, jornalistas e escritores. Seja na música – com Mercedes Sosa – seja na
literatura – com Mario Benedetti – a arte foi fortemente explorada pelos artistas dos períodos
de ditadura para veicularem ideais contrários ao autoritarismo que era empregado pelos
governos. No campo da música teve-se, por exemplo, o movimento que se denominou La nueva
canción latinoamericana, que era um contraponto ao regime imperialista estadunidense dos
anos 60 e que era formado principalmente a partir das manifestações culturais latino-
americanas.
Velasco (2007) explica de forma sucinta algumas dessas características e que são
pertinentes para este estudo:
Los inicios de la Nueva Canción Latinoamericana podemos situarlos en el surgimiento
de una serie de trabajos musicales que se dieron a lo largo y ancho de América Latina,
hacia finales de los años cincuenta y durante la década del sesenta. Nos referimos
específicamente al Nuevo Cancionero en Argentina, al Nuevo Canto en Uruguay, a
La peña de los Parra chilena, a Carlos Puebla y la Nueva Trova Cubana, a la Bossa

11
Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Letras – Português e Espanhol pela Universidade Federal de São
Paulo.
12
Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Letras – Português e Espanhol pela Universidade Federal de São
Paulo.
13
Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Letras – Português e Espanhol pela Universidade Federal de São
Paulo.
33
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

Nova y el Tropicalismo, entre otras manifestaciones de carácter similar (VELASCO,


2007, p. 145)

Estes movimentos foram responsáveis, no campo da música, por motivarem


manifestações de cunho político e unificar a luta da população contra os regimes ditatoriais.
Para a autora a Nueva Canción Latinoamericana define-se como um movimento continental
que se formou a partir de sentimentos ideológicos e faziam parte da cultura dos povos de cada
país.

NO PERIODISMO
A mídia é um – se não o maior – método de controle de informação das massas durante
o período de ditadura e na América Latina a imprensa foi fortemente afetada por conta do
autoritarismo. Usando como exemplo a ditadura argentina, Gamarnik explica:
Algunos diarios recibían presiones y represalias por sus publicaciones, pero el
“deshielo” de la opinión pública ya no se detendría. El trabajo de algunos reporteros
gráficos era celosamente vigilado y su participación en manifestaciones era
perseguida pero esta represión ya no pasaba desapercibida. En octubre de 1981, por
primera vez desde que se había instalado la dictadura, se realizó una manifestación
estudiantil frente al Ministerio de Educación que nucleó aproximadamente a 200
estudiantes. En esa ocasión, además de golpear y detener a los estudiantes, la policía
agredió a dos fotógrafos. A uno de ellos, Sergio Vijande, del diario La Prensa, le
quitaron la cámara, le velaron el rollo y lo golpearon. Tuvo que ser hospitalizado
(GAMARNIK, 2009, p.4).

Essas repressões não ocorriam apenas na escrita jornalística, embora nela fosse possível
perceber os efeitos da ditadura mais claramente. Uma manchete do jornal Clarín de 25 de março
de 1976 mostra como o governo influenciava a mídia de forma bem nítida:

O golpe militar argentino não é retratado pelo jornal como um golpe, mas sim como a
ascensão ao poder de um novo governo, uma forma de amenizar para a população a gravidade
da conjuntura política do país naquele momento, uma característica comum nas ditaduras.

34
Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

NA LITERATURA
O engajamento social contra a repressão autoritarista manteve-se em muitas frentes,
sendo representado em peso na literatura. Galeano foi um dos escritores que produziu fortes
críticas contra a ditadura através da literatura. Em El libro de los Abrazos podem-se encontrar
diversas narrativas que relataram alguns acontecimentos da ditadura. Las desmemorias, por
exemplo, é um conjunto de micronarrativas que fala sobre a ditadura, como podemos ver no
texto La desmemoria 2:
El miedo seca la boca, moja las manos y mutila. El miedo de saber nos condena a la
ignorancia; el miedo de hacer, nos reduce a la impotencia. La dictadura militar,miedo
de escuchar, miedo de decir, nos convirtió en sordomudos. Ahora la democracia, que
tiene miedo de recordar, nos enferma de amnesia: pero no se necesita ser Sigmund
Freud para saber que no hay alfombra que no pueda ocultar la basura de la memoria
(GALEANO, 1989).

De forma geral, a literatura pode, como argumenta Galeano em Nueva Sociedad, falar
sobre qualquer tema, o que inclui a ditadura:
La literatura puede reivindicar, creo, un sentido político liberador, toda vez que
contribuya a revelar la realidad en sus dimensiones múltiples, y que de algún modo
alimente la identidad colectiva o rescate la memoria de la comunidad que la genera,
sean cuales fueren sus temas. Un poema de amor puede resultar, desde este punto de
vista, políticamente más fecundo que una novela sobre la explotación de los mineros
del estaño o de los obreros de las plantaciones bananeras (GALEANO, 1989, p.75).

Esse engajamento político que viveu a literatura durante as ditaduras latino-americanas


pode ser percebido em diversas manifestações literárias e nas obras de grandes autores: Mario
Benedetti (Primavera con una esquina rota), as obras de Galeano, as literaturas de testemunho
(México), a literatura de resistência (Paraguai – Roa Bastos), entre muitos outros autores.

CONCLUSÃO
Entre as análises que circundaram este ensaio, uma destaca-se entre as outras: de forma
irrevogável as ditaduras latino-americanas foram responsáveis pelo engendrar das literaturas de
resistência, literaturas de denúncia e literaturas engajadas. Esses movimentos literários, em
resposta às atrocidades da ditadura, denunciaram e expuseram o cenário deixado pelo
autoritarismo, sendo, em nossa perspectiva, instrumentos importantes para a análise e
compreensão do cenário político-histórico dos países latino-americanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

GALEANO, Eduardo. Diez errores o mentiras frecuentes sobre literatura y cultura en América
Latina. In Nueva sociedad, 1989, p. 65-78. (b)
GALEANO, Eduardo. El libro de los abrazos. Ediciones La Cueva. 1989. (a)
GAMARNIK, Cora. Reconstrucción de la primera muestra de periodismo gráfico argentino
durante la dictadura. Ponencia presentada en las V Jornadas de Jóvenes Investigadores. Instituto
Gino Germani, Buenos Aires, 2009.
VELASCO, Fabiola. La Nueva Canción Latinoamericana. Notas sobre su origen y definición.
pp. 139-153, In Presente y Pasado. Revista de Historia. Año 12. No 23. Enero-Junio, 2007.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

ANTOLOGIA POÉTICA E A DESIGUALDADE SOCIAL NO MUNDO


HISPANOHABLANTE

Jarbas Izidio dos Santos Filho


Ivan Rodrigues Martín
RESUMO
Os aspectos gerais da temática reuniram fatores que nos levam a uma reflexão da vida
por meio da economia, política e história dos países que adotam a língua espanhola como
estatus oficial (de jure14 ou de fato). Por isso, a temática que comunga com os três pensamentos
supracitados é, sem dúvida, a vida social. Pensando nisso, o foco principal dessa antologia é a
desigualdade social, que engloba um conjunto de aspectos distintos, mas se interligam entre si.
Como coisas tão diferentes podem ter ligações? Para exemplificar tal indagação, construímos
um conjunto de subtemática. Pegamos o exemplo da subtemática do “Cristianismo”. Jesus era
pobre (subtemática “Pobreza”), teve uma infância humilde (subtemática “Crianças”), viajou
por vários lugares para levar a palavra de Deus (subtemática “Imigração”) e sofreu a
perseguição dos poderosos (hoje é a parte da má burguesia, dentro da subtemática “Burguesia”).
Ou seja, uma temática tem ligações com as demais.
Além disso, é importante conhecer o contexto histórico do século XX, período em que
estava inserida grande parte dos poemas. Era um momento muito delicado. As duas guerras
mundiais (1914-1918 e 1939-1945), a Revolução Russa de 1917, a descolonização da África e
parte da Ásia, a luta pelos direitos civis, o Modernismo na arte e na literatura, as guerras civis,
entre outros. Enquanto isso, os (as) poetas mais reconhecidos (as) desta antologia viveram em
um mundo que estava dividido, entre o bloco capitalista e o bloco socialista, conhecido como
o período da Guerra Fria15 (1945-1991). Por isso, os problemas sociais eram evidentes, tendo a
população mais humilde a maior sofredora dentro do contexto de disputas ideológicas e
armamentistas globais. Estão entrelaçados a religião Cristã, as crianças, as questões de
imigração, a parte da elite burguesa no poder governamental e os mais pobres. Os poetas, ricos
em sensibilidade em seus trabalhos literários, não esqueceram dos excluídos da sociedade. Ou
seja, havia uma corrente histórica entre os(as) principais escritores(as) hispanohablantes, seja
de forma direta ou indireta, os quais estavam em marcha contra a desigualdade social diante do

14
De iure ou de jure, é uma locução latina que significa literalmente ‘de direito’, isto é, com reconhecimento
jurídico, legal.
15
Foi uma disputa política, econômica, social, militar, informativo e esportivo entre o chamado bloco
Ocidental (ocidental-capitalista) liderado pelos Estados Unidos e o bloco do Leste (oriental-comunista) liderado
pela extinta União Soviética.
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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

fracassado sistema socialista. Seus poemas ainda estão influenciando novas gerações, pois os
problemas sociais continuam nos dias de hoje.
Para a composição sistêmica das subtemáticas, foi selecionado um total de 20 poemas
de 18 nacionalidades diferentes. Somente em dois países há repetição: Guiné Equatorial e
Espanha. O espanhol é mais falado no continente americano, continente este com o maior
número de hispanohablantes no mundo, se refletindo em cerca de 3/4 do trabalho. A América
do Sul tem o maior número de poemas com 8, seguido da América Central e Caribe com 6 e
América do Norte com 1, em um total de 15 poemas na América Latina e Caribe. Já a África
tem 3 poemas, 2 de Guiné Equatorial e 1 de Saara Ocidental. Por último, a Europa tem 2 poemas
representado a Espanha.
Na subtemática “Pobreza”, quatro poemas foram escolhidos com a mesma finalidade:
dizer a situação precária de todos os pobres, segundo a visão de cada poeta em seu país. Quando
lemos os poemas sobre os pobres, há uma mistura singular de sentimentos de tristeza e revolta
em nossos corações. Este assunto é o mais geral de todos os poemas, por isso, é a subtemática
que inicia a antologia, com o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015).
Depois, vêem os poemas que tratam de algumas das atitudes questionáveis da burguesia.
É uma crítica muito forte a parte inescrupulosa da elite social. Os escritores falam em seus
poemas que a má burguesia sustenta sua riqueza por meio da concentração de renda que mantém
a maior parcela da população na pobreza. Uma das possíveis interpretações do poema “A Casa
dos Deuses”, escrito pelo mexicano Fayad Jamís (1930-1988), seria que a classe dominante
branca (crioula, no continente americano) vive em construções de pedra, como os antigos
palácios europeus, enquanto os indígenas e os negros vivem em precárias e frágeis construções
de palha, em situação de grande vulnerabilidade socioeconômica.
Continuando a antologia, o Cristianismo é utilizado, por exemplo, por meio da Bíblia e
do Corpo de Cristo – o Pão. Na simbologia cristã, o pão é um alimento divino que leva as
pessoas para a salvação eterna. Dessa forma, nos poemas selecionados, o pão não é somente
um alimento material, mas também um alimento espiritual que todos podem ter, sem distinção
de classe social. Já no texto bíblico, trabalhado no poema do padre católico nicaraguense
Ernesto Cardenal (1925), fala da grande injustiça na distribuição das riquezas terrenas.
Na subtemática “Crianças”, os poemas expõem fatores que abarcam a exploração do
trabalho infantil, o abandono familiar e o nascimento das crianças em condições de imensa
penúria. Essas questões são consequências da extrema pobreza de suas famílias e de suas
regiões nacionais pouco desenvolvidas economicamente. Um exemplo é o trabalho semi-

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

escravo infanto-juvenil poetizado pelo escritor boliviano Óscar Alfaro (1921-1963), situação
esta de origem da colonização espanhola na mineração da prata e do ouro e que ainda persiste.
A última subtemática possui o intento de poetizar uma maneira de fugir da pobreza e da
guerra: a imigração. No continente africano e no Iraque, as guerras foram as principais razões
para os poetas guinéu-equatoriano Juan Bolboa Boneke (1938-2014) e saariano Bahia Awah
(1960), bem como e poetiza espanhola Isabel Pérez Montalbán (1964) escreverem sobre a saída
forçada das pessoas de sua pátria mãe. Já o poeta paraguaio Elvio Romero (1926-2004) foi
movido pela questão da miséria, elemento que expulsa as pessoas de seu local de origem. Para
encerrar esta subtemática e a antologia, a poetiza guinéa-equatoriana Raquel Ilonbé (1938-
1992) escreveu sobre a nostalgia de sua terra natal, a qual teve pouco contato. É uma busca
incessante por sua verdadeira identidade africana.
Portanto, as cinco subtemáticas compõem a grande temática “Desigualdade Social no
Mundo Hispanohablante”. Sendo assim, a título de representação imagética, a pintura satírica
de Kuczynski16 (logo abaixo) representa muito bem o verdadeiro sentido poético e antológico
deste trabalho: utilizar por meio da poesia uma valiosa ferramenta de denúncia social.

Recursos. Desenho gráfico. Pawel Kuczynski. 2007, Poznan.

16
Pawel Kuczynski (1976) é um ilustrador nascido em Szczecin, Polônia. Graduou-se em Belas Artes pela
Universidad de Poznan, se especializando em estilo gráfico.

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Caderno de Resumos – IV Jornada Hispânica

COMISSÃO ORGANIZADORA

Idealizadores
Diogo Silva
Graduado em Letras - Português e Espanhol (Bacharelado e Licenciatura) pela Escola de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo (EFLCH).
Desenvolveu pesquisa de Iniciação Científica como bolsista na área de Sociolinguística e
Estudos de Línguas em Contato, sob a orientação da Profa. Dra. Silvia Etel Gutierrez Bottaro.
Atuou como monitor bolsista das disciplinas de Fundamentos do Ensino de Língua Espanhola
I e II na mesma universidade, projeto coordenado pela Profa. Ma Greice de Nóbrega. Tem
interesse na área de Língua Espanhola e de Estudos da Linguagem.

Iago Victor
Técnico em Logística pela Etec Zona Leste, graduado em Licenciatura e Bacharelado em Letras
(Português/Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo (EFLCH). Trabalhou como
pesquisador convidado em estudos da área da Educação Inclusiva e da Psicopedagogia.
Desenvolveu sua pesquisa de graduação na área do Ensino de Literatura. Publicou seu primeiro
romance em 2015, chamado Queda Livre, em seguida publicou seu primeiro suspense, Poison
Minds – Assassinos de Motel, e uma comédia, Sobrevivendo ao Ensino Médio. Atualmente
trabalha como tradutor.

Editores:
Fernanda Rodrigues
Graduanda no curso de Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo
(ELFCH).

Kamila Arão
Graduanda no curso de Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo
(ELFCH).

Marcelo Gercino
Graduando no curso de Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo
(ELFCH).

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