A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA HISPÂNICA

1- A ADMINISTRAÇÃO ESPANHOLA

- Espanha: divisão da região em diferentes unidades administrativas visava esvaziar

qualquer possibilidade de articulação entre os colonos que ameaçasse seu domínio.

- Divisão obedecia critérios econômicos diferenciando os interesses das elites locais.

- Principais territórios:

• Vice-reino do Prata (Argentina, Uruguai, Paraguai);

• Vice-reino do Peru (Peru, Bolívia e Equador);
• Vice-reino de Nova Granada (Colômbia e Venezuela);
• Vice-reino de Nova Espanha (México e América Central);
• Capitania de Cuba;
• Capitania do Chile.

- Órgãos encarregados da administração colonial:

• Casa de Contratação → inicialmente sediada em Sevilha. Representava o monopólio

metropolitano no comércio colonial;
• Conselho das Índias → sediada em Madri. Designava os vice-reis. Legislava sobre assuntos
da colônia;
• Audiências → organismo que exercia funções judiciárias, políticas e administrativas. Eram
tribunais judiciários que atuavam como fiscais do executivo. Decidia, no âmbito do
judiciário, sobre apelações e recursos de sentenças. Protegia os interesses indígenas e
substituía o Vice-rei;
• Cabildo → conselho municipal com funções legislativa e judicial. Realizava obras públicas .
Controlado pelos criollos. Cargos: alcaide (representava o próprio rei no judiciário), regedor
(assuntos financeiros), alferes (cargo militar). Os cargos eram obtidos mediante pagamentos à
Coroa espanhola. Foram esvaziados no correr do século XVIII.

2- AS RELAÇÕES DE TRABALHO

- Os espanhóis impuseram aos índios formas de trabalho compulsório. Destacamos as duas

mais importantes:

• mita → utilizada comumente nas áreas mineradoras. Consistia no translado de comunidades

indígenas para as minas em troca de baixa remuneração;
• encomienda → mais comum nas áreas rurais. O proprietário espanhol encomendava ao
representante da Coroa um determinado número de trabalhadores indígenas se
comprometendo, em troca, catequisá-los.

3- A GUERRA DE SUCESSÃO ESPANHOLA (1701-1713)

- Disputa entre a Casa de Bourbon e a de Habsburgo pelo trono espanhol.

- Conflito ameaçou a paz européia (Inglaterra posicionou-se contra os interesses Bourbons
e aliou-se aos prussianos). Temor inglês de aproximação franco-espanhola afetando sua
hegemonia européia.

- O Tratado de Utrecht (1713):

• Inglaterra recebeu o direito de asiento (venda de escravos para as colônias americanas) e de
permiso (autorização para o comércio com alguns portos coloniais);
• Espanha e França renunciavam a qualquer tentativa de unificação das duas Coroas.

- Para os comerciantes e proprietários rurais nas colônias americanas o contato direto com a
Inglaterra passou a representar a possibilidade de maiores lucros. Diante disso, passaram
a defender o fim do pacto colonial.

4- A SOCIEDADE COLONIAL

- Pirâmide social:

• chapetones → espanhóis que representavam a Coroa no serviço burocrático

(administradores, militares, clérigos, etc.);
• criollos → espanhóis nascidos na América. Controlavam a economia colonial. Não
detinham cargos de influência na estrutura administrativa colonial;
• mestizos → serviços subalternos na economia (capatazes, auxiliares de comércio, soldados,
etc.);
• índios e negros → trabalho compulsório.

5- REBELIÕES COLONIAIS

- Ao longo do século XVIII a América Hispânica foi marcada por movimentos que
contestavam o pacto colonial e / ou a ordem social.

- Principais movimentos:

• Rebelião de Tupac Amaru (1780)→ movimento indígena que lutou contra a manutenção da
exploração do trabalho indígena no peru. O levante armado chegou a contar com a simpatia
de alguns criollos, o que deixou de ocorrer com o acentuado caráter social do movimento
ameaçando o controle sobre a mão-de-obra indígena. Cuzco (antiga capital inca), Oruro e La
Paz foram os principais focos do movimento. Preso, em 1781, Tupac Amaru foi enforcado e
esquartejado, em maio do mesmo ano, na cidade de Cuzco;

• Revoltas Tupamaras (1781)→ movimentos que surgiram nos Andes que tinham em comum
a continuidade das idéias de Tupac Amaru;

• Conjuração de Los Plateros (1781)→ ocorreu em Cuzco, La Paz, Arequipa e Cochabamba.

Contestavam os excessivos impostos cobrados pelos espanhóis. Organizado pelos criollos;

• Comuneros del Socorro (1781)→ explodiu em Nova Granada. Obrigou as autoridades

espanholas a negociar com os rebeldes, aceitando modificar algumas de suas práticas fiscais.
O levante só foi sufocado com a chegada de militares enviados de Cartagena (em outubro de
1781).

6- A INDEPENDÊNCIA

6.1- A primeira fase (1810-1815)

- A ocupação da Espanha pelas tropas de Napoleão Bonaparte e a imposição de seu irmão,

José Bonaparte, como novo rei espanhol, fomentou forte resistência no interior da Espanha e
nas colônias americanas.

- A resistência foi iniciada com a formação da Junta de Governo de Sevilha. Esta afirmou a
fidelidade ao rei Fernando VII e orientou a formação de Juntas de Governo nas colônias
espanholas.

- Os criollos assumiram a direção das juntas na América hispânica. Com a queda de

Sevilha, em 1810, criollos passaram a debater três alternativas:

• permanecer fiéis ao monarca deposto;

• assumir sua autonomia diante do governo franco-espanhol;
• declarar a independência e expulsar os representantes da Coroa espanhola na região.

- Diante do novo quadro europeu, os criollos organizaram tropas militares visando sua
emancipação política. Entretanto, o temor de que as camadas populares afetassem seus
interesses esvaziou a luta dos criollos.

- Inglaterra: não apoiou os interesses criollos por necessitar apoio da monarquia espanhola
na luta contra Napoleão.

- Em 1815, a facção realista controlava a maioria dos territórios hispano-americanos

derrotando a proposta emancipacionista.

6.2- Segunda fase (1816-1825)

- Com a derrota de Napoleão, a Inglaterra passou a apoiar os criollos enviando armas,

capital e apoio logístico (autorização para a contratação de mercenários britânicos). Em troca
defendem acordos que oficializem a liberdade comercial.

- Surgimento dos caudilhos: lideranças militares que articularam a organização de tropas

populares e criollas para enfrentar os espanhóis. Principais lideranças: Simon Bolívar, San
Martin, José Sucre e Bernardo O'Higgins.

- Espanha: acossada pela Revolução Liberal de Cádiz e quebrada economicamente pela

ocupação francesa, a monarquia não conseguiu derrotar as tropas caudilhas e foi obrigada a
assistir ao fim de seu império colonial americano (com exceção de Cuba que se tornou
independente após a Guerra Hiapano-Americana de 1898).
- Bolívar: maior líder da luta pela independência. Atuou no Peru, Colômbia , Bolívia e
Venezuela. Defendia a formação de uma grande república hispano-americana que impedisse o
capital inglês de controlar os novos mercados e com isso desenvolver a região.

- Divisão da América em vários países, após a independência pós-independência resultou

dos difusos e conflitantes interesses criollos. Além disso, ao longo do século XIX, os
caudilhos assumiram o comando político dos novos países mediante o emprego da força
militar.