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A DIMENSÃO HISTÓRICA DA VIDA

Dilthey se situa na continuação da chamada Escola Histórica, como rebento, fruto


desta corrente romântica alemã, que, ao colocar a questão da legitimação das ciências do
espírito, queria asseverar a emancipação destas disciplinas. Esse embate frente às ciências
naturais gerou vários conflitos metodológicos, com estas que já estavam consolidadas e
respeitadas, arrogando-se como paradigma de toda sabedoria com pretensões de
cientificidade. Sabemos que não é verdade que as ciências naturais queriam a regência ou
tutela das humanidades para si, mas encontravam-se mergulhadas em seus próprios problemas
específicos, e chegavam a não reconhecer a existência das disciplinas humanas que no século
XIX, eram chamadas de Ciências do Espírito, mas foram os filósofos, por ironia, que
trouxeram a discussão da fundamentação das disciplinas naturais para o âmbito das
espirituais, tentando impor toda a rigorosidade que aquelas possuíam.
Tais conflitos não se tornaram estéreis, mas pelo contrário trouxe contribuições
significativas para precisar e determinar o status epistemológico das ciências do espírito. Os
embates travados entre os dois paradigmas contribuíram para a elaboração lógica de conceitos
científicos, tais como “espírito objetivo” elaborado por Hegel e abarcado por Dilthey para a
construção da consciência ou dimensão histórica, desenvolvida como força dinamizadora da
realidade-histórica, em favor da autodeterminação epistemológica das ciências do espírito. E
esta força se deu a partir das discussões e reflexões sobre os progressos deste espírito humano
no decorrer das eras, mas também sobre o significado que a Revolução Francesa trouxe como
consequência durante todo o século XIX, mudanças profundas na percepção de tempo, que
levou o homem a descobrir seu papel principal como produtor do mundo histórico. Este
mundo histórico articula-se duplamente com a manifestação exterior da vida interna humana,
com a possibilidade de sua compreensão e interpretação.
Contudo, ao diferenciar-se do espírito iluminista, este novo sentido histórico recusava
de modo veemente as abstrações construídas pelos intelectuais iluministas e assevera-se como
sentido novo, como forma de conhecimento da realidade concreta na busca daquilo que é
autêntico e vivido, sob as formas desenvolvidas do Eu, da cultura, e da descoberta do espírito
presente em cada povo (Volksgeist). Nesta época se deu muita importância às interpretações
de expressões como ditas acima, “espírito” ou “alma” do povo, a construção cultural do
Estado, as formas biológicas da vida humana. Tais caracterizações trazem o dinamismo
cultural, pois são geradas da ação de uma dimensão histórica produzida pelo sujeito. O

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problema de demarcação epistemológica suscitado entre as duas correntes constituíram o
objeto de estudo das ciências do espírito tais como: a formação do Estado, a política, a vida
em sociedade, o direito, a ética, a religião, as línguas, a arte, a educação, e acabaram por
proporcionar um debate ad infinitum que perdura até hoje. Sendo que neste momento a
filosofia se abre para o debate de questões sociais ou humanas, que foram negligenciadas pelo
pensamento clássico.
Dilthey toma parte de maneira ativa no debate metodológico das ciências do espírito.
Em sua preocupação básica, entretanto, se colocaria a questão transcendental daquilo que se
chamou de crítica da razão histórica, sendo esta crítica que ocorreu a possibilidade de Dilthey
pôr lado a lado o problema da História e da Filosofia, pelo menos de modo mais distinto da
colocação que a Filosofia da História colocava, bastante em voga na época. Dilthey, ao tomar
ciência do verdadeiro problema das ciências humanas, não enxergava na consciência histórica
da relatividade do sistema filosófico, a morada de um saber instrumentalizado só pela razão,
mas o toma como necessidade imperiosa a mesma relatividade como seu objeto de estudo e
reflexão.
Para Dilthey, o “espírito objetivo” é a reunião do formato dado pelos indivíduos ao
ligarem-se e reconhecem na comunidade, feitio que surge no mundo dos sentidos. Neste feitio
o passado se encontra sempre presente, em marcas deixadas por gerações anteriores, e que
não podem ser relegadas ao esquecimento. Mesmo as obras de grandes figuras do passado não
perdem a ligação com o presente, ao contrário, articula-se com o conjunto de ideias
produzidas no presente, com a vida interna experienciada de uma determinada época. O
sujeito cognoscente é alimentado desde tenra idade, sempre pela cultura a qual pertence. É
nesse meio que passamos a compreender uns aos outros nas nossas expressões. O espírito
objetivo é compartilhado por todos na comunidade, ou seja, é comum ao Eu e ao Outro.
O mundo do espírito objetivo, traz manifestações da vida que entram em cena no
mundo sensível, estas são exteriores, captadas pelos sentidos. Elas surgem vindas do mundo
dos sentidos como expressões claras da vida interior, assim sendo possível conhecer os
eventos mentais. E estes eventos podem ser intencionais ou não intencionais, ambos tornam o
mundo psicológico compreensível. E este tipo de compreensão é diferente, pois são
classificadas por Dilthey como sendo elementar ou superior, conforme as manifestações da
vida.

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As manifestações da vida são conhecimentos extrínsecos que se fundamentam na
experiência prática e compreensiva que manifestam ou apontam concepções do mundo
psicológico, memorizados internamente na vida humana. Os nexos teleológicos da vivência
Erlebnis como: pensar, agir e sentir terão um papel importante na concepção da realidade
estabelecendo os seus fins na criação de valores a partir destas três conexões de vivência, que
serão a base das ciências do espírito, o espírito objetivado no mundo concreto, será conhecido
a partir da vivência experienciada.
Portanto, as Ciências do Espírito procuram compreender as manifestações vitais tais
como os “conceitos”, “juízos”, “construtos maiores de pensamento” e “ações” são criadas
pelos sujeitos na perspectiva do espírito objetivo das sociedades e épocas. Nas duas primeiras
manifestações, a vida ordinária se impõe, mas não dissolve a manifestação singular, os juízos,
ações e ideias pertencem à compreensão elementar; na terceira manifestação a expressão de
vivência, obtemos entrada na vida singular, a compreensão desta é superior. “A expressão
pode conter mais da conexão psíquica do que toda e qualquer introspecção permite conhecer.
Ela a alça das profundezas que a consciência não iluminada” (Dilthey, 2010, p. 186. Unesp).
“Os conceitos, juízos, ideias, ações e o sentir, são elementos epistemológicos
conhecidos a partir da experiência vivida que transpõem para a ação da vida, toda a
construção do mundo histórico, formando a personalidade em cada contexto e alicerce
universal, apanhado na vivência” (Dilthey, 2010, p. 185. Unesp).
Mas a pergunta é: Como são demonstradas as formas elementares e superiores da
compreensão nas manifestações da vida objetiva?
E aqui nós adentramos naquilo que Dilthey propõe para a compreensão das
manifestações da vida. Para cada manifestação das expressões da vida há uma forma
elementar e superior da compreensão. A compreensão elementar se situa na praticidade
comunicativa entre pessoas que convivem, ou seja, no diálogo comum. Esta é direta, imediata,
intuitiva, para Dilthey: “A compreensão emerge inicialmente dos interesses da vida prática.
Aqui, as pessoas dependem do trânsito mútuo” (Dilthey, 2010, p. 187. Unespe). As pessoas
precisam trocar mutuamente uns com os outros se tornando compreensíveis, e nisto uma
precisa saber o que o outro quer. “Assim surgem inicialmente as formas elementares da
compreensão. Elas são como letras, cuja composição torna possível as suas formas mais
elevadas. Por tal forma elementar compreendo a interpretação de uma manifestação da vida
particular” (Dilthey, 2010, p. 187. Unesp).

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Tornando assim o surgimento das formas elementares da compreensão. No referido
diálogo prático presume-se que através das “expressões de vivência” exteriores poderemos
conhecer o processo do mundo psicológico de outras pessoas que, o outro externou. Esta
conexão entre o sentido interno e a expressão externa se inicia na fase mais tenra da vida
humana.
A criança adquiriu no processo de vivência do pensar, agir e sentir, já muito cedo os
códigos legados a sua comunidade, isto é, ela recebe um mundo organizado prévio, ela, a
criança aprende as relações familiares, econômicas, religiosas, sociais, políticas, técnicas e
profissionais. Muito antes dela mesma aprender a se comunicar, ela é colocada dentro da vida
comum, aprendendo a decifrar os códigos das expressões comuns e neste mundo do Espírito
Objetivo, o indivíduo não se perde. Ele compreende e ao compreender reconhece na
comunidade as expressões por ele vivenciadas, abarcadas por seus símbolos, signos, sinais e
linguagens, compreendendo as expressões que emergem das vivências de outros. Ela faz parte
de um mundo de experiência compartilhada. Dilthey nos diz: “Nosso si próprio recebe desde a
primeira infância o seu alimento desse mundo” (Dilthey, 2010, p. 189. Unespe).
O pertencimento de uma experiência compartilhada, ao se articular as “expressões da
vida” e compreensão, a comunidade acaba por legar a experiência manifesta na unidade de
expressão. Esta expressão se concretiza junto aos recursos colocados pela cultura a todos
pertencentes à comunidade, mas a vida traz consigo mesma um complexo rico de vidas
individuais. Nisto o indivíduo toma a forma particular da cultura, e ao apropriar-se dela, acaba
por ressignificá-la.
Aqui se encontra o processo de aculturação, 1 onde o indivíduo cresce e se desenvolve
dentro de um ethos cultural da família à qual pertence junto a outros membros. A aculturação
de uma pessoa é o aprendizado, o aspecto particular do espírito objetivo de sua época e local
desse sujeito cognoscente. Esta conexão histórica é a base essencial de toda a compreensão.
Nossa aculturação se apresenta de modo tão completo que não encontramos obstáculos para
compreender o sentido interior expressado na manifestação.
Dilthey se utiliza do conceito de “Espírito Objetivo” de Hegel, sem os acontecimentos
argumentativos e finalísticos, “construções que apresentam a realidade histórica do espírito
humano segundo as ligações vigentes na realidade como base real, tornando-as especulativas,
deixando para trás toda as ‘ligações temporais, empíricas e históricas’” (Dilthey, 2010, p.

1 O termo aqui é usado como acepção psicológica, e não em sentido antropológico mais usual, retirada de
aspectos importantes da experiência vivida.

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112. Unespe). Para assinalar as formas elementares e superiores da compreensão, das quais
uma comunidade existente de indivíduos se objetiva no mundo externo. O espírito objetivo é
o que abarca todas as conexões históricas assimiladas na aculturação permitidas na
compreensão elementar. O que Dilthey afirma é: “Nesse espírito objetivo, o passado é um
presente constantemente duradouro para nós” (Dilthey, 2010, p. 189. Unespe). Nesse caso, o
espírito objetivo como expressão Ausdruk, será o meio da compreensão, pois este indica
simultaneamente as conexões instituídas entre as condições psicológicas e suas expressões da
experiência vigente em qualquer cultura particular. Assim, sujeitos habitualmente captam
mentalmente manifestações que se encontram no núcleo social estabelecido, isto é, dentro do
espírito objetivo. Com isto Dilthey nos quer dizer que: “O espírito objetivo e a força do
indivíduo determinam conjuntamente o mundo espiritual. A história baseia-se na compreensão
dos dois” (Dilthey, 2010, p. 194. Unespe).
E aqui adentramos na forma superior da compreensão, eis que entre as compreensões
elementares e superiores temos uma diferença de grau, mas não tão discrepante assim. Pois a
vida prática cobra juízos e avaliações sobre os indivíduos e quando isto lhes é estranho, passa-
se para a compreensão superior. As formas superiores da compreensão também são oriundas
da expressão exterior que retorna para o mundo interior, sendo que na expressão exterior se
encontra um intervalo de tempo transcorrido entre a realidade efetiva histórico-social. A
compreensão superior é comparada por Dilthey como uma peça teatral, o drama encenado
pelos atores traz muito das vivências que são compartilhadas por todos no meio social em que
a comunidade reside, pois nos meios sociais onde iletrados e cultos, podem compartilhar junto
a mesma experiência de encanto com a história narrada na peça teatral. Aqui o compreender
superior se orienta em conexão com a ação, pelas características dos personagens, pelas
interpretações de momentos que delimitam a guinada do destino. É nisto que se pode desfrutar
da realidade plena da leitura da vida apresentada. Dilthey também afirma: “É somente então
que se realiza nele plenamente um processo de compreensão e de revivência tal como o poeta
procura provocar nele” (Dilthey, 2010, p. 193. Unespe).
Os espectadores mergulham na história da peça encenada, e consequentemente nas
intrigas que esta traz sem se perder dos nexos da ação, compreendendo cada gesto, expressão
e sinal emitidos das personagens em cena. Sem cogitar, a não ser quando esta se mostra em
uma história labiríntica, na criação feita pelo autor, atores e diretores. Este espectador se deixa
levar por aquilo que sente e vê, indo mais além na construção do todo. Ele, o espectador, pode

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compreender o todo da história melhor do que os diretores, atores e autores. Estes tomam a
realidade em que se encontra a intriga e revive, em seus espíritos, a emoção do virtual no
vivido, a realização vinda do espírito poético. Tornando-se ele mesmo um coautor, codiretor e
coator. Sendo um copoeta, ele consegue realizar uma compreensão superior, colocando junto,
na estrutura total, as expressões consecutivas e dispersas, compreendidas durante o processo
de indução, que parte das partes para o todo.
A compreensão superior tem por objeto expressões originais. Na compreensão
elementar, a expressão singular revela o espírito objetivo. Na compreensão superior, seu
objeto é a singularidade. A forma superior da compreensão parte do espírito objetivo, que
abarca os indivíduos, mostrando-lhes a diferença que há nas individualidades.
A vida humana nada mais é que a conexão, o nexo, a ligação, aquilo que está sobre o
conjunto de conhecimentos da experiência vivida, e revivenciada na construção da
consciência histórica individual, a compreensão e a interpretação se apresentam como método
nas ciências do espírito em movimento mútuo e constante de pessoas que se alternam entre
uma em resposta à outra. A compreensão e a interpretação não são de tendência psicologista-
psicológica e nem um conjunto de atividades lógicas, mas um estudo pormenorizado de cada
parte num todo, para melhor conhecer sua natureza, funções, relações e causas no objetivo de
compreender e interpretar um fenômeno complexo. Tanto a compreensão quanto interpretação
consistem num retorno às experiências vividas, de difícil apreensão universal, nos
componentes mais básicos e simples da vida, ou seja, um objetivo teórico e epistemológico.
Uma fenomenologia, na ação da consciência intencional que se volta para um objeto, tomando
conhecimento ao perceber o caráter do que é útil na compreensão ou revivência de outros
indivíduos no saber da dimensão histórica.
Pois às ciências do espírito consideram como seu suporte a descrição e análise entre
vivência, expressão e compreensão. O progresso das ciências do espírito depende
fundamentalmente das experiências vividas, ou seja, vivências na orientação no processo de
crescimento. E este crescimento é condicionado pela dimensão histórica onde se encontra
inserido este sujeito da compreensão, onde toda a objetivação do espírito entra em resgate
abarcando metodicamente o elemento singular, expresso de diversas formas na manifestação
da vida particular.
A essência conceitual é formada daquilo que se manifesta no experienciar e na
compreensão, é a própria vida em conexão abarcando todo o gênero humano. Ao confrontar-

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se agora com esta verdade – que em nós não é apenas o início da partida das Ciências do
Espírito, mas a partida também da Filosofia, Dilthey afirma: “é preciso retornar a um
momento anterior à elaboração científica desse fato e apreender o fato mesmo em seu estado
bruto” (Dilthey, 2010, p. 89. Unespe).
Ao viverem as suas existências, os sujeitos cognoscentes em suas culturas podem
pensar, agir e sentir e ao expressar estas três unidades vitais psicofísicas, acaba por
experimentar em sua vivência elementos singulares ou compreender aspectos de sua vida
psíquica na consciência histórica.
“Assim, quando a vida vem ao nosso encontro como um estado de fato próprio ao
mundo humano, nos deparamos com determinações próprias a esse estado de fato
em cada uma das unidades vitais. Nós nos deparamos com concernências vitais,
tomadas de posição, comportamentos, com criações relativas às coisas e aos homens
e com o sofrimento produzido por eles. No subsolo estável a partir do qual se
elevam as capacidades diferenciadas, não há nada que não contenha uma
concernência vital do eu” (Dilthey, 2010, p. 89. Unespe).

Aqui, Dilthey nos mostra o nascedouro daquilo que ele chama de “concernência vital”,
ou seja, a relação no qual o Eu se inseri nas circunstâncias, descrevendo a mudança que se
repete continuamente na relação com as coisas e dos homens com estas. Não haverá homem e
coisa alguma funcionando exclusivamente na função de objeto para o Eu, não tendo em si
uma força ou impulso, um limite de sonho ou que torne menor sua vontade, um valor,
inspirações de opiniões feitas logo após um exame e reflexão ou familiaridade interior ou o
recusar-se a submeter-se à vontade de outrem, o que configura a diferença entre indivíduos. E
quem não se sente desconfortável com um sujeito diante desta diferença e singularidade?
Esta unidade vital psicofísica em momento restrito ou duradouro modifica-se
convertendo os homens e as coisas em mensageiros da felicidade do Eu, em dilatação e
ampliamento de seu horizonte existencial, na valoração de seu vigor ou restringindo por
interesse a área de sua atuação existencial, pondo em atividade um constrangimento moral e
subtraindo o meu vigor. E esta concernência vital nos traz mudanças dos estados de nós
mesmos, uma mudança oriunda da relação vital ao corresponder à virtude característica
inerente de um ser que, assim sendo, as coisas atingem seu sentido na concernência vital.
Sobre a camada mais profunda do Ser, a vida se manifesta em inúmeros matizes ao modificar-
se na conexão do mundo histórico, é o que Dilthey afirma: “uma apreensão objetiva, uma
valoração e um estabelecimento de metas como tipos de comportamento. Esses tipos de
comportamento estão ligados para formar no curso da vida conexões interiores que abarcam e
determinam toda a atividade e todo o desenvolvimento” (Dilthey, 2010, p. 90. Unespe).

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E isto Dilthey nos mostra em um exemplo de seu texto elucidando a vida de um poeta
lírico quando expressa suas experiências vividas, ao partir de sua posição deixando sua marca
nos homens e nas coisas quando acessamos sua singularidade impressa em seu espírito
objetivo, na relação vital psicofísica. Nisso, algum ego se agiganta na própria existência e, no
seio dessa existência, o lapso de tempo de suas experiências emerge trazendo consigo a
concernência vital do Eu e esta por sua vez condiciona as coisas à veracidade do poeta lírico
ao enxergar e observar as expressões dos homens, as coisas e ele mesmo. O poeta épico,
colocado por Dilthey, também se apresenta em semelhantes condições às do lírico, nada pode
expressar ou falar de outro modo sem aquelas manifestações oriundas da experiência vivida,
no vínculo das unidades psíquicas da vida.
E dentro das concernências vitais, apresenta também as experiências vividas por
indivíduo em suas épocas. É aquilo que Dilthey chama de Erlebnis ou, um dos pilares de
sustentação do mundo histórico e o mais importante dentro da proposta hermenêutica a qual
se propõe a fundamentar as ciências do espírito, na busca da apreensão objetiva que se
apresenta no ritmo contínuo do tempo. Na proporção que a experiência torna-se mais ampla
no contínuo avançar do tempo retirando-se cada vez mais para um lugar mais afastado,
desponta uma recordação no próprio lapso da experiência vivida. Assim, as recordações em
seus estados e representações existenciais das várias condições, elaboram-se no momento da
compreensão. Recordações e representações existenciais surgem na maneira de expressões e
seres equivalentes no mundo histórico. As ocorrências no proceder dessa indução adquirem
estabilidade conclusiva, desenvolve de modo repetido o fluxo da vida; as universalizações
geradas permanecem em contínua correção, ou seja, a estabilidade vinda da experiência
particular de cada pessoa é diferente daquilo que chamamos de validade universal científica
(Dilthey, 2010, p. 91. Unespe), visto que a proposição de caráter geral não se constitui de
acordo com um método e não poderá expressar-se de maneira firme. “O ponto de vista
individual, que se pretende à experiência pessoal de vida, retifica e se amplia na experiência
geral de vida” (Dilthey, 2010, p. 91. Unespe).
Nas palavras do próprio Dilthey, a experiência expressiva de um quadro e sua pintura
podem reunir vários momentos isolados durante o transcurso do tempo e mesmo assim podem
ser levados em conta como experiência. Um encontro com a experiência romântica entre duas
pessoas não se dará apenas num único evento, mas a soma de acontecimentos ocorridos em
momentos de variados tipos, tempos e lugares: “Por essa experiência de vida compreendo os

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princípios que se formam em algum círculo de pessoas ligadas umas às outras e que são
comuns a elas” (Dilthey, 2010, p. 91. Unespe). Esta unidade vital psicofísica eleva-se do fluxo
contínuo da vida na própria experiência vivida.
A experiência da vida não pode ser compreendida como sendo conteúdo de um
exercício da faculdade de agir em sua consciência no poder elaborar cogitações sobre si
mesma, já que teríamos de estar de posse da consciência, mas a experiência é o próprio
exercício e resultado da consciência histórica do indivíduo, isto é, um bem no qual e pelo qual
nutrimo-nos. “Trata-se de enunciados sobre o transcurso da vida, juízos de valor, regras de
condução da vida, definições de metas e bens” (Dilthey, 2010, p. 91. Unespe). A experiência à
medida que assim é doada na maneira de ser pré-reflexiva em seu valor, imediatamente esta
experiência poderia converter-se no objeto da reflexão, e se isto acontecer ela deixará de ser a
própria experiência direta com a vida, se tornará objeto de encontro em outra experiência.
“Sua característica mais marcante é o fato de elas serem criações da vida comum e de se
referirem tanto à vida dos homens singulares, quanto à vida das comunidades” (Dilthey, 2010,
p. 91. Unespe).
A vivência é mais que um debate, ela é ação da consciência, não poderá ser edificada
sobre juízos categóricos a priori como Kant havia instituído, apresentando uma vivência sem
vida, onde o pensamento pulveriza seu direito de tornar-se eterno e sua criação contínua e
sempiterna reencontrada em suas vontades.
“O a priori de Kant é rígido e morto; mas as verdadeiras condições da consciência e
os seus pressupostos, como eu os entendo, são um processo histórico vivo, são
desenvolvimento, eles tem a sua história e o curso dessa história é a sua adaptação à
multiplicidade dos conteúdos da sensibilidade que é cada vez mais bem conhecida
de modo indutivo” (Dilthey, 2010, pgs, 43, 44. Edusp).
E todo este campo de discussão da experiência vivida que gira em torno da
compreensão, a soma de todas suas realizações acaba por abrir, em oposição à subjetividade
da própria vivência à objetividade da vida. Praticamente a vivência e o conhecimento objetivo
da vida se conectam revelando-se em múltiplas relações estruturais, isto é, a objetivação da
vida se torna o objeto das ciências do espírito. Dilthey afirma: “O indivíduo, as comunidades
e as obras, para o interior das quais a vida e o espírito se transpuseram, formam o reino
exterior do espírito” (Dilthey, 2010, p. 109. Unespe). Essas conexões da vida, do mesmo
modo que se mostram para a revivência que existe fora do indivíduo, são dessa maneira
adaptadas na relação com a natureza. A realidade externa e grande do espírito nos enreda

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sempre. Esta é a realização do espírito objetivo no mundo concreto, a partir da manifestação
efêmera até a sua apreensão ao longo das eras na constituição ou num código jurídico. E em
cada expressão de experiência vivida ocorre atuação de algo comum no âmbito atribuído ao
espírito objetivo.
Em cada palavra expressada, cada frase emitida, em cada gesto ou produção de
conjuntos de normas e condutas, em cada quadro artístico ou escultura de arte e em cada
realização histórica, torna-se compreensível porque há elementos valorizados que se articulam
e manifestam-se neles e com o outro. O sujeito experimenta, reflete e atua permanentemente
na esfera própria no que é coletivo e unicamente no campo da compreensão. É a partir desta
identificação, tudo aquilo que for recriado traz em si o traço, o feitio da experiência vivida,
aquilo que podemos chamar por “conhecido”. É neste ambiente social que vivemos, ele nos
prende continuamente. “Sentimo-nos por toda parte familiarizados com esse mundo histórico
e compreendido, compreendemos o sentido e o significado de tudo aquilo, e nós mesmos
somos entretecidos com esses pontos em comum” (Dilthey, 2010, p. 110. Unespe).
A repetição das expressões da vida que sobrevém em nós determina, de modo contínuo
um novo vigor em cada revivência. Porém, na ação de cada expressão objetiva da experiência
vivida e compreensão se encontram relacionadas com as demais expressões e revivência, de
modo que esta experiência vivida compõe a duração própria da compreensão, impulsionando-
a sempre a avançar na conexão familiarizada em seu íntimo com o todo. Sendo assim, as
relações entre o familiar se agigantam, desenvolvendo na mesma duração das condições
universais que já se encontram condicionadas no indivíduo comum na determinação de sua
compreensão. “Nós compreendemos os indivíduos por conta de seu parentesco entre si, por
conta dos elementos comuns presentes neles” (Dilthey, 2010, p. 195. Unespe). A revivência
deste sujeito particular traz outra característica de objetivação da vida, um caráter que define
tanto estas duas partes antagônicas, a saber, o parentesco e o sentido da universalização. “A
objetivação da vida contém em si uma multiplicidade de ordens articuladas” (Dilthey, 2010, p.
110. Unespe).
O compreender será sempre um hábito na experiência já vivida, ao ser mais
aperfeiçoado, faz-se método científico para as ciências do espírito. Segundo Dilthey: a
Erklären da natureza é a explicação de uma realização contínua e exclusivamente intelectual.
A Verstehen da reexperiência da vida, circunda a contribuição de muitas evoluções
sentimentais e psíquicas. A compreensão dialoga com a unidade vital psicofísica do sujeito, a

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vida interna, já a explicação posiciona-se como conhecimento das leis causais objetivas. A
recriação é um método assíduo e similar, não havendo a preocupação de leis que pontuam o
início e o fim perfeito do processo. Mas, sendo esta relativa, não significa apenas uma
concentração de concepções e ideias, pois bem sinaliza uma aptidão contínua na direção da
universalização da vida objetiva. Esta possui um nexo estrutural circundante, centralizando e
concentrando gradativamente. Constituindo-se como um estímulo na busca pela fusão de
momentos históricos, a compreensão da vida é o meio ininterrupto, diferente, de proximidade,
pois nunca teremos um acesso integral da experiência vivida, apenas aquilo que ela quis
expressar, já que não há sabedoria ou cultura que possa esgotar as contingências das
construções de expressões da vida objetiva. “É só por meio da ideia de objetivação da vida
que conquistamos uma intelecção da essência do elemento histórico. Tudo está entrelaçado no
próprio mundo sensorial como produto da história” (Dilthey, 2010, p. 110 e 111. Unespe).
Tudo que nos circunda é objeto da compreensão, desde a arrumação de árvores de um
parque público, a acomodação das casas e prédios em ruas, as ferramentas adequadas de um
artífice, até uma condenação em um júri (possuímos momentos ao nosso redor um cabedal
tornado histórico). Aqueles objetos que o espírito objetivo penetra na época atual, feitio
originário das expressões da vida tornada histórica no porvir, quando alguma coisa se faz
hoje. “A história não é nada cindida da vida, nada separada do presente por uma distância
temporal” (Dilthey, 2010, p. 111. Unespe).
A objetivação do espírito se transforma em habilidade que se adquire com a
experiência, esta contém, durante a universalidade, o ponto, a conexão do mundo externo com
o psicológico. Sendo assim, a objetivação estará sempre conectada a compreensão e ao
experienciar, onde a unidade vital psicofísica revela-se a sua essência própria, o que
possibilita sua interpretação. Se os conhecimentos das ciências do espírito encontram-se
compreendidos aí, logo, na condição de época para nós se faz essencial separar tudo aquilo
estabelecido-tudo que se mostra obscuro, assim como é intrínseco às representações do
mundo físico-do espírito daquilo que é concedido no âmbito. Toda a ação gratuita é aqui
estabelecida, isto é, histórica, e compreendida pelos demais sujeitos cognoscente, tornando-se
comum entre si à interação formativa, ela é familiar, pois é compreendida por conter um
conjunto de variado consentimento, “… uma vez que a interpretação da manifestação da vida
na compreensão mais elevada já se baseia em agrupamento” (Dilthey, 2010. p. 111. Unespe).

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A relação da condição psíquica surge no sujeito do saber e torna-se mudança de
espírito apenas para a explicação do nexo significativo na sociedade, os processamentos
objetivos e práticos do mundo anímico. Logo, o mundo psicológico é inspiração e
subordinado ao sujeito do saber que o capta. Todo esse movimento realizado pelo espírito
exerce a revivência para atingir o objetivo de compreender nesse cultivo de sua formação
social. Assim, enfrentamos o problema da formação do mundo histórico no sujeito do saber
que os torna prováveis num conhecimento com relação à realidade espiritual. E esta
responsabilidade só é suscetível deste ser determinado se especificarmos as habilidades
específicas, que operam associadamente na criação dessa relação e na condição de indicarmos
qual é a parte que compõe na formação do percurso histórico no mundo psíquico e na
manifestação da sistematização neste mundo. Este transcurso histórico indicará até que
posição esses obstáculos compreendidos na correlação recíproca das veracidades poderão ser
solucionado. Ele, o transcurso, precisará deduzir pouco a pouco da experiência vivida o
postulado da existência da compreensão nas ciências do espírito.
“A compreensão é um reencontro do eu no tu; o espírito encontra-se em níveis cada
vez mais elevados da conexão; essa mesmidade do espírito do eu, no tu, em cada
sujeito de uma comunidade, em todo sistema da cultura, por fim, na totalidade do
espírito, e da história universal, torna possível a atuação conjunta das diversas
capacidades nas ciências humanas. O sujeito do saber está assim unido com o seu
objeto e esse objeto é o mesmo em todos os níveis de sua objetivação” (Dilthey,
2010, p. 168. Unespe).

Os textos elaborados por Dilthey para a criação de uma “Crítica da Razão Histórica”
são produzidos a partir da Crítica da Razão Pura de Kant. O plano de Dilthey é apresentar
razões fundamentadas filosoficamente no exercício da razão da existência humana, no interior
da consciência histórica. Abrindo caminho para uma compreensão da consciência histórica, na
qual nutrimos e nos movemos no fluxo contínuo do tempo.
Em finais do século XIX, Dilthey enfrenta veementemente o positivismo que ensistia
em fundamentar as Ciências do Espírito, com a rigorosidade das Ciências da Natureza,
substituindo do núcleo formador, toda a construção da Psicologia Naturalista pela Psicologia
Descritiva e Analítica criando uma Hermenêutica que descreve e analisa de forma crítica,
aprofundando o esforço de conceber a característica organizacional das ciências do espírito.
[…] Dilthey critica o positivismo na medida em que não reconhece na sociologia o
estatuto epistemológico que lhe conferia Comte. Deu a prioridade à psicologia, mas
combatentdo vigorosamente o naturalismo que infestava essa disciplina, sem, no
entanto, recair nas armadilhas da introspecção (JAPIASSU, 1982, p. 125).

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A importância dada às ciências histórico-sociais não pode ser só de interesse pela alma
humana, pelo procedimento da psiquê do sujeito, mas pelo “espírito” a cultura associada. A
interpretação de uma atividade lúdica independe do caráter do criador. Mesmo que a obra de
arte como um quadro ou escultura exprima gozo e infelicidade, esses não serão estados do
indivíduo, todavia, da “pessoa ideal” projetada pelo criador em sua experiência vivida. A vida
psíquica deste sujeito é compreendida durante a revivência e exteriorização de seu espírito
objetivo. O homem se reconhece na própria história, jamais pelo juízo categórico. A exegese
ou interpretação não compreende a substância humana como norma, mas nos mostra várias
capacidades do gênero humano, soltando-nos dos grilhões do hoje.
Em Dilthey há o debate da separação dos termos em oposição entre “ciências do
espírito” (Geisteswissenschaften) e “ciências da natureza” (Naturwissenschaften),
considerando-as um contraste indispensável entre duas áreas do saber. Compreensão e
explicação estão respectivamente relacionadas às ciências do espírito e ciências da natureza,
nesta última seu método se detém na explanação em sua capacidade de sentir e captar o que
existe no mundo externo, em parte a História ou qualquer área do saber humano operaria na
vinculação à obrigação da compreensão (Verstehen) nos acontecimentos da vida anímica, de
compreendê-los não somente em seu estado externo, mas igualmente seu mundo histórico,
penetrando seu espírito, suas ligações figurativas, gnosiológicas, experienciais, ou em outras
palavras, seu sentido, sendo essa ambitudes das ciências do espírito.
Dilthey tocará de maneira profunda na contestação substancial na elaboração da gnose
científica, no tocante as ciências do espírito, a complexidade das metodologias teóricas
confere de modo irrefutável, com o desejo que cada um destes procedimentos filosóficos
confere eficácia universal. Profusão, circunstâncias históricas, distinção e transformação
unem-se à investigação feita por Dilthey na relação da cultura. Na conexão de cada visão
formativa de um povo, desse modo, autêntica, em discernimento nas manifestações
predeterminadas pelo universo histórico pertencente, uma fixada porção de vericidade na
especificidade de estar conforme a realidade, estando assim, encoberta ao sujeito do saber que
só conhece quando este toma posse das partes ao todo.
No início de seu estudo sobre “A compreensão de outras pessoas e as suas
manifestações vitais”, Dilthey traça o perfil da revivência: “Sobre a base da vivência e da
compreensão de si mesmo, assim como em uma ação recíproca constante que ocorre entre as
duas, forma-se a compreensão de manifestações vitais e de pessoas alheias” (Dilthey, 2010, p.

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184. Unespe). Expressões da vida são informações externas na prática compreensível que
manifestam ou apontam os conhecimentos espirituais e mentais do mundo interior da
existência humana. Tais expressões são elementos das ciências do espírito, como referências
perceptuais de seres existenciais e não sociedades em seu viver físico que são à base das
ciências da natureza.
Dilthey, classifica três categorias de expressões do mundo histórico. “A primeira
dessas é formada por conceitos, juízos, construtos maiores de pensamento” (Dilthey, 2010, p.
185. Unespe). “Estes são os rudimentos do conhecimento, no espírito alemão do termo,
ampliando o campo de atuação entre as duas áreas, a saber: as ciências naturais e do espírito”
(SCHMIDT, 2012, p. 63). Ambas, ciências naturais e do espírito divergem em suas
experiências vividas, manifestas pela condição particular da qual despontaram no plano da
experiência vivida. Há exemplos significativos a este respeito que incluem: desde o
discernimento em afirmar que o sol apareceu no “céu brilhando radiante hoje” ou “Antônio na
noite passada se excedeu com o álcool” ou em informações superiores como olhar para um
quadro ou escultura feita por um artista, mas também ler um livro de filosofia ou um artigo de
um jornal e revista. As pessoas procuram compreender o feitio, a figura, o aspecto pelo qual
as coisas se dão do mundo. Ao passo que os juízos declaram a eficácia daquilo que é
elaborado na ideia emancipada da época e dos indivíduos em cada geração. “Assim, o juízo é
o mesmo naquele que o enuncia e naquele que o compreende…” (Dilthey, 2010, p. 185.
Unespe).
As “ações” formam o segundo nível das expressões da vida. Como fenômenos, as
ações não visam exteriorizar, porém são próprias para apontar uma conexão com uma
finalidade. “A ligação da ação com o elemento espiritual que se expressa desse modo nela é
regular e permite suposições prováveis sobre ele” (Dilthey, 2010, p. 186. Unespe).
Ao perceber alguém se dirigindo para um terreno baldio que se encontra sem
demarcações, é possível compreendermos sua ação, pois tem uma finalidade, intenção e
objetivo em edificar uma cerca. Dilthey nos mostra a distinção entre a disposição
compreensiva deste agente e a relação vital que concebe essa disposição da consciência. À
medida que eu tomo em minhas mãos ferramentas e instrumentos, para realização da
construção de uma cerca, acabam por me levar à concentração em realizar o trabalho direto e
possivelmente obtenha compreensão do propósito deste todo, mas a importância universal
deste propósito em minha existência e por decidir em construir uma proteção para o terreno é

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oriunda da conexão vital. Ao optar pela construção da cerca, outros afazeres ou ocupações
ficaram nulas. Dessa forma, o que eu havia decidido não realizar não se encontra expresso na
minha própria ação. “E sem explicitar o modo como as circunstâncias, a finalidade, os meios
e a conexão vital se articulam nela, ela não admite nenhuma determinação universal do
interior do qual surgiu” (Dilthey, 2010, p. 186. Unespe).
Uma pessoa que repara minha ação na realização de meu trabalho poderia assimilar
que me encontro apenas fixando tábuas para a construção da proteção que preciso e que
disponho de materiais e ferramentas necessárias para tal ação, e que esta condição se
encaixaria em meus planos, mas, na verdade, o que eu gostaria era de estar em um dia de sol
numa praia curtindo um bom dia de descanso. […] “Ele não enuncia senão uma parte de nossa
essência” (Dilthey, 2010, p.186. Unespe).
A expressão Ausdruk, oriunda da experiência vivida, estabelece a terceira categoria das
manifestações do mundo histórico. Este feitio é único, porque contém em si a conexão
característica iniciada da vida anímica daquele que exterioriza na forma objetiva sua
experiência vivida, vinda da comunicação da Erlebnis, experiência vivida até a revivência que
desponta no indivíduo ao reviver esta experiência. Nos fenômenos da vida psíquica exprimem
a vivência viva, a condição interna se expressa para o mundo prático das coisas. Na verdade
ao apontar para minha ferramenta de trabalho me irrito por não poder tê-la em minhas mãos,
concluo por demonstrar minha insatisfação expressando a condição interior de não ter o
martelo que preciso para cravar as tábuas para meu cercado, no momento mais necessário, e a
vontade que outra pessoa o apanhe e traga para mim antes e fixá-las em segurança. Em seu
pensamento Dilthey afirma que coisa nenhuma é tão competente quanto a linguagem de
expressar-se com tão forte vigor, quanto a vida psíquica. Desse modo, eu poderia me irritar
com a pessoa ao meu lado e encolerizado, expressar de maneira rude a seguinte expressão:
“Pegue a P***& da ferramenta para mim!” manifestações da experiência vivida podem se
tornar embaraçosas. “A expressão não cai sob o juízo verdadeiro ou falso, mas sob o juízo
inverossimilhança e verossimilhança. Pois dissimulação, mentira e ilusão rompem aqui a
ligação entre a expressão e o elemento espiritual expresso” (DILTHEY, p. 186. 2010.
Unespe).
Projetos pessoais procuram comunicar a unidade da experiência vital descoberta pela
pessoa ideal formando um todo considerável. Vale dizer que podemos nos expressar nosso
estado interior em várias expressões artísticas, pela música, poesia, arte esculpida em

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mármore etc. tal. “A expressão pode conter mais da conexão psíquica do que toda e qualquer
introspecção permite reconhecer” (Dilthey, 2010, p. 186. Unespe).
Certo se dirige relativamente, merecida informações de fontes advindas das expressões
que eu não compreendo. Dessa maneira, ao expressar minha testa enrugada, reflito minha
indiferença na indagação crítica durante o tempo que admito responder a esta interrogação de
maneira educada. Estes rudimentos da não consciência adentram nas expressões de sua
experiência vivida, tornando-se base e princípios para a compreensão do autor melhor do que
este se compreenderia. Em contrapartida, influenciamos ao interpretar o feitio errado a
condição do mundo interno de outra pessoa. Outras expressões como a fraude, o engano e a
ocultação são também feições prováveis na aparência das experiências vividas. Eu não só
posso mentir, mas também sou capaz de mascarar e forjar minha expressão. As manifestações
da experiência vivida se compreendem unicamente entre pertinentes limitações, jamais
impecavelmente. “A expressão não cai sob o juízo verdadeiro ou falso, mas sob o juízo
inverossimilhança e verossimilhança” (Dilthey, 2010, p. 186. Unespe). Dilthey declarará que
em um magnífico trabalho artístico, parecendo aqui ser uma interpretação daquilo que venha
ser uma obra de arte, não terá nenhuma utopia no tocante a sua expressão espiritual:

[…] nenhuma obra de arte verdadeiramente grande consegue simular um conteúdo


alheio ao seu autor e ela nem quer dizer absolutamente nada sobre o autor.
Verdadeira em si, ela se encontra fixada, visível, duradouramente presente, e, com
isso, uma compreensão artística segura da obra torna-se possível (Dilthey, 2010, p.
187. Unespe).

A obra de Dilthey procura examinar detalhadamente cada setor da vida, propondo uma
Filosofia profunda a partir da ação reflexiva humana na própria vida. Inexplicável, secreta e
de impossível acesso a um conceito ou pelo conceito. A vida é substancialmente significativa
nas expressões, passagens discordantes nos embates de forças antagônicas, num modo de
mudança e identificação manifestas nas experiências novas. É característico da vida
manifesta-se e objetivar-se em alegorias, emergindo relações sociais, pois todo o mundo
psicológico busca expressar-se num fora. Eis ai o motivo pelo qual a vida se apresenta como
uma raiz ao fenômeno histórico.
Em Dilthey, a vida brota no vínculo das relações sociais com meio, a vida revela-se
removendo o véu que a encobre sendo ele mesma reveladora do segredo da própria vida, da
mesma as vivências recebendo e agindo em favor da verdade. A unidade vital psicofísica
assinala-se e neste diferenciar a vida brilha, revelando a conexão de vínculos indesatáveis do

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eu próprio e da realidade-efetiva do mundo histórico. Neste vínculo vívido, na desordem
sentimental, nos sobrevém a humanidade desenhando o mundo psicológico na relação de
valores como categorias ordenadas.
Dilthey declara com impulso que a experiência vivida e o mundo extrínseco se
conectam a todo o momento numa relação de reciprocidade, nunca se separando. Entretanto,
na concepção de mundo, há possibilidade conectiva em que o mundo coexistente é
reprodução humana, ou seja, pertencente a um mundo psicológico, indicação axiológica e
teleológica, como objeto final. Isto significa que o mundo dos fenômenos emocionais, sua
grandeza livre, é pura imaterialidade, pois o conhecimento de si mesmo e o mundo em sua
volta são convergentes, mas não exclusivamente em graus de juízos. Esta ligação provoca em
nós, seres viventes, plenas condições de sentir e perceber através dos sentidos, imaginações,
sonhos e capacidade intelectual e prática. Afeição, entendimento, desejo e força compreendem
o tecido e o construído num enredo. De fato, a compreensão deve ultrapassar o campo da
aparência, uma vez que esta é recíproca ao conhecimento que o indivíduo tem sobre si mesmo
e do meio prático social a qual pertence, em seus dilemas.
Como esclarecer então a expressão de uma construção do mundo histórico? Queremos
esclarecer que o ponto de vista de Dilthey, o pensamento não é o um mero produto de
encadeamentos de juízos, não nasce de mecanismos simples do desejo de sentir, já que a ação
de se apropriar do mundo histórico brota da organização de nossa constituição psicológica.

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