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Instituto Escola em Terapia Holística

INSTITUTO ESCOLA EM TERAPIA HOLÍSTICA

MODULO V - TRANSPESSOAL

CF- PH

CURSO FORMAÇÃO EM PSICOTERAPEUTA HOLÍSTICO

DISTRIBUIÇÃO PROIBIDA USO RESTRITO PARA ALUNOS IET


Instituto Escola em Terapia Holística

Transpessoal- Introdução

Pode ser definida como uma


abordagem científica que estuda,
pesquisa e aplica
terapeuticamente os estados de
expansão da consciência. A
psicoterapia transpessoal tem
como objetivo primordial a
reunião da pessoa
(forma/personalidade) ao Ser
(essência).

Para isso ela trabalha com uma concepção do ser humano integral, em
suas quatro funções – razão, emoção, sensação e intuição e integrado
numa unidade bio-psico-social, espiritual e cósmica. É atribuída a esta
dimensão (espiritual), um inesgotável potencial de cura,
independentemente de religião, crenças ou valores.

Seu método valida e reconhece todas as outras abordagens


psicoterapêuticas, porem vai além; através de recursos e técnicas (
psicovivências) que promovem a expansão de estados de consciência, a
pessoa pode vislumbrar ―saídas‖ para seus conflitos, medos e limites por
meio da experiência, pois estes estados ampliam seus recursos internos. A
descoberta de que existem outros estados de consciência além da nossa
consciência de vigília ou de sono, mostra que nestes estados enxergamos e
vivenciamos aspectos fragmentados da realidade. Podemos sintetizar este
postulado com uma Fórmula - VR=f(EC), ou seja, o ego/personalidade
vivencia a realidade de acordo com o estado de consciência em que se
encontra. Para que se possa re-significar ou relativizar uma experiência
traumática por ex., se faz necessário entrar em um estado de consciência
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(transpessoal) que vá além dos cinco sentidos ,onde a realidade pode ser
vista e sentida sem fragmentos e experienciada em sua totalidade.
Dessa forma então pode ser possível desenvolver sentimentos de paz,
amor, desapego, desidentificação e harmonia interior..

Dentre as técnicas e instrumentos utilizadas no processo psicoterapêutico e


complementar a este, pode-se citar, as terapias regressivas à vivências
passadas, hipnose, visualização criativa, meditação, práticas de Yoga,
respiração holotrópica, relaxamento profundo, entre outras. Hoje com
técnicas corporais seguidas por estímulos sonoros e visuais, associadas com
praticas respiratórias, possibilitam estimular o individuo a atingir estes
estados.
Sua indicação é bastante ampla, desde a necessidade de auto-
conhecimento até sintomas de depressão, pânico, conflitos nos
relacionamentos interpessoais, doenças psicossomáticas, etc.Vale ressaltar
que estas técnicas são utilizadas sempre dentro de um contexto
psicoterapêutico com o objetivo de ampliar e enriquecer o processo, e não
meramente como um recurso isolado que vislumbre a cura.

O que é um Estado de expansão da consciência?

Como vimos no módulo anterior, todo estado que está fora de um padrão
de funcionamento baseado nos 5 sentidos sensoriais e num estado de alerta
– consciência de vigília, pode ser considerado um estado de expansão da
consciência, onde os limites do espaço, tempo e causalidade linear se
extinguem. Exemplos de estados ampliados são os sonhos, o relaxamento
profundo, os estados meditativos, projeção da consciência, entre outros.
Os estados de expansão da consciência, objeto de estudo e prática da
Psicologia Transpessoal, podem ser alcançados através de técnicas e
práticas baseadas nas grandes tradições de sabedoria da humanidade tais
como a meditação, o yoga, as danças, a respiração, entre outras,como já
dissemos e também nas ciências ocidentais, como a psicologia, a
programação neurolinguística, a psiconeurofisiologia, etc.,visando o
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desenvolvimento pessoal com enfoque no autoconhecimento, na cura (não


na doença), no equilíbrio e no despertar de toda potencialidade de auto-
realização de cada pessoa.

Qualquer que seja nosso objetivo, nossa busca, quer seja visando nosso
desenvolvimento pessoal no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, na
vida cotidiana em geral, na abertura aos potenciais interiores para alcançar
uma vida plena, na cura de doenças físicas; o uso dos recursos
transpessoais para a expansão da consciência, têm demonstrado,
segundo pesquisas científicas, que são profundamente transformadores. Há
resultados demonstrados pelo Instituto do câncer John Hopkins dos EUA (
Massachussets) onde pessoas portadoras de câncer que são treinadas para
promoverem sua auto cura através de meditação e visualização criativa,
tem conseguido alcançar níveis satisfatórios de remissão de tumores
malignos.

Conhecida também como "estado alterado", "modificado" ou "estado


não ordinário de consciência".

A consciência que o indivíduo tem de si mesmo apenas se expande, se


alarga, abrangendo outras dimensões de si mesmo, enquanto consciência
individual e coletiva. Sem perda da identidade própria, a pessoa sente que
é, simultaneamente, alguém ou algo mais e que está, ao mesmo tempo, em
outro lugar, pois é a consciência que transcende os limites do espaço, do
tempo e da causalidade linear, é ela quem se desloca. Como a expansão da
consciência ocorre em conseqüência de uma decisão consciente do
indivíduo, ela seguramente pode levar a uma evolução espiritual e a um
despertar dos potenciais inconscientes, tais como habilidades,
conhecimentos e sabedoria que toda pessoa possui.

Realizada a partir de técnicas de relaxamento profundo, viagem imaginária,


de respiração "holotrópica", renascimento, visualização criativa, regressão
de memória, meditação, ela nos traz a possibilidade de revermos e
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ressignificarmos nossas crenças limitantes, nossos padrões mentais de


funcionamento psíquico e também a possibilidade de usarmos nossas
potencialidades inconscientes para nos tornarmos seres mais amorosos,
compassivos, fraternos. Por isso, ela permite o acesso às memórias
inconscientes de nossa infância, nascimento e vida fetal, ao despertar dos
potenciais individuais, como também ao futuro, que depende da consciência
do presente para se realizar. Nessa viagem interior, não há guia, não há
mestre, pois o próprio indivíduo - visto e sentido como ser holístico, global -
é que é o guia, o mestre, não importa qual é seu ponto de partida, sua
religião, suas crenças ou em que nível de consciência ele se encontra
naquele momento. Numa vibração de amor incondicional, o psicoterapeuta
o acompanha para ajudá-lo a confiar em sua dimensão mais elevada, em
seu próprio processo de abertura.

Objetivo

O objetivo primordial é que a pessoa se liberte das seqüelas e registros


traumáticos, das experiências "negativas" que a fazem ver o mundo, a vida
e a si mesma através de uma percepção limitada, contaminada pelas suas
ambivalências de amor e ódio, pelas suas "máscaras" sociais, pelos seus
medos, julgamentos, culpas, apegos, conceitos e preconceitos. Liberar
conscientemente as memórias "negativas" do inconsciente, esvaziando-o,
permite que o indivíduo tenha acesso às suas memórias "positivas",
libertando-se para uma vida mais feliz. Por isso, a expansão da consciência
provoca experiências transformadoras profundas e radicais no indivíduo.

A comunicação consciente com o inconsciente permite o acesso aos nossos


potenciais de cura, conhecimentos, habilidades, dons e sabedoria. Além de
possibilitar auto-conhecimento, cura física, emocional e espiritual, as
técnicas de expansão de consciência não têm apenas objetivo de regressão,
mas também de projeção no futuro, de nos fazer lembrar que existe um
imenso potencial no coração de cada um de nós e pode ser construído em
função das compreensões alcançadas no presente. Elas ajudam, também, a
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pessoa a descobrir, ampliar e utilizar, à luz da consciência do presente, seus


potenciais interiores de conhecimentos, habilidades, dons e sabedoria. Isto,
porque "o mundo interior não se reduz apenas às memórias do passado
nele depositado, ele continua numa permanente atualização. Sua ordem
não é apenas a reconstituição do Ser, mas a sua revelação". Por isso,
transformando-se de dentro para fora, a pessoa se renova em todos os
aspectos. Com a sua consciência expandida, ela passa a ver e a
compreender as pessoas, o mundo e os acontecimentos, não sob um ângulo
ou outro, nem limitados a um aspecto ou outro, mas à luz da totalidade.

Maslow um dos fundadores e precursores da Transpessoal criou o termo


meta-necessidades, que seriam as experiências ultimas, culminantes de
cada Ser Humano, a busca pela espiritualidade, de um sentido e propósito
dentro do Universo, que almeja por entrar em contato com forças e
experiências transcendentes.
A proposta da Transpessoal reside em trabalhar os aspectos positivos do
Ser Humano propiciando um desenvolvimento harmônico e integral, que o
beneficiará a atingir uma melhor qualidade de vida e auto-conhecimento,
que acabará por ampliar a sua visão de mundo e percepção sobre si
mesmo. Freud na obra "O mal estar na civilização" resume muito bem
como as pessoas que passam por experiências transpessoais se sentem,
chamado por ele de Sentimento Oceânico, muito embora tal termo fora na
época designado para descrever experiências místicas narradas por pessoas
que atendera em sua prática clinica ou nos relatos que lera em sua época
no Século XIX, que mesmo não sendo inerentes a Transpessoal já que esta
teoria surgiu por volta do final dos anos 60 no Século XX, ilustram
perfeitamente os relatos de pessoas que já experireciaram estes estados,
como sensações de integração e completude.

Jung provavelmente chamaria tais sensações e sentimentos de Numinosas


(para descrever o sagrado pertencente a experiência), enquanto os místicos
a apelidariam de Consciência Cósmica, sendo a nomenclatura sobre o
assunto bastante vasta.
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A mudança ocorre mais uma vez


Vê-se que a humanidade está passando por uma crise profunda, que está
passando, mais uma vez, por uma transição. Segundo Capra (1982) pode-
se reconhecer a confluência de diversas transições ao longo da história da
humanidade, algumas delas estão relacionadas com os recursos naturais,
outras com valores e idéias culturais, outras são partes de flutuações que
acontece estarem coincidindo no presente momento. Dentre elas, existem
três que afetaram o nosso sistema social, econômico e político.
A primeira transição deve-se ao declínio do patriarcado, nele os homens
determinam que papel as mulheres devem ou não desempenhar e no qual a
fêmea está em toda parte submetida ao macho. Esse era o único sistema
que, até data recente, nunca tinha sido abertamente desafiado em toda a
história. Hoje, porém, a desintegração do patriarcado tornou-se evidente, o
movimento feminista é uma das mais fortes correntes culturais do nosso
tempo e terá um profundo efeito sobre a nossa futura evolução.
A segunda transição é imposta pelo declínio da era do combustível fóssil
como petróleo, carvão e gás natural, que tem sido as principais fontes de
energia da moderna era industrial. Quando esgotar estes recursos, essa era
chegará ao fim, os combustíveis fósseis estarão esgotados por volta de
2300, mas os efeitos econômicos e políticos desse declínio já estão sendo
sentidos. Essa década será marcada pela transição da era do combustível
fóssil para uma era da energia renovável oriunda do sol. Essa mudança
envolverá transformações radicais em nossos sistemas econômicos e
políticos.
A terceira transição envolve o que hoje é freqüentemente chamado de
―mudança de paradigma‖, uma mudança profunda no pensamento,
percepção e valores que formam uma determinada visão da realidade. O
paradigma que dominou nossa cultura, durante centenas de anos, foi o
newtoniano-cartesiano, no qual modelou nossa moderna sociedade
Ocidental e influenciou o resto do mundo.
Este paradigma compreende a crença de que o método científico é a única
abordagem válida do conhecimento, enxerga a concepção do universo como
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um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares e tem a


crença do progresso material ilimitado a ser alcançado através do
crescimento econômico e tecnológico. Nas décadas mais recentes, conclui-
se que todas essas idéias e esses valores estão seriamente limitados e
necessitam de uma revisão radical.
A atual mudança de paradigma faz parte de um processo mais vasto, uma
flutuação regular de sistemas de valores, que pode ser apontada ao longo
de toda a civilização Ocidental e da maioria das outras culturas.
A partir do século XVI e XVII a noção de um universo orgânico e espiritual
foi substituída pela noção do mundo como se ele fosse uma máquina. Isso
se deu devido mudanças revolucionárias na física e na astronomia,
culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e Newton, e baseada
também nos métodos de Francis Bacon e Descartes (CAPRA, 1982).
René Descartes é usualmente considerado o fundador da filosofia moderna,
visualizou um método que lhe permitiria construir uma completa ciência da
natureza. Baseada na matemática em princípios fundamentais que
dispensam demonstração. Na sua concepção, só podemos acreditar
naquelas coisas que são perfeitamente conhecidas e sobre as quais não
pode haver dúvidas (CAPRA, 1982).
A aceitação do ponto de vista cartesiano como verdade absoluta e do
método de Descartes, como único meio válido para se chegar ao
conhecimento, desempenhou um importante papel na instauração de nosso
atual desequilíbrio cultural. O cogito cartesiano, fez com que Descartes
privilegiasse a mente em relação a matéria e levou-o a conclusão de que as
duas eram separadas e fundamentalmente diferente. Desta forma, ele
afirmou que ―não há nada no conceito de corpo que pertença à mente, e
nada na idéia de mente que pertença ao corpo‖ (DESCARTES apud CAPRA,
1982, p.55).
A divisão cartesiana entre matéria e mente teve um efeito profundo sobre o
pensamento Ocidental, ela nos levou a atribuir ao trabalho mental um valor
superior ao trabalho manual, impediu os médicos de considerarem
seriamente a dimensão psicológica das doenças e os psicoterapeutas de
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lidarem com o corpo de seus pacientes. Na física tornou extremamente


difícil, aos fundamentos da teoria quântica, interpretar suas observações
dos fenômenos atômicos, nas ciências humanas, a divisão cartesiana
redundou em interminável confusão a cerca da relação entre mente e
cérebro.
Para Descartes o universo material era uma máquina, não havia propósito,
vida ou espiritualidade na matéria e a natureza funciona de acordo com leis
mecânicas. Esse quadro mecânico da natureza tornou-se paradigma
dominante da ciência no período que seguiu a Descartes, passou a orientar
a observação científica e a formulação de todas as teorias dos fenômenos
naturais, até que a física do século XX ocasionou uma mudança radical.
Segundo Capra (1982), Descartes errou, pois a física do século XX mostrou-
nos que não existe verdade absoluta em ciência, que todos os conceitos e
teorias são limitados e aproximados. A crença cartesiana na verdade
científica é, ainda hoje, muito difundida e se reflete no cientificismo que se
tornou típico de nossa cultura ocidental, tanto cientistas como não
cientistas.
A base filosófica dessa secularização da natureza foi a divisão cartesiana
entre espírito e matéria, em conseqüência dessa divisão, acreditava-se que
o mundo era sistema mecânico suscetível de ser descrito objetivamente,
sem menção alguma ao observador humano, e tal descrição objetiva da
natureza tornou-se ideal de toda a ciência.
Em nossa sociedade atual as pessoas estão convencidas de que o método
científico é o único meio válido de compreensão do universo. O método de
pensamento de Descartes e sua concepção da natureza influenciaram todos
os ramos da ciência moderna e podem ainda hoje serem muito úteis, mas
só serão se suas limitações forem reconhecidas.
De acordo com Capra (1982), Descartes criou a estrutura conceitual para a
ciência do século XVII, mas o homem que deu realidade ao sonho
cartesiano e completou a revolução científica foi Isaac Newton. Nascido na
Inglaterra em 1642, Newton desenvolveu uma completa formulação
matemática da concepção mecanicista da natureza e, portanto, realizou
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uma grandiosa síntese das obras de Copérnico e Kepler, Bacon, Galileu e


Descartes. A física newtoniana forneceu uma consistente teoria matemática
do mundo, que permaneceu como sólido alicerce do pensamento científico
até boa parte do século XX. O decisivo insight de Newton aconteceu quando
ele viu uma maçã cair de uma árvore e compreendeu que ela era atraída
para a terra pela mesma força que atraia os planetas para o sol. Empregou,
então, seu novo método matemático para formular as leis exatas do
movimento para todos os corpos, sob influência da força da gravidade. A
significação dessas leis reside em sua aplicação universal, comprovou-se
que eram válidas para todo o sistema solar. Assim, pareciam confirmar a
visão cartesiana da natureza.
O universo newtoniano era, de fato, um gigantesco sistema mecânico que
funcionava de acordo com leis matemáticas exatas e ele escreveu: ―o
tempo absoluto, verdadeiro, matemático, de si mesmo e por sua própria
natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa‖
(NEWTON apud CAPRA, 1982, p.60).
Na mecânica newtoniana, todos os fenômenos físicos estão reduzidos ao
movimento de partículas materiais, causado por sua atração mútua, ou
seja, pela força da gravidade. O efeito dessa força sobre uma partícula ou
qualquer outro objeto material é descrito matematicamente pelas equações
do movimento enunciadas por Newton, as quais formam a base da
mecânica clássica.
Na concepção newtoniana, Deus criou, no princípio, as partículas materiais,
as forças entre elas e a leis fundamentais do movimento todo. O universo
foi posto em movimento desse modo em contínuo funcionamento, desde
então, como uma máquina, governado por leis imutáveis. Não se pensava
que os fenômenos físicos, em si, fossem divinos em qualquer sentido.
Assim, quando a ciência tornou cada vez mais difícil de acreditar em tal
Deus, um deus monárquico que governaria o mundo a partir do alto,
impondo-lhe sua lei divina, o divino desapareceu completamente da visão
científica do mundo, deixando em sua esteira o vácuo espiritual que se
tornou característica da corrente principal de nossa cultura.
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Os séculos XVIII e XIX serviram-se da mecânica newtoniana com enorme


sucesso e sua teoria foi capaz de explicar o movimento dos planetas, luas e
cometas, assim como o fluxo das marés e outros fenômenos relacionados
com a gravidade. A imagem do mundo como uma máquina perfeita, que
tinha sido introduzida por Descartes foi considerado um fato comprovado e
Newton tornou-se seu símbolo.
Durante o século XIX, os cientistas continuaram a elaborar o modelo
mecanicista do universo na física, biologia, química, ciências sociais e
psicologia. Somente em iniciados do século XX tornou-se claro que a idéia
de uma ciência pesada, ou seja, a física clássica que se baseava na idéia
newtoniana de que os átomos são elementos básicos, duros e sólidos, da
matéria, era parte do paradigma cartesiano newtoniano, um paradigma que
seria superado (CAPRA, 1982).
Em consonância com Capra (1982), as novas descobertas e as novas
formas de pensamento evidenciaram as limitações do modelo newtoniano e
prepararam caminho para as revoluções científicas do século XX. Esta
revolução diz respeito ao aparecimento do novo paradigma o chamado de
paradigma Transpessoal. Ele vem responder à crise que a humanidade e
todo o sistema estão passando.
A psicologia foi moldada pelo paradigma cartesiano, Descartes, além de
estabelecer uma distinção nítida entre o corpo humano perecível e a alma
indestrutível, sugeriu deferentes métodos para estudá-los, a alma ou
mente, deve ser estudada por introspecção, o corpo, pelos métodos da
ciência natural. Desde então, todas as escolas da psicologia seguiram este
modelo, como por exemplo, o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise. Com
a emergência deste novo paradigma e psicologia avançou, surgiu a
Psicologia Transpessoal, filha deste novo paradigma (CAPRA, 1982).
Segundo Ferreira, Brandão e Menezes (2005), o desenvolvimento da
Psicologia Transpessoal foi beneficiado pelas descobertas da nova física, ela
é baseada nas teorias quânticas e da relatividade e possui a visão do
mundo quantum-relativista, constituindo-se holística. Busca analisar seu
impacto na mente humana, principalmente no que diz respeito aos
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diferentes níveis de consciência, produzidos pela presença de determinada


forma de ver o mundo (cartesiana newtoniana X ―unidade dinâmica‖ da
física moderna). Bem como as tecnologias alteradoras de consciência e suas
repercussões na construção de um novo sentido para o mundo. Psicologia
Transpessoal é muito semelhante ao modelo quantum relativismo da física
moderna subatômica, modelos que procuram apresentar um ponto de vista
integrado da teoria de quantum e relatividade [...] o universo todo
(material energia) é uma entidade dinâmica em constante mudança num
todo indivisível (MATOS, 1992, p.11).
Busca estudar estados de consciência experenciados pelo observador, os
quais desvelam a realidade. A apreensão do universo do que é real, sempre
inclui o observador. Um de seus métodos de investigação é, portanto
fenomenológico, estudando estados de consciência para conhecê-los como
níveis de realidade. A realidade nesta perspectiva surge inesperada do
observador (FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).
Para esta nova ciência, como não estamos de fato separados (a
separatividade é real para um nível de consciência ordinário e é ilusão para
o nível de consciência de unidade) somos um todo, inteiro e coerente,
envolvido em um incessante processo de mudança: o holomovimento.
Bohm coloca o mundo em fluxo constante onde estruturas estáveis de
qualquer espécie, são nada mais que abstrações, e qualquer objeto
descritível, entidade ou eventos, são vistos como derivados de uma
totalidade indefinível e desconhecida (BOHM apud FERREIRA, BRANDÃO e
MENEZES, 2005).
De acordo com Ferreira, Brandão e Menezes (2005), a Psicologia
Transpessoal com sua visão holística, propõe-se a estabelecer pontes entre
as filosofias (principalmente as de tradições Orientais) e a ciência Ocidental,
respaldando-se no paradigma quântico-relativístico da realidade. Seu
objetivo é resgatar o conhecimento da totalidade e integrá-lo no das
especialidades abarcando o complexo no simples, o coletivo no singular, o
comum no particular e o universal no individual. A Transpessoal vem
legitimar, por meios científicos, estas tradições espirituais milenares.
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As culturas Orientais desenvolveram também tradições espirituais que se


fundamentam em experiências místicas que levaram a criação de
elaborados modelos de consciência que não podem ser entendidos dentro
da estrutura cartesiana, mas que estão em concordância com recentes
conquistas científica. As tradições místicas Orientais não são primeiramente
interessadas na formulação de conceitos teóricos, elas são, sobretudo
caminhos de libertação. Buscam a transformação da consciência, durante
sua longa história, desenvolveram técnicas sutis para mudar, em seus
adeptos, a percepção consciente de sua própria existência e de sua relação
com a sociedade humana e o mundo natural. Assim as tradições como o
taoísmo, yoga e budismo assemelham-se muito mais a psicologia do que a
filosofia ou religiões (FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).
Em relação à consciência, as teorias dos pensamentos newtonianos têm em
comum é que a consciência e a inteligência criativa não são derivadas da
matéria e sim das atividades neurofisiológicas do cérebro. O cérebro ficava
responsável por tudo e a religião, ética, moral e arte constituíam-se como
subprodutos seus (FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).
No sentido Transpessoal a consciência é vista de maneira nova, é libertada
a idéia de que a consciência é criada dentro do cérebro humano. Esta visão
vai além da crença de que a consciência só existe do resultado de nossas
vidas individuais, ela vê como uma coisa que existe, fora e independente de
nós mesmos, algo sem fronteiras materiais. Diferente da nossa vida diária a
consciência é independente de nossos sentidos físicos, a consciência
transpessoal é infinita, vai além dos limites de espaço e tempo (GROF,
1992).
Nesta nova visão da consciência, nossa vida não é formada por influências
ambientais momentâneas, a partir do dia de nosso nascimento, mas
também é modelada de igual importância por influências ancestrais,
culturais, espirituais, cósmicas e muito mais do que percebemos no sentido
físico (GROF, 2007).
―No campo trans-pessoal experimentamos uma expansão ou extensão da
consciência além dos limites usuais do nosso corpo e do nosso ego, tanto
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quanto muito além dos limites físicos de nossa vida diária‖ (GROF, 1994,
p.113).
―É uma ampliação da consciência comum com visão direta de uma realidade
que se aproxima muito dos conceitos da física moderna‖ (WEIL, 1990, p.9).
Portanto, a Psicologia Transpessoal, constitui-se como uma nova escola da
psicologia, especializada no estudo dos estados de consciência, mais
especificamente da ―consciência cósmica, ou estados ditos ―superiores‖,
―ampliados‖ a ―transpessoais‖ da consciência que podem ser compreendidos
como: entrada numa dimensão fora do espaço-tempo, tal como costuma
ser percebida pelos nossos cinco sentidos (FERREIRA, BRANDÃO e
MENEZES, 2005).
A Psicologia Transpessoal desponta como movimento sistematizado a partir
de 1969, tendo como alvo expandir o campo da pesquisa psicológica,
incluindo áreas da experiência e do comportamento humano associadas à
saúde e ao bem-estar extremo. Com a formação da associação de
Psicologia Transpessoal e a publicação de sua revista, nasceu uma primeira
definição de Psicologia Transpessoal, assim expressa por Sutich (1969 apud
WEIL, 1990, p.29):
Psicologia Transpessoal (ou ―Quarta Força‖) é o título dado a uma força
emergente no campo da psicologia representada por um grupo de
psicólogos e profissionais de outras áreas, de ambos os sexos, que estão
interessados naquelas capacidades e potencialidades últimas que não
possuem um lugar sistemático na teoria positivista ou behaviorista
(―Primeira Fase), na teoria psicanalítica clássica (―Segunda Força‖), ou na
psicologia humanística (―terceira força‖).
O termo Transpessoal foi adotado depois de uma considerável deliberação
em torno dos relatos de praticantes de várias disciplinas da consciência que
falavam de experiências de uma extensão da identidade para além da
individualidade e da personalidade, e a origem do termo é atribuída a Carl
Jung e Roberto Assagioli.
Sem cair nos reducionismos ou mesmo no corporativismo, a Psicologia
Transpessoal busca fazer uma síntese das diversas contribuições das
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tendências terapêuticas. Seguindo esse curso, ela abriga no seu bojo os


diferentes ramos do saber psicológico donde se destacam aspectos da
psicologia no âmbito experimental, fisiológica, patológica, clínica evolutiva,
behaviorista, gestaltista, psicanalítica, existencial e humanística.
Esta integração propõe uma conexão, na qual os recursos destas disciplinas
com suas respectivas tecnologias são agregados sem esfacelamentos, desse
modo, foge-se do ecletismo, que poderia ser identificado como o uso isolado
de técnicas e recursos de diversas disciplinas sem fins de conectividade. Em
consonância com Ferreira, Brandão e Menezes (2005), a Psicologia
Transpessoal nada exclui, pelo contrário, inclui todas as dimensões do ser
humano, proporcionando-lhe, enquanto abordagem psicoterapêutica, meios
para enfrentar o sofrimento e transcender sua identidade egoíca, fonte
permanente desse sofrimento.

A Psicologia Transpessoal no Brasil


A entrada da Psicologia Transpessoal no Brasil deve-se por três vias
principais:
a) ação individual ou via dos pioneiros;
b) movimento popular e comunidades terapêuticas ou via alternativa;
c) oficial ou via acadêmica.
Na primeira via, tivemos psicólogos com formação acadêmica tradicional
que mantinham suas atividades dentro desses enfoques, mas que em suas
vidas privadas tiveram experiências em estados ampliados de consciência
ou mantinham algum contato com tradições espirituais que usavam o
transe como caminho de cura. Esta via era geralmente ambivalente e
dicotômica, pois os padrões de crenças, visões de homem e mundo da
psicologia oficial excluíam qualquer possibilidades de inclusão do sagrado,
de forma que a repressão e a negação eram os mecanismos mais comuns
para lidar com estes fenômenos.
Os pioneiros emergiam e começaram a introduzir os estudos dos estados
ampliados de consciência em seus trabalhos, bem como tentaram equilibrar
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suas visões de mundo com os modelos de psicologia já presentes e


reconhecidos em nossa cultura.
Na segunda via, tivemos a influência dos trabalhos em grupo junto aos
movimentos populares e as comunidades terapêuticas, aqui marcadamente
uma influência do encontro com o humanismo Rogeriano e os movimentos
de contracultura emergentes da década de 60. Era possível em um encontro
discutir problemas de segurança pública e violência, além de vivenciar
dinâmicas de grupo que geravam confiança e ao final orar e cantar pedindo
proteção a deus e aos orixás.
Outro grande grupo, nesta via, era formado por psicólogos que tiveram
oportunidade de contactar in loco com as comunidades Orientais. O estilo
de vida Oriental, com os seus modelos de integração mente e corpo, que
incluíam pratica de yoga, meditação, respiração conduzida, visualizações na
busca por liberação de padrões negativos de comportamento, possibilitavam
aos psicólogos uma primeira tentativa de integração de sua visão de
mundo, de forma que muitos se engajaram nestes movimentos.
Na Psicologia Transpessoal brasileira dois nomes se destacam Pierre Weil
(1990), que além de ter sido pioneiro na introdução da teoria transpessoal,
percorreu no início várias regiões do país, divulgando o surgimento dessa
nova escola no mundo acadêmico e até hoje atua com contribuição teórica
inestimável. O segundo é Leo Matos (1992) que influenciou intensamente a
formação das primeiras gerações de psicoterapeutas transpessoais, além de
ter aberto, com seus cursos na Índia, um canal de comunicação com as
psicologias Orientais.
Admitimos que as dificuldades existentes ainda hoje das universidades
brasileiras em adotar a Psicologia Transpessoal em seus currículos, nos
cursos de formação de psicólogos, resultam não apenas da desinformação
nos meios acadêmicos, mas, principalmente da mudança de paradigma, no
que se refere ao conhecimento da dinâmica psíquica, e da visão de mundo
propostas pelas visões não-duais. É notório que a atual vigência do novo
paradigma científico, com o advento da física quântica, vem respaldar a
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visão integral Desta nova escola, conferindo-lhe o escopo de credibilidade


nos meios científicos mais adiantados.
Entretanto, a Psicologia Transpessoal esta ganhando espaço na academia,
mas ainda perdura uma resistência do conselho Federal de psicologia em
aceitá-la. Quando isso acontecer vai mudar drasticamente a realidade das
faculdades de psicologia no Brasil.

Estados não comuns de consciência


A ciência Transpessoal realiza seus estudos nos estados de consciência que
transcendem a personalidade e o conceito do ego, Grof (2007) os chamou
de estados não comuns de consciência. Estes estados sutis são amplos e
gerais e incluem uma variedade de condições que são de interesse para
esta perspectiva.
Grof (1994) focaliza seus estudos apenas em um subgrupo que difere do
restante, representando uma preciosa fonte de informações sobre a psique
humana, tanto na saúde como na doença, e representa sobremaneira um
notável potencial terapêutico e transformador.
Grof (2007) destaca que o nome holotrópico ―significa, literalmente,
buscando a totalidade ou movendo-se para o todo, do grego holos = todo e
trepein = movendo-se em direção a.
Nos estados holotrópicos temos uma compreensão da dinâmica inconsciente
da nossa psique, descobrimos como nossa visão de nós mesmos e do
mundo é influenciada por memórias esquecidas ou reprimidas da infância,
do nascimento e da vida pré-natal. Além disso, nesses estados, podemos
nos identificar com outras pessoas, animais, plantas e com o mundo
inorgânico, tais visões trazem e podem transformar nossa visão do mundo.
Portanto, quando os estados holotrópicos emergem a consciência, além de
ocasionar a transformação, eles também possibilitam a cura (GROF, 2007).
Segundo Grof (2007), nestes estados, a consciência entra em uma
mudança profunda que não causa danos a ela. Como nas condições de
causa orgânica, o indivíduo permanece orientado no sentido de tempo e
espaço, e não perde o total contato com a realidade diária. Ao mesmo
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tempo, a consciência acessa outras dimensões da existência muito intensas,


assim existe uma experiência de duas realidades distintas.
Nos estados holotrópicos ocorrem mudanças de percepção sensorial, por
exemplo, quando fechamos os olhos podemos ter visões de nossa história
pessoal, do inconsciente coletivo e individual, ter visões de reinos animais e
botânicos, da natureza e do cosmo. Este estado pode levar, também, aos
domínios de seres arquetípicos e a regiões mitológicas, podemos ter
sensações de bem aventurança celestial, muita paz, também podemos
acessar a raiva assassina, desespero total, terror, culpa e outras formas de
sofrimento emocional. Podemos ir parar em reinos paradisíacos ou inferno,
podemos experienciar sabores, sons e sensações variadas (GROF, 2007).
No que diz respeito aos pensamentos, o intelecto não fica debilitado e age
de forma diferente do seu funcionamento diário. Podemos ter revelações de
vários aspectos da natureza e do cosmo, que transcende nosso
conhecimento, temos insights psicológicos de nossa história pessoal, inter
pessoal e emocional, porém os mais interessantes insights tratam de
questões espirituais, filosóficas e metafísicas (GROF, 2007).
De acordo com Grof (2007), podemos experimentar seqüências de morte e
renascimento psicológico, sensação de união com a natureza, com Deus e
com outras pessoas, podemos nos comunicar com seres desencarnados.
Estes estados são a chave para compreender a vida ritual e espiritual da
humanidade, desde o xamanismo, cerimoniais sagrados, aborígenes até
grandes religiosos do mundo.
Observa-se uma grande diferença de atitude entre a civilização industrial do
Ocidente e as culturas antigas pré-industriais, com relação aos estados
holotrópicos. Ao contrário da humanidade moderna, as culturas nativas
davam grande ênfase a estes estados de consciência, dedicando tempo e
esforço para atingi-los. Todas as culturas antigas e pré-indústrias
demonstravam grande interesse pelos estados não comuns de consciência
que os fazem se ligar mais a natureza dos ancestrais e seres superiores
(GROF, 2007).
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Em consonância com Grof (2007), as culturas nativas utilizavam esses


estados como principal meio em sua vida ritual e espiritual. Os estados não
comuns permitiam contato direto com divindades, reinos mitológicos e
forças da natureza, além de curar várias desordens. Apesar dessa cultura
ter conhecimentos em remédios naturais, davam prioridade para a cura
meta-física.
Nestes povos a inspiração artística, idéias para rituais, pinturas, esculturas
e canções vinham naturalmente nesses estados, tanto que culturas antigas
e aborígenes dedicavam significativa quantidade de tempo e energia ao
desenvolvimento de ―técnicas do sagrado‖. Eram utilizados vários
procedimentos para alterar a consciência e induzir a estados holotrópicos
com propósitos espirituais e rituais (GROF, 2007).
Dentre estes métodos, estão combinações de tambores e outros tipos de
percussão, música, cantos, danças, controle da respiração, longo período de
isolamento, permanência em cavernas no deserto, no gelo em montanhas
altas. Intervenções fisiológicas são utilizadas também para chegar a esses
estados, como, por exemplo, desidratação e imposição de dores severas
(GROF, 2007). Segundo Grof (2007), a prática da indução de estados
holotrópicos é o traço característico mais importante do Xamanismo, o
sistema espiritual e arte de cura mais antigo da humanidade. O xamanismo
está conectado a esses estados de outra maneira: os xamãs experientes
são capazes de entrar em transe por pura vontade e de forma controlada e
usam esses estados para curar, diagnosticar doenças e explorar diferentes
dimensões.
Além desses métodos, existe também a utilização de plantas e substâncias
psicodélicas, como os diferentes tipos de cânhamo que servem para serem
fumados ou ingeridos em diversos países. São plantas que alteram a mente
com muita eficácia, como o cacto mexicano (peiote), o cogumelo sagrado
teonanacalt e ololiuqui e a ayahuasca. Esta é uma decocção de um cipó da
selva combinado com uma planta. Há, também, o composto psicodélico de
origem animal, como as secreções da pele de certos sapos (bufo alvarius) e
a carne do peixe Kyphosus fuscus, do Pacífico (GROF, 2007).
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De acordo com Grof (2007), a pesquisa psicofarmacológica moderna


enriqueceu os métodos de indução a esses estados, adicionando
substâncias psicodélicas em forma química pura, seja isolada de plantas ou
sintetizada em laboratórios. Nelas se incluem os tetra hidro canabinol
(THC), princípio ativo do haxixe e da maconha, a mescalina do peiote, a
psilocibina, a psilocina, dos cogumelos mágicos mexicanos, o LSD ou
dietilamida, do ácido lisérgico e vários derivados da triptamina, dos rapés
psicodélicos.
Na década de 50 e 60, com a descoberta do LSD, abriram novos caminhos
para estudos da consciência humana, a sua introdução foi revolucionária
para as pesquisas relacionadas à consciência e mudou a visão que muitos
tinham da psicanálise, pois proporcionou mais viagem, não só, pela
primeira e segunda infância, mas também pelo cosmos, pela natureza, pela
gestação, morte renascimento, encontros com divindades, tribos. Surgiu
grande interesse por práticas espirituais, filosofias, xamanismo, misticismo,
práticas Orientais, psicoterapias experimentais e outras explorações da
psique humana (GROF, 2007).
O uso de substâncias psicodélicas está entre os meios mais poderosos e
diretos de promover estados incomuns de consciência. Grof (2007) destaca
os riscos de seu uso, tanto por problemas legais, como por requerem uma
ampla estrutura de apoio para dar suporte aos efeitos colaterais produzidos
por elas.
O isolamento sensorial é uma técnica laboratorial muito eficaz para alterar a
consciência, envolve uma redução significativa de estímulos sensoriais
expressivos, em sua modalidade mais extrema. O indivíduo é privado de
qualquer informação sensorial através da submersão em um tanque escuro
e a prova de som, com água na temperatura do corpo. Outra técnica
laboratorial de mudanças de consciência é o biofeedback, onde o indivíduo é
guiado, com sinais eletrônicos de feedback (retroalimentação), a estados
holotrópicos de consciência. Existe também, a técnica de privação de sono e
sonhos e o sonhar lúcido (GROF, 2007).
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Segundo Grof (2007), é importante dizer que episódios de estados


holotrópicos de duração variada podem ocorrer espontaneamente, muitas
vezes contra a vontade da pessoa envolvida. Como a psiquiatria moderna
não faz diferença entre estados místicos, espirituais e doenças mentais, as
pessoas nesses estados são rotuladas psicóticos, são hospitalizadas e
recebem tratamentos de rotina com supressores psicofarmacológicos. Grof
e Christina se referem a esses estados como crises psicoespirituais ou
emergenciais espirituais que devidamente apoiadas e tratadas podem
resultar em cura emocional e psicossomática, transformando positivamente
a personalidade e evoluindo a consciência.

A nova cartografia da psique


Para explicar o fenômeno dos estados holotrópicos Grof (2007) faz um
modelo com imagem mais abrangente de psique humana, em uma
compreensão da consciência radicalmente diferente. Esse mapa contém
além do nível biográfico usual, os domínios transbiográficos: o perinatal,
relacionado com o trauma do parto biológico e o transpessoal, que explica
fenômenos de identificação com animais, plantas, outras pessoas, natureza,
memórias ancestrais, cármicas, raciais, filogenéticas, visões de regiões
mitológicas, experienciais de identificação com a mente universal, com o
vazio supra-cósmico e meta-cósmico. Esses fenômenos têm sido descritos
há muitos anos pela literatura religiosa mística e oculta de vários países do
mundo. Segundo Grof (2007) O domínio biográfico da psique consiste de
nossas memórias de infância, adolescência e vida adulta. Esse domínio é
muito conhecido pela psicologia, psiquiatria e psicoterapia tradicionais,
porém a nova descrição da psique do nível biográfico, em estados
holotrópicos, revelou novas dinâmicas desse domínio que ficaram
desaparecidas pelos pesquisadores da psicoterapia verbal. Nesses estados a
pessoa sente emoções originais, sensações físicas, percepções sensoriais da
época, ao ponto de rugas dessas pessoas desaparecerem temporariamente
quando atingem esses níveis de consciência.
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Além do nível de memórias da infância, há o nível perinatal do inconsciente,


onde encontramos sensações físicas e emoções de extrema intensidade que
podem ultrapassar qualquer coisa que pudéssemos previamente ter
considerado humanamente possível.
A medicina tradicional nega que a criança possa experimentar o nascimento
de forma consciente, ela alega que esse evento não fica guardado na
memória e não se houve falar em experiências perinatais. Na opinião
médica tradicional, só um nascimento muito difícil, que possa causar danos
irreversíveis as células cerebrais, pode causar conseqüências patológicas e
em sua maior parte de natureza neurológica, como retardo mental e
hiperatividade. Devido o córtex cerebral de um recém nascido não está
totalmente cobertos com mielina, há a negação da possibilidade de
memória do nascimento, mas essa idéia é particularmente absurda, quando
consideramos que a capacidade de memória existe em muitas formas de
psicoterapia experimental (GROF, 2007).
Grof (2007) tem evidências convincentes de que o parto biológico é o
trauma mais profundo de nossas vidas, ele fica gravado em nossa memória
até o nível celular e tem um efeito profundo sobre nosso desenvolvimento
psicológico. E a experiência de reviver aspectos do parto biológico pode se
autêntica, mesmo se a pessoa não tenha conhecimento intelectual sobre
seu nascimento.
Podemos, por exemplo, descobrir se nascemos com o cordão umbilical
enrolado no pescoço, se houve utilização de fórceps, podemos sentir
ansiedade, fúria biológica a dor física e até reconhecer o tipo de anestesia
utilizada. Isso costuma vir acompanhado de movimentos no tronco, braços,
pernas, podem surgir marcas, inchaços e outras mudanças na pele.
Essas observações sugerem que o registro do trauma do nascimento tem
um alcance que vai até o nível celular, além da grande conexão entre
nascimento e morte, pois reflete o fato do nascimento ser potencial ou real
ameaça a vida.
As experiências que tem origem neste nível do inconsciente surgem em
quatro padrões experienciais distintas, dos quais se caracterizam por
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emoções, sensações físicas e imagens simbólicas específicas, as quais Grof


(2007) se refere como matrizes Perinatais básicas ou MPBs.
Primeira Matriz Perinatal Básica (MPB1) é chamada de união primordial com
a mãe. A existência intra-uterina anterior ao início do trabalho de parto, o
―universo amniótico‖, representa a MPB1. O feto não diferencia interno e
externo e não tem percepção de fronteiras, podemos nos identificar com
galáxias, com o espaço inter-estrelas ou com todo o cosmo, identificação
com animais aquáticos, como peixes, águas-vivas, golfinhos, baleias. As
experiências neste domínio podem ser associadas a visões arquetípicas da
mãe natureza, segura, linda e acolhedora, imagens mitológicas do
inconsciente coletivo, reinos celestiais e paraísos. Estas experiências
representam o útero bom (GROF, 2007).
Quando as memórias intra-uterinas são de útero mal, sentimos que
estamos sendo envenenados, sentimos sensações de ameaça obscura,
imagens retratando águas poluídas e depósitos de lixo tóxico, visões e
arquétipo de assustadores demônios, ameaça universal, visões apocalípticas
do fim do mundo. Isso reflete íntimas interconexões entre eventos em
nossa história biológica e os arquétipos Junguianos (GROF, 2007).
A segunda Matriz Perinatal Básica (MPB2) é chamada por Grof (2007) de
engolfamento cósmico sem saída ou inferno. Nesta MPB é quando estamos
revivendo o início do parto biológico. Podemos ter a sensação de que o
mundo inteiro, ou cósmico, está sendo engolfado e isso pode vir associado a
imagens de monstros arquétipos devoradores como leviatã, dragões, cobras
gigantes, tarântulas ou polvos, sensação de uma ameaça vital que pode
levar a uma ansiedade intensa ou paranóia.
Outra experiência da MPB2 é o descer ao reino da morte ou inferno. Reviver
esse estágio do nascimento é uma das piores experiências, pois as
contrações do útero comprimem o feto periodicamente, a cérvice ainda não
está aberta e o feto é ameaçado pela falta de oxigênio. Sentimo-nos presos,
dentro de um monstruoso pesadelo claustrofóbico, exposto a dores físicas e
emocionais, parece que nunca vai passar esse momento, e são
acompanhados de seqüências que envolvem pessoas, animais, seres
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mitológicos em situação de dor e desespero semelhantes ao feto. Podemos


nos identificar com vítimas da inquisição, prisioneiros em campos de
concentração, asilos para loucos ou experimentar a agonia de Cristo na cruz
(GROF, 2007).
Enquanto estamos na influência desta matriz, somos incapazes de ver algo
positivo em nossas vidas, a conexão com o divino parece está perdida e a
forma mais rápida de dar término a esse estado insuportável é render-se
completamente a ele aceitando-o. Esse estado é conhecido na literatura
espiritual como a noite escura da alma, ele é um estagio de abertura
espiritual que pode ter um grande efeito purificador e libertador.
De acordo com Grof (2007), a MPB3 é denominada: A luta de morte e
renascimento. Esta MPB está associada ao segundo estágio clínico do parto
biológico. Este estágio é caracterizado pela propulsão do feto através do
canal de parto, após a abertura do colo do útero e a descida da cabeça até
a pélvis. Nesta fase existem as contrações uterinas, mas a cérvice já está
dilatada, o que permite a gradual propulsão do feto pelo canal de parto, o
que envolve dores, asfixia, interrupção de circulação sanguínea. Algumas
coisas podem acontecer, como o cordão umbilical pode ser esmagado entre
a cabeça e a abertura pélvica ou ficar enrolado em volta do pescoço, a
placenta pode se soltar durante o parto ou obstruir a saída, o feto pode
inalar vários tipos de material biológico e se os problemas forem mais
extremos pode-se ter o uso de fórceps ou até uma cesariana de
emergência.
Na MPB3, além de reviver diferentes aspectos da luta no canal de parto, ela
envolve imagens arquetípicas da natureza e história humana, as mais
importantes são as batalhas titânicas, seqüências sados-masoquistas e
agressivas, experiências de sexualidade desviada, envolvimento
escatológico e encontro com fogo.
O aspecto sado-masoquista e agressivo desta matriz referem à fúria
biológica do organismo, cuja sobrevivência é ameaçada pela asfixia. Neste
aspecto da MPB3 podemos experienciar cenas de assassinatos e suicídios
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violentos, mutilações, guerras, revoluções, sacrifícios, sangrentos


combates.
No que diz respeito às experiências sexuais desta matriz perinatal, há uma
grande intensidade por sua qualidade mecânica não-seletiva e por sua
natureza exploradora, pornográfica e desviada, que são representadas em
cenas de bordeis, praticas eróticas extravagantes e seqüências sados-
masoquistas, como também, episódios de incesto, estupro, crimes sexuais,
canibalismo e necrofilia (GROF, 2007).
O aspecto escatológico do processo morte e renascimento tem sua base
biológica no fato de que, durante a fase final do parto, o feto pode entrar
em contato com várias formas de matéria biológica, como sangue,
secreções vaginais, urina e fezes, levando-o, em estados holotrópicos, a
envolver-se em cenas por dentro de esgoto, lixo ou beber sangue e urina.
Ao passo que se aproxima do término do processo da MPB3 a atmosfera
dominante é de extrema paixão, as imagens são de conquistas de novos
territórios, caça a animais selvagens, esportes desafiadores, atividades
essas que envolvem ―ondas de adrenalina‖. Nesses momentos podemos
encontrar figuras arquetípicas ou divindades, semi-deuses, ter visões de
Jesus, em seu tormento e humilhação pelo caminho da cruz, mas antes da
experiência do renascimento psicoespiritual, característica desta MPB, é
comum o contato com o fogo (GROF, 2007).
Esse tema pode ser experimentado em sua forma comum do dia-a-dia ou
na forma arquetípica do fogo do purgatório. Podemos ter visões de cidades
e florestas em chamas e o nosso corpo também em chamas. Um símbolo
clássico da transição da terceira para quarta MPB é o lendário pássaro fênix,
que morre no fogo e eleva-se e ressuscita das cinzas.
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A quarta matriz perinatal básica é chamada por Grof (2007) de experiências


de morte renascimento. Ela se configura por ser o terceiro estágio clínico do
parto, onde acontece à expulsão final do canal de parto e o corte do cordão
umbilical. Nessa matriz contemplamos o processo anterior, de propulsão
pelo canal de parto, atingimos uma liberação explosiva e emergimos para
luz; esse processo pode ser acompanhado por memórias de vários aspectos
específicos a esse estágio do nascimento. Podem incluir experiências da
anestesia, as pressões do fórceps e outras sensações associadas a parto.
Essa não é uma simples experiência, é também uma experiência de morte e
renascimento psicoespiritual. Mas não é apenas isso, precisamos nos dar
conta que esse processo inclui alguns outros elementos importantes. Devido
o feto está totalmente confinado durante o nascimento e não poder
expressar suas emoções, a memória desse fato fica sem ser assimilada
psicologicamente. Como consequência, a nossa auto-definição em relação
ao mundo em nossa vida pós-natal, são contaminadas por essa lembrança
de vulnerabilidade e fraqueza que vivemos no nascimento, pois nascemos
anatomicamente, mas emocionalmente não nos damos conta disso (GROF,
2007).
A morte do ego que precede o renascimento é a morte de nossos antigos
conceitos de quem somos e de como é o mundo quando purgamos essas
antigas programações, tornando-as consciente. Elas perdem sua carga
emocional, mas estamos tão identificados com elas que a aproximação do
momento da morte do ego parece ser o fim da nossa existência e apesar de
parecer assustador esse processo é muito curativo e transformador.
Em consonância com Grof (2007), quando deixamos as coisas acontecerem,
temos experiência de aniquilação total, destruição física, desastre
emocional, fracasso moral, derrota filosófica e até maldição espiritual. Tudo
que parece significativo em nossas vidas é destruído e após essa
experiência de total aniquilação somos tomados por visões de luzes brancas
e douradas de irradiação e beleza sobrenatural.
Após termos sobrevivido a essa experiência de fim apocalíptico de tudo,
somos abençoados por demonstrações de belos arco-íris, cenários
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celestiais, luz divina, o encontro com a figura arquetípica da grande Deusa


Mãe em sua forma universal. Após essa experiência de morte e
renascimento psicoespirituais, sentimo-nos redimidos e abençoados
experimentando o êxtase, somos tomados por ondas positivas em relação a
nós, a outras pessoas e a natureza.
É bom lembrar que esse tipo de experiência curadora ocorre quando a parte
biológica não foi muito debilitante devido à anestesia, se for esse o caso
não temos essa sensação positiva e sim uma sensação semelhante a uma
lenta recuperação de uma doença ou acordar de uma ressaca.
O segundo novo domínio, da nova cartografia da psique humana em
estados holotrópicos, descritos por Grof (2007), é o Transpessoal que
significa ―atingindo o além-pessoal‖ ou ―transcendendo o pessoal‖. Envolve
a transcendência do nosso corpo e ego e as limitações do espaço
tridimensional e do tempo linear, que restringem nossa percepção do
mundo nos estados comuns de consciência.
Nos estados normais de consciência nossa visão do mundo é restringida
pela limitação de nossos órgãos de sentidos e pelas características físicas do
ambiente, não podemos ver objetos do outro lado da parede, só podemos
vivenciar acontecimentos no momento presente. Diferentemente nos
estados transpessoais de consciência, nenhuma limitação é absoluta,
qualquer uma pode ser transcendida, não há limites para o alcance de
nossos sentidos e podemos experimentar episódios que ocorreram no
passado e até mesmo episódios que ocorrerão no futuro (GROF, 2007).
O espectro de experiências transpessoais, descrito por Grof (2007) é muito
rico e inclui vários e diferentes níveis da consciência e podem ser dividido
em três grandes categorias:

1- Extensão experiencial dentro do espaço-tempo e da realidade


consensual;

2- Extensões experimentais além do espaço-tempo e realidade


consensual;

3- Experiências transpessoais de natureza psicóide.


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A primeira delas apresenta-se experiências de fusão com outras pessoas é a


―união dual‖, isso é assumir a identidade de outra pessoa ou identificar-se
com a consciência de todo um grupo de pessoas como, por exemplo, com
todas as mães do mundo ou todos os prisioneiros dos campos de
concentração. Podemos também, identificar-nos com a consciência de
animais, plantas, objetos inorgânicos e até mesmo todo o planeta ou o
universo material, é como se tudo no universo tivesse seu aspecto objetivo
e subjetivo, como é descrito pelas grandes filosofias espirituais do oriente.
Nessa primeira categoria podemos ter também memórias embrionárias ou
fetais autênticas de diferentes períodos da vida intra-uterina, além de
fantásticas experiências de DNA associadas a insights do mistério da vida,
da reprodução e da hereditariedade (GROF, 2007).
A segunda categoria de fenômenos transpessoais que a nossa consciência
pode alcançar são domínios e dimensões considerados irreais pela cultura
industrial do Ocidente, como identificação com divindades e demônios
arquétipos de várias culturas e visitas a paisagens mitológicas. Podemos
compreender símbolos universais como a cruz, o pentagrama, a estrela de
seis pontas, a suástica ou o símbolo yin-yang. Nessa categoria a consciência
pode identificar-se com a consciência cósmica ou mente universal (Buda,
Cristo cósmico, Alá, o Tao, Brahman) e o ponto culminante dessas
experiências é o vazio supracósmico ou metacósmico.
A terceira categoria compreende o que Grof (2007) denomina de psicóide.
Grupo esse que inclui situações nas quais experiências intra-psíquicas
associam-se a eventos correspondentes no mundo externo com as quais
tem correlações significativas. As experiências psicóides cobrem um vasto
campo, desde sincronicidade, cura espiritual e magias cerimoniais, até a
psicocinese e outros fenômenos de mente sobre a matéria, conhecidas pela
literatura iogue.
Esta nova cartografia vem revolucionar, não só a psicologia, mas a forma
de compreender e enxergar o ser humano, reflete, assim em todas as
disciplinas, principalmente aquelas que trabalham com o ser humano. Este
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novo conhecimento é o que Grof (2007) intitula no seu livro, como a


Psicologia do Futuro.

Os sistemas COEX
O novo conceito que surgiu através dessas novas pesquisas de Grof (2007),
foi a descoberta de que memórias relevantes emocionalmente não ficam
guardadas no inconsciente tal como um mosaico com gravuras isoladas,
mas sim em forma de complexas constelações dinâmicas, a qual Grof
denominou sistemas COEX (sistemas de experiência condensada). Um
sistema COEX consiste de memórias com carga emocional, de diferentes
períodos de nossas vidas, que se assemelham pela qualidade da emoção ou
sensação física que compartilham. O inconsciente de um determinado
indivíduo pode conter várias constelações COEX (GROF, 2007, p.37).
Por exemplo: as camadas de um determinado sistema podem conter todas
as principais lembranças de humilhação, degradação e experiências
vergonhosas que causaram danos a sua auto-estima. Já em outro sistema
COEX, o denominador comum pode ser a ansiedade causada por sensações
de confinamento, claustrofobia, asfixia. Outro tema é a rejeição e privação
emocional que pode levar a dificuldade de confiar em homens e mulheres e
pessoas em geral (GROF, 2007).
Um sistema COEX de particular importância são os que contêm lembranças
de situações de ameaça a vida, a saúde e a integridade física, mas não é só
de memórias dolorosas e traumáticas que estão no COEX, há também
aquelas que compreendem memórias de situações e momentos agradáveis
ou até de êxtase.
De acordo com Grof (2007), este conceito surgiu da psicoterapia com
clientes que surgiram de psicopatologias graves, onde o trabalho com os
aspectos traumáticos de vida tiveram uma grande importância, por isso as
constelações que envolvem experiências dolorosas receberam mais atenção,
mas o sistema COEX não se limita a memórias traumáticas.
Nos estágios iniciais de suas pesquisas Grof (2007) descreveu os sistemas
COEX como princípios que governavam a dinâmica do nível biográfico do
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inconsciente, devido experiências dele e do estreito modelo biográfico da


psique, herdado de professores e de seus analistas freudianos.
Na compreensão atual, Grof vê que os sistemas COEX vão mais além, suas
raízes mais profundas consistem de varias formas de fenômenos
transpessoais, como experiência de vidas passadas, arquétipos Junguianos,
identificação consciente com vários animais e plantas. Eles são os princípios
gerais de organização da psique humana e se assemelha até certo ponto as
idéias de Jung sobre os ―complexos psicológicos (JUNG, 1905 apud GROF,
2007) e a noção de Hanskail Leuner sobre ―sistemas dinâmicos
transfenomenológicos‖ (LEUNER, 1962 apud GROF, 2007), mas contém
outros aspectos que diferem dos dois.
Os sistemas COEX podem influenciar a forma pela qual percebemos a nós
mesmos, a outras pessoas, ao mundo e como nos sentimos e agimos. Entre
os sistemas COEX e o mundo externo, há uma interação dinâmica, pois
acontecimentos externos podem ativar especificamente sistemas COEX
correspondente, e esses COEX ativos podem nos fazer perceber e reagir de
tal forma que recriamos seus temas centrais em nossa vida atual, Isso pode
ser observado com clareza no trabalho experimental em estados
holotrópicos, pois o conteúdo das experiências, a percepção do ambiente e
o comportamento de clientes são determinados em geral pelos sistemas
COEX que domina a sessão (GROF, 2007).

Terapia Holotrópica
De acordo com Grof (2007, p.184), a expressão Terapia Holotrópica deve
ser reservada ―para nosso procedimento de tratamento que combina
respiração controlada, música e outras formas de tecnologia sonora, e
trabalho corporal focalizado‖.
Esta terapia tem como pressuposto a idéia de que a maioria dos indivíduos,
de nossa cultura, com níveis de desenvolvimento médio, subtiliza seus
potenciais devido ao aprisionamento rígido a uma identificação com o seu
corpo físico e com o ego.
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Segundo Grof (2007), um dos princípios centrais da Terapia Holotrópica


está ligado ao reconhecimento do caráter transformador dos estados
ampliados de consciência, de forma que busca, através de técnicas,
promoverem estes estados, objetivando acessar os potenciais curativos
espontâneos do organismo.
Na Terapia Holotrópica os estados não comuns de consciência, induzidos ou
não, há uma seleção automática de material mais relevante e
emocionalmente carregado do inconsciente da pessoa, o que tiver mais
emergente em nosso complexo vem à tona, tornando disponível para nossa
mente consciente. Grof (2007) chamou este mecanismo de ―radar interno‖,
ele faz emergir a consciência o conteúdo inconsciente, que tem maior carga
emocional e que são psicodinamicamente mais relevantes na ocasião. Essas
memórias que emergem através do radar interno, não só são de fatos
emocionais, mais também de eventos que ameaçaram a integridade do
corpo físico.
O radar interno livra o terapeuta de precisar decidir sobre quais problemas
que surgem do inconsciente do cliente, são importantes ou não. Desta
forma, traz vantagem à psicoterapia verbal, nesta o cliente trás informações
variadas e o terapeuta decide o que é importante questionar. Logo a
tendência pessoal do terapeuta irá interferir na sessão terapêutica (GROF,
2007).
De acordo Grof (2007), nos estados holotrópicos o terapeuta não toma
decisões, pois uma vez que o cliente atinge esse estado, o material a ser
processado é escolhido quase automaticamente e resta ao terapeuta aceitar
e apoiar o que estiver acontecendo, estando ou não de acordo com seus
conceitos teóricos e expectativa. A função do terapeuta é de apoiar o cliente
com total confiança, sem tentar direcioná-lo ou modificá-lo, o processo é
guiado pela inteligência curativa do próprio cliente. O terapeuta é a pessoa
que ajuda no processo de cura e não um elemento ativo, sua tarefa é
consertar o cliente, mesmo que ele não entenda racionalmente o que se
passa.
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A terapia verbal pode ser útil para o aprendizado interpessoal e para


retificar desajustes nos relacionamentos humanos, mas é ineficaz para lidar
com bloqueios emocionais e bioenergéticos e com macro traumas que
subjazem a muitas desordens emocionais e psicossomáticas. Logo, na
primeira metade do século XX, os estados holotrópicos eram associados à
patologia e não a cura, situação essa que começou há mudar nos anos 50
com o aparecimento da terapia psicodélica e com inovações radicais na
psicologia (GROF, 1994).
Grof (2007) aponta outra diferença entre as terapias verbais e a terapia que
envolve os estados holotrópicos, é que na segunda, a pessoa muitas vezes
revive o trauma, principalmente os de natureza física. Elas revivem
experiências de afogamento, acidentes, cirurgias, doenças infantis e esses
materiais surgem de forma espontânea. É comum encontrar históricos de
trauma físico em clientes que sofrem de asma, enxaqueca, dores
psicossomáticas, fobias, tendências suicidas ou sado masoquista. O reviver
dessas memórias pode levar a muitas conseqüências terapêuticas boas.
Este fato contrasta com a posição da psiquiatria e da psicologia acadêmica,
que não reconhece o impacto psicotraumático dos traumas físicos.
Grof (1994) revela que neste tipo de terapia os sintomas surgem como
denunciadores dos limites auto imposto ao organismo, bem como tentativas
de alcançar a realização de seu potencial. Sendo assim, passam a ser vistos
como uma tentativa de cura espontânea do organismo. Os sintomas são
utilizados como potencializadores das mudanças, cabendo ao assistente da
cura, o terapeuta, apoiar o processo experiencial com plena confiança em
sua natureza, sem tentar mudá-lo.
Influenciado pelo seu modelo sistemático de trabalho, os psiquiatras
tendem a ver a intensidade dos sintomas como um indicador da seriedade
das desordens emocionais e psicossomáticas. Logo a intensificação dos
sintomas é vista como piora e sua diminuição como melhora de sua
condição clínica (GROF, 1994).
De acordo com Grof (1994), a pesquisa de estados holotrópicos revelou que
sintomas psicopatológicos e síndromes de origem psicopatogênicas não
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podem ser explicados por traumas da biografia pós-maternal. Estas


pesquisas revelaram que essas condições têm estrutura dinâmica com
vários níveis que inclui elementos dos domínios perinatal e transpessoal da
psique.
Essa descoberta revela porque a abordagem verbal de orientação biográfica
tem sido desapontadoras no tratamento de problemas clínicos graves, pois
seus métodos são incapazes de atingir as raízes da condição que estão
tentando curar. Nos estados holotrópicos não só revelam que as desordens
emocionais e psicossomáticas têm dimensões perinatais e transpessoais
significativas, como fornece acesso a eficazes mecanismos terapêuticos
novos que agem nesses níveis profundos da psique (GROF, 1994).
Portanto, a Terapia Holotrópica tem por objetivo principal ativar o
inconsciente, desbloquear a energia presa nos sintomas emocionais e
psicossomáticos e converter o equilíbrio estático desta energia na corrente
de experiência, favorecendo o desenvolvimento da consciência (GROF,
1994).
Papel do Terapeuta Transpessoal
Wittine (apud FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005, p.136) apresenta a
Terapia Transpessoal como:
Uma abordagem de cura/crescimento que visa estabelecer uma ponte entre
a tradição psicológica Ocidental, inclusive as perspectivas psicanalíticas e
psicológicas existenciais, e a filosofia perene universal. O que diferencia a
terapia transpessoal de outras orientações não é nem a técnica nem os
problemas apresentados pelo pacientes, mas a perspectiva espiritual do
terapeuta.
Aqui compreendemos a ―perspectiva espiritual‖ do terapeuta como espaço
onde ele se insere, considerando a natureza espiritual ou transcendente do
ser-no-mundo, como uma categoria a ser vivenciada quando trabalhada
com seus clientes. De modo que é importante o processo de integração das
dimensões transpessoais com as dimensões pessoais do ser.
O terapeuta transpessoal é um ser humano comum em processo de
crescimento pessoal e desenvolvimento espiritual, ele não é um mago ou
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mágico que promete curas milagrosas através da expansão da consciência.


Porém, espera-se que ele seja um ser humano vivenciador ou buscador de
valores elevados, ética, consciência ampliada e conhecedor da capacidade
de transcendência da dimensão humana. É necessário que ele não
negligencie seu próprio trabalho interior e busque aliar o conhecimento de
práticas espirituais, as técnicas que melhor se identifica com um profundo
resgate e integração de suas sombras (FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES,
2005).
Dentro deste contexto, há uma diferença entre aquele psicólogo que
concorda com a abordagem transpessoal e o psicoterapeuta transpessoal. O
psicólogo transpessoal possui o conhecimento teórico autodidata ou
adquirido em congressos, simpósios, leituras ou mini-cursos informativos
que não conferem uma formação completa e não habilitam a atividade
psicoterapêutica (FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).
Já no caso do psicoterapeuta transpessoal, além da formação convencional,
em psicologia ou psiquiatria, é indispensável que ele também possua uma
formação teórica vivencial em psicologia e psicoterapia transpessoal,
incluindo certos requisitos mais exigentes do que em outras abordagens. É
importante também que ele tenha o conhecimento das questões espirituais,
procurando não seguir dogmatismo, mas ficando aberto a grande variedade
dessas questões, dentro do âmbito das diversas religiões, filosofias e
tradições multicentenárias.
O terapeuta deve estar aberto a todas as manifestações religiosas e enfocar
sua atuação num contexto antropológico e fenomenológico, sem, no
entanto, induzir o cliente as suas crenças particulares, mantendo o máximo
de cuidado com esse aspecto ético para não vincular a psicologia
transpessoal a qualquer corrente religiosa específica sob risco de adulterar
seus pressupostos de abertura integral e de pluralidade (FERREIRA,
BRANDÃO e MENEZES, 2005).
Técnicas inspiradas no xamanismo e nas filosofias e tradições Orientais tem
que ser muito bem aplicadas e o terapeuta ter o conhecimento da
interferência que elas podem causar na dinâmica psíquica mediante suas
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correlações bio-psi-socio espirituais. Salienta-se que elas não devem ser


usadas aleatoriamente; o terapeuta deve ter o domínio de sua
aplicabilidade e utilizá-la com consciência.
Supõe-se que o terapeuta transpessoal pretenda facilitar ao seu cliente de ir
além do ego, portanto, é indispensável, que ele próprio esteja no
investimento pessoal de transcender seu próprio ego. Acreditamos não ser
possível guiar alguém num caminho que não trilhamos, ainda mesmo
conhecendo o mapa, pois ―O mapa não é território‖ (FERREIRA, BRANDÃO e
MENEZES, 2005).
Se dentro do contexto da terapia surge a necessidade do toque físico, o
terapeuta transpessoal pode fazê-lo, explicitando a importância do seu
gesto, mas respeitando a individualidade e os limites dos clientes. É
indispensável evitar manipulação por parte do terapeuta, como provocações
sensuais e atitudes sedutoras, mesmo que estas tenham um pretexto de
―quebrar resistências‖, ―desbloquear a sexualidade‖ ou atitudes
semelhantes.
Segundo Ferreira, Brandão e Menezes (2005), no que diz respeito às
possibilidades de atendimento não há contra-indicação para o terapeuta
transpessoal atender pessoas próximas, desde que essa proximidade não o
impeça de exercer o seu papel com assertividade, amorosidade e firmeza.
Desde que os vínculos egoícos estejam bem claros no trabalho, evitando
assim as distorções das manifestações transferências.
Se a única motivação do terapeuta é ajudar o cliente, ele poderá fazê-lo
baseando sua atitude na verdade e na sinceridade, sem a tendência de
querer agradar seu ―amigo-cliente‖, pois a sua função não é a de ser
―bonzinho‖, e sim beneficiá-lo no processo de crescimento.
O psicoterapeuta transpessoal lida com a transferência e
contratransferência diferentemente do psicanalista, pois a psicanálise tem
na transferência seu eixo de cura e por isso a estimula. Em psicoterapia
transpessoal, reconhecem-se e se clarificam os fenômenos transferênciais
tanto os da parte do paciente quanto o do terapeuta, principalmente
quando se está trabalhando no nível biográfico da consciência.
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A título de esclarecimento e para evitar dúvidas, informamos que o uso de


―cristais‖, ―florais‖, ―tarô‖, ―reiki‖, ―pêndulo‖, ―do-in‖, ―massagem‖,
―shiatsu‖, ―alinhamento do chakras‖, entre outros, não se traduz por
psicoterapia transpessoal e por isto mesmo estas não compõem o conjunto
de técnicas pesquisadas, aplicadas e validadas nesta abordagem científica.
No entanto, a Psicologia Transpessoal não invalida a utilização destes
recursos como facilitadores do equilíbrio bio-psico-espiritual, na medida em
que eles mobilizam mudanças através da manipulação do campo
energético, largamente pesquisado em outros modelos de saúde.
Veremos agora os postulados de Wittine (apud FERREIRA, BRANDÃO e
MENEZES, 2005) sobre alguns norteamentos da Psicologia Transpessoal e
de que como o terapeuta deve proceder.

Postulado 1: A Psicoterapia Transpessoal é uma abordagem de


transformação que se dirige a todos os níveis do espectro da identidade -
egoíco, existencial e transpessoal. Dentro desta perspectiva, o terapeuta
considera que as problemáticas vividas pelo paciente podem se encontrar
em qualquer um desses três níveis, de forma que as respostas de cunho
essencialmente existencial, como ―quem sou?‖, ―de onde venho‖? ―para
onde vou‖?, tão centrais no campo da psicologia e também da filosofia,
dependem do nível de consciência ou da posição fenomenológica onde o
indivíduo esta espectro da consciência.
Postulado 2: A Psicoterapia Transpessoal reconhece que a percepção do
terapeuta sobre o eu em desenvolvimento, bem como a visão espiritual de
mundo desse eu, são essenciais ao processo de formulação da natureza e
ao resultado da terapia. O trabalho terapêutico quando se centraliza no
processo de transformação do EU, ou dos pequenos eus, com vistas à
ampliação do nível egoíco, facilita ao paciente o processo de crescimento e
transformação. Esta atuação do terapeuta pode facilitar ao paciente a
ampliação de seu senso de identidade, de forma que se perceba além de
suas defesas e limitações.
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Postulado 3: A Psicoterapia Transpessoal é o processo de despertar de


uma identidade inferior para uma identidade superior. A metáfora de
transformação da consciência de uma identidade inferior para uma superior
é utilizada dentro do contexto transpessoal, de forma que a passagem de
níveis egoícos de funcionamento para níveis transpessoais de consciência é
buscada, dentro da psicoterapia transpessoal sem, no entanto, haver uma
perspectiva de hierarquização rígida como vimos no postulado 1.
Postulado 4: A psicoterapia transpessoal facilita o processo do despertar
através do enriquecimento da conscientização interior e da intuição.
Baseando-se nos princípios da filosofia e psicologia perene, a psicoterapia
transpessoal coloca o processo de crescimento a níveis mais saudáveis e
profundos como decorrentes de uma expansão continua da consciência. A
mudança de foco da atuação para níveis internos é considerada por si
mesma curativa, abrindo espaço para o uso da intuição, bem como de
outros recursos além dos cognitivos na resolução de problemas.
Postulado 5: Na psicoterapia transpessoal, a relação terapêutica é um
veículo para o processo de despertar tanto no caso do cliente quanto do
psicoterapeuta. Para a psicoterapia transpessoal, é no vínculo terapêutico,
na condição de campo de contato existencial, que estão às sementes para o
processo de transformação interior. É neste espaço vital e algo virtual que
se estabelece um profundo contato entre os seres que ocupam o lugar de
cliente e terapeuta. É aí que emerge o potencial de cura direcionado ao
cliente, mas que reverbera também no próprio terapeuta.
Postulado 6: A compreensão do contexto, conteúdo e do processo são
fundamentais na condução da psicoterapia transpessoal. A psicoterapia
transpessoal tem como meta a obtenção de níveis de saúde psicológica
mais ampliada, ou seja, que favorecem a expansão da consciência para
além das necessidades básicas de sobrevivência (alimentação, abrigo e
relacionamento), incluindo necessidades de ordem superior, ligadas a auto-
realização.
Postulado 7: A natureza essencial humana é espiritual. A Psicologia
Transpessoal concorda que a natureza da identidade humana é
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multifacetada, abrangendo um amplo espectro de categorias que vão do


físico ao social. Contudo, sua visão coloca uma primazia na origem
espiritual, como suporte e sustentação da estrutura psicológica do Self. A
mente, conforme aponta Wilber (1996), é a realidade última da dimensão
psíquica e apresenta-se de forma não dual. Acessá-la permitiria o
rompimento com as estruturas limitantes do ego. A saúde psicológica última
estaria associada ao reconhecimento da natureza ilimitada sempre presente
em nós, bem como sua expressão nas ações cotidianas.
Postulado 8: Estados ampliados de consciência são um caminho de acessar
potenciais curativos e de crescimento do ser. A psicoterapia transpessoal foi
pioneira na exploração e pesquisa de outros níveis e estados de consciência,
ampliando o campo de estudos da psicologia, que considerava estados
ampliados como patológicos.
Diante de tantos requisitos importantes expostos e mediantes as condições
explicitadas, o psicoterapeuta transpessoal precisa, antes de tudo, ter amor
e respeito por aquele Ser que circunstancialmente surge diante dele no
papel de cliente, estando ambos pactuados por ocasião do estabelecimento
do contrato terapêutico.
Com o intuito de transmitir aos leitores de que técnicas podem ser
utilizadas no contexto clínico, selecionamos alguns procedimentos que
podem facilitar o seu exercício profissional.
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Instrumentos Terapêuticos

Meditação
Na terminologia yogue o termo meditação é Dhyana que literalmente
significa ―fluir da mente‖. É um estado de concentração, atenção no
presente, que permite a mente fluir livremente em direção a níveis mais
ampliados de consciência.
Visando a flexibilização da mente e facilitando estados de consciência mais
claros e profundos, na prática clínica transpessoal, a meditação é incluída
geralmente como um recurso complementar da psicoterapia. Contudo, o
ponto central da meditação em psicoterapia transpessoal é permitir a
pessoa permanecer no presente, incorporada em mente/corpo e aberta para
o fluxo de todas as manifestações possíveis de contato.
No mundo Ocidental, atualmente, ocorre uma invasão das práticas
meditativas Orientais, tanto com objetivos terapêuticos quanto propósitos
espirituais.
Os efeitos fisiológicos e psicológicos da prática meditativa já são do
conhecimento público: baixa a pressão sanguínea, através da estimulação
do hipotálamo, aumenta a oxigenação, diminui a atividade do sistema
nervoso simpático, reduz a produção e o acúmulo de ácido lático nos
músculos, reduz a pulsação cardíaca, aumenta a percepção auditiva e o
reflexo da coordenação motora e amplia a percepção corporal.
No âmbito psicológico reduz o diálogo interno predispondo a serenidade
mental e a tranqüilidade emocional, contribui para o auto conhecimento,
afasta emoções inadequadas como medo, raiva e outras, favorecendo o
despertar do discernimento, da alegria e do amor universal.
No aspecto terapêutico, pesquisas revelam que a meditação é eficaz em
casos de ansiedade e dependência de drogas levando a acentuada mudança
de comportamento, mas a prática é contra-indicada para esquizóides
porque podem piorar a apreensão da realidade, para os obsessivos
compulsivos por estarem fechados demais a novas experiências ou por
exacerbar a obsessão nos esforços, também na depressão profunda porque
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acentua o estado de apatia e inação nesses casos. Aqui estão alguns


elementos comuns que estão presentes em toda orientação prática da
meditação. Postura corporal: sentar com pernas cruzadas na posição
Oriental, quando possível, coluna imóvel, relaxado e confortável. Olhos
fechados, abertos ou semi-abertos, dependendo da tradição. Também de
acordo com a abordagem, a língua fica voltada para a apalatina, evitando o
excesso de salivação.
O controle da energia é feito a partir da respiração calma e abdominal,
apenas seguir o ritmo natural da respiração é a recomendação básica.
Postura de mente: aqui se podem realizar reflexões analíticas, como, por
exemplo, analisar um item específico, buscando compreende-lo nos
mínimos detalhes, no Oriente está prática é conhecida como Vipassana.
Outro caminho de colocar a mente em meditação é deixando-a em uma
atitude aberta, observando o fluxo dos pensamentos sem criar nenhum
vínculo com eles. É uma atitude semelhante a do observador transpessoal
(apud FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).

Exercícios Psicofísicos
Os exercícios psicofísicos visam integrar a dualidade mente/corpo,
geralmente presente na maioria das pessoas, que buscam os serviços
psicológicos. Eles favorecerem a integração, também são usados para dar
apoio ou possibilitar o desbloqueio dos nós emocionais concentrados no
corpo.
Grande parte dos exercícios psicofísicos realizados na clínica transpessoal,
foi adaptada do yoga milenar, onde são denominados de asanas. Eles
podem ser usados para facilitar o processo psicoterapêutico do cliente.
Estes exercícios possuem a propriedade de ampliar a senso-percepção,
focando a atenção nos processos corporais, favorecendo, assim, um contato
maior com as emoções bloqueadas. Esta prática é feita concomitantemente
com a respiração e atua em todo o organismo promovendo o equilíbrio das
secreções hormonais do sistema glandular (apud FERREIRA, BRANDÃO e
MENEZES, 2005).
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Técnicas envolvendo práticas respiratórias


Técnicas respiratórias redutoras de ansiedade e estresse têm-se, por
princípio, acalmar uma energia já ativada, buscando integrá-la no fluxo
ordinário da consciência. Tem por objetivo dissolver tensões, dores,
desconforto ou incômodos localizados. Veremos três delas.
Primeira: A pessoa deve proceder da seguinte forma: Deitar-se em
colchonetes ou sentar-se em poltrona confortável; Relaxar o corpo todo de
forma progressiva a partir dos membros inferiores até a cabeça; Usar a
respiração diafragmática prolongando a exalação para aprofundar o
relaxamento; Focalizar a atenção na área dolorida ou desconfortável;
Durante algum tempo o desconforto pode aumentar. Escute o que seu
corpo está falando através desse incomodo e utilize a linguagem que
expressa à necessidade de atenção ou protesto; Prolongue a expiração,
sentindo como se o ar expelido fosse o próprio incomodo diluindo-se;
Prossiga o exercício até desaparecer o incômodo.
Segunda: Três respirações calmantes. Nesta, a pessoa deve tranquilamente
focalizar a sua atenção na respiração. Calmamente, respire três vezes.
Procure respirar lentamente e demoradamente. Crie um ritmo. Inspirando
lentamente e profundamente, segure o ar por alguns segundos, e, depois,
expire relaxando, deixando o ar sair livremente, transformando o seu corpo
e a sua mente.
O Lama Padma Santem, um grande mestre budista, ensina que este ritmo
pode ser acompanhado por palavras: Inspirando, acalmo o corpo e tenho
paz, expirando, desfruto a beleza deste momento. Inspirando, acalmo a
mente, expirando, desfruto a paz deste momento.
Já a terceira é uma respiração para soltar e aliviar tensões. É indicada para
ajudar nos processos de integração do cliente no aqui-e-agora, ajudando a
liberar tensões residuais das vivencias em estados ampliados. Instrução: De
pé com as pernas ligeiramente afastadas inspirar elevando os braços para
frente e para cima. Reter o ar por alguns segundos. Expirar abaixando
rapidamente (apud FERREIRA, BRANDÃO e MENEZES, 2005).
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Portanto, neste capítulo vimos os principais pontos da Psicologia


Transpessoal. Gostaríamos de destacar que esta nova escola está
crescendo, os psicólogos e as pessoas que se inclinam para este ramo,
percebem a sua eficácia e utilidade para tratar o ser humano.
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Respiração Holotrópica
Neste capítulo iremos expor uma técnica desenvolvida por Grof, chamada
de Respiração Holotrópica, buscando analisar se ela é eficaz na cura de
traumas em todos os níveis da psique.

3.1 Respiração Holotrópica


Grof (2007) e sua esposa Christina desenvolveram a Respiração
Holotrópica, um método terapêutico que combina respiração acelerada,
música evocativa, expressão artística e uma técnica de trabalho corporal
que ajuda a liberar bloqueios bioenergéticos e emocionais residuais. Ela tem
a capacidade de induzir a estados holotrópicos e une e integra vários
elementos de tradições antigas e aborígenes, filosofias espirituais Orientais
e psicologia profunda do Ocidente.
De acordo com Grof (2007), a resposta física da Respiração Holotrópica
varia de pessoa para pessoa, no início apresentam-se manifestações
psicossomáticas, na qual os manuais de fisiologia respiratória definem como
síndrome de hiper-ventilação. Porém, muitos indivíduos não apresentam
síndrome e sentem um relaxamento progressivo, uma intensa excitação
sexual e experiências místicas. Outros desenvolvem tensões em várias
partes do corpo e em repetidas sessões holotrópicas, essa tensão muda de
uma parte do corpo para outra, variando de pessoa para pessoa, com sua
subseqüente resolução.
Isso acontece, pois em um longo período de respiração acelerada muda a
química do organismo de forma que energias físicas e emocionais
bloqueadas, associadas a memórias traumáticas, são liberadas e ficam
disponíveis para o processamento e descarga periférica, possibilitando que
emoções antes reprimidas venham à consciência e sejam integradas (GROF,
2007).
No que diz respeito aos mecanismos fisiológicos e bioquímicos que podem
estar envolvidos no processo de Respiração Holotrópica, muitos acreditam
que quando respiramos mais rápido levamos mais oxigênio ao corpo e ao
cérebro, mas a situação é mais complexa(GROF, 2007).
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Segundo Grof (2007), quando a respiração é mais rápida leva mais ar,
portanto, mais oxigênio aos pulmões, mas ela também elimina dióxido de
carbono (CO2). Isto causa vaso constrição, em determinadas partes do
corpo, o CO2 é ácido, ele vai reduzindo sua quantidade no sangue que faz
aumentar a alcalinidade (PH) do sangue. Em um ambiente alcalino, há uma
transferência de oxigênio para os tecidos, isso faz com que os rins excretem
urina mais alcalina. Para compensar essa mudança, o cérebro é uma das
partes do corpo que respondem mais rápido a vaso constrição e como o
grau de mudança gasosa, que não depende só do ritmo respiratório, mas
também de sua profundidade. A situação é complexa e não é fácil acessar a
situação total em um caso individual sem uma bateria de exames
laboratoriais específicos
Em consonância com Grof (2007), existem duas formas de liberarmos as
tensões que carregamos em nosso corpo: a catarse e a ab-reação, eles são
descarregados por meio de tiques, tosses, tremores, gaguice, choro, gritos,
mecanismos esses conhecidos desde a época de Freud, sendo velhos
conhecidos da psiquiatria tradicional.
O termo que Grof (2007) usa como contração muscular transitórias, de
duração variada, é nada mais que tensões musculares por longos períodos,
onde o organismo consome grandes quantidades de energia anteriormente
contida e simplifica seu funcionamento. Ao se despojar delas, o sujeito
sente um profundo relaxamento que segue a intensificação temporária de
tensões antigas, ou o surgimento daquelas que estavam latentes. É o
testemunho da natureza curativa desse processo.
Uma vantagem da Respiração Holotrópica como mecanismo de Terapia
Holotrópica, é que ao invés de lembrar, nós podemos reviver experiências
não só da infância como da nossa gestação, tudo com muita clareza, são
demonstrados gestos, posturas, movimentos, comportamentos de criança,
e até manifestar reflexos neurológicos próprios da idade em questão. Isto
nos diz que este processo faz acessar níveis profundos da consciência, como
o perinatal e o transpessoal.
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Normalmente, o primeiro nível atingido ao vivenciar a técnica é o nível


biográfico, trás memórias de nossa infância e as experiências que fomos
expostos a traumas, tanto a nível psicológico, como a nível corporal. A
libertação de emoções e tensões, ainda no copo, é resultante de traumas
precoces e é um dos benefícios imediatos derivados desse trabalho. Esse
nível é também o de mais fácil acesso, pois é o tema mais familiar para nós
(GROF, 2007).
De acordo com os estudos realizados por Grof (2007), a Respiração
Holotrópica tem um papel crucial na cura de problemas relacionados com a
respiração, como coqueluche, difteria, pneumonia e sufocação, assim como,
para doenças psicossomáticas, como a asma, fobia, depressão, dor de
cabeça. As pessoas que reviveram esses traumas confirmam as
contribuições deste processo terapêutico. Portanto, este processo tem um
grande potencial para abrir os caminhos e explorar o mundo interior.
Segundo Grof (2007), na Respiração Holotrópica, em alguns casos, pode
haver a utilização de manobras de desbloqueio. Elas constam de pressões
com o uso das mãos ou de almofadas sobre áreas de tensão psicofísica.
Aqui o terapeuta deve ter bom senso e conhecimento de anatomia para não
pressionar áreas sensíveis a lesões. Às vezes, um leve toque, associado à
respiração com focalização intensa na área de tensão, pode ter o mesmo
resultado. O objetivo é intensificar o sintoma de forma que o conteúdo
escondido apareça, permitindo, assim trabalhá-lo.
Além das manobras de desbloqueio, existe também, o contato físico nutrido
que é uma forma de curar traumas emocionais primitivos. Estes toques de
apoio também chamados de ―continente‖, visam propiciar a integração nos
momentos de retorno ou de grande tensão dos estados ampliados de
consciência, são intervenções suaves que indicam uma presença que
ampara o cliente na superação do desafio (GROF, 2007).
De acordo com Grof (2007), este método tem que ser consentido pelo
respirador, pois muitas pessoas têm bloqueios com relação a isso,
principalmente aquelas que sofreram abuso sexual. Para que seja eficaz
tem que está certificado que a pessoa esteja regredindo ao estágio infantil
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de desenvolvimento, caso contrário, a medida corretiva não alcança o nível


de desenvolvimento no qual o trauma se deu.
Este apoio físico pode ser como, por exemplo, colocar a mão sobre o ombro,
geralmente o ombro direito, sobre a cabeça ou um leve toque na mão do
paciente ou tocar a testa até um contato de corpo inteiro, pois muitas
pessoas nesse estágio precisam se sentir amado, confortado, acarinhado.
Todas estas manobras devem apenas ser usadas quando trazem um real
benefício ao paciente, portanto, antes de usá-los, elas devem ser avaliadas,
contextualizadas e comunicadas ao paciente. Tipo ―vou tocar sua mão para
que você tome consciência de ...‖.
Costuma ser fácil reconhecer quando o respirador está regredido ao início
da infância, pois a ruga desaparece, a pessoa apresenta aparência e
comportamento de um bebê, através de gestos infantis. Fica claro que
oferecer o contato físico é importante, pois quando o respirado revive seu
nascimento biológico ele parece desamparado e perdido (GROF, 2007).
Ao terminar a sessão de Respiração Holotrópica o respirador volta ao seu
estado comum de consciência, ele se dirige juntamente com o
acompanhante a sala de mandadas. Esta sala deve ser equipada com
papéis, canetas, lápis de cor, onde ele reflete, medita e escolhe a melhor
maneira de expressar seu sentimento. Alguns produzem combinações de
cores, outros constroem mandalas geométricas e tem aqueles que não têm
idéia do que desenhar e produzem um desenho automático.
Outra alternativa é a escultura em argila que foi introduzida, pois alguns
praticantes cegos não podiam desenhar. Ao terminar os desenhos os
respiradores vão partilhar a experiência e a estratégia dos facilitadores é se
abster de interpretar essas experiências. Isso porque os conteúdos
psicológicos são determinados e relacionados a vários níveis da psique e
uma interpretação do terapeuta poderia acarretar o perigo de congelar o
processo e interferir no progresso terapêutico (GROF, 2007).
Portanto, os benefícios da Respiração Holotrópica são o reviver e curar os
traumas, em todos os níveis da psique, possibilitando ao indivíduo se
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libertar deles, levando uma vida mais consciente. Vamos detalhar cada
processo que envolve esta técnica de ampliação da consciência.

3.2 O uso da respiração controlada


Segundo Grof (2007), desde o início da história das culturas antigas
encontramos a utilização de técnicas de respiração com propósitos
religiosos e curativos. A arte de respirar desempenha um grande papel em
cosmologia, filosofia e mitologia, e em práticas rituais e espirituais. Quase
todos os sistemas psicoespirituais de compreensão da natureza humana
têm visto a respiração como um elo crucial entre o corpo, mente e espírito.
Há séculos se sabe o poder de influência da respiração na consciência e
esse método tem sido usado por várias culturas antigas e não-ocidentais,
em rituais e exercícios de cura e transcendência. A forma original do
batismo envolvia submersão forçada na água, resultando em uma
experiência de morte e renascimento, a respiração faz parte em vários
exercícios da yoga Kundalini, prática sufi e meditação budista (GROF,
2007).
De acordo com Grof (2007), na ciência materialista, a respiração perdeu
seu significado sagrado e sua conexão com a psique, e o espírito foi
descartado, pois a medicina Ocidental reduziu-o a uma função fisiológica.
Foram patologizadas as manifestações físicas e psicológicas que
acompanhavam manobras respiratórias, como, por exemplo, a síndrome de
hiper-ventilação que é um processo com potencial de cura e é considerada
como uma condição patológica.
Grof (1997) tem aconselhado o uso da respiração como caminho de acesso
ao inconsciente, em especial em níveis perinatais e transpessoais. Quando
se lida com a respiração como caminho de cura, deve-se conhecer os
efeitos desses processos sobre a fisiologia do corpo. Dentre os mais
destacados está à síndrome da hiperventilação com seus famosos espasmos
carpopedais, que deve ser adequadamente manejada de forma a trazer
benefícios para o crescimento do paciente.
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A respiração também afeta os processos psicofísicos favorecendo catarse ou


ab-reação, que consiste em tremores, contrações, movimentos corporais
dramáticos, tosse, vômitos, emissão de sons vocálicos e outras
manifestações, bem como favorece a emergência das tensões profundas
que encontram espaço de expressão através das contrações duradouras e
espasmos profundos (GROF, 2007).
―Ao manter esta tensão muscular contínua por longos períodos de tempo, o
organismo está consumindo uma enorme quantidade de energia contida e,
ao conseguir se livrar dessas tensões, estará simplificando seu
funcionamento‖ (GROF, 1997, p.167).

3.3 Trabalho Corporal


O trabalho corporal focalizado é usado geralmente para favorecer a
complementação do trabalho iniciado com a respiração e a música. A
mobilização de uma grande carga emocional durante a sessão pode, muitas
vezes, deixar tensões residuais e emoções não resolvidas que carecem de
fluidez imediata e que foram difíceis de serem eliminadas ao longo do
trabalho, requerendo, portanto, uma atenção direta, de forma que elas
possam ser completamente expressas e então integradas.
No início das sessões, o trabalho corporal é usado para favorecer a abertura
de possíveis tensões excessivas que possam estar presentes em alguma
parte do corpo e que poderiam impedir a continuação do processo, contudo
seu uso é mais intenso no final das sessões, com o objetivo de integrar
energias mobilizadas.
3.4 Música
Uma sucessão de sons e silêncio, organizada ao longo do tempo, é
basicamente o que constitui a música. Ela é considerada como uma prática
cultural e humana. Ao longo dos anos, a música se expandiu e atualmente
se encontra em diversas utilidades como na arte, na educação ou de forma
terapêutica. Além de ter presença central em diversas atividades coletivas,
como rituais religiosos, festas e funerais.
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Definir música não é fácil, apesar de conhecida por qualquer pessoa, é difícil
encontrar um conceito que abarque todos os significados dessa prática,
mais do que qualquer outra manifestação humana, a música contém e
manipula o som e o organiza no tempo. Como ―arte do efêmero‖, ela não
pode ser completamente conhecida e por isso é tão difícil enquadrá-la em
um conceito simples. Um dos poucos consensos é que ela consiste em uma
combinação de sons e silêncios, numa seqüência simultânea ou em
seqüências sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao longo do
tempo (SILVA, 2004).
Neste sentido, engloba toda combinação de elementos sonoros destinados a
serem percebidos pela audição. Isso inclui variações nas características do
som (altura, duração, intensidade, e timbre) que podem ocorrer
seqüencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente (harmonia).
Qualquer que seja o método e o objetivo estético, o material sonoro a ser
usado pela música é tradicionalmente dividido de acordo com três
elementos organizacionais: melodia, harmonia e ritmo. No entanto, quando
nos referimos aos aspectos do som nos deparamos com uma lista mais
abrangente de componentes: altura, timbre, intensidade e duração. Eles se
combinam para criar outros aspectos como: estrutura, textura e estilo, bem
como a localização espacial (ou o movimento de sons no espaço), o gesto e
a dança (SILVA, 2004).
Silva (2004) conclui que a música não pode ter só uma definição precisa,
que abarque todos os seus usos e gêneros, todavia, é possível apresentar
algumas definições e conceitos que fundamentam uma ―história da música‖
em perpetua evolução, tanto no domínio popular, do tradicional, do
folclórico ou do erudito.
Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história,
provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no
homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma
atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério
científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a
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história da música se confunde com a própria história do desenvolvimento


da inteligência e da cultura humana (SILVA, 2004).
Entre os gregos, por exemplo, a flauta do semideus Pã ficou famosa não só
por encantar as pessoas como também por acreditar que eliminava os maus
sentimentos acumulados no organismo. Os gregos antigos chegaram a
desenvolver um sistema bem organizado de musicoterapia, baseado na
influência de certos sons, ritmos e melodias sobre o psiquismo do ser
humano. Esse poder que se atribuía ao som, ou à música, denominava-se
ethos e dividia-se em quatro tipos baseados nas quatro formas de
temperamento humano. São eles: Etho frígio, que excita, gera coragem e
mesmo furor; Etho eólio, que gera sentimentos profundos e amor; Etho
lídio, que produz sentimentos de contrição, de arrependimento, de
compaixão e de tristeza; e o Etho dórico, que gera estados mais profundos,
de recolhimento e de concentração (GIANNAKOS, 2004). Segundo Silva
(2004), nas culturas antigas Egípcia, Persa, Indiana, Chinesa e Japonesa,
existem importantes referências sobre terapia musical ou sobre a conexão
entre música e transformações do estado de espírito.
Para os estudiosos, a ascendência da música atinge diversos órgãos e
sistemas do corpo humano: o cérebro e suas estruturas, como o
hipotálamo, a hipófise, o cerebelo, o plexo solar, os pulmões, todo o
aparelho digestivo, o sangue e o sistema circulatório, a pele e as mucosas,
os músculos e o sistema imunológico. É tão grande a influência da música
sobre os seres humanos, que ela pode ser utilizada tanto para potencializar
a agressividade como proporcionar tranqüilidade, do mesmo modo que
pode ser empregada para dormir, relaxar, namorar, estimular alguma
atividade física, ajudar na concentração, proporcionar diversão e até mesmo
nas cerimônias religiosas. Tudo depende do tipo de música e do momento
adequado para escutá-la (SILVA, 2004).
A música também atua nas glândulas de secreção interna e
conseqüentemente nas emoções e influencia, através do sistema nervoso,
nosso humor e comportamento, liberando adrenalina e /ou dopamina entre
outras químicas no organismo. Ela produz efeitos psicosociais no ser
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humano. Segundo o ritmo, tende a reduzir ou retardar a fadiga, produz


efeito na aceleração da freqüência respiratória e alterações no impacto dos
estímulos sensoriais Além disso, é capaz de provocar mudanças na
condutibilidade elétrica do organismo e estimular a comunicação
(MUGGIATI, 1973 apud SILVA, 2004).
As notas agudas atuam sobre as contrações musculares, propagam-se
rapidamente pelo espaço, atuam de uma maneira forte sobre o sistema
nervoso ajudando a despertar os reflexos. Já as notas graves proporcionam
um efeito mais mecânico, não influindo tão fortemente sobre o sistema
nervoso. São mais bem percebidas em distâncias longas e seu efeito
mecânico é tão poderoso que pode causar vibração intensa sobre qualquer
corpo sólido (SILVA, 2004).
O ritmo das notas, graves ou agudas, é outro fator importante. De uma
maneira geral, os ritmos mais lentos induzem à calma e os mais rápidos
induzem ao movimento. Ou seja, não é só a presença ou ausência de um
ritmo acentuado na melodia, mas também o grau de movimento que ele
apresenta, seja rápido, lento ou moderado. Outro elemento musical,
segundo Silva (2004), a ser destacado, é o volume, o qual, graças aos
modernos equipamentos de som, produz um efeito mais intenso nos dias de
hoje. Quando comparado aos outros parâmetros, como o ritmo e a
freqüência, o volume é o que apresenta maior influência no ser humano,
tanto que uma melodia que em si é tranqüilizante, pode tornar-se irritante
caso o volume seja mais alto do que a pessoa pode agüentar.
Verificou-se também que a música especialmente selecionada diminui ou
aumenta a energia muscular. Um exemplo é o uso de música em trabalhos
que exigem movimentos sincronizados. Neste tipo de trabalho é como se a
música determine os ritmos ideais de trabalho, fazendo com que o ritmo do
trabalhador varie de acordo com a mudança do ritmo musical.
A música pode ser usada, inclusive, como tratamento médico. É o que se
observa na musicoterapia, que consiste em um campo que estuda as
influências dos sons sobre o ser humano, com o objetivo de produzir efeitos
terapêuticos e de reabilitação do físico, emocional e mental. Pode ser usada
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em pacientes de todas as idades e em diversas condições, tais como


doenças, traumas, incapacidade física, etc. (SILVA, 2004).
Portanto, com a respiração, a música tem um papel de grande importância
na história no sentido curativo e no efeito de alteração da consciência e por
muitos anos vem sendo usada em rituais espirituais. O uso de sons é uma
das tecnologias mais antigas da humanidade para evocar estados ampliados
de consciência. Grof (1997) cita inúmeros dados antropológicos em
contribuição a esta tese.
Além de ajudar a acessar emoções reprimidas, a música pode facilitar a
intensificação de processos psicológicos já mobilizados, além de favorecer a
flexibilização das defesas psicológicas, o que permite a superação de
obstáculos no acesso ao inconsciente.
Na Terapia Holotrópica a música é utilizada para evocar o máximo de
emoções possíveis, sendo o cliente aconselhado a entregar-se
completamente ao ritmo dos sons, sem oferecer nenhum tipo de
resistência, abrindo-se para expressões de tremores, risos, choro ou
qualquer outra manifestação emocional, vocal ou motora Segundo Grof
(2007), cânticos, som de tambores têm sido ferramentas de xamãs, em
diferentes partes do mundo, a dança de transe dos Kung Bushmen do
deserto Kalahari na África, tem enorme poder de cura, a santeria cubana ou
a umbanda brasileira é reconhecida no Caribe e América do Sul como
potencial de cura. Outras tradições religiosas desenvolveram tecnologias
sonoras que tem efeito específico sob a consciência, onde se inserem os
cânticos tibetanos de vozes múltiplas. Os Bhajans e Kirtans hindus, a antiga
arte da nada ioga ou o caminho da união através do som são ensinamentos
indianos postulam uma conexão específica entre sons de freqüências
específicas e os diferentes chakras. Com isso é possível induzir o estado de
consciência de forma previsível e desejável com o uso sistemático desse
conhecimento.
Em estados holotrópicos a música selecionada é muito valiosa, pois mobiliza
as emoções associadas a memórias reprimidas levando-as a superfície.
Facilita sua expressão, ajuda a abrir a porta do inconsciente, intensifica o
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processo terapêutico e fornece significativo contexto para a experiência.


Nas sessões de respiração holotrópica em grupo, a música tem outra
função, ela mascara os sons emitidos por outros participantes e os entrelaça
em uma dinâmica estética (GROF, 2007).
De acordo com Grof (2007), na Terapia Holotrópica é fundamental o cliente
entregar-se ao fluxo da música e deixá-la ressoar pelo seu corpo inteiro e
responde-la de forma espontânea, como chorar, rir, gritar, emitir sons de
animais, cânticos xamanísticos ou falar em línguas desconhecidas. É
importante não controlar movimentos sensuais na pélvis, tremores violentos
ou contorções pelo corpo, só não é permitido comportamento destrutivo
dirigido a si mesmo, aos outros ou o ambiente da terapia.
Os participantes não devem tentar adivinhar o compositor da música, julgar
o desempenho da orquestra, criticar a qualidade da gravação ou do
equipamento. Quando a pessoa se entrega, a música se torna uma
poderosa ferramenta para induzir e sustentar estados holotrópicos de
consciência, desde que tenha boa qualidade técnica e o volume suficiente
para guiar a experiência, pois combinada com respiração mais rápida tem
um grande poder de alterar a consciência (GROF, 2007). Grof (2007)
destaca que na hora da escolha do material musical há uma regra de
responder com sensibilidade a fase, a intensidade e ao conteúdo da
experiência dos participantes, ao invés de tentar programá-las. Torna-se
pertinente usar músicas poderosas, evocativas que conduzam a uma
experiência positiva, evitar escolhas que provoquem ansiedade e da
preferência a músicas de alta qualidade artística. Devem-se evitar canções
vocais em línguas conhecidas dos participantes.
A sessão tem início com música ativa dinâmica e emocionalmente positiva,
ela vai aumentando a intensidade gradativamente usando peças fortes que
induzem transe. Após cerca de uma hora e meia de sessão de respiração
holotrópica se induz a ―música de quebra de barreiras‖, que são músicas
sagradas, missas, oratórios, réquiens.
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Na segunda metade da sessão introduz peças emotivas e amorosas e


finalmente ao termino da sessão a música tem qualidade reconfortante
fluída, atemporal e meditativa.

3.5 Vivencias de pessoas de respiraram


Grof (2007) não tem nenhuma dúvida de que a Respiração Holotrópica é
uma forma viável de terapia e auto-exploração, apesar de não ter tido a
oportunidade de testar a eficaz terapêutica desse método da mesma forma
que fez quando conduzia a terapia psicodélica. Contudo em vários anos de
pesquisas, Grof presenciou participantes que saíram de depressões que os
afligiam há vários anos, superaram fobias, desapareceram dores
psicossomáticas, enxaquecas, infecções crônicas, sinusites, bronquites,
após o desbloqueio bioenergético ter permitido a circulação sanguínea nas
áreas correspondentes.
Torna-se necessário relatar alguns casos de cura que a Respiração
Holotrópica possibilita. Vamos começar por dois casos de Grof, onde conta o
exemplo de dois cientistas que tiveram grandes melhoras em seus sintomas
após sessões de respiração holotrópica. Os outros dois casos foram
extraídos de depoimentos de vivencias em respiração holotrópica, de um
grupo em aprofundamento de processos holotrópicos, com enfoque em
hiperventilação, música evocativa e senso percepção.
Caso 1
Durante a apresentação do grupo, anterior á primeira sessão de respiração
holotrópica, T. reclamou de uma grave e crônica dor muscular no peito e no
ombro, que lhe causava grande sofrimento e transtornava sua vida.
Repetidos exames médicos, inclusive raios-x, não haviam detectado
qualquer base orgânica para o seu problema e todas tentativas terapêuticas
haviam sido ineficazes. Uma série de injeções de procaína haviam lhe
proporcionado alívio apenas enquanto durou o efeito da droga.
No início da sessão de Respiração Holotrópica, T. impulsivamente fez uma
tentativa de sair da sala, pois não estava conseguindo tolerar a música,
sentia que ela o estava ―matando‖. Foram necessários muitos esforços para
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convencê-lo a ficar no processo e explorar as razões do seu desconforto. Ele


lutava violentamente, como se sua vida estivesse sendo ameaçada, ficou
asfixiado, tossiu e soltava vários gritos altos. Após este episódio
tempestuoso, aquietou-se e relaxou, ficou em paz.
Muito surpreso, ele se deu conta de que a experiência havia soltado a
tensão do ombro e dos músculos e que estava livre da dor. Em retrospecto,
T. relatou que houve três camadas distintas em sua experiência, todas elas
relacionadas com a dor em seu ombro e associados à asfixia.
No nível mais superficial, ele reviveu uma situação amedrontadora de sua
infância, na qual quase perdeu a vida. Quando tinha aproximadamente sete
anos, ele e seus amigos estavam cavando um túnel na areia da praia.
Quando o túnel ficou pronto, T. entrou para explorá-lo. Como as outras
crianças pulavam por perto, o túnel caiu e o enterrou vivo. Ele quase
morreu asfixiado antes de o salvarem.
Quando a experiência do trabalho de respiração se aprofundou, ele reviveu
um episódio violento e assustador que o levou de volta a lembrança do seu
nascimento biológico. Seu nascimento foi muito difícil, pois seu ombro ficara
preso, durante um longo período, atrás do osso púbico de sua mãe. Esse
episódio compartilhava com o anterior, a combinação de asfixia e dor
severa no ombro. Na última parte da sessão, a experiência mudou
dramaticamente. T. começou a ver uniformes militares e cavalos e se deu
conta de que estava em uma batalha. Ele pôde até mesmo identificar a
batalha, era uma das batalhas na Inglaterra de Cromwell. Em determinado
momento, sentiu uma dor aguda e percebeu que seu ombro havia sido
perfurado por uma lança. Ele caiu da montaria e sentiu seu corpo sendo
pisoteado por cavalos que esmagavam seu tórax.
A consciência de T. separou-se do corpo moribundo, elevou-se bem acima
do campo de batalha e observou a cena dessa perspectiva. Após a morte do
soldado, a quem reconheceu como uma encarnação anterior de si mesmo,
sua consciência voltou para o presente e reconectou-se com seu corpo, que
estava agora livre de dor, pela primeira vez após muitos anos de agonia. O
alívio da dor, ocasionado por essas experiências, foi permanente. Agora, já
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se passaram mais de vinte anos dessa sessão memorável e os sintomas não


voltaram.
Caso 2
Durante sua sessão de Respiração Holotrópica, R. experimentou um
poderoso sistema COEX que sentiu ser a causa de sua grave fobia de altura.
A camada mais superficial desse COEX continha uma lembrança da
Alemanha antes da guerra. Era o momento de uma acelerada construção
militar e também da igualmente acelerada preparação para as Olimpíadas
de Berlim, nas quais Hitler tencionava demonstrar a supremacia da raça
nórdica.
Como a vitória nas olimpíadas, era para Hitler uma questão de extrema
importância política, para isso muitos atletas talentosos foram designados
para fazer treinamentos rigorosos em campos especiais. Essa era a
alternativa para não ser recrutado para o Wehrmacht, o infame exército
alemão. R., um pacifista que odiava os militares, foi selecionado para um
desses campos, uma bem vinda oportunidade de evitar o recrutamento.
O treinamento envolvia uma variedade de disciplinas esportivas e era
incrivelmente competitivo: todos os desempenhos eram classificados e
aqueles com menos pontos era mandados para o exército. R. estava com
pontos baixos e teve uma última oportunidade para melhorar sua posição.
Tanto o risco quanto sua motivação para ser bem-sucedido eram muito
altos, mas o desafio era realmente formidável. A tarefa a ser cumprida era
algo que ele nunca havia feito em sua vida: mergulhar de cabeça em uma
piscina, de uma torre de vinte metros de altura.
A camada biográfica desse sistema COEX constitui em reviver a enorme
ambivalência e o medo associados ao mergulho, assim como ás sensações
da queda em si. A camada mais profunda, do mesmo COEX, que surgiu logo
após a essa experiência. Ela consistiu de reviver da luta de R. nos estágios
finais de seu nascimento, com todas as emoções e sensações físicas
envolvidas. O processo então continuou, fez R. concluir que se tratava de
uma experiência de vida passada.
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Ele se tornou um adolescente em uma cultura nativa, envolvido com um


grupo de jovens da mesma idade e participando de um perigoso rito de
passagem. Um após o outro, eles subiam ao topo de uma torre, feita de
estacas de madeira amarradas umas as outras por fibras vegetais flexíveis.
Uma vez no alto, eles amarravam uma extremidade de um longo cipó aos
tornozelos e prendia a outra extremidade a beira da plataforma no topo da
torre. Era um símbolo de status e motivo de grande orgulho usar o cipó
mais longo e não morrer.
Quando experimentou os sentimentos associados ao pulo nesse rito de
passagem, ele se deu conta de que eram muito semelhantes tanto aos
sentimentos associados ao mergulho no campo olímpico como àqueles que
viveu nos estágios finais do nascimento. As três situações eram,
claramente, partes integrantes do mesmo COEX.
Caso 3
Participei do curso de Respiração Holotrópica e pude presenciar várias cenas
fortes de regressão, pessoas que se viram em campos de concentração, em
guerras sangrentas, em tribos de diversas nacionalidades e culturas
diferentes e em diversas épocas da história. Homens entrando em trabalho
de parto, assim como, várias pessoas, tanto homens como mulheres,
revivendo seu nascimento e o processo de morte-renascimento. Gente
vivenciando ser um animal ou planta em suas mais diversas formas e cores,
pessoas que sentiam o universo em sua totalidade e também que tiveram
contato com divindades, deuses, anjos e seres mitológicos.
Pessoalmente vivi mais sensações corporais como a síndrome de hiper
ventilação, fortes sensações no chakra cardíaco e uma grande sensação de
está acorrentado pelos braços e pernas, sentindo como se a terra quisesse
me engolir. Tive totais melhoras nas dores que sentia no chakra cardíaco
podendo respirar melhor, ter uma postura mais correta e isso se traduziu
como uma melhora para todo o corpo e a alma.
As sessões de Respiração Holotrópica foram muito benéficas para mim, pois
presenciei não só em mim como nos colegas uma significativa melhora no
dia a dia, no trabalho e relacionamentos em geral. Além de uma cura
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corporal, pois esses sintomas de dores no peito e sensações de mal estar


desapareceram em poucas sessões.
Caso 4
No processo de Respiração Holotrópica, pude ter experiências ricas de
manifestação da energia Universal, identificação com o que Grof chamou de
vazio supra cósmico, identificação com a natureza. Estas experiências foram
do nível transpessoal.
Em relação ao domínio biográfico, revivi situações traumáticas, tanto na
infância como na adolescência, voltei a situações que desencadearam, nesta
vida, alguns medos e inseguranças.
Mas o que foi mais impressionante foi uma experiência que tive no nível
perinatal, esta experiência foi em uma sessão que durou três horas. Revivi
o meu parto e compreendi muitos comportamentos meus atuais. Minha mãe
tinha me falado que tudo ocorreu bem quando me pariu, descobri que não
foi bem assim.
Meu nascimento foi muito traumático, não quis vim para o mundo, foi
necessária a utilização de fórceps, que me puxou e fez-me passar a força
pelo canal intra-uterino. Além disso, inalei ou engoli materiais da placenta.
Estas informações que vieram a minha consciência, através do radar
interno, permitiram-me conscientizar-me sobre esta experiência e trabalhar
os materiais que vieram à tona.
Em todas as sessões que participei pude liberar muitas tensões e energias
bloqueadas, tanto no nível físico como no nível psíquico. Compreendi que a
Respiração Holotrópica é uma técnica eficaz na cura de traumas.
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"A linguagem da Psicanálise será substituída pela linguagem da


energia"

O Dr. Roger Woolger possui um dos


currículos acadêmicos mais
impressionantes dentro da
Psicologia Transpessoal. Graduou-se
em Psicologia na Universidade de
Oxford – Inglaterra, obteve seu
mestrado em Filosofia e Religiões
comparadas na Universidade de Londres, doutorou-se na Universidade de
Vermont – New England, Estados Unidos. Formou-se como analista
junguiano no Instituto C. G. Jung, em Zurique – Suíça e lecionou em
diversas Universidades, dentre elas a de Montreal, Vermont e no Vassar
College. Após ter formado, em quatro capitais brasileiras, várias turmas
em T.R.I (Terapia Regressiva Integral), ele concedeu a Revista Omega
esta entrevista.

Revista Omega - Seu trabalho tem sido excepcionalmente bem recebido


no Brasil. A que você atribui esse sucesso?

Roger Woolger - Vale a pena ressaltar que este país é intuitivamente


ligado ao espiritual. A quantidade e variedade de cultos e a harmoniosa
convivência de todos eles, no Brasil em geral, e na Bahia em particular,
criam um ambiente excepcionalmente receptivo a um tipo de trabalho
como o meu. E isso acontece até nos meios acadêmicos, médicos e
psicológicos, onde sem dúvida a Psicologia Transpessoal já ocupa mais
espaço que na Europa e, proporcionalmente, mais do que nos Estados
Unidos.

Omega - A Bahia tem uma quantidade surpreendente de espíritas


kardecistas. Nós sabemos que você faz um trabalho de libertação de
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espíritos. Em que o seu trabalho difere da desobsessão feita pelos


centros espíritas?

Woolger - Nós trabalhamos diretamente com memórias de vidas


passadas para ajudar as pessoas a superar os traumas ainda presentes
no seu corpo etérico. Com freqüência descobrimos dentro de suas auras,
espíritos ou energias mal qualificadas que, de uma forma ou outra, estão
absorvendo a energia da pessoa, enfraquecendo-a. Nosso trabalho se
foca no espaço pós-morte, que os mestres tibetanos chamam de bardo e
que o espiritismo conhece e onde também intervém. Mas, nosso ponto de
vista é diferente. Nós levamos constantemente em conta as polaridades
psicológicas do indivíduo. Ele tem o seu lado luz, mas também tem o
outro lado que Jung chamou de sombra. Parece que alguns espíritas
não se sentem cômodos em aceitar que temos um lado sombrio que
pode ser por vezes cruel, violento e destrutivo, segundo as
circunstâncias, e que esse lado é intrínseco à natureza humana.

Omega - Como é o processo de entrada dessas entidades no nosso


campo áurico?

Woolger - Se entra um espírito raivoso é porque nossa própria raiva não


processada (sombra) abriu a brecha. E, da mesma forma, se entra um
espírito depressivo ou beberrão ou angustiado, só entra por afinidade
energética. É importante não responsabilizarmos entidades externas por
um processo de purificação que todos precisamos fazer. Sem dúvida
nenhuma as entidades existem mas só entram quando a nossa sombra
abre a porta. Nós usamos o bardo thödol (que é o espaço entre vidas do
budismo tibetano) para que os espíritos possam dialogar entre si e
desencadear-se mutuamente. Não são só os espíritos desencarnados que
precisam ser guiados para a luz. Também nós precisamos colocar mais
luz na nossa sombra, ativando constantemente nosso eu observador.

Omega - Qual seria o equivalente cristão desta percepção?


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Woolger - O equivalente na visão cristã seria que uma parte nossa


―caiu‖ na matéria e precisa ser redimido. Reencarna para transmutar
cada vez mais sombra em luz até atingir o já conhecido conceito de
iluminação ou ressurreição, transfigurada em um corpo de luz. Esta
sombra é a matéria prima que a vida nos dá para trabalhar, é o caminho
para voltarmos para a pura luz. Por tanto, é preciso aceitá-la, em lugar
de rejeitá-la e reprimi-la, como única forma possível de elaborá-la e
transmutá-la.

Omega - William James, considerado unanimemente o mais brilhante


pioneiro da psicologia americana, profetizou, antes do fim do século XIX
que o Inconsciente seria a maior descoberta em psicologia do século XX.
Na sua opinião, qual será a descoberta chave do século XXI?

Woolger - Eu diria que toda essa linguagem da Psicanálise e do


inconsciente individual vai ser substituída por uma linguagem da energia.
Já faz tempo que trabalhamos com o campo da energia sutil, mais
amplamente conhecido como Campo Energético Humano. A vanguarda
são os trabalhos de Richard Gerber, em medicina Vibracional, e os
estudos de Bárbara Brennan sobre os centros de energia ou chacras e
sua influência nos distúrbios no campo energético humano. Por tanto,
este novo inconsciente está localizado num espaço psíquico que não é
mais o cérebro e sim o sistema hierárquico dos chacras, que determina o
funcionamento das glândulas endócrinas, seus conteúdos hormonais
correspondentes e, por conseqüência, toda a conduta do indivíduo. O
novo será compreender cada vez mais como funciona esse fluxo
energético humano e desenvolver técnicas, cada vez melhores, para
restabelecer um fluir harmônico dessa energia, que traz de volta o prazer
de viver.
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Emergência Espiritual

Stanislav Grof é para a Psicologia Transpessoal o


mesmo que Freud foi para a Psicanálise. Tanto em
termos clínicos, como teóricos, como práticos. Grof
"praticou" Psicologia Transpessoal, desde antes de
terminar sua graduação como médico psiquiatra.
Aos 24 anos, quando já trabalhava como
pesquisador no departamento de Medicina

Dr. Stanislav Grof Psiquiátrica na Universidade de Praga, República


Checa, ele tomou uma potente dose de LSD-25 e
viveu, durante algumas horas, uma extraordinária viagem de Consciência
Cósmica. Segundo ele, esta experiência o marcou profundamente em toda
sua vida tanto pessoal como profissional. Hoje com 71 anos, e
internacionalmente reconhecido como o maior expoente da Psicologia
Transpessoal no mundo, ele nos concedeu esta entrevista, na sua breve
mais frutífera estada em Salvador. (*)

Revista Omega - O que o levou a estudar com tão profundo interesse os


estados não-comuns de consciência?

Stanislav Grof - Em meu trabalho como psiquiatra, inúmeras questões


fundamentais sobre a existência, que os seres humanos têm-se feito desde
tempos imemoriais, emergiram de forma espontânea e com urgência
extraordinária nas mentes de muitas das pessoas com as quais tenho
trabalhado. A razão de ser esse um campo incomum de estudo despertou-
me o interesse que tem sido o foco principal durante 45 anos de vida
profissional: a pesquisa sobre estados expandidos de consciência. Este
interesse surgiu de forma inesperada e dramática em 1956, apenas alguns
meses após minha formatura da escola médica, quando fui voluntário para
uma experiência com o LSD, enviado para experimentação por Albert
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Hoffman, do laboratório Sandoz, em Basilea, Suíça. Esta experiência proveu


a inspiração para meu compromisso de vida com a pesquisa da consciência.
Embora tenha me interessado por todo o espectro dos estados alterados de
consciência, tive mais experiências pessoais com a exploração psicodélica,
com o trabalho terapêutico, envolvendo pessoas vivendo crises
psicoespirituais espontâneas (emergências espirituais), e com o trabalho de
respiração holotrópica.

Omega - E nesses 45 anos de estudo, pesquisa e trabalho, que descobertas


o Sr. constatou quanto à natureza, às dimensões da consciência humana?

Grof - Primeiro, as implicações extraordinárias desse estudo sistemático da


Consciência para a compreensão das desordens emocionais e
psicossomáticas na psicoterapia. As experiências e observações
provenientes desta exploração revelaram aspectos e dimensões da
realidade que geralmente estão escondidos de nossa percepção diária. Elas
confirmam e apóiam a postura dos ensinamentos clássicos das filosofias
espirituais e tradições místicas, tais como Vedanta, Budismo Mahayana e
Hinayana, Taoísmo, Sufismo, Gnosticismo, Misticismo Cristão, Cabala, e
muitos outros sistemas espirituais sofisticados. Assim sendo, essas
descobertas são radicalmente conflitantes com os pressupostos básicos da
ciência materialista na medida em que indicam claramente que a
Consciência é o princípio primário da existência, e que tem papel
fundamental na criação do universo dos fenômenos. Esta pesquisa também
muda radicalmente nossa concepção da psique humana. Ela mostra que a
psique de cada um de nós é essencialmente comensurável ao Todo da
existência e idêntica ao próprio princípio criativo do cosmos. Essa moderna
pesquisa, em sua essência, confirma os princípios básicos da chamada
"filosofia perene", que revelou um grande esquema proposital subjacente a
toda criação e mostrou que toda a existência é permeada por uma
inteligência Superior. À luz destas descobertas, a espiritualidade afirma-se
como o empreendimento mais importante e legítimo da vida humana, já
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que reflete uma dimensão crucial da psique e do esquema universal das


coisas.

Omega - De que maneira estas novas descobertas, que confirmam e


apóiam os ensinamentos das tradições místicas e filosofias espirituais do
passado, são radicalmente conflitantes com a visão materialista do
universo?

Grof - Se considerarmos a descrição do universo, natureza e seres


humanos desenvolvida pela ciência materialista, fica claro que esta
contrasta frontalmente com os relatos oferecidos pelas escrituras das
grandes religiões do mundo. Tomadas literalmente e julgadas pelos critérios
de várias disciplinas científicas, as histórias da criação do mundo, origem da
humanidade, morte e renascimento de personagens divinas pertencem ao
reino dos contos de fadas ou aos manuais de psiquiatria. As tradições
místicas e as filosofias espirituais do passado têm sido com freqüência
descartadas e ridicularizadas por serem consideradas irracionais e não-
científicas. Isto é um julgamento mal informado que não tem justificativa
nem legitimidade. Muitos dos grandes sistemas espirituais são produtos de
milênios de profundas explorações sobre a consciência e a psique humana,
o que de muitas formas se assemelha à pesquisa científica. Estes sistemas
oferecem instruções detalhadas dos métodos de induzir experiências
espirituais sobre as quais baseiam suas convicções filosóficas. Elas vêm
sistematicamente coletando dados provenientes destas experiências e
sujeitando-os à validação por consenso coletivo, geralmente por um período
de muitos séculos. Estes são exatamente os estágios necessários para se
alcançar um conhecimento sólido e confiável em qualquer área de
empreendimento científico. É muito estimulante o fato de essas conclusões,
embora frontalmente conflitantes com nossa sociedade tecnológica
moderna, serem totalmente concordantes com a realidade encontrada em
todas as tradições espirituais universais, as quais o escritor e filósofo anglo-
americano Aldous Huxley chamou, em 1945, de "Filosofia Perene". A
Psiquiatria Ocidental descartou as tradições místicas como `irracionais e
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não científicas", porém elas são o produto de milênios de profundas


explorações sobre a Consciência. A observação atenta da similitude de
resultados com o uso milenar das mesmas técnicas comprovam a sua
existência e veracidade. Este é o sonho de toda moderna pesquisa
científica: a confirmação das suas afirmações pelo maior de todos os
Mestres - o Tempo. A diferença mais gritante entre as duas visões de
mundo não é a quantidade e exatidão dos dados sobre a realidade material.
É uma divergência fundamental relativa à dimensão sagrada ou espiritual
da existência. Todos os grupos humanos da era pré-industrial concordavam
em que o mundo material que percebemos e no qual operamos em nossa
vida cotidiana não é a única realidade. Suas visões de mundo, embora
variassem em detalhes, descreviam o cosmos como um sistema complexo
de níveis de existência ordenados hierarquicamente. Nesta compreensão da
realidade, o mundo da matéria é o último elo, o mais denso. Estas
descrições das dimensões sagradas da realidade e a ênfase sobre a vida
espiritual estão em nítido conflito com o sistema de crenças que domina a
civilização industrial, na qual vida, consciência e inteligência são vistas
como epifenômenos mais ou menos acidentais e insignificantes deste
desenvolvimento. Claramente, a compreensão da natureza humana e do
universo baseada em tais premissas é o princípio incompatível com
qualquer forma de crença espiritual.

Omega - O que significa a mudança radical da concepção da psique


humana de que o Sr. fala?

Grof - Segundo a ciência ocidental, o universo é uma montagem


enormemente complexa de partículas materiais. Alega-se que a vida, a
consciência e a inteligência surgiram numa porção negligenciável de um
cosmos imenso após bilhões de anos de evolução da matéria. A vida deveria
sua origem a processos químicos fortuitos no oceano primitivo que uniu
átomos e moléculas inorgânicas, assim formando compostos orgânicos. A
matéria orgânica adquiriu, então, no decorrer da evolução, a capacidade de
autopreservação, reprodução e organização celular. Os organismos
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unicelulares agrupavam-se criando formas de vida multicelulares cada vez


maiores, e eventualmente desenvolveram-se em uma rica panóplia de
espécies habitando a terra, culminando no homo sapiens. Dizem-nos que a
consciência emergiu nos estágios adiantados desta evolução advinda da
complexidade dos processos fisiológicos no sistema nervoso central. Seria
um produto do cérebro e como tal estaria confinada à parte interna do
crânio. Segundo esta maneira de compreender a realidade, o conteúdo de
nossa psique é mais ou menos limitado à informação de nossos órgãos
sensoriais no contato com o mundo externo desde a época que nascemos.
Além disso, a natureza e a extensão de nossa recepção sensorial é
determinada pelas características físicas do meio ambiente e pelas
propriedades e limitações fisiológicas de nossos sentidos. Por exemplo, não
podemos ver objetos se estivermos separados deles por uma parede sólida.

As experiências nos estados não-comuns de consciência desafiam


seriamente tal compreensão estreita do potencial da psique humana e dos
limites de nossa percepção. O que podemos vivenciar nestes estados não se
limita a memórias de nossas vidas após o nascimento e ao inconsciente
individual de Freud, conforme fomos levados a acreditar através dos
ensinamentos dos cientistas materialistas. As experiências holotrópicas
alcançam muito além das fronteiras do que o escritor anglo-americano Alan
Watts jocosamente chamou de "o ego encapsulado na pele". Elas nos levam
a vastos territórios da psique ainda não mapeados pelos psicólogos e
psiquiatras ocidentais.

Omega - O Sr. havia dito que, pelas suas observações, a espiritualidade é


um importante e legítimo empreendimento na vida humana, já que "reflete
uma dimensão crucial da psique e do esquema universal das coisas". Por
favor, explique isso.

Grof - A espiritualidade baseia-se em experiências diretas de dimensões


não-comuns da realidade. Ela envolve um tipo especial de relação entre o
indivíduo e o cosmos e é, em sua essência, um assunto individual e íntimo.
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No berço de todas as grandes religiões, encontram-se as experiências


visionárias de seus fundadores, profetas, santos e até mesmo de seus
seguidores comuns. Todas as principais escrituras espirituais - os Vedas, os
Upanishads, o Cânon Pali Budista, a Bíblia, o Alcorão, o Livro dos Mormons,
e muitos outros - são baseadas em revelações pessoais diretas, que
revelam verdades profundas sobre alguns aspectos básicos da existência.
Buda teve a visão da longa cadeia de suas encarnações anteriores e
experienciou uma profunda liberação dos elos cármicos. A "jornada
milagrosa" de Maomé, um poderoso estado visionário durante o qual o
arcanjo Gabriel o escoltou através dos sete céus Muçulmanos, o Paraíso e o
Inferno, foi a inspiração do Alcorão e da religião Islâmica. Na tradição
judaico_cristã, O Antigo Testamento oferece um relato dramático da
experiência de Moisés com Jeová na sarça ardente, e o Novo Testamento
descreve a tentação de Jesus pelo diabo durante sua estada no deserto. De
maneira semelhante, a visão ofuscante que Saulo teve de Cristo a caminho
de Damasco, a revelação apocalíptica de São João em sua caverna, na ilha
de Patmos, a observação de Ezequiel da carruagem de fogo e muitos outros
episódios são claramente experiências transpessoais em estados não-
comuns de consciência.

Infelizmente, a psicologia e a psiquiatria tradicionais são dominadas pela


filosofia materialista, não têm uma compreensão genuína da religião nem
da espiritualidade e rejeitam indiscriminadamente quaisquer conceitos e
atividades espirituais. Muitos personagens religiosos e espirituais, tais como
Buda, Jesus, Ramakrisma e Sri Ramana Maharshi, São João da Cruz, Santa
Tereza d´Avila, têm sido vistos como que sofrendo de psicoses devido às
suas experiências visionárias e "delusões".

Omega - Nesse sentido, ciência e religião são incompatíveis?

Grof - É difícil reconciliar conceitos como Consciência Cósmica,


reencarnação ou iluminação espiritual com os princípios básicos da ciência
materialista. Porém não é impossível fazer uma ponte sobre o hiato entre
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ciência e religião se as duas forem compreendidas corretamente. Há muita


confusão entre as concepções errôneas sobre a natureza e função da
ciência- que resultam no uso impróprio do pensamento científico- e a má
compreensão relativa à natureza e função da religião. A falha em diferenciar
espiritualidade de religião é provavelmente a mais importante fonte de mal-
entendidos concernentes à relação entre ciência e religião. Compreendidas
corretamente, a verdadeira ciência e a religião autêntica são duas
importantes abordagens à existência que são complementares. E o único
campo capaz de abordar a espiritualidade cientificamente é, portanto, a
pesquisa, que focaliza a exploração sistemática e imparcial dos estados
não-comuns de consciência.

Omega - Como o Sr. define os estados não-comuns de consciência?

Grof - Dou ao estados não-comuns de consciência o nome de holotrópico,


que literalmente significa "orientado ou movendo-se para a totalidade /
inteireza" (do grego Holos : Todo/inteiro; e Trepein : movendo-se para ou
em direção a). Eles nos trazem extraordinários insights filosóficos,
metafísicos e espirituais, reveladores de aspectos e dimensões cruciais da
Grande Realidade, que normalmente ficam ocultos à nossa Consciência
ordinária. Indicam, com clareza, que nossa psique não é um produto do
cérebro, mas o princípio primário da Existência, que tem o papel original na
criação do universo fenomênico, tal qual o vemos. O termo holótropico
sugere que em nosso estado diário de consciência nós não estamos
realmente inteiros; estamos fragmentados e nos identificamos com apenas
uma pequena fração de quem realmente somos.

Omega - Como se caracterizam estes estados holotrópicos?

Grof - Caracterizam-se por uma transformação específica da consciência,


associada a mudanças de percepção em todas as áreas sensoriais, emoções
intensas e geralmente estranhas e profundas alterações nos processos de
pensamento. Eles, geralmente, também são acompanhados por uma
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variedade de intensas manifestações psicossomáticas e formas de


comportamento não-convencionais. A consciência é mudada
qualitativamente de forma muito profunda e fundamental, mas, diferente
das condições de delírio, ela não é deteriorada. Nos estados holotrópicos,
experimentamos uma entrada em outras dimensões da existência, muito
intensas e às vezes avassaladoras, mas não perdemos contato com a
realidade externa. Experimentamos de forma simultânea duas realidades
bem diferentes, que vão desde o enlevo extático até certas formas de
sofrimento emocional extremo.

"A diferença mais gritante


entre as duas visões de mundo
não é a quantidade e exatidão
dos dados sobre a realidade
material.
É uma divergência fundamental
relativa à dimensão sagrada ou
espiritual da existência".

As emoções associadas a estados holotrópicos cobrem um amplo espectro


que se estende muito além dos limites de nossa experiência diária. Elas vão
desde sensações de bem-aventurança celestial, "paz além de qualquer
compreensão" a episódios de terror abismal, raiva sobrecomum, desespero
total, culpa consumidora, e outras formas de sofrimento emocional
extremo. As sensações físicas que acompanham estes estados são
igualmente polarizadas. Dependendo do conteúdo da experiência, pode-se
ter uma sensação extraordinária de prazer, saúde e bem-estar, de perfeito
funcionamento fisiológico, mas, também, podem ser de desconforto
extremo, tais como dores lancinantes, opressão, náusea, ou sensação de
estar sufocando.
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Omega –

Como médico psiquiatra, de que maneira o Sr. descreve esse estado?

Grof - A psiquiatria moderna não faz diferença entre estados espirituais ou


místicos e episódios psicóticos. As pessoas vivendo esses estados
geralmente são diagnosticadas como doentes mentais, hospitalizadas e
submetidas a tratamento farmacológico de sedação. Mas minha esposa e eu
sugerimos que muitos desses estados são, na realidade, crises
psicoespirituais ou "emergências espirituais". Se compreendidas de forma
apropriada e se os indivíduos, passando por estas crises, tiverem o apoio de
facilitadores experientes, os episódios deste gênero podem resultar em
curas psicossomáticas, aberturas espirituais, transformações positivas da
personalidade e evolução de consciência.

Omega - Como são induzidas essas experiências holotrópicas?

Grof - Podem ser induzidas por meio de várias técnicas aborígines antigas,
que na Antropologia são chamadas de "Tecnologias do Sagrado". Uma
particularmente eficaz tem sido a utilização ritualística de plantas e
substâncias psicodélicas. Estas técnicas de mudança de consciência têm
desempenhado um papel crítico na história ritualística e espiritual da
humanidade. A indução a estados holotrópicos tem sido absolutamente
essencial ao xamanismo, aos ritos de passagem e a outras cerimônias das
culturas nativas. Ela também representou o elemento-chave dos antigos
mistérios de morte e renascimento que foram conduzidos em diferentes
partes do mundo e aflorou principalmente no Mediterrâneo. Nos tempos
modernos, o espectro de técnicas de alteração mental enriqueceu
consideravelmente. As abordagens clínicas incluem a utilização de alcalóides
puros de plantas psicodélicas ou de substâncias psicodélicas sintéticas,
assim como as formas potentes de psicoterapia existencial, tais como
hipnose, terapia primal, renascimento e respiração holotrópica. É
importante enfatizar que episódios de estados holotrópicos de profundidade
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e duração variadas também ocorrem espontaneamente sem qualquer causa


específica identificável, e freqüentemente contra a vontade das pessoas
envolvidas.

Omega - Você organizou o XIV Congresso Internacional de Psicologia e


Psiquiatria Transpessoal em Manaus, em 1996, com o nome de "Tec-
nologias do Sagrado", que contou com quase 2000 profissionais americanos
da área. Você conhece muito bem o trabalho com a Hoasca de vários
mestres da Amazônia. Na sua palestra na ABM eu lhe perguntei: qual é
hoje, a substância enteógena por excelência, sem efeitos colaterais, que
não produz dependência e é ao mesmo tempo benéfica para o
desenvolvimento mental, emocional e espiritual da pessoa. Você pode
repetir a sua resposta?

Grof - No percurso dos 45 anos de carreira profissional de Psiquiatria e


Pesquisa da Consciência, já conduzi pessoalmente mais de cinco mil sessões
com substâncias expansoras da consciência, tais como: LSD, Psilocibilina,
Mescalina, Dipropil-triptamina e Metil- dioxi-anfetamina, e tive acesso a
mais de 2000 sessões conduzidas pelos meus colegas psiquiatras. A
substância enteógena por excelência, de acordo com sua pergunta, e que
reúne essas condições, é a Hoasca. É justamente por isso que Manaus foi
escolhida para sediar um evento dessa relevância. Várias Universidades do
mundo, incluindo algumas norteamericanas muito prestigiadas, como a
UCLA (University of Califórnia, em Los Angeles) têm feito pesquisas
neurofarmacológicas e psicológicas intensas e de longo prazo sobre o poder
enteógeno e benéfico da Hoasca.

Omega - De que natureza é o conteúdo desses estados holotrópicos de


consciência?

Grof - É geralmente de natureza filosófica e espiritual. Nesses episódios


podemos experimentar seqüências de morte e de renascimento
psicoespiritual ou sensações de unidade com outras pessoas, com a
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natureza, o universo e com Deus. Podemos descortinar o que parecem ser


memórias de outras encarnações, encontrarmo-nos com poderosos seres
arquetípicos, comunicarmo-nos com entidades desencarnadas, e visitar
numerosos domínios mitológicos.

Os insights vivenciados são acompanhados por uma sensação de


clarificação repentina. Como neste nível o mundo material é percebido como
uma expressão da Consciência Absoluta, e esta última, por sua vez, parece
ser intercambiável com o Vazio Primordial, as experiências transcendentais
deste gênero provêm uma solução inesperada para alguns dos problemas
mais difíceis e complexos que acossam a mente racional. Os insights de
pessoas que já vivenciaram estados holotrópicos de consciência relativos à
origem da existência são de uma impressionante semelhança àqueles
encontrados na "filosofia perene": O reconhecimento de nossa própria
natureza divina, nossa identidade com a fonte cósmica, é a descoberta mais
importante que podemos fazer durante o processo de exploração profunda.
É a revelação de que nossa identificação usual com "o ego encapsulado na
pele", consciência individual corporificada, ou "nome e forma" é uma ilusão
e que nossa verdadeira natureza é a energia cósmica criativa. Esta
revelação relativa à identidade do indivíduo com o divino é o segredo
supremo que se encontra no cerne de todas as grandes tradições
espirituais, embora seja expresso de formas diferentes.

Omega - A partir desses insights, como se percebe o mundo material?

Grof - É percebido como um mundo de matéria sólida, onde se destaca o


espaço tridimensional, o tempo linear e a causalidade inexorável, conforme
o experimentamos em nossos estados comuns de consciência. Em vez de
ser a única realidade verdadeira, conforme é retratado pela ciência
materialista, é uma criação da Consciência Absoluta. À luz desses insights, o
mundo material de nossa vida cotidiana, incluindo nosso próprio corpo, é
uma tessitura intrincada de percepções e leituras errôneas, uma "realidade
virtual" infinitamente sofisticada, uma peça de teatro divina criada pela
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Consciência Absoluta e o Vazio Cósmico. Nosso universo, que parece conter


incontáveis miríades de entidades e elementos separados, é em sua
essência mais profunda um só Ser de imensas proporções e complexidade
inimaginável. E assim, nada além da experiência de união mística com a
fonte divina irá saciar nossos anseios mais profundos.

Omega - Alguns sistemas religiosos retratam o mundo material como um


domínio inferior, que é imperfeito, impuro e conducente ao sofrimento e à
miséria. Outras orientações espirituais abraçam a natureza e o mundo
material como contendo ou incorporando o divino, ou definem o objetivo da
jornada espiritual como dissolução das barreiras pessoais e reunião com o
Divino. Como o Sr. vê isso?

Grof - De fato, alguns credos retratam a realidade como um vale de


lágrimas e a existência encarnada como uma maldição ou um pântano de
morte e renascimento, e oferecem a seus seguidores a promessa de um
domínio mais desejável ou um estado mais satisfatório de existência no
Além. Já outras têm uma orientação distintamente afirmadora e celebradora
da vida. O Mahayana Budista, por exemplo, ensina que podemos alcançar a
libertação em meio à vida diária se nos libertarmos dos três "venenos" _
ignorância, agressão e desejo. Contudo, as pessoas que chegaram a
experienciar, em suas explorações internas, a identificação com a
Consciência Absoluta percebem que definir o objetivo final da jornada
espiritual envolve um problema sério: a indiferenciada Consciência
Absoluta/Vazio representa não apenas o fim da jornada espiritual, mas
também a fonte e o início da criação.

Há, portanto, uma interação dinâmica de duas forças fundamentais: uma


centrífuga (hilotrópica ou orientada para a matéria); outra centrípeta
(holotrópica ou visando à totalidade) em relação ao princípio criativo. A
Consciência Cósmica mostra uma tendência elementar de criar mundos de
pluralidade que contêm incontáveis seres separados, e, inversamente, as
unidades de consciência individualizadas experienciam sua separação e
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alienação como dolorosas e manifestam uma forte necessidade de voltar à


fonte e reunir-se a ela. A identificação com o eu corpóreo é repleta de
problemas de sofrimento físico e emocional, limitações espaciais e
temporais, impermanência e morte. Sentimos, no entanto, na profundidade
de nosso interior, que nossa existência enquanto eu corpóreo e separado no
mundo material é, em si e por si, inautêntica e não pode satisfazer nossas
necessidades mais profundas. Sentimos um apelo muito forte para
transcender nossas barreiras e recuperar nossa verdadeira identidade.

"Quando as coisas ficam por demais difíceis e devastadoras, podemos


invocar a grande perspectiva cósmica que descobrimos na busca interna. A
conexão com realidades mais elevadas e o conhecimento libertador de
anatta e do vazio por trás de todas as formas tornam possível tolerar aquilo
que de outra forma poderia ser insuportável."

Em Medicina, Deixar de Aprender é Crime!

"Só se pode falar com verdadeira propriedade das experiências e


sentimentos que marcaram nossa própria caminhada."

Como eu sonhava muito e não entendia nada, aos


16 anos, meu pai me deu "A Interpretação dos
Sonhos", de Freud. Li, e aos 17 comecei a minha
primeira análise com Dr. Winkler, professor de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina e membro
didata da

APU (Associação Psicanalítica do Uruguai).

Sua enorme casa no Boulevard, em frente à imponente Faculdade de


Arquitetura da República, era para mim Berggasse. Eu subia "voando" as
longas escadas do "Castelo de Saber" de Winkler, onde os meus sonhos
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eram "desvendados à la Freud". Depois da sessão, descia lentamente,


avaliando cada degrau e cada palavra que eu tinha me dito, tanto mais
que as que Winkler tinha dito. Muito cara a Psicanálise, mas na época
(1967) era a única forma que tínhamos de escutar o ouro da palavra
"bem-dita" e aliviar nossa alma e nosso corpo do chumbo da palavra
"mal-dita". Aos 18, senti que estava "podendo" interpretar as mensagens
da minha alma, que chegavam através dos sonhos, e portanto estava
pronto para deixar o "Castelo" e sair à procura do "Graal". Um ano nos
EUA me deu a "Língua do Império" e uma certa compreensão dele; outro
ano, viajando de barco pelo mundo, um pouco da dimensão da grandeza
dos seus povos. Muitos anos de Universidades na Alemanha, França e
Espanha não saciaram a minha sede de Universo, que então, eu não
sabia, é infinita. Nesses anos universitários, tive três grandes
psicanalistas. Já aqui no Brasil, "completei" o trabalho com 5 anos de
uma "Psicanálise Didática", com um dos mais reconhecidos analistas
lacanianos, o primeiro "A. E." do Brasil: Analista de L'École Freudienne de
Paris", juridicamente os únicos legítimos herdeiros da propriedade
intelectual da obra de Lacan. Em Psicanálise Grupal, a experiência
ganhou climax quando, em 1982, convidamos Emilio Rodrigué (glória da
Psicanálise latino-americana e pai de várias gerações de psicanalistas
baianos) para ministrar um workshop-laboratório sobre "A LOUCURA",
para o staff do Hospital Psiquiátrico de Palma de Maiorca. Do Psiquiatra -
Diretor até à enfermeira psiquiátrica, 18 profissionais da Saúde Mental
"enlouquecemos" a tal ponto, durante três dias, que só a grande intuição
e as muitas décadas de experiência no leme de Rodrigué evitaram um
desastre. Nesses três dias de violentas tempestades, ele guiou o barco,
com pulso firme, entre rochedos, e levou Ulysses, seu barco e sua gente
a um porto seguro de retorno. Esta "Odisséia" foi relatada por Rodrigué
num livro, e está disponível, com os nomes próprios dos participantes. É
difícil argumentar que eu não estudei profundamente a Psicanálise ou
que não a transitei apaixonadamente no intuito tempestuoso de me
compreender. Mas não foi suficiente. Por quê? Jean Ives Leloup, mestre
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do Transpessoal, responde de forma impecável: "porque não é preciso


opor o conhecimento de si mesmo que a Psicologia propõe ao
conhecimento de si mesmo que a Espiritualidade propõe. Uma Psicologia
que não se abre a um itinerário espiritual arrisca-se a nos enclausurar e
até mesmo a nos desesperar. Como o próprio Lacan diz: "O sinal de que
uma psicanálise teve êxito é que a pessoa analisada vai se suicidar" (sic:
citado textualmente por Leloup do original francês). Que pobreza de
prêmio para quem se empenhou tanto tempo, arduamente, de mente e
de alma, para conhecer-se e compreender-se e assim tentar conhecer e
compreender o mistério da Vida. O suicídio, o prêmio mais miserável de
todos. Leloup, como sempre, vê além: "Ao final de uma análise, ao final
de um itinerário espiritual, não sobra quase nada da imagem que se
tinha de si mesmo no início do processo. É como se houvesse uma
morte. Mas o objetivo não é a morte; é a ressurreição. A Psicanálise é
uma psicologia fechada em si mesma, dependente de uma antropologia
limitada, não aberta à transcendência, não aberta ao desconhecido que
habita a profundeza do ser humano e a profundeza do Ser Cósmico".

Um claro exemplo desta antropologia limitada é a resposta dada por


Jorge Forbes, talvez o mais conhecido e citado lacaniano do Brasil, à
última pergunta da revista "Isto É", de 02-05-01. Perguntado se a
globalização pode ser benéfica ao indivíduo, ele responde:
"Antigamente o jovem dizia que não tinha liberdade de escolha. Hoje ele
tem esta liberdade e se sente perdido. Por não saber o que fazer, acha
que tudo o que faz é pouco. E quando chega a esta conclusão, se
deprime ou se droga. Mas é bom lembrar que os próprios jovens nos
indicam as soluções: a música eletrônica e os esportes radicais(?!)
surgem como as novas formas de lidar com o mundo moderno." (sic: fim
da entrevista!).

Esta outra "pérola" do pensamento lacaniano nos faz perguntar: para


quem fala ou escreve Forbes? Como se pode analisar alguém durante
tantos anos para chegar a conclusões tão paupérrimas em relação ao
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Sentido da Vida, ao chamado "Desejo" em Lacan, ou o Verdadeiro Querer


do Espírito Humano? Leloup, nas antípodas, conhecendo o caminho do
meio, diz: "Mas os itinerários espirituais sem o discernimento psicológico,
sem um trabalho de transformação pessoal correm o risco de nos
conduzir à megalomania e ao narcisismo (....). O que impressiona em um
ser humano que entrou neste caminho de transformação é, ao mesmo
tempo, sua grandeza e sua humildade. Ele sabe que é pó e que ao pó
retornará, mas também sabe que é luz e que à Luz retornará. O que é o
ser humano senão essa poeira que caminha para a Luz e dança nela? O
importante é o caminhar". Onze anos atrás, na imprensa baiana,
aconteceu um incidente entre o Dr. R. Chemas, médico psiquiatra e
cientista, e um outro colega, também médico psiquiatra e analista
lacaniano. Por causa da extrema vigência da carta-resposta de R.
Chemas, escrita em 1990, num mundo em que tudo muda com tanta
vertigem, ÔMEGA decide republicá-la. Chemas conhece a psicanálise por
dentro. Foi estudioso de Freud e Jung desde a Faculdade, submeteu-se a
longos anos de análise com o próprio Emílio Rodrigué. Mas o relevante é
que aprendeu dos gregos a não fazer diferenças entre ciência, filosofia,
espiritualidade e alquimia. Chama a todas elas PHYSIS, só diversas
formas dos humanos de tentar explicar e expressar O Supremo. Talvez
seja por saber fazer tão bem esta síntese que é considerado um dos
quinhentos maiores cientistas vivos do mundo.

A pertinência desta republicação é pautada por outros fatos:

a) A evidência (que fica clara através do texto de Chemas) de que a


Psicologia Transpessoal mantém seus postulados em concordância com
as mais modernas descobertas científicas e que segue os critérios de
pesquisa da Ciência.

b) O fato de que no número anterior desta revista mencionamos tantos


dos conceitos usados por Chemas nesta carta, bem antes de tê-la lido,
lhe confere um caráter premonitório. Os conceitos de Kosmos x Kaos;
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Espaço-Tempo n-dimensional; papel chave de Grof como o maior


pesquisador científico da Consciência, só se confirmaram e reafirmaram
neste últimos 11 anos.

c) Em novembro passado, com toda a sua imensidão de bondade, corpo


e humildade, Grof esteve em Salvador. Presenteou-nos com duas
brilhantes palestras, a primeira na UNEB e a segunda, de quatro horas,
no auditório Magno da Associação Baiana de Medicina. Esta última contou
com a quase total ausência de médicos, psiquiatras, psicólogos e ou
psicanalistas para escutá-lo e questioná-lo. Queremos ressaltar a
responsabilidade do trabalho científico, consciente que Grof fez, durante
mais de 45 anos, das substâncias enteógenas em geral e do LSD em
particular, para pesquisar e mapear a aparente infinita amplidão da
nossa Consciência. Seu extraordinário prestígio internacional como
diretor do Centro de maior excelência em pesquisa psiquiátrica do
mundo, o Maryland Psiquiatric Research Center, que é diretamente
vinculado ao Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, mas seus 7
anos de professor de Psiquiatria do centro considerado a "Harvard" da
Medicina, a Universidade John Hopkins, em Baltimore, Maryland,
qualificam Grof para saber falar deste assunto. Honrando todos estes
pontos, e no intuito de que os profissionais da Saúde tomemos
finalmente consciência de que estamos rumo ao "ponto Ômega" , da
virada do velho paradigma mecanicista para o novo, Holístico e
Transpessoal, segue a carta de Chemas.

Entrevista - Dr. Stan Grof (parte II)-A Psiquiatria e a Psicologia nos


Séculos XX e XXI

As fontes das entrevista de Omega com Grof foram as fitas gravadas nos
Congressos Internacionais de Psiquiatria e Psicologia Transpessoal de
Manaus (AM) e Águas de Lindóia (SP) acrescidos das perguntas gravadas
nas duas palestras proferidas por Grof durante a sua estada em Salvador
(BA) em novembro de 2001.
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Revista Omega - Como e por que surgiu a Psicologia Transpessoal?

Stan Grof - Nos últimos anos se tem visto que nossos pressupostos
básicos e nossa forma tradicional de pensar quem e o que somos, ao
invés de serem generosos, foram mesquinhos com a condição humana.
Existe esmagadora evidência proveniente de todas as disciplinas
científicas que confirmam que temos grandemente subestimado o
potencial de crescimento e de bem-estar psicológico do ser humano. Os
mais modernos dados apontados recentemente por estas disciplinas não
coincidem com os nossos modelos psicológicos tradicionais. Em resposta
a todas estas incongruências, surgiu nos anos 60 a Psicologia
Transpessoal, como forma de integrar estes novos achados referentes à
capacidade expansiva do ser humano. Para consegui-lo, se nutre de toda
a ciência ocidental e de toda a sabedoria oriental.

Omega - Qual seria para você uma definição atual de Psicologia


Transpessoal?

Grof - É a que, baseando-se em todos os estudos e investigações


realizadas até hoje no Oriente e Ocidente, expande infinitamente o
campo da pesquisa psicológica para incluir o estudo de todos os
caminhos que levam a um bem-estar psicológico ótimo e a uma saúde
perfeita. Ela reconhece o potencial de todos os seres humanos para
experimentar um amplo espectro de estados de consciência nos quais a
identidade vai bem além dos limites habituais do ego ―encapsulado na
pele‖.

Omega - Como o primeiro número do ―Journal of Transpersonal


Psychology‖, editado por você em 1969, definiu as suas áreas de
interesse?

Grof - Foram definidos como áreas de interesse para publicação, os


trabalhos empíricos, artigos e estudos sobre os processos, valores e
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estados transpessoais, a consciência unitiva, as experiências ―cume‖ ou


―pico‖, o êxtase, a experiência mística, o Ser e a Essência, a beatitude, a
reverência, o assombro, a autotranscendência, todas as teorias e práticas
de meditação, os caminhos espirituais, a compaixão, a cooperação e a
atualização das informações transpessoais.

Omega -Como surgiu o termo Transpessoal?

Grof - O termo foi adotado depois de intensas deliberações, e hoje é


reconhecido no mundo inteiro como o mais apropriado para referir-se a
todas as experiências que exigem ampliar nossa identidade para muito
além da individualidade . Portanto, definitivamente não é um novo
modelo da personalidade, já que esta só é um pequeno aspecto da nossa
natureza; é muito mais uma indagação sobre a natureza da Essência do
Ser.

Omega - Você fala de modelos. O que é um modelo em Psicologia?

Grof - São representações simbólicas que descrevem os principais traços


e dimensões dos fenômenos que representam. Implicam porém vários
perigos importantes: condicionam a percepção, delimitam âmbitos de
investigação, dão forma e determinam a interpretação dos dados e
experiências de maneira a obter resultados que esses próprios modelos
profetizam. Por exemplo: tanto o modelo freudiano, que vê como
primeiro motivador a libido sexual, como o adleriano, que o busca na luta
pelo poder e na superioridade, como o condutista que o procura nos
reforços ambientais, todos eles provavelmente terão sucesso nesta
busca. Estas características autoproféticas e auto-realizadoras destes
modelos que se autovalidam são um perigo para a verdadeira percepção,
porque, uma vez integrados, passam a operar em níveis inconscientes.
Até chegar ao transpessoal, todas as psicologias só foram modelos.
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Omega - Se a Psicologia Transpessoal não é um modelo,então é um


paradigma?

Grof - O exemplo na Física são o paradigma newtoniano e o quântico.


Neste contexto ou ―container‖ de determinadas formas de conhecimento
e investigação se exclui inevitavelmente outras fontes de informação, tal
como acontece com qualquer teoria ou modelo. Os paradigmas
configuram a percepção, a indagação e a interpretação, de forma que se
tornam autovalidantes. Isto quer dizer que todo paradigma fundamenta a
validez dos seus pressupostos e, por conseguinte, termina funcionando
como crenças que determinam o que terá acesso à consciência e o que
continuará sendo inconsciente. Só isto já determina uma realidade
cultural. E por isso que é tão difícil ver através do próprio sistema
cultural de crenças, do próprio paradigma e esta capacidade só se pode
cultivar através do contato íntimo com outras culturas e crenças.

Omega - O transpessoal representa então uma mudança de paradigma


na psicologia ocidental?

Grof - Paradoxalmente, sim e não. Por um lado, isto é exatamente o que


a Psicologia Transpessoal tem feito: uma mudança total de paradigma na
psiquiatria e na psicoterapia ocidental, resultado de um profundo e
minucioso estudo transcultural no mundo inteiro sobre a natureza da
consciência e da realidade, que inclui os estados de consciência mais
altos que podemos imaginar. Neste sentido não é um novo paradigma, já
que seu campo de estudo ficou ilimitado. Todos os milenares sistemas
não-ocidentais refletem enfoques complexos e altamente sofisticados
sobre a natureza humana e a potencialidade da sua mente. Reconhecido
o tamanho das nossas limitações ocidentais, ficou aberto o caminho para
a expansão da teoria psicológica de forma ilimitada e, para tentar através
do Transpessoal fundir as visões do Oriente e do Ocidente e transcender
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a ambas, deixando seu campo de estudo para sempre aberto por ser
infinito, como o é a própria Consciência.

Omega - Qual é a importância do paradigma transpessoal no trabalho


terapêutico?

Grof - Por reconhecer um espectro muito mais amplo da consciência e


portanto um maior potencial de bem-estar psicológico e transcendência
dos admitidos pelos enfoques tradicionais, a perspectiva transpessoal nos
oferece todas as condições de trabalhar num contexto de amplitude
ilimitada. Por aceitar a relevância das vivências transpessoais -
transcendentais, as trata de maneira adequada, como valiosas
oportunidades de crescimento. Todos os modelos psicológicos que não
reconhecem a possibilidade da percepção transpessoal, interpretam estas
experiências de um ponto de vista inadequado e patologizante, o que
leva os indivíduos a suprimi-las e ocultá-las como única forma de evitar o
risco de internações psiquiátricas.

Omega - De acordo com o que você diz, a psicoterapia atinge um


momentum em que se torna indistinguível da indagação filosófica e
espiritual sobre a nossa identidade cósmica?

Grof - Sim. Várias formas da Filosofia Perene e seus sistemas espirituais


e psicológicos associados fornecem um excelente mapa do território a ser
percorrido neste estágio avançado pelo paciente e pelo terapeuta que a
esta altura já se tornaram viajantes companheiros de jornada e
exploradores das dimensões desconhecidas da psique.

Omega - De que depende que se concretize no processo terapêutico, o


que você chama de ―trabalho de viajantes companheiros de jornada‖?

Grof - Depende: 1º) de até onde o terapeuta chegou em sua própria


caminhada; 2º) de seu sistema de crenças do qual deriva a sua
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orientação profissional; 3º) da técnica terapêutica utilizada; 4º) da


personalidade, sistema de crenças e atitudes do paciente; e 5º) da
qualidade ou ―rapport‖ que se consiga atingir no vínculo terapêutico.

Omega - De acordo com a Psicologia Transpessoal, o universo da


Consciência não está só dotado de muitos níveis, mas também de muitas
dimensões. O que acontece quando se pretende interpretar isto a partir
de uma ótica materialista-psicanalítica?

Grof - A descrição linear do modelo newtoniano-cartesiano-freudiano é


indubitavelmente incompleta e está repleta de inconsistências internas
que entram em conflito com outras teorias e modelos da personalidade.
O maior problema da psicoterapia ocidental é o fato de que cada um de
seus grandes pesquisadores fixou sua atenção num determinado nível da
consciência e generalizou suas descobertas à totalidade da psique
humana. São portanto essencialmente incorretos, apesar de ter utilidade
na faixa ou nível que descrevem, mas nenhum deles é suficientemente
amplo nem completo, para justificar seu uso como único método. Hoje,
para sermos realmente eficazes na psicoterapia e auto-exploração
precisamos de um marco teórico ampliado e baseado no reconhecimento
dos múltiplos níveis da consciência.

Omega - Freud iniciou a Psicanálise. Descreva este feito ímpar.

Grof - O logro extraordinário deste homem, que ainda não era psiquiatra
e sim neurologista, foi vasto e diverso. Ele inventou o método da livre
associação, demonstrou a existência de uma mente inconsciente e
descreveu sua dinâmica, formulou os mecanismos básicos envolvidos na
etiologia das psiconeuroses e várias outras desordens emocionais,
descobriu a sexualidade infantil, esboçou as técnicas de interpretação de
sonhos, descreveu os fenômenos da transferência e desenvolveu os
princípios básicos da intervenção em psicoterapia. Porém, por ter estado
submetido à potente influência de seu mestre Ernest Bruecke, que visava
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introduzir os princípios do pensamento cientifico de Newton em todas as


demais disciplinas, Freud modelou a sua descrição dos processos
psicológicos estritamente de acordo com o mecanicismo newtoniano. Os
quatro princípios básicos do enfoque psicanalítico — dinâmico,
econômico, topográfico e genético — têm um paralelismo exato com os
quatro princípios básicos da física newtoniana.

Omega - Descreva os princípios teóricos básicos da Psicanálise.

Grof - O estrito determinismo dos processos mentais foi uma das


contribuições básicas de Freud. Ele considerava que todo sucesso
psicológico era a conseqüência e ao mesmo tempo a causa de outros. O
enfoque psicogenético da Psicanálise tenta explicar as experiências e as
condutas individuais em termos de etapas ontogenéticas. Isto significa
que, para uma plena compreensão do comportamento atual do paciente,
é necessária uma exploração de seus antecedentes, em particular da sua
história psicossexual da primeira infância, do desenvolvimento da libido,
da solução da neurose infantil, da resolução dos temas edípicos e todos
os conflitos sexuais, que para Freud determinam de modo crítico o resto
da vida de todo indivíduo. É idêntico à mecânica newtoniana no seu uso
do conceito de trajetória visualizável em relação aos impulsos instintivos;
inclui: a fonte ou origem, o ímpeto, a direção e o objetivo. Para Freud, a
história psicológica do indivíduo começa com o nascimento, e se refere a
todo recém-nascido como uma ―tabula rasa‖. O desenvolvimento sexual
das primeiras etapas (fases oral, anal, uretral e genital) culmina com o
complexo de Édipo ou Electra, significando isto uma atitude positiva para
com o genitor do sexo oposto e antagônica para com o do mesmo sexo.
Nesta etapa Freud atribui um papel fundamental à sobre valoração do
pênis e ao complexo de castração. O menino abandona suas tendências
edípicas por temor à castração. A menina traslada ao pai o apego que
originariamente tinha tido com o seio e o amor materno porque se sente
―castrada‖ e espera receber um pênis, ou um filho de seu pai.
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Fixações em diversas etapas ou a não-solução da situação edípica


convertem-se então em psiconeuroses, perversões sexuais e outras
formas de psicopatologias. O sadismo, por exemplo, foi interpretado
como uma fusão de sexo e agressão, devido primordialmente à
frustração dos desejos infantis. Tudo isto dá uma imagem
essencialmente negativa da natureza humana: uma mente conduzida
por instintos básicos, onde a sexualidade e a agressividade são
componentes intrínsecos e essenciais.

Omega - Fale do conceito psicanalítico na situação terapêutica.

Grof - Aqui também se vê claramente a potente influência da ciência


mecanicista newtoniana-cartesiana na teoria freudiana. A organização
terapêutica básica com o paciente deitado no divã e o analista invisível e
desvinculado afetivamente, sentado por detrás de sua cabeça,
caracteriza o ideal impossível de ―observador objetivo‖. Reflete a firme
crença da ciência mecanicista de que podem ser feitas observações
científicas sem a interferência com o objeto ou processo estudado. A
dicotomia cartesiana entre mente e corpo encontra também sua
expressão máxima na prática psicanalítica e em seu enfoque exclusivo
nos processos mentais. As manifestações físicas são interpretadas como
reflexo de eventos psíquicos. A expressão das emoções também não é
vivenciada, e sim analisada. Como não se inclui nenhum tipo de
intervenção física por parte do analista, já que existe um potente tabu
contra todo contato físico com o paciente, apoiá-lo na expressão plena
das suas emoções (raiva, medo, tristeza profunda) se torna totalmente
inviável e desaconselhável, por interferir diretamente no processo
transferência-contratransferência. O espaço analítico se tornou uma
―bolha isolada‖ dos eventos sociais, como se fosse possível analisar
alguém sem se levar em conta as influências dos contextos. Os analistas
se negam a interagir com marido ou esposa ou quaisquer outros
familiares do paciente, ou a incluí-los de qualquer forma no processo
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terapêutico. Além de subestimar os fatores sociais dos seus casos,


opõem-se a todo reconhecimento autêntico de fatores transpessoais e
espirituais na dinâmica dos transtornos emocionais.

O que se analisa é a forma que tomam os impulsos instintivos que se


esforçam por expressar-se e descarregar-se e as diversas forças
antagônicas que os reprimem. Esta análise de resistências depende
exclusivamente de meios verbais. Na sessão analítica, o paciente se
encontra em uma situação passiva, submissa e altamente desvantajosa.
Suas perguntas não são respondidas, e o analista, que está em pleno
controle da situação, pode optar pelo silêncio absoluto ou pela
interpretação, qualificando todo desacordo por parte do paciente como
resistência. Pressupõe-se em toda esta teoria que o analista se mantenha
objetivo, impessoal, desvinculado emocionalmente, para poder assim
manter sob controle todo sintoma de ―contratransferência‖. É óbvia a
influência do modelo médico de poder.

Omega - Qual é então o objetivo da terapia analítica?

Grof - Ela se concentra na reconstrução do passado traumático e na sua


repetição na atual dinâmica da transferência; baseia-se portanto em um
modelo histórico, estritamente determinista. O conceito de Freud de
melhora é perfeitamente mecanicista: promove a liberação da energia
aprisionada pelas neuroses e seu uso através da sublimação para fins
construtivos. Freud definiu explicitamente com suas próprias palavras o
objetivo primordial da psicanálise, que é: ―passar do sofrimento extremo
próprio do neurótico à miséria normal da vida cotidiana‖. Esta pobreza de
objetivos ficou obviamente obsoleta em nosso século XXI, no qual
podemos ver claramente a grandeza e a alegria que a alma humana é
capaz de atingir.
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A falácia fundamental da Psicanálise constitui sua ênfase exclusiva em


sucessos biográficos e no inconsciente individual. Ela tenta generalizar
suas descobertas de uma estreita faixa superficial da consciência para
abarcar outros níveis e até a totalidade da psique humana. Porém as
terapias experienciais atuais, apontam uma quantidade esmagadora de
provas de que os traumas infantis, não representam as causas
patogênicas primordiais, senão que recriam as condições que facilitam a
manifestação de conteúdos e energias de níveis muito mais profundos da
psique. Os transtornos emocionais são gerados por uma complexa
estrutura dinâmica multidimensional de amplo espectro. A faixa
biográfica desta vida representa somente um componente desta
complexa estrutura, e os problemas que a envolvem quase sempre têm
suas raízes nos níveis transpessoais da realidade.

Omega - Qual seria o ponto mais fraco da Psicanálise?

Grof - Provavelmente seja o da sexualidade feminina ou o da


feminilidade em geral, pois carece de uma compreensão genuína da
psique feminina e trata essencialmente as mulheres como varões
castrados. Além disso, no campo da psicopatologia, a Psicanálise não
encontrou explicações satisfatórias para fenômenos tais como, o
sadomasoquismo, a automutilação e o assassinato sádico, dentre outras.
Não conseguiu explicar convincentemente observações históricas e
antropológicas relevantes, tais como o xamanismo, os rituais de
passagem, as experiências visionárias, os mistérios religiosos, as
tradições místicas, as guerras, o genocídio nem as revoluções
sangrentas. Nenhum destes fenômenos pode ser compreendido de forma
adequada sem uma compreensão transpessoal da psique.

A carência geral de eficácia da Psicanálise como instrumento terapêutico


deve ser mencionada como uma das limitações mais graves desta teoria,
que é por outra parte fascinante, e aportou sem dúvida idéias brilhantes.
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Omega - Como os temas da morte e do nascimento são vistos por


Freud?

Grof - Para ele, a morte em princípio não tem representação no


inconsciente. Em momento algum compreendeu que nascimento, sexo e
morte formam uma tríade inextricável e estão intimamente relacionadas
com a morte do ego. O nascimento e a morte são acontecimentos de
fundamental importância, que ocupam uma meta-posição com relação a
todas as outas experiências da vida. São o Alfa e o Ômega da existência
humana; todo sistema psicológico que não as incorpore será superficial,
incompleto e de eficácia limitada. O fato da Psicanálise não ser aplicável
à maioria dos aspectos da experiência psicótica, às numerosas
observações antropológicas, à quase nenhum dos fenômenos
parapsicológicos, nem à psicopatologia social grave (guerras, revoluções,
totalitarismo e genocídio) reflete claramente que estes aspectos se
caracterizam por uma participação essencial da dinâmica transpessoal, e
portanto estão claramente fora do alcance da Psicanálise.

Omega - Fale um pouco dos discípulos mais importantes de Freud, e


seus aportes à teoria e técnica da psicoterapia.

Grof - A psicologia individual de Alfred Adler continuou limitando-se


exclusivamente ao nível biográfico, mas contrastando com a ênfase
determinista de Freud. Adler foi claramente teleológico e finalista, ou
seja, se interessou pelo propósito e significado final da vida. Para ele, o
princípio que dirige todas as neuroses é o objetivo de converter o
indivíduo em um ―homem completo‖. Este impulso em direção à
superioridade, à totalidade e à perfeição representa a necessidade
profunda e inconsciente de compensar sentimentos de inferioridade e
inadequação. Em última análise, a busca pela superioridade, perfeição e
inteireza, significa uma profunda procura pelo significado da vida. O
complexo de inferioridade conduz, em Adler, através dos mecanismos de
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sobre compensação, a graus extraordinariamente altos de performance,


como o demonstra seu exemplo predileto: Demóstenes, o qual tendo
nascido gago, se converteu no mais brilhante orador da Grécia antiga.
Segundo Adler, os processos conscientes e inconscientes não entram
necessariamente em conflito, representando dois aspectos de um sistema
unificado (yin e yang) encaminhando-se ao mesmo fim. Nos tornamos
inconscientes dos pensamentos e sentimentos que entram em dolorosa
contradição com a nossa auto-imagem idealizada.
Devido à enorme complexidade da mente humana, podem ser elaboradas
inúmeras teorias diferentes, todas aparentando serem lógicas, coerentes
e refletindo observações importantes sobre certos aspectos da realidade
psíquica, sendo, não obstante, incompatíveis entre si, e inclusive
mutuamente contraditórias. De qualquer forma, devemos compreender
que Freud e Adler estão falando de diferentes níveis do espectro, tão
bem como o define Ken Wilber, no seu livro ―O Espectro da Consciência‖.

Omega - Quais foram as contribuições de Wilhelm Reich?

Grof - Aos 24 anos Reich já era psiquiatra e psicanalista e o próprio


Freud lhe deu a direção dos famosos seminários das quartas-feiras. Além
disso era membro ativo do Partido Comunista Austríaco. Concordava com
a grande importância dos fatores sexuais na etiologia das neuroses, mas
enfatizou a ―economia sexual‖ que segundo ele, era o equilíbrio entre
carga e descarga de energia, entre excitação e relaxamento sexual. Para
ele, a supressão social das sensações sexuais junto com as atitudes que
a acompanham constituem a verdadeira neurose. O sintoma clínico é
simplesmente sua manifestação exterior. Os traumas originais e a
excitação sexual são contidos pelos complexos padrões das tensões
musculares crônicas - a ―couraça do caráter‖. O termo ―couraça‖ ou
―armadura muscular‖ refere-se a função de proteção do indivíduo contra
experiências dolorosas e ameaçadoras. Para Reich a influência repressora
da sociedade era o fator crítico que contribuía para o orgasmo sexual
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incompleto e para o congestionamento da bioenergia. Um indivíduo


neurótico só consegue manter seu equilíbrio, consumindo seu excesso de
energia em tensões musculares, limitando assim sua excitação sexual.
Um indivíduo saudável não tem esta limitação; sua energia não se liga à
armadura muscular nenhuma, e pode fluir livremente.
A contribuição de Reich para a terapia é significativa e de valor
duradouro. Sua insatisfação com os métodos da psicanálise levaram-no
ao desenvolvimento de um sistema denominado ―Análise do caráter‖ e,
mais tarde, ―Vegetoterapia analítica do caráter‖. Reich usava
hiperventilação, uma variedade de manipulações do corpo e contato
físico direto para mobilizar energias reprimidas e remover bloqueios. De
acordo com ele, a finalidade da terapia era que o paciente se rendesse
totalmente aos movimentos espontâneos e involuntários do corpo, os
quais são normalmente associados aos processos respiratórios. Se isto
fosse possível, as ondas respiratórias produziriam um movimento
oscilante no corpo, que Reich chamou de ―reflexo do orgasmo‖. Ele
acreditava que os pacientes que conseguissem tal resultado na terapia,
seriam capazes de se render totalmente numa situação sexual,
alcançando um estado de plena satisfação. O orgasmo completo
descarrega todos os excessos de energia do organismo, e o paciente
livra-se dos sintomas.

Por causa destas idéias foi expulso da Associação Psicanalítica


Internacional e também do Partido Comunista Austríaco, porém hoje
avaliamos sua enorme contribuição nas áreas dos processos
bioenergéticos e seus correlatos psicossomáticos. Ele sentiu a existência
de imensos potenciais de energia subjacentes a todos os processos
neuróticos e compreendeu, já em 1927, quando publicou ―A função do
orgasmo‖, que era uma futilidade improdutiva, abordá-los apenas
verbalmente. Sua compreensão da ―couraça‖ ou ―armadura muscular‖ na
cronificação das neuroses são confirmadas pelo trabalho com doses altas
de LSD. A confrontação do paciente com o âmago de seus conflitos
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psicológicos é quase sempre acompanhada por violentos tremores,


estremecimentos, contorções, posturas extremas prolongadas, caretas,
emissão de sons e vômitos. A congestão da energia sexual no organismo
por causa da repressão social, inibe o orgasmo sexual total, e isto
provoca o bloqueio da libido no organismo, o qual se expressa para
Reich, numa variedade de fenômenos patológicos que vão da neurose ao
sadomasoquismo.
Mesmo inconvencionais, e até indisciplinadas, as especulações de Reich
são, em essência, freqüentemente compatíveis com os modernos
conceitos da ciência. Pelo seu modo de encarar a natureza, ele
aproximou-se da visão de mundo sugerida pela física quântico-relativista,
enfatizando a unidade cósmica subjacente. Reconheceu o papel ativo do
observador, lembrando as especulações filosóficas de David Bohm.

Várias vezes Reich oscilou à beira da compreensão transpessoal e


vislumbrou uma consciência cósmica que expressou como a ―Energia
Orgônica Universal‖, porém ele nunca alcançou verdadeira compreensão
ou apreciação das grandes filosofias espirituais do mundo.
Em suas apaixonadas incursões críticas contra a espiritualidade,
confundia misticismo com versões superficiais e distorcidas das principais
doutrinas religiosas. Foi ele quem se opôs mais ferreamente ao interesse
de Jung pelo místico. Para ele, inclinações místicas reforçavam a
armadura e provocavam uma grave distorção da economia orgônica, e
nas próximas citações o expressa claramente: ―Medo da morte e de
morrer são idênticos a um orgasmo incompleto, ansiedade frente ao‖
suposto ―instinto da morte. ―Deus é a representação das forças vivas
naturais, da bioenergia do homem, e em nenhum lugar está tão
claramente expresso como no orgasmo sexual. O demônio é a
representação das forças que levam a perversão e distorção destas
forças vivas‖.
Em contraste direto com as observações psicodélicas, Reich afirmava que
as experiências místicas desaparecem se a terapia consegue desmontar a
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couraça. Em sua opinião, ―a potência orgástica não é encontrada entre os


místicos, assim como o misticismo não é encontrado entre os
orgasticamente potentes”. Hoje sabemos que esta afirmação está errada.

Emilio Rodrigué, Mestre da Psicanálise

Emilio Rodrigué é sem dúvida um dos


mais notáveis psiquiatras-
psicanalistas de Ibero América. Foi,
em diversos períodos, Presidente da
Associação Psiquiátrica Argentina,
Vice-presidente da International
Psychoanalitical Association (IPA), e
Presidente da Federação Argentina de
Psiquiatras em seu período ideologicamente mais fecundo, antes da
ditadura. Estudou, a partir de 1947, com os maiores expoentes da
psicanálise mundial, que na pós-guerra estavam na Inglaterra e nos EUA.

Na Tavikstock Clinic de Londres, estudou com Melanie Klein, Anna Freud,


Robert Bion, e se analisou com Paula Heyman. O período de Londres foi
de 1947 a 1951. De 1958 a 1962 passou mais de quatro anos na famosa
Comunidade Terapêutica ―Austen Riggs‖ de Stockbridge, Massachusets ,
perto de Harvard, onde trabalhavam os mestres da psicanálise norte-
americana Erik Erikson e David Rappaport, dentre outros, e que era
dirigida por Robin Knight. Por lá passaram de Tennesse Williams a Bob
Dylan. Destes quatro anos nasceu seu clássico e internacionalmente
conhecido livro ―Comunidades Terapêuticas‖. Já há mais de 50 anos,
ensinava psicanálise aos psiquiatras uruguaios da Universidade da
República, tal como consta no N° 2 da Revista Uruguaia de Psicanálise de
1952.
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A partir de 1974 começou a ensinar à várias gerações de analistas


baianos. Escritor prolífico, mostra em sua monumental e mais recente
obra em 3 volumes, ―O Século da Psicanálise‖, como escreve bem, quão
profundamente conhece aquilo do que escreve, e como sua mente está
mais lúcida a cada ano que passa.

Em 1982, como já era tão reconhecido internacionalmente como


psicanalista inovador e indomável, alguns membros do staff do Hospital
Psiquiátrico de Palma de Maiorca, nas Ilhas Baleares de Espanha, o
convidamos para ministrar um Laboratório-Workshop sobre ―A Loucura
do Nosso Medo‖. Foi tão marcante para todos nós, que Emílio escreveu
sobre ele um dos seus mais belos livros, ―O Último Laboratório‖ (Ed.
Imago, RJ, 1983).

Quando vim morar em Salvador em 83, Emílio me hospedou em sua casa


durante meses, e me abriu todos os caminhos profissionais. Esta
entrevista tem para mim um tom especial de gratidão e reconhecimento
à alguém que vem nos ensinando tanto, há já tanto tempo.

Hoje, depois de 56 anos! (oito setênios) de exercício da profissão, ou


seja, 150 mil horas de escuta atenta da alma humana, desfrutemos do
que ele tem a nos dizer.

Revista Omega - Como é para você, que é uma figura emblemática na


psicanálise latino -americana, observar o declínio da psicanálise?

Emilio Rodrigué - Uma vez mais: declínio, vírgula. Eu acho que a


psicanálise cavalga entre dois períodos, fases ou paradigmas. É a
diferença que medeia entre ―O Futuro de uma ilusão‖ e ―O Mal-estar na
cultura‖. O Futuro é um texto iluminista, o Mal-estar é pós-moderno.
Retomemos o assunto: eu assino tranqüilamente o certificado de
defunção da International Psychoanalitical Association e estou pronto a
fazer outro tanto com a École de Paris de Jacques-Alain Miller. Lamento
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ambos decessos e até iria a ambos velórios, deixando uma saudosista


flor. A psicanálise, hoje em dia é outra coisa. Brota nas margens e se
expande. Eu a colocaria nos seguintes termos: Freud fundou a
hermenêutica moderna, e esse Freud, em meu caderno de bitácora, é o
tronco paterno que inclui Jung, Adler, o injustiçado Stekel e o mártir
Reich. Trata-se de uma árvore que abarca o psicodrama e a psicologia
social de Pichon Rivière e que inspira Devereux na Etnopsiquiatria. Como
pai da hermenêutica moderna ele foi o ponto de partida de Rority e a
lógica contingente. Detrás de Badiou e de Derrida encontramos a Freud.

Omega - Você se formou médico psiquiatra em 1947 e viajou


extensamente por vários centros de excelência de conhecimento durante
os anos dourados da Psicanálise. Que diria aos que estão começando o
caminho hoje?

ER - São outros tempos. Quando comecei a assistir seminários, em 1947,


a Associação Psicanalítica Argentina tinha um local pequeno, com uma
sala onde cabiam umas 15 pessoas. Eram os tempos de Perón e os
seminários só podiam ser dados quando um policial, de pé, estava
presente. Então, nosso divertimento era escandalizar o homem da lei. A
dito fim, líamos em voz alta o trabalho de Garma, totalmente irreverente
em relação à Virgem e aos Reis Magos. O policial abria olhos enormes.
Tempos pioneiros. Isto nos lembra as famosas reuniões das Quartas
Feiras na casa de Freud. Stekel rememora: ―As reuniões eram fonte de
inspiração. Elegíamos um tema ao acaso e todos participávamos da
discussão. Existia uma perfeita orquestração entre nós . Éramos
pioneiros em terras ignotas e Freud era nosso líder. Faíscas saiam de
nossas mentes e uma nova revelação nos aguardava a cada noite‖.

Não se pode mais, ser pioneiros em terras ignotas. Ou talvez sim. Eu


aconselharia de fazer o que estou fazendo. Trata-se de um laboratório
individual de uma só sessão. Laboratório individual para atender a um
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paciente, ou a um casal, com uma montagem grupal. É um encontro


prolongado de aproximadamente 3 horas, onde se aplicam técnicas
alternativas sob uma regência psicanalítica. Sessão única, que tem
começo meio e fim.

Omega - Que nome você deu a esta inovadora técnica?

ER - Quando comecei a trabalhar dessa forma, os cariocas a batizaram


de ―Shampoo‖ e os madrilenhos de ―Sauna‖.
Este invento foi filho da necessidade. Comecei a usá-lo em meus anos de
psicoargonauta, quando, exilado, trabalhava em Bahia, e dai partia para
Rio, São Paulo, México, Madri e Valência. Psicanalista itinerante. Foi na
década dos 70, sob os efeitos do maio francês, e eu estava também
bastante influenciado pelas terapias alternativas. Esalen em Big Sur na
Califórnia, era a Mecca. Foi a época de Perls, Price e os neoreichianos.
Depois, quando retornei ao redil freudiano, arrependido por minha
heterodoxia, não soube apreciar o quanto aprendi nestes anos
―heréticos‖.

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