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AordemVDPefnconstnições
monoargumentais:
utna restrição sinláticc^mântica
Pós-graduação em Letras/Lingüística
Universidade Federal de Santa Catarina
Florianópolis
2000
Izete Lehmkuhl Coelho
A ordem V DP em construções
morwargumentais;
umaFestriçãosintálico-semântica
Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-
graduação em Letras/Lingüística da Universidade
Federal de Santa Catarina para a obtenção do
titulo de Doutor em Lingüística
Orientador
Prof. Dr. Paulino Vandresen
Co-orientadora
Profa . Dra. Maria Cristina Figueiredo
Florianópolis
2000
Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título de
Doutor em Lingüística
Banca Examinadora
NUOU!
P ro f Dr. Paulino VandpgáerT^ ofa. Dra. Maria Cristina Figueiredo
P rof orientador Profa. co-orientadora
UFSC UFSC
----------------------------------
Profa. Dra. Rosane de Andrade Berlinck
adi
Profa. Dra. Edair Maria Gõrski
UNESP UFSC
D edico este trabalho a m eus pais, Adelar e Gilda,
a m eu m ando, Antônio Sérgio,
e às m inhas fílhas Bárbara e Tamara,
com m uito amor e carinho
Meus agradecimentos
Ao professor Paulino Vandresen, principal responsável por grande parte de meus estudos
na área da Sociolingüística, e, sobretudo, pela confiança e amizade.
À professora Edair Gõrski, pelas incontáveis horas que passamos juntas conversando a
respeito de meu trabalho de tese, pelas valiosas sugestões e pela amizade incondicional.
Ao professor Carlos Mioto, pelo privilégio de ter meu trabalho acompanhado de muito
perto por ele, desde o início, e pelos incentivos constantes.
À professora Mary A. Kato, pelos comentários tão esclarecedores que fez sobre minhas
questões e hipóteses e pelas valiosas sugestões.
Às professoras Roberta Pires de Oliveira, Rosane de Andrade Berlinck e Ana Maria Zilles,
pelas discussões de alguns tópicos e pelas pertinentes observações acerca de meus
resultados parciais.
Aos demais amigos, em especial à Márcia Rech (tão distante e ao mesmo tempo tão
presente) e à Meta, sempre prontas a ouvir e a dar uma palavra de apoio.
Aos meus pais, que sempre me incentivaram no caminho dos estudos, por acreditarem em
mim.
ín d ic e d e d ia g r a m a s , g r á f ic o s e t a b e l a s .IV
INTRODUÇÃO 1
0.1. Ponto de partida.................................................................................................. 1
0.1.1. Objetivos gerais ................................................................................ 1
0.1.2. A ordem V D P .................................................................... ...... ......... 2
0.1.3. Delimitação do objeto de estudo ........................................................2'
0.1.4. Questões e hipóteses g erais................................................................8
0.1.4.1. Principais questões ............................................................. 8
0.1.4.2. Principais hipóteses..................................................... .....8
0.2. Apresentação do trabalho................................................................................ 11
0.3. N o ta s .... ............................................................................................................ 12
CAPÍTULO I
A ordem dos constituintes: em busca de uma explicação sintática ...14
1.1. Introdução.................................. ....................................................................M4
1.1.1. A perspectiva teórico-metodológica deste trabalho......................... 14
1.1.2. Por uma concepção de Gramática.............................. ...................... 16
1.2. Modelo de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981; 19 8 6 )............... ....... 18
1.2.1. Os argumentos externos e internos...................................................23
1.2.2. Teoria tem ática...................................................................................24
1.2.3. Teoria do Caso ...................................................................................27
1.2.3.1. Caso nominativo................................................................. 28
1.2.4. O movimento do verbo ..................................................................... 33
1.3. Considerações finais........................................................................................37
1.4. Notas......^.........................................................................................................38
i*'
CAPÍTULO II
A natureza do verto monoargumental 42
2.1. Introdução ......................................................................................... .............42
2.2. O fenômeno da inacusatividade: proposta de Burzio( 1986) .......................42
2.2.1. Ç]ritério setnântico; o papei temático do D P ..................... ...............42
2.2.2. Çritério sintático: a questão do Caso ................................................48
jz.2.2.1. A ordem D P V ................................................................... 48
2.2.22. O DP pós-verbal................................................................. 52
2.2.2.3. O Caso partitivo.................................................................. 59
2.3. Composição semântica dos verbos: proposta de Jackendoff (1976; 1987)..62
2.4. Considerações finais........................................................................................ 74
2.5. N o ta s ................................................................................................................ 75
CAPÍTULO III
A natureza do sintagma nominal: do (morfo)sintático ao semântico 82
3.1. Introdução ......................................................................................................... 82
3.2. As categorias gramaticais; uma discussão (morfo)sintática do D P ............ 82
3.3. A natureza sintático-semântica do DP ...................................................84
3.3.1. A proposta de Belletti (1988): o efeito de definitude...................... 84
3.3.2. A proposta de Enç (1991): o efeito de especificidade .................... 89
3.3.2.1. Sintagmas [+/-definidos] e [+específicos]........................ 89
3.3.2.2. Sintagmas [-específicos]: nota sobre as construções
existenciais........................................................................... 99
3.4. Considerações finais....................................................................................... 101
3.5. N o ta s ............................................................................................................... 102
CAPÍTULO IV
Procedimentos metodológicos i07
4.1. Introdução ...................................................................................................... 107
4.2. O método de análise....................................................................................... 107
4.2.1. A variação nos estudos sintáticos ...................................................108
4.2.2. Constituição e caracterização da amostra ..................................... 109
4.3. Etapas metodológicas.....................................................................................111
4.3.1. Delimitação dos contextos monoargumentais................................112
4.3.2. Categorização dos dados................................................................. 117
4.4. Grupos de fatores condicionadores...............................................................117
4.4.1. Tipo categorial do verbo ............... ............ .... .118
4.4.2. Composição semântica do verbo ....... ....... ............... ........119
4.4.3. Traços de animacidade do DP ............................................. .......... 121
4.4.4. Forma de realização do DP ........................................................... 122
4.4.5. Traços de definitude e de especificidade do DP .... .......................123
4.4.6. Estatuto [+/- pesado] do DP .......................................................... 124
4.4.7. Tipo de sentença.............................................................................. 125
4.4.8. Grupos de fatores sociais ............................................... ................ 126
4.5. N o ta s ............................................................................................................... 127
CAPÍTULO V
Sobfe 0 condicionamento da ordem V DP: uma restrição
sintático-semântica? 1 i3i
5.1. IntrcM^âo ........................... .............. ............................. .......... ......131
5.2. Descrição e análise-dos resultados............................................ :.;............;.^^131
5.271. A natureza dõs verbos monoargumenfâis..................................... : 1-33
5.2.1.1. Sobre a composição semântica dos v e rb o s....................Í34
CAPÍTULO VI
Sobre os preenchedores das fronteiras ...V...DP... na caracterização do
sintagma pós-verbal i8 i
6.1. Introdução ...................................................................................................... 181
6|.2. Resultados estatísticos................................................................................... 182
4.2.1. Descrição dos preenchedores das fi-onteiras,DP x V/ V x D P ......183
6.2.2_ Descrição dos preenchedores periféricos........... ................... - ....... 188
6^3. Sobreis construções inacusativasT a configuração [Loc V DP] . .... ;.. .^ 193
6;4. Sobre a heterogeneidade da configuração V DP .... .r . ............. ..T .............;.,.201
6.4.1. Construções de topicalização ......................................................... 201
6.4.2. Construções de foco não-marcado. uma explicação alternativa ...207
6.5. Considerações finais....................................................................................... 215
6.6. N o ta s ............................................................................................................... 216
DIAGRAMAS
GRÁFICOS
TABELAS
Verbo cópula 8%
“quanto maior fo r o risco de o S N ser interpretado com uma função sintática que não a de
argumento principal do verbo, menor será sua chance de ocorrerposposto ao verbo (...) o V S N se
associa com a escala de transitividade, sendo comum cóm verbos intransitivos e ocorrendo com
(1988:253)
Verbo transitivo 1% 2% 2% 1%
Tabela 0.3: Percentuais de V DP obtidos por Zilles (1999), segundo o grupo de
fatores transitividade do verbo
O importante para este trabalho é que todos esses resultados confimiam que as
chances de se encontrar a ordem V DP são maiores em contextos monoargumentais e
raras em contextos com verbos de mais de um argimiento no português do Brasil, o que
mostra que a restrição da monoargumentalidade atua nessa língua. Verificar em quais os
contextos monoargumentais a ordem V DP se manifesta com uma maior fi-eqüência na
fala informal vai ser o objetivo mais imediato deste trabalho.
Outra questão a respeito da ordem V DP que merece destaque - já lançada no
trabalho de Berlinck (1988) - relaciona-se à heterogeneidade das construções
monoargumentais. A partir de uma análise diacrônica em textos escritos de peças de
teatro de autores brasileiros e portugueses, Berlinck (1995) discute o conceito de
inacusatividade, separando das construções pluri-argumentais construções com verbos
monoargumentais, classificados pela autora como: intransitivos não-ergativos;
intransitivos ergativos (por exemplo derreter, aquecer, apaixonar-se, assustar-se,
morrer, deslizar, rolar, aparecer, acontecer, existir, etc)', construções com se-V;
construções com verbos de movimento e construções copulares. Alguns de seus
resultados estatísticos de V DP estão expostos na tabela 4, abaixo:
Berlinck (1995)
Transitividade do verbo Dados do século XX
(ü) Com relação ao estatuto dos sintagmas nominais, nossa expectativa é de que o
fenômeno conhecido na literatura .como efeito de. definitude. (DE) vá explicar o
fato de DPs permanecerem à direita de verbos inacusativos, em decorrênciá da
obrigatoriedade-de o argumento pós-verbal_de um_verbo. inacusativo. receber uma
leitura [-definida] (e, possivelmente, [-específica] também). Essa hipótese está
diretamente relacionada- à- idéia, de- que há_ um a correspondência, entre
transitividade do verbo e traços de definitude do DP, tendo como base a proposta
de atribuição de Caso partitivo de Belletti_Cl 988) aos^argumentos pós-verbais dos
verbos inacusativos, revista por Enç (1991). Enquanto verbos intransitivos devem
preferir, apenas^sintagmas nominais à suaesquerda.
(iii) A ordem V DP deve estar refletindo uma estrutura heterogênea, representada ora
por construções inacusativas e ora por construções que manifestam alguma
estratégia discursiva, tais como: construção de tópico ou de foco; essas últimas
constituem estratégias de que o falante se utiliza para retomar constituintes já
conhecidos ou focalizar elementos, independendo do tipo de verbo. Essa hipótese
tem como base a discussão levantada por Kato e Tarallo (1989), segundo a qual a
sintaxe V DP envolve, além da inacusatividade, dois outros fenômenos no
português do Brasil, a saber: construções de inversão tipo V2’ e construções de
deslocamento à direita Para discutir essa possível heterogeneidade, faremos um
estudo quantitativo do papel que os preenchedores mais comuns exercem na
sintaxe, dando ênfase, principalmente, aos preenchedores do tipo
locativo/temporal nas fi-onteiras ...V... DP....
10
das hipóteses mais especificas, seguindo uma abordagem que tenta relacionar a
sociolingüística variacionista a xrni ^arato teórico de cunho formalista
No capítulo V, são descritos e analisados os grupos de fatores mais significativos
como condicionadores da ordem V DP, no português falado em Florianópolis,
selecionados pelo programa estatístico VARBRUL. A partir dessa discussão é possível
observar se o condicionamento da ordem V DP no português deve ser ou não
considerado uma restrição sintático-semântica No capítulo VI, abrem-se
questionamentos a respeito do caráter do DP pós-verbal, tendo como base a discussão
dos preenchedores das fi-onteiras ...V...DP.... O papel do locativo/temporal como um dos
preenchedores de fronteira será objeto de discussão deste capítulo, que pretende
levantar, entre outras coisas, questionamentos a respeito de construções de tópico e
construções de foco. A análise é reafirmada na conclusão final, seguida de sugestões a
fiituros trabalhos.
0.3. Notas
' Vamos usar aqui a categoria sintagmática DP (Determiner Phrasé) para designar
sintagma nominal e não NP {Nom Phrase) justamente porque, para efeitos de
referencialidade, umNP é sempre não-referencial, pois a ele faltam, traços de definitude e
de especificidade, enquanto um DP pode ser tanto referencial como não-referencial.
^ As abreviaturas POA, SOB, FLC e PAN utilizadas por Zilles (1999) representam as
regiões de Porto Alegre, São Boija, Flores da Cunha e Panambi, respectivamente.
Os dados de fala analisados para este trabalho serão identificados com a sigla FLP, que
significa região de Florianópolis, seguida do número da entrevista e do número da linha
em que se encontra o exemplo, no Banco VARSUL.
(i) Lá ia eu, levava pro laboratório (est.) o sangue, preparava tudo (FLP23L548)
Capítulo I
m . Introdução
1.1.1. A perspectiva teórico-metodológíca deste trabalho
A possibilidade de interferência de fatores não-gramaticais na explicação da
mudança lingüística levou muitos estudiosos, desde a década de oitenta, a adotar uma
postiira metodológica que concilia variação e teoria da gramática utilizando, ao mesmo
tempo, a teoria/metodologia variacionista, nos moldes de Labov (1972), e um modelo
teórico gerativista, na versão Government and Binding (doravante GB), proposto por
Chomsky (1981; 1986). Enquanto uma teoria de base formal permite formular
adequadamente os problemas e fornecer hipóteses para a análise dos dados, os resultados
e generalizações dos estudos empíricos permitem que trabalhos de interpretação teórica
possam ser desenvolvidos com mais segurança.
Essa proposta foi lançada por Tarallo e Kato (1989) ao se empreenderem no
caminho que busca a compatibilidade entre as propriedades do modelo gerativo e as
probabilidades do modelo variacionista. Os autores acreditam em um estudo simultâneo
entre variação intra e inter-lingüística; a harmonia trans-sistêmica Ao se questionarem,
por exemplo, sobre o que a análise dos dados revela quanto às circunstâncias em que
determinado fenômeno se manifesta, os autores enfatizam que
projetar, antecipar e cftançar resultados cujo valor exceda os limites do intra-lingüístico para o
saber individual inconsciente). A gramática desde então é concebida com princípios que
determinam a formação de palavras, sintagmas e sentenças. É parte do estudo geral de
cognição.
Nesse sentido, uma teoria da gramática é entendida como um conjunto de
hipóteses sobre a natureza de gramáticas possíveis e impossíveis das línguas naturais
(isto é, humanas). Os padrões revelados pelas diferenças entre as línguas parecem sugerir
que a variação é limitada a um conjunto pré-determinado de restrições e é tarefa da
teoria da gramática descobrir a natureza dessas restrições e como elas se relacionam,
com base em critérios de universalidade, tentando construir uma Gramática Universal
(doravante GU). A GU é concebida como o estado inicial da faculdade da linguagem,
geneticamente determinada, a base de que todas as línguas humanas dispõem e que
evolui no indivíduo, constituindo-se na gramática do indivíduo adulto, o seu estado final
estável, nos termos de Chomsky (1981).
Neste modelo de gramática, assume-se que o ser humano é dotado geneticamente
da capacidade para a linguagem, através de princípios rígidos, comuns a todas as línguas,
e de parâmetros, que tentam dar conta de explicar a diversidade entre as diferentes
línguas humanas. Dentro dessa visão, a noção de parâmetro pode ser entendida como um
conjunto restrito de opções (ou valores) associadas com um princípio dado ou com uma
categoria. À medida que os parâmetros vão sendo fixados, vão se constituindo as
gramáticas das línguas.
Baseando-nos em evidências da iíngua-E’ (língua extemalizada), pretendemos
discutir quais são os parâmetros fixados para a ordem do sujeito-verbo/verbo-sujeito
(DP W/W DP), a partir do que está disponível nos sistemas de representação mental
(língua internalizada ou língua-I), e quais as possíveis variantes dessa ordem ( x V DP/ V
X DP/ V DP x) em uma língua particular, como o PB. Para alcançar os objetivos a que a
pesquisa se propôs, será adotado o método quantitativo de análise, a que se
acrescentaram procedimentos qualitativos, por entendermos que muitas vezes
necessitamos de um exemplo apropriado para discutir as nossas hipóteses e essa
evidência nem sempre se encontra nos dados. Os dados serão tratados como fonte de
evidência positiva, pois não podemos pedir julgamentos de gramaticalidade e assim
chegar à língua-I do falante, já que o acervo analisado faz parte de um Banco de Dados
coletado no início da década de noventa. Na impossibilidade de termos certeza de que.
18
quando uma forma não aparece nos dados é porque é uma forma agramatical e para
avançar hipóteses mais gerais sobre a estrutura da língua, em especial sobre nosso objeto
de estudo, vamos discutir também as evidências negativas, ou seja, as formas
agramaíicais. Para tanto, serão usados não só os dados da fala analisada, como também
nossas intuições sobre eles.
(1) XP
/ \
YP X’
/ \
X” ZP
lingüísticos ãversos. ”
De acordo com esse parâmetro, uma língua marcada no valor positivo para o sujeito nulo
admite, entre outras coisas, uma categoria vazia na posição de especificador de IP
(Inflectional Phrase) e a ordem V DP; uma língua marcada pelo valor negativo, ao
contrário, não licencia xima categoria vazia na posição sujeito, nem a ordem V DP.
Consideremos as diferenças entre o italiano, uma língua de sujeito nulo (pro-
drop), e o inglês, uma língua de sujeito lexicalmente preenchido (cf exemplos (3) e (4)),
para entendermos melhor a que propriedades o parâmetro do sujeito nulo está
relacionado:
(3’) a. Ha telefonato
b. * (He) has phoned
‘ Telefonou’
significa que em inglês, onde o verbo posiciona seu argumento interno à direita, as outras
categorias também devem posicionar seus argumentos internos à direita, por exemplo, IP
(inflectional phrase) precede VP nessa língua. O português é exemplo de língua de
núcleo inicial, comportando-se a esse respeito como o inglês.
Alguns parâmetros relacionados à ordem dos constituintes, subjacentes ao
parâmetro da língua de núcleo inicial ou final, como o parâmetro V2, a análise do sujeito
dentro de VP e o movimento de V a Comp (V-to-Comp) vêm atestar que as diferenças
entre as línguas, a variação inter-lingüística, é fiuto da fixação de um valor, digamos
SVO; as outras ordens devem ocorrer por movimento dos constituintes envolvidos (S, V
ou O). O árabe standard é um bom exemplo dessa variação, pois, embora pertença ao
grupo de línguas VSO, permite a ordem SVO em alguns casos; quando o sujeito não
concorda em número com o complexo verbal, a ordem é a básica, VSO; entretanto,
quando há concordância, a ordem muda para SVO. Koopman & Sportiche (1991)
argumentam que a concordância em número entre o sujeito e o verbo na ordem SVO
naquela língua deve ser decorrência do fato de o sujeito estar em relação de
concordância especificador/núcleo (spec/head) com INFL^; ao passo que, na ordem
VSO, o sujeito possivelmente permanece em alguma posição dentro do VP, o que
justificaria também a ausência de concordância. Essas e outras noções sobre os
parâmetros de ordem dos constituintes serão discutidas durante este trabalho, numa
tentativa de mostrar que a variação intra-lingüística segue os mesmos padrões que a
variação inter-lingüística.
Considerando que uma língua de núcleo inicial, como o português, fixada no
valor SVO, também admite a ordem VS(0) e que uma dessas ordens pode estar
evidenciando o movimento do DP à posição de especificador (spec) de IP e a outra a
permanência dele dentro de VP, faz-se necessário levantar alguns pontos importantes do
modelo em foco, como a teoria temática e a teoria de Caso, para tecermos algumas
indagações e hipóteses. Vale lembrar que, nesse modelo, para um sintagma nominal ser
legitimado, tem de pertencer a uma cadeia marcada, no mínimo, por um papel temático e
um Caso. Antes, porém, vamos examinar algumas noções de seleção e de
subcategorização dos argumentos.
23
Os quantificadores all e both estão separados dos sujeitos we e they que são
quantificados por eles. Por se manterem in situ - apesar de we e they serem deslocados -
all e both são chamados de quantificadores flutuantes. Seguindo a hipótese de sujeito
intemo a VP, devemos supor que os sujeitos we e they foram gerados juntamente com
seus quantificadores (all we e both they), na posição de especificador de VP, e foram
movidos para a posição de especificador de IP para se tomarem sujeitos dos verbos
24
Como esses elementos têm um estatuto não-referencial, não são o suporte de nenhuma
função temática.
As informações a respeito dos papéis semânticos fazem parte da entrada lexical
do verbo e interagem com outras informações que estão aí organizadas. Segimdo
Haegeman (1994), devemos tratar os argumentos, na posição de base do sujeito, do
mesmo modo que os argumentos, na posição de objeto. Por exemplo em (9) nós
devemos dizer que ambos os papéis temáticos dos DPs Maigret e the taxi driver são
atribuídos pelo verbo accuse (o exenplo foi retirado da autora);
26
Novamente, (11) mostra que o papel temático do argumento extemo John depende da
relação que se estabelece entre o verbo e seu argumento interno, o que vem ressaltar que
um verbo atribui papel temático diretamente a seu argumento interno, mas indiretamente
a seu argumento extemo.
(12) [DP, t]
não-0 6
K não-K
29
Tal como nas cadeias de movimento, em que a função temática é transmitida do vestígio
para o argumento, num par expletivo-argumento, o Caso é transmitido (agora em sentido
inverso) do expletivo para o argumento (no caso específico em (13), para a oração
subordinada)®. É importante observar que os verbos to seem e sembler, bem como o
equivalente em português parecer, não são atribuidores casuais e, segundo a condição de
visibilidade, a oração subordinada não necessita ser marcada casualmente. Assim, o Caso
atribuído por INFL ao pronome expletivo toma-o visível em LF para a interpretação,
que se fará via ^expletive replacemenf.
Chomsky propõe o termo CADEIA (em caixa alta) para designar os pares
expletivo-argumento (cf (14a)); e cadeia para designar as cadeias por movimento (cf
(14b)). Nesse momento da teoria, pensava-se que as cadeias por movimento e os pares
expletivo-argumento obedeciam às mesmas condições formais. Nos dois casos a cabeça
da cadeia c-comandava a cauda da cadeia.
IP
/ \
DP^ I’
t / \
1 V+I VP
1___I / \
DP* V’
\
tv
A diferença na ordem desses sujeitos (DP'^ V)/(V DP*) é atribuída à idéia de que
em (16) o sujeito permanece em VP (cf. a hipótese do sujeito interno a VP), onde é
atribuído Caso nominativo sob regência por INFL. O fato de, nessa estrutura, o sujeito
não estar em relação de concordância especificador/núcleo com INFL implica falta de
concordância entre eles. Em (15), contudo, o sujeito se move para a posição de
especificador de IP, onde o Caso nominativo sob concordância é atribuído. O fato de o
sujeito aqui estar em relação de concordância especificador/núcleo com INFL implica
concordância de número entre eles, como foi constatado em árabe standard, para
explicar as diferenças entre as ordens SVO e VSO^.
32
Enquanto Pollock adota a projeção TP como uma projeção mais alta que AgrP,
por ser tempo a categoria que determina, a versão de Belletti é de que a projeção mais
alta da sentença deve ser a da concordância (AgrP)” , uma vez que, na derivação
morfológica, os morfemas de tempo precedem os de concordância: o radical primeiro se
alça a T para receber o morfema de tempo/modo, depois se alça a Agr° para receber o
morfema de concordância número/pessoal, dada a ordem linear dos morfemas ligados ao
verbo, como por exemplo em ‘cantá-va-mos’.
As evidências do trabalho de Pollock apontam para a necessidade de duas
projeções fimcionais, derivadas da existência de diferenciados tipos de movimento do
verbo. O autor mostra que existem línguas que admitem um movimento longo do verbo
e outras que admitem apenas um movimento curto. O primeiro movimento é o do verbo
para a posição do núcleo mais alto, T°; e o segundo, o movimento do verbo para o
núcleo mais baixo, Agr°. O autor conclui que o movimento do verbo em uma língua
como 0 francês só é possível porque a concordância de Agr é transparente, enquanto o
movimento do verbo a uma posição mais alta, em uma língua como o inglês, é inpossível
porque a concordância é opaca, impedindo que os verbos que atribuem papel temático
possam passar pela projeção opaca e chegar ao núcleo mais alto. Tais conclusões
levaram em conta a posição do verbo com respeito aos quantificadores flutuantes, a uma
certa classe de advérbios e à negação.
Pollock está supondo que Agr em inglês, diferentemente de Agr em francês, não
é suficientemente rico sob o ponto de vista morfoiógico para permitir a transmissão dos
papéis temáticos dos verbos, ou seja, ele é opaco à atribuição dos papéis temáticos. Ao
contrmo, Agr em francês, sendo morfologicamente rico, é transparente à atribuição dos
papéis temáticos. O fato de somente auxiliares como have e be (em inglês), avoir e être
(em francês) não atribuírem papel temático, justificaria o movimento desses aspectuais a
uma posição mais alta na sentença. Essa proposta sugere que há uma relação potencial
entre a atribuição de papel temático e o movimento aos núcleos fimcionais Agr° e T°.
Para explicar o movimento dos constituintes, Chomsky (1989), já como um
prenúncio do modelo minimalista, une as posições de Pollock (1989) e Belletti (1990)
sobre a necessidade de se considerar a projeção flexionai IP uma projeção composta de
dois nós independentes, TP e AgrP'^, para explicar a realização do Caso estrutural.
35
Chomsky atribui à posição mais alta o lugar onde se realiza o Caso nominativo (AgrsP) e
à posição mais baixa o lugar em que se realiza o Caso acusativo (AgroP) (cf. (18)):
(18) AgrsP
/ \
Spec Agrs’
/ \
Agrs AgroP
/ \
Spec Agro’
/ \
Agro VP
/ \
(Adv) VP
Radford (1997) sugere que, já que o sujeito temático a man em estruturas como (19a)
não se move para a posição de especifícador de IP, deve-se assumir que isso é
conseqüência do fato de o sujeito ter um traço de Caso fraco, semelhante ao que Belletti
(1988) trata como Caso partitivo, ou seja, um traço de indefinitude'^
Nessa proposta de checagem de traços, o movimento de um constituinte nuclear
deve envolver operações de movimento de um núcleo a outro (head movement), uma
operação de movimento cíclico sucessivo. O verbo, por exemplo, deve se mover à
primeira posição da direita para a esquerda de sua posição de origem (excluem-se os
movimentos à direita). Cada vim dos núcleos Tense e Agreement têm traços [N] e [V]
os quais podem ser parametrizados como fortes e fracos. Traços fortes precisam ser
checados na derivação visível; enquanto traços fracos não podem, sendo checados só em
LF. Um exençlo dessa diferença é fruto das próprias constatações de Pollock a respeito
do movimento curto do verbo, exigido por línguas que têm o Agr opaco, como o inglês,
e do movimento longo, exigido por línguas que têm o Agr transparente, como o francês.
Considere-se (20):
Com relação a uma língua como o português. Figueiredo Silva (1996) examina o
movimento do verbo a partir de evidências quanto à flutuação dos quantificadores
universais'^ e quanto ao movimento dos advérbios. Baseando-se na distinção entre
advérbios de frase (que ocupam uma posição alta, tal como inicial de IP ou inicial de CP,
por exemplo) e advérbios baixos (que ocupam uma posição inicial de VP), ela conclui
que são os advérbios baixos que oferecem provas seguras para se falar que o verbo se
move para fora do VP, como os exemplos extraídos da autora ilustram (cf exemplos 18,
p. 50);
Através das evidências acima, podemos observar que advérbios baixos devem
obrigatoriamente seguir o verbo lexical no português, mesmo que seja um particípio (cf
(22) ilustra), o que leva a autora a dizer que tanto verbos lexicais finitos como verbos
participais devem sair do VP em português. A partir do comportamento dos advérbios
negativos do português, que é idâitico ao do italiano, a autora assegura também que há
0 movimento longo do verbo, no português, o movimento para o núcleo fimcional mais
alto da frase (cf p. 79). Como, para explicar a ordem V DP, não necessitamos saber
onde o verbo vai parar após sair de VP, se no núcleo funcional de AgrsP ou em um
outro núcleo qualquer, vamos assumir, aqui, apenas parte da hipótese de Figueiredo
Silva (1996), segundo a qual o verbo no português sai de VP, indo para uma posição
mais alta na sentença, que será tratada aqui genericamente como posição de núcleo de IP
( 1°).
1.4. Notas
^ É importante salientar que o sujeito nesse modelo é o que preenche uma posição, a
posição de especificador IP.
39
^ Segundo Figueiredo Silva (1996:31), o filtro ‘thaí t’, proposto por Chomsky e Lasnik
(1977), impede o movimento do sujeito por cima de um complementizador lexicamente
realizado. O italiano parece não ser sensível a esse filtro, já o fi^ancês o é, como os
exemplos retirados da autora podem mostrar, a seguir:
Segundo Chonsky (1981), o expletivo pro que ocorre com verbos meteorológicos é um
quase-argumento, por isso não precisa estar coindexado com um argumento.
® Nem sempre essa implicação entre falta de concordância e Caso nominativo sob
regência é possível; basta lembrarmos que o Italiano tem sujeito pós-verbal, mas com
concordância obrigatória
40
” Belletti (1990) utiliza o Princípio do Espelho de Baker como base para a sua inversão.
2.1. Introdução
Este capítulo abordará a questão da natureza do verbo monoargumental, do
ponto de vista sintático e semântico. Em primeiro lugar, será discutida a hipótese
inacusativa, segundo a perspectiva de Burzdo (1981; 1986)', traduzida para os termos da
teoria que estamos utilizando aqui (cf. a hipótese de sujeito interno a VP). As subseções
que discutem as propostas de Burzio têm por objetivo contrastar alguns dadôs do
italiano com dados do PB, em especial dados de fala do Banco VARSUL, a fim de
verificar se existem motivações empíricas para dizer que a hipótese da inacusatividade se
sustenta em português .
Em segundo lugar, vamos apresentar uma tipologia semântica dos verbos,
proposta por Jackendoff (1976; 1987). Ela será adotada neste trabalho, principalmente
no que tange às relações semânticas que o verbo mantém com os seus argumentos. A
adoção dessa tipologia é fixito da necessidade de estabelecer critérios plausíveis para a
distinção entre uma sentença [+agentiva] e uma [-agentiva], suporte semântico para o
entendimento da teoria temática, nos termos de Chomsky (1981).
b. Giovanní telefona
‘Geovani telefona’
A relação entre o DP due navi nemiche em (4b) e em (4a) corresponde à mesma relação
entre o sujeito da passiva e o objeto de formas ativas correspondentes, isto é, DPs em
construções como (4b) realizam o mesmo papel temático dos objetos de construções
como (4a).
Uma das explicações de Burzio para essas diferenças diz respeito, portanto, à
propriedade de atribuição de papel teinático: enquanto uni verbo transitivo atribui tanto
papel temático ao DP que está na posição de especificador de VP'^ como ao DP que está
na posição de objeto (posição intema a V ), existem verbos que só atribuem papel
temático ao DP interno a V , como (5) ilustra:
Em (6a), o verbo leggere ‘ler’ atribui papel temático tanto para o DP que está na
posiçâk) de especificador de VP como para o DP que está na posição de objeto, faltando
a contraparte intransitiva (cf. (6b)). Já em (7), com verbos como arrivare ‘chegar’, falta
a contraparte transitiva.
Burzio se refere a verbos que subcategorizam um objeto direto e que não
atribuem papel temático ao sujeito, por exemplo affondare em (5b) e arrivare em (7b),
como verbos inacusativos, o que significa dizer que o único DP subcategorizado por um
verbo dessa natureza é gerado na posição de objeto (posição interna a V ).
Confrontando estruturas que apresentam o mesmo elemento clítico (si), como
(8a) e (8b), o autor mostra evidências de posições tematicamente marcadas e das que
perderam marcação temática:
Em (8a), o autor assume que 5/ é um clítico reflexivo, gerado na posição de objeto (cf
(9a)), que forma cadeia com uma categoria vazia em posição de objeto, exatamente onde
um clítico não reflexivo deveria estar (cf (9b)):
contextos como (9), explica o fato de tais clíticos poderem se alternar com DPs lexicais,
como ilustra (10):
Os exemplos (23) e (24b) abrem algumas discussões que parecem não sustentar a
generalização de Burzio. Retomaremos essa questão no capitulo V.
Mesmo que a relação entre papel temático e atribuição de Caso acusativo não
possa ser estabelecida nos termos de Burzio, vale lembrar aqui da proposta de inclusão
de uma classe de verbos inacusativos na tradição gramatical. Tal proposta assenta-se, em
dois pontos básicos: (i) construções inacusativas só exibem como posição temática a
posição intema a V ; (ii) ao DP dessa posição interna não é atribuído Caso acusativo,
como a estrutura (25) ilustra;
51
Êsta análise propõe uma explicação plausível para o fato de que, em construções
com verbos inacusativos, o DP pós-verbal é alçado para a posição de especificador de
IP, onde lhe é atribuído Caso nominativo. Mas o alçamento desse DP para uma posição
pré-verbal não é obrigatório. No PB, por exemplo, a posição pós-verbál do DP é mais
fi^eqüente em construções inacusativas do que em intransitivas, segundo Mioto (1995), e
imia primeira explicação para esse fato é que possivelmente a posição pós-verbal desses
constituintes é compatível com a do argumento interno. Essa discussão será retomada a
seguir.
2.2.2.2. O DP pós-verbal
Além das diferenças entre os verbos intransitivos e inacusativos relacionadas
anteriormente, uma outra merece atenção: a possibilidade de o argumento de um verbo
inacusativo poder aparecer em posição pós-verbal mesmo em línguas que não
apresentam a propriedade de inversão livre do sujeito, uma das supostas propriedades
53
das línguas pro-drop. Ao comparar linguas que não admitem sujeito nulo, como o inglês
e 0 francês, com línguas que admitem, como o italiano, Burzio diz que as propriedades
dessas línguas provavelmente estão relacionadas. É de se esperar que o italiano e o
português, ao permitirem pronome nulo sujeito, também permitam argumentos nulos
(representados por 0 ) correspondentes a il e there de linguas de sujeito lexicalmente
realizado como o francês e o inglês, por exemplo.
Considere-se o paralelismo entre as línguas, ilustrado em (29):
Segundo o autor, uma certa relação se sustenta entre o não-argumento {il, there e 0 ) em
posição de sujeito e o DP pós-verbal (tratado por ele como i-subject), como em (30),
uma relação manifestada pela co-indexação;
Essa mesma correspondência pode ser observada com o pronome expletivo it,
em inglês, embora a co-indexação, nesse último caso, seja feita com uma sentença, como
(31) ilustra;
Para comprovar que as posições de base dos DPs são diferentes, o autor deriva
as sentenças (33) do italiano, mostrando a possibilidade (ou não) de atribuição do
auxiliar essere e a possibilidade de concordância do DP com o particípio. Considerem-se
(34)e(35):
Essas sentenças evidenciam mais uma vez que os verbos arrivare e telefonare
têm diferentes estruturas-D. Enquanto uma relação de coindexação existe entre as
posições de sujeito e de objeto direto em (34), a falta de ambos - atribuição do auxiliar
essere e concordância com o particípio em (35) - mostra que aí não existe nenhuma
relação entre as posições de sujeito e de objeto. Tais diferenças apontam para duas
posições de DP pós-verbal; a primeira, uma posição intema a VP; e, a segunda, uma
posição de adjunção.
Considerando outras diferenças entre os verbos intransitivos e os verbos
inacusativos, Burzio salienta que o DP pós-verbal de um verbo inacusativo precederá
certos complerrentos sentenciais, enquanto o de um verbo intransitivo os seguirá, como
as estruturas em (36) ilustram:
Esses fatos podem ser tomados como evidência de que verbos como arrivare e
intervenire apresentam algumas propriedades comuns aos verbos transitivos, uma vez
que o único argumento subcategorizado por um verbo inacusativo é gerado na posição
de objeto. Entretanto, apresentam outras propriedades opostas a dos verbos transitivos,
como a não marcação temática da posição de especificador de VP, como as evidências
dadas no item 2.1.1. podem confirmar.
Para discutir a idéia, considerem-se os seguintes paradigmas:
Como todo DP portador de papel temático precisa receber Caso, pela Condição
de Visibilidade, Burzio propôs que o objeto temático de um verbo inacusativo fosse
marcado com o Caso nominativo via CADEIA [pro;, DPi ], dada a sua co-indexação com
o pronome expletivo (realizado ou não foneticamente) na posição de sujeito. O Caso
nominativo é atribuído pelo núcleo da flexão a um pronome expletivo na posição de
especificador de IP e então transmitido ao DP pós-verbal por meio da formação de uma
CADEIA. A CADEIA que liga o expletivo ao DP pós-verbal faz com que o Caso
nominativo fique disponível para o DP pós-verbal. Nessa CADEIA, o Caso é atribuído
58
Além disso, como admitir que o Caso nominativo seja atribuído ao DP pós-verbal
em posição de objeto, se a atribuição de Caso nominativo é uma relação de spec/head
agreementl A proposta de Burzio de atribuição de Caso nominativo por CADEIA
apresenta um problema dentro do modelo, a saber, existe uma barreira^ entre o atribuidor
de Caso e o DP pós-verbal, o VP. Essa barreira impede que a flexão atribua Caso ao DP
59
pós-verbal que está na posição de base de um verbo inacusativo, violando assim o Filtro
do Caso. Esse problema já foi discutido por inúmeros autores; dentre eles, as propostas
alternativas de Belletti (1988) e de Koopman e Sportiche (1991)* merecem destaque.
Outros problemas com esse tipo de CADEIA, relativos ao c-comando, por exemplo, já
foram levantados na seção 1.2.2.1..
As evidências mostradas por Burzio de que existem pelo menos duas posições
para o DP pós-verbal parece que se sustentam, dado o paralelismo entre sentenças do
italiano e do PB. Entretanto, a explicação de Caso nominativo por CADEIA, mediante a
co-indexação entre o DP pós-verbal e um pronome expletivo (pro) em posição de
especificador de IP, só é possível para os DPs que estão adjungidos a VP, uma vez que a
atribuição de Caso aos DPs em posição de objeto é inpedida pela barreira interveniente.
Assim, a hipótese de Burzio de Caso por CADEIA será descartada de nosso trabalho.
Entretanto, o licenciamento do DP em posição pós-verbal precisa ainda ser explicado, e
merece algumas considerações, A hipótese de Belletti (1988), que constitui uma das
questões investigadas a seguir, dá uma outra explicação para esse problema
(47) IP
/ \
'i
/ \
I VP
/ \
V DPi
(inacusativo)
(48) IP
/ \
DPi I’
/ \
I VP
/ \
VP DPi
temática, o que significa dizer que, se um verbo, por exemplo, atribui um Caso inerente,
atribui necessariamente uma fimção temática juntamente com esse Caso, e o faz na DS.
Casos estruturais (nominativo e acusativo), portanto, diferem de Caso inerente porque
não são atribuídos conjuntamente com o papel temático e são atribuídos e realizados na
SS. O fato de a atribuição de Caso partitivo dar-se juntamente com a atribxiição do papel
temático não é trivial. Uma das conseqüências é que o DP que recebe partitivo receberá
também um papel temático específico, típico desse Caso, um papel temático de tema
Esse papel temático, compatível com o Caso partitivo, exigirá que o DP receba uma
leitura [-definida].
Segundo Belletti (1988), em línguas como o finlandês, o Caso acusativo não é o
único Caso com o qual um DP-objeto pode ser marcado. Dependendo da leitura
associada a ele, o objeto desses verbos será marcado ou por Caso acusativo ou por Caso
partitivo. Se o Caso acusativo é atribuído (cf (49)), o DP objeto tem leitura [+definida];
se o Caso partitivo é atribuído (cf (49b)), o DP tem leitura [-definida], leitura de parte
de um conjunto, como os exemplos do finlandês, extraídos de Belletti (1988:01),
ilustram;
Já que a literatura prediz que esse tipo de verbo é um verbo inacusativo (o protótipo dos
verbos inacusativos), então deveria se qualificar como atribuidor de Caso partitivo.
Entretanto, segundo a própria autora, o verbo sembrare não pode atribuir Caso partitivo
ao DP pós-verbal, porque sendo um Caso inerente não pode ser atribuído a DPs que não
sejam tematicamente marcados. Note-se que em construções de small clause“, como em
(50), 0 papel temático do DP molti studenti é atribuído pelo adjetivo intelligenti,
enquanto o Caso partitivo seria atribuído pelo verbo sembrare, o que justifica a
agramaticalidade da sentença
Nessa proposta de Belletti, nada impede que a um sintagma seja atribuído Caso
partitivo na DS e Caso nominativo na SS; entretanto, para que o Caso nominativo seja
atribuído o sintagma não pode ficar na posição de complemento; ele deve ser alçado para
a posição ÚQespecificador de IP, para não violar o Filtro do Caso.
A hipótese de Belletti estabelece uma correlação entre a propriedade casual dos
verbos inacusativos e o diamado efeito de defínitude (doravante DE), dado que o Caso
partitivo só é compatível com sintagmas que podem ser interpretados como parte de um
conjunto. Excluem-se, então, da posição que recebe este Caso os quantificadores
universais e os sintagmas [+definidos], segundo ela, a não ser quando é possível leitura
de lista, isto é quando um sintagma [+defínido] é interpretado como um dos membros de
um determinado conjunto. No capítulo III, discutiremos mais detalhadamente essa
questão.
Antes, porém, vamos tratar da con^osição semântica dos verbos em questão,
com o intuito de estabelecer quais os papéis semânticos que estariam disponíveis aos
argumentos de construções monoargumentais, de acordo com a proposta de Jackendoff
(1976; 1987).
'verbos são funções semânticas arquétipos; as kituras de seus sujeitos e oijetos são combinadas
com eles através é uma composiçãofuncional’ (Jackendoff, 1976:92)
64
O tema nas sentenças acima ocorre na posição de sujeito; a origem, como objeto da
preposição from e a meta, como objeto da preposição to (ou into). Podemos encontrar
exemplos em que ou a origem ou a meta ou ambas não estão especificadas, como em:
Em (52a), a origem não está especificada e, em (52b), nem a origem nem a meta estão
especificadas. Além disso, nem sempre a origem é o objeto da preposição from ou a
meta é o objeto da preposição to. Em The train left Detroit, a origem aparece como
objeto direto. Já em Jill dropped the pail into the weli, o sujeito não realiza o papel
temático de tema, nem de origem ou de meta, mas de agente; o objeto direto realiza o
papel de tema; e a meta o de objeto da preposição into. Nesse último caso, a função
semântica do verbo não é mais a de GO, mas a de CAUSE, por introduzir na
65
composição do verbo a noção de FAZER alguma coisa; essa interpretação será discutida
posteriormente.
As noções de localização não descrevem um movimento, mas a localização de
um objeto relativo a um outro objeto. O DP que descreve o objeto cuja localização está
especificada realiza-se como o tema e o DP que descreve o objeto em termos do qual a
posição do tema é especificada realiza-se como locativo. A representação semântica
formal desta fimção é: BE (x, y), onde a entidade x realiza o papel de tema e y é o
locativo.
Considerem-se os exemplos em (53):
Esse tipo de verbo difere dos verbos do tipo BE porque descreve situações que podem
acontecer em uma extensão temporal, enquanto verbos do tipo BE referem-se a
situações pontuais. Há alguns testes propostos pelo autor - retomados de Gruber - para
diferenciá-los. Enquanto (54) pode ser usado como uma resposta à pergunta: O que
aconteceu?, (53a) não é gramatical como resposta a esta mesma pergunta, como
podemos observar em (55), abaixo;
(55) a. What happened was that [the dog stayed on the left of the cat]
‘O que aconteceu foi que [o cachorro permaneceu à esquerda do gato]’
b. * What happened was that [the dog is on the left of the cat]
‘O que aconteceu foi que [o cachorro está à esquerda do gato]’
Verbos do tipo BE não respondem a essa pergunta porque são verbos que descrevem um
estado. Esse tipo de verbo é definido negativamente como verbos não sendo nem de
duração, nem de movimento. Verbos de duração (tipo STAY) descrevem eventos e
nesse sentido são como os verbos do tipo GO, fornecendo resposta gramatical para a
pergunta O que é que aconteceu?-.
(56) What happened was that [the dog moved to the left of the cat]
‘O que aconteceu foi que [o cachorro moveu-se para a esquerda do gato]’
(57) a. Linda made the rock go from the roof to the ground
‘Linda fez a pedra ir do telhado ao chão’
b. Linda let the rock go from the roof to the ground
‘Linda deixou a pedra ir do telhado ao châk)’
manifestando lun movimento concreto, o sintagma o trem foi de algum lugar não
especificado ao Texas; as representações GOposs e GOident evidenciam um movimento
abstrato; no primeiro caso, o sintagma a herança realiza o papel de tema e o sintagma
Philip o de beneficiário da situação; e, no segundo caso, o metal que se realiza como
tema apenas mudou de uma outra cor para vermelho'^.
O modelo de tipologia verbal de JackendofF tenta encontrar universais na relação
que o verbo mantém com seus argumentos, isto é, através de uma composição fiincional,
o que representa uma grande contribuição aos estudos lingüisticos. Entretanto, um dos
problemas dessa tipologia é o de forçar uma leitura causativa a todo verbo de ação que
não seja de permissão, o que deixa de fora certas construções, como, por exemplo, as
prototipicamente intransitivas e as passivas. Cook (1989) faz uma reanálise da tipologia
de Jackendoflf ressaltando esse problema e, dentre outras observações, apresenta uma
proposta de ampliação dos verbos de ação, como verbos do tipo DO, bem como a
combinação de verbos do tipo STAY com verbos do tipo BE, GO e DO, a saber:
STAY(BE), STAY(GO) e STAY(DO) e assim sucessivamente.
É importante ressaltar, porém, que já faz parte do modelo de 1976 de Jackendoff
a possibilidade de combinação de noções como as de CAUSE e LET com as do tipo GO,
STAY e BE, sem precisar para isso modificar a teoria, como exemplificamos em (58),
(59) e (60). Quanto à proposta de combinação dos tipos de verbos com a estrutura
modal, JackaidofF, no modelo de 1987, propõe inclusive tratar da noção aspectual. Por
exemplo, verbos que possuem aspecto inceptivo podem apresentar duas fimções
combinadas: (i) um verbo do tipo GO circunstanciai (GOcirc) designa o começo de algum
movimento; (ii) um verbo do tipo CAUSE circunstancial (CAUSEcirc) designa o começo
de alguma ação e assim sucessivamente. As restrições modais, na verdade, servem para
ampliar o quadro de possibilidades semânticas, e permitir um maior número de
composições semânticas.
Já a consideração feita por Cook (1989) a respeito da ampliação de uma fimção
semântica que denote ação, sem necessariamente denotar causatividade ou
permissividade, parece procedente, pois ela não está no escopo dos verbos do tipo
CAUSE ou do tipo LET. O autor chama a atenção no sentido de permitir que a tipologia
verbal seja adequada para um maior número de sentenças. Esse problema de certa forma
é amenizado no trabalho de Jackendoff (1987), quando o autor amplia as possibilidades
70
combinatórias dos verbos, introduzindo verbos do tipo ACT (x, y) em sua tipologia
verbal: onde a entidade x realiza, geralmente, o papel temático de agente e y o papel de
paciente opcional. Essa última função talvez possa dar conta de explicar verbos de ação
monoargimientais, como trabalhar, por exenplo.
Vamos retomar alguns exemplos de JackendoflF (1987:395-396) para discutir
mais detalhadamente essa questão.
Em (61), o verbo bater (to hit) está representado pela fimção semântica do tipo
ACT. Vale ressaltar que, pela proposta do autor, um verbo do tipo ACT pode ora
realizar o papel temático de agente, ora de tema, dependendo da relação de
composicionalidade entre o verbo e os argumentos. Na relação entre Sue e o verbo bater
podemos dizer que Sue realiza o papel temático de agente (uma entidade volitiva);
enquanto na relação entre o carro e o verbo bater o carro realiza o papel de tema (uma
entidade não volitiva). Há, no primeiro caso, uma relação entre agente e paciente (Sue,
Fred) e, no segundo caso, uma relação entre tema e meta (The car, the tree). Para que os
sintagmas realizem papéis temáticos de agente é necessário que apresentem traços de
volitividade ou que sejam instigadores extrínsecos do evento (um argumento que se
aproximaria dos verbos do tipo CAUSE), segundo o autor, e essa volitividade só pode
estar presente emDPs marcados com traços [+animados].
A possibilidade de duas leituras também pode ser observada em verbos do tipo
GO, como, por exemplo, rolar (to roll), em (62) abaixo:
(62) pode ter duas interpretações: uma delas em que Bill pode ter sido uma entidade que
involuntariamente ‘rolou colina abaixo’; e outra em que Bill pode ter sido o agente
71
voluntário da ação de rolar. No primeiro caso, ele realiza o papel de tema e, no segundo
caso, 0 papel de agente. Note-se que a função semântica que está representando o verbo
rolar é a do tipo GO, que se alterna para GO(ACT) quando há volitividade. Essa
questão será retomada no capítulo V.
Embora não se proponha a elaborar uma tipologia verbal, Jackendofif, no trabalho
de 1987, oferece um detalhamento maior a respeito da composição semântica dos
verbos, acrescentando, além de noções como as de ACT, noções como as de ORIENT,
que pretende dar conta de verbos do tipo apontar como em:
O autor acrescenta também noções de direção, representadas por preposições tais como
TO, FROM, TOWARD, VIA, etc., que, no modelo anterior, eram representadas pelos
papéis temáticos de origem e meta, dentro da conposição semântica dos verbos do tipo
GO.
Tomarenros agora evidências do português para discutirmos a tipologia de
Jackendofif (1976), acrescida de algumas considerações do trabalho de 87. As fiinções
semânticas BE, STAY e GO estão representando abstrações de verbos do tipo de estar,
permanecer e ir e podem explicar a não-agentividade do sintagma Uma encomenda,
nessa língua, como os exemplos em (64) ilustram:
(66) a. E o meu avô não deixava nós ir, mas a gente sempre ia (FLP01L879)
b. E o meu avô fez nós ir, mas a gente não queria
c. e a gente ainda trabalhava na roça (FLP08, L.1065)
Neste trabalho, não serão discutidos os verbos com mais de um argumento, como (66a)
e (66b) ilustram, por isso verbos do tipo LET e CAUSE serão deixados de lado. A
fimção ACT vai estar representando os verbos de ação monoargumentais, por serem
73
verbos que não recebem uim leitura causativa. Exenplos como (66c), em que o agente
está na posição sujeito e é o único argumento selecionado pelo verbo, vão estar
representando essa função.
Outros casos que merecem destaque, e que são discutidos pelo modelo de
Jackendoff (1987), são os modificadores das íunções semânticas (ou modais). Os
modificadores têm o efeito de impor uma classificação dos verbos na língua,
principalmente quando a escolha do objeto afeta o papel temático do sujeito. Já
discutimos esse problema no capitulo precedente, quando adotamos o ponto de vista
segundo o qual o papel temático do argumento externo não é determinado pelo verbo
sozinho, mas é composicionalirtente determinado pelo complexo verbo-complemento.
Considere-se o paralelisnx) entre exemplos como (11) em inglês, retomados do capítulo I
(cf p. 25), e de exemplos como (67) em português:
Apesar de o verbo quebrar aparentemente ser um verbo de ação, duas leituras estão
disponíveis nos exemplos acima: em (67a) o sintagma João é a entidade que realiza o
papel de paciente, ao passo que em (67b) João realiza o papel de agente da ação
expressa pelo verbo quebrar.
Retomando o exemplo (62), em que Jackendoff admite a possibilidade de um DP
ter mais de um papel temático, isto é, a possibilidade de um sintagma ao mesmo tempo
realizar o papel de agente e o de tema, observemos, então, o que alguns exemplos do
português parecem ilustrar, seguindo essa perspectiva:
tentam abarcar todos os tipos de verbos de uma língua. Os verbos do tipo BE (locativo e
existencial), STAY e GO são representações abstratas da conposição semântica dos
verbos [-ação], cujo sujeito, na grande maioria, é um tema. Os verbos do tipo ACT,
CAUSE e LET, por outro lado, são representações dos verbos [+ação], cujo sujeito,
geralmente, realiza o papel temático de agente.
Uma vez estabelecidas as especificidades que cada um dos tipos de verbos, acima
arrolados, apresenta com seus argumentos do ponto de vista sintático-semântico,
pretendemos investigar nos dados empíricos se o grupo de fatores natureza do verbo vai
determinar a ordem dos constituintes na sentença em uma língua como o PB,
evidenciando a possibilidade de co-ocorrência entre os grupos de fatores tipo categorial
do verbo (de cunho sintático) e composição semântica do verbo (de cunho semântico).
2.5. Notas
Além disso, enquanto a sentença (ia) é sempre inacusativa, já que o sujeito As rodas é [-
animado], (ib) pode ser ambígua: como o sujeito João é [+animado], o ato de deslizar
pode ser voluntário ou não, pois pode ser fiuto de um escorregão. Caso o ato não seja
voluntário, a construção é inacusativa; caso contrário, a construção é intransitiva.
(ii) VP
/ \
DP* V’
/ \
V DP#
Aconteceu um acidente
Na SS, 0 verbo é alçado a INFL para receber (ou checar) sua flexão e o argumento
intemo, representado por DP#, tem que se alçar para que o Caso possa estar disponível,
porque os verbos inacusativos são incapazes de atribuí-lo. O argumento intemo tem duas
opções: (1) ou deve se alçar para a posição de especificador de VP e permanecer em
DP*, onde recebe Caso nominativo sob regência; (2) ou, se não conseguir Caso, deve se
alçar ao especificador de IP, onde recebe Caso nominativo sob concordância. A primeira
opção representa estruturas com a ordem inversa (V DP) e, a segunda, com a ordem
direta (DP V).
^ Somente categorias plenas, não segmentos, podem ser barreiras para a regência
(BeUetti, 1988:19, cf. nota 40).
” Em estruturas como:
DP2 não pode ser marcado por Caso partitivo, uma vez que 0 Caso e o papel temático
não são atribuídos pelo mesmo constituinte, o verbo. Em uma small clause é o XP que
atribui papel temático a DP2. Como as questões de Caso e de atribuição de papel
temático são específicas, nesse caso, não vamos considerar esse tipo de estrutura.
12
Agradeço aqui às valiosas sugestões do professor Apóstolo Nicolacópulos
Jackendofif (1976) adota a discussão de Gruber (1965) quanto aos testes com do
something, conhecidos na literatura como Do test. Na proposta de Gruber, segundo 0
autor, um verbo agentivo pode ser substituído em todas as circunstâncias pelo sintagma
^do something ’ (fazer alguma coisa), como as sentenças em (i) e (ii) comprovam:
(ii) What John did was [marched the prisoners across the yard]
‘O que o John fez foi [ mandar os prisioneiros marcharem no pátio’] ’
Se, no entanto, a pergunta fosse O que os prisioneiros fizeram? A resposta não seria
gramatical:
(iv) What happened to the prísoners was that [John marched them]
‘O que aconteceu aos prisioneiros foi que [John fez eles marcharem]’
Tradução nossa
No trabalho de 1987, JackendoflF assume a análise de Gruber (1965) para definir tema:
“the object in motion or being located” (cf P. 377-378). Essa definição é tomada pelo
autor tanto no trabalho de 87 quanto no de 76 para distinguir paciente (objeto afetado)
de tema.
às funções BE, STAY, GO, CAUSE e LET, contribuindo para ampliar o matiz
semântico dos mesmos, como podemos exemplificar em (i) e (ii);
Em (ii), a senteüça não se refere a uma extensão no tempo ou no espaço, mas a uma
circunstância Para que João saísse do quarto foi necessário que ele fosse forçado por
Paulo, uma circunstância modal.
3.1. Introdução
Neste capítulo, são apresentados e discutidos alguns aspectos (morfo)sintáticos e
semânticos que caracterizam o sintagma nominal (tratado aqui como DP), com o
objetivo de esclarecer qual é a natureza do sintagma que se posiciona à direita e à
esquerda de verbos monoargumentais. Será ^resentada, em primeiro lugar, uma
discussão sobre as categorias gramaticais, com ênfase na categoria lexical de Nome e nas
categorias fiincionais a ela relacionadas, com a finalidade de delimitar o grupo de fatores
forma de representação do DP, que será discutido no capítulo V. A seguir, serão
tratados os traços de definitude e de especificidade dos sintagmas nominais, em especial,
a partir das propostas de Belletti (1988) e Enç (1991).
O modelo teórico de Enç (1991) traz uma contribuição significativa para a análise
dos traços semânticos do DP em estudo. Postulando uma semântica da especificidade, a
autora discute o fenômeno conhecido na literatura como efeito de definitude (DE), tal
como tratado por Belletti (1988), e procura fazer generalizações a partir de uma noção
distinta para o termo ‘partitivo’. Esse modelo permitirá investigar, nos dados empíricos,
se 0 Caso partitivo pode legitimar o DP pós-verbal de construções inacusativas em uma
língua como o PB.
(1) DP
/ \
Spec D’
/ \
D NP
VP VP PP
86
Segundo Belletti, nas línguas que não apresentam marcação morfológica de Caso
- como o inglês, o italiano e o português, por exemplo - a atribuição de Caso partitivo ao
DP objeto só é visível em sua interpretação [-definida], como os exemplos acima
ilustram Além disso, se a possibilidade de Caso nominativo fosse acessível, via
CADEIA, ao DP pós-verbal tanto em estruturas inacusativas, como em estruturas
intransitivas, como sugere Burzio (1986), seria inexplicável o próprio DE e, portanto,
inexplicável o contraste entre (5a) e (6), bem como o contraste entre (7a) e (7b). Por
isso, se não há razões para proibir a atribuição de Caso nominativo ao DP pós-verbal de
estruturas intransitivas, existem razões para excluir o mesmo mecanismo em estruturas
inacusativas.
Figueiredo Silva (1996) já observou que, no português do Brasil a restrição de
indefinitude parece ser característica da posição de objeto DP2, posição em jogo nas
frases italianas analisadas por Belletti (1988). A autora observa ainda que 0 fato de o
Caso partitivo só ser compatível com sintagmas que podem ser interpretados como parte
de um conjunto retoma as discussões de Nascimento (1984). Entretanto, o autor não
distingue verbos inacusativos de verbos intransitivos em sua proposta, o que constitui um
problema para explicar, por exemplo, por que uma sentença como (8) (retomada do
exemplo (20c) de Figueiredo Silva (1996:97)) é agramatical no português do Brasil.
Essa discussão será retomada quando da análise dos dados errç>íricos, nos capítulos V e
VI. Nesse momento, vamos assumir apenas que a posição DP2 também está disponível
no português do Brasil, principalmente para alojar argumentos de verbos inacusativos.
A posição DP2 seria incompatível, segundo Belletti, com DPs quantificados
universalmente e com DPs com interpretação de descrição [+definida]. Entretanto, há
casos de DPs [+definidos] que constituem no dizer da autora uma exceção: são os de
leitura de lista (list reading), como os exemplos abaixo, do inglês e do italiano, ilustram:
partitivo, a hipótese de Belletti (1988), além de garantir que os DPs não sejam excluídos
pelo Filtro do Caso, está explicando a manifestação do fenômeno DE. Se esse fenômeno
existe no italiano (uma língua de sujeito nulo) e no inglês (uma lingua de não-sujeito-
nulo), então parece razoável dizer que o DE impõe uma exigência de indefinição ao DP
pós-verbal de um verbo inacusativo.
Para verificar se o Caso partitivo também está disponível ao DP pós-verbal no
português, temos de procurar analisar se a hipótese de Belletti dá conta de explicar a
noção de ‘partitivo’ nessa língua Essa noção é questionada por Enç (1991), como
podemos verificar na seção a seguir.
(12) Five children arrived late. They had missed their bus.
‘Cinco crianças chegaram tarde. Elas perderam o ônibus’
O pronome They requer uma relação de identidade com seu antecedente five children,
por isso é [+definido]. É possível estabelecermos uma relação de coindexação entre
ambos, justamente porque eles têm a mesma referência, isto é, o mesmo índice, como em
(13):
(13) Five children i arrived late. They i had missed their bus.
‘Cinco crianças schegaram tarde. Elas i perderam o ônibus’
Além disso, como a relação de inclusão se sustenta onde quer que a relação de
identidade se sustente, o sintagma five children é também o antecedente fi-aco do
pronome they, porque esse está incluído naquele, conseqüentemente, o pronome também
91
é [+específico]. Tais evidências levam a autora a predizer que não deve haver sintagmas
[+definidos] que não sejam [+específícos], embora a recíproca não seja verdadeira
Torremos agora um exemplo do Banco VARSUL:
(14) O mercado i hoje é sujeira (est.). Naquele tempo ele i não era não, naquele
tempo ele i era muito limpo (FLP24L115)
Ao considerarmos o sintagma two boys como parte do conjunto maior de crianças que
entraram no museu, segundo a autora, estamos admitindo uma leitura partitiva não
evidente para tal sintagma {two o f the boys), por estarmos introduzindo elementos de um
conjunto previamente estabelecido.
A proposta de especificidade de Enç está diretamente relacionada à idéia de que
interpretação partitiva (explícita ou não) garante aos DPs uma leitura [+especifica]. Tais
sintagmas se referem a grupos, no qual o DP partitivo está contido, como o exemplo
(16) ilustra.
O segundo índice-do subconjunto two o f the boys está contido no primeiro índice Several
children, respeitando assim a relação de inclusão.
Essas evidências podem ser constatadas, segundo a autora, em línguas de Caso
morfologicamente marcado, como, por exemplo, o Turco. O Caso acusativo é
obrigatoriamente atribuído para todos os sintagmas [+específicos] na posição de objeto
naquela língua; entretanto, quando o Caso acusativo não está marcado, a leitura é
necessariamente [-específica], Essa especificidade está diretamente relacionada ás noções
de leitura partitiva, como os exemplos (17) e (18) retomados da autora, ilustram:
Em (20a) a interpretação não é a de que Sally dançou com todo homem da terra, mas
que ela dançou com cada um dos homens existentes em um certo contexto. Isso
assegura que a quantificação se dá sobre conjuntos contextualmente relevantes, isto é, já
no domínio do discurso. Nesse caso, a leitura de (20a) é equivalente a de (20b), com
partitivo evidente.
A quantificação universal, portanto, garante aos DPs especificidade", porque tais
sintagmas quantificam sobre conjuntos contextualmente dados. É importante destacar
que nenhum sintagma introduz um novo referente e quantifica sobre ele ao mesmo
tempo. Os exemplos do portugufe também evidenciam essa leitura:
O uso que Enç faz de partitivos contrasta drasticamente com o uso do termo em
Belletti (1988), que exclui do conjunto dos partitivos os sintagmas definidos e os
quantificadores universais, sem levar em consideração semelhanças relativas à
95
(25) a. (Fala dos filhos) Todos os outros três filhos são todos os três revoltados.
Moram dois no Rio (FLP03L310)
b. Tinha três ou quatro ou cinco fábricas de vinho lá (FLP06L361)
Em (25a), o sintagma dois faz parte do conjunto de filhos que está no domínio do
discurso, um partitivo implícito {dois dos filhos revoltados), por isso deve ser
considerado um sintagma [+específico]. Ao contrário, em (25 b), não há evidências de
que 0 referente fábricas de vinho já havia sido mencionado, é, portanto, um sintagma [-
específico], comportando-se como um sintagma que foi introduzido no discurso pela
primeira vez, do mesmo modo que diversos navios, em (26):
Uma outra discussão apontada por Enç diz respeito aos DPs em Inglês com
adjetivos que são geralmente identificados como [+específicos], como certain^'*, por
exemplo. Esses DPs parecem admitir uma leitura partitiva implícita, como o exemplo
(27b) ilustra:
97
(27) a. There were several books on the table. John picked up one of them and
started reading it.
“Havia muitos livros na mesa. John pegou um deles e começou a ler’
b. There were several books on the table. John picked up a certaín book
and started reading it.
“Havia muitos livros na mesa. John pegou um certo üvro e começou a ler’
(28) a. The teacher gave each child a certain task to work on during the
aftemoon
‘O professor deu a cada criança uma certa tarefa trabalhar durante a tarde’
b. Each child sat under a certain tree
‘Cada criança sentou sob uma certa árvore’
c. John wants to own a certain piano which used to belong to a famous
pianist
‘John quer possuir um certo piano que costumava pertencer a um pianista
famoso’
por um atribiüdor, há DPs que ora são marcados por traços [+específicos] ora por traços
[-específicos], como os que admitem uma leitura cardinal, por exemplo, e há DPs que
são privativamente [-específicos], segundo a autora, como aqueles que são permitidos
em contextos existenciais; esses últimos serão tratados a seguir.
Essas evidências nos levam a repensar o termo ‘partitivo’ usado por Belletti
(1988) em sua proposta de Caso partitivo, já que deveria ser compatível com
construções existenciais. Discutiremos um pouco essa questão, tendo em vista a hipótese
de Enç (1991).
A abordagem enciana propõe um paralelismo entre os sintagmas quantificados
universalmente e os sintagmas partitivos, ambos segundo a autora [-definidos], porém
[+específicos], diferentemente do tratamento dado por Belletti (1988). Se sintagmas
partitivos atuam como parte de um conjunto previamente mencionado no discurso, como
podemos dizer então que são compatíveis com sentenças existenciais se sentenças
existenciais não pressupõem existência? Tal proposta permite explicar a impossibilidade
de sintagmas quantificados universalmente e partitivos em sentenças existenciais, como a
agramaticalidade dos exemplos em (29c), (30c), (31) e (32) ilustram Quando expressões
[-específicas] são exigidas em contextos existenciais diz-se, portanto, que exibem uma
restrição de especificidade e não de definitude, segundo a autora
Quanto a sintagmas que contêm determinantes como certo (certain), apesar de
aparentemente levarem a uma interpretação [+específica], admitem contextos existenciais
caso estejam relacionados a determinados modificadores, isto é, quando são licenciados
por um atribuidor, como os exemplos em (33a) e (33b) - retomados dos exemplos (68) e
(65) de Enç (1991) - ilustram, paralelamente aos exemplos (34a) e (34b) do português.
A esses sintagmas, portanto, Enç (1991) trata como específicos relacionais, ou seja,
específicos que não pressupõem existência, podendo ser licenciados em construções
existenciais, tal como o julgamento de gramaticalidade das sentenças acima evidencia.
Em suma, é importante salientar que a diferença entre a leitura de um sintagma [-
definido] e [+específico] e a de um sintagma [-definido] e [-específico] reside nas
propriedades de pressuposição de existência, de acordo com a hipótese de Enç (1991). A
autora esclarece que o estudo de especificidade defendido por ela é fortemente
relacionado à noção de definitude, porém é ao mesmo tempo distinto dela; basta lembrar
das diferenças entre a quantificação universal e a quantificação existencial, acima
relacionadas, partindo da idéia de que ambas quantificam sobre DPs [-definidos], Com
base, então, na abordagem enciana podemos dizer que a especificidade é imi fenômeno
que explica melhor as diferenças entre os sintagmas que manifestam propriedades de
pressuposição de existência e aqueles que manifestam propriedades de asserção de
existência (grifos nossos). Nesse caso, o termo Efeito de Definitude deveria ser
substituído pelo termo Efeito de Especificidade, para dar conta de explicar as
construções existenciais, nos moldes propostos pela autora. É esse o tratamento que
vamos dar aos sintagmas em estudo, pelo menos nesse primeiro momento,
mantém (ou não) com algum DP ou com um conjunto de DPs previamente estabelecido
no discurso e da relação de um atribuidor que licencie sintagmas contendo adjetivos
como certo, por exemplo.
A abordagem enciana sobre as construções there be parece registrar que não
somente descrições definidas se opõem a uma interpretação existencial, mas também
sintagmas [-definidos] quando são [+especificos], como os que permitem uma
interpretação partitiva ou universal, por exemplo. Procuraremos verificar se essas
análises se aplicam aos dados do português do Brasil no que diz respeito à interpretação
de DPs que recebem Caso partitivo, já que o português não possui caso
morfologicamente marcado. Ora, segundo Enç (1991), se um DP partitivo se refere a um
subconjunto de um grupo previamente estabelecido no discurso é necessariamente
[+especffico], então como explicar que o Caso partitivo esteja disponível em construções
existenciais, já que elas são necessariamente [-específicas]? Por outro lado, admitindo
que um DP quantificado universalmente pode receber uma interpretação partitiva não
evidente, como podemos excluí-los do Caso partitivo, como propõe Belletti (1988)?
Para tentarmos responder a essas questões, vamos levantar o grupo de fatores traços de
definitude e de especificidade do DP, partindo de evidências do português; esse grupo
será tratado no capítulo V.
3.5. Notas
' Radford (1997) põe os adjetivos dentro das categorias lexicais por selecionarem o tipo
de nome que vão modificar, devido ao seu conteúdo descritivo (como em thoughtfiil
fiiend/*thoughtfijl problem); por não poderem preceder os determinantes (como em My
nice clothes/*Nice my clothes) e por permitirem recursividade, diferentemente dos
determinantes (como em My nice new clothes/*A clothes). Entretanto, nesse
trabalho, vamos tratar de alguns adjetivos à parte, como uma categoria fimcional, por
estarem contribuindo para a definitude ou especificidade dos sintagmas nominais.
que a preposição sobre estabelece que o DP a mesa deve ser interpretado como um
lugar. Logo, é possível dizer que sobre s-seleciona o DP a mesa.
O termo referência, tal como o discutiremos aqui, tem a ver com a proposta de Lyons
(1977:145), na qual é definido como a relação existente entre uma expressão e aquilo
que essa expressão designa ou representa em ocasiões particulares da sua enunciação.
Quando uma sentença como (i) é enunciada, por exemplo, o locutor se refere a um certo
indivíduo (Napoleão) por meio de uma expressão referencial, para que o interlocutor
possa identificar o referente em questão.
^ O português, não tendo por hipótese a possibilidade de atribuir Caso nominativo sob
regência, também não terá a possibilidade de apresentar um DP na posição DP4.
’ Vale ressaltar que a sentença (7b) é boa num contexto em que há conhecimento
compartilhado a respeito da espera de uma correspondência. Nesse caso, porém, a
sentença melhoraria se não tivesse um PP no finai de VP.
* Parece que o julgamento de gramaticalidade dessa sentença não é único. Algumas das
pessoas com quem eu testei acharam-na perfeitamente possível.
^ Agradeço aqui à observação de Maria Alice Tavares, a respeito do sintagma o cara ai.
Segundo ela, se 0 ai for um modificador, a sentença (10a) é agramatical, porém se a
104
leitura for apontativa, isto é, dêitica, a sentença é gramatical. O exemplo (i) ilustra bem
essa leitura apontativa;
" Merece atenção aqui o estudo de Vazzata Dias (1999) com relação à proposta de dois
tipos de quantificadores universais. A autora mostra indícios de que há pelo menos dois
tipos de construções quantificadas universalmente; as do tipo (20) - tratadas por Enç
(1999) - e as do tipo (i), uma construção tratada na literatura como genérica.
Apenas as primeiras, segundo Vazzata Dias, permitiriam uma leitura partitiva. Essas
discussões serão retomadas no capítulo V.
(ii) a. Two specific women/ some specific women/ one particular document
b. That specific child/ this particular element
Um dos trabalhos citados por Enç (1991) que identifica especificidade com uma leitura
de escopo amplo do DP sobre o operador é o de Fodor e Sag 1982 (Apud Enç, 1991). A
autora descarta essa hipótese ao comprovar que sintagmas com adjetivos como certain
em inglês, além de exigirem uma leitura específica, podem ter escopo estreito sobre
operadores. Para manter a hipótese dos autores, segundo Enç (1991), deveríamos
106
rejeitar a idéia de que indefinidos com tais adjetivos são específicos. Ela prefere construir
uma análise de especificidade que seja independente de relações de escopo, uma análise
que permita escopo estreito e explique a tendência ao escopo amplo, bem como uma
análise que providencie explicações para a interpretação de sentenças que contenham
sintagmas específicos, mas nenhum operador.
” Vale lembrar aqui da aceitabilidade das sentenças com o verbo ter em um contexto
não-existencial, como em (i), semelhante a uma construção estativa do tipo BE não-
existencial, ilustrada em (ii);
Procedimentos metodológicos
4.1. Introdução
Este capítulo tem por objetivo comentar as decisões metodológicas tomadas para
a descrição e análise da variação intema da ordem do sintagma nominal (DP) em
construções declarativas monoargumentais, no português falado em Florianópolis, a
partir de uma amostra sincrônica.
Na primeira etapa, será apresentado o método quantitativo de análise, incluindo
os critérios quanto ao tratamento dos dados e às restrições lingüísticas observadas. Na
segunda, são estabelecidos os grupos de fatores condicionadores, com o objetivo de
discutir os problemas e as hipóteses mais específicas, a partir das informações recolhidas
na literatura sobre o fenômeno da variação da ordem de constituintes e da observação
inicial dos dados.
Ao lado dos pressupostos teóricos necessários ao trabalho, a análise desenvolvida
tem caráter eminenten^te empírico, isto é, lida-se com uma amostra representativa da
fala de florianopolitanos, numa tentativa de conciliar o saber teórico da teoria da
Variação com as conquistas do modelo de Princípios e Parâmetros, na versão da GB.
“as unidadespara além do nívelfonológico têm cada uma um significado. Logo, se cada construção
sintática tem seu próprio significado, como épossível que haja variação, se por variação entendemos
Nesse sentido, para a autora, seria inadequado estender a outros níveis de análises de
variação a noção de variável sociolingüística, a não ser que a variação carregue
significado social e estilístico além do significado referencial, que tem de ser o mesmo
109
para todas as variantes. A questão que se levanta é polêmica: o que seria ter o mesmo
significado referencial, dada a inexistência de sinonímia absoluta nas línguas naturais?
Labov (1978) alarga a noção de variável lingüística para dois enunciados que se
referem ao mesmo estado de coisas e que têm o mesmo valor de verdade (entendendo
estado de coisas como significado representacional), relativizando a noção de ‘mesmo
significado’. Diz que a teoria da variação deve levar em conta a Gramática da língua e a
competência lingüística dos falantes. Para o autor, o valor da análise de variação em
sintaxe está em ser um indicador dos processos gramaticais subjacentes, isto é, um
indicador das restrições que inibem ou favorecem o uso de uma ou de outra variante, um
indicador que também possa predizer mudanças no sistema.
Utilizando-nos da proposta metodológica de Labov, entendemos que a
quantificação de fenômenos sintáticos pode, além de nos fomecer bons indicadores da
relevância de diversos grupos de fatores, como Paiva (1991) ressalta, ser um
instrumental útil, capaz até mesmo de verificar a ausência de variação. Como a pesquisa
que ora desenvolvemos se concentra, principalmente, na situação de construções V DP
no interior do sistema lingüístico do português do Brasil, a variação sintática intra-
lingüística pode ser entendida como um caso de competição entre gramáticas, entre
sistemas, segundo a perspectiva de Kroch (1994), principalmente se for atestado que as
diferenças entre construções intransitivas e inacusativas estão diretamente relacionadas
às diferenças entre as ordens DP V e V DP, respectivamente.
um dos três estados da Região Sul do brasil” (Knies (& Costa, 1995)
110
Informantes da
região urbana de Escolaridade Faixa etária^
Florianópolis Primário Colegial
08 informantes 04 04 25 a 39 anos
40 a 49 anos
08 informantes 04 04 50 a 59 anos
Mais de 60 anos
Tabela 4.1.: Distribuição da amostra de informantes da região de
Florianópolis, extraída do Projeto VARSUL
isso não deve registrar nenhum fator social como condicionador da posposição do DP. O
estudo de dois grupos de fatores sociais, em especial do grupo faixa etária, tem como
objetivo observar se é possível falarmos em mudança em tempo aparente e se a escola
exerce influência sobre uma possível mudança
(2) a. Morreu primeiro o meu avô, depois morreu a minha avó (FLP08L17)
b. Aí ela voltou pro hospital de Caridade. Ela morreu de tireóide
(FLP08L23)
(3) a. A Monique chegou lá em casa: - Ó vó, eu vim aqui falar contigo
(FPL07L875)
b. Ele diz que, quando ele vinha vindo, saiu um cachorro grande dali
(FLP08L453)
(12) Não sei se falaram pra ti. Falaram, né? Também faleceu, né? o irmão da Léia
(inint) aí, quando ele nasceu botaram o nome dele e ele foi eu acho que dois
ou três anos assim (FLP22L551)
Na sentença truncada, em negrito, não se sabe se é o verbo ir, ser ou ficar que
está sendo mencionado. Como não há como recuperar a predicação do verbo, esses
casos foram excluídos da análise. Quanto aos sintagmas repetidos, foram considerados
uma só entrada para efeitos de quantificação. Em (13), por exemplo, o verbo funcionar e
o primeiro verbo existir não foram contados para análise.
117
(13) Antigamente onde [fimciona]- onde tem a Ponte Hercílio Luz, ali existia
uma, existia um trapiche, onde tinha um acostamento de navios
(FLP18L128)
(18) a. (Fala dos familiares) Essa o meu cunhado trabalhou. É que trabalha
muito bem também (FLP05L676)
b. quando tu entras hoje, tu entras [na]- na entrada geral de Canasvieiras,
(...) tu desces direto pra praia, tu vai direto pra praia (FLP24L1188)
Nossa expectativa é de que DPs com imis massa fonética tendam a aparecer à
direita do verbo enquanto DPs menores devem ocorrer preferencialmente à sua esquerda,
como (21) ilustra, respectivamente:
Lira (1986:25) já observou que, quanto mais pesado o DP, maior a possibilidade
de ele aparecer posposto. Em seus resultados, sujeitos conçostos, que em geral contêm
maior massa fonética, apresentam uma freqüência de 53% de posposição, enquanto
sujeitos simples marcam apenas 19%. Kato (1992) tenta dar uma explicação para esse
fenômeno nos termos do modelo de Princípios e Parâmetros na versão da GB; segundo a
autora, regras estilísticas podem ser condicionadas por fatores fonéticos, como seria o
caso da regra de extraposição do constituinte pesado, isto é, o movimento do
constituinte pesado para a direita, para uma posição não argumentai. Tal hipótese tem
respaldo em Chomsky & Lasnik (1977).
Para Belletti & Shlonsky (1992:36), esse fenômeno pode não ser unitário, mas
sim reflexo de duas hipóteses: (i) o DP pesado se move para uma posição não-
argumental, à direita do verbo, nos termos de Chomsky & Lasnik; (ii) o DP permanece
onde está, isto é, em uma posição argumentai, enquanto os outros constituintes passam
sobre ele, como o PP on the íable no exemplo (21b) estaria ilustrando. Esse movimento
é conhecido como scrambling. Os autores salientam que esses processos não podem
ocorrer juntos. Enquanto a primeira hipótese é confirmada pela possibilidade de tais DPs
licenciarem parasitic gaps, a segunda explicaria os casos de construções que admitiriam
a cliticização do ne, em uma língua como o italiano, por exemplo. Vamos assumir aqui a
primeira hipótese.
(22) a. Nós saímo, por exemplo, daqui às oito da manhã e chegava lá dez
horas (FLP18L655)
b. Mas ai quando meu pai morreu, nasceu o mais moço (FLP18L262)
O amálgama foi estabelecido, baseando-se nos estudos que mostram que sentenças
subordinadas (relativas, adverbiais e substantivas) constituiriam contextos mais propícios
à ordem V DP (cf Berlinck (1988)).
atrás; enquanto outra pessoa com quarenta anos nos revela a língua de vinte e cinco anos
atrás. Essa gradação corresponde a uma escala de mudança em tempo aparente.
A pesquisa de Labov (1972) em Martha’s Vineyard, sobre a centralização do
ditongo /aw/, é um estudo detalhado dessa natureza, mostrando uma tendência clara em
termos de comunidade: a centralização do ditongo estava se espalhando com força e
rapidez. Os velhos revelavam-se preservando mais a forma original não centralizada,
enquanto os mais jovens utilizavam cada vez mais centralização.
Berlinck (1988:254-255), ao estudar o fenômeno da ordem de um ponto de vista
diacrônico, já apontou que o processo por que passa o fenômeno da ordem se
caracteriza por um decréscimo gradual da freqüência de V DP e por um paralelo
enrijecimento da ordem DP V. A autora acrescenta que, se a tendência ao enrijecimento
da ordem DP V persistir, é de se esperar que cada vez mais contextos se caracterizem
por uma forte associação com DP V, estabilizando-se a ordem inversa apenas nas
construções intransitivas/inacusativas (em especial, nas existenciais), principalmente nos
casos de verbos de estado e mudança pontual.
Buscando observar como se reflete num corpus sincrônico o processo da perda
gradativa da ordem V DP, vamos procurar acompanhar os caminhos que a mudança
percorre. É justamente para verificar se essa tendência se confirma em dados do
português que pretendemos estudar a ordem sob o ponto de vista do tempo aparente,
objetivando retratar o processo de mudança lingüística em progresso. Nossa hipótese é
de que a posposição do DP vai ser mais restrita nos dados de informantes de 25 a 39
anos, enquanto informantes de mais de 60 anos vão apresentar um maior índice de V DP,
o que viria confirmar o estudo diacrônico de Berlinck (1988).
Será, ainda, investigada a relevância do grupo de fatores escolaridade (nível
primário e nível colegial), com o objetivo de avaliar o efeito do nível de escolaridade
sobre o uso mais freqüente da ordem V DP.
4.5. Notas
' O grupo VARSUL está ançliando sua amostra com dados de informantes mais jovens,
na faixa de 15 a 24 anos, e com dados de informantes de terceiro grau.
128
^ As quatro faixas etárias estratificadas para nossa análise correspondem a duas faixas
especificadas no Banco de Dados VARSUL:
(i) informantes de 25 a 50 anos;
(ii) informantes de mais de 50 anos.
verbal; (ii) a posição desse DP pode ser determinada pelo tipo de detenranador ou de
quantificador precedente, como por exemplo, de determinantes fortes ou fracos,
seguindo aqui a descrição de Milsark (1977). O fato de a concordância ser virtualmente
inexistente no contexto de contração (8% apenas) dá suporte à hipótese de que there é
um afixo. Entretanto, a hipótese de que a variação estaria ligada a diferentes posições
configuracionais do DP com determinantes fi-acos e fortes não se comprovou. Uma
explicação para esse fato, segundo as autoras, poderia ser encontrada na proposta de
Belletti (1988), segundo a qual o Caso partitivo estaria associado a uma interpretação
indefinida, inibindo certos DPs de subirem para uma posição Agr.
Figueiredo Silva (1996) mostra que o que quer que a concordância com o DP
pós-verbal (ou a falta de) signifique em termos da propriedades da gramática, o
português escolhe desencadear sua concordância preferencialmente na relação
especificador/núcleo, a posição de sujeito à esquerda do verbo, admitindo sujeitos
pospostos à condição de que eles sejam objetos na estrutura profijnda.
®Vale ressaltar novamente que construções com verbos ter não-existenciais não farão
parte desse conjunto de verbos.
’ Esse pequeno número de ocorrências com o verbo haver já era esperado, por estarmos
analisando contextos de situação de entrevista face-a-face, isto é, contextos mais
informais. As sentenças com o verbo haver fazem parte de micro-textos de opinião -
inseridos na entrevista - um tipo de texto mais formal, como os exemplos abaixo
ilustram
130
(i) a. porque o governo, não houve nenhuma alteração com o dinheiro dele
(FLP21L454)
b. Aonde eles se encontravam, havia um tiroteio (FLP06L424)
®Vale ressaltar aqui que todas as construções copulares foram excluídas da análise,
inclusive as que selecionam DPs como conplemento.
Neste trabalho, não iremos discutir fatores de natureza discursiva, como, por exemplo,
estatuto informacional da sentença, porque acreditamos que o fator de natureza
semântica traços de definitude e de especificidade do DP, discutido nos termos de Enç
(1991), pode estar contemplando as informações que estão ou não no domínio do
discurso (por exençlo, as informações velhas, inferiveis e novas), além de permitirem
respostas adequadas às restrições semânticas relacionadas a certos verbos inacusativos,
como, por exemplo, para os verbos existenciais. De mais a mais, meu enfoque de estudo
é basicamente de cunho formal.
" Como já observamos no capítulo II, vamos separar verbos do tipo BE locativo de
verbos do tipo BE existencial.
Parece que esse exemplo seria melhor se o PP m? estante estivesse sendo focalizado
contrastivamente, como em:
5.1. Introdução
Neste capítulo, vamos discutir as rodadas estatísticas do programa VARBRUL,
descrevendo e analisando os resultados, com o intuito de estabelecer quais os fatores que
condicionam a ordem V DP e, conseqüentemente, se a ordem DP VA^ DP constitui um
caso de variação ou de complementaridade em uma língua como o português do Brasil,
tendo como evidências o português falado na região de Florianópolis. A partir dessas
discussões, vamos tentar levantar, no próximo capítulo, uma discussão a respeito dos
preenchedores das fronteiras ...V...DP... na caracterização do DP pós-verbal, para
verificar a possibilidade de a ordem V DP constituir-se em um fenômeno heterogêneo.
Todas essas discussões são importantes para a definição dos contextos que determinam
ou condicionam a ordem V DP em construções monoargumentais, objeto central deste
trabalho.
Percentagem de DP V e V DP em
relação aó total de 2033 dados
32%
^VDP
li mDpy
68%
sentenças subordinadas, 29% (207/726), o ^ue vem ressaltar que a ordem V DP era
construções monoargumentais independe do tipo de sentença, diferentemente do que
Berlinck (1988) constatou para construções transitivas e intransitivas. Os grupos de
fatores extra-lingüísticos também não foram selecionados pelas rodadas estatísticas,
atestando que a variação da ordem dos argumentos é imi fenômeno intemo ao sistema
lingüístico.
O fator faixa etária foi investigado no intuito de permitir observar se podemos
falar em mudança em tempo parente. Apesar de notarmos uma queda no percentual de
V DP dos falantes da primeira faixa etária, não podemos afirmar que isso indique
mudança vale observar que, na segunda faixa, o percentual subiu para 38%,
apresentando, nas faixas seguintes, uma ligeira queda. O percentual em cada faixa etária
ficou assim distribuído; T faixa etária (25 a 39 anos); 23% (140/621); 2® faixa (42 a 50
anos); 38% (175/460); 3“ faixa (52 a 55 anos); 35% (120/345); 4“ faixa (59 a 76 anos);
33% (201/607). Essas diferenças, entretanto, podem ser mais representativas se
investigarmos uma faixa etária mais jovem, faixa esta que está sendo coletada pelo
projeto VARSUL, e que fará parte de um próximo trabalho. Discutiremos, a seguir,
apenas os fatores lingüísticos que se mostraram mais significativos no condicionamento
da ordem V DP.
ordem de seleção, porém, não era o primeiro em termos de importância, mas o terceiro,
o que significa que o grupo de fatores composição semântica do verbo, naquele
momento, foi significativamente mais relevante do que o outro.
Total 642/2033 32
Tabela 5.1.: Freqüência e probabilidade de V DP> segimdo o grupo de fatores
composição semântica do verbo
diferenciadas, como o exemplo (68) do capitulo II (cf. p. 71) - aqui retomado em (3) -
ilustra.
(4) a (Fala dos negociantes) Os negociantes vinham com aqueles sacos [de] - de
farinha, de feijão (FLP24L31) ,
b. nesse ônibus, o que é que ia? Ia galinha, ia porquinho, ia pinto
(FLP18L668)
Tanto as construções em (4) como em (5) são eventos por permitirem resposta à
pergunta O que foi que aconteceu?-, entretanto, só (4a) e (5a) admitem também
respostas à questão O que foi que o DP fez?. Logo, (4a) e (5a) são manifestações de um
evento agentivo, enquanto (4b) e (5b) são eventos processuais.
138
(8) a (Fala dos negociantes) ?Vinham os negociantes com aqueles sacos [de]-
de farinha, de feijão^
b. nesse ônibus, o que é que ia? *galinha ia, porquinho ia, pinto ia
O problema é que esse contraste nos forçaria a postular duas entradas lexicais para o
mesmo verbo sair, ou, quem sabe, teríamos a possibilidade de estipular a transitivização
de certos verbos, seguindo a proposta de Whitaker (1989). Tais observações de
Figueiredo Silva são colocadas apenas como ponto de partida para uma discussão mais
cuidadosa a respeito, com a preocupação de sublinhar a existência de tal processo. Esse
fato merece aqui mais algumas discussões. Vejamos.
As diferenças de gramaticalidade, apontadas nos exenplos (6)-(10), são
evidências fortes para se considerar que verbos que exprimem um movimento concreto
como GO podem realizar pelo menos dois papéis temáticos: um papel de agente e um de
tema Para discutir esses papéis estatisticamente, os verbos que manifestam a fimção GO
foram reanalisados em GO [-ação] e GO [+ação], e os resultados estão presentes na
tabela 5.2.:
O sentido de cada uma das sentenças em (11) é dado pela composição do verbo com o
complemento; em (11a) o sintagma João pode realizar o papel temático de paciente (ou
0 objeto afetado) do evento quebrou uma perna, enquanto em (11b) o de agente de
quebrou o vaso. Essa diferença de sentido já foi tratada por Chomsky (1986), quando
adota o ponto de vista segundo o qual o papel temático do argumento extemo não é
determinado pelo verbo sozinho, mas é composicionalmente determinado pelo complexo
verbo-complemento, como observamos nos capítulos I e II.
Retomemos agora em (12) um exemplo de Jackendoff (1987), também discutido
rapidamente no capítulo II;
Total 640/2033
Tabela 5,3.: Freqüência de V DP, segundo o grupo de fatores
tipo categorial do verbo
Os resultados acima reafirmam a discussão que vimos travando a respeito dos trabalhos
que apontam o ambiente da monoargumentalidade como um ambiente propicio à
posposição, e, em conseqüência, a uma redefinição da classe dos verbos
monoargumentais. Como evidência favorável à nossa hipótese, verbos inacusativos
apresentam ambientes mais propícios à ordem V DP (41%) do que verbos intransitivos
(03%).
Nosso intuito agora é tentar definir melhor quais os contextos inacusativos que
mais se adaptam à ordem V DP. Conparando os resultados da tabela 5.2. com os da
tabela 5.3., observemos que deve haver uma correspondência direta entre verbos do tipo
GO, APPEAR, STAY ou BE existencial e os verbos inacusativos e verbos do tipo ACT
e os verbos intransitivos; efetuamos, então, uma reanálise dos fatores em questão. Os
resultados dessa reanálise podem ser vistos na tabela 5.4., abaixo;
142
Apl./Total % PR
Natureza dos verbos monoargumentais
Ih
.5
18/524 03 0 21
Tabela 5.4.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo a reanálise dos grupos de fatores
composição semântica e tipo categorial do verbo
Dadas essas evidências, vamos hipotetizar que um sintagma que realiza o papel de agente
deve estar marcado, principalmente, por traços [+animado], [+humano] e [+definido]. Os
traços de defínitude e de animacidade serâto estudados posteriormente, como grupos de
fatores que condicionam a ordem V DP.
É possível que haja algum tipo de restrição na gramática que exija que um
sintagma [+agente], argumento de um verbo monoargumental, precise se alçar para a
posição marcada por Caso nominativo, independentemente do tipo de construção, em
oposição ao que acontece com um DP que realiza o papel de tema Talvez seja possível
dizer que existe aí uma distribuição complementar: a posição de sujeito (posição de
especificador de IP) deve ser o lugar em que se realiza o papel de agente e a posição de
especifícador de VP, o lugar em que se realiza o papel de tema. A ordem do sintagma
que se realiza como tema, no entanto, é variável quando não há sintagma agente na
construção que possa ocupar a posição de sujeito’.
Vamos supor, então, que a construção da inacusatividade se dá a partir de
entradas lexicais marcadas pelas categorias de evento e de estado, localizando-as em um
tempo e um espaço; enquanto a construção da intransitividade também se dá pela
categoria evento, porém, sem estar localizada em um tempo e um espaço. A categoria
evento deveria ser subespecificada pela categoria [+/-ação]^ já que partimos da proposta
de Jackendoff, segundo a qual sentenças que expressam ação devem ser consideradas um
subconjunto daquelas que expressam evento. Essas categorias devem fazer parte da
entrada lexical dos verbos. Por exemplo, a informação semântica associada à entrada
lexical de um verbo de evento pode exigir, permitir ou impedir a subespecificação
[+ação]. No caso dos verbos intransitivos, parece que a categoria evento exige a
subespecificação [+ação], enquanto verbos inacusativos que descrevem um evento
145
‘um léxico gerativo, com menos entradas kxicais e mais mecanismos comhinatórios que permitam
explicar a criatividade no uso das palavras, a permeabilidade dos sentidos das palavras, e as
expressões de formas sintáticas múltiplas, deve ser preferido a um léxico enumerativo. ’ Viotti
(1999:250)
polissemia observada nas sentenças com esse tipo de verbo (como vimos acima) deve ser
causada pelo fato de que o papel temático dessas sentenças é construído pela
composição entre o verbo e o argumento por ele selecionado, ou seja, entre verbo e
argumento interno. E a interpretação negativa ou positiva para o traço [+agente] de um
sintagma parece ser um condicionador forte da posição que ele vai ocupar na sentença,
como o gráfico 5.2. ilustra, a seguir.
esquerda do verbo (ordem DP V) dá-se assim por questões casuais: o argumento deve se
alçar para a posição de especificador de IP em que I esteja flexionado para que lhe seja
atribuído Caso nominativo. Vale lembrar que estamos considerando aqui apenas a
possibilidade de, no português, existir a atribuição de Caso nominativo sob
concordância. Temos, então, de explicar o que permite o DP permanecer em sua posição
de base. Uma das nossas hipóteses diz respeito à atribuição de Caso partitivo, indo em
direção à proposta de Belletti (1988), que será discutida na seção 5.2.2.1.
Existem, segundo a autora, outras posições à direita do verbo para hospedar um DP que
não manifesta o DE, como por exemplo, a posição DP4, uma posição que hospeda
sujeitos invertidos em línguas como o italiano, que podem receber 0 Caso nominativo
sob regência, opção não disponível no português.
Quanto ao DE, alguns trabalhos já discutiram se é possível falarmos desse
fenômeno no português. Bittencourt (1979), por exemplo, procura explicar a aparente
obrigatoriedade de V DP com verbos existenciais em fiinção de restrições semânticas
associadas a um DP marcado pelo traço [-definido], no sentido de Milsark (1977). Já
Nascimento (1984) alega que a principal característica do DP pós-verbal não é o traço de
definitude, mas sim uma leitura de lista ou cardinal que esse DP recebe. O DE, segundo
o autor, atua em sentenças apresentativas, independentemente de sua natureza
intransitiva ou inacusativa.
Diferentemente das duas propostas acima, 0 trabalho de Y. Duarte (1993) analisa
a proposta de Belletti (1988) com dados do português e aponta que há evidências de que
nessa língua tal proposta resolveria apenas parcialmente 0 problema da atribuição de
Caso ao DP pós-verbal, diferentemente da hipótese que defenderemos aqui. Y. Duarte
compara por exemplo estruturas como;
Ela atesta que, em todas as três estruturas acima, há diferentes interpretações que levam
a duas altemativas: (i) a possibilidade de uma leitura de lista ao DP pós-verbal, ao qual o
Caso partitivo é atribuído; (ii) a possibilidade de deslocamento do DP para uma posição
de adjunção, co-indexado com um pronome em posição de especificador de IP, estando
disponível ao DP pós-verbal o Caso nominativo. Entretanto, segundo Y. Duarte, admitir
as duas leituras para (16c) seria problemático já que o DP João, no primeiro caso, jamais
poderia ter sido gerado como argumento intemo a V’, por ser o verbo de tal construção
intransitivo. E, se existem outras posições associadas à interpretação de lista, não
podemos relacionar diferenças de interpretação a diferaiças estruturais.
150
Parece que a sentença seria melhor se o DP não fosse seguido por um PP. Tal
possibilidade aponta para o fato de o DP o telegrama em (18b) estar sendo considerado
um dos membros de uma lista possível, como resposta à pergunta O que chegou? (cf
(18b)). Nesse caso, esperaríamos que o sintagma tivesse uma leitura de foco. Tais
observações serão retomadas no capítulo subseqüente.
Vale ressaltar que os resultados percentuais apontaram os traços de definitude e
de especificidade do DP como o segundo grupo de fatores considerado relevante no
condicionamento da ordem V DP (cf. tabela 5.5.), seguido do grupo composição
semântica do verbo. Nesse primeiro momento, foram considerados, além dos fatores
previamente relacionados, os DPs bare - um DP nu, formado apenas de nome, isto é,
com a posição especificador vazia - para observarmos em quais contextos esse sintagma
despido de quaisquer determinantes ou quantificadores realiza-se com maior fi-eqüência.
152
Total 640/2033 32
Tabela 5.5.; Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de fatores
traços de definitude e de especificidade do DP
DP {- def] e (+ esp] 15/65 23% 04/56 07% 101/173 60% 32/40 80%
(19) a. E na cabine ia sentado assim um chofer, a minha mãe, que era mais
idosa, as pessoas assim mais velhas um pouco ... (FLP24L1180)
b. porque sempre desfilavam os colégios, as escolas, as forças armadas
(FLP24L743)
Os exemplos em (19) evidenciam uma leitura de lista. Note-se, na tabela 5.6., que os
sintagmas argumentos de um verbo intransitivo encontrados em nossos dados - na ordem
V DP - são marcados por traços [-definido] e [+específico] (um total de 15 ocorrências)
e traços [-definido] e [-específico] (um total de 3 ocorrências). Essa possibüidade, no
entanto, não é compatível com a hipótese da autora.
Um dos problemas que temos para resolver, portanto, é coriK) garantir a
legitimidade de um DP imediatamente à direita de um verbo intransitivo, o mesmo
problema levantado por Y. Duarte para o exemplo (16c)'^ Não podemos negar que
contextos como (19) evidenciam uma lista de elementos que ‘desfilam’ e que ‘vão
sentados’, porém o fato de tais sintagmas estarem à direita de um verbo intransitivo pode
ser explicado por constituírem sintagmas [+pesados], uma das possibilidades de
determinação da ordem V DP, como a literatura já mostrou (cf Lira (1986; 1996) e
Berlinck (1988; 1995)). Esse pode ser o motivo da legitimidade de o argumento estar à
direita de verbos intrãnsitivos, provavelmente uma posição suficientemente alta para
permitir a atribuição de Caso nominativo para esse DP [+pesado], o que ainda não
explicaria o exemplo (16c). Discutiremos a massa fonética dos sintagmas na seção
5.2.2.3.
154
(21) a. principalmente depois que veio pra cá a Eletrosul, né? E veio aquela
avalanche de pessoas (FLP05L902)
155
Mesmo que, nos exemplos acima, a ordem aparente dos constituintes seja V DP,
parece que há diferenças de derivação. Em (20a) temos a configuração [V DP ali],
enquanto em (20b), a configuração [V ali DP], Quanto ao exertçlo (21), temos a
configuração [V PP DP], Aparentemente parece que ali, pra cá e por um acidente
trágico devem estar ocupando o mesmo lugar nas quatro construções em questão:
posição final de VP, como ilustrado em (22):
(23) a. (Fala do Plano Cruzado) Eu acho que saiu o dinheiro todo de circulação
(FLP21L435)
b. dali a gente passava pela fi-ente do Colégio das Irmãs e as alunas todas
trabalhavam (FLP24L606)
Essa hipótese, no entanto, não é pacífica Y. Duarte (1993) tenta mostrar que um
DP nu, numa língua como o PB, não manifesta o Caso partitivo, mas o Caso acusativo'^,
uma vez que apresenta uma leitura genérica ou classificatória, como os exemplos
retomados da autora ilustram;
A análise de Vazzata Dias (1999)*® também parece dizer alguma coisa a respeito
dessas diferenças. A autora relaciona o trabalho de Enç ao trabalho de Diesing (1992),
principalmente em relação às diferenças entre predicados de estados eventuais e de
estados permanentes. A interpretação não-temporária corresponde a uma leitura mais
genérica, que pode ser atribuída a (25), porém é excluída em (24): ter criança em algum
lugar e dar abelhas em algum lugar manifesta situações temporárias e não permanentes.
Tomando como base a diferença entre os quantificadores proposta por Vazzata
Dias, podemos dizer, então, que a interpretação [+genérica] dada ao quantificador em
(25) possivelmente se diferencia da interpretação de uma sentença do tipo de (27), aqui
retomada de (23), acima, que deve receber uma leitura [-genérica]:
(27) a. (Fala do Plano Cruzado) Eu acho que saiu o dinheiro todo de circulação
(FLP21L435)
b. dah a gente passava pela frente do Colégio das Irmãs e as alunas todas
trabalhavam (FLP24L606)
Parece ser possível dizer, em (27), que existe um conjunto de moedas que saiu de
circulação e que existe um conjunto de alunas que trabalhava no colégio, o que
significa que os sintagmas quantificados que apresentam uma leitura do tipo
interpretação temporária devem estar vinculados ao operador existencial (3x) e não ao
operador genérico (CJenx). Vejamos:
Nesse caso, não podemos dizer que existem pessoas que entram ou descem em algum
lugar, mas que qualquer pessoa do mundo pode utilizar o percurso descrito em (30), nos
dias atuais, o que pode apontar para o fato de os sintagmas em (30) serem [+genéricos].
Tais casos, como já mencionamos acima, representaram um total de 29 ocorrências e
foram deixados de fora da análise, por apresentarem 100% de ordem DP V.
Em resumo, o fato de um sintagma ser [+/-específico] pode ser explicado através
da relação de inclusão proposta por Enç, enfoque direcionado à leitura existencial, ora
como pressuposição de existência, ora como asserção, enquanto o fato de ser [+/-
genérico] precisa ser explicado pela oposição entre existência e genericidade,
basicamente entre sintagmas que admitem operadores 3x e sintagmas que admitem
160
operadores Genx. Tais reflexões vêm atestar a necessidade de serem incluídos nos
estudos semânticos diferenças relacionadas à genericidade dos sintagmas, além da
especificidade. Entretanto, como a oposição entre sintagmas [-genérico] e [+genérico]
não nos auxilia a refletir sobre os DPs pós-verbais, já que os DPs [+genéricos]
encontrados em nossos dados foram excluídos da análise por knockout (100% de ordem
DP V) e não estamos analisando os casos como (25), vamos deixar o estudo da
genericidade para uma outra ocasião.
Voltamos à questão da especificidade. Quando não é pressuposta a existência de
um elemento no discurso, a interpretação de um sintagma é obrigatoriamente [-
específica]. Nesse caso, há o bloqueio de uma construção [+definida] e [+específica], o
que pode ser observado em (31) e (32), retomando (24), com a impossibilidade de
partitivo ou de quantificação universal, reproduzindo os mesmos julgamentos de
gramaticalidade que no inglês (cf 33):
Note-se que o bloqueio de derivações como (31), (32) e (33) pode ser sustentado pelo
fato de as construções existenciais envolverem quantificação existencial e serem
incompatíveis com sintagmas que têm sua própria força quantificacional. Há, segundo
Milsark (1977) - citado por Enç (1991) - um conflito semântico entre quantificação
universal e existencial. Vale lembrar que (31a) e (32a) só seriam sentenças aceitáveis no
português se tivessem interpretações do tipo BE locativa, como em (34);
(34) a. Tem/Está uma das crianças nesta casa, outra naquela e outra no paiol
b. Tem/Estão todas as crianças nesta casa, todos os adultos naquela
161
Tais sentenças são formadas por sintagmas [+específicos], isto é, sintagmas que mantêm
com 0 discurso uma relaçâto de inclusão (c£ (34a)) ou sintagmas que quantificam sobre
conjuntos contextualmente relevantes: cada uma das crianças relevantes no contexto (cf.
(34b)), fomecendo-nos uma leitura partitiva (explícita e implícita), o que viria excluir
uma interpretação existencial. Vale lembrar, entretanto, que a distinção entre construção
locativa e construção existencial não é pacífica. Parece que a sentença com o DP [-
definido] (como em (29a)) é pelo menos ambígua com relação às leituras existencial e
locativa. Em todo caso, a diferença é ressaltada quando derivamos uma construção
partitiva, como o julgamento de gramaticalidade entre (31)/(32) e (34) ilustra, dada a
impossibilidade de pressuposição de existência a contextos existenciais.
Considere-se então o paradigma (35). O sintagma em negrito em (35a) não
mantém com nenhum referente qualquer relação de identidade, bem como não está
incluído em nenhum grupo ou conjunto de referentes previamente estabelecido; é,
portanto, [-específico]. O mesmo pode ser observado para um DP nu, como o exemplo
(35b) ilustra. Entretanto, o julgamento de gramaticalidade se altera ao opormos tal
sintagma a um sintagma quantificado universalmente ou a um sintagma de leitura
partitiva (cf (35c) e (35d)). Novamente a restrição de especificidade é observada:
uim interpretação apenas locativa, como construções com o verbo ter admitem (cf.
(34)).
Podemos dizer, então, que as sentenças em (24) - constituídas com DPs nus -
submetem-se a uma leitura de asserção de existência, e que os sintagmas selecionados
pelos verbos ter e dar não podem ser [+genéricos] pelo simples fato de serem DPs nus,
como os julgamentos de gramaticalidade para as construções existenciais atestam. Para
serem legitimados, portanto, eles devem receber um tipo de Caso muito semelhante ao
Caso partitivo, contrariamente à proposta de Y. Duarte.
Dadas essas evidências fizemos o amálgama dos sintagmas [-definido] e [-
específico] e dos DPs nus. Os resultados podem ser observados na tabela 5.7., a seguir.
Todos os resultados comentados a seguir levarão em conta essa reanálise.
Total f.40/20.v3 n
Tabela 5.7.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo a reanálise do grupo de fatores
traços de definitude e de especificidade do DP, considerando os DPs nus
como sintagmas [-definidos] e [-específicos]
Após tal reanálise, foi feita uma nova rodada estatística, sendo que o grupo de
fatores traços de definitude e de especificidade passou a ser considerado o primeiro
grupo escolhido como relevante pela rodada estatística, seguido do grupo natureza do
verbo. Considerando que os DPs nus são [-definidos], podemos dizer então que a
hipótese de Belletti (1988) foi atestada; alta probabilidade de V DP com DPs [-definido],
enquanto a especificidade mostrou-se irrelevante. Fizemos, então, um novo cruzamento
entre esses grupos de fatores e os resultados estão expostos na tabela abaixo:
163
DP f-d efl e 1+espl 15/65 23% 04/56 07% 104/173 60% 32/40 80%
DP f-d efl e [ - espl c 03/20 15% 01/08 13% 93/112 83% 311/314 99%
DP nu
Tabela 5.8,: Freqüência de V DP, segundo a reanálise do cruzamento entre os grupos de fatores.
natureza do verbo e traços de definitude e de especificidade do DP
(37) a, Hoje existe apenas a fama de que nós somos um bairro de participação
comunitária (FLP21L776)
b, Que hoje não existe mais [aquela]- aquela visitação que se fazia
(FLP21780)
164
(38) a. Eu acho que é o olho grande, né? Que é ruim à beça, né? É que ele
existe, o olho grande existe (FLP17L754)
b. O pessoal do morro, o pessoal pobre ficava tudo ali numa praizinha, ali
encostado [na]- né? [na]- no cais ali, existia o cais ali. (FLP18L549)
Esses resultados confirmam hipóteses colocadas por autores, tais como Lira
(1986; 1996), Berlinck (1988; 1989) e Zilles (1999), reafirmando que os pronomes
167
Na tabela 5.10., podemos observar que o grupo de fatores de cunho lexical, em especial,
a forma de realização dos pronomes pessoais e demonstrativos, está co-ocorrendo com
os resultados relativos ao grupo que trata dos traços semânticos do DP, particularmente
dos traços [+definido] e [+especifico], reafirmando a tendência à ordem DP V. Vale
lembrar, porém, que Enç não explica como se estabelece a definitude e a especificidade
dos pronomes dêiticos (eu, tu), que não supõem discurso precedente, uma noção que
certamente deve ser explicada à luz da pragmática
Enfim, tanto os pronomes pessoais como os demonstrativos se diferenciam dos
demais vocábulos pela rigidez e constância de seus resultados, o que é atestado também
no cruzamento entre esse grupo de fatores com o grupo natureza do verbo (cf tabela
5.16.). A restrição de definitude (ou leitura de lista) - exigida para a legitimidade de um
168
Total 642/2033 32
Tabela 5.11.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de
fatores estatuto [+/- pesado] do DP
Animacldade do DP ApL/Total % P R.
Total 642/2033 32
Tabela 5.13.: Freqüência e probabilidade de V DP, segundo o grupo de
fatores animacidade do DP
Já verbos que permitem, mas não exigem, que seus argumentos selecionados
realizem um papel temático de agente, como os verbos inacusativos, podem,
facultativamente, escolher nomes [+animados] ou [-animados]. Enfim, as unidades
selecionais de um verbo não determinam apenas o número e a relação dos argumentos
que os aconçanham, mas também, até certo ponto, as unidades selecionais desses
nomes. É um caso de co-ocorrência
Ao cruzarmos o grupo de fatores animacidade do DP com traços de definitude e
de especificidade do DP, porém, obtivemos alguns resultados que fortalecem a escolha
dos traços de animacidade como possíveis condicionadores da ordem V DP. Parece que
o traço de animacidade exerce certa influência na ordem dos sintagmas, até mesmo -
apesar de em pequena escala - na ordem dos sintagmas [-específicos]: de um total de
101 ocorrências de sintagmas [+animados] em contextos [-definidos] e [-específicos], 36
ocorrências estão na ordem DP V (36%). Em relação aos DPs [+específicos], o
condicionamento dos traços de animacidade mostrou-se mais acentuado, preferindo
ambientes de posposição para os sintagmas [-animados], como a tabela 5.15. confirma;
[+defmido] e [+específico], como a ordem decrescente dos percentuais 98%, 57% e 36%
também confirma
O gráfico 5.3. permitirá observar essa polaridade:
□ DP [+an]
E3 DP [-an.]
DP [+def.] e [+esp.] DP [-def.] e [+esp.] DP [-def.] e [-esp.]
'5- i DP 1 + pesado] 07/14 50% 03/04 75% 61/69 «8% i 154/159 97%
•C 5
5 g D P |-pesado| 11/510 2% 03/491 0,6% 179/546 33% : 224/240 93%
05
1. Construções com verbos intransitivos do tipo ACT e com verbos inacusativos do tipo
GO [+ação] mostram-se inibidoras da ordem V DP, independentemente de outros
fatores semânticos. Estamos considerando aqxii que o papel de agente dos DPs deve
obrigar que os sintagmas selecionados por tais verbos sejam alçados para uma posição
marcada por Caso nominativo. O fator de base fonética, peso do DP, vem explicar
alguns casos de V DP nesses contextos.
175
Assim, a partir dos resultados e discussões acima, podemos dizer que há uma
forte correspondência entre ordem V DP, natureza do verbo e natureza semântica do
DP: quando o argumento intemo de um verbo inacusativo é marcado por traços [-
definido] e [-específico] (ou DPs nus), diminui o número de ocorrências de ordem direta
(DP V) e aumenta o número de ocorrências de ordem inversa (V DP); quando é marcado
por traços [+definido] e [+específico], aumenta o número de sintagmas pré-verbais e
diminui o número de sintagmas pós-verbais^"^. De mais a mais, há uma forte tendência a
admitir DPs pós-verbais à condição de que eles se realizem preferencialmente como
tema. Quanto aos verbos intransitivos, nossos resultados atestam que são contextos
inibidores da ordem V DP, independendo de restrições semânticas. Logo, a distinção
entre verbos inacusativos e intransitivos não pode ser, em hipótese alguma, apagada.
Tais resultados levam-nos a discutir a noção de variação como da ordem DP V e
V DP em construções monoargumentais, estamos partindo do pressuposto que a
aceitação da noção de variação como fenômeno gramatical leva necessariamente à
rejeição da aceitação de que há opcionalidade entre uma e outra forma lingüística, tal
como ocorreu na sociolingüística laboviana, nos anos 60. As hipóteses formuladas dentro
176
do quadro teórico gerativista devem refletir que a variação da ordem dos constituintes é
um caso de distribuição complementar, ou de competição entre gramáticas, e não um
caso de variação estilística.
5.4. Notas
' Após 0 tratamento estatístico dos dados, observamos que a fiinção Be locativa teve de
ser excluída da análise por apresentar knockout, a saber todos os 49 dados manifestaram-
se em construções DP V, um percentual categórico. É inçortante salientar que todas as
49 ocorrências manifestaram-se em contextos [+defínidos] e [+específicos], como os
exemplos em (i) ilustram
Essa restrição será discutida, neste trabalho, dentro do grupo de fatores traços de
definitude e de especificidade do DP.
Esse julgamento não está considerando uma construção de foco, como o par
pergunta/resposta admitiria;
177
®O grupo de fatores que trata dos traços de animacidade do DP foi selecionado pelo
programa estatístico VARBRUL como o quinto grupo mais significativo, por ordem de
relevância. Os resultados serão mostrados posteriormente.
’ Vale lembrar aqui das propostas fomecidas pela literatura fijncionalista relativas a uma
escala de sujeitividade (cf Keenan (1976)), que fornece subsídios para descrever, por
ordem de importância, os sintagmas que podem ocupar a posição de sujeito: em primeiro
lugar, está o sintagma que realiza o papel temático de agente, em segundo lugar, o papel
de experienciador, seguido de sintagmas que realizam os papéis temáticos benefactivos,
instnimentais e, por último, o papel de tema.
" Verificamos, após uma primeira rodada estatística, que o fator DP [+genérico]
apresentou knockout, a saber todos os 29 dados manifestaram-se em construções DP V,
por isso tivemos de retirá-lo das rodadas finais.
No capítulo VI, tentaremos esboçar uma resposta para tais ocorrências, baseando-nos
em uma proposta alternativa de projeção FocusP interna à sentença, levantada por
BeUetti (1999).
Vale ressaltar aqui outras possibilidades de explicação para construções como (22b).
Ribeiro (1996:54) diz que talvez devêssemos considerar que sendo o verbo ergativo e
havendo só um advérbio separando o sujeito do verbo, na configuração V x DP, pode-se
pensar que o sujeito está dentro do VP .
Não discutiremos com maior detalhamento essa proposta, porque não trabalhamos
com míni-orações {small clause) do tipo (25a), em nossa análise, contextos mais
179
Mioto lembra que uma outra diferença entre os quantificadores que aparecem em
(25a) e (27a)/(27b) é de cunho sintático, diz respeito à ordem [Det Nome e QU] possível
em construções como (27) e impossível em (25), como o julgamento de gramaticalidade
em (i) ilustra
(i) Desculpem o atraso. A minha innã quebrou o braço e tive de levá-la para o
hospital. Qual é a pauta de hoje?
Uma explicação para (38a) dada por Mioto diz respeito às diferenças entre tópico e
foco. Na sentença o olho grande (...) ele existe, segundo o autor, temos evidência de
uma construção de tópico e o pronome está retomando o tópico. Como o sujeito não é
foco, não há motivo para ser pós-verbal. Note-se também que se a construção existencial
fosse com o verbo ter o julgamento de gramaticalidade se alteraria, como em *o olho
grande (...) ele tem.
180
Vale ressaltar, entretanto, que a proposta de Belletti (1988) para partitivo pode ser
apenas uma noção sintática, diferentemente da que estamos interpretando aqui. Sabemos
que um Caso estrutural nem sempre está associado a uma noção semântica, porém não
sabemos se essa também é uma restrição dos Casos inerentes. Se o Caso partitivo não
estivesse associado à interpretação parte de um todo, poderíamos explicar porque certos
DPs, mesmo que não admitam pressuposição de existência, permanecem à direita de um
verbo inacusativo. Esse problema, na verdade, precisa de novas investigações.
No fator pronome reto estão incluídos os pronomes a gente por apresentarem uma
mesma restrição de ligação, que pode ser explicada pelo Principio B da teoria de ligação.
Consideremos os exemplos abaixo:
O pronome a gente comporta-se como o pronome reto ele e não como o sintagma pleno
João, como os exemplos (ia) e (ib) ilustram, em contrapartida à agramaticalidade de (ic).
Foram considerados aqui, além dos pronomes indefinidos reconhecidos pela gramática
tradicional, os pronomes tudo e todos quando pertencem a sintagmas cujo núcleo
nominal não é lexicalizado.
6.1. Introdução
Para defínkmos melhor o retrato da ordem V DP, optamos por uma segunda
rodada estatística - tratada aqui como rodada 2 - composta pelos grupos de fatores
considerados mais relevantes na rodada 1 e pelos grupos referentes à configuração da
sentença, tais como;
. Configuração DP x V/ V x DP
. Configuração x DP V/ x V DP
. Configuração DP V x/ V DP x
onde Xmarca a posição de preenchimento em uma dada fi^onteira.
Esses grupos de fatores lingüísticos foram adicionados aos grupos que
condicionam a ordem V DP, em especial, ao grupo natureza do verbo', com o objetivo
de estabelecer quais os preenchedores das fronteiras entre verbo/sujeito e quais os
preenchedores localizados às margens desses constituintes, a saber, os segmentos
periféricos. Para tanto, precisamos responder às seguintes questões: Qual é a natureza do
elemento preenchedor x que se posiciona entre o V e o DP (V x DP)? A partir da fimção
sintática do preenchedor, seria possível dizer que a configuração V x DP é diferente da
configuração V DP? Qual é a natureza dos elementos periféricos nas configurações x V
DP e V DP X? O que tais preenchimentos podem estar significando?
Para responder às questões formuladas acima, precisamos discutir tanto as
posições entre o sujeito e o verbo (DP V) ou entre o verbo e o sujeito (V DP), como as
posições marginais, periféricas à sentença Em primeiro lugar, vanws verificar
estatisticamente quais os possíveis preenchedores das fronteiras intemas e periféricas às
configurações DP V e V DP, tomando como base, principahnente os estudos de Tarallo
et alli (1990) e Tarallo, Kato et alli (1993). Em segundo lugar, discutiremos qual o papel
que os preenchedores mais comuns exercem na sintaxe, dando ênfase, principalmente.
182
Configuração
Preenchedores de fronteiras internas D PxV V xD P
(3) a Aí depois eu fiii morar pelo lado do Continente. Então às vezes faltava
dinheiro pra gente (FLP18L213)
b. ??Aí depois eu fiii morar pelo lado do Continente. Então às vezes faltava
pra gente dinheiro
Note-se que as sentenças em (2b) e (3b) seriam bem mais aceitáveis se os sintagmas
preposicionais (PPs) deslocados (de circulação, pra gente) recebessem uma leitura focal.
Para discutir os preenchedores da fi-onteira entre o V e o DP, vamos utilizar o
princípio de adjacência, definido aqui no sentido de Stowel (1981)®, segundo o qual, em
uma língua que não tem um sistema casual manifesto na morfologia, todo elemento que
atribui Caso acusativo deve estar adjacente ao receptor desse Caso^. A hipótese da
adjacência entre o verbo inacusativo e seu argumento intemo (V DP) será levantada aqui
186
(4) Existia, no domingo de manhã, no Doze, às vezes tinha [a]- [uma]- uma
domingueira, um chá dançante, no Lira (FLP24L255)
(5) a (Fala do hospital que estava sendo construído) Ia, até ali, o hospital
(FLP24L1014)
b. (Fala do progresso) principalmente depois que veio pra cá a Eletrosul,
né? E veio aquela avalanche de pessoas (FLP23L902)
(6) Mas não vai muitas vezes nem o pai, nem a mãe. Ou quando vai, vai só a
mãe(FLP21L1110)
Esse tipo de preenchedor também será discutido mais detalhadamente na seção 6.4.
Enfim, os preenchedores discursivos do tipo pausas, gaguejos e repetições e os
preenchedores sintáticos do tipo advérbios multi-focais e locativos/temporais
manifestam-se preferencialmente na fi^onteira entre o V e o DP de construções
inacusativas. Os dois últimos serão objeto de discussão das seções 6.3. e 6.4. Antes,
porém, vamos observar os percentuais relativos às fi-eqüências de preenchedores
periféricos.
188
Locativo/tcmporal (PP) 02/72 v-/„ 0.V52 6% 58/1 Of> 55% 80/83 1)6%
É possível que existam pelo menos duas posições para alojar um locativo/temporal à
esquerda de V DP, como a ordem [PPloc Adv V DP] vem atestar em (8b): uma posição
possivelmente mais alta, que aloja sintagmas deslocados à esquerda, como o sintagma
preposicionado No mercado em (8b) ilustra, e uma posição mais baixa, ilustrada em (8b)
pelo advérbio antigamente. Essa última deve ser a mesma que hospeda o advérbio ali em
(8a), uma posição mais próxima a VP. Essas discussões serão retomadas posteriormente.
Quanto aos tipos de preenchedores que ocupam a margem imediatamente à
direita dos constituintes, os percentuais relativos às configurações DP V x e V DP x,
estão assim distribuídos;
Confrontando esse resultado com os das tabelas anteriores, podemos dizer que,
de todos os preenchedores, o locativo/temporal parece exercer um papel fundamental na
configuração ...V... DP... de construções inacusativas, seja mostrando que, ao se
posicionar entre o V e o DP, pode estar rompendo a adjacência seja preenchendo a
posição à esquerda do verbo, impedindo que o verbo inicie a sentença; seja fechando o
VP na configuração [V DP Loc].
Retomamos, então, na tabela 6.9., os resultados relativos aos percentuais que
e\adenciam o elemento locativo/temporal nas fronteiras entre V e DP e às margens de V
DP, cruzados com o grupo de fatores natureza do verbo.
assumir que tal preenchedor deve ter uma fimção não-adjunta nas construções
inacusativas, diferentemente da função que exerce em construções intransitivas. Essa
hipótese já foi discutida por Jackendoíf (1976), quando apresentou um locativo/temporal
na composição semântica de verbos desse tipo. Para o autor, as construções do tipo BE,
APPEAR, STAY e GO (as consideradas prototipicamente inacusativas na GB)
descrevem uma entidade x que se movimenta ou se localiza em um espaço/tempo. Nos
verbos de estado, o tema é o x que está (ou existe) em algum lugar; nos verbos de
evento, subespecificados como [+/-ação], é o x que permanece em algum lugar ou que se
move de algum lugar para outro. Já nos verbos intransitivos, a localização
espaço/temporal não faz parte da composição semântica do verbo. Vamos hipotetizar,
então, que as construções inacusativas provavelmente exigem um locativo/temporal,
como argumento do predicado, e que esse argumento também pode permanecer nulo.
Essas discussões serão retomadas na seção subseqüente, tendo como base a proposta de
Torrego (1989).
“os argumentos dos verbos inacusativos, em uma língua como o espanhol, representados p or D Ps
plurais sem determinantes (DPs nus) podem ocupar a posição pós-verhal, enquanto argumentos de
b * Ne vivono molti
‘Vivem muitos’
A interpretação de uma sentença como (11a) deve ser a de uma predicação típica, com o
VP descrevendo uma propriedade atribuída a um sujeito referencial (cf nota 10, p.259).
Um número reduzido de construções intransitivas também parece permitir a
existência de um locativo/temporal (do tipo ali, lá, aqui) imediatamente à esquerda do
verbo, em uma língua como o PB. Basta que observemos os resultados expostos na
tabela 6.6.. Das 143 ocorrências de [Loc V DP], apenas 02 se manifestam em
construções intransitivas, uma delas com o verbo morar e a outra com o verbo pousar.
Vejamos:
Vale ressaltar que construções com os verbos morar e pousar parecem exigir um
locativo/temporal, independentemente de sua posição com relação ao verbo, como
ilustrado nos exemplos em (14).
Note-se que as sentenças com os verbos morar e pousar seriam agramaticais sem
um locativo/temporal, à semelhança dos exemplos de Torrego a respeito do espanhol e
do italiano, com a particularidade de em PB não ter uma posição específica para o
locativo/temporal. É importante observar, ainda, que, nessas construções, o verbo morar
pode ser interpretado no sentido de viver - como um verbo inacusativo - sem alterar seu
significado e o verbo pousar tem a particularidade de admitir que o sujeito seja
representado por uma entidade [-animada], os aviões.
A altemância entre intransitivo e inacusativo, entretanto, parece não ser uma
hipótese possível dentro do modelo da GB, uma vez que prevê que um verbo como
dormir (em espanhol) ou viver (em italiano) ou morar (em PB) pode ter duas entradas
lexicais. A hipótese de Belletti (1999) de uma leitura de foco interno à sentença e a
hipótese de Kato (1999) a respeito do foco estreito - que serão discutidas posteriormente
- podem fornecer uma explicação mais plausível para a configuração [Loc V DP] de
construções intransitivas como (12).
Já que a condição para o critério de altemância intransitivo/inacusativo é a de um
argumento locativo/temporal pronunciado, é de se esperar, segundo Torrego, que
inacusativos ordinários devam ter um argumento locativo/temporal pronunciado ou nulo,
correspondente ao sujeito locativo considerado como d-argumento. Essa proposta prediz
que deve ser incorporada na representação lexical de cada predicado informação
apropriada sobre a natureza semântica de seus d-argumentos. Essa, de fato, parece ser
uma hipótese relevante dentro da proposta da autora, segundo a qual as construções
inacusativas admitem, além de um argumento interno ao qual atribuem uma fiuição
temática de tema, um argumento extra - ligado à estrutura do predicado - que manifesta
uma função locativa, como se fosse um argumento secundário.
Consideremos as sentenças existenciais. Muitas línguas constroem tais sentenças
com expletivos ou clíticos. Muitas vezes também incluem complementos
locativo/temporais, porém, quando esses elementos não estão explícitos na sentença, tais
sentenças tendem a apresentar pelo menos uma interpretação locativa. A exigência de um
d-argumento, por exemplo, tem seu reflexo nas sentenças existenciais de uma língua
como o inglês:
197
(18) a . Depois a gente saia contando nas casa de noite. Aí, ia uma lá na frente
com um saquinho (FLP08L110)
b. Tinha música todo domingo de tarde (FLP08L273)
c. Bem embaixo da Ponte Colombo Sales, tinha a Ilha do Carvão
(FLP24L11)
Talvez seja possível dizer, como propõem Nascimento & Kato, que deve haver
uma categoria vazia adverbial na posição de especificador de IP, ou preenchida por um
locativo do tipo a//, aqui, lá. Vale lembrar que tal posição não é subcategorizada nem
tematizada pelo núcleo verbal (Chomsky, 1981; 1986), e, portanto, não precisa ser
preenchida por elementos que tenham papel temático selecionado pelo verbo. Não sendo
imia posição temática, a posição sujeito de uma construção inacusativa pode ser ocupada
por categorias vazias ou por pronomes expletivos, o que sugere que ela possa ser
ocupada também por itens lexicais que não tenham papel semântico associado ao verbo -
mas ao predicado - como, por exemplo, por um locativo/temporal. Essa hipótese pode
sugerir também que, nos exemplos dados por Torrego, o locativo/temporal deve estar
199
Pontes (1986:176) mostra que, em casos como (19b) e (20b), tópicos adquirem
estatuto de sujeito; basta observar, por exemplo, que a concordância verbal é proibida
com o DP pós-verbal, e admitida com os sintagmas As Belinas e Os carros, que são itens
lexicais (semanticamente plenos), mas não requisitados pelo verbo. Vejamos (21) e (22):
A autora compara os sintagmas à direita dos verbos como caber e furar a objetos de
verbos transitivos, por serem elementos não-tópicos, estarem em posição pós-verbal,
admitirem o papel temático de paciente (entenda-se aqui o papel temático de tema, nos
termos de JackendofiE) e não manifestarem concordância verbal.
Galves (1998)'® retoma exemplos tipo (21) e (22) de Pontes e estabelece
comparações com sentenças que admitem pronome lembrete, como o paradigma abaixo
ilustra:
(24) a. Na universidade tem pessoas que não têm problemas, mas tem outras
que já ficam muito abaladas
b. A universidade tem pessoas que não têm problemas, mas tem outras que
já ficam muito abaladas
201
(25) (Fala dos pés de c^u, de tangerina, de abacate que existiam na chácara)
Então, um desses pés sempre tinha cachopa de maribondo (FLP01L1218)
Kato (1989) questiona essa relação, salientando que a ocorrência de DP [-definido] está
ligada ao fato de a construção que está sendo tratada como topicalizada ser, na verdade,
uma construção de foco contrastivo. De mais a mais, Kato (1989) atribui a variação
entre (26a) e (27a), ao desaparecimento do sistema de clíticos no português falado,
fazendo com que as construções com deslocamento assumam muitas vezes a mesma
‘feição superficial da construção de topicalização’.
Para estabelecer algumas diferenças entre foco e tópico, Kato (1989) toma como
base estudos de Li & Thompson (1979) e Kuno (1973) a respeito de construções
tratadas pelos autores como construções de tópico e de sujeito em japonês, que se
diferenciam, geralmente, a partir das partículas -wa e -ga. A autora equipara os DPs-wa
e os DPs-ga a dois tipos de sujeito (anteposto e posposto) e mostra que as características
dos DPs-ga apontadas pelos autores, equivalentes a uma interpretação em termos de
indefinitude, de lista ou de contraste, são semelhantes às de sujeitos pós-verbais no PB,
enquanto as apontadas para DPs-wa, como tema ou tópico, são equivalentes ao sujeito
pré-verbal.
A autora analisa tais formas a partir da proposta por Kuroda (1976), segundo a
qual sentenças com sujeito DP-wa seriam expressões de juízo categórico, enquanto
sentenças com sujeito DP-ga, expressões de juízo tético; tais expressões estariam
relacionadas a construções DP V e V DP, respectivanlente^^ Para Kuroda, a partícula -
v^'a não é marcadora de tópico psicológico, mas marcadora de sujeito lógico, ou sujeito
203
b. Dare-ga tsuita-no?
b.’ John-gatsuita
Segundo Kato, enquanto (30) introduz luna figura no cenário, (31) é exemplo de
imia interpretação de listagem exaustiva: de todos aqueles que se esperava que
204
chegassem, quem chegoul. O que a autora quer mostrar na comparação entre o japonês
e 0 português é que a distinção entre DPs-wa e DPs-ga não deve ser uma distinção
gramatical, mas uma distinção no nível da função textual, entre tópico e foco. Um DP
[+defínido] ou [-definido], portanto, pode ocorrer como um DP-ga desde que ele tenha
uma leitura de foco, o que justificara a diferença entre (26a) e (26b).
A autora conclui dizendo que as partículas -v^a e -ga são univocamente
interpretáveis como sujeito tópico e sujeito-não-tópico, respectivamente, numa
correspondência mais transparente que no português do Brasil, língua que, por estar
perdendo as características de inversão, distribui a finição focal em duas posições: no
especificador de Comp (tratado aqui como especificador de FocusP) e posposta ao verbo
(foco intemo), como o exemplo (31a’) mostra.
Estabelecendo as diferenças entre tópico e foco, tomaremos novamente as
construções de deslocamento à esquerda e de topicalização, deixando para a seção
subseqüente a discussão do foco intemo. Essas diferenças, porém, também não são
triviais. Vale lembrar que a diferença entre essas duas construções está na possibilidade
de vinculação do DP extemo da sentença a um elemento pronominal ou a uma categoria
vazia (cv), respectivamente^"'. Considerem-se, a seguir, exemplos do PB com DPs
deslocados à esquerda, para discutirmos essas construções;
(32) a. (Fala do mercado público) O mercado i, ele i abria até meio dia, meio dia
fechava, pronto (FLP24L122)
b. (Fala do mercado público) O mercado i, cv i abria até meio dia, meio dia
fechava, pronto
(34) a. (Fala do hospital que estava sendo construído) Ia, até ali, o hospital
(FLP24L1014)
b. (Fala do progresso) principalmente depois que veio pra cá a Eletrosul,
né? E veio aquela avalanche de pessoas (FLP23L902)
Convém observar que, nos exemplos em (34), a ordem aparente dos constituintes
é V DP, porém, a configuração é V x DP, com um elemento preenchedor do tipo
locativo/temporal ou PP entre o verbo e o DP. É possível dizer, então, que as
construções em (34) devem ter sido derivadas de (35);
(36) a. (Fala do hospital que estava sendo construído) Etei ia, até ali, o hospital i
206
(37) (Fala do hospital que estava sendo construído) cv i ia até ali o hospital i
Segundo a autora, (38c) não é uma resposta apropriada a (38a). Quando o sujeito é
localizado pré-verbalmente, ele é interpretado como uma informação velha (um tópico,
por exemplo) e não pode fimcionar como uma informação nova (um foco). Essas
evidências podem ser confirmadas em situações típicas de pergunta e resposta por
telefone, como em:
b. Parla Gianní
‘Fala Gianni’
c. #Gianní parla
‘Gianni fala’
d (Chi è?)
‘Quem é?’
e. Sono io/Gianní
‘Sou eu/É eu’
f. #Io/Gianni sono
‘Eu/Gianni sou’
resposta para a pergunta O que foi que você leu?, como (38c) não pode responder à
pergunta de (38a).
Para observar, na estrutura clausal do sujeito pós-verbal, quão baixo na cláusula
o sujeito pós-verbal deve aparecer, Belletti considera VPs contendo diferentes espécies
de complementos. A partir de considerações sobre á posição de advérbios baixos e
sujeitos pós-verbais no italiano, a autora assume, então, que FocusP intemo à sentença é
uma projeção muito baixa, a primeira projeção ftmcional acima de VP, como a estrutura
(41) ilustra:
(41) FocusP
/ \
Spec Foc’
/ \
Foc VP
Belletti (1999) assume que em (42a), o DP uno studente necessita ser licenciado
e que isso pode ser feito internamente a VP com inacusativos, seguindo a hipótese de
Caso inerente, tratada por Belletti (1988). Vamos supor, então, segundo a autora, que
esse licenciamento seja feito através de Caso no especificador de VP preenchido por O
(argumento interno). Na literatura, tem sido apontado que a ordem V DP PP é
perfeitamente possível para estmturas inacusativas, desde que o DP seja marcado por
traços [-definido], o que nossos resultados estatísticos também atestaram (ver tabelas
5.6. e 5.8., do capítulo V). Então, como devemos explicar as diferenças entre (42a) e
(42b), dado que (42b) não é excluída pela gramática?
Note-se que, uma vez que os verbos se movem para um núcleo funcional (tratado
aqui como 1°), imediatamente produz-se a ordem V O PP (tanto para estruturas
inacusativas como para intransitivas). Se a posição para o sujeito intemo a VP de um
inacusativo é reservada para DP indefinidos, um DP [+definido] deveria preencher uma
posição diferente. Tal posição pode ser identificada com aquela que é preenchida por
sujeitos pré-verbais de um verbo intransitivo, que está sendo identificada aqui como a de
especificador de FocusP intemo. Se a hipótese da autora está correta, então, deveria ser
atribuído o mesmo nível de marginalidade a sentenças inacusativas contendo um DP
[+definido] e a sentenças intransitivas (tanto com DPs [+definidos] quanto com DPs [-
definidos]). Isso, de fato, é o que acontece, como os exemplos em (42) e (43) ilustram:
Tais exemplos justificam que a posição de foco intemo deve ser diferente da posição
interna a VP, que aloja DPs [-definidos] de verbos inacusativos, o que significa dizer que
a aparente linearidade V DP (PP) deve estar representando construções diferentes.
Para discutirmos essa diferença em PB, vamos utilizar a proposta de Kato
(1999)^® sobre a noção de foco sentenciai. A autora propõe que sentenças como (45) e
(46) não teriam a mesma derivação, em uma língua como o PB, dadas as diferentes
respostas que admitiriam Comparemos alguns exemplos dados pela autora (cf p. 5):
(51) a. Mas não vai, muitas vezes, nem o pai nem a mãe. Ou quando vai, vai só a
mãe (FLP21L1109)
b. Só existia o empório Rosa ali de restaurante, não tinha mais nada
ali no centro, sabe? (FLP18L598)
c. E só passava filme brasileiro no cinema daquela época (FLP18L1101)
aqui retomada de (12a) - quanto sentenças como (49d) e (50d) podem ser evidências de
construções de foco estreito, com DP [-definido], o que viria dar uma nova explicação
para os casos discutidos por Torrego (1989).
Note-se que (52a) é uma resposta apropriada a (52b), o advérbio ali faz parte da
informação velha, o tópico da sentença, enquanto o sintagma um casal de velhinhos é
interpretado como uma informação nova, um foco. Tais exemplos rediscutem a relação
biunívoca entre DPs [+definidos] e construção de foco estreito e entre DPs [-definidos] e
construção de foco largo, nos termos de Kato. É possível que haja uma relação direta
entre DPs [-definidos] e foco largo, mas nem todo DP [-definido] é interpretado como
foco largo.
Assim, dentro da hipótese esboçada aqui, podemos dizer que há um requisito de
indefinição ou de leitura de lista como licenciador do DP à direita do verbo (ordem V
DP). Tal licenciamento, no entanto, precisa ser exphcado e essa explicação pode ser
dada de duas maneiras: (i) para o DP no interior de VP, o licenciamento do DP dá-se
através de um Caso inerente do tipo partitivo, como propôs Belletti (1988); (ii) para o
DP na posição de foco (entenda-se aqui foco estreito), através do postulado de que há
uma projeção de focalização interna na sentença para a qual o DP deve se mover, como
propôs Belletti (1999). A vantagem da última explicação de Belletti sobre a primeira é
que explicaria também casos em que um DP [+definido], mas não pressuposto, pode se
alojar à direita do verbo, bem como a possibilidade de certas construções intransitivas
admitirem, embora não-irrestritamente, a ordem V DP. Essas questões deverão ser
aprofimdadas em um trabalho fiituro.
De mais a mais, nossos resultados estatísticos mostraram que, para focalizar
sintagmas nominais internos à sentença (o foco estreito, no sentido de Kato (1999)), na
ordem V DP, uma língua como o PB também utiliza advérbios multi-focais, como a
configuração [V só DP] ilustra. A preferência à focalização de DPs no interior da
sentença está, portanto, diretamente relacionada à restrição de novidade do DP, seja
215
6.6. Notas
a) Negação (não)
(i) O motorista não vinha trabalhar, eu é que caía na coisa (FLP23L107)
d) Pausa/gaguejo/hesitações
(iv) Aqui só tinha [uma]- uma universidade aqui (FLP06L400)
^ A discussão desse princípio para uma língua como o português já foi levantada por
Tarallo et alü (1990).
a) Conectores
218
(i) e todo mundo saía pra assistir o desfile, porque desfilavam todos os colégios,
as escolas, as forças armadas (FLP24L710)
f) Negação
(vi) Onde eu morei, não tem acontecimento nenhum (FLP04L46)
^ Kato & Nascimento (1996:193) observam que os preenchedores que estão geralmente
à esquerda do verbo podem estar ocupando variadas posições, tais como: posição I
(posição de especificador de TP), posição II (posição de especificador de ASPP) e
posição III (posição de especificador de VP).
b) Pausa/gaguejo
(ii) quem trabalhava (hes.), ajudava a casa (FLP08L267)
“ Tradução nossa.
O termo locativo é tomado pela autora do mesmo modo que fizemos aqui, incluindo
ambas as referências locativas e temporais.
D(avidsonian)-argument
Esse exemplo só seria bom para nós se lá não fosse um locativo/temporal, mas um
marcador discursivo.
17
Exemplos extraídos de Pontes (1986:17 e 18).
Segundo a autora, em (ia), os traços do pronome ela (ou do pronome nulo) movem-se
para checar os traços-phi de Pessoa e o DP Essa competência está adjungido à projeção
de Pessoa. Já em (ib), o DP Esta casa não é legitimado pela presença de um pronome
lembrete, mas de maneira visível, pela concordância verbal expressa na flexão do verbo.
O DP pré-verbal de (ib) deve estar em uma relação spec/head com Pessoa, uma vez que
checa o traço AGR que Pessoa ‘herda’ de Tenço (cf. p. 29). Nesse último caso, o
argiunento extemo não está projetado.
Maiores detalhes a respeito dessa proposta, ver Galves (1998: 19-31).
A autora diz que tudo leva a crer que o pronome você em (i) está fiincionando como um
expletivo do ter existencial, e estabelece uma comparação com there do inglês e il do
francês. Lembra que, mesmo nos casos em que o DP aparece anteposto ao verbo - num
efeito claramente contrastivo - pode-se supor a ocorrência de um expletivo (cf exemplo
(11) da autora, p. 153):
(ii) a. Porque lá onde eu moro não tem essas coisas. Não tem, por exemplo/
Restaurante de frutos do mar não tem (3-3:217)
b. Restaurante de frutos do mar você não tem
222
Exemplos como (i) também são discutidos por Duarte (1999:111). Para a autora, o
sistema já encontrou na indeterminação com você uma eficiente estratégia para evitar a
posição vazia não referencial das construções com ter existencial, como em (iii):
23
Merece destaque aqui o trabalho de Brito (1998)
Figueiredo Süva (1996) apresenta a hipótese de que TopP tem dois lugares diferentes
na estrutura frasal: um deles hospeda sintagmas deslocados do tipo exemplificado em
(32a) e (33a), deixando um pronome lembrete na posição marcada por Caso; e outro
hospeda sintagmas movidos da posição em que receberam Caso, como, por exemplo, da
posição de especificador de IP, como os exenplos em (32b) e (33b) ilustram. Segundo a
autora, há, pelo menos, dois lugares na estrutura fi^asal em PB para topicalizar o DP:
uma posição gerada na base [pronome i, DP i], outra derivada por movimento [ cvi, DP
i]. A primeira indica uma posição TopP ligada a um corte entonacional, que hospeda um
sintagma redobrado (uma função do tipo apositiva) e a segunda, uma posição TopP que
hospeda sintagmas que se deslocam da posição de especificador de IP para a posição de
223
especificador de TopP (uma posição de adjunção), deixando uma categoria vazia (cv) no
lugar; só essa última, portanto, pode ser considerada uma manifestação de movimento.
Quando o fenômeno do deslocamento à esquerda ocorre, segundo Figueiredo
Silva, o sintagma deslocado é ‘redobrado’, visto que o sintagma nominal e o pronome
estão presentes um ao lado do outro (c£ nota 23, p. 84); essa posição, segundo a autora,
é de engendramento (cf p. 77) e não uma posição gerada por movimento, o que quer
dizer que a construção de deslocamento do DP deve ser gerada na base como tal. Já
quando ocorre o que os autores supracitados vêm chamando de topicalização, segundo a
autora, ternos um caso de movimento do DP para uma posição extema à sentença
Essa hipótese mereceria mais discussões, porém, não será tratada mais
detalhadamente, por mudar o enfoque desta seção. Basta, nesse momento, que saibamos
que existem, pelo menos, duas possibilidades de topicalizar um DP; através de
deslocamento do constituinte para uma posição à direita ou à esquerda (com pronome
resumptivo) e através de topicalização, isto é, com a possibilidade de coindexação com
um pronome nulo.
Uma outra hipótese para explicar (33) e (34a) seria a de Kayne (1993), segundo a qual
trata-se de um movimento de toda a sentença para uma posição tópica à esquerda,
deixando assim o DP no especificador de IP.
Usaremos o símbolo # para significar que tal sentença não é uma resposta adequada
para a pergunta em questão.
27
Apud BeUetti (1999)
Vamos utilizar caixa alta sempre que estivermos querendo ilustrar qual é o constituinte
que está sendo focalizado contrastivamente.
Como todo trabalho científico, este também deixa em aberto algumas questões.
As constatações feitas e as apenas delineadas no decorrer deste trabalho constituem-se
um leque de opções que merecem ser aprofiindadas a analisadas com maior rigor. É
necessário, por exemplo, que se discuta a possibilidade de um verbo como o inacusativo
ser subespecifícado com traços [+/-ação], conra os resultados da análise empírica aqui
apresentada atestaram Considerar essa possibilidade à luz do modelo minimalista,
provavelmente, daria melhores respostas a tais questões.
Com relação às condições que permitem que o DP permaneça dentro do VP, vale
lembrar que podem ser explicadas também através da hipótese de foco largo (no sentido
de Kato, 1999), isto é, com focalização em todo o predicado. Possibilidade que não deve
estar disponível para construções intransitivas, como nossas evidências e resultados
estatísticos atestaram, o que vem acenar para o fato de a ordem V DP em construções
intransitivas ser restrita ao foco intemo, no sentido de Belletti (1999). Como se observa,
há muito ainda para se investigar. Deixamos, então, a discussão das propostas de Belletti
(1999) e de Kato (1999) como sugestão para um novo trabalho a respeito da
heterogeneidade da ordem V DP em construções monoargumentais.
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