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ONDIÇÃO HUMANA
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u • ó há um problema filosófico praticado por indivíduos fracos demais
verdadeiramente sério : o sui- para enfrentar as vicissitudes da vida",
cídio. Julgar se a vida merece há quatro exceções em que o suicídio é
ou não ser vivida é resp onder desculpado: quando uma mente é tão
a uma questão fundnmental da Filo- moralmente co rrupta que para ela não
sofw. De resto, se o , mundo tem três há salvação; quando a prática é mo-
d imensões, se o espírito tem nove ou livada po r me io de ordens judic ia is,
doze categorias, vem em segu ida". Es- como no caso de Sócrates; qua ndo é
tas palavras são do escritor e pensador cometido sob extrema e inevitável in-
Albert Camus ( 1913- 1960) e estão no felicidade; e quando é motivado por
ensaio O Mito de Sísifo, que trata da vergonha ou por ter o indivíduo come-
condição humana e do estarrecimento tido ato de gran de injustiça.
diante do absurdo do mundo. O tema,
abordado pelos existen cialistas na se- 0" .r ~ f1JCOS. Cru-10 rírfRfi.
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gund a metade do século XX, sempre po r volta de 250 a.C, nfumavam que
fez parte do discurso filosófiCO, desde "sem os meios de ter umn v ida que se
Platão, q ue discutiu o suicídio em dois desenvolva naturalmente, o suicíd io
trabalhos, passa ndo pelo escocês Da- pode ser justiftcado. Nossa natureza
vid Hume, que no século XVill escre- requer ·certas vantagens naturais' (o
veu o ensaio Do Suicídio. bem-estar físico) para que possamos
Vê-se em Fedon, de Platão, a des- ser felizes. E uma pessoa sábin, que
crição que o filósofo faz de Sócrates reconhece não ter essas vantagens, vê
em seus últimos dias, defendendo a que term in ar s ua vida não diminui su a
tese, associada à escola de P itágoras, vi rtude natural. Quando a vida d e um
p ela qual o su icídio é sempre um erro homem te m p reponderância de co isas
por liberarmos nossa a lma do corpo ·de acordo com a natureza· é apropria-
em que Deus nos colocou. Depois, em do para e le permanecer vivo. Quando
seu outro trabalho (Leis), Platão aftr- ele percebe uma maioria de coisas ad-
ma que o s uicídio é uma desgraça e versas é apropria do terminar com a
quem o comete deve ser enterrado em v ida". O estóico romano Sêneca, ele
sepultura clandestina. No enta nto, mesmo condenado a cometer suicídio,
Maria Lígia
Platão afirma que "embora o suicídio d iz que "o essencia l não é simplesmen- Pagenotto é jornaliua e
não deixe de ser um ato de covardia, te viver, mas viver bem", e uma pessoa escreve para esta publicação
FllOSOFIAcicncl~&v,d• I7
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18 FILOSOFIAclcne~a&v•da
O su icídio de indivíduos sozinhos ou em grupo
deixou de ser um ato pu ramente privativo para se r
público, como se fosse um show
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NDIÇÃO HUMANA
I o SUICÍDIO-ESPETÁCULO
Departamento de Fundamentos da também como um su1cíd1o espeta
O mundo moderno ass1ste estar-
recido ao aumento do fanatis-
mo religioso e dos atentados cometi-
Educação da Universidade Estadual de
Maringá. os ataques suicidas, antes no-
lar do sujeito, que é representante
uma cultura dentro de uma socied
dos pelos chamados homens-bomba. ticiados como gesto de fanáticos, após globalizada que faz do espetácula
que dão a própria vida para destruir o I I de setembro de 200 I foram re- sua estética e ética de vida". E co
milhares de outras. O fenômeno, que considerados como um ato mais ou nua mostrando a mudança que sofi
começou em meados do século pas- menos racional, e imprevisível. o gesto suicida de solitário e anôni1
sado, chegou a seu auge no dia I I de Em seu artigo O suicídio-espetácu/o para ato público, divulgado por to(
setembro de 200 I, com o atentado, na sociedade do espetáculo, publicado o mundo. "O suicídio de indivíd
nos EUA. às torres gêmeas, tragédia na Revista Espaço Acadêmico (www. sozinhos ou em grupo deixou de s
de proporções até então desconheci- espacoacademico.com.br), Lima desta- um ato puramente privativo para sêi
das chocando o mundo pela ousadia.
frieza e planejamento. Para o psicólo-
go Raymundo de Lima, professor do
ca a importância e as proporções que
a mídia tem na ação desses terroris-
tas: "O megaterrorismo deve ser visto
público, como se fosse um show. e
nome de uma causa muitas vezes
compreensível, principalmente se e
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A primeira defesa moderna do suicí-
dio foi de J ohn Donne (1572-1631), em
Biathanatos. Esta obra cita fontes clássi-
cas e modernas, legais e teológicas para
contradizer a doutrina cristã de que o
suicídio é necessariamente um pecado.
Donne afirma haver circunstâncias em
que a razão recomenda o suicídio. E con-
clui d izendo não haver na Bíblia uma
condenação explícita ao su!cídio. E, ain-
da, lembra que o Cristianismo permitiu
outras formas de matar como o martírio,
a pena capital e as mortes na g uerra.
O tratado de Donne fo i um exemplo
precoce das atitudes liberais do iluminis-
mo. Os fiJósofos deste movimento ten-
dem a ver o suicídio em termos seculares,
ligados ao ind ivíduo, sua psicologia e sua ,
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é direcionada para ser decodificada em meados de abril, na Universidade 30 segundos ~
pela cultura ocidental". Assim, continua de Tecnologia de Virginia. um estu- de glória ma-
Urna, o suicídio terrorista. podendo dante matou diversos colegas e de- cabra nas telas do noti-
acontecer em qualquer parte do mun- pois suicidou-se. Em seu artigo, diz o ciário da televisão, que ele não pode
do e a qualquer momento. mina qual- professor. "A cultura norte-americana, mais ver, mas pode gozar por anteci-
quer forma de segurança preventiva. historicamente violenta. soube proje- pação, e a mídia não tem como evitar.
visto que não existe meio para contê- tar nos filmes homicídios e suicídios "Como o sujeito de nossa época não
lo. "O ator do gesto suicida atua como estetizados, porém, nas últimas déca- mais acredita na idéia de revolução,
se fosse personagem de uma tragédia. das está sendo vítima de sua própria deixa-se levar pelos ventos da paixão
como que uma lei acima dele o em- violência fabricada pelos meios virtu- mística ou niilista, usando a morte do
purrasse para o ato final", completa. ais, e também pelo estilo de vida que próprio corpo para expressar sua re-
Esta alusão ao espetáculo se aplica espalha pelo mundo". Para Lima. o volta contra um mundo sem coração.
também às tragédias que acontecem suicida-terrorista é atingido por signos Morre o corpo para viver o transcen-
nos campi estadunidenses: na última. e termina também aspirando ter seus dente", conclui.
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Para os exi st encialist as, o suicídi o não era uma escolha mold ada
por considerações morais, mas por preocupações pelo indivíduo
como a única f on te de significa do num mundo sem sentido
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