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E agora, José? A copa acabou, a noite esfriou, o povo sumiu. Não, Drummond não escreveria
isto, mesmo que vivo fosse, até porque livrou-se de presenciar o maior vexame da história da
pátria de chuteiras. Viramos o calendário e ainda estamos tentando entender o que não dá para
entender. Três meses depois da final no Maracanã estive na Alemanha e lá mesmo pude sentir
de perto o ufanismo desportivo. Em qualquer bate-papo a conversa resvalava para o esporte
bretão. Eles também não entendem como entregamos a rapadura daquele jeito, embora uns e
outros acreditem que a seleção alemã estava de fato muito bem preparada. Não compartilho
desta opinião. Na final, a Argentina teve uma chance preciosa de liquidar a fatura. Quase no final
do segundo tempo, Messi errou um gol que normalmente não perde. Houvesse assinalado
aquele tento, a coruja estaria pelada, Buenos Aires explodiria em festa e Berlim teria chorado.
Mas não tenho a intenção de escrever sobre futebol, a despeito do título desta crônica. Há gente
muito mais qualificada, que enxerga a floresta. No que me toca, minha visão futebolística não
passa das árvores. Quero abordar o drama que se ergue na Alemanha, menos de um ano depois
da festa no Maracanã. Mesmo conhecendo sua história menos do que gostaríamos, sabemos
todos que os alemães ficaram estigmatizados pela intolerância do nazismo. Tragédia de um povo
que louva filósofos e mestres, mas seguiu cega e forçosamente um líder amalucado.
Não se pode esquecer, porém, que a segunda guerra germinou no solo ensanguentado da
primeira guerra, inconclusa, cujos tratados colocaram a Alemanha numa situação insustentável.
Hitler surfou uma onda que um outro qualquer, ainda que com menor destreza, surfaria. Passada
a tragédia de inauditas proporções, na qual também tombaram milhões de alemães, o país foi se
ajeitando, mas a constituição que juraram respeitar impunha ao país a obrigação de aceitar um
grande número de asilados políticos a cada ano. É preciso analisar este ponto com cuidado.
Maior potência industrial da Europa, com baixa taxa de natalidade, suas indústrias arfam com o
suor de muitos imigrantes - ou filhos destes,- e sua economia ruiria se não contasse com tal mão
de obra. Não são apenas turcos, mas também muitos emigrados do leste europeu. O chão de
fábrica de fundições, por exemplo, lugar duríssimo de trabalho, tem poucos alemães. Que se
exilaram nas melhores funções, para as quais se qualificaram, deixando tarefas mais indigestas
para outras etnias. A Alemanha não está sozinha nisto. Há muitos decasséguis trabalhando no
Japão, assim como muitos argelinos e vizinhos lutando pelo pão de cada dia na França.
Até certo ponto o país se beneficiou desta exigência porque a locomotiva do mundo, digamos
assim, não é elétrica. É movida a carvão e precisa de rostos encarvoados. Mas na bagagem dos
imigrantes há muito mais que tralhas. Abrigada no peito, marca de identidade, vem a cultura,
cavalgada pela religião. As antigas conversões ao cristianismo, entretanto, sequer são cogitadas
e a Europa caminha para o islamismo a passos menos lentos do que supõem os desavisados.
Na outra ponta, somente em 2010 a Alemanha quitou as dívidas que lhe foram impostas pelo
Tratado de Versalhes. A Primeira Guerra, portanto, só se encerrou 92 anos depois de seu final
militar. Além disto, até hoje a Alemanha paga indenizações e pensões às vítimas do holocausto.
É também sob a influência deste contexto que se erguem manifestações em grandes cidades
alemãs contra imigrantes e particularmente contra muçulmanos. Recentemente algumas
personalidades se manifestaram a respeito de temas polêmicos. No seu livro “Deutschland
schafft sich ab” (Alemanha extingue a si mesma), Thilo Sarrazin afirmou que os imigrantes
muçulmanos custam “à sociedade mais do que fornecem devido a sua pouca atividade de
trabalho e aos benefícios sociais que recebem”. Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura em
1999, em seu poema “O que deve ser dito” cutucou Israel: “Por que só agora digo, envelhecido e
com minha última tinta: Israel, potência nuclear, coloca em perigo uma paz mundial já por si
mesma alquebrada? Porque é preciso dizer o que amanhã poderia ser tarde demais”. Muito
provavelmente voltaremos a ouvir falar desta turma e a assistir crescentes manifestações de rua.
Quando Bento XVI advertiu a Europa de que sua baixa natalidade constituía um erro histórico, o
mundo deu de ombros. O Papa foi tachado de reacionário, vetusto, contrário aos prazeres que a
modernidade disponibiliza nas gôndolas do mundo. A fertilidade acima da média dos
muçulmanos e a baixa natalidade dos demais alemães aponta para uma goleada demográfica.
Mudanças desta magnitude, com grandes repercussões institucionais, permitem antever
problemas na terra de Goethe e Bismarck em futuro próximo. A Segunda Guerra não acabou.

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