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No Brasil, o primeiro jornal a ter sua página na internet foi o Jornal do Brasil1, lançada
em maio de 1995. Devido a uma grave crise financeira o JB anunciou, em julho de 2010,
o fim da sua versão impressa e passou a ser veiculado apenas na internet. Em 1996,
ocorreu a primeira cobertura em tempo real, na América Latina, em língua portuguesa,
lançada pelo Universo Online (UOL), incluindo material produzido por agências de
notícias, fotos, gráficos e ilustrações. A página também oferecia material jornalístico em
áudio e vídeo como forma de complementar os textos publicados2.
No Pará, a versão online do jornal Diário do Pará foi criada no final da década de
1990, enquanto o lançamento do portal Diário Online3, ocorreu em 2010. O portal das
Organizações Romulo Maiorana4, que reúne os veículos impressos (O Liberal e
Amazônia Jornal), rádios Liberal AM e FM e a TV Liberal, foi criado em 2003.
Anteriormente, foi desenvolvida a primeira versão online do jornal O Liberal, lançada em
1996.
Os primeiros jornais que surgiram na internet faziam a transposição de seu conteúdo
impresso para a internet sem adotar formatos diferenciados para se adaptar às
necessidades do internauta. A atualização desses jornais seguia o tempo da publicação
impressa, chegando a ocorrer apenas a cada 24 horas. Mielnickzuk (2003) caracteriza
essas experiências como “webjornalismo de primeira geração”.
1
A página do Jornal do Brasil pode ser acessada em HTTP://www.jb.com.br.
2
Relato do “Guia de estilo Web: produção e edição de notícias on-line”, de Luciana Moherdaui. O portal
UOL pode ser acessado em HTTP://www.uol.com.br .
3
Acesse: HTTP://www.diarioonline.com.br
4
Acesse: HTTP://www.orm.com.br
Os produtos desta fase, em sua maioria, são simplesmente cópias para a web
do conteúdo de jornais existentes no papel. A rotina de produção de notícias é
totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos jornais impressos e parece não
haver preocupações com relação a uma possível forma inovadora de
apresentação das narrativas jornalísticas. A disponibilização de informações
jornalísticas na web fica restrita à possibilidade de ocupar um espaço, sem
explorá-lo enquanto um meio que apresenta características específicas.
(MIELNICZUK, 2003, p.8)
A classificação sugerida por Mielniczuk não é a única, nem utiliza como base uma
história linear do jornalismo online, mas tem o mérito de mostrar quanto é dinâmico o
processo de desenvolvimento de novos produtos jornalísticos para a internet. Dessa
forma, sites que seriam classificados como webjornalismo de terceira geração ainda
convivem com produtos jornalísticos de primeira geração, o que revela a diversidade de
recursos tecnológicos e financeiros envolvidos em cada experiência, além da influência
de fatores como investimento em qualificação profissional e os interesses envolvidos em
cada iniciativa desenvolvida no jornalismo online.
5
O termo Web 2.0 é utilizado para descrever a segunda geração da World Wide Web – tendência que
reforça o conceito de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais. A
idéia é que o ambiente se torne mais dinâmico e que os usuários colaborem para a organização de conteúdo.
Os links ou hiperlinks são as hiperligações que possibilitam ao internauta chegar a
outros textos a partir da notícia acessada inicialmente em determinado site, gerando a
hipertextualidade. Assim, uma reportagem produzida para a web pode disponibilizar
vídeos, arquivos de som, galerias de imagens e textos sobre o mesmo tema alojados em
outros sites por meio de links. Quando bem utilizada, a hipertextualidade passa a
estruturar uma narrativa jornalística mais dinâmica, interligando diversas fontes de
informação. A hipertextualidade permite que outras características do webjornalismo se
concretizem.
Os hiperlinks favorecem a interatividade e a oportunidade de escolha do público.
Navegando pelos links que dão acesso a diversos textos ou blocos de textos, o internauta
depara com novas possibilidades de leitura e pode seguir a narrativa jornalística de acordo
com o seu interesse e não necessariamente de acordo com a linearidade do texto principal.
É importante verificar, entretanto, que, embora essa liberdade de informação seja uma
das principais características da comunicação via internet, algumas experiências
jornalísticas preferem não disponibilizar hiperlinks exteriores ao seu domínio, na
tentativa de não compartilhar acessos com seus possíveis concorrentes.
Embora ainda não seja utilizada em ampla escala no webjornalismo praticado no
Brasil, a personalização do conteúdo refere-se à possibilidade, oferecida ao internauta,
de individualizar determinado produto jornalístico de acordo com seus principais
interesses. Alguns sites de notícias permitem a seleção prévia dos assuntos e a escolha da
apresentação visual que mais agrada ao leitor. Segundo explica Palácios (2003, p.19),
“quando o sítio é acessado, a página de abertura é carregada na máquina do usuário,
atendendo a padrões previamente estabelecidos, de sua preferência”. Em outras
experiências, notícias com os principais assuntos escolhidos pelos leitores são enviadas
por e-mail.
O volume de informações disponíveis ao internauta e ao próprio jornalista costuma
ser bem maior no webjornalismo do que em outras mídias. O armazenamento e a
disponibilização de notícias e outras informações em bancos de dados acessados pela
internet é mais viável tecnicamente e têm custo menor. Dessa forma, cada site jornalístico
pode ter seu arquivo vivo, disponível para consulta do usuário a qualquer momento. Por
isso, a memória é considerada outra importante característica do webjornalismo.
A instantaneidade de acesso e atualização contínua do material jornalístico
permitem ao leitor acompanhar o noticiário de seu interesse com mais agilidade do que
nos meios de comunicação tradicionais. Esse é, sem dúvida, um dos fatores que vêm
contribuindo para o sucesso de muitas experiências jornalísticas na web. A velocidade
com que as informações são veiculadas pode ser associada ao imperativo da rapidez das
experiências humanas na contemporaneidade, questionado por pensadores como Bauman
(2001)6.
O formato assumido pelos sites jornalísticos na web, com o desenvolvimento de
dispositivos que permitem uma interação cada vez maior com o leitor, gera expectativas
em torno de um jornalismo mais participativo e pluralista, com um conteúdo embasado
na construção social do conhecimento e na livre produção, troca e circulação de
informações. Santos avalia positivamente essa característica.
6
Bauman cunhou a expressão Mordernidade Líquida (2001) que também intitula uma de suas principais
obras, para descrever o imperativo da rapidez na vida social contemporânea e tratar de temas como
imigrações, globalização, comunidade e consumismo.