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Quero aqui expressar o meu agradecimento a Deus e a todos aqueles que deram suas
contribuições a este documento.
Tendo em vista este ser um material de apoio, a contribuição de vários alunos da
disciplina de graduação Ciência dos Materiais foi importante por meio de suas valiosas críticas
e sugestões. Acredito ser esta a forma adequada para a construção do processo ensino-
aprendizagem: a participação mútua de alunos e professores.
Aproveito esta oportunidade para agradecer e me desculpar com outras pessoas cujas
contribuições eu possa ter esquecido de agradecer. Por último, mas certamente não menos
importante, meus profundos e sinceros agradecimentos pelo encorajamento e o apoio contínuos
da minha família.
O conhecimento e o
desenvolvimento da tecnologia de materiais
acompanham a evolução da própria
humanidade desde os primórdios da
história sendo, por vezes, utilizado como
um marco divisor dos diferentes períodos
da nossa civilização.
A função exercida pelos materiais
em nossa sociedade tem sido, sem dúvida
alguma, de grande importância para o
avanço das novas tecnologias e da própria
economia globalizada atual. A tecnologia
de materiais encontra aplicação em várias áreas produtivas, entre as quais as mais importantes
são: construção civil, mecânica, medicina, eletroeletrônica, telecomunicações, aeroespacial e
automobilística. O domínio e a gestão responsável desta tecnologia tem sido muitas vezes, causa
de aumento na balança comercial de países desenvolvidos e em desenvolvimento trazendo, por
conseqüência, melhorias na qualidade de vida dessas sociedades.
Esta ênfase se apóia no conceito de que as propriedades e o comportamento de um
material estão interligados com a sua estrutura interna. Logo, uma mudança nas propriedades
provoca o estabelecimento de alterações na estrutura interna do material. Da mesma forma, se
processamentos prévios ou condições de serviço alterarem a estrutura deste, alteradas estarão
também suas características.
Os temas apresentados baseiam-se nos conceitos de física e química da graduação e são
apresentados na forma de capítulos, sendo que cada um possui sua relação de tópicos, referências
e exercícios. Adicionalmente, são acrescidos termos específicos e que se constituem em
palavras-chave na forma de um glossário.
SUMÁRIO
Os materiais são as substâncias com as quais se fazem todas as “coisas” (tenham elas vida
ou não), ou seja, o mundo físico que nos rodeia. Podemos dizer que existem materiais biológicos
(fazem parte de seres vivos), elétricos (fazem parte dos dispositivos eletro-eletrônicos), de
construção mecânica (são utilizados para a confecção de estruturas, peças e ferramentas), etc.
Logo, pode-se dizer que os materiais compõem parte da matéria do universo e cujas propriedades
são exploradas para utilização em várias aplicações, como estruturas, máquinas e dispositivos.
Figura 1. Alguns exemplos dos vários materiais que podem ser encontrados no nosso cotidiano.
Os materiais integram a nossa vida, já que todos os produtos que conhecemos são feitos
de materiais, como a madeira, o tijolo, o aço, o plástico, o vidro, a borracha, o alumínio, o papel,
entre outros, como é apresentado na Fig.1. No entanto, novos materiais são freqüentemente
inventados, de modo a atender as várias exigências das aplicações industriais, tecnológicas e
científicas, as quais são transformadas em melhoria da qualidade de vida da nossa sociedade nos
seus vários aspectos.
Todo e qualquer material usado pela humanidade passa por um ciclo, por vezes muito
extenso, de transformação.
Inicialmente, materiais em estado bruto são extraídos da terra através de técnicas de
mineração, perfuração, escavação ou colheita. A partir daí, são convertidos em materiais de base
ou intermediários, tais como lingotes metálicos, pedra fragmentada e compactada, produtos
petroquímicos e madeira serrada. Estes, por sua vez, são transformados em materiais mais
técnicos e com propriedades controladas (ditos tecnológicos ou de engenharia), tais como fios
eletrocondutores, perfis estruturais, engrenagens plásticas, entre outros, de modo a atingir as
necessidades requeridas.
Após o seu desempenho a serviço da humanidade, estes materiais, já na forma de
SUCATA, são devolvidos à terra ou preferivelmente, se possível e viável, incluídos novamente
no ciclo de transformação para uso posterior (seja na mesma função ou em outra).
Como é apontado na literatura, “o ciclo de transformação dos materiais é um sistema que
entrelaça recursos naturais e necessidades humanas”. Logo, é inevitável se deparar com os
temas da poluição e da reciclagem.
Assim, surge uma derivação do conhecimento humano que se denomina por CIÊNCIA E
TECNOLOGIA / ENGENHARIA DE MATERIAIS que objetiva lidar com todos os aspectos mencionados
anteriormente.
A CIÊNCIA DOS MATERIAIS consiste na investigação da relação entre a estrutura interna dos
materiais, suas respectivas propriedades e o processamento necessário para a sua obtenção,
formando assim, o conhecimento dito FUNDAMENTAL. Estes elementos correlacionam-se
como um polígono geométrico da seguinte forma:
ESTRUTURA
PROPRIEDADES
PROCESSAMENTO
DESEMPENHO
Figura 2. Representação esquemática dos elementos que compõem a ciência dos materiais.
COLUNAS
FUNDAÇÕES
TIJOLOS
LAJES E VIGAS
Figura 4. Representação esquemática da constituição de um prédio.
peso do prédio (e de tudo que estiver dentre dele), assim como esforços que atuem sobre ele, tais
como ventos oriundos de várias direções, vibrações do solo, etc. De uma maneira mais simples
podemos dizer que este prédio é composto por ELEMENTOS ESTRUTURAIS, sendo que toda
e qualquer manipulação destes elementos provocará uma alteração no seu comportamento.
Comparativamente, os materiais também são compostos por constituintes internos: os
ÁTOMOS. Eles são, também de maneira comparativa, os blocos fundamentais da matéria, seja
ela gasosa, líquida ou sólida. De acordo com as fontes literárias pesquisadas, um átomo é a
menor partícula que ainda caracteriza um elemento químico, sendo que este possui um conjunto
de características especiais e que o diferenciam dos demais.
Historicamente, o conceito e a detecção física do átomo resultaram de um longo trabalho
realizado a partir de observações de propriedades e suas medidas. Vários aspectos demoraram
para serem constatados devido às limitações tecnológicas e a sua aceitação pela comunidade
científica esbarrou em vários momentos de resistência.
Inicialmente, o conceito de átomo surgiu na Grécia antiga com o filósofo Demócrito
(520–440 a.C.), o qual a partir de suas observações dos fenômenos naturais acreditava que toda e
qualquer matéria era constituída por partículas indivisíveis e que seriam qualitativamente iguais,
diferindo apenas na forma, tamanho e massa. Segundo ele, a grande variedade de materiais na
natureza resultava dos movimentos dos diferentes tipos de átomos que, ao se chocarem,
formavam conjuntos maiores, gerando diferentes corpos com características próprias. Durante
cerca de 17 séculos (1700 anos!), as idéias fundamentais sobre a matéria não se alteraram até os
trabalhos do cientista inglês John Dalton (1766–1844). Ele retomou o conceito dos antigos
gregos, imaginando o átomo como uma pequena esfera com massa definida e propriedades
características. Assim, as transformações químicas observadas podiam ser explicadas através dos
arranjos executados pelos átomos.
Apenas após o trabalho de Albert Einstein (1879-1955) sobre o movimento Browniano é
que passou a se aceitar a existência dos átomos. Desde então, foram feitas sucessivas tentativas
de descrevê-los por meio de diferentes modelos, destacando-se os de J. J. Thompson (1856-
1940) e Ernest Rutherford (1871-1937). Neste sentido, até o final do século XIX, o átomo era
considerado a menor porção da matéria. Contudo, nas últimas duas décadas desse século, as
descobertas dos prótons e dos elétrons revelaram o equívoco de tal conceito. Posteriormente, a
descoberta dos nêutrons e de outras partículas subatômicas reforçou a necessidade de rever o
conceito de átomo. Para maiores detalhes, recomenda-se a leitura das referências CALLISTER e
VAN VLACK.
Até então, os modelos atômicos eram descritos sob as leis da física clássica, apresentando
limitações e também falhas até que o físico dinamarquês Niels H. D. Bohr (1885-1962) elaborou
um modelo que mesclava aspectos da física clássica com os do que seria chamada de teoria
quântica. O grande avanço foi que este modelo conseguia explicar vários dos fenômenos em que
os modelos anteriores falhavam.
O modelo atômico de Bohr, também chamado de planetário, apresenta as seguintes
características:
a) Todo e qualquer átomo é constituído por duas regiões: a do núcleo e a da
eletrosfera. No núcleo ou região central concentram-se os prótons (partículas com carga
elétrica positiva) e os nêutrons (partículas de carga elétrica neutra), sendo que esta
combinação é denominada de núcleon. Na eletrosfera ou região periférica localizam-se os
elétrons, os quais descrevem órbitas circulares em volta do núcleo;
NÚCLEO
ELETROSFERA
c) Sob condições adequadas, os elétrons podem passar de uma órbita (ou nível) para
outra, significando que a sua energia pode se alterar. Para que um elétron saia de uma
órbita para outra mais energética, deve absorver energia, de modo a possuir a energia da
órbita mais externa. De maneira contrária, se ele passar para uma órbita menos
energética, o elétron deve liberar o excesso de energia, passando a ter a energia da órbita
mais interna.
Desde então, o modelo atômico de Bohr foi refinado com base nos conceitos da física
quântica. Pode-se dizer que o modelo atômico atual está fundamentado nestes conceitos. Devido
aos avanços da Física, sabe-se que elétrons, prótons e nêutrons são constituídos por outras
subpartículas, os quarks. No entanto, nas discussões que serão abordadas, não se chegará a tal
nível de detalhe.
Figura 6. Representação esquemática da estrutura da matéria em seus constituintes mais básicos.
Os materiais assim formados são ditos iônicos e devido às suas configurações eletrônicas
e à natureza da ligação apresentam-se como muito duros e ao mesmo tempo quebradiços. Além
disso, comportam-se como isolantes elétricos e térmicos.
Numa outra situação, se um material for constituído por um tipo de átomo ou uma
combinação de átomos com as mesmas características, não haverão processos de transferência de
elétrons, como ocorre na ligação iônica. Aqui o mecanismo de equilíbrio energético entre os
átomos que se ligam é feito através do compartilhamento dos elétrons e isso ocorre de duas
maneiras.
Na primeira, pode ser que os átomos possuam poucos elétrons de valência e a tendência a
perdê-los. Neste caso, pode-se imaginar a criação de íons positivos cercados por elétrons
desprendidos. Estes elétrons “livres” permanecem neste estado já que os elementos que
compõem o material possuem a mesma tendência a perder os elétrons de valência, ou seja, não
haverá outro átomo com tendência a atraí-los. Desta forma, para alcançar o equilíbrio energético
e a estabilidade da ligação1, os elétrons livres passam a ser compartilhados por todos os átomos
do material simultaneamente. Esta condição define a chamada ligação metálica e os materiais
assim formados denominam-se de metais. Diferentemente dos materiais iônicos, os metais
apresentam-se com vários níveis de dureza e de deformação. Por conterem elétrons livres, são
bons condutores de calor e de eletricidade.
De uma segunda maneira, quando a órbita de valência de um átomo não está completa,
ele pode aceitar um número limitado de elétrons adicionais dentro desses níveis de energia
incompletos. Isto significa, então, que tais átomos não possuem a tendência a perder elétrons e,
sim, atraí-los. Nesta condição, assim como na ligação metálica, para alcançar o equilíbrio
energético e a estabilidade da ligação, os elétrons de valência passam a ser compartilhados, mas
sob as seguintes condições: eles são compartilhados entre átomos que possuem uma quantidade
relativamente maior de elétrons e isto é feito pelos átomos mais próximos uns dos outros e em
direções específicas (apenas entre os átomos que irão compartilhar os elétrons). Esta condição
define a chamada ligação covalente e os materiais assim formados denominam-se de covalentes.
A chamada covalência de uma ligação química pode ser encontrada em vários materiais,
como em cerâmicas, plásticos e borrachas. Substâncias moleculares orgânicas e inorgânicas
podem exibir este tipo de ligação dependendo do tipo de átomo presente em sua composição.
Uma das conseqüências da presença desta num material é a capacidade de polimerização,
caracterizada por extensas fileiras ou cadeias de átomos.
Estes três tipos de ligações químicas, iônica, covalente e metálica são muito intensas.
Comparadas às ligações de London-van der Waals apresentam intensidades de 100 – 1000
kJ/mol e por esta razão são chamadas de ligações primárias ou fortes.
Como a maioria dos materiais de uso e interesse tecnológico é sólida, eles são
convenientemente agrupados em três classes principais, de acordo com o tipo de configuração
eletrônica e de ligação química:
MATERIAIS
MATERIAIS
COMPÓSITOS
1
O contexto da estabilidade de uma ligação química obedece à regra do octeto.
Figura 7. Representação esquemática da classificação dos materiais.
As características da ligação que compõe cada material, assim como a descrição do seu
comportamento já foram feitas anteriormente. Verifica-se, ainda, a existência de uma quarta
classe de materiais, os compósitos. Estes materiais podem ser definidos como sendo resultantes
da combinação de diferentes tipos de materiais, apresentando inclusive, combinações de
propriedades. Devido a tais características, estes materiais têm sido aprimorados a ponto de
serem cada vez mais aplicados.
Na literatura, aliás, é comum encontrarem-se referências a outros tipos de materiais,
como os semicondutores e os biomateriais. Estes não estão sendo classificados com base no tipo
de ligação química, conforme apresentado ao longo desta seção, mas sim em função da aplicação
em que são utilizados. Neste caso, existem metais, polímeros e cerâmicos que exibem o
comportamento semicondutor ou podem ser utilizados em aplicações biomédicas. Assim, todo e
qualquer tipo de material irá exibir um comportamento com características de algum tipo de
ligação química, seja ela mais intensa ou não.
Para maiores detalhes, consultar os Caps. 2 das referências VAN VLACK, CALLISTER
e Caps. 2 e 3 da referência PADILHA.
Os diversos materiais conhecidos têm duas origens: natural ou artificial. A origem natural
está associada com os vários processos de transformação que ocorrem nos três reinos da
natureza: o mineral, o vegetal e o animal. Como a grande maioria dos materiais naturais de uso e
interesse tecnológico pertencem ao reino mineral, nossa atenção se voltará para eles.
Vegetal
Animal
2
IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry ou União Internacional de Química Pura e Aplicada.
É o órgão internacional que regulamenta as atividades da química e as suas informações associadas por meio de seus
comitês.
Figura 12. Tabela periódica atualizada dos elementos químicos.
Cabe ressaltar que dos 117 elementos químicos conhecidos, não existe o elemento com
número atômico igual a 117. Como tais elementos transurânicos são instáveis, ainda não se
conseguiu sintetizá-lo de maneira a ser estável e detectável.
Neste arranjo de elementos há características importantes e que determinam o seu
comportamento individual, tais como tamanho, energia de ionização (energia necessária para
“arrancar” os elétrons das suas órbitas) e eletronegatividade. Esta última, em particular, exerce
uma importância fundamental quando se trata da interação entre os átomos com a conseqüente
formação dos materiais. Ou seja, ela determina como ocorre a interação. A eletronegatividade de
um elemento químico ou de um átomo representa a sua tendência a atrair elétrons. Esta afinidade
é levada em conta na formação das ligações metálica, covalente e iônica, como definidas
anteriormente. No caso das ligações metálica e covalente, os elementos que se ligam
quimicamente exibem semelhança de eletronegatividade. Já na ligação iônica, os elementos que
se ligam exibem diferentes eletronegatividades.
Contudo, a principal função da tabela periódica é a capacidade de prever as propriedades
químicas de um elemento e, por conseqüência, dos materiais que podem se originar das suas
possíveis combinações baseada na sua posição na tabela. As propriedades em questão variam de
maneira diferente quando nos deslocamos ao longo das colunas e das linhas. Por exemplo, os
grupos são considerados como sendo o método de classificação mais importante dos elementos
químicos devido à tendência de semelhança de propriedades. Os elementos de um mesmo grupo
possuem a mesma configuração de elétrons na camada de valência, assim como semelhanças de
tamanho atômico, energia de ionização e eletronegatividade. A tecnologia de materiais está
fortemente baseada nestas características porque elas determinam como os elementos se ligam e
como os materiais se formam.
Neste sentido, chamamos de elementos representativos aqueles que apresentam
distribuição interna de orbitais eletrônicos completos. Quando em ligações químicas, esses
elementos usam apenas os elétrons do nível mais externo (o de valência). Ao todo são nove
grupos que possuem esta característica: 1A, 2A, 3A, 4A, 5A, 6A, 7A, 8A e 2B.
Por outro lado, chamamos de elementos de transição interna os elementos que possuem
orbitais incompletos (penúltimo e antepenúltimo). Quando em ligações químicas, esses
elementos recorrem aos elétrons de níveis inferiores para suprir suas deficiências. É o que
acontece com os metais de transição e os elementos lantanídeos e actinídeos. Ao todo são sete
grupos que possuem esta característica: 1B, 3B, 4B, 5B, 6B, 7B e 8B.
Ao longo dos anos, os vários grupos da tabela periódica receberam denominações
específicas para identificar o grupo de elementos com características semelhantes. Dessa forma
tem-se:
ELEMENTO QUÍMICO - Substância química pura composta por átomos com o mesmo número
de prótons em seu núcleo.
ISÓTOPOS– Átomos de um mesmo elemento químico, mas que possuem massas atômicas
diferentes devido à variação do número de nêutrons nos seus núcleos.
EXERCÍCIOS
3) Por que os pesos atômicos dos elementos químicos não são números inteiros?
CALLISTER Jr., William D.; Ciência e Engenharia dos Materiais: Uma introdução - 7.a Ed.
Rio de Janeiro: LTC Editora S.A; 2008.
VAN VLACK, Lawrence H.; Princípios de Ciência dos Materiais - 1.a Ed., São Paulo: Editora
Edgard Blucher Ltda. 2000.
INTERNET
http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil
www.dfn.if.usp.br/pagina-dfn/divulgacao/abc/basic.html
CAPÍTULO 2 – A ESTRUTURA DOS MATERIAIS SÓLIDOS
Átomos
Núcleos atômicos
Partículas
elementares
ESCALA (m) 10-15 10-12 10-9 10-6 10-3 100 103
Figura 13. Interação entre dois átomos genéricos durante a sua ligação química.
Isso faz supor, então, que para ocorrer uma ligação química deve haver uma distância de
equilíbrio entre os átomos que se ligam. Assim, em termos de energia, a distância de equilíbrio
entre os átomos será aquela em que a energia potencial tem valor mínimo ou quando as forças de
repulsão e atração forem iguais. Há uma outra conseqüência: o valor de energia associado com a
interação dos átomos representa o valor da energia da sua ligação. A energia potencial citada está
relacionada com as forças de atração e repulsão. Este comportamento pode ser ilustrado pela
curva de energia potencial em função da distância de separação entre os átomos na Figura 13.
Para maiores detalhes, consulte os capítulos 2 das referências CALLISTER, SMITH e
VAN VLACK, além do Cap. 3 da referência PADILHA.
Figura 14. Variação da energia potencial em função da distância de separação entre dois átomos.
Região
cristalina
Região
amorfa
(a) (b)
Figura 18. Representação esquemática de (a) um reticulado cristalino e (b) uma célula unitária.
Para que um material cristalize, ou seja, forme um cristal, ele deve ter tempo de organizar
os seus átomos num arranjo estável, o qual minimiza a energia livre por unidade de volume.
Quando isto acontece, o arranjo atômico torna-se o mais compacto possível. Os elementos
metálicos, em particular, possuem tendência à cristalização e a sua maioria acaba por cristalizar
em estruturas simples. Contudo, segundo PADILHA, existem casos de metais com estrutura
cúbica simples (Polônio – Po) e estruturas mais complexas, como a ortorrômbica (Urânio – U).
Assim, a grande maioria dos metais cristaliza nos sistemas cúbico e hexagonal. O sistema
cúbico se apresenta principalmente em duas variações: de corpo centrado (CCC) e de face
centrada (CFC). Já o sistema hexagonal se apresenta na forma compacta (HC), que é uma
variação da estrutura hexagonal simples.
Figura 20. Representação esquemática das células unitárias HC (a), CFC (b) e CCC (c).
(a)
(d)
(c)
(b)
Figura 21. Representação esquemática dos defeitos pontuais: (a) vacância, (b) átomo intersticial,
(c) auto-intersticial, (d) átomos substitucionais.
Eventualmente, um átomo pode ocupar uma dessas posições vazias entre os átomos da
rede cristalina. Nesta situação, eles são denominados de átomos intersticiais e auto-intersticiais,
quando um átomo do próprio material ocupa uma posição intersticial.
Átomos estranhos de impurezas ou adicionados intencionalmente também são
considerados defeitos pontuais. De acordo com o tamanho, esses átomos ocupam posições
intersticiais ou substitucionais, sendo esta correspondente à substituição do átomo do material
por outro diferente. Estes são recursos utilizados quando se quer modificar as propriedades dos
materiais. É o caso, por exemplo, da formação de ligas metálicas.
(b)
(a)
Figura 22. Representação esquemática de defeitos lineares: (a) aspecto estrutural, (b) aspecto
físico de um material contendo discordâncias.
Um material que é composto por vários cristais, ou policristalino, exibe interfaces entre
os cristais adjacentes. Cada cristal, isoladamente, possui o seu alinhamento característico de
átomos. Neste caso, cada contorno de grão atua como uma fronteira onde ocorre o
desalinhamento de um cristal para o outro.
Figura 26. Microestrutura de uma liga à base de Ni-Cr-Co-Mo (Inconel IN617). Percebe-se a
presença de volumes de material diferentes do restante, as quais estão associadas com mudanças
de composição química.
VIDRO – Sólido amorfo normalmente obtido pelo resfriamento rápido de uma massa fundida e
que apresenta dureza e transparência característicos.
INTERSTÍCIO – Região espacial vazia de uma rede cristalina existente entre os átomos que a
compõem.
EXERCÍCIOS
2) Por que os metais têm pequena propensão para formarem sólidos amorfos ao se
solidificarem?
3) O Nb, na temperatura ambiente tem estrutura CCC e apresenta raio atômico de 0,147 nm.
Calcule o valor do parâmetro de rede “a” em nanômetros (nm).
4) O Ni apresenta estrutura CFC com uma densidade de 8,9 g/cm3 e tem sua massa molar
igual a 58,71 g/mol. Qual é o volume por célula unitária baseado no valor da densidade?
6) Como se pode explicar que um lingote de aço com dimensões de metros seja
transformado em chapas com espessura de milímetros sem perder sua estrutura cristalina?
REFERÊNCIAS
CALLISTER Jr., William D.; Ciência e Engenharia dos Materiais: Uma introdução - 7.a Ed.
Rio de Janeiro: LTC Editora S.A; 2008.
SMITH, William F.; Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais – 3.a Ed. Portugal:
Editora McGraw-Hill de Portugal Ltda., 1996.
VAN VLACK, Lawrence H.; Princípios de Ciência dos Materiais - 1.a Ed., São Paulo: Editora
Edgard Blucher Ltda., 2000.
INTERNET: http://www.msm.cam.ac.uk/
CAPÍTULO 3 – MICROESTRUTURAS
ESCOLHA DA SEÇÃO
Quando a seção do material a ser analisado não é especificada por quem requisita o
ensaio ou por uma norma aplicável, tem-se que levar em consideração a forma da peça e as
informações que se deseja obter. Normalmente são realizados cortes longitudinais e transversais
em produtos metálicos de geometria regular:
SEÇÃO LONGITUDINAL
SEÇÃO TRANSVERSAL
Após o corte, os pedaços de amostra geralmente são montados em resinas plásticas para
uma melhor manipulação e proteção das mãos do operador e das bordas da amostra, o que
impediria a observação dessa região ao microscópio. Esta montagem em resina é denominada de
embutimento e é feita por compressão a frio ou a quente numa espécie de prensa, chamada
embutidora. Dentre as reinas mais utilizadas encontram-se a baquelite, acrílico, epóxi, etc.
PREPARO DA SUPERFÍCIE
As operações anteriores objetivaram o isolamento da seção do material a ser analisada.
Na continuidade do processo, faz-se necessário trabalhar a superfície de modo que os riscos
causados pelo abrasivo sejam cada vez menos perceptíveis a olho nu. Assim, é necessário
submeter o material a uma seqüência de desbastes controlados, com o objetivo de se ter
superfícies planas, com rugosidades mínimas e com a orientação desejada. Dentre as
dificuldades inerentes estão a obtenção da planicidade desejada, a qual aumenta na medida em
que se deseja observar superfícies com maior extensão e ou materiais de dureza variável ou de
geometria complexa. Todas as operações envolvidas devem ser realizadas com cuidado para
evitar não apenas o encruamento local excessivo, bem como aquecimentos a mais de 100 ºC, os
quais ficaram evidentes após o ataque químico do material e prejudicarão a interpretação das
imagens obtidas ao microscópio.
Assim, o propósito do lixamento de desbaste é gerar a superfície plana inicial necessária
para as etapas seguintes de lixamento e de polimento. Como resultado do corte, o material pode
ter sido submetido a deformações estruturais consideráveis na superfície e em regiões próximas a
ela. A utilização de lixas de granulação grosseira (granulação 220 ou menos) é recomendada para
a retirada de todo o material possivelmente deformado e rugosidades ou rebarbas remanescentes
do processo de corte. Um fator importante durante esta fase e a fase posterior (de lixamento de
acabamento), é que os riscos causados pelas lixas, ao final de cada lixamento, estejam todos
uniformemente distribuídos e paralelos entre si. Para que o lixamento esteja correto, é necessário
que a amostra seja girada de 90º uma ou duas vezes em cada estágio e entre cada estágio. Em
cada estágio, é necessário que se mantenha constante o ângulo de lixamento até que os riscos
deixados pela lixa sejam visivelmente paralelos, eliminando-se os vestígios do estágio de
lixamento anterior. Nesta situação, é importante que o corpo-de-prova seja lavado com água
corrente antes de se fazer alteração na direção do lixamento e entre cada um dos estágios para
que não se carregue partículas abrasivas. Como o lixamento quase sempre é feito de modo
manual, o principal cuidado é garantir que se aplique pressão “normal” à peça e evitar a
tendência, natural do movimento manual, de forçar mais contra a lixa a aresta que avança, na
direção de movimento da peça. Geralmente, a seqüência de lixamento de acabamento envolve
lixas de granulação 220, 320, 400 e 600.
O polimento é realizado com abrasivos de granulometria muito pequena, utilizando-se
como lubrificante água ou álcool absoluto, sobre um disco recoberto por tecido macio, como o
feltro. O melhor polimento é conseguido utilizando-se como abrasivo pó de diamante ou
alumina. Após o término do lixamento de acabamento com a lixa 600, e tendo sido a superfície
do corpo-de-prova cuidadosamente lavada com água corrente e álcool absoluto, seca sob ar
quente e limpa com algodão hidrófilo, o corpo-de-prova amostra é colocado na politriz com o
abrasivo e o lubrificante. A rotação da politriz deve permanecer entre 150 e 250 rpm.
O corpo-de-prova deve ser girado sobre o disco da politriz de modo que não haja direção
preferencial nessa operação. A pressão sobre o corpo-de-prova deve ser a menor possível e o
tempo necessário para o polimento é de alguns minutos.
A superfície do corpo-de-prova após o correto polimento deve estar completamente livre
de riscos de lixamento, devendo estar quase espelhada, com rugosidade mínima. Tal
espelhamento pode ser observado após cuidadosa limpeza com álcool absoluto, algodão hidrófilo
e secagem com ar quente. A superfície não deve ser tocada para evitar a oxidação da mesma.
ATAQUE QUÍMICO
O exame ao microscópio da superfície polida de um corpo-de-prova revela somente
algumas características estruturais como inclusões, trincas e outras imperfeições físicas
(incluindo-se defeitos no polimento propriamente dito). O ataque químico é utilizado para
destacar e algumas vezes identificar características microestruturais ou fases presentes nas
amostras. Os reagentes utilizados no ataque químico ou reativos são em geral ácidos diluídos ou
álcalis diluídos em água, álcool ou outro tipo de solvente. O ataque químico ocorre quando o
ácido ou a base entra em contato com a amostra, corroendo-a devido à diferentes taxas de
corrosão dos diversos microconstituintes e sua orientação.
O processo de ataque químico consiste no contato entre a face preparada da amostra com
o reativo apropriado. Este contato pode ser feito por imersão (mergulho), por aplicação (com
chumaço de algodão ou pincel) e por impressão direta de Baumann (papel fotográfico umedecido
com reativo e aplicado sobre a superfície do corpo-de-prova). Conforme sua duração e
profundidade, os ataques classificam-se em lentos ou profundos e rápidos ou superficiais, sendo
estes últimos os mais utilizados. A duração do ataque depende da concentração do reativo e da
natureza e estrutura do material a ser analisado. Terminado o ataque, lava-se imediatamente a
superfície do corpo-de-prova com álcool. Em seguida, procede-se à secagem passando chumaço
de algodão umedecido com álcool e submetendo a um fluxo de ar quente.
Após a adequada preparação do corpo-de-prova, é feita a observação ao microscópio.
Como conseqüência da ação do reativo, surge um contraste estabelecido entre as áreas de
composição química diferente ou entre as áreas com estrutura metalográfica diferente (diferenças
de fases, sua fração volumétrica, diferenças de tamanho e orientação cristalográfica). O contraste
decorre do fato de certas regiões escurecerem mais do que outras. Por exemplo, no caso de aços-
carbono, os quais representam o tipo mais simples de aço em termos de composição química, o
ataque geralmente é realizado com um reativo denominado de Nital, uma solução de 1 a 5% de
ácido nítrico diluído em álcool etílico. Neste caso, o reativo ataca principalmente os contornos de
grãos e as fases ricas em carbono, as quais se apresentam mais escuras, como apresentado na
figura a seguir.
EXERCÍCIOS
2) Por quê a superfície de um corpo-de-prova, para ser analisada, deve ser atacada
quimicamente?
4) Por quê as amostras metalográficas devem ser cuidadosamente lavadas e secas antes de
se proceder à troca de lixas?
5) Qual a diferença entre um aço eutetóide e um hipoeutetóide?
7) Quais os defeitos de preparação que podem ser encontrados numa amostra durante a sua
preparação metalográfica?
REFERÊNCIAS
CALLISTER Jr., William D.; Ciência e Engenharia dos Materiais: Uma introdução - 7.a Ed.
Rio de Janeiro: LTC Editora S.A; 2008.
SMITH, William F.; Princípios de Ciência e Engenharia dos Materiais – 3.a Ed. Portugal:
Editora McGraw-Hill de Portugal Ltda., 1996.
COLPAERT, Hubertus; Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns - 4.a Ed. São Paulo:
Editora Edgard Blucher Ltda, 2008.
CHIAVERINI, Vicente; Aços e ferros-fundidos - 7.a Ed. São Paulo: ABM, 2008.
INTERNET
http://www.metallography.com/