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LEITURAS CATOLICAS

ANO XLVIII- DEZEMBRO DE 1938- N .0 583


~~..,.~.,..~

OBanco mais Vantajoso e lnfalivel

:Hsmola
"Considerações e exeJ;Ilplos pelo Servo de Deus
AN:CBÉ :SE:::C..TB.A.J:M:CJ:
da Pia Sociedade &Jesiaria

Non memini me legisse mala


morte defunctum, qui liberius opera
caritatis exercuerit.
S. Jeronimo

NITEROI
Escolas Profissionais Salesianas
1938

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lMPRIMATUR

Por comissão especial do Exmo. e Revmo.


Snr. Bispo de Niterói, D. JosÉ PEREIRA
ALVES.

Niter6i, 29 de Setembro de 19]8


P. Orlando Chaves, S. S.

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( Prefácio dos Editores h
~{[ ~
- Já em odra ocasião foi publicado
nas Ledura.J Católica.J um opúsculo
sobre a esmola_, intitulado « A Esmola
segundo Deus Y. Esse trabalho foi muito
apreciado e estavamos cogitando fazer
nova edição, quando foi traduzido
o presente opúsculo da lavra do Servo
de Deus Padre André Beltrami, da
Pia Sociedade Salesiana.
Ohl seja benvinda esta voz do vir-
tuoso Sacerdote a acordar certas pes-
soas que dormem, a evocar certos
mortos 1
O glorioso Apóstolo S. Paulo nos
exorta a fazermos o bem, enquanto
femos tempo. Outra não é a exortação
do Padre Beltrami neste seu trabalhi-
nho sobre a Esmola.

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Hoje a palavra de André Beltrami
é mais autorizàda, porque já se introdu-
ziu a Causa de sua Beatificação e Ca-
nonização, e esperamos que, dentro
em breve, receba na fronte a auréola
dos Bem-aventurados.
Acolhei, pois, esta sua palavra como
uma voz vinda do Céu. ~

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j
CAPITULO I
FREQUENTES FALENCIAS
DE BANCOS
Todo ano, nas principais cidades da
Europa e da América, os jornais anun-
ciam a falência de algum banco, que
arrasta à miséria muitas famílias e
lança na desolação regiões inteiras.
São desgraças terríveis, que, invés de
diminuírem com o avançar da civili-
zação e do progresso, aumentam em
proporção espantosa; e dão o que fazer
aos homens de Estado, os quais, de-
balde, procuram medicar essa chaga
social, que assassina o comércio e
flagela os povos. Mal se acalmaram
os gritos de dôr pela quebra de um
banco, que roubou o patrimônio a
inúmeras familias, eis logo se divulga
a funesta noticia da falência de outro
banco, que renova as mesmas cenas
de desventura, lançando na rua um
número gran,d e de pessoas, que da

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opulência passam á mais esquálida
• f •
m.1sena.
São muitas as causas de tais ban-
carrotas, qtie constituem um estu;do
sério para os legi slado~es que tentam
impédi-las por m~io de leis.
Algumas vezes é a má administração
e a falta de treino no manejo dos ne-
gócios; outras v ezes é uma crise que
paralisa a a dministração, os negócios
de toda uma região. Mas, n a m.Ór
parte dos casos, a falência provém
da fraude ou furto de algum dos admi-
nistradores. São aleivosias indignas,
que deshonram o homem e mostram
até que ponto de baixeza pékl:e levar
o amor ao ouro, o qual bem considerado
não é s'enão um pouco de terra .t;elu-
zent e. Eis a trist'e história: Um dos
directores do banco apodera-se do di-
nheiro, das letras e dos valores e foge
para o estrangeiro, onde a lei o não
p6.de alcançar, afim de gozar das rique-
zas roubadas, que pertencem a inúme-
ras famílias, as quais talvez SUél;ram por ~
muitos anos, fazendo economia, mesmo
do necessário, para assim garantir o
futuro. Então o banco abre falência;

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e o tribunal institue o processo par a
examinar os delinquentes. Que deplo-
rável espet áculo não apresenta a sala
judiciária1 Aquí, um pobre pai de famí-
lia, qu~ tinha posto no banco todo seu
dinheiro, reduzido agora á miséria; tris-
te, rábido, assiste ao processo, pedindo
justiça. Ali uma criada que serviu
por muitos lustros, . trabalhando de
manhã á noite, e pondo no banco, mês
por mês, os frutos de suas economias.
Já possuía um bom capital, aumentado
pelos juros, e esperava ter um arrimo
na sua decrepitude, quando fosse im.-
poten~e para o trabalho. O pensamento
do próximo descanso, após duras fadi-
gas, fazia saltar de alegria a b6a da
mulher; de repente o banco quebra e
ela perde tudo. Agora est á lá, furiosa,
no tribunal, a dirigir imprecações contra
r-..._os autores de sua irreparável des\len-
tura. Ouem é aquele ancião, que chora
qual uma criança e, de onde em onde,
mostra os punhos aos que se assentam
no mocho dos acusados ? E' um pobre
operário que tinha posto no banco
bôa parte dos ordenados recebi_d os
desde os p rimeiros anos da m ocidade.

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Não podendo mais trabalhar vivia dos
juros e passava tranquilo os anos da
senilidade; mas a falência do banco
o arruinou e o lançou na miséria e, se
quer comer, deve estender a mão e im-
plorar a caridaàe ao transeunte. Estais
vendo aquele senhor de modos corteses .
...-estido de p obre OJ?.erá rio? E ra um
~ i co proprietário de palacetes e terras.
_-\. falência do b anco arrebatou-lhe todo
o capi~al; agora é coagido a trabalhar
para v1ver .
Felizes aqueles que sabem transmu-
dar em mérito a sua desgraça, receben-
do-a das mãos de Deus e apren dendo á
sua custa a não confiar nos homens, nem
nas riquezas terrenas, mas a depositar
a confiança nos bens eternos do céu 1
Todavia, são bem poucas tais pessôas1
Ouantas, invés, reduzidas à miséria,
não sabem. resignar-se e põem t ermo
aos seus dias com o suicídio, sem. refle-
tir que depois da morte cairão numa
m iséria mil vezes pior.

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CAPITULO II
UM BANCO lNFALIVEL
Ha, porém, um banco infalível, no
qual deveriam pôr seus capitais tqdos
os cristãos, certos de que se locupleta-
rão no tempo e na eternidade, na terra
e no céu. Esse banco conta já milhares
de anos de existência e nunca abriu
falência, e temos firme certeza que ha
de durar até o fim do mundo . As pessoas
sábias e previdentes, que pensa~. seria-
mente nos seus verdadeiros interesses,
-empre confiaram a ele os seus bens
c e' e tiraram riquezas inexauríveis.
· · e.: "T'enda este banco ao seu
e -:-:;i r:-simos lugares de sua
ei · e a mór parte dos livros do Antigo
Te-tamento o exaltam com louvores
rna3"níficos. O livro ·de Tobias parece
escrito unicamente para demonstrar
a sua utilidade, a sua grandeza, as
Yantagens imensas que traz consigo;
e um Anjo descido do céu tece-lhe

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o rn.a1s belo elogio, recomendando-o
a todos.
Jesús Cristo, vindo à terra, falou
muitas vezes de tal banco, altamente
e encomiou e o propôs aos seus sequazes.
Mas, que banco misterioso é esse?
Os nossos corteses leitores já adivinha-
ram; esse banco previlegiado é a umola.
O pr6prio Deus, creador de todas as
coisas, senhor de tddo o ouro do mundo,
é o banqueiro, que não p6de falir,
e é fiel a pagar os juros. Os agentes do
banco s.ã o os pobres, que J;ecebem em.
nome dele. Tu'do quanto damos aos
necessitados para aliviá-los nas suas
misérias, em dinheiro, alimento, ves-
tiário ou abrigo, é como s.e o déssemos
ao mesmo Deus. Os pobres são uma
continuação, uma imagem real, um
retrato pedeito de Jesús sofr~dor, o
qual é honrado e servi,do na pessoa
deles. Nosso Senhor considera feito a
si mesm:o tudo quanto fazemos em favor
dos pobres. Até o copo dágua dado em
seu nome ao sedento terá recompensa.
O Divino Redentor repetiu muitas
vezes esta confortadora doutrina, que
o pobre é seu representante na terra.

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~~a descrição do juizo universal ele
a tornou 6bvia e familiar com um diálo-
go que vale por um tratado e contém
a mais alta filoso,fia.
No dia em que os homens deverem
dar contas das riquezas que Deus
lhes colocou nas mãos, Ele dirá com
ar de júbilo aos eleitos:- «Vinde,
benditos de meu Pai, vinde possuir
o reino que vos está preparado desde
o início dos tempos. Pois que, eu tive
fome e v6s me déstes de comer; eu tive
sêde e v6s me déstes de beber; andava
eregrino e me déstes pousada; estava
- u e me déstes de vestir; estava enfermo
e m e visit astes; estava preso e me con-
:o:astes ·~ . Admirados de tal modo de
: alar, dirão os justos:- «Quando vos
-imos faminto, sedento, p eregrino, nu,
::nferrn.o e preso, e fomos em vosso so-
-~rro? E resporiderá Jesús:- «Tudo
que tendes feito aos pobres, eu o con-
- aero feito á minha pessoa ».
\~oltando-se depois para os máus, os
_ probará por terem-no desprezado nos
· : es, afirmando que todas as vezes
e negaram uma esmola aos necessi-
o_, fizeram uma injúria a Ele.
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Os pob~:es são, pois, os agentes do
banco divino, que recebem os capitais,
em nome de Deus; e o que depusermos
em suas maos - sera, en t regue a Jesus
,
Cristo, que nos recompensará nesta
vida e na outra. O nosso bom Anjo da
Guarda, à guisa de fi;el secretário,
toma nota das esmolas e das obras de
caridade que fazemos.
Ora, se esta é a verdade, porque não
pomos os nossos capitais ~esse banco?
Deus, que é o banqu.eiro, p6de talvez
falir? Ele que é o senhor do mundo, que
depositou o ouro e os diamantes nas
entranhas das rochas e no seio dos
montes, p6de talvez tornar-se pobre
e nos arrastar à miséria, cbmo fazem
os banqueiros deste mundo? Não. Ele
é infalível e nos enriquecerá no tempo
e na eterni'dade.

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CAPITULO III

JUROS VANTAJOSOS NESTA


VIDA E A GLORIA ETERNA-
NA OUTRA
O banco de que falamos, não abriu
falência, nem abrirá jamais; não s6,
m as também é o mais vantajoso, pois
multiplica os capitais em pouco tempo.
Os bancos terrenos dão ordinariamente
inco ou seis por cento de juros; mas
o divino banco da esmola oferece
ada menos que o cêntuplo nesta vida,
- • o p enhor, e depois, na outra, as
"q eza do céu, tesouros que não
........,,..,.,.,,., .:e roubados pelos ladr ões, nem
_ _ e a_ traças; pérolas e dia-
, - A
.::-- s que tormarao a nossa coroa
ara - empre. Não é exagêro para en-
- andecer a beleza e utilidade da esmo-
- , mas a pura realid~de, promessa
m al de Jesús Cristo; de fato, lemos
o E Yangelho (S. Marcos X, 30): «Quem
andonar as suas coisas por amor de
i , diz Ele, receberá centié.J tantum,
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nunc in lémpore hoc, et in. .taéculo "futu-
ro, flitam adernam ». Receberá o cên-
tuplo das bênçãos que Deus enviará
a' sua pessoa,
A
a seus
1 b ens, a seus nego-
I

cios; o cêntuplo na paz do coração;


o cêntuplo na conc6rdia da família;
o cêntuplo nas graças espirituais na
vida e na morte. E não é s6: os juros
do divino banco da esmola vão além
do tó.rn.ulo e obtem-nos lá no céu
uma gl6ria eterna, uma corôa imarces-
cível, um trono firme. Este banco,
fundado por Deus no tempo, é desti-
nado principalmente a enriquecer-nos
de riquezas imortais, que são as ver-
dadeiras riquezas, as ó.nicas que mere-
cem ser amadas e procuradas pelo
homem, pois não nos podem ser rou-
badas.
O Profeta-rei cantava na harpa as
alegrias inefáveis da esmola e dizia
no salmo quarenta: - «Feliz aquele
que vem em auxílio do pobre e do mí-
sero; o Senhor defendê-lo-á na hora
da tribulação, conservá-lo-á ileso, dar-
lhe-á a vida de sua graça, torná-lo-á
feliz na terra e não o entregará nas
mãos de seus inimigos ».
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A magnitude dos lucros prometidos
não deve causar maravilha. Nosso
Senhor é u~ banqueiro rÍquíssimo
e embora dê muito e enriqueça os
homens, nunca empobrece. Os seus
haveres são infinitos e não ficam dimi-
nuídos, como o mar que não se esvasia
quando os homens lhe tiram as águas.
T odos, os ricos principalmente, deve-
riam pensar na prodigiosa fecundidade
do celestial banco da esmola e 11'de pôr
os seus capitais. Porventura nã o é me-
lhor receber c,e m por um, que seis por
cento? Não é melhor ficar rico no
tempo e na eternidade, do que enrique-
er-se somente cá na terra? Pondes
o:. vossos capitais nos bancos da terra
e os deixareis quando tiverdes de deixar
a terra. Se, invés, colocais o dinheiro
no banco da esmola, depois de terdes
:::ozado juros centuplicados nesta vida,
.evá-lo-eis convosco e sereis ricos por
:oda a eternidade. E' horripilante pensar
a um avaro que passou a v~da ajuntando
'inheiro, confian'ào seus bens ora a este,
;:a àquele banco, sem socorrer os
obres, sem enxugar uma lágrima, sem
... esalterar a fome a um infeliz, alimen-

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tando, quiçá, galgos ou cavalos de raça,
para fazer bela figura diante dos ho-
mens. Ei-lo agora esten.dido no leito
de morte, e em breve deve deixar tudo
e baixar á sepultura, sem poder levar
nem um cei til.
Por outro lado, como não deve
consolar o rico no ponto de morte o
pensamento de ter socorrido generosa-
mente os pobres1 Suas riquezas ele as
achará na outra vida convertidas em
méritos e gl6ria eterna e morre conso-
lado com a esperança do céu.
Procuremos, pois, acertar na escolha
do banco e dêmos preferência ao divino
banco da caridade, pondo nele os
nossos capitais, porque apresenta tais
garantias, que torna-se impossível uma
bancarrota, e porque dá rendas visto-
sas. Destarte evitaremos a triste sorte
do rico epulão e daqueloutro i~eliz
que, depois de ter enchido os celeiros
para gozar da vida, foi logo chamado
ao outro mundo e obrigado a deixar
tudo.
Não esqueçamos a promessa do Re-
dentor: «Dai e vos será dado; e derra-
m.ar-vos-ão no seio uma bôa medida,

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cheia, e recalcada, e acogulada;
ue com aquela mesma medida
que tiverdes medido, se vos há
_ ~~ edir a v6s » . (S. Lucas, VI, 38).
_-a vida dos santos vemos confirmada
.etribuição do. cem por um. Quanto
--ais davam, ·mais recebiam .

S. João, Patriarca de Alexandria,


~ · chamado o Esmoler por causa das
undantes e continuadas esmolas que
:-tribuia, Ele confessou t er-lhe Deus
do a correspondência fiel do cêntu-
o por um. Jovem de quinze anos,
endo dado um manto a um pobre,
- mesmo dia foi-lhe entregue o di-
:.eiro no seu valor centuplicado.
De outra feita, ordenou ao seu esmo-
er que desembolsasse quinze escudos
· os désse a um pobre forasteiro espolia-
d o pelos ladrões; ao mordomo pareceu
d emasiada aquela soma e deu apenas
cinco. No mesmo dia uma rica senhora
m andou quinhentos escudos para os
seus pobres. O santo, que j á se habituá-
r a a receber cem por um, e vendo q ue
isto agora não se veri.ficára, suspeitou

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do mordomo, e procurou saber como
este cumprira a ordem recebi'da; confes-
sou sem arnbages, que tinha dado
cinco escudos somente. Foi o santo
agradecer á piedosa senhora, e qual
não foi a sua admiração ao saber que
ela determinára mandar-lhe mil e qui-
nhentos escudos e ao da r a ordem ao
seu caixa, errára o número, notando
s6 quinhentos.
S. João via a J esús Cristo na pessôa
dos pobres e porisso os chamava seus
senhores. Enquanto, certo dia, um dos
pobres por ele socorrido se desabafava
nos mais ternos afetos de reconheci-
mento, o santo Bispo\ lançando-se a
seus pés, o interromp e com estas belas
palavras: «Meu caro irmão, eu ainda
nã o derramei o meu sangue por ti,
corno fez J esús Cristo pela minha salva-
ção e como está obrigado a fazer, se
preciso fôr, um Pastor fiel » .

Reproduzo da vida de S. José Cotto-


lengo o fato seguint.~:
Quando lhe pediram em Utelle, que
mandasse algumas Irmãs para atende-

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rem ao hospital e abrirem. um educan-
dário, notou qrle não s6 não tinha
dinheiro para fornecer o necessário
ás religiosas, mas nem ainda um ceitil
para a viag~m.. Confiando na Divina
Providência, sái trapquilo de casa e na
rua Milão dá com o senhor Henry, seu
conhecido e amigo ~
O Santo foi-lhe logo dizendo:
-Devo ir a Utelle afim de engtr
uma casa das nossas Irmãs e não
tenho no bols.o nem siquer um centési-
:no. Ouererieis emprestar-me mil liras?
- Dar~i com muito gosto, respon-
eu o amtgo.
Horas ap6s, o Santo tinha a quantia
ecessária; ao recebê-la, pronunciou
infaJível Deo gratiaJ'; e sorrindo
--escentou:
- Recordai-vos caro Henry, cm-
nta por um .
.1.enry não compreendeu.
ottolengo ao se despedir disse mais
a yez.
- Recordai-vos, Henry, cincoenta

a -aram-se meses. Um belo dia,


recebia cincoenta mil liras por

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um bilhete de loteria que lhe custára
mil. S6 então compreendeu que Deus~
para premiar a sua caridàde, o recom-
pensava precisamente como lhe fera
p redito.

S. Vicente de Paulo, paupérrimo


como era, chegou a distribuir em esmo-
las aos pobres milhões de francos.
E donde tirava tanto dinheiro? Deus
dera-lhe o cêntuplo por um e, mais
ainda, inspirava aos ricos a proverem-
no de dinheiro.

Alfredo o Grande, rei da Inglaterra~


destronado pelos dinamarqueses e obri-
gado em tempo de inverno a homiziar-se
no castelo de Atelney, por pouco morria
de fome.
Um dia, se lhe apresentou um ni.en-
digo pedindo comida; mandou que
lhe déssern alguma coisa. Sua mãe,
porém, advertiu que em casa s6 havia
um pão. Alfredo roga á sua mãe que
dê metade ao pobre, e tenha cortfiança
naquele Senhor que saciára cinco mil
pess8as com cinco pães e dois peixes
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e prometera o cêntuplo por um do
'iu e fosse dado por seu amor. A fé
'.i.Ya do monarca foi logo recompensada
a sua caridade heroica atraiu as
êncãos do céu sobre si e sua família.
D nÍuanto, Deus lhe conce,tleu vit6ria
_ ;.rpleta sobre os dinamarqueses e o
.::-a eleceu no trono.

-_~as, objetará alguém, eu dou


:mola e não acho que Deus
por um.
-·- vos engana,is, respondo; a
~ de Jesús Cristo não p6de
=- S!len te q~e Deus não manda
-=z anJo a pagar-vos cem
- E e ....-o-lo dá abençoando
.:,...__·--'-'"" ~e...-do prosperar os
_ - - ::: :au.de, e o que é
-:- _~-=-e. -ormando· vos de gra-
:_-. -ais. "Cma s6 graça, embora
~- = vale mais que todo o ouro do

-~. n ão obstante, virmos pesso·a s


e:es visitadas pela tribulação, é
_·· e assim exige a salvação de sua

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Quereis um exemplo? Lêde:
Santa Teresa de Jesús recebia abun-
dantes esmolas de um negociante que
se recomendava sempre ás suas orações;
uma vez a Santa lhe falou assim:
- «Tenho rogado muito por vós e foi-
me revelado que o vosso nome está
escrito no livro da vida pela generosa
carida,Pe que haveis usado para comi-
go; mas, no entanto, é mister que passeis
antes por muitas provações » .
Tal aconteceu; uma tempestade pôs
a pique as náus carregadas de merca-
doria sua. Abriu falência. Cientes da
desgraça, os seus amigos lhe subminis-
traram o necessário para continuar
o negócio. Novo desastre e nova falên-
cia. Pelo que ele, espontaneamente,
fechou-se numa prisão. Seus credores,
conhecendo a magnanimidade de seu
coração, libertaram-no.
Reduzido á miséria, deu-se todo ao
serviço divino e ás obras de carida\de
e morreu santam.ente, cheio de méritos.
Ora, pergunto eu, deixou talvez de se
cumprir a palavra do Divino Redentor
neste negociante esmoler?- Absolu-
tamente. Ele recebeu cem por um nas
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d e, graças que lhe deram ampla ocasião
e conseguir méritos, na paciência
e Deus lhe concedeu, nas bôas obras
raticou. Do céu deve certamente
dízer a caridade para com Santa
-a e aquelas desventuras, que, su-
a por amor de Deus, lhe fruiram
I

· ·e· e tiPo prosperida,de, apega-


oração ás coisas desta terra
condenaria.
is, esmola, confiados que
~ pensará largamen~ n~s­
ra e procuremos imitar
exemplos que os santos

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CAPITULO IV

O OURO E' TERRA BRILHANTE


Afinal de contas, que é esse ouro ao
qual tanto nos afeiçoamos, ao ponto
de nos esquecermos das necessidades
da alma? E' um pouco de terra bri-
lhante, lodo reluzente, um metal que
Deus escondeu no seio das rochas e nas
entranhas dos montes, e que os rios
levam ao mar com a areia e os cascalhos.
O ouro não serve para alimento, nem
remédio; e para n6s são mais uteis e
preciosos o trigo da campina, a lenha
do bosque, o carvão mineral.
Referem as fábulas que um rei da
antiguidade andava tão apaixona'do
pelo ouro que pediu com insistência
aos deuses lhe concedessem o favor de
transformar em ouro tudo o que tocasse.
Por desgraça foi ouvido. Ebrio de
alegria deu ordens para que se sacrifi-
casse em agradecimento aos deuses.
A sua alegria, porém., foi breve e con-
verteu-se para logo em amargo desenga-
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em prdfundo desespero. Ele trans-


-;nara em ouro brilhante o paço e os
v,·eis; tudo em. roda dele luzia daquele
. etal que tanto amava. Chegou a hora
a refeição e ptls-se á mesa. Apenas
cava uma iguaria ou bebida, elas se
- nsformavam em ouro, pelo que não
-·de mais comer, nem beber . S6 então
';_: em si o infeliz rei e maldisse seu
-or desordenado ao vil metal; mas,
tarde.Morreri dias ap6s, consumido
t fome e pela sêde.
onta-se também de um avaro que
. tára muito dinheiro, e de medo
~adrões tinha-o escondido no fundo
subterrâneo fechado por uma
-: de porta de ferro. Todo dia, ele
-:a sozinho para ver e contar seu
- . lev ando sempre nov o dinheiro,
· ia ganhar, trabalhando assídua-
- e comendo mal. Entrando no
_"Taneo tinha sempre o cuidado de
.-: a chave da fechadura e levá-la
-: igo, porque a porta, uma vez
~h ada, não se abria senão com a chave.
:..·m dia, porém., que tinha ganho mais
J ue de costume, ébrio de alegria, abriu
a porta e a fechou para sempre. Contou
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o seu tesouro, como soia fazer, ajuntou
os novos ganhos e, ao ver tanto dinhei-
ro, exultou de alegria, julgando-se o mais
feliz dos mortais. 1\'las, ail Dirigindo-se
para a porta, percebe que a chave
foi esquecida fóra e que a sai'da está
irrevogavelmente fechada. Que fazer?
Pedir socorro? O subterraneo é fundo
e isolado e nenhuma voz póde ser
ouvida. Arrombar a porta? E' de
ferro, e dez homens o não fariam. O
in.feliz avarento cavára a sua sepultura
e nela se fechára para sempre. Teria
com certeza dado todo aquele ouro
por uma fatia de pão ou para ser posto
em liberdade; mas só ele conhecia o
esconderijo de sua riqueza.
Depois de alguns dias os vizinhos,
terido ido á procura dele, revistaram
toda a casa, desceram ao sub·t erraneo
e o encontraram cadaver com. sinais de
desespêro no rosto e com os mãos aper-
tando m.oedas de ouro ...
Portanto, o ouro considerado em si
mesmo não tem nenhuma utilidade e
deixar-vos-ia perecer de fome. Se o
considerarmos como metal, não é cer-
tamente o mais util, pois o homem en-
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::::ra mais Yantagens no ferro, no


:-e, no zinco. A única propriedade
e tanto o recomenda é a grande
eabili'dade, pela qual p6'd.e ser redu-
a folhas subtilíssim.as. Porque,
é o ouro tão estimado e procuràdo?
amente porque os homens c'onvie-
~ que se representass:e m os valores
_ ~ sua raridade. Suponhamos que um
· fossem descobertas em. quantidade
-.:>m.esurada camadas de ouro nas en-
::-anhas da terrq; o ouro perderia a cota-
-ão e os homen s iriam procurar outro
bjeto mais raro para significar e repre-
_ent a r os v a lores das coisas.
Ouando os espanh6is se atiraram
-obre o Novo Mundo, viram com es-
panto que os selvagens não apreciavam
o ouro, a prata, as p édras p reciosas,
porque os havia em abastança. Qu ando,
porém, os amencanoS-viram que 05 eu-
ropeus iam com avidez á cata de ouro e
expunham-se a perigos e fadigas afim
de o conseguir, também eles começaram
a julgá-lo coisa preciosa. Antes da
1
; descoberta do novo continente o ou ro
t inha m ais v alor, porque mais escasso;

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-28-
ao depois, tornou-se menos precioso
pelas muitas minas descobertas.
Eis, pois, o motivo porque tanto
amamos o ouro: representa os valores
e com ele pddemos procurar comodida-
des da vida e os prazeres terrenos; mas
é sempre . terra, lodo.
Como são estultos os avaros que
amam o dinheiro e ajuntam ouro uni-
camente pelo prazer de vê-lo em suas
mãos, fazendo grandes penitências e
mortificações para economizar.
Não são menos estultos aqueles ho-
mens que amam desordenadamente o
ouro, para viver vida cômoda. Mas,
a vida do homem é tão breve, e o que
não vale para a vida futura é vaidade
e estultícia. Prudentes são os que com
o ouro e as riquezas terrenas compram,
por meio da esmola, os bens eternos do
céu. O ouro é terra brilhante, vil metal;
mas Deus em sua bondade permite-nos
trocá-lo com as riquezas imperecíveis
do paraíso. Pensemos seriamente nisto;
invés de amar um pouco de terra visto-
sa, sirvamo-nos dela para merecer gra-
ças e favores que nos levam á santidade.
Os pobres devem ser os vossos maiores

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-29-
amigos, porquanto serão os vossos
defensores no dia do juizo e perorarão
a vossa causa, apresentando á justiça
divina o bem que lhes temos feito.
~'las, ai de n6s se lhes fechamos a porta
e lhes negamos auxilio1 Teremos ames-
ma sorte do rico epulão e pagaremos
no inferno a truculência usada pa ra
com os nossos irmãos.

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CAPITULO V
A AVAREZA E' UM VICIO
REPUGNANTE

A avareza é um dos vícios mais


repugnantes e dos que mais deshonram
o homem. O avarento é odiado por
todos, e na sociedade é tido como uma
sanguessuga. Quando o amor o torna
egoista, o embrutece, fá-lo incapaz de
pensamentos nobres e elevados, curva-o
para a terra, fá-lo esquecer o céu. Ele
torna-se cruel para com o pr6ximo,
espezinha as leis de justiça e da carida-
de, oprime os pobres e s6 aspira enriqu'e-
cer-se de qualquer maneira, justa ou
injusta. As moedas que ajunta na
bolsa são muitas vezes o preço das
lágrimas e das privações dos infelizes.
Conta-se que S. Francisco de Paula
urna ocasião, partiu uma moeda e
encontrou dentro o sangue do pobre
que
, o avarento barbaramente concu -
cara.

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-31-
não só é cruel para com o~
e.e o e, t am b,em consigo
. mesm o;
- alha de manhã á noite, come mal,
ste-se pobremente, priva-se do con-
: ~ to par a economizél:r... Quanto sa-
_:ifício ... para não gastar1 Muita vez
avarento jejua como um anacoreta,
este-se como um pedinte, suporta o
::io e o calor com uma constância
_ alável á dos santos mais austeros.
~ ouro é a sua divindade, á qual sa-
- ~fica a saude, as comodidades e, ás
~zes, a mesma vida. Viram-se ava-
- tos preferirem a morte a gastarem
heiro com médico e remédios 1
_ p aixão pelo ouro, longe de dimi-
- com a idade, aumenta e~ aproxi-
do-se a hora extrema . em
, que se deve
,
-:donar tu do, mawr e o apego as
_zas . O velho é sempre mais ava-
do que o móço. Oue d8r não há
-ir o avaro ao separar-se de seus
. Que tristeza no dever ditar
ento e pronunciar aquela pala-
ixo ... » 1 Ele bem quisera não

morreram
as mãos nô cofre,
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-32-
como não soubessem separar-se do
dinheiro idolatrado; outros apertavam
convulsivamente ao coração o vil metal
e expiraram naquele ato, furiosos por
não o poderem levar consigo. A morte
de um avarento, odiado em toda a cida-
de por sua paixão repugnante, deu
azo a que Santo Antonio pregasse sobre
a avareza e a necessidade da esmola.
Depois de ter comentado as palavras
do Evangelho, «onde está o tesouro aí
está o coração », afirmou que o coração
do avarento estava dentro do cofre.
Foram os ouvintes á casa do _ defunto~
abriram o cofre e encontraram no
m eio das moedas o coração do avarento.
Quis Deus mostrar com um milagre
quão asquerosa é a avareza, que prende
o homem ao lodo da terra.
Judas é um exemplo terrível, que nos
mostra como o ouro céga. Encarregá-
ra-o J esús de guardar as esmolas para
prover ás necessidades do colégio apos-
t6lico. O mísero deixou-se levar pelo
amor ao dinheiro e acabou ladrão.
Quando Madalena entrou em casa
do fariseu e perfumou com bálsamo
os pés do Divino R~dentor, enxugando-
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-33-

os com as madeixas, o discípulo pre-


varicador lamentou aquele desperdício
de unguento precioso, que, dizia, po-
deria ser vendido e dado aos pobres
o valor. Não era o amor aos pobres
que o fazia falar, mas a avareza aco-
bertada com tal pretexto. Judas queria
ter aquele dinheiro em sua bolsa. Esse
vício abominável levou-o de excesso
em .excesso até vender o seu Mestre.
Bem. sabia que Jesús era Deus, era o
Ylessias, era inocente; presenciára seus
estrondosos milagres e tivera provas
de amor, de predileção. Cegou-o, porém,
a avareza e (ê-lo cometer o maior delito,
ue causa horror e execração em. to-
_os os séculos.
· Quanto me quereis dar, se eu vô-lo
tregar »? perguntava aos p ríncipes
sacerdotes e aos fariseus. Recebeu
nta dinheiros, _guiou os esbirros ao
- rto das Oliveiras e traiu com um
ulo o seu Mestre; mas, depois, foi
.:altado por horríveiS' remorsos. Tives-
ao menos imitado a Pedro na peni-
ia. Pronunciou as palavras de Cairo:
~ minha iniquidade é grande demais
m erecer perdão », e desesperou-se.

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-34-
Atirou longe aquelas moedas infames,
preço do sangue inocente e p&s termo
á sua vida com o suicídio. O triste fim
do ap6stolo traidor previne-nos salu-
tarmente a não nos afeiçoarmos ao
ouro, que cega o homem, levando-o
a deploráveis excessos.
Até os pagãos reconheceram a feal-
dade da avareza e a abjeção daquele
que se deixa seduzir pelo dinheiro.
Virgílio descreve na sua Enei'da os
tristes eíeitos desta paixão e mal;diz
a s,ê de execrável do ouro, causadora
de tantos delitos abomináveis. Séneca
proclama que o homem é superior á
matéria e é talhado para algo de mais
nobre e não deve ser escravo do corpo
e dos bens terrenos.
Veio depois Jesús Cristo que verbe-
rou os ricos avarentos, os quais negam
socorro ao necessitado.
Se nos fosse dado acabar com a avare-
za e fazer reinar na sociedade a caridaP.e
ensinada no Evangelho, a terra muda-
ria de aspeto e tornar-se-ia a imagem
do paraíso, onde todos se amam. Como
eram belos os primeiros tempos do
Cristianismo, quando o supérJfluo era

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entregue ao~ Ap6stolos para ser dis-
tribuido ás viuvas, aos 6rfãos e a todos
os necessitados1 quando a multidão dos
crentes formava ·um s6 coração e uma
s6 alma para amar e servir a Deus1
Pddem aqueles belos tempos voltar e o
meio para isso é a caridade, é a esmola,
é a guerra à avareza e ao egoismo indi-
vidual.

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CAPITULO VI

O PRECEITO DA ESMOLA NO
ANTIGO TESTAMENTO

A oração, o jejum e a esmola foram


sempre consideradas as obras mais
agradaveis a Deus e mais pr6prias
para merecer a sua graça. Por isso é que
a Sagrada Escritura as recomenda
continuamente e no Antigo e no Novo
Testamento.
Deixando agora a oração e o jejum,
para falar da esmola, diremos que na
lei Moisaica os pobres eram tratados
com grande caridade e socorrê-los era
uma obrigação dos Israelitas. Para
ver como Deus ama a classe pobre,
leiamos este versículo do Exddo: «Se
emprestares algum dinheiro ao necessi-
tado do meu pobre pofJo, que mora
contigo, não o apertarás como um
exator, nem o oprimirás com usuras».
(XXII, 24). Ameaça terrível dirige a
quem vilipendia a viuva e o 6rfão: «Não
farás mal algum á viuva nem ao 6rfão.

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-37-

Se v6s os ofenderdes, eles recorrerão a


mim e eu ouvirei os seus clamores; e
o furor se acenderá e vos ferirei com
2. espada e vossas esposas ficarão viuvas
e vossos filhos 6rfãos» . (Exodo XXII,
22).
De sete em sete anos ocorria o ano ·
em que se não semeava e o que os
campos produziam espontaneamente
era dos pobres. «Por seis anos semearás
a tua terra e colherás os frutos. Mas
~o sétimo ano não a cultivarás; deixá-la-
ás descansar para que os pobres do
teu povo achem que comer e o que
!'estar seja para as alimárias do campo;
isto mesmo farás com a tua vinha e com
o teu olivedo». (Exodo, XXIII, 11).
No mesmo ano sabático eram postos
em liberdade os escravos presos por
ausa de dívidas. Os pobres podiam
andar pelos campos e vinhedos a res-
igar as sobras da ceifa e d a vindima,
era severamente proibido aos pro-
T)rietários trilhá-los de qualquer modo:
Ouando cortares a messe de teus
_a-;1.pos, não segarás até a terra tod a
a superfície de teus campos, nem colhe-
rás as espigas que ficarem. Nem na
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-38-
tua vinha colherás o rabisco nem os
bagos que caem; mas deixarás que
apanhem os pobres e forasteiros ». (Leví-
tico XIX, lO). Assim teve origem o pio
costume de se deixar para os pobres
a sexagésima parte da messe, da uva,
de todos os produtos de lavoura. E s_e
o amo esquecianocampo inteiros inaní-
pulos, estes ficavam para os pobres:
«Quando segares a messe no teu campo
e deixares por esquecimento algum
manipulo, não voltes para o levar;
mas deixá-lo-ás tomar ao estrangeiro,
e ao 6rfão, e á viuva, para que o Senhor
teu Deus te abenço'e em todas as obras
das tuas mãos » (Deuteron6mio, XXIV,
19). Era rigorosamente proibida a usura
e havia sérias prescrições afim de que
os credores não pusessem no olho da
rua os que estavam impossibilitados
de pagar.
E para mostrar aos homens como
lhe fosse querida a miseric6rdia, Deus
prescrevera leis de humanidade para
com os animais. Era veda,do açamar
o boi quando debulhava o trigo na
eira, para que pudesse comer e partici-
par dos frutos de seu trabalho.

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r
-39-

O caminheiro podia entrar nos cam-


pos e nos vinhedos e comer frutos ~
fartar-se, quando sentia necessidaue
de se rest a urar. Lemos, com efeito,
no E van gelho que, caminhan do pela
Palestina os Apóstolos com o Divino
Reden tor e sent indo os estímulos da
fome entraram em um campo para
1

colher as espigas com que se alimentar.


Os fariseus os reprovaram, não por
t erem tomado bens alheios, pois era
lícito em càso de necessidade, mas
porque era sábado; como se em tal
dia não fosse lícito comer e se devesse
morrer de fome.
Santo Job, do leito de suas dôres,
para defender a própria inocência con-
tra seus caluniadores, protestou ter
sempre repartido o pão com. o pobre, ter
hospeda do o p eregrino, ter sido luz
ao cégo, arrimo ao coxo, ter defendido
o órfão e a vn:<va contra os seus opresso-
res. Ele praticou todas as obras de
misericórdia e era saudàdo o pai dos
pobres. Desde a infancia teve um cora-
ção aberto á compaixão.
Apraz-m.e citar por inteiro as suas
belas palavras: «Ouem. me via, falava

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-40-
bem de mim, porque eu livrava o
pobre que gemia e o 6rfão sem. defesa.
Bendizia-me todo aquele que perigava,
e ao coração da viuva eu levava
conforto. Revesti-me de justiça, e ador-
nei-m.e da minha equidade, como de
manto e diadema. Fui luz ao cego
e arrimo ao coxo. Era o pai dos pobres;
e das coisas que desconhecia fazia dili-
gentíssima inquisição. Arrancava a más-
cara aos máus, e arrebatava-lhes dos
dentes a presa. (XXIX). Chorava as
aflições dos outros e minha alma era
compassiva com o pobre». (XXX, 25).
E rn.ais ad.eante acrescenta: «Se neguei
aos pobres o que me pediam e se iludi
a esperança da viuva; se sozinho comi
o pão e não fiz participante ao 6rfão
«porisso que desde a iníancia cresceu
comigo a miseric6:cdia e comigo nasceu»;
se fiz pouco caso do que perecia, porque
não tinha com. que se cobrir, e o pobre
que estava nu, se me não bendisse ele,
e se não foi aquecido com lã de minhas
ovelhas; se levantei a mão contra o
6rfão, mesmo quando me via superior
no tribunal, despregue-se o meu ombro
com sua junta e se despedace o meu

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-41-

braço com os seus ossos. Pois que temi


sempre a Deus, e a sua majestade podia
eu suster. Se o meu poder consistisse
no ouro e ao ouro eu disse - «Confio
em ti»; se a minha consolação repousa
nas minhas muitas riquezas e nas aqui-
sições feitas com minhas mãos ... , se
a minha terra grita contra mim e se
com ela choram os sulcos, se sem pagar-
lhe o tributo, comi de seus frutos e afligi
a alma dos que a cultivam: nasçam
para mim abrolhos em vez de trigo
e espinhos em lugar de cevada~ .
(XXXI) Felizes os ricos que podem
dizer o ni.esmo e imitam a Job na
prodigalidade para com os pobres1
Era costume entre os hebreus, nos
dias de solenidade e de alegria, fazer <

os pobres participar de sua mesa,


afim de que a alegria fosse geral, como
se refere que acontec~u na festa estabe-
lecida por Mardoqueu em memória
da libertação do exddio decretado por
Aman, e nas solenidades celebradas
por Esdras. E o vate italiano, Alexan-
dre Manzoni, recordando esse piedoso
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- 42 -
costume, convida os cristãos a fazerem
o mesmo n o dia de Páscoa. (I)
Nos salmos, David. recomenda a es-
mola alegando a sua utilidade e as
vantagens que traz ao homem .
Já citamos as palavras do salmo 40:
B eatu.J qui intétlegit .Juper egén um
et páuperem . No sa lmo 111 descreve
a beatitude do homem que teme o Se-
nhor e que é misericordioso: «Feliz o
hom em que é compassivo e dá a em-
préstim o. A rnancheias d á a os pobres;
a sua justiça é per.e ne, a sua galharda
virtude será exaltada na gl6ria».
No salmo 81 exorta os juizes a fa-
zerem justiça ao pobre, dizendo: «At é
quando fareis juizos injustos e fereis
respeitos humanos ? Fazei j ustiça ao
pobre e ao 6rfão; d ai razão ao pequeno
e ao pobre. Defendei o pobre e arre-
batai o mendigo das mãos do pecador» .
Todo livro da Sagrada EscrihtTa
(l ) Sia frugal dei ricco il pasto:
ogni rnensa abbia i suoi doni:
e il tesor negato al fasto
di superbe irnbandigioni
scorra amico ali' urnil tetto,
facci a il desco poveretto
piu ridente oggi apparir.

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I
-43-
inculca o dever da esmola, repetindo-o
_ob mil conceitos, para gravá-lo na
mente . Ouçamos os Provérbios: «Não
te desamparem a miseric6rdia e a ver-
dade; põe-nas á roda de teu pescoço,
e grava-as nas tábuas do teu coração»
'III, 3). «Honra o Senhor com as
tuas faculdades e dá-lhe as primícias
de todos os teus frutos. E os teus celei-
ros se encherão de quanto podes dese-
jar e em tuas adegas haverá vinho
em barda ». (lU, 9 e 10).
Deus recompensa sempre tão fiel-
mente a esmola feita ao culto divino
e aos pob,res, que entre os hebreus
corria este provérbio : o dízimo enri-
quece e é manancial de bênção.
«Não impeças a quem pbde fazer
o bem, e se poderes, também tu -pra-
tica-o. Não digas a teu amigo:- Vái e
volta; amanhã dar-te-ei; -quando p6-
des dar logo». (lU, 28). «A clemência
é o caminho da vida». (XI, 19). «A alma
que faz bem será farta; e o que embria-
ga, também ele mesmo será embriaga-
do». (XI, 25).
«Peca quem despreza o seu pr6ximo
e quem se compadece do. pobre será

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44-
feliz. Ouem crê no Senhor ama a
miseric6rdia. Estão no erro os que
fazem o mal; a misericórdia e a verdé~de
preparam. os bens». (XIV, 21 e seg.).
« Ou em. oprime o mendigo injuria ao
seu Creador; agrada-lhe, porém, o que
se compadece do pobre». (XIV, 31).
«Ouem fecha os ouvidos aos gritos dos
pobres, gritará também ele sem ser
ouvido» . (XXI, 13). «Quem exercita
a misericórdia, achará vida, justiça
e glória». (XXI, 21). «Quem é inclinado
á compaixão, será abençoado; porque
do seu pão se servirá o pobre. Ouem
usa de liberdade, alcançará vitór'a
e honra; e ele cativa o coração dos que
os recebem~. (XXII, 9). «Quem dá
ao pobre jamais estará em necessidade;
mas quem despreza aquele que pede,
sofrerá privações». ( rxvn, 27). No
descrever a mulher forte, o Sábio dá-lhe
o atributo da misericórdia para com o
próximo: «Abre as mãos aos míseros
e estende as palmas aos pob rezinhos ~.
(XXI, 20).
O Eclesiastes convida a distribuir
o pão aos necessita.dos, fi gurados na
água que passa, prometendo que recebe-

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- 45 --

rá o prêmio na outra vida. «Lança o


teu pão sobre as águas que passam,
porque depois de muito tempo, o
acharás», (XI, 1).
O Eclesiástico se compraz em incul-
car a caridade para com os pobres :
<Filho, não defraudes a esmola do
pobre, e não apartes dele os teus olhos.
:~ão desprezes a alma esfaimada, e não
exacerbes o pobre na sua necessidade.
~ão aflijas o coração do pobre e não
defiras o auxílio a quem está angustiado.
~ão rejeites a petição do atribulado
e não voltes a face ao pobre. Não
apartes os teus olhos do necessitado,
irritando-oi não dês ocasião aos que te
pêdem de te amaldiçoar por detrás,
porque será atendida a imprecação
do que arn.aldiçôa na amargura de sua
alma e atendê-lo-á aquele que o creou».
(Cap. IV). «Oferecerás ao Senhor as
espáduas das tuas vítimas e o sacriflcio
de santificaçãc- e as primícias das coisas
santasj e estende ao pobre a tua mão,
afim de que seja perfeita a tua propicia-
ção e a tua bênção~. (VII, 35). «Faze
o bem ao teu amigo, antes de tua
morte e estende a mão liberal ao pobre,

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46-
segundo as tuas posses». (XIV, 13).
«Emprega o teu tesouro em. cumprir
os preceitos do Altíssimo e isto te aproM
veitará mais que o ouro. Deita a esmola
no seio do pobre e ele rogará por ti
contra toda espécie de males. Ela
combaterá o teu inimigo muito melhor
que a lança e o escudo dum campeão».
(XXI V, 14). -
Os Profetas levantam-se para estigma-
tizar as usuras e a opressão dos pobres,
inculcando com palavras enérgicas a
esmola. I saias exclama: «Reparte com
o faminto o teu pão; e os pobres e os
peregrinos leva-os para tua casa; se
vires um nu, veste-o e não desdenhes
a tua pr6pria carne. Então, como ap6s
a aurora, despontará a tua luz e logo
virá a tua salvação; a tua justiça te
precederá e a gl6ria do Senhor te
acolherá,. Então tu invocarás o Senhor
e Ele te ouvirá; levantarás a tua voz
e Ele te dirá: Eis-me. Ouando abrires as ·
tuas entranhas ao faminto e consolares
a alma aflita, nascer-te-á nas trevas
a luz e as tuas trevas se mudarão em
meio-dia. O Senhor dar-te-á sempre
repOU$0 e. a tua alma encherá de esplen-

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dores e confortará os teus ossos e tu
serás como um jardim regado e como
uma fonte á qual não vem a faltar
água.» (Cap. LVIII).
A lsaias fazem eco Jeremias e Eze-
quiel. Daniel, depois de ter feito ciente a
Nabucodonosor do próximo castigo do
céu, o exorta a resgatar com esmolas
os seus pecados e iniquidades, dando-
lhe esperança de perdão .
.lVliqueas diz da parte do Senhor:
,<Eu te ensinarei, ó homem, o que é bom
e o que o Senhor deseja de ti, isto é,
que sejas criterioso, ames a misericór-
dia e andes com solicitude diante de
Deus». (VI, 8).
Zacarias escreve: «Estas coisas diz
o Senhor Deus dos exércitos: Julgai
segundo a verdade e fazei frequentes
obras de misericórdia aos vossos pró-
ximos. E guardai-vos de oprimir a
viuva, o órfão, o forasteiro e o pobre,
e ninguém frame no seu coração contra
o próximo». (VII, 9 e 10).
Como é que os judeus esqueceram
tantos ensinos? Hoje, o nome de judeu,
é sinônimo de usurário, fona, opressor
dos pobres; e todavia eles leern., mes-
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mo presentemente, com grande atenção
e constancia, a Sagrada Escritura e
os trechos em que Deus recomenda
a esmola. N6s, porém, sequazes de
Jesús Cristo, sejamos coerentes conosco
. mesmos e pratiquemos os ensinos salu-
tares dos Livros Santos, fazendo os
pobres participantes do bem que Deus
nos tem dado.

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CAPITULO VII
BELA DOUTRINA DO LIVRO DE
TOBIAS
O livro de Tobias é o livro da esmola.
Deus não se contentou de inculcar essa
virtude em todas as obras do Antigo
e Novo Testamento; quis inspirar um
tratado especial, que explicasse a bele-
za, a eficácia e os frutos salutares da
caridade para com os pobres, propon-
do um exemplo luminoso de pessoa
esmoler no santo velho Tobias.
Nasceu Tobias na cidade de Cades
de Neftali, no reino de Israel; e desde
menino observou a lei de Moisés,
agindo com c.ritério superior á sua
idade. Corriam, então, dias tristes para
a religião; e enquanto todos adornavam
os vitelos de ouro levàntados pelo Ímpio
Jeroboão, ele soube conservar-se puro
da idolatria, indo a Jerusalem. para
adorar a Deus no templo, oferecendo
as suas prímicias e os seus dízimos.

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-50-
Mas a virtude que nele brilhou e o
distinguiu, foi a caridade para com os
pobres, aos quais dava o supérfluo.
Levado prisioneiro para Ninive, com
os de sua tribu, por Salmanassar, rei
dos Assir~os, redobrou a. esmola para
com seus Irmãos que gem.1am na esc r a-
vidão. Deus fez que ele caisse nas graças
do monarca, o qual o elevou ao cargo
honorífico de Provedor régio. Tobias
serviu-se da liberdade e da influência
que tinha na côrte para auxiliar os seus
concidadãos, visitando-os e dando-lhes
auxílio material e espiritual.
Vieram, porém, os dias de prova.
Morto Salmanassar, sucedeu-lhe no
trono o filho Senaqueribe, o qual se
mostrou cruel para com os hebreus,
fazendo matar a muitos, máxime depois
que perdeu seu numeroso exército, ao
pé das muralhas de Jerusalem, por
obra do Anjo exterminador. Tobias
ia á procura de cadáveres para sepultar,
de nus para vestir, de famintos para
desalterar, de aflitos para consolar,
multiplicando-se a si mesmo para fazer
frente a tantas necessidades. Disso
teve conheciménto o bárbaro impera-
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-51-
::, que o condenou á morte e á confis-
ação dos seus bens. Tobias teve tempo
'e fugir e de se homiziar, até que o
monarca foi morto por seus pr6prios
ilhos; foi quando readguiriu os bens
e o primiti· o cargo.
Deus, porém, o reserva a outras
provas dolorosas para o purificar. O
santo continuava a sepultar os seus
irmãos mortos, deixando, ás vezes, a
refeição para fazer aquela obra de
caridade.
Cançado, um dia, deitou-se á sombra
de um muro, onde as andorinhas nidi-
ficavam, e alí adormeceu; durante o
sono caiu-lhe nos olhos um pouco de
cisco do ninho daquelas avezinhas, e
ficou cego. Naquela desventura ele
manifestou heroica paciência e inteira
resignação á ' vontade de Deus seme-
lhantes à de santo Job, ás imprecações
dos parentes e amigos pela sua caridade,
ele opôs a esperança da vida futura.
A estulta mulher chegou até a expro-
bar-lhe as esmolas, dizendo: «Claro
está que se des'f ez em fumaça a tua
esperança e agora se vê o fruto das
tuas esmolas». Então, Tobias, vendo

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que os hon1.ens o àfligiam tanto, lan-
çou-se nos braços da bondade divina;
e pediu-lhe que o tirasse do mundo.
Supondo que Deus se dignára escutar
a sua prece, chamou o filho à sua cabe-
ceira e deu-lhe as derradeiras lembran-
ças, que são o compêndio da mais santa
e perfeita moral. E n tre outras coisas
recomenda-lhe insistentemente a sua
virtude predileta, a esmola.
«Faze esmola dos teus bens e não
voltes o teu rosto a. nenhum pobre,
porque desta sorte sucederá que tam-
bém não se afaste de ti a face do Senhor.
Da maneira que poderes, sê caritativo.
Se tiveres muito, dá muito; se tiveres
pouco, procura dar de boamente tam,-
bém esse pouco; porque assim ente-
souras uma grande recompensa para o
dia da necessidade; porque a esmola
livra de todo o pecado e da morte;
e não deixará cair a alma nas trevas .
A esmola servirá duma grande con-
fiança diante do sumo Deus, para
todos os que a fazem». (Cap. IV).
Parece que se não possa fazer maior
elogio da esmola. Depois de ter-lhe
dado estes e outros santos conselhos,

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53-
manda-o cobrar uma quan6a em-
restada ao primo Gabei, na cidade
Rages. Enquanto o filho procura
um companheiro de viagem, Deus,
orno prêmio da caridade daquela santa
am.ilia, envia o Arcanjo Rafael, em
f6rma humana, para o acomp.::mhar.
E' sabido tudo o quanto aconteceu
no caminho e o que fez o guia celeste.
A' s margens do Tibre fá-lo tomar· um
enorme peixe para conservar algumas
partes dele, dá-lhe por e.sposa a prima
Sara, filha de Raquel; faz que receba
o dinheiro procurado e o reconduz ileso
aos seus genitores, que já temiam. al-
guma desgraça pela demora.
O fel do peixe serve para restituir
a vista ao velho Tobias e a família está
no auge do contentamento. S6 então
é que o Arcanjo Rafael dá-se a conhe-
cer; e revela a Tobias que Deus ope-
rou todas aquelas maravilhas come
prêmio de sua caridade e exalta a esme-
la e as obras de miseric6rdia.
«Bôa é, disse, a oração com o jejum
e a esmola; melhor que amontoar te-
souros; pois que a esmola livra da
morte e limpa os pecados e faz achar a

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-54-
misericórdia e vida eterna. Portanto,
eu vos digo a verdade e não vos deixa-
rei latente este mistério: - Ouando
fazias oração, com lágrimas, quando
deixavas a tua refeição e de dia escon-
dias os mortos en tua casa e de noite
os sepultavas, eu te acompanhava nas
tuas ações. E porque Deus muito te
amava, fez-se mister que a tentação
te experimentasse». (Cap. XII).
Essas palavras do Arcanjo merecem
ser atentamente meditadas, porque fe-
cundas de importantes ensinamentos.
Ele proclama a santidade e a éficá-
cia da oração unida ao jejum e â es-
mola, profligando o hebetismo dos que
s6 pensam em ajuntar tesouros para si,
fechando a p orta ao pobre faminto.
O jejum e a esmola são as duas asas
com as _quais a oração se eleva até
ao céu. A caridade para com. o pr6ximo
livra-nos da morte, rem.ite a pena tem-
poral devida aos nossos pecados, move
Deu& á miseric6rdia e faz-nos conseguir
as alegrias do paraísq.
OuarrP.o Tobias sepultava os cadáve-
res, com risco d a pr6pria vida, e espa-
lhava o perfurr.c de sua caridade para
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'
-55 -
,:om os irmãos que gemiam sob o peso do
_ativeiro e eram oprimidos pela tira-
_ia assíria, o Anjo do Senhor recolhia
úS bagas de suor derramado e numerava
odos os seus atos de piedade para ofere-
-:ê-los a Deus, em odor de su avidade.
Como foi grande o poder da e:smola1
ez descer do céu um Anjo para acom-
anhar o filho na viagem e para operar
·odos os prodígios de que se admirarão
u S séculos.
Demos esmola, e seremos aben çoados
por Deus como o foi o santo velho
Tobias, que recebeu cem por um nesta
Yida e a gl6ria eterna na outra .

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I
CAPITULO VIII

O PRECEITO DA ESMOLA EM
O NOVO TESTAMENTO
~as suas pregações ás n1argens do
Jordão, o Batista precursor começou
de ,inculcar o preceito , favorito
. de
Jesus -- o am.or ao prox1mo - pre-
ludiando ao grande ensino do Messias.
Corriam as turbas em massa a ouvi-lo
e interrogá-lo sobre o q ue era preciso
fazer para subtrair-se á ira de Deus; e
ele ihes dizia: «O que tem d uas túnicas,
dê uma ao que não tem; e o que tem
que comer faça o mesmo» (S. Lucas,
111. 11).
Aparece o Divino Redentor, e os
seus lábios jamais se cansam de repetir
a lei da caridade e o preceito da esmola
espiritual e temporal, chamando-o a
característica de seu Evangelho. O
~ovo Testamento é lei de amor, de
earidade, de miseric6rdia e de bene-
volência. E Jesús fala claro: «Dai es-
mola do que sobra; quod .ruperuf, date
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-57-
~..eemÓJ'ynam». (S. Lucas, XI, 14).
E note-se que não é conselho ou exorta-
~ão, mas ordem absoluta, expressa em
:nado imperativo, que não admite ré-
plica.
Alhures diz: . «Vendei o que possuis
e dai esmola. Fazei para v6s bolsas que
se não gastam com o tempo, u;m tesouro
que se não esgota no céu; ao qual não
chega o ladrão, e que a traça não r6i~ .
(S . Lucas XII, 33). -Néscio, grita
ele a um rico, esta noite serás chamado
á eternidade e as coisas que ajuntaste
para quem serão?- Como se dissesse:
aquela riqueza ficará no mundo, na
mão dos herdeiros, mas se tu a tivesses
dado aos necessitados, tê-la-ias en-
contrado além do túmulo.
Jesús ensina também o modo de
exercer com fruto a hospitalidade:
«Quando déres jantar, ou ceia, não
chames teus amigos; nem teus irmãos,
nem teus parentes, nem teus vizinhos
que forem ricos; para que não te convi-
dem eles por sua vez, e te paguem com
isso; mas quando déres banquete, con-
vida os pobres, os aleijados, os coxos
e os cegos; e serás feliz, porque não têm

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-58-

com que te retribuir; porém, ser-te-á


retribuído na ressurreição dos justos».
(S. Lucas, XIV, 12 a 14). Depois de
ter narrado a parábola do ecônomo
infiel, ~crescent~: «E eu vo~ digo:
grangem-vos am1gos com as nquezas
da iniquidade para que, quando necessi-
tardes, vos recebam nos tabernáculos
eternos ». (S. Lucas, XVI, 9). Chama
iníquas as riquezas porque muitas vezes
são adquiridas com fraudes e injustiças.
Era costume dos fariseus dar esmola
unicamente para serem vistos e admi-
rados; e o Divino Redentor repreende-
os severamente, ensinando-lhes a fazer
boas obra& por um fim mais nobre:
«Quando dás esmola, não faças tocar
a trombeta diante de ti, como praticam
os hip6critas nas sinagogas e nas ruas
para serem honrados pelos homens.
Em verdade vos digo, que eles já rece-
beram a sua recompensa. Mas, quando
dás esmola, não saiba a tua esquerda
o que faz a tua direi ta, para que a tua
esmola fique em segredo, e teu Pai,
que vê o oculto, te recompensará». (S.
Mateus, VI, 2 a 4).
Para mais excitar á prática destà

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-59-
·,-irtude ele considera feito a si pr6prio
o que se faz aos pobres. Como já
ficou dito, ele agradecerá aos eleitos,
no dia do juizo final, de terem-no
vestido, saciado, consolado, hospedado,
visitado no cárcere ou no leito, na
pessoa do pr6ximo; ao passo que re-
preenderá acerbamente os réprobos por
terem-no desprezado na pessoa dos
pobres. E tu'<lo terá sua recompensa;
até o simples copo dágua dado por
seu amor: «E todo o que dér a beber
a um destes pequeninos um copo de
água fria, a título de esmola, digo-vos
em verdade que não perderá sua re-
compensa ». (S. Ma teus, 42) .
S. Pedro, um dia, ousou perguntar
ao Divino Mestre: - «Eis-nos aquí, os
que deixámos tudo e te seguimos; que
haverá então para n6s ? » - E Jesús
lhe disse: - « Em verdade vos digo
que, na regeneração, quando o Filho
do homem. se assentar no trono de
sua gl6ria, v6s, que me seguistes,
sentar-vos-eis também em doze tronos,
e julgareis as doze tribus de Israel.
E todo o que deiXar por amor de meu
nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs,

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-60-
ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os
filhos, ou a he1;dade, receberá o cêntu-
plo, e possuirá a vi'da eterna». (S. Ma-
teus, XIX, 27 a 29).
Jesús, sempre doce, sempre cheio
de bon dade,· assume um tom terrível
contra os ricos mofinas e os ameaça de
eterna condenação. Veremos num capí-
-tulo á parte as suas ameaças. E ele
mesmo praticava o que ia ensinando,
para dar-nos exemplo, e distribuía aos
pobres a sobra do que lhe davam os
judeus.
No sermão da ceia, que p6de chamar-
se o testam.ento de Jesús aos seus discí-
pulos, o Mestre recomenda a caridade.
« Um novo mandamento vos dou : que
vos ameis uns aos outros, corno eu vos
amei» . (S. João, XIII, 34); «meu
preceito é que vos ameis uns aos outros,
corno eu vos amei >> . (XV, 12). A cari-
dade, pois, é o preceito principal, a lei
caraterística do Evangelho_. o manda-
mento do Divino Redentor.
Em seus sermões, Jesús narrou a
parábola do bom Samaritano, para
mostrar de maneira clara e simples
quem possue a verdadeira caridad e
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,
-61-
ara com o próximo. O primeiro man-
amento da lei é o amor a Deus e o
·egundo é o amor ao próximo. Oual
na de ser a medida do amor ao próximo ?
- O amor a nós mesmos, isto é, nós
devemos amar o p róximo como a nós
mesmos.
Os apóstolos aprenderam do Divino
Mestre a lição do amor, e em suas
cartas recomendam sempre a caridade
espiritual e temporal. S. João fala dela
tantas vezes, que me.eceu a antono-
másia de ap6.Ytolo da caridade. «Aquele
que tem riquezas deste mundo, e vê
a seu irmão em necessidade, e lhe cerra
as suas entranhas: como está nele o
amor de Deus ? » (I. S . João, III, 17) .
Nos últimos anos de su a vida era le-
vado á igreja, e não sabia dizer outra
coisa: «Meus filhinhos, amai-vos reci-
procamente ». Enfadados os discípulos
de ouvir sempre a mesma coisa, per-
guntaram-lhe porque lhes não falava
dos outros preceitos, ele que, tendo-se
jnclinado ao peito de J esús, conjecturá-
ra os mistérios sublimes; e o apóstolo
respond eu : «Outras coisas vos não
direi, pois isto é o que nos mand a espe-

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-62-
cialmente o Senhor; e isto perfeita-
mente executado basta para fazer-nos
santos »,
O Ap6stolo S. Paulo ordena coletas
em várias Igrejas para socorrer os
irmãos de Jerusalem, desolados pela
carestia, e exorta os fiéis a pôrem se-
manalmente no gazofilácio algum di-
nheiro. «Aquele q ue semeia pouco,
também segará pouco; e o que semeia
com abund~ncia, também segará com
abun,d~ncÍa » . (li Cor. IX, 6). E os
exorta a não temer a in6pia, que Deus
os proverá: «Poderoso é Deus para
fa4er abundar em v6s toda a graça;
para que em todas as coisas tendo
sempre o suficiente, tenhais abu:n:d~n­
cia para toda sorte de obras boas ».
(Id., 8). São dignas de nota as palavras
da epístola aos Hebreus: <( E não esque-
çais de fazer bem e de repartir com os
outros; porque com. ' tais sacrifícios se
agrada a Deus ». (XIII, 16).
Santo Tiago diz: «A religião pura
e imaculada aos olhos de Deus e nosso
Pai é esta: Visitar os 6rfãos e as viuvas
nas suas tribulações, e conservar-se
sem ser contaminado deste século ».

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-63-

'1, 27). Alhures increpa os que ficam


s6 nas palavras e não socorrem os po-
bres: '' Porém, se um irmão ou irmã
estiverem nus, e necessitarem do ali-
mento cotidiano, c lhes disser algum
de v6s: Ide em paz, aquentai-vos e
fartai-vos, e não lhes derdes o que hão
mister para o corpo, que lhes aprovei-
tará?». (li, 15 e 16).
Os primeiros cristãos eram observan-
tes do preceito da caridade e entrega-
vam aos Ap6stolos o supérfluo, para
que distribuissem aos necessitados . Os
Atos dos Ap6stolos lembram com re-
conhecimento a Tabita, senhora pie-
dosíssima, que empregava em boas
obras tudo quanto tinha, socorrendo
os indigentes; e foi ressuscitada por
S. Pedro como prêmio de suas virtudes.
Os pagãos pasmavam ao ver a união
e a caridade que reinavam entre os
cristãos e diziam uns aos outros:- Vê-
de como se amam1 (1)
VieraJil os santos dp. Igreja e todos,
(1) E' célebre o exemplo de S. Pac6mio, o gual
se converteu ao cristianismo admirando a caridade
fraterna que reinava soberana entre os prosélitos de
Jesús Cristo.-" Uma religião que dá tais preceitos,
disse ele, por certo que é divina" -e abraçou-a.

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-64-
ás rebatinhas, recomendam a esmola,
mostrando a sua necessidade, beleza
e utilidade. S. João Cris6stomo foi
um verdadeiro apóstolo da esmola;
ao terminar os seus sermões, as ma-
tronas tiravam das orelhas as arrecadas
para dá-las aos pobres. S. João de
Alexandria, chamado o Esmolér, tinha
consigo uma lista de oito mil pobres
para socorrer diariamente. Houve san-
tos que depois de terem dado todos os
seus haveres, ficaram escravos para
libertar o próximo. Mais. A Igreja teve
uma Ordem Religiosa que fazia pro-
fissão de livrar os escravos dos turcos
e tais religiosos ficavam em lugar dos
escravos quando não p odiam diversa-
mente livrar os que tiveram a infeli-
cidade de cair nas mãos dos infiéis .
Valham esses exemplos e as palavras
do Divino Redentor para fazer-nos
amar a caridade e a esmola1

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I

CAPITULO IX
QUE E' O RICO ?
E' O TESOUREIRO E O PROVE-
DOR DO POBRE ·
Na ordem da creação, o rico é o
tesoureiro do pobre, qbrigado a prover
ás suas necessidades. Deus o favoreceu
com riquezas, não para que as malba-
ratasse e gozasse a · seu talar;te, mas
para que socorresse os infelizes. Jesús
Cristo ordenava que o supérfluo seja
dado de esmola. Deve, pois, o rico
dar muita esmola. Podia Deus distri-
buir igualmente os bens da terra e
sustentar todos os homens corno faz
com a erva do prado, o lírio do campo,
a árvore da floresta; invés, quis as
desigualdades sociais, ordenando que
uns auxiliassem os outros. Esta é urP.a
verdade pouco entendida de muitos
ricos, que se fecham no círculo estreito
do pr6prio eu e não pensam sinão em
gozar, expulsando de sua porta ao
pobre, como a un•. importuno. Contra
A Esmola, 3
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I
-66-
esses, o Divino Redentor, sempre bran-
do, sempre doce, tomou um tom. terrí-
vel, ameaçando-os de eterna con dena-
ção: «Ai de vós, ó ricos, porque tende5.
já recebido a vossa consolação. Aí de
v6s que sois saciados, porque sofrereis
fome. Ai de vós que rides, porque
chorareis e gemereis », (S. Lucas V, 24).
Na parábola do epulão mostrou cla-
ramente o triste fim dos ricos que pen-
sam só em gozar, desprezando os po-
bres.
E' Jesús quem nos cont a: Havia
um homem muito rico, que andava
luxuosamente vestido e vivia vida re-
galada e ocio.sa, oferecendo aos amigos
lautos banquetes. Havia também um
mendigo chamado Lázaro, que inutil-
mente suplicava lhe mitigassem. a fome
com as migalhas que caíam da mesa.
Algum tempo depois, morreram ambos.
O pobre foi levàdo pelos anjos ao seio
de Abraão . Morreu o rico e foi sepul-
tado n as profundezas do inferno. Por
qual culpa ? Talvez porque era blasfe-
mo? deshonesto ? injusto ou ladrão?
Nada disso. Foi condenado ás penas
somente porque se mostrou cruel para

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-67-
com o pobre Lázaro e só pensou em
gozar.
E' impossível ·s alvar-se um rico que
põe a sua esperança nos bens da terra
e não é caridoso. E' mais facil passar
uma corda no fundo de uma agulha .
que tal pessoa vá ao céu. Não ha
tergiversar. O rico que deseja salvar a
alma deve dar esmola, desapegar o
coração dos bens .terrenos e conservar
a pobreza de espírito, tão recomendada
pelo Divino Redentor. Se o rico está
obrigado a dar o supérfluo ao pobre,
segue-se que, não o fazen do, é um
ladrão que retem. o alheio.
S. João Crisóstom.o discorre deste
modo:- Rico, ouve-me: são teus este
dinheiro, estas terras, diz o mundo; não
assim. a fé: o senhor de tudo é Deus; tu
não passas de simples adm inistrador;
hás de prestar conta ao senhor até
de uma courela. E se Deus é o senhor,
tem direito de discriminar o emprego
das tuas rendas. Pois. bem, vês aquele
pobre que te espera á porta ? veio para
exigir em nome dele; Deus o mandou,
e aqueles andrajos que o cobrem são
a libré que to i:1dicam tal. V amos,

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-68-
sê pronto em o socorrer; não é um
favor que fazes, é um tributo que pagas.
Cuidado1 assim o grande Santo Am-
brósio, não recuses uma esmola, porque
tanto é pecado tirar o alheio, quanto
negar o que lhe é devido.
Causa asco ver certos ricos criarem
uma matilha de cães de caça ou soberba
tropa de cavalos e negar a um esfarra-
pado um naco de pão ou um abrigo1
Como é doloroso ver certas senhoras
criarem um cachorrinho, levarem-no
ao braço, cobrirem-no de caricias, e
afastarem com indignação' o olhar de
um pobre que lhes estende a mão
súplice, julgando-se rebaixadas com a
sua presença1 No entanto o pobre é
filho de Deus, é uma alma remida pelo
sangue de Jesús Cristo1
Ha ricos que se julgam seres privile-
giados; nascidos para gozar, vêem no
pobre o pária da sociedade, como sé fosse
de natureza inferior, digna tão só de
despr:êzo. Mas quão outros são os juizos
de Deus1 Deus ama o pobre e, para
honrá-lo, quis nascer de pais pobres
e na mais esquálida miséria. Escolheu
para seus Apóstolos, não os magnatas

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-69-
e Herodes ou de Augusto, mas doze
r>obres pescadores; e viveu sempre
;:-odeado pelo povo simples, protestando
ter vindo evangelizar os pobres, por
ter sido essa a missão de que fera
~ncumbido. E()angelizare paupéribuJ mi-
·it me. Jesú.s subiu ao céu, mas con·
tinua a morar na terra no Santíssimo
Sacramento e no tugúrio do póbre.
_-\través dos andrajos que cobrem os
:nembros descarnados dos míseros, os
-antos contemplam semp~e a Jesú.s
sofredor.
E' célebre o fato sucedido a S. Iviar-
tinho. Ouando era soldado da cavalaria,
encontrou um pobre seminu, que lhe
pediu esmola, em nome de Deus.
Ylartinho, não ~endo dinheiro naquela
ocasião, arrancou do manto, dividiu-o
ao meio e deu uma parte ao pedinte.
De noite apareceu-lhe Jesús Cristo
vestido com o manto dado de esmola,
e lhe agradeceu por tê-lo socorrido na
pessoa daquele pobre.· I mitem os ri-
cos este exemplo e sejam pr6digos
para com os representantes de Jesús
sofredor.
O ap6stolo Santo Tiago tem palavras

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-70-
. .
maxs graves aos ncos que esquecem os
seus deveres de caridade: «Eis, pois,
ricos, agora chorai bem alto pelas
desgraças que virão sobre vós. As
vossas riquezas se putrefizerem, e as
vossas vestes são comidas pelas traças.
O vosso ouro e prata se corromperam,
e a sua corrupção dará t estem unho
contra vós, e devorará a vossa carne
com.o fogo. Entesourastes para ...-ós
a ira nos últimos dias. Eis que o salário
d os trabalhadores que ceifaram os vos-
sos ca;m.pos, o qual pela fraude lhes
tirastes, está a clamar; e o clamor deles
chegou até aos ouvidos do Senhor
dos exércitos. Tendes vivido em festins
sobre a terra, e na luxúria .cevastes os
vossos corações, como em dia de imo-
lação ». (Cap. V) .
Para evitar ameaças tão terríveis
o rico deve de imitar o bom. samaritano
e provêr ás necessidades dos pobres.
Então, as maldições cominadas se tro-
carão em bênçãos. Deus ouve sempre a
oração do pobre; e quando ele fôr
ajudado por vós, fará chover sobre
vossa cabeça, sobre vossas famílias,
copiosas graças. Os pobres agraciados

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-71-
elo centurião .Cornélio, lhe obtiveram
ao céu a con~ersão. Um m.ensageiro
.:eleste o p6s em relação com S . Pedro,
afim de ser instruido na fé e batizado
..::om toda a família .
-Ouando se celebra um matrimônio
u "'"'um batizado, o verdadeiro meio
:>ara atrair os favores do céu sobre os
esposos ou sobre a creança é socorrer os
pobres. Experimentem-no as famílias,
que se alegrarão com os sal1t ares
êfeitos.

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CAPITULO X
LUMINOSOS EXEMPLOS DOS
SANTOS

Ü3 santos patriarcas do Antigo Te&-


tamen to foram modelos de amor ao
pr6ximo, exercitando sobretudo a hos-
pitalidade aos peregrinos. Abraão rece-
beu um. dia em sua terra tres anjos
em f6rn-..a humana e os tratou com todo
o carinho como se fossem i m ãos seus.
Job era chamado «o pai dos pobres,
dos 6rfãos e d as viuvas ", como já
vimos atrás, e passava os seus dias
fazendo o bem aos necessitados. Como
são tocantes as cen,a s de caridade
narradas no livro de Rut1 Booz ordena
expressamente aos segadores que dei-
xem cair espigas, afim. de que a pobre
respigadora possa recolher abundantes
provisões e dá-lhe permissão de comer e
beber á sua mesa. Não faço alusão a
Tobias, porque já narramos m.ais deta-
lhadam.ente as suas esmolas e obras de
miseric6rdia aos irmãos cativos. A vit.:-
va de Sarepta não tinha mais que um.:.

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,
73-
pouca de farinha e algumas gotas de
óleo, pois a carestia flagelava o reino
pelos peca'dos do Ímpio Acab; e todavia
ofereceu aquele bem de Deus ao profeta
Elias, perseguido pelo rei; em recompen-
sa nunca lhe faltou farinha e óleo.
Muito depois, apareceu o Salvador
para regenerar a sociedade com o
preceito da caridade fraterna, abolindo
a escrav idão e ensinando que os hom.ens
são todos filho s do mesmo Pai celeste,
sem distin ção de nacionalida de. O cris-
tianismo funda hospitais, inst itue ir-
mãs de cat·idade abre asilos para invá-
lidos, orfal1atos e casas p ara crianças
desamparadas, albergues para pere-
s rinos. Os pobres no paganismo eram
muit as vezes sacrificados barbaramente
~omo inuteis e de peso á sociedade;
:fi.as Jesús os n obili tou, amando-os
ernam.ente e afirman do que eram seus
. epresentantes na terra e que conside-
:-ava feito a si h tdo o que os homens fa-
ziam. para eles. Então a pobreza era
_. . ais estim ada do que a riqueza e
:'ilhares de p essôas .de ambos os sexos
.bandona vali'. tudo para se tor:nar po-
-es por Jesús Cristo.
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-74-

Os santos todos da lgre_ja porfiaran'.


em socorrer os pobres, vendo neles a
pessôa de Jesús sofredor, não conservan-
do mais do que o necessário á vida,
segundo o conselho do glorioso ap6stolo
S. Paulo. S. Lourenço .l\'lartir distribuiu
todas as riquezas da [greja aos 'pobres,
de acordo com seu san to mestre; e
interrogado pelo tirano onde escondera
o ouro e as riquezas, deu uma resposta
memorável, que deveria ser objeto de
m,editação de todo rico. - «As riquezas
da Igreja, exclamou o her6i foram
transportadas para os tesouros celestes
pelas mãos dos pobres ».
Entre os exemplos sem número do
santos, escolheremos alguns dos m.ai ·
pr6prios para excitar o amor à esmola.

A virgem holandesa Santa Ludovin


jazeu enferma durante trinta e oi·
anos num miserável catre em apertad
quarto; vitima de muitas doenças, e·
as soube suportar com o heroismo
Job, bendizendo sempre o Senhor. T
dasasvirtudes avultaramnasanta, mz
de modo particular a · paciência e

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-75-

caridade para com os pobres. Sua


mãe, ao morrer, deixou-lhe alguns m.6-
veis; bem que pobre e necessitada de
tudo, vendeu-os e distribuiu o dinheiro
aos pobres. O mesmo fazia com as
esmolas que os fiéis lhe davam, esque-
cendo-se de si e preocupando-se mais
com as necessidades alheias.
Deus mostrou com numerosos mila-
gres quanto amava a caridade de
Ludovina. Tinha uma bolsa que dava
sempre dinheiro sem jamais esvasiar;
por esse meio socorria os pobres da
cidade e das vizinhanças. No leito de
dôres, a santa era informada de todas
~s famílias necessitadas e sobretudo dos
~ 'lfermos e lhes mandava dinheiro e
oundantes provisões. No princípio de
::!'inverno mandou comp rar um quarto
: : boi e uma medida de legumes para
.. r de comer aos famintos, que na
. tação rigorosa costumam sofrer mais
e em outros tempos, . pelo frio e pela
·":a de trabalho. Admirável! Aquela
'1e e aqueles legumes multiplicaram-
de tal modo que pôde distribui-los
s vezes na semana em todo o in-
no.
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-76-
Dava muito, mab o dinheiro e as
p rovisões não faltavam. Sabendo os
ricos do bom uso que fazia das e m olas,
davam-lhe de boamente dinheiro e
alimento; e a casa da caridosa enferma
tornou-se um verdadeiro mercado onde
os pobres encontravam com estíveis,
roupa e o mais de que necessitavam.
A fama das virtudes luminosas atraia
ao seu leito personagens de alto coturno;
e Ludovina sabia patrocinar a causa
dos seus pobres e conseguia muitos ·
recursos.
Uma caridade tão heroica lhe obteve
de Deus dons sobrenaturais de mila-
gres e profecias. Ludovina recebia o
cêntuplo nesta vida, ao mesmo tempo
que os anjos teciam-lhe fúlgida coroa
no paraíso.
Certo ricaço queria preparar um
suntuoso banquete aos principais da
cidade e para isso comprou do que ha-
via de melhor. Sabendo disto, Lu:dovi-
na mandou-lhe pedir, por amor de
Deus, um pouco de banha de galinha
para preparar um. im.plastro. Mas o
novo epulão negou-lhe, alegando que
as galinhas compradas não tinham
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-77 - ·
gordura alguma. A santa conheceu
á luz divina a avareza asquerosa daque-
le rico e mandou-lhe dizer que seria
castigado. Com efeito, na noite prece-
dente ao banquete, os ratos penetraram
na despensa e comeram. um.a parte dos
acepipes e estragaram o resto. Tal
lição abriu os olhos ao nababn, o qual
daí por diante guardou-se de negar
alguma coisa á santa.
Em muitas visões Deus mostrou-lhe
que verdadeiramente a esmola trans-
porta os nossos bem, além do túmulo,
ao passo que a avareza os abandona
no leito da morte. O seu Anjo Cust6dio
apareceu-lhe, radiante de luz, em f6rma
de gracioso jovem e a conduziu ao
. paraíso, onde lhe mostrou uma mef'a
cheia dos mesmos alimentos que ela
distribuía aos pobres. Nosso Senhor
e Maria SS. com. os bem-aventurados
se assentaram para comer e convida-
ram a Ludovina a · fazer o mesmo.
Repetiu-&e a visão mais vezes e acendeu
em Ludovina novo ardor pela caridade
e aos ricos que a visitavam s6 sabia
falar da beleza da esmola.
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-78-
·x Quereis, dizia, encontrar o vosso
tesouro depois da morte ? Dai-o aos
pobres, que o levarão ao céu e lá tereis
capitais centuplicados». E narrava as
revelações
. ~.
tidas.
:rr.H ..s .lol:rn
.. ~;

S. Carlos Borromeu,-. a:r~ebisp~- ' d_~


Milão, merece os louvores de todos
os séculos cristãos, pela grande cari-
dade que o levou ao heroismo. Ele não
possuía cofre, nem bolsa para guardar
dinheiro; porque tudo quanto lhe caía
nas mãos, dava-o logo aos pobres.
Vendeu o seu principado por quarenta
mil escudos de ouro; e em um s6 dia
distribuiu toda aquela avultada so;rna
aos pobres, assim que, á noite, já não
tinha um cei til.
Deram-lhe uma nensão de vinte
mil escudos e fez o~ mesmo. Parecia
que a s moedas lhe queimassem as
mãos, tal era a presteza com que as
dava em esmola, impaciente por socor-
rer as misérias alheias. Vivia como um
pobre anacoreta, muitas vezes conten-
tando-se com pão e água e um pouco de
legumes, e o rendimento do arcebispa-
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-79-
do que ficasse para os pobres. Os seus
familiares lamentavam sua prodigali-
. dade, manifestando o receio de cair
na miséria, mas o santo os exortava
a, con f'1ança na p rov1'd"enc1a.
.
Na terr.Ível carestia que afligiu.IVlilão,
distribuiu todas as alfaias da casa
e depois deu até o leito, dormindo de
então em diante em tábuas nuas.
Além disso, ele vivia para os pobres, an-
dando pelas casas, visitando os doen-
tes, consolando a todos.
Milão e todo o arcebispado serão
eternamente gratos ao seu ilustre pre-
lado e o honrarão sempre corno um
dos maiores benfeitores que teve a
cidade e 'o cri&tianismo . .

O homem que personifica a caridade


é S. Vicente de Paulo. Ordenado sacer-
dote entregou-se de corpo e alma a
socorrer os necessitados, fundando hos-
pitais, asilos, toda a· sorte de casas de
caridade. A ele o mundo deve a insti-
tuição das Irmãs da Caridade, verda-
deiros anjos enviados em socorro das
misérias humanas, que assistem os doen-

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-80-
tes tanto no hospital, como em campo
de batalha para onde correm impávidas,
afrontando a morte com uma coragen1
superior ao seu sexo. Fundou tam béw
a Congregação da Missão, composta de
sacerdotes destinados a instruir o
povo rude. Foi tão grande a sua cari-
dade e z'elo, que chegou a dar miihões
de francos.

A Itália teve também seus her6is


de caridade, êmulos de S. Vicente de
Paulo. Para falar s6 dos últimos tem-
pos, cito S. João Bosco e S. José
Co"tt"olengo.
S. João Bosco fundou a Pia Socie-
dade Salesiana que arrebanha centenas
de milhões de jovens nos dois hemis-
férios para instrui-los, educá-los na
pieda:de e ensinar-lhes um oficio ou
urna profissão e torná-los honrados
cidadãos, uteis á sociedade.
S. José Cottolengo fundou a Casa
da Divina Providência, onde são reco-
lhidos milhares de doentes para serem
curados no corpo e na alma. Todas as
enfermidades da pobre hum.anidade lá

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-81-
se abrigam, e a caridade dos fiéis vem
diariamente em auxílio de tantos in-
felizes.
Esses grandes benfeitores da huma-
nidade fizeram coisas maravilhosas com
as esmolas dos bons cristãos. Que esse
belo exemplo arraste o~ ricos 'à irn.i-
tação1

O Bem-aventurado Amadeu de Sa-


voia foi um grande benfeitor da classe
pobre e o seu reino foi chamado o
paraíso dos pobres. Todo dia dava
de comer a muitos pobres noseupalácio,
servirrdo-os ele mesmo, com muita
" .
reverencia.
Visitando uma vez um senhor de
Milão, este, que era apaixona do pela
caça, mostrou-lhe urna matilha, que ele
tratava com muito cuidado. Retribuin-
do a visita ao Bem-aventurado, na
côrte, perguntou-lhe se não criava cães
de caça. Amadeu levou-o a um páteo
onde estavaw reunidos os seus pobres
e disse:- «Gasto meu dinheiro susten-
tando estes infelizes ».

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-82-
Os ministros desgostavam-se de sua
liberalidade; um deles lhe disse que
muita esmola arruína as finanças _: e que
seria mais u til fortificar as praças de
guerra e crear novos regimentos.-
«Louvo o vosso zelo, respondeu o prín-
cipe sabáudo; mas sabei que as esmolas
dum soberano são as fortificações mais
seguras dum Estado e o grande segredo
para fazer reinar a abundfi.ncia. »

S. Paulino, não tendo nenhum di-


nheiro para dar a uma pobre viuva,
que lhe pedia para resgatar o seu único
filho cativo, ofereceu-se para ser ele
mesmo vendido pela libertação do moço.
A proposta foi aceita, e o Santo, na
qualidade de escraYo esteve por muito
tempo como hortelão; até que, conhe-
cida a sua virtude heroica, foi posto
em liberdade, com permissão de levar
consigo todos os escravos conterrfi.neos
seus.

Santo Tomaz de Vila Nova era tão


caritativo que deu aos pobres tudo o

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-83-
que tinha. Chegou a dar até o leito;
e aquele no qual morreu não lhe
pertencia.

S. Nicoláu de Bari, que foi mais


tarde Bispo de Nissa, quando ainda
simples padre em Patara, soube que
um gentilhomem, caído na miséria,
tencionava casar tres filhas com moços
suspeitos; isso, por não estar em gráu
de dotá-las suficientemente. Nicoláu
fez chegar ás ·mãos daquele senhor uma
bolsa de dinheiro. A quantia era bas-
tante para dotar uma das filhas Por
mais duas vezes enviou dinheiro; assim
foram colocadas as outras duas. O pai,
indagando a coisa, foi ter con~. o santo
e, lançando-se-lhe aos pés, não cessaYa
de agradecer-lhe tanta caridade . .:'>'las,
Nicoláu o levantou com afeto, dizendo-
lhe não ter feito mais do que o seu
-dever; e pediu-lhe que a ninguém
o dissesse.

S. José Cottolengo, quando não


tinha dinheiro para dar aos pobres,
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-84-
dava o relógio, os lençóis da cama,
roupa e sapatos. Várias vezes voltou
á casa em peúgas e outras vezes des-
calço.
***
S . Francisco de Sale~ fazia muita
esmola, não obstante a escassez de
suas rendas. Ele dava sempre e gene-
rosamente, sem se importar com os
gastos da casa, a tal ponto que o ecôno-
mo vendo-se embaraçado, ameaçava
abandoná-lo. - «Tendes razão, disse
o Santo com a costumada doçura, eu
sou incorrigível nesse ponto, mas o que
é pior, creio que o serei sempre >>.
Outra vez, apontando o crucifixo, dizia:
- << Póde-se negar algmra coisa a um

Deus que se reduziu a tal estado por


nosso amor? >>
A princesa Clotilde presenteou-o com
um diamante precioso, pedindo-lhe que
o guardasse como lembrança.
-Senhora, disse o santo, guardarei
até que os pobres não precisem dele .
-Nesse caso, replicou a princesa,
dai-o em penhor, que o resgatarei.
-Temo que isso aconteça muitas

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-85-
vezes e não quisera abusar de vos a
bondade.
Pouco depois a princesa o viu em Tu-
rim ~em o diamante e entendeu logo o
que tinha acontecido. Deu-lhe, pois, um
muito mais precioso, recomendando-
lhe que não fizesse como o primeiro.
- Senhora, respondeu-lhe, não vos
posso garantir, porque sei por experi-
ên~ia que .não sou capaz de guardar
co1sas precwsas.
Realmente, ele nutria tão grande
ternura para com os pobres, que não
sabia recusar-lhes coisa alguma.
***
Santo Estêvão, rei da Hungria, pro·
videnciou á manutenção dos pobres do
seu reino, tomando especialmente sob
sua proteção a~ viuvas e os 6rfãos,
dos quais se declarára publicamente
pai e defensor .
.l\'ludava a roupa para não ser re-
conhecido, andava pelos arrabaldes da
cidade a distribuir esmolas, a oferecer
seus préstimos nos hospitais, etc. Che-
gou a dar as a.llfaias do pr6prio palácio
para ~ocorrer nas calamidades públicas
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- 86-
os pobres. Deus, para mostrar como
se comprazia da caridade de seu servo,
quis que depois da morte a sua mão
direita, que tanto déra aos pobres,
permanecesse incorrupta.
***
Santa Catarina de Sena tendo obtido
do pai a permissão de dar esmola,
imitava a S. Njcoláu de Bari levando
ás familias necessitadas, durante a
noit e, pão, carne, vinho, colocando
tudo na janela ou na soleira da porta
para não ser vista.
Um dia, não tendo nada para dar
a um pobre, tirou a cruz de prata de
seu rosário e deu-lha. De no~te, apa-
receu-lhe Jesús tendo na mão a cruz
ornada de muitas pedras preciosa&e res-
plandeceu tes como o sol, dizendo-lhe que
havia de lha restituir no dia do juizofi-
nal, na presença de todos os homens.
Outra vez, não tendo dinheiro, deu
a um pobre o seu manto; apareceu-lhe,
de noite, Jesús vestido com o mesmo
manto, ornado de pérolas e gemas,
e lhe disse:-« Catarina, ontem me
vestiste com êste manto na pessoa da-
quele pobre ».
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CAPITULO XI

QUE E' O POBRE ? E' A PESSOA


DE JESUS SOFREDOR
Jesús habita na terra oculto sob os
véus eucarísticos e sob os andrajos
do p obre; no- santo Tabernáculo e no
p ardieiro do mendigo. E é por isso
que muitos santos serviam aos pobres,
de joelhos, com a cabeça descoberta,
com a reverência com que se co tuma
servir a um rei. Apen as Jesús declarou
feito a si o que se faz ao pr6ximo,
viram-se os soberbos senadores romanos
e os sábios do areopago, que antes con-
sideravam os escravos como animais,
abraçá-los como irmãos e pô-los em
liberdade, maravilhando com isso os
p agã os. Quanta vez Jesús Cristo apa-
receu andrajoso ou enfermo para ser
socorrido por seus eleitos1

Santa Isabel, duquesa de Turíngia,


f jlha do rei da Hungria, foi a heroína
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-88-
de caridade que edificou o século XIII.
Dava aos pobres quanto podia, man-
tendo grande número deles em palácio
e servindo-os á mesa, com grande hu-
mildade,. Abaixava-se para lavar os
seus pés, curar as suas chagas, beijando-
os com afeto e rever.ência.
Andava pelas ca~as a visitar os en-
fermos, a levar-lhes alimento e remé-
dio~; e encontrando crianças abando-
nádas, Isabel levava-as para sua casa,
a~ lavava e penteava como se fosse:rr
filhos seus. Subjugára de tal modo a
natureza que sentia até prazer no exer-
cício daquela caridáde e quereria passar
os seus dias entre os pobres e doentes.
Os cortezãos e principalmente a sogra
murmuravam e desaprovavam aberta-
mente o procedimento da santa, di-
zendo que deshonrava a dignidade
ducal, e que não sabia manter o dec6ro
de sua alta posição. 1'-las a Isabel pouco
se lhe davam tais murmurações; e
continuava a fazer obras de miseric6rdia.
Deus interveio com muitos milagres
a aprovar o seu procedimento. Em
um dia de cruel inverno, descia do
castelo em companhia de uma donzela,
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-89-
com abundante recurso que ia distri-
buir aos pobres. De caminho encontrou
o m.ari:do, que voltava da caçél; aquele
senhor, digno de ser esposo de uma
santa, quis ver o que ela levava no
avental. Isabel o abriu·, para mostrar-
lhe o trigo que ia distribuir aos pobres;
e com indescritível maravilha o achou
convertido em belíssimas rosas de varie-
gadas cores.
Nutria grande amor para com os
pobres leprosos, tão numerosos na Ida-
de Média, lembrando-se de que Jesús
foi descrito pelo Profeta Isaías como
um hom.em. coberto de chagas da ca-
beça aos pés, á guisa de leproso . Certo
dia, acolheu um no palácio e o pôs
na sua mesma cama para limpá-lo
e curá-lo. A sogra ficou indignada; e
correu a chamar o filho para mostrar-
lhe o que Isabel estava fazendo . Vão
ao leito, abrem o cortinado e invés
do leproso, dão com J esús Cristo pre-
gado na cruz.
* **
S. Francisco, logo após a sua conver-
são, percorria a cavalo a planície de

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-90-
Assiz, quando encontrou um lepro~o.
Desceu logo do cavalo, abraçou o
doente com ternura e deu-lhe uma esmo-
la. lViontando a cavalo, voltou-se para
o saudar; mas não viu ninguém. Com-
preendeu, então, que Jesús lhe aparece-
ra sob aquela ±6rm.a para ser honrado
e socorrido por ele; e daí por diante
concebeu um amor ternissimo para com
esses infelizes, ao ponto de entrar nos
leprosários para lhes prestar os mai&
humildes &erviços.
***
S. João, o esmolér, tendo dado mui-
tas vezes bé>a soma de dinheiro a um
indivíduo que mudava sempre a roupa
e o nome, fingindo ser grande necessi-
tado, ainda depois de perceber isso,
continuou a fazer-lhe caridade. Avisado
dessa fraude, disse ao secretário: -
«Dá-lhe o dinheiro pedido, pois p6de
ser que Jesús Cristo queira experimen-
tar a tua caridade».

Na vida de Toba]do, conde de Char-


tres, narra-se um fato assás curioso.
Viajando, um dia, acompanhado de

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-91-
muitos amigos no coração de rígido
inverno, enconh-ou um pobre seminú.
Tobaldo, liberalíssirno corno era, per-
guntou :
- Oue desejas?
- Dai-me, respondeu o pobre, o
vosso manto.
Deu-lho o conde, dizendo:
-. Se queres, pede mais alguma
COISa.

-~ai-me o hábito que tendes sobre


a túnica.
Foi-lhe dado. Vendo ta!lta genero-
sidade, o pobre ousou replicar :
- Bem vêdes, sr. conde, que tenho
a cabeça nua ... dai-me, pois, o chapéu
poraue podereis logo arranjar outro,
enquanto que eu não tenho dinheiro.
O conde, que era calvo, não gostou
do pedido, e:
-Caro ±ilho, dis.se, és demasiado
importuno e não posso satisiazer-te.
Então o -pobre desapareceu, deixando
tudo sobre a neve. O conde apeou
incontinenti, ajoelhou-se, pedindo a

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-92-
Deus perdão ;.:>or aquela recusa e pro-
meteu não mais negar no futuro qual-
quer coisa que lhe pedissem os pobres

* **
Apareceu um dia a S. Gregório
Magno, quando ainda abade do mos-
teiro, um Anjo, disfarçado em comer-
ciante que,· devido a um narlfrágio,
perdera toda a sua mercadoria; pelo
que, vinha lhe pedir algum recurso.
Gregório deu-lhe seis escudos; mas
o comerciante observou-lhe que era
pouco; o abade deu-lhe outros seis
escudos. Alguns dias dep ois, volta o
mesmo negociante todo aflito a pedir-
lhe novo auxilio, alegando a sua extrema
miséria. Como Gregório encontrasse
vasia a bolsa do mosteiro, mandou que
lhe déssem uma bandeja de prata que
Silvia, sua santa mãe, lhe mandára
aquela manhã.
Elevado ao sólio pontifício, ordenou
certa vez a um seu capelão, que cha-
masse á sua mesa doze pobres, em
honra dos doze apóstolos; durante a
refeição notou que eram treze. Per-
guntou ao capelão, porque chamára

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-93-
mais de doze; ele protestou que não
tinha convidado sinão doze. Mas Gre-
g6rio via treze e suspeitando de algum.
mi6tér.io fixou atenta1'-1ente o olhar sobre
o décimo terceiro; notou oue mudava
de semblante, parecendo ora moço,
ora velho. Terminada a refeição,· cha-
mou-o á parte e o conjurou a dizer-lhe
querr. era:
-«Eu sou aquele comerciante arrui-
nado pelo nau'frágio, a quem v6s déstes
doze escudos de esmola e a bandeja de
prata, presente de vossa mãe. Sabei
que por vossa caridade quis Deus
que fosseis o sucessor de S. Pedro.
-Como sabes isto? continuou S.
f' , •
vregono.
-Eu sou um Anjo ;mandado por
Deus para vos experimentar.
Prostrou-se o santo com grande re-
verência e exclamou:
- Se por um a coisa tão _:Jequena
Deus me fez Pastor universal de sua
Igreja, quantos benefícios ainda maiores
posso esperar d'Ele, se O servir com
grande afeto na pessoa dos pobres]
Com .isso, aumentou muito a sua
liberalidade para com os necessitados.

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-94-
Um dia . querendo servir com suas
pr6prias mãos a um pobre, este desapa-
receu. A' noite, apareceu-lhe em sonho
Jesús Cristo e lhe disse:-« Outras
vezes me tens recebido nos meus mem-
bros; ontem, porém, me recebeste em
minha pr6pl:·ia pessoa».

O venerável Monsenhor De Palafox,.


toda quinta-feira dava jantar a doze
pobres. Lendo a vida de S. Martinho,
notou que o santo lavava os pés aos
pobres e lhes servia a comida; e logo
s~ propôs a fazer o mesmo. Cumpriu à
risca a promessa.
Se todos os ricos vissem a Jesús
nos pobres, porfiariam em socorrê-los
e a terra não seria mais um vale de
lágrimas e de dores. Oueira Nosso
Senhor iluminá-los com a · sua santa
graça e fazê-los compreender esta ver-
dade que, praticada, torná-los-á ±elize_
no tempo e na eternidade. (1)
(1) Merece lembrada a sentença que tinha sempre
na boca S. José Cottolengo: - • São os pobres que
nos hão de abrir as portas do Paraíso >.

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CAPI1 ULO Xli

A PREDESTINAÇAO DO RICO
DEPENDE DA ESMOLA
Salva-se o rico se pratica o preceito
da esmoia; aliás, perder-se-á irrepara-
vetmente. A obrigação da caridade ~
grave e se encerra no sétimo manda-
mento: «Não furtar». Já que o supér-
fluo pertence ao pobre, comete UID
furto quem lho não dá. Não é ladrão
o que não quer pagar uma dívida
e retém o que perte!lce ao alheio ?
« Praecipio tibi, ut aperia.t manu.t
}ratri tuo egéno ac páuperi qui ~er­
.táfur tecum in terra. Eu, disse o
Senhor no Deuteronômio, com a ple-
nitude de minha divina autoridade,
ordeno a ti, milli~a creatura, a quem
enriqueci por mera liberalidade, que,
do muito que te dei, disponhas de uma
parte para o sustento dos pobres:..
Que dirieis se o sol retivesse toda
a luz e não a comunicasse ao wundo,
ou o roar detivesse to.das as águas em
_eu seio, e não as levantasse ao céu

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- 9G-
po~'meio de vapores, porque descessem
em chm.- <.. benéti..:a para fecundar a
terra? Com certeza v6s lhes dirieis:
- Senhor sol, e senhor mar, tamanha
quanticlade de luz e de água r.~o é
exclu~ivam.cnte para v6s. Estas coisas
o Creador vô-las deu aíim de que repar-
tais com o mundo, para iluminá-lo,
para fecundá-lo. As Escrituras ±alam
claro:- Senhores ricos, quod J'upereJ'l,
date eLeemóJ"ynam.
Deus tem supremo domínio sobre
as riquezas todas e a sua Providência
vela sobre todas as creatmas; a alguns
dá mais, porém., com a obrigação expres-
sa de auxiliar os necessitados.
E porisso, no Eclesiástico, o Espírito
Santo adverte o rico a não negar esmola
ao pobre, porque lhe é devida. O rico,
por sua vez, reflita seriamente nisso,
e se lembre de que no tribunal de Deu::..
ser-lhe-á pedida conta severa do usr
ou do abuso de seus bens. O rico epulà-
íoi sepultado no inferno unicamente
porque pensava em gozar das riqueza:-
negando esmola ao pobre Lázaro, pa~:
com o qual foram mais compassiY
os seus cães, que lhe lambiam as chaga

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-97-
Não satisfazem, por certo, os eus
deveres os que dão apenas uma moeda
ou uma fatia de pão. O preceito inclue
todo o supérfluo. Mas, porque ha tanta
dificuldade em socorrer os pobres, en-
quanto que se esbanja dinheiro em fes-
tas, em passatempos, em yestidos de
luxo para seguir a moda ? Melhor seria
evitar despezas inuteis e enxugartantas
lágrimas, saciar a tome a tantos inteli-
zes. O rico que pratica durante a vida
o preceito de esmola tem um penhor
seguro de predestinação. S. Jer6nimo
deixou escritas palavras verdadeira-
mente consoladoras: «Non mémini me
legiJ'J'e mala morte dejuncfum, qut
libériu.r 6pera caritáti.r exercuerit. (1)
Não me recordo de haver lido que urna
pessoa caridosa tenha rnorrido IPal ».

Na vida do glorioso Patriarca de


Assiz, escrita por S. B0aventura, conta-
se que o santo estendeu um a vez a mão
a um milit ar, imulorando a caridade
por amor de Deu~. O militar fê-la de
(I) Epístola ad Nepotiam.

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A Esmola, 4
-98-
boamente, e S. Francisco se ajoelh~u
logo para rezar por ele, como s01a
fazer com os demais benfeitores. Deus
lhe revelou que aquele militar, embora
sadio e robusto, em breve teria morte
improvisa. O santo correu-lhe ao en-
calço e:
- V 6s, lhe disse com grande afeto,
fizestes uma caridade temporal e, em
troca, quero fazer-vos uma espiritual;
e vos aviso da parte de Deus que vos
restam poucos dias de vida. Confessai-
vos e preparai-vos para o grande passo.
O militar se preparou com muitos
exercícios de piedade e pouco depois da
confissão morreu, dando certeza de
salvação.
Imaginemos agora, que aquele mili-
tar, invés de fazer caridade, tivesse
dito um desdenhoso «ide trabalhar»,
ou então «não tenho :o; Francisco não
teria rezado por ele, não teria recebido
o aviso de sua morte pr6xima; e um
homem do mundo, morrendo improvisa-
mente, sem confissão, salva-se?

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.
J

-99-
Mais ins tru ti v o ainda é o f a to seguiu te
narrado por Santa Teresa no capitulo
quinze do livro das Fundações. Um
senhor de V alladolid deu á santa a sua
casa com amplo jardim, para que fizesse
um mosteiro das religiosas de sua Or-
dem. Dois meses ap6s aquela generosa
oferta, o benfeitor rnprreu improvisa-
mente, seni poder receber os Sacra-
mentos. Diante de tal desventura,
Santa Teresa doeu-se profundamente,
tanto mais que na cidade murmurava-se
que a vida desse senhor não tinha sido
irrepreensível.
Pôs-se então a rezar fervorosamente
pela alma de seu benfeitor; e teve re-
velação de Deus que ele se .salvára,
e sua alma ficaria no purgatõrio até
que fosse celebrada a primeira Missa
em sua casa. Como prêmio de sua
caridade para com a santa, Deus lhe
concedera a contrição perfeita no mo-
mento em que a apoplexia o golpeou.
Se não désse de presen-te a sua casa,
talvez não se salvasse; pela caridade,
mereceu a contrição e com · esta uma
santa morte. Ele terá dito certamente:
-O' feliz esmola, pela qual mereci

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- 100-
uma gl6ria eterna1 E do céu terá con-
templado c;om satisfação a sua casa
tragsformada em convento, causa de
sua felicidade eterna.
*:**
Concluamos, pois, com o dilema:
«Ou esmola ou condenacão ». Para
o rico não ha meio termo. '
Ele se salva, se fôr fiel á prática
do preceito da caridade; e terá o
mesmo fim . do epulão se, como este,
'f echar a , porta ao pobre. O rico é
obrigado a socorrer o pobre; mas o
pobre não tem direito de se apropriar
dos bens do rico, quando este lhe
nega esmola. Ambos comparecerão ao
tribunal de Deus; então, o pobre acusa-
rá o rico de furto e de crueldade e
pedirá vingança.
Tenho para mim que os ricos, entre a
esmola e a condenação, escolherão a es-
mola e serão pr6digos para com os ne-
cessitados, os quais se tornarão seus ad-
vogados no dia terrivel do juizo. (I)
(l) Causam temor sàlutar aquelas palavras d
salmista: Dormiérunt .romnum .ruum et nihil invenéru,.
0 mne.r viri diviti6.rum .ruárum in mánibu.r .rui.r. (Sal
75).

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CAPITULO XIII

A ESMOLA RESOLVE A
QUESfAO SOCIAL

A questão social, que tanto empolga


os intelectuais do nosso século já foi
resolvida perfeitamente por Jesú.s Cris-
to com o preceito da caridade. Se
todos os ricos déssem esmola, se fossem
os pais da pobreza, os provedores e
tesoureiros dos necessitados, o mundo
trocaria de aspeto e tornar-se-ia um
paraíso terrestre.
-Os ±il6so±os, os jornalistas, os econo-
mistas, os governos estudam cuidado-
samente os males da sociedade e suge-
rem mil sistemas para pôr um dique a
tantos desmandos sociais. Mas, o re-
médio já ±oi ensinado pelo Divino
Redentor. Ele conhecia a fundo a hu-
manidade, as suas necessidades, as suas
aspirações, e como boni médico que é,
receitou o remédio da caridade, or-
denando aos ricos, que déssem• esmola, e
aos pobres que tivessem paciência,
resignação á divina vontade.
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-102-
Os males que nos a±ligem nascem
todos da violação do preceito da carida-
de. O rico deixa-se dominar pelo egois-
mo, fecha-se no pr6prio eu, não pensa
s'e não em gozar e satisfazer ás paixões,
e o pobre, vendo-se defraudado da
esmola, maltratado, levanta-se raivoso
e apodera-se com violência dos bens
alheios. Então, ha iurtos, greves, revo-
luções, que iaze~ tremer a sociedade,
ameaçando-a desde o alicerce.
Nos prim6rdios do cr!stianismo, tais
pechas não se davam, porquanto o
preceito do amor ao pr6ximo era ob-
servado e!?crupulosamente. « Vêde como
se amam :o1 dizia~ estupefatos os gen-
tios, admirando tanta caridade entre os
cristãos. Se estivesse ainda em voga
a esmola, a miseric6rdia, como nos
primeiros tempos, o século vinte con-
tinuaria &ua carreira em meio ás bên-
çãos dos povos e dissipar-se-iam os
iuracões que surgem no horizonte das
nações para as ilagelar ~-sé-a-carid;d~
dos ricos iosse aumentando com o pro-
gresso e com a civilização materiaL
não haveria ~ais necessidade de tantas
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prisões e tribunais, nem de tantos
soldados para manter a ordem.
São tão puras, tão santas as alegrias
da caridade, que superam de muito o
prazer d e possuir dinheiro, honras e
todas as comodidades que proporcione
o século. Não experimenta talvez um
gozo de paraíso o rico que entra num
tugúrio p a ra levar alim~nto ao pobre?
As crianças o rodeiam, saudando-o
como seu benfeitor, o pai e a m ãe
vão-lhe ao encontro e o bendizem ;
e á tarde, toda a ±amília reunida reza
o terço por ele e por seus caros. Aquela
oração sobe como incenso gratíssimo
ao trono de Deus e iaz descer as bênção;:;
celestes sobre os seus neg6cios e sobre
o seu capit~.l; e o rico recebe ce
um, mesmo nesta vida.
Conta-se que L uiz X\"1. -
subir ao trono, disfarçaya- e ::n::.: · :a~
vezes para visitar os pobres nos seus
casebres e levár-lhes esmola. Descober-
to, um dia, por um· of~cia} da côrte,
confessou que ia em pessoa para ouvir
as bênçãos que sobre sua cabeça invo-
cavam os pobres; e participar da alegria
inefável das mães e das crianças que

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o abraçavam em sinal de reconheci-
mento.
Se, porém, aquelas pobres famílias
vêem o rico nadar na abundânêia não
fazendo C:'l.SO delas, se o vêem passear
em c&modos carros, enquanto elas mor-
rem à míngua, então, se são b&as resig-
nam-se à vontade de Deus; ·mas se não
têm sentimentos religiosos, maldizem
a sua cruelda-de, planejam furtos e
talvez a~sassinatos. Quando o pobre
é espezinhado, se revolta e facilmente
comete delitos.
O' ricos 1 sêde generosos para com os
pobres e impedireis tantos crimes; e
sobre vos~a cabeça choverão infinitas
" - do c eu.
b ençaos ,

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CAPITULO XIV

A ESMOLA DEVE SER FEITA


DURANTE A VIDA

O preceito da esmola ha de ser pra·


ticado duran_te a vida. Alguns ha que
raciocinam deste modo:- «Agora pen-
so em desfrutar o meu capital e não
quero diminui-lo com doações e esmo-
las; quando estiver á morte, deixarei
um legado para os pobres, mandarei
rezar muitas Missas ... " Não1 Esses
tais se enganam crassamente. Jesús
Cristo ordena que se dê esmola do
supérfluo dia a dia, toda a vida, porque
se os pobres têm fome, não podem es-
perar até a vossa morte. Além disso,
o bem que fazemos durante a -.;-ida v a~ e
muito mais do que na hora da rr:o:-:e,
quando somos obrigados a deixar tuao.
Costumava dizer S. Leonardo de
Porto Maurício: «Ilumina mais um
lume deante, que. não dois atrás».
E queria dizer com isso, que vale mais
o pouco em vida, do gue o muito na
morte e depois da morte.

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Ademais, tendes certeza de que a
vossa vontade será executada? Ouantas
vezes não se faz desaparecer ; testa-
mento, ou é contestado no tribunal
ou interpretado em outro sentido!
Quasi todas as obras pias se lamen-
tam de alguma injustiça na execução
de testamentos em seu favor. O bem
que se p6de fazer hoje não se deve
deixar para amanhã, pois a vida é
incerta e p6de chegar improvisamente
a morte. Fazendo bom uso do nosso
dinheiro, impedimos o ·mal, salvamos
m?-is almas, somos uteis à religião e à
sociedade civil, afastamos as desgra-
ças corporais e espirituais, temporais
e eternas da cabeça de muitas pessoas,
ás quais, se tardia, a nossa caridade
seria inutil.
Apraz-me repetir ainda uma vez,
que não se trata de conveniência ou de
conselho, mas de grave obrigação. O
preceito da esmola é cotidiano, e obriga
a dar o supérfluo aos pobres, vez por
vez; se são indigentes, têm necessidade
de alimento todos os dias. Horroriza
ouvir contar que todos os anos, princi-
palmente no coração do inverno, mor-

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rem de fome e de frio tantos infelizes!
A sua morte ho~rível pede vingança
contra aqueles ricos que talvez os
tenham despedido de sua porta sem um
auxílio, e quem sabe se com desdém
os tenham. mandado trabalhar se qui-
sessem comer.
Muito embora se tratasse de vadios,
n6s recebemos do mesmo modo a
recompensa prometida por Jesús Cristo,
se dermos esmola. Se, ás vezes, falsos
pobres nos enganassem, nem porisso n6s
deixaremos de receber o prêmio tem-
poral e espiritual prometido aos miseri-
cordV>sos.
Determinemos, pois, dar esmola em
vida enquanto temos tempo, forças e
meios e não deixemos para o fazer
na hora da morte. (1) E' agora que os
pobres pedem o nosso auxílio, é agora
que os orfanatos esperam o nosso
contributo para educar as crianças
abandonadas; é agora que os hospitais
esperam víveres, remédios para au-
mentar o bem que já fazem a tantos

(l) Dum tempu.r habému.r operémur bonum, é a


palavra santamente excitadora de S. Paulo.

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doentes; é agora que as missões cat6-
licas têm necessidade de meios para
propagar a religião e a civilização
entre os infiéis. ~:,
Santo Job se alegrava com o pen-
samento de que sobre sua cabeça
descesse a bênção do pobre que ele
socorria. Os ricos que dão esmola expe-
rimentarão a mesma alegria e os mes-
mos favores.
S . Vicente de Paulo, o apóstolo da
caridade, dizia: «Quem ama os pobres
durante a vida, nada tem a temer na
hora da . morte; observei sempre istv;
daí o insinuar esta máxima às pessoas
a quem vejo angustiadas pelo pen-
samento da morte ».

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CAPITULO XV
VARIAS ESPECIES DE ESMOLAS
O nome de esmola abraça todas as o-
bras de miseric6rdia e espirituais e corpo-
rais. A Igreja enumera sete obras de
caridade que dizem respeito ao corpo
e sete ao espírito.
As corporais: Dar de comer a quem
tem fome; dar de beber a quem tem
sêde; vestir os nus; dar pousada aos
peregrinos; visitar os ehfermos e en-
carcerados; remir os cativos; enterrar os
mortos.
As espirituais são: Dar bom conse-
lho; ensinar os ignorantes; castigar os
que erram; consolar os aflitos; perdoar
as injúrias; sofrer com paciência as
fraquezas do pr6ximo; rogar a De · _
pelos vivos e defuntos.
Ha ainda os hospitais, as obras pias,
os orfanatos, as missões a socorrer; e
quem dá. dinheiro e roupa para susten-
tar tais benéficas ·instituições pratica
todas ou quasi todas as obras de mise-
ric6rdia, porguanto aí os infelizes re-
cebem remédios, alimento, vestuário
e tudo de quanto necessit,am.

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-llO-
Os colégios fundados para abrigar
órfãos ou crianças abandonadas com
o fim de adestrá-los em alguma arte ou
oficio, merecem também ser ajudados
com a esmola. J esús ama extremamente
os meninos; e quem os acolhe para edu-
cá-los e instrui-los terá os seus favores
mais es~olhidos. Quantos jovens têm
êxito esplêndido e tornam-se uteis á
sociedade; ao passo que, se não fossem
internados
, . .
num. colégio
,
no oc10 e na m1sena.
permaneceriam

O jovem Hildebrando, filho dum


pobre carpinteiro, tornou-se um Greg6-
rio VII, talvez o mais heroico dos pon-
tífices antigos.
Giotto, socorrido por Cimabue, tor-
nou-se de pastorzinho um excelente
pintor.
Canóva, de modelador um escultor
de nomeada, com o auxílio do senador
João Fallieri.
O Papa Xisto V era filho de pobres
pais que o encarregaram de vigiar a grei;
mas um franciscano descobriu o seu
engenho, fê-lo estudar e o jovem corres-
pondeu com fidelidade. Ordenou-se, foi
elevado à púrpura cardinalícia e final-

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-lll-
mente eleito Papa, desenvolvendo uma
atividade maravilhosa, compreendida
no seu mote favorito: «Morrer em pé:..
S . P edro Damião deveu também
a sua grandeza a um parente que lhe
custeou os estudos.
O célebre orador Massillon foi aju-
dado pela caridade dos fiéis, pela qual
p8de fazer os seus estudos e tornar-se
um dos príncipes da arte orat6ria.
O rico que socorre as obras pias, en-
contrará na outra vida uma roesse
abundante · de obras santas. Entrando
no céu, será recebido por numerosas
almas que o saudarão como seu ben-
feitor. - « N6s somos:., dir-lhe-ão al-
guns, radian tes de alegria, «6rfãos que
'omos acolhidos no colégio mantido com
yossas esmolas». « N 6s somo "• exc ama-
rão outros, «selvagens da ~ fr:ca e a
Oceania, que fom os instruidos e bati-
zados por missionários enviados com os
vossos abun~ntes socorros, para tirar-
nos das trevas da idolatria. A v6s de-
vem os a nossa gl6ria eterna"·
E todas aquelas almas formarão o
seu júbilo e a sua coroa por todos os
séculos. Então ele bendirá a caridade
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feita e entoará um hino de perene agra-
decimento ao Altíssimo, que lhe outor-
gou a graça de converter as riquezas ter-
renas em riquezasim::~.rcessiveis do céu.
Concluamos. No leito de morte de-
vemos abandonar tu·do e separar-nos
do nosso dinheiro; ha, por.é m, .u m meio
de levá-lo além da sepultura e achá-lo
multiplicado na outra vida: Dá-lo aos
pobres e ás instituições de caridade.
Quando um rico emigra para a Améri-
ca. vende os seus ~ens e o valor. o .depõei '"
em algum banco celebre de Paris ou del
Londres, levando consigo um recibo me-"-
diante o qual, chegando ao Novo Conti-
nente, lhe dão o mesmo valor em outro
banco em correspondência co.m o pri-
meiro. E nisto usa prudência finíssima ,
porque se levasse consigo o dinheiro
equivalente poderia ser roubado.
A vida presente é uma viagem para
a eternidade. O rico que deseja en-
contrar os seus bens na cidade do
paraiso, dê-os aos pobres, que são os
banqueiros do Senhor.
A esmola é o banco .m ais vantajoso
e infalível, que dá cem por um no I
mundo e a gl6ria eterna no Céu. ·

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