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NOSSAS FORÇAS

MENTAIS
MODO DE EMPREGÁ-LAS COM PROVEITO

NO COMÉRCIO, NA INDÚSTRIA, NAS ARTES, NOS OFÍCIOS E,


EM GERAL, EM TODOS OS ATOS E SITUAÇÕES DA VIDA

VOLUME IV

PRENTICE MULFORD
2 Prentice Mulford
ÍNDICE

DEUS 4

MODO DE ALCANÇAR A ETERNA LUA DE MEL 5

A CIÊNCIA DE COMER 12

MODO DE ADQUIRIR O VALOR 20

A MENTE MATERIAL E A MENTE ESPIRITUAL 26

A TIRANIA MENTAL 33

UTILIDADE DOS DIVERTIMENTOS 41

MODO DE ECONOMIZAR AS NOSSAS FORÇAS 48

DEUS NA NATUREZA 57

OS BONS E MAUS EFEITOS DO PENSAMENTO 64

OS TALENTOS IGNORADOS 71

AS PRECES DOS HOMENS SÃO MANDAMENTOS DE DEUS 80

MEDICINA MENTAL 86

O QUE DEVEMOS FORTALECER EM NÓS 94

O PODER ATRATIVO DO DESEJO 101

CORRENTES DE PENSAMENTO 108

CULTIVEMOS O REPOUSO 114

RECAPITULANDO 125

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 3


DEUS

U
m Supremo Poder e Sabedoria rege o Universo. A Inteligência Suprema é infinita e penetra o es-
paço ilimitado. A Suprema Sabedoria, Poder e Inteligência está em tudo quanto existe, desde o
átomo até o astro.
Ela existe mais do que todas as coisas. A Inteligência Suprema é todas as coisas e constitui cada
átomo da montanha, do mar, da árvore, da ave, do animal, do homem e da mulher. Nem o homem nem
os seres que lhe são superiores podem conceber a Sabedoria Suprema, mas o homem receberá sempre
com alegria profunda os vislumbres da luz e da Inteligência Suprema, que lhe permitirão trabalhar para
a sua felicidade final, ainda que sem compreender nunca todo o mistério dela.
O Supremo Poder nos governa e rege, como governa e rege os sóis e todos os sistemas de mundos
que giram no espaço. Quanto mais profundamente conhecermos esta sublime e inexaurível sabedoria,
tanto mais aprenderemos a pedir que ela penetre em nós, constituindo-se uma parte de nós mesmos,
para, deste modo, fazer-nos cada vez mais perfeitos. Este meio de melhorar perenemente a saúde o
possui sempre, de modo progressivo, tudo quanto existe, estabelecendo uma como transição gradual
entre um mais elevado estado de existência e o desenvolvimento de poderes que não podemos, de
maneira alguma, realizar aqui.
Não somos, no entanto, o limite entre as várias partes e expressões do supremo e infinito todo. O
destino de quanto existe no tempo é ver a sua própria relação com o Supremo e saber descobrir também
que o reto e estreito caminho que nos leva à perpétua felicidade não é mais do que uma plena confiança
e dependência do Supremo, estabelecendo, assim, a total harmonia da sapiência, que não pode ter tido
origem em nossa pobre personalidade. Estejamos cheios de fé no que temos que pedir agora e todos
os dias, para que essa fé nos faça compreender e crer que tudo quanto existe é parte do Infinito Espírito
de Deus e que todas as coisas são boas, porque Deus está nelas, e, finalmente, que tudo aquilo que
reconhecemos como formando parte de Deus, existe e age necessàriamente para o nosso bem.

4 Prentice Mulford
MODO DE ALCANÇAR A ETERNA LUA DE MEL

E
m afeições, interesses, desejos e aspirações, a mente ou o espírito é exatamente o mesmo que
era antes da morte física do corpo que o alimentou, como certo é também que ele se não afasta
do local onde viveu encarnado.
Quando dedicamos a alguém um amor profundo e verdadeiro e, com igual sinceridade, por tal
pessoa fomos correspondidos com veemente e enternecido afeto, não resta a menor dúvida que, após
a nossa morte física, continuaremos tão próximos dela, como se ainda desfrutássemos do nosso verda-
deiro corpo material.
Os que durante a sua existência terrestre têm vivido sempre juntos, tendo gostos idênticos e idên-
ticas inclinações, têm ganho muitíssimas probabilidades de continuarem reunidos depois da morte, au-
mentando ainda neles o prazer que encontram na sua mútua companhia, de forma que nenhum encar-
nado, homem ou mulher, se poderá interpor aos dois, sentindo, de dia para dia, com mais intensidade,
a sua solidão temporária e a tristeza da separação.
Que é que nos atraiu para a mulher que foi nossa espôsa ou para o homem que foi nosso marido?
Foi, porventura, a afinidade de nossos sentimentos, gostos e inclinações? Se assim foi, 6 porque já exis-
tia uma íntima e talvez perfeita fusão de nossas mentalidades.
Essa íntima e perfeita fusão de duas mentalidades, com o profundo sentimento da separação que o
caracteriza, só é possível quando uma das mentalidades perdeu o seu corpo físico e a outra o conserva
ainda.
Convém ter sempre bem firme na mente esta ideia, sem ninguém, todavia, dever empenhar-se em
escavar ou parafusar nela, buscando toda espécie de objeções contra a sua realidade, porquanto tais
objeções serviriam apenas para afastar cada vez mais de nós a realização de nossos desejos e a fusão
necessária das duas mentalidades.
Nós que ainda estamos encarnados, isto é, que ainda vivemos nesta terra, consideramos a perda
de um parente ou amigo sob um ponto de vista bastante limitado e egoísta; imaginemos que a esposa,
que desencarnou ou perdeu o seu corpo material, também perdeu a seu marido; a desgraça deste pode
ser muito maior do que a sua própria, pois ela, embora destituída de corpo físico, sabe já que ainda vive
e que seu marido também vive, ao passo que ele a imagina morta no sentido vulgar da palavra; e esta
ideia toma a mulher realmente morta para seu marido. É como se, achando-nos na presença de uma
pessoa querida, no momento em que nos dispúnhamos a acariciar-lhe o rosto, a cobri-la de suaves bei-
jos, se nos tomasse de repente invisível, sem ouvir a nossa voz nem nós a dela, e sem que o seu contato
nos transmitisse alguma sensação. Converter-nos- ‘íamos, assim, em qualquer coisa semelhante ao não
ser ou aniquilamento absoluto, quando, uma hora antes, a nossa presença era vista e sentida, causando
até intensa alegria. É muito semelhante a isto a condição dos que, ao perderem o corpo físico, perdem
também o contato dos seus amigos e parentes terrenos.
As lágrimas que os vivos derramam sobre os entes queridos que perderam, são frequentemente
correspondidas pelos vivos invisíveis, que assim vão juntando uma nova dor à sua dor, por não poderem
dizer, em voz audível, aos entes queridos que deixaram na terra: “Eis-me vivo entre vós, e o meu único
desejo é continuar aqui, para vos consolar, amparar e alegrar”. Pode até, a dor sentida por esses a quem
chamamos mortos por terem perdido o corpo físico, mas não a faculdade de sentir e amar uma ou mais
pessoas na terra, ser maior do que a dor dos denominados vivos, junto dos quais, em virtude das leis de
atração, aqueles pseudomortos se vêem obrigados a permanecer, vendo-se gradualmente esquecidos

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 5


pelos que amam, à medida que os anos passam e até, mais cedo ou mais tarde, apagada por completo
a sua imagem e recordação no coração deles, e ocupado o seu lugar por outras pessoas.
Um dia virá, com certeza, em que os que ficaram na terra revestidos do seu invólucro físico, po-
derão, por infinitas maneiras, comunicar-se com os que já morreram, como se ainda gozassem de vida
carnal. E quando os mortos forem considerados como se fossem vivos, a terra se abrirá por todos os
lados para se estabelecer nela a vida em todos os sentidos.
Os que estão no outro mundo, fôsse qual fosse a sua condição neste, enquanto persistir o seu amor
e inclinação pelos vivos, nada mais fazem do que lamentar a perda do seu corpo físico, o instrumento
mediante o qual tinham se acostumado já a exprimir-lhes o seu afeto e suas emoções.
E, a seu grande pesar, junta-se uma nova dor ao verem que esse corpo perdido constituía o meio
mais adequado para uma comunicação mais tangível com aqueles que tanto amam ainda.
De forma que, se todos nós que perdemos amigos bons e queridos tratássemos de atuar em suas
mentalidades, pensando neles como se ainda estivessem vivos, embora invisíveis, indubi- tàvelmente
conseguiríamos derribar e transpor a barreira que hoje se levanta entre nós e aqueles por quem tão
pungentemente choramos e tão cruciantes saudades sentimos.
E se, além disso, robustecessemos em nós a ideia de que esses a quem erroneamente chamamos
mortos não só estão vivos, mas sentem também o veemente desejo e até a necessidade de volver ao
seu antigo lar, tornar a ver a sua casa, sentar-se na sua cadeira predileta, reatar as suas relações com
os velhos amigos e companheiros, certamente destruiríamos outra altíssima barreira.
Talvez alguém me pergunte: “Como posso eu acreditar que algum dos meus mortos necessita ou
sente desejo de se aproximar de mim?” Decerto, não esperamos de ninguém tão implícita crença. Mas
pode qualquer pessoa começar por deixar cm sua mente um cantinho reservado a estas ideias, pres-
tando ouvidos e atenção, embora ao princípio com indiferença, às verdades que elas representam, pois
como verdades que são, chegarão a demonstrar-se por si próprias.
Qualquer pessoa, entretanto, pode dizer-me a respeito do que aqui deixo dito e do que anteriormen-
te expus: “Mas o que nos dizeis não passa de teoria ou fantasia. Como podeis demonstrar a verdade do
que afirmais?” — Não é possível, com efeito, demonstrar-se nada disto, por meios meramente materiais.
Mas se, segundo esta ordem de ideias, vos apresentasse um dia alguma coisa como a manifestação
de uma verdade, vós próprios serieis quem a demonstraríeis. Cada um de nós possui um singular ma-
quinismo espiritual que nos servirá para experimentar com ele e por meio dele obter toda espécie de
testemunhos.
Nunca chegaríamos a adquirir crenças verdadeiramente arraigadas e firmes, se tivéssemos de
confiar só no que os outros nos contam. Toda a nossa vida duvidaríamos, se por nós próprios não pu-
déssemos verificar a exatidão dos fatos.
Existe uma lei mediante a qual uma verdade ou parte dessa verdade que se apossou da mente,
acaba por se arraigar nela com mais afinco de dia para dia, e deixa-se nitidamente sentir como verdade,
se não lhe for feita violenta oposição. Se a ideia que penetra na mente é uma mentira, em breve será
arremessada para longe dela. Se é, realmente, uma verdade e no comêço se lhe ministrou uma mentira
ou mesmo uma partícula dela, sem a menor dúvida esta acabará por ser expulsa, permanecendo na
mente só o trigo sem joio.
Existe igualmente outra lei, mediante a qual toda prece da mente humana há de determinar, em
tempos vindouros, para o homem, a sua representação material.
Contudo, preces há que necessitam talvez de várias gerações de homens para serem realizadas.
Durante séculos, todo mundo desejou ansiosamente tomar os meios de locomoção mais velozes e trans-
mitir a grandes distâncias os produtos ou elucubrações da sua inteligência. Eis por que vieram o vapor
e a eletricidade satisfazer esta insistente petição, tornando-a uma realidade.

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Por séculos e séculos inumeráveis, os homens têm se lamentado por causa desse fenômeno por
eles denominado morte, com o vivo anseio de o deter e impedir de uma vez para sempre. Estará, pro
acaso, esta prece condenada a ser uma exceção entre todas as outras preces e a nunca ser realizada?
Não. É porque, de alguma forma, esta súplica carecia, para lhe dar força e torná-la mais imperativa ç ve-
emente. Como? O conhecimento ou antes o sentimento de que, quanto mais forte e poderoso é o nosso
desejo de nos reunirmos àqueles que amamos, mais forte é neles também o desejo de poderem gozar
novamente de um corpo material, para se porem em comunicação outra vez com os seus antigos e ve-
lhos amigos. Esta súplica assim reforçada e robustecida está se generalizando agora por todo o mundo,
razão por que é de esperar que se aproxime ràpi- damente a sua cabal realização. Pouco importa que
seja limitado o número dos que a fazem, que pequenísimo seja ainda o número daqueles que a sentem;
esta súplica ou prece nada tirará à sua possibilidade.
Há quem pratique esta oração: são os que, lendo este livro dizem a si próprios, impelidos pelo
seu íntimo conhecimento ou intuição consciente: Isto é absolutamente verdade. E de cada um desses
convencidos se evolará um pensamento que despertará e chamará um ou mais corações em outros
domínios da existência, e que lhe corresponderão, soltando igual exclamação: Isto é a pura verdade!
acrescentando ainda: Também nós vos perdemos e, com igual veemência, ansiamos também podermos
comunicar-nos convosco, tangivelmente.
Vendo-nos e fundindo as nossas mentalidades tanto nos domínios visíveis como nos invisíveis,
abrir-se-nos-ão novos e seguros horizontes, sendo-nos dados os meios de chegarmos a essa anelada
comunicação, porque para Deus, ou o Espírito Infinito do Bem, nada é impossível.
Tempos virão, e não estão muito distantes já, em que todos os que tiverem perdido o seu corpo ma-
terial se manifestem por si próprios de forma a serem percebidos pelos sentidos físicos das pessoas por
quem mais e melhor tiverem sido amados na terra, isto é, mais intensa, desinteressada e sinceramente.
À medida que forem aumentando a fé e o conhecimento desta lei, neste e no outro mundo, estas
provas evidentes de que a matéria pode ser dominada pelo espírito serão cada vez mais numerosas e
simples.
Eu disse: “neste e no outro mundo”, porque o conhecimento desta verdade e a fé são tão necessá-
rios no mundo visível como no invisível para se obterem os resultados a que aludo, podendo até afirmar-
-se que isso geralmente é ignorado aqui, da mesma forma que se ignora em geral também no mundo
que não vemos. Se qualquer mente desconhecer todas estas verdades de que aqui falo, no momento
de desencarnar, não se imagine que imediatamente obtenha o conhecimento destes preciosos e verda-
deiros fenômenos.
Erro enorme é acreditar que, apenas o espírito dispa o seu invólucro terrestre, isto é, abandone,
pela chamada morte, o seu corpo, adquira imediatamente completa sabedoria e felicidade plena. Não.
Ao contrário, ele pode mesmo permanecer por um larguíssimo lapso de tempo tão ignorante e infeliz
com era antes. A ignorância é a mãe de toda miséria e de todas as dores.
Encarnada ou desencarnada, a mente só aprenderá daqueles para quem se sentir mais irresistivel-
mente atraída e de quem, nem mesmo querendo, poderá separar-se.
É provável que ao redor de nós se achem, às vezes, algumas mentes sem corpo físico, que não
nos abandonam porque acham em nós mais agradável companhia que em qualquer outra parte; e à
medida que aprendemos estas verdades também os espíritos que estão conosco as aprenderão, com a
circunstância de que eles só podem aprendê-las de nós. Sentem em nossa atmosfera mental um sereno
entusiasmo e animação, que não sentem nem podem sentir em nenhuma outra parte, absorvendo as-
sim todas as nossas ideias e pensamentos. A suave c tranquila companhia que pode sentir uma mente
desencarnada, na atmosfera pacífica de uma mente ainda encarnada, embora esta não chegue a dar
nunca pela presença de tais entes, é muito parecida com o sentimento de bem-estar e tranquilo sossego

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 7


que por vezes se experimenta sob as majestosas ramagens de umbrosa floresta ou em uma casa alegre
e cheia de sol, embora nela estejamos completamente sós.
Há línguas que não se lêem nem se ouvem e que, todavia, podem comunicar-nos toda espécie de
pensamentos e ideias, pois pode-se realizar a transmissão mental por meios que não têm por base ne-
nhum dos sentidos físicos. O que porventura vier do mundo invisível para o nosso, não será para servir
de pública manifestação, nem para satisfazer a vâ curiosidade humana e muito menos para se transfor-
mar em uma fonte de lucro.
As mentalidades mais aptas e bem dotadas para a compreensão e obtenção de todas as coisas,
procurarão conservá-las sempre secretas, da mesma forma que nenhum de nós se afa- diga, de certo,
a proclamar ao som de clarim tudo quanto constitui a parte mais íntima e recôndita da sua própria vida.
Não é natural que tais coisas se dêem nem que se possam obter num dia, num mês ou num ano.
Só aqueles que forem capazes de perseverar na jé durante anos, hão de realizá-los.
Tratar agora de estudar, metodicamente, os meios pelos quais se hão de obter os resultados de
que falo, seria em nós uma presunção tão ousada e até absurda, como o teria sido o do construtor do
primeiro caminho de ferro, com todas as imperfeições e erros, se houvesse querido realizar todos os pro-
gressos e aperfeiçoamentos que, meio século depois, nos oferecia esse rápido sistema de locomoção.
O conhecimento e a força aumentam incessantemente, elevando-se acima de si próprios e alcan-
çam, muitas vezes, resultados que ninguém espera.
Quem se atreverá a predizer, hoje, o que será capaz de realizar dentro de cinquenta anos a eletrici-
dade? Quem se aventurará a afirmar, hoje, que possa entrar em jôgo qualquer nova força ainda desco-
nhecida, ainda em estado latente, a qual realize, talvez, maravilhas tão grandes como nem sequer ainda
foram sonhadas neste planêta?
Se duas pessoas, marido e mulher, achando-se embora uma delas no mundo visível e a outra no
invisível, desejarem ardentemente comunicarse e mesmo tornar-se patentes uma à outra, com certeza
podem conseguilo se forem realmente marido e mulher; contando que, na mentalidade de ambos, se
encontrem fortemente firmadas as seguintes verdades:
“Que a mente é imortal e o que chamamos mente do corpo nunca será mente do espírito, onde
reside a verdadeira existência.
“Que assim como duas mentalidades podem achar-se na mais perfeita união e harmonia enquanto
ambas conservar o seu invólucro terrestre, podem da mesma forma seguir a sua vida em comum, quan-
do uma delas se despojou do corpo físico.
“Que não devemos considerar aqueles a quem denominamos mortos, como se vivessem em luga-
res muito afastados de nós, gozando de toda espécie de beatitudes e indiferentes às coisas da terra;
antes devemos acreditar que vivem na mais perfeita e íntima simpatia conosco, participando das nossas
alegrias e mágoas, interessando-se por todas as mnúcia da nossa vida, grandes ou pequenas, tal como
quando, revestidos de um corpo físico, viviam junto de nós/’
Quanto mais completa for a compreensão destas verdades, mais profundamente se arraigarão na
nossa vida. Nenhuma necessidade há de nos empenharmos para nos convencermos disso; sobre nós
elas próprias influirão e, com imensa surprêsa, notaremos que, à medida que o tempo for decorrendo,
se nos detivermos a refletir sobre nós próprios, pensamos e agimos até como se o ser invisível, o morto,
se achasse em um corpo físico ao nosso lado.
Se o estado da nossa mente é idêntico ao descrito aqui, isso constituirá um potentíssimo auxílio
para os defuntos que estão junto de nós. O contrário disso sucede quando, ao pensar neles, os consi-
derarmos como mortos e enterrados em profundíssima sepultura.

8 Prentice Mulford
No verdadeiro matrimônio, o marido e a mulher hão de conservar sempre o primeiro lugar no co-
ração e na mente um do outro, em qualquer tempo, ocasião e circunstâncias. Se, ao despojar-se um
deles do seu corpo físico, o seu lugar predileto é tomado por uma terceira pessoa, ficam imediatamente
separados, erguendo-se altíssima barreira entre eles.
O amor entre o homem e a mulher há de ir crescendo incessantemente, quanto à sua intensidade e
pureza. Este amor é de tal natureza que pode chegar ao exteremo de o marido e a mulher serem eterna-
mente os noivos que foram em sua juventude, aumentando-se-lhes intimamente a felicidade recíproca
que se prodigalizam, podendo até afirmar-se que, se falta em ambos essa comunhão de seus espíritos,
não existe o verdadeiro matrimônio.
Na fusão de duas mentalidades idênticas, constituindo, de uma para outra, um poderoso e real
elemento, permutando incessantemente o desejo mútuo e formal de se dompreenderem cada vez mais
ampla, perfeita, completa e profundamente, tão grande e intenso pode chegar a ser o poder de con-
centração que o seu pensamento chega a tomar, por fim, uma expressão física; e se o maior desejo de
ambos for o de construir um corpo material para o que tiver desencarnado, indubitàvelmente a força de
sua concentração o chegará a formar.
Assim como os pensamentos são coisas ou elementos reais, também os espíritos podem chegar a
materializar-se de qualquer forma, boa ou má, e fazem-no com muitíssima frequência.
Na realidade, toda expressão física que a natureza contém, pertença a que remo pertencer, nada
mais é do que a encarnação materializada de um pensamento.
A magia nada mais significa do que esse poder agora latente na mentalidade humana, em virtude
do qual e graças a uma concentração da mente sobre a substância material, se pode fazer tomar a esta
a forma do objeto em que se pensa.
Este poder foi conhecido e praticado não há ainda muitos séculos, mas parece que foi a sua ciên-
cia considerada como puramente masculina, se me é permitido dizer assim. A utilidade e necessidade
de ser pôsto o pensamento masculino em conjunto com o pensamento feminino, não parece terem sido
reconhecidas e ainda menos observadas.
Os resultados maiores e completos em qualquer fase da vida, obter-seão somente quando o pen-
samento feminino e o masculino se unirem para formar uma nova força muito mais forte e poderosa do
que a dos dois isoladamente.
São hoje bem raros os homens que escutam, dando-lhes algum valor, os conselhos e avisos da
espôsa,a respeito de seus negócios. E, todavia, vemos nisso o reflexo mais puro do valor que o elemento
feminino tem para o homem. Quanto mais íntima e perfeita for a união entre o homem e a mulher, maio-
res, mais amplos e perfeitos serão também os resultados obtidos em quaisquer campos da existência,
em qualquer ramo da atividade humana em que se possa desenvolver a sua ação.
O amor não é um mero sentimento. É muito mais do que isso: é uma força hercúlea, gigantesca,
capaz de levar avante, de fazer progredir e triunfar as mais difíceis e ousadas emprê- sas, de emocionar
e por em movimento as maiores nações.
As mulheres são possuidoras de um poder que elas mesmas desconhecem. Se fossem possível,
num só momento, que todas as mulheres negassem aos homens a sua simpatia e o seu amor, os negó-
cios seriam desastrosos, e os homens veriam desaparecer toda a sua grandeza e energia de que tanto
se jactam, o que não só seria funesto para eles, mas também para as próprias mulheres.
Isto, porém, não se pode dar hoje, nem se dará nunca, pois é absolutamente certo que o pensa-
mento feminino e o masculino se coadjuvam mutuamente e cooperam na mesma obra, embora exista
ainda a ignorância em que o homem vive com relação ao valor da mente feminina, e a própria mulher
desconheça em geral, também, o poder imenso que encerra a simpatia que dela flui constantemente
para o homem.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 9


Toda pessoa que desejar a morte com o intuito de mais cedo se reunir ao ser amado já desapa-
recido do mundo visível, debilitar-se-á e perderá o vigor e poder, sucedendo o mesmo aos espíritos
desencarnados que sintam igual desejo veemente de se juntarem, no mundo visível, aos sêres queridos
que neste deixaram.
É desta forma que, muitas vezes, acontece que o marido ou a espôsa, uma vez desencarnados,
atraem para o mundo dos espíritos o que lhes sobreviveu neste.
O constante desejo de morrer é o meio mais poderoso para alcançar a morte realmente; porém,
que desilusão resulta ao sc acharem no mundo invisível, sem terem concluído a obra que lhes estava
destinada na terra. É então que compreendem nfio terem cumprido a sua espinhosa missão: falta-lhes
ainda muito e acham também ser muito menor o prazer, que encontram na sua mútua companhia, do
que imaginavam.
Descobrem também que não podem aproximar-se mais, um do outro, em gostos e inclinações, do
que o que fizeram na terra e que se alguma divergência de gostos e modo de sentir os separa, tal sepa-
ração é para ambos muito mais penosa também do que o era neste mundo. Compreendem o que cada
um deles pensa e sente a respeito do outro, tão nítida e claramente como se o exprimissem por meio de
palavras: ambos contemplam mutuamente os pensamentos um do outro como se os vissem refletidos
no mais límpido espelho e isto lhes causa imenso desagrado.
Um dos resultados da vida relativamente perfeita que se desenvolve neste planêta consiste na aqui-
sição desse poder espiritual que nos permite tomar ou deixar, conforme for a nossa vontade, o corpo
material, faculdade ou poder que só num verdadeiro matrimônio se pode encontrar.
Quando um dos membros que o constituem continua vivendo no mundo visível, de posse de um
corpo físico, a sabedoria do que primeiro partiu para o mundo invisível lhe sugerirá, decerto, a ideia de
continuar a viver, insuflando-lhe toda a coragem possível para que continue a sua viagem terrena até
cumprir a missão que por Deus lhe foi confiada, porquanto, o que ainda goza de um corpo físico, au-
mentando, de dia para dia, seu saber e conhecimentos, pode também ser de enorme auxílio para o que
já só existe espiritualmente.
Todas as forças de que o homem se utiliza nesta vida são- lhe transmitidas pela mente feminina.
Para cada mentalidade masculina existe exclusivamente uma só e única mentalidade feminina, que
é sua própria e através das idades lhe irá transmitindo a sua maior e mais elevada fôr- ça mental, força
esta que só a ele pertence e que só ele poderá utilizar, sendo impossível a qualquer homem apropriar-se
dela em qualquer tempo.
Nenhum espirito existe, masculino ou feminino, que não tenha o seu próprio e eterno complemento
no sexo oposto, e os laços da oração ou prece acabarão por juntar, unindo-os um dia definitivamente,
aqueles que, na verdade, pertencem um ao outro, pois desde o princípio dos tempos estavam já desti-
nados para formarem o verdadeiro matrimônio.
São realmente esses os tais a quem Deus juntou e ninguém pode jamais separar nesta existência
nem em sucessivas reencar- nações físicas.
A última fruição do gôzo, a mais perfeita, maior e mais poderosa ventura nesta vida, únicamente
pode ser realizada mediante a perfeita e cada vez maior união, ainda mais, a completa e absoluta fusão
do homem e da mulher, que desde sempre estão destinados um ao outro para toda a eternidade.
A morte do corpo nunca poderá destruir o verdadeiro matrimônio e, dado o caso em que, por igno-
rância ou circunstâncias muitas vezes inteiramente alheias à vontade e ao livre arbítrio, tanto do homem
como da mulher, alguém venha a interpor-se entre os que foram unidos pelo Infinito, nunca esse dispara-
tado e falso enlace, embora tenha sido feito com todas as aparências e formalidades de um sacramento
legal, constituirá o matrimônio verdadeiro.

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A relativa perfeição da vida consiste em gozar de uma saúde perfeita, de um vigor são e de uma ca-
pacidade sempre em escala ascendente para toda espécie de alegrias e a máxima força de vontade e
poder possíveis sobre o corpo, para podermos usá-lo neste mundo físico, tanto tempo quanto ao nosso
desejo convier, o que, todavia, é apenas um princípio da vida e das possibilidades e potências, em nós
latentes e de que gozaremos plenamente algum dia.
Estas possibilidades só poderão ser alcançadas mediante a ação das Leis e da eterna união e mú-
tuo amparo dos espíritos masculinos e feminino.
Um dia se encontrarão, decerto, os dois espíritos que devem pertencer para sempre um ao outro,
as duas almas gêmeas que têm de caminhar enlaçadas, bem juntas, ditosas e suavemente unidas por
toda a eternidade, devendo por si próprias manifestar a sua mútua e correspondente afinidade, assim
como por si mesmo se demonstrará também em qualquer outra união o antagonismo e a falta de corres-
pondência necessária. Não há vida perfeita, nem em saúde física, nem em fortuna, nem em nenhuma
das outras faculdades, potências e possibilidades, que anunciam, a não ser mediante o único e verda-
deiro matrimônio, o qual, de dia para dia, crescerá em perfeições, força e ventura e cuja lua de mel será
não só duradoura, mas eterna e cada vez mais pura e esplendorosa.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 11


A CIÊNCIA DE COMER

O
estado mental em que nos achamos no momento de nos sentarmos à mesa para comer tem uma
importância capital, muito maior mesmo do que as próprias substâncias alimentícias de que nos
nutrimos, ainda mais não sendo grato ao paladar tal alimento.
E é porque quando comemos, ao mesmo tempo que o corpo ingere os alimentos, o Eu espiritual
incorpora em si todos os pensamentos e estados mentais predominantes em nós durante a refeição.
Se, enquanto comemos, estivermos pensando em coisas que nos desagradam, incomodam ou irritam,
ou ainda deixamos invadir a nossa alma pela tristeza ou o desânimo ou nos entregamos a movimentos
mentais de impaciência ou ansiedade, assimilamos tão nocivas ideias e elementos, que eles começam,
deste modo, a formar parte de nós próprios. Os nossos alimentos convertem-se, então, num agente ma-
terial, mediante o qual atraímos ideias e pensamentos que nos causarão grave dano. Embora a alimenta-
ção seja muito sã e nutritiva, de nada nos aproveitará se, ao momento de ingeri-la, a nossa mente estiver
sob a ação de pensamentos deprimentes de pesar ou de cólera, ou elaborando, acaso, preconceitos
perniciosos que só lhes aproveitarão como um veículo magnífico para esses maus elementos formarem
parte do nosso espírito.
Comer com inteligência sossegada, com a mente num estado de tranquilidade, bem-estar e paz,
ocupando o espírito e a conservação em coisas agradáveis, atrairá para nós uma corrente mental plena
de vigor e saúde. Pode-se afirmar que, nesse caso, ingerimos tal corrente mental ao mesmo tempo com
os alimentos, a qual desde esse momento começará a formar parte integrante do nosso Eu espiritual.
Está encerrada uma grande e muito proveitosa verdade nesta frase: Sejamos puros à mesa. Quer
seja formulada em voz alta ou só mentalmente esta ideia, ela nos atrairá a corrente espiritual que há de
determinar, em nosso ânimo, esse estado necessário para que os alimentos que ingerimos sejam bené-
ficos, tanto ao corpo como ao espírito.
E podemos exteriorizar esse desejo em qualquer lugar e ocasião, embora tomemos apenas um
bocado.
Pensar, enquanto comemos, em doenças, qualquer espécie dc dor, desgosto ou infelicidade, é
atrairmos os elementos que as produzem e construir a doença, a amargura ou a vicissitude dentro do
nosso espírito.
Podemos não sofrer da enfermidade especial em que pensamos ou falamos durante a refeição,
mas se o repetirmos muitas vezes e isso chegar a converter-se para nós num hábito, in- dubitàvelmentc
um dia ou outro chegaremos a ser atacados por ela.
Enquanto comemos assimilamos elementos mentais bons ou maus em muito maior quantidade do
que em outras ocasiões da vida, em vista das razões que passamos a expor.
Quando comemos, achamo-nos em um estado receptivo muito mais amplo do que nas outras ho-
ras do dia, enquanto estamos acordados. Quer isto dizer que o espírito coloca a si próprio, e ao corpo
também, num estado adequado para a recepção das forças que os alimentos tomados encerram; e
nesse estado, naturalmente, com muito maior facilidade, pode vir para nós sob forma mental, tudo o que
de bom ou de mau existe no universo, o que fazemos quase sempre inconscientemente. Além disso,
enquanto o espírito e o corpo estiverem recebendo forças de qualquer origem que seja, não podem
produzi-las, da mesma forma que o cavalo não pode trabalhar enquanto está comendo.

12 Prentice Mulford
Faríamos, portanto, um dispêndio inútil de forças se, enquanto estivéssemos comendo, a nossa
mente estivesse também desagradàvelmente ocupada com algum pensamento triste, grave preocupa-
ção ou em grande tensão de espírito, relativamente a qualquer assunto.
Por esta razão, também o estudar enquanto se está comendo, há de acabar por nos causar um
gravíssimo dano.
De forma que podemos atrair enorme quantidade de elementos benéficos, se ao comer procurar-
mos colocar o nosso espírito num estado de completa serenidade e sossêgo; como também atrairemos
grande quantidade de elementos mentais maléficos, se fizermos as refeições tendo o espírito fortemente
preocupado por profundo desgosto, grande impaciência ou ansiedade, ou ainda um forte sentimento
de cólera.
Aquele que, durante muito tempo, teve o costume de se sentar à mesa no estado mental de que
acabamos de falar, não julgue que pode quebrar esse mau hábito e desligar-se dele imediatamente.
Todo hábito mental que nos afeta ou domina fisicamente, só pouco a pouco e gradualmente pode ser
modificado. Vô-lo-emos modificar no sentido benéfico, graças ao nosso persistente desejo ou prece,
para que tal mudança se realize. Ao sentarmo-nos à mesa, recordaremos de vez em quando que, en-
quanto nos alimentamos, é necessário colocar-nos em boas condições mentais e de tranquilidade e
repouso, embora não sejamos capazes de conformar-nos com elas. O corpo tem-se ido formando, por
assim dizer, através de larguíssimos anos e adquirindo gradualmente o costume do viver de acordo com
certos costumes rotineiros que não podem ser rapidamente abandonados, nem modificados. Podemos,
porém, começar por pedir pela manhã, a realização das condições mentais necessárias para produzir o
ansiado sossêgo e tranquilidade do corpo e do espírito, com a segurança de irmos, assim, nos refazen-
do pouco a pouco; destruiremos, destarte, tudo o que nos possa ser prejudicial. Só pelo fato de formular
este desejo atrairemos já uma nova corrente mental, e a ação contínua e crescente exercida sobre nós
por ela, há de chegar a corrigir-nos neste ponto concreto, como pela mesma forma poderemos sempre
corrigir-nos de qualquer outro defeito.
Há uma maneira de comer excessivamente precipitada e cheia de inquietações que nos obriga a
ingerir os alimentos com tanta pressa e voracidade, e em pedaços tão grandes que, muitas vezes, aca-
ba por nos fazer sofrer uma influência especial, que nos tira por completo o apetite e o gosto de comer,
apesar de nos sentirmos com demasiado apetite quando nos sentamos à mesa.
As pessoas que se deixarem dominar longo tempo por este mau hábito, acabam frequentemente
por perder totalmente a vontade de comer.
O máximo de tempo que tais pessoas gastam à mesa não passa de vinte minutos, quando muito,
e quase não conhecem nem compreendem sequer o gozo físico e espiritual que se pode encontrar no
simples fato de comer sossegada, calma e tranquilamente, e ainda não sabem quanta extraordinária
energia nos pode proporcionar o comer no estado mental de que acabo de falar.
Esta forma de comer com sofreguidão é um péssimo costume e muito perigoso. Em virtude desse
mau hábito, o corpo, embora tenha ingerido talvez grande quantidade de comida, sentir-se-á sempre
esfomeado, necessitado de alimento; e o comer deste modo não nutre o organismo, nem dá saúde.
Haverá até pessoas que irão emagrecendo e enfraquecendo, sem o notarem sequer, devido a este
mau hábito, até chegar um dia em que o corpo depauperado se veja completamente abandonado pelo
espírito, dando-se o que os homens denominam morte.
Outros converter-se-ão em mártires da dispepsia, atribuindo a sua enfermidade a este ou àquele
alimento que ingeriram, quando a verdade é que esses caluniados alimentos nada têm que ver com a
doença que tanto os faz sofrer. Em compensação, o estado mental em que se encontram enquanto co-
mem é o único culpado de todos esses malefícios.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 13


Quando comemos muito às pressas, com o espírito cheio de ansiedade ou inquietação, atraímos
forças e inteligências que nenhum prazer tomam em nossa refeição e a consideram antes como uma
operação incômoda e até, talvez repugnante, esperando impacientemente que ela acabe o mais breve
possível. Sob as nefastas influências dessas forças quase sempre inconvenientemente atraídas, pode o
organismo sentir profunda repulsa pelo alimento e até convertê-lo, como atualmente sucede com muitas
pessoas, num hábito puramente mecânico, causando com isso imenso dano ao corpo.
Em todo trabalho corpóreo e em todo serviço que se presta ao corpo, é necessário que a sua ação
se realize de um modo vibrante e integral; de outro modo, podemos afirmar que é um serviço improfícuo,
morto, como se costuma dizer, e isto nada mais fará que trazer enfermidade e decadência ao corpo.
O homem que chega a entregar-se tão do íntimo da alma à arte que professa ou ao seu negócio,
que nem sequer se lembra de alimentar-se e, se o faz, apenas gasta nisso pouquíssimos minutos, para
imediatamente voltar, com a máxima precipitação, às suas ocupações, depois de mal ter tragado alguns
bocados, certamente, mais cedo ou mais tarde, virá a sofrer muitíssimo em sua saúde, por esse motivo.
Não podemos estar continuamente refazendo as energias do corpo e do espírito, da mesma forma
que o maquinista pode manter sempre aceso o fogo da máquina, pois, imprescindivel- mente necessi-
tamos de alguns momentos de descanso para isso. Não é certamente bom sinal para ninguém o fato
de dizer que a qualidade do alimento é indiferente, porquanto tudo é bom, seja o que fôr, contanto que
mate a fome, pois quando há fome não há pão ruim, nem vale a pena procurar só acepipes. É o espírito
que pede sempre variedade no gosto e no aroma dos manjares e, para assim o exigir, tem ele razões
que não podemos explicar neste momento.
E quando o paladar se torna indiferente e acha iguais todos os sabores, não resta a menor dúvida
que tal espírito está verdadeiramente embotado. Quanto mais elevada é a espi- ritualização de qualquer
pessoa, mais se depura também o seu paladar.
Mediante o sentido físico do gôsto, é o espírito quem recebe o maior prazer, oriundo de um bom e
delicado alimento. O espírito que viver e gozar em cada uma das expressões da nossa vida física e uma
dessas principais expressões é justamente o gôsto, o paladar.
Se, por falta de um uso apropriado, qualquer destas mani festações vitais fica fechada ou morta,
não há a menor dúvida que a nós próprios privamos do prazer que nos devia proporcionar, resultando-
-nos disso também um gravíssimo dano. Não deve, todavia, confundir-se isto com a gula. O glutão pro-
priamente dito não come nem saboreia o alimento, — devora. O comer bem consiste em deter-se a cada
bocado, e quanto mais se possa prolongar o tempo destinado ao alimento, mais e melhor se converterá
ele num meio de adquirir vida forte e salutar para o espírito. Na verdade, o glutão pouquíssimo proveito
tira da sua copiosa alimentação; é como se na fornalha de uma máquina se lançasse de uma só vez
exagerada porção de combustível, ò qual produz força que é totalmente perdida e até prejudicial, às
vezes, para o bom andamento do motor.
Meia dúzia de bocados nutritivos, comidos em paz, satisfação e sossêgo, bem çnastigados e sabo-
reados com verdadeira delícia, hão de sempre produzir-nos maior benefício do que enorme quantidade
de alimentos, mal mastigados, comidos com grande precipitação, sem prazer, mesmo quase sem lhes
sentir o gôsto.
Quando comemos, ingerimos com a nossa alimentação elementos positivos e reais de saúde, de
força e de tranquilidade mental. E quanto mais profundamente em nós se radicar o hábito de comer
desta maneira, mais aumentará e se fortalecerá o poder, para atrair-nos cada vez mais tão desejáveis
elementos.
Devemos, pois, também procurar fazer com que se sentem à mesa, à hora das refeições, sòmente
pessoas cuja companhia nos seja agradável e não estejam cheias de impaciência, tristeza ou inquieta-
ção; nem tenham por costume estar contínua e aflitamente pensando em seus negócios, cuja conversa-

14 Prentice Mulford
ção amena e interessante distraia ou instrua, e não guardem em seus corações nem vislumbres sequer
de rancor, má vontade, inveja ou zombaria para com os outros. Teremos procurado, desta forma, o mais
valioso auxílio mental para que a nossa alimentação se transforme no maior benefício para o corpo e o
espírito. Todos os convivas reunidos neste modo concentrarão todos os seus esforços, mesmo incons-
cientemente, para se atrair uma corrente mental de uma força imensa que será tanto maior, quanto maior
for também o número de convivas que, em idêntico estado mental, ali estiverem reunidos.
Uma refeição tomada nestas boas disposições mentais, no gozo de uma alegria plácida e calma,
uma suave tranquilidade, sem a menor coisa que nos incomode o corpo ou o espírito, embora tal re-
feição dure uma hora, é uma hora de proveitoso descanso que a nós próprios proporcionamos, e, en-
quanto repousamos é que adquirimos maior quantidade de energias. Além de que, enquanto comemos,
se o fizermos nas condições exigidas, é possível que o nosso espírito atue sobre outros espíritos muito
distantes, talvez, do nosso corpo físico e a sua ação pode ser eficaz ou ainda mais do que em quaisquer
outras ocasiões. De forma que nenhum tempo perdemos enquanto estamos entregues ao prazer da
mesa e daívem, talvez, o dito dos antigos: “À mesa ninguém se faz velho”, mas é neste estado mental
de bem-estar, alegre e calmo convívio que obtemos novas forças.
Nunca é perdido todo o tempo gasto em qualquer prazer, se gozarmos dele de um modo são, digna
e retamente.
A ação de todo esforço, quer mental, quer puramente físico, há de produzir-nos certamente algum
prazer. Esse estado inteiramente especial de plácido e alegre bem-estar em que, por vê- zes, nos senti-
mos, seja produzido pelo comer, dormir ou passear, ou ainda por quaisquer outros dos nossos esforços
físicos cotidianos, torna-nos bons, joviais e é a melhor prova de que usamos da vida retamente. Nem
antes, nem enquanto estamos comendo, nos devemos preocupar muito com a ideia de que este ou
aquele alimento pode ser-nos útil ou nocivo, ou nos assentará ou não no estômago, nem é conveniente
também pensar em tais ocasiões: “Creio que isto ou aquilo me fará mal, e receio até ter de pagar caro
depois que tiver comido ou bebido.”
Procedendo desta forma, só determinaremos as condições adequadas para que tal suceda, pois
que, assim como imaginarmos mentalmente o nosso estômago, tal esse será, por fim.
Em lugar disso, digamos e pensemos, quando nos sentarmos à mesa para comer:
Creio ou estou certo que tudo quanto eu comer me há de fazer boa digestão, aproveitar e nutrir o
meu organismo e aumentar as minhas forças.
As ideias prazenteiras e benéficas de que neste instante a minha mente está repleta, começam a
formar parte do meu próprio corpo com todo o bocado que ingiro e quanto mais tempo eu prolongar
a refeição e com maior calma e tranquilidade a fizer, maior será também a quantidade de alegria e de
força que hão de penetrar em mim.
Estou comendo para glorificar a Deus — o Poder Supremo, do qual sou também uma parte, mínima
embora.
Estas palavras formuladas, ou pensadas apenas, constituem a melhor das graças que se possa
render a Deus no momento de nos sentarmos à mesa.
Depois, devemos pedir a necessária capacidade para esquecer o que nos caiu no estômago. Não
convém pensar nele, nem enquanto comemos, nem durante o período da digestão.
O nosso alimento deve ser como o das aves que somente sabem que acharão o seu sustento onde
a natureza lhes diz que hão de encontrá-lo e, depois de o saborearem, não se recordam mais dele nem
se preocupam com processos ulteriores que, porventura, se possam efetuar.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 15


Se pensardes contínua e fixamente em qualquer doença de estômago, com toda a certeza vireis a
sofrer dela por fim, pois que aquilo em que persistentemente pensamos, virá a realizar-se certamente um
dia, mais cedo ou mais tarde, no mundo material.
Que devemos comer? Com toda sinceridade, vos digo: — Comamos muito simplesmente tudo
quanto nos agradar e der algum prazer.
Deu-nos a natureza o sentido do paladar como uma sentinela de atalaia para guardar o estômago.
Se algum alimento nos repugna, não o comamos.
O comer à força seja o que fôr, quando o paladar pouco prazer sente nisso, comer quase pela
obrigação de cumprir uma espécie de dever, mais do que por sentir verdadeira necessidade e desejo
de fazê-lo, pouco ou nenhum benefício nos causará. Comer qualquer coisa que o nosso paladar recebe
indiferentemente ou lhe é desagradável, é apenas obrigar o corpo e o espírito a ingerir aquilo de que
nenhuma necessidade têm.
O corpo e o espírito tiram algum benefício dos alimentos ingeridos quando a mente tem certa fé em
que eles nos serão úteis e proveitosos.
Ora, se neste estado mental experimentarmos comer algumas substâncias que costumam fazer-nos
mal, acharemos, ao cabo de algum tempo, que os efeitos nocivos deixaram de produzir resultado no
nosso organismo. É provável que isso se não consiga imediatamente, porquanto não há ninguém que,
se durante um largo período de anos, estiver na convicção de que este ou aquele alimento lhe fazia mal,
acredite, de um momento para outro, piamente, que essa substância deixou absolutamente de lhe ser
prejudicial.
As carnes e os vegetais mais frescos são sempre os melhores, porque contêm maior quantidade
de forças. Comendo deles sensatamente, e na devida proporção, como a mente aconselha, com conta,
peso, medida e nas horas convenientes, é quando a força que eles encerram, ou antes, o seu espírito
próprio, contribuirá para revigorar e robustecer nosso espírito.
O que neles permanece depois de salmoura, defumação ou qualquer outro processo dos habitu-
almente empregados para os conservar, são unicamente os seus elementos propriamente terrenos. As
suas energias vitais mais puras e ativas desaparecem.
Para os vegetais não há operação alguma de conserva que lhes conserve realmente os princípios
vitais tidos no momento de serem colhidos ou arrancados.
Se, altas horas da noite, alguém se sentir com grande vontade de comer antes de se deitar, pode
fazê-lo sem receio, contanto que seja com certa moderação.
Se formos dormir sem comer quando o corpo desejava receber alimento, o mais provável é que o
espírito, cheio de apetite que não foi satisfeito, parta para algum lugar onde se padeça fome, enquanto
o corpo se acha num estado de perfeita inconsciência e, desta forma, não poderá trazer-nos já os ele-
mentos mentais de força e vigorosa saúde que nos teria comunicado, sem dúvida, se tivesse deixado o
corpo saciado.
Certamente foi ensinado a muitos dos meus leitores e assim o acreditaram durante muitos anos,
que o comer e ir deitar -se imediatamente é muito prejudicial à saúde, e como toda ideia ou pensamento
chega a converter-se em uma parte de nós mesmos, é evidente que esta errônea crença terá sido para
todos eles causa de grandes danos, muitos dissabores e até graves indisposições.
Os animais, que os homens denominam irracionais, comem e adormecem logo em seguida, e a sua
digestão faz-se tão perfeita, completa e tranquila, não só quando dormem como quando estão acorda-
dos. Ora, se procedessemos de igual modo, só daríamos à natureza o que realmente é propriedade sua
e lhe pertence.

16 Prentice Mulford
Na Inglaterra existem milhares de pessoas que tomam a sua última refeição às nove ou dez horas
da noite, indo deitar-se quase em seguida, e todavia, o têrmo médio do bom estado de saúde dos inglê-
ses é, pelo menos, tão bom como o nosso ou melhor talvez.
Se um alimento qualquer não se deu bem no estômago um dia, não é razão para afirmar que su-
ceda sempre o mesmo. O nosso verdadeiro Eu é apenas um conjunto de crenças e opiniões de que
resultam, por fim, os nossos próprios costumes.
O nosso estômago pode digerir melhor ou pior, de acordo com algumas crenças que, por acaso, te-
nhamos mantido dentro em nós, durante muitos anos, inconscientemente, com relação às suas funções
especiais, as quais certamente nunca tentamos combater.
É possível abrigarmos, talvez, a convicção de que este ou aquele alimento nos deve fazer mal, se
o comemos nesta ou naquela ocasião. Pois bem, a força gerada por esta ideia, mantida em nós por um
período de tempo tão longo, é que faz, e não outra coisa qualquer, com que esse alimento faça mal. Se
conseguirmos destruir esse erro mental, irá a verdade progredindo e percorrendo todo o seu trajeto, re-
cobrando então, pouco a pouco, o nosso estômago, toda a sua força melhorando o processo digestivo
e deixando, portanto, de ser molestado por uma série de vãos caprichos que nós próprios havíamos
alimentado durante largo espaço de tempo.
Se sentirmos desejo de comer carne, comamo-la. Negando ao corpo o que ele nos pede, causa-
mos-lhe grave dano. Na verdade, a carne é um alimento muito mais grosseiro e ruim do que qualquer
outro, mas também o corpo é uma coisa muito baixa e grosseira, se o compararmos com o espírito.
É natural que o corpo peça para seu sustento aquilo que mais se aproxima da sua natureza terrena.
Tanto comendo carne como alimentandonos só de frutos e outros vegetais, nos é facultado o dom de
podermos sentir sempre o desejo ardente de atrair para o espírito todos os elementos melhores e mais
puros. Comendo com este desejo na mente, convertemos a carne em excelente meio para a atração dos
elementos espirituais mais elevados. De igual modo, comendo só pão do mais puro ou saborosíssimos
aromáticos morangos, se, no momento de comê-los, o nosso estado mental for de ódio, inveja, ciúme
ou de profunda mágoa e inquietação, atrairemos correntes mentais da pior espécie, enchendo o nosso
corpo e espírito das paixões mais grosseiras e baixas.
A espiritualização do corpo ou o fato de transformar o corpo num instrumento dócil às instigações
do espírito é capaz de exteriorizar os seus maravilhosos dons ou potências, e não provém verdadei-
ramente de processos puramente mecânicos, nem de métodos severamente rigorosos e inflexíveis.
Provém mais do desejo formal e positivamente expresso pelo espírito ou antes da sua santa aspiração.
A espiritualização vai nos elevando pouco a pouco, afastan- do-nos, portanto, cada vez mais dos
desejos baixos e grosseiros. É bem certo que nos permite gozar deles, quando disso há uma verdadeira
necessidade, mas proíbe-nos de abusar desse gôzo, qualquer que seja, pois na realidade,enquanto não
dermos ao corpo a satisfação de um desejo imperioso por ele manifestado e exigido, não abolimos nem
destruímos o apetite do objeto desejado ansiosamente.
Se desejarmos comer carne e a comermos mentalmente , recusando-a ao corpo, andamos pior do
que se realmente a tivéssemos comido — pois que, satisfazendo os desejos do corpo, pro- duz-se-lhe
uma quietação ao menos temporàriamente, ao passo que uma recusa obstinada, uma privação absolu-
ta da satisfação desses desejos, pode e costuma manter sempre vivo aquele veemente anelo e, desta
forma, o espírito está sempre comendo a carne que foi negada ao corpo, o que concentra a maior parte
das nossas forças mentais na coisa proibida ou recusada, quando podiam antes empregar-se em intui-
tos e propósitos melhores, mais úteis e proveitosos.
Os mais baixos e grosseiros apetites não ficarão, com certeza, subjugados, só pelo fato de uma
fortíssima e imperiosa vontade lhes negar obstinada e tenazmente a ‘sua satisfação. Podem ser reprimi-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 17


dos, mas não destruídos totalmente e assim fà- cilmente surgirão outros de novo, inesperadamente, sob
uma ou outra forma.
A pessoa que se mostra tão severa com o seu próprio corpo, com certeza o é para com os outros
também, e vê sempre com maus olhos todos aqueles que não aceitam nem praticam a sua extrema
austeridade.
É todavia verdade que podemos trabalhar também, de uitt certo modo, para a progressiva espiritua-
lização do corpo, pelo regime do jejum ou fazer com que o nosso Eu seja mais sensível à espiritualidade
que nos rodeia. Podemos chegar a sentir com mais agudeza uma das mentalidades que nos rodeiam.
Mas será necessário lembrar que, para isso, temos de permanecer com o nosso espírito aberto, tanto
para receber as boas influências, como as más, e, como o mal nas suas variadíssimas formas está em
grande superioridade ao bem, eis a ra^ão por que, se mediante a abstinência de, alimento debilitamos
excessivamente o corpo, encontramos em nós mesmos disposição positiva para resistir aos maus pen-
samentos e arremessá-los para bem longe de nós.
Há, na carne, um elemento positivo tão duro, pesado e inflexível como uma barra de ferro. Este ele-
mento é o espírito da atrocidade, torpeza e ferocidade dos animais selvagens e carnívoros e, ao engolir
a carne, absorvemos também maior ou menor quantidade de tal espírito. Temos, porém, recursos para
suavizar esta qualidade grosseira; é purificá-la um pouco até chegar a convertê-la em um elemento útil
para o corpo e o espírito. Visto não termos outro remédio senão viver neste mundo e com a gente que
o habita, não podemos, pois, neste plano da existência, isolar-nos de todo, dentro em nós próprios, ou
viver num mundo inteiramente à parte; nem desta maneira alcançaríamos nunca a verdadeira felicidade.
O que nos convém precisamente e o que devemos na verdade fazer é viver com os outros, tomando
do mundo o melhor que ele tiver e dandolhe, em compensação, o melhor que nós tivermos também.
Assim, no nossa trato com a sociedade, necessitamos possuir certa quantidade de elementos posi-
tivos que ela própria nos dá e que absorveremos dos organismos animais que nos rodeiam. E devemos,
além disso, ter também sempre presente ao espírito que necessitamos desses elementos positivos para
a mais sólida afirmação dos nossos próprios direitos, e precisamos dê- les justamente para podermos
manter-nos em estado positivo e evitar a absorção dos errôneos pensamentos alheios.
Não devemos, certamente, ser nem pusilânimes, nem torpes, nem brutais, mas o nosso espírito
pode suavizar um tanto os baixos pensamentos que a nossa carne contém, convertendo a ferocidade e
a violência numa sensata decisão e num prudente arrôjo; nestas condições os princípios encerrados na
carne podem ser muitíssimo proveitosos para alcançar estas ótimas qualidades.
É evidente que os homens vindouros deixarão de ser carnívoros, tortiando-se mais vegetarianos
e frugívoros, porquanto gradualmente irão aumentando neles os elementos espirituais, de forma a não
terem necessidade do emprego da carne, nem o desejo de comê-la se lhes fará sentir. É uma crueldade
enorme e uma grande injustiça tirar a vida dos animais para nosso gôzo. Mas a injustiça atualmente é,
de algum modo, uma necessidade.
O nosso espírito é o produto de um processo ascendente, desde o ínfimo grau até ao mais elevado.
Nos tempos remotíssimos da Antiguidade, estava o nosso espírito alojado em corpos toscos, porque ele
era ainda mais grosseiro e ruim do que hoje é. Nas idades futuras, o nosso espírito e o nosso corpo serão
muito mais puros e perfeitos do que atualmente, de modo que a matéria ou a substância tosca que em
um outro plano ou existência é necessária, deixa de o ser em um estado ou plano superior.
A Aspiração é que finalmente libertará o corpo de todos os apetites excessivamente grosseiros e os
desejos desordenados serão dele expulsos completamente para sempre, e já não terá mais tentações
como as tivera em outros tempos, porque a tentação terá perdido sobre o corpo todo o seu poder e
prestígio. À medida que o nosso espírito se purifique, purificar-seão também os nossos gostos físicos.

18 Prentice Mulford
Por este andar, cada vez empregaremos maior cuidado na escolha dos nossos alimentos, e demo-
rando-nos mais na operação de os ingerir, faremos com a maior tranquilidade cada refeição, o que por
si só constituirá uma enorme barreira para toda espécie de excessos.
Mas, com essa martirização do corpo, negando-lhe, pela nossa vontade despótica, tudo o que mais
anela com essa negação rigorosa e tenaz em satisfazer-lhe os desejos, com certeza não nos colocamos
sob os auspícios e a dependência do Poder Supremo, antes é um cabal indício da falta de fé nesse
saber. É um empenho inútil e vão crer que podemos, de nosso moto próprio, purificar e elevar a nossa
existência, — o que depende, única e exclusivamente, do Poder Supremo.
Aquele que a si próprio se abandona e põe toda a sua fé e confiança no Espírito Eterno para que
este o tome superior a lôda classe de apetites baixos e desregrados desejos, será, de dia para dia, cada
vez mais virtuoso e calmo por índole.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 19


MODO DE ADQUIRIR O VALOR

O
valor e a presença de espírito não são, afinal, mais do que uma e a mesma coisa. A presença de
espírito indica, por sua vez, o domínio do espírito. Toda espécie de triunfos tem por base o valor
mental ou físico.
Pelo contrário, o que tentasse arrancar do seu corpo as raízes de um vício qualquer, por meios me-
ramente externos e físicos, apenas conseguiria uma virtude simulada e aparente e, embora o tenha re-
primido violentamente com toda a força de sua potente vontade, sem cessar, ver-seá consumido por ele.
Pravàvelmente ocorre, agora, a algum dos meus leitores esta ideia: “Mas, lendo isto, pode alguém
servir-se destas teorias para desculpar toda espécie de excessos?”
Em primeiro lugar, não devemos nunca investigar ou adivinhar o que os outros podem fazer ou pen-
sar. A nossa primeira consideração ou reflexão deve ser feita com relação a nós próprios. Todos solícitos
e açodadamente, procuramos notar e corrigir os defeitos do próximo, estando nós próprios carregados
de vícios e cometendo continuamente muitos pecados que estão bradando por uma grande reforma e
que nos causam grande dor, prejudicando-nos atrozmente, enquanto não pensarmos em nos purificar.
Não cairemos novamente em nenhuma espécie de excesso, quando a mente se tiver elevado muito
acima deles, porque a purificação do espírito é que purifica o corpo e nunca o corpo pode corrigir o
espírito.
Com certeza, não havemos de corrigir-nos ou antes reformar-nos, espiritual e fisicamente, somente
pelo fato de escolhermos uma alimentação especial, dirigida com regras e comida sensatamente.
A nossa marcha ascendente para toda espécie de simétricas perfeições não pode realmente ser o
resultado de uma transformação em uma certa ordem de coisas unicamente, em um único aspecto da
nossa existência total.
O indivíduo verdadeiramente superior ir-se-á formando e crescendo à semelhança de uma flor per-
feita: formando-se e crescendo ao mesmo tempo e proporcionalmente, cada uma das fôlhas e pétalas,
isto é, o seu corpo e a sua alma.
A covardia e a falta de domínio do espírito sobre o corpo são também pouco mais ou menos a mes-
ma coisa. A covardia tem as suas raízes na impaciência e no hábito de se estar sempre com receio de
tudo, na carência da calma. E o infortúnio, em todos os seus aspectos, baseia-se também na covardia
ou na timidez.
Podemos cultivar o nosso valor e até aumentá-lo em cada hora e até a todos os minutos do dia.
Havemos de chegar ao pleno conhecimento de que cada uma das nossas ações, até a mais insig-
nificante, tem sempre duas fases ou aspectos diferentes, isto é, a ação pròpriamente dita e a forma por
que pomos em jogo essa ação, por meio da qual podemos adquirir um novo átomo da qualidade de
valor a cujo resultado havemos de, infalivelmente, chegar, graças ao cultivo da reflexão — reflexão no
modo de falar, escrever, jogar, comer, beber, trabalhar, até brincar, em todas ou cada uma das nossas
ações vitais.
Encontra-se sempre, é certo, um pouco de medo ou temor onde há também um pouco de impaci-
ência; quando estamos impacientes por tomar um trem e até quando nos pomos a correr pelo meio da
rua, sem necessidade alguma, é porque temos receio de perder o trem e esse temor é origem de todos
os outros, como consequência natural do mesmo. Quando estamos ansiosos e até impacientes por não
faltar a qualquer entrevista que alguém nos marcou, é porque temos medo de que só o simples fato de

20 Prentice Mulford
faltar a ela nos traga grandes prejuízos. Este hábito mental, graças à sua inconsciente cultura, pode vir
a ser tão extenso, que invada literalmente o espírito, ocupando-o todo, a ponto de chegar até, um dia,
a sentir medo a propósito de tudo, de qualquer ninharia mesmo, e sérios temores, sem razão plausível,
inteiramente inexplicáveis, sem base alguma concreta e positiva:
Suponhamos, por exemplo, que qualquer pessoa se afadiga sobremodo para alcançar um carro
ou um bonde que vai passando na rua naquele momento, parecendo-lhe ter sofrido uma grande perda
se o não conseguir, quando, talvez, venha logo imediatamente depois outro ou muitos mais, ou tenha só
de esperar, quando muito, dois ou três minutos. Pois o receio de ter de esperar ainda esses dois ou três
minutos avoluma-lhe na mente o fato, por forma tal, que naquele instante se julgou talvez a pessoa mais
infeliz deste mundo. O que se deixar levar por essa especial condição da impaciência, vê-la-á converter-
-se em breve na característica persistente de todas as suas ações, tomando-se-lhe cada vez mais difícil
proceder calmamente e com madura reflexão.
Esta qualidade ou condição mental da impaciência, com o cortejo de todas as suas consequentes
ações, não tem outra base mais sólida também do que o medo.
O medo, em sua essência, nada mais é do que a carência do domínio da nossa própria mente, ou
por outra, falta de domínio sobre a espécie de pensamentos que exteriorizamos.
Esta consciente educação mental, tão comum em tudo, é que origina a persistência de um estado
de espírito sujeito cada vez mais, de dia para dia, a pânicos grandes ou pequenos embora, à menor
dificuldade que se levante em nosso caminho, sendo até, talvez, capaz de criá-los, quando eles não
existam na realidade, impelindo continuamente o espírito para as correntes de pavor. Aquele que está
sempre temendo, como que cultivando em si o estado de receio a respeito de qualquer coisa, nada mais
faz do que criar em seu ânimo o medo e o receio de tudo.
Se permitirmos que nos empolgue o medo pelo simples fato de podermos, talvez, perder o trem ou
o navio em que devemos embarcar, ficaremos mais propensos, mais acessíveis, a que se apodere de
nós, durante todo o dia e até em dias sucessivos, uma série ininterrupta de pequenos receios a respeito
até de coisas sem a menor importância, mas que a cada instante se irão levantando em nosso espírito,
ante as ocorrências mais triviais, não nos deixando um só momento de repouso nem de tranquilidade.
Adquirimos este perniciosíssimo hábito mensal, quase sempre sob o influxo de atos a que, todavia, pou-
ca ou nenhuma importância ligamos.
Um exemplo: Estamos entregues à leitura, a qualquer trabalho interessante que não desejamos
interromper, como, por exemplo, escrever qualquer coisa de importância literária, afetiva ou comer-
cial... De repente, cai-nos a pena ao chão e somos forçados, portanto, a apanhá-la, o que com efeito
fazemos, mas empregando para isso um movimento brusco, extremamente impaciente, contrariados e
aborrecidos por têrmos de executar tal ação; enquanto apanhamos a pena do solo, a nossa mente nem
um momento deixou de pensar no trabalho encetado ou que tanto nos preocupava, resultando de tudo
isso que o nosso corpo executa mal esse ato de apanhar a pena, de má vontade, impacientemente,
tomando-se^nos tal ação sobremaneira desagradável, só porque a mente se recusou abertamente a
empregar nela toda a força e atenção exigidas.
Persistindo em proceder deste modo, embora inconscientemente, toda ação se torna incômoda e
desagradável por não têrmos nela empregado a necessária energia para se tornar fácil a sua realização.
Mesmo desfrutando de um corpo muito débil, devemos sempre tentar fazê-lo assim, porquanto o nosso
organismo possui o especialíssimo poder de reunir instantâneamente, quando o queira, todas as suas
energias sobre um determinado músculo, com o fim de tomar a sua ação mais fácil e, portanto, mais
agradável.
Esta faculdade especial que nos permite levar à vontade as nossas forças a este ou àquele órgão,
aumenta, robustece-<se mediante uma consciente cultura e educação. Se atamos à pressa, impaciente-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 21


mente, os laços dos nossos sapatos, não o faremos desse jeito, só por nos desagradar aquele ato, mas
principalmente pelo receio de que o instante nisso perdido nos vá privar, talvez, momentâneamente em-
bora, de algo que ansiamos ver, possuir ou fazer, deixando assim outra vez aberta à corrente do medo
a nossa mente, — medo de perder alguma coisa.
O cultivo da coragem começa no da reflexão ou calma com que se devem executar atos semelhan-
tes àqueles a que aludi, em geral considerados insignificantes e trivialíssimos.
A reflexão e o valor vivem tão estreitamente aliados, como o medo e a impaciência.
Se não aprendemos a governar a nossa própria força de vontade nas ações destituídas de impor-
tância, muito mais difícil nos será possuir tal domínio e presença de espirito em atos capitais e de magna
importância.
Analisando o nosso estado de medo, veremos que ele mar- tiriza muito mais a nossa mente do que
o poderia fazer a própria coisa temida. Em nenhuma das ações da vida se pode dar mais de um passo
ao mesmo tempo; não devemos, portanto, empregar, neste passo, mais força do que aquela de que
necessitamos. Nunca devemos pensar no segundo passo antes de darmos o primeiro.
Quanto mais educarmos em nossa mente a faculdade de concentrar as próprias forças num só ato,
prescindindo, naquele momento, de todos os outros, mais e mais aumentaremos a nossa capacidade
para empregar todo o nosso vigor e as nossas energias em um ato único ou em uma única orientação
de cada vez. A nossa força torna-se, assim, mais extensiva, podendo ser até empregada no que deno-
minamos pequenas minúcias ou pequenos nadas da vida cotidiana.
Procedendo deste modo, a reflexão e os atos executados refletidamente, tornam-se-nos habituais
e, em determinado sentido, pode-se dizer mesmo que agimos com uma reflexão inconsciente, como
inconscientemente procedemos também, quando, em virtude de um velho hábito, caminhamos numa
direção contrária e perniciosa.
A maior parte das vezes, a timidez nada mais é do que o resultado do nosso estulto empenho em
vencer de uma assentada muitas dificuldades juntas, quando, no mundo das realidades físicas, temos
de procurar vencêlas, uma a uma, por sua vez.
Quando tivermos de visitar alguém ou nos encontrarmos de qualquer forma, seja qual for o intuito,
com uma pessoa muito irascível, orgulhosa ou demasiado autoritária, não convém de forma alguma que
estejamos o dia inteiro a pensar nela, com medo de lhe falar e com ela nos defrontarmos, tendo já como
certo que nos há de ser hostil ou pelo menos nos receba desabrida e altivamente. Talvez já de manhã,
ao saltar da cama e enquanto nos estamos vestindo, estejamos pensando preocupada e aflitamente na-
quela malfadada entrevista, quando fôra muitíssimo melhor que nos vestíssemos com cuidado e esmêro
para irmos à tal temida entrevista, o que, na verdade, constituirá o primeiro e, talvez, o mais importante
passo para alcançarmos bom êxito.
É também possível que, durante as refeições, não nos saia do espírito essa temível preocupação,
quando muito melhor seria que, ao sentarmonos à mesa, procurássemos conservar o espírito o mais
tranquilo e despreocupado possível, tentando achar o máximo prazer no ato de comer, porquanto o co-
mer num estado de espírito alegre e calmo constituirá, já por si mesmo, o segundo passo.
Quanto mais descansadamente comermos, mais e melhor gosto acharemos na refeição e maior
será também a força que o corpo tirará dos alimentos.
É possível também que o receio que nos causa tal entrevista nos acabrunhe como uma carga pe-
sadíssima, no momento de nos dirigirmos ao local onde nos devemos encontrar com tal pessoa, quando
muito melhor fôra que, ao caminhar para essa entrevista, procurássemos apenas tirar do passeio todo
prazer possível.

22 Prentice Mulford
O ato de perfeito bem-estar resulta do fato de pormos o nosso pensamento ou a nossa força mental
no ato ou trabalho que estamos executando, e assim toda dor presente ou futura provém sempre de
querermos dirigir o nosso esforço mental para as coisas ainda futuras.
Quando nos vestimos, comemos, passeamos ou realizamos qualquer outro ato, com o pensamento
ocupado em acontecimentos vindouros, apenas fazemos com que se converta em incômodo e desa-
gradável o ato presente, educando deste modo o espírito para tornar desagradáveis e incômodas todas
as ações presentes e, além disso, converter também o objeto ou futuro acontecimento temido numa
verdadeira realidade, porque aquilo que nos habituamos a considerar mentalmente como mau, nisso se
converte, por fim, no mundo das realidades. E quanto mais tempo persistir esse estado especial da nos-
sa mente, maiores são, decerto, as forças que reunimos para a sua pronta e breve realização, e maior,
portanto, a facilidade que tem para exterio- rizar-se e tomar uma forma real no mundo material.
Para atrairmos o que mais desejamos — a felicidade — necessitamos de exercer completo e abso-
luto domínio sobre a nossa mente e o nosso espírito, em qualquer ocasião e lugar.
Um dos meios mais importantes, o mais necessário, o mais firme e o mais eficaz para se adquirir
sempre e por todos os meios a tão desejada felicidade — consiste nessa disciplina relativa aos atos e
coisas que taxamos geralmente de pequenos nadas da vida, assim como a disciplina e os movimentos
regu- lares de um exército tem por verdadeira base a sólida e especial educação das pernas e dos bra-
ços dos seus soldados.
Aquele que tem por hábito fazer tudo à pressa, com precipitação ou, antes, estouvadamente, me-
lhor diríamos, tudo aquilo que ele chama pequenos nadas, inteiramente destituídos de importância,
achar-se-á em condições de não saber o que há a fazer, completamente confuso e desorientado em
qualquer acontecimento grave e inesperado. Ora, é justamente o inesperado o que mais frequentemen-
te sucede na vida.
Não se deve ter sempre a mente no que chamamos situação de reserva para poder entrar em ação
em qualquer momento e direção. E podemos dizer que o nosso pensamento não está em seu lugar,
quando estamos atando o laço de nossos sapatos e pensando, ao mesmo tempo, em alguma coisa que
está muito distante de nós, no passado ou no futuro, ou ainda quando estamos retocando um desenho
a lápis e temos a mente preocupada com algo que devemos fazer somente amanhã. Neste caso, o pen-
samento está deslocado, porque o ser humano não tem, então, o juízo no seu lugar, como diz o vulgo, e
se tal estado da mente tem chegado já a ser nele habitual, abandonando a cada instante aquilo que tem
entre as mãos, para se ocupar de acontecimentos já passados ou ainda vindouros, indu- bitàvelmente,
de dia para dia, lhe será cada vez mais difícil agir sensata e proficuamente quando as mesmas neces-
sidades da vida lho exijam.
Com maior presteza do que a própria eletricidade, o nosso pensamento se dirige de um assunto a
outro, podendo até dar- -se o caso de inconscientemente educarmos essa faculdade peculiar do espíri-
to, de forma tal que seja totalmente impossível mantê-lo fixo em uma só coisa, ao passo que, mediante a
cultura intelectual, o repouso mental e a reflexão em tudo o que se fizer, podemos educar o nosso pen-
samento e mantê-lo fixo no assunto que quisermos e durante todo o lapso de tempo que nos aprouver,
pondo-nos até no estado mental que mais nos convenha.
E isto nada mais é do que uma diminuta e tenuíssima parcela das enormes possibilidades e potên-
cias que à mente humana estão reservadas no porvir.
A perfeição e o progresso da mente humana não têm limites. Os passos que nos conduzirão a tão
esplêndidos resultados são, por si só isolados, bem pequenos, facílimos e simplicís- simos — tão sim-
ples e fáceis que, por esta mesma razão, alguns se negam a dá-los, parecendolhes isso uma verdadeira
puerili- dade.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 23


Incontestàvelmente já nos tempos antigos foram conhecidos esses poderes, e algumas das suas
consequências eram remotas já; é certo, entretanto, que a tradição desses maravilhosos atos não tenha
chegado até nós.
Os povos da índia, por exemplo, chegaram a possuir em grau tão elevado a faculdade ou o poder
de expelir totalmente da sua mente o medo, a ponto de tornarem de todo invencível e invulnerável o
corpo, estando sempre superiores a toda espécie de sofrimentos físicos, motivo por que se viram muitos
sofrerem sem dor os martirios que no cativeiro lhes infligiam, e entoarem ainda, serenamente, o canto da
morte sobre a fogueira que lhes ia devorando os membros.
O índio é muito mais calmo e refletido do que a maioria dos homens da nossa raça, tanto na ordem
mental, como na física. Já cultiva inconscientemente esse estado mental e vive uma vida muito menos
artificial do que a nossa, com o que tem aumentado a sua força espiritual; esse domínio da mente sobre
a corpo é um poder que tem até a faculdade ou dom de diminuir toda dor e até, como das suas posterio-
res possibilidades, expeli-la de uma vez para sempre; é um dos seus mais certos e positivos resultados.
Nenhuma qualidade mental é mais necessária ao êxito de uma emprêsa qualquer do que o valor
— e por valor compreendo não só o que diz respeito ao aspecto físico ou material da vida, mas também
tudo quanto diz respeito aos atos do pensamento.
Nos negócios cotidianos, vemos milhares e milhares de pessoas que se não atrevem sequer a pen-
sar na possibilidade de avançar um único passo na estrada dê seu adiantamento e bem-estar, só pelo
fato de terem de despender para isso uma soma um pouco maior do que aquela que dispõem pelos
seus ganhos ou ordenados, e tão grande é o seu espanto ou estupefação que, sem tardar um segundo,
arremessam para longe do espírito o que consideram inteiramente inexequível, sem dar tempo à mente
para com ela se familiarizar.
Se, porém, em lugar disto, permitirem que tal ideia permaneça e se arraigue em seu espírito, che-
gariam talvez, um dia, a descobrir os meios ou, pelo menos, os caminhos a trilhar para a aquisição do
dinheiro necessário para implantarem e levar avante com êxito essa mesma ideia que, à primeira vista,
tacharam de insensata, tão pouco viável a acharam.
Todas as pessoas podem fazer frente aos maiores perigos e conservarem-se serenas nas mais di-
fíceis conjunturas, inesperadas lutas e vicissitudes, quando possuírem o necessário poder para manter
a mente fixa no que estão fazendo, no próprio momento, quer se trate de algo muito importante, quer
de acões triviais e até pueris. Em tais casos, o covarde nenhum poder tem, e é pelo fato de não saber
nem conseguir manter fixa a mente em uma coisa ou ação, durante cinco minutos consecutivos, vendo
sempre grandes perigos em tudo e por toda parte, possuindo assim a fonte das suas desventuras em
sua própria imaginação.
Não digo que devamos empregar toda a nossa força ou energia mental em cada um dos atos triviais
ou aos quais assiifi cha* mamos, mas empreguemos neles somente a parte necessária de força para a
boa execução do ato de que se trata, deixando em repouso absoluto o resto das nossas forças, isto é,
pondo-as de reserva. O que importa realmente é não pensarmos em muitas coisas ao mesmo tempo e
não pensarmos em coisas diversas enquanto estamos praticando um determinado ato.
Este especial estado mental permite-nos ter os olhos da inteligência sempre vigilantes e, através
deles ou por intermédio deles próprios, teremos uma notícia exata e cabal de tudo quanto se passa ao
redor de nós, enquanto estivermos ocupados em qualquer coisa, importante ou não, aumentando, desta
forma, as possibilidades e até as probabilidades de bom êxito em todas as carreiras que trilhemos e em
todos os negócios da vida.
Devemos ter sempre, e em tudo, a necessária e indispensável presença de espírito para nos não
deixarmos levar por impulsos arrebatados, muitas vezes sem motivo algum sério, dando tempo ao espí-
rito para refletir com serenidade e optar pelo que mais convier.

24 Prentice Mulford
Cultivemos a calma reflexão, tanto no pensamento como nas àções, a respeito de tudo, seja o que
fôr; sejam fatos de importância capital ou inteiramente destituídos dela, tomando assim cada vez. mais
sólidas, de dia para dia, as bases da corgem, do valor e até do heroísmo, se assim o quiserem, e de
força de vontade, tanto física como moralmente.
Não se deve, porém, confundir a reflexão e a calma, com a preguiça e a indolência. Assim como o
pensamento se move com a rapidez do relâmpago ou mais ainda talvez, assim tem de mover-se o corpo
quando a ocasião o exigir, mas sòmente depois de ter sido bem delineado e amadurecido, na mente, o
plano.
É preciso também notar-se que não convém educar a mente em uma só direção, embora por essa
via ela se orientasse de forma até poder chegar à formação do gênio... Porque a história do gênio é
na maior parte das vezes uma história tristíssima, demonstrando-nos que este estado mental que os
homens denominam superior e transcendente mesmo, o é, na verdade, muitas vezes, porém não faz a
felicidade deles.
Se, tendo lido este livro, alguém afirmar: ‘”Algo de verdadeiro existe no que esse autor afirma!” —
pode essa pessoa ficar bem certa de que por aítem de começar a su cura, porquanto com tal exclama-
ção manifesta que sua mente principia a entrever, a vislumbrar pelo menos as luzes da verdade, embora
as não enxergue ainda bem claramente.
Há períodos na vida em que parece havermos olvidado tudo quanto aprendemos, receando até
têrmos volvido a ficar imersos nas profundas trevas da ignorância. Este esquecimento, porém, é ape-
nas temporário ou transitório, devido exclusivamente a causas por nós desconhecidas. Toda verdade
entrevista uma vez não pode já morrer, antes se arraiga mais e mais vigorosamente no nosso espírito,
resplandescendo com seu máximo e mais belo esplendor quando chegar a ocasião oportuna.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 25


A MENTE MATERIAL E A MENTE ESPIRITUAL

T
odo ser humano encerra em si um Eu elevado e puro e outro Eu baixo e mau que, através das
idades, vai crescendo e purificando-se, como tem igualmente um corpo ou mente cor- pórea, que
é apenas uma coisa transitória que vai além do presente dia de hoje.
O que se dá é que, quanto mais numerosas forem as verdades que conhecemos, tanto mais são
também os defeitos que descobrimos em nós, razão por que nos poderá parecer sermos hoje piores do
que ontem éramos, o que não é verdade, pois esquecemos que ontem estávamos cegos e, por isso, não
víamos as nossas grandes faltas.
Quero igualmente declarar que, se algumas destas páginas conseguirem despertar nos meus leito-
res o desejo de corrigirem- -se e aperfeiçoarem-se, tomando-se, portanto, melhores, não se me atribua
o mérito disso, a mim individualmente, pois que eu apenas fui a centelha que ateou a luz do seu espírito.
Nunca homem algum inventou uma verdade; ela não é propriedade exclusiva de ninguém.
Assim como o ar que respiramos, a verdade pertence a todo o mundo, é de todos os sêres huma-
nos. O que eu apenas fiz foi aproximar-me do homem e dizer-lhe ao ouvido: Escuta! Como poderia ter
eu a estulta pretensão de igualar-me ao Criador?!
Contento-me em desempenhar o humilde ofício do fósforo que se chega ao bico de gás e faz com
que, subitamente, se ilumine a casa toda.
Foi esta, apenas, a minha obra ao aconselhar ao homem que, antes de tudo, peça ao Poder Supre-
mo lhe conceda a extraordinária e preciosa qualidade da coragem e do valor.
O espírito está cheio de ideias sugestivas, instigadoras, e de aspirações nobilíssimas que recebe
do Poder Supremo.
O corpo ou mente corpórea considera bárbaras essas ideias e denomina tais aspirações de utopias.
A mente espiritual contém em si possibilidades e forças muito maiores, mais fortes e poderosas do
que todas aquelas que até agora tanto o homem como a mulher têm possuído e desfrutado através de
todas as eras.
A mente material ou corpórea diz-nos que só podemos viver como nas épocas anteriores viveram
os nossos antepassados. O espírito só anela libertar-se das cadeias e dores que o corpo lhe impõe, ao
passo que a mente física se empenha em nos demonstrar que nascemos já fadados para o mal, para
sofrer, e que, quanto mais avançarmos na senda do progresso, mais sofreremos. O espírito deseja ser
o seu próprio guia, tanto no caminho do bem, como no do mal, e encontrar em si próprio a direção ade-
quada e propícia para ele.
A mente material diz-nos, pelò contrário, que devemos aceitar a mesma norma de vida até aqui
seguida pelos outros, a mesma bandeira pelos outros hasteada e sugerida pelo entusiasmo de opiniões
rotineiras, crenças velhas e velhos preconceitos.
“Nunca mintas a ti próprio”, eis um provérbio ou rifão que frequentemente se ouve. Porém, a qual
Eu se refere?
Já por diversas vezes temos dito que cada um de nós tem em si duas mentalidades, a física e a
espiritual.
O espírito é uma força e um mistério. Tudo quanto sabemos ou podemos chegar a conhecer a seu
respeito é que existe e que estende a sua ação sobre todas as coisas e fenômenos da vida física, pois

26 Prentice Mulford
vemos e verificamos os resultados dela em tudo, mas muitos dos seus efeitos escapam à percepção
dos nossos sentidos físicos.
O que vemos de uma coisa qualquer, árvore, animal, pedra ou homem, é apenas uma parte mínima
dessa mesma coisa. Existe uma força que mantém durante um espaço de tempo mais ou menos longo,
a pedra e o homem na forma e sob o aspecto em que os nossos olhos físicos os vêem, e esta força atua
constantemente sobre eles, em um grau maior ou menor. É esta força que forma a flor, desde o pólen até
a sua completa maturação e esplendor. Quando tal força cessa de atuar sobre a flor ou sobre o homem,
determina o que se chama a decadência e a morte. Esta força está transformando contínua e constante-
mente a forma de todos os sêres constituídos pela matéria organizada. Nem a planta, nem o animal, nem
o homem conservam hoje exatamente a mesma forma física que tiveram ontem ou hão de ter amanhã.
A esta força que está sempre ativa e que é, de certo modo, a criadora de todas as formas que a matéria
apresenta aos nossos olhos, é que nós damos o nome especial de espírito.
O ver, o raciocinar, o apreciar e julgar da vida e de tudo quanto se lhe refere ou lhe é inerente, no
conhecimento desta força, é o que se chama a mente espiritual.
Em virtude desse conhecimento, possuímos o maravilhoso poder de fazer uso desta força e dirigi-
-la, logo que a descobrimos e sabemos que existe, para nossa saúde, para nossa felicidade e para a
paz eterna de nossa mente. Nada mais somos do que um composto desta força e, portanto, a estamos
atraindo constantemente, para ser convertida, depois, em parte do nosso próprio ser. Quanto maior é a
quantidade de força que o nosso organismo encerra, tanto maior será também o nosso conhecimento.
No comêço da nossa existência física, deixamos essa força agir cegamente, porque ignoramos
completamente essa condição especial, a que damos o nome de mente material. Porém, à medida que
a mente cresce e se fortalece, torna-se mais esperta e um dia interroga-se a si própria: “Por que have-
mos de sofrer tanto? Por que hão de ser tão grandes as nossas dores e penas? Por que parece que só
tenhamos nascido para adoecer e morrer?”
Esta pergunta é o primeiro grito de alerta e despertar que a mente espiritual solta. E toda interroga-
ção feita com o firme desejo de saber, de adquirir o conhecimento da verdade, há de forçosamente ter
a satisfatória resposta, um dia, mais cedo ou mais tarde.
A mente material é uma parte do nosso Eu, de que o corpo se tem apoderado e por ele próprio tem
sido educado também. É como se disséssemos a uma criança que são as rodas de um barco que o
fazem mover-se, sem nada lhe dizer nem explicar a respeito do próprio vapor, que é incontestàvelmente
a força motriz das rodas.
O menino educado nessa falsa ideia, quando o barco se recusasse a navegar, procuraria a causa
disso nas próprias rodas. É isto justamente o que a muitos sucede, pois têm a pretensão de alcançar a
saúde e o vigor dos seus movimentos só pelo fato de alimentar bem, isto é, muito, o seu corpo material,
sem pensar que a imperfeição ou dano pode estar no verdadeiro motor, única fonte da força — a mente.
A mente material ou corpórea considera e julga tudo sob o ponto de vista físico somente, vendo
apenas aquilo que em nosso próprio corpo material está contido. Em compensação, a nossa mente es-
piritual vê o corpo somente como um instrumento de que há de servir-se o nosso verdadeiro Eu para se
por em contato com as coisas do mundo material.
A mente corpórea ou física vê, na morte do corpo, o fim de todas as coisas, ao passo que a mente
espiritual só ve, na morte do corpo, uma nova libertação do espírito, o ato de abandonar este instrumen-
to, já gasto ou imprestável, inútil, porquanto o espírito sabe que, embora invisível para os olhos materiais,
existe sempre, como antes da morte do corpo.
A mente material julga que a força nos provém toda dos músculos e nervos, sem mesmo admitir
que, ao menos em parte, ela possa provir-nos de uma fonte muito diversa e alheia a ele e fora dele, e só
nesse poder confia para agir no mundo físico, como nós confiamos também na palavra ou na pena para

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 27


nos comunicarmos com os outros homens. Chegará contudo a descobrir um dia, a mente espiritual, que
o pensamento pode influir sobre as pessoas, embora se encontrem muitas milhas distantes de nós, tanto
a favor como contra os nossos interesses.
A mente material não acredita que o seu pensamento seja uma coisa tão real e verdadeira como a
água que bebemos ou o ar que respiramos. Mas a mente espiritual sabe, pelo contrário, que cada um
dos mil pensamentos por nós formulados todos os dias, secretamente, é uma coisa real, um elemento
verdadeiro que atua sobre a pessoa ou pessoas para as quais é dirigido; como igualmente sabe, tam-
bém, que toda matéria nada mais é do que manifestação do espírito ou força; que tudo quanto é material
ou físico continuamente se está modificando de acordo com o espírito, que se exterioriza a si próprio sob
a forma por nós denominada matéria.
Por conseguinte, se com firmeza, persistência e constância, mantivermos em nossa mente espiritu-
al ideias de saúde, força, fortuna e ventura, e a possibilidade de readquirir ou recuperar as nossas per-
didas energias, essas mesmas ideias terão a sua expressão física no corpo, providenciando de forma
que nunca decaia, e não tenha fim o seu vigor, nem sequer diminua, antes aumente a acuidade de cada
um de seus sentidos físicos.
A mente material acredita que a matéria, isto é, o que os nossos sentidos físicos nos fazem conhe-
cer, é tudo ou quase tudo quanto existe neste mundo.
Do seu lado, a mente espiritual apenas considera a matéria como a expressão mais baixa e grossei-
ra do espírito, sabendo também que ela é uma diminutíssima parte de tudo quanto existe.
A mente material entristece-se ante o aspecto da decadên- oia e da morte. A mente espiritual ne-
nhuma importância liga a tudo isto, por saber que o espírito ou a força que o move tomará novamente
o corpo ou a árvore apodrecida, e vivificando todos os seus elementos, com eles constituirá outra vez
alguma nova forma material de vida e de beleza. A mente do corpo acredita que os únicos sentidos
que o homem possui são os sentidos físicos da vista, da audição, do tato, do olfato e do paladar, porém
a mente mais elevada, a mente do espírito, sabe que ele é possuidor de mais outros sentidos por nós
desconhecidos, semelhantes aos físicos, porém ainda muito mais poderosos e de muito maior alcance.
A mente do corpo tem sido denominada, em diversas ocasiões, mente materiad, mentei mortal ou
mente carnal . To-I dos estes têrmos se referem a uma só e mesma coisa, isto é, a essa parte do nosso
Eu que tem sido educada no erro, pelo próprio corpo. Aquele que tivesse nascido e se tivesse educado
sempre entre pessoas que acreditam ser a terra uma superfície plana e que não gira em volta do sol,
acreditá-lo-ia também, tal e qual elas o acreditam.
É exatamente assim que absorvemos, durante os primeiros anos juvenis de nossa existência terres-
tre, todos os pensamentos das pessoas que nos rodeiam ou que mais próximas estão de nós, as quais
crêem que é unicamente o corpo que constitui o seu ser e de todas as coisas julgam pelo que os senti-
dos lhes mostram. É isto que constitui a nossa mente material.
Vendo a mente material que se produz a decadência, a dissolução e a morte em toda criatura hu-
mana, ou antes o que ela julga como tal, desconhecedora do fato de que a mente espiritual ou o verda-
deiro Eu nada mais faz com tal processo do que abandonar um invólucro já gasto e inútil, pensa que a
decadência e a morte são sempre o fim de todo ente humano, de todo organismo vivo. Por este motivo,
não pode evitar a tristeza e o desalento oriundo de semelhante erro, que preenche literalmente a maior
parte da nossa existência terrestre. Um dos resultados dessa tristeza, que nasce da falta de esperança,
é um espírito desassossegado que põe o máximo em proporcionar-se todas as alegrias e os prazeres,
sem ver se são justos e retos na atual existência do corpo. É este um erro enorme. Toda energia que por
acaso se adquira em semelhante disposição de espírito não pode ser, de nenhuma forma, duradoura,
trazendo, além disso, consigo, em partilha, muita dor e miséria física.

28 Prentice Mulford
A mente espiritual ensina-nos, pelo contrário, que o prazer e a alegria são os maiores estímulos da
existência. Mas estes prazeres e alegrias são muito diversos dos prazeres e alegrias apreciados pela
mente material. A mente espiritual — que sempre está aberta às mais elevadas e puras ideias da vida —
ensina-nos que existe uma lei que regula o exercício de cada um dos sentidos psíquicos e, quando co-
nhecemos e seguimos fielmente esta lei, diminui a fonte das nossas dores até estancar-se totalmente, e
aumenta a dos nossos prazeres, que crescem tanto mais, quanto mais cresce a observância da dita lei.
Por mente espiritual compreendemos uma visão mental muito mais nítida e clara das coisas e forças
existentes, ao mesmo tempo, em nós e no Universo, e das quais a Humanidade tem vivido até agora na
maior ignorância.
Atualmente, chega até nós um diminuto vislumbre destas forças e, embora a sua claridade não
seja muita, ela tem sido suficiente para convencer a alguns de que as causas reais e verdadeiras da
dor humana foram ignoradas nos tempos antigos. Na realidade, a Humanidade tem sido como aqueles
meninos que acreditam ser o moleiro quem, do interior das velas, mói o grão, porque alguém lhe disse
isto. E até que não se lhes diga o contrário, os meninos estarão na completa ignorância de que é o vento
que faz girar o moinho.
Não se imagine que este exemplo seja uma imagem exagerada da ignorância dos homens, a qual
repele a ideia de que o pensamento é um elemento que nos rodeia por todos os lados constituindo uma
força propulsora tão potente como o próprio vento, com a diferenpa que, dirigida às cegas pelos ho-
mens, no domínio da mente material e da ignorância, fêz girar as velas do moinho humano em direções
diversas, ora boas, ora más, proporcionando umas vezes resultados magníficos e outras vezes verda-
deiros desastres.
O corpo não é constituído dos trajes que ele usa e, contudo, a mente material raciocina como se
assim fôsse. Não conhece que ele nada mais é do que uma espécie de roupa para o espírito, pela igno-
rância em que está de que o corpo e o espírito são duas coisas inteiramente diversas, julgando assim
que é o corpo aquilo que apenas constitui o homem e a mulher. E quando esse homem e essa mulher
caem acabrunhados pelos sofrimentos morais e físicos, empregam todos os seus esforços em refazer
o vestido em farrapos, sem se lembrarem de restaurar e reforçar antes a força anterior, o verdadeiro
fabricante da roupa.
Não há, provàvelmente, duas individualidades em quem a mente corpórea e a espiritual operem e
raciocinem exatamente da mesma forma. Em alguns parece não ter despertado ainda a mente espiritual.
Em outros começa já a entreabrir os olhos como os nossos olhos físicos fazem, quando despertamos,
apa- recendo-nos todas as coisas vagas e indistintas. Outros estão quase completamente acordados
e sentem que, em volta deles, existem certas e determinadas forças em que nunca tinham pensado,
embora se servissem delas. Nestes, já está travada a luta do predomínio entre a mente espiritual e a
corporal, luta que, algumas vezes, pode ser acompanhada de grandes perturbações físicas, dores for-
tíssimas e absoluta carência de tranquilidade de espírito.
A mente corpórea, enquanto não foi subjugada e totalmente vencida e convencida da verdade, é
sempre recebida pela mente espiritual de lança em riste e em tom de desafio.
A parte ignorante do nosso Eu opõe uma resistência hercúlea a desprender-se dos seus modos
habituais e rotineiros de pensar; e em cada caso tem o espírito de travar uma renhida batalha para nos
induzir firmemente à convicção e libertação de um erro qualquer estabelecido.
A mente física só deseja seguir sempre os caminhos rotineiros de suas ideias cediças. Quer fazer e
continuar sempre a fazer apenas o que tem feito, o que seus antepassados fizeram. É isto o que sucede
atualmente à imensa maioria dos homens, e, à medida que os anos passam, mais espêssa e dura se
torna a crosta de seus velhos pensamentos e, portanto, maior dificuldade encontra em se modificar ou
renunciar às suas velhas e errôneas crenças.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 29


Quer e deseja viver sempre na casa onde longos anos tem vivido, vestir segundo seus antigos há-
bitos, ir aos seus negócios ou ocupações e voltar cotidianamente à casa à mesma hora, e isto durante
anos e anos.
Ao chegar a certa idade nega-se absolutamente a aprender qualquer coisa de novo e até chega a
menosprezar todas as artes, como a música, a pintura e outros trabalhos artísticos que muito contribu-
íram não só para o distrair, mas também para lhe robustecer a mente espiritual, proporcionando-lhe o
repouso necessário, sem mencionar o prazer que o espírito sente em ensinar ao corpo maior habilidade,
destreza e aptidão para uma profissão ou ofício.
No exercício de qualquer arte, a mente corpórea apenas sabe ver o meio de ganhar dinheiro e
nunca o modo de tornar aprazível e variada a existência, destruindo toda fadiga e repousando, assim,
a parte da inteligência dedicada aos negócios ou preocupções habituais, aumentando, deste modo ou
destarte, a saúde e o vigor do espírito e do corpo. A mente material mantém fixa a ideia, à medida que
o corpo avança em idade, que já é demasiado velho para aprender. É isto o que dizem muitíssimas pes-
soas antes de terem chegado ao que chamam meia- -idade, aceitando como incontestável e invencível
a ideia de se irem fazendo velhos.
A mente material diz-lhes que o seu corpo se irá debilitando gradualmente, perdendo, pouco a
pouco, as forças juvenis até chegar por fim à morte.
A inteligência ou mente corpórea diz que sempre assim tem sido e, portanto, assim será sempre
também no futuro, e aceita esta ideia sem sequer discuti-la ao menos. Isto tem de ser assim, diz ela, com
plena inconsciência do que diz.
Dizer que uma coisa há de ser é a maior força que se pode por em ação para que se realize. A
mente material vê que o corpo corre para uma decadência gradual, lenta por vezes, é certo, porém
inevitável. E embora trate, de quando em quando, de afastar esse espetáculo da vista, a ideia reapare-
ce uma vez ou outra, como sugestionada pela morte de seus contemporâneos, o que nela desperta a
ideia de que há de ser; e este estado mental suscitado por essa frase é o que determinará a inevitável
decadência física.
O espírito, ou antes, a mente melhor inspirada diz: — “Quando alguém sentir que está entrando no
caminho da fraqueza ou decadência, dirija o seu pensamento, com toda a energia que lhe for possível,
para ideias de saúde, bem-estar e vigor; pense em coisas materiais alegres, saudáveis, animadoras,
que encerram tais ideias; por exemplo, nas encasteladas nuvens, na fresca brisa, na espumante casca-
ta, nas tempestades do oceano, no bosque de robles seculares ou nos pássaros que, nos viriden- tes
ramos, soltam alegres e harmoniosos gorjeios, cheios de vida e de movimentos.”
Agindo assim, atrairemos uma positiva e verdadeira corrente de vida e saúde, encerrada nas coi-
sas materiais aqui mencionadas e outras semelhantes. E, acima de tudo isso e com isso, se aprende a
confiar no Poder Supremo que formou todas essas belas coisas e muitas mais, o que constitui a infinita
e imortal parte do nosso Eu mais elevado, isto é, a nossa mente espiritual; à medida que a nossa fé no
dito Poder aumente, aumentarão também as nossas forças.
Responde a mente material: “Isto é um absurdo! Se o meu corpo está doente, devo procurar curá-lo
com coisas materiais que eu possa ver e sentir; é isto, e só isto, o que tenho a fazer. Quanto ao pensa-
mento, é indiferente pensar na enfermidade ou na saúde.”
Pode acontecer que qualquer mente que comece a despertar e sentir toda a força destas verdades
permita, em muitos casos, que a sua própria mente material ridicularize e menospreze alguma destas
ideias, sendo coadjuvada por outras mentes espirituais, ainda não despertadas também de todo a estas
verdades e em quem a ignorância é a força mais positiva nela radicada transitòriamente.
Há pessoas que, com um telescópio na mão, não vêem tão longe quanto outras podem ver, sendo
possível, por esse motivo, que elas duvidem, de boa fé, ser verdade o que as outras dizem ver. Embora

30 Prentice Mulford
tais pessoas não digam nem desmintam as crenças de quem já tem a mente mais desperta e esclare-
cida, nem por isso deixa de atuar o seu pensamento como uma barreira ou cortina que intercepta a luz
da verdade e a impede de chegar aos seus olhos.
Porém, quando a mente espiritual começou uma vez a despertar, nada pode deter o seu acordar
definitivo. Só a ação da matéria pode retardá-lo mais ou menos.
“O nosso verdadeiro Eu pode não se encontrar onde se encontra o nosso corpo. Ele está sempre
onde está o nosso pensamento — no negócio, no escritório, na oficina ou junto de alguém para quem
nos sentimos atraídos pelos laços de afeto ou de rancor, e ainda em lugares muito afastados do ponto
aonde se encontra o nosso corpo. O nosso verdadeiro Eu move-se com a mesma inconcebível rapidez
com que o faz o nosso pensamento.”
E a mente material diz: “Isto é um absurdo. O meu Eu está sempre onde o meu corpo se encontra
e em nenhuma outra parte.”
Muitos dos pensamentos ou ideias que repelimos às vezes como impossíveis ou filhos de pura
fantasia são apenas procedentes da mente espiritual, e é a mente f ísica quem a repele e menospreza.
Não nos ocorre ideia alguma que não encerre em si alguma verdade; o que sucede é que nem sem-
pre somos capazes de descobri-la e compreendêla de um modo perfeito. Há alguns séculos ou talvez
mil anos que um homem pôde ter concebido a ideia de que o vapor existia como fonte de força e poder
inex- tinguíveis. Era necessário, para isso, produzir um certo progresso — progresso na manufatura do
ferro, na construção de estradas e nas necessidades criadas pelos homens. Mas isto não impede que
a ideia de aproveitar o vapor como origem de força não fosse uma verdade. Mantida esta verdade, uma
série de mentalidades acabou por trazer as aplicações do vapor à sua presente e relativa perfeição,
para o que a dita ideia teve que lutar contra as negações e obstáculos que iam lançando em seu cami-
nho as mentes materiais, cegas e grosseiras.
Quando uma ideia qualquer nos ocorre, e dizemos a nós próprios: “Bem, eis aqui uma coisa que
poderia ser muito boa, embora não veja, neste momento, como possa acontecer”, deitamos por terra
uma grande barreira, abrindo um largo caminho para a realização das mais novas e extraordinárias
possibilidades em nós latentes.
A mente espiritual sabe hoje que possui, para conseguir toda espécie de fenômenos sobre o mun-
do físico, um poder muito maior do que a maior parte das pessoas pensa, e vê que, a esse respeito, o
mundo se acha imerso nas mais densas trevas da crassa ignorância.
Todavia, o homem espiritual conhece já o caminho a seguir para conseguir uma saúde perfeita,
para se libertar da decadência e ainda da morte física, para se transladar de um ponto a outro e obser-
var quanto quiser, inteiramente independente do corpo e para conseguir todas as coisas materiais de
que tenha necessidade ou desejo, mediante somente a ação da prece ou súplica silenciosa em comum
com os outros homens (*)1 ou isoladamente.
A condição mental que mais devemos desejar é o completo domínio da mente espiritual. Isto porém
não significa que a mente material ou corpo deva inteiramente e em toda ocasião ser martirizado pelo
espírito; significa apenas que a sua resistência e oposição aos impulsos do espírito têm de ser vencidas.
Nada mais significa senão que a mente material ou o corpo não deve empenhar-se em predominar sobre
ò espírito, quando, na realidade, ela constitui somente a parte inferior da personalidade humana. Pelo
predomínio do espírito, entendemos esse especial estado em que o corpo coopera de boa vontade e
alegremente com todos os desejos da mentalidade espiritual.

1 (•) Bases do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 31


É então que o espírito poderá gozar de todas as suas faculdades e poderes, pois não terá de des-
baratar nenhuma porção da sua força em vencer a hostilidade da mente material.
Podemos, então, empregar todas as nossas energias na em- prêsa que deve ou há de trazer-nos
toda espécie de bens materiais, aumentando cada vez mais as nossas potências, a nossa paz e a nossa
felicidade, até chegar à realização do que hoje, decerto, seria tido por milagre.
A mente material ou física nunca se deve misturar com a espiritual em coisa alguma do que se pos-
sa referir às privações ou castigos que a nós próprios infligimos, por pecados ou faltas cometidas. Bas-
taria só esta mistura para nos levar a converter- mo-nos em verdadeiros fanáticos, em homens inexorá-
veis e sem piedade, tanto para conosco como para com o próximo. Esta grande e indubitável perversão
da verdade tem dado origem a frases cruéis, tais como estas: crucificar, subjugar o corpo, martirizar a
carne. Foi desta mesma perversão ou má compreensão da verdade que brotaram essas ordens religio-
sas ou associações de homens e mulheres que, caindo no extremo exagêro, procuram a santidade na
privação de todo conforto e no próprio martírio.
A palavra santidade significa ação integral do espírito sobre o corpo, mediante o conhecimento do
Poder Supremo, em maior proporção de dia para dia.
Quando perdemos a paciência conosco, quando não nos podemos suportar a nós próprios — devi-
do às repetidas investidas e ataques da mente material ou por nossos frequentes delitos e recaídas nos
pecados que nos assediam ou por vivermos em determinados períodos de irresistível intemperança —
nenhum bem faremos em nosso favor pensando sempre mal de nós e apostrofando-nos com os piores
epítetos.
O homem nunca deve chamar-se a si próprio: mísero pecador, e ainda menos com maior energia e
intensidade do que chamaria aos outros. Ao pronunciar esta frase, materializamos a ideia nela contida
e, pelo menos temporàriamente, convertemo-la em realidade.
Se muito frequentemente pusermos diante de nosso espírito a visão de sermos um miserável peca-
dor, o que inconscientemente faremos é que essa visão se converta em um ideal que, de dia para dia,
se robustecerá cada vez mais, produzindo-nos grave dano, até obrigar-nos a retroceder no caminho do
nosso progresso, o que nos arruinará o nosso próprio corpo. Porque, após esse estado mental que tem
sido tão preconizado nos tempos passados, vem sempre a dureza de coração, a hipocrisia, a falta de
caridade pelo próximo, a misantropia e a mesquinha concepção da vida — estados mentais próprios
apenas para nos trazerem toda espécie de enfermidades físicas.
Quando a mente material permanecer no sítio que lhe corresponde, ou antes quando nos conven-
cermos da existência verdadeira desta força espiritual, dentro e fora de nós ao mesmo tempo, e quando
aprendermos a fazer uso dela com retidão — pois de alguma forma temos usado dela em todos os
tempos — compreenderemos então as palavras de Paulo: “A morte foi absorvida na vitória”, e o pavor e
a aflição da morte desaparecerão. Então se converterá a vida em uma marcha triunfal, caminhando do
prazer de hoje aos prazeres vindouros; e a palavra viver significa somente alegria.

32 Prentice Mulford
A TIRANIA MENTAL

N
enhuma outra tirania está tão difundida pelo mundo como a que uma mentalidade exerce sobre
outras mentalidade. É uma tirania em que, frequentemente, o tirano ignora que a exerce e os que
a sofrem ignoram que são tiranizados.
De mais a mais, o tirano encontra-se quase sempre na mais completa ignorância dos meios que
inconscientemente emprega para tiranizar os seus semelhantes, assim como estes os ignoram absolu-
tamente.
Pode suceder a qualquer de nós cair, quando menos o pensarmos, sob o despótico domínio mental
de alguém e, desse momento em diante, começamos a agir unicamente de acordo com os desejos e a
vontade dessa pessoa, julgando agir só em harmonia com os nossos próprios desejos e vontades, não
chegando nunca essa tirania a ser tão absoluta e completa como quando aqueles que a sofrem julgam
estar completamente libertos dela. A este respeito, o filho pode ser, muitas vezes, o verdadeiro tirano dos
próprios pais, e o empregado, de seus superiores.
A criança, que nada mais é do que um espírito novamente encarnado, pode possuir uma mente es-
piritual poderosíssima, extraordináriamente superior à dos que a rodeiam. E sucede isso porque a mente
espiritual dessa criança é, talvez, muito mais velha do que a dos pais que lhe deram um novo corpo
físico. Ela pode, mediante as suas anteriores existências terrenas, ter alcançado um grau de purificação
muito mais elevado do que seus pais. É de ver que ignorará o poder que sobre elas exerce, porém, com
seus caprichos e desejos, bem como na afirmação que inconscientemente fará do seu próprio caráter;
atuando a sua mente sobre a de seus pais, será sempre a criança quem há de governar e fazer só o que
lhe aprouver; será sempre, em sua casa, o verdadeiro rei e despótico dominador.
Pelas palavras mente poderosa ou mente superior, não queremos exprimir a significação que vul-
garmente se lhe dá, isto é, instruída ou talentosa. Apenas desejamos designar o poder superior dessa
força que vai de uma mente à outra, embora os respectivos corpos estejam a enormes distâncias uns
dos outros.
Pode até dar-se o caso de uma pessoa ignorantíssima ser dotada dessa extraordinária força. A tal
pessoa é possível alcançar, no futuro, grandes e incontestáveis triunfos e êxitos admiráveis em todos
os negócios que empreender. O mundo denomina isto: força de vontade ou caráter ou, ainda, sorte. A
verdadeira instrução, porém, só consiste no especial poder espiritual que a mente possui para a ação
externa e de forma alguma nas coisas e fatos, frequentemente errôneos, aprendidos nos livros e que
facilmente podem ser acumulados na memória. Se a sua mentalidade for superior à minha, indubitavel-
mente é que a sua influência sobre mim ou sobre muitos outros é superior à minha, atua sobre todas as
mentalidades que lhe forem inferiores, o que — à falta de um têrmo apropriado — denominaremos aqui
influência mesmérica. Foi esta influência mental que Napoleão exerceu sobre todos os seus soldados.
Todos eles, oficiais e soldados, sentiram a influência de seu espírito, assim como os nossos sentidos
físicos sentem a ação dos raios solares.
Perguntará talvez alguém: “Então por que se não serviu ele desse poder para obter sempre a vitória
até o fim da sua vida?”
Porque, por ignorância do seu verdadeiro poder mental, incorreu no erro comum de permitir que
forças mentais estranhas, de uma ordem inferior à sua, se mesclassem com o seu espírito, perturbando-
-o e adulterando-o. É como se tivesse misturado a pólvora dos seus canhões com serradura molhada, o
que decerto lhe teria diminuído e até destruído toda a força.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 33


Quando Napoleão abandonou Josefina para se ligar a outra mulher de mentalidade inferior, destruiu
de uma vez para sempre a força e poderosa energia do seu espírito, não podendo, daíem diante, exer-
cer mais sobre os outros homens o seu antigo poder e influência; Josefina era a companheira natural, o
verdadeiro complemento de Napoleão, não segundo a lei dos homens, mas pela lei do Infinito.
Embora separados por enormes distâncias, enquanto o espírito dela viveu com ele, misturando-se
com o seu, a influência dele foi grande sobre os outros homens.
Aquele que tem algum fim em vista, algum propósito na vida e quer atingir a realização de alguma
emprêsa bem determinada, fará muito mal e se prejudicará muitíssimo a si próprio, se, para tal empenho,
se unir em íntimas e estreitas relações de afeto e simpatia, com pessoas que não sintam interesse algum
pelo que tanto o interessa a ele.
Podemos associar-nos e unir-nos com os outros homens só na medida que for necessária para levar
avante os nossos fins, quaisquer que eles sejam. Porém, na eleição das nossas mais íntimas amizades,
devemos empregar o mais rigoroso cuidado. Se admitirmos em nossa intimidade uma pessoa muito
inferior mentalmente a nós, compartilhando com ela nossas horas de lazer, colocamo-nos em condições
de a nossa força mental ser, em parte, desviada dos intuitos, planos, emprêsas que mais nos interes-
savam; e até pode mais ou menos influir essa mentalidade inferior sobre a nossa, de forma a prejudicar
enormemente o fim que tínhamos em vista.
Haverá, pois, algum perigo na mesma sociedade e união com as outras pessoas? Certamente que
sim, e enorme. Dos nossos companheiros ou amigos mais íntimos, adquirimos elementos de vida ou de
felicidade, de morte e de desventura, de valor ou de covardia, de bondade ou de maldade, de pureza
e elevação do espírito ou de perversão e baixeza de caráter, de confiança e fé ou de desesperança e
desânimo, de clara inteligência e sensatez ou de perturbação mental e até de completa demência.
Os elementos mentais que dos outros absorvemos e imediatamente exteriorizamos como nossa
própria ação, constituem os agentes mais poderosos e, ao mesmo tempo, mais sutis que em todo o uni-
verso possam agir em nosso favor ou contra nós, e operar para o nosso bem ou para nosso mal. Todavia,
não é necessário quebrarmos subitamente as relações com qualquer pessoa, só pelo receio de que a
sua amizade nos possa prejudicar, nem devemos também ligar-nos de um momento para outro só pelo
fato de nos parecer que, da sua companhia ou associação, nos advirá grande benefício. Deixemos os
espíritos procederem de seu moto próprio e com plena liberdade em um e outro caso.
Se para nós for conveniente separar-nos ou, pelo menos, afastar-nos, embora temporariamente
desta ou daquela pessoa, é fora de toda dúvida que a própria lei espiritual acabará por determinar essa
separação, se a deixarmos operar livre, mas gradualmente, sem choques, nem violência. Essa lei irá
interpondo, entre nós e os outros, meios ordinários, condições materiais de vida, que nos irão afastando
uns dos outros, mas naturalmente, sem, de forma alguma, alterar a nossa paz e o sossêgo do espírito.
O Espírito Infinito sabe determinar toda espécie de acontecimentos pelos meios mais fáceis e sim-
ples, conduzindo-nos ao nosso destino por caminhos retos e suaves, ao passo que os homens quase
sempre enveredam por caminhos escabrosos e cheios de precipícios.
O homem absorve mais facilmente os elementos mentais de ordem feminina do que os de seu pró-
prio sexo.
Os homens são mais facilmente dominados por uma mulher do que por um homem, da mesma for-
ma que toda mulher, com mais facilidade, será certamente mais dominada por um homem do que por
outra mulher.
Todavia, esta influência mesmérica pode ser inteiramente inconsciente e até ignorada pelo que a
suporta ou é vitimado.
O homem que tem entre as mãos alguma emprêsa difícil e, nas suas horas vagas, acha distração
e encanto na companhia de qualquer mulher que pouco ou nenhuma simpatia sente pelas aspirações

34 Prentice Mulford
ou anelos que lhe enchem o coração e o cérebro, se, de dia para dia, maior atração sentir para ela,
conhecendo com frequência que a sua recordação lhe absorva por completo o pensamento, não resta
a menor dúvida de que tal mulher lhe fará perder uma grande quantidade de força, que, empregada
melhor, contribuiria bastante para a realização e bom êxito dos seus projetos, tomando-se, desta forma,
o que o povo chama, talvez com justa razão – o seu gênio mau. Em tais condições, nós próprios nos sen-
timos, até com surpresa, desanimados, sem coragem nem força, e num estado de espírito inteiramente
impróprio para levar avante os nossos desejos e planos, chegando, às vezes, a tornar-nos inteiramente
indiferentes àquilo que outrora tanto nos interessava. É porque a influência mental dessa mulher terá
extinguido ou pelo menos amortecido, em nós, a calma progressiva e o firme entusiasmo que tornam
seguro o êxito.
Que sucedeu, então? Nada mais do que termos absorvido os elementos mentais dessa mulher. Su-
cedeu apenas que atualmente pensamos de acordo com o seu modo de sentir e portanto, a nossa fé, a
nossa profunda crença e entusiasmo de outrora, foram inteiramente substituídas pela sua indiferença e
incredulidade. Ora, tal seja o nosso pensamento, tal será a nossa ação.
A mentalidade dessa mulher enxertou-se na nossa, convertendo-se em uma parte integrante de
nós próprios, sendo destarte mais ou menos intensamente dominados por ela, ainda que ela ignore por
completo tal fato.
Essa mulher pode ser muito agradável e fascinadora, decorrendo rapidamente, como por encan-
to, o tempo que passamos junto dela. Nela encontramos um encanto, uma magia singular, e não nos
preocupamos sequer com as horas perdidas em sua companhia, embora tenhamos já compreendido
que o espírito dessa mulher não tem afinidade alguma com as nossas mais profundas convicções e até
procuramos esquecer a zombaria que ela faz de nossas crenças mais íntimas e sagradas, de tudo o que
nós mais respeitamos e veneramos.
E se é a mulher quem possui a superioridade mental e, por sua vez, é subjugada ou encantada por
uma mentalidade masculina inferior, é absolutamente certo, é evidente que gravíssimo dano ela sofrerá.
Nestas condições, o encanto não pode durar muito tempo. Tornando-se mais íntimo o conhecimen-
to, à medida que se vão estreitando as relações e se vai estabelecendo maior intimidade entre eles,
quando a amizade se deveria tomar mais profunda, quebra-se de repente num e no outro, e algumas
vezes felizmente em ambos, de parte a parte, ao mesmo tempo.
Antes, porém, dísso suceder, podem ter-se unido um ao outro, o homem e a mulher, pelo que o
mundo chama o matrimônio, restando-lhes então, ante si, longos e crudelíssimos anos de sofrimentos
horríveis, porquanto, desfeito o encanto, ver-se-á que tal casamento não era o verdadeiro casamento, no
elevadíssimo sentido que esta palavra tem para nós, mas um triste simulacro de matrimônio.
Vemos assim explicado aquele preceito apostólico: “Nunca vos unais com vossos desiguais.” O
que possuir verdadeira fé no Infinito ou na Mente Suprema, nunca será desamparado neste ponto.
O que no homem causa todos os males e todas as perturbações morais é apenas o seu louco
empenho em querer avançar e progredir na vida sem pedir um conselho ou guia à Sabedoria Infinita e
Suprema.
O mesmerismo ou hipnotismo nada mais é do que uma das variadíssimas formas que pode assumir
a tirania mental. Nas aplicações deste fenômeno, o operador chega a alcançar um domínio tal sobre o
paciente, que o corpo deste se move e procede em tudo só de acordo com o pensamento e a vontade
daquele. Isto é, a pessoa hipnotizada permite inconscientemente à sua própria mentalidade separar-se
do seu corpo, tomando-se o hipnotizador senhor absoluto dele, como de seu próprio corpo.
Como pode o hipnotizador obter semelhante resultado, nem ele mesmo o pode nem sabe explicar
a si próprio satisfatoriamente. Sabe apenas que dispondo a sua mente em determinada atitude, com
relação a certa pessoa de um determinado temperamento, pode exercer nela absoluto e completo domí-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 35


nio. Por vezes, inicia a produção de tal fenômeno, fixando a atenção do paciente em um objeto material
qualquer — um dos traços, por exemplo, da sua própria mão. Consegue, deste modo, fazer concentrar a
mente do paciente em um ponto único, permanecendo, por consequência, em situação menos positiva
ou menos antagônica ante a vontade do operador, ao passo que a mente deste último terá o pensamento
fixo no que o outro deve fazer, dizendo-lhe mentalmente: “Hás de fazer isto ou aquilo... Hás de proceder
desta ou daquela forma... Hás de forçosamente pensar neste ou naquele assunto. O teu braço está hirto,
as tuas pernas ficam imóveis, não podes dar um passo”, etc.
As nossas ações estão sempre de acordo com o nosso pensamento. O pensamento do operador
apodera-se do pensamento do paciente e, portanto, este só poderá agir de acordo com a vontade da-
quele.
Todavia nem com todas as pessoas pode o operador proceder da mesma forma. Por quê? — Por-
que aquele que possui uma mente poderosa, tendo-se formado e educado energicamente a si próprio
e está firmemente resolvido a não se deixar dominar nem ser joguete de ninguém, por ninguém pode
ser realmente dominado. Esta condição mental nos evitará igualmente cairmos sob o domínio ou sermos
simplesmente influenciados pelos homens ou mulheres que nos rodearem ou estejam junto de nós, na
vida cotidiana, onde realmente se está produzindo continuamente esse domínio de umas mentalidades
sobre as outras.
Uma mente encarnada em um corpo físico pode também ser dominada por um espírito desencar-
nado, o qual poderá até utilizar-se, mais ou menos intensamente, do corpo pertencente à mente possui-
dora do corpo material.
Esta fase da ação mental de uma mente sobre a outra toma em nossos dias o nome de mediunida-
de.
Não devemos olvidar que a mente destituída de corpo físico pode, a seu turno, ser trivial, vulgar, ig-
norante, néscia, mentirosa e até perversa. Assim como pode também, utilizando-se do órgão da palavra
de outrem, atribuir-se falsamente a si própria os caracteres de alguma personalidade famosa, contem-
porânea ou de antigas eras.
De ordinário, a mente desencarnada apodera-se da pessoa mortal cuja mente mais pontos de con-
tato ou semelhança oferece com a sua própria. Esta forma de ação de uma mente sobre outra, em certas
e determinadas circunstâncias e condições, pode ser um meio de realizar e fazer grandes benefícios.
Da forma, porém, como se utilizam hoje dela, é antes fator de grandes males, como sempre sucede com
o desenvolvimento de toda força nova que neste mundo se manifesta, até que seja bem compreendida
e melhor utilizada.
Ninguém pode, sem grave dano para si mesmo, entregar-se passivamente ao domínio ou influência
mental dos outros, de outras mentalidades, quer possuam um corpo físico, quer sejam destituídos dele.
Tais formas do domínio mental denominadas mediunidade, hipnotismo, etc., só constituem uma
pequeníssima parte da ação completa desta lei.
As mentes humanas estão exercendo o seu domínio e atuando constantemente sobre outras men-
tes ou sendo dominadas por elas a seu turno. A separação ou afastamento dos corpos tem pouquíssima
influência sobre a ação destas forças mentais. Existindo íntima amizade entre nós e qualquer pessoa, é
evidente que a sua mente pode influir e preponderar sobre a nossa, tanto para o bem, como para o mal,
embora o corpo permaneça a uma grande distância, até que a sua força seja destituída ou desviada
pela ação de alguma outra mentalidade. Podemos viver inconscientemente sob o poder mental de ou-
tras pessoas, podendo elas exercer a sua ação influência sobre nós, inconscientemente também e sem
mesmo terem a mínima ideia de como ou de que modo se realiza a sua influência. Se a pessoa que atua
sobre nós desta forma sente a aspiração constante e firme de que procedamos em harmonia com os
seus desejos, se sentirmos íntima e veemente simpatia por ela e não estamos em antagonismo com os

36 Prentice Mulford
seus desejos, nos sentiremos positivamente dispostos a proceder de conformidade com ela, pensando
e estando bem convencidos que somente agimos segundo o nosso critério e mais claro entendimento,
ou segundo os nossos desejos.
Pode suceder que a nossa vontade seja positiva, a nossa mentalidade mais forte e potente do que a
da pessoa que influi sobre nós; ignorantes, porém, desta lei mental, isto é, de que uma mente pode influir
e atuar sobre outra, inteira e independentemente da força física de qualquer natureza, desconhecendo
por completo o fato de que a dita mente pode até influir sobre a nossa, a enormes distâncias, nos senti-
remos naturalmente numa situação desvantajosa, pois, ignorando a existência de uma força tão potente
quanto sutil, é evidente que nem sequer em sonhos pusemos em nossa mente a ideia de resistir-lhe ou
opor-nos ao seu influxo.
Deste modo, ficaremos indefesos contra o predomínio de qualquer pessoa. Eis como uma menta-
lidade relativamente débil pode dominar outra mentalidade mais forte, porque esta última, cega pela
própria ignorância, consente em ser algemada por essa cadeia mental. E tal tirania se exerce em toda
parte e ocasião. O marido domina a espôsa, ou a esposa o marido. A irmã governa o irmão, ou o irmão
a irmã. Aquele que temos na conta do nosso melhor amigo pode ocultar em seu coração o veemente
desejo de que pratiquemos este ou aquele ato que convenha aos seus intentos ou fins, embora na plena
consciência do seu culpado egoísmo.
Porém, inconsciente ou não, o que é evidente é que essa força exteriorizada por aquele nosso ami-
go conseguirá, finalmente, o fim desejado, a não ser que, conhecedores dessa lei, nos coloquemos em
situação positiva para podermos repeli-la.
Desde a primeira infância da criança e até mesmo talvez antes de ela nascer, abriga a mão, no mais
íntimo do seu coração, um veemente anelo, não expresso por palavras e até mesmo inconsciente da sua
parte, que pode porém formular-se nestes têrmos: “Quero que o meu filho proceda desta ou daquela
forma, pense e sinta de acordo com o meu desejo e que ocupe e desempenhe esta ou aquela posição
na vida. Não quero que seja isto ou aquilo, nem faça esta ou aquela coisa.”
O verdadeiro Eu, o espírito do menino pode ter gostos e inclinações inteiramente diversas e opostas
até mesmo às da mãe. Nestes casos, nos primeiros anos da sua vida, ele agirá talvez em harmonia com
o pensamento expresso mentalmente por sua mãe, porquanto dela absorveu grande quantidade de
elementos mentais. À medida, porém, que ele for crescendo e aumentando a sua experiência, a sua indi-
vidualidade ir-se-á manifestando com maior firmeza e energia, de dia para dia. E então ele quer seguir o
seu verdadeiro caminho e viver a sua própria vida, isto é, ser ele verdadeiramente. A mãe resiste e opõe-
-se. Mas se o filho conseguir colocar-se em situação positiva, revolta-se e fica aberta a guerra entre eles.
Pode dar-se também o caso de o filho, destruída a sua própria individualidade pela ação da mente
materna, acabar por não ser nada, nem o que teria sido por si próprio, nem o que deveria ser segundo
os desejos de sua mãe.
Se a força de vontade é igualmente enérgica e vigorosa na mãe e no filho, pode até mesmo resultar,
da luta travada entre eles, a morte física de um ou de ouro; a da criança provàvel- mente, pois que o seu
espírito contrariado em todas as suas inclinações agita em excesso o corpo, acabando por despedaçar
o laço que a ele o ligava. Sejam quais forem os laços que unem dois sêres, não é lícito nem justo servir-
-se deles para atuar sobre o outro.
O pai pode, até certo ponto, proteger, vigiar e mesmo dirigir o filho durante os primeiros anos da sua
existência física. Há de chegar, porém, o momento em que o espírito que se encarnou num corpo novo
há de seguir o seu próprio caminho, guiar-se pela própria experiência, seja qual for tal caminho; ora,
se alguém atuar nele, exercendo a sua influência sobre tal espírito, impedindo-o de seguir uma senda
ou carreira diversa da que lhe é designada, pode afirmar-se que o dito espírito vive escravizado, mais
ou menos tempo, enquanto essa influência durar. O que influi sobre o outro, modela-o conforme o seu

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 37


modo de ser, e o que consegue, afinal, é converter aquele ser numa verdadeira boneca mental ou num
autômato. Nada mais faz do que impedir o progresso e o crescimento da mentalidade sobre a qual atua,

com a segurança de que, apenas cesse tal influência, imediatamente deixará de viver a vida fictícia
a que foi até então obrigado.
Vivem hoje, entre nós, assim mesmerizadas, milhares e milhares de crianças, podendo dizer-se o
mesmo de todos os tempos e de todos os povos.
Espíritos há que nunca souberam quebrar um único elo da cadeia mental com que, inconsciente-
mente, seus próprios pais os escravizaram, sucedendo, destarte, crerem eles o mesmo que seus pro-
genitores creram, caírem em idênticos erros em que eles caíram, sofrendo, portanto, o mesmo que eles
sofreram e acabando por terem de se despojar do corpo físico no meio de grandes dores e agonias, tal
e qual como os seus antepassados perderam os próprios invólucros materiais.
Imploremos ardentemente ao Todo-Poderoso a libertação de qualquer tirania e seremos finalmente
libertos dela. O nosso conhecimento dessas leis aumentará, assim, prodigiosamente e o nosso espírito
há de sentir e conhecer quanto é perigoso ou não deixar atuar em nós a influência e a direção alheias.
Se somos de natureza simpática e atrativa, poderemos ser mesmerizados muito fàcilmente pelas
pessoas que nos cercam, interessando-nos por tudo quanto lhes diz respeito, muito mais ainda do que
pelos nossos próprios negócios e interesses. Assim têm fracassado, neste mundo, muitos bons intuitos,
bem planejados projetos, respeitáveis e sérios propósitos e fins.
Devemos conter e saber guardar as nossas simpatias, sem lhes permitir liberdade ampla para irem
irrefletidamente para todos os que as atraem, pois, de outra forma, estropiamo-las e dividimo-las em tão
pequenas parcelas que nenhum benefício podem fazer nem a nós, nem a ninguém.
São muitas as pessoas que se acham sujeitas a uma certa tirania mental, sendo, todavia, raríssimas
as que ousarão reconhecer a realidade dela. Nestas circunstâncias, nos sentiremos débeis e hesitantes
em afirmar o que, após maduras reflexões, cremos ser exato e razoável. Por igual motivo, receamos, às
vezes, formular certas perguntas com receio de parecermos ignorantes. E ante quem? Ante pessoas
que, se as conhecessemos melhor, com certeza as não teríamos em alto apreço.
Há quem suporte certos pequenos logros e zombarias de seus companheiros de trabalho, só pelo
fato de se não atreverem a protestar ou pelo receio desse protesto fazer escândalo, dando a si próprios
a desculpa de que não vale a pena tomar a sério coisa tão insignificante em si mesma. Mas a maior parte
das vezes, a verdadeira razão não é essa. Se deixarmos de protestar, é apenas por temermos a opinião
de certas pessoas, cuja mentalidade inferior permitimos atuar sobre a nossa.
Para a justiça verdadeira, não há coisas pequenas ou grandes; todas tem a mesma importância.
Um simples criado pode dominar uma casa inteira. É destarte que vemos muitas senhoras não se
atreverem a ralhar, por exemplo, nem com a sua cozinheira. É porque, mentalmente, se deixam domi-
nar por ela. E não é só a mente da criada que atua sobre a mentalidade da patroa, dominando-a; ela é
auxiliada, nesse despótico domínio, por um grande número de muitas outras mentalidades que a acom-
panham, as quais, apesar de invisíveis para os olhos físicos, nem por isso deixam de ser reais, como
perfeitamente real e positiva é a sua ação.
Muitas indústrias, manufaturas e emprêsas, são de idêntica forma dirigidas não pelo que se diz
dono e parece o chefe visível das mesmas, mas por um mero empregado ou subalterno que, embora pa-
reça obedecer, é quem, na verdade, governa e dirige o negócio. Em todo armazém, oficina e escritório,
em toda casa, enfim, existe uma mente especial que aí predomina sempre e a rege, embora, na maioria
dos casos, ela própria permaneça ignorante de tal poder.

38 Prentice Mulford
Muitas mais do que podemos imaginar, são as razões que nos levam a suportar essa espécie de
tirania mental.
O mais humilde oficial ou funcionário público encontra-se no seu escritório como na sua fortaleza:
no espaço de tempo mais ou menos curto em que se move, está repleto dos elementos do seu pen-
samento tirânico e dominador, bem como das mentalidades invisíveis, que o acompanham em perfeita
concordância com a sua, dispostas a agir e atuar sobre os outros, de acordo com o seu modo de ser
dominante. Aquele que se apresentar pois cansado, alquebrado, exausto de força em tal lugar, em um
estado mental sugestivo, encontra-se, portanto, em péssimas condições para resistir às influências vi-
síveis ou invisíveis que ali atuam, principalmente se desconhece a realidade delas e sua possível ação
sobre si.
Esta submissão mental chega a tomar, em alguns homens, o caráter de um verdadeiro hábito e, por
isso, os vemos frequentemente transformados em escravos de qualquer pessoa que, em sua presença,
toma ares de autoridade, podendo até ser inteiramente dominados pela atmosfera mental que em certo
local se respira, adulando sem pudor todo aquele que ante eles exerce qualquer superioridade ou so-
berania.
Não bajulemos ninguém, nem nos sintamos nunca humilhados perante pessoa alguma, pois que,
procedendo assim, só atrairemos sobre nós a corrente mental do medo, da escravidão e da abjeção. Po-
demos, na verdade, admirar e respeitar o talento ou as elevadas qualidades de qualquer personalidade
e até desejarmos lealmente igualar-nos a ela; tudo isso é lícito e com esse desejo, que é também uma
verdadeira petição ou prece, sobre nós atrairemos a corrente mental que favorecerá o desabrochar do
aumento do nosso próprio talento. E nem só por uma individualidade podemos ser dominados, mas até
muitas vezes somos mesmerizados por uma corrente mental inteira, projetada por milhares de mentali-
dades, exteriorizando pensamento de doença, pobreza, ruína e acabando por se formar a nossa mente
à sua imagem e semelhança.
Tudo isto, se fosse irremediável, seria, sem dúvida, muito desconsolador e deprimente. Estas for-
ças, porém, não são nada se as compararmos ao Poder Supremo e Onipotente; e, portanto, abrindo
com inteira e sincera fé a nossa mente à ação benéfica do Poder Infinito, elas não podem prevalecer
nem perdurar.
É naturalíssimo ocorrer a algum dos meus leitores esta pergunta: “Em vista dos perigos que a so-
ciedade com os homens oferece, quais devem ser os meus amigos? Como os escolherei? Não será o
sistema de vida adotado pelos eremitas o melhor? Ou somos forçados a descobrir a verdadeira intelec-
tualidade de todo homem e de toda mulher, que se aproxime de nós ou por quem nos sentimos atraídos,
ou deveremos tê-los sempre em conta de inimigos perigosos e encará-los com desconfiança pelo receio
de nos poderem ser prejudiciais?”
A tudo isto responderemos, em primeiro lugar, que o melhor dos resultados que poderemos obter,
devê-lo-emos ao conhecimento, quanto mais profundo melhor, do fato de que toda mente pode influir
sobre outra de um modo real e positivo, e se podemos ser influenciados para o mal, também o podemos
ser para o bem. Além de que, já temos visto várias vezes, acima de todas as mentes individuais e hu-
manas, existe uma Mente Suprema e uma Força Infinita que tudo pode e da qual todo auxílio devemos
esperar, que é Deus.
Se, por meio da silenciosa e veemente prece, buscamos o modo de chegar até a mais íntima asso-
ciação com esta Mente Infinita, sem dúvida Ela virá, por fim, para nós e o seu valioso auxílio e influência
em breve se farão sentir em nosso favor. Podemos mesmo dizer, para nos servirmos das palavras corren-
tes, que a nossa mente humana será dominada e mesmerizada pela Mente Suprema e Infinita. E é neste
caso que, em lugar de nos opormos a semelhante domínio, devemos antes chamá-lo, implorá-lo com
o mais profundo respeito, satisfação, amor e acatamento, pois só tem por objeto a nossa progressiva

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 39


felicidade, certos de que, sob a sua ação, a nossa mente se tornará cada vez mais pura, lúcida e clara,
de dia para dia, e o nosso corpo cada vez mais robusto e todas as nossas faculdades mais vigorosas,
apuradas e ativas.
Devemos por sempre muito acima de toda associação individual e humana a nossa associação
com a Mente Infinita. É assim que a Suprema Sabedoria guiará o nosso comportamento e nos dará o
juízo, a perspicácia e a intuição necessários para conhecer os homens e as mulheres, cuja sociedade e
íntima amizade mais nos convém.
Postos uma vez sob a influência e na corrente mental do Poder Supremo, já não poderemos ser in-
fluenciados nem dominados por nenhuma mente humana, embora muito mais poderosa do que a nossa;
porque nos teremos colocado inteiramente fora do seu alcance e esfera de ação.
Deus não pode ser dominado nem pelos homens, nem por coisa alguma de qualquer ordem. Quan-
to mais estreita e íntima for a nossa aliança com o Supremo, em maior escala poderemos utilizar-nos dos
poderes, faculdades e predicados do Supremo. Ao pormo-nos em íntima relação com Deus, Este nada
toma da nossa individualidade, antes a fortalece e aumenta.
Em todos os homens, é tendência geral crer que para alcançarem um dia a sua salvação têm de
estudar e praticar uma complicadíssima série de dificílimas operações; que hão de viver de acordo com
a razão e os ensinamentos da sua mente material; estar continuamente vigilantes para evitar os perigos
e as ciladas do mundo e do demônio, três inimigos da alma: mundo, diabo e carne, como eles dizem;
que devem reger-se por toda espécie de rígidos e severos preceitos, estando sempre com o temor de
algo sobrenatural e extraterreno. É isto o que ensinam os homens – não o que ensina Deus. Deus quer
apenas que tenhamos uma grande e intensa fé em seu Poder Infinito e ludo o mais virá por si mesmo
para nós. Façamos frequentemente esta prece:
“Peço o poder de me aproximar cada vez mais da Mente Infinita; que eu sinta, de dia para dia,
a sua realidade com maior força e intensidade; que possa ter cada vez mais provas evidentes de sua
existência; que a minha fé no seu Poder se torne, de dia para dia, mais vigorosa e inabalável.”
“Imploro a Deus que toda dúvida que me ocorrer seja imediatamente esclarecida e dissipada. Que
a Mente Infinita penetre cada dia no meu íntimo e me seja permitido caminhar sempre na vida em sua
companhia como um velho e bom amigo, chegando a reconhecer, no sentido mais amplo, literal e práti-
co, que estou em relações com uma realidade positiva, a qual me guia e dirige nas menores particulari-
dades da minha vida cotidiana, da forma idêntica àquela por que dirige e rege a marcha deste planeta
e de todos os mundos e sistemas planetários.
“Peço, rogo e imploro ao Supremo Espírito do Bem que me dê a sensação de absoluta tranquilidade
e bem-estar, a certeza de que nenhuma espécie de mal terá poder contra mim, nem hoje, nem nunca: –
nem a fome, nem a enfermidade, nem a miséria, nem os meus inimigos invisíveis, nem a morte, – e que
possa dizer com a mais profunda e absoluta fé: Ando no meio das trevas, das traições, dos perigos e
da morte, mas nem as trevas, nem as traições, nem os perigos, nem a morte me amedrontam, porque
Deus está comigo.”

40 Prentice Mulford
UTILIDADE DOS DIVERTIMENTOS

O
homem suportará os incômodos do calor, do frio, da fome, da sede ou de qualquer outra forma
de sofrimento físico, com tanto maior facilidade, quanto maior for a atenção que puser em algum
ideal ou propósito. Se não tiver a mente fixa em qualquer coisa que o prenda e interesse pro-
fundamente, o homem sentirá com muito maior intensidade e rigor qualquer sofrimento físico. Disto se
deduz que, quando deixamos de pensar no frio ou no calor, deixamos também de lhes sentir os efeitos.
Colocando-se em um especial estado de excitação, pode o homem atravessar uma fornalha ou até
uma fogueira, sem mesmo lhe sentir o calor, embora apareçam em seus pés grandes empôlas; dando
à sua mentalidade uma direção diversa, separando-a do corpo, conseguirá não sentir a ação do fogo
sobre ele.
Podemos sentir-nos tão intensamente atraídos e dominados pelas emoções da peça representada
num palco, que cheguemos a nem sequer sentir o mais leve incômodo, nem a mais ligeira impressão,
sob a atmosfera deveras sufocante que predomina em certos teatros. Significa isto que a nossa mente
se distraiu ou abstraiu-se, separando-se no sentido mais literal, do nosso corpo. A nossa mente, como
uma espécie de elemento, o nosso corpo, como outra espécie, não têm, às vezes, senão um diminuto
canal ou ponto de conexão. A mente está ligada à dos atores, enquanto o corpo, sentado, não tem de
espiritualidade senão o indispensável para permitir aos olhos e ouvidos o cabal cumprimento das suas
funções.
Mais de uma vez se tem visto um soldado ser gravemente ferido durante uma batalha e só dar por
isso findo o combate. É porque, na excitação motivada pela luta, a sua mente se separou do corpo, de
tal forma que esse nem sequer sentiu a dor produzida pela bala, despedaçando-lhe as carnes.
O espírito pode abstrair-se tão por completo do corpo que chegue a esquecer-se da própria exis-
tência dele e quando esquece o corpo, este cessa de sentir qualquer dor ou prazer.
A pessoa hipnotizada tem realmente o espírito separado do corpo, razão por que é naturalíssimo
deixar de sentir o fio de uma faca ou a ponta de uma agulha que se lhe enterra nas carnes. O corpo só
por si nada sente. É no espírito que está realmente a sede das chamadas sensações físicas. Separemos
a mente do corpo e este converter-se-á em uma massa de matéria quase inerte e insensível.
O álcool, a morfina e o éter são as substâncias mais espiritualizadas e, portanto, agem e atuam
sobre o espírito mental em que costuma viver. Quando, desta maneira, se alheia o espírito do corpo,
deixa naturalmente de atuar sobre ele, desaparecendo, portanto, toda e qualquer sensação que deveria
experimentar mediante o corpo.
Mais de uma vez me tem acontecido, e ao leitor também, decerto, estar em extremo fatigado ou
até profundamente acabrunhado e doente, e sentir um súbito e mesmo completo alívio, desaparecendo
todas as desagradáveis sensações pouco antes padecidas, depois de ter estado conversando amena-
mente, por algum tempo, com uma pessoa sobremodo querida ou simpática para nós. Por que se deu
isso? Simplesmente porque, durante essa agradável conversação, o nosso espírito se distraiu, suprimin-
do-se totalmente dos pensamentos acabrunhadores e aflitivos, que antes o preocupavam. Posta a nossa
mentalidade em perfeita harmonia e concordância com a mentalidade de qualquer pessoa, atraiu-se
uma nova corrente mental que em nós atuou, trazendo-nos novos elementos de vida.
Não é o corpo, mas o espírito, quem recebe os novos elementos de vida, que o elevam ou abatem,
conforme a sua natureza e procedência.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 41


O espírito nunca está inteiramente dentro do corpo. Ele atua sobre aquele, tal e qual como o vento
atua sobre a vela de um barco. É certo que o vento enfuna as velas, mas não se forma no tecido delas,
nem se oculta entre os seus fios para as tomar pandas. Também o espírito não se cria no corpo nem vai
armazenar a sua força entre as células corpóreas.
Dissemos que a morte liberta o corpo de toda dor; e é uma verdade, mas é isso devido somente ao
fato do espírito se separar totalmente do corpo, quando se dá o fenômeno do passamento desta vida
terrena para a espiritual, porém não se liberta da dor o espírito, porque nele e só nele reside a ideia da
dor. O que neste plano da existência terrestre é enfermidade e doença, continua também a ser quando
o espírito passa a viver no mundo invisível. Ao abandonar o corpo em que, mais ou menos tempo, viveu
neste planeta, consigo leva o estado ou condição mental que aqui lhe era própria, porquanto esta nada
tem de comum com o corpo, mas sim com o espírito somente.
A mente que viver, neste nosso mundo, acabrunhada sempre pela ideia do mal, acreditando na
doença, não se libertará de tal pesadelo e de tal crença ao despojar-se do corpo.
Se crermos nas sagradas escrituras, lá se nos depara a menção dos chamados mortos que não
podem alcançar o almejado repouso no outro mundo, nem ver-se livres do mal que neste padeceram.
Podemos, empregando meios artificiais, libertar-nos temporariamente das dores físicas, como pos-
sível nos é também nos livrarmo delas eternamente de um modo absoluto, mediante aperfeiçoamento
natural, são e progressivo do espírito. Um dos resultados desta perfeição e o mais importante deles
consiste no aumento da força de vontade ou poder para distrair ou desviar a mente de forma tal que,
quando nos sentirmos física ou mentalmente perturbados, saibamos e possamos esquecer totalmente o
motivo da nossa preocupação ou aflição.
É evidente que não podemos desviar de repente e por completo o nosso pensamento dos pélagos
de dor em que todos estamos imersos; podemos, porém, habituar-nos, pouco a pouco, a esse exercício
mental e ele só por si é suficiente para fazer aumentar gradualmente a nossa capacidade para um dia
o conseguirmos. Tal exercício consiste muito simplesmente em divertir ou afastar a mente do corpo e
saber fixá-la em qualquer outra coisa.
Achamos demonstrado este princípio na própria vida, pois com frequência vemos ser o bastante
desviar o pensamento de alguma grande dor física para conseguirmos aliviá-la. Até a terrível dor de
dentes muitas vezes cessa, ao aproximarmo-nos da casa do dentista. É porque nesse momento a mente
deixa de ter como alvo a dor de dentes para se concentrar noutra dor muito maior, que receia lhe cause
a extração do dente dolorido.
O que convém, e é muito importante, é ter bem fixa em nossa mente a ideia de que uma doença
é sempre resultado de algum estado mental que afetou desagradavelmente o corpo. Se se trata, por
exemplo, de um resfriado, dizemos frequentemente: “Naturalmente apanhei-o à noite passada ao rece-
ber aquela corrente de ar” e, contudo, devemos confessar que, muitas vezes, nos expusemos a corren-
tes de ar capazes de produzir os maiores resfriados, sem nos acontecer o menor dano. De igual modo
nos exprimimos, se sentimos qualquer incômodo de estômago: “Apanhei isto por comer este ou aquele
alimento”, apesar de muitas vezes têrmos já comido do tal alimento incriminado e muitas outras talvez
comeremos dele ainda, sem nos produzir nenhuma espécie de perturbação. Limita-se tudo ao fato de
que, ao têrmo-nos exposto àquela corrente de ar ou ao comermos desta ou daquela alimentação, nos
encontrávamos em certa e especial condição mental.
Talvez tivéssemos recentemente travado relações com a miseranda mentalidade de alguém que vê
sempre tudo sob o aspecto das mais negras cores, imaginando em toda parte doenças, não comendo
um só pedaço de qualquer coisa despreocupadamente, antes tendo sempre fixa a receosa ideia de que
lhe pudesse fazer mal ou não. Absorvemos dessa pessoa elementos mentais de qualquer incômodo, de
índole física que se nos materializou em alguma doença. Doravante, pois, em lugar de dizer: “Apanhei

42 Prentice Mulford
um resfriado por me ter pôsto numa corrente de ar”, digamos antes: “Apanhei um resfriado ou outra en-
fermidade qualquer de fulano ou sicrano por eu ter permitido que o seu contagioso pensamento atuasse
sobre mim e me comunicasse esta ou aquela doença, das muitas perturbações físicas que engendra a
sua mente, geradora constante de enfermidade.”
O pensamento dos outros é sempre contagioso, quer se trate de ideias boas e salutares, quer de
ideias nocivas.
O contágio das mentalidades plenas de fé na doença e na dor constitui um veneno sutilíssimo. Por
esta razão, ainda mais do que por qualquer outra, precisamos ter o máximo cuidado na escolha das nos-
sas amizades e relações que todos os dias contraímos com tanta diversidade de pessoas de caracteres,
tendências, gostos e estados mentais tão diferentes.
Pode suceder que não possamos suportar nunca este ou aquele alimento, o que apenas é devido a
repelirmos mental ou inconscientemente, embora, essa substância, tendo absorvido talvez com grande
antecedência a ideia de tal antipatia de alguém, sem nunca têrmos protestado formalmente contra ela.
Antes, pelo contrário, temo-lo fortalecido em nós com o decorrer dos anos, chegando a dizer que tal
repulsa a este ou àquele alimento é nata em nós, o que acaba por ser exato porque nós próprios assim
o quisemos.
Poderemos, de um só golpe e em resultado de um só esforço, corrigir a repulsa que o nosso estô-
mago sente por qualquer alimento? É provável que não.
Durante largos anos, embora inconscientemente, temos estado predispondo o nosso estômago
para tal repulsa; portanto, é claro que nos será necessário também certo lapso de tempo para alterar
agora o nosso próprio estado mental a este respeito, até ficarem refeitos e reconstituídos os órgãos da
nossa máquina digestiva, de forma a nos deixarem certa liberdade quanto à alimentação e bebidas.
Depreende-se disto que manter na nossa mente a ideia de que toda doença física é fundamentalmente
devida a um certo e determinado estado mental, e também a de que a cura definitiva da nossa doença
pode provir de afastarmos totalmente dela o nosso pensamento, devem ser de enorme auxílio ao trata-
mento que o nosso médico nos tenha prescrito.
Podemos começar esta educação por expelir toda enfermidade da parte dolorida ou afetada por
ela, só pelo fato de mantermos em nossa mente, com a máxima e mais enérgica persistência, a ideia da
diversão.
Devemos também pedir ao Poder Supremo a necessária habilidade para transladar rapidamente o
nosso pensamento de uma coisa a outra. Principiamos destarte a adquirir o indispensável poder para
distrair ou reparar a nossa mente do que lhe poderia ser nocivo e prejudicial, se nela se fixasse, come-
çando então a fluir sobre a nossa mentalidade os salutares elementos curativos que hão de refazer o
nosso organismo. É possível não se produzirem imediatamente resultados muito apreciáveis, pois nossa
mente, que ainda está débil, age lentamente nessa direção. A nossa mente ao princípio assemelha-se
a um gonzo enferrujado que durante muitos anos não funcionou. Ela atuará de comum acordo com o
remédio que tomamos se, quando o tomarmos, pensarmos e dissermos: Tomo isto para curar ou pelo
menos aliviar a minha mente e não o meu corpo. Tomo este remédio para auxiliar a minha mente e
afastar-se da parte doente e para ajudar o meu espírito a arremessar para bem longe de si toda ideia
de enfermidade.”
Os vegetais e minerais, atualmente usados como remédios, e muitos outros que ainda se não usam
como tais, possuem qualidade espiritual para o alívio de certas doenças e até para a cura e alívio de
certos órgãos ou parte do corpo físico, cujas funções podem ser perturbadas por coisas diversas. Não
há nada material que esteja fora do domínio do espírito. Toda planta e todo mineral possuem alguma pro-
priedade específica e poder espiritual, que lhe são próprios. Não defenderemos, pois, a exclusão abso-
luta do tratamento médico, porque, quando os remédios são convenientemente ministrados, constituem

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 43


um poderoso auxílio para o espírito. Em toda doença, como em todas as nossas grandes atribulações,
ser-nos-á, incontestavelmente, de grande benefício implorar ao Poder Supremo que nos envie algo que
distraia a nossa mente da parte enferma.
O pensar constantemente numa doença qualquer é o que a agrava, prolonga, aumenta e propaga
para o que contribuem também, muitas vezes, os parentes, amigos e demais pessoas, aliás bem inten-
cionadas, mas que, sem nada fazerem em favor do enfermo, permitem que ele permaneça longo tempo
silencioso, pensando constantemente na própria doença, quando deviam antes dirigir todos os seus es-
forços para fazê-lo olvidá-la. Ora, isto com certeza não se conseguirá pondo sempre diante do enfermo
rostos lacrimosos, angustiados, poções e frascos de medicamentos e procedendo de forma que o pobre
enfermo esteja o dia inteiro ouvindo murmurar em voz baixa ou dolorida conversas e lamentos acerca do
seu estado. Em lugar disto, devemos pedir ao Supremo que lhe distraia o pensamento da enfermidade,
já que por si próprio o não pode conseguir.
Qualquer pessoa pode chegar a adquirir uma enfermidade, à força de pensar sempre nela. Toda-
via, eu não posso dizer agora ao meu leitor: “Deixa de pensar no teu resfriado ou nesta ou naquela doen-
ça de que te queixas e tal resfriado ou essa doença passará, como por encanto.” Isto seria certamente
pedir-lhe um impossível, no seu presente estado mental. Seria uma coisa tão insensata como exigir de
qualquer pessoa, velha e cansada, a agilidade de um acrobata, porquanto a mente, assim como os
músculos, é igualmente suscetível de educação e é por meio dela que adquirirá cada vez maior domínio
sobre si próprio, apesar da educação da mente ser coisa muito diversa da educação dos músculos. Por
detrás do corpo físico está a mentalidade do seu proprietário, cujos elementos são os que animam os
órgãos ou partes materiais do corpo. Estes se tornam mais hábeis e destros, à medida que os elementos
mentais que recebem forem mais frequentes e em maior quantidade.
A mente envia às diferentes partes do corpo a ideia ou representação ideal dos atos que deseja
que elas executem, as quais, adquirindo, de dia para dia, maior aptidão e destreza para a execução de
tudo aquilo de que a mente as encarrega, chegam a aparelhá-la e conformá-la o mais adequadamente
possível para o uso que dela se requer.
Podemos aplicar esta forma mental para distrair ou afastar a nossa mente de qualquer dos órgãos
físicos que estiver afetado por uma doença qualquer.
Se o atleta e o acrobata conhecessem essa lei, não se lhes tornariam rígidos os músculos, com o
decorrer dos anos, a ponto de se impossibilitarem completamente, pela velhice, de desempenhar a sua
profissão, tal e qual como acontece com todos os outros homens; porém, como todos eles permitem
apoderar-se de sua mente a falsa ideia de toda espécie de enfermidades, admitindo-lhes a existência
como coisa real e positiva, chegando, por este modo, a padecê-las todas, é natural, pois, que a sua
mente nenhuma habilidade adquiriu para arremessá-las fora.
Trilhando sempre os caminhos rotineiros, nada mais faz do que pensar na enfermidade, engen-
drando-a ele próprio em sua mente e robustecendo-a imediatamente, e assim, à medida que os anos
passam, cada novo ataque que sofre, quer se produza sob uma, quer sob outra forma, se faz mais forte
de dia para dia, provindo daí uma debilidade física cada vez maior, chegando, por fim, à decadência
fatal, tornando-se-lhe o corpo incapaz de obedecer às ordens do espírito, porque é justamente o seu
espírito quem, atuando sobre o corpo, corre, salta e dá voltas vertiginosas sobre a barra fixa ou voa de
um trapézio ao outro.
Muito antes de o corpo ter adquirido a agilidade necessária para efetuar o salto mortal, já o espírito
o tinha realizado infinitas vezes, representando-se a si mesmo como se estivesse praticando tal ato, o
que lhe valeu muito mais, decerto, do que toda a sua prática física. Podemos fazer uso de idêntica lei
para nos imaginarmos a nós próprios sempre robustos e cheios de saúde e força, pois não há razão
para pormos mentalmente qualquer limite à nossa saúde, força, agilidade, alegria, bem-estar, fortuna e

44 Prentice Mulford
glória. Tanto nos custa ver-nos mentalmente e saltar com êxito de uma altura de vinte pés, como somente
de dez. Imaginando-nos fortes, robustos, belos, poderosos, ricos, felizes, construímos a nossa própria
força, beleza, riqueza, poderio, felicidade.
Essa mesma força a que chamamos imaginação, invertida, cria em nosso organismo físico toda
espécie de doenças, tendo unicamente por sua verdadeira causa o espírito.
O espírito do atleta é tão forte aos setenta anos, como o era aos vinte e cinco. Por que motivo ad-
quirirá, pois, o seu corpo a debilidade e a invalidez com a idade? Porque foi educado para atuar sobre
alguns dos seus músculos, sem contudo ter sido educado de forma a ser completamente senhor de si
e saber sempre que isto lhe convenha, distrair-se dos pensamentos de aflição, debilidade e morte. Ao
contrário disso, a sua ignorância a este respeito tem sido tanta que, ao sentir-se atingido por alguma
enfermidade, ainda o seu espírito deu mais força à mesma.
Se houver sabido que toda enfermidade ou doença é apenas o resultado de uma ação mental exer-
cida sobre o corpo e que é possível evitá-la divertindo-se, ou antes distraindo-se de tal ação, da mesma
forma como se foge de uma serpente venenosa, bem diferente seria o seu estado de saúde, vigor e
agilidade física ao chegar aos setenta ou noventa anos.
Quando afirmamos que uma doença qualquer se tornou crônica é porque o pensamento dessa en-
fermidade é contínuo, a ponto de se tornar realmente crônico no enfermo ou paciente, tendo sido forjado
em seu espírito pelas pessoas que o rodeiam.
O homem não tem sabido distrair-se do pensamento produtor da sua doença, de maneira que, até
quando viaja, a ideia de tal enfermidade viaja com ele, pensando ele constantemente nela e falando do
mesmo assunto, não só com todos os membros de sua família, mas com todas as pessoas que se lhe
aproximam, em casa ou no passeio; com ela dorme e com ela se levanta, comendo com ela e procuran-
do de preferência as pessoas que sofrem da mesma moléstia. Que admira, pois, se, por fim, o seu corpo
chegue a experimentar todos os sintomas da doença imaginada?
Há pessoas que, depois de terem sofrido, durante um ou dois invernos, um forte resfriado, apenas
se aproxima a estação invernosa estão já temendo um ataque de influenza e é mais que certo não se
livrarem dela. Muito melhor seria procurar afastar do seu pensamento tal ideia, dizendo a si próprio: “Não
creio que me resfrie este inverno”. Só este pensamento é já bastante e constitui um início de reforma
mental. Pode suceder que lhe sobrevenha um resfriado, porquanto não é em vão que o tem estado pa-
decendo durante longos anos e faltando sempre às leis espirituais, como todos nós temos feito e todos
os dias estamos fazendo constantemente.
Se, ao nos despertarmos certa manhã, sentimos dores nas juntas, o corpo pesado, a garganta, o
nariz ou os olhos inflamados, além dos inúmeros remédios que habitualmente são indicados para com-
bater uma bronquite ou um simples resfriado, podemos experimentar também o exercício da distração,
empenhando-nos em algum trabalho diverso das nossas ocupações cotidianas e que mais nos prenda
o espírito.
Assim é que podemos, por exemplo, comer fora de casa, dormir em outra cama, vestir os nossos
melhores trajes e com mais esmero, fumar um cigarro ou um bom charuto, se não temos o hábito de o
fazer, tomar um caminho diverso do que costumamos tomar para ir ao escritório ou voltar para casa,
beber chá, se estamos habituados a tomar café, suar bastante, molhar os pés ou comer alguma coisa
que nunca tenhamos comido ou muitas raras vezes, embora não seja possível introduzir todas essas
alterações de vida nos nossos costumes em um só dia ou de uma só vez.
Todas estas coisas e, muitas mais que aqui não mencionei, servem de diversão à nossa mente,
afastando-a de toda e qualquer perturbação física, podendo fazer-se idêntica coisa com toda e qualquer
atribulação moral.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 45


Este princípio da distração mental e da sua aplicação na vida nunca nos deve abandonar; pode
permanecer latente e como soterrado em nosso espírito algumas vezes, mas reaparece de novo e mais
vigoroso do que nunca; pode parecer adormecido, porém, cada vez que desperta, fá-lo sempre com
maior ardor, e maior influência exerce sobre nós, sentindo-nos inclinados imperceptívelmente para uma
diversidade maior de costume e de vida.
Não se deve, porém, chegar a este estado mediante uma série de esforços puramente mecânicos,
pois que no espírito nada existe de mecânico, antes é ele uma fonte inesgotável de impulsos novos e
só executa o que muito bem sabe que lhe dará algum prazer, ao contrário do que faz o corpo, guiado
por sua mente material que reza, come, trabalha ou dorme, quando o tempo destinado para cada uma
dessas funções chegou, sinta-se ou não disposto a fazê-la. Essa rotina converte o que denominamos
religião em mera fórmula externa, isto é, em uma paródia da verdadeira religião.
Adoração a Deus não consiste em adorá-lo e rezar-lhe a horas fixas, sem que a isso nos sintamos
impelidos, nem podemos forçar nunca essa inclinação ou impulsos. Ela deve vir espontânea e livremen-
te, de moto próprio, ou então deixa de ser verdadeira.
Essa adoração pode até consistir únicamente em um clarão ou centelha de luz divina, que num
momento inesperado nos atravessa a mente, quer nos achemos em casa, no negócio, no escritório e até
na rua ou no espetáculo. Esse raio de luz, porém, vale por um milhão ou mais de cerimônias ou obser-
vâncias religiosas superficiais e externas.
O que devemos fazer é implorar do íntimo da alma que essas chispas de luz e fé sejam cada vez
mais frequentes em nós; e, se o rogamos com sincero e verdadeiro anelo indubitavelmente o consegui-
remos. É esta a partícula de Deus que a cada um de nós pertence, manifestada na carne.
Deus nunca pediu a ninguém que fixasse de antemão o tempo, a hora, nem a estação para se atear
nos corações humanos o fogo sagrado do espírito. Uma família, dispondo de raríssimas distrações e
cuja vida cotidiana desliza só pelos mesmos caminhos, será necessariamente uma família enferma e
infeliz. Nem todos os doentes jazem sempre no leito, pois até se pode mesmo asseverar que a maior
parte está fora dele.
A doença e a miséria, mesmo moral, cobrem uma grande parte da terra, tomando frequentemente a
forma de irascibilidade, mau humor, tristeza e de toda e qualquer outra espécie de fraquezas morais que
apenas são o reflexo de idênticas debilidades físicas. Sei perfeitamente que esta afirmação pode pare-
cer, talvez, até insensata ao homem de vinte ou trinta anos, robusto e são; mas, se aceitar a ideia de que,
dentro de quarenta ou cinquenta anos, o seu corpo há de forçosa e fatalmente enfraquecer-se e decair,
é fora de toda dúvida que em seu espírito e não em seu corpo existe o pensamento-semente ou germe
de toda enfermidade e, se continuar a viver sem conseguir desfazê-lo, em breve acabará esse pensa-
mento por dar os seus funestíssimos frutos. Nada nos custará tentar, pelo menos, expelir para longe de
nosso espírito essa daninha semente, e se, por nossos esforços, não pudermos deixar de acreditar que
a decadência física e a morte são uma lei inexorável, existe com certeza um Poder que nos há de ajudar
a ver tudo sob um aspecto muito diverso.
Pelo que até aqui tenho dito e repetido a este respeito, não quero afirmar que a distração seja uma
panacéia para destruir doenças e regenerar o corpo. Não é senão um dos fatores mais importantes.
Aquele que trilhar sempre o reto caminho da vida encontrará, de certo, muitos outros meios para alcan-
çar esse bem, mas achá-lo-á sempre dentro de si mesmo, que é realmente onde reside o Reino dos
Céus e o Reino da Vida Eterna.
Muitíssimas pessoas andam pelas ruas e sentem, num certo momento do dia, certos sintomas de
algum pequeno incômodo físico: uma leve dor de cabeça, uma impressão de peso ou ainda de desfa-
lecimento nas pernas e nos braços, qualquer coisa, enfim, dos numerosos incômodos que o estômago
nos faz sentir, ou mesmo alguma preocupação ou depressão mental. Sucede também que cada uma

46 Prentice Mulford
destas afecções físicas se apresenta associada ou intimamente combinada com determinados hábitos,
companhias ou permanências em certos lugares. Deixemos esses hábitos, cessemos de frequentar tais
lugares ou pessoas, e os sintomas da nossa doença desaparecerão por completo, só pelo fato de ter-
mos, desta forma, destruído as condições mentais mórbidas que os produziam.
Despedacemos a trama mental que nos tem presos ou encerrados em um círculo rotineiro e tere-
mos feito, destarte, desaparecer também a doença que lhe era inerente e tanto amargurava a nossa
existência.
Não variar os nossos costumes, habituar-nos a fazer o mesmo todos os dias, acaba por nos inutili-
zar, impossibilitando-nos de introduzir em nossa vida a menor variedade e deixando-nos sempre como
pregados a um canto do lar, isolados de tudo e afugentando também de nós todo ideal ou mesmo sim-
ples desejo de sair, passear ou fazer qualquer coisa diferente, que ao menos traga qualquer variação à
nossa vida. E assim, de dia para dia, mais penoso e desagradável se torna para nós o pensarmos em
introduzir a mais insignificante mudança em nossa vida.
É, porém, de toda conveniência quebrar essa espécie de encanto e visitar os museus, os jardins
e os teatros, todos os lugares, enfim, onde seja possível encontrar um salutar divertimento e as famílias
que possam proporcionar-nos alguma benéfica distração, esforçando-nos por não passar horas e horas
nessa espécie de estúpida letargia que a constante e contínua permanência em casa nos produz, onde
muitas pessoas, até marido e mulher, passam horas e dias inteiros pasmados ou bocejando, cheios de
tédio, um em frente do outro, desejando bem no íntimo da sua alma alguma coisa de novo, inclusive al-
guma cara nova, qualquer coisa, enfim, que traga um pouco de agradável diversão à estúpida e pesada
monotonia da sua existência, à qual se sentem manietados com férreas algemas.
O Universo está repleto de uma infinidade de variadíssimas coisas, cujo gozo nos pode dar uma
felicidade mais ou menos duradoura. Quanto maior for a nossa perfeição espiritual e elevada a nossa
espiritualização, maior será também o nosso poder para sentir e apreciar, em todo seu justo valor, essa
infinita abundância de todas as boas coisas que o mundo encerra, guardando-as avaramente só para
aqueles que as sabem descobrir e apreciar devidamente.
À medida que se for desenvolvendo e robustecendo a nossa fé no Poder Supremo para a produção
do bem, maior e mais vigoroso será em nós também o estímulo ou impulso que havemos de sentir para
procurar e conseguir a variedade da nossa vida, indo em busca da necessária diversão em todos os
momentos da nossa existência.
O homem que chega a sentir-se fatigado, saciado de todos os prazeres da vida, imaginando ou
dizendo que já tem visto e sentido tudo, que nenhuma impressão nova pode experimentar, porque a vida
e o mundo nada de novo encerram para ele, é um homem incapaz de sentir e ver algo mais do que o
lado material das coisas — podeis ficar certos disso. É cansado, um vencido pela vida; os seus sentidos
físicos esgotaram-se completamente por lhes faltar a necessária vivificação e regeneração das suas
forças, as quais deviam provir do elemento espiritual que recebemos.
Permitamos pois à nossa mente fortalecer-se cada vez mais, de dia para dia, no hábito de pedir
constantemente ao Poder Supremo a sabedoria, a fé e a força tão necessárias ao homem para fazer
desta vida o que ele deveria realmente ser — e o que, sem dúvida, será um dia: um eterno Paraíso.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 47


MODO DE ECONOMIZAR AS NOSSAS FORÇAS

P
ela forma por que hoje vivemos, malbaratamos as nossas forças, desperdiçando-se elas cons-
tantemente, por caminhos e canais inteiramente desconhecidos para nós. Acima da economia
monetária existe outra muito mais nobre e elevada. Quando o homem conhecer bem essa Econo-
mia, conseguirá deter de vez a perda dessas suas energias, tendo como resultado disso um aumento
contínuo das suas forças físicas e mentais, forças estas que têm muito mais valor do que o dinheiro,
pois que o primeiro e mais importante de seus resultados será o prolongamento da própria existência,
prolongamento que até agora ninguém se atreveu a esperar.
De acordo com esta Economia divina de nossas forças, a qual até agora ainda não foi compreen-
dida por ninguém, cada um de nossos atos, quer ele seja simplesmente material ou mental ou ainda um
ato reflexo sobre o corpo, será indubitavelmente uma exuberante fonte de verdadeiro recreio; aumen-
tando as nossas forças, é claro que todo trabalho material ou mental, feito nestas condições, todo exer-
cício, quer seja físico, quer espiritual, há de forçosamente causar-nos profundo prazer, deixando-nos,
além disso, uma verdadeira reserva de forças, tornando-nos aptos para todos os esforços corpóreos ou
mentais, muito mais prolongados e intensos do que hoje poderíamos fazer.
Uma das mais importantes causas do nosso atual desbarato e desaproveitamento de força consiste
no modo mental impaciente, colérico, intemperante ou esbanjador do espírito. O menor movimento feito
pelos nossos músculos representa um dispêndio de força ou energia mental; a mais ligeira expressão,
o mais imperceptível movimento de um dedo sequer, ocasiona um desperdício maior ou menor da força
divina, que é também a nossa, pois que cada um de nós é uma parte do Infinito. Mas é uma lei do Infinito
que tal força seja, por fim, empregada para nos proporcionar a maior e mais duradoura felicidade que
é possível imaginar-se.
Se não procedemos de acordo com os decretos e leis divinas, como o Infinito entende que deve-
mos agir, sobre nós cairão somente dores, receios, cuidados e aflições.
Toda atribulação, seja ela qual for, é um aviso da Mente Infinita, para nos advertir de que as nossas
forças sofreram qualquer desvio.
Suponhamos que o leitor tem em sua casa um autômato, cuja força motriz é caríssima, mas do qual
necessita para os diversos atos da vida cotidiana. Não procurará, antes de por em movimento o autô-
mato e, portanto, de gastar qualquer porção de força de que carece para movê-lo, averiguar se os ser-
viços por ele prestados valem a despesa que a sua força motriz acarreta? Consentiremos, porventura,
que o nosso autômato doméstico esteja em contínuo movimento, gastando, sem necessidade alguma,
a dispendiosa energia necessária para movê-lo e dando até, com isso, lugar a que o seu mecanismo se
deteriore? Pois é isto o que, na verdade, fazemos com o nosso corpo quando, para levantar uma folha
de papel, abrir uma janela ou calçar uma luva, empregamos maior quantidade de força do que necessi-
tamos para bem realizar todos os atos.
E quando é esse o nosso habitual estado mental, executando com impaciência todos esses pe-
quenos e trivialíssimos atos da vida cotidiana, produz-se uma exteriorização constante ou dispêndio de
nossas forças, sem receber em troca compensação alguma, vindo, desta forma, infalivelmente, a debi-
lidade, a doença e a morte do nosso corpo.
Contai, se puderdes, os diversos movimentos de pernas, braços e músculos que sois, deste modo,
obrigados a executar, desde que vos levantais da cama, pela manhã, até vos recolherdes novamente
ao leito, à noite.

48 Prentice Mulford
Pensai também nos variadíssimos movimentos que tendes de fazer para levantar-vos, vestir-vos,
calçar-vos e procurardes o mais insignificante dos utensílios de que tendes necessidade durante todo o
dia, e lembrai-vos de que, em cada um desses movimentos, gastais maior ou menor soma dessas for-
ças, tanto físicas como mentais, e até que, além disso, cada uma das ideias que ocorrer à vossa mente
exige também um considerável dispêndio de forças.
Pois, o autômato a que acima aludi representa, positivamente, o nosso corpo, e a força que atraímos
para lhe dar os movimentos nos vem da Mente Infinita, como expressão da Força Infinita também. Esta
força não se compra com dinheiro: é inapreciável porque está muito acima de toda avaliação mercantil.
A santidade do seu valor nunca diminuirá, seja qual for o ato praticado e a sua natureza, sendo sempre
o mesmo o seu valor, quer a empreguemos em remendar um vestuário andrajoso, com que iremos pedir
esmolas, quer para fazer deslizar velozmente a pena sobre o papel para nele escrevermos uma bela po-
esia, sublime de inspiração e sentimento. Em harmonia com essa sábia lei, com essa divina Economia,
a despesa das nossas forças deverá ser calculada e regulada de forma a produzir-nos cada vez mais
benefícios, da mesma forma que, quando empregamos um pequeno capital, por insignificante que seja,
esperarmos sempre ganhar mais com ele. Consegui-lo-emos sem dúvida, executando cada um dos
nossos movimentos e ações, calma e pacientemente, o que sem cessar imploraremos à Mente Infinita
que nos conceda.
Desbaratamos maior quantidade de nossa força nas coisas denominadas pequenas e sem impor-
tância do que nas tidas por grandes, porquanto são aquelas geralmente as executadas num estado
mental de impaciência. Se para apanhar a tesoura ou qualquer outra coisa que nos tenha caído ao chão,
nos abaixamos com um ímpeto de cólera ou mesmo de impaciência e profundo aborrecimento, teremos
despendido, só nesse ato tão insignificante, forças suficientes para erguer cinquenta libras de peso.
Quando nos irritamos por nos ter caído ao chão a pena, um pedaço de papel ou qualquer outra
coisa, e, nesse estado mental, nos abaixamos para apanhar o objeto, indubitavelmente teremos gasto
maior quantidade de força do que seria necessária para se realizar um ato tão simples, e essa força que
tivermos gasto a mais, esbanjando-a sem necessidade, a perdemos de uma vez para sempre, pois não
podemos reavê-la mais.
Quando o feitio habitual de qualquer pessoa é o da impaciência e, nesse estado mental, executa
os atos mais insignificantes da sua vida, pode-se afirmar que está desbaratando e desperdiçando con-
tinuamente suas forças, cujo último e inevitável resultado é o esgotamento, o qual finaliza sempre por
alguma séria enfermidade.
Quando compreendermos o verdadeiro valor da nossa força, veremos que tem igual importância to-
das as cotidianas ações da nossa vida e que, muitas vezes, o simples fato de atarmos os sapatos exige
da nossa parte a mesma dose de energia de que carecemos para pronunciar um discurso. Se executar-
mos com excessiva pressa, estouvadamente ou com grande impaciência qualquer ato da nossa vida,
atrairemos dessa forma a corrente mental mais adequada para executarmos todos os outros no mesmo
estado de espírito, seja qual for a importância que dermos a cada um deles. Se dermos, por exemplo, o
laço da gravata com uma precipitação febril, despendendo, num ato tão insignificante, maior quantida-
de de força do que era mister, colocar-nos-emos em condições de executar, de um modo mental idênti-
co, o que consideramos, talvez, o negócio de maior importância e interesse para nós, em todo esse dia.
Esta perda contínua de forças põe a mente nas piores condições para poder concentrar todas as
suas energias no assunto ou negócio que temos entre as mãos e tanto cuidado nos dá, o qual poderia
ser até a realização de um contrato que para nós representasse o ganho ou a perda de muitos mil dóla-
res e no qual devemos entrar, examinando-o com todas as nossas forças e são critério.
O estado mental impaciente e o desperdício de forças daí resultante tendem a deixar várias lacunas
ou pelo menos pontos fracos em tudo quanto fizermos, e determinam a falta de presença de espírito

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 49


necessária, e ainda de tato e habilidade. É o estado mental mais apropriado para afastar todo o êxito
de nós. E se ele se tornar habitual em nós, até nos desvia da nossa carreira, fazendo-nos perder de
todo o verdadeiro caminho. Ao nos impacientarmos sem necessidade, nada mais fazemos do que abrir
a nossa mentalidade à corrente espiritual da impaciência, formada por milhões de outras mentalidades
impacientes, cada uma das quais vem a ser uma espécie de bateria elétrica que influi sobre todas as
outras, constituindo a corrente total.
Quando erguemos um braço, passamos a mão pelo cabelo ou escrevemos um palavra, extraímos
a força necessária para praticar qualquer desses atos, da Fonte das infinitas energias, porquanto toda
força de que carecemos para a realização de qualquer desses atos e até dos mais insignificantes deles
não se forma dentro do nosso corpo.
Devemos, portanto, colocar-nos no estado mental adequado para desejar que, da força por nós
atraída para realizar cada um dos nossos trabalhos, fique de reserva em nós, ao menos, uma pequena
parte dela, tendo destarte um saldo a nosso favor, tal e qual como se se tratasse de uma operação fi-
nanceira.
Não podemos construir por nós próprios esta condição mental; podemos, porém, implorar ao Su-
premo para que se digne construí-la por nós. Comecemos por nos habituar ao exercício deste anelo, em
cada um dos nossos atos menos importantes e então o ato de nos abaixarmos para apanhar qualquer
pedaço de papel ou outra qualquer coisa que nos caiu ao chão nos proporcionará um verdadeiro prazer
físico e também um prazer moral, cada vez maior, além do conhecimento de que cada um desses atos
nos deixou como um depósito uma pequena parte da força de que carecíamos para os realizar.
Se economizarmos um bocadinho da força em cada um dos nossos atos mais insignificantes, pode-
remos auxiliar-nos logo em qualquer esforço maior, como, por exemplo, um longo passeio pelo campo,
que, desta forma, faremos com gôsto e proveito. A nossa habitação ter-se-á, então, convertido em um
verdadeiro ginásio, começando os nossos exercícios com o primeiro movimento que faremos ao saltar
da cama pela manhã e terminando-os com o último, quando nos metemos no leito, para repousar. Esta
aquisição e contínua armazenagem de força dar-nos-ão em resultado, com certeza, maior lucidez men-
tal e maior agudeza ou sutileza de entendimento, porque a força e a energia de que falamos influem
sobre todos os aspectos da vida espiritual, ainda mais intensamente do que sobre a vida física.
Os movimentos lentos e as compassadas reverências que caracterizam os ritos e as cerimônias
religiosas dos credos ou crenças de quase todos os povos, tempos e países, baseiam-se, indubitavel-
mente, no intuito de cultivar o descanso espiritual e o desejo de economizar a força infinita, mediante a
qual o homem executa todos os seus atos e cuja cotidiana observância daria, certamente, os melhores
e mais esplêndidos resultados ao homem.
O modo impaciente e ainda colérico ou estouvado por que executam, muitas vezes, os atos mais
insignificantes e vulgares, tais como varrer, limpar o pó dos móveis, por em ordem uma casa, subir ou
descer a escada, contribui especialmente para esgotar as forças de muitas mulheres.
“A fadiga não está nunca no trabalho em si; a verdadeira causa de que, aos quarenta anos, muitos
homens e mulheres sejam já velhos, está unicamente na sua condição ou estado mental.” É por esse
caminho que muitas mulheres chegam a esse desventurado estado mental que delas exige, para o mais
simples e insignificante ato de sua existência ordinária, uma força dez vezes maior do que lhe seria ne-
cessária. Isso se dá porque esse desperdício de forças produz falta de juízo, de previsão e de economia
em todos os atos da vida cotidiana. Os nossos sentidos perdem uma boa parte da sua agudeza e luci-
dez quando estamos fatigados.
Depois de termos feito uma difícil e penosa ascensão ao cume de uma montanha, gozaremos in-
comparavelmente melhor da formosura do panorama que de lá se desfruta, se tivermos sabido poupar
ou por de reserva uma parte das nossas forças. São muitas as pessoas que desbaratam todas as suas

50 Prentice Mulford
energias na ação precipitada do seu espírito e do seu corpo, por não saberem reservar ao menos uma
pequeníssima parte para calcular e prever com sensatez e calma os seus negócios.
É esse estado mental que mantém muitíssimas pessoas na pobreza material. Se a força de que nos
servimos para fazer agir o corpo estivesse sempre sob o domínio da mente, sobrevindo logo o repouso,
após um momento de fadiga, o aproveitamento da mesma seria muito melhor, mais amplo e completo.
Ninguém se acha em boas condições de espírito para tratar de um negócio, quando está entregue a um
exercício qualquer, como, por exemplo, o prazer da caça.
O estado mental de impaciência tanto pode assenhorear-se de nós no escritório, na repartição, no
armazém ou no passeio, como na cozinha. Poder-se-ia escrever sobre o túmulo de mais de um rico e
laborioso negociante esta inscrição: “Não foi o trabalho que o matou, mas o excesso de forças que nele
empregou.”
A precipitação com que muitas vezes são escritas as cartas comerciais com a sua letra desigual e
mal formada, demonstra que quem a escreveu vive num estado mental que o faz desperdiçar boa parte
das suas forças.
Todavia, alguém dirá: “Se eu seguisse os conselhos do autor, nem metade dos meus negócios po-
deria fazer durante o dia.” Talvez tenha razão. É, porém, certo que pelo modo por que muitos, senão a
maioria deles, procedem, o desperdício de forças é constante, podendo afirmar-se que os resultados
serão os mais desastrosos, pois que tal estado só produz debilidade e esta a definitiva decadência.
Todos os dias, pela manhã, ao levantar-nos, devemos fazer a seguinte prece: “Imploro ao Poder
Supremo que me conceda o estado mental de repouso e que eu encontre satisfação e verdadeiro prazer
em tudo quanto fizer.”
Todas as ações que praticamos durante o dia podem ser e são, realmente, influenciadas pelo pri-
meiro ato que realizamos pela manhã, ao começarmos os nossos trabalhos cotidianos. Muitas mulheres
terão entrado na corrente de irascibilidade e mau humor, que se prolongará todo o dia, só pelo fato de
se terem queimado um dedo ou entornado a cafeteira, pela manhã, devido à grande precipitação com
que fizeram o almoço. E é conveniente notar que todos estes dissabores lhes sucederam porque tinham
sempre fixa em sua mente a terrível e prejudicialíssima ideia do mais depressa!
Se, mediante a nossa prece ao Poder Supremo, conseguirmos que essa corrente mental da verda-
deira economia atue sô- bre nós, então, em lugar de têrmos dado o cuidado nas nossas ações, bastará
que nelas ponhamos amor e carinho e, desta forma, nenhum incômodo nos dará o desempenhálas.
O hábil jogador de pelota ou de bilhar e o gracioso e inteligente bailarino só encontram prazer na
execução das suas variadas e difíceis evoluções, porque nisso puseram todo o amor da sua arte e é
assim que, no futuro, o homem realizará cada uma de suas múltiplas ações.
A ideia que está encerrada na palavra cuidado, e até a própria palavra, foi criada ou engendrada
pela mente material ou terrena. Nas mais elevadas regiões da existência, todo cuidado converte-se em
amor. Amar a ação, de um modo natural, isto é, sem forçar a própria natureza das coisas, é o que deter-
mina a economia das sagradas forças que em nós residem, assim como o hábil lenhador sabe econo-
mizar a força que o manejo do machado exige, brandindo-o contra o tronco da árvore só no momento
oportuno e justamente no sítio de antemão escolhido, convertendo, deste modo, tão árduo trabalho num
verdadeiro brinquedo.
O artista, o escritor e, em geral, todos os que, de alma e coração, se entregam à profissão que
exercem, sentem-se sempre cheios de impaciência para começar o seu trabalho favorito, que sobre eles
exerce uma espécie de fascinação, nada mais desejando tão ardentemente como poderem absorver-
-se nele. Tudo o mais os incomoda e aborrece, e o tempo que não empregam no seu dileto trabalho, os
enfastia. Vestem-se apressadamente e de qualquer jeito, alimentam-se com precipitação e da mesma
forma executam todos os outros atos necessários à vida. E em seguida, como consequência disso tudo,

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 51


ao pegarem na pena, no lápis ou no pincel, encontram-se completamente privados de inspiração e pes-
simamente dispostos para o trabalho. Por quê? Porque o artista malbaratou uma parte de suas forças
em tudo quanto fez antes de se entregar ao seu trabalho especial e predileto.
A sábia economia das nossas forças é o princípio da vida verdadeira; é a pedra angular do edifício
que muitos homens, que desejam construir, abandonam por descuido ou desprezo.
Certamente, muitos homens de um fortíssimo poder mental têm sido descuidados, e nenhum cari-
nho nem amor têm pôsto nos pequenos atos da vida. Apesar disso, realizaram o que o mundo chama
grandes coisas. Pois bem, esses mesmos, se tivessem sabido economizar as suas forças, teriam reali-
zado certamente coisas muito maiores e mais maravilhosas.
O constante desperdício das suas forças acabou por enfraquecer-lhes o corpo, arremessando-os
finalmente no leito de dor, convertendo-o em um instrumento inábil para o espírito poder utilizar-se dele
nos domínios da vida material.
A verdadeira economia de nossas forças significa vida eterna para o corpo; não quer isto dizer que
o corpo tenha de ser sempre o mesmo, pois o corpo vai-se renovando e purificando à medida que o
espírito sabe atrair maior soma de energia da Fonte do Poder Infinito.
O desbarato ou desperdício que fazemos de nossas forças, nos atos insignificantes da vida, afeta
de um modo prejudicial o nosso mecanismo interno. Porquanto os pulmões, o coração, o estômago e
todos os outros órgãos funcionam de acordo com o nosso modo mental predominante, e, se este é o
da impaciência, com impaciência se realizarão as suas transcendentais funções. Se não gastarmos o
tempo indispensável para fazer as coisas com o devido método e sossego, também o estômago não
realizará, como deve e convém, as suas funções naturais; e, desde esse momento, todos os outros ór-
gãos irão de acordo com o estômago, porque, quando se deteriora ou altera qualquer dos órgãos da
máquina, o funcionamento total da mesma se altera e deteriora também.
O desperdício constante de forças origina a impaciência, e a respiração de toda pessoa impaciente
ou colérica é curta, ofegante e exaustiva. A pessoa consumida pela angústia não pode respirar salu-
tarmente. Mas, à medida que imploremos o Poder Supremo, no estado mental mais favorável e próprio
para a verdadeira economia de nossas forças, mais descansada, profunda, natural e desafogadamente
se fará a respiração nos nossos pulmões.
Assim como existe uma respiração material, existe também uma respiração propriamente espiritual.
Quando o nosso espírito vive na corrente mental da verdadeira economia, pode enviar ao corpo certa
quantidade de vida, a qual penetra juntamente com ele em cada uma das respirações, e estas, pouco a
pouco, se vão tornando mais profundas, calmas e descansadas. Tal vida não vem da terra; vem sempre
das regiões espirituais, e vem proporcionalmente da energia da nossa aspiração que consiste em pedir
ao Supremo que nos eleve a uma existência superior, mais pura e sublime, muito acima das dores e
enfermidades terrenas.
Empregar energias no ódio é o pior uso que delas podemos fazer. Odiar alguém ou alguma coisa,
seja qual for o motivo, é coisa que danifica, profunda e positivamente, o nosso corpo.
Não é porém justo e razoável que odiemos o mal, a ingratidão e a injustiça? Não se trata aqui de
razão ou sem razão, na medida em que estas palavras podem adaptar-se ao bem comum. Aqui só tra-
tamos, agora, de um estado mental capaz de trazer bons ou maus resultados a nós próprios.
Ver imperfeição em tudo e estar sempre em estado mental de completo antagonismo com os costu-
mes gerais, com as leis estabelecidas ou com as pessoas, atrai-nos uma corrente mental de elementos
destruidores, os quais penetram todo o nosso organismo.
O eloquente orador que nos discursos emprega as mais ferinas invectivas e os mais atrozes sar-
casmos contra o vil opressor, frequentemente morre antes dele; eis por que, depois de têrmos entrado
numa corrente de luta e antagonismo mental contra certo e determinado inimigo, já não podemos sair

52 Prentice Mulford
facilmente dela. Essa nossa arremetida transforma-se em uma espada de dois gumes, que tanto fere
o inimigo como aquele que a maneja. É por esse motivo, justamente, que se lavrou a bem conhecida
sentença: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”
Se vivemos com as leis da Economia divina, poupamos toda essa força desperdiçada, porquanto
o ódio se não nos abrigará no coração; nos homens e em toda a natureza somente veremos o bem. Ver
sempre o bem em tudo e em toda parte é exteriorizar uma grande força mental que nos atrairá maior
quantidade de bem e de felicidade... À medida que a nossa prece se toma mais enérgica e mais sin-
cera, o Poder Supremo nos ensinará o modo de encontrar em tudo maior bem do que nós imaginamos,
ficando então admirados da infinita formosura e perfeita ordem que predominam no universo inteiro,
ordem e formosura tais, que nem sequer agora podemos sonhar.
A lei humana diz-nos que devemos repelir todo o agravo, vingando qualquer ofensa com uma afron-
ta; por isso, na ordem humana até agora estabelecida, grande parte da sociedade está em contínua
guerra com a outra parte, sob pretexto de combater qualquer mal, pronunciando-se assim, de parte a
parte, palavras duríssimas e insultos pungentes. Destarte, do púlpito e da tribuna, os homens lançam
uns contra os outros tremendas acusações e anátemas terríveis, e por esse caminho formam-se, num e
noutro partido, os sentimentos mais dúbios e transviados.
Os homens fizeram as leis para destruir o mal e não o conseguiram em coisa alguma, mas a rotina
acostuma-nos a trilhar sempre a mesma senda, e por ela vamos seguindo sempre satisfeitos.
Porém, examinando tudo isso bem, podemos dizer, porventura, que foi este o melhor caminho?
Observamos em alguma coisa as inspirações do Onipotente? Ou foi porque o homem se empenhou em
tomar as rédeas em suas próprias mãos, confiando demais nas suas forças para se governar?
Se nos achamos num estado mental em que nos pareça necessário fazer diversas coisas ao mesmo
tempo, porquanto as julgamos todas igualmente indispensáveis, como sucede frequentemente à mu-
lher, que não sabe determinar os trabalhos de sua casa, devemos pedir ao Poder Supremo a sabedoria
necessária para conhecermos o que primeiro devemos executar, qual das coisas nos deve ser mais útil
e proveitosa. Devemos também pedir a necessária sabedoria para saber quando as nossas forças atin-
giram o seu limite, pois são numerosos os que trabalham inútil e inconscientemente muito além do que
lhes permitem as forças, alquebrando assim a saúde e abreviando o final de seus dias neste planeta.
Gastamos em maior ou menor quantidade as nossas próprias forças até estando ociosos e tranqui-
los, pois as gastamos também em cada um dos nossos pensamentos e planos mentais, sejam grandio-
sos ou insignificantes.
Vemos, por exemplo, que a nossa biblioteca está coberta de pó, a nossa mesa de trabalho em
completa desordem, as nossas caixas de pintura ou de costura em plena confusão. O propósito que
mentalmente formamos de por todas essas coisas em ordem, embora materialmente não nos tenhamos
movido de nossa cadeira, gastou-nos uma parte maior ou menor de nossas forças. Se nestas coisas,
que hão de ser feitas no futuro, pensarmos uma dúzia de vezes por dia, pensando sempre em fazê-la,
sem nunca realizar esse intento, temos gastado quantidade de forças de que havíamos mister para
executá-las materialmente; além disso, a contemplação de tantas coisas por fazer se nos tomou deveras
incômoda e irritante, aumentando cada vez mais o aborrecimento e a irritação à vista das coisas que
deixamos por fazer durante o dia.
A simpatia e o amor, mal dirigidos e mal empregados, são também causa de perda das nossas
forças. Se dedicarmos o nosso afeto e simpatia às pessoas cuja condição mental está muito abaixo da
nossa, desperdiçamos grande parte de elementos valiosíssimos, sem receber em troca elementos equi-
valentes. A lei vital exige que haja igualdade absoluta no intercâmbio de elementos mentais entre duas
ou mais pessoas estreitamente unidas por laços afetuosos. Estar unido ou ligado a uma pessoa, em

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 53


espírito, não é positivamente uma metáfora. Existe uma verdadeira relação espiritual, muito mais íntima e
real do que as relações ou alianças físicas de duas pessoas que passeiam de braço dado.
Se intimamente nos ligamos a alguém cuja mentalidade é inferior à nossa, disposta sempre a dar
guarida em seu cérebro e coração aos sentimentos de ódio, inveja, impaciência e outros maus instintos
deste jaez, absorvemos, sem dúvida, de tal mentalidade, não só estes, mas também todos os outros
defeitos de que possa estar contaminada e, juntamente com eles, todos os males físicos a que infalivel-
mente dão origem.
A recomendação do apóstolo: “Nunca te juntes senão aos teus iguais” é baseada nesta ideia, por-
que, como diz o velho rifão: “Dize-me com quem lidas, dir-te-ei as manhas que tens.”
O tédio e a tristeza são igualmente grandes esbanjadores da nossa força. Todavia, todos nós nas-
cemos com os elementos desses dois inimigos da nossa ventura e bem-estar, dentro de nós, os quais
nos causam dores cruéis, não só quanto aos males e sofrimentos passados, mas também pelos futuros,
até que, em virtude de nossa incessante prece, todos esses baixos e vis pensamentos sejam arremes-
sados para bem longe da nossa mente. Dá-se, então, nela, uma substituição por uma corrente mental
muito mais elevada, por onde se chega a descobrir que a Lei da Vida Eterna ou da religião não se funda
em dogmas de espécie alguma, nem se celebra em determinados dias e sob uma fórmula determinada
também; antes é um espírito santo e de essência divina, que penetra cada uma das fibras do nosso ser
e cuja Força Infinita se manifesta até no simples movimento de um dedo. Em tudo isto encontraremos
sempre a Fonte inesgotável dos nossos prazeres e proveitos.
Esta corrente mental acabará por fabricar o homem novo e a mulher nova, os quais, em todas as
coisas da vida, encontrarão um motivo de alegria e deleite... Neste sentido, deve-se compreender que
o Infinito Espírito do Bem apagará um dia da face da terra a tristeza, a miséria e as lágrimas dos olhos
humanos, conforme o que está escrito e prometido nas Sagradas Escrituras.
As nossas forças não podem ficar limitadas aos nossos atos físicos nem a influência que devemos
exercer sobre os outros ficará circunscrita à que, por acaso, possamos ter sobre eles, mediante as nos-
sas palavras, quer faladas, quer escritas. A nossa mente mistura-se com outras mentalidades, providas
ou não de corpo físico, imiscuindo-se em tudo o que lhes diz respeito, independentemente do nosso
corpo e sem que este nada tenha que ver com essas comunicações.
Enquanto o corpo está repousando, podem as nossas forças mentais estar, talvez, em plena ativi-
dade.
Existe o reino do espírito, um mundo ainda quase por descobrir e onde, enquanto os corpos re-
pousam em seus leitos, as mentes que neles se alojam fazem projetos, discutem, planejam e impelem
as coisas mais importantes e de maior transendência, que, em seguida, se tomam numa verdadeira
realidade no mundo material.
O corpo que está estendido na cama, enquanto o espírito trabalha, é apenas instrumento de que
esse mesmo espírito se servirá pela manhã, para por em prática os seus planos e atuar por seu intermé-
dio no mundo das coisas materiais.
A mente de um homem que vive sempre absorto numa ideia extraordinariamente grandiosa, subli-
me, genial, nem um só momento deixa de estar em plena atividade, quer durante o dia, quer durante a
noite. Somente o corpo repousa alguns momentos no domínio da vida que podemos apreciar por inter-
médio dos nossos sentidos físicos, ilusórios e falazes, sempre.
Se malbaratamos as nossas forças no mundo material, no espiritual as desperdiçaremos também.
Quando em qualquer desses dois mundos se produz um desfalque ou perda de forças, tal falha se re-
percute logo no outro.

54 Prentice Mulford
Se adormecemos atribulados por uma grande angústia, o nosso espírito permanecerá toda a noite
debatendo-se nas malhas apertadas dessa cruciante dor e, ao acordar, ao nosso corpo alquebrado
parecerá ainda mais insuportável essa tremenda carga.
A mente cujo hábito é de constante impaciência, enquanto o corpo no leito descansa, e continua
vivendo no reino da impaciência e do desassossego, aliando-se com outras mentalidades que, em idên-
tico estado, vivem alimentando assim o corpo somente com os elementos da impaciência e da angústia.
As forças economizadas pelos meios de que falamos e por muitos outros é que dão a certos adep-
tos de algumas seitas da Índia as extraordinárias faculdades de que gozam, poderes em que não
acredita a maioria dos ocidentais que os qualificam de sobrenaturais. Nada de sobrenatural existe no
universo; o que há apenas é que tanto no universo como em nós próprios existe uma grande quantidade
de coisas hoje ainda ignoradas pelo homem.
Pelo decorrer dos tempos, todos os homens têm vivido com o hábito de desperdiçar as suas pró-
prias forças, pelo que, tratando de corrigir estes males, devemos abster-nos o mais possível de dizer: “É
necessário ou tenho de reformar imediatamente este hábito”, porque ele não pode ser reformado ime-
diatamente, por isso que nenhum homem pode, só por si, individualmente, reformá-lo em absoluto. Só a
nossa incessante prece ao Poder Supremo pode libertar-nos a mente de tão nocivo hábito.
É-nos inteiramente impossível, de um só esforço, deter esse perene desperdício de nossas forças; a
habitual impaciência que por longos anos abrigamos em nós exigirá bastante tempo ainda para corrigir-
-se e transformar-se num estado mental mais tranquilo e calmo.
As relações com pessoas cuja companhia não nos convém ou pode até ser-nos prejudicial, também
não podem ser cortadas de um golpe ou de uma só vez, ainda mesmo quando saibamos serem elas
a causa da perda das nossas forças. Uma mente habituada ao ódio ou à inveja não pode mudar o seu
feitio do dia para a noite.
Dizer a nós mesmos ou aos outros: “É necessário corrigir- nos já, de uma vez para sempre, do hábi-
to de estar sempre impacientes e contrariados”, seria, na verdade, enveredar por um péssimo caminho,
pois que o esforço que fizemos nesse sentido seria forçado e artificial, redundando tudo em prejuízo e
grande dano da pessoa que o tentasse, originando-se um estado mental falso e destituído de naturalida-
de; como algumas vezes observamos em certas pessoas que, sistematicamente, imitam ou arremedam
as maneiras de outras individualidades.
Os estados mentais daí resultantes são sempre contrafeitos e doentios, produzindo extrema fadiga
no corpo.
A correção e a distinção que se podem conseguir ou adquirir desta forma, não perduram, pois só
pode perpetuar-se pelos séculos adiante aquilo que nos provém de Deus.
O corpo que durante trinta ou quarenta anos se habituou ao estado mental de impaciência, conver-
tendo esta na sua condição normal, tem em cada um dos seus ossos a impaciência mental materializa-
da em substância física, da qual só podemos desprender-nos pouco a pouco, substituindo-a por uma
substância mais nova, mais salutar e mais espiritual em suma.
Atualmente vivemos no meio da ignorância, mas, por isso ninguém pode qualificar-nos de miserá-
veis pecadores. Devemos, entretanto, sair desses erros. À medida que nossos olhos se forem abrindo
à luz divina, descobriremos algumas das faltas ou erros em que temos vivido. E devemos dar muitas
graças ao Supremo Espírito do Bem por nos ter feito ver e conhecer bem as nossas passadas faltas ou
erros, pois que só o fato de as podermos ver já é uma prova de que estamos progredindo no caminho
da nossa perfeição.
O homem, porém, não pode, por si só, desenvolver essa Economia divina. Portanto, se chegar a
descobrir que está esbanjando de qualquer forma as suas próprias forças, o que lhe convém fazer é

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 55


dirigir uma fervorosa prece ao Supremo Espírito para que lhe seja concedido o estado mental calmo,
satisfeito e tranquilo.
Então começará a fluir sobre ele uma vida nova de paz e sossego, com ensinamentos sobre a modo
de poupar as suas forças, incorporando materialmente esses ensinamentos no seu sangue, nos seus os-
sos, nos seus nervos, constituindo dessa forma um novo ser e, por este caminho, à prática da Economia
divina se torna ao homem tão fácil e tão natural como lhe é agora natural e fácil o respirar.
A Mente Infinita e a Sabedoria dos séculos, chamadas a atuar sobre os homens, destruirão cabal-
mente, sem a menor perturbação de espécie alguma, todos os obstáculos que se opuserem ao pleno
desenvolvimento da vida. E o nosso modo de ser transformar-se-á tão serena e suavemente, mudando
gradualmente os nossos estados mentais, os nossos costumes e as nossas companhias, quase sem
darmos por isso; da mesma forma que um formoso por de sol a cada instante muda o aspecto do céu,
colorindo-se este cada vez de mais belas e variadas cambiantes de cor e de luz, modificando-se-lhe a
coloração e os matizes, e obrigando-nos, o deslumbrante arrebol que estamos presenciando e admiran-
do agora, a esquecer os esplendores passados.
É então que podemos afirmar que o reino da Bondade Infinita penetra na mentalidade de cada um
de nós tão silenciosa e sutilmente como o perfume suave e delicado das flores.

56 Prentice Mulford
DEUS NA NATUREZA

B
em-aventurado é aquele que sabe amar as árvores, principalmente as árvores silvestres ou na-
turais que crescem sem peias onde a pródiga e onipotente natureza, a divina Força da criação
as colocou, independentemente dos cuidados dos homens. Porque todas estas coisas, por nós
denominadas silvestres ou naturais, estão muito mais próximas da Mente Infinita do que as que foram
escravizadas e torturadas pela mão do homem e, justamente enquanto assim estão mais perto da Mente
Infinita, desfrutam também muito melhor e em maiores proporções da Força Infinita. Eis a razão por que,
quando nos encontramos em plena natureza, no meio dos bosques ou nas montanhas, enfim, no meio
de tudo quanto é silvestre ou natural, onde se não encontra o menor vestígio, nem mácula da mão do
homem, sentimos uma íntima satisfação e uma verdadeira liberdade de espírito, difícil de exprimir e que
em nenhuma outra parte podíamos encontrar.
É porque ali respiramos um elemento especial que as árvores, as rochas, as aves, os animais e
cada uma das expressões da Mente Infinita que nos rodeia, desprende contínua e constantemente. Tudo
isso é alegre e saudável; existe ali mais alguma coisa do que o ar que respiramos: há a Força Infinita
manifestada em todas essas coisas absolutamente naturais, a qual influi e atua sobre nós.
Na cidade, não podemos gozar dessas coisas, nem sequer mesmo nos mais belos e cultivados
jardins e vergéis, porque estes, ao contrário da libérrima natureza, estão impregnados da baixa e mes-
quinha mentalidade humana, dessa mentalidade que acredita ser ela só que impele o progresso e o
melhoramento do universo.
É o homem propenso a acreditar que o Infinito fez o mundo tosco e grosseiro, para ele o poder aper-
feiçoar e polir. Foi esta, realmente, a orientação seguida pelo homem, o raciocínio por ele feito ao destruir
as selvas e as florestas e, com elas, portanto, os pássaros e os outros animais que nelas habitam. Cons-
tituem, porventura, progressos verdadeiros, na ordem natural e divina das coisas, estes nossos rios, que
arrastam o lôdo e as águas infectas de tantas fábricas e engenhos de toda espécie, e estas cidades
feitas pela mão do homem, as quais crescem e se expandem, todos os dias, sobre muitas milhas de ter-
reno, vivendo nelas os seus habitantes apertados como as abelhas numa colmeia, correndo sob as suas
casas os pestilentos canos de esgoto e ouvindo-se por toda parte milhares de ruídos ensurdecedores,
não falando nos inúmeros perigos de que constantemente estamos rodeados?
Venturoso é, pois, aquele que durante a sua existência inteira sabe amar com terno amor as árvores
dos bosques, as aves e os animais, cujas vidas o homem não artificializou ainda, compreendendo, além
disso, que todos eles são animados pelo mesmo Espírito divino, que o anima a ele também, visto serem
todos criaturas de Deus, filhos, portanto, do mesmo Pai Criador, podendo prestar-lhe elementos verda-
deiramente valiosos em troca do amor desinteressado que lhes consagrou,
Nem as árvores das florestas, nem os pássaros que, em seus frondosos ramos, controem os mimo-
sos ninhos, deixam de corresponder a tal amor, porque esse amor não é um simples mito sem realidade
alguma; antes, pelo contrário, constitui um real elemento, uma força que de nós dirige para a árvore, o
pássaro ou a simples rocha, e por todas essas coisas é sentido na verdade.
Cada um de nós representa uma parte da Mente Infinita e cada uma de todas as outras coisas que
existem na natureza, quer seja animal, planta ou mineral, representa outra parte da mesma Mente, sob
a forma de vida que lhe é peculiar e com a sua própria inteligência. A única diferença consiste apenas
em que o homem goza talvez de uma forma mais perfeita e que ainda se aperfeiçoará cada vez mais
nas idades vindouras.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 57


O amor é um elemento, embora fisicamente invisível, tão verdadeiro e real como o são a água e o
ar. É, além disso, uma força sempre ativa e vivificadora, atuando constantemente em todos os seres do
mundo que nos rodeia, mas a qual os nossos sentidos físicos desconhecem, movendo-se em ondas
incessantes, como incessantes são também as ondas dos mares.
Possui a árvore um sentido especial pelo qual percebe o nosso amor e lhe corresponde. É certo que
não mostrará a sua satisfação por uma forma que possa ser atualmente compreendida por nós. Os seus
meios de expressão são os da Mente Infinita, da qual forma uma parte também e, portanto, não a po-
demos nós entender, tendo de nos contentar com o sentimento de uma felicidade maior experimentada.
Em todos os tempos, o homem, em determinadas circunstâncias, tem experimentado uma paz e
serenidade de ânimo que ninguém pôde compreender, porque não há análise química, nem dissecção
capaz de apreciar e aquilatar essa paz verdadeiramente divina.
Sim, se foi o espírito divino quem fez e criou todas as coisas, como não hão de estar cheias de Es-
pírito Divino todas elas? E se nós amarmos as árvores, os animais e até os rochedos, enfim, tudo o que
a Força Infinita criou, como elas nos hão de corresponder também com o seu amor, nos dando, conjun-
tamente com ele, os valiosos elementos da sabedoria que lhes são inerentes? Não nos aproximaremos
mais de Deus, dedicando o nosso amor a todas essas expressões do amor divino, que aos nossos olhos
têm especialmente a forma de animais, plantas ou pedras? Ou, porventura, esperamos achar Deus,
compreendê-lo cada vez mais profundamente, sentir toda a força do seu incomensurável Poder, sem
nada mais fazermos do que pronunciar só as quatro letras de seu nome?
Mais de um dos meus leitores sorriu, certamente, com esta ideia de que as árvores e as rochas
possam possuir também uma mente, e, de mais a mais, mente que pensa e raciocina. É porque nunca
se detiveram um momento a meditar que as árvores, sob muitos pontos de vista, têm uma organização
física igual à nossa. Nelas, a seiva faz o ofício do sangue, gozando de um sistema de circulação igual
ou pelo menos equivalente ao nosso. A sua casca é a sua pele, e as folhas são os seus pulmões. Têm
também necessidade de se nutrir, tirando o seu alimento como nós, do solo, do ar e da luz, sabendo, tal
e qual o homem, adaptar-se às circunstâncias e ao meio ambiente que as cerca.
O vestuto carvalho, que cresce e chega a atingir colossais alturas, ficando, por essa razão, bastante
exposto aos vendavais, fixa raízes fortes e profundas no solo, prendendo-se desta forma, por vigorosos
e estreitos laços, à terra que o robustece, dando-lhe a vida e a força necessária para melhor poder re-
sistir aos embates das tempestades.
Os pinheiros que criam, formando entre si espessas matas ou extensíssimos pinhais, não lançam à
terra raízes tão fortes por contarem com o seu extraordinário número para resistir à inclemente investida
das rajadas, à fúria das ventanias. Portanto, sabem eles também que a união faz a força.
Há plantas que são verdadeiras sensitivas, contraindo, pudica e melindrosamente, as suas fôlhas,
mal se lhes aproxima a mão do homem. Sentem tão manifestamente, que disso lhes veio o nome. Exis-
tem muitas que só crescem e se desenvolvem no meio especial que lhes é próprio. Se as transportam
para países longínquos ou tentam cultivá-las em condições diferentes das que lhes são peculiares,
estiolam-se e fenecem rapidamente.
Pois, com todas essas semelhanças físicas das plantas com o nosso corpo, nos atreveremos a
afirmar que as árvores e todas as plantas não possuem também a sua porção de Mente Infinita? De for-
ma alguma. A árvore é incontestavelmente, também, uma parte da Mente Infinita, da mesma forma que
todos nós o somos. A árvore nada mais é do que uma das expressões também do Espírito Infinito que
está em toda parte. Só vemos, porém, essa manifestação, quando toma a forma do tronco, dos ramos e
das folhas, assim como vemos a expressão material do nosso corpo. Da mesma forma que não vemos
nosso próprio espírito, também não podemos ver o espírito da árvore.

58 Prentice Mulford
A árvore é, pois, na realidade, uma das expressões do pensamento divino, e esta expressão, as-
sim como todas as outras expressões do Eterno, merece o nosso estudo, porque deve conter algumha
porção da Sabedoria Infinita, que nós ignoramos e necessitamos incorporar no nosso ser, pois que toda
verdade que adquirimos aumenta os nossos poderes, os quais, pouco a pouco, melhorarão o nosso
corpo, tornando-o mais forte e são, libertando-o por fim de toda debilidade, da doença e da morte.
Porque, como já foi dito, devemos aspirar a que o nosso coração e a nossa mente se fortaleçam;
que o nosso corpo se tome ágil e não pesado, à medida que os anos forem decorrendo e que cada novo
dia nos traga também maior ventura e um novo prazer, de forma que, em nossa alma e em nosso espíri-
to, penetre a divina luz de uma nova religião capaz de nos dar certezas absolutas e não meras esperan-
ças e teorias; que nos seja permitido sentir a Divindade de um modo positivo, indiscutível e inteiramente
indubitável, manifestando-se a Mente Infinita em cada um dos átomos do nosso ser.
Quando vivemos nos domínios da Mente Infinita e trabalhamos para que esta entre a formar parte
de nós próprios, nada nos parecerá fútil ou inútil.
Necessitamos para os nossos projetos o auxílio de certos poderes agora ainda negados aos ho-
mens; necessitamos vencer os obstáculos que o corpo mortal opõe à nossa marcha, carecemos de
vencer as dores e a morte, deficiências próprias do corpo mortal.
Poderão dar-nos as árvores tudo isto. Muitíssimo auxílio podem prestarnos na verdade, se conse-
guirmos penetrar no seu espírito e compreender que, realmente, elas contêm uma expressão da Mente
Infinita e deixarmos de considerá-las como uma coisa inanimada. Se só apreciarmos as árvores como
coisas produtivas e boas, porque nos dão lenha e madeira, quase de todo desconheceremos a sua vida
espiritual, razão por que elas nos desprezarão, como nos desprezaria qualquer pessoa a quem consi-
derássemos boa somente para ser serrada ou feita em achas para queimar.
Quando vivemos realmente no amor do Espírito Infinito de Deus, amamos todas e cada uma das
partes de Deus.
Ora, uma árvore é também uma parte de Deus e, enviando-lhe a expressão do nosso amor, ela nos
enviará também a retribuição do seu e, com ele, os elementos da sua mentalidade, os quais adiciona-
rão aos nossos conhecimentos um conhecimento novo e um novo poder às nossas próprias potências
e faculdades, dizendo-nos que a força que representa, sendo como é uma parte de Deus ou a Força
Infinita, tem, com relação ao homem, destinos muito mais elevados do que o de ser convertida em fumo
e cinzas. O seu amor nos dirá, então que a árvore penetra a atmosfera com os seus ramos e as suas
folhas, para dela extrair elementos vitais que transmite à terra e dos quais o homem se aproveita, em
seguida, na proporção da sua capacidade para os receber.
Quanto mais nos aproximamos da verdadeira concepção da Mente Infinita, quanto mais clara e
nitidamente compreendermos que desta Mente estão impregnadas todas as coisas, quanto mais intima-
mente sintamos a nossa relação com o pássaro e a pedra, considerando-os como criaturas verdadeira-
mente nossas irmãs também, em maior quantidade absorveremos os elementos vitais que emanam de
cada uma destas manifestações vitais da Mente Infinita e que ela projeta sobre nós.
As pessoas que só apreciam as árvores por considerá-las boas para madeira ou combustível, pou-
quíssimo podem aproveitar desses elementos vitais que, para outra mentalidade mais elevada e perfei-
ta, serão verdadeiros elixires da vida e alegria.
Só absorvemos os elementos de amor, na proporção em que amamos; e só amamos na devida
proporção em que admiramos cada uma das manifestações do Infinito, quer seja uma árvore, um arbus-
to, uma flor, um fruto, um pássaro, um inseto ou qualquer outra forma das inúmeras expressões que a
natureza encerra. Não podemos destruir nem mutilar o que deveras amamos, e o amor de tudo quanto
sinceramente amamos flui até nós, penetrando-nos, pois é um elemento tão positivo como a própria

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 59


árvore, e, quanto maior for a quantidade desse elemento vital, que recebemos e absorvemos, maiores
serão também as nossas faculdades, poderes e compreensão da vida.
A destruição de um bosque significa a perda dos elementos vitais que ele nos podia proporcionar,
e se no lugar das árvores silvestres cortadas plantamos outras variedades exóticas ou produto de uma
cultura artificial, indubitavelmente aqueles elementos de vida foram adulterados, diminuindo extraordi-
nariamente o vigor que poderiam dar-nos.
Se a terra inteira se cobrir de cidades e aldeias, jardins e campos artificialmente cultivados pela
mão do homem, não teremos já de onde tirar elementos vitais que só as florestas virgens nos podiam
dar.
Desconhecendo voluntariamente que a árvore, como tudo quanto existe na natureza, nada mais é
do que uma das expressões da Mente Infinita, mantemo-nos inábeis para absorver os elementos vigo-
rizadores que esta exterioriza, mediante as plantas e os animais, para com eles nos vivificar. Estão as
árvores emitindo incessantemente elementos da vida, tão necessários ao homem como o próprio ar que
ele respira.
Apenas o homem acaba alguma das suas obras, começa logo esta a converter-se em pó, e pó
respiramos constantemente nas nossas grandes e ricas cidades. No universo nada permanece em ab-
soluto descanso um só momento. As pedras, os tijolos, os ferros com que construímos as nossas habi-
tações estão também em incessante movimento, porque lenta e insensivelmente se vão transformando
em impalpável pó.
Todas as manhã, embora tenham estado as janelas hermeticamente fechadas, encontramos as nos-
sas mesas, cadeiras, livros e até os vestuários, cobertos de poeira. Por quê? – Porque existe uma força
gigantesca que, sem cessar, se move e vai destruindo e pulverizando todas as coisas materiais. Deixai
que entre um raio de sol num quarto escuro e vereis flutuar no ar miríades de átomos de pó espessíssi-
mo de que ele está cheio, pois além dos minúsculos grãos de pó que os vossos olhos materiais podem
perceber, contam-se milhares deles que à vossa vista não é dado distinguir. Tudo isto é a matéria morta,
produzindo o incessante e misterioso processo da vida, enquanto que as árvores e todas as coisas na-
turais emanam de si só elementos plenos de vigor e de força vital.
Os nossos próprios corpos expelem de si continuamente, através dos poros da pele, elementos
inteiramente inúteis às boas funções do organismo e, desta forma, nas grandes cidades, onde a popula-
ção é tão densa, o ar está repleto de miasmas e da impalpável matéria que os corpos dos homens sãos
ou enfermos expelem, respirando nós todos essa matéria, uma e muitas vezes. E esta nuvem de matéria
invisível que enche o ambiente das populosas cidades, não é uma substância vital, pois, embora tudo
o que existe participe da vida, essa matéria já não contém os elementos apropriados para a nutrição da
vida do homem. Neste sentido é verdadeiramente matéria morta.
À medida que formos entrando na vida eterna, na saúde e na felicidade pura e imaculada, sem dú-
vida a nossa mente se irá tomando mais própria para uma íntima comunhão com as árvores, as plantas,
os animais e com todas as coisas que a provida natureza em si encerra.
Compreenderemos e veremos, então, que o amor que votamos a todas as coisas naturais, permi-
tindo-lhes que a vida se desenvolva nelas em todo o seu mágico e grandioso esplendor natural, nos
é devolvido exuberantemente, recebendo com ele a especial qualidade do Infinito, que cada uma das
suas expressões neste mundo contém a guarda. Delas fluirão, então, para nós, os elementos de uma
nova vida, de uma vida muito mais poderosa e mais feliz do que a presente existência.
Perguntará alguém: “Mas se não cortarmos a árvore que nos dará a madeira para construir as nos-
sas casas e a lenha para nos aquecermos e cozinhar os nossos alimentos, nem sacrificarmos os animais
que devem servir para a nossa alimentação, como poderemos viver?’’

60 Prentice Mulford
Acaso não haverá outra forma de viver do que aquela que conhecemos atualmente? Acreditamos,
porventura, que nas mais puras, elevadas e perfeitas condições mentais por nós denominadas celestes
serão também necessárias, como agora, a morte dos animais, a mutilação das árvores e a destruição
de tudo quanto seja uma expressão material da Sabedoria Suprema? Pode-se acreditar que há de ser
possível trabalhar na elevação e na purificação da nossa mentalidade, sem nunca ter o conhecimento
das leis mediante as quais esta purificação pode ser alcançada? Isto seria o mesmo que acreditar que
alguém possa fazer dar a volta ao mundo a um navio, sem ter os menores conhecimentos de náutica.
Não devemos aspirar atingir as culminâncias celestiais, da mesma forma que um barril vai rolando in-
conscientemente por uma escarpa abaixo.
É de ver que não podemos libertar-nos imediata e completamente de escravizar e sacrificar as plan-
tas e os animais, nem de os excluirmos de todo na nossa alimentação. Enquanto o corpo desejar e soli-
citar tal espécie de alimentos, é de absoluta necessidade dar-lhos. À medida, porém, que o nosso corpo
se for espiritualizando e aumente a sua crença e a sua fé na purificação de seus elementos, o estômago
e o paladar repelirão a carne de qualquer gênero que seja e não saborearão seres violentamente mortos.
O homem acreditou sempre, erroneamente, até agora, que dependia da sua própria vontade o
purificar ou elevar o seu estado mental e, para tal fim, muitos se têm violentado a si próprios e obrigado
a outros também a determinados jejuns e penitências, abstendo-se completamente de todos os gozos
e prazeres que a sua natureza mais desejava e lhes pedia. Todavia, e apesar de tudo isso, nunca o ho-
mem, por esses caminhos, conseguiu libertar-se da enfermidade, do sofrimento, da decadência e da
morte.
Com todas essas rudes provações, o homem só tem conseguido prejudicar-se, passar uma exis-
tência miserável e por fim perder igualmente o seu corpo, tal e qual como o perde também o glutão, o
bebedor ou aquele que de nenhum gozo se priva.
O asceta nunca teve a verdadeira fé de que só o Supremo o havia de fazer elevar-se na escala da
perfeição e não o seu próprio esforço, e foi esse positivamente o maior dos seus pecados, porquanto,
desta forma, cortou, pelo menos temporariamente, a sua relação com o Supremo, fonte de onde emana
toda vida.
A salvação não está fora ou na exclusão de todo pecado, de todo excesso, de todo e qualquer
hábito prejudicial, mas na perfeita submissão ao Poder Supremo, que com certeza afastará de nós, gra-
dualmente, os desejos desordenados e os anelos próprios deste ou daquele vício.
De outra forma, é claro que pode ao homem parecer que se tem corrigido, porém, será só na
aparência ou exteriormente e de forma contrafeita e artificial, pois que repressão não é o mesmo que
correção.
Fanático em todos os tempos e em todos os povos tem sido o indivíduo que a pretensão de acre-
ditar poder fazer facilmente de si, e por sua vontade própria, um anjo. Foi esta crença que manteve e
mantém ainda o homem no seu atraso.
O Supremo está nos dizendo a cada momento: “Vinde a mim; em todas as coisas criadas me
encontrareis; e eu vos enviarei todos os dias pensamentos novos, novas ideias e novos elementos de
vida, que irão transformando os vossos gostos e desejos, eliminando em breve, mas pouco e pouco,
de vossos corpos, os desejos desordenados e as desregradas paixões, dando-vos, em compensação,
prazeres tão grandes e sublimes como nem sequer podeis imaginar.”
À medida que avançarmos na senda da perfeição, a nossa existência se tornará mais elevada e
mais pura, como o universo inteiro há de purificar-se, e sentir-nos-emos cada vez mais propensos a
conceder aos animais, às plantas e a todas as manifestações materiais da Divindade e da Força Infinita
o gozo pleno da sua vida e da sua liberdade. Então, amando-as, as respeitaremos, pois que não se es-
craviza nem se mata o que deveras se ama. Prendemos um pássaro numa gaiola para o nosso prazer e

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 61


não para o seu; portanto, isto não é amar as aves. Quando amamos do modo mais elevado que é dado
ao homem fazê-lo, abrimos, para nós próprios, um verdadeiro manancial de vida e ventura. Quando,
com amor verdadeiro, amamos alguém ou alguma coisa, é positivamente certo que, por sua vez, esse
ente nos envie o mais puro do seu amor e da sua existência também.
Assim, à proporção que aumente e se purifique em nós este desejo e esta faculdade de amar os
pássaros e as plantas, isto é, todas as coisas criadas pelo Infinito, receberemos delas, em maior quan-
tidade, uma espécie de renovação da nossa força, da nossa vida, da nossa alegria e do nosso vigor
mental, não só dos seres animados, mas também até dos que julgamos inanimados, como o branco
floco de neve que cai dos céus, o mar que ruge como um leão furioso ou murmura brandamente, como
para nos alentar e fazer dormir um suave e doce sono à beira-mar, ou ainda a montanha que, para ale-
gria dos nossos olhos, se reveste de verdura e flores. E pode-se ficar certo de que este nosso amor não
é só um sentimento platônico, mas um meio seguro de recuperarmos as nossas energias e fortalecer
o nosso corpo depauperado, pois que o amor fortalece o espírito com uma força que não o abandona
mais, e que dá vigor ao espírito, robustecendo o corpo também.
Mas só por nosso esforço próprio não podemos criar em nós essa preciosa capacidade para amar
todas as coisas e delas tirar força. E devemos pedir isto ao Poder Supremo.
Talvez pergunte alguém: ‘’Mas por que não nos deu já antecipadamente o Poder Supremo essa útil
capacidade? Por que tem permitido, por tão largo espaço de tempo, esse Poder, que o homem mar-
tirizasse e escravizasse os seres naturais? Por que consentiu Ele as tempestades, os terremotos e as
guerras, deixando que as forças da natureza e as forças humanas competissem, à porfia, em raiva e
fúria insana, para o extermínio e as produções de catástrofes e misérias?”
Nem sequer tentamos responder pelos atos da Sabedoria Divina. É suficiente para nós saber que
existe um caminho que nos conduz para a felicidade, pondo-nos fora do alcance de toda espécie de
males; nos bastará também saber que, à medida que o nosso ser se for regenerando, chegaremos ao
esquecimento absoluto de tais males terem até existido.
Em todas as forças da natureza, ainda as mais terríveis e pavorosas, só veremos o seu lado bom,
capaz de contribuir para a nossa felicidade.
Nem sempre a parte material do homem foi atingida ou molestada pelo fogo e pela tempestade.
São disso uma convincente prova aqueles três homens hebreus que saíram são e salvos de um forno
de brasas. Lembremonos também de que o Cristo caminhou serenamente por cima das águas do mar
encapelado, sem lhe causar o menor dano a tempestade. O que a História nos tem demonstrado ser
possível para alguns, há de ser igualmente possível um dia para todos, quando o seu Eu espiritual tiver
atingido as culminâncias da máxima pureza.
A comunicação com a natureza é mais do que um mero e agradável sentimento; constitui uma
verdadeira comunhão com o Ser Supremo e Infinito. Os elementos que por essa comunhão recebemos,
atuando por sua vez no corpo e no espírito, são tão reais e verdadeiros como qualquer coisa das que
vemos e tocamos.
A capacidade para essa comunhão com Deus, mediante a expressão de sua divindade, que as
nuvens, as montanhas, as árvores, os pássaros, as flores e todas as formas materializadas da natureza
contêm, não a possuem, em grau igual, todos os homens. Muitos deles sentem-se tristes e mal dispos-
tos, quando isolados nos bosques ou nas montanhas. É porque então se encontram deslocados, fora da
sua costumada corrente mental. Só no bulício, no turbilhão das cidades, no burburinho das reuniões hu-
manas, onde tudo é artifício, aparências e ostentação, eles se sentem bem. O espírito desses mundanos
vai-se cobrindo como de uma capa isoladora, que impossibilita toda comunicação com as expressões
de Deus na solidão da natureza, que, portanto, lhe parece selvagem, triste e insuportável.

62 Prentice Mulford
O que puder retirar-se, de quando em quando, à solidão da natureza, sem se sentir molestado e mal
impressionado nesse isolado retiro, antes experimentando imensa alegria e uma íntima e profunda satis-
fação de si próprio, sem a menor dúvida, ao regressar ao convívio dos outros homens, estará possuidor
de novos poderes e novas faculdades, podendo mesmo dizer-se dele que esteve com Deus, como o
espírito da Infinita Bondade.
Os videntes, os profetas, os taumaturgos e todos os que operam milagres, dos quais nos fala a his-
tória bíblica, adquiriram desta forma os seus poderes. Cristo retirou-se ao deserto e ali foi fortalecido por
Deus. Os sectários das religiões orientais, em quem se têm manifestado grandes, extraordinários e ma-
ravilhosos poderes, amaram sempre a solidão da Natureza, vivendo nela felizes e contentes, passando
aí horas esquecidas em profunda e deleitosa contemplação, quase inconscientes de tudo e inteiramente
alheios a quanto os rodeava, adquirindo assim, do Infinito, novas ideias e novos poderes.
Não é fácil citar homem algum que tenha deixado impresso na Humanidade o assinalado vestígio
da sua passagem e ação, que não tenha amado essa comunicação com o Espírito de Deus na solidão
da natureza, onde encontrou a inspiração para as suas mais gloriosas empresas.
Ninguém, por si próprio, pode criar para si essa capacidade, que nos permite gozar das coisas
naturais e tirar delas e da natureza inteira toda espécie de forças, energias e poderes.
O que devemos fazer, portanto, é implorar insistentemente ao Infinito a renovação da nossa mente
até podermos sentir Deus na floresta, na montanha ou no mar, tanto na calmaria, como durante a tem-
pestade; e não só sentirmo-nos satisfeitos, mas também absorver os seus poderes e as suas energias,
quando a natureza se nos apresentar em todo o esplendor da sua beleza e força... Veremos, então, como
uma mentalidade nova vai substituindo a antiga e à sua feição tudo se renova e fortifica na natureza.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 63


OS BONS E MAUS EFEITOS DO PENSAMENTO

T
odo ser humano tem direito à beleza do rosto e do seu ser inteiro. Toda fisionomia humana, como
toda flor que desabrocha no campo ou no jardim, deve exultar de gozo, não só ante o olhar de
admiração dos outros como diante do seu próprio olhar, e é isto justamente o que o homem terá
de ver no futuro. A beleza é um dos dons mais generosamente cedidos às infinitas manifestações da
natureza, desde as lindas formas e variegadas cores adquiridas pelas folhas das plantas e as penas das
aves, até ao mimoso floco de neve, que das nuvens cai cristalizado sob inúmeras formas geométricas
de uma simetria e proporções maravilhosas e até fantásticas.
É digno, pois, de se repetir, muitas e muitas vezes, que a beleza, a saúde, a fortuna e até o triunfo,
em qualquer dos aspectos da nossa vida, dependem inteiramente do nosso estado mental predomi-
nante. Se este estado mental é o da confiança em nós próprios e naquilo que fazemos ou em que nos
empenhamos, considerando e encarando tudo pelo seu lado prazenteiro, benéfico e salutar, com a mira
sempre posta na vitória que deve ser o nosso alvo principal, sem nunca nos deixarmos invadir pelo
desânimo, e em caso de nos sentirmos inclinados a isso, lutar denodadamente contra o desespero,
podemos estar seguros do triunfo final, pois enquanto mantemos a nossa mente naquele estado, exte-
riorizamos a força que há de atrair-nos os elementos do êxito.
Quanto maior for a nossa persistência na manutenção do estaclo mental de que acabamos de falar,
mais fortes e firmes serão a nossa confiança e a nossa fé na eficácia dos elementos mentais, eficácia
esta até agora quase absolutamente desconhecida e negada, dando-nos todos os dias mais numerosas
e mais absolutas provas de que é essa força que nos há de trazer a felicidade, a saúde e o triunfo, seja
qual for a nossa situação na vida.
Têm, porém, de ser observadas certas condições, para a manutenção desse estado mental, no
qual reside uma das forças mais poderosas ou talvez a mais poderosa de todas para nos proporcionar
o melhor, o mais apetecível de tudo quanto este mundo encerra, fazendo-nos sentir também, ao mesmo
tempo, o que de mais apreciável e profundamente interessante para nós se contém em arte, estado,
profissão ou negócio a que habitualmente nos dedicamos.
Persistindo amplamente no estado mental aqui aludido, chega este a converter-se em uma espécie
de ímã, que atrai todo bem e êxito para nós e a todas as pessoas que de algum modo nos podem coad-
juvar e às quais nós próprios poderemos ser úteis também por nossa vez.
Se, porém, a nossa mente cair com frequência ou permanecer por largo espaço de tempo imersa
em profundo estado de tristeza e abatimento, sem se esforçar em arremessá-los para bem longe de si,
então converte-se em uma espécie de ímã negativo, que afasta de nós tudo o que for bom, atraindo
sempre só o pior.
Nesta situação, se alguém nos auxilia, apenas o faz com a intenção de praticar um ato de caridade,
de fazer uma esmola, o que nunca é um verdadeiro auxílio, porque aquele que não puder ser útil aos
outros, seja qual for a sua situação no mundo, não é considerado como um indivíduo necessário à so-
ciedade, e não passando, portanto, da categoria de um tolerado, apenas.
O maior obstáculo para chegar a esse estado mental, sereno, calmo, tranquilo e confiante, que é
a fonte de todas as potências, consiste apenas no fato de nos associarmos com toda classe de pesso-
as, sem discernimento algum, vivendo em contínua promiscuidade com homens e mulheres, cujo nível
mental é inferior ao nosso. Se nos associarmos, embora superficial e temporariamente, com pessoas
frívolas, ocupando-nos unicamente de futilidades, com homens destituídos de nobres ambições e de

64 Prentice Mulford
elevados anelos, com pessoas cínicas, maldizentes, ingratas, desleais, hipócritas, céticas, sem cren-
ças nem a menor confiança nas leis espirituais, movendo-se como autômatos, apenas impelidas pelos
afetos de ordem material, único mundo a que se arraigam — é fora de toda dúvida que absorveremos
também, pelo menos alguns de seus baixos e frívolos pensamentos, ficando assim as nossas próprias
faculdades suplantadas e como esmagadas pelo peso dessas más influências, tão prejudiciais à nossa
própria saúde física e mental.
Se visitarmos amiúde uma família cujos membros são todos indivíduos descrentes, cínicos ou mui-
to neurastênicos, constantemente de mau humor e desanimados, vendo tudo sempre pelo lado mau e
sombrio da vida, sempre pessimistas, embora estejam ligados a nós por uma verdadeira amizade, sai-
remos da casa deles com algumas das nossas próprias potências diminuídas ou completamente anula-
das, principalmente se nos sentirmos atraídos para eles por forte simpatia. Cada pensamento simpático
que de nós vai para eles representa uma parte da nossa força perdida, e em coisa alguma devemos por
tanta atenção como no seu bom emprego.
Posto o nosso alvo em alguma coisa bem definida e bem planejada, a atmosfera ou aura mental de
que nos rodeamos, ao tratar do que tanto nos preocupa com qualquer pessoa, é-nos de enorme auxílio,
muito mais poderoso mesmo do que as próprias palavras que proferimos, pois tudo o que essa atmos-
fera envolver terá de sofrer e sentir infalivelmente a sua ação.
Se tiverdes confiança no vosso talento, se fordes absolutamente honrado, de uma honradez a toda
prova, aqueles que convosco falarem sentirão essa confiança e
Se, porém, apesar de têrmos esse talento e essa confiança, nos ligarmos ou frequentarmos muito a
companhia de pessoas de má índole, cépticas, gente de instintos puramente materiais, não acreditando
em coisa alguma espiritual, sem dúvida alguma absorveremos nós também algo das suas qualidades
mentais que levaremos conosco para onde quer que formos.
Deste modo, quando tratarmos do nosso negócio mais importante, disso que tanto nos interessa
com as outras pessoas, estas sentirão qualquer coisa de estranho e desagradável em nós, e, portanto,
a impressão que nelas deixamos será menos favorável aos nossos interesses.
Cada um de nós pode fabricar uma atmosfera ou aura mental que o acompanhe por toda parte,
assim como poderemos construir uma casa ou algum objeto material; mas essa atmosfera só podemos
fabricá-la associando-nos com outras mentali- dades que se encontrem no mesmo nível em que nós
estamos moralmente.
É conveniente, portanto, que todos os nossos amigos vivam no mesmo plano mental em que nós
vivemos, tenham as mesmas crenças, e os seus desejos e aspirações sejam iguais aos nossos. Desta
maneira, a nossa comunhão com eles ser-nos-á de imensa vantagem, fortalecendo o nosso corpo e o
nosso espírito e coadjuvando-nos para não cairmos no estado mental da desconfiança, que é igualmen-
te a condição mental propícia à derrota.
Esta comunhão espiritual com os nossos verdadeiros amigos nos manterá alegres, felizes e perfei-
tamente equilibrados, e ajuda-nos também a manter-nos em uma ininterrupta comunhão com o Poder
Supremo, penetrando de uma vez para sempre nas correntes de eterna felicidade, as quais nos condu-
zirão, sem a menor dúvida, ao seio do Eterno, como a corrente do Mississipi leva as barquinhas para o
mar.
Porém, se as mentalidades que se ajuntarem à nossa não são de um nível idêntico ao nosso; se
estas nossas amizades têm pouquíssima ou nenhuma fé no que o mundo denomina talvez ideias es-
quisitas ou lunáticas, sem se conseguir convencê-las em coisa alguma de quanto isso é verdadeiro, os
elementos mentais que delas nos provenham têm forçosamente de prejudicar-nos enormemente, não
só por deixarem de ser para nós um poderoso auxiliar, mas também porque, misturando as suas men-
talidades inferiores com as nossas, nos inibirão de ver clara e nitidamente as coisas, dificultando desta

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 65


forma a nossa iniciativa e enérgica ação em qualquer empresa que empreendamos, desviando-nos das
correntes verdadeiramente retas e potentes, desanimando-nos e fazendo-nos perder o nosso próprio
valor moral, inclinando-nos ao desperdício de nossas forças e tomando-nos covardes, quando o azar
nos coloca em presença dos pequenos e humildes.
Enquanto nos acharmos em correspondência com essa espécie de mentalidade, os seus peculia-
res estados mentais se converterão em nossos próprios, mais ou menos. E se a sua natureza for doentia,
a nossa depressa seguirá também o mesmo caminho. Se o seu estado habitual é de pobreza, acabare-
mos também de nos tornar pobres.
Tem sido sempre considerada como grande verdade ser obrigação de todo homem de coração
bem formado, o comover-se, prestar ouvidos compadecidos e simpatizar com toda pessoa infeliz ou
presa de profundos e intensos sofrimentos. Grande equívoco tem sido este e de terríveis consequências
para muitos, porque, quando simpatizamos com alguém, damos-lhe uma parte da nossa verdadeira
força.
Ora, o que inconsideradamente dá o que é seu e, em troca, nada absolutamente recebe que lhe
restaure as forças e faculdades mentais, terminará por ficar ele próprio depauperado, miserável, e ir-se-
-lhe-ão debilitando o espírito e o corpo. É assim que, prematuramente, morreram muitos dos mais arden-
tes ministros de todas as religiões, exaustos pelo seu zêlo excessivo em cumprir com o que o mundo
chama os seus deveres, já visitando os enfermos, já consolando os aflitos e atendendo às inumeráveis
súplicas que lhes dirigiam. Essas pessoas, cuja natureza simpatiza tão rapidamente com o infortúnio,
deveriam ter o máximo cuidado e a maior reserva em se deixar arrastar por seus generosos impulsos.
Pode-se ter piedade de toda gente, mas quando a nossa simpatia se exterioriza com tanta facilida-
de à vista de uma dor ou infelicidade qualquer, colocamo-nos em verdadeiro perigo de morte.
Aquele que suporta docilmente qualquer imposição ou insulto de certas pessoas de mentalidade
inferior à sua, pelo medo que dele se apodera de falar franca e desassombradamente diante delas, com
certeza será dominado pela mentalidade inferior de tais pessoas.
De igual modo, aquele que receia exprimir desassombradamente o que lhe vai no íntimo do seu
coração e pensamento, o que sente e pensa, finalmente, diante desta ou daquela pessoa, acaba, na-
turalmente, por ser dominado por ela, e, embora a mentalidade dessa pessoa esteja muito abaixo da
sua, desde esse momento participará das suas paixões, dos seus preconceitos e até das suas enfer-
midades, além de correr o perigo de poder ser inteiramente dominado por ela e constrangido nos seus
desejos e retidão de caráter.
É certo que tais pessoas podem simular afeição por nós ou até mesmo acreditarem elas “próprias
que são realmente nossas amigas. Mas, neste mundo, existem inúmeros tiranos e tiranias que se ocul-
tam com a capa da afeição ou da amizade. Há milhares de pessoas, dizendo-se e julgando-se elas
próprias nossas amigas verdadeiras, porém que apenas o são enquanto fazemos tudo quanto querem,
sujeitando-nos docilmente aos seus caprichos enquanto lhes concedemos prodigamente a nossa com-
panhia e consentimos em seguir sempre a sua direção. Se, porém, queremos retomar um pouco a nossa
autonomia, mostram-se profundamente desgostosas e até, muitas vezes, ofendidas, se não estamos
juntos delas todo o tempo que desejam e imaginam, ou mesmo se procuramos quaisquer outras compa-
nhias, considerando-nos, desta sorte, uma espécie de feudo ou coisa exclusivamente sua.
Se tolerarmos tal espécie de tirania, podemos realmente afirmar que somos verdadeiros escravos
dos nossos amigos.
É esta escravidão que prejudica enormemente o nosso corpo, a nossa inteligência e até a nossa
fortuna, por causa da prolongada absorção dos elementos mentais inferiores que nos transmitem in-
conscientemente, chegando até a sentir-nos coibidos de pensar ou de tomar iniciativa própria diante
dessas pessoas, sentindo-nos como manietados, tanto física como mentalmente. Tornamo-nos titubean-

66 Prentice Mulford
tes, falta-nos a palavra e já não podemos ligar sequer o fio do discurso, negando-se a língua a obedecer
às ordens da nossa mente. E tão veemente é a ação da sua vontade sobre a nossa espiritualidade, que
chega a afastar de nós a maior e a melhor parte dela, inibindo-nos até de nos servirmos, como é de
justiça, do nosso próprio corpo em ocasião oportuna.
Quem se encontra nestas tristíssimas circunstâncias pode e deve mesmo procurar libertar-se dessa
despótica tutela, combatendo a sua fraqueza, raciocinando e robustecendo a sua própria mentalidade,
falando mentalmente, com toda a energia, com o seu dominador, quando estiver bem só no isolamento
de seu quarto, como poderia e devia fazer, se estivesse na sua presença, isto é, nesta situação, deve
discutir mentalmente com ele, refutando, com energia e desassombro, todos os argumentos do imagi-
nário antagonista.
Procedendo deste modo, irá fortalecendo o espírito até poder libertar-se, assim, de todo, desse
cruel domínio. Desta forma, entrega os melhores meios de se despojar de uma vez para sempre da sua
covardia moral, podendo-se afirmar que, neste mundo, nada dificulta mais o triunfo em todas as esferas
da ação do que esse acanhamento e covardia moral. O melhor meio para desfazer esta espécie de en-
canto consiste em cortar toda a sociedade ou comunhão com mentalidades grosseiras e covardes pois
enquanto elas durarem, absorvemos os seus elementos, a não ser que estejamos em constante atitude
mental de defesa, o que nos fatigaria excessivamente, enfraquecendo-nos também. Na verdade, só
existe um único modo de evitar esta espécie de tirania mental, o qual consiste em cortar toda comuni-
cação com os espíritos inferiores, trabalhando para apagar de todo o que por acaso tenha já existido.
A este respeito, dir-me-á o leitor: “Mas tal gênero de vida só nos conduzirá à eterna solidão”, e ainda
me perguntará também alguém: “Devo eu, porventura, cortar as minhas relações com a Humanidade
inteira?”
De forma alguma. Procedendo como eu tenho aconselhado, nada mais fazemos do que preparar o
caminho por onde nos poremos em relação com o melhor, o escol da nossa sociedade, da nossa pró-
pria classe; com esses homens que realmente podem prestar-nos valiosos auxílios em todas as nossas
empresas e cujos pensamentos são dignos, na verdade, de serem absorvidos por nós, pois darão um
novo e maior vigor à nossa mentalidade, sob cada uma das suas faces.
Além de que, nos nossos períodos de isolamento mais ou menos absoluto, podemos contribuir para
a constituição de um mundo próprio e pessoal, no qual poderemos passar, contentes e felizes, uma
grande parte da nossa existência.
Evitando o mais possível pôr-nos em contato com mentalidades inferiores, veremos, cada vez com
maior lucidez, tudo quanto diz respeito aos nossos interesses, e, onde antes só encontrávamos tédio
e fadiga, acharemos agora inesgotável manancial de grandes alegrias. Concentrados, assim, em nós
próprios em uma espécie de ímãs que atrairá todas as coisas de que carecemos para fazer triunfar ou
levar avante, com efeito, todos os nossos planos.
Há pessoas que não sabem viver sós, necessitando de companhia, seja ela qual fôr. Parlam e
folgam até com os criados mais boçais, se não tiverem outra classe de pessoas com quem conversar,
divertir-se. Tais pessoas têm um pequeníssimo poder, e o pouco de que são possuidoras o desperdiçam
miseravelmente.
Um verdadeiro amigo, desses com quem podemos sempre falar franca e lealmente, com o “cora-
ção aberto”, encarando-o bem de frente em qualquer ocasião, é melhor e muito mais útil para nós do
que todos os supostos amigos que neste mundo possamos encontrar no nosso caminho. Um amigo as-
sim merece bem que o estejamos esperando durante muitos anos, reservando-lhe em nosso coração em
lugar e um culto especial, certos de que, por fim, chegará um dia em que ele virá para nós, respondendo
ao nosso ansioso apelo, em virtude da infalível e iniludível lei da atração, desde que o desejemos bem
no íntimo da nossa alma, com a única condição de lhe prepararmos o caminho pela forma já indicada.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 67


A solidão, assim considerada, não quer dizer privações absolutas de qualquer companhia. Em toda
parte, saberemos achar essa companhia verdadeiramente elevada e nobre, contanto que aprendamos
a cultivar o estado mental adequado, não só para a recebermos, mas também para nos alegrarmos com
ela. Existe, no universo, uma Força Suprema ou corrente mental que vai crescendo em poder e energia à
medida que a mente se for robustecendo também, até atingir finalmente a necessária capacidade para
tirar forças positivas de toda provação imprevista ou inesperado êxito, podendo chegar mesmo esse
poder a evitar ao corpo todo o perigo ou dano proveniente de qualquer causa terrena ou física.
Esse mesmo poder, adquirido por determinados homens, mediante a prece mental ou formação
de um veemente desejo, foi sempre a verdadeira origem do que, na Bíblia, são denominados milagres.
Trata-se, é certo, de um poder misterioso, impossível de ser analisado pela inteligência humana, seja
qual for o método científico de investigação que se lhe aplique. Apenas sabemos que ele existe e pode
produzir resultados maravilhosos, que apreciamos, quando, mediante a observância de certas condi-
ções, nos colocamos no plano da sua ação. E devemos ter sempre presente ao nosso espírito que tal
poder tanto pode ser manifestado hoje, como há milhares de anos, porquanto nada absolutamente está
mudado desde então, na lei pela qual se rege.
A luz e a sombra, a chuva e a neve, a vida animal e a vida vegetal, os ventos e as marés, foram,
nos tempos antigos, os mesmos que agora são, podendo até afirmar-se que, de muitas dessas leis, tão
mal conhecidas ainda atualmente por nós, tiveram pleno conhecimento muitos dos antigos povos, que
nelas ao nosso ver se basearam verdadeiramente para realizar o que os homens ignorantes de tais leis
classificaram como milagres, e que, na realidade, nada mais são do que efeitos da ação de certas leis
espirituais.
O que importa é confiar só em nós, sob a proteção do divino Espírito Santo do Bem, e isto em tudo e
em tpdos os tempos, para nos habituarmos, tanto durante a doença como nas mais difíceis e inespera-
das conjunturas, a não depositar confiança alguma, seja para o que for, em qualquer auxílio de natureza
física.
Desta forma, irá crescendo constantemente em nós essa força ou faculdade da confiança em nós
próprios, colocando-nos em perene e perfeita comunhão e concordância com ele. É este poder que nos
coadjuvará patente e valiosamente nos pequenos incômodos e contrariedades da vida. A ele recorre-
remos durante as nossas terríveis insônias para conseguirmos conciliar o sono, quando padecimentos
físicos de somenos importância nos atormentam ou ainda quando espíritos baixos, torpes e grosseiros
procuram agir sobre nós ou aqueles que nos cercam, e também quando imponderáveis e invencíveis
temores paralisam as nossas energias.
Desta forma, se irá fortalecendo a nossa confiança em nós; pois, como já disse o apóstolo: algo po-
demos tirar de nós próprios, aproximando-nos, assim, do plano da mentalidade divina e, uma vez nessa
esfera e nessa corrente, nunca estaremos sozinhos, porquanto estaremos, ao mesmo tempo, dentro e
fora de nós mesmos e, ao mesmo tempo, sós e acompanhados, onde quer que formos.
Também nos iremos libertando cada vez mais amplamente do desejo de andar em busca de certas
promiscuidades e perigosas companhias, que apenas procuram escravizar-nos e causar-nos graves
danos.
É este, afinal, o verdadeiro caminho de nos pormos em comunicação com os nossos verdadeiros
amigos, os quais nos hão de auxiliar benéfica e valiosamente em tudo quanto necessitarmos e empre-
endermos. Poderemos, desta maneira, em períodos mais ou menos longos, isolar-nos para fruirmos o
doce prazer na comunhão divina com o Poder Supremo, não só fortalecendo assim o nosso corpo e o
nosso espírito, mas também tornando-nos mais úteis àqueles a quem estamos ligados, em troca do que
poderemos apreciar e desfrutar melhor do que eles fazem por nosso intermédio, pois eles estão também
em comunicação com o próprio Poder.

68 Prentice Mulford
Quando estamos verdadeiramente com Deus, só podemos nos comunicar com aqueles que igual-
mente estiveram com Deus, podendo então dizer que eles e nós somos realmente os hóspedes do Es-
pírito Divino prometido por Cristo.
Isto que aqui fica expresso não é uma ideia religiosa, puramente sentimental. Ao transformar-se ou,
pelo menos, modificar-se todos os dias o nosso estado mental, atraímos esses elementos positivos mais
em harmonia com ele.
Se apenas tivermos fé nas coisas materiais que podemos ver e tocar, atrairemos o escasso poder
que dessas coisas emana e assim é uma porção diminutíssima de forças positivas que nos rodeiam. Se
não nos esforçamos por dominar essas forças, elas acabarão por dominar a nós em nosso próprio dano.
Os meios para chegar a esse domínio mental a que aludo estão na nossa própria atitude mental. Se
tendes em mente levar avante algum projeto ou empresa especial, procurando, desta forma, beneficiar
tanto aos outros como a vós próprios, e apesar de terdes feito todo possível para triunfar, vos encontrar-
des ainda lutando com grandes dificuldades para alcançar o bom êxito do que tiverdes em vista, deixai
de fazer tudo aquilo de que não tenhais absoluta necessidade para viver e, colocando-vos no estado
mental indispensavelmente exigido, concentrai-vos em vós mesmos, confiai, com sincera e firme fé,
nessa força misteriosa que, infalivelmente, vencerá toda espécie de obstáculos.
Desta maneira, ireis penetrando cada vez mais na corrente espiritual do Poder Supremo, até vos
surpreenderdes de ver que, um belo dia, sem já sequer nisso pensardes, tudo quanto tão ansiosamente
desejáveis, se realiza por si mesmo, com feliz êxito, como por encanto. De um momento para outro, vos
serão proporcionados todos os meios e vias para atingir o fim há tanto tempo almejado, encontrando
inesperadamente franco acolhimento onde julgáveis só encontrar forte oposição. Para tal conseguirdes,
bastará manter-vos sempre firme no propósito, não olvidando um só movimento de que aquela podero-
síssima força está, sem cessar, agindo por vossa conta, com a condição única de manterdes o vosso
próprio desejo firme e energicamente, sem hesitações nem vacilações, tendo o máximo cuidado em não
mesclar a vossa mentalidade com outras mentalidades baixas e ruins.
Procurai igualmente não retroceder um só passo da posição já alcançada, pois, desta forma, per-
deríeis os esforços empregados.
Se, porém, em lugar de vos concentrardes procurando robustecer as vossas faculdades no silêncio
e na quietação de uma vida solitária e íntima, desperdiçais o tempo e as forças, correndo daqui para ali,
vagando sem sorte, pairando frivolamente com algum conhecido ou murmurando da vida alheia, muitas
vezes até daqueles a quem dais o pomposo nome de amigo, buscando somente distrações fúteis ou,
ainda, se algum dos vossos sócios deposita pouca ou nenhuma fé nestas verdades, neste caso não só
rompeis todos os laços que vos uniam ao Poder Supremo, mas até ficais, pelo contrário, em íntima e
completa relação com as correntes mentais inferiores, inibido, portanto, de realizar a mínima parte do
muito que certamente teríeis conseguido realizar, se tivésseis seguido o primeiro caminho, descendo por
esta última senda até o plano da materialidade rude e grosseira.
É um enorme erro, erro terrível e extremamente prejudicial, os homens e as mulheres permitirem a si
próprios reunir-se com pessoas de mentalidades muito baixas e grosseiras, só pelo louco desejo de se
proporcionarem algum prazer ou diversão. Essa falta de escrúpulo na escolha das companhias é-lhes
quase sempre fatal. Nada prejudica tanto as mentalidades de uns e de outros.
Desta forma, se adulteram e contaminam as mentalidades dos superiores, destruindo as suas ener-
gias e enchendo-lhes o corpo com os elementos da enfermidade e da morte, geralmente atribuídas a
mui diversas causas, porém cuja verdadeira razão de ser é esta.
Dá-se o mesmo com as uniões denominadas matrimônios, as quais, tendo somente por base con-
siderações ou caprichos puramente materiais, muito cedo dão lugar às mais tristes e tremendas decep-
ções.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 69


Além disso, esses falsos matrimônios são o caminho das tais tiranias mentais de que já falamos tan-
ta vezes. Neles é precisamente a mais pura, a mais sensível, a melhor e mais delicada, enfim, das duas
mentalidades, a vítima vencida e sacrificada pelo fato de ficar reservada e reduzida à impotência, por
desconhecer o seu verdadeiro poder, tal e qual como um gigante cego fica à mercê de quem lhe guia
os passos vacilantes, ainda que esse guia seja apenas uma franzina e débil criança.
Tratemos, portanto, de estar na mais perfeita, absoluta e constante comunhão com o Poder Supre-
mo, que é o Poder da Verdade e seremos verdadeiros reis nos domínios da mente, pois que, nestas
circunstâncias, ninguém já poderá exercer sobre nós a terrível tirania que é, de certo, a verdadeira e
mais perigosa tirania.
A verdade nos fará livres!

70 Prentice Mulford
OS TALENTOS IGNORADOS

S
ão muitas as mocinhas que manifestam grande má vontade e até mesmo repugnância para o que
se chama arranjo de casa e toda espécie de trabalhos domésticos. É porque não têm aptidão para
lavar, coser, cozinhar, etc., e por causa de tal negação para tudo quando diz respeito ao governo
da casa, não podem cumprir ou cumprem mal esses deveres de donas de casa, única missão que até
aqui o mundo impôs à mulher, que, na opinião da maior parte dos homens, deve saber, antes de tudo,
administrar a sua casa.
Não devemos obrigar a desempenhar esses deveres as meninas que se mostram destituídas des-
sas vulgares aptidões; as deixemos desenvolver-se por si próprias, podendo ficar certos de que algum
especial talento existe nelas, o qual desabrochará, chegada a ocasião oportuna.
Há coisa muito mais importante a fazer do que obrigar uma mulher a entregar-se a ocupações para
as quais não sente a menor vocação, conseguindo apenas, desse modo, fazer dela uma dona de casa
negligente, indolente e inábil, ao passo que deixaremos, talvez, sem o necessário alimento a alma de
uma mulher grande e forte, que algo ou muito teria mesmo feito em prol da Humanidade.
Já estou ouvindo a muitos gritar: “Que heresia! Que insânia! Toda moça deve saber costurar, varrer,
cozinhar e todas as coisas necessárias enfim à boa administração de uma casa. Não é conveniente
deixar ociosas as meninas.”
Muito bem, não permitais que a menina se crie e desenvolva no meio da alegria, dos folguedos e
das despreocupações próprias da idade e torturai-as com as vossas costuras, os vossos pratos, ca-
çarolas, e, dez ou quinze anos depois, examinai-a e vêde se ela fez grande honra à vossa disciplinada
educação.
São muitas as pessoas cujos verdadeiros talentos têm ficado desaproveitados ou esquecidos só
por não terem sido animados como deveriam ser e era de justiça fazer-se, quando começavam a desa-
brochar, obrigando-as a ser exatamente o contrário do que realmente deveriam ter sido, torcendo-lhes,
desta forma, por completo, a vocação. Ninguém pode assinalar-se nem manifestar completa perícia e
perfeição na execução de um talento, profissão ou habilidade, sem alguns ensaios preliminares e vaci-
lantes tentativas, cujos resultados ou princípios estão ainda longe de ser perfeitos.
Acaso será possível conseguir, pela violência, que uma flor de pereira se transforme em flor de
macieira? Exigir isto seria o maior dos absurdos. Pois é justamente isto o que o mundo tenta fazer, na
maioria dos casos. Desanimam-se os artistas novos ainda, criticando-se acerbamente as suas obras,
que nada mais são do que as primeiras provas da aprendizagem, quando serão talvez seus pais os pri-
meiros que asfixiam, com suas intempestivas exigências, os preciosos frutos do gênio. Por quê? Dizem:
“Oh, triste sorte a dos artistas!” Exceto raríssimas exceções, não ganham nunca o dinheiro suficiente
para ocorrer sequer às necessidades da vida! É essa uma grande verdade. E por idêntica razão, são os
próprios pais da criança que suprimem, por suas próprias mãos, o talento do filho e o enterram de uma
vez para sempre.
O poder e o talento são duas coisas que só crescem no meio da mais profunda calma, do mais
absoluto repouso.
A solução mineral que tem de produzir uma boa cristalização, necessita de ser mantida em absoluta
quietação, enquanto se está formando a nova combinação de cristais.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 71


Os melhores frutos da mente, sejam de ordem científica ou de ordem sentimental, carecem de idên-
ticas condições para se elaborarem e desabrochar.
O pensador desenvolve melhor as suas concepções enquanto se encontra aparentemente ocioso.
Todos os homens e todas as mulheres têm talentos ou elementos embrionários de confiança em
si próprios. Toda individualidade deveria basear-se na natureza do seu próprio espírito, devendo dizer
cada um de nós, intimamente, a cada instante: “Hoje não tenho o necessário poder para fazer triunfar os
meus desígnios; sei, porém, que esta minha faculdade muito há de aumentar. Hoje ainda dependo do
auxílio dos outros, mas a minha aspiração constante é tornar-me independente o mais cedo possível”.
Pensar que a vossa dependência com relação a alguém ou alguma coisa terá de prevalecer sem-
pre, é um dos maiores e inconscientes erros da atualidade.
Ensina-nos a Teologia que o homem sem Deus não é nada e é isso uma grande verdade. Mas Deus
ou o Puro e Infinito Espírito do Bem encontra-se em toda parte e nós já possuímos o glorioso poder, por
enquanto menosprezado e desconhecido, de atrair para nós os elementos dessa divindade, tomando-a
carne de nossa carne e espírito do nosso espírito. Deus, ou antes, o Espírito Infinito do Bem, age em nós
por nosso próprio intermédio.
Todos somos partes de Deus e, como tais, incessantemente glorificamos a Deus, à medida que
formos adquirindo, cotidianamente, uma porção da sua divindade ou, por outra, maior quantidade de
elementos para a ação, tendo, porém, bem firme em nossa mente a ideia de que já hoje possuímos muito
maior poder do que ontem e que amanhã o possuiremos em maior grau.
Devemos procurar desprender-nos cada vez mais da ideia de que é indispensável, essencial mes-
mo, depender de alguém ou de alguma coisa. Todo indivíduo deve ser um soberano, cujo poder tem de
aumentar continuamente, e sem se deter um só momento.
Decerto não tardará que alguém me diga: “Pois não dependemos sempre dos outros em todas as
fases da vida? Como poderíamos viver se os outros não nos preparassem os alimentos, sem cozinheiras,
padeiros, costureiras, alfaiates, sapateiros, pedreiros, lavadeiras, médicos e toda essa plêiade, enfim,
de pessoas que contribuem para o nosso conforto e bem-estar?”
A isto responderemos apenas que a lei infalível da natureza que, com quanto maior sabedoria
tratarmos de nos ajudar a nós próprios, tanto mais e melhor poderemos ajudar aos outros e, por conse-
guinte, ser igualmente ajudados por eles. A melhor sabedoria consiste em nos esforçarmos por adquirir
uma saúde perfeita e uma mente bem equilibrada. A mera posse destas qualidades é já um benefício
para todos aqueles que nos rodeiam e até para muitos outros.
Se o nosso espírito for robusto, são e poderoso, ele enviará as suas boas forças vigorizadoras às
pessoas com quem está relacionado, embora elas estejam nos mais longínquos lugares. O espírito que
adquiriu a plena e firme convicção de que, mediante as leis da prece ou petição mental, atrairá a si as
energias que constantemente emanam da inesgotável fonte de toda força, sem nunca perder um só áto-
mo das energias assim adquiridas, constitui um benéfico elemento para melhorar a sorte das pessoas
cuja maioria nunca verá talvez com os seus olhos físicos.
O espírito envia uma parte das suas energias à pessoa ou pessoas em quem pensa fixamente, só
pelo fato de nelas pensar. É semelhante a um sol que alenta e vivifica com o seu magno calor tudo quan-
to ilumina, tal e qual o sol que brilha no firmamento cerúleo, o qual dá vida e faz progredir tudo aquilo em
que batem os seus esplêndidos raios, até mesmo a árida e dura rocha.
À medida que cresce a nossa paciência, a nossa decisão, o nosso método, o domínio de nós pró-
prios em todas essas coisas que hão de fazer de nós um ser perfeito e bem organizado, se evolarão
constantemente do nosso espírito os elementos dessas qualidades, para irem vigorar o espírito dos que
nos cercam, dando estes, por sua vez, robustez a muitos outros. E se lhes enviarmos os elementos des-
sas qualidades, movidas por um amoroso impulso de simpatia ou pelo benévolo desejo de lhes ser úteis,

72 Prentice Mulford
pode-se ficar certo de que, a seu tempo, eles nos devolverão os seus próprios elementos, movidos por
um reconhecido impulso de gratidão.
Ninguém pode auxiliar os outros, se não se ajudar a si próprio. Ninguém pode enviar aos outros a
coadjuvação do seu pensamento, se eles não lhe devolverem este auxílio até onde puderem. Ninguém
pode prejudicar aos outros sem se prejudicar a si próprio, ao mesmo tempo. Ninguém enviará aos ou-
tros nem sequer a sombra de um mau pensamento, sem ser igualmente prejudicado por esse mesmo
pensamento.
A pessoa que em nós se apóia ou de nós depende, seja no que fôr, acabará por fatigar e exaurir
as nossas forças, de um modo terrível. Veremos, então, que enorme injustiça é permitir que alguém viva
em absoluta e completa submissão, pois dessa forma lhe destruímos a sua natural capacidade para a
independência, ou pelo menos retardamos essa sua faculdade, por intermédio da qual poderíamos in-
dubitavelmente atrair para nós alguma das qualidades que continuamente emanam da Força Infinita. É
como se oferecessemos muitas pernas a uma pessoa que as tem perfeitamente sadias.
Animar, seja em que for, o espírito de dependência ou timidez, é a mesma coisa que robustecer-lhe
a crença na sua própria debilidade. É fazer dessa pessoa um mendigo até daquilo que exuberantemen-
te ela própria possui.
É razoável e natural esperarmos sempre a paga do que dermos, porque isso é realmente uma ne-
cessidade para nós. Se, de contínuo, estivermos dando aos outros uma parte das riquezas produzidas
por nossa mentalidade superior; se estivermos trabalhando sempre, física ou mentalmente, para a di-
versão ou bem-estar de qualquer pessoa que se aproveita de tudo quanto lhe damos, mas, em troca do
que recebe, nada pode devolver-nos, podemos ficar certos de que nos prejudicamos deveras, tanto a
nós como a tal pessoa. É tal e qual como se, em troca do pão que de nós tirássemos para dar a outrem,
só pedras recebessemos, ensinando e animando, deste modo, a essa pessoa a dar unicamente pedras,
vivendo uma existência exclusivamente de estupidez e egoísmo.
De mais a mais, procedendo assim, nada mais fazemos do que impedir o desenvolvimento dessa
personalidade, tornando-nos ainda, além disso, seus escravos, perdendo também, sob essa influência,
as nossas energias e caindo numa banalidade e achatamento, que de forma alguma não nos são pe-
culiares, inclinando-nos até a dizer e a fazer o que, libertos da sua nefasta influência, nunca teríamos,
decerto, dito nem feito.
Assim, até os próprios projetos e planos que fizermos para o nosso adiantamento e bem-estar, para
melhorar, enfim, a nossa situação, hão de ver-se retardados ou inteiramente destruídos, unicamente por
termos mesclado os elementos de nossas próprias energias e ambições com os elementos inferiores da
mentalidade, cujo jugo nos escraviza.
Essa escravidão mental existe, de fato, em toda dependência exclusiva de uma ou mais pessoas, e
traz sempre encerrada em si mesma todos os elementos da covardia e do egoísmo. E quando o escra-
vo é justamente o possuidor da mentalidade mais elevada, isto é, o mais sábio, é ele, por certo, quem
comete o pecado maior, e maior dano faz a si próprio. Dependência ou submissão é o mesmo que ce-
gueira. Deve ensinar-se aos homens o modo de não dependerem senão de si, para que trabalhem em
prol da sua própria salvação. A cultura da própria independência e da confiança em si mesmo há de
começar em nossa própria mente, mediante o noso próprio esforço pessoal.
Pode acontecer queixarmo-nos a alguns amigos, em cuja estima confiamos, de uma grande injus-
tiça cometida para conosco, por alguém. Se, porém, receamos que essa pessoa ou algum dos seus
afeiçoados nos possa ouvir, calamo-nos imediatamente. Por que motivo o fazemos? – Porque temos
medo de falar.
Recolhamo-nos à casa e, no silêncio e retiro do nosso quarto, afirmemos energicamente que ne-
nhum medo temos de tal pessoa. Ponhamos em nossa mente a ideia de que, diante dela, estamos

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 73


expondo, calma e friamente, todos os agravos que dela recebemos; façamos tudo isso sem nos afas-
tarmos um só momento da mais estrita justiça e imparcialidade da nossa parte, como se o caso se não
tivesse dado conosco. Representemo-nos em imagem como uma pessoa que só deseja o que é justo,
somente o justo e nada mais, tanto para nós como para a pessoa de quem se trata.
Procedendo assim, não só cumprimos o nosso dever, mas trabalhamos também para o nosso bem,
pois o nosso pensamento, como uma coisa invisível que é, atravessa o espaço e vai influir sobre a men-
talidade da dita pessoa em nosso favor.
Se mentalmente formularmos o nosso caso com toda justiça e equidade, de igual modo estaremos
aptos a fazê-lo diante da pessoa em questão. Mas o que é importante é que, em nossa discussão, nos
inspiremos unicamente em pensamentos da mais absoluta justiça e retidão, os quais são e hão de sem-
pre ser os mais poderosos elementos mentais.
O justo não deseja vingar-se do mal que lhe fizeram, mas unicamente a reparação do dano sofrido.
Pode dar-se o caso de que muitas pessoas não se atrevam a lançar em rosto de alguém, francamente,
de cara a cara, os motivos de queixa ou as ofensas que delas receberam, mas, apesar disso, sentem-se
animadas do espírito de vingança, nutrindo um forte desejo de os prejudicar, seja no que for, ou de os
fazer sofrer de acordo e mais ou menos na medida da sua má ação.
É positivamente este o processo por meio do qual enviamos os elementos mentais de alguma forma
de maldade à pessoa na qual pensamos. É este um sinal evidente da nossa dependência, da nossa
covarde escravidão mental, relativamente à tal pessoa, pois não tendo coragem para nos atrevermos
a dizer-lhe, face a face, o que a seu respeito pensamos, dirigimos-lhe os elementos mentais do nosso
ódio, que finalmente a atingem, irritando-a, desgostando-a, sem ela mesma saber por quê. Se, quando
pensamos nessa pessoa, formulamos mentalmente o medo que dela temos, indubitavelmente ela sentirá
que nós estamos cheios de medo, e isto acabará por nos tornar desprezíveis a seus olhos, isto é, por
agir contra o nosso próprio interesse. Se, porém, mentalmente nos colocarmos na situação do homem
que não teme a pessoa por quem foi ofendido, sem animarmos em nós o menor desejo de vingança,
sendo até capazes, uma vez obtida a justiça devida, de auxiliar e socorrer o nosso ofensor, então proje-
tamos, para fora de nós, forças que deverão ser de grande proveito.
O sentido de espírito de justiça não é uma simples metáfora. É uma qualidade que existe em todas
as pessoas e é tão positiva como a terra que nos sustenta ou o ar que respiramos, com a diferença de
que em alguns homens é mais viva e mais ativa do que em outros.
Quando nos conduzimos calma e tranquilamente, quando exprimimos as nossas mágoas, sem
exagero e comedidamente, faz-se sentir a ação sobre os outros homens da mesma forma que a luz atua
sobre os nossos olhos. É desta maneira que os outros nos escutam com prazer e como os obrigamos
mesmo a escutar-nos. Se, mentalmente, procuramos pôr-nos em concordância e harmonia com o mais
puro e elevado ideal do homem ou da mulher forte, em idêntica situação nos sentirá a pessoa em que
estamos pensando, e, procedendo assim, exteriorizamos o mais forte poder mental, que há de operar
verdadeiras maravilhas no mundo.
Uma vida independente implica sempre uma mentalidade livre e forte. A mente verdadeiramente
livre é aquela que nunca pensa no que pode molestá-la ou torturá-la; só formula e exterioriza pensamen-
tos que lhe hão de causar prazer não só a ela, mas também às pessoas a quem se possa referir.
A mente que gera e exterioriza tais pensamentos está por si própria constituindo a base da sua
independência – cujos materiais (o bem-estar terrestre) lhe são proporcionados de bom grado pelos ou-
tros homens, os quais, ao receber os pensamentos bondosos que ela lhes envia, lhe reenviam também
a ela, em maior ou menor escala, algo dos talentos especiais que possuem.
Os nossos progressos em música, pintura ou qualquer outra arte ou ciência, serão mais rápidos e
mais seguros se pessoas nossas amigas, profundamente conhecedoras dessas matérias, nos enviarem

74 Prentice Mulford
frequentemente os seus pensamentos cheios de simpatia e boa vontade. Porque, como o pensamento é
um elemento real e verdadeiro, com ele nos enviam as qualidades do seu talento especial, quando pen-
sam benevolamente em nós, as quais absorvemos, apropriando-nos na medida da nossa capacidade
para as receber. Nossa maior ou menor capacidade para a recepção de tais elementos depende de ter-
mos sabido ou não libertar-nos mais ou menos completamente de toda espécie de maus pensamentos,
e de estar em concordância com o grau da nossa bondade e generosidade. O egoísmo impedir-nos-á
de absorver esses benéficos pensamentos, ao passo que a benevolência e a generosidade nos abrirão,
de par em par, as portas para recebê-los.
O pensar em coisas repletas de vida e saúde traz-nos elementos vitais e salutares, e melhor será,
ainda, sempre que isso nos possa convir, termos diante dos olhos, em sua forma física, essas mesmas
coisas, tais como crianças alegres e robustas, árvores e flores, pássaros e outros animais, mas em li-
berdade, no seu estado natural e selvagem, e não escravizados e prisioneiros em gaiolas e jaulas, bem
como o embate e marulhar das ondas de encontro aos rochedos da praia, a corrente de um rio ou o
rápido e tumultuoso escachoar das águas de uma catarata.
Quer se trate de coisas imaginadas, quer de coisas materialmente vistas, o que é certo e positivo é
que as ideias sugeridas à nossa mente por todas essas coisas nos atraem uma corrente mental de vida
e saúde, a qual, atuando sobre o nosso corpo, lhe traz novos materiais, sãos e vigorosos...
Toda descrição poética de qualquer desses grandes espetáculos da natureza, incontestavelmente
há de ser-nos de salutar e poderosíssimo auxílio, e se esses vivificantes e vigorosos espetáculos ocor-
rem à nossa memória, ainda melhor será, pois é isso um sinal da nossa robustez mental. Cada vez que
os recordarmos, isso nos trará elementos positivos de um bem duradouro, tanto para o corpo, como para
o espírito.
Estes saudáveis pensamentos não só repousam a mente, tornando-a mais robusta e mais lúcida,
fortalecendo ao mesmo tempo o corpo, mas também a forte e potentíssima corrente mental com que
nos pomos em comunicação mediante aqueles pensamentos, e que penetra em nossa mente, arremes-
sa para fora e bem longe dela toda espécie de ideias deprimentes e imagens de decadência e morte,
limpando-a de insalubres preconceitos e, à medida que essa fortificante corrente mental ganhar mais
fácil acesso em nosso cérebro, expelirá de uma vez para sempre dele, também, toda escória espiritual
que possamos ter adquirido através dos tempos, causando-nos toda espécie de dores e misérias.
E, à proporção que em nós se robusteça o estado mental resultante de tal processo, sentiremos
muito mais profunda e cabalmente a vida encerrada em muitas das expressões naturais que nos ro-
deiam e são ainda consideradas por nós como coisas inteiramente mortas.
Em tudo quanto nos desperta qualquer sensação de medo ou prazer, há de estar algum elemento
que é verdadeiro produto da emoção sentida.
O poder que denominamos espírito manifesta-se sob uma infinidade do formas. É este o poder
que dá à árvore a forma em que hoje a vemos; é esse mesmo poder que lhe dará uma nova forma, já
aumentando-lhe o tamanho, já tomando-a mais frondosa. É ainda esse misterioso poder que vai mudan-
do o período de seu crescimento e da muda, como é ainda esse gigantesco poder que move e enfure-
ce as águas do oceano, transformando-as em vagas alterosas e ameaçadoras, neste planeta, e agita
os oceanos do ar, fazendo-se umas vezes brisas, e outras, pavorosos ciclones. Os nossos imperfeitos
sentidos físicos apenas permitem ver a parte materializada da árvore, que a força espiritual constituiu e
desenvolveu.
Os nossos órgãos físicos não sentem o real e sempre crescente poder, que de contínuo modifica
a árvore, o pássaro e até o nosso próprio corpo. O homem possui, porém, em estado embrionário, uma
série de sentidos muito mais perfeitos e poderosos, os quais, quando tiverem atingido o seu completo
sazonamento, nos hão de permitir chegar a ver e a sentir esse misterioso poder ou força que determina

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 75


o crescimento da árvore, do pássaro e de todos os seres vivos ou em que se encerra um átomo de vida,
incluindo até aqueles que hoje por nós são considerados mortos.
Despertamos e estimulamos estes sentidos, quando nos regozijamos com pensamentos alegres e
sadios ou contemplamos coisas repletas de vida e força. Tais sentidos arremessam-se, então, inteira-
mente para fora de nós e absorvem a vida ou espírito vital encerrado na árvore, na ave, nas águas do
mar, no vento, até nas alvas e encasteladas nuvens que perpassam no céu, vida que logo nos transmi-
tem, auxiliando-nos na formação definitiva de nós próprios, tanto espiritual, como fisicamente.
Assim, colocando-nos no dito estado mental, apoderamo-nos de uma parte do poder ou força vital
que todas as coisas que vivem neste mundo encerram.
Do que devemos tratar, porém, é de atrair os elementos vitais da planta e do animal, quando em
pleno viço, mocidade e robustez, pois, nestas condições, só podem exercer sobre nós uma benéfica
influência.
Não quero dizer com isto que devemos obrigar-nos à constante e forçada contemplação de todas
essas coisas, pois uma contemplação obtida por meios violentos não é uma verdadeira contemplação,
antes um sacrifício; e a atitude mental proveniente dessa contrafeita contemplação nenhum poder ou
força nos comunica para absorção desses elementos mentais ou do espírito, causando-nos, por conse-
quência, dano e só dano. Se, porém, estivermos plenamente convencidos do verdadeiro valor do estado
mental acima indicado, e ardentemente o desejarmos, não duvidem, um momento sequer, de que adqui-
riremos, sem contestação, um modo natural e fácil de obtê-lo.
Gradualmente, e cada vez com mais frequência, se irá fixando em nossa mente a imagem de qual-
quer coisa exprimindo uma vida verdadeira e repleta de força, como o sol, uma copada floresta, uma
praia beijada pelo mar, ficando subentendido que essas imagens de forma alguma impedirão a ação
das fôrças que houvermos empregado no exercício da nossa arte, profissão ou negócio, da mesma for-
ma que o olhar que, mesmo sem querer, instintivamente, lançamos à flor que levamos na lapela, como
uma recordação de amorosa e idolatrada esposa, de filha carinhosa ou de outra mão amiga, que ali a
colocou, não afasta os nossos pensamentos do caminho reto que devíamos seguir, para o exato cumpri-
mento dos nossos trabalhos cotidianos.
Esta espécie de pensamentos desperta para a vida os nossos sentidos espirituais, atualmente,
de todo, ou quase totalmente adormecidos. Quanto mais frequente for o exercício que os obriguemos
a fazer, mais cedo despertarão e maior será o poder por eles adquirido, sendo, por consequência, em
maior quantidade também os elementos vitais que de todas as manifestações da vida material que nos
rodeiam eles tirarão, reconstituindo e rejuvenescendo assim os nossos corpos, porquanto, na realidade,
o que deve reconstituir-se primeiro é a mente, antes mesmo de o poder ser o corpo.
Quando o espírito receber elementos espirituais vigorosos e sãos, o corpo as assinalará, robuste-
cendo-se, aformoseando-se e rejuvenescendo-se sem cessar. O espírito também pode exercer a sua
ação sobre todas as formas decadentes da organização física. Mas, para fazê-lo, destrói primeiro o
organismo doente ou defeituoso, para logo em seguida o reconstituir. É como o arquiteto que desmo-
rona uma casa velha e feia para erguer, no mesmo local, um formoso palacete. É assim que a matéria
já decomposta e corrupta, e juntamente com ela o espírito que em si forçosamente existe, contribuem
incessantemente para a formação e crescimento da nova planta, vigorosa e bela.
Nós, porém, não necessitamos desse poder para atuarmos sobre nós próprios, como não devemos
tampouco desejar absorver a potência das coisas decadentes. Antes procuremos esquecer tudo quanto
for capaz de destruir, e pensemos somente naquilo que pode construir forças espirituais, afastando o
olhar dos animais mortos para os fixarmos nos vivos.
Também não devemos meditar sobre a decrepitude da vida física, nem sobre as pavorosas trevas e
o horror das cavernas e masmorras, nem ocupar o nosso pensamento com a visão dos lagos de águas

76 Prentice Mulford
estagnadas e pântanos, nem com a pintura bem viva de acerbas dores físicas e morais ou de misérias
e mágoas profundas, nem com os receios da morte.
Pensemos antes, pelo contrário, na ridente juventude, cheia de alegria e força; regozijemo-nos,
mentalmente, na doce contemplação das verdes campinas, por onde serpenteiam cristalinos arroios,
refletindo a luz em suas límpidas águas, e parecendo comprazer-se e brincar aos raios benditos do sol;
nos jardins floridos e nas pinturas representativas de tudo quanto seja agradável e sadio, enfim, quanto
for a verdadeira manifestação de alegria, força, beleza e vida.
No futuro, a música e a pintura hão de vir a considerar-se tão necessárias para a educação da mo-
cidade, como hoje se considera o saber ler e escrever, pois compreender-se-á, então, finalmente, que a
música é um dos meios mais poderosos para robustecer a nossa saúde e a nossa vida.
São muito mais numerosas, do que se pensa, as pessoas que em si têm latente uma verdadeira
vocação para a música, podendo dizer-se delas que já nasceram músicos, manifestando-se de um
momento para outro, com uma facilidade espantosa, o seu inato talento musical, já servindo-se de um
instrumento, já por intermédio da própria voz, até mesmo sem terem recebido de ninguém lição alguma
dessa arte sublime.
A música é uma faculdade inerente a todo espírito humano. Tanto assim, que as melhores, mais
expressivas e maviosas canções populares brotaram, por assim dizer, da alma magoada e dolorida do
próprio povo, sem ser necessário o auxílio de grandes mestres, sendo até, muitos vezes, de pessoas
que viveram até na mais dura escravidão.
Não é também necessário estarmos sempre embevecidos na muda e constante contemplação das
árvores, das aves e de todos os espetáculos da natureza, para atrair e absorver os elementos vitais do
seu espírito. Se isso nos é fácil ou temos a vantagem de viver em plena natureza, tendo alguma floresta
perto da nossa habitação, a qual podemos contemplar dá nossa janela, façamo-lo sempre que isso nos
seja possível, porque nos será de grande proveito. Mas empreender grandes caminhadas, através dos
campos e bosques, com o pretexto de fazer exercício ou na crença de que, procedendo deste modo,
absorveremos os elementos mentais que a natureza em si encerra, em muitos casos pode até ser-nos
prejudicial. Se o nosso corpo já estiver mais ou menos débil e fizermos um exagerado exercício, expor-
-nosemos a um desperdício superior de forças e que absolutamente não compensa as que pudéramos
adquirir pela contemplação de um aspecto qualquer da natureza, acabando, por fim, por nos acharmos
muito mais fracos do que antes de fazermos esse excesso.
Se o nosso corpo está relativamente forte e bem disposto, mas o tempo está mau ou frigidíssimo, da
mesma forma nos expomos a despender maiores forças, para resistirmos à intempérie e aos elementos
naturais, do que podemos gastar. Havendo, portanto, um déficit contra nós, não podemos, neste caso,
manter o nosso espírito na condição de um ímã, atraindo a si as forças verdadeiras, latentes em todos
os elementos visíveis da natureza.
Nestas circunstâncias, bem poderemos passar a vida inteira a contemplar as árvores, os animais e
todos os outros sêres da natureza, sem conseguirmos atrair o menor átomo da sua força. Se desperdi-
çamos toda ou quase toda a energia da nossa mente só em mover o corpo de um lado para outro, de
forma alguma poderemos colocar-nos nas condições mentais exigidas para atrair e absorver tudo o que
for um elemento da força espiritual.
É essa a condição mental e a sorte, por consequência, de tantos camponeses que, aos cinquenta
anos, já parecem velhos e decrépitos, alquebrados e cruciados de dores de toda espécie. Podem eles
ter vivido sempre no meio dos maiores e mais maravilhosos espetáculos da natureza, porém passaram
de todo desapercebidos para a sua mente, que não estava ainda apta para os apreciar, sendo, pois,
mudos e áridos para eles. Na árvore apenas viram um bom meio de obter lenha, que cortaram, sem o
menor remorso, encarando todas as coisas da natureza só como uma maneira cômoda e fácil de arran-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 77


jar dinheiro. Até certo ponto, é necessário e razoável, no nosso atual modo de ver e considerar a exis-
tência, que o camponês trate de tirar dinheiro das árvores e plantas que o cercam, porém, apreciando
unicamente a natureza pelo interesse que daítira, dando sòmente valor ao que lhe enche a arca, sem
sentir, absolutamente, nada da significação espiritual da força que toda manifestação material encerra,
o camponês corta de seu moto próprio toda correspondência com a fonte de onde emana exuberante
vida.
Em compensação, muito terá ganho aquele que souber concentrar-se na contemplação mental de
todas essas belas manifestações da natureza, porquanto elas podem atrair-lhe a força espiritual que em
si contém, sem que ele se mova sequer do seu próprio quarto e, embora as altíssimas muralhas que
lhe cercam a casa o impeçam até de ver uma nesga do céu, não o poderão inibir de ficar inteiramente
imerso na contemplação mental de uma graciosa cachoeira, de uma soberda catarata, de uma costa
pitoresca, do imponente e majestoso mar, umas vezes medonhamente encapelado, debatendo-se em
fúria insana de leão enraivecido, quebrando impetuosamente de encontro aos rochedos e tragando
sem piedade tudo quanto se encontra no seu caminho; outras vezes calmo, límpido, bonançoso, mur-
murando, talvez, às Ondinas, temas endeixas ou estendendo amorosamente sobre as finas e douradas
areias da praia os seus magníficos e rendilhados lençóis de alvíssima espuma; ou ainda uma admirável
e frondosa floresta secular, vastíssimos e floridos prados, e verde jantes campinas, que se desenrolam
até perder-se de vista no imenso e longínquo horizonte.
Visões felizes e salutares são estas, dando à nossa alma a benéfica sensação da força e da vida ou
de uma eterna e tranquila felicidade, de um suave e calmo bem-estar, de uma serena paz, o que, incon-
testavelmente, contribui muitíssimo para nos robustecer o corpo e a alma. E tudo isto pela simples razão
de que tudo o que deixamos francamente aberto à nossa mentalidade, infalivelmente é atraído por ela.
Por que todas as crianças gostam de ver cair uma grande nevada? Porque o espírito que habita
o seu corpo, ainda puro e tenro, sente com extraordinária intensidade a força espiritual que da nítida e
cândida alvura dos flocos de neve, do céu cai sobre a terra como abençoada e fortalecedora chuva de
rosas brancas. É porque o espírito infantil é ainda muito sensível, muito mais suscetível, decerto, do que
o será anos mais tarde, quando o contato cotidiano, que forçosamente a criança há de ter com pessoas
muito mais velhas do que ela, cheias de desenganos e tendo perdido toda a primitiva agudeza dos seus
sentidos espirituais, lhe tiver também embotado esse nativo e precioso dom.
Quando Cristo dissse aos anciãos da Judéia: “Para entrar no reino dos céus, tendes de ser como
este menino”, quis significar, segundo se depreende destas próprias palavras, que, ao reencarnar, en-
contra o espírito, no novo corpo que lhe serve de instrumento, a capacidade de sentir e gozar dessas
forças espirituais, que estão encerradas em tudo quanto nos rodeia e que, além disso, a alegria, o vigor,
o viço e a beleza da infância não provêm, como em geral se acredita, da juventude do corpo físico,
senão do próprio espírito que, ao abandonar o seu corpo anterior, abandonou juntamente com ele um
fardo de pensamentos errôneos, carga essa tão pesada que já não podia suportá-la por mais tempo, e
ao entrar na posse do seu novo corpo, sente-se aliviado por um período de tempo mais ou menos longo
e, por consequência, muito mais fortalecido o seu poder espiritual.
É precisamente este estado mental que nós devemos procurar que se produza em nós e se mante-
nha de um modo firme e sereno, e, ao mesmo tempo, desejando com veemência a força espiritual que
a criatura recebe nos primeiros tempos da sua existência neste planeta.
Ora esta força há de manter-nos numa eterna juventude. Mas esse poder especial que anima as
crianças devemos desejá-lo totalmente despojado da ignorância e da invalidez da infância. Devemos
aspirar à sabedoria dos anciãos e pedi-la ardentemente ao Espírito Infinito, mas sem a tibieza e a decre-
pitude própria da velhice.

78 Prentice Mulford
Um aumento de sabedoria fez sempre crescer todos e cada um dos nossos sentidos. A decrepitude
e a decadência da velhice não são uma prova de maior sabedoria, antes uma verdadeira ignorância das
leis eternas. “Pelos frutos se conhece a árvore.” O alquebramento de forças físicas e o enfraquecimento
mental tão comuns na maior parte dos velhos, nada mais são do que a falta da verdadeira sabedoria.
Suponhamos que, de súbito, encontremos em nós uma série de órgão novos, mas semelhantes
aos nossos órgãos físicos e imaginemos também que, nas plantas, nos animais e em todas as expres-
sões robustas e sãs da natureza, achemos igualmente uma substância nova, um elemento até hoje
desconhecido por nós, o qual, mediante aqueles nossos órgãos novíssimos, assimilamos, renovando e
robustecendo assim extraordinariamente o nosso espírito e o nosso corpo. De idêntica forma operam os
sentidos da nossa mente, assimilando também os elementos espirituais que emanam de tudo quanto a
natureza encerra e com os quais o espírito constitui a sua nova personalidade.
Mas estes sentidos espirituais análogos aos seus sentidos físicos que tão bem conhecemos, ainda
hoje se acham em um estado relativamente débil. Pode-se comparar o desenvolvimento atual destes
sentidos espirituais à fraqueza e à limitadísima capacidade do estômago de uma criancinha para digerir
certas substâncias e assimilá-las, tirando forças dos alimentos sólidos, durante os primeiros anos de
sua existência. Porém, assim como sucede às crianças, também estes órgãos espirituais aumentarão a
sua força e a sua capacidade, mediante um exercício peculiar e bem orientado, tirando, de dia para dia,
maior proveito dos alimentos que se lhes proporcionarem.
Esta sadia e robusta mentalidade, esta força e este espírito-essência da natureza e de todas as
coisas nela contidas, é o que não somente há de vigorar-nos a mente, mas também desenvolver-nos
todos os talentos ocultos dentro de cada um de nós, em embrião ou estado latente, convertendo-nos em
homens novos e cada vez mais poderosos e perfeitos.
O poder do pensamento não tem limites.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 79


AS PRECES DOS HOMENS SÃO MANDAMEN-
TOS DE DEUS

A
ciência de viver nunca está completamente aprendida. Não há um único momento na vida em
que se possa dizer: Sei tudo, nada mais tenho que aprender! Nem mesmo quem, já carregado
com o peso dos anos e tendo consagrado a vida inteira ao estudo dos mais graves e importantes
problemas científicos, pode proferir essa frase.
Aquilo que hoje parece conhecermos a fundo e não conter mais nenhum segredo para nós, pode
ter amanhã, para a nossa mente, uma interpretação diversa, pois que a mente humana está sempre
aberta às expressões mais novas da existência. Até o que hoje é para nós um mal e causa de grande e
aflitiva amargura, será, talvez, amanhã, um bem ou motivo de grande ventura. Tudo depende dos nossos
conhecimentos quanto à sua natureza.
A pólvora nas mãos de uma criança é perigosíssima; manejada, porém, por um hábil pirotécnico,
pode até ser motivo de grande admiração e regozijo públicos. Da mesma forma, tudo aquilo que hoje
consideramos um bem, pode, amanhã, causar graves danos a nós ou aos outros.
A palavra que hoje tem uma certa significação, pode tê-la muito diversa, séculos mais tarde.
Nunca podem ser expressas as ideias com absoluta exatidão, por meio de letras e sílabas.
À proporção que mais vastos e novos horizontes se forem descortinando à nossa visão mental, e
mais lúcida e clara ela se for tornando também, cada palavra usada na linguagem corrente irá natural-
mente tomando nova significação, para nós, a qual, talvez, não seja encontrada em nenhum dicionário.
Existe uma linguagem ideal que nunca poderá ser traduzida por meio de palavras, e para a qual,
portanto, não é possível organizar dicionário algum.
Desde o momento em que o homem compreenda ser também uma parte integrante do Infinito, é-lhe
vedado e impossível implorar alguma coisa ao Infinito em tom de mendigo ou com o servilismo de abjeto
pedinte. Como uma parte que é do Todo incomensurável, pode fazer toda espécie de súplicas; só não
pode mandar nesse Poder, sem princípio nem fim, que nunca foi, nem jamais poderá ser compreendi-
do por qualquer mente humana. Mas, para aumentar e engrandecer a parte de Deus que em nós vive,
para alcançar o verdadeiro conhecimento de tudo quanto nos rodeia, devemos proceder de modo que
a mente se conserve constantemente na atitude do pedido.
A palavra prece ou petição, com tanta frequência empregada neste livro, não quer dizer que deve-
mos dirigir-nos ao Poder Supremo no tom autoritário do salteador que, na estrada, faz deter o viajante
para, intimativamente, lhe pedir a bolsa ou a vida, nem implica também a menor falta de reverência e
acatamento.
A rogativa humana não significa, da nossa parte, mais do que um veemente anseio de entrar a for-
mar parte da Unidade – Deus – da Unidade Infinita, cuja natureza é tão profunda que a mente se perde
e esvai, quando tenta ao menos compreender a essência da força que o anima, pois não tem princípio
nem fim, nem no tempo nem no espaço. Cada uma das frases de que é formado o Pai-Nosso, tem essa
feição peculiar, esse especial sentido que nós damos à prece ou oração. Frases como estas: “Venha a
nós o vosso reino” “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, “Não nos deixeis, Senhor, cair em tentação”
e “Livrai-nos de todo o mal”, são verdadeiras frases imperativas, pois em nenhuma delas se nota esse
tom humilhante e importuno da súplica abjeta e servil; constituem o protótipo da prece ou rogativa, em

80 Prentice Mulford
perfeita concordância e harmonia com o preceito cristão: “Pedi e sereis atendidos, recebendo a recom-
pensa dos vossos esforços; batei e a porta ser-vos-á aberta.”
As palavras de Cristo: “Assim seja na terra, como nos céus”, não constituem uma súplica ou impo-
sição ao Infinito, para que cumpra na terra os seus planos e desígnios, como são cumpridos nos céus.
Na realidade, constituem apenas uma parte da verdadeira prece e dos rogos feitos por Cristo a uma
sabedoria e o Poder por ele reconhecidos como infinitamente superiores aos que ele próprio possuía.
Quando uma alma desperta, enfim, inteiramente, da pesada letargia em que vivia imersa neste
mundo e exclama: “Que devo fazer para me salvar?”, já ultrapassou os limites da súplica só com essas
palavras, encontrando-se no caminho da prece ou oração verdadeira e formal. É este o estado espiritual
que o Poder Supremo exige de nós para nos conceder o que tenciona dar-nos, porque só Ele sabe o
que nos convém e o de que carecemos.
Quando fazemos um benefício a qualquer pessoa, desejamos que ela possa e saiba apreciar o bem
que lhe fazemos, e compreenda bem o proveito que daí lhe provirá. Essa pessoa encontra-se, então,
numa situação de quem pede vivamente, isto é, nas condições requeridas para receber o favor que se
lhe quer conceder.
O Infinito, para nos dar tudo aquilo que nos pode dar e de que temos necesidade, exige que nos
encontremos em estado idêntico. Já antes de Cristo se realizaram muitos fatos que aparentemente
estavam inteiramente fora das leis naturais, fatos produzidos em consequência da prece ou invocação
imperativa de certos homens.
Moisés intima as águas do Mar Vermelho que se retirem e deixem passar os israelitas, e elas dei-
xam-lhe o caminho livre; bate com a vara na rocha dura, fazendo o voto veemente de que dela mane um
jôrro de água, e da rocha árida, que parecia uma coisa morta até ali, brota incontinenti o puro e cristalino
licor que vai matar a sede e dar vida.
Josué disse, com todo o império, ao sol: “Detém o teu curso”, e o sol parou.
Se aprofundardes a história desses chamados milagres, verificareis que todos eles se realizam gra-
ças à invocação, prece ou petição imperativa dos homens, por intermédio dos quais se realizaram. Não
esqueçamos nunca estas palavras: os homens por intermédio dos quais se realizaram.
Na verdade, um milagre é o produto de uma força mental, agindo mediante certa e determinada
pessoa, homem ou mulher, dotada de vontade suficientemente forte para, com firmeza e energia, querer
que se realize esta ou aquela coisa considerada superior ao poder e forças humanas. Não é, porém,
esse homem ou essa mulher quem opera o milagre, mas a força mental que emana do Poder Supremo
e, fluindo sobre aquela pessoa, age por seu intermédio, como o vapor opera por meio da caldeira. Não
é a máquina que arrasta o comboio na sua carreira vertiginosa; ela é apenas um meio para o vapor agir
e por o trem em movimento.
Estamos em situação análoga, com relação ao Poder Supremo. Se pedimos à Força Infinita para
agir em certo e determinado sentido, infalivelmente para nós virá essa força, na quantidade e intensida-
de necessárias para a desejada ação. E quanto maior e mais viva for a fé posta na prece feita, maior será
também a força que o Poder Supremo nela põe, e maiores serão os resultados obtidos.
A inspiração que no mundo descobre e realiza grandes coisas, a qual, às vezes, denominamos
gênio, só procede da força e energia da prece ou ardente voto. É esta força que atua no homem, obri-
gando-o a escrever maravilhosas estrofes, a inventar e a empreender, a fazer qualquer coisa, em suma,
que lhe dê um lugar de destaque, tornando-o um triunfador, seja qual for a carreira por ele seguida,
prosseguindo sempre vitorioso em todos os caminhos e ramos da atividade humana e fazendo, ele só,
o que dantes ninguém fizera, nem sonhara sequer.
Foi essa força que, atuando em Shakespeare, o impeliu a escrever ideias de uma tal sublimidade
e beleza, dando-lhes uma determinada forma material que ainda hoje são a admiração e o encanto de

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 81


todos os que lêem as suas obras. Por si próprio, nunca ele teria escrito tão maravilhosas páginas. Mas
nem ele mesmo poderia nem saberia dizer-nos como se deu tal fenômeno, pois as sublimes concepções
que ainda a humanidade intelectual hoje admira, chegaram já completamente formadas às portas do
seu entendimento, fixando-se-lhe no cérebro, podendo somente sair de lá expressas por meio de pala-
vras, e seria um verdadeiro mísero se a si próprio tivesse negado o prazer de escrever.
Às suas obras procediam da mesma força ou Poder que tem realizado todos milagres até agora
presenciados pelos homens, tanto antigos como modernos. E esta não é mais do que o poder da Ideia
que atua sobre os homens, exigindo deles que a exprimam sob alguma determinada forma material, não
lhes dando um momento de tréguas e nem de sossego, até começar a ser expressa, exteriorizando-se
de uma forma visível no mundo físico e material.
Foi esse grande poder que obrigou Watts e Fulton a descobrir e aplicar a força do vapor. Foi ainda
também essa invisível potência que levou Franklin, Morse, Édison e tantos outros beneméritos da Ciên-
cia e da Humanidade, à realização dos milagres produzidos também em nossos dias pela eletricidade
e pela ciência. É este poder, finalmente, que tem impelido todos os inventores, poetas, sábios e artistas,
enfim, a exteriorizarem a sua inspiração, verdadeiros milagres esses, tão grandes, senão maiores do que
aqueles de que nos fala a História Sagrada. Todos esses milagres são apenas o resultado da ação da
Mente Infinita, atuando sobre a inteligência infinita dos homens, produzindo-se como uma resposta do
Infinito dada aos rogos, votos ou petições veementes, formuladas pela mente humana.
Está, atualmente, descendo sobre o nosso planeta uma força mental muito maior do que tem go-
zado até agora, e é de uma natureza essencialmente imperativa. Ela ensinará ao homem uma vida
nova e um modo novo de a compreender, menosprezando muitas coisas que atualmente nos parecem
indispensáveis para o nosso bem-estar, indicando-nos, em compensação, muito melhores sendas para
acharmos a felicidade.
Quando apareceu o caminho de ferro, fazendo as suas trinta milhas por hora, foram logo abandona-
dos a diligência e o ônibus, que andavam muito mais devagar; os carros de tração animal nas grandes
cidades cederam, em breve trecho, o passo aos elétricos, aos autos e tantos outros novos meios de
locamoção, que, como o caminho de ferro, serão o melhor meio de transporte para nos transladarmos
de um ponto ao outro, principalmente o último, para vencer grandes distâncias, enquanto não vier um
novo meio que lhe seja superior.
À medida que o homem se for convertendo num médium ou instrumento cada vez mais perfeito,
para, por seu intermédio, poder agir o Poder Supremo, mais eficaz, extensa e profunda será a sua ação.
E isto pode consegui-lo cada um de nós, só pelo fato de manter bem firme na mente a ideia de que o
homem é o instrumento mediante o qual há de operar a Mente Infinita.
Assim, por exemplo, para curarmos qualquer doença, é necessário e indispensável rogar à mente
Suprema que um pensamento de saúde ocorra à nossa mente. Por nós próprios, porém, não podemos
tratar de fabricar tal pensamento, nem ao menos impô-lo imperativamente ao nosso espírito. Isto só ao
Poder Supremo pertence. A nós só compete procurarmos manter a mente em estado de repouso, e nela
receber o que a Deus aprouver enviar-nos.
Procedendo desta forma, é como se, em substância, dissessemos à Mente Infinita: “Peço que em
mim seja cumprida a tua vontade e sendo eu, como sou, uma parte do Todo Infinito, imploro mais que
em mim seja feita física e mentalmente, como mais convier a esse Todo”. Portanto, não serei eu quem
designará ao Infinito como deva recuperar a minha saúde; nem tampouco direi que as minhas pernas, o
meu estômago ou quaisquer partes do meu corpo se hão de curar infalivelmente e imediatamente, por-
que muito maior do que a minha é a Sabedoria que sobre mim atua, e em virtude de qualquer propósito
que eu não consigo talvez entender, porque os decretos divinos são incompreensíveis e insondáveis,
podem retardar a cura de alguma dessas partes que eu considero essenciais, pois talvez haja necessi-

82 Prentice Mulford
dade de realizar-se algo de extraordinário e urgente, antes do que recobrar eu a saúde. Peço somente
que o Infinito me tome sob sua divina proteção para que eu possa rodear-me de todos os cuidados,
que um hábil médico, em cuja ciência e boa vontade eu tenha plena confiança, poderá indicar-me. Não
peço ao Infinito para curar pelo método e da maneira que eu considero melhores: só peço que me cure
e me valha em todas as atribulações da minha vida, pela forma e pelos meios que a sua inesgotável
Sabedoria achar melhor.
Semelhante raciocínio constitui uma força imperativa, que beneficamente opera sobre nós e é igual-
mente a chave que nos abrirá a inexaurível Fonte de graças, de toda sabedoria, determinando em nós,
de quando em quando, outros pensamentos de natureza imperativa, que sem cessar fortalecerão a
nossa saúde.
Todo pensamento junto ao ato que se lhe segue para se transformar em algo visível há de ser de
natureza positiva ou imperativa.
Se nos acharmos em estado mental vacilante e indeciso, nem um simples prego seremos capazes
de pregar bem. Nem uma só pancada de martelo daremos bem dada no mesmo lugar, se não fixarmos
toda a nossa atenção mental na martelada que vamos dar, medindo exatamente a sua força e sua dire-
ção. Essa atenção mental em cada martelada, querendo que o martelo caia exatamente no prego, é um
verdadeiro voto; é uma petição que dirigimos ao Infinito, e o mesmo fazemos com todos os atos positivos
da nossa vida, tanto com os grandes como com os pequenos.
Mas se fizermos esta oração ou prece no tom plangente e servil do mendigo, com o receio de que o
martelo não caia bem a prumo sobre o prego, o mais provável é errarmos a pancada a maior parte das
vezes, a menos que a própria divindade nos dirija a mão.
Mediante a prece em comum e em altas vozes, como se fazia nos tempos do velho metodismo,
sempre se obtiveram grandes êxitos, sendo um dos maiores e mais gloriosos o sucedido na festa de
Pentecostes, quando, reunidos todos os apóstolos no mesmo local e em perfeita harmonia uns com os
outros, ouviram o rumor de um vento fortíssimo e viram, em seguida, descer sobre a cabeça de cada um
deles línguas de fogo, começando logo todos a falar idiomas diferentes do seu.
É digno de nota que estes maravilhosos resultados são sempre obtidos pelos homens menos ilus-
trados, os elementos inferiores da sociedade. É porque esses, pela sua própria ignorância, são os que
melhor se prestam a essa espécie de exercícios, pois nada há como a pretendida e pretensiosa instru-
ção para destruir a fé.
Daí provém o serem hoje menos frequentes essas manifestações ou exteriorizações do espírito, não
podendo produzir-se senão como uma resposta à formal e veemente prece, tal como a dos primitivos
metodistas: “Senhor, que o vosso Espírito desça sobre nós e nos ilumine.”
O Espírito da prece é uma Lei Divina atuando sobre tudo quanto Deus criou e guiando todas as
coisas criadas pelo Divino Espírito, para atingirem a infinita perfeição. Foi essa lei que conduziu este
planeta e todas as coisas nele encerradas, desde o caos, através das inúmeras idades, já decorridas,
até o seu atual grau de perfeição. Nada pode detê-la.
Se alguém tentasse fazê-la retroceder, ela avançaria de novo com maior ímpeto e maior força do
que nunca.
Uma grande e silenciosa prece se está exteriorizando hoje mediante muitos milhares de corações.
Estes corações dizem silenciosamente: “A religião até agora seguida por nós já não nos satisfaz. Ela
não cura os enfermos, não nos dá corpos vigorosos e sadios, não nos dá força nem consolo aos nossos
males, nem nos faz nenhuma nova revelação sobre a vida futura. Nenhum sinal exterior acompanha a
prédica por meio de palavras. Os nossos amigos nos abandonam, sumindo-se um a um, sob a pesada
lousa do sepulcro, que para sempre os oculta às nossas vistas saudosas, separando-nos talvez para

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 83


sempre, e quando, por entre lágrimas, perguntamos o que é feito da sua existência, respondem-nos com
as maiores banalidades.’’
Esta grande e silenciosa prece, este veemente anseio de tantos e tantos milhares de homens está
se exteriorizando continuamente, tanto de dia como de noite. Tal prece constitui uma força potentíssima
e invisível, que continuamente opera e continuará atuando sempre, até olvidarem, um dia, os homens, a
oração que agora formulam, pois o esquecimento transitório do objeto desejado, de forma alguma de-
tém a força que no-lo há de atrair. Esta prece está no coração de muitos que nem sequer se atreveriam
a confessá-la a si próprios, no mais recôndito do seu coração.
Frequentemente procuramos esquecer determinados pensamentos e afastar de nós certos desejos
que nos perseguem e procuram dominar-nos; mas eles volvem de novo, tornando-se cada vez mais
violentos e não cessam de insistir e tentar avassalar-nos até os acolhermos benevolamente.
São forças potentíssimas que nos batem à porta, se impondo a nós e pedindo imperativamente para
serem admitidas na nossa mente. Esta luta pode, todavia, durar muitos anos, e talvez o nosso primeiro
ato de reconhecimento, a respeito dessas forças, seja por nós formulado, verbalmente, ao ouvirmos
exprimir a outrem a mesma ideia, ou lendo-a em algum livro, o que nos faz exclamar com surpresa: “Isto
mesmo tenho estado pensando durante muitos anos seguidos”.
Esta silenciosa prece dará uma significação e interpretação muito mais elevadas a todas as formas
de que a crença religiosa se tem revestido em nossos dias. Todo credo religioso tem por base a verdade,
mas esta não chegou ainda a assumir a sua última e verdadeira expressão, alterando a significação da
vida e fazendo novas todas as coisas.
A religião ou a Lei vital não é semelhante a um poste cravado no solo como a representação da
imutável palavra de Deus; antes é como uma árvore sempre viva, expandindo-se e desenvolvendo-se
sem cessar em novos ramos e em novas folhas.
A prece silenciosa age com muito mais eficácia do que se fosse falada. O modo ou estado mental
que a mesma produz não se detém um único momento, embora alguma vez possa ficar esquecida pela
memória física. Não é o homem que cria esta força imperiosa e soberana que sobre ele atua, nem é
tampouco ele quem a faz agir, mas sim o Poder Supremo, que é quem, única, exclusivamente e sem
cessar, nos envia sobre este nosso planeta as suas forças criadoras que vão aperfeiçoando tudo quanto
ele encerra, transformando os homens em seres mais vigorosos, perfeitos e felizes.
São estas as crenças que não permitem às forças humanas que se fossilizem neste mundo, reno-
vando-as incessantemente. Elas fazem também com que os homens conheçam a injustiça e a corrijam.
Estas forças incitantes e imperiosas são como raios de luz bendita que, de súbito, penetrassem nas
profundíssimas trevas de uma masmorra subterrânea.
São esses raios de luz divina que vão mudando a concepção da Divindade, fazendo-a mais amável,
misericordiosa e dizendo-nos também: “Cessa de adorar um som, uma combinação de quatro letras, e
adora-me a mim próprio mediante um conjunto e progressivo acréscimo da tua admiração por todas as
inúmeras expressões materiais, por intermédio das quais eu mesmo me manifesto e exteriorizo. Pede-
-me o indispensável poder para o conseguires e eu renovarei e aperfeiçoarei os teus sentidos, de forma
que, por meio deles, possas experimentar as novas sensações que produzirão em ti a vista e a contem-
plação dos rochedos, das plantas, dos animais, do sol, dos rios, dos mares e até da chuva e da neve
que, em alvíssimos flocos, se despenha das alturas do céu, para dar nova vida e fertilizar a terra. Assim
metamorfoseado, chegarás a ver e sentir, perfeita e cabalmente, toda a beleza de tudo quanto te rodeia
e da qual nem a mínima ideia tens agora. Dar-te-ei tamanhos poderes sobre o teu próprio corpo, que
nunca mais terás necessidade de o perder e de te despojares dele, compreendendo, então, realmente,
que o último e maior inimigo que o homem tem de vencer é a morte.”

84 Prentice Mulford
O homem imaginou que o melhor modo mental de se dirigir a Deus era o da humilde timidez, da
adulação servil, constituindo desta forma, em sua mente, uma Divindade que se compraz em ser adora-
da baixa e servilmente, da mesma forma que o mendigo beija a mão de quem lhe dá esmola.
Esta Divindade, que pouquíssimas mudanças tem sofrido através de todos os povos e de todos os
tempos, nada mais é do que o resultante do estado mental do homem que até agora ainda não pôde
conhecer a Deus.
Quando pedir para reconhecer os maravilhosos atributos de todas as coisas, de todas as expres-
sões materiais da Mente Infinita sobre a terra, tais como os rochedos, as árvores, os animais, os mares,
as nuvens, os sóis e as estrelas, essas concepções da Divindade se dilatarão ante os seus olhos des-
pertos e extáticos perante tais maravilhas, como hoje dilata o horizonte, à medida que vamos subindo
até atingirmos o cume de uma elevada montanha. Se os homens se denominam a si próprios miseráveis
e desprezíveis criaturas e pecadores impertinentes, contribuem por si próprios para converter-se nisso
mesmo, pois o que pensarmos de nós é o que realmente seremos em definitivo.
Toda mulher ou todo homem representa uma parte e é uma manifestação da Mente Infinita. Todo
espírito é também uma parte do Espírito Infinito. Este encerra em si todos os conhecimentos, toda a
onipotência e toda a sabedoria. Deduz-se disso que, como partes integrantes do Infinito, a nós perten-
ce também o conhecimento, o poder e a sabedoria, na qualidade que cada um de nós está disposto a
receber e a apropriar-se. Sendo assim, devemos mendigar servilmente o que é nosso e nos pertence
também?
A Mente Infinita nada teme, nada mendiga e, como ela quer fazer os homens e as mulheres à sua
imagem e semelhança, por que nos colocarmos na atitude mental de mendicantes quando lhe pedimos
alguma coisa?
Procedendo desta forma, insultamos ao Infinito, do qual somos uma parte também e perdemos, por
um período de tempo mais ou menos longo, a faculdade mediante a qual pode o Infinito agir, no mundo,
por nosso intermédio. Perder o respeito e o apreço de nós próprios é perder o respeito e o apreço de
Deus, o qual se manifesta na nossa própria carne.
O mendigo pede-nos uma esmola, embora insignificante, mas em compensação pensa em nos
dar absolutamente nada, procurando só, por mil formas, despertar a nossa piedade e simpatia, para o
socorrermos, com o único intuito de angariar a esmola.
A mendicidade é uma grande mentira ou vício e um grande pecado, pois é contrária às leis do Infi-
nito, o que se demonstra por si mesmo, só com o fato de se considerar que o mendigo se torna cada vez
menos digno de ser sustentado: recebe tudo quanto lhe dão e nada dá em troca, indo assim perdendo
toda dignidade, chegando a ser insensível até às pancadas e a todos os insultos. Deste modo só visa a
ser um objeto de permanente dó.
A Mente Suprema diz-nos: “Ordeno-te que a manifestação de Deus se torne em ti e para ti cada
vez mais evidente. Mas os deuses não são escravos nem mendigos; hás de, pois, pedir que em ti se
aperfeiçoem todos os atributos e predicados divinos. Implora-me a absoluta independência. Pede-me
as qualidades necessárias para me poderes glorificar. Tu, porém, não podes dar ordens a mim, que
sou o Infinito, inesgotável, imenso, incomensurável, sem princípio nem fim. Esse espírito todo de tímida
humildade e de baixo servilismo, sempre de joelhos ante o Supremo, nem é reverência nem adoração.
O verdadeiro sentimento de reverência não é a adulação. Ele tem por base a nossa justa apreciação e o
exato conhecimento das maravilhosas qualidades e infinitos poderes que o Ser Supremo possui, e que
existem por si só.”
Imploremos ao Infinito Espírito do Bem para que este apreço e este conhecimento aumentem em
nós e quanto maiores, mais profundos e extensos eles forem, maior e mais sincera será também a ver-
dadeira adoração, o profundo respeito que rendamos a Deus e aos homens.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 85


MEDICINA MENTAL

O
primeiro passo que devemos dar para a obtenção do poder ou faculdade de evitar e curar todas
as doenças, consiste em arremessarmos para bem longe da nossa mente a falsa crença de
que, com o decorrer da idade, a nossa força mental se esvai ou, pelo menos, diminui ou pode
diminuir, o que é impossível verdadeiramente. Pode parecer, em certos e determinados casos, que a
nossa força mental decai ou se desgasta; é isso somente devido à excessiva dureza e amargura das
dores padecidas.
Podemos exaurir e extenuar o corpo, debilitando-o, até chegar à morte, mas a Força invisível e ener-
gia mental, que é quem atua nesse corpo e faz agir, essa nunca enfraquece nem morre. Pode, é certo,
algumas vezes, tornar-se incapaz de atuar com eficácia nele; é bem verdade que, às vezes, por igno-
rância ou só por esquecimento transitório dos exercícios próprios da mentalidade, pode essa dita Força
ser dissipada e perdida, como sucede em milhares de casos em que o homem dispersa a sua energia
mental em todas as direções, sem conseguir fixar o pensamento numa só coisa durante dez minutos
seguidos. A força mental irradia de um só centro e, para aproveitar toda a sua energia, é necessário
concentrá-la num ponto fixo, sem o que ela se dispersa, perdendo-se miseravelmente.
Nunca nos deve abandonar a ideia de que o homem possui uma força mental sempre progressiva
e que, sem cessar, esta força pode ser aplicada para fortalecer e dar nova vida ao corpo. Somente a
posse desta ideia proporciona-nos já um poder espiritual imenso.
Pode parecer-nos, às vezes, que ela foi abandonada ou dela nos esquecemos por completo, sen-
tindo-nos como indecisos e vacilantes. Apesar de tudo, se alguma vez formulamos aquela ideia, por si
mesma, ela volverá a fixar-se no nosso cérebro e de novo voltará uma e mais vezes, sempre com nova
e mais poderosa força, comunicando-nos, de dia para dia, mais positivas e convincentes provas da
sua realidade – provas naturalmente insignificantes ao princípio, porém que, pouco a pouco, se irão
tomando cada vez mais importantes, até nos vermos, um dia, obrigados a convir em que as nossas en-
fermidades não são frequentes como dantes e que aquelas de que padecemos rapidamente se curam.
O segundo passo que devemos dar, aquilo que realmente devemos fazer, consiste em nos conven-
cermos de que toda doença tem a sua verdadeira sede na mente e que tudo quanto nos ocasiona ou
pode ocasionar dor ou miséria para a mente, também será causa de dor e miséria para o corpo.
Se nos assustamos, logo o nosso corpo sente repercutir-se nele o medo, debilitando-se e sentindo
esvaírem-se as forças de tal modo que, muitas vezes, se o não aparam, cai inerte por terra. Se experi-
mentamos uma cruciante angústia, em nosso corpo se reflete, aflita e lancinantemente, a própria emo-
ção com uma violência em proporção com o sofrimento moral. Se o desalento se apodera de nós, ex-
pulsando de todo, do nosso coração, a doce e benfazeja esperança, todos os músculos do nosso corpo
se sentem lassos e sem energia necessária para agir, a qual lhes era peculiar e tanto nos caracterizava,
quando nos sentíamos alegres e cheios de esperança. São inúmeras as pessoas que vivem, durante
anos e anos, com o coração açoitado pelos mais pungentes desgostos e sem que o menor raio de es-
perança lhes ilumine as profundíssimas trevas do seu infernal sofrimento moral; pois bem, apesar deste
martírio atroz ser apenas puramente espiritual, influiu-lhes poderosamente sobre o corpo, debilitando-o
gradualmente e afetando qualquer dos seus órgãos físicos, ou todos eles tais como os olhos, os ouvidos,
o estômago ou os pulmões.
Devemos repelir mentalmente tudo quanto nos possa causar ou proporcionar desgosto. Não diga-
mos nunca: “Isto está quente ou frio demais, não o posso suportar”, ou “Eu sofro demasiado, já não pos-

86 Prentice Mulford
so com tantos sofrimentos”, ou “É assim mesmo, tudo quanto é mau vem para mim; se fulano ou fulana
fosse bom, ou se isto fôsse uma felicidade, não viria para a minha casa, nem para mim!” – ou ainda “Tão
atroz sofrimento é superior às minhas forças”, – pois, com estas e outras semelhantes exclamações, nos
vamo envolvendo numa rede de maléficos elementos que exercem a sua enérgica influência sobre nós,
causando-nos uma dor ou infelicidade mil vezes maior do que quando até aí tínhamos sentido. Em lugar
disto, digamos antes: “É verdade que o meu corpo está tiritando de frio ou ardendo em calor, que eu
sofro atrozmente neste momento, mas o meu espírito não treme, nem tremerá nunca, e se hoje sinto o
coração despedaçado pela dor, ou se estou a braços com uma luta árdua e que me parece desespera-
da, é preciso criar ânimo, porque a bondade, a misericórdia de Deus é infinita, e como tenho confiança
absoluta e ilimitada no Infinito Espírito do Bem, aceito isto como coisa transitória, mas estou certo de que
a minha situação há de melhorar e melhorará incessantemente. Estou repelindo com todas as minhas
forças, em nome de Deus, as forças maléficas que me torturam o corpo ou o espírito.”
Desta forma, construímos um poder que resiste aos elementos externos que influem ou atuam sobre
o nosso corpo.
Todas as vezes que, mentalmente, nos opomos aos intensos rigores do frio ou do calor, ou a qual-
quer incômodo ou sofrimento físico ou moral, adquirimos uma força que nos há de auxiliar eficazmente
para dominar e curar tais doenças, assim como os músculos do nosso braço podem adquirir, pouco a
pouco, a força necessária e indispensável para deter a investida de um animal selvagem e subjugá-lo.
Cada um dos nossos pensamentos formulados neste sentido é uma pedra que juntamos à fortaleza
ou baluarte que tem de nos proteger e defender de todo mal.
Oponhamo-nos mentalmente à ação do demônio sobre o nosso corpo e o nosso espírito, e o de-
mônio nos deixará em paz e inteiramente livres de suas tentações e malefícios. O demônio está em tudo
o que, sob qualquer forma, procura exercer um despótico domínio sobre nós. Se lhe não opusermos
enérgica e tenaz resistência, ele nos dominará, ainda que seja só temporariamente.
Nenhum país nos parecerá bom. Um será demasiado frio, outro demasiado quente; as contrarieda-
des, os trabalhos e todas as faltas de comodidades no nosso domicílio ou de onde quer que estejamos,
nos parecerão também muito maiores e tudo nos incomodará e nos porá de mau humor, até as coisas
mais insignificantes e triviais.
Não quer isto dizer que devemos forçosamente permanecer sempre no ambiente que nos rodeia e
nos é molesto e desagradável, nem que devamos nos torturar só pelo prazer de sofrer. O que simples-
mente afirmo e aconselho insistentemente é que procuremos sempre, e tanto quanto possível, dominar
as nossas paixões, más inclinações e repugnâncias, bem como tudo o que nos é desagradável, e evitar
que tudo quanto for incômodo nos domine.
Nada lucramos com o fato de nos infligir, voluntariamente, uma tortura de qualquer espécie que
seja. Tem sido frequentemente este o erro do asceta que, voluntariamente, se priva de todo prazer; do
eremita que considera um grande ato meritório o viver em completa e absoluta solidão; do hindu que
rasga as próprias carnes com afiadas navalhas ou permanece longas horas suspenso num pau. Isso
significa unicamente levar ao excesso a resistência contra a dor. Porque, pelo fato de se dever ter cora-
gem para suportar os sofrimentos e vicissitudes da vida, não é razão para se sofrer todos os martírios,
sem necessidade. Isso é desperdiçar forças que, empregadas melhor, nos poderiam ser de grande
utilidade e proveito.
O asceta, seja qual for a forma por que se manifeste esse excessivo sentimento de sacrifício, vive,
de contínuo, escravizado pela ideia de que todo prazer, qualquer que seja, é um grande pecado, da
mesma forma que é escravo de seu vício o homem que está dominado por qualquer um deles. A con-
quista de si próprio significa o domínio de si próprio, e o maior dos conquistadores é aquele que sabe

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 87


dominar todos os seus desejos e paixões, aquele que consegue subjugar todos esses demônios que,
muitas vezes, tirânica e impetuosamente, lhe revolvem o espírito, o coração e a carne.
É justo e razoável que o corpo, como instrumento natural do espírito, procure gozar de todos os
prazeres que não causem dano ao espírito. Não é útil nem proveitoso que o corpo, o instrumento, possa
obrigar o espírito, seu senhor, a formular esta ou aquela petição.
O espírito só agirá livremente, quando puder formular as suas petições com inteira independência
do corpo e das circunstâncias que o rodeiam. O espírito somente é livre quando procede desta forma.
Um dia, sentimos medo de um acontecimento futuro ou de qualquer pessoa; se não procurarmos
reagir mentalmente com bastante energia a tal respeito, no nosso próprio corpo ele atuará perniciosa-
mente, impressionando-o de forma que, muitas vezes, ficará possuído de tão profundo abatimento que
não só se sentirá quase sem forças para encarar a situação ou a pessoa temida, mas chegará até, não
raro, a adoecer.
Pode dar-se o caso de resistirmos a esse medo, mas se passarem muitos dias sem observarmos
nenhuma mudança favorável; não desanimemos, porém, e fiquemos certos de que, persistindo em
nossa atitude mental, procurando manter-nos sempre serenos nos momentos de maior tristeza, aflição
ou depressão moral, nesses angustiosos momentos em que, sem forças para nada, nos sentimos como
se a vida estivesse prestes a abandonar-nos, em que não só a mais insignificante impertinência, mas
também até o mínimo ruído nos assusta ou irrita, estejamos certos de que, por fim, há de vir para nós a
força de que atualmente carecemos, estabelecendo-se assim, em nós, um estado mental que nos fará
ver tudo quanto nos fazia sofrer ou assustava, sob um novo e mais belo aspecto, iluminado por uma
nova e mais brilhante luz. Então nos convencemos de que o nosso temor era infundado e que só a nossa
imaginação lhe deu vulto; que os nossos inimigos e invejosos não só nos são inferiores mas até inteira-
mente impotentes contra nós, e ao vermo-nos mentalmente num plano superior ao daqueles de quem
receamos ou que nos desejam mal, com certeza acabaremos por dominá-los.
Nestes estados de excessiva timidez ou depressão moral a maior parte das vezes temos de lutar
mais com o invisível do que com o visível e a realidade física. O poder das trevas ou antes as inteligên-
cias malévolas e invisíveis que povoam o espaço imenso, se dispersam e irradiam em todos os sentidos,
esforçando-se por dificultar a realização dos nossos melhores planos ou deitá-los por terra, investem
contra nós, fazendo brecha pelo nosso lado fraco que eles muito bem conhecem, tocam uma das nos-
sas cordas mais sensíveis e criam uma grande dificuldade, onde talvez não houvesse nenhuma. Por que
lhes é permitido fazer isto? Porque temos de criar por nós próprios uma força capaz de se opor à sua e
neutralizá-la ou anulá-la fatalmente.
Se estivéssemos e nos sentíssemos constantemente protegidos, nunca adquiriríamos a força ne-
cessária para nos defendermos por nós próprios.
Quando, mediante uma prolongada luta contra um estado de depressão mental ou excessiva ti-
midez, chegamos, por fim, a adquirir uma tal ou qual quantidade de força, essa força já é propriedade
nossa e nunca mais nos abandonará.
Se a nossa mente está desequilibrada ou confusa, se pensamos ou queremos pensar ao mesmo
tempo em meia dúzia de coisas, querendo fazer tudo de uma só vez, e não sabemos pensar que o me-
lhor será fazermos todas estas coisas umas após outras – o nosso escritório estará sempre em desor-
dem, não achando nunca à mão aquilo de que necessitamos, e se esta disposição mental prevalecer,
indubitavelmente que o nosso corpo sofrerá também forma de desordem, pois foi dissipada a força que
mantém sempre estreitamente unidos o corpo e o espírito.
Somos um feixe desatado de nervos, o qual podemos atar de novo, só pelo fato de nos dedicar-
mos a por calma e metodicamente em ordem um canto ao menos do nosso gabinete de trabalho. Não
tentemos fazê-lo de uma só vez, nem pensemos em tudo quanto há para fazer. Proceder desse modo

88 Prentice Mulford
produzirá fadiga e aborrecimento tais que constituem uma verdadeira doença para a mente, terminando
sempre, sem a menor dúvida, por uma doença física.
Se algum dia sentires enfraquecer os vossos olhos, não recorrais imediatamente aos óculos, qual-
quer que seja o grau; deixai apenas os vossos olhos repousarem durante alguns meses. Nenhum dos
órgãos do corpo padece tanta fadiga como os olhos, os quais obrigamos a ler as minúsculas letras dos
nossos impressos, em geral demasiado pequenas. É como se tratássemos de sobrecarregar os nossos
músculos com um peso superior às suas forças.
Ao notarmos que a nossa vista está cansada ou nos falta um pouco, o que primeiro devemos fa-
zer é afirmarmos mentalmente a nós próprios que nossa vista é tão boa como sempre foi. Só o fato de
começarmos a usar óculos, apenas principiamos a notar qualquer fraqueza da vista, como milhares de
pessoas fazem, demonstra uma afirmativa inconsciente da nossa parte de que os nossos olhos hão de
ficar já débeis e enfraquecidos para todo o resto da nossa vida.
Se pusermos os óculos sobre o nariz, faremos o mesmo que darmos como molestos os nossos ór-
gãos visuais, e se começarmos a usá-los, nunca mais os poderemos tirar.
Podemos dizer o mesmo a respeito de todos os nossos outros órgãos. Se sentimos as pernas fracas
ou que se fatigam depressa, não procuremos o auxílio de muletas, antes experimentemos andar sem o
auxílio de qualquer cajado.
O cansaço dos olhos pode ser devido a alguma fraqueza do corpo, debilidade que terá talvez como
origem alguma perturbação mental: – medo, angústia ou dor – pois toda e qualquer perturbação mental
esgota as forças físicas.
O repouso é o verdadeiro caminho para que todo órgão físico sobreexcitado ou excessivamente
fatigado possa recuperar as forças e a robustez primitivas. Portanto, isso mesmo se dá com a vista.
Uma só força invisível, mas sempre a mesma, é que alimenta todos os órgãos do corpo. Ora, usan-
do óculos, não descansamos nossos olhos, não estimulamos a sua força própria, aplicando-lhes uma
lente, artificial, que concentra luz para lhes fazer ver o que ainda não conseguia fazer ver a lente natural.
As lunetas são um estímulo dos órgãos da vista, tão artificial e nocivo, como o álcool com que se costu-
ma estimular o estômago para, transitoriamente, se lhe despertar o apetite de que carece. Desta forma,
só educamos os nossos olhos para, em breve tempo, não poderem prescindir desse estímulo, acabando
por ser seus verdadeiros escravos. Por consequência, se tivermos de ler letras de imprensa e isso em
todos os graus de luz, ou se os nossos negócios nos obrigam a proceder dessa forma, é claro que temos
de recorrer ao auxílio de lunetas, mas as nossas necessidades não alteram o resultado do seu emprego.
Pode até o homem destruir a sua saúde com o intuito de procurar um auxílio honesto para se sus-
tentar a si e à sua família, como pode atingir o mesmo resultado, expondo-se por mera imprudência a
um grande perigo.
Na lei da saúde, nada valem os motivos que a fizeram transgredir. Eis por que tanto corre perigo
aquele que, entrando numa casa incendiada, se expõe às chamas com o nobre intuito de salvar uma
preciosa vida humana, muitas vezes até idolatrada, como infame ladrão que aí penetrou com o único fim
de roubar.
Se observarmos que o nosso ouvido enfraquece, mantenhamos constantemente a nossa mente em
atitude oposta a essa surdez.
A nossa força mental pode, por si só, arremessar para longe do corpo todos os elementos mortos
ou, pelo menos, já inúteis e incapazes de reproduzir a vida. Quando a mente deixa de se utilizar do
corpo e este morre, como se diz na linguagem dos homens, é porque perdeu toda faculdade de afastar
de si as matérias mortas que são o produto dos órgãos. Toda dor física que cresce e aumenta de in-
tensidade é devida à inexistência, no corpo, de força suficiente para proporcionar ao órgão enfermo os
alimentos vitais de que necessita.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 89


Se nos sentirmos inclinados a pensar que esta ou aquela doença se há de agravar ainda, ou é
incurável, e pensamos com frequência e firmeza nesta crença, a mente nada mais fará do que auxiliar
o corpo a confirmar-se cada vez mais na terrível ideia de que o corpo caminha infalivelmente a passos
largos para a decadência e a morte, podendo dizer-se, sem receio de desmentido, que é o nosso espí-
rito que alimenta a enfermidade e a toma incurável realmente.
A maioria das doenças que padecemos provém da falta de repouso. O verdadeiro descanso é tão
necessário para a mente como para o corpo.
Uma das formas de repousar consiste em respirar o mais profundamente possível com intervalos de
um segundo, entre a entrada e a saída do ar dos pulmões.
Os ferreiros praticam este útil e benéfico exercício, quando, a cada pancada do pesado martelo
na bigorna, soltam a exclamação: Já! Os marinheiros compassados e soltando ritmadamente certas
exclamações.
A pausa que se faz entre a entrada e a saída do ar dos pulmões, ao passo que deixa em completo
repouso os nossos órgãos físicos, descansa também a mente. E, além disso, esta forma de respirar, com
ritmo e profundamente, traz-nos aos pulmões maior quantidade de ar, e o ar é um alimento tão neces-
sário e indispensável como o pão. Deste modo, aumentamos a capacidade dos pulmões para procurar
esse alimento e criamos um costume melhor de respirar.
Os males que o homem sofre atualmente provêm todos ou quase todos do mundo invisível.
Mas está despertando já no espírito dos homens a grande verdade de que, da atitude mental em
que cada um de nós se colocar, virá a melhora da sua saúde, sendo, além disso, imenso o auxílio que
receberá de outras mentalidades que, em certo e determinado tempo, operem na mesma direção.
Se uma só mente pode exteriorizar a força mental suficiente para expulsar do corpo de um doente
toda espécie de enfermidades, que força não poderão exteriorizar dez mentes na mesma direção e atu-
ando como uma só força sobre o paciente?
Fazemos um grande benefício ao nosso amigo quando falamos lisonjeiramente dele a outras pesso-
as, desejando-lhe todo bem possível, mantendo sempre à superfície as suas boas qualidades e sepul-
tando o mais profundamente possível os seus defeitos, de forma que ninguém dê por eles nem os possa
descobrir. Fazendo isto, enviamos ao nosso amigo uma corrente mental muito benéfica de tão reais e
positivos elementos, como os de uma corrente elétrica que atua sobre o seu corpo, beneficiando-o e
iluminando-lhe o cérebro de tão brilhante luz, que não pode deixar de ver melhor todos os seus defeitos.
No futuro, e num futuro não muito distante já, quando algum dos nossos amigos se achar perigo-
samente doente ou aflito, atribulado por alguma enorme dor, nos concentraremos com algumas outras
pessoas crentes na verdade desta Lei, simples e puras de coração, pessoas de muita fé e, com elas
reunidos num aposento bem tranquilo, longe de todo barulho importuno, onde, com os primeiros raios
do sol, penetrem, logo de madrugada, os mais potentes elementos de vida que o astro-rei, todas as
manhãs, generosa e magnanimamente, envia à terra, e ali permaneceremos juntos uma hora ou menos,
pensando benevolamente no amigo ausente, falando a seu respeito e desejando com veemência a sua
cura.
Quando o homem começar a por em prática este exercício, compreenderá, dentro em pouco tem-
po, que, com isso, engendra um poder imenso, uma força capaz de restituir a saúde a qualquer pessoa
enferma.
Se as pessoas que rodeiam o doente estão em inteiro antagonismo, consciente ou inconsciente-
mente, com os métodos aqui indicados, não será conveniente em nossa prática mental que nos apre-
sentemos como seus verdadeiros antagonistas, ou com ideias diametralmente opostas às suas.

90 Prentice Mulford
Será suficiente exteriorizarmos o pensamento e o desejo formal de que as pessoas que rodeiam
o enfermo adquiriram uma clarividência maior daquilo que convém e deve fazer-se, pondo-se, deste
modo, em íntima conexão com a corrente mental produtora do Poder Supremo, a qual somente se che-
ga pelos caminhos da generosidade e do bem.
Não tardará muito que o homem se tenha convencido de que nada absolutamente ganha em lutar
pela verdade. Podem ser enviadas mentalmente, através do espaço, fortes pancadas que causem dano
aos corpos. E atingindo, material ou mentalmente, qualquer pessoa, em que terão as nossas pancadas
feito mudar o estado mental dessa pessoa, cujo corpo podemos chegar a destruir? Em nada absoluta-
mente, em nada.
Se o proceder de certas pessoas nos parece inconsequente, injusto ou prejudicial, nada ganhare-
mos se a elas atacarmos direta ou indiretamente, procurando prejudicá-las, além de que atrairemos tam-
bém, ao mesmo tempo, fazendo recair sobre nós, a nociva corrente do seu ódio e do seu antagonismo.
O melhor é combater o mal apresentando novos e melhores caminhos ante os olhos dos transviados.
Se tenho uma casa melhor do que a dos outros, não hei de obrigar naturalmente os outros a copia-
rem a minha casa. Poderei, talvez, convidá-los a visitarem-na, indicando e demonstrando-lhes as suas
vantagens e melhoramentos: isto será o melhor que tenho a fazer, se eu quiser contribuir para o relativo
bem-estar dos seus semelhantes. O que conseguir ver e apreciar a superioridade da minha casa tratará
de arranjar, para si próprio, uma casa igual, e o que, por si mesmo, não a ver, inútil será que eu me es-
force em lhe demonstrar antes de ter os olhos mais abertos, porque não o compreenderá.
A excessiva obesidade é proveniente da falta de força para expulsar do corpo as matérias mortas,
como pode também faltar-lhe para produzir os endurecimentos da pele, que a natureza põe em nossos
pés, para os proteger contra o atrito de um calçado demasiadamente apertado e duro. Porém, estes
endurecimentos da pele podem chegar também a transformar-se numa excrescência calosa, o que será
antes um verdadeiro e doloroso incômodo do que uma proteção, sendo isto somente devido a não ter
o espírito a força bastante para deter a tempo o seu crescimento, produzindo-se, dessa forma, o calo e
convertendo o que a natureza nos proporciona como um remédio, em uma fonte de novas dores.
Um calo não é outra coisa mais do que uma crosta ou excrescência, que o espírito não teve tempo
para destruir. Se nos limitarmos a cortar tal excrescência anormal, nada mais faremos do que estimulá-la
para de novo crescer, da mesma forma que fazemos com as árvores frutíferas, às quais podamos todos
os ramos supérfluos, concentrando, por este modo, muito mais a força de que a árvore dispõe, tal qual
o calo, para crescer e aumentar incessantemente.
Por consequência, para diminuir a excessiva adiposidade, o que devemos fazer, primeiro que tudo,
é reduzir a quantidade de alimentação farinácea, sobretudo. Mas a verdadeira cura desse mal funda-se,
principalmente, na aquisição e no exercício da força mental que deve expelir do corpo todas as secre-
ções de matéria sebácea ou morta, até ele atingir as suas elegantes simetrias e naturais proporções.
Se, porém, só desejarmos ver-nos livres da gordura e não cuidarmos da beleza do corpo, com certeza
nos libertaremos da excessiva exuberância de carnes, porém, lentamente, visto não se basear o nosso
desejo no escopo mais elevado; e quanto mais nobre e elevado for o móvel do nosso desejo, maiores
serão os resultados obtidos pela nossa ação mental.
Neste último caso, o mais elevado e poderoso motivo em que devemos fundar o nosso desejo,
deve ser o nosso inato amor pela simetria e beleza física, como a expressão externa do nosso próprio e
peculiar estado mental ou simetria espiritual.
Aquele que emprega todos os esforços para diminuir as suas carnes mediante contínuas dietas,
sem porém, de modo algum invocar a aquisição das forças que faltam ao seu espírito, com toda a certe-
za conseguirá algum resultado e talvez melhore até a plástica de seu corpo. Nunca poderá, porém, atin-
gir, desta forma, senão efeitos transitórios, como aquele que corta os calos para se livrar das dores por

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 91


eles produzidas, e viverá em contínua alternativa de gordura e magreza, como sucedeu a Lord Byron,
cuja existência inteira foi uma série de alternativas, ora excessivamente gordo ora muito magro, devido a
ser baseada a sua aspiração em atingir a beleza física, somente em motivos de ordem baixa e grosseira.
Entre os meios materiais para manter o corpo em proporções simétricas, a dieta é um dos melhores;
ninguém, porém, expulsará do corpo toda a matéria morta sem formular uma forte e firme aspiração.
Durante a juventude terrena, atua e age o espírito mais vigorosamente sobre o corpo. Eis por que
vemos sararem com mais presteza todas as feridas nas pessoas moças e libertarem-se mais facilmente
de toda a matéria morta.
O corpo humano, bem como os vegetais, têm uma vida e um crescimento que lhe são próprios,
independentes da mente ou espírito. Essa vida, porém, é limitada, como a das árvores: – tem igualmen-
te a juventude, a sua idade madura e a sua morte. É isso devido a não ter o espírito ainda atingido em
toda plenitude a força para, apenas chegado o corpo à sua idade viril, poder atrair a si elementos vitais
invisíveis que substituirão no corpo os elementos gastos ou mortos.
Mas o homem ainda não está convencido de que isto é uma possibilidade. Pois a prova de que isso
é possível, já a temos, no nosso mundo atual, nesses homens de mentalidade tão ativa e de tanta força
de vontade, que, talvez inconscientemente, formulam um veemente desejo de viver o máximo tempo
possível, atingindo tais homens, muitas vezes, graças à força que está latente neles, uma longevidade
muito além do termo médio da vida.
Se os homens de vontade firme conseguem hoje alcançar tão miraculoso resultado, também pode-
mos pensar que a vida humana se prolongará mais e muito mais, quando, reconhecida a verdade desta
lei, ela se praticar consciente e inteligentemente. A magia não é outra coisa senão o meio de obter resul-
tados materiais, sem a intervenção de agentes físicos. Se tivéssemos uma vista espiritual mais clara do
que a que possuímos atualmente, veríamos que todas as coisas do mundo físico se realizaram graças
ao poder da magia.
O homem e a mulher possuidores de uma mente muito elevada podem dominar e mover à sua
vontade todos os outros homens e todas as outras mulheres que possuem uma mentalidade de ordem
inferior. Este poder, ninguém o pode dar a outrem. É um poder que cria raízes no próprio indivíduo do-
tado desse dom, como na criança se arraiga e vincula igualmente a força de que há de fazê-la crescer.
Certamente, qualquer pessoa que possua esta faculdade pode dar a outra uma pequeníssima ideia
desse maravilhoso poder e até do seu uso e emprego. Mas se todo o nosso conhecimento da magia
consiste apenas no que os outros têm dito e ensinado, podemos dizer, atentamente, que não o possu-
ímos na verdade, porquanto não temos bebido na sua fonte principal e verdadeira. Esse verdadeiro e
puro manancial existe dentro em nós mesmos e para que ele brote e comece a expandir-se é necessário
somente o persistente anseio de duas coisas: – Primeiro, seguirmos absolutamente o caminho da verda-
deira razão e justiça, em tudo e para tudo, inclusive para conosco próprios. Segundo, sermos capazes
de crer na realidade do Poder Supremo, do qual, mediante simples e imperativas petições, podemos
atrair cada dia maior soma de energias – ideias novas – que vêm para nós e fortalecem o nosso espírito.
A magia nada mais é do que o uso inteligente das forças que em nós estão latentes ou nos rodeiam,
da mesma forma que hoje são utilizados os elementos da eletricidade, até há pouco tempo quase des-
conhecida.
A força mental pode ser acumulada e armazenada por um só ou muitos indivíduos, os quais podem
ir continuamente aumentando as qualidade e o poder desta mesma força.
As qualidades e a força da mentalidade de certa e determinada pessoa podem ser muito mais
perfeitas e poderosas do que as de uma outra, e, em harmonia e de acordo com elas, exerceremos um
domínio especial sobre todas as coisas materiais ou inerentes ao mundo físico e visível. As qualidades
mentais de qualquer pessoa podem adulterar-se ou enfraquecer pela mistura ou combinação com as

92 Prentice Mulford
energias de outra mentalidade inferior. O poder mental de Cristo, superior ao poder mental de todos os
outros homens seus contemporâneos, permitiu-lhe realizar fenômenos qualificados depois como mila-
gres. Por esses milagres são apenas e simplesmente meros resultados materiais, obtidos por intermédio
da Lei que os produz e do conhecimento complementar de que carecemos para fazermos inteligente
uso da mesma.
Os conhecimentos e o uso dessa Lei vão entrando dia a dia, com muita força, nos domínios da ci-
ência, como já entraram o conhecimento e a utilização do vapor e da eletricidade.
Este conhecimento, por enquanto, ainda está velado a muitos, pois só se manifesta àqueles que po-
dem recebê-lo, e esses são os que, tendo o espírito sempre alerta em procura da verdade, não repelem
tola e tenazmente as ideias novas.
Não devemos, porém, condenar nem querer mal aos que, obstinadamente, repelem as ideias no-
vas, pois a sua mentalidade não pode, dentro das atuais condições, transformar-se por completo de
uma só vez, até se tomar digna de receber as novíssimas ideias.
Não existe mistério algum que o homem não possa desvendar, mas só o homem que tiver realmen-
te a mente aberta a toda verdade. À medida que o nosso conhecimento espiritual for aumentando e
robustecendo-se, novos agentes e novos meios de ação virão para nós, a fim de engrandecer a nossa
força mental e evitar que se desperdice ou se adultere, e de podermos utilizá-los, em primeiro lugar, para
o nosso próprio bem, e depois em favor dos outros homens.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 93


O QUE DEVEMOS FORTALECER EM NÓS

H
olowitz, o célebre jornalista britânico, disse num dos seus artigos: ‘‘Creio na constante interven-
ção de um Poder Supremo que dirige não só o Destino em geral, mas também aquelas das nos-
sas ações que influenciam sobre o nosso Destino. Quando vejo que nada está entregue ao acaso
na natureza; que o menor dos astros que cintila no firmamento, percorrendo a vasta abóbada celeste,
aparece e desaparece com absoluta pontualidade no céu, não posso abster-me de acreditar que tudo
quanto diz respeito aos homens há de ser igualmente governado por leis imutáveis e não exposto aos
caprichos do acaso; não, cada um dos indivíduos que constituem a Humanidade é regido por uma lei
bem definida e imutável.”
Nos meus escritos tenho sempre afirmado, e creio ter deixado bem patente que toda força ou potên-
cia, tanto aquela de que nos utilizamos para mover os nossos músculos como a de que temos necessi-
dade, até para o mais insignificante dos nossos esforços mentais ou intelectuais, nos provém do exterior,
de fora do nosso corpo; querendo dizer, com isto, que nos vem do Poder Supremo.
Farei notar aqui que, frequentíssimas vezes, nos meus escritos tenho empregado a expressão Po-
der Supremo, o que a muitos de meus leitores terá talvez parecido excessivo. É porque ante a notória
insuficiência de têrmos da nossa língua, embora rica, não encontro nenhum que melhor exprima os
efeitos desse poder onipotente que impele os planetas e faz girar os mundos na abóbada celeste, por
maravilhosas e sábias leis, e nos impele também, fazendo-nos mover e comunicando-nos a energia ne-
cessária para a execução dos nossos mínimos atos, tais como o movimento de um dedo ou até o agitar
das pestanas.
Não pretendemos conhecer a origem nem a natureza desse Poder; julgamos até que Ele é e será
sempre incompreensível para toda mente humana e até para toda mente, em qualquer plano da exis-
tência em que se ache.
Cremos que a esse Poder sublime, onipotente e único, se alude neste trecho das descrições da
Bíblia: “Ante Ele os Arcanjos velam seus rostos”, que interpretamos com conclusão de que quanto mais
elevado for o conhecimento que se tem desse Poder, com maior lucidez se vê quão mesquinho se é, e
se aprecia a imensidade da própria pequenez.
Ao contemplar de muito perto a sua ação, verificamos que nos é absolutamente impossível com-
preendermos ou explicarmos a natureza de um Poder que não teve princípio nem poderá nunca ter fim.
O homem deve ter fé, cada vez mais fé, na realidade desse Poder e na possibilidade de atraí-lo a si,
assim como o engenheiro tem fé na realidade do vapor, que tem origem na água a ferver, e na força de
tal vapor para fazer mover as suas máquinas. Esta fé é a fonte e o segredo de toda felicidade humana,
mas não se aprenderá nem se adquirirá mediante largos estudos, nem decorando livros inteiros, velhos
ou novos. Esta fé virá para nós, apoderando-se inteiramente da nossa alma em toda plenitude da sua
força, à medida que aprendamos a manter a nossa mente na atitude mais adequada a recebê-la; para
nós virá, então, esta fé tão fácil e rapidamente, como a chuva que cai das nuvens.
A atitude mais apropriada a que nos referimos para nos pormos em condições de receber esta fé,
nada mais é do que o desejo ardentemente formulado de recebê-lo.
Quando essa verdade se nos tornar tão evidente como a luz do sol que vemos brilhar com divino
esplendor nos céus, compreenderemos também que existe um Poder verdadeiro e superior a nós pró-
prios. A nossa própria mente responderá, então, satisfatoriamente, a toda espécie de perguntas e nosso
poder espiritual e pessoal aumentará sem cessar, tanto se o exercitarmos mediante o corpo, como por

94 Prentice Mulford
outros meios quaisquer. Imaginando previamente que o nosso poder se origina dentro do nosso corpo,
cortamos, com essa crença, toda nossa comunicação com o Poder Supremo que está fora de nós.
Quando nos sobrevêm a primeira sensação de fadiga física, inconscientemente apelamos para
outro suprimento interior da força. Uma onda de poder responde exatamente a este pedido.
Mas foi este poder que usamos em má direção. Não agiu sobre a máquina do nosso corpo para
impeli-lo adiante, mas para forçá-la, como se a força fornecida pela caldeira tocasse para trás os braços
de um tear, antes que para a frente. E se persistirmos nesse hábito mental, de dia para dia, teremos
cada vez menor capacidade para atuar no corpo, com o que o nosso organismo sofrerá grandes danos
e prejuízos, pois esta reversão de ação terá prejudicado a nossa máquina física, a terá consumido ou
arrancado da sua engrenagem, e terá posto o corpo fora da proporção.
O nosso corpo irá ganhando, pouco a pouco, em simetria e boas proporções, à medida que a nossa
mente se for dispondo na atitude para isso adequada. A Força Suprema também intervém nos nossos
negócios e atos cotidianos. Não façamos mais do que tudo quanto pudermos fazer bem e sem esforço
excessivo, e, tendo assim cumprido cabalmente com o nosso dever, detenhamo-nos, sem nada mais
fazer, confiados inteiramente no Poder Supremo, que governa o Universo, assim como a criança põe
toda a sua confiança em seus pais.
Imploremos e desejemos, com veemência, que essa confiança aumente e se engrandeça cada vez
mais, de dia para dia, em nós, atraindo assim a força de que carecemos para levar avante e com êxito
os nossos planos e obras cotidianas.
Os homens verdadeiramente práticos, os que dirigem grandes empresas comerciais, políticas ou
industriais; os homens verdadeiramente ativos que neste mundo existem, por certo raríssimos, chamam
a si frequentemente esse Poder Supremo, embora inconscientemente, colocando-se no estado de es-
pírito apropriado para recebê-lo, a que mais de uma vez tenho aludido, dando-se isto muito mais vezes
do que se pensa. Quando uma coisa qualquer lhes parece obscura, sem poderem penetrar bem o
âmago da questão, nem ver nitidamente se o negócio lhes convém ou não; quando se acham perplexos
e descorçoados ou em suas mentalidades se produz algum desses estados de desânimo e depressão
mental, impossível de evitar, dizem intimamente, de si para si: “Isto não está bem, mas como já tenho
vencido outras dificuldades e feito isto ou aquilo, tenho a convicção de que também agora poderei fazer
o que pretendo e sair vitoriosamente desse mau passo”.
E esta atitude mental é apenas resultante de uma confiança maior ou menor, conforme a fé e a es-
perança que se depositam no Poder Supremo e a energia com que é formulada tal frase, ou antes, é a
confiança em algo que não existe certamente em nós, nem somos nós, mas fora de nós reside, e muito
acima de nós, em sabedoria e poder, em Deus.
Não temos necessidade de manter sempre esta atitude implorante, pois, desde que ingressemos
neste canal reto ou nesta atitude mental, por ele seguiremos sempre, mesmo inconscientemente, pen-
sando ou não nele, da mesma forma como dantes seguíamos o caminho errado, se tivéssemos entrado
nele alguma vez.
Também não nos é possível esquecer nem abandonar de repente e para sempre o erro ou os maus
hábitos que podem ter em nós dez, vinte, trinta ou quarenta anos de existência ou mais.
Ora, assim como, sem querer, repetimos maneiras, gestos e modos de dizer e fazer, que deseja-
ríamos imediatamente olvidar, com frequência caímos também nesses erros e maus hábitos, contra a
nossa vontade; costumes esses todos formados primeiro na mente, antes de se exteriorizarem mediante
o corpo.
Porém, desde que agora penetrou em nossa mente esta verdade, nunca mais poderá abandonar-
-nos, pois quando vem para nós, é para crescer mais ou menos lentamente, embora de um modo in-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 95


definido e com a segurança de que, à medida que for crescendo, arremessará para bem longe de nós
todos os erros.
Temos de habituar-nos, com relação aos nossos atos físicos ou mentais, à ideia de que a força de
que nos servimos para os realizar, não tem origem dentro em nós, mas nos vem de fora, de cima e,
portanto, não devemos deixar de enviar esforços para manufaturar esta força, e, sim, devemos simples-
mente dirigir ou governar a sua ação, precisamente como o engenheiro dirige o vapor para a parte da
máquina que ele deseja usar.
Da mesma forma, procederemos em qualquer empresa comercial ou industrial. Em primeiro lugar,
formaremos o nosso plano de acordo com os nossos desejos, projetos e aspirações, e logo chamaremos
o poder ou força que o há de impelir e desenvolver, permanecendo nós, entretanto, bem calmos e con-
fiantes, certos de que aquele poder há de vir finalmente a instigar-nos a praticar a ação mais apropriada.
E, enquanto esse Poder criador não atuar sobre nós, podemos ficar bem certos de que, trabalhando
e lutando forçadamente com a única ideia de que devemos fazer alguma coisa, antes entorpeceremos
do que beneficiaremos os nossos negócios ou obras que tenhamos entre as mãos. É esta uma grande
verdade.
Também não é necessário que nos esforcemos por estar sempre pensando na mesma ideia, en-
quanto nos dedicamos aos atos da nossa própria vida cotidiana, pois isso antes retardaria do que
apressaria a sua realização, sem contar que é impossível conservar sempre na memória um pensamento
determinado, com exclusão de todos os outros. A memória é uma faculdade que, em excesso, se fatiga-
ria, se se empenhasse em conservar continuamente uma ideia fixa.
Ora, devemos evitar, com grande cuidado, a extrema fadiga em qualquer parte do nosso ser. De-
vemos ter plena e inabalável confiança no espírito dessa verdade, para nos ajudar em tudo, aumentar
a nossa força e podermos corrigir os nossos velhos erros. Este espírito não necessita da memória para
existir. Existia antes dela e existirá ainda após a sua extinção.
Se entregássemos, pois, à memória, a sua existência, cairíamos outra vez no erro de confiar na
matéria, em lugar de depositar toda a nossa confiança nas coisas espirituais.
Quando a parte espiritual do nosso ser aceitou uma verdade, significa isso que o espírito já está
apto para viver em harmonia com essa verdade e começará então a educar, nesse sentido, o corpo,
contando para isso com vários e inúmeros meios.
Das pessoas peritas em qualquer arte ou profissão: o músico, o poeta, o orador, o professor, o
industrial, o médico, o artista, de todos aqueles, enfim, que alcançaram magníficos resultados, em sua
esfera de ação, pouquíssimos nos poderão dizer acerca dos métodos por eles seguidos, para atingir
esse alvo. Apenas sabem que esses resultados chegaram com o decorrer do tempo, sendo verdadeira-
mente inesperados em muitos casos. Foram devidos a uma longa prática? – Certamente; mas nunca a
uma prática fatigante e exaustiva. Nem nas artes, nem nos negócios se obterão jamais bons resultados
desses esforços, que aniquilam o homem. Em lugar de serem vantajosos, tais esforços dão sempre re-
sultados negativos.
Quando o poder ou a força que nos impele provém direta e verdadeiramente da Força Suprema,
todo esforço se converte num verdadeiro prazer.
O operário ou o artista, que é deveras forte, põe a sua mentalidade em atitude de submissão abso-
luta a respeito da Força Suprema; não tenta forçá-la e, deste modo, o seu espírito fica com plena liber-
dade de ação e de chamar a si esse Poder, que tem de atuar por seu intermédio. Esta ação é tão viva e
tão rápida, que não há palavras para exprimi-la.
O mais hábil dos artistas poderia encher páginas e páginas, tentando dar todas as regras e méto-
dos por ele seguidos para conseguir os seus próprios êxitos, na certeza de que, ainda depois de todas
as suas explicações, nada absolutamente teria dito de aproveitável.

96 Prentice Mulford
O pedir que a força do Poder Supremo venha para nós, nos traz inspiração, e tanto o nosso andar
como os nossos gestos e palavras podem ser inspirados, porque inspirado é todo esforço, mental ou
físico, em cuja execução encontramos prazer. A inspiração faz esquecer ao corpo que este é o instru-
mento usado pelo espírito.
A inspiração converte todo trabalho em um verdadeiro brinquedo, em uma agradável distração.
Não há métodos e nem leis pelos quais o homem possa alcançar a inspiração e, quanto mais elevada
esta voa pelos páramos celestes, mais esquiva é às leis e aos métodos que os homens fizeram.
Necessitamos da força para coisas muito mais importantes do que o movimento de um braço, de
uma perna ou de qualquer órgão físico.
Pode-se compreender como um homem forte e robusto possa ficar de repente paralisado e como
que pregado ao solo, sem poder fazer o menor movimento?
Pois todos nós sabemos que resultados idênticos a este são conseguidos mediante o dom ou poder
oculto, que há quarenta anos se chama mesmerismo e a que muitos dão hoje o nome de hipnotismo
e, talvez, daqui a cinquenta anos se denominará de outra maneira qualquer. E que poder é esse, na
realidade? — Nada mais é do que o dom ou poder da força mental de alguém, dominando outra mente,
que em força lhe é inferior, poder igual àquele pelo qual um corpo material subjuga outro corpo, com a
única diferença de não ter necessidade de emprego de músculos nem de órgãos físicos para agir. To-
dos nós possuímos em embrião este maravilhoso e potentíssimo poder, e quando conhecermos bem o
uso dessa potência, num futuro talvez bem próximo, não haverá ninguém que possa dominar-nos pelos
meios físicos. Pelo contrário, todo esforço, até dos mais robustos, poderá ser paralisado por nós, só pelo
emprego desse invisível poder, e converter o nosso mais encarniçado inimigo num dócil instrumento dos
nossos desejos.
E isto não é uma possibilidade longínqua, porquanto já está sendo hoje realizada por certas indi-
vidualidades. Há, porém, de desenvolver-se ainda mais, em proporções maiores, convertendo-se em
um predicado próprio, comum a todos os homens, em menor ou maior grau, como a força muscular é,
atualmente, em maior ou menor grau, um predicado de todos.
Mas esta é somente uma das formas tomadas pelo poder que age inteiramente independente do
corpo. Este poder também pode ser empregado com maus fins, assim como pode também ser usada
com maus intuitos a força física e, nesse sentido, muita gente usa agora dela, ainda que muitos o façam
inconscientemente.
Muitos milhares de mentalidades são hoje influenciadas, desvairadas, transviadas, conduzidas por
um falso caminho e dominadas, finalmente, por outras mentes.
O domínio mesmérico é apenas uma das formas que pode assumir esse poder. Existem milhares
de escravos sem terem a mínima ideia da sua escravidão, como há inúmeros senhores que ignoram o
domínio que exercem. O mais estranho e singular, porém, é que muitas vezes são dominadas justamente
as individualidades possuidoras de maiores e mais reais faculdades intelectuais e maior poder mental,
sendo isso apenas devido à sua ignorância da existência de tal poder.
O poder adquirido pelo espírito humano pode chegar até a vencer todos os agentes de ordem ma-
terial, tornando o corpo insensível a todos os efeitos do frio e do calor. Foi este poder que, como já se
tem dito aqui, produziu esses extraordinários fatos classificados como milagres, os quais nada mais são
do que os efeitos reais do que hoje se chama Leis Ocultas ou Ocultismo.
Um extraordinário e elevadíssimo desenvolvimento mental pode tomar o corpo superior às leis da
gravitação. Esses homens que, segundo a Bíblia, ascenderam aos céus, foram transladados de um pon-
to ao outro da terra, através do espaço; nada mais fizeram do que por em prática o emprego dessa força
que, bem aplicada, é capaz de levantar os corpos, conservando-os no ar contra todas as leis físicas até
hoje conhecidas. Além de que, quando o espírito alcançou todo o seu pleno poder, pode impunemente

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 97


desagregar os elementos materiais componentes desses corpos e tornar, em seguida, a combiná-los à
vontade, quando isto lhe aprouver.
Tais possibilidades, e muito maiores ainda, assistem ao homem que necessita apenas conhecer o
modo de evitar o desperdício de suas forças, as quais juntas e bem dirigidas são as que nos darão os
milagrosos resultados de que falamos.
Lendo isto, alguém dirá, sem dúvida: “Mas, admitindo mesmo que tais possibilidades sejam certas,
o que é certamente problemático, o meu ser espiritual permanecerá ainda por muitos milhares de anos
sofrendo, antes de podê-las desfrutar, e se a sua realização está tão distante, nem o mínimo interesse
oferecem para mim.”
Só este pensamento já é uma forte barreira que impede e se antepõe ao nosso progresso para a
perfeição. Ao pormos um limite ao nosso aperfeiçoamento futuro, tal como hoje o podemos conceber,
impossibilitamos a nossa perfeição espiritual e inibimo-nos a nós próprios de dar o primeiro passo no
caminho dessa indiscutível perfeição. Enquanto admitimos a possibilidade deste ou daquele resultado
ou efeito espiritual, embora muito longínquo no futuro do nosso ser, com toda a certeza vamos cami-
nhando para ele, atingindo-o, por fim, um dia. Mas dizendo: “É impossível!” pomos um obstáculo quase
insuperável no nosso caminho ascendente, só com essas palavras.
Não precisamos, porém, falar destes assuntos, com o primeiro que se nos depara. Nunca devemos
perder a cabeça, nem olvidar a terra que nos dá, neste mundo, os alimentos materiais, para hoje mesmo
nos lançarmos em plenas regiões das nuvens, no espaço infinito, ou medirmos nossas forças com um lu-
tador robusto, só por estarmos convencidos de possuirmos um poder ainda em embrião, mas destinado
a vencer toda força muscular, prescindindo dos músculos, pois é natural que não possamos servir-nos
já desse poder, justamente por ser ainda embrionário.
Ninguém dirá, decerto, que as sementes de uma maçã sejam árvores crescidas e frondosas; to-
davia, todos nós sabemos que nessa pequena semente, como, aliás, em qualquer outra semente de
árvore, está encerrada uma árvore formosa, completa, abrigando-nos à sua sombra e oferecendo-nos
os seus saborosos frutos.
Ninguém pode dizer, também, que da semente da maçã há de sair um raquítico arbusto, pois dela
pode brotar também uma árvore bela e vigorosa. De igual modo, não podemos dizer dos nossos pró-
prios poderes que eles só são capazes de produzir resultados pequenos e insignificantes, pois neles
está também latente a possibilidade dos maiores e mais maravilhosos sucessos.
No entanto, devido à ignorância da maior parte dos homens, a tendência mais generalizada, hoje,
é a de se deixarem perder estas forças, ou antes, a de usar delas tão impropriamente, que não produ-
zirão em nosso espírito nenhum aumento de poder. É este, justamente, o poder de que carecemos para
mantermos a nossa mentalidade no estado adequado para dela expulsar toda ideia ou pensamento de
enfermidade ou de dor, porquanto, persistindo na mente a ideia de doença, acaba por determinar, no
mundo físico, qualquer das suas numerosíssimas formas.
Nos nossos dias, milhões e milhões de pessoas estão penando continuamente em dores físicas, ou
em qualquer forma de enfermidade, conseguindo, destarte, que o que ao princípio não passa de uma
simples ideia, se converta, dentro em pouco, numa pavorosa realidade material e tangível. São sem nú-
mero os que, ao sentar-se à mesa das refeições, preferem falar de assuntos tristes e dolorosos, do que
de coisas alegres e prazenteiras. Desses pensamentos dolorosos e fúnebres está repleta a atmosfera
e são eles, que, frequentemente, em nós suscitam certos sintomas de desgosto e aflitivos mal-estares,
que não podemos nem sabemos definir, nem dizer de onde provêm.
Porque a mente do camponês está concentrada inteiramente na sua faina e, nesse estado de espí-
rito, não pode atuar nela a desagradável ideia do calor; o seu corpo nada em suor, tanto ou mais do que
o dos outros homens, mas não o incomoda essa copiosa transpiração.

98 Prentice Mulford
Por que pode o lavrador lavrar a terra sob os ardentes raios do sol abrasador, enquanto que a maior
parte das pessoas ociosas não cessa de agitar o leque, parecendo derreter-se com o calor?
Vista esse mesmo homem roupas limpas e elegantes, passeando ocioso pelo campo, e o calor fa-
-lo-á sofrer igualmente como aqueles senhores que costumam passar a vida ociosa, pela singelíssima
razão de nada mais fazer nessa ocasião, também, não podendo concentrar a mente em nenhum traba-
lho importante, ficando esta em condições apropriadas para receber a ideia do calor até lhe produzir os
mesmos efeitos que nos outros produz.
Deve a mente do homem chegar a adquirir uma força especial tão grande que até permita esque-
cer-se de todo quanto lhe possa causar dano ou dor ao corpo, para somente pensar no que lhe deverá
ser agradável.
Hoje, porém, a mentalidade de milhares e milhares de pessoas, exerce a sua ação na direção mais
prejudicial. Em geral, são consideradas inevitáveis mil dores e sofrimentos de natureza física. Continua-
mente se lança no espaço a ideia de que a decadência orgânica, a fraqueza da velhice e a morte física
são coisas inerentes à Humanidade. Os homens da época atual alimentam todas as doenças físicas pela
insistência de nelas pensar, em lugar de resistir e destruir-lhes os efeitos. A mentalidade predominante
já está educada na falsa orientação, própria para formar e desenvolver toda espécie de enfermidade.
Pode-se dizer que, em toda parte, se conta com as doenças como coisa certa e indubitável e, por assim
dizer, as convidam a entrar em todas as casas; acredita-se firme e positivamete que as crianças hão de
ter o sarampo, a difteria e as várias doenças que toda gente considera peculiares à infância.
Que a Humanidade há de ser sempre dominada pela dor, a doença e a morte, são coisas que nem
se discutem, tão certas se consideram.
Todos estes pensamentos e muitos outros, de igual natureza deletéria e prejudicial para a felicida-
de e o bem-estar dos homens e das mulheres, condensando-se, constituem o que nós denominamos
o poder das trevas ou infernal, ou antes, a potência reunida e concentrada das mentalidades baixas e
grosseiras, a qual nos cerca e envolve a todos nós. Precisamos, pois, de nos fortalecer, para combater
vitoriosamente esse nefasto poder, e assim lhe resistiremos.
Esse início de resistência, hoje por nós intentado, constituirá o primeiro passo, o passo preparató-
rio para logo depois darmos muitos outros na senda do nosso progresso mental, a atingirmos no porvir
os mais miraculosos e surpreendentes resultados. Porém, como já muitas vezes o temos repetido, não
é conveniente prodigalizarmos o nosso afeto e a nossa simpatia àqueles que qualificam de utopias e
quimeras estas verdades, porquanto só erros e enfermidades nos darão em troca, e de escassíssimo
auxílio lhes servirão, perante o que, alguém perguntará, talvez: “Mas é, então, esta a nossa verdadeira e
tão apregoada fraternidade humana? Está porventura isto de acordo com o preceito de Cristo: ‘Amarás
ao próximo como a ti mesmo?”
Não nos devemos esquecer, porém, de que Cristo disse também: “Deixa que os mortos enterrem os
seus mortos.” Ou, por outras palavras: – Deixa os que não queiram ou não puderem ver as verdadeiras
e expansivas leis da vida eterna seguirem o seu estreito caminho, vivendo sempre aferrados aos seus
erros, e sofrendo por causa deles.
Se, por experiência própria, conheces que este ou aquele caminho é muito melhor do que os outros,
e o segues, enquanto o teu próximo segue o pior de todos, porque não crê ou não lhe é possível crer em
tuas palavras, não julgues fazer-lhe benefício algum por estares sempre enviando-lhe a corrente da tua
simpatia, não, ao inverso disso, a ti próprio te estarás prejudicando enormemente.
Se, porém, os teus irmãos em Cristo crerem na Lei Divina, virem e sentirem o mesmo que tu vês e
sentes, então a sua companhia é para ti muito útil e vantajosa, e só bem te fará, como a tua faz a eles: —
pois que, ao reunires as tuas crenças às deles, crias uma força maior que será extremamente benéfica
e de um auxílio imenso para todos.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 99


As pessoas possuidoras de mentaiidades idênticas, reunindo-se, prestam um grande e mútuo auxí-
lio; mas os que procuram juntar-se, tendo crenças e mentaiidades inteiramente diversas e opostas, nada
mais fazem do que se prejudicar uns aos outros.
Podemos julgar benèvolamente o nosso próximo, apesar de não seguirmos o seu caminho, nem
vivermos a sua própria vida, quando sentimos de um modo diferente e diversas são também as nossas
crenças. Seguindo outro diferente modo de proceder, só a nós próprios nos prejudicaríamos, sem be-
neficiar nem sermos úteis aos outros, mais de uma vez o temos dito e não nos cansamos de repeti-lo.
Unindo a nossa vida à vida de outra pessoa, tomamos nossos todos os seus cuidados, como igualmente
partilhamos todas as suas tristezas e todas as suas alegrias e bem-estar.
Mas se tal pessoa não pensa como nós e não sente e nem crê de acordo com as nossas crenças e o
nosso modo de sentir e pensar, podemos bem dizer que essa pessoa nos é adversa ou está contra nós.
“Aquele que não estiver comigo em corpo e alma está contra mim”, isto é, “quem não é por mim
é contra mim”, ou é meu inimigo. É possível que este fato se dê inconscientemente da sua parte, mas
seja como for a verdade é que quem está contra mim é meu antagonista, e as consequências disso só
podem ser-nos igual e mutuamente nefastas.
Aqui deixei expresso algo do que devemos vigorizar em nós e do que convém pedir à Fonte Ines-
gotável do Poder Supremo, na certeza de que, se agora pedimos pouco, enquanto fazemos a nossa
petição, se está preparando lá em cima muito para nós, na proporção da nossa sinceridade, da nossa fé
e pureza de coração; caminhando assim sempre, doravante, de vitória em vitória, de uma grande alegria
e felicidade a outra alegria muito maior; de triunfo em triunfo, de um poder humano e efêmero, a outro
poder eterno, divino e incomensurável.

100 Prentice Mulford


O PODER ATRATIVO DO DESEJO

P
or que não podemos manter-nos em uma serenidade mental bem equilibrada? Por que estamos
sujeitos a grandes períodos de depressão mental?
É isto devido ao fato de que, embora nós estejamos completamente compenetrados do nosso
próprio ideal de vida neste mundo, pode atuar também sobre nós, em maior ou menor grau, a perturba-
ção mental que por toda parte reina.
Devemos ter benevolência e respeito por todos os animais da criação. Apesar disto somos, algu-
mas vezes, testemunhas da morte dos passarinhos que, descuidadamente, fazem os ninhos nos copa-
dos bosques, pela barbaridade, embora inconsciente, de algum caçador, sem que possamos evitá-lo.
Vivemos constantemente no meio de cenas de crueldade e de morte. Os animais domésticos cria-
dos sob as vistas e os cuidados dos homens são tratados e educados o mais artificialmente, crescendo
assim, naturalmente, num meio contrafeito, vivendo sempre uma vida constrangida e insalubre, inteira-
mente imprópria para se desenvolver neles as faculdades que lhes tornariam a vida mais alegre e útil.
A natureza entregue a si própria faz muito mais e melhor em prol da vida dos animais do que todos
os cuidados e desvelos humanos, pois todos os animais, assim como o homem, têm direitos individuais.
Impondo a um irracional qualquer o nosso desejo, causamos-lhe grande dano, razão por que todos
os animais inferiores, vivendo num estado por nós denominado de domesticidade, crescem enfermos,
acabando por degenerar-se; ora, como todo estado doentio de que estamos rodeados implica e quer
infelicidade, afeta-nos igualmente a nós também, direta ou indiretamente.
Quanto mais perfeito for o nosso organismo físico e mais disposto estiver à sublimidade de uma vida
espiritual muito elevada, mais facilmente pode ser atingido nocivamente pelos males que nos rodeiam.
Por enquanto, é totalmente impossível caminhar na vida sem suportar o medonho cortejo de gran-
des dores físicas e mentais.
As nossas casas, os nossos grandes estabelecimentos enchem-se durante o inverno, dos deleté-
rios vapores produzidos pelas matérias combustíveis de que nos utilizamos, bem como das emanações
dos corpos humanos, que neles estão acumulados. Sucede, desta forma, dormirmos, talvez em aposen-
tos, onde, enquanto nos entregamos ao repouso, absorvemos o insalubre calor e deletérias emanações.
Todos esses nocivos elementos, respiramo-los no inconsciente estado da recuperação das nossas
forças e, ao despertar, nos encontramos com todos esses maus elementos incorporados no nosso ser.
Estamos igualmente expostos a ingerir os piores elementos quando comemos, embora nos sentemos à
mesa do mais luxuoso, higiênico e asseado dos hotéis.
Por toda parte se nos oferecem terríveis cenas de crueldade e injustiça, que muito nos fazem sofrer,
porque tal como é o pensamento ativo dominante naquele ambiente, onde se comprimem as multidões
humanas, tal a nossa boa ou má impressão; o nosso bem-estar ou desventura. Portanto, os pensamen-
tos que particularmente imperam ali atuam também mais ou menos dolorosamente sobre o nosso.
Cada uma de todas as coisas materiais que nos rodeiam encerram um pensamento ou ação mental,
ou, para dizer com mais propriedade, é a encarnação deles, dependendo da maior ou menor pureza
da sua mentalidade interna a ação externa de todas as coisas físicas ou materiais. O comer uma fruta
mal sazonada, caída murcha da árvore ou extemporânea, pode produzir-nos um estado de profunda
melancolia.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 101


Em compensação, se comemos uma fruta viçosa, bem madura, nos fará um benefício imenso, ro-
bustecendo a nossa própria vida. A decadência é apenas a desagregação da matéria; devemos, pois,
nos alimentarmos com frutas perfeitas e bem sazonadas, e nunca com aquelas que ainda não atingiram
suficiente grau de maturação ou estão já em princípio de decomposição.
Sendo possível, ingeriremos sempre os alimentos no próprio momento em que eles tenham chega-
do ao seu completo desenvolvimento, à plenitude da sua vida, à maturação perfeita, e assim recebere-
mos nós também o vigor que nessa ocasião os anima.
Por ignorância ou inconsciência, e também, muitas vezes, por necessidade, violamos um grande
número de leis da higiene física e mental. Vimos ao mundo auxiliados por meios artificiais que contri-
buem para o nosso completo desenvolvimento físico, sem contar que, além disso, nos corre nas veias
um sangue, produto dos meios artificiais e contrafeitos em que muitas gerações que nos precederam
têm vivido.
Esta vida contrafeita e artificial há de, forçosamente, produzir a dor sob qualquer dos seus aspec-
tos. Os estimulantes alcoólicos só momentaneamente nos levantam as forças vitais, sobrevindo, imedia-
tamente depois, um período de depressão mental, muito longo e penoso. Porém, os males ocasionados
pelo álcool são realmente pequenos, se o compararmos com o que a própria Humanidade produz e
desenvolve, atuando cotidianamente em torno de nós.
Dirá alguém: “Admito que não possamos fruir dessa serenidade mental bem equilibrada entre as
multidões; porém, por que não poderemos alcançá-la em uma sociedade e aposentos apropriados? No
silêncio de uma agradável e amena solidão, no doce retiro de uma habitação tranquila e adequada à
meditação?”
Quem assim falar, recorda-se de que talvez já tenha estado enfermo alguma vez durante longos
dias, física e, portanto, mentalmente também, e nunca esperou curar-se instantaneamente da sua doen-
ça. Certos hábitos mentais só se podem corrigir lenta e gradualmente, sucedendo o mesmo com certos
costumes corpóreos, que são apenas consequências dos hábitos da mente, influindo sobre os nossos
menores atos cotidianos. O resultado de todos esses atos combinados é o esgotamento, verdadeira
origem de todos os males que flagelam a nossa carne fraca.
Tudo o que exaure o nosso corpo, seja inspirado pela Generosidade ou pelo egoísmo, seja em prol
de uma boa causa ou em favor do mal, diminui sempre o nosso poder de resistência contra todas essas
causas produtoras da dor e, por consequência, da depressão espiritual.
Quanto mais baixo e grosseiro tiver sido o espírito dos nossos antepassados, mais atrairá para nós
tudo quanto for terreno e material, sendo-nos muito mais difícil distinguir o bem do mal, obrigando-nos a
formar juízos errôneos na maioria das vezes; à medida que se vão tornando mais espirituais os nossos
ascendentes, muito melhor e com muito mais lucidez veremos nós, sempre, o bem em tudo, e por eles
seremos atraídos com maior ou menor força. Então amaremos mais do que odiaremos. Ao contrário
disto, enquanto predominar, no homem, a parte terrena ou a matéria, os seus ódios prevalecerão sobre
seus amores.
Atualmente, encontra o homem, no mundo, mais coisas dignas de desprezo do que de admiração.
Ele é cego para o bem e muito acessível ao mal, sentindo antes, em tudo, mais o lado mau do que o
bom, influindo e dominando, na existência, a maldade.
Odiarmos o próximo, estarmos sempre de opinião antecipada e cheia de preconceitos contra todo
o mundo, é, nem mais nem menos do que estarmos, de contínuo, vibrando profundos golpes contra
nós próprios. Ser capazes de admiração, saber descobrir o lado bom, até nas naturezas mais baixas e
grosseiras, desejar ter sempre longe das nossas vistas todo o mal, é para nós inexaurível manancial de
saúde, força, alegria e aumento constante de nossos poderes e faculdades mentais.

102 Prentice Mulford


O amor é uma potência e, colocando-nos no estado da admiração e do êxtase, seremos os mais
fortes e poderosos.
A atração é a lei celeste, como a repulsão é a lei da terra. A espiritualidade é sempre atraída por
tudo em que houver coisa idêntica a ela própria; descobre o diamante bruto, embora ele esteja jazendo
nas profundezas do solo e, de igual modo, vê, com a máxima lucidez, o germe das qualidades superio-
res que a natureza mais baixa, tosca e rústica pode ocultar dentro de si.
Fixará os olhos somente neste belo germe e apenas lhe verá o lado bom, a límpida formosura, sem
se deter, e procurando mesmo ignorar que elementos grosseiros possam constituir-lhe o tosco invólucro.
E, desta forma, envia o seu poder a esse embrião, alenta-o com o valor da sua própria vida, facilitando-
-lhe assim o progressivo desenvolvimento. A natureza mais baixa, rude e atrasada ascende, destarte,
até o seu nível mais elevado, devido justamente ao influxo de uma natureza mais adiantada e perfeita.
O verdadeiro missionário não tem necessidade de pregar por meio de palavras; expande em torno de
si uma atmosfera de santidade e amor, de divindade, enfim, que todos sentem, penetrando-lhes, amole-
cendo-lhes e dulcificando-lhe os corações.
Os preceitos divinos querem antes ser sentidos do que ouvidos. O preceito contra o pecador nada
mais é do que uma preocupação de espírito que macula e contamina tudo quanto toca.
Enquanto experimentamos esse forte sentimento de repulsão, que só a vista ou o conhecimento dos
defeitos dos outros nos faz sentir, vivemos sob o domínio desse mau sentimento, ficando acorrentados
por eles; neste estado, sentimo-nos tão cheios de ódio, que nem sequer temos a capacidade para ver o
que possa haver de bom em nós próprios.
O cinismo brota da má fé, do preconceito, da antipatia e da repulsão levados ao extremo. O cínico
e o céptico acabam por duvidar do bem, de tudo e de todos, por acharem tudo e todos insuportáveis
e desprezíveis, acabando, finalmente, por se odiarem a si próprios. Nenhum cínico pode gozar de boa
saúde. O cinismo, a descrença e a maldade são grandes venenos para o sangue. O cínico anda sempre
em busca de um ideal externo, que não encontra nunca, porque não é fora de nós, mas dentro em nós
mesmos que devemos buscar o ideal verdadeiro, e com este estado de espírito nunca satisfeito, com
esse constante descontentamento e triste aspiração mental, infecciona a atmosfera que o envolve, con-
taminando todos quantos o cercam ou dele se aproximam.
Contudo, a Divindade também é contagiosa ou comunicativa e, assim não fosse, pouca honra faria
ao Poder Supremo e muito pouco diria Ele. A bondade também é contagiosa e, dentro em breve, o mun-
do aprenderá que a saúde também o é.
Até agora, porém, os homens tanto temeram e até admiraram o demônio, imensamente convenci-
dos de que só as más qualidades podem ser inoculadas artificialmente, de um modo rápido e fácil, no
corpo do homem, ao passo que as boas só podem ser adquiridas pela miserável natureza humana, à
custa de muitos sofrimentos, dores e laboriosíssimos processos.
É impossível fluir para nós o vigor e a saúde do corpo, sem aspirarmos ao mais elevado e sublime,
e sem a absoluta pureza de pensamento. O pensamento puro torna puro o sangue e nos vivifica. O pen-
samento impuro, a desconfiança, a inveja, o desespero, a tristeza, a impaciência e a cólera, corrompem-
-nos o sangue, tirando-lhe toda a pureza e enchendo o nosso organismo com todos os elementos de
doença.
Sem essa aspiração – da Divindade, os maiores cuidados que prodigalizamos ao nosso corpo se-
rão infrutíferos e de todo inúteis. Podemos ser de uma limpeza extrema e até luxuosos no nosso modo
de vestir e no asseio de toda a nossa pessoa, empregar o máximo cuidado na alimentação, mas, fazen-
do isso tudo, apenas cuidamos da parte externa do nosso ser físico, deixando talvez toda espécie de
imundície no nosso íntimo.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 103


Pois, à medida que a pureza do nosso pensamento aumenta, o asseio, o puro e o cuidadoso des-
vêlo com o nosso corpo vêm naturalmente de per si, como uma coisa natural e indispensável, não as
considerando mais como uma pesada obrigação, mas um verdadeiro prazer. O alimento será regulado
pela solicitação natural do apetite.
O gosto ou sabor será o nosso guia para aceitarmos ou repetirmos os alimentos, e os excessos
serão impossíveis porquanto, estando sadio o paladar, ele nos advertirá, ao primeiro sinal de têrmos
comido suficientemente. Essa aspiração, esse anseio pelo mais elevado e pelo melhor, sempre é o que,
às vezes, produz entre nós um como verdadeiro renascimento do corpo, refazendo-lhe, por assim dizer,
por completo, a carne, os ossos, o sangue, os músculos e os nervos.
O domínio do espírito sobre a carne toma esta invulnerável a toda enfermidade, faz mais poderosa
cada uma das nossas potências e faculdades, dá-nos maior capacidade para nos movermos e progre-
dirmos em todas as esferas da ação humana e assegura-nos uma morte física sem dores; uma simples
queda do corpo em um sono eterno, para o espírito poder logo despertar livremente, liberto de todas as
peias, no mundo imaterial e invisível.
O poder, a força da autocura, estriba-se no veemente apelo aos princípios da saúde e energia vital,
para expulsar do corpo enfermo todos elementos da doença.
Imploremos, isto é, roguemos do íntimo da nossa alma que para nós venham esses salutares ele-
mentos, e eles virão. A força é um dos elementos do espírito ou, antes, um produto da matéria mais
depurada. Quanto mais nos exercitarmos em pedir ao Supremo Poder essa força, mais absoluta certeza
teremos de a possuir. Tal é o segredo para mantermos um perpétuo e progressivo aumento de vigor em
qualquer das qualidades desejadas.
Um dia, ao levantarmo-nos pela manhã, sentimo-nos débeis, de uma languidez extrema, exaustos
de forças físicas e mentais; esse estado predominará em nós, enquanto não sairmos da atmosfera cria-
da pela nossa própria enfermidade. O que, portanto, devemos fazer é por bem firme a nossa mente nos
pensamentos de força, bem-estar, vigor, saúde, atividade, alegria e, como auxílio para levantar e robus-
tecer essa nova condição mental, pensemos fixamente em símbolos ou ilustrações das forças da natu-
reza, tais como na tempestade desenfreada; no oceano, ora majestosa, ora encapelado e enraivecido
em fúria insana, ameaçando levar de vencida e despedaçar tudo, com os seus vagalhões gigantescos
e pavorosos; no esplêndido nascer do sol, quando, pela madrugada, o belo astro-rei se dispõe a enviar
magnanimamente à terra os seus benéficos raios que hão de fazer prosperar e dar vigor aos homens,
a todos os animais e às plantas. Se tiverdes à mão algum trecho de uma magnífica descrição em prosa
ou verso de algum desses grandes espetáculos, mas que profundamente vos impressione, leia-o com
atenção, silenciosamente ou em voz alta. Desta forma, colocareis vossa mente nas melhores condições
para receber toda espécie de salutares energias espirituais, que são também forças físicas.
Enfim, pensai em tudo quanto for forte, poderoso, alegre, — e a força, o poder e a alegria vos virão.
Finalmente, se, pelo contrário, permitirdes à mente habituar-se a permanecer longo tempo pensan-
do somente nas coisas débeis e caducas, infalivelmente vos virão todos os elementos produtores de
tudo quanto é oposto e nocivo à saúde e à força.
Como a decadência atrai e produz decadência, em tudo quanto vemos na ordem da vida física,
assim também sucede no mundo espiritual, onde a ideia ou pensamento deprimente e deletério, de de-
cadência e morte, determina resultados mentais da mesma natureza, isto é, das coisas que não vemos.
Muitas pessoas doentes alimentam a própria enfermidade muito mais do que alimentam o corpo, que as
sustém, pensando constantemente na mesma e não falando senão da sua enfermidade, sua ideia fixa.
Não pretendo sustentar aqui a ideia de que, por este meio, o alívio do sofrimento seja imediato.
A mente que, durante certo tempo, tem seguido sempre a mesma e invariável direção, nutrindo, pelo
pensamento, a sua doença física e aumentando, portanto, a sua fraqueza, não pode, de um momento

104 Prentice Mulford


para outro, transformar-se por completo e mudar a sua orientação para um alvo inteiramente diverso
do que até ali seguia. Podeis estar tão habituados a viver na penumbra, que o rápido esplendor da luz
vos cegue ou, pelo menos, vos moleste a vista, necessitando de muito tempo para vos acostumardes a
ela. À medida, porém, que vosso desejo se for tornando mais persistente e o estado de vossa mente se
robusteça, aumentará também em vós o poder para a manutenção desse especial estado mental, que
produzirá em definitivo o triunfo. Devemos fazer o primeiro esforço. Pode isso levar-nos algum tempo,
mas cada átomo de esforço firme implica um aumento das próprias energias, o qual não se perderá
nunca mais.
Não imploremos nunca, porque seria arbitrário e despótico, que um membro designado do nosso
corpo se liberte de qualquer moléstia ou que alguma das suas peculiares funções se fortaleça especial-
mente, talvez em detrimento das outras. O nosso corpo é como um indivíduo independente e inteiramen-
te separado do espírito, com uma vida física que lhe é peculiar e própria.
Por sua vez, o seu organismo é o resultado de um agregado de órgãos, cada um deles destinado à
realização e ao desempenho de uma função especial, constituindo igualmente também, cada uma de-
las, uma organização individual, atuando em todas elas esse poderoso e divino elemento, denominado
amor, que podemos enviar a cada uma das partes do nosso corpo ou ao nosso próximo.
Tratemos com carinhoso amor e desvelo a ferida que tivermos recebido numa perna, num braço ou
em qualquer outra parte do nosso corpo e os elementos que constituem esse amor influirão na casa, ci-
catrizando gradualmente a chaga e unindo as partes despedaçadas. Se fizermos o curativo indiferente-
mente ou como um trabalho fatigante e que nos repugna, este sentimento impedirá incontestavelmente
a rápida cura da ferida, porque, com o nosso ódio e desprezo, envenenamos a chaga.
Os elementos do ódio são tão venenosos quanto os de amor são salutares. Os mesmos princípios e
o mesmo processo se aplicam à fraqueza que pode atacar cada um dos nossos órgãos físicos.
Enviemos os fluidos do nosso amor aos nossos olhos fatigados, aos nossos ouvidos, enfraquecidos
por qualquer doença e, nesse estado mental, tendo pôsto todo o amor neles, imploremos ao Supremo
para podermos recuperar as nossas forças perdidas. Se o estado de nosso espírito for de impaciência e
de aflição, por não poderem desempenhar bem as suas funções os nossos olhos, os nossos ouvidos ou
qualquer outra parte do nosso corpo, os elementos dessa impaciência e desse desânimo influirão nos
nossos supraditos órgãos, enfraquecendo ainda mais e frustrando os próprios esforços para melhorar e
recobrar o vigor primitivo.
Todo pensamento ou desejo que de nós parta com sinceridade e veemência, para nos enobrecer-
mos, elevarmos e atingirmos a perfeição, libertando-nos de toda malícia, ciúme ou má fé, com relação
aos outros, origina essa potentíssima força que nos eleva e, por assim dizer, nos imaterializa, transpor-
tando-nos onde os elementos da vida são puros e mais espirituais. À medida que essa nossa aspiração
persiste, mais se eleva e enobrece o nosso espírito. A frase o homem justo significa o efeito produzido
por estes invisíveis elementos atraídos pela nossa aspiração e que nos faz física e espiritualmente al-
truístas, cheios de abnegação; isentos inteiramente do egoísmo que só trata de tudo o que lhe possa
proporcionar a satisfação pessoal, sem se ocupar em coisa alguma da felicidade dos outros.
Quando estamos possuídos pelo poder da gravitação, isto é, pela atração das coisas materiais, os
nossos ombros se abaularão, curvando-nos o corpo; e a nossa cabeça, sempre inclinada, conservará
os nossos olhos sempre a olhar fixamente para a terra, e até o nosso coração, dantes altivo e cheio de
elevados sentimentos e nobres aspirações, vergará para a terra, ao peso da angústia, da impaciência,
da cólera, do desalento ou de outra qualquer forma de pensamentos insensatos, produzidos por toda
espécie de coisas terrenas, ou das formas mais grosseiras assumidas pelo espírito: dá-se isso porque
existe sempre uma correspondência verdadeira e absoluta entre os elementos visíveis e os invisíveis de
tudo o que tem forma e substância material, e as coisas imateriais e espirituais.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 105


O aspecto exterior de todo homem e de toda mulher, a expressão do seu rosto, todos os seus ges-
tos e maneiras, até o próprio estado da sua saúde física, nada mais é do que a exata correspondência
do seu estado espiritual ou, para dizer melhor, é pura e simplesmente uma consequência do estado da
sua mente.
O ser físico ou visível do homem é apenas o duplo do seu ser espiritual e invisível.
À proporção que em nós atuar o poder atrativo, à medida que em nós se fortaleça o desejo de nos
aproximarmos de Deus, da Divindade perfeita e infinita; à medida que, à nossa vontade, pudermos ex-
pulsar todo mal que há dentro de nós e este é o único caminho para vencermos todo mal que fora de
nós existe, também a nossa forma exterior se embelezará, fortalecendo-se em harmonia com a nossa
mente; o nosso olhar tomar-se-á mais límpido e penetrante, o nosso coração retomará um novo alento
e as nossas faces se colorirão de cores mais frescas e vivas e o nosso sangue, enriquecendo-se de
novos elementos, cada vez mais poderosos e puros, comunicará às nossas pernas e a todos os nossos
músculos, maior força, destreza e vigor, maior flexibilidade e agilidade a todos os nossos movimentos.
Podemos dizer, neste estado mental, que nos alimentamos com o verdadeiro Elixir de Longa Vida, o
qual, na verdade, não é um mito, mas uma grande realidade e uma possibilidade verdadeira do espírito.
Até agora, a raça humana tem sido escravizada pela atração das coisas físicas ou elementos vi-
síveis e materiais, afirmando peremptoriamente que só existe o que pode ser visto pelos olhos físicos,
se toma tangível para nós ou é apreciado, enfim, por qualquer dos nossos sentidos corporais, que são,
como é natural, os mais grosseiros e inferiores.
Pode morrer à sede qualquer homem próximo de uma fonte de água cristalina, por ignorar a exis-
tência desse abençoado manancial; ora, se desconhecia onde encontrar o remédio para o seu mal, era
absolutamente como se tal coisa para ele não existisse. A condição humana tem até agora sido idêntica
à desse desventurado, perecendo por ignorância.
A Humanidade vindoura, bem mais perfeita do que a atual, não sofrerá, como agora, a dor da morte.
Toda dor mental é a consequência do pecado ou de uma transgressão à Lei da Vida. No porvir, a
morte de um corpo físico será apenas o ponto inicial para o nascimento de um novo corpo, diminuindo,
pouco a pouco, os intervalos, um do outro, até o espírito ter adquirido a suficiente potência para atrair a
si os elementos materiais indispensáveis para a formação de um corpo, de que poderá utilizar-se duran-
te todo o tempo que lhe aprouver.
Tal é a condição futura da Humanidade, prevista e predita pelo apóstolo Paulo, quando proferiu es-
tas sentenças: “Ó morte, onde está o teu gládio? Ó tumba, onde está a tua vitória?” Estas verdades, que
são possibilidades, quando o poder do homem tiver aumentado a ponto de lhe ser fácil proporcionar a si
próprio um corpo mais perfeito e a transbordar de vida, força e saúde, não devemos considerá-las afe-
tando a Humanidade com relação aos tempos futuros, mas também a nós próprios, os homens de hoje;
os homens atuais gozam igualmente do poder necessário para adquirir corpos novos, mais perfeitos e
mais vigorosos do que os velhos.
Porém, como fazermos uso dele, se ninguém nos diz nada a seu respeito?
Neste caso, somos semelhantes ao mendigo que levasse, sem o saber, sob os seus andrajos, um
maço de notas de banco, cosido ao forro do jaleco esfarrapado.
O que, porém, se dá conosco é que não podemos servir-nos desse poder ou dom acumulado pelos
nossos irmãos, pelo nosso próximo. O poder de que nos servirmos tem de ser o nosso e só o nosso.
A aspiração à Divindade, a prece ou pedido, dirigida ao Supremo para nos tornarmos melhores de
dia para dia, e adquirirmos maior poder e sermos cada vez mais puros, atrai-nos sem cessar os ele-
mentos e as forças do mundo invisível; há de ser, porém, com a indispensável condição de exprimirmos
o desejo ardente de que os benefícios que recebermos os recebam também os outros, até os nossos

106 Prentice Mulford


desafeiçoados. Não podemos pedir a plenitude do poder só para nós, se temos a intenção de viver en-
cerrados dentro em nós mesmos.
É certo e evidente que a nossa petição, com o intuito egoísta de nos beneficiarmos exclusivamente
a nós, e em nós pensando somente, pode trazer-nos talvez fama, riqueza, bem-estar social e material.
Ai porém, de quem olvidar que a prece ou petição baseada só no interesse próprio e egoísta, terminará
por acabrunhar o homem sob o peso da dor, da enfermidade física e da morte!

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 107


CORRENTES DE PENSAMENTO

D
evemos ser cuidadosos no que pensamos e falamos, porque os pensamentos se reúnem em
correntes tão reais como as do ar e da água. Conforme o que pensamos e falamos, atraímos
para nós uma corrente idêntica de pensamentos, que age sobre o corpo de modo benéfico ou
maléfico.
Se o pensamento fosse visível aos olhos físicos, veríamos suas correntes partirem das pessoas e
se dirigirem para elas. Veríamos que as pessoas de temperamento, caráter e gostos semelhantes estão,
em realidade, na mesma corrente de pensamentos. Veríamos que a pessoa de disposição contrária ou
irritada se acha na mesma corrente de outras assim dispostas, e que cada pessoa que se acha nesta
corrente age como bateria e produtora desta espécie de pensamentos, fortalecendo assim a corrente.
Veríamos também estas forças agindo de modo semelhante sobre os esperançosos, alegres e corajo-
sos, unindo-nos a outros de idênticas qualidades.
Quando estamos numa disposição inferior ou abatida, recebemos a ação da corrente mental pro-
veniente de todos os que estão no mesmo estado. Estamos, então, em uníssono com a espécie de
pensamentos desanimados.
A vossa mente se acha em estado doentio, que pode ser destruído, porém a cura permanente não
vem imediatamente, pois estais habituado a dar entrada em vossa mente a estas baixas correntes.
Ao atrairmos a corrente de uma espécie de mal, por algum tempo ficamos unidos a este mal. Pelo
contrário, na corrente mental do Supremo Poder para o bem, nos unimos cada vez mais com este poder,
e no dizer da Bíblia, tomamo-nos unos com Deus, isto é, com a corrente que nos convier atrair.
Se um grupo de pessoas fala de qualquer doença, sofrimento ou cena de morte, se cultiva este
gosto mórbido para as coisas doentias e horríveis, que formam sua principal conversa, atrai para si uma
corrente mental cheia de imagens de doenças e sofrimentos. Esta corrente agirá sobre tais pessoas e,
com o tempo, lhes trará doença e sofrimento.
Se falarmos muito de pessoas doentes e estivermos muito tempo no meio delas, ou falarmos delas,
sejam quais forem as nossas razões para isso, atraímos uma corrente de pensamentos doentios, e seus
maus efeitos, com o tempo, se materializarão em nossos corpos.
Temos muito mais a fazer para nos salvar do que agora compreendemos.
Quando os homens falam de negócios, atraem uma corrente de ideias comerciais. Quando mais es-
tiverem de acordo, mais atraem esta corrente mental e mais ideias e sugestões recebem para desenvol-
ver e aperfeiçoar o negócio. É desta forma que a discussão entre os membros dirigentes da associação
cria a força que leva para frente seus negócios.
Viajais em carros de primeira classe, vesti-vos com fazendas de qualidade superior e hospedai-vos
em hotéis de primeira ordem, sem cairdes no extremo da fatuidade. Achareis nestas coisas um auxílio
para vos colocardes numa corrente de poder e êxito relativos.
Se vossa bolsa não garante agora tais despesas ou pensais que ela não as garante, começai a viver
assim mentalmente. Isto vos fará dar o primeiro passo nesta direção. As pessoas que triunfam no plano
financeiro vivem inconscientemente de acordo com esta lei.
O desejo certamente levará alguns por este caminho, porém há outra força e fator que também os
impele. Ela é uma sabedoria da qual suas mentes materiais têm pouca consciência; é a sabedoria do
espírito que lhes ensina a entrar na corrente mental dos que triunfam, sendo levados por ela ao êxito.

108 Prentice Mulford


Este não é um triunfo perfeito, porém, em si mesmo, é bom. Se nossas mentes, por uma falsa eco-
nomia, estão sempre dirigidas para coisas baratas, — casas, alimentos e vestuários de baixo preço, —
entramos na corrente mental dos barateiros, relaxados e tímidos.
Nossas ideias sobre a vida e nossos planos serão influenciados e desviados por elas. Ela paralisará
a coragem e os empreendimentos baseados no antigo adágio: “Quem não arrisca, não petisca.” Absor-
vido por esta corrente e tendo-a a agir sempre sobre vós, ela é logo sentida quando entrais em contato
com os homens de êxito e os faz se afastarem de vós. Eles sentem em vós a falta deste elemento que
lhes dá relativo êxito. Ela age como uma barreira, impedindo que a sua simpatia flua para vós. A simpatia
é um fator importante nos negócios. Apesar da oposição e da concorrência, uma certa corrente mental
de simpatia une uns aos outros, aqueles que triunfam.
A mania da barateza está na corrente mental de medo e insucesso. As correntes mentais de medo
e insucesso e as correntes de coragem e êxito não se misturarão nem reunirão os indivíduos que se
acham nos respectivos planos mentais. Elas são contrárias e, entre as duas classes de mentalidades,
há uma barreira mais impenetrável do que se fosse feita de pedra.
Vivei completamente numa ideia e entrareis na corrente mental daqueles que a levam ao extremo.
Não há reformas a não ser no exagero das coisas, do que resultam prejuízos para os que assim proce-
dem, colocando a razão e o juízo de um só lado.
Daí provêm os fanáticos, beatos, originais e lunáticos — pertença a ideia a uma arte, estudo, ciên-
cia, reforma ou movimento qualquer. Assim as pessoas extremas se relacionam numa corrente mental,
seja qual for a especialidade delas. Tais pessoas, muitas vezes acabam por se tomar furiosos inimigos
de tudo o que delas difere, e com este ódio gastam forças para arruinar a si mesmas. O lado seguro está
no pedido diário da corrente mental de sabedoria da Mente Infinita.
Quando esta sabedoria for mais invocada, nossas reformas e organizações para o bem comum não
resultarão em discussões internas, logo após serem concluídas. Como elas são feitas agora, a corrente
mental de ódio e antagonismo ao opressor e monopolizador é admitida desde sua origem. Esta mesma
força alimenta questões e dissensões entre os membros. É uma força empregada para derrubar em vez
de edificar, é como tirar o fogo empregado para produzir vapor nas caldeiras e espalhá-lo através do
edifício.
Quando as pessoas se reúnem e manifestam, pela conversa, sua má vontade para com os outros,
estão atraindo para si, com um poder dez vezes maior, uma prejudicial corrente mental. Assim acontece,
porque quanto mais mentalidades se unem para qualquer fim, mais poder atraem para este fim. A cor-
rente mental atraída desta forma pelos que se queixam continuamente, se lastimam e preocupam com
coisas escandalosas, prejudicará seus corpos.
Todo pensamento conservado muito tempo na mente se materializa no corpo. Se vivemos sempre
pensando e falando nas imperfeições das pessoas, estamos atraindo sempre essa corrente e assim
incorporando-as em nós mesmos.
Dissemos, em volumes precedentes, que a palavra cria força e que quanto mais forem os que
conversam em simpatia, maior é o volume e poder da corrente mental gerada ou atraída para o bem ou
para o mal.
Um grupo de desocupados que nunca pode reunir-se sem comentar as faltas dos ausentes, está
pondo inconscientemente em ação uma lei que lhes trará terríveis resultados.
A crítica é atraente; há uma hilaridade no escândalo e na crítica das faltas de nossos amigos ou
inimigos, quase igual à que provém da bebida, porém, no final, pagamos muito caro por estes prazeres.
Se duas pessoas tivessem de encontrar-se em intervalos regulares e falar de saúde, energia e vigor
do corpo e da mente, abrindo, ao mesmo tempo, suas mentes para receber do Supremo a melhor ideia
sobre os meios de alcançar estas bênçãos, atrairiam para si uma corrente mental de tais ideias. Se estas

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 109


pessoas conversarem em tempo e lugar determinado, tendo prazer nestas conversas que sejam natu-
rais e não forçadas, se puderem realizá-las sem controvérsias e entrar nelas sem ideias preconcebidas e
sem que a menor ponta de censura nelas penetre, ficariam admiradas, ao terminar o ano, dos resultados
benéficos auferidos pela mente e o corpo. Assim fazendo e reunindo-se com um pedido silencioso para
obter do Supremo a melhor ideia, atrairão para si uma corrente de força vitalizadora.
Que apenas duas pessoas comecem, pois não é fácil de encontrar-se mesmo duas pessoas que
se achem no perfeito acordo necessário para obter resultados. O desejo destas reuniões deve ser es-
pontâneo e não deve haver outro motivo que possa fazer obstáculo à mais alta corrente mental do bem.
O antigo sistema de reunião com um campo apropriado para ela, por meio da ação combinada e ao
desejo de numerosas mentes, produzia uma corrente mental de que resultava o fervor e entusiasmo que
as caracterizava. Os índios norte-americanos entregavam-se freneticamente às suas danças guerreiras
por uma lei idêntica. Pela força de desejos unidos, eles atraíam uma corrente mental que os estimulava
e até os intoxicava. Seu único desejo era entregar-se a esta intoxicação mental e quanto maior número
de mentalidades agia nesta direção, mais depressa vinha o resultado.
O orador real, em seu esforço, atrai uma corrente de pensamento que, sendo-lhe reenviada pelos
assistentes, o anima. O mesmo se dá com os atores inspirados: atraem um elemento mental elevado e
poderoso, primeiramente para si, e este fluindo através deles, age sobre a assistência.
Se muito vos preocupardes com as vossas próprias faltas, pelas mesmas leis atraireis cada vez
mais correntes da mesma natureza e assim aumentareis as faltas. Basta reconhecerdes em vós mesmos
estas faltas. Nunca digais de vós mesmo: “Sou fraco, covarde, nervoso ou imprudente”. Deveis atrair
para vós mesmo, de preferência, a corrente mental de força, coragem, calma, prudência e todas as
outras boas qualidades. Conservai na mente a imagem destas qualidades e as tornareis parte de vós
mesmos.
Muitas vezes ficais absorto, preocupado e até aborrecido, durante dias, ao pensar no terno que
precisais comprar, no corte, na cor, no modelo, na escolha do chapéu ou da gravata, até que, finalmen-
te, não sois mais que roupa, chapéu, gravata ou outro qualquer acessório de vossa vida. Podeis não
conseguir estabelecer o que haveis de comprar, ficando assim, mentalmente, indeciso durante dias.
Entrastes, então, na corrente mental de milhares de outras mentes que continuamente vivem nesta dis-
posição mental.
O meio mais certo para uma jovem se tornar feia é ser descontente, egoísta, invejosa e dada à quei-
xa dos outros, pois neste estado mental ela está atraindo para si a substância invisível do pensamento,
que age sobre o corpo e o prejudica. É ele quem arruina a compleição, faz as linhas e sulcos do rosto,
dá agudeza ao nariz e, em tempo muito curto, transforma a face da juventude na de sua fealdade.
Não estou pregando moral ou dizendo: “Não deveis fazer assim.” É apenas questão de causa e
efeito. Se colocardes o vosso rosto no fogo, ficará queimado e desfigurado por causa de um elemento
que age sobre ele. Colocai vossa mente no fogo da má vontade, da inveja, do ciúme, e ela também fi-
cará queimada e desfigurada, por causa de um elemento tão real como o fogo, porém invisível, que age
sobre ela.
Todas as coisas más e imperfeitas, tais como desagradáveis características nos outros, coisas de-
sagradáveis que vemos ou ouvimos, devem ser postas fora de vossa mente com a maior brevidade pos-
sível. Pelo contrário, se demorardes nelas, atraireis suas correntes mentais. Elas se tornarão, então, per-
manentes moldes espirituais que, com o tempo, se materializarão nas correspondentes formas físicas.
Se conservarmos sempre na mente a pessoa que faz um erro, tornamo-nos inclinados a fazê-lo também.
Procuremos, pois, com o auxílio do Poder Supremo, entrar na corrente mental de coisas sadias,
naturais, fortes e belas. Procuremos evitar pensamentos de doenças, sofrimentos ou defeitos. Um cam-
po de cereais ou o movimento das vagas são melhores para contemplar-se do que os horrores de um

110 Prentice Mulford


acidente de estrada de ferro. Não sabemos quanto somos deprimidos física e mentalmente pela in-
cessante galeria de horrores que nos prepara a imprensa diária. Na sua leitura, atraímos uma corrente
mental repleta de coisas e imagens de horror e sofrimento. Desta forma, nos colocamos em relação e
em uníssono com todas as outras mentes mórbidas e doentias que vivem nesta corrente que nos leva
para a doença e a morte.
Nem vós nem os outros tiram proveito de saberem de todos os incêndios, explosões, assassinatos,
roubos e crimes que os jornais noticiam diariamente. Se lermos livros escritos por mentalidades cínicas
e sarcásticas, que se acham tão viciadas que só vêem faltas e são incapazes de ver o bem, atraímos
para nós suas doentias correntes de pensamento e nos unimos a elas.
A seta da malícia e do sarcasmo é mortal para quem a emprega ou, por outras palavras, o homem
que está atraindo o desassossêgo, a doença e o infortúnio, sem dúvida os receberá e, quando muito nos
preocupamos com coisas idênticas, preparamos os mesmos resultados para nós.
Podeis ser cuidadoso e metódico no vestir, exato e correto em vosso trabalho, porém se vos as-
sociardes aos que não o são, notareis em vós uma tendência ao desleixo e descuido, havendo certa
dificuldade em voltardes a ser metódico e cuidadoso. Isto acontece, não só porque absorvestes pen-
samentos das mentes descuidadas e que têm falta de paciência para fazer as coisas com calma, mas
também recebestes os fragmentos mentais que assim estão agindo como magneto para atrair-vos cor-
rentes mentais da mesma natureza.
Quando um mal é conhecido, já está em princípio de cura. Não vos esqueçais que, quando vos
achais num estado mental desagradável, é uma corrente mental desta natureza que está agindo sobre
vós. Não vos esqueçais que então sois como alguém que estivesse ligado por um fio elétrico a muitas
outras mentes mórbidas que produzissem pensamentos desagradáveis e os enviassem aos outros.
A primeira coisa a fazerdes é pedir para sairdes desta corrente de maus pensamentos, pois não o
podereis fazer somente pelo vosso próprio esforço. Deveis pedir ao Supremo Poder que a afaste de vós.
Podemos atrair cada vez mais a corrente mental de coisas que são vivas, brilhantes e divertidas.
A vida deve ser de alegria, pois a seriedade contínua é apenas um grau superior à tristeza e à melan-
colia. Milhares de pessoas vivem demasiado na corrente mental de seriedades, muitas nunca se riem e
aquelas que o fazem é por escárnio. Algumas há, até que não sabem mais sorrir e se ofendam quando
vêem os outros se rirem.
As doenças são alimentadas e fortalecidas pela tristeza da disposição mental. O hábito fortalece
continuamente a disposição de pensar na doença, o que a princípio será coisa de pouca importância.
As pessoas, porém, tanto penetram nesta corrente, que terríveis doenças resultam de uma pequena
irritação em alguma parte do corpo.
Muitas coisas materiais são úteis para afastar uma corrente mental que está agindo de modo de-
sagradável sobre vós. Podem apresentar-se diariamente diversos episódios desagradáveis, parecendo
estarem ligados às ocupações diárias de vossa vida. As refeições, o vestuário, a conversa e até as pes-
soas que vos rodeiam parecem despertá-los.
As viagens os destroem completamente. A vista de panoramas e objetos diferentes afasta esta
corrente de pensamentos. Os remédios materiais também podem produzir temporariamente o mesmo
resultado, da mesma forma que qualquer mudança repentina de vida ou ocupação. Tudo isto, porém, é
secundário ao Supremo Poder.
A corrente mental do medo está em toda parte. Toda a humanidade teme alguma coisa, a doença,
a morte, a perda de fortuna, a perda de amigos ou de alguma coisa qualquer. Cada um tem seu temor
próprio, que se estende até às coisas mais triviais da vida. As ruas estão cheias de pessoas que, se não
têm outros temores, receiam ao menos não encontrar um lugar no primeiro carro.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 111


Quanto mais sensível fordes à impressão dos pensamentos, mais facilmente podeis ser afetado por
esta corrente de medo, enquanto vosso espírito, por um constante pedido ao Supremo Poder, não cons-
trua para si uma trincheira de pensamentos positivos a esta corrente e que a impeça de chegar a vós.
Podeis começar esta construção quando fordes afetado por esta forma ou de um modo desagradável,
dizendo: “Recuso-me a aceitar este pensamento e o estado mental que ele me trouxe para afetar meu
corpo.”
Começais, assim, a repelir a corrente mental do mal.
Todos têm algum temor especial — temem alguma doença que nunca lhes virá, alguma coisa que
receiam muito perder. Alguma ninharia, até mesmo uma palavra de outrem, desperta na mente este
medo. Devido ao longo hábito, a mente volta instantaneamente a este temor, abre-se a ele e o pensa-
mento completo, ou a corente, penetra nela e produz seu efeito. Esta age e vibra na corda particular
de vossa natureza que, durante anos, ressoou às vossas fraquezas. Então, o corpo é afetado desagra-
davelmente de qualquer forma, resultando daí milhares de sintomas. O corpo pode tomar-se fraco e
trêmulo. Pode haver perda de apetite, tremor, secura da língua, mau gosto na boca, fraqueza das juntas,
sonolência, dificuldade de concentrar a mente nos negócios e muitas outras sensações desagradáveis.
Esses sintomas, muitas vezes, são classificados como malária ou impaludismo. Em certo sentido, o
nome é correto. Somente o que acontece é que na maioria dos casos é uma má atmosfera ou corrente
que está agindo sobre nossas mentes, em vez da suposta má atmosfera física.
Sem dúvida, uma atmosfera cheia de decomposição vegetal ou animal afetará muitas pessoas.
Todavia, muitos vivem durante anos, no meio de brejos e águas estagnadas sem ter malária, ao passo
que outros que se achem longe desses lugares, em terras altas e secas, são atacadas por esse mal. Isto
provém de termos recebido uma corrente mental de medo. Colocai-vos numa casa em que houve recen-
temente susto e pânico, sem que saibas do sucedido. Levantai-vos pela manhã e logo este conjunto de
sensações desagradáveis vos afetam, porque o lugar está saturado de uma corrente mental de medo.
Despertai numa cidade o medo de uma epidemia ou de alguma grande calamidade e milhares dos mais
sensíveis, que não terão o medo delas, serão também afetados desagradavelmente. Esta corrente men-
tal os afeta em seus pontos fracos.
Um fanático prediz alguma grande catástrofe, os jornais amantes de notícias de sensação tomam
nota do caso, publicam-no, procuram ridicularizá-lo, porém escrevem sobre ele. Isto leva muitas menta-
lidades a pensar e a falar dele. Quanto mais falam, mais produzem forças prejudiciais. Resulta daí que
milhares de pessoas são afetadas por ela de modo desagradável, umas de uma forma e outras de outra,
porque o conjunto de forças desta corrente de medo é desejado sobre elas. Muitos morrem disso. To-
talmente ignorantes da causa, abrem cada vez mais a mente para ela, permanecem secretamente nela,
não emitem pensamentos de resistência, até que, afinal, o espírito, incapaz de continuar com este fardo,
corta os laços pelos quais está preso ao corpo.
Quanto mais impressionável fordes aos pensamentos que vos rodeiam, mais estais em perigo de
serdes afetado assim.
Porém, podeis adestrar vossa mente a repeli-los, podeis prepará-la gradualmente a fechar esta
entrada para a fraqueza e conservar aberta só a da força. Podeis fazê-lo, cultivando o modo de atrair
a corrente de pensamentos que vem de Deus ou do Supremo Poder do Bem e de vos conservar nela.
A impressionabilidade ou a capacidade de receber pensamentos é uma fonte de vigor ou de fra-
queza. As mentes mais sensitivas, desenvolvidas e elevadas de hoje, muitas vezes, têm os mais fracos
corpos, porque, devido à ignorância, estão sempre atraindo alguma destas correntes do mal, sem co-
nhecerem sua existência ou os meios de afastá-las. Eles rodeiam ingênuamente estas correntes e se
expõem a elas. As inconvenientes associações individuais são uma das principais fontes de exposição.

112 Prentice Mulford


A delicada organização feminina é mais sensível a toda espécie de pensamento que a rodeia, bom
ou mau. Os homens, absortos em seus negócios, produzem durante algum tempo certa positividade
que repele a corrente de medo, porém esse estado positivo não pode durar sempre.
Por esta razão, as mulheres, na intimidade do lar, sofrem muito mais do que o homem julga. Em ge-
ral, o homem chama isto de capricho feminino e se admira porque ela é tão nervosa, fantástica e doentia.
À medida que colocais vossa confiança na Mente Infinita para vos libertardes destes agentes do
mal, esta Mente vos fornecerá auxílios materiais para vos ajudar a ficar livre. Esta Mente vos sugerirá re-
médios, alimentos, meios e mudanças que não só vos ajudarão temporariamente, mas também de modo
permanente, de forma que, desde que fiqueis curado, isto se dará para sempre.
Uma mentalidade alegre, expansiva e esperançosa (nenhuma mentalidade é mais alegre, esperan-
çosa e expansiva, sem estar mais próxima do Infinito, do que aquela que é desanimada e triste), seja a
de vosso médico ou amigo, vos ajudará melhor a sair desta prejudicial corrente mental.
Considerai esta corrente como um auxílio do Infinito, porém, não depositeis uma confiança absoluta
nesse indivíduo. Colocai toda a confiança no Supremo Poder que vos enviou um indivíduo como auxílio
temporal, até que vossas forças espirituais vos permitam andar por vós mesmos.
Quanto mais penetrais na corrente mental proveniente da Mente Infinita, tornando-vos, cada vez
mais, parte íntima desta mente (exatamente como podeis tornar-vos parte de uma fonte de pensamentos
inferiores, mórbidos e doentios, abrindo-os a esta corrente), mais rapidamente sereis renovado física e
mentalmente.
Vós vos tomareis continuamente um ser novo, havendo rápidas mudanças para melhor aumento de
vosso poder de conseguir resultados.
Perdereis também, gradualmente, o medo, porque vos será cada vez mais provado que, quando
estais na corrente mental do Infinito Bem, nada há para temer.
Compreendereis, então, que há um grande poder que cuida de vós. Ficais admirado pelo fato de
que, quando vossa mente segue a direção reta, tudo vos vem com pouquíssimo esforço físico ou exter-
no.
Ficais, então, admirado da trama e da luta dos homens, arrastando-se para a morte, quando, por
este esforço excessivo, afastam de si o bem perfeito da saúde, felicidade e prosperidade material ao
mesmo tempo.
Vereis, nesse pedido do mais alto bem, que estais alcançando poderes muito além do que so-
nhastes. Ele vos provará que a vida real, destinada aos poucos que se despertam agora, e, no futuro, a
muitos, é um sonho encantado, uma realização permanente de que a existência é uma felicidade, uma
serenidade e um contentamento sem cansaço, uma transição de um prazer para outro ainda maior.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 113


CULTIVEMOS O REPOUSO

O
repouso é uma qualidade que pode ser cultivada e alcançada gradualmente, fazendo-se a men-
te fixar nele. Fixai a palavra em vosso cérebro; gravai-a nele ou em algum objeto de vosso uso.
Precisai tê-la na mente, deveis plantá-la ali para que cresça, pois assim criará raízes e se de-
senvolverá.
À medida que ela cresce, apesar de milhares de insucessos, achareis vosso proveito. Tereis de
corrigir-vos muitíssimas vezes de atos precipitados; porém, cada correção vos fará dar um passo, por
menor que seja, para a frente. Se ficais aborrecidos pelos vossos insucessos, melhor ainda porque é
sinal que conheceis os vossos defeitos.
É também um exercício em que deveis aprender sempre por vós mesmos. Pode ser praticado des-
de que vos levanteis pela manhã, ao se vestir, ao andar, ao comer, ao abrir e fechar as portas. Nenhum
ato está fora dele ou lhe é superior. Cada ato assim vos deixa sua pequena porção de capital, até que o
hábito se toma uma segunda natureza e o ensino forçado se transforma em involuntário.
Há uma lei que produz o bom sono da infância. Há outra lei que govema o mau sono, tão comum na
meia-idade, se não antes. A lei govema tudo. Uma lei governa a mina de uma construção, a decadência
de um corpo ou de uma planta, assim como o seu desenvolvimento sadio.
À noite, não deixamos o nosso Eu real permanecer em descanso. Apenas o corpo, instrumento que
empregamos no domínio material da expressão, deixamos permanecer em descanso para revigorar-se.
Quando o espírito adquire novas forças fora do corpo, como deve dar-se, ele volta com estas forças
para agir sobre o corpo, de manhã, se alcançarmos a melhor condição de sono. Existem duas espécies
de sono: um bom, que fortifica e refresca o corpo, e um doentio e desassossegado, do qual o corpo
desperta com pouquíssima força.
Quando estais desperto, vosso espírito ou pensamento está em ação sobre o corpo e o emprega.
Se estiver sempre em ação, ele logo cansa o corpo, como acontece com a insônia.
À medida que entrais na corrente da Infinita Mente, vereis que não vos é necessário um trabalho
exaustivo, porém que, quando vos entregais com confiança a esta corrente e deixais que ela vos leve
para onde quiser, tudo o que precisardes vos virá.
Ao penetrardes na verdadeira corrente mental, por algum tempo, sentireis mais desconforto físico e
mental do que até então. Isto provém de que o novo elemento que age sobre vós vos torna mais sensi-
tivo à presença do mal; o novo está expulsando o velho.
A nova corrente de pensamento descobre e detém todo o erro em vossa mente que, anteriormente,
vos passava despercebido e o repele. Isto produz uma luta que afeta, por algum tempo, a mente e o cor-
po. É como o ato de varrer uma casa, que produz muito pó e perturbação. O novo espírito que penetrou
em vós está varrendo vossa casa espiritual.
Não há limite ao poder da corrente mental que podeis atrair e nem limites às coisas que podem ser
feitas por ele através do indivíduo. No futuro, algumas pessoas atrairão tão grande quantidade de pen-
samentos superiores que, por meio deles, realizarão o que alguns chamariam milagres.
Na capacidade que a mente humana tem de atrair para si uma corrente mental sempre crescente
em firmeza de qualidade e em poder está o segredo do que foi chamado magia.

114 Prentice Mulford


Quando dormis, vosso espírito ou pensamento ainda age, pensa e trabalha, porém fora do corpo.
Ele pode agir, assim, num plano mental sadio ou doentio. No primeiro caso, enviará ao corpo elemento
mental sadio para revigorá-lo. Se for para um plano doentio, só enviará ao corpo elemento desta natu-
reza.
A sua ida para um plano espiritual sadio ou doentio depende inteiramente de vosso estado mental,
ao retirar-vos para dormir. Se o sol se põe sem abrandardes vossa ira, irritabilidade ou ódio aos outros,
durante a noite, a vossa mente continuará a enviar ao corpo o elemento doentio de ira, ódio e irritação.
Se, por exemplo, vosso espírito estiver desanimado, aborrecido e sem esperança, ele enviará ao corpo
a mesma qualidade de elemento.
Quando pensais, estais trabalhando ou fazendo esforço e, ao deitar-vos, não deveis fazer absolu-
tamente nada.
Em muitos casos, quando nos deitamos, a mente se toma mais ativa do que antes e fica repleta
de planos, projetos, ansiedades e aborrecimentos. Isto cansa o corpo e produz desassossego e horas
de insônia. A mente é, então, mais ativa, porque se acha momentaneamente afastada de todo esforço
corpóreo.
Deveis fazer vossa mente abandonar todo pensamento, ao deitar-vos, e pensar só no repouso. An-
tes de adormecerdes, conservai na mente a palavra repouso. A palavra traz a ideia de descanso, que
gradualmente mudará a atitude e a direção de vosso pensamento e vos trará elementos de descanso. A
princípio podereis não conseguir alcançar o sono imediatamente, pois tereis de vencer o hábito mental
de anos; todavia, aos poucos, o conseguireis, se perseverardes. Talvez sejam necessários meses até
chegardes a resultados apreciáveis.
Contudo, desde que tenhais vencido a insônia, não mais tereis de trabalhar para isso. De um mo-
mento para outro, não podeis mudar qualquer hábito mental, que talvez provenha de anos, da mesma
forma que não podeis mudar logo um hábito do corpo, um modo qualquer, um andar, uma expressão
de linguagem.
Se, por uma razão qualquer, vossa mente estiver muito perturbada, durante o dia, ela enviará à noi-
te, ao corpo inconsciente ou à existência física inconsciente, o mesmo elemento perturbador.
A disposição mental predominante em vosso estado de vigília é a que ocupará vossa mente durante
o sono.
A mente nunca dorme, como a eletricidade e o elemento que o sol nos envia (a causa da luz e do
calor, quando chega a este planeta) também não o fazem.
A criança é um espírito que vem a esta vida física com um novo corpo. Felizmente, falta-lhe a me-
mória de todas as perturbações da sua existência anterior. É necessário, no nosso estado imperfeito e
de tão pouco poder para governar as nossas mentes e desviá-las das coisas desagradáveis, que não
saibamos o que sofremos no passado. Se o soubéssemos, teríamos de começar à idade de dois anos
com as perturbações que tivemos aos setenta, na existência anterior.
Até certa idade, a criança tem perfeita confiança em seus pais sobre o fornecimento de alimentos,
roupa e residência. Quando ela começa a trabalhar por si mesma, surge a perturbação que vai com ela
ao leito. Não confia, então, em ninguém, sendo talvez esta a causa de toda sua perturbação e insônia.
Pouco ou nenhum valor tem o dizer-se: Confia em Deus, porque também o dizem as pessoas que
não confiam em Deus, mas em seus próprios esforços físicos, relativamente fracos, ou na fraca e imper-
feita razão que se apóia em coisas inteiramente físicas.
Quando Cristo mostrou a criancinha confiante e tranquila aos anciãos da Judéia, que, talvez, esta-
vam preocupados e aborrecidos e lhes disse: “A não ser que vos tomeis mentalmente livres de cuidados
como esta criancinha e aprenderdes a confiar, em todas as vossas necessidades, na Infinita Força Oni-

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 115


presente ou Pai, não podereis entrar no Reino dos Céus” (que é um reino inteiramente mental), ele quis
dizer que o pensamento humano, sendo fixo persistentemente numa coisa ou fim, porá em movimento a
força invisível que realizará este objetivo e que é a Infinita Força ou Deus, agindo por nosso intermédio.
Ele quiz dizer que, se tiverdes um vivo desejo de fazer alguma coisa que vos beneficiará e aos outros
ou ser alguma coisa no domínio da Arte — orador, escritor, ator, pintor ou inventor — o desejo vivo e
persistente é a grande Força invisível que parte de vós como partícula de Deus ou do Infinito Poder go-
vernador de tudo, para vos conduzir ao êxito.
Mostrou que quanto mais confiais neste desejo, depois de terdes feito planos e esforços razoáveis
para os resultados materiais, deixais de lado as preocupações e cuidados a respeito deles, maior será
a Força realizadora que age para vós.
Quando disse: “Vinde a mim todos vós que estais sob um pesado fardo e eu vos darei descanso”,
quis dizer: – Vinde a mim, que represento esta grande e incompreensível Lei da Natureza.
Se aqui estivesse agora, ele diria, para dar exemplo da Lei: “Tenho na mente uma coisa a fazer.
Confio no forte desejo de fazê-la. Peço sabedoria para dirigir meus atos. Emprego meu corpo na ação, à
medida que o Espírito me dirige. Se não posso ver claramente o caminho, ainda assim confio no desejo
ou poder do Infinito de que sou parte, sabendo que a Força que pus em movimento está trabalhando
para mim dia e noite. Quando me deito para dormir, faço-o com uma perfeita confiança e Fé que esta
Força alhures me adiantará na realização de amanhã, como a criancinha confia em que seus pais a
sustentarão no dia seguinte.
Em tal confiança e Fé, o espírito deixa o corpo e vai a algum plano em que há mais confiança, Fé,
conhecimento, prova e compreensão das Leis e de lá envia, pelo fio que o prende ao corpo adormecido,
cada vez mais elementos mentais de confiança, Fé, poder e descanso.
Quando adquirirmos esta confiança e Fé, como o faremos por meio de mais provas da realidade do
poder em que se baseia, teremos alcançado o mais importante para um sono sadio. O desejo incessan-
te de possuir esta confiança terá de trazê-la.
O elemento que o sol nos envia é a força que dá vida a todas as formas do que chamamos matéria
orgânica em nosso planêta. Agindo sobre a vida da semente que está na terra, dá-lhe uma nova força
que a desenvolve em vida nova.
Nosso corpo tem mais força pela manhã, porque então o calor da força solar nos chega. Nosso
espírito absorve esta força e o vigor assim dado ao espírito é comunicado ao corpo.
À tarde, a parte da terra em que habitamos se afasta da força solar e ela não mais nos afeta como
de manhã. Por esta razão, há menos força e vigor na mente e no corpo durante esta parte do dia.
É por esta razão também que, na maioria das aves e animais, há tendência para descansar o corpo
à noite. A noite é o tempo de descanso do corpo por causa da ausência do elemento emitido pelo sol,
que é o grande estimulador de vida de todas as coisas neste planeta.
Estamos mais de acordo com a Lei Natural, quando fazemos o trabalho que exige mais esforço,
pela manhã. Tiramos, então, o maior proveito da Força que vem à Terra. À tarde é melhor deixar a mente
recrear-se em coisas agradáveis, permanecer em reflexão e qualquer trabalho que não exija grande
esforço, pois, neste estado mental, estamos facilitando à mente o cessar de agir sobre o corpo, quando
nos deitamos.
As pessoas trabalham por muitas formas à tarde e realizam muitas coisas, porém, no fim, pagam
caro. Elas fixam tanto seus pensamentos em um negócio ou numa só linha de esforço, que lhes é im-
possível sair deste círculo vicioso. A mente permanece nas mesmas ideias, tanto durante o sono, como
no estado de vigília.

116 Prentice Mulford


O maior descanso se obtém pela mudança de linha de esforço. Trazer um negócio ou estudo con-
tinuamente no pensamento, durante o dia e à noite, não é realmente o meio de fazê-lo progredir tanto
como esquecendo-o em intervalos e deixando a mente descansar, como o fazeis com os vossos múscu-
los, depois de qualquer exercício físico.
A mente que descansa adquire novas ideias e novas forças para realizá-las. Uma nova ideia mere-
ce sempre ser esperada. Porém, se o negócio e o trabalho são contínuos durante a última parte do dia e
durante a noite, como geralmente se faz agora, a mente, embora o corpo esteja em condições de des-
cansar, não pode, ao menos com facilidade, desprender-se completamente dos pensamentos e, mesmo
quando ela o faz e os sentidos físicos do corpo se tornam inconscientes, a outra parte, a dos sentidos
espirituais, continua a trabalhar na mesma linha de ação.
Pouco ou nada ganhamos com isso. Enviamos ao corpo somente ideias passadas e de segunda
mão, que são vida de segunda categoria. Pela manhã tomamos novamente posse do corpo para em-
pregá-lo, com as mesmas espécies de pensamentos, opiniões, planos e aborrecimentos do dia anterior,
porque, quando o corpo ficou inconsciente, nosso espírito foi para o mesmo elemento mental para cujo
plano foi dirigido ao fecharmos os olhos.
Qual é o remédio? — Mais recreação. Mais variedade de ocupação. Menos monotonia em nossa
vida. Mais personalidade em nossa pessoa.
Para alcançarmos a mais alta e feliz existência, devemos ter duas, três ou mais vidas numa só. Ser
comerciante pela manhã, artista ou outra coisa qualquer à tarde, e em cada uma destas ocupações es-
quecer totalmente a outra, descansando assim as faculdades que com ela se relacionam, recuperando-
-as e refrescando-as, para, no dia seguinte, voltar aos negócios, arte ou ciência com mais força e ideia,
como fazem muitos dos mais prósperos comerciantes, que deixam seus escritórios muito cedo e vão
divertir-se.
Se dormirdes com outra pessoa cuja mente esteja mais perturbada que a vossa, que se ache abor-
recida, irritada ou desanimada, vosso pensamento estando mais ou menos dirigido para ela, acontecerá
que, à noite, o vosso espírito será atraído para o plano mental inferior desta pessoa.
Sereis, então, presos ao plano inferior da vida noturna desta pessoa. O vosso espírito não absorve-
rá, então, os elementos sadios que devia receber se dormísseis só. Ele envia, portanto, ao vosso corpo
o elemento mental mais perturbado da outra pessoa. Acontece também que, ao voltar ao seu corpo, o
vosso espírito se acha mais ou menos embaraçado com os elementos que absorveu do pensamento de
outra pessoa, e tem muito menos poder para agir sobre seu corpo.
O prejuízo que resulta para uma pessoa jovem, ao dormir com outra idosa, dá-se quando a mente
da última está abandonando a vida, tomando cada vez menor interesse nela, considerando-se, erro-
neamente, demasiado idosa para aprender, pensando que, por estar cansado o corpo, a vida vai-se
embora. Toda a vida que a pessoa mais nova adquire pela sua ida a um plano novo de pensamento é,
em parte, absorvida pela outra, que assim, inconscientemente, se apodera do estímulo da mais moça.
Tende em mente que a nossa juventude real não depende da idade do corpo, que a juventude
indica incessantemente vigor e atividade mental, e cada vez mais aspirações, e que é possibilidade
certa para a vida futura deste planeta que este estado mental, se nos firmarmos nele, constantemente
revigorará e rejuvenescerá o corpo.
O corpo tem certa vida própria, separada do espírito, de que é instrumento. Como uma planta, tem
sua juventude, madureza e velhice. Sua vida física no período juvenil é um auxiliar à vida e vigor do es-
pírito. Esta vida física auxilia o vosso espírito como um remédio material fornece certa força ao espírito
para vencer a doença ou fraqueza.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 117


Porém, o auxílio do corpo, neste ponto, apenas dura por algum tempo, se não for renovado pelo
poder da mente ou espírito, e não havendo conhecimento deste poder de renovação, o corpo, como
construção material semelhante a outra qualquer, terá de arruinar-se.
Há muita crença inconsciente em falsidade. Ireis notando continuamente que, durante toda esta
existência física, acreditais implicitamente em alguma falsidade. Nunca pusestes em dúvida a verdade
dela e nem vos veio a ideia de a investigar. Ficareis surpreendido com o número de erros em que acre-
ditais, à medida que eles aparecem.
A vossa crença inconsciente tomou estas falsidades onipotentes no que se refere aos seus efeitos
em vossa vida. Se viverdes crendo firmemente num erro, ele será uma mancha qualquer em vossa vida.
É esta crença firme em falsidade que produz toda espécie de doença ou perturbação para a nossa raça.
“A verdade vos fará livres”, diz a Bíblia, livres de todos os sofrimentos e perturbações.
Desde que começais a duvidar da verdade destas ideias falsas, tanto tempo acatadas, o reino de-
las está para acabar. Vêm, então, as perturbações que resultam de sua expulsão de vossa mente.
Na infância podeis ter aprendido a crer num espantalho de qualquer espécie. Podeis ter receado
andar no escuro por causa disso, acreditando implicitamente nele durante algum tempo. Com a idade,
duvidais disso e, por fim, deixais de acreditar nele, na forma em que vos foi apresentado.
Quando acreditáveis firmemente no espantalho, o pensamento dele, ao achar-vos só, na escuridão,
vos causava desagradáveis sensações físicas. A vossa carne se arrepiava, vosso cabelo se eriçava e
ficáveis abatido e trêmulo, isto é, ficastes um tanto adoentado pelo pensamento de uma coisa que não
tinha existência.
Se alguma pessoa irrefletida, para assustar-vos, simulou um lobisomem ou fantasma, o vosso corpo
certamente foi ainda mais afetado. A perturbação física devia ter sido maior. Podeis ter corrido risco
de morte ou de loucura, como tem acontecido com crianças em circunstâncias idênticas. Assim é que
podeis ter perdido o corpo ou a razão por causa da ideia de uma coisa que não tinha existência real.
Os espantalhos, acreditados firmemente por pessoas crescidas, agem sobre o corpo de um modo
semelhante. Uma falsa ideia em relação ao esforço do espírito para regenerar o corpo torna este esforço
um espantalho, que, por fim, age sobre a mente para destruir o corpo.
O espírito pede descanso do corpo e precisa toda sua força para construí-lo novamente. Ele faz
este pedido ao diligente homem de negócios, que trabalhou ativamente durante anos. O pedido pode
vir na forma de cansaço ou qualquer espécie de inatividade.
À medida que o processo regenerador prossegue, devemos nos tornar mais naturais em nossos
hábitos e modos de vida. Em todas as coisas naturais, nos animais e vegetais, não cultivados pelo
homem, encontramos a mais perfeita expressão da infinita mente, embora eles não sejam expressões
aperfeiçoadas. Nada no universo é perfeito e acabado. Tudo progride sempre em perfeição e este de-
senvolvimento deve ser como deseja a Mente Infinita e não como quer o homem.
Quando o homem se afasta do natural, cria imperfeições e deformidades. No pássaro selvagem e
no amestrado, vemos a diferença que há entre a vida artificial e contrária à natureza e a vida natural e
sadia. O pássaro selvagem é como Deus o fez. Desde que o homem se preocupou com ele, privou o
pássaro de força, agilidade beleza e inteligência.
Inteligência, instinto e espiritualidade são a mesma coisa. Indicam um conhecimento, recebido não
de livros, mas da Mente Infinita. Este conhecimento, em maior ou menor grau, está em todas as formas
da matéria. Está no mineral, na planta, no animal e no homem, mas não é igual em todos os homens.
Em nenhum homem atual ele existe tanto como existirá no homem futuro, sendo dado a este um
tal grau que ele se tornará imortal. Este homem conseguirá uma felicidade e uma paz tão inutilmente
procuradas hoje e tão raramente encontradas. Ele alcançará uma felicidade não sonhada ainda, felici-

118 Prentice Mulford


dade que será sempre crescente, porque verá claramente que existe uma força inesgotável, a mente e
a sabedoria que se manifestam em tudo e nele mesmo, e que tudo o que tem a fazer para alcançar uma
felicidade crescente é confiar neste poder do bem, entregar-se a ele para ser levado de um estado de
prazer a outro melhor ainda.
Fizeram todas invenções e progressos da civilização mais feliz e sadia a nossa raça? Não é a luta
pela existência tão pesada como o era há cem ou mil anos atrás? Não continuam as doenças e os sofri-
mentos por toda parte? Não há, por toda parte, preconceitos, contrariedades e aborrecimentos?
Creio que ninguém poderá afirmar: “Minha vida está livre de cuidados, ansiedades, ciúmes ou
descontentamentos. Minha vida é um sonho de alegria e gozo. Minha vida, desde o amanhecer até ao
anoitecer, é uma série de momentos agradáveis. Sei que meus dias de prazer não só continuarão, mas
também que a minha alegria interna aumentará sempre. Não tenho ansiedade sobre o dia de amanhã,
porque experimentei este grande poder e Ele deu alegria aos meus dias passados e estou certo que o
mesmo sucederá com o futuro.”
Confiando, então, neste poder e levado por ele, o homem, tornando-se mais que mortal, não terá
ocasião para semear, colher, ou inventar máquinas, como não o fazem os pássaros selvagens que estão
livres desta praga. O seu desenvolvimento espiritual lhe dará poderes que o libertarão destas necessi-
dades do presente.
Neste processo regenerador, nosso espírito ou Eu Superior exigirá mais descanso para o corpo. Ele
exigirá que a noite seja toda dada ao sono, porque, durante o dia, o tempo é mais próprio para a expres-
são física. O mundo material é, então, movido pela força material que provém do sol.
Quando esta força é tirada e vem à noite, há outra força que predomina. É um poder espiritual que
pode alimentar o material, quando a atividade material está paralisada.
Quando vos deitais, à noite, com o desejo de estar livre de uma disposição irritada ou ansiosa, e
com um pedido silencioso ao Supremo Poder para serdes levado no caminho da mais alta sabedoria e
felicidade, estais em caminho para obter a espécie de sono que mais aproveitará.
Um repouso sadio, durante a noite, trará o seu correspondente durante o dia. O repouso é o estado
mental mais necessário à nossa raça. Ele não é a preguiça ou inércia. Dá prazer no fazer as coisas e
aumenta as forças no agir. Impede o cansaço, toma agradável o serviço e evita que este se tome abor-
recido.
O repouso dá força aos nervos e firmeza à mão, seja qual for a profissão seguida. Faz tudo com cui-
dado e carinho. Depois de algum tempo de hábito, ele vos fará perder todo sentimento do tempo. É este
aborrecimento, proveniente do cansaço, que leva os homens a dizerem: “Que devo fazer para passar o
tempo? Quão aborrecido está o tempo!”
O repouso é um estímulo sadio e tranquilo que, do espírito que está próximo da Mente Suprema, flui
continuamente ao corpo. Dá, de um modo permanente, o descanso mental que os homens procuram no
álcool e no ópio.
O prazer tirado destes agentes é, porém, passageiro, espasmódico e sujeito a reações que levam
à tristeza, logo que termina a excitação alegre. O repouso vos conserva num plano sereno de felicidade
e, à medida que continuais a invocar a Mente Suprema, sereis levado gradualmente a um estado cada
vez mais alto e feliz.
O repouso vos torna companheiro de vós mesmos, contente convosco e agradável a vós mesmos.
Quando é esta a vossa disposição predominante, sois sempre agradáveis aos outros, como eles vos são
agradáveis. Deixais, então, de depender da companhia dos outros. Porém, assim fazendo, recebeis o
melhor dos outros e dai-lhes o melhor de vossa parte, nunca tendo, por essa razão, falta de companhia.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 119


O repouso traz planos e ideias para um êxito permanente e a força para alcançá-lo. O êxito é muito
mais do que ganhar dinheiro. O êxito de hoje, muitas vezes, dá fortuna e fama, porém não a felicidade.
A tranquilidade e o contentamento mental são a prova de que estais na disposição de perfeita con-
fiança.
À vezes, um conjunto invisível de inteligências individuais pode ver espiritualmente mais longe do
que vedes algum ato ou passo que deveis realizar para obterdes o maior e mais permanente êxito. A
princípio, podereis ser cego ou indiferente a ele. Neste caso, as coisas parecem ser aliadas, quando,
em realidade, estão esperando até que vossa mente se desperte e compreenda esta necessidade. Ela
vos virá com o tempo, desde que conserveis vossa mente sempre receptiva e aberta às suas sábias
sugestões.
Se fazeis esforços para conseguirdes o favor do povo, para agradá-lo socialmente, fazer que vos
admire, não o façais com a disposição única de torná-lo sujeito. Agradai-o pelo simples agrado. Não
leveis convosco, em toda parte, o interesse de vosso negócio. Não cultiveis a sociedade apenas para
o progresso do vosso negócio. Não considereis vossas qualidades sociais apenas como meio para au-
mentar vossa fortuna.
Se o fizerdes, ficareis desnorteado mais tarde. Por mais atraente e fascinador que sejais, as pesso-
as sentirão na vossa mentalidade qualquer coisa que lhes será desagradável. Isto vos atrasará, em vez
de dar-vos um êxito permanente.
Aspirai ao mais alto êxito e mais vasto campo de ação para vosso esforço. Podereis concentrar as
vossas forças num esforço simples e relativamente pequeno. Porém, vêde-vos mentalmente muito além.
Algumas pessoas nunca podem afastar a mente de seu pequeno negócio: a pequena loja, a pequena
confeitaria que lhes dá uma vida simples. Eles se tornam tão envolvidos em seus cuidados e pequenas
querelas, que não deixam lugar, em sua mentalidade, para as aspirações mais altas e vastas, e, por isso,
assim permanecem.
Um homem pode aplicar todo o seu pensamento no cuidado e cultivo de um alqueire de terra,
quando podia estendê-lo a dez ou cem. Nunca digais a vós mesmo: “Só posso possuir uma canoa; os
grandes navios pertencem a homens mais aptos do que eu.”
Quando vos conservais em disposição de planejar e aspirar a coisas melhores, vossa mente profe-
tizará vosso futuro com perfeição, desde que desejeis o Direito e a Justiça para vós e os outros.
Assim vendo e planejando, estais preparando de antemão as condições para o futuro e maior êxito.
Um limpa-chaminés, cuja mentalidade não tem maior aspiração do que ele pode limpar num dia,
nunca sai de tal ocupação.
Às vezes, tudo parece entrar em paralisação nos vossos empreendimentos. Podeis ter trabalhado,
ter falado, ter manifestado vossos planos aos outros, sem que apareça qualquer resultado. Este lado de-
sanimador dos negócios apenas está no lado material. É apenas a aparência externa. Porém, as forças
espirituais e invisíveis, que são os poderes originadores de todos os resultados físicos, estão cheias de
atividade. O que mais vos é necessário é firmar-vos em vosso propósito e conservar-vos o mais possível
livres de desânimo.
Conservai-vos também fora da companhia daqueles que não têm fé nestas verdades, exceto quan-
do é necessário conviver com eles.
O lado externo do ovo apresenta poucos sinais do desenvolvimento do pinto que nele está. A
planta, um mês antes de readquirir suas folhas, pode estar exteriormente tão nua como no rigor do in-
verno; porém, dentro destas formas da matéria, está uma disposição muito diferente de coisas do que
nos meses anteriores, porque há, na Mente Infinita, o propósito de produzir certo resultado do ovo e da
planta. Ela se move com crescente rapidez para a realização deste fim. Vós, como partes desta Mente,

120 Prentice Mulford


alcançareis resultados pelas mesmas leis. A Força Infinita se agita dentro de todas as coisas, lutando
para alcançar o mesmo resultado, que poderá ser bom, mau ou trivial. Nenhum ente humano está fora
do alcance desta força e cada qual deve fazer alguma coisa.
As coisas, acontecimentos ou métodos materiais pelos quais os resultados se realizam, tomam
formas por si mesmos. Por isso, não insistais mentalmente para que o resultado desejado venha por
uma forma e não por outra. Sede adaptável e estejais prontos para irdes onde a corrente vos leva, pois,
muitas vezes, esperais o resultado num determinado lugar e ele se realiza num outro muito afastado. As
forças espirituais nada têm que ver com as distâncias. As mentes são unidas na ação, quer seus corpos
estejam perto, quer estejam longe e nem sempre é fácil determinar o lugar exato em que elas focalizam
um resultado material.
Há miséria na barateza, e a vida mais extravagante é a vida barata. Um alimento barato quase sem-
pre é de pouco sustento e não dá força ao corpo e à mente.
Vosso vigor físico e mental é a vossa principal provisão comercial e tem valor em dólares. Uma
alimentação permanente constituída por alimentos baratos pode tornar-vos doentes, impedir-vos de tra-
balhar, fazer-vos perder o ordenado de muitos dias e trazer-vos despesas de médico e farmácia.
As coisas baratas e inferiores custam muito mais do que as de boa qualidade. Comprais uma mala
ordinária; ela se despedaça conforme o desejo do carregador e mostra os lamentáveis segredos de
vosso vestuário.
Comprais um temo barato e já pronto. Há muita probabilidade de não obterdes uma boa fazenda,
embora o comerciante vos faça julgar o contrário. Desde o começo, vos parece barata e logo mostra sua
barateza por toda parte aonde fores. Em três semanas perde o brilho e em seis semanas está tão gasto
como um tecido realmente bom, em quatro meses. Uma boa fazenda teria durado duas vezes mais.
Tereis, assim, de pagar, por dois ternos ordinários, mais do que pagareis por um só de boa qualidade
e, com os dois, não tendes a qualidade e o estilo do melhor, embora este, a princípio, viesse a custar
mais. Ao abandonar os dois temos baratos, gastastes mais dinheiro e recebestes muito menos por ele.
Isto é extravagância.
Economia não é empregar coisas inferiores por serem baratas. É o emprego das melhores coisas
para obter delas o máximo proveito. Podeis comprar um cavalo magro e doentio por um preço muito
baixo. Ele não vos pode levar para toda parte, gastais dinheiro para curá-lo e conservá-lo, necessita de
cuidados e despesas, sem que daí tires proveito algum, mas sim aborrecimentos.
A concorrência que procura abaixar o preço das coisas é a morte do comércio. Ela abaixa cada
vez mais o preço, até que não há lucro para ninguém; a fabricação cessa e o operário nada tem a fazer.
A concorrência na barateza não produz artistas, mas apenas imitadores e falsificadores.
Uma hábil costureira que tinha interesses artísticos em seu trabalho disse, após uma semana de
experiência num dos grandes bazares de Nova Iorque, onde centenas de vestidos por dia eram devol-
vidos: “Aqui não há incentivo para um trabalho bom, cuidadoso e bem feito. A moda que pode gastar
mais linha em maior quantidade de fazenda, produzindo uma semelhança de vestido, é a que melhor
paga recebe e é mais elogiada pelo patrão.”
Ao comprardes fazendas baratas, dais incentivo à imitação e à falsificação. Incentivais os traba-
lhos feitos sem consciência e só pelo lucro. Desanimais as pessoas honestas e os trabalhos em que
se empregam cérebro, habilidade, consciência e tempo. Tais são os trabalhos artísticos. Estais, assim,
ajudando a fraude. Auxiliais a malandragem, opondo-vos à justiça e à honestidade.
Se comprardes onde vos for possível comprar mais barato com o único fim de gastar o menos pos-
sível, estais animando a fraude e a injustiça.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 121


Vós vos queixais que o vosso trabalho é mal pago, porém, quando procurais o artigo mais barato e
estais pronto a defender o homem determinado a vender mais barato que todos os outros, estais dando
incentivo e auxiliando, animando e pagando o homem cujo desejo é abaixar cada vez mais o preço de
tudo o que compra. Se fazeis vassouras e ele as compra, o faz com o desejo de pagar o menor preço.
A sua mente está sempre pensando em vos pagar menos.
O mundo comercial se esforça atualmente em procurar que cada um trabalhe pelo menor preço
possível e faça artigos da melhor qualidade. Por exemplo, na fabricação de calçados ou chapéus,
procurais com insistência obter pessoas que trabalhem pelo menor preço na confecção; com o maior
cuidado, procurais obter os materiais pelo mais baixo preço, sem vos incomodar se A, B e C, que vos
fornecem os diversos materiais, tiram o mínimo lucro e se ganham o suficiente para comer e viver. Não
os conheceis e nem desejais conhecê-los. O que desejais é sua força, habilidade e inteligência pelo
menor preço possível, de modo que, quando esta força e habilidade vos vierem sob a forma de calça-
do, chapéu, etc., possais ganhar seis, oito ou dez vezes mais pelo trabalho de vender do que eles em
prepará-los para a venda.
Se comprais um artigo de superior qualidade por preço muito baixo, vós vos alegrais por terdes
feito um bom negócio. Perguntais: “Foi bem pago o homem pelo trabalho de fazer este artigo?” Ou
preocupa-vos que ele tenha ganho pouco? Sois, porventura, o guarda desse irmão?
Predomina e tem durado muito, no mundo, a opinião de que, em todos os negócios, a desonestida-
de está sempre em luta vitoriosa com a honestidade.
Pelo contrário, a absoluta honestidade traz consigo o maior poder do universo para nos dar resulta-
dos nos negócios, nas artes e em todas as coisas.
Esta é uma lei da ciência da vida. A mente desonesta e o pensamento desonesto, que sempre parte
daquela, podem ganhar, pela ilusão e a trapaça, muito dinheiro. Este, porém, é um êxito parcial, pois,
com tal ganho virão, pela ação de uma lei, resultados desagradáveis e fatais para o indivíduo.
A mente desonesta e trapaceira nunca pode ter a mais perfeita saúde física. A desonestidade e a
trapaça trazem má saúde e a morte para o corpo. Nenhum ganho em bilhões de dólares pode compen-
sar a decadência e a doença do corpo.
Existe uma honestidade material que nos impele a fazer o que é reto e justo aos nossos irmãos no
mundo das coisas materiais. Há outra, uma honestidade superior e espiritual, que se refere totalmente
às nossas relações conosco mesmos e cujo resultado vai muito além da honestidade que recusa furtar,
e paga pontualmente suas dívidas.
A honestidade superior consiste, em primeiro lugar, na qualidade de ter um vivo desejo de saber o
melhor caminho a seguir na vida. Nem todas as pessoas têm a capacidade de possuir este vivo desejo.
Sua evolução espiritual ainda não alcançou o ponto em que são capazes deste desejo. Estão no estado
imperfeito em que são como os cataventos, impelidos à direita e à esquerda pelos ventos da opinião ou
pelas influências que lhes chegam. Não podem ser sinceros a seu Eu Superior.
A absoluta honestidade é muito mais importante do que a simples seriedade em assuntos financei-
ros. Se manifestarmos por outrem uma consideração que não sentimos realmente, não somos honestos.
Quando não vivemos de acordo com as nossas convicções de direito e mesmo de bom senso, quando
fazemos como os outros, por medo de sermos considerados excepcionais ou singulares, não somos
honestos.
Se numa família, quando o chefe da casa entra, a conversa da mulher e de outros membros é mui-
to diferente da usual durante sua ausência, se então a liberdade da conversa cessa e o assunto muda
completamente, há bastante falsidade nesta casa, embora, pelo hábito, os esposos não o observem.

122 Prentice Mulford


Quando vemos um mal em nós mesmos e não queremos confessá-lo a nós mesmos ou a alguma
outra pessoa, não somos honestos, pois nada é mais útil para nos libertar de uma falta do que confessá-
-la (não a todos), mas a alguém em quem pudermos confiar.
Um miserável orgulho proveniente da mente material nos leva a sustentar a ilusão de que somos
perfeitos atualmente e que tudo o que fazemos é justo e não pode ser melhorado.
Se a nossa natureza material é covarde, inclinada ao roubo ou ao assassinato, é melhor dizermos
assim: “A parte inferior de mim mesmo é covarde, porém a superior não o é e despreza a covardia. A
minha parte material tem tendências homicidas, eu as possuo, não o nego, porque a verdade é essa,
porém Deus que está em mim expulsará de mim esta inclinação. O meu corpo tem tendências ao roubo,
sou tentado a furtar; a minha natureza superior condena esta tendência, porém ela é, às vezes, vencida
pela inferior.”
Desde que uma convicção é contrariada, há desonestidade. Essa convicção provém de nosso Eu
superior ou Deus em nós. O Eu material ou inferior combate-a, opõe-se a ela e procura esquecê-la. So-
mos, então, como duas pessoas que questionam, ou uma casa dividida contra si mesma. O resultado é
uma luta e, com a luta, vem o sofrimento e o desassossego. A parte superior de nosso Eu vê uma verda-
de e procura viver de acordo com ela. A outra, a natureza inferior e animal, não se importa em vê-la ou
em viver de acordo com ela, pois sabe que se a superior governar, ela perderá seu poder, que na verda-
de, ela será destruída. É portanto, da parte da natureza inferior uma luta para defender sua existência.
Se, no falar ou agir, estais sempre manifestando pensamento de velhacaria, estais atraindo para vós
mesmos a corrente mental de engano. Seja qual for o pensamento que vós atrais, ele se materializa em
vosso corpo.
Vossos ossos, sangue, nervos e músculos são então, realmente, formações destes maus pensa-
mentos. Estais, por assim dizer, vestido de um corpo que, sendo formado de velhacarias, vos leva ape-
nas a ver, pensar em mentiras e praticar falsidade, mesmo quando desejais falar, agir ou de qualquer for-
ma afirmar a verdade. É este mau desenvolvimento que torna mais fácil a muitos, presentemente, mentir
do que falar a verdade. O hábito de mentir tomou-se fixo. Não podem abandoná-lo nem que o queiram.
Nada podem dizer sem exagerar. A mentira sai-lhes dos lábios sem que eles tenham consciência do que
fazem. Quando não há mentira por palavra, há uma disposição ou atitude, cujo fim real é iludir.
Isto acontece quando alguém segue uma forma religiosa para manter uma posição na sociedade
ou nos negócios. Esta é uma mentira em ação, não em palavras.
Por fim, podemos ficar cobertos por uma tal materialização de mentiras que diremos mentiras a nós
mesmos e nelas acreditaremos.
Muito tempo de prática e contato com as trapaças fará que a pessoa desonesta se considere ho-
nesta. Sua mente se torna hábil em iludir a consciência superior e em desculpar-se das desonestidades.
Uma e talvez a mais frequente das desculpas é esta: “Se eu não fizer assim, alguém o fará.”
A Lei que, em suas operações, não se desvia um fio de cabelo para a direita ou para a esquerda,
traz um terrível castigo por ter-se a disposição de pensar de modo desonesto. Ela não perturbará tanto
a visão mental ou a percepção espiritual que nos faz crer na falsidade, em vez de na verdade. Ela nos
fará também sermos mais facilmente iludidos pelos outros e nos tornará a verdade tão desagradável
que não queremos conhecê-la ou nela crer. Poderá também fazer que a verdade nos pareça ridícula e
falsa. Portanto, se somos forçados a crer na falsidade atrairemos a doença, o sofrimento e a miséria que
resultam de falsas crenças.
A natureza mais honesta sente de modo desagradável o pensamento da pessoa desonesta quando
se acha junto dela. Vê imediatamente no íntimo da pessoa desonesta, analisa e coloca-se em guarda
contra suas artimanhas. Assim, um poder da honestidade é o ver e perceber o engano, o que, com cer-
teza, é uma valiosa qualidade em qualquer negócio.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 123


Podemos fazer o que nos parece reto e justo, embora aos outros pareça incorreto, e ser muito mais
honestos do que se fizéssemos o que os outros julgam justo.
Não estamos em base firme quando aceitamos a ideia de justiça dos outros e não temos a nossa.
Se cometemos um erro, julgando que era o melhor que podíamos fazer e tendo fins elevados, logo co-
nheceremos o nosso erro.
Não é a mais alta qualidade de bondade a inspirada pelo motivo de ser alguma coisa julgada boa
pelos outros, pois, neste caso, aceitamos uma regra estabelecida pelos nossos inferiores e vivemos de
acordo com ela. Este caminho nos leva à hipocrisia.
Peço ao leitor que, antes de encetar a leitura do último capítulo da minha obra, procure colocar-se
na atitude mental de simpatia com as ideias nela expressas, em harmonia e concordância com o que
tenho dito até aqui, único modo de tirar algum proveito dos seus ensinamentos.

124 Prentice Mulford


RECAPITULANDO

A
s ideias contidas neste último capítulo da minha obra vêm a ser como o resumo de todos os meus
escritos até o presente. Novamente chamo a atenção dos meus leitores para as principais verda-
des aqui expressas, pois no grau de conhecimento a que já temos chegado, e tendo sobretudo
em vista e em consideração o meio em que atualmente vivemos, será extremamente proveitoso recordar,
de quando em quando, a base que deixo escrita e rememorar, refrescando as ideias acerca do conhe-
cimento destas leis demasiado novas para os homens da atualidade.
Estamos de tal modo habituados aos nossos antigos e péssimos métodos mentais que, no meio
dos nossos cuidados cotidianos e dos negócios que nos absorvem inteiramente a atenção, facilmente
esquecemos a eficácia das leis espirituais, mesmo estando convencidos da sua verdade. Nenhum dos
homens de hoje pode esperar que, de um jato, entre em sua mente toda inteira e inabalável, a crença
firme e absoluta nas leis de que falamos, e ainda menos metamorfosear-se de um momento para outro,
a ponto de mudar radicalmente o seu modo de viver, sentir, ver e achar bom tudo quanto ontem ainda
achava péssimo, inverossímil e insensato.
Posto que convencidos inteiramente da verdade dos ensinamentos recebidos, sempre permanece
em nós uma parte indócil que resiste tenazmente, conservando-se hostil àquelas verdades. Esta parte
do nosso ser é a mente material ou corpórea.

EXISTE UM PODER SUPREMO E UMA FORÇA REGULADORA


QUE INVADE E REGE TODO O ILIMITADO UNIVERSO.

CADA UM DE NÓS É UMA PARTE DESTE PODER.

E, COMO PARTE QUE SOMOS DESTE PODER, TEMOS


A FACULDADE, MEDIANTE A PRECE OU MEDITAÇÃO E
CONSTANTE E VEEMENTE DESEJO, DE ATRAIRMOS, CADA DIA
MAIS, AS QUALIDADES PRÓPRIAS E CARACTERÍSTICAS DESTE
PODER.

Todo pensamento é uma coisa real e uma força.

Devemos repetir esta frase o mais frequentemente possível. Todo nosso pensamento contribui para
o nosso bem ou para o nosso mal, que tem infalivelmente de se desenvolver ou imediatamente, ou num
futuro mais ou menos próximo.
Perguntar a alguém o que está pensando em determinado momento, se a sua mente está repleta
de pensamentos alegres e suaves, ou tristes e tenebrosos, se pensa bem ou mal do próximo, é o mesmo
que lhe perguntar: “Como estás construindo o teu futuro?” “Qual será a tua existência futura?”
Se hoje és obrigado a viver pobremente ou em situação difícil, nunca digas a ti próprio: “Será sem-
pre assim a minha vida!” Ao contrário disso, não deixes um momento de esperar que a tua situação
melhore, e dize isso intimamente a ti só, no recôndito do teu coração, porém frequente e firmemente.
Vive mentalmente no melhor palácio que puderes imaginar, põe na tua imaginação que estás comendo

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 125


as iguarias mais delicadas, esplêndida e luxuosamente servido e sempre rodeado de pessoas distintas,
boas, ilustradas, leais, amáveis e bem educadas, na melhor sociedade, enfim, e carinhosamente aco-
lhido por amigos sinceros. Quando conseguires que esse estado mental persista em ti, não duvides de
que todas as tuas energias se dirigirão para melhorar, e muito, a tua situação. Sê rico espiritualmente, sê
opulento, poderoso e feliz na tua imaginação e podes ficar bem certo de que algum dia serás também
poderoso, feliz e rico das coisas materiais.
O modo mental em que hoje vivemos, baixo e rasteiro ou nobre e elevado, é que constitui, de acordo
com a sua própria natureza, as condições físicas da nossa vida futura.
Idêntica lei rege a formação e perfeição do corpo. Eis a razão pela qual, embora sejamos franzinos
e doentios, é conveniente e muito útil imaginar-nos ágeis, robustos e saudáveis.
Nunca devemos por limites nem barreiras às nossas possibilidades futuras.
Nunca devemos dizer: “Tenho de permanecer sempre nesta miséria, neste inferno de vida; nunca
poderei subir, estarei sempre na dependência, sempre abaixo deste ou daquele, nunca poderei atingir o
nível deste ou daquele grande homem. O meu corpo decairá, debilitando-se gradualmente, perecendo,
por fim, como tem sucedido com os corpos dos outros homens, que, no passado, se enfraqueceram até
acabarem por perecer também.”
Igualmente não devemos dizer: “O meu talento e as minhas faculdades e aptidões são medíocres,
mal chegando ao vulgar. Viverei e morrerei como muitos milhões de homens têm vivido e morrido antes
de mim.”
Quando formulamos esses pensamentos ou outros semelhantes, como um número infinito de ho-
mens costuma fazer, inconscientemente, tornamo-nos a nós próprios escravos de uma grande mentira,
atraindo-nos os males e as dores que são o produto e natural apanágio de toda mentira, algemando
também com isso a nossa aspiração, impedindo-nos de obter possibilidades superiores além do estado
presente do conhecimento do mundo, colocando um obstáculo insuperável entre nós e a verdade mais
elevada e mais nobre.
Cada homem e cada mulher possuem, em estado latente, algum talento ou aptidão especial muito
diversos dos talentos e habilidades dos outros homens e das outras mulheres.
Não existem duas mentalidades exatamente iguais, porque a Força Infinita assume, em sua expres-
são externa, uma variedade infinita de formas, quer se trate de um raio de luz, quer da constituição da
mente humana.
Implora amiúde que o Poder Supremo te liberte permanentemente de todo sentimento de medo.
Cada segundo que nesse pedido empregares, contribuirá para te livrar da escravidão do pavor. A Mente
Infinita nada teme: o destino do homem é aproximar-se cada vez mais dessa sublime Mente Infinita. Ab-
sorvemos incontestavelmente o pensamento, o estado mental daqueles que nos rodeiam ou com quem
mais convivemos ou para os quais nos atrai mais a nossa simpatia. Podemos até dizer que enxertamos
a sua mente no nosso espírito e, se a sua mentalidade é inferior à nossa e nem sequer vive no mesmo
plano, o que apenas fazemos com tal absorção é cultivar um enxerto de ruim qualidade, que muitíssimo
nos prejudicará.
De igual modo, quando cultivamos larga amizade com pessoas que não se preocupam com coisa
alguma, não tendo nenhuma aspiração, nem fé em si nem nos outros, que nenhum plano definido for-
mam na vida, e em nada têm estabilidade, pomo-nos na corrente mental da decadência definida, da
queda irremediável, da inevitável ruína, para a qual, desde aquele momento, infalivelmente corremos a
passos acelerados; isto porque, estando estreitamente ligados a essas pessoas, forçosa e indubitavel-
mente havemos de absorver parte da sua mentalidade e, uma vez por nós absorvida, pensaremos como
essas pessoas pensam, e pouco a pouco reconheceremos que agimos em tudo como elas próprias
agem, apesar mesmo de os nossos dotes mentais serem muito mais elevados e superiores aos delas e

126 Prentice Mulford


embora antes de nos unirmos tanto com elas e de lhes termos recebido a influência, procedessemos em
tudo com grande discernimento e sensatez.
Sem sabermos o motivo, notaremos que os nossos atos e iniciativas têm perdido muito do seu an-
tigo valor.
A nossa mente absorve evidentemente toda espécie de ideias que estão em contato imediato com
ela. Se nos pomos em relação com os afortunados, absorveremos ideias de êxito e triunfo. Os infelizes,
desafortunados e pobres estão, de contínuo, exteriorizando as ideias de falta de ordem, a carência ab-
soluta de um bom método ou sistema de vida e também toda espécie de pensamentos de desalento e
desânimo.
Se a nossa mente permanece em prolongada comunicação com eles, indubitavelmente absorverá
todos esses prejudiciais elementos, da mesma forma que a esponja absorve a água. Para o mais bri-
lhante e completo êxito nos teus negócios, para os rápidos progressos na tua profissão ou empresa, é
muito melhor que não tenham intimidade, não te ligues estreitamente com nenhuma espécie de menta-
lidades desordenadas e desleixadas, nem frequentes muito tais companhias.
Quando cortares mentalmente todas as tuas relações com infelizes e miseráveis, materialmente
viverás também afastado deles, entrando ao mesmo tempo em outra corrente mental que te porá em
relações com gente mais afortunada e feliz.
Quando não souberes o que deves fazer em algum negócio ou outro assunto, sem poderes ou nem
saberes tomar uma resolução decisiva, uma determinação bem concreta, é melhor esperares e nada
fazeres. Afasta da tua mente tudo quanto te incomodar e sobretudo a ideia do que tanto te preocupa e
dá cuidado; pois nem por isso se enfraquecerá o teu projeto e propósito. Enquanto esperas, vai acumu-
lando forças que poderás empregar ao serviço desse mesmo plano.
A resolução que aguardares há de vir, mas do Poder Supremo, vindo um dia qualquer para ti sob a
forma de uma ideia nova, uma inspiração ou um acontecimento inesperado e muito oportuno.
Podes, pois, afirmar não teres perdido o teu tempo, enquanto estiveste na expectativa. Além das
ideias novas ou da inspiração adquirida, tens também o que a tua mente, durante todo esse tempo,
pode atrair a ti.
Quando, em alguma empresa, depositamos toda a nossa confiança em um ou diversos indivíduos
e não no Poder Supremo, colocamonos inteiramente fora do caminho que devia conduzir-nos ao êxito
mais completo. Estamos, na verdade, transviados.
O verdadeiro triunfo obtido pelo homem, na vida, consiste em obter, juntamente com as riquezas
materiais, saúde perfeita e vigorosa, e um incremento constante e ascendente em seus poderes e facul-
dades para se transformarem em realidades os maravilhosos acontecimentos que os homens de hoje
denominam milagres, possibilidades que eles nem sequer podem compreender ainda.
Não fales a ninguém dos teus negócios, dos teus planos e projetos, nem de coisa alguma que, de
longe ou de perto, se possa relacionar com eles, a não ser que tenhas a certeza absoluta, a plena con-
vicção de que os teus interlocutores desejam tanto a tua fortuna como tu próprio a desejas.
Não fales a ninguém que te não preste a devida e benévola atenção, pois cada uma das palavras
que então disseres seria uma força inteiramente perdida, desbaratada, sendo limitadíssimo o número
daqueles a quem podes falar sobre o que te diz respeito, proveitosamente. Mas um bom desejo de um
verdadeiro amigo, se ele te escutou atentamente e de boa vontade, dez minutos que fosse, constituirá
para ti uma força viva, enérgica e ativa, que te auxiliará em teus projetos e muito contribuirá em teu favor.
E se o teu projeto for razoável e justo, podes ficar certo de que serás ajudado por aqueles que houverem
merecido a tua confiança.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 127


O teu ser espiritual, o teu sentido interno ou pressentimento, te indicará, sem sombras da menor
dúvida, sem a menor hesitação, quem são aqueles em quem podes confiar ou não.
Quando retamente implores justiça para ti próprio, tu a pedes igualmente para todos os outros ho-
mens.
Se, porém, consentes em ser iludido ou dominado por outrem, quem quer que seja, sem protestar
interna ou externamente, tornas-te cúmplice da escravidão e do logro comum.
As pessoas habitualmente murmuradoras, bisbilhoteiras, que em tudo deitam malícia, que falam
constantemente e sem critério de tudo, sendo indiscretas, destituídas de senso comum, sempre male-
dicentes, vendo e esmerilhando todos os escândalos e divulgando-os por toda parte, geram uma força
especialmente produtora de escândalos, murmurações e mal-estares; e os elementos que enviam tão
impiedosamente ao espaço voltam imediatamente do ricochete para elas, prejudicando-lhes sobretudo
o corpo, a alma ou a mente.
É muito mais útil falar com os outros de coisas produtoras do bem e do progresso moral, artístico ou
social do que de misérias e da vida alheia. Nunca devemos esquecer-nos de que cada uma das nossas
frases, cada um dos nossos pensamentos expressos por meio de palavras é uma força espiritual que
atua sobre os nossos semelhantes, benévola ou malevolamente, conforme a natureza dela.
Dez minutos gastos em maldizer a tua sorte ou a invejar a sorte dos que são mais felizes e afortu-
nados do que tu, a falar mal deles, serão, sem mais nem menos, dez minutos gastos no desperdício da
tua própria força, da tua própria saúde e fortuna.
Cada pensamento de inveja ou de ódio que envias ao teu próximo é uma flecha que cruza o es-
paço, volvendo depois ao seu lugar de partida, para te vibrar também um golpe mortal. O sentimento
de ódio e inveja que experimentamos, ao vermos outros que passam em belas carruagens e vivem no
meio do luxo e da opulência, ou têm todos os predicados e regalias que tornam a vida suave e feliz, ou
ocupam elevadas e brilhantes posições em qualquer das esferas da socidade e da atividade humana,
seja na política, nas finanças, mas artes ou nas letras, aos quais nós julgamos mal e acusamos de nos
humilharem e fazerem sombra, por não podermos atingir essas posições de destaque, que os tornam
sobranceiros a nós, esse ódio, repito, representa uma enorme porção de força mental despendida inu-
tilmente e, além disso, com esse louco e cruel modo de proceder, inutilizamos a nossa tranquilidade de
espírito e coração e só contribuímos para a destruição da nossa própria ventura, saúde e fortuna no
porvir.
Se o teu hábito mental predominante tem sido esse, não é provável que o possa modificar de todo
e de um instante para outro. Porém, convencido, finalmente, do dano que esse péssimo feito mental te
causa, uma nova força fluirá para ti, destruindo, pouco a pouco, a tua velha mentalidade e criando uma
mentalidade nova. Essa transformação, porém, será indubitavelmente lenta e gradual. O aposento mais
íntimo e retirado da tua casa é o mais propício para servir de gerador da tua própria força ou energia
espiritual, ou antes, da essência e substância que há de constituir o teu novo Eu.
Se tudo estiver em desordem no teu quarto, não encontrando nunca ao alcance da tua mão qual-
quer objeto de que necessites, significa isso, com toda certeza, que tua mente está no mesmo estado
desordenado, resultando daí que, quando a tua mente necessitar e tiver de influir sobre os outros para
bom andamento e desenvolvimento dos teus projetos, a sua ação será, sem dúvida alguma, muito me-
nos eficaz e positiva, em virtude do seu estado de desordem e indecisão, do seu desequilíbrio e da sua
constituição excessivamente desorganizada.
O estado constante de mau humor, de suspeita, de auto-desconfiança, constituem uma verdadeira
doença.

128 Prentice Mulford


A mente que se acha sujeita a esses estados perniciosos em qualquer grau, pode dizer-se que está
verdadeiramente doente, nesse mesmo grau. O espírito enfermo torna enfermo também o corpo. São
numerosíssimos os doentes verdadeiros que não estão de cama.
Quando estiveres de mau humor, pensa que a tua mente está realmente doente e pede com toda
veemência e sinceridade que ela se restabeleça depressa.
Quando disseres a ti próprio: “Vou fazer uma visita agradável ou passar um agradabilíssimo dia no
campo”, o que em verdade tu fazes é enviar diante do teu corpo, à guisa de benfazejos batedores, os
elementos que te hão de tornar agradável a visita ou a projetada ida ao campo.
Se, antes da tua partida, te encontrares de mau humor ou sob o domínio do temor ou apreensão
de alguma coisa desagradável que te irá suceder, de um mau pressentimento, enfim, é fora de dúvida
que diante dos teus passos envias os elementos ou agentes invisíveis que te hão de produzir incômodo,
desgosto ou pelo menos grande contrariedade.
A natureza dos nossos pensamentos, ou antes, o nosso estado mental é que antecipadamente de-
termina o bem ou o mal que nos há de suceder no futuro.
À medida que mais frequentemente se produzir em nós aquele estado mental, menor necessidade
teremos de o provocar artificialmente, até que, por último, por si mesmo ele se produzirá chegando até o
converter-se numa parte da nossa própria natureza e já não poderemos, então, abandoná-lo ou afastar-
-nos dele, nem evitar que se produza.
O nosso verdadeiro Eu é o que não podemos ver, nem ouvir, nem tocar, mediante os nossos sen-
tidos físicos: a Mente. O corpo é apenas o seu instrumento, por meio do qual ela pode agir no mundo
sensível e visível.
Podemos afirmar que somos constituídos por um conjunto de forças que denominaremos pensa-
mentos.
Quando esses pensamentos são maus ou extemporâneos, só nos trazem dores, contrariedades e
toda espécie de amarguras e infortúnios. Portanto, devemos ir substituindo esses maus pensamentos
por outros, cada vez mais puros, melhores e salutares, sendo apenas suficiente, para isso, formular o ve-
emente desejo de que sobre nós venha fluindo uma corrente mental de ordem superior, e ela certamente
sobre nós fluirá, tomando-nos cada vez mais felizes, mais afortunados, mais sadios e joviais.
Na verdade, o homem nunca cessa de achar-se no verdadeiro estado de súplica ou prece. Quem
escreve este livro não considera como oração ou prece qualquer fórmula ou agregado de palavras fixas
e invariáveis. A pessoa, cuja mentalidade esteja sempre inclinada a ver tudo pelo pior lado da vida, por
um prisma de cores sempre sombrias, rememorando todos os dias e reavivando, por assim dizer, as
vicissitudes, infortúnios e catástrofes que lhe despedaçaram a vida e dilaceraram o seu coração nos
tempos idos, nada mais faz do que rogar para que outras desditas e novos infortúnios, talvez ainda mais
pungentes, se produzam no futuro. E se, ao olhar para o dia de amanhã, essa pessoa só sabe ver triste-
za, desespero e trevas, roga igualmente para que tais tristezas, infelicidades e escuridão se produzam
no futuro, as quais, dadas realmente essas condições, não deixarão efetivamente de se produzir.
Quando vais a qualquer parte, não conduzes só o teu corpo contigo; levas também, o que é bem
mais importante, o teu pensamento ou feitio mental, para onde quer que vás, e este estado mental ou
pensamento, embora sejas de poucas palavras ou permaneças até silencioso, exercerá sobre os outros
uma impressão que te será propícia ou adversa e, conforme atuar sobre as outras mentes, produzirá
para ti resultados favoráveis ou desfavoráveis, em harmonia com a sua própria natureza ou caráter.
O que pensas é de bem maior importância que o que dizes e fazes, pois que o teu pensamento nem
por um instante detém a sua ação, benéfica ou maléfica, sobre as outras mentes ou sobre as coisas em
que se fixa durante um lapso de tempo mais ou menos longo.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 129


O pensamento ou estado mental mais útil e favorável para ti e de consequências mais imediatas
e permanentes é o desejo sincero de ser justo e bom. Este desejo não é nenhum sentimento, segundo
geralmente se acredita, mas, sim, uma verdadeira ciência; porquanto a índole da tua mentalidade de-
termina ao redor de ti os acontecimentos, atrairá pessoas e oportunidades, de acordo com ela própria,
com tanta e ainda maior exatidão que o estado da atmosfera determina bom ou mau tempo.
Ser justo é atrair a justiça e a felicidade perpétua. É conveniente que tu próprio faças a experiência.
Ser justo, contudo, não consiste em fazer tudo quanto os outros pensam ou dizem que é justo. Se
não tiveres uma diretriz segura que te indique sem hesitação o bem e o mal, nada mais fazes do que
imitar os outros e agir em harmonia com as sua opiniões.
A tua mentalidade está continuamente atuando sobre outras mentalidades, ora em sentido propício,
ora prejudicial para ti, quer estejas acordado, quer dormindo.
O teu verdadeiro Eu, sob a forma de pensamento, viaja e cruza o espaço em todas as direções, com
muito maior velocidade do que a corrente elétrica.
Pode-se ainda afirmar que, enquanto o teu corpo se encontrar sob a ação do sono é que a tua
mente está mais apta e em melhores condições para a aquisição das suas qualidades mais delicadas.
Desta forma, se te entregares ao sono com o coração opresso e cruciado de angústia, ou de desespero
e descrença em tudo o que é bom, a tua mentalidade ver-se-á arrastada, durante o teu estado de in-
consciência física, aos domínios sobremodo nocivos do desalento, da angústia e do desespero, o que,
sem dúvida, te atrairá, em primeiro lugar, os elementos, e, mais tarde, a realidade de todo o mau êxito,
da derrota e da ruína, consequências inevitáveis de todos os estados de angústias e desesperança.
A melhor garantia de saúde achamo-la contida naquele sábio conselho da Bíblia: “Não permitas
que o sol se ponha sobre a tua ira.” Todo estado mental acarreta para a nossa carne, os nossos ossos e
o nosso sangue, elementos e condições de vida idênticos ao seu próprio caráter.
As pessoas que passam anos após anos vivendo sempre tristes e desalentadas, estão a fazer ade-
rir de contínuo ao seu corpo os elementos da tristeza e da falta de fé em si próprias, não sendo, depois,
fácil destruir-lhes nem evitar-lhes os péssimos resultados.
O hábito da impaciência mental enfraquece mais corpos e mata mais pessoas do que geralmente
se pensa.
Se, ao te levantares pela manhã, te vestes com grande precipitação e atas os teus sapatos ataba-
lhoadamente para acabares essa pequena tarefa mais depressa, colocas-te em condições especiais
para permaneceres o dia inteiro no prejudicialíssimo estado de impaciência.
O que, então, deves fazer é implorar ao Supremo Poder para te afastar dessa perniciosa corrente
mental e fazer-te entrar na da calma e do repouso. Entregares-te aos teus negócios nesse terrível estado
de impaciência mental, far-te-á por certo perder muitíssimo dinheiro.
O poder para manteres o teu corpo sempre forte e vigoroso, o poder para exerceres a tua influência
e atuares proficuamente sobre as pessoas que te rodeiam ou são dignas de teu interesse, o poder do
êxito em todas as empresas, enfim, só procede desse estado de repouso e calma, verdadeiro restau-
rador da mente, o qual, enquanto o teu corpo descansa, trabalhando relativamente pouco, deixa que o
espírito veja, com toda a nitidez e clareza, o que há de suceder para o teu bem ou mal.
Se, ao despertares pela manhã, quem quer que sejas, leitor amigo, homem ou mulher, começas
logo a pensar fixa, e obstinadamente em tudo o que hás de fazer naquele dia, e até no dia de amanhã,
sentindo-te já cheio de angústia e ansiedade pelo muito que tens que fazer, os cuidados da casa a teu
cargo, as cartas que deves escrever, as pessoas com quem tens de tratar, os negócios dos quais é
obrigado a te ocupares, etc., senta-te comodamente em qualquer cadeira, trinta segundos que sejam e
pensa, ou pronuncia mesmo, em voz alta:

130 Prentice Mulford


Não quero deixar-me acabrunhar, não consinto que o meu espírito se deixe subjugar nem arrastar
por tantas obrigações juntas ao mesmo tempo. Agora, começarei a fazer uma coisa só, uma vez, e deixo
que as outras sigam normalmente, até que eu tenha terminado o que tenho entre as mãos.

Pões assim do teu lado todas as probabilidades de ficar bem feito tudo quanto dizeres, e, fazendo
bem a primeira coisa que estás fazendo, naturalíssimo e provável é que também todas as outras fiquem
bem feitas.
Além disso, a corrente mental que tu irá atrair com este continuado exercício, te porá em comunica-
ção com pessoas que te hão de servir muito mais, te serão de grande auxílio e de muito maior utilidade
e proveito do que todos aqueles de que te verias rodeado, se em ti predominasse um estado mental de
impaciência.
Todos nós acreditamos hoje num número enorme de mentiras. Crença inconsciente é esta — é certo
— porque ninguém nos tem demonstrado o erro e a falsidade dela. Desta forma vivemos e agimos em
harmonia com este inconsciente erro, e as dores e misérias nada mais são do que as tristes consequên-
cias dessas crenças errôneas.
Roguemos, pois, todos os dias ao Altíssimo para que nos seja concedida a capacidade e a indis-
pensável sabedoria para descobrirmos as nossas falsas crenças, os nossos erros, e, se verificarmos
que em nós se abriga muito maior número de erros do que acreditávamos possuir, não desanimemos,
tendo em consideração que nem todos podem ser descobertos e corrigidos de uma vez.
Nunca tomes como sintoma de doença o sentimento de fadiga ou de profunda languidez que, du-
rante alguns momentos, em ti se manifesta. Isso indica ou denota simplesmente que a tua mente neces-
sita e pede repouso, fatigada por alguma prolongadíssima e rotineira ocupação.
Se o teu estômago estiver desarranjado, toma responsável por isto só a tua mente, que é a única
culpada, e diz, íntima e mentalmente a ti próprio:

“A desagradável impressão que neste momento estou experimentando provém de qualquer erro da
minha própria mentalidade.”

Se te sentires débil, nervoso ou demasiadamente excitado ou ainda muito abatido, não culpes des-
sa má disposição o teu corpo. Dize antes: “Deve-se isto a um estado especial da minha mente, que é a
única causadora desta doença de caráter físico”, e pede ao Supremo que te liberte desse estado e em
ti determine outro melhor.
Se julgares que qualquer remédio te pode fazer bem positivo, toma-o sem receio, mas, enquanto
o estás tomando e ainda depois, pensa com toda energia e persistentemente: “Tomo este remédio, não
para curar o meu corpo, mas para curar o meu espírito.”
A criança que vês a teu lado é apenas uma mentalidade que, tendo-se despojado do seu corpo
físico de que desfrutou numa existência física anterior, vivendo talvez num país distante do nosso e per-
tencendo até a uma raça diversa, adquiriu um corpo novo, como cada um de nós o fez na sua infância.
Procura fazer com que essa criança não se habitue a pensar desprezivelmente de si própria, porquanto,
se essa for a sua atitude mental característica e costumeira, os outros o sentirão perfeitamente, habitu-
andose a considerá-la, primeiro enquanto criança e já depois de adulto, como um homem de mui pouco
valor e pouquíssimo digno de estima.
Nada prejudica tanto o indivíduo como o menosprezo de si próprio e não são poucas as crianças
que viram destruída a sua existência, por se estar habitualmente zombando delas, metendo-as a ridículo
ou ralhando-lhes a cada instante, por tudo, depreciando-as sempre, a ponto de lhes incutir no espírito a
firme convicção de que são apenas uns seres desprezíveis, sem préstimo nem valor algum.

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 131


Educa os teus filhos a serem confiantes e enérgicos para vencerem todas as dificuldades, criando
neles o gosto de as vencer, até nos seus estudos e, principalmente, incute-lhes a ideia de ter sempre
plena confiança no bom êxito.
Isto mesmo devemos fazer conosco próprios, pois nada mais somos, na verdade, do que verdadei-
ras e eternas crianças, enquanto vivemos neste mundo, embora com um corpo físico mais velho alguns
anos do que o seu.
No dia de hoje, apenas temos uma ideia muito vaga e indecisa do que a vida na realidade significa,
e ainda das possibilidades que guarda em reserva para nosso benefício e bem-estar. Uma das facul-
dades ou poderes da vida relativamente perfeita que a Humanidade desfrutará nos tempos vindouros
consiste na conservação de um corpo material durante tanto tempo quanto a mente ou espírito desejar,
corpo que estará inteiramente isento da enfermidade e da dor, e que poderá tomar ou deixar à vontade.
Dizer a respeito de qualquer coisa: Há de fazer-se, é o mesmo que por em ação uma invisível força
para que essa tal coisa se faça.
Enquanto a nossa mente ou espírito se achar em concordância com o estado significativo desse
dever fazer-se — tenhamos ou não na imaginação o objeto do nosso desejo, aquilo a que verdadeira e
veementemente se aspira — a força posta em movimento não cessa um instante sequer a sua ação até
conseguir a realização ou materialização do seu desejo.
No que devemos por especial cuidado é em fixar bem o alvo ou objeto em que se há de aplicar a
sua ação, o tal deve fazer-se, pois de outro modo poderia trazer-nos os mais tristes e nefastos resulta-
dos, e com muita frequência no-los traz hoje.
Em todos os teus projetos e aspirações, hás de por toda a tua inteira e plena confiança no Poder
Supremo e na Sabedoria Infinita.
O que tu mais desejares pode, sem essa divina intervenção, converter-se, para ti, num verdadeiro
castigo. Devemos portanto manter-nos no estado mental de quem diz:

Existe um Poder que conhece muito melhor do que eu o que me há de proporcionar a felicidade
verdadeira, a felicidade eterna. Se a realização do meu desejo não for para meu benefício, que Ele não
permita que se realize, e dessa forma eu só ganharei com isso.

Se concederes pensamentos de afeto e simpatia a todos os que o solicitam, com certeza te restará
muita pouca energia para a ti próprio ajudares. É absolutamente necessário termos grande cuidado na
escolha daqueles a quem entregamos o nosso amor e todo o nosso pensamento. Uns podem elevar-nos
até ao sublime e ajudar-nos a subir os pináculos da felicidade, da glória e até às culminâncias do poder,
de tudo o que há de mais elevado; outros forçam-nos a resvalar até ao mais baixo e despenharnos nas
profundezas do mais negro e pavoroso abismo, de onde muito dificilmente ou nunca mais poderemos
sair.
Roguemos, pois, ao Supremo Espírito do Bem que se digne dar-nos a necessária sabedoria para
bem e de pronto conhecermos quem merece e quem não merece o nosso afeto mais íntimo, puro e
abençoado.
Sendo cada um de nós, como é, parte do Poder Supremo, podemos considerar-nos cada um de
nós parte melhor e mais perfeita desse Todo, sem que ninguém possa igualar-nos nem sequer exceder-
-nos na expressão dos nossos especiais poderes e faculdade da inteligência. Nos tempos vindouros,
o homem dirigirá como senhor absoluto o mundo da sua mentalidade, e cometerias, pois, um grande
pecado contra ti próprio se te degradasses ou envilecesses diante dos outros, mesmo que fosse men-
talmente.

132 Prentice Mulford


Idolatria é a cega adoração de alguma coisa ou de alguém que não é a Força Infinita, de onde uni-
camente podemos extrair a energia vital e a inspiração que são a fonte da verdadeira vida.
O pensamento de uma mulher, fluindo cheio de afetuosa simpatia e sincero amor para a mentalida-
de de um homem e cujas aspirações e desejos sejam idênticos aos seus, será para ele um inesgotável
manancial de saúde física e de força intelectual. O pensamento feminino, que deste modo dá força e
sutileza à inteligência do homem, é um elemento tão real, como as coisas que se tomam visíveis ou
tangíveis. Se estiveres unido ou pensares demasiado numa mulher que te é mentalmente inferior, indu-
bitavelmente a tua inteligência se embotará, obscurecendo-se e, talvez, até a tua saúde física padeça
muito, perdendo tu, assim, grande parte dos teus próprios e peculiares poderes.
Homem ou mulher, quem quer que tu sejas, que me estás lendo, a tua vida não estará perfeita
e completa, não progredirás rapidamente, nem ascenderás facilmente aos mais elevados e perfeitos
poderes, enquanto não conseguires reunir-te e juntar-te ao ser que, forçosamente, tem de formar o teu
complemento eterno e espiritual, o qual só podes encontrar no sexo oposto.
No ato de comer e beber, recordemo-nos sempre de que, com cada bocado que ingerirmos, ingeri-
mos sempre também os elementos espirituais correspondentes ao estado mental em que nos achamos
enquanto estamos à mesa.
Convém, pois, que estejas sempre alegre e cheio de confiança em ti próprio, nas tuas empresas,
durante as tuas refeições, e se, por qualquer motivo, não puderes obter da tua mente esse feliz estado,
roga ao Poder Supremo a força necessária para o conseguires.
Pede, pede sem descanso, noite e dia, ao Poder Supremo, ao Infinito Espírito do Bem, a mais alta
e perfeita sabedoria — o maior dos bens e a mais duradoura das felicidades — reconhecendo, na tua
súplica ou prece, a superioridade indiscutível da Sabedoria Eterna e Onisciente, sobre a tua própria
sabedoria.
Isto é exatamente o mesmo que te colocares, com toda a certeza, na corrente espiritual de maior
e mais robusta saúde mental e física. Porque começa, então, a fluir para ti uma nova e mais poderosa
corrente de ideias, a qual te irá tirando, pouco a pouco, dos teus erros, enveredando-te pelo estreito e
verdadeiro caminho da verdade.
Esta nova corrente de ideias ir-te-á encaminhando gradualmente pelas melhores sendas no porvir,
proporcionando-te os mais diversos meios de vida, pondo-te em contato com toda espécie de pessoas
e coisas boas, como tudo quanto te possa ser útil, fazendo-te travar relações com as pessoas que te são
necessárias, até que, finalmente, te unirá intimamente ao ser expressamente feito para ti, à alma irmã
gêmea da tua, ao ser único, enfim, que deve e tem de construir o teu verdadeiro e eterno complemento.

FIM DO QUARTO E ÚLTIMO VOLUME

Nossas Forças Mentais – Vol. IV 133

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