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MENTAIS
MODO DE EMPREGÁ-LAS COM PROVEITO
VOLUME IV
PRENTICE MULFORD
2 Prentice Mulford
ÍNDICE
DEUS 4
A CIÊNCIA DE COMER 12
A TIRANIA MENTAL 33
DEUS NA NATUREZA 57
OS TALENTOS IGNORADOS 71
MEDICINA MENTAL 86
RECAPITULANDO 125
U
m Supremo Poder e Sabedoria rege o Universo. A Inteligência Suprema é infinita e penetra o es-
paço ilimitado. A Suprema Sabedoria, Poder e Inteligência está em tudo quanto existe, desde o
átomo até o astro.
Ela existe mais do que todas as coisas. A Inteligência Suprema é todas as coisas e constitui cada
átomo da montanha, do mar, da árvore, da ave, do animal, do homem e da mulher. Nem o homem nem
os seres que lhe são superiores podem conceber a Sabedoria Suprema, mas o homem receberá sempre
com alegria profunda os vislumbres da luz e da Inteligência Suprema, que lhe permitirão trabalhar para
a sua felicidade final, ainda que sem compreender nunca todo o mistério dela.
O Supremo Poder nos governa e rege, como governa e rege os sóis e todos os sistemas de mundos
que giram no espaço. Quanto mais profundamente conhecermos esta sublime e inexaurível sabedoria,
tanto mais aprenderemos a pedir que ela penetre em nós, constituindo-se uma parte de nós mesmos,
para, deste modo, fazer-nos cada vez mais perfeitos. Este meio de melhorar perenemente a saúde o
possui sempre, de modo progressivo, tudo quanto existe, estabelecendo uma como transição gradual
entre um mais elevado estado de existência e o desenvolvimento de poderes que não podemos, de
maneira alguma, realizar aqui.
Não somos, no entanto, o limite entre as várias partes e expressões do supremo e infinito todo. O
destino de quanto existe no tempo é ver a sua própria relação com o Supremo e saber descobrir também
que o reto e estreito caminho que nos leva à perpétua felicidade não é mais do que uma plena confiança
e dependência do Supremo, estabelecendo, assim, a total harmonia da sapiência, que não pode ter tido
origem em nossa pobre personalidade. Estejamos cheios de fé no que temos que pedir agora e todos
os dias, para que essa fé nos faça compreender e crer que tudo quanto existe é parte do Infinito Espírito
de Deus e que todas as coisas são boas, porque Deus está nelas, e, finalmente, que tudo aquilo que
reconhecemos como formando parte de Deus, existe e age necessàriamente para o nosso bem.
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MODO DE ALCANÇAR A ETERNA LUA DE MEL
E
m afeições, interesses, desejos e aspirações, a mente ou o espírito é exatamente o mesmo que
era antes da morte física do corpo que o alimentou, como certo é também que ele se não afasta
do local onde viveu encarnado.
Quando dedicamos a alguém um amor profundo e verdadeiro e, com igual sinceridade, por tal
pessoa fomos correspondidos com veemente e enternecido afeto, não resta a menor dúvida que, após
a nossa morte física, continuaremos tão próximos dela, como se ainda desfrutássemos do nosso verda-
deiro corpo material.
Os que durante a sua existência terrestre têm vivido sempre juntos, tendo gostos idênticos e idên-
ticas inclinações, têm ganho muitíssimas probabilidades de continuarem reunidos depois da morte, au-
mentando ainda neles o prazer que encontram na sua mútua companhia, de forma que nenhum encar-
nado, homem ou mulher, se poderá interpor aos dois, sentindo, de dia para dia, com mais intensidade,
a sua solidão temporária e a tristeza da separação.
Que é que nos atraiu para a mulher que foi nossa espôsa ou para o homem que foi nosso marido?
Foi, porventura, a afinidade de nossos sentimentos, gostos e inclinações? Se assim foi, 6 porque já exis-
tia uma íntima e talvez perfeita fusão de nossas mentalidades.
Essa íntima e perfeita fusão de duas mentalidades, com o profundo sentimento da separação que o
caracteriza, só é possível quando uma das mentalidades perdeu o seu corpo físico e a outra o conserva
ainda.
Convém ter sempre bem firme na mente esta ideia, sem ninguém, todavia, dever empenhar-se em
escavar ou parafusar nela, buscando toda espécie de objeções contra a sua realidade, porquanto tais
objeções serviriam apenas para afastar cada vez mais de nós a realização de nossos desejos e a fusão
necessária das duas mentalidades.
Nós que ainda estamos encarnados, isto é, que ainda vivemos nesta terra, consideramos a perda
de um parente ou amigo sob um ponto de vista bastante limitado e egoísta; imaginemos que a esposa,
que desencarnou ou perdeu o seu corpo material, também perdeu a seu marido; a desgraça deste pode
ser muito maior do que a sua própria, pois ela, embora destituída de corpo físico, sabe já que ainda vive
e que seu marido também vive, ao passo que ele a imagina morta no sentido vulgar da palavra; e esta
ideia toma a mulher realmente morta para seu marido. É como se, achando-nos na presença de uma
pessoa querida, no momento em que nos dispúnhamos a acariciar-lhe o rosto, a cobri-la de suaves bei-
jos, se nos tomasse de repente invisível, sem ouvir a nossa voz nem nós a dela, e sem que o seu contato
nos transmitisse alguma sensação. Converter-nos- ‘íamos, assim, em qualquer coisa semelhante ao não
ser ou aniquilamento absoluto, quando, uma hora antes, a nossa presença era vista e sentida, causando
até intensa alegria. É muito semelhante a isto a condição dos que, ao perderem o corpo físico, perdem
também o contato dos seus amigos e parentes terrenos.
As lágrimas que os vivos derramam sobre os entes queridos que perderam, são frequentemente
correspondidas pelos vivos invisíveis, que assim vão juntando uma nova dor à sua dor, por não poderem
dizer, em voz audível, aos entes queridos que deixaram na terra: “Eis-me vivo entre vós, e o meu único
desejo é continuar aqui, para vos consolar, amparar e alegrar”. Pode até, a dor sentida por esses a quem
chamamos mortos por terem perdido o corpo físico, mas não a faculdade de sentir e amar uma ou mais
pessoas na terra, ser maior do que a dor dos denominados vivos, junto dos quais, em virtude das leis de
atração, aqueles pseudomortos se vêem obrigados a permanecer, vendo-se gradualmente esquecidos
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Por séculos e séculos inumeráveis, os homens têm se lamentado por causa desse fenômeno por
eles denominado morte, com o vivo anseio de o deter e impedir de uma vez para sempre. Estará, pro
acaso, esta prece condenada a ser uma exceção entre todas as outras preces e a nunca ser realizada?
Não. É porque, de alguma forma, esta súplica carecia, para lhe dar força e torná-la mais imperativa ç ve-
emente. Como? O conhecimento ou antes o sentimento de que, quanto mais forte e poderoso é o nosso
desejo de nos reunirmos àqueles que amamos, mais forte é neles também o desejo de poderem gozar
novamente de um corpo material, para se porem em comunicação outra vez com os seus antigos e ve-
lhos amigos. Esta súplica assim reforçada e robustecida está se generalizando agora por todo o mundo,
razão por que é de esperar que se aproxime ràpi- damente a sua cabal realização. Pouco importa que
seja limitado o número dos que a fazem, que pequenísimo seja ainda o número daqueles que a sentem;
esta súplica ou prece nada tirará à sua possibilidade.
Há quem pratique esta oração: são os que, lendo este livro dizem a si próprios, impelidos pelo
seu íntimo conhecimento ou intuição consciente: Isto é absolutamente verdade. E de cada um desses
convencidos se evolará um pensamento que despertará e chamará um ou mais corações em outros
domínios da existência, e que lhe corresponderão, soltando igual exclamação: Isto é a pura verdade!
acrescentando ainda: Também nós vos perdemos e, com igual veemência, ansiamos também podermos
comunicar-nos convosco, tangivelmente.
Vendo-nos e fundindo as nossas mentalidades tanto nos domínios visíveis como nos invisíveis,
abrir-se-nos-ão novos e seguros horizontes, sendo-nos dados os meios de chegarmos a essa anelada
comunicação, porque para Deus, ou o Espírito Infinito do Bem, nada é impossível.
Tempos virão, e não estão muito distantes já, em que todos os que tiverem perdido o seu corpo ma-
terial se manifestem por si próprios de forma a serem percebidos pelos sentidos físicos das pessoas por
quem mais e melhor tiverem sido amados na terra, isto é, mais intensa, desinteressada e sinceramente.
À medida que forem aumentando a fé e o conhecimento desta lei, neste e no outro mundo, estas
provas evidentes de que a matéria pode ser dominada pelo espírito serão cada vez mais numerosas e
simples.
Eu disse: “neste e no outro mundo”, porque o conhecimento desta verdade e a fé são tão necessá-
rios no mundo visível como no invisível para se obterem os resultados a que aludo, podendo até afirmar-
-se que isso geralmente é ignorado aqui, da mesma forma que se ignora em geral também no mundo
que não vemos. Se qualquer mente desconhecer todas estas verdades de que aqui falo, no momento
de desencarnar, não se imagine que imediatamente obtenha o conhecimento destes preciosos e verda-
deiros fenômenos.
Erro enorme é acreditar que, apenas o espírito dispa o seu invólucro terrestre, isto é, abandone,
pela chamada morte, o seu corpo, adquira imediatamente completa sabedoria e felicidade plena. Não.
Ao contrário, ele pode mesmo permanecer por um larguíssimo lapso de tempo tão ignorante e infeliz
com era antes. A ignorância é a mãe de toda miséria e de todas as dores.
Encarnada ou desencarnada, a mente só aprenderá daqueles para quem se sentir mais irresistivel-
mente atraída e de quem, nem mesmo querendo, poderá separar-se.
É provável que ao redor de nós se achem, às vezes, algumas mentes sem corpo físico, que não
nos abandonam porque acham em nós mais agradável companhia que em qualquer outra parte; e à
medida que aprendemos estas verdades também os espíritos que estão conosco as aprenderão, com a
circunstância de que eles só podem aprendê-las de nós. Sentem em nossa atmosfera mental um sereno
entusiasmo e animação, que não sentem nem podem sentir em nenhuma outra parte, absorvendo as-
sim todas as nossas ideias e pensamentos. A suave c tranquila companhia que pode sentir uma mente
desencarnada, na atmosfera pacífica de uma mente ainda encarnada, embora esta não chegue a dar
nunca pela presença de tais entes, é muito parecida com o sentimento de bem-estar e tranquilo sossego
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No verdadeiro matrimônio, o marido e a mulher hão de conservar sempre o primeiro lugar no co-
ração e na mente um do outro, em qualquer tempo, ocasião e circunstâncias. Se, ao despojar-se um
deles do seu corpo físico, o seu lugar predileto é tomado por uma terceira pessoa, ficam imediatamente
separados, erguendo-se altíssima barreira entre eles.
O amor entre o homem e a mulher há de ir crescendo incessantemente, quanto à sua intensidade e
pureza. Este amor é de tal natureza que pode chegar ao exteremo de o marido e a mulher serem eterna-
mente os noivos que foram em sua juventude, aumentando-se-lhes intimamente a felicidade recíproca
que se prodigalizam, podendo até afirmar-se que, se falta em ambos essa comunhão de seus espíritos,
não existe o verdadeiro matrimônio.
Na fusão de duas mentalidades idênticas, constituindo, de uma para outra, um poderoso e real
elemento, permutando incessantemente o desejo mútuo e formal de se dompreenderem cada vez mais
ampla, perfeita, completa e profundamente, tão grande e intenso pode chegar a ser o poder de con-
centração que o seu pensamento chega a tomar, por fim, uma expressão física; e se o maior desejo de
ambos for o de construir um corpo material para o que tiver desencarnado, indubitàvelmente a força de
sua concentração o chegará a formar.
Assim como os pensamentos são coisas ou elementos reais, também os espíritos podem chegar a
materializar-se de qualquer forma, boa ou má, e fazem-no com muitíssima frequência.
Na realidade, toda expressão física que a natureza contém, pertença a que remo pertencer, nada
mais é do que a encarnação materializada de um pensamento.
A magia nada mais significa do que esse poder agora latente na mentalidade humana, em virtude
do qual e graças a uma concentração da mente sobre a substância material, se pode fazer tomar a esta
a forma do objeto em que se pensa.
Este poder foi conhecido e praticado não há ainda muitos séculos, mas parece que foi a sua ciên-
cia considerada como puramente masculina, se me é permitido dizer assim. A utilidade e necessidade
de ser pôsto o pensamento masculino em conjunto com o pensamento feminino, não parece terem sido
reconhecidas e ainda menos observadas.
Os resultados maiores e completos em qualquer fase da vida, obter-seão somente quando o pen-
samento feminino e o masculino se unirem para formar uma nova força muito mais forte e poderosa do
que a dos dois isoladamente.
São hoje bem raros os homens que escutam, dando-lhes algum valor, os conselhos e avisos da
espôsa,a respeito de seus negócios. E, todavia, vemos nisso o reflexo mais puro do valor que o elemento
feminino tem para o homem. Quanto mais íntima e perfeita for a união entre o homem e a mulher, maio-
res, mais amplos e perfeitos serão também os resultados obtidos em quaisquer campos da existência,
em qualquer ramo da atividade humana em que se possa desenvolver a sua ação.
O amor não é um mero sentimento. É muito mais do que isso: é uma força hercúlea, gigantesca,
capaz de levar avante, de fazer progredir e triunfar as mais difíceis e ousadas emprê- sas, de emocionar
e por em movimento as maiores nações.
As mulheres são possuidoras de um poder que elas mesmas desconhecem. Se fossem possível,
num só momento, que todas as mulheres negassem aos homens a sua simpatia e o seu amor, os negó-
cios seriam desastrosos, e os homens veriam desaparecer toda a sua grandeza e energia de que tanto
se jactam, o que não só seria funesto para eles, mas também para as próprias mulheres.
Isto, porém, não se pode dar hoje, nem se dará nunca, pois é absolutamente certo que o pensa-
mento feminino e o masculino se coadjuvam mutuamente e cooperam na mesma obra, embora exista
ainda a ignorância em que o homem vive com relação ao valor da mente feminina, e a própria mulher
desconheça em geral, também, o poder imenso que encerra a simpatia que dela flui constantemente
para o homem.
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A relativa perfeição da vida consiste em gozar de uma saúde perfeita, de um vigor são e de uma ca-
pacidade sempre em escala ascendente para toda espécie de alegrias e a máxima força de vontade e
poder possíveis sobre o corpo, para podermos usá-lo neste mundo físico, tanto tempo quanto ao nosso
desejo convier, o que, todavia, é apenas um princípio da vida e das possibilidades e potências, em nós
latentes e de que gozaremos plenamente algum dia.
Estas possibilidades só poderão ser alcançadas mediante a ação das Leis e da eterna união e mú-
tuo amparo dos espíritos masculinos e feminino.
Um dia se encontrarão, decerto, os dois espíritos que devem pertencer para sempre um ao outro,
as duas almas gêmeas que têm de caminhar enlaçadas, bem juntas, ditosas e suavemente unidas por
toda a eternidade, devendo por si próprias manifestar a sua mútua e correspondente afinidade, assim
como por si mesmo se demonstrará também em qualquer outra união o antagonismo e a falta de corres-
pondência necessária. Não há vida perfeita, nem em saúde física, nem em fortuna, nem em nenhuma
das outras faculdades, potências e possibilidades, que anunciam, a não ser mediante o único e verda-
deiro matrimônio, o qual, de dia para dia, crescerá em perfeições, força e ventura e cuja lua de mel será
não só duradoura, mas eterna e cada vez mais pura e esplendorosa.
O
estado mental em que nos achamos no momento de nos sentarmos à mesa para comer tem uma
importância capital, muito maior mesmo do que as próprias substâncias alimentícias de que nos
nutrimos, ainda mais não sendo grato ao paladar tal alimento.
E é porque quando comemos, ao mesmo tempo que o corpo ingere os alimentos, o Eu espiritual
incorpora em si todos os pensamentos e estados mentais predominantes em nós durante a refeição.
Se, enquanto comemos, estivermos pensando em coisas que nos desagradam, incomodam ou irritam,
ou ainda deixamos invadir a nossa alma pela tristeza ou o desânimo ou nos entregamos a movimentos
mentais de impaciência ou ansiedade, assimilamos tão nocivas ideias e elementos, que eles começam,
deste modo, a formar parte de nós próprios. Os nossos alimentos convertem-se, então, num agente ma-
terial, mediante o qual atraímos ideias e pensamentos que nos causarão grave dano. Embora a alimenta-
ção seja muito sã e nutritiva, de nada nos aproveitará se, ao momento de ingeri-la, a nossa mente estiver
sob a ação de pensamentos deprimentes de pesar ou de cólera, ou elaborando, acaso, preconceitos
perniciosos que só lhes aproveitarão como um veículo magnífico para esses maus elementos formarem
parte do nosso espírito.
Comer com inteligência sossegada, com a mente num estado de tranquilidade, bem-estar e paz,
ocupando o espírito e a conservação em coisas agradáveis, atrairá para nós uma corrente mental plena
de vigor e saúde. Pode-se afirmar que, nesse caso, ingerimos tal corrente mental ao mesmo tempo com
os alimentos, a qual desde esse momento começará a formar parte integrante do nosso Eu espiritual.
Está encerrada uma grande e muito proveitosa verdade nesta frase: Sejamos puros à mesa. Quer
seja formulada em voz alta ou só mentalmente esta ideia, ela nos atrairá a corrente espiritual que há de
determinar, em nosso ânimo, esse estado necessário para que os alimentos que ingerimos sejam bené-
ficos, tanto ao corpo como ao espírito.
E podemos exteriorizar esse desejo em qualquer lugar e ocasião, embora tomemos apenas um
bocado.
Pensar, enquanto comemos, em doenças, qualquer espécie dc dor, desgosto ou infelicidade, é
atrairmos os elementos que as produzem e construir a doença, a amargura ou a vicissitude dentro do
nosso espírito.
Podemos não sofrer da enfermidade especial em que pensamos ou falamos durante a refeição,
mas se o repetirmos muitas vezes e isso chegar a converter-se para nós num hábito, in- dubitàvelmentc
um dia ou outro chegaremos a ser atacados por ela.
Enquanto comemos assimilamos elementos mentais bons ou maus em muito maior quantidade do
que em outras ocasiões da vida, em vista das razões que passamos a expor.
Quando comemos, achamo-nos em um estado receptivo muito mais amplo do que nas outras ho-
ras do dia, enquanto estamos acordados. Quer isto dizer que o espírito coloca a si próprio, e ao corpo
também, num estado adequado para a recepção das forças que os alimentos tomados encerram; e
nesse estado, naturalmente, com muito maior facilidade, pode vir para nós sob forma mental, tudo o que
de bom ou de mau existe no universo, o que fazemos quase sempre inconscientemente. Além disso,
enquanto o espírito e o corpo estiverem recebendo forças de qualquer origem que seja, não podem
produzi-las, da mesma forma que o cavalo não pode trabalhar enquanto está comendo.
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Faríamos, portanto, um dispêndio inútil de forças se, enquanto estivéssemos comendo, a nossa
mente estivesse também desagradàvelmente ocupada com algum pensamento triste, grave preocupa-
ção ou em grande tensão de espírito, relativamente a qualquer assunto.
Por esta razão, também o estudar enquanto se está comendo, há de acabar por nos causar um
gravíssimo dano.
De forma que podemos atrair enorme quantidade de elementos benéficos, se ao comer procurar-
mos colocar o nosso espírito num estado de completa serenidade e sossêgo; como também atrairemos
grande quantidade de elementos mentais maléficos, se fizermos as refeições tendo o espírito fortemente
preocupado por profundo desgosto, grande impaciência ou ansiedade, ou ainda um forte sentimento
de cólera.
Aquele que, durante muito tempo, teve o costume de se sentar à mesa no estado mental de que
acabamos de falar, não julgue que pode quebrar esse mau hábito e desligar-se dele imediatamente.
Todo hábito mental que nos afeta ou domina fisicamente, só pouco a pouco e gradualmente pode ser
modificado. Vô-lo-emos modificar no sentido benéfico, graças ao nosso persistente desejo ou prece,
para que tal mudança se realize. Ao sentarmo-nos à mesa, recordaremos de vez em quando que, en-
quanto nos alimentamos, é necessário colocar-nos em boas condições mentais e de tranquilidade e
repouso, embora não sejamos capazes de conformar-nos com elas. O corpo tem-se ido formando, por
assim dizer, através de larguíssimos anos e adquirindo gradualmente o costume do viver de acordo com
certos costumes rotineiros que não podem ser rapidamente abandonados, nem modificados. Podemos,
porém, começar por pedir pela manhã, a realização das condições mentais necessárias para produzir o
ansiado sossêgo e tranquilidade do corpo e do espírito, com a segurança de irmos, assim, nos refazen-
do pouco a pouco; destruiremos, destarte, tudo o que nos possa ser prejudicial. Só pelo fato de formular
este desejo atrairemos já uma nova corrente mental, e a ação contínua e crescente exercida sobre nós
por ela, há de chegar a corrigir-nos neste ponto concreto, como pela mesma forma poderemos sempre
corrigir-nos de qualquer outro defeito.
Há uma maneira de comer excessivamente precipitada e cheia de inquietações que nos obriga a
ingerir os alimentos com tanta pressa e voracidade, e em pedaços tão grandes que, muitas vezes, aca-
ba por nos fazer sofrer uma influência especial, que nos tira por completo o apetite e o gosto de comer,
apesar de nos sentirmos com demasiado apetite quando nos sentamos à mesa.
As pessoas que se deixarem dominar longo tempo por este mau hábito, acabam frequentemente
por perder totalmente a vontade de comer.
O máximo de tempo que tais pessoas gastam à mesa não passa de vinte minutos, quando muito,
e quase não conhecem nem compreendem sequer o gozo físico e espiritual que se pode encontrar no
simples fato de comer sossegada, calma e tranquilamente, e ainda não sabem quanta extraordinária
energia nos pode proporcionar o comer no estado mental de que acabo de falar.
Esta forma de comer com sofreguidão é um péssimo costume e muito perigoso. Em virtude desse
mau hábito, o corpo, embora tenha ingerido talvez grande quantidade de comida, sentir-se-á sempre
esfomeado, necessitado de alimento; e o comer deste modo não nutre o organismo, nem dá saúde.
Haverá até pessoas que irão emagrecendo e enfraquecendo, sem o notarem sequer, devido a este
mau hábito, até chegar um dia em que o corpo depauperado se veja completamente abandonado pelo
espírito, dando-se o que os homens denominam morte.
Outros converter-se-ão em mártires da dispepsia, atribuindo a sua enfermidade a este ou àquele
alimento que ingeriram, quando a verdade é que esses caluniados alimentos nada têm que ver com a
doença que tanto os faz sofrer. Em compensação, o estado mental em que se encontram enquanto co-
mem é o único culpado de todos esses malefícios.
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ção amena e interessante distraia ou instrua, e não guardem em seus corações nem vislumbres sequer
de rancor, má vontade, inveja ou zombaria para com os outros. Teremos procurado, desta forma, o mais
valioso auxílio mental para que a nossa alimentação se transforme no maior benefício para o corpo e o
espírito. Todos os convivas reunidos neste modo concentrarão todos os seus esforços, mesmo incons-
cientemente, para se atrair uma corrente mental de uma força imensa que será tanto maior, quanto maior
for também o número de convivas que, em idêntico estado mental, ali estiverem reunidos.
Uma refeição tomada nestas boas disposições mentais, no gozo de uma alegria plácida e calma,
uma suave tranquilidade, sem a menor coisa que nos incomode o corpo ou o espírito, embora tal re-
feição dure uma hora, é uma hora de proveitoso descanso que a nós próprios proporcionamos, e, en-
quanto repousamos é que adquirimos maior quantidade de energias. Além de que, enquanto comemos,
se o fizermos nas condições exigidas, é possível que o nosso espírito atue sobre outros espíritos muito
distantes, talvez, do nosso corpo físico e a sua ação pode ser eficaz ou ainda mais do que em quaisquer
outras ocasiões. De forma que nenhum tempo perdemos enquanto estamos entregues ao prazer da
mesa e daívem, talvez, o dito dos antigos: “À mesa ninguém se faz velho”, mas é neste estado mental
de bem-estar, alegre e calmo convívio que obtemos novas forças.
Nunca é perdido todo o tempo gasto em qualquer prazer, se gozarmos dele de um modo são, digna
e retamente.
A ação de todo esforço, quer mental, quer puramente físico, há de produzir-nos certamente algum
prazer. Esse estado inteiramente especial de plácido e alegre bem-estar em que, por vê- zes, nos senti-
mos, seja produzido pelo comer, dormir ou passear, ou ainda por quaisquer outros dos nossos esforços
físicos cotidianos, torna-nos bons, joviais e é a melhor prova de que usamos da vida retamente. Nem
antes, nem enquanto estamos comendo, nos devemos preocupar muito com a ideia de que este ou
aquele alimento pode ser-nos útil ou nocivo, ou nos assentará ou não no estômago, nem é conveniente
também pensar em tais ocasiões: “Creio que isto ou aquilo me fará mal, e receio até ter de pagar caro
depois que tiver comido ou bebido.”
Procedendo desta forma, só determinaremos as condições adequadas para que tal suceda, pois
que, assim como imaginarmos mentalmente o nosso estômago, tal esse será, por fim.
Em lugar disso, digamos e pensemos, quando nos sentarmos à mesa para comer:
Creio ou estou certo que tudo quanto eu comer me há de fazer boa digestão, aproveitar e nutrir o
meu organismo e aumentar as minhas forças.
As ideias prazenteiras e benéficas de que neste instante a minha mente está repleta, começam a
formar parte do meu próprio corpo com todo o bocado que ingiro e quanto mais tempo eu prolongar
a refeição e com maior calma e tranquilidade a fizer, maior será também a quantidade de alegria e de
força que hão de penetrar em mim.
Estou comendo para glorificar a Deus — o Poder Supremo, do qual sou também uma parte, mínima
embora.
Estas palavras formuladas, ou pensadas apenas, constituem a melhor das graças que se possa
render a Deus no momento de nos sentarmos à mesa.
Depois, devemos pedir a necessária capacidade para esquecer o que nos caiu no estômago. Não
convém pensar nele, nem enquanto comemos, nem durante o período da digestão.
O nosso alimento deve ser como o das aves que somente sabem que acharão o seu sustento onde
a natureza lhes diz que hão de encontrá-lo e, depois de o saborearem, não se recordam mais dele nem
se preocupam com processos ulteriores que, porventura, se possam efetuar.
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Na Inglaterra existem milhares de pessoas que tomam a sua última refeição às nove ou dez horas
da noite, indo deitar-se quase em seguida, e todavia, o têrmo médio do bom estado de saúde dos inglê-
ses é, pelo menos, tão bom como o nosso ou melhor talvez.
Se um alimento qualquer não se deu bem no estômago um dia, não é razão para afirmar que su-
ceda sempre o mesmo. O nosso verdadeiro Eu é apenas um conjunto de crenças e opiniões de que
resultam, por fim, os nossos próprios costumes.
O nosso estômago pode digerir melhor ou pior, de acordo com algumas crenças que, por acaso, te-
nhamos mantido dentro em nós, durante muitos anos, inconscientemente, com relação às suas funções
especiais, as quais certamente nunca tentamos combater.
É possível abrigarmos, talvez, a convicção de que este ou aquele alimento nos deve fazer mal, se
o comemos nesta ou naquela ocasião. Pois bem, a força gerada por esta ideia, mantida em nós por um
período de tempo tão longo, é que faz, e não outra coisa qualquer, com que esse alimento faça mal. Se
conseguirmos destruir esse erro mental, irá a verdade progredindo e percorrendo todo o seu trajeto, re-
cobrando então, pouco a pouco, o nosso estômago, toda a sua força melhorando o processo digestivo
e deixando, portanto, de ser molestado por uma série de vãos caprichos que nós próprios havíamos
alimentado durante largo espaço de tempo.
Se sentirmos desejo de comer carne, comamo-la. Negando ao corpo o que ele nos pede, causa-
mos-lhe grave dano. Na verdade, a carne é um alimento muito mais grosseiro e ruim do que qualquer
outro, mas também o corpo é uma coisa muito baixa e grosseira, se o compararmos com o espírito.
É natural que o corpo peça para seu sustento aquilo que mais se aproxima da sua natureza terrena.
Tanto comendo carne como alimentandonos só de frutos e outros vegetais, nos é facultado o dom de
podermos sentir sempre o desejo ardente de atrair para o espírito todos os elementos melhores e mais
puros. Comendo com este desejo na mente, convertemos a carne em excelente meio para a atração dos
elementos espirituais mais elevados. De igual modo, comendo só pão do mais puro ou saborosíssimos
aromáticos morangos, se, no momento de comê-los, o nosso estado mental for de ódio, inveja, ciúme
ou de profunda mágoa e inquietação, atrairemos correntes mentais da pior espécie, enchendo o nosso
corpo e espírito das paixões mais grosseiras e baixas.
A espiritualização do corpo ou o fato de transformar o corpo num instrumento dócil às instigações
do espírito é capaz de exteriorizar os seus maravilhosos dons ou potências, e não provém verdadei-
ramente de processos puramente mecânicos, nem de métodos severamente rigorosos e inflexíveis.
Provém mais do desejo formal e positivamente expresso pelo espírito ou antes da sua santa aspiração.
A espiritualização vai nos elevando pouco a pouco, afastan- do-nos, portanto, cada vez mais dos
desejos baixos e grosseiros. É bem certo que nos permite gozar deles, quando disso há uma verdadeira
necessidade, mas proíbe-nos de abusar desse gôzo, qualquer que seja, pois na realidade,enquanto não
dermos ao corpo a satisfação de um desejo imperioso por ele manifestado e exigido, não abolimos nem
destruímos o apetite do objeto desejado ansiosamente.
Se desejarmos comer carne e a comermos mentalmente , recusando-a ao corpo, andamos pior do
que se realmente a tivéssemos comido — pois que, satisfazendo os desejos do corpo, pro- duz-se-lhe
uma quietação ao menos temporàriamente, ao passo que uma recusa obstinada, uma privação absolu-
ta da satisfação desses desejos, pode e costuma manter sempre vivo aquele veemente anelo e, desta
forma, o espírito está sempre comendo a carne que foi negada ao corpo, o que concentra a maior parte
das nossas forças mentais na coisa proibida ou recusada, quando podiam antes empregar-se em intui-
tos e propósitos melhores, mais úteis e proveitosos.
Os mais baixos e grosseiros apetites não ficarão, com certeza, subjugados, só pelo fato de uma
fortíssima e imperiosa vontade lhes negar obstinada e tenazmente a ‘sua satisfação. Podem ser reprimi-
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Por este andar, cada vez empregaremos maior cuidado na escolha dos nossos alimentos, e demo-
rando-nos mais na operação de os ingerir, faremos com a maior tranquilidade cada refeição, o que por
si só constituirá uma enorme barreira para toda espécie de excessos.
Mas, com essa martirização do corpo, negando-lhe, pela nossa vontade despótica, tudo o que mais
anela com essa negação rigorosa e tenaz em satisfazer-lhe os desejos, com certeza não nos colocamos
sob os auspícios e a dependência do Poder Supremo, antes é um cabal indício da falta de fé nesse
saber. É um empenho inútil e vão crer que podemos, de nosso moto próprio, purificar e elevar a nossa
existência, — o que depende, única e exclusivamente, do Poder Supremo.
Aquele que a si próprio se abandona e põe toda a sua fé e confiança no Espírito Eterno para que
este o tome superior a lôda classe de apetites baixos e desregrados desejos, será, de dia para dia, cada
vez mais virtuoso e calmo por índole.
O
valor e a presença de espírito não são, afinal, mais do que uma e a mesma coisa. A presença de
espírito indica, por sua vez, o domínio do espírito. Toda espécie de triunfos tem por base o valor
mental ou físico.
Pelo contrário, o que tentasse arrancar do seu corpo as raízes de um vício qualquer, por meios me-
ramente externos e físicos, apenas conseguiria uma virtude simulada e aparente e, embora o tenha re-
primido violentamente com toda a força de sua potente vontade, sem cessar, ver-seá consumido por ele.
Pravàvelmente ocorre, agora, a algum dos meus leitores esta ideia: “Mas, lendo isto, pode alguém
servir-se destas teorias para desculpar toda espécie de excessos?”
Em primeiro lugar, não devemos nunca investigar ou adivinhar o que os outros podem fazer ou pen-
sar. A nossa primeira consideração ou reflexão deve ser feita com relação a nós próprios. Todos solícitos
e açodadamente, procuramos notar e corrigir os defeitos do próximo, estando nós próprios carregados
de vícios e cometendo continuamente muitos pecados que estão bradando por uma grande reforma e
que nos causam grande dor, prejudicando-nos atrozmente, enquanto não pensarmos em nos purificar.
Não cairemos novamente em nenhuma espécie de excesso, quando a mente se tiver elevado muito
acima deles, porque a purificação do espírito é que purifica o corpo e nunca o corpo pode corrigir o
espírito.
Com certeza, não havemos de corrigir-nos ou antes reformar-nos, espiritual e fisicamente, somente
pelo fato de escolhermos uma alimentação especial, dirigida com regras e comida sensatamente.
A nossa marcha ascendente para toda espécie de simétricas perfeições não pode realmente ser o
resultado de uma transformação em uma certa ordem de coisas unicamente, em um único aspecto da
nossa existência total.
O indivíduo verdadeiramente superior ir-se-á formando e crescendo à semelhança de uma flor per-
feita: formando-se e crescendo ao mesmo tempo e proporcionalmente, cada uma das fôlhas e pétalas,
isto é, o seu corpo e a sua alma.
A covardia e a falta de domínio do espírito sobre o corpo são também pouco mais ou menos a mes-
ma coisa. A covardia tem as suas raízes na impaciência e no hábito de se estar sempre com receio de
tudo, na carência da calma. E o infortúnio, em todos os seus aspectos, baseia-se também na covardia
ou na timidez.
Podemos cultivar o nosso valor e até aumentá-lo em cada hora e até a todos os minutos do dia.
Havemos de chegar ao pleno conhecimento de que cada uma das nossas ações, até a mais insig-
nificante, tem sempre duas fases ou aspectos diferentes, isto é, a ação pròpriamente dita e a forma por
que pomos em jogo essa ação, por meio da qual podemos adquirir um novo átomo da qualidade de
valor a cujo resultado havemos de, infalivelmente, chegar, graças ao cultivo da reflexão — reflexão no
modo de falar, escrever, jogar, comer, beber, trabalhar, até brincar, em todas ou cada uma das nossas
ações vitais.
Encontra-se sempre, é certo, um pouco de medo ou temor onde há também um pouco de impaci-
ência; quando estamos impacientes por tomar um trem e até quando nos pomos a correr pelo meio da
rua, sem necessidade alguma, é porque temos receio de perder o trem e esse temor é origem de todos
os outros, como consequência natural do mesmo. Quando estamos ansiosos e até impacientes por não
faltar a qualquer entrevista que alguém nos marcou, é porque temos medo de que só o simples fato de
20 Prentice Mulford
faltar a ela nos traga grandes prejuízos. Este hábito mental, graças à sua inconsciente cultura, pode vir
a ser tão extenso, que invada literalmente o espírito, ocupando-o todo, a ponto de chegar até, um dia,
a sentir medo a propósito de tudo, de qualquer ninharia mesmo, e sérios temores, sem razão plausível,
inteiramente inexplicáveis, sem base alguma concreta e positiva:
Suponhamos, por exemplo, que qualquer pessoa se afadiga sobremodo para alcançar um carro
ou um bonde que vai passando na rua naquele momento, parecendo-lhe ter sofrido uma grande perda
se o não conseguir, quando, talvez, venha logo imediatamente depois outro ou muitos mais, ou tenha só
de esperar, quando muito, dois ou três minutos. Pois o receio de ter de esperar ainda esses dois ou três
minutos avoluma-lhe na mente o fato, por forma tal, que naquele instante se julgou talvez a pessoa mais
infeliz deste mundo. O que se deixar levar por essa especial condição da impaciência, vê-la-á converter-
-se em breve na característica persistente de todas as suas ações, tomando-se-lhe cada vez mais difícil
proceder calmamente e com madura reflexão.
Esta qualidade ou condição mental da impaciência, com o cortejo de todas as suas consequentes
ações, não tem outra base mais sólida também do que o medo.
O medo, em sua essência, nada mais é do que a carência do domínio da nossa própria mente, ou
por outra, falta de domínio sobre a espécie de pensamentos que exteriorizamos.
Esta consciente educação mental, tão comum em tudo, é que origina a persistência de um estado
de espírito sujeito cada vez mais, de dia para dia, a pânicos grandes ou pequenos embora, à menor
dificuldade que se levante em nosso caminho, sendo até, talvez, capaz de criá-los, quando eles não
existam na realidade, impelindo continuamente o espírito para as correntes de pavor. Aquele que está
sempre temendo, como que cultivando em si o estado de receio a respeito de qualquer coisa, nada mais
faz do que criar em seu ânimo o medo e o receio de tudo.
Se permitirmos que nos empolgue o medo pelo simples fato de podermos, talvez, perder o trem ou
o navio em que devemos embarcar, ficaremos mais propensos, mais acessíveis, a que se apodere de
nós, durante todo o dia e até em dias sucessivos, uma série ininterrupta de pequenos receios a respeito
até de coisas sem a menor importância, mas que a cada instante se irão levantando em nosso espírito,
ante as ocorrências mais triviais, não nos deixando um só momento de repouso nem de tranquilidade.
Adquirimos este perniciosíssimo hábito mensal, quase sempre sob o influxo de atos a que, todavia, pou-
ca ou nenhuma importância ligamos.
Um exemplo: Estamos entregues à leitura, a qualquer trabalho interessante que não desejamos
interromper, como, por exemplo, escrever qualquer coisa de importância literária, afetiva ou comer-
cial... De repente, cai-nos a pena ao chão e somos forçados, portanto, a apanhá-la, o que com efeito
fazemos, mas empregando para isso um movimento brusco, extremamente impaciente, contrariados e
aborrecidos por têrmos de executar tal ação; enquanto apanhamos a pena do solo, a nossa mente nem
um momento deixou de pensar no trabalho encetado ou que tanto nos preocupava, resultando de tudo
isso que o nosso corpo executa mal esse ato de apanhar a pena, de má vontade, impacientemente,
tomando-se^nos tal ação sobremaneira desagradável, só porque a mente se recusou abertamente a
empregar nela toda a força e atenção exigidas.
Persistindo em proceder deste modo, embora inconscientemente, toda ação se torna incômoda e
desagradável por não têrmos nela empregado a necessária energia para se tornar fácil a sua realização.
Mesmo desfrutando de um corpo muito débil, devemos sempre tentar fazê-lo assim, porquanto o nosso
organismo possui o especialíssimo poder de reunir instantâneamente, quando o queira, todas as suas
energias sobre um determinado músculo, com o fim de tomar a sua ação mais fácil e, portanto, mais
agradável.
Esta faculdade especial que nos permite levar à vontade as nossas forças a este ou àquele órgão,
aumenta, robustece-<se mediante uma consciente cultura e educação. Se atamos à pressa, impaciente-
22 Prentice Mulford
O ato de perfeito bem-estar resulta do fato de pormos o nosso pensamento ou a nossa força mental
no ato ou trabalho que estamos executando, e assim toda dor presente ou futura provém sempre de
querermos dirigir o nosso esforço mental para as coisas ainda futuras.
Quando nos vestimos, comemos, passeamos ou realizamos qualquer outro ato, com o pensamento
ocupado em acontecimentos vindouros, apenas fazemos com que se converta em incômodo e desa-
gradável o ato presente, educando deste modo o espírito para tornar desagradáveis e incômodas todas
as ações presentes e, além disso, converter também o objeto ou futuro acontecimento temido numa
verdadeira realidade, porque aquilo que nos habituamos a considerar mentalmente como mau, nisso se
converte, por fim, no mundo das realidades. E quanto mais tempo persistir esse estado especial da nos-
sa mente, maiores são, decerto, as forças que reunimos para a sua pronta e breve realização, e maior,
portanto, a facilidade que tem para exterio- rizar-se e tomar uma forma real no mundo material.
Para atrairmos o que mais desejamos — a felicidade — necessitamos de exercer completo e abso-
luto domínio sobre a nossa mente e o nosso espírito, em qualquer ocasião e lugar.
Um dos meios mais importantes, o mais necessário, o mais firme e o mais eficaz para se adquirir
sempre e por todos os meios a tão desejada felicidade — consiste nessa disciplina relativa aos atos e
coisas que taxamos geralmente de pequenos nadas da vida, assim como a disciplina e os movimentos
regu- lares de um exército tem por verdadeira base a sólida e especial educação das pernas e dos bra-
ços dos seus soldados.
Aquele que tem por hábito fazer tudo à pressa, com precipitação ou, antes, estouvadamente, me-
lhor diríamos, tudo aquilo que ele chama pequenos nadas, inteiramente destituídos de importância,
achar-se-á em condições de não saber o que há a fazer, completamente confuso e desorientado em
qualquer acontecimento grave e inesperado. Ora, é justamente o inesperado o que mais frequentemen-
te sucede na vida.
Não se deve ter sempre a mente no que chamamos situação de reserva para poder entrar em ação
em qualquer momento e direção. E podemos dizer que o nosso pensamento não está em seu lugar,
quando estamos atando o laço de nossos sapatos e pensando, ao mesmo tempo, em alguma coisa que
está muito distante de nós, no passado ou no futuro, ou ainda quando estamos retocando um desenho
a lápis e temos a mente preocupada com algo que devemos fazer somente amanhã. Neste caso, o pen-
samento está deslocado, porque o ser humano não tem, então, o juízo no seu lugar, como diz o vulgo, e
se tal estado da mente tem chegado já a ser nele habitual, abandonando a cada instante aquilo que tem
entre as mãos, para se ocupar de acontecimentos já passados ou ainda vindouros, indu- bitàvelmente,
de dia para dia, lhe será cada vez mais difícil agir sensata e proficuamente quando as mesmas neces-
sidades da vida lho exijam.
Com maior presteza do que a própria eletricidade, o nosso pensamento se dirige de um assunto a
outro, podendo até dar- -se o caso de inconscientemente educarmos essa faculdade peculiar do espíri-
to, de forma tal que seja totalmente impossível mantê-lo fixo em uma só coisa, ao passo que, mediante a
cultura intelectual, o repouso mental e a reflexão em tudo o que se fizer, podemos educar o nosso pen-
samento e mantê-lo fixo no assunto que quisermos e durante todo o lapso de tempo que nos aprouver,
pondo-nos até no estado mental que mais nos convenha.
E isto nada mais é do que uma diminuta e tenuíssima parcela das enormes possibilidades e potên-
cias que à mente humana estão reservadas no porvir.
A perfeição e o progresso da mente humana não têm limites. Os passos que nos conduzirão a tão
esplêndidos resultados são, por si só isolados, bem pequenos, facílimos e simplicís- simos — tão sim-
ples e fáceis que, por esta mesma razão, alguns se negam a dá-los, parecendolhes isso uma verdadeira
puerili- dade.
24 Prentice Mulford
Cultivemos a calma reflexão, tanto no pensamento como nas àções, a respeito de tudo, seja o que
fôr; sejam fatos de importância capital ou inteiramente destituídos dela, tomando assim cada vez. mais
sólidas, de dia para dia, as bases da corgem, do valor e até do heroísmo, se assim o quiserem, e de
força de vontade, tanto física como moralmente.
Não se deve, porém, confundir a reflexão e a calma, com a preguiça e a indolência. Assim como o
pensamento se move com a rapidez do relâmpago ou mais ainda talvez, assim tem de mover-se o corpo
quando a ocasião o exigir, mas sòmente depois de ter sido bem delineado e amadurecido, na mente, o
plano.
É preciso também notar-se que não convém educar a mente em uma só direção, embora por essa
via ela se orientasse de forma até poder chegar à formação do gênio... Porque a história do gênio é
na maior parte das vezes uma história tristíssima, demonstrando-nos que este estado mental que os
homens denominam superior e transcendente mesmo, o é, na verdade, muitas vezes, porém não faz a
felicidade deles.
Se, tendo lido este livro, alguém afirmar: ‘”Algo de verdadeiro existe no que esse autor afirma!” —
pode essa pessoa ficar bem certa de que por aítem de começar a su cura, porquanto com tal exclama-
ção manifesta que sua mente principia a entrever, a vislumbrar pelo menos as luzes da verdade, embora
as não enxergue ainda bem claramente.
Há períodos na vida em que parece havermos olvidado tudo quanto aprendemos, receando até
têrmos volvido a ficar imersos nas profundas trevas da ignorância. Este esquecimento, porém, é ape-
nas temporário ou transitório, devido exclusivamente a causas por nós desconhecidas. Toda verdade
entrevista uma vez não pode já morrer, antes se arraiga mais e mais vigorosamente no nosso espírito,
resplandescendo com seu máximo e mais belo esplendor quando chegar a ocasião oportuna.
T
odo ser humano encerra em si um Eu elevado e puro e outro Eu baixo e mau que, através das
idades, vai crescendo e purificando-se, como tem igualmente um corpo ou mente cor- pórea, que
é apenas uma coisa transitória que vai além do presente dia de hoje.
O que se dá é que, quanto mais numerosas forem as verdades que conhecemos, tanto mais são
também os defeitos que descobrimos em nós, razão por que nos poderá parecer sermos hoje piores do
que ontem éramos, o que não é verdade, pois esquecemos que ontem estávamos cegos e, por isso, não
víamos as nossas grandes faltas.
Quero igualmente declarar que, se algumas destas páginas conseguirem despertar nos meus leito-
res o desejo de corrigirem- -se e aperfeiçoarem-se, tomando-se, portanto, melhores, não se me atribua
o mérito disso, a mim individualmente, pois que eu apenas fui a centelha que ateou a luz do seu espírito.
Nunca homem algum inventou uma verdade; ela não é propriedade exclusiva de ninguém.
Assim como o ar que respiramos, a verdade pertence a todo o mundo, é de todos os sêres huma-
nos. O que eu apenas fiz foi aproximar-me do homem e dizer-lhe ao ouvido: Escuta! Como poderia ter
eu a estulta pretensão de igualar-me ao Criador?!
Contento-me em desempenhar o humilde ofício do fósforo que se chega ao bico de gás e faz com
que, subitamente, se ilumine a casa toda.
Foi esta, apenas, a minha obra ao aconselhar ao homem que, antes de tudo, peça ao Poder Supre-
mo lhe conceda a extraordinária e preciosa qualidade da coragem e do valor.
O espírito está cheio de ideias sugestivas, instigadoras, e de aspirações nobilíssimas que recebe
do Poder Supremo.
O corpo ou mente corpórea considera bárbaras essas ideias e denomina tais aspirações de utopias.
A mente espiritual contém em si possibilidades e forças muito maiores, mais fortes e poderosas do
que todas aquelas que até agora tanto o homem como a mulher têm possuído e desfrutado através de
todas as eras.
A mente material ou corpórea diz-nos que só podemos viver como nas épocas anteriores viveram
os nossos antepassados. O espírito só anela libertar-se das cadeias e dores que o corpo lhe impõe, ao
passo que a mente física se empenha em nos demonstrar que nascemos já fadados para o mal, para
sofrer, e que, quanto mais avançarmos na senda do progresso, mais sofreremos. O espírito deseja ser
o seu próprio guia, tanto no caminho do bem, como no do mal, e encontrar em si próprio a direção ade-
quada e propícia para ele.
A mente material diz-nos, pelò contrário, que devemos aceitar a mesma norma de vida até aqui
seguida pelos outros, a mesma bandeira pelos outros hasteada e sugerida pelo entusiasmo de opiniões
rotineiras, crenças velhas e velhos preconceitos.
“Nunca mintas a ti próprio”, eis um provérbio ou rifão que frequentemente se ouve. Porém, a qual
Eu se refere?
Já por diversas vezes temos dito que cada um de nós tem em si duas mentalidades, a física e a
espiritual.
O espírito é uma força e um mistério. Tudo quanto sabemos ou podemos chegar a conhecer a seu
respeito é que existe e que estende a sua ação sobre todas as coisas e fenômenos da vida física, pois
26 Prentice Mulford
vemos e verificamos os resultados dela em tudo, mas muitos dos seus efeitos escapam à percepção
dos nossos sentidos físicos.
O que vemos de uma coisa qualquer, árvore, animal, pedra ou homem, é apenas uma parte mínima
dessa mesma coisa. Existe uma força que mantém durante um espaço de tempo mais ou menos longo,
a pedra e o homem na forma e sob o aspecto em que os nossos olhos físicos os vêem, e esta força atua
constantemente sobre eles, em um grau maior ou menor. É esta força que forma a flor, desde o pólen até
a sua completa maturação e esplendor. Quando tal força cessa de atuar sobre a flor ou sobre o homem,
determina o que se chama a decadência e a morte. Esta força está transformando contínua e constante-
mente a forma de todos os sêres constituídos pela matéria organizada. Nem a planta, nem o animal, nem
o homem conservam hoje exatamente a mesma forma física que tiveram ontem ou hão de ter amanhã.
A esta força que está sempre ativa e que é, de certo modo, a criadora de todas as formas que a matéria
apresenta aos nossos olhos, é que nós damos o nome especial de espírito.
O ver, o raciocinar, o apreciar e julgar da vida e de tudo quanto se lhe refere ou lhe é inerente, no
conhecimento desta força, é o que se chama a mente espiritual.
Em virtude desse conhecimento, possuímos o maravilhoso poder de fazer uso desta força e dirigi-
-la, logo que a descobrimos e sabemos que existe, para nossa saúde, para nossa felicidade e para a
paz eterna de nossa mente. Nada mais somos do que um composto desta força e, portanto, a estamos
atraindo constantemente, para ser convertida, depois, em parte do nosso próprio ser. Quanto maior é a
quantidade de força que o nosso organismo encerra, tanto maior será também o nosso conhecimento.
No comêço da nossa existência física, deixamos essa força agir cegamente, porque ignoramos
completamente essa condição especial, a que damos o nome de mente material. Porém, à medida que
a mente cresce e se fortalece, torna-se mais esperta e um dia interroga-se a si própria: “Por que have-
mos de sofrer tanto? Por que hão de ser tão grandes as nossas dores e penas? Por que parece que só
tenhamos nascido para adoecer e morrer?”
Esta pergunta é o primeiro grito de alerta e despertar que a mente espiritual solta. E toda interroga-
ção feita com o firme desejo de saber, de adquirir o conhecimento da verdade, há de forçosamente ter
a satisfatória resposta, um dia, mais cedo ou mais tarde.
A mente material é uma parte do nosso Eu, de que o corpo se tem apoderado e por ele próprio tem
sido educado também. É como se disséssemos a uma criança que são as rodas de um barco que o
fazem mover-se, sem nada lhe dizer nem explicar a respeito do próprio vapor, que é incontestàvelmente
a força motriz das rodas.
O menino educado nessa falsa ideia, quando o barco se recusasse a navegar, procuraria a causa
disso nas próprias rodas. É isto justamente o que a muitos sucede, pois têm a pretensão de alcançar a
saúde e o vigor dos seus movimentos só pelo fato de alimentar bem, isto é, muito, o seu corpo material,
sem pensar que a imperfeição ou dano pode estar no verdadeiro motor, única fonte da força — a mente.
A mente material ou corpórea considera e julga tudo sob o ponto de vista físico somente, vendo
apenas aquilo que em nosso próprio corpo material está contido. Em compensação, a nossa mente es-
piritual vê o corpo somente como um instrumento de que há de servir-se o nosso verdadeiro Eu para se
por em contato com as coisas do mundo material.
A mente corpórea ou física vê, na morte do corpo, o fim de todas as coisas, ao passo que a mente
espiritual só ve, na morte do corpo, uma nova libertação do espírito, o ato de abandonar este instrumen-
to, já gasto ou imprestável, inútil, porquanto o espírito sabe que, embora invisível para os olhos materiais,
existe sempre, como antes da morte do corpo.
A mente material julga que a força nos provém toda dos músculos e nervos, sem mesmo admitir
que, ao menos em parte, ela possa provir-nos de uma fonte muito diversa e alheia a ele e fora dele, e só
nesse poder confia para agir no mundo físico, como nós confiamos também na palavra ou na pena para
28 Prentice Mulford
A mente espiritual ensina-nos, pelo contrário, que o prazer e a alegria são os maiores estímulos da
existência. Mas estes prazeres e alegrias são muito diversos dos prazeres e alegrias apreciados pela
mente material. A mente espiritual — que sempre está aberta às mais elevadas e puras ideias da vida —
ensina-nos que existe uma lei que regula o exercício de cada um dos sentidos psíquicos e, quando co-
nhecemos e seguimos fielmente esta lei, diminui a fonte das nossas dores até estancar-se totalmente, e
aumenta a dos nossos prazeres, que crescem tanto mais, quanto mais cresce a observância da dita lei.
Por mente espiritual compreendemos uma visão mental muito mais nítida e clara das coisas e forças
existentes, ao mesmo tempo, em nós e no Universo, e das quais a Humanidade tem vivido até agora na
maior ignorância.
Atualmente, chega até nós um diminuto vislumbre destas forças e, embora a sua claridade não
seja muita, ela tem sido suficiente para convencer a alguns de que as causas reais e verdadeiras da
dor humana foram ignoradas nos tempos antigos. Na realidade, a Humanidade tem sido como aqueles
meninos que acreditam ser o moleiro quem, do interior das velas, mói o grão, porque alguém lhe disse
isto. E até que não se lhes diga o contrário, os meninos estarão na completa ignorância de que é o vento
que faz girar o moinho.
Não se imagine que este exemplo seja uma imagem exagerada da ignorância dos homens, a qual
repele a ideia de que o pensamento é um elemento que nos rodeia por todos os lados constituindo uma
força propulsora tão potente como o próprio vento, com a diferenpa que, dirigida às cegas pelos ho-
mens, no domínio da mente material e da ignorância, fêz girar as velas do moinho humano em direções
diversas, ora boas, ora más, proporcionando umas vezes resultados magníficos e outras vezes verda-
deiros desastres.
O corpo não é constituído dos trajes que ele usa e, contudo, a mente material raciocina como se
assim fôsse. Não conhece que ele nada mais é do que uma espécie de roupa para o espírito, pela igno-
rância em que está de que o corpo e o espírito são duas coisas inteiramente diversas, julgando assim
que é o corpo aquilo que apenas constitui o homem e a mulher. E quando esse homem e essa mulher
caem acabrunhados pelos sofrimentos morais e físicos, empregam todos os seus esforços em refazer
o vestido em farrapos, sem se lembrarem de restaurar e reforçar antes a força anterior, o verdadeiro
fabricante da roupa.
Não há, provàvelmente, duas individualidades em quem a mente corpórea e a espiritual operem e
raciocinem exatamente da mesma forma. Em alguns parece não ter despertado ainda a mente espiritual.
Em outros começa já a entreabrir os olhos como os nossos olhos físicos fazem, quando despertamos,
apa- recendo-nos todas as coisas vagas e indistintas. Outros estão quase completamente acordados
e sentem que, em volta deles, existem certas e determinadas forças em que nunca tinham pensado,
embora se servissem delas. Nestes, já está travada a luta do predomínio entre a mente espiritual e a
corporal, luta que, algumas vezes, pode ser acompanhada de grandes perturbações físicas, dores for-
tíssimas e absoluta carência de tranquilidade de espírito.
A mente corpórea, enquanto não foi subjugada e totalmente vencida e convencida da verdade, é
sempre recebida pela mente espiritual de lança em riste e em tom de desafio.
A parte ignorante do nosso Eu opõe uma resistência hercúlea a desprender-se dos seus modos
habituais e rotineiros de pensar; e em cada caso tem o espírito de travar uma renhida batalha para nos
induzir firmemente à convicção e libertação de um erro qualquer estabelecido.
A mente física só deseja seguir sempre os caminhos rotineiros de suas ideias cediças. Quer fazer e
continuar sempre a fazer apenas o que tem feito, o que seus antepassados fizeram. É isto o que sucede
atualmente à imensa maioria dos homens, e, à medida que os anos passam, mais espêssa e dura se
torna a crosta de seus velhos pensamentos e, portanto, maior dificuldade encontra em se modificar ou
renunciar às suas velhas e errôneas crenças.
30 Prentice Mulford
tais pessoas não digam nem desmintam as crenças de quem já tem a mente mais desperta e esclare-
cida, nem por isso deixa de atuar o seu pensamento como uma barreira ou cortina que intercepta a luz
da verdade e a impede de chegar aos seus olhos.
Porém, quando a mente espiritual começou uma vez a despertar, nada pode deter o seu acordar
definitivo. Só a ação da matéria pode retardá-lo mais ou menos.
“O nosso verdadeiro Eu pode não se encontrar onde se encontra o nosso corpo. Ele está sempre
onde está o nosso pensamento — no negócio, no escritório, na oficina ou junto de alguém para quem
nos sentimos atraídos pelos laços de afeto ou de rancor, e ainda em lugares muito afastados do ponto
aonde se encontra o nosso corpo. O nosso verdadeiro Eu move-se com a mesma inconcebível rapidez
com que o faz o nosso pensamento.”
E a mente material diz: “Isto é um absurdo. O meu Eu está sempre onde o meu corpo se encontra
e em nenhuma outra parte.”
Muitos dos pensamentos ou ideias que repelimos às vezes como impossíveis ou filhos de pura
fantasia são apenas procedentes da mente espiritual, e é a mente f ísica quem a repele e menospreza.
Não nos ocorre ideia alguma que não encerre em si alguma verdade; o que sucede é que nem sem-
pre somos capazes de descobri-la e compreendêla de um modo perfeito. Há alguns séculos ou talvez
mil anos que um homem pôde ter concebido a ideia de que o vapor existia como fonte de força e poder
inex- tinguíveis. Era necessário, para isso, produzir um certo progresso — progresso na manufatura do
ferro, na construção de estradas e nas necessidades criadas pelos homens. Mas isto não impede que
a ideia de aproveitar o vapor como origem de força não fosse uma verdade. Mantida esta verdade, uma
série de mentalidades acabou por trazer as aplicações do vapor à sua presente e relativa perfeição,
para o que a dita ideia teve que lutar contra as negações e obstáculos que iam lançando em seu cami-
nho as mentes materiais, cegas e grosseiras.
Quando uma ideia qualquer nos ocorre, e dizemos a nós próprios: “Bem, eis aqui uma coisa que
poderia ser muito boa, embora não veja, neste momento, como possa acontecer”, deitamos por terra
uma grande barreira, abrindo um largo caminho para a realização das mais novas e extraordinárias
possibilidades em nós latentes.
A mente espiritual sabe hoje que possui, para conseguir toda espécie de fenômenos sobre o mun-
do físico, um poder muito maior do que a maior parte das pessoas pensa, e vê que, a esse respeito, o
mundo se acha imerso nas mais densas trevas da crassa ignorância.
Todavia, o homem espiritual conhece já o caminho a seguir para conseguir uma saúde perfeita,
para se libertar da decadência e ainda da morte física, para se transladar de um ponto a outro e obser-
var quanto quiser, inteiramente independente do corpo e para conseguir todas as coisas materiais de
que tenha necessidade ou desejo, mediante somente a ação da prece ou súplica silenciosa em comum
com os outros homens (*)1 ou isoladamente.
A condição mental que mais devemos desejar é o completo domínio da mente espiritual. Isto porém
não significa que a mente material ou corpo deva inteiramente e em toda ocasião ser martirizado pelo
espírito; significa apenas que a sua resistência e oposição aos impulsos do espírito têm de ser vencidas.
Nada mais significa senão que a mente material ou o corpo não deve empenhar-se em predominar sobre
ò espírito, quando, na realidade, ela constitui somente a parte inferior da personalidade humana. Pelo
predomínio do espírito, entendemos esse especial estado em que o corpo coopera de boa vontade e
alegremente com todos os desejos da mentalidade espiritual.
32 Prentice Mulford
A TIRANIA MENTAL
N
enhuma outra tirania está tão difundida pelo mundo como a que uma mentalidade exerce sobre
outras mentalidade. É uma tirania em que, frequentemente, o tirano ignora que a exerce e os que
a sofrem ignoram que são tiranizados.
De mais a mais, o tirano encontra-se quase sempre na mais completa ignorância dos meios que
inconscientemente emprega para tiranizar os seus semelhantes, assim como estes os ignoram absolu-
tamente.
Pode suceder a qualquer de nós cair, quando menos o pensarmos, sob o despótico domínio mental
de alguém e, desse momento em diante, começamos a agir unicamente de acordo com os desejos e a
vontade dessa pessoa, julgando agir só em harmonia com os nossos próprios desejos e vontades, não
chegando nunca essa tirania a ser tão absoluta e completa como quando aqueles que a sofrem julgam
estar completamente libertos dela. A este respeito, o filho pode ser, muitas vezes, o verdadeiro tirano dos
próprios pais, e o empregado, de seus superiores.
A criança, que nada mais é do que um espírito novamente encarnado, pode possuir uma mente es-
piritual poderosíssima, extraordináriamente superior à dos que a rodeiam. E sucede isso porque a mente
espiritual dessa criança é, talvez, muito mais velha do que a dos pais que lhe deram um novo corpo
físico. Ela pode, mediante as suas anteriores existências terrenas, ter alcançado um grau de purificação
muito mais elevado do que seus pais. É de ver que ignorará o poder que sobre elas exerce, porém, com
seus caprichos e desejos, bem como na afirmação que inconscientemente fará do seu próprio caráter;
atuando a sua mente sobre a de seus pais, será sempre a criança quem há de governar e fazer só o que
lhe aprouver; será sempre, em sua casa, o verdadeiro rei e despótico dominador.
Pelas palavras mente poderosa ou mente superior, não queremos exprimir a significação que vul-
garmente se lhe dá, isto é, instruída ou talentosa. Apenas desejamos designar o poder superior dessa
força que vai de uma mente à outra, embora os respectivos corpos estejam a enormes distâncias uns
dos outros.
Pode até dar-se o caso de uma pessoa ignorantíssima ser dotada dessa extraordinária força. A tal
pessoa é possível alcançar, no futuro, grandes e incontestáveis triunfos e êxitos admiráveis em todos
os negócios que empreender. O mundo denomina isto: força de vontade ou caráter ou, ainda, sorte. A
verdadeira instrução, porém, só consiste no especial poder espiritual que a mente possui para a ação
externa e de forma alguma nas coisas e fatos, frequentemente errôneos, aprendidos nos livros e que
facilmente podem ser acumulados na memória. Se a sua mentalidade for superior à minha, indubitavel-
mente é que a sua influência sobre mim ou sobre muitos outros é superior à minha, atua sobre todas as
mentalidades que lhe forem inferiores, o que — à falta de um têrmo apropriado — denominaremos aqui
influência mesmérica. Foi esta influência mental que Napoleão exerceu sobre todos os seus soldados.
Todos eles, oficiais e soldados, sentiram a influência de seu espírito, assim como os nossos sentidos
físicos sentem a ação dos raios solares.
Perguntará talvez alguém: “Então por que se não serviu ele desse poder para obter sempre a vitória
até o fim da sua vida?”
Porque, por ignorância do seu verdadeiro poder mental, incorreu no erro comum de permitir que
forças mentais estranhas, de uma ordem inferior à sua, se mesclassem com o seu espírito, perturbando-
-o e adulterando-o. É como se tivesse misturado a pólvora dos seus canhões com serradura molhada, o
que decerto lhe teria diminuído e até destruído toda a força.
34 Prentice Mulford
ou anelos que lhe enchem o coração e o cérebro, se, de dia para dia, maior atração sentir para ela,
conhecendo com frequência que a sua recordação lhe absorva por completo o pensamento, não resta
a menor dúvida de que tal mulher lhe fará perder uma grande quantidade de força, que, empregada
melhor, contribuiria bastante para a realização e bom êxito dos seus projetos, tomando-se, desta forma,
o que o povo chama, talvez com justa razão – o seu gênio mau. Em tais condições, nós próprios nos sen-
timos, até com surpresa, desanimados, sem coragem nem força, e num estado de espírito inteiramente
impróprio para levar avante os nossos desejos e planos, chegando, às vezes, a tornar-nos inteiramente
indiferentes àquilo que outrora tanto nos interessava. É porque a influência mental dessa mulher terá
extinguido ou pelo menos amortecido, em nós, a calma progressiva e o firme entusiasmo que tornam
seguro o êxito.
Que sucedeu, então? Nada mais do que termos absorvido os elementos mentais dessa mulher. Su-
cedeu apenas que atualmente pensamos de acordo com o seu modo de sentir e portanto, a nossa fé, a
nossa profunda crença e entusiasmo de outrora, foram inteiramente substituídas pela sua indiferença e
incredulidade. Ora, tal seja o nosso pensamento, tal será a nossa ação.
A mentalidade dessa mulher enxertou-se na nossa, convertendo-se em uma parte integrante de
nós próprios, sendo destarte mais ou menos intensamente dominados por ela, ainda que ela ignore por
completo tal fato.
Essa mulher pode ser muito agradável e fascinadora, decorrendo rapidamente, como por encan-
to, o tempo que passamos junto dela. Nela encontramos um encanto, uma magia singular, e não nos
preocupamos sequer com as horas perdidas em sua companhia, embora tenhamos já compreendido
que o espírito dessa mulher não tem afinidade alguma com as nossas mais profundas convicções e até
procuramos esquecer a zombaria que ela faz de nossas crenças mais íntimas e sagradas, de tudo o que
nós mais respeitamos e veneramos.
E se é a mulher quem possui a superioridade mental e, por sua vez, é subjugada ou encantada por
uma mentalidade masculina inferior, é absolutamente certo, é evidente que gravíssimo dano ela sofrerá.
Nestas condições, o encanto não pode durar muito tempo. Tornando-se mais íntimo o conhecimen-
to, à medida que se vão estreitando as relações e se vai estabelecendo maior intimidade entre eles,
quando a amizade se deveria tomar mais profunda, quebra-se de repente num e no outro, e algumas
vezes felizmente em ambos, de parte a parte, ao mesmo tempo.
Antes, porém, dísso suceder, podem ter-se unido um ao outro, o homem e a mulher, pelo que o
mundo chama o matrimônio, restando-lhes então, ante si, longos e crudelíssimos anos de sofrimentos
horríveis, porquanto, desfeito o encanto, ver-se-á que tal casamento não era o verdadeiro casamento, no
elevadíssimo sentido que esta palavra tem para nós, mas um triste simulacro de matrimônio.
Vemos assim explicado aquele preceito apostólico: “Nunca vos unais com vossos desiguais.” O
que possuir verdadeira fé no Infinito ou na Mente Suprema, nunca será desamparado neste ponto.
O que no homem causa todos os males e todas as perturbações morais é apenas o seu louco
empenho em querer avançar e progredir na vida sem pedir um conselho ou guia à Sabedoria Infinita e
Suprema.
O mesmerismo ou hipnotismo nada mais é do que uma das variadíssimas formas que pode assumir
a tirania mental. Nas aplicações deste fenômeno, o operador chega a alcançar um domínio tal sobre o
paciente, que o corpo deste se move e procede em tudo só de acordo com o pensamento e a vontade
daquele. Isto é, a pessoa hipnotizada permite inconscientemente à sua própria mentalidade separar-se
do seu corpo, tomando-se o hipnotizador senhor absoluto dele, como de seu próprio corpo.
Como pode o hipnotizador obter semelhante resultado, nem ele mesmo o pode nem sabe explicar
a si próprio satisfatoriamente. Sabe apenas que dispondo a sua mente em determinada atitude, com
relação a certa pessoa de um determinado temperamento, pode exercer nela absoluto e completo domí-
36 Prentice Mulford
seus desejos, nos sentiremos positivamente dispostos a proceder de conformidade com ela, pensando
e estando bem convencidos que somente agimos segundo o nosso critério e mais claro entendimento,
ou segundo os nossos desejos.
Pode suceder que a nossa vontade seja positiva, a nossa mentalidade mais forte e potente do que a
da pessoa que influi sobre nós; ignorantes, porém, desta lei mental, isto é, de que uma mente pode influir
e atuar sobre outra, inteira e independentemente da força física de qualquer natureza, desconhecendo
por completo o fato de que a dita mente pode até influir sobre a nossa, a enormes distâncias, nos senti-
remos naturalmente numa situação desvantajosa, pois, ignorando a existência de uma força tão potente
quanto sutil, é evidente que nem sequer em sonhos pusemos em nossa mente a ideia de resistir-lhe ou
opor-nos ao seu influxo.
Deste modo, ficaremos indefesos contra o predomínio de qualquer pessoa. Eis como uma menta-
lidade relativamente débil pode dominar outra mentalidade mais forte, porque esta última, cega pela
própria ignorância, consente em ser algemada por essa cadeia mental. E tal tirania se exerce em toda
parte e ocasião. O marido domina a espôsa, ou a esposa o marido. A irmã governa o irmão, ou o irmão
a irmã. Aquele que temos na conta do nosso melhor amigo pode ocultar em seu coração o veemente
desejo de que pratiquemos este ou aquele ato que convenha aos seus intentos ou fins, embora na plena
consciência do seu culpado egoísmo.
Porém, inconsciente ou não, o que é evidente é que essa força exteriorizada por aquele nosso ami-
go conseguirá, finalmente, o fim desejado, a não ser que, conhecedores dessa lei, nos coloquemos em
situação positiva para podermos repeli-la.
Desde a primeira infância da criança e até mesmo talvez antes de ela nascer, abriga a mão, no mais
íntimo do seu coração, um veemente anelo, não expresso por palavras e até mesmo inconsciente da sua
parte, que pode porém formular-se nestes têrmos: “Quero que o meu filho proceda desta ou daquela
forma, pense e sinta de acordo com o meu desejo e que ocupe e desempenhe esta ou aquela posição
na vida. Não quero que seja isto ou aquilo, nem faça esta ou aquela coisa.”
O verdadeiro Eu, o espírito do menino pode ter gostos e inclinações inteiramente diversas e opostas
até mesmo às da mãe. Nestes casos, nos primeiros anos da sua vida, ele agirá talvez em harmonia com
o pensamento expresso mentalmente por sua mãe, porquanto dela absorveu grande quantidade de
elementos mentais. À medida, porém, que ele for crescendo e aumentando a sua experiência, a sua indi-
vidualidade ir-se-á manifestando com maior firmeza e energia, de dia para dia. E então ele quer seguir o
seu verdadeiro caminho e viver a sua própria vida, isto é, ser ele verdadeiramente. A mãe resiste e opõe-
-se. Mas se o filho conseguir colocar-se em situação positiva, revolta-se e fica aberta a guerra entre eles.
Pode dar-se também o caso de o filho, destruída a sua própria individualidade pela ação da mente
materna, acabar por não ser nada, nem o que teria sido por si próprio, nem o que deveria ser segundo
os desejos de sua mãe.
Se a força de vontade é igualmente enérgica e vigorosa na mãe e no filho, pode até mesmo resultar,
da luta travada entre eles, a morte física de um ou de ouro; a da criança provàvel- mente, pois que o seu
espírito contrariado em todas as suas inclinações agita em excesso o corpo, acabando por despedaçar
o laço que a ele o ligava. Sejam quais forem os laços que unem dois sêres, não é lícito nem justo servir-
-se deles para atuar sobre o outro.
O pai pode, até certo ponto, proteger, vigiar e mesmo dirigir o filho durante os primeiros anos da sua
existência física. Há de chegar, porém, o momento em que o espírito que se encarnou num corpo novo
há de seguir o seu próprio caminho, guiar-se pela própria experiência, seja qual for tal caminho; ora,
se alguém atuar nele, exercendo a sua influência sobre tal espírito, impedindo-o de seguir uma senda
ou carreira diversa da que lhe é designada, pode afirmar-se que o dito espírito vive escravizado, mais
ou menos tempo, enquanto essa influência durar. O que influi sobre o outro, modela-o conforme o seu
com a segurança de que, apenas cesse tal influência, imediatamente deixará de viver a vida fictícia
a que foi até então obrigado.
Vivem hoje, entre nós, assim mesmerizadas, milhares e milhares de crianças, podendo dizer-se o
mesmo de todos os tempos e de todos os povos.
Espíritos há que nunca souberam quebrar um único elo da cadeia mental com que, inconsciente-
mente, seus próprios pais os escravizaram, sucedendo, destarte, crerem eles o mesmo que seus pro-
genitores creram, caírem em idênticos erros em que eles caíram, sofrendo, portanto, o mesmo que eles
sofreram e acabando por terem de se despojar do corpo físico no meio de grandes dores e agonias, tal
e qual como os seus antepassados perderam os próprios invólucros materiais.
Imploremos ardentemente ao Todo-Poderoso a libertação de qualquer tirania e seremos finalmente
libertos dela. O nosso conhecimento dessas leis aumentará, assim, prodigiosamente e o nosso espírito
há de sentir e conhecer quanto é perigoso ou não deixar atuar em nós a influência e a direção alheias.
Se somos de natureza simpática e atrativa, poderemos ser mesmerizados muito fàcilmente pelas
pessoas que nos cercam, interessando-nos por tudo quanto lhes diz respeito, muito mais ainda do que
pelos nossos próprios negócios e interesses. Assim têm fracassado, neste mundo, muitos bons intuitos,
bem planejados projetos, respeitáveis e sérios propósitos e fins.
Devemos conter e saber guardar as nossas simpatias, sem lhes permitir liberdade ampla para irem
irrefletidamente para todos os que as atraem, pois, de outra forma, estropiamo-las e dividimo-las em tão
pequenas parcelas que nenhum benefício podem fazer nem a nós, nem a ninguém.
São muitas as pessoas que se acham sujeitas a uma certa tirania mental, sendo, todavia, raríssimas
as que ousarão reconhecer a realidade dela. Nestas circunstâncias, nos sentiremos débeis e hesitantes
em afirmar o que, após maduras reflexões, cremos ser exato e razoável. Por igual motivo, receamos, às
vezes, formular certas perguntas com receio de parecermos ignorantes. E ante quem? Ante pessoas
que, se as conhecessemos melhor, com certeza as não teríamos em alto apreço.
Há quem suporte certos pequenos logros e zombarias de seus companheiros de trabalho, só pelo
fato de se não atreverem a protestar ou pelo receio desse protesto fazer escândalo, dando a si próprios
a desculpa de que não vale a pena tomar a sério coisa tão insignificante em si mesma. Mas a maior parte
das vezes, a verdadeira razão não é essa. Se deixarmos de protestar, é apenas por temermos a opinião
de certas pessoas, cuja mentalidade inferior permitimos atuar sobre a nossa.
Para a justiça verdadeira, não há coisas pequenas ou grandes; todas tem a mesma importância.
Um simples criado pode dominar uma casa inteira. É destarte que vemos muitas senhoras não se
atreverem a ralhar, por exemplo, nem com a sua cozinheira. É porque, mentalmente, se deixam domi-
nar por ela. E não é só a mente da criada que atua sobre a mentalidade da patroa, dominando-a; ela é
auxiliada, nesse despótico domínio, por um grande número de muitas outras mentalidades que a acom-
panham, as quais, apesar de invisíveis para os olhos físicos, nem por isso deixam de ser reais, como
perfeitamente real e positiva é a sua ação.
Muitas indústrias, manufaturas e emprêsas, são de idêntica forma dirigidas não pelo que se diz
dono e parece o chefe visível das mesmas, mas por um mero empregado ou subalterno que, embora pa-
reça obedecer, é quem, na verdade, governa e dirige o negócio. Em todo armazém, oficina e escritório,
em toda casa, enfim, existe uma mente especial que aí predomina sempre e a rege, embora, na maioria
dos casos, ela própria permaneça ignorante de tal poder.
38 Prentice Mulford
Muitas mais do que podemos imaginar, são as razões que nos levam a suportar essa espécie de
tirania mental.
O mais humilde oficial ou funcionário público encontra-se no seu escritório como na sua fortaleza:
no espaço de tempo mais ou menos curto em que se move, está repleto dos elementos do seu pen-
samento tirânico e dominador, bem como das mentalidades invisíveis, que o acompanham em perfeita
concordância com a sua, dispostas a agir e atuar sobre os outros, de acordo com o seu modo de ser
dominante. Aquele que se apresentar pois cansado, alquebrado, exausto de força em tal lugar, em um
estado mental sugestivo, encontra-se, portanto, em péssimas condições para resistir às influências vi-
síveis ou invisíveis que ali atuam, principalmente se desconhece a realidade delas e sua possível ação
sobre si.
Esta submissão mental chega a tomar, em alguns homens, o caráter de um verdadeiro hábito e, por
isso, os vemos frequentemente transformados em escravos de qualquer pessoa que, em sua presença,
toma ares de autoridade, podendo até ser inteiramente dominados pela atmosfera mental que em certo
local se respira, adulando sem pudor todo aquele que ante eles exerce qualquer superioridade ou so-
berania.
Não bajulemos ninguém, nem nos sintamos nunca humilhados perante pessoa alguma, pois que,
procedendo assim, só atrairemos sobre nós a corrente mental do medo, da escravidão e da abjeção. Po-
demos, na verdade, admirar e respeitar o talento ou as elevadas qualidades de qualquer personalidade
e até desejarmos lealmente igualar-nos a ela; tudo isso é lícito e com esse desejo, que é também uma
verdadeira petição ou prece, sobre nós atrairemos a corrente mental que favorecerá o desabrochar do
aumento do nosso próprio talento. E nem só por uma individualidade podemos ser dominados, mas até
muitas vezes somos mesmerizados por uma corrente mental inteira, projetada por milhares de mentali-
dades, exteriorizando pensamento de doença, pobreza, ruína e acabando por se formar a nossa mente
à sua imagem e semelhança.
Tudo isto, se fosse irremediável, seria, sem dúvida, muito desconsolador e deprimente. Estas for-
ças, porém, não são nada se as compararmos ao Poder Supremo e Onipotente; e, portanto, abrindo
com inteira e sincera fé a nossa mente à ação benéfica do Poder Infinito, elas não podem prevalecer
nem perdurar.
É naturalíssimo ocorrer a algum dos meus leitores esta pergunta: “Em vista dos perigos que a so-
ciedade com os homens oferece, quais devem ser os meus amigos? Como os escolherei? Não será o
sistema de vida adotado pelos eremitas o melhor? Ou somos forçados a descobrir a verdadeira intelec-
tualidade de todo homem e de toda mulher, que se aproxime de nós ou por quem nos sentimos atraídos,
ou deveremos tê-los sempre em conta de inimigos perigosos e encará-los com desconfiança pelo receio
de nos poderem ser prejudiciais?”
A tudo isto responderemos, em primeiro lugar, que o melhor dos resultados que poderemos obter,
devê-lo-emos ao conhecimento, quanto mais profundo melhor, do fato de que toda mente pode influir
sobre outra de um modo real e positivo, e se podemos ser influenciados para o mal, também o podemos
ser para o bem. Além de que, já temos visto várias vezes, acima de todas as mentes individuais e hu-
manas, existe uma Mente Suprema e uma Força Infinita que tudo pode e da qual todo auxílio devemos
esperar, que é Deus.
Se, por meio da silenciosa e veemente prece, buscamos o modo de chegar até a mais íntima asso-
ciação com esta Mente Infinita, sem dúvida Ela virá, por fim, para nós e o seu valioso auxílio e influência
em breve se farão sentir em nosso favor. Podemos mesmo dizer, para nos servirmos das palavras corren-
tes, que a nossa mente humana será dominada e mesmerizada pela Mente Suprema e Infinita. E é neste
caso que, em lugar de nos opormos a semelhante domínio, devemos antes chamá-lo, implorá-lo com
o mais profundo respeito, satisfação, amor e acatamento, pois só tem por objeto a nossa progressiva
40 Prentice Mulford
UTILIDADE DOS DIVERTIMENTOS
O
homem suportará os incômodos do calor, do frio, da fome, da sede ou de qualquer outra forma
de sofrimento físico, com tanto maior facilidade, quanto maior for a atenção que puser em algum
ideal ou propósito. Se não tiver a mente fixa em qualquer coisa que o prenda e interesse pro-
fundamente, o homem sentirá com muito maior intensidade e rigor qualquer sofrimento físico. Disto se
deduz que, quando deixamos de pensar no frio ou no calor, deixamos também de lhes sentir os efeitos.
Colocando-se em um especial estado de excitação, pode o homem atravessar uma fornalha ou até
uma fogueira, sem mesmo lhe sentir o calor, embora apareçam em seus pés grandes empôlas; dando
à sua mentalidade uma direção diversa, separando-a do corpo, conseguirá não sentir a ação do fogo
sobre ele.
Podemos sentir-nos tão intensamente atraídos e dominados pelas emoções da peça representada
num palco, que cheguemos a nem sequer sentir o mais leve incômodo, nem a mais ligeira impressão,
sob a atmosfera deveras sufocante que predomina em certos teatros. Significa isto que a nossa mente
se distraiu ou abstraiu-se, separando-se no sentido mais literal, do nosso corpo. A nossa mente, como
uma espécie de elemento, o nosso corpo, como outra espécie, não têm, às vezes, senão um diminuto
canal ou ponto de conexão. A mente está ligada à dos atores, enquanto o corpo, sentado, não tem de
espiritualidade senão o indispensável para permitir aos olhos e ouvidos o cabal cumprimento das suas
funções.
Mais de uma vez se tem visto um soldado ser gravemente ferido durante uma batalha e só dar por
isso findo o combate. É porque, na excitação motivada pela luta, a sua mente se separou do corpo, de
tal forma que esse nem sequer sentiu a dor produzida pela bala, despedaçando-lhe as carnes.
O espírito pode abstrair-se tão por completo do corpo que chegue a esquecer-se da própria exis-
tência dele e quando esquece o corpo, este cessa de sentir qualquer dor ou prazer.
A pessoa hipnotizada tem realmente o espírito separado do corpo, razão por que é naturalíssimo
deixar de sentir o fio de uma faca ou a ponta de uma agulha que se lhe enterra nas carnes. O corpo só
por si nada sente. É no espírito que está realmente a sede das chamadas sensações físicas. Separemos
a mente do corpo e este converter-se-á em uma massa de matéria quase inerte e insensível.
O álcool, a morfina e o éter são as substâncias mais espiritualizadas e, portanto, agem e atuam
sobre o espírito mental em que costuma viver. Quando, desta maneira, se alheia o espírito do corpo,
deixa naturalmente de atuar sobre ele, desaparecendo, portanto, toda e qualquer sensação que deveria
experimentar mediante o corpo.
Mais de uma vez me tem acontecido, e ao leitor também, decerto, estar em extremo fatigado ou
até profundamente acabrunhado e doente, e sentir um súbito e mesmo completo alívio, desaparecendo
todas as desagradáveis sensações pouco antes padecidas, depois de ter estado conversando amena-
mente, por algum tempo, com uma pessoa sobremodo querida ou simpática para nós. Por que se deu
isso? Simplesmente porque, durante essa agradável conversação, o nosso espírito se distraiu, suprimin-
do-se totalmente dos pensamentos acabrunhadores e aflitivos, que antes o preocupavam. Posta a nossa
mentalidade em perfeita harmonia e concordância com a mentalidade de qualquer pessoa, atraiu-se
uma nova corrente mental que em nós atuou, trazendo-nos novos elementos de vida.
Não é o corpo, mas o espírito, quem recebe os novos elementos de vida, que o elevam ou abatem,
conforme a sua natureza e procedência.
42 Prentice Mulford
um resfriado por me ter pôsto numa corrente de ar”, digamos antes: “Apanhei um resfriado ou outra en-
fermidade qualquer de fulano ou sicrano por eu ter permitido que o seu contagioso pensamento atuasse
sobre mim e me comunicasse esta ou aquela doença, das muitas perturbações físicas que engendra a
sua mente, geradora constante de enfermidade.”
O pensamento dos outros é sempre contagioso, quer se trate de ideias boas e salutares, quer de
ideias nocivas.
O contágio das mentalidades plenas de fé na doença e na dor constitui um veneno sutilíssimo. Por
esta razão, ainda mais do que por qualquer outra, precisamos ter o máximo cuidado na escolha das nos-
sas amizades e relações que todos os dias contraímos com tanta diversidade de pessoas de caracteres,
tendências, gostos e estados mentais tão diferentes.
Pode suceder que não possamos suportar nunca este ou aquele alimento, o que apenas é devido a
repelirmos mental ou inconscientemente, embora, essa substância, tendo absorvido talvez com grande
antecedência a ideia de tal antipatia de alguém, sem nunca têrmos protestado formalmente contra ela.
Antes, pelo contrário, temo-lo fortalecido em nós com o decorrer dos anos, chegando a dizer que tal
repulsa a este ou àquele alimento é nata em nós, o que acaba por ser exato porque nós próprios assim
o quisemos.
Poderemos, de um só golpe e em resultado de um só esforço, corrigir a repulsa que o nosso estô-
mago sente por qualquer alimento? É provável que não.
Durante largos anos, embora inconscientemente, temos estado predispondo o nosso estômago
para tal repulsa; portanto, é claro que nos será necessário também certo lapso de tempo para alterar
agora o nosso próprio estado mental a este respeito, até ficarem refeitos e reconstituídos os órgãos da
nossa máquina digestiva, de forma a nos deixarem certa liberdade quanto à alimentação e bebidas.
Depreende-se disto que manter na nossa mente a ideia de que toda doença física é fundamentalmente
devida a um certo e determinado estado mental, e também a de que a cura definitiva da nossa doença
pode provir de afastarmos totalmente dela o nosso pensamento, devem ser de enorme auxílio ao trata-
mento que o nosso médico nos tenha prescrito.
Podemos começar esta educação por expelir toda enfermidade da parte dolorida ou afetada por
ela, só pelo fato de mantermos em nossa mente, com a máxima e mais enérgica persistência, a ideia da
diversão.
Devemos também pedir ao Poder Supremo a necessária habilidade para transladar rapidamente o
nosso pensamento de uma coisa a outra. Principiamos destarte a adquirir o indispensável poder para
distrair ou reparar a nossa mente do que lhe poderia ser nocivo e prejudicial, se nela se fixasse, come-
çando então a fluir sobre a nossa mentalidade os salutares elementos curativos que hão de refazer o
nosso organismo. É possível não se produzirem imediatamente resultados muito apreciáveis, pois nossa
mente, que ainda está débil, age lentamente nessa direção. A nossa mente ao princípio assemelha-se
a um gonzo enferrujado que durante muitos anos não funcionou. Ela atuará de comum acordo com o
remédio que tomamos se, quando o tomarmos, pensarmos e dissermos: Tomo isto para curar ou pelo
menos aliviar a minha mente e não o meu corpo. Tomo este remédio para auxiliar a minha mente e
afastar-se da parte doente e para ajudar o meu espírito a arremessar para bem longe de si toda ideia
de enfermidade.”
Os vegetais e minerais, atualmente usados como remédios, e muitos outros que ainda se não usam
como tais, possuem qualidade espiritual para o alívio de certas doenças e até para a cura e alívio de
certos órgãos ou parte do corpo físico, cujas funções podem ser perturbadas por coisas diversas. Não
há nada material que esteja fora do domínio do espírito. Toda planta e todo mineral possuem alguma pro-
priedade específica e poder espiritual, que lhe são próprios. Não defenderemos, pois, a exclusão abso-
luta do tratamento médico, porque, quando os remédios são convenientemente ministrados, constituem
44 Prentice Mulford
glória. Tanto nos custa ver-nos mentalmente e saltar com êxito de uma altura de vinte pés, como somente
de dez. Imaginando-nos fortes, robustos, belos, poderosos, ricos, felizes, construímos a nossa própria
força, beleza, riqueza, poderio, felicidade.
Essa mesma força a que chamamos imaginação, invertida, cria em nosso organismo físico toda
espécie de doenças, tendo unicamente por sua verdadeira causa o espírito.
O espírito do atleta é tão forte aos setenta anos, como o era aos vinte e cinco. Por que motivo ad-
quirirá, pois, o seu corpo a debilidade e a invalidez com a idade? Porque foi educado para atuar sobre
alguns dos seus músculos, sem contudo ter sido educado de forma a ser completamente senhor de si
e saber sempre que isto lhe convenha, distrair-se dos pensamentos de aflição, debilidade e morte. Ao
contrário disso, a sua ignorância a este respeito tem sido tanta que, ao sentir-se atingido por alguma
enfermidade, ainda o seu espírito deu mais força à mesma.
Se houver sabido que toda enfermidade ou doença é apenas o resultado de uma ação mental exer-
cida sobre o corpo e que é possível evitá-la divertindo-se, ou antes distraindo-se de tal ação, da mesma
forma como se foge de uma serpente venenosa, bem diferente seria o seu estado de saúde, vigor e
agilidade física ao chegar aos setenta ou noventa anos.
Quando afirmamos que uma doença qualquer se tornou crônica é porque o pensamento dessa en-
fermidade é contínuo, a ponto de se tornar realmente crônico no enfermo ou paciente, tendo sido forjado
em seu espírito pelas pessoas que o rodeiam.
O homem não tem sabido distrair-se do pensamento produtor da sua doença, de maneira que, até
quando viaja, a ideia de tal enfermidade viaja com ele, pensando ele constantemente nela e falando do
mesmo assunto, não só com todos os membros de sua família, mas com todas as pessoas que se lhe
aproximam, em casa ou no passeio; com ela dorme e com ela se levanta, comendo com ela e procuran-
do de preferência as pessoas que sofrem da mesma moléstia. Que admira, pois, se, por fim, o seu corpo
chegue a experimentar todos os sintomas da doença imaginada?
Há pessoas que, depois de terem sofrido, durante um ou dois invernos, um forte resfriado, apenas
se aproxima a estação invernosa estão já temendo um ataque de influenza e é mais que certo não se
livrarem dela. Muito melhor seria procurar afastar do seu pensamento tal ideia, dizendo a si próprio: “Não
creio que me resfrie este inverno”. Só este pensamento é já bastante e constitui um início de reforma
mental. Pode suceder que lhe sobrevenha um resfriado, porquanto não é em vão que o tem estado pa-
decendo durante longos anos e faltando sempre às leis espirituais, como todos nós temos feito e todos
os dias estamos fazendo constantemente.
Se, ao nos despertarmos certa manhã, sentimos dores nas juntas, o corpo pesado, a garganta, o
nariz ou os olhos inflamados, além dos inúmeros remédios que habitualmente são indicados para com-
bater uma bronquite ou um simples resfriado, podemos experimentar também o exercício da distração,
empenhando-nos em algum trabalho diverso das nossas ocupações cotidianas e que mais nos prenda
o espírito.
Assim é que podemos, por exemplo, comer fora de casa, dormir em outra cama, vestir os nossos
melhores trajes e com mais esmero, fumar um cigarro ou um bom charuto, se não temos o hábito de o
fazer, tomar um caminho diverso do que costumamos tomar para ir ao escritório ou voltar para casa,
beber chá, se estamos habituados a tomar café, suar bastante, molhar os pés ou comer alguma coisa
que nunca tenhamos comido ou muitas raras vezes, embora não seja possível introduzir todas essas
alterações de vida nos nossos costumes em um só dia ou de uma só vez.
Todas estas coisas e, muitas mais que aqui não mencionei, servem de diversão à nossa mente,
afastando-a de toda e qualquer perturbação física, podendo fazer-se idêntica coisa com toda e qualquer
atribulação moral.
46 Prentice Mulford
destas afecções físicas se apresenta associada ou intimamente combinada com determinados hábitos,
companhias ou permanências em certos lugares. Deixemos esses hábitos, cessemos de frequentar tais
lugares ou pessoas, e os sintomas da nossa doença desaparecerão por completo, só pelo fato de ter-
mos, desta forma, destruído as condições mentais mórbidas que os produziam.
Despedacemos a trama mental que nos tem presos ou encerrados em um círculo rotineiro e tere-
mos feito, destarte, desaparecer também a doença que lhe era inerente e tanto amargurava a nossa
existência.
Não variar os nossos costumes, habituar-nos a fazer o mesmo todos os dias, acaba por nos inutili-
zar, impossibilitando-nos de introduzir em nossa vida a menor variedade e deixando-nos sempre como
pregados a um canto do lar, isolados de tudo e afugentando também de nós todo ideal ou mesmo sim-
ples desejo de sair, passear ou fazer qualquer coisa diferente, que ao menos traga qualquer variação à
nossa vida. E assim, de dia para dia, mais penoso e desagradável se torna para nós o pensarmos em
introduzir a mais insignificante mudança em nossa vida.
É, porém, de toda conveniência quebrar essa espécie de encanto e visitar os museus, os jardins
e os teatros, todos os lugares, enfim, onde seja possível encontrar um salutar divertimento e as famílias
que possam proporcionar-nos alguma benéfica distração, esforçando-nos por não passar horas e horas
nessa espécie de estúpida letargia que a constante e contínua permanência em casa nos produz, onde
muitas pessoas, até marido e mulher, passam horas e dias inteiros pasmados ou bocejando, cheios de
tédio, um em frente do outro, desejando bem no íntimo da sua alma alguma coisa de novo, inclusive al-
guma cara nova, qualquer coisa, enfim, que traga um pouco de agradável diversão à estúpida e pesada
monotonia da sua existência, à qual se sentem manietados com férreas algemas.
O Universo está repleto de uma infinidade de variadíssimas coisas, cujo gozo nos pode dar uma
felicidade mais ou menos duradoura. Quanto maior for a nossa perfeição espiritual e elevada a nossa
espiritualização, maior será também o nosso poder para sentir e apreciar, em todo seu justo valor, essa
infinita abundância de todas as boas coisas que o mundo encerra, guardando-as avaramente só para
aqueles que as sabem descobrir e apreciar devidamente.
À medida que se for desenvolvendo e robustecendo a nossa fé no Poder Supremo para a produção
do bem, maior e mais vigoroso será em nós também o estímulo ou impulso que havemos de sentir para
procurar e conseguir a variedade da nossa vida, indo em busca da necessária diversão em todos os
momentos da nossa existência.
O homem que chega a sentir-se fatigado, saciado de todos os prazeres da vida, imaginando ou
dizendo que já tem visto e sentido tudo, que nenhuma impressão nova pode experimentar, porque a vida
e o mundo nada de novo encerram para ele, é um homem incapaz de sentir e ver algo mais do que o
lado material das coisas — podeis ficar certos disso. É cansado, um vencido pela vida; os seus sentidos
físicos esgotaram-se completamente por lhes faltar a necessária vivificação e regeneração das suas
forças, as quais deviam provir do elemento espiritual que recebemos.
Permitamos pois à nossa mente fortalecer-se cada vez mais, de dia para dia, no hábito de pedir
constantemente ao Poder Supremo a sabedoria, a fé e a força tão necessárias ao homem para fazer
desta vida o que ele deveria realmente ser — e o que, sem dúvida, será um dia: um eterno Paraíso.
P
ela forma por que hoje vivemos, malbaratamos as nossas forças, desperdiçando-se elas cons-
tantemente, por caminhos e canais inteiramente desconhecidos para nós. Acima da economia
monetária existe outra muito mais nobre e elevada. Quando o homem conhecer bem essa Econo-
mia, conseguirá deter de vez a perda dessas suas energias, tendo como resultado disso um aumento
contínuo das suas forças físicas e mentais, forças estas que têm muito mais valor do que o dinheiro,
pois que o primeiro e mais importante de seus resultados será o prolongamento da própria existência,
prolongamento que até agora ninguém se atreveu a esperar.
De acordo com esta Economia divina de nossas forças, a qual até agora ainda não foi compreen-
dida por ninguém, cada um de nossos atos, quer ele seja simplesmente material ou mental ou ainda um
ato reflexo sobre o corpo, será indubitavelmente uma exuberante fonte de verdadeiro recreio; aumen-
tando as nossas forças, é claro que todo trabalho material ou mental, feito nestas condições, todo exer-
cício, quer seja físico, quer espiritual, há de forçosamente causar-nos profundo prazer, deixando-nos,
além disso, uma verdadeira reserva de forças, tornando-nos aptos para todos os esforços corpóreos ou
mentais, muito mais prolongados e intensos do que hoje poderíamos fazer.
Uma das mais importantes causas do nosso atual desbarato e desaproveitamento de força consiste
no modo mental impaciente, colérico, intemperante ou esbanjador do espírito. O menor movimento feito
pelos nossos músculos representa um dispêndio de força ou energia mental; a mais ligeira expressão,
o mais imperceptível movimento de um dedo sequer, ocasiona um desperdício maior ou menor da força
divina, que é também a nossa, pois que cada um de nós é uma parte do Infinito. Mas é uma lei do Infinito
que tal força seja, por fim, empregada para nos proporcionar a maior e mais duradoura felicidade que
é possível imaginar-se.
Se não procedemos de acordo com os decretos e leis divinas, como o Infinito entende que deve-
mos agir, sobre nós cairão somente dores, receios, cuidados e aflições.
Toda atribulação, seja ela qual for, é um aviso da Mente Infinita, para nos advertir de que as nossas
forças sofreram qualquer desvio.
Suponhamos que o leitor tem em sua casa um autômato, cuja força motriz é caríssima, mas do qual
necessita para os diversos atos da vida cotidiana. Não procurará, antes de por em movimento o autô-
mato e, portanto, de gastar qualquer porção de força de que carece para movê-lo, averiguar se os ser-
viços por ele prestados valem a despesa que a sua força motriz acarreta? Consentiremos, porventura,
que o nosso autômato doméstico esteja em contínuo movimento, gastando, sem necessidade alguma,
a dispendiosa energia necessária para movê-lo e dando até, com isso, lugar a que o seu mecanismo se
deteriore? Pois é isto o que, na verdade, fazemos com o nosso corpo quando, para levantar uma folha
de papel, abrir uma janela ou calçar uma luva, empregamos maior quantidade de força do que necessi-
tamos para bem realizar todos os atos.
E quando é esse o nosso habitual estado mental, executando com impaciência todos esses pe-
quenos e trivialíssimos atos da vida cotidiana, produz-se uma exteriorização constante ou dispêndio de
nossas forças, sem receber em troca compensação alguma, vindo, desta forma, infalivelmente, a debi-
lidade, a doença e a morte do nosso corpo.
Contai, se puderdes, os diversos movimentos de pernas, braços e músculos que sois, deste modo,
obrigados a executar, desde que vos levantais da cama, pela manhã, até vos recolherdes novamente
ao leito, à noite.
48 Prentice Mulford
Pensai também nos variadíssimos movimentos que tendes de fazer para levantar-vos, vestir-vos,
calçar-vos e procurardes o mais insignificante dos utensílios de que tendes necessidade durante todo o
dia, e lembrai-vos de que, em cada um desses movimentos, gastais maior ou menor soma dessas for-
ças, tanto físicas como mentais, e até que, além disso, cada uma das ideias que ocorrer à vossa mente
exige também um considerável dispêndio de forças.
Pois, o autômato a que acima aludi representa, positivamente, o nosso corpo, e a força que atraímos
para lhe dar os movimentos nos vem da Mente Infinita, como expressão da Força Infinita também. Esta
força não se compra com dinheiro: é inapreciável porque está muito acima de toda avaliação mercantil.
A santidade do seu valor nunca diminuirá, seja qual for o ato praticado e a sua natureza, sendo sempre
o mesmo o seu valor, quer a empreguemos em remendar um vestuário andrajoso, com que iremos pedir
esmolas, quer para fazer deslizar velozmente a pena sobre o papel para nele escrevermos uma bela po-
esia, sublime de inspiração e sentimento. Em harmonia com essa sábia lei, com essa divina Economia,
a despesa das nossas forças deverá ser calculada e regulada de forma a produzir-nos cada vez mais
benefícios, da mesma forma que, quando empregamos um pequeno capital, por insignificante que seja,
esperarmos sempre ganhar mais com ele. Consegui-lo-emos sem dúvida, executando cada um dos
nossos movimentos e ações, calma e pacientemente, o que sem cessar imploraremos à Mente Infinita
que nos conceda.
Desbaratamos maior quantidade de nossa força nas coisas denominadas pequenas e sem impor-
tância do que nas tidas por grandes, porquanto são aquelas geralmente as executadas num estado
mental de impaciência. Se para apanhar a tesoura ou qualquer outra coisa que nos tenha caído ao chão,
nos abaixamos com um ímpeto de cólera ou mesmo de impaciência e profundo aborrecimento, teremos
despendido, só nesse ato tão insignificante, forças suficientes para erguer cinquenta libras de peso.
Quando nos irritamos por nos ter caído ao chão a pena, um pedaço de papel ou qualquer outra
coisa, e, nesse estado mental, nos abaixamos para apanhar o objeto, indubitavelmente teremos gasto
maior quantidade de força do que seria necessária para se realizar um ato tão simples, e essa força que
tivermos gasto a mais, esbanjando-a sem necessidade, a perdemos de uma vez para sempre, pois não
podemos reavê-la mais.
Quando o feitio habitual de qualquer pessoa é o da impaciência e, nesse estado mental, executa
os atos mais insignificantes da sua vida, pode-se afirmar que está desbaratando e desperdiçando con-
tinuamente suas forças, cujo último e inevitável resultado é o esgotamento, o qual finaliza sempre por
alguma séria enfermidade.
Quando compreendermos o verdadeiro valor da nossa força, veremos que tem igual importância to-
das as cotidianas ações da nossa vida e que, muitas vezes, o simples fato de atarmos os sapatos exige
da nossa parte a mesma dose de energia de que carecemos para pronunciar um discurso. Se executar-
mos com excessiva pressa, estouvadamente ou com grande impaciência qualquer ato da nossa vida,
atrairemos dessa forma a corrente mental mais adequada para executarmos todos os outros no mesmo
estado de espírito, seja qual for a importância que dermos a cada um deles. Se dermos, por exemplo, o
laço da gravata com uma precipitação febril, despendendo, num ato tão insignificante, maior quantida-
de de força do que era mister, colocar-nos-emos em condições de executar, de um modo mental idênti-
co, o que consideramos, talvez, o negócio de maior importância e interesse para nós, em todo esse dia.
Esta perda contínua de forças põe a mente nas piores condições para poder concentrar todas as
suas energias no assunto ou negócio que temos entre as mãos e tanto cuidado nos dá, o qual poderia
ser até a realização de um contrato que para nós representasse o ganho ou a perda de muitos mil dóla-
res e no qual devemos entrar, examinando-o com todas as nossas forças e são critério.
O estado mental impaciente e o desperdício de forças daí resultante tendem a deixar várias lacunas
ou pelo menos pontos fracos em tudo quanto fizermos, e determinam a falta de presença de espírito
50 Prentice Mulford
energias na ação precipitada do seu espírito e do seu corpo, por não saberem reservar ao menos uma
pequeníssima parte para calcular e prever com sensatez e calma os seus negócios.
É esse estado mental que mantém muitíssimas pessoas na pobreza material. Se a força de que nos
servimos para fazer agir o corpo estivesse sempre sob o domínio da mente, sobrevindo logo o repouso,
após um momento de fadiga, o aproveitamento da mesma seria muito melhor, mais amplo e completo.
Ninguém se acha em boas condições de espírito para tratar de um negócio, quando está entregue a um
exercício qualquer, como, por exemplo, o prazer da caça.
O estado mental de impaciência tanto pode assenhorear-se de nós no escritório, na repartição, no
armazém ou no passeio, como na cozinha. Poder-se-ia escrever sobre o túmulo de mais de um rico e
laborioso negociante esta inscrição: “Não foi o trabalho que o matou, mas o excesso de forças que nele
empregou.”
A precipitação com que muitas vezes são escritas as cartas comerciais com a sua letra desigual e
mal formada, demonstra que quem a escreveu vive num estado mental que o faz desperdiçar boa parte
das suas forças.
Todavia, alguém dirá: “Se eu seguisse os conselhos do autor, nem metade dos meus negócios po-
deria fazer durante o dia.” Talvez tenha razão. É, porém, certo que pelo modo por que muitos, senão a
maioria deles, procedem, o desperdício de forças é constante, podendo afirmar-se que os resultados
serão os mais desastrosos, pois que tal estado só produz debilidade e esta a definitiva decadência.
Todos os dias, pela manhã, ao levantar-nos, devemos fazer a seguinte prece: “Imploro ao Poder
Supremo que me conceda o estado mental de repouso e que eu encontre satisfação e verdadeiro prazer
em tudo quanto fizer.”
Todas as ações que praticamos durante o dia podem ser e são, realmente, influenciadas pelo pri-
meiro ato que realizamos pela manhã, ao começarmos os nossos trabalhos cotidianos. Muitas mulheres
terão entrado na corrente de irascibilidade e mau humor, que se prolongará todo o dia, só pelo fato de
se terem queimado um dedo ou entornado a cafeteira, pela manhã, devido à grande precipitação com
que fizeram o almoço. E é conveniente notar que todos estes dissabores lhes sucederam porque tinham
sempre fixa em sua mente a terrível e prejudicialíssima ideia do mais depressa!
Se, mediante a nossa prece ao Poder Supremo, conseguirmos que essa corrente mental da verda-
deira economia atue sô- bre nós, então, em lugar de têrmos dado o cuidado nas nossas ações, bastará
que nelas ponhamos amor e carinho e, desta forma, nenhum incômodo nos dará o desempenhálas.
O hábil jogador de pelota ou de bilhar e o gracioso e inteligente bailarino só encontram prazer na
execução das suas variadas e difíceis evoluções, porque nisso puseram todo o amor da sua arte e é
assim que, no futuro, o homem realizará cada uma de suas múltiplas ações.
A ideia que está encerrada na palavra cuidado, e até a própria palavra, foi criada ou engendrada
pela mente material ou terrena. Nas mais elevadas regiões da existência, todo cuidado converte-se em
amor. Amar a ação, de um modo natural, isto é, sem forçar a própria natureza das coisas, é o que deter-
mina a economia das sagradas forças que em nós residem, assim como o hábil lenhador sabe econo-
mizar a força que o manejo do machado exige, brandindo-o contra o tronco da árvore só no momento
oportuno e justamente no sítio de antemão escolhido, convertendo, deste modo, tão árduo trabalho num
verdadeiro brinquedo.
O artista, o escritor e, em geral, todos os que, de alma e coração, se entregam à profissão que
exercem, sentem-se sempre cheios de impaciência para começar o seu trabalho favorito, que sobre eles
exerce uma espécie de fascinação, nada mais desejando tão ardentemente como poderem absorver-
-se nele. Tudo o mais os incomoda e aborrece, e o tempo que não empregam no seu dileto trabalho, os
enfastia. Vestem-se apressadamente e de qualquer jeito, alimentam-se com precipitação e da mesma
forma executam todos os outros atos necessários à vida. E em seguida, como consequência disso tudo,
52 Prentice Mulford
facilmente dela. Essa nossa arremetida transforma-se em uma espada de dois gumes, que tanto fere
o inimigo como aquele que a maneja. É por esse motivo, justamente, que se lavrou a bem conhecida
sentença: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.”
Se vivemos com as leis da Economia divina, poupamos toda essa força desperdiçada, porquanto
o ódio se não nos abrigará no coração; nos homens e em toda a natureza somente veremos o bem. Ver
sempre o bem em tudo e em toda parte é exteriorizar uma grande força mental que nos atrairá maior
quantidade de bem e de felicidade... À medida que a nossa prece se toma mais enérgica e mais sin-
cera, o Poder Supremo nos ensinará o modo de encontrar em tudo maior bem do que nós imaginamos,
ficando então admirados da infinita formosura e perfeita ordem que predominam no universo inteiro,
ordem e formosura tais, que nem sequer agora podemos sonhar.
A lei humana diz-nos que devemos repelir todo o agravo, vingando qualquer ofensa com uma afron-
ta; por isso, na ordem humana até agora estabelecida, grande parte da sociedade está em contínua
guerra com a outra parte, sob pretexto de combater qualquer mal, pronunciando-se assim, de parte a
parte, palavras duríssimas e insultos pungentes. Destarte, do púlpito e da tribuna, os homens lançam
uns contra os outros tremendas acusações e anátemas terríveis, e por esse caminho formam-se, num e
noutro partido, os sentimentos mais dúbios e transviados.
Os homens fizeram as leis para destruir o mal e não o conseguiram em coisa alguma, mas a rotina
acostuma-nos a trilhar sempre a mesma senda, e por ela vamos seguindo sempre satisfeitos.
Porém, examinando tudo isso bem, podemos dizer, porventura, que foi este o melhor caminho?
Observamos em alguma coisa as inspirações do Onipotente? Ou foi porque o homem se empenhou em
tomar as rédeas em suas próprias mãos, confiando demais nas suas forças para se governar?
Se nos achamos num estado mental em que nos pareça necessário fazer diversas coisas ao mesmo
tempo, porquanto as julgamos todas igualmente indispensáveis, como sucede frequentemente à mu-
lher, que não sabe determinar os trabalhos de sua casa, devemos pedir ao Poder Supremo a sabedoria
necessária para conhecermos o que primeiro devemos executar, qual das coisas nos deve ser mais útil
e proveitosa. Devemos também pedir a necessária sabedoria para saber quando as nossas forças atin-
giram o seu limite, pois são numerosos os que trabalham inútil e inconscientemente muito além do que
lhes permitem as forças, alquebrando assim a saúde e abreviando o final de seus dias neste planeta.
Gastamos em maior ou menor quantidade as nossas próprias forças até estando ociosos e tranqui-
los, pois as gastamos também em cada um dos nossos pensamentos e planos mentais, sejam grandio-
sos ou insignificantes.
Vemos, por exemplo, que a nossa biblioteca está coberta de pó, a nossa mesa de trabalho em
completa desordem, as nossas caixas de pintura ou de costura em plena confusão. O propósito que
mentalmente formamos de por todas essas coisas em ordem, embora materialmente não nos tenhamos
movido de nossa cadeira, gastou-nos uma parte maior ou menor de nossas forças. Se nestas coisas,
que hão de ser feitas no futuro, pensarmos uma dúzia de vezes por dia, pensando sempre em fazê-la,
sem nunca realizar esse intento, temos gastado quantidade de forças de que havíamos mister para
executá-las materialmente; além disso, a contemplação de tantas coisas por fazer se nos tomou deveras
incômoda e irritante, aumentando cada vez mais o aborrecimento e a irritação à vista das coisas que
deixamos por fazer durante o dia.
A simpatia e o amor, mal dirigidos e mal empregados, são também causa de perda das nossas
forças. Se dedicarmos o nosso afeto e simpatia às pessoas cuja condição mental está muito abaixo da
nossa, desperdiçamos grande parte de elementos valiosíssimos, sem receber em troca elementos equi-
valentes. A lei vital exige que haja igualdade absoluta no intercâmbio de elementos mentais entre duas
ou mais pessoas estreitamente unidas por laços afetuosos. Estar unido ou ligado a uma pessoa, em
54 Prentice Mulford
Se adormecemos atribulados por uma grande angústia, o nosso espírito permanecerá toda a noite
debatendo-se nas malhas apertadas dessa cruciante dor e, ao acordar, ao nosso corpo alquebrado
parecerá ainda mais insuportável essa tremenda carga.
A mente cujo hábito é de constante impaciência, enquanto o corpo no leito descansa, e continua
vivendo no reino da impaciência e do desassossego, aliando-se com outras mentalidades que, em idên-
tico estado, vivem alimentando assim o corpo somente com os elementos da impaciência e da angústia.
As forças economizadas pelos meios de que falamos e por muitos outros é que dão a certos adep-
tos de algumas seitas da Índia as extraordinárias faculdades de que gozam, poderes em que não
acredita a maioria dos ocidentais que os qualificam de sobrenaturais. Nada de sobrenatural existe no
universo; o que há apenas é que tanto no universo como em nós próprios existe uma grande quantidade
de coisas hoje ainda ignoradas pelo homem.
Pelo decorrer dos tempos, todos os homens têm vivido com o hábito de desperdiçar as suas pró-
prias forças, pelo que, tratando de corrigir estes males, devemos abster-nos o mais possível de dizer: “É
necessário ou tenho de reformar imediatamente este hábito”, porque ele não pode ser reformado ime-
diatamente, por isso que nenhum homem pode, só por si, individualmente, reformá-lo em absoluto. Só a
nossa incessante prece ao Poder Supremo pode libertar-nos a mente de tão nocivo hábito.
É-nos inteiramente impossível, de um só esforço, deter esse perene desperdício de nossas forças; a
habitual impaciência que por longos anos abrigamos em nós exigirá bastante tempo ainda para corrigir-
-se e transformar-se num estado mental mais tranquilo e calmo.
As relações com pessoas cuja companhia não nos convém ou pode até ser-nos prejudicial, também
não podem ser cortadas de um golpe ou de uma só vez, ainda mesmo quando saibamos serem elas
a causa da perda das nossas forças. Uma mente habituada ao ódio ou à inveja não pode mudar o seu
feitio do dia para a noite.
Dizer a nós mesmos ou aos outros: “É necessário corrigir- nos já, de uma vez para sempre, do hábi-
to de estar sempre impacientes e contrariados”, seria, na verdade, enveredar por um péssimo caminho,
pois que o esforço que fizemos nesse sentido seria forçado e artificial, redundando tudo em prejuízo e
grande dano da pessoa que o tentasse, originando-se um estado mental falso e destituído de naturalida-
de; como algumas vezes observamos em certas pessoas que, sistematicamente, imitam ou arremedam
as maneiras de outras individualidades.
Os estados mentais daí resultantes são sempre contrafeitos e doentios, produzindo extrema fadiga
no corpo.
A correção e a distinção que se podem conseguir ou adquirir desta forma, não perduram, pois só
pode perpetuar-se pelos séculos adiante aquilo que nos provém de Deus.
O corpo que durante trinta ou quarenta anos se habituou ao estado mental de impaciência, conver-
tendo esta na sua condição normal, tem em cada um dos seus ossos a impaciência mental materializa-
da em substância física, da qual só podemos desprender-nos pouco a pouco, substituindo-a por uma
substância mais nova, mais salutar e mais espiritual em suma.
Atualmente vivemos no meio da ignorância, mas, por isso ninguém pode qualificar-nos de miserá-
veis pecadores. Devemos, entretanto, sair desses erros. À medida que nossos olhos se forem abrindo
à luz divina, descobriremos algumas das faltas ou erros em que temos vivido. E devemos dar muitas
graças ao Supremo Espírito do Bem por nos ter feito ver e conhecer bem as nossas passadas faltas ou
erros, pois que só o fato de as podermos ver já é uma prova de que estamos progredindo no caminho
da nossa perfeição.
O homem, porém, não pode, por si só, desenvolver essa Economia divina. Portanto, se chegar a
descobrir que está esbanjando de qualquer forma as suas próprias forças, o que lhe convém fazer é
56 Prentice Mulford
DEUS NA NATUREZA
B
em-aventurado é aquele que sabe amar as árvores, principalmente as árvores silvestres ou na-
turais que crescem sem peias onde a pródiga e onipotente natureza, a divina Força da criação
as colocou, independentemente dos cuidados dos homens. Porque todas estas coisas, por nós
denominadas silvestres ou naturais, estão muito mais próximas da Mente Infinita do que as que foram
escravizadas e torturadas pela mão do homem e, justamente enquanto assim estão mais perto da Mente
Infinita, desfrutam também muito melhor e em maiores proporções da Força Infinita. Eis a razão por que,
quando nos encontramos em plena natureza, no meio dos bosques ou nas montanhas, enfim, no meio
de tudo quanto é silvestre ou natural, onde se não encontra o menor vestígio, nem mácula da mão do
homem, sentimos uma íntima satisfação e uma verdadeira liberdade de espírito, difícil de exprimir e que
em nenhuma outra parte podíamos encontrar.
É porque ali respiramos um elemento especial que as árvores, as rochas, as aves, os animais e
cada uma das expressões da Mente Infinita que nos rodeia, desprende contínua e constantemente. Tudo
isso é alegre e saudável; existe ali mais alguma coisa do que o ar que respiramos: há a Força Infinita
manifestada em todas essas coisas absolutamente naturais, a qual influi e atua sobre nós.
Na cidade, não podemos gozar dessas coisas, nem sequer mesmo nos mais belos e cultivados
jardins e vergéis, porque estes, ao contrário da libérrima natureza, estão impregnados da baixa e mes-
quinha mentalidade humana, dessa mentalidade que acredita ser ela só que impele o progresso e o
melhoramento do universo.
É o homem propenso a acreditar que o Infinito fez o mundo tosco e grosseiro, para ele o poder aper-
feiçoar e polir. Foi esta, realmente, a orientação seguida pelo homem, o raciocínio por ele feito ao destruir
as selvas e as florestas e, com elas, portanto, os pássaros e os outros animais que nelas habitam. Cons-
tituem, porventura, progressos verdadeiros, na ordem natural e divina das coisas, estes nossos rios, que
arrastam o lôdo e as águas infectas de tantas fábricas e engenhos de toda espécie, e estas cidades
feitas pela mão do homem, as quais crescem e se expandem, todos os dias, sobre muitas milhas de ter-
reno, vivendo nelas os seus habitantes apertados como as abelhas numa colmeia, correndo sob as suas
casas os pestilentos canos de esgoto e ouvindo-se por toda parte milhares de ruídos ensurdecedores,
não falando nos inúmeros perigos de que constantemente estamos rodeados?
Venturoso é, pois, aquele que durante a sua existência inteira sabe amar com terno amor as árvores
dos bosques, as aves e os animais, cujas vidas o homem não artificializou ainda, compreendendo, além
disso, que todos eles são animados pelo mesmo Espírito divino, que o anima a ele também, visto serem
todos criaturas de Deus, filhos, portanto, do mesmo Pai Criador, podendo prestar-lhe elementos verda-
deiramente valiosos em troca do amor desinteressado que lhes consagrou,
Nem as árvores das florestas, nem os pássaros que, em seus frondosos ramos, controem os mimo-
sos ninhos, deixam de corresponder a tal amor, porque esse amor não é um simples mito sem realidade
alguma; antes, pelo contrário, constitui um real elemento, uma força que de nós dirige para a árvore, o
pássaro ou a simples rocha, e por todas essas coisas é sentido na verdade.
Cada um de nós representa uma parte da Mente Infinita e cada uma de todas as outras coisas que
existem na natureza, quer seja animal, planta ou mineral, representa outra parte da mesma Mente, sob
a forma de vida que lhe é peculiar e com a sua própria inteligência. A única diferença consiste apenas
em que o homem goza talvez de uma forma mais perfeita e que ainda se aperfeiçoará cada vez mais
nas idades vindouras.
58 Prentice Mulford
A árvore é, pois, na realidade, uma das expressões do pensamento divino, e esta expressão, as-
sim como todas as outras expressões do Eterno, merece o nosso estudo, porque deve conter algumha
porção da Sabedoria Infinita, que nós ignoramos e necessitamos incorporar no nosso ser, pois que toda
verdade que adquirimos aumenta os nossos poderes, os quais, pouco a pouco, melhorarão o nosso
corpo, tornando-o mais forte e são, libertando-o por fim de toda debilidade, da doença e da morte.
Porque, como já foi dito, devemos aspirar a que o nosso coração e a nossa mente se fortaleçam;
que o nosso corpo se tome ágil e não pesado, à medida que os anos forem decorrendo e que cada novo
dia nos traga também maior ventura e um novo prazer, de forma que, em nossa alma e em nosso espíri-
to, penetre a divina luz de uma nova religião capaz de nos dar certezas absolutas e não meras esperan-
ças e teorias; que nos seja permitido sentir a Divindade de um modo positivo, indiscutível e inteiramente
indubitável, manifestando-se a Mente Infinita em cada um dos átomos do nosso ser.
Quando vivemos nos domínios da Mente Infinita e trabalhamos para que esta entre a formar parte
de nós próprios, nada nos parecerá fútil ou inútil.
Necessitamos para os nossos projetos o auxílio de certos poderes agora ainda negados aos ho-
mens; necessitamos vencer os obstáculos que o corpo mortal opõe à nossa marcha, carecemos de
vencer as dores e a morte, deficiências próprias do corpo mortal.
Poderão dar-nos as árvores tudo isto. Muitíssimo auxílio podem prestarnos na verdade, se conse-
guirmos penetrar no seu espírito e compreender que, realmente, elas contêm uma expressão da Mente
Infinita e deixarmos de considerá-las como uma coisa inanimada. Se só apreciarmos as árvores como
coisas produtivas e boas, porque nos dão lenha e madeira, quase de todo desconheceremos a sua vida
espiritual, razão por que elas nos desprezarão, como nos desprezaria qualquer pessoa a quem consi-
derássemos boa somente para ser serrada ou feita em achas para queimar.
Quando vivemos realmente no amor do Espírito Infinito de Deus, amamos todas e cada uma das
partes de Deus.
Ora, uma árvore é também uma parte de Deus e, enviando-lhe a expressão do nosso amor, ela nos
enviará também a retribuição do seu e, com ele, os elementos da sua mentalidade, os quais adiciona-
rão aos nossos conhecimentos um conhecimento novo e um novo poder às nossas próprias potências
e faculdades, dizendo-nos que a força que representa, sendo como é uma parte de Deus ou a Força
Infinita, tem, com relação ao homem, destinos muito mais elevados do que o de ser convertida em fumo
e cinzas. O seu amor nos dirá, então que a árvore penetra a atmosfera com os seus ramos e as suas
folhas, para dela extrair elementos vitais que transmite à terra e dos quais o homem se aproveita, em
seguida, na proporção da sua capacidade para os receber.
Quanto mais nos aproximamos da verdadeira concepção da Mente Infinita, quanto mais clara e
nitidamente compreendermos que desta Mente estão impregnadas todas as coisas, quanto mais intima-
mente sintamos a nossa relação com o pássaro e a pedra, considerando-os como criaturas verdadeira-
mente nossas irmãs também, em maior quantidade absorveremos os elementos vitais que emanam de
cada uma destas manifestações vitais da Mente Infinita e que ela projeta sobre nós.
As pessoas que só apreciam as árvores por considerá-las boas para madeira ou combustível, pou-
quíssimo podem aproveitar desses elementos vitais que, para outra mentalidade mais elevada e perfei-
ta, serão verdadeiros elixires da vida e alegria.
Só absorvemos os elementos de amor, na proporção em que amamos; e só amamos na devida
proporção em que admiramos cada uma das manifestações do Infinito, quer seja uma árvore, um arbus-
to, uma flor, um fruto, um pássaro, um inseto ou qualquer outra forma das inúmeras expressões que a
natureza encerra. Não podemos destruir nem mutilar o que deveras amamos, e o amor de tudo quanto
sinceramente amamos flui até nós, penetrando-nos, pois é um elemento tão positivo como a própria
60 Prentice Mulford
Acaso não haverá outra forma de viver do que aquela que conhecemos atualmente? Acreditamos,
porventura, que nas mais puras, elevadas e perfeitas condições mentais por nós denominadas celestes
serão também necessárias, como agora, a morte dos animais, a mutilação das árvores e a destruição
de tudo quanto seja uma expressão material da Sabedoria Suprema? Pode-se acreditar que há de ser
possível trabalhar na elevação e na purificação da nossa mentalidade, sem nunca ter o conhecimento
das leis mediante as quais esta purificação pode ser alcançada? Isto seria o mesmo que acreditar que
alguém possa fazer dar a volta ao mundo a um navio, sem ter os menores conhecimentos de náutica.
Não devemos aspirar atingir as culminâncias celestiais, da mesma forma que um barril vai rolando in-
conscientemente por uma escarpa abaixo.
É de ver que não podemos libertar-nos imediata e completamente de escravizar e sacrificar as plan-
tas e os animais, nem de os excluirmos de todo na nossa alimentação. Enquanto o corpo desejar e soli-
citar tal espécie de alimentos, é de absoluta necessidade dar-lhos. À medida, porém, que o nosso corpo
se for espiritualizando e aumente a sua crença e a sua fé na purificação de seus elementos, o estômago
e o paladar repelirão a carne de qualquer gênero que seja e não saborearão seres violentamente mortos.
O homem acreditou sempre, erroneamente, até agora, que dependia da sua própria vontade o
purificar ou elevar o seu estado mental e, para tal fim, muitos se têm violentado a si próprios e obrigado
a outros também a determinados jejuns e penitências, abstendo-se completamente de todos os gozos
e prazeres que a sua natureza mais desejava e lhes pedia. Todavia, e apesar de tudo isso, nunca o ho-
mem, por esses caminhos, conseguiu libertar-se da enfermidade, do sofrimento, da decadência e da
morte.
Com todas essas rudes provações, o homem só tem conseguido prejudicar-se, passar uma exis-
tência miserável e por fim perder igualmente o seu corpo, tal e qual como o perde também o glutão, o
bebedor ou aquele que de nenhum gozo se priva.
O asceta nunca teve a verdadeira fé de que só o Supremo o havia de fazer elevar-se na escala da
perfeição e não o seu próprio esforço, e foi esse positivamente o maior dos seus pecados, porquanto,
desta forma, cortou, pelo menos temporariamente, a sua relação com o Supremo, fonte de onde emana
toda vida.
A salvação não está fora ou na exclusão de todo pecado, de todo excesso, de todo e qualquer
hábito prejudicial, mas na perfeita submissão ao Poder Supremo, que com certeza afastará de nós, gra-
dualmente, os desejos desordenados e os anelos próprios deste ou daquele vício.
De outra forma, é claro que pode ao homem parecer que se tem corrigido, porém, será só na
aparência ou exteriormente e de forma contrafeita e artificial, pois que repressão não é o mesmo que
correção.
Fanático em todos os tempos e em todos os povos tem sido o indivíduo que a pretensão de acre-
ditar poder fazer facilmente de si, e por sua vontade própria, um anjo. Foi esta crença que manteve e
mantém ainda o homem no seu atraso.
O Supremo está nos dizendo a cada momento: “Vinde a mim; em todas as coisas criadas me
encontrareis; e eu vos enviarei todos os dias pensamentos novos, novas ideias e novos elementos de
vida, que irão transformando os vossos gostos e desejos, eliminando em breve, mas pouco e pouco,
de vossos corpos, os desejos desordenados e as desregradas paixões, dando-vos, em compensação,
prazeres tão grandes e sublimes como nem sequer podeis imaginar.”
À medida que avançarmos na senda da perfeição, a nossa existência se tornará mais elevada e
mais pura, como o universo inteiro há de purificar-se, e sentir-nos-emos cada vez mais propensos a
conceder aos animais, às plantas e a todas as manifestações materiais da Divindade e da Força Infinita
o gozo pleno da sua vida e da sua liberdade. Então, amando-as, as respeitaremos, pois que não se es-
craviza nem se mata o que deveras se ama. Prendemos um pássaro numa gaiola para o nosso prazer e
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O que puder retirar-se, de quando em quando, à solidão da natureza, sem se sentir molestado e mal
impressionado nesse isolado retiro, antes experimentando imensa alegria e uma íntima e profunda satis-
fação de si próprio, sem a menor dúvida, ao regressar ao convívio dos outros homens, estará possuidor
de novos poderes e novas faculdades, podendo mesmo dizer-se dele que esteve com Deus, como o
espírito da Infinita Bondade.
Os videntes, os profetas, os taumaturgos e todos os que operam milagres, dos quais nos fala a his-
tória bíblica, adquiriram desta forma os seus poderes. Cristo retirou-se ao deserto e ali foi fortalecido por
Deus. Os sectários das religiões orientais, em quem se têm manifestado grandes, extraordinários e ma-
ravilhosos poderes, amaram sempre a solidão da Natureza, vivendo nela felizes e contentes, passando
aí horas esquecidas em profunda e deleitosa contemplação, quase inconscientes de tudo e inteiramente
alheios a quanto os rodeava, adquirindo assim, do Infinito, novas ideias e novos poderes.
Não é fácil citar homem algum que tenha deixado impresso na Humanidade o assinalado vestígio
da sua passagem e ação, que não tenha amado essa comunicação com o Espírito de Deus na solidão
da natureza, onde encontrou a inspiração para as suas mais gloriosas empresas.
Ninguém, por si próprio, pode criar para si essa capacidade, que nos permite gozar das coisas
naturais e tirar delas e da natureza inteira toda espécie de forças, energias e poderes.
O que devemos fazer, portanto, é implorar insistentemente ao Infinito a renovação da nossa mente
até podermos sentir Deus na floresta, na montanha ou no mar, tanto na calmaria, como durante a tem-
pestade; e não só sentirmo-nos satisfeitos, mas também absorver os seus poderes e as suas energias,
quando a natureza se nos apresentar em todo o esplendor da sua beleza e força... Veremos, então, como
uma mentalidade nova vai substituindo a antiga e à sua feição tudo se renova e fortifica na natureza.
T
odo ser humano tem direito à beleza do rosto e do seu ser inteiro. Toda fisionomia humana, como
toda flor que desabrocha no campo ou no jardim, deve exultar de gozo, não só ante o olhar de
admiração dos outros como diante do seu próprio olhar, e é isto justamente o que o homem terá
de ver no futuro. A beleza é um dos dons mais generosamente cedidos às infinitas manifestações da
natureza, desde as lindas formas e variegadas cores adquiridas pelas folhas das plantas e as penas das
aves, até ao mimoso floco de neve, que das nuvens cai cristalizado sob inúmeras formas geométricas
de uma simetria e proporções maravilhosas e até fantásticas.
É digno, pois, de se repetir, muitas e muitas vezes, que a beleza, a saúde, a fortuna e até o triunfo,
em qualquer dos aspectos da nossa vida, dependem inteiramente do nosso estado mental predomi-
nante. Se este estado mental é o da confiança em nós próprios e naquilo que fazemos ou em que nos
empenhamos, considerando e encarando tudo pelo seu lado prazenteiro, benéfico e salutar, com a mira
sempre posta na vitória que deve ser o nosso alvo principal, sem nunca nos deixarmos invadir pelo
desânimo, e em caso de nos sentirmos inclinados a isso, lutar denodadamente contra o desespero,
podemos estar seguros do triunfo final, pois enquanto mantemos a nossa mente naquele estado, exte-
riorizamos a força que há de atrair-nos os elementos do êxito.
Quanto maior for a nossa persistência na manutenção do estaclo mental de que acabamos de falar,
mais fortes e firmes serão a nossa confiança e a nossa fé na eficácia dos elementos mentais, eficácia
esta até agora quase absolutamente desconhecida e negada, dando-nos todos os dias mais numerosas
e mais absolutas provas de que é essa força que nos há de trazer a felicidade, a saúde e o triunfo, seja
qual for a nossa situação na vida.
Têm, porém, de ser observadas certas condições, para a manutenção desse estado mental, no
qual reside uma das forças mais poderosas ou talvez a mais poderosa de todas para nos proporcionar
o melhor, o mais apetecível de tudo quanto este mundo encerra, fazendo-nos sentir também, ao mesmo
tempo, o que de mais apreciável e profundamente interessante para nós se contém em arte, estado,
profissão ou negócio a que habitualmente nos dedicamos.
Persistindo amplamente no estado mental aqui aludido, chega este a converter-se em uma espécie
de ímã, que atrai todo bem e êxito para nós e a todas as pessoas que de algum modo nos podem coad-
juvar e às quais nós próprios poderemos ser úteis também por nossa vez.
Se, porém, a nossa mente cair com frequência ou permanecer por largo espaço de tempo imersa
em profundo estado de tristeza e abatimento, sem se esforçar em arremessá-los para bem longe de si,
então converte-se em uma espécie de ímã negativo, que afasta de nós tudo o que for bom, atraindo
sempre só o pior.
Nesta situação, se alguém nos auxilia, apenas o faz com a intenção de praticar um ato de caridade,
de fazer uma esmola, o que nunca é um verdadeiro auxílio, porque aquele que não puder ser útil aos
outros, seja qual for a sua situação no mundo, não é considerado como um indivíduo necessário à so-
ciedade, e não passando, portanto, da categoria de um tolerado, apenas.
O maior obstáculo para chegar a esse estado mental, sereno, calmo, tranquilo e confiante, que é
a fonte de todas as potências, consiste apenas no fato de nos associarmos com toda classe de pesso-
as, sem discernimento algum, vivendo em contínua promiscuidade com homens e mulheres, cujo nível
mental é inferior ao nosso. Se nos associarmos, embora superficial e temporariamente, com pessoas
frívolas, ocupando-nos unicamente de futilidades, com homens destituídos de nobres ambições e de
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elevados anelos, com pessoas cínicas, maldizentes, ingratas, desleais, hipócritas, céticas, sem cren-
ças nem a menor confiança nas leis espirituais, movendo-se como autômatos, apenas impelidas pelos
afetos de ordem material, único mundo a que se arraigam — é fora de toda dúvida que absorveremos
também, pelo menos alguns de seus baixos e frívolos pensamentos, ficando assim as nossas próprias
faculdades suplantadas e como esmagadas pelo peso dessas más influências, tão prejudiciais à nossa
própria saúde física e mental.
Se visitarmos amiúde uma família cujos membros são todos indivíduos descrentes, cínicos ou mui-
to neurastênicos, constantemente de mau humor e desanimados, vendo tudo sempre pelo lado mau e
sombrio da vida, sempre pessimistas, embora estejam ligados a nós por uma verdadeira amizade, sai-
remos da casa deles com algumas das nossas próprias potências diminuídas ou completamente anula-
das, principalmente se nos sentirmos atraídos para eles por forte simpatia. Cada pensamento simpático
que de nós vai para eles representa uma parte da nossa força perdida, e em coisa alguma devemos por
tanta atenção como no seu bom emprego.
Posto o nosso alvo em alguma coisa bem definida e bem planejada, a atmosfera ou aura mental de
que nos rodeamos, ao tratar do que tanto nos preocupa com qualquer pessoa, é-nos de enorme auxílio,
muito mais poderoso mesmo do que as próprias palavras que proferimos, pois tudo o que essa atmos-
fera envolver terá de sofrer e sentir infalivelmente a sua ação.
Se tiverdes confiança no vosso talento, se fordes absolutamente honrado, de uma honradez a toda
prova, aqueles que convosco falarem sentirão essa confiança e
Se, porém, apesar de têrmos esse talento e essa confiança, nos ligarmos ou frequentarmos muito a
companhia de pessoas de má índole, cépticas, gente de instintos puramente materiais, não acreditando
em coisa alguma espiritual, sem dúvida alguma absorveremos nós também algo das suas qualidades
mentais que levaremos conosco para onde quer que formos.
Deste modo, quando tratarmos do nosso negócio mais importante, disso que tanto nos interessa
com as outras pessoas, estas sentirão qualquer coisa de estranho e desagradável em nós, e, portanto,
a impressão que nelas deixamos será menos favorável aos nossos interesses.
Cada um de nós pode fabricar uma atmosfera ou aura mental que o acompanhe por toda parte,
assim como poderemos construir uma casa ou algum objeto material; mas essa atmosfera só podemos
fabricá-la associando-nos com outras mentali- dades que se encontrem no mesmo nível em que nós
estamos moralmente.
É conveniente, portanto, que todos os nossos amigos vivam no mesmo plano mental em que nós
vivemos, tenham as mesmas crenças, e os seus desejos e aspirações sejam iguais aos nossos. Desta
maneira, a nossa comunhão com eles ser-nos-á de imensa vantagem, fortalecendo o nosso corpo e o
nosso espírito e coadjuvando-nos para não cairmos no estado mental da desconfiança, que é igualmen-
te a condição mental propícia à derrota.
Esta comunhão espiritual com os nossos verdadeiros amigos nos manterá alegres, felizes e perfei-
tamente equilibrados, e ajuda-nos também a manter-nos em uma ininterrupta comunhão com o Poder
Supremo, penetrando de uma vez para sempre nas correntes de eterna felicidade, as quais nos condu-
zirão, sem a menor dúvida, ao seio do Eterno, como a corrente do Mississipi leva as barquinhas para o
mar.
Porém, se as mentalidades que se ajuntarem à nossa não são de um nível idêntico ao nosso; se
estas nossas amizades têm pouquíssima ou nenhuma fé no que o mundo denomina talvez ideias es-
quisitas ou lunáticas, sem se conseguir convencê-las em coisa alguma de quanto isso é verdadeiro, os
elementos mentais que delas nos provenham têm forçosamente de prejudicar-nos enormemente, não
só por deixarem de ser para nós um poderoso auxiliar, mas também porque, misturando as suas men-
talidades inferiores com as nossas, nos inibirão de ver clara e nitidamente as coisas, dificultando desta
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tes, falta-nos a palavra e já não podemos ligar sequer o fio do discurso, negando-se a língua a obedecer
às ordens da nossa mente. E tão veemente é a ação da sua vontade sobre a nossa espiritualidade, que
chega a afastar de nós a maior e a melhor parte dela, inibindo-nos até de nos servirmos, como é de
justiça, do nosso próprio corpo em ocasião oportuna.
Quem se encontra nestas tristíssimas circunstâncias pode e deve mesmo procurar libertar-se dessa
despótica tutela, combatendo a sua fraqueza, raciocinando e robustecendo a sua própria mentalidade,
falando mentalmente, com toda a energia, com o seu dominador, quando estiver bem só no isolamento
de seu quarto, como poderia e devia fazer, se estivesse na sua presença, isto é, nesta situação, deve
discutir mentalmente com ele, refutando, com energia e desassombro, todos os argumentos do imagi-
nário antagonista.
Procedendo deste modo, irá fortalecendo o espírito até poder libertar-se, assim, de todo, desse
cruel domínio. Desta forma, entrega os melhores meios de se despojar de uma vez para sempre da sua
covardia moral, podendo-se afirmar que, neste mundo, nada dificulta mais o triunfo em todas as esferas
da ação do que esse acanhamento e covardia moral. O melhor meio para desfazer esta espécie de en-
canto consiste em cortar toda a sociedade ou comunhão com mentalidades grosseiras e covardes pois
enquanto elas durarem, absorvemos os seus elementos, a não ser que estejamos em constante atitude
mental de defesa, o que nos fatigaria excessivamente, enfraquecendo-nos também. Na verdade, só
existe um único modo de evitar esta espécie de tirania mental, o qual consiste em cortar toda comuni-
cação com os espíritos inferiores, trabalhando para apagar de todo o que por acaso tenha já existido.
A este respeito, dir-me-á o leitor: “Mas tal gênero de vida só nos conduzirá à eterna solidão”, e ainda
me perguntará também alguém: “Devo eu, porventura, cortar as minhas relações com a Humanidade
inteira?”
De forma alguma. Procedendo como eu tenho aconselhado, nada mais fazemos do que preparar o
caminho por onde nos poremos em relação com o melhor, o escol da nossa sociedade, da nossa pró-
pria classe; com esses homens que realmente podem prestar-nos valiosos auxílios em todas as nossas
empresas e cujos pensamentos são dignos, na verdade, de serem absorvidos por nós, pois darão um
novo e maior vigor à nossa mentalidade, sob cada uma das suas faces.
Além de que, nos nossos períodos de isolamento mais ou menos absoluto, podemos contribuir para
a constituição de um mundo próprio e pessoal, no qual poderemos passar, contentes e felizes, uma
grande parte da nossa existência.
Evitando o mais possível pôr-nos em contato com mentalidades inferiores, veremos, cada vez com
maior lucidez, tudo quanto diz respeito aos nossos interesses, e, onde antes só encontrávamos tédio
e fadiga, acharemos agora inesgotável manancial de grandes alegrias. Concentrados, assim, em nós
próprios em uma espécie de ímãs que atrairá todas as coisas de que carecemos para fazer triunfar ou
levar avante, com efeito, todos os nossos planos.
Há pessoas que não sabem viver sós, necessitando de companhia, seja ela qual fôr. Parlam e
folgam até com os criados mais boçais, se não tiverem outra classe de pessoas com quem conversar,
divertir-se. Tais pessoas têm um pequeníssimo poder, e o pouco de que são possuidoras o desperdiçam
miseravelmente.
Um verdadeiro amigo, desses com quem podemos sempre falar franca e lealmente, com o “cora-
ção aberto”, encarando-o bem de frente em qualquer ocasião, é melhor e muito mais útil para nós do
que todos os supostos amigos que neste mundo possamos encontrar no nosso caminho. Um amigo as-
sim merece bem que o estejamos esperando durante muitos anos, reservando-lhe em nosso coração em
lugar e um culto especial, certos de que, por fim, chegará um dia em que ele virá para nós, respondendo
ao nosso ansioso apelo, em virtude da infalível e iniludível lei da atração, desde que o desejemos bem
no íntimo da nossa alma, com a única condição de lhe prepararmos o caminho pela forma já indicada.
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Quando estamos verdadeiramente com Deus, só podemos nos comunicar com aqueles que igual-
mente estiveram com Deus, podendo então dizer que eles e nós somos realmente os hóspedes do Es-
pírito Divino prometido por Cristo.
Isto que aqui fica expresso não é uma ideia religiosa, puramente sentimental. Ao transformar-se ou,
pelo menos, modificar-se todos os dias o nosso estado mental, atraímos esses elementos positivos mais
em harmonia com ele.
Se apenas tivermos fé nas coisas materiais que podemos ver e tocar, atrairemos o escasso poder
que dessas coisas emana e assim é uma porção diminutíssima de forças positivas que nos rodeiam. Se
não nos esforçamos por dominar essas forças, elas acabarão por dominar a nós em nosso próprio dano.
Os meios para chegar a esse domínio mental a que aludo estão na nossa própria atitude mental. Se
tendes em mente levar avante algum projeto ou empresa especial, procurando, desta forma, beneficiar
tanto aos outros como a vós próprios, e apesar de terdes feito todo possível para triunfar, vos encontrar-
des ainda lutando com grandes dificuldades para alcançar o bom êxito do que tiverdes em vista, deixai
de fazer tudo aquilo de que não tenhais absoluta necessidade para viver e, colocando-vos no estado
mental indispensavelmente exigido, concentrai-vos em vós mesmos, confiai, com sincera e firme fé,
nessa força misteriosa que, infalivelmente, vencerá toda espécie de obstáculos.
Desta maneira, ireis penetrando cada vez mais na corrente espiritual do Poder Supremo, até vos
surpreenderdes de ver que, um belo dia, sem já sequer nisso pensardes, tudo quanto tão ansiosamente
desejáveis, se realiza por si mesmo, com feliz êxito, como por encanto. De um momento para outro, vos
serão proporcionados todos os meios e vias para atingir o fim há tanto tempo almejado, encontrando
inesperadamente franco acolhimento onde julgáveis só encontrar forte oposição. Para tal conseguirdes,
bastará manter-vos sempre firme no propósito, não olvidando um só movimento de que aquela podero-
síssima força está, sem cessar, agindo por vossa conta, com a condição única de manterdes o vosso
próprio desejo firme e energicamente, sem hesitações nem vacilações, tendo o máximo cuidado em não
mesclar a vossa mentalidade com outras mentalidades baixas e ruins.
Procurai igualmente não retroceder um só passo da posição já alcançada, pois, desta forma, per-
deríeis os esforços empregados.
Se, porém, em lugar de vos concentrardes procurando robustecer as vossas faculdades no silêncio
e na quietação de uma vida solitária e íntima, desperdiçais o tempo e as forças, correndo daqui para ali,
vagando sem sorte, pairando frivolamente com algum conhecido ou murmurando da vida alheia, muitas
vezes até daqueles a quem dais o pomposo nome de amigo, buscando somente distrações fúteis ou,
ainda, se algum dos vossos sócios deposita pouca ou nenhuma fé nestas verdades, neste caso não só
rompeis todos os laços que vos uniam ao Poder Supremo, mas até ficais, pelo contrário, em íntima e
completa relação com as correntes mentais inferiores, inibido, portanto, de realizar a mínima parte do
muito que certamente teríeis conseguido realizar, se tivésseis seguido o primeiro caminho, descendo por
esta última senda até o plano da materialidade rude e grosseira.
É um enorme erro, erro terrível e extremamente prejudicial, os homens e as mulheres permitirem a si
próprios reunir-se com pessoas de mentalidades muito baixas e grosseiras, só pelo louco desejo de se
proporcionarem algum prazer ou diversão. Essa falta de escrúpulo na escolha das companhias é-lhes
quase sempre fatal. Nada prejudica tanto as mentalidades de uns e de outros.
Desta forma, se adulteram e contaminam as mentalidades dos superiores, destruindo as suas ener-
gias e enchendo-lhes o corpo com os elementos da enfermidade e da morte, geralmente atribuídas a
mui diversas causas, porém cuja verdadeira razão de ser é esta.
Dá-se o mesmo com as uniões denominadas matrimônios, as quais, tendo somente por base con-
siderações ou caprichos puramente materiais, muito cedo dão lugar às mais tristes e tremendas decep-
ções.
70 Prentice Mulford
OS TALENTOS IGNORADOS
S
ão muitas as mocinhas que manifestam grande má vontade e até mesmo repugnância para o que
se chama arranjo de casa e toda espécie de trabalhos domésticos. É porque não têm aptidão para
lavar, coser, cozinhar, etc., e por causa de tal negação para tudo quando diz respeito ao governo
da casa, não podem cumprir ou cumprem mal esses deveres de donas de casa, única missão que até
aqui o mundo impôs à mulher, que, na opinião da maior parte dos homens, deve saber, antes de tudo,
administrar a sua casa.
Não devemos obrigar a desempenhar esses deveres as meninas que se mostram destituídas des-
sas vulgares aptidões; as deixemos desenvolver-se por si próprias, podendo ficar certos de que algum
especial talento existe nelas, o qual desabrochará, chegada a ocasião oportuna.
Há coisa muito mais importante a fazer do que obrigar uma mulher a entregar-se a ocupações para
as quais não sente a menor vocação, conseguindo apenas, desse modo, fazer dela uma dona de casa
negligente, indolente e inábil, ao passo que deixaremos, talvez, sem o necessário alimento a alma de
uma mulher grande e forte, que algo ou muito teria mesmo feito em prol da Humanidade.
Já estou ouvindo a muitos gritar: “Que heresia! Que insânia! Toda moça deve saber costurar, varrer,
cozinhar e todas as coisas necessárias enfim à boa administração de uma casa. Não é conveniente
deixar ociosas as meninas.”
Muito bem, não permitais que a menina se crie e desenvolva no meio da alegria, dos folguedos e
das despreocupações próprias da idade e torturai-as com as vossas costuras, os vossos pratos, ca-
çarolas, e, dez ou quinze anos depois, examinai-a e vêde se ela fez grande honra à vossa disciplinada
educação.
São muitas as pessoas cujos verdadeiros talentos têm ficado desaproveitados ou esquecidos só
por não terem sido animados como deveriam ser e era de justiça fazer-se, quando começavam a desa-
brochar, obrigando-as a ser exatamente o contrário do que realmente deveriam ter sido, torcendo-lhes,
desta forma, por completo, a vocação. Ninguém pode assinalar-se nem manifestar completa perícia e
perfeição na execução de um talento, profissão ou habilidade, sem alguns ensaios preliminares e vaci-
lantes tentativas, cujos resultados ou princípios estão ainda longe de ser perfeitos.
Acaso será possível conseguir, pela violência, que uma flor de pereira se transforme em flor de
macieira? Exigir isto seria o maior dos absurdos. Pois é justamente isto o que o mundo tenta fazer, na
maioria dos casos. Desanimam-se os artistas novos ainda, criticando-se acerbamente as suas obras,
que nada mais são do que as primeiras provas da aprendizagem, quando serão talvez seus pais os pri-
meiros que asfixiam, com suas intempestivas exigências, os preciosos frutos do gênio. Por quê? Dizem:
“Oh, triste sorte a dos artistas!” Exceto raríssimas exceções, não ganham nunca o dinheiro suficiente
para ocorrer sequer às necessidades da vida! É essa uma grande verdade. E por idêntica razão, são os
próprios pais da criança que suprimem, por suas próprias mãos, o talento do filho e o enterram de uma
vez para sempre.
O poder e o talento são duas coisas que só crescem no meio da mais profunda calma, do mais
absoluto repouso.
A solução mineral que tem de produzir uma boa cristalização, necessita de ser mantida em absoluta
quietação, enquanto se está formando a nova combinação de cristais.
72 Prentice Mulford
pode-se ficar certo de que, a seu tempo, eles nos devolverão os seus próprios elementos, movidos por
um reconhecido impulso de gratidão.
Ninguém pode auxiliar os outros, se não se ajudar a si próprio. Ninguém pode enviar aos outros a
coadjuvação do seu pensamento, se eles não lhe devolverem este auxílio até onde puderem. Ninguém
pode prejudicar aos outros sem se prejudicar a si próprio, ao mesmo tempo. Ninguém enviará aos ou-
tros nem sequer a sombra de um mau pensamento, sem ser igualmente prejudicado por esse mesmo
pensamento.
A pessoa que em nós se apóia ou de nós depende, seja no que fôr, acabará por fatigar e exaurir
as nossas forças, de um modo terrível. Veremos, então, que enorme injustiça é permitir que alguém viva
em absoluta e completa submissão, pois dessa forma lhe destruímos a sua natural capacidade para a
independência, ou pelo menos retardamos essa sua faculdade, por intermédio da qual poderíamos in-
dubitavelmente atrair para nós alguma das qualidades que continuamente emanam da Força Infinita. É
como se oferecessemos muitas pernas a uma pessoa que as tem perfeitamente sadias.
Animar, seja em que for, o espírito de dependência ou timidez, é a mesma coisa que robustecer-lhe
a crença na sua própria debilidade. É fazer dessa pessoa um mendigo até daquilo que exuberantemen-
te ela própria possui.
É razoável e natural esperarmos sempre a paga do que dermos, porque isso é realmente uma ne-
cessidade para nós. Se, de contínuo, estivermos dando aos outros uma parte das riquezas produzidas
por nossa mentalidade superior; se estivermos trabalhando sempre, física ou mentalmente, para a di-
versão ou bem-estar de qualquer pessoa que se aproveita de tudo quanto lhe damos, mas, em troca do
que recebe, nada pode devolver-nos, podemos ficar certos de que nos prejudicamos deveras, tanto a
nós como a tal pessoa. É tal e qual como se, em troca do pão que de nós tirássemos para dar a outrem,
só pedras recebessemos, ensinando e animando, deste modo, a essa pessoa a dar unicamente pedras,
vivendo uma existência exclusivamente de estupidez e egoísmo.
De mais a mais, procedendo assim, nada mais fazemos do que impedir o desenvolvimento dessa
personalidade, tornando-nos ainda, além disso, seus escravos, perdendo também, sob essa influência,
as nossas energias e caindo numa banalidade e achatamento, que de forma alguma não nos são pe-
culiares, inclinando-nos até a dizer e a fazer o que, libertos da sua nefasta influência, nunca teríamos,
decerto, dito nem feito.
Assim, até os próprios projetos e planos que fizermos para o nosso adiantamento e bem-estar, para
melhorar, enfim, a nossa situação, hão de ver-se retardados ou inteiramente destruídos, unicamente por
termos mesclado os elementos de nossas próprias energias e ambições com os elementos inferiores da
mentalidade, cujo jugo nos escraviza.
Essa escravidão mental existe, de fato, em toda dependência exclusiva de uma ou mais pessoas, e
traz sempre encerrada em si mesma todos os elementos da covardia e do egoísmo. E quando o escra-
vo é justamente o possuidor da mentalidade mais elevada, isto é, o mais sábio, é ele, por certo, quem
comete o pecado maior, e maior dano faz a si próprio. Dependência ou submissão é o mesmo que ce-
gueira. Deve ensinar-se aos homens o modo de não dependerem senão de si, para que trabalhem em
prol da sua própria salvação. A cultura da própria independência e da confiança em si mesmo há de
começar em nossa própria mente, mediante o noso próprio esforço pessoal.
Pode acontecer queixarmo-nos a alguns amigos, em cuja estima confiamos, de uma grande injus-
tiça cometida para conosco, por alguém. Se, porém, receamos que essa pessoa ou algum dos seus
afeiçoados nos possa ouvir, calamo-nos imediatamente. Por que motivo o fazemos? – Porque temos
medo de falar.
Recolhamo-nos à casa e, no silêncio e retiro do nosso quarto, afirmemos energicamente que ne-
nhum medo temos de tal pessoa. Ponhamos em nossa mente a ideia de que, diante dela, estamos
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frequentemente os seus pensamentos cheios de simpatia e boa vontade. Porque, como o pensamento é
um elemento real e verdadeiro, com ele nos enviam as qualidades do seu talento especial, quando pen-
sam benevolamente em nós, as quais absorvemos, apropriando-nos na medida da nossa capacidade
para as receber. Nossa maior ou menor capacidade para a recepção de tais elementos depende de ter-
mos sabido ou não libertar-nos mais ou menos completamente de toda espécie de maus pensamentos,
e de estar em concordância com o grau da nossa bondade e generosidade. O egoísmo impedir-nos-á
de absorver esses benéficos pensamentos, ao passo que a benevolência e a generosidade nos abrirão,
de par em par, as portas para recebê-los.
O pensar em coisas repletas de vida e saúde traz-nos elementos vitais e salutares, e melhor será,
ainda, sempre que isso nos possa convir, termos diante dos olhos, em sua forma física, essas mesmas
coisas, tais como crianças alegres e robustas, árvores e flores, pássaros e outros animais, mas em li-
berdade, no seu estado natural e selvagem, e não escravizados e prisioneiros em gaiolas e jaulas, bem
como o embate e marulhar das ondas de encontro aos rochedos da praia, a corrente de um rio ou o
rápido e tumultuoso escachoar das águas de uma catarata.
Quer se trate de coisas imaginadas, quer de coisas materialmente vistas, o que é certo e positivo é
que as ideias sugeridas à nossa mente por todas essas coisas nos atraem uma corrente mental de vida
e saúde, a qual, atuando sobre o nosso corpo, lhe traz novos materiais, sãos e vigorosos...
Toda descrição poética de qualquer desses grandes espetáculos da natureza, incontestavelmente
há de ser-nos de salutar e poderosíssimo auxílio, e se esses vivificantes e vigorosos espetáculos ocor-
rem à nossa memória, ainda melhor será, pois é isso um sinal da nossa robustez mental. Cada vez que
os recordarmos, isso nos trará elementos positivos de um bem duradouro, tanto para o corpo, como para
o espírito.
Estes saudáveis pensamentos não só repousam a mente, tornando-a mais robusta e mais lúcida,
fortalecendo ao mesmo tempo o corpo, mas também a forte e potentíssima corrente mental com que
nos pomos em comunicação mediante aqueles pensamentos, e que penetra em nossa mente, arremes-
sa para fora e bem longe dela toda espécie de ideias deprimentes e imagens de decadência e morte,
limpando-a de insalubres preconceitos e, à medida que essa fortificante corrente mental ganhar mais
fácil acesso em nosso cérebro, expelirá de uma vez para sempre dele, também, toda escória espiritual
que possamos ter adquirido através dos tempos, causando-nos toda espécie de dores e misérias.
E, à proporção que em nós se robusteça o estado mental resultante de tal processo, sentiremos
muito mais profunda e cabalmente a vida encerrada em muitas das expressões naturais que nos ro-
deiam e são ainda consideradas por nós como coisas inteiramente mortas.
Em tudo quanto nos desperta qualquer sensação de medo ou prazer, há de estar algum elemento
que é verdadeiro produto da emoção sentida.
O poder que denominamos espírito manifesta-se sob uma infinidade do formas. É este o poder
que dá à árvore a forma em que hoje a vemos; é esse mesmo poder que lhe dará uma nova forma, já
aumentando-lhe o tamanho, já tomando-a mais frondosa. É ainda esse misterioso poder que vai mudan-
do o período de seu crescimento e da muda, como é ainda esse gigantesco poder que move e enfure-
ce as águas do oceano, transformando-as em vagas alterosas e ameaçadoras, neste planeta, e agita
os oceanos do ar, fazendo-se umas vezes brisas, e outras, pavorosos ciclones. Os nossos imperfeitos
sentidos físicos apenas permitem ver a parte materializada da árvore, que a força espiritual constituiu e
desenvolveu.
Os nossos órgãos físicos não sentem o real e sempre crescente poder, que de contínuo modifica
a árvore, o pássaro e até o nosso próprio corpo. O homem possui, porém, em estado embrionário, uma
série de sentidos muito mais perfeitos e poderosos, os quais, quando tiverem atingido o seu completo
sazonamento, nos hão de permitir chegar a ver e a sentir esse misterioso poder ou força que determina
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estagnadas e pântanos, nem com a pintura bem viva de acerbas dores físicas e morais ou de misérias
e mágoas profundas, nem com os receios da morte.
Pensemos antes, pelo contrário, na ridente juventude, cheia de alegria e força; regozijemo-nos,
mentalmente, na doce contemplação das verdes campinas, por onde serpenteiam cristalinos arroios,
refletindo a luz em suas límpidas águas, e parecendo comprazer-se e brincar aos raios benditos do sol;
nos jardins floridos e nas pinturas representativas de tudo quanto seja agradável e sadio, enfim, quanto
for a verdadeira manifestação de alegria, força, beleza e vida.
No futuro, a música e a pintura hão de vir a considerar-se tão necessárias para a educação da mo-
cidade, como hoje se considera o saber ler e escrever, pois compreender-se-á, então, finalmente, que a
música é um dos meios mais poderosos para robustecer a nossa saúde e a nossa vida.
São muito mais numerosas, do que se pensa, as pessoas que em si têm latente uma verdadeira
vocação para a música, podendo dizer-se delas que já nasceram músicos, manifestando-se de um
momento para outro, com uma facilidade espantosa, o seu inato talento musical, já servindo-se de um
instrumento, já por intermédio da própria voz, até mesmo sem terem recebido de ninguém lição alguma
dessa arte sublime.
A música é uma faculdade inerente a todo espírito humano. Tanto assim, que as melhores, mais
expressivas e maviosas canções populares brotaram, por assim dizer, da alma magoada e dolorida do
próprio povo, sem ser necessário o auxílio de grandes mestres, sendo até, muitos vezes, de pessoas
que viveram até na mais dura escravidão.
Não é também necessário estarmos sempre embevecidos na muda e constante contemplação das
árvores, das aves e de todos os espetáculos da natureza, para atrair e absorver os elementos vitais do
seu espírito. Se isso nos é fácil ou temos a vantagem de viver em plena natureza, tendo alguma floresta
perto da nossa habitação, a qual podemos contemplar dá nossa janela, façamo-lo sempre que isso nos
seja possível, porque nos será de grande proveito. Mas empreender grandes caminhadas, através dos
campos e bosques, com o pretexto de fazer exercício ou na crença de que, procedendo deste modo,
absorveremos os elementos mentais que a natureza em si encerra, em muitos casos pode até ser-nos
prejudicial. Se o nosso corpo já estiver mais ou menos débil e fizermos um exagerado exercício, expor-
-nosemos a um desperdício superior de forças e que absolutamente não compensa as que pudéramos
adquirir pela contemplação de um aspecto qualquer da natureza, acabando, por fim, por nos acharmos
muito mais fracos do que antes de fazermos esse excesso.
Se o nosso corpo está relativamente forte e bem disposto, mas o tempo está mau ou frigidíssimo, da
mesma forma nos expomos a despender maiores forças, para resistirmos à intempérie e aos elementos
naturais, do que podemos gastar. Havendo, portanto, um déficit contra nós, não podemos, neste caso,
manter o nosso espírito na condição de um ímã, atraindo a si as forças verdadeiras, latentes em todos
os elementos visíveis da natureza.
Nestas circunstâncias, bem poderemos passar a vida inteira a contemplar as árvores, os animais e
todos os outros sêres da natureza, sem conseguirmos atrair o menor átomo da sua força. Se desperdi-
çamos toda ou quase toda a energia da nossa mente só em mover o corpo de um lado para outro, de
forma alguma poderemos colocar-nos nas condições mentais exigidas para atrair e absorver tudo o que
for um elemento da força espiritual.
É essa a condição mental e a sorte, por consequência, de tantos camponeses que, aos cinquenta
anos, já parecem velhos e decrépitos, alquebrados e cruciados de dores de toda espécie. Podem eles
ter vivido sempre no meio dos maiores e mais maravilhosos espetáculos da natureza, porém passaram
de todo desapercebidos para a sua mente, que não estava ainda apta para os apreciar, sendo, pois,
mudos e áridos para eles. Na árvore apenas viram um bom meio de obter lenha, que cortaram, sem o
menor remorso, encarando todas as coisas da natureza só como uma maneira cômoda e fácil de arran-
78 Prentice Mulford
Um aumento de sabedoria fez sempre crescer todos e cada um dos nossos sentidos. A decrepitude
e a decadência da velhice não são uma prova de maior sabedoria, antes uma verdadeira ignorância das
leis eternas. “Pelos frutos se conhece a árvore.” O alquebramento de forças físicas e o enfraquecimento
mental tão comuns na maior parte dos velhos, nada mais são do que a falta da verdadeira sabedoria.
Suponhamos que, de súbito, encontremos em nós uma série de órgão novos, mas semelhantes
aos nossos órgãos físicos e imaginemos também que, nas plantas, nos animais e em todas as expres-
sões robustas e sãs da natureza, achemos igualmente uma substância nova, um elemento até hoje
desconhecido por nós, o qual, mediante aqueles nossos órgãos novíssimos, assimilamos, renovando e
robustecendo assim extraordinariamente o nosso espírito e o nosso corpo. De idêntica forma operam os
sentidos da nossa mente, assimilando também os elementos espirituais que emanam de tudo quanto a
natureza encerra e com os quais o espírito constitui a sua nova personalidade.
Mas estes sentidos espirituais análogos aos seus sentidos físicos que tão bem conhecemos, ainda
hoje se acham em um estado relativamente débil. Pode-se comparar o desenvolvimento atual destes
sentidos espirituais à fraqueza e à limitadísima capacidade do estômago de uma criancinha para digerir
certas substâncias e assimilá-las, tirando forças dos alimentos sólidos, durante os primeiros anos de
sua existência. Porém, assim como sucede às crianças, também estes órgãos espirituais aumentarão a
sua força e a sua capacidade, mediante um exercício peculiar e bem orientado, tirando, de dia para dia,
maior proveito dos alimentos que se lhes proporcionarem.
Esta sadia e robusta mentalidade, esta força e este espírito-essência da natureza e de todas as
coisas nela contidas, é o que não somente há de vigorar-nos a mente, mas também desenvolver-nos
todos os talentos ocultos dentro de cada um de nós, em embrião ou estado latente, convertendo-nos em
homens novos e cada vez mais poderosos e perfeitos.
O poder do pensamento não tem limites.
A
ciência de viver nunca está completamente aprendida. Não há um único momento na vida em
que se possa dizer: Sei tudo, nada mais tenho que aprender! Nem mesmo quem, já carregado
com o peso dos anos e tendo consagrado a vida inteira ao estudo dos mais graves e importantes
problemas científicos, pode proferir essa frase.
Aquilo que hoje parece conhecermos a fundo e não conter mais nenhum segredo para nós, pode
ter amanhã, para a nossa mente, uma interpretação diversa, pois que a mente humana está sempre
aberta às expressões mais novas da existência. Até o que hoje é para nós um mal e causa de grande e
aflitiva amargura, será, talvez, amanhã, um bem ou motivo de grande ventura. Tudo depende dos nossos
conhecimentos quanto à sua natureza.
A pólvora nas mãos de uma criança é perigosíssima; manejada, porém, por um hábil pirotécnico,
pode até ser motivo de grande admiração e regozijo públicos. Da mesma forma, tudo aquilo que hoje
consideramos um bem, pode, amanhã, causar graves danos a nós ou aos outros.
A palavra que hoje tem uma certa significação, pode tê-la muito diversa, séculos mais tarde.
Nunca podem ser expressas as ideias com absoluta exatidão, por meio de letras e sílabas.
À proporção que mais vastos e novos horizontes se forem descortinando à nossa visão mental, e
mais lúcida e clara ela se for tornando também, cada palavra usada na linguagem corrente irá natural-
mente tomando nova significação, para nós, a qual, talvez, não seja encontrada em nenhum dicionário.
Existe uma linguagem ideal que nunca poderá ser traduzida por meio de palavras, e para a qual,
portanto, não é possível organizar dicionário algum.
Desde o momento em que o homem compreenda ser também uma parte integrante do Infinito, é-lhe
vedado e impossível implorar alguma coisa ao Infinito em tom de mendigo ou com o servilismo de abjeto
pedinte. Como uma parte que é do Todo incomensurável, pode fazer toda espécie de súplicas; só não
pode mandar nesse Poder, sem princípio nem fim, que nunca foi, nem jamais poderá ser compreendi-
do por qualquer mente humana. Mas, para aumentar e engrandecer a parte de Deus que em nós vive,
para alcançar o verdadeiro conhecimento de tudo quanto nos rodeia, devemos proceder de modo que
a mente se conserve constantemente na atitude do pedido.
A palavra prece ou petição, com tanta frequência empregada neste livro, não quer dizer que deve-
mos dirigir-nos ao Poder Supremo no tom autoritário do salteador que, na estrada, faz deter o viajante
para, intimativamente, lhe pedir a bolsa ou a vida, nem implica também a menor falta de reverência e
acatamento.
A rogativa humana não significa, da nossa parte, mais do que um veemente anseio de entrar a for-
mar parte da Unidade – Deus – da Unidade Infinita, cuja natureza é tão profunda que a mente se perde
e esvai, quando tenta ao menos compreender a essência da força que o anima, pois não tem princípio
nem fim, nem no tempo nem no espaço. Cada uma das frases de que é formado o Pai-Nosso, tem essa
feição peculiar, esse especial sentido que nós damos à prece ou oração. Frases como estas: “Venha a
nós o vosso reino” “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, “Não nos deixeis, Senhor, cair em tentação”
e “Livrai-nos de todo o mal”, são verdadeiras frases imperativas, pois em nenhuma delas se nota esse
tom humilhante e importuno da súplica abjeta e servil; constituem o protótipo da prece ou rogativa, em
80 Prentice Mulford
perfeita concordância e harmonia com o preceito cristão: “Pedi e sereis atendidos, recebendo a recom-
pensa dos vossos esforços; batei e a porta ser-vos-á aberta.”
As palavras de Cristo: “Assim seja na terra, como nos céus”, não constituem uma súplica ou impo-
sição ao Infinito, para que cumpra na terra os seus planos e desígnios, como são cumpridos nos céus.
Na realidade, constituem apenas uma parte da verdadeira prece e dos rogos feitos por Cristo a uma
sabedoria e o Poder por ele reconhecidos como infinitamente superiores aos que ele próprio possuía.
Quando uma alma desperta, enfim, inteiramente, da pesada letargia em que vivia imersa neste
mundo e exclama: “Que devo fazer para me salvar?”, já ultrapassou os limites da súplica só com essas
palavras, encontrando-se no caminho da prece ou oração verdadeira e formal. É este o estado espiritual
que o Poder Supremo exige de nós para nos conceder o que tenciona dar-nos, porque só Ele sabe o
que nos convém e o de que carecemos.
Quando fazemos um benefício a qualquer pessoa, desejamos que ela possa e saiba apreciar o bem
que lhe fazemos, e compreenda bem o proveito que daí lhe provirá. Essa pessoa encontra-se, então,
numa situação de quem pede vivamente, isto é, nas condições requeridas para receber o favor que se
lhe quer conceder.
O Infinito, para nos dar tudo aquilo que nos pode dar e de que temos necesidade, exige que nos
encontremos em estado idêntico. Já antes de Cristo se realizaram muitos fatos que aparentemente
estavam inteiramente fora das leis naturais, fatos produzidos em consequência da prece ou invocação
imperativa de certos homens.
Moisés intima as águas do Mar Vermelho que se retirem e deixem passar os israelitas, e elas dei-
xam-lhe o caminho livre; bate com a vara na rocha dura, fazendo o voto veemente de que dela mane um
jôrro de água, e da rocha árida, que parecia uma coisa morta até ali, brota incontinenti o puro e cristalino
licor que vai matar a sede e dar vida.
Josué disse, com todo o império, ao sol: “Detém o teu curso”, e o sol parou.
Se aprofundardes a história desses chamados milagres, verificareis que todos eles se realizam gra-
ças à invocação, prece ou petição imperativa dos homens, por intermédio dos quais se realizaram. Não
esqueçamos nunca estas palavras: os homens por intermédio dos quais se realizaram.
Na verdade, um milagre é o produto de uma força mental, agindo mediante certa e determinada
pessoa, homem ou mulher, dotada de vontade suficientemente forte para, com firmeza e energia, querer
que se realize esta ou aquela coisa considerada superior ao poder e forças humanas. Não é, porém,
esse homem ou essa mulher quem opera o milagre, mas a força mental que emana do Poder Supremo
e, fluindo sobre aquela pessoa, age por seu intermédio, como o vapor opera por meio da caldeira. Não
é a máquina que arrasta o comboio na sua carreira vertiginosa; ela é apenas um meio para o vapor agir
e por o trem em movimento.
Estamos em situação análoga, com relação ao Poder Supremo. Se pedimos à Força Infinita para
agir em certo e determinado sentido, infalivelmente para nós virá essa força, na quantidade e intensida-
de necessárias para a desejada ação. E quanto maior e mais viva for a fé posta na prece feita, maior será
também a força que o Poder Supremo nela põe, e maiores serão os resultados obtidos.
A inspiração que no mundo descobre e realiza grandes coisas, a qual, às vezes, denominamos
gênio, só procede da força e energia da prece ou ardente voto. É esta força que atua no homem, obri-
gando-o a escrever maravilhosas estrofes, a inventar e a empreender, a fazer qualquer coisa, em suma,
que lhe dê um lugar de destaque, tornando-o um triunfador, seja qual for a carreira por ele seguida,
prosseguindo sempre vitorioso em todos os caminhos e ramos da atividade humana e fazendo, ele só,
o que dantes ninguém fizera, nem sonhara sequer.
Foi essa força que, atuando em Shakespeare, o impeliu a escrever ideias de uma tal sublimidade
e beleza, dando-lhes uma determinada forma material que ainda hoje são a admiração e o encanto de
82 Prentice Mulford
dade de realizar-se algo de extraordinário e urgente, antes do que recobrar eu a saúde. Peço somente
que o Infinito me tome sob sua divina proteção para que eu possa rodear-me de todos os cuidados,
que um hábil médico, em cuja ciência e boa vontade eu tenha plena confiança, poderá indicar-me. Não
peço ao Infinito para curar pelo método e da maneira que eu considero melhores: só peço que me cure
e me valha em todas as atribulações da minha vida, pela forma e pelos meios que a sua inesgotável
Sabedoria achar melhor.
Semelhante raciocínio constitui uma força imperativa, que beneficamente opera sobre nós e é igual-
mente a chave que nos abrirá a inexaurível Fonte de graças, de toda sabedoria, determinando em nós,
de quando em quando, outros pensamentos de natureza imperativa, que sem cessar fortalecerão a
nossa saúde.
Todo pensamento junto ao ato que se lhe segue para se transformar em algo visível há de ser de
natureza positiva ou imperativa.
Se nos acharmos em estado mental vacilante e indeciso, nem um simples prego seremos capazes
de pregar bem. Nem uma só pancada de martelo daremos bem dada no mesmo lugar, se não fixarmos
toda a nossa atenção mental na martelada que vamos dar, medindo exatamente a sua força e sua dire-
ção. Essa atenção mental em cada martelada, querendo que o martelo caia exatamente no prego, é um
verdadeiro voto; é uma petição que dirigimos ao Infinito, e o mesmo fazemos com todos os atos positivos
da nossa vida, tanto com os grandes como com os pequenos.
Mas se fizermos esta oração ou prece no tom plangente e servil do mendigo, com o receio de que o
martelo não caia bem a prumo sobre o prego, o mais provável é errarmos a pancada a maior parte das
vezes, a menos que a própria divindade nos dirija a mão.
Mediante a prece em comum e em altas vozes, como se fazia nos tempos do velho metodismo,
sempre se obtiveram grandes êxitos, sendo um dos maiores e mais gloriosos o sucedido na festa de
Pentecostes, quando, reunidos todos os apóstolos no mesmo local e em perfeita harmonia uns com os
outros, ouviram o rumor de um vento fortíssimo e viram, em seguida, descer sobre a cabeça de cada um
deles línguas de fogo, começando logo todos a falar idiomas diferentes do seu.
É digno de nota que estes maravilhosos resultados são sempre obtidos pelos homens menos ilus-
trados, os elementos inferiores da sociedade. É porque esses, pela sua própria ignorância, são os que
melhor se prestam a essa espécie de exercícios, pois nada há como a pretendida e pretensiosa instru-
ção para destruir a fé.
Daí provém o serem hoje menos frequentes essas manifestações ou exteriorizações do espírito, não
podendo produzir-se senão como uma resposta à formal e veemente prece, tal como a dos primitivos
metodistas: “Senhor, que o vosso Espírito desça sobre nós e nos ilumine.”
O Espírito da prece é uma Lei Divina atuando sobre tudo quanto Deus criou e guiando todas as
coisas criadas pelo Divino Espírito, para atingirem a infinita perfeição. Foi essa lei que conduziu este
planeta e todas as coisas nele encerradas, desde o caos, através das inúmeras idades, já decorridas,
até o seu atual grau de perfeição. Nada pode detê-la.
Se alguém tentasse fazê-la retroceder, ela avançaria de novo com maior ímpeto e maior força do
que nunca.
Uma grande e silenciosa prece se está exteriorizando hoje mediante muitos milhares de corações.
Estes corações dizem silenciosamente: “A religião até agora seguida por nós já não nos satisfaz. Ela
não cura os enfermos, não nos dá corpos vigorosos e sadios, não nos dá força nem consolo aos nossos
males, nem nos faz nenhuma nova revelação sobre a vida futura. Nenhum sinal exterior acompanha a
prédica por meio de palavras. Os nossos amigos nos abandonam, sumindo-se um a um, sob a pesada
lousa do sepulcro, que para sempre os oculta às nossas vistas saudosas, separando-nos talvez para
84 Prentice Mulford
O homem imaginou que o melhor modo mental de se dirigir a Deus era o da humilde timidez, da
adulação servil, constituindo desta forma, em sua mente, uma Divindade que se compraz em ser adora-
da baixa e servilmente, da mesma forma que o mendigo beija a mão de quem lhe dá esmola.
Esta Divindade, que pouquíssimas mudanças tem sofrido através de todos os povos e de todos os
tempos, nada mais é do que o resultante do estado mental do homem que até agora ainda não pôde
conhecer a Deus.
Quando pedir para reconhecer os maravilhosos atributos de todas as coisas, de todas as expres-
sões materiais da Mente Infinita sobre a terra, tais como os rochedos, as árvores, os animais, os mares,
as nuvens, os sóis e as estrelas, essas concepções da Divindade se dilatarão ante os seus olhos des-
pertos e extáticos perante tais maravilhas, como hoje dilata o horizonte, à medida que vamos subindo
até atingirmos o cume de uma elevada montanha. Se os homens se denominam a si próprios miseráveis
e desprezíveis criaturas e pecadores impertinentes, contribuem por si próprios para converter-se nisso
mesmo, pois o que pensarmos de nós é o que realmente seremos em definitivo.
Toda mulher ou todo homem representa uma parte e é uma manifestação da Mente Infinita. Todo
espírito é também uma parte do Espírito Infinito. Este encerra em si todos os conhecimentos, toda a
onipotência e toda a sabedoria. Deduz-se disso que, como partes integrantes do Infinito, a nós perten-
ce também o conhecimento, o poder e a sabedoria, na qualidade que cada um de nós está disposto a
receber e a apropriar-se. Sendo assim, devemos mendigar servilmente o que é nosso e nos pertence
também?
A Mente Infinita nada teme, nada mendiga e, como ela quer fazer os homens e as mulheres à sua
imagem e semelhança, por que nos colocarmos na atitude mental de mendicantes quando lhe pedimos
alguma coisa?
Procedendo desta forma, insultamos ao Infinito, do qual somos uma parte também e perdemos, por
um período de tempo mais ou menos longo, a faculdade mediante a qual pode o Infinito agir, no mundo,
por nosso intermédio. Perder o respeito e o apreço de nós próprios é perder o respeito e o apreço de
Deus, o qual se manifesta na nossa própria carne.
O mendigo pede-nos uma esmola, embora insignificante, mas em compensação pensa em nos
dar absolutamente nada, procurando só, por mil formas, despertar a nossa piedade e simpatia, para o
socorrermos, com o único intuito de angariar a esmola.
A mendicidade é uma grande mentira ou vício e um grande pecado, pois é contrária às leis do Infi-
nito, o que se demonstra por si mesmo, só com o fato de se considerar que o mendigo se torna cada vez
menos digno de ser sustentado: recebe tudo quanto lhe dão e nada dá em troca, indo assim perdendo
toda dignidade, chegando a ser insensível até às pancadas e a todos os insultos. Deste modo só visa a
ser um objeto de permanente dó.
A Mente Suprema diz-nos: “Ordeno-te que a manifestação de Deus se torne em ti e para ti cada
vez mais evidente. Mas os deuses não são escravos nem mendigos; hás de, pois, pedir que em ti se
aperfeiçoem todos os atributos e predicados divinos. Implora-me a absoluta independência. Pede-me
as qualidades necessárias para me poderes glorificar. Tu, porém, não podes dar ordens a mim, que
sou o Infinito, inesgotável, imenso, incomensurável, sem princípio nem fim. Esse espírito todo de tímida
humildade e de baixo servilismo, sempre de joelhos ante o Supremo, nem é reverência nem adoração.
O verdadeiro sentimento de reverência não é a adulação. Ele tem por base a nossa justa apreciação e o
exato conhecimento das maravilhosas qualidades e infinitos poderes que o Ser Supremo possui, e que
existem por si só.”
Imploremos ao Infinito Espírito do Bem para que este apreço e este conhecimento aumentem em
nós e quanto maiores, mais profundos e extensos eles forem, maior e mais sincera será também a ver-
dadeira adoração, o profundo respeito que rendamos a Deus e aos homens.
O
primeiro passo que devemos dar para a obtenção do poder ou faculdade de evitar e curar todas
as doenças, consiste em arremessarmos para bem longe da nossa mente a falsa crença de
que, com o decorrer da idade, a nossa força mental se esvai ou, pelo menos, diminui ou pode
diminuir, o que é impossível verdadeiramente. Pode parecer, em certos e determinados casos, que a
nossa força mental decai ou se desgasta; é isso somente devido à excessiva dureza e amargura das
dores padecidas.
Podemos exaurir e extenuar o corpo, debilitando-o, até chegar à morte, mas a Força invisível e ener-
gia mental, que é quem atua nesse corpo e faz agir, essa nunca enfraquece nem morre. Pode, é certo,
algumas vezes, tornar-se incapaz de atuar com eficácia nele; é bem verdade que, às vezes, por igno-
rância ou só por esquecimento transitório dos exercícios próprios da mentalidade, pode essa dita Força
ser dissipada e perdida, como sucede em milhares de casos em que o homem dispersa a sua energia
mental em todas as direções, sem conseguir fixar o pensamento numa só coisa durante dez minutos
seguidos. A força mental irradia de um só centro e, para aproveitar toda a sua energia, é necessário
concentrá-la num ponto fixo, sem o que ela se dispersa, perdendo-se miseravelmente.
Nunca nos deve abandonar a ideia de que o homem possui uma força mental sempre progressiva
e que, sem cessar, esta força pode ser aplicada para fortalecer e dar nova vida ao corpo. Somente a
posse desta ideia proporciona-nos já um poder espiritual imenso.
Pode parecer-nos, às vezes, que ela foi abandonada ou dela nos esquecemos por completo, sen-
tindo-nos como indecisos e vacilantes. Apesar de tudo, se alguma vez formulamos aquela ideia, por si
mesma, ela volverá a fixar-se no nosso cérebro e de novo voltará uma e mais vezes, sempre com nova
e mais poderosa força, comunicando-nos, de dia para dia, mais positivas e convincentes provas da
sua realidade – provas naturalmente insignificantes ao princípio, porém que, pouco a pouco, se irão
tomando cada vez mais importantes, até nos vermos, um dia, obrigados a convir em que as nossas en-
fermidades não são frequentes como dantes e que aquelas de que padecemos rapidamente se curam.
O segundo passo que devemos dar, aquilo que realmente devemos fazer, consiste em nos conven-
cermos de que toda doença tem a sua verdadeira sede na mente e que tudo quanto nos ocasiona ou
pode ocasionar dor ou miséria para a mente, também será causa de dor e miséria para o corpo.
Se nos assustamos, logo o nosso corpo sente repercutir-se nele o medo, debilitando-se e sentindo
esvaírem-se as forças de tal modo que, muitas vezes, se o não aparam, cai inerte por terra. Se experi-
mentamos uma cruciante angústia, em nosso corpo se reflete, aflita e lancinantemente, a própria emo-
ção com uma violência em proporção com o sofrimento moral. Se o desalento se apodera de nós, ex-
pulsando de todo, do nosso coração, a doce e benfazeja esperança, todos os músculos do nosso corpo
se sentem lassos e sem energia necessária para agir, a qual lhes era peculiar e tanto nos caracterizava,
quando nos sentíamos alegres e cheios de esperança. São inúmeras as pessoas que vivem, durante
anos e anos, com o coração açoitado pelos mais pungentes desgostos e sem que o menor raio de es-
perança lhes ilumine as profundíssimas trevas do seu infernal sofrimento moral; pois bem, apesar deste
martírio atroz ser apenas puramente espiritual, influiu-lhes poderosamente sobre o corpo, debilitando-o
gradualmente e afetando qualquer dos seus órgãos físicos, ou todos eles tais como os olhos, os ouvidos,
o estômago ou os pulmões.
Devemos repelir mentalmente tudo quanto nos possa causar ou proporcionar desgosto. Não diga-
mos nunca: “Isto está quente ou frio demais, não o posso suportar”, ou “Eu sofro demasiado, já não pos-
86 Prentice Mulford
so com tantos sofrimentos”, ou “É assim mesmo, tudo quanto é mau vem para mim; se fulano ou fulana
fosse bom, ou se isto fôsse uma felicidade, não viria para a minha casa, nem para mim!” – ou ainda “Tão
atroz sofrimento é superior às minhas forças”, – pois, com estas e outras semelhantes exclamações, nos
vamo envolvendo numa rede de maléficos elementos que exercem a sua enérgica influência sobre nós,
causando-nos uma dor ou infelicidade mil vezes maior do que quando até aí tínhamos sentido. Em lugar
disto, digamos antes: “É verdade que o meu corpo está tiritando de frio ou ardendo em calor, que eu
sofro atrozmente neste momento, mas o meu espírito não treme, nem tremerá nunca, e se hoje sinto o
coração despedaçado pela dor, ou se estou a braços com uma luta árdua e que me parece desespera-
da, é preciso criar ânimo, porque a bondade, a misericórdia de Deus é infinita, e como tenho confiança
absoluta e ilimitada no Infinito Espírito do Bem, aceito isto como coisa transitória, mas estou certo de que
a minha situação há de melhorar e melhorará incessantemente. Estou repelindo com todas as minhas
forças, em nome de Deus, as forças maléficas que me torturam o corpo ou o espírito.”
Desta forma, construímos um poder que resiste aos elementos externos que influem ou atuam sobre
o nosso corpo.
Todas as vezes que, mentalmente, nos opomos aos intensos rigores do frio ou do calor, ou a qual-
quer incômodo ou sofrimento físico ou moral, adquirimos uma força que nos há de auxiliar eficazmente
para dominar e curar tais doenças, assim como os músculos do nosso braço podem adquirir, pouco a
pouco, a força necessária e indispensável para deter a investida de um animal selvagem e subjugá-lo.
Cada um dos nossos pensamentos formulados neste sentido é uma pedra que juntamos à fortaleza
ou baluarte que tem de nos proteger e defender de todo mal.
Oponhamo-nos mentalmente à ação do demônio sobre o nosso corpo e o nosso espírito, e o de-
mônio nos deixará em paz e inteiramente livres de suas tentações e malefícios. O demônio está em tudo
o que, sob qualquer forma, procura exercer um despótico domínio sobre nós. Se lhe não opusermos
enérgica e tenaz resistência, ele nos dominará, ainda que seja só temporariamente.
Nenhum país nos parecerá bom. Um será demasiado frio, outro demasiado quente; as contrarieda-
des, os trabalhos e todas as faltas de comodidades no nosso domicílio ou de onde quer que estejamos,
nos parecerão também muito maiores e tudo nos incomodará e nos porá de mau humor, até as coisas
mais insignificantes e triviais.
Não quer isto dizer que devemos forçosamente permanecer sempre no ambiente que nos rodeia e
nos é molesto e desagradável, nem que devamos nos torturar só pelo prazer de sofrer. O que simples-
mente afirmo e aconselho insistentemente é que procuremos sempre, e tanto quanto possível, dominar
as nossas paixões, más inclinações e repugnâncias, bem como tudo o que nos é desagradável, e evitar
que tudo quanto for incômodo nos domine.
Nada lucramos com o fato de nos infligir, voluntariamente, uma tortura de qualquer espécie que
seja. Tem sido frequentemente este o erro do asceta que, voluntariamente, se priva de todo prazer; do
eremita que considera um grande ato meritório o viver em completa e absoluta solidão; do hindu que
rasga as próprias carnes com afiadas navalhas ou permanece longas horas suspenso num pau. Isso
significa unicamente levar ao excesso a resistência contra a dor. Porque, pelo fato de se dever ter cora-
gem para suportar os sofrimentos e vicissitudes da vida, não é razão para se sofrer todos os martírios,
sem necessidade. Isso é desperdiçar forças que, empregadas melhor, nos poderiam ser de grande
utilidade e proveito.
O asceta, seja qual for a forma por que se manifeste esse excessivo sentimento de sacrifício, vive,
de contínuo, escravizado pela ideia de que todo prazer, qualquer que seja, é um grande pecado, da
mesma forma que é escravo de seu vício o homem que está dominado por qualquer um deles. A con-
quista de si próprio significa o domínio de si próprio, e o maior dos conquistadores é aquele que sabe
88 Prentice Mulford
produzirá fadiga e aborrecimento tais que constituem uma verdadeira doença para a mente, terminando
sempre, sem a menor dúvida, por uma doença física.
Se algum dia sentires enfraquecer os vossos olhos, não recorrais imediatamente aos óculos, qual-
quer que seja o grau; deixai apenas os vossos olhos repousarem durante alguns meses. Nenhum dos
órgãos do corpo padece tanta fadiga como os olhos, os quais obrigamos a ler as minúsculas letras dos
nossos impressos, em geral demasiado pequenas. É como se tratássemos de sobrecarregar os nossos
músculos com um peso superior às suas forças.
Ao notarmos que a nossa vista está cansada ou nos falta um pouco, o que primeiro devemos fa-
zer é afirmarmos mentalmente a nós próprios que nossa vista é tão boa como sempre foi. Só o fato de
começarmos a usar óculos, apenas principiamos a notar qualquer fraqueza da vista, como milhares de
pessoas fazem, demonstra uma afirmativa inconsciente da nossa parte de que os nossos olhos hão de
ficar já débeis e enfraquecidos para todo o resto da nossa vida.
Se pusermos os óculos sobre o nariz, faremos o mesmo que darmos como molestos os nossos ór-
gãos visuais, e se começarmos a usá-los, nunca mais os poderemos tirar.
Podemos dizer o mesmo a respeito de todos os nossos outros órgãos. Se sentimos as pernas fracas
ou que se fatigam depressa, não procuremos o auxílio de muletas, antes experimentemos andar sem o
auxílio de qualquer cajado.
O cansaço dos olhos pode ser devido a alguma fraqueza do corpo, debilidade que terá talvez como
origem alguma perturbação mental: – medo, angústia ou dor – pois toda e qualquer perturbação mental
esgota as forças físicas.
O repouso é o verdadeiro caminho para que todo órgão físico sobreexcitado ou excessivamente
fatigado possa recuperar as forças e a robustez primitivas. Portanto, isso mesmo se dá com a vista.
Uma só força invisível, mas sempre a mesma, é que alimenta todos os órgãos do corpo. Ora, usan-
do óculos, não descansamos nossos olhos, não estimulamos a sua força própria, aplicando-lhes uma
lente, artificial, que concentra luz para lhes fazer ver o que ainda não conseguia fazer ver a lente natural.
As lunetas são um estímulo dos órgãos da vista, tão artificial e nocivo, como o álcool com que se costu-
ma estimular o estômago para, transitoriamente, se lhe despertar o apetite de que carece. Desta forma,
só educamos os nossos olhos para, em breve tempo, não poderem prescindir desse estímulo, acabando
por ser seus verdadeiros escravos. Por consequência, se tivermos de ler letras de imprensa e isso em
todos os graus de luz, ou se os nossos negócios nos obrigam a proceder dessa forma, é claro que temos
de recorrer ao auxílio de lunetas, mas as nossas necessidades não alteram o resultado do seu emprego.
Pode até o homem destruir a sua saúde com o intuito de procurar um auxílio honesto para se sus-
tentar a si e à sua família, como pode atingir o mesmo resultado, expondo-se por mera imprudência a
um grande perigo.
Na lei da saúde, nada valem os motivos que a fizeram transgredir. Eis por que tanto corre perigo
aquele que, entrando numa casa incendiada, se expõe às chamas com o nobre intuito de salvar uma
preciosa vida humana, muitas vezes até idolatrada, como infame ladrão que aí penetrou com o único fim
de roubar.
Se observarmos que o nosso ouvido enfraquece, mantenhamos constantemente a nossa mente em
atitude oposta a essa surdez.
A nossa força mental pode, por si só, arremessar para longe do corpo todos os elementos mortos
ou, pelo menos, já inúteis e incapazes de reproduzir a vida. Quando a mente deixa de se utilizar do
corpo e este morre, como se diz na linguagem dos homens, é porque perdeu toda faculdade de afastar
de si as matérias mortas que são o produto dos órgãos. Toda dor física que cresce e aumenta de in-
tensidade é devida à inexistência, no corpo, de força suficiente para proporcionar ao órgão enfermo os
alimentos vitais de que necessita.
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Será suficiente exteriorizarmos o pensamento e o desejo formal de que as pessoas que rodeiam
o enfermo adquiriram uma clarividência maior daquilo que convém e deve fazer-se, pondo-se, deste
modo, em íntima conexão com a corrente mental produtora do Poder Supremo, a qual somente se che-
ga pelos caminhos da generosidade e do bem.
Não tardará muito que o homem se tenha convencido de que nada absolutamente ganha em lutar
pela verdade. Podem ser enviadas mentalmente, através do espaço, fortes pancadas que causem dano
aos corpos. E atingindo, material ou mentalmente, qualquer pessoa, em que terão as nossas pancadas
feito mudar o estado mental dessa pessoa, cujo corpo podemos chegar a destruir? Em nada absoluta-
mente, em nada.
Se o proceder de certas pessoas nos parece inconsequente, injusto ou prejudicial, nada ganhare-
mos se a elas atacarmos direta ou indiretamente, procurando prejudicá-las, além de que atrairemos tam-
bém, ao mesmo tempo, fazendo recair sobre nós, a nociva corrente do seu ódio e do seu antagonismo.
O melhor é combater o mal apresentando novos e melhores caminhos ante os olhos dos transviados.
Se tenho uma casa melhor do que a dos outros, não hei de obrigar naturalmente os outros a copia-
rem a minha casa. Poderei, talvez, convidá-los a visitarem-na, indicando e demonstrando-lhes as suas
vantagens e melhoramentos: isto será o melhor que tenho a fazer, se eu quiser contribuir para o relativo
bem-estar dos seus semelhantes. O que conseguir ver e apreciar a superioridade da minha casa tratará
de arranjar, para si próprio, uma casa igual, e o que, por si mesmo, não a ver, inútil será que eu me es-
force em lhe demonstrar antes de ter os olhos mais abertos, porque não o compreenderá.
A excessiva obesidade é proveniente da falta de força para expulsar do corpo as matérias mortas,
como pode também faltar-lhe para produzir os endurecimentos da pele, que a natureza põe em nossos
pés, para os proteger contra o atrito de um calçado demasiadamente apertado e duro. Porém, estes
endurecimentos da pele podem chegar também a transformar-se numa excrescência calosa, o que será
antes um verdadeiro e doloroso incômodo do que uma proteção, sendo isto somente devido a não ter
o espírito a força bastante para deter a tempo o seu crescimento, produzindo-se, dessa forma, o calo e
convertendo o que a natureza nos proporciona como um remédio, em uma fonte de novas dores.
Um calo não é outra coisa mais do que uma crosta ou excrescência, que o espírito não teve tempo
para destruir. Se nos limitarmos a cortar tal excrescência anormal, nada mais faremos do que estimulá-la
para de novo crescer, da mesma forma que fazemos com as árvores frutíferas, às quais podamos todos
os ramos supérfluos, concentrando, por este modo, muito mais a força de que a árvore dispõe, tal qual
o calo, para crescer e aumentar incessantemente.
Por consequência, para diminuir a excessiva adiposidade, o que devemos fazer, primeiro que tudo,
é reduzir a quantidade de alimentação farinácea, sobretudo. Mas a verdadeira cura desse mal funda-se,
principalmente, na aquisição e no exercício da força mental que deve expelir do corpo todas as secre-
ções de matéria sebácea ou morta, até ele atingir as suas elegantes simetrias e naturais proporções.
Se, porém, só desejarmos ver-nos livres da gordura e não cuidarmos da beleza do corpo, com certeza
nos libertaremos da excessiva exuberância de carnes, porém, lentamente, visto não se basear o nosso
desejo no escopo mais elevado; e quanto mais nobre e elevado for o móvel do nosso desejo, maiores
serão os resultados obtidos pela nossa ação mental.
Neste último caso, o mais elevado e poderoso motivo em que devemos fundar o nosso desejo,
deve ser o nosso inato amor pela simetria e beleza física, como a expressão externa do nosso próprio e
peculiar estado mental ou simetria espiritual.
Aquele que emprega todos os esforços para diminuir as suas carnes mediante contínuas dietas,
sem porém, de modo algum invocar a aquisição das forças que faltam ao seu espírito, com toda a certe-
za conseguirá algum resultado e talvez melhore até a plástica de seu corpo. Nunca poderá, porém, atin-
gir, desta forma, senão efeitos transitórios, como aquele que corta os calos para se livrar das dores por
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energias de outra mentalidade inferior. O poder mental de Cristo, superior ao poder mental de todos os
outros homens seus contemporâneos, permitiu-lhe realizar fenômenos qualificados depois como mila-
gres. Por esses milagres são apenas e simplesmente meros resultados materiais, obtidos por intermédio
da Lei que os produz e do conhecimento complementar de que carecemos para fazermos inteligente
uso da mesma.
Os conhecimentos e o uso dessa Lei vão entrando dia a dia, com muita força, nos domínios da ci-
ência, como já entraram o conhecimento e a utilização do vapor e da eletricidade.
Este conhecimento, por enquanto, ainda está velado a muitos, pois só se manifesta àqueles que po-
dem recebê-lo, e esses são os que, tendo o espírito sempre alerta em procura da verdade, não repelem
tola e tenazmente as ideias novas.
Não devemos, porém, condenar nem querer mal aos que, obstinadamente, repelem as ideias no-
vas, pois a sua mentalidade não pode, dentro das atuais condições, transformar-se por completo de
uma só vez, até se tomar digna de receber as novíssimas ideias.
Não existe mistério algum que o homem não possa desvendar, mas só o homem que tiver realmen-
te a mente aberta a toda verdade. À medida que o nosso conhecimento espiritual for aumentando e
robustecendo-se, novos agentes e novos meios de ação virão para nós, a fim de engrandecer a nossa
força mental e evitar que se desperdice ou se adultere, e de podermos utilizá-los, em primeiro lugar, para
o nosso próprio bem, e depois em favor dos outros homens.
H
olowitz, o célebre jornalista britânico, disse num dos seus artigos: ‘‘Creio na constante interven-
ção de um Poder Supremo que dirige não só o Destino em geral, mas também aquelas das nos-
sas ações que influenciam sobre o nosso Destino. Quando vejo que nada está entregue ao acaso
na natureza; que o menor dos astros que cintila no firmamento, percorrendo a vasta abóbada celeste,
aparece e desaparece com absoluta pontualidade no céu, não posso abster-me de acreditar que tudo
quanto diz respeito aos homens há de ser igualmente governado por leis imutáveis e não exposto aos
caprichos do acaso; não, cada um dos indivíduos que constituem a Humanidade é regido por uma lei
bem definida e imutável.”
Nos meus escritos tenho sempre afirmado, e creio ter deixado bem patente que toda força ou potên-
cia, tanto aquela de que nos utilizamos para mover os nossos músculos como a de que temos necessi-
dade, até para o mais insignificante dos nossos esforços mentais ou intelectuais, nos provém do exterior,
de fora do nosso corpo; querendo dizer, com isto, que nos vem do Poder Supremo.
Farei notar aqui que, frequentíssimas vezes, nos meus escritos tenho empregado a expressão Po-
der Supremo, o que a muitos de meus leitores terá talvez parecido excessivo. É porque ante a notória
insuficiência de têrmos da nossa língua, embora rica, não encontro nenhum que melhor exprima os
efeitos desse poder onipotente que impele os planetas e faz girar os mundos na abóbada celeste, por
maravilhosas e sábias leis, e nos impele também, fazendo-nos mover e comunicando-nos a energia ne-
cessária para a execução dos nossos mínimos atos, tais como o movimento de um dedo ou até o agitar
das pestanas.
Não pretendemos conhecer a origem nem a natureza desse Poder; julgamos até que Ele é e será
sempre incompreensível para toda mente humana e até para toda mente, em qualquer plano da exis-
tência em que se ache.
Cremos que a esse Poder sublime, onipotente e único, se alude neste trecho das descrições da
Bíblia: “Ante Ele os Arcanjos velam seus rostos”, que interpretamos com conclusão de que quanto mais
elevado for o conhecimento que se tem desse Poder, com maior lucidez se vê quão mesquinho se é, e
se aprecia a imensidade da própria pequenez.
Ao contemplar de muito perto a sua ação, verificamos que nos é absolutamente impossível com-
preendermos ou explicarmos a natureza de um Poder que não teve princípio nem poderá nunca ter fim.
O homem deve ter fé, cada vez mais fé, na realidade desse Poder e na possibilidade de atraí-lo a si,
assim como o engenheiro tem fé na realidade do vapor, que tem origem na água a ferver, e na força de
tal vapor para fazer mover as suas máquinas. Esta fé é a fonte e o segredo de toda felicidade humana,
mas não se aprenderá nem se adquirirá mediante largos estudos, nem decorando livros inteiros, velhos
ou novos. Esta fé virá para nós, apoderando-se inteiramente da nossa alma em toda plenitude da sua
força, à medida que aprendamos a manter a nossa mente na atitude mais adequada a recebê-la; para
nós virá, então, esta fé tão fácil e rapidamente, como a chuva que cai das nuvens.
A atitude mais apropriada a que nos referimos para nos pormos em condições de receber esta fé,
nada mais é do que o desejo ardentemente formulado de recebê-lo.
Quando essa verdade se nos tornar tão evidente como a luz do sol que vemos brilhar com divino
esplendor nos céus, compreenderemos também que existe um Poder verdadeiro e superior a nós pró-
prios. A nossa própria mente responderá, então, satisfatoriamente, a toda espécie de perguntas e nosso
poder espiritual e pessoal aumentará sem cessar, tanto se o exercitarmos mediante o corpo, como por
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outros meios quaisquer. Imaginando previamente que o nosso poder se origina dentro do nosso corpo,
cortamos, com essa crença, toda nossa comunicação com o Poder Supremo que está fora de nós.
Quando nos sobrevêm a primeira sensação de fadiga física, inconscientemente apelamos para
outro suprimento interior da força. Uma onda de poder responde exatamente a este pedido.
Mas foi este poder que usamos em má direção. Não agiu sobre a máquina do nosso corpo para
impeli-lo adiante, mas para forçá-la, como se a força fornecida pela caldeira tocasse para trás os braços
de um tear, antes que para a frente. E se persistirmos nesse hábito mental, de dia para dia, teremos
cada vez menor capacidade para atuar no corpo, com o que o nosso organismo sofrerá grandes danos
e prejuízos, pois esta reversão de ação terá prejudicado a nossa máquina física, a terá consumido ou
arrancado da sua engrenagem, e terá posto o corpo fora da proporção.
O nosso corpo irá ganhando, pouco a pouco, em simetria e boas proporções, à medida que a nossa
mente se for dispondo na atitude para isso adequada. A Força Suprema também intervém nos nossos
negócios e atos cotidianos. Não façamos mais do que tudo quanto pudermos fazer bem e sem esforço
excessivo, e, tendo assim cumprido cabalmente com o nosso dever, detenhamo-nos, sem nada mais
fazer, confiados inteiramente no Poder Supremo, que governa o Universo, assim como a criança põe
toda a sua confiança em seus pais.
Imploremos e desejemos, com veemência, que essa confiança aumente e se engrandeça cada vez
mais, de dia para dia, em nós, atraindo assim a força de que carecemos para levar avante e com êxito
os nossos planos e obras cotidianas.
Os homens verdadeiramente práticos, os que dirigem grandes empresas comerciais, políticas ou
industriais; os homens verdadeiramente ativos que neste mundo existem, por certo raríssimos, chamam
a si frequentemente esse Poder Supremo, embora inconscientemente, colocando-se no estado de es-
pírito apropriado para recebê-lo, a que mais de uma vez tenho aludido, dando-se isto muito mais vezes
do que se pensa. Quando uma coisa qualquer lhes parece obscura, sem poderem penetrar bem o
âmago da questão, nem ver nitidamente se o negócio lhes convém ou não; quando se acham perplexos
e descorçoados ou em suas mentalidades se produz algum desses estados de desânimo e depressão
mental, impossível de evitar, dizem intimamente, de si para si: “Isto não está bem, mas como já tenho
vencido outras dificuldades e feito isto ou aquilo, tenho a convicção de que também agora poderei fazer
o que pretendo e sair vitoriosamente desse mau passo”.
E esta atitude mental é apenas resultante de uma confiança maior ou menor, conforme a fé e a es-
perança que se depositam no Poder Supremo e a energia com que é formulada tal frase, ou antes, é a
confiança em algo que não existe certamente em nós, nem somos nós, mas fora de nós reside, e muito
acima de nós, em sabedoria e poder, em Deus.
Não temos necessidade de manter sempre esta atitude implorante, pois, desde que ingressemos
neste canal reto ou nesta atitude mental, por ele seguiremos sempre, mesmo inconscientemente, pen-
sando ou não nele, da mesma forma como dantes seguíamos o caminho errado, se tivéssemos entrado
nele alguma vez.
Também não nos é possível esquecer nem abandonar de repente e para sempre o erro ou os maus
hábitos que podem ter em nós dez, vinte, trinta ou quarenta anos de existência ou mais.
Ora, assim como, sem querer, repetimos maneiras, gestos e modos de dizer e fazer, que deseja-
ríamos imediatamente olvidar, com frequência caímos também nesses erros e maus hábitos, contra a
nossa vontade; costumes esses todos formados primeiro na mente, antes de se exteriorizarem mediante
o corpo.
Porém, desde que agora penetrou em nossa mente esta verdade, nunca mais poderá abandonar-
-nos, pois quando vem para nós, é para crescer mais ou menos lentamente, embora de um modo in-
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O pedir que a força do Poder Supremo venha para nós, nos traz inspiração, e tanto o nosso andar
como os nossos gestos e palavras podem ser inspirados, porque inspirado é todo esforço, mental ou
físico, em cuja execução encontramos prazer. A inspiração faz esquecer ao corpo que este é o instru-
mento usado pelo espírito.
A inspiração converte todo trabalho em um verdadeiro brinquedo, em uma agradável distração.
Não há métodos e nem leis pelos quais o homem possa alcançar a inspiração e, quanto mais elevada
esta voa pelos páramos celestes, mais esquiva é às leis e aos métodos que os homens fizeram.
Necessitamos da força para coisas muito mais importantes do que o movimento de um braço, de
uma perna ou de qualquer órgão físico.
Pode-se compreender como um homem forte e robusto possa ficar de repente paralisado e como
que pregado ao solo, sem poder fazer o menor movimento?
Pois todos nós sabemos que resultados idênticos a este são conseguidos mediante o dom ou poder
oculto, que há quarenta anos se chama mesmerismo e a que muitos dão hoje o nome de hipnotismo
e, talvez, daqui a cinquenta anos se denominará de outra maneira qualquer. E que poder é esse, na
realidade? — Nada mais é do que o dom ou poder da força mental de alguém, dominando outra mente,
que em força lhe é inferior, poder igual àquele pelo qual um corpo material subjuga outro corpo, com a
única diferença de não ter necessidade de emprego de músculos nem de órgãos físicos para agir. To-
dos nós possuímos em embrião este maravilhoso e potentíssimo poder, e quando conhecermos bem o
uso dessa potência, num futuro talvez bem próximo, não haverá ninguém que possa dominar-nos pelos
meios físicos. Pelo contrário, todo esforço, até dos mais robustos, poderá ser paralisado por nós, só pelo
emprego desse invisível poder, e converter o nosso mais encarniçado inimigo num dócil instrumento dos
nossos desejos.
E isto não é uma possibilidade longínqua, porquanto já está sendo hoje realizada por certas indi-
vidualidades. Há, porém, de desenvolver-se ainda mais, em proporções maiores, convertendo-se em
um predicado próprio, comum a todos os homens, em menor ou maior grau, como a força muscular é,
atualmente, em maior ou menor grau, um predicado de todos.
Mas esta é somente uma das formas tomadas pelo poder que age inteiramente independente do
corpo. Este poder também pode ser empregado com maus fins, assim como pode também ser usada
com maus intuitos a força física e, nesse sentido, muita gente usa agora dela, ainda que muitos o façam
inconscientemente.
Muitos milhares de mentalidades são hoje influenciadas, desvairadas, transviadas, conduzidas por
um falso caminho e dominadas, finalmente, por outras mentes.
O domínio mesmérico é apenas uma das formas que pode assumir esse poder. Existem milhares
de escravos sem terem a mínima ideia da sua escravidão, como há inúmeros senhores que ignoram o
domínio que exercem. O mais estranho e singular, porém, é que muitas vezes são dominadas justamente
as individualidades possuidoras de maiores e mais reais faculdades intelectuais e maior poder mental,
sendo isso apenas devido à sua ignorância da existência de tal poder.
O poder adquirido pelo espírito humano pode chegar até a vencer todos os agentes de ordem ma-
terial, tornando o corpo insensível a todos os efeitos do frio e do calor. Foi este poder que, como já se
tem dito aqui, produziu esses extraordinários fatos classificados como milagres, os quais nada mais são
do que os efeitos reais do que hoje se chama Leis Ocultas ou Ocultismo.
Um extraordinário e elevadíssimo desenvolvimento mental pode tomar o corpo superior às leis da
gravitação. Esses homens que, segundo a Bíblia, ascenderam aos céus, foram transladados de um pon-
to ao outro da terra, através do espaço; nada mais fizeram do que por em prática o emprego dessa força
que, bem aplicada, é capaz de levantar os corpos, conservando-os no ar contra todas as leis físicas até
hoje conhecidas. Além de que, quando o espírito alcançou todo o seu pleno poder, pode impunemente
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Por que pode o lavrador lavrar a terra sob os ardentes raios do sol abrasador, enquanto que a maior
parte das pessoas ociosas não cessa de agitar o leque, parecendo derreter-se com o calor?
Vista esse mesmo homem roupas limpas e elegantes, passeando ocioso pelo campo, e o calor fa-
-lo-á sofrer igualmente como aqueles senhores que costumam passar a vida ociosa, pela singelíssima
razão de nada mais fazer nessa ocasião, também, não podendo concentrar a mente em nenhum traba-
lho importante, ficando esta em condições apropriadas para receber a ideia do calor até lhe produzir os
mesmos efeitos que nos outros produz.
Deve a mente do homem chegar a adquirir uma força especial tão grande que até permita esque-
cer-se de todo quanto lhe possa causar dano ou dor ao corpo, para somente pensar no que lhe deverá
ser agradável.
Hoje, porém, a mentalidade de milhares e milhares de pessoas, exerce a sua ação na direção mais
prejudicial. Em geral, são consideradas inevitáveis mil dores e sofrimentos de natureza física. Continua-
mente se lança no espaço a ideia de que a decadência orgânica, a fraqueza da velhice e a morte física
são coisas inerentes à Humanidade. Os homens da época atual alimentam todas as doenças físicas pela
insistência de nelas pensar, em lugar de resistir e destruir-lhes os efeitos. A mentalidade predominante
já está educada na falsa orientação, própria para formar e desenvolver toda espécie de enfermidade.
Pode-se dizer que, em toda parte, se conta com as doenças como coisa certa e indubitável e, por assim
dizer, as convidam a entrar em todas as casas; acredita-se firme e positivamete que as crianças hão de
ter o sarampo, a difteria e as várias doenças que toda gente considera peculiares à infância.
Que a Humanidade há de ser sempre dominada pela dor, a doença e a morte, são coisas que nem
se discutem, tão certas se consideram.
Todos estes pensamentos e muitos outros, de igual natureza deletéria e prejudicial para a felicida-
de e o bem-estar dos homens e das mulheres, condensando-se, constituem o que nós denominamos
o poder das trevas ou infernal, ou antes, a potência reunida e concentrada das mentalidades baixas e
grosseiras, a qual nos cerca e envolve a todos nós. Precisamos, pois, de nos fortalecer, para combater
vitoriosamente esse nefasto poder, e assim lhe resistiremos.
Esse início de resistência, hoje por nós intentado, constituirá o primeiro passo, o passo preparató-
rio para logo depois darmos muitos outros na senda do nosso progresso mental, a atingirmos no porvir
os mais miraculosos e surpreendentes resultados. Porém, como já muitas vezes o temos repetido, não
é conveniente prodigalizarmos o nosso afeto e a nossa simpatia àqueles que qualificam de utopias e
quimeras estas verdades, porquanto só erros e enfermidades nos darão em troca, e de escassíssimo
auxílio lhes servirão, perante o que, alguém perguntará, talvez: “Mas é, então, esta a nossa verdadeira e
tão apregoada fraternidade humana? Está porventura isto de acordo com o preceito de Cristo: ‘Amarás
ao próximo como a ti mesmo?”
Não nos devemos esquecer, porém, de que Cristo disse também: “Deixa que os mortos enterrem os
seus mortos.” Ou, por outras palavras: – Deixa os que não queiram ou não puderem ver as verdadeiras
e expansivas leis da vida eterna seguirem o seu estreito caminho, vivendo sempre aferrados aos seus
erros, e sofrendo por causa deles.
Se, por experiência própria, conheces que este ou aquele caminho é muito melhor do que os outros,
e o segues, enquanto o teu próximo segue o pior de todos, porque não crê ou não lhe é possível crer em
tuas palavras, não julgues fazer-lhe benefício algum por estares sempre enviando-lhe a corrente da tua
simpatia, não, ao inverso disso, a ti próprio te estarás prejudicando enormemente.
Se, porém, os teus irmãos em Cristo crerem na Lei Divina, virem e sentirem o mesmo que tu vês e
sentes, então a sua companhia é para ti muito útil e vantajosa, e só bem te fará, como a tua faz a eles: —
pois que, ao reunires as tuas crenças às deles, crias uma força maior que será extremamente benéfica
e de um auxílio imenso para todos.
P
or que não podemos manter-nos em uma serenidade mental bem equilibrada? Por que estamos
sujeitos a grandes períodos de depressão mental?
É isto devido ao fato de que, embora nós estejamos completamente compenetrados do nosso
próprio ideal de vida neste mundo, pode atuar também sobre nós, em maior ou menor grau, a perturba-
ção mental que por toda parte reina.
Devemos ter benevolência e respeito por todos os animais da criação. Apesar disto somos, algu-
mas vezes, testemunhas da morte dos passarinhos que, descuidadamente, fazem os ninhos nos copa-
dos bosques, pela barbaridade, embora inconsciente, de algum caçador, sem que possamos evitá-lo.
Vivemos constantemente no meio de cenas de crueldade e de morte. Os animais domésticos cria-
dos sob as vistas e os cuidados dos homens são tratados e educados o mais artificialmente, crescendo
assim, naturalmente, num meio contrafeito, vivendo sempre uma vida constrangida e insalubre, inteira-
mente imprópria para se desenvolver neles as faculdades que lhes tornariam a vida mais alegre e útil.
A natureza entregue a si própria faz muito mais e melhor em prol da vida dos animais do que todos
os cuidados e desvelos humanos, pois todos os animais, assim como o homem, têm direitos individuais.
Impondo a um irracional qualquer o nosso desejo, causamos-lhe grande dano, razão por que todos
os animais inferiores, vivendo num estado por nós denominado de domesticidade, crescem enfermos,
acabando por degenerar-se; ora, como todo estado doentio de que estamos rodeados implica e quer
infelicidade, afeta-nos igualmente a nós também, direta ou indiretamente.
Quanto mais perfeito for o nosso organismo físico e mais disposto estiver à sublimidade de uma vida
espiritual muito elevada, mais facilmente pode ser atingido nocivamente pelos males que nos rodeiam.
Por enquanto, é totalmente impossível caminhar na vida sem suportar o medonho cortejo de gran-
des dores físicas e mentais.
As nossas casas, os nossos grandes estabelecimentos enchem-se durante o inverno, dos deleté-
rios vapores produzidos pelas matérias combustíveis de que nos utilizamos, bem como das emanações
dos corpos humanos, que neles estão acumulados. Sucede, desta forma, dormirmos, talvez em aposen-
tos, onde, enquanto nos entregamos ao repouso, absorvemos o insalubre calor e deletérias emanações.
Todos esses nocivos elementos, respiramo-los no inconsciente estado da recuperação das nossas
forças e, ao despertar, nos encontramos com todos esses maus elementos incorporados no nosso ser.
Estamos igualmente expostos a ingerir os piores elementos quando comemos, embora nos sentemos à
mesa do mais luxuoso, higiênico e asseado dos hotéis.
Por toda parte se nos oferecem terríveis cenas de crueldade e injustiça, que muito nos fazem sofrer,
porque tal como é o pensamento ativo dominante naquele ambiente, onde se comprimem as multidões
humanas, tal a nossa boa ou má impressão; o nosso bem-estar ou desventura. Portanto, os pensamen-
tos que particularmente imperam ali atuam também mais ou menos dolorosamente sobre o nosso.
Cada uma de todas as coisas materiais que nos rodeiam encerram um pensamento ou ação mental,
ou, para dizer com mais propriedade, é a encarnação deles, dependendo da maior ou menor pureza
da sua mentalidade interna a ação externa de todas as coisas físicas ou materiais. O comer uma fruta
mal sazonada, caída murcha da árvore ou extemporânea, pode produzir-nos um estado de profunda
melancolia.
D
evemos ser cuidadosos no que pensamos e falamos, porque os pensamentos se reúnem em
correntes tão reais como as do ar e da água. Conforme o que pensamos e falamos, atraímos
para nós uma corrente idêntica de pensamentos, que age sobre o corpo de modo benéfico ou
maléfico.
Se o pensamento fosse visível aos olhos físicos, veríamos suas correntes partirem das pessoas e
se dirigirem para elas. Veríamos que as pessoas de temperamento, caráter e gostos semelhantes estão,
em realidade, na mesma corrente de pensamentos. Veríamos que a pessoa de disposição contrária ou
irritada se acha na mesma corrente de outras assim dispostas, e que cada pessoa que se acha nesta
corrente age como bateria e produtora desta espécie de pensamentos, fortalecendo assim a corrente.
Veríamos também estas forças agindo de modo semelhante sobre os esperançosos, alegres e corajo-
sos, unindo-nos a outros de idênticas qualidades.
Quando estamos numa disposição inferior ou abatida, recebemos a ação da corrente mental pro-
veniente de todos os que estão no mesmo estado. Estamos, então, em uníssono com a espécie de
pensamentos desanimados.
A vossa mente se acha em estado doentio, que pode ser destruído, porém a cura permanente não
vem imediatamente, pois estais habituado a dar entrada em vossa mente a estas baixas correntes.
Ao atrairmos a corrente de uma espécie de mal, por algum tempo ficamos unidos a este mal. Pelo
contrário, na corrente mental do Supremo Poder para o bem, nos unimos cada vez mais com este poder,
e no dizer da Bíblia, tomamo-nos unos com Deus, isto é, com a corrente que nos convier atrair.
Se um grupo de pessoas fala de qualquer doença, sofrimento ou cena de morte, se cultiva este
gosto mórbido para as coisas doentias e horríveis, que formam sua principal conversa, atrai para si uma
corrente mental cheia de imagens de doenças e sofrimentos. Esta corrente agirá sobre tais pessoas e,
com o tempo, lhes trará doença e sofrimento.
Se falarmos muito de pessoas doentes e estivermos muito tempo no meio delas, ou falarmos delas,
sejam quais forem as nossas razões para isso, atraímos uma corrente de pensamentos doentios, e seus
maus efeitos, com o tempo, se materializarão em nossos corpos.
Temos muito mais a fazer para nos salvar do que agora compreendemos.
Quando os homens falam de negócios, atraem uma corrente de ideias comerciais. Quando mais es-
tiverem de acordo, mais atraem esta corrente mental e mais ideias e sugestões recebem para desenvol-
ver e aperfeiçoar o negócio. É desta forma que a discussão entre os membros dirigentes da associação
cria a força que leva para frente seus negócios.
Viajais em carros de primeira classe, vesti-vos com fazendas de qualidade superior e hospedai-vos
em hotéis de primeira ordem, sem cairdes no extremo da fatuidade. Achareis nestas coisas um auxílio
para vos colocardes numa corrente de poder e êxito relativos.
Se vossa bolsa não garante agora tais despesas ou pensais que ela não as garante, começai a viver
assim mentalmente. Isto vos fará dar o primeiro passo nesta direção. As pessoas que triunfam no plano
financeiro vivem inconscientemente de acordo com esta lei.
O desejo certamente levará alguns por este caminho, porém há outra força e fator que também os
impele. Ela é uma sabedoria da qual suas mentes materiais têm pouca consciência; é a sabedoria do
espírito que lhes ensina a entrar na corrente mental dos que triunfam, sendo levados por ela ao êxito.
O
repouso é uma qualidade que pode ser cultivada e alcançada gradualmente, fazendo-se a men-
te fixar nele. Fixai a palavra em vosso cérebro; gravai-a nele ou em algum objeto de vosso uso.
Precisai tê-la na mente, deveis plantá-la ali para que cresça, pois assim criará raízes e se de-
senvolverá.
À medida que ela cresce, apesar de milhares de insucessos, achareis vosso proveito. Tereis de
corrigir-vos muitíssimas vezes de atos precipitados; porém, cada correção vos fará dar um passo, por
menor que seja, para a frente. Se ficais aborrecidos pelos vossos insucessos, melhor ainda porque é
sinal que conheceis os vossos defeitos.
É também um exercício em que deveis aprender sempre por vós mesmos. Pode ser praticado des-
de que vos levanteis pela manhã, ao se vestir, ao andar, ao comer, ao abrir e fechar as portas. Nenhum
ato está fora dele ou lhe é superior. Cada ato assim vos deixa sua pequena porção de capital, até que o
hábito se toma uma segunda natureza e o ensino forçado se transforma em involuntário.
Há uma lei que produz o bom sono da infância. Há outra lei que govema o mau sono, tão comum na
meia-idade, se não antes. A lei govema tudo. Uma lei governa a mina de uma construção, a decadência
de um corpo ou de uma planta, assim como o seu desenvolvimento sadio.
À noite, não deixamos o nosso Eu real permanecer em descanso. Apenas o corpo, instrumento que
empregamos no domínio material da expressão, deixamos permanecer em descanso para revigorar-se.
Quando o espírito adquire novas forças fora do corpo, como deve dar-se, ele volta com estas forças
para agir sobre o corpo, de manhã, se alcançarmos a melhor condição de sono. Existem duas espécies
de sono: um bom, que fortifica e refresca o corpo, e um doentio e desassossegado, do qual o corpo
desperta com pouquíssima força.
Quando estais desperto, vosso espírito ou pensamento está em ação sobre o corpo e o emprega.
Se estiver sempre em ação, ele logo cansa o corpo, como acontece com a insônia.
À medida que entrais na corrente da Infinita Mente, vereis que não vos é necessário um trabalho
exaustivo, porém que, quando vos entregais com confiança a esta corrente e deixais que ela vos leve
para onde quiser, tudo o que precisardes vos virá.
Ao penetrardes na verdadeira corrente mental, por algum tempo, sentireis mais desconforto físico e
mental do que até então. Isto provém de que o novo elemento que age sobre vós vos torna mais sensi-
tivo à presença do mal; o novo está expulsando o velho.
A nova corrente de pensamento descobre e detém todo o erro em vossa mente que, anteriormente,
vos passava despercebido e o repele. Isto produz uma luta que afeta, por algum tempo, a mente e o cor-
po. É como o ato de varrer uma casa, que produz muito pó e perturbação. O novo espírito que penetrou
em vós está varrendo vossa casa espiritual.
Não há limite ao poder da corrente mental que podeis atrair e nem limites às coisas que podem ser
feitas por ele através do indivíduo. No futuro, algumas pessoas atrairão tão grande quantidade de pen-
samentos superiores que, por meio deles, realizarão o que alguns chamariam milagres.
Na capacidade que a mente humana tem de atrair para si uma corrente mental sempre crescente
em firmeza de qualidade e em poder está o segredo do que foi chamado magia.
A
s ideias contidas neste último capítulo da minha obra vêm a ser como o resumo de todos os meus
escritos até o presente. Novamente chamo a atenção dos meus leitores para as principais verda-
des aqui expressas, pois no grau de conhecimento a que já temos chegado, e tendo sobretudo
em vista e em consideração o meio em que atualmente vivemos, será extremamente proveitoso recordar,
de quando em quando, a base que deixo escrita e rememorar, refrescando as ideias acerca do conhe-
cimento destas leis demasiado novas para os homens da atualidade.
Estamos de tal modo habituados aos nossos antigos e péssimos métodos mentais que, no meio
dos nossos cuidados cotidianos e dos negócios que nos absorvem inteiramente a atenção, facilmente
esquecemos a eficácia das leis espirituais, mesmo estando convencidos da sua verdade. Nenhum dos
homens de hoje pode esperar que, de um jato, entre em sua mente toda inteira e inabalável, a crença
firme e absoluta nas leis de que falamos, e ainda menos metamorfosear-se de um momento para outro,
a ponto de mudar radicalmente o seu modo de viver, sentir, ver e achar bom tudo quanto ontem ainda
achava péssimo, inverossímil e insensato.
Posto que convencidos inteiramente da verdade dos ensinamentos recebidos, sempre permanece
em nós uma parte indócil que resiste tenazmente, conservando-se hostil àquelas verdades. Esta parte
do nosso ser é a mente material ou corpórea.
Devemos repetir esta frase o mais frequentemente possível. Todo nosso pensamento contribui para
o nosso bem ou para o nosso mal, que tem infalivelmente de se desenvolver ou imediatamente, ou num
futuro mais ou menos próximo.
Perguntar a alguém o que está pensando em determinado momento, se a sua mente está repleta
de pensamentos alegres e suaves, ou tristes e tenebrosos, se pensa bem ou mal do próximo, é o mesmo
que lhe perguntar: “Como estás construindo o teu futuro?” “Qual será a tua existência futura?”
Se hoje és obrigado a viver pobremente ou em situação difícil, nunca digas a ti próprio: “Será sem-
pre assim a minha vida!” Ao contrário disso, não deixes um momento de esperar que a tua situação
melhore, e dize isso intimamente a ti só, no recôndito do teu coração, porém frequente e firmemente.
Vive mentalmente no melhor palácio que puderes imaginar, põe na tua imaginação que estás comendo
Pões assim do teu lado todas as probabilidades de ficar bem feito tudo quanto dizeres, e, fazendo
bem a primeira coisa que estás fazendo, naturalíssimo e provável é que também todas as outras fiquem
bem feitas.
Além disso, a corrente mental que tu irá atrair com este continuado exercício, te porá em comunica-
ção com pessoas que te hão de servir muito mais, te serão de grande auxílio e de muito maior utilidade
e proveito do que todos aqueles de que te verias rodeado, se em ti predominasse um estado mental de
impaciência.
Todos nós acreditamos hoje num número enorme de mentiras. Crença inconsciente é esta — é certo
— porque ninguém nos tem demonstrado o erro e a falsidade dela. Desta forma vivemos e agimos em
harmonia com este inconsciente erro, e as dores e misérias nada mais são do que as tristes consequên-
cias dessas crenças errôneas.
Roguemos, pois, todos os dias ao Altíssimo para que nos seja concedida a capacidade e a indis-
pensável sabedoria para descobrirmos as nossas falsas crenças, os nossos erros, e, se verificarmos
que em nós se abriga muito maior número de erros do que acreditávamos possuir, não desanimemos,
tendo em consideração que nem todos podem ser descobertos e corrigidos de uma vez.
Nunca tomes como sintoma de doença o sentimento de fadiga ou de profunda languidez que, du-
rante alguns momentos, em ti se manifesta. Isso indica ou denota simplesmente que a tua mente neces-
sita e pede repouso, fatigada por alguma prolongadíssima e rotineira ocupação.
Se o teu estômago estiver desarranjado, toma responsável por isto só a tua mente, que é a única
culpada, e diz, íntima e mentalmente a ti próprio:
“A desagradável impressão que neste momento estou experimentando provém de qualquer erro da
minha própria mentalidade.”
Se te sentires débil, nervoso ou demasiadamente excitado ou ainda muito abatido, não culpes des-
sa má disposição o teu corpo. Dize antes: “Deve-se isto a um estado especial da minha mente, que é a
única causadora desta doença de caráter físico”, e pede ao Supremo que te liberte desse estado e em
ti determine outro melhor.
Se julgares que qualquer remédio te pode fazer bem positivo, toma-o sem receio, mas, enquanto
o estás tomando e ainda depois, pensa com toda energia e persistentemente: “Tomo este remédio, não
para curar o meu corpo, mas para curar o meu espírito.”
A criança que vês a teu lado é apenas uma mentalidade que, tendo-se despojado do seu corpo
físico de que desfrutou numa existência física anterior, vivendo talvez num país distante do nosso e per-
tencendo até a uma raça diversa, adquiriu um corpo novo, como cada um de nós o fez na sua infância.
Procura fazer com que essa criança não se habitue a pensar desprezivelmente de si própria, porquanto,
se essa for a sua atitude mental característica e costumeira, os outros o sentirão perfeitamente, habitu-
andose a considerá-la, primeiro enquanto criança e já depois de adulto, como um homem de mui pouco
valor e pouquíssimo digno de estima.
Nada prejudica tanto o indivíduo como o menosprezo de si próprio e não são poucas as crianças
que viram destruída a sua existência, por se estar habitualmente zombando delas, metendo-as a ridículo
ou ralhando-lhes a cada instante, por tudo, depreciando-as sempre, a ponto de lhes incutir no espírito a
firme convicção de que são apenas uns seres desprezíveis, sem préstimo nem valor algum.
Existe um Poder que conhece muito melhor do que eu o que me há de proporcionar a felicidade
verdadeira, a felicidade eterna. Se a realização do meu desejo não for para meu benefício, que Ele não
permita que se realize, e dessa forma eu só ganharei com isso.
Se concederes pensamentos de afeto e simpatia a todos os que o solicitam, com certeza te restará
muita pouca energia para a ti próprio ajudares. É absolutamente necessário termos grande cuidado na
escolha daqueles a quem entregamos o nosso amor e todo o nosso pensamento. Uns podem elevar-nos
até ao sublime e ajudar-nos a subir os pináculos da felicidade, da glória e até às culminâncias do poder,
de tudo o que há de mais elevado; outros forçam-nos a resvalar até ao mais baixo e despenharnos nas
profundezas do mais negro e pavoroso abismo, de onde muito dificilmente ou nunca mais poderemos
sair.
Roguemos, pois, ao Supremo Espírito do Bem que se digne dar-nos a necessária sabedoria para
bem e de pronto conhecermos quem merece e quem não merece o nosso afeto mais íntimo, puro e
abençoado.
Sendo cada um de nós, como é, parte do Poder Supremo, podemos considerar-nos cada um de
nós parte melhor e mais perfeita desse Todo, sem que ninguém possa igualar-nos nem sequer exceder-
-nos na expressão dos nossos especiais poderes e faculdade da inteligência. Nos tempos vindouros,
o homem dirigirá como senhor absoluto o mundo da sua mentalidade, e cometerias, pois, um grande
pecado contra ti próprio se te degradasses ou envilecesses diante dos outros, mesmo que fosse men-
talmente.