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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

O CAMPO MAGNÉTICO SOLAR E O EFEITO ZEEMAN

Rosiellen Silva Passos – 71481

Prof. José Arnaldo Redinz

Viçosa – Minas Gerais – Brasil

Novembro-2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE FÍSICA

Rosiellen Silva Passos – 71481

Prof. José Arnaldo Redinz

O CAMPO MAGNÉTICO SOLAR E O EFEITO ZEEMAN

Trabalho apresentado a
Universidade Federal de Viçosa
como parte das exigências da
disciplina monografia (FIS 497)

Viçosa – Minas Gerais – Brasil

Novembro-2015
3

Agradecimentos

Agradeço a Deus por me proteger e me dar forças sempre para seguir meu
caminho e concluir este trabalho.

Agradeço minha amada família, minha mãe, Rosilene, meu irmão Junio e meu
pai Guilherme que, mesmo distantes, me cobrem com muito amor e carinho. Agradeço
minha vó, meus tios e primos por me darem muita força.

A todos meus amigos, distantes ou não, que sempre acreditam no meu


potencial e me encorajam muito. São muitos, mas gostaria de agradecer em especial
a Bruna, o Tiago, a Jaira e minha afilhada querida, Emanuela.

Aos meus queridos amigos da UFV, de república, a Victória, a Rayza e a


Janaisa, aos meus amigos da física, do almoxarifado e meu namorado que estiveram
sempre ao meu lado e participaram da elaboração deste trabalho me dando muita
força. Agradeço também aos meus amigos da laboratório que me auxiliam muito.

Agradeço muito ao professor João Fernandes da Universidade de Coimbra em


Portugal, que foi o primeiro incentivador e mentor desta proposta de trabalho. Ao meu
orientador, professor José Arnaldo. Muito obrigada a todos vocês.
4

Índice

I. Resumo ................................................................................................................5

II. Abstract.................................................................................................................6

III. A Origem do Campo Magnético ........................................................................7

3.1 Dipolo magnético atômico ............................................................................ 12

3.1 Aplicações .................................................................................................... 15

IV. Campo Magnético terrestre ............................................................................. 16

V. O Campo Magnético de Estrelas e Planetas ...................................................... 18

VI. Efeito Zeeman ................................................................................................. 20

6.1 Polarização do Efeito Zeeman ..................................................................... 24

6.2 Polarização do Efeito Zeeman Normal e Anômalo ........................................... 25

VII. Campo magnético Solar e o Efeito Zeeman .................................................... 29

VIII. Referências bibliográficas ............................................................................... 35


5

I. Resumo

O magnetismo fascina a humanidade desde os primórdios das civilizações, e


muito se questionou e especulou sobre sua origem. A descoberta do magnetismo
terrestre revelou muitas informações e questionamentos sobre o magnetismo de
outros planetas e estrelas. Nesta revisão literária pretende-se, partindo da origem dos
campos magnéticos, delinear a importância e aplicação prática do Campo Magnético
terrestre, e pensar na existência e influência do campo magnético de outras estrelas
e planetas. Sendo o Sol a estrela mais próxima da Terra, aponta-se a importância de
conhecer os efeitos e a configuração do Campo Magnético Solar. Para iniciar a análise
do complexo campo magnético solar, discute-se o Efeito Zeeman para mensurar a
intensidade deste campo a partir das linhas espectrais solares.
6

II. Abstract

Since the dawn of civilization, humanity has been fascinated by the magnetism,
and there's been great speculation as to its origin. The discovery of terrestrial
magnetism has revealed lots of information and questions about the magnetism of
other planets and stars. This literature review is intended to outline the importance and
practical application of the earth's magnetic field and make us think about the existence
and influence of magnetic fields of other stars and planets, based on the origin of
magnetic fields. As the sun is the Earth's closest star, it is pointed up the importance
of knowing the effects of the solar magnetic field and its configuration. To start the
analysis of the solar magnetic field, it is discussed the Zeeman Effect to measure that
field intensity from the solar spectral lines.
7

III. A Origem do Campo Magnético

O magnetismo é um dos fenômenos que fascina a humanidade desde há


muito tempo. O fato de certos materiais possuírem propriedades de atrair e repelir
minérios de ferro foi um mistério que perdurou por mais de dois milênios. Segundo
registros, o primeiro contato com materiais magnéticos aconteceu alguns séculos
antes de Cristo, quando um mineral 𝐹𝑒3 𝑂4, hoje conhecido por magnetita, foi
descoberto. Algumas versões sobre a origem do termo magnetismo contam que foi
devido a uma cidade na Ásia Menor, chamada Magnésia, onde pedras desse material
teriam sido encontradas [1][2]
Foi a partir do século XIX que os fenômenos magnéticos passaram a ser
melhor descritos. Mas já no século XVI vários estudos já haviam sido desenvolvidos
por William Gilbert (1544-1603), chamado de “Pai do Magnetismo”, que foi o primeiro
a afirmar que a Terra possui um campo magnético próprio. Dentre tantas
contribuições importantes, pode-se citar a formulação de André-Marie Àmpere (1775
– 1836) da lei que relaciona o campo magnético gerado com a intensidade de corrente
em um fio e as descobertas de Michael Faraday (1791-1867), entre outros cientistas,
sobre a caracterização de materiais segundo seu comportamento magnético. Em
1873 James Maxwell (1831-1879) publicou um conjunto de equações que descrevem
os fenômenos magnéticos e elétricos, uma sistematização deste conhecimento [2].
Atualmente, sabe-se que um ímã permanente tem um polo norte (N) e um polo
sul (S), os polos iguais se repelem e que os polos diferentes se atraem. Pode-se
pensar então em descrever o magnetismo produzido por ímãs permanentes de
forma análoga à eletrostática, com cargas magnéticas N e S por analogia com
as cargas elétricas positivas e negativas [1]. Mas a existência destes monopolos
magnéticos não é estabelecida experimentalmente, apesar de décadas de tentativas
⃗ através de uma superfície fechada
de sua detecção. O fluxo do campo magnético 𝐵
é sempre nulo:

⃗ . 𝑑𝑆 = 0
∮ 𝐵 ∀ 𝑆 . (1)
𝑆

Aplicando o Teorema de Gauss,


8

⃗⃗⃗
∇. 𝐵⃗ =0 . (2)

A equação (2) é uma das equações de Equações de Maxwell e expressa a


ideia dos monopolos magnéticos não existirem.
Também é conhecido que campos magnéticos são produzidos por correntes.
A descoberta de que corrente elétrica produz efeitos magnéticos foi feita por Hans
Christian Oersted (1777-1851) em 1820 [1]. Dada uma distribuição de corrente em
um volume V do espaço em que o elemento de corrente é 𝐽𝑑𝑉 , a contribuição para
o campo magnético em um ponto P, como esquematizado na figura 01, devido a esse
elemento de corrente é estabelecida pela Lei de Biot- Savart da seguinte maneira:

𝜇𝑜 𝐽(𝑟⃗⃗⃗′ ) × (𝑟 − ⃗⃗⃗ 𝑟 ′)
⃗ =
𝑑𝐵 𝑑𝑉 . (3)
4𝜋 3
(|𝑟 − ⃗⃗⃗
𝑟 ′ |)

Em que 𝜇𝑜 = 4𝜋 × 10−7 𝑁/𝐴² é a permealibidade magnética no vácuo.

Figura 01 – Configuração do cálculo do campo magnético em um ponto P distante 𝑟 da origem


produzido por uma distribuição de corrente no volume V.

⃗ gerado no
A partir do princípio de superposição, tem-se que o campo 𝐵
ponto P por esta distribuição de corrente é,

𝜇𝑜 𝐽(𝑟⃗⃗⃗′ ) × (𝑟 − ⃗⃗⃗ 𝑟 ′)
⃗ =
𝐵 ∫ 𝑑𝑉 . (4)
4𝜋 3
(|𝑟 − ⃗⃗⃗
𝑟 ′ |)
9

A unidade fundamental do magnetismo é o dipolo magnético e a fonte do


campo magnético se dá a partir de cargas elétricas em movimento. Para entender
como o dipolo magnético se relaciona com o campo magnético, considere uma
⃗ = ⃗∇ × 𝐴)
distribuição de corrente em um volume V, o potencial vetor 𝐴 (em que 𝐵
em um ponto Q distante 𝑟 da origem é dado por,

𝜇𝑜 ⃗𝐽(𝑟⃗⃗⃗′ )
𝐴(𝑟) = ∮ 𝑑𝑉 . (5)
4𝜋 𝐶 (|𝑟 − ⃗⃗⃗𝑟 ′ |)

Figura 02- Configuração para o cálculo do potencial vetor em um ponto Q distante 𝑟 da origem
produzido por distribuição de carga

Com essa distribuição de corrente constituída por um fio percorrido por uma
corrente 𝑖, como esquematizado na figura 02, o potencial vetor 𝐴 será dado por,

𝜇𝑜 𝑖 𝑑𝑙
𝐴(𝑟) = ∮ . (6)
4𝜋 𝐶 (|𝑟 − ⃗⃗⃗
𝑟 ′ |)

Uma vez que 𝑖 𝑑𝑙 = ⃗𝐽(𝑟⃗⃗⃗′ ) 𝑑𝑉, com 𝑑𝑙 o elemento de comprimento.

Fazendo a expansão de multipolar tem-se que o potencial vetor 𝐴 pode ser


escrito da seguinte maneira,

𝜇𝑜 𝑖 1 1 1 3 1
𝐴(𝑟) = ⌊ ∮ 𝑑𝑙 + 2 ∮ 𝑟 ′ 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝑙 + 3 ∮ (𝑟 ′ )2 ( 𝑐𝑜𝑠 2 𝜃 − ) 𝑑𝑙 + ⋯⌋ . (7)
4𝜋 𝑟 𝐶 𝑟 𝐶 𝑟 𝐶 2 2
10

O primeiro termo (que vai com 1/r) é o termo de monopolo e é sempre nulo,
concordando com o fato de não ser comprovada a sua existência na natureza. O
segundo termo (que vai com 1/r²) é o termo de dipolo magnético e o terceiro é o termo
de quadrupolo. Desta forma, o termo dominante, em geral, é o dipolo magnético e por
isso ele constitui a unidade fundamental do magnetismo [3]. O dipolo magnético é
caracterizado por um momento de dipolo magnético 𝜇 e a relação entre o campo
⃗ e o momento dipolar 𝜇 se dá a partir da expansão multipolar do potencial
magnético 𝐵
vetor 𝐴.
Dado o termo de dipolo magnético 𝐴𝐷 (𝑟),

𝜇𝑜 𝑖 1
𝐴𝐷 (𝑟) = ( ∮ 𝑟 ′ 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝑙 ) . (8)
4𝜋 𝑟 2 𝐶

Sabendo que,

∮ 𝑟 ′ 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑑𝑙 = −𝑟̂ × ∫ 𝑑𝐴 , (9)


𝐶

onde 𝐴 é a área do circuito fechado na figura 02. Identificando o momento de


dipolo magnético 𝜇 por,

𝜇 = 𝑖 ∫ 𝑑𝐴 = 𝑖𝐴 . (10)

Tem-se,
𝜇𝑜 𝜇 × 𝑟̂
𝐴𝐷 (𝑟) = . (11)
4𝜋 𝑟²
E consequentemente,
𝜇 𝜇 × 𝑟̂
⃗ ×( 𝑜
⃗𝐷 ≅ ∇
𝐵 ) . (12)
4𝜋 𝑟²

O campo magnético no ponto (𝑟, 𝜃, ∅) provocado por um dipolo ideal com


momento magnético de dipolo 𝜇 na origem e ao longo do eixo 𝑧 é [3],

𝜇 𝜇 𝑠𝑒𝑛𝜃
⃗ 𝐷 = ⃗∇ × ( 𝑜
𝐵 ̂)
∅ . (13)
4𝜋 𝑟²
11

E assim,
𝜇𝑜 𝜇
⃗𝐷 =
𝐵 (2𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑟̂ + 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜃̂) . (14)
4𝜋𝑟³

A equação (14) é estruturalmente idêntica ao campo de um dipolo elétrico, por


isso as linhas de campo de um dipolo magnético tem a configuração mostrada na
figura 03 abaixo.

Figura 03 – Configuração das linhas de campo de um dipolo magnético na origem, com 𝜇 = 𝜇 𝑧̂.

A um ímã pode-se associar um momento magnético 𝜇í𝑚ã que aponta na


direção 𝑧 e linhas de campo magnético na forma esquematizada na figura 04.

Figura 04 - Configuração da linhas de campo magnético de um ímã e momento de dipolo magnético do


ímã.
12

Resgatando o resultado da equação (12) o campo magnético será dado por,

𝜇𝑜 𝜇í𝑚ã × 𝑟̂
⃗ ≅∇
𝐵 ⃗ ×( ) . (15)
4𝜋 𝑟²

A configuração das linhas de campo magnético do ímã podem ser comparadas


com a de um dipolo magnético centrado na origem.

3.1 Dipolo magnético atômico

Discutiu-se que o campo magnético é provocado por correntes elétricas. Pode-


se questionar então onde estão essas correntes no caso do campo provocado por um
ímã, por exemplo. Essa é a pergunta que será respondida nesta seção 3.1 sobre o
dipolo magnético atômico.
O magnetismo é uma propriedade básica de qualquer material. Os átomos
possuem um momento de dipolo magnético orbital 𝜇𝑙 e um momento magnético
associado ao momento angular intrínseco do elétron denominado Spin. Para
entender a origem do momento do dipolo magnético orbital pode-se pensar em
um elétron de massa 𝑚 em órbita em torno do núcleo (a discussão seguinte se
baseia na referência [4]), como indicado na figura 05 abaixo.

Figura 05. Modelo clássico do elétron em órbita em torno do núcleo atômico

A carga que circula em uma órbita circular de Bohr de raio 𝑟 constitui


uma corrente de intensidade,
𝑒 𝑒𝑣
𝑖= = , (16)
𝑇 2𝜋𝑟
13

onde 𝑇 é o período orbital do elétron cuja carga é 𝑒 e 𝑣 é o módulo da


velocidade da órbita.
Tem-se que essa corrente 𝑖 produz um campo magnético equivalente a
um campo produzido por um dipolo magnético localizado no centro da órbita [4].
O módulo do momento de dipolo magnético orbital 𝜇𝑙 nesta órbita de área 𝐴 é
⃗⃗⃗⃗
dado pela equação (11) e assim,
𝜇𝑙 = 𝑖𝜋𝑟² . (17)
.
Como elétron tem uma carga negativa, seu momento de dipolo ⃗⃗⃗⃗
𝜇𝑙 é
⃗⃗⃗ , cujo módulo é dado por,
antiparalelo a seu momento angular orbital 𝐿

𝐿 = 𝑚𝑣𝑟 . (18)

Substituindo a equação (16) na equação (17), tem-se,

𝑒𝑣
𝜇𝑙 = ( ) . (𝜋𝑟 2 ) . (19)
2𝜋𝑟

Dividindo a equação (19) pela equação (18),

𝜇𝑙 𝑒𝑣𝑟 𝑒
= = . (20)
𝐿 2𝑚𝑣𝑟 2𝑚

E assim,
𝜇𝐵
𝜇𝑙 = 𝑔𝑙 𝐿 , (21)
ħ

onde 𝜇𝐵 é o magnetón de Bohr, que constitui uma unidade natural de


medida do momento do dipolo magnético atômico e 𝑔𝑙 é denominado fator orbital
g determinado pelos detalhes da distribuição de cargas em movimento [5]. Mais
adiante trataremos com mais rigor essas grandezas. Por ora é necessário dizer
que 𝑔𝑙 = 1 neste caso. Tratando 𝜇𝑙 na forma vetorial, tem-se que,

𝜇𝐵
𝜇𝑙 = −
⃗⃗⃗ 𝐿⃗ . (22)
ħ
14

É justamente esse momento do dipolo magnético orbital 𝜇𝑙 que o


experimento de Stern e Gerlach, realizado por Otto Stern (1888-1969) e Wather
Gerlach (1889-1989), esperava medir. Mas para além do dipolo orbital 𝜇𝑙 , o
resultado do experimento levantou hipóteses de um momento de dipolo
magnético 𝜇𝑠 intrínseco, consequência de um momento angular S, denominado
spin, como dito anteriormente. Admitiu-se que a relação entre o momento do
dipolo magnético de spin e o momento angular de spin tem a mesma forma do
caso orbital, e assim,

𝜇𝐵
𝜇𝑠 = −𝑔𝑠 𝑆 , (23)
ħ

onde o fator g de spin é 𝑔𝑠 = 2.


Essas conclusões foram confirmadas por muitas experiências diferentes.
Uma delas é o Efeito Zeeman, que será tratado detalhadamente mais adiante.
Continuando a discussão sobre o Spin, o elétron foi aqui proposto como um
pequeno corpo rígido em rotação em torno de si mesmo. Mas essa hipótese foi
descartada após os avanços de Wolfgang Pauli (1900-1958), Hendrik Kramers
(1894-1952) e Werner Heisenberg (1901-1976), pois a velocidade de rotação
calculada era superior a velocidade da luz [6]. Apesar deste resultado, não há nenhum
problema na teoria, ela só estava incompleta. A mecânica quântica de Schrodinger é
totalmente compatível com a existência do spin do elétron, mas o spin deve ser
introduzido como um postulado à parte, pois ela não prevê sua existência. Isso porque
a teoria é uma aproximação que não leva em consideração efeitos relativísticos [4].
Alguns autores discordam dessa denominação do spin como uma
característica intrínseca. No artigo What is spin? de Hans C. Ohanian (referência
[6]) é discutido o fato do spin ser devido a circulação do fluxo de energia, ou densidade
de momento, no campo ondulatório do elétron. Mas independente das discussões
sobre o spin, o interessante para este trabalho é perceber que os elétrons nos átomos
possuem um momento de dipolo magnético 𝜇𝑠 e os átomos, por sua vez, possuem
um momento de dipolo 𝜇 = 𝜇𝑙 + 𝜇𝑠 .
15

3.1 Aplicações

As aplicações do magnetismo começaram desde os p rimórdios do contato


com materiais magnéticos. A Bússola foi a primeira aplicação tecnológica
magnética que se tem registro. O local de sua invenção ainda causa certa
divergência entre os historiadores, mas atribui-se sua descoberta aos chineses
em torno do ano de 2000 a.C [2]. A bússola foi um dos instrumentos mais importantes
para as expansões marítimas revolucionando as navegações e até os dias atuais são
utilizadas.
O desenvolvimento do estudo a respeito do magnetismo possibilitou várias
aplicações dos materiais magnéticos. A descoberta de que a corrente elétrica gerava
força magnética em 1820 culminou na invenção do motor elétrico e a descoberta do
fenômeno de indução eletromagnética no ano de 1840 abriu caminho para a invenção
do gerador elétrico, por exemplo. Em 1887 surgiu nos EUA uma proposta teórica de
aplicação de materiais magnéticos em gravações magnéticas. Assim a primeira
gravação foi feita pelo dinamarquês Valdemar Poulsen (1869-1942) [2].
Com o passar dos anos, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, as
aplicações tecnológicas e industriais dos Campos Magnéticos só se multiplicam.
Ocorreu um grande desenvolvimento na área de sistemas de geração e distribuição
de energia, sistemas de conversão eletromecânica, sensoreamento, entre outros. Os
materiais magnéticos desempenham um papel importante na tecnologia moderna com
aplicações variadas que vão desde ímãs permanentes usados em fechaduras,
motores elétricos, balança eletrônicas, sensores de posição até componentes
sofisticados que usados na indústria de computadores, de sistemas de comunicação
e eletroeletrônicos [2].
16

IV. Campo Magnético terrestre

Em 1600, W illian Gilbert (1544-1603) publicou em seu livro “De Magnete”


umas das primeiras suspeitas da existência de um campo magnético terrestre [1].
Ele explicou o funcionamento da bússola sugerindo o magnetismo da Terra a partir de
métodos experimentais de investigação. Gilbert utilizou formas e tamanhos variados
de ímãs, onde as propriedades e o comportamento entre eles era minimamente
registrado. Uma das formas utilizadas foi a esférica. Ele lapidou um ímã até este se
tornar uma pequeno globo. Dispondo pequenas bússolas perto o suficiente do campo
magnético do ímã, ele observou que elas se direcionavam como mostrado na figura
6. Concluindo que o comportamento magnético era semelhante ao do globo terrestre,
este pequeno globo magnético foi denominado de ‘Terrela’ por Gilbert [7].

Figura 06 – Esquema do experimento realizado por Gilbert para explicar o campo magnético
terrestre. Um pequeno ímã esférico com agulhas imantadas ao redor, tal instrumento é conhecido
como Terrela. Fonte: referência [7].

Após a evolução desta investigação, atualmente sabe-se que o campo


magnético terrestre tem uma configuração semelhante ao campo de um ímã em
forma de barra e assim como para o ímã, pode-se atribuir um momento de dipolo
magnético 𝜇⃗ 𝑇𝑒𝑟𝑟𝑎 e o campo magnético terrestre pode ser escrito da seguinte maneira,

𝜇𝑜 𝜇 𝑇𝑒𝑟𝑟𝑎 × 𝑟̂
⃗ ≅ ⃗∇ × (
𝐵 ) . (24)
4𝜋 𝑟²

A configuração das linhas do campo magnético será semelhante a de um dipolo


centrado na origem, como exemplificado na figura 07.
17

Figura 07. Representação das linhas do campo magnético terrestre. O pólo norte de uma agulha
imantada de uma bússola é atraído para os pontos próximos no pólo norte geográfico. Adaptado de
https://www.salonhogar.net/Salones/Ciencias/1-3/Magnetismo/Magnetismo.htm

O campo magnético terrestre estende-se em uma região do espaço


denominada magnestosfera, uma região finita e bem definida devido a ação e/ou
interação com o Vento Solar, que é um fluxo de partículas ionizadas provenientes do
Sol. A magnetosfera é bombardeada por partículas do vento solar sem permitir que
elas entrem na atmosfera terrestre. O campo magnético associado ao Vento Solar
controla a interação entre ambos, e variações no Vento Solar afetam a estrutura
dinâmica da magnetosfera. Quando esta interação se torna forte e prolongada o
suficiente, ocorre o fenômeno de tempestades magnéticas (alteração na componente
horizontal do campo magnético terrestre) [8].
O vento solar é um plasma altamente condutor e ele trasposta consigo as linhas
de campo magnético solar, fenômeno denominado “congelamento”. Devido a este
fenômeno, o campo magnético solar, por meio do vento solar e outros fenômenos,
afeta diretamente a Terra.
18

V. O Campo Magnético de Estrelas e Planetas

A origem do campo magnético terrestre não é totalmente compreendida, mas


por meio de estudos em sedimentos e lavas provinientes do núcleo do planeta
(conhecido como paleomagnetismo) tem-se registro do campo magnético terrestre
desde a formação do nosso planeta [9]. O mecanismo de dínamo foi proposto por Sir
Joseph Larmor (1857-1942) em 1919 para explicar a origem do campo magnético
terrestre e do Sol, em que os campos magnéticos seriam causados por um processo
de dínamo auto-excitado. Esta teoria permitiria explicar o magnetismo de todos os
corpos astronômicos. Entretanto, após desenvolvimento deste estudo o entusiasmo
por esta sugestão de Larmor foi diminuída em virtude do trabalho sobre anti-dínamo
[10].
O estudo minucioso deste fenômeno de dínamo ultrapassa os objetivos
deste trabalho. Entretanto vale discorrer, resumidamente, que a teoria do dínamo
propõe que a solução de campo magnético nulo (B = 0) num fluxo de magneto pode
tornar-se instável se o fluxo é suficientemente vigoroso. A Teoria do Dínamo ainda
não está totalmente formalizada e há várias questões que ainda necessitam ser
respondidas. Uma das principais causas de preocupação da teoria foi identificado pela
primeira vez em 1934 em que um campo axial simétrico não pode ser mantido por
ação dínamo. Este resultado suprime a esperança de qualquer descrição simples axial
simétrica do processo de dínamo, o que seria uma abordagem tentadora
considerando a forte simetria do campo de terra como mostrado no capítulo IV [9].
Várias questões são levantas sobre a origem desses campos nos diferentes
corpos celestes e apesar das lacunas e das tópicos que ainda não foram bem
desenvolvidos, a Teoria do Dínamo é uma ferramenta poderosa para elucidar vários
desses questionamentos. Se a origem estiver associada ao próprio processo de
criação do Universo, como os estudos paleomagnéticos revelam, então não teria
havido tempo suficiente para que estes campo magnéticos se extinguissem? A
resposta para essa pergunta depende do corpo celeste em questão. Para a Terra, por
exemplo, tem-se que sem processos de regeneração e manutenção, o campo
magnético terrestre seria atualmente nulo, fato que não é observado. Em
contrapartida, para alguns objetos astronômicos é possível que o campo magnético
tenha uma origem primordial [10].
Devido à grande influência do campo magnético solar sobre a Terra, pode-se
perceber que o estudo do campo magnético desta estrela ultrapassa os interesses
19

acadêmicos. O vento solar relacionado com o campo magnético do Sol pode alterar a
componente horizontal do campo magnético terrestre, afetando, por exemplo, a área
de comunicações. Tendo em vista esses fenômenos e outros não citados, entende-
se a importância de estudar o campo magnético do Sol. As primeiras evidências
experimentais dos campos magnéticos solares foram feitas por George Hale (1868 –
1938) no observatório em Mount W ilson em 1908. Em seu artigo On The Probable
Existence Of A Magnetic Field In Sun-Spot, Hale exibiu os primeiros cálculos da
intensidade do campo solar, e dentre as várias descobertas que o
motivaram, a descoberta de Zeeman sobre o desdobramento de linhas espectrais de
átomos por ação de campos magnéticos externos foi uma das mais importante [11].
20

VI. Efeito Zeeman

O Efeito Zeeman corresponde ao um deslocamento dos níveis de energia


⃗ 𝑒𝑥𝑡 . A
quando um átomo é posicionado em um campo magnético externo uniforme 𝐵
natureza da separação Zeeman depende essencialmente da intensidade do campo
⃗ 𝑒𝑥𝑡 em comparação a do campo magnético interno 𝐵
magnético externo 𝐵 ⃗ 𝑖𝑛𝑡 do
átomo. Este efeito foi observado por Pieter Zeeman (1865-1943) em 1896 [4]. Pieter
Zeeman descreveu este fenômeno observando as divisões no espectro do sódio
quando colocado em um campo magnético. A figura 8 mostra os dois primeiros
estados excitados do sódio. Nesta observa-se a diferença no espectro com e sem o
campo magnético externo. Faraday tinha realizado o mesmo experimento cerca de
trinta anos mais cedo, mas não tinha conseguido observar um efeito por causa da
baixa resolução de seu espectrógrafo [12].

Figura 08. Separação Zeeman para os primeiros níveis excitados do Sódio


21

Para discutir espectros e níveis de energia utiliza-se a notação espectroscópica


ordenando a energia das subcamadas. Para um dado valor no número quãntico n, a
subcamada externa com o menor valor do número quântico 𝑙 tem a menor energia.
Para entender as demais informações que esta notação fornece introduz-se,
2𝑠+1
𝐿𝑗 , (33)
onde o índice superior 2𝑠 + 1 especifica o número de elétrons que a camada
contém, j são os valores quantizados que o momento angular total pode assumir e L
denota os números quânticos orbitais pelos códigos: L=s para l=0, L=p para l=1, L=d
para l=2, L=f para l=3 e assim por diante. O valor de l é determinado pelos valores
quantizados que o momento angular orbital pode assumir. Cada representação
2𝑠+1
quântica 𝐿𝑗 implica em 2j+1 valor de mj, e os possíveis valores de mj indica o
número de degenerescências[4].
Quando o momento de dipolo magnético de um átomo 𝜇 é submetido a um
⃗ 𝑒𝑥𝑡 , a energia potencial é dada por,
campo magnético externo 𝐵

⃗ 𝑒𝑥𝑡
ℋ = −𝜇 . 𝐵 . (25)

A energia depende das diferentes orientações possíveis que o momento de


dipolo magnético do átomo pode assumir em relação ao campo magnético externo.
Cada um dos níveis de energia atómicos se subdividirá em várias componentes
discretas correspondentes a diferentes valores de ∆𝐸. Aqui não será tratado em
detalhes estes cálculos, que podem ser encontrados em vários livros de mecânica
quântica, como os da referência [4] e [5]. Da teoria de perturbação, pode-se perceber
que as correções nas energias serão dadas da seguinte maneira,

[3𝑗(𝑗 + 1) + 𝑠(𝑠 + 1) − 𝑙(𝑙 + 1)]


∆𝐸 = 𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 . 𝑚𝑗 , (26)
2𝑗(𝑗 + 1)

onde 𝜇𝐵 é o magnéton de Bohr e 𝑗, 𝑚𝑗 , 𝑙 e 𝑠 são números quânticos que


⃗ e 𝑆 respectivamente. O vetor 𝐽
especificam os valores dos momento angulares 𝐽, 𝐽𝑧 , 𝐿
⃗ e de
representa o momento angular total composto pelo momento angular orbital 𝐿
⃗ + 𝑆.
spin 𝑆, e assim 𝐽 = 𝐿
22

E tem-se ainda que,

3𝑗(𝑗 + 1) + 𝑠(𝑠 + 1) − 𝑙(𝑙 + 1) 𝑗(𝑗 + 1) + 𝑠(𝑠 + 1) − 𝑙(𝑙 + 1)


𝑔= = 1+ , (27)
2𝑗(𝑗 + 1) 2𝑗(𝑗 + 1)

em que g é o fator discutido anteriormente na seção 3.1, sendo este fator é


denominado fator g de Landé. Observe que quando 𝑠 = 0 e 𝑗 = 𝑙, e tem-se 𝑔 = 1, ou
seja, o momento angular é puramente orbital. E quando 𝑙 = 0 e 𝑠 = 𝑗, e tem-se 𝑔 = 2,
no caso do momento angular ser puramente de spin. Portanto, a correção dos níveis
⃗ 𝑒𝑥𝑡 pode ser
de energia produzidos pela aplicação de um campo magnético externo 𝐵
escrita como,

∆𝐸 = 𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 . 𝑚𝑗 . 𝑔(𝑗, 𝑙, 𝑠) . (28)

Quando as subdivisões dos níveis energia da equação (28) podem ser


explicadas pela teoria clássica desenvolvida por Lorentz, tem-se o Efeito Zeeman
Normal onde o Spin total dos elétrons envolvidos nas transições é nulo. Mas quando
não é possível explicar por essa teoria clássica e deve-se recorrer a mecânica
quântica, tem-se então o Efeito Zeeman Anômalo onde o spin dos elétrons devem ser
levados em consideração [4]. A figura 09 ilustra a separação nos espectros atômicos
no caso do Efeito Zeeman Normal e Anômalo.

Figura 09. Representação dos espectros mostrando as subdivisões de diferentes linhas


espectrais no Efeito Zeeman Normal e Anômalo. (a) Transição de 1 𝐷2 → 1 𝑃1 do átomo de
cádmio, Efeito Zeeman Normal (b) Transição de 2 𝑃1/2 → 2 𝑆1/2 do átomo de sódio, Efeito
Zeeman Anômalo. Fonte: Adaptado da referência [4], pág. 453.
23

No caso do efeito Zeeman Normal, o spin é nulo, 𝑆 = 0, ou seja, a resultante


do momento de dipolo magnético de spin de todos os elétrons opticamente ativos é
⃗ . O níveis de
nula. O momento angular total 𝐽 é igual ao momento angular orbital 𝐿
energia variam tal que o fator g de landé é igual a 1 (consultar equação 27) e mj pode
assumir 2l+1 valores distintos. Então cada nível de energia é desdobrado em 2l+1
níveis [4]. A figura 10 mostra os desdobramentos nos níveis de energia no caso da
transição 1𝐷
2 → 1𝑃
1 exemplificada da figura 09.

Figura 10. Desdobramentos nos níveis de energia no Efeito Zeeman Normal devido a um campo
magnético externo na transição de 1 𝐷2 → 1𝑃
1 do cádmio. Adaptado da referência [13].

Como os desdobramentos dos níveis iniciais e finais são iguais, existem apenas
três energias de transição diferentes, as marcadas por linhas contínuas na figura 10.
Por isso se tem o espectro mostrado na figura 09 para o Efeito Zeeman Normal.
No caso do Efeito Zeeman Anômalo, o momento de dipolo de spin resultante é
diferente de zero, 𝑆 ≠ 0, o momento angular total 𝐽 é a soma do momento angular
⃗ e de spin 𝑆, 𝐽 = 𝐿
orbital 𝐿 ⃗ + 𝑆 . A representação dos níveis de energia do Efeito
Zeeman Anômalo pode ser observado na figura 08 no início desta seção, como os
desdobramentos dos níveis iniciais e finais são diferentes. Todas as quatro energias
de transição de 2𝑃
1/2 → 2𝑆
1/2 são diferentes e aparecem quatro linhas no espectro.
24

6.1 Polarização do Efeito Zeeman

Ao analisar os desdobramentos no espectro de um átomo quando imerso em


um campo magnético externo é interessante denotar o fato das componentes da
divisão possuírem propriedades distintas de polarização. A regra de seleção para
transições ópticas é 𝛥𝑚𝐽 = 0, ± 1, em que 𝛥𝑚𝐽 é a diferença do valor de 𝑚𝐽 no nível
de partida e o de chegada do fóton, 𝛥𝑚𝐽 = 𝑚𝐽 − 𝑚′𝐽 . Quando ocorre uma transição
com 𝛥𝑚𝐽 = ±1 denomina-se por 𝜎 linhas, e quando 𝛥𝑚𝐽 = 0 denomina-se por 𝜋
linhas. Na figura 11 tem-se a representação da polarização da luz emitida no Efeito
Zeeman: quando há 𝜎 linhas, a luz está polarizada circularmente se observado
paralelamente ao campo magnético (efeito Zeeman Longitudinal) e linearmente
polarizada, perpendicular ao campo, quando visto em ângulos retos para o campo
(Efeito Zeeman Transversal). Quando há 𝜋 linhas a luz está linearmente polarizada
sendo paralela ao campo quando visto em ângulos retos para o campo (efeito Zeeman
Longitudinal) [12][13].
Este resultado foi descrito teoricamente não muito tempo depois da descoberta
de Zeeman por Hendrik A. Lorentz (1853-1928), prevendo justamente a separação
das linhas em três componentes quando se observa numa direção perpendicular ao
campo. Em uma direção paralela ao campo, duas linhas, com polarizações circular
oposta (ver figura 11) são observadas. Ambas as previsões foram confirmadas por
Zeeman, a polarização foi observada no início de 1897. Em 1902 Zeeman e Lorentz
receberam o Nobel da Física por essas descobertas [14].

Figura 11. Representação da polarização da luz emitida no Efeito Zeeman, quando há 𝜎 linhas e 𝜋
linhas. Fonte: referência [13 ]
25

6.2 Polarização do Efeito Zeeman Normal e Anômalo

Quando o momento de dipolo magnético do spin é nulo, 𝑆 = 0 , tem-se o Efeito


Zeeman Normal e observa-se três grupos de linhas da luz polarizada, dois grupos de
𝜎 linhas verticais e um grupo de 𝜋 linhas horizontais. Como mostrado no esquema da
figura 12, tem-se a visão das linhas numa visão perpendicular ao campo magnético
externo e a visão paralela [4][13].

Figura 12. A divisão de uma linha espectral para um tripleto sob a influência de um campo
magnético campo no efeito Zeeman normal. Quando o efeito Zeeman é visto em um direção
normal ao eixo do campo magnético, o componente central é polarizada paralela ao eixo
enquanto que as duas mais externas normais para o eixo do campo. Quando o efeito de Zeeman
é observado ao longo do eixo do o campo (esta perspectiva pode ser obtida usando um espelho),
apenas os dois componentes exteriores aparecem, polarizada circularmente. Adaptado de [12],

Cap.7, pag. 288.


26

A figura 13 demonstra a separação do Efeito Zeeman Normal na transição de


31 𝐷2 → 21 𝑃1 do cádmio.

Figura 13. Separação do Efeito Zeeman Normal na transição de 31 𝐷2 → 21 𝑃1 do cádmo.


Fonte: adaptada da referência [13]

No Efeito Zeeman Normal espera-se, nesta transição, uma distância em


número de onda ou frequência proporcional à intensidade do campo magnético. A
polarização das transições com 𝛥𝑚𝐽 = 0 em observação transversal é paralela ao
campo magnético (aqui horizontal) e das outras transições a polarização é
perpendicular.
A figura 14 mostra o padrão de interferência no caso do Efeito Zeeman Normal
obtidas experimentalmente a partir do interferômetro de Fabry-Perot, os detalhes
podem ser consultados na referência [13].
27

Figura 14. Padrão de interferência no Efeito Zeeman Normal, sem filtro de polarização. 14.a Nenhum
capo magnético externo aplicado 14.b campo magnético aplicado. Fonte: adaptada da referência [13].

Observe que há menos anéis por interferência em 14.a do que em 14.b,


aplicando um campo magnético externo aumenta-se o números de desdobramentos.
Quando o momento de dipolo magnético do spin é diferente de zero, 𝑆 ≠ 0,
tem-se o Efeito Zeeman Anômalo e são observados dois grupos de três 𝜎 linhas
verticais e um grupo de três 𝜋 linhas horizontais [4][13].Na figura 115 este padrão pode
ser observado.

Figura 15.. Separação do Efeito Zeeman Normal na transição de 23 𝑆1 → 23 𝑃2 do cádmo. Fonte: referência [13]
28

Na figura 16 tem-se o efeito Zeeman Anômalo obtido pelo Interferômetro de


Fabry-Perot.

Figura 16. Padrão de interferência no Efeito Zeeman anômalo, sem filtro de polarização .12,b imagem
ampliada das duas primeiras ordens de interferência visíveis. Fonte: adaptada da referência [13].

Observe que na imagem ampliada da figura 16 há muito mais anéis por


interferência do que na figura 14.b.
À medida que o campo magnético é gerado, a separação dos componentes
aumenta linearmente com o campo. Quando o campo magnético é da ordem ou maior
que o campo magnético interno, a· energia afeta o acoplamento de L e S em J, para
campos magnéticos externos muito fortes, L e S tornam-se completamente
desacoplados, de modo que os momentos magnéticos orbitais e intrínsecos dos
elétrons interagem com o campo de forma independente, dando origem a uma
mudança de energia Quando o campo magnético externo é muito intenso, o
desdobramento Zeeman é maior que o desdobramento associado ao acoplamento
⃗ e 𝑆 se desacoplam de
Spin-órbita, e apenas três linhas espectrais são observadas, 𝐿
modo que os momentos magnéticos orbitais e intrínsecos dos elétrons interagem com
o campo de forma independente, dando origem a uma mudança de energia, este
efeito é denominado Paschen-Back [12].
29

VII. Campo magnético Solar e o Efeito Zeeman

George Hale seguiu os resultados obtidos por Pieter Zeeman, observando


os desdobramentos Zeeman nos espectros obtidos nas regiões das manchas
solares, onde o campo magnético é mais intenso e a separação Zeeman era
possível de ser observada.
Inicialmente Hale orientou suas pesquisas observando as estruturas dos
vórtices das manchas solares na cromosfera e sugeriu que a rápida evolução das
cargas elétricas das partículas poderia produzir um campo magnético nas
manchas solares (Efeito de Rowland). Em uma publicação intitulada Solar Vortices
and the Zeeman Effect, ano de 1908, Hale descreveu ser possível detectar o dupleto
Zeeman no espectro dos objetos solares observados e que estudos mais
completos seriam publicados na Astrophysical Journal, o que resultou no artigo On
The Probable Existence Of A Magnetic Field In Sun- Spots anteriormente citado,
onde a partir dos desdobramentos da linha de substâncias conhecidas e
observadas no espectro registrado para a emissão das manchas solares, é possível
determinar a intensidade do campo magnético presente [11] .
Apesar da grande importância dos estudos de Hale, atualmente sabe-se que
as manchas solares apresentam pouco ou nenhum movimento de vórtice
como ele havia previsto. Mais importante ainda, o plasma solar mantém a carga
neutra e nenhum campo magnético pode ser gerado a partir da corrente elétrica
seguida do plasma e, consequentemente, não há carga transportada pelo movimento
do fluido. Estudos revelaram que a origem do campo magnético do Sol se dá
realmente em função do dínamo solar [11].
Considerando o desdobramentos das substâncias observadas no espectro
solar, Hale pode determinar a intensidade do campo magnético presente medindo
este desdobramento Zeeman de linhas espectrais reproduzidas em laboratório. O
conjunto de linhas espectrais solar foi descrito por Fraunhofer (1787-1826) e é
conhecido como linhas de Fraunhofer. Ele catalogou várias linhas e posteriormente
descobriram que cada elemento químico possui um conjunto de linhas espectrais
associada. Um exemplo de substância que pode ser identificada na
superfície solar é o sódio representado pela linha D1 e D2 por Fraunhofer. A figura
17 mostra a separação Zeeman nos níveis de energia do sódio na presença de uma
campo magnético.
30

Ocorrendo uma transição de 2 𝑃1⁄ → 2


𝑆1⁄ , por exemplo, nas linhas espectrais
2 2

do sódio, como indicado na figura 17, a transição de energia também pode ser descrita
pela seguinte equação,
ℎ𝑐
𝐸= , (29)
𝜆

onde h é a constante e Planck, c é a velocidade da luz e 𝜆 é o comprimento de


onda.

Figura 17. Transição de 2 𝑃1⁄ → 2𝑆


1⁄ da linha D1 do Sódio
2 2

E assim,
ℎ𝑐
∆𝐸 = − ∆𝜆 . (30)
𝜆2

Igualando a equação acima com a Equação (28), tem-se que,

ℎ𝑐
∆𝐸 = − ∆𝜆 = −𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 . (𝑔𝑚𝑗 −𝑔´𝑚𝑗 ´) . (31)
𝜆2

ℎ𝑐
𝐵𝑒𝑥𝑡 = . ∆𝜆 . (32)
𝜇𝐵 . ∆(𝑔𝑚𝑗 ) 𝜆2

O termo 𝑔𝑚𝑗 indica o fator de g de Landé e os valores que a projeção no eixo


z o momento angular total pode assumir.
31

Na transição de 2 𝑃1⁄ → 2
𝑆1⁄ nas linhas espectrais do sódio, o fator de g de
2 2

Landé para nível 32 𝑃1⁄ é dado por,


2

𝑗(𝑗 + 1) + 𝑠(𝑠 + 1) − 𝑙(𝑙 + 1)


𝑔=1+ . (34)
2𝑗(𝑗 + 1)

1⁄ (1⁄ + 1) + 1⁄ (1⁄ + 1) − 1(1 + 1) 2


𝑔 =1+ 2 2 2 2 = . (35)
1 1
2. ⁄2 ( ⁄2 + 1) 3

O fator de g de Landé para nível 32 𝑆1⁄ é dado por,


2

1⁄ (1⁄ + 1) + 1⁄ (1⁄ + 1) − 0
𝑔 =1+ 2 2 2 2 =2 . (36)
1 1
2. ⁄2 ( ⁄2 + 1)

2
Usando a equação (28), tem-se que o desdobramento para o nível de 𝑃1⁄
2

será,
𝐸𝑝 = 𝑔. 𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 . 𝑚𝑗 . (37)

2 1
𝐸𝑝 = . 𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 (± ) . (38)
3 2

Para o nível 32 𝑆1⁄ , tem-se que,


2

𝐸𝑠 = 𝑔. 𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 . 𝑚𝑗 . (39)

1
𝐸𝑠 = 2𝜇𝐵 . 𝐵𝑒𝑥𝑡 (± ) . (40)
2

Voltando para equação (32), tem-se para o caso desta transição,


3ℎ𝑐
𝐵𝑒𝑥𝑡 = . ∆𝜆 . (41)
4𝜇𝐵 . ∆(𝑚𝑗 ) 𝜆2

A partir do espectro solar, estima-se a diferença do comprimento de onda ∆𝜆


ocorrido para uma dado comprimento de onda 𝜆, neste caso para o do sódio. A
medição do desdobramento Zeeman só é possível se ∆𝜆 é maior do que a metade da
largura de linha espectral alargada. A meia largura típica de uma linha espectral
32

sensível ao Efeito Zeeman é 0,1Å e um típico ∆𝜆 irá exceder essa largura apenas
para as forças de campo superiores a cerca de 1500G. A divisão Zeeman é
diretamente mensurável na região das manchas solares, onde os campo magnético é
mais intenso [11][15].
Como discutido no início desta seção, este resultado foi descrito por Hale há
mais de cem anos e até os dias atuais, com mais recursos e algumas correções
conceituais, esta técnica ainda é usada. Pode-se pensar então que a partir do Efeito
Zeeman é possível mensurar o campo magnético de todas as estrelas e planetas. Mas
isso não acorre na prática, uma vez que nem todos os astro celestes favorecem a
visualização do desdobramento Zeeman para analisar o campo magnético, e nestes
casos, são utilizadas outras técnicas. O campo magnético solar é extremamente
intenso nas regiões das manchas solares, o suficiente para produzir a divisão
diretamente mensurável do desdobramento Zeeman. Outra característica favorável
é que as manchas solares tendem a vir em pares de polaridade magnética oposta.
Assim existe uma certa regularidade no arranjo de polaridade das manchas
solares que revela a existência de uma forma organizada de campo magnético de
grande escala no interior do Sol que inverte a sua polaridade N e S no final de
cada ciclo de manchas [15]. A figura 18 abaixo representa a distribuição de fluxo
magnético nas camadas superficiais visíveis do Sol, correspondendo a uma
imagem magnética do hemisfério visível em 31 de julho de 2000 perto da máxima
do ciclo de atividade atual. O Sol exibe inúmeras características variáveis localizada
que coletivamente são referidos como "Atividade da energia solar ". O valor desta
atividade é aproximadamente proporcional ao número de manchas solares na
região[16][17].
33

Figura 18. Mapas do campo magnético na superfície solar. preto e branco indicam polaridade magnética
positiva e negativa, respectivamente, enquanto cinza significa baixo ní veis de fluxo magnético. Figura 17-
b) é um close evidenciando a polaridade das manchas solares.(Imagens tiradas com o Michelson Doppler
Imager (MDI)). Fonte: referência [17], pág. 570.

Os campos magnéticos da superfície solar são responsáveis por todas as


formas de atividade da energia do Sol. O Efeito Zeeman mensura precisamente o
campo magnético na região das manchas solares a partir da luz proveniente da
fotosfera solar. Mas o campo magnético das camadas mais externas, como da
cromosfera solar, envolve outras técnicas uma vez que as intensidades do campo
magnético acima da superfície solar são geralmente fracos em relação aos das
manchas [16][17].
Recentemente tem sido desenvolvidos estudos no sentido de mensurar toda a
polarização do Efeito Zeeman, a circular e a linear, da linha espectral e assim poder
mensurar não só a intensidade, mas todo o vetor do campo magnético, esta técnica é
denominada de vetor magnetograma ou polarização de Stokes [11]. A partir da
determinação dos quatro coeficientes de Stokes I, Q, U e V tem-se todo o padrão de
polarização do espectro e cada coeficiente pode ser relacionado com o seguinte
estado de polarização,

Figura 19. Sistema de identificação dos coeficientes de Stokes. Fonte: referência [16], pág. 11.
34

A representação de medidas de polarização em termos de vetores Stokes é


largamente usada na medição do campo magnético solar, mas este método também
apresenta limitações. O fato do campo magnético solar aparecer em grupos de
polaridade oposta (polaridade das manchas) pode ser um problema para medições
do coeficiente V de Stokes. As quantidades iguais de luz polarizada com polarização
oposta simplesmente cancelam-se e tornam-se invisíveis. Para o coeficientes Q e L
de Stokes, por outro lado, as regiões com vectores de campo magnético que aponta
em direções perpendiculares entre si cancelam-se. E nestes casos outras técnicas
são aplicadas para contornar os problemas encontrados [16].
Pode-se perceber que efeito Zeeman é apenas uma das várias ferramentas
utilizadas para descrição do campo magnético solar. A discussão acima pode ser
estendida analisando as várias variáveis envolvidas no complexo campo do Sol. A
polarização de Stokes é um exemplo de técnica, que incorporada ao efeito Zeeman,
revela mais informações. Há muito mais para ser analisado e estudado.
35

VIII. Referências bibliográficas

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Eletromagnetismo” – Editora: Edgard Blücher, São Paulo, SP, Brasil,2008.

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Setembro, 2000.

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Brasil, 2011.

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Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 1988.

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SP, Brasil, 2011.

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Elizabethan magnetizer, by Bro. Silvanus P. Thompson”. Editora: The Chiswick
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[11] THOMAS, John H.; WEISS, Nigel H. “Sunspots and Starspots”; Editora:
Cambrigde University Press, New York, EUA, 2005.
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Londres, U.K., 2007

[13] PHYWE series of publications, Laboratory Experiments, LEP 5.1.10-05.


Gottingen 25110-05 1

[14] KOX, A.; Eur. J. Phys., vol. 18, pp. 139–144, 1997

[15] LANDSTREET, J. D.; EAS Publ. Ser., vol. 39, pp. 39–53, 2009.

[16] REINERS, A.; Living Rev. Sol. Phys., vol. 8, n. 1, pp. 1–73, 2012

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n. 3, p. 83, 2006.
37
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