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ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ

4º. ANO DO CURSO SUPERIOR EM ESCULTURA


ESCULTURA III
PROFESSORA CARINA WEIDLE
EDUARDO CARDOSO CAMARGO

E-SE?

A arte enquanto um instrumento de discussão sócio-político-cultural: Um


olhar sobre a criminalização de movimentos sociais referentes à falta moradias
rurais e urbanas e suas relações com espaço geográfico e a integração latino-
americana.

Tema

O presente projeto irá se utilizar da apropriação de materiais refutados,


retalhos de madeira oriundo de demolições de casas – tanto particulares quanto
de invasão – buscando trazer o significado do material que foi útil como moradia
por algum tempo determinado e hoje não mais abriga algo ou alguém. O
recolhimento do trabalho será feita de forma tangente à comercialização como
posse autorizada ou não e doações. Os outros materiais, eles sim, recolhidos de
forma comercial, como parafusos, pregos, pregões, telas entre outros materiais
fabricados para a agregação ou junção de madeira.
O trabalho propõe-se refletir sobre uma alternativa para políticas públicas
sobre a distribuição de terras, sendo este um tema bem atual, e aonde vários
movimentos sociais militam, sendo continuadamente criminalizados pela mídia
(e por consequência, pela esfera pública) que, obviamente, defende o grande
capital.
A alternativa proposta no tema é espelhada no trabalho a partir de uma
construção arternativa da escultura em madeira, onde as junções serão feitas de
forma diferenciada ao comum, propondo-se uma pesquisa em cavilhas e
encaixes utilizados na construção de algumas casas. Esta alternativa é
sustentada pelo fato de materiais correspondentes à forma comum de
construção estarem presentes na própria escultura, com finalidades meramente
plásticas como desenho e textura.

Problemática

Mas como, dentro destes materiais receptados, relacionar com os


movimentos sociais que lutam pela distribuição de terras? E a reflexão sobre a
sociedade dentro contexto da produção artística? E o espectador, como ele
enxergará esta discussão e aonde ele se encontrará na obra?

Hipótese

O projeto em escultura se fundamentará na apropriação de material


refratário para a produção de uma obra – fazendo-se uma relação com os
próprios movimentos sociais que invadem terras improdutivas, para o sustento
de suas famílias; além de levantar questões ao trazer estes materiais de forma
tangente à comercialização, que é a forma aonde a distribuição de terras se
encontra hoje. Essas madeiras de uso 'cotidiano' e seu deslocamento ao espaço
de arte, possui percurso já conhecido dentro da história da visualidade, como
explica Daniela Bousso:
(o deslocamento) aliado à uma técnica de resistência libertadora, o
displacement ou a deslocation revela um desejo de re-locação, re-
orientação ou, ainda, a necessidade de estabelecer novas categorias ou
re-mapear espaços não imaginados em busca de conexões entre
estrutura do sistema e estatuto da arte e o mundo ao nosso redor.
O fortalecimento da globalização e do capital, observado ao longo
dos últimos trinta anos, gerou o interesse gradativo pela utilização de
novas mídias, que os artistas passaram a incorporar em suas obras
como forma de resistência à idéia de dissolução da arte: deslocalização é
tranferência de energia, trabalho nas fronteiras, nas bordas, re-
configuração de limites1.

Um total escultórico com dimensões consideráveis que reúna outras


agregações, trará um certo impaco ao espectador e o fará analisar cada junção,
cada agregação, como uma peça única colocada ao chão. Separadas em quatro
pilhas de refugo bem construídas, como pontos cardeais, norteiam olhar para
uma reflexão “macro” da obra, que se revela, neste instante, uma obra só. E o
trânsito do espectador por dentro da obra também faz com que ele se encontre e
tenha uma relação mais íntima com o trabalho.
O título da obra desperta interesse: 'E-Se?'. A palavra se siginifica,
segundo o dicionário: “conj.; 1. No caso de, dando-se a circunstância de.; 2. Se
acaso, se porventura” como uma hipótese; uma alternativa. E é isso mesmo que
o trabalho espera mostrar. A partir de uma alternativa na construção, pois as
junções destes retalhos serão feitas por próprias junções de madeira, focando
em uma pesquisa sobre junções artesanais e industriais, remete-se à uma
alternativa para essas peças refutadas de construção e para as próprias
pessoas e à propriedade, porque em um olhar mais crítico, pode-se notar que
outras formas de junção poderiam ser feitas; afinal, os pregos, parafusos e telas
estão ali, furando, cortando e rasgando a madeira, mas desprovidos de sua
utilidade comum. Estão ali como espectadores, como linhas de desenho sobre
um suporte ainda mais interessante. Todas essas relações ao espectador
1
BOUSSO, Daniela. Deslocamentos in Mapeamento Nacional da Produção Emergente -
Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 1999/2000. Ed. Unesp. São Paulo, 2000. p.148-149.
podem parecer muito complexas e difíceis de se entender, mas com uma
visualização do trabalho com uma maior calma, se criará uma série de relações
interessantes que qualquer um se aventurará a desmembrá-la minuciosamente,
e ao seu fim descobrir um idéia, uma alternativa, uma opção. E não uma
resposta para uma pergunta que não teria sido feita ainda.

Justificativa

Com base em aritstas como Cildo Meirelles, Hélio Oiticica e Anna Bella
Geiger, vanguardistas de suas épocas e autores de obras sólidas, que refletem
em busca do deslocamento da arte do campo estético para o campo político 2;
bem distantes das banalidades voláteis do panfletarismo, mas sempre trazendo
a problemática da vida do povo brasileiro, sem a abolição da estética ou um
esquema correspondente e com uma intensa pesquisa do material escolhido,
trouxeram a arte de volta ao seu papel social, entendendo que o exercício da
arte e o imperativo ético da cidadania não precisam ser como água e óleo.
Como cita Nestór García Canclini em seu livro A Socialização da Arte:

Se o gosto pela arte, e por certo tipo de arte, é produzido socialmente, a


estética deve partir da análise crítica das condições sociais em que se
produz o artístico. As categorias do racionalismo e do misticismo
romântico, que mantiveram os estudos estéticos num nível pré-científico
e encobriram as condições sociais que originam a arte, devem ser
substituídas por uma estética instruída pelas ciências sociais e da
comunicação3.

2
GOTO, Newton. Sentidos (e Circuitos) Políticos da Arte. Afeto, crítica, heterogeneidade e
autogestão entre tramas produtivas da cultura (parte 1). Curitiba: EPA!, 2005. p. 1.
3
CANCLINI, Néstor García. A socialização da arte: teoria e prática na América Latina. São
Paulo: Cultrix, 1984. p.12-13.
Muitos destes artistas, como Hélio Oiticia em Esquema Geral da Nova
Objetividade, comentam a questão do “não virar as costas para o mundo”,
Marilena Chauí foi mais longe, em seu manifesto do CPC, a autora dialoga sobre
uma arte que traga interesse popular, sem as rebuscadas e sofisticadas
formalidades da arte e que privilegie a comunicação em lugar da expressão, e o
conteúdo em lugar da forma. Dentro destes parâmetros que deveria estar o
artista, cumprindo seu papel de “arauto popular”, como ela mesmo cita. Alguns
artistas ideologicamente se aproximam deste papel, ao que se destacam em
relação ao material escolhido como base para este projeto pode-se citar Ivens
Machado, André Severo e Natália Coutinho.
O próprio artista Newton Goto, em conversa, reflete: “(...)Para mim, a
questão do envolvimento social da arte é uma das questões fundamentais do
nosso tempo e da própria atividade artística“. Goto, talvez seja a maior
referência a este projeto, com seu projeto Ocupação.
Ao traçar um paralelo com a obra dos artistas citados, podemos encontrar
na obra de André Severo (Sem Título, 1999), uma semelhança entre a obra do
artista e o projeto em questão, a inter-relação entre as noções de ready-made,
pintura e objeto. André Severo busca seu tema em reconstruções de fachadas
populares, o projeto busca a problemática do homem e da política no campo.
Não buscando reconstruir uma estrutura, e sim, uma possível identidade. Ao
confrontar o projeto com o trabalho de Natália Coutinho (Sem Título, 1999), é a
utilização de materiais cotidianos como madeiras velhas e outros objetos com a
tradicionalidade do traço e busca pela forma que utiliza tais materiais como
suporte. Natália Coutinho busca símbolos locais e demonstra seu repertório
visual singular constituindo parte da cultura da região amazônica, enquanto o
projeto busca os signos comuns dentro da cultura plástica do desenho, como
hachuras e linhas para formar a textura. Trabalhos como o fotográfico de Anna
Bella Geiger (Fome,1967), o cinético de Paula Perissinotto (Sua Dor/Suga Dor,
1997), e o conceitual de Carla Vendrami (Mapa, 1995), se interligam ao projeto
com sua questão cartográfica e contexto geopolítico como melhor forma de
nortear e focar sua problemática.
Não existe como executar esse projeto sem idealizá-lo para a arte
contemporânea. Dentro desses conceitos que se levantou, e uma visão
diferenciada da escultura, ao sentí-la sem estar nela, entende-se que a obra
possui carga suficiente para uma produção sem esquecer dos postos principais
da obra de arte: reflexão.
As uniões dessas madeiras retalhadas, e apropriadas de forma funcional
pelo artista, assim como os movimentos se apropriam da terra inútil, fazem uma
ligação entre o trabalho artístico com materiais refratários e a cultura do campo
na terra improdutiva. A relação de apropriação dos dois lados é muito forte aqui.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Aracy. Arte para quê. Ed. Perspectiva. São Paulo.


BOGO, Ademar. A Cultura e As Culturas. Ed.MST. Curitiba, 2008.
BORGES, Eliana. FRESSATO, Soleni T.B. A Arte em seu estado - história da
arte paranaense II. Ed. Medusa. Curitiba, 2008.
CHAUÍ, Marilena. Manifesto do CPC in Seminários. Ed.Brasiliense. 1984.
GOTO, Newton. “Sentidos (e circuitos) políticos da arte: Afeto, crítica,
heterogeneidade e autogestão entre tramas produtivas da cultura – parte 1”.
EPA!: Curitiba, 2005.
JUSTINO, Maria José. 50 Anos do Salão Paranaense de Belas Artes. Curitiba,
1995.
OITICICA, Hélio. Esquema Geral da Nova Objetividade. Escritos de Artistas.
Anos 60/70. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor. 2006.

Mapeamento Nacional da Produção Emergente - Rumos Itaú Cultural Artes


Visuais 1999/2000. Ed. Unesp. São Paulo, 2000.
Mostra Cultural de Integração dos Povos Latino-Americanos. Texto para Estudo.
2008.

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