04/02/2019 Folha de S.

Paulo - Negro foi nomeado prefeito em 47 - 16/11/1996

São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996

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Negro foi nomeado prefeito em 47

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro prefeito negro de São Paulo não passou pelo crivo do voto
popular, foi nomeado por Ademar de Barros para um mandato curto.
Paulo Lauro, nascido em 1907 na cidade de Descalvado -interior
paulista-, administrou a cidade de 29 de agosto de 1947 a 25 de
agosto de 1948.
O cargo de prefeito existe na cidade de São Paulo desde 1898, mas
nem sempre o mandatário da capital do Estado foi eleito pelo voto do
povo. Durante vários, normalmente imposição de regimes ditatoriais,
o prefeito foi nomeado pelo governador ou interventor do Estado.
"O governador Ademar de Barros surpreendeu não só ao indicar um
negro, mas vários filhos de imigrante para assessorá-lo", conta Italo
Fittipaldi, bem mais novo, mas contemporâneo de Lauro.
É que a São Paulo daquele tempo era uma província comandada pelas
tradicionais famílias quatrocentonas.
Segundo Fittipaldi, Paulo Lauro tinha "porte de lorde inglês". Falava
muito bem, ganhou dinheiro como advogado, mas morreu pobre.
"Gastava bastante em suas atividades políticas", disse Fittipaldi à
Folha.
Paulo Lauro formou-se pela faculdade de Direito de São Paulo, em
1932. Aproximou-se de Ademar de Barros ainda durante o Estado
Novo e, no final de 1945, participou da criação do Partido
Republicano Progressista (PRP), liderado por Ademar.
Sem conseguir um resultado eleitoral expressivo, o PRP acabou
fundindo-se com outras legendas para dar origem ao Partido Social
Progressista, que Lauro dirigiria por 16 anos, mais tarde.
Pela legenda, elegeu-se deputado federal por dois mandatos
consecutivos -1950 e 1958. Ainda voltaria à Câmara Federal em 1962
e 1965.
Só deixou o PSP quando, em 1965, o regime militar instituiu o bi-
partidarismo. Como Jânio Quadros e seus seguidores instalaram-se no
MDB, Ademar os ademaristas foram para a Arena.
Lauro cruzaria o caminho de Paulo Salim Maluf nessa época. No final
da década de 70, representava Maluf junto à Justiça Eleitoral na
qualidade de advogado do partido.
Segundo relato de contemporâneos, Lauro foi o maior especialista em
direito eleitoral do país no seu tempo.

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