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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, LETRAS, ARTES, CIÊNCIAS HUMANAS E


SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Guilherme de Oliveira Junior

Avaliação de Tópicos Especiais em História III: História das Mulheres

Profa. Dra. Elisa Maria Verona

UBERABA, 2018
RESENHA

RIBEIRO, Djamila. ​Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo :


Companhia das Letras, 2018.

O livro ​Quem tem medo do feminismo negro?​, do selo Companhia das Letras,
é uma reunião notáveis artigos selecionados pela autora Djamila Ribeiro, que foram
originalmente publicados no blog da revista Carta Capital entre 2014 e 2017. Usando
profundas reflexões e relatos de experiência a autora esmiúça as inúmeras
aparências do machismo e do racismo no nosso cotidiano. A obra usa da
interdisciplinaridade trazendo aspectos da História e da Filosofia, mesmo não sendo
dotada de um grande arcabouço teórico e metodológico da pesquisa Histórica,
consegue se estabelecer como um documento histórico de seu tempo, bastante
essencial, na pesquisa e compreensão de como a autora - sendo uma intelectual
negra no Brasil contemporâneo - se via no contexto da sua época.

Djamila Ribeiro é pesquisadora na área de Filosofia Política, militante do


feminismo negro e escritora. Nasceu em Santos, em 1980, filha de Joaquim e de
Erani e caçula de 4 irmãos. Ainda criança, foi apresentada à militância pelo seu pai,
ativista do movimento negro e um dos fundadores do Partido Comunista na cidade.
Aos seis anos, aprendeu a jogar xadrez na União Cultural Brasil-União Soviética, 2
anos mais tarde foi terceiro lugar no torneio da cidade. Em 2001 começou o curso de
Jornalismo pela Universidade Santa Cecília, mas interrompeu a faculdade quando
engravidou de sua filha Thulane em 2004. Trabalhou por quase 4 anos na biblioteca
da Casa de Cultura da Mulher Negra, foi quando entrou em contato com diversas
autoras negras, essencialmente importantes, na sua formação. Graduou-se em
Filosofia pela Unifesp, em 2012, e concluiu seu Mestrado em Filosofia Política pela
Unifesp em 2015. Atua na área das ciências sociais no campo das relações raciais e
de gênero. Foi secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Lançou os livros ​O que é lugar de fala?,​ em 2017, e ​Quem tem medo do feminismo
negro?, em 2018. Coordena a coleção Feminismos Plurais, da editora Letramento e
é colunista da revista semanal Carta Capital onde escreve ensaios partindo de
reflexões sobre o cotidiano estudando as relações de raça e gênero. Atualmente é
uma das principais vozes do feminismo negro no Brasil.

A obra se divide em introdução, trinta e quatro ensaios e um pequeno espaço


destinado a leituras sugeridas. A introdução é a mais longa dentre as outras partes,
cerca de treze páginas, em seguida os ensaios que possuem no máximo quatro
páginas cada. O título da obra, ​Quem tem medo do feminismo negro?, pode passar
a impressão de que o público leitor são os interessados em saber a resposta da
pergunta, às mulheres negras. Contudo, no ensaio de mesmo nome do livro e
também nos respectivos Cansado de ouvir sobre machismo e racismo?, Homens
brancos podem protagonizar a luta feminista e antirracista? e Racismo: Manual para
os sem-noção a autora chama atenção para homens tanto quanto não negros.

Com uma linguagem que foge do padrão acadêmico a introdução e os demais


textos destrincham temas densos e complexos de uma forma ágil e próxima ao
cotidiano, isto é, a proximidade com o leitor é trabalhada de forma que ele se
identifique com o que foi escrito. Ainda que a população negra e pobre,
especialmente às mulheres, seja a principal atingida pela desigualdade no acesso à
educação e consequentemente postos de trabalho - pessoas negras ocupam 6,3%
dos cargos de gerência segundo estatísticas do Instituto Ethos, realizada em 2016,
nas empresas analisadas pelo estudo -, é possível perceber uma preocupação na
escrita da autora e filósofa em tornar acessível sua leitura e seu conhecimento.

Em Máscara do Silêncio, texto de abertura obra, nos deparamos com o olhar


da Djamila Ribeiro sob sua própria história. É como se estivéssemos lá vivenciando
com ela todos os momentos e etapas que na opinião dela foram importantes para
sua formação: da sua querida avó trançando seu cabelo quando pequena e o
sentimento de segurança; até às agressões verbais proferidas por um aluno da
turma de inglês que a autora frequentava ainda criança. Ao falar de preconceito na
infância e auto-estima o texto dialoga essencialmente com as mulheres negras, que
guiadas por padrões de beleza controversos se deparam desde muito novas com o
sentimento de inadequação. Esse, é comparado pela autora ao enjoo sentido pelo
personagem da obra existencialista, A Náusea, do autor e filósofo Jean-Paul Sartre.
Nas palavras da Djamila Ribeiro “Por mais que eu tirasse boas notas, fosse saudável
e inteligente, uma sensação de inadequação sempre me perseguia.” (P. 7).
Provavelmente, muitas crianças negras se defrontaram com esse sentimento, até
mesmo garotos. Na música A Vida é Desafio, de 2002, do grupo Racionais MC’s, é
cantado logo no início “​Desde cedo a mãe da gente fala assim: 'filho, por você ser
preto, você tem que ser duas vezes melhor”, o que dialoga com o pensamento do
próprio pai da autora, militante do movimento negro, que como ela conta, exigia dos
filhos boas notas e presença regular nas aulas (P. 10).

É possível observar às marcas do racismo na infância e suas consequências


na vida adulta, aliadas a uma vida dura de batalhas cotidianas para se empoderar
autoafirmar. Assim como, o estudo e o trabalho estão cerceados na vida de uma
mulher negra, que mesmo se esforçando ao máximo pode estar destinada aos
espaços de subserviência. Além do mais, vemos a autora encontrar na militância
uma vazante, um grito contra o sentimento de inadequação e o silenciamento. Esse
é rompido com a formação de consciência e o reconhecimento da luta de seus
semelhantes, que é destacado pela autora como essencial quando ela afirma no
final da Introdução “É imprescindível que se leia autoras negras (...)” (P. 18).

Após a introdução, os primeiros ensaios são “um soco no fígado de quem


oprime” (P. 19). A autora ressalta a arte engajada - a exemplo do cartunista Henfil - e
rechaça comediantes que reforçam o racismo através de piadas. Na sequência, ela
enfatiza a ameaça que os formadores de opinião representam na sociedade quando
fundamentam opiniões baseadas no senso comum. Em As diversas ondas do
feminismo acadêmico, Djamila Ribeiro faz uma síntese do movimento elencando
importantes nomes como Simone de Beauvoir, Judith Butler, Beverly Fisher e
Amelinha Teles.

Nos ensaios seguintes, a autora tece comentários sobre alguns episódios de


racismo, infelizmente, corriqueiros tais como a fantasia de carnaval conhecida como
“nega maluca” no Brasil e a prática de atores brancos estadunidenses maquiarem o
rosto de preto pra simularem pessoas negras ou “black face”. E também alguns
casos específicos, não menos comuns, que ganharam repercussão: o goleiro ​Moacir
Barbosa, ​defensor da seleção brasileira na copa de 1950, que com a derrota foi
apontado como principal culpado; o projeto de lei apresentado, em 2015, pela
deputada do PDT, Regina Becker, que ao proibir o sacrifício de animais em rituais
religiosos feria a liberdade de crença de religiões de matriz africana; os comentários
nas redes sociais sofridos pela jornalista Maria Júlia Coutinho; a eleição da prefeita
Tyrus Byrd, no Missouri/EUA em 2015, e a rejeição de alguns de seus novos
funcionários públicos. Além disso, a autora também comenta alguns casos de
machismo e racismo como os comentários da mídia esportiva sobre a tenista Serena
Williams, o caso de trabalho infantil e exploração sexual das jovens negras
pertencente a comunidade quilombola Kalunga, o colunista Ancelmo Gois e sua
coluna no jornal O Globo “Às mulatas do Góis” e o vídeo de 2016 do então Prefeito
Eduardo Paes fazendo piadas de cunho sexual para uma mulher negra na entrega
de um imóvel.

Ademais, é importante frisar a consideração da Djamila Ribeiro para com


outras autoras, especialmente, mulheres negras. Como já foi citado, em seu trabalho
ela valoriza e promove escritoras que são, por vezes, esnobadas pela literatura
canônica, até mesmo, dentro da historiografia, a exemplo da historiadora Beatriz
Nascimento e sua obra sobre quilombos. Outros destaques, são Jurema Werneck,
Núbia Moreira, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Audre Lorde, Patricia Hill Collins, bell
hooks e a já citada Sueli Carneiro. O resgate dessas autoras é um indício de
resiliência e mostra, nas palavras da Djamila Ribeiro, “(...) o quanto as mulheres
negras vêm historicamente entendendo a necessidade de construir redes de
solidariedade política (...)” (P. 13)

Quem tem medo do feminismo negro?,​ o segundo livro da autora e filósofa


Djamila Ribeiro é um registro importante por dois pontos: é a publicação de uma
mulher negra em um meio intelectual dominado por homens brancos - segundo
estatísticas do PNAD, o número de negros e pardos na pós-graduação representa
28,9% do total, embora represente 52,9 da população total - e é um ensaio
autobiográfico de uma intelectual, mulher e negra no Brasil contemporâneo que
ainda luta contra uma herança patriarcal e escravista. Pertinente ao primeiro ponto a
própria Djamila Ribeiro cita outra intelectual, extremamente importante, a professora
e autora de ​A categoria político-cultural de amefricanidade,​ Lélia Gonzalez, que
reflete justamente sobre o racismo na produção acadêmica. Intrínseco ao primeiro
ponto está o fato de que o Brasil contemporâneo não conseguiu superar sua
formação racista e segregacionista, isto é, diferentemente dos EUA e da África do
Sul, não tivemos em território brasileiro leis definitivas de segregação, porém, desde
a escravização houve muitas diferenças nos tratamentos para com às populações
negras, indígenas e mestiças na constituição do país. No que tange a atual
Constituição Federal o Estado teria o dever de assegurar a livre manifestação da
diversidade e repudiar qualquer forma de segregação, contudo, fazemos parte de
um corpo social que ao naturalizar a igualdade, como se fosse dada de graça, se
torna excludente exatamente por não considerar o desequilíbrio de privilégios
existente entre raça, gênero e classe.

Quando é colocada a questão quem tem medo do feminismo negro, a retórica


não permite uma resposta, no entanto, a reflexão que fica é a de que existe uma
parcela da população que desconhece ou ignora o feminismo negro. A própria
autora Djamila Ribeiro menciona outra filósofa, notavelmente importante, autora do
livro ​Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil, Sueli Carneiro, que nos mostra a
forma como a mulher negra se encontra em maior vulnerabilidade social. Essa
reflexão nos coloca diante a ideia de que a estrutura social no Brasil atual não está
dividida, mas foi dividida e não conseguiu se reestruturar desde então, em parte pela
desigualdade latente entre raça, gênero e classe que foi aprofundada no país pelo
escravismo e, pela intransigente postura das autoridades e da população frente às
políticas de reparação.

O abismo social evidenciado nos textos da Djamila Ribeiro não foi criado hoje,
quando a autora diz “dívida histórica” se trata de uma reflexão historicizada da
condição do negro na história do Brasil - ainda que a área de atuação da autora seja
o campo da filosofia. Portanto, não é possível curar as feridas sem antes entender
como elas surgiram, o patriarcado racista, como a autora cita na introdução, é
estrutural e imanente na condição de formação da nação brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA BRASIL. Educação: Negros representam 28,9% dos alunos da


pós-graduação. Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2015-05/negros-representam-289-
dos-alunos-da-pos-graduacao> Acesso em 16 out. 2018.

EHTOS. Ehtos Social: Profissionais negras demandam mais políticas


afirmativas no mercado corporativo brasileiro. Disponível em:
<https://www3.ethos.org.br/cedoc/profissionais-negras-demandam-mais-politicas-afir
mativas-no-mercado-corporativo-brasileiro/> Acesso em 16 out. 2018.

ESCAVADOR. Djamila Taís Ribeiro dos Santos. Disponível em:


<https://www.escavador.com/sobre/5498574/djamila-tais-ribeiro-dos-santos> Acesso
em 16 out. 2018.

COMPANHIA DAS LETRAS. Quem tem medo do feminismo negro?.


Disponível em:
<https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=14544> Acesso em
16 out. 2018.

RACIONAIS MC'S. A vida é desafio. São Paulo: Cosa Nostra, 2002.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PQin7NsK7SM>. Acesso em 16
out. 2018.

RIBEIRO, Djamila. ​Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo :


Companhia das Letras, 2018.

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