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Bruna Pinotti Garcia, Guilherme Cardoso, Ricardo Razaboni, Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco

Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

DPE-RJ
Técnico Médio de Defensoria Pública

DZ058-18
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OBRA
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro - DPE-RJ

Técnico Médio de Defensoria Pública

Edital Nº 01/2018

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Legislação Institucional - Prof° Ricardo Razaboni
Noções de Direito Constitucional - Prof° Guilherme Cardoso
Noções de Direito Administrativo - Profª Bruna Pinotti Garcia
Noções de Teoria Geral do Processo - Profª Bruna Pinotti Garcia

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina
Leandro Filho

DIAGRAMAÇÃO
Elaine Cristina
Thais Regis

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

www.novaconcursos.com.br

sac@novaconcursos.com.br
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA

Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e
argumentativo); interpretação e organização interna................................................................................................................................. 01
Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos; emprego de tempos e modos dos verbos em
português...................................................................................................................................................................................................................... 11
Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes gramaticais; processos de formação de palavras; mecanismos
de flexão dos nomes e verbos.............................................................................................................................................................................. 14
Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação;........................................... 58
Concordância nominal e verbal;........................................................................................................................................................................... 67
Transitividade e regência de nomes e verbos;................................................................................................................................................ 74
Padrões gerais de colocação pronominal no português;........................................................................................................................... 79
Mecanismos de coesão textual............................................................................................................................................................................ 79
Ortografia...................................................................................................................................................................................................................... 81
Acentuação gráfica.................................................................................................................................................................................................... 85
Emprego do sinal indicativo de crase................................................................................................................................................................ 87
Pontuação..................................................................................................................................................................................................................... 90
Reescrita de frases: substituição, deslocamento, paralelismo; variação linguística: norma culta............................................... 93
Redação Oficial.........................................................................................................................................................................................................110

LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

Processo administrativo disciplinar, sindicância e inquérito;.................................................................................................................... 01


Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública, Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. ............ 02
Assistência jurídica integral e gratuita: aspectos processuais.................................................................................................................. 05

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Direitos, garantias e deveres fundamentais; direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; garantias
constitucionais individuais e coletivas; ações constitucionais.................................................................................................................. 01
Da organização do Estado: União, Estados, Distrito Federal e Municípios......................................................................................... 30
Poder Judiciário: disposições gerais................................................................................................................................................................... 43
Das funções essenciais à Justiça; do Ministério Público; da Advocacia Pública da União, dos Estados e dos Municípios; da
Advocacia; e da Defensoria Pública.................................................................................................................................................................... 57

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Princípios de Direito Administrativo................................................................................................................................................................... 01


Da Administração Pública: direta e indireta.................................................................................................................................................... 05
Atos administrativos................................................................................................................................................................................................. 07
Poderes Administrativos.......................................................................................................................................................................................... 16
Contratos administrativos....................................................................................................................................................................................... 23
SUMÁRIO

Licitação......................................................................................................................................................................................................................... 23
Processo Administrativo.......................................................................................................................................................................................... 57
Agentes Públicos: classificação, regimes jurídicos, organização funcional, regime constitucional (concurso público,
acessibilidade, acumulação de cargos e funções, estabilidade, regime previdenciário, disponibilidade, mandato eletivo,
sistema constitucional de remuneração, associação sindical e direito de greve)............................................................................ 61
Responsabilidade civil do Estado.......................................................................................................................................................................116
Controle da Administração Pública..................................................................................................................................................................121
Improbidade Administrativa................................................................................................................................................................................130
Decreto-Lei nº 220, de 18/07/75: Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Poder Executivo do Estado do Rio de
Janeiro. Decreto nº 2.479, de 08 de março de 1979: regulamenta o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Poder
Executivo do Estado do Rio de Janeiro...........................................................................................................................................................143

NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Das normas fundamentais do processo e da aplicação das normas processuais............................................................................ 01


Princípios constitucionais e infraconstitucionais do processo................................................................................................................. 03
Jurisdição. Competência. Critérios de fixação e de modificação. Conexão. Continência. Prevenção....................................... 04
Dos sujeitos do processo. Das partes e dos procuradores. Da capacidade processual. Deveres das partes e dos
procuradores. Das despesas, dos honorários advocatícios e das multas. Da gratuidade de justiça........................................ 12
Ação. Conceito e natureza. Condições para o exercício da ação. Elementos da ação. Cumulação da ação......................... 19
Processo. Conceito e natureza. Espécies Pressupostos processuais...................................................................................................... 21
Da Defensoria Pública no processo civil e no processo penal. ............................................................................................................... 24
Atos processuais. Forma, tempo e lugar. Dos pronunciamentos do órgão jurisdicional. Prazos processuais. Preclusões.
Comunicação dos atos processuais. Atos processuais eletrônicos. Da citação e das intimações. Modalidades e
efeitos. .................................................................................................................................................................................................................25
Partes e terceiros no processo. Conceitos........................................................................................................................................................ 37
Da formação, da suspensão e da extinção do processo............................................................................................................................ 44
Provas, disposições gerais. Ônus da prova. Provas em espécie e sua produção.............................................................................. 45
Sentença. Elementos, conteúdo e efeitos. Vícios das sentenças............................................................................................................. 61
Coisa julgada. Limites subjetivos e objetivos.................................................................................................................................................. 64
Remessa necessária................................................................................................................................................................................................... 66
Recursos. Juízo de admissibilidade. Efeitos. Teoria geral dos recursos................................................................................................. 67
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA

Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e
argumentativo); interpretação e organização interna. ............................................................................................................................... 01
Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos; emprego de tempos e modos dos verbos em
português. .................................................................................................................................................................................................................... 11
Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes gramaticais; processos de formação de palavras; mecanismos
de flexão dos nomes e verbos. ............................................................................................................................................................................ 14
Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação; .......................................... 58
Concordância nominal e verbal; .......................................................................................................................................................................... 67
Transitividade e regência de nomes e verbos;............................................................................................................................................... 74
Padrões gerais de colocação pronominal no português;.......................................................................................................................... 79
Mecanismos de coesão textual. .......................................................................................................................................................................... 79
Ortografia. .................................................................................................................................................................................................................... 81
Acentuação gráfica. .................................................................................................................................................................................................. 85
Emprego do sinal indicativo de crase. .............................................................................................................................................................. 87
Pontuação. ................................................................................................................................................................................................................... 90
Reescrita de frases: substituição, deslocamento, paralelismo; variação linguística: norma culta.............................................. 93
Redação Oficial. .......................................................................................................................................................................................................110
Hora de Praticar .......................................................................................................................................................................................................123
É possível deduzir que...
ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO O autor permite concluir que...
TEXTO E SEU SENTIDO: GÊNERO Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO Compreender significa
LITERÁRIO, NARRATIVO, DESCRITIVO E Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
ARGUMENTATIVO); INTERPRETAÇÃO E O texto diz que...
ORGANIZAÇÃO INTERNA. É sugerido pelo autor que...
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
O narrador afirma...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
3. Erros de interpretação
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio-
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de  Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar do contexto, acrescentando ideias que não estão no
e decodificar). texto, quer por conhecimento prévio do tema quer
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. pela imaginação.
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com  Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- é um conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre para o entendimento do tema desenvolvido.
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu  Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
um significado diferente daquele inicial. clusões equivocadas e, consequentemente, errar a
Intertexto - comumente, os textos apresentam referên- questão.
cias diretas ou indiretas a outros autores através de cita-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Observação:
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a óti-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A par- ca do leitor. Pode ser que existam, mas em uma prova de
tir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fundamen- concurso, o que deve ser levado em consideração é o que
tações), as argumentações (ou explicações), que levam ao o autor diz e nada mais.
esclarecimento das questões apresentadas na prova.
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
 Identificar os elementos fundamentais de uma Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono-
procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se
tempo). vai dizer e o que já foi dito.
 Comparar as relações de semelhança ou de dife-
renças entre as situações do texto. São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre eles,
 Comentar/relacionar o conteúdo apresentado está o mau uso do pronome relativo e do pronome oblí-
com uma realidade. quo átono. Este depende da regência do verbo; aquele, do
 Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. seu antecedente. Não se pode esquecer também de que os
 Parafrasear = reescrever o texto com outras pa- pronomes relativos têm, cada um, valor semântico, por isso
lavras. a necessidade de adequação ao antecedente.
Os pronomes relativos são muito importantes na in-
1. Condições básicas para interpretar terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literário existe um pronome relativo adequado a cada circunstância,
(escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura e a saber:
prática; conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
texto) e semântico; capacidade de observação e de síntese; mas depende das condições da frase.
LÍNGUA PORTUGUESA

capacidade de raciocínio. qual (neutro) idem ao anterior.


quem (pessoa)
2. Interpretar/Compreender cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído.
Interpretar significa: como (modo)
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. onde (lugar)
Através do texto, infere-se que... quando (tempo)
quanto (montante)

1
Exemplo:
Falou tudo QUANTO queria (correto)
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
aparecer o demonstrativo O).
3. Dicas para melhorar a interpretação de textos 1. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Cespe
– 2017)
 Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos can- Texto CG1A1AAA
didatos na disputa, portanto, quanto mais informação você
absorver com a leitura, mais chances terá de resolver as A valorização do direito à vida digna preserva as duas faces
questões. do homem: a do indivíduo e a do ser político; a do ser em si
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- e a do ser com o outro. O homem é inteiro em sua dimen-
rompa a leitura. são plural e faz-se único em sua condição social. Igual em
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas sua humanidade, o homem desiguala-se, singulariza-se em
forem necessárias. sua individualidade. O direito é o instrumento da fraterni-
 Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma zação racional e rigorosa.
conclusão). O direito à vida é a substância em torno da qual todos os
 Volte ao texto quantas vezes precisar. direitos se conjugam, se desdobram, se somam para que o
 Não permita que prevaleçam suas ideias sobre sistema fique mais e mais próximo da ideia concretizável
as do autor. de justiça social.
 Fragmente o texto (parágrafos, partes) para me- Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei
lhor compreensão. Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas a reve-
 Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado lação da justiça. Quando os descaminhos não conduzirem
de cada questão. a isso, competirá ao homem transformar a lei na vida mais
 O autor defende ideias e você deve percebê-las. digna para que a convivência política seja mais fecunda e
 Observe as relações interparágrafos. Um parágra- humana.
fo geralmente mantém com outro uma relação de conti- Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo 3.º.
nuação, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos
bem essas relações. 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília: OAB, Comissão
 Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 50-1 (com adap-
seja, a ideia mais importante. tações).
 Nos enunciados, grife palavras como “correto”
ou “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser humano
da resposta – o que vale não somente para Interpretação de tem direito
Texto, mas para todas as demais questões!
 Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia a) de agir de forma autônoma, em nome da lei da sobrevi-
principal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão. vência das espécies.
 Olhe com especial atenção os pronomes relati- b) de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessário
vos, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., para defender seus interesses.
chamados vocábulos relatores, porque remetem a outros c) de demandar ao sistema judicial a concretização de seus
vocábulos do texto. direitos.
d) à institucionalização do seu direito em detrimento dos
SITES direitos de outros.
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- e) a uma vida plena e adequada, direito esse que está na
gues/como-interpretar-textos essência de todos os direitos.
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-melho-
rar-a-interpretacao-de-textos-em-provas Resposta: Letra E. O ser humano tem direito a uma vida
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-para- digna, adequada, para que consiga gozar de seus direi-
-voce-interpretar-melhor-um.html tos – saúde, educação, segurança – e exercer seus deve-
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques- res plenamente, como prescrevem todos os direitos: (...)
tao-117-portugues.htm O direito à vida é a substância em torno da qual todos
LÍNGUA PORTUGUESA

os direitos se conjugam (...).

2
2. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Cespe TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
– 2017)
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
Texto CG1A1BBB sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição da que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana do interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou em um texto escrito.
diretamente, nos termos desta Constituição.” Em virtude É de fundamental importância sabermos classificar os
desse comando, afirma-se que o poder dos juízes emana textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
do povo e em seu nome é exercido. A forma de sua inves- dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
tidura é legitimada pela compatibilidade com as regras do e gêneros textuais.
Estado de direito e eles são, assim, autênticos agentes do Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
poder popular, que o Estado polariza e exerce. Na Itália, fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
isso é constantemente lembrado, porque toda sentença é opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
dedicada (intestata) ao povo italiano, em nome do qual é lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre al-
pronunciada. guém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente
nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do pro- textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição
cesso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 (com e Dissertação.
adaptações).
1. As tipologias textuais se caracterizam pelos as-
Conforme as ideias do texto CG1A1BBB, pectos de ordem linguística

a) o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel com Os tipos textuais designam uma sequência definida
fundamento no princípio da soberania popular. pela natureza linguística de sua composição. São observa-
b) os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos pelo dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
voto popular, como ocorre com os representantes dos logicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
demais poderes. mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
c) os magistrados italianos, ao contrário dos brasileiros,
exercem o poder que lhes é conferido em nome de seus A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
nacionais. ação demarcados no tempo do universo narrado,
d) há incompatibilidade entre o autogoverno da magistra- como também de advérbios, como é o caso de antes,
tura e o sistema democrático. agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu carro
e) os magistrados brasileiros exercem o poder constitucio- quando ele apareceu. Depois de muita conversa, re-
nal que lhes é atribuído em nome do governo federal. solveram...
B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Resposta: Letra A. A questão deve ser respondida se- descrevem características tanto físicas quanto psi-
gundo o texto: (...) “Todo o poder emana do povo, que o cológicas acerca de um determinado indivíduo ou
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados no
nos termos desta Constituição.” Em virtude desse coman- presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os cabe-
do, afirma-se que o poder dos juízes emana do povo e los mais negros como a asa da graúna...”
em seu nome é exercido (...). C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
assunto ou uma determinada situação que se almeje
3. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – SUPERIOR – desenvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela
CESPE – 2017 – ADAPTADA) No texto CG1A1BBB, o vo- acontecer, como em: O cadastramento irá se prorro-
cábulo ‘emana’ foi empregado com o sentido de gar até o dia 02 de dezembro, portanto, não se esque-
ça de fazê-lo, sob pena de perder o benefício.
a) trata. D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma
b) provém. modalidade na qual as ações são prescritas de for-
c) manifesta. ma sequencial, utilizando-se de verbos expressos no
LÍNGUA PORTUGUESA

d) pertence. imperativo, infinitivo ou futuro do presente: Misture


e) cabe. todos os ingrediente e bata no liquidificador até criar
uma massa homogênea.
Resposta: Letra B. Dentro do contexto, “emana” tem o E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam-
sentido de “provém”. -se pelo predomínio de operadores argumentativos,
revelados por uma carga ideológica constituída de
argumentos e contra-argumentos que justificam a
posição assumida acerca de um determinado assun-

3
to: A mulher do mundo contemporâneo luta cada vez linguagem utilizado para levar o interlocutor a crer naquilo
mais para conquistar seu espaço no mercado de tra- que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está
balho, o que significa que os gêneros estão em com- sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
plementação, não em disputa. da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de
recursos de linguagem.
2. Gêneros Textuais Para compreender claramente o que é um argumento,
São os textos materializados que encontramos em nos- é bom voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século
so cotidiano; tais textos apresentam características sócio- lV a.C., numa obra intitulada “Tópicos: os argumentos são
-comunicativas definidas por seu estilo, função, compo- úteis quando se tem de escolher entre duas ou mais coisas”.
sição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma
culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, desvantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos
piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc. argumentar. Suponhamos, no entanto, que tenhamos de
A escolha de um determinado gênero discursivo depende, escolher entre duas coisas igualmente vantajosas, a riqueza
em grande parte, da situação de produção, ou seja, a finali- e a saúde. Nesse caso, precisamos argumentar sobre qual
dade do texto a ser produzido, quem são os locutores e os das duas é mais desejável. O argumento pode então ser
interlocutores, o meio disponível para veicular o texto, etc. definido como qualquer recurso que torna uma coisa mais
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a esfe- desejável que outra. Isso significa que ele atua no domínio
ras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exemplo, do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
são comuns gêneros como notícias, reportagens, editoriais, que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra,
entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica são mais possível que a outra, mais desejável que a outra, é
comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- preferível à outra.
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. O objetivo da argumentação não é demonstrar a
verdade de um fato, mas levar o ouvinte a admitir como
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS verdadeiro o que o enunciador está propondo.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a
argumentação. O primeiro opera no domínio do necessário,
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
ou seja, pretende demonstrar que uma conclusão deriva
Paulo: Saraiva, 2010.
necessariamente das premissas propostas, que se deduz
Português – Literatura, Produção de Textos & Gra-
obrigatoriamente dos postulados admitidos. No raciocínio
mática – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jé-
lógico, as conclusões não dependem de crenças, de uma
sus Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
maneira de ver o mundo, mas apenas do encadeamento de
premissas e conclusões.
SITE Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-textual.htm encadeamento:
Observação: Não foram encontradas questões abran- A é igual a B.
gendo tal conteúdo. A é igual a C.
Então: C é igual a A.
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigato-
ARGUMENTAÇÃO. riamente, que C é igual a A.
Outro exemplo:
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma Todo ruminante é um mamífero.
informação a alguém. Quem se comunica pretende criar A vaca é um ruminante.
uma imagem positiva de si mesmo por exemplo, a de um Logo, a vaca é um mamífero.
sujeito educado, ou inteligente, ou culto; quer ser aceito,
deseja que o que diz seja admitido como verdadeiro. Em Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a
síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem o desejo conclusão também será verdadeira.
de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele No domínio da argumentação, as coisas são diferentes.
propõe. Nele, a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso,
Se essa é a finalidade última de todo ato de devese mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável,
comunicação, todo texto contém um componente a mais plausível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda
argumentativo. A argumentação é o conjunto de recursos dizendose mais confiável do que os concorrentes porque
LÍNGUA PORTUGUESA

de natureza linguística destinados a persuadir a pessoa a existe desde a chegada da família real portuguesa ao Brasil,
quem a comunicação se destina. Está presente em todo ele estará dizendonos que um banco com quase dois séculos
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos de existência é sólido e, por isso, confiável. Embora não
pontos de vista defendidos. haja relação necessária entre a solidez de uma instituição
As pessoas costumam pensar que o argumento seja bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentativo
apenas uma prova de verdade ou uma razão indiscutível na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é
para comprovar a veracidade de um fato. O argumento provável que se creia que um banco mais antigo seja mais
é mais que isso: como se disse acima, é um recurso de confiável do que outro fundado há dois ou três anos.

4
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa 3. Argumento do Consenso
quase impossível, tantas são as formas de que nos valemos
para fazer as pessoas preferirem uma coisa a outra. Por É uma variante do argumento de quantidade.
isso, é importante entender bem como eles funcionam. Fundamentase em afirmações que, numa determinada
Já vimos diversas características dos argumentos. época, são aceitas como verdadeiras e, portanto, dispensam
É preciso acrescentar mais uma: o convencimento do comprovações, a menos que o objetivo do texto seja
interlocutor, o auditório, que pode ser individual ou comprovar alguma delas. Parte da ideia de que o consenso,
coletivo, será tanto mais fácil quanto mais os argumentos mesmo que equivocado, corresponde ao indiscutível,
estiverem de acordo com suas crenças, suas expectativas, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que
seus valores. Não se pode convencer um auditório não desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele exemplo, as afirmações de que o meio ambiente precisa
abomina. Será mais fácil convencêlo valorizando coisas que ser protegido e de que as condições de vida são piores nos
ele considera positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja países subdesenvolvidos. Ao confiar no consenso, porém,
vem com frequência associada ao futebol, ao gol, à paixão correse o risco de passar dos argumentos válidos para os
nacional. Nos Estados Unidos, essa associação certamente lugarescomuns, os preconceitos e as frases carentes de
não surtiria efeito, porque lá o futebol não é valorizado qualquer base científica.
da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo de
um argumento está vinculado ao que é valorizado ou 4. Argumento de Existência
desvalorizado numa dada cultura.
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil
TIPOS DE ARGUMENTO aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo
que é apenas provável, que é apenas possível. A sabedoria
Já verificamos que qualquer recurso linguístico popular enuncia o argumento de existência no provérbio
destinado a fazer o interlocutor dar preferência à tese do “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
enunciador é um argumento. Exemplo: Nesse tipo de argumento, incluemse as provas
documentais (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações
1. Argumento de Autoridade etc.) ou provas concretas, que tornam mais aceitável uma
afirmação genérica. Durante a invasão do Iraque, por
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas exemplo, os jornais diziam que o exército americano era
reconhecidas pelo auditório como autoridades em certo muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa afirmação,
domínio do saber, para servir de apoio aquilo que o sem ser acompanhada de provas concretas, poderia
enunciador está propondo. Esse recurso produz dois efeitos ser vista como propagandística. No entanto, quando
distintos: revela o conhecimento do produtor do texto a documentada pela comparação do número de canhões, de
respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a carros de combate, de navios etc., ganhava credibilidade.
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer
do texto um amontoado de citações. A citação precisa ser 5. Argumento quase lógico
pertinente e verdadeira. Exemplo:
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” É aquele que opera com base nas relações lógicas,
como causa e efeito, analogia, implicação, identidade etc.
Quem disse a frase não fui eu, foi Einstein. Para ele, Esses raciocínios são chamados quase lógicos porque,
uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há diversamente dos raciocínios lógicos, eles não pretendem
conhecimento. Nunca o inverso. estabelecer relações necessárias entre os elementos,
Alex José Periscinoto. mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausíveis.
In: Folha de S. Paulo. 30 ago.1993, p. 5-2. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a
C”, “então A é igual a C”, estabelecese uma relação de
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais identidade lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de
importante do que o conhecimento. Para levar o auditório amigo meu é meu amigo” não se institui uma identidade
a aderir a ela, o enunciador cita um dos mais célebres lógica, mas uma identidade provável.
cientistas do mundo. Se um físico de renome mundial disse Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais
isso, então as pessoas devem acreditar que é verdade. facilmente aceito do que um texto incoerente. Vários são
os defeitos que concorrem para desqualificar o texto do
LÍNGUA PORTUGUESA

2. Argumento de Quantidade ponto de vista lógico: fugir do tema proposto, cair em


contradição, tirar conclusões que não se fundamentam nos
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo dados apresentados, ilustrar afirmações gerais com fatos
maior número de pessoas, o que existe em maior número, inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
o que tem maior duração, o que tem maior número de indevidas.
adeptos etc. O fundamento desse tipo de argumento é que
mais melhor. A publicidade faz largo uso do argumento de
quantidade.

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6. Argumento do Atributo como paz, que, paradoxalmente, pode ser usada pelo
agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter
É aquele que considera melhor o que tem propriedades valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia)
típicas daquilo que é mais valorizado socialmente, por ou vir carregadas de valor negativo (autoritarismo,
exemplo, o mais raro é melhor que o comum, o que é mais degradação do meio ambiente, injustiça, corrupção).
refinado é melhor que o que é mais grosseiro etc. ▪ Uso de afirmações tão amplas, que podem ser der-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita rubadas por um único contraexemplo. Quando se diz
frequência, celebridades recomendando prédios “Todos os políticos são ladrões”, basta um único exem-
residenciais, produtos de beleza, alimentos estéticos etc., plo de político honesto para destruir o argumento.
com base no fato de que o consumidor tende a associar o ▪ Emprego de noções científicas sem nenhum rigor,
produto anunciado com atributos da celebridade. fora do contexto adequado, sem o significado apro-
Uma variante do argumento de atributo é o argumento priado, vulgarizandoas e atribuindolhes uma signifi-
da competência linguística. A utilização da variante culta e cação subjetiva e grosseira. É o caso, por exemplo,
formal da língua que o produtor do texto conhece a norma da frase “O imperialismo de certas indústrias não
linguística socialmente mais valorizada e, por conseguinte, permite que outras cresçam”, em que o termo impe-
deve produzir um texto em que se pode confiar. Nesse rialismo é descabido, uma vez que, a rigor, significa
sentido é que se diz que o modo de dizer dá confiabilidade “ação de um Estado visando a reduzir outros à sua
ao que se diz. dependência política e econômica”.
Imaginese que um médico deva falar sobre o estado
de saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazêlo A boa argumentação é aquela que está de acordo
das duas maneiras indicadas abaixo, mas a primeira seria com a situação concreta do texto, que leva em conta os
infinitamente mais adequada para a persuasão do que a componentes envolvidos na discussão (o tipo de pessoa
segunda, pois esta produziria certa estranheza e não criaria a quem se dirige a comunicação, o assunto, por exemplo).
uma imagem de competência do médico: Convém ainda alertar que não se convence ninguém
▪ Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e le- com manifestações de sinceridade do autor (como eu,
vando em conta o caráter invasivo de alguns exames, que não costumo mentir...) ou com declarações de certeza
a equipe médica houve por bem determinar o inter- expressas em fórmulas feitas (como estou certo, creio
namento do governador pelo período de três dias, a firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, afirmo com toda a
partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. certeza etc). Em vez de prometer, em seu texto, sinceridade
▪ Para conseguir fazer exames com mais cuidado e e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
porque alguns deles são barras-pesadas, a gente bo- construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas
tou o governador no hospital por três dias. qualidades não se prometem, manifestam-se na ação.
Como dissemos antes, todo texto tem uma função A argumentação é a exploração de recursos para fazer
argumentativa, porque ninguém fala para não ser levado parecer verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso,
a sério, para ser ridicularizado, para ser desmentido: em levar a pessoa a que texto é endereçado a crer naquilo que
todo ato de comunicação deseja-se influenciar alguém. Por ele diz.
mais neutro que pretenda ser, um texto tem sempre uma Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa
orientação argumentativa. um ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação,
A orientação argumentativa é certa direção que o que inclui a argumentação, questionamento, com o
falante traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao objetivo de persuadir. Argumentar é o processo pelo qual
falar de um homem público, pode ter a intenção de criticálo,
se estabelecem relações para chegar à conclusão, com base
de ridicularizálo ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
em premissas. Persuadir é um processo de convencimento,
O enunciador cria a orientação argumentativa de
por meio da argumentação, no qual se procura convencer
seu texto dando destaque a uns fatos e não a outros,
os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
omitindo certos episódios e revelando outros, escolhendo
comportamento.
determinadas palavras e não outra. Veja:
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras
trocavam abraços afetuosos.” válida, expõemse com clareza os fundamentos de uma ideia
ou proposição, e o interlocutor pode questionar cada passo
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que do raciocínio empregado na argumentação. A persuasão
noras e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria não válida apoiase em argumentos subjetivos, apelos
escolhido esse fato para ilustrar o clima da festa nem teria subliminares, chantagens sentimentais, com o emprego de
LÍNGUA PORTUGUESA

utilizado o termo até que serve para incluir no argumento “apelações”, como a inflexão de voz, a mímica e até o choro.
alguma coisa inesperada. Alguns autores classificam a dissertação em duas
Além dos defeitos de argumentação mencionados modalidades, expositiva e argumentativa. Esta exige
quando tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos argumentação, razões a favor e contra uma ideia, ao passo
citar outros: que a outra é informativa, apresenta dados sem a intenção
▪ Uso sem delimitação adequada de palavra de sen- de convencer. Na verdade, a escolha dos dados levantados,
tido tão amplo, que serve de argumento para um a maneira de expôlos no texto já revelam uma “tomada de
ponto de vista e seu contrário. São noções confusas, posição”, a adoção de um ponto de vista na dissertação,

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ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. I – evidência;
Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida II – divisão ou análise;
como discussão, debate, questionamento, o que implica III – ordem ou dedução;
a liberdade de pensamento, a possibilidade de discordar IV – enumeração.
ou concordar parcialmente. A liberdade de questionar
é fundamental, mas não é suficiente para organizar um A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a
texto dissertativo. É necessária também a exposição dos omissão e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração
fundamentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto pode quebrar o encadeamento das ideias, indispensável
de vista. para o processo dedutivo.
Podese dizer que o homem vive em permanente A forma de argumentação mais empregada na redação
atitude argumentativa. A argumentação está presente em acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras
qualquer tipo de discurso, porém, é no texto dissertativo cartesianas, que contém três proposições: duas premissas,
que ela melhor se evidencia. maior e menor, e a conclusão. As três proposições são
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e encadeadas de tal forma, que a conclusão é deduzida da
posições, é necessária a capacidade de conhecer outros maior por intermédio da menor. A premissa maior deve
pontos de vista e seus respectivos argumentos. Uma ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
discussão impõe, muitas vezes, a análise de argumentos caracteriza a universalidade.
opostos, antagônicos. Como sempre, essa capacidade Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a
aprendese com a prática. Um bom exercício para aprender dedução (silogística), que parte do geral para o particular,
a argumentar e contraargumentar consiste em desenvolver e a indução, que vai do particular para o geral. A expressão
as seguintes habilidades: formal do método dedutivo é o silogismo. A dedução é
o caminho das consequências, baseiase em uma conexão
I – argumentação: anotar todos os argumentos a fa- descendente (do geral para o particular) que leva à
vor de uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que conclusão. Segundo esse método, partindose de teorias
adote a posição totalmente contrária; gerais, de verdades universais, podese chegar à previsão
II – contraargumentação: imaginar um diálogodeba- ou determinação de fenômenos particulares. O percurso
te e quais os argumentos que essa pessoa imaginá- do raciocínio vai da causa para o efeito. Exemplo:
ria possivelmente apresentaria contra a argumentação Todo homem é mortal (premissa maior = geral, uni-
proposta; versal)
III – refutação: argumentos e razões contra a argumen- Fulano é homem (premissa menor = particular)
tação oposta. Logo, Fulano é mortal (conclusão)
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução,
A argumentação tem a finalidade de persuadir, baseiase em uma conexão ascendente, do particular para o
portanto, argumentar consiste em estabelecer relações geral. Nesse caso, as constatações particulares levam às leis
para tirar conclusões válidas, como se procede no método gerais, ou seja, parte de fatos particulares conhecidos para
dialético. O método dialético não envolve apenas questões os fatos gerais, desconhecidos. O percurso do raciocínio se
ideológicas, geradoras de polêmicas. Tratase de um faz do efeito para a causa. Exemplo:
método de investigação da realidade pelo estudo de sua O calor dilata o ferro (particular);
ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em O calor dilata o bronze (particular);
questão e da mudança dialética que ocorre na natureza e O calor dilata o cobre (particular);
na sociedade. O ferro, o bronze, o cobre são metais;
Descartes (15961650), filósofo e pensador francês, Logo, o calor dilata metais (geral, universal).
criou o método de raciocínio silogístico, baseado na
dedução, que parte do simples para o complexo. Para ele, Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode
verdade e evidência são a mesma coisa, e pelo raciocínio ser válido e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as
tornase possível chegar a conclusões verdadeiras, desde duas premissas também o forem. Se há erro ou equívoco
que o assunto seja pesquisado em partes, começandose na apreciação dos fatos, pode-se partir de premissas
pelas proposições mais simples até alcançar, por meio verdadeiras para chegar a uma conclusão falsa. Tem-se,
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, uma divisão
cartesiana, é fundamental determinar o problema, dividilo incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
em partes, ordenar os conceitos, simplificandoos, enumerar algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé,
LÍNGUA PORTUGUESA

todos os seus elementos e determinar o lugar de cada um intenção deliberada de enganar ou levar ao erro; quando
no conjunto da dedução. o sofisma não tem essas intenções propositais, costuma-
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental se chamar esse processo de argumentação de paralogismo.
para a argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes Encontra-se um exemplo simples de sofisma no seguinte
propôs quatro regras básicas que constituem um conjunto diálogo:
de reflexos vitais, uma série de movimentos sucessivos e Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
contínuos do espírito em busca da verdade: – Lógico, concordo.
Você perdeu um brilhante de 40 quilates?

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– Claro que não! - Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... - Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.

Exemplos de sofismas: A análise tem importância vital no processo de coleta de


I – Dedução: ideias a respeito do tema proposto, de seu desdobramento
Todo professor tem um diploma (geral, universal); e da criação de abordagens possíveis. A síntese também é
Fulano tem um diploma (particular); importante na escolha dos elementos que farão parte do
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa); texto.
II – Indução: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. formal ou informal. A análise formal pode ser científica ou
(particular); experimental; é característica das ciências matemáticas,
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (par- físico-naturais e experimentais. A análise informal é
ticular); racional ou total, consiste em “discernir” por vários atos
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. distintos da atenção os elementos constitutivos de um
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
(geral – conclusão falsa). A análise decompõe o todo em partes, a classificação
estabelece as necessárias relações de dependência e
Notase que as premissas são verdadeiras, mas a hierarquia entre as partes. Análise e classificação ligam-
conclusão pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm se intimamente, a ponto de se confundir uma com a
diploma são professores; nem todas as cidades têm uma outra, contudo são procedimentos diversos: análise é
estátua do Cristo Redentor. Cometese erro quando se decomposição e classificação é hierarquisação.
faz generalizações apressadas ou infundadas. A “simples Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos
inspeção” é a ausência de análise ou análise superficial dos e fenômenos por suas diferenças e semelhanças; fora
fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, baseados das ciências naturais, a classificação pode-se efetuar por
nos sentimentos não ditados pela razão. meio de um processo mais ou menos arbitrário, em que
Existem, ainda, outros métodos, subsidiários ou não os caracteres comuns e diferenciadores são empregados
fundamentais, que contribuem para a descoberta ou de modo mais ou menos convencional. A classificação, no
comprovação da verdade: análise, síntese, classificação e reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros
definição. Além desses, existem outros métodos particulares e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas
de algumas ciências, que adaptam os processos de características comuns e diferenciadoras. A classificação
dedução e indução à natureza de uma realidade particular. dos variados itens integrantes de uma lista mais ou menos
Podese afirmar que cada ciência tem seu método próprio caótica é artificial.
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata,
síntese, a classificação e a definição são chamadas métodos caminhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal,
sistemáticos, porque pela organização e ordenação das pintassilgo, queijo, relógio, sabiá, torradeira.
ideias visam sistematizar a pesquisa.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas I – Aves, Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá;
interligados; a análise parte do todo para as partes, a II – Alimentos, Batata, Leite, Pão, Queijo;
síntese, das partes para o todo. A análise precede a III – Mecanismos, Aquecedor, Barbeador, Relógio, Tor-
síntese, porém, de certo modo, uma depende da outra. A radeira;
análise decompõe o todo em partes, enquanto a síntese IV – Veículos, Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
recompõe o todo pela reunião das partes. Sabese, porém,
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Os elementos desta lista foram classificados por ordem
Se alguém reunisse todas as peças de um relógio, não alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer
significa que reconstruiu o relógio, pois fez apenas um critérios de classificação das ideias e argumentos, pela
amontoado de partes. Só reconstruiria todo se as partes ordem de importância, é uma habilidade indispensável
estivessem organizadas, devidamente combinadas, para elaborar o desenvolvimento de uma redação. Tanto faz
seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, que a ordem seja crescente, do fato mais importante para
então, o relógio estaria reconstruído. o menos importante, ou decrescente, primeiro o menos
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo importante e, no final, o impacto do mais importante; é
por meio da integração das partes, reunidas e relacionadas indispensável que haja uma lógica na classificação. A
LÍNGUA PORTUGUESA

num conjunto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, elaboração do plano compreende a classificação das partes
pressupõe a análise, que é a decomposição. A análise, no e subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem
entanto, exige uma decomposição organizada, é preciso obedecer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302304.)
saber como dividir o todo em partes. As operações que Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo
se realizam na análise e na síntese podem ser assim na introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois,
relacionadas: para expressar um questionamento, devese, de antemão,
expor clara e racionalmente as posições assumidas e os
argumentos que as justificam. É muito importante deixar

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claro o campo da discussão e a posição adotada, isto é, V – deve ser breve (contida num só período). Quando a
esclarecer não só o assunto, mas também os pontos de definição, ou o que se pretenda como tal, é muito longa
vista sobre ele. (séries de períodos ou de parágrafos), chama-se explica-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da ção, e também definição expandida;
linguagem e consiste na enumeração das qualidades próprias VI – deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o
de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento termo) + cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o
conforme a espécie a que pertence, demonstra: a característica gênero) + adjuntos (as diferenças).
que o diferencia dos outros elementos dessa mesma espécie.
Entre os vários processos de exposição de ideias, a As definições dos dicionários de língua são feitas por
definição é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito meio de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação
das ciências. A definição científica ou didática é denotativa, metalinguística que consiste em estabelecer uma relação
ou seja, atribui às palavras seu sentido usual ou consensual, de equivalência entre a palavra e seus significados.
enquanto a conotativa ou metafórica emprega palavras de A força do texto dissertativo está em sua fundamentação.
sentido figurado. Segundo a lógica tradicional aristotélica, Sempre é fundamental procurar um porquê, uma razão
a definição consta de três elementos: verdadeira e necessária. A verdade de um ponto de vista
deve ser demonstrada com argumentos válidos. O ponto
I – o termo a ser definido; de vista mais lógico e racional do mundo não tem valor,
II – o gênero ou espécie; se não estiver acompanhado de uma fundamentação
III – a diferença específica. coerente e adequada.
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo
O que distingue o termo definido de outros elementos da a lógica clássica, que foram abordados anteriormente,
mesma espécie. Veja a classificação dos termos da frase a seguir: auxiliam o julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a
argumentação é clara e pode reconhecerse facilmente seus
elementos e suas relações; outras vezes, as premissas e as
conclusões organizamse de modo livre, misturandose na
estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
reconhecer os elementos que constituem um argumento:
premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais
elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se
o argumento está expresso corretamente; se há coerência
e adequação entre seus elementos, ou se há contradição.
Para isso é que se aprendem os processos de raciocínio
por dedução e por indução. Admitindose que raciocinar é
É muito comum formular definições de maneira relacionar, concluise que o argumento é um tipo específico
defeituosa, por exemplo: Análise é quando a gente de relação entre as premissas e a conclusão.
decompõe o todo em partes. Esse tipo de definição
é gramaticalmente incorreto; quando é advérbio de a) Procedimentos Argumentativos
tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é Constituem os procedimentos argumentativos mais
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão empregados para comprovar uma afirmação: exem-
importante é saber formular uma definição, que se recorre plificação, explicitação, enumeração, comparação.
a Garcia (1973, p.306), para determinar os “requisitos da b) Exemplificação
definição denotativa”. Para ser exata, a definição deve Procura justificar os pontos de vista por meio de
apresentar os seguintes requisitos: exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões
comuns nesse tipo de procedimento: mais importan-
I – o termo deve realmente pertencer ao gênero ou clas- te que, superior a, de maior relevância que. Emprega-
se em que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em mse também dados estatísticos, acompanhados de
que ‘mesa’ está realmente incluída) e não “mesa é um expressões: considerando os dados; conforme os da-
instrumento ou ferramenta ou instalação”; dos apresentados. Fazse a exemplificação, ainda, pela
II – o gênero deve ser suficientemente amplo para in- apresentação de causas e consequências, usandose
cluir todos os exemplos específicos da coisa definida, e comumente as expressões: porque, porquanto, pois
suficientemente restritos para que a diferença possa ser que, uma vez que, visto que, por causa de, em virtude
LÍNGUA PORTUGUESA

percebida sem dificuldade; de, em vista de, por motivo de.


III – deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em c) Explicitação
verdade, definição, quando se diz que o “triângulo não O objetivo desse recurso argumentativo é explicar ou
é um prisma”; esclarecer os pontos de vista apresentados. Podese
IV – deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não alcançar esse objetivo pela definição, pelo testemu-
constitui definição exata, porque a recíproca, “Todo ser nho e pela interpretação. Na explicitação por defini-
vivo é um homem” não é verdadeira (o gato é ser vivo e ção, empregamse expressões como: quer dizer, de-
não é homem); nominase, chamase, na verdade, isto é, haja vista, ou

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melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: Comprovação pela experiência ou observação: A
conforme, segundo, na opinião de, no parecer de, con- verdade de um fato ou afirmação pode ser comprovada
soante as ideias de, no entender de, no pensamento por meio de dados concretos, estatísticos ou documentais.
de. A explicitação se faz também pela interpretação, Comprovação pela fundamentação lógica: A
em que são comuns as seguintes expressões: parece, comprovação se realiza por meio de argumentos racionais,
assim, desse ponto de vista. baseados na lógica: causa/efeito; consequência/causa;
d) Enumeração condição/ocorrência.
Fazse pela apresentação de uma sequência de ele- Fatos não se discutem; discutemse opiniões. As
mentos que comprovam uma opinião, tais como a declarações, julgamento, pronunciamentos, apreciações
enumeração de pormenores, de fatos, em uma se- que expressam opiniões pessoais (não subjetivas) devem
quência de tempo, em que são frequentes as ex- ter sua validade comprovada, e só os fatos provam. Em
pressões: primeiro, segundo, por último, antes, depois, resumo toda afirmação ou juízo que expresse uma opinião
ainda, em seguida, então, presentemente, antigamen- pessoal só terá validade se fundamentada na evidência
te, depois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
sucessivamente, respectivamente. Na enumeração de dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da
fatos em uma sequência de espaço, empregamse contraargumentação ou refutação. São vários os processos
as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, além, de contraargumentação:
adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capi- Refutação pelo absurdo: refutase uma afirmação
tal, no interior, nas grandes cidades, no sul, no leste. demonstrando o absurdo da consequência. Exemplo
e) Comparação clássico é a contraargumentação do cordeiro, na conhecida
Analogia e contraste são as duas maneiras de se fábula “O lobo e o cordeiro”;
estabelecer a comparação, com a finalidade de Refutação por exclusão: consiste em propor várias
comprovar uma ideia ou opinião. Na analogia, são hipóteses para eliminá-las, apresentandose, então, aquela
comuns as expressões: da mesma forma, tal como, que se julga verdadeira;
tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- Desqualificação do argumento: atribuise o argumento
belecer contraste, empregamse as expressões: mais à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restringindose
que, menos que, melhor que, pior que. a universalidade da afirmação;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade:
Entre outros tipos de argumentos empregados para consiste em refutar um argumento empregando os testemunhos
aumentar o poder de persuasão de um texto dissertativo de autoridade que contrariam a afirmação apresentada;
encontram-se: Desqualificar dados concretos apresentados: consiste
em desautorizar dados reais, demonstrando que o
Argumento de autoridade: O saber notório de uma enunciador baseouse em dados corretos, mas tirou
autoridade reconhecida em certa área do conhecimento dá conclusões falsas ou inconsequentes. Por exemplo, se na
apoio a uma afirmação. Dessa maneira, procura-se trazer argumentação afirmouse, por meio de dados estatísticos,
para o enunciado a credibilidade da autoridade citada. que “o controle demográfico produz o desenvolvimento”,
Lembre-se que as citações literais no corpo de um texto afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois se baseia
constituem argumentos de autoridade. Ao fazer uma citação, em uma relação de causaefeito difícil de ser comprovada.
o enunciador situa os enunciados nela contidos na linha de Para contraargumentar, propõese uma relação inversa: “o
raciocínio que ele considera mais adequada para explicar desenvolvimento é que gera o controle demográfico”.
ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento Apresentam-se aqui sugestões possíveis para
tem mais caráter confirmatório que comprobatório. desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas
Apoio na consensualidade: Certas afirmações ao desenvolvimento de outros temas. Elegese um tema, e,
dispensam explicação ou comprovação, pois seu conteúdo em seguida, sugeremse os procedimentos que devem ser
é aceito como válido por consenso, pelo menos em adotados para a elaboração de um Plano de Redação.
determinado espaço sociocultural. Nesse caso, incluem-se:
O homem e a máquina: necessidade e riscos da evo-
- A declaração que expressa uma verdade universal (o lução tecnológica
homem, mortal, aspira à imortalidade); Questionar o tema, transformálo em interrogação,
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos responder a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o
postulados e axiomas); porquê da resposta, justificar, criando um argumento básico;
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- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento
de natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem ra- básico e construir uma contra argumentação; pensar a forma
zões que a própria razão desconhece); implica apre- de refutação que poderia ser feita ao argumento básico e
ciação de ordem estética (gosto não se discute); diz tentar desqualificá-la (rever tipos de argumentação);
respeito à fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de
parece absurdo). ideias que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema
(as ideias podem ser listadas livremente ou organizadas
como causa e consequência);

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Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
com o argumento básico;
Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo Semântica é o estudo da significação das palavras e das
as que poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias suas mudanças de significação através do tempo ou em
transformam-se em argumentos auxiliares, que explicam e determinada época. A maior importância está em distinguir
corroboram a ideia do argumento básico; sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e homôni-
Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando mos e parônimos (homonímia / paronímia).
uma sequência na apresentação das ideias selecionadas,
obedecendo às partes principais da estrutura do texto, que 1. Sinônimos
poderia ser mais ou menos a seguinte:
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto -
Introdução: abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir.
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são
I – função social da ciência e da tecnologia; substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara
II – definições de ciência e tecnologia; e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando,
III – indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra,
em deteminado enunciado (aguadar e esperar).
Desenvolvimento:
I – apresentação de aspectos positivos e negativos do Observação:
desenvolvimento tecnológico; A contribuição greco-latina é responsável pela exis-
II – como o desenvolvimento científico-tecnológico tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e
modificou as condições de vida no mundo atual; antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemiciclo;
III – a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tec- contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diálogo;
nologicamente desenvolvida e a dependência tecnoló- transformação e metamorfose; oposição e antítese.
gica dos países subdesenvolvidos;
IV – enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento 2. Antônimos
social;
V – comparar a vida de hoje com os diversos tipos de São palavras que se opõem através de seu significado:
vida do passado; apontar semelhanças e diferenças; ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar;
VI – analisar as condições atuais de vida nos grandes mal - bem.
centros urbanos;
VII – como se poderia usar a ciência e a tecnologia para Observação:
humanizar mais a sociedade. A antonímia pode se originar de um prefixo de sentido
Conclusão: oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático e an-
VIII – a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefí- tipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia; ativo e
cios/consequências maléficas; inativo; esperar e desesperar; comunista e anticomunista;
IX – síntese interpretativa dos argumentos e contra- simétrico e assimétrico.
-argumentos apresentados.
3. Homônimos e Parônimos
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano
de redação: é um dos possíveis.  Homônimos = palavras que possuem a mesma gra-
fia ou a mesma pronúncia, mas significados diferen-
tes. Podem ser
SEMÂNTICA: SENTIDO E EMPREGO DOS
VOCÁBULOS; CAMPOS SEMÂNTICOS; A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife-
EMPREGO DE TEMPOS E MODOS DOS rentes na pronúncia:
VERBOS EM PORTUGUÊS. rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de-
nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo).

“Prezado Candidato, o tópico: Emprego de tempos B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di-
LÍNGUA PORTUGUESA

e modos dos verbos em português, será abordado na ferentes na escrita:


íntegra em: Morfologia” acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni-
zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar-
reio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço (palácio)
e passo (andar).

11
C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e cedo Exemplos de variação no significado das palavras:
(adv.); livre (adj.) e livre (verbo). Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
teral)
 Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po- Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido fi-
rém de formas relativamente próximas. São palavras gurado)
parecidas na escrita e na pronúncia: cesta (recep- Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
táculo de vime; cesta de basquete/esporte) e sesta As variações nos significados das palavras ocasionam
(descanso após o almoço), eminente (ilustre) e imi- o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
nente (que está para ocorrer), osso (substantivo) e (conotação) das palavras.
ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo “ser” no
imperativo) e cede (verbo), comprimento (medida) e A) Denotação
cumprimento (saudação), autuar (processar) e atuar Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
(agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), defe- apresenta seu significado original, independentemente
rir (atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado
soar (emitir som), aprender (conhecer) e apreender mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci-
(assimilar; apropriar-se de), tráfico (comércio ilegal) do e muitas vezes associado ao primeiro significado que
e tráfego (relativo a movimento, trânsito), mandato aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da
(procuração) e mandado (ordem), emergir (subir à palavra.
superfície) e imergir (mergulhar, afundar). A denotação tem como finalidade informar o receptor
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca-
4. Hiperonímia e Hiponímia ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor-
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi-
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”,
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô- por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe-
nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperôni- daço de madeira. Outros exemplos:
mo, mais abrangente. O elefante é um mamífero.
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipônimo, As estrelas deixam o céu mais bonito!
criando, assim, uma relação de dependência semântica. Por
exemplo: Veículos está numa relação de hiperonímia com B) Conotação
carros, já que veículos é uma palavra de significado ge- Uma palavra é usada no sentido conotativo quando
nérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é um apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in-
hiperônimo de carros. terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão
quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili- além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza-
repetição desnecessária de termos. da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pau no concurso).
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. A conotação tem como finalidade provocar sentimen-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- tos no receptor da mensagem, através da expressividade e
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa
Paulo: Saraiva, 2010. linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu-
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. blicitários, entre outros. Exemplos:
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por- Você é o meu sol!
tuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000. Minha vida é um mar de tristezas.
Você tem um coração de pedra!
SITE
LÍNGUA PORTUGUESA

http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos #FicaDica
Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo
é utilizado com o sentido que consta no
dicionário.

12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2. Polissemia e ambiguidade
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
Paulo: Saraiva, 2010. ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
SITE uma frase. Vejamos a seguinte frase:
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
cao/ temente são felizes.
Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:
POLISSEMIA As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada.
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma inter-
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra, pretação. Para fazer a interpretação correta é muito impor-
mas que abarca um grande número de significados dentro tante saber qual o contexto em que a frase é proferida.
de seu próprio campo semântico. Muitas vezes, a disposição das palavras na construção
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo perce- do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co-
bemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de algo. micidade. Repare na figura abaixo:
Possibilidades de várias interpretações levando-se em con-
sideração as situações de aplicabilidade. Há uma infinida-
de de exemplos em que podemos verificar a ocorrência da
polissemia:
O rapaz é um tremendo gato.
O gato do vizinho é peralta.
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua so-
brevivência
O passarinho foi atingido no bico.

Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de


computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em co-
mum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de (http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-ca-
“entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”, belo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014).
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
“jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, mas
formato quadriculado que têm. duas seriam:
Corte e coloração capilar
1. Polissemia e homonímia ou
Faço corte e pintura capilar
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado, Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
quando duas ou mais palavras com origens e significados reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho- Paulo: Saraiva, 2010.
monímia. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
polissemia porque os diferentes significados para a pala- SITE
LÍNGUA PORTUGUESA

vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.htm


polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto,
o texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado
indivíduo. Neste caso, os diferentes significados estão in-
terligados porque remetem para o mesmo conceito, o da
escrita.

13
1. Locução adjetiva
EXERCÍCIO COMENTADO Locução = reunião de palavras. Sempre que são neces-
sárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma coi-
1. (SUSAM-AM – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – sa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição + substanti-
FGV – 2014) “o país teve de recorrer a um programa de vo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locução Adjetiva
racionamento”. Assinale a opção que apresenta a forma de (expressão que equivale a um adjetivo). Por exemplo: aves
reescrever esse segmento, que altera o seu sentido original. da noite (aves noturnas), paixão sem freio (paixão desen-
freada).
a) O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de Observe outros exemplos:
racionamento.
b) O país teve como recurso recorrer a um programa de
racionamento. de águia aquilino
c) O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racio- de aluno discente
namento. de anjo angelical
d) O país obrigou-se a recorrer a um programa de racio-
namento. de ano anual
e) O Brasil optou por um programa de racionamento. de aranha aracnídeo

Resposta: Letra E. “o país teve de recorrer a um progra- de boi bovino


ma de racionamento”. Assinale a opção que apresenta a de cabelo capilar
forma de reescrever esse segmento, QUE ALTERA O de cabra caprino
SEU SENTIDO ORIGINAL.
Em “a”: O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de campo campestre ou rural
de racionamento = mesmo sentido. de chuva pluvial
Em “b”: O país teve como recurso recorrer a um pro-
grama de racionamento = mesmo sentido. de criança pueril
Em “c”: O Brasil foi levado a recorrer a um programa de de dedo digital
racionamento = mesmo sentido. de estômago estomacal ou gástrico
Em “d”: O país obrigou-se a recorrer a um programa de
racionamento = mesmo sentido. de falcão falconídeo
Em “e”: O Brasil optou por um programa de racionamen- de farinha farináceo
to = mudança de sentido (segundo o enunciado, o país
não teve outra opção a não ser recorrer. Na alternativa, de fera ferino
provavelmente havia outras opções, e o país escolheu a de ferro férreo
de “recorrer”).
de fogo ígneo
de garganta gutural

MORFOLOGIA: RECONHECIMENTO, de gelo glacial


EMPREGO E SENTIDO DAS CLASSES de guerra bélico
GRAMATICAIS; PROCESSOS DE FORMAÇÃO de homem viril ou humano
DE PALAVRAS; MECANISMOS DE FLEXÃO
de ilha insular
DOS NOMES E VERBOS.
de inverno hibernal ou invernal
de lago lacustre

ADJETIVO de leão leonino


de lebre l eporino
É a palavra que expressa uma qualidade ou caracterís-
de lua lunar ou selênico
tica do ser e se relaciona com o substantivo, concordando
de madeira lígneo
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com este em gênero e número.


As praias brasileiras estão poluídas. de mestre magistral
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
(plural e feminino, pois concordam com “praias”). de ouro áureo
de paixão passional
de pâncreas pancreático
de porco suíno ou porcino

14
dos quadris ciático
de rio fluvial
de sonho onírico
de velho senil
de vento eólico
de vidro vítreo ou hialino
de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico

Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª série. / O
muro de tijolos caiu.

2 Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):

O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como
adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).

3 Adjetivo Pátrio (ou gentílico)

Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense

4 Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
LÍNGUA PORTUGUESA

Espanha hispano- / Mercado hispano-português


Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas

15
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

5 Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

6. Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:
A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

7 Número dos Adjetivos

A) Plural dos adjetivos simples


Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

B) Adjetivo Composto
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último
elemento concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso um dos ele-
mentos que formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invariável. Por
exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como
adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um substantivo adjetivado, o ad-
jetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:
Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro.
Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.

Observação:
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre invariáveis:
roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos cor-de-rosa.
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois elementos flexionados: crianças surdas-mudas.
LÍNGUA PORTUGUESA

8 Grau do Adjetivo

Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: o
comparativo e o superlativo.

16
A) Comparativo
difícil - dificílimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características doce - dulcíssimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual- fácil - facílimo
dade, de superioridade ou de inferioridade.
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade fiel - fidelíssimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
quão. de um ser é intensificada em relação a um conjunto de se-
res. Essa relação pode ser:
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-  De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
rioridade todas.
 De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de Infe- todas.
rioridade
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de su- dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an-
perioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São eles: tepostos ao adjetivo.
bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior, O superlativo absoluto sintético se apresenta sob duas
grande/maior, baixo/inferior. formas: uma erudita - de origem latina – e outra popular
- de origem vernácula. A forma erudita é constituída pelo
Observe que: radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, -imo ou
 As formas menor e pior são comparativos de su- érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo; a popular é cons-
perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais tituída do radical do adjetivo português + o sufixo -íssimo:
mau, respectivamente. pobríssimo, agilíssimo.
 Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compara- com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
ções feitas entre duas qualidades de um mesmo ele- nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
mento, deve-se usar as formas analíticas mais bom, – cheíssimo.
mais mau,mais grande e mais pequeno. Por exemplo:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele- Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
mentos. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de Paulo: Saraiva, 2010.
duas qualidades de um mesmo elemento. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe- coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
rioridade Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
Sou menos passivo (do) que tolerante. / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

B) Superlativo SITE
O superlativo expressa qualidades num grau muito ele- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32.
vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e php
apresenta as seguintes modalidades:
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade
de um ser é intensificada, sem relação com outros seres. ADVÉRBIO
Apresenta-se nas formas:
 Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de Compare estes exemplos:
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). O ônibus chegou.
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado. O ônibus chegou ontem.
 Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo. Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen-
LÍNGUA PORTUGUESA

Observe alguns superlativos sintéticos: tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo,


de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio
advérbio.
benéfico - beneficentíssimo Estudei bastante. = modificando o verbo estudei
bom - boníssimo ou ótimo Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
(bem)
comum - comuníssimo
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje-
cruel - crudelíssimo tivo (claros)

17
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen- noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
tar ideia de: quando em quando, a qualquer momento, de tempos
Tempo: Ela chegou tarde. em tempos, em breve, hoje em dia.
Lugar: Ele mora aqui. C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depres-
Modo: Eles agiram mal. sa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às
Negação: Ela não saiu de casa. cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos,
Dúvida: Talvez ele volte. desse jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, fren-
te a frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão e a maior
1. Flexão do Advérbio parte dos que terminam em “-mente”: calmamente,
tristemente, propositadamente, pacientemente, amo-
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- rosamente, docemente, escandalosamente, bondosa-
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, mente, generosamente.
porém, admitem a variação em grau. Observe: D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efe-
tivamente, certo, decididamente, deveras, indubitavel-
A) Grau Comparativo mente.
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
que o comparativo do adjetivo: de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
 de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel-
nato fala tão alto quanto João. mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem
 de inferioridade: menos + advérbio + que (do que): sabe.
Renato fala menos alto do que João. G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
 de superioridade: bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tan-
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato to, assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, qua-
fala mais alto do que João. se, de todo, de muito, por completo, extremamente,
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala intensamente, grandemente, bem (quando aplicado a
melhor que João. propriedades graduáveis).
H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
B) Grau Superlativo mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
O superlativo pode ser analítico ou sintético: Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também.
fala muito alto. Por exemplo: O indivíduo também amadurece duran-
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de te a adolescência.
modo J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala altís- exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
simo. aos meus amigos por comparecerem à festa.

Observação: Saiba que:


As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são co- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
muns na língua popular. ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
Maria mora pertinho daqui. (muito perto) o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
A criança levantou cedinho. (muito cedo) tarde possível.

2. Classificação dos Advérbios Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,


em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio calma e respeitosamente.
pode ser de:
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, 3. Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido
atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto,
aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte, Há palavras como muito, bastante, que podem aparecer
nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, aquém, como advérbio e como pronome indefinido.
embaixo, externamente, à distância, à distância de,
LÍNGUA PORTUGUESA

de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
lado, em volta. advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constante-
mente, entrementes, imediatamente, primeiramente,
provisoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à

18
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
#FicaDica adverbial desempenham na oração a função de adjunto
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
Como saber se a palavra bastante é advérbio cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefi- Exemplo:
nido (varia, sofre flexão)? Se der, na frase, para Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
substituir o “bastante” por “muito”, estamos verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
diante de um advérbio; se der para substituir Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensida-
por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: de e de tempo, respectivamente.
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
(estudei muitos capítulos) = pronome indefini- reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
do Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
4. Advérbios Interrogativos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes SITE
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
php
Interrogação Direta Interrogação Indireta
Artigo
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
-se como o termo variável que serve para individualizar ou
Por que choras? Não sei por que choras. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Aonde vai? Perguntei aonde ia. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
Donde vens? Pergunto donde vens.
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
Quando voltas? Pergunto quando voltas. “uma”[s] e “uns]).

5. Locução Adverbial A) Artigos definidos – São usados para indicar seres


determinados, expressos de forma individual: O con-
Quando há duas ou mais palavras que exercem função curseiro estuda muito. Os concurseiros estudam mui-
de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres- to.
sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria- B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
mente por uma preposição. Veja: modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprovada!
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para Umas candidatas foram aprovadas!
dentro, por aqui, etc.
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc. 1. Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
geral, frente a frente, etc. Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do nu-
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, meral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo.
hoje em dia, nunca mais, etc. Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo, o admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
adjetivo e outro advérbio: Janeiro, Veneza, A Bahia...
Chegou muito cedo. (advérbio) Quando indicado no singular, o artigo definido pode
Joana é muito bela. (adjetivo) indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
De repente correram para a rua. (verbo)
LÍNGUA PORTUGUESA

No caso de nomes próprios personativos, denotando a


Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O Pedro é
Essa matéria é mais bem interessante que aquela. o xodó da família.
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso! No caso de os nomes próprios personativos estarem no
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advérbio: plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias, os
Cheguei primeiro. Incas, Os Astecas...

19
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) 1. Morfossintaxe da Conjunção
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados.
(qualquer classe) 2. Classificação da Conjunção

Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
de aproximação numérica: O máximo que ele deve ter é uns pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
vinte anos. lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
O artigo também é usado para substantivar palavras sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o porquê caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de-
de tudo isso. / O bem vence o mal. pende da existência do outro. Veja:
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
2. Há casos em que o artigo definido não pode ser Podemos separá-las por ponto:
usado: Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas co-
nhecidas: O professor visitará Roma. Temos acima um exemplo de conjunção (e, consequen-
temente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”. Já em:
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre- Espero que eu seja aprovada no concurso!
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
Roma. a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria sairá mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
agora? (ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
Exceção: O senhor vai à festa? principal).

Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse é 3. Conjunções Coordenativas


o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o candidato
cuja nota foi a mais alta. São aquelas que ligam orações de sentido completo e
independente ou termos da oração que têm a mesma fun-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ção gramatical. Subdividem-se em:
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
Paulo: Saraiva, 2010. não), não só... mas também, não só... como também,
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação bem como, não só... mas ainda.
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCONI, A sua pesquisa é clara e objetiva.
Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Não só dança, mas também canta.
Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São pressando ideia de contraste ou compensação. São
Paulo: Saraiva, 2010. elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no en-
tanto, não obstante.
SITE Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.
http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm

C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan-


CONJUNÇÃO do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos
que se realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou,
LÍNGUA PORTUGUESA

Além da preposição, há outra palavra também invariá- ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
vel que, na frase, é usada como elemento de ligação: a con- Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
junção. Ela serve para ligar duas orações ou duas palavras
de mesma função em uma oração: D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e que expressa ideia de conclusão ou consequência.
São Paulo. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. conseguinte, por isso, assim.

20
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não
ficou nervosa. #FicaDica
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
Você deve ter percebido que a conjunção con-
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração dicional “se” também é conjunção integrante.
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São A diferença é clara ao ler as orações que são
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. introduzidas por ela. Acima, ela nos dá a ideia
Não demore, que o filme já vai começar. da condição para que recebamos um telefo-
Falei muito, pois não gosto do silêncio! nema (se for preciso ajuda). Já na oração: Não
sei se farei o concurso. Não há ideia de
4. Conjunções Subordinativas condição alguma, há? Outra coisa: o verbo da
oração principal (sei) pede complemento (ob-
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas jeto direto, já que “quem não sabe, não sabe
dependente da outra. A oração dependente, introduzida algo”). Portanto, a oração em destaque exerce
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora- a função de objeto direto da oração principal,
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado sendo classificada como oração subordinada
quando ela chegou. substantiva objetiva direta.
O baile já tinha começado: oração principal
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal)
ela chegou: oração subordinada D) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
me a conformidade de um fato com outro. São elas:
As conjunções subordinativas subdividem-se em inte- conforme, como (= conforme), segundo, consoante,
grantes e adverbiais: etc.
O passeio ocorreu como havíamos planejado.
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
elas introduzida completa ou integra o sentido da princi- E) Finais: introduzem uma oração que expressa a finali-
pal. Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou dade ou o objetivo com que se realiza a oração prin-
seja, as orações subordinadas substantivas. São elas: que, cipal. São elas: para que, a fim de que, que, porque (=
se. para que), que, etc.
Quero que você volte. (Quero sua volta) Toque o sinal para que todos entrem no salão.

Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exerce F) Proporcionais: introduzem uma oração que expres-
a função de adjunto adverbial da principal. De acordo com sa um fato relacionado proporcionalmente à ocor-
a circunstância que expressam, classificam-se em: rência do expresso na principal. São elas: à medida
que, à proporção que, ao passo que e as combina-
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da ções quanto mais... (mais), quanto menos... (menos),
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, quanto menos... (mais), quanto menos... (menos), etc.
como (= porque, no início da frase), pois que, visto O preço fica mais caro à medida que os produtos escas-
que, uma vez que, porquanto, já que, desde que, etc. seiam.
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
Observação:
B) Concessivas: introduzem uma oração que expressa São incorretas as locuções proporcionais à medida em
ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impe- que, na medida que e na medida em que.
dir sua realização. São elas: embora, ainda que, ape-
sar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
posto que, conquanto, etc. ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo. oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica a que, sempre que, assim que, agora que, mal (= assim
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. que), etc.
São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser A briga começou assim que saímos da festa.
LÍNGUA PORTUGUESA

que, desde que, a menos que, sem que, etc.


Se precisar de minha ajuda, telefone-me. H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
pressa ideia de comparação com referência à oração
principal. São elas: como, assim como, tal como, como
se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do que,
quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (combinado
com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.

21
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de puxa: interjeição; tom da fala: decepção
modo que, sem que (= que não), de forma que, de jeito
que, que (tendo como antecedente na oração principal As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
uma palavra como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interessante!
exame. B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da mi-
nha frente.
FIQUE ATENTO!
As interjeições podem ser formadas por:
Muitas conjunções não têm classificação única,  simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
imutável, devendo, portanto, ser classificadas  palavras: Oba! Olá! Claro!
de acordo com o sentido que apresentam no  grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!
contexto (destaque da Zê!). Ora bolas!

1. Classificação das Interjeições


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- Comumente, as interjeições expressam sentido de:
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Atenção! Olha! Alerta!
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
Paulo: Saraiva, 2010. C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
SITE F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.php G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente!
Essa não! Chega! Basta!
NTERJEIÇÃO I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira
Deus!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emoções, J) Desculpa: Perdão!
sensações, estados de espírito. É um recurso da linguagem K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
afetiva, em que não há uma ideia organizada de maneira L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
lógica, como são as sentenças da língua, mas sim a ma- M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
nifestação de um suspiro, um estado da alma decorrente Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
de uma situação particular, um momento ou um contexto N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa!
específico. Exemplos: Pô! Ora!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
O significado das interjeições está vinculado à maneira
como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti- Saiba que:
do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
for utilizada. Exemplos: frem variação em gênero, número e grau como os nomes,
nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz
Psiu! como os verbos. No entanto, em uso específico, algumas
contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua; interjeições sofrem variação em grau. Não se trata de um
significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando! processo natural desta classe de palavra, mas tão só uma
LÍNGUA PORTUGUESA

Ei, espere!” variação que a linguagem afetiva permite. Exemplos: oizi-


Psiu! nho, bravíssimo, até loguinho.
contexto: alguém pronunciando em um hospital; signi-
ficado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!” 2. Locução Interjetiva

Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
puxa: interjeição; tom da fala: euforia expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!

22
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama- 1. Classificação dos Numerais
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
-me Deus!, Quem me dera! da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais
têm sentido coletivo, como por exemplo: século, par,
1. As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. dúzia, década, bimestre.
Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por essa!) / B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe) ou alguma coisa ocupa numa determinada sequên-
cia: primeiro, segundo, centésimo, etc.
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras
classes gramaticais podem aparecer como interjei- #FicaDica
ções. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! Fran-
As palavras anterior, posterior, último, antepe-
camente! (Advérbios)
núltimo, final e penúltimo também indicam
posição dos seres, mas são classificadas como
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-fra-
adjetivos, não ordinais.
se” porque sozinha pode constituir uma mensagem.
Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique
quieto!
C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi- seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos,
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: etc.
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta- D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
que! Quá-quá-quá!, etc. dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi
aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, ale- 2. Flexão dos numerais
gria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!”
exclamativo e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du-
(Olavo Bilac) zentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/quatro-
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- são invariáveis.
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Os numerais ordinais variam em gênero e número:
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa primeiro segundo milésimo
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
primeira segunda milésima
SITE primeiros segundos milésimos
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
php primeiras segundas milésimas

Os numerais multiplicativos são invariáveis quando


NUMERAL atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço
e conseguiram o triplo de produção.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade numé- Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
rica ou ordem; expressa a quantidade exata de pessoas ou coi- flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri-
sas ou o lugar que elas ocupam numa determinada sequência. plas do medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e nú-
Os numerais traduzem, em palavras, o que os números mero. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas
terças partes.
LÍNGUA PORTUGUESA

indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão


é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se trata de nu-
merais, mas sim de algarismos. Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala- É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
vras consideradas numerais porque denotam quantidade, nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década, sentido. É o que ocorre em frases como:
dúzia, par, ambos(as), novena. “Me empresta duzentinho...”

23
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

3. Emprego e Leitura dos Numerais

Os numerais são escritos em conjunto de três algarismos, contados da direita para a esquerda, em forma de cente-
nas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma separação através de ponto ou espaço correspondente a um ponto:
8.234.456 ou 8 234 456.
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem conhecida
como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos e
noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos reais.
(R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo
e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma e
outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua utilização
exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é dispensado
caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
LÍNGUA PORTUGUESA

dois segundo dobro, duplo meio


três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto

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sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÍNGUA PORTUGUESA

SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

25
PREPOSIÇÃO Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição é uma palavra invariável que serve para Irei à festa sozinha.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é artigo;
normalmente há uma subordinação do segundo termo em o segundo, preposição.
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com- apostila. = Nós a trouxemos.
preensão do texto.
2. Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas
1. Tipos de Preposição por meio das preposições:

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclu- Destino = Irei a Salvador.


sivamente como preposições: a, ante, perante, após, Modo = Saiu aos prantos.
até, com, contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, Lugar = Sempre a seu lado.
sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com. Assunto = Falemos sobre futebol.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes Tempo = Chegarei em instantes.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou Causa = Chorei de saudade.
seja, formadas por uma derivação imprópria: como, Fim ou finalidade = Vim para ficar.
durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, Instrumento = Escreveu a lápis.
visto. Posse = Vi as roupas da mamãe.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valen- Autoria = livro de Machado de Assis
do como uma preposição, sendo que a última pala- Companhia = Estarei com ele amanhã.
vra é uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima Matéria = copo de cristal.
de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima Meio = passeio de barco.
de, embaixo de, em frente a, ao redor de, graças a, Origem = Nós somos do Nordeste.
junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por Conteúdo = frascos de perfume.
trás de. Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
A preposição é invariável e, no entanto, pode unir-se a
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas locu-
nero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + a = ções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução prepo-
pela. sitiva por trás de.
Essa concordância não é característica da preposição,
mas das palavras às quais ela se une. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Esse processo de junção de uma preposição com outra SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavra pode se dar a partir dos processos de: coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
 Combinação: união da preposição “a” com o artigo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
vocábulos não sofrem alteração. Paulo: Saraiva, 2010.
 Contração: união de uma preposição com outra pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
de + o = do, em + a = na, per + os = pelos, de +
aquele = daquele, em + isso = nisso. SITE
 Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposi- http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
ção + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal
do pronome “aquilo”).
SUBSTANTIVO

#FicaDica Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis,


as quais denominam todos os seres que existem, sejam
O “a” pode funcionar como preposição, prono-
LÍNGUA PORTUGUESA

reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme-


me pessoal oblíquo e artigo. Como distingui- nos, os substantivos também nomeiam:
-los? Caso o “a” seja um artigo, virá preceden-  lugares: Alemanha, Portugal
do um substantivo, servindo para determiná-lo  sentimentos: amor, saudade
como um substantivo singular e feminino: A  estados: alegria, tristeza
matéria que estudei é fácil!  qualidades: honestidade, sinceridade
 ações: corrida, pescaria

26
1. Morfossintaxe do substantivo  Substantivos Coletivos

Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra
diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo abelha, mais outra abelha.
do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcio- Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
nar como núcleo do complemento nominal ou do aposto,
como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos ad- mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
verbiais - quando essas funções são desempenhadas por palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan-
grupos de palavras. tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de
seres da mesma espécie (abelhas).
2. Classificação dos Substantivos O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, mes-
A) Substantivos Comuns e Próprios mo estando no singular, designa um conjunto de seres da
Observe a definição: mesma espécie.

Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas ca- Substantivo coletivo Conjunto de:
sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em assembleia pessoas reunidas
oposição aos bairros). alcateia lobos
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada acervo livros
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo antologia trechos literários selecionados
comum. arquipélago ilhas
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino, banda músicos
homem, mulher, país, cachorro. bando desordeiros ou malfeitores
Estamos voando para Barcelona.
banca examinadores
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es- batalhão soldados
pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
cardume peixes
que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
B) Substantivos Concretos e Abstratos
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser cancioneiro canções, poesias líricas
que existe, independentemente de outros seres. colmeia abelhas
concílio bispos
Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo congresso parlamentares, cientistas
real e do mundo imaginário. elenco atores de uma peça ou filme
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Brasília. esquadra navios de guerra
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas- enxoval roupas
ma.
falange soldados, anjos
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres fauna animais de uma região
que dependem de outros para se manifestarem ou existi- feixe lenha, capim
rem. Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode
flora vegetais de uma região
LÍNGUA PORTUGUESA

ser observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa


ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser para frota navios mercantes, ônibus
se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um substantivo
girândola fogos de artifício
abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- horda bandidos, invasores
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser junta médicos, bois, credores, exa-
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado), minadores
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento).

27
júri jurados 4. Flexão dos substantivos

legião soldados, anjos, demônios O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
leva presos, recrutas vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
malta malfeitores ou desordeiros Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: me-
manada búfalos, bois, elefantes, ninão / Diminutivo: menininho
matilha cães de raça
A) Flexão de Gênero
molho chaves, verduras Gênero é um princípio puramente linguístico, não de-
multidão pessoas em geral vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram
nuvem insetos (gafanhotos, mosqui- a seres animais providos de sexo, quer designem apenas
tos, etc.) “coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
penca bananas, chaves Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e fe-
minino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
pinacoteca pinturas, quadros que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja
quadrilha ladrões, bandidos estes títulos de filmes:
O velho e o mar
ramalhete flores Um Natal inesquecível
rebanho ovelhas Os reis da praia
repertório peças teatrais, obras musicais
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que po-
réstia alhos ou cebolas dem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
romanceiro poesias narrativas A história sem fim
Uma cidade sem passado
revoada pássaros As tartarugas ninjas
sínodo párocos
5. Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
talha lenha
tropa muares, soldados 1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam
turma estudantes, trabalhadores uma forma para cada gênero: gato – gata, homem –
mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
vara porcos 2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
forma, que serve tanto para o masculino quanto para
3. Formação dos Substantivos o feminino. Classificam-se em:
A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
A) Substantivos Simples e Compostos se faz mediante a utilização das palavras “macho” e
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré ma-
terra. cho e o jacaré fêmea.
O substantivo chuva é formado por um único elemento B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
ou radical. É um substantivo simples. pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha,
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
único elemento. C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: indi-
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja cam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por Substantivos de origem grega terminados em ema ou
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, pas- oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o sin-
satempo. toma, o teorema.

B) Substantivos Primitivos e Derivados  Existem certos substantivos que, variando de gê-


LÍNGUA PORTUGUESA

B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nero, variam em seu significado:
nenhuma outra palavra da própria língua portugue- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
sa. (líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e a
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origina de capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (cabelei-
outra palavra. O substantivo limoeiro, por exemplo, é ra, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de aumento);
derivado, pois se originou a partir da palavra limão. o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão); o
praça (soldado raso) e a praça (área pública); o rádio (apa-
relho receptor) e a rádio (estação emissora).

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6. Formação do Feminino dos Substantivos Biformes o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu
Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno -
aluna. 9. Comuns de Dois Gêneros:
 Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
masculino: freguês - freguesa
 Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
de três formas: É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã A distinção de gênero pode ser feita através da análise
3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti-
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão - sul- vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem
tana - uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran-
cês - repórter francesa.
 Substantivos terminados em -or:
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora A palavra personagem é usada indistintamente nos dois
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz gêneros. Entre os escritores modernos nota-se acentuada
 Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn- preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / os personagens dos contos de carochinha.
duque - duquesa / conde - condessa / profeta - pro- Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino: O
fetisa problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
 Substantivos que formam o feminino trocando o -e a personagem.
final por -a: elefante - elefanta
 Substantivos que têm radicais diferentes no masculi- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo fo-
no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca tográfico Ana Belmonte.
 Substantivos que formam o feminino de maneira
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras an- Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó )
teriores: czar – czarina, réu - ré pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o ma-
racajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o pro-
7. Formação do Feminino dos Substantivos Unifor- clama, o pernoite, o púbis.
mes
Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
Epicenos: cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).

Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso São geralmente masculinos os substantivos de origem
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilograma, o
para indicar o masculino e o feminino. plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o telefonema,
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o eczema, o
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha- edema, o magma, o estigma, o axioma, o tracoma, o hema-
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver toma.
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
macho e fêmea.
A cobra macho picou o marinheiro. Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exceções,
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro Preto. /
A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Alegre. / Uma
8. Sobrecomuns: Londres imensa e triste.
Entregue as crianças à natureza. Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.

A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- 10. Gênero e Significação
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem
LÍNGUA PORTUGUESA

o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o Muitos substantivos, como já mencionado anterior-
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: mente, têm uma significação no masculino e outra no fe-
A criança chorona chamava-se João. minino. Observe: o baliza (soldado que à frente da tropa,
A criança chorona chamava-se Maria. indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o
que vai à frente de um bloco carnavalesco, manejando um
Outros substantivos sobrecomuns: bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte
criatura. do corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma

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(ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (cidade),
o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra venenosa), o
crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento da confirmação), o
cura (pároco), a cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que
guia outras), a guia (documento, pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun-
cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o moral (ânimo),
a moral (honestidade, bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem
como locomotiva a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a pala (parte anterior do boné ou
quepe, anteparo), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador), a voga (moda).

B) Flexão de Número do Substantivo

Em português, há dois números gramaticais: o singular, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que indica
mais de um ser ou grupo de seres. A característica do plural é o “s” final.

11. Plural dos Substantivos Simples

Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – ímãs;
hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones.

Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em “ns”: homem - homens.


Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.

Atenção:
O plural de caráter é caracteres.

Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; caracol –
caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas maneiras:
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.

Observação:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).

Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas maneiras:


1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.

Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural de três maneiras.


1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos

Observação:
Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam dois – e até três – plurais:
aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião – anciões/anciães/anciãos
charlatão – charlatões/charlatães corrimão – corrimãos/corrimões
guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/vilões/vilães
LÍNGUA PORTUGUESA

Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o látex - os látex.

12. Plural dos Substantivos Compostos

A formação do plural dos substantivos compostos depende da forma como são grafados, do tipo de palavras que
formam o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se como os
substantivos simples: aguardente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmequeres.

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O plural dos substantivos compostos cujos elementos 15. Plural dos Diminutivos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir: Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final
A) Flexionam-se os dois elementos, quando forma- e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
dos de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores pãe(s) + zinhos = pãezinhos
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
feitos animai(s) + zinhos = animaizinhos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens botõe(s) + zinhos = botõezinhos
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
B) Flexiona-se somente o segundo elemento, quan- farói(s) + zinhos = faroizinhos
do formados de: tren(s) + zinhos = trenzinhos
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al- colhere(s) + zinhas = colherezinhas
to-falantes flore(s) + zinhas = florezinhas
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
mão(s) + zinhas = mãozinhas
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quan- papéi(s) + zinhos = papeizinhos
do formados de: nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
substantivo + preposição clara + substantivo = água-
-de-colônia e águas-de-colônia funi(s) + zinhos = funizinhos
substantivo + preposição oculta + substantivo = cava- túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
lo-vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como determi- pai(s) + zinhos = paizinhos
nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do pé(s) + zinhos = pezinhos
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re- pé(s) + zitos = pezitos
lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
da - peixes-espada.
16. Plural dos Nomes Próprios Personativos
D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
sempre que a terminação preste-se à flexão.
ca-rolhas
Os Napoleões também são derrotados.
As Raquéis e Esteres.
13. Casos Especiais
17. Plural dos Substantivos Estrangeiros
o louva-a-deus e os louva-a-deus
o bem-te-vi e os bem-te-vis Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es-
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exce-
o bem-me-quer e os bem-me-queres to quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os
o joão-ninguém e os joões-ninguém. jazz.
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor-
14. Plural das Palavras Substantivadas do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré-
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras quiens.
classes gramaticais usadas como substantivo apresentam, Observe o exemplo:
no plural, as flexões próprias dos substantivos. Este jogador faz gols toda vez que joga.
Pese bem os prós e os contras. O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
O aluno errou na prova dos noves.
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos. 18. Plural com Mudança de Timbre
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: Certos substantivos formam o plural com mudança de


Numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos seis fonético chamado metafonia (plural metafônico).
e alguns dez.

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Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
Singular Plural
cador de diminuição. Por exemplo: casinha.
corpo (ô) corpos (ó)
esforço esforços REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
fogo fogos coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
forno fornos Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
fosso fossos
Paulo: Saraiva, 2010.
imposto impostos CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
olho olhos Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
osso (ô) ossos (ó) São Paulo: Saraiva, 2002.
ovo ovos
SITE
poço poços
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.
porto portos php
posto postos
tijolo tijolos PRONOME
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol- Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc. panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
forma.
Observação: O homem julga que é superior à natureza, por isso o ho-
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de mo- mem destrói a natureza...
lho (ó) = feixe (molho de lenha). Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é
superior à natureza, por isso ele a destrói...
Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos
norte, o leste, o oeste, a fé, etc. (homem e natureza).
Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames, Grande parte dos pronomes não possuem significados
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro
Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do sin- de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên-
gular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade, cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos
bom nome) e honras (homenagem, títulos). pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas com nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes
sentido de plural: têm por função principal apontar para as pessoas do dis-
Aqui morreu muito negro. curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica,
improvisadas. os pronomes apresentam uma forma específica para cada
pessoa do discurso.
C) Flexão de Grau do Substantivo Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em: [tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se
1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera- fala]
do normal. Por exemplo: casa A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho [dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem
do ser. Classifica-se em: se fala]
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
LÍNGUA PORTUGUESA

tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande. Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi- variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme-
cador de aumento. Por exemplo: casarão. ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência
através do pronome seja coerente em termos de gênero
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
do ser. Pode ser: mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado.
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos-
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena. sa escola neste ano.

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[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância Observação:
adequada] O pronome oblíquo é uma forma variante do pronome
[neste: pronome que determina “ano” = concordância pessoal do caso reto. Essa variação indica a função diversa
adequada] que eles desempenham na oração: pronome reto marca o
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento
dância inadequada] da oração. Os pronomes oblíquos sofrem variação de acor-
do com a acentuação tônica que possuem, podendo ser
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, átonos ou tônicos.
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
2. Pronome Oblíquo Átono
1. Pronomes Pessoais São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
São aqueles que substituem os substantivos, indicando fraca: Ele me deu um presente.
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes Lista dos pronomes oblíquos átonos
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- 1.ª pessoa do singular (eu): me
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à 2.ª pessoa do singular (tu): te
pessoa ou às pessoas de quem se fala. 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto 2.ª pessoa do plural (vós): vos
ou do caso oblíquo. 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

A) Pronome Reto
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten- FIQUE ATENTO!
ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores. Os pronomes o, os, a, as assumem formas es-
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê- peciais depois de certas terminações verbais:
nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o
principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao
Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi- mesmo tempo que a terminação verbal é su-
gurado: primida. Por exemplo:
fiz + o = fi-lo
1.ª pessoa do singular: eu fazeis + o = fazei-lo
2.ª pessoa do singular: tu dizer + a = dizê-la
3.ª pessoa do singular: ele, ela
1.ª pessoa do plural: nós 2. Quando o verbo termina em som nasal, o
2.ª pessoa do plural: vós pronome assume as formas no, nos, na, nas.
3.ª pessoa do plural: eles, elas Por exemplo:
viram + o: viram-no
Esses pronomes não costumam ser usados como com- repõe + os = repõe-nos
plementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi ele retém + a: retém-na
na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”- tem + as = tem-nas
comuns na língua oral cotidiana - devem ser evitadas na
língua formal escrita ou falada. Na língua formal, devem
ser usados os pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na B.2 Pronome Oblíquo Tônico
rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-me até aqui”. Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com.
Frequentemente observamos a omissão do pronome Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
formas verbais marcam, através de suas desinências, as forte.
pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos Lista dos pronomes oblíquos tônicos:
boa viagem. (Nós) 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
LÍNGUA PORTUGUESA

2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo


B) Pronome Oblíquo 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
tença, exerce a função de complemento verbal (objeto 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto) 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas

33
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Guilher-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As me já se preparou.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
As preposições essenciais introduzem sempre prono-
mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
língua formal, os pronomes costumam ser usados desta 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
forma: com esta conquista.
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
Não há nenhuma acusação contra mim. conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
Não vá sem mim.
#FicaDica
Há construções em que a preposição, apesar de surgir
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração O pronome é reflexivo quando se refere à mes-
cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ma pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu
ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pronome, deve- me arrumei e saí.
rá ser do caso reto. É pronome recíproco quando indica recipro-
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. cidade de ação: Nós nos amamos. / Olhamo-
Não vá sem eu mandar. -nos calados.
O “se” pode ser usado como palavra expletiva
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!” ou partícula de realce, sem ser rigorosamente
está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”. necessária e sem função sintática: Os explora-
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para dores riam-se de suas tentativas. / Será que eles
mim! se foram?

A combinação da preposição “com” e alguns pronomes


originou as formas especiais comigo, contigo, consigo, co-
C) Pronomes de Tratamento
nosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequen-
São pronomes utilizados no tratamento formal, cerimo-
temente exercem a função de adjunto adverbial de compa-
nioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portanto,
nhia: Ele carregava o documento consigo. a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pessoa.
Alguns exemplos:
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: Ela Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
veio até mim, mas nada falou. Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na sos em geral
prova, até eu! (= inclusive eu) Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais,
“com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são governadores, secretários de Estado, presidente da Repú-
reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios, to- blica (sempre por extenso)
dos, ambos ou algum numeral. Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universidades
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
Estávamos com vós outros quando chegaram as más no- Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
tícias. até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
Ele disse que iria com nós três. igual categoria
Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes
3. Pronome Reflexivo de direito
São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio- Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento ce-
nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito rimonioso
LÍNGUA PORTUGUESA

da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
expressa pelo verbo. Também são pronomes de tratamento o senhor, a senho-
Lista dos pronomes reflexivos: ra e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados
1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me lem- no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento
bro disso. familiar. Você e vocês são largamente empregados no portu-
guês do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é de uso fre-
2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo. quente; em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso
restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou literária.

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Observações: plural segunda vosso(s), vossa(s)
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados plural terceira seu(s), sua(s)
em relação à pessoa com quem falamos: Espero que
V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro. Note que:
A forma do possessivo depende da pessoa gramatical a
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito que se refere; o gênero e o número concordam com o objeto
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, momento difícil.
agiu com propriedade.
3. Os pronomes de tratamento representam uma forma Observações:
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resultar
Ao tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por da alteração fonética da palavra senhor: Muito obri-
exemplo, estamos nos endereçando à excelência que gado, seu José.
esse deputado supostamente tem para poder ocupar
o cargo que ocupa. 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
se. Podem ter outros empregos, como:
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2.ª A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
pessoa, toda a concordância deve ser feita com a B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi- anos.
vos e os pronomes oblíquos empregados em relação C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem lá
a eles devem ficar na 3.ª pessoa. seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promes-
sas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Exce-
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos lência trouxe sua mensagem?
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar,
ao longo do texto, a pessoa do tratamento escolhida 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos a concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros
chamar alguém de “você”, não poderemos usar “te” e anotações.
ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na ter-
ceira pessoa. 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou se-
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos guir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
teus cabelos. (errado)
6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular para que não ocorra redundância: Coloque tudo nos
ou respectivos lugares.

Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos 5. Pronomes Demonstrativos


teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
São utilizados para explicitar a posição de certa palavra
4. Pronomes Possessivos em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical A) Em relação ao espaço:
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da pes-
(coisa possuída). soa que fala:
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do Este material é meu.
singular)
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da pes-
LÍNGUA PORTUGUESA

soa com quem se fala:


NÚMERO PESSOA PRONOME
Esse material em sua carteira é seu?
singular primeira meu(s), minha(s)
singular segunda teu(s), tua(s) Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis-
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem
singular terceira seu(s), sua(s) se fala:
plural primeira nosso(s), nossa(s) Aquele material não é nosso.
Vejam aquele prédio!

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B) Em relação ao tempo:  semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em  tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
relação à pessoa que fala:
Esta manhã farei a prova do concurso! 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, porém então: este solteiro, aquele casado) - este se refere à
relativamente próximo à época em que se situa a pessoa pessoa mencionada em último lugar; aquele, à men-
que fala: cionada em primeiro lugar.
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamento irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
no tempo, referido de modo vago ou como tempo remoto:
Naquele tempo, os professores eram valorizados. 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste,
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fa- desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava
lará ou escreverá): vendo. (no = naquilo)
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer fa-
zer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará: 6. Pronomes Indefinidos
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância. São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso,
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan-
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende tidade indeterminada.
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais desejamos! -plantadas.
Este e aquele são empregados quando se quer fazer
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
termo referido em primeiro lugar e este para o referido por
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
último:
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
aquele [Palmeiras])
lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres
ou na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, bel-
trano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo; Algo o incomoda?
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo], Quem avisa amigo é.
aquele [Palmeiras])
B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quan-
invariáveis, observe: tidade aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque- Cada povo tem seus costumes.
la(s). Certas pessoas exercem várias profissões.
Invariáveis: isto, isso, aquilo. Note que:
Também aparecem como pronomes demonstrativos: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora prono-
 o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” mes indefinidos adjetivos:
e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
aquilo. demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
indiquei.) tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
LÍNGUA PORTUGUESA

Menos palavras e mais ações.


 mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): va- Alguns se contentam pouco.
riam em gênero quando têm caráter reforçativo:
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
Eu mesma refiz os exercícios. riáveis e invariáveis. Observe:
Elas mesmas fizeram isso.  Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco,
Eles próprios cozinharam. vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda,
Os próprios alunos resolveram o problema. muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer,

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quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas, todas, muitas,
poucas, várias, tantas, outras, quantas.
 Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo, cada.

*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo querer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plural é feito
em seu interior).
Todo e toda no singular e junto de artigo significa inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Trabalho todo dia. (= todos os dias)

São locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem
for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
Cada um escolheu o vinho desejado.

7. Pronomes Relativos

São aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as ora-
ções subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = oração subordinada adjetiva).

O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “siste-
ma” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as.
Não sei o que você está querendo dizer.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem expresso.
Quem casa, quer casa.

Observe:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.

Note que:
O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído
por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais)

As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente para
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles
são usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: Regressando
de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria ambiguidade.
Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou encantado: o sítio
ou minha tia?).
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-se o qual
/ a qual)
LÍNGUA PORTUGUESA

O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou de
ser poeta, que era a sua vocação natural.

O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o consequente (o
ser possuído, com o qual concorda em gênero e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo” equivale a do
qual, da qual, dos quais, das quais.
Existem pessoas cujas ações são nobres.

37
(antecedente) (consequente)

Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pronome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-se a)

“Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
Emprestei tantos quantos foram necessários.
(antecedente)
Ele fez tudo quanto havia falado.
(antecedente)

O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre precedido de preposição.


É um professor a quem muito devemos.
(preposição)

“Onde”, como pronome relativo, sempre possui antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A casa onde
morava foi assaltada.

Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em que: Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.

Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:


 como (= pelo qual) – desde que precedida das palavras modo, maneira ou forma:
Não me parece correto o modo como você agiu semana passada.

 quando (= em que) – desde que tenha como antecedente um nome que dê ideia de tempo:
Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.

Os pronomes relativos permitem reunir duas orações numa só frase.


O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste esporte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de gente que
conversava, (que) ria, observava.

8. Pronomes Interrogativos

São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, refe-
rem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e
variações).
Com quem andas?
Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.

O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quan-
do desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia lhe ajudar.

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto.
Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a
LÍNGUA PORTUGUESA

segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).

Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, diferen-
temente dos segundos, que são sempre precedidos de preposição.
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava fazendo.
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu estava fazendo.

38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o material
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. amanhã. / Tu sabes cantar?
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do ver-
Paulo: Saraiva, 2010. bo. A mesóclise é usada:
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Quando o verbo estiver no futuro do presente ou futuro
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, do pretérito, contanto que esses verbos não estejam pre-
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira cedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos: Reali-
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – zar-se-á, na próxima semana, um grande evento em prol da
São Paulo: Saraiva, 2002. paz no mundo.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “reali-
SITE zará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma pa-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. lavra que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria.
php Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
9. Colocação Pronominal
(com presença de palavra que justifique o uso de prócli-
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos se: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanharia
pronomes oblíquos átonos na frase. nessa viagem).

Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A


ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
#FicaDica possíveis:
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun-  Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
ção de complemento verbal (objeto). Por isso, Quando eu avisar, silenciem-se todos.
memorize:  Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
OBlíquo = OBjeto! era minha intenção machucá-la.
 Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
inicia período com pronome oblíquo).
Vou-me embora agora mesmo.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- Levanto-me às 6h.
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de-  Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
vem ser observadas na linguagem escrita. no concurso, mudo-me hoje mesmo!
 Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A posta fazendo-se de desentendida.
próclise é usada:
10. Colocação pronominal nas locuções verbais
 Quando o verbo estiver precedido de palavras
que atraem o pronome para antes do verbo. São elas:  Após verbo no particípio = pronome depois do ver-
A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, bo auxiliar (e não depois do particípio):
jamais, etc.: Não se desespere! Tenho me deliciado com a leitura!
B) Advérbios: Agora se negam a depor. Eu tenho me deliciado com a leitura!
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem Eu me tenho deliciado com a leitura!
tudo!  Não convém usar hífen nos tempos compostos e
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- nas locuções verbais:
forçou. Vamos nos unir!
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- Iremos nos manifestar.
dade.  Quando há um fator para próclise nos tempos com-
LÍNGUA PORTUGUESA

F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pro-
nome oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos
 Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem nos preocupar (e não: “não nos vamos preocupar”).
lhe disse isso?
 Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto 11. Emprego de o, a, os, as
se ofendem!
 Orações que exprimem desejo (orações optativas):  Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os
Que Deus o ajude. pronomes: o, a, os, as não se alteram.

39
Chame-o agora. 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - E
Deixei-a mais tranquila. - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
 Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes C) Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicativo) /
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo)
 Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, D) Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número
na, nos, nas. (singular ou plural):
Chamem-no agora. falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (indi-
Põe-na sobre a mesa. ca a 3.ª pessoa do plural.)

FIQUE ATENTO!
#FicaDica O verbo pôr, assim como seus derivados (com-
Dica da Zê! por, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação,
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que sig- pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. A
nifica “antes”! Pronome antes do verbo! vogal “e”, apesar de haver desaparecido do in-
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, finitivo, revela-se em algumas formas do ver-
em Inglês – que significa “fim, final!). Pronome bo: põe, pões, põem, etc.
depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do ver-
bo 2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas

Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical):
Paulo: Saraiva, 2010. opinei, aprenderão, amaríamos.

SITE 3. Classificação dos Verbos


http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-
-pronominal-.html Classificam-se em:
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi-
Observação: Não foram encontradas questões abran- cal inalterado durante a conjugação e desinências
gendo tal conteúdo. idênticas às de todos os verbos regulares da mesma
conjugação. Por exemplo: comparemos os verbos
“cantar” e “falar”, conjugados no presente do Modo
VERBO Indicativo:

Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme- canto falo


ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo cantas falas
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre canta falas
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). cantamos falamos
cantais falais
1. Estrutura das Formas Verbais cantam falam
LÍNGUA PORTUGUESA

Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar


os seguintes elementos:
A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signifi-
cado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava;
fal-am. (radical fal-)
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que in-
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exem-
plo: fala-r. São três as conjugações:

40
#FicaDica
Observe que, retirando os radicais, as desinências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se idên-
ticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira
conjugação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo. Substitua o radical “cant” e coloque o “and”
(radical do verbo andar). Viu? Fácil!

B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.

Observação:
Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/corrijo, fingir/
finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o fonema permanece inalterado.

C) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação completa. Os principais são adequar, precaver, computar,
reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os prin-
cipais verbos impessoais são:

1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou fazer (em orações temporais).
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Existiam)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)

2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)


Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci.
Estava frio naquele dia.

3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado.
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipoté-
tico, tornando-se, tais verbos, pessoais.

7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
LÍNGUA PORTUGUESA

Dá para me arrumar uma apostila?

E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar,
cricrilar, miar, latir, piar).

Os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.

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O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago
LÍNGUA PORTUGUESA

FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui)
e ir (fui, ia, vades).

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H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso
numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
LÍNGUA PORTUGUESA

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4.4. SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.


estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem
LÍNGUA PORTUGUESA

44
4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
Haverem

4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam
LÍNGUA PORTUGUESA

45
4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mes-
ma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita
no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abs-
ter-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade
já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia re-
flexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.

 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo.
Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes
mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular.

5. Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

6. Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
A) Infinitivo
LÍNGUA PORTUGUESA

A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substantivo.
Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

46
A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não apre-
senta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:


Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o re-
sultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os
candidatos saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

8. Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
LÍNGUA PORTUGUESA

Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele es-
tudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele pudes-
se, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.

47
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier à
loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

TABELAS DAS CONJUGAÇÕES VERBAIS

1. Modo Indicativo

1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM
LÍNGUA PORTUGUESA

48
1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
LÍNGUA PORTUGUESA

cantarIAS venderIAS partirIAS


cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

49
1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número
e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obten-
do-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaR vendeR partiR Ø


cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

50
C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

2. Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM
LÍNGUA PORTUGUESA

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando se este é
paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as vozes verbais:
A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)

B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:


O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se.

#FicaDica
Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)

1. Formação da Voz Passiva

A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico e sintético.
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte maneira:
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os alunos pintarão a escola)
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

Observações:
 O agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a preposi-
ção de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transformação das
frases seguintes:

Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)


O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz ativa)

Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)


LÍNGUA PORTUGUESA

O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indicativo)

Ele fará o trabalho. (futuro do presente)


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. Ob-
serve a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)

52
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- EXERCÍCIOS COMENTADOS
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso. 1. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa –
Destruiu-se o velho prédio da escola. FCC – 2012) As vitórias no jogo interior talvez não acres-
centem novos troféus, mas elas trazem recompensas valio-
Observação: sas, [...] que contribuem de forma significativa para nosso
O agente não costuma vir expresso na voz passiva sin- sucesso posterior, tanto na quadra como fora dela.
tética. Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos
verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os ele-
1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva mentos sublinhados na frase acima, na ordem dada, por:

Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs- a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem
tancialmente o sentido da frase. b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam
Sujeito da Ativa objeto Direto d) acrescentariam − trariam− contribuíram
e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
(Voz Passiva) Resposta: Letra E.
Sujeito da Passiva Agente da Passi- Questão que envolve correlação verbal. Realizando as
va alterações solicitadas, segue como ficariam (em desta-
que):
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui-
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo riam
assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo. Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam
Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos. Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contribuí-
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos ram
Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram
mestres.
Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contribuí-
ram = correta
Eu o acompanharei.
Ele será acompanhado por mim.
2. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia-
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC
Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
– 2012) Está inadequado o emprego do elemento subli-
haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: Pre-
nhado na seguinte frase:
judicaram-me. / Fui prejudicado.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir, a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao que
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva, dispenso aos homens religiosos.
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de
ou agente paciente. que deveriam desviar-se todos os homens verdadeira-
mente virtuosos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS c) A tolerância é uma virtude na qual não podem prescindir
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- os que se dizem homens de fé.
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de nada
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de fazer
Paulo: Saraiva, 2010. o mesmo com aqueles que não a têm.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Resposta: Letra C.
Corrigindo o inadequado:
SITE Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento simi-
LÍNGUA PORTUGUESA

http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. lar ao que dispenso aos homens religiosos.


php Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em preconcei-
tos de que deveriam desviar-se todos os homens verda-
deiramente virtuosos.
Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que) não
podem prescindir os que se dizem homens de fé.
Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito
de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.

53
Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que deixem Resposta: Letra D.
de fazer o mesmo com aqueles que não a têm. Contudo é uma conjunção adversativa (expressa oposi-
ção). A substituição deve utilizar outra de mesma clas-
3. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia- sificação, para que se mantenha a ideia do período. A
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC correta é entretanto.
– 2012)
Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus 6. (TST – Analista Judiciário – Área Administrativa –
despertariam a ira de qualquer fanático, a forma verbal FCC – 2012) O verbo indicado entre parênteses deverá
obtida será: flexionar-se no singular para preencher adequadamente a
lacuna da frase:
a) seria despertada.
b) teria sido despertada. a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de
c) despertar-se-á. corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
d) fora despertada. b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre o
e) teriam despertado. peso de suas mais graves decisões.
c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer)
Resposta: Letra A. tomar decisões sem medir suas consequências.
Os ateus despertariam a ira de qualquer fanático d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (costu-
Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A ira mar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
de qualquer fanático seria despertada pelos ateus. e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco-
GABARITO OFICIAL: A menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
humana.
4. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa –
Especialidade Segurança Judiciária – FCC – 2012) Resposta: Letra C.
...ela nunca alcançava a musa. Flexões em destaque e sublinhei os termos que estabe-
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma lecem concordância:
verbal resultante será: Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar de
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
a) alcança-se. Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir
b) foi alcançada. sobre o peso de suas mais graves decisões.
c) fora alcançada. Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocorre
d) seria alcançada. tomar decisões sem medir suas consequências. = Isso
e) era alcançada. não ocorre aos governantes – uma oração exerce a fun-
ção de sujeito (subjetiva)
Resposta: Letra E. Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente costu-
Temos um verbo na voz ativa, então teremos dois na mam sobrevir consequências imprevistas e injustas.
passiva (auxiliar + o verbo da oração da ativa, no mesmo Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade, re-
tempo verbal, forma particípio): A musa nunca era alcança- comenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
da por ela. O verbo “alcançava” está no pretérito imperfeito, humana.
por isso o auxiliar tem que estar também (é = presente, foi
= pretérito perfeito, era = imperfeito, fora = mais que per- 7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Analista Judiciário – Área
feito, será = futuro do presente, seria = futuro do pretérito). Administrativa – FCC – 2016 ) ... para quem Manoel de
Barros era comparável a São Francisco de Assis...
5. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia- O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC frase acima está em:
– 2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação
de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
mesmos. b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no espa-
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra altera- ço...
ção seja feita na frase, o elemento grifado pode ser subs- c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e Char-
tituído por: les Baudelaire.
LÍNGUA PORTUGUESA

d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Barros


a) ademais. na literatura...
b) conquanto. e) ... para depois casá-las...
c) porquanto.
d) entretanto. Resposta: Letra A.
e) apesar. “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicativo.
Procuremos nos itens:
Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo

54
Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do Indi- Resposta: Letra D.
cativo Temos: sujeito (o marechal), verbo na ativa (organizou) e
Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfeito objeto (o acervo). Como há um verbo na ativa, ao pas-
do Indicativo sarmos para a passiva teremos dois (o auxiliar no mesmo
Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi- tempo que o verbo da ativa + o particípio do verbo da
cativo voz ativa = organizado). O objeto exercerá a função de
Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar sujeito paciente, e o sujeito da ativa será o agente da
elas) passiva (ufa!). A frase ficará: O acervo foi organizado pelo
marechal.
8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – Analista Judiciário – Área
Administrativa – FCC – 2016 ) Aí conheci o escritor e his- 11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC
toriador de sua gente, meu saudoso amigo Alcino Alves Cos- – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude a co-
ta. E foi dele que ouvi oralmente a história de Zé de Julião. mer...
Considerando-se a norma-padrão da língua, ao reescrever- O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o sub-
-se o trecho acima em um único período, o segmento des- linhado acima está também sublinhado em:
tacado deverá ser antecedido de vírgula e substituído por
a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou as
a) perante ao qual amas...
b) de cujo b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
c) o qual c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in-
d) frente à quem dústria de consumo...
e) de quem d) E, mesmo que se esforcem muito [...]
e) Hoje há algo novo nesse cenário.
Resposta: Letra E.
Resposta: Letra D.
Voltemos ao trecho: ... meu saudoso amigo Alcino Alves
que nos ajude = presente do Subjuntivo
Costa. E foi dele que ouvi oralmente... = a única alterna-
Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
tiva que substitui corretamente o trecho destacado é “de
Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e também
quem ouvi oralmente”.
mais-que-perfeito) do Indicativo
Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indica-
9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário
tivo
– FCC – 2016) “Isto pode despertar a atenção de outras Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo
pessoas que tenham documentos em casa e se disponham Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do Indi-
a trazer para a Academia, que é a guardiã desse tipo de cativo
acervo, que é muito difícil de ser guardado em casa, pois o
tempo destrói e aqui temos a melhor técnica de conservação 12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC
de documentos”, disse Cavalcanti. – 2016) O modelo ainda dominante nas discussões ecoló-
O termo sublinhado faz referência a gicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
a) pessoas. verbal resultante será:
b) acervo.
c) Academia. a) é privilegiado.
d) tempo. b) sendo privilegiadas.
e) casa. c) são privilegiados.
d) foi privilegiado.
Resposta: Letra B. e) são privilegiadas.
Ao trecho: a guardiã desse tipo de acervo, que (o qual) é
muito difícil de ser guardado... Resposta: Letra C.
Há um verbo na ativa, então teremos dois na passiva
10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário – FCC (auxiliar + o particípio de “privilegia”) = O Estado e o
– 2016) O marechal organizou o acervo... mundo são privilegiados pelo modelo ainda dominante.
A forma verbal está corretamente transposta para a voz
LÍNGUA PORTUGUESA

passiva em: 13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC


– 2016 ) Empregam-se todas as formas verbais de acordo
a) estava organizando com a norma culta na seguinte frase:
b) tinha organizado
c) organizando-se a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
d) foi organizado não poderia receber qualquer tipo de retificação.
e) está organizado b) Os documentos com assinatura digital disporam de al-
goritmos de criptografia que os protegeram.

55
c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam Resposta: Letra D.
contar com a proteção de uma assinatura digital. Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperativo
d) Quem se propor a alterar um documento criptografado (expressam ordem). Vamos aos itens:
deve saber que comprometerá sua integridade. Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos fa-
e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem zem = presente do Indicativo
comprometer a integridade dos documentos. Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do Indicativo
Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos
Resposta: Letra E. = presente do Indicativo
Em “a”: Para que se mantesse (mantivesse) sua autenti- Em “d”: Pense rápido: = Imperativo
cidade, o documento não poderia receber qualquer tipo Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = presen-
de retificação. te do Indicativo
Em “b”: Os documentos com assinatura digital disporam (dis-
puseram) de algoritmos de criptografia que os protegeram. 16. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vunesp
Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos po- – 2014) Assinale a alternativa em que a palavra em desta-
deram (puderam) contar com a proteção de uma assina- que na frase pertence à classe dos adjetivos (palavra que
tura digital. qualifica um substantivo).
Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu-
mento criptografado deve saber que comprometerá sua a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu-
integridade. tanásia...
Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convierem sem b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
comprometer a integridade dos documentos = correta c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar a
morte.
14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – Técnico Judiciário – FCC – d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a trajetória e) E como seria a verdadeira boa morte?
da utopia no país.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma Resposta: Letra E.
verbal resultante será: Em “a”: Existe grande confusão = substantivo
Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a morte
a) foram marcados. = pronome
b) foi marcado. Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando dis-
c) são marcados. tanciar a morte = substantivo
d) foi marcada. Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
e) é marcada. Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = adjetivo

Resposta: Letra E. 17. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2014) As for-


Temos um verbo (no tempo presente) na ativa, então mas verbais conjugadas no modo imperativo, expressando
teremos dois na passiva (auxiliar [no tempo presente] + ordem, instrução ou comando, estão destacadas em
particípio de “marcam”) = Assim, a trajetória da utopia
do país é marcada pelos sessenta anos de história. a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem níti-
das na memória: são aqueles donos de qualidades in-
15. (Polícia Militar do Estado de São Paulo – Soldado PM comuns.
2.ª Classe – Vunesp – 2017) Considere as seguintes frases: b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e quase
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos. não acreditei no que ouvi.
Segundo, não memorize apenas por repetição. c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá
Terceiro, rabisque! pro estúdio e ponha a rádio no ar.
Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário,
empregados nessas frases está em destaque em: precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o
locutor não chegava para os textos de abertura, publi-
a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem com cidade, chamadas.
que o cérebro humano não considere útil gravar esses e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual-
dados [...] quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-nú- suando frio e atentos às suas finas e cortantes palavras.
mero de informações.
c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais Resposta: Letra C.
dele... Aos itens:
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em que Em “a”: há = presente / acabam = presente / são = pre-
morou quando era criança? sente
e) É o que mostra também uma pesquisa recente conduzi- Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = pretérito
da pela empresa de segurança digital Kaspersky [...] perfeito

56
Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo Resposta: Letra E.
imperativo afirmativo (ordens) “não” – advérbio de negação / “hoje” – advérbio de tem-
Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = pretérito po.
imperfeito / chegava = pretérito imperfeito
Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio 21. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2013)
Assinale a alternativa que completa respectivamente as
18. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Em – O lacunas, em conformidade com a norma-padrão de con-
destino me prestava esse pequeno favor: completava minha jugação verbal.
identificação com o resto da humanidade, que tem sempre Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional
para contar uma história de objeto achado; – o pronome em quando __________ um diploma de mestrado, mas há aque-
destaque retoma a seguinte palavra/expressão: les que _________ de opinião e procuram investir em cursos
profissionalizantes.
a) o resto da humanidade.
b) esse pequeno favor. a) obtiver … divirgem
c) minha identificação. b) obter … divergem
d) O destino. c) obtesse … devirgem
e) completava. d) obter … divirgem
e) obtiver … divergem
Resposta: Letra A.
Completava minha identificação com o resto da humani- Resposta: Letra E.
dade, que (a qual) tem sempre para contar uma história Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional
de objeto achado = pronome relativo que retoma o resto quando obtiver um diploma de mestrado, mas há aque-
da humanidade. les que divergem de opinião e procuram investir em
cursos profissionalizantes.
19. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Consi-
22. (PC-SP – Auxiliar de Necropsia – Vunesp – 2014)
dere o trecho a seguir.
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
É comum que objetos ____________ esquecidos em locais
o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se
ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é um
as pessoas __________ a atenção voltada para seus perten-
adjetivo.
ces, conservando-os junto ao corpo.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
a) ... um câncer de boca horroroso, ...
mente, as lacunas do texto.
b) Ele tem dezesseis anos...
c) Eu queria que ele morresse logo, ...
a) sejam ... mantesse
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às famí-
b) sejam ... mantém
lias.
c) sejam ... mantivessem
e) E o inferno não atinge só os terminais.
d) seja ... mantivessem
e) seja ... mantêm
Resposta: Letra A.
Em “a”: um câncer de boca horroroso = adjetivo
Resposta: Letra C. Em “b”: Ele tem dezesseis anos = numeral
Completemos as lacunas e depois busquemos o item Em “c”: Eu queria que ele morresse logo = advérbio
correspondente. A pegadinha aqui é a conjugação do Em “d”: com a crueldade adicional de dar esperança às
verbo “manter”, no presente do Subjuntivo (mantiver): famílias = substantivo
É comum que objetos sejam esquecidos em locais públi- Em “e”: E o inferno não atinge só os terminais = subs-
cos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se as tantivo
pessoas mantivessem a atenção voltada para seus per-
tences, conservando-os junto ao corpo. 23. (Polícia Civil-SP – Perito Criminal – Vunesp – 2013)
Observe os enunciados:
20. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vunesp • A Guerra do Vietnã se faz presente até hoje.
– 2013) Nas frases – Não vou mais à escola!… – e – Hoje • A probabilidade de um veterano branco ser preso por um
estão na moda os métodos audiovisuais. – as palavras em crime violento é significativamente mais alta do que...
LÍNGUA PORTUGUESA

destaque expressam, correta e respectivamente, circuns- Os advérbios em destaque expressam, respectivamente,


tâncias de circunstâncias de

a) dúvida e modo. a) lugar e modo.


b) dúvida e tempo. b) tempo e intensidade.
c) modo e afirmação. c) modo e intensidade.
d) negação e lugar. d) tempo e causa.
e) negação e tempo. e) tempo e modo.

57
Resposta: Letra E. Período simples é aquele constituído por apenas uma
“Hoje” = tempo; geralmente os advérbios terminados oração, que recebe o nome de oração absoluta.
em “-mente” são de modo (= com significância). Chove.
A existência é frágil.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
SINTAXE: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO; Período composto é aquele constituído por duas ou
TERMOS DA ORAÇÃO; PROCESSOS DE mais orações:
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO; Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.

Frase, oração e período 1.1. Termos da Oração


1.1.1 Termos essenciais
1. Sintaxe da Oração e do Período
O sujeito e o predicado são considerados termos essen-
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para ciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis para a
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por formação das orações. No entanto, existem orações forma-
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- das exclusivamente pelo predicado. O que define a oração
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou é a presença do verbo. O sujeito é o termo que estabelece
muito ontem à noite. concordância com o verbo.
O candidato está preparado.
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em ver- Os candidatos estão preparados.
bais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais (sem a
presença de verbos), feita a partir de seus elementos constituin- Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
tes, elas podem ser classificadas a partir de seu sentido global: to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
A) frases interrogativas = o emissor da mensagem for- estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
mula uma pergunta: Que dia é hoje? no singular: candidato = está).
B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz A função do sujeito é basicamente desempenhada por
um pedido: Dê-me uma luz! substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um esta- ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
do afetivo: Que dia abençoado! palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A dem exercer a função de sujeito.
prova será amanhã. Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
tantivo)
Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais: plo: substantivo)
sujeito e predicado.
O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos:
em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do
tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da sujeito.
frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o Um sujeito é determinado quando é facilmente iden-
que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado
a declaração do que se atribui ao sujeito. pode ser simples ou composto.
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que indi- A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
que ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signifi- possível identificar claramente a que se refere a concor-
cativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte-
em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um pre- ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
dicado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os Estão gritando seu nome lá fora.
que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação): Trabalha-se demais neste lugar.
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação O sujeito simples é o sujeito determinado que apre-
LÍNGUA PORTUGUESA

(predicado verbal) senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no


A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o núcleo plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo,
é “fácil” (predicado nominal) sublinhei os núcleos dos sujeitos:
Nós estudaremos juntos.
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída A humanidade é frágil.
por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido Ninguém se move.
completo. O período pode ser simples ou composto. O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma
derivação imprópria, tranformando-o em substantivo)

58
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predica-
do, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A mensa-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- gem está centrada no processo verbal. Os principais casos
senta mais de um núcleo. de orações sem sujeito com:
Alimentos e roupas custam caro.  os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo. Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda. Está trovejando.

Além desses dois sujeitos determinados, é comum a  os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do tempo em geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.

Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na primei- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
ra pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segunda do informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
singular (tu) ou do plural (vós), desde que os pronomes não orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós Em ambas as orações não há sujeito, apenas predicado.
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós Na segunda oração, “problemas” funciona como objeto di-
reto.
O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!
ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento
A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o sujeito não tenha sido identificado anteriormente: Para o estudo do predicado, é necessário verificar se
Bateram à porta; seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no-
Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi- minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar
nistro. também se as palavras que formam o predicado referem-
-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração.
Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples ou Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
composto: de opinião.
Os meninos bateram à porta. (simples) Predicado
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres- se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se ligam
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica direta ou indiretamente ao verbo.
dos verbos que não apresentam complemento dire- A cidade está deserta.
to: O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se
LÍNGUA PORTUGUESA

Precisa-se de mentes criativas. ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento
Vivia-se bem naqueles tempos. de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a
Trata-se de casos delicados. palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo
Sempre se está sujeito a erros. do sujeito).

O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de O predicado verbal é aquele que tem como núcleo sig-
indeterminação do sujeito. nificativo um verbo:
Chove muito nesta época do ano.

59
Estudei muito hoje! Queremos sua ajuda.
Compraste a apostila?
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem te:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro- A) com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
cessos. referentes a pessoas:
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo (o objeto é direto, mas como há preposição, denomina-
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- -se: objeto direto preposicionado)
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei-
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação). de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, cansar a Vossa Senhoria.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
sujeito: Os dados parecem corretos. a crise)
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, andar, O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como elemento retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas. Gosto de música popular brasileira.
Necessito de ajuda.
A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. 1.2.1 Objeto Pleonástico

O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos.
dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No pre- Normalmente, as frases em que ocorrem objetos pleo-
dicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao su- násticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o objeto,
jeito ou ao complemento verbal (objeto). antecipado para o início da oração; em seguida, ele é repe-
tido através de um pronome oblíquo. É à repetição que se
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre signi- dá o nome de objeto pleonástico.
ficativo, indicando processos. É também sempre por in- “Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçalves
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o Dias)
termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado; objeto pleonástico
As mulheres julgam os homens inconstantes.
Ao traidor, nada lhe devemos.
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga- O termo que integra o sentido de um nome chama-se
ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
verbal e outro nominal. ta por intermédio de preposição:
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado. A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
“necessária”
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
1.3 Termos acessórios da oração e vocativo
1.2 Termos integrantes da oração
Os termos acessórios recebem este nome por serem ex-
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o plicativos, circunstanciais. São termos acessórios o adjunto
complemento nominal são chamados termos integrantes da adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo – este,
oração. sem relação sintática com outros temos da oração.

Os complementos verbais integram o sentido dos ver- O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
LÍNGUA PORTUGUESA

bos transitivos, com eles formando unidades significativas. ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
Estes verbos podem se relacionar com seus complementos sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta- adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
mente, por intermédio de preposição. exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a
pé àquela velha praça.
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
mente ao verbo.
Houve muita confusão na partida final.

60
O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1.4 Períodos Compostos
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função 1.4.1 Período Composto por Coordenação
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também O período composto se caracteriza por possuir mais de
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais e uma oração em sua composição. Sendo assim:
os pronomes adjetivos. Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma ora-
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu ção)
amigo de infância. Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
(Período Composto =locução verbal + verbo, duas orações)
O adjunto adnominal se liga diretamente ao substanti- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um
vo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi- protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo. ções).
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a. Há dois tipos de relações que podem se estabelecer en-
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad- tre as orações de um período composto: uma relação de
junto adnominal) coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas
O poeta português deixou uma obra inacabada. em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de
O poeta deixou-a inacabada. informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am-
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do bas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
objeto) Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
(Período Composto)
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um Podemos dizer:
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se re- 1. Estou comprando um protetor solar.
laciona apenas ao substantivo. 2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independentes.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, Tal período é classificado como Período Composto por
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter- Coordenação.
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- Quanto à classificação das orações coordenadas, temos
-feira, passei o dia mal-humorado. dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sindé-
ticas.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo A) Coordenadas Assindéticas
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira São orações coordenadas entre si e que não são ligadas
passei o dia mal-humorado. através de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas.
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va- Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
lor na oração, em:
A) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma- B) Coordenadas Sindéticas
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
com o mundo. tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas denativa, que dará à oração uma classificação. As orações
coisas: amor, arte, ação. coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati-
tudo forma o carnaval. vas.
D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
ram-se por muito tempo na baía anoitecida. Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
 Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas
O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar principais conjunções são: e, nem, não só... mas também,
ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo não só... como, assim... como.
relação sintática com outro termo da oração. A função de Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes Comprei o protetor solar e fui à praia.
LÍNGUA PORTUGUESA

substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-


pel na linguagem.  Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
João, venha comigo! suas principais conjunções são: mas, contudo, toda-
Traga-me doces, minha menina! via, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim, se-
não.
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Li tudo, porém não entendi!

61
 Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer; seja...
seja.
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.

 Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por conse-
guinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Passei no concurso, portanto comemorarei!
A situação é delicada; devemos, pois, agir.

 Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verdade,
pois (anteposto ao verbo).
Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.
Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.

1.4.2 Período Composto Por Subordinação

Quero que você seja aprovado!


Oração principal oração subordinada

Observe que na oração subordinada temos o verbo “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular do pre-
sente do subjuntivo, além de ser introduzida por conjunção. As orações subordinadas que apresentam verbo em qualquer
dos tempos finitos (tempos do modo do indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por conjunção, chamam-se
orações desenvolvidas ou explícitas.
Podemos modificar o período acima. Veja:
Quero ser aprovado.
Oração Principal Oração Subordinada

A análise das orações continua sendo a mesma: “Quero” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração subordinada
“ser aprovado”. Observe que a oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso, a conjunção “que”,
conectivo que unia as duas orações, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge numa das formas nominais
(infinitivo, gerúndio ou particípio) são chamadas de orações reduzidas ou implícitas (como no exemplo acima).

Observação:
As orações reduzidas não são introduzidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser, eventualmente, intro-
duzidas por preposição.

A) Orações Subordinadas Substantivas


A oração subordinada substantiva tem valor de substantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção integrante
(que, se).

Não sei se sairemos hoje.


Oração Subordinada Substantiva

Temos medo de que não sejamos aprovados.


Oração Subordinada Substantiva

Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também introduzem as orações subordinadas substantivas, bem como os
advérbios interrogativos (por que, quando, onde, como).

O garoto perguntou qual seu nome.


Oração Subordinada Substantiva
LÍNGUA PORTUGUESA

Não sabemos quando ele virá.


Oração Subordinada Substantiva

1.4.3 Classificação das Orações Subordinadas Substantivas

Conforme a função que exerce no período, a oração subordinada substantiva pode ser:
1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do verbo da oração principal:

62
É fundamental o seu comparecimento à reunião.
Sujeito

É fundamental que você compareça à reunião.


Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Subjetiva

FIQUE ATENTO!
Observe que a oração subordinada substantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim, temos um
período simples:
É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a função de sujeito.

Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração principal:


 Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
claro - Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa.

 Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.

 Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - importar - ocorrer - acontecer


Convém que não se atrase na entrevista.

Observação:
Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa do singular.

2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto do verbo da oração principal:


Todos querem sua aprovação no concurso.
Objeto Direto

Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem isso)


Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta

As orações subordinadas substantivas objetivas diretas (desenvolvidas) são iniciadas por:


 Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
 Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O pessoal
queria saber quem era o dono do carro importado.
 Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu não sei
por que ela fez isso.

3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.

Meu pai insiste em meu estudo.


Objeto Indireto

Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste nisso)


Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

4. Completiva Nominal = completa um nome que pertence à oração principal e também vem marcada por preposição.
Sentimos orgulho de seu comportamento.
Complemento Nominal

63
Sentimos orgulho de que você se comportou. (= Sentimos orgulho disso.)
Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal

As orações subordinadas substantivas objetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações su-
bordinadas substantivas completivas nominais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário
levar em conta o termo complementado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o complemento nominal: o primeiro
complementa um verbo; o segundo, um nome.

5. Predicativa = exerce papel de predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre depois do verbo ser.
Nosso desejo era sua desistência.
Predicativo do Sujeito

Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo era isso)
Oração Subordinada Substantiva Predicativa

6. Apositiva = exerce função de aposto de algum termo da oração principal.


Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
Aposto
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
Oração subordinada substantiva apositiva reduzida de infinitivo

(Fernanda tinha um grande sonho: isso)

Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )

B) Orações Subordinadas Adjetivas


Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As orações
vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
Esta foi uma redação bem-sucedida.
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)

O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra cons-
trução, a qual exerce exatamente o mesmo papel:
Esta foi uma redação que fez sucesso.
Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva

Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é feita pelo
pronome relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha uma função sin-
tática na oração subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso, “redação” é sujeito,
então o “que” também funciona como sujeito).

FIQUE ATENTO!
Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser substituí-
do por: o qual - a qual - os quais - as quais
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

FORMA DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS


LÍNGUA PORTUGUESA

Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as orações
subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas reduzidas,
que não são introduzidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o verbo numa das
formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio).
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.

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No primeiro período, há uma oração subordinada ad- D) Oração Subordinada Adverbial
jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome A oração em destaque agrega uma circunstância de
relativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver-
perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração subor- bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessó-
dinada adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome re- rios que indicam uma circunstância referente, via de regra,
lativo e seu verbo está no infinitivo. a um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende
da exata compreensão da circunstância que exprime.
1. Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracte- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de mi-
rizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de nha vida.
duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou
especificam o sentido do termo a que se referem, indivi- No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto
dualizando-o. Nestas orações não há marcação de pausa, adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”.
sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem No segundo período, este papel é exercido pela oração
também orações que realçam um detalhe ou amplificam “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
dados sobre o antecedente, que já se encontra suficiente- nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
mente definido. Estas orações denominam-se subordina- é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
das adjetivas explicativas. e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Exemplo 1: obtendo-se:
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
passava naquele momento. vida.
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
No período acima, observe que a oração em destaque
preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra-
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o
Observação:
universo de homens, isto é, não se refere a todos os ho-
A classificação das orações subordinadas adverbiais é
mens, mas sim àquele que estava passando naquele mo-
feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos ad-
mento.
verbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela oração.
Exemplo 2:
O homem, que se considera racional, muitas vezes age 2. Classificação das Orações Subordinadas Adver-
animalescamente. biais
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo A) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explici- àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
ta uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
“homem”. bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
Saiba que: oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
A oração subordinada adjetiva explicativa é separada que.
da oração principal por uma pausa que, na escrita, é repre- As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
sentada pela vírgula. É comum, por isso, que a pontuação Já que você não vai, eu também não vou.
seja indicada como forma de diferenciar as orações expli-
cativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm sempre A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
isoladas por vírgulas; as restritivas, não. sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresen-
C) Orações Subordinadas Adverbiais ta a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce ela se subordina. Repare:
a função de adjunto adverbial do verbo da oração princi- 1. Faltei à aula porque estava doente.
LÍNGUA PORTUGUESA

pal. Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, 2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa)
vem introduzida por uma das conjunções subordinativas que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o
(com exclusão das integrantes, que introduzem orações fato de estar doente impediu-me de ir à aula. No
subordinadas substantivas). Classifica-se de acordo com exemplo 2, a oração sublinhada relata um fato que
a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz (assim aconteceu depois, já que primeiro ela chorou, depois
como acontece com as coordenadas sindéticas). seus olhos ficaram vermelhos.
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.

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B) Consecutiva = exprime um fato que é consequên- F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou
cia, é efeito do que se declara na oração principal. seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para
São introduzidas pelas conjunções e locuções: que, a execução do que se declara na oração principal.
de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas Principal conjunção subordinativa conformativa:
estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...que. conforme. Outras conjunções conformativas: como,
Principal conjunção subordinativa consecutiva: que consoante e segundo (todas com o mesmo valor de
(precedido de tal, tanto, tão, tamanho) conforme).
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- Fiz o bolo conforme ensina a receita.
cretizando-os. Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzida direitos iguais.
de Infinitivo)
G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe se declara na oração principal. Principal conjunção
como necessário para a realização ou não de um subordinativa final: a fim de. Outras conjunções fi-
fato. As orações subordinadas adverbiais condicio- nais: que, porque (= para que) e a locução conjuntiva
nais exprimem o que deve ou não ocorrer para que para que.
se realize - ou deixe de se realizar - o fato expresso Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
na oração principal. Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, H) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou seja,
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). Principal locução conjuntiva subordinativa propor-
cional: à proporção que. Outras locuções conjuntivas
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, proporcionais: à medida que, ao passo que. Há ainda
as estruturas: quanto maior...(maior), quanto maior...
certamente o melhor time será campeão.
(menor), quanto menor...(maior), quanto menor...
Caso você saia, convide-me.
(menor), quanto mais...(mais), quanto mais...(menos),
quanto menos...(mais), quanto menos...(menos).
D) Concessiva = indica concessão às ações do verbo
À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
da oração principal, isto é, admitem uma contradição
mos.
ou um fato inesperado. A ideia de concessão está
À medida que lia mais culto ficava.
diretamente ligada ao contraste, à quebra de expec-
tativa. Principal conjunção subordinativa concessiva: I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
embora. Utiliza-se também a conjunção: conquanto expresso na oração principal, podendo exprimir no-
e as locuções ainda que, ainda quando, mesmo que, ções de simultaneidade, anterioridade ou posterio-
se bem que, posto que, apesar de que. ridade. Principal conjunção subordinativa temporal:
Só irei se ele for. quando. Outras conjunções subordinativas tempo-
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” ir rais: enquanto, mal e locuções conjuntivas: assim que,
só se realizará caso essa condição seja satisfeita. logo que, todas as vezes que, antes que, depois que,
Compare agora com: sempre que, desde que, etc.
Irei mesmo que ele não vá. Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con- 3. Orações Reduzidas
cessiva.
Observe outros exemplos: As orações subordinadas podem vir expressas como re-
Embora fizesse calor, levei agasalho. duzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas no-
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em- minais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem conectivo
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo) subordinativo que as introduza.
É preciso estudar! = reduzida de infinitivo
E) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais É preciso que se estude = oração desenvolvida (presen-
LÍNGUA PORTUGUESA

comparativas estabelecem uma comparação com a ça do conectivo)


ação indicada pelo verbo da oração principal. Princi-
pal conjunção subordinativa comparativa: como. Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) “desenvolvidas” – como no exemplo acima.
Você age como criança. (age como uma criança age) É preciso estudar = oração subordinada substantiva
subjetiva reduzida de infinitivo
 geralmente há omissão do verbo. É preciso que se estude = oração subordinada substan-
tiva subjetiva

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4. Orações Intercaladas mente porque elabora uma linguagem que fala de perto
ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão,
São orações independentes encaixadas na sequência humaniza; e esta humanização lhe permite, como compen-
do período, utilizadas para um esclarecimento, um aparte, sação sorrateira, recuperar com a outra mão certa profun-
uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou travessões. didade de significado e certo acabamento de forma, que
Nós – continuava o relator – já abordamos este assun- de repente podem fazer dela uma inesperada, embora dis-
to. creta, candidata à perfeição.
Antonio Candido. A vida ao rés do chão. In: Recortes. São
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 23 (com adaptações).
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. As formas verbais “imagina” (R.1), “atribuir” (R.4) e “servir”
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, (R.8) foram utilizadas como verbos transitivos indiretos.
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – ( ) CERTO ( ) ERRADO
São Paulo: Saraiva, 2002.
Resposta: Errado.
imagina uma literatura = transitivo direto
SITE atribuir o Prêmio Nobel a um cronista = bitransitivo
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra- (transitivo direto e indireto)
se-periodo-e-oracao pode servir de caminho = intransitivo

EXERCÍCIOS COMENTADOS CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL;

1. (Cnj – Técnico Judiciário – cespe – 2013 – adapta-


da) Jogadores de futebol de diversos times entraram em
campo em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Campeonato Nacional em apoio à campanha que visa redu-
zir o número de pessoas que não possuem o nome do pai em Os concurseiros estão apreensivos.
sua certidão de nascimento. (...) Concurseiros apreensivos.
A oração subordinada “que não possuem o nome do pai em
sua certidão de nascimento” não é antecedida por vírgula No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na ter-
porque tem natureza restritiva. ceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, os
concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreensi-
( ) CERTO ( ) ERRADO vos” está concordando em gênero (masculino) e número
(plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros.
Resposta: Certo. A oração restringe o grupo que par- Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê-
ticipará da campanha (apenas os que não têm o nome nero se correspondem. A correspondência de flexão entre
do pai na certidão de nascimento). Se colocarmos uma dois termos é a concordância, que pode ser verbal ou no-
vírgula, a oração se tornará “explicativa”, generalizando minal.
a informação, o que dará a entender que TODAS as pes-
soas não têm o nome do pai na certidão. 1. Concordância Verbal

2. (Instituto Rio Branco – Admissão à Carreira de Di- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
plomata – cespe – 2014 – adaptada) seu sujeito.

A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma li- 1.1. Sujeito Simples - Regra Geral
teratura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. em número e pessoa. Veja os exemplos:
Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, A prova para ambos os cargos será aplicada
LÍNGUA PORTUGUESA

por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crô- às 13h.
nica é um gênero menor. 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
“Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque, sendo assim,
ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da compo-
sição solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma
assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia. Principal-

67
1.1.1. Casos Particulares Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a in-
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão par- clusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz ou
titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fizemos”,
de, a maioria de, a maior parte de, grande parte de...) ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não ocorre
seguida de um substantivo ou pronome no plural, o ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e nada
verbo pode ficar no singular ou no plural. fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver
Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram no singular, o verbo ficará no singular.
proposta. Qual de nós é capaz?
Algum de vós fez isso.
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda- E) Quando o sujeito é formado por uma expressão que
los destruiu / destruíram o monumento. indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo
deve concordar com o substantivo.
Observação: 25% do orçamento do país será destinado à Educação.
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a uni- 85% dos entrevistados não aprovam a administração do
dade do conjunto; já a forma plural confere destaque aos prefeito.
elementos que formam esse conjunto. 1% do eleitorado aceita a mudança.
1% dos alunos faltaram à prova.
B) Quando o sujeito é formado por expressão que indi-
ca quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos  Quando a expressão que indica porcentagem não é
de, perto de...) seguida de numeral e substantivo, o seguida de substantivo, o verbo deve concordar com
verbo concorda com o substantivo. o número.
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. 25% querem a mudança.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade. 1% conhece o assunto.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.  Se o número percentual estiver determinado por ar-
tigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á
Observação: com eles:
Quando a expressão “mais de um” se associar a verbos Os 30% da produção de soja serão exportados.
que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: Mais Esses 2% da prova serão questionados.
de um colega se ofenderam na discussão. (ofenderam um
ao outro) F) O pronome “que” não interfere na concordância; já
o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do
C) Quando se trata de nomes que só existem no plu- singular.
ral, a concordância deve ser feita levando-se em Fui eu que paguei a conta.
conta a ausência ou presença de artigo. Sem ar- Fomos nós que pintamos o muro.
tigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo no És tu que me fazes ver o sentido da vida.
plural, o verbo deve ficar o plural. Sou eu quem faz a prova.
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. Não serão eles quem será aprovado.
Estados Unidos possui grandes universidades.
Alagoas impressiona pela beleza das praias. G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu-
As Minas Gerais são inesquecíveis. mir a forma plural.
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira. Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encanta-
ram os poetas.
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou Este candidato é um dos que mais estudaram!
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de  Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
vós”, o verbo pode concordar com o primeiro prono- dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
me (na terceira pessoa do plural) ou com o pronome singular:
LÍNGUA PORTUGUESA

pessoal. Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.


Quais de nós são / somos capazes? Nem uma das que me escreveram mora aqui.
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-  Quando “um dos que” vem entremeada de substan-
vadoras. tivo, o verbo pode:
1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio que
faça o mesmo).

68
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po- C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,
luídos (noção de que existem outros rios na mesma passa a existir uma nova possibilidade de concordân-
condição). cia: em vez de concordar no plural com a totalidade
do sujeito, o verbo pode estabelecer concordância
H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o com o núcleo do sujeito mais próximo.
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural. Faltaram coragem e competência.
Vossa Excelência está cansado? Faltou coragem e competência.
Vossas Excelências renunciarão? Compareceram todos os candidatos e o banca.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
acordo com o numeral. D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
Deu uma hora no relógio da sala. cia é feita no plural. Observe:
Deram cinco horas no relógio da sala. Abraçaram-se vencedor e vencido.
Soam dezenove horas no relógio da praça. Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
Baterão doze horas daqui a pouco.
1.2.1. Casos Particulares
Observação:
Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino, tor-  Quando o sujeito composto é formado por núcleos
re, etc., o verbo concordará com esse sujeito. sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no sin-
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas. gular.
Soa quinze horas o relógio da matriz. Descaso e desprezo marca seu comportamento.
A coragem e o destemor fez dele um herói.
J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular.  Quando o sujeito composto é formado por núcleos
São verbos impessoais: Haver no sentido de existir;
dispostos em gradação, verbo no singular:
Fazer indicando tempo; Aqueles que indicam fenô-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun-
menos da natureza. Exemplos:
do me satisfaz.
Havia muitas garotas na festa.
Faz dois meses que não vejo meu pai.
 Quando os núcleos do sujeito composto são unidos
Chovia ontem à tarde.
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de
1.2. Sujeito Composto acordo com o valor semântico das conjunções:
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe-
A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo, sia brasileira.
a concordância se faz no plural: Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi-
ção”. Já em:
Pais e filhos devem conversar com frequência. Juca ou Pedro será contratado.
Sujeito Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olimpía-
da.
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
maticais diferentes, a concordância ocorre da se- Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
guinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós) no singular.
prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por sua
vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja:  Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão. outro”, a concordância costuma ser feita no singular.
Primeira Pessoa do Plural (Nós) Um ou outro compareceu à festa.
Nem um nem outro saiu do colégio.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)  Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou
no singular: Um e outro farão/fará a prova.
LÍNGUA PORTUGUESA

Pais e filhos precisam respeitar-se.


Terceira Pessoa do Plural (Eles)  Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos rece-
Observação: bem um mesmo grau de importância e a palavra
Quando o sujeito é composto, formado por um elemen- “com” tem sentido muito próximo ao de “e”.
to da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é possível O pai com o filho montaram o brinquedo.
empregar o verbo na terceira pessoa do plural (eles): “Tu e O governador com o secretariado traçaram os planos
teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar de “tomaríeis”. para o próximo semestre.

69
O professor com o aluno questionaram as regras. Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas.
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
ideia é enfatizar o primeiro elemento.
O pai com o filho montou o brinquedo. #FicaDica
O governador com o secretariado traçou os planos para
Para saber se o “se” é partícula apassivadora
o próximo semestre.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente
O professor com o aluno questionou as regras.
transformar a frase para a voz passiva. Se a fra-
se construída for “compreensível”, estaremos
Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito
diante de uma partícula apassivadora; se não, o
composto. O sujeito é simples, uma vez que as expressões
“se” será índice de indeterminação. Veja:
“com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos adver-
Precisa-se de funcionários qualificados.
biais de companhia. Na verdade, é como se houvesse uma
Tentemos a voz passiva:
inversão da ordem. Veja:
Funcionários qualificados são precisados (ou
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se” des-
“O governador traçou os planos para o próximo semestre
tacado é índice de indeterminação do sujeito.
com o secretariado.”
Agora:
“O professor questionou as regras com o aluno.”
Vendem-se casas.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção
Casos em que se usa o verbo no singular:
correta! Então, aqui, o “se” é partícula apassi-
Café com leite é uma delícia!
vadora. (Dá para eu passar para a voz passiva.
O frango com quiabo foi receita da vovó.
Repare em meu destaque. Percebeu semelhan-
ça? Agora é só memorizar!)
Quando os núcleos do sujeito são unidos por expres-
sões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não somen-
te”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”, o verbo
ficará no plural. O Verbo “Ser”
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
Nordeste. A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no- sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
tícia. cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do
sujeito.
Quando os elementos de um sujeito composto são re-
sumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é Quando o sujeito ou o predicativo for:
feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia. A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante concorda com a pessoa gramatical:
na vida das pessoas. Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas.
1.2.2 Outros Casos A esperança dos pais são eles, os filhos.

O Verbo e a Palavra “SE” B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro no


Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas plural, o verbo SER concordará, preferencialmente,
de particular interesse para a concordância verbal: com o que estiver no plural:
A) quando é índice de indeterminação do sujeito; Os livros são minha paixão!
B) quando é partícula apassivadora. Minha paixão são os livros!
Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e Quando o verbo SER indicar
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
ceira pessoa do singular:  horas e distâncias, concordará com a expressão nu-
Precisa-se de funcionários. mérica:
LÍNGUA PORTUGUESA

Confia-se em teses absurdas. É uma hora.


São quatro horas.
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme-
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indire- tros.
tos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso,
o verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos:  datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
Construiu-se um posto de saúde. estar expressa ou subentendida:
Construíram-se novos postos de saúde.

70
Hoje é dia 26 de agosto. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
Hoje são 26 de agosto. seguintes regras gerais:
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
 Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
e for seguido de palavras ou expressões como pouco, denunciavam o que sentia.
muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no
singular: B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. flexão nos seguintes casos:
Duas semanas de férias é muito para mim.
 Adjetivo anteposto aos substantivos:
 Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) O adjetivo concorda em gênero e número com o subs-
for pronome pessoal do caso reto, com este concor- tantivo mais próximo.
dará o verbo. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
No meu setor, eu sou a única mulher. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Aqui os adultos somos nós. Encontramos caído o prendedor e a roupa.
Observação: Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre- rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com o As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
pronome sujeito. Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
Eu não sou ela.
Ela não é eu.  Adjetivo posposto aos substantivos:
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
 Quando o sujeito for uma expressão de sentido par- ou com todos eles (assumindo a forma masculina
titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o
plural se houver substantivo feminino e masculino).
verbo SER concordará com o predicativo.
A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
A grande maioria no protesto eram jovens.
A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
O resto foram atitudes imaturas.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução ver-
Observação:
bal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
 Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza,
o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho. pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos dois
substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado no
 A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo plural masculino, que é o gênero predominante quando há
sofre flexão: substantivos de gêneros diferentes.
As crianças parece gostarem do desenho. Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o adje-
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho aas tivo fica no singular ou plural.
crianças) A beleza e a inteligência feminina(s).
O carro e o iate novo(s).

C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:


FIQUE ATENTO! O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti-
Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER vo não for acompanhado de nenhum modificador:
fica no singular. Por exemplo: As paredes pa- Água é bom para saúde.
rece que têm ouvidos. (Parece que as paredes O adjetivo concorda com o substantivo, se este for mo-
têm ouvidos = oração subordinada substantiva dificado por um artigo ou qualquer outro determinativo:
subjetiva). Esta água é boa para saúde.

D) O adjetivo concorda em gênero e número com os


LÍNGUA PORTUGUESA

CONCORDÂNCIA NOMINAL pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-


trou-as muito felizes.
A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se E) Nas expressões formadas por pronome indefinido
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se: DE + adjetivo, este último geralmente é usado no
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um masculino singular: Os jovens tinham algo de miste-
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal. rioso.

71
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- A educação é necessária.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a São precisas várias medidas na educação.
que se refere:
Cristina saiu só. Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
Cristina e Débora saíram sós. te

Observação: Estas palavras adjetivas concordam em gênero e núme-


Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape- ro com o substantivo ou pronome a que se referem.
nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável: Seguem anexas as documentações requeridas.
Eles só desejam ganhar presentes. A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Seguem inclusos os papéis solicitados.
#FicaDica Estamos quites com nossos credores.

Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se Bastante - Caro - Barato - Longe


a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se
de advérbio, portanto, invariável; se houver Estas palavras são invariáveis quando funcionam como
coerência com o segundo, função de adjetivo, advérbios. Concordam com o nome a que se referem
então varia: quando funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos,
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo ou numerais.
Ele está só descansando. (apenas descansando) As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
- advérbio Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro-
nome adjetivo)
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula de- Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
pois de “só”, haverá, novamente, um adjetivo: As casas estão caras. (adjetivo)
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e des- Achei barato este casaco. (advérbio)
cansando) Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)

Meio - Meia
G) Quando um único substantivo é modificado por dois
ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
construções: concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
 O substantivo permanece no singular e coloca-se meia porção de polentas.
o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura Quando empregada como advérbio permanece invariá-
espanhola e a portuguesa. vel: A candidata está meio nervosa.
 O substantivo vai para o plural e omite-se o arti-
go antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola
e portuguesa. #FicaDica
1. Casos Particulares Dá para eu substituir por “um pouco”, assim
saberei que se trata de um advérbio, não de
É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per- adjetivo: “A candidata está um pouco nervosa”.
mitido

 Estas expressões, formadas por um verbo mais um Alerta - Menos


adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se
referem possuir sentido genérico (não vier precedido Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
de artigo). sempre invariáveis.
É proibido entrada de crianças. Os concurseiros estão sempre alerta.
Em certos momentos, é necessário atenção. Não queira menos matéria!
No verão, melancia é bom.
LÍNGUA PORTUGUESA

É preciso cidadania. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Não é permitido saída pelas portas laterais. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
 Quando o sujeito destas expressões estiver deter- Paulo: Saraiva, 2010.
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
verbo como o adjetivo concordam com ele. coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
É proibida a entrada de crianças. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
Esta salada é ótima. / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

72
SITE Preservando-se a correção gramatical do texto CB3A2BBB,
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49.php os termos “não há” e “não existem” poderiam ser substituí-
dos, respectivamente, por
a) não existe e não têm.
b) não existe e inexiste.
EXERCÍCIOS COMENTADOS c) inexiste e não há.
d) inexiste e não acontece.
1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Ces- e) não tem e não têm.
pe – 2013) Formas de tratamento como Vossa Excelência
e Vossa Senhoria, ainda que sejam empregadas sempre na Resposta: Letra C.
segunda pessoa do plural e no feminino, exigem flexão Busquemos o contexto:
verbal de terceira pessoa; além disso, o pronome possessi- - sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não
vo que faz referência ao pronome de tratamento também há democracia = poderíamos substituir por “não exis-
deve ser o de terceira pessoa, e o adjetivo que remete ao te”, inexiste (verbo “haver” empregado com o sentido
pronome de tratamento deve concordar em gênero e nú- de “existir”)
mero com a pessoa — e não com o pronome — a que se - sem democracia, não existem as condições mínimas
refere. para a solução pacífica dos conflitos = sentido de “exis-
tir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no plural, já
( ) CERTO ( ) ERRADO que devemos concordar com “as condições mínimas”. A
única “troca” adequada seria o verbo “haver” – que pode
Resposta: Certo. Afirmações corretas. As concordâncias ser utilizado com o sentido de “existir”. Teríamos: sem
verbal e nominal ao se utilizar pronome de tratamento direitos humanos reconhecidos e protegidos, inexiste de-
devem ser na terceira pessoa e concordar em gênero mocracia; sem democracia, não há as condições mínimas
(masculino ou feminino) com a pessoa a quem se di- para a solução pacífica dos conflitos.
rige: “Vossa Excelência está cansada(o)?” – concordará
com quem está se falando: uma mulher ou um homem / 3. (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
“Vossa Santidade trouxe seus pertences?” / “Vossas Se- mércio Exterior – Analista Técnico Administrativo –
nhorias gostariam de um café?”. cespe – 2014) Em “Vossa Excelência deve estar satisfeita
com os resultados das negociações”, o adjetivo estará cor-
2. (Prefeitura de São Luís-MA – Conhecimentos Bá- retamente empregado se dirigido a ministro de Estado do
sicos Cargos de Técnico Municipal – Nível Médio – sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve concordar
Cespe – 2017) com a locução pronominal de tratamento “Vossa Excelên-
cia”.
Texto CB3A2BBB
( ) CERTO ( ) ERRADO
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos es-
tão na base das Constituições democráticas modernas. A Resposta: Errado. Se a pessoa, no caso o ministro, for
paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o reco- do sexo feminino (ministra), o adjetivo está correto; mas,
nhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos em se for do sexo masculino, o adjetivo sofrerá flexão de
cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo tempo, gênero: satisfeito. O pronome de tratamento é apenas a
o processo de democratização do sistema internacional, maneira como tratar a autoridade, não regendo as de-
que é o caminho obrigatório para a busca do ideal da paz mais concordâncias.
perpétua, não pode avançar sem uma gradativa ampliação
do reconhecimento e da proteção dos direitos humanos, 4. (Abin – Agente Técnico de Inteligência – cespe –
acima de cada Estado. Direitos humanos, democracia e paz 2010 – adaptada) (...) Da combinação entre velocidade,
são três elementos fundamentais do mesmo movimento persistência, relevância, precisão e flexibilidade surge a no-
histórico: sem direitos humanos reconhecidos e protegi- ção contemporânea de agilidade, transformada em principal
dos, não há democracia; sem democracia, não existem as característica de nosso tempo.
condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos. A forma verbal “surge” poderia, sem prejuízo gramatical
Em outras palavras, a democracia é a sociedade dos cida- para o texto, ser flexionada no plural, para concordar com
dãos, e os súditos se tornam cidadãos quando lhes são “velocidade, persistência, relevância, precisão e flexibilida-
LÍNGUA PORTUGUESA

reconhecidos alguns direitos fundamentais; haverá paz es- de”


tável, uma paz que não tenha a guerra como alternativa,
somente quando existirem cidadãos não mais apenas des- ( ) CERTO ( ) ERRADO
te ou daquele Estado, mas do mundo.
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Resposta: Errado. O verbo está concordando com o
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com adapta- termo “combinação”, por isso deve ficar no singular.
ções).

73
5. (Tribunal de Contas do Distrito Federal-df – Co- Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos
nhecimentos BÁSICOS – ANALISTA DE ADMINIS- de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um
TRAÇÃO PÚBLICA – ARQUIVOLOGIA – cespe – 2014 fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
– adaptada) (...) Há décadas, países como China e Índia formas em frases distintas.
têm enviado estudantes para países centrais, com resultados
muito positivos.(...) A) Verbos Intransitivos
A forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída
por Fazem. Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
( ) CERTO ( ) ERRADO aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.

Resposta: Errado. O verbo “fazer”, quando empregado Chegar, Ir


no sentido de tempo passado, não sofre flexão. Portan- Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
to, sua forma correta seria: “faz décadas”. biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
indicar destino ou direção são: a, para.
Fui ao teatro.
TRANSITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E Adjunto Adverbial de Lugar
VERBOS;
Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar

Comparecer
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o úl-
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome timo jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
B) Verbos Transitivos Diretos
1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece
objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje-
para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
o que corresponde à diversidade de significados que estes o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
forem empregados. bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
tentar. lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
do ou prazer”, satisfazer. donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
dar a alguém”. castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
O conhecimento do uso adequado das preposições é proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
bal (e também nominal). As preposições são capazes de como o verbo amar:
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
do dito. Amo aquela moça. / Amo-a.
Cheguei ao metrô. Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Cheguei no metrô. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se-
LÍNGUA PORTUGUESA

gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. Observação:


Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
A voluntária distribuía leite às crianças. para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos ad-
A voluntária distribuía leite com as crianças. nominais):
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial).

74
C) Verbos Transitivos Indiretos O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado:
Os verbos transitivos indiretos são complementados Agradeci o presente. / Agradeci-o.
por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi- Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
gem uma preposição para o estabelecimento da relação de Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter- Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Paguei minhas contas. / Paguei-as.
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informar
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
lhe, lhes. Informe os novos preços aos clientes.
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: preços)
Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Na utilização de pronomes como complementos, veja
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos as construções:
iguais para todos. Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen- bre eles)
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Observação:
Eles desobedeceram às leis do trânsito. A mesma regência do verbo informar é usada para os
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
Responder - Tem complemento introduzido pela pre-
posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Comparar
quem” ou “ao que” se responde. Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
Respondi ao meu patrão. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondemos às perguntas. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondeu-lhe à altura. uma criança.

Observação: Pedir
O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan- Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
analítica: pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. Pedi-lhe favores.
Objeto Indireto Objeto Direto
Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
tos introduzidos pela preposição “com”. Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
A construção “pedir para”, muito comum na linguagem
D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta.
No entanto, é considerada correta quando a palavra licença
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- estiver subentendida.
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e obje- Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
to indireto relacionado a pessoas. uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
LÍNGUA PORTUGUESA

vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).


Agradeço aos ouvintes a audiência.
Objeto Indireto Objeto Direto Preferir
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indi-
Paguei o débito ao cobrador. reto introduzido pela preposição “a”:
Objeto Direto Objeto Indireto Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Prefiro trem a ônibus.

75
Observação: No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é intran-
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem sitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa contur-
um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo bada cidade.
existente no próprio verbo (pre).
Chamar
Mudança de Transitividade - Mudança de Significa- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, soli-
do citar a atenção ou a presença de.
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- má-la.
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin-
guístico muito importante, pois além de permitir a correta Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apre-
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades sentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, preposicionado ou não.
estão: A torcida chamou o jogador mercenário.
A torcida chamou ao jogador mercenário.
Agradar A torcida chamou o jogador de mercenário.
Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, A torcida chamou ao jogador de mercenário.
acariciar, fazer as vontades de. Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Sempre agrada o filho quando. Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
Aquele comerciante agrada os clientes.
Custar
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agra- Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor
do a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento intro- ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial: Frutas
duzido pela preposição “a”. e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou. No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: duzida de infinitivo.
O cantor desagradou à plateia.
Muito custa viver tão longe da família.
Aspirar Verbo Intransitivo Oração Subordinada
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
(o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Custou-me (a mim) crer nisso.
Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
rávamos a ele)
A Gramática Normativa condena as construções que
Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são utiliza- pessoa: Custei para entender o problema.
das, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. Veja o = Forma correta: Custou-me entender o problema.
exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam
a ela) Implicar
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
Assistir A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar implicavam um firme propósito.
assistência a, auxiliar. B) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
LÍNGUA PORTUGUESA

Como transitivo direto e indireto, significa comprome-


Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- ter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões eco-
ciar, estar presente, caber, pertencer. nômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.

76
Namorar
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois anos.

Obedecer - Desobedecer
Sempre transitivo indireto:
Todos obedeceram às regras.
Ninguém desobedece às leis.

Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.

Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa segunda
acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como refutá-las.
Você procede muito mal.

Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.

Querer
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.

Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Visar
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
O gerente não quis visar o cheque.

No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.

Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração
LÍNGUA PORTUGUESA

de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto
brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:

77
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome.
Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vá-
rios nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo significa,
nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes correspondentes:
todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será comple-
tiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
LÍNGUA PORTUGUESA

Contíguo a Impróprio para Semelhante a


Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

78
Advérbios O termo está se referindo à associação – associação do
Longe de Perto de tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a criminalida-
de (2) (associação daquilo [1] com isso [2])
Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir
o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
paralelamente a; relativa a; relativamente a. PADRÕES GERAIS DE COLOCAÇÃO
PRONOMINAL NO PORTUGUÊS;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010. “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado na
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- íntegra em: Morfologia”
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
/ Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL.
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
COESÃO E COERÊNCIA

Na construção de um texto, assim como na fala, usamos


EXERCÍCIO COMENTADO mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
– 2014 – adaptada) falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, séria a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade das elementos que compõem a oração, como também entre a
estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e cultu- sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
rais de todos os Estados e sociedades. Suas consequências bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
infligem considerável prejuízo às nações do mundo intei- em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
ro, e não são detidas por fronteiras: avançam por todos os cesso têm com o tema.
cantos da sociedade e por todos os espaços geográficos, Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
afetando homens e mulheres de diferentes grupos étnicos, ginária - composta de termos e expressões - que une os
independentemente de classe social e econômica ou mes- diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
mo de idade. Questão de relevância na discussão dos efeitos de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
adversos do uso indevido de drogas é a associação do tráfico ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
de drogas ilícitas e dos crimes conexos — geralmente de ca- tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
ráter transnacional — com a criminalidade e a violência. Esses mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
fatores ameaçam a soberania nacional e afetam a estrutura orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
social e econômica interna, devendo o governo adotar uma re daí a coerência textual.
postura firme de combate ao tráfico de drogas, articulando-se Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
internamente e com a sociedade, de forma a aperfeiçoar e oti- apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
mizar seus mecanismos de prevenção e repressão e garantir o rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
envolvimento e a aprovação dos cidadãos. textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>. erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
prejudica o entendimento do texto. Construído com os
Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
“com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência do Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
vocábulo “conexos”. não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência
LÍNGUA PORTUGUESA

( ) CERTO ( ) ERRADO e independência sintática e semântica, recobertos por unida-


des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevância na Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é
discussão dos efeitos adversos do uso indevido de drogas imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases
é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se
conexos — geralmente de caráter transnacional — com a de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
criminalidade e a violência. os elementos que compõem a estrutura textual.

79
FORMAS DE SE GARANTIR A COESÃO ENTRE OS A coerência de um texto está ligada:
ELEMENTOS DE UMA FRASE OU DE UM TEXTO: 1. à sua organização como um todo, em que devem estar
assegurados o início, o meio e o fim;
 Substituição de palavras com o emprego de sinô- 2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto
nimos - palavras ou expressões do mesmo campo técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada em
associativo. comprovações, apresentação de estatísticas, relato de expe-
 Nominalização – emprego alternativo entre um ver- riências; um texto informativo apresenta coerência se tra-
bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (des- balhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poéticos,
gastar / desgaste / desgastante). por outro lado, trabalham com a linguagem figurada, livre
 Emprego adequado de tempos e modos verbais: associação de ideias, palavras conotativas.
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula.
 Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
posições, artigos: Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira, – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Sua Santidade participou de uma reunião com a Pre- Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
sidente Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumpri-
mentava as pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele SITE
guarda respeito por elas. http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/
 Uso de hipônimos – relação que se estabelece com COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html
base na maior especificidade do significado de um
deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel
(mais genérico).
 Emprego de hiperônimos - relações de um termo EXERCÍCIOS COMENTADOS
de sentido mais amplo com outros de sentido mais
específico. Por exemplo, felino está numa relação de
hiperonímia com gato.
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Ces-
 Substitutos universais, como os verbos vicários.
pe – 2014 – adaptada)
AJUDA DA ZÊ:
Hoje, todos reconhecem, porque Marx impôs esta demons-
Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado
tração no Livro II d’O Capital, que não há produção possível
no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo fa-
sem que seja assegurada a reprodução das condições ma-
zer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque preci-
so. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”, evitando teriais da produção: a reprodução dos meios de produção.
repetição desnecessária. Qualquer economista, que neste ponto não se distingue
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- de qualquer capitalista, sabe que, ano após ano, é preciso
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais, prever o que deve ser substituído, o que se gasta ou se usa
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan- na produção: matéria-prima, instalações fixas (edifícios),
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida instrumentos de produção (máquinas) etc. Dizemos: qual-
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se quer economista é igual a qualquer capitalista, pois ambos
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- exprimem o ponto de vista da empresa.
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
relação entre as duas orações). Louis Althusser. Ideologia e aparelhos ideológicos do Esta-
do. 3.ª ed. Lisboa: Presença, 1980 (com adaptações).
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro-
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de Julgue os itens a seguir, a respeito dos sentidos do texto
progressão textual, dada sua característica: são elementos acima.
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- No texto, os termos “matéria-prima”, “instalações fixas
nentes da situação comunicativa. (edifícios)” e “instrumentos de produção (máquinas)” são
Já os componentes concentram em si a significação. Eli- exemplos de “meios de produção”.
sa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam ( ) CERTO ( ) ERRADO
LÍNGUA PORTUGUESA

os participantes do ato do discurso. Os pronomes demons-


trativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem como Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) é preciso prever
os advérbios de tempo, referenciam o momento da enuncia- o que deve ser substituído, o que se gasta ou se usa na
ção, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou pos- produção: matéria- -prima, instalações fixas (edifí-
terioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (pre- cios), instrumentos de produção (máquinas) etc.
sente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, Os dois-pontos são utilizados para exemplificar o ter-
antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, mo antecedente (produção), portanto a afirmação está
depois de (futuro).” correta.

80
2. (EBSERH – Conhecimentos Básicos para todos os 3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012)
Cargos de Nível Superior – Cespe – 2018 – adaptada) O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a totali-
dade do universo, toda a sociedade, a história, a concepção
Texto CB1A1AAA de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que
se estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de
Já houve quem dissesse por aí que o Rio de Janeiro é a ci- alguma maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em
dade das explosões. Na verdade, não há semana em que os todos os seus níveis, uma espécie de segunda revelação
jornais não registrem uma aqui e ali, na parte rural. do mundo.
A ideia que se faz do Rio é a de que é ele um vasto paiol, e Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o Re-
que vivemos sempre ameaçados de ir pelos ares, como se nascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
estivéssemos a bordo de um navio de guerra, ou habitando Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações).
uma fortaleza cheia de explosivos terríveis.
Certamente que essa pólvora terá toda ela emprego útil; Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual
mas, se ela é indispensável para certos fins industriais, con- “O riso”.
vinha que se averiguassem bem as causas das explosões, se
são acidentais ou propositais, a fim de que fossem removi- ( ) CERTO ( ) ERRADO
das na medida do possível. Isso, porém, é que não se tem
dado e creio que até hoje não têm as autoridades chegado Resposta: Certo. Vamos ao texto: O riso é tão universal
a resultados positivos. como a seriedade; ele abarca a totalidade do universo
Entretanto, é sabido que certas pólvoras, submetidas a (...). Os termos destacados se relacionam. O pronome
dadas condições, explodem espontaneamente, e tem sido “ele” retoma o sujeito “riso”.
essa a explicação para uma série de acidentes bastante do-
lorosos, a começar pelo do Maine, na baía de Havana, sem
esquecer também o do Aquidabã.
Noticiam os jornais que o governo vende, quando avaria- ORTOGRAFIA.
da, grande quantidade dessas pólvoras.
Tudo indica que o primeiro cuidado do governo devia ser não en-
tregar a particulares tão perigosas pólvoras, que explodem assim
sem mais nem menos, pondo pacíficas vidas em constante perigo. ORTOGRAFIA
Creio que o governo não é assim um negociante ganancio-
so que vende gêneros que possam trazer a destruição de A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
vidas preciosas; e creio que não é, porquanto anda sempre grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
zangado com os farmacêuticos que vendem cocaína aos ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
suicidas. Há sempre no Estado curiosas contradições. grafados segundo acordos ortográficos.
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren-
Lima Barreto Pólvora e cocaína In: Vida urbana, 5/1/1915 der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras,
Internet: <www dominiopublico gov br> (com adaptações) familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e,
A correção gramatical do penúltimo parágrafo do texto se- em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti-
ria preservada, embora seu sentido fosse alterado, caso o mologia (origem da palavra).
advérbio “não” fosse deslocado para imediatamente após
“governo”. 1. Regras ortográficas

Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) Tudo indica que A) O fonema S


o primeiro cuidado do governo devia ser não entregar a
particulares tão perigosas pólvoras, que explodem assim São escritas com S e não C/Ç
sem mais nem menos, pondo pacíficas vidas em constante  Palavras substantivadas derivadas de verbos com
perigo. Façamos a alteração proposta: o primeiro cuidado radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender -
do governo não devia ser entregar... Haveria correção pretensão / expandir - expansão / ascender - ascensão
gramatical, mas mudaríamos o sentido do texto, já que / inverter - inversão / aspergir - aspersão / submergir
no original o que se quer dizer é o primeiro cuidado do - submersão / divertir - diversão / impelir - impulsivo
LÍNGUA PORTUGUESA

governo deve ser o de não entregar a particulares; com / compelir - compulsório / repelir - repulsa / recorrer
a alteração: o primeiro cuidado do governo não deve ser - recurso / discorrer - discurso / sentir - sensível / con-
o de entregar a particulares, ou seja, ele tem que tomar sentir – consensual.
cuidado com outras coisas primeiramente, depois com
este fato. São escritos com SS e não C e Ç
 Nomes derivados dos verbos cujos radicais termi-
nem em gred, ced, prim ou com verbos terminados
por tir ou - meter: agredir - agressivo / imprimir - im-

81
pressão / admitir - admissão / ceder - cessão / exceder  Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento,
- excesso / percutir - percussão / regredir - regressão gim.
/ oprimir - opressão / comprometer - compromisso /  Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
submeter – submissão. poucas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege,
 Quando o prefixo termina com vogal que se junta foge.
com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétri- Exceção: pajem.
co - assimétrico / re + surgir – ressurgir.
 No pretérito imperfeito simples do subjuntivo.  Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
Exemplos: ficasse, falasse. litígio, relógio, refúgio.
 Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir,
São escritos com C ou Ç e não S e SS mugir.
 Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.  Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir,
 Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, surgir.
Juçara, caçula, cachaça, cacique.  Depois da letra “a”, desde que não seja radical termi-
 Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu, nado com j: ágil, agente.
uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, ca-
niço, esperança, carapuça, dentuço. São escritas com J e não G
 Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção  Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje.
/ deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.  Palavras de origem árabe, africana ou exótica: ji-
 Após ditongos: foice, coice, traição. boia, manjerona.
 Palavras derivadas de outras terminadas em -te,  Palavras terminadas com aje: ultraje.
to(r): marte - marciano / infrator - infração / absorto
– absorção. D) O fonema ch

B) O fonema z São escritas com X e não CH


 Palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi,
São escritos com S e não Z xucro.
 Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-  Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, la-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: fre- gartixa.
guês, freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.  Depois de ditongo: frouxo, feixe.
 Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, meta-  Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval.
morfose. Exceção: quando a palavra de origem não derive de
 Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)
quiseste.
 Nomes derivados de verbos com radicais termina- São escritas com CH e não X
dos em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / em-  Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chas-
preender - empresa / difundir – difusão. si, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
 Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís -
Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho. E) As letras “e” e “i”
 Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
 Verbos derivados de nomes cujo radical termina  Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem.
com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – Com “i”, só o ditongo interno cãibra.
pesquisar.  Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escreve-
São escritos com Z e não S mos com “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e
 Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de ad- -uir: trai, dói, possui, contribui.
jetivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza.
Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori-
gem não termine com s): final - finalizar / concreto FIQUE ATENTO!
– concretizar. Há palavras que mudam de sentido quando
 Consoante de ligação se o radical não terminar com substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área
LÍNGUA PORTUGUESA

“s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal (superfície), ária (melodia) / delatar (denun-
Exceção: lápis + inho – lapisinho. ciar), dilatar (expandir) / emergir (vir à tona),
imergir (mergulhar) / peão (de estância, que
C) O fonema j anda a pé), pião (brinquedo).

São escritas com G e não J


 Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
gesso.

82
PORQUE (uma só palavra, sem acento gráfico)
#FicaDica
Usos:
Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à 1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale
ortografia de uma palavra, há a possibilidade a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na escrita
de consultar o Vocabulário Ortográfico da Lín- (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até ponto final)
gua Portuguesa (VOLP), elaborado pela Acade- = Compre agora, porque há poucas peças.
mia Brasileira de Letras. É uma obra de referên- 2. como conjunção subordinativa causal, substituível
cia até mesmo para a criação de dicionários, por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu por-
pois traz a grafia atualizada das palavras (sem que se antecipou.
o significado). Na Internet, o endereço é www.
academia.org.br. PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico)

Usos:
2. Informações importantes 1. como substantivo, com o sentido de “causa”, “razão”
ou “motivo”, admitindo pluralização (porquês). Geralmente
Formas variantes são as que admitem grafias ou pro- é precedido por artigo = Não sei o porquê da discussão. É
núncias diferentes para palavras com a mesma significação: uma pessoa cheia de porquês.
aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/quatorze, de-
pendurar/pendurar, flecha/frecha, germe/gérmen, infarto/ 2. ONDE / AONDE
enfarte, louro/loiro, percentagem/porcentagem, relampejar/
relampear/relampar/relampadar. Onde = empregado com verbos que não expressam a
Os símbolos das unidades de medida são escritos sem ideia de movimento = Onde você está?
ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plural,
sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km, Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos
120km/h. que expressam movimento = Aonde você vai?
Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
3. MAU / MAL
Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min, Mau = é um adjetivo, antônimo de “bom”. Usa-se como
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e qualificação = O mau tempo passou. / Ele é um mau ele-
quatro segundos). mento.
O símbolo do real antecede o número sem espaço: R$1.000,00.
No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra vertical ($). Mal = pode ser usado como
1. conjunção temporal, equivalente a “assim que”, “logo
que”, “quando” = Mal se levantou, já saiu.
Alguns Usos Ortográficos Especiais 2. advérbio de modo (antônimo de “bem”) = Você foi
mal na prova?
1. Por que / por quê / porquê / porque 3. substantivo, podendo estar precedido de artigo ou
pronome = Há males que vêm pra bem! / O mal não
POR QUE (separado e sem acento) compensa.

É usado em: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. interrogações diretas (longe do ponto de interroga- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ção) = Por que você não veio ontem? coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
2. interrogações indiretas, nas quais o “que” equivale Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
a “qual razão” ou “qual motivo” = Perguntei-lhe por reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
que faltara à aula ontem. Paulo: Saraiva, 2010.
3. equivalências a “pelo(a) qual” / “pelos(as) quais” = Ig- Português: novas palavras: literatura, gramática, redação
noro o motivo por que ele se demitiu. / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
LÍNGUA PORTUGUESA

POR QUÊ (separado e com acento) Produção de Textos & Gramática. Volume único / Samira
Yousseff, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São Paulo:
Usos: Saraiva, 2002.
1. como pronome interrogativo, quando colocado no
fim da frase (perto do ponto de interrogação) = Você SITE
faltou. Por quê? http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
2. quando isolado, em uma frase interrogativa = Por tografia
quê?

83
4. Hífen O hífen é suprimido quando para formar outros termos:
reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi-
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos #FicaDica
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a Lembrete da Zê!
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se-
Ao separar palavras na translineação (mudan-
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro).
ça de linha), caso a última palavra a ser escri-
ta seja formada por hífen, repita-o na próxima
A) Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
linha. Exemplo: escreverei anti-inflamatório e,
tográfica:
ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima linha
escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as
1. Em palavras compostas por justaposição que formam
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se linhas). Devido à diagramação, pode ser que a
unem para formam um novo significado: tio-avô, repetição do hífen na translineação não ocorra
porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente-coronel, se- em meus conteúdos, mas saiba que a regra é
gunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, pri- esta!
meiro-ministro, azul-escuro.
B) Não se emprega o hífen:
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e zoo-
lógicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbo- 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo ter-
ra-menina, erva-doce, feijão-verde. mina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
“s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes:
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re- antirreligioso, contrarregra, infrassom, microssistema,
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, minissaia, microrradiografia, etc.
recém-casado.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudoprefixo
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
mas exceções continuam por já estarem consagradas
vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação,
pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-per-
autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétrico, pluria-
feito, pé-de-meia, água-de-colônia, queima-roupa,
nual, autoescola, infraestrutura, etc.
deus-dará.
3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
“dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” ini-
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio-
-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas com- cial: desumano, inábil, desabilitar, etc.
binações históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria,
Angola-Brasil, etc. 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- o segundo elemento começar com “o”: cooperação,
per- quando associados com outro termo que é ini- coobrigação, coordenar, coocupante, coautor, coedi-
ciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-ra- ção, coexistir, etc.
cional, etc.
5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, de composição: pontapé, girassol, paraquedas, para-
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. quedista, etc.

8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: pré- 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. to, benquerer, benquerido, etc.

9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas correspon-
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. dentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
10. Nas formações em que o prefixo tem como segun- pressuposto, propor.
LÍNGUA PORTUGUESA

do termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccioso,
geo-história, neo-helênico, extra-humano, semi-hos- auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-huma-
pitalar, super-homem. no, super-realista, alto-mar.
Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma, antis-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo séptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante, ultras-
termina com a mesma vogal do segundo elemento: som, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus, autoa-
micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-obser- juda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
vação, etc.

84
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- das como:
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a
última sílaba: café – coração – Belém – atum – caju – papel
SITE
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/ortografia Paroxítonas – a sílaba tônica recai na penúltima sílaba:
útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível

Proparoxítonas - a sílaba tônica está na antepenúltima


EXERCÍCIOS COMENTADOS
sílaba: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus

1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Ces- Há vocábulos que possuem uma sílaba somente: são
pe – 2013 – adaptada) os chamados monossílabos. Estes são acentuados quando
tônicos e terminados em “a”, “e” ou “o”: vá – fé – pó - ré.
A fim de solucionar o litígio, atos sucessivos e concatenados
são praticados pelo escrivão. Entre eles, estão os atos de co- 2 Os acentos
municação, os quais são indispensáveis para que os sujeitos
do processo tomem conhecimento dos atos acontecidos no A) acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e
correr do procedimento e se habilitem a exercer os direitos “i”, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras repre-
que lhes cabem e a suportar os ônus que a lei lhes impõe. sentam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
Disponível em: <http://jus.com.br> (com adaptações). Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – céu (ditongos abertos).
No que se refere ao texto acima, julgue os itens seguintes. B) acento circunflexo – (^) Colocado sobre as letras
Não haveria prejuízo para a correção gramatical do texto “a”, “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado:
nem para seu sentido caso o trecho “A fim de solucionar o tâmara – Atlântico – pêsames – supôs.
litígio” fosse substituído por Afim de dar solução à demanda C) acento grave – (`) Indica a fusão da preposição “a”
e o trecho “tomem conhecimento dos atos acontecidos no com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
correr do procedimento” fosse, por sua vez, substituído por D) trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi total-
conheçam os atos havidos no transcurso do acontecimento. mente abolido das palavras. Há uma exceção: é utiliza-
do em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros:
( ) CERTO ( ) ERRADO mülleriano (de Müller)
E) til – (~) Indica que as letras “a” e “o” representam
Resposta: Errado. “A fim” tem o sentido de “com a in- vogais nasais: oração – melão – órgão – ímã
tenção de”; já “afim”, “semelhança, afinidade”. Se a pri-
meira substituição fosse feita, o trecho estaria incorreto 2.1 Regras fundamentais
gramatical e coerentemente. Portanto, nem há a neces-
sidade de avaliar a segunda substituição. A) Palavras oxítonas: acentuam-se todas as oxítonas
terminadas em: “a”, “e”, “o”, “em”, seguidas ou não do plu-
ral(s): Pará – café(s) – cipó(s) – Belém.
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
ACENTUAÇÃO GRÁFICA. Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, se-
guidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
ACENTUAÇÃO
B) Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas
Quanto à acentuação, observamos que algumas pala- terminadas em:
vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se i, is: táxi – lápis – júri
dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
isso, vamos às regras! l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax – fór-
ceps
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Regras básicas ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos


ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não
A acentuação tônica está relacionada à intensidade de “s”: água – pônei – mágoa – memória
com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.

85
Os demais casos de acento diferencial não são mais uti-
#FicaDica lizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substantivo),
pelo (preposição). Seus significados e classes gramaticais
Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que são definidos pelo contexto.
esta palavra apresenta as terminações das Polícia para o trânsito para que se realize a operação
paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui planejada. = o primeiro “para” é verbo; o segundo, conjun-
inclua UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará ção (com relação de finalidade).
mais fácil a memorização!

#FicaDica
C) Proparoxítona: a palavra é proparoxítona quando Quando, na frase, der para substituir o “por”
a sua antepenúltima sílaba é tônica (mais forte). Quanto à por “colocar”, estaremos trabalhando com um
regra de acentuação: todas as proparoxítonas são acentua- verbo, portanto: “pôr”; nos demais casos, “por”
das, independentemente de sua terminação: árvore, para- é preposição: Faço isso por você. / Posso pôr
lelepípedo, cárcere. (colocar) meus livros aqui?
2.2 Regras especiais

Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos


2.4 Regra do Hiato
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, segunda
palavras paroxítonas.
vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá acento:
saída – faísca – baú – país – Luís
FIQUE ATENTO! Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
estiverem em uma palavra oxítona (herói) ou Ra-ul, Lu-iz, sa-ir, ju-iz
monossílaba (céu) ainda são acentuados: dói, Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estive-
escarcéu. rem seguidas do dígrafo nh:
ra-i-nha, ven-to-i-nha.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
Antes Agora Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
assembléia assembleia hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
idéia ideia
Antes Agora
geléia geleia
bocaiúva bocaiuva
jibóia jiboia
feiúra feiura
apóia (verbo apoiar) apoia
Sauípe Sauipe
paranóico paranoico
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
2.3 Acento Diferencial abolido:

Representam os acentos gráficos que, pelas regras de


Antes Agora
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras crêem creem
e/ou tempos verbais. Por exemplo: lêem leem
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito
do Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica- vôo voo
tivo do mesmo verbo). enjôo enjoo
LÍNGUA PORTUGUESA

Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:


terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.

86
Observação: nestes casos, admitem-se as separações
#FicaDica “sé-ri-e” e “his-tó-ri-as”, o que as tornaria proparoxíto-
nas.
Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos
que, no plural, dobram o “e”, mas que não re- 2. (Anatel – Técnico Administrativo – cespe – 2012)
cebem mais acento como antes: CRER, DAR, Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego do acento
LER e VER. gráfico tem justificativas gramaticais diferentes.

Repare: ( ) CERTO ( ) ERRADO


O menino crê em você. / Os meninos creem em você.
Elza lê bem! / Todas leem bem! Resposta: Errado. Análise = proparoxítona / mínimos
Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que os = proparoxítona. Ambas são acentuadas pela mesma re-
garotos deem o recado! gra (antepenúltima sílaba é tônica, “mais forte”).
Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! 3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012)
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” recebem
tarde! acento gráfico com base na mesma regra de acentuação
As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, gráfica.
com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou
“i” não serão mais acentuadas: ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Indivíduo = paroxítona terminada em


Antes Depois
ditongo; diária = paroxítona terminada em ditongo; pa-
apazigúe (apaziguar) apazigue ciência = paroxítona terminada em ditongo. Os três vo-
averigúe (averiguar) averigue cábulos são acentuados devido à mesma regra.
argúi (arguir) argui 4. (Ibama – Técnico Administrativo – cespe – 2012) As
palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de acordo com a
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa mesma regra de acentuação gráfica.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo
vir). A regra prevalece também para os verbos conter, obter, ( ) CERTO ( ) ERRADO
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. Resposta: Errado. Pó = monossílaba terminada em “o”;
só = monossílaba terminada em “o”; céu = monossílaba
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS terminada em ditongo aberto “éu”.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE
Paulo: Saraiva, 2010. CRASE.

SITE
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao.
htm CRASE

A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais


idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
EXERCÍCIOS COMENTADOS o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Ces- o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
pe – 2014) Os termos “série” e “história” acentuam-se em Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
conformidade com a mesma regra ortográfica. acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
quais.
LÍNGUA PORTUGUESA

( ) CERTO ( ) ERRADO O uso do acento indicativo de crase está condicionado


aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no-
Resposta: Certo. “Série” = acentua-se a paroxítona ter- minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
minada em ditongo / “história” - acentua-se a paroxíto- Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige
na terminada em ditongo complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido
Ambas são acentuadas devido à regra da paroxítona ter- é aquele que completa o sentido do termo regente, admi-
minada em ditongo. tindo a anteposição do artigo a(s).

87
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- Iremos àquela reunião.
tratada recentemente. (preposição + pronome demonstrativo)
Após a junção da preposição com o artigo (destacados
entre parênteses), temos: Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian-
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada ça. (àquelas que eu ouvia quando criança)
recentemente. (preposição + pronome demonstrativo)

O verbo referir, de acordo com sua transitividade, classi- A letra “a” que acompanha locuções femininas (adver-
fica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referimos biais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento grave:
a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o  locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome pressas, à vontade...
demonstrativo aquela (àquela).  locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro-
cura de...
Observações importantes:  locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns: Cuidado: quando as expressões acima não exercerem a
 Substitui-se a palavra feminina por uma masculina função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a Eu adoro a noite!
crase está confirmada. Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
Os dados foram solicitados à diretora. objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Os dados foram solicitados ao diretor. preposição.
 No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na Casos passíveis de nota:
expressão “voltar da”, há a confirmação da crase.
Faremos uma visita à Bahia.  A crase é facultativa diante de nomes próprios femi-
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) ninos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
 Também é facultativa diante de pronomes possessi-
Não me esqueço da viagem a Roma. vos femininos: O diretor fez referência a (à) sua em-
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja- presa.
mais vividos.  Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja fi-
cará aberta até as (às) dezoito horas.
Nas situações em que o nome geográfico se apresentar  Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
modificado por um adjunto adnominal, a crase está con- tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se im-
firmada. plícitas, mesmo diante de nomes masculinos: Tenho
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à moda
praias. de Luís XV)
 Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, obser-
#FicaDica vamos a queima de fogos a distância.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a arremessado à distância de cem metros.
Campinas. = Volto de Campinas. (crase pra
quê?)  De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) -, faz-se necessário o emprego da crase.
Ensino à distância.
Ensino a distância.
Quando o nome de lugar estiver especificado, ocorrerá  Em locuções adverbiais formadas por palavras repe-
crase. Veja: tidas, não há ocorrência da crase.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que, Ela ficou frente a frente com o agressor.
pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” Eu o seguirei passo a passo.
LÍNGUA PORTUGUESA

Irei à Salvador de Jorge Amado.


Casos em que não se admite o emprego da crase:
A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re- Antes de vocábulos masculinos.
gente exigir complemento regido da preposição “a”. As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Entregamos a encomenda àquela menina. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)

88
Antes de verbos no infinitivo.
Ele estava a cantar.
Começou a chover. EXERCÍCIOS COMENTADOS

Antes de numeral. 1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Ces-


O número de aprovados chegou a cem. pe – 2014 – adaptada) O acento indicativo de crase em
Faremos uma visita a dez países. “à humanidade e à estabilidade” é de uso facultativo, razão
por que sua supressão não prejudicaria a correção grama-
Observações: tical do texto.
 Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
nando como uma locução adverbial feminina – ocor- ( ) CERTO ( ) ERRADO
rerá crase: Os passageiros partirão às dezenove horas.
 Diante de numerais ordinais femininos a crase está Resposta: Errado. Retomemos o contexto: (...) O uso in-
confirmada, visto que estes não podem ser empre- devido de drogas constitui, na atualidade, séria e persis-
gados sem o artigo: As saudações foram direcionadas tente ameaça à humanidade e à estabilidade das estrutu-
à primeira aluna da classe. ras e valores políticos (...).
 Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando O uso do acento indicativo de crase é obrigatório, já que
essa não se apresentar determinada: Chegamos to- os termos “humanidade” e “estabilidade” complemen-
dos exaustos a casa. tam o nome “ameaça” – “ameaça a quê? a quem?” = a
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto adno- regência nominal pede preposição.
minal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaustos
à casa de Marcela. 2. (TCE-PA – Conhecimentos Básicos – AUDITOR DE
CONTROLE EXTERNO – EDUCACIONAL – Cespe –
 Não há crase antes da palavra “terra”, quando essa 2016)
indicar chão firme: Quando os navegantes regressa-
ram a terra, já era noite. Texto CB1A1BBB
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter-
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com o
Paulo viajou rumo à sua terra natal. funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que es-
O astronauta voltou à Terra. touraram o limite de gastos com pessoal fixado pela Lei
Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Respon-
 Não ocorre crase antes de pronomes que requerem sabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria legis-
o uso do artigo. lação destinada a assegurar, como alegam, maior rigor na
Os livros foram entregues a mim. gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de respon-
Dei a ela a merecida recompensa. sabilidade fiscal para, segundo argumentam, fortalecer a
estrutura legal que protege o dinheiro público do mau uso
por gestores irresponsáveis.
 Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos Examinando-se a situação financeira dos estados que pre-
à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, o param sua versão da lei de responsabilidade fiscal, fica di-
uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, fícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000, quando
no caso de o termo regente exigir a preposição. entrou em vigor a LRF, esses estados, como os demais, es-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. tão sujeitos a regras precisas para a gestão do dinheiro pú-
 Não ocorre crase antes de nome feminino utilizado blico, para a criação de despesas e, em particular, para os
em sentido genérico ou indeterminado: gastos com pessoal. Por que, tendo descumprido algumas
Estamos sujeitos a críticas. dessas regras, estariam interessados em torná-las ainda
Refiro-me a conversas paralelas. mais rigorosas?
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis pelo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS dinheiro público que, por alguma razão, não a cumpriram.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigorosa, se nem
coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nas condições atuais esses responsáveis estão sendo ca-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- pazes de cumpri-la? O problema não está na lei. Mudá-la
LÍNGUA PORTUGUESA

reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São pode ser o pretexto não para torná-la mais rigorosa, mas
Paulo: Saraiva, 2010. para atribuir-lhe alguma flexibilidade que a desfigure. O
verdadeiro problema é a dificuldade do setor público de
SITE adaptar suas despesas às receitas em queda por causa da
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-. crise.
html
Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com adapta-
ções).

89
O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da re-  Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com-
gência do verbo “adaptar” e da presença do artigo definido panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de
feminino determinando o substantivo “receitas”. período, este não receberá outro ponto; neste caso,
o ponto de abreviatura marca, também, o fim de pe-
( ) CERTO ( ) ERRADO ríodo. Exemplo: Estudei português, matemárica, cons-
titucional, etc. (e não “etc..”)
Resposta: Certo. Texto: O verdadeiro problema é a di-  Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do
ficuldade do setor público de adaptar suas despesas às ponto, assim como após o nome do autor de uma
receitas em queda por causa da crise = quem adapta, citação:
adapta algo/alguém A algo/alguém. Haverá eleições em outubro
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão
3. (Fnde – Técnico em Financiamento e Execução de Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
Programas e Projetos Educacionais – cespe – 2012) O  Os números que identificam o ano não utilizam
emprego do sinal indicativo de crase em “adequando os ob- ponto nem devem ter espaço a separá-los, bem como os
jetivos às necessidades” justifica-se pela regência do verbo números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250.
adequar, que exige complemento regido pela preposição
“a”, e pela presença de artigo definido feminino antes de B) Ponto e Vírgula (;)
“necessidades”.
 Separa várias partes do discurso, que têm a mesma
( ) CERTO ( ) ERRADO importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os
ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos
Resposta: Certo. Adequar o quê? – os objetivos (objeto dão pelo pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo
direto) – adequar o quê a quê? – a + as (=às) necessida- pão a alma...” (VIEIRA)
des – objeto indireto. A explicação do enunciado está  Separa partes de frases que já estão separadas por
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros,
correta.
montanhas, frio e cobertor.
 Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – cespe
tivos, decreto de lei, etc.
– 2014 – adaptada) No trecho “deu início à sua cami-
Ir ao supermercado;
nhada cósmica”, o emprego do acento grave indicativo de
Pegar as crianças na escola;
crase é obrigatório.
Caminhada na praia;
Reunião com amigos.
( ) CERTO ( ) ERRADO
C) Dois pontos (:)
Resposta: Errado. “deu início à sua caminhada cósmi-
ca” – o uso do acento indicativo de crase, neste caso, é  Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio Cou-
facultativo (antes de pronome possessivo). tinho trata este assunto:
 Antes de um aposto = Três coisas não me agradam:
chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
PONTUAÇÃO.  Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es-
tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a
rotina de sempre.
 Em frases de estilo direto
PONTUAÇÃO Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
servem para compor a coesão e a coerência textual, além D) Ponto de Exclamação (!)
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando  Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me casar
depende, em certos momentos, da intenção do autor do com você!
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente  Depois de interjeições ou vocativos
LÍNGUA PORTUGUESA

relacionados ao contexto e ao interlocutor. Ai! Que susto!


João! Há quanto tempo!
1. Principais funções dos sinais de pontuação
E) Ponto de Interrogação (?)
A) Ponto (.)
 Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
 Indica o término do discurso ou de parte dele, en- “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
cerrando o período. vedo)

90
F) Reticências (...) Observações:
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expressão
 Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis, latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria dis-
canetas, cadernos... pensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo
 Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc.
dizer... é verdad... Ah!” predecido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc.
 Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
mal... pega doutor? As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
 Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa, binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você
depois, o coração falar... falou isso para ela?!

G) Vírgula (,) Temos, ainda, sinais distintivos:


 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), separa-
Não se usa vírgula ção de siglas (IOF/UPC);
Separando termos que, do ponto de vista sintático, li-  os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas
gam-se diretamente entre si: pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira
1. Entre sujeito e predicado: opção aos parênteses, principalmente na matemáti-
Todos os alunos da sala foram advertidos. ca;
Sujeito predicado  o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a uma
nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um
2. Entre o verbo e seus objetos: nome que não se quer mencionar.
O trabalho custou sacrifício aos
realizadores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
V.T.D.I. O.D. O.I. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Usa-se a vírgula: Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
1. Para marcar intercalação: coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- SITE


dância, vem caindo de preço. http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.htm
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, EXERCÍCIOS COMENTADOS
não querem abrir mão dos lucros altos.

2. Para marcar inversão: 1. (STJ – Conhecimentos Básicos para o Cargo 1 –


Cespe – 2018 – adaptada)
A) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas Texto CB1A1CCC
fechadas.
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes reve-
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. laram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram rela-
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de tos de sofrimento, dor, angústia que se transportavam da
maio de 1982. cadeira das vítimas, testemunhas e réus para minha cadeira
de juíza. A toga não me blindou daqueles relatos sofridos,
3. Para separar entre si elementos coordenados (dis- aflitos. As angústias dos que se sentavam à minha frente,
postos em enumeração): por diversas vezes, me escoltaram até minha casa e pas-
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. saram a ser companheiras de noites de insônia. Não havia
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais. outra solução a não ser escrever. Era preciso colocar no
LÍNGUA PORTUGUESA

4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós quere- papel e compartilhar a dor daquelas pessoas que, mesmo
mos comer pizza; e vocês, churrasco. ao fim do processo e com a sentença prolatada, não me
deixavam esquecê-las.
5. Para isolar: Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas,
esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em co-
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasi- mum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de casa.
leira, possui um trânsito caótico. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para essas mu-
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. lheres, havia se transformado no pior dos mundos.

91
Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sentavam meio da polícia, sendo necessário dividir as tarefas de con-
à minha frente, os relatos se transformavam em desabafos trole com organizações locais e com a comunidade.
de uma vida inteira. Era preciso explicar, justificar e muitas Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem públi-
vezes se culpar por terem sido agredidas. A culpa por ter ca e garantia dos direitos individuais: os desafios da polícia
sido vítima, a culpa por ter permitido, a culpa por não ter em sociedades democráticas. In: Revista Brasileira de Segu-
sido boa o suficiente, a culpa por não ter conseguido man- rança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – mar./2011, p.
ter a família. Sempre a culpa. 84-5 (com adaptações).
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma for-
ça externa como se somente nós, juízes, promotores e ad- No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos
vogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo de introduzem
violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela vio-
lência invisível. a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias b) resultados da “consolidação da cidadania”.
além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como
adaptações). algo “amplo”.
d) uma generalização do termo “direitos”.
O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o sen- e) objetivos do “processo de redemocratização”.
tido de “nós”.
Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso SEM-
( ) CERTO ( ) ERRADO PRE durante seu concurso. O texto é a base para en-
contrar as respostas para as questões!): (...) abrangendo
Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres che- as três categorias de direitos: civis, políticos e sociais. Os
gavam à Justiça buscando uma força externa como se so- dois-pontos introduzem a enumeração dos direitos; apre-
mente nós, juízes, promotores e advogados, pudéssemos senta-os.
não apenas cessar aquele ciclo de violência (...). Os ter-
mos entre vírgulas servem para exemplificar quem são 3. (Aneel – Técnico Administrativo – cespe – 2010)
os “nós” citados pela autora (juízes, promotores, advo- Vão surgindo novos sinais do crescente otimismo da in-
gados). dústria com relação ao futuro próximo. Um deles refere-se
às exportações. “O comércio mundial já está voltando a se
2. (SERES-PE – Agente de Segurança Penitenciária – abrir para as empresas”, diz o gerente executivo de pesqui-
Cespe – 2017 – adaptada) sas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato
da Fonseca, para explicar a melhora das expectativas dos
Texto 1A1AAA industriais com relação ao mercado externo.
Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria
Após o processo de redemocratização, com o fim da dita- não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois elas
dura militar, em meados da década de 80 do século passa- já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a pesqui-
do, era de se esperar que a democratização das instituições sa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010, registra
tivesse como resultado direto a consolidação da cidadania grande otimismo da indústria com relação à demanda in-
— compreendida de modo amplo, abrangendo as três ca- terna. Trata-se de um sentimento generalizado. Em todos
tegorias de direitos: civis, políticos e sociais. Sobressaem, os setores industriais, a expressiva maioria dos entrevista-
porém, problemas que configuram mais desafios para a ci- dos acredita no aumento das vendas internas.
dadania brasileira, como a violência urbana — que ameaça O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adaptações).
os direitos individuais — e o desemprego — que ameaça
os direitos sociais. O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir de por tratar-se de um vocativo.
1980, impacto do processo de modernização pelo qual o
país passou. Isso sugere que o boom do consumo colocou ( ) CERTO ( ) ERRADO
em circulação bens de alto valor e, consequentemente, au-
mentou as oportunidades para o crime, inclusive porque a Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de
maior mobilidade de pessoas torna o espaço social mais fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o
anônimo, menos supervisionado. gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio-
LÍNGUA PORTUGUESA

Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar a
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. O melhora das expectativas. O termo em destaque não está
objetivo em relação à criminalidade torna-se bem menos exercendo a função de vocativo, já que não é utilizado
ambicioso: o controle. A prisão ganha mais importância na para evocar, chamar o interlocutor do diálogo. Sua fun-
modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla necessida- ção é de aposto – explicar quem é o gerente executivo
de dessa nova cultura: castigo e controle do risco. Essa pos- da CNI.
tura às vezes proporciona controle, porém não segurança,
pois o Estado tem o poder limitado de manter a ordem por

92
4. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho 1. A Ordem dos Termos na Frase
– cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do
trecho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso se ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”. Todavia, há diferentes maneiras de se organizar gramatical-
mente tal frase, tudo depende da necessidade ou da von-
( ) CERTO ( ) ERRADO tade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo, porém,
acrescentado ênfase a algum dos seus termos. Significa di-
Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre su- zer que, ao escrever, podemos fazer uma série de inversões
jeito e predicado, a não ser que se trate de um apos- e intercalações em nossas frases, conforme a nossa von-
to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que tade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos
requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O transmitir uma ideia, do nosso estilo. Por exemplo, pode-
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! Os mos expressar a mensagem da frase 2 da seguinte maneira:
meninos, ansiosos (2), chegaram! No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
sando desemprego.

Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma, ape-


REESCRITA DE FRASES: SUBSTITUIÇÃO, nas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase a al-
DESLOCAMENTO, PARALELISMO; VARIAÇÃO guns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare que,
LINGUÍSTICA: NORMA CULTA. para obter a clareza tivemos que fazer o uso de vírgulas.
Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e
o que mais nos auxilia na organização de um período, pois
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE ESTRU- facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula
TURAS ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando produzimos
frases complexas. Com isto, “entregamos” frases bem orga-
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase nizadas aos nossos leitores.
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um O básico para a organização sintática das frases é a or-
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmen- dem direta dos termos da oração. Os gramáticos estrutu-
te devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar ram tal ordem da seguinte maneira:
e, posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo,
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem SUJEITO + VERBO+ COMPLEMENTO VERBAL+ CIR-
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e a CUNSTÂNCIAS
experiência de vida antecedem o ato de escrever.
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos A globalização + está causando+ desemprego + no
escrever, feito o esquema de exposição da matéria, é ne- Brasil nos dias de hoje.
cessário saber ordenar as ideias em frases bem estrutura-
das. Logo, não basta conhecer bem um determinado as- Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem todas
sunto, temos que o transmitir de maneira clara aos leitores. contêm todos estes elementos, portanto cabem algumas
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso aliado observações:
para organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Para A) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
tanto, é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sintaxe”, con- normalmente são representadas por adjuntos adverbiais
forme o dicionário Aurélio, é a “parte da gramática que estuda de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan-
a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso, do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe
bem como a relação lógica das frases entre si”; ou em outras a tendência a colocar os adjuntos nos começos das frases:
palavras, sintaxe quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas mi-
palavras de maneira a produzirem um sentido evidente para nhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos e ou-
os receptores das nossas mensagens. Observe: tros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
1. A desemprego globalização no Brasil e no na está La-
tina América causando. Observações:
2. A globalização está causando desemprego no Brasil e Tais construções não estão erradas, mas rompem com
na América Latina. a ordem direta;
LÍNGUA PORTUGUESA

É preciso notar que em Língua Portuguesa, há muitas


Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma frases que não têm sujeito, somente predicado. Por exem-
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização de plo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Friburgo.
“uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem relação São quatro horas agora;
inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de Outras frases são construídas com verbos intransitivos,
maneira perfeita e o sentido está claro para receptores de que não têm complemento:
língua portuguesa inteirados da situação econômica e cul- O menino morreu na Alemanha. (sujeito +verbo+ ad-
tural do mundo atual. junto adverbial)

93
A globalização nasceu no século XX. (idem) A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
Há ainda frases nominais que não possuem verbos: Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem complemento.
direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos
existentes nelas. A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
no Brasil…
Levando em consideração a ordem direta, podemos es- Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não per-
tabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: tence ao assunto: globalização, da frase principal, tal ora-
ção é apenas um comentário à parte entre o complemento
Se os termos estão colocados na ordem direta não ha- verbal e os adjuntos).
verá a necessidade de vírgulas. A frase 2 é um exemplo Observação:
disto: A simples negação em uma frase não exige vírgula: A
A globalização está causando desemprego no Brasil e na globalização não causou desemprego no Brasil e na América
América Latina. Latina.

Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração C) Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula, tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra n.º 3 da
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a re- colocação da vírgula.
gra básica n.º1 para a colocação da vírgula. Veja: No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” cau- sando desemprego…
sam desemprego… No fim do século XX, a globalização causou desemprego
(três núcleos do sujeito) no Brasil…

A globalização causa desemprego no Brasil, na América Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
Latina e na África. se dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito.
(três adjuntos adverbiais) Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramá-
tica, são representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas
A globalização está causando desemprego, insatisfação e vezes, elas são colocadas em orações chamadas adverbiais
sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. (três que têm uma função semelhante a dos adjuntos adverbiais,
complementos verbais) isto é, denotam tempo, lugar, etc. Exemplos:
Quando o século XX estava terminando, a globalização
B) Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- começou a causar desemprego.
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu Enquanto os países portadores de alta tecnologia desen-
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, ou volvem-se, a globalização causa desemprego nos países po-
seja, não devemos separar com vírgula os termos da ora- bres.
ção. Veja exemplos de tal incorreção: Durante o século XX, a Globalização causou desemprego
O Brasil, será feliz. no Brasil.
A globalização causa, o desemprego.
Observação:
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Quanto à equivalência e transformação de estruturas,
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, um exemplo muito comum cobrado em provas é o enun-
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é ciado trazer uma frase no singular e pedir a passagem para
a regra básica n.º 2 para a colocação da vírgula. Dito em o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a mudança
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases de tempos verbais.
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos com
vírgulas. Vejamos: SITE
A globalização, fenômeno econômico deste fim de século http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu-
XX, causa desemprego no Brasil. dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o
sujeito e o verbo.
Outros exemplos: ANÁLISE E TIPO DE DISCURSO
LÍNGUA PORTUGUESA

A globalização, que é um fenômeno econômico e cultu-


ral, está causando desemprego no Brasil e na América Lati- A Análise do Discurso é uma prática da linguística no
na. campo da Comunicação, e consiste em analisar a estrutura
Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada. de um texto e, a partir disto, compreender as construções
As orações adjetivas explicativas desempenham fre- ideológicas presentes no mesmo.
quentemente um papel semelhante ao do aposto explicati- O discurso em si é uma construção linguística atrelada
vo, por isto são também isoladas por vírgula. ao contexto social no qual o texto é desenvolvido. Ou seja,
as ideologias presentes em um discurso são diretamente

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determinadas pelo contexto político-social em que vive o A) Discurso direto: reproduz fiel e literalmente algo
seu autor. Mais que uma análise textual, a análise do Dis- dito por alguém. Um bom exemplo de discurso direto são
curso é uma análise contextual da estrutura discursiva em as citações ou transcrições exatas da declaração de alguém.
questão.  Primeira pessoa (eu, nós) – é o narrador quem fala,
Michel Foucault descreveu a Ordem do Discurso como usando aspas ou travessões para demarcar que está
uma construção de características sociais. A sociedade que reproduzindo a fala de outra pessoa: “Não gosto dis-
promove o contexto do discurso analisado é a base de toda so” – disse a menina em tom zangado.
a estrutura do texto, atrelando, deste modo, todo e qualquer
elemento que possa fazer parte do sentido do discurso. O B) Discurso indireto: o narrador, usando suas próprias
texto só pode assim ser chamado se o seu receptor for capaz palavras, conta o que foi dito por outra pessoa. Temos en-
de compreender o seu sentido, e isto cabe ao autor do texto tão uma mistura de vozes, pois as falas dos personagens
e à atenção que o mesmo der ao contexto da construção de passam pela elaboração da fala do narrador.
seu discurso. É a relação básica para a existência da comuni-  Terceira pessoa - ele(s), ela(s) – O narrador só usa
cação verbal: emissão – recepção – compreensão. sua própria voz, o que foi dito pela personagem passa pela
As práticas discursivas geram também outros âmbitos elaboração do narrador. Não há uma pontuação específica
de análise do discurso, como o Universo de Concorrências, que marque o discurso indireto: A menina disse em tom
que consiste na competição entre vários emissores para zangado, que não gostava daquilo.
atingir um mesmo público-alvo. A partir disto, os emisso-
res precisam inteirar-se do contexto da vida do seu recep- C) Discurso indireto livre: É um discurso no qual há
tor, para que deste modo possam interpelá-lo segundo uma maior liberdade, o narrador insere a fala do persona-
sua própria ideologia, fazendo com que sua mensagem gem de forma sutil, sem fazer uso das marcas do discurso
seja recebida e assimilada pelo receptor sem que o mesmo direto. É necessário que se tenha atenção para não confun-
perceba que está sendo alvo de uma tentativa de conven- dir a fala do narrador com a fala do personagem, pois esta
cimento, por assim dizer. surge de repente em meio à fala do narrador: A menina pe-
Dentro da análise do Discurso há também o discurso rambulava pela sala irritada e zangada. Eu não gosto disso!
estético, feito por meio de imagens, e que interpelam o E parecia que ninguém a ouvia.
indivíduo através de sua sensibilidade, que está ligada ao
seu contexto também. A sensibilidade de um indivíduo se 1.2. Níveis de Linguagem
define a partir do que, ao longo de sua vida, torna-se im-
portante e desperta-lhe sentimentos. Com isto, podemos A língua é um código de que se serve o homem para
analisar as artes produzidas em diferentes épocas da his- elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica-
tória em todo o mundo e perceber as diferentes formas de mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas
interpelação e contextualidade presentes nas mesmas. O funcionais:
discurso estético tem a mesma capacidade ideológica que A) a língua funcional de modalidade culta, língua
o discurso verbal, com a vantagem de atingir o indivíduo culta ou língua-padrão, que compreende a língua literá-
esteticamente, o que pode render muito mais rapidamente ria, tem por base a norma culta, forma linguística utilizada
o sucesso do discurso aplicado. pelo segmento mais culto e influente de uma sociedade.
A partir na análise de todos os aspectos do discurso Constitui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de co-
chega-se ao mais importante: o sentido. O sentido do dis- municação de massa (emissoras de rádio e televisão, jor-
curso não é fixo, por vários motivos: pelo contexto, pela es- nais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de
tética, pela ordem do discurso, pela sua forma de constru- serem aliados da escola, prestando serviço à sociedade,
ção. O sentido do discurso encontra-se sempre em aberto colaborando na educação;
para a possibilidade de interpretação do seu receptor. O B) a língua funcional de modalidade popular; língua
efeito do discurso é, claramente, transmitir uma mensagem popular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as
e alcançar um objetivo premeditado através da interpreta- mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
ção e interpelação do indivíduo alvo.
1.3. Norma culta
1. Tipos de Discurso: direto, indireto e indireto livre
A norma culta, forma linguística que todo povo civiliza-
1.1. Vozes do Discurso do possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.
E justamente em nome dessa unidade, tão importante do
LÍNGUA PORTUGUESA

Ao lermos um texto, observamos que há um narrador ponto de vista político--cultural, que é ensinada nas esco-
- que é quem conta o fato. Esse locutor ou narrador pode las e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e
introduzir outras vozes no texto para auxiliar a narrativa. criativa, a língua popular afigura-se mais expressiva e dinâ-
Para fazer a introdução dessas outras vozes no texto, a voz mica. Temos, assim, à guisa de exemplificação:
principal ou privilegiada - o narrador - usa o que chama- Estou preocupado. (norma culta)
mos de discurso. O que vem a ser discurso dentro do tex- Tô preocupado. (língua popular)
to? É a forma como as falas são inseridas na narrativa. Ele Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
pode ser classificado em: direto, indireto e indireto livre.

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Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir)
urge conhecer a língua popular, captando-lhe a esponta- Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
neidade, expressividade e enorme criatividade, para viver; dispersar e Não vamos dispersar-nos)
urge conhecer a língua culta para conviver. Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- sair daqui bem depressa)
mas da língua culta. O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
seu posto)
1.4. O conceito de erro em língua
As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- tais verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as
a norma culta. formas então legítimas impido, despido e desimpido, que hoje
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de usar.
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe-
praia, vestido de fraque e cartola. rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que
Releva considerar, assim, o momento do discurso, que deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o da língua popular para a língua culta”.
das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami- Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a uma
gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada confor-
perfeitamente normais construções do tipo: me as normas gramaticais; em suma, conforme a norma culta.
Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar. 1.5. Língua escrita e língua falada - Nível de lingua-
Deixe eu ver isso! gem
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo. A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco-
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo. nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada.
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação
norma culta, deixando mais livres os interlocutores. (melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos,
é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade
por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural,
seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e
alteram: a evoluções.
Eu não a vi hoje. Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importância.
Ninguém o deixou falar. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a língua
Deixe-me ver isso! falada com base na língua escrita, considerada superior.
Eu te amo, sim, mas não abuses! Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, a
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele. que os professores sempre estão atentos.
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe. Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos-
trando as características e as vantagens de uma e outra,
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista, ou inferioridade, que em verdade inexiste.
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres- Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas, gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale-
à causa do ensino. tos, consequência natural do enorme distanciamento entre
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte poé- uma modalidade e outra.
LÍNGUA PORTUGUESA

tica, caracterizado por construções de rara beleza. A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. borada que a língua falada, porque é a modalidade que
Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a
de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co- que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne-
mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo,
que não tenha amparo gramatical. Exemplos: processam-se lentamente e em número consideravelmen-
Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!) te menor, quando cotejada com a modalidade falada.

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Importante é fazer o educando perceber que o nível da Apesar disso, uma dessas variedades, a norma culta ou
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com norma padrão, tem maior prestígio social. É a variedade
a situação em que se desenvolve o discurso. linguística ensinada na escola, contida na maior parte
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- dos livros e revistas e também em textos científicos e
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia didáticos, em alguns programas de televisão etc. As demais
e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não variedades, como a regional, a gíria ou calão, o jargão
fala com uma criança como se estivesse em uma missa, as- de grupos ou profissões (a linguagem dos policiais, dos
sim como uma criança não fala como um adulto. Um enge- jogadores de futebol, dos metaleiros, dos surfistas), são
nheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível chamadas genericamente de dialeto popular ou linguagem
de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum popular.
professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e
na sala de aula. 3. Propósito da língua
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o coti- A língua que utilizamos não transmite apenas nossas
diano, a que já fizemos referência. ideias, transmite também um conjunto de informações
sobre nós mesmos. Certas palavras e construções
Norma Culta que empregamos acabam denunciando quem somos
socialmente, ou seja, em que região do país nascemos, qual
Norma culta ou linguagem culta é uma expressão nosso nível social e escolar, nossa formação e, às vezes,
empregada pelos linguistas brasileiros para designar o até nossos valores, círculo de amizades e hobbies, como
conjunto de variedades linguísticas efetivamente faladas, skate, rock, surfe, entre outros. O uso da língua também
na vida cotidiana, pelos falantes cultos, sendo assim pode informar nossa timidez, sobre nossa capacidade de
classificados os cidadãos nascidos e criados em zona nos adaptarmos e situações novas, nossa insegurança.
urbana e com grau de instrução superior completo. A língua é um poderoso instrumento de ação social. Ela
O Instituto Camões entende que a “noção de correção pode tanto facilitar quanto dificultar o nosso relacionamento
está [...] baseada no valor social atribuído às [...] formas com as pessoas e com a sociedade em geral.
[linguísticas]”. Ainda assim, informa que a norma-padrão
do português europeu é o dialeto da região que abrange 4. Língua culta na escola
Lisboa e Coimbra; refere também que se aceita no Brasil
como norma-padrão a fala do Rio e de São Paulo. O ensino da língua culta na escola não tem a
finalidade de condenar ou eliminar a língua que falamos
1. Aquisição da linguagem em nossa família ou em nossa comunidade. Ao contrário,
o domínio da língua culta, somado ao domínio de outras
Iniciamos o aprendizado da língua em casa, no contato variedades linguísticas, torna-nos mais preparados para
com a família, que é o primeiro círculo social para uma nos comunicarmos. Saber usar bem uma língua equivale
criança, imitando o que se ouve e aprendendo, aos poucos, a saber empregá-la de modo adequado às mais diferentes
o vocabulário e as leis combinatórias da língua. Um jovem situações sociais de que participamos.
falante também vai exercitando o aparelho fonador, ou
seja, a língua, os lábios, os dentes, os maxilares, as cordas 5. Graus de formalismo
vocais para produzir sons que se transformam, mais tarde,
em palavras, frases e textos. São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo,
Quando um falante entra em contato com outra pessoa, tais como: o registro formal, que é uma linguagem mais
na rua, na escola ou em qualquer outro local, percebe que cuidada; o coloquial, que não tem um planejamento prévio,
nem todos falam da mesma forma. Há pessoas que falam de caracterizando-se por construções gramaticais mais livres,
forma diferente por pertencerem a outras cidades ou regiões repetições frequentes, frases curtas e conectores simples;
do país, ou por terem idade diferente da nossa, ou por fazerem o informal, que se caracteriza pelo uso de ortografia
parte de outro grupo ou classe social. Essas diferenças no uso simplificada, construções simples e usado entre membros
da língua constituem as variedades linguísticas. de uma mesma família ou entre amigos.
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau
2. Variedades linguísticas de formalismo existente na situação de comunicação; com
o modo de expressão, isto é, se trata de um registro formal
LÍNGUA PORTUGUESA

Variedades linguísticas são as variações que uma língua ou escrito; com a sintonia entre interlocutores, que envolve
apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, aspectos como graus de cortesia, deferência, tecnicidade
regionais e históricas em que é utilizada. (domínio de um vocabulário específico de algum campo
Todas as variedades linguísticas são adequadas, desde científico, por exemplo).
que cumpram com eficiência o papel fundamental de uma
língua, o de permitir a interação verbal entre as pessoas,
isto é, a comunicação.

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ATITUDES NÃO RECOMENDADAS - Entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não
a;
1. Expressões condenáveis - Implicar em – a regência é direta (sem em);
- Ir de encontro a – chocar-se com;
- A nível de, ao nível. Opção: em nível, no nível; - Ir ao encontro de – concordar com;
- Face a, frente a. Opção: ante, diante, em face de, em - Junto a – usar apenas quando equivale a adido ou
vista de, perante; similar;
- Onde (quando não exprime lugar). Opção: em que, na - O (a, s) mesmo (a, s) – uso condenável para substituir
qual, nas quais, no qual, nos quais; pronomes;
- (Medidas) visando... Opção: (medidas) destinadas a; - Se não, senão – quando se pode substituir por caso
- Sob um ponto de vista. Opção: de um ponto de vista; não, separado; quando não se pode, junto;
- Sob um prisma. Opção: por (ou através de) um prisma; - Todo mundo – todos;
- Como sendo. Opção: suprimir a expressão; - Todo o mundo – o mundo inteiro;
- Em função de. Opção: em virtude de, por causa de, em - Não-pagamento = hífen somente quando o segun-
consequência de, por, em razão de. do termo for substantivo;
- Este e isto – referência próxima do falante (a lugar,
2. Expressões não recomendadas a tempo presente; a futuro próximo; ao anunciar e a
que se está tratando);
- A partir de (a não ser com valor temporal). Opção: com - Esse e isso – referência longe do falante e perto do
base em, tomando-se por base, valendo-se de; ouvinte (tempo futuro, desejo de distância; tem-
- Através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Op- po passado próximo do presente, ou distante ao já
ção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, mencionado e a ênfase).
segundo;
- Devido a. Opção: em razão de, em virtude de, graças 4. Erros Comuns
a, por causa de;
- Dito. Opção: citado, mensionado A seguir listamos mais de 100 erros comuns.
- Enquanto. Opção: ao passo que; 1) “Hoje ao receber alguns presentes no qual comple-
- Fazer com que. Opção: compelir, constranger, fazer to vinte anos tenho muitas novidades para contar”.
que, forçar, levar a. Temos aí um exemplo de uso inadequado do pro-
- Inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). nome relativo. Ele provoca falta de coesão, pois não
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. consegue perceber a que antecedente ele se refere,
- No sentido de, com vistas a. Opção: a fim de, para, portanto nada conecta e produz relação absurda.
com o fito (ou objetivo, ou intuito) de, com a finali- 2) “Tenho uma prima que trabalha num circo como má-
dade de, tendo em vista. gica e uma das mágicas mais engraçadas era uma
- Pois (no início da oração). Opção: já que, porque, caneta com tinta invisível que em vez de tinta havia
uma vez que, visto que. saído suco de lima”. Você percebe aí a incapacidade do
- Principalmente. Opção: especialmente, mormente, concursando ou vestibulando organizar sintaticamen-
notadamente, sobretudo, em especial, em particular. te o período. Selecionar as frases e organizar as ideias
- Sendo que. Opção: e. é necessário. Escrever com clareza é muito importante.
3) “Ainda brincava de boneca quando conheci Davi, pi-
3. Expressões que demandam atenção loto de cart, moreno, 20 anos, com olhos cor de mel”.
“Tudo começou naquele baile de quinze anos”, “...é
- A caso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se; aos dezoito anos que se começa a procurar o cami-
- Aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser nho do amanhã e encontrar as perspectivas que nos
e estar, aceito; acompanham para sempre na estrada da vida”. Você
- Acendido, aceso (formas similares) – idem; pode ter conhecimento do vocabulário e das regras
- À custa de – e não às custas de; gramaticais e, assim, construir um texto sem erros.
- À medida que – à proporção que, ao mesmo tempo Entretanto, se você reproduz sem nenhuma crítica
que, conforme; ou reflexão expressões gastas, vulgarizadas pelo uso
- Na medida em que – tendo em vista que, uma vez contínuo. A boa qualidade do texto fica comprome-
que; tida.
LÍNGUA PORTUGUESA

- A meu ver – e não ao meu ver; 4) Tema: Para você, as experiências genéticas de clona-
- A ponto de – e não ao ponto de; gem põem em xeque todos os conceitos humanos
- A posteriori, a priori – não tem valor temporal; sobre Deus e a vida? “Bem a clonagem não é tudo,
- De modo (maneira, sorte) que – e não a; mas na vida tudo tem o seu valor e os homens a todo
- Em termos de – modismo; evitar; momento necessitam de descobrir todos os misté-
- Em vez de – em lugar de; rios da vida que nos cerca a todo instante”. É impor-
- Ao invés de – ao contrário de; tante você escrever atendendo ao que foi proposto
- Enquanto que – o que é redundância; no tema. Antes de começar o seu texto leia atenta-

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mente todos os elementos que o examinador apre- 17) “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado
sentou para você utilizar. Esquematize suas ideias, na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás;
veja se não há falta de correspondência entre o tema 18) “Entrar dentro”. O certo: entrar em. Veja outras re-
proposto e o texto criado. dundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação,
5) Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis,
primo (...) mostrou que ele não era maligno”. Esta viúva do falecido;
frase está ambígua, pois não se sabe se o pronome 19) “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra
ele refere-se ao fígado ou ao primo. Para se evitar a masculina, a menos que esteja subentendida a pala-
ambiguidade, você deve observar se a relação entre vra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais ca-
cada palavra do seu texto está correta. sos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter;
6) “Ele me tratava como uma criança, mas eu era apenas 20) “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou im-
uma criança”. O conectivo mas indica uma circuns- plícita a palavra razão, use por que separado: Por que
tância de oposição, de ideia contrária a. Assim, a rela- (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou.
ção adversativa introduzida pelo “mas” no fragmento / Explique por que razão você se atrasou. Porque é
acima produz uma ideia absurda. usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito
7) “Entretanto, como já diziam os sábios: depois da estava congestionado;
tempestade sempre vem a bonança. Após longo 21) Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar
suplício, meu coração apaziguava as tormentas e a exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros
sensatez me mostrava que só estaríamos separadas verbos com a: A medida não agradou (desagradou)
carnalmente”. Não utilize provérbios ou ditos popu- à população. / Eles obedeceram (desobedeceram)
lares. Eles empobrecem a redação, pois fazer parecer aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou
que seu autor não tem criatividade ao lançar mão de ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. /
formas já gastas pelo uso frequente. Visava aos estudantes;
8) “Estou sem inspiração para fazer uma redação. Escre- 22) Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma
ver sobre a situação dos sem-terra? Bem que o pro- coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a
fessor poderia propor outro tema”. Você não deve mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória;
falar de sua redação dentro do próprio texto. 23) O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com
9) “Todos os deputados são corruptos”. Evite pensa- vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do
mentos radicais. É recomendável não generalizar e jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu,
evitar, assim, posições extremistas. novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e
10) “Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer essas o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias;
coisas. Olhe, acho que ele não vai concordar com a 24) Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção.
decisão que você tomou, quero dizer, os fatos levam Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a for-
você a isso, mas você sabe - todos sabem - ele pensa ma correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” (be-
diferente. É bom a gente pensar como vai fazer para, neficente), “xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilégio),
enfim, para ele entender a decisão”. Não se esqueça “vultuoso” (vultoso), “cincoenta” (cinquenta), “zuar”
que o ato de escrever é diferente do ato de falar. O (zoar), “frustado” (frustrado), “calcáreo” (calcário),
texto escrito deve se apresentar desprovido de mar- “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vindo), “as-
cas de oralidade. cenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impecilho” (em-
11) “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se à bem pecilho), “envólucro” (invólucro);
e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal- 25) Quebrou “o”óculos. Concordância no plural: os óculos,
-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau hu- meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus
mor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar; pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias;
12) “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, 26) Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles
é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para
Fez 15 dias; você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar,
13) “Houveram” muitos acidentes. Haver, como existir, viu-a, mandou-me;
também é invariável: Houve muitos acidentes. / Ha- 27) Nunca “lhe” vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e
via muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais; a vocês e por isso não pode ser usado com objeto
14) “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, res- direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o
tar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem deixou. / Ela o ama;
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muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam 28) “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujei-
poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam to: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim
ideias; que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. /
15) Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode Procuram-se empregados;
ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para 29) “Tratam-se” de. O verbo seguido de preposição não
eu trazer; varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissio-
16) Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se nais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para
mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti; todos. / Conta-se com os amigos;

99
30) Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento exi- 45) Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia: meio
gem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã louca, meio esperta, meio amiga;
ao cinema. / Levou os filhos ao circo; 46) “Fica” você comigo. Fica é imperativo do pronome
31) Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto no tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comi-
sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará pu- go. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui;
nição. / Promoção implica responsabilidade; 47) A questão não tem nada “haver” com você. A ques-
32) Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai. tão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver.
Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie Da mesma forma: Tem tudo a ver com você;
em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão; 48)- A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e re-
33) Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é ci- gular: A corrida custa 5 reais;
dadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, 48) Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não to-
seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres; mar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado.
Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Re-
34) O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gra-
pare nesta concordância: Pediu emprestadas duas
túito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento
malas;
não existe e só indica a letra tônica). Da mesma for-
49) Foi “taxado” de ladrão. Tachar é que significa acusar
ma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo;
de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano;
35) A última “seção” de cinema. Seção significa divi- 50) Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz
são, repartição, e sessão equivale a tempo de uma a concordância no plural: Ele foi um dos que chega-
reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, ram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era
seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de um dos que sempre vibravam com a vitória;
pancadas, sessão do Congresso; 51) “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica
36) Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é pala- arredondamento e não pode aparecer com números
vra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram;
gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a 52) Ministro nega que “é” negligente. Negar que intro-
atenuante, a alface, a cal; duz subjuntivo, assim como embora e talvez: Minis-
37) “Porisso”. Duas palavras, por isso, como de repente tro nega que seja negligente. / O jogador negou que
e a partir de; tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para
38) Não viu “qualquer” risco. É nenhum, e não “qual- a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa;
quer”, que se emprega depois de negativas: Não viu 53) Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo:
nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Tinha chegado atrasado;
Nunca promoveu nenhuma confusão; 54) Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quando
39) A feira “inicia” amanhã. Alguma coisa se inicia, se expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blu-
inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã; sas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de
40) Soube que os homens “feriram-se”. O que atrai o adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas
pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa pretas, fitas amarelas;
que se realizou. O mesmo ocorre com as negativas, 55) Queria namorar “com” o colega. O com não existe:
as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe Queria namorar o colega;
diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. 56) O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo dá
/ Quando se falava no assunto... / Como as pessoas entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contrata-
lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois do do (e não “junto ao”) Guarani. / Cresceu muito o
prestígio do jornal entre os (e não “junto aos”) lei-
o procuro;
tores. / Era grande a sua dívida com o (e não “junto
41) O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha.
ao”) banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não
Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível)
“junto ao”) PROCON;
queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (cír- 57) As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina
culo) vicioso, “cabeçário” (cabeçalho); em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a
42) Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sa- forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. /
biam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos;
movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. 58) Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa pronome
/ Aonde vamos?; átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro
43) “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda com do presente, futuro do pretérito (antigo condicional)
LÍNGUA PORTUGUESA

a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. / Obrigado pela ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-
atenção. / Muito obrigados por tudo; -iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos
44) O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir. (e nunca “imporá-se”). / Os amigos nos darão (e não
Assim: O governo interveio. Da mesma forma: inter- “darão-nos”) um presente. / Tendo-me formado (e
vinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros ver- nunca tendo “formado-me”);
bos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pres- 59) Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco
supusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquan-
condisser; to a exprime distância ou tempo futuro (não pode

100
ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas 73) “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige
e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apon-
atirador estava a (distância) pouco menos de 12 me- tar todas as contradições do texto;
tros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias; 74) Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sen-
60) Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir o tido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão
material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, favoreceu os jogadores;
casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de ma- 75) Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equi-
deira; vale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arru-
61) A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à mou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polí-
luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é cia;
errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos; 76) Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode
62) Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: empregar o mesmo no lugar de pronome ou subs-
Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos tantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcio-
cinco na sala; nários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país
63) Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos
em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesmos”);
mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao 77) Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo
computador; no qual se está o objeto próximo: Esta noite, esta se-
64) Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. mana (a semana em que se está), este dia, este jornal
Embora popular, a locução não existe. Use porque: (o jornal que estou lendo), este século (o século 20);
Ficou contente porque ninguém se feriu; 78) A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica sin-
65) O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O gular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora;
time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e 79) Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica
perde por. Da mesma forma: empate por; substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés
66) À medida “em” que a epidemia se espalhava... O de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar,
certo é: À medida que a epidemia se espalhava. Exis- saiu;
te ainda na medida em que (tendo em vista que): É 80) Se eu “ver” você por aí... O certo é: Se eu vir, revir,
preciso cumprir as leis, na medida em que elas exis- previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier;
tem; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr),
67) Não queria que «receiassem» a sua companhia. O i impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dis-
não existe: Não queria que receassem a sua compa- sermos (de dizer), predissermos;
nhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, 81) Ele “intermedia” a negociação. Mediar e interme-
receeis (só existe i quando o acento cai no e que pre- diar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou
cede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam); medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar
68) Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acen- também seguem essa norma: Remedeiam, que eles
to. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com anseiem, incendeio;
vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, 82) Ninguém se “adequa”. Não existem as formas “ade-
eles vêm; ele põe, eles põem; qua”, “adeque”, por exemplo, mas apenas aquelas
69) A moça estava ali «há» muito tempo. Haver con- em que o acento cai no a ou o: adequaram, ade-
corda com estava. Portanto: A moça estava ali havia quou, adequasse;
(fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho ha- 83) Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as
via (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia pessoas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explo-
(fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo de, explodiram. Portanto, não escreva nem fale “ex-
está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indi- ploda” ou “expluda”, substituindo essas formas por
cativo.); rebente, por exemplo. Precaver-se também não se
70) Não «se o» diz. É errado juntar o se com os prono- conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as
mes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “preca-
não se o diz (não se diz isso), vê-se-a; venho”, “precavenha”, “precaveja”;
71) Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos com- 84) Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo re-
postos, só o último elemento varia: acordos políti- cupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos
co-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde- casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, rea-
LÍNGUA PORTUGUESA

-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos verá, reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”;
social-democratas; 85) Disse o que “quiz”. Não existe z, mas apenas s, nas
72) Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, qui-
inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / séssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos;
Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. 86) O homem “possue” muitos bens. O certo: O ho-
Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem mem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a
(cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer na- terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é
ção) tem inimigos; que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue;

101
87) A tese “onde”. Onde só pode ser usado para lugar: 99) É hora “dele” chegar. Não se deve fazer a contração
A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crian- da preposição com artigo ou pronome, nos casos se-
ças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese guidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar
em que ele defende essa ideia. / O livro em que... / de o amigo tê-lo convidado. / Depois de esses fatos
A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...; terem ocorrido;
88) Já «foi comunicado» da decisão. Uma decisão é co- 100) Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo
municada, mas ninguém «é comunicado» de alguma (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com
coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou
da decisão. Outra forma errada: A diretoria «comuni- com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e
cou» os empregados da decisão. Opções corretas: A não “para si”);
diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A 101) Já «é» 8 horas. Horas e as demais palavras que
decisão foi comunicada aos empregados; definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não
89) “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa «são») 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite;
transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não 102) A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sis-
“inflingir”) significa impor: Infligiu séria punição ao tema métrico decimal não têm plural nem ponto. As-
réu; sim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg;
90) A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de 103) “Dado” os índices das pesquisas... A concordância
pose). Quem pousa é ave, avião, viajante. Não con- é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o
funda também iminente (prestes a acontecer) com resultado... / Dadas as suas ideias...;
eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com 104) Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que sig-
tráfego (trânsito); nifica debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. /
91) Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o subs- Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima
tantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou
viajar): Espero que viajem hoje. Evite também “com- sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano
têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém
primentar” alguém: de cumprimento (saudação), só
traz alguma coisa e alguém vai para trás;
pode resultar cumprimentar. Comprimento é exten-
105) “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões:
são. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido
A meu ver, a seu ver, a nosso ver.
(concretizado);
92) O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado
ESTUDO DE TEXTO(S)
com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não
disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer
Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor
nos avisar;
que também é transmitida através de figuras, impregnado
93) Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Com- de subjetivismo. Exemplo: um romance, um conto, uma
prou uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e poesia... (Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal).
branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir
desenho em cores; uma mensagem da forma mais clara e objetiva possível.
94) “Causou-me” estranheza as palavras. Use o certo: Exemplo: uma notícia de jornal, uma bula de medicamento.
Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois (Denotação, Claro, Objetivo, Informativo).
é comum o erro de concordância quando o verbo O objetivo do texto é passar conhecimento para o
está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram ini- leitor. Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia.
ciadas esta noite as obras (e não “foi iniciado” esta Exemplos de textos explicativos são os encontrados em
noite as obras); manuais de instruções.
95) A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuidado: Informativo: Tem a função de informar o leitor a
palavra próxima ao verbo não deve influir na concor- respeito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de
dância. Por isso: A realidade das pessoas pode mu- jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas. Uso
dar. / A troca de agressões entre os funcionários foi da função referencial da linguagem, 3ª pessoa do singular.
punida (e não “foram punidas”); Descrição: Um texto em que se faz um retrato por escrito
96) O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe
passou despercebido, não foi notado. Desapercebi- de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo,
do significa desprevenido; pela sua função caracterizadora. Numa abordagem mais
LÍNGUA PORTUGUESA

97) “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja vista abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos.
e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus Não há relação de anterioridade e posterioridade. Significa
esforços. / Haja vista suas críticas; “criar” com palavras a imagem do objeto descrito. É fazer
98) A moça «que ele gosta». Como se gosta de, o certo uma descrição minuciosa do objeto ou da personagem a
é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro que o texto se refere.
de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que as- Narração: Modalidade em que se conta um fato,
sistiu), a prova de que participou, o amigo a que se fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo
referiu, são alguns exemplos; e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a

102
objetos do mundo real. Há uma relação de anterioridade e querer reverter a resposta para o que considera positivo na
posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. instituição. É importante que o repórter seja insistente. O
Estamos cercados de narrações desde as que nos contam entrevistador deve conquistar a confiança do entrevistado,
histórias infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ou a mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele dominado. Caso
“Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano. contrário, acabará induzindo as respostas ou perdendo a
Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou objetividade.
explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto As entrevistas apresentam com frequência alguns
dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, sinais de pontuação como o ponto de interrogação,
juntamente com o texto de apresentação científica, o o travessão, aspas, reticências, parêntese e as vezes
relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em colchetes, que servem para dar ao leitor maior informações
princípio, o texto dissertativo não está preocupado com que ele supostamente desconhece. O título da entrevista
a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, é um enunciado curto que chama a atenção do leitor e
sendo, portanto, um texto informativo. resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em
Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na
têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o maioria dos casos, apenas as preposições ficam com a
ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o letra minúscula. O subtítulo introduz o objetivo principal
texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e da entrevista e não vem seguido de ponto final. É um
modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo- pequeno texto e vem em destaque também. A fotografia
argumentativo. do entrevistado aparece normalmente na primeira página
Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase dita
solicitação, deliberação informal, discurso de defesa e por ele. As frases importantes ditas pelo entrevistado e que
acusação (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou aparecem em destaque nas outras páginas da entrevista
assinados, editorial. são chamadas de “olho”.
Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é
expõe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Estrutura um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos
básica; ideia principal; desenvolvimento; conclusão. Uso é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem
de linguagem clara. Exemplo: ensaios, artigos científicos, cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso.
exposições. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da
Injunção: Indica como realizar uma ação. É também crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos.
utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos. Uma das mais famosas crônicas da história da literatura
Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua luso-brasileira corresponde à definição de crônica como
maioria, empregados no modo imperativo. Há também o “narração histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”,
uso do futuro do presente. Exemplo: Receita de um bolo de Pero Vaz de Caminha”, na qual são narrados ao rei
e manuais. português, D. Manuel, o descobrimento do Brasil e como
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas foram os primeiros dias que os marinheiros portugueses
ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo, da crônica como
como pausas e retomadas. gênero que comenta assuntos do dia a dia. Para começar,
Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais uma crônica sobre a crônica, de Machado de Assis:
pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual
perguntas são feitas pelo entrevistador para obter 1. O nascimento da crônica
informação do entrevistado. Os repórteres entrevistam
as suas fontes para obter declarações que validem as “Há um meio certo de começar a crônica por uma
informações apuradas ou que relatem situações vividas trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-
por personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um
uma pauta que contém informações que o ajudarão a touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-
construir a matéria. Além das informações, a pauta sugere se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas
o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a serem conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre
entrevistadas. Antes da entrevista o repórter costuma reunir amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est
o máximo de informações disponíveis sobre o assunto rompue está começada a crônica. (...)
a ser abordado e sobre a pessoa que será entrevistada. Machado de Assis. Crônicas Escolhidas. São Paulo:
Munido deste material, ele formula perguntas que levem Editora Ática, 1994.
LÍNGUA PORTUGUESA

o entrevistado a fornecer informações novas e relevantes.


O repórter também deve ser perspicaz para perceber se o Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-
entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas, se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos
fato que costuma acontecer principalmente com as cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por não buscar
fontes oficiais do tema. Por exemplo, quando o repórter exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura
vai entrevistar o presidente de uma instituição pública relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-
sobre um problema que está a afetar o fornecimento de lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor
serviços à população, ele tende a evitar as perguntas e a uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.

103
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio,
um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse
leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o
cronista dê maior atenção aos problemas do modo de
vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos
acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer
que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura.
De um recebe a observação atenta da realidade cotidiana
e do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal.
Algumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua
durabilidade no tempo. Charge do autor Tacho – exemplo de linguagem verbal
(óxente, polo Norte 2100) e não verbal (imagem: sol, cactos,
O que é linguagem? pinguim).

É o uso da língua como forma de expressão e


comunicação entre as pessoas. Agora, a linguagem não é
somente um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas
também de gestos e imagens. Afinal, não nos comunicamos
apenas pela fala ou escrita, não é verdade?
Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a
analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem utilizar
o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível se ter algo
fundamentado e coerente! Assim, a linguagem verbal é que
se utiliza de palavras quando se fala ou quando se escreve.
A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da verbal,
não se utiliza do vocábulo, das palavras para se comunicar. Placas de trânsito – à frente “proibido andar de
O objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente o que bicicleta”, atrás “quebra-molas”.
se quer dizer ou o que se está pensando, mas se utilizar de
outros meios comunicativos, como: placas, figuras, gestos,
objetos, cores, ou seja, dos signos visuais.
Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo,
uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou
televisionado, um bilhete? Linguagem verbal!
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida
de futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma
dança, o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a
identificação de “feminino” e “masculino” através de figuras Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário
na porta do banheiro, as placas de trânsito? Linguagem masculino”.
não verbal!
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e
anúncios publicitários.
Observe alguns exemplos:
LÍNGUA PORTUGUESA

Imagem indicativa de “silêncio”.

Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.

104
- Significante, veículo do significado (parte perceptí-
vel, sensível);
- Significado, o que se entende quando se usa o signo
(parte inteligível).

Os linguistas compreendem que há no processo de


comunicação seis elementos:

- Emissor (remetente), envia a mensagem;


- Receptor (destinatário), recebe a mensagem;
- Mensagem - informação veiculada;
- Código, sistema de signos utilizados para codificar a
Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. mensagem;
- Contexto (referente), aquilo a que a mensagem se
1. Linguagem como forma de Ação e Interação refere;
- Contato (canal), veículo, meio físico utilizado para
A concepção da linguagem ainda é bastante debatida transmitir a mensagem.
entre os linguistas, que até hoje ainda não chegaram
a um consenso da sua concepção. Ela é sintetizada de 1.1. Concepção de linguagem
três maneiras diferentes, sendo que o modo que mais
utilizamos em nossos relacionamentos com outras pessoas De acordo com o prof. Luiz C. Travaglia, no seu
é a de ação e interação. livro Gramática e Interação, admite-se para a linguagem
Neste modo, a linguagem funciona como uma admite três concepções:
“atividade” de ação/interação entre os envolvidos nesta
comunicação. Os interlocutores expõem algo ao outro para 1.2. Linguagem como expressão do pensamento
que este seja induzido a interagir na conversa, que pode
ser verbal, não verbal, mista e digital. Se a linguagem é expressão do pensamento, quando
A atividade de comunicação é indispensável ao as pessoas não se expressam bem é porque não sabem
ser humano e aos animais. Existem diversos meios de elaborar o pensamento. Se o enunciador expressa o que
comunicação: pensa, sua fala é resultado da sua maneira própria de
organizar as suas ideias. O texto, dessa forma, nada tem a
→ Entre os animais: a dança das abelhas, os odores, as pro- ver com o leitor ou com quem se fala, e sim, somente com
duções vocais (como no caso das aves) o enunciador. Nessa linha de pensamento encontra-se a
→ Entre os homens: a dança, a pintura, a mímica, os gestos, gramática normativa ou tradicional.
os sinais de trânsito, os símbolos, a linguagem dos surdos-
-mudos, a dos deficientes visuais, a linguagem computa- 1.3. Linguagem como instrumento de comunicação
cional, a linguagem matemática, as línguas naturais etc.
Neste conceito a língua é vista como um código,
De um modo geral, dá-se o nome de linguagem a que deve ser dominado pelos falantes para que as
todos os meios de comunicação: linguagem animal e comunicações sejam efetivadas. A comunicação, pois,
linguagem humana, em linguagem não verbal e linguagem depende do grau de domínio que o falante tem da língua
verbal. O termo é, pois, empregado à aptidão humana como sistema. O falante utiliza-se dos conceitos estruturais
de associar os sons produzidos pelo aparelho fonador que conhece para expressar o pensamento; o ouvinte
humano a um conteúdo significativo e utilizar o resultado decodifica os sinais codificados por ele e transforma-os em
dessa associação para a interação verbal. Fala-se, pois, em nova mensagem. Essa linha de pensamento pertence ao
linguagem verbal. estruturalismo e também ao gerativismo.
É um termo muito amplo: as línguas naturais
(português, inglês, por exemplo) são manifestações desse 1.4. Linguagem como forma ou processo de inte-
algo mais geral. Saussure, o linguista genebrino, concebia ração
a linguagem em duas partes: a língua e a fala, e era a
primeira o seu objeto de estudo; embora, reconhecesse a Nesta concepção o falante realiza ações, age e interage
LÍNGUA PORTUGUESA

interdependência entre elas. com o outro (com quem ele fala). Dessa forma, a linguagem
Enquanto sistema de signos, a linguagem é um código toma uma dimensão mais ampla e não uniforme, pois
- um conjunto de signos sujeitos a regras de combinação inserindo num contexto ideológico e sociocultural, ela não
e utilizado na produção e na compreensão de uma tem direção preestabelecida vai depender unicamente
mensagem. da interação entre os dois sujeitos. Fazem parte dessa
O signo é compreendido por: corrente a Teoria do Discurso, Linguística Textual,
Semântica Argumentativa, Análise do Discurso, Análise da
Conversação.

105
1.5. As funções da linguagem de mim mesmo: preciso amar aquele que me trucida e
perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais
Para entendermos com clareza as funções da forte do que eu, responde que quer porque quer vingança
linguagem, é bom primeiramente conhecermos as etapas e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo
da comunicação. que eu morra depois. Se assim for, que assim seja [...]”.
Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação (Fragmento de A hora da estrela, de Clarice Lispector)
não acontece somente quando falamos, estabelecemos
um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente em 3. Função conativa: essa função procura organizar o
todos (ou quase todos) os momentos. texto de forma que se imponha sobre o receptor da
Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho, mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas men-
com o livro que lemos, com a revista, com os documentos sagens em que predomina essa função, busca-se
que manuseamos, através de nossos gestos, ações, até envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levan-
mesmo através de um beijo de “boa-noite”. do-o a adotar este ou aquele comportamento. Nos
É o que diz Bordenave quando se refere à comunicação: tipos de textos em que a função conativa predomina,
“A comunicação confunde-se com a própria vida. Temos é possível perceber o uso da 2ª pessoa como manei-
tanta consciência de que comunicamos como de que ra de interpelar alguém, além do emprego dos ver-
respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua bos no imperativo para convencer o interlocutor:
essencial importância quando, por acidente ou uma doença,
perdemos a capacidade de nos comunicar. (Bordenave, Exemplo:
1986. p.17-9)”

No ato de comunicação, percebemos a existência de


alguns elementos, são eles:
▪ Emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser
uma única pessoa ou um grupo de pessoas).
▪ Mensagem: é o conteúdo (assunto) das informações
que ora são transmitidas.
▪ Receptor: é aquele a quem a mensagem é endereça-
da (um indivíduo ou um grupo), também conhecido
como destinatário.
▪ Canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensa-
gem é transmitida.
▪ Código: é o conjunto de signos e de regras de com-
binação desses signos utilizados para elaborar a
mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor
irá decodificar.
▪ Contexto: é o objeto ou a situação a que a mensa-
gem se refere.

Partindo desses seis elementos, Roman Jakobson, 4. Função fática: a palavra fática significa “ruído, ru-
linguista russo, elaborou estudos acerca das funções mor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas
da linguagem, os quais são muito úteis para a análise e formas usadas para chamar a atenção (ruídos como
produção de textos. As seis funções são: psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensa-
gem se orienta sobre o canal de comunicação ou
1. Função referencial: referente é o objeto ou situação contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiên-
de que a mensagem trata. A função referencial privi- cia. Tipo de mensagem cujo objetivo é prolongar ou
legia justamente o referente da mensagem, buscan- interromper uma conversa. Nela, o emissor utiliza
do transmitir informações objetivas sobre ele. Essa procedimentos para manter contato físico ou psico-
função predomina nos textos de caráter científico e é lógico com o interlocutor:
privilegiado nos textos jornalísticos.
2. Função emotiva: através dessa função, o emissor Exemplo:
LÍNGUA PORTUGUESA

imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: “(...) Olá, como vai?
emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente no tex- Eu vou indo e você, tudo bem?
to a presença do emissor. Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Exemplo: “[…] Mas quem sou eu para censurar os Tudo bem, eu vou indo em busca
culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário De um sono tranquilo, quem sabe …
chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não Quanto tempo... pois é...
se ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro Quanto tempo...

106
Me perdoe a pressa Exemplo:
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí (…)”.
(Trecho da música Sinal Fechado, de Paulinho da Viola).

5. Função metalinguística: quando a linguagem se


volta sobre si mesma, transformando-se em seu pró-
prio referente, ocorre a função metalinguística.
Linguagem utilizada para falar, explicar ou descrever o
próprio código: esse é o principal objetivo da função
metalinguística. Nas situações em que ela é empre-
gada, geralmente na poesia e na publicidade, a aten-
ção está voltada para o próprio código:

Exemplo:

Essas funções não são exploradas isoladamente; de


modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há, no
entanto, aquela que se sobressai, assim podemos identificar
a finalidade principal do texto.

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

A linguagem é a característica que nos difere dos


demais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano, e,
sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social.
E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-
se os níveis da fala, que são basicamente dois:
- O nível de formalidade;
- O de informalidade.

O padrão formal está diretamente ligado à linguagem


escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira
que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma
pudesse exercer total soberania sobre as demais.
Quanto ao nível informal, este por sua vez representa o
6. Função poética: quando a mensagem é elaborada estilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
de forma inovadora e imprevista, utilizando combi- controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que para a
nações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira errônea
ideias, temos a manifestação da função poética da é considerada “inculta”, tornando-se desta forma um estigma.
linguagem. Essa função é capaz de despertar no lei- Compondo o quadro do padrão informal da linguagem,
tor prazer estético e surpresa. É muito encontrada na estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
LÍNGUA PORTUGUESA

Literatura, especialmente na poesia, a função poética representam as variações de acordo com as condições
apresenta um texto no qual a função está centrada sociais, culturais, regionais e históricas em que é
na própria mensagem, rompendo com o modo tra- utilizada. Dentre elas destacam-se:
dicional com o vemos a linguagem.
a) Variações históricas
Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma
sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo
bastante representativo é a questão da ortografia, se

107
levarmos em consideração a palavra farmácia, uma vez E também o Van Damme.
que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à (Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassinas,
linguagem dos internautas, a qual fundamenta-se pela 1995).
supressão dos vocábulos.
Analisemos, pois, o fragmento exposto: Para expandir a capacidade de compreensão e,
Antigamente principalmente, de interpretação, é importante acostumar-
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles se à leitura, seja de um texto ou um objeto, figura ou fato.
e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam Ao se ler algo, deve-se notar aspectos particulares
anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os que permitam associar o elemento da leitura ao tempo
janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, e a acontecimentos, destacar o essencial e o secundário
arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do relacionando-o a outros já lidos. Semanticamente, o
balaio.” Carlos Drummond de Andrade elemento da leitura encerra em si todas as indagações,
Comparando-o à modernidade, percebemos um permitindo uma análise e oferecendo os subsídios da
vocabulário antiquado. resposta. Compreender um texto é entender o seu sentido;
apreender a situação, o fato, a narração, a tese a nós
b) Variações regionais expostos. Interpretar um texto é conseguir desenvolver em
São os chamados dialetos, que são as marcas outras palavras a ideia do texto, é, portanto, parafraseá-
determinantes referentes a diferentes regiões. Como lo ou reescrevê-lo. Para se interpretar bem um texto, é de
exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos suma importância uma boa leitura. Para se entender um
lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como: macaxeira texto é necessária uma leitura atenta, em que se notem as
e aipim. Figurando também esta modalidade estão os suas sutilezas e superficialidades. É conveniente marcar as
sotaques, ligados às características orais da linguagem. ideias principais e estar atento as entrelinhas, aos detalhes
c) Variações sociais ou culturais e a todo o contexto.
Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma - Paráfrase: é o desenvolvimento ou citação de um
maneira geral e também ao grau de instrução de uma texto ou parte dele, com palavras diferentes, mas de
determinada pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, os igual significação. Não há alteração da ideia central.
jargões e o linguajar caipira. - Perífrase: é um circunlóquio, um rodeio de palavras; a
As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos exposição de ideias é feito usando-se de muitas pa-
grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores, lavras. Usam se mais palavras do que o texto original,
entre outros. isto é, usam-se mais palavras que o necessário.
Os jargões estão relacionados ao profissionalismo, - Intertextualidade: é a relação entre dois ou mais tex-
caracterizando um linguajar técnico. Representando a tos, cujo tema seja o mesmo, porém tratado de for-
classe, podemos citar os médicos, advogados, profissionais ma diferente.
da área de informática, dentre outros. - Síntese: é uma resenha, que é feita utilizando-se das
Vejamos um poema e o trecho de uma música para palavras do texto. Aparecem apenas as ideias princi-
entendermos melhor sobre o assunto: pais.
“Vício na fala - Resumo: é uma representação do texto em que só
Para dizerem milho dizem mio aparecem as ideias principais, não é necessário que
Para melhor dizem mió seja com as mesmas palavras do texto.
Para pior pió - Inferência: é uma informação que não está no texto,
Para telha dizem teia mas sim fora dele; está nas entrelinhas ou exige um
Para telhado dizem teiado conhecimento extra textual.
E vão fazendo telhados”. - Tipologia Textual Descrição: ato de descrever carac-
(Oswald de Andrade). terísticas. Pode ser: Objetiva: descrição com caráter
universal. Subjetiva: descrição com caráter particular,
Chopis Centis pessoal.
“Eu “di” um beijo nela - Técnica: descrição com caráter próprio de um ofício,
E chamei pra passear. profissão.
A gente fomos no shopping - Narração: é o relato de um fato, de um acontecimen-
Pra “mode” a gente lanchar. to. Seus elementos são:
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim. - Fato: é o acontecimento; o encadeamento das ações
LÍNGUA PORTUGUESA

Até que “tava” gostoso, mas eu prefiro aipim. forma o enredo.


Quanta gente, Quanta alegria, A minha felicidade é um - Personagens: são os participantes do acontecimento.
crediário nas Casas Bahia. Principais (mais atuantes) Secundários
Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho. - Ambiente ou cenário: é o lugar onde ocorrem os
Pra levar a namorada e dar uns “rolezinho”, acontecimentos.
Quando eu estou no trabalho, - Tempo: é a localização cronológica do aconteci-
Não vejo a hora de descer dos andaime. mento. Foco Narrativo (narrador): a narração pode
Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger, ser em: 1ª pessoa: narrador-personagem 3ª pessoa:

108
narrador-onisciente/narrador-observador. Disserta- 1. Norma culta
ção: ato de discorrer sobre um tema. A dissertação
divide-se em três partes: Introdução: apresenta a A norma culta, forma linguística que todo povo
ideia principal a ser discutida. civilizado possui, é a que assegura a unidade da língua
- Desenvolvimento: é o desdobramento da ideia cen- nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão
tral, a exposição dos argumentos. importante do ponto de vista político--cultural, que é
- Conclusão: retoma ou resume os principais aspectos ensinada nas escolas e difundida nas gramáticas. Sendo
do texto e confirma a tese inicial. mais espontânea e criativa, a língua popular afigura-
se mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de
d) Tipos de Discurso exemplificação:
- Discurso Direto: a fala do personagem é, geralmen- Estou preocupado. (norma culta)
te, acompanhada por um verbo de elocução (dizer, Tô preocupado. (língua popular)
falar, responder, perguntar, afirmar etc.), não haven- Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)
do conectivo, porém uma pausa marcada por sinal
de pontuação. Não basta conhecer apenas uma modalidade de
língua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a
Exemplo.: A mãe perguntou-lhe atarantada: - Onde espontaneidade, expressividade e enorme criatividade,
você pensa que vai? para viver; urge conhecer a língua culta para conviver.
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das
- Discurso Indireto: o personagem não fala com suas normas da língua culta.
palavras, é o narrador que reproduz com suas pala-
vras o discurso do personagem. Os verbos de elo- 2. O conceito de erro em língua
cução são núcleos do predicado da oração principal
seguido de oração subordinada. Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto
nos casos de ortografia. O que normalmente se comete
Exemplo: Ele respondeu que sempre saía sozinho. são transgressões da norma culta. De fato, aquele que,
num momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou
- Indireto Livre: é um discurso misto, pois há carac- ele falar”, não comete propriamente erro; na verdade,
terísticas do discurso direto e do indireto. A fala do transgride a norma culta.
personagem se insere no discurso do narrador, são Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala,
perceptíveis aspectos psicológicos e fluxos do pen- transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um
samento do personagem. banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa
praia, vestido de fraque e cartola.
Exemplo: Naquele dia o rapaz havia se declarado à sua Releva considerar, assim, o momento do discurso,
vizinha. Ele já tinha sofrido muito. Custava à moça acredi- que pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento
tar? Não sabia se tinha feito à coisa certa. íntimo é o das liberdades da fala. No recesso do lar, na
fala entre amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são
consideradas perfeitamente normais construções do tipo:
LÍNGUA PADRÃO, LÍNGUA NÃO PADRÃO Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar.
A língua é um código de que se serve o homem para Deixe eu ver isso!
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basicamente Eu te amo, sim, mas não abuse!
duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais: Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A) a língua funcional de modalidade culta, língua
culta ou língua-padrão, que compreende a língua Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
literária, tem por base a norma culta, forma linguísti- norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
ca utilizada pelo segmento mais culto e influente de O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que
uma sociedade. Constitui, em suma, a língua utiliza- é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se
da pelos veículos de comunicação de massa (emis- por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou
soras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se
LÍNGUA PORTUGUESA

anúncios, etc.), cuja função é a de serem aliados da alteram:


escola, prestando serviço à sociedade, colaborando Eu não a vi hoje.
na educação; Ninguém o deixou falar.
Deixe-me ver isso!
B) a língua funcional de modalidade popular; língua Eu te amo, sim, mas não abuses!
popular ou língua cotidiana, que apresenta grada- Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
ções as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
calão.

109
Considera-se momento neutro o utilizado nos Ao professor cabe ensinar as duas modalidades,
veículos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, mostrando as características e as vantagens de uma e outra,
revista, etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade
transgressões da norma culta na pena ou na boca de ou inferioridade, que em verdade inexiste.
jornalistas, quando no exercício do trabalho, que deve Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na
refletir serviço à causa do ensino. língua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de
poética, caracterizado por construções de rara beleza. dialetos, consequência natural do enorme distanciamento
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. entre uma modalidade e outra.
Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada
de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o que a língua falada, porque é a modalidade que mantém
comete, passando, assim, a constituir fato linguístico a unidade linguística de um povo, além de ser a que faz
registro de linguagem definitivamente consagrado pelo o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Nenhuma
uso, ainda que não tenha amparo gramatical. Exemplos: reflexão, nenhuma análise mais detida será possível sem
Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!) a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo,
Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir) processam-se lentamente e em número consideravelmente
Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos menor, quando cotejada com a modalidade falada.
dispersar e Não vamos dispersar-nos) Importante é fazer o educando perceber que o nível da
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com
sair daqui bem depressa) a situação em que se desenvolve o discurso.
O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no O ambiente sociocultural determina o nível da linguagem
seu posto) a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e
até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não
As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos fala com uma criança como se estivesse em uma missa,
impedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são assim como uma criança não fala como um adulto. Um
engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo
exemplos também de transgressões ou “erros” que se
nível de fala, para colegas e para pedreiros, assim como
tornaram fatos linguísticos, já que só correm hoje porque
nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso
a maioria viu tais verbos como derivados de pedir, que tem
do lar e na sala de aula.
início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou para se
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre
arcaizarem as formas então legítimas impido, despido e
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o
desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada
cotidiano, a que já fizemos referência.
tem coragem de usar.
Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário
escolar palavras como corrigir e correto, quando nos
referimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão REDAÇÃO OFICIAL.
que deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas
frases da língua popular para a língua culta”.
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada O QUE É REDAÇÃO OFICIAL
conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a
norma culta. Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a ma-
neira pela qual o Poder Público redige atos normativos e
3. Língua escrita e língua falada - Nível de linguagem comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do
Poder Executivo.
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoa-
econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua lidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza, conci-
falada. são, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação atributos decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no 37: “A administração pública direta, indireta ou fundacional,
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega-
LÍNGUA PORTUGUESA

mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e (...)”. Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios
a evoluções. fundamentais de toda administração pública, claro está
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importância. que devem igualmente nortear a elaboração dos atos e co-
Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a língua municações oficiais.
falada com base na língua escrita, considerada superior. Não se concebe que um ato normativo de qualquer
Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, a natureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou
que os professores sempre estão atentos. impossibilite sua compreensão. A transparência do sentido

110
dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatá-
requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que rio dessa comunicação ou é o público, o conjunto dos cida-
um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publi- dãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos outros
cidade implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. Poderes da União.
Além de atender à disposição constitucional, a forma Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que
dos atos normativos obedece a certa tradição. Há normas deve ser dado aos assuntos que constam das comunica-
para sua elaboração que remontam ao período de nossa ções oficiais decorre:
história imperial, como, por exemplo, a obrigatoriedade – a) da ausência de impressões individuais de quem co-
estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de munica: embora se trate, por exemplo, de um expediente
1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de assinado por Chefe de determinada Seção, é sempre em
anos transcorridos desde a Independência. Essa prática foi nome do Serviço Público que é feita a comunicação. Ob-
mantida no período republicano. Esses mesmos princípios tém-se, assim, uma desejável padronização, que permite
(impessoalidade, clareza, uniformidade, concisão e uso de que comunicações elaboradas em diferentes setores da
linguagem formal) aplicam-se às comunicações oficiais: Administração guardem entre si certa uniformidade;
elas devem sempre permitir uma única interpretação e ser b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação,
estritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cida-
certo nível de linguagem. dão, sempre concebido como público, ou a outro órgão
Nesse quadro, fica claro também que as comunicações público. Nos dois casos, temos um destinatário concebido
oficiais são necessariamente uniformes, pois há sempre um de forma homogênea e impessoal;
único comunicador (o Serviço Público) e o receptor dessas c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de universo temático das comunicações oficiais se restringe a
expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjun- questões que dizem respeito ao interesse público, é natu-
to dos cidadãos ou instituições tratados de forma homo- ral que não cabe qualquer tom particular ou pessoal. Des-
gênea (o público). ta forma, não há lugar na redação oficial para impressões
Outros procedimentos rotineiros na redação de comu- pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta
nicações oficiais foram incorporados ao longo do tempo, a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo
como as formas de tratamento e de cortesia, certos clichês de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta da
de redação, a estrutura dos expedientes, etc. Mencione-se, interferência da individualidade que a elabora.
por exemplo, a fixação dos fechos para comunicações ofi- A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade
ciais, regulados pela Portaria n.º 1 do Ministro de Estado da de que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais
Justiça, de 8 de julho de 1937. contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária
Acrescente-se, por fim, que a identificação que se bus- impessoalidade.
cou fazer das características específicas da forma oficial de
redigir não deve ensejar o entendimento de que se propo- 2. A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
nha a criação – ou se aceite a existência – de uma forma es-
pecífica de linguagem administrativa, o que coloquialmen- A necessidade de empregar determinado nível de lin-
te e pejorativamente se chama burocratês. Este é antes uma guagem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um
distorção do que deve ser a redação oficial, e se caracteriza lado, do próprio caráter público desses atos e comunica-
pelo abuso de expressões e clichês do jargão burocrático e ções; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui en-
de formas arcaicas de construção de frases. tendidos como atos de caráter normativo, ou estabelecem
A redação oficial não é, portanto, necessariamente árida regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam o funcio-
e infensa à evolução da língua. É que sua finalidade básica – namento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em
comunicar com impessoalidade e máxima clareza – impõe sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O
certos parâmetros ao uso que se faz da língua, de maneira mesmo se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade
diversa daquele da literatura, do texto jornalístico, da cor- precípua é a de informar com clareza e objetividade. As
respondência particular, etc. comunicações que partem dos órgãos públicos federais
Apresentadas essas características fundamentais da re- devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão
dação oficial, passemos à análise pormenorizada de cada brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso
uma delas. de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há
dúvida que um texto marcado por expressões de circulação
1. A Impessoalidade restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o
LÍNGUA PORTUGUESA

jargão técnico, tem sua compreensão dificultada.


A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer Ressalte-se que há necessariamente uma distância en-
pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: tre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente di-
a) alguém que comunique, b) algo a ser comunicado, e c) nâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de
alguém que receba essa comunicação. No caso da redação costumes, e pode eventualmente contar com outros ele-
oficial, quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou mentos que auxiliem a sua compreensão, como os gestos,
aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Ser- a entoação, etc., para mencionar apenas alguns dos fatores
viço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto responsáveis por essa distância. Já a língua escrita incorpo-

111
ra mais lentamente as transformações, tem maior vocação A formalidade de tratamento vincula-se, também, à
para a permanência, e vale-se apenas de si mesma para necessária uniformidade das comunicações. Ora, se a ad-
comunicar. ministração federal é una, é natural que as comunicações
A língua escrita, como a falada, compreende diferentes que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimento
níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por exemplo, desse padrão, uma das metas deste Manual, exige que se
em uma carta a um amigo, podemos nos valer de deter- atente para todas as características da redação oficial e que
minado padrão de linguagem que incorpore expressões se cuide, ainda, da apresentação dos textos.
extremamente pessoais ou coloquiais; em um parecer ju- A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para
rídico, não se há de estranhar a presença do vocabulário o texto definitivo e a correta diagramação do texto são in-
técnico correspondente. Nos dois casos, há um padrão de dispensáveis para a padronização.
linguagem que atende ao uso que se faz da língua, a finali-
dade com que a empregamos. 4. Concisão e Clareza
O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu caráter
impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo A concisão é antes uma qualidade do que uma carac-
de clareza e concisão, eles requerem o uso do padrão culto terística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue
da língua. Há consenso de que o padrão culto é aquele em transmitir um máximo de informações com um mínimo de
que a) se observam as regras da gramática formal, e b) se palavras. Para que se redija com essa qualidade, é funda-
emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários mental que se tenha, além de conhecimento do assunto
do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revisar o
uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes
que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou se percebem eventuais redundâncias ou repetições desne-
sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idios- cessárias de ideias.
sincrasias linguísticas, permitindo, por essa razão, que se O esforço de sermos concisos atende, basicamente,
atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos. ao princípio de economia linguística, à mencionada fór-
Lembre-se de que o padrão culto nada tem contra a simpli- mula de empregar o mínimo de palavras para informar o
cidade de expressão, desde que não seja confundida com máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão economia de pensamento, isto é, não se devem eliminar
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos passagens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em ta-
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios manho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inúteis,
da língua literária. redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente foi dito.
um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe
padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que em todo texto de alguma complexidade: ideias fundamen-
haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, tais e ideias secundárias. Estas últimas podem esclarecer o
ou será obedecida certa tradição no emprego das formas sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las; mas existem
sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se também ideias secundárias que não acrescentam informa-
consagre a utilização de uma forma de linguagem buro- ção alguma ao texto, nem têm maior relação com as funda-
crática. O jargão burocrático, como todo jargão, deve ser mentais, podendo, por isso, ser dispensadas.
evitado, pois terá sempre sua compreensão limitada. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto ofi-
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em cial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita
situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indis- imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não
criminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das
vocabulário próprio à determinada área, são de difícil en- demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
tendimento por quem não esteja com eles familiarizado. a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de inter-
Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em comu- pretações que poderia decorrer de um tratamento perso-
nicações encaminhadas a outros órgãos da administração nalista dado ao texto;
e em expedientes dirigidos aos cidadãos. b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio,
de entendimento geral e por definição avesso a vocábulos
3. Formalidade e Padronização de circulação restrita, como a gíria e o jargão;
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto imprescindível uniformidade dos textos;
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é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencio- d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
nadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto linguísticos que nada lhe acrescentam.
de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de É pela correta observação dessas características que se
tratamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável re-
ao correto emprego deste ou daquele pronome de trata- leitura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos ofi-
mento para uma autoridade de certo; mais do que isso, a ciais, de trechos obscuros e de erros gramaticais provém,
formalidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio principalmente, da falta da releitura que torna possível sua
enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação. correção.

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Na revisão de um expediente, deve-se avaliar, ainda, se 6.2. Concordância com os Pronomes de Tratamento
ele será de fácil compreensão por seu destinatário. O que
nos parece óbvio pode ser desconhecido por terceiros. O do- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa
mínio que adquirimos sobre certos assuntos em decorrência indireta) apresentam certas peculiaridades quanto à con-
de nossa experiência profissional muitas vezes faz com que os cordância verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram
tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre a segunda pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala,
é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos ou a quem se dirige a comunicação), levam a concordância
técnicos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos para a terceira pessoa. É que o verbo concorda com o subs-
específicos que não possam ser dispensados. tantivo que integra a locução como seu núcleo sintático:
A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pres- “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelência
sa com que são elaboradas certas comunicações quase conhece o assunto”.
sempre compromete sua clareza. Não se deve proceder à Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos
redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes-
“Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa
máxima. Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável reper- ... vosso...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pro-
cussão no redigir. nomes, o gênero gramatical deve coincidir com o sexo da
pessoa a que se refere, e não com o substantivo que com-
5. As Comunicações Oficiais põe a locução. Assim, se nosso interlocutor for homem, o
correto é “Vossa Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria
5.1. Introdução deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa Excelência está
atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
A redação das comunicações oficiais deve, antes de
tudo, seguir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspec- 6.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento
tos Gerais da Redação Oficial. Além disso, há características
específicas de cada tipo de expediente, que serão trata- Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento
obedece a secular tradição. São de uso consagrado:
das em detalhe neste capítulo. Antes de passarmos à sua
Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
análise, vejamos outros aspectos comuns a quase todas as
a) do Poder Executivo;
modalidades de comunicação oficial: o emprego dos pro-
Presidente da República;
nomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação
Vice-Presidente da República;
do signatário.
Ministros de Estado;
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Dis-
6. Pronomes de Tratamento trito Federal;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
6.1. Breve História dos Pronomes de Tratamento Embaixadores;
Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupan-
O uso de pronomes e locuções pronominais de trata- tes de cargos de natureza especial;
mento tem larga tradição na língua portuguesa. De acor- Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
do com Said Ali, após serem incorporados ao português Prefeitos Municipais.
os pronomes latinos tu e vos, “como tratamento direto da
pessoa ou pessoas a quem se dirigia a palavra”, passou- b) do Poder Legislativo:
-se a empregar, como expediente linguístico de distinção Deputados Federais e Senadores;
e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento Ministros do Tribunal de Contas da União;
de pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Ou- Deputados Estaduais e Distritais;
tro modo de tratamento indireto consistiu em fingir que Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
se dirigia a palavra a um atributo ou qualidade eminente Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
da pessoa de categoria superior, e não a ela própria. Assim
aproximavam-se os vassalos de seu rei com o tratamento c) do Poder Judiciário:
de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se o trata- Ministros dos Tribunais Superiores;
mento ducal de vossa excelência e adotaram-se na hierar- Membros de Tribunais;
quia eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa Juízes;
eminência, vossa santidade.” Auditores da Justiça Militar.
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A partir do final do século XVI, esse modo de tratamen-


to indireto já estava em voga também para os ocupantes O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas
de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosme- aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do
cê, e depois para o coloquial você. E o pronome vós, com cargo respectivo:
o tempo, caiu em desuso. É dessa tradição que provém o Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
atual emprego de pronomes de tratamento indireto como Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
forma de dirigirmo-nos às autoridades civis, militares e Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal
eclesiásticas. Federal.

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As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo
Senhor, seguido do cargo respectivo: com a hierarquia eclesiástica, são:
Senhor Senador, Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa.
Senhor Juiz, O vocativo correspondente é: Santíssimo Padre, (...)
Senhor Ministro, Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssi-
Senhor Governador, ma, em comunicações aos Cardeais. Corresponde-lhe o
vocativo: Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou Eminentís-
No envelope, o endereçamento das comunicações di- simo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, (...)
rigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comu-
seguinte forma: nicações dirigidas a Arcebispos e Bispos;
A Sua Excelência o Senhor Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria Reverendís-
Fulano de Tal sima para Monsenhores, Cônegos e superiores religiosos.
Ministro de Estado da Justiça Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, cléri-
70064-900 – Brasília. DF gos e demais religiosos.

A Sua Excelência o Senhor 7. Fechos para Comunicações


Senador Fulano de Tal
Senado Federal O fecho das comunicações oficiais possui, além da fina-
70165-900 – Brasília. DF lidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destina-
tário. Os modelos para fecho que vinham sendo utilizados
A Sua Excelência o Senhor foram regulados pela Portaria n.º 1 do Ministério da Justiça,
Fulano de Tal de 1937, que estabelecia quinze padrões. Com o fito de
Juiz de Direito da 10.ª Vara Cível simplificá-los e uniformizá-los, este Manual estabelece o
Rua ABC, n.º 123 emprego de somente dois fechos diferentes para todas as
01010-000 – São Paulo. SP modalidades de comunicação oficial:
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da República: Respeitosamente,
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do trata-
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
mento Digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lis-
quia inferior: Atenciosamente,
ta anterior. A dignidade é pressuposto para que se ocupe
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tra-
evocação.
dição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
Redação do Ministério das Relações Exteriores.
Vossa Senhoria é empregado para as demais autorida-
des e para particulares. O vocativo adequado é: 8. Identificação do Signatário
Senhor Fulano de Tal,
(...) Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente
No envelope, deve constar do endereçamento: da República, todas as demais comunicações oficiais de-
Ao Senhor vem trazer o nome e o cargo da autoridade que as expede,
Fulano de Tal abaixo do local de sua assinatura. A forma da identificação
Rua ABC, n.º 123 deve ser a seguinte:
12345-000 – Curitiba. PR
Como se depreende do exemplo acima, fica dispensado (espaço para assinatura)
o emprego do superlativo ilustríssimo para as autorida- NOME
des que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República
particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamento (espaço para assinatura)
Senhor. NOME
Acrescente-se que doutor não é forma de tratamento, Ministro de Estado da Justiça
e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminadamente.
Como regra geral, empregue-o apenas em comunicações Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a as-
dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem concluí- sinatura em página isolada do expediente. Transfira para
do curso universitário de doutorado. É costume designar essa página ao menos a última frase anterior ao fecho.
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por doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em


Direito e em Medicina. Nos demais casos, o tratamento Se- 9. O Padrão Ofício
nhor confere a desejada formalidade às comunicações.
Mencionemos, ainda, a forma Vossa Magnificência, Há três tipos de expedientes que se diferenciam an-
empregada, por força da tradição, em comunicações dirigi- tes pela finalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o
das a reitores de universidade. Corresponde-lhe o vocativo: memorando. Com o fito de uniformizá-los, pode-se ado-
Magnífico Reitor, (...) tar uma diagramação única, que siga o que chamamos de
padrão ofício.

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10. Partes do documento no Padrão Ofício h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do
Signatário).
O aviso, o ofício e o memorando devem conter as se-
guintes partes: 11. Forma de diagramação
a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do
órgão que o expede: Exemplos: Mem. 123/2002-MF Aviso Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à se-
123/2002-SG Of. 123/2002-MME guinte forma de apresentação:
b) local e data em que foi assinado, por extenso, com a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
alinhamento à direita: Exemplo: corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
Brasília, 15 de março de 1991. de rodapé;
b) para símbolos não existentes na fonte Times New Ro-
c) assunto: resumo do teor do documento Exemplos: man poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
Assunto: Produtividade do órgão em 2002. c) é obrigatório constar a partir da segunda página o
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computa- número da página;
dores. d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar-
dirigida a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
também o endereço. páginas pares (“margem espelho”);
e) texto: nos casos em que não for de mero encaminha- e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm
mento de documentos, o expediente deve conter a seguin- de distância da margem esquerda;
te estrutura: f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
– introdução, que se confunde com o parágrafo de no mínimo, 3,0 cm de largura;
abertura, na qual é apresentado o assunto que motiva a g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
comunicação. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”, cm;
“Tenho o prazer de”, “Cumpre-me informar que”, empregue O constante neste item aplica-se também à exposição
a forma direta; de motivos e à mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5.
– desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se Mensagem).
o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as li-
devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
maior clareza à exposição; de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
– conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente rea- em branco;
presentada a posição recomendada sobre o assunto. i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, subli-
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor-
nos casos em que estes estejam organizados em itens ou das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
títulos e subtítulos. Já quando se tratar de mero encami- elegância e a sobriedade do documento;
nhamento de documentos a estrutura é a seguinte: j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
– introdução: deve iniciar com referência ao expedien- papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
te que solicitou o encaminhamento. Se a remessa do do- para gráficos e ilustrações;
cumento não tiver sido solicitada, deve iniciar com a in- k) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício de-
formação do motivo da comunicação, que é encaminhar, vem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7
indicando a seguir os dados completos do documento x 21,0 cm;
encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e assunto l) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminha- arquivo Rich Text nos documentos de texto;
do, segundo a seguinte fórmula: “Em resposta ao Aviso n.º m) dentro do possível, todos os documentos elabora-
12, de 1.º de fevereiro de 1991, encaminho, anexa, cópia do dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
Ofício n.º 34, de 3 de abril de 1990, do Departamento Geral posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
de Administração, que trata da requisição do servidor Fulano gos;
de Tal.” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento, a n) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de-
anexa cópia do telegrama no 12, de 1.º de fevereiro de 1991, vem ser formados da seguinte maneira: tipo do documento
do Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a + número do documento + palavras-chaves do conteúdo.
respeito de projeto de modernização de técnicas agrícolas Ex.: “Of. 123 - relatório produtividade ano 2002”
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na região Nordeste.”
– desenvolvimento: se o autor da comunicação dese- 12. Aviso e Ofício
jar fazer algum comentário a respeito do documento que
encaminha, poderá acrescentar parágrafos de desenvolvi- 12.1. Definição e Finalidade
mento; em caso contrário, não há parágrafos de desenvol-
vimento em aviso ou ofício de mero encaminhamento. Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que
g) assinatura do autor da comunicação; e o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Esta-

115
do, para autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o a) informá-lo de determinado assunto;
ofício é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos b) propor alguma medida; ou
têm como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pe- c) submeter a sua consideração projeto de ato norma-
los órgãos da Administração Pública entre si e, no caso do tivo.
ofício, também com particulares. Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente
da República por um Ministro de Estado. Nos casos em que o
12.2. Forma e Estrutura assunto tratado envolva mais de um Ministério, a exposição de
motivos deverá ser assinada por todos os Ministros envolvi-
Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo dos, sendo, por essa razão, chamada de interministerial.
do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca
o destinatário (v. 2.1 Pronomes de Tratamento), seguido de 14.2. Forma e Estrutura
vírgula. Exemplos:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República Formalmente, a exposição de motivos tem a apresenta-
Senhora Ministra ção do padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício).
Senhor Chefe de Gabinete A exposição de motivos, de acordo com sua finalida-
de, apresenta duas formas básicas de estrutura: uma para
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as aquela que tenha caráter exclusivamente informativo e ou-
seguintes informações do remetente: tra para a que proponha alguma medida ou submeta pro-
– nome do órgão ou setor; jeto de ato normativo.
– endereço postal; No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim-
– telefone e endereço de correio eletrônico. plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Pre-
sidente da República, sua estrutura segue o modelo antes
13. Memorando referido para o padrão ofício. Já a exposição de motivos que
submeta à consideração do Presidente da República a suges-
13.1. Definição e Finalidade tão de alguma medida a ser adotada ou a que lhe apresente
projeto de ato normativo – embora sigam também a estrutu-
O memorando é a modalidade de comunicação entre ra do padrão ofício –, além de outros comentários julgados
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente, apontar:
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em níveis dife- a) na introdução: o problema que está a reclamar a ado-
rentes. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação ção da medida ou do ato normativo proposto;
eminentemente interna. Pode ter caráter meramente ad- b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida
ministrativo, ou ser empregado para a exposição de pro- ou aquele ato normativo o ideal para se solucionar
jetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por determi- o problema, e eventuais alternativas existentes para
nado setor do serviço público. Sua característica principal equacioná-lo;
é a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser to-
órgão deve pautar-se pela rapidez e pela simplicidade mada, ou qual ato normativo deve ser editado para
de procedimentos burocráticos. Para evitar desnecessário solucionar o problema.
aumento do número de comunicações, os despachos ao Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à ex-
memorando devem ser dados no próprio documento e, posição de motivos, devidamente preenchido, de acordo
no caso de falta de espaço, em folha de continuação. Esse Com o modelo previsto no Anexo II do Decreto n.º 4.176,
procedimento permite formar uma espécie de processo de 28 de março de 2002.
simplificado, assegurando maior transparência à tomada Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente
de decisões, e permitindo que se historie o andamento da que a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (cla-
matéria tratada no memorando. reza, concisão, impessoalidade, formalidade, padronização
e uso do padrão culto de linguagem) deve ser redobrada.
13.2. Forma e Estrutura A exposição de motivos é a principal modalidade de co-
municação dirigida ao Presidente da República pelos Ministros.
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do Além disso, pode, em certos casos, ser encaminhada
padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário ou,
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos: ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo ou
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração em parte.
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Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos


15. Mensagem
14. Exposição de Motivos
15.1. Definição e Finalidade
14.1. Definição e Finalidade
É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes
Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presi- dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens envia-
dente da República ou ao Vice-Presidente para: das pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo

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para informar sobre fato da Administração Pública; expor o em vista que a Constituição, no seu art. 52, incisos III e IV,
plano de governo por ocasião da abertura de sessão legis- atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
lativa; submeter ao Congresso Nacional matérias que de- privativa para aprovar a indicação.
pendem de deliberação de suas Casas; apresentar veto; en- O curriculum vitae do indicado, devidamente assinado,
fim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja acompanha a mensagem.
de interesse dos poderes públicos e da Nação. d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-
Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos Mi- -Presidente da República se ausentar do País por mais de
nistérios à Presidência da República, a cujas assessorias ca- 15 dias.
berá a redação final. Trata-se de exigência constitucional (Constituição, art.
As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con- 49, III, e 83), e a autorização é da competência privativa do
gresso Nacional têm as seguintes finalidades: Congresso Nacional.
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, comple- O Presidente da República, tradicionalmente, por cor-
mentar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou com- tesia, quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz
plementar são enviados em regime normal (Constituição, uma comunicação a cada Casa do Congresso, enviando-
art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1.º a 4.º). -lhes mensagens idênticas.
Cabe lembrar que o projeto pode ser encaminhado sob o e) encaminhamento de atos de concessão e renovação
regime normal e mais tarde ser objeto de nova mensagem, de concessão de emissoras de rádio e TV.
com solicitação de urgência. A obrigação de submeter tais atos à apreciação do Con-
Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Mem- gresso Nacional consta no inciso XII do artigo 49 da Cons-
bros do Congresso Nacional, mas é encaminhada com avi- tituição. Somente produzirão efeitos legais a outorga ou
so do Chefe da Casa Civil da Presidência da República ao renovação da concessão após deliberação do Congresso
Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para que Nacional (Constituição, art. 223, § 3.º). Descabe pedir na
tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). mensagem a urgência prevista no art. 64 da Constituição,
Quanto aos projetos de lei financeira (que compreen- porquanto o § 1.º do art. 223 já define o prazo da trami-
dem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamentos tação.
anuais e créditos adicionais), as mensagens de encaminha- Além do ato de outorga ou renovação, acompanha a
mento dirigem-se aos Membros do Congresso Nacional, e mensagem o correspondente processo administrativo.
os respectivos avisos são endereçados ao Primeiro Secretá- f) encaminhamento das contas referentes ao exercício
rio do Senado Federal. A razão é que o art. 166 da Consti- anterior.
tuição impõe a deliberação congressual sobre as leis finan- O Presidente da República tem o prazo de sessenta
ceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao
do regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Congresso Nacional as contas referentes ao exercício an-
Nacional está o Presidente do Senado Federal (Constitui- terior (Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer da
ção, art. 57, § 5.º), que comanda as sessões conjuntas. Comissão Mista permanente (Constituição, art. 166, § 1.º),
As mensagens aqui tratadas coroam o processo desen- sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a tomada de
volvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange minu- contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento discipli-
cioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das nado no art. 215 do seu Regimento Interno.
matérias objeto das proposições por elas encaminhadas. g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
Tais exames materializam-se em pareceres dos diversos Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre
órgãos interessados no assunto das proposições, entre eles a situação do País e solicitação de providências que julgar
o da Advocacia-Geral da União. Mas, na origem das pro- necessárias (Constituição, art. 84, XI).
postas, as análises necessárias constam da exposição de O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da
motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição de Presidência da República. Esta mensagem difere das de-
Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a men- mais porque vai encadernada e é distribuída a todos os
sagem de encaminhamento ao Congresso. Congressistas em forma de livro.
b) encaminhamento de medida provisória. h) comunicação de sanção (com restituição de autógra-
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Cons- fos).
tituição, o Presidente da República encaminha mensagem Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso
ao Congresso, dirigida a seus membros, com aviso para o Nacional, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da
Primeiro Secretário do Senado Federal, juntando cópia da Casa onde se originaram os autógrafos. Nela se informa
LÍNGUA PORTUGUESA

medida provisória, autenticada pela Coordenação de Do- o número que tomou a lei e se restituem dois exemplares
cumentação da Presidência da República. dos três autógrafos recebidos, nos quais o Presidente da
c) indicação de autoridades. República terá aposto o despacho de sanção.
As mensagens que submetem ao Senado Federal a in- i) comunicação de veto.
dicação de pessoas para ocuparem determinados cargos Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição,
(magistrados dos Tribunais Superiores, Ministros do TCU, art. 66, § 1.º), a mensagem informa sobre a decisão de ve-
Presidentes e Diretores do Banco Central, Procurador-Ge- tar, se o veto é parcial, quais as disposições vetadas, e as
ral da República, Chefes de Missão Diplomática, etc.) têm razões do veto. Seu texto vai publicado na íntegra no Diário

117
Oficial da União (v. 4.2. Forma e Estrutura), ao contrário das A mensagem, como os demais atos assinados pelo Pre-
demais mensagens, cuja publicação se restringe à notícia sidente da República, não traz identificação de seu signa-
do seu envio ao Poder Legislativo. tário.
j) outras mensagens.
Também são remetidas ao Legislativo com regular fre- 16. Telegrama
quência mensagens com:
– encaminhamento de atos internacionais que acarre- 16.1. Definição e Finalidade
tam encargos ou compromissos gravosos (Constituição,
art. 49, I); Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar
– pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis os procedimentos burocráticos, passa a receber o título de
às operações e prestações interestaduais e de exportação telegrama toda comunicação oficial expedida por meio de
(Constituição, art. 155, § 2.º, IV); telegrafia, telex, etc.
– proposta de fixação de limites globais para o montan- Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos
te da dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI); cofres públicos e tecnologicamente superada, deve restrin-
– pedido de autorização para operações financeiras ex- gir-se o uso do telegrama apenas àquelas situações que
ternas (Constituição, art. 52, V); e outros. não seja possível o uso de correio eletrônico ou fax e que
Entre as mensagens menos comuns estão as de: a urgência justifique sua utilização e, também em razão de
– convocação extraordinária do Congresso Nacional seu custo elevado, esta forma de comunicação deve pau-
(Constituição, art. 57, § 6.º); tar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).
– pedido de autorização para exonerar o Procurador-
-Geral da República (art. 52, XI, e 128, § 2.º); 16.2. Forma e Estrutura
– pedido de autorização para declarar guerra e decretar
mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX); Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e
– pedido de autorização ou referendo para celebrar a a estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos
paz (Constituição, art. 84, XX); Correios e em seu sítio na Internet.
– justificativa para decretação do estado de defesa ou
de sua prorrogação (Constituição, art. 136, § 4.º); 17. Fax
– pedido de autorização para decretar o estado de sítio
(Constituição, art. 137); 17.1. Definição e Finalidade
– relato das medidas praticadas na vigência do esta-
do de sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é
único); uma forma de comunicação que está sendo menos usada
– proposta de modificação de projetos de leis financei- devido ao desenvolvimento da Internet. É utilizado para a
ras (Constituição, art. 166, § 5.º); transmissão de mensagens urgentes e para o envio ante-
– pedido de autorização para utilizar recursos que fi- cipado de documentos, de cujo conhecimento há premên-
carem sem despesas correspondentes, em decorrência de cia, quando não há condições de envio do documento por
veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária meio eletrônico. Quando necessário o original, ele segue
anual (Constituição, art. 166, § 8.º); posteriormente pela via e na forma de praxe.
– pedido de autorização para alienar ou conceder terras Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com có-
públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. pia xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em
188, § 1.º); etc. certos modelos, deteriora-se rapidamente.

5.2. Forma e Estrutura 17.2. Forma e Estrutura

As mensagens contêm: Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a


a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, estrutura que lhes são inerentes.
horizontalmente, no início da margem esquerda: É conveniente o envio, juntamente com o documento
Mensagem n.º principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com os
dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor-
b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e me exemplo a seguir:
o cargo do destinatário, horizontalmente, no início da mar-
LÍNGUA PORTUGUESA

gem esquerda; [Órgão Expedidor]


Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, [setor do órgão expedidor]
[endereço do órgão expedidor]
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; Destinatário:____________________________________
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___
texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a Remetente: ____________________________________
margem direita. Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____
No de páginas: ________No do documento:____________

118
Observações:___________________________________ oração, mas que podem ser ou intercalados aos elementos
que desempenham as outras funções, ou deslocados para
18. Correio Eletrônico o início da oração.
Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos ele-
18.1 Definição e finalidade mentos que compõem uma oração (Observação: os parên-
teses indicam os elementos que podem não ocorrer):
O correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e
celeridade, transformou-se na principal forma de comuni- (sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).
cação para transmissão de documentos.
Podem ser identificados seis padrões básicos para as
18.2. Forma e Estrutura orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portuguesa
(a função que vem entre parênteses é facultativa e pode
Um dos atrativos de comunicação por correio eletrô- ocorrer em ordem diversa):
nico é sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma
rígida para sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o uso 1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)
de linguagem incompatível com uma comunicação oficial O Presidente - regressou - (ontem).
(v. 1.2 A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais).
O campo assunto do formulário de correio eletrônico 2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (ad-
deve ser preenchido de modo a facilitar a organização do- junto adverbial)
cumental tanto do destinatário quanto do remetente. O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utili- manhã de terça-feira).
zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí- 3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto -
nimas sobre seu conteúdo. (adjunto adverbial).
Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de con- O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os se-
firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar tores).
da mensagem pedido de confirmação de recebimento.
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. direto
18.3 Valor documental - obj. indireto - (adj. Adv.)
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações -
Nos termos da legislação em vigor, para que a mensa- ao Deputado - (no Congresso).
gem de correio eletrônico tenha valor documental, e para
que possa ser aceito como documento original, é neces- 5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento ad-
sário existir certificação digital que ateste a identidade do verbial - (adjunto adverbial)
remetente, na forma estabelecida em lei. A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos
Aires - (na próxima semana).
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira)
ELEMENTOS DE ORTOGRAFIA E GRAMÁTICA 6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto
adverbial)
1. Problemas de Construção de Frases O problema - será - resolvido - prontamente.

A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas, Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou
principalmente, pela construção adequada da frase, “a me- seja, as frases que possuem apenas um verbo conjugado.
nor unidade autônoma da comunicação”, na definição de Na construção de períodos, as várias funções podem ocor-
Celso Pedro Luft. rer em ordem inversa à mencionada, misturando-se e con-
A função essencial da frase é desempenhada pelo pre- fundindo-se. Não interessa aqui análise exaustiva de todos
dicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser entendi- os padrões existentes na língua portuguesa. O que importa
do como “a enunciação pura de um fato qualquer”. Sempre é fixar a ordem normal dos elementos nesses seis padrões
que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome básicos. Acrescente-se que períodos mais complexos, com-
de período, que terá tantas orações quantos forem os ver- postos por duas ou mais orações, em geral podem ser re-
bos não auxiliares que o constituem. duzidos aos padrões básicos (de que derivam).
LÍNGUA PORTUGUESA

Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis- Os problemas mais frequentemente encontrados na
pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –, construção de frases dizem respeito à má pontuação, à
de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substantivo. ambiguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos pa-
Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substan- ralelismos, erros de comparação, etc. Decorrem, em geral,
tivos (nomes ou pronomes) que desempenham a função do desconhecimento da ordem das palavras na frase. In-
de complementos (objetos direto e indireto, predicativo e dicam-se, a seguir, alguns desses defeitos mais comuns e
complemento adverbial). Função acessória desempenham recorrentes na construção de frases, registrados em docu-
os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da mentos oficiais.

119
2. Sujeito Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministé-
rios economizar energia e que elaborassem planos de redu-
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que ção de despesas.
executa a ação enunciada na oração. Ele pode ter comple-
mento, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, Na frase temos, nas duas orações subordinadas que
portanto, construções como: completam o sentido da principal, duas estruturas diferen-
tes para ideias equivalentes: a primeira oração (economizar
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. energia) é reduzida de infinitivo, enquanto a segunda (que
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda. elaborassem planos de redução de despesas) é uma oração
desenvolvida introduzida pela conjunção integrante que.
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cor- Há mais de uma possibilidade de escrevê-la com clareza e
tadas, (...). correção; uma seria a de apresentar as duas orações subor-
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cor- dinadas como desenvolvidas, introduzidas pela conjunção
tadas, (...). integrante que:

Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministé-
Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim. rios que economizassem energia e (que) elaborassem planos
para redução de despesas.
Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...). Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas
como reduzidas de infinitivo:
Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministé-
(...). rios economizar energia e elaborar planos para redução de
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, despesas.
(...).
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
3. Frases Fragmentadas coordenação de orações subordinadas.
Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita
A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma culta:
oração subordinada ou uma simples locução como se fosse Errado: No discurso de posse, mostrou determinação,
uma frase completa”. Decorre da pontuação errada de uma não ser inseguro, inteligência e ter ambição.
frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico
na literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos O problema aqui decorre de coordenar palavras (subs-
textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a compreensão. tantivos) com orações (reduzidas de infinitivo).
Exemplo: Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por
transformá-la em frase simples, substituindo as orações re-
Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso duzidas por substantivos:
Nacional. Depois de ser longamente debatido. Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, se-
Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso gurança, inteligência e ambição.
Nacional, depois de ser longamente debatido.
Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso pa-
recebeu a aprovação do Congresso Nacional. ralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equivalente)
a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar,
Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub- de forma paralela, estruturas sintáticas distintas:
metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consul- Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa.
tadas as áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente sub- Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades
metido ao Presidente da República, que o aprovou, consulta- (Paris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibili-
das as áreas envolvidas na elaboração do texto legal. dade de correção é transformá-la em duas frases simples,
com o cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar):
4. Erros de Paralelismo Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta
LÍNGUA PORTUGUESA

última capital, encontrou-se com o Papa.


Uma das convenções estabelecidas na linguagem es-
crita “consiste em apresentar ideias similares numa forma Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado
gramatical idêntica”, o que se chama de paralelismo. Assim, pelo uso inadequado da expressão “e que” num período
incorre-se em erro ao conferir forma não paralela a ele- que não contém nenhum “que” anterior.
mentos paralelos. Vejamos alguns exemplos: Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que
tem sólida formação acadêmica.

120
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: A) pronomes pessoais:
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sóli- Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que
da formação acadêmica. ele seria exonerado.
Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu se-
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: cretariado.
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas Ou então, caso o entendimento seja outro:
precipitadas, e que comprometam o andamento de todo o Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
programa. neração deste.
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo ante-
rior, aqui podemos suprimir a conjunção: B) pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repúbli-
precipitadas, que comprometam o andamento de todo o ca, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu Esta-
programa. do, mas isso não o surpreendeu.
Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo
5. Erros de Comparação acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase.
Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente
A omissão de certos termos ao fazermos uma compa- da República. No pronunciamento, solicitou a intervenção
ração, omissão própria da língua falada, deve ser evitada federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Presidente
na língua escrita, pois compromete a clareza do texto: nem da República.
sempre é possível identificar, pelo contexto, qual o termo
omitido. A ausência indevida de um termo pode impossi- C) pronome relativo:
bilitar o entendimento do sentido que se quer dar a uma Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
frase: costumava trabalhar.
Não fica claro se o pronome relativo da segunda oração
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambiguidade
um médico. se deve ao pronome relativo “que”, sem marca de gênero.
A omissão de termos provocou uma comparação inde- A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais, as
vida: “o salário de um professor” com “um médico”. quais, que marcam gênero e número.
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costu-
salário de um médico. mava trabalhar.
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o Se o entendimento é outro, então:
de um médico. Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costu-
mava trabalhar.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
Novamente, a não repetição dos termos comparados Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da
confunde. Alternativas para correção: dúvida sobre a que se refere a oração reduzida:
Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o
Portaria. funcionário.
Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria. Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima,
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida.
Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este in-
do que os Ministérios do Governo. disciplinado.
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
“demais”) acarretou imprecisão: Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora
Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas chamou o médico.
do que os outros Ministérios do Governo. Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi
Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas chamado por uma senhora.
do que os demais Ministérios do Governo.
SITE
6. Ambiguidade http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual-
redpr2aed.pdf
LÍNGUA PORTUGUESA

Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em


mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de
todo texto oficial, deve-se atentar para as construções que
possam gerar equívocos de compreensão.
A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar a qual palavra se refere um pronome que possui
mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode ocorrer
com:

121
(Fonte: https://www.10emtudo.com.br/aula/ensino/a_
redacao_oficial_ata/)
EXERCÍCIOS COMENTADOS
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – cespe
1. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços de – 2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas direcio-
Transportes Aquaviários – superior – cespe – 2014) nadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso dos fe-
Considerando aspectos estruturais e linguísticos das corres- chos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acordo com
pondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de acordo as hierarquias do destinatário e do remetente.
com o Manual de Redação da Presidência da República.
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para todas ( ) CERTO ( ) ERRADO
as autoridades do poder público, uma vez que a dignidade
é tida como qualidade inerente aos ocupantes de cargos Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi-
públicos. cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente dois
fechos diferentes para todas as modalidades de comu-
( ) CERTO ( ) ERRADO nicação oficial:
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da
Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda República: Respeitosamente,
preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial quia inferior: Atenciosamente,
para que tais cargos públicos sejam ocupados. Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi- das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e
cial_publicacoes_ver.php?id=2 tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual
de Redação do Ministério das Relações Exteriores.
2. (tribunal de justiça-se – técnico judiciário – Médio
– cespe – 2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas 5. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços de
direcionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso Transportes Aquaviários – cespe – 2014) Consideran-
dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acor- do aspectos estruturais e linguísticos das correspondências
do com as hierarquias do destinatário e do remetente. oficiais, julgue os itens que se seguem, de acordo com o
Manual de Redação da Presidência da República.
( ) CERTO ( ) ERRADO O tratamento Digníssimo deve ser empregado para todas
as autoridades do poder público, uma vez que a dignidade
Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi- é tida como qualidade inerente aos ocupantes de cargos
cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente dois públicos.
fechos diferentes para todas as modalidades de comu-
nicação oficial: ( ) CERTO ( ) ERRADO
A) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da República: Respeitosamente, Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda
B) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar- preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica
quia inferior: Atenciosamente, abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi- para que tais cargos públicos sejam ocupados.
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual cial_publicacoes_ver.php?id=2
de Redação do Ministério das Relações Exteriores.

3. (anp – Conhecimento Básico para todos os Cargos


– cespe – 2013) Na redação de uma ata, devem-se relatar
exaustivamente, com o máximo de detalhamento possível,
incluindo-se os aspectos subjetivos, as discussões, as pro-
postas, as resoluções e as deliberações ocorridas em reu-
niões e eventos que exigem registro.
LÍNGUA PORTUGUESA

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Ata é um documento administrati-


vo que tem a finalidade de registrar de modo sucinto a
sequência de eventos de uma reunião ou assembleia de
pessoas com um fim específico. É característica da Ata
apresentar um resumo, cronologicamente disposto, de
modo infalível, de todo o desenrolar da reunião.

122
HORA DE PRATICAR!

1. (MAPA – Auditor Fiscal Federal Agropecuário – Médico Veterinário – Superior – ESAF – 2017) Assinale a opção
que apresenta desvio de grafia da palavra.
A acupuntura é uma terapia da medicina tradicional chinesa que favorece a regularização dos processos fisiológicos do corpo,
no sentido de promover ou recuperar o estado natural de saúde e equilíbrio. Pode ser usada preventivamente (1) para evitar
o desenvolvimento de doenças, como terapia curativa no caso de a doença estar instalada ou como método paliativo (2) em
casos de doenças crônicas de difícil tratamento. Tem também uma ação importante na medicina rejenerativa (3) e na reabili-
tação. O tratamento de acupuntura consiste na introdução de agulhas filiformes no corpo dos animais. Em geral são deixadas
cerca de 15 a 20 minutos. A colocação das agulhas não é dolorosa para os animais e é possível observar durante os tratamen-
tos diferentes reações fisiológicas (4), indicadoras de que o tratamento está atingindo o efeito terapêutico (5) desejado.
Disponível: <http://www.veterinariaholistica.net/acupuntura-fitoterapia-e-homeopatia.html/>. Acesso em 28/11/2017. (Com adaptações)

a) (1)
b) (2)
c) (3)
d) (4)
e) (5)

2. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) Respeitando-se as
normas de redação do Manual da Presidência da República, a frase correta é:

a) Solicito a Vossa Senhoria que verifique a possibilidade de implementação de projeto de treinamento de pessoal para
operar os novos equipamentos gráficos a serem instalados em seu setor.
b) Venho perguntar-lhe, por meio desta, sobre a data em que Vossa Excelência pretende nomear vosso representante na
Comissão Organizadora.
c) Digníssimo Senhor: eu venho por esse comunicado, informar, que será organizado seminário, sobre o uso eficiente de
recursos hídricos, em data ainda a ser definida.
d) Haja visto que o projeto anexo contribue para o desenvolvimento do setor em questão, informamos, por meio deste
Ofício, que será amplamente analisado por especialistas.
e) Neste momento, conforme solicitação enviada à Vossa Senhoria anexo, não se deve adotar medidas que possam com-
prometer vossa realização do projeto mencionado.

3. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) Analise as assertivas abaixo:

I. O ladrão era de menor.


II. Não há regra sem exceção.
III. É mais saudável usar menas roupa no calor.
IV. O policial foi à delegacia em compania do meliante.
V. Entre eu e você não existe mais nada.

A opção que apresenta vícios de linguagem é:

a) I e III.
b) I, II e IV.
c) II e IV.
d) I, III, IV e V.
e) III, IV e V.
LÍNGUA PORTUGUESA

4. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que todas
as palavras estão corretas:

a) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.


b) supracitado – semi-novo – telesserviço.
c) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
d) contrarregra – autopista – semi-aberto.
e) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.

123
5. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) O uso correto do porquê está na opção:

a) Por quê o homem destrói a natureza?


b) Ela chorou por que a humilharam.
c) Você continua implicando comigo porque sou pobre?
d) Ninguém sabe o por quê daquele gesto.
e) Ela me fez isso, porquê?

6. (TJ-PA – Médico Psiquiatra – Superior – VUNESP – 2014)

Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas, de acordo com a norma-padrão da língua por-
tuguesa, considerando que o termo que preenche a terceira lacuna é empregado para indicar que um evento está prestes
a acontecer

a) anúncio ... A ... Iminente.


b) anuncio ... À ... Iminente.
c) anúncio ... À ... Iminente.
d) anúncio ... A ... Eminente.
e) anuncio ... À ... Eminente.

7. (CEFET-RJ – REVISOR DE TEXTOS – CESGRANRIO – 2014) Observe a grafia das palavras do trecho a seguir.
A macro-história da humanidade mostra que todos encaram os relatos pessoais como uma forma de se manterem vivos. Des-
de a idade do domínio do fogo até a era das multicomunicações, os homens tem demonstrado que querem pôr sua marca no
mundo porque se sentem superiores.
A palavra que NÃO está grafada corretamente é

a) macro-história.
b) multicomunicações.
c) tem.
d) pôr.
e) porque.

8. (Liquigás – Profissional Júnior – Ciências Contábeis – cegranrio – 2014) O grupo em que todas as palavras estão
grafadas de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa é

a) gorjeta, ogeriza, lojista, ferrujem


b) pedágio, ultrage, pagem, angina
c) refújio, agiota, rigidez, rabujento
d) vigência, jenipapo, fuligem, cafajeste
e) sargeta, jengiva, jiló, lambujem
LÍNGUA PORTUGUESA

9. (SIMAE – Agente Administrativo – ASSCON-PP – 2014) Assinale a alternativa que apresenta apenas palavras escri-
tas de forma incorreta.

a) Cremoso, coragem, cafajeste, realizar;


b) Caixote, encher, análise, poetisa;
c) Traje, tanger, portuguesa, sacerdotisa;
d) Pagem, mujir, vaidozo, enchergar;

124
10. (Receita Federal – Auditor Fiscal – ESAF – 2014) d) A reportagem sobre fascínoras famosos não foi nada
Assinale a opção que corresponde a erro gramatical ou de positiva para o público jovem que estava presente, de
grafia de palavra inserido na transcrição do texto. que se desculparam os idealizadores do programa.
e) Estudantes e professores são entusiastas de oferecer aos
A Receita Federal nem sempre teve esse (1) nome. Secretaria jovens ingressantes no curso o compartilhamento de
da Receita Federal é apenas a mais recente denominação projetos, com que serão também autores.
da Administração Tributária Brasileira nestes cinco séculos
de existência. Sua criação tornou-se (2) necessária para mo- 13. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014)
dernizar a máquina arrecadadora e fiscalizadora, bem como A acentuação correta está na alternativa:
para promover uma maior integração entre o Fisco e os Con-
tribuintes, facilitando o cumprimento expontâneo (3) das a) eu abençôo – eles crêem – ele argúi.
obrigações tributárias e a solução dos eventuais problemas, b) platéia – tuiuiu – instrui-los.
bem como o acesso às (4) informações pessoais privativas c) ponei – geléia – heroico.
de interesse de cada cidadão. O surgimento da Secretaria d) eles têm – ele intervém – ele constrói.
da Receita Federal representou um significativo avanço na e) lingüiça – feiúra – idéia.
facilitação do cumprimento das obrigações tributárias, con-
tribuindo para o aumento da arrecadação a partir (5) do 14. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – AOCP –
final dos anos 60. 2014) A palavra que está acentuada corretamente é:
(Adaptado de <http://www.receita.fazenda.gov.br/srf/his-
torico.htm>. Acesso em: 17 mar. 2014.) a) Históriar.
b) Memórial.
a) (1). c) Métodico.
b) (2). d) Própriedade.
c) (3). e) Artifício.
d) (4).
e) (5). 15. (prodam-am – assistente – funcab – 2014 – adap-
tada) Assinale a opção em que o par de palavras foi acen-
11. (Estrada de Ferro Campos do Jordão-SP – Ana-
tuado segundo a mesma regra.
lista Ferroviário – Oficinas – Elétrica – IDERH – 2014)
Leia as orações a seguir:
a) saúde-países
Minha mãe sempre me aconselha a evitar as _____ compa-
b) Etíope-juízes
nhias. (mas/más)
c) olímpicas-automóvel
A cauda do vestido da noiva tinha um _________ enorme.
d) vocês-público
(cumprimento/comprimento)
Precisamos fazer as compras do mês, pois a _________ está e) espetáculo-mensurável
vazia. (despensa/dispensa).
16. (Advocacia Geral da União – Técnico em Contabi-
Completam, correta e respectivamente, as lacunas acima os lidade – idecan – 2014) Os vocábulos “cinquentenário” e
expostos na alternativa: “império” são acentuados devido à mesma justificativa. O
mesmo ocorre com o par de palavras apresentado em
a) mas – cumprimento – despensa.
b) más – comprimento – despensa. a) prêmio e órbita.
c) más – cumprimento – dispensa. b) rápida e tráfego
d) mas – comprimento – dispensa. c) satélite e ministério.
e) más – comprimento – dispensa. d) pública e experiência.
e) sexagenário e próximo.
12. (TRT-2ª REGIÃO-SP – Técnico Judiciário - Área
Administrativa – Médio – FCC – 2014) Está redigida 17. (Rioprevidência – Especialista em Previdência So-
com clareza e em consonância com as regras da gramática cial – ceperj – 2014) A palavra “conteúdo” recebe acen-
normativa a seguinte frase: tuação pela mesma razão de:

a) Queremos, ou não, ele será designado para dar a palavra a) juízo


LÍNGUA PORTUGUESA

final sobre a polêmica questão, que, diga-se de passa- b) espírito


gem, tem feito muitos exitarem em se pronunciar. c) jornalístico
b) Consultaram o juíz acerca da possibilidade de voltar d) mínimo
atraz na suspensão do jogador, mas ele foi categórico e) disponíveis
quanto a impossibilidade de rever sua posição.
c) Vossa Excelência leu o documento que será apresentado
em rede nacional daqui a pouco, pela voz de Sua Exce-
lência, o Senhor Ministro da Educação?

125
18. (Ministério do Meio Ambiente – icmbio – cespe – 24. (Corpo de Bombeiros Militar-pi – Curso de For-
2014) A mesma regra de acentuação gráfica se aplica aos mação de Soldados – uespi – 2014) “O evento promove
vocábulos “Brasília”, “cenário” e “próprio”. a saúde de modo integral.” A regra que justifica o acen-
to gráfico no termo destacado é a mesma que justifica o
( ) CERTO ( ) ERRADO acento em:

19. (Prefeitura de Balneário Camboriú-sc – Guarda a) “remédio”.


Municipal – fepese – 2014 – adaptada) Assinale a alter- b) “cajú”.
nativa em que todas as palavras são oxítonas. c) “rúbrica”.
d) “fráude”.
a) pé, lá, pasta e) “baú”.
b) mesa, tábua, régua
c) livro, prova, caderno 25. (TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa
d) parabéns, até, televisão – Médio – FGV – 2015)
e) óculos, parâmetros, título Texto 3 – “A Lua Cheia entra em sua fase Crescente no signo
de Gêmeos e vai movimentar tudo o que diz respeito à sua
20. (Advocacia Geral da União – Técnico em Comu- vida profissional e projetos de carreira. Os próximos dias se-
nicação Social – idecan – 2014) Assinale a alternativa rão ótimos para dar andamento a projetos que começaram
em que a acentuação de todas as palavras está de acordo há alguns dias ou semanas. Os resultados chegarão rapida-
com a mesma regra da palavra destacada: “Procuradorias mente”.
comprovam necessidade de rendimento satisfatório para re-
novação do FIES”. O texto 3 mostra exemplos de emprego correto do “a” com
acento grave indicativo da crase – “diz respeito à sua vida
a) após / pó / paletó profissional”. A frase abaixo em que o emprego do acento
grave da crase é corretamente empregado é:
b) moído / juízes / caído
c) história / cárie / tênue
a) o texto do horóscopo veio escrito à lápis;
d) álibi / ínterim / político
b) começaram à chorar assim que leram as previsões;
e) êxito / protótipo / ávido
c) o horóscopo dizia à cada leitora o que devia fazer;
d) o leitor estava à procura de seu destino;
21. (Prefeitura de Brusque-sc – Educador Social – fe-
e) o astrólogo previa o futuro passo à passo
pese – 2014) Assinale a alternativa em que só palavras
paroxítonas estão apresentadas. 26. (Prefeitura de Sertãozinho-SP – Farmacêutico –
Superior – VUNESP – 2017) O sinal indicativo de crase
a) facilitada, minha, canta, palmeiras está empregado corretamente nas duas ocorrências na al-
b) maná, papá, sinhá, canção ternativa:
c) cá, pé, a, exílio
d) terra, pontapé, murmúrio, aves a) Muitos indivíduos são propensos à associar, inadvertida-
e) saúde, primogênito, computador, devêssemos mente, tristeza à depressão.
b) As pessoas não querem estar à mercê do sofrimento, por
22. (Ministério do Desenvolvimento Agrário – Téc- isso almejam à pílula da felicidade.
nico em Agrimensura – funcab – 2014) A alternativa c) À proporção que a tristeza se intensifica e se prolonga,
que apresenta palavra acentuada por regra diferente das pode-se, à primeira vista, pensar em depressão.
demais é: d) À rigor, os especialistas não devem receitar remédios às
pessoas antes da realização de exames acurados.
a) dúvidas. e) Em relação à informação da OMS, conclui-se que existem
b) muitíssimos. 121 milhões de pessoas à serem tratadas de depressão.
c) fábrica.
d) mínimo. 27. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área
e) impossível. Administrativa – Médio – FCC – 2017) É difícil planejar
uma cidade e resistir à tentação de formular um projeto de
23. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab sociedade.
LÍNGUA PORTUGUESA

– 2014) Assinale a alternativa em que todas as palavras O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso o verbo
foram acentuadas segundo a mesma regra. sublinhado acima seja substituído por:

a) indivíduos - atraí(-las) - período a) não acatar.


b) saíram – veículo - construído b) driblar.
c) análise – saudável - diálogo c) controlar.
d) hotéis – critérios - através d) superar.
e) econômica – após – propósitos e) não sucumbir.

126
28. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área 32. (Sabesp-SP – atendente a clientes – Médio – fcc
Administrativa – Médio – FCC – 2017) A frase em que – 2014 – adaptada) No trecho Refiro-me aos livros que
há uso adequado do sinal indicativo de crase encontra-se foram escritos e publicados, mas estão – talvez para sempre
em: – à espera de serem lidos, o uso do acento de crase obedece
à mesma regra seguida em:
a) A tendência de recorrer à adaptações aparece com maior
força na Hollywood do século 21. a) Acostumou-se àquela situação, já que não sabia como
b) É curioso constatar a rapidez com que o cinema agregou evitá-la.
à máxima. b) Informou à paciente que os remédios haviam surtido
c) A busca pela segurança leva os estúdios à apostarem em efeito.
histórias já testadas e aprovadas. c) Vou ficar irritada se você não me deixar assistir à novela.
d) Tal máxima aplica-se perfeitamente à criação de peças d) Acabou se confundindo, após usar à exaustão a velha
de teatro. fórmula.
e) Há uma massa de escritores presos à contratos fixos em e) Comunique às minhas alunas que as provas estão cor-
alguns estúdios. rigidas.

29. (Prefeitura de Marília-SP – Auxiliar de Escrita – 33. (TRT-AL – Analista Judiciário – Superior – FCC–
Médio – VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que 2014) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chine-
o sinal indicativo de crase está empregado corretamente. sas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de comple-
a) A voluntária aconselhou a remetente à esquecer o amor mento que o da frase acima está em:
de infância.
b) O carteiro entregou às voluntárias do Clube de Julieta a) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
uma nova remessa de cartas. b) Esses caminhos floresceram durante os primórdios da
c) O médico ofereceu à um dos remetentes apoio psico- Idade Média.
lógico. c) ... viajavam por cordilheiras...
d) As integrantes do Clube levaram horas respondendo à d) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
diversas cartas. e) O maquinista empurra a manopla do acelerador.
e) O Clube sugeriu à algumas consulentes que fizessem no-
vas amizades. 34. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE –
UFAL – 2014) Na afirmação abaixo, de Padre Vieira,
30. (prefeitura de são Paulo-sp – técnico em saúde “O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o picaram
– laboratório – médio – vunesp – 2014) Reescrevendo- a ele... Cuidais que o sermão vos picou a vós” o substantivo
-se o segmento frasal – ... incitá-los a reagir e a enfrentar “espinhos” tem, respectivamente, função sintática de,
o desconforto, ... –, de acordo com a regência e o acento
indicativo da crase, tem-se: a) objeto direto/objeto direto.
b) sujeito/objeto direto.
a) ... incitá-los à reação e ao enfrentamento do desconforto, ... c) objeto direto/sujeito.
b) ... incitá-los a reação e o enfrentamento do desconforto, ... d) objeto direto/objeto indireto.
c) ... incitá-los à reação e à enfrentamento do desconforto, ... e) sujeito/objeto indireto.
d) ... incitá-los à reação e o enfrentamento do desconforto, ...
e) ... incitá-los a reação e à enfrentamento do desconforto, .. 35. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE –
UFAL – 2014) No texto, “Arranca o estatuário uma pedra
31. (CONAB – Contabilidade – Superior – IADES – dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que
2014 – adaptada) Considerando o trecho “atualizou os desbastou o mais grosso, toma o maço e cinzel na mão para
dados relativos à produção de grãos no Brasil.” e conforme começar a formar um homem, primeiro membro a membro
a norma-padrão, assinale a alternativa correta. e depois feição por feição.”
VIEIRA, P. A. In Sermão do Espírito Santo. Acervo da Acade-
a) a crase foi empregada indevidamente no trecho. mia Brasileira de Letras
b) o autor poderia não ter empregado o sinal indicativo de A oração sublinhada exerce uma função de
crase.
LÍNGUA PORTUGUESA

c) se “produção” estivesse antecedida por essa, o uso do a) causalidade.


sinal indicativo de crase continuaria obrigatório. b) conclusão.
d) se, no lugar de “relativos”, fosse empregado referentes, o c) oposição.
uso do sinal indicativo de crase passaria a ser facultativo. d) concessão.
e) caso o vocábulo minha fosse empregado imediatamente e) finalidade.
antes de “produção”, o uso do sinal indicativo de crase
seria facultativo.

127
36. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – Superior c) Adjunto adnominal.
– AOCP – 2014) Em “Se a ‘cura’ fosse cara, apenas uma pe- d) Oração subordinada adverbial espacial.
quena fração da sociedade teria acesso a ela.”, a expressão
em destaque funciona como: 41. (Advocacia-Geral da União – Técnico em Comu-
nicação Social – idecan – 2014) Acerca das relações sin-
a) objeto direto. táticas que ocorrem no interior do período a seguir “Poli-
b) adjunto adnominal. ciais de Los Angeles tomam facas de criminosos, perseguem
c) complemento nominal. bêbados na estrada e terminam o dia na delegacia fazendo
d) sujeito paciente. seu relatório.”, é correto afirmar que
e) objeto indireto.
a) “o dia” é sujeito do verbo “terminar”.
37. (EBSERH – HUSM-UFSM-RS – Analista Adminis- b) o sujeito do período, Policiais de Los Angeles, é com-
trativo – Jornalismo – Superior – AOCP – 2014) posto.
“Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu filho c) “bêbados” e “criminosos” apresentam-se na função de
crescer, ele irá entender - mais cedo ou mais tarde -...” sujeito.
No período acima, a oração destacada: d) “facas” possui a mesma função sintática que “bêbados”
e “relatório”.
a) estabelece uma relação temporal com a oração que lhe e) “de criminosos”, “na estrada”, “na delegacia” são termos
é subsequente. que indicam circunstâncias que caracterizam a ação verbal.
b) estabelece uma relação temporal com a oração que a
antecede. 42. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio
c) estabelece uma relação condicional com a oração que – VUNESP – 2015) Leia o texto, para responder às ques-
lhe é subsequente. tões.
d) estabelece uma relação condicional com a oração que O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para
a antecede. consegui-lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito às
e) estabelece uma relação de finalidade com a oração que ameaças da injustiça – e isso perdurará enquanto o mundo
lhe é subsequente. for mundo –, ele não poderá prescindir da luta. A vida do
direito é a luta: luta dos povos, dos governos, das classes
38. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab sociais, dos indivíduos.
– 2014) O termo destacado em: “As pessoas estão sempre Todos os direitos da humanidade foram conquistados pela
muito ATAREFADAS.” exerce a seguinte função sintática: luta; seus princípios mais importantes tiveram de enfrentar
os ataques daqueles que a ele se opunham; todo e qual-
a) objeto direto. quer direito, seja o direito de um povo, seja o direito do in-
b) objeto indireto. divíduo, só se afirma por uma disposição ininterrupta para
c) adjunto adverbial. a luta. O direito não é uma simples ideia, é uma força viva.
d) predicativo. Por isso a justiça sustenta numa das mãos a balança com
e) adjunto adnominal. que pesa o direito, enquanto na outra segura a espada por
meio da qual o defende.
39. (trt-13ª região-pb – Técnico Judiciário – Tecnolo- A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a
gia da Informação – Médio – fcc – 2014) Ao mesmo espada, a impotência do direito. Uma completa a outra,
tempo, as elites renunciaram às ambições passadas... e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de comple- a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade
mento que o grifado acima está empregado em: com que manipula a balança.
O direito é um trabalho sem tréguas, não só do Poder
a) Faltam-nos precedentes históricos para... Público, mas de toda a população. A vida do direito nos
b) Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro... oferece, num simples relance de olhos, o espetáculo de
c) Esse novo espectro comprova a novidade de nossa si- um esforço e de uma luta incessante, como o despendi-
tuação... do na produção econômica e espiritual. Qualquer pessoa
d) As redes sociais eram atividades de difícil implementação... que se veja na contingência de ter de sustentar seu direito
e) ... como se imitássemos o padrão de conforto... participa dessa tarefa de âmbito nacional e contribui para
a realização da ideia do direito. É verdade que nem todos
LÍNGUA PORTUGUESA

40. (Cia de Serviços de Urbanização de Guarapuava- enfrentam o mesmo desafio.


-pr – Agente de Trânsito – consulplam – 2014) Quanto A vida de milhares de indivíduos desenvolve-se tranqui-
à função que desempenha na sintaxe da oração, o trecho lamente e sem obstáculos dentro dos limites fixados pelo
em destaque “Tenho uma dor que passa daqui pra lá e de direito. Se lhes disséssemos que o direito é a luta, não nos
lá pra cá” corresponde a: compreenderiam, pois só veem nele um estado de paz e
de ordem.
a) Oração subordinada adjetiva restritiva. (Rudolf von Ihering, A luta pelo direito)
b) Oração subordinada adjetiva explicativa.

128
Assinale a alternativa em que uma das vírgulas foi empre- d) O cinema declarou-se independente, das outras artes,
gada para sinalizar a omissão de um verbo, tal como ocorre há mais de meio século; porém, sabe-se, que a produção
na passagem – A espada sem a balança é a força bruta, a cinematográfica sempre bebeu na fonte da literatura.
balança sem a espada, a impotência do direito. e) A literatura, sempre serviu de fonte inspiradora do ci-
nema, mas este, declarou-se independente das outras
a) O direito, no sentido objetivo, compreende os princípios artes há mais de meio século − como é sabido.
jurídicos manipulados pelo Estado.
b) Todavia, não pretendo entrar em minúcias, pois nunca 45. (Correios – Técnico em Segurança do Trabalho
chegaria ao fim. Júnior – Médio – IADES – 2017 – adaptada) Quanto
c) Do autor exige-se que prove, até o último centavo, o às regras de ortografia e de pontuação vigentes, considere
interesse pecuniário. o período “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam em
d) É que, conforme já ressaltei várias vezes, a essência do seu rosto numa mistura de amor e saudade.” e assinale a
direito está na ação. alternativa correta.
e) A cabeça de Jano tem face dupla: a uns volta uma das
faces, aos demais, a outra. a) O uso da vírgula entre as orações é opcional.
b) A redação “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam em
43. TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa seu rosto por que sentia um misto de amor e saudade.”
– Médio – FGV – 2015 poderia substituir a original.
c) O uso do hífen seria obrigatório, caso o prefixo re fosse
Texto 2 - “A primeira missão tripulada ao espaço profundo acrescentado ao vocábulo “lia”.
desde o programa Apollo, da década 1970, com o objetivo de d) Caso a ordem das orações fosse invertida, o uso da vír-
enviar astronautas a Marte até 2030 está sendo preparada gula entre elas poderia ser dispensado.
pela Nasa (agência espacial norte-americana). O primeiro e) Assim como o vocábulo “lágrimas”, devem ser acentua-
passo para a concretização desse desafio será dado nesta dos graficamente rúbrica, filântropo e lúcida.
sexta-feira (5), com o lançamento da cápsula Orion, da base
da agência em Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Uni- 46. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014)
dos. O lançamento estava previsto originalmente para esta Verifique a pontuação nas frases abaixo e marque a asser-
quinta-feira (4), mas devido a problemas técnicos foi rea- tiva correta:
gendado para as 7h05 (10h05 no horário de Brasília).”
(Ciência, Internet Explorer). a) Céus: Que injustiça.
b) O resultado do placar, não o abateu.
“com o lançamento da cápsula Orion, da base da agência c) O comércio estava fechado; porém, a farmácia estava em
em Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos.” pleno atendimento.
Os termos sublinhados se encarregam da localização do d) Comam bastantes frutas crianças!
lançamento da cápsula referida; o critério para essa locali- e) Comprei abacate, e mamão maduro.
zação também foi seguido no seguinte caso: Os protestos
contra as cotas raciais ocorreram: 47. (SAAE-SP – Fiscal Leiturista – VUNESP – 2014)

a) em Brasília, Distrito Federal, na região Centro-Oeste;


b) em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, região Sul;
c) em Pedrinhas, São Luís, Maranhão;
d) em São Paulo, São Paulo, Brasil;
e) em Goiânia, região Centro-Oeste, Brasil.

44. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área


Administrativa – Médio – FCC – 2017) Está plenamente
adequada a pontuação do seguinte período:

a) A produção cinematográfica como é sabido, sempre be-


beu na fonte da literatura, mas o cinema declarou-se,
independente das outras artes há mais de meio século.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Sabe-se que, a produção cinematográfica sempre consi-


derou a literatura como fonte de inspiração, mas o cine-
ma declarou-se independente das outras artes, há mais
de meio século.
c) Há mais de meio século, o cinema declarou-se indepen-
dente das outras artes, embora a produção cinemato-
gráfica tenha sempre considerado a literatura como fon-
te de inspiração.

129
Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontua- 50. (Polícia Militar-SP – Oficial Administrativo – Mé-
ção está correta em: dio – vunesp – 2014) A reescrita da frase – Como sempre,
a resposta depende de como definimos os termos da pergun-
a) Hagar disse, que não iria. ta. – está correta, quanto à pontuação, em:
b) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bifes e
lagostas, aos vizinhos. a) A resposta como sempre, depende de, como definimos
c) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas: para os termos da pergunta.
Hagar e Helga b) A resposta, como sempre, depende de como definimos
os termos da pergunta.
d) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Hagar c) A resposta como, sempre, depende de como definimos
à Helga. os termos da pergunta.
e) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pelos d) A resposta, como, sempre depende de como definimos
Stevensens, para jantar bifes e lagostas. os termos da pergunta.
e) A resposta como sempre, depende de como, definimos
48. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE- os termos da pergunta.
NET – 2014) Sobre os SINAIS DE PONTUAÇÃO, observe
os itens abaixo: 51. (Emplasa-Sp – Analista Jurídico – Direito – vu-
nesp – 2014) Segundo a norma-padrão da língua portu-
I. “Calma, gente”. guesa, a pontuação está correta em:
II. “Que mundo é este que chorar não é “normal”?
III. “Sustentabilidade, paradigma de vida” a) Como há suspeita, por parte da família de que João Gou-
IV. “Será que precisa de mais licitações? Haja licitações!” lart tenha sido assassinado; a Comissão da Verdade de-
V. “E, de repente, aquela rua se tornou um grande lago...” cidiu reabrir a investigação de sua morte, em maio deste
ano, a pedido da viúva e dos filhos.
Sobre eles, assinale a alternativa CORRETA. b) Em maio deste ano, a Comissão da Verdade acatou o pe-
dido da família do ex-presidente João Goulart e reabriu
a) No item I, a vírgula isola um aposto. a investigação da morte deste, visto que, para a viúva e
b) No item II, a interrogação indica uma mensagem inter- para os filhos, Jango pode ter sido assassinado.
rompida. c) A investigação da morte de João Goulart, foi reaberta,
c) No item III, a vírgula isola termos que explicam o seu em maio deste ano pela Comissão da Verdade, para
antecedente. apuração da causa da morte do ex-presidente uma vez
d) No item IV, os dois sinais de pontuação, a interrogação que, para a família, Jango pode ter sido assassinado.
e a exclamação, indicam surpresa. d) A Comissão da Verdade, a pedido da família de João
e) No item V, as vírgulas poderiam ser substituídas, apenas, Goulart, reabriu em maio deste ano a investigação de
por um ponto e vírgula após o termo “repente”. sua morte, porque, a hipótese de assassinato não é des-
cartada, pela viúva e filhos.
49. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE- e) Como a viúva e os filhos do ex-presidente João Goulart,
NET – 2014 – adaptada) suspeitando que ele possa ter sido assassinado pediram
“Já vi gente cansada de amor, de trabalho, de política, de a reabertura da investigação de sua morte, à Comissão
ideais. Jamais conheci alguém sinceramente cansado de di- da Verdade, esta, atendeu o pedido em maio deste ano.
nheiro.”
(Millôr Fernandes)

Sobre as vírgulas existentes no texto, é CORRETO afirmar 52. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho
que: – cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do
trecho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as
a) são facultativas. mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso se
b) isolam apostos. inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”.
c) separam elementos de mesma função sintática.
d) a terceira é facultativa. ( ) CERTO ( ) ERRADO
e) separam orações coordenadas assindéticas.
LÍNGUA PORTUGUESA

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53. (Prefeitura de Arcoverde-PE – Administrador de Re- Iniciando-se a frase – Retemos mais informações quando nos sen-
cursos Humanos – CONPASS – 2014) Leia o texto a seguir: tamos em um local fixo... (último parágrafo) – com o termo Tal-
“Pagar por esse software não é um luxo, mas uma necessida- vez, indicando condição, a sequência que apresenta correlação
de”. O uso da vírgula justifica-se porque: dos verbos destacados de acordo com a norma-padrão será:

a) estabelece a relação entre uma coordenada assindética a) reteríamos ... sentarmos


e uma conclusiva. b) retínhamos ... sentássemos
b) separar a oração coordenada “não é um luxo” da ad- c) reteremos ... sentávamos
versativa “mas uma necessidade”, em que o verbo está d) retivemos ... sentaríamos
subentendido. e) retivéssemos ... sentássemos
c) liga a oração principal “Pagar” à coordenada “não é um
luxo, mas uma necessidade”.
d) indica que dois termos da mesma função estão ligados 55. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio –
por uma conjunção aditiva. VUNESP – 2017) Leia o texto para responder às questões.
e) isola o aposto na segunda oração. O problema de São Paulo, dizia o Vinicius, “é que você anda,
anda, anda e nunca chega a Ipanema”. Se tomarmos “Ipa-
54. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio – nema” ao pé da letra, a frase é absurda e cômica. Tomando
VUNESP – 2017) “Ipanema” como um símbolo, no entanto, como um exemplo
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executivos de alívio, promessa de alegria em meio à vida dura da cidade,
no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu sua a frase passa a ser de um triste realismo: o problema de São
equipe para um chamado escritório aberto, sem paredes e Paulo é que você anda, anda, anda e nunca chega a alívio
divisórias. algum. O Ibirapuera, o parque do Estado, o Jardim da Luz são
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele uns raros respiros perdidos entre o mar de asfalto, a floresta
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem e de lajes batidas e os Corcovados de concreto armado.
colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo ficou O paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere es-
claro que Nagele tinha cometido um grande erro. Todos tendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois metros
estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove em-
quadrados de chão. É o que vemos nas avenidas abertas aos
pregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio chefe.
pedestres, nos fins de semana: basta liberarem um pedaci-
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para
nho do cinza e surgem revoadas de patinadores, maracatus,
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um
big bands, corredores evangélicos, góticos satanistas, prati-
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio espaço,
cantes de ioga, dançarinos de tango, barraquinhas de yakis-
com portas e tudo.
soba e barris de cerveja artesanal.
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
Tenho estado atento às agruras e oportunidades da cidade
aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Unidos
são assim – e até onde se sabe poucos retornaram ao mo- porque, depois de cinco anos vivendo na Granja Viana, vim
delo de espaços tradicionais com salas e portas. morar em Higienópolis. Lá em Cotia, no fim da tarde, eu cor-
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até ria em volta de um lago, desviando de patos e assustando
15% da produtividade, desenvolver problemas graves de jacus. Agora, aos domingos, corro pela Paulista ou Minhocão
concentração e até ter o dobro de chances de ficar doentes e, durante a semana, venho testando diferentes percursos.
em espaços de trabalho abertos – fatores que estão contri- Corri em volta do parque Buenos Aires e do cemitério da
buindo para uma reação contra esse tipo de organização. Consolação, ziguezagueei por Santa Cecília e pelas encostas
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele já do Sumaré, até que, na última terça, sem querer, descobri
ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir falta um insuspeito parque noturno com bastante gente, quase
do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita gente nenhum carro e propício a todo tipo de atividades: o estacio-
concorda – simplesmente não aguentam o escritório aber- namento do estádio do Pacaembu.
to. Nunca se consegue terminar as coisas e é preciso levar (Antonio Prata. “O paulistano não é de jogar a toa-
mais trabalho para casa”, diz ele. lha. Prefere estendê-la e deitar em cima.” Disponível
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas>. Acesso em:
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo de 13.04.2017. Adaptado)
Nagele e voltando aos espaços privados. Assinale a alternativa que dá nova redação à passagem – O
Há uma boa razão que explica por que todos adoram um espa- paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere estendê-
ço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade é que não -la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois metros quadra-
LÍNGUA PORTUGUESA

conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo tempo, e pe- dos de chão. – atendendo à norma-padrão de concordância.
quenas distrações podem desviar nosso foco por até 20 minutos.
Retemos mais informações quando nos sentamos em um lo- a) Cem por cento dos paulistanos não joga a toalha – acha
cal fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e design preferível estendê-la para que se deite sobre elas, caso
de interiores. seja dado a eles dois metros quadrados de chão.
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos podem b) Os paulistanos não jogam a toalha – acham preferíveis
ser ruins para funcionários.” Disponível em:<www1.folha. estendê-la e se deitar em cima, caso lhes deem dois me-
uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adaptado) tros quadrados de chão.

131
c) Mais de um paulistano não são de jogar a toalha – acham 31 E
preferíveis estendê-la e se deitarem em cima, caso se dê
a eles dois metros de chão. 32 D
d) Para os paulistanos, não se joga a toalha – é preferível 33 E
que seja estendida, para que possam deitar-se sobre ela,
caso lhes sejam dados dois metros quadrados de chão. 34 C
e) A maior parte dos paulistanos, contudo, não são de jo- 35 E
garem a toalha – acha preferível elas serem estendidas 36 C
e deitar-se em cima, caso lhe seja dado dois metros de
chão. 37 A
38 D
39 A
40 A
GABARITO
41 D
42 E
1 C
43 A
2 A
44 C
3 D
45 D
4 A
46 C
5 C
47 E
6 A
48 C
7 C
49 C
8 D
50 B
9 D
51 B
10 C
52 CERTO
11 B
53 C
12 C
54 E
13 D
55 D
14 E
15 A
16 B
17 A
18 CERTO
19 D
20 C
21 A
22 E
23 E
24 E
25 C
LÍNGUA PORTUGUESA

26 C
27 E
28 D
29 B
30 A

132
ANOTAÇÕES

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133
ANOTAÇÕES

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134
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

Processo administrativo disciplinar, sindicância e inquérito. ................................................................................................................... 01


Prerrogativas e garantias dos defensores públicos relacionadas com processo civil e penal: Lei Orgânica Nacional da
Defensoria Pública, Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. ................................................................ 02
Assistência jurídica integral e gratuita: aspectos processuais. A Defensoria da Constituição Federal. Emenda Constitucional
nº 45/2004. Requerimento de gratuidade de justiça; indeferimento, recursos aplicáveis. Efeito suspensivo. Curador
especial. ........................................................................................................................................................................................................................ 05
Hora de Praticar ......................................................................................................................................................................................................... 08
A comissão deverá iniciar seus trabalhos dentro de 5
PROCESSO ADMINISTRATIVO, SINDICÂNCIA (cinco) dias de sua constituição. Por sua vez, o procedimen-
E INQUÉRITO to deverá estar concluído no prazo de 60 (sessenta) dias, a
contar da instalação dos trabalhos, prorrogável esse prazo,
a critério do Defensor Público Geral, no máximo, por mais
Disposta pela primeira vez no Decreto-lei nº 220, de 18 60 (sessenta) dias.
de julho de 1975, com diversas alterações, tem-se que a Por fim, a inobservância dos prazos estabelecidos no
sindicância e o inquérito são procedimentos que antece- parágrafo anterior não acarretará nulidade do processo,
dem o processo administrativo em si. podendo importar, contudo, em falta funcional dos inte-
Nos termos dos ensinamentos procedimentais sobre grantes da Comissão.
sindicância, observa-se que “a autoridade que tiver ciência Instalados os seus trabalhos, a comissão iniciará a ins-
de qualquer irregularidade no serviço público é obrigada a trução do processo com a citação do indiciado para ser
promover, imediatamente, a apuração sumária, por meio ouvido.
de sindicância”. Entretanto, como exceção, tem-se que a
autoridade promoverá a apuração da ir-regularidade di- 1º – A citação será pessoal ao indiciado, entregando-se-
retamente por meio de inquérito administrativo, sem a -lhe, na ocasião, cópia do ato referido no artigo 156.
necessidade de sindicância sumária, quando: Não encontrado o indiciado, a citação será feita por
edital publicado por 3 (três) vezes no Diário Oficial,
1) Já existir denúncia do Ministério Público; com o prazo de 10 (dez) dias para comparecimento
2) Tiver ocorrido prisão em flagrante; e a contar da terceira e última publicação, a fim de ser
3) For apurado abandono de cargo ou função”. ouvido.
2º – Em caso de revelia, o presidente da Comissão de-
Ainda sobre a sindicância, quando essa for utilizada (ou signará defensor do indiciado um membro da Defen-
seja, quando não ensejar as exceções), sempre terá caráter soria Pública da mesma classe, ao qual caberá apre-
sigiloso, devendo ser promovida pela Corregedoria-Geral sentar defesa, por escrito, e acompanhar o processo
como procedimento preliminar ao processo disciplinar, até final.
quando necessário; ou para apuração de falta funcional, 3º – Da data marcada para a audiência do indiciado cor-
em qualquer outro caso, sempre que necessário. rerá o prazo de 5 (cinco) dias para o oferecimento de
Quanto ao prazo, observa-se que a sindicância deverá sua defesa preliminar.
ser concluída no prazo de 30 dias, podendo ser prorrogada 4º – Em qualquer fase do processo será permitida a in-
por igual período a critério da Corregedoria-Geral. tervenção de defensor constituído pelo indiciado.
Nesse período, o Sindicante deverá colher todas às 5º – As intimações do indiciado para os atos procedi-
informações necessárias, ouvindo o denunciante, o Sindi- mentais ser-lhe-ão feitas na pessoa de seu defensor,
cado, as testemunhas, se houver, bem como proceder a quando não estiver presente, sempre com a antece-
juntada de quaisquer documentos capazes de esclarecer o dência mínima de 48 (quarenta e oito) horas.
ocorrido. Concluído o procedimento, deverá o Sindicante
apresentar relatório de caráter expositivo, devendo o Sindi- A Comissão procederá a todos os atos e diligências ne-
cado se pronunciar em cinco dias sobre o mesmo. cessárias ao completo esclarecimento dos fatos, inclusive
Recebidos os autos do Sindicante o Corregedor-Geral ouvindo testemunhas, promovendo perícias, realizando
poderá determinar diligências que entender pertinentes ou inspeções locais e examinando documentos e autos.
fará relatório conclusivo ao Defensor Público Geral propondo
as medidas cabíveis. Da decisão proferida pelo Defensor Pú- 1º – Será assegurado ao indiciado o direito de parti-
blico Geral caberá recurso ao Conselho Superior da Defenso- cipar, pessoalmente ou por seu defensor dos atos
ria Pública, no prazo de 15 (quinze) dias, por uma única vez. procedimentais, podendo inclusive requerer provas,
Após a sindicância, poder-se-á instaurar o processo ad- contraditar e reinquirir testemunhas, oferecer quesi-
ministrativo. Neste sentido, compete ao Defensor Público tos e indicar assistentes técnicos.
Geral do Estado determinar a instauração de processo dis- 2º – A Comissão poderá realizar qualquer ato de instru-
ciplinar para a apuração de falta punível com as penas de ção sem a presença do indiciado, se assim atender
suspensão, demissão ou cassação de aposentadoria, ob- conveniente à apuração dos fatos; não obstará, con-
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

servando o sigilo no procedimento. Importante esclarecer tudo, a presença de seu defensor.


que o ato que determinar a instauração do processo disci-
plinar deverá conter o nome, a qualificação do indiciado e Terminada a instrução, abrir-se-á o prazo de 3 (três) dias
a exposição sucinta dos fatos a ele imputados. para a especificação de diligências necessárias ao esclareci-
Formar-se-á uma comissão para promover o processo, mento dos fatos, mediante requerimento do indiciado ou
com três membros da Defensoria Pública, designados pelo deliberação da Comissão.
Defensor Público Geral, sendo um deles Defensor Público Encerrada a fase de diligências, será o indiciado intima-
de primeira categoria, o qual será presidente do processo. do para, no prazo de 10 (dez) dias, oferecer alegações finais
Os demais membros deverão ter a mesma classe ou supe- de defesa.
rior à do indiciado.

1
Decorrido o prazo estabelecido no artigo anterior, a Julgada procedente a revisão, poderá ser cancelada ou
Comissão, em 15 (quinze) dias, remeterá o processo ao De- modificada a pena imposta ou anulado o processo.
fensor Público Geral, com relatório conclusivo, no qual es- 1º – Se a pena cancelada for a de demissão, o reque-
pecificará, se for o caso, as disposições legais transgredidas rente será reintegrado.
e as sanções aplicáveis. 2º – Procedente a revisão, o requerente será ressarcido
Parágrafo único – Divergindo os membros da Comissão dos prejuízos que tiver sofrido e terá restabelecidos
quanto aos termos do relatório, deverão constar do pro- todos os direitos atingidos pela sanção imposta.
cesso as razões apresentadas pelos divergentes.
O Defensor Público Geral do Estado, ao receber o pro- Por fim, O membro da Defensoria Pública que houver
cesso, procederá de um dos seguintes modos: sido punido com pena de advertência ou censura pode-
rá requerer ao Defensor Público Geral o cancelamento das
I – julgará improcedente a imputação feita ao membro respectivas notas em seus assentamentos, decorridos 3
da Defensoria Pública, determinando o arquivamento (três) anos da decisão final que as aplicou. O cancelamento
do processo, ou designará outra Comissão para mais será deferido se o procedimento do requerente, no triê-
completa apuração dos fatos; nio que antecedeu ao pedido, autorizar a convicção de que
II – aplicará ao acusado a penalidade que entender ca- não reincidirá na falta
bível, quando de sua competência;
III – sendo a sanção cabível a de demissão ou a de cas-
sação de aposentadoria, encaminhará o processo ao Go- #FicaDica
vernador do Estado, se mantida a decisão pelo Conselho
Superior. A revisão do processo administrativo poderá
ser pleiteada pela punido ou, em caso de sua
Importante esclarecer que da decisão proferida, cabe- morte ou desaparecimento, pelo cônjuge, filho,
rá recurso ao Conselho Superior da Defensoria Pública, no pai ou irmão.
prazo de 30 (trinta) dias, por uma única vez.
Ao determinar a instrução do processo disciplinar, ou
no curso deste, o Defensor Público Geral poderá ordenar
o afastamento provisório do indiciado de suas funções,
desde que necessária a medida para a garantia de regular PRERROGATIVAS E GARANTIAS
apuração dos fatos. DOS DEFENSORES PÚBLICOS
RELACIONADAS COM PROCESSO CIVIL
1º – O afastamento será determinado pelo prazo de 30 E PENAL: LEI ORGÂNICA NACIONAL DA
(trinta) dias, prorrogável, no máximo, por mais 60 DEFENSORIA PÚBLICA, LEI ORGÂNICA
(sessenta) dias. DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO
2º – O afastamento dar-se-á sem prejuízo dos direitos DO RIO DE JANEIRO
e vantagens do indiciado, constituindo medida acua-
teladora, sem caráter de sanção.

Admitir-se-á, a qualquer tempo, a revisão do processo São objetivos da Defensoria Pública: a primazia da dig-
disciplinar de que tenha resultado imposição de sanção, nidade da pessoa humana e a redução das desigualdades
sempre que forem alegados vícios insanáveis no procedi- sociais; a afirmação do Estado Democrático de Direito; a pre-
mento ou fatos e provas, ainda não apreciados, que pos- valência e efetividade dos direitos humanos; e a garantia dos
sam justificar nova decisão. princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.
Nesse sentido, em relação às prerrogativas e garantias
1º – Não constitui fundamento para a revisão a simples dos defensores públicos no processo civil e penal, tem-se
alegação de injustiça da penalidade imposta. que o Defensor Público deverá:
2º – Não será admitida a reiteração do pedido de revi-
são pelo mesmo motivo. I – prestar orientação jurídica e exercer a defesa dos ne-
cessitados, em todos os graus;
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

O pedido de revisão será dirigido à autoridade que II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial
houver aplicado a sanção, e aquela, se o admitir, determi- dos litígios, visando à composição entre as pessoas em
nará o seu processamento em apenso aos autos originais e conflito de interesses, por meio de mediação, concilia-
designará Comissão Revisora composta de 3 (três) Defen- ção, arbitragem e demais técnicas de composição e ad-
sores Públicos de 1ª Categoria, que não tenham participa- ministração de conflitos;
do do processo disciplinar. III – promover a difusão e a conscientização dos direitos
Concluída a instrução no prazo de 30 (trinta) dias, a Co- humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico;
missão Revisora relatará o processo em 10 (dez) dias e o IV – prestar atendimento interdisciplinar, por meio de
encaminhará à autoridade competente, que decidirá den- órgãos ou de servidores de suas Carreiras de apoio para
tro de 30 (trinta) dias. o exercício de suas atribuições;

2
V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vis- tação profissional de seus membros e servidores;
ta, a ampla defesa e o contraditório em favor de pessoas XXII – convocar audiências públicas para discutir maté-
naturais e jurídicas, em processos administrativos e judi- rias relacionadas às suas funções institucionais. (reda-
ciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias, ção da Lei Complementar nº 132, de 2009).
ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medi-
das capazes de propiciar a adequada e efetiva defesa de Importante esclarecer que quando, no curso de investi-
seus interesses; gação policial, houver indício de prática de infração penal
VI – representar aos sistemas internacionais de proteção por membro da Defensoria Pública da União, dos Estados
dos direitos humanos, postulando perante seus órgãos; ou da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Terri-
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de tórios, a autoridade policial, civil ou militar, comunicará,
ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direi- imediatamente, o fato ao Defensor Publico-Geral, que de-
tos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando signará membro da Defensoria Pública para acompanhar a
o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pes- apuração.
soas hipossuficientes; No âmbito do processo civil, a Lei Complementar nº
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses indivi- 80/1994, a qual cuida de organizar a Defensoria Pública,
duais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e dos estabelece a prerrogativa do defensor público de rece-
direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. ber intimação pessoal em qualquer processo ou grau de
5º da Constituição Federal; jurisdição, contando-se o prazo em dobro.
IX – impetrar habeas corpus, mandado de injunção, ha- O Código de Processo Civil de 2015, por sua vez, trouxe
beas data e mandado de segurança ou qualquer outra a mesma regra no seu artigo 186, caput e § 1º. Importan-
ação em defesa das funções institucionais e prerrogati- te lembrar quer tais prerrogativas também são conferidas
vas de seus órgãos de execução; pelo aos escritórios de prática jurídica das faculdades de
X – promover a mais ampla defesa dos direitos funda- direito, sem distinção entre públicas e privadas, e às enti-
mentais dos necessitados, abrangendo seus direitos in- dades que prestam assistência jurídica gratuita em razão
dividuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e am- de convênios com a Defensoria Pública.
bientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações Por fim, lembre-se que o advogado dativo não tem a
capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; concessão de prazo em dobro, por inexistir vinculo com o
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coleti- Estado, porém há a intimação pessoal conferida pelo Códi-
vos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa por- go de Processo Penal.
tadora de necessidades especiais, da mulher vítima de No âmbito estadual, por sua vez, tem-se que são prer-
violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais rogativas e direitos do Defensor Público o contido no título
vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; IV da LEI COMPLEMENTAR Nº 6, DE 12 DE MAIO DE 1977.
............................................................................................. Vide abaixo:
XIV – acompanhar inquérito policial, inclusive com a co-
municação imediata da prisão em flagrante pela auto- TÍTULO IV
ridade policial, quando o preso não constituir advogado; DOS DIREITOS, DAS GARANTIAS E DAS PRERROGA-
XV – patrocinar ação penal privada e a subsidiária da TIVAS
pública; CAPÍTULO I
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos Disposições Gerais
em lei;
XVII – atuar nos estabelecimentos policiais, penitenciá- Art. 82 – Os membros da Defensoria Pública, do Minis-
rios e de internação de adolescentes, visando a assegu- tério Público, Magistrados e advogados se devem con-
rar às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício sideração e respeito mútuos, inexistindo entre eles, na
pleno de seus direitos e garantias fundamentais; administração da justiça, para qual concorrem, qualquer
XVIII – atuar na preservação e reparação dos direitos de relação de hierarquia ou subordinação.
pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discrimina-
ção ou qualquer outra forma de opressão ou violência, Art. 83 – Nos termos das disposições constitucionais e
propiciando o acompanhamento e o atendimento inter- legais, são assegurados aos membros da Defensoria Pú-
disciplinar das vítimas; blica direitos, garantias e prerrogativas concedidos aos
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

XIX – atuar nos Juizados Especiais; advogados em geral.


XX – participar, quando tiver assento, dos conselhos fe-
derais, estaduais e municipais afetos às funções institu- CAPÍTULO II
cionais da Defensoria Pública, respeitadas as atribuições Das Garantias e das Prerrogativas
de seus ramos;
XXI – executar e receber as verbas sucumbenciais de- Art. 84 – Os membros da Defensoria Pública, após dois
correntes de sua atuação, inclusive quando devidas por anos de exercício, não podem ser demitidos senão por
quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geri- sentença judicial ou em conseqüência de processo admi-
dos pela Defensoria Pública e destinados, exclusivamen- nistrativo em que se lhes faculte ampla defesa.
te, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capaci-

3
Parágrafo único – Antes de completar o prazo previsto • Vide art. 128, XIII, da Lei Complementar Federal 80/94.
neste artigo, o membro da Defensoria Pública só poderá • Dispõe o art. 8º da Lei Complementar no 41, de
ser exonerado pela sua não confirmação na carreira, ou 24/8/84:
demitido por justa causa, comprovada em procedimen-
to administrativo no qual se lhe assegure o direito de “Art. 8º – Nos prédios públicos onde funcionarem órgãos
defesa. judiciários ou Tribunais, os Defensores Públicos recebe-
• O art. 41 e §§ 1º, 2º, 3º e 4º da Constituição Fede- rão instalações próprias ao desempenho de suas fun-
ral, alterado pela Emenda Constitucional no 19, de 5/6/98, ções em igualdade de tratamento com os membros da
modificou as condições dessa garantia, ampliando o prazo Magistratura e do Ministério Público, compatíveis com
referido neste dispositivo para três anos. o atendimento público que devem prestar aos juridica-
mente necessitados.”
Art. 85 – Os membros da Defensoria Pública serão ori-
ginariamente processados e julgados pelo Tribunal de VI – ingressar nos recintos das sessões e audiências, ne-
Justiça, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, les permanecer e, deles sair, independentemente de au-
mediante denúncia privativa do Procurador-Geral da torização;
Justiça. VII – usar da palavra, pela ordem, falando sentado ou
em pé, durante a realização de audiência ou sessão, em
Art. 86 – Em caso de infração penal imputada a membro qualquer Juízo ou Tribunal;
da Defensoria Pública, a autoridade policial, tomando VIII – tomar ciência pessoal de atos e termos dos proces-
dela conhecimento, comunicará o fato ao Defensor Pú- sos em que funcionaram;
blico Geral do Estadoou a seu substituto legal. IX – agir, em Juízo ou fora dele, com dispensa de emolu-
mentos e custas;
• Vide art. 128, II, da Lei Complementar Federal 80/94. X – ter vista dos processos fora dos cartórios e secreta-
rias, ressalvadas as vedações legais;
Parágrafo único – A prisão ou detenção de membro XI – comunicar-se, pessoal e reservadamente com seus
da Defensoria Pública, em qualquer circunstância, será assistidos, ainda quando estes se achem presos ou de-
imediatamente comunicada ao Defensor Público Geral tidos;
do Estado, sob pena de responsabilidade de quem não o XII – examinar, em qualquer repartição policial ou judi-
fizer, e só será efetuada em quartel ou prisão especial, à ciária, autos de flagrante, inquéritos e processos, quando
disposição da autoridade competente. necessitar de prova ou de informações úteis ao exercício
de suas funções.
• Vide art. 128, III, da Lei Complementar Federal 80/94.
Ademais, o Defensor Público Estadual deve:
Art. 87 – São prerrogativas dos membros da Defensoria
Pública: I – atender e orientar as partes e interessados em locais
I – usar distintivos e vestes talares, de acordo com os e horários pré-estabelecidos;
modelos oficiais; II – postular a concessão da gratuidade de justiça e o pa-
trocínio da Defensoria Pública mediante comprovação
• Vide art. 128, IV, da Lei Complementar Federal 80/94. do estado de pobreza por parte do interessado;
III – tentar a conciliação das partes antes de promover a
II – possuir carteira de identidade e funcional, conforme ação, quando julgar conveniente;
modelo aprovado pelo Defensor Público Geral, sendo- IV – acompanhar, comparecer aos atos processuais e
-lhes assegurado o porte de arma e podendo solicitar, impulsionar os processos, providenciando para que os
se necessário, o auxílio e a colaboração das autoridades feitos tenham a sua tramitação normal, utilizando-se de
públicas para o desempenho de suas funções; todos os meios processuais cabíveis;
III – requisitar diretamente, das autoridades competen- V – interpor os recursos cabíveis para qualquer instân-
tes, certidões, solicitar os esclarecimentos de que neces- cia ou Tribunal e promover revisão criminal desde que
sitarem e acompanhar as diligências que requererem, encontrem fundamentos na lei, jurisprudência ou pro-
sempre no exercício de suas funções; va dos autos, remetendo cópia à Corregedoria-Geral da
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

Defensoria Pública;
• Vide art. 128, X, Lei Complementar Federal 80/94. VI – sustentar, quando necessário, nos Tribunais, oral-
mente, ou por memorial, com cópia à Corregedoria-Ge-
IV – utilizar-se dos meios de comunicação do Estado no inte- ral, os recursos interpostos e as razões apresentadas por
resse do serviço, e, da mesma forma, dos Municípios, quando intermédio da Defensoria Pública;
se trate do patrocínio de direitos dos respectivos munícipes; VII – propor a ação penal privada nos casos em que a
V – dispor nos Tribunais e locais de funcionamento de parte for juridicamente necessitada;
órgãos judiciários de instalações compatíveis com a re- VIII – ajuizar e acompanhar as reclamações trabalhistas
levância de seus cargos, usando efetivamente as depen- nas Comarcas onde o Juiz de Direito seja competente
dências que lhes são reservadas; para processá-las e julgá-las;

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IX – exercer a função de defensor do vínculo matrimo-
nial em qualquer grau de jurisdição; #FicaDica
X – exercer a função de curador especial de que tratam
os códigos de Processo Penal e de Processo Civil, salvo Os membros da Defensoria Pública podem
quando a lei a atribuir especificamente a outrem; substituir outros membros de forma livre, ou
XI – exercer a função de curador nos processos em que seja, sem a necessidade de prévia concordância
ao Juiz competir a nomeação, inclusive a de procurador do defendido.
à lide do interditando, quando a interdição for pedida
pelo órgão do Ministério Público e na Comarca não hou-
ver tutor judicial;
XII – impetrar habeas corpus; ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E
XIII – requerer a transferência de presos para local ade- GRATUITA: ASPECTOS PROCESSUAIS;
quado, quando necessário; A DEFENSORIA DA CONSTITUIÇÃO
XIV – funcionar por designação do Juiz em ações pe- FEDERAL. EMENDA CONSTITUCIONAL
nais, na hipótese do não comparecimento do advogado Nº 45/2004. REQUERIMENTO
constituído; DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA;
XV – requerer a internação de menores abandonados ou INDEFERIMENTO, RECURSOS
infratores em estabelecimentos adequados; APLICÁVEIS. EFEITO SUSPENSIVO.
XVI – diligenciar as medidas necessárias ao assenta- CURADOR ESPECIAL
mento do registro civil de nascimento dos menores
abandonados;
XVII – requerer o arbitramento e o recolhimento aos cofres De acordo com o artigo 5º, inciso LXXIV, o Estado pres-
públicos dos honorários advocatícios, quando devidos; tará assistência jurídica integral e gratuita aos que compro-
XVIII – representar ao Ministério Público, em caso de se- varem insuficiência de recursos.
vícias e maus tratos à pessoa do defendendo; Não obstante, o Código de Processo Civil de 2015 en-
XIX – defender no processo criminal os réus que não te- sina em seu bojo o assunto, do artigo 98 ao 102, o qual
nham defensor constituído, inclusive os revéis; segue abaixo para conhecimento:
XX – funcionar como Promotor ad hoc, sempre que no-
meado pelo Juiz, nas hipóteses previstas em lei. Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou es-
§ 1º – Na hipótese do início IX deste artigo, quando trangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
qualquer das partes estiver assistida por Defensor Públi- custas, as despesas processuais e os honorários advo-
co, a defesa do vínculo matrimonial caberá ao membro catícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma
da Defensoria Pública competente, consoante regula- da lei.
mentação baixada pelo Defensor Público Geral. § 1o A gratuidade da justiça compreende:
§ 2º – Os Defensores Públicos darão assistência aos ju- I - as taxas ou as custas judiciais;
ridicamente necessitados que forem encaminhados aos II - os selos postais;
órgãos de atuação por dirigentes de associações de mo- III - as despesas com publicação na imprensa oficial,
radores e de sociedades civis de natureza assistencial, dispensando-se a publicação em outros meios;
por detentores de mandato popular, Vereadores, Prefei- IV - a indenização devida à testemunha que, quando
tos, Deputados, Senadores, bem como por Secretários de empregada, receberá do empregador salário integral,
Estado e Municipais, sempre por intermédio das respec- como se em serviço estivesse;
tivas instituições, aos quais fornecerão as informações V - as despesas com a realização de exame de código ge-
sobre a assistência prestada, quando solicitada. nético - DNA e de outros exames considerados essenciais;
§ 3º – Aos Defensores Públicos incumbe também a defe- VI - os honorários do advogado e do perito e a remune-
sa dos direitos dos consumidores que se sentirem lesados ração do intérprete ou do tradutor nomeado para apre-
na aquisição de bens e serviços. sentação de versão em português de documento redigi-
§ 4º – A Defensoria Pública deverá manter Defensores do em língua estrangeira;
Públicos nos estabelecimentos penais sob administração VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo,
do Estado do Rio de Janeiro, para atendimento perma- quando exigida para instauração da execução;
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

nente aos presos e internados juridicamente necessi- VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de
tados. Competirá à administração do estabelecimento recurso, para propositura de ação e para a prática de
penal divulgar amplamente os dias e horários de expe- outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla
diente, no local, dos Defensores Públicos, reservar-lhes defesa e do contraditório;
instalações adequadas ao seu trabalho, fornecer-lhes IX - os emolumentos devidos a notários ou registrado-
apoio administrativo, prestar-lhes informações e asse- res em decorrência da prática de registro, averbação ou
gurar-lhes o acesso à documentação sobre os presos e qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de
internados, aos quais não poderá, sob fundamento al- decisão judicial ou à continuidade de processo judicial
gum, negar o direito de entrevista com os Defensores no qual o benefício tenha sido concedido.
Públicos.

5
§ 2o A concessão de gratuidade não afasta a responsabi- § 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em
lidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o
honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência. recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste
§ 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar pra-
de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva zo para realização do recolhimento.
de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá
nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em julgado oferecer impugnação na contestação, na réplica, nas
da decisão que as certificou, o credor demonstrar que contrarrazões de recurso ou, nos casos de pedido super-
deixou de existir a situação de insuficiência de recursos veniente ou formulado por terceiro, por meio de petição
que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo- simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias,
-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu
§ 4o A concessão de gratuidade não afasta o dever de o curso.
beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará
lhe sejam impostas. com as despesas processuais que tiver deixado de adian-
§ 5o A gratuidade poderá ser concedida em relação a tar e pagará, em caso de má-fé, até o décuplo de seu
algum ou a todos os atos processuais, ou consistir na valor a título de multa, que será revertida em benefício
redução percentual de despesas processuais que o be- da Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser ins-
neficiário tiver de adiantar no curso do procedimento. crita em dívida ativa.
§ 6o Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou
parcelamento de despesas processuais que o beneficiá- a que acolher pedido de sua revogação caberá agravo
rio tiver de adiantar no curso do procedimento. de instrumento, exceto quando a questão for resolvida
§ 7o Aplica-se o disposto no art. 95, §§ 3o a 5o, ao custeio na sentença, contra a qual caberá apelação.
dos emolumentos previstos no § 1o, inciso IX, do presente § 1o O recorrente estará dispensado do recolhimento de
artigo, observada a tabela e as condições da lei estadual custas até decisão do relator sobre a questão, prelimi-
ou distrital respectiva. narmente ao julgamento do recurso.
§ 8o Na hipótese do § 1o, inciso IX, havendo dúvida fun- § 2o Confirmada a denegação ou a revogação da gra-
dada quanto ao preenchimento atual dos pressupostos tuidade, o relator ou o órgão colegiado determinará ao
para a concessão de gratuidade, o notário ou registrador, recorrente o recolhimento das custas processuais, no
após praticar o ato, pode requerer, ao juízo competente prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de não conhecimento
para decidir questões notariais ou registrais, a revoga- do recurso.
ção total ou parcial do benefício ou a sua substituição Art. 102. Sobrevindo o trânsito em julgado de decisão
pelo parcelamento de que trata o § 6o deste artigo, caso que revoga a gratuidade, a parte deverá efetuar o re-
em que o beneficiário será citado para, em 15 (quinze) colhimento de todas as despesas de cujo adiantamento
dias, manifestar-se sobre esse requerimento. foi dispensada, inclusive as relativas ao recurso interpos-
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser for- to, se houver, no prazo fixado pelo juiz, sem prejuízo de
mulado na petição inicial, na contestação, na petição aplicação das sanções previstas em lei.
para ingresso de terceiro no processo ou em recurso. Parágrafo único. Não efetuado o recolhimento, o pro-
§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte cesso será extinto sem resolução de mérito, tratando-se
na instância, o pedido poderá ser formulado por petição do autor, e, nos demais casos, não poderá ser deferida a
simples, nos autos do próprio processo, e não suspende- realização de nenhum ato ou diligência requerida pela
rá seu curso. parte enquanto não efetuado o depósito.
§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver
nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressu- Por fim, o CPC ensina nos artigos 185 que a Defensoria
postos legais para a concessão de gratuidade, devendo, Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos di-
antes de indeferir o pedido, determinar à parte a com- reitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coleti-
provação do preenchimento dos referidos pressupostos. vos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral
§ 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência e gratuita.
deduzida exclusivamente por pessoa natural.
§ 4o A assistência do requerente por advogado particular
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

não impede a concessão de gratuidade da justiça. A DEFENSORIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AS


§ 5o Na hipótese do § 4o, o recurso que verse exclusiva- ALTERAÇÕES DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº
mente sobre valor de honorários de sucumbência fixa- 45/2004
dos em favor do advogado de beneficiário estará sujeito
a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que O artigo 24 da Constituição Federal ensina que compe-
tem direito à gratuidade. te à União, Estados e Distrito Federal a assistência jurídica
§ 6o O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se e a Defensoria Pública. Não obstante, cabe a cada um a
estendendo a litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, organização da mesma, devendo sempre obedecer a Carta
salvo requerimento e deferimento expressos. Magna e as leis ordinárias.

6
Com a redação da Emenda Constitucional 80 de 2014 e Importante esclarecer que há entendimentos que não
da Emenda Constitucional 40 de 2004, alterou-se a seção permitem ao defensor público figurar como curador espe-
IV do Capítulo IV, que compõe o Título IV (Da organiza- cial. Nesse sentido:
ção dos poderes), o qual trata sobre defensoria pública.
Consta, atualmente, que a Defensoria Pública é instituição “Restando identificada no processo a ocorrência de si-
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, in- tuação que reclame a presença da curadoria, não se mostra
cumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime necessário que o juiz profira decisão nomeando a Defenso-
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a ria Pública como curadora especial; a nomeação nesse caso
promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os é despicienda e descabida. Como a investidura decorre
graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e co- expressamente de lei, deverá o magistrado simplesmente
letivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na determinar a abertura de vista para que o defensor público
forma do já estudado inciso LXXIV do art. 5º desta Consti- tome ciência da ocorrência de hipótese legal de atuação
tuição Federal. institucional e passe a exercer a função de curador especial,
No que tange o regramento, tem-se que se deverá ser nos termos do artigo 72, parágrafo único, do CPC/2015 c/c
feito mediante Lei complementar, a qual organizará a De- artigo 4º, XVI da LC 80/1994” (ESTEVES; SILVA, 2014, p. 131).
fensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Ter- “A Lei Complementar 80/1994 afirma que a Defensoria
ritórios e prescreverá normas gerais para sua organização Pública atuará como curadora especial, nos casos previs-
nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe ini- tos em lei. Logo, ocorrendo no processo uma das situações
cial, mediante concurso público de provas e títulos, asse- que reclamem a presença de curador especial, a tarefa do
gurando a seus integrantes a garantia da inamovibilidade Poder Judiciário deve se reduzir à intimação da Defensoria
e vedando o exercício da advocacia fora das atribuições Pública, comunicando-a de que houve a incidência, naque-
institucionais. le feito, de uma das hipóteses legais em que a Instituição
Ressalta-se que às Defensorias Públicas Estaduais são deve agir. O juiz não deve nomear a Defensoria Pública para
asseguradas autonomia funcional e administrativa e a ini- funcionar como curadora especial, tampouco — o que é
ciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites ainda mais grave — nomear determinado defensor público,
estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordi- escolhido a seu critério”. (LIMA, 2011, p. 199-200)
nação ao disposto no art. 99, § 2º da CF.
Não obstante, ensina a Constituição que são princípios
institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibi-
lidade e a independência funcional, aplicando-se também, EXERCÍCIO COMENTADO
no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96
desta Constituição Federal. 1.( DPE-RJ – TÉCNICO MÉDIO - FGV- 2014) Quanto a sua
Por fim, os servidores integrantes das carreiras discipli- atuação no processo (civil ou penal), é correto afirmar que
nadas nas Seções II e III do Capítulo IV do Título IV (Da a Defensoria Pública
organização dos poderes) serão remunerados na forma do
art. 39, § 4º da CF. a) não é regida pelos princípios da unidade e indivisibili-
dade, mas seus membros estão autorizados a substituir
uns aos outros no exercício em determinado processo,
#FicaDica sendo desnecessária prévia concordância do assistido.
Conforme o ato das disposições constitucionais b) é regida pelos princípios da unidade e indivisibilidade,
transitórias, o número de defensores públicos mas seus membros não estão autorizados a substituir
na unidade jurisdicional será proporcional à uns aos outros no exercício em determinado processo,
efetiva demanda pelo serviço da Defensoria sendo irrelevante prévia concordância do assistido.
Pública e à respectiva população. c) não é regida pelos princípios da unidade e indivisibili-
dade, mas seus membros estão autorizados a substituir
uns aos outros no exercício em determinado processo,
sendo necessária prévia concordância do assistido.
CURADOR ESPECIAL d) é regida pelos princípios da unidade e indivisibilidade
e seus membros estão autorizados a substituir uns aos
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

Conforme ensinamentos do CPC/2015, o juiz nomeará outros no exercício em determinado processo, sendo
curador especial ao: desnecessária prévia concordância do assistido.
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os in- e) é regida pelos princípios da unidade e indivisibilidade
teresses deste colidirem com os daquele, enquanto durar e seus membros estão autorizados a substituir uns aos
a incapacidade; outros no exercício em determinado processo, sendo
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por necessária prévia concordância do assistido.
edital ou com hora certa, enquanto não for constituído
advogado. Resposta: Letra D. A questão envolve o Artigo 3º da lei
complementar 80/94 (Organiza a Defensoria Pública da
União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve

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normas gerais para sua organização nos Estados, e dá
outras providências), que diz:
Art. 3º São princípios institucionais da Defensoria Públi- HORA DE PRATICAR!
ca a unidade, a indivisibilidade e a independência fun-
cional. Além disso, envolve precedentes do Supremo 1- (DPE-RJ – TÉCNICO MÉDIO - FGV- 2010): Constitui
Tribunal Federal: função essencial da Defensoria Pública disposta na Lei Or-
HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PE- gânica da Defensoria Pública (LC 80/94):
NAL. QUESTÕES NÃO SUSCITADAS NAS INSTÂNCIAS
ANTECEDENTES. INDEVIDA SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA: a) atuar como promotor ad hoc
IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÕES DE NULIDADE DA SUBS- b) representara parte, em feito administrativo ou judicial,
TITUIÇÃO DE DEFENSOR PÚBLICO E DEFICIÊNCIA DE por meio de mandatos, ressalvados os casos para os
DEFESA: IMPROCEDÊNCIA. PRINCÍPIOS DA UNIDADE E quais a lei exija poderes especiais
INDIVISIBILIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AUSÊNCIA c) a atuação pela garantia e promoção dos princípios rela-
DE PROVA DE PREJUÍZO. HABEAS CORPUS CONHECIDO tivos à ordem pública
PARCIALMENTE E, NESSA PARTE, DENEGADO. d) promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos
1. Este Supremo Tribunal Federal não admite o conheci- litígios visando a composição entre as pessoas em con-
mento de habeas corpus com argumentos inéditos, não flito de interesses, por meio de mediação, conciliação,
apresentados nas instâncias antecedentes. arbitragem e demais técnicas técnicas de composição e
2. A Defensoria Pública é regida pelos princípios da administração de conflitos
unidade e indivisibilidade, os quais autorizam aos seus
membros substituir uns aos outros no exercício em de- 2- (DPE-RJ – TÉCNICO MÉDIO - FGV- 2014): Quanto ao
terminado processo, sendo desnecessária prévia con- âmbito de atuação da Defensoria Pública, a Constituição
cordância do assistido, porque a atuação da Instituição da República estabelece nos Arts. 5º, LXXIV, e 134, caput, a
está preservada, cabendo-lhe organizar a atividade de missão de orientação jurídica e a defesa dos necessitados,
seus integrantes. Precedentes. em todos os graus, dos necessitados, dizendo que incumbe
3. Inexistindo prova de prejuízo ou que o Paciente fi- ao Estado a prestação da assistência jurídica integral e gra-
cou desassistido em sua defesa, não há nulidade a ser tuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. No
sanada. que toca à conceituação de “assistência jurídica integral” e
4. Não se comprova nos autos a presença de constran- “assistência judiciária”, é correto afirmar que
gimento ilegal a ferir direito do Paciente nem ilegalidade
ou abuso de poder a ensejar a concessão da ordem de a) assistência judiciária é expressão mais ampla do que a as-
habeas corpus. sistência jurídica integral, vez que esta se refere apenas
5. Habeas corpus conhecido parcialmente e, nessa parte, aos meios necessários à defesa dos direitos do assistido
denegado. em juízo, ao passo que aquela inclui o aconselhamento
(STF - HC 111114 PA; Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA; jurídico extrajudicial, independentemente da existência
Julgamento: 24/09/2013; Órgão Julgador: Segunda Tur- ou da possibilidade de uma demanda em juízo.
ma; Publicação: DJe-199 DIVULG 08-10-2013 PUBLIC 09- b) a expressão assistência jurídica integral consiste no auxílio,
10-2013). na ajuda ou no amparo prestado estritamente no cam-
po judicial, envolvendo fundamentalmente os recursos e
instrumentos indispensáveis à defesa dos direitos do ne-
REFERÊNCIAS cessitado em juízo, como o esclarecimento de dúvidas, a
orientação preventiva e a elaboração de contratos.
ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves. Princípios c) a expressão assistência jurídica integral tem conotação
institucionais da Defensoria Pública. Rio de Janeiro: Foren- bem mais ampla, abrangendo toda e qualquer atividade
se, 2014, p. 131. assistência concernente ou relacionada ao universo do
LIMA, Frederico Rodrigues Viana de. Defensoria Públi- Direito, consistente no auxílio, na ajuda ou no amparo
ca. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2011, p. 199-200. prestado no campo jurídico, dentro ou fora de uma rela-
ção jurídico-processual.
d) assistência judiciária é expressão mais ampla do que as-
LEGISLAÇÃO INSTITUCIONAL

sistência jurídica integral, uma vez que esta se refere aos


meios necessários à defesa dos direitos do assistido em
juízo, como o esclarecimento de dúvidas, a orientação
preventiva e a elaboração de contratos.
e) a expressão assistência jurídica integral tem conotação
mais restrita do que assistência judiciária, abrangendo
qualquer atividade que se refere aos meios necessários
à defesa dos direitos do assistido em juízo, como a com-
posição extrajudicial de conflitos e a atuação em proces-
sos administrativos.

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3- (DPE-RJ – TÉCNICO MÉDIO - FGV- 2010): A respeito
das funções essenciais à justiça, é INCORRETO dizer que: ANOTAÇÕES
a) defensoria pública é instituição essencial à função juris-
dicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica ___________________________________________________
e a defesa, em todos os graus, dos necessitados
b) às defensorias públicas estaduais são asseguradas au- ___________________________________________________
tonomia funcional e administrativa, e a iniciativa de sua
___________________________________________________
proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos
na lei de diretrizes orçamentárias ___________________________________________________
c) a lei organizará a defensoria pública da União e do Distri-
to Federal e dos Territórios, e prescreverá normas gerais ___________________________________________________
para sua organização nos Estados, em cargos de car-
reira, providos, na classe inicial, mediante concurso pú- ___________________________________________________
blico de provas e títulos, assegurada a seus integrantes ___________________________________________________
a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da
advocacia fora das atribuições institucionais ___________________________________________________
d) não há assertivas incorretas
___________________________________________________

___________________________________________________

GABARITO ___________________________________________________

___________________________________________________
1 D ___________________________________________________
2 C
___________________________________________________
3 C
___________________________________________________

___________________________________________________

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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ÍNDICE

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Direitos, garantias e deveres fundamentais; direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; garantias
constitucionais individuais e coletivas; ações constitucionais. ................................................................................................................ 01
Da organização do Estado: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. ....................................................................................... 30
Poder Judiciário: disposições gerais .................................................................................................................................................................. 43
Das funções essenciais à Justiça; do Ministério Público; da Advocacia Pública da União, dos Estados e dos Municípios; da
Advocacia; e da Defensoria Pública. .................................................................................................................................................................. 57
Hora de Praticar ......................................................................................................................................................................................................... 62
3. Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
DIREITOS, GARANTIAS E DEVERES
O art. 3º da CF prevê os objetivos fundamentais da
FUNDAMENTAIS; DIREITOS E DEVERES República Federativa do Brasil, que são as metas que o
INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DIREITOS Estado brasileiro se propõe a atingir. São elas:
SOCIAIS; GARANTIAS CONSTITUCIONAIS
INDIVIDUAIS E COLETIVAS; AÇÕES Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da Repúbli-
CONSTITUCIONAIS. ca Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
1. Fundamentos da República Federativa do Brasil desigualdades sociais e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de ori-
Em seu art. 1º, a CF estabelece os fundamentos da gem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
República Federativa do Brasil, que são as bases, as regras discriminação.
fundamentais sob as quais está alicerçado o Estado
brasileiro, que são: a soberania, a cidadania, a dignidade 4. Princípios das relaçõs internacionais
da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa e o pluralismo político. O Parágrafo único do art. 1º O art. 4º da CF contempla os princípios orientadores das
da CF prevê, ainda, o princípio democrático, segundo o qual relações internacionais do Estado brasileiro, nos seguintes termos:
todo poder emana do povo, que o exercerá diretamente,
por meio dos chamados instrumentos da democracia Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas
participativa (ação popular, plebiscito, referendo e relações internacionais pelos seguintes princípios:
iniciativa popular das leis), e indiretamente, por meio de I – independência nacional;
representantes eleitos para tanto (Presidente da República, II – prevalência dos direitos humanos;
Prefeitos, Governadores de Estados e parlamentares). A III – autodeterminação dos povos;
CF adotou, portanto, o sistema híbrido de democracia IV – não intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
participativa, que reúne a democracia direta e a democracia
VI – defesa da paz;
indireta ou representativa.
VII – solução pacífica dos conflitos;
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela IX – cooperação entre os povos para o progresso da hu-
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Dis- manidade;
trito Federal, constitui-se em Estado Democrático de X – concessão de asilo político.
Direito e tem como fundamentos: Parágrafo único. A República Federativa do Brasil busca-
I – a soberania; rá a integração econômica, política, social e cultural dos
II – a cidadania; povos da América Latina, visando à formação de uma
III – a dignidade da pessoa humana; comunidade latino-americana de nações.
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou direta- EXERCÍCIOS COMENTADOS
mente, nos termos desta Constituição.
1. (PC-SC – AGENTE DE POLÍCIA CIVIL– NÍVEL MÉDIO
2. Separação dos poderes – FEPESE – 2017)
Com base na Constituição Federal, a República Federati-
A Constituição de 1988 adotou a teoria da tripartição va do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

das funções estatais, idealizada por Montesquieu, que, e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
por sua vez, se inspirou em lições de Aristóteles e de John Democrático de Direito e tem como fundamentos:
Locke. Assim, em seu art. 2º, a CF estabelece que são 1. a autonomia.
poderes harmônicos e independentes entre si o Executivo, 2. a cidadania.
o Legislativo e o Judiciário: “Art. 2º São Poderes da União, 3. a dignidade da pessoa humana.
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o 4. o pluralismo político.
Executivo e o Judiciário.”. O princípio da separação dos
poderes é uma das cláusulas pétreas da CF, não podendo Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
ser retirado (abolido) do seu texto por meio de emenda
a) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
constitucional (art. 60, §4º, III, da CF).
b) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4.
c) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
d) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
e) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.

1
Resposta: Letra D - Segundo o art. 1º da CF, são funda- Resposta: Letra A - Esta questão cobrou a literalidade
mentos da República Federativa do Brasil: a soberania, a do art. 3º da CF, estando as alternativas b e c erradas
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores so- em razão da troca de uma palavra e a d porque traz um
ciais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. princípio das relações internacionais da República Fede-
rativa do Brasil, e não um objetivo.
2. (TRE-TO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – NÍVEL MÉDIO –
CESPE – 2017) Dos Direitos E Deveres Individuais E Coletivos. Direi-
Em determinado seminário sobre os rumos jurídicos e po- tos Sociais. Nacionalidade. Direitos Políticos. Parti-
líticos do Oriente Médio, dois professores debateram in- dos Políticos
tensamente sobre a atual situação política da Síria. Hugo,
professor de relações internacionais, defendeu que o Brasil Antes de ingressarmos no estudo da temática
deveria realizar uma intervenção militar com fins humanitá- proposta pelo edital, importante justificar o motivo pelo
rios. José, professor de direito constitucional, argumentou qual os tópicos foram unificados. Cumpre destacar que a
que essa ação não seria possível conforme os princípios Constituição Federal trata os direitos individuais e coletivos
constitucionais que regem as relações internacionais da dentro do capítulo I do Título II chamado de “Dos Direitos e
República Federativa do Brasil. Nessa situação hipotética, garantias fundamentais”. Portanto, didaticamente se torna
com base na Constituição Federal de 1988 (CF), indispensável a unificação de tais temas.
a) Hugo está correto, pois a intervenção humanitária é um
dos princípios constitucionais que rege as relações inter-
nacionais do Brasil. #FicaDica
b) José está correto, pois a não intervenção e a solução O presente estudo tem por finalidade a análise
pacífica dos conflitos são princípios constitucionais que pormenorizada de todos os incisos previstos no
orientam as relações internacionais do Brasil. art. 5º da Constituição Federal; referido artigo
elenca os direitos e os deveres individuais e
c) Hugo está errado, pois a defesa da paz e dos direitos
coletivos, assegurando-os a todos que estejam
humanos não são princípios constitucionais que regem em território nacional, seja brasileiro nato,
as relações internacionais do Brasil. naturalizado ou mesmo estrangeiro por motivos
d) Hugo está correto, pois a dignidade da pessoa humana é diversos. Cada inciso receberá o comentário
um dos fundamentos constitucionais do estado brasilei- pertinente.
ro e uma das causas que autorizam a intervenção militar
do Brasil em outros Estados soberanos.
e) José está errado, pois a declaração de guerra é ato políti-
co discricionário e unilateral do presidente da República,
não estando sujeito a limites jurídicos. TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Resposta: Letra B - Segundo o art. 4º da CF, são prin- CAPÍTULO I
cípios das relações internacionais da República Federati- DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLE-
va do Brasil: a independência nacional; a prevalência dos TIVOS
direitos humanos; a autodeterminação dos povos; a não
intervenção; a igualdade entre os Estados; a defesa da paz; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
a solução pacífica dos conflitos; o repúdio ao terrorismo e de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
ao racismo; a cooperação entre os povos para o progresso aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
da humanidade e a concessão de asilo político. direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
3. (MPE-RN – TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ES- I - homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-
TADUAL – NÍVEL MÉDIO – COMPERVE – 2017) ções, nos termos desta Constituição;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Os objetivos fundamentais da república brasileira são metas II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
que o Estado deve promover com força vinculante e imediata, alguma coisa senão em virtude de lei;
servindo como norte a ser seguido em toda e qualquer ativi- III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamen-
dade estatal. Nessa acepção, a Constituição Federal aponta, to desumano ou degradante;
expressamente, como objetivo fundamental a promoção: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo ve-
dado o anonimato;
a) do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
sexo e cor. agravo, além da indenização por dano material, moral
b) de uma sociedade livre, justa e solidária com repúdio ao ou à imagem;
racismo e ao terrorismo. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
c) da erradicação da miséria e da marginalização e da redu- sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos
ção da desigualdade nacional. e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
d) da autodeterminação dos povos e dos direitos humanos. culto e a suas liturgias;

2
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de XXV - no caso de iminente perigo público, a autorida-
assistência religiosa nas entidades civis e militares de de competente poderá usar de propriedade particu-
internação coletiva; lar, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de houver dano;
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter- de penhora para pagamento de débitos decorrentes
nativa, fixada em lei; de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artís- meios de financiar o seu desenvolvimento;
tica, científica e de comunicação, independentemente XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utili-
de censura ou licença; zação, publicação ou reprodução de suas obras, trans-
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra missível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a inde- XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
nização pelo dano material ou moral decorrente de sua a) a proteção às participações individuais em obras
violação; coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela inclusive nas atividades desportivas;
podendo penetrar sem consentimento do morador, sal- b) o direito de fiscalização do aproveitamento econô-
vo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para pres- mico das obras que criarem ou de que participarem
tar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; aos criadores, aos intérpretes e às respectivas repre-
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das co- sentações sindicais e associativas;
municações telegráficas, de dados e das comunicações XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus-
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, triais privilégio temporário para sua utilização, bem
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins como proteção às criações industriais, à propriedade
de investigação criminal ou instrução processual penal; das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen-
profissão, atendidas as qualificações profissionais que
volvimento tecnológico e econômico do País;
a lei estabelecer;
XXX - é garantido o direito de herança;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
País será regulada pela lei brasileira em benefício do
exercício profissional;
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes
XV - é livre a locomoção no território nacional em tem-
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus ;
po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, do consumidor;
em locais abertos ao público, independentemente de XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos pú-
autorização, desde que não frustrem outra reunião blicos informações de seu interesse particular, ou de
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
vedada a de caráter paramilitar; sociedade e do Estado;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de XXXIV - são a todos assegurados, independentemente
cooperativas independem de autorização, sendo veda- do pagamento de taxas:
da a interferência estatal em seu funcionamento; a) o direito de petição aos poderes públicos em defesa
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deci- b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa de direitos e esclarecimento de situações
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

são judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito


em julgado; de interesse pessoal;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judi-
permanecer associado; ciário lesão ou ameaça a direito;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
autorizadas, têm legitimidade para representar seus fi- jurídico perfeito e a coisa julgada;
liados judicial ou extrajudicialmente; XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXII - é garantido o direito de propriedade; XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a or-
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; ganização que lhe der a lei, assegurados:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desa- a) a plenitude de defesa;
propriação por necessidade ou utilidade pública, ou b) o sigilo das votações;
por interesse social, mediante justa e prévia indeniza- c) a soberania dos veredictos;
ção em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta d) a competência para o julgamento dos crimes dolo-
Constituição; sos contra a vida;

3
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
nem pena sem prévia cominação legal; por meios ilícitos;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória em julgado de sentença penal condenatória;
dos direitos e liberdades fundamentais; LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
da lei; pública, se esta não for intentada no prazo legal;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce- LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
tíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico processuais quando a defesa da intimidade ou o inte-
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e resse social o exigirem;
os definidos como crimes hediondos, por eles respon- LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
dendo os mandantes, os executores e os que, podendo por ordem escrita e fundamentada de autoridade ju-
evitá-los, se omitirem; diciária competente, salvo nos casos de transgressão
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
ordem constitucional e o Estado democrático; encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, competente e à família do preso ou à pessoa por ele
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação indicada;
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, esten- LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
didas aos sucessores e contra eles executadas, até o quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
limite do valor do patrimônio transferido; assistência da família e de advogado;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adota- LXIV - o preso tem direito à identificação dos respon-
rá, entre outras, as seguintes: sáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
a) privação ou restrição da liberdade; LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
b) perda de bens; autoridade judiciária;
c) multa; LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela manti-
d) prestação social alternativa; do quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
e) suspensão ou interdição de direitos; sem fiança;
XLVII - não haverá penas: LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos responsável pelo inadimplemento voluntário e inescu-
termos do art. 84, XIX; sável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
b) de caráter perpétuo; LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que al-
c) de trabalhos forçados; guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
d) de banimento; ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegali-
e) cruéis; dade ou abuso de poder;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos dis- LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para pro-
tintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o teger direito líquido e certo, não amparado por habeas
sexo do apenado; corpus ou habeas data , quando o responsável pela ile-
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade galidade ou abuso de poder for autoridade pública ou
física e moral; agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
L - às presidiárias serão asseguradas condições para do poder público;
que possam permanecer com seus filhos durante o pe- LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
ríodo de amamentação; petrado por:
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu- a) partido político com representação no Congresso
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ralizado, em caso de crime comum, praticado antes da Nacional;


naturalização, ou de comprovado envolvimento em b) organização sindical, entidade de classe ou asso-
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma ciação legalmente constituída e em funcionamento há
da lei; pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por membros ou associados;
crime político ou de opinião; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício
pela autoridade competente; dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogati-
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus vas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
bens sem o devido processo legal; LXXII - conceder-se-á habeas data :
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administra- a) para assegurar o conhecimento de informações re-
tivo, e aos acusados em geral são assegurados o con- lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
traditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ou bancos de dados de entidades governamentais ou
ela inerentes; de caráter público;

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b) para a retificação de dados, quando não se prefira Positivação dos direitos fundamentais: Bill of Rights, De-
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administra- claração da Virgínia, Declaração Francesa. Tais documentos
tivo; trataram de positivar direitos que naturalmente são ineren-
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor tes ao homem.
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimô- Regra geral: indivíduos têm primeiro direitos, depois
nio público ou de entidade de que o Estado participe, deveres e os direitos que o Estado tem sobre o indivíduo
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao estão ordenados de modo a melhor cuidar de seus cida-
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, sal- dãos. É a demonstração clara do pacto social firmado en-
vo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do tre os indivíduos e o Estado – é a cessão de parte de suas
ônus da sucumbência; liberdades, entregando-as ao Estado de modo que este,
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral em contrapartida, devolva algo que seja positivo – como,
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de re- por exemplo, proíbe-se (exceto as possibilidade previstas
cursos; na lei) da autotutela (exercício da autodefesa) entregando
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro ju- essa função ao Estado para que este exerça a tutela da se-
diciário, assim como o que ficar preso além do tempo gurança do indivíduo.
fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente po- 2. Geração de Direitos Fundamentais
bres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento; - 1ª Geração de direitos: são postulados de abstenção
b) a certidão de óbito; dos governantes se obrigando a não intervir na vida pes-
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e ha- soal de cada indivíduo. Indispensável a todos os homens.
beas data , e, na forma da lei, os atos necessários ao Como por exemplo, direito a vida, ou seja, salvo em situa-
exercício da cidadania. ções específicas, o Estado não privará o indivíduo de seguir
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, sua vida.
Característica: universal; não ocasiona desigualdade so-
são assegurados a razoável duração do processo e os
cial. Ex: liberdade,
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
- 2ª Geração de direitos: surge com a necessidade do
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
povo de não apenas ter liberdade, mas outros direitos que
fundamentais têm aplicação imediata.
o conduzem a exercer a liberdade, seguir sua vida, com
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Consti-
dignidade. São os valores sociais variados, importando in-
tuição não excluem outros decorrentes do regime e
tervenção ativa do Estado na vida econômica com o viés de
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados in-
proporcionar justiça social.
ternacionais em que a República Federativa do Brasil
Característica: Liberdade real e igual para todos. Ex:
seja parte. igualdade – saúde, educação, trabalho entre outros. São
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre chamados de direitos sociais não por serem direitos da co-
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa letividade, mas por alusão ao termo justiça social. Os titu-
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quin- lares são os próprios indivíduos singularizados, apesar dos
tos dos votos dos respectivos membros, serão equiva- mesmos poderem se voltar a coletividade.
lentes às emendas constitucionais. - 3ª Geração de direitos: direitos de titularidade difusa.
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Proteção do homem em sua forma coletiva, grupos, não
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. mais individualmente.
Característica: proteção do homem em grupos. Ex: di-
1. Histórico reito ao meio ambiente equilibrado, direito a paz.

- Direitos Fundamentais 3. Conclusão


Normas obrigatórias: os direitos fundamentais não
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

são sempre os mesmos em todas as épocas. Porém de- A visão dos direitos fundamentais em termos de ge-
vem constar obrigatoriamente em textos constitucionais rações indica a evolução desses direitos no tempo. Cada
considerados democráticos; constando referidos direitos direito de cada geração interage com os das outras e, nesse
podem anuir que aquela constituição está alicerçada nos processo, dá-se à compreensão.
pilares da democracia.
Dignidade humana: foi impulsionada pelo cristianismo, 4. Características dos direitos fundamentais
uma vez que segundo essa religião o homem era feito a
imagem e semelhança de Deus. Sendo assim, ganhou uma - Universais e absolutos
proteção especial no texto da Constituição. Importante A questão da universalidade: direito previsto para todo
lembrar que falar em dignidade humana é falar em garan- homem, ainda que nem todo homem o exerça.
tir o direito do indivíduo ter direitos – iguais entre seres Absoluto: os direitos fundamentais não são absolutos,
humanos. apesar de gozarem de prioridade absoluta sobre qualquer
outro direito.

5
- Historicidade - Direito à vida (integridade física e moral), - direito à
Os direitos fundamentais são um conjunto de facul- liberdade (manutenção de qualquer forma de manifestação
dades e instituições que somente faz sentido num deter- do indivíduo), - direito à igualdade (o tratamento da lei é
minado contexto histórico. A história permite entender a conferido igualmente para todos), - direito à segurança
existência de cada um dos direitos. (direito de todos – necessidade de leis que definam crimes
A história explica que os direitos possam ser apregoa- e sanções) e – direito à propriedade (propriedade particular,
dos em certa época, desaparecendo em outras, ou se mo- privada, desde que atendida sua função social).
dificam no tempo. Verifica-se, portanto, a evolução dos O direito à vida pressupõe a negativa do Estado de
direitos fundamentais. promover qualquer ato que ofenda a integridade física
ou moral do indivíduo; por esta razão, proíbe-se a tortura
- Inalienabilidade e Indisponibilidade ou qualquer exposição vexatória. Também não permite
Inalienável: o titular do direito não pode impossibilitar o que a vida chegue ao fim se não pelas causas naturais –
exercício para si mesmo. Encontra fundamento no valor da caso venha ocorrer, o Estado oferece sanções àquele que
dignidade humana. A indisponibilidade gera nulidade de promoveu o encurtamento da vida humana.
qualquer disposição contratual feita. No que tange a liberdade, pode o indivíduo fazer tudo
Podem, tais direitos, terem seu exercício. Ex.: manifesta- aquilo que a lei não proíbe, tem a faculdade de decidir os
ção religiosa em templo religioso diverso do seu. rumos de sua própria vida. Por esta razão sua liberdade de
- Direitos humanos são direitos postulados em bases locomoção é amplamente protegida; dentro do conceito
jusnaturalistas, contam índole filosófica e não possuem de liberdade se enquadra o direito a manifestação de toda
como característica básica a positivação numa ordem ju- espécie: religiosa, de pensamento, de associação, ou seja,
rídica particular. a todos é conferido o direito de expor seus pensamentos e
- Direitos Fundamentais: é reservada aos direitos rela- suas escolhas. Neste ponto é importante demonstrar que
cionados com posições básicas das pessoas, inscritos em essa liberdade de expressão não pode ocasionar danos a
diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vi- outrem de modo que se assim o fizer, estará praticando
gem numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garan- ato contra terceiros e por isso poderá ser responsabilizado.
tidos e limitados no espaço e no tempo. A igualdade também é dos pilares dos direitos
fundamentais. Por conta desse princípio a lei deve conferir
- Vinculação dos Poderes Públicos tratamento igualitário para todos; assim, não se permite
O fato de os direitos fundamentais estarem previstos qualquer espécie de distinção da lei, além de vedar toda
na Constituição torna-os parâmetros de organização e de espécie de discriminação.
limitação dos poderes constituídos. A constitucionalização A segurança é outro importante direito fundamental,
dos direitos fundamentais impede que sejam considerados pois compreende não apenas aquela que visa a proteção
meras autolimitações dos poderes constituídos - dos Pode- patrimonial (seja ele material ou mesmo imaterial), mas
res Executivo, Legislativo e Judiciário -, passíveis de serem também a segurança jurídica. Deste modo, todo cidadão
alteradas ou suprimidas ao talante destes. deve ter conhecimento das leis que regem o país para que
não “sejam mais pegos de surpresa”.
- Aplicabilidade imediata Por fim, o direito à propriedade abarca o último
As normas que definem direitos fundamentais são nor- grupo dos direitos fundamentais. A CF/88 confere a todo
mas de caráter preceptivo, e não meramente programáti- cidadão o direito à propriedade privada, particular. Porém,
co. Explicita-se, além disso, que os direitos fundamentais se importante que aquele que detenha a propriedade se
fundam na Constituição, e não na lei - com o que se deixa atente para a função social que a mesmo carrega.
claro que é a lei que deve mover-se no âmbito dos direitos I - homens e mulheres são iguais em direitos e obriga-
fundamentais, não o contrário. ções, nos termos desta Constituição;
A Constituição brasileira de 1988 filiou-se a essa Neste inciso está insculpido o princípio da isonomia,
tendência, conforme se lê no §1º do art. 5º do Texto, em que que é exatamente o tratamento igualitário, para todos,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

se diz que “as normas definidoras dos direitos e garantias vedada qualquer forma de discriminação – modalidade
fundamentais têm aplicação imediata”. O texto se refere de preceito universal. Segundo a Declaração Universal dos
aos direitos fundamentais em geral, não se restringindo direitos do homem, “todos os seres humanos nascem livres
apenas aos direitos individuais. e iguais em dignidade e direitos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos alguma coisa senão em virtude de lei;
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à Eis o princípio da legalidade. Referido princípio limita
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, toda forma de arbitrariedade; evidente que o convívio em
nos termos seguintes: sociedade pressupõe o aceite de determinadas regras de
O caput do art. 5º é talvez um dos mais importantes convívio. Porém, tais regras derivam de autoridade com
artigos do texto constitucional, para não dizer o principal competência para tanto que agem de maneira impessoal
artigo da constituição federal. Esse artigo nos elenca cinco e geral.
grupos de direitos que são amplamente protegidos pela III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-
nossa lei maior. A saber: mento desumano ou degradante;

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Entende-se por tortura qualquer forma de castigo pode se confundir com aquelas práticas consideradas
corpóreo agressivo, violento, que utilize de qualquer ilegais para o direito brasileiro, como por exemplo aquelas
instrumento mecânico ou psicológico levando aquele que leva a necessidade de sacrifício humano. Neste caso,
que está sendo torturado praticar ato que não o faria sendo considerado crime o encurtamento da vida, não será
se estivesse em condições normais. A tortura é crime amparado o sacrifício pela liberdade religiosa.
inafiançável e insuscetível de fiança. IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artís-
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo ve- tica, científica e de comunicação, independentemente
dado o anonimato; de censura ou licença;
É a liberdade conferida ao indivíduo para que o mesmo Este inciso é autoexplicativo. No que tange a liberdade
possa expressar de qualquer forma o que pensa a respeito de expressão é importante destacar alguns institutos
de religião, política, ciência ou qualquer outro instituto. legislativos que conferem regulamentação ao tema, como
Importante lembrar que essa liberdade de manifestação por exemplo, a lei de imprensa (Lei 5.250/67), Lei de Direitos
está condicionada ao não anonimato; deste modo, todos autorais (Lei 9.610/98) entre outras.
podem se manifestar sendo porém vedada a manifestação X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
anônima. e a imagem das pessoas, assegurado o direito a inde-
Também importante lembrar que a liberdade de nização pelo dano material ou moral decorrente de sua
manifestação protegida pela CF/88 não protege a prática de violação;
crimes sob a argúcia da liberdade. Qualquer manifestação XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
ofensiva a terceiros que fira sua honra, imagem ou podendo penetrar sem consentimento do morador,
integridade poderá ser punida pela lei. salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
agravo, além da indenização por dano material, moral judicial;
ou à imagem; XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das co-
A CF/88 assegura o direito de resposta proporcional municações telegráficas, de dados e das comunicações
ao agravo. Assim, aquele que causar prejuízo a outrem telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
tem assegurado para si o direito a indenização por dano nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
material ou moral. O prejuízo a que se refere o inciso V pode de investigação criminal ou instrução processual penal;
patrimonial ou não. Prejuízo de ordem não patrimonial é É inviolável tudo aquilo que não pode ser entregue ao
aquele causado por pessoa (física ou jurídica) que ofenda público, que merece ser preservado. Sempre que violada
liberdade, honra, família ou profissão de determinado a honra, a imagem, a vida privada, sem consentimento do
indivíduo. indivíduo, a este caberá indenização pelo dano material
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, ou moral pelo ato cometido. No que tange ao domicílio,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos este poderá ser violado a qualquer horário sempre que
e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de caso de flagrante delito ou desastre, ou ainda no caso de
culto e a suas liturgias; determinação judicial, neste último caso apenas durante o
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de dia (06h00 as 18h00).
assistência religiosa nas entidades civis e militares de
internação coletiva; Das formas de comunicação, sejam elas por
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de correspondência, comunicação telegráfica ou telefônica,
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, somente a última, por determinação judicial, poderá ser
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a parcialmente quebrada, com prazo de duração.
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter- XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
nativa, fixada em lei; profissão, atendidas as qualificações profissionais que
Assegurada a plena liberdade de consciência, ofertando a lei estabelecer;
a lei de proteção aos locais de culto e suas liturgias. Esse Toda atividade profissional exercida espontaneamente
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

inciso compreende três formas de liberdade: crença, culto pelo indivíduo é respeitada pela CF/88, inclusive aquelas
e organização religiosa. A possibilidade de escolher qual não classificadas para efeito de registro em carteira de
religião seguir, ou mesmo não seguir nenhuma religião trabalho. Assim, em se tratando de atividade lícita poderá
está amparada pela liberdade de crença. Porém, importante o indivíduo exercê-la livremente.
destacar que a liberdade de escolher sua própria religião XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e
não pode servir de amparo ao embaraçamento daquele resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
que pretende praticar outra religião. exercício profissional;
A assistência religiosa é assegurada a quem dela queira Tem esse inciso a função de afastar o indivíduo da
fazer uso; logo, não será ofertada assistência religiosa sem censura; permite-se a liberdade de expressão do indivíduo
a anuência do interessado. desde que não venha a ferir direitos de outrem.
Por fim, sob o tópico “religião”, importante fazer XV - é livre a locomoção no território nacional em tem-
menção ao direito de professar ou não qualquer religião po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
inclusive exercer suas práticas, com cultos. Importante lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
lembrar que a prática religiosa amparada pela CF/88 não

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É a possibilidade conferida em tempos de paz a todos propriação por necessidade ou utilidade pública, ou
os indivíduos de circular livremente no território nacional por interesse social, mediante justa e prévia indeniza-
sem qualquer limitação, nos termos da lei. ção em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, Constituição;
em locais abertos ao público, independentemente de XXV - no caso de iminente perigo público, a autorida-
autorização, desde que não frustrem outra reunião de competente poderá usar de propriedade particu-
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo lar, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; houver dano;
O direito de reunião vem estampado no art. 5º como XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em
modalidade de direito fundamental para demonstrar lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto
a força da democracia. Por conta desse direito, todos de penhora para pagamento de débitos decorrentes
podem reunir-se em local público com finalidades diversas, de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os
independentemente de autorização. É necessário, no meios de financiar o seu desenvolvimento;
entanto, que aqueles que desejam se reunir comuniquem
autoridade competente, especialmente para não ferir Os incisos acima compõem o grupo dos direitos
direitos daqueles que previamente se decidiram pela individuais e coletivos voltados à propriedade. A CF/88
reunião em local da vontade de ambos. Assim, desde confere a todos o direito de propriedade, ter para si
que pacificamente, sem armas, indivíduos podem se propriedade particular (privada); no entanto, o uso
reunir em locais públicos, necessitando apenas informar deve atender a função daquela propriedade. Assim, por
as autoridades. Não é necessário autorização do poder exemplo, determinada propriedade rural deve atender sua
público, mas apenas sua comunicação. finalidade, qual seja, produção de riqueza por meio do
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, agronegócio (seja para o próprio sustento ou comércio com
vedada a de caráter paramilitar; terceiros). Não exercendo sua função social, a propriedade
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de poderá ser destacada do patrimônio daquele indivíduo. Em
cooperativas independem de autorização, sendo veda- outras palavras, a propriedade urbana exerce sua função
da a interferência estatal em seu funcionamento; social quando atende às exigências fundamentais de
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente organização da cidade expressas em seu plano diretor; já a
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deci- propriedade rural exercerá sua função social quando fizer o
são judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito aproveitamento correto dos recursos naturais, preservando
em julgado; o meio ambiente e protegendo relações de trabalho e
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a exploração que favoreçam o bem estar dos proprietários e
permanecer associado; dos trabalhadores.
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus fi-
liados judicial ou extrajudicialmente; #FicaDica
Referidos incisos tratam da questão da associação. O direito à propriedade também poderá ser
Em primeiro, a associação é livre, não podendo ninguém relativizado quando o Estado necessitar de
ser compelido a associar-se se assim não desejar. As determinada propriedade, bem ou serviços
associações poderão ser criadas para fins lícitos; de prestados por particular, mediante indenização.
forma alguma será autorizado funcionar associações com A CF/88 autoriza o poder público a se utilizar
objetivos paramilitares (corporações privadas de nacionais da propriedade particular na iminência ou na
ocorrência de alguma situação que ofereça
ou também de estrangeiros normalmente aparelhados por perigo à coletividade.
uniformes e armamentos militares sem contudo pertencer
aos quadros das forças armadas).
Importante também explicar que a necessidade pública
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ocorre sempre que o Estado se coloca diante de uma


#FicaDica situação extremamente urgente que não pode ser adiada.
Cumpridos tais requisitos, poderá a associação A utilidade pública é quando impõe ao Poder Público a
funcionar sem, inclusive, sofrer qualquer possibilidade de propor o uso de determinado bem em
interferência do Estado; no entanto, por meio contrapartida a oferta de alguma serviço que seja útil para
de decisão judicial transitada em julgada a coletividade. Por fim, tem interesse social aquilo que
poderá ser dissolvida a associação ou ter suas venha a trazer melhorias as classes menos privilegiadas.
atividades suspensas. Além das associações
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utili-
também possíveis as cooperativas com objetivos
diferentes das associações. zação, publicação ou reprodução de suas obras, trans-
missível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
XXII - é garantido o direito de propriedade; a) a proteção às participações individuais em obras
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas,
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desa- inclusive nas atividades desportivas;

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b) o direito de fiscalização do aproveitamento eco- indivíduo; assim, todo aquele que pretender buscar pela
nômico das obras que criarem ou de que participarem tutela jurisdicional do Estado ou mesmo acessar legislativo
aos criadores, aos intérpretes e às respectivas repre- e executivo, terá assegurado seu direito de petição.
sentações sindicais e associativas; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judi-
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus- ciário lesão ou ameaça a direito;
triais privilégio temporário para sua utilização, bem XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
como proteção às criações industriais, à propriedade jurídico perfeito e a coisa julgada;
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen- O Brasil adota uma jurisdição. Assim, não serão tolerados
volvimento tecnológico e econômico do País; tribunais de exceção ou o exercício de juízes ad-hoc,
Esse conjunto de incisos trata dos direitos autorais; são voltados a julgar um ou outro caso. Marco da democracia,
os frutos a serem colhidos por aqueles que desenvolvem onde a lei vale para todos e todos devem cumpri-la. Uma
trabalho intelectual. Referidos direitos versam sobre o lei nova não pode prejudicar direitos já conquistados
ineditismo da obra; importante lembrar que os sucessores pelo indivíduo sob pena de ferir o pacto social firmado
do autor permanecerão recebendo a título universal os entre o indivíduo e o Estado – aceitando mudanças sem
louros da obra daquele que sucedeu. previsão legal estar-se-ia referendando arbitrariedades
A marca também é protegida em todo território nacional – é o chamado princípio da irretroatividade. Vale lembrar
e o seu uso exclusivo a quem dela fez o registro; esse tema que, em se tratando de retroação benéfica da lei, nenhum
consta inserido na seara do direito empresarial, em especial obstáculo se imporá. Portanto, uma crime praticado cuja
no código de propriedade industrial. pena seja alta passe por um abrandamento dessa pena
XXX - é garantido o direito de herança; por nova lei, aquilo punido nos moldes da lei antiga será
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no beneficiado pela novel legislação.
País será regulada pela lei brasileira em benefício do XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a or-
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes ganização que lhe der a lei, assegurados:
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus; a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
Entende-se por herança a totalidade dos bens móveis
c) a soberania dos veredictos;
e imóveis deixados por aquele que veio a falecer, também
d) a competência para o julgamento dos crimes do-
chamado de de cujus. Aquele que vier a suceder o falecido
losos contra a vida;
poderá aceitar a herança, renunciá-la ou mesmo imitir-se
O júri é o formato mais antigo de tribunal. Compostos
na posse.
por pessoas comuns, chamados de jurados, formam o
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
conselho de sentença, cuja função principal é opinar pela
do consumidor; culpa ou não do indivíduo que praticou um crime doloso
contra a vida. Serão escolhidos 07, dentre 21 pessoas
Enquadra-se no conceito de consumidor a coletividade a comporem o conselho de sentença. Aos jurados é
de pessoas, ainda que não seja possível determiná-las, que assegurado o sigilo das votações e ao réu a plenitude de
tenham participado de uma relação de consumo composta defesa; ao júri, como um todo, assegurado a soberania do
por fornecedor e consumidor. veredicto. O tribunal do júri funcionará sempre que houver
No Brasil, as relações de consumo são disciplinadas pelo um crime doloso contra a vida.
Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, além de XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,
outras cuja matéria é mais específica como leis relacionadas nem pena sem prévia cominação legal;
a crimes contra ordem tributária, ordem econômica, entre Também chamado de princípio da legalidade. Por este
outras. princípio o indivíduo só poderá responder criminalmente
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos pú- por alguma conduta por ele praticado se esta conduta
blicos informações de seu interesse particular, ou de houver sido considerada crime antes de sua prática. Ou
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no seja, a conduta definida como crime deve ser anterior a
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas sua prática.


aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
sociedade e do Estado; réu;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória
do pagamento de taxas: dos direitos e liberdades fundamentais;
a) o direito de petição aos poderes públicos em defesa A exceção ao princípio da irretroatividade, anterior-
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; mente explicado, é exatamente com relação ao bene-
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, fício para o réu.
para defesa de direitos e esclarecimento de situações XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
de interesse pessoal; e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
Essência da democracia, ao cidadão cabível a proteção da lei;
do seu direito de manter-se informado de tudo aquilo XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insusce-
que envolve tanto o Estado como seu próprio nome. Ato tíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
contínuo, protege-se também o direito de petição ao ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e

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os definidos como crimes hediondos, por eles respon- aquele tem por seus genitores algum, ou ambos, brasileiros)
dendo os mandantes, os executores e os que, podendo não será autorizada a extradição. Portanto, o brasileiro nato
evitá-los, se omitirem; não será extraditado em hipótese alguma. O naturalizado,
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a em regra não será extraditado; salvo se houver praticado
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a crime comum antes de sua naturalização ou comprovado
ordem constitucional e o Estado democrático; envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, afins.
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação Outra vedação à extradição é aquela solicitada em razão
do perdimento de bens ser, nos termos da lei, esten- de estrangeiro ter praticado crime político ou de opinião
didas aos sucessores e contra eles executadas, até o em seu país de origem. Por defendermos a liberdade de
limite do valor do patrimônio transferido; manifestação, seja ela qual for, asseguramos também ao
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adota- estrangeiro esse direito.
rá, entre outras, as seguintes: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
a) privação ou restrição da liberdade; bens sem o devido processo legal;
b) perda de bens; Este inciso revela em simples palavras que ninguém
c) multa; pode “ser pego de surpresa”, que “as regras do jogo”
d) prestação social alternativa; devem ser cumpridas. Logo, tanto a privação da liberdade
e) suspensão ou interdição de direitos; como a privação de bens deve observar o cumprimento
XLVII - não haverá penas: de um processo judicial e o esgotamento das formas de
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos defesa.
termos do art. 84, XIX; LV - aos litigantes, em processo judicial ou administra-
b) de caráter perpétuo; tivo, e aos acusados em geral são assegurados o con-
c) de trabalhos forçados; traditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a
d) de banimento; ela inerentes;
e) cruéis;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos dis-
por meios ilícitos;
tintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito
sexo do apenado;
em julgado de sentença penal condenatória;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a
física e moral;
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em
L - às presidiárias serão asseguradas condições para
lei;
que possam permanecer com seus filhos durante o pe-
Rol de incisos que estipulam regras aos processos
ríodo de amamentação;
Rol de incisos relacionados a seara do direito penal e judiciais ou administrativos. Princípios de extrema
direito processual penal. As penas no Brasil são definidas importância, o contraditório e a ampla defesa derivam do
pela CF/88; assim, possível apenas as penas de privação princípio da legalidade. Assim, ao indivíduo garantido o
ou restrição da liberdade, perda de bens, multa, prestação direito de se defender e ofertar contestação a tudo quanto
alternativa e suspensão parcial ou temporária de direitos. a ele estiver sendo alegado.
Toda pena diferente destas não será autorizada pela LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação
legislação infraconstitucional em especial aquelas que pública, se esta não for intentada no prazo legal;
levem a morte, tortura, caráter perpétuo, trabalho forçado, LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
cruéis ou de banimento. Inserido no sistema prisional, ao processuais quando a defesa da intimidade ou o inte-
indivíduo assegurado respeito a sua integridade física e resse social o exigirem;
moral. Para as mulheres, tratativa diferenciada em períodos Cabe ao Ministério Público o exercício das ações
de amamentação, podendo ficar com seu filho. penais públicas. No entanto, a lei faculta ao indivíduo,
nas hipóteses previstas em lei, a possibilidade do próprio
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o natu-


ralizado, em caso de crime comum, praticado antes da indivíduo intentar a ação. Em regra, todos os atos são
naturalização, ou de comprovado envolvimento em públicos, resguardada a defesa da intimidade e do interesse
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma social do indivíduo.
da lei; LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por por ordem escrita e fundamentada de autoridade ju-
crime político ou de opinião; diciária competente, salvo nos casos de transgressão
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
pela autoridade competente; LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se en-
contre serão comunicados imediatamente ao juiz compe-
Os incisos acima compõem a proteção do direito à tente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
nacionalidade. Ao brasileiro nato (aquele que nasceu LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
em território brasileiro – respeitada exceção em que os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
genitores, estrangeiros, estão a serviço de seu país – ou assistência da família e de advogado;

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LXIV - o preso tem direito à identificação dos respon- LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral
sáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; e gratuita aos que comprovarem insuficiência de re-
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela cursos;
autoridade judiciária; LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro ju-
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela manti- diciário, assim como o que ficar preso além do tempo
do quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou fixado na sentença;
sem fiança; LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente po-
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do bres, na forma da lei:
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescu- a) o registro civil de nascimento;
sável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; b) a certidão de óbito;
Rol de incisos que garante direitos àqueles que estive- LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e ha-
rem presos. Em regra, o indivíduo somente será preso beas data , e, na forma da lei, os atos necessários ao
por determinação judicial ou em caso de flagrante de- exercício da cidadania.
lito. Aquele que vier a ser preso indicará alguém de sua LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo,
família ou qualquer outro sobre a prisão. Além da as- são assegurados a razoável duração do processo e os
sistência da família e de advogado, terá o preso direito meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
de permanecer em silêncio. § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que al- fundamentais têm aplicação imediata.
guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constitui-
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegali- ção não excluem outros decorrentes do regime e dos
dade ou abuso de poder; princípios por ela adotados, ou dos tratados interna-
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para pro- cionais em que a República Federativa do Brasil seja
teger direito líquido e certo, não amparado por habeas parte.
corpus ou habeas data , quando o responsável pela ile- § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre di-
galidade ou abuso de poder for autoridade pública ou reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quin-
do poder público; tos dos votos dos respectivos membros, serão equiva-
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im- lentes às emendas constitucionais.
petrado por: § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
a) partido político com representação no Congresso Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou asso-
ciação legalmente constituída e em funcionamento há REGRAS GERAIS A RESPEITO DOS DIREITOS FUN-
pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus DAMENTAIS.
membros ou associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre Dos direitos sociais
que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a ali-
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e mentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer,
à cidadania; a segurança, a previdência social, a proteção à mater-
LXXII - conceder-se-á habeas data : nidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
a) para assegurar o conhecimento de informações forma desta Constituição. (Artigo com redação dada
relativas à pessoa do impetrante, constantes de regis- pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
tros ou bancos de dados de entidades governamentais Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
ou de caráter público; de outros que visem à melhoria de sua condição social:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

b) para a retificação de dados, quando não se prefira I - relação de emprego protegida contra despedida ar-
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrati- bitrária ou sem justa causa, nos termos de lei comple-
vo; mentar, que preverá indenização compensatória, den-
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor tre outros direitos;
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimô- II - seguro-desemprego, em caso de desemprego in-
nio público ou de entidade de que o Estado participe, voluntário;
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao III - fundo de garantia do tempo de serviço;
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente uni-
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus ficado, capaz de atender às suas necessidades vitais
da sucumbência; básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
Este rol de incisos apresentam os remédios educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte
constitucionais. São eles, habeas corpus, habeas data, e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
mandado de segurança, mandado de injunção e ação preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vincu-
popular, cada qual disciplinado por lei específica. lação para qualquer fim;

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V - piso salarial proporcional à extensão e à complexi- b) (Alínea revogada pela Emenda Constitucional nº 28,
dade do trabalho; de 2000)
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em XXX - proibição de diferença de salários, de exercício
convenção ou acordo coletivo; de funções e de critério de admissão por motivo de
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para sexo, idade, cor ou estado civil;
os que percebem remuneração variável; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração a salário e critérios de admissão do trabalhador porta-
integral ou no valor da aposentadoria; dor de deficiência;
IX - remuneração do trabalho noturno superior à do XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual,
diurno; técnico e intelectual ou entre os profissionais respec-
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo tivos;
crime sua retenção dolosa; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou in-
XI - participação nos lucros, ou resultados, desvincula- salubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho
da da remuneração, e, excepcionalmente, participação a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
na gestão da empresa, conforme definido em lei; aprendiz, a partir de quatorze anos;
XII - salário-família pago em razão do dependente do XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com
trabalhador de baixa renda nos termos da lei; vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito Parágrafo único. São assegurados à categoria dos tra-
horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada balhadores domésticos os direitos previstos nos incisos
a compensação de horários e a redução da jornada, IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII,
mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condi-
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado ções estabelecidas em lei e observada a simplificação
em turnos ininterruptos de revezamento, salvo nego- do cumprimento das obrigações tributárias, principais
ciação coletiva; e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII,
aos domingos; XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, social. (Parágrafo único com redação dada pela Emen-
no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal; da Constitucional nº 72, de 2013)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, ob-
menos, um terço a mais do que o salário normal; servado o seguinte:
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a
do salário, com a duração de cento e vinte dias; fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; competente, vedadas ao poder público a interferência
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, me- e a intervenção na organização sindical;
diante incentivos específicos, nos termos da lei; II - é vedada a criação de mais de uma organização
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sindical, em qualquer grau, representativa de categoria
sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; profissional ou econômica, na mesma base territorial,
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por que será definida pelos trabalhadores ou empregado-
meio de normas de saúde, higiene e segurança; res interessados, não podendo ser inferior à área de
XXIII - adicional de remuneração para as atividades pe- um Município;
nosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interes-
XXIV - aposentadoria; ses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes questões judiciais ou administrativas;
desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em
creches e pré-escolas; se tratando de categoria profissional, será desconta-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos co- da em folha, para custeio do sistema confederativo da
letivos de trabalho; representação sindical respectiva, independentemente
XXVII - proteção em face da automação, na forma da da contribuição prevista em lei;
lei; V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo filiado a sindicato;
do empregador, sem excluir a indenização a que este VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas ne-
está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; gociações coletivas de trabalho;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das re- VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser vo-
lações de trabalho, com prazo prescricional de cinco tado nas organizações sindicais;
anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o li- VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado
mite de dois anos após a extinção do contrato de tra- a partir do registro da candidatura a cargo de direção
balho; ou representação sindical e, se eleito, ainda que su-
a) (Alínea revogada pela Emenda Constitucional nº 28, plente, até um ano após o final do mandato, salvo se
de 2000) cometer falta grave nos termos da lei.

12
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores,
atendidas as condições que a lei estabelecer.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e
sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que
seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.
Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a
finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
Direitos sociais em espécie (11 espécies): os direitos sociais “disciplinam situações subjetivas pessoais ou grupais de
caráter concreto”. Tratam-se de prestações positivas do Estado a serem implementadas, no sentido de possibilitar busca
por melhores condições de vida. São irrenunciáveis. Ao contrário dos direitos individuais que se apresentam pelo “não
fazer” do Estado, no que tange aos direitos sociais, estes demandam o “agir” do Estado.

Rol de direitos sociais


- Art. 6
- Art. 7 a 11
- Art. 193 a 232 (Da ordem Social)
Cláusula pétrea? Art. 60 §4 IV
Destinatários dos direitos sociais: todos os indivíduos, especialmente os hipossuficientes. Aqueles que necessitam da
ação positiva do Estado.

Modalidades do artigo 6º (círculo virtuoso) (rol exemplificativo)


5 - Educação
2 – Saúde (art. 196 a 200)
3 - Alimentação
7 - Trabalho
4 - moradia
11 - Lazer
10 - Segurança
9 - Previdência Social
1 - Proteção a maternidade e a infância
8 - Assistência aos desamparados (art. 194 e 195)
6 - Transportes

Educação – direito de todos / dever do Estado e da família: exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Ver
art. 205 a 214.
- Educação de baixa qualidade = reflexos políticos negativos. Ex: referendo / plesbicito.

Saúde – direito de todos / dever do Estado: redução do risco de doenças e acesso universal aos serviços de saúde. Ver
art. 196
- SUS – Art. 200: atendimento integral, com prioridade para atividades preventivas.
- Judicialização do direito a saúde. (problemas de gestão)
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Alimentação – Comissão de Direitos Humanos da ONU (1993). EC 64/2010. Direito a alimentação adequada, ou seja,
inerente a dignidade da pessoa humana e indispensável.
Trabalho – instrumento para assegurar uma existência digna. Governo, política econômica não recessiva, possibilitando
a busca por empregos.
Moradia - promover programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais e de saneamento
básico. Princípios: intimidade, privacidade, inviolabilidade de domicílio.
Impenhorabilidade do bem de família
Regra geral: impenhorabilidade.
Exceções: fiador em contrato de aluguel, devedor de IPTU, pagamento de débitos trabalhistas aos trabalhadores
domésticos do imóvel. E imóvel de maior valor?
Lazer – função urbanística do Estado. O lazer interfere nas condições de trabalho e de vida do ser humano.
Segurança: também presente no artigo 5. Porém, lá com as características de garantia individual. Já como social, volta-se
a segurança pública.

13
Previdência social: direitos relacionados com a seguridade social. Erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as
desigualdades sociais e promover o bem de todos.
Proteção a maternidade e a infância: dois aspectos:
Direito previdenciário: assistência pelo afastamento, desoneração do empregador.
Direito assistencial: estatuto da juventude.
Assistência aos desamparados: ver art. 203 V – LOAS. Garantir o sustento, provisório ou permanente, dos que não têm
condições para tanto. Não significa estabelecer boas condições de vida, mas condições suficientes para manutenção de
sua dignidade.
Transporte: transporte público tem influência direta em outros aspectos da vida dos cidadãos. Ex: evasão escolar;
trabalho; bem estar.

1. Direitos relativos aos trabalhadores

Quem é empregado? Pessoa física presta serviços de natureza não eventual para um empregador mediante salário.
Como se identificar um contrato de trabalho? Caráter personalíssimo, subordinação, remuneração e permanência de vínculo.

Art. 7 cabível para empregado urbano ou rural que preencha as características acima.
Direitos das relações individuais de trabalho (exemplos)
- Proteção contra dispensa arbitrária, sem justa causa.
- Seguro desemprego
- Fundo de garantia
- Salário mínimo fixado em lei.
- Piso salarial
- 13 Salário
- remuneração trabalho noturno
- repouso semanal
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Férias
- Licença gestante
Atenção para o Art. 7 parágrafo único: empregado doméstico.
Direitos das relações coletivas
- direito de associação profissional ou sindical;
Vedado impedir a criação
Liberdade de ser associado ou não
Possibilidade de cobranças para custos
Vedação de dispensa de empregado sindicalizado
- direito de greve;
Cabe aos empregados decidir o momento oportuno e a pauta de reinvindicações. Alguns serviços são considerados
essenciais, necessários. Nesse caso, a lei definirá que tipo de serviço será considerado essencial.
- direito de substituição processual;
Legitimidade dos sindicatos para a representação dos empregados sindicalizados.

14
- direito de participação; b) de imposição de naturalização, pela norma estran-
Participação de trabalhadores em colegiados de ór- geira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro,
gãos públicos em assuntos de interesse da categoria. como condição para permanência em seu território ou
- direito de representação classista. para o exercício de direitos civis;
Empresas com mais de 200 empregados podem ele- Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da Repú-
ger um representante para estabelecer diálogo com blica Federativa do Brasil.
empregadores. § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
CAPÍTULO III § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios po-
DA NACIONALIDADE derão ter símbolos próprios.

Art. 12. São brasileiros: 2. Direitos de nacionalidade


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, 2.1. Introdução
ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país; Conceitos importantes: segundo Nathália Masson,
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou entende-se por nacionalidade o “vínculo jurídico-político
de mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a que liga o indivíduo a um determinado Estado, comando-o
serviço da República Federativa do Brasil; um componente do povo, o que o capacita a exigir a
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou proteção estatal, a fruição de prerrogativas ínsitas à
de mãe brasileira, desde que sejam registrados em re- condição de nacional, bem como o sujeita ao cumprimento
partição brasileira competente ou venham a residir na de deveres. Referida associação - entre indivíduo e Estado
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer é que determina e permite a identificação dos sujeitos
tempo, depois de atingida a maioridade, pela naciona- que compõe a dimensão pessoal do Estado, um dos
seus elementos constitutivos básicos”. Trata-se de direito
lidade brasileira;
previsto no artigo 15 da Declaração Universal dos Direitos
II - naturalizados:
do Homem.
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
- Elementos do Estado: território, soberania e povo.
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
- Vínculo político e social: nacionalidade. (obs:
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto
nacionalidade ≠ nação).
e idoneidade moral;
Modalidades de aquisição da nacionalidade
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade resi-
- Primária: nascimento do indivíduo.
dentes na República Federativa do Brasil há mais de
- Secundário: obtida voluntariamente pelo indivíduo
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, – Ex: casamento.
desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Critérios para determinar nacionalidade
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no - Jus soli: indivíduo nascido em território específico.
País, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, - jus sanguinis: prioriza laços familiares, filiação.
serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, sal- Apátridas: conhecidos por serem aqueles que não
vo os casos previstos nesta Constituição. detêm pátria por não se enquadrarem no critério previsto
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasi- para aquisição da nacionalidade. Os poliapátridas são
leiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos aqueles que preenchem tanto os critérios para aquisição
nesta Constituição. de nacionalidade do Estado que nasceu como no Estado
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: de origem dos pais.
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; Exemplo: nascido em território estrangeiro que adota
III - de Presidente do Senado Federal;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

com exclusividade o critério jus sanguinis; ou ainda pelo


IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; cancelamento da naturalização cujo país não admite dupla
V - da carreira diplomática; naturalização. Atualmente os países adotam critérios
VI - de oficial das Forças Armadas; mistos.
VII – de Ministro de Estado da Defesa.
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do bra- 1) Espécies de nacionalidade
sileiro que: - Originária: é aquela que se adquire pela ocorrência
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença ju- do fato natural (nascimento). Trata-se de um meio
dicial, em virtude de atividade nociva ao interesse na- involuntário.
cional; - Secundária: trata-se, normalmente, de ato
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: voluntário. A naturalização decorre da vontade do
a) de reconhecimento de nacionalidade originária interessado de compor o povo de um Estado específico.
pela lei estrangeira;

15
Hipóteses de aquisição
- Originária

- Critério jus soli


Trata-se de critério territorial. Será considerado nato o indivíduo nascido em território nacional; independe da
nacionalidade de seus ascendentes. O que faz parte do território nacional?
Território nacional: - Terras delineadas pelos limites geográficos do país
- rios, baías, golfos, ilhas, bem como o espaço aéreo e o mar territorial;
Atenção! Extensão ficcional:
É o ato de reconhecer como parte do território nacional os navios e as aeronaves públicos (ou requisitados) brasileiros,
onde quer que se encontrem, assim como os navios privados brasileiros em alto mar, as aeronaves privadas brasileiras em
voo sobre o alto mar e as embarcações privadas estrangeiras em mar (ou espaço aéreo) brasileiro.
Obs: se o nascido for filho de estrangeiros a serviço do seu país de origem, não haverá o reconhecimento da nacionalidade.
Ex: casal de suíços a serviço da Suíça (o mesmo não se pode falar daqueles a serviço de empresa privada ou outro país)
concebem seu filho em solo brasileiro – o filho, ainda que nascido em território no Brasil não será brasileiro. No exemplo
acima, caso um dos genitores seja brasileiro, o fato do outro cônjuge estar a serviço de seu país, será o nascido brasileiro.

- Critério jus sanguinis


Trata-se de uma espécie de mitigação do critério territorial com a finalidade de se evitar a existência de apátridas.
Oportuno registrar que esse critério não se resume sozinho. Sempre dependerá da conjugação com alguns elementos:
- Critério funcional: um dos pais brasileiros (ou ambos) a serviço do Brasil. Ex: nascido em território estrangeiro, filho
de um dos pais (ou ambos) brasileiro, estando este a serviço do país. Mesmo não nascendo em território brasileiro, será
considerado brasileiro nat.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Registro em repartição brasileira: criança nascida no estrangeiro, filho de brasileiro (ou ambos), com registro de
nascimento feito em repartição brasileira competente, como por exemplo, embaixada ou consulado. Em tempo, esse direito
foi suprimido e posteriormente reinserido no texto em 2007.

- Opção após maioridade: nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe (ou ambos) brasileiro, resolve residir, após a
maioridade, no Brasil. Esta poderá fazer a opção de se registrar como brasileira.

16
- Secundária
- Tácita: países com número de nacionais inferior ao desejado; caso não declare o estrangeiro sua intenção de permanecer
estrangeiro, automaticamente se torna nacional daquele país. (não aceito no Brasil).
- Expressa (duas formas: ordinária / extraordinária).
Ordinária
- Estatuto do Estrangeiro:
Residência permanente por mais de 04 anos
Capacidade Civil
Domínio da língua
Exercício da profissão
Bons procedimentos
Boa saúde.
- Países de língua Portuguesa:
Residência permanente por no mínimo 01 ano
Demais condições apontadas acima.
- Radicação precoce:
Vem residir no Brasil antes de completar 05 anos.
Necessário requerimento de naturalização
Prazo: 02 anos a partir da maioridade (18 anos).
- Conclusão ensino superior:
Estrangeiros vindo a residir no país antes da maioridade;
Conclusão ensino superior instituição nacional;
Requisição nacionalidade até 01 ano formado.
- Procedimento
Tem natureza administrativa uma vez que todo o procedimento ocorre no Ministério da Justiça até decisão final do
Presidente da República; a entrega, porém, é feita pela Justiça Federal. Trata-se de ato ex nunc.
Extraordinária
- Quinze anos de residência ininterrupta
- Ausência de condenação penal
- Requerimento de naturalização.

NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

2) Diferença de tratamento (natos e naturalizados)

Vedação: nos termos do art. 5º, desdobrado no art. 12§2º da Constituição Federal. Exceções:
1º) Cargos: Presidente da República e aqueles em sua linha de sucessão, além dos cargos responsáveis pela Segurança
Nacional:
- Presidente da República e Vice-Presidente da República,
- Presidente da Câmara dos Depurados, Presidente do Senado Federal e Ministro do STF,
- Membro da carreira diplomática,

17
- Oficial das Forças Armadas e I - plebiscito;
- Ministro de Estado da Defesa. II - referendo;
III - iniciativa popular.
2º) Conselho da República: art. 89 VII (formação) § 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
I - o Vice-Presidente da República; I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados; II - facultativos para:
III - o Presidente do Senado Federal; a) os analfabetos;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos b) os maiores de setenta anos;
Deputados; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Fe- § 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangei-
deral; ros e, durante o período do serviço militar obrigatório,
VI - o Ministro da Justiça; os conscritos.
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Pre- I - a nacionalidade brasileira;
sidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal II - o pleno exercício dos direitos políticos;
e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com III - o alistamento eleitoral;
mandato de três anos, vedada a recondução. IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
3º) Extradição (brasileiro nato não pode ser extraditado). VI - a idade mínima de:
No que tange ao naturalizado, a CF/88 permitiu a extradição a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente
do naturalizado em duas situações). da República e Senador;
- Crime comum antes da naturalização. b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de
- Envolvimento comprovado com o tráfico ilícito de Estado e do Distrito Federal;
entorpecentes ou drogas afins. c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
4º) Propriedade de empresa jornalística e de Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de
radiodifusão sonora e de sons e imagens. paz;
- Privativo de brasileiros natos ou naturalizados há mais d) dezoito anos para Vereador.
de 10 anos. § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de
3) Perda do Direito de Nacionalidade Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
Previsão: art. 12 §4º CF/88 houver sucedido ou substituído no curso dos manda-
Hipóteses: tos poderão ser reeleitos para um único período sub-
- Cancelamento por sentença judicial (atividade nociva sequente.
ao interesse nacional: § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente
Ordem pública ou segurança nacional) Chamada de da República, os Governadores de Estado e do Distrito
perda-punição. Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
- Aquisição voluntária de nova nacionalidade (perda mandatos até seis meses antes do pleito.
mudança). Vale tanto para natos como naturalizados. § 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titu-
lar, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
4) Quase naturalização até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
Segundo Nathália Masson, “o texto constitucional, se República, de Governador de Estado ou Território, do
houver reciprocidade em favor de brasileiros residentes em Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substi-
Portugal, os portugueses que aqui residam terão tratamento tuído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo
jurídico similar ao dispensado ao brasileiro naturalizado, se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
sem precisarem, para isso, de se submeterem a qualquer § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

procedimento de naturalização. Como a reciprocidade condições:


existe, os portugueses residentes na República Federativa I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
do Brasil em caráter permanente poderão comparecer afastar-se da atividade;
ao Ministério da Justiça, munidos de documento que II - se contar mais de dez anos de serviço, será agrega-
comprove a nacionalidade portuguesa, a capacidade civil do pela autoridade superior e, se eleito, passará auto-
e a admissão na República Federativa do Brasil em caráter maticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
permanente, para requerer a quase nacionalidade”. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de
CAPÍTULO IV proteger a probidade administrativa, a moralidade
DOS DIREITOS POLÍTICOS para o exercício do mandato, considerada a vida pre-
gressa do candidato, e a normalidade e legitimidade
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrá- das eleições contra a influência do poder econômico
gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: na administração direta ou indireta.

18
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a
Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da #FicaDica
diplomação, instruída a ação com provas de abuso do Modelo brasileiro: democracia participativa – CF
poder econômico, corrupção ou fraude. Art. 1º par. Único e Art. 14.
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em
segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da
lei, se temerária ou de manifesta má-fé. Democracia direta (institutos)
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja - Plesbicito, referendo, participação popular e ação
perda ou suspensão só se dará nos casos de: popular.
I - cancelamento da naturalização por sentença transi- Plesbicito e referendo: ambos são formas de consulta
tada em julgado; ao povo de matéria de extrema relevância (ex: sistema de
II - incapacidade civil absoluta; governo; desarmamento). O que os difere é o momento em
III - condenação criminal transitada em julgado, en- que essa consulta é feita.
quanto durarem seus efeitos; - Plesbicito (consulta prévia): primeiro ocorre a consulta
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou popular para só então ser tomada a decisão política. Ex:
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; sistema de governo.
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, - Referendo (consulta a posteriori): primeiro é tomada a
§ 4º. decisão política para então ser levada a apreciação do povo
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em que poderá ratificar ou rejeitar. Ex: desarmamento.
vigor na data de sua publicação, não se aplicando à - Iniciativa popular: apresentação de projeto de lei para
eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. a Câmara dos Deputados, subscrito por no mínimo 1% do
Trata-se de prerrogativa do direito de nacionalidade. É eleitorado brasileiro, distribuídos por no mínimo 5 estados
assegurado a determinado grupo de pessoas chamados com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles.
de cidadãos. São os meios pelos quais o povo exerce sua - Ação popular: Lei 4.717/65
soberania, ou seja, a soberania popular. É a exteriorização
da vontade do povo na condução da coisa pública.
#FicaDica
Atenção! Uma vez proclamado o resultado do
plesbicito ou do referendo, seria possível sua
#FicaDica alteração por meio de Emenda Constitucional ou
Nacionalidade ≠ Cidadania: segundo José Lei? Não. Tais medidas seriam inconstitucionais.
Afonso da Silva, “a nacionalidade é o vínculo Logo, a democracia direta prevalece sobre a
ao território estatal por nascimento ou por representativa. Sua mudança poderia ocorrer
naturalização, tem status político”; cidadania apenas após nova consulta popular.
“qualifica os participantes da vida do Estado, é
atributo das pessoas integradas na sociedade
estatal, atributo político decorrente do direito
de participar no governo e direito de ser ouvido
Conceitos (Teoria Geral do Estado)
pela representação política”.
Cidadania: capacidade de possuir direitos políticos,
votar e ser votado.
Sufrágio: direito de votar e ser votado.
E continua: Voto: modo pelo qual se exerce o sufrágio.
“Cidadão, no direito brasileiro, é o indivíduo que seja Escrutínio: modo pelo qual se exercita o voto.
titular dos direitos políticos de votar e ser votado e suas
consequências. Nacionalidade é o conceito mais amplo do 2. Classificação dos Direitos Políticos
que cidadania, e é pressuposto desta, uma vez que só o Memorizar:
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

titular da nacionalidade brasileiro poder ser cidadão”.

1. Regime democrático
- Democracia direta: exercício do poder diretamente
pelo povo, sem intermediários.
- Democracia representativa: povo elege seus
representantes.
- Democracia participativa: sistema híbrido; parte
exercida diretamente pelo povo e parte pelos representantes
eleitos pelo povo.

19
2.1 Positivos (liberdade do cidadão participar ativamente da vida pública)

Ativo: direito de votar, capacidade de ser eleitor, alistabilidade.


Passivo: direito de ser votado, elegibilidade.
- Ativa (pressupostos para votar) – Palavra chave: alistabilidade (capacidade de ser eleitor).
- Alistamento eleitoral: qualificação e inscrição da pessoa como eleitor perante a Justiça Eleitoral (título de eleitor)
- Nacionalidade brasileira (excluídos os estrangeiros)
- Idade mínima de 16 anos
Facultativo: entre 16 e 18 anos; acima de 70 anos.
Obrigatório: entre 18 e 70 anos.
- Não ser conscrito (serviço militar obrigatório): o conscrito não poderá votar. E se por acaso o conscrito se engajar no
serviço miltar permanente? São obrigados a se alistarem como eleitores
- Soberania Popular: exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto. É possível classificar a soberania
como: una, indivisível, inalienável e imprescritível.
- Sufrágio: direito que o cidadão possui de participar da organização política estatal. É a permissão para eleger e/ou ser
eleito. Sufrágio universal: “quando se outorga o direito de votar a todos os nacionais de um país, sem restrições derivadas
das condições de nascimento, de fortuna e capacidade especial”.
- Direito de voto e escrutínio: o voto é uma das formas do exercício do sufrágio; é o instrumento pelo qual se exterioriza
sua vontade. Tem por características: direto, secreto, Periódico e universal. No Brasil, tem por característica ser personalíssimo
e obrigatório. A obrigatoriedade do voto é cláusula pétrea? Não, nos termos do art. 60 §4º II.

#FicaDica
Características do voto: direto, secreto, universal e periódico.

- Direto: o eleitor vota diretamente no candidato. Obs: eleição indireta – possível. Vacância do cargo de presidente e
vice presidente nos dois últimos anos de mandato – eleição realizada pelo Congresso nacional.
- Secreto: veda-se a publicidade do voto. Votação parlamentar: aberta. O sigilo do voto deverá ser assegurado e,
adotadas as seguintes providências:
- Isolamento em cabine indevassável
- Verificação documental e sua autenticidade
- Urna que assegure a inviolabilidade.
- Universal: direcionada a qualquer cidadão, sem discriminação de natureza econômica, social, racial.
- Periódica: posto que o mandato é por prazo determinado.
Eleitorado: conjunto de todos aqueles que detém o direito ao sufrágio. A organização brasileira é da seguinte forma:
- Circunscrições eleitorais: nas eleições presidenciais a circunscrição será o país; nas eleições federais e estaduais a
circunscrição será o estado e nas municipais o próprio município.
- Zonas eleitorais: unidades territoriais de natureza jurisdicional sob a titularidade de um juiz de direito.
- Seções eleitorais (de 300 a 400 eleitores)
- Passiva (pressupostos para ser votado) – Palavra chave: elegibilidade
Condições de elegibilidade (capacidade de ser eleito)
- Nacionalidade: brasileira
- Pleno exercício dos direitos políticos
- Alistamento eleitoral
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Domicílio eleitoral na circunscrição (onde for concorrer ao mandato)


- Filiação partidária
- Idade Mínima:
35 – Presidente, vice, senador.
30 – Governador e vice.
21 – Deputados estaduais e federais, prefeito e vice.
18 – Vereador.

20
#FicaDica

2.2 Direitos Políticos Negativos

Podem ser definidas como as suspensões e/ou privações de direitos políticos. Atenção! Segundo Nathália Masson,
“importante, desde já, deixar firmado que a cassação dos direitos políticos, consistente na retirada arbitrária dos direitos,
engendrada por perseguições ideológicas, tão típicas dos períodos de hiato constitucional (antidemocráticos), é vedada
pela atual Constituição de 1988”.
- Inelegibilidade (Art. 14 §4º a 8º)
Absolutas: impedimento eleitoral para qualquer cargo eletivo, taxativamente previstas na CF/88.
- Inalistável: se não pode ser eleitor, não pode se eleger (estrangeiros e conscritos).
- Analfabeto: pode se alistar, mas não pode ser eleito.
- Relativas: impedimento eleitoral para algum cargo eletivo ou mandato, em função de situações em que se encontre
o cidadão candidato, previstas na CF/88 ou lei complementar.
- Em razão da função exercida:
- Referente ao mesmo cargo: - Chefes do executivo nas 03 esferas, não podem ser eleitos para um terceiro mandato.
(subsequente e sucessivo).
- Referente a outro cargo (desincompatibilização).
- Prefeito profissional: cumpre dois mandatos, transfere seu domicílio para concorrer ao terceiro. Impossibilidade tanto
para o próprio município como para diverso.
- Desincompatibilização: afastamento das funções por 06 meses para concorrer a outros cargos. Ex: é deputado, quer
concorrer para prefeito.
- Grau de parentesco.
- Cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau. (presidente, governador e prefeito).
- Conhecida como inelegibilidade reflexa, haja vista incidir sobre terceiros, isto é, “refletir” em indivíduos em razão do
parentesco, da afinidade ou da condição de cônjuge que possuem freme a um chefe do Poder Executivo.
- Candidato for militar.
- Menos de 10 anos de atividade: afastamento definitivo.
- Mais de 10 anos: afastamento temporário. Se eleito, inatividade.
- Outras inelegibilidades previstas pela LC 64/90
- Probidade administrativa
- Moralidade
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Normalidade e legitimidade das eleições.

3. Perda dos direitos políticos

Definitiva.
- Cancelamento da naturalização
- Recusa de cumprir obrigação imposta a maioria
- Perda da nacionalidade em razão de ter adquirido outra.

4. Suspensão dos direitos políticos

Temporária.
- Incapacidade civil absoluta
- Condenação criminal definitiva.

21
- Improbidade administrativa. IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
- Exercício de direitos políticos em outro país. Pode § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia
votar em Portugal, suspende o direito de votar no Brasil. para definir sua estrutura interna e estabelecer regras
sobre escolha, formação e duração de seus órgãos
permanentes e provisórios e sobre sua organização e
#FicaDica funcionamento e para adotar os critérios de escolha e
o regime de suas coligações nas eleições majoritárias,
Não existe “cassação” de direitos políticos. Ou vedada a sua celebração nas eleições proporcionais,
poderá ocorrer a perda ou mesmo a suspensão.
sem obrigatoriedade de vinculação entre as candida-
O termo cassação pressupõe ato unilateral
em contraditório e ampla defesa, ferindo os turas em âmbito nacional, estadual, distrital ou muni-
alicerces da democracia. cipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de
disciplina e fidelidade partidária. (Parágrafo com reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
5. Das Eleições § 2º Os partidos políticos, após adquirirem personali-
dade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus es-
Segundo José Afonso da Silva, “as eleições são tatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
procedimentos técnicos para a designação de pessoas para § 3º Somente terão direito a recursos do fundo parti-
um cargo (outras maneiras de designação são a sucessão, a dário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na for-
cooptação, a nomeação, a aclamação) ou para a formação ma da lei, os partidos políticos que alternativamente:
de assembleias. Eleger significa, geralmente, expressar uma (“Caput” do parágrafo com redação dada pela Emenda
preferência entre alternativas, realizar um ato formal de Constitucional nº 97, de 2017)
decisão”. I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos Deputa-
Reeleição: “possibilidade que a Constituição reconhece dos, no mínimo, 3% (três por cento) dos votos válidos,
ao titular de um mandato eletivo de pleitear sua distribuídos em pelo menos um terço das unidades da
própria eleição para um mandato sucessivo ao que está Federação, com um mínimo de 2% (dois por cento) dos
desempenhando”. votos válidos em cada uma delas; ou (Inciso acrescido
pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputados Fe-
derais distribuídos em pelo menos um terço das unida-
des da Federação. (Inciso acrescido pela Emenda Cons-
titucional nº 97, de 2017)
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de
organização paramilitar.
§ 5º Ao eleito por partido que não preencher os re-
quisitos previstos no § 3º deste artigo é assegurado o
Majoritário: “a representação, em dado território, cabe mandato e facultada a filiação, sem perda do mandato,
ao candidato ou candidatos que obtiveram a maioria a outro partido que os tenha atingido, não sendo essa
(absoluta/relativa) dos votos. O Brasil consagra o sistema filiação considerada para fins de distribuição dos recur-
majoritário por maioria absoluta (com dois turnos se sos do fundo partidário e de acesso gratuito ao tem-
preciso) para a eleição de Presidenta e Vice-Presidente da po de rádio e de televisão. (Parágrafo acrescido pela
República, de Governador e Vice-governador de estado e Emenda Constitucional nº 97, de 2017)
de Prefeito e Vice-Prefeito municipal e por maioria relativa Instrumento indispensável no regime democrático por
para a eleição de Senadores”. ser responsável pela organização da vontade popular
Proporcional: utilizado para as eleições de deputados na busca de realização de projetos comuns. Vale lem-
federais, estaduais e para vereadores. brar que o exercício da cidadania não se faz exclusi-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

vamente através de partidos políticos; no entanto, o


CAPÍTULO V exercício desse mister quando estivermos diante da
DOS PARTIDOS POLÍTICOS elegibilidade, a filiação partidária se torna obrigatória –
requisito indispensável.
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção Atualmente o Brasil tem 35 partidos políticos regis-
de partidos políticos, resguardados a soberania nacio- trados no Tribunal Superior Eleitoral, sendo o PMDB
nal, o regime democrático, o pluripartidarismo, os di- o partido mais antigo, registrado em 30/06/1981, se-
reitos fundamentais da pessoa humana e observados guido neste mesmo ano pelos Partidos PTB (03/11/81)
os seguintes preceitos: e PDT (10/11/1981) e o partido político mais jovem
I - caráter nacional; é o PMB (Partido da Mulher Brasileira) registrado em
II - proibição de recebimento de recursos financeiros 29/09/2015.
de entidade ou governo estrangeiros ou de subordi-
nação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;

22
Conceito
A Professora Nathália Masson, destaca em sua obra EXERCÍCIOS COMENTADOS
conceito de Georg Jellinek, segundo o qual os partidos
políticos podem ser definidos como “grupos políticos
formados sob a influência de convicções comuns voltadas 1. Aplicada em: 2017 Banca: CESPE Órgão: TRF -
para cercos fins políticos, que se esforçam para realizar”. 1ª REGIÃO Prova: Técnico Judiciário - Segurança e
Em regra, esses grupos têm por base concepções políticas Transporte.
ou interesses políticos comuns. Considerando o que dispõe a Constituição Federal de 1988
A lei 9.096/95, também chamada de “Lei dos Partidos (CF) sobre direitos humanos, julgue o item que se segue.
Políticos” também tratou de conceituar os partidos Desde que não frustrem outra reunião anteriormente con-
políticos no Brasil. Nos termos do art. 1º desta lei, “o vocada para o mesmo local, todos podem reunir-se em lo-
partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina- cais abertos ao público, independentemente de autorização,
se a assegurar, no interesse do regime democrático, a sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.
autenticidade do sistema representativo e a defender os
direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Natureza Jurídica
Pessoa Jurídica de Direito Privado. Sua organização está Resposta: Certo - Trata-se de direito fundamental pre-
prevista no texto da Constituição Federal, lhes assegurando visto no art. 5º XVI que aborda o direito de reunião.
autonomia, liberdade de criação, fusão, incorporação Todos podem se reunir pacificamente, sem armas, em
e extinção, além de resguardar a soberania nacional, o locais públicos; não necessitam de autorização do poder
regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos público, mas sim a sua comunicação para evitar frustrar
fundamentais. Essa pessoa jurídica deve ser registrada em outra reunião já previamente agendada.
Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas e os estatutos do
partido registrados no TSE. 2. APLICADA EM: 2017BANCA: CESPEÓRGÃO: TCE-PE
- Requisitos a serem observados quando de sua criação PROVA: ANALISTA DE GESTÃO – JULGAMENTO.
- Caráter Nacional: evitar partidos com projetos Acerca dos princípios fundamentais e dos direitos e deve-
regionais ou mesmo municipais. res individuais e coletivos, julgue o item a seguir.
- Critério: 0,5% dos votos válidos nas últimas eleições A liberdade para o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
para a Câmara dos Deputados, distribuídos no mínimo profissão está condicionada ao atendimento das qualifica-
entre 1/3 dos estados-membros (9 estados) e, em cada ções profissionais estabelecidas por lei, mas nem todos os
estado, 1/10 dos eleitores daquele estado. ofícios ou profissões, para serem exercidos, estarão sujeitos
- Proibição de recebimento de recursos financeiros de à existência de lei.
entidades ou governos estrangeiros ou de subordinação
Vedado receber qualquer recurso de entidade ou ( ) CERTO ( ) ERRADO
governo estrangeiro, pois o aceite poderia tornar o partido
subordinado a estes apoiadores. É uma forma indireta de Resposta: Certo - A constituição coloca no art. 5º XIII
também proteger a soberania nacional. que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
- Prestação de constas à Justiça Eleitoral profissão; porém, algumas profissões podem ser regula-
Com o propósito de afastar o abuso do poder econômico, mentadas por lei infraconstitucional. É o caso, por exem-
tudo aquilo que for recebido deve ser apresentado em plo, do exercício da advocacia que além da conclusão do
forma de prestação de contas para a justiça eleitoral. Esta bacharelado em direito, necessário aprovação no exame
prestação vem disciplinada pela lei 9.504/97 em seus arts. da OAB.
17 a 27.
Características dos Partidos Políticos 3. APLICADA EM: 2018 BANCA: CESPE ÓRGÃO: PC-
Autonomia: o Estado evitará intervir em qualquer -MA PROVA: INVESTIGADOR DE POLÍCIA.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

partido político, posto que os mesmos possuem liberdade Entre os direitos sociais previstos pela Constituição Federal
para definir sua estrutura, organização e funcionamento. de 1988 (CF) inclui-se o direito à
Por esta razão as coligações eleitorais são possíveis.
Fidelidade Partidária: sua não observância acarreta a) amamentação aos filhos de presidiárias.
a perda do mandato de Deputado Federal e de Senador b) moradia.
se estes trocarem de partido sem justa causa. Sobre a c) propriedade.
fidelidade partidária, importante consignar que: d) gratuidade do registro civil de nascimento.
- a vaga do titular do mandato parlamentar pertence à e) assistência jurídica e integral gratuita.
coligação e não ao partido político.
- Reconhecida a justa causa, afastamento da perda do Resposta: Letra B - Nos termos do art. 6º são direitos
mandato eletivo. sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistên-
cia aos desamparados, na forma desta Constituição.

23
4. APLICADA EM: 2018 BANCA: CESPE ÓRGÃO: ABIN 2. Legitimidade ativa
PROVA: AGENTE DE INTELIGÊNCIA.
Julgue o item seguinte, relativo ao direito de nacionalidade. Podem impetrar o habeas corpus quaisquer pessoas
Filho de brasileiros nascido no estrangeiro que opte pela físicas ou jurídicas, inclusive o Ministério Público, em seu
nacionalidade brasileira não poderá ser extraditado, uma favor ou de terceiros. É o que estabelece o art. 654 do
vez que os efeitos dessa opção são plenos e têm eficácia CPP: “O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
retroativa. pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo
Ministério Público.”
( ) CERTO ( ) ERRADO
3. Partes
Resposta: Certo - Brasileiro nato não poderá ser ex-
traditado, salvo se vier a perder, nos casos previsto na O paciente é a pessoa cuja liberdade de locomoção esteja
Constituição Federal, a sua nacionalidade. O naturaliza- sendo tutelada no habeas corpus. A autoridade coatora é a
do também não será extraditado, exceto se pratica com- responsável pela prática do ato ilegal ou abusivo que viola
provada de crime comum antes de sua naturalização ou ou põe em risco a liberdade de locomoção do paciente.
tráfico ilícito de drogas e entorpecentes. A competência para julgamento do habeas corpus será
definida em função da autoridade coatora ré.
5.APLICADA EM: 2017BANCA: CESPE ÓRGÃO: TRE-
-TO PROVA: ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI- 4. Gratuidade
NISTRATIVA.
A perda ou a suspensão dos direitos políticos do eleitor O habeas corpus é gratuito, conforme o art. 5º, LXXVII,
ocorrerá se: da CF: “são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício
a) sua naturalização for cancelada por sentença transitada da cidadania.”. Além disso, o habeas corpus não precisa ser
em julgado. subscrito por advogado (art. 654 do CPP).
b) for-lhe imposta condenação criminal, ainda que seja
passível de recurso.
c) ele completar setenta anos de idade. EXERCÍCIOS COMENTADOS
d) ele completar oitenta anos de idade.
e) sobrevier-lhe, por qualquer motivo, incapacidade civil
1. (PC/SC – AGENTE DE POLÍCIA CIVIL – NÍVEL MÉDIO
relativa. – FEPESE – 2017)
Com base na Constituição Federal de 1998, sempre que
Resposta: Letra A - Nos termos do art. 15 é vedada a alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou
cassação de direitos políticos, mecanismo característico coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
de períodos de regimes ditatoriais, desvinculados da de- abuso de poder, conceder-se-á:
mocracia. No entanto, possível a suspensão ou a perda
nas seguintes hipóteses: a) habeas data.
I - cancelamento da naturalização por sentença transi- b) habeas corpus.
tada em julgado; c) mandado de segurança.
II - incapacidade civil absoluta; d) ação popular.
III - condenação criminal transitada em julgado, en- e) reclamação.
quanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou Resposta: Letra B - Segundo o art. 5º, LXVIII, da CF: “con-
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; ceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

dade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;”.

HABEAS CORPUS 2. (SEAS/CE – SOCIOEDUCADOR– NÍVEL MÉDIO – UE-


CE-CEV – 2017)
1. Conceito e cabimento Quanto aos remédios constitucionais, assinale a opção que
completa, correta e respectivamente, as lacunas do seguin-
O habeas corpus é o remédio constitucional destinado a te dispositivo legal:
assegurar o direito fundamental à liberdade de locomoção. “são gratuitas as ações de ____________¹ e ___________², e, na
É cabível sempre que houver lesão ou ameaça de lesão forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania”.
à liberdade de locomoção por ato ilegal ou abusivo, nos
termos do art. 5º, LXVIII, da CF: “conceder-se-á habeas a) habeas corpus¹ — habeas data²;
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de b) mandados de injunção¹ — mandado de segurança²;
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, c) habeas data¹ — mandados de injunção²;
por ilegalidade ou abuso de poder;”. d) habeas corpus¹ — mandado de segurança².

24
Resposta: Letra A - Segundo o art. 5º, LXXVII, da CF: 1.2. Partes
“são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data,
e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da A legitimidade ativa para impetração do mandado de
cidadania.” segurança individual pertence ao titular do direito líquido
e certo violado ou ameaçado (pessoa física ou jurídica),
3. (TJM/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – denominado impetrante. O polo passivo será integrado
NÍVEL MÉDIO – VUNESP – 2017) pela autoridade coatora, isto é, a que praticou o ato coator
Quanto ao habeas corpus, assinale a alternativa correta: ou deu a ordem para a sua prática. Ato coator é o que ameaça ou
viola o direito líquido e certo tutelado no mandado de segurança.
a) É gratuito. Além da autoridade coatora, a petição inicial deverá indicar a
b) É cabível em relação a qualquer punição disciplinar mi- pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da
litar. qual exerce atribuições (art. 6º da Lei n. 12.016/09).
c) Concede-se para proteger direito líquido e certo.
d) Assegura o conhecimento de informações pessoais. 2. Mandado de segurança coletivo
e) Exige sigilo processual.
O mandado de segurança é o remédio constitucional
Resposta: Letra A - O habeas corpus é gratuito (art. 5º, previsto no art. 5º, LXX, da CF, que estabelece:
LXXVII, da CF). É cabível nos casos de ameaça ou restri- LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
ção à liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso petrado por:
de poder (art. 5º, LXVIII, da CF). A proteção de direito a) partido político com representação no Congresso
líquido e certo se dá por meio de mandado de seguran- Nacional;
ça (art. 5º, LXIX, da CF). O conhecimento de informações b) organização sindical, entidade de classe ou asso-
pessoais se dá por meio de habeas data (art. 5º, LXXII, ciação legalmente constituída e em funcionamento há
da CF). Não há exigência de sigilo processual na ação de pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
habeas corpus (art. 5º, LXXVII, da CF). membros ou associados; (...).

2.1. Conceito e cabimento


MADA
O mandado de segurança coletivo foi introduzido
1. Mandado de segurança individual pela Constituição de 1988. É o remédio constitucional
destinado à proteção de direitos coletivos ou individuais
O mandado de segurança é o remédio constitucional homogêneos, líquidos e certos, não amparados por habeas
previsto no art. 5º, LXIX, da CF, que estabelece: “conceder- corpus ou habeas data, se a violação ou ameaça se der por
se-á mandado de segurança para proteger direito líquido ato ilegal ou abusivo de autoridade pública ou de agente
e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder Público. Coletivo é o direito indivisível compartilhado por
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no um número determinado de pessoas que, no seu conjunto,
exercício de atribuições do Poder Público;”. formam grupos, classes ou categorias de pessoas, ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica
1.1. Conceito e cabimento básica (art. 21, Parágrafo único, I, da Lei n. 12.016/09).
Individual homogêneo é o direito de origem comum e
O mandado de segurança é a ação constitucional da atividade ou situação específica da totalidade ou de
mandamental destinada à proteção de um direito líquido parte dos associados ou membros do impetrante (art. 21,
e certo ameaçado ou violado por ato ilegal ou abusivo Parágrafo único, II, da Lei n. 12.016/09).
de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

no exercício de atribuições delegadas do Poder Público, 2.2. Partes


quando não caiba habeas corpus ou habeas data. Líquido e
certo é o direito comprovável de plano, cuja demonstração A legitimidade para impetração do mandado de
não depende de dilação probatória. O mandado de segurança coletivo está taxativamente prevista art. 5º,
segurança está regulado na Lei Federal n.º 12.016/09, que, LXX, da CF, pertencendo a qualquer partido político com
em seu art. 5º, prevê os casos de não cabimento desta ação: representação no Congresso Nacional e às organizações
Art. 5º Não se concederá mandado de segurança sindicais, entidades de classe ou associações legalmente
quando se tratar: constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano,
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
efeito suspensivo, independentemente de caução; O polo passivo será integrado pela autoridade coatora, que
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito deu a ordem ou praticou o ato coator, devendo a petição
suspensivo; inicial indicar a pessoa jurídica que esta integra, à qual se
III - de decisão judicial transitada em julgado. acha vinculada ou da qual exerce atribuições (art. 6º da Lei
n. 12.016/09).

25
3. Prazo para impetração 3. (TJ/MT - DISTRIBUIDOR, CONTADOR E PARTIDOR
– NÍVEL MÉDIO – UFMT – 2016)
O prazo para impetração do mandado de segurança Quanto ao mandado de segurança coletivo, analise as afir-
(individual ou coletivo) é de 120 dias, contados da ciência, mativas.
pelo interessado, do ato impugnado (art. 23 da Lei n. I - Pode ser impetrado por qualquer partido político regis-
12.016/09 e Súmula 632 do STF). trado no TSE.
II - Pode ser impetrado por entidade sindical legalmente
constituída e em funcionamento há mais de um ano, no
interesse de seus filiados.
EXERCÍCIOS COMENTADOS III - Presta-se a proteger direito líquido e certo, não ampa-
rado por habeas corpus ou habeas data, quando o respon-
1. (IPRESB/SP – AGENTE PREVIDENCIÁRIO - NÍVEL sável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
MÉDIO – VUNESP – 2017) pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-
Considere a seguinte situação hipotética: Cidadão de Ba- buições públicas.
rueri pleiteia licença para realizar reforma e construção em IV - Terá sempre a fiscalização do Ministério Público no cur-
imóvel de que é proprietário, mas a Municipalidade rejeita so do andamento do processo.
seu pleito. Entendendo o Cidadão que preenche todos os Estão corretas as afirmativas:
requisitos que o habilitam a reformar e construir em sua
propriedade, apresenta recurso do indeferimento. Passam- a) I, II, III e IV.
-se mais de 120 (cento e vinte) dias e não há resposta ao b) II, III e IV, apenas.
recurso. Neste caso, diante da omissão da Municipalidade, c) I e II, apenas.
o Cidadão pode demandar a análise do caso pelo Poder d) I e III, apenas.
Judiciário, por meio de:
Resposta: Letra B - I – errado, pois o mandado de se-
a) ação popular. gurança coletivo só pode ser impetrado por partido po-
b) mandado de injunção. lítico com representação no Congresso Nacional (art. 5º,
c) mandado de segurança. LXX, a, da CF);
d) habeas corpus. II – certo, conforme o art. 5º, LXX, a e b, da CF;
e) habeas data. III – certo, conforme o art. 5º, LXIX, da CF;
IV – certo, conforme os arts. 127 da CF e 12 da Lei n.
Resposta: Letra C - Neste caso, o mandado de segu- 12.016/09.
rança será impetrado contra a omissão do Poder Público
em responder ao recurso apresentado, já que, passados
mais de 120 dias, a municipalidade ainda não se mani- MANDADO DE INJUNÇÃO
festou a seu respeito. O prazo para impetração, neste
caso, renova-se no tempo, pois o ato coator é a própria 1. Conceito e cabimento
omissão da Administração Pública. O direito líquido e
certo violado é o da celeridade e razoável duração dos O mandado de injunção é a ação constitucional
processos administrativos, previsto no art. 5º, LXXVIII, da prevista no art. 5º, LXXI, da CF, que estabelece: “conceder-
CF. se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
2. (CFO/DF - TÉCNICO ADMINISTRATIVO – NÍVEL liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
MÉDIO – QUADRIX – 2017) à nacionalidade, à soberania e à cidadania;”. Trata-se de
Acerca dos direitos e das garantias fundamentais previstos remédio constitucional destinado ao controle difuso das
na CF, julgue o item seguinte. omissões inconstitucionais, que se caracterizam pela ausência
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O mandado de segurança coletivo poderá ser impetrado total ou parcial de norma para regular um dispositivo
por partido político, desde que tenha representação no constitucional de eficácia limitada (que é o que depende
Congresso Nacional. de regulamentação para produzir efeitos jurídicos). Assim,
se a falta total ou parcial de norma regulamentadora da
( ) CERTO ( ) ERRADO Constituição inviabilizar o exercício de um direito, liberdade
ou prerrogativa constitucional, caberá mandado de injunção.
A Lei Federal n. 13.300/16 regula o processo e o julgamento
Resposta: Certo - Nos termos do art. 5º, LXX, a, da CF: dos mandados de injunção individual e coletivo.
“LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser im-
petrado por:a) partido político com representação no 2. Partes
Congresso Nacional; (...)”
O mandado de injunção individual pode ser proposto
pelo titular dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas
constitucionais (pessoa física ou jurídica) cujo exercício

26
está sendo frustrado pela omissão legislativa, isto é, pela 2. (TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – NÍ-
ausência de norma regulamentadora (art. 3º da Lei n. VEL MÉDIO – VUNESP – 2017)
13.300/16). O mandado de injunção coletivo pode ser Sempre que a falta de norma regulamentadora torne invi-
proposto pelo Ministério Público; por partido político com ável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais,
representação no Congresso Nacional; por organização conceder-se-á:
sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano a) mandado de segurança coletivo.
ou pela Defensoria Pública (art. 12 da Lei n. 13.300/16). O b) mandado de injunção.
autor da ação é denominado impetrante. O polo passivo será c) ação de descumprimento de preceito fundamental.
integrado pelo Poder, órgão ou autoridade competente pela d) habeas data.
edição da norma regulamentadora faltante, denominado e) mandado de segurança.
impetrado (art. 3º da Lei n. 13.300/16). A competência para
julgamento da ação será definida em função do impetrado. Resposta: Letra B - Conforme o art. 5º, LXXII, da CF:
“conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
3. Efeitos da decisão de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
Conforme o art. 8º da Lei n. 13.300/16, a sentença inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;”.
que reconhecer a mora legislativa (falta da norma
regulamentadora) e julgar procedente a injunção, 3. (TJM/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
determinará prazo razoável para que o impetrado edite NÍVEL MÉDIO – VUNESP – 2017)
a norma faltante e estabelecerá as condições para o Conceder-se-á mandado de injunção sempre que:
exercício dos direitos reclamados ou para a promoção de
ação própria para exercê-los, caso não seja suprida a mora a) a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne
legislativa no prazo determinado. inviável o exercício dos direitos e liberdades constitu-
cionais.
b) alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegali-
EXERCÍCIOS COMENTADOS dade ou abuso de poder.
c) qualquer cidadão pleitear a anulação ou a declaração de
1. (TCE/PB – AGENTE DE DOCUMENTAÇÃO – NÍVEL nulidade de atos lesivos ao patrimônio público, por falta
MÉDIO – CESPE – 2018) de norma regulamentadora.
Jorge, cidadão brasileiro com dezoito anos de idade, de- d) a falta de legislação, total ou parcial, atingir direito líqui-
seja tomar medida jurídica, sob o fundamento de que de- do e certo reconhecido pela Constituição Federal.
terminada prerrogativa inerente a sua cidadania não pode e) haja efetiva ameaça a direitos individuais ou coletivos
ser usufruída em razão de omissão legislativa na edição por ato ou omissão de autoridade pública no exercício
de norma regulamentadora de dispositivo constitucional. de atribuições do poder público.
Nessa situação hipotética, para buscar tutela jurisdicional,
de acordo com o rol de direitos e garantias fundamentais, Resposta: Letra A - Conforme o art. 5º, LXXII, da CF:
Jorge deverá valer-se de: “conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos
a) habeas data. direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
b) mandado de injunção. inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;”.
c) mandado de segurança.
d) ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
e) ação popular. HABEAS DATA
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Resposta: Letra B - Conforme o art. 5º, LXXII, da CF: 1. Conceito e finalidade


“conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos O habeas data é a ação constitucional prevista no art.
direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas 5º, LXXII, da CF, que estabelece:
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;”. LXXII – conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações re-
lativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira
fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
Este remédio constitucional destina-se, portanto, à
proteção de dois direitos fundamentais:

27
(i) o direito de acesso aos dados pessoais constantes d) habeas corpus, se se tratar de dados pertinentes à vida
de registros ou bancos de dados de entidades gover- pregressa na esfera criminal, pleiteando os benefícios da
namentais ou de caráter público, e Justiça gratuita em seu favor.
(ii) o direito de retificação destas informações. O habe- e) habeas data, sem que necessite pleitear os benefícios da
as data assume, portanto, tríplice finalidade: Justiça gratuita em seu favor, já que, consoante a Cons-
a) a de garantir o direito de acesso aos registros de tituição Federal, o habeas data e o habeas corpus são
informações relativas ao impetrante; ações gratuitas.
b) a de assegurar o direito de retificação destas infor-
mações e Resposta: Letra E - Segundo o art. 5º, LXXVII, da CF:
c) a de garantir o direito de complementação das infor- “são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data,
mações pessoais do impetrante. e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da
cidadania.”
2. Pressupostos, legitimidade e competência
2. (TER/TO - TÉCNICO JUDICIÁRIO – NÍVEL MÉDIO –
O habeas data está regulado na Lei Federal n.º 9.507/97, CESPE – 2017)
que estabelece os seguintes pressupostos para o seu Jonas, servidor público federal, respondeu a processo ad-
cabimento: ministrativo disciplinar e, ao final, foi absolvido das acusa-
a) a recusa da autoridade administrativa em disponibi- ções. No entanto, por um equívoco, no seu assentamento
lizar ao impetrante o acesso às suas informações pes- funcional passou a constar a informação de que ele havia
soais e sido condenado. Ao saber do erro, Jonas solicitou a retifi-
b) o caráter pessoal dos dados e das informações a ser cação dos dados, mas o seu pedido foi indeferido. Nessa
obtidos e/ou corrigidos pelo impetrante. A legitimida- situação hipotética, a ação cabível, de acordo com a CF, é:
de ativa pertence à pessoa física ou jurídica titular do
direito personalíssimo ao conhecimento e à retificação a) a ação direta de inconstitucionalidade.
de seus dados, devendo o polo passivo da ação ser
b) a ação popular.
integrado pelas entidades públicas ou privadas de-
c) o habeas corpus.
tentoras dos registros ou bancos de dados de caráter
d) o mandado de injunção.
público que contenham as informações pessoais do
e) o habeas data.
impetrante. A competência será definida em função da
natureza da autoridade impetrada.
Resposta: Letra E - Conforme o art. 5º, LXXII, b, da CF,
conceder-se-á habeas data “(...) para a retificação de da-
3. Gratuidade
dos, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
O habeas data é gratuito, conforme o art. 5º, LXXVII, judicial ou administrativo.”.
da CF: “são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da 3. (TRE/BA –Técnico Judiciário – Nível Médio –CES-
cidadania.”. PE– 2017)
O remédio constitucional que representa, no plano
institucional, a mais expressiva reação jurídica do Estado
às instituições que lesem, efetiva ou potencialmente,
EXERCÍCIOS COMENTADOS os direitos de conhecimento de informações relativas à
pessoa interessada constantes de registros ou bancos de
1. (TRF/5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - NÍVEL dados de entidades governamentais ou de caráter público,
MÉDIO – FCC – 2017) bem como de retificação de dados e complementação de
Adamastor, advogado, pretende ingressar com medida registros existentes, é o(a):
destinada à proteção de direito líquido e certo à retifica- a) habeas data.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ção de dados a seu respeito constantes dos arquivos de b) mandado de segurança.


repartição pública federal. Sabendo-se que Adamastor não c) habeas corpus.
tem condições de pagar custas processuais sem prejuízo d) ação popular.
do sustento de sua família, pode-se afirmar que para a re- e) mandado de injunção.
tificação desejada deverá ingressar com:
Resposta: Letra A - Segundo o art. 5º, LXXII, da CF:
a) habeas data, sem que necessite pleitear os benefícios da “conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhe-
Justiça gratuita em seu favor, já que, consoante a Cons- cimento de informações relativas à pessoa do impetran-
tituição Federal, o habeas data, o mandado de injunção te, constantes de registros ou bancos de dados de enti-
e o habeas corpus são ações gratuitas. dades governamentais ou de caráter público; b) para a
b) mandado de segurança e pleitear os benefícios da Justi- retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
ça gratuita em seu favor. processo sigiloso, judicial ou administrativo;”.
c) habeas data e pleitear os benefícios da Justiça gratuita
em seu favor.

28
AÇÃO POPULAR

1. Conceito EXERCÍCIOS COMENTADOS

A ação popular é a medida judicial que pode ser 1. (TRE/RJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – NÍVEL MÉDIO –
proposta por qualquer cidadão buscando a anulação de CONSULPLAN – 2017)
um ato do Poder Público que seja lesivo ao patrimônio “Maristeu é brasileiro e reside na cidade do Rio de Janeiro.
público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou Recentemente descobriu que uma fábrica de eletrônicos
ao patrimônio histórico e cultural, nos termos do art. 5º, vem, reiteradamente, despejando dejetos e resíduos tóxi-
LXXIII, da CF: cos em um córrego.” Com o intuito de proteção do meio
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ambiente, Maristeu poderá propor uma ação popular, des-
ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio de que
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico a) pague as custas processuais.
e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento b) comprove a condição de cidadão.
de custas judiciais e do ônus da sucumbência; (...) c) denuncie o fato no Ministério Público.
d) o fato seja no bairro de sua residência.
A ação popular está regulada na Lei Federal n. 4.717/65.
Por meio dela, qualquer do povo poderá requerer ao Poder Resposta: Letra B - a) Errada: o autor popular é isento
Judiciário a anulação de atos ilegais e lesivos ao patrimônio de custas processuais, salvo comprovada má-fé (art. 5º,
público e social. LXXIII, da CF).
b) Correta: a prova da cidadania, necessária para pro-
2. Legitimidade ativa por a ação popular, é feita com o título de eleitor ou
documento equivalente (art. 1º, §3º, da Lei Federal n.
Somente o cidadão pode propor a ação popular. 4.717/65).
Segundo o art. 1º, §3º, da Lei Federal n. 4.717/65, a prova c) Errada: o MP não pode propor a ação popular.
da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título d) errada: não há qualquer exigência quanto ao local do
eleitoral, ou documento que a ele corresponda. Cidadão, dano para que o cidadão possa propor a ação popular.
deste modo, é o eleitor, ou seja, a pessoal natural que
esteja no gozo de seus direitos políticos ativos (capacidade 2. (DPE/RS - Técnico Área Administrativa - Nível Médio
eleitoral ativa; capacidade para votar). Assim, o Ministério – FCC – 2017)
Público, a Defensoria Pública ou qualquer outra pessoa De acordo com a Constituição Federal, a ação popular é
jurídica não podem propor a ação popular, já que a cabível para anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
legitimidade ativa desta ação é exclusiva do cidadão. É, entidade de que o Estado participe, à moralidade admi-
aliás, o que estabelece a Súmula n.º 365 do STF: “Pessoa nistrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.”. cultural. A legitimidade para o ajuizamento dessa ação é
Caso o autor popular abandone o processo, o Ministério
Público poderá promover o andamento da ação (art. 9º da a) exclusiva da Defensoria Pública.
Lei Federal n.º 4.717/65), o que não significa que ele possa b) compartilhada entre o cidadão e o Ministério Público.
ingressar com ela. c) compartilhada entre o Ministério Público e a Defensoria
Pública.
3. Características d) compartilhada entre o cidadão e a Defensoria Pública.
e) exclusiva do cidadão.
A ação popular é uma medida judicial de caráter
desconstitutivo, pois tem por objetivo principal a anulação Resposta: Letra E - Somente o cidadão (eleitor) pode
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

de um ato praticado pelo Poder Público que seja lesivo propor a ação popular, conforme o art. 5º, LXXIII, da CF
ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao e a Súmula n. 365 do STF.
patrimônio histórico e cultural ou ao meio ambiente. O
autor popular é, em regra, isento de custas judiciais, ou
seja, não precisa pagar quaisquer custas para poder entrar
com a ação, salvo se comprovada a sua má-fé, nos termos
do art. 5º, LXXIII, da CF.

29
3. (ANAC – Técnico Administrativo – Nível Médio – ESAF I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-
– 2016) -los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com
Nos termos da Constituição Federal, assinale a opção que eles ou seus representantes relações de dependência ou
aponta o que um morador poderá propor com a intenção aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
de anular ato lesivo ao tomar ciência de que uma área de interesse público;
lazer pública próxima à sua residência, cujo terreno é igual- II - recusar fé aos documentos públicos;
mente público, foi doada ilegalmente para particular, que III - criar distinções entre brasileiros ou preferências en-
construirá no local um prédio, no qual o Governador local tre si.
será agraciado com dois apartamentos na cobertura.
CAPÍTULO II
a) Mandado de segurança. DA UNIÃO
b) Ação popular.
c) Habeas data. Art. 20. São bens da União:
d) Mandado de injunção. I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem
e) Habeas corpus. a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fron-
Resposta: Letra B - Conforme o art. 5º, LXXIII, da CF: teiras, das fortificações e construções militares, das vias
“qualquer cidadão é parte legítima para propor ação po- federais de comunicação e à preservação ambiental, de-
pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público finidas em lei;
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em ter-
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó- renos de seu domínio, ou que banhem mais de um Esta-
rico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, do, sirvam de limites com outros países, ou se estendam
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. a território estrangeiro ou dele provenham, bem como
os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO: outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e
UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede
MUNICÍPIOS. de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço
público e a unidade ambiental federal, e as referidas no
art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
46, de 2005)
TÍTULO III
V - os recursos naturais da plataforma continental e da
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
CAPÍTULO I zona econômica exclusiva;
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
Art. 18. A organização político-administrativa da Repú- VIII - os potenciais de energia hidráulica;
blica Federativa do Brasil compreende a União, os Esta- IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
dos, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arque-
nos termos desta Constituição. ológicos e pré-históricos;
§ 1º Brasília é a Capital Federal. XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua cria- § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao
ção, transformação em Estado ou reintegração ao Esta- Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da
do de origem serão reguladas em lei complementar. administração direta da União, participação no resulta-
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir- do da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de ou-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou


formarem novos Estados ou Territórios Federais, me- tros recursos minerais no respectivo território, platafor-
diante aprovação da população diretamente interessa- ma continental, mar territorial ou zona econômica ex-
da, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por clusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
lei complementar. § 2º A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de lar-
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembra- gura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como
mento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro faixa de fronteira, é considerada fundamental para de-
do período determinado por Lei Complementar Federal, fesa do território nacional, e sua ocupação e utilização
e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às serão reguladas em lei.
populações dos Municípios envolvidos, após divulgação Art. 21. Compete à União:
dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e I - manter relações com Estados estrangeiros e participar
publicados na forma da lei. de organizações internacionais;
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Fede- II - declarar a guerra e celebrar a paz;
ral e aos Municípios: III - assegurar a defesa nacional;

30
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema
que forças estrangeiras transitem pelo território nacio- nacional de viação;
nal ou nele permaneçam temporariamente; XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeropor-
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a tuária e de fronteiras;
intervenção federal; XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
material bélico; pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento,
VII - emitir moeda; a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscali- seus derivados, atendidos os seguintes princípios e con-
zar as operações de natureza financeira, especialmente dições:
as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de a) toda atividade nuclear em território nacional so-
seguros e de previdência privada; mente será admitida para fins pacíficos e mediante
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de aprovação do Congresso Nacional;
ordenação do território e de desenvolvimento econômi- b) sob regime de permissão, são autorizadas a comer-
co e social; cialização e a utilização de radioisótopos para a pesqui-
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; sa e usos médicos, agrícolas e industriais;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, c) sob regime de permissão, são autorizadas a pro-
concessão ou permissão, os serviços de telecomunica- dução, comercialização e utilização de radioisótopos de
ções, nos termos da lei, que disporá sobre a organização meia-vida igual ou inferior a duas horas;
dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros d) a responsabilidade civil por danos nucleares inde-
aspectos institucionais; pende da existência de culpa;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do tra-
concessão ou permissão: balho;
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e ima- XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercí-
cio da atividade de garimpagem, em forma associativa.
gens;
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
aproveitamento energético dos cursos de água, em ar-
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
ticulação com os Estados onde se situam os potenciais
II - desapropriação;
hidroenergéticos;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura
perigo e em tempo de guerra;
aeroportuária;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e ra-
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário
diodifusão;
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que V - serviço postal;
transponham os limites de Estado ou Território; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e dos metais;
internacional de passageiros; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; de valores;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério VIII - comércio exterior e interestadual;
Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defenso- IX - diretrizes da política nacional de transportes;
ria Pública dos Territórios; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marí-
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar tima, aérea e aeroespacial;
e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem XI - trânsito e transporte;
como prestar assistência financeira ao Distrito Federal XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e meta-
para a execução de serviços públicos, por meio de fundo lurgia;
próprio;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;


XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatísti- XIV - populações indígenas;
ca, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e ex-
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de pulsão de estrangeiros;
diversões públicas e de programas de rádio e televisão; XVI - organização do sistema nacional de emprego e
XVII - conceder anistia; condições para o exercício de profissões;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente con- XVII - organização judiciária, do Ministério Público do
tra as calamidades públicas, especialmente as secas e Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
as inundações; dos Territórios, bem como organização administrativa
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de re- destes;
cursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de ge-
de seu uso; XX - instituir diretrizes para o desenvolvi- ologia nacionais;
mento urbano, inclusive habitação, saneamento básico XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da
e transportes urbanos; poupança popular;

31
XX - sistemas de consórcios e sorteios; Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Fe-
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material deral legislar concorrentemente sobre:
bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico
militares e corpos de bombeiros militares; e urbanístico;
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodo- II - orçamento;
viária e ferroviária federais; III - juntas comerciais;
XXIII - seguridade social; IV - custas dos serviços forenses;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; V - produção e consumo;
XXV - registros públicos; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natu-
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; reza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em meio ambiente e controle da poluição;
todas as modalidades, para as administrações públicas VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico,
diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, turístico e paisagístico;
Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; histórico, turístico e paisagístico;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecno-
marítima, defesa civil e mobilização nacional; logia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação
XXIX - propaganda comercial. dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os X - criação, funcionamento e processo do juizado de pe-
Estados a legislar sobre questões específicas das maté- quenas causas;
rias relacionadas neste artigo. XI - procedimentos em matéria processual;
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
Distrito Federal e dos Municípios: XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portado-
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das ins-
ras de deficiência;
tituições democráticas e conservar o patrimônio público;
XV - proteção à infância e à juventude;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das po-
garantia das pessoas portadoras de deficiência;
lícias civis.
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competên-
valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as
cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
§ 2º A competência da União para legislar sobre nor-
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracteriza-
mas gerais não exclui a competência suplementar dos
ção de obras de arte e de outros bens de valor histórico, Estados.
artístico ou cultural; § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Es-
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à edu- tados exercerão a competência legislativa plena, para
cação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; atender a suas peculiaridades.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
2015) suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for con-
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em trário.
qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; CAPÍTULO III
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o DOS ESTADOS FEDERADOS
abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas
melhoria das condições habitacionais e de saneamento
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Constituições e leis que adotarem, observados os princí-


básico; pios desta Constituição.
X - combater as causas da pobreza e os fatores de mar- § 1º São reservadas aos Estados as competências que
ginalização, promovendo a integração social dos setores não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
desfavorecidos; § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou median-
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de te concessão, os serviços locais de gás canalizado, na
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e forma da lei, vedada a edição de medida provisória para
minerais em seus territórios; a sua regulamentação.
XII - estabelecer e implantar política de educação para a § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar,
segurança do trânsito. instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de mu-
para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito nicípios limítrofes, para integrar a organização, o plane-
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do jamento e a execução de funções públicas de interesse
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. comum.

32
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: II - eleição do Prefeito e do Vice-Prefeito realizada no
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emer- primeiro domingo de outubro do ano anterior ao tér-
gentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma mino do mandato dos que devam suceder, aplicadas as
da lei, as decorrentes de obras da União; regras do art. 77, no caso de Municípios com mais de
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estive- duzentos mil eleitores;
rem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da III - posse do Prefeito e do Vice-Prefeito no dia 1º de
União, Municípios ou terceiros; janeiro do ano subseqüente ao da eleição;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; IV - para a composição das Câmaras Municipais, será
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. observado o limite máximo de:
Art. 27. O número de Deputados à Assembléia Legisla- a) 9 (nove) Vereadores, nos Municípios de até 15.000
tiva corresponderá ao triplo da representação do Esta- (quinze mil) habitantes;
do na Câmara dos Deputados e, atingido o número de b) 11 (onze) Vereadores, nos Municípios de mais de
trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os 15.000 (quinze mil) habitantes e de até 30.000 (trinta
Deputados Federais acima de doze. mil) habitantes;
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Es- c) 13 (treze) Vereadores, nos Municípios com mais de
taduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição 30.000 (trinta mil) habitantes e de até 50.000 (cinquenta
sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, re- mil) habitantes;
muneração, perda de mandato, licença, impedimentos e d) 15 (quinze) Vereadores, nos Municípios de mais de
incorporação às Forças Armadas. 50.000 (cinquenta mil) habitantes e de até 80.000 (oi-
§ 2º O subsídio dos Deputados Estaduais será fixado por tenta mil) habitantes;
lei de iniciativa da Assembléia Legislativa, na razão de, e) 17 (dezessete) Vereadores, nos Municípios de mais
no máximo, setenta e cinco por cento daquele estabele- de 80.000 (oitenta mil) habitantes e de até 120.000 (cen-
cido, em espécie, para os Deputados Federais, observado to e vinte mil) habitantes;
o que dispõem os arts. 39, § 4º, 57, § 7º, 150, II, 153, III, f) 19 (dezenove) Vereadores, nos Municípios de mais
e 153, § 2º, I. de 120.000 (cento e vinte mil) habitantes e de até
§ 3º Compete às Assembléias Legislativas dispor sobre 160.000 (cento sessenta mil) habitantes;
seu regimento interno, polícia e serviços administrativos g) 21 (vinte e um) Vereadores, nos Municípios de mais
de sua secretaria, e prover os respectivos cargos. de 160.000 (cento e sessenta mil) habitantes e de até
§ 4º A lei disporá sobre a iniciativa popular no processo 300.000 (trezentos mil) habitantes;
legislativo estadual. h) 23 (vinte e três) Vereadores, nos Municípios de mais
Art. 28. A eleição do Governador e do Vice-Governador de 300.000 (trezentos mil) habitantes e de até 450.000
de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á (quatrocentos e cinquenta mil) habitantes;
no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e i) 25 (vinte e cinco) Vereadores, nos Municípios de
no último domingo de outubro, em segundo turno, se mais de 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) habi-
houver, do ano anterior ao do término do mandato de tantes e de até 600.000 (seiscentos mil) habitantes;
seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de ja- j) 27 (vinte e sete) Vereadores, nos Municípios de mais
neiro do ano subseqüente, observado, quanto ao mais, o de 600.000 (seiscentos mil) habitantes e de até 750.000
disposto no art. 77. (setecentos cinquenta mil) habitantes;
§ 1º Perderá o mandato o Governador que assumir ou- k) 29 (vinte e nove) Vereadores, nos Municípios de
tro cargo ou função na administração pública direta ou mais de 750.000 (setecentos e cinquenta mil) habitantes
indireta, ressalvada a posse em virtude de concurso pú- e de até 900.000 (novecentos mil) habitantes;
blico e observado o disposto no art. 38, I, IV e V. (R l) 31 (trinta e um) Vereadores, nos Municípios de
§ 2º Os subsídios do Governador, do Vice-Governador e mais de 900.000 (novecentos mil) habitantes e de até
dos Secretários de Estado serão fixados por lei de inicia- 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes;
tiva da Assembléia Legislativa, observado o que dispõem m) 33 (trinta e três) Vereadores, nos Municípios de mais
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. de 1.050.000 (um milhão e cinquenta mil) habitantes e
de até 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitantes;
CAPÍTULO IV n) 35 (trinta e cinco) Vereadores, nos Municípios de
DOS MUNICÍPIOS mais de 1.200.000 (um milhão e duzentos mil) habitan-
tes e de até 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquen-
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada ta mil) habitantes;
em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e o) 37 (trinta e sete) Vereadores, nos Municípios de
aprovada por dois terços dos membros da Câmara Mu- 1.350.000 (um milhão e trezentos e cinquenta mil) habi-
nicipal, que a promulgará, atendidos os princípios esta- tantes e de até 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil)
belecidos nesta Constituição, na Constituição do respec- habitantes;
tivo Estado e os seguintes preceitos: p) 39 (trinta e nove) Vereadores, nos Municípios de
I - eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, mais de 1.500.000 (um milhão e quinhentos mil) habi-
para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e tantes e de até 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil)
simultâneo realizado em todo o País; habitantes;

33
q) 41 (quarenta e um) Vereadores, nos Municípios de VII - o total da despesa com a remuneração dos Verea-
mais de 1.800.000 (um milhão e oitocentos mil) habi- dores não poderá ultrapassar o montante de cinco por
tantes e de até 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos cento da receita do Município;
mil) habitantes; VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões,
r) 43 (quarenta e três) Vereadores, nos Municípios de palavras e votos no exercício do mandato e na circuns-
mais de 2.400.000 (dois milhões e quatrocentos mil) ha- crição do Município;
bitantes e de até 3.000.000 (três milhões) de habitantes; IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da
( vereança, similares, no que couber, ao disposto nesta
s) 45 (quarenta e cinco) Vereadores, nos Municípios de Constituição para os membros do Congresso Nacional e
mais de 3.000.000 (três milhões) de habitantes e de até na Constituição do respectivo Estado para os membros
4.000.000 (quatro milhões) de habitantes; da Assembléia Legislativa;
t) 47 (quarenta e sete) Vereadores, nos Municípios de X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
mais de 4.000.000 (quatro milhões) de habitantes e de XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras
até 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes; da Câmara Municipal;
u) 49 (quarenta e nove) Vereadores, nos Municípios de XII - cooperação das associações representativas no pla-
mais de 5.000.000 (cinco milhões) de habitantes e de nejamento municipal;
até 6.000.000 (seis milhões) de habitantes; (Incluída pela XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse
Emenda Constitucional nº 58, de 2009) específico do Município, da cidade ou de bairros, atra-
v) 51 (cinquenta e um) Vereadores, nos Municípios de vés de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do
mais de 6.000.000 (seis milhões) de habitantes e de até eleitorado;
7.000.000 (sete milhões) de habitantes; XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art.
w) 53 (cinquenta e três) Vereadores, nos Municípios de 28, parágrafo único.
mais de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes e de até Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Mu-
8.000.000 (oito milhões) de habitantes; e nicipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluí-
x) 55 (cinquenta e cinco) Vereadores, nos Municípios dos os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os
de mais de 8.000.000 (oito milhões) de habitantes; seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita
V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretá- tributária e das transferências previstas no § 5o do art.
rios Municipais fixados por lei de iniciativa da Câmara 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no
Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § exercício anterior:
4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; I - 7% (sete por cento) para Municípios com população
VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respec- de até 100.000 (cem mil) habitantes;
tivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a II - 6% (seis por cento) para Municípios com população
subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição, entre 100.000 (cem mil) e 300.000 (trezentos mil) habi-
observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei tantes;
Orgânica e os seguintes limites máximos: III - 5% (cinco por cento) para Municípios com popula-
a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio ção entre 300.001 (trezentos mil e um) e 500.000 (qui-
máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento nhentos mil) habitantes;
do subsídio dos Deputados Estaduais; IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para
b) em Municípios de dez mil e um a cinqüenta mil Municípios com população entre 500.001 (quinhentos
habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corres- mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de habitantes;
ponderá a trinta por cento do subsídio dos Deputados V - 4% (quatro por cento) para Municípios com popula-
Estaduais; ção entre 3.000.001 (três milhões e um) e 8.000.000 (oito
c) em Municípios de cinqüenta mil e um a cem mil ha- milhões) de habitantes;
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores correspon- VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para
derá a quarenta por cento do subsídio dos Deputados Municípios com população acima de 8.000.001 (oito mi-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Estaduais; lhões e um) habitantes.


d) em Municípios de cem mil e um a trezentos mil ha- § 1o A Câmara Municipal não gastará mais de setenta
bitantes, o subsídio máximo dos Vereadores correspon- por cento de sua receita com folha de pagamento, inclu-
derá a cinqüenta por cento do subsídio dos Deputados ído o gasto com o subsídio de seus Vereadores.
Estaduais; § 2o Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Mu-
e) em Municípios de trezentos mil e um a quinhentos nicipal:
mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores cor- I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste
responderá a sessenta por cento do subsídio dos Depu- artigo;
tados Estaduais; II - não enviar o repasse até o dia vinte de cada mês; ou
f) em Municípios de mais de quinhentos mil habitan- III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na
tes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a Lei Orçamentária.
setenta e cinco por cento do subsídio dos Deputados Es- § 3o Constitui crime de responsabilidade do Presidente
taduais; da Câmara Municipal o desrespeito ao § 1o deste artigo.
Art. 30. Compete aos Municípios:

34
I - legislar sobre assuntos de interesse local; § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que aplica-se o disposto no art. 27.
couber; § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo
bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obri- de bombeiros militar.
gatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos
prazos fixados em lei; SEÇÃO II
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a le- DOS TERRITÓRIOS
gislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa
concessão ou permissão, os serviços públicos de inte- e judiciária dos Territórios.
resse local, incluído o de transporte coletivo, que tem § 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios,
caráter essencial; aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Ca-
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da pítulo IV deste Título.
União e do Estado, programas de educação infantil e de § 2º As contas do Governo do Território serão submeti-
ensino fundamental; das ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tri-
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da bunal de Contas da União.
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da § 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil ha-
população; bitantes, além do Governador nomeado na forma des-
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento ta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do e segunda instância, membros do Ministério Público e
parcelamento e da ocupação do solo urbano; defensores públicos federais; a lei disporá sobre as elei-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultu- ções para a Câmara Territorial e sua competência deli-
ral local, observada a legislação e a ação fiscalizadora berativa.
federal e estadual.
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo
CAPÍTULO VI
Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo,
DA INTERVENÇÃO
e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo
Municipal, na forma da lei.
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Dis-
§ 1º O controle externo da Câmara Municipal será exer-
trito Federal, exceto para:
cido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados
I - manter a integridade nacional;
ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Con-
tas dos Municípios, onde houver. II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente Federação em outra;
sobre as contas que o Prefeito deve anualmente prestar, III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pú-
só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos blica;
membros da Câmara Municipal. IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta nas unidades da Federação;
dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, V - reorganizar as finanças da unidade da Federação
para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes que:
a legitimidade, nos termos da lei. a) suspender o pagamento da dívida fundada por
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou ór- mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força
gãos de Contas Municipais. maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributá-
CAPÍTULO V rias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos esta-
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS belecidos em lei;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

SEÇÃO I VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão


DO DISTRITO FEDERAL judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Muni- constitucionais:
cípios, reger- se-á por lei orgânica, votada em dois tur- a) forma republicana, sistema representativo e regime
nos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por democrático;
dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, b) direitos da pessoa humana;
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição. c) autonomia municipal;
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências d) prestação de contas da administração pública, dire-
legislativas reservadas aos Estados e Municípios. ta e indireta.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, ob- e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante
servadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estadu- transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ais, para mandato de igual duração. ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

35
Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem II - a investidura em cargo ou emprego público depende
a União nos Municípios localizados em Território Fede- de aprovação prévia em concurso público de provas ou
ral, exceto quando: de provas e títulos, de acordo com a natureza e a com-
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por plexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
dois anos consecutivos, a dívida fundada; lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
III – não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita III - o prazo de validade do concurso público será de até
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;
e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representa- convocação, aquele aprovado em concurso público de
ção para assegurar a observância de princípios indica- provas ou de provas e títulos será convocado com prio-
dos na Constituição Estadual, ou para prover a execução ridade sobre novos concursados para assumir cargo ou
de lei, de ordem ou de decisão judicial. emprego, na carreira;
Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente
I - no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legis- por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
lativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de em comissão, a serem preenchidos por servidores de car-
requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for reira nos casos, condições e percentuais mínimos previs-
exercida contra o Poder Judiciário; tos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção,
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão ju- chefia e assessoramento;
diciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre
Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Elei- associação sindical;
toral; VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de limites definidos em lei específica;
representação do Procurador-Geral da República, na hi- VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos
pótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de
públicos para as pessoas portadoras de deficiência e de-
lei federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional
finirá os critérios de sua admissão;
nº 45, de 2004)
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
IV - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
determinado para atender a necessidade temporária de
2004)
excepcional interesse público;
§ 1º O decreto de intervenção, que especificará a ampli-
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio
tude, o prazo e as condições de execução e que, se cou-
de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixa-
ber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação
dos ou alterados por lei específica, observada a iniciativa
do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do
Estado, no prazo de vinte e quatro horas. privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual,
§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional sempre na mesma data e sem distinção de índices;
ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação extra- XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de car-
ordinária, no mesmo prazo de vinte e quatro horas. gos, funções e empregos públicos da administração dire-
§ 3º Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dis- ta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer
pensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspen- dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos
der a execução do ato impugnado, se essa medida bas- demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou-
tar ao restabelecimento da normalidade. tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedi- outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal,
mento legal. em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

CAPÍTULO VII Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio


DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o
SEÇÃO I subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito
DISPOSIÇÕES GERAIS do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargado-
res do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
Art. 37. A administração pública direta e indireta de vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal,
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distri- em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
to Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos
eficiência e, também, ao seguinte: Defensores Públicos;
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do
aos brasileiros que preencham os requisitos estabeleci- Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos
dos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; pelo Poder Executivo;

36
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quais- § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III
quer espécies remuneratórias para o efeito de remune- implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade
ração de pessoal do serviço público; responsável, nos termos da lei.
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuá-
público não serão computados nem acumulados para rio na administração pública direta e indireta, regulando
fins de concessão de acréscimos ulteriores; especialmente:
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de car- I - as reclamações relativas à prestação dos serviços pú-
gos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o blicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços
disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, ex-
4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; terna e interna, da qualidade dos serviços; (II - o acesso
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos pú- dos usuários a registros administrativos e a informações
blicos, exceto, quando houver compatibilidade de horá- sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º,
rios, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: X e XXXIII;
a) a de dois cargos de professor; III - a disciplina da representação contra o exercício ne-
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou gligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na ad-
científico; ministração pública.
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profis- § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão
sionais de saúde, com profissões regulamentadas; a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pú-
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e blica, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
funções e abrange autarquias, fundações, empresas pú- erário, na forma e gradação previstas em lei, sem preju-
blicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, ízo da ação penal cabível.
e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo § 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilíci-
poder público; tos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fis- causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas
cais terão, dentro de suas áreas de competência e juris- ações de ressarcimento.
dição, precedência sobre os demais setores administrati- § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direi-
vos, na forma da lei; to privado prestadoras de serviços públicos responderão
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autar- pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causa-
quia e autorizada a instituição de empresa pública, de rem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra
sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à o responsável nos casos de dolo ou culpa.
lei complementar, neste último caso, definir as áreas de § 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu-
sua atuação; pante de cargo ou emprego da administração direta e in-
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, direta que possibilite o acesso a informações privilegiadas.
a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no § 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira
inciso anterior, assim como a participação de qualquer dos órgãos e entidades da administração direta e indire-
delas em empresa privada; ta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, entre seus administradores e o poder público, que tenha
as obras, serviços, compras e alienações serão contrata- por objeto a fixação de metas de desempenho para o
dos mediante processo de licitação pública que assegu- órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído
re igualdade de condições a todos os concorrentes, com pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, I - o prazo de duração do contrato;
mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,
da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualifi- direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
cação técnica e econômica indispensáveis à garantia do III - a remuneração do pessoal.”
cumprimento das obrigações. § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públi-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

XXII - as administrações tributárias da União, dos Es- cas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiá-
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades rias, que receberem recursos da União, dos Estados, do
essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de
servidores de carreiras específicas, terão recursos prio- despesas de pessoal ou de custeio em geral.
ritários para a realização de suas atividades e atuarão § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de
de forma integrada, inclusive com o compartilhamento aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e
de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função
convênio. pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em
campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter edu- comissão declarados em lei de livre nomeação e exo-
cativo, informativo ou de orientação social, dela não po- neração.
dendo constar nomes, símbolos ou imagens que carac- § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remu-
terizem promoção pessoal de autoridades ou servidores neratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as
públicos. parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.

37
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste sídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba
fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas de representação ou outra espécie remuneratória, obe-
Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsí- decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
dio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros a menor remuneração dos servidores públicos, obedeci-
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o dispos- do, em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
to neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estadu- § 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publi-
ais e Distritais e dos Vereadores. carão anualmente os valores do subsídio e da remune-
Art. 38. Ao servidor público da administração direta, au- ração dos cargos e empregos públicos.)
tárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
aplicam-se as seguintes disposições: dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos or-
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou çamentários provenientes da economia com despesas
distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou fun- correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para
ção; aplicação no desenvolvimento de programas de quali-
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do dade e produtividade, treinamento e desenvolvimento,
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar modernização, reaparelhamento e racionalização do
pela sua remuneração; serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou
III - investido no mandato de Vereador, havendo com- prêmio de produtividade.
patibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu § 8º A remuneração dos servidores públicos organiza-
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remunera- dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
ção do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da
será aplicada a norma do inciso anterior; União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado re-
exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
gime de previdência de caráter contributivo e solidário,
contado para todos os efeitos legais, exceto para promo-
mediante contribuição do respectivo ente público, dos
ção por merecimento;
servidores ativos e inativos e dos pensionistas, obser-
V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de
vados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
afastamento, os valores serão determinados como se no
atuarial e o disposto neste artigo.
exercício estivesse.
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdên-
cia de que trata este artigo serão aposentados, calcu-
SEÇÃO II
DOS SERVIDORES PÚBLICOS lados os seus proventos a partir dos valores fixados na
forma dos §§ 3º e 17:
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- I - por invalidez permanente, sendo os proventos pro-
cípios instituirão conselho de política de administração e porcionais ao tempo de contribuição, exceto se decor-
remuneração de pessoal, integrado por servidores desig- rente de acidente em serviço, moléstia profissional ou
nados pelos respectivos Poderes. doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao
componentes do sistema remuneratório observará: tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade,
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi- ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de
dade dos cargos componentes de cada carreira; lei complementar;
II - os requisitos para a investidura; III - voluntariamente, desde que cumprido tempo míni-
III - as peculiaridades dos cargos. mo de dez anos de efetivo exercício no serviço público e
cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposenta-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão


escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamen- doria, observadas as seguintes condições:
to dos servidores públicos, constituindo-se a participa- a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contri-
ção nos cursos um dos requisitos para a promoção na buição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e
carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios trinta de contribuição, se mulher;
ou contratos entre os entes federados. b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e ses-
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo públi- senta anos de idade, se mulher, com proventos propor-
co o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, cionais ao tempo de contribuição.
XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer § 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por
requisitos diferenciados de admissão quando a natureza ocasião de sua concessão, não poderão exceder a remu-
do cargo o exigir. neração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eleti- se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para
vo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e a concessão da pensão.
Municipais serão remunerados exclusivamente por sub-

38
§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria, por § 13 Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em
ocasião da sua concessão, serão consideradas as remu- comissão declarado em lei de livre nomeação e exone-
nerações utilizadas como base para as contribuições do ração bem como de outro cargo temporário ou de em-
servidor aos regimes de previdência de que tratam este prego público, aplica-se o regime geral de previdência
artigo e o art. 201, na forma da lei. social.
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferen- § 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
ciados para a concessão de aposentadoria aos abran- cípios, desde que instituam regime de previdência com-
gidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, plementar para os seus respectivos servidores titulares
nos termos definidos em leis complementares, os casos de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposen-
de servidores: tadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de
I - portadores de deficiência; que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para
II - que exerçam atividades de risco; os benefícios do regime geral de previdência social de
III - cujas atividades sejam exercidas sob condições es- que trata o art. 201.
peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. § 15. O regime de previdência complementar de que tra-
§ 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição ta o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo
serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus
no § 1º, III, “a”, para o professor que comprove exclusi- parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades
vamente tempo de efetivo exercício das funções de ma- fechadas de previdência complementar, de natureza pú-
gistério na educação infantil e no ensino fundamental blica, que oferecerão aos respectivos participantes pla-
e médio. nos de benefícios somente na modalidade de contribui-
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos car- ção definida.
gos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada § 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção, o
a percepção de mais de uma aposentadoria à conta do disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor
regime de previdência previsto neste artigo. que tiver ingressado no serviço público até a data da pu-
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pen-
blicação do ato de instituição do correspondente regime
são por morte, que será igual:
de previdência complementar.
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa-
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados
lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefí-
para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão devi-
cios do regime geral de previdência social de que trata o
damente atualizados, na forma da lei.
art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela exce-
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposen-
dente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou
tadorias e pensões concedidas pelo regime de que trata
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
este artigo que superem o limite máximo estabelecido
no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o li-
mite máximo estabelecido para os benefícios do regime para os benefícios do regime geral de previdência social
geral de previdência social de que trata o art. 201, acres- de que trata o art. 201, com percentual igual ao esta-
cido de setenta por cento da parcela excedente a este belecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
limite, caso em atividade na data do óbito. § 19. O servidor de que trata este artigo que tenha com-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para pletado as exigências para aposentadoria voluntária es-
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, tabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer
conforme critérios estabelecidos em lei. em atividade fará jus a um abono de permanência equi-
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou mu- valente ao valor da sua contribuição previdenciária até
nicipal será contado para efeito de aposentadoria e o completar as exigências para aposentadoria compulsó-
tempo de serviço correspondente para efeito de dispo- ria contidas no § 1º, II.
nibilidade. § 20. Fica vedada a existência de mais de um regime
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma de próprio de previdência social para os servidores titulares
de cargos efetivos, e de mais de uma unidade gestora
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

contagem de tempo de contribuição fictício.


§ 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total do respectivo regime em cada ente estatal, ressalvado o
dos proventos de inatividade, inclusive quando decor- disposto no art. 142, § 3º, X.
rentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, § 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá
bem como de outras atividades sujeitas a contribuição apenas sobre as parcelas de proventos de aposentado-
para o regime geral de previdência social, e ao mon- ria e de pensão que superem o dobro do limite máximo
tante resultante da adição de proventos de inatividade estabelecido para os benefícios do regime geral de previ-
com remuneração de cargo acumulável na forma desta dência social de que trata o art. 201 desta Constituição,
Constituição, cargo em comissão declarado em lei de li- quando o beneficiário, na forma da lei, for portador de
vre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. doença incapacitante.
§ 12 Além do disposto neste artigo, o regime de previ- Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício
dência dos servidores públicos titulares de cargo efetivo os servidores nomeados para cargo de provimento efeti-
observará, no que couber, os requisitos e critérios fixados vo em virtude de concurso público.
para o regime geral de previdência social. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:

39
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; Pres. da República: a primeira como chefe de Estado
II - mediante processo administrativo em que lhe seja e a segunda como chefe de governo. Trata-se de um
assegurada ampla defesa; ente autônomo e central.
III - mediante procedimento de avaliação periódica de União ≠ Federação: união é a congregação dos esta-
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada dos-membros. Federação é a reunião dos entes federados,
ampla defesa. leia-se, união, estados-membros, municípios e DF.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser- - Estados-membros: resultado da descentralização
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan- do poder político; são partes autônomas do Estado
te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, Federal. Podem ter sua própria constituição, desde
sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo que analisados os limites traçados pelo texto da lei
ou posto em disponibilidade com remuneração pro- maior. Cada estado-membro tem competência para
porcional ao tempo de serviço. estruturar seus poderes – sem interferência federal. A
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, saber:
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remu- - Legislativo: art. 27 / - Executivo: art. 28 / - Judiciário:
neração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- art. 125
quado aproveitamento em outro cargo. - Municípios: passaram a integrar a estrutura da fede-
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, ração com a CF/88 que lhes garantiu plena autono-
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por mia. Alguns pontos merecem análise no tocante a
comissão instituída para essa finalidade. participação dos municípios na estrutura da federa-
ção. O primeiro ponto é que nenhuma federação fez
INTRODUÇÃO esse tipo de inclusão; o segundo ponto é a ausência
de participação nacional, uma vez que vereadores
- Princípio Federativo: descentralização do poder. não participam das assembleias legislativas. Por fim,
Uma ordem jurídica central e outras ordens jurídicas caso afrontem a indissolubilidade do pacto federati-
parciais, de forma que a primeira abarca todos os in- vo, não poderão sofrer intervenção federal, apenas
divíduos que se encontrem no território do Estado estadual.
Nacional, e as outras, os sujeitos que se achem na - Forma de organização: Lei Orgânica – votada em
circunscrição dos entes federados. dois turnos com interstício de 10 dias com aprovação
de 2/3 da Câmara Municipal. O legislativo, composto
1. Estado Federado por vereadores, tem a quantidade prevista na CF/88.
A faixa de habitantes no município corresponderá ao
- Segundo Jellinek, citado por Nathália Masson, fede- número de vereadores.
ralismo por ser entendido como a unidade na plu- - Distrito Federal: local no qual os órgãos do Poder
ralidade. É a reunião, feita por uma constituição, de Federal possam se estabelecer e apresentar as dire-
entidades políticas autônomas unidas por um víncu- trizes governamentais ora pertinentes a toda a fede-
lo indissolúvel. ração, ora relacionadas somente à União. É um ente
federativo autônomo, com capacidade de auto-or-
1.1. Características ganização. Possui atribuições legislativas (tanto de
estado-membro como de município) e judiciárias.
- Descentralização no exercício do poder político; - Territórios federais: antes da CF/88 eram assemelha-
- Auto-organização dos aos estados-membros. Com a novel constituição
- Auto-governo os antigos territórios se tornaram estados-membros
- Auto-administração (Roraima e Amapá). Atualmente não existem territó-
- Indissolubilidade do vínculo federativo; rios; mas, se criados fossem, não passaram de unida-
- Rigidez Constitucional; des descentralizadas de administração.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Existência de um Tribunal Constitucional - Formação de novos estados-membros e municípios


- Inadmissibilidade do direito à secessão
1.2. Federalismo pelo CF/88 - Formação de novos estados-membros (possibilida-
des):
É o primeiro princípio da CF/88. Trata-se, inclusive, de Requisitos para incorporação, subdivisão ou desmem-
cláusula pétrea. Compreende a seguinte divisão: União, es- bramento:
tados-membros, Distrito Federal e municípios. - Consulta a população interessada (plebiscito): tanto
- União: “União é o ente central da federação, possui da população da área desmembrada como da área
total autonomia em relação às demais entidades fe- remanescente. Somente a manifestação da maioria
deradas e concentra um grande volume de atribui- permitirá que o processo dê sequência;
ções administrativas, legislativas e tributárias enun- - Oitiva assembleias legislativas envolvidas (parecer
ciadas ao longo do texto constitucional”. Presença opinativo – não vincula o CN): fornecimento de deta-
de duas personalidades: ambas representadas pelo lhamento técnico;

40
- Aprovação do Congresso Nacional expedindo-se Lei
complementar;
- Formação de novos municípios (possibilidades):
- Edição de lei complementar federal fixando o perío-
do em que poderá ocorrer a mudança;
- Aprovação de Lei ordinária apresentando a viabilida-
de municipal;
- Consulta a população interessada (plebiscito), não
podendo ser substituída por outra espécie de con-
sulta;
- Aprovação de lei ordinária estadual.
- Vedações Constitucionais
- Estabelecer cultos religiosos ou embaraçar o funcio-
namento de igrejas.
- Entes federados não podem adotar oficialmente uma - Da união: - exclusivas: art. 21
religião. - privativas: art. 22 (cunho legislativo)
- Repartição de competências - comuns: art. 23 (dispostas para todos os entes da fe-
Trata-se de elemento fundamental do federalismo. A deração)
descentralização propõe que cada ente federado pode dis- - concorrentes: art. 24
ciplinar determinados comandos e, por conta disso, neces- Competências exclusivas (art. 21) dão a ideia da neces-
sária a repartição de competências. A temática se alicerça sidade de fazer algo (organizar / administrar). Estão todas
ao princípio da preponderância dos interesses. organizadas em verbos. Por serem indelegáveis (intransfe-
- Técnicas de Repartição ríveis), devem ser necessariamente prestadas pela União.
Sistema Americano: (modelo adotado no Brasil) – prevê Ex: “organizar”, “manter”, “emitir”, “conceder”.
competências taxativas da União e os remanescentes ao
Obs: dos incisos I ao V do art. 21 apresentam-se as
estado; como nossos municípios também são entes autô-
competências pelas quais a União representa o Estado
nomos, estes também recebem atribuições.
brasileiro internacionalmente. Exemplo:
Sistema canadense: a atribuição taxativa fica voltada
- Manter relações com Estados estrangeiros.
aos estados, reservados aqueles da União.
- Assegurar a defesa nacional.
Sistema indiano: enumeração exaustiva de atribuições
- Declarar guerra e celebrar a paz.
para todos os entes da federação. Constituição robusta,
Outros destaques (segundo Nathália Masson) das
prolixa ao extremo. Muitos artigos.
competências mais importantes:
1.3. Técnicas de efetivação Inciso I – União representa a República Federativa no
Brasil na esfera internacional. Porém, União e RFB são
- Repartição horizontal: Constituição Federal delega pessoas jurídicas distintas. A primeira, de direito público
a cada ente atribuições que lhe sejam próprias, parti- interno; a segunda, de direito público externo.
culares. Distribui, portanto, a cada um, o que é seu; a Inciso X – compete a União a manutenção do serviço
cada entidade, matéria específica de sua competência. postal e correio aéreo nacional.
(competências privativas e exclusivas) Inciso XI – disciplinar e prestar serviços de telecomuni-
- Repartição vertical: distribuição de competências cação.
exercidas em conjunto. (competências comuns e con- Inciso XII “a” – obrigatoriedade de irradiação da voz do
correntes). Brasil.
- Das competências Competências privativas (art. 22): se tratam de temas
As competências podem ser divididas em duas espé- em que a União irá legislar. Os incisos iniciam sempre com
substantivos. Ao contrário das exclusivas, estas podem ser
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

cies. São as chamadas competências não legislativas (são


competências políticas e administrativas) e as legislativas delegáveis, inclusive com autorização expressa no art. 22,
(autorização para legislar). A saber, em formato esquema- parágrafo único. Importante aduzir que essa modalidade
tizado: de competência pode ser transferida e não cedida pela
União; é possível aos estados-membros legislarem sobre
temas dentre os assuntos principais de competência da
União, sempre que a estes forem feitas delegações.
Exemplo:
- Estado do Maranhão edita lei estadual dando priori-
dade no andamento processual em litígios que apre-
sente mulher vítima de violência doméstica. Referida
lei foi declarada inconstitucional por vício formal, já
que invadida competência privativa da União.

41
- Estado do Paraná editou lei que obrigava empresas comerciantes de GLP a pesarem os botijões na frente do consu-
midor e abater eventual irregularidade. Referida lei julgada inconstitucional pelo STF, por vício formal, já que compe-
te privativamente a União legislar sobre recursos energéticos.
- Estado de Santa Catarina teve lei estadual declarada inconstitucional, pois proibia veiculação de propaganda de me-
dicamentos. Como a competência para legislar sobre propaganda comercial é privativa da União, não poderia ter o
estado-membro legislado.
- Requisitos para delegação:
- Formal: apenas a União pode efetuar a delegação por meio de lei complementar.
- Material: a delegação não será voltada para legislar sobre toda a matéria, mas sim alguns temas afetos ao tema.
- Implícito: a delegação não pode privilegiar um ou outro ente da federação; a delegação deverá ser para todos – prin-
cípio da isonomia.
Competências comuns (art. 23) serão cumpridas pela União e demais entes federados. São atribuições exercitadas por
todos os entes concomitantemente; podem ser intituladas “cumulativas”, uma vez que não há limites prévios estipulados
para o cumprimento delas, isto é, a atuação de um ente não inviabiliza ou restringe a atuação dos demais. Por conta de
serem comuns, ideal que se faça pelo legislativo federal a normatização das matérias que podem ser alvo de conflitos entre
os entes. Em havendo o conflito, o STF irá analisar mediante os critérios de preponderância dos interesses.
Exemplos:
- Zelar pela guarda da Constituição e das leis, das instituições democráticas e patrimônio público.
- Cuidar da saúde, da assistência pública.
- Proteger documentos, obras e outros bens de valor histórico.
- Proteger o meio ambiente e combater a poluição.
- Preservar as florestas, fauna, flora.

Competência concorrente (art. 24) – verificação explícita do chamado federalismo de cooperação (marble cake): ve-
rifica-se para a União competências legislativas concorrentes, pertencentes ao ente em estudo em concorrência com os
Estados-membros e o Distrito Federal. Ao contrário das “comuns” que são cumulativas, a competência concorrente é “não
cumulativa”, pois existem limitações expressas à atuação dos entes, ou seja, as tarefas são previamente definidas.
A União deverá fazer a normatização geral e os estados-membros fazer a sua complementação (competência comple-
mentar), adequando-a a sua realidade. Se a União não fizer, os estados poderão fazer (competência suplementar). Caso o
estado-membro tenha feito pela inércia da União e esta depois resolva fazer, prevalecerá a norma da união pela superve-
niência da norma geral federal; isso não significa que a lei estadual será revogada, mas sim suspensa a sua eficácia no que
for contrária a lei federal.
Exemplos:
- Legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza. Em âmbito federal presente a Lei dos Crimes
ambientais (Lei 9605/98) e no âmbito estadual, como no Rio Grande do Sul, lei dispondo sobre essa temática.
- Dos estados-membros
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

42
Competem aos estados-membros e DF as atribuições
que não são reservadas, posto que vedadas à União. Con- EXERCÍCIOS COMENTADOS
forme doutrina, trata-se de uma atuação bastante esva-
ziada em virtude da existência de diversas atribuições já
1. Aplicada em: 2018Banca: CESPE Órgão: EMAP Prova:
previstas para a União.
Conhecimentos Básicos - Cargos de Nível Médio.
- Materiais exclusivos (art. 25§1º) são as matérias re-
No que se refere à organização dos poderes, julgue o item
manescentes; aquelas não enumeradas pelo art. 21
que segue. A criação de cargo público federal é matéria
e/ou de interesse local.
que cabe ao Congresso Nacional dispor, mas depende da
- Legislativas privativas: poderão legislar sobre maté-
sanção do presidente da República.
rias que não tenham sido previstos nem para a União
nem para os municípios, ou que sejam vedadas pela ( ) CERTO ( ) ERRADO
CF/88.
- Atenção! Competência legislativa tributária expressa:
Resposta: Certo - Nos termos do art. 48 X, Cabe ao Con-
art. 155. Tratam-se dos impostos com possibilidade
gresso Nacional, com a sanção do Presidente da Repú-
de regulamentação pelos estados-membros e DF.
blica, não exigida esta para o especificado nos arts. 49,
51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência
1.4. Municípios
da União, especialmente sobre criação, transformação e
extinção de cargos, empregos e funções públicas, obser-
Competência não legislativa: - Comum (art.23)
vado o que estabelece o art. 84, VI, b.
- Exclusiva (art. 30 III a IX)
Competência legislativa: - Elaborar Lei Orgânica (art. 29
2. Aplicada em: 2018Banca: CESPE Órgão: PGM - Ma-
caput)
naus - AM Prova: Procurador do Município.
- Legislar assunto de interesse local (art. 30 I)
Conforme regras e interpretação da CF, julgue o item sub-
- Suplementar (art. 30 II)
sequente, relativo a autonomia municipal e intervenção de
- Elaborar plano diretor (art. 182 §1º)
estado-membro em município. Da capacidade de auto-or-
- Tributária (art. 156).
ganização municipal decorre a constatação de que o esta-
- Competência do Distrito Federal: este ente da fede-
do-membro não pode ingerir na autonomia organizatória
ração acumula competências voltadas aos estados-
do município, o que confere a este a possibilidade de orde-
-membros e aos municípios, posto que não é ape-
nar internamente, inclusive por meio de lei orgânica, sem
nas reconhecido como estado ou como município.
a necessidade de anuência do respectivo governo estadual.
Ao ente serão atribuídas as competências legislati-
vas reservadas aos Estados e Municípios (art. 32, § ( ) CERTO ( ) ERRADO
1°, CF/88) e a competência tributária dos Municípios
(art. 147 CF/88).
Resposta: Certo - Os entes da federação são indepen-
dentes e autônomos entre si. Tem por característica auto-
Competências (Nathália Masson)
-organização, autogoverno e auto-administração. É o que
(i) editar sua própria Lei Orgânica;
dispõe o art. 18 e também o art. 29, segundo o qual, Municí-
(ii) exercer a competência legislativa remanescente (e as
pio reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
eventuais enumeradas) dos Estados-membros;
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois ter-
(iii) exercer a eventual competência legislativa delegada
ços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
pela União;
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na
(iv) exercer a competência legislativa concorrente-su-
Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos.
plementar (complementar e supletiva) com os Estados-
-membros;
(vi) exercer a competência legislativa enumerada dos
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Municípios; e PODER JUDICIÁRIO: DISPOSIÇÕES


(vii) exercer a competência legislativa suplementar dos GERAIS
Municípios.

DO PODER JUDICIÁRIO
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I - o Supremo Tribunal Federal;
I - A - o Conselho Nacional de Justiça;
II - o Superior Tribunal de Justiça;

43
II - A - o Tribunal Superior do Trabalho; (Inciso acrescido xados em lei e escalonados, em nível federal e estadual,
pela Emenda Constitucional nº 92, de 2016) conforme as respectivas categorias da estrutura judiciá-
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; ria nacional, não podendo a diferença entre uma e outra
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento,
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio men-
VI - os Tribunais e Juízes Militares; sal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Fede- qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, § 4º;
ral e Territórios. VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional dependentes observarão o disposto no art. 40;
de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital VII - o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo
Federal. autorização do tribunal;
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superio- VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentado-
res têm jurisdição em todo o território nacional. ria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tri- decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tri-
bunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, bunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada
observados os seguintes princípios: ampla defesa;
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz VIII - A - a remoção a pedido ou a permuta de magis-
substituto, mediante concurso público de provas e títu- trados de comarca de igual entrância atenderá, no que
los, com a participação da Ordem dos Advogados do couber, ao disposto nas alíneas a, b, c e e do inciso II;
Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obe- serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
decendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
II - promoção de entrância para entrância, alternada- determinados atos, às próprias partes e a seus advoga-
mente, por antiguidade e merecimento, atendidas as dos, ou somente a estes, em casos nos quais a preserva-
seguintes normas: ção do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três
X - as decisões administrativas dos tribunais serão mo-
vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de me-
tivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares to-
recimento;
madas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco
exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a pri-
julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o
meira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo
mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros,
se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar para o exercício das atribuições administrativas e juris-
vago; dicionais delegadas da competência do tribunal pleno,
c) aferição do merecimento conforme o desempenho provendo-se metade das vagas por antiguidade e a ou-
e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza tra metade por eleição pelo tribunal pleno;
no exercício da jurisdição e pela frequência e aprovei- XII - a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo
tamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfei- vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo
çoamento; grau, funcionando, nos dias em que não houver expe-
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente po- diente forense normal, juízes em plantão permanente;
derá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado XIII - o número de juízes na unidade jurisdicional será
de dois terços de seus membros, conforme procedimento proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva
próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a vo- população;
tação até fixar-se a indicação; XIV - os servidores receberão delegação para a prática
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, de atos de administração e atos de mero expediente sem
retiver autos em seu poder além do prazo legal, não po- caráter decisório;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

dendo devolvê-los ao cartório sem o devido despacho XV - a distribuição de processos será imediata, em todos
ou decisão; os graus de jurisdição.
III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais
antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados Federais, dos tribunais dos Estados, e do Distrito Federal
na última ou única entrância; e Territórios será composto de membros do Ministério
IV - previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiço- Público, com mais de dez anos de carreira, e de advo-
amento e promoção de magistrados, constituindo etapa gados de notório saber jurídico e de reputação ilibada,
obrigatória do processo de vitaliciamento a participação com mais de dez anos de efetiva atividade profissional,
em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representa-
formação e aperfeiçoamento de magistrados; ção das respectivas classes.
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal for-
corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que,
mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus inte-
Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fi- grantes para nomeação.

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Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquiri- membros ou dos membros do respectivo órgão especial
da após dois anos de exercício, dependendo a perda do poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de
cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o lei ou ato normativo do poder público.
juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de sentença Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e
judicial transitada em julgado; os Estados criarão:
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse públi- I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou
co, na forma do art. 93, VIII; togados e leigos, competentes para a conciliação, o jul-
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto gamento e a execução de causas cíveis de menor com-
nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. plexidade e infrações penais de menor potencial ofen-
Parágrafo único. Aos juízes é vedado: sivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação
função, salvo uma de magistério; e o julgamento de recursos por turmas de juízes de pri-
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou par- meiro grau;
ticipação em processo; II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos
III - dedicar-se a atividade político-partidária. eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com manda-
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou to de quatro anos e competência para, na forma da lei,
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; impugnação apresentada, o processo de habilitação e
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicio-
afastou, antes de decorridos três anos do afastamento nal, além de outras previstas na legislação.
do cargo por aposentadoria ou exoneração. § 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados espe-
ciais no âmbito da Justiça Federal.
Art. 96. Compete privativamente: § 2º As custas e emolumentos serão destinados exclu-
I - aos tribunais: sivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimen- específicas da Justiça.
tos internos, com observância das normas de processo e
das garantias processuais das partes, dispondo sobre a Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia ad-
competência e o funcionamento dos respectivos órgãos ministrativa e financeira.
jurisdicionais e administrativos; § 1º Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentá-
b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os rias dentro dos limites estipulados conjuntamente com
dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exer- os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
cício da atividade correicional respectiva; § 2º O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros
c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os car- tribunais interessados, compete:
gos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tri-
d) propor a criação de novas varas judiciárias; bunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprova-
e) prover, por concurso público de provas, ou de provas ção dos respectivos tribunais;
e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Ter-
único, os cargos necessários à administração da justiça, ritórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a
exceto os de confiança assim definidos em lei; aprovação dos respectivos tribunais.
f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus § 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem
membros e aos juízes e servidores que lhes forem ime- as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo
diatamente vinculados; estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superio- Executivo considerará, para fins de consolidação da pro-
res e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo posta orçamentária anual, os valores aprovados na lei
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

respectivo, observado o disposto no art. 169: orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limi-
a) a alteração do número de membros dos tribunais in- tes estipulados na forma do § 1º deste artigo.
feriores; § 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este ar-
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos tigo forem encaminhadas em desacordo com os limites
seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vin- estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo proce-
culados, bem como a fixação do subsídio de seus mem- derá aos ajustes necessários para fins de consolidação
bros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde da proposta orçamentária anual.
houver; § 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; poderá haver a realização de despesas ou a assunção
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos
III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente
do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros autorizadas, mediante a abertura de créditos suplemen-
do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsa- tares ou especiais.
bilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

45
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públi- § 9º No momento da expedição dos precatórios, inde-
cas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtu- pendentemente de regulamentação, deles deverá ser
de de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na abatido, a título de compensação, valor correspondente
ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de ativa e constituídos contra o credor original pela Fazen-
casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos da Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de
créditos adicionais abertos para este fim. parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem suspensa em virtude de contestação administrativa ou
aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proven- judicial.
tos, pensões e suas complementações, benefícios previ- § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal so-
denciários e indenizações por morte ou por invalidez, licitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em
fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sen- até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de aba-
tença judicial transitada em julgado, e serão pagos com timento, informação sobre os débitos que preencham as
preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele pre-
aqueles referidos no § 2º deste artigo. vistos.
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, § 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei
originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (ses- da entidade federativa devedora, a entrega de créditos
senta) anos de idade, ou sejam portadores de doença em precatórios para compra de imóveis públicos do res-
grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na pectivo ente federado.
forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitu-
demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado cional, a atualização de valores de requisitórios, após
em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, ad- sua expedição, até o efetivo pagamento, independente-
mitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que mente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de
o restante será pago na ordem cronológica de apresen- remuneração básica da caderneta de poupança, e, para
tação do precatório.
fins de compensação da mora, incidirão juros simples no
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à
mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderne-
expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos
ta de poupança, ficando excluída a incidência de juros
de obrigações definidas em leis como de pequeno valor
compensatórios.
que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de
§ 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus
sentença judicial transitada em julgado.
créditos em precatórios a terceiros, independentemente
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados,
por leis próprias, valores distintos às entidades de direito da concordância do devedor, não se aplicando ao cessio-
público, segundo as diferentes capacidades econômicas, nário o disposto nos §§ 2º e 3º.
sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do § 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos
regime geral de previdência social. após comunicação, por meio de petição protocolizada,
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entida- ao tribunal de origem e à entidade devedora.
des de direito público, de verba necessária ao pagamen- § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei comple-
to de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em mentar a esta Constituição Federal poderá estabelecer
julgado, constantes de precatórios judiciários apresenta- regime especial para pagamento de crédito de precató-
dos até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final rios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo
do exercício seguinte, quando terão seus valores atuali- sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e
zados monetariamente. prazo de liquidação.
§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos § 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União
serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, ca- poderá assumir débitos, oriundos de precatórios, de Es-
bendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão tados, Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os
exequenda determinar o pagamento integral e autori- diretamente.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

zar, a requerimento do credor e exclusivamente para os § 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
casos de preterimento de seu direito de precedência ou cípios aferirão mensalmente, em base anual, o compro-
de não alocação orçamentária do valor necessário à sa- metimento de suas respectivas receitas correntes líqui-
tisfação do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. das com o pagamento de precatórios e obrigações de
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato pequeno valor.
comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a li- § 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os
quidação regular de precatórios incorrerá em crime de fins de que trata o § 17, o somatório das receitas tri-
responsabilidade e responderá, também, perante o Con- butárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de
selho Nacional de Justiça. contribuições e de serviços, de transferências correntes
§ 8º É vedada a expedição de precatórios complemen- e outras receitas correntes, incluindo as oriundas do § 1º
tares ou suplementares de valor pago, bem como o fra- do art. 20 da Constituição Federal, verificado no período
cionamento, repartição ou quebra do valor da execução compreendido pelo segundo mês imediatamente ante-
para fins de enquadramento de parcela do total ao que rior ao de referência e os 11 (onze) meses precedentes,
dispõe o § 3º deste artigo. excluídas as duplicidades, e deduzidas:

46
I – na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Dis- b) nas infrações penais comuns, o Presidente da Repú-
trito Federal e aos Municípios por determinação cons- blica, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Na-
titucional; cional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da
II – nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios República;
por determinação constitucional; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de respon-
III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Mu- sabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da
nicípios, a contribuição dos servidores para custeio de Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o dis-
seu sistema de previdência e assistência social e as re- posto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores,
ceitas provenientes da compensação financeira referida os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
no § 9º do art. 201 da Constituição Federal. (Parágrafo diplomática de caráter permanente;
acrescido pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das pes-
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de soas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
condenações judiciais em precatórios e obrigações de segurança e o habeas data contra atos do Presidente
pequeno valor, em período de 12 (doze) meses, ultra- da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
passe a média do comprometimento percentual da re-
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
ceita corrente líquida nos 5 (cinco) anos imediatamente
Tribunal Federal;
anteriores, a parcela que exceder esse percentual poderá
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo in-
ser financiada, excetuada dos limites de endividamento ternacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o
de que tratam os incisos VI e VII do art. 52 da Constitui- Território;
ção Federal e de quaisquer outros limites de endivida- f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a
mento previstos, não se aplicando a esse financiamento União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclu-
a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV sive as respectivas entidades da administração indireta;
do art. 167 da Constituição Federal. (Parágrafo acresci- g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
do pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) h) (Revogada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Supe-
(quinze por cento) do montante dos precatórios apre- rior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou
sentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quin- funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à ju-
ze por cento) do valor deste precatório serão pagos até risdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de cri-
o final do exercício seguinte e o restante em parcelas me sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;
iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
juros de mora e correção monetária, ou mediante acor- l) a reclamação para a preservação de sua competência
dos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de e garantia da autoridade de suas decisões;
Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta m) a execução de sentença nas causas de sua competên-
por cento) do valor do crédito atualizado, desde que em cia originária, facultada a delegação de atribuições para
relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial a prática de atos processuais;
e que sejam observados os requisitos definidos na re- n) a ação em que todos os membros da magistratura
gulamentação editada pelo ente federado. (Parágrafo sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em
acrescido pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) que mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente in-
SEÇÃO II teressados;
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal
de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superio-
res, ou entre estes e qualquer outro tribunal;
Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de in-
onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de
constitucionalidade;
trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de ida-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

q) o mandado de injunção, quando a elaboração da


de, de notável saber jurídico e reputação ilibada. norma regulamentadora for atribuição do Presidente
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Fe- da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos
deral serão nomeados pelo Presidente da República, Deputados, do Senado Federal, da Mesa de uma dessas
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de
Senado Federal. um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tri-
bunal Federal;
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, preci- r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e con-
puamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: tra o Conselho Nacional do Ministério Público.
I - processar e julgar, originariamente: II - julgar, em recurso ordinário:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato a) o habeas corpus , o mandado de segurança, o habe-
normativo federal ou estadual e a ação declaratória de as data e o mandado de injunção decididos em única
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a
decisão;

47
b) o crime político; Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos
decididas em única ou última instância, quando a deci- seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
são recorrida: constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua pu-
a) contrariar dispositivo desta Constituição; blicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei fe- relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à ad-
deral; ministração pública direta e indireta, nas esferas federal,
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão
em face desta Constituição. ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei fede- § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpre-
ral. tação e a eficácia de normas determinadas, acerca das
§ 1º A argüição de descumprimento de preceito funda- quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou
mental, decorrente desta Constituição, será apreciada entre esses e a administração pública que acarrete grave
pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. insegurança jurídica e relevante multiplicação de pro-
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo cessos sobre questão idêntica.
Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de incons- § 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei,
titucionalidade e nas ações declaratórias de constitu- a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula pode-
cionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito rá ser provocada por aqueles que podem propor a ação
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder direta de inconstitucionalidade.
Judiciário e à administração pública direta e indireta, § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que con-
nas esferas federal, estadual e municipal. trariar a súmula aplicável ou que indevidamente a apli-
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá de- car, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal
monstrar a repercussão geral das questões constitucio- que, julgando-a procedente, anulará o ato administra-
nais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que tivo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determi-
o Tribunal examine a admissão do recurso, somente nará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de súmula, conforme o caso.
seus membros.
Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucio- de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
nalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: admitida 1 (uma) recondução, sendo:
I - o Presidente da República; I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;
II - a Mesa do Senado Federal; II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; pelo respectivo tribunal;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indi-
Legislativa do Distrito Federal; cado pelo respectivo tribunal;
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado
VI - o Procurador-Geral da República; pelo Supremo Tribunal Federal;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal
Brasil; Federal;
VIII - partido político com representação no Congresso VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo
Nacional; Superior Tribunal de Justiça;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âm- VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de
bito nacional. Justiça;
§ 1º O Procurador-Geral da República deverá ser previa- VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado
mente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em pelo Tribunal Superior do Trabalho;
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

todos os processos de competência do Supremo Tribunal IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior
Federal. do Trabalho;
§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de X - um membro do Ministério Público da União, indica-
medida para tornar efetiva norma constitucional, será do pelo Procurador-Geral da República;
dada ciência ao Poder competente para a adoção das XI - um membro do Ministério Público estadual, escolhi-
providências necessárias e, em se tratando de órgão ad- do pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes
ministrativo, para fazê-lo em trinta dias. indicados pelo órgão competente de cada instituição es-
§ 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a tadual;
inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da
normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da Ordem dos Advogados do Brasil;
União, que defenderá o ato ou texto impugnado. XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação
§ 4º (Parágrafo acrescido pela Emenda Constitucional ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e ou-
nº 3, de 1993 e revogado pela Emenda Constitucional tro pelo Senado Federal.
nº 45, de 2004)

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§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supre- II - exercer funções executivas do Conselho, de inspeção
mo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimen- e de correição geral;
tos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. III - requisitar e designar magistrados, delegando-lhes
§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais,
pelo Presidente da República, depois de aprovada a es- inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.
colha pela maioria absoluta do Senado Federal. § 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previs- República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem
tas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal dos Advogados do Brasil.
Federal. § 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territó-
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação admi- rios, criará ouvidorias de justiça, competentes para re-
nistrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumpri- ceber reclamações e denúncias de qualquer interessado
mento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou con-
além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo tra seus serviços auxiliares, representando diretamente
Estatuto da Magistratura: ao Conselho Nacional de Justiça.
I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cum-
primento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir SEÇÃO III
atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
recomendar providências;
II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de,
ou mediante provocação, a legalidade dos atos admi- no mínimo, trinta e três Ministros.
nistrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de
Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar Justiça serão nomeados pelo Presidente da República,
prazo para que se adotem as providências necessárias dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de
ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da compe- sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputa-
tência do Tribunal de Contas da União; ção ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria
III - receber e conhecer das reclamações contra mem- absoluta do Senado Federal, sendo:
bros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Fede-
serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de rais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais
serviços notariais e de registro que atuem por delegação de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo pró-
do poder público ou oficializados, sem prejuízo da com- prio Tribunal;
petência disciplinar e correicional dos tribunais, poden- II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e mem-
do avocar processos disciplinares em curso e determinar bros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito
a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com Federal e dos Territórios, alternadamente, indicados na
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de servi- forma do art. 94.
ço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada
ampla defesa; Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime I - processar e julgar, originariamente:
contra a administração pública ou de abuso de autori- a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do
dade; Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e
disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Con-
há menos de um ano; tas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais
VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e
processos e sentenças prolatadas, por unidade da Fede- do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais
ração, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

VII - elaborar relatório anual, propondo as providências União que oficiem perante tribunais;
que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judi- b) os mandados de segurança e os habeas data contra
ciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha,
integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por oca- c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for
sião da abertura da sessão legislativa. qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou
§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exerce- quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Mi-
rá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da nistro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exér-
distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, cito ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da
além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Esta- Justiça Eleitoral;
tuto da Magistratura, as seguintes: d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais,
I - receber as reclamações e denúncias, de qualquer in- ressalvado o disposto no art. 102, I, o , bem como entre
teressado, relativas aos magistrados e aos serviços judi- tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vin-
ciários; culados a tribunais diversos;

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e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se
julgados; de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível,
f) a reclamação para a preservação de sua competência na respectiva região e nomeados pelo Presidente da Re-
e garantia da autoridade de suas decisões; pública dentre brasileiros com mais de trinta e menos de
g) os conflitos de atribuições entre autoridades admi- sessenta e cinco anos, sendo:
nistrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos
judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou de efetiva atividade profissional e membros do Ministé-
do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; rio Público Federal com mais de dez anos de carreira;
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da nor- II - os demais, mediante promoção de juízes federais
ma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e
ou autoridade federal, da administração direta ou indi- merecimento, alternadamente.
reta, excetuados os casos de competência do Supremo § 1º A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes
Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justi- dos Tribunais Regionais Federais e determinará sua ju-
ça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; risdição e sede.
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a conces- § 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justi-
são de exequatur às cartas rogatórias; ça itinerante, com a realização de audiências e demais
II - julgar, em recurso ordinário: funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais
a) os habeas corpus decididos em única ou última ins- da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos
tância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribu- públicos e comunitários.
nais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quan- § 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar
do a decisão for denegatória; descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais,
b) os mandados de segurança decididos em única ins- a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à
tância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribu- justiça em todas as fases do processo.
nais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quan-
do denegatória a decisão; Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou I - processar e julgar, originariamente:
organismo internacional, de um lado, e, do outro, Muni- a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos
cípio ou pessoa residente ou domiciliada no País; os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos cri-
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em mes comuns e de responsabilidade, e os membros do
única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Fe- Ministério Público da União, ressalvada a competência
derais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal da Justiça Eleitoral;
e Territórios, quando a decisão recorrida: b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigên- seus ou dos juízes federais da região;
cia; c) os mandados de segurança e os habeas data contra
b) julgar válido ato de governo local contestado em face ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
de lei federal; d) os habeas corpus , quando a autoridade coatora for
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe juiz federal;
haja atribuído outro tribunal. e) os conflitos de competência entre juízes federais vin-
Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tribunal culados ao Tribunal;
de Justiça: II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos
I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da
Magistrados, cabendo-lhe, dentre outras funções, regu- competência federal da área de sua jurisdição.
lamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção
na carreira; Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, I - as causas em que a União, entidade autárquica ou
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

na forma da lei, a supervisão administrativa e orçamen- empresa pública federal forem interessadas na condição
tária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
como órgão central do sistema e com poderes correicio- falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Jus-
nais, cujas decisões terão caráter vinculante. tiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo in-
SEÇÃO IV ternacional e Município ou pessoa domiciliada ou resi-
DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS E DOS JUÍ- dente no País;
ZES FEDERAIS III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União
com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
Art. 106. São órgãos da Justiça Federal: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas
I - os Tribunais Regionais Federais; em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
II - os Juízes Federais. ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência
da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

50
V - os crimes previstos em tratado ou convenção inter- SEÇÃO V
nacional, quando, iniciada a execução no País, o resul- DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, DOS
tado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO E DOS JUÍ-
reciprocamente; ZES DO TRABALHO
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se
refere o § 5º deste artigo; (Denominação da Seção com redação dada pela Emen-
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos da Constitucional nº 92, de 2016)
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e
a ordem econômico-financeira; Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:
VII - os habeas corpus , em matéria criminal de sua I - o Tribunal Superior do Trabalho;
competência ou quando o constrangimento provier de II - os Tribunais Regionais do Trabalho;
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos III - Juizes do Trabalho.
a outra jurisdição; § 1º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
VIII - os mandados de segurança e os habeas data con- 2004)
tra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais; § 2º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aerona- 2004)
ves, ressalvada a competência da Justiça Militar; § 3º (Revogado pela Emenda Constitucional nº 45, de
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de 2004)
estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exe-
quatur , e de sentença estrangeira, após a homologação, Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-
as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respec- -á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros
tiva opção, e à naturalização; com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e
XI - a disputa sobre direitos indígenas. cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas nomeados pelo Presidente da República após aprovação
na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: (“Ca-
§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser put” do artigo com redação dada pela Emenda Consti-
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o tucional nº 92, de 2016)
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos
deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, de efetiva atividade profissional e membros do Ministé-
ou, ainda, no Distrito Federal. rio Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo
§ 3º Serão processadas e julgadas na Justiça estadual, exercício, observado o disposto no art. 94;
no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as II - os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do
causas em que forem parte instituição de previdência Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indica-
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede dos pelo próprio Tribunal Superior.
de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, § 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Su-
a lei poderá permitir que outras causas sejam também perior do Trabalho.
processadas e julgadas pela Justiça estadual. § 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Traba-
§ 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível lho:
será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de I - a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
jurisdição do juiz de primeiro grau. de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos huma- funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso
nos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade e promoção na carreira;
de assegurar o cumprimento de obrigações decorren- II - o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, caben-
tes de tratados internacionais de direitos humanos dos do-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administra-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Su- tiva, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça
perior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito do Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão
ou processo, incidente de deslocamento de competência central do sistema, cujas decisões terão efeito vinculante.
para a Justiça Federal. § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho proces-
sar e julgar, originariamente, a reclamação para a pre-
Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, servação de sua competência e garantia da autoridade
constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a de suas decisões.
respectiva capital, e varas localizadas segundo o esta-
belecido em lei. Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, po-
Parágrafo único. Nos Territórios Federais, a jurisdição e dendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição,
as atribuições cometidas aos juízes federais caberão aos atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o res-
juízes da Justiça local, na forma da lei. pectivo Tribunal Regional do Trabalho.

51
Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, § 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão fun-
jurisdição, competência, garantias e condições de exer- cionar descentralizadamente, constituindo Câmaras re-
cício dos órgãos da Justiça do Trabalho. gionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicio-
nado à justiça em todas as fases do processo.
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e jul-
gar: Art. 116. Nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exer-
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos cida por um juiz singular.
os entes de direito público externo e da administração Parágrafo único. (Revogado pela Emenda Constitucio-
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Dis- nal nº 24, de 1999)
trito Federal e dos Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; Art. 117. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 24,
III - as ações sobre representação sindical, entre sindica- de 1999)
tos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos
e empregadores; SEÇÃO VI
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas DOS TRIBUNAIS E JUÍZES ELEITORAIS
data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita
à sua jurisdição; Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral:
V - os conflitos de competência entre órgãos com juris- I - o Tribunal Superior Eleitoral;
dição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; II - os Tribunais Regionais Eleitorais;
VI - as ações de indenização por dano moral ou patri- III - os juízes eleitorais;
monial, decorrentes da relação de trabalho; IV - as Juntas Eleitorais.
VII - as ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no
das relações de trabalho; mínimo, de sete membros, escolhidos:
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais pre-
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
vistas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, de-
a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal
correntes das sentenças que proferir;
Federal;
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de tra-
b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal
balho, na forma da lei.
de Justiça;
§ 1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão
II - por nomeação do Presidente da República, dois ju-
eleger árbitros.
ízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação
idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Fe-
coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de co-
mum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza eco- deral.
nômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá
respeitadas as disposições mínimas legais de proteção seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros
ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormen- do Supremo Tribunal Federal, e o corregedor eleitoral
te. dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com pos-
sibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Pú- Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na ca-
blico do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, com- pital de cada Estado e no Distrito Federal.
petindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. § 1º Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão:
I - mediante eleição, pelo voto secreto:
Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem- a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal
-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possí- de Justiça;
b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

vel, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da


República dentre brasileiros com mais de trinta e menos Tribunal de Justiça;
de sessenta e cinco anos, sendo: II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede
I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos na capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não ha-
de efetiva atividade profissional e membros do Ministé- vendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo
rio Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo Tribunal Regional Federal respectivo;
exercício, observado o disposto no art. 94; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois
II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e
por antiguidade e merecimento, alternadamente. idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a jus- § 2º O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presiden-
tiça itinerante, com a realização de audiências e demais te e o Vice-Presidente dentre os desembargadores.
funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização
da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das
públicos e comunitários. Juntas Eleitorais.

52
§ 1º Os membros dos Tribunais, os juízes de direito e os § 1º A competência dos tribunais será definida na Cons-
integrantes das Juntas Eleitorais, no exercício de suas tituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária
funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas de iniciativa do Tribunal de Justiça.
garantias e serão inamovíveis. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de
§ 2º Os juízes dos Tribunais Eleitorais, salvo motivo jus- inconstitucionalidade de leis ou atos normativos esta-
tificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por duais ou municipais em face da Constituição estadual,
mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos vedada a atribuição da legitimação para agir a um úni-
escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, co órgão.
em número igual para cada categoria. § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do
§ 3º São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, consti-
Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e tuída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos
as denegatórias de habeas corpus ou mandado de se- Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio
gurança. Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos
§ 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais so- Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
mente caberá recurso quando: integrantes.
I - forem proferidas contra disposição expressa desta § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e jul-
Constituição ou de lei; gar os militares dos Estados, nos crimes militares defini-
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois dos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
ou mais Tribunais Eleitorais; militares, ressalvada a competência do júri quando a
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de di- vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir
plomas nas eleições federais ou estaduais; sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de man- graduação das praças.
datos eletivos federais ou estaduais; § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar pro-
V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, cessar e julgar, singularmente, os crimes militares come-
habeas data ou mandado de injunção. tidos contra civis e as ações judiciais contra atos disci-
plinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob
SEÇÃO VII § 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentra-
DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES lizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de
assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: todas as fases do processo.
I - o Superior Tribunal Militar; § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itineran-
II - os Tribunais e juízes militares instituídos por lei. te, com a realização de audiências e demais funções da
atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respec-
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de tiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e
quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da comunitários.
República, depois de aprovada a indicação pelo Senado
Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de
quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre Justiça proporá a criação de varas especializadas, com
oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do competência exclusiva para questões agrárias.
posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis. Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente pres-
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo tação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do
Presidente da República dentre brasileiros maiores de litígio.
trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e con- Garantias do Judiciário
duta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

profissional; Institucionais:
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes-auditores e - Autonomia orgânico administrativa: eleger seus ór-
membros do Ministério Público da Justiça Militar. gãos de direção / elaborar regimento interno / orga-
nizar a administração interna.
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os - Autonomia financeira: elaborarão suas próprias pro-
crimes militares definidos em lei. postas financeiras, desde que compatíveis com os
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o limites estipulados pela Lei.
funcionamento e a competência da Justiça Militar.
Funcionais:
SEÇÃO VIII - Independência os órgãos:
DOS TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS - Vitaliciedade: somente perderá o cargo por sentença
transitada em julgado. Estabilidade adquirida após
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados 02 anos (estágio probatório).
os princípios estabelecidos nesta Constituição.

53
Atenção! - SEDE E JURISDIÇÃO
1º grau – vitaliciedade após 02 anos
Tribunais – após a posse no cargo superior Sede dos Tribunais Superiores / STF e CNJ: sede na ca-
pital federal. Atenção: CNJ não exerce jurisdição. O CNJ é
- Inamovibilidade: impossibilidade de remoção sem um órgão de controle interno do poder judiciário. Tem a
anuência do juiz, exceto por interesse público, sendo função de controlar a atuação administrativa e financeira
essa decisão aprovada e votada por 2/3 do TJ ou do do poder judiciário e fiscalizar a atuação dos juízes – não
CNJ. haverá julgamento de litígios, mas sim fiscalizar adminis-
- Irredutibilidade de subsídios: salário não pode ser re- tração, despesas e atuação funcional.
duzido, garantindo livre exercício profissional. TJ – Jurisdição estadual
- Garantia de imparcialidade (vedações que possam TRE / TST / Justiça Federal: divididos em regiões.
prejudicar a imparcialidade)
COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS
Art. 95 parágrafo único
- exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou COMPOSIÇÃO TRIBUNAIS SUPERIORES
função, salvo uma de magistério;
- receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou parti- STF – membros: 11 ministros
cipação em processo; Brasileiros natos, mais de 35 e menos de 65, notável
- dedicar-se à atividade político-partidária; saber jurídico, reputação ilibada.
- receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou con-
tribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou Indicação do presidente / aprovação do Senado
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei (EC n. Federal (sabatina) maioria absoluta / nomeação Pres.
45/2004); República. Vontades complexas. Necessário ser juiz de car-
- exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se reira? Não. Basta a indicação e aprovação do Senado. A
afastou, antes de decorridos três anos do afastamen- doutrina pacificou a necessidade do curso de direito.
to do cargo por aposentadoria ou exoneração (EC n.
45/2004 — a assim denominada quarentena de saída). STJ – membros: mínimo 33 ministros
Brasileiro nato ou naturalizado
Art.92 – Órgãos do poder judiciário 1/3 juízes dos TRF
1/3 desembargadores TJ
DIVISÕES EM INSTÂNCIAS 1/6 dentre advogados; e
1/6 dentre membros do MP
1ª Instância (1º grau – órgãos singulares): juízes singu- TST – membros: 27 ministros
lares. Exercem a jurisdição – apenas 01 juiz pode “dizer o
direito”. Decisão individual. 4/5 juízes do TRT
2ª Instância (2º grau – órgão colegiado) podem ser divi- 1/5 advogados e membros do MP
didos internamente. Ex: STF – 02 turmas. Outros casos po-
dem depender do plenário. Decisão colegiada. TSE – membros: 07 ministros
03 ministros do STF (eleitos entre si por voto secreto)
SEQUÊNCIA DO PROCESSO 02 ministros do STJ (eleitos entre si por voto secreto)
02 advogados indicados em lista sêxtupla pelo STF e
O andamento processual não obedece a uma sequencia nomeado pelo Pres. República.
predeterminada. Ex: começa em primeira instância e encer-
ra no STF. Eu posso ter processos que podem iniciar direto STM – membros: 15 ministros
no STF face a competência originária. 03 oficiais da marinha
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Regra: Os órgãos do judiciário são órgãos federais, da 03 da aeronáutica


união; exceto Tribunais de Justiça e Juízes de direito (esta- 04 do exercito
duais). TJ/DF embora competência de tribunal estadual, é 03 advogados + 10 anos profissão
mantido pela união. 02 membros do MP da justiça militar

JUSTIÇA ESPECIALIZADA Nomenclatura: ministros.

Tribunais específicos – Justiça especializada. COMPOSIÇÃO TRIBUNAIS 2º GRAU


TRE / TSE – TRT / TST – STM (jurisdição em território
nacional) TRF / TRT / TRE: repetir o menor número de membros:
07
TJ: cada estado define o seu
Tribunal Militar: em caso de guerra pode ser criado.
Juízes: conforme a demanda.

54
Todos os membros dos tribunais superiores e cnj são indicados. Nomeados pelo presidente com aprovação do Se-
nado. Estaduais: chefe do executivo

REGRA DO QUINTO CONSTITUCIONAL

APENAS PARA TJ - TRF - TRT - -TST


Quinto constitucional: TJ / TRF / TRT / TST – 1/5 dos membros vem de advogado e membros do MP indicados. Arredon-
da pra cima. (Art. 94)
Regra: OAB e representativo do MP propõem uma lista sêxtupla e submete ao Tribunal para que dentro os 06 escolha
03. Os 03 escolhidos serão levados a conhecimento do chefe do executivo que fará a escolha final e nomeação.
STJ: regra do terço: 1/3 advogados e membros do MP

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

CNJ: 15 membros – Art. 103B mandato de 02 anos (uma recondução)

09 membros do Judiciário.
- 01 STF – Presidente.
- 01 STJ – indicado pelo próprio Tribunal
- 01 TRF – indicado pelo STJ
- 01 Juiz federal – indicado pelo STJ
- 01 TST – indicado pelo próprio Tribunal
- 01 TRF – indicado pelo TST
- 01 Juiz Trabalho indicado pelo TST
- 01 Desembargador indicado pelo STF
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- 01 Juiz estadual indicado pelo STF

E os demais?

02 – 02 – 02
02 Advogados – indicados pelo Conselho Federal OAB
02 Ministério Público: 01 MPU indicado pelo PGR / 01 MP estados (26: escolhido pelo PGR.
02 cidadãos: notável saber jurídico e reputação ilibada: 01 indicado pela Câmara e outro pelo Senado Federal.
Exceto presidente e vice presidente do STF, os demais serão indicados e nomeados pelo Presidente da República.
Presidente do CNJ: Presidente do STF e na ausência o vice.
Ministro Corregedor: Ministro do STJ
Controle dos atos do CNJ: STF / CNJ controla STF? Não

55
ESTATUTO DA MAGISTRATURA - JUSTIÇA ELEITORAL (ART. 121 E CÓDIGO ELEITO-
RAL)
Estatuto da magistratura – art. 93 (aprovado por Lei - JUSTIÇA MILITAR (ART. 124 E DL 1001/96)
Complementar – maioria absoluta) – Lei ordinária (maioria
simples) Projeto de Iniciativa do STF – Câmara vota e apro- - JUSTIÇA FEDERAL E TRF (ART. 109 E 108)
va, senado vota e aprovada – Presidente promulga.
- Ingresso na carreira - JUSTIÇA ESTADUAL (competência residual – defi-
nida pela Constituição do Estado)
Art. 93 I
Concurso público – provas e títulos – participação da
OAB em todas as fases.
Bacharel em Direito, mínimo de 03 experiência jurídica. EXERCÍCIOS COMENTADOS
Entra como juiz substituto. (Residência) após, promoção
para juiz titular. 1. Aplicada em: 2018; Banca: CESPE; Órgão: STJ; Prova:
- Promoção (antiguidade e merecimento) Conhecimentos Básicos - Cargo: 9.
A respeito do que dispõe a Constituição Federal de 1988
Art. 93 II – Promoção entrância para entrância / classi- (CF) sobre o regime jurídico da administração pública e o
ficação de comarcas diferente de instância. 1ª entrância Poder Judiciário, julgue o item seguinte. Um quinto das
(vara única) 2ª entrância (mais de uma vara) Entrância vagas de magistrados de todos os tribunais superiores é
especial (Ex: capital ou grandes cidades) destinado a membros da advocacia, eleitos por meio de
Critério: alternadamente 7 - por antiguidade ou mere- lista tríplice indicada pela Ordem dos Advogados do Brasil.
cimento.
Promoção por antiguidade: juiz mais antigo; salvo se 2/3 ( ) CERTO ( ) ERRADO
recusarem. TJ
Promoção por merecimento: 02 anos na entrância / 1ª
Resposta Letra B. Art. 94. Um quinto dos lugares dos
quinta parte
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Esta-
Merecimento: desempenho, atualização em cursos.
dos, e do Distrito Federal e Territórios será composto de
Promoção obrigatória: aparecer 03 x consecutivas lista
membros, do Ministério Público, com mais de dez anos
tríplice ou 5 alternadas. Não serão promovidos aqueles
de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e
que obstaculizarem o desenvolvimento processual.
de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos
COMPETÊNCIAS DO PODER JUDICIÁRIO
órgãos de representação das respectivas classes.
- SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ART. 102 E 103) Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal for-
mará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que,
Guardião da CF – controle de constitucionalidade nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus inte-
grantes para nomeação.
- Competências originárias: art. 102 I
2. Aplicada em: 2017; Banca: CESPE; Órgão: TRE-TO;
- Competências recursais: Recurso Ordinário (Art. 102 Prova: Analista Judiciário - Área Administrativa.
II) e Extraordinário (Art.102 III) – Repercussão geral para o É permitido ao magistrado
extraordinário (recusar apreciação pela votação de 2/3 dos
membros) a) receber contribuições de entidades privadas a título gra-
tuito.
- SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (art. 105) b) exercer qualquer outro cargo, caso tenha disponibilida-
de durante o exercício da magistratura.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Guardião da Lei infraconstitucional c) receber participação em processo no qual tenha atua-


do em substituição a juiz que se encontrava no gozo de
- Competências originárias: art. 105 I férias.
d) advogar perante juízo do qual tenha sido afastado por
- Competências recursais: Recurso Ordinário (Art. 105 II) exoneração, desde que decorridos três anos do afasta-
e Recurso Especial (Art. 105 III) mento.
e) envolver-se em atividades político-partidárias, desde
- JUSTIÇA TRABALHISTA (ART. 113 E 114) em regra que comunique à presidência do respectivo tribunal.
as relações regidas pela CLT, excetuando as relações esta-
tutárias. Resposta Letra D. Art. 95 Parágrafo único. Aos juízes é
vedado:
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou
função, salvo uma de magistério;

56
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou parti- tinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os
cipação em processo; por concurso público de provas ou de provas e títulos, a
III - dedicar-se à atividade político-partidária. política remuneratória e os planos de carreira; a lei dis-
IV receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou con- porá sobre sua organização e funcionamento.
tribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou priva- § 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orça-
das, ressalvadas as exceções previstas em lei; mentária dentro dos limites estabelecidos na lei de dire-
V exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afas- trizes orçamentárias.
tou, antes de decorridos três anos do afastamento do car- § 4º Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva
go por aposentadoria ou exoneração. proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na
lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo consi-
3. Aplicada em: 2017; Banca: CESPE; Órgão: TRE-PE; derará, para fins de consolidação da proposta orçamen-
Prova: Técnico Judiciário – Área Administrativa. tária anual, os valores aprovados na lei orçamentária
De acordo com a CF, ao juiz vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados
na forma do § 3º.
a) é garantida a inamovibilidade, ainda que haja motivo de § 5º Se a proposta orçamentária de que trata este artigo
interesse público que recomende sua remoção.
for encaminhada em desacordo com os limites estipula-
b) é permitido dedicar-se à atividade político-partidária,
dos na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos
desde que ele esteja em disponibilidade.
ajustes necessários para fins de consolidação da propos-
c) que esteja em disponibilidade é permitido exercer qual-
ta orçamentária anual.
quer outro cargo público.
d) é permitido receber custas em processo judicial, desde § 6º Durante a execução orçamentária do exercício, não
que ele esteja em disponibilidade. poderá haver a realização de despesas ou a assunção
e) é garantida a vitaliciedade, que, no primeiro grau, será de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos
adquirida após dois anos de exercício. na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente
autorizadas, mediante a abertura de créditos suplemen-
Resposta: Letra D. Os juízes gozam das seguintes ga- tares ou especiais.
rantias: Art. 128. O Ministério Público abrange:
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida I - o Ministério Público da União, que compreende:
após dois anos de exercício, dependendo a perda do car- a) o Ministério Público Federal;
go, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz b) o Ministério Público do Trabalho;
estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial c) o Ministério Público Militar;
transitada em julgado; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, II - os Ministérios Públicos dos Estados.
na forma do art. 93, VIII; § 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Pro-
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos curador-Geral da República, nomeado pelo Presidente
arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. da República dentre integrantes da carreira, maiores de
trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela
maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA; DO mandato de dois anos, permitida a recondução.
MINISTÉRIO PÚBLICO; DA ADVOCACIA § 2º A destituição do Procurador-Geral da República, por
PÚBLICA DA UNIÃO, DOS ESTADOS E iniciativa do Presidente da República, deverá ser prece-
DOS MUNICÍPIOS; DA ADVOCACIA; E DA dida de autorização da maioria absoluta do Senado Fe-
deral.
DEFENSORIA PÚBLICA.
§ 3º Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito
Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre inte-
grantes da carreira, na forma da lei respectiva, para es-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

CAPÍTULO IV
colha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
SEÇÃO I Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos,
DO MINISTÉRIO PÚBLICO permitida uma recondução.
§ 4º Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, Federal e Territórios poderão ser destituídos por delibe-
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo- ração da maioria absoluta do Poder Legislativo, na for-
-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ma da lei complementar respectiva.
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja
§ 1º São princípios institucionais do Ministério Público a iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. -Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia fun- o estatuto de cada Ministério Público, observadas, re-
cional e administrativa, podendo, observado o disposto lativamente a seus membros:
no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e ex- I - as seguintes garantias:

57
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não po- § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á
dendo perder o cargo senão por sentença judicial transi- mediante concurso público de provas e títulos, assegu-
tada em julgado; rada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse pú- em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito,
blico, mediante decisão do órgão colegiado competente no mínimo, três anos de atividade jurídica e observan-
do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de do-se, nas nomeações, a ordem de classificação.
seus membros, assegurada ampla defesa; § 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o
c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. disposto no art. 93.
39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, § 5º A distribuição de processos no Ministério Público
II, 153, III, 153, § 2º, I; será imediata.
II - as seguintes vedações: Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos
a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta se-
honorários, percentagens ou custas processuais; ção pertinentes a direitos, vedações e forma de investi-
b) exercer a advocacia; dura.
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer ou- compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presi-
tra função pública, salvo uma de magistério; dente da República, depois de aprovada a escolha pela
e) exercer atividade político-partidária; maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou de dois anos, admitida uma recondução, sendo:
contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou I - o Procurador-Geral da República, que o preside;
privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. II - quatro membros do Ministério Público da União, as-
§ 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o dis- segurada a representação de cada uma de suas carrei-
posto no art. 95, parágrafo único, V. ras;
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - três membros do Ministério Público dos Estados;
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na
IV - dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Fe-
forma da lei;
deral e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos
V - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da
serviços de relevância pública aos direitos assegurados
Ordem dos Advogados do Brasil;
nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias
VI - dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação
a sua garantia;
ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e ou-
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para
tro pelo Senado Federal.
a proteção do patrimônio público e social, do meio am-
§ 1º Os membros do Conselho oriundos do Ministério
biente e de outros interesses difusos e coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou repre- Público serão indicados pelos respectivos Ministérios Pú-
sentação para fins de intervenção da União e dos Esta- blicos, na forma da lei.
dos, nos casos previstos nesta Constituição; § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Públi-
V - defender judicialmente os direitos e interesses das co o controle da atuação administrativa e financeira do
populações indígenas; Ministério Público e do cumprimento dos deveres fun-
VI - expedir notificações nos procedimentos adminis- cionais de seus membros, cabendo lhe:
trativos de sua competência, requisitando informações I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do
e documentos para instruí-los, na forma da lei comple- Ministério Público, podendo expedir atos regulamenta-
mentar respectiva; res, no âmbito de sua competência, ou recomendar pro-
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na for- vidências;
ma da lei complementar mencionada no artigo anterior; II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instaura- ou mediante provocação, a legalidade dos atos adminis-
trativos praticados por membros ou órgãos do Ministério
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ção de inquérito policial, indicados os fundamentos jurí-


dicos de suas manifestações processuais; Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, -los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as pro-
desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;
de entidades públicas. III - receber e conhecer das reclamações contra membros
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados,
civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da
nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Cons- competência disciplinar e correicional da instituição,
tituição e na lei. podendo avocar processos disciplinares em curso, deter-
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exer- minar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria
cidas por integrantes da carreira, que deverão residir com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de
na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegu-
chefe da instituição. rada ampla defesa;

58
IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os proces- SEÇÃO III
sos disciplinares de membros do Ministério Público da DA ADVOCACIA
União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
V - elaborar relatório anual, propondo as providências Art. 133. O advogado é indispensável à administração
que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Pú- da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações
blico no País e as atividades do Conselho, o qual deve no exercício da profissão, nos limites da lei.
integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.
§ 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um SEÇÃO IV
Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério DA DEFENSORIA PÚBLICA
Público que o integram, vedada a recondução, compe-
tindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente,
pela lei, as seguintes: essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
I - receber reclamações e denúncias, de qualquer inte- -lhe, como expressão e instrumento do regime demo-
ressado, relativas aos membros do Ministério Público e crático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a pro-
dos seus serviços auxiliares; moção dos direitos humanos e a defesa, em todos os
II - exercer funções executivas do Conselho, de inspeção graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
e correição geral; coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados,
III - requisitar e designar membros do Ministério Público, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de ór- Federal.
gãos do Ministério Público. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública
§ 4º O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos da União e do Distrito Federal e dos Territórios e pres-
Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho. creverá normas gerais para sua organização nos Esta-
§ 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do dos, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,
Ministério Público, competentes para receber reclama- mediante concurso público de provas e títulos, assegu-
ções e denúncias de qualquer interessado contra mem-
rada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade
bros ou órgãos do Ministério Público, inclusive contra
e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições
seus serviços auxiliares, representando diretamente ao
institucionais.
Conselho Nacional do Ministério Público.
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas
autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de
SEÇÃO II
sua proposta orçamentária dentro dos limites estabele-
DA ADVOCACIA PÚBLICA
cidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação
Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição ao disposto no art. 99, § 2º.
que, diretamente ou através de órgão vinculado, repre- § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas
senta a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo- da União e do Distrito Federal.
-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a
sua organização e funcionamento, as atividades de con- unidade, a indivisibilidade e a independência funcional,
sultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. aplicando-se também, no que couber, o disposto no art.
§ 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advo- 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal.
gado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras discipli-
da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco nadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunera-
anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada. dos na forma do art. 39, § 4º.
§ 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da ins- As funções essenciais à justiça são todas aquelas ativi-
tituição de que trata este artigo far-se-á mediante con- dades (públicos e privadas) profissionais sem as quais
curso público de provas e títulos. o poder judiciário não funcionaria, ou funcionaria mal,
§ 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, tem o objetivo de dinamizar a atividade jurisdicional,
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

a representação da União cabe à Procuradoria-Geral da chamadas de funções essenciais à justiça. É a mola pro-
Fazenda Nacional, observado o disposto em lei. pulsora do judiciário, lembrando que a atividade judiciá-
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Fe- ria é inerte. Apesar de extrema importância, tais funções
deral, organizados em carreira, na qual o ingresso de- não integram o poder judiciário.
penderá de concurso público de provas e títulos, com a
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em to-
das as suas fases, exercerão a representação judicial e a
consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.
Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste arti-
go é assegurada estabilidade após três anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante
os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das
corregedorias. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
nal nº 19, de 1998)

59
Federal: LC 75/93
Estaduais: cada estado elabora sua respectiva lei orgâ-
nica
Garantias
Institucionais (ligadas ao órgão)
- Princípios Institucionais (Art. 127 §1º)
Unidade
Indivisibilidade
Independência
- Autonomia (Art. 127 §2º)
Financeira
Funcional
Administrativa
Funcionais (ligadas ao membro do MP)
- Independência (art. 128 §5º I)
Inamovibilidade
Exceção: por motivo de interesse público, mediante de-
cisão, por maioria absoluta de votos, do órgão colegiado
competente (que é o Conselho Nacional do Ministério Pú-
blico), assegurada ampla defesa.
1 - Ministério público (art. 127 A 130-a) Vitaliciedade (após 02 anos)
Definição: O Ministério Público é instituição permanen- Irredutibilidade de subsídios (submetido ao teto / SFT)
te, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo- Resumo das garantias:
-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Parte da doutrina fala em quarto poder, no entanto,
essa classificação não é unânime, já que a CF não prevê
um quarto poder, apenas o legislativo, executivo e judi-
ciário. Em suma, o Ministério Público foi, pela Constituição
de 1988, “arquitetado para atuar desinteressadamente na
persecução dos valores mais encarecidos da ordem cons-
titucional”.
Natureza jurídica: instituição independente e autôno-
ma, que não se inclui na estrutura de nenhum dos poderes
tradicionais.
Princípios
- Unidade (existência de uma divisão orgânica, todas
sob a chefia do Procurador Geral de Justiça).
- Indivisibilidade (possibilidade de um ser substituído
por outro; o promotor não se vincula pessoalmente
a causa).
- Independência funcional (membros do MP não se
subordinam as convicções de outrem).
Funções do MP (competências exemplificativas, poden-
do ser ampliadas). Vedações
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Defesa da Ordem Jurídica - receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto,


- Defesa do Regime Democrático honorários, percentagens ou custas processuais.
- Defesa dos interesses sociais e individuais indisponí- - exercer a advocacia
veis. - participar de sociedade comercial
Obs: proteção e fiscalização. - exercer função pública, salvo uma de magistério.
Ingresso (concurso público) – art. 129 § 3º - exercer atividade político partidário.
- Bacharelado em direito. - receber qualquer forma de auxílio ou contribuição de
- Ocuparão as funções do MP apenas membros de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, exce-
carreira. to nas situações autorizadas em lei.
- Mínimo de 03 anos de atividade jurídica (documen-
tada e formalizada).
- Observância da classificação.
Regulamentação
Nacional: Lei 8.625/93

60
Estrutura do Ministério Público Organização

Procurador Geral da República


- Membro da carreira
- Mais de 35 anos
- Aprovação do nome pela maioria absoluta do Sena-
do Federal. Ingresso nas classes iniciais
- Mandato: 02 anos. Concurso público de provas e títulos. Não tem vitalicie-
- Possibilidade de várias reconduções. dade, mas sim estabilidade após 03 anos.
Procurador Geral de Justiça (estadual). Chefe da Instituição (advogado-geral da União)
- Lista tríplice dos membros da carreira. Livre nomeação e exoneração pelo Presidente da Repú-
- Nomeação pelo Chefe do Executivo. blica dentre cidadãos:
- Mandato de 02 anos, uma única recondução. + de 35 anos
CONAMP (Conselho Nacional do Ministério Público) Reputação ilibada.
Atenção: não precisa de autorização do senado.
Composição Obs: tem status de Ministro. STF – julga por crime co-
01 PGR (presidente) mum / Senado – julga por crimes de responsabilidade.
01 membro MPF 3 – Advocacia Privada – Art. 133
01 membro MPT - Habilitação perante a Ordem dos Advogados do Bra-
01 membro MPM sil
01 membro MPDF - Declarado constitucional em 2011 pelo plenário do
06 membros de outras carreiras STF
02 Advogados - Capacidade postulatória (participação facultativa em
02 Cidadãos (01 Câmara / 01 Senado) algumas ações)
02 Juízes (01 STF / 01 STJ) - Inviolabilidade da advocacia
2 – Advocacia Geral da União (art. 131) Imunidade material: imune aos crimes de injuria e di-
famação.
Natureza Obs: a imunidade não vale para calúnia.
- Representação da União extra ou judicialmente. - Direitos do advogado: Código de Ética Profissional.
- Consultoria e assessoria jurídica do Poder Executivo. 4 – Defensorias Públicas – art. 134
- Gozam de autonomia funcional e administrativa
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

- Regidas pelos mesmos princípios do Ministério Pú-


blico
- Unidade
- Indivisibilidade
- Independência funcional
- Ingresso: concurso público
- Garantias e prerrogativas:
Inamovibilidade
Independência funcional
Irredutibilidade de subsídios
Estabilidade
- Vedações
Exercício da advocacia fora dos limites da instituição.

61
EXERCÍCIOS COMENTADOS HORA DE PRATICAR!

1. Aplicada em: 2018Banca: CESPE Órgão: EMAP Prova:


Analista Portuário - Área Jurídica. 1. (FAPESP - Procurador - VUNESP/2018)
Acerca da advocacia pública, julgue o item subsequente. Assinale a alternativa correta a respeito do Constituciona-
Aos membros da Advocacia-Geral da União são concedi- lismo.
das as garantias constitucionais previstas para os membros
do Ministério Público. a) Os primeiros textos constitucionais emanaram como
consequência de manifestações populares que reivindi-
( ) CERTO ( ) ERRADO cavam direitos sociais a serem prestados pelo Estado.
b) Na Antiguidade Clássica há registros de importantes
Resposta: Errado - Aos membros da Advocacia Pública traços do surgimento do constitucionalismo, todavia, na
é assegurada a estabilidade após 3 anos de efetivo exer- Idade Média, denominada Idade das Trevas, houve uma
cício, e aos membros do Ministério Público é assegurada regressão histórica do constitucionalismo.
a vitaliciedade após 2 anos de exercício. A estabilidade c) Os pactos forais ou cartas de franquia, destinados a ga-
está definida no art. 41 da CF. rantir determinados direitos individuais da população,
ainda que timidamente, foram documentos importantes
2. Aplicada em: 2018 Banca: CESPE Órgão: PC-MA Pro- e reconhecidamente os primeiros do constitucionalismo
va: Investigador de Polícia. a ter o caráter da universalidade.
Observada a ordem de nomeação, o ingresso na carreira d). As Constituições Norte-Americana de 1789 e a Francesa
do Ministério Público se dará mediante concurso público de 1801 são os marcos históricos e formais do consti-
de provas e títulos, exigindo-se do bacharel em direito, no tucionalismo moderno, resultados da influência do so-
mínimo, cialismo e da contraposição ao iluminismo, deflagrados
pelo liberalismo clássico.
a) cinco anos de atividade jurídica. e) O totalitarismo constitucional, com forte conteúdo so-
b) um ano de atividade jurídica. cial, e o dirigismo comunitário, que busca expandir e
c) dois anos de atividade jurídica. propagar a proteção aos direitos humanos, são expres-
d) três anos de atividade jurídica. sões ligadas à concepção doutrinária do constituciona-
e) quatro anos de atividade jurídica. lismo contemporâneo.

Resposta: Letra D - Nos termos do art. 129, § 3º o in- 2. (TRT - 15ª Região - Técnico Judiciário - Área Adminis-
gresso na carreira do Ministério Público far-se-á me- trativa - FCC/2018)
diante concurso público de provas e títulos, assegurada À luz da organização político-administrativa do Estado bra-
a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sileiro, na qual prevalece a autonomia das entidades fede-
sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no rativas,
mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se,
nas nomeações, a ordem de classificação. a) a autonomia baseia-se na existência de uma única esfera
governamental atuante sobre a população, em um mes-
mo território.
b) a Constituição Federal prevê mecanismos de proteção
do sistema federativo, tais como a repartição de com-
petências administrativas e legislativas entre os entes
federados.
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

c) a Constituição Federal prevê a possibilidade de institui-


ção de regiões metropolitanas por iniciativa legislativa
dos municípios limítrofes interessados na associação.
d) a autonomia é assegurada a todos os entes sob os as-
pectos administrativo e fiscal, cabendo, no entanto, so-
mente à União a autonomia legislativa.
e) a soberania, na qualidade de poder supremo consistente
na capacidade de autodeterminação do ente federado,
cabe à União e aos Estados membros.

62
3. (PC-PI - Perito Criminal - Engenharia Civil - NUCE- 6. (TRT 8ª Região - Analista Judiciário - Área Judiciária
PE/2018) - CESPE/2016)
Acerca da forma e sistema de governo, chefia de estado e Acerca das finanças públicas, da ordem econômica e finan-
chefia de governo, assinale a alternativa CORRETA. ceira, da reforma agrária, do sistema financeiro nacional e
da ordem social, assinale a opção correta de acordo com
a) Atualmente, o Brasil adota a República como sistema de a CF.
governo.
b) No Parlamentarismo, as funções de Chefe de Estado e a) O sistema financeiro nacional regula-se por leis com-
de Chefe de Governo não são exercidas por uma única plementares, salvo no que se refere à participação de
pessoa. capital estrangeiro nas instituições financeiras, que será
c) No Presidencialismo, as funções de Chefe de Estado e regulada por tratados internacionais.
Chefe de Governo encontram-se nas mãos de uma única b) É direito fundamental da pessoa humana o direito ao
pessoa, qual seja, o Presidente da República; esta forma meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo
de governo é a prevista na Constituição Brasileira. ao Estado e à coletividade a garantia desse direito.
d) O Brasil é uma República Presidencialista, e seus gover- c) O texto constitucional atribui ao Congresso Nacional
nantes são eleitos indiretamente pelo povo. a competência para fiscalizar a emissão de moeda no
e) A Monarquia é uma forma de governo em que há uma país, exclusivamente pelo Banco Central, nos termos de
participação direta do povo na escolha dos governantes. lei complementar.
d) O concessionário dependerá de autorização ou conces-
4. (PC-SP - Delegado de Polícia - VUNESP/2018) são do proprietário do solo para a exploração de jazidas
É correto afirmar que o Federalismo e demais recursos minerais, cabendo ao proprietário
participação nos resultados da lavra.
a) representa uma forma de Estado que possui um centro e) A alienação ou a concessão de terras públicas com área
único dotado de capacidade legislativa, administrativa superior a dois mil e quinhentos hectares para fins de
e política, que é direcionado às unidades locais e regio- reforma agrária dependerá de prévia aprovação do
nais. Congresso Nacional.
b) representa um sistema de governo, que analisa as rela-
ções de poder existentes no âmbito da federação. 7. (PC-PI - Delegado de Polícia Civil - NUCEPE/2018)
c) ocorreu no Brasil por meio de um movimento centrífuga Dentre as alternativas abaixo, assinale a que contém os
(por segregação). princípios da ordem econômica:
d) ocorreu no Brasil mediante um movimento centrípeta
(por agregação). a) soberania nacional, propriedade privada, livre iniciativa e
e) representa uma forma de governo, que leva em consi- tratamento favorecido a empresas brasileiras de sócios
deração a quantidade de titulares que estão no poder. nacionais;
b) soberania nacional, defesa do consumidor, livre concor-
5. (DPE-AM - Assistente Técnico de Defensoria - Assis- rência, propriedade privada, função social da proprie-
tente Técnico Administrativo - Tabatinga - FCC/2018) dade.
Entre os princípios que informam a elaboração dos orça- c) livre concorrência e da concessão de garantias pelas en-
mentos, conforme estabelecido pela Constituição Federal, tidades públicas.
insere-se o princípio da não afetação ou não vinculação, d) hierarquização e a verticalidade.
que apresenta, como uma de suas expressões a e) livre concorrência e predominância do interesse do ente
estatal.
a) impossibilidade de oferecimento à União, como garan- f) constitucional, pois o direito à intimidade não pode ser
tia, de produto de imposto do ente garantidor. invocado pelos agentes públicos, adstritos que estão,
b) vedação à instituição de fundos de despesa com receitas em todos os atos de sua vida, ao princípio da publici-
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

provenientes de taxas e outros tributos. dade.


c) proibição de vinculação de produto de imposto da com-
petência do próprio ente a órgão ou fundo da Adminis-
tração correspondente.
d) possibilidade de desvinculação de percentual da recei-
ta destinada à Saúde, para aplicação em despesa com
Educação, a critério do ente federado.
e) impossibilidade de oferecimento, pelos Estados, de re-
cursos oriundos da participação em impostos da União
como garantia a empréstimos.

63
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 E __________________________________________________

2 B ___________________________________________________
3 B ___________________________________________________
4 C
___________________________________________________
5 C
___________________________________________________
6 B
7 B ___________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

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64
ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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66
ANOTAÇÕES

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70
ÍNDICE

NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Princípios de Direito Administrativo. ................................................................................................................................................................. 01


Da Administração Pública: direta e indireta. .................................................................................................................................................. 05
Atos administrativos ................................................................................................................................................................................................ 07
Poderes Administrativos......................................................................................................................................................................................... 16
Contratos administrativos...................................................................................................................................................................................... 23
Licitação. ....................................................................................................................................................................................................................... 23
Processo Administrativo. ........................................................................................................................................................................................ 57
Agentes Públicos: classificação, regimes jurídicos, organização funcional, regime constitucional (concurso público,
acessibilidade, acumulação de cargos e funções, estabilidade, regime previdenciário, disponibilidade, mandato eletivo,
sistema constitucional de remuneração, associação sindical e direito de greve). .......................................................................... 61
Responsabilidade civil do Estado......................................................................................................................................................................116
Controle da Administração Pública. ................................................................................................................................................................121
Improbidade Administrativa. ..............................................................................................................................................................................130
Decreto-Lei nº 220, de 18/07/75: Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Poder Executivo do Estado do Rio de
Janeiro. Decreto nº 2.479, de 08 de março de 1979: regulamenta o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Poder
Executivo do Estado do Rio de Janeiro. .........................................................................................................................................................143
Hora de Praticar .......................................................................................................................................................................................................160
É de fundamental importância um olhar atento ao signi-
PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO. ficado de cada um destes princípios, posto que eles estru-
turam todas as regras éticas prescritas no Código de Ética e
na Lei de Improbidade Administrativa, tomando como base
os ensinamentos de Carvalho Filho1 e Spitzcovsky2:
Regime jurídico é uma expressão que designa o trata-
mento normativo que o ordenamento confere a determi- a) Princípio da legalidade: Para o particular, legalidade
nado assunto. Com efeito, o regime jurídico administrativo significa a permissão de fazer tudo o que a lei não
corresponde ao conjunto de regras e princípios que estru- proíbe. Contudo, como a administração pública re-
turam o Direito Administrativo, atribuindo-lhe autonomia presenta os interesses da coletividade, ela se sujeita
enquanto um ramo autônomo da ciência jurídica. No mais, a uma relação de subordinação, pela qual só poderá
coloca-se o Estado numa posição verticalizada em relação fazer o que a lei expressamente determina (assim, na
ao administrado. esfera estatal, é preciso lei anterior editando a maté-
Logo, regime jurídico-administrativo é o conjunto de ria para que seja preservado o princípio da legalida-
princípios e regras que compõem o Direito Administrativo, de). A origem deste princípio está na criação do Es-
conferindo prerrogativas e fixando restrições à Administra- tado de Direito, no sentido de que o próprio Estado
ção Pública peculiares, não presentes no direito privado, deve respeitar as leis que dita.
bem como a colocando em uma posição de supremacia b) Princípio da impessoalidade: Por força dos inte-
quanto aos administrados. resses que representa, a administração pública está
Os objetivos do regime jurídico-administrativo são o de proibida de promover discriminações gratuitas. Dis-
proteção dos direitos individuais frente ao Estado e de sa- criminar é tratar alguém de forma diferente dos de-
tisfação de interesses coletivos. mais, privilegiando ou prejudicando. Segundo este
Os princípios e regras que o compõem se encontram princípio, a administração pública deve tratar igual-
espalhados pela Constituição e por legislações infraconsti- mente todos aqueles que se encontrem na mesma
tucionais. A base do regime jurídico administrativo está nos situação jurídica (princípio da isonomia ou igualda-
princípios que regem a Administração Pública. de). Por exemplo, a licitação reflete a impessoalidade
no que tange à contratação de serviços. O princípio
da impessoalidade correlaciona-se ao princípio da fi-
#FicaDica nalidade, pelo qual o alvo a ser alcançado pela admi-
nistração pública é somente o interesse público. Com
Regime jurídico administrativo = regras + efeito, o interesse particular não pode influenciar no
princípios = normas que compõem o Direito
tratamento das pessoas, já que deve-se buscar so-
Administrativo
mente a preservação do interesse coletivo.
c) Princípio da moralidade: A posição deste princípio
1. Princípios constitucionais expressos no artigo 37 da CF representa o reconhecimento
de uma espécie de moralidade administrativa, in-
Art. 37, Constituição Federal. A administração pública timamente relacionada ao poder público. A admi-
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Es- nistração pública não atua como um particular, de
tados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos modo que enquanto o descumprimento dos precei-
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, tos morais por parte deste particular não é punido
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] pelo Direito (a priori), o ordenamento jurídico adota
São princípios da administração pública, nesta ordem: tratamento rigoroso do comportamento imoral por
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi- parte dos representantes do Estado. O princípio da
ciência. moralidade deve se fazer presente não só para com
os administrados, mas também no âmbito interno.
Está indissociavelmente ligado à noção de bom ad-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

#FicaDica ministrador, que não somente deve ser conhecedor


Para memorizar: veja que as iniciais das da lei, mas também dos princípios éticos regentes da
palavras formam o vocábulo LIMPE, que remete função administrativa. TODO ATO IMORAL SERÁ DI-
à limpeza esperada da Administração Pública. RETAMENTE ILEGAL OU AO MENOS IMPESSOAL, daí
Legalidade a intrínseca ligação com os dois princípios anteriores.
Impessoalidade d) Princípio da publicidade: A administração pública é
Moralidade obrigada a manter transparência em relação a todos
Publicidade
seus atos e a todas informações armazenadas nos
Eficiência
seus bancos de dados. Daí a publicação em órgãos
1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra-
tivo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
2 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
Método, 2011.

1
da imprensa e a afixação de portarias. Por exemplo, a) Princípio da legitimidade: todo ato administrativo
a própria expressão concurso público (art. 37, II, CF) praticado pela Administração Pública é presumido
remonta ao ideário de que todos devem tomar co- legítimo. Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que,
nhecimento do processo seletivo de servidores do “há cinco fundamentos para justificar a presunção de
Estado. Diante disso, como será visto, se negar inde- legitimidade: a) o procedimento e as formalidades
vidamente a fornecer informações ao administrado que antecedem sua edição, constituindo garantia de
caracteriza ato de improbidade administrativa. observância da lei; b) o fato de expressar a soberania
do poder estatal, de modo que a autoridade que ex-
No mais, prevê o §1º do artigo 37, CF, evitando que o pede o ato; c) a necessidade de assegurar celeridade
princípio da publicidade seja deturpado em propaganda no cumprimento das decisões administrativas; d) os
político-eleitoral: mecanismos de controle sobre a legalidade do ato;
Artigo 37, §1º, CF. A publicidade dos atos, programas, e) a sujeição da Administração ao princípio da legali-
obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter dade, presumindo-se que seus atos foram praticados
caráter educativo, informativo ou de orientação social, em conformidade com a lei”.
dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que b) Princípio da participação: Quem deve participar
caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servido- é quem vive na sociedade, é o cidadão, aquele que
res públicos. pode ter direitos. Participar é ao mesmo tempo um
Somente pela publicidade os indivíduos controlarão direito e um dever. O cidadão deve participar, esta é
a legalidade e a eficiência dos atos administrativos. Os uma obrigação de todo aquele que vive em socieda-
instrumentos para proteção são o direito de petição e as de. E o cidadão deve ter espaço para participar. Com
certidões (art. 5°, XXXIV, CF), além do habeas data e - resi- a ampliação do conceito de soberania e cidadania
dualmente - do mandado de segurança. Neste viés, ainda, e, consequentemente, da responsabilidade do cida-
prevê o artigo 37, CF em seu §3º: dão, se torna ainda mais evidente esta necessidade
Artigo 37, §3º, CF. A lei disciplinará as formas de par- de participar. A democracia brasileira adota a moda-
ticipação do usuário na administração pública direta e lidade semidireta, porque possibilita a participação
indireta, regulando especialmente: popular direta no poder por intermédio de processos
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular
públicos em geral, asseguradas a manutenção de servi- (art. 14, CF). No entanto, reconhece-se que as hipó-
ços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, teses de participação constitucionalmente expressas
externa e interna, da qualidade dos serviços; não esgotam o rol de possibilidades de exercício da
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a participação pelo povo. Por exemplo, o próprio exer-
informações sobre atos de governo, observado o dispos- cício de liberdade de manifestação se encaixa como
to no art. 5º, X e XXXIII; participação, tal como a participação em audiências
III - a disciplina da representação contra o exercício públicas, etc.
negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na c) Princípios da razoabilidade e proporcionalidade:
administração pública. Razoabilidade e proporcionalidade são fundamentos
de caráter instrumental na solução de conflitos que
e) Princípio da eficiência: A administração pública se estabeleçam entre direitos, notadamente quando
deve manter o ampliar a qualidade de seus serviços não há legislação infraconstitucional específica abor-
com controle de gastos. Isso envolve eficiência ao dando a temática objeto de conflito. Neste sentido,
contratar pessoas (o concurso público seleciona os quando o poder público toma determinada decisão
mais qualificados ao exercício do cargo), ao manter administrativa deve se utilizar destes vetores para
tais pessoas em seus cargos (pois é possível exone- determinar se o ato é correto ou não, se está atin-
rar um servidor público por ineficiência) e ao con- gindo indevidamente uma esfera de direitos ou se é
trolar gastos (limitando o teto de remuneração), por regular. Tanto a razoabilidade quanto a proporciona-
exemplo. O núcleo deste princípio é a procura por lidade servem para evitar interpretações esdrúxulas
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

produtividade e economicidade. Alcança os serviços manifestamente contrárias às finalidades do texto


públicos e os serviços administrativos internos, se re- declaratório.
ferindo diretamente à conduta dos agentes.
Razoabilidade e proporcionalidade guardam, assim, a
2. Princípios administrativos implícitos mesma finalidade, mas se distinguem em alguns pontos.
Historicamente, a razoabilidade se desenvolveu no direito
Além destes cinco princípios administrativo-constitu- anglo-saxônico, ao passo que a proporcionalidade se origi-
cionais diretamente selecionados pelo constituinte, podem na do direito germânico (muito mais metódico, objetivo e
ser apontados outros princípios que regem a função públi- organizado), muito embora uma tenha buscado inspiração
ca, esparsos na legislação infraconstitucional e implícitos na outra certas vezes. Por conta de sua origem, a propor-
na norma constitucional: cionalidade tem parâmetros mais claros nos quais pode ser
trabalhada, enquanto a razoabilidade permite um processo
interpretativo mais livre. Evidencia-se o maior sentido jurí-

2
dico e o evidente caráter delimitado da proporcionalidade dos Motivos Determinantes. O entendimento majoritário
pela adoção em doutrina de sua divisão clássica em 3 sen- da doutrina, porém, é de que, mesmo no ato discricionário,
tidos: é necessária a motivação para que se saiba qual o caminho
- adequação, pertinência ou idoneidade: significa que o adotado pelo administrador. Gasparini4, com respaldo no
meio escolhido é de fato capaz de atingir o objetivo art. 50 da Lei n. 9.784/98, aponta inclusive a superação de
pretendido; tais discussões doutrinárias, pois o referido artigo exige a
- necessidade ou exigibilidade: a adoção da medida motivação para todos os atos nele elencados, compreen-
restritiva de um direito humano ou fundamental so- dendo entre estes, tanto os atos discricionários quanto os
mente é legítima se indispensável na situação em vinculados.
concreto e se não for possível outra solução menos f) Princípio da probidade: um princípio constitucional
gravosa; incluído dentro dos princípios específicos da licita-
- proporcionalidade em sentido estrito: tem o senti- ção, é o dever de todo o administrador público, o de-
do de máxima efetividade e mínima restrição a ser ver de honestidade e fidelidade com o Estado, com a
guardado com relação a cada ato jurídico que recaia população, no desempenho de suas funções. Possui
sobre um direito humano ou fundamental, notada- contornos mais definidos do que a moralidade. Di-
mente verificando se há uma proporção adequada ógenes Gasparini5 alerta que alguns autores tratam
entre os meios utilizados e os fins desejados. veem como distintos os princípios da moralidade e
da probidade administrativa, mas não há caracterís-
d) Princípio da economicidade: Deve ser buscado ticas que permitam tratar os mesmos como procedi-
sempre o menor custo para atingir ao fim pretendi- mentos distintos, sendo no máximo possível afirmar
do pela Administração. Afinal, o dinheiro que é gasto que a probidade administrativa é um aspecto parti-
pelo governo pertence ao povo, que contribui por cular da moralidade administrativa.
meio de impostos, e deve ser adequadamente geri- g) Princípio da continuidade dos serviços públicos:
do para ampliar o bem-estar social. O Estado assumiu a prestação de determinados ser-
e) Princípio da motivação: É a obrigação conferida ao viços, por considerar que estes são fundamentais à
administrador de motivar todos os atos que edita, coletividade. Apesar de os prestar de forma descen-
gerais ou de efeitos concretos. É considerado, entre tralizada ou mesmo delegada, deve a Administração,
os demais princípios, um dos mais importantes, uma até por uma questão de coerência, oferecê-los de
vez que sem a motivação não há o devido proces- forma contínua e ininterrupta. Pelo princípio da con-
so legal, uma vez que a fundamentação surge como tinuidade dos serviços públicos, o Estado é obrigado
meio interpretativo da decisão que levou à prática a não interromper a prestação dos serviços que dis-
do ato impugnado, sendo verdadeiro meio de via- ponibiliza. A respeito, tem-se o artigo 22 do Código
bilização do controle da legalidade dos atos da Ad- de Defesa do Consumidor:
ministração.
Motivar significa mencionar o dispositivo legal aplicá- Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
vel ao caso concreto e relacionar os fatos que concreta- concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra
mente levaram à aplicação daquele dispositivo legal. Todos forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
os atos administrativos devem ser motivados para que o serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos es-
Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo senciais, contínuos.
quanto à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
ser observados os motivos dos atos administrativos. parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as
Em relação à necessidade de motivação dos atos ad- pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os
ministrativos vinculados (aqueles em que a lei aponta um danos causados, na forma prevista neste código.
único comportamento possível) e dos atos discricionários
(aqueles que a lei, dentro dos limites nela previstos, aponta h) Princípios da Tutela e da Autotutela da Adminis-
um ou mais comportamentos possíveis, de acordo com um tração Pública: a Administração possui a faculdade de re-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

juízo de conveniência e oportunidade), a doutrina é unís- ver os seus atos, de forma a possibilitar a adequação destes
sona na determinação da obrigatoriedade de motivação à realidade fática em que atua, e declarar nulos os efeitos
com relação aos atos administrativos vinculados; todavia, dos atos eivados de vícios quanto à legalidade. O sistema
diverge quanto à referida necessidade quanto aos atos dis- de controle dos atos da Administração adotado no Brasil é
cricionários. o jurisdicional. Esse sistema possibilita, de forma inexorá-
Meirelles3 entende que o ato discricionário, editado sob vel, ao Judiciário, a revisão das decisões tomadas no âm-
os limites da Lei, confere ao administrador uma margem bito da Administração, no tocante à sua legalidade. É, por-
de liberdade para fazer um juízo de conveniência e opor- tanto, denominado controle finalístico, ou de legalidade.
tunidade, não sendo necessária a motivação. No entanto,
se houver tal fundamentação, o ato deverá condicionar-se
4 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo:
a esta, em razão da necessidade de observância da Teoria Saraiva, 2004.
3 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Pau- 5 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9ª ed. São Paulo:
lo: Malheiros, 1993. Saraiva, 2004.

3
À Administração, por conseguinte, cabe tanto a anu- co é indisponível, o que implica em afirmar que todo
lação dos atos ilegais como a revogação de atos válidos e o patrimônio público deve ser preservado e gerido
eficazes, quando considerados inconvenientes ou inopor- de maneira adequada. Por isso, confere-se ao agen-
tunos aos fins buscados pela Administração. Essa forma de te administrador da coisa pública o dever de prestar
controle endógeno da Administração denomina-se prin- contas sobre o patrimônio por ele controlado, evi-
cípio da autotutela. Ao Poder Judiciário cabe somente a tando que a coisa se perca ou se deteriore de ma-
anulação de atos reputados ilegais. O embasamento de tais neira indevida.
condutas é pautado nas Súmulas 346 e 473 do Supremo
Tribunal Federal.
Súmula 346. A administração pública pode declarar a
nulidade dos seus próprios atos.
EXERCÍCIO COMENTADO
Súmula 473. A administração pode anular seus próprios
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque 1.(TJ-SP - JUIZ - VUNESP/2013) O princípio da autotu-
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de tela administrativa, consagrado no Enunciado nº 473 das
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adqui- Súmulas do STF (“473 – a Administração pode anular seus
ridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ile-
gais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los,
Os atos administrativos podem ser extintos por revogação por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
ou anulação. A Administração tem o poder de rever seus pró- os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
prios atos, não apenas pela via da anulação, mas também pela apreciação judicial”), fundamento invocado pela Adminis-
da revogação. Aliás, não é possível revogar atos vinculados, tração para desfazer ato administrativo que afete interesse
mas apenas discricionários. A revogação se aplica nas situa- do administrado, desfavorecendo sua posição jurídica,
ções de conveniência e oportunidade, quanto que a anulação
serve para as situações de vício de legalidade. a) confunde-se com a chamada tutela administrativa.
b) prescinde da instauração de prévio procedimento ad-
i) Princípio da Segurança Jurídica: segurança jurídica
ministrativo, pois tem como objetivo a restauração da
é a garantia social de que as leis serão respeitadas
ordem jurídica, em respeito ao princípio da legalidade
e cobrirão o mais vasto possível rol relações social-
que rege a Administração Pública.
mente relevantes. Em termos objetivos, versa sobre a
c) exige prévia instauração de processo administrativo,
irretroatividade de nova interpretação de lei no âm-
para assegurar o devido processo legal.
bito da Administração Pública. Em termos subjetivos,
d). pode ser invocado apenas em relação aos atos adminis-
versa sobre a confiança da sociedade nos atos, pro-
trativos ilegais.
cedimentos e condutas proferidas pelo Estado.
j) Princípio da finalidade: O princípio da finalidade Resposta: “Letra C”. O art. 5º, LV da Constituição Fede-
imprime à autoridade administrativa o dever de pra- ral garante o contraditório e ampla defesa aos litigantes
ticar o ato administrativo com vistas à realização da em processo judicial ou administrativo (“aos litigantes,
finalidade perseguida pela lei. A finalidade sempre em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
envolverá a preservação do interesse público. em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
k) Princípio da supremacia do interesse público so- com os meios e recursos a ela inerentes”). Cuidado com a
bre o privado: Na maioria das vezes, a Administra- palavra “prescinde” muito comum em questões de prova
ção, para buscar de maneira eficaz tais interesses, que significa “dispensável”.
necessita ainda de se colocar em um patamar de su- A. Não se confunde com a tutela administrativa.
perioridade em relação aos particulares, numa rela- B. Vide justificativa da alternativa correta.
ção de verticalidade, e para isto se utiliza do princípio C. Também pode ser invocada quanto a atos inconvenien-
da supremacia, conjugado ao princípio da indispo- tes ou inoportunos, respeitado o direito adquirido.
nibilidade, pois, tecnicamente, tal prerrogativa é ir-
renunciável, por não haver faculdade de atuação ou
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

2. (FUNDAÇÃO CASA - ANALISTA ADMINISTRATIVO -


não do Poder Público, mas sim “dever” de atuação. VUNESP/2013) Legalidade, impessoalidade, moralidade,
Sempre que houver conflito entre um interesse indivi- publicidade e eficiência são, para os Poderes da União, dos
dual e um interesse público coletivo, deve prevalecer Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
o interesse público. São as prerrogativas conferidas
à Administração Pública, porque esta atua por conta a) os princípios constitucionais da Administração Pública,
de tal interesse. Com efeito, o exame do princípio direta e indireta.
é predominantemente feito no caso concreto, anali- b) os princípios e práticas fundamentais do Direito Público.
sando a situação de conflito entre o particular e o in- c) os princípios éticos e morais da Administração Pública o
teresse público e mensurando qual deve prevalecer. do Direito Constitucional.
l) Princípio da indisponibilidade do interesse pú- d) as regras e práticas que norteiam as Administrações pú-
blico: A Administração não possui livre disposição blica e privada.
dos bens e interesses públicos, uma vez que atua em e) as políticas, princípios e práticas do Poder Público nas
nome de terceiros, a coletividade. O interesse públi- Administrações direta e indireta.

4
Resposta: “Letra A”. De acordo com o art. 37, caput da Já que não possuem personalidade, atuam apenas no
Constituição Federal: “a administração pública direta e cumprimento da lei, não atuando por vontade própria.
indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Esta- Logo, órgãos são impessoais quando agem no estrito cum-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos primento de seus deveres, não respondendo diretamente
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, por seus atos e danos – o órgão central, com personalida-
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte [...]”. de, que responderá.
B. São mais do que simples princípios e práticas funda- Esta impossibilidade de se imputar diretamente a res-
mentais, pois são verdadeiros princípios constitucionais. ponsabilidade a agentes ou órgãos públicos que estejam
C. Não são meras regras éticas ou morais, mas sim ver- exercendo atribuições da Administração direta é denomi-
dadeiramente jurídicas. nada teoria da imputação objetiva, de Otto Giërke, que
D. Não são apenas regras ou práticas, mas verdadeiras institui o princípio da impessoalidade.
normas jurídicas constitucionais e, como tais, coativa-
mente obrigatórias. 2. Órgãos Públicos: teorias
D. Não são meras políticas, princípios ou práticas, mas
verdadeiras normas jurídicas constitucionais e, como “Várias teorias surgiram para explicar as relações do
tais, coativamente obrigatórias. Estado, pessoa jurídica, com suas agentes: Pela teoria do
mandato, o agente público é mandatário da pessoa jurí-
dica; a teoria foi criticada por não explicar como o Estado,
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: DIRETA E que não tem vontade própria, pode outorgar o mandato”6.
A origem desta teoria está no direito privado, não tendo
INDIRETA.
como prosperar porque o Estado não pode outorgar man-
dato a alguém, afinal, não tem vontade própria.
Num momento seguinte, adotou-se a teoria da repre-
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA sentação: “Posteriormente houve a substituição dessa con-
cepção pela teoria da representação, pela qual a vontade
dos agentes, em virtude de lei, exprimiria a vontade do Es-
1. Administração Direta
tado, como ocorre na tutela ou na curatela, figuras jurídicas
que apontam para representantes dos incapazes. Ocorre
Administração Pública direta é aquela formada pelos que essa teoria, além de equiparar o Estado, pessoa jurí-
entes integrantes da federação e seus respectivos órgãos. dica, ao incapaz (sendo que o Estado é pessoa jurídica do-
Os entes políticos são a União, os Estados, o Distrito Fe- tada de capacidade plena), não foi suficiente para alicerçar
deral e os Municípios. À exceção da União, que é dotada um regime de responsabilização da pessoa jurídica perante
de soberania, todos os demais são dotados de autonomia. terceiros prejudicados nas circunstâncias em que o agente
ultrapassasse os poderes da representação”7. Criticou-se a
1.1 Dispõe o Decreto nº 200/1967: teoria porque o Estado estaria sendo visto como um su-
jeito incapaz, ou seja, uma pessoa que não tem condições
Art. 4° A Administração Federal compreende: plenas de manifestar, de falar, de resolver pendências; bem
I - A Administração Direta, que se constitui dos serviços como porque se o representante estatal exorbitasse seus
integrados na estrutura administrativa da Presidência poderes, o Estado não poderia ser responsabilizado.
da República e dos Ministérios. Finalmente, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giër-
ke, segundo a qual os órgãos são apenas núcleos adminis-
A administração direta é formada por um conjunto de trativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas que
núcleos de competências administrativas, os quais já foram podem ser organizados por decretos autônomos do Exe-
tidos como representantes do poder central (teoria da re- cutivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personalida-
presentação) e como mandatários do poder central (teoria de jurídica própria. Com efeito, o Estado brasileiro responde
do mandato). pelos atos que seus agentes praticam, mesmo se estes atos
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Hoje, adota-se a teoria do órgão, de Otto Giërke, se- extrapolam das atribuições estatais conferidas, sendo-lhe as-
gundo a qual os órgãos e agentes são apenas núcleos ad- segurado o direito de regresso.
ministrativos criados e extintos exclusivamente por lei, mas A teoria da imputação objetiva, derivada da teoria do
que podem ser organizados por decretos autônomos do órgão, também de Otto Giërke, impõe que o órgão central da
Executivo (art. 84, VI, CF), sendo desprovidos de personali- Administração, por ser o único dotado de personalidade jurídi-
dade jurídica própria. ca, responderá por danos praticados em seus órgãos desper-
Assim, os órgãos da Administração direta não possuem sonalizados e por seus agentes. Não significa que os agentes
patrimônio próprio; e não assumem obrigações em nome ficarão impunes, mas caberá à Administração buscar contra ele
próprio e nem direitos em nome próprio (não podem ser o direito de regresso, retomando o que foi obrigada a indenizar.
autor nem réu em ações judiciais, exceto para fins de man-
dado de segurança – tanto como impetrante como quanto 6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São
Paulo: Atlas editora, 2010.
impetrado). 7 NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo – esquematizado,
completo, atualizado, temas polêmicos, conteúdo dos principais con-
cursos públicos. 3. ed. São Paulo: Atlas editora, 2013.

5
Ex.: se uma pessoa é vítima de dano numa delegacia estadual Conforme Carvalho Filho8, “a noção de Estado, como visto,
por parte de um delegado da polícia civil, ajuizará demanda in- não pode abstrair-se da de pessoa jurídica. O Estado, na ver-
denizatória contra a Fazenda Pública do Estado, a qual poderá dade, é considerado um ente personalizado, seja no âmbito
exercer direito de regresso contra o agente público, delegado internacional, seja internamente. Quando se trata de Federa-
causador do dano. Repare que a Administração não se exime ção, vigora o pluripersonalismo, porque além da pessoa ju-
de indenizar mesmo que seu agente seja culpado. rídica central existem outras internas que compõem o sistema
político. Sendo uma pessoa jurídica, o Estado manifesta sua
vontade através de seus agentes, ou seja, as pessoas físicas
#FicaDica que pertencem a seus quadros. Entre a pessoa jurídica em si
e os agentes, compõe o Estado um grande número de repar-
Teoria do mandato e teoria da representação: tições internas, necessárias à sua organização, tão grande é a
ultrapassadas. extensão que alcança e tamanha as atividades a seu cargo.
Teoria do órgão: adotada. Tais repartições é que constituem os órgãos públicos”.
A teoria da imputação objetiva deriva da teoria Apresenta-se, detalhes, a classificação dos órgãos:
do órgão. Ambas são de autoria de Otto Giërke. a) Quanto à pessoa federativa: federais, estaduais, distri-
tais e municipais.
b) Quanto à situação estrutural: os diretivos, que são
aqueles que detêm condição de comando e de direção,
3. Órgãos Públicos: classificações e os subordinados, incumbidos das funções rotineiras
de execução.
Quanto se faz desconcentração da autoridade central c) Quanto à composição: singulares, quando integrados
– chefe do Executivo – para os seus órgãos, se depara com em um só agente, e os coletivos, quando compostos
diversos níveis de órgãos, que podem ser classificados em por vários agentes.
simples ou complexos (simples se possuem apenas uma d) Quanto à esfera de ação: centrais, que exercem atribui-
estrutura administrativa, complexos se possuem uma rede ções em todo o território nacional, estadual, distrital e
de estruturas administrativas) e em unitários ou colegiados municipal, e os locais, que atuam em parte do território.
(unitário se o poder de decisão se concentra em uma pessoa, e) Quanto à posição estatal: são os que representam os po-
colegiado se as decisões são tomadas em conjunto e preva- deres do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
lece a vontade da maioria): f) Quanto à estrutura: simples ou unitários e compostos.
Os órgãos compostos são constituídos por vários ou-
a) Órgãos independentes – encabeçam o poder ou estru- tros órgãos.
tura do Estado, gozando de independência para agir e
não se submetendo a outros órgãos. Cabe a eles defi- 4. Administração Indireta
nir as políticas que serão implementadas. É o caso da
Presidência da República, órgão complexo composto A Administração Pública indireta pode ser definida como
pelo gabinete, pela Advocacia-Geral da União, pelo um grupo de pessoas jurídicas de direito público ou privado,
Conselho da República, pelo Conselho de Defesa, e criadas ou instituídas a partir de lei específica, que atuam pa-
unitário (pois o Presidente da República é o único que ralelamente à Administração direta na prestação de serviços
toma as decisões). públicos ou na exploração de atividades econômicas.
b) Órgãos autônomos – estão no primeiro escalão do po- “Enquanto a Administração Direta é composta de órgãos
internos do Estado, a Administração Indireta se compõe de
der, com autonomia funcional, porém subordinados
pessoas jurídicas, também denominadas de entidades”9. Em
politicamente aos independentes. É o caso de todos os
que pese haver entendimento diverso registrado em nossa
ministérios de Estado.
doutrina, integram a Administração indireta do Estado quatro
c) Órgãos superiores – são desprovidos de autonomia ou
espécies de pessoa jurídica, a saber: as Autarquias, as Funda-
independência, sendo plenamente vinculados aos ór- ções, as Sociedades de Economia Mista e as Empresas Públicas.
gãos autônomos. Ex.: Delegacia Regional do Trabalho,
vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego; De-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

4.1. Dispõe o Decreto nº 200/1967:


partamento da Polícia Federal, vinculado ao Ministério
da Justiça. Art. 4° A Administração Federal compreende:
d) Órgãos subalternos – são vinculados a todos acima de- II - A Administração Indireta, que compreende as seguin-
les com plena subordinação administrativa. Ex.: órgãos tes categorias de entidades, dotadas de personalidade
que executam trabalho de campo, policiais federais, fis- jurídica própria:
cais do MTE. a) Autarquias;
b) Empresas Públicas;
O Ministério Público, os Tribunais de Contas e as De- c) Sociedades de Economia Mista.
fensorias Públicas não se encaixam nesta estrutura, sendo d) fundações públicas.
órgãos independentes constitucionais. Em verdade, para
Canotilho e outros constitucionalistas, estes órgãos não 8 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.
23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
pertencem nem mesmo aos três poderes. 9 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo.
23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

6
Ao lado destas, podemos encontrar ainda entes que pres- Resposta: Errado. Vigora no Direito Administrativo
tam serviços públicos por delegação, embora não integrem brasileiro a teoria do órgão, de Otto Giërke. Quando um
os quadros da Administração, quais sejam, os permissioná- agente público atua, é como se o próprio Estado atuasse,
rios, os concessionários e os autorizados. então não há problemas com o fato da advocacia pública
Essas quatro pessoas integrantes da Administração indi- defender o ocupante de um cargo público, não importan-
reta serão criadas para a prestação de serviços públicos ou, do se o cargo é efetivo ou em comissão.
ainda, para a exploração de atividades econômicas, como no
caso das empresas públicas e sociedades de economia mista, 2. (TRF-1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA
e atuam com o objetivo de aumentar o grau de especialidade ADMINISTRATIVA – CESPE – 2017) No que diz respeito
e eficiência da prestação do serviço público ou, quando ex- a organização administrativa, julgue o item que se segue.
ploradoras de atividades econômicas, visando atender a rele- Órgão público é ente despersonalizado, razão por que lhe
vante interesse coletivo e imperativos da segurança nacional. é defeso, em qualquer hipótese, ser parte em processo ju-
Com efeito, de acordo com as regras constantes do arti- dicial, ainda que a sua atuação seja indispensável à defesa
go 173 da Constituição Federal, o Poder Público só poderá de suas prerrogativas institucionais.
explorar atividade econômica a título de exceção, em duas
situações, conforme se colhe do caput do referido artigo, a ( ) CERTO ( ) ERRADO
seguir reproduzido:
Artigo 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constitui- Resposta: Errado. Caso a atuação direta do órgão públi-
ção, a exploração direta de atividade econômica pelo Es- co seja indispensável às suas prerrogativas institucionais,
tado só será permitida quando necessária aos imperativos protegendo suas atividades, sua autonomia e sua inde-
de segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, pendência, poderá atuar como parte em processo judicial.
conforme definidos em lei. O entendimento é firmado pelo próprio STJ (5a Turma; RO
em MS: 21.813/AP; Rel. Min. FELIX FISCHER; Data de Jul-
Cumpre esclarecer que, de acordo com as regras constitucio- gamento: 13/12/2007).
nais e em razão dos fins desejados pelo Estado, ao Poder Público
não cumpre produzir lucro, tarefa esta deferida ao setor privado.
3. (TRF0-1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFI-
Assim, apenas explora atividades econômicas nas situações in-
CIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL – CES-
dicadas no artigo 173 do Texto Constitucional. Quando atuar na
PE–2017) A respeito da organização do Estado e da admi-
economia, concorre em grau de igualdade com os particulares,
nistração pública, julgue o item a seguir.
e sob o regime do artigo 170 da Constituição, inclusive quanto
O principal critério de distinção entre empresa pública e so-
à livre concorrência, submetendo-se ainda a todas as obrigações
ciedade de economia mista é que esta integra a administra-
constantes do regime jurídico de direito privado, inclusive no to-
cante às obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. ção indireta, enquanto aquela integra a administração direta.

( ) CERTO ( ) ERRADO
#FicaDica
Resposta: Errado. O artigo 4º, II, Decreto nº 200/1967
Administração indireta: autarquias (inclui agên- enumera as sociedades de economia mista e as empresas
cias reguladoras e agências executivas), funda- públicas, ambas, como integrantes da administração in-
ções públicas, empresas públicas e sociedades direta, ao lado das autarquias e das fundações públicas.
de economia mista.
Não compõem a Administração indireta: con-
cessionárias e permissionárias, além de entida-
des paraestatais (terceiro setor). ATOS ADMINISTRATIVOS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCEITOS, REQUISITOS, ELEMENTOS, PRESSU-


EXERCÍCIO COMENTADO POSTOS, CLASSIFICAÇÃO E ESPÉCIES

1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – JUDICIÁRIA – CES- 1. Conceitos e pressupostos


PE – 2018) Tendo como referência a jurisprudência dos tri-
bunais superiores a respeito da organização administrativa O ato administrativo é uma espécie de fato administra-
e dos agentes públicos, julgue o item a seguir. tivo e é em torno dele que se estrutura a base teórica do
O fato de a advocacia pública, no âmbito judicial, defender direito administrativo.
ocupante de cargo comissionado pela prática de ato no Por seu turno, “a expressão atos da Administração
exercício de suas atribuições amolda-se à teoria da repre- traduz sentido amplo e indica todo e qualquer ato que
sentação. se origine dos inúmeros órgãos que compõem o sistema
administrativo em qualquer dos Poderes. [...] Na verdade,
( ) CERTO ( ) ERRADO entre os atos da Administração se enquadram atos que

7
não se caracterizam propriamente como atos administra- vo formal. Já os fatos administrativos naturais são aqueles que
tivos, como é o caso dos atos privados da Administração. se originam de fenômenos da natureza, cujos efeitos se refle-
Exemplo: os contratos regidos pelo direito privado, como a tem na órbita administrativa. Assim, quando se fizer referência
compra e venda, a locação etc. No mesmo plano estão os a fato administrativo, deverá estar presente unicamente a no-
atos materiais, que correspondem aos fatos administrativos, ção de que ocorreu um evento dinâmico da Administração”12.
noção vista acima: são eles atos da Administração, mas não
configuram atos administrativos típicos. Alguns autores alu- Requisitos ou elementos
dem também aos atos políticos ou de governo”10.
Com efeito, a expressão atos da Administração é mais 1) Competência: é o poder-dever atribuído a determina-
ampla. Envolve, também, os atos privados da Administração, do agente público para praticar certo ato administra-
referentes às ações da Administração no atendimento de tivo. A pessoa jurídica, o órgão e o agente público de-
seus interesses e necessidades operacionais e instrumentais vem estar revestidos de competência. A competência
agindo no mesmo plano de direitos e obrigações que os par- é sempre fixada por lei.
ticulares. O regime jurídico será o de direito privado. Ex.: con- 2) Finalidade: é a razão jurídica pela qual um ato admi-
trato de aluguel de imóveis, compra de bens de consumo, nistrativo foi abstratamente criado pela ordem jurídica.
contratação de água/luz/internet. Basicamente, envolve os A lei estabelece que os atos administrativos devem ser
interesses particulares da Administração, que são secundá- praticados visando a um fim, notadamente, a satisfa-
rios, para que ela possa atender aos interesses primários – no ção do interesse público. Contudo, embora os atos
âmbito destes interesses primários (interesses públicos, di- administrativos sempre tenham por objeto a satisfa-
fusos e coletivos) é que surgem os atos administrativos, que ção do interesse público, esse interesse é variável de
são atos públicos da Administração, sujeitos a regime jurídico acordo com a situação. Se a autoridade administrativa
de direito público. praticar um ato fora da finalidade genérica ou fora da
Os atos administrativos se situam num plano superior de finalidade específica, estará praticando um ato viciado
direitos e obrigações, eis que visam atender aos interesses que é chamado “desvio de poder ou desvio de finali-
públicos primários, denominados difusos e coletivos. Logo, dade”.
são atos de regime público, sujeitos a pressupostos de exis- 3) Forma: é a maneira pela qual o ato se revela no mundo
tência e validade diversos dos estabelecidos para os atos jurídico. Usualmente, adota-se a forma escrita. Eventu-
jurídicos no Código Civil, e sim previstos na Lei de Ação Po- almente, pode ser praticado por sinais ou gestos (ex.:
pular e na Lei de Processo Administrativo Federal. Ao invés trânsito). A forma é sempre fixada por lei.
de autonomia da vontade, haverá a obrigatoriedade do cum- 4) Motivo (vontade): vontade é o querer do ato admi-
primento da lei e, portanto, a administração só poderá agir nistrativo e dela se extrai o motivo, que é o aconte-
nestas hipóteses desde que esteja expressa e previamente cimento real que autoriza/determina a prática do ato
autorizada por lei11. administrativo. É o ato baseado em fatos e circuns-
tâncias, que o administrador por escolher, mas deve
#FicaDica respeitar os limites e intenções da lei. Nem sempre os
atos administrativos possuem motivo legal. Nos casos
Atos da Administração ≠ Atos administrativos. em que o motivo legal não está descrito na norma, a
Atos privados da Administração = atos da lei deu competência discricionária para que o sujeito
Administração → regime jurídico de direito escolha o motivo legal (o motivo deve ser oportuno e
privado. conveniente). A teoria dos Motivos Determinantes afir-
Atos públicos da Administração = atos ma que os motivos alegados para a prática de um ato
administrativos → regime jurídico de direito administrativo ficam a ele vinculados de tal modo que
público. a prática de um ato administrativo mediante a alega-
ção de motivos falsos ou inexistentes determina a sua
invalidade.
2. Fato e ato administrativo 5) Objeto (conteúdo): é o que o ato afirma ou declara,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

manifestando a vontade do Estado. A lei não fixa qual


Fato administrativo é a “atividade material no exercício deve ser o conteúdo ou objeto de um ato administra-
da função administrativa, que visa a efeitos de ordem prática tivo, restando ao administrador preencher o vazio nes-
para a Administração. [...] Os fatos administrativos podem ser tas situações. O ato é branco/indefinido. No entanto,
voluntários e naturais. Os fatos administrativos voluntários se deve se demonstrar que a prática do ato é oportuna
materializam de duas maneiras: 1ª) por atos administrativos, e conveniente.
que formalizam a providência desejada pelo administra-
dor através da manifestação da vontade; 2ª) por condutas Obs.: Quando se diz que a escolha do motivo e do objeto
administrativas, que refletem os comportamentos e as ações do ato é discricionária não significa que seja arbitrária, pois
administrativas, sejam ou não precedidas de ato administrati- deve se demonstrar a oportunidade e a conveniência.
Mérito = oportunidade + conveniência
10 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
11 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São Paulo: Prima 12 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
Cursos Preparatórios, 2004. vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.

8
1. Avocação e delegação de competência
#FicaDica
Nos termos do artigo 11 da Lei nº 9.784/1999, “a com-
Para memorizar, note que os requisitos do ato petência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos admi-
administrativo se apresentam sob o mnemôni- nistrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos
co ComFiFoMOb: de delegação e avocação legalmente admitidos”.
COMpetência Delegar é atribuir uma competência que seria sua a ou-
FInalidade tro órgão/agente (pode ser vertical, quando houver subor-
FOrma dinação; ou horizontal, quando não houver subordinação)
Motivo – A delegação é parcial e temporária e pode ser revogada
Objeto a qualquer tempo. Não podem ser delegados os seguintes
atos: Competência Exclusiva, Edição de Ato de Caráter Nor-
mativo, Decisão de Recursos Administrativos.
COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA: CONCEITO E Avocar é solicitar o que seria de competência de outro
CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO para sua esfera de competência. Basicamente, é o oposto
de delegar. Na avocação, o chefe/órgão superior pega para
A Constituição Federal fixa atribuições para as diversas si as atribuições do subordinado/órgão inferior. Como exi-
esferas do Poder Executivo. Entretanto, seria impossível im- ge subordinação, toda avocação é vertical.
por que um único órgão as exercesse por completo. Por
isso, tais atribuições são distribuídas entre os diversos ór- 2. O silêncio no direito administrativo
gãos que compõem a Administração Pública. Esta divisão
das atribuições entre os órgãos da Administração Pú- Relacionada à questão da forma do ato administrativo,
blica é conhecida como competência. surge a discussão sobre o silêncio do ato administrativo, se
Conceitua Carvalho Filho13 que “competência é o círculo esse poderia ou não caracterizar a prática de um ato válido.
definido por lei dentro do qual podem os agentes exer- Neste sentido:
cer legitimamente sua atividade”, afirmando ainda que a “Uma questão interessante que merece ser analisada no
competência administrativa pode ser colocada em plano tocante ao ato administrativo é a omissão da Administração
diverso da competência legislativa e jurisdicional. Pública ou, o chamado silêncio administrativo. Essa omis-
A competência é pressuposto essencial do ato adminis- são é verificada quando a administração deveria expressar
trativo, devendo sempre ser fixada por lei ou pela Cons- uma pronuncia quando provocada por administrado, ou
tituição Federal. Vale ressaltar, no entanto, que a lei e a CF para fins de controle de outro órgão e, não o faz. Para Cel-
fixam as competências primárias, que abrangem o órgão so Antônio Bandeira de Mello, o silêncio da administração
como um todo; podendo existir atos internos de organi- não é um ato jurídico, mas quando produz efeitos jurídi-
zação que fixam as divisões de competências dentro dos cos, pode ser um fato jurídico administrativo. [...] Denota-
órgãos, em seus diversos segmentos. -se que o silêncio pode consistir em omissão, ausência de
A competência se reveste de dois atributos essenciais: manifestação de vontade, ou não. Em determinadas situa-
inderrogabilidade, pois não se transfere de um órgão a ções poderá a lei determinar a Administração Pública ma-
outro por mera vontade entre as partes ou por consen-
nifestar-se obrigatoriamente, qualificando o silêncio como
timento do agente público; e improrrogabilidade, pois
manifestação de vontade. Nesses casos, é possível afirmar
um órgão competente não se transmuta em incompetente
que estaremos diante de um ato administrativo. [...] Desta
mesmo diante de alteração da lei superveniente ao fato.
forma, quando o silêncio é uma forma de manifestação de
O ato praticado por sujeito incompetente prescinde de
vontade, produz efeitos de ato administrativo. Isto porque
pressuposto essencial para o ato administrativo, sendo ele
a lei pode atribuir ao silêncio determinado efeito jurídico,
considerado inexistente e incapaz de produzir efeitos.
após o decurso de certo prazo. Entretanto, na ausência de
É possível fixar os critérios de competência nos seguin-
tes moldes: lei que atribua determinado efeito jurídico ao silêncio, esta-
remos diante de um fato jurídico administrativo”14.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a) Quanto à matéria: abrange a especificidade da fun-


ção, por exemplo, entre Ministérios e Secretarias de
diversas especialidades. 3. Classificação
b) Quanto à hierarquia: abrange a atribuição de ati-
vidades mais complexas a agentes/órgãos de graus a) Classificação quanto ao seu alcance:
superiores dentro dos órgãos. 1) Atos internos: praticados no âmbito interno da Ad-
c) Quanto ao lugar: abrange a descentralização terri- ministração, incidindo sobre órgãos e agentes admi-
torial de atividades. nistrativos.
d) Quanto ao tempo: abrange a atribuição de compe- 2) Atos externos: praticados no âmbito externo da Ad-
tência por tempo determinado, notadamente diante ministração, atingindo administrados e contratados.
de algum evento específico, como de calamidade São obrigatórios a partir da publicação.
pública.
13 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 14 SCHUTA, Andréia. Breves considerações acerca do silêncio adminis-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. trativo. Migalhas, 24 jul. 2008.

9
b) Classificação quanto ao seu objeto: tivadamente com base em fatos e circunstâncias que
1) Atos de império: praticados com supremacia em re- somente o administrador pode escolher. Contudo, tal
lação ao particular e servidor, impondo o seu obriga- escolha não é livre, os fatos e circunstâncias devem
tório cumprimento. ser adequados (razoáveis e proporcionais) aos limites
2) Atos de gestão: praticados em igualdade de condi- e intenções da lei.
ção com o particular, ou seja, sem usar de suas prer-
rogativas sobre o destinatário. Quanto ao grau de subordinação à norma, os atos ad-
3) Atos de expediente: praticados para dar andamento a ministrativos se classificam em vinculados ou discricioná-
processos e papéis que tramitam internamente na ad- rios. “Os atos vinculados são aqueles que tem o procedi-
ministração pública. São atos de rotina administrativa. mento quase que plenamente delineados em lei, enquanto
os discricionários são aqueles em que o dispositivo norma-
c) Classificação dos atos quanto à formação (proces- tivo permite certa margem de liberdade para a atividade
so de elaboração): pessoal do agente público, especialmente no que tange
1) Ato simples: nasce por meio da manifestação de à conveniência e oportunidade, elementos do chamado
vontade de um órgão (unipessoal ou colegiado) ou mérito administrativo. A discricionariedade como poder
agente da Administração. da Administração deve ser exercida consoante determina-
2) Ato complexo: nasce da manifestação de vontade dos limites, não se constituindo em opção arbitrária para
de mais de um órgão ou agente administrativo. o gestor público, razão porque, desde há muito, doutrina
3) Ato composto: nasce da manifestação de vontade e jurisprudência repetem que os atos de tal espécie são
de um órgão ou agente, mas depende de outra von- vinculados em vários de seus aspectos, tais como a compe-
tade que o ratifique para produzir efeitos e tornar-se tência, forma e fim”15.
exequível.
#FicaDica
d) Classificação quanto à manifestação da vontade:
1) Atos unilaterais: São aqueles formados pela mani- Dentre as classificações, merece destaque
festação de vontade de uma única pessoa. Ex.: De- aquela que recai sobre o caráter vinculado ou
missão - Para Hely Lopes Meirelles, só existem os discricionário de um ato administrativo.
atos administrativos unilaterais. Ato vinculado – Obrigatório
2) Atos bilaterais: São aqueles formados pela manifes- – Não há margem para a Administração cum-
tação de vontade de duas pessoas. prir de outra forma
3) Atos multilaterais: São aqueles formados pela von- – A lei fixa requisitos e pressupostos de forma
tade de mais de duas pessoas. expressa e clara, rejeitando margem de inter-
Ex.: Contrato administrativo. pretação.
Ato discricionário – Facultativo
e) Classificação quanto ao destinatário: – O administrador decidirá caso a caso confor-
1) Atos gerais: dirigidos à coletividade em geral, com me critérios de oportunidade e conveniência (o
finalidade normativa, atingindo uma gama de pes- denominado mérito do ato administrativo)
soas que estejam na mesma situação jurídica nele – Há margem de interpretação que a própria
estabelecida. O particular não pode impugnar, pois lei deixa, afinal, a lei não pode tudo regular e
os efeitos são para todos. impedir por completo a atuação do adminis-
2) Atos individuais: dirigidos a pessoa certa e determi- trador porque se caracterizaria ingerência do
nada, criando situações jurídicas individuais. O parti- Legislativo no Executivo.
cular atingido pode impugnar. – Não significa que o administrador pode agir
de forma arbitrária, se seu ato discricionário
f) Classificação quanto ao seu regramento: não atender a parâmetros de razoabilidade e
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1) Atos vinculados: são os que possuem todos os pres- proporcionalidade poderá ser questionado.
supostos e elementos necessários para sua prática e ATENÇÃO: Cabe controle judicial dos atos
perfeição previamente estabelecidos em lei que au- administrativos discricionários? Não quanto
toriza a prática daquele ato. O administrador é um ao mérito, porém sim no caso de violação de
“mero cumpridor de leis”. Também se denomina ato parâmetros gerais do Direito Administrativo,
de exercício obrigatório. como os princípios da administração pública.
2) Atos discricionários: são os atos que possuem parte
de seus pressupostos e elementos previamente fixa-
dos pela lei autorizadora. No mínimo, a competência,
a finalidade e a forma estão previamente fixados na
lei – são os pressupostos vinculados. Aquilo que está
em branco ou indefinido na lei será preenchido pelo 15 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_
administrador. Tal preenchimento deve ser feito mo- artigos_leitura&artigo_id=3741

10
4. Atributos 2. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – CO-
NHECIMENTOS GERAIS – CESPE – 2018) No que se re-
1) Imperatividade: em regra, a Administração decreta e fere a atos administrativos, julgue o item que se segue.
executa unilateralmente seus atos, não dependendo Na classificação dos atos administrativos, um critério co-
da participação e nem da concordância do particular. mum é a formação da vontade, segundo o qual, o ato pode
Do poder de império ou extroverso, que regula a for- ser simples, complexo ou composto. O ato complexo se
ma unilateral e coercitiva de agir da Administração, apresenta como a conjugação de vontade de dois ou mais
se extrai a imperatividade dos atos administrativos. órgãos, que se juntam para formar um único ato com um
2) Autoexecutoriedade: em regra, a Administração pode só conteúdo e finalidade.
concretamente executar seus atos independente da
manifestação do Poder Judiciário, mesmo quando estes ( ) CERTO ( ) ERRADO
afetam diretamente a esfera jurídica de particulares.
3) Presunção de veracidade: todo ato editado ou pu- Resposta: Certo. Conceitua-se ato simples como o que
blicado pela Administração é presumivelmente ver- nasce por meio da manifestação de vontade de um órgão
dadeiro, seja na forma, seja no conteúdo, o que se (unipessoal ou colegiado) ou agente da Administração. Já
denomina “fé pública”. Evidente que tal presunção é o ato complexo é aquele que nasce da manifestação de
relativa (juris tantum), mas é muito difícil de ser ilidi- vontade de mais de um órgão ou agente administrativo
da. Só pode ser quebrada mediante ação declarató- (o ato é uno, mas ocorrerá a manifestação de mais de um
ria de falsidade, que irá argumentar que houve uma agente, todas igualmente relevantes). Já o ato composto
falsidade material (violação física do documento que nasce da manifestação de vontade de um órgão ou agen-
traz o ato) ou uma falsidade ideológica (documento te, mas depende de outra vontade que o ratifique para
que expressa uma inverdade). produzir efeitos e tornar-se exequível.
4) Presunção de legitimidade: Sempre que a Adminis-
tração agir se presume que o fez conforme a lei. Tal 3. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
presunção é relativa (juris tantum), podendo contudo – CESPE – 2018) A respeito do direito administrativo, dos
ser ilidida por qualquer meio de prova. atos administrativos e dos agentes públicos e seu regime,
julgue o item a seguir.
A licença consiste em um ato administrativo unilateral e
#FicaDica discricionário.

Todo ato administrativo tem presunção de ( ) CERTO ( ) ERRADO


veracidade e de legitimidade, mas nem todo
ato administrativo é imperativo (pode precisar Resposta: Errado. Licença é o ato administrativo unila-
da concordância do particular, a exemplo dos teral e vinculado pelo qual a Administração faculta àque-
atos negociais). le que preencha os requisitos legais ao exercício de uma
atividade.

ATOS ADMINISTRATIVOS EM ESPÉCIE


EXERCÍCIOS COMENTADOS
1) Atos normativos: são atos gerais e abstratos visan-
1. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA – do a correta aplicação da lei. São exemplos: decretos,
CESPE – 2018) Julgue o item que se segue, a respeito dos regulamentos, regimentos, resoluções, deliberações,
atos da administração pública. entre outros.
Todos os fatos alegados pela administração pública são A Administração, por intermédio da autoridade que tem
considerados verdadeiros, bem como todos os atos admi- o poder de editá-los, elabora normativas buscando
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

nistrativos são considerados emitidos conforme a lei, em explicar e especificar um comando já contido em lei.
decorrência das presunções de veracidade e de legitimida- Não cabe inovar nestas normativas, pois não cabe ao
de, respectivamente. Executivo legislar. Caso o Executivo transcenda seus
poderes, o Legislativo poderá sustar o ato.
( ) CERTO ( ) ERRADO Surge neste ponto a discussão sobre Decretos autôno-
mos. A Constituição Federal prevê a competência do
Resposta: Certo. Conforme a presunção de veracidade, Presidente da República para dispor sobre a orga-
todo ato editado ou publicado pela Administração é pre- nização e o funcionamento da administração públi-
sumivelmente verdadeiro, seja na forma, seja no conteú- ca federal, conforme art. 84, IV e VI da Constituição
do, o que se denomina “fé pública”. Já de acordo com a Federal: “IV - sancionar, promulgar e fazer publicar
presunção de legitimidade, sempre que a Administração as leis, bem como expedir decretos e regulamen-
agir se presume que o fez conforme a lei. Ambas presun- tos para sua fiel execução; [...] VI - dispor, mediante
ções são relativas ( juris tantum). decreto, sobre: a) organização e funcionamento da

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administração federal, quando não implicar aumen- É possível classificar os pareceres em: parecer facultativo,
to de despesa nem criação ou extinção de órgãos quando faculta algo a alguém (geralmente autoridade supe-
públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, rior a inferior), não sendo obrigatória nem a sua solicitação
quando vagos”. Assim o Executivo desempenha seu e nem que se siga a opinião emanada; parecer técnico, que
poder regulamentar: regulando para buscar a fiel se diferencia do facultativo apenas no aspecto de emanar de
execução de uma lei específica ou para organizar a um agente especializado, com habilidade técnica específica,
administração sem ônus (no último caso, estaríamos sem relação de hierarquia; parecer obrigatório, cuja lei obri-
diante dos chamados decretos autônomos16). ga a sua solicitação, mas não há obrigação em se seguir a
2) Atos ordinatórios: disciplinam o funcionamento da opinião emanada; parecer normativo, cujo caráter se torna
Administração e a conduta de seus agentes. Pos- genérico e abstrato como uma lei; parecer vinculante, que
suem, assim, um caráter interno. nada mais é do que um parecer de solicitação obrigatória e
Se ligam ao aspecto do poder hierárquico, notadamen- cuja opinião necessariamente deve ser seguida.
te, os poderes de ordenar, comandar, fiscalizar e cor- Quanto à responsabilização daquele que emitiu o parecer,
rigir as condutas. Tais atos envolvem delegação de deverá ser considerada a natureza do parecer para determinar
competência, avocação de competência, expedição se há ou não responsabilidade solidária. No caso em que o pa-
de ordem de serviço e instruções específicas (de ca- recer não vincula o administrador, podendo este praticar o ato
ráter não normativo). seguindo ou não o posicionamento defendido e sugerido por
São exemplos: instruções, circulares, avisos, portarias, quem emitiu o parecer, este não pode ser considerado respon-
ofícios, despachos administrativos, decisões admi- sável solidariamente com o agente que possui a competência
nistrativas. e atribuição para o ato administrativo decisório. Contudo, no
3) Atos negociais: são aqueles estabelecidos entre Ad- caso de parecer vinculante, há responsabilidade solidária17.
ministração e administrado em consenso. Em suma,
o particular solicita e a Administração responde – daí
haver uma certa bilateralidade, que, contudo, se di- EXERCÍCIOS COMENTADOS
fere da típica bilateralidade de negócios jurídicos de
natureza civil, pois não existe uma relação de contra-
1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – JUDICIÁRIA – CESPE
prestação usual nos contratos.
– 2018) Julgue o item a seguir, relativo aos atos administra-
Como são solicitados pelo particular, estes atos não são
tivos.
dotados do atributo da imperatividade. Geralmente, o
São exemplos de atos administrativos normativos os decre-
poder público terá discricionariedade em atender ou
tos, as resoluções e as circulares.
não a solicitação (mas a negativa deve ser razoável).
São exemplos: licenças, autorizações, permissões, apro-
( ) CERTO ( ) ERRADO
vações, vistos, dispensa, homologação, renúncia.
4) Atos enunciativos: são aqueles em que a Adminis- Resposta: Errado. Os atos normativos são aqueles que
tração certifica ou atesta um fato sem vincular ao seu tem por objetivo definir os parâmetros de execução da
conteúdo. São atos administrativos apenas no sen- lei e, como ela, possuem generalidade e abstração. Con-
tido formal, pois não manifestam uma vontade da sideram-se atos normativos os decretos e as resoluções.
Administração, mas sim apenas declaram certa infor- Contudo, as circulares, cujo propósito é circular uma in-
mação. Não possuem conteúdo decisório. formação interna importante ao desempenho das fun-
São exemplos: atestados, certidões, pareceres. ções do órgão, orientando seus servidores, carecem de
5) Atos punitivos: são aqueles que emanam punições generalidade e abstração, inserindo-se na categoria de
aos servidores. Se insere no campo do poder disci- atos ordinatórios, cujo propósito é viabilizar o exercício
plinar. São exemplos: advertências, suspensões, cas- do poder hierárquico, disciplinando o funcionamento da
sações e destituições. administração e a atuação dos agentes.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Parecer: responsabilidade do emissor 2. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNICIPAL


DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS BÁSI-
Para entender a controvérsia, basta pensar que se, por COS – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo a atri-
um lado, se os atos administrativos são apenas aqueles que butos, espécies e anulação dos atos administrativos.
exteriorizam uma declaração de vontade do Estado, esta- Regulamento e ordem de serviço são exemplos, respectiva-
riam em regra excluídos os atos de juízo, conhecimento e mente, de ato administrativo normativo e de ato administra-
opinião; por outro lado, se os atos administrativos abran- tivo ordinatório.
gem toda declaração do Estado, teoricamente poderiam
ser englobados os atos de juízo, conhecimento e opinião. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Os pareceres nada mais são do que atos que exteriorizam
17 CRISTóVAM, José Sérgio da Silva; MICHELS, Charliane. O parecer
juízos, conhecimentos ou opiniões.
jurídico e a atividade administrativa: Aspectos destacados acerca da
16 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed. São Pau- natureza jurídica, espécies e responsabilidade do parecerista. Âmbito
lo: Saraiva, 2011. Jurídico, Rio Grande, XV, n. 101, jun. 2012.

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Resposta: Certo. Regulamento tem por fim disciplinar o Feita a ressalva, coloca-se a lição de Celso Antonio Ban-
cumprimento de uma lei, possuindo generalidade e abs- deira de Melo ao discorrer sobre os atos administrativos ine-
tração, sendo assim um ato normativo. Já a ordem de ser- xistentes no sentido de que “consistem em comportamentos
viço visa determinar a um servidor que exerça determinada que correspondem a condutas criminosas, portanto, fora do
atividade de sua alçada, caracterizando-se por sua especifi- possível jurídico e radicalmente vedadas pelo Direito”.
cidade e pela relevância no exercício do poder hierárquico O ato inexistente é aquele que não reúne os elementos
pela Administração, sendo assim um ato ordinatório. necessários à sua formação e, assim, não produz qualquer
consequência jurídica. Já o ato nulo é o ato que embora reú-
na os elementos necessários a sua existência, foi praticado
VALIDADE, VÍCIOS, CONVALIDAÇÃO E EXTINÇÃO com violação da lei, da ordem pública, dos bons costumes ou
DO ATO ADMINISTRATIVO com inobservância da forma legal19.

Destaca-se esquemática trazida por Baldacci18: 1.1. Atos administrativos nulos e anuláveis/Teoria das
- Quando todos os pressupostos especiais exigidos por nulidades
lei estiverem presentes, falamos que o ato é perfeito (P).
- Quanto estes pressupostos preenchidos respeitarem o “Ato nulo é aquele que nasce com vício insanável, nor-
que a lei exige, falamos que é válido (V). malmente resultante da ausência de um de seus elementos
- Quanto está apto a surtir seus efeitos próprios falamos constitutivos, ou de defeito substancial em algum deles (por
que é eficaz (E). exemplo, o ato com motivo inexistente, o ato com objeto não
1) P + V = E. Os atos perfeitos e válidos são eficazes previsto em lei e o ato praticado com desvio de finalidade).
em regra. O ato nulo está em desconformidade com a lei o com os
2) P + V = ineficaz. Os atos perfeitos e válidos podem princípios jurídicos (é um ato ilegal e ilegítimo) e seu defeito
não ser eficazes se estiver pendente o implemento não pode ser convalidado (corrigido). O ato nulo não pode
de condição. produzir efeitos válidos entre as partes. [...] Ato inexistente
3) P + inválido = ineficaz. O ato perfeito e inválido é, é aquele que possui apenas aparência de manifestação de
em regra, ineficaz. vontade da administração pública, mas, em verdade, não se
4) P + inválido = eficaz. O ato perfeito e inválido pode origina de um agente público, mas de alguém que se pas-
sa por tal condição, como o usurpador de função. [...] Ato
ser eficaz se já tiver gerado efeitos próprios e for re-
anulável é o que apresenta defeito sanável, ou seja, passível
levante para a segurança jurídica manter tais efeitos.
de convalidação pela própria administração que o praticou,
5) Imperfeito = inválido + ineficaz. O ato imperfeito
desde que ele não seja lesivo ao interesse público, nem cau-
não é válido e nem eficaz.
se prejuízo a terceiros. São sanáveis o vício de competência
6) Imperfeito = inválido + eficaz. O ato imperfeito
quanto à pessoa, exceto se se tratar de competência exclusi-
pode gerar efeitos impróprios, que não dependem
va, e o vício de forma, a menos que se trate de forma exigida
da execução do ato, como o efeito impróprio reflexo
pela lei como condição essencial à validade do ato”20.
(repercussão em outros atos ou situações jurídicas)
e o efeito impróprio prodrômico (efeito de natureza 1.2. Vícios do ato administrativo
procedimental que implica numa providência ou eta-
pa necessária para aperfeiçoamento do ato, como a Os vícios dos atos administrativos podem se referir a su-
manifestação de um segundo agente ou órgão). jeitos, notadamente: a) Vícios de incompetência do sujeito
7) Imperfeito = válido + ineficaz. O ato imperfeito – pode restar caracterizado o crime de usurpação de função
pode preencher os requisitos de validade, mas se (artigo 328, CP), gerando ato inexistente; pode caracterizar
lhe faltar um pressuposto especial será imperfeito e, excesso de poder, quando excede os limites da competência
logo, ineficaz. que tem, o sujeito pode incidir no crime de abuso de autori-
dade; pode se detectar função de fato, quando quem pratica
Quanto à autoexecutoriedade, atributo do ato admi- o ato está irregularmente investido no cargo, emprego ou
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

nistrativo, em regra, a Administração pode concretamente função – situação com aparência de legalidade – ato conside-
executar seus atos independente da manifestação do Po- rado válido; b) Vícios de incapacidade do sujeito – pode haver
der Judiciário, mesmo quando estes afetam diretamente a impedimento ou suspeição, ambos casos de anulabilidade.
esfera jurídica de particulares. Os vícios dos atos administrativos também podem se re-
ferir ao objeto, quando ele for proibido por lei – ato ilegal
1. Ato administrativo inexistente = nulo; diverso do previsto legalmente para o caso concre-
to; impossível (exemplo: a nomeação para cargo que não
A doutrina, de forma amplamente majoritária, nega re- existe); imoral; indeterminado (desapropriação de bem não
levância jurídica aos chamados atos administrativos inexis- definido com precisão).
tentes sob o fundamento de que seriam equivalentes aos
atos nulos. 19 http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/auditor-fiscal-do-traba-
lho-2009/direito-administrativo-ato-administrativo-inexistente.html
18 BALDACCI, Roberto Geists. Direito administrativo. São Paulo: Prima 20 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito administrativo des-
Cursos Preparatórios, 2004. complicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.

13
Os vícios podem atingir a forma, quando a lei ex- invalidade, reconhecida judicial ou administrativa-
pressamente exige e não é respeitada, e ainda o motivo, mente, preservando-se os direitos dos terceiros de
quando pressupostos de fato e/ou de direito não existem boa-fé; por revogação, que é a retirada do ato ad-
e/ou são falsos. ministrativo em decorrência da sua inconveniência
Por fim, tem-se os vícios relativos à finalidade, que são ou inoportunidade em face dos interesses públicos,
desvio de poder ou desvio de finalidade, quando o agente sendo o ato válido e praticado dentro da Lei, efetu-
pratica ato administrativo sem observar o interesse público ando-se a revogação na via administrativa; cassação,
e/ou o objetivo (finalidade) previsto em lei. que é a retirada do ato administrativo em decorrên-
cia do beneficiário ter descumprido condição tida
2. Teoria dos motivos determinantes como indispensável para a manutenção do ato; con-
traposição ou derrubada, que é a retirada do ato
“A teoria dos motivos determinantes está relacionada administrativo em decorrência de ser expedido outro
a prática de atos administrativos e impõe que, uma vez ato fundado em competência diversa da do primeiro,
declarado o motivo do ato, este deve ser respeitado. Esta mas que projeta efeitos antagônicos ao daquele, de
teoria vincula o administrador ao motivo declarado. Para modo a inibir a continuidade da sua eficácia; cadu-
que haja obediência ao que prescreve a teoria, no entanto, cidade, que é a retirada do ato administrativo em
o motivo há de ser legal, verdadeiro e compatível com o decorrência de ter sobrevindo norma superior que
resultado. Vale dizer, a teoria dos motivos determinantes torna incompatível a manutenção do ato com a nova
não condiciona a existência do ato, mas sim sua validade”21. realidade jurídica instaurada.
4) Renúncia: É a extinção do ato administrativo eficaz
2.1.Convalidação do ato administrativo em virtude de seu beneficiário não mais desejar a sua
continuidade. A renúncia só tem cabimento em atos
Convalidação é o ato administrativo que, com efeitos que concedem privilégios e prerrogativas.
retroativos, sana vício de ato antecedente, de modo a tor- 5) Recusa: É a extinção do ato administrativo ineficaz
ná-lo válido desde o seu nascimento, ou seja, é um ato pos- em decorrência do seu futuro beneficiário não ma-
terior que sana um vício de um ato anterior, transforman-
nifestar concordância, tida como indispensável para
do-o em válido desde o momento em que foi praticado.
que o ato pudesse projetar regularmente seus efei-
Há alguns autores que não aceitam a convalidação dos
tos. Se o futuro beneficiário recusa a possibilidade da
atos, sustentando que os atos administrativos somente po-
eficácia do ato, esse será extinto.
dem ser nulos. Os únicos atos que se ajustariam à convali-
dação seriam os atos anuláveis.
1. Cassação
Existem três formas de convalidação:
- Ratificação: é a convalidação feita pela própria autori-
dade que praticou o ato; Cassação é a retirada do ato administrativo em decor-
- Confirmação: é a convalidação feita por autoridade rência do beneficiário ter descumprido condição tida como
superior àquela que praticou o ato; indispensável para a manutenção do ato. Embora legítimo
- Saneamento: é a convalidação feita por ato de tercei- na sua origem e na sua formação, o ato se torna ilegal na
ro, ou seja, não é feita nem por quem praticou o ato nem sua execução a partir do momento em que o destinatário
por autoridade superior. descumpre condições pré-estabelecidas. Por exemplo, uma
Não se deve confundir a convalidação com a conversão pessoa obteve permissão para explorar o serviço público,
do ato administrativo. Há um ato viciado e, para regulari- porém descumpriu uma das condições para a prestação
zar a situação, ele é transformado em outro, de diferente desse serviço. Vem o Poder Público e, a título de penalida-
tipologia. O ato nulo, embora não possa ser convalidado, de, procede a cassação da permissão.
poderá ser convertido, transformando-se em ato válido.
2. Anulação
Anulação é a retirada do ato administrativo em decor-
EXTINÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS rência de sua invalidade, reconhecida judicial ou adminis-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

trativamente, preservando-se os direitos dos terceiros de


Pode se dar nas seguintes situações: boa-fé. Trata-se da supressão do ato administrativo, com
1) Cumprimento dos seus Efeitos: Cumprindo todos efeito retroativo, por razões de ilegalidade e ilegitimidade.
os seus efeitos, não terá mais razão de existir sob o Cabe o exame pelo Poder Judiciário (razões de legalidade e
ponto de vista jurídico. legitimidade) e pela Administração Pública (aspectos legais
2) Desaparecimento do Sujeito ou do Objeto do Ato: e no mérito). Gera efeitos retroativos (ex tunc), invalida as
Se o sujeito ou o objeto perecer, o ato será conside- consequências passadas, presentes e futuras.
rado extinto.
3) Retirada: Ocorre a edição de outro ato jurídico que 3. Revogação
elimina o ato. Pode se dar por anulação, que é a re-
tirada do ato administrativo em decorrência de sua Revogação é a retirada do ato administrativo em decor-
21 https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2605114/em-que-consiste-a- rência da sua inconveniência ou inoportunidade em face
-teoria-dos-motivos-determinantes-aurea-maria-ferraz-de-sousa dos interesses públicos, sendo o ato válido e praticado

14
dentro da Lei, efetuando-se a revogação na via administrativa. Trata-se da extinção de um ato administrativo legal e perfei-
to, por razões de conveniência e oportunidade, pela Administração, no exercício do poder discricionário. O ato revogado
conserva os efeitos produzidos durante o tempo em que operou. A partir da data da revogação é que cessa a produção de
efeitos do ato até então perfeito e legal. Só pode ser praticado pela Administração Pública por razões de oportunidade e
conveniência, não cabendo a intervenção do Poder Judiciário. A revogação não pode atingir os direitos adquiridos, logo,
produz efeitos ex nunc, não retroage.

#FicaDica

Anulação Revogação Convalidação


Retirada de atos inválidos eiva- Retirada de atos válidos e não Correção de atos com vícios que
dos por vícios ilegais viciados, respeitado o direito podem ser sanados, respeitado
adquirido o interesse público e preserva-
do o direito de terceiros
Efeitos ex tunc Efeitos ex nunc Efeitos ex tunc
Cabe por parte da Administra- Cabe apenas por parte da Ad- Cabe apenas por parte da Ad-
ção e do Judiciário ministração ministração
Incide sobre atos vinculados e Incide apenas atos discricioná- Incide sobre atos vinculados ou
discricionários rios discricionários
Se o vício for insanável a anu- Sempre será um ato discricio- Sempre será um ato discricioná-
lação é um ato vinculado; se o nário, pois apenas se revogam rio, pois o administrador pode
vício for sanável é um ato dis- atos com esta natureza optar entre anulação e convali-
cricionário (pode optar por con- dação quando o vício for saná-
validar) vel
Justificativa - ilegalidade Justificativa - conveniência e Justificativa - supremacia do in-
oportunidade teresse público
Prazo - 5 anos Não há prazo Não há prazo

EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo aos atos admi-
nistrativos.
No caso de vício de competência, cabe a revogação do ato administrativo, desde que sejam respeitados eventuais direitos
adquiridos de terceiros e não tenha transcorrido o prazo de cinco anos da prática do ato.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Em se tratando de vício de competência, cabe anulação, pois a revogação incide sobre o mérito do ato
administrativo, já a competência vem definida em lei, o que torna o ato de sua definição vinculado. Sendo vinculado o ato,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a existência de vício poderá gerar anulação ou convalidação, sendo que a segunda apenas será possível se o vício de com-
petência for sanável e a critério discricionário do administrador.

2. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo aos atos admi-
nistrativos.
O ato administrativo praticado com desvio de finalidade pode ser convalidado pela administração pública, desde que não
haja lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Para que um ato possa ser convalidado, é necessário observar se o vício é sanável. Não são sanáveis os
vícios que afetam diretamente um dos elementos do ato administrativo – e a finalidade é um deles. Sem a devida finalidade,
nenhum ato atende seu preceito máximo, a legalidade.

15
3. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA – titulares. Desse modo, as prerrogativas públicas, ao mesmo
CESPE – 2018) Julgue o item que se segue, a respeito dos tempo em que constituem poderes para o administrador pú-
atos da administração pública. blico, impõem-lhe o seu exercício e lhe vedam a inércia, por-
A motivação do ato administrativo pode não ser obrigató- que o reflexo desta atinge, em última instância, a coletividade,
ria, entretanto, se a administração pública o motivar, este esta a real destinatária de tais poderes. Esse aspecto dúplice
ficará vinculado aos motivos expostos. do poder administrativo é que se denomina de poder-de-
ver de agir”23. Percebe-se que, diferentemente dos particu-
( ) CERTO ( ) ERRADO lares aos quais, quando conferido um poder, podem optar
por exercê-lo ou não, a Administração não tem faculdade de
Resposta: Certo. O enunciado descreve a clássica teoria agir, afinal, sua atuação se dá dentro de objetos de interesse
dos motivos determinantes, segundo a qual, uma vez exa- público. Logo, a abstenção não pode ser aceita, o que trans-
rado o motivo do ato, este vinculará o administrador. Nes- forma o poder de agir também num dever de fazê-lo: daí se
te sentido, por exemplo, se forem resolvidos os problemas afirmar um poder-dever. Com efeito, o agente omisso poderá
expostos no motivo para a negação de uma solicitação, a ser responsabilizado.
decisão deverá mudar. Os poderes da Administração se dividem em: vinculado,
discricionário, hierárquico, disciplinar, regulamentar e de
polícia.

PODERES ADMINISTRATIVOS. Formas de exercício; uso e abuso do poder

1. Forma vinculada
PODERES ADMINISTRATIVOS
Quando o poder se manifesta numa forma vinculada não
O Estado possui papel central de disciplinar a sociedade. há qualquer liberdade quanto à atividade que deva ser prati-
cada, cabendo ao administrador se sujeitar por completo ao
Como não pode fazê-lo sozinho, constitui agentes que exer-
mandamento da lei. Nos atos vinculados, o agente apenas
cerão tal papel. No exercício de suas atribuições, são conferi-
reproduz os elementos da lei. Afinal, o administrador se en-
das prerrogativas aos agentes, indispensáveis à consecução
contra diante de situações que comportam solução única an-
dos fins públicos, que são os poderes administrativos. Em
teriormente prevista por lei. Portanto, não há espaço para que
contrapartida, surgirão deveres específicos, que são deveres
o administrador faça um juízo discricionário, de conveniência
administrativos.
e oportunidade. Ele é obrigado a praticar o ato daquela for-
Os poderes conferidos à administração surgem como ins-
ma, porque a lei assim prevê. Ex.: pedido de aposentadoria
trumentos para a preservação dos interesses da coletividade. compulsória por servidor que já completou 70 anos; pedido
Caso a administração se utilize destes poderes para fins diversos de licença para prestar serviço militar obrigatório.
de preservação dos interesses da sociedade, estará cometendo
abuso de poder, ou seja, incidindo em ilegalidade. Neste caso, o 2. Forma discricionária
Poder Judiciário poderá efetuar controle dos atos administrati-
vos que impliquem em excesso ou abuso de poder. Existem situações em que o próprio agente tem a possibi-
Quanto aos poderes administrativos, eles podem ser co- lidade de valorar a sua conduta. Logo, quando o exercício do
locados como prerrogativas de direito público conferidas aos poder se manifesta na forma discricionária o administrador
agentes públicos, com vistas a permitir que o Estado alcance não está diante de situações que comportam solução única.
os seus fins. Evidentemente, em contrapartida a estes pode- Possui, assim, um espaço para exercer um juízo de valores de
res, surgem deveres ao administrador. conveniência e oportunidade.
“O poder administrativo representa uma prerrogativa es- A discricionariedade pode ser exercida tanto quando o ato
pecial de direito público outorgada aos agentes do Estado. é praticado quanto, num momento futuro, na circunstância
Cada um desses terá a seu cargo a execução de certas fun- de sua revogação.
ções. Ora, se tais funções foram por lei cometidas aos agen-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Uma das principais limitações à discricionariedade é a


tes, devem eles exercê-las, pois que seu exercício é voltado adequação, correspondente à adequação da conduta escolhi-
para beneficiar a coletividade. Ao fazê-lo, dentro dos limites da pelo agente à finalidade expressa em lei. O segundo limite
que a lei traçou, pode dizer-se que usaram normalmente os é o da verificação dos motivos24. Neste sentido, discriciona-
seus poderes. Uso do poder, portanto, é a utilização nor- riedade não pode se confundir com arbitrariedade – a última
mal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei é uma conduta ilegítima e quanto a ela caberá controle de
lhes confere”22. legalidade perante o Poder Judiciário.
Neste sentido, “os poderes administrativos são outorga- “O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extremo
dos aos agentes do Poder Público para lhes permitir atuação de admitir que o juiz se substituta ao administrador. Vale di-
voltada aos interesses da coletividade. Sendo assim, deles zer: não pode o juiz entrar no terreno que a lei reservou aos
emanam duas ordens de consequência: 1ª) são eles irrenun-
ciáveis; e 2ª) devem ser obrigatoriamente exercidos pelos 23 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 24 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

16
agentes da Administração, perquirindo os critérios de conve- - Dever de prestar contas: como o que é gerido pelo ad-
niência e oportunidade que lhe inspiraram a conduta. A ra- ministrador não lhe pertence, é seu dever prestar con-
zão é simples: se o juiz se atém ao exame da legalidade dos tas do que realizou à coletividade, isto é, informar em
atos, não poderá questionar critérios que a própria lei defere detalhes qual o destino dado às verbas e aos bens sob
ao administrador. [...] Modernamente, os doutrinadores têm sua gestão. Este dever abrange não só aqueles que são
considerado os princípios da razoabilidade e da proporciona- agentes públicos, mas a todos que tenham sob sua res-
lidade como valores que podem ensejar o controle da discri- ponsabilidade dinheiros, bens ou interesses públicos,
cionariedade, enfrentando situações que, embora com apa- independentemente de serem ou não administradores
rência de legalidade, retratam verdadeiro abuso de poder. [...] públicos.
A exacerbação ilegítima desse tipo de controle reflete ofensa “A prestação de contas de administradores pode ser
ao princípio republicano da separação dos poderes”25. realizada internamente através dos órgãos escalona-
Há quem diga que, por haver tal liberdade, não existe o dos em graus hierárquicos, ou externamente. Neste
dever de motivação, mas isso não está correto: aqui, mais que caso, o controle de contas é feito pelo Poder Legis-
nunca, o dever de motivar se faz presente, demonstrando que lativo por ser ele o órgão de representação popu-
não houve arbítrio na decisão tomada pelo administrador. Ba- lar. No Legislativo se situa, organicamente, o Tribu-
sicamente, não é porque o administrador tem liberdade para nal de Contas, que, por sua especialização, auxilia
decidir de outra forma que o fará sem cometer arbitrarieda- o Congresso Nacional na verificação de contas dos
des e, caso o faça, incidirá em ilicitude. O ato discricionário administradores”27.
que ofenda os parâmetros da razoabilidade é atentatório à lei. - Dever de eficiência: a atividade administrativa deve
Afinal, não obstante a discricionariedade seja uma prerroga- ser célere e técnica, mesclando qualidade e quanti-
tiva da administração, o seu maior objetivo é o atendimento dade. Para tanto, é necessário atribuir competências
aos interesses da coletividade. aos cargos conforme a qualificação exigida para ocu-
pá-los; bem como desempenhar atividades com per-
feição, coordenação, celeridade e técnica. Não signi-
#FicaDica fica que perfeccionismo em excesso seja valorizado,
pois ele afeta o elemento quantitativo do serviço,
Conveniência = condições em que irá agir que também é essencial para que ele seja eficiente.
Oportunidade = momento em que irá agir - Dever de agir: o administrador possui um poder-
Discricionariedade = oportunidade + conve- -dever de agir. Não se trata de mero poder, porque
niência priorizam atender ao interesse da coletividade e, em
razão disso, o poder de agir é também um dever, que
é irrenunciável e obrigatório. Ao administrador é
3. Uso do poder e deveres da administração vedada a inércia. Logo, poderá ser responsabilizado
por omissão ou silêncio, abrindo possibilidade de
Conforme Carvalho Filho, uso do poder “é a utilização nor- obter o ato não realizado: pela via extrajudicial, no-
mal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei lhes tadamente ao exercer o direito de petição; ou por via
confere”26. Significa que se um agente toma suas atitudes den- judicial, por intermédio de mandado de segurança,
tro dos limites dos poderes administrativos, está agindo con- quando ferir direito líquido e certo do interessado
forme a lei. Um dos principais guias para determinar se a ação comprovado de plano, ou por ação de obrigação de
está ou não em conformidade é o dos deveres administrativos. fazer.
Assim, além de poderes, os agentes administrativos, ob-
viamente, detêm deveres, em razão das atribuições que exer-
cem. Dentre os principais, podem ser citados os seguintes,
conforme aponta doutrina a respeito do assunto:
- Dever de probidade: trata-se de um dos deveres mais
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

relevantes, correspondendo à obrigação do agente pú-


blico de agir de forma honesta e reta, respeitando a
moralidade administrativa e o interesse público. A vio-
lação deste dever caracteriza ato de improbidade, pu-
nível, conforme artigo 37, §4º, CF e Lei nº 8.429/92, que
se sujeita a diversas penas, como suspensão de direitos
políticos, perda da função pública, proibição de con-
tratar com o poder público, multa, além de restituição
ao erário por enriquecimento ilícito e/ou reparação de
danos causados ao erário.
25 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
26 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 27 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

17
Se é possível o excesso ou o abuso de poder, é claro
FIQUE ATENTO! que a legislação não apenas confere poderes ao adminis-
nem toda omissão do poder público é ilegal. trador, mas também estabelece deveres.
As denominadas omissões genéricas, que en-
volvem prerrogativas de ação do administra- #FicaDica
dor de caráter geral e sem prazo determina-
do para atendimento, inseridas em seu poder Excesso De Poder = Incompetência / Além Do
discricionário, não autorizam a alegação de Permitido Na Legislação
ilegalidade por violação do poder-dever de Abuso De Poder = Competência = Desvio De
agir. Insere-se aqui a denominada reserva do Finalidade / Motivos Diversos Dos Legalmente
possível – por óbvio sempre existirão algu- Previstos
mas omissões tendo em vista a escassez de
recursos financeiros. Ex.: deixar de reformar a
entrada de um edifício, não construir um esta-
belecimento de ensino. São ilegais, com efei- EXERCÍCIOS COMENTADOS
to, as omissões específicas, que são omissões
do poder público mesmo diante de imposição
expressa legal e prazo fixado em lei para aten- 1. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CONHECIMENTOS
dimento. Nestas situações, caberá até mesmo BÁSICOS – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativos
responsabilização civil, penal ou administrativa aos poderes da administração pública.
do agente omisso. O desvio de poder ocorre quando o ato é realizado por
agente público sem competência para a sua prática.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Abuso de poder Resposta: Errado. O excesso de poder ocorre quando


o ato é realizado por agente público sem competência
Havendo poderes, naturalmente será possível o abuso para a sua prática, não o desvio de poder.
deles. Abuso de poder é a utilização inadequada por parte
dos administradores das prerrogativas a eles conferidas no 2. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
âmbito dos poderes da administração, por violação expres- – CESPE – 2018) No que se refere aos poderes administra-
sa ou tácita da lei. tivos, julgue o item que se segue.
“A conduta abusiva dos administradores pode decor- Não configurará excesso de poder a atuação do servidor
rer de duas causas: 1ª) o agente atua fora dos limites de público fora da competência legalmente estabelecida
sua competência; e 2ª) o agente, embora dentro de sua quando houver relevante interesse social.
competência, afasta-se do interesse público que deve nor-
tear todo o desempenho administrativo. No primeiro caso, ( ) CERTO ( ) ERRADO
diz-se que o agente atuou com ‘excesso de poder’ e no
segundo, com ‘desvio de poder’”28. Basicamente, havendo Resposta: Errado. Caracteriza-se excesso de poder jus-
abuso de poder é possível que se caracterize excesso de tamente quando o servidor atua fora dos limites da lei e
poder ou desvio de poder. No excesso de poder, o agente ingressa na esfera de competência de outrem, indepen-
nem teria competência para agir naquela questão e o dentemente de justificativa com base em interesse social.
faz. No abuso de poder, o agente possui competência
para agir naquela questão, mas não o faz em respeito 3. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
ao interesse público, ou seja, desvirtua-se do fim que de- – CESPE – 2018) No que se refere aos poderes administra-
veria atingir o seu ato, por isso o desvio de poder também
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tivos, julgue o item que se segue.


é denominado desvio de finalidade. A conduta abusiva é O abuso de poder pode ocorrer tanto na forma comissiva
passível de controle, inclusive judicial. quanto na omissiva, uma vez que, em ambas as hipóteses,
“Pela própria natureza do fato em si, todo abuso de po-
é possível afrontar a lei e causar lesão a direito individual
der se configura como ilegalidade. Não se pode conceber
do administrado.
que a conduta de um agente, fora dos limites de sua com-
petência ou despida da finalidade da lei, possa compatibi-
( ) CERTO ( ) ERRADO
lizar-se com a legalidade. É certo que nem toda ilegalidade
decorre de conduta abusiva; mas todo abuso se reveste de
Resposta: Certo. O abuso de poder pode acontecer tanto
ilegalidade e, como tal, sujeita-se à revisão administrativa
por ação quanto por omissão. A omissão pode se caracte-
ou judicial”29.
rizar por inércia da administração ou recusa injustificada.
28 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
29 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

18
PODER REGULAMENTAR fundamental – ADPF, cujo caráter é mais amplo e permite
o controle sobre atos regulamentares derivados de lei, tal
Em linhas gerais, poder regulamentar é o poder confe- como será cabível mandado de injunção. Em se tratan-
rido à administração de elaborar decretos e regulamen- do de decreto autônomo, o parâmetro de controle sempre
tos. Percebe-se que o Poder Executivo, nestas situações, será a Constituição Federal, possuindo o decreto a mesma
exerce força normativa, expedindo normas que se reves- posição hierárquica das demais leis infraconstitucionais,
tem, como qualquer outra, de abstração e generalidade. ocorrendo genuíno controle de constitucionalidade no
Quando o Poder Legislativo edita suas leis nem sempre caso concreto, por qualquer das vias.
possibilita que elas sejam executadas. A aplicação prática Outra observação que merece ser feita se refere ao
fica a cargo do Poder Executivo, que irá editar decretos conceito de deslegalização. O fenômeno tem origem na
e regulamentos com capacidade de dar execução às leis França e corresponde à transferência de certas matérias de
editadas pelo Poder Legislativo. Trata-se de prerrogativa caráter estritamente técnico da lei ou ato congênere para
complementar à lei, não podendo em hipótese alguma outras fontes normativas, com autorização do próprio le-
o Executivo alterar o seu conteúdo. Entretanto, poderá o gislador. Na verdade, o legislador efetuará uma espécie de
Executivo criar obrigações subsidiárias, que se impõem delegação, que não será completa e integral, pois ainda ca-
ao administrado ao lado das obrigações primárias fixadas berá ao Legislativo elaborar o regramento básico, ocorren-
na própria lei. do a transferência estritamente do aspecto técnico (deno-
Caso ocorra abuso ao poder regulamentar, caberá ao mina-se delegação com parâmetros). Há quem diga que
Congresso Nacional sustar o ato: “Art. 49, CF. É da compe- nestes casos não há poder regulamentar, mas sim poder
tência exclusiva do Congresso Nacional: [...] V - sustar os regulador. É exemplo do que ocorre com as agências regu-
atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do po- ladoras, como ANATEL, ANEEL, entre outras.
der regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.
Segundo entendimento majoritário, tanto os decretos
quanto os regulamentos podem ser autônomos (atos de
natureza originária ou primária) ou de execução (atos de EXERCÍCIOS COMENTADOS
natureza derivada ou secundária), embora a essência do
poder regulamentar seja composta pelos decretos e regu- 1. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Julgue o se-
lamentos de execução. O regulamento autônomo pode ser guinte item, a respeito dos poderes da administração pú-
editado independentemente da existência de lei anterior, blica.
se encontrando no mesmo patamar hierárquico que a lei – No exercício do poder regulamentar, a administração pú-
por isso, é passível de controle de constitucionalidade. Os blica não poderá contrariar a lei.
regulamentos de execução dependem da existência de lei
anterior para que possam ser editados e devem obedecer ( ) CERTO ( ) ERRADO
aos seus limites, sob pena de ilegalidade – deste modo, se
sujeitam a controle de legalidade. Resposta: Certo. O poder regulamentar tem por caráter
Nos termos do artigo 84, IV, CF, compete privativamen- exclusivo regular aquilo que a legislação prevê. Ou seja,
te ao Presidente da República expedir decretos e regula- o Executivo dá normas específicas às normas criadas pelo
mentos para a fiel execução da lei, atividade que não pode Legislativo. Se o Executivo se exceder em seu poder, estará
ser delegada, nos termos do parágrafo único. Em que pese infringindo a Separação dos Poderes.
o teor do dispositivo que poderia dar a entender que a
existência de decretos autônomos é impedida, o próprio 2. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ-
STF já reconheceu decretos autônomos como válidos em RIA – CESPE – 2018) Considerando a doutrina majoritária,
situações excepcionais. Carvalho Filho30, a respeito, afirma julgue o próximo item, referente ao poder administrativo, à
que somente são decretos e regulamentos que tipicamen- organização administrativa federal e aos princípios básicos
te caracterizam o poder regulamentar aqueles que são de da administração pública.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

natureza derivada – o autor admite que existem decretos No exercício do poder regulamentar, o Poder Executivo
e regulamentos autônomos, mas diz que não são atos do pode editar regulamentos autônomos de organização ad-
poder regulamentar. ministrativa, desde que esses não impliquem aumento de
A classificação dos decretos e regulamentos em au- despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
tônomos e de execução é bastante relevante para fins de
controle judicial. Em se tratando de decreto de execução, o ( ) CERTO ( ) ERRADO
parâmetro de controle será a lei a qual o decreto está vin-
culado, ocorrendo mero controle de legalidade como re- Resposta: Certo. Em que pese o teor do artigo 84, IV, CF
gra – não caberá controle de constitucionalidade por ações que poderia dar a entender que a existência de decretos
diretas de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, autônomos é impedida, o próprio STF já reconheceu de-
mas caberá por arguição de descumprimento de preceito cretos autônomos como válidos em situações excepcio-
30 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
nais, nos termos do artigo 84, VI, CF: “VI – dispor, me-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. diante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da

19
administração federal, quando não implicar aumento de Estas sanções aplicadas são apenas as que possuem
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) natureza administrativa, não envolvendo sanções civis
extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos”. ou penais. Entre as penas que podem ser aplicadas, desta-
cam-se a de advertência, suspensão, demissão e cassação
de aposentadoria.
PODER HIERÁRQUICO Evidentemente que tais punições não podem ser apli-
cadas sem alguns requisitos, como a abertura de sindicân-
“Hierarquia é o escalonamento em plano vertical dos cia ou processo disciplinar em que se garanta o contradi-
órgãos e agentes da Administração que tem como objetivo tório e a ampla defesa (obs.: existem cargos que somente
a organização da função administrativa. E não poderia ser são passíveis de demissão por sentença judicial, que são os
de outro modo. Tantas são as atividades a cargo da Admi- vitalícios, como os de magistrado e promotor de justiça).
nistração Pública que não se poderia conceber sua normal
realização sem a organização, em escalas, dos agentes e
dos órgãos públicos. Em razão desse escalonamento firma-
-se uma relação jurídica entre os agentes, que se denomi- EXERCÍCIOS COMENTADOS
na relação hierárquica”31. Nesta relação hierárquica, surge
para a autoridade superior o poder de comando e para o
1. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA –
seu subalterno o dever de obediência.
Com efeito, poder hierárquico é o poder conferido à CESPE – 2018) Acerca dos poderes da administração pú-
administração de fixar campos de competência quanto às blica e da responsabilidade civil do Estado, julgue o item
figuras que compõem sua estrutura. É um poder de auto- a seguir.
-organização. É exercido tanto na distribuição de compe- O poder disciplinar, decorrente da hierarquia, tem sua dis-
tências entre os órgãos quanto na divisão de deveres entre cricionariedade limitada, tendo em vista que a administra-
os servidores que o compõem. Se o ato for praticado por ção pública se vincula ao dever de punir.
órgão incompetente, é inválido. Da mesma forma, se o for
praticado por servidor que não tinha tal atribuição. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Por fim, ressalta-se que do poder hierárquico deriva
o poder de revisão, consistente no poder das autoridades Resposta: Certo. O poder disciplinar em regra é discri-
superiores de revisar os atos praticados por seus subordi- cionário, mas pode sofrer algumas limitações. Entre elas,
nados. o dever de investigar é vinculado, bem como a aplicação
da penalidade. Afinal, não é uma mera questão interna,
mas verdadeira questão de ilegalidade – e o poder público
se vincula ao princípio da legalidade. De outro lado, existe
EXERCÍCIO COMENTADO margem de discricionariedade ao determinar a gravidade
e o enquadramento da infração.
1. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Julgue o
2. (TCE-PE – ANALISTA DE GESTÃO – ADMINISTRA-
seguinte item, a respeito dos poderes da administração
ÇÃO – CESPE – 2017) Uma aluna de um colégio estadual,
pública.
maior de dezoito anos de idade, foi flagrada depredando o
O poder hierárquico se manifesta no controle exercido
mobiliário da escola. Em razão disso, o diretor do colégio
pela administração pública direta sobre as empresas pú-
aplicou a ela uma penalidade de suspensão por três dias, na
blicas.
forma do regimento da instituição.
A respeito dessa situação hipotética, julgue o item que se
( ) CERTO ( ) ERRADO
segue, considerando os poderes da administração pública e
os princípios de direito administrativo.
Resposta: Errado. O poder hierárquico é um poder in- O ato do diretor do colégio é exemplo de exercício do po-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

terno de organização, sendo assim, não existe hierarquia der disciplinar pela administração pública.
entre administração direta e indireta.
( ) CERTO ( ) ERRADO
PODER DISCIPLINAR Resposta: Certo. O poder disciplinar é aplicado a quem
tenha um vínculo com a Administração Pública, não ne-
Trata-se de decorrência do poder hierárquico, pois é a cessariamente servidor público. No caso acima, trata-se de
hierarquia que permite aos agentes de nível superior fis- escola pública e seus alunos matriculados são sim vincu-
calizar as ações dos subordinados. Assim, poder disciplinar lados à Administração. Sendo assim, o diretor exerce sim
é o poder conferido à administração para aplicar sanções poder disciplinar quando pune uma aluna matriculada.
aos seus servidores que pratiquem infrações disciplinares.

31 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-


vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

20
PODER DE POLÍCIA 1. Competência

É o poder conferido à administração para limitar, disci- A competência para exercer o poder de polícia é, a
plinar, restringir e condicionar direitos e atividades par- princípio, da pessoa administrativa que foi dotada de com-
ticulares para a preservação dos interesses da coletividade. petência no âmbito do poder regulamentar. Se a compe-
É ainda, fato gerador de tributo, notadamente, a taxa (artigo tência for concorrente, também o poder de polícia será
145, II, CF), não podendo ser gerador de tarifa que se carac- exercido de forma concorrente.
teriza como preço público e não podendo ser cobrada sem
o exercício efetivo do poder de polícia. 2. Delegação e transferência
“A expressão poder de polícia comporta dois sentidos,
um amplo e um estrito. Em sentido amplo, poder de po- O poder de polícia pode ser exercido de forma origi-
lícia significa toda e qualquer ação restritiva do Estado nária, pelo próprio órgão ao qual se confere a competên-
em relação aos direitos individuais. [...] Em sentido estrito, cia de atuação, ou de forma delegada, mediante lei que
o poder de polícia se configura como atividade adminis- transfira a mera prática de atos de natureza fiscalizatória
trativa, que consubstancia, como vimos, verdadeira prerro- (poder de polícia seria de caráter executório, não inovador)
gativa conferida aos agentes da Administração, consistente a pessoas jurídicas que tenham vinculação oficial com en-
no poder de restringir e condicionar a liberdade e a pro- tes públicos.
priedade”32. Obs.: A transferência de tarefas de operacionalização,
No sentido amplo, é possível incluir até mesmo a ati- no âmbito de simples constatação, não é considerada de-
vidade do Poder Legislativo, considerando que ninguém é legação do poder de polícia. Delegação ocorre quando a
obrigado a fazer ou deixar de fazer algo se a lei não impuser atividade fiscalizatória em si é transferida. Por exemplo,
(artigo 5º, II, CF). No sentido estrito, tem-se a atividade da uma empresa contratada para operar radares não recebeu
polícia administrativa, envolvendo apenas as prerrogati- delegação do poder de polícia, mas uma guarda municipal
vas dos agentes da Administração. instituída na forma de empresa pública com poder de apli-
Em destaque, coloca-se o conceito que o próprio legis- car multas recebeu tal delegação.
lador estabelece no Código Tributário Nacional: “Conside-
ra-se poder de polícia a atividade da administração pública 3. Polícia judiciária e polícia administrativa
que, limitando o disciplinando direito, interesse ou liberda-
de, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão Uma das mais importantes classificações doutrinárias
de interesse público [...]” (art. 78, primeira parte, CTN). A ati- corresponde à distinção entre polícia administrativa e polí-
vidade de polícia é tipicamente administrativa, razão pela cia judiciária, assim explanada por Carvalho Filho: “ambos se
qual é estudada no ramo do direito administrativo. enquadram no âmbito da função administrativa, vale dizer,
Vale ressaltar, por fim, um dos principais atributos do representam atividades de gestão de interesses públicos.
poder de polícia: a autoexecutoriedade. Neste sentido, a A Polícia Administrativa é atividade da Administração
administração não precisa de manifestação do Poder Ju- que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa
diciário para colocar seus atos em prática, efetivando-os. no âmbito da função administrativa. O mesmo não ocorre
com a Polícia Judiciária, que, embora seja atividade ad-
ministrativa, prepara a atuação da função jurisdicional
POLÍCIA-FUNÇÃO E POLÍCIA-CORPORAÇÃO penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Penal
(arts. 4º ss) e executada por órgãos de segurança (polícia
“Apenas com o intuito de evitar possíveis dúvidas em civil ou militar), ao passo que a Polícia Administrativa o é
decorrência da identidade de vocábulos, vale a pena real- por órgãos administrativos de caráter mais fiscalizador.
çar que não há como confundir polícia-função com po- Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia
lícia-corporação: aquela é a função estatal propriamente Administrativa incide basicamente sobre atividades dos
dita e deve ser interpretada sob o aspecto material, indi- indivíduos, enquanto a Polícia Judiciária preordena-se ao
cando atividade administrativa; esta, contudo, correspon-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

indivíduo em si, ou seja, aquele a quem se atribui o co-


de à ideia de órgão administrativo, integrado nos sistemas metimento de ilícito penal”34. Além disso, essencialmente, a
de segurança pública e incumbido de prevenir os delitos Polícia Administrativa tem caráter preventivo (busca evi-
e as condutas ofensivas à ordem pública, razão por que tar o dano social), enquanto que a Polícia Judiciária tem
deve ser vista sob o aspecto subjetivo (ou formal). A polí- caráter repressivo (busca a punição daquele que causou
cia-corporação executa frequentemente funções de polícia o dano social).
administrativa, mas a polícia-função, ou seja, a atividade
oriunda do poder de polícia, é exercida por outros órgãos 4. Liberdades públicas e poder de polícia
administrativos além da corporação policial”33.
Evidentemente, abusos no exercício do poder de po-
lícia não podem ser tolerados. Por mais que todo direito
32 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015. individual seja relativo perante o interesse público, existem
33 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 34 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015. vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015

21
núcleos mínimos de direitos que devem ser preservados, específico e isolado, que podem ser determinações, como
mesmo no exercício do poder de polícia. Neste sentido, a a multa, ou atos de consentimento, como a concessão ou
faculdade repressiva deve respeitar os direitos do cida- revogação de licença ou autorização por alvará).
dão, as prerrogativas individuais e as liberdades públi-
cas que são consagrados no texto constitucional.
Para compreender a questão, interessante suscitar qual #FicaDica
o caráter do poder de polícia, se discricionário ou vincula-
do. A doutrina de Meirelles35 e Carvalho Filho36 recomenda - Poder disciplinar – É aquele que a Administra-
que quando o poder de polícia vai ter os seus limites fixa- ção possui para punir seus próprios servidores,
dos há discricionariedade (por exemplo, quando o poder bem como aplicar sanções a particulares a ela
vinculados por ato ou contrato.
público vai decidir se pode ou não ocorrer pesca num de-
- Poder hierárquico – É aquele que a Adminis-
terminado rio), mas quando já existem os limites o ato se
tração possui para ordenar, coordenar, con-
torna vinculado (no mesmo exemplo, não se pode decidir
trolar e revisar os atos de seus subordinados,
por multar um pescador e não multar o outro por pesca-
podendo ainda avocar e delegar competências.
rem no rio em que a pesca é proibida, devendo ambos se-
- Poder regulamentar – É aquele que a Admi-
rem multados). Tal raciocínio é relevante para verificar, num
nistração possui para, por meio da chefia do
caso concreto, se houve ou não abuso do poder de polícia.
Executivo, de editar atos normativos gerais e
Vamos supor que a lei fixe os limites para o ato, mas que
abstratos.
na prática tais limites tenham sido ignorados: não haverá - Poder de polícia – É aquele que a Administra-
discricionariedade, então. ção possui para limitar o exercício de direitos
Com efeito, os principais limites do Poder de Polícia são: individuais em prol da coletividade.
“- Necessidade – a medida de polícia só deve ser adota-
da para evitar ameaças reais ou prováveis de pertur-
bações ao interesse público;
- Proporcionalidade/razoabilidade – é a relação entre
a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser
evitado; EXERCÍCIOS COMENTADOS
- Eficácia – a medida deve ser adequada para impedir
o dano a interesse público. Para ser eficaz a Admi- 1. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) Julgue o se-
nistração não precisa recorrer ao Poder Judiciário guinte item, a respeito dos poderes da administração pú-
blica.
para executar as suas decisões, é o que se chama de
A coercibilidade é um atributo que torna obrigatório o ato
autoexecutoriedade”37.
praticado no exercício do poder de polícia, independente-
Importante colocar, como limite, ainda, a necessidade
mente da vontade do administrado.
de garantia de contraditório e ampla defesa ao adminis-
trado. Neste sentido, a súmula nº 312, STJ: “no processo
( ) CERTO ( ) ERRADO
administrativo para imposição de multa de trânsito, são ne-
cessárias as notificações da atuação e da aplicação da pena
Resposta: Certo. A coercibilidade é o poder do Estado de
decorrentes da infração”.
fazer com que o administrado cumpra com as obrigações,
podendo, se necessário, fazer o uso da força, obrigando o
5. Principais setores de atuação da polícia adminis- particular a cumprir a vontade do Estado.
trativa
2. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
Considerando que todos os direitos individuais são li- – CESPE – 2018) No que se refere aos poderes administra-
mitados pelo interesse da coletividade, já se pode deduzir tivos, julgue o item que se segue.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

que o âmbito de atuação do poder de polícia é o mais am- O poder de polícia consiste na atividade da administração
plo possível. Entre eles, cabe mencionar, polícia sanitária, pública de limitar ou condicionar, por meio de atos norma-
polícia ambiental, polícia de trânsito e tráfego, polícia de tivos ou concretos, a liberdade e a propriedade dos indiví-
profissões (OAB, CRM, etc.), polícia de construções, etc. duos conforme o interesse público.
Neste sentido, será possível atuar tanto por atos nor-
mativos (atos genéricos, abstratos e impessoais, como de- ( ) CERTO ( ) ERRADO
cretos, regulamentos, portarias, instruções, resoluções, en-
tre outros) e por atos concretos (voltados a um indivíduo Resposta: Certo. Conceitua-se poder de polícia como
35 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: aquele conferido à administração para limitar, disciplinar,
Malheiros, 1993. restringir e condicionar direitos e atividades particulares
36 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
para a preservação dos interesses da coletividade. É ain-
vo. 28. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2015.
37 http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/direito-administrati- da, fato gerador de tributo, notadamente, a taxa (artigo
vo/conceito-de-direito-administrativo 145, II, CF).

22
3. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNICI- Segundo Carvalho Filho38, “não poderia a lei deixar ao ex-
PAL DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS clusivo critério do administrador a escolha das pessoas a se-
BÁSICOS – CESPE – 2018) No que se refere às caracterís- rem contratadas, porque, fácil é prever, essa liberdade daria
ticas do poder de polícia e ao regime jurídico dos agentes margem a escolhas impróprias, ou mesmo a concertos escu-
administrativos, julgue o item que se segue. sos entre alguns administradores públicos inescrupulosos e
As multas de trânsito, como expressão do exercício do po- particulares, com o que prejudicada, em última análise, seria
der de polícia, são dotadas de autoexecutoriedade. a Administração Pública, gestora dos interesses públicos”.
Deste modo, Carvalho Filho39 conceitua licitação como “o
( ) CERTO ( ) ERRADO procedimento administrativo vinculado por meio do qual os
entes da Administração Pública e aqueles por ela controla-
Resposta: Errado. A cobrança da multa, como sanção dos selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos
resultante do exercício do poder de polícia administrativa, vários interessados, com dois objetivos – a celebração de
não possui a característica da autoexecutoriedade. Signi- contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artís-
fica que o poder público deverá inscrever a multa na dívi- tico ou científico”.
da ativa e cobrá-la, se devido. Já a aplicação/autuação da Destaca-se a natureza de procedimento administrativo,
multa é dotada de autoexecutoriedade, assim, por exem- pois apesar da Lei nº 8.666/93 se referir à licitação como
plo, presenciando um policial a ilicitude poderá autuá-la. ato administrativo, não se detecta verdadeiramente ato,
que é um elemento formal que indica uma intenção de agir
da administração, mas sim um procedimento, diante do
cumprimento de etapas previstas em lei para que se atinja
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS. uma meta ou um objetivo.
LICITAÇÃO. Logo, a licitação é um procedimento administrativo que
tem por finalidade evitar práticas fraudulentas na Adminis-
tração Pública, garantindo a contratação do serviço ou pro-
LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993 – LICITAÇÕES duto que melhor atenda às expectativas de custo-benefício
para o aparato público.
Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal,
institui normas para licitações e contratos da Administra- 2. Objeto
ção Pública e dá outras providências.
O objeto da licitação é a aquisição de bens e serviços
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congres- pela Administração Pública, bem como a alienação do pa-
so Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: [...] trimônio dela, conforme a melhor proposta que atenda aos
interesses públicos. Toda licitação que é aberta volta-se es-
pecificamente para isto, permitindo que a Administração
#FicaDica desempenhe suas atividades uma vez que dispõe dos bens
e serviços necessários para tanto.
A Lei nº 8.666/1993 é bastante ampla e dedica
espaço a duas temáticas centrais: licitações e 3. Finalidade/Objetivos
contratos administrativos. Em muitos concursos
públicos é cobrado apenas o conteúdo de 1) Garantir a competição entre os interessados: todos
licitações, enquanto que em outros é cobrado os concorrentes devem ter igualdade de condições
tanto o conteúdo de contratos administrativos quanto à possibilidade de contratar com o Poder
quanto o de licitações. Se no seu concurso a Lei Público. Trata-se de via de mão dupla, pois se de
nº 8.666/1993 for cobrada na íntegra, ambos um lado os concorrentes terão a garantia de im-
conteúdos poderão incidir em questões da parcialidade no processo licitatório, de outro lado
prova. a Administração conseguirá atrair um contrato mais
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

vantajoso.
2) Alcançar a melhor proposta para o interesse públi-
LICITAÇÕES co: a finalidade da licitação deve ser sempre atender
o interesse público. Afinal, os agentes públicos são
1. Conceito meros representantes do Estado e jamais devem agir
em prol de seus interesses particulares (princípio da
Licitação é o processo pelo qual a Administração Pública impessoalidade), sendo dever a preservação e prote-
contrata serviços e adquire bens dos particulares, evitando- ção dos interesses públicos. Com efeito, é dever do
-se que a escolha dos contratados seja fraudulenta e pre- condutor da licitação buscar a proposta mais vanta-
judicial ao Estado em favor dos interesses particulares do
governante. 38 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
39 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

23
josa, garantindo a igualdade de condições entre os com caráter econômico relacionadas à atividade-fim da
concorrentes, respeitando todos os demais princí- sociedade de economia mista ou da empresa pública não
pios resguardados pela constituição. se sujeitam às regras de licitação, sendo tratadas conforme
3) Servir de ferramenta de direito econômico: a licita- as regras comerciais comuns. As regras licitatórias apenas
ção é uma ferramenta que pode ser empregada para incidem quanto às atividades-meio.
a intervenção estatal na economia, promovendo o
desenvolvimento e a tecnologia nacionais (tanto é 6. Princípios
verdade que empresas nacionais poderão vencer a
licitação mesmo que ofereçam preço até 25% mais Entre outros, os princípios básicos que regem a licita-
caro que empresas estrangeiras). ção são: legalidade, impessoalidade, moralidade, igualda-
de, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao
4. Competência legislativa instrumento convocatório e julgamento objetivo.
“- Legalidade: só é possível fazer o que está previsto
A União tem competência privativa para legislar sobre na Lei;
normas gerais licitatórias, conforme previsto no texto cons- - Impessoalidade: o interesse da Administração preva-
titucional: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar lece acima dos interesses pessoais;
sobre: [...] XXVII - normas gerais de licitação e contratação, - Moralidade: as regras morais vigentes devem ser
em todas as modalidades, para as administrações públicas obedecidas em conjunto com as leis em vigor;
diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Dis- - Igualdade: todos são iguais perante a lei e não pode
trito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, haver discriminação nem beneficiamento entre os
XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia participantes da licitação;
mista, nos termos do art. 173, § 1°, III”. Por normas gerais - Publicidade: a licitação não pode ser sigilosa e as
de licitação e contratação, entendam-se aquelas com ca- decisões tomadas durante a licitação devem ser pú-
pacidade de criar, alterar ou extinguir modalidades, tipos e blicas, garantida a transparência do processo licita-
princípios licitatórios.
tório;
Não significa que os Estados e municípios não possam
- Probidade administrativa: a licitação deve ser pro-
legislar sobre licitações, apenas não podem se imiscuir nas
cessada por pessoas que tenham honestidade;
normas gerais. Os Estados e municípios podem regulamen-
- Vinculação ao instrumento convocatório: o Edital é
tar questões instrumentais e de interesse local, mas não
a lei entre quem promove e quem participa da licita-
se trata de competência concorrente. Por isso mesmo, não
ção, não podendo ser descumprido;
podem ampliar os casos de dispensa e inexigibilidade, alte-
- Julgamento objetivo: as propostas dos licitantes de-
rar os limites de valor para cada modalidade de licitação ou
vem ser julgadas de acordo com o que diz o Edital”40.
reduzir os prazos de publicidade e dos recursos.

5. Destinatários Entre os princípios correlatos, Carvalho Filho41 desta-


ca:
Além do próprio Poder Público, também são destina- - Competitividade: correlato ao princípio da igualda-
tários os licitantes interessados em contratar com o Poder de, pelo princípio da competitividade a Adminis-
Público e qualquer pessoa interessada em saber sobre os tração não pode criar regras que comprometam,
procedimentos públicos de licitação. restrinjam ou frustrem o caráter competitivo da li-
Uma vez que o texto constitucional prevê a obrigatorie- citação;
dade da licitação (artigo 37, XXVII, CF), estão obrigados a - Indistinção: correlato ao princípio da igualdade, pelo
licitar todos os entes estatais, incluindo-se a administração princípio da indistinção é vedado criar preferências
direta (e o conjunto de órgãos que a compõem no âmbito ou distinções relativas à naturalidade, à sede ou ao
do Executivo) e a administração indireta, além do Legisla- domicílio dos licitantes;
tivo e do Judiciário, bem como os órgãos independentes - Inalterabilidade do edital: correlato aos princípios
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

(Tribunais de Contas, Defensoria Pública e Ministério Públi- da publicidade e da vinculação ao instrumento


co) e os entes sociais autônomos (paraestatais). convocatório, pelo princípio da inalterabilidade do
Os particulares do terceiro setor que celebram com o edital a Administração está vinculada às regras que
Estado contratos de convênio são obrigados a licitar para foram por ela própria divulgadas;
gastar as verbas públicas recebidas, prestando contas nos - Sigilo das propostas: correlato aos princípios da pro-
termos da Instrução Normativa nº 01 da Secretaria do Te- bidade administrativa e da igualdade, pelo princípio
souro Nacional. do sigilo das propostas todas as propostas devem
ATENÇÃO: As empresas públicas e sociedades de eco- vir lacradas e só devem ser abertas em sessão públi-
nomia mista desempenham operações peculiares de nítido ca devidamente agendada;
caráter econômico, que estão vinculadas aos próprios ob-
jetivos da entidade, ou seja, são suas atividades-fim. Ex.: 40 http://www.sebrae.com.br/
Caixa Econômica Federal estabelece relações bancárias, 41 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
Correios ofertam serviços de postagem. Tais operações trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

24
- Formalismo procedimental: correlato ao princípio CAPÍTULO I
da legalidade, pelo princípio do formalismo procedi- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
mental as regras do procedimento adotadas para a SEÇÃO I
licitação devem seguir os parâmetros que a lei fixar; DOS PRINCÍPIOS
- Vedação à oferta de vantagens: correlato ao princí-
pio do julgamento objetivo, pelo princípio da veda- Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licita-
ção à oferta de vantagens as regras de seleção de- ções e contratos administrativos pertinentes a obras,
vem ser adstritas aos critérios fixados no edital, não serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e
se admitindo a intervenção de fatores adversos; locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados,
- Obrigatoriedade das licitações: consagrado no ar- do Distrito Federal e dos Municípios.
tigo 37, XXI, CF, determina que “ressalvados os ca- Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei,
sos especificados na legislação, as obras, serviços, além dos órgãos da administração direta, os fundos es-
compras e alienações serão contratados mediante peciais, as autarquias, as fundações públicas, as empre-
processo de licitação pública que assegure igual- sas públicas, as sociedades de economia mista e demais
dade de condições a todos os concorrentes, com
entidades controladas direta ou indiretamente pela
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamen-
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
to, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
Art. 2º As obras, serviços, inclusive de publicidade, com-
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências
pras, alienações, concessões, permissões e locações da
de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações”. Também Administração Pública, quando contratadas com ter-
se repete no artigo 2º da Lei nº 8.666/1993. ceiros, serão necessariamente precedidas de licitação,
ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se
contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou enti-
#FicaDica dades da Administração Pública e particulares, em que
Conceito: Licitação é o procedimento haja um acordo de vontades para a formação de víncu-
administrativo formal utilizado para a lo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for
contratação de serviços ou para a aquisição/ a denominação utilizada.
venda de bens/produtos pela Administração Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do
Pública, direta ou indireta, em todas esferas da princípio constitucional da isonomia, a seleção da pro-
federação (União, Estados, DF, Municípios). posta mais vantajosa para a administração e a promoção
Objetivo: Proporcionar à Administração Pública do desenvolvimento nacional sustentável e será processa-
que adquira e venda bens ou contrate serviços da e julgada em estrita conformidade com os princípios
da forma menos onerosa e com a maior básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade,
qualidade possível. da igualdade, da publicidade, da probidade administrati-
Finalidades: Permitir a melhor contratação va, da vinculação ao instrumento convocatório, do julga-
possível, selecionando a proposta mais mento objetivo e dos que lhes são correlatos.
vantajosa; possibilitar amplo acesso por parte § 1º É vedado aos agentes públicos:
de qualquer interessado para que possa I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convo-
participar da disputa pelas contratações; e ser cação, cláusulas ou condições que comprometam, res-
ferramenta de direito econômico. trinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive
nos casos de sociedades cooperativas, e estabeleçam
preferências ou distinções em razão da naturalidade, da
7. Legislação seca sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra
circunstância impertinente ou irrelevante para o especí-
fico objeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5º
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Os principais aspectos que podem ser observados nos


apontamentos teóricos acima são notadamente extraídos a 12 deste artigo e no art. 3º da Lei nº 8.248, de 23 de
da Lei nº 8.666/1993 em seu primeiro capítulo, que tam- outubro de 1991;
bém dá atenção a alguns aspectos procedimentais, que se II - estabelecer tratamento diferenciado de natureza co-
colaciona abaixo com grifos. mercial, legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer
outra, entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclu-
sive no que se refere a moeda, modalidade e local de
pagamentos, mesmo quando envolvidos financiamentos
de agências internacionais, ressalvado o disposto no pa-
rágrafo seguinte e no art. 3º da Lei nº 8.248, de 23 de
outubro de 1991.
§ 2º Em igualdade de condições, como critério de de-
sempate, será assegurada preferência, sucessivamente,
aos bens e serviços:

25
I - (Revogado) em favor de órgão ou entidade integrante da adminis-
II - produzidos no País; tração pública ou daqueles por ela indicados a partir de
III - produzidos ou prestados por empresas brasileiras; processo isonômico, medidas de compensação comercial,
IV - produzidos ou prestados por empresas que invis- industrial, tecnológica ou acesso a condições vantajosas
tam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia de financiamento, cumulativamente ou não, na forma
no País; estabelecida pelo Poder Executivo federal.
V - produzidos ou prestados por empresas que compro- § 12. Nas contratações destinadas à implantação, manu-
vem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei tenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de tecnologia
para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Pre- de informação e comunicação, considerados estratégicos
vidência Social e que atendam às regras de acessibilida- em ato do Poder Executivo federal, a licitação poderá ser
de previstas na legislação. restrita a bens e serviços com tecnologia desenvolvida no
§ 3º A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessí- País e produzidos de acordo com o processo produtivo bá-
veis ao público os atos de seu procedimento, salvo quan- sico de que trata a Lei nº 10.176, de 11 de janeiro de 2001.
to ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura. § 13. Será divulgada na internet, a cada exercício financei-
§ 4º (Vetado). ro, a relação de empresas favorecidas em decorrência do
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida disposto nos §§ 5º, 7º, 10, 11 e 12 deste artigo, com indica-
margem de preferência para: ção do volume de recursos destinados a cada uma delas.
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais § 14. As preferências definidas neste artigo e nas demais
que atendam a normas técnicas brasileiras; e normas de licitação e contratos devem privilegiar o tra-
II - bens e serviços produzidos ou prestados por empre- tamento diferenciado e favorecido às microempresas e
sas que comprovem cumprimento de reserva de cargos empresas de pequeno porte na forma da lei.
prevista em lei para pessoa com deficiência ou para re- § 15. As preferências dispostas neste artigo prevalecem
abilitado da Previdência Social e que atendam às regras sobre as demais preferências previstas na legislação
de acessibilidade previstas na legislação. quando estas forem aplicadas sobre produtos ou serviços
§ 6º A margem de preferência de que trata o § 5º será estrangeiros.
estabelecida com base em estudos revistos periodica- Art. 4º Todos quantos participem de licitação promovida
mente, em prazo não superior a 5 (cinco) anos, que le- pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1º têm
vem em consideração: direito público subjetivo à fiel observância do pertinente
I - geração de emprego e renda; procedimento estabelecido nesta lei, podendo qualquer
II - efeito na arrecadação de tributos federais, estaduais cidadão acompanhar o seu desenvolvimento, desde que
e municipais; não interfira de modo a perturbar ou impedir a realiza-
III - desenvolvimento e inovação tecnológica realizados ção dos trabalhos.
no País; Parágrafo único. O procedimento licitatório previsto
IV - custo adicional dos produtos e serviços; e nesta lei caracteriza ato administrativo formal, seja ele
V - em suas revisões, análise retrospectiva de resultados. praticado em qualquer esfera da Administração Pública.
§ 7º Para os produtos manufaturados e serviços nacionais Art. 5º Todos os valores, preços e custos utilizados nas
resultantes de desenvolvimento e inovação tecnológica licitações terão como expressão monetária a moeda cor-
realizados no País, poderá ser estabelecido margem de rente nacional, ressalvado o disposto no art. 42 desta Lei,
preferência adicional àquela prevista no § 5º. devendo cada unidade da Administração, no pagamen-
§ 8º As margens de preferência por produto, serviço, gru- to das obrigações relativas ao fornecimento de bens,
po de produtos ou grupo de serviços, a que se referem os locações, realização de obras e prestação de serviços,
§§ 5º e 7º, serão definidas pelo Poder Executivo federal, obedecer, para cada fonte diferenciada de recursos, a es-
não podendo a soma delas ultrapassar o montante de trita ordem cronológica das datas de suas exigibilidades,
25% (vinte e cinco por cento) sobre o preço dos produtos salvo quando presentes relevantes razões de interesse
manufaturados e serviços estrangeiros. público e mediante prévia justificativa da autoridade
competente, devidamente publicada.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 9º As disposições contidas nos §§ 5º e 7º deste artigo


não se aplicam aos bens e aos serviços cuja capacidade § 1º Os créditos a que se refere este artigo terão seus
de produção ou prestação no País seja inferior: valores corrigidos por critérios previstos no ato convoca-
I - à quantidade a ser adquirida ou contratada; ou tório e que lhes preservem o valor.
II - ao quantitativo fixado com fundamento no § 7º do art. § 2º A correção de que trata o parágrafo anterior cujo
23 desta Lei, quando for o caso. pagamento será feito junto com o principal, correrá à
§ 10. A margem de preferência a que se refere o § 5º po- conta das mesmas dotações orçamentárias que atende-
derá ser estendida, total ou parcialmente, aos bens e ser- ram aos créditos a que se referem.
viços originários dos Estados Partes do Mercado Comum § 3º Observados o disposto no caput, os pagamentos
decorrentes de despesas cujos valores não ultrapassem o
do Sul - Mercosul.
limite de que trata o inciso II do art. 24, sem prejuízo do
§ 11. Os editais de licitação para a contratação de bens,
que dispõe seu parágrafo único, deverão ser efetuados
serviços e obras poderão, mediante prévia justificativa da
no prazo de até 5 (cinco) dias úteis, contados da apre-
autoridade competente, exigir que o contratado promova,
sentação da fatura.

26
Art. 5º-A. As normas de licitações e contratos devem pri- te a avaliação do custo da obra e a definição dos méto-
vilegiar o tratamento diferenciado e favorecido às mi- dos e do prazo de execução, devendo conter os seguintes
croempresas e empresas de pequeno porte na forma da elementos:
lei. a) desenvolvimento da solução escolhida de forma a for-
necer visão global da obra e identificar todos os seus
SEÇÃO II elementos constitutivos com clareza;
DAS DEFINIÇÕES b) soluções técnicas globais e localizadas, suficiente-
mente detalhadas, de forma a minimizar a necessidade
Art. 6º Para os fins desta Lei, considera-se: de reformulação ou de variantes durante as fases de ela-
I - Obra - toda construção, reforma, fabricação, recupe- boração do projeto executivo e de realização das obras
ração ou ampliação, realizada por execução direta ou e montagem;
indireta; c) identificação dos tipos de serviços a executar e de ma-
II - Serviço - toda atividade destinada a obter determi- teriais e equipamentos a incorporar à obra, bem como
nada utilidade de interesse para a Administração, tais suas especificações que assegurem os melhores resul-
como: demolição, conserto, instalação, montagem, ope- tados para o empreendimento, sem frustrar o caráter
ração, conservação, reparação, adaptação, manutenção, competitivo para a sua execução;
transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou tra- d) informações que possibilitem o estudo e a dedução
balhos técnico-profissionais; de métodos construtivos, instalações provisórias e condi-
III - Compra - toda aquisição remunerada de bens para ções organizacionais para a obra, sem frustrar o caráter
fornecimento de uma só vez ou parceladamente; competitivo para a sua execução;
IV - Alienação - toda transferência de domínio de bens e) subsídios para montagem do plano de licitação e
a terceiros; gestão da obra, compreendendo a sua programação, a
V - Obras, serviços e compras de grande vulto - aquelas estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização e
cujo valor estimado seja superior a 25 (vinte e cinco) ve- outros dados necessários em cada caso;
zes o limite estabelecido na alínea “c” do inciso I do art. f) orçamento detalhado do custo global da obra, funda-
23 desta Lei; mentado em quantitativos de serviços e fornecimentos
VI - Seguro-Garantia - o seguro que garante o fiel cum- propriamente avaliados;
primento das obrigações assumidas por empresas em X - Projeto Executivo - o conjunto dos elementos necessá-
licitações e contratos; rios e suficientes à execução completa da obra, de acordo
VII - Execução direta - a que é feita pelos órgãos e enti- com as normas pertinentes da Associação Brasileira de
dades da Administração, pelos próprios meios; Normas Técnicas - ABNT;
VIII - Execução indireta - a que o órgão ou entidade con- XI - Administração Pública - a administração direta e in-
trata com terceiros sob qualquer dos seguintes regimes: direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
a) empreitada por preço global - quando se contrata a Municípios, abrangendo inclusive as entidades com per-
execução da obra ou do serviço por preço certo e total; sonalidade jurídica de direito privado sob controle do po-
b) empreitada por preço unitário - quando se contrata a der público e das fundações por ele instituídas ou man-
execução da obra ou do serviço por preço certo de uni- tidas;
dades determinadas; XII - Administração - órgão, entidade ou unidade admi-
c) (Vetado). nistrativa pela qual a Administração Pública opera e atua
d) tarefa - quando se ajusta mão-de-obra para peque- concretamente;
nos trabalhos por preço certo, com ou sem fornecimento XIII - Imprensa Oficial - veículo oficial de divulgação da
de materiais; Administração Pública, sendo para a União o Diário Ofi-
e) empreitada integral - quando se contrata um empre- cial da União, e, para os Estados, o Distrito Federal e os
endimento em sua integralidade, compreendendo todas Municípios, o que for definido nas respectivas leis;
as etapas das obras, serviços e instalações necessárias, XIV - Contratante - é o órgão ou entidade signatária do
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

sob inteira responsabilidade da contratada até a sua instrumento contratual;


entrega ao contratante em condições de entrada em XV - Contratado - a pessoa física ou jurídica signatária de
operação, atendidos os requisitos técnicos e legais para contrato com a Administração Pública;
sua utilização em condições de segurança estrutural e XVI - Comissão - comissão, permanente ou especial, cria-
operacional e com as características adequadas às fina- da pela Administração com a função de receber, exami-
lidades para que foi contratada; nar e julgar todos os documentos e procedimentos relati-
IX - Projeto Básico - conjunto de elementos necessários vos às licitações e ao cadastramento de licitantes.
e suficientes, com nível de precisão adequado, para ca- XVII - produtos manufaturados nacionais - produtos ma-
racterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou nufaturados, produzidos no território nacional de acordo
serviços objeto da licitação, elaborado com base nas in- com o processo produtivo básico ou com as regras de ori-
dicações dos estudos técnicos preliminares, que assegu- gem estabelecidas pelo Poder Executivo federal;
rem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do XVIII - serviços nacionais - serviços prestados no País, nas
impacto ambiental do empreendimento, e que possibili- condições estabelecidas pelo Poder Executivo federal;

27
XIX - sistemas de tecnologia de informação e comunica- § 6º A infringência do disposto neste artigo implica a
ção estratégicos - bens e serviços de tecnologia da infor- nulidade dos atos ou contratos realizados e a responsa-
mação e comunicação cuja descontinuidade provoque bilidade de quem lhes tenha dado causa.
dano significativo à administração pública e que envol- § 7º Não será ainda computado como valor da obra ou
vam pelo menos um dos seguintes requisitos relacionados serviço, para fins de julgamento das propostas de preços,
às informações críticas: disponibilidade, confiabilidade, a atualização monetária das obrigações de pagamento,
segurança e confidencialidade. desde a data final de cada período de aferição até a do
XX - produtos para pesquisa e desenvolvimento - bens, respectivo pagamento, que será calculada pelos mesmos
insumos, serviços e obras necessários para atividade de critérios estabelecidos obrigatoriamente no ato convo-
pesquisa científica e tecnológica, desenvolvimento de tec- catório.
nologia ou inovação tecnológica, discriminados em proje- § 8º Qualquer cidadão poderá requerer à Administração
to de pesquisa aprovado pela instituição contratante. Pública os quantitativos das obras e preços unitários de
determinada obra executada.
SEÇÃO III
§ 9º O disposto neste artigo aplica-se também, no que
DAS OBRAS E SERVIÇOS
couber, aos casos de dispensa e de inexigibilidade de li-
citação.
Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a
prestação de serviços obedecerão ao disposto neste artigo Art. 8º A execução das obras e dos serviços deve progra-
e, em particular, à seguinte sequência: mar-se, sempre, em sua totalidade, previstos seus custos
I - projeto básico; atual e final e considerados os prazos de sua execução.
II - projeto executivo; Parágrafo único. É proibido o retardamento imotivado
III - execução das obras e serviços. da execução de obra ou serviço, ou de suas parcelas, se
§ 1º A execução de cada etapa será obrigatoriamente existente previsão orçamentária para sua execução to-
precedida da conclusão e aprovação, pela autoridade tal, salvo insuficiência financeira ou comprovado motivo
competente, dos trabalhos relativos às etapas anteriores, de ordem técnica, justificados em despacho circunstan-
à exceção do projeto executivo, o qual poderá ser desen- ciado da autoridade a que se refere o art. 26 desta Lei.
volvido concomitantemente com a execução das obras Art. 9º Não poderá participar, direta ou indiretamente,
e serviços, desde que também autorizado pela Adminis- da licitação ou da execução de obra ou serviço e do for-
tração. necimento de bens a eles necessários:
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados I - o autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física
quando: ou jurídica;
I - houver projeto básico aprovado pela autoridade com- II - empresa, isoladamente ou em consórcio, responsável
petente e disponível para exame dos interessados em pela elaboração do projeto básico ou executivo ou da
participar do processo licitatório; qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista
II - existir orçamento detalhado em planilhas que ex- ou detentor de mais de 5% (cinco por cento) do capital
pressem a composição de todos os seus custos unitários; com direito a voto ou controlador, responsável técnico
III - houver previsão de recursos orçamentários que as- ou subcontratado;
segurem o pagamento das obrigações decorrentes de III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contra-
obras ou serviços a serem executadas no exercício finan- tante ou responsável pela licitação.
ceiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma; § 1º É permitida a participação do autor do projeto ou
IV - o produto dela esperado estiver contemplado nas da empresa a que se refere o inciso II deste artigo, na
metas estabelecidas no Plano Plurianual de que trata o licitação de obra ou serviço, ou na execução, como con-
art. 165 da Constituição Federal, quando for o caso. sultor ou técnico, nas funções de fiscalização, supervisão
§ 3º É vedado incluir no objeto da licitação a obtenção ou gerenciamento, exclusivamente a serviço da Admi-
de recursos financeiros para sua execução, qualquer que nistração interessada.
seja a sua origem, exceto nos casos de empreendimentos § 2º O disposto neste artigo não impede a licitação ou
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

executados e explorados sob o regime de concessão, nos contratação de obra ou serviço que inclua a elaboração
termos da legislação específica. de projeto executivo como encargo do contratado ou
§ 4º É vedada, ainda, a inclusão, no objeto da licitação, pelo preço previamente fixado pela Administração.
de fornecimento de materiais e serviços sem previsão de § 3º Considera-se participação indireta, para fins do dis-
quantidades ou cujos quantitativos não correspondam posto neste artigo, a existência de qualquer vínculo de
às previsões reais do projeto básico ou executivo. natureza técnica, comercial, econômica, financeira ou
§ 5º É vedada a realização de licitação cujo objeto in- trabalhista entre o autor do projeto, pessoa física ou ju-
clua bens e serviços sem similaridade ou de marcas, ca- rídica, e o licitante ou responsável pelos serviços, forne-
racterísticas e especificações exclusivas, salvo nos casos cimentos e obras, incluindo-se os fornecimentos de bens
em que for tecnicamente justificável, ou ainda quando o e serviços a estes necessários.
§ 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos
fornecimento de tais materiais e serviços for feito sob o
membros da comissão de licitação.
regime de administração contratada, previsto e discrimi-
nado no ato convocatório.

28
Art. 10. As obras e serviços poderão ser executados nas elemento de justificação de dispensa ou inexigibilidade
seguintes formas: de licitação, ficará obrigada a garantir que os referidos
I - execução direta; integrantes realizem pessoal e diretamente os serviços
II - execução indireta, nos seguintes regimes: objeto do contrato.
a) empreitada por preço global;
b) empreitada por preço unitário; SEÇÃO V
c) (Vetado). DAS COMPRAS
d) tarefa;
e) empreitada integral. Art. 14. Nenhuma compra será feita sem a adequada
Parágrafo único. (Vetado). caracterização de seu objeto e indicação dos recursos or-
Art. 11. As obras e serviços destinados aos mesmos fins çamentários para seu pagamento, sob pena de nulidade
terão projetos padronizados por tipos, categorias ou do ato e responsabilidade de quem lhe tiver dado causa.
classes, exceto quando o projeto-padrão não atender às
condições peculiares do local ou às exigências específi- Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:
cas do empreendimento. I - atender ao princípio da padronização, que imponha
Art. 12. Nos projetos básicos e projetos executivos de compatibilidade de especificações técnicas e de desem-
obras e serviços serão considerados principalmente os penho, observadas, quando for o caso, as condições de
seguintes requisitos: manutenção, assistência técnica e garantia oferecidas;
I - segurança; II - ser processadas através de sistema de registro de pre-
II - funcionalidade e adequação ao interesse público; ços;
III - economia na execução, conservação e operação; III - submeter-se às condições de aquisição e pagamento
IV - possibilidade de emprego de mão-de-obra, mate- semelhantes às do setor privado;
riais, tecnologia e matérias-primas existentes no local IV - ser subdivididas em tantas parcelas quantas neces-
para execução, conservação e operação; sárias para aproveitar as peculiaridades do mercado, vi-
V - facilidade na execução, conservação e operação, sem sando economicidade;
prejuízo da durabilidade da obra ou do serviço; V - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos ór-
VI - adoção das normas técnicas, de saúde e de seguran-
gãos e entidades da Administração Pública.
ça do trabalho adequadas;
§ 1º O registro de preços será precedido de ampla pes-
VII - impacto ambiental.
quisa de mercado.
§ 2º Os preços registrados serão publicados trimestral-
SEÇÃO IV
mente para orientação da Administração, na imprensa
DOS SERVIÇOS TÉCNICOS PROFISSIONAIS
oficial.
ESPECIALIZADOS
§ 3º O sistema de registro de preços será regulamentado
Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços por decreto, atendidas as peculiaridades regionais, ob-
técnicos profissionais especializados os trabalhos rela- servadas as seguintes condições:
tivos a: I - seleção feita mediante concorrência;
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou II - estipulação prévia do sistema de controle e atualiza-
executivos; ção dos preços registrados;
II - pareceres, perícias e avaliações em geral; III - validade do registro não superior a um ano.
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias fi- § 4º A existência de preços registrados não obriga a Ad-
nanceiras ou tributárias; ministração a firmar as contratações que deles poderão
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras advir, ficando-lhe facultada a utilização de outros meios,
ou serviços; respeitada a legislação relativa às licitações, sendo asse-
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou adminis- gurado ao beneficiário do registro preferência em igual-
trativas; dade de condições.
§ 5º O sistema de controle originado no quadro geral de
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;


VII - restauração de obras de arte e bens de valor his- preços, quando possível, deverá ser informatizado.
tórico. § 6º Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar
VIII - (Vetado). preço constante do quadro geral em razão de incompa-
§ 1º Ressalvados os casos de inexigibilidade de licita- tibilidade desse com o preço vigente no mercado.
ção, os contratos para a prestação de serviços técnicos § 7º Nas compras deverão ser observadas, ainda:
profissionais especializados deverão, preferencialmente, I - a especificação completa do bem a ser adquirido sem
ser celebrados mediante a realização de concurso, com indicação de marca;
estipulação prévia de prêmio ou remuneração. II - a definição das unidades e das quantidades a serem
§ 2º Aos serviços técnicos previstos neste artigo aplica- adquiridas em função do consumo e utilização prová-
-se, no que couber, o disposto no art. 111 desta Lei. veis, cuja estimativa será obtida, sempre que possível,
§ 3º A empresa de prestação de serviços técnicos es- mediante adequadas técnicas quantitativas de estima-
pecializados que apresente relação de integrantes de ção;
seu corpo técnico em procedimento licitatório ou como

29
III - as condições de guarda e armazenamento que não e inseridos no âmbito de programas de regularização
permitam a deterioração do material. fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou
§ 8º O recebimento de material de valor superior ao li- entidades da administração pública;
mite estabelecido no art. 23 desta Lei, para a modalida- i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita
de de convite, deverá ser confiado a uma comissão de, ou onerosa, de terras públicas rurais da União e do Incra,
no mínimo, 3 (três) membros. onde incidam ocupações até o limite de que trata o § 1º
do art. 6º da Lei nº 11.952, de 25 de junho de 2009, para
Art. 16. Será dada publicidade, mensalmente, em órgão fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos
de divulgação oficial ou em quadro de avisos de amplo legais; e
acesso público, à relação de todas as compras feitas pela II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de
Administração Direta ou Indireta, de maneira a clarifi- licitação, dispensada esta nos seguintes casos:
car a identificação do bem comprado, seu preço unitário, a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de
a quantidade adquirida, o nome do vendedor e o valor interesse social, após avaliação de sua oportunidade e
total da operação, podendo ser aglutinadas por itens as conveniência socioeconômica, relativamente à escolha
compras feitas com dispensa e inexigibilidade de licita- de outra forma de alienação;
ção. b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica entidades da Administração Pública;
aos casos de dispensa de licitação previstos no inciso IX c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa,
do art. 24. observada a legislação específica;
d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente;
SEÇÃO VI e) venda de bens produzidos ou comercializados por ór-
DAS ALIENAÇÕES gãos ou entidades da Administração Pública, em virtude
de suas finalidades;
Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, f) venda de materiais e equipamentos para outros ór-
subordinada à existência de interesse público devida- gãos ou entidades da Administração Pública, sem utili-
mente justificado, será precedida de avaliação e obede- zação previsível por quem deles dispõe.
cerá às seguintes normas: § 1º Os imóveis doados com base na alínea «b» do inciso
I - quando imóveis, dependerá de autorização legisla- I deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua
tiva para órgãos da administração direta e entidades doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica do-
autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as adora, vedada a sua alienação pelo beneficiário.
entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e § 2º A Administração também poderá conceder título de
de licitação na modalidade de concorrência, dispensada propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispen-
esta nos seguintes casos: sada licitação, quando o uso destinar-se:
a) dação em pagamento; I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública,
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão qualquer que seja a localização do imóvel;
ou entidade da administração pública, de qualquer esfe- II - a pessoa natural que, nos termos de lei, regulamento
ra de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i; ou ato normativo do órgão competente, haja implemen-
c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos tado os requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa
constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; e pacífica e exploração direta sobre área rural, observa-
d) investidura; do o limite de que trata o § 1º do art. 6º da Lei nº 11.952,
e) venda a outro órgão ou entidade da administração de 25 de junho de 2009;
pública, de qualquer esfera de governo; § 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2º ficam dispensa-
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão das de autorização legislativa, porém submetem-se aos
de direito real de uso, locação ou permissão de uso de seguintes condicionamentos:
bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efe- I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tivamente utilizados no âmbito de programas habita- por particular seja comprovadamente anterior a 1º de
cionais ou de regularização fundiária de interesse social dezembro de 2004;
desenvolvidos por órgãos ou entidades da administra- II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do
ção pública; regime legal e administrativo da destinação e da regu-
g) procedimentos de legitimação de posse de que trata larização fundiária de terras públicas;
o art. 29 da Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de 1976, III - vedação de concessões para hipóteses de exploração
mediante iniciativa e deliberação dos órgãos da Admi- não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação
nistração Pública em cuja competência legal inclua-se de terras públicas, ou nas normas legais ou administra-
tal atribuição; tivas de zoneamento ecológico-econômico; e
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão IV - previsão de rescisão automática da concessão, dis-
de direito real de uso, locação ou permissão de uso de pensada notificação, em caso de declaração de utilida-
bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de, ou necessidade pública ou interesse social.
de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) § 2º-B. A hipótese do inciso II do § 2º deste artigo:

30
I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não su- 8. Obrigatoriedade e suas exceções
jeito a vedação, impedimento ou inconveniente a sua
exploração mediante atividades agropecuárias; A obrigatoriedade das licitações está consagrada no ar-
II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais, tigo 37, XXI, CF, que determina que “ressalvados os casos
desde que não exceda mil e quinhentos hectares, veda- especificados na legislação, as obras, serviços, compras
da a dispensa de licitação para áreas superiores a esse e alienações serão contratados mediante processo de
limite; licitação pública que assegure igualdade de condições
III - pode ser cumulada com o quantitativo de área de- a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
corrente da figura prevista na alínea g do inciso I do obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas
caput deste artigo, até o limite previsto no inciso II deste da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
parágrafo. exigências de qualificação técnica e econômica indispen-
IV - (VETADO) sáveis à garantia do cumprimento das obrigações”. Logo,
§ 3º Entende-se por investidura, para os fins desta lei: a não ser nos casos em que a lei expressamente fixe exce-
I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de ções, a licitação é uma providência obrigatória para contra-
área remanescente ou resultante de obra pública, área tação de obras, serviços e compras e para a alienação do
esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por pre- patrimônio da Administração.
ço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não O princípio da obrigatoriedade se repete no artigo 2º,
ultrapasse a 50% (cinquenta por cento) do valor cons- caput, da Lei nº 8.666/93: “as obras, serviços, inclusive de
tante da alínea “a” do inciso II do art. 23 desta lei; publicidade, compras, alienações, concessões, permissões
II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na e locações da Administração Pública, quando contratadas
falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins resi- com terceiros, serão necessariamente precedidas de licita-
denciais construídos em núcleos urbanos anexos a usi- ção, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei”.
nas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis Com efeito, percebe-se que paralelamente à fixação do
na fase de operação dessas unidades e não integrem a princípio da obrigatoriedade das licitações é determinado
categoria de bens reversíveis ao final da concessão. que a lei pode excepcionar quando tal princípio será rela-
§ 4º A doação com encargo será licitada e de seu instru- tivizado, o que acontece nas hipóteses de dispensa e ine-
mento constarão, obrigatoriamente os encargos, o prazo xigibilidade.
de seu cumprimento e cláusula de reversão, sob pena de Logo, em alguns casos, a maioria na verdade, a licitação
nulidade do ato, sendo dispensada a licitação no caso de será obrigatória; em outros, poderá ser dispensada apesar
interesse público devidamente justificado; de viável (dispensa), sendo possível ainda que se enquadre
§ 5º Na hipótese do parágrafo anterior, caso o donatá- numa exceção em que nem ao menos é exigida (inexigi-
rio necessite oferecer o imóvel em garantia de financia- bilidade) – ambos casos de contratação direta. Todas as
mento, a cláusula de reversão e demais obrigações serão hipóteses de contratação direta são excepcionais (justa-
garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do mente por serem peculiares).
doador.
§ 6º Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou 9. Motivação da dispensa e da inexigibilidade
globalmente, em quantia não superior ao limite previsto
no art. 23, inciso II, alínea «b» desta Lei, a Administração Sempre que o administrador enquadrar um caso em
poderá permitir o leilão. dispensa ou em inexigibilidade deve motivar de forma cla-
§ 7º (VETADO). ra a sua decisão.
Art. 18. Na concorrência para a venda de bens imóveis,
a fase de habilitação limitar-se-á à comprovação do re- Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17
colhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de ine-
cento) da avaliação. xigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justifi-
Parágrafo único. (Revogado) cadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo
Art. 19. Os bens imóveis da Administração Pública, cuja único do art. 8º42 desta Lei deverão ser comunicados,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ra-
de dação em pagamento, poderão ser alienados por ato tificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de
da autoridade competente, observadas as seguintes re- 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.
gras: Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibi-
I - avaliação dos bens alienáveis; lidade ou de retardamento, previsto neste artigo, será
II - comprovação da necessidade ou utilidade da alie- instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
nação;
III - adoção do procedimento licitatório, sob a modalida-
de de concorrência ou leilão. 42 “Artigo 8º, parágrafo único, Lei nº 8.666/93. É proibido o retarda-
mento imotivado da execução de obra ou serviço, ou de suas parcelas,
se existente previsão orçamentária para sua execução total, salvo in-
suficiência financeira ou comprovado motivo de ordem técnica, justi-
ficados em despacho circunstanciado da autoridade a que se refere o
art. 26 desta Lei”.

31
I - caracterização da situação emergencial, calamitosa 11. Hipóteses de dispensa de licitação
ou de grave e iminente risco à segurança pública que
justifique a dispensa, quando for o caso; As hipóteses de dispensa de licitação se concentram
II - razão da escolha do fornecedor ou executante; no artigo 24 da Lei nº 8.666/93, sendo aplicáveis para ca-
III - justificativa do preço; sos em que a disputa é, em tese, viável, mas o interesse
IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa público é atendido de forma mais adequada se a disputa
aos quais os bens serão alocados. não ocorrer. Trata-se de causa de natureza discricionária,
pois o administrador decidirá se irá ou não licitar com base
Em algumas hipóteses de alienação de bens públicos e em critérios de oportunidade e conveniência – afinal, pode
em outras hipóteses de contratação é dispensável a licita- não licitar. São hipóteses taxativas, não podendo o admi-
ção (o que parte da doutrina chama de licitação dispensá- nistrador ampliar os casos em que a dispensa é permitida.
vel), da mesma forma que noutras situações ela nem mes-
mo é exigida (o que parte da doutrina chama de licitação Art. 24. É dispensável a licitação:
dispensada). Contudo, caberá ao administrador motivar a
sua decisão pela dispensa ou pela inexigibilidade. a) Valor baixo
A não ser no caso de dispensa pelo critério do valor, I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10%
previstos no artigo 24, I e II, Lei nº 8.666/93, em que se (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso
aceita uma motivação mais simples e objetiva, em todas I do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas
outras situações o administrador deve motivar em deta- de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e
lhes sua decisão, notadamente inserindo no processo de serviços da mesma natureza e no mesmo local que pos-
dispensa e inexigibilidade: caracterização da situação de sam ser realizadas conjunta e concomitantemente;
emergência ou calamidade em que houve dispensa, se for II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez
o caso; motivo daquele fornecedor ou executante ter sido por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso II
escolhido; justificativa do preço que será pago; documento do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos
nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um
que aprove os projetos de pesquisa aos quais os bens se-
mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que
rão alocados, se for o caso.
possa ser realizada de uma só vez;
Não obstante, deve o administrador comunicar a si-
§ 1º Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput
tuação de dispensa em três dias à autoridade superior, ca-
deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras,
bendo a esta ratifica-la e publicá-la na imprensa oficial em
obras e serviços contratados por consórcios públicos, so-
cinco dias, sendo tal publicação condição de eficácia do
ciedade de economia mista, empresa pública e por au-
ato. Também existe o dever de adotar este procedimento
tarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como
em caso de retardamento na execução da obra ou serviço
Agências Executivas.
quando existir previsão orçamentária para a execução total.
É a dispensa de licitação se o valor do objeto licitado
10. Vedação da licitação
for muito baixo de modo que a realização da licitação seria
mais onerosa do que a aquisição direta do bem ou servi-
A legislação anterior, qual seja, o Decreto-lei nº
ço. Isso ocorre sempre que se referir a bens e serviços em
2.300/1986, previa a vedação do procedimento de licita-
geral até R$80.000 e a obras e serviços de engenharia até
ção, estabelecendo-se contratação direta, nos casos em
R$150.000.
que houvesse comprometimento da segurança nacional,
Caso o contratante seja consórcio público, sociedade
mas a disciplina não se repetiu no atual estatuto.
de economia mista, empresa pública ou por autarquia ou
Contudo, há posicionamento de que o artigo 7º, §5º da
fundação qualificadas o limite dobra: R$160.000 para bens
Lei nº 8.666/1993 traz um caso remanescente de vedação,
e serviços em geral e R$300.000 para obras e serviços de
mas predomina o posicionamento de Carvalho Filho43, se-
gundo o qual não se trata de vedação, mas sim de restri- engenharia.
ção. Prevê o dispositivo: Nos termos da Lei nº 11.107/05, que rege normas ge-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

rais de contratação de consórcios públicos e dá outras


Art. 7º, § 5º. É vedada a realização de licitação cujo ob- providências, para as associações públicas por ela regidas
jeto inclua bens e serviços sem similaridade ou de mar- o limite também é maior do que o fixado na regra geral:
cas, características e especificações exclusivas, salvo nos nas associações formadas por até três entes estatais, o li-
casos em que for tecnicamente justificável, ou ainda mite é dobrado (R$160.000 para bens e serviços em geral
quando o fornecimento de tais materiais e serviços for e R$300.000 para obras e serviços de engenharia); nas as-
feito sob o regime de administração contratada, previsto sociações formadas por mais de três entes estatais o limi-
e discriminado no ato convocatório. te é triplicado (R$240.000 para bens e serviços em geral e
R$450.000 para obras e serviços de engenharia).
Acompanha-se o entendimento dominante, eis que a Obs.: Em regra, não é permitido fracionar o objeto da
expressão “salvo”, em destaque confere a ideia de restrição. licitação em contratações menores, pois assim o adminis-
trador estaria burlando os limites fixados pelo legislador
43 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis- e induzindo dispensa ilícita. Contudo, é possível fracionar
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. caso exista vantagem ao interesse público, mas não caberá

32
a dispensa, cabendo adotar para cada fração a modalidade d) Intervenção no domínio econômico
de licitação que seria empregada se não houvesse fracio- VI - quando a União tiver que intervir no domínio econô-
namento. mico para regular preços ou normalizar o abastecimento;
É possível intervir no domínio econômico para regularizar
b) Situações excepcionais preços e normalizar abastecimento, conforme o artigo 173,
III - nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem; §4º, CF. Para Carvalho Filho44 apenas a União pode dispensar
IV - nos casos de emergência ou de calamidade públi- licitação neste caso, pois apenas ela pode intervir no domínio
ca, quando caracterizada urgência de atendimento de econômico. Aliás, é o que se depreende do próprio texto.
situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer
a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e) Disparidade de propostas
e outros bens, públicos ou particulares, e somente para VII - quando as propostas apresentadas consignarem
os bens necessários ao atendimento da situação emer- preços manifestamente superiores aos praticados no
gencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e ser- mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fi-
viços que possam ser concluídas no prazo máximo de xados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que,
180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, per-
contados da ocorrência da emergência ou calamidade, sistindo a situação, será admitida a adjudicação direta
vedada a prorrogação dos respectivos contratos; dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante
do registro de preços, ou dos serviços;
Quando se fala em estado de guerra e grave perturba-
ção da ordem, pode-se depreender da doutrina que as dis- Na hipótese de disparidade de propostas os candidatos
pensas nestes casos são aquelas destinadas ao estado de à contratação, geralmente em conluio, fixam preços incom-
guerra direta ou indiretamente, bem como as destinadas patíveis com as condições de mercado e manifestamente
a atender graves perturbações da ordem, como protestos, superiores a elas; ou então apresentam propostas com va-
manifestações e paralisações. lor tão irrisório que seja impossível dar cumprimento ao
O fundamento da urgência é o mesmo para os casos contrato. Nestes casos, será possível contratar diretamente,
de emergências e calamidades públicas. Contudo, para a dentro da faixa adequada de preços.
doutrina, não é possível fundamentar a dispensa em ur- A verificação da disparidade de preços, se não houver ór-
gência se ela decorrer da omissão administrativa – pode gão de registro, deve se dar dentro do próprio processo ad-
até dispensar, porque não é possível deixar a população a ministrativo. Deverá a administração dar um prazo de 8 dias
mercê, mas o administrador poderá ser responsabilizado. úteis para a apresentação de propostas viáveis (artigo 48, §3º,
Nas contratações por emergência e calamidade pública o Lei nº 8.666/93) e, caso não sejam apresentadas, poderá ad-
limite temporal é o necessário ao atendimento das circuns- judicar diretamente os bens e serviços pelo valor adequado.
tâncias extraordinárias, pelo prazo máximo de 180 dias, im-
prorrogável. f) Em função do contratante ou do contratado: Po-
der público
c) Licitação deserta VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito pú-
V - quando não acudirem interessados à licitação ante- blico interno, de bens produzidos ou serviços prestados
rior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem por órgão ou entidade que integre a Administração Pú-
prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, to- blica e que tenha sido criado para esse fim específico em
das as condições preestabelecidas; data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço con-
tratado seja compatível com o praticado no mercado;
Quando ocorre a chamada licitação deserta o que se XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de direito
percebe é o total desinteresse na contratação. Na licitação público interno de insumos estratégicos para a saúde
deserta realiza-se a fase preparatória, publica-se o edital, produzidos ou distribuídos por fundação que, regimen-
mas nenhum interessado comparece para a disputa. A lei tal ou estatutariamente, tenha por finalidade apoiar
prevê que será necessário repetir o procedimento, mas se o órgão da administração pública direta, sua autarquia
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

legislador mostrar que a repetição irá prejudicar o interesse ou fundação em projetos de ensino, pesquisa, extensão,
público, principalmente por causa da demora, será possível desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e
dispensar. No caso, o administrador poderá contratar quem estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa
quiser, mas deverá oferecer exatamente o mesmo contrato e financeira necessária à execução desses projetos, ou
ofertado na licitação que foi deserta. em parcerias que envolvam transferência de tecnologia
Obs.: Licitação deserta é diferente de licitação fracas- de produtos estratégicos para o Sistema Único de Saú-
sada. Na licitação fracassada aparecem candidatos, mas de – SUS, nos termos do inciso XXXII deste artigo, e que
nenhum deles preenche os requisitos e por isso ninguém tenha sido criada para esse fim específico em data an-
pode ser contratado. Neste caso a lei não admite a dispen- terior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado
sa, cabendo ao administrador repetir a licitação. seja compatível com o praticado no mercado.

44 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-


trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

33
XXXV - para a construção, a ampliação, a reforma e o dedicada à recuperação social do preso, desde que a
aprimoramento de estabelecimentos penais, desde que contratada detenha inquestionável reputação ético-pro-
configurada situação de grave e iminente risco à segu- fissional e não tenha fins lucrativos;
rança pública. XX - na contratação de associação de portadores de
§ 2º O limite temporal de criação do órgão ou entidade deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada
que integre a administração pública estabelecido no in- idoneidade, por órgãos ou entidades da Administração
ciso VIII do caput deste artigo não se aplica aos órgãos Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de
ou entidades que produzem produtos estratégicos para mão-de-obra, desde que o preço contratado seja com-
o SUS, no âmbito da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de patível com o praticado no mercado.
1990, conforme elencados em ato da direção nacional XXIV - para a celebração de contratos de prestação de
do SUS. serviços com as organizações sociais, qualificadas no
âmbito das respectivas esferas de governo, para ativida-
Se foi criado antes da Lei nº 8.666/93 um órgão público des contempladas no contrato de gestão.
ou entidade do poder público apenas para fornecer bens e XXX - na contratação de instituição ou organização, pú-
prestar serviços à Administração, fazendo-o em respeito ao blica ou privada, com ou sem fins lucrativos, para a pres-
preço praticado no mercado, será possível dispensar a lici- tação de serviços de assistência técnica e extensão rural
tação e contratá-lo de forma direta. Se o órgão ou entidade no âmbito do Programa Nacional de Assistência Técnica
ofertar produtos estratégicos no âmbito do SUS, pode ter e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma
sido criado depois da Lei nº 8.666/93 e terá plena validade. Agrária, instituído por lei federal.
Há entendimento da doutrina de Carvalho Filho45 no XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins
sentido de que apenas se aplica o dispositivo se a dispen- lucrativos, para a implementação de cisternas ou outras
sa se der entre órgãos do mesmo âmbito federativo, por tecnologias sociais de acesso à água para consumo hu-
exemplo, não seria possível entre a União e uma entidade mano e produção de alimentos, para beneficiar as fa-
mílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta
estadual; além do que apenas valeria entre pessoas jurídi-
regular de água.
cas de direito público e a entidade ou órgão contratado
(excluídas as sociedades de economia mista e empresas
Em todo os dispositivos apontados, exceto no inciso
públicas).
XXX, exige-se a ausência de fins lucrativos. No artigo XXX,
XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formulá-
embora se aceite o fim lucrativo, se denota o propósito
rios padronizados de uso da administração, e de edições
social da contratação, viabilizando a reforma agrária. O
técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços propósito social é essencial nas demais hipóteses, sempre
de informática a pessoa jurídica de direito público inter- se fazendo presente nas OS e OSCIP, ou na própria causa
no, por órgãos ou entidades que integrem a Administra- militada pela associação, como a questão da recuperação
ção Pública, criados para esse fim específico; social do preso, da inserção da pessoa com deficiência no
Embora também seja um caso de contratação direta da mercado de trabalho ou do acesso à água potável.
administração pela administração, neste caso dos diários Destaca-se que nem toda contratação de entes do ter-
oficiais, formulários padronizados e edições técnicas não ceiro setor é dispensável. Haverá dispensa principalmente
existe limite temporal, de modo que o órgão ou entidade para oferecer contratos de gestão, criando uma OS, ou ofe-
pode ter sido criado depois da Lei nº 8.666/93. recer termo de parceria, criando uma OSCIP (inciso XXIV);
XXIII - na contratação realizada por empresa pública bem como em serviços ou projetos em que o ente não tem
ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias fins lucrativos e é especializado na atividade, impondo-se a
e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, este contratado uma contrapartida, isto é, o poder público
prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço não entra apenas com o dinheiro e cria verdadeira parceria.
contratado seja compatível com o praticado no mercado.
Se a participação estatal for exclusivamente econômica, em
atividade que mais de uma organização ou associação é
Também independentemente de prazo limite, as em-
especializada, deve se licitar.
presas públicas e sociedades de economia mista podem
contratar diretamente com suas subsidiárias e controladas
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

h) Consórcios e convênios de cooperação


para adquirir e alienar bens e serviços em preço compatível
XXVI - na celebração de contrato de programa com ente
com o de mercado. A justificativa é que se tratam de pes-
soas jurídicas de direito privado. Destaca-se que a contra- da Federação ou com entidade de sua administração in-
tação apenas por se der com suas subsidiárias e controla- direta, para a prestação de serviços públicos de forma
das que foram criadas pela empresa pública ou sociedade associada nos termos do autorizado em contrato de con-
de economia mista. sórcio público ou em convênio de cooperação.

g) Contratação de entidade sem fim lucrativo O dispositivo sobre consórcios e convênios de coopera-


XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida ção foi inserido pela Lei nº 11.107/05, tornando dispensável
regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino a licitação no caso de ser celebrado contrato de programa
ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição entre o consórcio público e a entidade da administração
para que prestem serviços públicos de modo associado.
45 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis- Justifica-se a hipótese pelo regime de parceria
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

34
i) Gêneros perecíveis m) Serviços de energia e gás
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento
gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realiza- de energia elétrica e gás natural com concessionário,
ção dos processos licitatórios correspondentes, realiza- permissionário ou autorizado, segundo as normas da
das diretamente com base no preço do dia; legislação específica;
A dispensa para a aquisição de gêneros perecíveis não é
permanente, devendo se realizar a licitação assim que pos- Para energia e gás serão contratadas as concessionárias
sível. Logo, também se trata de hipótese de dispensa em com dispensa licitatória, ainda que a região seja servida por
situação emergencial. mais de um concessionário.

j) Obras de arte n) Coleta de materiais recicláveis


XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte XXVII - na contratação da coleta, processamento e co-
e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde mercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou
que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de
entidade. lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas
exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reco-
Na dispensa de licitação para adquirir ou restaurar nhecidas pelo poder público como catadores de materiais
obras de arte a lei exige que o objeto tenha autenticidade recicláveis, com o uso de equipamentos compatíveis com
certificada e que os objetos adquiridos sejam compatíveis as normas técnicas, ambientais e de saúde pública.
ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade, o que é
o caso de museus, bibliotecas e escolas, não servindo os Trata-se de modalidade de dispensa que serve de in-
objetos adquiridos de adorno aos gabinetes das autorida- centivo à formação de cooperativas e associações de re-
des públicas. No caso de restauração de objeto que já é do ciclagem e reutilização de resíduos sólidos compostas por
patrimônio do órgão, cabível a dispensa. pessoas de baixa renda. É uma forma do poder público in-
centivar a organização e a união de catadores, retirando-os
k) Complementação de objeto da marginalização. A hipótese de dispensa foi criada pela
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou Lei nº 11.445/07, que estabelece diretrizes nacionais para
fornecimento, em consequência de rescisão contratual, saneamento básico.
desde que atendida a ordem de classificação da licita-
ção anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas o) Risco à segurança nacional
pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devi- IX - quando houver possibilidade de comprometimento
damente corrigido; da segurança nacional, nos casos estabelecidos em de-
creto do Presidente da República, ouvido o Conselho de
Trata-se de hipótese de complementação de objeto, Defesa Nacional;
possível quando a administração rescinde contrato anterior XXVIII - para o fornecimento de bens e serviços, produ-
antes que a obra, serviço ou fornecimento se encerre, pro- zidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativa-
cedendo-se com a contratação direta daquele que sequen- mente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional,
cialmente se classificou no certame, respeitadas as mesmas mediante parecer de comissão especialmente designada
condições de contratação. Se não for possível obedecer à pela autoridade máxima do órgão.
regra de contratação daquele que foi classificado na lici-
tação anterior sequencialmente pelas mesmas condições, Em ambos casos, prioriza-se a manutenção da segu-
nada resta senão promover nova licitação. rança nacional e a defesa do país, prevendo-se a dispensa
da licitação. É necessário equilibrar os interesses, pois se o
l) Garantia técnica propósito da licitação é atender ao interesse público, sem
XVII - para a aquisição de componentes ou peças de ori- dúvidas deve ser dispensada quando a sua realização sig-
gem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

nificar o comprometimento deste interesse.


de equipamentos durante o período de garantia técni-
ca, junto ao fornecedor original desses equipamentos, p) Navios, embarcações, aeronaves e tropas
quando tal condição de exclusividade for indispensável XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o
para a vigência da garantia; abastecimento de navios, embarcações, unidades aére-
Dispensa-se a licitação para a compra de componentes as ou tropas e seus meios de deslocamento quando em
ou peças na garantia técnica. Logo, deve estar na vigência estada eventual de curta duração em portos, aeroportos
da garantia. Após o prazo de garantia, a licitação é obriga- ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de
tória. Ainda, é preciso que o fornecedor original seja ex- movimentação operacional ou de adestramento, quan-
clusivo e tal exclusividade seja indispensável, por exemplo, do a exiguidade dos prazos legais puder comprometer a
se ao comprar uma peça paralela a administração correr o normalidade e os propósitos das operações e desde que
risco de perder a garantia. seu valor não exceda ao limite previsto na alínea “a” do
inciso II do art. 23 desta Lei:

35
Trata-se de dispensa em caso de necessidade de abas- Há acordos internacionais que permitem condições
tecimento de navios, embarcações, aeronaves e tropas e de vantajosas para que sejam adquiridos bens e serviços, dis-
seus meios de deslocamento, quando houver estada even- pensando-se a licitação nestes casos. Contudo, tal acordo
tual de curto período em portos, aeroportos e outros locais internacional deve ter sido regularmente incorporado ao
diversos da sede. O valor não pode exceder a R$80.000, ordenamento brasileiro, com aprovação do Congresso Na-
pelo texto da lei, mas isso pode ser relativizado em uma cional e ratificação, promulgação e publicação pela Presi-
situação de emergência. dência da República.

q) Materiais de uso militar t) Pesquisa científica e tecnológica


XIX - para as compras de material de uso pelas Forças XXI - para a aquisição ou contratação de produto para
Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e ad- pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e
ministrativo, quando houver necessidade de manter a serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor
padronização requerida pela estrutura de apoio logístico de que trata a alínea “b” do inciso I do caput do art. 23;
dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer § 3º A hipótese de dispensa prevista no inciso XXI do ca-
de comissão instituída por decreto; put, quando aplicada a obras e serviços de engenharia,
XXIX - na aquisição de bens e contratação de serviços seguirá procedimentos especiais instituídos em regula-
para atender aos contingentes militares das Forças Sin- mentação específica.
gulares brasileiras empregadas em operações de paz no § 4º Não se aplica a vedação prevista no inciso I do ca-
exterior, necessariamente justificadas quanto ao preço e put do art. 9º à hipótese prevista no inciso XXI do caput.
à escolha do fornecedor ou executante e ratificadas pelo XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do dis-
Comandante da Força. posto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2 de
dezembro de 2004, observados os princípios gerais de
A dispensa para materiais de uso militar apenas é as- contratação dela constantes.
segurada para insumos militares ou propriamente bélicos.
Neste sentido, bens de consumo, bens comuns e materiais
Nos termos do inciso XXI, é dispensável a licitação no
de escritório deverão ser licitados.
caso de aquisição de bens destinados exclusivamente à
pesquisa científica e tecnológica com recursos concedidos
r) Compra ou locação de imóvel
pela CAPES, FINEP, CNPq e outras entidades de fomento
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao
à pesquisa credenciadas pela última, exigindo-se que os
atendimento das finalidades precípuas da administra-
recursos venham das entidades específicas e que os bens
ção, cujas necessidades de instalação e localização con-
sejam adquiridos exclusivamente para pesquisa científica e
dicionem a sua escolha, desde que o preço seja compa-
tível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia; tecnológica.
Por motivos óbvios, não se proíbe que o autor do pro-
Quando a administração quer comprar ou alugar um jeto, básico ou executivo, pessoa física ou jurídica partici-
imóvel, é preciso se ater às seguintes diretrizes: caso um pe, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução
determinado bem privado esteja se opondo ao interesse de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles ne-
público, caberá promover a desapropriação; caso a admi- cessários. Trata-se de preservação do direito autoral e de
nistração possa motivar o interesse sobre um determinado garantia de que a pesquisa seja devidamente executada.
imóvel, embora não exista a oposição ao interesse público, A dispensa para obras e serviços de engenharias vol-
mas se faça presente a peculiaridade decorrente da loca- tados a pesquisa e desenvolvimento se limita ao valor de
lização ou das características do bem, é possível adquirir R$300.000, seguindo procedimento especial.
de forma direta mediante dispensa de licitação, desde que
os preços sejam compatíveis com os de mercado; noutras u) Transferência de tecnologia
situações, deverá obrigatoriamente licitar. XXV - na contratação realizada por Instituição Científica
Obs.: as operações imobiliárias entre entes estatais não e Tecnológica - ICT ou por agência de fomento para a
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

exige licitação e é classificada por parte da doutrina como transferência de tecnologia e para o licenciamento de
licitação dispensada (por exemplo, União empresta imóvel direito de uso ou de exploração de criação protegida.
para que município instale uma UPA – unidade de pron- XXXII - na contratação em que houver transferência de
to-atendimento, ou doa tal imóvel sob a condição de que tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema Úni-
a UPA seja criada, em verdadeira doação modal; Estado co de Saúde - SUS, no âmbito da Lei nº 8.080, de 19 de
compra imóvel de município para instalar sua secretaria setembro de 1990, conforme elencados em ato da dire-
estadual). ção nacional do SUS, inclusive por ocasião da aquisição
destes produtos durante as etapas de absorção tecno-
s) Negócios internacionais lógica.
XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos
de acordo internacional específico aprovado pelo Con- Há dispensa em caso de transferência de tecnologia ou
gresso Nacional, quando as condições ofertadas forem licença de uso/exploração de criação protegida, conside-
manifestamente vantajosas para o Poder Público; rando esta como invenção, modelo de utilidade, desenho

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industrial, programa de computador ou qualquer outro desenvolvimento tecnológico que resulte em novo produto, pro-
cesso ou aperfeiçoamento de natureza tecnológica (conforme define a Lei nº 10.973/04, que criou o inciso XXV). A dispensa
também vale para transferência de tecnologia de produto estratégico no âmbito do sistema de saúde.

12. Hipóteses de inexigibilidade de licitação

As hipóteses de inexigibilidade de licitação se concentram no artigo 25 da Lei nº 8.666/93, sendo aplicáveis para casos
em que a disputa nem ao menos é viável. Trata-se de causa de natureza vinculante, de forma que o administrador não tem
a liberdade de decidir se irá ou não licitar – afinal, não deve licitar. Conforme o § 2º do artigo 25, é fixado um regime de
responsabilização solidária pelo dano causado ao erário entre fornecedor/prestador de serviços e agente público, nada
excluindo outra sanção penal, civil ou administrativa: “Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se
comprovado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o pres-
tador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis”.

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:

O rol é meramente exemplificativo, eis que a inexigibilidade pode ser aceita em qualquer outra hipótese de inviabili-
dade da disputa (tanto é que o artigo 25 trata de três hipóteses “em especial” e não “apenas”).

a) Unicidade
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou repre-
sentante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através
de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço,
pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes;

Trata-se de caso de unicidade, quando houver apenas um fabricante, fornecedor, produtor ou distribuidor. Esta uni-
cidade deve ser provada por certidões das confederações de indústrias, de comércio, juntas comerciais, etc.
É possível fixar uma determinada região do território nacional que admita participantes da licitação e, se houver ape-
nas um participante possível se admite a inexigibilidade, não importando que existam participantes em outras regiões
porque as licitações podem ser usadas como ferramenta de política econômica, incentivando a economia local.
Em regra, não se pode definir/fixar marca no edital porque poderia fraudar o caráter competitivo, mas é possível
indicar a marca motivando-se pelo princípio da padronização. Não é possível burlar a regra indicando especificações
que apenas uma marca pode concluir (ex.: PGR foi alvo de críticas quando licitou tablets e, embora não mencionasse
em nenhum momento que deveriam ser iPads, faziam referências a especificações técnicas que apenas os aparelhos da
Apple poderiam conter).

b) Serviços técnicos notoriamente especializados


II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Trata-se de caso de contratação de serviços singulares de profissionais de notória especialização. O que diferencia
dos demais serviços, que devem ser licitados, é a notória especialização, comprovada pelo reconhecimento no mercado,
por publicações e patentes, etc. Ex.: para um órgão governamental contratar uma consultoria jurídica deve licitar, mas se
a contratação necessária for de um advogado de notório conhecimento em direitos humanos e justiça internacional será
possível a inexigibilidade. De forma específica, destaca-se o §1º do dispositivo:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade,
decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou
de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente
o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato.

c) Profissional de setor artístico consagrado


III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário exclusivo, desde
que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

Trata-se de caso de contratação de trabalhos artísticos de artistas renomados. A intenção é a de explorar o prestígio do
sujeito. A expressão artista deve ser tomada genericamente, por exemplo, pode se encaixar um esportista renomado ou um
cientista renomado. O prestígio do artista deve existir em relação à população local.

37
#FicaDica
Regra: Obrigatoriedade de licitação.
Exceções: Licitação dispensada, dispensável e inexigível.
Licitação dispensada: a Administração pode em alguns casos previstos na lei efetuar a contratação direta,
todos eles envolvendo alienações subordinadas ao interesse público e respeitadas avaliações prévias.
Licitação dispensável: A Administração pode em alguns casos previstos taxativamente na lei efetuar a
contratação direta de bens, produtos, serviços e obras, entre eles: contratação de pequeno valor, emergência
ou calamidade públicas, licitação fracassada ou deserta.
Inexigibilidade: Em casos que nem ao menos seja possível a competição, a Administração promoverá a
contratação direta. O rol é taxativo e mais restrito: materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser
fornecidos por produtor ou representante comercial exclusivo; serviços técnicos especializados de natureza
singular e promovido por profissionais de notória especialização (não cabe para serviços de publicidade); e
contratações de profissionais do setor artístico, que tenha aceitação pela crítica e pela opinião pública.

13. Modalidades

Prosseguindo o estudo, quanto às modalidades de licitação, podem ser apontadas as seguintes modalidades: Con-
corrência, tomada de preços, convite, concurso e leilão (artigo 22, Lei nº 8.666/1993). Dos parágrafos 1º a 5º, o artigo 22
conceitua cada uma das modalidades:
§ 1º Concorrência é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar,
comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.
§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre interessados devidamente cadastrados ou que atenderem a todas
as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observada a
necessária qualificação.
§ 3º Convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, esco-
lhidos e convidados em número mínimo de 3 (três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia
do instrumento convocatório e o estenderá aos demais cadastrados na correspondente especialidade que manifestarem
seu interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas.
§ 4º Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para escolha de trabalho técnico, científico ou
artístico, mediante a instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital pu-
blicado na imprensa oficial com antecedência mínima de 45 (quarenta e cinco) dias.
§ 5º Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis inservíveis para a ad-
ministração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis prevista no art.
19, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.

Por sua vez, a LEI Nº 10.520, DE 17 DE JULHO DE 2002, trabalha com uma modalidade adicional de licitação, o pregão.
É a modalidade de licitação voltada à aquisição de bens e serviços comuns, assim considerados aqueles cujos padrões de
desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos no edital por meio de especificações do mercado.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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#FicaDica
Concorrência (contratações de maior vultou ou valor) – A habilitação não depende de cadastro prévio,
qualquer um que preencha os requisitos pode participar. Publicidade: edital publicado na imprensa.
Obras, serviços e compras de maior valor – Geral acima de R$650.000; Engenharia acima de R$1.500.000.
Compra ou alienação de bens imóveis, independente do valor;
Concessão de direito real de uso;
Licitações internacionais (também cabe tomada de preços ou convite);
Alienação de bens móveis de maior valor;
Registro de preços.
- Tomada de preços (contratações de valor intermediário) – Os interessados são previamente cadastrados
ou devem apresentar documentos até o 3o dia anterior ao recebimento das propostas. Publicidade: edital
publicado na imprensa.
Obras, serviços e compras de valor intermediário – Geral R$80.000 a R$650.000; Engenharia R$150.000 a
R$1.500.000.
- Convite (contratações de menor valor) – Apenas participam os convocados pela Administração (três
recebem a carta-convite) e cadastrados que se manifestem até 24 horas antes da proposta. Publicidade:
edital afixado no local da repartição.
Obras, serviços e compras de valor intermediário – Geral até R$80.000; Engenharia até R$150.000.
- Concurso (ajustado para objetos específicos) – É instituído um prêmio ou remuneração a ser pago pela
Administração aos vencedores. Publicidade: edital deve ser publicado com antecedência mínima de 45 dias
e deve ser amplamente divulgado.
Trabalhos intelectuais – técnicos, científicos ou literários.
- Leilão (ajustado para objeto específico) – Utiliza-se para a venda de bens móveis e imóveis da Administração,
exigindo-se prévia avaliação. Publicidade: deve ser ampla.
Bens móveis que não servem mais para a Administração;
Produtos legalmente apreendidos ou penhorados;
Bens imóveis cuja aquisição tenha derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento (nesse
caso também seria possível concorrência).
- Pregão (bens e serviços comuns) – As propostas serão julgadas sempre pelo critério de menor preço.
Realiza-se em duas fases – interna e externa.
Bens e serviços comuns, que são aqueles cujo padrão de desempenho e qualidade podem ser objetivamente
definidos pelo edital, a partir de especificações usuais no mercado.

14. Tipos

Em relação aos tipos de licitação, apontam-se no Estatuto: melhor preço, melhor técnica, técnica e preço, e melhor lance
ou oferta. Os tipos licitatórios não passam de critérios de julgamento para a escolha da proposta mais adequada aos inte-
resses da Administração Pública. A disciplina encontra-se no caput e no §1º da Lei nº 8.666/1993:

Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convite realizá-
-lo em conformidade com os tipos de licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com
os fatores exclusivamente nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle.
§ 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de licitação, exceto na modalidade concurso:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

I - a de menor preço - quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração determinar que
será vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o
menor preço;
II - a de melhor técnica;
III - a de técnica e preço;
IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de alienação de bens ou concessão de direito real de uso.

15. Procedimento

Além do capítulo introdutório, do artigo 38 ao 53 da Lei nº 8.666/93 está descrito o procedimento a ser adotado nas
licitações em geral. A modalidade pregão tem procedimento próprio, previsto na lei especial.

39
16. Anulação e revogação culado, embora assentada em motivos de conveniência e
oportunidade; e ainda, a lei referida, prevê que no caso de
No que tange à revogação e à anulação, ambas volta- desfazimento da licitação ficam assegurados o contraditó-
das às consequências dos vícios no processo de licitação, rio e a ampla defesa, garantia essa que é dada somente ao
destaca-se a previsão do artigo 49: vencedor, o único com efeitos interesses na permanência
desse ato, pois através dele pode chegar a contrato.
Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do Hely Lopes Meireles47 conceitua anulação como “é a
procedimento somente poderá revogar a licitação por invalidação da licitação ou do julgamento por motivo de
razões de interesse público decorrente de fato superve- ilegalidade, pode ser feita a qualquer fase e tempo antes da
niente devidamente comprovado, pertinente e suficiente assinatura do contrato, desde que a Administração ou o Ju-
para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegali- diciário verifique e aponte a infringência à lei ou ao edital”.
dade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante Cabe ainda ressaltar que a anulação da licitação acarreta
parecer escrito e devidamente fundamentado. a nulidade do contrato (art. 49, § 2º). No mesmo sentido
§ 1º A anulação do procedimento licitatório por motivo “a anulação poderá ocorrer tanto pela Via Judicante como
de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressal- pela Via Administrativa”.
vado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.
§ 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do 17. Legislação seca
contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do
art. 59 desta Lei. Abaixo, colaciona-se com grifo a disciplina dos tópicos
§ 3º No caso de desfazimento do processo licitatório, fica abordados teoricamente acima, com destaque aos proce-
assegurado o contraditório e a ampla defesa. dimentos licitatórios.
§ 4º O disposto neste artigo e seus parágrafos aplica-se
aos atos do procedimento de dispensa e de inexigibilida- CAPÍTULO II
de de licitação. DA LICITAÇÃO
SEÇÃO I
Anular é extinguir um ato ou um conjunto de atos em DAS MODALIDADES, LIMITES E DISPENSA
razão de sua ilegalidade. Quando se fala, portanto, em
anulação de uma licitação, pressupõe-se a ilegalidade da Art. 20. As licitações serão efetuadas no local onde se
mesma, pois anula-se o que é ilegítimo. A licitação poderá situar a repartição interessada, salvo por motivo de inte-
ser anulada pela via administrativa ou pela via judiciária. A resse público, devidamente justificado.
anulação de uma licitação pode ser total (se o vício atingir Parágrafo único. O disposto neste artigo não impedirá
a origem dos atos licitatórios) ou parcial (se o vício atingir a habilitação de interessados residentes ou sediados em
parte dos atos licitatórios). outros locais.
Revogar uma licitação é extingui-la por ser inconve- Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das
niente ou inoportuna. Desde o momento em que a lici- concorrências, das tomadas de preços, dos concursos e
tação foi aberta até o final da mesma, pode-se falar em dos leilões, embora realizados no local da repartição in-
revogação. Após a assinatura do contrato, entretanto, não teressada, deverão ser publicados com antecedência, no
poderá haver a revogação da licitação. Somente se justifica mínimo, por uma vez:
a revogação quando houver um fato posterior à abertura I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de li-
da licitação e quando o fato for pertinente, ou seja, quando citação feita por órgão ou entidade da Administração
possuir uma relação lógica com a revogação da licitação. Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras fi-
Ainda deve ser suficiente, quando a intensidade do fato nanciadas parcial ou totalmente com recursos federais
justificar a revogação. Deve ser respeitado o direito ao con- ou garantidas por instituições federais;
traditório e ampla defesa, e a revogação deverá ser feita II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal
mediante parecer escrito e devidamente fundamentado. quando se tratar, respectivamente, de licitação feita por
Logo, anulação e revogação estão previstos no artigo órgão ou entidade da Administração Pública Estadual
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

49 da lei nº 8.666/93. Revogação da licitação por interes- ou Municipal, ou do Distrito Federal;


se público decorrente de fato superveniente devidamente III - em jornal diário de grande circulação no Estado e
comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal con- também, se houver, em jornal de circulação no Municí-
duta, bem como a obrigatoriedade de sua anulação por pio ou na região onde será realizada a obra, prestado o
ilegalidade, neste último caso podendo agir de oficio ou serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo
provocado por terceiros, mediante parecer escrito e devi- ainda a Administração, conforme o vulto da licitação,
damente fundamentado. utilizar-se de outros meios de divulgação para ampliar a
Revogação segundo Diógenes Gasparini “é o desfazi- área de competição.
mento da licitação acabada por motivos de conveniência § 1º O aviso publicado conterá a indicação do local em
e oportunidade (interesse público) superveniente – art. 49 que os interessados poderão ler e obter o texto integral
da lei nº 8.666/93”46. Trata-se de um ato administrativo vin- do edital e todas as informações sobre a licitação.
46 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 11. ed. São Paulo: 47 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São
Saraiva, 2006. Paulo: Malheiros, 1993.

40
§ 2º O prazo mínimo até o recebimento das propostas ou ou penhorados, ou para a alienação de bens imóveis pre-
da realização do evento será: vista no art. 19, a quem oferecer o maior lance, igual ou
I - quarenta e cinco dias para: superior ao valor da avaliação.
a) concurso; § 6º Na hipótese do § 3º deste artigo (CONVITE), exis-
b) concorrência, quando o contrato a ser celebrado con- tindo na praça mais de 3 (três) possíveis interessados, a
templar o regime de empreitada integral ou quando a cada novo convite, realizado para objeto idêntico ou asse-
licitação for do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”; melhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um
II - trinta dias para: interessado, enquanto existirem cadastrados não convi-
a) concorrência, nos casos não especificados na alínea “b” dados nas últimas licitações.
do inciso anterior; § 7º Quando, por limitações do mercado ou manifesto
b) tomada de preços, quando a licitação for do tipo “me- desinteresse dos convidados, for impossível a obtenção do
lhor técnica” ou “técnica e preço”; número mínimo de licitantes exigidos no § 3º deste artigo,
III - quinze dias para a tomada de preços, nos casos não essas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas
especificados na alínea “b” do inciso anterior, ou leilão; no processo, sob pena de repetição do convite.
IV - cinco dias úteis para convite. § 8º É vedada a criação de outras modalidades de licita-
§ 3º Os prazos estabelecidos no parágrafo anterior serão ção ou a combinação das referidas neste artigo.
contados a partir da última publicação do edital resumi- § 9º Na hipótese do § 2º deste artigo (TOMADA DE PRE-
do ou da expedição do convite, ou ainda da efetiva dis- ÇOS), a administração somente poderá exigir do licitante
ponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos, não cadastrado os documentos previstos nos arts. 27 a 31,
prevalecendo a data que ocorrer mais tarde. que comprovem habilitação compatível com o objeto da
§ 4º Qualquer modificação no edital exige divulgação licitação, nos termos do edital.
pela mesma forma que se deu o texto original, reabrindo- Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os
-se o prazo inicialmente estabelecido, exceto quando, in- incisos I a III do artigo anterior serão determinadas em
questionavelmente, a alteração não afetar a formulação função dos seguintes limites, tendo em vista o valor esti-
das propostas. mado da contratação:
I - para obras e serviços de engenharia:
Art. 22. São modalidades de licitação:
a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil re-
I - concorrência;
ais);
II - tomada de preços;
b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão e
III - convite;
quinhentos mil reais);
IV - concurso;
c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e
V - leilão.
quinhentos mil reais);
§ 1º Concorrência é a modalidade de licitação entre quais-
II - para compras e serviços não referidos no inciso an-
quer interessados que, na fase inicial de habilitação prelimi-
terior:
nar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualifica- a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);
ção exigidos no edital para execução de seu objeto. b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cin-
§ 2º Tomada de preços é a modalidade de licitação entre quenta mil reais);
interessados devidamente cadastrados ou que atenderem c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e
a todas as condições exigidas para cadastramento até o cinquenta mil reais).
terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, § 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela Admi-
observada a necessária qualificação. nistração serão divididas em tantas parcelas quantas se
§ 3º Convite é a modalidade de licitação entre interes- comprovarem técnica e economicamente viáveis, proce-
sados do ramo pertinente ao seu objeto, cadastrados ou dendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamen-
não, escolhidos e convidados em número mínimo de 3 to dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da
(três) pela unidade administrativa, a qual afixará, em competitividade sem perda da economia de escala.
local apropriado, cópia do instrumento convocatório e § 2º Na execução de obras e serviços e nas compras de
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

o estenderá aos demais cadastrados na correspondente bens, parceladas nos termos do parágrafo anterior, a cada
especialidade que manifestarem seu interesse com ante- etapa ou conjunto de etapas da obra, serviço ou compra,
cedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação há de corresponder licitação distinta, preservada a moda-
das propostas. lidade pertinente para a execução do objeto em licitação.
§ 4º Concurso é a modalidade de licitação entre quais- § 3º A concorrência é a modalidade de licitação cabível,
quer interessados para escolha de trabalho técnico, cientí- qualquer que seja o valor de seu objeto, tanto na compra
fico ou artístico, mediante a instituição de prêmios ou re- ou alienação de bens imóveis, ressalvado o disposto no
muneração aos vencedores, conforme critérios constantes art. 19, como nas concessões de direito real de uso e nas
de edital publicado na imprensa oficial com antecedência licitações internacionais, admitindo-se neste último caso,
mínima de 45 (quarenta e cinco) dias. observados os limites deste artigo, a tomada de preços,
§ 5º Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer quando o órgão ou entidade dispuser de cadastro inter-
interessados para a venda de bens móveis inservíveis para nacional de fornecedores ou o convite, quando não hou-
a administração ou de produtos legalmente apreendidos ver fornecedor do bem ou serviço no País.

41
§ 4º Nos casos em que couber convite, a Administração VI - quando a União tiver que intervir no domínio eco-
poderá utilizar a tomada de preços e, em qualquer caso, nômico para regular preços ou normalizar o abasteci-
a concorrência. mento;
§ 5º É vedada a utilização da modalidade “convite” ou VII - quando as propostas apresentadas consignarem
“tomada de preços”, conforme o caso, para parcelas de preços manifestamente superiores aos praticados no
uma mesma obra ou serviço, ou ainda para obras e servi- mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fi-
ços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser xados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que,
realizadas conjunta e concomitantemente, sempre que o observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, per-
somatório de seus valores caracterizar o caso de “tomada sistindo a situação, será admitida a adjudicação direta
de preços” ou “concorrência”, respectivamente, nos termos dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante
deste artigo, exceto para as parcelas de natureza especí- do registro de preços, ou dos serviços;
fica que possam ser executadas por pessoas ou empresas VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito
de especialidade diversa daquela do executor da obra ou público interno, de bens produzidos ou serviços presta-
serviço. dos por órgão ou entidade que integre a Administração
§ 6º As organizações industriais da Administração Fe- Pública e que tenha sido criado para esse fim específico
deral direta, em face de suas peculiaridades, obedecerão em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço
aos limites estabelecidos no inciso I deste artigo também contratado seja compatível com o praticado no mercado;
para suas compras e serviços em geral, desde que para IX - quando houver possibilidade de comprometimento
a aquisição de materiais aplicados exclusivamente na da segurança nacional, nos casos estabelecidos em de-
manutenção, reparo ou fabricação de meios operacionais creto do Presidente da República, ouvido o Conselho de
bélicos pertencentes à União. Defesa Nacional;
§ 7º Na compra de bens de natureza divisível e desde que X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao
não haja prejuízo para o conjunto ou complexo, é permi- atendimento das finalidades precípuas da administra-
tida a cotação de quantidade inferior à demandada na ção, cujas necessidades de instalação e localização con-
licitação, com vistas a ampliação da competitividade, po-
dicionem a sua escolha, desde que o preço seja compa-
dendo o edital fixar quantitativo mínimo para preservar a
tível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;
economia de escala.
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou
§ 8º No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro
fornecimento, em consequência de rescisão contratual,
dos valores mencionados no caput deste artigo quando
desde que atendida a ordem de classificação da licita-
formado por até 3 (três) entes da Federação, e o triplo,
ção anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas
quando formado por maior número.
Art. 24. É dispensável a licitação: pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devi-
I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% damente corrigido;
(dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso I XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros
do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realiza-
uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e servi- ção dos processos licitatórios correspondentes, realizadas
ços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser diretamente com base no preço do dia;
realizadas conjunta e concomitantemente; XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida
II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino
por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso II do ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição
artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nes- dedicada à recuperação social do preso, desde que a
ta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo contratada detenha inquestionável reputação ético-pro-
serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa fissional e não tenha fins lucrativos;
ser realizada de uma só vez; XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de
III - nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem; acordo internacional específico aprovado pelo Congresso
IV - nos casos de emergência ou de calamidade públi- Nacional, quando as condições ofertadas forem manifes-
tamente vantajosas para o Poder Público;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ca, quando caracterizada urgência de atendimento de


situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte
a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde
outros bens, públicos ou particulares, e somente para os que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou
bens necessários ao atendimento da situação emergen- entidade.
cial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formulá-
que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cen- rios padronizados de uso da administração, e de edições
to e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos, contados técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de
da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a informática a pessoa jurídica de direito público interno,
prorrogação dos respectivos contratos; por órgãos ou entidades que integrem a Administração
V - quando não acudirem interessados à licitação ante- Pública, criados para esse fim específico;
rior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem XVII - para a aquisição de componentes ou peças de ori-
prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, to- gem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção
das as condições preestabelecidas; de equipamentos durante o período de garantia técni-

42
ca, junto ao fornecedor original desses equipamentos, XXVIII - para o fornecimento de bens e serviços, produ-
quando tal condição de exclusividade for indispensável zidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativa-
para a vigência da garantia; mente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional,
XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o mediante parecer de comissão especialmente designada
abastecimento de navios, embarcações, unidades aére- pela autoridade máxima do órgão.
as ou tropas e seus meios de deslocamento quando em XXIX - na aquisição de bens e contratação de serviços
estada eventual de curta duração em portos, aeroportos para atender aos contingentes militares das Forças Sin-
ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de gulares brasileiras empregadas em operações de paz no
movimentação operacional ou de adestramento, quan- exterior, necessariamente justificadas quanto ao preço e
do a exiguidade dos prazos legais puder comprometer a à escolha do fornecedor ou executante e ratificadas pelo
normalidade e os propósitos das operações e desde que Comandante da Força.
seu valor não exceda ao limite previsto na alínea “a” do XXX - na contratação de instituição ou organização,
inciso II do art. 23 desta Lei: pública ou privada, com ou sem fins lucrativos, para a
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças prestação de serviços de assistência técnica e extensão
Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e ad- rural no âmbito do Programa Nacional de Assistência
ministrativo, quando houver necessidade de manter a
Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na
padronização requerida pela estrutura de apoio logístico
Reforma Agrária, instituído por lei federal.
dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do
de comissão instituída por decreto;
XX - na contratação de associação de portadores de disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2
deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada de dezembro de 2004, observados os princípios gerais
idoneidade, por órgãos ou entidades da Administração de contratação dela constantes.
Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de A Lei nº 10.973/2004 dispõe sobre incentivos à inova-
mão-de-obra, desde que o preço contratado seja com- ção e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente
patível com o praticado no mercado. produtivo e dá outras providências.
XXI - para a aquisição ou contratação de produto para XXXII - na contratação em que houver transferência
pesquisa e desenvolvimento, limitada, no caso de obras e de tecnologia de produtos estratégicos para o Sistema
serviços de engenharia, a 20% (vinte por cento) do valor Único de Saúde - SUS, no âmbito da Lei nº 8.080, de
de que trata a alínea “b” do inciso I do caput do art. 23; 19 de setembro de 1990, conforme elencados em ato
XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento da direção nacional do SUS, inclusive por ocasião da
de energia elétrica e gás natural com concessionário, aquisição destes produtos durante as etapas de absor-
permissionário ou autorizado, segundo as normas da ção tecnológica.
legislação específica; XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins
XXIII - na contratação realizada por empresa pública lucrativos, para a implementação de cisternas ou ou-
ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias tras tecnologias sociais de acesso à água para consumo
e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, humano e produção de alimentos, para beneficiar as
prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou
contratado seja compatível com o praticado no mercado. falta regular de água.
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de XXXIV - para a aquisição por pessoa jurídica de direito
serviços com as organizações sociais, qualificadas no público interno de insumos estratégicos para a saúde
âmbito das respectivas esferas de governo, para ativida- produzidos ou distribuídos por fundação que, regimen-
des contempladas no contrato de gestão. tal ou estatutariamente, tenha por finalidade apoiar
XXV - na contratação realizada por Instituição Científica órgão da administração pública direta, sua autarquia
e Tecnológica - ICT ou por agência de fomento para a
ou fundação em projetos de ensino, pesquisa, extensão,
transferência de tecnologia e para o licenciamento de
desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e
direito de uso ou de exploração de criação protegida.
estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XXVI - na celebração de contrato de programa com ente


da Federação ou com entidade de sua administração in- e financeira necessária à execução desses projetos, ou
direta, para a prestação de serviços públicos de forma em parcerias que envolvam transferência de tecnologia
associada nos termos do autorizado em contrato de con- de produtos estratégicos para o Sistema Único de Saú-
sórcio público ou em convênio de cooperação. de – SUS, nos termos do inciso XXXII deste artigo, e que
XXVII - na contratação da coleta, processamento e co- tenha sido criada para esse fim específico em data an-
mercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou terior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado
reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de seja compatível com o praticado no mercado.
lixo, efetuados por associações ou cooperativas forma- § 1º Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput
das exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda deste artigo serão 20% (vinte por cento) para compras,
reconhecidas pelo poder público como catadores de ma- obras e serviços contratados por consórcios públicos,
teriais recicláveis, com o uso de equipamentos compa- sociedade de economia mista, empresa pública e por
tíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde autarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei,
pública. como Agências Executivas.

43
§ 2º O limite temporal de criação do órgão ou entidade II - razão da escolha do fornecedor ou executante;
que integre a administração pública estabelecido no in- III - justificativa do preço;
ciso VIII do caput deste artigo não se aplica aos órgãos IV - documento de aprovação dos projetos de pesquisa
ou entidades que produzem produtos estratégicos para aos quais os bens serão alocados.
o SUS, no âmbito da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de
1990, conforme elencados em ato da direção nacional SEÇÃO II
do SUS. DA HABILITAÇÃO
§ 3º A hipótese de dispensa prevista no inciso XXI do ca-
put, quando aplicada a obras e serviços de engenharia, Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos
seguirá procedimentos especiais instituídos em regula- interessados, exclusivamente, documentação relativa a:
mentação específica. I - habilitação jurídica;
§ 4º Não se aplica a vedação prevista no inciso I do ca- II - qualificação técnica;
put do art. 9º à hipótese prevista no inciso XXI do caput. III - qualificação econômico-financeira;
Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabili- IV - regularidade fiscal e trabalhista;
dade de competição, em especial: V - cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêne- da Constituição Federal.
ros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa Prevê o artigo 7º, XXXIII, CF: “proibição de trabalho no-
ou representante comercial exclusivo, vedada a prefe- turno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
rência de marca, devendo a comprovação de exclusivi- qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na
dade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”.
de registro do comércio do local em que se realizaria a Art. 28. A documentação relativa à habilitação jurídica,
licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federa- conforme o caso, consistirá em:
ção ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas entida- I - cédula de identidade;
des equivalentes; II - registro comercial, no caso de empresa individual;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados III - ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor,
no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profis- devidamente registrado, em se tratando de sociedades co-
sionais ou empresas de notória especialização, vedada merciais, e, no caso de sociedades por ações, acompanha-
a inexigibilidade para serviços de publicidade e divul- do de documentos de eleição de seus administradores;
gação; IV - inscrição do ato constitutivo, no caso de sociedades
III - para contratação de profissional de qualquer setor civis, acompanhada de prova de diretoria em exercício;
artístico, diretamente ou através de empresário exclusi- V - decreto de autorização, em se tratando de empresa
vo, desde que consagrado pela crítica especializada ou ou sociedade estrangeira em funcionamento no País, e
pela opinião pública. ato de registro ou autorização para funcionamento ex-
§ 1º Considera-se de notória especialização o profissio- pedido pelo órgão competente, quando a atividade as-
nal ou empresa cujo conceito no campo de sua espe- sim o exigir.
cialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, Art. 29. A documentação relativa à regularidade fiscal e
experiências, publicações, organização, aparelhamento, trabalhista, conforme o caso, consistirá em:
equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com I - prova de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas
suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é es- (CPF) ou no Cadastro Geral de Contribuintes (CGC);
sencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena sa- II - prova de inscrição no cadastro de contribuintes es-
tisfação do objeto do contrato. tadual ou municipal, se houver, relativo ao domicílio ou
§ 2º Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de sede do licitante, pertinente ao seu ramo de atividade e
dispensa, se comprovado superfaturamento, respondem compatível com o objeto contratual;
solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o III - prova de regularidade para com a Fazenda Federal,
fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público Estadual e Municipal do domicílio ou sede do licitante,
responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis. ou outra equivalente, na forma da lei;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 IV - prova de regularidade relativa à Seguridade Social
e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de ine- e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS),
xigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justifi- demonstrando situação regular no cumprimento dos
cadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo encargos sociais instituídos por lei.
único do art. 8º desta Lei deverão ser comunicados, den- V - prova de inexistência de débitos inadimplidos peran-
tro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratifi- te a Justiça do Trabalho, mediante a apresentação de
cação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 certidão negativa, nos termos do Título VII-A da Conso-
(cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos. lidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibi- no 5.452, de 1º de maio de 1943.
lidade ou de retardamento, previsto neste artigo, será Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica
instruído, no que couber, com os seguintes elementos: limitar-se-á a:
I - caracterização da situação emergencial ou calamito- I - registro ou inscrição na entidade profissional com-
sa que justifique a dispensa, quando for o caso; petente;

44
II - comprovação de aptidão para desempenho de ativi- § 8º No caso de obras, serviços e compras de grande vul-
dade pertinente e compatível em características, quan- to, de alta complexidade técnica, poderá a Administração
tidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação exigir dos licitantes a metodologia de execução, cuja ava-
das instalações e do aparelhamento e do pessoal técni- liação, para efeito de sua aceitação ou não, antecederá
co adequados e disponíveis para a realização do objeto sempre à análise dos preços e será efetuada exclusiva-
da licitação, bem como da qualificação de cada um dos mente por critérios objetivos.
membros da equipe técnica que se responsabilizará pe- § 9º Entende-se por licitação de alta complexidade técni-
los trabalhos; ca aquela que envolva alta especialização, como fator de
III - comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que extrema relevância para garantir a execução do objeto a
recebeu os documentos, e, quando exigido, de que to- ser contratado, ou que possa comprometer a continuida-
mou conhecimento de todas as informações e das con- de da prestação de serviços públicos essenciais.
dições locais para o cumprimento das obrigações objeto § 10. Os profissionais indicados pelo licitante para fins de
da licitação; comprovação da capacitação técnico-profissional de que
IV - prova de atendimento de requisitos previstos em lei trata o inciso I do § 1º deste artigo deverão participar da
especial, quando for o caso. obra ou serviço objeto da licitação, admitindo-se a subs-
§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do tituição por profissionais de experiência equivalente ou
«caput» deste artigo, no caso das licitações pertinentes superior, desde que aprovada pela administração.
a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos § 11. (Vetado).
por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devi- § 12. (Vetado).
damente registrados nas entidades profissionais compe- Art. 31. A documentação relativa à qualificação econômi-
tentes, limitadas as exigências a: co-financeira limitar-se-á a:
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do li- I - balanço patrimonial e demonstrações contábeis do
citante de possuir em seu quadro permanente, na data último exercício social, já exigíveis e apresentados na
prevista para entrega da proposta, profissional de nível forma da lei, que comprovem a boa situação financeira
superior ou outro devidamente reconhecido pela entida- da empresa, vedada a sua substituição por balancetes ou
de competente, detentor de atestado de responsabilida-
balanços provisórios, podendo ser atualizados por índices
de técnica por execução de obra ou serviço de caracte-
oficiais quando encerrado há mais de 3 (três) meses da
rísticas semelhantes, limitadas estas exclusivamente às
data de apresentação da proposta;
parcelas de maior relevância e valor significativo do ob-
II - certidão negativa de falência ou concordata expedida
jeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades
pelo distribuidor da sede da pessoa jurídica, ou de execu-
mínimas ou prazos máximos;
ção patrimonial, expedida no domicílio da pessoa física;
II - (Vetado).
a) (Vetado). III - garantia, nas mesmas modalidades e critérios previs-
b) (Vetado). tos no caput e § 1º do art. 56 desta Lei, limitada a 1% (um
§ 2º As parcelas de maior relevância técnica e de valor por cento) do valor estimado do objeto da contratação.
significativo, mencionadas no parágrafo anterior, serão § 1º A exigência de índices limitar-se-á à demonstração
definidas no instrumento convocatório. da capacidade financeira do licitante com vistas aos com-
§ 3º Será sempre admitida a comprovação de aptidão promissos que terá que assumir caso lhe seja adjudicado
através de certidões ou atestados de obras ou serviços o contrato, vedada a exigência de valores mínimos de
similares de complexidade tecnológica e operacional faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucra-
equivalente ou superior. tividade.
§ 4º Nas licitações para fornecimento de bens, a com- § 2º A Administração, nas compras para entrega futura
provação de aptidão, quando for o caso, será feita atra- e na execução de obras e serviços, poderá estabelecer, no
vés de atestados fornecidos por pessoa jurídica de direito instrumento convocatório da licitação, a exigência de ca-
público ou privado. pital mínimo ou de patrimônio líquido mínimo, ou ainda
§ 5º É vedada a exigência de comprovação de atividade as garantias previstas no § 1º do art. 56 desta Lei, como
dado objetivo de comprovação da qualificação econômi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ou de aptidão com limitações de tempo ou de época ou


ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não co-financeira dos licitantes e para efeito de garantia ao
previstas nesta Lei, que inibam a participação na lici- adimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.
tação. § 3º O capital mínimo ou o valor do patrimônio líquido
§ 6º As exigências mínimas relativas a instalações de a que se refere o parágrafo anterior não poderá exceder
canteiros, máquinas, equipamentos e pessoal técnico a 10% (dez por cento) do valor estimado da contratação,
especializado, considerados essenciais para o cumpri- devendo a comprovação ser feita relativamente à data da
mento do objeto da licitação, serão atendidas mediante apresentação da proposta, na forma da lei, admitida a
a apresentação de relação explícita e da declaração for- atualização para esta data através de índices oficiais.
mal da sua disponibilidade, sob as penas cabíveis, veda- § 4º Poderá ser exigida, ainda, a relação dos compromis-
da as exigências de propriedade e de localização prévia. sos assumidos pelo licitante que importem diminuição
§ 7º (Vetado). da capacidade operativa ou absorção de disponibilidade
I - (Vetado). financeira, calculada esta em função do patrimônio lí-
II - (Vetado). quido atualizado e sua capacidade de rotação.

45
§ 5º A comprovação de boa situação financeira da em- Art. 33. Quando permitida na licitação a participação
presa será feita de forma objetiva, através do cálculo de de empresas em consórcio, observar-se-ão as seguintes
índices contábeis previstos no edital e devidamente jus- normas:
tificados no processo administrativo da licitação que te- I - comprovação do compromisso público ou particular de
nha dado início ao certame licitatório, vedada a exigên- constituição de consórcio, subscrito pelos consorciados;
cia de índices e valores não usualmente adotados para II - indicação da empresa responsável pelo consórcio que
correta avaliação de situação financeira suficiente ao deverá atender às condições de liderança, obrigatoria-
cumprimento das obrigações decorrentes da licitação. mente fixadas no edital;
§ 6º (Vetado). III - apresentação dos documentos exigidos nos arts. 28
Art. 32. Os documentos necessários à habilitação pode- a 31 desta Lei por parte de cada consorciado, admitin-
rão ser apresentados em original, por qualquer processo do-se, para efeito de qualificação técnica, o somatório
de cópia autenticada por cartório competente ou por dos quantitativos de cada consorciado, e, para efeito de
servidor da administração ou publicação em órgão da qualificação econômico-financeira, o somatório dos va-
imprensa oficial. lores de cada consorciado, na proporção de sua respec-
§ 1º A documentação de que tratam os arts. 28 a 31 des- tiva participação, podendo a Administração estabelecer,
ta Lei poderá ser dispensada, no todo ou em parte, nos para o consórcio, um acréscimo de até 30% (trinta por
casos de convite, concurso, fornecimento de bens para cento) dos valores exigidos para licitante individual, ine-
pronta entrega e leilão. xigível este acréscimo para os consórcios compostos, em
§ 2º O certificado de registro cadastral a que se refere o sua totalidade, por micro e pequenas empresas assim
§ 1º do art. 36 substitui os documentos enumerados nos definidas em lei;
arts. 28 a 31, quanto às informações disponibilizadas em IV - impedimento de participação de empresa consor-
sistema informatizado de consulta direta indicado no edi- ciada, na mesma licitação, através de mais de um con-
tal, obrigando-se a parte a declarar, sob as penalidades sórcio ou isoladamente;
legais, a superveniência de fato impeditivo da habilitação. V - responsabilidade solidária dos integrantes pelos
§ 3º A documentação referida neste artigo poderá ser atos praticados em consórcio, tanto na fase de licitação
substituída por registro cadastral emitido por órgão ou quanto na de execução do contrato.
entidade pública, desde que previsto no edital e o regis- § 1º No consórcio de empresas brasileiras e estrangeiras
tro tenha sido feito em obediência ao disposto nesta Lei. a liderança caberá, obrigatoriamente, à empresa brasi-
§ 4º As empresas estrangeiras que não funcionem no leira, observado o disposto no inciso II deste artigo.
País, tanto quanto possível, atenderão, nas licitações § 2º O licitante vencedor fica obrigado a promover, antes
internacionais, às exigências dos parágrafos anteriores da celebração do contrato, a constituição e o registro do
mediante documentos equivalentes, autenticados pelos consórcio, nos termos do compromisso referido no inciso
respectivos consulados e traduzidos por tradutor jura- I deste artigo.
mentado, devendo ter representação legal no Brasil com
poderes expressos para receber citação e responder ad- SEÇÃO III
ministrativa ou judicialmente. DOS REGISTROS CADASTRAIS
§ 5º Não se exigirá, para a habilitação de que trata este
artigo, prévio recolhimento de taxas ou emolumentos, Art. 34. Para os fins desta Lei, os órgãos e entidades da Ad-
salvo os referentes a fornecimento do edital, quando so- ministração Pública que realizem frequentemente licitações
licitado, com os seus elementos constitutivos, limitados manterão registros cadastrais para efeito de habilitação, na
ao valor do custo efetivo de reprodução gráfica da docu- forma regulamentar, válidos por, no máximo, um ano.
mentação fornecida. § 1º O registro cadastral deverá ser amplamente divul-
§ 6º O disposto no § 4º deste artigo, no § 1º do art. 33 e gado e deverá estar permanentemente aberto aos inte-
no § 2º do art. 55, não se aplica às licitações internacio- ressados, obrigando-se a unidade por ele responsável a
nais para a aquisição de bens e serviços cujo pagamento proceder, no mínimo anualmente, através da imprensa
seja feito com o produto de financiamento concedido oficial e de jornal diário, a chamamento público para a
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

por organismo financeiro internacional de que o Brasil atualização dos registros existentes e para o ingresso de
faça parte, ou por agência estrangeira de cooperação, novos interessados.
nem nos casos de contratação com empresa estrangeira, § 2º É facultado às unidades administrativas utilizarem-
para a compra de equipamentos fabricados e entregues -se de registros cadastrais de outros órgãos ou entidades
no exterior, desde que para este caso tenha havido pré- da Administração Pública.
via autorização do Chefe do Poder Executivo, nem nos Art. 35. Ao requerer inscrição no cadastro, ou atualiza-
casos de aquisição de bens e serviços realizada por uni- ção deste, a qualquer tempo, o interessado fornecerá os
dades administrativas com sede no exterior. elementos necessários à satisfação das exigências do art.
§ 7º A documentação de que tratam os arts. 28 a 31 e 27 desta Lei.
este artigo poderá ser dispensada, nos termos de regula- Art. 36. Os inscritos serão classificados por categorias,
mento, no todo ou em parte, para a contratação de pro- tendo-se em vista sua especialização, subdivididas em
duto para pesquisa e desenvolvimento, desde que para grupos, segundo a qualificação técnica e econômica
pronta entrega ou até o valor previsto na alínea “a” do avaliada pelos elementos constantes da documentação
inciso II do caput do art. 23. relacionada nos arts. 30 e 31 desta Lei.

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§ 1º Aos inscritos será fornecido certificado, renovável Parágrafo único. Para os fins deste artigo, consideram-
sempre que atualizarem o registro. -se licitações simultâneas aquelas com objetos similares
§ 2º A atuação do licitante no cumprimento de obriga- e com realização prevista para intervalos não superiores
ções assumidas será anotada no respectivo registro ca- a trinta dias e licitações sucessivas aquelas em que, tam-
dastral. bém com objetos similares, o edital subsequente tenha
Art. 37. A qualquer tempo poderá ser alterado, suspenso uma data anterior a cento e vinte dias após o término do
ou cancelado o registro do inscrito que deixar de satisfa- contrato resultante da licitação antecedente.
zer as exigências do art. 27 desta Lei, ou as estabelecidas Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de or-
para classificação cadastral. dem em série anual, o nome da repartição interessada
e de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o
SEÇÃO IV tipo da licitação, a menção de que será regida por esta
DO PROCEDIMENTO E JULGAMENTO Lei, o local, dia e hora para recebimento da documenta-
ção e proposta, bem como para início da abertura dos
Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o seguinte:
a abertura de processo administrativo, devidamente au- I - objeto da licitação, em descrição sucinta e clara;
tuado, protocolado e numerado, contendo a autorização II - prazo e condições para assinatura do contrato ou re-
respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do recurso tirada dos instrumentos, como previsto no art. 64 desta
próprio para a despesa, e ao qual serão juntados opor- Lei, para execução do contrato e para entrega do objeto
tunamente: da licitação;
I - edital ou convite e respectivos anexos, quando for o caso; III - sanções para o caso de inadimplemento;
II - comprovante das publicações do edital resumido, na IV - local onde poderá ser examinado e adquirido o pro-
forma do art. 21 desta Lei, ou da entrega do convite; jeto básico;
III - ato de designação da comissão de licitação, do lei- V - se há projeto executivo disponível na data da pu-
loeiro administrativo ou oficial, ou do responsável pelo blicação do edital de licitação e o local onde possa ser
convite; examinado e adquirido;
IV - original das propostas e dos documentos que as ins- VI - condições para participação na licitação, em con-
truírem; formidade com os arts. 27 a 31 desta Lei, e forma de
apresentação das propostas;
V - atas, relatórios e deliberações da Comissão Julga-
VII - critério para julgamento, com disposições claras e
dora;
parâmetros objetivos;
VI - pareceres técnicos ou jurídicos emitidos sobre a lici-
VIII - locais, horários e códigos de acesso dos meios de
tação, dispensa ou inexigibilidade;
comunicação à distância em que serão fornecidos ele-
VII - atos de adjudicação do objeto da licitação e da sua
mentos, informações e esclarecimentos relativos à lici-
homologação;
tação e às condições para atendimento das obrigações
VIII - recursos eventualmente apresentados pelos licitan-
necessárias ao cumprimento de seu objeto;
tes e respectivas manifestações e decisões;
IX - condições equivalentes de pagamento entre em-
IX - despacho de anulação ou de revogação da licitação, presas brasileiras e estrangeiras, no caso de licitações
quando for o caso, fundamentado circunstanciadamente; internacionais;
X - termo de contrato ou instrumento equivalente, con- X - o critério de aceitabilidade dos preços unitário e glo-
forme o caso; bal, conforme o caso, permitida a fixação de preços má-
XI - outros comprovantes de publicações; ximos e vedados a fixação de preços mínimos, critérios
XII - demais documentos relativos à licitação. estatísticos ou faixas de variação em relação a preços de
Parágrafo único. As minutas de editais de licitação, bem referência, ressalvado o disposto nos parágrafos 1º e 2º
como as dos contratos, acordos, convênios ou ajustes do art. 48;
devem ser previamente examinadas e aprovadas por as- XI - critério de reajuste, que deverá retratar a variação
sessoria jurídica da Administração. efetiva do custo de produção, admitida a adoção de ín-
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Art. 39. Sempre que o valor estimado para uma licita- dices específicos ou setoriais, desde a data prevista para
ção ou para um conjunto de licitações simultâneas ou apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa
sucessivas for superior a 100 (cem) vezes o limite pre- proposta se referir, até a data do adimplemento de cada
visto no art. 23, inciso I, alínea “c” desta Lei, o processo parcela;
licitatório será iniciado, obrigatoriamente, com uma au- XII - (Vetado).
diência pública concedida pela autoridade responsável XIII - limites para pagamento de instalação e mobiliza-
com antecedência mínima de 15 (quinze) dias úteis da ção para execução de obras ou serviços que serão obri-
data prevista para a publicação do edital, e divulgada, gatoriamente previstos em separado das demais parce-
com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis de las, etapas ou tarefas;
sua realização, pelos mesmos meios previstos para a XIV - condições de pagamento, prevendo:
publicidade da licitação, à qual terão acesso e direito a a) prazo de pagamento não superior a trinta dias, con-
todas as informações pertinentes e a se manifestar todos tado a partir da data final do período de adimplemento
os interessados. de cada parcela;

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b) cronograma de desembolso máximo por período, em con- § 2º Decairá do direito de impugnar os termos do edital
formidade com a disponibilidade de recursos financeiros; de licitação perante a administração o licitante que não
c) critério de atualização financeira dos valores a serem o fizer até o segundo dia útil que anteceder a abertura
pagos, desde a data final do período de adimplemento dos envelopes de habilitação em concorrência, a abertu-
de cada parcela até a data do efetivo pagamento; ra dos envelopes com as propostas em convite, tomada
d) compensações financeiras e penalizações, por even- de preços ou concurso, ou a realização de leilão, as fa-
tuais atrasos, e descontos, por eventuais antecipações de lhas ou irregularidades que viciariam esse edital, hipó-
pagamentos; tese em que tal comunicação não terá efeito de recurso.
e) exigência de seguros, quando for o caso; § 3º A impugnação feita tempestivamente pelo licitante
XV - instruções e normas para os recursos previstos nesta Lei; não o impedirá de participar do processo licitatório até o
XVI - condições de recebimento do objeto da licitação; trânsito em julgado da decisão a ela pertinente.
XVII - outras indicações específicas ou peculiares da li- § 4º A inabilitação do licitante importa preclusão do seu
citação. direito de participar das fases subsequentes.
§ 1º O original do edital deverá ser datado, rubricado Art. 42. Nas concorrências de âmbito internacional, o
em todas as folhas e assinado pela autoridade que o edital deverá ajustar-se às diretrizes da política mone-
expedir, permanecendo no processo de licitação, e dele tária e do comércio exterior e atender às exigências dos
extraindo-se cópias integrais ou resumidas, para sua di- órgãos competentes.
vulgação e fornecimento aos interessados. § 1º Quando for permitido ao licitante estrangeiro cotar
§ 2º Constituem anexos do edital, dele fazendo parte in- preço em moeda estrangeira, igualmente o poderá fazer
tegrante: o licitante brasileiro.
I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas § 2º O pagamento feito ao licitante brasileiro eventual-
partes, desenhos, especificações e outros complementos; mente contratado em virtude da licitação de que trata o
II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e parágrafo anterior será efetuado em moeda brasileira, à
preços unitários; taxa de câmbio vigente no dia útil imediatamente ante-
III - a minuta do contrato a ser firmado entre a Adminis- rior à data do efetivo pagamento.
tração e o licitante vencedor;
§ 3º As garantias de pagamento ao licitante brasileiro
IV - as especificações complementares e as normas de
serão equivalentes àquelas oferecidas ao licitante es-
execução pertinentes à licitação.
trangeiro.
§ 3º Para efeito do disposto nesta Lei, considera-se como
§ 4º Para fins de julgamento da licitação, as propostas
adimplemento da obrigação contratual a prestação do
apresentadas por licitantes estrangeiros serão acrescidas
serviço, a realização da obra, a entrega do bem ou de
dos gravames consequentes dos mesmos tributos que
parcela destes, bem como qualquer outro evento con-
oneram exclusivamente os licitantes brasileiros quanto
tratual a cuja ocorrência esteja vinculada a emissão de
documento de cobrança. à operação final de venda.
§ 4º Nas compras para entrega imediata, assim enten- § 5º Para a realização de obras, prestação de serviços
didas aquelas com prazo de entrega até trinta dias da ou aquisição de bens com recursos provenientes de fi-
data prevista para apresentação da proposta, poderão nanciamento ou doação oriundos de agência oficial de
ser dispensadas: cooperação estrangeira ou organismo financeiro multi-
I - o disposto no inciso XI deste artigo; lateral de que o Brasil seja parte, poderão ser admiti-
II - a atualização financeira a que se refere a alínea “c” das, na respectiva licitação, as condições decorrentes de
do inciso XIV deste artigo, correspondente ao período acordos, protocolos, convenções ou tratados internacio-
compreendido entre as datas do adimplemento e a pre- nais aprovados pelo Congresso Nacional, bem como as
vista para o pagamento, desde que não superior a quin- normas e procedimentos daquelas entidades, inclusive
ze dias. quanto ao critério de seleção da proposta mais vanta-
§ 5º A Administração Pública poderá, nos editais de lici- josa para a administração, o qual poderá contemplar,
tação para a contratação de serviços, exigir da contrata- além do preço, outros fatores de avaliação, desde que
por elas exigidos para a obtenção do financiamento ou
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da que um percentual mínimo de sua mão de obra seja


oriundo ou egresso do sistema prisional, com a finalida- da doação, e que também não conflitem com o princí-
de de ressocialização do reeducando, na forma estabe- pio do julgamento objetivo e sejam objeto de despacho
lecida em regulamento. motivado do órgão executor do contrato, despacho esse
Art. 41. A Administração não pode descumprir as nor- ratificado pela autoridade imediatamente superior.
mas e condições do edital, ao qual se acha estritamente § 6º As cotações de todos os licitantes serão para entre-
vinculada. ga no mesmo local de destino.
§ 1º Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar Art. 43. A licitação será processada e julgada com obser-
edital de licitação por irregularidade na aplicação desta vância dos seguintes procedimentos:
Lei, devendo protocolar o pedido até 5 (cinco) dias úteis I - abertura dos envelopes contendo a documentação re-
antes da data fixada para a abertura dos envelopes de lativa à habilitação dos concorrentes, e sua apreciação;
habilitação, devendo a Administração julgar e responder II - devolução dos envelopes fechados aos concorrentes
à impugnação em até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da inabilitados, contendo as respectivas propostas, desde
faculdade prevista no § 1º do art. 113. que não tenha havido recurso ou após sua denegação;

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III - abertura dos envelopes contendo as propostas dos § 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se também
concorrentes habilitados, desde que transcorrido o prazo às propostas que incluam mão-de-obra estrangeira ou
sem interposição de recurso, ou tenha havido desistência importações de qualquer natureza.
expressa, ou após o julgamento dos recursos interpostos; Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, de-
IV - verificação da conformidade de cada proposta com vendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo
os requisitos do edital e, conforme o caso, com os preços convite realizá-lo em conformidade com os tipos de
correntes no mercado ou fixados por órgão oficial compe- licitação, os critérios previamente estabelecidos no ato
tente, ou ainda com os constantes do sistema de registro convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente
de preços, os quais deverão ser devidamente registrados nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pe-
na ata de julgamento, promovendo-se a desclassificação los licitantes e pelos órgãos de controle.
das propostas desconformes ou incompatíveis; § 1º Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de lici-
V - julgamento e classificação das propostas de acordo tação, exceto na modalidade concurso:
com os critérios de avaliação constantes do edital; I - a de menor preço - quando o critério de seleção da
VI - deliberação da autoridade competente quanto à ho- proposta mais vantajosa para a Administração deter-
mologação e adjudicação do objeto da licitação. minar que será vencedor o licitante que apresentar a
§ 1º A abertura dos envelopes contendo a documentação proposta de acordo com as especificações do edital ou
para habilitação e as propostas será realizada sempre convite e ofertar o menor preço;
em ato público previamente designado, do qual se lavra- II - a de melhor técnica;
rá ata circunstanciada, assinada pelos licitantes presen- III - a de técnica e preço;
tes e pela Comissão. IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de alienação
§ 2º Todos os documentos e propostas serão rubricados de bens ou concessão de direito real de uso.
pelos licitantes presentes e pela Comissão. § 2º No caso de empate entre duas ou mais propostas,
§ 3º É facultada à Comissão ou autoridade superior, em e após obedecido o disposto no § 2º do art. 3º desta Lei,
qualquer fase da licitação, a promoção de diligência desti- a classificação se fará, obrigatoriamente, por sorteio, em
nada a esclarecer ou a complementar a instrução do pro- ato público, para o qual todos os licitantes serão convo-
cesso, vedada a inclusão posterior de documento ou infor- cados, vedado qualquer outro processo.
mação que deveria constar originariamente da proposta. § 3º No caso da licitação do tipo “menor preço”, entre
§ 4º O disposto neste artigo aplica-se à concorrência e, os licitantes considerados qualificados a classificação se
no que couber, ao concurso, ao leilão, à tomada de pre- dará pela ordem crescente dos preços propostos, preva-
ços e ao convite. lecendo, no caso de empate, exclusivamente o critério
§ 5º Ultrapassada a fase de habilitação dos concorrentes previsto no parágrafo anterior.
(incisos I e II) e abertas as propostas (inciso III), não cabe § 4º Para contratação de bens e serviços de informática,
desclassificá-los por motivo relacionado com a habilita- a administração observará o disposto no art. 3º da Lei no
ção, salvo em razão de fatos supervenientes ou só conhe- 8.248, de 23 de outubro de 1991, levando em conta os
cidos após o julgamento. fatores especificados em seu § 2º e adotando obrigato-
§ 6º Após a fase de habilitação, não cabe desistência de riamente o tipo de licitação “técnica e preço”, permitido
proposta, salvo por motivo justo decorrente de fato su- o emprego de outro tipo de licitação nos casos indicados
perveniente e aceito pela Comissão. em decreto do Poder Executivo.
Art. 44. No julgamento das propostas, a Comissão levará § 5º É vedada a utilização de outros tipos de licitação
em consideração os critérios objetivos definidos no edital não previstos neste artigo.
ou convite, os quais não devem contrariar as normas e § 6º Na hipótese prevista no art. 23, § 7º, serão selecio-
princípios estabelecidos por esta Lei. nadas tantas propostas quantas necessárias até que se
§ 1º É vedada a utilização de qualquer elemento, critério atinja a quantidade demandada na licitação.
ou fator sigiloso, secreto, subjetivo ou reservado que pos- Art. 46. Os tipos de licitação “melhor técnica” ou “técnica
sa ainda que indiretamente elidir o princípio da igualda- e preço” serão utilizados exclusivamente para serviços
de entre os licitantes. de natureza predominantemente intelectual, em espe-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2º Não se considerará qualquer oferta de vantagem cial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização,
não prevista no edital ou no convite, inclusive financia- supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva
mentos subsidiados ou a fundo perdido, nem preço ou em geral e, em particular, para a elaboração de estu-
vantagem baseada nas ofertas dos demais licitantes. dos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos,
§ 3º Não se admitirá proposta que apresente preços glo- ressalvado o disposto no § 4º do artigo anterior.
bal ou unitários simbólicos, irrisórios ou de valor zero, § 1º Nas licitações do tipo “melhor técnica” será adota-
incompatíveis com os preços dos insumos e salários de do o seguinte procedimento claramente explicitado no
mercado, acrescidos dos respectivos encargos, ainda que instrumento convocatório, o qual fixará o preço máximo
o ato convocatório da licitação não tenha estabelecido que a Administração se propõe a pagar:
limites mínimos, exceto quando se referirem a materiais I - serão abertos os envelopes contendo as propostas
e instalações de propriedade do próprio licitante, para técnicas exclusivamente dos licitantes previamente qua-
os quais ele renuncie a parcela ou à totalidade da re- lificados e feita então a avaliação e classificação destas
muneração. propostas de acordo com os critérios pertinentes e ade-

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quados ao objeto licitado, definidos com clareza e obje- Art. 48. Serão desclassificadas:
tividade no instrumento convocatório e que considerem I - as propostas que não atendam às exigências do ato
a capacitação e a experiência do proponente, a quali- convocatório da licitação;
dade técnica da proposta, compreendendo metodologia, II - propostas com valor global superior ao limite esta-
organização, tecnologias e recursos materiais a serem belecido ou com preços manifestamente inexequíveis,
utilizados nos trabalhos, e a qualificação das equipes assim considerados aqueles que não venham a ter de-
técnicas a serem mobilizadas para a sua execução; monstrada sua viabilidade através de documentação
II - uma vez classificadas as propostas técnicas, proce- que comprove que os custos dos insumos são coerentes
der-se-á à abertura das propostas de preço dos licitantes com os de mercado e que os coeficientes de produtivida-
que tenham atingido a valorização mínima estabelecida de são compatíveis com a execução do objeto do contra-
no instrumento convocatório e à negociação das condi- to, condições estas necessariamente especificadas no ato
ções propostas, com a proponente melhor classificada, convocatório da licitação.
com base nos orçamentos detalhados apresentados e § 1º Para os efeitos do disposto no inciso II deste artigo
respectivos preços unitários e tendo como referência o consideram-se manifestamente inexequíveis, no caso de
limite representado pela proposta de menor preço entre licitações de menor preço para obras e serviços de en-
os licitantes que obtiveram a valorização mínima; genharia, as propostas cujos valores sejam inferiores a
III - no caso de impasse na negociação anterior, proce- 70% (setenta por cento) do menor dos seguintes valores:
dimento idêntico será adotado, sucessivamente, com os a) média aritmética dos valores das propostas superiores
demais proponentes, pela ordem de classificação, até a a 50% (cinqüenta por cento) do valor orçado pela admi-
consecução de acordo para a contratação; nistração, ou
IV - as propostas de preços serão devolvidas intactas aos b) valor orçado pela administração.
licitantes que não forem preliminarmente habilitados ou § 2º Dos licitantes classificados na forma do parágra-
que não obtiverem a valorização mínima estabelecida fo anterior cujo valor global da proposta for inferior a
para a proposta técnica. 80% (oitenta por cento) do menor valor a que se referem
§ 2º Nas licitações do tipo “técnica e preço” será ado- as alíneas «a» e «b», será exigida, para a assinatura do
tado, adicionalmente ao inciso I do parágrafo anterior, contrato, prestação de garantia adicional, dentre as mo-
o seguinte procedimento claramente explicitado no ins- dalidades previstas no § 1º do art. 56, igual a diferença
trumento convocatório: entre o valor resultante do parágrafo anterior e o valor
I - será feita a avaliação e a valorização das propostas da correspondente proposta.
de preços, de acordo com critérios objetivos preestabele- § 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou
cidos no instrumento convocatório; todas as propostas forem desclassificadas, a adminis-
II - a classificação dos proponentes far-se-á de acordo tração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias
com a média ponderada das valorizações das propostas úteis para a apresentação de nova documentação ou de
técnicas e de preço, de acordo com os pesos preestabele- outras propostas escoimadas das causas referidas neste
cidos no instrumento convocatório. artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste
§ 3º Excepcionalmente, os tipos de licitação previstos prazo para três dias úteis.
neste artigo poderão ser adotados, por autorização ex- Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do
pressa e mediante justificativa circunstanciada da maior procedimento somente poderá revogar a licitação por
autoridade da Administração promotora constante do razões de interesse público decorrente de fato superve-
ato convocatório, para fornecimento de bens e execução niente devidamente comprovado, pertinente e suficiente
de obras ou prestação de serviços de grande vulto majo- para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegali-
ritariamente dependentes de tecnologia nitidamente so- dade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante
fisticada e de domínio restrito, atestado por autoridades parecer escrito e devidamente fundamentado.
técnicas de reconhecida qualificação, nos casos em que § 1º A anulação do procedimento licitatório por motivo
o objeto pretendido admitir soluções alternativas e va- de ilegalidade não gera obrigação de indenizar, ressal-
riações de execução, com repercussões significativas so- vado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

bre sua qualidade, produtividade, rendimento e durabi- § 2º A nulidade do procedimento licitatório induz à do
lidade concretamente mensuráveis, e estas puderem ser contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do
adotadas à livre escolha dos licitantes, na conformidade art. 59 desta Lei.
dos critérios objetivamente fixados no ato convocatório. § 3º No caso de desfazimento do processo licitatório, fica
§ 4º (Vetado). assegurado o contraditório e a ampla defesa.
Art. 47. Nas licitações para a execução de obras e ser- § 4º O disposto neste artigo e seus parágrafos aplica-se
viços, quando for adotada a modalidade de execução aos atos do procedimento de dispensa e de inexigibilida-
de empreitada por preço global, a Administração deverá de de licitação.
fornecer obrigatoriamente, junto com o edital, todos os Art. 50. A Administração não poderá celebrar o contrato
elementos e informações necessários para que os lici- com preterição da ordem de classificação das propostas
tantes possam elaborar suas propostas de preços com ou com terceiros estranhos ao procedimento licitatório,
total e completo conhecimento do objeto da licitação. sob pena de nulidade.

50
Art. 51. A habilitação preliminar, a inscrição em registro
cadastral, a sua alteração ou cancelamento, e as pro- #FicaDica
postas serão processadas e julgadas por comissão per-
manente ou especial de, no mínimo, 3 (três) membros, Dos artigos 54 a 80, a Lei nº 8.666/1993 aborda
sendo pelo menos 2 (dois) deles servidores qualificados os contratos administrativos, disciplina que
pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos da costuma incidir em concursos de nível superior
Administração responsáveis pela licitação. ou específicos das áreas de auditoria. Se em
§ 1º No caso de convite, a Comissão de licitação, ex- seu concurso for cobrado o conteúdo da lei,
cepcionalmente, nas pequenas unidades administrativas sem especificação de quais aspectos, deve
e em face da exiguidade de pessoal disponível, poderá ser dada atenção à abordagem dos contratos
ser substituída por servidor formalmente designado pela administrativos.
autoridade competente.
§ 2º A Comissão para julgamento dos pedidos de ins-
crição em registro cadastral, sua alteração ou cance- 18. Sanções administrativas
lamento, será integrada por profissionais legalmente
habilitados no caso de obras, serviços ou aquisição de Em relação ao cumprimento as normas estabelecidas
equipamentos. pela Lei de Licitações e Contratos Administrativos - Lei nº
§ 3º Os membros das Comissões de licitação respon- 8.666/1993, caso haja alguma irregularidade, comprovação
derão solidariamente por todos os atos praticados pela da prática de atos ilícitos pela parte que causou o dano,
Comissão, salvo se posição individual divergente estiver além das responsabilidades civis, caberá também aplicação
devidamente fundamentada e registrada em ata lavra- das responsabilidades administrativas e judiciais.
da na reunião em que tiver sido tomada a decisão. A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o
§ 4º A investidura dos membros das Comissões perma- contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente, den-
nentes não excederá a 1 (um) ano, vedada a recondução tro do prazo estabelecido pela Administração, caracteriza o
da totalidade de seus membros para a mesma comissão descumprimento total da obrigação assumida, sujeitando-
no período subsequente. -o às penalidades legalmente estabelecidas.
§ 5º No caso de concurso, o julgamento será feito por Isto não se aplica aos licitantes convocados, que não
uma comissão especial integrada por pessoas de reputa- aceitarem a contratação, nas mesmas condições propos-
ção ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em tas pelo primeiro adjudicatário, inclusive quanto ao prazo
exame, servidores públicos ou não. e preço.
Art. 52. O concurso a que se refere o § 4º do art. 22 desta Os agentes administrativos que praticarem atos em de-
Lei deve ser precedido de regulamento próprio, a ser ob- sacordo com os preceitos definidos pela Lei de Licitações
tido pelos interessados no local indicado no edital. e Contratos Administrativos ou visando a frustrar os ob-
§ 1º O regulamento deverá indicar: jetivos da licitação sujeitam-se às sanções previstas na lei
I - a qualificação exigida dos participantes; licitatória e nos regulamentos próprios, sem prejuízo das
II - as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho; responsabilidades civil e criminal que seu ato ensejar.
III - as condições de realização do concurso e os prêmios
a serem concedidos.
§ 2º Em se tratando de projeto, o vencedor deverá auto- #FicaDica
rizar a Administração a executá-lo quando julgar con- As sanções administrativas podem ser:
veniente. Advertência;
Art. 53. O leilão pode ser cometido a leiloeiro oficial ou a Multa;
servidor designado pela Administração, procedendo-se Suspensão temporária/Descredenciamento
na forma da legislação pertinente. temporário - pelo prazo máximo de 2
§ 1º Todo bem a ser leiloado será previamente avalia- anos, o qual cessado permite o automático
do pela Administração para fixação do preço mínimo de
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restabelecimento, não se condicionando ao


arrematação. ressarcimento do erário;
§ 2º Os bens arrematados serão pagos à vista ou no per- Declaração de inidoneidade - por prazo
centual estabelecido no edital, não inferior a 5% (cinco indeterminado, sendo que o restabelecimento
por cento) e, após a assinatura da respectiva ata lavrada depende de reabilitação, condicionada ao
no local do leilão, imediatamente entregues ao arrema- ressarcimento do erário, concedida pela
tante, o qual se obrigará ao pagamento do restante no autoridade sancionadora.
prazo estipulado no edital de convocação, sob pena de As sanções administrativas são independentes
perder em favor da Administração o valor já recolhido. de eventuais sanções civis e criminais – cabe
§ 3º Nos leilões internacionais, o pagamento da parcela a cumulação de punição entre as esferas, pois
à vista poderá ser feito em até vinte e quatro horas. elas são independentes entre si.
§ 4º O edital de leilão deve ser amplamente divulgado,
principalmente no município em que se realizará.

51
CAPÍTULO IV § 2º A multa, aplicada após regular processo adminis-
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS E DA TUTELA trativo, será descontada da garantia do respectivo con-
JUDICIAL tratado.
SEÇÃO I § 3º Se a multa for de valor superior ao valor da garantia
DISPOSIÇÕES GERAIS prestada, além da perda desta, responderá o contratado
pela sua diferença, a qual será descontada dos paga-
Art. 81. A recusa injustificada do adjudicatário em assinar mentos eventualmente devidos pela Administração ou
o contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente, ainda, quando for o caso, cobrada judicialmente.
dentro do prazo estabelecido pela Administração, carac- Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a
teriza o descumprimento total da obrigação assumida, Administração poderá, garantida a prévia defesa, apli-
sujeitando-o às penalidades legalmente estabelecidas. car ao contratado as seguintes sanções:
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica I - advertência;
aos licitantes convocados nos termos do art. 64, § 2º desta II - multa, na forma prevista no instrumento convocató-
Lei, que não aceitarem a contratação, nas mesmas con- rio ou no contrato;
dições propostas pelo primeiro adjudicatário, inclusive III - suspensão temporária de participação em licitação
quanto ao prazo e preço. e impedimento de contratar com a Administração, por
Art. 82. Os agentes administrativos que praticarem atos prazo não superior a 2 (dois) anos;
em desacordo com os preceitos desta Lei ou visando a IV - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar
frustrar os objetivos da licitação sujeitam-se às sanções com a Administração Pública enquanto perdurarem os
previstas nesta Lei e nos regulamentos próprios, sem pre- motivos determinantes da punição ou até que seja pro-
juízo das responsabilidades civil e criminal que seu ato movida a reabilitação perante a própria autoridade que
ensejar. aplicou a penalidade, que será concedida sempre que
Art. 83. Os crimes definidos nesta Lei, ainda que simples- o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos
mente tentados, sujeitam os seus autores, quando ser- resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada
com base no inciso anterior.
vidores públicos, além das sanções penais, à perda do
§ 1º Se a multa aplicada for superior ao valor da garan-
cargo, emprego, função ou mandato eletivo.
tia prestada, além da perda desta, responderá o contra-
Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta
tado pela sua diferença, que será descontada dos paga-
Lei, aquele que exerce, mesmo que transitoriamente ou
mentos eventualmente devidos pela Administração ou
sem remuneração, cargo, função ou emprego público.
cobrada judicialmente.
§ 1º Equipara-se a servidor público, para os fins desta
§ 2º As sanções previstas nos incisos I, III e IV deste arti-
Lei, quem exerce cargo, emprego ou função em entida- go poderão ser aplicadas juntamente com a do inciso II,
de paraestatal, assim consideradas, além das fundações, facultada a defesa prévia do interessado, no respectivo
empresas públicas e sociedades de economia mista, as processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.
demais entidades sob controle, direto ou indireto, do Po- § 3º A sanção estabelecida no inciso IV deste artigo é de
der Público. competência exclusiva do Ministro de Estado, do Secre-
§ 2º A pena imposta será acrescida da terça parte, quan- tário Estadual ou Municipal, conforme o caso, facultada
do os autores dos crimes previstos nesta Lei forem ocu- a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo
pantes de cargo em comissão ou de função de confiança de 10 (dez) dias da abertura de vista, podendo a reabili-
em órgão da Administração direta, autarquia, empresa tação ser requerida após 2 (dois) anos de sua aplicação.
pública, sociedade de economia mista, fundação públi- (Vide art. 109 inciso III)
ca, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente Art. 88. As sanções previstas nos incisos III e IV do artigo
pelo Poder Público. anterior poderão também ser aplicadas às empresas ou
Art. 85. As infrações penais previstas nesta Lei pertinem aos profissionais que, em razão dos contratos regidos
às licitações e aos contratos celebrados pela União, Es- por esta Lei:
tados, Distrito Federal, Municípios, e respectivas autar- I - tenham sofrido condenação definitiva por pratica-
quias, empresas públicas, sociedades de economia mista,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

rem, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de


fundações públicas, e quaisquer outras entidades sob seu quaisquer tributos;
controle direto ou indireto. II - tenham praticado atos ilícitos visando a frustrar os
objetivos da licitação;
SEÇÃO II III - demonstrem não possuir idoneidade para contratar
DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS com a Administração em virtude de atos ilícitos prati-
cados.
Art. 86. O atraso injustificado na execução do contrato
sujeitará o contratado à multa de mora, na forma previs- SEÇÃO III
ta no instrumento convocatório ou no contrato. DOS CRIMES E DAS PENAS
§ 1º A multa a que alude este artigo não impede que
a Administração rescinda unilateralmente o contrato e Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses
aplique as outras sanções previstas nesta Lei. previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades
pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

52
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa. Art. 97. Admitir à licitação ou celebrar contrato com em-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, presa ou profissional declarado inidôneo:
tendo comprovadamente concorrido para a consumação Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibili- Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, de-
dade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público. clarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a
Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combina- Administração.
ção ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo Art. 98. Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a ins-
do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para crição de qualquer interessado nos registros cadastrais
si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação ou promover indevidamente a alteração, suspensão ou
do objeto da licitação: cancelamento de registro do inscrito:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse Art. 99. A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98
desta Lei consiste no pagamento de quantia fixada na
privado perante a Administração, dando causa à ins-
sentença e calculada em índices percentuais, cuja base
tauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja
corresponderá ao valor da vantagem efetivamente obti-
invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário:
da ou potencialmente auferível pelo agente.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
§ 1º Os índices a que se refere este artigo não poderão
Art. 92. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer ser inferiores a 2% (dois por cento), nem superiores a
modificação ou vantagem, inclusive prorrogação con- 5% (cinco por cento) do valor do contrato licitado ou
tratual, em favor do adjudicatário, durante a execução celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação.
dos contratos celebrados com o Poder Público, sem au- § 2º O produto da arrecadação da multa reverterá, con-
torização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos forme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou
respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar Municipal.
fatura com preterição da ordem cronológica de sua exi-
gibilidade, observado o disposto no art. 121 desta Lei: SEÇÃO IV
Pena - detenção, de dois a quatro anos, e multa. DO PROCESSO E DO PROCEDIMENTO JUDICIAL
Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado
que, tendo comprovadamente concorrido para a consu- Art. 100. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal
mação da ilegalidade, obtém vantagem indevida ou se pública incondicionada, cabendo ao Ministério Público
beneficia, injustamente, das modificações ou prorroga- promovê-la.
ções contratuais. Art. 101. Qualquer pessoa poderá provocar, para os efei-
Art. 93. Impedir, perturbar ou fraudar a realização de tos desta Lei, a iniciativa do Ministério Público, forne-
qualquer ato de procedimento licitatório: cendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e sua
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. autoria, bem como as circunstâncias em que se deu a
Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em ocorrência.
procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o Parágrafo único. Quando a comunicação for verbal,
ensejo de devassá-lo: mandará a autoridade reduzi-la a termo, assinado pelo
Pena - detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa. apresentante e por duas testemunhas.
Art. 95. Afastar ou procura afastar licitante, por meio Art. 102. Quando em autos ou documentos de que co-
de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de nhecerem, os magistrados, os membros dos Tribunais
ou Conselhos de Contas ou os titulares dos órgãos inte-
vantagem de qualquer tipo:
grantes do sistema de controle interno de qualquer dos
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
Poderes verificarem a existência dos crimes definidos
além da pena correspondente à violência.
nesta Lei, remeterão ao Ministério Público as cópias e os
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abs-
documentos necessários ao oferecimento da denúncia.
tém ou desiste de licitar, em razão da vantagem ofere- Art. 103. Será admitida ação penal privada subsidiária
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

cida. da pública, se esta não for ajuizada no prazo legal, apli-


Art. 96. Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, lici- cando-se, no que couber, o disposto nos arts. 29 e 30 do
tação instaurada para aquisição ou venda de bens ou Código de Processo Penal.
mercadorias, ou contrato dela decorrente: Art. 104. Recebida a denúncia e citado o réu, terá este
I - elevando arbitrariamente os preços; o prazo de 10 (dez) dias para apresentação de defesa
II - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria escrita, contado da data do seu interrogatório, podendo
falsificada ou deteriorada; juntar documentos, arrolar as testemunhas que tiver, em
III - entregando uma mercadoria por outra; número não superior a 5 (cinco), e indicar as demais
IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da provas que pretenda produzir.
mercadoria fornecida; Art. 105. Ouvidas as testemunhas da acusação e da de-
V - tornando, por qualquer modo, injustamente, mais fesa e praticadas as diligências instrutórias deferidas ou
onerosa a proposta ou a execução do contrato: ordenadas pelo juiz, abrir-se-á, sucessivamente, o prazo
Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. de 5 (cinco) dias a cada parte para alegações finais.

53
Art. 106. Decorrido esse prazo, e conclusos os autos den- § 5º Nenhum prazo de recurso, representação ou pedido
tro de 24 (vinte e quatro) horas, terá o juiz 10 (dez) dias de reconsideração se inicia ou corre sem que os autos do
para proferir a sentença. processo estejam com vista franqueada ao interessado.
Art. 107. Da sentença cabe apelação, interponível no § 6º Em se tratando de licitações efetuadas na modalida-
prazo de 5 (cinco) dias. de de “carta convite” os prazos estabelecidos nos incisos I
Art. 108. No processamento e julgamento das infrações e II e no parágrafo 3º deste artigo serão de dois dias úteis.
penais definidas nesta Lei, assim como nos recursos e
nas execuções que lhes digam respeito, aplicar-se-ão, Disposições finais e transitórias – Legislação seca
subsidiariamente, o Código de Processo Penal e a Lei de
Execução Penal. Como é de praxe, a Lei de Licitações se encerra com dis-
posições finais e transitórias, voltadas à sua aplicabilidade
CAPÍTULO V geral na prática, as quais constam abaixo com grifos.
DOS RECURSOS ADMINISTRATIVOS
CAPÍTULO VI
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 109. Dos atos da Administração decorrentes da apli-
cação desta Lei cabem:
Art. 110. Na contagem dos prazos estabelecidos nesta
I - recurso, no prazo de 5 (cinco) dias úteis a contar da
Lei, excluir-se-á o dia do início e incluir-se-á o do ven-
intimação do ato ou da lavratura da ata, nos casos de: cimento, e considerar-se-ão os dias consecutivos, exceto
a) habilitação ou inabilitação do licitante; quando for explicitamente disposto em contrário.
b) julgamento das propostas; Parágrafo único. Só se iniciam e vencem os prazos refe-
c) anulação ou revogação da licitação; ridos neste artigo em dia de expediente no órgão ou na
d) indeferimento do pedido de inscrição em registro ca- entidade.
dastral, sua alteração ou cancelamento; Art. 111. A Administração só poderá contratar, pagar,
e) rescisão do contrato, a que se refere o inciso I do art. premiar ou receber projeto ou serviço técnico especiali-
79 desta Lei; zado desde que o autor ceda os direitos patrimoniais a
f) aplicação das penas de advertência, suspensão tem- ele relativos e a Administração possa utilizá-lo de acordo
porária ou de multa; com o previsto no regulamento de concurso ou no ajuste
II - representação, no prazo de 5 (cinco) dias úteis da para sua elaboração.
intimação da decisão relacionada com o objeto da lici- Parágrafo único. Quando o projeto referir-se a obra ima-
tação ou do contrato, de que não caiba recurso hierár- terial de caráter tecnológico, insuscetível de privilégio, a
quico; cessão dos direitos incluirá o fornecimento de todos os
III - pedido de reconsideração, de decisão de Ministro de dados, documentos e elementos de informação pertinen-
Estado, ou Secretário Estadual ou Municipal, conforme o tes à tecnologia de concepção, desenvolvimento, fixação
caso, na hipótese do § 4º do art. 87 desta Lei, no prazo de em suporte físico de qualquer natureza e aplicação da
10 (dez) dias úteis da intimação do ato. obra.
§ 1º A intimação dos atos referidos no inciso I, alíneas Art. 112. Quando o objeto do contrato interessar a mais
«a», «b», «c» e «e», deste artigo, excluídos os relativos de uma entidade pública, caberá ao órgão contratante,
a advertência e multa de mora, e no inciso III, será fei- perante a entidade interessada, responder pela sua boa
ta mediante publicação na imprensa oficial, salvo para execução, fiscalização e pagamento.
os casos previstos nas alíneas “a” e “b”, se presentes os § 1º Os consórcios públicos poderão realizar licitação da
prepostos dos licitantes no ato em que foi adotada a de- qual, nos termos do edital, decorram contratos adminis-
trativos celebrados por órgãos ou entidades dos entes da
cisão, quando poderá ser feita por comunicação direta
Federação consorciados.
aos interessados e lavrada em ata.
§ 2º É facultado à entidade interessada o acompanha-
§ 2º O recurso previsto nas alíneas “a” e “b” do inciso I
mento da licitação e da execução do contrato.
deste artigo terá efeito suspensivo, podendo a autori-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos con-


dade competente, motivadamente e presentes razões de tratos e demais instrumentos regidos por esta Lei será
interesse público, atribuir ao recurso interposto eficácia feito pelo Tribunal de Contas competente, na forma da
suspensiva aos demais recursos. legislação pertinente, ficando os órgãos interessados da
§ 3º Interposto, o recurso será comunicado aos demais Administração responsáveis pela demonstração da lega-
licitantes, que poderão impugná-lo no prazo de 5 (cinco) lidade e regularidade da despesa e execução, nos termos
dias úteis. da Constituição e sem prejuízo do sistema de controle
§ 4º O recurso será dirigido à autoridade superior, por interno nela previsto.
intermédio da que praticou o ato recorrido, a qual po- § 1º Qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou
derá reconsiderar sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos
úteis, ou, nesse mesmo prazo, fazê-lo subir, devidamente órgãos integrantes do sistema de controle interno contra
informado, devendo, neste caso, a decisão ser proferida irregularidades na aplicação desta Lei, para os fins do
dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis, contado do rece- disposto neste artigo.
bimento do recurso, sob pena de responsabilidade.

54
§ 2º Os Tribunais de Contas e os órgãos integrantes do sis- II - quando verificado desvio de finalidade na aplicação
tema de controle interno poderão solicitar para exame, até dos recursos, atrasos não justificados no cumprimento
o dia útil imediatamente anterior à data de recebimento das etapas ou fases programadas, práticas atentatórias
das propostas, cópia de edital de licitação já publicado, aos princípios fundamentais de Administração Pública
obrigando-se os órgãos ou entidades da Administração in- nas contratações e demais atos praticados na execução
teressada à adoção de medidas corretivas pertinentes que, do convênio, ou o inadimplemento do executor com re-
em função desse exame, lhes forem determinadas. lação a outras cláusulas conveniais básicas;
Art. 114. O sistema instituído nesta Lei não impede a pré- III - quando o executor deixar de adotar as medidas sa-
-qualificação de licitantes nas concorrências, a ser proce- neadoras apontadas pelo partícipe repassador dos re-
dida sempre que o objeto da licitação recomende análise cursos ou por integrantes do respectivo sistema de con-
mais detida da qualificação técnica dos interessados. trole interno.
§ 1º A adoção do procedimento de pré-qualificação § 4º Os saldos de convênio, enquanto não utilizados, se-
será feita mediante proposta da autoridade competente, rão obrigatoriamente aplicados em cadernetas de pou-
aprovada pela imediatamente superior. pança de instituição financeira oficial se a previsão de
§ 2º Na pré-qualificação serão observadas as exigências seu uso for igual ou superior a um mês, ou em fundo
desta Lei relativas à concorrência, à convocação dos inte- de aplicação financeira de curto prazo ou operação de
ressados, ao procedimento e à analise da documentação. mercado aberto lastreada em títulos da dívida pública,
Art. 115. Os órgãos da Administração poderão expedir quando a utilização dos mesmos verificar-se em prazos
normas relativas aos procedimentos operacionais a se- menores que um mês.
rem observados na execução das licitações, no âmbito § 5º As receitas financeiras auferidas na forma do pa-
de sua competência, observadas as disposições desta Lei. rágrafo anterior serão obrigatoriamente computadas
Parágrafo único. As normas a que se refere este artigo, a crédito do convênio e aplicadas, exclusivamente, no
após aprovação da autoridade competente, deverão ser objeto de sua finalidade, devendo constar de demons-
publicadas na imprensa oficial. trativo específico que integrará as prestações de contas
Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que do ajuste.
couber, aos convênios, acordos, ajustes e outros instru- § 6º Quando da conclusão, denúncia, rescisão ou extin-
mentos congêneres celebrados por órgãos e entidades
ção do convênio, acordo ou ajuste, os saldos financeiros
da Administração.
remanescentes, inclusive os provenientes das receitas
§ 1º A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos
obtidas das aplicações financeiras realizadas, serão de-
órgãos ou entidades da Administração Pública depende
volvidos à entidade ou órgão repassador dos recursos,
de prévia aprovação de competente plano de trabalho
no prazo improrrogável de 30 (trinta) dias do evento,
proposto pela organização interessada, o qual deverá
sob pena da imediata instauração de tomada de contas
conter, no mínimo, as seguintes informações:
especial do responsável, providenciada pela autoridade
I - identificação do objeto a ser executado;
competente do órgão ou entidade titular dos recursos.
II - metas a serem atingidas;
III - etapas ou fases de execução; Art. 117. As obras, serviços, compras e alienações reali-
IV - plano de aplicação dos recursos financeiros; zados pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e
V - cronograma de desembolso; do Tribunal de Contas regem-se pelas normas desta Lei,
VI - previsão de início e fim da execução do objeto, bem no que couber, nas três esferas administrativas.
assim da conclusão das etapas ou fases programadas; Art. 118. Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e
VII - se o ajuste compreender obra ou serviço de enge- as entidades da administração indireta deverão adap-
nharia, comprovação de que os recursos próprios para tar suas normas sobre licitações e contratos ao disposto
complementar a execução do objeto estão devidamente nesta Lei.
assegurados, salvo se o custo total do empreendimento Art. 119. As sociedades de economia mista, empresas e
recair sobre a entidade ou órgão descentralizador. fundações públicas e demais entidades controladas dire-
§ 2º Assinado o convênio, a entidade ou órgão repassa- ta ou indiretamente pela União e pelas entidades refe-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

dor dará ciência do mesmo à Assembleia Legislativa ou ridas no artigo anterior editarão regulamentos próprios
à Câmara Municipal respectiva. devidamente publicados, ficando sujeitas às disposições
§ 3º As parcelas do convênio serão liberadas em estrita desta Lei.
conformidade com o plano de aplicação aprovado, exce- Parágrafo único. Os regulamentos a que se refere este
to nos casos a seguir, em que as mesmas ficarão retidas artigo, no âmbito da Administração Pública, após apro-
até o saneamento das impropriedades ocorrentes: vados pela autoridade de nível superior a que estiverem
I - quando não tiver havido comprovação da boa e regu- vinculados os respectivos órgãos, sociedades e entida-
lar aplicação da parcela anteriormente recebida, na for- des, deverão ser publicados na imprensa oficial.
ma da legislação aplicável, inclusive mediante procedi- Art. 120. Os valores fixados por esta Lei poderão ser
mentos de fiscalização local, realizados periodicamente anualmente revistos pelo Poder Executivo Federal, que
pela entidade ou órgão descentralizador dos recursos ou os fará publicar no Diário Oficial da União, observan-
pelo órgão competente do sistema de controle interno do como limite superior a variação geral dos preços do
da Administração Pública; mercado, no período.

55
Art. 121. O disposto nesta Lei não se aplica às licitações Resposta: Errado. Tratava-se de hipótese de licitação
instauradas e aos contratos assinados anteriormente à dispensável, conforme artigo 24, XXI, Lei nº 8.666/1993,
sua vigência, ressalvado o disposto no art. 57, nos pa- que tinha a seguinte redação: “para a aquisição de bens
rágrafos 1º, 2º e 8º do art. 65, no inciso XV do art. 78, e insumos destinados exclusivamente à pesquisa cientí-
bem assim o disposto no “caput” do art. 5º, com relação fica e tecnológica com recursos concedidos pela Capes,
ao pagamento das obrigações na ordem cronológica, pela Finep, pelo CNPq ou por outras instituições de fo-
podendo esta ser observada, no prazo de noventa dias mento a pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fim
contados da vigência desta Lei, separadamente para as específico”. Hoje a redação dada pela Lei nº 13.242/2016
obrigações relativas aos contratos regidos por legislação é a seguinte: “XXI - para a aquisição ou contratação de
anterior à Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. produto para pesquisa e desenvolvimento, limitada, no
Parágrafo único. Os contratos relativos a imóveis do caso de obras e serviços de engenharia, a 20% (vinte
patrimônio da União continuam a reger-se pelas dis- por cento) do valor de que trata a alínea “b” do inciso
posições do Decreto-lei nº 9.760, de 5 de setembro de I do caput do art. 23 (até R$ 1.500.000,00)”. O inciso
1946, com suas alterações, e os relativos a operações de não mais restringe às requisições feitas com recursos
crédito interno ou externo celebrados pela União ou a das entidades de pesquisa e, de outro lado, restringe
concessão de garantia do Tesouro Nacional continuam no que se refere a obras e serviços de engenharia (ex.:
regidos pela legislação pertinente, aplicando-se esta Lei, construção de um laboratório).
no que couber. ATENÇÃO: Cuidado com a pegadinha muito comum em
Art. 122.Nas concessões de linhas aéreas, observar-se-á concursos, que é a substituição das palavras dispensá-
procedimento licitatório específico, a ser estabelecido no vel ou inexigível. É inexigível apenas nos casos de forne-
Código Brasileiro de Aeronáutica. cedor exclusivo, notória especialização de profissional
Art. 123. Em suas licitações e contratações administra- técnico e artista reconhecido.
tivas, as repartições sediadas no exterior observarão as
peculiaridades locais e os princípios básicos desta Lei, na 2. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CES-
forma de regulamentação específica. PE – 2018) Julgue o item subsequente de acordo com a
Art. 124. Aplicam-se às licitações e aos contratos para orientação traçada pela Lei nº 8.666/1993.
permissão ou concessão de serviços públicos os disposi- Para a habilitação nas licitações, serão exigidas dos licitantes,
tivos desta Lei que não conflitem com a legislação espe- além de habilitação jurídica, qualificação técnica, qualifica-
cífica sobre o assunto. ção econômico-financeira, regularidade fiscal e trabalhista.
Parágrafo único. As exigências contidas nos incisos II a
IV do § 2º do art. 7º serão dispensadas nas licitações ( ) CERTO ( ) ERRADO
para concessão de serviços com execução prévia de
obras em que não foram previstos desembolso por parte Resposta: Certo. Preconiza o artigo 27, Lei nº
da Administração Pública concedente. 8.666/1993: “Para a habilitação nas licitações exigir-se-á
Art. 125. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- dos interessados, exclusivamente, documentação relati-
cação. va a: I - habilitação jurídica; II - qualificação técnica; III
Art. 126. Revogam-se as disposições em contrário, espe- - qualificação econômico-financeira; IV - regularidade
cialmente os Decretos-leis nºs 2.300, de 21 de novembro fiscal e trabalhista; V - cumprimento do disposto no in-
de 1986, 2.348, de 24 de julho de 1987, 2.360, de 16 de se- ciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal”.
tembro de 1987, a Lei nº 8.220, de 4 de setembro de 1991,
e o art. 83 da Lei nº 5.194, de 24 de dezembro de 1966. 3. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE
– 2018) Julgue o próximo item, relativo às modalidades de
Brasília, 21 de junho de 1993, 172º da Independência e licitação.
105º da República. A concorrência pública pressupõe uma fase preliminar de-
nominada habilitação, que habilita os que poderão parti-
cipar da fase seguinte, a de classificação.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

EXERCÍCIOS COMENTADOS ( ) CERTO ( ) ERRADO

1. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CES- Resposta: Certo. Se depreende do próprio conceito de


PE – 2018) Julgue o item subsequente de acordo com a concorrência que a Lei nº 8.666/1993 traz em seu artigo
orientação traçada pela Lei nº 8.666/1993. 22, § 1º: “Concorrência é a modalidade de licitação entre
É inexigível a licitação para a aquisição de bens e insumos quaisquer interessados que, na fase inicial de habilita-
destinados exclusivamente à pesquisa científica e tecnoló- ção preliminar, comprovem possuir os requisitos mí-
gica com recursos concedidos pela CAPES, pela FINEP, pelo nimos de qualificação exigidos no edital para execução
CNPq ou por outras instituições de fomento à pesquisa de seu objeto”.
credenciadas pelo CNPq para esse fim específico.

( ) CERTO ( ) ERRADO

56
4. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – ÁREA § 3º A apuração de que trata o caput, por solicitação da
2 – CESPE – 2018) Considerando que a ABIN escolha a mo- autoridade a que se refere, poderá ser promovida por
dalidade licitatória convite para contratar empresa de enge- autoridade de órgão ou entidade diverso daquele em
nharia para modernizar suas instalações, julgue o item que que tenha ocorrido a irregularidade, mediante compe-
se segue, com base nas disposições da Lei nº 8.666/1993. tência específica para tal finalidade, delegada em cará-
Pelo seu caráter simplificado, a modalidade convite não ter permanente ou temporário pelo Presidente da Repú-
pode ser substituída pela concorrência. blica, pelos presidentes das Casas do Poder Legislativo e
dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da Repú-
( ) CERTO ( ) ERRADO blica, no âmbito do respectivo Poder, órgão ou entidade,
preservadas as competências para o julgamento que se
Resposta: Errado. Cabe seguir a seguinte máxima: se seguir à apuração.
pode o menos, pode o mais, ou seja, se cabe uma mo- Art. 144. As denúncias sobre irregularidades serão ob-
dalidade simplificada de licitação não há problemas em jeto de apuração, desde que contenham a identificação
optar pela mais complexa (o inverso que não é permiti- e o endereço do denunciante e sejam formuladas por
do). Consta na Lei nº 8.666/1993, em seu artigo 23, § 4º, o escrito, confirmada a autenticidade.
seguinte: “Nos casos em que couber convite, a Adminis- Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar
tração poderá utilizar a tomada de preços e, em qualquer evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia
caso, a concorrência”. será arquivada, por falta de objeto.
Art. 145. Da sindicância poderá resultar:
5. (STM – TÉCNICO JUDICIÁRIO – PROGRAMAÇÃO I - arquivamento do processo;
DE SISTEMAS – CESPE – 2018) Em relação à organização II - aplicação de penalidade de advertência ou suspen-
administrativa e à licitação administrativa, julgue o item a são de até 30 (trinta) dias;
seguir. III - instauração de processo disciplinar.
Ao contratar serviços ou obras visando à promoção de bai- Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância
não excederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado
xo impacto sobre recursos naturais, a administração pública
por igual período, a critério da autoridade superior.
atende ao princípio do desenvolvimento nacional sustentá-
Art. 146. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ense-
vel.
jar a imposição de penalidade de suspensão por mais de
30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria
( ) CERTO ( ) ERRADO
ou disponibilidade, ou destituição de cargo em comissão,
será obrigatória a instauração de processo disciplinar.
Resposta: Certo. O artigo 3º da Lei nº 8.666/1993 fixa o
princípio do desenvolvimento sustentável como um dos A sindicância é uma modalidade mais branda de apura-
que deve ser observado no processo licitatório. Este prin- ção da infração administrativa porque ou gerará a aplicação
cípio do desenvolvimento sustentável está relacionado de uma sanção mais branda, ou apenas antecederá o pro-
não só com o âmbito ambiental, como a maioria das pes- cesso administrativo disciplinar que aplique a sanção mais
soas pensam quando ouve falar em sustentabilidade, mas grave, entendendo-se por sanções mais graves qualquer
aqui também refere-se ao desenvolvimento sustentável uma pior do que suspensão por menos de 30 dias (suspen-
em diversos aspectos, como social, econômico, político, são por mais de 30 dias, além de todas as outras que geram
ético e também o ambiental. perda do cargo ou da aposentadoria).

CAPÍTULO II
DO AFASTAMENTO PREVENTIVO
PROCESSO ADMINISTRATIVO.
Art. 147. Como medida cautelar e a fim de que o ser-
vidor não venha a influir na apuração da irregulari-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

dade, a autoridade instauradora do processo disciplinar


PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR poderá determinar o seu afastamento do exercício do
cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem pre-
TÍTULO V juízo da remuneração.
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado
CAPÍTULO I por igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos,
DISPOSIÇÕES GERAIS ainda que não concluído o processo.

Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregulari- O afastamento preventivo é uma medida cautelar que
dade no serviço público é obrigada a promover a sua impede que o servidor tente influenciar na decisão da
apuração imediata, mediante sindicância ou processo apuração de sua infração, podendo ocorrer por no máxi-
administrativo disciplinar, assegurada ao acusado am- mo 60 dias, prorrogáveis até 120 dias, sem perda de re-
pla defesa. muneração (afinal, ainda não foi condenado).
§§ 1º e 2º (Revogados)

57
CAPÍTULO III SEÇÃO I
DO PROCESSO DISCIPLINAR DO INQUÉRITO

Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento desti- Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao prin-
nado a apurar responsabilidade de servidor por infra- cípio do contraditório, assegurada ao acusado ampla
ção praticada no exercício de suas atribuições, ou que defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos
tenha relação com as atribuições do cargo em que se em direito.
encontre investido. Art. 154. Os autos da sindicância integrarão o processo
disciplinar, como peça informativa da instrução.
Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por co- Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicân-
missão composta de três servidores estáveis designados cia concluir que a infração está capitulada como ilíci-
pela autoridade competente, observado o disposto no § to penal, a autoridade competente encaminhará cópia
3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presiden- dos autos ao Ministério Público, independentemente da
te, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior imediata instauração do processo disciplinar.
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a
ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual
tomada de depoimentos, acareações, investigações e di-
ou superior ao do indiciado.
ligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recor-
§ 1º A Comissão terá como secretário servidor designa-
rendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de modo
do pelo seu presidente, podendo a indicação recair em
a permitir a completa elucidação dos fatos.
um de seus membros. Art. 156. É assegurado ao servidor o direito de acom-
§ 2º Não poderá participar de comissão de sindicância panhar o processo pessoalmente ou por intermédio de
ou de inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir
acusado, consanguíneo ou afim, em linha reta ou cola- provas e contraprovas e formular quesitos, quando se
teral, até o terceiro grau. tratar de prova pericial.
Art. 150. A Comissão exercerá suas atividades com in- § 1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos
dependência e imparcialidade, assegurado o sigilo ne- considerados impertinentes, meramente protelatórios,
cessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
da administração. § 2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando
Parágrafo único. As reuniões e as audiências das co- a comprovação do fato independer de conhecimento es-
missões terão caráter reservado. pecial de perito.
Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve nas se- Art. 157. As testemunhas serão intimadas a depor me-
guintes fases: diante mandado expedido pelo presidente da comissão,
I - instauração, com a publicação do ato que constituir devendo a segunda via, com o ciente do interessado, ser
a comissão; anexado aos autos.
II - inquérito administrativo, que compreende instru- Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a
ção, defesa e relatório; expedição do mandado será imediatamente comunica-
III - julgamento. da ao chefe da repartição onde serve, com a indicação
Art. 152. O prazo para a conclusão do processo dis- do dia e hora marcados para inquirição.
ciplinar não excederá 60 (sessenta) dias, contados da Art. 158. O depoimento será prestado oralmente e re-
data de publicação do ato que constituir a comissão, duzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo
admitida a sua prorrogação por igual prazo, quando as por escrito.
circunstâncias o exigirem. § 1º As testemunhas serão inquiridas separadamente.
§ 1º Sempre que necessário, a comissão dedicará tem- § 2º Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que
se infirmem, proceder-se-á à acareação entre os depo-
po integral aos seus trabalhos, ficando seus membros
entes.
dispensados do ponto, até a entrega do relatório final.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 159. Concluída a inquirição das testemunhas, a co-


§ 2º As reuniões da comissão serão registradas em atas
missão promoverá o interrogatório do acusado, obser-
que deverão detalhar as deliberações adotadas.
vados os procedimentos previstos nos arts. 157 e 158.
Este capítulo introduz aspectos sobre o processo admi- § 1º No caso de mais de um acusado, cada um deles
nistrativo que serão aprofundados adiante e na própria lei será ouvido separadamente, e sempre que divergirem
nº 9.784/99. Em suma, tem-se que o processo administra- em suas declarações sobre fatos ou circunstâncias, será
promovida a acareação entre eles.
tivo deve garantir a ampla defesa, será conduzido por uma
§ 2º O procurador do acusado poderá assistir ao in-
comissão de 3 membros funcionários estáveis que decidirão
terrogatório, bem como à inquirição das testemunhas,
com independência e imparcialidade, divide-se em 3 fases
sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas,
e possui prazo limite de duração (60, eventualmente +60).
facultando-se-lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio
do presidente da comissão.

58
Art. 160. Quando houver dúvida sobre a sanidade men- O inquérito é uma das fases do processo administrati-
tal do acusado, a comissão proporá à autoridade com- vo disciplinar, obedecendo às regras descritas nesta seção,
petente que ele seja submetido a exame por junta mé- destacando-se as que tratam da produção de provas.
dica oficial, da qual participe pelo menos um médico
psiquiatra. SEÇÃO II
Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será DO JULGAMENTO
processado em auto apartado e apenso ao processo
principal, após a expedição do laudo pericial. Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do rece-
Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será formulada bimento do processo, a autoridade julgadora proferirá a
a indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a sua decisão.
ele imputados e das respectivas provas. § 1º Se a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da
§ 1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo autoridade instauradora do processo, este será encami-
nhado à autoridade competente, que decidirá em igual
presidente da comissão para apresentar defesa escrita,
prazo.
no prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do
§ 2º Havendo mais de um indiciado e diversidade de
processo na repartição.
sanções, o julgamento caberá à autoridade competente
§ 2º Havendo dois ou mais indiciados, o prazo será co-
para a imposição da pena mais grave.
mum e de 20 (vinte) dias. § 3º Se a penalidade prevista for a demissão ou cassa-
§ 3º O prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo do- ção de aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento
bro, para diligências reputadas indispensáveis. caberá às autoridades de que trata o inciso I do art. 141.
§ 4º No caso de recusa do indiciado em apor o ciente § 4º Reconhecida pela comissão a inocência do servidor,
na cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da a autoridade instauradora do processo determinará o
data declarada, em termo próprio, pelo membro da co- seu arquivamento, salvo se flagrantemente contrária à
missão que fez a citação, com a assinatura de (2) duas prova dos autos.
testemunhas. Art. 168. O julgamento acatará o relatório da comissão,
Art. 162. O indiciado que mudar de residência fica obri- salvo quando contrário às provas dos autos.
gado a comunicar à comissão o lugar onde poderá ser Parágrafo único. Quando o relatório da comissão con-
encontrado. trariar as provas dos autos, a autoridade julgadora po-
Art. 163. Achando-se o indiciado em lugar incerto e não derá, motivadamente, agravar a penalidade proposta,
sabido, será citado por edital, publicado no Diário Oficial abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.
da União e em jornal de grande circulação na localidade Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a au-
do último domicílio conhecido, para apresentar defesa. toridade que determinou a instauração do processo ou
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade,
defesa será de 15 (quinze) dias a partir da última publi- total ou parcial, e ordenará, no mesmo ato, a constitui-
cação do edital. ção de outra comissão para instauração de novo pro-
Art. 164. Considerar-se-á revel o indiciado que, regular- cesso.
mente citado, não apresentar defesa no prazo legal. § 1º O julgamento fora do prazo legal não implica nuli-
§ 1º A revelia será declarada, por termo, nos autos do dade do processo.
processo e devolverá o prazo para a defesa. § 2º A autoridade julgadora que der causa à prescrição
§ 2º Para defender o indiciado revel, a autoridade ins- de que trata o art. 142, § 2º, será responsabilizada na
tauradora do processo designará um servidor como de- forma do Capítulo IV do Título IV.
Art. 170. Extinta a punibilidade pela prescrição, a au-
fensor dativo, que deverá ser ocupante de cargo efetivo
toridade julgadora determinará o registro do fato nos
superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade
assentamentos individuais do servidor.
igual ou superior ao do indiciado.
Art. 171. Quando a infração estiver capitulada como cri-
Art. 165. Apreciada a defesa, a comissão elaborará rela-
me, o processo disciplinar será remetido ao Ministério
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tório minucioso, onde resumirá as peças principais dos Público para instauração da ação penal, ficando trasla-
autos e mencionará as provas em que se baseou para dado na repartição.
formar a sua convicção. Art. 172. O servidor que responder a processo discipli-
§ 1º O relatório será sempre conclusivo quanto à inocên- nar só poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado
cia ou à responsabilidade do servidor. voluntariamente, após a conclusão do processo e o cum-
§ 2º Reconhecida a responsabilidade do servidor, a co- primento da penalidade, acaso aplicada.
missão indicará o dispositivo legal ou regulamentar Parágrafo único. Ocorrida a exoneração de que trata o
transgredido, bem como as circunstâncias agravantes parágrafo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido
ou atenuantes. em demissão, se for o caso.
Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório da co- Art. 173. Serão assegurados transporte e diárias:
missão, será remetido à autoridade que determinou a I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora
sua instauração, para julgamento. da sede de sua repartição, na condição de testemunha,
denunciado ou indiciado;

59
II - aos membros da comissão e ao secretário, quando obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização
de missão essencial ao esclarecimento dos fatos.

Nesta seção, trata-se do julgamento do processo administrativo disciplinar, que não será feito pela comissão, mas pela
autoridade competente para aplicar a sanção. Afinal, a comissão apenas indica qual o ato praticado pelo indiciamento. Se
houver mais de um indiciado e as sanções forem diversas, julga a autoridade de maior nível hierárquico. Ex: autoridade que
pode aplicar suspensão não pode aplicar demissão, de forma que se a um dos indiciados couber demissão será a autorida-
de que pode aplicar esta pena que aplicará também a suspensão ao outro indiciado.

SEÇÃO III
DA REVISÃO DO PROCESSO

Art. 174. O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos
novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada.
§ 1º Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento do servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a
revisão do processo.
§ 2º No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será requerida pelo respectivo curador.
Art. 175. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao requerente.
Art. 176. A simples alegação de injustiça da penalidade não constitui fundamento para a revisão, que requer elementos
novos, ainda não apreciados no processo originário.
Art. 177. O requerimento de revisão do processo será dirigido ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se
autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade onde se originou o processo disciplinar.
Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade competente providenciará a constituição de comissão, na forma do art.
149.
Art. 178. A revisão correrá em apenso ao processo originário.
Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e hora para a produção de provas e inquirição das testemu-
nhas que arrolar.
Art. 179. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a conclusão dos trabalhos.
Art. 180. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no que couber, as normas e procedimentos próprios da comissão
do processo disciplinar.
Art. 181. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a penalidade, nos termos do art. 141.
Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual
a autoridade julgadora poderá determinar diligências.
Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declarada sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direi-
tos do servidor, exceto em relação à destituição do cargo em comissão, que será convertida em exoneração.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento de penalidade.

A revisão do processo consiste na possibilidade do servidor condenado requerer que sua condenação seja revista se
surgirem novos fatos ou circunstâncias que justifiquem sua absolvição ou a aplicação de uma pena mais leve. Poderá ser
requerida ao ministro de Estado ou autoridade de mesma hierarquia e será apensada ao processo administrativo originário.
O julgamento será feito pela mesma autoridade que aplicou a pena. Se apurado que na verdade a pena deveria ser maior,
não cabe agravar a situação do servidor.

#FicaDica
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Inquérito
Sindicância Procedimento sumário
administrativo
Prazo 30 + 30 dias 60 + 60 dias 30 + 15 dias
Suspensão por mais de Inassiduidade
Suspensão de até 30 30 dias Abandono de cargo
Penalidade/Motivo
dias Demissão Acumulação ilegal de
Cassação cargos
Comissão 1, 2 ou 3 servidores 3 servidores 2 servidores

60
quer título, exercem uma função pública como prepostos do
Estado. Essa função, é mister que se diga, pode ser remune-
EXERCÍCIO COMENTADO rada ou gratuita, definitiva ou transitória, política ou jurídica.
O que é certo é que, quando atuam no mundo jurídico, tais
agentes estão de alguma forma vinculados ao Poder Públi-
1. (STM – CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR – CONHE- co. Como se sabe, o Estado só se faz presente através das
CIMENTOS BÁSICOS – CESPE – 2018) Julgue o item a pessoas físicas que em seu nome manifestam determinada
seguir, relativo ao regime jurídico dos servidores públicos vontade, e é por isso que essa manifestação volitiva acaba
civis da União, às carreiras dos servidores do Poder Judiciá- por ser imputada ao próprio Estado. São todas essas pessoas
rio da União e à responsabilidade civil do Estado. físicas que constituem os agentes públicos”48.
No caso de acumulação ilegal de cargos públicos, o servi- Neste sentido, o artigo 2º da Lei nº 8.429/92 (Lei de
dor será notificado para apresentar opção e, se ele perma- Improbidade Administrativa):
necer omisso, será instaurado procedimento administrativo Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
disciplinar sumário conduzido por comissão composta por aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem re-
dois servidores estáveis. muneração, por eleição, nomeação, designação, contrata-
ção ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
( ) CERTO ( ) ERRADO mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencio-
nadas no artigo anterior.
Resposta: Certo. O número de servidores é dois, confor-
me artigo 133, I, Lei nº 8.112/1990: “Detectada a qual- Quanto às entidades as quais o agente pode estar vin-
quer tempo a acumulação ilegal de cargos, empregos ou culado, tem-se o artigo 1º da Lei nº 8.429/92:
funções públicas, a autoridade a que se refere o art. 143 Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
notificará o servidor, por intermédio de sua chefia imedia- público, servidor ou não, contra a administração direta,
ta, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios,
dias, contados da data da ciência e, na hipótese de omis-
de Território, de empresa incorporada ao patrimônio
são, adotará procedimento sumário para a sua apuração
público ou de entidade para cuja criação ou custeio o
e regularização imediata, cujo processo administrativo
erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquen-
disciplinar se desenvolverá nas seguintes fases: I - Instau-
ta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão puni-
ração, com a publicação do ato que constituir a comissão,
dos na forma desta lei.
a ser composta por dois servidores estáveis, e simultanea-
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades
mente indicar a autoria e a materialidade da transgressão
desta lei os atos de improbidade praticados contra o pa-
objeto da apuração; [...]”. É a denominada comissão de in-
trimônio de entidade que receba subvenção, benefício
quérito, que se difere da comissão de processo disciplinar. ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem
como daquelas para cuja criação ou custeio o erário
haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta
AGENTES PÚBLICOS: CLASSIFICAÇÃO, por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-
REGIMES JURÍDICOS, ORGANIZAÇÃO -se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do
FUNCIONAL, REGIME CONSTITUCIONAL ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
(CONCURSO PÚBLICO, ACESSIBILIDADE,
ACUMULAÇÃO DE CARGOS E FUNÇÕES, 2. Espécies; cargo, emprego e função
ESTABILIDADE, REGIME PREVIDENCIÁRIO,
DISPONIBILIDADE, MANDATO ELETIVO, Os agentes públicos subdividem-se em:
SISTEMA CONSTITUCIONAL DE a) agentes políticos – “são os titulares dos cargos es-
truturais à organização política do País [...], Presi-
REMUNERAÇÃO, ASSOCIAÇÃO SINDICAL E
dente da República, Governadores, Prefeitos e res-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO DE GREVE). pectivos vices, os auxiliares imediatos dos chefes de


Executivo, isto é, Ministros e Secretários das diversas
pastas, bem como os Senadores, Deputados Federais
AGENTES PÚBLICOS e Estaduais e os Vereadores”49. O agente político é
aquele detentor de cargo eletivo, eleito por manda-
1. Conceitos; espécies; cargo, emprego e função tos transitórios.
b) servidores públicos, que se dividem em funcioná-
1.1. Conceito rio público, empregado público e contratados em
caráter temporário. Os servidores públicos formam
Agente público é expressão que engloba todas as pes-
soas lotadas na Administração, isto é, trata-se daqueles que 48 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
servem ao Poder Público. “A expressão agente público tem vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
sentido amplo, significa o conjunto de pessoas que, a qual- 49 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
32. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.

61
a grande massa dos agentes do Estado, desenvol- 4. Ausência de competência: agente de fato
vendo variadas funções. O funcionário público é o
tipo de servidor público que é titular de um cargo, O agente precisa estar legitimamente investido num
se sujeitando a regime estatutário (previsto em esta- cargo para praticar um ato administrativo, isto é, deve ter
tuto próprio, não na CLT). O empregado público é competência para tanto. Contudo, existe a situação do
o tipo de servidor público que é titular de um em- agente de fato, que é aquele em relação ao qual a investi-
prego, sujeitando-se ao regime celetista (CLT). Tanto dura está maculada de um defeito.
o funcionário público quanto o empregado público Di Pietro50 exemplifica tal situação: “falta de requisito legal
somente se vinculam à Administração mediante con- para investidura, como certificado de sanidade vencido; ine-
curso público, sendo nomeados em caráter efetivo. xistência de formação universitária para função que a exige,
Contratados em caráter temporário são servidores idade inferior ao mínimo legal; o mesmo ocorre quando o
contratados por um período certo e determinado, servidor está suspenso do cargo, ou exerce funções depois de
por força de uma situação de excepcional interesse vencido o prazo de sua contratação, ou continua em exercício
público, não sendo nomeados em caráter efetivo, após a idade-limite para aposentadoria compulsória”.
ocupando uma função pública. Essa ilegalidade gera efeitos na competência do ato admi-
c) particulares em colaboração com o Estado – são nistrativo, mas não pode ser confundida com o crime de usur-
agentes que, embora sejam particulares, executam pação de função (art. 328, CP), no qual o sujeito exerce uma
funções públicas especiais que podem ser qualifi- atribuição de cargo, emprego ou função pública, sem ocorrer
cadas como públicas. Ex.: mesário, jurado, recrutados nenhuma forma de investidura. No caso do agente de fato, há
para serviço militar. investidura, mas ela se deu sem os devidos requisitos.
Quanto aos atos praticados pelo agente de fato, a dou-
trina majoritária considera-os válidos, por causa da aparên-
cia de conformidade com a lei e em preservação da boa-fé
#FicaDica dos administrados. Entretanto, será necessário ponderar no
Os agentes públicos podem ser agentes políti- caso concreto, utilizando como vetores a segurança jurídica
cos, particulares em colaboração com o Estado e a boa-fé da população, bem como observando se a falta
e servidores públicos. Logo, o servidor públi- de competência não poderia ser facilmente detectada.
co é uma espécie do gênero agente público.
Com efeito, funcionário público é uma espé- 4. Exigência de concurso público para investidura
cie do gênero servidor público, abrangendo em cargo ou emprego público
apenas os servidores que se sujeitam a regime
estatutário. Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego
público depende de aprovação prévia em concurso pú-
blico de provas ou de provas e títulos, de acordo com
3. Natureza jurídica da relação de emprego público a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na
forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
O servidor público de sociedade de economia mista e cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação
de empresa pública não se sujeita a Estatuto, mas sim à e exoneração.
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Em suma, não são
estatutários e sim celetistas. Logo, a natureza jurídica da Neste sentido, preconiza o artigo 10 da Lei nº
relação de emprego público é contratual, embora o vín- 8.112/1990:
culo tenha natureza pública. Inclusive, eventuais conflitos
trabalhistas são resolvidos perante a justiça do trabalho. Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de
Apesar disso, são contratados mediante concurso públi- carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende
co de provas ou provas e títulos, pois mesmo as empresas de prévia habilitação em concurso público de provas ou
públicas e as sociedades de economia mista são obrigadas de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a respeitar um núcleo obrigatório mínimo, que envolve o e o prazo de sua validade.


dever de contratar apenas por concurso. Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso
e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante
promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as dire-
#FicaDica trizes do sistema de carreira na Administração Pública
Empregado público é celetista – Sujeita-se à Federal e seus regulamentos.
CLT – Relação contratual
Servidor público é estatutário – Sujeita-se à No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
respectiva lei especial – Relação estatutária pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
dade profissional também é considerado.
50 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São
Paulo: Atlas editora, 2010.

62
Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não Nos moldes do artigo 41, §1º, CF, o servidor apenas
exige concurso público, sendo exceção à regra geral. perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada
Em todas outras situações, a administração direta e in- em julgado, mediante processo administrativo em que lhe
direta é obrigada a prover seus cargos, empregos e funções seja assegurada ampla defesa ou mediante procedimen-
por meio de concursos públicos. Inclusive, por mais que em- to de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
presas públicas e sociedades de economia mista sejam pes- complementar, assegurada ampla defesa. Logo, é possível
soas jurídicas de direito privado, devem respeitar o núcleo a perda do cargo mesmo após adquirir a estabilidade, mas
mínimo de imposições ao poder público, inclusive a obriga- há garantias quanto à forma como isso pode ocorrer.
ção de prover seus empregos por meio de concurso público. Além das hipóteses citadas, existe mais uma possibili-
dade de perda de cargo (sem caráter punitivo), mesmo que
o seu detentor seja estável no serviço público. Trata-se da
#FicaDica perda de cargo para adequação dos gastos do Estado à Lei
de Responsabilidade Fiscal – LRF.
Todas entidades da administração direta e in-
A Constituição Federal inicialmente impõe que os entes
direta devem realizar concurso público para
federativos, no caso de extrapolação dos limites de gas-
contratar funcionários públicos.
tos previstos na LRF, reduzam as despesas com servidores
Exceção: cargo em comissão, baseado em con-
públicos comissionados e não estáveis, conforme art. 169,
fiança.
§3º, CF. Mas se as medidas previstas no §3º do art. 169
não forem suficientes para adequar e controlar as despe-
sas públicas, a CF/88 prevê, em seu §4º, a perda do cargo
5. Servidor ocupante de cargo em comissão até mesmo na hipótese em que o seu ocupante detenha
estabilidade no serviço público. Se ocorrer esta hipótese, o
Os cargos em comissão são de nomeação livre, dispen- servidor estável que perder o cargo terá direito a indeniza-
sando concurso público. ção correspondente a 1 mês de remuneração por ano de
O ocupante de cargo em comissão não precisa ser titu- serviço público.
lar de cargo efetivo. Existem alguns servidores públicos efetivos que não
Serve para cargos de chefias, assessoramento e direção, possuem apenas estabilidade, mas sim vitaliciedade. São
notadamente, cargos de confiança. eles os membros do Poder Judiciário e do Ministério Públi-
Os servidores que ocupam cargo em comissão podem ser co (artigo 95, I, CF; artigo 128, §5º, I, “a”, CF).
exonerados a qualquer tempo, pois não adquirem estabilidade O prazo para a aquisição da vitaliciedade é diferente
e nem as garantias que dela decorrem (exonerado “ad nutum”). do prazo para aquisição da estabilidade, sendo adquirida
Se sujeita ao regime geral da previdência social. após 2 anos de serviço público. Durante esse período,
Quanto ao regime de trabalho, será o mesmo dos de- também é submetido o servidor a “estágio probatório”,
mais servidores do órgão em que ocupa o cargo – se for chamado de processo de vitaliciamento.
estatutário, seguirá o mesmo estatuto e fará jus aos direitos Um fator importantíssimo a favor dos agentes vitalícios
ali previstos, exceto os de natureza previdenciária; se for é que eles somente podem perder o cargo em decorrência
celetista, seguirá as normas da CLT e terá os mesmos direi- de decisão judicial transitada em julgado. Então, as várias
tos ali assegurados, inclusive FGTS. hipóteses de perda de cargo previstas para servidores está-
veis não se aplicam aos servidores vitalícios.
#FicaDica
#FicaDica
Servidor que ocupe cargo em comissão jamais
adquire estabilidade. Apenas o servidor público efetivo pode se tor-
Pode ser exonerado a qualquer tempo. nar estável.
Não se sujeita a regime estatutário – contribui A estabilidade depende de aprovação no está-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

pelo INSS e se sujeita à CLT. gio probatório, cujo período é de 3 anos.

6. Servidor efetivo e vitalício: garantias 7. Estágio probatório

O servidor público efetivo, aquele que foi provido em Estabelece a Constituição Federal em seu artigo 41, a
cargo mediante nomeação seguida da aprovação em con- ser lido em conjunto com o artigo 20 da Lei nº 8.112/1990:
curso público, está apto a adquirir estabilidade, nos mol-
des do artigo 41, CF, após três anos de efetivo exercício. Artigo 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
Os primeiros 3 anos de serviço correspondem ao está- cício os servidores nomeados para cargo de provimento
gio probatório, período em que o servidor deverá ser sub- efetivo em virtude de concurso público.
metido a uma avaliação especial de desempenho. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:

63
I - em virtude de sentença judicial transitada em jul- § 5º O estágio probatório ficará suspenso durante as li-
gado; cenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, §
II - mediante processo administrativo em que lhe seja 1º, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em
assegurada ampla defesa; curso de formação, e será retomado a partir do término
III - mediante procedimento de avaliação periódica de do impedimento.
desempenho, na forma de lei complementar, assegura-
da ampla defesa. O estágio probatório pode ser definido como um lapso
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser- de tempo no qual a aptidão e capacidade do servidor serão
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan- avaliadas de acordo com critérios de assiduidade, discipli-
te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, na, capacidade de iniciativa, produtividade e responsabili-
sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo dade. O servidor não aprovado no estágio probatório será
ou posto em disponibilidade com remuneração propor- exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anterior-
cional ao tempo de serviço. mente ocupado. Não existe vedação para um servidor em
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, estágio probatório exercer quaisquer cargos de provimen-
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remu- to em comissão ou funções de direção, chefia ou assesso-
neração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- ramento no órgão ou entidade de lotação.
quado aproveitamento em outro cargo. Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
comissão instituída para essa finalidade. norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
Art. 20, Lei nº 8.112/1990. Ao entrar em exercício, o ser- to no artigo 41 da Constituição Federal.
vidor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará Uma vez adquirida a aprovação no estágio probatório,
sujeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e o servidor público somente poderá ser exonerado nos ca-
sos do §1º do artigo 40 da Constituição Federal, notada-
quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e capaci-
mente: em virtude de sentença judicial transitada em jul-
dade serão objeto de avaliação para o desempenho do
gado; mediante processo administrativo em que lhe seja
cargo, observados os seguinte fatores:
assegurada ampla defesa; ou mediante procedimento
I - assiduidade;
de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei
II - disciplina;
complementar, assegurada ampla defesa (sendo esta lei
III - capacidade de iniciativa;
complementar ainda inexistente no âmbito federal).
IV - produtividade;
V - responsabilidade.
8. Formas de provimento e vacância dos cargos
§ 1º 4 (quatro) meses antes de findo o período do es- públicos
tágio probatório, será submetida à homologação da
autoridade competente a avaliação do desempenho do Provimento é o preenchimento do cargo público; ao
servidor, realizada por comissão constituída para essa passo que vacância é a sua desocupação.
finalidade, de acordo com o que dispuser a lei ou o re- O provimento pode se dar de forma originária ou de-
gulamento da respectiva carreira ou cargo, sem preju- rivada.
ízo da continuidade de apuração dos fatores enumera- De forma originária, o provimento pressupõe que não
dos nos incisos I a V do caput deste artigo. exista uma relação jurídica anterior entre servidor públi-
§ 2º O servidor não aprovado no estágio probatório será co e Administração.
exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo ante- A única forma de provimento originário é a nomeação,
riormente ocupado, observado o disposto no parágrafo que pode ser em caráter efetivo (mediante aprovação em
único do art. 29. concurso) ou em comissão (tratando-se de cargo de con-
§ 3º O servidor em estágio probatório poderá exercer fiança).
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun- De forma derivada, o provimento pressupõe que exis-
ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão ou ta uma relação jurídica anterior entre servidor público e
entidade de lotação, e somente poderá ser cedido a ou- Administração.
tro órgão ou entidade para ocupar cargos de Natureza Pode se dar de diversas formas: promoção, readapta-
Especial, cargos de provimento em comissão do Grupo- ção, reversão, aproveitamento, reintegração e recondução.
-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis Promoção é a elevação de um servidor de uma classe
6, 5 e 4, ou equivalentes. para outra dentro de uma mesma carreira.
§ 4º Ao servidor em estágio probatório somente pode- Readaptação é a passagem do servidor para outro
rão ser concedidas as licenças e os afastamentos pre- cargo compatível com a deficiência física que ele venha a
vistos nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim apresentar.
afastamento para participar de curso de formação de- Reversão é o retorno ao serviço ativo do servidor apo-
corrente de aprovação em concurso para outro cargo na sentado por invalidez quando insubsistentes os motivos da
Administração Pública Federal. aposentadoria.

64
Aproveitamento é o retorno ao serviço ativo do servi- 2. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
dor que se encontrava em disponibilidade e foi aproveita- – CESPE–2018) Julgue o seguinte item de acordo com as
do em cargo semelhante àquele anteriormente ocupado. disposições constitucionais e legais acerca dos agentes pú-
Reintegração é o retorno ao serviço ativo do servidor blicos.
que fora demitido, quando a demissão for anulada admi- A investidura em cargo, emprego ou função pública exige
nistrativamente ou judicialmente, voltando para o mesmo a prévia aprovação em concurso público de provas ou de
cargo que ocupava anteriormente. provas e títulos, na forma prevista em lei.
Recondução é o retorno ao cargo anteriormente ocu-
pado, do servidor que não logrou êxito no estágio proba- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tório de outro cargo para o qual foi nomeado decorrente
de outro concurso. Resposta: Errado. A função pública é exercida por servi-
Obs.: São consideradas formas inconstitucionais de dores contratados temporariamente com base no artigo
provimento a transferência, que era a passagem de um 37, IX, CF, não dependendo de concurso. Destaca-se que o
servidor de um quadro para outro dentro de um mesmo artigo 37, II, CF, prevê: “a investidura em cargo ou emprego
poder, e a ascensão, que significava a passagem de uma público depende de aprovação prévia em concurso público
carreira para outra. de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza
Em relação às formas de vacância, que ocorre quando o e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
cargo púbico anteriormente ocupado fica livre, colocam-se: em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
falecimento, aposentadoria, promoção, demissão, exonera- declarado em lei de livre nomeação e exoneração”.
ção, readaptação, posse em outro cargo cuja acumulação
seja vedada. 3. (STM – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
– CESPE – 2018) Acerca do direito administrativo, dos atos
administrativos e dos agentes públicos, julgue o item a se-
#FicaDica guir.
Em que pese ocuparem cargos eletivos, as pessoas físicas
Vacância = liberação do cargo que antes se en- que compõem o Poder Legislativo são consideradas agen-
contrava ocupado/provido. tes públicos.
Provimento = preenchimento do cargo vago,
podendo ser originário ou derivado. ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Existem três espécies de agentes públi-


9. Direitos, deveres e responsabilidades dos servido- cos: agentes políticos, agentes administrativos (entram
res públicos civis aqui os servidores e empregados públicos) e particulares
em colaboração com o Estado. Aqueles que ocupam cargo
No âmbito federal, são objeto da Lei nº 8.112/1990, que eletivo, exercendo assim mandato, são agentes políticos,
institui o regime jurídico dos servidores públicos civis federais. espécie do gênero agente público.

EXERCÍCIO COMENTADO
PRECEITOS CONSTITUCIONAIS

O artigo 37 da Constituição Federal estabelece os prin-


1. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE cípios da administração pública estudados no tópico ante-
– 2018) Acerca do regime jurídico dos servidores públicos rior, aos quais estão sujeitos servidores de quaisquer dos
federais, julgue o item a seguir. Poderes em qualquer das esferas federativas, e, em seus
A promoção não constitui forma de provimento em cargo incisos, regras mínimas sobre o serviço público:
público.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Artigo 37, I, CF. Os cargos, empregos e funções públicas


( ) CERTO ( ) ERRADO
são acessíveis aos brasileiros que preencham os re-
quisitos estabelecidos em lei, assim como aos estran-
Resposta: Errado. A promoção é uma forma derivada de
provimento do cargo público, acessível àqueles que estão geiros, na forma da lei.
na carreira e vão galgar novo degrau em cargo de nível
superior ao ocupado no momento. Aprofundando a questão, tem-se o artigo 5º da Lei nº
8.112/1990, que prevê:

Artigo 5º, Lei nº 8.112/1990. São requisitos básicos para


investidura em cargo público:
I - a nacionalidade brasileira;
II - o gozo dos direitos políticos;

65
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
V - a idade mínima de dezoito anos;
VI - aptidão física e mental.
§ 1º As atribuições do cargo podem justificar a exigência de outros requisitos estabelecidos em lei. [...]
§ 3º As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com professo-
res, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedimentos desta Lei.

Destaca-se a exceção ao inciso I do artigo 5° da Lei nº 8.112/1990 e do inciso I do artigo 37, CF, prevista no artigo 207
da Constituição, permitindo que estrangeiros assumam cargos no ramo da pesquisa, ciência e tecnologia.

Artigo 37, II, CF. A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas
ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressal-
vadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Preconiza o artigo 10 da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 10, Lei nº 8.112/90. A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado de provimento efetivo depende de prévia
habilitação em concurso público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo de sua
validade.
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o desenvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção,
serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira na Administração Pública Federal e seus regula-
mentos.

No concurso de provas o candidato é avaliado apenas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos concursos de
provas e títulos o seu currículo em toda sua atividade profissional também é considerado. Cargo em comissão é o cargo de
confiança, que não exige concurso público, sendo exceção à regra geral.

Artigo 37, III, CF. O prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período.
Artigo 37, IV, CF. Durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público
de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego,
na carreira.
Prevê o artigo 12 da Lei nº 8.112/1990:

Artigo 12, Lei nº 8.112/1990. O concurso público terá validade de até 2 (dois) anos, podendo ser prorrogado uma única
vez, por igual período.
§1º O prazo de validade do concurso e as condições de sua realização serão fixados em edital, que será publicado no Diário
Oficial da União e em jornal diário de grande circulação.
§ 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade não
expirado.

O edital delimita questões como valor da taxa de inscrição, casos de isenção, número de vagas e prazo de validade. Ha-
vendo candidatos aprovados na vigência do prazo do concurso, ele deve ser chamado para assumir eventual vaga e não ser
realizado novo concurso.
Destaca-se que o §2º do artigo 37, CF, prevê:

Artigo 37, §2º, CF. A não-observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

responsável, nos termos da lei.

Com efeito, há tratamento rigoroso da responsabilização daquele que viola as diretrizes mínimas sobre o ingresso no
serviço público, que em regra se dá por concurso de provas ou de provas e títulos.
Artigo 37, V, CF. As funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos
em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

Observa-se o seguinte quadro comparativo51:

51 http://direitoemquadrinhos.blogspot.com.br/2011/03/quadro-comparativo-funcao-de-confianca.html

66
Função de Confiança Cargo em Comissão
Exercidas exclusivamente por servidores Qualquer pessoa, observado o percentual mínimo
ocupantes de cargo efetivo. reservado ao servidor de carreira.
Com concurso público, já que somente pode
Sem concurso público, ressalvado o percentual
exercê-la o servidor de cargo efetivo, mas a função
mínimo reservado ao servidor de carreira.
em si não prescindível de concurso público.
É atribuído posto (lugar) num dos quadros da
Somente são conferidas atribuições e
Administração Pública, conferida atribuições e
responsabilidade
responsabilidade àquele que irá ocupá-lo
Destinam-se apenas às atribuições de direção, Destinam-se apenas às atribuições de direção,
chefia e assessoramento chefia e assessoramento
De livre nomeação e exoneração no que se refere
De livre nomeação e exoneração
à função e não em relação ao cargo efetivo.

Artigo 37, VI, CF. É garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical.

A liberdade de associação é garantida aos servidores públicos tal como é garantida a todos na condição de direito indi-
vidual e de direito social.
Artigo 37, VII, CF. O direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica.

O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores públicos possuem o direito de greve, devendo se atentar pela
preservação da sociedade quando exercê-lo. Enquanto não for elaborada uma legislação específica para os funcionários
públicos, deverá ser obedecida a lei geral de greve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° 7.783/89 (Mandado de
Injunção nº 20).

Artigo 37, VIII, CF. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e
definirá os critérios de sua admissão.
Neste sentido, o §2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990:
Artigo 5º, Lei nº 8.112/90. Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público
para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas
serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.
Prossegue o artigo 37, CF:
Artigo 37, IX, CF. A lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporá-
ria de excepcional interesse público.

A Lei nº 8.745/1993 regulamenta este inciso da Constituição, definindo a natureza da relação estabelecida entre o
servidor contratado e a Administração Pública, para atender à “necessidade temporária de excepcional interesse público”.
“Em se tratando de relação subordinada, isto é, de relação que comporta dependência jurídica do servidor perante o Es-
tado, duas opções se ofereciam: ou a relação seria trabalhista, agindo o Estado iure gestionis, sem usar das prerrogativas de
Poder Público, ou institucional, estatutária, preponderando o ius imperii do Estado. Melhor dizendo: o sistema preconizado
pela Carta Política de 1988 é o do contrato, que tanto pode ser trabalhista (inserindo-se na esfera do Direito Privado) quan-
to administrativo (situando-se no campo do Direito Público). [...] Uma solução intermediária não deixa, entretanto, de ser
legítima. Pode-se, com certeza, abonar um sistema híbrido, eclético, no qual coexistam normas trabalhistas e estatutárias,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

pondo-se em contiguidade os vínculos privado e administrativo, no sentido de atender às exigências do Estado moderno,
que procura alcançar os seus objetivos com a mesma eficácia dos empreendimentos não-governamentais”52.

Artigo 37, X, CF. A remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser
fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual,
sempre na mesma data e sem distinção de índices.
Artigo 37, XV, CF. O subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressalvado
o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
Artigo 37, §10, CF. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts.
42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta
Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
52 VOGEL NETO, Gustavo Adolpho. Contratação de servidores para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_39/Artigos/Art_Gustavo.htm>. Acesso em: 23 dez. 2014.

67
Sobre a questão, disciplina a Lei nº 8.112/1990 nos ar- dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Estado, por
tigos 40 e 41: membros do Congresso Nacional e Ministros do Supre-
mo Tribunal Federal. Parágrafo único. Excluem-se do
Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exer- teto de remuneração as vantagens previstas nos incisos
cício de cargo público, com valor fixado em lei. II a VII do art. 61.
Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo,
acrescido das vantagens pecuniárias permanentes esta- Com efeito, os §§ 11 e 12 do artigo 37, CF tecem apro-
belecidas em lei. fundamentos sobre o mencionado inciso XI:
§ 1º A remuneração do servidor investido em função ou
cargo em comissão será paga na forma prevista no art. Artigo 37, § 11, CF. Não serão computadas, para efeito
62. dos limites remuneratórios de que trata o inciso XI do
§ 2º O servidor investido em cargo em comissão de ór- caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório
gão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a previstas em lei.
remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º do Artigo 37, § 12, CF. Para os fins do disposto no inciso XI
art. 93. do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao
§ 3º O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vanta- Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda
gens de caráter permanente, é irredutível. às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite
§ 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para car- único, o subsídio mensal dos Desembargadores do res-
gos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo pectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros
Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio men-
as vantagens de caráter individual e as relativas à natu- sal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se
reza ou ao local de trabalho. aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos
§ 5º Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
salário mínimo.
Por seu turno, o artigo 37 quanto à vinculação ou equi-
Ainda, o artigo 37 da Constituição: paração salarial:

Artigo 37, XI, CF. A remuneração e o subsídio dos ocu- Artigo 37, XIII, CF. É vedada a vinculação ou equipara-
pantes de cargos, funções e empregos públicos da ad- ção de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
ministração direta, autárquica e fundacional, dos mem- de remuneração de pessoal do serviço público.
bros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de Os padrões de vencimentos são fixados por conselho
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os pro- de política de administração e remuneração de pessoal,
ventos, pensões ou outra espécie remuneratória, perce- integrado por servidores designados pelos respectivos
bidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens Poderes (artigo 39, caput e § 1º), sem qualquer garantia
pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão constitucional de tratamento igualitário aos cargos que se
exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do mostrem similares.
Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e Artigo 37, XIV, CF. Os acréscimos pecuniários percebi-
no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no dos por servidor público não serão computados nem
âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados acumulados para fins de concessão de acréscimos ul-
Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e teriores.
o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça,
limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos A preocupação do constituinte, ao implantar tal pre-
por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros ceito, foi de que não eclodisse no sistema remuneratório
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judi- dos servidores, ou seja, evitar que se utilize uma vantagem
ciário, aplicável este limite aos membros do Ministério como base de cálculo de um outro benefício. Dessa forma,
Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos. qualquer gratificação que venha a ser concedida ao servi-
Artigo 37, XII, CF. Os vencimentos dos cargos do Poder dor só pode ter como base de cálculo o próprio vencimen-
Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser supe- to básico. É inaceitável que se leve em consideração outra
riores aos pagos pelo Poder Executivo. vantagem até então percebida.

Prevê a Lei nº 8.112/1990 em seu artigo 42: Artigo 37, XVI, CF. É vedada a acumulação remunera-
da de cargos públicos, exceto, quando houver com-
Artigo 42, Lei nº 8.112/90. Nenhum servidor poderá patibilidade de horários, observado em qualquer caso
perceber, mensalmente, a título de remuneração, im- o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de profes-
portância superior à soma dos valores percebidos como sor; b) a de um cargo de professor com outro, téc-
remuneração, em espécie, a qualquer título, no âmbito

68
nico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos “Os artigos 118 a 120 da Lei nº 8.112/90 ao tratarem da
privativos de profissionais de saúde, com profissões acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam,
regulamentadas. no âmbito do serviço público federal a vedação genérica
Artigo 37, XVII, CF. A proibição de acumular estende-se constante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da
a empregos e funções e abrange autarquias, fun- República. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos
dações, empresas públicas, sociedades de economia constitui uma das infrações mais comuns praticadas por
mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, servidores públicos, o que se constata observando o eleva-
direta ou indiretamente, pelo poder público. do número de processos administrativos instaurados com
esse objeto. O sistema adotado pela Lei nº 8.112/90 é rela-
Segundo Carvalho Filho53, “o fundamento da proibição tivamente brando, quando cotejado com outros estatutos
é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que de alguns Estados, visto que propicia ao servidor incurso
o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi- nessa ilicitude diversas oportunidades para regularizar sua
ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons- situação e escapar da pena de demissão. Também prevê a
tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em lei em comentário, um processo administrativo simplifica-
detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota- do (processo disciplinar de rito sumário) para a apuração
-se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em dessa infração – art. 133” 54.
consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons- Artigo 37, XVIII, CF. A administração fazendária e
titucional proibitiva”. seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas de
A Lei nº 8.112/1990 regulamenta intensamente a questão: competência e jurisdição, precedência sobre os de-
mais setores administrativos, na forma da lei.
Artigo 118, Lei nº 8.112/1990. Ressalvados os casos pre- Artigo 37, XXII, CF. As administrações tributárias da
vistos na Constituição, é vedada a acumulação remu- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nerada de cargos públicos. nicípios, atividades essenciais ao funcionamento do
§ 1° A proibição de acumular estende-se a cargos, em- Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas,
pregos e funções em autarquias, fundações públicas, terão recursos prioritários para a realização de suas
empresas públicas, sociedades de economia mista da
atividades e atuarão de forma integrada, inclusive
União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios
com o compartilhamento de cadastros e de informações
e dos Municípios.
fiscais, na forma da lei ou convênio.
§ 2° A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condi-
cionada à comprovação da compatibilidade de horários.
“O Estado tem como finalidade essencial a garantia do
§ 3° Considera-se acumulação proibida a percepção de
bem-estar de seus cidadãos, seja através dos serviços públi-
vencimento de cargo ou emprego público efetivo com
cos que disponibiliza, seja através de investimentos na área
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de
social (educação, saúde, segurança pública). Para atingir
que decorram essas remunerações forem acumuláveis
na atividade. esses objetivos primários, deve desenvolver uma atividade
Art. 119, Lei nº 8.112/1990. O servidor não poderá financeira, com o intuito de obter recursos indispensáveis às
exercer mais de um cargo em comissão, exceto no necessidades cuja satisfação se comprometeu quando esta-
caso previsto no parágrafo único do art. 9º, nem ser re- beleceu o “pacto” constitucional de 1988. [...] A importância
munerado pela participação em órgão de deliberação da Administração Tributária foi reconhecida expressamente
coletiva. pelo constituinte que acrescentou, no artigo 37 da Carta
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à Magna, o inciso XVIII, estabelecendo a sua precedência e
remuneração devida pela participação em conselhos de de seus servidores sobre os demais setores da Administração
administração e fiscal das empresas públicas e socieda- Pública, dentro de suas áreas de competência”55.
des de economia mista, suas subsidiárias e controladas,
bem como quaisquer empresas ou entidades em que a Artigo 37, XIX, CF. Somente por lei específica poderá
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

União, direta ou indiretamente, detenha participação no ser criada autarquia e autorizada a instituição de
capital social, observado o que, a respeito, dispuser le- empresa pública, de sociedade de economia mista e
gislação específica. de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
Art. 120, Lei nº 8.112/1990. O servidor vinculado ao re- caso, definir as áreas de sua atuação.
gime desta Lei, que acumular licitamente dois cargos Artigo 37, XX, CF. Depende de autorização legislativa,
efetivos, quando investido em cargo de provimento em em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos, mencionadas no inciso anterior, assim como a participa-
salvo na hipótese em que houver compatibilidade de ção de qualquer delas em empresa privada.
horário e local com o exercício de um deles, declarada
pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades en- 54 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da
União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/
volvidos.
almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.
53 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 55 http://www.sindsefaz.org.br/parecer_administracao_tributaria_sao_
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. paulo.htm

69
Órgãos da administração indireta somente podem ser ços contratados pelos governos Federal, Estadual ou Mu-
criados por lei específica e a criação de subsidiárias destes nicipal, ou seja, todos os entes federativos. De forma mais
dependem de autorização legislativa (o Estado cria e controla simples, podemos dizer que o governo deve comprar e
diretamente determinada empresa pública ou sociedade de contratar serviços seguindo regras de lei, assim a licitação
economia mista, e estas, por sua vez, passam a gerir uma é um processo formal onde há a competição entre os in-
nova empresa, denominada subsidiária. Ex.: Transpetro, sub- teressados.
sidiária da Petrobrás). “Abrimos um parêntese para observar
que quase todos os autores que abordam o assunto afirmam Artigo 37, §5º, CF. A lei estabelecerá os prazos de pres-
categoricamente que, a despeito da referência no texto cons- crição para ilícitos praticados por qualquer agente, ser-
titucional a ‘subsidiárias das entidades mencionadas no in- vidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalva-
ciso anterior’, somente empresas públicas e sociedades de das as respectivas ações de ressarcimento.
economia mista podem ter subsidiárias, pois a relação de
controle que existe entre a pessoa jurídica matriz e a sub- A prescrição dos ilícitos praticados por servidor encon-
sidiária seria própria de pessoas com estrutura empresarial, tra disciplina específica no artigo 142 da Lei nº 8.112/1990:
e inadequada a autarquias e fundações públicas. OUSAMOS
DISCORDAR. Parece-nos que, se o legislador de um ente Art. 142, Lei nº 8.112/1990. A ação disciplinar pres-
federado pretendesse, por exemplo, autorizar a criação de creverá:
uma subsidiária de uma fundação pública, NÃO haveria base I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
constitucional para considerar inválida sua autorização”56. demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilida-
Ainda sobre a questão do funcionamento da administra- de e destituição de cargo em comissão;
ção indireta e de suas subsidiárias, destaca-se o previsto nos II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
§§ 8º e 9º do artigo 37, CF: III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência.
§ 1º O prazo de prescrição começa a correr da data em
Artigo 37, §8º, CF. A autonomia gerencial, orçamentária que o fato se tornou conhecido.
e financeira dos órgãos e entidades da administração dire-
§ 2º Os prazos de prescrição previstos na lei penal apli-
ta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a
cam-se às infrações disciplinares capituladas também
ser firmado entre seus administradores e o poder público,
como crime.
que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho
§ 3º A abertura de sindicância ou a instauração de pro-
para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a deci-
I - o prazo de duração do contrato;
são final proferida por autoridade competente.
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,
§ 4º Interrompido o curso da prescrição, o prazo co-
direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
meçará a correr a partir do dia em que cessar a inter-
III - a remuneração do pessoal.
Artigo 37, § 9º, CF. O disposto no inciso XI aplica-se rupção.
às empresas públicas e às sociedades de economia
mista e suas subsidiárias, que receberem recursos da Prescrição é um instituto que visa regular a perda do
União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni- direito de acionar judicialmente. No caso, o prazo é de 5
cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de anos para as infrações mais graves, 2 para as de gravida-
custeio em geral. de intermediária (pena de suspensão) e 180 dias para as
Continua o artigo 37, CF: menos graves (pena de advertência), contados da data em
que o fato se tornou conhecido pela administração públi-
Artigo 37, XXI, CF. Ressalvados os casos especificados na ca. Se a infração disciplinar for crime, valerão os prazos
legislação, as obras, serviços, compras e alienações se- prescricionais do direito penal, mais longos, logo, menos
rão contratados mediante processo de licitação públi- favoráveis ao servidor. Interrupção da prescrição significa
ca que assegure igualdade de condições a todos os con- parar a contagem do prazo para que, retornando, comece
correntes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de do zero. Da abertura da sindicância ou processo adminis-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, trativo disciplinar até a decisão final proferida por autori-
nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigên- dade competente não corre a prescrição. Proferida a de-
cias de qualificação técnica e econômica indispensáveis cisão, o prazo começa a contar do zero. Passado o prazo,
à garantia do cumprimento das obrigações. não caberá mais propor ação disciplinar.

A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, regulamenta o Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público
art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
para licitações e contratos da Administração Pública e dá responderão pelos danos que seus agentes, nessa
outras providências. Licitação nada mais é que o conjunto qualidade, causarem a terceiros, assegurado o di-
de procedimentos administrativos (administrativos porque reito de regresso contra o responsável nos casos de
parte da administração pública) para as compras ou servi- dolo ou culpa.
56 ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Administrativo Descomplicado. São
Paulo: GEN, 2014.

70
Este dispositivo, que aborda a questão da responsabi- III - investido no mandato de Vereador, havendo com-
lidade civil do Estado e dos seus agentes a ser aprofunda- patibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu
da adiante, deixa clara a formação de uma relação jurídica cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração
autônoma entre o Estado e o agente público que causou do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a aplicada a norma do inciso anterior;
responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es- IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regres- contado para todos os efeitos legais, exceto para promo-
so é justamente o direito de acionar o causador direto do ção por merecimento;
dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, con- V - para efeito de benefício previdenciário, no caso de
siderada a existência de uma relação obrigacional que se afastamento, os valores serão determinados como se no
forma entre a vítima e a instituição que o agente compõe. exercício estivesse.
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agen- Regulamenta-se o regime de remuneração e previdên-
te agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do cia dos servidores públicos nos artigo 39 e 40 da Constitui-
que foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar ção Federal:
condutas incompatíveis com o comportamento ético dele
esperado.57 Artigo 39, CF. A União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios instituirão conselho de política de ad-
Artigo 37, §7º, CF. A lei disporá sobre os requisitos e ministração e remuneração de pessoal, integrado por
as restrições ao ocupante de cargo ou emprego da servidores designados pelos respectivos Poderes. (Reda-
administração direta e indireta que possibilite o acesso a ção dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998 e
informações privilegiadas. aplicação suspensa pela ADIN nº 2.135-4, destacando-
-se a redação anterior: “A União, os Estados, o Distrito
A Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013 dispõe sobre Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua
o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego competência, regime jurídico único e planos de carreira
do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao para os servidores da administração pública direta, das
exercício do cargo ou emprego; e revoga dispositivos da autarquias e das fundações públicas”).
Lei nº 9.986, de 18 de julho de 2000, e das Medidas Provi- § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais
sórias nºs 2.216-37, de 31 de agosto de 2001, e 2.225-45, componentes do sistema remuneratório observará:
de 4 de setembro de 2001. I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexi-
Neste sentido, conforme seu artigo 1º: dade dos cargos componentes de cada carreira;
II - os requisitos para a investidura;
Artigo 1º, Lei nº 12.813/2013. As situações que con- III - as peculiaridades dos cargos.
figuram conflito de interesses envolvendo ocupantes § 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão
de cargo ou emprego no âmbito do Poder Executivo escolas de governo para a formação e o aperfeiçoa-
federal, os requisitos e restrições a ocupantes de cargo mento dos servidores públicos, constituindo-se a parti-
ou emprego que tenham acesso a informações privi- cipação nos cursos um dos requisitos para a promoção
legiadas, os impedimentos posteriores ao exercício do na carreira, facultada, para isso, a celebração de convê-
cargo ou emprego e as competências para fiscalização, nios ou contratos entre os entes federados.
avaliação e prevenção de conflitos de interesses regu- § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo públi-
lam-se pelo disposto nesta Lei. co o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,XVI,
Já a questão do exercício de mandato eletivo pelo servi- XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabele-
dor público encontra previsão constitucional em seu artigo cer requisitos diferenciados de admissão quando a na-
38, que notadamente estabelece quais tipos de mandatos tureza do cargo o exigir.
geram incompatibilidade ao serviço público e regulamenta § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato ele-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a questão remuneratória: tivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e


Municipais serão remunerados exclusivamente por sub-
Artigo 38, CF. Ao servidor público da administração di- sídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de
reta, autárquica e fundacional, no exercício de manda- qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba
to eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: de representação ou outra espécie remuneratória, obe-
I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou dis- decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
trital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função; § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do Municípios poderá estabelecer a relação entre a maior e
cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar a menor remuneração dos servidores públicos, obede-
pela sua remuneração; cido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, XI.
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publi-
carão anualmente os valores do subsídio e da remune-
57 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé-
todo, 2011. ração dos cargos e empregos públicos.

71
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e III - cujas atividades sejam exercidas sob condições es-
dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos or- peciais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
çamentários provenientes da economia com despesas § 5º Os requisitos de idade e de tempo de contribuição
correntes em cada órgão, autarquia e fundação, para serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto
aplicação no desenvolvimento de programas de quali- no § 1º, III, a, para o professor que comprove exclusiva-
dade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, mente tempo de efetivo exercício das funções de ma-
modernização, reaparelhamento e racionalização do gistério na educação infantil e no ensino fundamental
serviço público, inclusive sob a forma de adicional ou e médio.
prêmio de produtividade. § 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organiza- cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é
dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à
Artigo 40, CF. Aos servidores titulares de cargos efetivos conta do regime de previdência previsto neste artigo.
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- § 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de
nicípios, incluídas suas autarquias e fundações, é asse- pensão por morte, que será igual:
gurado regime de previdência de caráter contributivo I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor fa-
e solidário, mediante contribuição do respectivo ente lecido, até o limite máximo estabelecido para os benefí-
público, dos servidores ativos e inativos e dos pensio- cios do regime geral de previdência social de que trata o
nistas, observados critérios que preservem o equilíbrio art. 201, acrescido de setenta por cento da parcela exce-
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. dente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdên- II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
cia de que trata este artigo serão aposentados, calcu- no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o li-
lados os seus proventos a partir dos valores fixados na mite máximo estabelecido para os benefícios do regime
forma dos §§ 3º e 17: geral de previdência social de que trata o art. 201, acres-
I - por invalidez permanente, sendo os proventos propor- cido de setenta por cento da parcela excedente a este
cionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente
limite, caso em atividade na data do óbito.
de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para
grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real,
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao
conforme critérios estabelecidos em lei.
tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade,
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual ou mu-
ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de
nicipal será contado para efeito de aposentadoria e o
lei complementar;
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo tempo de serviço correspondente para efeito de dis-
de dez anos de efetivo exercício no serviço público e cinco ponibilidade.
anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, § 10. A lei não poderá estabelecer qualquer forma de
observadas as seguintes condições: contagem de tempo de contribuição fictício.
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribui- § 11. Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total
ção, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e dos proventos de inatividade, inclusive quando decor-
trinta de contribuição, se mulher; rentes da acumulação de cargos ou empregos públi-
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e ses- cos, bem como de outras atividades sujeitas a contri-
senta anos de idade, se mulher, com proventos pro- buição para o regime geral de previdência social, e ao
porcionais ao tempo de contribuição. montante resultante da adição de proventos de inativi-
§ 2º Os proventos de aposentadoria e as pensões, por dade com remuneração de cargo acumulável na forma
ocasião de sua concessão, não poderão exceder a re- desta Constituição, cargo em comissão declarado em
muneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo.
que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência § 12. Além do disposto neste artigo, o regime de pre-
para a concessão da pensão. vidência dos servidores públicos titulares de cargo efe-
tivo observará, no que couber, os requisitos e critérios
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º Para o cálculo dos proventos de aposentadoria,


por ocasião da sua concessão, serão consideradas as fixados para o regime geral de previdência social.
remunerações utilizadas como base para as contribui- § 13. Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo
ções do servidor aos regimes de previdência de que em comissão declarado em lei de livre nomeação e
tratam este artigo e o art. 201, na forma da lei. exoneração bem como de outro cargo temporário ou
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferen- de emprego público, aplica-se o regime geral de pre-
ciados para a concessão de aposentadoria aos abran- vidência social.
gidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, § 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nos termos definidos em leis complementares, os ca- nicípios, desde que instituam regime de previdência
sos de servidores: complementar para os seus respectivos servidores
I - portadores de deficiência; titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor
II - que exerçam atividades de risco; das aposentadorias e pensões a serem concedidas
pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo

72
estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 15. O regime de previdência complementar de que
trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do res-
pectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 1. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE
202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio – 2018) Em relação ao direito administrativo, julgue o item
de entidades fechadas de previdência complementar, seguinte.
de natureza pública, que oferecerão aos respectivos A proibição estabelecida na Constituição Federal de 1988,
participantes planos de benefícios somente na moda- acerca de acumulação remunerada de cargos públicos, não
lidade de contribuição definida. abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socie-
§ 16. Somente mediante sua prévia e expressa opção, dades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades
o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servi- controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.
dor que tiver ingressado no serviço público até a data
da publicação do ato de instituição do correspondente ( ) CERTO ( ) ERRADO
regime de previdência complementar.
§ 17. Todos os valores de remuneração considerados Resposta: Errado. Prevê o artigo 37, XVII, CF: “a proi-
para o cálculo do benefício previsto no § 3° serão de- bição de acumular estende-se a empregos e funções e
abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socie-
vidamente atualizados, na forma da lei.
dades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades
§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de apo-
controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público”.
sentadorias e pensões concedidas pelo regime de que
trata este artigo que superem o limite máximo esta-
2. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
belecido para os benefícios do regime geral de previ-
– CESPE – 2018) Julgue o seguinte item de acordo com
dência social de que trata o art. 201, com percentual
as disposições constitucionais e legais acerca dos agentes
igual ao estabelecido para os servidores titulares de
públicos.
cargos efetivos. A acumulação remunerada de cargos públicos é vedada,
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha exceto quando houver compatibilidade de horários, caso
completado as exigências para aposentadoria volun- em que será possível, por exemplo, acumular até três car-
tária estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por per- gos de profissionais de saúde.
manecer em atividade fará jus a um abono de per-
manência equivalente ao valor da sua contribuição ( ) CERTO ( ) ERRADO
previdenciária até completar as exigências para apo-
sentadoria compulsória contidas no § 1º, II. Resposta: Errado. Limita-se a acumulação, no caso, a
§ 20. Fica vedada a existência de mais de um regime dois cargos, conforme artigo 37, XVI, “c”: “é vedada a acu-
próprio de previdência social para os servidores titu- mulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando
lares de cargos efetivos, e de mais de uma unidade houver compatibilidade de horários, observado em qual-
gestora do respectivo regime em cada ente estatal, quer caso o disposto no inciso XI: [...] c) a de dois cargos
ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X. ou empregos privativos de profissionais de saúde, com
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo in- profissões regulamentadas”.
cidirá apenas sobre as parcelas de proventos de apo-
sentadoria e de pensão que superem o dobro do limi- 3. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
te máximo estabelecido para os benefícios do regime TRATIVA – CESPE – 2018) A respeito do direito adminis-
geral de previdência social de que trata o art. 201 des- trativo, dos atos administrativos e dos agentes públicos e
ta Constituição, quando o beneficiário, na forma da lei, seu regime, julgue o item a seguir.
for portador de doença incapacitante. As funções de confiança, correspondentes a encargos de
direção, chefia ou assessoramento, só podem ser exercidas
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

por titulares de cargos efetivos.


#FicaDica
Muitas vezes os preceitos constitucionais não ( ) CERTO ( ) ERRADO
são expressamente cobrados na matéria de
direito administrativo, mas o são em direito Resposta: Certo. Disciplina o artigo 37, V, CF: “as fun-
constitucional. Fique atento ao seu edital e dê ções de confiança, exercidas exclusivamente por servido-
atenção especial a este conteúdo que muitas res ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão,
vezes poderá ser cobrado não em uma, mas a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos,
em DUAS matérias! condições e percentuais mínimos previstos em lei, desti-
nam-se apenas às atribuições de direção, chefia e asses-
soramento”.

73
LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 CAPÍTULO I
DO PROVIMENTO
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Segundo Hely Lopes Meirelles58, provimento “é o ato
TÍTULO I pelo qual se efetua o preenchimento do cargo público, com
CAPÍTULO ÚNICO a designação de seu titular”, podendo ser originário ou ini-
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES cial se o agente não possui vinculação anterior com a Admi-
nistração Pública; ou derivado, que pressupõe a existência
Art. 1º Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servido- de um vínculo com a Administração, o qual pode ser hori-
res Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as zontal, sem ascensão na carreira, ou vertical, com ascensão
em regime especial, e das fundações públicas federais. na carreira.
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa le-
galmente investida em cargo público. SEÇÃO I
Art. 3º Cargo público é o conjunto de atribuições e res- DISPOSIÇÕES GERAIS
ponsabilidades previstas na estrutura organizacional
que devem ser cometidas a um servidor. Art. 5º São requisitos básicos para investidura em cargo
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos público:
os brasileiros, são criados por lei, com denominação I - a nacionalidade brasileira;
própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para Nacional é o que possui vínculo político-jurídico com um
provimento em caráter efetivo ou em comissão. Estado, fazendo parte de seu povo na qualidade de cida-
Art. 4º É proibida a prestação de serviços gratuitos, sal- dão.
vo os casos previstos em lei. II - o gozo dos direitos políticos;
Direitos políticos são os direitos garantidos ao cidadão
Por regime jurídico dos servidores deve-se entender o que envolvem sua participação direta ou indireta nas
decisões políticas do Estado. No Brasil, se encontram nos
conjunto de regras referentes a todos os aspectos da re-
artigos 14 e 15 da Constituição Federal.
lação entre o servidor público e a Administração. Envolve
III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
tanto questões inerentes à ocupação do cargo quanto di-
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do
reitos e deveres, entre outras.
cargo;
Aplica-se na esfera federal, tanto para a Administração
Ensino fundamental, ensino médio ou ensino superior,
direta quanto para a indireta.
conforme a complexidade das funções do cargo.
A lei criará o cargo público, que poderá ser efetivo, caso
V - a idade mínima de dezoito anos;
em que o ingresso se dará mediante concurso, ou em co- VI - aptidão física e mental.
missão, quando por uma relação de confiança o superior § 1° As atribuições do cargo podem justificar a exigência
puder nomear seus funcionários enquanto estiver ocupan- de outros requisitos estabelecidos em lei.
do aquela posição de chefia. P. ex., 3 anos de atividade jurídica para cargos de mem-
Todo serviço público será remunerado pelos cofres pú- bros do Ministério Público ou da Magistratura.
blicos. § 2° Às pessoas portadoras de deficiência é assegura-
do o direito de se inscrever em concurso público para
#FicaDica provimento de cargo cujas atribuições sejam compatí-
veis com a deficiência de que são portadoras; para tais
Cargo público = atribuições + responsabilida- pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das
des vagas oferecidas no concurso.
Modalidades = efetivo ou em comissão Cotas para deficientes.
§ 3° As universidades e instituições de pesquisa cientí-
fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos
FORMAS DE PROVIMENTO E VACÂNCIA DOS CAR-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de


GOS PÚBLICOS acordo com as normas e os procedimentos desta Lei.
Exceção ao inciso I do art. 5°.
TÍTULO II Art. 6º O provimento dos cargos públicos far-se-á me-
DO PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDIS- diante ato da autoridade competente de cada Poder.
TRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO Art. 7º A investidura em cargo público ocorrerá com
a posse.
Basicamente, provimento é a ocupação do cargo por Por investidura entende-se a instalação formal em um
uma pessoa, transformando-a em servidora pública; en- cargo público, o que se dará quando a pessoa for em-
quanto vacância é o que se dá quando um cargo fica livre; possada.
remoção é o deslocamento do servidor; redistribuição é o Art. 8º São formas de provimento de cargo público:
deslocamento de um cargo para outro órgão; substituição I - nomeação;
é a mudança de uma pessoa que está ocupando cargo de 58 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo:
chefia ou direção por outra. Malheiros, 1993.

74
II - promoção; No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
III e IV - (Revogados) pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
V - readaptação; cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
VI - reversão; dade profissional também é considerado.
VII - aproveitamento; O edital delimita questões como valor da taxa de inscri-
VIII - reintegração; ção, casos de isenção, número de vagas e prazo de validade.
IX - recondução.
Detalhes adiante. SEÇÃO IV
DA POSSE E DO EXERCÍCIO
SEÇÃO II
DA NOMEAÇÃO Art. 13. A posse dar-se-á pela assinatura do respecti-
vo termo, no qual deverão constar as atribuições, os
Art. 9º A nomeação far-se-á:
deveres, as responsabilidades e os direitos inerentes
I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado
ao cargo ocupado, que não poderão ser alterados unila-
de provimento efetivo ou de carreira;
teralmente, por qualquer das partes, ressalvados os atos
II - em comissão, inclusive na condição de interino, para
de ofício previstos em lei.
cargos de confiança vagos.
Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo em comis- § 1º A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados
são ou de natureza especial poderá ser nomeado para ter da publicação do ato de provimento.
exercício, interinamente, em outro cargo de confiança, § 2º Em se tratando de servidor, que esteja na data de
sem prejuízo das atribuições do que atualmente ocupa, publicação do ato de provimento, em licença prevista
hipótese em que deverá optar pela remuneração de nos incisos I, III e V do art. 81, ou afastado nas hipóte-
um deles durante o período da interinidade. ses dos incisos I, IV, VI, VIII, alíneas «a», «b», «d», «e» e
«f», IX e X do art. 102, o prazo será contado do término
O cargo em comissão é temporário e não depende de do impedimento.
concurso público. Se o servidor for nomeado para outro § 3º A posse poderá dar-se mediante procuração es-
cargo em comissão poderá exercer ambos de maneira inte- pecífica.
rina (temporária), mas somente poderá receber remunera- § 4º Só haverá posse nos casos de provimento de cargo
ção por um deles, o que optar. por nomeação.
Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo iso- § 5º No ato da posse, o servidor apresentará declara-
lado de provimento efetivo depende de prévia habilitação ção de bens e valores que constituem seu patrimônio e
em concurso público de provas ou de provas e títulos, obe- declaração quanto ao exercício ou não de outro cargo,
decidos a ordem de classificação e o prazo de sua validade. emprego ou função pública.
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso e o § 6º Será tornado sem efeito o ato de provimento se
desenvolvimento do servidor na carreira, mediante pro- a posse não ocorrer no prazo previsto no § 1º deste
moção, serão estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes artigo.
do sistema de carreira na Administração Pública Federal
e seus regulamentos. O termo de posse é dotado de conteúdo específico. É
possível tomar posse mediante procuração específica. Não
SEÇÃO III há posse nos cargos em comissão. A declaração de bens e
DO CONCURSO PÚBLICO valores visa permitir a verificação da situação financeira do
servidor, de forma a perceber se ele enriqueceu despropor-
Art. 11. O concurso será de provas ou de provas e títu-
cionalmente durante o exercício do cargo.
los, podendo ser realizado em duas etapas, conforme
dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano de
Art. 14. A posse em cargo público dependerá de prévia
carreira, condicionada a inscrição do candidato ao pa-
inspeção médica oficial.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

gamento do valor fixado no edital, quando indispensá-


Parágrafo único. Só poderá ser empossado aquele que
vel ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção
nele expressamente previstas. for julgado apto física e mentalmente para o exercício
Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 (dois) do cargo.
anos, podendo ser prorrogado uma única vez, por Art. 15. Exercício é o efetivo desempenho das atribui-
igual período. ções do cargo público ou da função de confiança.
§ 1º O prazo de validade do concurso e as condições § 1º É de quinze dias o prazo para o servidor empossa-
de sua realização serão fixados em edital, que será pu- do em cargo público entrar em exercício, contados da
blicado no Diário Oficial da União e em jornal diário de data da posse.
grande circulação. § 2º O servidor será exonerado do cargo ou será torna-
§ 2º Não se abrirá novo concurso enquanto houver do sem efeito o ato de sua designação para função de
candidato aprovado em concurso anterior com prazo confiança, se não entrar em exercício nos prazos previs-
de validade não expirado. tos neste artigo, observado o disposto no art. 18.

75
§ 3º À autoridade competente do órgão ou entidade § 1º O ocupante de cargo em comissão ou função de con-
para onde for nomeado ou designado o servidor com- fiança submete-se a regime de integral dedicação ao ser-
pete dar-lhe exercício. viço, observado o disposto no art. 120, podendo ser con-
§ 4º O início do exercício de função de confiança coin- vocado sempre que houver interesse da Administração.
cidirá com a data de publicação do ato de designação, § 2° O disposto neste artigo não se aplica a duração de
salvo quando o servidor estiver em licença ou afasta- trabalho estabelecida em leis especiais.
do por qualquer outro motivo legal, hipótese em que
recairá no primeiro dia útil após o término do impedi- Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para
mento, que não poderá exceder a trinta dias da publi- cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio pro-
cação. batório por período de 24 (vinte e quatro) meses, du-
rante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de
avaliação para o desempenho do cargo, observados os
Nota-se que para as funções em confiança não há pra-
seguinte fatores:
zo de 15 dias da posse, até mesmo porque ela não existe I - assiduidade;
nestas funções. Então, o prazo para exercício será o do dia II - disciplina;
da publicação do ato de designação. III - capacidade de iniciativa;
IV - produtividade;
Art. 16. O início, a suspensão, a interrupção e o rei- V - responsabilidade.
nício do exercício serão registrados no assentamento § 1° 4 (quatro) meses antes de findo o período do está-
individual do servidor. gio probatório, será submetida à homologação da au-
Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor apre- toridade competente a avaliação do desempenho do
sentará ao órgão competente os elementos necessários servidor, realizada por comissão constituída para essa
ao seu assentamento individual. finalidade, de acordo com o que dispuser a lei ou o re-
Art. 17. A promoção não interrompe o tempo de exer- gulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo
cício, que é contado no novo posicionamento na car- da continuidade de apuração dos fatores enumerados
reira a partir da data de publicação do ato que promo- nos incisos I a V do caput deste artigo.
ver o servidor. § 2° O servidor não aprovado no estágio probatório
será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo
Na promoção não há nova posse. Então, o servidor não anteriormente ocupado, observado o disposto no pa-
rágrafo único do art. 29.
tem 15 dias para entrar em exercício, o fazendo no dia da
§ 3° O servidor em estágio probatório poderá exercer
publicação do ato.
quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun-
ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão
Art. 18. O servidor que deva ter exercício em outro mu- ou entidade de lotação, e somente poderá ser cedido
nicípio em razão de ter sido removido, redistribuído, a outro órgão ou entidade para ocupar cargos de Na-
requisitado, cedido ou posto em exercício provisório tureza Especial, cargos de provimento em comissão do
terá, no mínimo, dez e, no máximo, trinta dias de pra- Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de
zo, contados da publicação do ato, para a retomada do níveis 6, 5 e 4, ou equivalentes.
efetivo desempenho das atribuições do cargo, incluído § 4° Ao servidor em estágio probatório somente pode-
nesse prazo o tempo necessário para o deslocamento rão ser concedidas as licenças e os afastamentos pre-
para a nova sede. vistos nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim
§ 1° Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença afastamento para participar de curso de formação de-
ou afastado legalmente, o prazo a que se refere este corrente de aprovação em concurso para outro cargo
artigo será contado a partir do término do impedimen- na Administração Pública Federal.
to. § 5° O estágio probatório ficará suspenso durante as
§ 2° É facultado ao servidor declinar dos prazos estabe- licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, §
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

lecidos no caput. 1º, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação em


curso de formação, e será retomado a partir do térmi-
Se o servidor estava em exercício em outro município no do impedimento.
e é convocado por publicação para retomar a posição su- Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
perior tem um prazo entre 10 e 30 dias, dos quais pode plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-
desistir, se quiser. tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
fixada em razão das atribuições pertinentes aos respec- to no artigo 41 da Constituição Federal:
tivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho
semanal de quarenta horas e observados os limites Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias, cício os servidores nomeados para cargo de provi-
respectivamente. mento efetivo em virtude de concurso público.

76
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi-
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado
II - mediante processo administrativo em que lhe seja para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex.: fun-
assegurada ampla defesa; cionário trabalhava como atendente numa repartição, se
III - mediante procedimento de avaliação periódica de movimentando o tempo todo e sofre um acidente, fican-
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada do paraplégico. Sua capacidade mental não ficou prejudi-
ampla defesa. cada, embora seja inconveniente ele ter que fazer tantos
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do movimentos no exercício das funções. Por isso, pode ser
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocu- reconduzido para outro cargo técnico na repartição que
pante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de ori- seja mais burocrático e exija menos movimentação física,
gem, sem direito a indenização, aproveitado em outro como o de assistente de um superior.
cargo ou posto em disponibilidade com remuneração
proporcional ao tempo de serviço.
SEÇÃO VIII
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessida-
DA REVERSÃO
de, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
remuneração proporcional ao tempo de serviço, até
Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor
seu adequado aproveitamento em outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, aposentado:
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar
comissão instituída para essa finalidade. insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou
II - no interesse da administração, desde que:
SEÇÃO V a) tenha solicitado a reversão;
DA ESTABILIDADE b) a aposentadoria tenha sido voluntária;
c) estável quando na atividade;
Art. 21. O servidor habilitado em concurso público e d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos ante-
empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá riores à solicitação;
estabilidade no serviço público ao completar 2 (dois) e) haja cargo vago.
anos de efetivo exercício. § 1° A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo
resultante de sua transformação.
§ 2° O tempo em que o servidor estiver em exercício
FIQUE ATENTO! será considerado para concessão da aposentadoria.
Vale o prazo de 3 anos, conforme Constituição § 3° No caso do inciso I, encontrando-se provido o
Federal (artigo 41 retrocitado). cargo, o servidor exercerá suas atribuições como exce-
dente, até a ocorrência de vaga.
§ 4° O servidor que retornar à atividade por interesse
Art. 22. O servidor estável só perderá o cargo em vir- da administração perceberá, em substituição aos pro-
tude de sentença judicial transitada em julgado ou ventos da aposentadoria, a remuneração do cargo que
de processo administrativo disciplinar no qual lhe voltar a exercer, inclusive com as vantagens de natureza
seja assegurada ampla defesa. pessoal que percebia anteriormente à aposentadoria.
§ 5° O servidor de que trata o inciso II somente terá
SEÇÃO VI os proventos calculados com base nas regras atuais se
DA TRANSFERÊNCIA permanecer pelo menos cinco anos no cargo.
§ 6° O Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.
Art. 23. (Execução suspensa)
Art. 26. (Revogado)
Art. 27. Não poderá reverter o aposentado que já tiver
SEÇÃO VII
completado 70 (setenta) anos de idade.
DA READAPTAÇÃO
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Merece destaque a impossibilidade de cumulação da


Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em
aposentadoria com a remuneração caso o servidor retorne
cargo de atribuições e responsabilidades compatí-
às funções.
veis com a limitação que tenha sofrido em sua capa-
cidade física ou mental verificada em inspeção médica.
SEÇÃO IX
§ 1º Se julgado incapaz para o serviço público, o rea-
DA REINTEGRAÇÃO
daptando será aposentado.
§ 2º A readaptação será efetivada em cargo de atribui-
Art. 28. A reintegração é a reinvestidura do servidor
ções afins, respeitada a habilitação exigida, nível de es-
estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo
colaridade e equivalência de vencimentos e, na hipótese
resultante de sua transformação, quando invalidada a
de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas
sua demissão por decisão administrativa ou judi-
atribuições como excedente, até a ocorrência de vaga.
cial, com ressarcimento de todas as vantagens.

77
§ 1º Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor Servidor posto em disponibilidade não é servidor apo-
ficará em disponibilidade, observado o disposto nos sentado. É apenas um servidor aguardando que surja um
arts. 30 e 31. posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, deverá
§ 2º Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual entrar em exercício, sob pena de ter revogada a disponibili-
ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem dade, deixando de ser servidor público.
direito à indenização ou aproveitado em outro cargo,
ou, ainda, posto em disponibilidade. CAPÍTULO II
DA VACÂNCIA
Se um servidor for injustamente demitido e a sua de-
missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo to- Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de:
talmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários I - exoneração;
do período em que foi afastado). Caso o cargo esteja ex- II - demissão;
tinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo exista III - promoção;
e alguém o estiver ocupando, este será retirado do cargo, IV e V - (Revogados)
devolvendo-o ao seu legítimo titular. VI - readaptação;
VII - aposentadoria;
SEÇÃO X VIII - posse em outro cargo inacumulável;
DA RECONDUÇÃO IX - falecimento.
Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido
Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao do servidor, ou de ofício.
cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á:
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro I - quando não satisfeitas as condições do estágio pro-
cargo; batório;
II - reintegração do anterior ocupante. II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar
Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de em exercício no prazo estabelecido.
origem, o servidor será aproveitado em outro, obser-
vado o disposto no art. 30. Sendo o cargo efetivo, somente será exonerado de ofí-
cio se não for habilitado no estágio probatório e se não
Como visto, quando um servidor é promovido ele se entrar em exercício no prazo legal.
sujeita a novo estágio probatório e, caso seja inabilitado,
voltará ao cargo que antes ocupava. Ainda, se alguém esti- Art. 35. A exoneração de cargo em comissão e a dis-
ver ocupando o cargo de um servidor que tenha sido injus- pensa de função de confiança dar-se-á:
tamente demitido, quando este voltar deverá desocupar o I - a juízo da autoridade competente;
cargo. Se a posição antes ocupada não estiver livre, deverá II - a pedido do próprio servidor.
ser reaproveitado em outro cargo semelhante.
Como o cargo em comissão refere-se a uma relação de
SEÇÃO XI confiança para com a autoridade competente, esta poderá
DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO exonerar o servidor.

Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponibi-


lidade far-se-á mediante aproveitamento obrigatório
em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis
com o anteriormente ocupado.
Art. 31. O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil de-
terminará o imediato aproveitamento de servidor em
disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos órgãos
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ou entidades da Administração Pública Federal.


Parágrafo único. Na hipótese prevista no § 3º do art. 37,
o servidor posto em disponibilidade poderá ser manti-
do sob responsabilidade do órgão central do Sistema de
Pessoal Civil da Administração Federal - SIPEC, até o seu
adequado aproveitamento em outro órgão ou entidade.
Art. 32. Será tornado sem efeito o aproveitamento e
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar
em exercício no prazo legal, salvo doença comprova-
da por junta médica oficial.

78
Resposta: Errado. O erro da assertiva está em descrever
#FicaDica a reintegração, não a reversão, conforme artigo 28, Lei nº
8.112/1990: “A reintegração é a reinvestidura do servidor
Formas de provimento estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo re-
- Originário sultante de sua transformação, quando invalidada a sua
Nomeação – Em caráter efetivo ou em comis- demissão por decisão administrativa ou judicial, com res-
são sarcimento de todas as vantagens”.
- Derivado
Promoção – Ascensão do cargo ocupado para 3. (TRF-1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL
um cargo sucessivo e ascendente, possível DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2017)
quando o servidor tiver seu cargo estruturado Com base na Lei nº 8.112/1990 e no regime jurídico aplicável
em carreira. aos agentes públicos, julgue o item a seguir.
Aproveitamento – Retorno de um servidor pos- Servidor aposentado por invalidez poderá retornar à ativida-
to em disponibilidade. de caso junta médica oficial declare insubsistentes os moti-
Readaptação – Realocação de servidor que te- vos da sua aposentadoria, hipótese em que se procederá à
nha se tornado deficiente para cargo compa- reversão do servidor.
tível.
Reintegração – Retorno de servidor a cargo an- ( ) CERTO ( ) ERRADO
teriormente ocupado ou em cargo resultante
de sua transformação quando invalidada a de- Resposta: Certo. A hipótese é de reversão, conforme ar-
cisão de sua demissão. tigo 25, I, Lei nº 8.112/1990: “Reversão é o retorno à ati-
Recondução – Retorno de servidor a cargo an- vidade de servidor aposentado: I - por invalidez, quando
teriormente ocupado em decorrência de inabi- junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da
litação no estágio probatório de outro cargo ou aposentadoria”.
por ter o ocupante anterior sido reintegrado.
Reversão – Retorno do servidor ao cargo ocu-
pado quando anteriormente aposentado por DOS DIREITOS E VANTAGENS
invalidez, caso cesse a doença ou condição in-
capacitante. TÍTULO III
DOS DIREITOS E VANTAGENS

Em sete capítulos, o terceiro título da legislação em es-


EXERCÍCIOS COMENTADOS tudo estabelece os direitos e vantagens do servidor público,
para em seguida trazer seus deveres e proibições.
Resume Carvalho Filho59: “os direitos sociais constitucio-
nais são objeto da referência do art. 39, §3°, CF, o qual de-
1. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE termina que dezesseis dos direitos sociais outorgados aos
– 2018) Acerca do regime jurídico dos servidores públicos empregados sejam estendidos aos servidores públicos. Den-
federais, julgue o item a seguir. tre esses direitos estão o do salário mínimo (art. 7°, IV); o dé-
A investidura em cargo público ocorre com a nomeação cimo terceiro salário (art. 7°, VIII); o repouso semanal remu-
devidamente publicada em diário oficial. nerado (art. 7°, XV); o salário-família (art. 7°, XII; o de férias
anuais (art. 7°, XVII); o de licença à gestante (art. 7°, XVIII) e
( ) CERTO ( ) ERRADO outros mencionados no dispositivo constitucional. [...] Além
disso, há vários direitos de natureza social relacionados nos
Resposta: Errado. Nos termos do artigo 7º, Lei nº diversos estatutos funcionais das pessoas federativas. É nas
8.112/1990: “A investidura em cargo público ocorrerá com leis estatutárias que se encontram tais direitos, como o direi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a posse”. to às licenças, à pensão, aos auxílios pecuniários, como o au-


xílio-funeral e o auxílio-reclusão, à assistência, à saúde etc.”
2. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA –
CESPE – 2018) Julgue o seguinte item de acordo com as dis- CAPÍTULO I
posições constitucionais e legais acerca dos agentes públicos. DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO
A reversão constitui a reinvestidura do servidor estável no
cargo anteriormente ocupado, e ocorre quando é invalida- Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo
da a demissão do servidor por decisão judicial ou adminis- exercício de cargo público, com valor fixado em lei.
trativa. Nesse caso, o servidor deve ser ressarcido de todas Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efe-
as vantagens que deixou de perceber durante o período tivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes
demissório. estabelecidas em lei.
( ) CERTO ( ) ERRADO 59 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

79
§ 1° A remuneração do servidor investido em função ou Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos
cargo em comissão será paga na forma prevista no art. Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legis-
62. lativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centé-
Cargo em comissão é o cargo de confiança, que não simos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Mi-
exige concurso público. Ver art. 62 adiante. nistros do Supremo Tri-bunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
§ 2° O servidor investido em cargo em comissão de ór- Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”.
gão ou entidade diversa da de sua lotação receberá a
remuneração de acordo com o estabelecido no § 1º do Art. 44. O servidor perderá:
art. 93. I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem
motivo justificado;
O funcionário é servidor público, mas foi concursado II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos
para cargo diverso, em outro órgão ou entidade, sendo no- atrasos, ausências justificadas, ressalvadas as conces-
meado para outro cargo, que é de comissão. sões de que trata o art. 97, e saídas antecipadas, sal-
vo na hipótese de compensação de horário, até o mês
§ 3° O vencimento do cargo efetivo, acrescido das vanta- subsequente ao da ocorrência, a ser estabelecida pela
gens de caráter permanente, é irredutível. chefia imediata.
Parágrafo único. As faltas justificadas decorrentes de
Irredutibilidade de vencimentos: não podem ser dimi- caso fortuito ou de força maior poderão ser compensa-
nuídos. das a critério da chefia imediata, sendo assim conside-
radas como efetivo exercício.
§ 4º É assegurada a isonomia de vencimentos para car-
gos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Somente não geram perda de remuneração as faltas
Poder, ou entre servidores dos três Poderes, ressalvadas justificadas e devidamente compensadas.
as vantagens de caráter individual e as relativas à natu-
reza ou ao local de trabalho. Art. 45. Salvo por imposição legal, ou mandado judi-
cial, nenhum desconto incidirá sobre a remuneração ou
Mesmo cargo ou semelhante = mesmo vencimento. provento.
§ 1º Mediante autorização do servidor, poderá haver
§ 5° Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao consignação em folha de pagamento em favor de ter-
salário mínimo. ceiros, a critério da administração e com reposição de
custos, na forma definida em regulamento.
Direito ao salário mínimo. § 2º O total de consignações facultativas de que trata
o § 1º não excederá a 35% (trinta e cinco por cento)
Art. 42. Nenhum servidor poderá perceber, mensalmen- da remuneração mensal, sendo 5% (cinco por cento)
te, a título de remuneração, importância superior à soma reservados exclusivamente para: I - a amortização de
dos valores percebidos como remuneração, em espécie, a despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou
qualquer título, no âmbito dos respectivos Poderes, pelos II - a utilização com a finalidade de saque por meio do
Ministros de Estado, por membros do Congresso Nacional cartão de crédito.
e Ministros do Supremo Tribunal Federal. Para descontos em folha, é preciso ordem judicial ou
Parágrafo único. Excluem-se do teto de remuneração as autorização do servidor.
vantagens previstas nos incisos II a VII do art. 61. Art. 46. As reposições e indenizações ao erário, atuali-
zadas até 30 de junho de 1994, serão previamente co-
Estabelece o teto de remuneração, ou seja, o máximo municadas ao servidor ativo, aposentado ou ao pensio-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

que um funcionário pode receber. Neste sentido, o art. 37, nista, para pagamento, no prazo máximo de trinta dias,
XI, CF: “XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de podendo ser parceladas, a pedido do interessado.
cargos, funções e empregos públicos da administração di- § 1° O valor de cada parcela não poderá ser inferior ao
reta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer correspondente a dez por cento da remuneração, pro-
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e vento ou pensão.
dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos § 2° Quando o pagamento indevido houver ocorrido no
demais agentes políticos e os proventos, pensões ou ou- mês anterior ao do processamento da folha, a reposição
tra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou será feita imediatamente, em uma única parcela.
não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra § 3° Na hipótese de valores recebidos em decorrência de
natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em es- cumprimento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a
pécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplican- sentença que venha a ser revogada ou rescindida, serão
do-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, eles atualizados até a data da reposição.
e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do

80
Art. 47. O servidor em débito com o erário, que for de- SUBSEÇÃO I
mitido, exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou DA AJUDA DE CUSTO
disponibilidade cassada, terá o prazo de sessenta dias
para quitar o débito. Art. 53. A ajuda de custo destina-se a compensar as des-
Parágrafo único. A não quitação do débito no prazo pesas de instalação do servidor que, no interesse do ser-
previsto implicará sua inscrição em dívida ativa. viço, passar a ter exercício em nova sede, com mudança
de domicílio em caráter permanente, vedado o duplo
Débito com o erário = dívida com o Estado. pagamento de indenização, a qualquer tempo, no caso
de o cônjuge ou companheiro que detenha também a
Art. 48. O vencimento, a remuneração e o provento não condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede.
serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto § 1º Correm por conta da administração as despesas de
nos casos de prestação de alimentos resultante de de- transporte do servidor e de sua família, compreendendo
cisão judicial. passagem, bagagem e bens pessoais.
§ 2º À família do servidor que falecer na nova sede são
assegurados ajuda de custo e transporte para a locali-
CAPÍTULO II
dade de origem, dentro do prazo de 1 (um) ano, contado
DAS VANTAGENS
do óbito.
§ 3º Não será concedida ajuda de custo nas hipóteses de
Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao ser-
remoção previstas nos incisos II e III do parágrafo único
vidor as seguintes vantagens: do art. 36.
I - indenizações; Art. 54. A ajuda de custo é calculada sobre a remunera-
II - gratificações; ção do servidor, conforme se dispuser em regulamento,
III - adicionais. não podendo exceder a importância correspondente a 3
§ 1° As indenizações não se incorporam ao vencimento (três) meses.
ou provento para qualquer efeito. Art. 55. Não será concedida ajuda de custo ao servidor
§ 2° As gratificações e os adicionais incorporam-se ao que se afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de
vencimento ou provento, nos casos e condições indica- mandato eletivo.
dos em lei. Art. 56. Será concedida ajuda de custo àquele que, não
Art. 50. As vantagens pecuniárias não serão compu- sendo servidor da União, for nomeado para cargo em
tadas, nem acumuladas, para efeito de concessão de comissão, com mudança de domicílio.
quaisquer outros acréscimos pecuniários ulteriores, sob Parágrafo único. No afastamento previsto no inciso I do
o mesmo título ou idêntico fundamento. art. 93, a ajuda de custo será paga pelo órgão cessioná-
rio, quando cabível.
De acordo com Hely Lopes Meirelles60, “o que caracte- Art. 57. O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de
riza o adicional e o distingue da gratificação é ser aquele custo quando, injustificadamente, não se apresentar na
que recompensa ao tempo de serviço do servidor, ou uma nova sede no prazo de 30 (trinta) dias.
retribuição pelo desempenho de funções especiais que fo-
gem da rotina burocrática, e esta, uma compensação por SUBSEÇÃO II
serviços comuns executados em condições anormais para DAS DIÁRIAS
o servidor, ou uma ajuda pessoal em face de certas situa-
ções que agravam o orçamento do servidor”. Art. 58. O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em
caráter eventual ou transitório para outro ponto do ter-
SEÇÃO I ritório nacional ou para o exterior, fará jus a passagens
e diárias destinadas a indenizar as parcelas de despesas
DAS INDENIZAÇÕES
extraordinária com pousada, alimentação e locomoção
urbana, conforme dispuser em regulamento.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 51. Constituem indenizações ao servidor:


§ 1° A diária será concedida por dia de afastamento,
I - ajuda de custo;
sendo devida pela metade quando o deslocamento não
II - diárias; exigir pernoite fora da sede, ou quando a União custear,
III - transporte. por meio diverso, as despesas extraordinárias cobertas
IV - auxílio-moradia. por diárias.
A leitura da legislação seca permite conceituar e dife- § 2° Nos casos em que o deslocamento da sede constituir
renciar cada modalidade de indenização. exigência permanente do cargo, o servidor não fará jus
Art. 52. Os valores das indenizações estabelecidas nos a diárias.
incisos I a III do art. 51, assim como as condições para § 3° Também não fará jus a diárias o servidor que se des-
a sua concessão, serão estabelecidos em regulamento. locar dentro da mesma região metropolitana, aglome-
ração urbana ou microrregião, constituídas por municí-
60 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo: pios limítrofes e regularmente instituídas, ou em áreas
Malheiros, 1993. de controle integrado mantidas com países limítrofes,

81
cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006.
servidores brasileiros considera-se estendida, salvo se Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será con-
houver pernoite fora da sede, hipóteses em que as diá- siderado o prazo no qual o servidor estava ocupando
rias pagas serão sempre as fixadas para os afastamentos outro cargo em comissão relacionado no inciso V.
dentro do território nacional. Art. 60-C. (Revogado).
Art. 59. O servidor que receber diárias e não se afastar Art. 60-D. O valor mensal do auxílio-moradia é limitado
da sede, por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las a 25% (vinte e cinco por cento) do valor do cargo em
integralmente, no prazo de 5 (cinco) dias. comissão, função comissionada ou cargo de Ministro de
Parágrafo único. Na hipótese de o servidor retornar à Estado ocupado.
sede em prazo menor do que o previsto para o seu afas- § 1º O valor do auxílio-moradia não poderá superar
tamento, restituirá as diárias recebidas em excesso, no 25% (vinte e cinco por cento) da remuneração de Minis-
prazo previsto no caput. tro de Estado.
§ 2º Independentemente do valor do cargo em comissão
SUBSEÇÃO III
ou função comissionada, fica garantido a todos os que
DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE
preencherem os requisitos o ressarcimento até o valor de
R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais).
Art. 60. Conceder-se-á indenização de transporte ao ser-
vidor que realizar despesas com a utilização de meio Art. 60-E. No caso de falecimento, exoneração, colo-
próprio de locomoção para a execução de serviços ex- cação de imóvel funcional à disposição do servidor ou
ternos, por força das atribuições próprias do cargo, con- aquisição de imóvel, o auxílio-moradia continuará sen-
forme se dispuser em regulamento. do pago por um mês.

SUBSEÇÃO IV A subseção IV trabalha com o auxílio-moradia, benefício


DO AUXÍLIO-MORADIA que é concedido a alguns servidores. Ele serve para ajudar
o servidor a arcar com despesas de moradia, seja locando
Art. 60-A. O auxílio-moradia consiste no ressarcimento um imóvel, seja ficando em hotéis. O auxílio é pago 1 mês
das despesas comprovadamente realizadas pelo servidor depois que o servidor comprovar a despesa que teve. No
com aluguel de moradia ou com meio de hospedagem entanto, não é qualquer servidor e não é em qualquer si-
administrado por empresa hoteleira, no prazo de um tuação que se tem o auxílio-moradia.
mês após a comprovação da despesa pelo servidor. Nos termos do artigo 60-B, são colacionadas restrições:
Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se não haver disponibilidade de imóvel funcional (algum imó-
atendidos os seguintes requisitos: vel do poder público com tal finalidade de moradia, dis-
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo pensando gastos particulares), não se ter tentado vender
servidor; ou vendido um imóvel na cidade (evitando que tente uti-
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe lizar o auxílio-moradia como um modo de se obter vanta-
imóvel funcional; gem patrimonial), um cônjuge ou pessoa com quem more
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja não receber auxílio da mesma natureza (cumulando inde-
ou tenha sido proprietário, promitente comprador, ces- vidamente), além do exercício de cargos de determinada
sionário ou promitente cessionário de imóvel no Municí- natureza (perceba-se, cargos de relevante direção).
pio aonde for exercer o cargo, incluída a hipótese de lote O auxílio-moradia é pago proporcionalmente aos ven-
edificado sem averbação de construção, nos doze meses
cimentos, não excedendo 25%. Destaca-se que o artigo
que antecederem a sua nomeação;
60-C está revogado desde 2013.
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor
receba auxílio-moradia;
V - o servidor tenha se mudado do local de residência
SEÇÃO II
para ocupar cargo em comissão ou função de confiança DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS,


níveis 4, 5 e 6, de Natureza Especial, de Ministro de Es- Art. 61. Além do vencimento e das vantagens previstas
tado ou equivalentes; nesta Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes re-
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão tribuições, gratificações e adicionais:
ou função de confiança não se enquadre nas hipóteses I - retribuição pelo exercício de função de direção, chefia
do art. 58, § 3º, em relação ao local de residência ou e assessoramento;
domicílio do servidor; II - gratificação natalina;
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha re- IV - adicional pelo exercício de atividades insalubres, pe-
sidido no Município, nos últimos doze meses, aonde for rigosas ou penosas;
exercer o cargo em comissão ou função de confiança, V - adicional pela prestação de serviço extraordinário;
desconsiderando-se prazo inferior a sessenta dias dentro VI - adicional noturno;
desse período; e VII - adicional de férias;
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de altera- VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do traba-
ção de lotação ou nomeação para cargo efetivo. lho.

82
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso. Art. 69. Haverá permanente controle da atividade de ser-
vidores em operações ou locais considerados penosos, in-
GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS DESCRITOS EM salubres ou perigosos.
DETALHES NA PRÓPRIA LEGISLAÇÃO, CONFORME Parágrafo único. A servidora gestante ou lactante será
SE DENOTA ABAIXO. afastada, enquanto durar a gestação e a lactação, das
operações e locais previstos neste artigo, exercendo suas
SUBSEÇÃO I atividades em local salubre e em serviço não penoso e
DA RETRIBUIÇÃO PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO não perigoso.
DE DIREÇÃO, CHEFIA E ASSESSORAMENTO Art. 70. Na concessão dos adicionais de atividades peno-
sas, de insalubridade e de periculosidade, serão observa-
Art. 62. Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido das as situações estabelecidas em legislação específica.
em função de direção, chefia ou assessoramento, cargo Art. 71. O adicional de atividade penosa será devido aos
de provimento em comissão ou de Natureza Especial é servidores em exercício em zonas de fronteira ou em loca-
devida retribuição pelo seu exercício. lidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos,
Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remune- condições e limites fixados em regulamento.
Art. 72. Os locais de trabalho e os servidores que operam
ração dos cargos em comissão de que trata o inciso II
com Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos
do art. 9º.
sob controle permanente, de modo que as doses de radia-
Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal No-
ção ionizante não ultrapassem o nível máximo previsto
minalmente Identificada - VPNI a incorporação da re-
na legislação própria.
tribuição pelo exercício de função de direção, chefia ou Parágrafo único. Os servidores a que se refere este artigo
assessoramento, cargo de provimento em comissão ou serão submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses.
de Natureza Especial a que se referem os arts. 3º e 10
da Lei no 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da Lei SUBSEÇÃO V
no9.624, de 2 de abril de 1998. DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO
Parágrafo único. A VPNI de que trata o caput deste arti-
go somente estará sujeita às revisões gerais de remune- Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com
ração dos servidores públicos federais. acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à
hora normal de trabalho.
SUBSEÇÃO II Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário
DA GRATIFICAÇÃO NATALINA para atender a situações excepcionais e temporárias,
respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jor-
Art. 63. A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um nada.
doze avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no
mês de dezembro, por mês de exercício no respectivo ano. SUBSEÇÃO VI
Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) DO ADICIONAL NOTURNO
dias será considerada como mês integral.
Art. 64. A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do Art. 75. O serviço noturno, prestado em horário com-
mês de dezembro de cada ano. preendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5
Art. 65. O servidor exonerado perceberá sua gratifica- (cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido
ção natalina, proporcionalmente aos meses de exercício, de 25% (vinte e cinco por cento), computando-se cada
calculada sobre a remuneração do mês da exoneração. hora como cinquenta e dois minutos e trinta segundos.
Art. 66. A gratificação natalina não será considerada Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordiná-
rio, o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a
para cálculo de qualquer vantagem pecuniária.
remuneração prevista no art. 73.
SUBSEÇÃO IV
SUBSEÇÃO VII
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, PERICU- DO ADICIONAL DE FÉRIAS


LOSIDADE OU ATIVIDADES PENOSAS
Art. 76. Independentemente de solicitação, será pago ao
Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualida- servidor, por ocasião das férias, um adicional correspon-
de em locais insalubres ou em contato permanente com dente a 1/3 (um terço) da remuneração do período das
substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, férias.
fazem jus a um adicional sobre o vencimento do cargo Parágrafo único. No caso de o servidor exercer função
efetivo. de direção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo
§ 1° O servidor que fizer jus aos adicionais de insalubri- em comissão, a respectiva vantagem será considerada no
dade e de periculosidade deverá optar por um deles. cálculo do adicional de que trata este artigo.
§ 2° O direito ao adicional de insalubridade ou periculosi-
dade cessa com a eliminação das condições ou dos riscos
que deram causa a sua concessão.

83
SUBSEÇÃO VIII CAPÍTULO III
DA GRATIFICAÇÃO POR ENCARGO DE CURSO OU DAS FÉRIAS
CONCURSO
Art. 77. O servidor fará jus a trinta dias de férias, que po-
Art. 76-A. A Gratificação por Encargo de Curso ou Con- dem ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no
curso é devida ao servidor que, em caráter eventual: caso de necessidade do serviço, ressalvadas as hipóteses
I - atuar como instrutor em curso de formação, de desen- em que haja legislação específica.
volvimento ou de treinamento regularmente instituído no § 1° Para o primeiro período aquisitivo de férias serão
âmbito da administração pública federal; exigidos 12 (doze) meses de exercício.
II - participar de banca examinadora ou de comissão § 2° É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao
para exames orais, para análise curricular, para corre- serviço.
ção de provas discursivas, para elaboração de questões § 3° As férias poderão ser parceladas em até três etapas,
de provas ou para julgamento de recursos intentados por desde que assim requeridas pelo servidor, e no interesse
candidatos; da administração pública.
III - participar da logística de preparação e de realização É possível impedir que o servidor tire férias por até 2
de concurso público envolvendo atividades de planeja- períodos se o seu serviço for altamente necessário.
mento, coordenação, supervisão, execução e avaliação de Art. 78. O pagamento da remuneração das férias será
resultado, quando tais atividades não estiverem incluídas efetuado até 2 (dois) dias antes do início do respectivo
entre as suas atribuições permanentes; período, observando-se o disposto no § 1º deste artigo.
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de §1° e §2°. Revogados.
exame vestibular ou de concurso público ou supervisionar § 3° O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em co-
essas atividades. missão, perceberá indenização relativa ao período das
§ 1º Os critérios de concessão e os limites da gratificação férias a que tiver direito e ao incompleto, na proporção
de que trata este artigo serão fixados em regulamento, de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou fração
observados os seguintes parâmetros:
superior a quatorze dias.
I - o valor da gratificação será calculado em horas, obser-
§ 4° A indenização será calculada com base na remune-
vadas a natureza e a complexidade da atividade exercida;
ração do mês em que for publicado o ato exoneratório.
II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a
§ 5° Em caso de parcelamento, o servidor receberá o va-
120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada
lor adicional previsto no inciso XVII do art. 7º da Consti-
situação de excepcionalidade, devidamente justificada e
tuição Federal quando da utilização do primeiro período.
previamente aprovada pela autoridade máxima do órgão
Art. 79. O servidor que opera direta e permanentemente
ou entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120
(cento e vinte) horas de trabalho anuais; com Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vin-
III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá te) dias consecutivos de férias, por semestre de atividade
aos seguintes percentuais, incidentes sobre o maior venci- profissional, proibida em qualquer hipótese a acumu-
mento básico da administração pública federal: lação.
a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se Manutenção da saúde do servidor.
tratando de atividades previstas nos incisos I e II do caput Art. 80. As férias somente poderão ser interrompidas por
deste artigo; motivo de calamidade pública, comoção interna, convo-
b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tra- cação para júri, serviço militar ou eleitoral, ou por neces-
tando de atividade prevista nos incisos III e IV do caput sidade do serviço declarada pela autoridade máxima do
deste artigo. órgão ou entidade.
§ 2° A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso Parágrafo único. O restante do período interrompido será
somente será paga se as atividades referidas nos incisos gozado de uma só vez, observado o disposto no art. 77.
do caput deste artigo forem exercidas sem prejuízo das
atribuições do cargo de que o servidor for titular, deven- O direito individual às férias pode ser mitigado pelo direi-
to da coletividade de manutenção da paz e da ordem social.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

do ser objeto de compensação de carga horária quando


desempenhadas durante a jornada de trabalho, na forma
do § 4ºdo art. 98 desta Lei.
§ 3º A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso
não se incorpora ao vencimento ou salário do servidor
para qualquer efeito e não poderá ser utilizada como
base de cálculo para quaisquer outras vantagens, inclusi-
ve para fins de cálculo dos proventos da aposentadoria
e das pensões.

84
§ 1° A licença somente será deferida se a assistência di-
#FicaDica reta do servidor for indispensável e não puder ser pres-
tada simultaneamente com o exercício do cargo ou me-
Vantagens: diante compensação de horário, na forma do disposto
- Indenizações (não se incorporam) no inciso II do art. 44.
Ajuda de custo § 2° A licença de que trata o caput, incluídas as prorro-
Diárias
gações, poderá ser concedida a cada período de doze
Transporte
meses nas seguintes condições:
Auxílio-moradia
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, man-
- Gratificações (podem se incorporar)
tida a remuneração do servidor; e
Por direção, chefia e assessoramento
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem
Natalina
remuneração.
Por Encargo, de curso ou concurso (não se in-
§ 3° O início do interstício de 12 (doze) meses será con-
corpora)
- Adicionais (podem se incorporar) tado a partir da data do deferimento da primeira licença
Insalubridade concedida.
Periculosidade § 4° A soma das licenças remuneradas e das licenças
Atividades penosas não remuneradas, incluídas as respectivas prorrogações,
Serviço extraordinário concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses,
Noturno observado o disposto no § 3º, não poderá ultrapassar os
De férias limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2°.
Relativo à natureza ou local de trabalho
SEÇÃO III
DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO
CAPÍTULO IV CÔNJUGE
DAS LICENÇAS
SEÇÃO I Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para
DISPOSIÇÕES GERAIS acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado
para outro ponto do território nacional, para o exterior
Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: ou para o exercício de mandato eletivo dos Poderes Exe-
I - por motivo de doença em pessoa da família; cutivo e Legislativo.
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; § 1° A licença será por prazo indeterminado e sem re-
III - para o serviço militar; muneração.
IV - para atividade política; § 2° No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou com-
V - para capacitação; panheiro também seja servidor público, civil ou militar, de
VI - para tratar de interesses particulares; qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
VII - para desempenho de mandato classista. Federal e dos Municípios, poderá haver exercício provisório
Atenção aos motivos que autorizam licença, detalhados em órgão ou entidade da Administração Federal direta,
a seguir na legislação. autárquica ou fundacional, desde que para o exercício de
§ 1° A licença prevista no inciso I do caput deste artigo atividade compatível com o seu cargo.
bem como cada uma de suas prorrogações serão prece-
didas de exame por perícia médica oficial, observado o
SEÇÃO IV
disposto no art. 204 desta Lei.
DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR
§ 2° (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 3° É vedado o exercício de atividade remunerada durante
o período da licença prevista no inciso I deste artigo. Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar
será concedida licença, na forma e condições previstas
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 82. A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias


do término de outra da mesma espécie será considerada na legislação específica.
como prorrogação. Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor
terá até 30 (trinta) dias sem remuneração para reassu-
SEÇÃO II mir o exercício do cargo.
DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PES-
SOA DA FAMÍLIA SEÇÃO V
DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por
motivo de doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remunera-
dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou de- ção, durante o período que mediar entre a sua escolha
pendente que viva a suas expensas e conste do seu as- em convenção partidária, como candidato a cargo ele-
sentamento funcional, mediante comprovação por perí- tivo, e a véspera do registro de sua candidatura perante
cia médica oficial. a Justiça Eleitoral.

85
§ 1° O servidor candidato a cargo eletivo na localidade § 1º Somente poderão ser licenciados os servidores
onde desempenha suas funções e que exerça cargo de eleitos para cargos de direção ou de representação nas
direção, chefia, assessoramento, arrecadação ou fiscali- referidas entidades, desde que cadastradas no órgão
zação, dele será afastado, a partir do dia imediato ao do competente.
registro de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral, § 2º A licença terá duração igual à do mandato, poden-
até o décimo dia seguinte ao do pleito. do ser renovada, no caso de reeleição.
§ 2° A partir do registro da candidatura e até o décimo
dia seguinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença,
assegurados os vencimentos do cargo efetivo, somente #FicaDica
pelo período de três meses. - Licença por Motivo de Doença em Pessoa da
Família – justifica-se por problema de saúde
SEÇÃO VI com um familiar próximo ou dependente legal.
DA LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO Remunerada.
- Licença por Motivo de Afastamento do Côn-
Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o juge – justifica-se por mudança do cônjuge de
servidor poderá, no interesse da Administração, afastar- um servidor público de cidade ou país. Não re-
-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva re- munerada.
muneração, por até três meses, para participar de curso - Licença para o Serviço Militar – justifica-se
de capacitação profissional. para o caso de convocação do servidor para o
Parágrafo único. Os períodos de licença de que trata o serviço militar. Não remunerada.
caput não são acumuláveis. - Licença para Atividade Política – justifica-se
Art. 90. (Vetado) para o caso de servidor candidato a cargo po-
lítico eletivo, sendo obrigatório entre o dia da
SEÇÃO VII candidatura e dez dias após as eleições. Não
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES PAR- remunerada.
TICULARES - Licença para Capacitação – justifica-se para o
aperfeiçoamento profissional do servidor. Re-
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser conce- munerada.
didas ao servidor ocupante de cargo efetivo, desde que - Licença Para Tratar Interesses Particulares –
não esteja em estágio probatório, licenças para o tra- dispensa justificativa, basta a vontade do ser-
to de assuntos particulares pelo prazo de até três anos vidor. Não remunerada.
- Licença para Desempenho de Mandato Clas-
consecutivos, sem remuneração.
sista – justifica-se para o caso de convocação
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a
do servidor como responsável por gerir ou re-
qualquer tempo, a pedido do servidor ou no interesse
presentar em tempo integral entidade de clas-
do serviço. se. Não remunerada.
- Licença para Tratamento de Saúde – justifica-
SEÇÃO VIII -se por doença do servidor, sendo necessário
DA LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDA- o afastamento para tratamento. Remunerada.
TO CLASSISTA - Licença-Gestante ou Adotante – justifica-se
por maternidade, biológica ou adotada. Remu-
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem nerada.
remuneração para o desempenho de mandato em con- - Licença-Paternidade – justifica-se por pater-
federação, federação, associação de classe de âmbito na- nidade, biológica ou adotada. Remunerada.
cional, sindicato representativo da categoria ou entidade
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

fiscalizadora da profissão ou, ainda, para participar de


gerência ou administração em sociedade cooperativa
CAPÍTULO V
constituída por servidores públicos para prestar serviços DOS AFASTAMENTOS
a seus membros, observado o disposto na alínea c do SEÇÃO I
inciso VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓR-
regulamento e observados os seguintes limites: GÃO OU ENTIDADE
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados,
2 (dois) servidores; Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 em outro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos
(trinta mil) associados, 4 (quatro) servidores; Estados, do Distrito Federal, dos Municípios ou em ser-
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) as- viço social autônomo instituído pela União que exerça
sociados, 8 (oito) servidores. atividades de cooperação com a administração pública
federal, nas seguintes hipóteses:

86
I - para exercício de cargo em comissão ou função de § 1° No caso de afastamento do cargo, o servidor con-
confiança; tribuirá para a seguridade social como se em exercício
II - em casos previstos em leis específicas. estivesse.
§ 1º Na hipótese do inciso I, sendo a cessão para ór- § 2° O servidor investido em mandato eletivo ou classista
gãos ou entidades dos Estados, do Distrito Federal ou não poderá ser removido ou redistribuído de ofício para
dos Municípios, o ônus da remuneração será do órgão localidade diversa daquela onde exerce o mandato.
ou entidade cessionária, mantido o ônus para o cedente
nos demais casos. SEÇÃO III
§ 2º Na hipótese de o servidor cedido a empresa pú- DO AFASTAMENTO PARA ESTUDO OU MISSÃO NO
blica ou sociedade de economia mista, nos termos das EXTERIOR
respectivas normas, optar pela remuneração do cargo
efetivo ou pela remuneração do cargo efetivo acrescida Art. 95. O servidor não poderá ausentar-se do País para
de percentual da retribuição do cargo em comissão, a estudo ou missão oficial, sem autorização do Presidente
entidade cessionária efetuará o reembolso das despesas da República, Presidente dos Órgãos do Poder Legislati-
realizadas pelo órgão ou entidade de origem. vo e Presidente do Supremo Tribunal Federal.
§ 3° A cessão far-se-á mediante Portaria publicada no § 1º A ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda
Diário Oficial da União. a missão ou estudo, somente decorrido igual período,
§ 4° Mediante autorização expressa do Presidente da Re- será permitida nova ausência.
pública, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercí- § 2º Ao servidor beneficiado pelo disposto neste artigo
cio em outro órgão da Administração Federal direta que não será concedida exoneração ou licença para tratar de
não tenha quadro próprio de pessoal, para fim determi- interesse particular antes de decorrido período igual ao
nado e a prazo certo. do afastamento, ressalvada a hipótese de ressarcimento
§ 5° Aplica-se à União, em se tratando de empregado da despesa havida com seu afastamento.
ou servidor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º § 3º O disposto neste artigo não se aplica aos servidores
e 2º deste artigo. da carreira diplomática.
§ 6° As cessões de empregados de empresa pública ou § 4º As hipóteses, condições e formas para a autorização
de sociedade de economia mista, que receba recursos de de que trata este artigo, inclusive no que se refere à remu-
Tesouro Nacional para o custeio total ou parcial da sua neração do servidor, serão disciplinadas em regulamento.
folha de pagamento de pessoal, independem das dispo- Art. 96. O afastamento de servidor para servir em orga-
sições contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º deste artigo, nismo internacional de que o Brasil participe ou com o
ficando o exercício do empregado cedido condicionado qual coopere dar-se-á com perda total da remuneração.
a autorização específica do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão, exceto nos casos de ocupação de SEÇÃO IV
cargo em comissão ou função gratificada. DO AFASTAMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM
§ 7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO
SENSU NO PAÍS
com a finalidade de promover a composição da força
de trabalho dos órgãos e entidades da Administração
Art. 96-A. O servidor poderá, no interesse da Adminis-
Pública Federal, poderá determinar a lotação ou o exer-
tração, e desde que a participação não possa ocorrer si-
cício de empregado ou servidor, independentemente da
multaneamente com o exercício do cargo ou mediante
observância do constante no inciso I e nos §§ 1° e 2°
compensação de horário, afastar-se do exercício do cargo
deste artigo.
efetivo, com a respectiva remuneração, para participar
em programa de pós-graduação stricto sensu em institui-
SEÇÃO II
ção de ensino superior no País.
DO AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO DE MANDA-
§ 1° Ato do dirigente máximo do órgão ou entidade defi-
TO ELETIVO
nirá, em conformidade com a legislação vigente, os pro-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

gramas de capacitação e os critérios para participação


Art. 94. Ao servidor investido em mandato eletivo apli-
em programas de pós-graduação no País, com ou sem
cam-se as seguintes disposições:
afastamento do servidor, que serão avaliados por um co-
I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital,
mitê constituído para este fim.
ficará afastado do cargo;
§ 2° Os afastamentos para realização de programas de
II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
mestrado e doutorado somente serão concedidos aos ser-
cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
vidores titulares de cargos efetivos no respectivo órgão ou
III - investido no mandato de vereador:
entidade há pelo menos 3 (três) anos para mestrado e 4
a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as
(quatro) anos para doutorado, incluído o período de es-
vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração
tágio probatório, que não tenham se afastado por licença
do cargo eletivo;
para tratar de assuntos particulares para gozo de licença
b) não havendo compatibilidade de horário, será afas-
capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois)
tado do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua re-
anos anteriores à data da solicitação de afastamento.
muneração.

87
§ 3° Os afastamentos para realização de programas de Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no
pós-doutorado somente serão concedidos aos servidores interesse da administração é assegurada, na localidade
titulares de cargos efetivo no respectivo órgão ou enti- da nova residência ou na mais próxima, matrícula em ins-
dade há pelo menos quatro anos, incluído o período de tituição de ensino congênere, em qualquer época, inde-
estágio probatório, e que não tenham se afastado por pendentemente de vaga.
licença para tratar de assuntos particulares ou com fun- Parágrafo único. O disposto neste artigo estende-se ao
damento neste artigo, nos quatro anos anteriores à data cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servi-
da solicitação de afastamento. dor que vivam na sua companhia, bem como aos menores
§ 4° Os servidores beneficiados pelos afastamentos pre- sob sua guarda, com autorização judicial.
vistos nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo terão que permane-
cer no exercício de suas funções após o seu retorno por CAPÍTULO VII
um período igual ao do afastamento concedido. DO TEMPO DE SERVIÇO
§ 5° Caso o servidor venha a solicitar exoneração do cargo ou
aposentadoria, antes de cumprido o período de permanência Art. 100. É contado para todos os efeitos o tempo de servi-
previsto no § 4º deste artigo, deverá ressarcir o órgão ou enti- ço público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas.
dade, na forma do art. 47 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro Art. 101. A apuração do tempo de serviço será feita em
de 1990, dos gastos com seu aperfeiçoamento. dias, que serão convertidos em anos, considerado o
§ 6° Caso o servidor não obtenha o título ou grau que ano como de trezentos e sessenta e cinco dias.
justificou seu afastamento no período previsto, aplica-se Art. 102. Além das ausências ao serviço previstas no art.
o disposto no § 5º deste artigo, salvo na hipótese com- 97, são considerados como de efetivo exercício os afasta-
provada de força maior ou de caso fortuito, a critério do mentos em virtude de:
dirigente máximo do órgão ou entidade. I - férias;
§ 7° Aplica-se à participação em programa de pós-gra- II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em
duação no Exterior, autorizado nos termos do art. 95 des- órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados,
ta Lei, o disposto nos §§ 1º a 6º deste artigo. Municípios e Distrito Federal;
III - exercício de cargo ou função de governo ou admi-
CAPÍTULO VI nistração, em qualquer parte do território nacional, por
DAS CONCESSÕES nomeação do Presidente da República;
IV - participação em programa de treinamento regular-
Art. 97. Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausen- mente instituído ou em programa de pós-graduação stric-
tar-se do serviço: to sensu no País, conforme dispuser o regulamento;
I - por 1 (um) dia, para doação de sangue; V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual,
II - pelo período comprovadamente necessário para municipal ou do Distrito Federal, exceto para promoção
alistamento ou recadastramento eleitoral, limitado, em por merecimento;
qualquer caso, a dois dias; e (Redação dada pela Medida VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei;
Provisória nº 632, de 2013) VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o
III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de : afastamento, conforme dispuser o regulamento;
a) casamento; VIII - licença:
b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta a) à gestante, à adotante e à paternidade;
ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tu- b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte
tela e irmãos. e quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de ser-
Art. 98. Será concedido horário especial ao servidor estu- viço público prestado à União, em cargo de provimento
dante, quando comprovada a incompatibilidade entre o efetivo;
horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do exer- c) para o desempenho de mandato classista ou partici-
cício do cargo. pação de gerência ou administração em sociedade coo-
§ 1º Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a perativa constituída por servidores para prestar serviços
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

compensação de horário no órgão ou entidade que tiver a seus membros, exceto para efeito de promoção por
exercício, respeitada a duração semanal do trabalho. merecimento;
§ 2º Também será concedido horário especial ao servidor
d) por motivo de acidente em serviço ou doença profis-
portador de deficiência, quando comprovada a neces-
sional;
sidade por junta médica oficial, independentemente de
e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento;
compensação de horário.
f) por convocação para o serviço militar;
§ 3º As disposições constantes do § 2º são extensivas
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18;
ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
X - participação em competição desportiva nacional ou
deficiência.
convocação para integrar representação desportiva na-
§ 4° Será igualmente concedido horário especial, vincu-
cional, no País ou no exterior, conforme disposto em lei
lado à compensação de horário a ser efetivada no prazo
específica;
de até 1 (um) ano, ao servidor que desempenhe atividade
XI - afastamento para servir em organismo internacio-
prevista nos incisos I e II do caput do art. 76-A desta Lei.
nal de que o Brasil participe ou com o qual coopere.

88
Art. 103. Contar-se-á apenas para efeito de aposenta- Art. 109. O recurso poderá ser recebido com efeito sus-
doria e disponibilidade: pensivo, a juízo da autoridade competente.
I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Mu- Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de
nicípios e Distrito Federal; reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão re-
II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da troagirão à data do ato impugnado.
família do servidor, com remuneração, que exceder a 30 Art. 110. O direito de requerer prescreve:
(trinta) dias em período de 12 (doze) meses. I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de
III - a licença para atividade política, no caso do art. cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que
86, § 2º; afetem interesse patrimonial e créditos resultantes das
IV - o tempo correspondente ao desempenho de man- relações de trabalho;
dato eletivo federal, estadual, municipal ou distrital, an- II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
terior ao ingresso no serviço público federal; quando outro prazo for fixado em lei.
V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da
à Previdência Social; data da publicação do ato impugnado ou da data da
VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra; ciência pelo interessado, quando o ato não for publicado.
VII - o tempo de licença para tratamento da própria Art. 111. O pedido de reconsideração e o recurso, quan-
saúde que exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do cabíveis, interrompem a prescrição.
do inciso VIII do art. 102. Art. 112. A prescrição é de ordem pública, não podendo
§ 1° O tempo em que o servidor esteve aposentado será ser relevada pela administração.
contado apenas para nova aposentadoria. Art. 113. Para o exercício do direito de petição, é assegu-
§ 2° Será contado em dobro o tempo de serviço prestado rada vista do processo ou documento, na repartição, ao
às Forças Armadas em operações de guerra. servidor ou a procurador por ele constituído.
§ 3° É vedada a contagem cumulativa de tempo de ser- Art. 114. A administração deverá rever seus atos, a qual-
viço prestado concomitantemente em mais de um cargo quer tempo, quando eivados de ilegalidade.
ou função de órgão ou entidades dos Poderes da União, Art. 115. São fatais e improrrogáveis os prazos estabele-
Estado, Distrito Federal e Município, autarquia, fundação cidos neste Capítulo, salvo motivo de força maior.
pública, sociedade de economia mista e empresa pública.
Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito de petição,
CAPÍTULO VIII assegurado a todos: “são a todos assegurados, indepen-
DO DIREITO DE PETIÇÃO dentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição
aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ile-
Art. 104. É assegurado ao servidor o direito de requerer galidade ou abuso de poder;”. Os artigos acima descrevem
aos Poderes Públicos, em defesa de direito ou interesse o direito de petição específico dos servidores públicos.
legítimo.
Art. 105. O requerimento será dirigido à autoridade
competente para decidi-lo e encaminhado por intermé-
dio daquela a que estiver imediatamente subordinado EXERCÍCIOS COMENTADOS
o requerente.
Art. 106. Cabe pedido de reconsideração à autoridade 1. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ADMI-
que houver expedido o ato ou proferido a primeira de- NISTRAÇÃO – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte, rela-
cisão, não podendo ser renovado. tivo ao regime dos servidores públicos federais e à ética no
Parágrafo único. O requerimento e o pedido de recon- serviço público.
sideração de que tratam os artigos anteriores deverão Em caso de licença por motivo de doença de enteado de
ser despachados no prazo de 5 (cinco) dias e decididos servidor público em estágio probatório, este ficará suspen-
dentro de 30 (trinta) dias. so, sendo retomado ao término do período da licença.
Art. 107. Caberá recurso:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

I - do indeferimento do pedido de reconsideração; ( ) CERTO ( ) ERRADO


II - das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
terpostos. Resposta: Certo. Observe a disciplina da Lei nº
§ 1° O recurso será dirigido à autoridade imediatamen- 8.112/1990, artigo 20, § 5º: “O estágio probatório ficará
te superior à que tiver expedido o ato ou proferido a suspenso durante as licenças e os afastamentos previstos
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às nos arts. 83, 84, § 1º, 86 e 96, bem assim na hipótese de
demais autoridades. participação em curso de formação, e será retomado a
§ 2° O recurso será encaminhado por intermédio da partir do término do impedimento”. Neste sentido, o arti-
autoridade a que estiver imediatamente subordinado o go 83 da lei regula: “Poderá ser concedida licença ao ser-
requerente. vidor por motivo de doença do cônjuge ou companheiro,
Art. 108. O prazo para interposição de pedido de recon- dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado,
sideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da ou dependente que viva a suas expensas e conste do seu
publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão assentamento funcional, mediante comprovação por pe-
recorrida. rícia médica oficial”.

89
2. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE contrário, são descritas como condutas vedadas ao servidor,
– 2018) Acerca do regime jurídico dos servidores públicos de modo que ele deve abster-se de praticá-las. Os deveres
federais, julgue o item a seguir. estão inscritos no artigo 116, não de modo exaustivo, por-
Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as se- que o servidor deve obediência a todas as normas legais ou
guintes vantagens: indenizações, gratificações e adicionais, infralegais, e o próprio inciso III do referido dispositivo é, de
incorporando-se as duas últimas ao vencimento ou pro- certa maneira, uma norma disciplinar em branco61.
vento, nas condições indicadas em lei. “Estes dispositivos preveem, basicamente, um conjunto
de normas de conduta e de proibições impostas pela lei aos
( ) CERTO ( ) ERRADO servidores por ela abrangidos, tendo em vista a prevenção,
a apuração e a possível punição de atos e omissões que
Resposta: Certo. Disciplina o artigo 49, caput e § 1º, Lei possam por em risco o funcionamento adequado da ad-
nº 8.112/1990: “Além do vencimento, poderão ser pagas ministração pública, do posto de vista ético, do ponto de
ao servidor as seguintes vantagens: I - indenizações; II - vista da eficiência e do ponto de vista da legalidade. Decor-
gratificações; III - adicionais. § 1º As indenizações não se rem, estes dispositivos, do denominado Poder Disciplinar
incorporam ao vencimento ou provento para qualquer que é aquele conferido à Administração com o objetivo de
efeito”. manter sua disciplina interna, na medida em que lhe atribui
instrumentos para punir seus servidores (e também àqueles
3. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA que estejam a ela vinculados por um instrumento jurídico
– CESPE – 2018) Acerca das regras aplicáveis aos servi- determinado - particulares contratados pela Administra-
dores públicos do Poder Judiciário, e considerando o que ção). [...]“O disposto no Título IV da lei nº 8.112/90 prevê
dispõe a Lei nº 8.112/1990 e a Lei nº 11.416/2006, julgue o basicamente um conjunto de obrigações impostas aos ser-
vidores por ela regidos. Tais obrigações, ora positivas (os
item a seguir.
denominados Deveres – art. 116), ora negativas (as denomi-
A legislação que dispõe sobre o regime estatutário prevê a
nadas Proibições – art. 117) uma vez inadimplidas ensejam
possibilidade de o servidor público, em determinadas hi-
sua imediata apuração (art. 143) e uma vez comprovadas
póteses, pedir remoção para outra localidade, independen-
importam na responsabilização administrativa, a desafiar,
temente do interesse da administração pública.
então, a aplicação de uma das sanções administrativas (art.
127). Não é por outra razão que o art. 124 declara que a res-
( ) CERTO ( ) ERRADO ponsabilidade administrativa resulta da prática de ato omis-
sivo (quando o servidor deixa de cumprir os deveres a ele
Resposta: Certo. Disciplina o artigo 36, III, Lei nº impostos) ou comissivo (quando viola proibição) praticado
8.112/1990: “Remoção é o deslocamento do servidor, a no desempenho do cargo ou função”62.
pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou
sem mudança de sede. [...] III - a pedido, para outra locali- CAPÍTULO I
dade, independentemente do interesse da Administração: DOS DEVERES
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também
servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes Art. 116. São deveres do servidor:
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
pios, que foi deslocado no interesse da Administração; b) Os deveres do servidor previstos na Lei n° 8.112/90 são
por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro em muito compatíveis com os previstos no Código de Éti-
ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu ca profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo
assentamento funcional, condicionada à comprovação Federal (Decreto n° 1.171/94). Descrevem algumas das con-
por junta médica oficial; c) em virtude de processo seletivo dutas esperadas do servidor público quando do desempe-
promovido, na hipótese em que o número de interessados nho de suas funções. Em resumo, o servidor público deve
for superior ao número de vagas, de acordo com normas desempenhar suas funções com cuidado, rapidez e pontua-
preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles lidade, sendo leal à instituição que compõe, respeitando as
estejam lotados”. ordens de seus superiores que sejam adequadas às funções
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

que desempenhe e buscando conservar o patrimônio do


Estado. No tratamento do público, deve ser prestativo e não
DO REGIME DISCIPLINAR negar o acesso a informações que não sejam sigilosas. Caso
presencie alguma ilegalidade ou abuso de poder, deve de-
TÍTULO IV nunciar. Tomam-se como base os ensinamentos de Lima63 a
DO REGIME DISCIPLINAR respeito destes deveres:
61 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar dos servi-
O regime disciplinar do servidor público civil federal está dores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/artigos/o_regi-
estabelecido basicamente de duas maneiras: deveres e proi- me_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.
bições. Ontologicamente, são a mesma coisa: ambos deve- 62 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da
res e proibições são normas protetivas da boa Administra- União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/
ção. Nas duas hipóteses, violado o preceito, cabível é uma almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.
63 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar dos servi-
punição. Deve-se notar, porém, que os deveres constam da dores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/artigos/o_regi-
lei como ações, como conduta positiva; as proibições, ao me_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso em: 11 ago. 2013.

90
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; ordem é manifestamente ilegal? Há uma margem de inter-
pretação, principalmente se o servidor subordinado não tiver
“O primeiro dos deveres insculpidos no regime estatutá- nenhuma formação de ordem jurídica. Logo, é o bom senso
rio é o dever de zelo. O zelo diz respeito às atribuições fun- que irá margear o que é flagrantemente inconstitucional”.
cionais e também ao cuidado com a economia do material,
os bens da repartição e o patrimônio público. Sob o prisma V - atender com presteza:
da disciplina e da conservação dos bens e materiais da re-
partição, o servidor deve sempre agir com dedicação no de- a) ao público em geral, prestando as informações re-
sempenho das funções do cargo que ocupa, e que lhe foram queridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
atribuídas desde o termo de posse. O servidor não é o dono b) à expedição de certidões requeridas para defesa
do cargo. Dono do cargo é o Estado que o remunera. Se o de direito ou esclarecimento de situações de interesse
referido cargo não lhe pertence, o servidor deve exercer suas pessoal;
funções com o máximo de zelo que estiver ao seu alcance. c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.
Sua eventual menor capacidade de desempenho, para não
configurar desídia ou insuficiência de desempenho, deverá “Este dever foi insculpido na lei para que o servidor pú-
ser compensada com um maior esforço e dedicação de sua blico trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a ima-
parte. Se um servidor altamente preparado e capaz, vem a gem desagradável que o mesmo possui perante a sociedade.
praticar atos que configurem desídia ou mesmo falta mais Exige-se que atue com presteza no atendimento a informa-
grave, poderá vir a ser punido. Porque o que se julgará não ções solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba o fisco
é a pessoa do servidor, mas a conduta a ele imputável. O federal, estadual, municipal e distrital. O servidor público
zelo não deve se limitar apenas às atribuições específicas de tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há mais lugar
sua atividade. O servidor deve ter zelo não somente com os para o burocrata que se afasta do administrado, dificultando
bens e interesses imateriais (a imagem, os símbolos, a mora- a vida de quem necessita de atendimento rápido e escorreito.
lidade, a pontualidade, o sigilo, a hierarquia) como também Entretanto, há um longo caminho a ser percorrido até que se
para com os bens e interesses patrimoniais do Estado”. atinja um mínimo ideal de atendimento e de funcionamento
dos órgãos públicos, o que deve necessariamente passar por
II - ser leal às instituições a que servir; critérios de valorização dos servidores bons e de treinamento
e qualificação permanente dos quadros de pessoal”.
“O servidor que cumprir todos os deveres e normas ad-
ministrativas já positivadas, consequentemente, é leal à ins- VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em ra-
tituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é que zão do cargo ao conhecimento da autoridade superior
devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever de ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao
lealdade está inserido no Estatuto como norma programáti- conhecimento de outra autoridade competente para
ca, orientadora da conduta dos servidores”. apuração;

III - observar as normas legais e regulamentares; “Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento ao
chefe da repartição acerca das irregularidades de que toma
“A função desta norma é de não deixar sem resposta conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve levar ao
qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a necessá- conhecimento da chefia imediata pelo sistema hierárquico.
ria correlação nesses casos que temos de fazer do art. 116, Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões detêm um
inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra lei, conhecimento maior de como corrigir o erro ou comunicar
decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”. aos órgãos de controle para a devida apuração. De nada
adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular, ir comu-
IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma- nicar ao público ou a terceiros. Além do dever de sigilo, há
nifestamente ilegais; assuntos que exigem certas reservas, visando ao bem do ser-
viço público, da segurança nacional e mesmo da sociedade”.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

“O servidor integra a estrutura organizacional do órgão


em que presta suas atribuições funcionais. O Estado se mo- VII - zelar pela economia do material e a conservação
vimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro dos ór- do patrimônio público;
gãos públicos, há um escalonamento de cargos e funções
que servem ao cumprimento da vontade do ente estatal. “Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela economia
Este escalonamento, posto em movimento, é o que vimos e pela conservação dos bens públicos presta um desserviço
até agora chamando de hierarquia. A hierarquia existe para à nação que lhe remunera. E como se verá adiante poderá
que do alto escalão até a prática dos administrados as coisas ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o presente
funcionem. Disso decorre que quando é emitida uma ordem dever, quando por descumprimento dele a gravidade do fato
para o servidor subordinado, este deve dar cumprimento ao implicar a infração a normas mais graves”.
comando. Porém quando a ordem é visivelmente ilegal, ar-
bitrária, inconstitucional ou absurda, o servidor não é obri-
gado a dar seguimento ao que lhe é ordenado. Quando a

91
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; X - ser assíduo e pontual ao serviço;

“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se pas- “Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assíduo
sa na repartição, principalmente quanto aos assuntos ofi- significa ser presente dentro do horário do expediente. O oposto
ciais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, hoje do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é aquele servidor que
está regulamentado o acesso às informações. Porém, o servi- não atrasa seus compromissos. É o que comparece no horário
dor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimento ou di- para as reuniões de trabalho e demais atividades relacionadas
vulgação das informações exigem um procedimento. Maior com o exercício do cargo que ocupa. Embora sejam conceitos
cuidado há que se ter, quando a informação possa expor a diferentes, aqui o dever violado, seja por impontualidade, seja
intimidade da pessoa humana. As informações pessoais dos por inassiduidade (que ainda não aquela inassiduidade habi-
administrados em geral devem ser tratadas forma transpa- tual de 60 dias ensejadora de demissão), merece reprimenda
rente e com respeito à intimidade, à vida privada, à honra de advertência, com fins educativos e de correção do servidor”.
e à imagem das pessoas, bem como às liberdades e garan-
tias individuais, segundo o artigo 31, da Lei nº 21.527, 2011. XI - tratar com urbanidade as pessoas;
A exceção para o sigilo existe, pois, não devemos tratar a “No mundo moderno, e máxime em nossa civilização oci-
questão em termos de cláusula jurídica de caráter absoluto, dental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Urbano,
podendo ter autorizada a divulgação ou o acesso por tercei- nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo da urbe (ci-
ros quando haja previsão legal. Outra exceção é quando há dade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e que não possa
o consentimento expresso da pessoa a que elas se referirem. criar embaraços aos usuários dos serviços públicos”.
No caso de cumprimento de ordem judicial, para a defesa de
direitos humanos, e quando a proteção do interesse público XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso
e geral preponderante o exigir, também devem ser forneci- de poder.
das as informações. Portanto, o servidor há que ter reserva
no seu comportamento e fala, esquivando-se de revelar o Parágrafo único. A representação de que trata o inciso XII
será encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela
conteúdo do que se passa no seu trabalho. Se o assunto pu-
autoridade superior àquela contra a qual é formula-
lulante é uma irregularidade absurda, deve então reduzir a
da, assegurando-se ao representando ampla defesa.
escrito e representar para que se apure o caso. Deveriam
diminuir as conversas de corredor e se efetivar a apuração
Caso o funcionário público denuncie outro servidor, esta
dos fatos através do processo administrativo disciplinar. Os
representação será encaminhada a alguém que seja superior
assuntos objeto do serviço merecem reserva. Devem ficar
hierarquicamente ao denunciado, que terá direito à ampla
circunscritos aos servidores designados para o respectivo
defesa.
trabalho interno, não devendo sair da seção ou setor de tra- “O servidor tem obrigação legal de dar conhecimento às
balho, sem o trâmite hierárquico do chefe imediato. Se o as- autoridades de qualquer irregularidade de que tiver ciência
sunto ou o trabalho, enfim, merecer divulgação mais ampla, em razão do cargo, principalmente no processo em que está
deve ser contatado o órgão de assessoria de comunicação atuando ou quando o fato aconteceu sob as suas vistas. Não
social, que saberá proceder de forma oficial, obedecendo ao é concebível que o servidor se defronte com uma irregulari-
bom senso e às leis vigentes”. dade administrativa e fique inerte. Deve provocar quem de
direito para que a irregularidade seja sanada de imediato.
IX - manter conduta compatível com a moralidade ad- Caso haja indiferença no seu círculo de atuação, i.e., no seu
ministrativa; setor ou seção, deverá representar aos órgãos superiores.
Assim é que o dever de informar acerca de irregularidades
“O ato administrativo não se satisfaz somente com o ser anda de braço dado com o dever de representar. Não sur-
legal. Para ser válido o ato administrativo tem que ser com- tindo efeito a notícia da irregularidade, não corrigida esta,
patível com a moralidade administrativa. O agente deve se sobrevém o dever de representar. O dever de representação
comportar em seus atos de maneira proba, escorreita, sé- não deixa de ser uma prerrogativa legal, investindo o servidor
ria, não atuando com intenções escusas e desvirtuadas. Seu
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

de um múnus público importante, constituindo o servidor


poder-dever não pode ser utilizado, por exemplo, para sa- em um curador legal do ente público. O mais humilde ser-
tisfação de interesses menores, como realizar a prática de vidor passa a ser um agente promotor de legalidade. É claro
determinado ato para beneficiar uma amante ou um pa- o inciso XII do art. 116 quando diz que é dever do servidor
rente. Se o agente viola o dever de agir com comportamento “representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder”.
incompatível com a moralidade administrativa, poderá estar De modo que também a omissão pode ensejar a representa-
sujeito a sanção disciplinar. Seu ato ímprobo ou imoral con- ção. A omissão do agente que ilegalmente não pratica ato a
figura o chamado desvio de poder, que é totalmente abomi- que se acha vinculado pode até configurar o ilícito penal de
nável no Direito Administrativo e poderá ser anulado interna prevaricação. O dever de representação deve ser privilegiado,
corporis ou judicialmente através da ação popular, ação de mas deve ser usado com o devido equilíbrio, não podendo
ressarcimento ao erário e ação civil pública se o ato violar servir a finalidades egoísticas, político-partidárias, induzido
direito coletivo ou transindividual”. por inimizades de cunho pessoal, o que de pronto trespas-
sará o representante de autor a réu por prática de abuso de
poder ou denunciação caluniosa”.

92
CAPÍTULO II VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filia-
DAS PROIBIÇÕES rem-se a associação profissional ou sindical, ou a par-
tido político;
Art. 117. Ao servidor é proibido:
Em contraposição aos deveres do servidor público, O direito de associação é livre, não podendo um fun-
existem diversas proibições, que também estão em cionário forçar o seu subordinado a associar-se sindical ou
boa parte abrangidas pelo Decreto n° 1.171/94. A vio- politicamente.
lação dos deveres ou a prática de alguma das violações
abaixo descritas caracterizam infração administrativa VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou fun-
disciplinar. ção de confiança, cônjuge, companheiro ou parente
até o segundo grau civil;
“Nas Proibições – art. 117, constata-se, desde logo, sua
objetividade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o É a chamada prática de nepotismo. Do latim nepos,
uso de interpretações analógicas ou sistemáticas visto se- neto ou descendente, é o termo utilizado para designar o
rem condutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detri-
princípio da reserva legal. O descumprimento dessas proi- mento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que
bições podem inclusive, ensejar o enquadramento penal diz respeito à nomeação ou elevação de cargos. O Decreto
do servidor, pois muitas das condutas ali descritas, confi- nº 7.203, de 4 de junho de 2010 dispõe sobre a vedação
guram prática de delito penal”64. do nepotismo no âmbito da administração pública federal.

I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge,
prévia autorização do chefe imediato; companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade
Violação do dever de assiduidade. nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica,
investido em cargo de direção, chefia ou assessora-
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade compe- mento, para o exercício de cargo em comissão ou de
tente, qualquer documento ou objeto da repartição; confiança, ou, ainda, de função gratificada na Adminis-
tração Pública direta e indireta, em qualquer dos Po-
Violação do dever de zelo com o patrimônio público. deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
municípios, compreendido o ajuste mediante designa-
III - recusar fé a documentos públicos; ções recíprocas, viola a Constituição Federal.” Obs.: se
o concurso pedir pelo entendimento jurisprudencial, vá
É dever do servidor público conferir fé aos documentos pela súmula, mas se não mencionar nada se atenha ao
públicos, revestindo-lhes da autoridade e confiança que texto da lei, visto que há pequenas variações entre o
seu cargo possui. Violação do dever de transparência. texto da súmula e o da lei.
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou
IV - opor resistência injustificada ao andamento de do- de outrem, em detrimento da dignidade da função pú-
cumento e processo ou execução de serviço; blica;

Não cabe impedir que o trâmite da administração seja O cargo público serve apenas aos interesses da admi-
alterado por um capricho pessoal. Violação ao dever de ce- nistração pública, ou seja, da coletividade, não aos interes-
leridade e eficiência, bem como de impessoalidade. ses pessoais do servidor.

V - promover manifestação de apreço ou desapreço no X - participar de gerência ou administração de socieda-


recinto da repartição; de privada, personificada ou não personificada, exercer
o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Violação do dever de discrição. ou comanditário;

VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos Não cabe ao servidor público administrar sociedade
casos previstos em lei, o desempenho de atribuição privada, o que pode comprometer sua eficiência e impar-
que seja de sua responsabilidade ou de seu subordi- cialidade no exercício da função pública. No princípio, ou
nado; seja, na redação original do Estatuto era proibida apenas a
participação do servidor como sócio gerente ou adminis-
Quem é designado para o desempenho de uma função trador de empresa privada, exceto na qualidade de mero
pública deve desempenhá-la, não podendo designar outra cotista, acionário ou comanditário. Atualmente, a empresa
pessoa para prestar seus serviços ou de seu subordinado. pode até não estar personificada, por exemplo, não estar
devidamente constituída e registrada nos órgãos compe-
64 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da
União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/ tentes (Junta Comercial, fisco estadual, municipal, distrital
almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013. e federal, e órgãos de controle: ambiental, trabalhista etc.).

93
Comprovada detidamente a gerência ou administração da XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quan-
sociedade particular em concomitância com a pretensa do solicitado.
carga horária da repartição pública, deve ser aplicada a pe-
nalidade de demissão. A atualização de dados cadastrais é necessária para
manter a administração ciente da situação de seu servidor.
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a
repartições públicas, salvo quando se tratar de benefí- Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X do
cios previdenciários ou assistenciais de parentes até o caput deste artigo não se aplica nos seguintes casos:
segundo grau, e de cônjuge ou companheiro; I - participação nos conselhos de administração e fiscal
de empresas ou entidades em que a União detenha, di-
Não cabe atuar como procurador perante repartições reta ou indiretamente, participação no capital social ou
públicas de forma profissional. Daí a limitação à atuação em sociedade cooperativa constituída para prestar ser-
como representante de parente até segundo grau (irmãos, viços a seus membros; e
ascendentes e descendentes, cônjuges e companheiros). II - gozo de licença para o trato de interesses particula-
XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem res, na forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação
de qualquer espécie, em razão de suas atribuições; sobre conflito de interesses.

A percepção de vantagem indevida gerando enriqueci- Nestes casos, é possível participar diretamente da ad-
mento ilícito também caracteriza ato de improbidade ad- ministração de sociedade privada, pois o interesse estatal
ministrativa de maior gravidade, bem como crime de cor- não será comprometido.
rupção passiva.

XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado


estrangeiro; #FicaDica

Trata-se de indício da intenção de praticar atos contrá- Proibições puníveis com demissão:
rios ao interesse do Estado ao qual esteja vinculado. - Utilizar recursos pessoais e materiais para ati-
vidades particulares;
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; - Valer-se do cargo para lograr proveito pes-
soal;
Usura significa agiotagem, que é o empréstimo de di- - Proceder de forma desidiosa;
nheiro a particulares obtendo juros abusivos em troca. As - Praticar usura;
atividades de empréstimo somente podem ser desempe- - Aceitar comissão, emprego, pensão de Estado
nhadas com fim lucrativo por instituições credenciadas. estrangeiro;
- Receber propina, comissão, presente ou qual-
XV - proceder de forma desidiosa; quer outra vantagem;
- Atuar como procurador ou intermediário
Desídia é desleixo, descuido, preguiça, indolência. (salvo benefício ou assistência previdenciária
de cônjuge, companheiro ou paciente até 2o
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da reparti- grau);
ção em serviços ou atividades particulares; - Participar de sociedade privada (gerência/
administração, personificada/não) ou comércio
O aparato da administração pública pertence ao Estado, (salvo acionista, cotista ou comanditário).
não cabendo ao servidor utilizá-lo em atividades particulares.

XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas CAPÍTULO III


NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergên- DA ACUMULAÇÃO


cia e transitórias;
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição,
Cada servidor público tem sua atribuição legal, não ca- é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos.
bendo designá-lo para desempenhar funções diversas sal-
vo em caso de extrema necessidade. Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal:
É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incom- exceto, quando houver compatibilidade de horários, obser-
patíveis com o exercício do cargo ou função e com o vado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
horário de trabalho;
a) a de dois cargos de professor;
O exercício de atividades incompatíveis propicia uma b) a de um cargo de professor com outro técnico ou cien-
violação ao princípio da imparcialidade. tífico;

94
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais Art. 120. O servidor vinculado ao regime desta Lei, que
de saúde, com profissões regulamentadas; acumular licitamente dois cargos efetivos, quando in-
vestido em cargo de provimento em comissão, ficará
Segundo Carvalho Filho65, “o fundamento da proibição é afastado de ambos os cargos efetivos, salvo na hipótese
impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que o em que houver compatibilidade de horário e local com o
servidor não execute qualquer delas com a necessária eficiên- exercício de um deles, declarada pelas autoridades má-
cia. Além disso, porém, pode-se observar que o Constituinte ximas dos órgãos ou entidades envolvidos.
quis também impedir a cumulação de ganhos em detrimento
da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-se que a veda- Se o servidor já cumular dois cargos efetivos e for inves-
ção se refere à acumulação remunerada. Em consequência, tido de um cargo em comissão, ficará afastado dos cargos
se a acumulação só encerra a percepção de vencimentos por efetivos a não ser que exista compatibilidade de horários e
uma das fontes, não incide a regra constitucional proibitiva”. local com um deles, caso em que se afastará de somente
§ 1° A proibição de acumular estende-se a cargos, empre- um cargo efetivo.
gos e funções em autarquias, fundações públicas, empre- “Os artigos 118 a 120 da lei nº 8.112/90 ao tratarem da
sas públicas, sociedades de economia mista da União, do acumulação de cargos e funções públicas, regulamentam, no
Distrito Federal, dos Estados, dos Territórios e dos Muni- âmbito do serviço público federal a vedação genérica cons-
cípios. tante do art. 37, incisos VXI e XVII, da Constituição da Repú-
blica. De fato, a acumulação ilícita de cargos públicos consti-
A proibição vale tanto para a administração direta quanto tui uma das infrações mais comuns praticadas por servidores
para a indireta. públicos, o que se constata observando o elevado número
§ 2° A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condi- de processos administrativos instaurados com esse objeto. O
cionada à comprovação da compatibilidade de horários. sistema adotado pela lei nº 8.112/90 é relativamente brando,
quando cotejado com outros estatutos de alguns Estados,
Se o Estado pretende que o desempenho de atividade visto que propicia ao servidor incurso nessa ilicitude diver-
cumulada não gere prejuízo à função pública, correto que sas oportunidades para regularizar sua situação e escapar da
exija a comprovação de compatibilidade de horários; pena de demissão. Também prevê a lei em comentário, um
§ 3° Considera-se acumulação proibida a percepção de processo administrativo simplificado (processo disciplinar de
vencimento de cargo ou emprego público efetivo com rito sumário) para a apuração dessa infração – art. 133” 66.
proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que
decorram essas remunerações forem acumuláveis na ati- CAPÍTULO IV
vidade. DAS RESPONSABILIDADES

Exterioriza-se, por exemplo, a proibição de que o agente Art. 121. O servidor responde civil, penal e administrativa-
se aposente do serviço público e continue o exercendo, rece- mente pelo exercício irregular de suas atribuições.
bendo aposentadoria e salário. Art. 122. A responsabilidade civil decorre de ato omissi-
vo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre-
Art. 119. O servidor não poderá exercer mais de um cargo juízo ao erário ou a terceiros.
em comissão, exceto no caso previsto no parágrafo único § 1° A indenização de prejuízo dolosamente causado ao
do art. 9º, nem ser remunerado pela participação em ór- erário somente será liquidada na forma prevista no art.
gão de deliberação coletiva. 46, na falta de outros bens que assegurem a execução do
débito pela via judicial.
Cargo em comissão é aquele que não exige aprovação em § 2° Tratando-se de dano causado a terceiros, respon-
concurso público, sendo designado para o exercício por possuir derá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação re-
um vínculo de confiança com o superior. Somente é possível gressiva.
exercer 1, salvo interinamente. Da mesma forma, não cabe re- § 3° A obrigação de reparar o dano estende-se aos su-
muneração por participar de órgão de deliberação coletiva. cessores e contra eles será executada, até o limite do va-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

lor da herança recebida.


Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica à Art. 123. A responsabilidade penal abrange os crimes e
remuneração devida pela participação em conselhos de contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade.
administração e fiscal das empresas públicas e sociedades Art. 124. A responsabilidade civil-administrativa resulta
de economia mista, suas subsidiárias e controladas, bem de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho
como quaisquer empresas ou entidades em que a União, do cargo ou função.
direta ou indiretamente, detenha participação no capital Art. 125. As sanções civis, penais e administrativas pode-
social, observado o que, a respeito, dispuser legislação rão cumular-se, sendo independentes entre si.
específica. Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor
O exercício de função em determinados conselhos de será afastada no caso de absolvição criminal que negue
administração e fiscais aceita remuneração. Trata-se de ex- a existência do fato ou sua autoria.
ceção ao caput. 66 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públicos da
65 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.br/artigos/
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.

95
Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabiliza- Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reinci-
do civil, penal ou administrativamente por dar ciência à dência das faltas punidas com advertência e de viola-
autoridade superior ou, quando houver suspeita de en- ção das demais proibições que não tipifiquem infração
volvimento desta, a outra autoridade competente para sujeita a penalidade de demissão, não podendo exceder
apuração de informação concernente à prática de crimes de 90 (noventa) dias.
ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda que
em decorrência do exercício de cargo, emprego ou fun- A suspensão é uma sanção administrativa intermediá-
ção pública. ria, aplicável se as práticas sujeitas a advertência se repe-
tirem ou em caso de infração grave que ainda assim não
Este dispositivo visa garantir que os servidores públicos gere pena de demissão.
denunciem os servidores hierarquicamente superiores. Afi-
nal, todos teriam receio de denunciar se pudessem ser res- § 1° Será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias
ponsabilizados civil, penal ou administrativamente por tal o servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser sub-
denúncia caso no curso da apuração se verificasse que ela metido a inspeção médica determinada pela autoridade
não procedia. competente, cessando os efeitos da penalidade uma vez
cumprida a determinação.
CAPÍTULO V
DAS PENALIDADES Trata-se de hipótese específica em que será aplicada
suspensão.
Art. 127. São penalidades disciplinares:
I - advertência; § 2° Quando houver conveniência para o serviço, a pe-
II - suspensão; nalidade de suspensão poderá ser convertida em multa,
III - demissão; na base de 50% (cinquenta por cento) por dia de venci-
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade; mento ou remuneração, ficando o servidor obrigado a
V - destituição de cargo em comissão;
permanecer em serviço.
VI - destituição de função comissionada.
Se for inconveniente para a administração pública abrir
A advertência é a pena mais leve, um aviso de que o
mão do servidor, poderá multá-lo em 50% de seu venci-
funcionário se portou de forma inadequada e de que isso
mento/remuneração diário pelo número de dias de sus-
não deve se repetir. A suspensão é uma sanção interme-
pensão. O servidor não poderá se recusar a permanecer
diária, fazendo com que o funcionário deixe de desempe-
em serviço.
nhar o cargo por certo período. Na demissão, o funcionário
não mais exercerá o cargo, sendo assim sanção mais grave.
Outras sanções são cassação da aposentadoria ou disponi- Art. 131. As penalidades de advertência e de suspen-
bilidade, destituição do cargo em comissão, destituição da são terão seus registros cancelados, após o decurso de
função comissionada. 3 (três) e 5 (cinco) anos de efetivo exercício, respectiva-
mente, se o servidor não houver, nesse período, pratica-
Art. 128. Na aplicação das penalidades serão considera- do nova infração disciplinar.
das a natureza e a gravidade da infração cometida, os Parágrafo único. O cancelamento da penalidade não
danos que dela provierem para o serviço público, as cir- surtirá efeitos retroativos.
cunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes
funcionais. O bom comportamento posterior do servidor faz com
Parágrafo único. O ato de imposição da penalidade men- que o registro de advertência (após 3 anos) ou suspen-
cionará sempre o fundamento legal e a causa da sanção são (após 5 anos) seja apagado de seu registro, o que não
disciplinar. significa que o servidor poderá requerer, por exemplo, o
pagamento referente aos dias que ficou suspenso.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

De forma fundamentada, justificada, se escolherá por


uma ou outra sanção, conforme a gravidade do ato pra- Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos:
ticado. I - crime contra a administração pública;
Artigos 312 a 326 do Código Penal.
Art. 129. A advertência será aplicada por escrito, nos ca- II - abandono de cargo;
sos de violação de proibição constante do art. 117, incisos III - inassiduidade habitual;
I a VIII e XIX, e de inobservância de dever funcional pre-
visto em lei, regulamentação ou norma interna, que não Deixar totalmente de exercer o cargo ou faltar em ex-
justifique imposição de penalidade mais grave. cesso.
Vide comentários aos incisos I a VII e XIX do art. 117. A
norma é genérica, envolvendo ainda qualquer outra viola- IV - improbidade administrativa;
ção de dever funcional que não exija sanção mais grave. Atos descritos na Lei n° 8.429/92.
V - incontinência pública e conduta escandalosa, na re-
partição;

96
Ausência de discrição no exercício das funções. § 3° Apresentada a defesa, a comissão elaborará rela-
tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabili-
VI - insubordinação grave em serviço; dade do servidor, em que resumirá as peças principais
dos autos, opinará sobre a licitude da acumulação em
Violação grave do dever de obediência hierárquica. exame, indicará o respectivo dispositivo legal e remeterá
o processo à autoridade instauradora, para julgamento.
VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, § 4° No prazo de cinco dias, contados do recebimento do
salvo em legítima defesa própria ou de outrem; processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão,
aplicando-se, quando for o caso, o disposto no § 3° do
Ofensa física a servidor ou administrado que não para art. 167.
se defender. § 5° A opção pelo servidor até o último dia de prazo
para defesa configurará sua boa-fé, hipótese em que se
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; converterá automaticamente em pedido de exoneração
IX - revelação de segredo do qual se apropriou em ra- do outro cargo.
zão do cargo; § 6° Caracterizada a acumulação ilegal e provada a má-
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimô- -fé, aplicar-se-á a pena de demissão, destituição ou cas-
nio nacional; sação de aposentadoria ou disponibilidade em relação
XI - corrupção; aos cargos, empregos ou funções públicas em regime de
XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou fun- acumulação ilegal, hipótese em que os órgãos ou enti-
ções públicas; dades de vinculação serão comunicados.
§ 7° O prazo para a conclusão do processo administra-
Na verdade, são atos de improbidade administrativa, tivo disciplinar submetido ao rito sumário não excederá
então nem precisariam ser mencionados. trinta dias, contados da data de publicação do ato que
constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por
XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. até quinze dias, quando as circunstâncias o exigirem.
§ 8° O procedimento sumário rege-se pelas disposições
Vide comentários aos incisos IX a XVI do art. 117. deste artigo, observando-se, no que lhe for aplicável,
subsidiariamente, as disposições dos Títulos IV e V desta
Art. 133. Detectada a qualquer tempo a acumulação Lei.
ilegal de cargos, empregos ou funções públicas, a au-
toridade a que se refere o art. 143 notificará o servidor, O artigo descreve o procedimento em caso de violação
por intermédio de sua chefia imediata, para apresentar do dever de não acumular cargos ilicitamente. No início,
opção no prazo improrrogável de dez dias, contados da o servidor será notificado para se manifestar optando por
data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará pro- um cargo. Se ficar omisso ou se recusar fazer a opção, será
cedimento sumário para a sua apuração e regularização instaurado processo administrativo disciplinar. Nele, o ser-
imediata, cujo processo administrativo disciplinar se de- vidor poderá apresentar defesa no sentido de ser lícita a
senvolverá nas seguintes fases: cumulação. Mas até o último dia do prazo para defesa o
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a servidor poderá optar por um caso, caso em que o proce-
comissão, a ser composta por dois servidores estáveis, e dimento se converterá em pedido de exoneração do cargo
simultaneamente indicar a autoria e a materialidade da não escolhido, presumindo-se a boa-fé do servidor.
transgressão objeto da apuração;
II - instrução sumária, que compreende indiciação, de- Art. 134. Será cassada a aposentadoria ou a disponibili-
fesa e relatório; dade do inativo que houver praticado, na atividade, falta
III - julgamento. punível com a demissão.
§ 1° A indicação da autoria de que trata o inciso I dar-se-
-á pelo nome e matrícula do servidor, e a materialidade Supondo que o servidor tenha praticado ato punível
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

pela descrição dos cargos, empregos ou funções públicas com demissão e, sabendo disso, se demita. Isso não evitará
em situação de acumulação ilegal, dos órgãos ou enti- que sua aposentadoria seja cassada, assim como ele seria
dades de vinculação, das datas de ingresso, do horário demitido se no exercício das funções.
de trabalho e do correspondente regime jurídico.
§ 2° A comissão lavrará, até três dias após a publica- Art. 135. A destituição de cargo em comissão exercido
ção do ato que a constituiu, termo de indiciação em que por não ocupante de cargo efetivo será aplicada nos ca-
serão transcritas as informações de que trata o pará- sos de infração sujeita às penalidades de suspensão e de
grafo anterior, bem como promoverá a citação pessoal demissão.
do servidor indiciado, ou por intermédio de sua chefia Parágrafo único. Constatada a hipótese de que trata este
imediata, para, no prazo de cinco dias, apresentar defesa artigo, a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será
escrita, assegurando-se-lhe vista do processo na reparti- convertida em destituição de cargo em comissão.
ção, observado o disposto nos arts. 163 e 164.

97
Logo, a destituição do cargo em comissão por quem b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos
não ocupe um cargo efetivo é aplicável quando o comis- dias de falta ao serviço sem causa justificada, por perío-
sionado aplicar não só os atos sujeitos à pena de demissão, do igual ou superior a sessenta dias interpoladamente,
mas também os sujeitos à pena de suspensão. durante o período de doze meses;
II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará
Art. 136. A demissão ou a destituição de cargo em co- relatório conclusivo quanto à inocência ou à responsabi-
missão, nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, lidade do servidor, em que resumirá as peças principais
implica a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento dos autos, indicará o respectivo dispositivo legal, opina-
ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível. rá, na hipótese de abandono de cargo, sobre a intencio-
nalidade da ausência ao serviço superior a trinta dias
Nos casos de demissão e destituição do cargo em co- e remeterá o processo à autoridade instauradora para
missão, os bens ficarão indisponíveis para o ressarcimento julgamento.
do prejuízo sofrido pelo Estado, cabendo ainda ação penal
própria. Por indicação de materialidade, entenda-se demons-
tração do fato. É preciso indicar especificamente os dias
Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em co- faltados.
missão, por infringência do art. 117, incisos IX e XI, in-
compatibiliza o ex-servidor para nova investidura em Adota-se o procedimento do art. 133.
cargo público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Art. 141. As penalidades disciplinares serão aplicadas:
O ex-servidor que tenha se valido do cargo para lograr I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das
proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignida- Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e
de da função pública ou que tenha atuado como procura- pelo Procurador-Geral da República, quando se tratar de
dor ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo em demissão e cassação de aposentadoria ou disponibilida-
hipóteses específicas, não poderá ser investido em cargo de de servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou
público federal pelo prazo de 5 anos. entidade;
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço públi- imediatamente inferior àquelas mencionadas no inciso
co federal o servidor que for demitido ou destituído do anterior quando se tratar de suspensão superior a 30
cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos (trinta) dias;
I, IV, VIII, X e XI. III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na
forma dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos
Vide incisos I, IV, VIII, X e XI do artigo 132. Nestes casos, casos de advertência ou de suspensão de até 30 (trinta)
não caberá jamais retorno ao serviço público federal, dian- dias;
te da gravidade dos atos praticados. IV - pela autoridade que houver feito a nomeação,
quando se tratar de destituição de cargo em comissão.
Art. 138. Configura abandono de cargo a ausência in-
tencional do servidor ao serviço por mais de trinta dias Presidente da República/Presidentes da Câmara dos
consecutivos. Deputados ou do Senado Federal/Presidentes dos Tribu-
nais Federais - TRF, TRE, TRT, TSE, TST, STJ e STF/Procura-
Conceito de abandono de cargo: ausência intencional dor-Geral da República - demissão ou cassação de apo-
por mais de 30 dias seguidos. Gera pena de demissão. sentadoria/disponibilidade do servidor vinculado ao órgão
(sanções mais graves).
Art. 139. Entende-se por inassiduidade habitual a falta Autoridade administrativa de hierarquia imediatamente
ao serviço, sem causa justificada, por sessenta dias, in- inferior às do inciso I - suspensão por mais de 30 dias (san-
terpoladamente, durante o período de doze meses. ção de suspensão, de gravidade intermediária, por maior
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

período).
Conceito de inassiduidade habitual, que também gera Chefe da repartição e outras autoridades previstas no
demissão: ausência por 60 dias num período de 12 meses regulamento - advertência e suspensão inferior a 30 dias
de forma injustificada. (sanção de suspensão, de gravidade intermediária, por me-
nor período).
Art. 140. Na apuração de abandono de cargo ou inassi- Autoridade que houver feito a nomeação, em qualquer
duidade habitual, também será adotado o procedimento cargo de comissão, independente da pena.
sumário a que se refere o art. 133, observando-se espe-
cialmente que: Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:
I - a indicação da materialidade dar-se-á: I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade
precisa do período de ausência intencional do servidor e destituição de cargo em comissão;
ao serviço superior a trinta dias; II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;

98
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto á advertência. ser submetido a inspeção médica determinada pela au-
§ 1° O prazo de prescrição começa a correr da data em toridade competente, cessando os efeitos da penalidade
que o fato se tornou conhecido. uma vez cumprida a determinação”.
§ 2° Os prazos de prescrição previstos na lei penal apli-
cam-se às infrações disciplinares capituladas também 2. (EBSERH – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CESPE
como crime. – 2018) Acerca do regime jurídico dos servidores públicos
§ 3° A abertura de sindicância ou a instauração de pro- federais, julgue o item a seguir.
cesso disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão O servidor responde apenas administrativamente pelo
final proferida por autoridade competente. exercício irregular de suas atribuições, o qual pode ensejar
§ 4° Interrompido o curso da prescrição, o prazo come- a aplicação de penalidade disciplinar - até mesmo de de-
çará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção. missão -, que deve, sempre, mencionar o fundamento legal
e a causa da sanção.
Prescrição é um instituto que visa regular a perda do
direito de acionar judicialmente. ( ) CERTO ( ) ERRADO
No caso, o prazo é de 5 anos para as infrações mais gra-
ves, 2 para as de gravidade intermediária (pena de suspen- Resposta: Errado. A responsabilidade do servidor é, si-
são) e 180 dias para as menos graves (pena de advertência) multaneamente, civil, penal e administrativa, conforme
- Contados da data em que o fato se tornou conhecido artigo 121, Lei nº 8.112/1990, e as sanções podem ser
pela administração pública. cumuladas, de acordo com o artigo 125 da Lei. O erro está
Se a infração disciplinar for crime, valerão os prazos na expressão “apenas”.
prescricionais do direito penal, mais longos, logo, menos
favoráveis ao servidor. 3. (EBSERH – TECNÓLOGO EM GESTÃO PÚBLICA –
Interrupção da prescrição significa parar a contagem do CESPE – 2018) No que concerne a direitos, deveres e res-
prazo para que, retornando, comece do zero. Da abertura ponsabilidades dos servidores públicos, julgue o próximo
da sindicância ou processo administrativo disciplinar até item.
a decisão final proferida por autoridade competente não Nos termos da Lei nº 8.112/1990, os deveres do servidor
corre a prescrição. Proferida a decisão, o prazo começa a público incluem representar contra ilegalidade, omissão ou
contar do zero. Passado o prazo, não caberá mais propor abuso de poder e promover manifestação de apreço no
ação disciplinar. recinto da repartição.

( ) CERTO ( ) ERRADO
#FicaDica Resposta: Errado. De fato, conforme art. 116, XII, Lei nº
- Advertência – artigo 117, I a VIII e XIX; 8.112/1990, é dever do servidor “representar contra ilega-
- Suspensão – reincidência em infração punível lidade, omissão ou abuso de poder”. Contudo, conforme
com advertência, incumbência a outro servidor art. 117, V, o servidor é proibido de “promover manifes-
de atribuições estranhas ao cargo, exercício de tação de apreço ou desapreço no recinto da repartição”.
atividades incompatíveis com cargo ou função;
- Demissão – artigo 132, inclusive reincidência
em infração punível com suspensão. SEGURIDADE SOCIAL

TÍTULO VI
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR
CAPÍTULO I
EXERCÍCIOS COMENTADOS DISPOSIÇÕES GERAIS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ADMI- Art. 183. A União manterá Plano de Seguridade Social
NISTRAÇÃO – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte, re- para o servidor e sua família.
lativo ao regime dos servidores públicos federais e à ética § 1º O servidor ocupante de cargo em comissão que não
no serviço público. seja, simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego
A demissão será a penalidade disciplinar cabível para o ser- efetivo na administração pública direta, autárquica e
vidor que se recusar a ser submetido a inspeção médica fundacional não terá direito aos benefícios do Plano de
determinada pela autoridade competente. Seguridade Social, com exceção da assistência à saúde.
§ 2º O servidor afastado ou licenciado do cargo efetivo,
( ) CERTO ( ) ERRADO sem direito à remuneração, inclusive para servir em or-
ganismo oficial internacional do qual o Brasil seja mem-
Resposta: Errado. Preconiza o artigo 130, § 1º, Lei nº bro efetivo ou com o qual coopere, ainda que contribua
8.112/1990: “Será punido com suspensão de até 15 (quin- para regime de previdência social no exterior, terá sus-
ze) dias o servidor que, injustificadamente, recusar-se a

99
penso o seu vínculo com o regime do Plano de Segurida- CAPÍTULO II
de Social do Servidor Público enquanto durar o afasta- DOS BENEFÍCIOS
mento ou a licença, não lhes assistindo, neste período, os SEÇÃO I
benefícios do mencionado regime de previdência. DA APOSENTADORIA
§ 3º Será assegurada ao servidor licenciado ou afasta-
do sem remuneração a manutenção da vinculação ao Art. 186. O servidor será aposentado:
regime do Plano de Seguridade Social do Servidor Pú- I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais
blico, mediante o recolhimento mensal da respectiva quando decorrente de acidente em serviço, moléstia pro-
contribuição, no mesmo percentual devido pelos servi- fissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, espe-
dores em atividade, incidente sobre a remuneração total cificada em lei, e proporcionais nos demais casos;
do cargo a que faz jus no exercício de suas atribuições, II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com
computando-se, para esse efeito, inclusive, as vantagens proventos proporcionais ao tempo de serviço;
pessoais. III - voluntariamente:
§ 4º O recolhimento de que trata o § 3º deve ser efe- a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e
tuado até o segundo dia útil após a data do pagamento aos 30 (trinta) se mulher, com proventos integrais;
das remunerações dos servidores públicos, aplicando-se b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de
os procedimentos de cobrança e execução dos tributos magistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora,
federais quando não recolhidas na data de vencimento. com proventos integrais;
Art. 184. O Plano de Seguridade Social visa a dar cober- c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25
tura aos riscos a que estão sujeitos o servidor e sua fa- (vinte e cinco) se mulher, com proventos proporcionais
mília, e compreende um conjunto de benefícios e ações a esse tempo;
que atendam às seguintes finalidades: d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, aos 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcio-
invalidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, fale- nais ao tempo de serviço.
cimento e reclusão; § 1º Consideram-se doenças graves, contagiosas ou in-
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade; curáveis, a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculo-
III - assistência à saúde. se ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia
Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos ter- maligna, cegueira posterior ao ingresso no serviço públi-
mos e condições definidos em regulamento, observadas co, hanseníase, cardiopatia grave, doença de Parkinson,
as disposições desta Lei. paralisia irreversível e incapacitante, espondiloartrose
Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do
servidor compreendem: mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imuno-
I - quanto ao servidor: deficiência Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar,
a) aposentadoria; com base na medicina especializada.
§ 2º Nos casos de exercício de atividades consideradas
b) auxílio-natalidade;
insalubres ou perigosas, bem como nas hipóteses previs-
c) salário-família;
tas no art. 71, a aposentadoria de que trata o inciso III,
d) licença para tratamento de saúde;
“a” e “c”, observará o disposto em lei específica.
e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade;
§ 3º Na hipótese do inciso I o servidor será submetido
f) licença por acidente em serviço; à junta médica oficial, que atestará a invalidez quando
g) assistência à saúde; caracterizada a incapacidade para o desempenho das
h) garantia de condições individuais e ambientais de atribuições do cargo ou a impossibilidade de se aplicar o
trabalho satisfatórias; disposto no art. 24.
II - quanto ao dependente: Art. 187. A aposentadoria compulsória será automática,
a) pensão vitalícia e temporária; e declarada por ato, com vigência a partir do dia ime-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

b) auxílio-funeral; diato àquele em que o servidor atingir a idade-limite de


c) auxílio-reclusão; permanência no serviço ativo.
d) assistência à saúde. Art. 188. A aposentadoria voluntária ou por invalidez vi-
§ 1º As aposentadorias e pensões serão concedidas e gorará a partir da data da publicação do respectivo ato.
mantidas pelos órgãos ou entidades aos quais se encon- § 1º A aposentadoria por invalidez será precedida de li-
tram vinculados os servidores, observado o disposto nos cença para tratamento de saúde, por período não exce-
arts. 189 e 224. dente a 24 (vinte e quatro) meses.
§ 2º O recebimento indevido de benefícios havidos por § 2º Expirado o período de licença e não estando em
fraude, dolo ou má-fé, implicará devolução ao erário do condições de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o
total auferido, sem prejuízo da ação penal cabível. servidor será aposentado.
§ 3º O lapso de tempo compreendido entre o término
da licença e a publicação do ato da aposentadoria será
considerado como de prorrogação da licença.

100
§ 4º Para os fins do disposto no § 1º deste artigo, serão I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os entea-
consideradas apenas as licenças motivadas pela enfer- dos até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se estudante, até
midade ensejadora da invalidez ou doenças correlacio- 24 (vinte e quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade;
nadas. II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante au-
§ 5º A critério da Administração, o servidor em licença torização judicial, viver na companhia e às expensas do
para tratamento de saúde ou aposentado por invalidez servidor, ou do inativo;
poderá ser convocado a qualquer momento, para ava- III - a mãe e o pai sem economia própria.
liação das condições que ensejaram o afastamento ou a Art. 198. Não se configura a dependência econômica
aposentadoria. quando o beneficiário do salário-família perceber rendi-
Art. 189. O provento da aposentadoria será calculado mento do trabalho ou de qualquer outra fonte, inclusive
com observância do disposto no § 3º do art. 41, e revisto pensão ou provento da aposentadoria, em valor igual ou
na mesma data e proporção, sempre que se modificar a superior ao salário-mínimo.
remuneração dos servidores em atividade. Art. 199. Quando o pai e mãe forem servidores públicos
Parágrafo único. São estendidos aos inativos quaisquer e viverem em comum, o salário-família será pago a um
benefícios ou vantagens posteriormente concedidas aos deles; quando separados, será pago a um e outro, de
servidores em atividade, inclusive quando decorrentes acordo com a distribuição dos dependentes.
de transformação ou reclassificação do cargo ou função Parágrafo único. Ao pai e à mãe equiparam-se o pa-
em que se deu a aposentadoria. drasto, a madrasta e, na falta destes, os representantes
Art. 190. O servidor aposentado com provento proporcio- legais dos incapazes.
nal ao tempo de serviço se acometido de qualquer das Art. 200. O salário-família não está sujeito a qualquer
moléstias especificadas no § 1º do art. 186 desta Lei e, por tributo, nem servirá de base para qualquer contribui-
esse motivo, for considerado inválido por junta médica ofi- ção, inclusive para a Previdência Social.
cial passará a perceber provento integral, calculado com Art. 201. O afastamento do cargo efetivo, sem remu-
base no fundamento legal de concessão da aposentadoria. neração, não acarreta a suspensão do pagamento do
Art. 191. Quando proporcional ao tempo de serviço, o pro- salário-família.
vento não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração
da atividade. SEÇÃO IV
Art. 192. (Vetado). DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
Art. 193. (Revogado).
Art. 194. Ao servidor aposentado será paga a gratificação Art. 202. Será concedida ao servidor licença para trata-
natalina, até o dia vinte do mês de dezembro, em valor mento de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perí-
equivalente ao respectivo provento, deduzido o adianta- cia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer jus.
mento recebido. Art. 203. A licença de que trata o art. 202 desta Lei será
Art. 195. Ao ex-combatente que tenha efetivamente par- concedida com base em perícia oficial.
ticipado de operações bélicas, durante a Segunda Guerra § 1º Sempre que necessário, a inspeção médica será
Mundial, nos termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de realizada na residência do servidor ou no estabeleci-
1967, será concedida aposentadoria com provento inte- mento hospitalar onde se encontrar internado.
gral, aos 25 (vinte e cinco) anos de serviço efetivo.
§ 2º Inexistindo médico no órgão ou entidade no local
onde se encontra ou tenha exercício em caráter perma-
SEÇÃO II
nente o servidor, e não se configurando as hipóteses
DO AUXÍLIO-NATALIDADE
previstas nos parágrafos do art. 230, será aceito atesta-
do passado por médico particular.
Art. 196. O auxílio-natalidade é devido à servidora por
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, o atestado somente
motivo de nascimento de filho, em quantia equivalente
produzirá efeitos depois de recepcionado pela unidade
ao menor vencimento do serviço público, inclusive no
de recursos humanos do órgão ou entidade.
caso de natimorto.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 1º Na hipótese de parto múltiplo, o valor será acrescido § 4º A licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte)
de 50% (cinquenta por cento), por nascituro. dias no período de 12 (doze) meses a contar do primeiro
§ 2º O auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro ser- dia de afastamento será concedida mediante avaliação
vidor público, quando a parturiente não for servidora. por junta médica oficial.
§ 5º A perícia oficial para concessão da licença de que
SEÇÃO III trata o caput deste artigo, bem como nos demais casos
DO SALÁRIO-FAMÍLIA de perícia oficial previstos nesta Lei, será efetuada por
cirurgiões-dentistas, nas hipóteses em que abranger o
Art. 197. O salário-família é devido ao servidor ativo ou ao campo de atuação da odontologia.
inativo, por dependente econômico. Art. 204. A licença para tratamento de saúde inferior
Parágrafo único. Consideram-se dependentes econômicos a 15 (quinze) dias, dentro de 1 (um) ano, poderá ser
para efeito de percepção do salário-família: dispensada de perícia oficial, na forma definida em re-
gulamento.

101
Art. 205. O atestado e o laudo da junta médica não se SEÇÃO VI
referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quando DA LICENÇA POR ACIDENTE EM SERVIÇO
se tratar de lesões produzidas por acidente em serviço,
doença profissional ou qualquer das doenças especifi- Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o
cadas no art. 186, § 1º. servidor acidentado em serviço.
Art. 206. O servidor que apresentar indícios de lesões Art. 212. Configura acidente em serviço o dano físico
orgânicas ou funcionais será submetido a inspeção mé- ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, me-
dica. diata ou imediatamente, com as atribuições do cargo
Art. 206-A. O servidor será submetido a exames mé- exercido.
dicos periódicos, nos termos e condições definidos em Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço
regulamento. o dano:
Parágrafo único. Para os fins do disposto no caput, a I - decorrente de agressão sofrida e não provocada
União e suas entidades autárquicas e fundacionais po- pelo servidor no exercício do cargo;
derão: II - sofrido no percurso da residência para o trabalho
I - prestar os exames médicos periódicos diretamente e vice-versa.
pelo órgão ou entidade à qual se encontra vinculado o Art. 213. O servidor acidentado em serviço que neces-
servidor; site de tratamento especializado poderá ser tratado em
II - celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou instituição privada, à conta de recursos públicos.
parceria com os órgãos e entidades da administração Parágrafo único. O tratamento recomendado por junta
direta, suas autarquias e fundações; médica oficial constitui medida de exceção e somente
III - celebrar convênios com operadoras de plano de as- será admissível quando inexistirem meios e recursos
sistência à saúde, organizadas na modalidade de auto- adequados em instituição pública.
gestão, que possuam autorização de funcionamento do Art. 214. A prova do acidente será feita no prazo de
órgão regulador, na forma do art. 230; ou 10 (dez) dias, prorrogável quando as circunstâncias o
IV - prestar os exames médicos periódicos mediante exigirem.
contrato administrativo, observado o disposto na Lei no
8.666, de 21 de junho de 1993, e demais normas perti-
SEÇÃO VII
nentes.
DA PENSÃO
SEÇÃO V
DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LI- Art. 215. Por morte do servidor, os dependentes, nas hi-
CENÇA-PATERNIDADE póteses legais, fazem jus à pensão a partir da data de
óbito, observado o limite estabelecido no inciso XI do
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por caput do art. 37 da Constituição Federal e no art. 2º da
120 (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004.
remuneração. Art. 216. (Revogado)
§ 1º A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês Art. 217. São beneficiários das pensões:
de gestação, salvo antecipação por prescrição médica. I - o cônjuge;
§ 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá II - o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou
início a partir do parto. de fato, com percepção de pensão alimentícia estabele-
§ 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do cida judicialmente;
evento, a servidora será submetida a exame médico, e se III - o companheiro ou companheira que comprove
julgada apta, reassumirá o exercício. união estável como entidade familiar;
§ 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servi- IV - o filho de qualquer condição que atenda a um dos
dora terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. seguintes requisitos:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servi- a) seja menor de 21 (vinte e um) anos;
dor terá direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias b) seja inválido;
consecutivos. d) tenha deficiência intelectual ou mental, nos termos
Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de do regulamento;
seis meses, a servidora lactante terá direito, durante a V - a mãe e o pai que comprovem dependência econô-
jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que pode- mica do servidor; e
rá ser parcelada em dois períodos de meia hora. VI - o irmão de qualquer condição que comprove de-
Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judi- pendência econômica do servidor e atenda a um dos
cial de criança até 1 (um) ano de idade, serão concedi- requisitos previstos no inciso IV.
dos 90 (noventa) dias de licença remunerada.
§ 1º A concessão de pensão aos beneficiários de que
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial
tratam os incisos I a IV do caput exclui os beneficiários
de criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de
referidos nos incisos V e VI.
que trata este artigo será de 30 (trinta) dias.

102
§ 2º A concessão de pensão aos beneficiários de que a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem
trata o inciso V do caput exclui o beneficiário referido que o servidor tenha vertido 18 (dezoito) contribuições
no inciso VI. mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem
§ 3º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho sido iniciados em menos de 2 (dois) anos antes do óbito
mediante declaração do servidor e desde que compro- do servidor;
vada dependência econômica, na forma estabelecida b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de
em regulamento. acordo com a idade do pensionista na data de óbito do
Art. 218. Ocorrendo habilitação de vários titulares à servidor, depois de vertidas 18 (dezoito) contribuições
pensão, o seu valor será distribuído em partes iguais mensais e pelo menos 2 (dois) anos após o início do ca-
entre os beneficiários habilitados. samento ou da união estável:
Art. 219. A pensão poderá ser requerida a qualquer 1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
tempo, prescrevendo tão-somente as prestações exigí- 2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis)
veis há mais de 5 (cinco) anos. anos de idade;
Parágrafo único. Concedida a pensão, qualquer prova 3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e
posterior ou habilitação tardia que implique exclusão de nove) anos de idade;
beneficiário ou redução de pensão só produzirá efeitos a 4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta)
partir da data em que for oferecida. anos de idade;
Art. 220. Perde o direito à pensão por morte: 5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (qua-
I - após o trânsito em julgado, o beneficiário condenado renta e três) anos de idade;
pela prática de crime de que tenha dolosamente resulta- 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos
do a morte do servidor; de idade.
II - o cônjuge, o companheiro ou a companheira se com- § 1º A critério da administração, o beneficiário de pensão
provada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no ca- cuja preservação seja motivada por invalidez, por incapa-
samento ou na união estável, ou a formalização desses cidade ou por deficiência poderá ser convocado a qual-
com o fim exclusivo de constituir benefício previdenciá- quer momento para avaliação das referidas condições.
rio, apuradas em processo judicial no qual será assegura- § 2º Serão aplicados, conforme o caso, a regra conti-
do o direito ao contraditório e à ampla defesa. da no inciso III ou os prazos previstos na alínea “b” do
Art. 221. Será concedida pensão provisória por morte inciso VII, ambos do caput, se o óbito do servidor de-
presumida do servidor, nos seguintes casos: correr de acidente de qualquer natureza ou de doen-
I - declaração de ausência, pela autoridade judiciária ça profissional ou do trabalho, independentemente do
competente; recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou
II - desaparecimento em desabamento, inundação, in- da comprovação de 2 (dois) anos de casamento ou de
cêndio ou acidente não caracterizado como em serviço; união estável.
III - desaparecimento no desempenho das atribuições do § 3º Após o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e des-
cargo ou em missão de segurança. de que nesse período se verifique o incremento mínimo
Parágrafo único. A pensão provisória será transformada de um ano inteiro na média nacional única, para ambos
em vitalícia ou temporária, conforme o caso, decorridos os sexos, correspondente à expectativa de sobrevida da
5 (cinco) anos de sua vigência, ressalvado o eventual população brasileira ao nascer, poderão ser fixadas, em
reaparecimento do servidor, hipótese em que o benefício números inteiros, novas idades para os fins previstos na
será automaticamente cancelado. alínea “b” do inciso VII do caput, em ato do Ministro de
Art. 222. Acarreta perda da qualidade de beneficiário: Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado
I - o seu falecimento; o acréscimo na comparação com as idades anteriores
II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer ao referido incremento.
após a concessão da pensão ao cônjuge; § 4º O tempo de contribuição a Regime Próprio de Pre-
III - a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiá- vidência Social (RPPS) ou ao Regime Geral de Previdên-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

rio inválido, o afastamento da deficiência, em se tratando cia Social (RGPS) será considerado na contagem das 18
de beneficiário com deficiência, ou o levantamento da (dezoito) contribuições mensais referidas nas alíneas
interdição, em se tratando de beneficiário com deficiên- “a” e “b” do inciso VII do caput.
cia intelectual ou mental que o torne absoluta ou rela- Art. 223. Por morte ou perda da qualidade de beneficiá-
tivamente incapaz, respeitados os períodos mínimos de- rio, a respectiva cota reverterá para os cobeneficiários.
correntes da aplicação das alíneas “a” e “b” do inciso VII; Art. 224. As pensões serão automaticamente atualiza-
IV - o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo das na mesma data e na mesma proporção dos rea-
filho ou irmão; justes dos vencimentos dos servidores, aplicando-se o
V - a acumulação de pensão na forma do art. 225; disposto no parágrafo único do art. 189.
VI - a renúncia expressa; e Art. 225. Ressalvado o direito de opção, é vedada a per-
VII - em relação aos beneficiários de que tratam os inci- cepção cumulativa de pensão deixada por mais de um
sos I a III do caput do art. 217: cônjuge ou companheiro ou companheira e de mais de
2 (duas) pensões.

103
SEÇÃO VIII § 1° Nas hipóteses previstas nesta Lei em que seja exi-
DO AUXÍLIO-FUNERAL gida perícia, avaliação ou inspeção médica, na ausência
de médico ou junta médica oficial, para a sua realização
Art. 226. O auxílio-funeral é devido à família do servi- o órgão ou entidade celebrará, preferencialmente, con-
dor falecido na atividade ou aposentado, em valor equi- vênio com unidades de atendimento do sistema público
valente a um mês da remuneração ou provento. de saúde, entidades sem fins lucrativos declaradas de
§ 1º No caso de acumulação legal de cargos, o auxílio utilidade pública, ou com o Instituto Nacional do Seguro
será pago somente em razão do cargo de maior remu- Social - INSS.
neração. § 2° Na impossibilidade, devidamente justificada, da
§ 2º (VETADO). aplicação do disposto no parágrafo anterior, o órgão ou
§ 3º O auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) entidade promoverá a contratação da prestação de ser-
horas, por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa viços por pessoa jurídica, que constituirá junta médica
da família que houver custeado o funeral. especificamente para esses fins, indicando os nomes e
especialidades dos seus integrantes, com a comprovação
Art. 227. Se o funeral for custeado por terceiro, este será
de suas habilitações e de que não estejam respondendo
indenizado, observado o disposto no artigo anterior.
a processo disciplinar junto à entidade fiscalizadora da
Art. 228. Em caso de falecimento de servidor em serviço
profissão.
fora do local de trabalho, inclusive no exterior, as despe- § 3° Para os fins do disposto no caput deste artigo, ficam
sas de transporte do corpo correrão à conta de recursos a União e suas entidades autárquicas e fundacionais au-
da União, autarquia ou fundação pública. torizadas a:
I - celebrar convênios exclusivamente para a prestação
SEÇÃO IX de serviços de assistência à saúde para os seus servidores
DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ou empregados ativos, aposentados, pensionistas, bem
como para seus respectivos grupos familiares definidos,
Art. 229. À família do servidor ativo é devido o auxílio- com entidades de autogestão por elas patrocinadas por
-reclusão, nos seguintes valores: meio de instrumentos jurídicos efetivamente celebrados
I - dois terços da remuneração, quando afastado por e publicados até 12 de fevereiro de 2006 e que possuam
motivo de prisão, em flagrante ou preventiva, determi- autorização de funcionamento do órgão regulador, sen-
nada pela autoridade competente, enquanto perdurar a do certo que os convênios celebrados depois dessa data
prisão; somente poderão sê-lo na forma da regulamentação es-
II - metade da remuneração, durante o afastamento, em pecífica sobre patrocínio de autogestões, a ser publicada
virtude de condenação, por sentença definitiva, a pena pelo mesmo órgão regulador, no prazo de 180 (cento e
que não determine a perda de cargo. oitenta) dias da vigência desta Lei, normas essas tam-
§ 1º Nos casos previstos no inciso I deste artigo, o servi- bém aplicáveis aos convênios existentes até 12 de feve-
dor terá direito à integralização da remuneração, desde reiro de 2006;
que absolvido. II - contratar, mediante licitação, na forma da Lei no
§ 2º O pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir 8.666, de 21 de junho de 1993, operadoras de planos
do dia imediato àquele em que o servidor for posto em e seguros privados de assistência à saúde que possuam
liberdade, ainda que condicional. autorização de funcionamento do órgão regulador;
§ 3º Ressalvado o disposto neste artigo, o auxílio-reclu- III - (VETADO)
são será devido, nas mesmas condições da pensão por § 4º (VETADO)
§ 5º O valor do ressarcimento fica limitado ao total des-
morte, aos dependentes do segurado recolhido à prisão.
pendido pelo servidor ou pensionista civil com plano ou
seguro privado de assistência à saúde.
CAPÍTULO III
DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE CAPÍTULO IV
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

DO CUSTEIO
Art. 230. A assistência à saúde do servidor, ativo ou
inativo, e de sua família compreende assistência mé- Art. 231. (Revogado).
dica, hospitalar, odontológica, psicológica e farmacêu-
tica, terá como diretriz básica o implemento de ações
preventivas voltadas para a promoção da saúde e será
prestada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, diretamen-
te pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o
servidor, ou mediante convênio ou contrato, ou ainda
na forma de auxílio, mediante ressarcimento parcial do
valor despendido pelo servidor, ativo ou inativo, e seus
dependentes ou pensionistas com planos ou seguros pri-
vados de assistência à saúde, na forma estabelecida em
regulamento.

104
d) e e) (Revogados).
Art. 241. Consideram-se da família do servidor, além do
EXERCÍCIO COMENTADO cônjuge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas
expensas e constem do seu assentamento individual.
1. (ABIN – AGENTE DE INTELIGÊNCIA – CESPE – 2018) Parágrafo único. Equipara-se ao cônjuge a companheira
Julgue o item que se segue, a respeito do regime jurídico ou companheiro, que comprove união estável como en-
dos servidores públicos, da Lei de Responsabilidade Fiscal, tidade familiar.
da Lei de Improbidade Administrativa e da garantia empre- Art. 242. Para os fins desta Lei, considera-se sede o mu-
gatícia de servidores efetivos e vitalícios. nicípio onde a repartição estiver instalada e onde o ser-
A despeito do caráter compulsório da aposentadoria aos vidor tiver exercício, em caráter permanente.
setenta anos de idade, o detentor de cargo público vitalício A Lei nº 9.784/1999 regula as regras gerais do proces-
poderá exercê-lo até os oitenta anos de idade. so administrativo, concentrando-se na esfera federal. A
partir dela, é possível compreender linhas gerais sobre
( ) CERTO ( ) ERRADO o funcionamento dos processos administrativos nas de-
mais esferas, inclusive a estadual:
Resposta: Errado. Disciplina o artigo 186, II, Lei nº
8.112/1990: “O servidor será aposentado: [...] II - com- CAPÍTULO I
pulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proven- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
tos proporcionais ao tempo de serviço”.
Art. 1º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o pro-
cesso administrativo no âmbito da Administração Fede-
DISPOSIÇÕES GERAIS ral direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos
direitos dos administrados e ao melhor cumprimento
TÍTULO VIII dos fins da Administração.
CAPÍTULO ÚNICO Processo é “a relação jurídica integrada por algumas
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS pessoas, que nela exercem várias atividades direcionadas
para determinado fim”. Tratando-se de uma relação admi-
Art. 236. O Dia do Servidor Público será comemorado a nistrativa, a relação jurídica traduzirá um processo adminis-
vinte e oito de outubro. trativo. Logo, processo administrativo é “o instrumento que
Art. 237. Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes formaliza a sequência ordenada de atos e de atividades do
Executivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incenti- Estado e dos particulares a fim de ser produzida uma von-
vos funcionais, além daqueles já previstos nos respecti- tade final da Administração”67.
vos planos de carreira: Processo administrativo não se confunde com procedi-
I - prêmios pela apresentação de ideias, inventos ou tra- mento administrativo. O primeiro pressupõe a sucessão or-
balhos que favoreçam o aumento de produtividade e a denada de atos concatenados visando à edição de um ato
redução dos custos operacionais; final, ou seja, é o conjunto de atos que visa à obtenção de
II - concessão de medalhas, diplomas de honra ao méri- decisão sobre uma controvérsia no âmbito administrativo;
to, condecoração e elogio. o segundo corresponde ao rito, conjunto de formalidades
Art. 238. Os prazos previstos nesta Lei serão contados que deve ser observado para a prática de determinados
em dias corridos, excluindo-se o dia do começo e in- atos, e é realizado no interior do processo, para viabilizá-lo.
cluindo-se o do vencimento, ficando prorrogado, para A Lei n° 9.784/99 estabelece as regras para o processo ad-
o primeiro dia útil seguinte, o prazo vencido em dia em ministrativo e institui um sistema normativo que fornece unifor-
que não haja expediente. midade aos diversos procedimentos administrativos em trâmite.
Art. 239. Por motivo de crença religiosa ou de convicção § 1º Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos
filosófica ou política, o servidor não poderá ser privado dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no
de quaisquer dos seus direitos, sofrer discriminação em desempenho de função administrativa.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

sua vida funcional, nem eximir-se do cumprimento de


seus deveres. Vale para as três esferas de poder.
Art. 240. Ao servidor público civil é assegurado, nos ter-
mos da Constituição Federal, o direito à livre associação § 2º Para os fins desta Lei, consideram-se:
sindical e os seguintes direitos, entre outros, dela decor- I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura
rentes: da Administração direta e da estrutura da Administra-
a) de ser representado pelo sindicato, inclusive como ção indireta;
substituto processual; II - entidade - a unidade de atuação dotada de persona-
b) de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano lidade jurídica;
após o final do mandato, exceto se a pedido; III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de
c) de descontar em folha, sem ônus para a entidade sindi- poder de decisão.
cal a que for filiado, o valor das mensalidades e contribui-
ções definidas em assembleia geral da categoria. 67 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

105
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre ou- VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que
tros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, determinarem a decisão;
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla
defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse públi- Não basta que a decisão indique os fundamentos ju-
co e eficiência. rídicos, devendo também associá-los aos fatos apura-
dos.
Legalidade é o respeito estrito da lei; finalidade é a prá-
tica de todo e qualquer ato visando um único fim, o in- VIII - observância das formalidades essenciais à garantia
teresse público; motivação é a necessidade de fundamen- dos direitos dos administrados;
tação de todas as decisões; razoabilidade é a tomada de IX - adoção de formassimples, suficientes para propiciar
decisões racionais e corretas; proporcionalidade é o equi- adequado grau de certeza, segurança e respeito aos di-
líbrio que deve se fazer presente na tomada de decisões; reitos dos administrados;
moralidade é o conhecimento das leis éticas que repousam
no seio social; ampla defesa é a necessidade de se garantir Respeito às formalidades não significa excesso de for-
meios para a pessoa responder acusações e buscar as re- malismo.
formas previstas em lei para decisões que a prejudiquem;
contraditório é a oitiva da outra pessoa sempre que a que X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação
se encontra no outro polo da relação se manifestar; segu- de alegações finais, à produção de provas e à interposi-
rança jurídica é a garantia social de que as leis serão res- ção de recursos, nos processos de que possam resultar
peitadas e cobrirão o mais vasto rol re relações socialmente sanções e nas situações de litígio;
relevantes possível; interesse público é o interesse de toda XI - proibição de cobrança de despesas processuais, res-
a coletividade; eficiência é a junção da economicidade com salvadas as previstas em lei;
a produtividade, aliando gastos sem que se perca em qua- XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem
lidade da atividade desempenhada. prejuízo da atuação dos interessados;
Há, ainda, princípios implícitos no decorrer da lei: pu- XIII - interpretação da norma administrativa da forma que
blicidade; oficialidade; informalismo ou formalismo mo- melhor garanta o atendimento do fim público a que se diri-
derado; gratuidade (a atuação na esfera administrativa é ge, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
gratuita); pluralidade de instâncias; economia processual;
participação popular. Se o entendimento mudar, não atinge casos passados.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão


observados, entre outros, os critérios de: #FicaDica
I - atuação conforme a lei e o Direito; Lembrete da Zê!
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a re- Princípios da Lei nº 9.784/99:
núncia total ou parcial de poderes ou competências, sal- - Segurança jurídica
vo autorização em lei; - Eficiência
O interesse coletivo deve sempre predominar. - Razoabilidade
III - objetividade no atendimento do interesse público, - Finalidade
vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades; - Ampla defesa
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, de- - Contraditório
coro e boa-fé; - Interesse público
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalva- - Legalidade
das as hipóteses de sigilo previstas na Constituição; - Proporcionalidade
- Moralidade
Neste sentido, o art. 5°, XXXIII, CF: “todos têm direito a - Motivação
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

receber dos órgãos públicos informações de seu interes-


se particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, CAPÍTULO II
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segu- DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
rança da sociedade e do Estado”.
Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos perante
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam
de obrigações, restrições e sanções em medida superior assegurados:
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do in-
teresse público; I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servido-
res, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o
A única razão para o Estado interferir é em razão do cumprimento de suas obrigações;
interesse da coletividade. II - ter ciência da tramitação dos processos administra-

106
tivos em que tenha a condição de interessado, ter vista ou seja, é preciso descrever os fatos e delimitar o objeto
dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e da controvérsias, sem o que não há plenitude de defesa; b)
conhecer as decisões proferidas; instrução, fase de elucidação dos fatos, na qual são pro-
III - formular alegações e apresentar documentos antes duzidas as provas, com a participação do interessado; c)
da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo defesa, que deve ser ampla; d) relatório, que é elaborado
órgão competente; pelo presidente do processo, sendo uma peça opinativa,
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo que não vincula a autoridade competente; e) julgamen-
quando obrigatória a representação, por força de lei. to, quando a decisão é proferida pela autoridade ou órgão
competente sobre o objeto do processo.
Quando for parte num processo administrativo a pes- No entendimento de Hely Lopes Meirelles68, os proces-
soa tem direito a ser tratada com respeito, a obter infor- so administrativos são divididos em quatro modalidades,
mações sobre o trâmite, a nele se manifestar e juntar do- da seguinte maneira:
cumentos e, apenas se quiser, ser assistida por advogado. a) Processo de expediente: denominação imprópria
Logo, é opcional a presença de advogado. conferida a toda autuação que tramita pelas reparti-
ções públicas por provocação do interessado ou por
determinação interna da Administração, para receber
#FicaDica solução conveniente. Não tem procedimento próprio
ou rito sacramental, seguindo pelos canais rotineiros
Direitos do administrado:
para informações, pareceres, despacho final da chefia
- Ser tratado com respeito;
competente e subsequente arquivamento. Tais expe-
- Ciência da tramitação dos processos – vista
dientes, que a rotina chama indevidamente de “pro-
dos autos; conhecer as decisões proferidas;
cesso”, não geram, nem alteram, nem suprimem direi-
- Assistência facultativa do advogado (salvo
tos dos administrados, da Administração ou de seus
quando a lei obriga).
servidores, apenas encerram papéis, registram situa-
ções administrativas, recebem pareceres e despachos
de tramitação ou meramente enunciativos de situa-
CAPÍTULO III ções pré-existentes, a exemplo dos pedidos de certi-
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO dões, das apresentações de documentos para certos
registros internos e outros da rotina burocrática.
Art. 4º São deveres do administrado perante a Administra- b) Processo de outorga: todo aquele em que se pleiteia
ção, sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: algum direito ou situação individual perante a Admi-
I - expor os fatos conforme a verdade; nistração. Em regra, tem rito especial, mas não con-
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; traditório, a não ser quando há oposição de terceiros
III - não agir de modo temerário; ou impugnação da própria Administração. Nestes
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e casos, é preciso dar oportunidade de defesa ao inte-
colaborar para o esclarecimento dos fatos. ressado, sob pena de nulidade da decisão final. São
exemplos desse tipo os processos de licenciamento
O administrado não pode tentar se aproveitar da Admi- de edificações, de licença de habite-se, de alvará de
nistração, trazendo fatos irreais, tumultuando e confundin- funcionamento, de isenção tributária e outros que
do o processo. Deve sempre proceder para esclarecer os consubstanciam pretensões de natureza negocial
fatos de maneira verdadeira. entre o particular e a Administração ou envolvam ati-
vidades sujeitas à fiscalização do Poder Público. As
decisões finais proferidas nesses processos tornam-
#FicaDica -se vinculantes e irretratáveis pela Administração
porque, geralmente, geram direito subjetivo para o
Deveres do administrado: beneficiário, salvo quando aos atos precários, que,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- Expor a verdade dos fatos; por sua natureza, admitam modificação ou supres-
- Lealdade, urbanidade e boa-fé; são sumária a qualquer tempo. Nos demais casos, a
- Ser prudente – não temerário; decisão é definitiva e só modificável quando eivada
- Prestar informações; de nulidade originária, ou por infração das normas
- Colaborar para esclarecimento. legais no decorrer da execução, ou, ainda, por inte-
resse público superveniente que justifique a revoga-
ção da outorga com a devida indenização, que pode
CAPÍTULO IV chegar ao caso de prévia desapropriação.
DO INÍCIO DO PROCESSO c) Processo de controle: todo aquele em que a Admi-
nistração realiza verificações e declara situações, di-
A partir deste ponto, são visíveis as fases do processo reitos ou condutas do administrado ou de servidor,
administrativo: a) instauração, com apresentação escrita
68 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São Paulo:
dos fatos e indicação do direito que ensejam o processo, Malheiros, 1993.

107
com caráter vinculante para as partes. Tais processos, Art. 6º O requerimento inicial do interessado, salvo casos
normalmente, têm rito próprio e, quando neles se em que for admitida solicitação oral, deve ser formulado
deparam irregularidades puníveis, exigem oportu- por escrito e conter os seguintes dados:
nidade de defesa ao interessado, antes do seu en- I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;
cerramento, sob pena de invalidade do resultado da II - identificação do interessado ou de quem o represente;
apuração. O processo de controle, também chamado III - domicílio do requerente ou local para recebimento
de determinação ou de declaração, não se confunde de comunicações;
com o processo punitivo, porque, enquanto neste se IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de
apura a falta e se aplica a penalidade cabível, naquele seus fundamentos;
apenas se verifica a situação ou a conduta do agente V - data e assinatura do requerente ou de seu represen-
e se proclama o resultado para efeitos futuros. São tante.
exemplos de processos administrativos de controle Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa
imotivada de recebimento de documentos, devendo o
os de prestação de contas perante órgãos públicos,
servidor orientar o interessado quanto ao suprimento de
os de verificação de atividades sujeitas à fiscalização,
eventuais falhas.
o de lançamento tributário e o de consulta fiscal.
Art. 7º Os órgãos e entidades administrativas deverão
Nesses processos a decisão final é vinculante para
elaborar modelos ou formulários padronizados para as-
a Administração e para o interessado, embora nem
suntos que importem pretensões equivalentes.
sempre seja autoexecutável, dependendo da instau-
Art. 8º Quando os pedidos de uma pluralidade de inte-
ração de outro processo administrativo, de caráter
ressados tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, po-
punitivo ou disciplinar, ou, mesmo, de ação civil ou
derão ser formulados em um único requerimento, salvo
criminal, ou, ainda, do pronunciamento executório
preceito legal em contrário.
de outro Poder.
d) Processo punitivo: todo aquele promovido pela
Administração para imposição de penalidade por As regras a respeito do início do processo administrativo
infração à lei, regulamento ou contrato. Esses pro- mostram que a Administração tem interesse de que o admi-
cessos devem ser necessariamente contraditórios, nistrado tenha acesso à via decisória administrativa. Por isso,
com oportunidade de defesa e estrita observância embora exija formalidades, se coloca numa posição de esclare-
do devido processo legal, sob pena de nulidade da cedora de falhas e de responsável por direcionamentos quanto
sanção imposta. A sua instauração deve ser baseada ao conteúdo dos requerimentos. Não obstante, aceita requeri-
em auto de infração, representação ou peça equiva- mento coletivo se o conteúdo e o fundamento dele for idêntico.
lente, iniciando-se com a exposição minuciosa dos
atos ou fatos ilegais ou administrativamente ilícitos, CAPÍTULO V
atribuídos ao indiciado e indicação da norma ou con- DOS INTERESSADOS
venção infringida. O processo punitivo poderá ser re-
alizado por um só representante da Administração Art. 9º São legitimados como interessados no processo
ou por comissão. O essencial é que se desenvolva administrativo:
com regularidade formal em todas as suas fases, para I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titu-
legitimar a sanção imposta a final. Nesses procedi- lares de direitos ou interesses individuais ou no exercício
mentos são adotáveis, subsidiariamente, os preceitos do direito de representação;
do processo penal comum, quando não conflitantes II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm di-
com as normas administrativas pertinentes. Embora reitos ou interesses que possam ser afetados pela deci-
a graduação das sanções administrativas – demissão, são a ser adotada;
multa, embargo de obra, destruição de coisas, inter- III - as organizações e associações representativas, no
dição de atividade e outras – seja discricionária, não tocante a direitos e interesses coletivos;
é arbitrária e, por isso, deve guardar correspondên- IV - as pessoas ou as associações legalmente constituí-
cia e proporcionalidade com a infração apurada no das quanto a direitos ou interesses difusos.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

respectivo processo, além de estar expressamente Art. 10. São capazes, para fins de processo administrati-
prevista em norma administrativa, pois não é dado vo, os maiores de dezoito anos, ressalvada previsão es-
à Administração aplicar penalidade não estabeleci- pecial em ato normativo próprio.
da em lei, decreto ou contrato, como não o é sem
o devido processo legal, que se erige em garantia “Além das pessoas físicas ou jurídicas titulares de direi-
individual de nível constitucional. tos e interesses diretos, podem ser interessadas pessoas
que possam ter direitos ameaçados em decorrência da de-
Art. 5º O processo administrativo pode iniciar-se de ofí- cisão do processo; também as organizações e associações
cio ou a pedido de interessado. representativas podem defender interesses coletivos e as
A autoridade responsável pelo processamento pode ini- pessoas ou associações legítimas podem invocar a tutela
ciar o processo administrativo, mas um interessado tam- de interesses difusos”69.
bém pode pedir que o faça.
69 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

108
Interesses coletivos são os que pertencem a um grupo Avocar é trazer de volta para si aquilo que delegou a
que não se sabe o número total mas cujo numero total é outrem, o que poderá ocorrer por um período de tempo.
possível ser definido pois os critérios para definir quem faz
parte dele são claros, sendo necessário que o número de Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divul-
atingidos seja relevante (sob pena de se caracterizar ape- garão publicamente os locais das respectivas sedes e,
nas interesse individual homogêneo). O interesse coletivo quando conveniente, a unidade fundacional competente
se difere do interesse difuso porque no interesse difuso em matéria de interesse especial.
não é possível estabelecer com clareza quem faz parte do Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o pro-
grupo e quem não faz. cesso administrativo deverá ser iniciado perante a auto-
ridade de menor grau hierárquico para decidir.
CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA
#FicaDica
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos Delegação – possível
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, Não se delegam:
salvo os casos de delegação e avocação legalmente ad- - atos de caráter normativo;
mitidos. - decisão de recursos administrativos;
- competência exclusiva.
Se a um órgão administrativo foi atribuído o dever de
apurar determinadas matérias por processo administrativo,
ele não pode se omitir.
CAPÍTULO VII
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo
estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, o servidor ou autoridade que:
quando for conveniente, em razão de circunstâncias de I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. II - tenha participado ou venha a participar como perito,
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo apli- testemunha ou representante, ou se tais situações ocor-
ca-se à delegação de competência dos órgãos colegia- rem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins
dos aos respectivos presidentes. até o terceiro grau;
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: III - esteja litigando judicial ou administrativamente com
I - a edição de atos de caráter normativo; o interessado ou respectivo cônjuge ou companheiro.
II - a decisão de recursos administrativos; Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impe-
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou dimento deve comunicar o fato à autoridade competen-
autoridade. te, abstendo-se de atuar.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impe-
publicados no meio oficial. dimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e po- Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou
deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a servidor que tenha amizade íntima ou inimizade notó-
duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, ria com algum dos interessados ou com os respectivos
podendo conter ressalva de exercício da atribuição de- cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro
legada. grau.
§ 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição pode-
pela autoridade delegante. rá ser objeto de recurso, sem efeito suspensivo.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 3º As decisões adotadas por delegação devem men-


cionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão No impedimento é vedada a participação porque in-
editadas pelo delegado. tensa a possibilidade de que não se permaneça isento na
condução do processo, na suspeição o risco é menor mas
Delegação é a transferência da competência para deci- - ainda assim - o afastamento é conveniente70 (por isso o
dir, não havendo lei que a proíba. O ato de delegação não processo continua em andamento se a alegação de suspei-
pode ser genérico, devendo delimitar qual a abrangência ção for afastada e dela se recorrer).
da transferência (matérias e poderes). Tal delegação pode
ser cancelada a qualquer tempo.
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por
motivos relevantes devidamente justificados, a avocação
temporária de competência atribuída a órgão hierarqui-
camente inferior. 70 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Novo curso de direito processual
civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 1.

109
10 mediante justificação (na prática, não é o que acontece
#FicaDica porque a Administração é sobrecarregada de processos e
não há sanção pelo descumprimento do prazo).
Impedimento
- Interesse direto ou indireto; CAPÍTULO IX
- Perito, testemunha, representante (cônjuge, DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
companheiro ou parente 3o);
- Litigando judicial ou administrativamente Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o
(cônjuge ou companheiro). processo administrativo determinará a intimação do
Suspeição interessado para ciência de decisão ou a efetivação de
- Amizade ou inimizade (cônjuge, companheiro diligências.
ou parente 3o); § 1º A intimação deverá conter:
- Presunção relativa de incapacidade.
I - identificação do intimado e nome do órgão ou enti-
dade administrativa;
II - finalidade da intimação;
CAPÍTULO VIII III - data, hora e local em que deve comparecer;
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou
PROCESSO fazer-se representar;
V - informação da continuidade do processo indepen-
Art. 22. Os atos do processo administrativo não depen- dentemente do seu comparecimento;
dem de forma determinada senão quando a lei expres- VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
samente a exigir. § 2º A intimação observará a antecedência mínima de
§ 1º Os atos do processo devem ser produzidos por escri- três dias úteis quanto à data de comparecimento.
to, em vernáculo, com a data e o local de sua realização § 3º A intimação pode ser efetuada por ciência no pro-
e a assinatura da autoridade responsável. cesso, por via postal com aviso de recebimento, por tele-
§ 2º Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma grama ou outro meio que assegure a certeza da ciência
somente será exigido quando houver dúvida de auten- do interessado.
ticidade. § 4º No caso de interessados indeterminados, desconhe-
§ 3º A autenticação de documentos exigidos em cópia cidos ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser
efetuada por meio de publicação oficial.
poderá ser feita pelo órgão administrativo.
§ 5º As intimações serão nulas quando feitas sem obser-
§ 4º O processo deverá ter suas páginas numeradas se-
vância das prescrições legais, mas o comparecimento do
quencialmente e rubricadas.
administrado supre sua falta ou irregularidade.
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias
Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o
úteis, no horário normal de funcionamento da reparti- reconhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a
ção na qual tramitar o processo. direito pelo administrado.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será
normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique garantido direito de ampla defesa ao interessado.
o curso regular do procedimento ou cause dano ao inte- Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do pro-
ressado ou à Administração. cesso que resultem para o interessado em imposição de
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do ór- deveres, ônus, sanções ou restrição ao exercício de di-
gão ou autoridade responsável pelo processo e dos ad- reitos e atividades e os atos de outra natureza, de seu
ministrados que dele participem devem ser praticados interesse.
no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior.
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser Intimação é o ato pelo qual se dá ciência ao interessado
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

dilatado até o dobro, mediante comprovada justificação. de alguma decisão ou do dever de comparecer para pres-
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferen- tar informações. Ela possui um conteúdo específico e deve
cialmente na sede do órgão, cientificando-se o interes- ser feita pessoalmente, a não ser quando o interessado for
sado se outro for o local de realização. indeterminado, desconhecido ou com domicílio desconhe-
cido, caso em que se aceitará intimação por edital. Não
Não existem muitas formalidades que cercam os atos obedecidas as formalidades, a intimação é nula, de forma
do processo administrativo, mas é preciso que eles se- que é como se os atos do processo que deveriam ser cien-
jam escritos em vocabulário adequado com data, local e tificados não o tivessem sido, fazendo com que ele volte ao
assinatura. Diante da dispensa de formalidades, não seria estágio em que a pessoa deveria ter sido intimada. O desa-
razoável sempre exigir reconhecimento da assinatura. Os tendimento de uma intimação não faz com que se presuma
atos são praticados em dias úteis (segunda a sábado), no que o intimado estava errado. Destaque para o art. 28, que
horário regular de funcionamento da repartição. O prazo delimita as espécies de situações em que cabe intimação.
para a prática dos atos é de cinco dias, prorrogáveis para

110
CAPÍTULO X cisão administrativa ou legislativa, através da qual a auto-
DA INSTRUÇÃO ridade competente abre espaço para que todas as pessoas
que possam sofrer os reflexos dessa decisão tenham opor-
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averi- tunidade de se manifestar antes do desfecho do processo.
guar e comprovar os dados necessários à tomada de É através dela que o responsável pela decisão tem acesso,
decisão realizam-se de ofício ou mediante impulsão do simultaneamente e em condições de igualdade, às mais
órgão responsável pelo processo, sem prejuízo do direito variadas opiniões sobre a matéria debatida, em contato
dos interessados de propor atuações probatórias. direto com os interessados”73.
§ 1º O órgão competente para a instrução fará constar
dos autos os dados necessários à decisão do processo. Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em
§ 2º Os atos de instrução que exijam a atuação dos in- matéria relevante, poderão estabelecer outros meios
teressados devem realizar-se do modo menos oneroso de participação de administrados, diretamente ou por
para estes. meio de organizações e associações legalmente reco-
nhecidas.
Atividades de instrução são as atividades de produção Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de
de provas no processo. Sob o aspecto objeto, prova é “o outros meios de participação de administrados deverão ser
conjunto de meios produtores da certeza jurídica ou o con- apresentados com a indicação do procedimento adotado.
junto de meios utilizados para demonstrar a existência de Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a
fatos relevantes para o processo”; sob o aspecto subjetivo, audiência de outros órgãos ou entidades administrati-
prova “é a própria convicção que se forma no espírito do vas poderá ser realizada em reunião conjunta, com a
julgador a respeito da existência ou inexistência de fatos participação de titulares ou representantes dos órgãos
alegados no processo”71. competentes, lavrando-se a respectiva ata, a ser juntada
aos autos.
Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que te-
provas obtidas por meios ilícitos. nha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão
Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto competente para a instrução e do disposto no art. 37
de interesse geral, o órgão competente poderá, median- desta Lei.
te despacho motivado, abrir período de consulta públi- Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados
ca para manifestação de terceiros, antes da decisão do estão registrados em documentos existentes na própria
pedido, se não houver prejuízo para a parte interessada. Administração responsável pelo processo ou em outro
§ 1° A abertura da consulta pública será objeto de divul- órgão administrativo, o órgão competente para a ins-
gação pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas trução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou
ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-se pra- das respectivas cópias.
zo para oferecimento de alegações escritas.
§ 2° O comparecimento à consulta pública não confere, O interessado deve provar o que alegou, salvo quan-
por si, a condição de interessado do processo, mas con- do a prova estiver em documento que esteja em poder da
fere o direito de obter da Administração resposta funda- Administração, caso em que ela deverá de ofício provê-los
mentada, que poderá ser comum a todas as alegações (ou cópias).
substancialmente iguais.
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes
Consulta Pública é um sistema criado com o objetivo
da tomada da decisão, juntar documentos e pareceres,
de auxiliar na elaboração e coleta de opiniões da socie-
requerer diligências e perícias, bem como aduzir alega-
dade sobre temas de importância. Esse sistema permite
ções referentes à matéria objeto do processo.
intensificar a articulação entre a representatividade e a so-
§ 1° Os elementos probatórios deverão ser considerados
ciedade, permitindo que a sociedade participe da formu-
na motivação do relatório e da decisão.
lação e definição de políticas públicas. O IBAMA costuma
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

§ 2° Somente poderão ser recusadas, mediante decisão


utilizar deste recurso na tomada de suas decisões72.
fundamentada, as provas propostas pelos interessados
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autori- quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
dade, diante da relevância da questão, poderá ser rea- protelatórias.
lizada audiência pública para debates sobre a matéria
do processo. O interessado tem direito à prova, juntando documen-
tos e requerendo diligências e perícias, mas não pode abu-
“Audiência pública é um instrumento que leva a uma sar deste direito, requerendo provas não autorizadas pelo
decisão política ou legal com legitimidade e transparência. direito, que não tenham a ver com o caso ou que apenas
Cuida-se de uma instância no processo de tomada da de- visem prorrogar o processo.

71LOPES, João Batista. A prova no Direito Processual Civil. 3. ed. São 73 SOARES, Evanna. A audiência pública no processo administrativo. Jus
Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. Navigandi, Teresina, ano 7, n. 58, 1 ago. 2002 . Disponível em: <http://
72 http://www.ibama.gov.br/servicos/consulta-publica jus.com.br/revista/texto/3145>. Acesso em: 26 mar. 2013.

111
Art. 39. Quando for necessária a prestação de infor- Providências acautelatórias são aquelas que deveriam
mações ou a apresentação de provas pelos interessa- ser tomadas num determinado momento do processo mas,
dos ou terceiros, serão expedidas intimações para esse para evitar que ela se torne impossível posteriormente, ela
fim, mencionando-se data, prazo, forma e condições de é antecipada. Por exemplo, oitiva de uma testemunha que
atendimento. está no leito de morte.
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, po-
derá o órgão competente, se entender relevante a maté- Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo
ria, suprir de ofício a omissão, não se eximindo de pro- e a obter certidões ou cópias reprográficas dos dados e
ferir a decisão. documentos que o integram, ressalvados os dados e do-
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solici- cumentos de terceiros protegidos por sigilo ou pelo direito
tados ao interessado forem necessários à apreciação de à privacidade, à honra e à imagem.
pedido formulado, o não atendimento no prazo fixado Art. 47. O órgão de instrução que não for competente
pela Administração para a respectiva apresentação im- para emitir a decisão final elaborará relatório indicando
plicará arquivamento do processo. o pedido inicial, o conteúdo das fases do procedimento e
formulará proposta de decisão, objetivamente justificada,
O interessado deve ser intimado quando for necessária a encaminhando o processo à autoridade competente.
apresentação de informações ou provas e, não comparecen-
do perante a Administração, embora não se presuma que ela CAPÍTULO XI
esteja correta, será feito o arquivamento do processo. Diante DO DEVER DE DECIDIR
disso, o interessado poderá, no futuro, abri-lo novamente.
Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamen-
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou dili- te emitir decisão nos processos administrativos e sobre
gência ordenada, com antecedência mínima de três dias solicitações ou reclamações, em matéria de sua compe-
úteis, mencionando-se data, hora e local de realização. tência.
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um Art. 49. Concluída a instrução de processo administrati-
órgão consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo vo, a Administração tem o prazo de até trinta dias para
máximo de quinze dias, salvo norma especial ou compro- decidir, salvo prorrogação por igual período expressa-
vada necessidade de maior prazo. mente motivada.
§ 1º Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser
emitido no prazo fixado, o processo não terá seguimen- A autoridade competente não pode se eximir de decidir,
to até a respectiva apresentação, responsabilizando-se possuindo um prazo de 30 dias após o fim do processo
quem der causa ao atraso. administrativo para tanto.
§ 2º Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de
ser emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosse- CAPÍTULO XII
guimento e ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo DA MOTIVAÇÃO
da responsabilidade de quem se omitiu no atendimento.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados,
As situações são diferentes conforme o parecer obrigue com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos,
que a decisão seja tomada num determinado sentido (vin- quando:
culante) ou não. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou san-
Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ções;
ser previamente obtidos laudos técnicos de órgãos admi- III - decidam processos administrativos de concurso ou
nistrativos e estes não cumprirem o encargo no prazo as- seleção pública;
sinalado, o órgão responsável pela instrução deverá soli- IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de proces-
so licitatório;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

citar laudo técnico de outro órgão dotado de qualificação


e capacidade técnica equivalentes. V - decidam recursos administrativos;
Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito VI - decorram de reexame de ofício;
de manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a
outro prazo for legalmente fixado. questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e
relatórios oficiais;
Produzidas as provas, antes da decisão, o interessado VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou con-
poderá se manifestar. validação de ato administrativo.
§ 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente,
Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Públi- podendo consistir em declaração de concordância com
ca poderá motivadamente adotar providências acautela- fundamentos de anteriores pareceres, informações, de-
doras sem a prévia manifestação do interessado. cisões ou propostas, que, neste caso, serão parte inte-
grante do ato.

112
§ 2º Na solução de vários assuntos da mesma natureza, § 1° No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o pra-
pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fun- zo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro
damentos das decisões, desde que não prejudique direito pagamento.
ou garantia dos interessados. § 2° Considera-se exercício do direito de anular qual-
§ 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e quer medida de autoridade administrativa que importe
comissões ou de decisões orais constará da respectiva impugnação à validade do ato.
ata ou de termo escrito. Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarreta-
rem lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros,
A Administração não pode impor arbitrariamente suas os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser
decisões, devendo justificá-las. Quando da decisão de um convalidados pela própria Administração.
processo administrativo deverá explicar em que normas ju-
rídicas se baseou e como elas se interligam aos fatos apu- Os atos viciados, ou seja, que tenham sido praticados
rados. É possível fazer remissões a pareceres, informações, contrários às formalidades legais, deverão ser anulados.
decisões ou propostas, mas é preciso fazê-lo de forma ex- Poderão também ser anulados atos não viciados no exer-
plícita, clara e congruente. O uso de tecnologias otimiza cício da discricionariedade administrativa, mas para tanto
os serviços, mas é preciso atenção a cada caso, não preju- é preciso respeitar os direitos adquiridos dos interessados.
dicando direito ou garantia do interessado. Toda decisão
deverá ser transcrita, caso seja proferida oralmente. CAPÍTULO XV
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO
CAPÍTULO XIII
DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em
DO PROCESSO face de razões de legalidade e de mérito.
§ 1° O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco
escrita, desistir total ou parcialmente do pedido formu- dias, o encaminhará à autoridade superior.
lado ou, ainda, renunciar a direitos disponíveis. § 2° Salvo exigência legal, a interposição de recurso ad-
§ 1° Havendo vários interessados, a desistência ou re- ministrativo independe de caução.
núncia atinge somente quem a tenha formulado. § 3° Se o recorrente alegar que a decisão administra-
§ 2° A desistência ou renúncia do interessado, confor- tiva contraria enunciado da súmula vinculante, caberá
me o caso, não prejudica o prosseguimento do processo, à autoridade prolatora da decisão impugnada, se não
se a Administração considerar que o interesse público a reconsiderar, explicitar, antes de encaminhar o recur-
assim o exige. so à autoridade superior, as razões da aplicabilidade ou
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
processo quando exaurida sua finalidade ou o objeto da
decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por O recurso poderá questionar se houve correta aplicação
fato superveniente. da lei ou se houve correta interpretação dos fatos. Ele será
interposto para a autoridade que proferiu a decisão, que
Caso o interessado não queira prosseguir com o pro- poderá reconsiderar em 5 dias e, caso não o faça, encami-
cesso poderá desistir dele por completo ou de parte dele, nhará à autoridade superior.
mas se o interesse público for maior a Administração po-
derá continuar (por exemplo, indícios de que o interessado Súmula vinculante é uma espécie de orientação pro-
praticou um ilícito contra a Administração). Se existir mais ferida pelo Supremo Tribunal Federal de observância
de um interessado, a desistência só atinge o que desistiu. obrigatória em todas instâncias de julgamento, judi-
Extinção é o término do processo, que se dará quando ciais ou administrativas.
sua finalidade tiver acabado ou quando seu objeto se tor- Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

nar impossível inútil ou prejudicado. por três instâncias administrativas, salvo disposição le-
gal diversa.
CAPÍTULO XIV
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso admi-
nistrativo:
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, I - os titulares de direitos e interesses que forem parte
quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá- no processo;
-los por motivo de conveniência ou oportunidade, res- II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indireta-
peitados os direitos adquiridos. mente afetados pela decisão recorrida;
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos III - as organizações e associações representativas, no
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para tocante a direitos e interesses coletivos;
os destinatários decai em cinco anos, contados da data IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou
em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. interesses difusos.

113
Para recorrer a parte tem que ter interesse, de forma Por não conhecimento entende-se a não apreciação do
que algum direito ou garantia que ela estava defendendo mérito do recurso porque ele não preencheu alguma das
no processo tenha obtido uma decisão contrária. formalidades legais.

Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso po-
prazo para interposição de recurso administrativo, con- derá confirmar, modificar, anular ou revogar, total ou
tado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de
recorrida. sua competência.
§1° Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste ar-
administrativo deverá ser decidido no prazo máximo de tigo puder decorrer gravame à situação do recorrente,
trinta dias, a partir do recebimento dos autos pelo órgão este deverá ser cientificado para que formule suas ale-
competente. gações antes da decisão.
§ 2° O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá
ser prorrogado por igual período, ante justificativa ex- Se a situação do recorrente puder piorar, deverá ele ser
plícita. cientificado para se manifestar.

Se a lei não dispuser de modo diverso, a parte tem até Art. 64-A. Se o recorrente alegar violação de enunciado
10 dias para recorrer e, do recebimento dos autos, a au- da súmula vinculante, o órgão competente para deci-
toridade tem até 30 dias para julgar, os quais podem ser dir o recurso explicitará as razões da aplicabilidade ou
prorrogados por mais 30. inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
Art. 64-B. Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a re-
Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento clamação fundada em violação de enunciado da súmu-
no qual o recorrente deverá expor os fundamentos do la vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora
pedido de reexame, podendo juntar os documentos que e ao órgão competente para o julgamento do recurso,
julgar convenientes. que deverão adequar as futuras decisões administrati-
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso vas em casos semelhantes, sob pena de responsabili-
não tem efeito suspensivo. zação pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de di-
fícil ou incerta reparação decorrente da execução, a au- Ao julgar procedente a reclamação, o STF anulará o ato
toridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada,
de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso. determinando que outra seja proferida com ou sem aplica-
ção da súmula, conforme o caso. Também se dará ciência
Significa que a decisão recorrida será cumprida, inde- à autoridade prolatora para que passe a decidir conforme
pendentemente de haver recurso pendente. No entanto, a Súmula VInculante violada.
tal efeito suspensivo pode ser concedido, conforme a exce-
ção do parágrafo único. Art. 65. Os processos administrativos de que resultem
sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pe-
Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para
dido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou cir-
dele conhecer deverá intimar os demais interessados
cunstâncias relevantes suscetíveis de justificar a inade-
para que, no prazo de cinco dias úteis, apresentem ale-
quação da sanção aplicada.
gações.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá re-
sultar agravamento da sanção.
Antes de decidir se irá apreciar o recurso, ou seja, dar
início ao seu processamento, as partes devem ser ouvidas
Se surgirem novos fatos ou circunstâncias um processo
no prazo de 5 dias.
já encerrado pode ser revisto, mas eventual sanção aplica-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto: da não poderá ser agravada.
I - fora do prazo;
II - perante órgão incompetente;
III - por quem não seja legitimado;
IV - após exaurida a esfera administrativa.
§ 1° Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente
a autoridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo
para recurso.
§ 2° O não conhecimento do recurso não impede a Ad-
ministração de rever de ofício o ato ilegal, desde que não
ocorrida preclusão administrativa.

114
#FicaDica #FicaDica
Fases do processo administrativo: - 3 dias úteis – intimação da comunicação dos
- Requerimento – de ofício ou a pedido atos ou da instrução;
- Comunicação - 5 dias – caso geral; recurso (reconsideração
- Instrução pela autoridade que proferiu; apresentação de
• Fase processual; alegações);
• Consulta pública – manifestação de - 10 dias – direito de manifestação do interes-
terceiros; assunto de interesse geral; fixam-se sado; interposição de recurso;
prazos para as alegações escritas; - 15 dias – parecer de órgão consultivo;
• Audiência pública – antes da decisão; - 30 dias – decisão (prorrogável) – decisão do
matéria de importância relevante. processo e decisão do recurso;
- Decisão - 5 anos – anular ato com efeito favorável para
- Recurso destinatário

CAPÍTULO XVI CAPÍTULO XVII


DOS PRAZOS DAS SANÇÕES

Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade
cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do competente, terão natureza pecuniária ou consistirão
começo e incluindo-se o do vencimento. em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sem-
§ 1° Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia pre o direito de defesa.
útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não
houver expediente ou este for encerrado antes da hora As sanções aplicadas serão: pagamento de quantia cer-
normal. ta, ou seja, de valor em dinheiro; ou então obrigação de
§ 2° Os prazos expressos em dias contam-se de modo fazer ou não fazer algo.
contínuo.
§ 3° Os prazos fixados em meses ou anos contam-se CAPÍTULO XVIII
de data a data. Se no mês do vencimento não houver o DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
dia equivalente àquele do início do prazo, tem-se como
termo o último dia do mês. Art. 69. Os processos administrativos específicos conti-
nuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes ape-
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente com- nas subsidiariamente os preceitos desta Lei.
provado, os prazos processuais não se suspendem. Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer
órgão ou instância, os procedimentos administrativos em
Publicados oficialmente os atos, o prazo começa a cor- que figure como parte ou interessado:
rer, excluído o dia da publicação e incluído o dia do ven- I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta)
cimento. Ex: prazo de 10 dias - decisão proferida dia 1º, anos;
começa a contar do dia 2º, indo até o dia 11, dia do venci- II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;
mento, que é incluído. Se dia 2º não fosse dia útil, começa- III - (VETADO)
ria a se contar do 1º dia útil que o seguisse, assim como se IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose
dia 11 não o fosse somente haveria vencimento no 1º dia múltipla, neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irre-
útil que o seguisse. versível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de
Somente se suspende um prazo por motivo de força Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

maior. grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença


de Paget (osteíte deformante), contaminação por radia-
ção, síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra
doença grave, com base em conclusão da medicina es-
pecializada, mesmo que a doença tenha sido contraída
após o início do processo.
§ 1° A pessoa interessada na obtenção do benefício, jun-
tando prova de sua condição, deverá requerê-lo à au-
toridade administrativa competente, que determinará as
providências a serem cumpridas.
§ 2° Deferida a prioridade, os autos receberão identifica-
ção própria que evidencie o regime de tramitação prio-
ritária.
§ 3º (VETADO)

115
§ 4º (VETADO) 3. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. TRATIVA – CESPE – 2018) A respeito dos poderes admi-
nistrativos, da contratação com a administração pública e
A Lei nº 9.784/99 é apenas subsidiária às demais leis que do processo administrativo – Lei nº 9.784/1999 –, julgue o
de alguma forma abordem os procedimentos administrati- item seguinte.
vos. Ou seja, será usada quando não houver regulamenta- A desistência do interessado quanto a pedido formulado à
ção específica. administração pública impede o prosseguimento do pro-
cesso.
Brasília 29 de janeiro de 1999; 178º da Independência e
111º da República. ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Disciplina o artigo 51, §2º da Lei nº


EXERCÍCIOS COMENTADOS 9.784/99: “A desistência ou renúncia do interessado, con-
forme o caso, não prejudica o prosseguimento do proces-
so, se a Administração considerar que o interesse público
1. (ABIN – AGENTE DE INTELIGÊNCIA – CESPE – 2018)
No que tange aos atos administrativos, julgue o item se- assim o exige”.
guinte.
Situação hipotética: Após decisão administrativa que lhe
foi desfavorável, publicada no dia 1º/2/2017, João decidiu RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
interpor recurso administrativo. Tendo tomado ciência do
ato negativo, após busca exaustiva, João verificou que não
havia disposição legal específica para a apresentação do re-
curso e protocolou-o no dia 2/3/2017, com o intuito de es- RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
clarecer os pontos controversos da decisão. Assertiva: Nes-
sa situação, o lapso temporal descrito caracteriza o recurso A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio-
como tempestivo, razão por que ele deverá ser conhecido. cínio de que a principal consequência da prática de um ato
ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar o
( ) CERTO ( ) ERRADO dano, mediante o pagamento de indenização que se refere
às perdas e danos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre
Resposta: Errado. Nos termos do artigo 59, Lei nº em omissão que gere dano deve suportar as consequên-
9.784/99, “salvo disposição legal específica, é de dez dias cias jurídicas decorrentes, restaurando-se o equilíbrio so-
o prazo para interposição de recurso administrativo, con- cial. Todos os cidadãos se sujeitam às regras da respon-
tado a partir da ciência ou divulgação oficial da decisão sabilidade civil, tanto podendo buscar o ressarcimento do
recorrida”. Assim, o recurso é intempestivo. dano que sofreu quanto respondendo por aqueles danos
que causar. Da mesma forma, o Estado tem o dever de in-
2. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – CES- denizar os membros da sociedade pelos danos que seus
PE – 2018) agentes causem durante a prestação do serviço, inclusive
Considerando que, tendo detectado risco iminente de pre- se tais danos caracterizarem uma violação aos direitos hu-
juízo, em decorrência de suspeita de vício na concessão manos reconhecidos.
de verba de natureza alimentar a determinado administra-
do, a administração determine a suspensão de seu paga- 1. Histórico
mento, julgue o próximo item, à luz do disposto na Lei nº
9.784/1999. “Na metade do século XIX, a ideia que prevaleceu no
Interposto o recurso administrativo pelo interessado, po- mundo ocidental era a de que o Estado não tinha qualquer
derá ocorrer a reformatio in pejus (reforma para piorar), responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes.
desde que ele seja cientificado para apresentar suas alega- A solução era muito rigorosa para com os particulares em
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ções antes da decisão. geral, mas obedecia às reais condições políticas da época.
O denominado Estado Liberal tinha limitada atuação, rara-
( ) CERTO ( ) ERRADO
mente intervindo nas relações entre particulares, de modo
que a doutrina de sua irresponsabilidade constituía mero
Resposta: Certo. Disciplina a Lei nº 9.784/1999: “Art. 64.
corolário da figuração política de afastamento e da equi-
O órgão competente para decidir o recurso poderá confir-
vocada isenção que o Poder Público assumia àquela época.
mar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a
A ideia anterior, da intangibilidade do Estado, decorria da
decisão recorrida, se a matéria for de sua competência. Pa-
irresponsabilidade do monarca, traduzida nos postulados
rágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo pu-
der decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ‘the king can do no wrong’ e ‘le roi ne peut mal faire’”74.
ser cientificado para que formule suas alegações antes da
decisão”. Com efeito, a reformatio in pejus é possível, desde
que respeitado o contraditório e a ampla defesa. 74 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrati-
vo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

116
danos que seus agentes causem durante a prestação do
#FicaDica serviço, inclusive se tais danos caracterizarem uma violação
aos direitos humanos reconhecidos.
- Teoria da irresponsabilidade – O rei não Trata-se de responsabilidade extracontratual porque
pode fazer nada errado – Estados não podem não depende de ajuste prévio, basta a caracterização de
ser responsabilizados. elementos genéricos pré-determinados, que perpassam
- Teorias civilistas – Uma delas era a teoria da pela leitura concomitante do Código Civil (artigos 186, 187
culpa comum do Estado, que equiparava o Es-
e 927) com a Constituição Federal (artigo 37, §6°).
tado a um indivíduo qualquer, logo, deveria ser
É preciso lembrar que não é o Estado em si que viola
analisado na conduta do Estado ação/omissão,
os direitos, porque o Estado é uma ficção formada por um
nexo causal e dano; outra delas é a teoria da
grupo de pessoas que desempenham as atividades estatais
responsabilidade subjetiva do agente público,
diversas. Assim, viola direitos o agente que o representa,
pela qual apenas o agente público deveria res-
fazendo com que o próprio Estado seja responsabilizado
ponder pelo dano causado por sua ação/omis-
por isso civilmente, pagando pela indenização (reparação
são com dolo ou culpa, mas o Estado ficaria
isento. dos danos materiais e morais). Sem prejuízo, com relação a
- Teoria da culpa administrativa – É a primei- eles, caberá ação de regresso se agiram com dolo ou culpa.
ra teoria a reconhecer a responsabilidade do Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
Estado de indenizar, ultrapassada a concepção se encontram no art. 186 do Código Civil:
de culpa do agente público. O Estado seria res- Artigo 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão volun-
ponsabilizado desde que demonstrada a falta tária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
do serviço e o dano gerado por esta falta. dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, come-
- Teoria do risco administrativo – É a mais te ato ilícito.
atual e adotada no ordenamento brasileiro. O
Estado tem obrigação de indenizar indepen- Este é o artigo central do instituto da responsabilidade
dentemente da falta do serviço ou da culpa do civil, que tem como elementos: ação ou omissão voluntária
agente público. (agir como não se deve ou deixar de agir como se deve),
culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma
violação de direito e culpa é a falta de diligência), nexo
causal (relação de causa e efeito entre a ação/omissão e
2. Responsabilidade civil do Estado no direito o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo
brasileiro agente, que pode ser individual ou coletivo, moral ou ma-
terial, econômico e não econômico).
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante Conforme o caso, a culpa será ou não considerada ne-
do direito obrigacional, uma vez que a principal conse- cessária para reparar o dano. Pela teoria clássica, a culpa
quência da prática de um ato ilícito é a obrigação que gera é fundamento da responsabilidade, tanto que a teoria é
para o seu auto de reparar o dano, mediante o pagamento conhecida como teoria da culpa ou subjetiva, pela qual não
de indenização que se refere às perdas e danos. Afinal, havendo culpa, não há responsabilidade.
quem pratica um ato ou incorre em omissão que gere A lei impõe, no entanto, a certas pessoas, em determi-
dano deve suportar as consequências jurídicas decorren- nadas situações, a reparação de um dano cometido sem
tes, restaurando-se o equilíbrio social.75 culpa. Sempre que isso acontece, entende-se que a respon-
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal, po- sabilidade é legal ou objetiva, não dependendo de culpa,
dendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até os bastando o dano e o nexo de causalidade (a culpa pode ou
limites da herança, embora existam reflexos na ação que não existir, mas nem é avaliada).
apure a responsabilidade civil conforme o resultado na es- Na responsabilidade subjetiva, provar a culpa é pressu-
fera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de posto do dano indenizável; enquanto que na responsabili-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que dade objetiva o elemento culpa é excluído (restam apenas
uma absolvição por falta de provas não o faz). ação ou omissão, dano e nexo causal), sendo substituído
A responsabilidade civil do Estado acompanha o racio- pelo risco.
cínio de que a principal consequência da prática de um ato Mesmo na responsabilidade objetiva, não se pode res-
ilícito é a obrigação que gera para o seu auto de reparar ponsabilizar quem não tenha dado causa ao evento, sendo
o dano, mediante o pagamento de indenização que se re- imprescindível a demonstração do nexo causal.
fere às perdas e danos. Todos os cidadãos se sujeitam às Teorias da responsabilidade objetiva surgem por se
regras da responsabilidade civil, tanto podendo buscar o entender que a culpa é insuficiente para regular todas as
ressarcimento do dano que sofreu quanto respondendo situações de responsabilidade civil. A responsabilidade ob-
por aqueles danos que causar. Da mesma forma, o Estado jetiva não substitui a responsabilidade subjetiva, mas fica
tem o dever de indenizar os membros da sociedade pelos circunscrita aos seus próprios limites, notadamente, quan-
75 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed. São Pau- do a atividade – por sua natureza – representar risco para
lo: Saraiva, 2005. os direitos de outrem.

117
Logo, uma das teorias que justificam a responsabilidade Diante de tal premissa, entende-se que a responsabi-
objetiva é a teoria do risco, pela qual toda pessoa que exer- lidade civil do Estado será objetiva apenas no caso de
ce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros e ações, mas subjetiva no caso de omissões. Em outras
deve repará-lo caso ocorra (desloca-se a noção de culpa palavras, verifica-se se o Estado se omitiu tendo plenas
para a noção de risco). condições de não ter se omitido, isto é, ter deixado de agir
O Código Civil brasileiro filia-se à teoria subjetiva: quando tinha plenas condições de fazê-lo, acarretando em
Art. 186, CC. Aquele que, por ação ou omissão voluntá- prejuízo dentro de sua previsibilidade.
ria, negligência ou imprudência, violar direito e causar São casos nos quais se reconheceu a responsabilidade
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, co- omissiva do Estado: morte de filho menor em creche mu-
mete ato ilícito”. Coloca-se no artigo a culpa lato sensu nicipal, buracos não sinalizados na via pública, tentativa
(sentido amplo), que envolve tanto o dolo quando a cul- de assalto a um usuário do metrô resultando em morte,
pa stricto sensu (sentido estrito, de negligência, impru- danos provocados por enchentes e escoamento de águas
dência ou imperícia). pluviais quando o Estado sabia da problemática e não
tomou providência para evitá-las, morte de detento em
Entretanto, em diversos dispositivos esparsos e legisla- prisão, incêndio em casa de shows fiscalizada com negli-
ções específicas estabelecem casos em que não se aplicará gência, etc.
a responsabilidade subjetiva, mas a objetiva:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), 4. Requisitos para a demonstração da responsabili-
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. dade do Estado
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados 1) Dano - somente é indenizável o dano certo, especial
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvi- e anormal. Certo é o dano real, existente. Especial é
da pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco o dano específico, individualizado, que atinge deter-
para os direitos de outrem. minada ou determinadas pessoas. Anormal é o dano
que ultrapassa os problemas comuns da vida em so-
#FicaDica ciedade (por exemplo, infelizmente os assaltos são
comuns e o Estado não responde por todo assalto
O ordenamento jurídico brasileiro adota a teo- que ocorra, a não ser que na circunstância específica
ria do risco administrativo, a qual reconhece possuía o dever de impedir o assalto, como no caso
a obrigação de reparar o dano independen- de uma viatura presente no local - muito embora o
temente da falta do serviço ou da culpa do direito à segurança pessoal seja um direito humano
agente público. Basicamente, a teoria do risco reconhecido).
administrativo reconhece a existência de res- 2) Agentes públicos - é toda pessoa que trabalhe den-
ponsabilidade civil objetiva do Estado. tro da administração pública, tenha ingressado ou
não por concurso, possua cargo, emprego ou fun-
ção. Envolve os agentes políticos, os servidores
3. Responsabilidade por ato comissivo do Estado; públicos em geral (funcionários, empregados ou
Responsabilidade por omissão do Estado temporários) e os particulares em colaboração (por
exemplo, jurado ou mesário).
No caso da responsabilidade civil do Estado, o cons- 3) Dano causado quando o agente estava agindo nesta
tituinte viu por bem adotar como regra geral a teoria da qualidade - é preciso que o agente esteja lançando
responsabilidade objetiva: mão das prerrogativas do cargo, não agindo como
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público um particular.
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali- Sem estes três requisitos, não será possível acionar
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re- o Estado para responsabilizá-lo civilmente pelo dano,
gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. por mais relevante que tenha sido a esfera de direitos
atingida. Assim, não é qualquer dano que permite a res-
Logo, para que se caracterize a responsabilidade do ponsabilização civil do Estado, mas somente aquele que
Estado basta a comprovação dos elementos ação, nexo é causado por um agente público no exercício de suas
causal e dano, como regra geral. Contudo, tomadas as funções e que exceda as expectativas do lesado quanto à
exigências de características dos danos acima colaciona- atuação do Estado.
das, notadamente a anormalidade, considera-se que para o
Estado ser responsabilizado por um dano, ele deve ex-
ceder expectativas cotidianas, isto é, não cabe exigir do
Estado uma excepcional vigilância da sociedade e a plena
cobertura de todas as fatalidades que possam acontecer
em território nacional.

118
b) Fato exclusivo da vítima
#FicaDica Quem provocou o dano foi a própria vítima.
Fato concorrente – Fenômeno da causalidade múltipla
Tomada a teoria da responsabilidade objetiva, ou autoria plural – 2 condutas concorrentes para
que exige ação, nexo causal e dano, pode-se produzir um único dano. Somente reduz o montante
dizer que são requisitos da responsabilidade de danos.
do Estado:
Fato do serviço – A ação foi praticada por um c) Fato de terceiro
agente público; São casos em que a causa necessária para o dano não
Nexo de causalidade – Entre o fato do serviço foi nem o comportamento do agente e nem o da
e o dano; vítima. O agente, na contestação, fará nomeação à
Dano – Causado pelo agente público no exer- autoria – gerando exclusão, não o futuro regresso da
cício da função. denunciação da lide.
Terceiro não identificado – o agente não se responsabi-
liza, pois não teve um comportamento – act of God
5. Causas excludentes e atenuantes da responsabili-
(do inglês, ato de Deus) – fortuito externo.
dade do Estado
6. Reparação do dano
Não é sempre que o Estado será responsabilizado. Há
excludentes da responsabilidade estatal, aprofundadas
Não é de hoje que o Direito é pacífico ao afirmar o fato
abaixo, notadamente: a) caso fortuito (fato de terceiro) ou
de que a prática de um ato ilícito gera um dever de repara-
força maior (fato da natureza) fora dos alcances da previsi-
ção. Há muito, o dever de reparação se dava pela causação
bilidade do dano; b) culpa exclusiva da vítima.
de dano igual ao ofensor; nos ditames do direito moderno,
Todas estas excludentes geram a exclusão do ele-
o dever de reparação se consolida pela obrigação de inde-
mento nexo causal, que é o liame subjetivo entre a ação/
nizar (tanto pelo dano material quanto pelo dano moral).
omissão e o dano, não do elemento culpa, que envolve o
Por um só fato pode caber dano patrimonial e dano
aspecto volitivo da ação/omissão. Afinal, em regra, a res-
moral, se esta lesão gerar os 2 tipos de consequências –
ponsabilidade civil do Estado é objetiva, de modo que a au-
súmula 37, STJ – pelo dano patrimonial busca-se a inde-
sência de culpa ainda caracteriza a responsabilidade. Logo,
nização (eliminar o dano) ou ressarcimento (pagamento
caso se esteja diante de uma hipótese de responsabilidade
da coisa), o que coloca a vítima na situação financeira que
civil do Estado subjetiva por omissão, também a ausência
tinha antes do dano (retorno ao status quo ante); pelo dano
de culpa excluirá o dever de indenizar.
extrapatrimonial, como não há preço que repare a ofen-
sa à dignidade, o que se busca é uma compensação ou
a) Fortuito
satisfação (compensa-se pois o valor é uma resposta do
Hoje, fortuito e força maior são sinônimos. Trata-se de
Judiciário no sentido de que a ofensa não ficará impune;
fato externo à conduta do agente de natureza ine-
satisfação é a postura do Estado de responder pela ofensa
vitável (externabilidade + inevitabilidade), conforme
à dignidade). A palavra adequada para designar ambos é
artigo 393, parágrafo único, CC. Imprevisibilidade
REPARAÇÃO (vide caput do artigo 948, que fala em outras
não é atributo de caso fortuito (ex.: terremoto no Ja-
reparações, trazendo lucro cessante e dano emergente nos
pão é previsível, mas é externo e inevitável, logo, o
incisos).
caso é fortuito).
O artigo 5º, X, CF constitucionalizou como direito fun-
Fortuito interno é diferente de fortuito externo. Fortui-
damental a reparação do dano moral. Hoje, não há dúvida
to interno se relaciona com a atividade ordinária do
de que cabe ação pleiteando exclusivamente dano moral
causador do dano – há responsabilidade, por exem-
– é o dano moral puro, presente na expressão “ainda que
plo, falha dos freios gerando acidente de ônibus. O
exclusivamente moral” do artigo 186, CC.
fortuito externo não é introduzido pelo agente, por
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

exemplo, assalto, infarto, chuva forte. No fortuito in-


7. Direito de regresso
terno o risco é de dentro pra fora, no fortuito externo
é de fora pra dentro. Apenas no primeiro há dever de
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
indenizar, isto é, mostra-se necessário o vínculo com
Artigo 37, §6º, CF. As pessoas jurídicas de direito público
a atividade.
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
Ex.: Para o STF, o banco tem o dever de dar segurança,
responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali-
tudo o que ocorre nele é fortuito interno. Inclusive,
dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de re-
o STJ diz que fazem parte do risco da instituição fi-
gresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
nanceira os golpes que possa sofrer, por exemplo,
subtração fraudulenta dos cofres em sua guarda (In-
Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídi-
formativo nº 468, STJ).
ca autônoma entre o Estado e o agente público que causou
o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação, a
responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Es-

119
tado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual Contudo, existem situações em que o Estado apenas
foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regres- irá responder se o verdadeiro responsável pelo dano não
so é justamente o direito de acionar o causador direto do puder repará-lo, por exemplo, no caso de suas conces-
dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, con- sionárias e delegatárias de serviços públicos. No caso,
siderada a existência de uma relação obrigacional que se tem-se responsabilidade subsidiária.
forma entre a vítima e a instituição que o agente compõe.
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- 9. Responsabilidade do Estado por atos legislati-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agente vos e judiciais
agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que foi “Por atos (permissão, licença) ou fatos (atos materiais,
pago à vítima. O agente causará danos ao praticar condutas a exemplo da construção de obras públicas) administra-
incompatíveis com o comportamento ético dele esperado.76 tivos que causem danos a terceiros a regra é a respon-
A responsabilidade civil do servidor exige prévio proces- sabilidade civil do Estado, mas por atos legislativos (leis)
so administrativo disciplinar no qual seja assegurado contra- e judiciais (sentenças) a regra é a irresponsabilidade. Em
ditório e ampla defesa. Trata-se de responsabilidade civil princípio, o Estado não responde por prejuízos decorren-
subjetiva ou com culpa. Havendo ação ou omissão com cul- tes de sentença ou de lei, salvo se expressamente impos-
pa do servidor que gere dano ao erário (Administração) ou a ta tal obrigação por lei ou oriunda de culpa manifesta
terceiro (administrado), o servidor terá o dever de indenizar. no desempenho das funções de julgar e legislar. A lei e a
Não obstante, agentes públicos que pratiquem atos violado- sentença, atos típicos, respectivamente, do Poder Legis-
res de direitos humanos se sujeitam à responsabilidade pe- lativo e do Poder Judiciário, dificilmente poderão causar
nal e à responsabilidade administrativa, todas autônomas dano reparável (certo, especial, anormal, referente a uma
uma com relação à outra e à já mencionada responsabilidade situação protegida pelo Direito e de valor economica-
civil. Neste sentido, o artigo 125 da Lei nº 8.112/90: mente apreciável). Com efeito, a lei age de forma geral,
Artigo 125, Lei nº 8.112/1990. As sanções civis, penais e abstrata e impessoal e suas determinações constituem
administrativas poderão cumular-se, sendo independen- ônus generalizados impostos a toda coletividade. Nesse
tes entre si.
particular, o que já se viu foi a declaração de responsa-
bilidade patrimonial do Estado por ato baseado em lei
Com efeito, no caso da responsabilidade civil, o Estado
declarada, posteriormente, como inconstitucional. Assim,
é diretamente acionado e responde pelos atos de seus servi-
a edição de lei inconstitucional pode obrigar o Estado a
dores que violem direitos, cabendo eventualmente ação de
reparar os prejuízos dela decorrentes. Fora dessa hipóte-
regresso contra ele. Contudo, nos casos da responsabilidade
se, o que se tem é a não-obrigação de indenizar.
penal e da responsabilidade administrativa aciona-se o agen-
A sentença não pode propiciar qualquer ressarcimen-
te público que praticou o ato. Destaca-se a independência
to por eventuais danos que possa acarretar às partes ou
entre as esferas civil, penal e administrativa no que tange à
responsabilização do agente público que cometa ato ilícito. a terceiros. Devem ser ressalvadas as hipóteses de con-
denações pessoais injustas, cuja absolvição é obtida em
revisão criminal (CF, art. 5º, LXXV). Observe-se, que nos
#FicaDica casos em que o Juiz, a exemplo do que prevê o art. 133
do Código de Processo Civil, responde, pessoalmente,
O fato de o agente público ter agido com cul- por dolo, fraude, recusa, omissão ou retardamento injus-
pa apenas é relevante para os fins de regresso, tificado de atos ou providências de seu ofício, não se tem
ou seja, o Estado poderá retomar do agente o responsabilidade patrimonial do Estado. A responsabili-
valor da indenização se ele agiu com culpa ou
dade é do Juiz, não se transmitindo ao Estado”77.
dolo. Se o agente não tiver agido com dolo ou
culpa, ainda assim o Estado terá que indenizar
(devido à adoção da teoria do risco administra-
tivo para fins de responsabilidade objetiva do EXERCÍCIOS COMENTADOS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Estado), mas não terá direito de regresso.

1. ( EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) A respeito


de danos causados a particular por agente público de
8. Responsabilidade primária e subsidiária fato (necessário ou putativo), julgue o item a seguir.
O Estado terá o dever de indenizar no caso de dano
O Estado responde diretamente pelos danos causados provocado a terceiro de boa-fé por agente público ne-
por seus agentes públicos, ou seja, por aqueles que estão cessário.
vinculados a qualquer dos órgãos da administração direta
ou indireta: trata-se de responsabilidade primária, embora ( ) CERTO ( ) ERRADO
exista o direito de regresso.
76 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé- 77 http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/903/Responsabilidade-
todo, 2011. -Civil-do-Estado

120
Resposta: Certo. A teoria da responsabilidade objetiva Resposta: Errado. O artigo 37, § 6º, CF estabelece uma
está esculpida no artigo 37, § 6º, CF: “As pessoas jurídi- dupla proteção: ao mesmo tempo que todo cidadão será
cas de direito público e as de direito privado prestadoras de indenizado por danos que agentes públicos lhe causem,
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, mesmo sem culpa ou dolo; o agente público tem direito
nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de ser demandado apenas pelo próprio Estado em ação
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou cul- de regresso, não podendo ser diretamente demandado
pa”. Assim, o terceiro de boa-fé lesado pode sim demandar pelo cidadão que sofreu o dano.
contra o Estado, que terá o dever de indenizar. O Estado, por
sua vez, poderá retomar o valor da indenização do agente
público necessário caso ele tenha agido com dolo ou culpa. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA.
2. (EBSERH – ADVOGADO – CESPE – 2018) A respeito
de danos causados a particular por agente público de fato
(necessário ou putativo), julgue o item a seguir.
Em razão do princípio da proteção da confiança, quando o CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
dano for causado por funcionário público putativo, o Estado
não responderá civilmente perante particulares de boa-fé. Controle da Administração Pública é o exercício de vi-
gilância, orientação e revisão sobre a conduta funcional,
( ) CERTO ( ) ERRADO exercido por um poder, órgão ou autoridade pública com
relação a outro.
Resposta: Errado. A jurisprudência e a doutrina domi- “O controle do Estado pode ser exercido através de duas
nantes reconhecem a teoria da aparência no que se refere formas distintas, que merecem ser desde logo diferenciadas.
ao chamado agente de fato, pela qual o terceiro de boa-fé De um lado, temos o controle político, aquele que tem por
lesado por aquele que se comporte como agente público base a necessidade de equilíbrio entre os Poderes estruturais
e tenha todas as aparências de sê-lo deve ser indenizado
da República – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nes-
pelo Estado devido ao dano que sofreu. O agente de fato
se controle, cujo delineamento se encontra na Constituição,
deve ser tido como se agente público o fosse e o Estado
pontifica o sistema de freios e contrapesos, nele se estabe-
deve indenizar, preservado o direito do terceiro de boa-fé.
lecendo normas que inibem o crescimento de qualquer um
deles em detrimento de outro e que permitem a compen-
3. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRA-
sação de eventuais pontos de debilidade de um para não
TIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo à
deixá-lo sucumbir à força de outro. São realmente freios e
responsabilidade civil do Estado.
contrapesos dos Poderes políticos. [...] O que ressalta de to-
Excetuados os casos de dever específico de proteção, a res-
dos esses casos é a demonstração do caráter que tem o con-
ponsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é sub-
jetiva, devendo ser comprovados a negligência na atuação trole político: seu objetivo é a preservação e o equilíbrio das
estatal, o dano e o nexo de causalidade. instituições democráticas do país. O controle administra-
tivo tem linhas diversas. Nele não se procede a nenhuma
( ) CERTO ( ) ERRADO medida para estabilizar poderes políticos, mas, ao contrário,
se pretende alvejar os órgãos incumbidos de exercer uma
Resposta: Certo. Embora a regra seja a da responsabilida- das funções do Estado – a função administrativa. Enquanto
de objetiva do Estado, o entendimento dominante é de que o controle político se relaciona com as instituições políticas,
nos casos de omissão a responsabilidade é subjetiva, isto é, o controle administrativo é direcionado às instituições ad-
cabe demonstrar que o Estado se omitiu com dolo ou culpa ministrativas. [...] Podemos denominar de controle da Ad-
e assim causou o dano. Contudo, segue-se a regra geral ministração Pública o conjunto de mecanismos jurídicos e
quando o Estado tiver um dever específico de proteção (ex.: administrativos por meio dos quais se exerce o poder de
Estado tem o dever específico proteger o detento sob sua fiscalização e de revisão da atividade administrativa em
qualquer das esferas de Poder”78.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

guarda; caso outro detento atente contra sua integridade


física e o Estado nada fizer, deverá indenizar). O princípio da legalidade e o princípio das políticas admi-
nistrativas, juntos, fundamentam o Controle da Administração
4. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – CONHECIMENTOS Pública. Neste sentido, “mais precisamente, a ideia central,
BÁSICOS – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo quando se fala em controle da Administração Pública, reside
ao regime jurídico dos servidores públicos civis da União, no fato de que o titular do patrimônio público (material e ima-
às carreiras dos servidores do Poder Judiciário da União e à terial) é o povo, e não a Administração, razão pela qual ela
responsabilidade civil do Estado. se sujeita, em toda a sua atuação, sem qualquer exceção, ao
Um servidor público federal que, no exercício de sua função, princípio da indisponibilidade do interesse público”79.
causar dano a terceiros poderá ser demandado diretamente
pela vítima em ação indenizatória.
78 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrati-
vo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
( ) CERTO ( ) ERRADO 79 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo
Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.

121
- Conforme a iniciativa
#FicaDica a) De ofício: executado pela própria Administração
quando está regularmente exercendo as suas fun-
Controle da Administração é: ções. Afinal, a Administração tem a prerrogativa da
- Faculdade de vigilância, orientação e correção autotutela, que a permite invalidar ou revogar suas
que um poder, órgão ou autoridade exerce so- condutas de ofício (súmulas 346 e 473, STF).
bre a conduta funcional de outro; b) Provocado: ocorre mediante provocação de terceiro,
- Regulamentado por diversos atos normati- postulando a revisão do ato administrativo dito ilegal
vos, os quais trazem regras, modalidades e ins-
ou inconveniente.
trumentos para sua organização;
- O que assegura que a Administração vá atuar
- Conforme a origem ou a extensão do controle
de acordo com princípios jurídicos, previstos
a) Controle interno: é aquele realizado pelas autorida-
no artigo 37, caput, CF – legalidade, impessoa-
des no âmbito do próprio órgão ou entidade em que
lidade, moralidade, publicidade e eficiência.
atuam no âmbito da administração. Exemplo: chefe
que na repartição controla os seus subordinados; cor-
regedoria que faz inspeção em um fórum.
Basicamente, sempre se está diante de controle inter-
1. Elementos e natureza jurídica do controle no quando um Poder exerce controle sobre ele mesmo,
isto é, Judiciário fiscalizando Judiciário, Legislativo fisca-
Segundo Carvalho Filho80, dois são os elementos bási- lizando Legislativo e Executivo fiscalizando Executivo.
cos do controle: a fiscalização e a revisão. “A fiscalização e a Quando, no exercício do controle interno, uma autorida-
revisão são os elementos básicos do controle. A fiscalização de ocultar uma irregularidade ou ilegalidade da enti-
consiste no poder de verificação que se faz sobre a atividade dade responsável pelo controle externo, notadamen-
dos órgãos e dos agentes administrativos, bem como em te um Tribunal de Contas, haverá responsabilidade
relação à finalidade pública que deve servir de objetivo para
solidária entre a autoridade que praticou a ocultação
a Administração. A revisão é o poder de corrigir as condu-
e a autoridade que praticou o ilícito.
tas administrativas, seja porque tenham vulnerado normas
b) Controle externo: é aquele realizado por um Poder
legais, seja porque haja necessidade de alterar alguma linha
que é diferente do Poder fiscalizado, exteriorizan-
das políticas administrativas para que melhor seja atendido
do um sistema de freios e contrapesos. É o caso do
o interesse coletivo”.
controle de atos do Executivo por decisões do Poder
Para o autor, a natureza jurídica do controle é de princí- Judiciário, ou mesmo da sustação de ato normativo
pio fundamental da administração pública, conforme teor do Executivo pelo Legislativo, além do julgamento de
do próprio Decreto-lei nº 200/1967, que assegura também contas do Presidente da República pelo Congresso
que o controle deve ser exercido em todos níveis e em to- Nacional, e de auditorias do Tribunal de Contas da
dos órgãos. União quanto ao Executivo federal.
c) Controle externo popular: realizado pelo contribuin-
2. Classificação das formas de controle te pelo acesso das contas públicas (artigo 31, §3º, CF;
“O poder-dever de controle é exercitável por todos os artigo 74, §2º, CF).
Poderes da República, estendendo-se a toda a atividade
administrativa (vale lembrar, há atividade administrativa em - Conforme o momento a ser exercido
todos os Poderes) e abrangendo todos os seus agentes. Por a) Controle prévio ou preventivo: exercido antes do
esse motivo, diversas são as formas pelas quais o contro- início da prática ou antes da conclusão do ato admi-
le se exercita, sendo, destarte, inúmeras as denominações nistrativo.
adotadas” 81. b) Controle concomitante: exercido durante a realiza-
ção do ato, verificando a sua validade enquanto ele é
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- Conforme o âmbito da administração praticado.


a) Por subordinação: exercido por meio dos patamares c) Controle posterior ou corretivo: busca rever os atos
de hierarquia dentro da mesma Administração. Trata- já praticados, corrigindo, desfazendo ou confirmando.
-se de controle tipicamente interno. Envolve atos como os de aprovação, homologação,
b) Por vinculação: exercido por uma pessoa a qual são anulação, revogação ou convalidação.
atribuídos poderes de fiscalização e revisão em rela- - Conforme a amplitude ou a natureza do controle
ção a pessoa diversa. Trata-se de controle tipicamen- a) Controle de legalidade: verifica se o ato foi praticado
te externo. em conformidade com a lei. O controle pode ser inter-
no ou externo. O resultado final é a confirmação ou a
rejeição do ato, anulando-o.
80 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrati- b) Controle de mérito: visa verificar a oportunidade e a
vo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015. conveniência administrativas do ato controlado. Tra-
81 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo ta-se do controle sobre a atuação discricionária da
Descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008.

122
Administração Pública, mantendo-o ou revogando-o. súmula vinculante), pedido de reconsideração (solici-
Diz-se que o Judiciário não pode fazer este controle, o tação de mudança da decisão pela própria autorida-
que é verdade, em termos: o Judiciário não pode con- de que praticou um ato), recurso hierárquico próprio
trolar a atividade discricionária que é legítima, mas se (solicitação de mudança da decisão por autoridade
ela exceder parâmetros de razoabilidade e proporcio- hierarquicamente superior àquela que praticou o
nalidade pode fazê-lo. Nesta questão se insere a po- ato), recurso hierárquico impróprio (solicitação de
lêmica sobre o controle judicial de políticas públicas. mudança da decisão por autoridade diversa, com
competência especificada em lei, porém não hierar-
quicamente superior àquela que praticou o ato), re-
#FicaDica visão (solicitação de alteração em punição aplicada
pela Administração no exercício do poder disciplinar
- Quanto ao órgão que o exerce
diante do surgimento de fatos novos).
Executivo
- Controle social: é aquele exercido pela própria socie-
Legislativo dade, em demanda emanada de grupos sociais, no
Judiciário exercício da atividade democrática que tem amparo
- Quanto ao fundamento constitucional notadamente na garantia pelo artigo
Hierárquico 37, §3º, CF de edição de lei que regule formas de par-
Finalístico ticipação do usuário na administração direta e indi-
- Conforme a origem reta. Entre as formas que já são trazidas por algumas
Interno leis, como a Lei nº 9.784/1999 sobre o processo ad-
Externo ministrativo federal, estão as audiências e consultas
Popular públicas. Neste âmbito do controle social, é possível
- Quanto à atividade administrativa fixar uma divisão entre controle natural, feito pela
Legalidade população em si, e controle institucional, feito por
Mérito órgãos em atuação por legitimidade extraordinária,
- Quanto ao momento de exercício como o Ministério Público e a Defensoria Pública.
Preventivo
Concomitante - Recurso de administração
Corretivo Recursos administrativos são meios hábeis que podem
ser utilizados para provocar o reexame do ato administrativo,
pela PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Conforme con-
3. Controle exercido pela administração pública ceitua Carvalho Filho82, “são os meios formais de controle
administrativo, através dos quais o interessado postula, junto
É o controle exercido pela Administração quanto aos a órgãos da Administração, a revisão de determinado ato ad-
seus próprios atos. Ou seja, é o exercido pelo Poder Execu- ministrativo”. É necessário, para recorrer, que o interessado
tenha tido a sua pretensão contrariada pela administração,
tivo, pelo Poder Legislativo e pelo Poder Judiciário quanto
logo, é da essência do recurso a manifestação de inconfor-
aos seus próprios atos, tanto no que tange à legalidade
mismo, retratando ilegalidade ou abuso do poder público.
quanto em relação à conveniência. É sempre um controle
Os principais recursos de administração são os seguin-
interno, que deriva do poder-dever de autotutela.
tes: representação, em que se faz denúncia de irregulari-
Entre os meios de controle, destacam-se:
dades feita perante o poder público; reclamação, em que
- Fiscalização Hierárquica: esse meio de controle é ine-
há oposição expressa a atos da administração que afetam
rente ao poder hierárquico, ocorrendo o exercício
direitos ou interesses legítimos do interessado; pedido de
dos órgãos superiores em relação aos inferiores; reconsideração, em que se solicita reexame à mesma au-
- Controle ou Supervisão Ministerial: aplicável nas en- toridade que praticou o ato; recurso hierárquico próprio,
tidades de administração indireta vinculadas a um que se dirige à autoridade ou instância superior do mesmo
Ministério, não havendo subordinação;
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

órgão administrativo em que foi praticado o ato; recurso


- Recursos Administrativos: serve para provocar o ree- hierárquico impróprio, que se dirige à autoridade ou ór-
xame do ato administrativo pela própria Administra- gão estranho à repartição que expediu o ato recorrido, mas
ção Pública. com competência julgadora expressa; e revisão, em que se
- Direito de petição: é um direito fundamental confe- busca a alteração de punição aplicada pela Administração
rido a toda pessoa de defender seus direitos e noti- no exercício do poder disciplinar diante do surgimento de
ciar ilegalidades e abusos (artigo 5º, XXXIV, CF). Pode fatos novos, abrindo-se novo processo.
ser exercido por diversas vias, como representação Outra classificação relevante é a que separa os recursos
(denúncia de irregularidade perante a Administra- mencionados em duas categorias: recursos incidentais,
ção, Tribunal de Contas ou outro órgão de controle), que são interpostos quando o processo administrativo está
reclamação administrativa (oposição expressa a ato em curso e o inconformismo é contra um ato nele praticado
administrativo que ofenda direito ou interesse le- (enquadram-se aqui o pedido de reconsideração, o recur-
gítimo, podendo ser interposta perante o Supremo 82 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrati-
Tribunal Federal se o ato administrativo contrariar vo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

123
so hierárquico próprio e o recurso hierárquico impróprio); Art. 5º Não tem efeito de suspender a prescrição a demora
recursos deflagradores ou autônomos, que são aqueles do titular do direito ou do crédito ou do seu representante
que formalizam a própria abertura de processo (enqua- em prestar os esclarecimentos que lhe forem reclamados
dram-se aqui a reclamação, a representação e a revisão). ou o fato de não promover o andamento do feito judicial
Vale apontar sobre os efeitos dos recursos adminis- ou do processo administrativo durante os prazos respec-
trativos: em regra, terão apenas efeito devolutivo, pois tivamente estabelecidos para extinção do seu direito à
os atos administrativos têm em seu favor a presunção de ação ou reclamação.
legitimidade; excepcionalmente, caso concedido pela au- Art. 6º O direito à reclamação administrativa, que
toridade competente, terá efeito suspensivo. Vale destacar não tiver prazo fixado em disposição de lei para ser for-
que caso o recurso tenha efeito suspensivo, também o prazo mulada, prescreve em um ano a contar da data do ato
prescricional ficará suspenso, enquanto que se o efeito for ou fato do qual a mesma se originar.
apenas devolutivo irá continuar correndo.
Súmula 429, STF. A existência de recurso administrativo Entretanto, a reclamação se torna um instrumento mais
com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de usual com a fixação em lei da possibilidade de sua apresen-
segurança contra omissão da autoridade. tação ao Supremo Tribunal Federal se o ato administrativo
Ressalta-se, complementando o teor da súmula, que contrariar súmula vinculante. As hipóteses de reclamação
nada impede o uso simultâneo das esferas administrativa e são ampliadas pelo Código de Processo Civil de 2015:
judicial, considerando que são independentes entre si. Aliás,
apenas existem duas hipóteses em que o esgotamento dos Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do
recursos administrativos é imposto: trata-se de demanda Ministério Público para:
perante a justiça desportiva, conforme o artigo 217, §1º, CF; I - preservar a competência do tribunal;
se ocorre contrariedade de súmula vinculante na via adminis- II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
trativa e o administrado pretende invoca-la mediante recla- III – garantir a observância de enunciado de súmula vin-
mação, conforme artigo 7º, §1º, Lei nº 11.417/2006. Em todos culante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em
os demais casos, tal exigência é proibida. controle concentrado de constitucionalidade;
Outra questão que merece ser abordada no campo dos IV – garantir a observância de acórdão proferido em jul-
recursos administrativos é a da reformatio in pejus, ou seja, gamento de incidente de resolução de demandas repeti-
da reforma da decisão tomada pela administração de modo tivas ou de incidente de assunção de competência;
a agravar a situação do administrado. Devido a previsão ex- § 1º A reclamação pode ser proposta perante qualquer
pressa na Lei nº 9.784/1999, a reformatio in pejus em recurso tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdi-
administrativo modificando a decisão recorrida é permitida, cional cuja competência se busca preservar ou cuja au-
mas o recorrente deverá ter oportunidade de manifestar-se toridade se pretenda garantir.
antes dele ocorrer; já em se tratando de reformatio in pejus § 2º A reclamação deverá ser instruída com prova do-
em processo de revisão, há vedação. Quanto à possibilidade cumental e dirigida ao presidente do tribunal.
de gravame na primeira hipótese, a doutrina afirma que ape- § 3º Assim que recebida, a reclamação será autuada
nas é permitida a reformatio in pejus caso o ato inferior tenha e distribuída ao relator do processo principal, sempre
sido praticado em desconformidade com a lei, considerados que possível.
critérios objetivos, sendo assim proibida a reformatio in pejus § 4º As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a
caso seja feita apenas nova avaliação subjetiva. aplicação indevida da tese jurídica e sua não aplicação
Último ponto que se coloca tange à coisa julgada ad- aos casos que a ela correspondam.
ministrativa, que basicamente é uma “situação jurídica pela § 5º É inadmissível a reclamação:
qual determinada decisão firmada pela Administração não I – proposta após o trânsito em julgado da decisão re-
mais pode ser modificada na via administrativa”83, embora clamada;
o possa na via judicial; diferenciando-se da coisa julgada ju- II – proposta para garantir a observância de acórdão de
risdicional, cujo caráter definitivo impede a rediscussão da recurso extraordinário com repercussão geral reconheci-
matéria em qualquer via. da ou de acórdão proferido em julgamento de recursos
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgo-


- Reclamação tadas as instâncias ordinárias.
Segundo Di Pietro84, “a reclamação administrativa é o ato § 6º A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso
pelo qual o administrado, seja particular ou servidor público, interposto contra a decisão proferida pelo órgão recla-
deduz uma pretensão perante a Administração Pública, vi- mado não prejudica a reclamação.
sando obter o reconhecimento de um direito ou a correção Art. 989. Ao despachar a reclamação, o relator:
de um erro que lhe cause lesão ou ameaça de lesão”. I - requisitará informações da autoridade a quem for
A primeira referência à reclamação no ordenamento está imputada a prática do ato impugnado, que as prestará
no Decreto nº 20.910/1932, que fixa o prazo de 1 ano para no prazo de 10 (dez) dias;
que ocorra a prescrição: II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou
do ato impugnado para evitar dano irreparável;
83 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrati-
vo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
III - determinará a citação do beneficiário da decisão
84 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23. ed. São impugnada, que terá prazo de 15 (quinze) dias para
Paulo: Atlas editora, 2010. apresentar a sua contestação.

124
Art. 990. Qualquer interessado poderá impugnar o pe- Nas hipóteses de pedido de reconsideração, recurso hie-
dido do reclamante. rárquico próprio e recurso hierárquico impróprio denota-se
Art. 991. Na reclamação que não houver formulado, o que o processo administrativo ainda está em curso, pois uma
Ministério Público terá vista do processo por 5 (cinco) autoridade tomou uma decisão administrativa da qual se
dias, após o decurso do prazo para informações e para pretende recorrer (logo, trata-se de recurso incidental). A
o oferecimento da contestação pelo beneficiário do diferença entre as três modalidades está na autoridade que
ato impugnado. apreciará o pedido de alteração da decisão administrativa.
Art. 992. Julgando procedente a reclamação, o tribunal No pedido de reconsideração, será a própria autori-
cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou de- dade que praticou um ato, reconsiderando nestes moldes
terminará medida adequada à solução da controvérsia. a decisão que foi tomada.
Art. 993. O presidente do tribunal determinará o ime- No recurso hierárquico próprio, será a autoridade
diato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão hierarquicamente superior àquela que praticou o ato, tra-
posteriormente. tando-se de clássico exercício do poder hierárquico ineren-
te à estrutura escalonada da administração. Esta é a forma
Logo, a reclamação é uma forma bastante diferenciada típica de se recorrer da decisão administrativa.
de controle da administração porque é exercido tipicamen- No recurso hierárquico impróprio, será autoridade
te por órgão externo sem superioridade hierárquica, nota- diversa, com competência especificada em lei, porém
damente, tribunal que componha o Poder Judiciário. Por não hierarquicamente superior àquela que praticou o ato.
isso, autores como Carvalho Filho85 afirmam que se trata Na verdade, a reclamação administrativa perante o STF
mais de controle jurisdicional do que de controle adminis- pode ser enquadrada nesta categoria.
trativo.
- Prescrição administrativa
- Pedido de reconsideração e recurso hierárquico Significa perda de prazo para apresentar uma pretensão
próprio e impróprio perante a Administração. No caso, o administrado não per-
Todos são espécies do gênero direito de petição, que de o direito, o que ocorre na decadência, mas sim a preten-
confere o direito fundamental de toda pessoa buscar pe- são de postulá-lo. Pode ocorrer nos casos de perda de pra-
rante a administração a alteração de um ato administrativo zo para recorrer de decisão tomada ou revisá-la (prescrição
ou representar a prática de ato ilegal ou abusivo. correndo contra o administrado e a favor da administração,
convalidando seus atos), caso em que se segue a regra da
Art. 5º, XXXIV, CF. São a todos assegurados, indepen- prescrição quinquenal (5 anos) prevista no artigo 1º do De-
dentemente do pagamento de taxas: a) o direito de creto nº 20.910; ou na hipótese de perda do prazo para o
petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou exercício do poder punitivo (prescrição correndo a favor
contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de do administrado e contra a administração, que não mais
certidões em repartições públicas, para defesa de direi- poderá aplicar a punição), que é a típica prescrição admi-
tos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. nistrativa, e de perda de prazo para que seja adotada de-
terminada providência administrativa (prescrição correndo
O direito de petição deve resultar em uma manifesta- a favor do administrado e contra a administração, que não
ção do Estado, normalmente dirimindo (resolvendo) uma mais poderá anular seus próprios atos dos quais decorram
questão proposta, em um verdadeiro exercício contínuo efeitos benéficos aos administrados, salvo prova de má-fé).
de delimitação dos direitos e obrigações que regulam a - Poder punitivo de polícia – 5 anos (Lei nº 9.873/1999);
vida social e, desta maneira, quando “dificulta a aprecia- - Poder disciplinar funcional – no âmbito federal, 5 anos
ção de um pedido que um cidadão quer apresentar” (mui- (infração grave), 2 anos (infração média) ou 180 dias
tas vezes, embaraçando-lhe o acesso à Justiça); “demora (infração leve), a contar do conhecimento de sua prá-
para responder aos pedidos formulados” (administrativa e, tica (Lei nº 8.112/1990);
principalmente, judicialmente) ou “impõe restrições e/ou - Adoção de providência administrativa – 5 anos (Lei nº
condições para a formulação de petição”, traz a chamada 9.784/1999).
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

insegurança jurídica, que traz desesperança e faz proliferar


as desigualdades e as injustiças. - Representação e reclamação administrativas
Dentro do espectro do direito de petição se insere, por As representações e as reclamações administrativas são
exemplo, o direito de solicitar esclarecimentos, de solicitar ambas formas de se exercer o direito de petição (art. 5º,
cópias reprográficas e certidões, bem como de ofertar de- XXXIV, CF). Em sentido genérico são, ao lado dos recursos
núncias de irregularidades. Contudo, o constituinte, talvez hierárquicos e do pedido de representação, espécies de re-
na intenção de deixar clara a obrigação dos Poderes Públi- cursos administrativos, mas que se diferenciam daqueles
cos em fornecer certidões, trouxe a letra b) do inciso, o que por serem autônomos e não incidentais.
gera confusões conceituais no sentido do direito de obter Assim, trata-se de exercício deste direito de forma ori-
certidões ser dissociado do direito de petição. ginária (recurso deflagrador), isto é, o ato administrativo
ilegal ou abusivo foi praticado e será denunciado pelo ad-
85 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- ministrado. Será a primeira vez que a estão será levada à
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. administração para a devida apreciação.

125
Na representação é feita uma denúncia de irregula- III - fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos
ridade, ilegalidade ou abuso de poder perante a Admi- tratados e dos demais atos normativos a ser unifor-
nistração, Tribunal de Contas ou outro órgão de controle, memente seguida em suas áreas de atuação e coor-
como o Ministério Público. denação quando não houver orientação normativa do
Na reclamação administrativa se dá uma oposição ex- Advogado-Geral da União;
pressa a ato administrativo que ofenda direito ou interesse IV - elaborar estudos e preparar informações, por soli-
legítimo. citação de autoridade indicada no caput deste artigo;
- Sistemas de controle jurisdicional da administra- V - assistir a autoridade assessorada no controle interno
ção pública: contencioso administrativo e sistema da da legalidade administrativa dos atos a serem por ela pra-
jurisdição uma ticados ou já efetivados, e daqueles oriundos de órgão ou
Sistema administrativo é o regime que um Estado ado- entidade sob sua coordenação jurídica;
ta para controlar os atos administrativos ilegais ou ile- VI - examinar, prévia e conclusivamente, no âmbito do
gítimos praticados pela Administração em seus diversos Ministério, Secretaria e Estado-Maior das Forças Armadas:
níveis, podendo ser de duas espécies: francês, também a) os textos de edital de licitação, como os dos respectivos
conhecido como sistema do contencioso administrati- contratos ou instrumentos congêneres, a serem publicados
vo; e inglês, também denominado sistema do controle e celebrados;
judicial, judiciário ou da jurisdição una. b) os atos pelos quais se vá reconhecer a inexigibilidade,
O sistema francês se caracteriza por excluir os atos ad- ou decidir a dispensa, de licitação.
ministrativos da apreciação judicial, sujeitando-os a uma
jurisdição especial do contencioso administrativo que é
composta por tribunais de caráter administrativo. Neste
#FicaDica
sistema, se evidencia a dualidade de jurisdição, haven-
do a jurisdição comum composta pelos órgãos do Poder Controle administrativo é o controle que o Exe-
Judiciário que resolve os litígios não abrangidos pelo con- cutivo e os órgãos internos do Legislativo e do
tencioso administrativo e a jurisdição especial composta Judiciário exercem sobre suas próprias ativida-
apenas por tribunais de natureza administrativa. des, buscando mantê-las conforme a lei.
Já o sistema inglês se caracteriza pela intervenção Se exerce por:
do Poder Judiciário no controle dos atos administrativos. Fiscalização hierárquica – Dos órgãos superio-
Deste modo, a jurisdição é una e apenas o Judiciário res em relação aos inferiores, corrigindo as ati-
possui competência para resolver todos os litígios, tan- vidades dos agentes;
to os administrativos quanto os estritamente privados. As Recursos administrativos – Meios que permi-
decisões do Judiciário, por sua vez, são protegidas pela tem que os administrados provoquem o reexa-
força da coisa julgada, que impede a rediscussão de ma- me de decisões internas.
térias já decididas em juízo em seu mérito.

4. No Brasil adota-se o sistema inglês.


Controle judicial
- Advocacia pública administrativa
No âmbito federal, as atividades de advocacia pública O controle judicial é exercido pelo Judiciário sobre os
consultiva são prestadas pela Advocacia-Geral da União, atos administrativos praticados pelo Poder Executivo, pelo
Poder Legislativo ou pelo próprio Poder Judiciário, quando
conforme artigo 3º da Lei Complementar nº 73/93. Ele irá
realiza atividades administrativas. Por ele, é possível se de-
assessorar o chefe do Executivo federal em assuntos de
cretar a anulação de um ato. Não cabe a revogação, porque
natureza jurídica, elaborando pareceres e estudos, sendo
significaria análise de mérito, que o Judiciário não pode fazer.
tal vinculação de caráter exclusivo. Logo, a AGU presta
“O controle judicial sobre atos da Administração é exclu-
consultoria apenas para o Presidente da República. Os
sivamente de legalidade. Significa dizer que o Judiciário tem
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Ministérios, Secretarias e Forças Armadas solicitam con-


o poder de confrontar qualquer ato administrativo com a lei
sultoria para as Consultorias Jurídicas:
ou com a Constituição e verificar se há ou não compatibilida-
de normativa. Se o ato for contrário à lei ou à Constituição, o
Art. 11. Às Consultorias Jurídicas, órgãos administrati- Judiciário declarará a sua invalidação de modo a não permitir
vamente subordinados aos Ministros de Estado, ao Se- que continue produzindo efeitos ilícitos. [...] O que é vedado
cretário-Geral e aos demais titulares de Secretarias da ao Judiciário, como correntemente têm decidido os Tribunais,
Presidência da República e ao Chefe do Estado-Maior é apreciar o que se denomina normalmente de mérito admi-
das Forças Armadas, compete, especialmente: nistrativo, vale dizer, a ele é interditado o poder de reavaliar
I - assessorar as autoridades indicadas no caput deste os critérios de conveniência e oportunidade dos atos, que
artigo; são privativos do administrador público”, sob pena de se violar
II - exercer a coordenação dos órgãos jurídicos dos res- a cláusula fundamental da separação dos Poderes86.
pectivos órgãos autônomos e entidades vinculadas;
86 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

126
Quanto ao momento em que o controle judicial deve- histórico e cultural. O legitimado ativo deve ser ci-
rá ocorrer, a regra impõe que seja feito de forma posterior, dadão, ou seja, aquele nacional que esteja no pleno
quando os atos administrativos já estão produzindo efeitos gozo dos direitos políticos. O legitimado passivo é o
no mundo jurídico. Em situações excepcionais o controle ente da Administração Pública, direta ou indireta, ou
pode ser prévio, por exemplo, quando a lei autoriza a conces- então a pessoa jurídica que de algum modo lide com
são de liminar diante de fumus boni iuris e periculum in mora. a coisa pública. A regulação está na Lei nº 4.717/65.
Existem atos que se sujeitam a controle especial, são eles: b) Ação civil pública (artigo 129, III, CF): Busca proteger
a) Atos políticos: não são atos tipicamente administra- o patrimônio público e social, o meio ambiente e ou-
tivos, mas verdadeiros atos de governo, emanados da tros direitos difusos e coletivos. A legitimidade ativa
cúpula política do país, no exercício de competências é do Ministério Público, da Defensoria Pública, das
organizacionais-administrativas constitucionais. A pessoas jurídicas da administração direta e indireta e
peculiaridade é que o Judiciário não pode controlar de associação constituída há pelo menos 1 ano em
os critérios governamentais que direcionam a edição área de pertinência temática. A legitimidade passiva
de atos políticos. Contudo, o controle de legalidade é de qualquer pessoa, física ou jurídica, que tenha
e o controle de constitucionalidade são possíveis. cometido dano ou tenha colocado sob ameaça o pa-
b) Atos legislativos típicos: todos os atos que emanam trimônio público e social, o meio ambiente e outros
do Poder Legislativo com caráter genérico, abstrato direitos difusos e coletivos. A regulação está na Lei
e geral são passíveis de controle. Entretanto, se tra- nº 7.437/85.
ta de controle de constitucionalidade, que se sujeita c) Habeas corpus (artigo 5º, LXXVII, CF): ação que ser-
a regras específicas. O sistema brasileiro adota duas ve para proteger a liberdade de locomoção. Apenas
vias de realização de tal controle, a via da exceção, serve à lesão ou ameaça de lesão ao direito de ir e
com caráter difuso, exercida incidentalmente sem vir. Trata-se de ação constitucional de cunho predomi-
ação específica; e a via da ação, com caráter concen- nantemente penal, pois protege o direito de ir e vir e
trado, exercida por meio de ações específicas – ação vai contra a restrição arbitrária da liberdade. Pode ser
direta de inconstitucionalidade, ação direta de cons- preventivo, para os casos de ameaça de violação ao
titucionalidade, arguição de descumprimento de direito de ir e vir, conferindo-se um “salvo conduto”,
preceito fundamental. ou repressivo, para quando ameaça já tiver se materia-
c) Atos interna corporis: são os atos praticados dentro lizado. Legitimado ativo é qualquer pessoa pode ma-
da competência interna e exclusiva dos diversos ór- nejá-lo, em próprio nome ou de terceiro, bem como
gãos do Legislativo e do Judiciário; por exemplo, as o Ministério Público (artigo 654, CPP). Impetrante é o
que ingressa com a ação e paciente é aquele que está
competências de elaboração de regimentos internos.
sendo vítima da restrição à liberdade de locomoção.
Como os atos são internos e exclusivos, não é possível
As duas figuras podem se concentrar numa mesma
fazer o controle sobre as razões que levaram à elabo-
pessoa. Legitimado passivo é pessoa física, agente pú-
ração. Contudo, o controle de vícios de ilegalidade e
blico ou privado. Está regulamentado nos artigos 647
de inconstitucionalidade é plenamente válido.
a 667 do Código de Processo Penal.
d) Habeas data (artigo 5º, LXXII, CF): serve para prote-
Conforme prevê o próprio artigo 5º, XXXV, CF, “a lei não ção do acesso a informações pessoais constantes de
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça registros ou bancos de dados de entidades governa-
a direito”. Logo, toda ofensa ou ameaça de ofensa a direitos mentais ou de caráter público, para o conhecimento
dos administrados é passível de controle judicial. Ciente dis- ou retificação (correção). Trata-se de ação constitu-
so, o legislador cria inúmeros mecanismos específicos para cional que tutela o acesso a informações pessoais.
que tal controle seja realizado, como mandado de seguran- Legitimado ativo é pessoa física, brasileira ou es-
ça, ação popular, ação civil pública, mandado de injunção, trangeira, ou por pessoa jurídica, de direito público
habeas data, habeas corpus e as próprias ações do controle ou privado, tratando-se de ação personalíssima – os
de constitucionalidade. Entretanto, não se trata de rol taxa- dados devem ser a respeito da pessoa que a propõe.
tivo de formas pelas quais é possível exercer tais pretensões
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Legitimados passivos são entidades governamentais


contra a Administração, porque em tese é possível utilizar da Administração Pública Direta e Indireta nas três
qualquer tipo de ação judicial que venha a socorrer adequa- esferas, bem como instituições, órgãos, entidades e
damente à inibição de violação ou ameaça a direito pela Ad- pessoas jurídicas privadas prestadores de serviços
ministração. Sobre os meios específicos, aponta-se: de interesse público que possuam dados relativos
à pessoa do impetrante. Está regulado pela Lei nº
a) Ação popular (artigo 5º, LXXIII, CF): é instrumento 9.507, de 12 de novembro de 1997.
de exercício direto da democracia, permitindo ao ci- e) Mandado de segurança individual (artigo 5º, LXIX,
dadão que busque a proteção da coisa pública, ou CF): Trata-se de remédio constitucional com natu-
seja, que vise assegurar a preservação dos interes- reza subsidiária pelo qual se busca a invalidação de
ses transindividuais. Trata-se de ação constitucional, atos de autoridade ou a suspensão dos efeitos da
que visa anular ato lesivo ao patrimônio público ou omissão administrativa, geradores de lesão a direito
de entidade de que o Estado participe, à moralidade líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de poder.
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio São protegidos todos os direitos líquidos e certos

127
à exceção da proteção de direitos humanos à liber- capaz ou incapaz, que titularize direito fundamental
dade de locomoção e ao acesso ou retificação de não materializável por omissão legislativa do Poder
informações relativas à pessoa do impetrante, cons- público, bem como o Ministério Público na defesa de
tantes de registros ou bancos de dados de entida- seus interesses institucionais. Não se aceita a legiti-
des governamentais ou de caráter público, ambos midade ativa de pessoas jurídicas de direito público.
sujeitos a instrumentos específicos. A natureza é de Regulamentado pela Lei nº 13.300/2016.
ação constitucional de natureza civil, independente
da natureza do ato impugnado (administrativo, ju-
risdicional, eleitoral, criminal, trabalhista). Pode ser #FicaDica
preventivo, quando se estiver na iminência de viola- Controle judiciário é o controle exercido pe-
ção a direito líquido e certo, ou reparatório, quando
los órgãos do Poder Judiciário sobre os atos
já consumado o abuso/ilegalidade. Fundamenta-se
administrativos dos Três Poderes (inclusive do
na existência de direito líquido e certo, que é aquele
próprio Judiciário) no que tange a atividades
que pode ser demonstrado de plano mediante prova
administrativas.
pré-constituída, sem a necessidade de dilação pro-
Verifica-se a legalidade e a legitimidade do ato
batória, isto devido à natureza célere e sumária do
impugnado.
procedimento. A legitimidade ativa é a mais ampla
possível, abrangendo não só a pessoa física como a Abrange ações específicas constitucionalmente
jurídica, nacional ou estrangeira, residente ou não no previstas, denominadas remédios constitucio-
Brasil, bem como órgãos públicos despersonalizados nais.
e universalidades/pessoas formais reconhecidas por
lei. Legitimado passivo é a autoridade coatora deve
ser autoridade pública ou agente de pessoa jurídica Controle legislativo
no exercício de atribuições do Poder Público. Neste
viés, o art. 6º, §3º, Lei nº 12.016/09, preceitua que Controle parlamentar ou legislativo é a prerrogativa atri-
“considera-se autoridade coatora aquela que tenha buída ao Poder Legislativo de fiscalizar a Administração Pú-
praticado o ato impugnado ou da qual emane a or- blica sob os critérios político e financeiro. Deve se ater às hi-
dem para a sua prática”. Encontra-se regulamentada póteses previstas na Constituição. Pode ser exercido quanto
pela Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009. ao Executivo e ao Judiciário.
f) Mandado de segurança coletivo (artigo 5º, LXX, CF): Entre os meios de controle, destacam-se:
Visa a preservação ou reparação de direito líquido e - Controle Político: tem por base a possibilidade de fis-
certo relacionado a interesses transindividuais (indivi- calização sobre atos ligados à função administrativa
duais homogêneos ou coletivos), e devido à questão e organizacional. Conforme artigo 49, X, CF, compe-
da legitimidade ativa, pertencente a partidos políticos te exclusivamente ao Congresso Nacional “fiscalizar
e determinadas associações. Trata-se de ação consti- e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas
tucional de natureza civil, independente da natureza Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da
do ato, de caráter coletivo. A legitimidade ativa é de administração indireta”. Do poder genérico de contro-
partido político com representação no Congresso Na- le podem ser depreendidos outros poderes, como o
cional, bem como de organização sindical, entidade poder convocatório, que permite à Câmara ou Se-
de classe ou associação legalmente constituída e em nado convocar Ministro de Estado ou autoridade rela-
funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa cionada ao Presidente (artigo 50, CF); o poder de sus-
de direitos líquidos e certos que atinjam diretamente tação, que permite ao Congresso Nacional “sustar os
seus interesses ou de seus membros. Encontra-se re- atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
gulamentado pelo artigo 22 da Lei nº 12.016/09, que poder regulamentar ou dos limites de delegação le-
regulamenta o mandado de segurança individual. gislativa” (artigo 49, V, CF); e o controle das Comissões
g) Mandado de injunção (artigo 5º, LXXI, CF): os dois Parlamentares de Inquérito – CPI (artigo 58, §3º, CF).
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

requisitos constitucionais para que seja proposto - Controle Financeiro: a fiscalização contábil, financei-
o mandado de injunção são a existência de norma ra, orçamentária, operacional e patrimonial da União
constitucional de eficácia limitada que prescreva e das entidades da administração direta e indireta,
direitos, liberdades constitucionais e prerrogativas quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será
além da falta de norma regulamentadores, impossi- exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle
bilitando o exercício dos direitos, liberdades e prer- externo, e pelo sistema de controle interno de cada
rogativas em questão. Assim, visa curar o hábito que Poder.
se incutiu no legislador brasileiro de não regulamen- Quanto às áreas fiscalizadas, enquadram-se: contábil, fi-
tar as normas de eficácia limitada para que elas não nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial no
sejam aplicáveis. Trata-se de ação constitucional que que se refere a legalidade, legitimidade, economicida-
objetiva a regulamentação de normas constitucio- de, subvenções e renúncia de receitas.
nais de eficácia limitada. Legitimado ativo é qualquer
pessoa, nacional ou estrangeira, física ou jurídica,

128
- Tribunal de Contas da União X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugna-
O Tribunal de Contas da União é órgão integrante do do, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e
Congresso Nacional que tem a função de auxiliá-lo no con- ao Senado Federal;
trole financeiro externo da Administração Pública. No âmbi- XI - representar ao Poder competente sobre irregularida-
to estadual e municipal, aplicam-se, no que couber, aos res- des ou abusos apurados.
pectivos Tribunais e Conselhos de Contas, as normas sobre § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado
fiscalização contábil, financeira e orçamentária. diretamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de
As atribuições de controle do Tribunal de Contas da imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
União encontram-se descritas no artigo 71 da Constituição, § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no
envolvendo notadamente o auxílio ao Congresso Nacional prazo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas
no controle externo (tanto é assim que o Tribunal não susta no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
diretamente os atos ilegais, mas solicita ao Congresso Na- § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de
cional que o faça): débito ou multa terão eficácia de título executivo.
§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional,
Artigo 71, CF. O controle externo, a cargo do Congres- trimestral e anualmente, relatório de suas atividades.
so Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de
Contas da União, ao qual compete: - Controle da atividade financeira do Estado
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente O controle financeiro é uma das espécies de controle
da República, mediante parecer prévio que deverá ser ela- parlamentar ou legislativo, ao lado do controle político. No
borado em sessenta dias a contar de seu recebimento; controle financeiro o objeto se relaciona às receitas, às des-
II - julgar as contas dos administradores e demais res- pesas e à gestão dos recursos públicos, enfim, toda matéria
ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da ad- que abranja finanças públicas.
ministração direta e indireta, incluídas as fundações e Quanto às formas de controle, pode se dar em contro-
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público le interno, sendo que cada Poder possui órgãos internos
federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, destinados à verificação dos recursos do erário; ou em con-
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo trole externo, sendo o tipo de controle no âmbito federal
ao erário público; feito pelo Congresso Nacional e pelo Tribunal de Contas
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos da União.
de admissão de pessoal, a qualquer título, na administra- As áreas fiscalizadas são: contábil (registro de receitas e
ção direta e indireta, incluídas as fundações instituídas despesas), financeira (depósitos bancários, empenhos, pa-
e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomea- gamentos e recebimento de valores), orçamentário (orça-
ções para cargo de provimento em comissão, bem como mento e fiscalização dos registros), operacional (atividades
a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,
administrativas em geral) e patrimonial (bens públicos).
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
Em relação à natureza do controle, cabe fixar:
fundamento legal do ato concessório;
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos De-
a) Quanto à legalidade: verificação do cumprimento da
putados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de
lei;
inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil,
b) Quanto à legitimidade: trata-se de controle externo
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas
unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Execu- de mérito, consistente em verificação ao respeito aos
tivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II; princípios jurídicos da boa administração;
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas suprana- c) Quanto à economicidade: verificação do custo-be-
cionais de cujo capital social a União participe, de forma nefício dos gastos da administração;
direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo; d) Quanto à aplicação de subvenções: verificação sobre
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repas- a correta destinação das verbas previstas no orça-
sados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou mento;
e) Quanto à renúncia de receitas: verificação da valida-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Fe-


deral ou a Município; de da postura de renúncia a receitas que o governo
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso deveria receber, devendo sempre ser justificada.
Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer
das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e so- #FicaDica
bre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de Controle legislativo é aquele exercido pelo Po-
despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas der Legislativo, com auxílio do Tribunal de Con-
em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa tas, com relação às atividades administrativas
proporcional ao dano causado ao erário; do Executivo e do Judiciário.
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as Classifica-se em controle político ou financeiro.
providências necessárias ao exato cumprimento da lei, se
verificada ilegalidade;

129
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUSTI- LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992


ÇA AVALIADOR FEDERAL – CESPE – 2018) Acerca dos
princípios e dos poderes da administração pública, da or- A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administrativa,
ganização administrativa, dos atos e do controle adminis- que é uma espécie qualificada de imoralidade, sinônimo de
trativo, julgue o item a seguir, considerando a legislação, a desonestidade administrativa. A improbidade é uma lesão
doutrina e a jurisprudência dos tribunais superiores. ao princípio da moralidade, que deve ser respeitado estri-
Cabe ao Poder Legislativo o poder-dever de controle finan- tamente pelo servidor público. O agente ímprobo sempre
ceiro das atividades do Poder Executivo, o que implica a será um violador do princípio da moralidade, pelo qual “a
competência daquele para apreciar o mérito do ato admi- Administração Pública deve agir com boa-fé, sinceridade,
nistrativo sob o aspecto da economicidade. probidade, lhaneza, lealdade e ética”87.
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada de-
( ) CERTO ( ) ERRADO vido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes do
serviço público que se intensificavam com a ineficácia do
Resposta: Certo. O controle feito pelo Poder Legis- diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41. Decor-
lativo atinge atos administrativos do Executivo e do Ju- reu, assim, da necessidade de acabar com os atos atentató-
diciário. Sendo assim, o Legislativo controla o Executivo rios à moralidade administrativa e causadores de prejuízo
tanto no aspecto da legalidade quanto no do mérito do ao erário público ou ensejadores de enriquecimento ilícito,
ato administrativo, de modo que se o Executivo praticar infelizmente tão comuns no Brasil.
um ato contrário à economicidade o Legislativo poderá Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi-
exercer controle sobre ele. cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
2. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNICI- 9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A exis-
PAL DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS tência de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
BÁSICOS – CESPE – 2018) Acerca do controle da ativida- e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
de financeira do Estado e do controle exercido pelos tribu- ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
nais de contas, julgue o próximo item. bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
Compete ao Tribunal de Contas da União, entre outras atri- em esferas distintas do Direito.
buições, representar ao poder competente sobre irregula- A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
ridades ou abusos apurados. improbidade administrativa em três categorias:
a) Ato de improbidade administrativa que importe enri-
( ) CERTO ( ) ERRADO quecimento ilícito;
b) Ato de improbidade administrativa que importe le-
Resposta: Certo. Neste sentido, preconiza o artigo 71,
são ao erário;
XI, CF: “O controle externo, a cargo do Congresso Nacio-
c) Ato de improbidade administrativa que atente contra
nal, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da
os princípios da administração pública.
União, ao qual compete: [...] XI – representar ao Poder
competente sobre irregularidades ou abusos apurados”.
Os atos de improbidade administrativa não são crimes
de responsabilidade. Trata-se de punição na esfera cível,
3. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICIPAL
não criminal. Por isso, caso o ato configure simultaneamen-
DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018) Jul-
te um ato de improbidade administrativa desta lei e um
gue o item a seguir, referente a conceitos, tipos e formas de
controle na administração pública. crime previsto na legislação penal, o que é comum no caso
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Os tipos e as formas de controle da atividade administrati- do artigo 9°, responderá o agente por ambos, nas duas es-
va variam segundo o poder, o órgão ou a autoridade que o feras.
exercita ou o fundamenta. Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte for-
ma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito passi-
( ) CERTO ( ) ERRADO vo) e daqueles que podem praticar os atos de improbidade
administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a reparação do
Resposta: Certo. As classificações básicas do controle se dano ao lesionado e o ressarcimento ao patrimônio pú-
referem a: órgão que o exerce (Executivo, Legislativo, Ju- blico; após, traz a tipologia dos atos de improbidade ad-
diciário); fundamento (hierárquico ou finalístico); origem ministrativa, isto é, enumera condutas de tal natureza; se-
(interno, externo, popular); atividade administrativa (le- guindo-se à definição das sanções aplicáveis; e, finalmente,
galidade ou mérito); momento de exercício (preventivo, descreve os procedimentos administrativo e judicial.
concomitante, corretivo). 87 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 15. ed.
São Paulo: Saraiva, 2011.

130
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição ou ór-
nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de man- gão que desempenhe diretamente o interesse do Estado.
dato, cargo, emprego ou função na administração públi- Assim, estão incluídos todos os integrantes da administra-
ca direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. ção direta, indireta e fundacional, conforme o preâmbulo
O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elementos da legislação. Pode até mesmo ser uma entidade privada
importantes para a sua boa compreensão: que desempenhe tais fins, desde que a verba de criação
a) o agente público pode estar exercendo mandato, ou custeio tenha sido ou seja pública em mais de 50% do
quando for eleito para tanto; cargo, no caso de um patrimônio ou receita anual.
conjunto de atribuições e responsabilidades conferido Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entidade
a um servidor submetido a regime estatutário (é o privada a qual o Estado não tenha concorrido para cria-
caso do ingresso por concurso); emprego público, se ção ou custeio, também haverá sujeição às penalidades
o servidor se submeter a regime celetista (CLT); fun- da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado que seja
ção pública, que corresponde à categoria residual, inferior a 50% do patrimônio ou receita anual, a legisla-
valendo para o servidor que tenha tais atribuições e ção ainda se aplica. Entretanto, nestes dois casos, a sanção
responsabilidades mas não exerça cargo ou emprego patrimonial se limitará ao que o ilícito repercutiu sobre a
público. Percebe-se que o conceito de agente público contribuição dos cofres públicos. Significa que se o prejuízo
que se sujeita à lei é o mais amplo possível. causado for maior que a efetiva contribuição por parte do
b) o exercício pode se dar na administração direta, indi- poder público, o ressarcimento terá que ser buscado por
reta ou fundacional. A administração pública apre- outra via que não a ação de improbidade administrativa.
senta uma estrutura direta e outra indireta, com seus Basicamente, o dispositivo enumera os principais sujeitos
respectivos órgãos. Por exemplo, são órgãos da admi- passivos do ato de improbidade administrativa, dividindo-os
nistração direta os ministérios e secretarias, isto é, os em três grupos:
órgãos que compõem a estrutura do Executivo, Legis- a) pessoas da administração direta, diretamente vinculados
lativo ou Judiciário; são integrantes da administração a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios;
indireta as autarquias, fundações públicas, empresas
b) pessoas da administração indireta, isto é, autarquias,
públicas e sociedades de economia mista.
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de
economia mista;
CAPÍTULO I
c) pessoa cuja criação ou custeio o erário tenha contribuído
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
com mais de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer
No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passivos
agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes secundários, que são: a) entidades que recebam subven-
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, ção, benefício ou incentivo creditício pelo Estado; b) pes-
de Território, de empresa incorporada ao patrimônio pú- soa cuja criação ou custeio o erário tenha contribuído com
blico ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário menos de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
na forma desta lei. ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designa-
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades ção, contratação ou qualquer outra forma de investidura
desta lei os atos de improbidade praticados contra o pa- ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas en-
trimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou tidades mencionadas no artigo anterior.
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que cou-
daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja con- ber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza
corrido ou concorra com menos de cinquenta por cento ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele
do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre


a contribuição dos cofres públicos. Os sujeitos ativos do ato de improbidade administrativa
se dividem em duas categorias: os agentes públicos, defini-
“Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como víti- dos no art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°.
ma do ato de improbidade administrativa”. A lei adota uma “Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato
noção ampla, pela qual são abrangidas entidades que, sem de improbidade, concorre para sua prática ou dele extrai
integrarem a Administração, possuem alguma espécie de vantagens indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em
conexão com ela.88 alguns casos, não pratica o ato em si, mas oferece sua cola-
O agente público pode ser ou não um servidor público. boração, ciente da desonestidade do comportamento, Em
O conceito de agente público é melhor delimitado no ar- outros, obtém benefícios do ato de improbidade, muito
tigo seguinte. embora sabedor de sua origem escusa”89.

88 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra- 89 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administra-
tivo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. tivo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

131
A ampla denominação de agentes públicos conferida O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado é
pela lei de improbidade administrativa apenas tem efeito o material. No caso, há um correspondente financeiro di-
para os fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos atos reto, de modo que a condenação será no sentido de pagar
de improbidade administrativa. Percebe-se a amplitude pe- ao Estado o equivalente ao prejuízo causado.
los elementos do conceito: O agente público e o terceiro que com ele concorra
a) Tempo: exercício transitório ou definitivo; responderão pelos danos causados ao erário público com
b) Remuneração: existente ou não; seu patrimônio. Inclusive, perderão os valores patrimoniais
c) Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, designa- acrescidos devido à prática do ato ilícito. O dano causado
ção, contratação ou qualquer outra forma de investi- deverá ser ressarcido em sua totalidade.
dura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função; Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao
d) Local do exercício: em qualquer entidade que pos- patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
sa ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário de caberá a autoridade administrativa responsável pelo in-
uma ONG criada pelo Estado é considerado agente quérito representar ao Ministério Público, para a indis-
público para os efeitos desta lei.
ponibilidade dos bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as condutas
caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o
de induzir ou concorrer em relação ao agente público, ou
seja, incentivando-o ou mesmo participando diretamente integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
do ilícito. Este terceiro jamais será pessoa jurídica, deve ne- patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
cessariamente ser pessoa física.
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierar- Será oferecida representação ao Ministério Público para
quia são obrigados a velar pela estrita observância dos que ele postule a indisponibilidade dos bens do indiciado,
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e de modo a garantir que ele não aliene seu patrimônio para
publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos. não reparar o ilícito. Por indisponibilidade entende-se blo-
quear os bens para que não sejam vendidos ou deteriora-
Trata-se de referência expressa aos princípios do art. 37, dos, garantindo que o dano possa ser reparado quando da
caput, CF. Não se menciona apenas o princípio da eficiência, condenação judicial.
o que não significa que possa ser desrespeitado, afinal, ele A indisponibilidade será suficiente para dar integral res-
é abrangido indiretamente. sarcimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patrimo-
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação nial resultante do ilícito.
ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimô-
dar-se-á o integral ressarcimento do dano. nio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às
cominações desta lei até o limite do valor da herança.
Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigi-
da monetariamente de todos os valores que foram retira- Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de impro-
dos do patrimônio público. No entanto, destaca-se que a bidade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever de
lei garante não só o integral ressarcimento, mas também a ressarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele deixar
devolução do enriquecimento ilícito: mesmo que a pessoa como herança.
não cause prejuízo direto ao erário, mas lucre com um ato
de improbidade administrativa, os valores devem ir para os CAPÍTULO II
cofres públicos. DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agen-
te público ou terceiro beneficiário os bens ou valores
Como não é possível ser desonesto sem saber que se
acrescidos ao seu patrimônio.
está agindo desta forma, o elemento comum a todas as hi-
póteses de improbidade administrativa é o dolo, que con-
Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que,
siste na intenção do agente em praticar o ato desonesto
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudên-


cia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusi- (alguns entendem como inconstitucionais todas as referên-
vamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo central do cias a condutas culposas - inclusive parte do STJ).
instituto denominado responsabilidade civil, que tem como Os atos de improbidade administrativa foram divididos,
elementos: ação ou omissão voluntária (agir como não se originalmente, em três grupos, nos artigos 9°, 10 e 11, con-
deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo do forme a gravidade do ato, indo do grupo mais grave ao
agente (dolo é a vontade de cometer uma violação de di- menos grave. Em seguida, foi inserido um novo grupo no
reito e culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação de artigo 10-A. A cada grupo é aplicada uma espécie diferente
causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causado) e de sanção no caso de confirmação da prática do ato apura-
dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode ser da na esfera administrativa.
individual ou coletivo, moral ou material, econômico e não Nos três grupos originais do capítulo II, enquanto o
econômico). É a este instituto que se relacionam as sanções caput traz as condutas genéricas, os incisos delimitam con-
da perda de bens e valores e de ressarcimento integral do dutas específicas, que nada mais são do que exemplos de
dano. situações do caput, logo, os incisos são uma relação mera-

132
mente exemplificativa90, sendo suficiente bem compreen- Entende Carvalho Filho92 que no caso do art. 9° o requi-
der como encontrar os requisitos genéricos para fins de sito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pressuposto
provas. No grupo acrescido posteriormente, o legislador exigível do tipo é a percepção de vantagem patrimonial
não discriminou em incisos as condutas praticáveis. ilícita obtida pelo exercício da função pública em geral.
Pressuposto dispensável é o dano ao erário”. O elemento
subjetivo é o dolo, pois fica difícil imaginar que um servidor
#FicaDica obtenha vantagem indevida por negligência, imprudência
ou imperícia (culpa). Da mesma forma, é incompatível com
Todos os atos de improbidade descritos nos ar- a conduta omissiva, aceitando apenas a comissiva (ação).
tigos 9o, 10 e 11 contam com um rol de condu- Todas as condutas descritas abaixo são meros exem-
tas que se enquadram nos elementos do caput. plos de condutas compostas pelos elementos genéricos da
Contudo, basta o enquadramento no caput para cabeça do artigo. Com efeito, estando eles presentes, não
se caracterizar o ato de improbidade adminis- importa a ausência de dispositivo expresso no rol abaixo.
trativa. Significa dizer que o rol é apenas exem- I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem mó-
plificativo em cada um dos artigos. vel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica,
direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, dire-
SEÇÃO I to ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
QUE IMPORTAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO público;

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa im- Significa receber qualquer vantagem econômica, inclusive
portando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo presentes, de pessoas que tenham interesse direto ou indireto
de vantagem patrimonial indevida em razão do exercí- em que o agente público faça ou deixe de fazer alguma coisa.
cio de cargo, mandato, função, emprego ou atividade II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e no- para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem mó-
tadamente: vel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;
O grupo mais grave de atos de improbidade adminis- III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento + para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem
ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi- público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por
da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego, preço inferior ao valor de mercado;
função ou outra atividade nas entidades do artigo 1°:
a) O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado não Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior, na
se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que obe- qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, troca
deça aos ditames morais, notadamente no desempe- ou locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso ao
nho de função de interesse estatal. de mercado. Percebe-se um ato de improbidade que causa
b) Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimonial prejuízo direto ao erário.
ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamente te- No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem
nha ocorrido dano aos cofres públicos (por exemplo, móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de
quando um policial recebe propina pratica ato de mercado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel perten-
improbidade administrativa, mas não atinge direta- cente ao Estado é vendido, trocado ou alugado em preço
mente os cofres públicos). inferior ao de mercado.
c) É preciso que a conduta se consume, ou seja, que IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, má-
realmente exista o enriquecimento ilícito decorrente quinas, equipamentos ou material de qualquer natu-
de uma vantagem patrimonial indevida. reza, de propriedade ou à disposição de qualquer das
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

d) Como fica difícil imaginar que alguém possa se enri- entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o
quecer ilicitamente por negligência, imprudência ou trabalho de servidores públicos, empregados ou tercei-
imperícia, todas as condutas configuram atos dolo- ros contratados por essas entidades;
sos (com intenção).
e) Não cabe prática por omissão.91 Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender
ao Estado e, consequentemente, à preservação do bem
comum na sociedade. Logo, quando um servidor público
utiliza esta estrutura material ou pessoal para atender aos
seus próprios interesses, causa prejuízo direto aos cofres
públicos e obtém uma vantagem indevida (a natural van-
90 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- tagem decorrente do uso de algo que não lhe pertence).
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
91 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé- 92 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
todo, 2011. vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

133
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, X - receber vantagem econômica de qualquer natureza,
direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prá- direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, provi-
tica de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de dência ou declaração a que esteja obrigado;
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade
ilícita, A percepção de vantagem econômica para omitir qual-
quer ato que seja obrigado a praticar caracteriza ato de
Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou omi- improbidade administrativa.
tido para facilitar condutas como lenocínio (explorar, esti- XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio
mular ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envolver-se bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
em atividades no mundo das drogas, como venda e dis- patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta
tribuição), contrabando (importar ou exportar mercadoria lei;
proibida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro a juros ab- XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou
surdos) ou qualquer outra atividade ilícita. Se, ainda por valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
cima, se obter vantagem indevida pela tolerância da prática mencionadas no art. 1° desta lei.
do ilícito, resta caracterizado um ato de improbidade admi-
nistrativa da espécie mais grave, ora descrita neste art. 9° Como visto, todo o aparato material e financeiro propi-
em estudo. ciado para o desempenho das funções públicas pertencem
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, à máquina estatal e devem servir ao bem comum, não ca-
direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre me- bendo a utilização em proveito próprio, o que gera uma
dição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro natural vantagem econômica, sob pena de incidir em im-
serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade probidade administrativa.
ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a
qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei; SEÇÃO II
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Da mesma forma, é vedado o recebimento de vanta-
QUE CAUSAM PREJUÍZO AO ERÁRIO
gens para fazer declarações falsas na avaliação de obras e
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
serviços em geral.
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de
dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens
qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e
evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
notadamente:
A desproporção entre o rendimento percebido no O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
exercício das funções e o patrimônio acumulado é um for- nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
te indício da percepção indevida de vantagens. Claro, se erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
comprovada que a desproporção se deu por outros moti- nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como
vos lícitos, não há ato de improbidade administrativa (por o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e
exemplo, ganhar na loteria ou receber uma boa herança). os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de o seu conteúdo.93
consultoria ou assessoramento para pessoa física ou ju- a) Perda patrimonial é o gênero, do qual são espécies:
rídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou desvio, que é o direcionamento indevido; apropria-
amparado por ação ou omissão decorrente das atribui- ção, que é a transferência indevida para a própria
ções do agente público, durante a atividade; propriedade; malbaratamento, que significa desper-
dício; e dilapidação, que se refere a destruição.94
O agente público não pode trabalhar em funções in- b) É preciso que seja causado dano a uma das pessoas
compatíveis com as que desempenha para o Estado, no-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

do art. 1° da lei. No entanto, o enriquecimento ilícito


tadamente quando isso influenciar nas atitudes por ele to- é dispensável.
madas no exercício das funções públicas. Afinal, aceitando c) O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
uma posição que comprometa sua imparcialidade, o agen-
te prejudicará o interesse público. O objeto da tutela é a preservação do patrimônio públi-
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a co, em todos seus bens e valores. O pressuposto exigível é
liberação ou aplicação de verba pública de qualquer na- a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos passivos.
tureza; Este artigo admite expressamente a variante culposa, o
que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no REsp
Para que as verbas públicas sejam liberadas ou aplica- n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da inconstitu-
das há todo um procedimento estabelecido em lei, não
93 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé-
cabendo ao servidor violá-lo e muito menos receber van- todo, 2011.
tagem por tal violação. Há improbidade, por exemplo, na 94 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
fraude em licitação. vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

134
cionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do STJ V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação
consolidou a tese de que é indispensável a existência de de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao menos
de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o dano ao Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do arti-
erário precisa ser comprovado. De acordo com o ministro go anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não perceber
Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando o agente vantagem indevida pela sua conduta. Aliás, é exatamente
não pretende atingir o resultado danoso, mas atua com ne- pela falta deste elemento que o ato se enquadra na cate-
gligência, imprudência ou imperícia (REsp n° 1.127.143)”95. goria intermediária, e não mais grave, dentro da classifica-
Para Carvalho Filho96, não há inconstitucionalidade na mo- ção das improbidades.
dalidade culposa, lembrando que é possível dosar a pena VI - realizar operação financeira sem observância das
conforme o agente aja com dolo ou culpa. normas legais e regulamentares ou aceitar garantia in-
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exige suficiente ou inidônea;
que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevidas, VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem inde- observância das formalidades legais ou regulamentares
vida, incide no artigo anterior. Exceto pela não percepção aplicáveis à espécie;
da vantagem indevida, os tipos exemplificados se aproxi-
mam muito dos previstos nos incisos do art. 9°. A realização de operações financeiras, como a liberação
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incor- de verbas e o investimento destas, e a concessão de bene-
poração ao patrimônio particular, de pessoa física ou fícios são papéis muito importantes desempenhados pelo
jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes agente público, que deverá cumprir estritamente a lei.
do acervo patrimonial das entidades mencionadas no VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de pro-
art. 1º desta lei; cesso seletivo para celebração de parcerias com entida-
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou ju- des sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente;
rídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades men- Processo licitatório é aquele em que se realiza a lici-
cionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das tação, procedimento detalhado prescrito em lei pelo qual
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à o Estado contrata serviços, adquire produtos, aliena bens,
espécie; etc. A finalidade de cumprir o procedimento legal de forma
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente estrita é garantir a preservação do interesse da sociedade,
despersonalizado, ainda que de fins educativos ou as- não cabendo ao agente público passar por cima destas re-
sistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimô- gras (Lei n° 8.666/93).
nio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não
desta lei, sem observância das formalidades legais e autorizadas em lei ou regulamento;
regulamentares aplicáveis à espécie;
Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Po-
Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram der Público encontram respectiva previsão em alguma lei
a estrutura da administração pública somente devem ser ou diretriz orçamentária.
utilizados por ela. Por isso, não cabe a incorporação de seu X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou
patrimônio ao acervo de qualquer pessoa física ou jurídi- renda, bem como no que diz respeito à conservação do
ca e mesmo a simples utilização deve obedecer aos dita- patrimônio público;
mes legais. Quem agir, aproveitando da função pública,
de modo a permitir tais situações, incide em ato de im- A arrecadação de tributos é essencial para a manuten-
probidade administrativa, ainda que não receba nenhuma ção da máquina estatal, não podendo o agente público ser
vantagem por seu ato (havendo enriquecimento ilícito, está negligente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que tange ao
presente um ato do art. 9°, categoria mais grave). levantamento desta renda.
Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por XI - liberar verba pública sem a estrita observância das
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser pre- normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a
servado e sua transmissão/utilização deve obedecer a le- sua aplicação irregular;
gislação vigente.
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou loca- Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso
ção de bem integrante do patrimônio de qualquer das obedecer o procedimento previsto em lei, preservando o
entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a pres- interesse estatal.
tação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta categoria
mercado; intermediária de atos de improbidade administrativa: que
95 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade administrativa: de- seja causado prejuízo ao erário, sem que o agente respon-
sonestidade na gestão dos recursos públicos. Disponível em: <http:// sável pelo dano receba vantagem indevida. A questão é
www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp. preservar o interesse estatal, garantindo que os bens e ver-
texto=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
96 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- bas públicas sejam corretamente utilizados, arrecadados e
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. investidos.

135
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se SEÇÃO II-A
enriqueça ilicitamente; DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
DECORRENTES DE CONCESSÃO OU APLICAÇÃO
Como visto, quanto o agente público obtém vantagem INDEVIDA DE BENEFÍCIO FINANCEIRO OU TRIBU-
própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais graves TÁRIO
do artigo anterior. Caso concorde com o enriquecimento
ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior hierárquico, (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
ou colabore para que ele ocorra, também cometerá ato de
improbidade administrativa, embora de menor gravidade. Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrati-
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço parti- va qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar ou
cular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de manter benefício financeiro ou tributário contrário ao
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Com-
qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, plementar nº 116, de 31 de julho de 2003.
bem como o trabalho de servidor público, empregados Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços
ou terceiros contratados por essas entidades. de Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento).
Não se deve permitir que terceiros utilizem do apara- § 1º O imposto não será objeto de concessão de isen-
to da máquina estatal, tanto material quanto pessoal, ções, incentivos ou benefícios tributários ou financeiros,
mesmo que não se obtenha vantagem alguma com tal inclusive de redução de base de cálculo ou de crédito
concessão. presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha que resulte, direta ou indiretamente, em carga tributária
por objeto a prestação de serviços públicos por meio da menor que a decorrente da aplicação da alíquota míni-
gestão associada sem observar as formalidades previs- ma estabelecida no caput, exceto para os serviços a que
tas na lei; se referem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público esta Lei Complementar.
sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem
observar as formalidades previstas na lei. Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municípios,
A celebração de contratos de qualquer natureza com- fixando-se a alíquota mínima em 2%.
promete diretamente o orçamento público, causando pre- Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro de
juízo ao erário. Por isso, deve-se obedecer as prescrições sua competência constitucional alíquotas inferiores a 2%
legais que disciplinam a celebração de contratos adminis- para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo fis-
trativos, deliberando com responsabilidade a respeito das cal), prejudicando os municípios vizinhos.
contratações necessárias e úteis ao bem comum. Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a administrativa a eventual concessão do benefício abaixo da
incorporação, ao patrimônio particular de pessoa física alíquota mínima.
ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores públicos
transferidos pela administração pública a entidades pri- SEÇÃO III
vadas mediante celebração de parcerias, sem a obser- DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
vância das formalidades legais ou regulamentares apli- QUE ATENTAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA AD-
cáveis à espécie; MINISTRAÇÃO PÚBLICA
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa
públicos transferidos pela administração pública a en- que atenta contra os princípios da administração pú-
tidade privada mediante celebração de parcerias, sem a blica qualquer ação ou omissão que viole os deveres
observância das formalidades legais ou regulamentares de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade
aplicáveis à espécie; às instituições, e notadamente:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com


entidades privadas sem a observância das formalidades O grupo mais ameno de atos de improbidade adminis-
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; trativa se caracteriza pela simples violação a princípios da
XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para celebra- administração pública, ou seja, aplica-se a qualquer ati-
ção de parcerias da administração pública com entida- tude do sujeito ativo que viole os ditames éticos do servi-
des privadas ou dispensá-lo indevidamente; ço público. Isto é, o legislador pretende a preservação dos
XX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e princípios gerais da administração pública.97
análise das prestações de contas de parcerias firmadas
pela administração pública com entidades privadas; a) O objeto de tutela são os princípios constitucionais;
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela admi- b) Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis-
nistração pública com entidades privadas sem a estrita pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erário;
observância das normas pertinentes ou influir de qual- 97 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Mé-
quer forma para a sua aplicação irregular. todo, 2011.

136
c) Somente é possível a prática de algum destes atos tegral do dano, quando houver, perda da função públi-
com dolo (intenção); ca, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos,
d) Cabe a prática por ação ou omissão. pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalidade Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
para não permitir a caracterização de abuso de poder, dian- ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
te do conteúdo aberto do dispositivo. intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majori-
Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que tário, pelo prazo de dez anos;
se aplica quando o ato de improbidade administrativa não II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
tiver gerado obtenção de vantagem indevida ou dano ao dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
erário. ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula- da função pública, suspensão dos direitos políticos de
mento ou diverso daquele previsto, na regra de compe- cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas
tência; vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
de ofício; ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majori-
razão das atribuições e que deva permanecer em segre- tário, pelo prazo de cinco anos;
do; III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do
IV - negar publicidade aos atos oficiais; dano, se houver, perda da função pública, suspensão
V - frustrar a licitude de concurso público; dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
fazê-lo; percebida pelo agente e proibição de contratar com o
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
medida política ou econômica capaz de afetar o preço
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majori-
de mercadoria, bem ou serviço.
tário, pelo prazo de três anos.
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis-
IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função
calização e aprovação de contas de parcerias firmadas
pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8
pela administração pública com entidades privadas.
(oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de aces-
benefício financeiro ou tributário concedido. (Incluído
sibilidade previstos na legislação.
pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da
prestação de serviços na área de saúde sem a prévia ce- Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta
lebração de contrato, convênio ou instrumento congê- lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado,
nere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da Lei nº assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei do SUS).
É possível perceber, no rol exemplificativo de condutas As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são
do artigo 11, que o agente público que pratique qualquer de natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
ato contrário aos ditames da ética, notadamente os origi- Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais grave, o
nários nos princípios administrativos constitucionais, prati- agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem eco-
ca ato de improbidade administrativa. nômica indevida) e pode ainda causar dano ao erário, por
Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos visan- isso, deverá não só reparar eventual dano causado mas
do o bem comum, agir com efetividade e rapidez, manter também colocar nos cofres públicos tudo o que adquiriu
sigilo a respeito dos fatos que tenha conhecimento devido indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o que en-
a sua função, tornar públicos os atos oficiais, zelar pela boa riqueceu indevidamente ou este valor acrescido do valor
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

realização de atos administrativos em geral (como a reali- do prejuízo causado aos cofres públicos (quanto o Estado
zação de concurso público), prestar contas, entre outros. perdeu ou deixou de ganhar). No caso do artigo 10, não
haverá enriquecimento ilícito, mas sempre existirá dano
CAPÍTULO III ao erário, o qual será reparado (eventualmente, ocorrerá
DAS PENAS o enriquecimento ilícito, devendo o valor adquirido ser to-
mado pelo Estado). Já no artigo 11, o máximo que pode
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e ocorrer é o dano ao erário, com o devido ressarcimento.
administrativas previstas na legislação específica, está o Na hipótese do artigo 10-A, não se denota nem enrique-
responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cimento ilícito e nem dano ao erário, pois no máximo a
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumu- prática de guerra fiscal pode gerar
lativamente, de acordo com a gravidade do fato: Em todos os casos há perda da função pública.
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento in-

137
Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de contra-
tação ou percepção de vantagem, graduadas conforme a gravidade do ato, enquanto que na quarta categoria apenas se
prevê a suspensão de direitos políticos e a multa.
Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções por atos de improbidade administrativa, que se encontra no art. 37,
§ 4º, CF:
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indis-
ponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

#FicaDica
A única sanção que se encontra prevista na LIA mas não na CF é a de multa. (art. 37, §4°, CF). Não há nenhuma
inconstitucionalidade disto, pois nada impediria de o legislador infraconstitucional ampliasse a relação mínima
de penalidades da Constituição, pois esta não limitou tal possibilidade e porque a lei é o instrumento adequado
para tanto.

Carvalho Filho tece considerações a respeito de algumas das sanções:

a) Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve derivar
de origem ilícita”.
b) Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção monetária
e juros de mora.
c) Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassação. Sendo
servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servidores trabalhistas
e temporários), a perda da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa do empregado. No
caso de exercer apenas uma função pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revogação da designação”.
Lembra-se que determinadas autoridades se sujeitam a procedimento especial para perda da função pública, ponto em
que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa.
d) Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados nesta
margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de improbidade
(a base será o valor do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da remuneração do agente). A natureza da multa
é de sanção civil, não possuindo caráter indenizatório, mas punitivo.
e) Proibição de receber benefícios: não se incluem as imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos sócio
majoritário da instituição vitimada.
f) Proibição de contratar: o agente punido não pode participar de processos licitatórios.

#FicaDica

Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11


Suspensão de 8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
direitos políticos
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Multa Até 3X o enri- Até 2X o dano Até 3X o valor Até 100X o va-
quecimento ex- causado. do benefício lor da remune-
perimentado financeiro ou ração do agen-
tributário con- te
cedido
Vedação de con- 10 anos 5 anos – 3 anos
tratação ou van-
tagem

138
CAPÍTULO IV Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autorida-
DA DECLARAÇÃO DE BENS de administrativa competente para que seja instaurada
investigação destinada a apurar a prática de ato de im-
Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam probidade.
condicionados à apresentação de declaração dos bens e
valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim O artigo 14 repete um direito assegurado na Constituição
de ser arquivada no serviço de pessoal competente. Federal, qual seja o direito de representação, previsto no art.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semo- 5°, XXXIV, a: “são a todos assegurados, independentemente
ventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes
de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abu-
no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e so de poder; [...]”. Logo, se o art. 14 não existisse, ainda seria
valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos possível que o particular representasse o agente público.
§ 1º A representação, que será escrita ou reduzida a ter-
filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência
mo e assinada, conterá a qualificação do representante, as
econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e
informações sobre o fato e sua autoria e a indicação das
utensílios de uso doméstico.
provas de que tenha conhecimento.
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada
§ 2º A autoridade administrativa rejeitará a representa-
e na data em que o agente público deixar o exercício do ção, em despacho fundamentado, se esta não contiver as
mandato, cargo, emprego ou função. formalidades estabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do não impede a representação ao Ministério Público, nos
serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, termos do art. 22 desta lei.
o agente público que se recusar a prestar declaração
dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a pres- O §1° delimita o conteúdo da representação que, se não
tar falsa. respeitado, será rejeitado pela autoridade administrativa
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia (§2°). Ainda assim, em caso de rejeição, será possível repre-
da declaração anual de bens apresentada à Delegacia sentar ao Ministério Público. Supondo, por exemplo, que a
da Receita Federal na conformidade da legislação do pessoa não queira se identificar - a representação será rejei-
Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer nature- tada, mas o Ministério Público poderá apurar o fato.
za, com as necessárias atualizações, para suprir a exi- As exigências do §1° servem para evitar denúncias irres-
gência contida no caput e no § 2° deste artigo. ponsáveis e coibir acusações levianas. Somente o Ministério
Público poderá instaurar procedimento para apurar uma de-
Para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de núncia anônima.
agente público deve apresentar declaração de bens que
deverá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demis- § 3º Atendidos os requisitos da representação, a autorida-
são (§3°). Assim, trata-se de condição para o exercício das de determinará a imediata apuração dos fatos que, em se
atribuições de agente público. tratando de servidores federais, será processada na forma
A finalidade é a de assegurar que o agente público não prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de de-
receba vantagens indevidas, possuindo instrumento para zembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de
fiscalizá-lo caso o faça. acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.
Os bens abrangidos pela declaração não são apenas os
do agente público, mas também os de seus dependentes. O §3° remete à existência de regras próprias do proces-
so administrativo disciplinar para as diferentes categorias de
Por isso, não adiantará nada o agente colocar os bens de-
servidores. Por exemplo, aos servidores públicos federais
correntes do enriquecimento ilícito em nome de pessoas
será aplicada a Lei n° 8.112/90.
que dele dependam, e não em seu nome.
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Mi-
nistério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO V existência de procedimento administrativo para apurar a


DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO prática de ato de improbidade.
PROCESSO JUDICIAL Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Con-
selho de Contas poderá, a requerimento, designar repre-
Desde logo, destaca-se que o procedimento na via ad- sentante para acompanhar o procedimento administrati-
ministrativa não tem idoneidade para ensejar a aplicação vo.
de sanções de improbidade. Após o encerramento do pro-
cesso administrativo, deverá ser ajuizada ação de impro- A lei fala em comissão processante, mas o órgão encar-
bidade administrativa. Na sentença judicial será possível regado do processo de investigação pode receber outra no-
aplicar as sanções da lei de improbidade administrativa.98 menclatura conforme o sistema funcional de cada entidade99.

98 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati- 99 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrati-
vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. vo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

139
O importante é saber que este órgão terá que informar A legitimidade ativa é concorrente, porque a ação pode
ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas a existência ser proposta tanto pelo Ministério Público quanto pela
do procedimento administrativo apurando o ato de impro- pessoa jurídica interessada.
bidade, que poderão designar representante para acompa- A legitimidade passiva é daquele que cometeu o ato de
nhá-lo. O objetivo da lei foi contribuiu para a formação da improbidade.
convicção dos representantes destes órgãos desde logo. No pedido, se postulará, primeiro, o reconhecimento do
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, ato de improbidade administrativa, depois, a aplicação das
a comissão representará ao Ministério Público ou à pro- sanções cabíveis.
curadoria do órgão para que requeira ao juízo compe- § 1º É vedada a transação, acordo ou conciliação nas
tente a decretação do seqüestro dos bens do agente ou ações de que trata o caput.
terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado
dano ao patrimônio público. Não é permitido fazer acordos porque a apuração do ato
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo de improbidade administrativa é de interesse público, sobre
com o disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Pro- o qual não se pode transacionar. Seria absurdo alguém pre-
cesso Civil. judicar o erário e se livrar da condenação judicial apenas por
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, ter aceitado um acordo quando descoberto seu ato
o exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplica-
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as
ções financeiras mantidas pelo indiciado no exterior, nos
ações necessárias à complementação do ressarcimento
termos da lei e dos tratados internacionais.
do patrimônio público.
Se existirem indício veementes da prática do ato de im-
probidade administrativa, a comissão processante poderá Caso não tenha sido totalmente recomposto o patrimô-
representar ao Ministério Público ou ao órgão jurídico da nio com a ação de improbidade, a Fazenda Pública ajuizará
pessoa lesada para que estes postulem o sequestro/arres- ação própria.
to de bens do terceiro ou agente que tenham enriquecido § 3° No caso de a ação principal ter sido proposta pelo
ilicitamente. Ministério Público, aplica-se, no que couber, o disposto
O arresto parece ser uma medida mais adequada (arts. no § 3º do art. 6º da Lei no 4.717, de 29 de junho de
813 a 821, CPC), por ser uma garantia geral dos credores, 1965.
ou seja, por ser mais abrangente.
Vale lembrar a possibilidade prevista no art. 7° desta lei Dispõe o art. 6°, §3° da Lei n° 4.717/65:
no sentido de representar ao Ministério Público para pos- A pessoa jurídica de direito público ou de direito priva-
tular a indisponibilidade de bens. do, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se
Este artigo e o artigo 7° abrem possibilidade para que de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor,
seja tomada qualquer medida cautelar que vise impedir a desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo
deterioração e a dilapidação do patrimônio do causador do do respectivo representante legal ou dirigente.
dano, assegurando sua reparação futura.
O procedimento administrativo se encontra disciplina- Significa que é possível inverter a legitimidade, sendo
do dos artigos 14 a 16, encerrando-se neste ponto. A partir que a pessoa jurídica inicia o processo como legitimado
daqui, trata-se da ação de improbidade administrativa que passivo, mas, como é invertido o interesse processual, pas-
deve tramitar na via judicial (artigos 17 e 18). sa para o polo ativo. No entanto, como pessoa jurídica não
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será figura como ré de ação de improbidade administrativa, so-
proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica mente cabe a aplicação do dispositivo no sentido de auto-
interessada, dentro de trinta dias da efetivação da me- rizar que a pessoa jurídica reforce o pedido de reconheci-
dida cautelar. mento de improbidade e de aplicação de sanções ao lado
do Ministério Público.
“Ação de improbidade administrativa é aquela que pre-
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tende o reconhecimento judicial de condutas de improbi-


como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei,
dade da Administração, perpetradas por administradores
sob pena de nulidade.
públicos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções
legais, com o escopo de preservar o princípio da mora-
lidade administrativa. Sem dúvida, cuida-se de poderoso A atuação do Ministério Público nos processos judiciais
instrumentos de controle judicial sobre atos que a lei ca- pode ser como parte, quando ajuizar a ação, e como fiscal
racteriza como de improbidade”100. da lei, quando outro legitimado o fizer. No caso, como tam-
Caso tenha sido postulada alguma medida cautelar, o bém a pessoa jurídica de direito público prejudicada pode
prazo para que seja ajuizada a ação de improbidade ad- ajuizar a ação, se o fizer, o Ministério Público atuará como
ministrativa é de 30 dias, sob pena de perda da eficácia da fiscal da lei, sob pena de nulidade.
medida (bens e verbas são desbloqueados). § 5º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juí-
zo para todas as ações posteriormente intentadas que
100 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

140
Tornar o juízo prevento é assegurar que todas as ações Dispõem o artigo 221, caput e §1° do CPP:
que sejam propostas com mesma causa de pedir (fatos e O Presidente e o Vice-Presidente da República, os se-
fundamentos jurídicos) ou mesmo objeto sejam julgadas nadores e deputados federais, os ministros de Estado, os
pelo mesmo juízo. Será prevento o juízo em que primeiro governadores de Estados e Territórios, os secretários de Es-
for proposta a ação. tado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os
§ 6º A ação será instruída com documentos ou justifi- deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os mem-
cação que contenham indícios suficientes da existência bros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos Tribunais
do ato de improbidade ou com razões fundamentadas de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem
da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em local,
provas, observada a legislação vigente, inclusive as dis- dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.
posições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Pro- § 1° O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
cesso Civil. presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputa-
dos e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela
A ação de improbidade administrativa será instruída com prestação de depoimento por escrito, caso em que as
provas do ato de improbidade administrativa praticado, ge- perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz,
ralmente o processo administrativo que tramitou anterior- Ihes serão transmitidas por ofício.
mente. Todas estas provas serão explicadas, fundamentando
porque restou caracterizado o ato de improbidade. Percebe-se que os dispositivos tratam da tomada de
§ 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará depoimentos de determinados agentes públicos.
autuá-la e ordenará a notificação do requerido, para § 13º. Para os efeitos deste artigo, também se considera
oferecer manifestação por escrito, que poderá ser ins- pessoa jurídica interessada o ente tributante que figurar
truída com documentos e justificações, dentro do prazo no polo ativo da obrigação tributária de que tratam o §
de quinze dias. 4º do art. 3º e o art. 8º-A da Lei Complementar nº 116,
de 31 de julho de 2003. (Incluído pela Lei Complementar
Se a petição inicial preencher os requisitos do pará- nº 157, de 2016)
grafo anterior e os demais requisitos processuais civis, o
O § 4º do artigo 3º mencionado foi vetado. Interpretan-
requerido será notificado para se manifestar por escrito e,
do o artigo 8º-A, entende-se ser legitimada para proposi-
se quiser, apresentar documentos.
tura da ação a pessoa jurídica de direito público que seria
beneficiada pela alíquota que deveria ter sido recolhida na
§ 8º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trin-
esfera de seu município pois nele que o prestador se en-
ta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se
contrava.
convencido da inexistência do ato de improbidade, da
Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de
improcedência da ação ou da inadequação da via elei-
reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos
ta. ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão
§ 9º Recebida a petição inicial, será o réu citado para dos bens, conforme o caso, em favor da pessoa jurídica
apresentar contestação. prejudicada pelo ilícito.
Se o juiz se convencer com as informações da mani- Na verdade, este dispositivo apenas lembra algumas
festação do requerido, rejeitará a ação; se não, receberá das sanções que poderão ser aplicadas na sentença da
definitivamente a petição inicial e determinará a citação do ação de improbidade administrativa. Não significa que as
réu para contestar a ação. demais sanções previstas nesta lei não sejam aplicáveis.
§ 10º Da decisão que receber a petição inicial, caberá
agravo de instrumento. CAPÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
Agravo de instrumento é o recurso interposto contra
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

decisões que não colocam fim no processo. Art. 19. Constitui crime a representação por ato de im-
§ 11º Em qualquer fase do processo, reconhecida a ina- probidade contra agente público ou terceiro beneficiá-
dequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o rio, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
processo sem julgamento do mérito. Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante
Durante o processo o juiz pode perceber que a ação está sujeito a indenizar o denunciado pelos danos mate-
de improbidade administrativa não deveria ter sido aceita, riais, morais ou à imagem que houver provocado.
caso em que a extinguirá.
§ 12º. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realiza- A legislação pretende que as denúncias de atos de im-
das nos processos regidos por esta Lei o disposto no art. probidade administrativas sejam sérias e fundamentadas,
221, caput e § 1º, do Código de Processo Penal. não levianas. O art. 19 introduz um tipo penal, ele não faz
parte exatamente das outras penalidades da lei, por isso
exatamente que está apartado das demais.

141
Este crime será denunciado e apurado perante um juízo CAPÍTULO VII
criminal, fora da ação de improbidade administrativa. O ar- DA PRESCRIÇÃO
tigo 19 é um crime a ser denunciado em ação penal pública
proposta pelo Ministério Público, único legitimado. Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções
Na verdade, ele não passa de uma forma específica da previstas nesta lei podem ser propostas:
denunciação caluniosa do Código Penal. I - até cinco anos após o término do exercício de man-
dato, de cargo em comissão ou de função de confiança;
Art. 339, CP. Dar causa à instauração de investigação II - dentro do prazo prescricional previsto em lei espe-
policial, de processo judicial, instauração de investiga- cífica para faltas disciplinares puníveis com demissão a
ção administrativa, inquérito civil ou ação de impro- bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo
bidade administrativa contra alguém, imputando-lhe efetivo ou emprego.
crime de que o sabe inocente. Pena - reclusão de 2 a 8
anos e multa. Prescrição é um instituto que visa regular a perda do
direito de acionar judicialmente.
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos di- A ação de improbidade administrativa não poderá ser
reitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado proposta se: a) prescrição no caso de cargo provisório -
da sentença condenatória. passados 5 anos após o término do exercício de mandato,
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa cargo em comissão ou função de confiança pelo réu; b)
competente poderá determinar o afastamento do agen- prescrição no caso de cargo definitivo - dentro do prazo
te público do exercício do cargo, emprego ou função, prescricional previsto em lei específica para faltas discipli-
sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer nares puníveis com demissão a bem do serviço público
necessária à instrução processual. (por exemplo, na esfera federal, o prazo é de 5 anos a con-
tar da data em que o fato se tornou conhecido).
Não cabe, em regra, tomar medida cautelar para sus-
pender direitos políticos e determinar a perda da função CAPÍTULO VIII
pública. O máximo que é possível, visando garantir a ins- DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
trução processual, é afastar o agente público do exercício
do cargo sem prejuízo da remuneração enquanto tramita a Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publica-
ação de improbidade administrativa. ção.

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei in- Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de ju-
depende: nho de 1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, demais disposições em contrário.
salvo quanto à pena de ressarcimento; Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independên-
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de cia e 104° da República.
controle interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.

Não importa se o ato praticado pelo agente não causou


dano ao erário, tanto que existem os atos da categoria mais EXERCÍCIOS COMENTADOS
leve (artigo 11).
Também é irrelevante se o Tribunal de Contas aprovou 1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA
ou rejeitou as contas prestadas pelo agente, embora isto - CESPE – 2018) Em relação aos princípios aplicáveis à ad-
sirva de elemento de prova. ministração pública, julgue o próximo item.
O servidor público que revelar a particular determinado
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o fato sigiloso de que tenha ciência em razão das atribuições
Ministério Público, de ofício, a requerimento de autori- praticará ato de improbidade administrativa atentatório
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

dade administrativa ou mediante representação formu- aos princípios da administração pública.


lada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requi-
sitar a instauração de inquérito policial ou procedimento ( ) CERTO ( ) ERRADO
administrativo.
Resposta: Certo. A conduta é especificada no rol do arti-
O Ministério Público poderá requisitar a instauração de go 11, III, Lei nº 8.429/1992: “Constitui ato de improbida-
inquérito policial ou procedimento administrativo de ofício, de administrativa que atenta contra os princípios da ad-
a pedido da autoridade administrativa ou mediante repre- ministração pública qualquer ação ou omissão que viole
sentação. os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente: [...] III - revelar
fato ou circunstância de que tem ciência em razão das
atribuições e que deva permanecer em segredo”.

142
2. (STM – CARGOS DE NÍVEL SUPERIOR – CONHECI- 4. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNICIPAL
MENTOS BÁSICOS – CESPE – 2018) À luz da Lei de Im- DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS BÁSI-
probidade Administrativa – Lei nº 8.429/1992 –, julgue o COS – CESPE – 2018) Com relação aos princípios apli-
item a seguir. cáveis à administração pública e ao enriquecimento ilícito
É imprescindível a ocorrência de dolo para a tipificação, por agente público, julgue o item a seguir.
como ato de improbidade administrativa, da conduta de A pretensão estatal de ressarcimento do erário em face de
agente público que cause prejuízo ao erário. agente que tenha enriquecido ilicitamente no exercício de
suas funções prescreverá em cinco anos.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: Errado. Os atos de improbidade administra-
tiva que causam prejuízo ao erário podem ser dolosos ou Resposta: Errado. Sobre a prescrição, disciplina o arti-
culposos, conforme artigo 10, caput, Lei nº 8.429/1992: go 23 da Lei nº 8.429/92: “As ações destinadas a levar a
“Constitui ato de improbidade administrativa que causa efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser propostas:
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou cul- I - até cinco anos após o término do exercício de man-
posa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, dato, de cargo em comissão ou de função de confiança;
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente para faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do
[...]”. serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou
emprego; III - até cinco anos da data da apresentação à
3. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- administração pública da prestação de contas final pelas
TRATIVA – CESPE – 2018) À luz da Lei de Improbidade entidades referidas no parágrafo único do art. 1º desta
Administrativa – Lei nº 8.429/1992 –, julgue o item a seguir. Lei”. Contudo, o artigo 37, § 5º, CF, prevê: “A lei estabe-
Além dos servidores públicos, são considerados sujeitos lecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por
ativos de atos de improbidade administrativa os notários e qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao
registradores, que podem sofrer as penalidades previstas erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.
na lei em apreço. Significa que para as ações civis de ressarcimento o prazo
prescricional do artigo 23 da LIA não se aplica. Estas ações
( ) CERTO ( ) ERRADO de reparação, aliás, são consideradas imprescritívos.

Resposta: Certo. Vale observar o conceito de agente


público nos termos do artigo 2°, Lei nº 8.429/1992: “Re- DECRETO-LEI Nº 220, DE 18/07/75:
puta-se agente público, para os efeitos desta lei, todo ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem CIVIS DO PODER EXECUTIVO DO ESTADO
remuneração, por eleição, nomeação, designação, con-
DO RIO DE JANEIRO. DECRETO Nº 2.479, DE
tratação ou qualquer outra forma de investidura ou vín-
culo, mandato, cargo, emprego ou função nas entida- 08 DE MARÇO DE 1979: REGULAMENTA O
des mencionadas no artigo anterior”. Neste sentido, o ESTATUTO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
artigo anterior, isto é, o artigo 1º da lei, prevê: “os atos CIVIS DO PODER EXECUTIVO DO ESTADO
de improbidade praticados por qualquer agente públi- DO RIO DE JANEIRO.
co, servidor ou não, contra a administração direta, indi-
reta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Ter-
Embora adote o formato de Decreto-lei, eis que sua
ritório, de empresa incorporada ao patrimônio público
elaboração se deu na época em que tal formato ainda era
ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário
permitido, na prática se considera ter a mesma força de
haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Lei Ordinária. O Decreto-Lei nº 220/1975 trata do regime


cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
jurídico dos servidores cariocas.
na forma desta lei”. Não há dúvidas que os notários e
Por regime jurídico dos servidores deve-se entender o
registradores desempenham típica função do Estado,
conjunto de regras referentes a todos os aspectos da re-
mediante concessão de serviço público, razão pela qual
lação entre o servidor público e a Administração. Envolve
são extensão do próprio Estado. Assim, seus agentes
tanto questões inerentes à ocupação do cargo quanto di-
podem ser responsabilizados por atos que configurem
reitos e deveres, entre outras.
improbidade administrativa.
DECRETO-LEI Nº 220 DE 18 DE JULHO DE 1975

Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis


do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro.

143
O Governador do Estado do Rio de Janeiro, no uso § 6º - O candidato não aprovado no estágio experimen-
da atribuição que lhe confere o § 1º do art. 3º da Lei tal será considerado inabilitado no concurso e voltará
Complementar nº 20, de 1º de julho de 1974, DECRETA: automaticamente ao cargo ou emprego de que se tenha
afastado, na hipótese do parágrafo anterior.
Art. 1º - Este Decreto-lei institui o regime jurídico dos § 7º - O candidato aprovado permanecerá na situação
funcionários públicos civis do Poder Executivo do Estado de estagiário até a data da publicação do ato de nome-
do Rio de Janeiro. ação, considerada a mesma data, para, todos os efeitos,
Parágrafo único - Para os efeitos deste Decreto-lei fun- início do exercício do cargo ressalvado o disposto no pa-
cionário é a pessoa legalmente investida em cargo pú- rágrafo terceiro antecedente e no artigo seguinte.
blico estadual do Quadro I (Permanente). § 8º - As atribuições inerentes ao cargo servirão de base
para o estabelecimento dos requisitos a serem exigidos
A lei criará o cargo público, que poderá ser efetivo, caso para inscrição no concurso, inclusive a limitação da ida-
em que o ingresso se dará mediante concurso, ou em co- de, que não poderá ser inferior a 18 (dezoito) nem supe-
missão, quando por uma relação de confiança o superior rior a 45 (quarenta e cinco) anos.
puder nomear seus funcionários enquanto estiver ocupan- § 9º - Não ficará sujeito ao limite máximo de idade o
do aquela posição de chefia. Todo serviço público será re- servidor de órgão da administração pública, direta ou
munerado pelos cofres públicos. indireta.
§ 10 - Além dos requisitos de que trata o § 8º deste ar-
tigo, são exigíveis para inscrição em concurso público:
#FicaDica 1) nacionalidade brasileira;
Cargo público = atribuições + responsabilidades 2) pleno gozo dos direitos políticos;
Modalidades = efetivo ou em comissão 3) quitação das obrigações militares.
§ 11 A norma contida no item 3 do § 1º deste artigo
não se aplica ao candidato habilitado nas provas para o
preenchimento de cargo de professor ou de cargos desti-
nados ao pessoal de apoio ao magistério.
TÍTULO I No concurso de provas o candidato é avaliado apenas
DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO E DA VACÂNCIA pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos con-
(ART. 2º A 17) cursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua ativi-
dade profissional também é considerado. O edital delimita
Art. 2º - A nomeação para cargo de provimento efetivo questões como valor da taxa de inscrição, casos de isenção,
depende de prévia habilitação em concurso público. número de vagas e prazo de validade.
§ 1º - O concurso objetivará avaliar: É possível a realização de concursos/processos seletivos
1) conhecimento e qualificação profissionais, mediante internos para a promoção na carreira. Nestes casos não se
provas ou provas e títulos; aplicam os limites de idade mínima e máxima.
2) condições de sanidade físico-mental; e
3) desempenho das atividades do cargo, inclusive con- Art. 3º - O funcionário nomeado na forma do artigo an-
dições psicológicas, mediante estágio experimental, res- terior adquirirá estabilidade após 2 (dois) anos de efetivo
salvado o disposto no § 11 deste artigo. exercício, computando-se, para esse efeito, o período de
§ 2º - (Revogado) estágio experimental em que tenha sido aprovado.
§ 3º - A designação prevista no parágrafo anterior ob- Parágrafo único - O funcionário que se desvincular de
servará a ordem de classificação nas provas e o limite um cargo público do Estado do Rio de Janeiro ou de suas
das vagas a serem preenchidas, percebendo o estagiário autarquias para investir-se em outro conservará a esta-
retribuição correspondente a 80% (oitenta por cento) do bilidade já adquirida.
vencimento do cargo, assegurada a diferença, se nome- Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a disci-
ado afinal.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

plina do estágio probatório mudou, notadamente aumen-


§ 4º - O prazo de validade das provas será fixado nas tando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista que a
instruções reguladoras do concurso, aprovadas pelo norma constitucional prevalece sobre a lei federal, mesmo
Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil do Estado e que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir o dispos-
poderá ser prorrogado, uma vez, por período não exce-
to no artigo 41 da Constituição Federal:
dente a 12 (doze) meses.
§ 5º - O candidato que, ao ser designado para o estágio
Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
experimental, for ocupante, em caráter efetivo, de cargo
cício os servidores nomeados para cargo de provimento
ou emprego em órgão da Administração Estadual direta
efetivo em virtude de concurso público.
ou autárquica ficará dele afastado com a perda do ven-
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
cimento ou salário e vantagens, observado o disposto
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
no inciso IV do art. 20 e ressalvado o salário-família,
II - mediante processo administrativo em que lhe seja
continuando filiado à mesma instituição de previdência,
sem alteração da base de contribuição. assegurada ampla defesa;

144
III - mediante procedimento de avaliação periódica de Art. 6º - O funcionário em disponibilidade poderá ser
desempenho, na forma de lei complementar, assegurada aproveitado em cargo de natureza e vencimento com-
ampla defesa. patíveis com os do anteriormente ocupado.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do ser- Se alguém estiver ocupando o cargo de um servidor
vidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupan- que tenha sido injustamente demitido, quando este voltar
te da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de origem, deverá desocupar o cargo, sendo colocado em disponibi-
sem direito a indenização, aproveitado em outro cargo lidade. Será possível, ainda, o reaproveitamento em outro
ou posto em disponibilidade com remuneração propor- cargo semelhante.
cional ao tempo de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, Art. 7º - O funcionário estável fisicamente incapacitado
o servidor estável ficará em disponibilidade, com remu- para o pleno exercício do cargo poderá ser ajustado em
neração proporcional ao tempo de serviço, até seu ade- outro de vencimento equivalente e compatível com suas
quado aproveitamento em outro cargo. aptidões e qualificações profissionais.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi-
é obrigatória a avaliação especial de desempenho por cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado
comissão instituída para essa finalidade. para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex.: fun-
cionário trabalhava como atendente numa repartição, se
Adquirida a estabilidade ao fim do estágio probatório, o movimentando o tempo todo e sofre um acidente, fican-
servidor só perderá o cargo em virtude de sentença judicial do paraplégico. Sua capacidade mental não ficou prejudi-
transitada em julgado ou de processo administrativo cada, embora seja inconveniente ele ter que fazer tantos
disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. movimentos no exercício das funções. Por isso, pode ser
reconduzido para outro cargo técnico na repartição que
Art. 4º - O funcionário estável poderá ser transferido seja mais burocrático e exija menos movimentação física,
da administração direta para a autárquica e reciproca- como o de assistente de um superior.
mente, ou de um para outro Quadro de mesma enti-
Art. 8º - A investidura em cargo de provimento efetivo
dade, desde que para cargo de retribuição equivalente,
ocorrerá com o exercício, que, nos casos de nomeação,
atendida a habilitação profissional; ou removido de uma
reintegração, transferência e aproveitamento, se iniciará
Unidade Administrativa para outra do mesmo órgão ou
no prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do
entidade, desde que haja claro na lotação.
ato de provimento.
§ 1º - São requisitos essenciais para essa investidura, ve-
Art. 5º - Invalidada a demissão do funcionário, será ele
rificada a subsistência dos previstos no § 10 do art. 2º,
reintegrado e ressarcido.
os seguintes:
§ 1º - Far-se-á a reintegração no cargo anteriormen-
1) habilitação em exame de sanidade e capacidade física
te ocupado; se alterado, no resultante da alteração; se
realizada exclusivamente por órgão oficial do Estado;
extinto, noutro de vencimento equivalente, atendida a
2) declaração de bens;
habilitação profissional.
3) habilitação em concurso público;
§ 2º - Não ocorrendo qualquer das hipóteses previstas
4) bons antecedentes;
no parágrafo anterior, restabelecer-se-á o cargo ante-
5) prestação de fiança, quando a natureza da função o
riormente exercido, que ficará como excedente, e nele se
exigir;
fará a reintegração.
6) declaração sobre se detém outro cargo, função ou
§ 3º - A reintegração ocorrerá, sempre, no sistema de
emprego, ou se percebe proventos de inatividade; e
classificação a que pertencia o funcionário.
7) inscrição no Cadastro de Pessoa Física (CPF).
§ 4º - Reintegrado o funcionário, aquele que não ocu-
§ 2º - A prova dos requisitos a que se referem os itens 1 e
paria cargo de igual classe se não tivesse ocorrido o ato
3 do § 10 do art.2º e 3 e 4 do parágrafo anterior não será
de demissão objeto da medida será exonerado ou recon-
exigida nos casos de reintegração e aproveitamento.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

duzido ao cargo anterior, sem direito a qualquer ressar-


§ 3º - A critério da administração, ocorrendo motivo re-
cimento, se não estável; caso contrário, será ele provido
levante, o prazo para o exercício poderá ser prorrogado.
em vaga existente ou permanecerá como excedente até
§ 4º - Será tornada sem efeito a nomeação se o exercício
a ocorrência da vaga.
não se verificar no prazo estabelecido.
Se um servidor for injustamente demitido e a sua de-
missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo
Art. 9º - O funcionário que deva entrar em exercício em
totalmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salários
nova sede terá, para esse efeito, prazo de 5 (cinco) dias,
do período em que foi afastado). Caso o cargo esteja ex-
contados da data da publicação do ato que o determinar.
tinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo exista
e alguém o estiver ocupando, este será retirado do cargo,
Art. 10 - A investidura em cargo em comissão ocorrerá
devolvendo-o ao seu legítimo titular.
com a posse, da qual se lavrará termo incluindo o com-
promisso de fiel cumprimento dos deveres da função
pública.

145
§ 1º - O termo de posse consignará a apresentação de § 1º - Ressalvada a hipótese prevista em regulamento, a
declaração de bens. substituição será gratuita, salvo quando o afastamento
§ 2º - A competência para dar posse será a indicada em exceder de 30 (trinta) dias.
legislação específica. § 2º - A substituição não poderá recair em possa estra-
§ 3º - Quando a investidura de que trata este artigo re- nha ao serviço público.
cair em pessoas estranhas ao serviço público, será exi-
gida a comprovação dos requisitos a que se referem os Art. 15 - Dar-se-á a vacância do cargo ou função na
itens 1 a 3 do § 10 do art. 2º e 1, 2, 4, 6 e 7 do § 1º do data do fato ou da publicação do ato que implique de-
art. 8º. sinvestidura.
No cargo em comissão existe uma relação de confiança Parágrafo único - Na vacância do cargo ou função, e até
entre o superior e o contratado, de forma que o superior o seu provimento, poderá ser designado, pela autorida-
pode nomear seus ocupantes enquanto estiver ocupando de imediatamente superior, responsável pelo expediente,
aquela posição de chefia. aplicando-se à hipótese o disposto no art. 14.
Provimento é a ocupação do cargo por uma pessoa,
Art. 11 - Considerar-se-á em efetivo exercício o funcio- transformando-a em servidora pública; enquanto vacância
nário afastado por motivo de: é o que se dá quando um cargo fica livre.
I - férias;
II - casamento e luto, até 8 (oito) dias; Art. 16 - A exoneração ou dispensa, ocorrerá:
III - desempenho de cargo ou função de confiança na I - a pedido; e
administração pública federal, estadual ou municipal; II - ex-officio.
IV - o estágio experimental; (refere-se ao estágio pro- Parágrafo único - Aplicar-se-á a exoneração ou dispensa
batório) ex-officio:
V - licença-prêmio, licença à gestante, acidente em ser- 1) no caso de exercício de cargo ou função de confiança;
viço ou doença profissional; 2) no caso de abandono de cargo, quando extinta a pu-
VI - licença para tratamento de saúde;
nibilidade por prescrição e o funcionário não houver re-
VII - doença de notificação compulsória;
querido a exoneração; e
VIII - missão oficial;
3) na hipótese prevista no art. 5º, § 4º.
IX - estudo no exterior ou em qualquer parte do territó-
rio nacional desde que de interesse para a Administra-
Art. 17 - Declarar-se-á a perda do cargo:
ção e não ultrapasse o prazo de 12 (doze) meses;
I - nas hipóteses previstas na legislação penal; e
X - prestação de prova ou exame em concurso público.
XI - recolhimento à prisão, se absolvido afinal; II - nos demais casos especificados em lei.
XII - suspensão preventiva, se inocentado afinal;
XIII - convocação para serviço militar, júri e outros servi- #FicaDica
ços obrigatórios por lei; e
XIV - trânsito para ter exercício em nova sede. Formas de provimento
§ 1º - As faltas do servidor por motivo de doença, inclu- - Originário
sive em pessoa da família, até o máximo de 03 (três) dias Nomeação – Em caráter efetivo ou em comissão
durante o mês, serão abonadas mediante a apresenta- - Derivado
ção de atestado ou laudo médico expedido pelo órgão Promoção – Ascensão do cargo ocupado para
médico oficial competente do Estado ou por outros aos um cargo sucessivo e ascendente, possível
quais ele transferir ou delegar atribuições. quando o servidor tiver seu cargo estruturado
§ 2º - Admitir-se-á, na hipótese de inexistência de órgão em carreira, pode ocorrer por concurso interno.
médico oficial do Estado na localidade, atestado expedi- Aproveitamento – Retorno de um servidor
do por órgão médico de outra entidade pública, dentre posto em disponibilidade.
estes os Hospitais do IASERJ, da Polícia Militar e do Cor- Readaptação – Realocação de servidor que
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

po de Bombeiros. tenha se tornado deficiente para cargo


compatível.
Art. 12 - O afastamento para o exterior, exceto em gozo Reintegração – Retorno de servidor a cargo
de férias ou licença, dependerá, salvo delegação de com- anteriormente ocupado ou em cargo resultante
petência, de prévia autorização do Governador do Estado. de sua transformação quando invalidada a
decisão de sua demissão.
Art. 13 - O afastamento do funcionário de sua unidade
Recondução – Retorno de servidor a cargo
administrativa dar-se-á somente para desempenho de
anteriormente ocupado em decorrência de
cargo ou função de confiança e com ônus para a unida-
inabilitação no estágio probatório de outro
de requisitante.
cargo ou por ter o ocupante anterior sido
reintegrado.
Art. 14 - O cargo ou função de confiança poderá ser
exercido, eventualmente, em substituição, hipótese em
que a investidura independerá da posse.

146
TÍTULO II fixados em Lei, sendo-lhe garantida a contagem de tem-
DOS DIREITOS E DAS VANTAGENS (ART. 18 A 32) po de serviço para fins de aposentadoria, se obedecido o
que prevê o § 5º deste artigo.
Neste título, a legislação em estudo estabelece os di- § 1º - No caso de inciso V, existindo, na localidade, uni-
reitos e vantagens do servidor público, para em seguida dade administrativa onde haja claro na lotação ou vaga,
trazer seus deveres e proibições. Resume Carvalho Filho101: processar-se-á a movimentação cabível.
“os direitos sociais constitucionais são objeto da referência § 2º - Suspender-se-á, até o limite de 90 (noventa) dias,
do art. 39, §3°, CF, o qual determina que dezesseis dos di- em cada caso, a contagem de tempo de serviço para
reitos sociais outorgados aos empregados sejam estendi- efeito de Licença-Prêmio, durante as licenças:
dos aos servidores públicos. Dentre esses direitos estão o 1) para tratamento de saúde;
do salário mínimo (art. 7°, IV); o décimo terceiro salário (art. 2) por motivo de doença em pessoa da família; e
7°, VIII); o repouso semanal remunerado (art. 7°, XV); o sa- 3) por motivo de afastamento do cônjuge.
lário-família (art. 7°, XII; o de férias anuais (art. 7°, XVII); o de § 3º - (Revogado).
licença à gestante (art. 7°, XVIII) e outros mencionados no § 4º - expirado o prazo da licença a que se refere o inciso
dispositivo constitucional. [...] Além disso, há vários direi- IX deste artigo, o servidor deverá retornar imediatamen-
tos de natureza social relacionados nos diversos estatutos te ao serviço público.
funcionais das pessoas federativas. É nas leis estatutárias § 5º - Durante o período de licença a que se refere o
que se encontram tais direitos, como o direito às licenças, inciso IX deste artigo o servidor deverá continuar contri-
à pensão, aos auxílios pecuniários, como o auxílio-funeral e buindo para o Instituto de Previdência do Estado do Rio
o auxílio-reclusão, à assistência, à saúde etc.” de Janeiro – IPERJ, com base no valor da última remu-
neração recebida dos cofres públicos, corrigida no tem-
Art. 18 - O funcionário gozará, por ano de exercício, 30 po em função e pelos mesmos percentuais dos reajustes
(trinta) dias consecutivos de férias, que somente poderão gerais e da categoria.
ser acumuladas até o máximo de 2 (dois) períodos, em § 6º - A extinção, por qualquer motivo, do contrato de tra-
face de imperiosa necessidade do serviço. balho do servidor licenciado na forma do inciso IX deste
§ 1º - É vedado levar à conta de férias qualquer falta ao artigo com a sociedade prestadora de serviços hospitalares
serviço. terceirizados, ou seu desligamento da cooperativa a esse
§ 2º - (Revogado). fim direcionada, importará em imediata suspensão da li-
Art. 19 - Conceder-se-á licença: cença sem vencimento, obrigando o servidor a retornar ao
I - para tratamento de saúde, com vencimento e vanta- serviço público ou a converter sua licença para uma das
gens, pelo prazo máximo de 24 (vinte e quatro) meses; outras modalidades previstas neste Decreto-Lei.
II - por motivo de doença em pessoa da família, com § 7º - Na hipótese do parágrafo anterior, as cooperati-
vencimento e vantagens integrais nos primeiros 12 vas e as empresas de serviços hospitalares terceirizados
(doze) meses; e, com dois terços, por outros 12 (doze) deverão comunicar à Secretaria de Estado de Saúde, no
meses, no máximo; dia útil imediatamente posterior, a extinção do contrato
III - à gestante, com vencimentos e vantagens, pelo pra- de trabalho ou o desligamento do cooperado que se en-
zo de seis meses, prorrogável, no caso de aleitamento contrar licenciado do serviço público.
materno, por no mínimo trinta e no máximo noventa § 8º - No caso do inciso III, a licença à gestante de recém-
dias, mediante a apresentação de laudo médico circuns- -nascidos pré-termo será acrescida do número de sema-
tanciado emitido pelo serviço de perícia médica oficial nas equivalente à diferença entre o nascimento a termo –
do Estado, podendo retroagir sua prorrogação até 15 37 semanas de idade gestacional – e a idade gestacional
(quinze) dias, a partir da data do referido laudo. do recém-nascido, devidamente comprovada.
IV - para serviço militar, na forma da legislação específica; §9º A servidora pública em gozo da licença maternida-
V - sem vencimento, para acompanhar o cônjuge eleito de e ou aleitamento materno será concedida, imediata-
para o Congresso Nacional ou mandado servir em ou- mente após o término das mesmas, licença prêmio a que
tras localidades se militar, servidor público ou com vín- tiver direito, mediante requerimento da servidora.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

culo empregatício em empresa estadual ou particular;


VI - a título de prêmio, pelo prazo de 3 (três) meses;
com vencimento e vantagens do cargo efetivo, depois
de cada quinquênio ininterrupto de efetivo exercício no
serviço público estadual ou autárquico do Estado do Rio
de Janeiro;
VII - sem vencimento, para desempenho de mandato eletivo;
VIII - sem vencimentos, para trato de interesses particulares;
IX - sem vencimento, pelo prazo de cinco anos, prorro-
gável uma única vez, ao servidor da área da saúde, que
for contratado por empresa ou aderir a cooperativa que
administre hospitais públicos terceirizados, nos termos
101 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

147
#FicaDica Parágrafo único - Na hipótese do artigo 59 o recebi-
mento do vencimento e vantagens será proporcional ao
- Licença para Tratamento de Saúde – justifica- tempo de serviço, ressalvado o direito à diferença em
se por doença do servidor, sendo necessário o caso de arquivamento do inquérito.
afastamento para tratamento. Remunerada. Somente não geram perda de remuneração as faltas
- Licença por Motivo de Doença em Pessoa da justificadas e devidamente compensadas.
Família – justifica-se por problema de saúde
com um familiar próximo ou dependente legal. Art. 22 - As reposições e indenizações à Fazenda Pública
Remunerada até certo período de tempo. far-se-ão em parcelas mensais não excedentes à décima
- Licença-Gestante ou Adotante – justifica- parte do vencimento, exceto na ocorrência de má fé, hi-
se por maternidade, biológica ou adotada. pótese em que não se admitirá parcelamento.
Remunerada. Parágrafo único - Será dispensada a reposição nos casos
- Licença para o Serviço Militar – justifica-se em que a percepção indevida tiver ocorrido de entendi-
para o caso de convocação do servidor para o mento expressamente aprovado pelo Órgão Central do
serviço militar. Não remunerada. Sistema de Pessoal Civil ou pela Procuradoria Geral do
- Licença por Motivo de Afastamento do Estado.
Cônjuge – justifica-se por mudança do cônjuge
de um servidor público de cidade ou país. Não Art. 23 - O vencimento e as vantagens pecuniárias do
remunerada. funcionário não serão objeto de penhora, salvo quando
- Licença-prêmio – justifica-se pelo exercício se tratar:
ininterrupto do cargo. Remunarada. I - de prestação de alimentos; e
- Licença para Mandato Eletivo – justifica-se II - de dívida para com a Fazenda Pública.
para o caso de servidor eleito a cargo político. Para descontos em folha, é preciso ordem judicial ou au-
Não remunerada. torização do servidor.
- Licença Para Tratar Interesses Particulares
– dispensa justificativa, basta a vontade do Art. 24 - O Poder Executivo disciplinará a concessão de:
servidor. Não remunerada. I - ajuda de custo e transporte ao funcionário mandado
- Licença para Desempenho de Cargo em servir em nova sede;
Cooperativa ou Empresa da Área da Saúde – II - diárias ao funcionário que, em objeto de serviço, se
justifica-se para o caso de servidor da área de deslocar eventualmente da sede;
saúde convidado a trabalhar em empresa ou III - indenização de representação de gabinete;
cooperativa particular. Não remunerada. IV - prêmio por sugestões que visem ao aumento de pro-
dutividade e à redução de custos operacionais da Admi-
nistração;
Art. 20 - O funcionário deixará de receber vencimentos V - gratificação pela participação em órgão de delibe-
e vantagens, exceto gratificação adicional por tempo de ração coletiva;
serviço, quando se afastar do exercício do cargo: VI - gratificação pelo encargo de auxiliar ou membro
I - para prestar serviço à União, a outro Estado, a Mu- de banca ou de comissão examinadora de concurso, ou
nicípio, à Sociedade de Economia Mista, à Empresa Pú- pela atividade temporária de auxiliar ou professor de
blica, à Fundação ou à Organização Internacional, salvo curso oficialmente instituído;
quando, a juízo do Governador, reconhecido o afasta- VII - adicional por tempo de serviço; e
mento como de interesse do Estado; VIII - gratificação de encargos especiais.
II - em decorrência de prisão administrativa, salvo se De acordo com Hely Lopes Meirelles102, “o que caracte-
inocentado afinal; riza o adicional e o distingue da gratificação é ser aquele
III - para exercer cargo ou função de confiança, ressalva- que recompensa ao tempo de serviço do servidor, ou uma
retribuição pelo desempenho de funções especiais que fo-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

do o direito de opção legal; e


IV - para estágio experimental. gem da rotina burocrática, e esta, uma compensação por
serviços comuns executados em condições anormais para
Art. 21 - O funcionário deixará de receber: o servidor, ou uma ajuda pessoal em face de certas situa-
I - um terço do vencimento e vantagens, durante o reco- ções que agravam o orçamento do servidor”.
lhimento à prisão por ordem judicial não decorrente de
condenação definitiva, ressalvado o direito à diferença Art. 25 - Extinto o cargo ou declarada sua desnecessida-
se absolvido afinal; de, o funcionário estável será posto em disponibilidade,
II - dois terços do vencimento e vantagens, durante o com proventos proporcionais ao tempo de serviço.
cumprimento, sem perda do cargo, de pena privativa de
liberdade; e Art. 26 - (Revogado)
III - o vencimento e vantagens do dia em que não com-
parecer ao serviço, salvo por motivo de força maior de- 102 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. São
vidamente comprovado. Paulo: Malheiros, 1993.

148
Art. 27 - (Revogado)
#FicaDica
Art. 28 - (Revogado)
Estabelece a CF, no art. 5°, XXIV, a) o direito
de petição, assegurado a todos: “são a
Art. 29 - Para efeito de aposentadoria, observado o limi-
todos assegurados, independentemente do
te temporal estabelecido no art. 4º da Emenda Constitu-
pagamento de taxas: a) o direito de petição
cional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, e de disponi-
aos Poderes Públicos em defesa de direitos
bilidade, será computado:
ou contra ilegalidade ou abuso de poder”. Os
I - o tempo de serviço público civil federal, estadual, ou
artigos 31 e 32 descrevem o direito de petição
municipal, na administração direta ou indireta;
específico dos servidores públicos estaduais do
II - o tempo de serviço militar; e
RJ.
III - o tempo de disponibilidade.
IV - em dobro, inclusive para os efeitos do art. 224 do
Decreto nº 2479, de 8 de março de 1979, os períodos
de férias e de licença prêmio não gozadas e, para os TÍTULO III
servidores que apurem, nos termos do art. 76 § § 1º e 2º DA PREVIDÊNCIA E DA ASSISTÊNCIA (ART. 33)
do mencionado Decreto nº 2479/79, tempo de serviço
não inferior a 20 (vinte) anos, o de exercício de cargo em Art. 33 - O Poder Executivo disciplinará a previdência e
comissão na Administração Direta do Estado. a assistência ao funcionário e à sua família, compreen-
dendo:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE nº 404- I - salário-família;
RJ, rel. Min. Carlos Velloso, 9.10.2003 – JULGAMENTO DO II - auxílio-doença;
PLENO DO STF – PROCEDENTE – Decisão: O Tribunal, por III - assistência médica, farmacêutica, dentária e hospi-
unanimidade, julgou procedente o pedido e declarou a talar;
inconstitucionalidade de parte do artigo 3º, “e”, para os IV - financiamento imobiliário;
servidores que apurem, nos termos do art. 76 § § 1º e 2º V - auxílio-moradia;
do mencionado Decreto nº 2479/79, tempo de serviço VI - auxílio para a educação dos dependentes;
não inferior a 20 (vinte) anos, o de exercício de cargo em VII - tratamento por acidente em serviço, doença pro-
comissão na Administração Direta do Estado. fissional ou internação compulsória para tratamento
psiquiátrico;
§ 1º - O tempo de serviço a que se referem os incisos I e VIII - auxílio-funeral, com base no vencimento, remune-
II deste artigo será, também, computado para concessão ração ou provento;
de adicional por tempo de serviço.
IX - pensão em caso de morte por acidente em serviço
§ 2º - O tempo de serviço computar-se-á somente uma ou doença profissional;
vez para cada efeito, vedada a acumulação daquele X - plano de seguro compulsório para complementação
prestado concomitantemente. de proventos e pensões.
§ 3º - A prestação de serviço gratuito será excepcional e Parágrafo único - A família do funcionário constitui-se
somente surtirá efeito honorífico. dos dependentes que, necessária e comprovadamente,
vivam a suas expensas.
Art. 30 - (Revogado)

Art. 31 - É assegurado aos funcionários o direito de re-


querer ou representar.
Parágrafo único - O recurso não tem efeito suspensivo;
seu provimento retroagirá à data do ato impugnado.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 32 - O direito de requerer prescreverá:


I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão,
de cassação de aposentadoria ou de disponibilidade e
quanto às questões que envolvam direitos patrimoniais;
II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, ressal-
vados os previstos em leis especiais.
§ 1º - O prazo de prescrição contar-se-á da data da ci-
ência do interessado, a qual se presumirá da publicação
do ato.
§ 2º - Não correrá a prescrição enquanto o processo es-
tiver em estudo.
§ 3º - O recurso interrompe a prescrição até duas vezes.

149
5) de proventos com vencimento ou remuneração, nos
#FicaDica casos de acumulação legal.
Salário-família – parcela do salário acrescida Art. 35 - O funcionário não poderá participar de mais de
para contribuir nas despesas familiares; um órgão de deliberação coletiva, com direito a remu-
Auxílio-doença – remuneração do servidor no neração, nem exercer mais de uma função gratificada.
período de licença para tratamento de saúde;
Assistência médica, farmacêutica, dentária e Art. 36 - Poderá o aposentado, sem prejuízo dos pro-
hospitalar – geralmente na forma de auxílio ventos, desempenhar mandato eletivo, exercer cargo ou
para pagamento de plano de saúde ou oferta função de confiança ou ser contratado para prestar ser-
de plano de saúde próprio; viços técnicos ou especializados, bem como participar de
Financiamento imobiliário – colaboração órgão de deliberação coletiva.
com valores depreendidos na obtenção de
financiamento de imóvel próprio; Art. 37 - Considerada ilegítima, pelo órgão competente,
Auxílio-moradia – contribuição no pagamento acumulação informada, oportunamente, pelo funcioná-
de despesas residenciais; rio, será este obrigado a optar por um dos cargos.
Auxílio para a educação dos dependentes Parágrafo único - O funcionário que não houver infor-
– colaboração para pagamento de creche e mado, oportunamente, acumulação considerada ilegíti-
escola do dependente; ma quando conhecida pela Administração, sujeitar-se-á
Tratamento por acidente de serviço, doença a inquérito administrativo, após o qual, se apurada má
profissional ou internação compulsória fé, perderá os cargos envolvidos na situação cumulativa
– tratamento de doenças ocupacionais e ou sofrerá a cassação da aposentadoria ou disponibili-
correlatas deve ser arcado pela Administração; dade, obrigando-se, ainda, a restituir o que tiver perce-
Auxílio-funeral – despesas para arcar com bido indevidamente.
funeral do servidor em caso de morte;
Pensão por morte – pensão paga aos Estabelece o artigo 37, XVI da Constituição Federal:
dependentes no caso de morte do servidor;
Seguro compulsório – parcela salarial destinada É vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
a complementar os valores de proventos e exceto, quando houver compatibilidade de horários, ob-
pensões. servado em qualquer caso o disposto no inciso XI.
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou
TÍTULO IV científico;
DA ACUMULAÇÃO (ART. 34 A 37) c) a de dois cargos ou empregos privativos de pro-
fissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
Art. 34 - É vedada a acumulação remunerada de cargos
e funções públicos, exceto o de: Segundo Carvalho Filho103, “o fundamento da proibição
I - um cargo de juiz com outro de professor; é impedir que o cúmulo de funções públicas faça com que
II - dois cargos de professor; o servidor não execute qualquer delas com a necessária efi-
III - um cargo de professor com outro técnico ou cientí- ciência. Além disso, porém, pode-se observar que o Cons-
fico; ou tituinte quis também impedir a cumulação de ganhos em
IV - dois cargos privativos de médico. detrimento da boa execução de tarefas públicas. [...] Nota-
§ 1º - Em qualquer dos casos, a acumulação somente -se que a vedação se refere à acumulação remunerada. Em
será permitida quando houver correlação de matérias e consequência, se a acumulação só encerra a percepção de
compatibilidade de horários. vencimentos por uma das fontes, não incide a regra cons-
§ 2º - O regime de acumulação abrange cargos funções titucional proibitiva”.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

e empregos da União, dos Territórios, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios, bem como das Autar- CAPÍTULO I
quias, das Sociedades de Economia Mista e das Empre- INFRAÇÃO DISCIPLINAR (ART. 38)
sas Públicas.
Art. 38 - Constitui infração disciplinar toda ação ou
§ 3º - Não se compreende na proibição de acumular, omissão do funcionário capaz de comprometer a digni-
nem está sujeita a quaisquer limites, a percepção: dade e o decoro da função pública, ferir a disciplina e a
1) conjunta, de pensões civis ou militares; hierarquia, prejudicar a eficiência do serviço ou causar
2) de pensões com vencimento, remuneração ou salário; dano à Administração Pública.
3) de pensões com proventos de disponibilidade, apo-
sentadoria, jubilação ou reforma;
4) de proventos resultantes de cargos legalmente acu- 103 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
muláveis; e trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

150
V - boa conduta;
#FicaDica A conduta do servidor deve ser compatível com a mora-
lidade administrativa. “O ato administrativo não se satisfaz
Infração disciplinar – toda ação ou omissão somente com o ser legal. Para ser válido o ato administra-
que: tivo tem que ser compatível com a moralidade administra-
- Comprometa a dignidade e o decoro da tiva. O agente deve se comportar em seus atos de maneira
função pública; proba, escorreita, séria, não atuando com intenções escu-
- Fira a disciplina e a hierarquia; sas e desvirtuadas. Seu poder-dever não pode ser utiliza-
- Prejudique a eficiência do serviço; do, por exemplo, para satisfação de interesses menores,
- Cause dano à Administração. como realizar a prática de determinado ato para beneficiar
uma amante ou um parente. Se o agente viola o dever de
agir com comportamento incompatível com a moralidade
O regime disciplinar do servidor público civil federal administrativa, poderá estar sujeito a sanção disciplinar. Seu
está estabelecido basicamente de duas maneiras: deveres ato ímprobo ou imoral configura o chamado desvio de po-
e proibições. Ontologicamente, são a mesma coisa: ambos der, que é totalmente abominável no Direito Administrativo e
deveres e proibições são normas protetivas da boa Admi- poderá ser anulado interna corporis ou judicialmente através
nistração. Nas duas hipóteses, violado o preceito, cabível é da ação popular, ação de ressarcimento ao erário e ação civil
uma punição. Deve-se notar, porém, que os deveres cons- pública se o ato violar direito coletivo ou transindividual”.
tam da lei como ações, como conduta positiva; as proibi-
ções, ao contrário, são descritas como condutas vedadas VI - lealdade e respeito às instituições constitucionais e
ao servidor, de modo que ele deve abster-se de praticá-las. administrativas a que servir;
Os deveres estão inscritos de modo não exaustivo, porque “O servidor que cumprir todos os deveres e normas
o servidor deve obediência a todas as normas legais ou administrativas já positivadas, consequentemente, é leal à
infralegais104. instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucional é
que devemos entender a norma hoje. Sendo assim, o dever
CAPÍTULO II de lealdade está inserido no Estatuto como norma progra-
DOS DEVERES (ART. 39) mática, orientadora da conduta dos servidores”.

Art. 39 - São deveres do funcionário: VII - observância das normas legais e regulamentares;
I - assiduidade; “A função desta norma é de não deixar sem resposta
II - pontualidade; qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a neces-
sária correlação nesses casos que temos de fazer do dis-
“Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí- positivo com a norma violada, e já prevista em outra lei,
duo significa ser presente dentro do horário do expedien- decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”.
te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é
aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o que VIII - obediência às ordens superiores, exceto quando
comparece no horário para as reuniões de trabalho e de- manifestamente ilegais;
mais atividades relacionadas com o exercício do cargo que “O servidor integra a estrutura organizacional do ór-
ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o dever gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado
violado, seja por impontualidade, seja por inassiduidade se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro
(que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60 dias dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e
ensejadora de demissão), merece reprimenda de advertên- funções que servem ao cumprimento da vontade do ente
cia, com fins educativos e de correção do servidor”. estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o
que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierarquia
existe para que do alto escalão até a prática dos adminis-
trados as coisas funcionem. Disso decorre que quando é
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

III - urbanidade; emitida uma ordem para o servidor subordinado, este deve
“No mundo moderno, e máxime em nossa civilização dar cumprimento ao comando. Porém quando a ordem é
ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur- visivelmente ilegal, arbitrária, inconstitucional ou absurda,
bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo o servidor não é obrigado a dar seguimento ao que lhe é
da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e ordenado. Quando a ordem é manifestamente ilegal? Há
que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços uma margem de interpretação, principalmente se o servi-
públicos”. dor subordinado não tiver nenhuma formação de ordem
jurídica. Logo, é o bom senso que irá margear o que é fla-
IV - discrição; grantemente inconstitucional”.
104 LIMA, Fábio Lucas de Albuquerque. O regime disciplinar dos IX - levar ao conhecimento de autoridade superior irre-
servidores federais. Disponível em: <http://www.sato.adm.br/arti-
gos/o_regime_disciplinar_dos_servidores_federais.htm>. Acesso em:
gularidades de que tiver ciência em razão do cargo ou
11 ago. 2013. função;

151
“Todo servidor público é obrigado a dar conhecimento forma transparente e com respeito à intimidade, à vida
ao chefe da repartição acerca das irregularidades de que privada, à honra e à imagem das pessoas, bem como às
toma conhecimento no exercício de suas atribuições. Deve liberdades e garantias individuais, segundo o artigo 31, da
levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sistema hie- Lei nº 21.527, 2011. A exceção para o sigilo existe, pois, não
rárquico. Supõe-se que os titulares das chefias ou divisões devemos tratar a questão em termos de cláusula jurídica
detêm um conhecimento maior de como corrigir o erro ou de caráter absoluto, podendo ter autorizada a divulgação
comunicar aos órgãos de controle para a devida apuração. ou o acesso por terceiros quando haja previsão legal. Outra
De nada adiantaria o servidor, ciente de um ato irregular, exceção é quando há o consentimento expresso da pessoa
ir comunicar ao público ou a terceiros. Além do dever de a que elas se referirem. No caso de cumprimento de or-
sigilo, há assuntos que exigem certas reservas, visando ao dem judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando
bem do serviço público, da segurança nacional e mesmo a proteção do interesse público e geral preponderante o
da sociedade”. exigir, também devem ser fornecidas as informações. Por-
tanto, o servidor há que ter reserva no seu comportamento
X - zelar pela economia e conservação do material que e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do que se pas-
lhe for confiado; sa no seu trabalho. Se o assunto pululante é uma irregula-
“Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela econo- ridade absurda, deve então reduzir a escrito e representar
mia e pela conservação dos bens públicos presta um des- para que se apure o caso. Deveriam diminuir as conversas
serviço à nação que lhe remunera. E como se verá adiante de corredor e se efetivar a apuração dos fatos através do
poderá ser causa inclusive de demissão, se não cumprir o processo administrativo disciplinar. Os assuntos objeto do
presente dever, quando por descumprimento dele a gra- serviço merecem reserva. Devem ficar circunscritos aos ser-
vidade do fato implicar a infração a normas mais graves”. vidores designados para o respectivo trabalho interno, não
devendo sair da seção ou setor de trabalho, sem o trâmite
XI - providenciar para que esteja sempre em ordem, no hierárquico do chefe imediato. Se o assunto ou o trabalho,
assentamento individual, sua declaração de família; enfim, merecer divulgação mais ampla, deve ser contatado
Trata-se de documento indispensável para determinação
o órgão de assessoria de comunicação social, que saberá
de parcelas salariais e, por isso, o servidor deve manter
proceder de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às
atualizada sua declaração.
leis vigentes”.
XII - atender prontamente às requisições para defesa da
XIV - submeter-se à inspeção médica determinada por
Fazenda Pública e à expedição de certidões para defesa
autoridade competente, salvo justa causa.
de direito;
“Este dever foi insculpido na lei para que o servidor O servidor, quando determinado, deve comparecer ao
público trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a órgão de inspeção médica, que pode determinar, inclusive,
imagem desagradável que o mesmo possui perante a so- se é o caso de seu afastamento para tratamento de saúde
ciedade. Exige-se que atue com presteza no atendimento a ou retorno às atividades quando afastado.
informações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta engloba
o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O servidor
público tem que ser expedito, diligente, laborioso. Não há #FicaDica
mais lugar para o burocrata que se afasta do administra-
Não há rol taxativo de deveres do servidor, que
do, dificultando a vida de quem necessita de atendimen-
deve guiar sua conduta por princípios éticos
to rápido e escorreito. Entretanto, há um longo caminho a
gerais e específicos aplicados à sua profissão.
ser percorrido até que se atinja um mínimo ideal de aten-
dimento e de funcionamento dos órgãos públicos, o que
deve necessariamente passar por critérios de valorização
dos servidores bons e de treinamento e qualificação per- CAPÍTULO III
manente dos quadros de pessoal”. DAS PROIBIÇÕES (ART.40)
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XIII - guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos “Nas Proibições, constata-se, desde logo, sua objetivi-
de natureza reservada de que tenha conhecimento em dade e taxatividade, o que veda sua ampliação e o uso de
razão do cargo ou função; interpretações analógicas ou sistemáticas visto serem con-
“O agente público deve guardar sigilo sobre o que se dutas restritivas de direitos, sujeitas, portanto, ao princípio
passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos da reserva legal. O descumprimento dessas proibições po-
oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, dem inclusive, ensejar o enquadramento penal do servidor,
hoje está regulamentado o acesso às informações. Porém, pois muitas das condutas ali descritas, configuram prática
o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o fornecimen- de delito penal”105.
to ou divulgação das informações exigem um procedimen-
to. Maior cuidado há que se ter, quando a informação pos- Art. 40 - Ao funcionário é proibido:
sa expor a intimidade da pessoa humana. As informações 105 MORGATO, Almir. O Regime Disciplinar dos Servidores Públi-
pessoais dos administrados em geral devem ser tratadas cos da União. Disponível em: <http://www.canaldosconcursos.com.
br/artigos/almirmorgado_artigo1.pdf>. Acesso em: 11 ago. 2013.

152
I - referir-se de modo depreciativo, em informação, pa-
recer ou despacho, às autoridades e atos da Administra- #FicaDica
ção Pública, ou censurá-los, pela imprensa ou qualquer
O rol de proibições é taxativo e não cabe
outro órgão de divulgação pública, podendo, porém, em
pena por descumprir proibição não prevista
trabalho assinado, criticá-los, do ponto de vista doutri-
no Estatuto. No máximo, a desobediência de
nário ou da organização do serviço;
dever geral que não seja proibição acarreta
II - retirar, modificar ou substituir livro ou documento de
pena mais branda, de advertência.
órgão estadual, com o fim de criar direito ou obrigação,
ou de alterar a verdade dos fatos, bem como apresentar
documento falso com a mesma finalidade;
III - valer-se do cargo ou função para lograr proveito CAPÍTULO IV
pessoal em detrimento da dignidade da função pública; DA RESPONSABILIDADE (ART. 41 A 45)
IV - coagir ou aliciar subordinados com objetivo de na-
tureza partidária; Art. 41 - Pelo exercício irregular de suas atribuições, o
V - participar de diretoria, gerência, administração, con- funcionário responde civil, penal e administrativamente.
selho técnico ou administrativo, de empresa ou socie-
dade: Art. 42 - A responsabilidade civil decorre de procedimen-
1) contratante, permissionária ou concessionária de ser- to doloso ou culposo que importe em prejuízo da Fazen-
viço público; da Estadual ou de terceiros.
2) fornecedora de equipamento ou material de qualquer § 1º - Ressalvado o disposto no art. 22, o prejuízo cau-
natureza ou espécie, a qualquer órgão estadual; sado à Fazenda Estadual no que exceder os limites da
3) de consultoria técnica que execute projetos e estudos, fiança, poderá ser ressarcido mediante desconto em
inclusive de viabilidade, para órgãos públicos. prestações mensais não excedentes da décima parte do
VI - praticar a usura, em qualquer de suas formas, no vencimento ou remuneração à falta de outros bens que
âmbito do serviço público;
respondam pela indenização.
VII - pleitear, como procurador ou intermediário, junto
§ 2º - Tratando-se de dano causado a terceiros, res-
aos órgãos estaduais, salvo quando se tratar de percep-
ponderá o funcionário perante a Fazenda Estadual em
ção de vencimento, remuneração, provento ou vanta-
ação regressiva proposta depois de transitar em julgado
gem de parente, consangüíneo ou afim, até o segundo
a decisão de última instância que houver condenado a
grau civil;
Fazenda a indenizar o terceiro prejudicado.
VIII - exigir, solicitar ou receber propinas, comissões, pre-
sentes ou vantagens de qualquer espécie em razão do
Art. 43 - A responsabilidade penal abrange os crimes
cargo ou função, ou aceitar promessa de tais vantagens;
IX - revelar fato ou informação de natureza sigilosa, de e contravenções imputados ao funcionário nessa qua-
que tenha ciência em razão do cargo ou função, salvo lidade.
quando se tratar de depoimento em processo judicial,
policial ou administrativo; Art. 44 - A responsabilidade administrativa resulta de
X - cometer a pessoa estranha ao serviço do Estado, sal- atos praticados ou omissões ocorridas no desempenho
vo nos casos previstos em lei, o desempenho de encargo do cargo ou função, ou fora dele, quando compromete-
que lhe competir ou a seus subordinados; dores da dignidade e do decoro da função pública.
XI - dedicar-se, nos locais e horas de trabalho, a pales-
tras, leituras ou quaisquer outras atividades estranhas Art. 45 - As cominações civis, penais e disciplinares pode-
ao serviço, inclusive ao trato de interesses de natureza rão cumular-se, sendo umas e outras independentes entre
particular; si, bem assim as instâncias civil, penal e administrativa.
XII - deixar de comparecer ao trabalho sem causa jus-
tificada; Segundo Carvalho Filho106, “a responsabilidade se origi-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XIII - empregar material ou quaisquer bens do Estado na de uma conduta ilícita ou da ocorrência de determinada
em serviço particular; situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza
XIV - retirar objetos de órgãos estaduais, salvo quando do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a res-
autorizado por escrito pela autoridade competente; ponsabilidade pode ser civil, penal e administrativa. Cada
XV - fazer cobranças ou despesas em desacordo com o responsabilidade é, em princípio, independente da outra”.
estabelecido na legislação fiscal e financeira; É possível que o mesmo fato gere responsabilidade ci-
XVI - deixar de prestar declaração em inquérito adminis- vil, penal e administrativa, mas também é possível que este
trativo, quando regularmente intimado; gere apenas uma ou outra espécie de responsabilidade.
XVII - exercer cargo ou função pública antes de atendido Daí o fato das responsabilidades serem independentes: o
os requisitos legais, ou continuar a exercê-los sabendo-o mesmo fato pode gerar a aplicação de qualquer uma delas,
indevidamente. cumulada ou isoladamente.
106 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

153
Se as responsabilidades se cumularem, também as san- esfera penal (por exemplo, uma absolvição por negativa de
ções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais responsabi- autoria impede a condenação na esfera cível, ao passo que
lidades são independentes, ou seja, não dependem uma uma absolvição por falta de provas não o faz).
da outra. Genericamente, os elementos da responsabilidade civil
Determinadas decisões na esfera penal geram exclusão se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que, por
da responsabilidade nas esferas civil e administrativa, quais ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
sejam: absolvição por inexistência do fato ou negativa de violar direito e causar dano a outrem, ainda que
autoria. A absolvição criminal por falta de provas não gera exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo
exclusão da responsabilidade civil e administrativa. central do instituto da responsabilidade civil, que tem
A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como
prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delicto, não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou dolo
conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz coisa do agente (dolo é a vontade de cometer uma violação de
julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal (relação
ato praticado em estado de necessidade, em legítima defe- de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano causado)
sa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, que pode
regular de direito” (excludentes de antijuridicidade); “art. ser individual ou coletivo, moral ou material, econômico e
66. não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, não econômico).
a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, ca- Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal:
tegoricamente, reconhecida a inexistência material do
fato”; “art. 386, IV – estar provado que o réu não concor- As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
reu para a infração penal”. privado prestadoras de serviços públicos responderão
Entendem Fuller, Junqueira e Machado107: “a absolvição pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por falta a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação conferida ao responsável nos casos de dolo ou culpa.
CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito da jurisdi-
ção civil, restando intocada a possibilidade de, na ação civil Este artigo deixa clara a formação de uma relação jurídica
de conhecimento, ser provada e reconhecida a existência autônoma entre o Estado e o agente público que causou
do direito ao ressarcimento, de acordo com o grau de cog- o dano no desempenho de suas funções. Nesta relação,
nição e convicção próprios da seara civil (na esfera penal, a responsabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao
a decisão de condenação somente pode ser lastreada em Estado provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual
juízo de certeza, tendo em vista o princípio constitucional foi anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso
do estado de inocência)”. é justamente o direito de acionar o causador direto do dano
A responsabilidade penal do servidor decorre de uma para obter de volta aquilo que pagou à vítima, considerada
conduta que a lei penal tipifique como infração penal, ou a existência de uma relação obrigacional que se forma entre
seja, como crime ou contravenção penal. a vítima e a instituição que o agente compõe.
O servidor poderá ser responsabilizado apenas penal- Assim, o Estado responde pelos danos que seu agente
mente, uma vez que somente caberá responsabilização causar aos membros da sociedade, mas se este agente
civil se o ato tiver causado prejuízo ao erário (elemento agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que
dano). foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar
Os crimes contra a Administração Pública se encontram condutas incompatíveis com o comportamento ético dele
nos artigos 312 a 326 do Código Penal, mas existem outros esperado.109
crimes espalhados pela legislação específica. A responsabilidade civil do servidor exige prévio
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante processo administrativo disciplinar no qual seja assegurado
do direito obrigacional, uma vez que a principal contraditório e ampla defesa.
consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com
que gera para o seu auto de reparar o dano, mediante culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

o pagamento de indenização que se refere às perdas e que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro
danos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em omissão (administrado), o servidor terá o dever de indenizar.
que gere dano deve suportar as consequências jurídicas
decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social.108
A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal,
podendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até
os limites da herança, embora existam reflexos na ação
que apure a responsabilidade civil conforme o resultado na
107 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEIRA, Gustavo Octavia-
no Diniz; MACHADO, Angela C. Cangiano. Processo Penal. 9. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. (Coleção Elementos do Direito)
108 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed. São 109 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
Paulo: Saraiva, 2005. Método, 2011.

154
II - desrespeito a proibições que, pela sua natureza, não
#FicaDica ensejarem pena de demissão;
III - reincidência em falta já punida com repreensão.
Um mesmo ato pode ser punido na esfera § 1º - A pena de suspensão não poderá exceder a 180
civil, penal e administrativa, pois estas são (cento e oitenta) dias.
independentes entre si e podem cumular-se. § 2º - O funcionário suspenso perderá todas as vanta-
As exceções ocorrem no caso de absolvição gens e direitos decorrentes do exercício do cargo.
na esfera penal por inexistência do fato ou § 3º - Quando houver conveniência para o serviço, a
negativa de autoria (absolve no cível e no pena de suspensão, por inciativa do chefe imediato do
administrativo) ou no caso de condenação funcionário, poderá ser convertida em multa, na base
na esfera penal (condena no cível e no de 50% (cinquenta por cento) por dia de vencimento
administrativo). ou remuneração, obrigado, nesse caso, o funcionário a
permanecer no serviço durante o número de horas de
trabalho normal.
CAPÍTULO V
DAS PENALIDADES (ART. 46 A 57) Art. 51 - A destituição de função dar-se-á quando verifi-
cada falta de exação no cumprimento do dever.
Art. 46 - São penas disciplinares:
I - advertência; Art. 52 - A pena de demissão será aplicada nos casos de:
II - repreensão; I - falta relacionada no art. 40, quando de natureza gra-
III - suspensão; ve, a juízo da autoridade competente, e se comprovada
IV - multa; má fé;
V - destituição de função; II - incontinência pública e escandalosa; prática de jogos
VI - demissão; proibidos;
VII - cassação de aposentadoria, jubilação ou disponi- III - embriaguez habitual ou em serviço;
bilidade. IV - ofensa física em serviço, contra funcionário ou par-
A advertência é a pena mais leve, um aviso de que o ticular, salvo em legítima defesa;
funcionário se portou de forma inadequada e de que isso V - abandono de cargo;
não deve se repetir, feito de forma verbal. A repreensão é VI - ausência ao serviço, sem causa justificada, por 20
só um pouco mais grave, servindo para os mesmos fins que (vinte) dias, interpoladamente, durante o período de 12
a advertência, mas de forma escrita. A suspensão é uma (doze) meses;
sanção intermediária, fazendo com que o funcionário dei- VII - insubordinação grave em serviço;
xe de desempenhar o cargo por certo período. Na demis- VIII - ineficiência comprovada, com caráter de habituali-
são, o funcionário não mais exercerá o cargo, sendo assim dade, no desempenho dos encargos de sua competência;
sanção mais grave. Na destituição de função, o funcionário IX - desídia no cumprimento dos deveres.
ainda exerce o cargo, mas perde a função gratificada. Outra § 1º - Para fins exclusivamente disciplinares, considera-
sanção é a cassação da aposentadoria, jubilação ou dispo- -se como abandono de cargo a que se refere o inciso V
nibilidade, aplicável quando caberia a pena de demissão, deste artigo, a ausência ao serviço, sem justa causa, por
mas o servidor não está mais ocupando o cargo. 10 (dez) dias consecutivos.
§ 2º - Entender-se-á por ausência ao serviço com justa
Art. 47 - Na aplicação das penas disciplinares serão causa a que assim for considerada após a devida com-
consideradas a natureza e a gravidade da infração, os provação em inquérito administrativo, caso em que as
danos que dela provierem para o serviço público e os faltas serão justificadas apenas para fins disciplinares.
antecedentes funcionais do servidor.
Parágrafo único - As penas impostas ao funcionário se- Art. 53 - O ato de demissão mencionará sempre a causa
rão registradas em seus assentamentos. da penalidade.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Art. 48 - A pena de advertência será aplicada verbal- Art. 54 - Conforme a gravidade da falta, a demissão po-
mente em casos de negligência e comunicada ao órgão derá ser aplicada com a nota a bem do serviço público.
de pessoal.
Art. 55 - A pena de cassação de aposentadoria ou de dis-
Art. 49 - A pena de repreensão será aplicada por escrito ponibilidade será aplicada se ficar provado, em inquérito
em casos de desobediência ou falta de cumprimento dos administrativo, que o aposentado ou disponível:
deveres, bem como de reincidência específica em trans- I - praticou, quando ainda no exercício do cargo, falta
gressão punível com pena de advertência. suscetível de determinar demissão;
II - aceitou, ilegalmente, cargo ou função pública, pro-
Art. 50 - A pena de suspensão será aplicada em casos de: vada a má fé;
I - falta grave; III - perdeu a nacionalidade brasileira.

155
Parágrafo único - Será cassada a disponibilidade ao fun- § 2º - (Revogado).
cionário que não assumir, no prazo legal, o exercício do § 3º - O funcionário que responder por malversação, al-
cargo ou função em que for aproveitado. cance de dinheiro público ou infração de que possa re-
sultar a pena de demissão, poderá permanecer suspenso
Art. 56 - São competentes para aplicação de penas dis- preventivamente, a critério da autoridade que determi-
ciplinares: nar a abertura do respectivo inquérito, até decisão final
I - o Governador, em qualquer caso e, privativamente, do processo administrativo.
nos casos de demissão, cassação de aposentadoria ou § 4º - Os policiais civis, suspensos preventivamente, te-
disponibilidade; rão a arma, o distintivo, a carteira funcional ou qualquer
II - os Secretários de Estado e demais titulares de órgãos outro bem patrimonial, que mantenham mediante cau-
diretamente subordinados ao Governador em todos os ca- tela, devidamente recolhidos, caso tal providência ainda
sos, exceto nos de competência privativa do Governador; não tenha sido tomada.
III - os dirigentes de unidades administrativas em geral,
nos casos de penas de advertência, repreensão, suspen- Art. 60 - A suspensão preventiva é medida acautelatória
são até 30 (trinta) dias e multa correspondente. e não constitui pena.
§ 1º - A aplicação da pena de destituição de função O afastamento preventivo é uma medida cautelar que
caberá à autoridade que houver feito a designação do impede que o servidor tente influenciar na decisão da
funcionário. apuração de sua infração.
§ 2º - Nos casos dos incisos II e III, sempre que a pena de-
correr de inquérito administrativo, a competência para
decidir e para aplicá-la é do Secretário de Estado de Ad- #FicaDica
ministração.
A suspensão preventiva não é pena, mas
medida cautelar.
Art. 57 - Prescreverá:
I - em 2 (dois) anos, a falta sujeita às penas de advertên-
cia, repreensão, multa ou suspensão;
II - em 5 (cinco) anos, a falta sujeita: CAPÍTULO VII
1) à pena de demissão ou destituição de função; DA APURAÇÃO SUMÁRIA DA IRREGULARIDADE
2) à cassação da aposentadoria ou disponibilidade. (ART.61 A 63)
§ 1º - A falta também prevista como crime na lei penal
prescreverá juntamente com este. Art. 61 - A autoridade que tiver ciência de qualquer ir-
§ 2º - O curso da prescrição começa a fluir da data do regularidade no serviço público é obrigada a promover,
evento punível disciplinarmente e interrompe-se pela imediatamente, a apuração sumária, por meio de sin-
abertura de inquérito administrativo. dicância.
Parágrafo único - A autoridade promoverá a apuração
da irregularidade diretamente por meio de inquérito ad-
#FicaDica ministrativo, sem a necessidade de sindicância sumária,
quando:
Considera-se para aplicação das penas 1 - Já existir denúncia do Ministério Público:
disciplinares: 2 - Tiver ocorrido prisão em flagrante; e
- Natureza e gravidade da infração; 3 - For apurar abandono de cargo ou função.
- Danos que dela provierem para o serviço
público; Art. 62 - A apuração sumária, por meio de sindicância
- Antecedentes funcionais do servidor. não ficará adstrita ao rito determinado para o inquérito
administrativo, constituindo simples averiguação, que
poderá ser realizada por um único funcionário.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CAPÍTULO VI
DA SUSPENSÃO PREVENTIVA Art. 63 - Se no curso da apuração sumária ficar eviden-
ciada falta punível com pena superior à advertência,
Art. 58 - (Revogado) repreensão, suspensão até 30 (trinta) dias ou multa cor-
respondente, o responsável pela apuração comunicará
Art. 59 - A suspensão preventiva até 30 (trinta) dias será o fato ao superior imediato, que solicitará, pelos canais
ordenada pelas autoridades mencionadas no art. 56, competentes, a instauração do inquérito administrativo.
desde que o afastamento do funcionário seja necessário
para que este não venha a influir na apuração da falta. A sindicância é uma modalidade mais branda de apuração
§ 1º - A suspensão de que trata este artigo poderá ser da infração administrativa porque ou gerará a aplicação de
ordenada, a qualquer tempo, no curso inquérito admi- uma sanção mais branda, ou apenas antecederá o processo
nistrativo pela autoridade competente para instaurá-lo administrativo disciplinar que aplique a sanção mais grave,
e estendida até 90 (noventa) dias. entendendo-se por sanções mais graves qualquer uma pior

156
do que suspensão por menos de 30 dias (suspensão por § 3º - Em se tratando de abandono de cargo o inquérito
mais de 30 dias, além de todas as outras que geram perda deverá estar concluído no prazo de 60 dias, contados a
do cargo ou da aposentadoria). partir da chegada dos autos à Comissão, prorrogáveis
por 2 (dois) períodos de 30 (trinta) dias cada um, a juízo
CAPÍTULO VIII do Secretário de Estado de Administração.
DO INQUÉRITO ADMINISTRATIVO (ART. 64 A 76)
Art. 69 - Os órgãos estaduais, sob pena de responsabi-
Art. 64 - O inquérito administrativo precederá sempre à lidade de seus titulares, atenderão com a máxima pres-
aplicação das penas de suspensão por mais de 30 (trin- teza às solicitações da Comissão, inclusive requisição de
ta) dias, destituição de função, demissão e cassação de técnicos e peritos, devendo comunicar prontamente a
aposentadoria ou disponibilidade. impossibilidade de atendimento, em caso de força maior.

Art. 65 - A determinação de instauração de inquérito é Art. 70 - Ultimada a instrução será feita no prazo de 3
da competência do Secretário de Estado de Administra- (três) dias a citação do indiciado para apresentação de
ção, inclusive em relação a servidores autárquicos. defesa no prazo de 10 (dez) dias, que será comum sendo
Parágrafo único - Mesmo que seja outra a autoria de seu mais de um indiciado, com vista dos autos na sede da
órgão competente para a apuração, por meios sumá- Comissão.
rios, sindicância ou mediante inquérito administrativo, § 1º - Estando o indiciado em lugar incerto, será citado
de grave irregularidade de que tenha ciência no Serviço por edital, no órgão oficial de divulgação do Estado por
Público (artigo 40 e 52) e secretário de Estado de ad- 3 (três) dias consecutivos.
ministração será sempre competente para determinar, § 2º - O prazo de defesa será contado a partir da última
de imediato, a instauração de inquérito, inclusive em publicação do edital de citação.
relação a servidores autárquicos, quando chega a seu § 3º - As diligências e oitivas de testemunhas requeridas
conhecimento, independentemente de qualquer comu- pela defesa ficarão a cargo do interessado e deverão ser
nicação, a ocorrência de irregularidade, inobservância concluídas no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de perda
de deveres ou infrações de proibições funcionais, em de prova.
quaisquer área do Poder Executivo Estadual.
Art. 71 - Nenhum acusado será julgado sem defesa que
Art. 66 - Promoverá o inquérito uma das Comissões Per- poderá ser produzida em causa própria.
manentes de Inquérito Administrativo da Secretaria de Parágrafo único - Será permitido o acompanhamento do
Estado de Administração. inquérito pelo funcionário acusado ou por seu defensor.

Art. 67 - Se, de imediato ou no curso do inquérito admi- Art. 72 - Em caso de revelia, o Presidente da Comissão
nistrativo, ficar evidenciado que a irregularidade envol- designará, de ofício, um funcionário efetivo, bacharel em
ve crime, a autoridade instauradora ou o Presidente da Direito, para defender o indiciado.
Comissão a comunicará ao Ministério Público.
Parágrafo único - Quando a autoridade policial tiver co- Art. 73 - Concluída a defesa a Comissão opinará sobre a
nhecimento de crime praticado por funcionário público inocência ou a responsabilidade do indiciado em relató-
com violação de dever inerente ao cargo, ou com abuso rio circunstanciado que deverá ser concluído no prazo de
de poder, fará comunicação do fato à autoridade admi- 60 (sessenta) dias, contados do encerramento da defesa.
nistrativa competente para a instauração do inquérito
cabível. Art. 74 - Recebido o processo, o Secretário de Estado de
Administração proferirá a decisão no prazo de 20 (vinte)
Art. 68 - O inquérito deverá estar concluído no prazo dias, ou o submeterá, no prazo de 8 (oito) dias, ao Go-
de 90 (noventa) dias, contados a partir do dia em que vernador do Estado, para que julgue nos 20 (vinte) dias
os autos chegarem à Comissão, prorrogáveis, sucessiva- seguintes ao seu recebimento.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

mente, por períodos de 30 (trinta) dias, em caso de força § 1º - A autoridade julgadora decidirá à vista dos fatos
maior a juízo do Secretário de Estado de Administração, apurados pela Comissão, não ficando, todavia, vincula-
até o máximo de 180 (cento e oitenta) dias. da às conclusões do relatório.
§ 1º - A não observância desses prazos não acarretará § 2º - Se a autoridade julgadora entender que os fatos
nulidade do processo, importando, porém, quando não não foram apurados devidamente, determinará o reexa-
se tratar de sobrestamento, em responsabilidade admi- me do inquérito pelo órgão competente.
nistrativa dos membros da Comissão.
§ 2º - O sobrestamento de inquérito administrativo só Art. 75 - Em caso de abandono de cargo ou função, a
ocorrerá em caso de absoluta impossibilidade de pros- Comissão iniciará seu trabalho, fazendo publicar, por
seguimento, a juízo do Secretário de Estado de Admi- 3 (três) vezes, edital de chamada do acusado, no prazo
nistração. máximo de 20 (vinte) dias.

157
Art. 76 - O funcionário só poderá ser exonerado a pedido mais leve. Poderá ser requerida ao ministro de Estado
após a conclusão do inquérito administrativo a que res- ou autoridade de mesma hierarquia e será apensada ao
ponder e do qual não resultar pena de demissão. processo administrativo originário. O julgamento será feito
pela mesma autoridade que aplicou a pena. Se apurado
que na verdade a pena deveria ser maior, não cabe agravar
#FicaDica a situação do servidor.

O processo administrativo deve garantir TÍTULO


a ampla defesa, mas não é obrigatória a DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS (ART. 83 A
representação por advogado. 88)
Será conduzido por uma comissão permanente,
que deve decidir com independência e Art. 83 - As disposições de natureza estatutária que se
imparcialidade. contiverem no Plano de Classificação de Cargos previsto
O inquérito possui prazo limite de duração no art. 18 da Lei Complementar nº 20, de 1º de julho de
(90, eventualmente +90, em 3 períodos de 30, 1974, bem como no Plano de Retribuição, e que vier a
chegando a 180; salvo no caso de abandono de lhe corresponder, integrar-se-ão para todos os efeitos,
cargo, 60, eventualmente +60, em 2 períodos neste diploma legal.
de 30, chegando a 120).
Art. 84 - As normas legais e regulamentares referentes
à promoção e acesso, bem como as vantagens pesso-
CAPÍTULO IX ais de funcionários dos Quadros II e III (Suplementares)
DA REVISÃO (ART. 77 A 82) continuam em vigor no que não colidirem com as dispo-
sições deste Decreto-Lei e até posterior disciplinamento
Art. 77 - Poderá ser requerida a revisão do inquérito da matéria, enquanto não forem incluídos no Quadro I
administrativo de que haja resultado pena disciplinar, (Permanente), nos termos do que vier a dispor o Plano
quando forem aduzidos fatos ainda não conhecidos, de Classificação de Cargos do Estado do Rio de Janeiro.
comprobatórios da inocência do funcionário punido.
Parágrafo único - Tratando-se de funcionário falecido, Art. 85 - Contar-se-ão por dias corridos os prazos previs-
desaparecido ou incapacitado de requerer, a revisão po- tos neste Decreto-Lei.
derá ser solicitada por qualquer pessoa. § 1º - Na contagem dos prazos, exclui-se o dia do come-
ço e inclui-se o do vencimento.
Art. 78 - A revisão processar-se-á em apenso ao processo § 2º - Prorroga-se para o primeiro dia útil seguinte o
originário. prazo vincendo em dia em que não haja expediente.

Art. 79 - Não constitui fundamento para a revisão a sim- Art. 86 - É vedada a subordinação imediata do funcio-
ples alegação de injustiça da penalidade. nário ao cônjuge ou parente até segundo grau, salvo em
funções de confiança, limitadas a duas.
Art. 80 - O requerimento, devidamente instruído, será
encaminhado ao Governador, que decidirá sobre o pe- Fixa-se a vedação à prática de nepotismo. Do latim nepos,
dido. neto ou descendente, é o termo utilizado para designar
o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em
Art. 81 - Autorizada a revisão, o processo será encami- detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente no
nhado à Comissão Revisora, que concluirá o encargo no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos.
prazo de 90 (noventa) dias, prorrogável pelo período de Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge,
30 (trinta) dias, a juízo do Secretário de Estado de Ad- companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por
ministração. afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade no-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Parágrafo único - O julgamento caberá ao Governador, meante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investi-
no prazo de 30 (trinta) dias, podendo, antes, o Secretário do em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o
de Estado de Administração determinar diligências, con- exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda,
cluídas as quais se renovará o prazo. de função gratificada na Administração Pública direta e in-
direta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Art. 82 - Julgada procedente a revisão, será tornada sem Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste
efeito a pena imposta, restabelecendo-se todos os direi- mediante designações recíprocas, viola a Constituição Fe-
tos por ela atingidos. deral.” Obs.: se o concurso pedir pelo entendimento juris-
prudencial, vá pela súmula, mas se não mencionar nada
A revisão do processo consiste na possibilidade do se atenha ao texto da lei, visto que há pequenas variações
servidor condenado requerer que sua condenação seja entre o texto da súmula e o da lei.
revista se surgirem novos fatos ou circunstâncias que
justifiquem sua absolvição ou a aplicação de uma pena

158
Art. 87 - O dia 28 de outubro é consagrado ao serviço e) no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a acumulação
público estadual. de cargo técnico-científico com um cargo de professor
é condicionada à correlação de matérias entre os cargos.
Art. 88 - Este Decreto-lei entrará em vigor na data de
sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Resposta: “Letra E”. Disciplina o artigo 271, que “é ve-
dada a acumulação remunerada de cargos e funções pú-
Rio de Janeiro, 18 de julho de 1975. blicas, exceto a de:
I – um cargo de juiz com outro de magistério supe-
O Decreto nº 2.479, de 08 de março de 1979, rior; II – dois cargos de professor;
regulamenta o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis III – um cargo de professor com outro técnico ou
do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro, o que científico;
significa que apenas explicita os aspectos estudados no IV – dois cargos privativos de médico”. Entretanto,
Estatuto, que toma forma no Decreto-Lei nº 220, de 18 de o § 1o condiciona, fixando que “a acumulação, em
julho de 1975. qualquer dos casos, só é permitida quando haja cor-
relação de matérias e compatibilidade de horários”.
A. Cargo médico apenas se acumula com outro cargo
EXERCÍCIO COMENTADO médico.
B. O limite remuneratório não se aplica aos cargos legal-
mente acumulados.
1. (TJ-RJ - Titular de Serviços de Notas e de Registros C. A administração não tem dever de adequar carga ho-
- CETRO - 2017) É sabido que os prazos prescricionais in- rária.
dicados no Estatuto dos Servidores Públicos do Estado do D. A existência de regulamentação da profissão não bas-
Rio de Janeiro (Decreto-Lei nº 220/1975) são aplicados, por ta para ser possível a acumulação.
analogia, aos funcionários das serventias extrajudiciais para
efeito de aplicação de sanções disciplinares administrati-
vas. Com base nisso, assinale a alternativa que apresenta
corretamente esses prazos:

a) 5 (cinco) anos para qualquer tipo de sanção;


b) 2 (dois) anos para qualquer tipo de sanção;
c) 5 (cinco) anos para sanção de suspensão;
d) 2 (dois) anos para pena de multa;
e) 3 (três) anos para multa de advertência.

Resposta: “ Letra D”. O Decreto-Lei nº 220/1975 prevê


em seu artigo 57, I que: “Prescreverá: I - em 2 (dois) anos,
a falta sujeita às penas de advertência, repreensão, mul-
ta ou suspensão”. No mesmo sentido, o artigo 303, I,
Decreto nº 2.479/1979. Por exclusão, as demais alterna-
tivas estão erradas.

2. (TCE-RJ - Auditor Substituto - FGV - 2015) Maria é


médica e pretende prestar concurso público, com a inten-
ção de obter mais de um cargo público. A propósito do
tema, é correto afirmar que:
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

a) é ilícita a acumulação de cargo de médico de um hospi-


tal público com o cargo de professor de uma universi-
dade pública;
b) na acumulação remunerada de cargos públicos, o limite
remuneratório incide sobre a soma das remunerações
percebidas pelo servidor público;
c) a administração pública deverá adequar a carga horária
da servidora para possibilitar a acumulação remunerada
de cargos;
d) o cargo de auditor do Tribunal de Contas poderá ser
acumulado com o cargo de médico, pois ambos são car-
gos com profissão regulamentada;

159
6. (EBSERH – TECNÓLOGO EM GESTÃO PÚBLICA –
CESPE – 2018) No que concerne a direitos, deveres e res-
HORA DE PRATICAR! ponsabilidades dos servidores públicos, julgue o próximo
item.
Em caso de dano causado a terceiros, responderá o servidor
1. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA perante a fazenda pública, em ação regressiva.
– CESPE – 2018) Em relação aos princípios aplicáveis à ad-
ministração pública, julgue o próximo item. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Em decorrência do princípio da segurança jurídica, é proibi-
do que nova interpretação de norma administrativa tenha 7. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
efeitos retroativos, exceto quando isso se der para atender TRATIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo
o interesse público. à responsabilidade civil do Estado.
As empresas prestadoras de serviços públicos responderão
( ) CERTO ( ) ERRADO pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o respon-
2. (ABIN – OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA – CO- sável exclusivamente no caso de dolo.
NHECIMENTOS GERAIS – CESPE – 2018) Julgue o item
que se segue, a respeito de aspectos diversos relacionados ( ) CERTO ( ) ERRADO
ao direito administrativo.
São considerados princípios informativos da atividade admi- 8. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
nistrativa a legalidade e a supremacia do interesse público, TRATIVA – CESPE – 2018) Julgue o item a seguir, relativo
sendo o primeiro mencionado na Constituição vigente, e o à responsabilidade civil do Estado.
segundo, fundamentado nas próprias ideias do Estado em A responsabilidade civil do Estado por atos comissivos
favor da defesa, da segurança e do desenvolvimento da so- abrange os danos morais e materiais.
ciedade.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
9. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
3. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNICI- TRATIVA – CESPE – 2018) A respeito do direito adminis-
PAL DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS trativo, dos atos administrativos e dos agentes públicos e
BÁSICOS – CESPE – 2018) Com relação ao controle no seu regime, julgue o item a seguir.
âmbito da administração pública, julgue o item seguinte. No direito brasileiro, constitui objeto do direito adminis-
O controle administrativo deriva do poder-dever de auto- trativo a responsabilidade civil das pessoas jurídicas que
tutela que a administração pública tem sobre seus próprios causam danos à administração.
atos e agentes.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
10. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ-
4. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICIPAL RIA – CESPE – 2018) João, servidor público civil, motorista
DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018) do Exército brasileiro, enquanto conduzia veículo oficial, no
Acerca da administração pública e da organização dos po- exercício da sua função, colidiu com o automóvel de Ma-
deres, julgue o item subsequente à luz da CF. ria, que não possui qualquer vínculo com o poder público.
O princípio da eficiência determina que a administração Após a devida apuração, ficou provado que os dois condu-
pública direta e indireta adote critérios necessários para a tores agiram com culpa.
melhor utilização possível dos recursos públicos, evitando A partir dessa situação hipotética e considerando a doutri-
desperdícios e garantindo a maior rentabilidade social. na majoritária referente à responsabilidade civil do Estado,
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

julgue o item que se segue.


( ) CERTO ( ) ERRADO A União tem direito de regresso em face de João, considerando
que, no caso, a responsabilidade do agente público é subjetiva.
5. (TRF 1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
JUDICIÁRIA – CESPE – 2018) No que se refere à teoria do ( ) CERTO ( ) ERRADO
direito administrativo, julgue o item a seguir, considerando
o posicionamento majoritário da doutrina.
A autotutela é entendida como a possibilidade de a admi-
nistração pública revogar atos ilegais e anular atos inconve-
nientes e inoportunos sem a necessidade de intervenção do
Poder Judiciário.

( ) CERTO ( ) ERRADO

160
11. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – AUDITOR MUNI- 17. (TRF-1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA
CIPAL DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS ADMINISTRATIVA – CESPE – 2017) Com relação à admi-
BÁSICOS – CESPE – 2018) No tocante às organizações da nistração direta e indireta, centralizada e descentralizada,
sociedade civil de interesse público e aos consórcios públi- julgue o item a seguir.
cos, julgue o item subsequente. Administração direta remete à ideia de administração cen-
O instrumento que estabelece o vínculo entre o poder pú- tralizada, ao passo que administração indireta se relaciona
blico e as organizações da sociedade civil de interesse pú- à noção de administração descentralizada.
blico é o termo de parceria.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
18. (STM – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
12. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICI- TRATIVA – CESPE – 2018) Acerca do direito administrati-
PAL DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018) vo, dos atos administrativos e dos agentes públicos, julgue
Acerca da organização da administração direta e indireta, o item a seguir.
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. Os empregados das empresas públicas submetem-se ao
Autarquia é pessoa jurídica criada por lei específica, com regime celetista e, por isso, estão fora do rol de agentes
personalidade jurídica de direito público. públicos.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

13. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICI- 19. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNI-
PAL DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018) CIPAL DE CONTROLE INTERNO – CONHECIMENTOS
Acerca da organização da administração direta e indireta, BÁSICOS – CESPE – 2018) No que se refere às caracterís-
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. ticas do poder de polícia e ao regime jurídico dos agentes
As sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime administrativos, julgue o item que se segue.
trabalhista próprio das empresas privadas. A garantia constitucional de permanecer no cargo público
após três anos de efetivo exercício denomina-se efetivida-
( ) CERTO ( ) ERRADO de.

14. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


PAL DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, 20. (TRF-1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. JUDICIÁRIA – CESPE – 2017) Considerando o disposto
Define-se desconcentração como o fenômeno adminis- nas Leis n° 8.112/1990 e n° 8.429/1992, julgue o item que
trativo que consiste na distribuição de competências de se segue, acerca dos agentes públicos.
determinada pessoa jurídica da administração direta para Servidor público estável poderá perder o seu cargo em vir-
outra pessoa jurídica, seja ela pública ou privada. tude de sentença judicial transitada em julgado ou de pro-
cesso administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada
( ) CERTO ( ) ERRADO ampla defesa.

15. (CGM DE JOÃO PESSOA/-PB – TÉCNICO MUNICI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


PAL DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, 21. (TRF-1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFI-
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. CIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL – CESPE –
A empresa pública, entidade da administração indireta, 2017) Com base na Lei nº 8.112/1990 e no regime jurídico
possui personalidade jurídica de direito público. aplicável aos agentes públicos, julgue o item a seguir.
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

A destituição de servidor de cargo em comissão ou de fun-


( ) CERTO ( ) ERRADO ção comissionada não pode ser aplicada como penalidade
disciplinar.
16. (CGM DE JOÃO PESSOA-PB – TÉCNICO MUNICI-
PAL DE CONTROLE INTERNO – GERAL – CESPE – 2018) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Acerca da organização da administração direta e indireta,
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir.
É possível a constituição de fundação pública de direito
público ou de direito privado para a exploração direta de
atividade econômica pelo Estado, quando relevante ao in-
teresse público.

( ) CERTO ( ) ERRADO

161
22. (TRF-1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA 27. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRA-
ADMINISTRATIVA – CESPE – 2017) A respeito dos TIVA – CESPE – 2018) Com base no disposto na Lei nº
agentes públicos, julgue o item seguinte. 8.112/1990, julgue o item seguinte.
Para que pessoas físicas que colaboram com o poder públi- Apesar de as instâncias administrativa e penal serem inde-
co sejam consideradas agentes públicos é necessário que pendentes entre si, a eventual responsabilidade adminis-
elas, obrigatoriamente, tenham vínculo empregatício com trativa do servidor será afastada se, na esfera criminal, ele
a administração pública e sejam por esta remuneradas, for beneficiado por absolvição que negue a existência do
como ocorre, por exemplo, com os leiloeiros, tradutores e fato ou a sua autoria.
intérpretes públicos.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
28. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRA-
23. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- TIVA – CESPE – 2018) Com base no disposto na Lei nº
TRATIVA – CESPE – 2018) A respeito do direito adminis- 8.112/1990, julgue o item seguinte.
trativo, dos atos administrativos e dos agentes públicos e Será cassada a aposentadoria voluntária do servidor inati-
seu regime, julgue o item a seguir. vo que for condenado pela prática de ato de improbidade
Após ser empossado, o servidor que não entrar em exercí- administrativa à época em que ainda estava na atividade.
cio no prazo legal será exonerado.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
29. (FUB – AUXILIAR EM ADMINISTRAÇÃO – CESPE
24. (STM – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁ- – 2016) Em conformidade com a Lei nº 8.112/1990 e suas
RIA – CESPE – 2018) Acerca das regras aplicáveis aos ser- alterações, julgue o item que se segue.
vidores públicos do Poder Judiciário, e considerando o que É lícito ao servidor público requerer licença por motivo de
dispõe a Lei nº 8.112/1990 e a Lei nº 11.416/2006, julgue o doença do seu enteado, desde que este conste de seu as-
item a seguir. sentamento funcional, mediante comprovação por perícia
Provimento é o ato emanado da pessoa física designada médica oficial.
para ocupar um cargo público, por meio do qual ela inicia
o exercício da função a que fora nomeada. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO 30. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ADMINISTRATIVA


- CESPE – 2018) Acerca dos poderes da administração pú-
25. (TRF-1ª REGIÃO – CONHECIMENTOS BÁSICOS blica e da responsabilidade civil do Estado, julgue o item a
– CARGOS DE NÍVEL MÉDIO – CESPE – 2017) Tendo seguir.
como referência o Código de Conduta da Justiça Federal Em razão da discricionariedade do poder hierárquico, não
de Primeiro e Segundo Graus, as regras para provimento são considerados abuso de poder eventuais excessos que
e vacância de cargos públicos, direitos e vantagens bem o agente público, em exercício, sem dolo, venha a cometer.
como o regime disciplinar dos servidores públicos, julgue
o item a seguir. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Não há vedação para que servidor público que esteja em
gozo de licença para tratar de interesse particular participe 31. (PREFEITURA DE FORTALEZA-CE – PROCURADOR
da gerência ou administração de sociedade privada. DO MUNICÍPIO – CESPE – 2017) Com relação a processo
administrativo, poderes da administração e serviços públi-
( ) CERTO ( ) ERRADO cos, julgue o item subsecutivo.
Situação hipotética: Um secretário municipal removeu de-
26. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ADMI- terminado assessor em razão de desentendimentos pes-
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

NISTRAÇÃO – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte, re- soais motivados por ideologia partidária. Assertiva: Nessa
lativo ao regime dos servidores públicos federais e à ética situação, o secretário agiu com abuso de poder, na modali-
no serviço público. dade excesso de poder, já que atos de remoção de servidor
É dever do servidor público facilitar a fiscalização de serviço não podem ter caráter punitivo.
público cuja prestação esteja sob sua responsabilidade.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO

162
32. (SEDF – PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA – CO-
NHECIMENTOS BÁSICOS - CESPE – 2017) Acerca de GABARITO
administração pública, organização do Estado e agentes
públicos, julgue o item a seguir.
O abuso de poder pelos agentes públicos pode ocorrer 1 Errado
tanto nos atos comissivos quanto nos omissivos. 2 Certo
( ) CERTO ( ) ERRADO 3 Certo
4 Certo
33. (TRF-1ª REGIÃO – ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA
5 Errado
ADMINISTRATIVA – CESPE – 2017) Alguns meses após
a assinatura de contrato de concessão de geração e trans- 6 Certo
missão de energia elétrica, a falta de chuvas comprometeu 7 Errado
o nível dos reservatórios, o que deteriorou as condições de
geração de energia, elevando os custos da concessionária. 8 Certo
A agência reguladora promoveu, então, alterações tarifá- 9 Certo
rias visando restabelecer o equilíbrio econômico-financeiro
10 Certo
firmado no contrato. Todavia, sem que houvesse culpa ou
dolo da concessionária, o fornecimento do serviço passou a 11 Certo
ser intermitente, o que provocou danos em eletrodomésti- 12 Certo
cos de usuários de energia elétrica.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que 13 Certo
se segue. 14 Errado
A alteração tarifária promovida pela agência regulado-
15 Errado
ra é exemplo de exercício do poder hierárquico da agência
sobre as concessionárias. 16 Errado
17 Certo
( ) CERTO ( ) ERRADO
18 Errado
34. (TRF-1ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO –ÁREA 19 Errado
ADMINISTRATIVA – CESPE – 2017) Com referência aos
poderes administrativos, julgue o item subsecutivo. 20 Certo
Em regra, o poder regulamentar é dotado de originarieda- 21 Errado
de e, por conseguinte, cria situações jurídicas novas, não se 22 Errado
restringindo apenas a explicitar ou complementar o senti-
do de leis já existentes. 23 Certo
24 Errado
( ) CERTO ( ) ERRADO
25 Certo
26 Certo
27 Certo
28 Certo
29 Certo
30 Errado
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

31 Errado
32 Certo
33 Errado
34 Errado

163
ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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164
ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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166
ÍNDICE

NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Das normas fundamentais do processo e da aplicação das normas processuais. .......................................................................... 01


Princípios constitucionais e infraconstitucionais do processo. ............................................................................................................... 03
Jurisdição. Competência. Critérios de fixação e de modificação. Conexão. Continência. Prevenção. ..................................... 04
Dos sujeitos do processo. Das partes e dos procuradores. Da capacidade processual. Deveres das partes e dos
procuradores. Das despesas, dos honorários advocatícios e das multas. Da gratuidade de justiça. ...................................... 12
Ação. Conceito e natureza. Condições para o exercício da ação. Elementos da ação. Cumulação da ação. ....................... 19
Processo. Conceito e natureza. Espécies Pressupostos processuais. .................................................................................................... 21
Da Defensoria Pública no processo civil e no processo penal. .............................................................................................................. 24
Atos processuais. Forma, tempo e lugar. Dos pronunciamentos do órgão jurisdicional. Prazos processuais. Preclusões.
Comunicação dos atos processuais. Atos processuais eletrônicos. Da citação e das intimações. Modalidades e
efeitos. ................................................................................................................................................................................................................25
Partes e terceiros no processo. Conceitos....................................................................................................................................................... 37
Da formação, da suspensão e da extinção do processo. .......................................................................................................................... 44
Provas, disposições gerais. Ônus da prova. Provas em espécie e sua produção............................................................................. 45
Sentença. Elementos, conteúdo e efeitos. Vícios das sentenças. ........................................................................................................... 61
Coisa julgada. Limites subjetivos e objetivos. ................................................................................................................................................ 64
Remessa necessária. ................................................................................................................................................................................................. 66
Recursos. Juízo de admissibilidade. Efeitos. Teoria geral dos recursos................................................................................................ 67
Hora de Praticar ......................................................................................................................................................................................................... 73
2. Lei processual no tempo
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO
PROCESSO E DA APLICAÇÃO DAS NORMAS Art. 1º, caput, LINDB. Salvo disposição contrária, a lei
PROCESSUAIS. começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias
depois de oficialmente publicada.
Em termos de vacatio legis, segue-se o mesmo raciocí-
AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL nio aplicado à lei material quanto à lei processual. A regra
é que a norma processual entra em vigor em 45 dias após
O direito processual é o ramo do direito que traz as re- a publicação, salvo se a própria lei estabelecer prazo di-
gras e os princípios que cuidam da jurisdição. Aquele que verso. (Ex.: o Novo CPC entrou em vigor 1 ano após sua
se pretenda titular de um direito que não vem sendo res- publicação).
peitado pelo seu adversário pode ingressar em juízo, para Se o processo já estava extinto, a lei processual não
que o Estado faça valer a norma de conduta que se aplica retroage. Se ainda não começou, segue totalmente a lei
ao fato em concreto. O processo estabelece as regras que processual nova. A questão controversa se dá quanto aos
servirão de parâmetro na relação entre o Estado-juiz e as processos em curso porque a lei processual tem aplicabi-
partes. lidade imediata – significa que os atos processuais já pra-
Vale destacar que a jurisdição civil está relacionada a ticados serão preservados, mas os que irão ser praticados
pretensões de direito privado (direito civil ou comercial) e seguirão a lei nova.
de direito público (direito constitucional, administrativo e A lei processual, diferente da lei material, tem aplica-
tributário). Já a jurisdição penal se reserva a aspectos rela- bilidade imediata. Se uma lei material nova surge, ela só
cionados ao exercício do poder de punir pelo Estado (jus se aplica aos casos novos depois dela. Agora, se uma lei
puniendi) e, da mesma forma, cada uma das jurisdições processual surge, aplica-se aos litígios em curso.
especiais cuidam de um aspecto do Direito – trabalhista,
eleitoral, militar. 3. Métodos de interpretação da norma processual
O juiz deve se atentar ao fato de que o processo não é
um fim em si mesmo, mas um meio para solucionar os con- a) Método jurídico ou clássico
flitos. Logo, as regras processuais devem ser respeitadas, As leis devem ser interpretadas. Neste sentido, busca-se
mas não a ponto de servirem de obstáculo para a efetiva a sua “mens legis” por elementos históricos, finalísti-
aplicação do direito no caso concreto. Assim, diligências cos, gramaticais, lógicos, sistemáticos, etc.
desnecessárias e formalidades excessivas devem ser evita- b) Método tópico-problemático
das. Esta é a ideia da instrumentalidade do processo – pro- Estabelece que a melhor solução hermenêutica é pos-
cesso é instrumento e não fim em si mesmo. Sendo assim, sível a partir da observação de casos tópicos. Assim,
o processo deverá ser efetivo, aplicar sem demora, a não olha-se primeiro para o caso concreto para depois
ser a razoável, o direito no caso concreto. pensar na norma constitucional aplicável, que seja de
O Direito Processual pode ser visto como disciplina forma prática a mais adequada.
autônoma, mas nem sempre foi assim. Somente em 1868, c) Método hermenêutico-concretizador
com a teoria de Oskar von Bulow – obra “teoria dos pres- Faz o caminho inverso do método tópico-problemático
supostos processuais e das exceções dilatórias” – que foi ao partir da lei e das concepções pré-concebidas do
concebida uma ideia de relação processual (conjunto de aplicador quanto ao sentido da norma para o pro-
ônus, poderes e sujeições aplicados às partes do processo) blema.
e o processo, notadamente o civil, passou a ser visto com d) Método científico-espiritual
autonomia. Toma como ponto de partida a realidade social, que é
dinâmica e está em constante mutação, sendo ne-
1. Lei processual no espaço cessário ir além do texto literal da norma.
e) Método normativo-estruturante
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e O teor literal da norma deve ser analisado sob a pers-
pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as pectiva da concretização de seu conteúdo, de modo
disposições deste Código. que a atividade do Judiciário e dos demais Poderes
Todos os processos que correm no território nacional na aplicação da lei é primordial para compreensão
devem respeitar as normas do Código de Processo Civil – de seu sentido.
inclusive, de forma subsidiária, os processos de áreas espe- f) Método comparativo
cíficas da jurisdição. A jurisdição, que é o poder-dever do Efetua-se uma comparação com normas internacionais
Estado de dizer o Direito, é una e indivisível, abrangendo e de outros países, isto é, entre os diversos textos
todo o território nacional. Eventuais divisões – denomi- constitucionais em busca de convergências e diver-
nadas competências (territoriais, materiais, etc.) – servem gências.
apenas para fins administrativos, não significam uma real
repartição da jurisdição.

1
3. Legislação Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de juris-
dição, com base em fundamento a respeito do qual não
Abaixo, colaciona-se o conteúdo das normas funda- se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar,
mentais do processo civil. Há que se destacar que estas ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir
desempenham papel subsidiário em relação às demais de ofício.
normas processuais, suprindo o que elas não abordarem. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Ju-
diciário serão públicos, e fundamentadas todas as deci-
LIVRO I sões, sob pena de nulidade.
DAS NORMAS PROCESSUAIS CIVIS Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode
TÍTULO ÚNICO ser autorizada a presença somente das partes, de seus ad-
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS E DA APLICAÇÃO vogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
DAS NORMAS PROCESSUAIS Art. 12. Os juízes e os tribunais atenderão, preferencial-
CAPÍTULO I mente, à ordem cronológica de conclusão para proferir
DAS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL sentença ou acórdão.
§ 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e permanentemente à disposição para consulta pública
interpretado conforme os valores e as normas funda- em cartório e na rede mundial de computadores.
mentais estabelecidos na Constituição da República Fe- § 2o Estão excluídos da regra do caput:
derativa do Brasil, observando-se as disposições deste I - as sentenças proferidas em audiência, homologató-
Código. rias de acordo ou de improcedência liminar do pedido;
Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se II - o julgamento de processos em bloco para aplicação
desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previs- de tese jurídica firmada em julgamento de casos repe-
tas em lei. titivos;
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ame- III - o julgamento de recursos repetitivos ou de incidente
aça ou lesão a direito. de resolução de demandas repetitivas;
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. IV - as decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932;
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução V - o julgamento de embargos de declaração;
consensual dos conflitos. VI - o julgamento de agravo interno;
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de so- VII - as preferências legais e as metas estabelecidas pelo
lução consensual de conflitos deverão ser estimulados Conselho Nacional de Justiça;
por juízes, advogados, defensores públicos e membros VIII - os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais
do Ministério Público, inclusive no curso do processo ju- que tenham competência penal;
dicial. IX - a causa que exija urgência no julgamento, assim
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razo- reconhecida por decisão fundamentada.
ável a solução integral do mérito, incluída a atividade § 3o Após elaboração de lista própria, respeitar-se-á a
satisfativa. ordem cronológica das conclusões entre as preferências
Art. 5o Aquele que de qualquer forma participa do pro- legais.
cesso deve comportar-se de acordo com a boa-fé. § 4o Após a inclusão do processo na lista de que trata o §
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar en- 1o, o requerimento formulado pela parte não altera a or-
tre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão dem cronológica para a decisão, exceto quando implicar
de mérito justa e efetiva. a reabertura da instrução ou a conversão do julgamento
Art. 7o É assegurada às partes paridade de tratamento em diligência.
em relação ao exercício de direitos e faculdades proces- § 5o Decidido o requerimento previsto no § 4o, o proces-
suais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à so retornará à mesma posição em que anteriormente se
aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz encontrava na lista.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

zelar pelo efetivo contraditório. § 6o Ocupará o primeiro lugar na lista prevista no § 1o


Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atende- ou, conforme o caso, no § 3o, o processo que:
rá aos fins sociais e às exigências do bem comum, res- I - tiver sua sentença ou acórdão anulado, salvo quan-
guardando e promovendo a dignidade da pessoa huma- do houver necessidade de realização de diligência ou de
na e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a complementação da instrução;
legalidade, a publicidade e a eficiência. II - se enquadrar na hipótese do art. 1.040, inciso II.
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes
sem que ela seja previamente ouvida. CAPÍTULO II
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: DA APLICAÇÃO DAS NORMAS PROCESSUAIS
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas pro-
311, incisos II e III; cessuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas
III - à decisão prevista no art. 701. previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais
de que o Brasil seja parte.

2
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será apli- c) O princípio da cooperação atinge somente as partes
cável imediatamente aos processos em curso, respeita- do processo que devem cooperar entre si para que se
dos os atos processuais praticados e as situações jurí- obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e
dicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. efetiva.
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos elei- d) Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos
torais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste fins sociais e econômicos e às exigências do bem públi-
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. co, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana.
e) Será possível, em qualquer grau de jurisdição, a prolação
#FicaDica de decisão sem que se dê às partes oportunidade de se
manifestar, se for matéria da qual o juiz deva decidir de
Art. 1o Disciplinado e interpretado conforme
ofício.
os valores e as normas fundamentais da CF.
Art. 2o Princípio da demanda – Processo por
Resposta: “Letra B”. Neste sentido, o artigo 5o, CPC:
iniciativa da parte; Impulso oficial.
“Aquele que de qualquer forma participa do processo
Art. 3o Princípio da inafastabilidade do Poder
deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.
Judiciário – não exclui os métodos alternativos
A. A parte contrária não será ouvida em toda e qualquer
de solução do litígio.
decisão, sendo exceções previstas no artigo 9o, CPC.
Art. 4o Princípio da celeridade
C. A cooperação deve ser de todos os participantes do
Art. 5o Princípio da boa-fé
processo, inclusive do juiz, conforme artigo 6º, CPC.
Art. 6o Princípio da cooperação
D. Prevê o artigo 8o, CPC: “Ao aplicar o ordenamento ju-
Art. 7o Princípio da paridade – Igualdade entre
rídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do
as partes no processo
bem comum, resguardando e promovendo a dignidade
Art. 8o Fins sociais e bem comum – Dignidade
da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
– proporcionalidade, razoabilidade, legalidade,
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”.
publicidade e eficiência.
E. Ainda que o juiz deva decidir de ofício, com exceção
Art. 9o Contraditório – Oitiva prévia das partes
do artigo 9º, deve dar às partes a oportunidade de se
antes de se decidir – Exceção no caso de tutelas
manifestarem.
de urgência e evidência.
Art. 10 Contraditório – Oportunidade de mani-
festação, mesmo nas decisões que possa tomar PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
de ofício o juiz. E INFRACONSTITUCIONAIS DO
Art. 11 Publicidade e Motivação. PROCESSO.
Art. 12 Ordem cronológica preferencial de jul-
gamento
Art. 13 Jurisdição civil – normas processuais
a) Constitucionais
brasileiras
Sobre os princípios constitucionais do processo, Nove-
Art. 14 Aplicação imediata e não retroativa das
lino destaca: “O devido processo legal substantivo
normas processuais
se dirige, em primeiro momento ao legislador, que
Art. 15 Aplicação supletiva e subsidiária das
constituindo-se em um limite à sua atuação, que
normas processuais civis às demais normas
deverá pautar-se pelos critérios de justiça, razoabili-
processuais
dade e racionalidade. Como decorrência deste prin-
cípio surgem o postulado da proporcionalidade
e algumas garantias constitucionais processuais,
como o acesso a justiça, o juiz natural a ampla de-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

fesa o contraditório, a igualdade entre as partes


EXERCÍCIO COMENTADO e a exigência de imparcialidade do magistrado”1.
- Isonomia – necessidade de se dar tratamento igualitá-
1. (TJM-SP - Juiz de Direito Substituto - VUNESP/2016) rio às partes, igualdade esta que não pode ser ape-
Assinale a alternativa correta: nas formal, mas também material (artigo 5º, caput,
CF) (ex.: Lei de Assistência Judiciária).
a)A garantia do contraditório participativo impede que se - Contraditório e ampla defesa – “aos litigantes, em
profira decisão ou se conceda tutela antecipada contra processo judicial ou administrativo, e aos acusados
uma das partes sem que ela seja previamente ouvida em geral são assegurados o contraditório e ampla
(decisão surpresa). defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (ar-
b) A boa-fé no processo tem a função de estabelecer com- tigo 5º, LV, CF). Contraditório significa dar ciência
portamentos probos e éticos aos diversos personagens às partes do que está ocorrendo no processo com
do processo e restringir ou proibir a prática de atos 1 NOVELINO. Marcelo. Direito Constitucional. São Paulo: Método,
atentatórios à dignidade da justiça. 2008.

3
possibilidade de reação, enquanto que ampla defe- mento puro, o julgador pode decidir conforme sua
sa significa permitir à parte que se encontra no polo consciência; no sistema do livre convencimento mo-
passivo utilizar quaisquer meios lícitos para produzir tivado, adotado no Brasil, o juiz apreciará livremente
provas e tecer argumentos a seu favor. a prova, mas ao proferir a sentença deve indicar os
- Inafastabilidade da jurisdição – “a lei não excluirá da motivos que formaram o seu convencimento.
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a di- - Oralidade – significa, hoje, que o julgador deve apro-
reito” (artigo 5º, XXXV, CF). É garantido a todos os ximar-se o quanto possível da instrução e das provas
acesso à justiça, de modo que restrições ao direito de realizadas ao longo do processo. Dele se extraem os
ação devem ser compatíveis com o sistema jurídico- seguintes subprincípios: imediação, pois o julgador
-processual constitucional. deve colher diretamente a prova; identidade física do
- Imparcialidade – trata-se da necessidade do ma- juiz, pois o magistrado que colhe a prova oral em
gistrado não levar em conta questões pessoais no audiência fica vinculado ao julgamento do pedido
julgamento da causa. Neste sentido, a Constituição (salvo convocação ou licenciamento); concentração,
garante o princípio do juiz natural (artigo 5º, LIII, CF) sendo a audiência de instrução uma e concentrada;
e proíbe a criação de juízos ou tribunais de exceção irrecorribilidade de decisões interlocutórias, consis-
(artigo 5º, XXXVII, CF). tente nas restrições ao recurso de agravo.
- Publicidade – “a lei só poderá restringir a publicidade
dos atos processuais quando a defesa da intimida- c) Informativos
de ou o interesse social o exigirem” (artigo 5º, LX, - Lógico – o processo deve seguir uma determinada or-
CF). Quanto às partes e seus procuradores, não há dem estrutural.
restrição à publicidade. Em relação a terceiros, a pu- - Econômico – é preciso buscar os melhores resultados
blicidade sofrerá restrições nas hipóteses de segredo possíveis com o menor dispêndio de recursos e es-
de justiça. forços.
- Duplo grau de jurisdição – trata-se do direito de recur- - Jurídico – o processo deve obedecer a regras previa-
so para julgamento de decisões judiciais. mente estabelecidas no ordenamento.
- Juiz natural – “Ninguém será processado nem sen- - Político – o processo deve obter a pacificação social
tenciado senão pela autoridade competente” (artigo com o mínimo de sacrifício pessoal.
5º, LIII, CF). Nestes moldes, o princípio do juiz natural
assegura a toda pessoa o direito de conhecer pre-
viamente daquele que a julgará no processo em que #FicaDica
seja parte, revestindo tal juízo em jurisdição compe-
tente para a matéria específica do caso antes mes- Constitucionais – isonomia, contraditório/
mo do fato ocorrer. É uma das principais garantias ampla defesa, inafastabilidade da jurisdição,
decorrentes da cláusula do devido processo legal. imparcialidade, publicidade, duplo grau de
Substancialmente, a garantia do juiz natural consiste jurisdição, juiz natural, devido processo legal.
na exigência da imparcialidade e da independência Infraconstitucionais – dispositivo, persuasão
dos magistrados. racional/convencimento motivado, oralidade.
- Devido processo legal – “ninguém será privado da Informativos – lógico, econômico, jurídico,
liberdade ou de seus bens sem o devido processo político.
legal” (artigo 5º, LIV, CF). No sentido material, é a
autolimitação ao poder estatal, que não pode editar
normas que ofendam a razoabilidade e afrontem as
bases do regime democrático. No sentido processu-
al, é a necessidade de respeito às garantias proces- JURISDIÇÃO. COMPETÊNCIA. CRITÉRIOS
suais e às exigências necessárias para a obtenção de DE FIXAÇÃO E DE MODIFICAÇÃO.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

uma sentença justa. CONEXÃO. CONTINÊNCIA. PREVENÇÃO.

b) Infraconstitucionais
- Dispositivo – Significa, hoje, que a iniciativa de ação JURISDIÇÃO
é das partes. Proposta a ação, o processo corre por
impulso oficial e o juiz, como destinatário das pro- Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direito.
vas, pode exigir a produção de outras necessárias à Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por in-
formação de sua convicção. Antes, o juiz deveria se termédio de um agente constituído com competência para
manter inerte mesmo na fase de produção de pro- exercê-la, o juiz.
vas, vigia o princípio dispositivo (hoje, vige o princí- Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e
pio inquisitivo quanto à produção de provas). nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas
- Persuasão racional ou livre convencimento motivado próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolução
– no sistema da prova legal, o legislador valora a pro- das instituições, o Estado avocou para si o poder-dever de
va (ex.: art. 366, CPC); no sistema do livre convenci- solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição.

4
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin- tiva pode ser voluntária (há litígio) ou necessária (não
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta há litígio mas a lei obriga).
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário
as aplica no caso concreto (função jurisdicional). c) Condenatórias (execução forçada) – É aquela em que
Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os se- se reconhece um dever de prestar cujo inadimple-
guintes princípios inerentes à jurisdição: investidura, por- mento autoriza o início da fase de cumprimento e de
que somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de execução. Resulta na formação de um título executivo
juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm judicial. O juiz não só declara a existência do direito
autoridade no território nacional e nos limites de sua com- em favor do autor, mas concede a ele a possibilida-
petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário de de valer-se de sanção executiva, fornecendo-lhe
delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não meios para tanto. A eficácia é ex tunc, retroagindo à
pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma data da propositura da ação. Ex.: cobrança, indeniza-
lesão ou ameaça a direito. tória, repetição de indébito, ação de regresso.
Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba- Em geral, as sentenças condenatórias já indicam qual o
lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito bem devido pelo réu e sua quantidade. No entanto, admi-
material que não seja penal ou trabalhista, não somente tem-se sentenças condenatórias alternativas (decide pela
questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo existência de uma obrigação de dar coisa incerta ou de
que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial uma obrigação alternativa, reconhecendo ambas, embora
(trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su- só uma deva ser cumprida), genéricas ou ilíquidas (é neces-
perior e inferior. sário propor uma fase de liquidação da sentença determi-
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi- nando o quantum), e condicionais (exigência condicionada
ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica, de evento futuro certo – termo – ou incerto – condição).
ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
em localidades determinadas). A esta distribuição das par- d) Executivas lato sensu (autoexecutoriedade) – É aquela
celas de jurisdição dá-se o nome de competência. Em ver- que contém mecanismos que permitem a imediata
dade, a competência é o principal limite à jurisdição. satisfação do vencedor sem a necessidade de início
da nova fase no processo. Têm natureza condenató-
1. Tipos e formas de tutela jurisdicional ria e dispensam a fase de execução para que o co-
mando da sentença seja cumprido, isto é, a satisfa-
- Tutelas de conhecimento: nos processos de conhe- ção não é obtida em 2 fases, mas em uma só. Logo
cimento é possível detectar 5 espécies de tutela jurisdicio- que transita em julgado, é expedido mandado judi-
nal que podem ser prestadas, conforme a classificação de cial para cumprir a sentença, sem que se exija outro
Pontes de Miranda. Esta classificação doutrinária fixa as ato processual. Ex.: despejo, reintegração de posse,
tutelas cuja eficácia prepondera na sentença que presta a todas as demandas para entrega de coisa que sejam
jurisdição. procedentes.
e) Mandamentais ou injuncionais (ordem) – São aquelas
a) Meramente declaratórias (certificação) – É aquela que contêm uma ordem que deve ser cumprida pelo
pela qual o juiz atesta ou certifica a existência ou não próprio destinatário (e não por um serventuário), sob
de uma relação / situação jurídica controvertida ou a pena de crime ou multa e penas do artigo 14. Enfim,
falsidade / autenticidade de um documento. Nature- o juiz profere uma declaração reconhecendo o direi-
za ex tunc. Não forma título executivo. Ex.: investiga- to, condena o réu, aplicando uma sanção, que não é
tória de paternidade, usucapião, nulidade de negó- simplesmente a condenação, é também a imposição
cio jurídico, sentenças de improcedência, interdição de uma medida, um comando, que permite a toma-
(posição majoritária). da de medidas concretas e efetivas para o vencedor
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Obs.: Em toda sentença, mesmo que o pedido tenha satisfazer seu direito sem a necessidade de proces-
por essência outro cunho, o juiz declara quem tem so autônomo de execução. Descumprida a ordem, o
razão. Então, toda sentença é declaratória, ainda que juiz pode determinar providências que pressionem o
não em sua essência. Contudo, algumas são exclusi- devedor, como a fixação de multa diária, conhecidas
vamente declaratórias. como astreintes. Ex.: mandado de segurança, obriga-
b) Constitutivas ou desconstitutivas (inovação) – É ções de fazer ou não fazer.
aquela pela qual o juiz cria (positivas, constituem), Obs.: A principal diferença entre a executiva lato sensu
modifica (modificativas, alteram) ou extingue (nega- e a mandamental é que na mandamental quem tem
tivas, desconstituem) uma relação ou situação jurídi- que cumprir é o devedor, ao passo que na executiva,
ca. Natureza ex nunc. Não forma título executivo. Ex.: se o devedor não cumprir espontaneamente, o Esta-
adoção, adjudicação compulsória, ação de revisão de do o fará.
cláusula contratual, modificação de guarda, divórcio,
desconstituição do poder familiar, ação rescisória e
rescisão de contrato. Perceba-se que a ação constitu-

5
Não obstante, há quem defenda uma sexta categoria.
A categoria “f” seria a das sentenças determinativas ou #FicaDica
dispositivas (normatização) – Alguns autores estabelecem
esta categoria – É aquela em que o juiz, com sua vontade, Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer
complementa a vontade do legislador e cria uma norma ju- o Direito.
rídica específica para o caso concreto. Ex.: regulamentação Jurisdição – investidura, aderência ao território,
de visitas, revisão de cláusula contratual. indelegabilidade, inafastabilidade.
Marcus Vinícius Rios Gonçalves, contra a classificação Determina as parcelas da competência.
de Pontes de Miranda, diz que mandamental e executiva
são 2 espécies de tutela condenatória.
- Tutelas de urgência: existem tutelas jurisdicionais COMPETÊNCIA
que serão prestadas em caráter de urgência, podendo ser
cautelar ou antecipada. TÍTULO III
a) Cautelar – A tutela jurisdicional cautelar é aquela que DA COMPETÊNCIA INTERNA
serve para proteger pessoas, provas e bens em situ-
ação de risco: as medidas para assegurar bens com- 1. Competência internacional
preendem as que visam garantir uma futura execu-
ção forçada e as que somente procuram manter um A competência jurisdicional é restrita ao território na-
estado de coisa; as medidas para assegurar pessoas cional, conforme se extrai do CPC:
compreendem providências relativas à guarda pro-
visória de pessoas e as destinadas a satisfazer suas Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e
necessidades urgentes; as medidas para assegurar pelos tribunais em todo o território nacional, conforme
provas compreendem a antecipação de coleta de as disposições deste Código.
elementos de convicção a serem utilizadas na futura
instrução do processo principal. O juiz brasileiro não possui jurisdição em outros terri-
b) Antecipada – A tutela jurisdicional antecipada é tórios. A jurisdição, como manifestação de poder, encontra
aquela que antecipa o resultado útil do processo óbice na soberania de outros países. Da mesma forma, para
e confere ao postulante aquilo que somente teria que uma sentença estrangeira seja reconhecida no país de-
quando da decisão final transitada em julgado. verá ser homologada, sendo que certas matérias somente
- Tutela inibitória: Esta forma de tutela tem por objeti- podem ser julgadas no Brasil e por isso não serão homolo-
vo, proteger o direito, a pretensão antes que efetivamente gadas (ex.: ação que verse sobre bens imóveis situados no
venha ser lesado ou mesmo ameaçado, sendo, portanto, Brasil ou ações de inventário e semelhantes).
forma preventiva de tutela. Trata-se de tutela anterior à sua Neste viés, a sentença proferida em outro país é ine-
prática, e não de uma tutela voltada para o passado, como ficaz enquanto tal e não poder ser executada no Brasil e
a tradicional tutela ressarcitória. nem aqui produz seus efeitos. Não obstante, a existência
de processo em país estrangeiro não obsta o ingresso da
LIVRO II ação no Brasil (não induz litispendência) e nem impede que
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL o Judiciário brasileiro julgue ações conexas.
TÍTULO I
DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO 1.1 Homologação de sentença estrangeira

Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos Para que uma sentença estrangeira se torne eficaz de-
tribunais em todo o território nacional, conforme as dis- verá ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (art.
posições deste Código. 105, I, i, CF), no denominado exequatur. A execução após
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse a homologação, por seu turno, se dará perante a Justiça
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

e legitimidade. Federal.
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em De maneira inovadora, o novo CPC entra em detalhes
nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordena- sobre a homologação de sentença estrangeira em seu Livro
mento jurídico. III, conferindo capítulo próprio à temática:
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o
substituído poderá intervir como assistente litisconsor- CAPÍTULO VI
cial. DA HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA E
Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à decla- DA CONCESSÃO DO EXEQUATUR À CARTA ROGATÓ-
ração: RIA
I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de
uma relação jurídica; Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será
II - da autenticidade ou da falsidade de documento. requerida por ação de homologação de decisão estran-
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, geira, salvo disposição especial em sentido contrário
ainda que tenha ocorrido a violação do direito. prevista em tratado.

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§ 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser exe- Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às car-
cutada no Brasil por meio de carta rogatória. tas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos
§ 2º A homologação obedecerá ao que dispuserem os no caput deste artigo e no art. 962, § 2o.
tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do Art. 964. Não será homologada a decisão estrangeira
Superior Tribunal de Justiça. na hipótese de competência exclusiva da autoridade ju-
§ 3º A homologação de decisão arbitral estrangeira obe- diciária brasileira.
decerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, Parágrafo único. O dispositivo também se aplica à con-
subsidiariamente, as disposições deste Capítulo. cessão do exequatur à carta rogatória.
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia Art. 965. O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á
no Brasil após a homologação de sentença estrangeira perante o juízo federal competente, a requerimento da
ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo parte, conforme as normas estabelecidas para o cumpri-
disposição em sentido contrário de lei ou tratado. mento de decisão nacional.
§ 1º É passível de homologação a decisão judicial de- Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser ins-
finitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei truído com cópia autenticada da decisão homologatória
brasileira, teria natureza jurisdicional. ou do exequatur, conforme o caso.
§ 2º A decisão estrangeira poderá ser homologada par-
cialmente. 1.2 Competência do juiz brasileiro
§ 3º A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pe-
didos de urgência e realizar atos de execução provisória No novo Código de Processo Civil, a competência está
no processo de homologação de decisão estrangeira. regulada nos artigos 21 a 23, sendo que os artigos 21 e 22
§ 4º Haverá homologação de decisão estrangeira para tratam dos casos de competência concorrente (cabível o
fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou julgamento, em tese, tanto por autoridade brasileira quan-
em promessa de reciprocidade apresentada à autorida- to por estrangeira) e o artigo 23 trata dos casos de compe-
de brasileira. tência exclusiva (somente autoridade brasileira, recusando-
§ 5º A sentença estrangeira de divórcio consensual pro- -se a homologação de sentença estrangeira):
duz efeitos no Brasil, independentemente de homologa-
ção pelo Superior Tribunal de Justiça. Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira pro-
§ 6º Na hipótese do § 5º, competirá a qualquer juiz exa- cessar e julgar as ações em que:
minar a validade da decisão, em caráter principal ou in- I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver
cidental, quando essa questão for suscitada em processo domiciliado no Brasil;
de sua competência. II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado
concessiva de medida de urgência. no Brasil.
§ 1º A execução no Brasil de decisão interlocutória es- Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, con-
trangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á sidera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estran-
por carta rogatória. geira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
§ 2º A medida de urgência concedida sem audiência do
réu poderá ser executada, desde que garantido o contra- Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasi-
ditório em momento posterior. leira processar e julgar as ações:
§ 3º O juízo sobre a urgência da medida compete exclu- I - de alimentos, quando:
sivamente à autoridade jurisdicional prolatora da deci- a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
são estrangeira. b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou
§ 4º Quando dispensada a homologação para que a propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção
sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão de benefícios econômicos;
concessiva de medida de urgência dependerá, para pro- II - decorrentes de relações de consumo, quando o con-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

duzir efeitos, de ter sua validade expressamente reco- sumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
nhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimen- III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se sub-
to, dispensada a homologação pelo Superior Tribunal de meterem à jurisdição nacional.
Justiça.
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homo- Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com
logação da decisão: exclusão de qualquer outra:
I - ser proferida por autoridade competente; I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada Brasil;
a revelia; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à con-
III - ser eficaz no país em que foi proferida; firmação de testamento particular e ao inventário e à
IV - não ofender a coisa julgada brasileira; partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo dispo- da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
sição que a dispense prevista em tratado; domicílio fora do território nacional;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.

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III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de O acesso à primeira instância se dá perante as varas na
união estável, proceder à partilha de bens situados no justiça estadual, eleitoral (geralmente cumulativa com uma
Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estran- vara comum), na justiça trabalhista e na justiça militar e as
geira ou tenha domicílio fora do território nacional. seções/subseções na justiça federal.

2. Competência interna 2.2 Distinção entre foro e juízo

2.1 Estrutura do Poder Judiciário Foro é a base territorial sobre a qual cada órgão do Po-
der Judiciário exerce sua jurisdição. Em primeira instância,
O Poder Judiciário tem por função essencial aplicar a lei foro é uma expressão utilizada para indicar a comarca ou
ao caso concreto, julgar os casos levados à sua apreciação. seção judiciária de determinada cidade. Nas demais instân-
Sendo assim, é o responsável pelo exercício da função ju- cias, designa toda a zona territorial na qual o Tribunal exer-
risdicional. ce sua jurisdição: STF e outros Tribunais Superiores – Brasil;
O artigo 92 da Constituição disciplina os órgãos que TJMG – Estado de Minas Gerais; etc.
compõem o Poder Judiciário, sendo que os artigos poste- Juízo é o órgão jurisdicional designado para o julga-
riores delimitam a competência de cada um deles. Os ór- mento do caso – justiça comum estadual, justiça comum
gãos que ficam no topo do sistema possuem sede na Ca- federal, justiça eleitoral, justiça trabalhista, justiça militar.
pital Federal, Brasília, e são dotados de jurisdição em todo Basicamente, refere-se à justiça competente para decidir
o território nacional. sobre aquela matéria.

Artigo 92, CF. São órgãos do Poder Judiciário: 2.3 Competência absoluta e relativa
I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A - o Conselho Nacional de Justiça; As regras de competência absoluta são imperativas, co-
II - o Superior Tribunal de Justiça; gentes e podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz a qual-
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; quer tempo no processo. As regras de competência relativa
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; se sujeitam a prorrogação e derrogação e somente é pos-
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; sível reconhecer a incompetência se questionada (o novo
VI - os Tribunais e Juízes Militares; CPC inova ao permitir que o Ministério Público alegue este
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Fede- tipo de competência).
ral e Territórios. A competência de juízo é sempre absoluta.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional A competência de foro, em regra, é relativa, mas
de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital pode em alguns casos ser absoluta.
Federal.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superio- 2.4 Perpetuatio jurisdictionis
res têm jurisdição em todo o território nacional.
O princípio da perpetuação da competência está pre-
O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do Po- visto no CPC nos seguintes termos:
der Judiciário, desempenhando a função de Tribunal Cons-
titucional. Não é exatamente correto chamá-lo de quarta Art. 43. Determina-se a competência no momento do
instância porque em alguns casos é possível que dos Tri- registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irre-
bunais ou Turmas recursais (segunda instância) se vá direto levantes as modificações do estado de fato ou de direito
ao Supremo Tribunal Federal. ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão
Por sua vez, os Tribunais Superiores desempenham o judiciário ou alterarem a competência absoluta.
papel de terceira instância, são eles: Superior Tribunal de
Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Tra- Se o órgão judiciário for suprimido, os processos que
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

balho e Superior Tribunal Militar. Neste sentido, não sendo por ele tramitavam serão remetidos a outro juízo, o que
a matéria específica eleitoral, trabalhista ou militar, o papel também ocorre em caso de alteração de competência em
de terceira instância será exercido pelo Superior Tribunal razão da matéria (ex.: criação de vara de família) ou da hie-
de Justiça. rarquia.
Na segunda instância se encontram outros Tribunais: os
tribunais regionais federais compõem a segunda instân- 2.5 Critérios para fixação de competência
cia da justiça comum federal; os tribunais de justiça são a
segunda instância da justiça comum estadual; os tribunais a) Objetivo: fixa a competência em razão da matéria,
regionais do trabalho formam a segunda instância da jus- absoluta, e em razão do valor da causa, relativa;
tiça trabalhista; os tribunais regionais eleitorais são a se- b) Territorial: competência de foro, relativa, em regra;
gunda instância da justiça eleitoral; os tribunais de justiça c) Funcional: abrange a competência hierárquica – ca-
militares, quando criados, compõem a segunda instância sos de foro em razão da função, mais conhecidos como de
da justiça militar. foro especial ou privilegiado – e outros de competência
originária, regra de competência absoluta.

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2.6 Regras de apuração da competência Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as
causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
Um roteiro simples de perguntas deve ser percorrido: Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o
1 – O processo é de competência originária de algum demandado, a ação poderá ser proposta no foro de do-
Tribunal? micílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que ori-
2 – Se não, o processo deve ser julgado por alguma das ginou a demanda, no de situação da coisa ou na capital
justiças especiais? do respectivo ente federado.
3 – Sendo a justiça comum competente, a matéria é de Atenção: nos casos em que UEDF sejam réus, aceita-se
cunho federal ou estadual? a propositura, alternativamente, no foro de domicílio do
4 – Em qual local deverá ser proposta a ação (comarca autor, no foro onde ocorreu o ato ou fato, no foro da situa-
ou seção)? ção da coisa ou na capital – a escolha é do autor.
5 – Em qual juízo do local deve ser feita a propositura
(vara cível, vara de família...)? Única regra de competência territorial absoluta: foro do
local do imóvel.
2.7 Disciplina constitucional Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre
imóveis é competente o foro de situação da coisa.
- Supremo Tribunal Federal: artigo 102, CF; § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou
- Superior Tribunal de Justiça: artigo 105, CF; pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de
- Tribunais Regionais Federais: artigo 108, CF; propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação
- Justiça Federal – 1ª instância: artigo 109, CF; de terras e de nunciação de obra nova.
- Justiça Trabalhista – artigo 114, CF; Nestas ações negritadas o foro obrigatoriamente tem
- Justiça Comum Estadual – competência subsidiária. que ser o do local do imóvel.
§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro
2.8 Foro competente de situação da coisa, cujo juízo tem competência abso-
luta.
O novo Código de Processo Civil fez algumas alterações
sensíveis em relação ao antigo, notadamente: exclusão do
Competência nas ações de inventário
foro da mulher nas ações de divórcio; criação de foro es-
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no
pecífico para reparação de dano sofrido em razão de delito
Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a
ou acidente de veículos; e exclusão da exceção de incom-
arrecadação, o cumprimento de disposições de última
petência como instrumento de arguição.
vontade, a impugnação ou anulação de partilha extra-
Regra geral: domicílio do réu. judicial e para todas as ações em que o espólio for réu,
Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em di- ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
reito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía do-
foro de domicílio do réu. micílio certo, é competente:
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado I - o foro de situação dos bens imóveis;
no foro de qualquer deles. II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, destes;
ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qual-
foro de domicílio do autor. quer dos bens do espólio.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no
Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do au- Competência na ação de ausência
tor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta
proposta em qualquer foro. no foro de seu último domicílio, também competente
para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumpri-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes do-
micílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à mento de disposições testamentárias.
escolha do autor.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio Competência territorial para ações específicas – re-
do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for lativa
encontrado. Art. 53. É competente o foro:
[...] I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casa-
Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta mento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
no foro de domicílio de seu representante ou assistente. a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as b) do último domicílio do casal, caso não haja filho in-
causas em que seja autora a União. capaz;
Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no
poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de antigo domicílio do casal;
ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no II - de domicílio ou residência do alimentando, para a
de situação da coisa ou no Distrito Federal. ação em que se pedem alimentos;

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III - do lugar: diz que a federal atrai a estadual, outra que cada uma de-
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa verá tramitar no local competente; ex.: uma causa na justiça
jurídica; trabalhista conexa com outra na justiça comum estadual).
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obriga- - Continência: trata-se de modalidade mais intensa de
ções que a pessoa jurídica contraiu; conexão, na qual existem mesmas partes e mesma causa
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for de pedir, mas pedido diverso, sendo que uma causa con-
ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; tém a outra.
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em - Prevenção: devido à prevenção, o mesmo juízo e o
que se lhe exigir o cumprimento; mesmo órgão no Tribunal atrairá todos os casos relacio-
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre nados.
direito previsto no respectivo estatuto (estatuto do idoso
– Lei nº 10.741/2003); 4. Conflitos de competência e de atribuições.
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a
ação de reparação de dano por ato praticado em razão Art. 951. O conflito de competência pode ser suscitado
do ofício; por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo
IV - do lugar do ato ou fato para a ação: juiz.
a) de reparação de dano; Parágrafo único. O Ministério Público somente será
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios ouvido nos conflitos de competência relativos aos pro-
alheios; cessos previstos no art. 178 (interesse público ou social,
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a interesse de incapaz, litígios coletivos pela posse de terra
ação de reparação de dano sofrido em razão de delito rural ou urbana), mas terá qualidade de parte nos con-
ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. flitos que suscitar.
Conflito de competência é o que ocorre quando dois
2.9 Arguição de incompetência ou mais juízes se dão por competentes (conflito positivo)
ou incompetentes (conflito negativo) para o julgamento da
O novo CPC excluiu a exceção de incompetência, de mesma causa ou de mais de uma causa. Trata-se de um
modo que toda e qualquer incompetência deverá ser ar- incidente processual originário que deve ser dirigido ao
guida em preliminar de contestação. Tribunal competente para apreciar o conflito. Percebe-se
que como o julgamento se dá no âmbito dos Tribunais, o
incidente foi deslocado da disciplina basilar do processo de
2.10 Conflito de competência
conhecimento e colocado entre os incidentes e causas que
podem ser propostos nos tribunais.
Mediante suscitação de conflito de competência que
Legitimados ativos: partes, MP (quando tiver interesse)
dois juízes que se digam competentes ou incompeten-
e juiz.
tes questionam perante um órgão superior qual deles é o
Art. 952. Não pode suscitar conflito a parte que, no
competente para julgar o caso.
processo, arguiu incompetência relativa.
Ex.: Dois juízes estaduais discutem sobre serem compe-
Parágrafo único. O conflito de competência não obsta,
tentes – Tribunal de Justiça decide.
porém, a que a parte que não o arguiu suscite a in-
Ex.: Juiz estadual e juiz federal entram em conflito sobre competência.
a competência ser federal ou estadual – Superior Tribunal Carece de legitimidade a parte que arguiu incompe-
de Justiça decide. tência relativa. Não é possível que a mesma parte alegue,
simultaneamente, conflito de competência e incompetên-
3. Modificação de competência cia relativa. Afinal, sempre que há conflito de competência
tem-se regra de incompetência absoluta, que prepondera
- Prorrogação: se a incompetência relativa não for ale-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

sobre as regras de incompetência relativa. Neste sentido,


gada, se prorroga, se convalida. os conflitos de competência apenas podem abranger re-
- Derrogação: as partes podem eleger o foro, notada- gras de competência constitucional fixadas (geralmente,
mente pela via contratual, lembrando-se que a eleição de em razão de matéria ou devido à hierarquia).
foro no direito do consumidor tende a ser relativizada, no- Art. 953. O conflito será suscitado ao tribunal:
tadamente nos contratos de adesão. A eleição de foro não I - pelo juiz, por ofício;
pode derrogar a conexão. No caso da eleição de foro, a II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição.
incompetência pode ser reconhecida de ofício pelo juiz. Parágrafo único. O ofício e a petição serão instruídos
- Conexão: relação que se estabelece entre duas ou mais com os documentos necessários à prova do conflito.
demandas quanto aos seus elementos. Havendo mesmo Se o conflito será suscitado ao tribunal, mediante ofício
pedido ou mesma causa de pedir entre ações há conexão. do juiz ou petição da parte ou do Ministério Público instruí-
No caso de ações conexas, serão reunidas para julgamento dos com os documentos necessários, resta saber perante
conjunto. Cabe o reconhecimento de ofício. Somente per- qual tribunal isso acontecerá. Tudo vai depender do tipo
mite a alteração da competência relativa (ex.: uma causa na de conflito:
justiça federal conexa com a estadual – parte da doutrina

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- Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “o”, CF): compe- Ressalta-se que o Ministério Público somente será ouvi-
tência originária para dirimir conflitos de competência en- do se a causa for do seu interesse.
tre o STJ e quaisquer tribunais (STJ/TRF, STJ/TJ, STJ/TRT, STJ/ Art. 957. Ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual
TRE, STJ/TJM), entre tribunais superiores (STF/STJ, STF/TSE, o juízo competente, pronunciando-se também sobre a va-
STF/STM, STF/TST, STJ/TSE, STJ/STM, STJ/TST, STM/TSE, lidade dos atos do juízo incompetente.
STM/TST, TST/TSE), e entre estes e qualquer outro (TST/ Parágrafo único. Os autos do processo em que se mani-
TRT, TSE/TRE, STM/TJM). festou o conflito serão remetidos ao juiz declarado com-
- Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “d”, CF): resolve petente.
conflito de competência entre quaisquer tribunais (TRF/TJ); Além de decidir sobre a competência (qual o juízo com-
tribunal e juiz a ele não vinculado, ou seja, ao qual este petente, não qual juiz), cabe decidir sobre o aproveita-
não esteja subordinado jurisdicionalmente (TRT/TRE, TJM/ mento de atos processuais eventualmente praticados
JCE, TJM/JCF, etc.); a juízes vinculados a tribunais diversos por juízo incompetente.
(classicamente, justiça comum federal – JCF/justiça comum Art. 958. No conflito que envolva órgãos fracionários dos tri-
estadual – JCE); e a seus integrantes (STJ/STJ). bunais, desembargadores e juízes em exercício no tribunal,
- Tribunal Superior do Trabalho: resolve conflitos ape- observar-se-á o que dispuser o regimento interno do tribunal.
nas havidos entre seus integrantes (TRT/vara do trabalho, Art. 959. O regimento interno do tribunal regulará o
entre diversas varas do trabalho). processo e o julgamento do conflito de atribuições entre
- Tribunal Regional Federal: resolve conflitos entre juí- autoridade judiciária e autoridade administrativa.
zes federais a eles vinculados (TRF/varas federais, entre as
diversas varas federais); juiz federal e estadual, da mesma O regimento interno do tribunal competente para diri-
região, investidos de jurisdição federal; e entre seus inte- mir o conflito será o conjunto de normas a ser observado,
grantes (TRF/TRF). quando os juízos conflitantes forem órgãos de tribunal.
- Tribunal Regional do Trabalho: resolve conflitos entre Quando a autoridade indicada por lei para dirimir confli-
juízes do trabalho a ele vinculados (TRT/varas do trabalho, to de atribuições for judiciária, o regimento interno tam-
entre as diversas varas do trabalho); juízes do trabalho e bém será usado para resolver conflito entre a autoridade
estadual, da mesma região, investidos de jurisdição traba- judiciária e a autoridade administrativa. Ressaltando que
lhista. o conflito de competência só existe entre órgãos jurisdi-
- Tribunais de Justiça: resolve conflitos de competência cionais, podendo, porém, as normas legais que tratam do
entre juízes de direito do primeiro grau do Estado (entre as conflito de competência serem utilizadas aqui.
diversas varas e comarcas) e; entre seus integrantes (TJ/TJ).
Art. 954. Após a distribuição, o relator determinará a
oitiva dos juízes em conflito ou, se um deles for susci- #FicaDica
tante, apenas do suscitado.
Competência – Parcelas da jurisdição – Em
Parágrafo único. No prazo designado pelo relator, in-
razão da matéria é absoluta; em razão do
cumbirá ao juiz ou aos juízes prestar as informações.
território é relativa (exceto no caso de ação
Deve-se garantir o contraditório. Por mais que o dispo-
sobre bem imóvel, quando é absoluta).
sitivo nada mencione, também as partes devem ser ouvi-
das.
Art. 955. O relator poderá, de ofício ou a requerimento
de qualquer das partes, determinar, quando o conflito
for positivo, o sobrestamento do processo e, nesse caso,
bem como no de conflito negativo, designará um dos EXERCÍCIO COMENTADO
juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas
urgentes. 1, (PC-BA - Delegado de Polícia - VUNESP/2018) As
Embora seja de praxe o sobrestamento do feito, cabe causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

ao reator designar o juiz competente par resolver questões limites de sua competência, ressalvado às partes o direito
urgentes. de instituir juízo arbitral, na forma da lei. A respeito do ins-
Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o con- tituto da competência, é correto afirmar que:
flito de competência quando sua decisão se fundar em:
I - súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tri- a) as suas regras são exclusivamente determinadas pelas
bunal de Justiça ou do próprio tribunal; normas previstas no Código de Processo Civil ou em le-
II - tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou gislação especial.
em incidente de assunção de competência. b) tramitando o processo perante outro juízo, os autos se-
O parágrafo único, por sua vez, traz hipóteses de julga- rão remetidos ao juízo federal competente se nele inter-
mento monocrático. vier a União, excluindo-se dessa regra, dentre outras, as
Art. 956. Decorrido o prazo designado pelo relator, será ações de insolvência civil.
ouvido o Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, c) a ação possessória imobiliária será proposta no foro de
ainda que as informações não tenham sido prestadas, e, situação da coisa, cujo juízo tem competência relativa
em seguida, o conflito irá a julgamento. para sua análise.

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d) se o autor da herança não possuía domicílio certo, é capazes têm capacidade processual. Incapazes, para irem
competente o foro do domicílio do inventariante para a juízo, terão que ser representados (absolutamente in-
análise do inventário. capazes) ou assistidos (relativamente incapazes). Pessoas
e) a ação em que o incapaz for réu será proposta no foro jurídicas, para irem a juízo, necessitarão da representação
de seu domicílio. pelas pessoas designadas no contrato social ou estatuto
no caso de pessoas jurídicas de direito privado e pelos
Resposta: “Letra B”. Disciplina o CPC: “Art. 45. Trami- gestores da coisa pública no caso das pessoas jurídicas de
tando o processo perante outro juízo, os autos serão direito público (ex.: Prefeito ou Procurador Municipal re-
remetidos ao juízo federal competente se nele intervier presentam o município). A massa falida é representada por
a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas um administrador judicial; o espólio por um inventariante;
e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade a herança jacente/vacante pelo curador; o condomínio em
profissional, na qualidade de parte ou de terceiro inter- edifícios pelo síndico; as sociedades irregulares pelos que
veniente, exceto as ações: I - de recuperação judicial, fa- exercem as suas atividades; a pessoa jurídica estrangeira
lência, insolvência civil e acidente de trabalho; [...]”. pelo representante autorizado no Brasil; o nascituro por
A. As regras são exclusivamente determinadas pelas seus genitores.
normas previstas no Código de Processo Civil ou em le- - Capacidade postulatória – Trata-se da capacidade
gislação especial. para postular em juízo, somente conferida a pessoas deter-
C. A ação possessória imobiliária será proposta no foro minadas que obtiveram o reconhecimento da qualificação
de situação da coisa, cujo juízo tem competência abso- para tanto perante os órgãos competentes. É o caso do
luta para sua análise (artigo 47, § 2o, CPC). advogado, bacharel em Direito aprovado em exame da Or-
D. No caso, seria competente o foro da situação dos dem dos Advogados do Brasil; ou do Promotor de Justiça
bens imóveis; havendo bens imóveis em foros diferen- ou Procurador da República, representantes do Ministério
tes, qualquer um deles; não havendo bens imóveis, o Público bacharéis em Direito com três anos de atividade
foro do local de quaisquer bens do espolio (artigo 48, jurídica aprovados em concurso de provas e títulos. Vale
parágrafo único, CPC). destacar que em alguns processos é dispensada a capaci-
E. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro dade postulatória permitindo que a parte postule em juízo
de seu domicílio (artigo 50, CPC). sozinha, como ocorre nos juizados especiais cíveis em cau-
sas de até 20 salários mínimos.
Caso a capacidade processual ou a representação pro-
DOS SUJEITOS DO PROCESSO. DAS PARTES cessual estejam deficientes, o juiz deve suspender o proces-
E DOS PROCURADORES. DA CAPACIDADE so e marcar prazo suficiente para que o vício seja sanado.
PROCESSUAL. DEVERES DAS PARTES E Se o erro for da parte do autor, o juiz extinguirá o processo
DOS PROCURADORES. DAS DESPESAS, se persistir a irregularidade; se do réu, reputá-lo-á revel; se
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DAS de terceiro, o excluirá do processo. Já no caso de ausência
MULTAS. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA. de procuração, instrumento constitutivo dos poderes para
o exercício da capacidade postulatória, a não ratificação do
ato em 15 dias gera a sua inexistência.
CAPACIDADE PROCESSUAL E POSTULATÓRIA
1. Deveres das partes e procuradores
Três tipos de capacidades se fazem presentes enquanto
pressupostos processuais: Os deveres das partes e dos seus procuradores estão
- Capacidade para ser parte – Todas as pessoas, físicas descritos no CPC, tendo como ponto de partida o reconhe-
e jurídicas, e até alguns entes despersonalizados, têm ca- cimento de que devem agir com lealdade e boa-fé.
pacidade de ser parte. Enfim, basta ser titular de direitos Proceder com lealdade e boa-fé, a rigor, abrange to-
das as outras obrigações. Devido ao caráter extremamente
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

e deveres perante a ordem jurídica para poder ser parte.


São exemplos de entes despersonalizados que possuem genérico, o inciso não consta no futuro CPC. Não significa
capacidade para ser parte: massa falida (universalidade de que proceder com lealdade e boa-fé deixou de ser um de-
bens e interesses, ativos e passivos, deixados por uma em- ver, mas apenas que se entendeu que não era preciso a
presa que teve a falência decretada); espólio (universalida- menção específica por já estar tal dever subentendido nos
de de bens e interesses deixados por aquele que faleceu); demais incisos. Não obstante, a questão é complementada
herança jacente e vacante (herança de alguém que faleceu pela disciplina da litigância de má-fé.
sem deixar herdeiros conhecidos e que será recolhida pelo Consta nos artigos 77 e 78 do futuro Código de Pro-
Estado); condomínio em edifícios; sociedades de fato/irre- cesso Civil:
gulares; pessoa jurídica estrangeira; e nascituro (para ele a
aquisição de direitos e obrigações está sujeita a um evento Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são de-
futuro e incerto, o nascimento com vida). veres das partes, de seus procuradores e de todos aque-
- Capacidade processual – Somente pessoas que se les que de qualquer forma participem do processo:
achem no exercício de seus direitos têm capacidade para I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
estar em juízo, ou seja, somente pessoas físicas maiores e

12
Exige-se que deliberadamente se falseie a verdade so- § 6º Aos advogados públicos ou privados e aos mem-
bre fato fundamental da causa. O que não se admite é a bros da Defensoria Pública e do Ministério Público não
mentira consciente e intencional. Não há violação quando se aplica o disposto nos §§ 2º a 5º, devendo eventual
a parte examina os fatos de maneira mais favorável aos responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respec-
seus interesses. tivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa oficiará.
quando cientes de que são destituídas de fundamento; § 7º Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o
Aquele que relata os fatos e formula pretensão deve juiz determinará o restabelecimento do estado anterior,
crer nos fatos e na pretensão oriunda deles. Como é com- podendo, ainda, proibir a parte de falar nos autos até
plicado perquirir este nível de subjetividade, na prática, a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do
somente o erro grosseiro gera a violação deste dever e a § 2º.
consequente pena de litigância de má-fé. § 8º O representante judicial da parte não pode ser com-
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou pelido a cumprir decisão em seu lugar.
desnecessários à declaração ou à defesa do direito; Os parágrafos do artigo 77 regulamentam os atos aten-
As provas produzidas devem ser pertinentes, apropria- tatórios à dignidade da justiça. No atual CPC, somente é
das para demonstrar aquilo que é objeto de discussão no considerado ato atentatório falhar com o dever de cumprir
curso do processo. com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza pro-
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de visória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação. O
natureza provisória ou final, e não criar embaraços à futuro CPC acrescente como ofensiva a prática de fraude à
sua efetivação; execução. A multa que poderá ser aplicada no caso, agora
Não embaraçar a efetividade do processo e das deci- regulamentada em detalhes, será revertida à União ou ao
sões judiciais. Estado (conforme a justiça seja federal ou estadual).
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar As demais hipóteses do artigo 77, incisos I a III e V, são
nos autos, o endereço residencial ou profissional onde práticas de litigância de má-fé e a multa se reverte a favor
receberão intimações, atualizando essa informação da vítima.
sempre que ocorrer qualquer modificação temporária Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos ju-
ou definitiva; ízes, aos membros do Ministério Público e da Defensoria
Percebe-se no inciso V a inclusão de uma hipótese não Pública e a qualquer pessoa que participe do processo
prevista no CPC/1973, consistente no dever de informar na empregar expressões ofensivas nos escritos apresenta-
primeira oportunidade o endereço para recebimento de in- dos.
timações, renovando a informação sempre que for o caso. § 1º Quando expressões ou condutas ofensivas forem
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de manifestadas oral ou presencialmente, o juiz advertirá
bem ou direito litigioso. o ofensor de que não as deve usar ou repetir, sob pena
No inciso VI também se encontra uma hipótese não de lhe ser cassada a palavra.
mencionada no CPC/1973, referente à prática de fraude à § 2º De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz
execução. determinará que as expressões ofensivas sejam ris-
§ 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá cadas e, a requerimento do ofendido, determinará a
qualquer das pessoas mencionadas no caput de que expedição de certidão com inteiro teor das expressões
sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à ofensivas e a colocará à disposição da parte interessada.
dignidade da justiça.
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI consti- Considerado o teor dos dispositivos mencionados, rele-
tui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo vante estudar a questão da litigância de má-fé.
o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e pro- Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que liti-
cessuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até gar de má-fé como autor, réu ou interveniente.
vinte por cento do valor da causa, de acordo com a Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

gravidade da conduta. I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de


§ 3º Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a lei ou fato incontroverso;
multa prevista no § 2º será inscrita como dívida ativa II - alterar a verdade dos fatos;
da União ou do Estado após o trânsito em julgado da III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
decisão que a fixou, e sua execução observará o pro- IV - opuser resistência injustificada ao andamento do
cedimento da execução fiscal, revertendo-se aos fundos processo;
previstos no art. 97. V - proceder de modo temerário em qualquer incidente
§ 4º A multa estabelecida no § 2º poderá ser fixada in- ou ato do processo;
dependentemente da incidência das previstas nos arts. VI - provocar incidente manifestamente infundado;
523, § 1º, e 536, § 1º. VII - interpuser recurso com intuito manifestamente pro-
§ 5º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimá- telatório.
vel, a multa prevista no § 2º poderá ser fixada em até Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará
10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser
superior a um por cento e inferior a dez por cento do

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valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária § 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez
pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorá- e o máximo de vinte por cento sobre o valor da con-
rios advocatícios e com todas as despesas que efetuou. denação, do proveito econômico obtido ou, não sendo
§ 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa,
má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu atendidos:
respectivo interesse na causa ou solidariamente aque- I - o grau de zelo do profissional;
les que se coligaram para lesar a parte contrária. II - o lugar de prestação do serviço;
§ 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimá- III - a natureza e a importância da causa;
vel, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exi-
valor do salário-mínimo. gido para o seu serviço.
§ 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a
não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramen- fixação dos honorários observará os critérios estabeleci-
to ou pelo procedimento comum, nos próprios autos. dos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o
DESPESAS, DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E valor da condenação ou do proveito econômico obtido
DAS MULTAS até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o
SEÇÃO III valor da condenação ou do proveito econômico obtido
DAS DESPESAS, DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍ- acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000
CIOS E DAS MULTAS (dois mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre
Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuida- o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
de da justiça, incumbe às partes prover as despesas dos acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000
atos que realizarem ou requererem no processo, anteci- (vinte mil) salários-mínimos;
pando-lhes o pagamento, desde o início até a sentença
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre
final ou, na execução, até a plena satisfação do direito
o valor da condenação ou do proveito econômico ob-
reconhecido no título.
tido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até
§ 1o Incumbe ao autor adiantar as despesas relativas a
100.000 (cem mil) salários-mínimos;
ato cuja realização o juiz determinar de ofício ou a re-
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o
querimento do Ministério Público, quando sua interven-
valor da condenação ou do proveito econômico obtido
ção ocorrer como fiscal da ordem jurídica.
acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
§ 2o A sentença condenará o vencido a pagar ao vence-
§ 4o Em qualquer das hipóteses do § 3o:
dor as despesas que antecipou.
Art. 83. O autor, brasileiro ou estrangeiro, que residir I - os percentuais previstos nos incisos I a V devem ser
fora do Brasil ou deixar de residir no país ao longo da aplicados desde logo, quando for líquida a sentença;
tramitação de processo prestará caução suficiente ao II - não sendo líquida a sentença, a definição do per-
pagamento das custas e dos honorários de advogado da centual, nos termos previstos nos incisos I a V, somente
parte contrária nas ações que propuser, se não tiver no ocorrerá quando liquidado o julgado;
Brasil bens imóveis que lhes assegurem o pagamento. III - não havendo condenação principal ou não sendo
§ 1o Não se exigirá a caução de que trata o caput: possível mensurar o proveito econômico obtido, a con-
I - quando houver dispensa prevista em acordo ou trata- denação em honorários dar-se-á sobre o valor atuali-
do internacional de que o Brasil faz parte; zado da causa;
II - na execução fundada em título extrajudicial e no IV - será considerado o salário-mínimo vigente quando
cumprimento de sentença; prolatada sentença líquida ou o que estiver em vigor na
III - na reconvenção. data da decisão de liquidação.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

§ 2o Verificando-se no trâmite do processo que se des- § 5o Quando, conforme o caso, a condenação contra a
falcou a garantia, poderá o interessado exigir reforço da Fazenda Pública ou o benefício econômico obtido pelo
caução, justificando seu pedido com a indicação da de- vencedor ou o valor da causa for superior ao valor pre-
preciação do bem dado em garantia e a importância do visto no inciso I do § 3o, a fixação do percentual de ho-
reforço que pretende obter. norários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a
Art. 84. As despesas abrangem as custas dos atos do exceder, a faixa subsequente, e assim sucessivamente.
processo, a indenização de viagem, a remuneração do § 6o Os limites e critérios previstos nos §§ 2o e 3o apli-
assistente técnico e a diária de testemunha. cam-se independentemente de qual seja o conteúdo
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar hono- da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de
rários ao advogado do vencedor. sentença sem resolução de mérito.
§ 1o São devidos honorários advocatícios na reconven- § 7o Não serão devidos honorários no cumprimento de
ção, no cumprimento de sentença, provisório ou defini- sentença contra a Fazenda Pública que enseje expedi-
tivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos inter- ção de precatório, desde que não tenha sido impugna-
postos, cumulativamente. da.

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§ 8o Nas causas em que for inestimável ou irrisório o Art. 88. Nos procedimentos de jurisdição voluntária, as
proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa despesas serão adiantadas pelo requerente e rateadas
for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por entre os interessados.
apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos Art. 89. Nos juízos divisórios, não havendo litígio, os
do § 2o. interessados pagarão as despesas proporcionalmente a
§ 9o Na ação de indenização por ato ilícito contra pes- seus quinhões.
soa, o percentual de honorários incidirá sobre a soma Art. 90. Proferida sentença com fundamento em desis-
das prestações vencidas acrescida de 12 (doze) presta- tência, em renúncia ou em reconhecimento do pedido,
ções vincendas. as despesas e os honorários serão pagos pela parte que
§ 10. Nos casos de perda do objeto, os honorários serão desistiu, renunciou ou reconheceu.
devidos por quem deu causa ao processo. § 1o Sendo parcial a desistência, a renúncia ou o reco-
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorá- nhecimento, a responsabilidade pelas despesas e pelos
rios fixados anteriormente levando em conta o trabalho honorários será proporcional à parcela reconhecida, à
adicional realizado em grau recursal, observando, con- qual se renunciou ou da qual se desistiu.
forme o caso, o disposto nos §§ 2o a 6o, sendo vedado § 2o Havendo transação e nada tendo as partes disposto
ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários quanto às despesas, estas serão divididas igualmente.
devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respec- § 3o Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes
tivos limites estabelecidos nos §§ 2o e 3o para a fase de ficam dispensadas do pagamento das custas processuais
conhecimento. remanescentes, se houver.
§ 12. Os honorários referidos no § 11 são cumuláveis § 4o Se o réu reconhecer a procedência do pedido e, si-
com multas e outras sanções processuais, inclusive as multaneamente, cumprir integralmente a prestação re-
previstas no art. 77. conhecida, os honorários serão reduzidos pela metade.
§ 13. As verbas de sucumbência arbitradas em embar- Art. 91. As despesas dos atos processuais praticados a
gos à execução rejeitados ou julgados improcedentes e requerimento da Fazenda Pública, do Ministério Públi-
em fase de cumprimento de sentença serão acrescidas co ou da Defensoria Pública serão pagas ao final pelo
no valor do débito principal, para todos os efeitos legais. vencido.
§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e § 1o As perícias requeridas pela Fazenda Pública, pelo
têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos Ministério Público ou pela Defensoria Pública poderão
créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo ve- ser realizadas por entidade pública ou, havendo previ-
dada a compensação em caso de sucumbência parcial. são orçamentária, ter os valores adiantados por aquele
§ 15. O advogado pode requerer que o pagamento dos que requerer a prova.
honorários que lhe caibam seja efetuado em favor da § 2o Não havendo previsão orçamentária no exercício
sociedade de advogados que integra na qualidade de financeiro para adiantamento dos honorários periciais,
sócio, aplicando-se à hipótese o disposto no § 14. eles serão pagos no exercício seguinte ou ao final, pelo
§ 16. Quando os honorários forem fixados em quantia vencido, caso o processo se encerre antes do adianta-
certa, os juros moratórios incidirão a partir da data do mento a ser feito pelo ente público.
trânsito em julgado da decisão. Art. 92. Quando, a requerimento do réu, o juiz proferir
§ 17. Os honorários serão devidos quando o advogado sentença sem resolver o mérito, o autor não poderá pro-
atuar em causa própria. por novamente a ação sem pagar ou depositar em car-
§ 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa tório as despesas e os honorários a que foi condenado.
quanto ao direito aos honorários ou ao seu valor, é cabí- Art. 93. As despesas de atos adiados ou cuja repetição
vel ação autônoma para sua definição e cobrança. for necessária ficarão a cargo da parte, do auxiliar da
§ 19. Os advogados públicos perceberão honorários de justiça, do órgão do Ministério Público ou da Defensoria
sucumbência, nos termos da lei. Pública ou do juiz que, sem justo motivo, houver dado
Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e ven- causa ao adiamento ou à repetição.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

cido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as Art. 94. Se o assistido for vencido, o assistente será con-
despesas. denado ao pagamento das custas em proporção à ativi-
Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mí- dade que houver exercido no processo.
nima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas Art. 95. Cada parte adiantará a remuneração do as-
despesas e pelos honorários. sistente técnico que houver indicado, sendo a do perito
Art. 87. Concorrendo diversos autores ou diversos réus, adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou
os vencidos respondem proporcionalmente pelas despe- rateada quando a perícia for determinada de ofício ou
sas e pelos honorários. requerida por ambas as partes.
§ 1o A sentença deverá distribuir entre os litisconsortes, § 1o O juiz poderá determinar que a parte responsável
de forma expressa, a responsabilidade proporcional pelo pelo pagamento dos honorários do perito deposite em
pagamento das verbas previstas no caput. juízo o valor correspondente.
§ 2o Se a distribuição de que trata o § 1o não for feita, os § 2o A quantia recolhida em depósito bancário à ordem
vencidos responderão solidariamente pelas despesas e do juízo será corrigida monetariamente e paga de acor-
pelos honorários. do com o art. 465, § 4o.

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§ 3o Quando o pagamento da perícia for de responsabili- VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de
dade de beneficiário de gratuidade da justiça, ela poderá recurso, para propositura de ação e para a prática de
ser: outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla
I - custeada com recursos alocados no orçamento do defesa e do contraditório;
ente público e realizada por servidor do Poder Judiciário IX - os emolumentos devidos a notários ou registrado-
ou por órgão público conveniado; res em decorrência da prática de registro, averbação ou
II - paga com recursos alocados no orçamento da União, qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de
do Estado ou do Distrito Federal, no caso de ser realiza- decisão judicial ou à continuidade de processo judicial
da por particular, hipótese em que o valor será fixado no qual o benefício tenha sido concedido.
conforme tabela do tribunal respectivo ou, em caso de § 2o A concessão de gratuidade não afasta a responsabi-
sua omissão, do Conselho Nacional de Justiça. lidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos
§ 4o Na hipótese do § 3o, o juiz, após o trânsito em jul- honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbên-
gado da decisão final, oficiará a Fazenda Pública para cia.
que promova, contra quem tiver sido condenado ao pa- § 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes
gamento das despesas processuais, a execução dos valo- de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva
res gastos com a perícia particular ou com a utilização de exigibilidade e somente poderão ser executadas se,
de servidor público ou da estrutura de órgão público, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em julgado
observando-se, caso o responsável pelo pagamento das da decisão que as certificou, o credor demonstrar que
despesas seja beneficiário de gratuidade da justiça, o deixou de existir a situação de insuficiência de recursos
disposto no art. 98, § 2o. que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-
§ 5o Para fins de aplicação do § 3o, é vedada a utilização -se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.
de recursos do fundo de custeio da Defensoria Pública. § 4o A concessão de gratuidade não afasta o dever de o
Art. 96. O valor das sanções impostas ao litigante de beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que
má-fé reverterá em benefício da parte contrária, e o va- lhe sejam impostas.
lor das sanções impostas aos serventuários pertencerá § 5o A gratuidade poderá ser concedida em relação a
ao Estado ou à União. algum ou a todos os atos processuais, ou consistir na
Art. 97. A União e os Estados podem criar fundos de redução percentual de despesas processuais que o be-
modernização do Poder Judiciário, aos quais serão re- neficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.
vertidos os valores das sanções pecuniárias processuais § 6o Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao
destinadas à União e aos Estados, e outras verbas pre- parcelamento de despesas processuais que o beneficiá-
vistas em lei. rio tiver de adiantar no curso do procedimento.
§ 7o Aplica-se o disposto no art. 95, §§ 3o a 5o, ao custeio
GRATUIDADE DA JUSTIÇA dos emolumentos previstos no § 1o, inciso IX, do presente
artigo, observada a tabela e as condições da lei estadual
SEÇÃO IV ou distrital respectiva.
DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA § 8o Na hipótese do § 1o, inciso IX, havendo dúvida fun-
dada quanto ao preenchimento atual dos pressupostos
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou es- para a concessão de gratuidade, o notário ou registrador,
trangeira, com insuficiência de recursos para pagar as após praticar o ato, pode requerer, ao juízo competente
custas, as despesas processuais e os honorários advo- para decidir questões notariais ou registrais, a revoga-
catícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma ção total ou parcial do benefício ou a sua substituição
da lei. pelo parcelamento de que trata o § 6o deste artigo, caso
§ 1o A gratuidade da justiça compreende: em que o beneficiário será citado para, em 15 (quinze)
I - as taxas ou as custas judiciais; dias, manifestar-se sobre esse requerimento.
II - os selos postais; Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser for-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

III - as despesas com publicação na imprensa oficial, mulado na petição inicial, na contestação, na petição
dispensando-se a publicação em outros meios; para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
IV - a indenização devida à testemunha que, quando § 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte
empregada, receberá do empregador salário integral, na instância, o pedido poderá ser formulado por petição
como se em serviço estivesse; simples, nos autos do próprio processo, e não suspende-
V - as despesas com a realização de exame de código rá seu curso.
genético - DNA e de outros exames considerados essen- § 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver
ciais; nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressu-
VI - os honorários do advogado e do perito e a remune- postos legais para a concessão de gratuidade, devendo,
ração do intérprete ou do tradutor nomeado para apre- antes de indeferir o pedido, determinar à parte a com-
sentação de versão em português de documento redigi- provação do preenchimento dos referidos pressupostos.
do em língua estrangeira; § 3o Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, deduzida exclusivamente por pessoa natural.
quando exigida para instauração da execução; § 4o A assistência do requerente por advogado particular

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não impede a concessão de gratuidade da justiça. Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa pró-
§ 5o Na hipótese do § 4o, o recurso que verse exclusiva- pria quando tiver habilitação legal.
mente sobre valor de honorários de sucumbência fixa- Art. 104. O advogado não será admitido a postular em
dos em favor do advogado de beneficiário estará sujeito juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, deca-
a preparo, salvo se o próprio advogado demonstrar que dência ou prescrição, ou para praticar ato considerado
tem direito à gratuidade. urgente.
§ 6o O direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se § 1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deve-
estendendo a litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, rá, independentemente de caução, exibir a procuração
salvo requerimento e deferimento expressos. no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual perí-
§ 7o Requerida a concessão de gratuidade da justiça em odo por despacho do juiz.
recurso, o recorrente estará dispensado de comprovar o § 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz rela-
recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste tivamente àquele em cujo nome foi praticado, respon-
caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar pra- dendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos.
zo para realização do recolhimento. Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada
Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá por instrumento público ou particular assinado pela
oferecer impugnação na contestação, na réplica, nas parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do
contrarrazões de recurso ou, nos casos de pedido super- processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a
veniente ou formulado por terceiro, por meio de petição procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao
simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quita-
nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu ção, firmar compromisso e assinar declaração de hipos-
curso. suficiência econômica, que devem constar de cláusula
Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará específica.
com as despesas processuais que tiver deixado de adian- § 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na
tar e pagará, em caso de má-fé, até o décuplo de seu forma da lei.
valor a título de multa, que será revertida em benefício § 2o A procuração deverá conter o nome do advogado,
da Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser ins- seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do
crita em dívida ativa. Brasil e endereço completo.
Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou § 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados,
a que acolher pedido de sua revogação caberá agravo a procuração também deverá conter o nome dessa, seu
de instrumento, exceto quando a questão for resolvida número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil
na sentença, contra a qual caberá apelação. e endereço completo.
§ 1o O recorrente estará dispensado do recolhimento de § 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário cons-
custas até decisão do relator sobre a questão, prelimi- tante do próprio instrumento, a procuração outorgada
narmente ao julgamento do recurso. na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases
§ 2o Confirmada a denegação ou a revogação da gra- do processo, inclusive para o cumprimento de sentença.
tuidade, o relator ou o órgão colegiado determinará ao Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe
recorrente o recolhimento das custas processuais, no ao advogado:
prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de não conhecimento I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o ende-
do recurso. reço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados
Art. 102. Sobrevindo o trânsito em julgado de decisão do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual
que revoga a gratuidade, a parte deverá efetuar o re- participa, para o recebimento de intimações;
colhimento de todas as despesas de cujo adiantamento II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.
foi dispensada, inclusive as relativas ao recurso interpos- § 1o Se o advogado descumprir o disposto no inciso I,
to, se houver, no prazo fixado pelo juiz, sem prejuízo de o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5
aplicação das sanções previstas em lei. (cinco) dias, antes de determinar a citação do réu, sob
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Parágrafo único. Não efetuado o recolhimento, o pro- pena de indeferimento da petição.


cesso será extinto sem resolução de mérito, tratando-se § 2o Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão
do autor, e, nos demais casos, não poderá ser deferida a consideradas válidas as intimações enviadas por carta
realização de nenhum ato ou diligência requerida pela registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos
parte enquanto não efetuado o depósito. autos.
Art. 107. O advogado tem direito a:
PROCURADORES I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribu-
nal, mesmo sem procuração, autos de qualquer proces-
CAPÍTULO III so, independentemente da fase de tramitação, assegura-
DOS PROCURADORES dos a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo
na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o
Art. 103. A parte será representada em juízo por advo- advogado constituído terá acesso aos autos;
gado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados II - requerer, como procurador, vista dos autos de qual-
do Brasil. quer processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias;

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III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo
prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por deter- #FicaDica
minação do juiz, nos casos previstos em lei.
§ 1o Ao receber os autos, o advogado assinará carga em Capacidade para ser parte + Capacidade
livro ou documento próprio. processual + Capacidade postulatória
§ 2o Sendo o prazo comum às partes, os procuradores Litigância de má-fé – multa de 1% a 10% ou
poderão retirar os autos somente em conjunto ou me- 10x salário-mínimo – Paga à parte
diante prévio ajuste, por petição nos autos. Ato atentatório à dignidade da justiça –
§ 3o Na hipótese do § 2o, é lícito ao procurador retirar os desobediência à ordem judicial e alteração no
autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a estado de bem litigioso (fraude à execução)
6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem pre- – até 20% do valor da causa ou 10x salário-
juízo da continuidade do prazo. mínimo – Paga ao juízo
§ 4o O procurador perderá no mesmo processo o direito a
que se refere o § 3o se não devolver os autos tempestiva-
mente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz.
EXERCÍCIO COMENTADO
SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADORES

CAPÍTULO IV 1. (TJM-SP - Escrevente Técnico Judiciário - VU-


DA SUCESSÃO DAS PARTES E DOS PROCURADO- NESP/2017) Sobre a gratuidade dos atos processuais, as-
RES sinale a alternativa correta:

Art. 108. No curso do processo, somente é lícita a su- a) As multas processuais impostas ao beneficiário estão
cessão voluntária das partes nos casos expressos em lei. afastadas pela gratuidade concedida.
Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por b) Vencido o beneficiário na ação, este não será condenado
ato entre vivos, a título particular, não altera a legitimi- nas obrigações decorrentes da sucumbência.
dade das partes. c) A assistência de advogado particular impede a conces-
§ 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar são do benefício da gratuidade.
em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o d) O direito à gratuidade se estende ao sucessor do bene-
consinta a parte contrária. ficiário em caso de seu falecimento.
§ 2o O adquirente ou cessionário poderá intervir no pro- e) A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum
cesso como assistente litisconsorcial do alienante ou ce- ou a todos os atos processuais.
dente.
§ 3o Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre Resposta: “Letra E”. Prevê o art. 98, § 5o, CPC: “A gra-
as partes originárias ao adquirente ou cessionário. tuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a
Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, todos os atos processuais, ou consistir na redução per-
dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus suces- centual de despesas processuais que o beneficiário tiver
sores, observado o disposto no art. 313, §§ 1o e 2o. de adiantar no curso do procedimento”.
Art. 111. A parte que revogar o mandato outorgado a A. Dispõe o artigo 98, § 4o, CPC: “A concessão de gratui-
seu advogado constituirá, no mesmo ato, outro que as- dade não afasta o dever de o beneficiário pagar, ao final,
suma o patrocínio da causa. as multas processuais que lhe sejam impostas”.
Parágrafo único. Não sendo constituído novo procura- B. Prevê o artigo 98, § 3o, CPC: “Vencido o beneficiário, as
dor no prazo de 15 (quinze) dias, observar-se-á o dispos- obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob
to no art. 76. condição suspensiva de exigibilidade e somente pode-
Art. 112. O advogado poderá renunciar ao mandato a rão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

qualquer tempo, provando, na forma prevista neste Có- ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o
digo, que comunicou a renúncia ao mandante, a fim de credor demonstrar que deixou de existir a situação de
que este nomeie sucessor. insuficiência de recursos que justificou a concessão de
§ 1o Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado con- gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais
tinuará a representar o mandante, desde que necessário obrigações do beneficiário”.
para lhe evitar prejuízo C. Dispõe o artigo 99, § 4o, CPC: “A assistência do reque-
§ 2o Dispensa-se a comunicação referida no caput quan- rente por advogado particular não impede a concessão
do a procuração tiver sido outorgada a vários advoga- de gratuidade da justiça”.
dos e a parte continuar representada por outro, apesar D. Prevê o artigo 99, § 6o, CPC: “O direito à gratuidade da
da renúncia. justiça é pessoal, não se estendendo a litisconsorte ou
a sucessor do beneficiário, salvo requerimento e deferi-
mento expressos”.

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juízo postulá-lo em nome próprio, ou extraordinária,
AÇÃO. CONCEITO E NATUREZA. CONDIÇÕES quando a lei autoriza que um terceiro substituto vá
PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO. ELEMENTOS a juízo como parte postular um direito que não lhe
DA AÇÃO. CUMULAÇÃO DA AÇÃO. pertence (art. 6º, CPC). Nota-se que se relaciona ao
elemento da ação chamado partes (quem irá compor
os polos ativos e passivo da ação).
1. Conceito b) Interesse de agir: é formado pelo binômio neces-
sidade e adequação, entendendo-se por necessária
Em sentido genérico, ação é o direito de demandar, ou a ação quando sem ela o sujeito não tiver como ob-
seja, de ingressar em juízo para obter do Judiciário uma ter o bem desejado e por adequada quando o meio
resposta a toda e qualquer prestação a ele dirigida. processual escolhido foi o pertinente nos termos da
Em sentido estrito, a definição de ação muda conforme legislação processual. O interesse de agir relaciona-
a espécie de teoria adotada: para as teorias concretistas, só -se ao elemento causa de pedir da ação, pois nos
tem ação aquele que é titular efetivo do direito postulado fatos o sujeito irá descrever porque precisa da ação
(então, se alguém ingressou com a demanda mas ela foi (necessidade) e nos fundamentos jurídicos apontará
julgada improcedente ao final, nunca houve ação); para as as normas que fundamentam o seu Direito e delimi-
teorias abstratistas puras, criadas na tentativa doutrinária tam a espécie de meio que ele deve utilizar para levar
de que o direito processual fosse considerado uma ciência a pretensão a juízo (adequação).
autônoma, a ação é um direito de exigir resposta do Judi- c) Possibilidade jurídica do pedido: não se admitem
ciário às pretensões a ele dirigidas sem importar se o direi- formulações de pretensões que contrariem o orde-
to material existe ou não (para haver ação basta qualquer namento jurídico (não podem ir contra à lei nem à
resposta do Judiciário, ainda que não aprecie diretamente moral e aos bons costumes). Para entender se o pe-
a matéria levada a juízo); e para a teoria eclética somente dido é juridicamente possível o juiz deve se atentar
haverá ação se for conferida uma resposta de mérito pelo aos demais elementos da ação que não o pedido,
Judiciário (logo, a demanda preenche requisitos iniciais e quais sejam, partes e causa de pedir.
permite ao juízo apreciar diretamente a matéria levada até
ele, dando uma resposta de mérito, seja pela procedência, Obs.: O novo Código de Processo Civil não será ex-
seja pela improcedência). presso no que tange às condições da ação como o atual
Quando uma demanda é proposta há um curso natural. é. Consta no artigo 17, CPC: “para postular em juízo é ne-
Espera-se que ela vá até o final, sendo conferida uma res- cessário ter interesse e legitimidade”. Verifica-se que o
posta de mérito com o consequente trânsito em julgado da novo Código coloca de forma expressa apenas duas das
decisão que o faça. Para tanto, é preciso que ela preencha condições da ação. Deve-se entender, para todos efeitos,
requisitos e contenha determinados elementos correlatos que o interesse engloba tanto o que antes conhecíamos
a estes requisitos. como interesse de agir quanto a possibilidade jurídica do
Assim que recebe a petição inicial, o juiz verifica se ela pedido. É bastante coerente e, na prática, muitas vezes as
está apta, o que envolve detectar a presença dos elemen- condições da ação se confundiam.
tos da ação (partes, causa de pedir, pedido), entre outros
requisitos descritos no CPC. Não estando apta, se possível, 3. Elementos da ação
o juiz determinará sua emenda; estando apta, determinará
a citação do réu. Contudo, ainda depois da citação o juiz A cada uma das condições da ação corresponde um
poderá extinguir a demanda sem resolução do mérito (art. elemento da ação, isto é, um aspecto essencial que está
485, CPC), inclusive podendo tomar como base os argu- presente em toda demanda. Os elementos da ação devem
mentos da contestação do réu, caso em que também de- ser identificados em todo tipo de ação, delimitando a res-
verá ouvir a parte autora. Adotando a teoria eclética majo- posta esperada do juízo ao apreciar o mérito.
ritária, somente haverá ação se a resposta dada à demanda São eles partes, causa de pedir e pedido.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

for de mérito. a) Partes: parte é o sujeito ativo e passivo, ou seja, é


quem pede a tutela e em face de quem ela é postu-
2. Condições da ação lada. Assim, são partes o autor e o réu.
Uma ação pode não ter autor? Somente se o processo
Existem requisitos para que o juiz possa dar uma res- puder ser iniciado de ofício, ou seja, pelo juiz sem a pro-
posta à pretensão formulada na petição inicial, sem os vocação externa. Um exemplo é o inventário, que pode ser
quais não existe ação, daí serem chamados de condições iniciado tanto de ofício quanto por uma parte.
da ação. São elas: Uma ação pode não ter réu? Isso é mais comum. É o que
a) Legitimidade “ad causam”: é a relação de perti- ocorre nos procedimentos de jurisdição voluntária, aqueles
nência subjetiva (adequação dos sujeitos) quanto ao nos quais não há litígio mas a lei determina que devam ser
conflito trazido a juízo e a qualidade para litigar so- levados a juízo mesmo assim, por exemplo, divórcio con-
bre ele, seja como demandante (sujeito ativo), seja sensual (ambos cônjuges são autores ou requerentes). No
como demandado (sujeito passivo). Pode ser ordiná- campo da jurisdição contenciosa isso fica bem difícil, mas
ria, quando pertencente ao titular do direito que vai a um exemplo é a investigação de paternidade cujo pai fa-

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leceu e não deixou herdeiros, pois o espólio é uma massa julgar a demanda, até mesmo porque o juiz presumivel-
patrimonial que não poderia ser acionada numa ação que mente conhece o Direito (jura novit curia). A consequência
não tem natureza patrimonial e sim pessoal. disso é que o juiz poderá decidir favoravelmente ao autor
É possível que mais de uma pessoa figure nos polos utilizando fundamento jurídico diverso, desde que se atenha
da ação? Sim, é o chamado litisconsórcio, pelo qual duas aos fatos. Cada vez que os fatos da causa de pedir são altera-
ou mais pessoas podem figurar como autoras ou rés no dos, modifica-se a ação, razão pela qual o juiz deve se ater aos
processo. fatos para não prolatar sentença extra petita (fora do pedido).
O representante é parte? Não é parte aquele que re- Qual é a causa de pedir próxima e qual a remota? Há
presenta uma pessoa física incapaz ou uma pessoa jurídica divergência na doutrina a respeito de qual parte da causa
(por exemplo, um menor de idade vem representado por de pedir é a remota e qual é a próxima. Nery Júnior está
seu pai ou sua mãe, quem é parte é o menor, não o pai ou entre os que chamam de causa de pedir próxima os fatos
a mãe). e remota os fundamentos jurídicos, Greco Filho e Bueno
Desta afirmação extrai-se que todas as pessoas, físicas e invertem a nomenclatura. Na prática, não é uma distinção
jurídicas, e até alguns entes despersonalizados, têm capa- relevante.
cidade de ser parte, mas nem todas estas possuem capa- É possível que a petição inicial invoque mais de uma
cidade processual, ou seja, capacidade para estar em juízo. causa de pedir? Sim, em três casos: quando invocados fa-
Somente possuem capacidade processual pessoas naturais tos de igual estrutura, que repercutem na esfera jurídica de
maiores e capazes (os incapazes precisarão, conforme o uma pessoa (ex: várias violações de uma mesma cláusula
caso, serem representados ou assistidos). Quanto às pes- contratual pelo réu, buscando sua anulação, isto é, mes-
soas jurídicas, a lei lhes atribui personalidade civil e aptidão mo fato ocorreu várias vezes e atingiu uma esfera jurídica);
para ser titular de direitos e obrigações, sendo sempre re- quando invocados fatos de igual estrutura, que conduzem
presentadas por quem seus estatutos designarem e, se não a efeitos jurídicos que repercutem em diferentes esferas ju-
o fizerem, por seus diretores. Já os entes despersonaliza- rídicas (ex: dois autores vizinhos afirmam que o réu causou
dos que podem ser partes são aqueles que a princípio não danos a seus imóveis, no caso, os mesmos fatos atingiram
deveriam o ser, mas a lei lhes confere a capacidade para duas esferas jurídicas); quando invocados fatos de estrutu-
que postulem ou defendam determinados interesses em ra diferente (ex: não pagamento e uso indevido do imóvel,
juízo, quais sejam: massa falida (universalidade jurídica de buscando-se o despejo).
bens e interesses da empresa cuja falência foi decretada/ É possível modificar a causa de pedir depois da citação?
administrador judicial), espólio (universalidade de bens e Não, a não ser que o réu concorde, mantendo-se as mes-
interesses de quem morreu/inventariante), herança jacen- mas partes, salvo as substituições permitidas por lei (art.
te e vacante (sem herdeiros conhecidos ou testamento/ 329, CPC). Antes da citação é possível modificá-la sem res-
curador), condomínio (edifícios/administrador ou síndico), trições. O mesmo vale para o pedido.
sociedades sem personalidade jurídica (de fato/administra- c) Pedido: provimento jurisdicional postulado e bem da
dor dos bens), pessoa jurídica estrangeira (representante vida que se almeja. Em outras palavras, é aquilo que, em
ou administrador da filial), nascituro (nascimento com vida virtude da causa de pedir, postula-se ao órgão julgador.
é condição suspensiva para o exercício de direitos e deve- Qual é o pedido mediato e qual o imediato? Quando
res/genitores). ingressa com uma ação o autor deve indicar o pedido ime-
O advogado é parte? Não, ele é apenas um represen- diato, correspondente ao provimento jurisdicional que de-
tante da parte porque possui uma capacidade que ela não seja obter (condenatório, declaratório, constitutivo, execu-
possui. Para postular em juízo é preciso possuir capacidade tivo, mandamental), e o pedido mediato, referente ao bem
postulatória e quem a tem, em regra, são os advogados e o da vida almejado. Os artigos 322 a 329 do CPC cuidam da
Ministério Público. Se a parte for advogado, poderá postu- questão do pedido, trazendo os casos em que cabe pedido
lar em nome próprio. Senão, deverá outorgar procuração a genérico, os pedidos implícitos que são aceitos e as possi-
um advogado. Excepcionalmente, atribui-se à parte capa- bilidades de cumulação.
cidade postulatória sem que ela precise de advogado, por Em regra, o pedido deve ser certo e determinado. Certo
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

exemplo, juizado especial cível em ações de até 20 salários é o que identifica seu objeto, individualizando-o perfeita-
mínimos, Justiça do Trabalho e Habeas Corpus. mente; determinado é o pedido líquido, no qual o autor
b) Causa de pedir: fundamentos de fato e de Direito indica a quantidade dos bens que pretende haver.
que embasam o pedido. A causa de pedir justifica o Quando o pedido pode ser ilíquido e genérico? Nos in-
pedido que é dirigido ao órgão jurisdicional. Quem cisos do art. 324, §1º estão algumas exceções que autori-
ingressa em juízo deve expor ao juiz os fatos que zam o pedido ilíquido ou genérico: ações universais, quais
justificam seu pleito e indicar a maneira que o orde- sejam as que têm por objeto uma universalidade de direi-
namento jurídico regula aquela situação. Em suma, to (como herança e patrimônio); quando não for possível
o autor deve apresentar o fato e seu nexo com o determinar em definitivo as consequências do ato ou fato
fundamento jurídico. Afinal, a atividade jurisdicional ilícito, pois no ingresso da ação ainda não se sabe a exten-
consiste em aplicar o Direito a um fato. são do dano sofrido, incluindo neste inciso o dano moral;
O que importa mais para o juiz na causa de pedir? Por quando o valor da condenação depender de ato que deva
mais que a indicação dos fundamentos jurídicos seja ne- ser praticado pelo réu, como as ações de prestação de con-
cessária, o juiz irá se ater principalmente aos fatos quando tas.

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O pedido pode ser implícito? em regra, os pedidos de-
vem ser interpretados restritivamente, não cabendo ao juiz
decidir extra, ultra ou citra petita: além, fora ou menos que EXERCÍCIO COMENTADO
o pedido. Contudo, existem casos de pedidos implícitos,
que o juiz deve conceder mesmo que o autor não peça ex- 1. (DPE-MS - Defensor Público - VUNESP/2014) No to-
pressamente, notadamente juros legais, correção monetá- cante à ação, adotou o Código de Processo Civil brasileiro
ria, custas e despesas processuais e prestações periódicas. a teoria
Como funciona a cumulação de pedidos? É preciso que
os pedidos se relacionem, justificando-se o julgamento a) imanentista.
conjunto na mesma ação. Haverá cumulação subjetiva no b) eclética.
caso da demanda ser proposta contra mais de um réu (li- c) da ação concreta.
tisconsórcio passivo) e cumulação objetiva havendo funda- d) da ação como direito potestativo.
mentos ou pedidos múltiplos. Aqui se fala da cumulação
objetiva de pedidos, que pode ser simples, quando o autor Resposta: “ Letra B”. Para a teoria eclética somente ha-
formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, verá ação se for conferida uma resposta de mérito pelo
mas um pedido não depende do outro; sucessiva, quan- Judiciário (logo, a demanda preenche requisitos iniciais
do o autor formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito e permite ao juízo apreciar diretamente a matéria levada
em todos, mas o resultado do exame de um repercute no até ele, dando uma resposta de mérito, seja pela proce-
do outro; alternativa, quando o autor formula mais de um dência, seja pela improcedência).
pedido mas o acolhimento de um exclui o do outro, não
havendo assim soma de pedidos; eventual ou subsidiária,
idêntica à alternativa, mas havendo uma ordem de prefe-
rência. Para cumular pedidos, eles devem ser compatíveis PROCESSO. CONCEITO E NATUREZA.
entre si, o juízo competente deve ser o mesmo e o proce- ESPÉCIES. PRESSUPOSTOS
dimento escolhido deve ser adequado a todos os pedidos. PROCESSUAIS.
Os elementos funcionam para delinear as relações que
podem existir entre duas demandas: litispendência, con-
tinência, conexão e prejudicialidade. E, principalmente, os Processo é o instrumento da jurisdição, ou seja, é ele
elementos servem para estabelecer os limites subjetivos e que possibilita ao Estado que diga o direito no caso con-
objetivos da coisa julgada. creto. Duas são as noções essenciais que se ligam à de
Como se verá, embora a coisa julgada material se limite processo: uma formal, que é a de procedimento; e uma
ao dispositivo da sentença, trata-se de fenômeno que só material, que é a de relação jurídico-processual.
pode ser dimensionado pelos elementos da ação. Para que o processo aconteça é necessário estabelecer
Se os elementos de uma ação forem os mesmos de uma sequência de atos processuais, logicamente encadea-
outra, tem-se ações idênticas, mas basta que um deles se dos, até que ao final se ofereça a prestação jurisdicional, o
diferencie para que as ações sejam consideradas diferen- que se denomina procedimento. A legislação irá estabele-
tes (art. 337, §2°, CPC). Imaginemos que duas ações pos- cer uma vasta gama de procedimentos, alguns mais exten-
suem os mesmos elementos, sendo assim idênticas: como sos, outros mais resumidos, ou ainda outros com caráter
consequência, será impedido o prosseguimento da que foi especial. Notadamente, o Código de Processo Civil traz o
proposta posteriormente, extinguindo-a sem resolução do procedimento comum e os procedimentos especiais.
mérito (art. 485, V). Os fenômenos associados a ações idên- Além disso, o processo somente existe sob uma estru-
ticas são a litispendência e a coisa julgada: assemelham-se tura formada na qual as partes se ligam a uma autoridade
porque em ambas reproduz-se uma ação que foi anterior- com o poder jurisdicional. Esta relação entre autor, réu e
mente ajuizada, diferenciam-se pelo fato da ação repetida juiz, numa tríade, se denomina relação jurídico-proces-
já estar extinta ou não (haverá litispendência se a ação re- sual. Neste tipo de relação se sobrelevam poderes, deve-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

petida estiver em curso e coisa julgada se a ação repetida res, faculdades e ônus.
já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso) (art.
337, §§1° e 3°, CPC). 1. Pressupostos processuais

Existem requisitos indispensáveis para a regularidade


#FicaDica do processo, que devem ser obedecidos para que o juiz
possa examinar o mérito, ou seja, a pretensão jurisdicional
Em que pesem as alterações do novo CPC propriamente dita.
quanto às condições da ação, hoje resumidas Já se viu, quando do estudo da ação, que é necessário o
em interesse e legitimidade, predomina o preenchimento do que se denominam condições da ação,
entendimento de que ainda se adota a teoria que devem ser verificadas para saber se o autor tem direito
eclética da ação. a uma resposta de mérito. Por sua vez, também é preci-
so verificar se o caminho percorrido para se chegar a esta
resposta de mérito preencheu os requisitos indispensáveis

21
– estes são os pressupostos processuais. A ausência das são: herança jacente (herança de quem falece sem deixar
condições da ação ou dos pressupostos processuais gera a herdeiros conhecidos ou testamento, cujos bens serão ar-
consequência da extinção sem resolução do mérito. Ambos recadados e, infrutífera a tentativa de encontrar herdeiros
são matérias consideradas “de ofício”, posto que podem por edital, declarados vacantes), herança vacante (herança
ser reconhecidas pelo juiz a qualquer tempo no processo jacente assim declarada quando do não comparecimento
independente de alegação das partes. de herdeiros, implicando na transferência após 5 anos dos
Alguns pressupostos processuais são tão importantes bens ao Município), massa falida (universalidade jurídica
que afetam a própria existência do processo (pressupostos de bens e interesses deixados por empresa que teve a fa-
de existência), ao passo que outros afetam a sua validade lência decretada), espólio (universalidade jurídica de bens
(pressupostos de validade). Vale ressaltar que, na medida e interesses, incluindo débitos, deixados por aquele que
do possível, deve-se permitir a correção destes vícios com morreu), condomínio (em edifícios, representando os inte-
o aproveitamento dos atos processuais. Em outras pala- resses comuns e defendendo as partes comuns do prédio),
vras, em processo civil, as nulidades só serão reconhecidas sociedades sem personalidade jurídica (sociedades não
se evidenciarem prejuízo às partes e, se puderem ser sana- constituídas de acordo com as exigências legais), pessoa
das, o serão sem a extinção do processo. jurídica estrangeira (sociedade não registrada de maneira
regular no Brasil) e nascituros (apesar da personalidade
2. Pressupostos processuais de existência civil começar com o nascimento com vida, o nascituro tem
legítima expectativa de direitos condicionada a este nasci-
- Jurisdição: somente existem os atos processuais pra- mento com vida).
ticados por aqueles que estiverem investidos na função ju- - Capacidade processual: Também é chamada de ca-
risdicional. Ex.: pessoa diz que é juiz e julga o feito, mas não pacidade para estar em juízo. Somente possuem capacida-
é, nunca tomou posse, nunca foi aprovada no concurso. de processual as pessoas naturais (físicas) maiores e capa-
- Demanda: a jurisdição é inerte, ou seja, o juiz deverá zes. Os que não preenchem estas condições, notadamente
ser provocado pelo autor da ação. Se o autor não deman- incapazes e outras partes mencionadas anteriormente, ne-
dar, não há processo. cessitarão ter sua capacidade integrada mediante repre-
- Citação: enquanto não é citado, para o réu o processo sentação ou assistência.
é inexistente. Afinal, a relação jurídico-processual é forma- - Capacidade postulatória: O ato processual pratica-
da por autor, juiz e réu. A citação é o ato processual que do por quem não tenha capacidade postulatória deve ser
chama o réu ao processo, conferindo-lhe oportunidade de sanado em tempo hábil, sob pena de não produzir efeitos
exercer seu direito de exceção. A citação pode ser real – por no processo, nos termos do art. 104, §2º: “o ato não rati-
oficial de justiça ou por carta, pessoalmente – ou ficta – por ficado será considerado ineficaz relativamente àquele em
hora certa, quando na terceira tentativa de encontrar o réu cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas
ele permanecer desaparecido e ficar evidente o intuito de despesas e por perdas e danos”.
esquivar-se o oficial pode avisar um familiar e conhecido
que irá comparecer em data e hora certas e se mesmo as- 4. Pressupostos processuais negativos
sim o réu não estiver no local será a carta de citação entre-
gue a este familiar ou conhecido, ou por edital, quando o - Perempção: é a perda do Direito de Ação, Ou seja,
réu estiver em local incerto e não sabido mediante publica- de demandar acerca do mesmo objeto da ação, quando
ção em diário oficial e jornal de grande circulação. o autor abandona o processo por três vezes. É a sanção
processual ocasionada pelo descaso do requerente, na
3. Pressupostos processuais de validade condução da ação privada. Ao propor pela quarta vez a
ação, o processo será extinto sem resolução do mérito por
- Petição inicial apta: Sem a demanda, o processo não perempção.
existe. Contudo, para se demandar é preciso preencher re- - Litispendência e coisa julgada: Os fenômenos asso-
quisitos que confiram validade ao ato. Como a demanda ciados a ações idênticas são a litispendência e a coisa jul-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

ocorre pela petição inicial, então esta deve preencher os gada que assemelham-se porque em ambas reproduz-se
requisitos determinados. uma ação que foi anteriormente ajuizada, diferenciam-se
- Competência e imparcialidade: competência é o es- pelo fato da ação repetida já estar extinta ou não (haverá
tabelecimento das parcelas de jurisdição, definindo-se o litispendência se a ação repetida estiver em curso e coisa
foro e o juízo competentes para o julgamento da causa. A julgada se a ação repetida já foi decidida por sentença, de
propositura da ação no juízo correto – principalmente – e que não caiba recurso, sendo que uma ação é idêntica a
no foro correto – nem tanto, por ser relativa a competência outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de
– são pressupostos processuais de validade do processo. pedir e o mesmo pedido).
- Capacidade para ser parte: A princípio, toda pessoa Quando se afirma que os elementos da ação delimitam
física ou jurídica, além de alguns entes despersonalizados, os limites subjetivos e objetivos da coisa julgada deve-se
possuem capacidade para ser parte. Neste sentido, basta entender que é com base nestes elementos que identifi-
que a lei permita ao sujeito que seja titular de direitos e ca-se uma ação quanto aos sujeitos envolvidos e ao obje-
obrigações para que ele possa ser parte. Neste sentido, to demandado e uma vez julgada em definitivo esta ação
alguns entes despersonalizados que podem ser partes formar-se-á coisa julgada, não se aceitando que no futuro

22
se proponha uma ação idêntica para alterar o dispositivo ainda que em caráter provisório, antes do momento em
da decisão de mérito (limites objetivos) ou para excluir os que normalmente o faria (sentença). Então, na tutela ante-
efeitos da decisão em relação a uma das partes (limites cipada o juiz adianta a resposta de mérito que, caso con-
subjetivos). trário, apenas viria na sentença. Diferentemente, na medida
Basicamente, coisa julgada é o fenômeno que impede cautelar são tomadas providências que visam afastar um
a propositura de uma ação que já foi anteriormente julga- risco existente para garantir a eficácia do provimento juris-
da em seu mérito, transitando em julgado a decisão, diga- dicional. Logo, não há adiantamento do pedido.
-se, não cabendo mais recurso da decisão. Esgotados os Tanto o pedido cautelar quando o pedido de tutela an-
recursos, a sentença transita em julgado, e não pode mais tecipada podem ser feitos em processo autônomo, antes
ser modificada. Até então, a decisão não terá se tornado do processo de conhecimento principal (caráter antecipa-
definitiva, podendo ser substituída por outra. Sem a coisa do), ou dentro do processo principal (caráter incidental).
julgada, não haveria segurança jurídica nas decisões. Neste sentido, merece menção a regra prevista no artigo
A coisa julgada é um fenômeno único ao qual corres- 299 que vale tanto para a solicitação incidental quanto para
pondem dois aspectos: um meramente processual ou for- a antecedente: “a tutela provisória será requerida ao juízo
mal, que ocorre no processo em que a sentença é proferida, da causa e, quando antecedente, ao juízo competente para
independentemente dela ser de mérito ou não, apenas im- conhecer do pedido principal. Parágrafo único. Ressalvada
pedindo outro recurso daquela sentença naquele processo disposição especial, na ação de competência originária de
(endoprocessual); outro que se projeta para fora do pro- tribunal e nos recursos a tutela provisória será requerida
cesso e torna definitivos os efeitos da decisão, chamado de ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito”.
coisa julgada material, impedindo que a mesma pretensão No mais, a competência jurisdicional para a formulação do
seja rediscutida posteriormente em outro processo, que pedido de tutela provisória observa as regras comuns.
ocorre apenas nas sentenças de mérito (extraprocessual) ATENÇÃO: Embora o novo Código de Processo Civil te-
(se a sentença irrecorrível não for de mérito, a pretensão nha extinguido o livro exclusivamente dedicado ao proces-
pode ser objeto de outra demanda). Assim, num processo so cautelar, não se pode dizer que este tipo de processo
sempre haverá coisa julgada formal, mas nem sempre coisa deixou de existir, notadamente porque ainda é possível a
julgada material. formulação de pedido cautelar em processo autônomo.
Devido à sua eficácia preclusiva, a coisa julgada material Quando da sua elaboração, o Código de Processo Ci-
impede não só a repropositura da mesma ação, mas a dis- vil de 1973 era bastante rigoroso quanto a estes proces-
cussão, em qualquer outro processo com mesmas partes, sos, impedindo que mais de uma modalidade se fizesse
das questões decididas (art. 507, CPC). presente nos mesmos autos processuais. Por exemplo,
às vezes, para solucionar um litígio, era preciso um proces-
5. Tipos de processo civil so cautelar, um processo de conhecimento e um proces-
so de execução – três processos diferentes para resolver
Quando se trabalha com a noção de tipos de processo um só problema. Evidentemente, acabava-se criando um
busca-se esclarecer que um processo pode ter naturezas obstáculo ao acesso à justiça. Aos poucos o sistema pro-
diversas conforme o fim ao qual se preste. Notadamente, cessual foi se adaptando. Primeiramente, pela aceitação de
são tipos de processo: conhecimento, execução e de ur- que tanto a cautelar quanto a tutela antecipada poderiam
gência. ser admitidas no curso do processo de conhecimento ou
O processo de conhecimento é aquele em que se bus- requeridas na petição inicial deste, conforme surgisse a
ca a satisfação de uma pretensão. Ou seja, nele que a parte urgência/emergência. Depois, pela Lei nº 11.232/2005, o
apresenta uma expectativa de Direito e postula à autorida- processo de execução deixou de ser autônomo em regra,
de jurisdicional que a reconheça. A pretensão poderá ter podendo a pessoa ao final do processo executar a senten-
cunhos variados, o que implica em naturezas diversas de ça nos próprios autos (cumprimento de sentença). Os pro-
tutela jurisdicional (declaratória, constitutiva/desconstituti- cessos, antes autônomos, foram transformados em fases:
va, condenatória, mandamental e executiva lato sensu). fase cautelar, fase de conhecimento, fase de execução. Este
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

O processo de execução é o que se presta à satisfação novo modo de estrutura do processo denomina-se pro-
do credor. Em outras palavras, a pessoa que ingressa com cesso sincrético. O novo CPC adotou a mesma sistemáti-
o processo de execução já possui um título executivo, que ca de processo sincrético e inclusive a intensificou quando
pode ser judicial ou extrajudicial, mas o devedor se recusa passou a disciplinar no mesmo livro os processos/as fases
a cumprir com a obrigação ali reconhecida. Então, não é de conhecimento e de urgência (cautelar/antecipada).
preciso declarar um direito ou obter uma condenação – a
obrigação existe e já está consubstanciada no título – mas
sim é necessário tomar providências concretas para que o
devedor cumpra com a obrigação.
O processo cautelar ou de antecipação de tutela
(processo de urgência), por seu turno, pode trazer um
pedido cautelar ou um pedido de antecipação de tutela.
A diferença é que na tutela antecipada de mérito o juiz
concede (total ou parcialmente) o provimento jurisdicional,

23
ponto a hierarquia decorrente da unidade e da indi-
#FicaDica visibilidade limita a independência funcional, afinal,
os próprios conceitos de unidade e de indivisibilida-
Pressupostos processuais – existência, validade de não são absolutos. Na prática, a unidade e a indi-
e negativos. visibilidade são opostas à independência funcional.
Tipos de processo – conhecimento, execução,
de urgência (cautelar ou antecipação de
É conferida a garantia da inamovibilidade aos membros
tutela) – a divisão estanque perde o sentido
da Defensoria Pública, ao mesmo tempo em que é vedado
pela consolidação do conceito de processo
o exercício da advocacia fora das atribuições do cargo. Com
sincrético.
efeito, o Defensor Público é um advogado, mas que deve se
limitar ao exercício das atribuições institucionais a ele confe-
ridas, submetendo-se a um regime de dedicação exclusiva.
A Emenda Constitucional nº 80/2014 alterou substan-
cialmente a disciplina da Defensoria Pública na Constitui-
DA DEFENSORIA PÚBLICA NO PROCESSO ção Federal de 1988, mudando a redação do caput dos ar-
CIVIL E NO PROCESSO PENAL. tigos 134 e 135, bem como incluindo ao primeiro os seus
parágrafos. Neste sentido, passou-se a uma disciplina mais
completa desta instituição que desempenha papel funda-
mental no cenário jurídico nacional.
A Defensoria Pública, colocada no texto constitucional Por seu turno, a Lei Complementar nº 80, de 12 de ja-
como instituição permanente e essencial à função jurisdi- neiro de 1994, organiza a Defensoria Pública da União, do
cional do Estado, tem sua função institucional descrita no Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais
caput do artigo 134 da Constituição Federal: orientação ju- para sua organização nos Estados, e dá outras providên-
rídica, promoção dos direitos humanos e defesa dos inte- cias. Sendo assim, confere-se liberdade para a devida re-
resses individuais dos mais necessitados e coletivos como gulamentação no âmbito dos Estados-membros, pois cada
um todo. qual irá instituir a sua Defensoria Pública, guardada uma
São princípios institucionais da Defensoria Pública a relação de compatibilidade com a normativa mínima pre-
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, os vista na Lei Complementar nº 80/1994. Neste sentido, o
mesmos que regem o Ministério Público. texto constitucional assegura a autonomia funcional e ad-
Explica Mazzilli2: ministrativa, além da iniciativa orçamentária, a cada uma
a) Unidade – Se tem chefia, uma pessoa que está na das Defensorias Públicas instituídas.
cabeça da estrutura institucional, tem-se unidade.
Sendo assim, unidade institucional relaciona-se ao Artigo 134, CF. A Defensoria Pública é instituição per-
princípio hierárquico. Se existe hierarquia, existe o manente, essencial à função jurisdicional do Estado, in-
poder de avocar, delegar e designar (no Brasil, es- cumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
tes poderes são limitados). Contudo, evidente que a democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a
hierarquia não tem força absoluta por conta da inde- promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os
pendência funcional e por conta do próprio modelo graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e co-
de federação adotado pelo Brasil – trata-se de hie- letivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na
rarquia exclusivamente administrativa, na atividade- forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.
-meio. § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da
b) Indivisibilidade – a rigor, significaria dizer que a União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá
Defensoria Pública seria uma única instituição e os normas gerais para sua organização nos Estados, em car-
seus membros poderiam se substituir por possuírem gos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concur-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

as mesmas competências. Este conceito da doutrina so público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes
francesa não pode ser transportado para o contexto a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da ad-
jurídico-constitucional brasileiro. Afinal, existem vá- vocacia fora das atribuições institucionais.
rias Defensorias e o membro de um não pode exer- § 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas
cer a atribuição do membro de outro – uma Defen- autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de
soria não pode se imiscuir na competência da outra. sua proposta orçamentária dentro dos limites estabele-
c) Independência funcional – É a liberdade de escri- cidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação
ta e fala na tomada dos atos institucionais. A inde- ao disposto no art. 99, § 2º.
pendência funcional é uma prerrogativa conferida § 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas
aos membros da Defensoria que deve coexistir com da União e do Distrito Federal.
a unidade e a indivisibilidade. Questiona-se até que § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a
2 MAZZILLI, Hugo Nigro. Aulas em teleconferência ministradas na
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional,
Escola Superior do Ministério Público. Disponível: <https://www. aplicando-se também, no que couber, o disposto no art.
youtube.com/>. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal.

24
Artigo 135, CF. Os servidores integrantes das carreiras Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tra-
disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão re- mitam em segredo de justiça os processos:
munerados na forma do art. 39, § 4º. I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos,
Na esfera civil, a Defensoria Pública age tanto na pro- divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e
moção da tutela individual quanto na da coletiva. No as- guarda de crianças e adolescentes;
pecto coletivo, divide atribuições com o Ministério Público III - em que constem dados protegidos pelo direito cons-
e tem legitimidade para promover a ação civil pública em titucional à intimidade;
defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homo- IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cum-
gêneos. No aspecto individual, atua como advogada da primento de carta arbitral, desde que a confidencialida-
parte que não tenha condições financeiras (hipossuficien- de estipulada na arbitragem seja comprovada perante
te) ou como curador especial. o juízo.
Na esfera penal, a Defensoria Pública atua como advo- § 1º O direito de consultar os autos de processo que tra-
gada em defesa de pessoas que sofram a persecução penal mite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus
e não tenham condições de arcar com um advogado, ou atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
então suprindo a defesa necessária nos casos em que o réu § 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode
não apresentar defesa. Também pode ser representante de requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença,
pessoas hipossuficientes para apresentação de queixas-cri- bem como de inventário e de partilha resultantes de di-
mes (exercício da ação penal privada). vórcio ou separação.

#FicaDica Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admi-


tam autocomposição, é lícito às partes plenamente ca-
Defensoria Pública – possui as mesmas pazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-
garantias constitucionais do Ministério Público, -lo às especificidades da causa e convencionar sobre os
sendo, como ele, função essencial à justiça. seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais,
Atua na defesa de direitos difusos, coletivos e antes ou durante o processo.
individuais homogêneos, bem como em favor Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz
de pessoas hipossuficientes, na apresentação controlará a validade das convenções previstas neste
de demandas e na defesa destas, tanto na artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
esfera civil quanto na penal. nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão
ou em que alguma parte se encontre em manifesta situ-
ação de vulnerabilidade.

ATOS PROCESSUAIS. FORMA, TEMPO Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem
E LUGAR. DOS PRONUNCIAMENTOS fixar calendário para a prática dos atos processuais,
DO ÓRGÃO JURISDICIONAL. PRAZOS quando for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos
PROCESSUAIS. PRECLUSÕES.
nele previstos somente serão modificados em casos ex-
COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS.
cepcionais, devidamente justificados.
ATOS PROCESSUAIS ELETRÔNICOS. § 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática
DA CITAÇÃO E DAS INTIMAÇÕES. de ato processual ou a realização de audiência cujas da-
MODALIDADES E EFEITOS. tas tiverem sido designadas no calendário.

Art. 192. Em todos os atos e termos do processo é obri-


LIVRO IV gatório o uso da língua portuguesa.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

DOS ATOS PROCESSUAIS Parágrafo único. O documento redigido em língua es-


TÍTULO I trangeira somente poderá ser juntado aos autos quando
DA FORMA, DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS acompanhado de versão para a língua portuguesa tra-
PROCESSUAIS mitada por via diplomática ou pela autoridade central,
CAPÍTULO I ou firmada por tradutor juramentado.
DA FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS
SEÇÃO I SEÇÃO II
DOS ATOS EM GERAL DA PRÁTICA ELETRÔNICA DE ATOS PROCESSUAIS

Art. 188. Os atos e os termos processuais independem Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcial-
de forma determinada, salvo quando a lei expressamen- mente digitais, de forma a permitir que sejam produzi-
te a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de dos, comunicados, armazenados e validados por meio
outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. eletrônico, na forma da lei.

25
Parágrafo único. O disposto nesta Seção aplica-se, no Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efei-
que for cabível, à prática de atos notariais e de registro. tos após homologação judicial.

Art. 194. Os sistemas de automação processual respei- Art. 201. As partes poderão exigir recibo de petições,
tarão a publicidade dos atos, o acesso e a participação arrazoados, papéis e documentos que entregarem em
das partes e de seus procuradores, inclusive nas audiên- cartório.
cias e sessões de julgamento, observadas as garantias da
disponibilidade, independência da plataforma computa- Art. 202. É vedado lançar nos autos cotas marginais ou
cional, acessibilidade e interoperabilidade dos sistemas, interlineares, as quais o juiz mandará riscar, impondo
serviços, dados e informações que o Poder Judiciário ad- a quem as escrever multa correspondente à metade do
ministre no exercício de suas funções. salário-mínimo.

Art. 195. O registro de ato processual eletrônico deverá SEÇÃO IV


ser feito em padrões abertos, que atenderão aos requi- DOS PRONUNCIAMENTOS DO JUIZ
sitos de autenticidade, integridade, temporalidade, não
repúdio, conservação e, nos casos que tramitem em se- Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em
gredo de justiça, confidencialidade, observada a infraes- sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
trutura de chaves públicas unificada nacionalmente, nos § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos proce-
termos da lei. dimentos especiais, sentença é o pronunciamento por
meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e
Art. 196. Compete ao Conselho Nacional de Justiça e, 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
supletivamente, aos tribunais, regulamentar a prática e a bem como extingue a execução.
comunicação oficial de atos processuais por meio eletrôni- § 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judi-
co e velar pela compatibilidade dos sistemas, disciplinando cial de natureza decisória que não se enquadre no § 1º.
a incorporação progressiva de novos avanços tecnológicos § 3º São despachos todos os demais pronunciamentos
e editando, para esse fim, os atos que forem necessários, do juiz praticados no processo, de ofício ou a requeri-
respeitadas as normas fundamentais deste Código. mento da parte.
§ 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e
Art. 197. Os tribunais divulgarão as informações cons- a vista obrigatória, independem de despacho, devendo
tantes de seu sistema de automação em página própria ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz
na rede mundial de computadores, gozando a divulga- quando necessário.
ção de presunção de veracidade e confiabilidade.
Parágrafo único. Nos casos de problema técnico do sis- Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido
tema e de erro ou omissão do auxiliar da justiça respon- pelos tribunais.
sável pelo registro dos andamentos, poderá ser confi-
gurada a justa causa prevista no art. 223, caput e § 1o. Art. 205. Os despachos, as decisões, as sentenças e os
acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos ju-
Art. 198. As unidades do Poder Judiciário deverão man- ízes.
ter gratuitamente, à disposição dos interessados, equi- § 1º Quando os pronunciamentos previstos no caput fo-
pamentos necessários à prática de atos processuais e à rem proferidos oralmente, o servidor os documentará,
consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele submetendo-os aos juízes para revisão e assinatura.
constantes. § 2º A assinatura dos juízes, em todos os graus de juris-
Parágrafo único. Será admitida a prática de atos por dição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei.
meio não eletrônico no local onde não estiverem dispo- § 3º Os despachos, as decisões interlocutórias, o disposi-
nibilizados os equipamentos previstos no caput. tivo das sentenças e a ementa dos acórdãos serão publi-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

cados no Diário de Justiça Eletrônico.


Art. 199. As unidades do Poder Judiciário assegurarão
às pessoas com deficiência acessibilidade aos seus sítios SEÇÃO V
na rede mundial de computadores, ao meio eletrônico DOS ATOS DO ESCRIVÃO OU DO CHEFE DE SECRE-
de prática de atos judiciais, à comunicação eletrônica TARIA
dos atos processuais e à assinatura eletrônica.
Art. 206. Ao receber a petição inicial de processo, o es-
SEÇÃO III crivão ou o chefe de secretaria a autuará, mencionando
DOS ATOS DAS PARTES o juízo, a natureza do processo, o número de seu re-
gistro, os nomes das partes e a data de seu início, e
Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações procederá do mesmo modo em relação aos volumes em
unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediata- formação.
mente a constituição, modificação ou extinção de direi-
tos processuais.

26
Art. 207. O escrivão ou o chefe de secretaria numerará Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode
e rubricará todas as folhas dos autos. ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro)
Parágrafo único. À parte, ao procurador, ao membro do horas do último dia do prazo.
Ministério Público, ao defensor público e aos auxiliares Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o
da justiça é facultado rubricar as folhas correspondentes qual o ato deve ser praticado será considerado para fins
aos atos em que intervierem. de atendimento do prazo.

Art. 208. Os termos de juntada, vista, conclusão e ou- Art. 214. Durante as férias forenses e nos feriados, não
tros semelhantes constarão de notas datadas e rubrica- se praticarão atos processuais, excetuando-se:
das pelo escrivão ou pelo chefe de secretaria. I - os atos previstos no art. 212, § 2o;
II - a tutela de urgência.
Art. 209. Os atos e os termos do processo serão assi-
nados pelas pessoas que neles intervierem, todavia, Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde
quando essas não puderem ou não quiserem firmá-los, o as houver, e não se suspendem pela superveniência de-
escrivão ou o chefe de secretaria certificará a ocorrência. las:
§ 1º Quando se tratar de processo total ou parcial- I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os neces-
mente documentado em autos eletrônicos, os atos sários à conservação de direitos, quando puderem ser
processuais praticados na presença do juiz poderão prejudicados pelo adiamento;
ser produzidos e armazenados de modo integralmente II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou
digital em arquivo eletrônico inviolável, na forma da lei, remoção de tutor e curador;
mediante registro em termo, que será assinado digital- III - os processos que a lei determinar.
mente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria,
bem como pelos advogados das partes. Art. 216. Além dos declarados em lei, são feriados, para
§ 2º Na hipótese do § 1º, eventuais contradições na efeito forense, os sábados, os domingos e os dias em que
transcrição deverão ser suscitadas oralmente no mo- não haja expediente forense.
mento de realização do ato, sob pena de preclusão,
devendo o juiz decidir de plano e ordenar o registro, SEÇÃO II
no termo, da alegação e da decisão. DO LUGAR

Art. 210. É lícito o uso da taquigrafia, da estenoti- Art. 217. Os atos processuais realizar-se-ão ordinaria-
pia ou de outro método idôneo em qualquer juízo ou mente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro
tribunal. lugar em razão de deferência, de interesse da justiça, da na-
tureza do ato ou de obstáculo arguido pelo interessado e
Art. 211. Não se admitem nos atos e termos processu- acolhido pelo juiz.
ais espaços em branco, salvo os que forem inutilizados,
assim como entrelinhas, emendas ou rasuras, exceto 1. Conceito
quando expressamente ressalvadas.
Atos são condutas humanas que geram repercussão
CAPÍTULO II no Direito. Os atos processuais são os atos que possuem
DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS ligação com um processo e repercutem nele. Na verdade,
SEÇÃO I por definição, o processo é um conjunto de atos que se
DO TEMPO sucedem no tempo e que têm por objetivo a obtenção da
tutela jurisdicional.
Art. 212. Os atos processuais serão realizados em dias
úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. 2. Classificação quanto ao sujeito processual
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

§ 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos


iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a dili- a) Atos da parte
gência ou causar grave dano. - Declarações unilaterais de vontade – postulações em
§ 2º Independentemente de autorização judicial, as ci- geral e manifestações de vontade. Ex: petição inicial
tações, intimações e penhoras poderão realizar-se no e impugnação à contestação para o autor; contes-
período de férias forenses, onde as houver, e nos feriados tação, exceções, impugnações e ações declaratórias
ou dias úteis fora do horário estabelecido neste artigo, incidentais pelo réu.
observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constitui- - Declarações bilaterais de vontade – transações, acordos.
ção Federal. b) Atos do juiz
§ 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de No âmbito dos atos do juiz estão diversos provimentos
petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser proto- ou pronunciamentos, notadamente:
colada no horário de funcionamento do fórum ou tribu- - Despacho ou despachos de mero expediente – são os
nal, conforme o disposto na lei de organização judiciária atos desprovidos de conteúdo decisório, dos quais
local. não cabe recurso algum.

27
- Decisões interlocutórias – quando o juiz, no curso do Os atos meramente irregulares derivam da não obser-
processo, resolve uma questão incidente, profere de- vância de formalidades que não são tão relevantes, não ge-
cisão durante o trâmite processual. rando nenhuma consequência no processo. Ex.: usou tinta
- Sentenças – art. 162, §1º – é o ato do juiz que implica clara e não escura na prática do ato.
numa das situações, isto é, que contém uma das ma- Nulidades processuais são as que decorrem da não
térias, previstas nos artigos 267 ou 269, desde que observância de requisitos de validade. A nulidade sana-se
coloque fim ao processo todo ou à fase de cognição. com o decurso do tempo. No processo civil, não existem
- Acórdãos – decisões tomadas por um órgão colegia- nulidades de pleno direito. Sendo assim, a nulidade deve
do. ser declarada. Reconhecida, faz com que sejam refeitos os
- Decisões monocráticas – as proferidas por um dos atos processuais prejudicados pela nulidade. As nulidades
integrantes do colegiado, por exemplo, relator do podem ser absolutas, quando atingirem interesse de or-
acórdão. Cabe recurso, o agravo interno (mesmo os dem pública (podendo ser reconhecidas de ofício e alega-
embargos de declaração, se interpostos, poderão ser das por qualquer das partes e pelo Ministério Público), e
recebidos como agravo interno), no prazo de 5 dias. relativas, quando somente atingirem os interesses das par-
c) Atos dos servidores tes (somente a parte interessada poderá alegar). Indepen-
Os auxiliares da justiça também praticam atos proces- dente do tipo de nulidade, o sistema processual adota o
suais. critério da instrumentalidade das formas e da preservação
Ex.: Oficial de justiça praticando o ato de penhora, cita- dos atos processuais – sendo assim, não há nulidade sem
ção ou intimação. prejuízo. Se buscará a regularização das nulidades repetin-
do apenas os atos visivelmente prejudicados por ela.
3. Formas e requisitos Atos inexistentes são aqueles sem os quais o processo
nem ao menos existe. Por exemplo, se a citação não respei-
A lei buscou conciliar o princípio da liberdade de forma tar os requisitos e o réu não comparecer ao processo, para
com o da legalidade. ele este é inexistente. Ele poderá entrar com ação declara-
Em regra, os atos processuais não dependem de forma tória de inexistência.
determinada. Contudo, há casos em que a lei impõe deter-
PRAZOS
minada forma para o ato processual, cominando a pena de
nulidade para o seu desrespeito. Por seu turno, a nulidade
CAPÍTULO III
só será declarada se o ato não preencher a sua finalidade.
DOS PRAZOS
São requisitos gerais:
SEÇÃO I
- redação no vernáculo, exigindo-se tradução juramen-
DISPOSIÇÕES GERAIS
tada se não estiverem em português;
- atos orais também praticados em português, poden- Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos pra-
do se fazer presente intérprete; zos prescritos em lei.
- atos datilografados ou escritos (salvo a possibilidade § 1o Quando a lei for omissa, o juiz determinará os pra-
de gravação fonográfica nos juizados especiais); zos em consideração à complexidade do ato.
- veda-se o uso de abreviaturas e de espaços em branco; § 2o Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as
- necessária a conferência de publicidade em regra (sal- intimações somente obrigarão a comparecimento após
vo segredo de justiça – interesse público e ações de famí- decorridas 48 (quarenta e oito) horas.
lia); praticados na sede do juízo; § 3o Inexistindo preceito legal ou prazo determinado
- praticados no prazo determinado; pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de
- realizados em dias úteis (sábado – predomina que ato processual a cargo da parte.
é possível praticar atos externos com autorização do juiz § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes
como penhora e citação, mas a contagem de prazos não do termo inicial do prazo.
pode começar nem terminar nele porque não existe expe-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

diente forense), no curso do dia (das 6 às 20 horas, sendo Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabeleci-
que o protocolo pode fechar antes conforme previsão da do por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias
lei de organização judiciária do órgão); nas férias forenses, úteis.
que somente existem em órgãos da 1ª instância, atos ur- Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se so-
gentes e excepcionais podem ser praticados. mente aos prazos processuais.

4. Invalidade do ato processual Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos
dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de ja-
Quando a lei estabelece forma, a sua inobservância neiro, inclusive.
pode acarretar ineficácia do ato processual. O mesmo § 1o Ressalvadas as férias individuais e os feriados ins-
ocorre se houver desrespeito a requisitos quanto ao seu tituídos por lei, os juízes, os membros do Ministério Pú-
modo, tempo e lugar. Tais imperfeições podem ser redu- blico, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os
zidas a três categorias: meras irregularidades, nulidades e auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante
inexistência. o período previsto no caput.

28
§ 2o Durante a suspensão do prazo, não se realizarão Art. 228. Incumbirá ao serventuário remeter os autos
audiências nem sessões de julgamento. conclusos no prazo de 1 (um) dia e executar os atos pro-
cessuais no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data em
Art. 221. Suspende-se o curso do prazo por obstáculo que:
criado em detrimento da parte ou ocorrendo qualquer I - houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi
das hipóteses do art. 313, devendo o prazo ser restituído imposto pela lei;
por tempo igual ao que faltava para sua complemen- II - tiver ciência da ordem, quando determinada pelo
tação. juiz.
Parágrafo único. Suspendem-se os prazos durante a § 1o Ao receber os autos, o serventuário certificará o dia
execução de programa instituído pelo Poder Judiciá- e a hora em que teve ciência da ordem referida no inciso
rio para promover a autocomposição, incumbindo aos II.
tribunais especificar, com antecedência, a duração dos § 2o Nos processos em autos eletrônicos, a juntada de
trabalhos. petições ou de manifestações em geral ocorrerá de for-
ma automática, independentemente de ato de serventu-
Art. 222. Na comarca, seção ou subseção judiciária ário da justiça.
onde for difícil o transporte, o juiz poderá prorrogar os
prazos por até 2 (dois) meses. Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procu-
§ 1o Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem radores, de escritórios de advocacia distintos, terão pra-
anuência das partes. zos contados em dobro para todas as suas manifesta-
§ 2o Havendo calamidade pública, o limite previsto no ções, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente
caput para prorrogação de prazos poderá ser excedido. de requerimento.
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo
Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de apenas 2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um
praticar ou de emendar o ato processual, independen- deles.
temente de declaração judicial, ficando assegurado, po- § 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em
rém, à parte provar que não o realizou por justa causa. autos eletrônicos.
§ 1o Considera-se justa causa o evento alheio à vontade
da parte e que a impediu de praticar o ato por si ou por Art. 230. O prazo para a parte, o procurador, a Advoca-
mandatário. cia Pública, a Defensoria Pública e o Ministério Público
§ 2o Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a será contado da citação, da intimação ou da notificação.
prática do ato no prazo que lhe assinar.
Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, conside-
Art. 224. Salvo disposição em contrário, os prazos serão ra-se dia do começo do prazo:
contados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento,
vencimento. quando a citação ou a intimação for pelo correio;
§ 1o Os dias do começo e do vencimento do prazo serão II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido,
protraídos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidi- quando a citação ou a intimação for por oficial de jus-
rem com dia em que o expediente forense for encerrado tiça;
antes ou iniciado depois da hora normal ou houver in- III - a data de ocorrência da citação ou da intimação,
disponibilidade da comunicação eletrônica. quando ela se der por ato do escrivão ou do chefe de
§ 2o Considera-se como data de publicação o primeiro secretaria;
dia útil seguinte ao da disponibilização da informação IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo
no Diário da Justiça eletrônico. juiz, quando a citação ou a intimação for por edital;
§ 3o A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da
que seguir ao da publicação. intimação ou ao término do prazo para que a consulta
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

se dê, quando a citação ou a intimação for eletrônica;


Art. 225. A parte poderá renunciar ao prazo estabele- VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art.
cido exclusivamente em seu favor, desde que o faça de 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta
maneira expressa. aos autos de origem devidamente cumprida, quando a
citação ou a intimação se realizar em cumprimento de
Art. 226. O juiz proferirá: carta;
I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; VII - a data de publicação, quando a intimação se der
II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias; pelo Diário da Justiça impresso ou eletrônico;
III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por
meio da retirada dos autos, em carga, do cartório ou da
Art. 227. Em qualquer grau de jurisdição, havendo mo- secretaria.
tivo justificado, pode o juiz exceder, por igual tempo, os § 1o Quando houver mais de um réu, o dia do começo do
prazos a que está submetido. prazo para contestar corresponderá à última das datas
a que se referem os incisos I a VI do caput.

29
§ 2o Havendo mais de um intimado, o prazo para cada apuração da responsabilidade, com intimação do repre-
um é contado individualmente. sentado por meio eletrônico para, querendo, apresentar
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado diretamente justificativa no prazo de 15 (quinze) dias.
pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do § 2o Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis,
processo, sem a intermediação de representante judicial, em até 48 (quarenta e oito) horas após a apresentação
o dia do começo do prazo para cumprimento da deter- ou não da justificativa de que trata o § 1o, se for o caso, o
minação judicial corresponderá à data em que se der a corregedor do tribunal ou o relator no Conselho Nacio-
comunicação. nal de Justiça determinará a intimação do representado
§ 4o Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique
com hora certa. o ato.
§ 3o Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao subs-
Art. 232. Nos atos de comunicação por carta precatória, tituto legal do juiz ou do relator contra o qual se repre-
rogatória ou de ordem, a realização da citação ou da sentou para decisão em 10 (dez) dias.
intimação será imediatamente informada, por meio ele-
trônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante. 1. Noções basilares

SEÇÃO II Prazo é a distância de tempo entre dois atos. No pro-


DA VERIFICAÇÃO DOS PRAZOS E DAS PENALIDA- cesso é necessário o estabelecimento de prazos para que
DES ele não se eternize. Quando o prazo tem a capacidade de
gerar preclusão, trata-se de prazo próprio; quando não
Art. 233. Incumbe ao juiz verificar se o serventuário ex- existe a possibilidade de preclusão pelo desrespeito, o pra-
cedeu, sem motivo legítimo, os prazos estabelecidos em zo é impróprio.
lei. De modo geral, a natureza dos prazos impostos às par-
§ 1o Constatada a falta, o juiz ordenará a instauração de tes é preclusiva, significa que o desrespeito implica na per-
processo administrativo, na forma da lei. da da faculdade processual de praticar o ato. Por exemplo,
§ 2o Qualquer das partes, o Ministério Público ou a De- se não contestar a ação será revel. Contudo, nem todos os
prazos são preclusivos. Por exemplo, se não se manifestar
fensoria Pública poderá representar ao juiz contra o
sobre os documentos juntados pelo réu pode fazê-lo de-
serventuário que injustificadamente exceder os prazos
pois.
previstos em lei.
Já os atos impostos ao juiz e aos seus auxiliares não
são preclusivos, não há perda da faculdade e nem desapa-
Art. 234. Os advogados públicos ou privados, o defensor
recimento da obrigação de praticar o ato. Por exemplo, o
público e o membro do Ministério Público devem resti-
juiz não se exime do dever de sentenciar porque passou o
tuir os autos no prazo do ato a ser praticado.
prazo de 10 dias previsto em lei.
§ 1o É lícito a qualquer interessado exigir os autos do
Nos prazos impróprios, sanções administrativas e ou-
advogado que exceder prazo legal. tras são possíveis, mas não sanções processuais.
§ 2o Se, intimado, o advogado não devolver os autos no A lei fixa o prazo – em anos, meses, dias, horas ou minu-
prazo de 3 (três) dias, perderá o direito à vista fora de tos. Em casos excepcionais as partes podem convencionar
cartório e incorrerá em multa correspondente à metade os prazos.
do salário-mínimo. Os prazos legais se classificam em peremptórios, que
§ 3o Verificada a falta, o juiz comunicará o fato à seção não podem ser modificados pela vontade das partes (ex:
local da Ordem dos Advogados do Brasil para procedi- resposta, recurso, incidente de falsidade, nomeação de
mento disciplinar e imposição de multa. bens à penhora, embargos do devedor, ajuizamento de
§ 4o Se a situação envolver membro do Ministério Pú- ação principal após cautelar), e dilatórios, que podem ser
blico, da Defensoria Pública ou da Advocacia Pública,
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

reduzidos ou prorrogados por convenção das partes (ex:


a multa, se for o caso, será aplicada ao agente público arrolar testemunhas, formular quesitos, manifestar sobre a
responsável pelo ato. produção de provas).
§ 5o Verificada a falta, o juiz comunicará o fato ao órgão Na contagem de prazo, exclui-se o dia do começo
competente responsável pela instauração de procedi- e inclui-se o dia do vencimento, mas o prazo não pode
mento disciplinar contra o membro que atuou no feito. iniciar e nem terminar em dia que seja dia útil.
O prazo pode ser suspenso (hipóteses do artigo 180,
Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a De- CPC) ou interrompido (quando o réu requerer desmem-
fensoria Pública poderá representar ao corregedor do bramento do processo em virtude de litisconsórcio multi-
tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça contra juiz tudinário).
ou relator que injustificadamente exceder os prazos pre- Na falta de determinação legal, o prazo é de 5 dias.
vistos em lei, regulamento ou regimento interno.
§ 1o Distribuída a representação ao órgão competente
e ouvido previamente o juiz, não sendo caso de arqui-
vamento liminar, será instaurado procedimento para

30
2. Preclusão Contudo, o juiz possui competência limitada porque a
jurisdição, ainda que seja una, é dividida em parcelas. Cada
As partes têm o ônus de realizar as atividades proces- juiz possui uma parcela de jurisdição e não pode ingressar
suais nos prazos, sob pena de não poderem fazê-lo pos- na parcela alheia. Então, se o juiz determinar a prática de
teriormente. Além disso, deve guardar coerência em sua um ato processual fora dos limites de sua jurisdição preci-
conduta, não podendo praticar atos incompatíveis com os sará solicitar a cooperação do juízo competente mediante
anteriormente praticados. Trata-se de um sistema de esta- carta (precatória entre juízos dentro do Brasil, rogatória
bilização do processo, impedindo que ele retroceda, o qual para juízo fora do Brasil, de ordem quando partir do Tribu-
se denomina preclusão. Sendo assim, preclusão é a perda nal para juízo de primeira instância).
de uma faculdade processual.
A preclusão pode ser de três tipos: Art. 237. Será expedida carta:
a) Preclusão temporal – é a perda da faculdade proces- I - de ordem, pelo tribunal, na hipótese do § 2o do art.
sual que não foi exercida no prazo estabelecido em lei. 236;
b) Preclusão lógica – é a perda da faculdade processual II - rogatória, para que órgão jurisdicional estrangei-
que decorre da incompatibilidade entre o ato processual e ro pratique ato de cooperação jurídica internacional,
outro que tenha sido praticado anteriormente. Ex.: renún- relativo a processo em curso perante órgão jurisdicional
cia ao direito de recorrer e interposição de recurso. brasileiro;
c) Preclusão consumativa – é a perda da faculdade pro- III - precatória, para que órgão jurisdicional brasileiro
cessual devido ao ato já ter sido praticado anteriormente, pratique ou determine o cumprimento, na área de sua
não podendo ser renovado. Ex.: se não levantou o argu- competência territorial, de ato relativo a pedido de coo-
mento na contestação, não pode mais fazê-lo, a não ser peração judiciária formulado por órgão jurisdicional de
que se trate de questão de ordem pública. competência territorial diversa;
Atenção: nem sempre a preclusão se verifica, porque IV - arbitral, para que órgão do Poder Judiciário pra-
há questões que podem ser suscitadas a qualquer tempo e tique ou determine o cumprimento, na área de sua
grau de jurisdição. competência territorial, de ato objeto de pedido de co-
O juiz também se sujeita à preclusão com relação a al- operação judiciária formulado por juízo arbitral, in-
gumas de suas decisões, como a sentença. É a denominada clusive os que importem efetivação de tutela provisória.
preclusão pro judicato. Parágrafo único. Se o ato relativo a processo em curso
na justiça federal ou em tribunal superior houver de ser
COMUNICAÇÃO DE ATOS PROCESSUAIS praticado em local onde não haja vara federal, a car-
ta poderá ser dirigida ao juízo estadual da respectiva
TÍTULO II comarca.
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS
CAPÍTULO I O CPC/2015 inova ao criar uma modalidade de carta
DISPOSIÇÕES GERAIS denominada arbitral, que serve para que um juízo de arbi-
tragem solicite ao Judiciário as providências para fazer com
Os atos processuais serão comunicados a quem de in- que a decisão arbitral seja cumprida. A Lei nº 9307/1996 re-
teresse – partes, testemunhas, Ministério Público, interve- formulou o instituto da arbitragem no Brasil, de modo que
nientes. A lei processual regula como se dá a comunicação a sentença arbitral não estaria mais sujeita à homologação
destes atos. pelo Poder Judiciário, tendo caráter definitivo, sendo que a
escolha do juízo arbitral geraria extinção do processo sem
Art. 236. Os atos processuais serão cumpridos por or- julgamento do mérito. Logo, para fins de dizer o direito o
dem judicial. juízo arbitral tem bastante força, mas a lei não transfere a
§ 1o Será expedida carta para a prática de atos fora dos ele o poder de coação que só o Estado tem. Então, para
limites territoriais do tribunal, da comarca, da seção ou que o juízo arbitral faça valer na prática suas decisões, sa-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

da subseção judiciárias, ressalvadas as hipóteses previs- tisfazendo o credor, precisa da colaboração do Judiciário e
tas em lei. o instrumento para fazê-lo é a carta arbitral.
§ 2o O tribunal poderá expedir carta para juízo a ele vin-
culado, se o ato houver de se realizar fora dos limites CAPÍTULO II
territoriais do local de sua sede. DA CITAÇÃO
§ 3o Admite-se a prática de atos processuais por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de trans- Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o
missão de sons e imagens em tempo real. réu, o executado ou o interessado para integrar a rela-
ção processual.
O juiz determina a prática do ato processual que deva
ser levado a conhecimento alheio. Ex.: manifestar-se so- Citação é o ato pelo qual se dá ciência ao réu, ao execu-
bre determinado assunto ou comparecer a uma audiência. tado (na ação de execução autônoma, pois quando a exe-
Logo, para que o ato seja praticado é preciso dar ciência da cução se dá em fase seguida ao processo de conhecimento
determinação judicial neste sentido. ou no curso dele – execução provisória – não é necessária

31
nova citação) ou ao interessado (interveniente. Ex.: denun- c) Constitui em mora o devedor: o devedor reputa-
ciação da lide; chamamento ao processo) da existência do -se em mora desde o momento em que citado, salvo
processo, concedendo-lhe a possibilidade de se defender. se tiver sido constituído em mora anteriormente. Há
A finalidade da citação é cientificar o réu, o executado ou obrigações que possuem termo certo de vencimen-
o interessado de que há um processo em curso e que eles to nas quais o devedor está em mora transcorrido o
têm oportunidade para defender-se. prazo para adimplemento (ex.: contratos com prazo);
A citação é um ato essencial no processo, porque ela além de casos em que a lei fixa termo anterior para a
que completa a relação jurídico-processual. Até que ocorra mora, como no caso dos atos ilícitos, constituindo-se
a citação válida o processo existe apenas para autor e juiz, em mora da data do fato. Não obstante, é possível
mas não para o réu. Neste sentido, a citação é pressuposto constituir em mora antes da citação, por exemplo,
processual de existência. Por seu turno, é preciso lembrar mediante notificação extrajudicial.
que no início da fase postulatória o réu ainda não foi cha- d) Interrompe a prescrição: a citação válida interrom-
mado ao processo, como quando a inicial é indeferida ou pe a prescrição, ainda quando ordenada por juízo
quando se dá a improcedência liminar do pedido sem in- incompetente. Tal efeito se estende aos prazos de-
terposição de apelação. Além disso, mesmo que a citação cadenciais. Frisa-se que para o efeito retroativo à
se dê contrária à forma estabelecida em lei, se convalidará propositura da ação se operar é preciso que a cita-
com o comparecimento do citando ao processo. Em outras ção ocorra dentro de 10 dias da propositura, mas se
palavras, se o citando comparecer ao processo para arguir houver demora que não se justifique por culpa do
a nulidade ele será tido como citado (a citação não precisa autor (ex: ele recolheu as custas e o oficial de justiça
se renovar) e se sua arguição for acolhida se abrirá novo demorou pra fazer a diligência, ou a carta de citação
prazo para resposta (se não for acolhida será tido como se extraviou) o efeito se opera mesmo ultrapassado
revel no processo de conhecimento e perderá o prazo para o prazo. Caso não seja interrompida a tempo e se
opor embargos à execução no processo de execução). consume, o juiz declarará a prescrição de ofício, ex-
tinguindo o processo.
Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a
citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por
de indeferimento da petição inicial ou de improcedência juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa
liminar do pedido. a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o dis-
§ 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do exe- posto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de
cutado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a janeiro de 2002 (Código Civil).
partir desta data o prazo para apresentação de contes- § 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho
tação ou de embargos à execução. que ordena a citação, ainda que proferido por juízo in-
§ 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de competente, retroagirá à data de propositura da ação.
processo de: § 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias,
I - conhecimento, o réu será considerado revel; as providências necessárias para viabilizar a citação, sob
II - execução, o feito terá seguimento. pena de não se aplicar o disposto no § 1o.
§ 3o A parte não será prejudicada pela demora imputá-
A citação válida gera efeitos determinados: vel exclusivamente ao serviço judiciário.
a) Induz litispendência: a ação considera-se proposta § 4o O efeito retroativo a que se refere o § 1o aplica-se
quando distribuída, eis que o artigo 312 do CPC/2015 à decadência e aos demais prazos extintivos previstos
prevê que “considera-se proposta a ação quando a em lei.
petição inicial for protocolada, todavia, a propositura
da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencio- Quanto às modalidades de citação, a regra é que seja
nados no art. 240 depois que for validamente citado”. pessoal (mediante correio ou oficial de justiça), aceitando-
Uma vez proposta, existe lide pendente. Contudo, o -se excepcionalmente que seja ficta (por hora certa pelo
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

efeito da litispendência somente se opera com a ci- oficial de justiça ou por edital mediante publicação).
tação válida. Por isso, se existirem, em curso, duas ou A citação pessoal pode ser direta, quando feita na pes-
mais demandas idênticas, deverá permanecer ape- soa do citando ou de seu representante legal (se for ca-
nas aquela em que se aperfeiçoou a primeira citação paz o citando será citado pessoalmente, se absolutamente
válida. As demais deverão ser extintas. incapaz pelo seu representante, se relativamente incapaz
b) Faz litigiosa a coisa: é com a citação válida que o tanto pessoalmente quanto pelo seu representante), ou
objeto do processo se torna litigioso. Isso é muito im- indireta, quando feita a alguém que tenha poderes de vin-
portante para fins de fraude contra credores e frau- cular o réu (procurador legalmente habilitado ou terceiro
de À execução, porque a alienação de bem, quando que por força de lei ou contrato tenha poderes de vincu-
sobre ele pender ação fundada em direito real, ou lar o réu, como seu empregado ou preposto, aceitando-se
de bens, quando correr contra o devedor demanda quanto a pessoas jurídicas a dispensa da formalidade de
capaz de reduzi-lo à insolvência, será em fraude à entrega direta ao destinatário/sócio ou administrador).
execução, desde que o devedor já tenha sido citado.

32
Art. 242. A citação será pessoal, podendo, no entanto, A citação por edital e a citação por hora certa (que é
ser feita na pessoa do representante legal ou do procu- uma espécie de citação por mandado – oficial de justiça)
rador do réu, do executado ou do interessado. são as duas espécies de citação ficta. A citação real se dá
§ 1o Na ausência do citando, a citação será feita na por correio ou por mandado.
pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou A citação deve ser real, aceitando-se a ficta excepcio-
gerente, quando a ação se originar de atos por eles pra- nalmente. Então, primeiro serão tomadas providências para
ticados. localizar o citando caso faltem informações neste sentido,
§ 2o O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar viabilizando a citação real. Em regra, a citação real se fará
o locatário de que deixou, na localidade onde estiver si- por correio com AR (aviso de recebimento), mas a lei prevê
tuado o imóvel, procurador com poderes para receber casos em que a citação deve ser feita por oficial de justiça
citação será citado na pessoa do administrador do imó- e assegura que quando a citação por correio for infrutífe-
vel encarregado do recebimento dos aluguéis, que será ra será feita nova tentativa por oficial de justiça. Também
considerado habilitado para representar o locador em juízo. ocorre citação real quando feita por meio eletrônico para
§ 3o A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos pessoas devidamente cadastradas no sistema para recebê-
Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de -la.
direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Quando não for possível a citação real, por exemplo,
Pública responsável por sua representação judicial. porque o réu não foi encontrado apesar das diligências ou
porque ele está se esquivando propositalmente de rece-
Art. 243. A citação poderá ser feita em qualquer lugar bê-la, parte-se para a citação ficta. A citação ficta por hora
em que se encontre o réu, o executado ou o interessado. certa é realizada por oficial de justiça munido de mandado
Parágrafo único. O militar em serviço ativo será citado quando por duas vezes ele tenta encontrar o citando e não
na unidade em que estiver servindo, se não for conheci- consegue, percebendo que ele na verdade está se ocultan-
da sua residência ou nela não for encontrado. do (requisitos cumulativos: não encontrar + intenção de
ocultação), de modo que ele deixa avisado que voltará em
Art. 244. Não se fará a citação, salvo para evitar o pere- dia e hora seguintes para citar, mesmo que o citando não
cimento do direito: esteja presente. A citação ficta por edital mediante publi-
I - de quem estiver participando de ato de culto religioso; cação na internet é feita quando o réu não é encontrado
II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente apesar de inúmeras tentativas, não sendo o caso de citar
do morto, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na por hora certa porque não se tem certeza do endereço e
linha colateral em segundo grau, no dia do falecimento nem se percebe a ocultação, ou quando a lei determina a
e nos 7 (sete) dias seguintes; citação geral de réus indeterminados.
III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao
casamento; Art. 246. A citação será feita:
IV - de doente, enquanto grave o seu estado. I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
Art. 245. Não se fará citação quando se verificar que o III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando
citando é mentalmente incapaz ou está impossibilitado comparecer em cartório;
de recebê-la. IV - por edital;
§ 1o O oficial de justiça descreverá e certificará minucio- V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.
samente a ocorrência. § 1o Com exceção das microempresas e das empresas
§ 2o Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são
que apresentará laudo no prazo de 5 (cinco) dias. obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo
§ 3o Dispensa-se a nomeação de que trata o § 2o se pes- em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de ci-
soa da família apresentar declaração do médico do ci- tações e intimações, as quais serão efetuadas preferen-
tando que ateste a incapacidade deste. cialmente por esse meio.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

§ 4o Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará § 2o O disposto no § 1o aplica-se à União, aos Estados, ao


curador ao citando, observando, quanto à sua escolha, a Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da admi-
preferência estabelecida em lei e restringindo a nome- nistração indireta.
ação à causa. § 3o Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes se-
§ 5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem rão citados pessoalmente, exceto quando tiver por ob-
incumbirá a defesa dos interesses do citando. jeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso
em que tal citação é dispensada.
Por sua vez, a lei processual estabelece quatro tipos de
citação: pelo correio, por oficial de justiça, por edital e por Art. 247. A citação será feita pelo correio para qualquer
meio eletrônico. Distinguem-se, entre essas espécies, for- comarca do país, exceto:
mas de citação real e ficta. É real quando se tem certeza de I - nas ações de estado, observado o disposto no art.
que ela chegou a conhecimento do réu e é ficta aquela que 695, § 3o;
não é recebida diretamente pelo réu (motivo pelo qual, se II - quando o citando for incapaz;
ele não comparece, é nomeado curador especial).

33
III - quando o citando for pessoa de direito público; ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em
IV - quando o citando residir em local não atendido sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato,
pela entrega domiciliar de correspondência; voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
V - quando o autor, justificadamente, a requerer de ou- Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos lote-
tra forma. amentos com controle de acesso, será válida a intimação
a que se refere o caput feita a funcionário da portaria
Art. 248. Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou responsável pelo recebimento de correspondência.
o chefe de secretaria remeterá ao citando cópias da pe-
tição inicial e do despacho do juiz e comunicará o prazo Art. 253. No dia e na hora designados, o oficial de justi-
para resposta, o endereço do juízo e o respectivo cartó- ça, independentemente de novo despacho, comparecerá
rio. ao domicílio ou à residência do citando a fim de realizar
§ 1o A carta será registrada (AR)para entrega ao citando, a diligência.
exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que assine o § 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justi-
recibo. ça procurará informar-se das razões da ausência, dando
§ 2o Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entre- por feita a citação, ainda que o citando se tenha ocul-
ga do mandado a pessoa com poderes de gerência geral tado em outra comarca, seção ou subseção judiciárias.
ou de administração ou, ainda, a funcionário responsá- § 2o A citação com hora certa será efetivada mesmo que
vel pelo recebimento de correspondências. a pessoa da família ou o vizinho que houver sido inti-
§ 3o Da carta de citação no processo de conhecimento mado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa
constarão os requisitos do art. 250. da família ou o vizinho se recusar a receber o mandado.
§ 4o Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com § 3o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixa-
controle de acesso, será válida a entrega do mandado a rá contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho,
funcionário da portaria responsável pelo recebimento de conforme o caso, declarando-lhe o nome.
correspondência, que, entretanto, poderá recusar o rece- § 4o O oficial de justiça fará constar do mandado a advertên-
bimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que cia de que será nomeado curador especial se houver revelia.
o destinatário da correspondência está ausente.
Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou
Art. 249. A citação será feita por meio de oficial de jus- chefe de secretaria enviará ao réu, executado ou inte-
tiça nas hipóteses previstas neste Código ou em lei, ou ressado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da
quando frustrada a citação pelo correio.
juntada do mandado aos autos, carta, telegrama ou cor-
respondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.
Art. 250. O mandado que o oficial de justiça tiver de
cumprir conterá:
Art. 255. Nas comarcas contíguas de fácil comunicação
I - os nomes do autor e do citando e seus respectivos
e nas que se situem na mesma região metropolitana,
domicílios ou residências;
o oficial de justiça poderá efetuar, em qualquer delas,
II - a finalidade da citação, com todas as especificações
citações, intimações, notificações, penhoras e quaisquer
constantes da petição inicial, bem como a menção do
prazo para contestar, sob pena de revelia, ou para em- outros atos executivos.
bargar a execução;
III - a aplicação de sanção para o caso de descumpri- Art. 256. A citação por edital será feita:
mento da ordem, se houver; I - quando desconhecido ou incerto o citando;
IV - se for o caso, a intimação do citando para compare- II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em
cer, acompanhado de advogado ou de defensor público, que se encontrar o citando;
à audiência de conciliação ou de mediação, com a men- III - nos casos expressos em lei.
ção do dia, da hora e do lugar do comparecimento; § 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por
edital, o país que recusar o cumprimento de carta ro-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

V - a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão


que deferir tutela provisória; gatória.
VI - a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e § 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se en-
a declaração de que o subscreve por ordem do juiz. contrar o réu, a notícia de sua citação será divulgada
também pelo rádio, se na comarca houver emissora de
Art. 251. Incumbe ao oficial de justiça procurar o citan- radiodifusão.
do e, onde o encontrar, citá-lo: § 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto
I - lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé; se infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive
II - portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé; mediante requisição pelo juízo de informações sobre seu
III - obtendo a nota de ciente ou certificando que o citan- endereço nos cadastros de órgãos públicos ou de conces-
do não a apôs no mandado. sionárias de serviços públicos.

Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justi- Art. 257. São requisitos da citação por edital:
ça houver procurado o citando em seu domicílio ou re- I - a afirmação do autor ou a certidão do oficial infor-
sidência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de mando a presença das circunstâncias autorizadoras;

34
II - a publicação do edital na rede mundial de compu- Art. 261. Em todas as cartas o juiz fixará o prazo para
tadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma cumprimento, atendendo à facilidade das comunicações
de editais do Conselho Nacional de Justiça, que deve ser e à natureza da diligência.
certificada nos autos; § 1o As partes deverão ser intimadas pelo juiz do ato de
III - a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará en- expedição da carta.
tre 20 (vinte) e 60 (sessenta) dias, fluindo da data da § 2o Expedida a carta, as partes acompanharão o cum-
publicação única ou, havendo mais de uma, da primeira; primento da diligência perante o juízo destinatário, ao
IV - a advertência de que será nomeado curador especial qual compete a prática dos atos de comunicação.
em caso de revelia. § 3o A parte a quem interessar o cumprimento da di-
Parágrafo único. O juiz poderá determinar que a pu- ligência cooperará para que o prazo a que se refere o
blicação do edital seja feita também em jornal local de caput seja cumprido.
ampla circulação ou por outros meios, considerando as
peculiaridades da comarca, da seção ou da subseção ju- Toda carta tem fixado prazo para ser cumprido. No
diciárias. mais, a carta não se cumprirá automaticamente, caberá à
parte interessada tomar providências para tanto. Sempre
Art. 258. A parte que requerer a citação por edital, ale- que a carta é distribuída se cria um número de acompa-
gando dolosamente a ocorrência das circunstâncias au- nhamento do processo, cadastrando-se os advogados, que
torizadoras para sua realização, incorrerá em multa de irão praticar atos no curso da carta.
5 (cinco) vezes o salário-mínimo.
Parágrafo único. A multa reverterá em benefício do ci- Art. 262. A carta tem caráter itinerante, podendo, antes
tando. ou depois de lhe ser ordenado o cumprimento, ser enca-
minhada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se
Art. 259. Serão publicados editais: praticar o ato.
I - na ação de usucapião de imóvel; Parágrafo único. O encaminhamento da carta a outro
II - na ação de recuperação ou substituição de título ao juízo será imediatamente comunicado ao órgão expedi-
portador; dor, que intimará as partes.
III - em qualquer ação em que seja necessária, por de-
terminação legal, a provocação, para participação no Nos termos da legislação, se o juízo deprecado não ti-
processo, de interessados incertos ou desconhecidos. ver como cumprir a Carta porque esta deve ser cumprida
em outro lugar deverá remetê-la ao juízo competente e
CAPÍTULO III não devolvê-la não cumprida ao juízo deprecante. Na prá-
DAS CARTAS tica, sabemos que nem sempre isso ocorre.

Art. 260. São requisitos das cartas de ordem, precatória Art. 263. As cartas deverão, preferencialmente, ser
e rogatória: expedidas por meio eletrônico, caso em que a assina-
I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento tura do juiz deverá ser eletrônica, na forma da lei.
do ato;
II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do Art. 264. A carta de ordem e a carta precatória por meio
instrumento do mandato conferido ao advogado; eletrônico, por telefone ou por telegrama conterão, em
III - a menção do ato processual que lhe constitui o ob- resumo substancial, os requisitos mencionados no
jeto; art. 250, especialmente no que se refere à aferição da
IV - o encerramento com a assinatura do juiz. autenticidade.
§ 1o O juiz mandará trasladar para a carta quaisquer ou-
tras peças, bem como instruí-la com mapa, desenho ou Art. 265. O secretário do tribunal, o escrivão ou o chefe
gráfico, sempre que esses documentos devam ser exami- de secretaria do juízo deprecante transmitirá, por tele-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

nados, na diligência, pelas partes, pelos peritos ou pelas fone, a carta de ordem ou a carta precatória ao juízo
testemunhas. em que houver de se cumprir o ato, por intermédio do
§ 2o Quando o objeto da carta for exame pericial sobre escrivão do primeiro ofício da primeira vara, se houver
documento, este será remetido em original, ficando nos na comarca mais de um ofício ou de uma vara, obser-
autos reprodução fotográfica. vando-se, quanto aos requisitos, o disposto no art. 264.
§ 3o A carta arbitral atenderá, no que couber, aos re- § 1o O escrivão ou o chefe de secretaria, no mesmo dia
quisitos a que se refere o caput e será instruída com a ou no dia útil imediato, telefonará ou enviará mensa-
convenção de arbitragem e com as provas da nomeação gem eletrônica ao secretário do tribunal, ao escrivão ou
do árbitro e de sua aceitação da função. ao chefe de secretaria do juízo deprecante, lendo-lhe os
termos da carta e solicitando-lhe que os confirme.
Entre os requisitos essenciais das cartas estão a menção § 2o Sendo confirmada, o escrivão ou o chefe de secreta-
do juízo deprecante e do deprecado, a íntegra do ato ju- ria submeterá a carta a despacho.
dicial sobre o qual se refere a carta, além do mandato dos
advogados e da assinatura do juiz.

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Art. 266. Serão praticados de ofício os atos requisi- Art. 272. Quando não realizadas por meio eletrônico,
tados por meio eletrônico e de telegrama, devendo a consideram-se feitas as intimações pela publicação dos
parte depositar, contudo, na secretaria do tribunal ou atos no órgão oficial.
no cartório do juízo deprecante, a importância corres- § 1o Os advogados poderão requerer que, na intimação
pondente às despesas que serão feitas no juízo em que a eles dirigida, figure apenas o nome da sociedade a
houver de praticar-se o ato. que pertençam, desde que devidamente registrada na
Ordem dos Advogados do Brasil.
A carta emitida por meio eletrônico tem os mesmos re- § 2o Sob pena de nulidade, é indispensável que da pu-
quisitos da carta impressa. Por uma questão de celeridade blicação constem os nomes das partes e de seus advo-
processual o ato é praticado de ofício e depois a parte pa- gados, com o respectivo número de inscrição na Ordem
gará por ele. dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da so-
ciedade de advogados.
Art. 267. O juiz recusará cumprimento a carta preca- § 3o A grafia dos nomes das partes não deve conter abre-
tória ou arbitral, devolvendo-a com decisão motivada viaturas.
quando: § 4o A grafia dos nomes dos advogados deve correspon-
I - a carta não estiver revestida dos requisitos legais; der ao nome completo e ser a mesma que constar da
II - faltar ao juiz competência em razão da matéria ou procuração ou que estiver registrada na Ordem dos Ad-
da hierarquia; vogados do Brasil.
III - o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade. § 5o Constando dos autos pedido expresso para que
Parágrafo único. No caso de incompetência em razão as comunicações dos atos processuais sejam feitas em
da matéria ou da hierarquia, o juiz deprecado, conforme nome dos advogados indicados, o seu desatendimento
o ato a ser praticado, poderá remeter a carta ao juiz ou implicará nulidade.
ao tribunal competente. § 6o A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em
carga pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido
Art. 268. Cumprida a carta, será devolvida ao juízo de do advogado ou da sociedade de advogados, pela Advo-
origem no prazo de 10 (dez) dias, independentemente cacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério
de traslado, pagas as custas pela parte. Público implicará intimação de qualquer decisão contida
no processo retirado, ainda que pendente de publicação.
A carta poderá ser cumprida e devolvida ao juízo de ori- § 7o O advogado e a sociedade de advogados deverão
gem ou então o juízo deprecado poderá se recusar a cum- requerer o respectivo credenciamento para a retirada de
pri-la, apresentando justificativas. Não cabe recusa desmo- autos por preposto.
tivada ou justificada fora das hipóteses do artigo 267. § 8o A parte arguirá a nulidade da intimação em capí-
tulo preliminar do próprio ato que lhe caiba praticar, o
CAPÍTULO IV qual será tido por tempestivo se o vício for reconhecido.
DAS INTIMAÇÕES § 9o Não sendo possível a prática imediata do ato diante da
necessidade de acesso prévio aos autos, a parte limitar-se-á
Art. 269. Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a a arguir a nulidade da intimação, caso em que o prazo será
alguém dos atos e dos termos do processo. contado da intimação da decisão que a reconheça.
§ 1o É facultado aos advogados promover a intimação do
advogado da outra parte por meio do correio, juntando Art. 273. Se inviável a intimação por meio eletrônico e
aos autos, a seguir, cópia do ofício de intimação e do não houver na localidade publicação em órgão oficial,
aviso de recebimento. incumbirá ao escrivão ou chefe de secretaria intimar de
§ 2o O ofício de intimação deverá ser instruído com cópia todos os atos do processo os advogados das partes:
do despacho, da decisão ou da sentença. I - pessoalmente, se tiverem domicílio na sede do juízo;
§ 3o A intimação da União, dos Estados, do Distrito Fe- II - por carta registrada, com aviso de recebimento,
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

deral, dos Municípios e de suas respectivas autarquias quando forem domiciliados fora do juízo.
e fundações de direito público será realizada perante o
órgão de Advocacia Pública responsável por sua repre- Art. 274. Não dispondo a lei de outro modo, as inti-
sentação judicial. mações serão feitas às partes, aos seus representantes
legais, aos advogados e aos demais sujeitos do processo
Art. 270. As intimações realizam-se, sempre que possí- pelo correio ou, se presentes em cartório, diretamente
vel, por meio eletrônico, na forma da lei. pelo escrivão ou chefe de secretaria.
Parágrafo único. Aplica-se ao Ministério Público, à De- Parágrafo único. Presumem-se válidas as intimações
fensoria Pública e à Advocacia Pública o disposto no § dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que
1o do art. 246. não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a mo-
dificação temporária ou definitiva não tiver sido devida-
Art. 271. O juiz determinará de ofício as intimações em mente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir
processos pendentes, salvo disposição em contrário. da juntada aos autos do comprovante de entrega da
correspondência no primitivo endereço.

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Art. 275. A intimação será feita por oficial de justiça
quando frustrada a realização por meio eletrônico ou
pelo correio. EXERCÍCIO COMENTADO
§ 1o A certidão de intimação deve conter:
I - a indicação do lugar e a descrição da pessoa inti- 1. (TJM-SP - Escrevente Técnico Judiciário - VU-
mada, mencionando, quando possível, o número de seu NESP/2017) Quanto aos prazos processuais, é correto
documento de identidade e o órgão que o expediu; afirmar que:
II - a declaração de entrega da contrafé;
III - a nota de ciente ou a certidão de que o interessado a) a Defensoria Pública terá prazo em dobro para todas as
não a apôs no mandado. suas manifestações processuais.
§ 2o Caso necessário, a intimação poderá ser efetuada b) as fundações de direito público terão prazo em quádru-
com hora certa ou por edital. plo para contestar as ações.
c) a União terá prazo quádruplo para contestar e em dobro
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos para recorrer.
atos e termos do processo, geralmente para que faça ou d) os Estados terão prazo em dobro para recorrer e simples
deixe de fazer alguma coisa. A intimação pode ser volta- para responder a recursos.
da às partes, aos auxiliares da justiça (peritos, depositários, e) o beneficiário da justiça gratuita terá prazo em dobro
testemunhas) ou a terceiros a quem cumpre realizar deter- para contestar e recorrer.
minado ato no processo. A intimação é necessária sempre
que o destinatário não tome ciência do ato diretamente Resposta: “Letra A”. É o que dispõe o art. 186, caput,
(ex.: se está na audiência não precisa ser intimado). Quase CPC: “A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro
sempre a intimação é feita na pessoa do advogado. para todas as suas manifestações processuais”.
São pessoais à parte aquelas intimações em que há deter- B, C e D. Dispõe o art. 183, caput, do CPC: “a União, os
minação judicial para que ela própria cumpra determinado Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respec-
ato para o qual não se exige capacidade postulatória. Os de- tivas autarquias e fundações de direito público gozarão
mais atos devem ser comunicados ao advogado porque em de prazo em dobro para todas as suas manifestações
geral ele que toma ciência das decisões, das designações de processuais, cuja contagem terá início a partir da intima-
audiência, das provas determinadas e da sentença. ção pessoal”.
Sempre que possível a intimação se faz por meio ele- E. O beneficiário da justiça gratuita não possui qualquer
trônico, com publicação no Diário Oficial eletrônico (portal benefício de prazo.
próprio disponível na Internet). Dispensa-se a publicação
no Diário Oficial impresso. A intimação deve conter os no-
mes das partes (salvo segredo de justiça, resumindo-se às
iniciais) e dos advogados com o número da OAB, informa- PARTES E TERCEIROS NO PROCESSO.
ções suficientes para a identificação. O prazo corre da data CONCEITOS.
da publicação, excluído o dia de início e incluído o do final.
É nestes moldes que se faz a intimação do advogado.
Determinados órgãos têm o Direito de serem intimados LITISCONSÓRCIO
pessoalmente com abertura de vistas, como o Ministério
Público, a Defensoria Pública, a Fazenda Pública. Trata-se de um fenômeno processual no qual duas ou
Já o modo prioritário de intimação das partes e dos seus mais pessoas figuram como autoras e/ou rés no processo.
representantes legais é a intimação pelo correio, cabendo, no Não há multiplicidade de processos, mas multiplicidade de
entanto, a intimação em cartório se eles se fizerem presentes. partes num mesmo processo.
Frustrada a intimação pelo correio, se faz por oficial de justiça. As razões pelas quais a lei o admite e, por vezes, o obri-
ga, são: economia processual, fazendo num só processo o NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
que antes seria feito em vários, e harmonia dos julgados,
#FicaDica evitando que partes em situação jurídica idêntica recebam
uma resposta jurisdicional diferente.
Citação e Intimação são atos diversos.
A citação serve para constituir o polo passivo, 1. Classificação
inserindo o réu na relação jurídico-processual –
Poder ser real (por carta ou oficial de justiça) ou a) Quanto à composição: será ativo se figurarem múl-
ficta (por hora certa ou edital). tiplas partes como autoras (polo ativo da ação); será
A intimação serve para dar ciência dos atos passivo se figurarem múltiplas partes como rés (polo
processuais. Em regra, é feita pela imprensa passivo da ação); será misto ou bilateral se figurarem
oficial na pessoa do advogado. múltiplas partes tanto no polo ativo quanto no polo
A partir da citação e da intimação correm passivo da ação.
prazos, os quais, se desatendidos, geram b) Quanto à obrigatoriedade: será necessário quan-
preclusão. do a sua formação for obrigatória e será facultativo
quando a sua formação for optativa.

37
c) Quanto ao resultado: será unitário se o resultado ao autor requerer a citação ou juntar procuração dos de-
tiver que ser o mesmo para os litisconsortes e será mais que deveriam figurar no polo ativo, aditando a inicial
simples se o resultado puder ser diferente para estes. para acrescentar tais partes, sob pena de extinção do pro-
cesso por ausência de pressupostos processuais de exis-
2. Litisconsórcio multitudinário tência (ausência de partes).
São duas as hipóteses de litisconsórcio necessário:
O Código de Processo Civil prevê a possibilidade de a) Por força de lei: sempre que a lei determinar, deverá
limitação no número de litisconsortes no processo pelo ser formado o litisconsórcio. No caso, não importa se
magistrado em circunstâncias determinadas. Trata-se da o resultado será ou não o mesmo, quer dizer, o litis-
situação de litisconsórcio multitudinário. consórcio poderá ser simples ou unitário. Ex.: usuca-
Exige-se que o litisconsórcio seja facultativo, pois se for pião – devem ser citados todos os confrontantes, ter-
necessário não importa o número de litisconsortes porque ceiros possivelmente interessados, proprietário que
obrigatoriamente terão que litigar juntos, bem como que conste no registro (para cada qual o resultado será
se façam presentes alternativamente um dos seguintes re- diverso). Outra hipótese de litisconsórcio necessário
quisitos: comprometimento à rápida solução do litígio (nú- por força de lei é o que se forma entre cônjuges.
mero exagerado de réus) ou prejuízo ao direito de defesa Obs.: No caso dos cônjuges, vale ressaltar que deve-
(número exagerado de autores). rão estar juntos no polo processual sempre que o
A limitação poderá ser determinada pelo juiz de ofício bem pertencer aos dois, independente de estar ou
ou a requerimento do réu, mas não a requerimento do au- não registrado no nome dos dois. Basicamente, sem-
tor, pois foi ele que propôs a demanda e definiu quem iria pre deverão estar juntos se o bem foi adquirido na
compor os polos. O requerimento de limitação feito pelo constância do casamento para a comunhão parcial e
réu interrompe o prazo e, caso seja feito com intuito pro- demais regimes; a qualquer tempo para a comunhão
telatório, enseja pena de litigância de má-fé (não se caça a universal. Mesmo se o regime for o de separação to-
interrupção porque a lei não prevê esta sanção). tal, se adquiriram juntos o bem e registraram como
Todos os processos que, em decorrência do desmem- pertencente a ambos, precisam litigar juntos (não
bramento, se formarem correrão perante o mesmo juízo ao por conta do vínculo matrimonial, mas sim devido
qual foi distribuído o processo originário. ao vínculo patrimonial de copropriedade). A questão
se refere aos bens adquiridos fora da constância da
Artigo 113, CPC. união, como bens possuídos anteriormente a ela. No
§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo caso, ainda assim, será preciso outorga uxória (mu-
quanto ao número de litigantes na fase de conhecimen- lher para o homem) e autorização marital (homem
to, na liquidação de sentença ou na execução, quando para a mulher), regularizando o polo processual. So-
este comprometer a rápida solução do litígio ou dificul- mente se dispensa esta nos regimes da separação
tar a defesa ou o cumprimento da sentença. total de bens e de participação final nos aquestos
§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo com cláusula específica em pacto antenupcial.
para manifestação ou resposta, que recomeçará da inti- b) Por conta da natureza da relação jurídica: Se a re-
mação da decisão que o solucionar. lação jurídica for uma e incindível, tanto que a res-
posta tenha que ser a mesma para as partes, então
3. Litisconsórcio necessário o litisconsórcio será necessário. Em outras palavras,
se o litisconsórcio for unitário, será necessário. Ex.:
A respeito do litisconsórcio necessário, dispõe o CPC: todos proprietários do bem precisam ingressar com
Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição uma ação de nunciação de obra juntos.
de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica con- Ocorre que a legislação prevê um caso em que, mes-
trovertida, a eficácia da sentença depender da citação de mo que o litisconsórcio seja unitário, será facultada
todos que devam ser litisconsortes. a composição do litisconsórcio. Trata-se de litiscon-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a sórcio facultativo unitário. Isso acontece sempre
integração do contraditório, será: que a lei prevê hipótese de legitimidade extraordiná-
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a ria, quando uma pessoa pode litigar em nome de di-
todos que deveriam ter integrado o processo; reito alheio (ex.: um síndico pode defender o prédio
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não inteiro; o Ministério Público pode defender certos in-
foram citados. teresses indisponíveis; uma pessoa que tenha posse
Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo ne- com outras pode sozinha proteger a coisa toda de
cessário, o juiz determinará ao autor que requeira a ci- terceiros).
tação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do
prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. 4. Litisconsórcio facultativo

Litisconsórcio necessário é aquele que obrigatoriamen- Art. 113, CPC. Duas ou mais pessoas podem litigar, no
te deverá ser formado. Neste sentido, o juiz poderá adotar mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente,
medidas para a integração dos polos da ação, obrigando quando:

38
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obriga-
ções relativamente à lide; #FicaDica
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela
causa de pedir; Litisconsórcio necessário – Deve se formar
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de Litisconsórcio facultativo – Pode se formar
fato ou de direito. Litisconsórcio unitário – Resultado deve ser o
mesmo
Todos os incisos se referem à conexão, partindo da es- Litisconsórcio simples – Resultado não deve ser
pécie mais intensa que é a comunhão de direitos e obri- o mesmo
gações (ex.: solidariedade), passando pela conexão clássica Todo litisconsórcio unitário é necessário; mas
intermediária, chegando à conexão mínima por simples nem todo litisconsórcio necessário é unitário,
afinidade. pois pode ser necessário por força de lei.
O litisconsórcio facultativo é simples, ressalvado
5. Litisconsórcio unitário e simples o caso de legitimidade extraordinária, quando
poderá existir litisconsórcio facultativo unitário.
Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela na-
tureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito
de modo uniforme para todos os litisconsortes. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
Se o resultado tem que ser o mesmo para todas as par-
tes, então o litisconsórcio é unitário. Ex.: num divórcio não Terceiro é aquele que não figura como parte no pro-
é possível que o resultado seja diferente para os cônjuges. cesso. A intervenção de terceiros ocorre quando alguém
Se o resultado pode ser diferente para as partes em li- ingressa em processo alheio que esteja pendente. Tal inter-
tisconsórcio (basta poder ser diferente, não tem que ser venção somente se justifica se a esfera jurídica do terceiro
diferente), então o litisconsórcio é simples. puder ser atingida de alguma maneira pela decisão judicial.
Sendo assim, a pessoa não é parte, mas como pode ser
6. Regime de litisconsórcio juridicamente afetada pela decisão ingressa na relação jurí-
dico-processual como terceiro.
Art. 117, CPC. Os litisconsortes serão considerados, em As diversas modalidades de intervenção podem ser
suas relações com a parte adversa, como litigantes dis- agrupadas em dois grupos:
tintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os a) Intervenções voluntárias ou espontâneas – aquelas
atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, em que a iniciativa parte do terceiro – assistência e
mas os poderão beneficiar. recurso de terceiro prejudicado, notadamente. Res-
salta-se que a oposição foi extinta no novo CPC e
Por regime de litisconsórcio entenda-se o tratamento se enquadraria nesta categoria. Por seu turno, cria-se
jurídico que será dado aos atos praticados pelos litiscon- no novo CPC a figura do “amicus curiae” (antes res-
sortes no processo. trita a recursos extraordinários e ações diretas de in-
O regime que é a regra geral é o da autonomia, aplicá- constitucionalidade) que pode ser enquadrada nesta
vel a todos os casos de litisconsórcio simples. Sendo assim, modalidade.
as atitudes de um litisconsorte não prejudicarão nem be- b) Intervenções provocadas – aquelas que são provo-
neficiarão os demais. cadas pelas partes, que postulam que o terceiro seja
Contudo, no litisconsórcio unitário o resultado tem que compelido a participar – denunciação da lide e cha-
ser o mesmo. Então, o regime não é o da autonomia, mas o mamento ao processo, notadamente. A nomeação à
da interdependência, de modo que o que um fizer benefi- autoria que se enquadraria neste grupo foi extinta no
ciará o outro, mas não poderá prejudicar. Ex.: se um produz novo CPC. Por sua vez, o novo CPC cria a modalidade
uma prova contundente, ela o beneficiará; se o mesmo re- de incidente de desconsideração da personalidade
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

nuncia ao direito ou reconhece a procedência do pedido, o jurídica, chamando os sócios aos autos como tercei-
ato não o prejudicará. ros, que se enquadra nesta modalidade.
Preconiza ainda a legislação processual civil:
Art. 118, CPC. Cada litisconsorte tem o direito de pro- Não obstante, é possível dividi-las em outros dois gru-
mover o andamento do processo, e todos devem ser inti- pos:
mados dos respectivos atos. a) Com natureza de ação – aquelas que implicam na
formulação de novo pedido – denunciação da lide
(se formula em face do denunciado uma postulação
de exercício de direito de regresso) e chamamento
ao processo (fiador e devedor solidário possuem a
pretensão de reembolso em face do devedor prin-
cipal ou dos codevedores). Inclui-se também a futu-
ramente extinta oposição (o terceiro tem a mesma
pretensão que as partes). O incidente de desconsi-

39
deração da personalidade jurídica tem natureza de Art. 119, CPC. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais
ação, pois chama aos autos uma nova parte, que po- pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a
derá ter seu patrimônio atingido. sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no
b) Sem natureza de ação – aquelas que não ampliam processo para assisti-la.
os limites objetivos da demanda, que não implicam Parágrafo único. A assistência será admitida em qual-
em formulação de um novo pedido – assistência (o quer procedimento e em todos os graus de jurisdição,
terceiro apenas auxilia uma das partes a obter um recebendo o assistente o processo no estado em que se
resultado mais favorável). Inclui-se a futuramente encontre.
extinta nomeação à autoria (ocorre substituição pro-
cessual no polo passivo). A nova modalidade “amicus Sua atuação é subordinada e dependente do assistido.
curiae” se enquadra nesta classificação, pois ele atua A atuação é possível em qualquer tipo de processo de
em busca do melhor interesse do órgão jurisdicional conhecimento. Excepcionalmente, pode se admitir em pro-
(decisão mais justa), não alterando os limites da de- cesso cautelar.
manda. Art. 121, CPC. O assistente simples atuará como auxiliar
da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujei-
1. Assistência tar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro
Com o nome de assistência, o CPC trata de dois institu- modo, omisso o assistido, o assistente será considerado
tos distintos, tanto nos requisitos quanto nos poderes do seu substituto processual.
interveniente e os efeitos que ele sofre. Art. 122, CPC. A assistência simples não obsta a que a
O procedimento de ingresso, por seu turno, é o mes- parte principal reconheça a procedência do pedido, de-
mo – o assistente peticiona ao juiz, requerendo o seu in- sista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a
gresso e indicando o interesse jurídico que autoriza a sua ação ou transija sobre direitos controvertidos.
admissão. O juiz pode indeferir de plano se perceber que a
intervenção não é cabível. Se a intervenção parecer cabível, Como não é titular da relação jurídica principal em juí-
zo, os poderes do assistente simples são limitados. Ele é
abrirá prazo para as partes se manifestarem sobre o in-
um auxiliar da parte principal, exercendo mesmos poderes
gresso. Se permanecerem silentes, significa que o ingresso
e se sujeitando aos mesmos ônus, contudo não tem poder
foi aceito. Se impugnarem o ingresso, o juiz decidirá sem
de impedir que a parte principal reconheça a procedên-
suspender o processo.
cia do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos
Art. 120, CPC. Não havendo impugnação no prazo de 15
controvertidos, hipóteses em que, terminado o processo,
(quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo
acaba a intervenção do assistente. Sendo assim, ele pratica
se for caso de rejeição liminar. todos os atos, menos aqueles dos quais o assistido tenha
Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao desistido. Também não pratica atos que são exclusivos das
requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá partes, como reconvir, apresentar ação declaratória inci-
o incidente, sem suspensão do processo. dental, valer-se da denunciação da lide ou do chamamento
ao processo, ou opor exceção de incompetência relativa.
a) Assistência simples Pode apresentar contestação e, se o réu for revel, será con-
O fundamento principal para que o terceiro intervenha siderado seu substituto processual segundo o CPC.
na qualidade de assistente simples é que tenha interesse O assistente não paga os honorários advocatícios ao
jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, final do processo e nem se beneficia deles (claro, isso não
a assistida. Para tanto, é preciso que o terceiro seja atingido inclui os honorários particulares negociados com o advo-
pelos efeitos da sentença. gado que o represente, fala-se aqui da condenação por
O assistente simples não é, nem se alega, titular da re- honorários e na sucumbência). Contudo, o assistente arca
lação jurídica que está sendo discutida em juízo. Se o fosse, com custas, na proporção de sua participação no processo.
não seria terceiro, mas parte. No entanto, é titular de rela-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Se o terceiro que tem interesse jurídico não tiver in-


ção jurídica que mantém estreita ligação com a que está gressado como assistente simples no processo, mas quiser
em juízo. fazê-lo para recorrer deverá apresentar o chamado recurso
Os terceiros devem ser juridicamente interessados, ou de terceiro prejudicado. Sendo assim, o recurso de terceiro
seja, não podem ser desinteressados e nem interessados prejudicado não é uma modalidade de intervenção autô-
de fato. Os desinteressados não possuem nenhuma afe- noma, mas sim um tipo de assistência tardia. Se a parte as-
tação pelo vínculo. Os interessados de fato possuem afe- sistida tiver renunciado ao direito de recorrer, não poderá
tação econômica, mas não jurídica (ex.: se a pessoa perder o assistente apresentar o recurso de terceiro prejudicado.
o processo não terá dinheiro para pagar o que me deve). Art. 123, CPC. Transitada em julgado a sentença no
Nenhum destes pode ser assistente, mas somente o que processo em que interveio o assistente, este não pode-
possui interesse jurídico, isto é, que mantém com uma das rá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão,
partes uma relação jurídica que será afetada com o resul- salvo se alegar e provar que:
tado do processo. I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas
declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de
produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

40
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas contestação se com a procedência da ação puder obter de
das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. volta o que tiver sido condenado a pagar. Nestes termos,
Sob o aspecto dos efeitos da sentença, o assistente sim- destaca-se a legislação:
ples não é atingido pela sentença – e nem poderia, pois Art. 126, CPC. A citação do denunciado será reque-
não é titular da relação jurídica. rida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou
na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser
b) Assistência litisconsorcial realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131.
O assistente litisconsorcial é o substituído processual. Art. 127, CPC. Feita a denunciação pelo autor, o de-
O que o diferencia do assistente simples é que ele é titular nunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do
da própria relação jurídica em juízo. Só existe assistência denunciante e acrescentar novos argumentos à petição
litisconsorcial no campo da legitimidade extraordinária, inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu.
isto é, somente pode ser assistente litisconsorcial aquele Art. 128, CPC. Feita a denunciação pelo réu:
que poderia ter sido parte na ação e que não o foi porque I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo
existia alguém com legitimidade para sozinho plenamente autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal,
representá-lo na ação. Em outras palavras, a pessoa pode- em litisconsórcio, denunciante e denunciado;
ria ter ingressado com a ação juntamente com o assistido, II - se o denunciado for revel, o denunciante pode dei-
mas o assistido tinha legitimidade para ingressar sozinho xar de prosseguir com sua defesa, eventualmente ofe-
e o fez – se tivesse ingressado junto estaríamos diante de recida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atua-
uma hipótese de legitimidade facultativa unitária. ção à ação regressiva;
Há litisconsórcio facultativo unitário quando aqueles III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo
que poderiam estar sozinhos no polo da ação estão acom- autor na ação principal, o denunciante poderá prosse-
panhados. Há assistência litisconsorcial com o ingresso guir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimen-
posterior daquele que poderia ter sido litisconsorte facul- to, pedir apenas a procedência da ação de regresso.
tativo unitário. Parágrafo único. Procedente o pedido da ação prin-
Art. 124, CPC. Considera-se litisconsorte da parte cipal, pode o autor, se for o caso, requerer o cumpri-
principal o assistente sempre que a sentença influir mento da sentença também contra o denunciado, nos
na relação jurídica entre ele e o adversário do as- limites da condenação deste na ação regressiva.
sistido.
O denunciado terá interesse de que o resultado seja fa-
vorável ao denunciante, de modo que não tenha que arcar
Sua atuação não é subordinada e é independente do
com nada a título de regresso (se o resultado for favorável
assistido. Na qualidade de titular da lide, o assistente li-
ao denunciante, extingue-se sem julgamento do mérito a
tisconsorcial desde o momento em que ingressa é trata-
decisão sobre o direito de regresso, que fica prejudicada).
do como litisconsorte do assistido, devendo a ambos ser
Ainda, poderá postular que não seja reconhecido o direi-
aplicado o regime do litisconsórcio unitário. A assistência
to de regresso em relação ao denunciante (sendo assim,
litisconsorcial é, muitas vezes, um litisconsórcio facultativo
quando deferida a denunciação amplia o objeto do proces-
unitário ulterior. O regime será o mesmo do litisconsórcio
so, acrescentando a decisão sobre o direito de regresso).
unitário: os atos benéficos praticados beneficiam a todos e
Neste sentido:
os atos prejudiciais praticados só valem se praticados por Art. 129, CPC. Se o denunciante for vencido na ação
todos litisconsortes porque não prejudicam a todos. principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação
Sob o aspecto dos efeitos da sentença, é atingido pela da lide.
coisa julgada. Aliás, o seria mesmo se não participasse do Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação
processo, porque se estaria diante de legitimidade extraor- de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem
dinária. prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
das verbas de sucumbência em favor do denunciado.
2. Denunciação da lide Indeferido o ingresso do terceiro, cabe agravo de ins-
trumento.
Trata-se de forma provocada de intervenção de tercei- Não é possível denunciação da lide nos processos de
ros, com natureza de ação, também conhecida por litisde- execução e cautelar, mas somente em processo de conhe-
nunciação. Nela, a existência do processo é denunciada ao cimento.
terceiro. Todas as hipóteses se relacionam ao exercício do
direito de regresso, de modo que o terceiro ao qual a lide é Cabe estudar, por fim, as hipóteses de denunciação da
denunciada é um sujeito que poderá ser processado futu- lide e questões correlatas. Conforme o CPC, “o direito re-
ramente pelo réu da ação caso ele seja condenado, obten- gressivo será exercido por ação autônoma quando a de-
do de volta aquilo que foi condenado a pagar. nunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida
Tanto o autor quanto o réu podem fazer a denunciação ou não for permitida” (artigo 125, §1º, CPC).
da lide. Neste sentido, o autor denuncia na petição inicial Quanto à denunciação sucessiva (o denunciado se tor-
se com a improcedência da ação puder obter de volta o na denunciante de outro denunciado), o CPC a prevê:
que tiver que arcar de um terceiro; e o réu denuncia na

41
Art. 125, § 2º, CPC. Admite-se uma única denuncia- Art. 131, CPC. A citação daqueles que devam figurar
ção sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na
antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trin-
responsável por indenizá-lo, não podendo o denuncia- ta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento.
do sucessivo promover nova denunciação, hipótese em Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comar-
que eventual direito de regresso será exercido por ação ca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto,
autônoma. o prazo será de 2 (dois) meses.
De qualquer forma, somente cabe uma única vez a de- Em relação à sentença, permitindo que o réu que ar-
nunciação sucessiva. que com a obrigação se sub-rogue nos direitos do credor,
São casos em que cabe a denunciação da lide: destaca-se:
a) Evicção Art. 132, CPC. A sentença de procedência valerá como
Art. 125, I, CPC. Ao alienante imediato, no processo re- título executivo em favor do réu que satisfizer a dívi-
lativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, da, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor
a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quo-
resultam. ta, na proporção que lhes tocar.
Evicção é a perda da coisa adquirida em contrato one- O devedor que, condenado, pagar a dívida, fica sub-ro-
roso por força de sentença judicial transitada em julgado gado nos direitos do credor. Caso tenham sido condena-
ou decisão administrativa. Evicto é o sujeito que perde a dos fiador e devedor principal, o primeiro pode exigir que
coisa, que sofre a evicção (no caso, o réu da ação e denun- antes sejam excutidos bens do segundo.
ciante); evictor é aquele indivíduo que busca a coisa, ou Em relação às hipóteses de chamamento ao processo,
seja, que entende ter o melhor direito sobre a coisa trans- destaca-se:
mitida (no caso, o autor da ação); alienante é o responsável Art. 130, CPC. É admissível o chamamento ao processo,
pela evicção (no caso, o denunciado). O evictor faz jus à requerido pelo réu:
coisa em si. O alienante tem responsabilidade de tornar o I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
evicto indene, sem dano algum. Sendo assim, se ao final do
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou
processo se decidir que o evictor estava certo, a ele será
alguns deles;
devolvido o bem, mas no mesmo processo o evicto exer-
III - dos demais devedores solidários, quando o credor
cerá o direito de regresso contra o alienante denunciado,
exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida co-
que deverá torná-lo indene pagando por perdas e danos.
mum.
Nota-se que apesar da redação ligeiramente diversa as
b) Possibilidade de ação regressiva
hipóteses permanecem as mesmas, quais sejam, fiança e
Trata-se da hipótese mais abrangente, que envolve
solidariedade passiva.
qualquer situação em que o exercício do direito de regres-
so seja possível. Um exemplo bastante clássico é o dos Quanto à fiança, o fiador é obrigado a chamar o deve-
contratos de seguro, posto que a seguradora irá indenizar dor principal no processo de conhecimento, sob pena de
o dano em caso de condenação do seu segurado. não poder fazê-lo na fase de execução invocando seu be-
Art. 125, II, CPC. Àquele que estiver obrigado, por lei ou nefício de ordem, ou seja, apontando bens do devedor que
pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de possam satisfazer a dívida para que os seus não sejam atin-
quem for vencido no processo. gidos. Evidentemente, se não houver processo de conheci-
mento prévio, como não cabe o chamamento no processo
3. Chamamento ao processo de execução, o benefício de ordem não fica prejudicado.
Quanto à solidariedade passiva, se caracteriza pela
É uma forma provocada de intervenção de terceiros, possibilidade do credor poder exigir o total da dívida de
pela qual se atribui ao réu a possibilidade de chamar ao qualquer um dos devedores. Contudo, este devedor não é
processo os outros devedores para que ocupem também a obrigado a ficar sozinho no polo passivo, podendo chamar
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

posição de réus, sendo todos condenados na mesma sen- seus codevedores para dividirem a responsabilidade. Se o
tença em caso de procedência. réu pagar a integralidade da dívida, se sub-rogará nos di-
Somente o réu pode promover o chamamento ao pro- reitos do credor, podendo inclusive promover a execução
cesso. Os chamados passam a ocupar o polo passivo na destes codevedores nos mesmos autos.
qualidade de corréus e litisconsortes, de modo que o cha-
mamento provoca uma ampliação do polo passivo da ação. 4. Modalidades incluídas no novo CPC
Sendo assim, o réu e os chamados serão condenados em
caso de procedência da ação e todos eles poderão ser exe- O novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor
cutados. em 2016, incluiu duas novas modalidades de intervenção
O chamamento é facultativo e caso seja condenado o de terceiros, quais sejam o incidente de desconsideração
réu que não o tenha feito pode processar o coobrigado da personalidade jurídica e o “amicus curiae”.
posteriormente em ação autônoma. O incidente de desconsideração da personalidade jurí-
Somente é possível em processo de conhecimento. dica está disciplinado nos artigos 133 a 137, sendo moda-
lidade de intervenção de terceiros porque inclui na relação

42
jurídico-processual o(s) sócio(s) da pessoa jurídica na des- juiz tenha uma decisão mais justa no caso concreto, fazen-
consideração da personalidade jurídica comum ou a pes- do-se vale de conhecimentos especializados que fogem à
soa jurídica na desconsideração inversa. sua alçada.
Art. 133. O incidente de desconsideração da personali- Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevân-
dade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do cia da matéria, a especificidade do tema objeto da
Ministério Público, quando lhe couber intervir no pro- demanda ou a repercussão social da controvérsia, po-
cesso. derá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requeri-
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurí- mento das partes ou de quem pretenda manifestar-se,
dica observará os pressupostos previstos em lei. solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de jurídica, órgão ou entidade especializada, com re-
desconsideração inversa da personalidade jurídica. presentatividade adequada, no prazo de 15 (quinze)
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em dias de sua intimação.
todas as fases do processo de conhecimento, no cum- § 1º A intervenção de que trata o caput não implica
primento de sentença e na execução fundada em título alteração de competência nem autoriza a interpo-
executivo extrajudicial3. sição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente co- de declaração e a hipótese do § 3o.
municada ao distribuidor para as anotações devidas. § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que so-
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a des- licitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do
consideração da personalidade jurídica for requerida na amicus curiae.
petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a § 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que jul-
pessoa jurídica. gar o incidente de resolução de demandas repetitivas.
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo,
salvo na hipótese do § 2º. 5. Modalidades excluídas pelo novo CPC
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais específicos para desconsidera- Duas modalidades de intervenção de terceiros foram
ção da personalidade jurídica4. excluídas pelo novo CPC que entrou em vigor no ano de
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa ju- 2016, quais sejam a oposição e a nomeação à autoria. O
rídica será citado para manifestar-se e requerer as pro- legislador entendeu que estas modalidades tornavam
vas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. complexa a relação jurídico-processual e que poderiam ser
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o inciden- excluídas sem grandes prejuízos, afinal, nada impede que a
te será resolvido por decisão interlocutória. mesma situação que seria invocada por estas modalidades
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, o seja em relação jurídico-processual autônoma.
cabe agravo interno.
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alie-
nação ou a oneração de bens, havida em fraude de exe- #FicaDica
cução, será ineficaz em relação ao requerente.
Assistência – Interesse jurídico no resultado
Não obstante, o CPC inova com a modalidade do “ami- processual
cus curiae”, que é toda pessoa natural ou jurídica que pos- Chamamento ao processo – devedor solidário
sua conhecimento especializado na matéria em litígio. Ela ou subsidiário (fiador)
atuará como amiga da Corte, não como auxiliar de nenhu- Denunciação da lide – evicção e regresso
ma das partes no processo. Colaborará, assim, para que o (seguro)
3 Eis mais um diferencial desta nova intervenção de terceiros, que
* Novas modalidades:
pode ser invocada não somente em processo de conhecimento. Amicus Curiae – Matéria com relevância social,
cultural, econômica, jurídica...
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
4 A regra geral se encontra no artigo 50 do Código Civil. O grande
requisito é a comprovação de fraude também chamada de abuso pa- Incidente de desconsideração da personalidade
trimonial. Ela se verifica pela confusão patrimonial ou pelo desvio de jurídica – Atingir patrimônio do sócio de PJ ou
finalidade. Na confusão patrimonial, o sócio ou administrador usa o o inverso
patrimônio da pessoa jurídica como se dela fosse. Isto acontece muito * Modalidades excluídas
em empresas de administração familiar. O patrimônio deve sair licita-
mente da sociedade, sem que seja na informalidade, deve dividir os
Oposição
lucros, garantir o pagamento dos credores. Ex.: se o sócio compra um Nomeação à autoria
carro de luxo em seu nome com o dinheiro da empresa, cheque da
empresa. No desvio de finalidade, a pessoa jurídica é utilizada com
finalidade diversa. A finalidade essencial é a vinculação ao objeto ju-
rídico. Este desvio gera a presunção de que o sócio utilizou a pessoa
jurídica para obter uma proteção de fachada. Ex.: utiliza restaurante
para compra e venda de veículos, comprometendo os reais credores
da área de alimentação. Para a prova, basta comparar a origem da
dívida com o objeto social. O objeto social pode ter finalidade direta
ou indireta.

43
CPC/1973 CPC/2015
EXERCÍCIO COMENTADO Artigo 262 Artigo 2º
Artigo 263 Artigo 312
1. (TJ-RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP/2018)
Artigo 264 Artigo 329
Sobre o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, é correto afirmar que:
Neste sentido, o artigo 2º do CPC/2015, corresponden-
te ao artigo 262 do CPC/1973, prevê que “o processo co-
a) como efeito do acolhimento do pedido de desconside-
meça por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso
ração, passarão a estar sujeitos à execução os bens do
oficial, salvo as exceções previstas em lei”. Basicamente, se
responsável limitado a sua cota social.
traz o princípio da demanda, de modo que o Judiciário não
b) é uma forma de intervenção de terceiros, podendo criar-
pode agir de ofício para iniciar a atividade jurisdicional, de-
-se um litisconsórcio passivo facultativo.
vendo ser provocado. Uma vez provocada a jurisdição, o
c) instaurado na petição inicial, ocorrerá a suspensão do
Judiciário poderá tocar o processo, fazendo com que ele
processo, independentemente do requerimento do in-
siga seu rumo, o que se denomina impulso oficial.
teressado.
Por seu turno, o artigo 312 do CPC/2015, em igual teor
d) resolvido o incidente em sentença, que julgar o mérito
que o artigo 263 do CPC/1973, dispõe que “considera-se
da demanda, caberá agravo de instrumento quanto a
proposta a ação quando a petição inicial for protocolada,
esta questão.
todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os
e) o Ministério Público poderá requerer o incidente, po-
efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamen-
dendo ser instaurado de ofício pelo juiz, se o caso.
te citado”. Basicamente, o dispositivo nos lembra que a ci-
tação, ato que chama o réu ao processo, é um pressuposto
Resposta: “Letra B”. Dispõe o CPC: “Instaurado o in-
de existência. Com efeito, a ação é considerada proposta
cidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
com a petição inicial, mas a relação jurídico-processual só
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de
estará completa quando o réu for validamente citado para
15 (quinze) dias.
compô-la.
A. Prevê o CPC: “Art. 790. São sujeitos à execução os
Deixa-se o estudo da alteração do pedido para o mo-
bens: [...] VII - do responsável, nos casos de desconside-
mento oportuno, notadamente quando da sua análise en-
ração da personalidade jurídica”.
quanto elemento da inicial.
C. Prevê o CPC: “Art. 134, § 2º, CPC. Dispensa-se a ins-
tauração do incidente se a desconsideração da persona-
1. Suspensão do processo
lidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese
em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. Art. 134,
É a suspensão do curso do procedimento, a paralisação
§ 3º, CPC. A instauração do incidente suspenderá o pro-
processual. Pode dizer respeito à prática de apenas alguns
cesso, salvo na hipótese do § 2o”.
atos processuais.
D. Nos termos do artigo 1.009, CPC: “Da sentença cabe
apelação”.
Art. 313. Suspende-se o processo:
E. Prevê o artigo 133, CPC: “O incidente de desconside-
I - pela morte ou pela perda da capacidade processual
ração da personalidade jurídica será instaurado a pedido
de qualquer das partes, de seu representante legal ou de
da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
seu procurador;
intervir no processo”.
II - pela convenção das partes;
III - pela arguição de impedimento ou de suspeição;
IV- pela admissão de incidente de resolução de deman-
DA FORMAÇÃO, DA SUSPENSÃO E DA das repetitivas;
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

EXTINÇÃO DO PROCESSO. V - quando a sentença de mérito:


a) depender do julgamento de outra causa ou da decla-
ração de existência ou de inexistência de relação jurí-
FORMAÇÃO DO PROCESSO dica que constitua o objeto principal de outro processo
pendente;
O CPC/1973 era impreciso neste capítulo que abordava b) tiver de ser proferida somente após a verificação de
a formação do processo, notadamente porque incluía dis- determinado fato ou a produção de certa prova, requisi-
positivo sobre a alteração do pedido. O CPC/2015 somente tada a outro juízo;
traz um dispositivo neste capítulo, seu artigo 312. VI - por motivo de força maior;
VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de
acidentes e fatos da navegação de competência do Tri-
bunal Marítimo;
VIII - nos demais casos que este Código regula.

44
IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a § 1º Se a ação penal não for proposta no prazo de 3
advogada responsável pelo processo constituir a única (três) meses, contado da intimação do ato de suspen-
patrona da causa; são, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível
X - quando o advogado responsável pelo processo cons- examinar incidentemente a questão prévia.
tituir o único patrono da causa e tornar-se pai. § 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspen-
§ 1º Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o pro- so pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual
cesso, nos termos do art. 689. aplicar-se-á o disposto na parte final do § 1º.
§ 2º Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhe-
cimento da morte, o juiz determinará a suspensão do 2. Extinção do processo
processo e observará o seguinte:
I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para Extinção é o fim do processo. Todo processo precisa de
que promova a citação do respectivo espólio, de quem uma decisão final, que será uma sentença ou um acórdão,
for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que a ela equivale. Quando o artigo 316 utiliza a expressão
que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) sentença se refere a este sentido genérico.
meses; O novo Código exige do juiz genuíno esforço para cor-
II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em reção dos vícios processuais, buscando a decisão de méri-
litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem to. Apenas excepcionalmente deverá o juiz extinguir o pro-
for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos cesso diante da presença de vícios, abstendo-se de julgar a
meios de divulgação que reputar mais adequados, para pretensão levada a juízo.
que manifestem interesse na sucessão processual e pro-
movam a respectiva habilitação no prazo designado, sob Art. 316. A extinção do processo dar-se-á por sentença.
pena de extinção do processo sem resolução de mérito.
§ 3º No caso de morte do procurador de qualquer das Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de
partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade
para, se possível, corrigir o vício.
julgamento, o juiz determinará que a parte constitua
novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final
do qual extinguirá o processo sem resolução de méri- #FicaDica
to, se o autor não nomear novo mandatário, ou orde-
nará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se Formação do processo – Processo começa – É
falecido o procurador deste. necessário que ocorra a provocação da jurisdi-
§ 4º O prazo de suspensão do processo nunca poderá ção por quem é legítimo.
exceder 1 (um) ano nas hipóteses do inciso V e 6 (seis) Suspensão do processo – Em determinadas
meses naquela prevista no inciso II. circunstâncias, suspende-se o processo para
§ 5º O juiz determinará o prosseguimento do processo sua regularização ou para o cumprimento de
assim que esgotados os prazos previstos no § 4º. acordo – A morte somente suspende quando
§ 6º No caso do inciso IX, o período de suspensão será o processo não for personalíssimo (ex.: todos
de 30 (trinta) dias, contado a partir da data do parto processos penais são, então a morte gera o fim
ou da concessão da adoção, mediante apresentação do processo).
de certidão de nascimento ou documento similar que Extinção do processo – Fim do processo.
comprove a realização do parto, ou de termo judicial
que tenha concedido a adoção, desde que haja notifi-
cação ao cliente.
§ 7º No caso do inciso X, o período de suspensão será PROVAS, DISPOSIÇÕES GERAIS. ÔNUS
de 8 (oito) dias, contado a partir da data do parto ou da DA PROVA. PROVAS EM ESPÉCIE E SUA
concessão da adoção, mediante apresentação de cer-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

PRODUÇÃO.
tidão de nascimento ou documento similar que com-
prove a realização do parto, ou de termo judicial que
tenha concedido a adoção, desde que haja notificação 1. Teoria geral da prova
ao cliente.
A prova é fundamental no processo civil. Embora exis-
Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer tam muitos processos em que a questão controvertida seja
ato processual, podendo o juiz, todavia, determinar a rea- exclusivamente de direito, não cabendo a produção de
lização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, produção de provas, diversos são os que exigem a apura-
salvo no caso de arguição de impedimento e de suspeição. ção de fatos mediante provas específicas. Com efeito, é por
meio das atividades probatórias que o juiz terá elementos
Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de ve- para decidir sobre a veracidade e a credibilidade das alega-
rificação da existência de fato delituoso, o juiz pode de- ções. Basicamente, pelas provas se forma o convencimento
terminar a suspensão do processo até que se pronuncie do magistrado sobre a existência de fatos controvertidos
a justiça criminal. que tenham relevância para o processo.

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A prova pode ser examinada sob o aspecto objetivo e c) Objeto da prova
subjetivo. Sob o objetivo, é o conjunto de meios que pro- O objeto da prova são exclusivamente os fatos, deven-
duz a certeza jurídica; sob o subjetivo, é a convicção que se do estes ser relevantes para o processo.
forma no espírito do julgador. O Direito não deve ser provado, em regra, pois o juiz
conhece o Direito – jura novit curia. Contudo, o juiz não
a) Classificação da prova tem como conhecer o Direito do mundo inteiro e de cada
As provas classificam-se de acordo com o objeto, sujei- região. Neste sentido, prevê o CPC: “art. 376. A parte que
to e a forma pela qual são produzidas. alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consue-
Quanto ao objeto, podem ser diretas, quando manti- tudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz
verem uma relação imediata com o fato a ser provado (ex.: determinar”. Logo, a parte deverá provar a vigência e o teor
recibo prova o pagamento), ou indiretas, que se referem a do direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudi-
fato distinto do que pretende provas (ex.: prova que esta- nário.
va em outro lugar para provar que não estava no local do Voltando aos fatos, mesmo entre os fatos relevantes,
fato). há alguns que não precisam ser provados, conforme prevê
Quanto ao sujeito, pode ser pessoal, quando consis- o CPC:
tir em declaração ou afirmação de pessoa (como a prova Art. 374. Não dependem de prova os fatos:
testemunhal ou o depoimento pessoal), ou real, quando I - notórios;
obtida de exame de coisa ou pessoa (prova pericial ou do- II - afirmados por uma parte e confessados pela parte
cumental, por exemplo). contrária;
Quanto à forma, pode ser oral (ex.: depoimento) ou es- III - admitidos no processo como incontroversos;
crita (ex.: laudo pericial e documento). IV - em cujo favor milita presunção legal de existência
ou de veracidade.
b) Vedação das provas ilícitas
Nos termos do artigo 5º, LVI, CF, “são inadmissíveis, no Os notórios são aqueles de conhecimento geral na re-
processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. Ainda, pre- gião em que o processo tramita (ex.: há intenso tráfego
vê o artigo 369 do novo CPC: “as partes têm o direito de de veículos em São Paulo); os afirmados por uma parte e
empregar todos os meios legais, bem como os moralmente confessados pela contrária são incontroversos; os incontro-
legítimos, ainda que não especificados neste Código, para versos, de modo que a terceira hipótese se relaciona com
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a a segunda, ampliando-a; e os presumidos, absoluta ou re-
defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”. lativamente.
Compreende-se a consagração de um sistema de pro- Os fatos negativos, por seu turno, não precisam ser pro-
vas atípicas, de modo que podem ser produzidas não ape- vados no caso de negações absolutas, mas o precisam no
nas as provas arroladas como tais no Código de Processo caso de negações relativas.
Civil, mas todas as outras que não contrariem a lei, inclusive
os direitos e garantias fundamentais assegurados na Cons- d) Poderes instrutórios do juiz
tituição, a moral e os bons costumes. Os juristas têm o hábito de tentar escapar da proble-
A ilicitude da prova pode advir ou do modo como ela mática das provas e verdade recorrendo à distinção entre
foi obtida, ou do meio empregado para a demonstração verdade formal, judicial ou processual e material, de um
do fato. A causa mais frequente de ilicitude é a obtenção lado, e histórica, empírica ou simplesmente verdade, de
de prova por meio antijurídico, como a interceptação te- outro. É comum, também a distinção entre uma chamada
lefônica fora das hipóteses legais e a violação do sigilo de verdade relativa, que é aquela típica do processo, e uma
correspondência, entre outros. verdade absoluta, a qual existiria em algum lugar fora dos
Contudo, não se resume à violação da lei, se estenden- autos. Outra questão interessante é a correspondência, ou
do à desobediência da moral e dos bons costumes. “Mo- não, entre a realidade dos fatos e a verdade processual. A
ralmente legítimas” seria algo próximo da não ofensa ao distinção entre verdade formal e verdade material é ina-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

que a sociedade, de modo geral, considera como padrão ceitável por várias razões que a doutrina menos superficial
de comportamento. O conhecido adágio moral e bons cos- tem posto em evidência desde algum tempo. Afinal, a exis-
tumes. Trata-se de uma regra aberta, por meio da qual o tência de regras jurídicas e de limites de distinta natureza
julgador irá interpretar, em cada situação, quais meios de serve, no máximo, para excluir a possibilidade de obter ver-
provas seriam moralmente aceitáveis para o processo no dades absolutas, mas não é suficiente para diferenciar to-
qual são produzidas. talmente a verdade que se estabelece no processo daquela
A preocupação com a utilização da prova ilícita é tal que se fala fora do mesmo.
que o Supremo Tribunal Federal tem adotado a teoria dos Na época em que se defendia a duplicidade de verdade,
frutos da árvore contaminada, estendendo a ilicitude às conforme acima exposto, não se falava em processo como
provas advindas de um desdobramento da produção da instrumento público voltado a entregar a prestação juris-
prova proibida. A doutrina defende a aplicação da teoria da dicional com qualidade, eficiência e segurança. Do mesmo
proporcionalidade, não se levando aos extremos a teoria modo, o estudo dos poderes instrutórios do julgador não
dos frutos da árvore envenenada. merecia a atenção de hoje, sobretudo no Brasil, após a se-
gunda metade do século passado.

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Sempre que se fala sobre poderes instrutórios do jul- Em termos de fundamentação jurídica, o Código de Pro-
gador os princípios que vêm à mente são o dispositivo e cesso Civil segue a toada da Constituição Federal e garante
inquisitivo. De um lado, diz-se que o primeiro limita os ao juiz ampla liberdade para determinar, de ofício, as pro-
poderes instrutórios do julgador, uma vez que a iniciativa vas que lhe pareçam necessárias para apuração da verdade
em termos de ação e provas caberia, de forma exclusiva, e para assegurar a igualdade real de tratamento entre as
às partes. De outra banda, o segundo quer fazer crer que partes:
cabe ao julgador perquirir sobre as provas acerca dos fatos Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da
sobre os quais a demanda está assentada. parte, determinar as provas necessárias ao julgamen-
Ocorre que tradicionalmente a doutrina relaciona o to do mérito.
conteúdo do princípio dispositivo com a atividade do ma- Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão funda-
gistrado no campo das provas. A doutrina clássica tem por mentada, as diligências inúteis ou meramente protela-
hábito vincular os poderes instrutórios do juiz à natureza tórias.
da relação de Direito Material trazida ao processo, afir-
mando-se que se for de direito disponível a iniciativa e a As provas formarão o convencimento do juiz, de modo
condução do feito são praticamente exclusivas das partes, que ele encontre e verdade e não tenha dúvidas sobre os
enquanto se for de direito indisponível a amplitude de po- fatos, evitando que ele tenha que se utilizar das regras de
deres do julgador é potencializada. julgamento do ônus da prova para decidir. Por sua vez, ele
Ocorre que a ideia de dicotomia entre os princípios deverá apreciar tais provas e indicar como o fez na decisão,
mencionados é derivada de mentalidade atrasada e rela- que deverá ser fundamentada.
tiva à fase em que o Direito Processual Civil não possuía Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos,
o reconhecimento e autonomia científica dos dias atuais. independentemente do sujeito que a tiver promovido, e
Hoje em dia não se pode mais manter posições herméticas indicará na decisão as razões da formação de seu con-
como a mencionada. É preciso que seja feita a conjugação vencimento.
entre os diversos institutos jurídicos envolvidos nos ques-
tionamentos, a fim de que deles seja extraído o resultado
Podem viger num sistema processual três sistemas de
mais útil para o sistema. Com o princípio dispositivo não
decisão quanto às provas: o da prova legal, em que é es-
é diferente. Deve ele ser encarado com base na visão pu-
tabelecida uma hierarquia entre as provas à qual o juiz fica
blicista de processo, sem deixar de notar que o papel do
vinculado (ex.: prova pericial vale mais que prova testemu-
julgador mudou e não é mais aquele de mero expectador
nhal); o do convencimento íntimo, no qual o juiz decide
do embate travado entre as partes.
como quiser e não precisa dizer quais provas usou para
Os sujeitos processuais têm a capacidade de estabele-
cer limitações quanto aos fatos a serem examinados pelo fazê-lo; e o do livre convencimento motivado, adotado
juiz, porém não têm o poder de definir quais meios de pro- nos Estados Democráticos de Direito, obrigando o juiz a
va serão utilizados para tanto, ou seja, não podem delimi- apontar os fundamentos jurídicos e fáticos de sua decisão,
tar os meios de prova que o julgador irá entender neces- que é tomada pelo seu livre convencimento. Logo, não há
sários para a formação do convencimento dele. E quanto a hierarquia entre as provas, mas o juiz precisa dizer por que
essa atuação do julgador, não se trata de simples conduta valorou mais uma do que a outra, fundamentando juridica-
supletiva, pois ele deve atuar de forma dinâmica, visando mente sua decisão.
a reproduzir nos autos um retrato fiel da realidade jurídi-
co-material. A atividade instrutória do juiz, como se nota, e) Meios e fontes de provas
está diretamente vinculada aos limites da demanda, que, Meios de prova são os instrumentos por meio dos quais
ao menos em princípio, não podem ser ampliados de ofí- os sujeitos processuais buscam comprovar os fatos con-
cio. Nessa medida, à luz dos fatos deduzidos pelas partes, trovertidos debatidos nos autos. Não se confundem com
deve o julgador desenvolver toda a atividade possível para as fontes das provas, pois estas são os objetos e pessoas
atingir os escopos do processo, limitado apenas aos fatos, sobre os quais recaem as alegações e fatos que precisam
ser demonstrados nos autos. Os meios, por sua vez, são os
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
porém não impedido de lançar mão de todos os meios de
prova necessários para a solução da demanda. procedimentos adotados para instruir o processo com as
Assim sendo, a interpretação que se deve dar ao prin- informações necessárias sobre os fatos nos quais se funda-
cípio dispositivo é no sentido de que ele limita a atividade mentam a demanda.
do julgador apenas em relação às possibilidades das partes Por meio do que se extrai do Código de Processo Civil
abrirem mão do direito material em si, jamais alcançando o brasileiro, o legislador pátrio optou por não prever, em rol
instrumento processual, sob pena de perda da sua utilida- fechado, todos os meios de prova. Preferiu, e nisso andou
de e isso, caso venha ocorrer, é extremamente prejudicial bem, estabelecer alguns meios de prova de forma exem-
para a efetividade e a justiça dos provimentos jurisdicionais, plificativa, deixando consignado no art. 332 do Código de
pois se correria o risco de deixar ao alvedrio das partes o Processo Civil que são aceitos no processo todos os meios
controle da instrução do processo, quando na verdade o legais, bem como moralmente legítimos, mesmo que não
magistrado é o destinatário das provas e ninguém melhor especificados em Lei.
do que ele para definir quais devem ser produzidas, a fim A título de exemplo, tem-se como meios de prova tí-
de que se consiga atingir o grau de certeza necessário para picos o testemunhal, documental, confissão, depoimento
que a decisão seja proferida com segurança. pessoal, inspeção judicial e perícias em geral. Não serão es-

47
tudados, um a um, pois isto acabaria por subverter o obje-
tivo da presente pesquisa. Em vista do rol não ser taxativo, #FicaDica
costuma-se dizer que existem provas atípicas no sistema
brasileiro. Poderão ser produzidas todas as provas admi-
O novo CPC inovou ao mencionar expressamente a tidas em Direito, isto é, que não violem a lei e
possibilidade de se buscar provas em outros processos, não contrariem a moral e os bons costumes.
no que se denomina prova emprestada: “Art. 372. O juiz Existem provas típicas tratadas no CPC, que
poderá admitir a utilização de prova produzida em outro são: depoimento pessoal, confissão, exibição
processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, de documento ou coisa, prova documental,
observado o contraditório”. Quando a prova vier de outro prova testemunhal, inspeção judicial, prova pe-
processo o juiz deve garantir que tenha havido contraditó- ricial.
rio em sua produção ou suprir a ausência deste nos autos Algumas destas provas serão colhidas logo
principais. após o saneador e outras na própria audiência
de instrução.
f) Dever de colaboração com a justiça
O dever de cooperação justifica a intervenção do julga-
dor quanto à produção de provas, pois revela que todos os 2. Audiência de instrução e julgamento
sujeitos processuais devem se ajudar, mutuamente, com o
objeto único de provocar a melhor decisão possível. A audiência de instrução e julgamento ocorrerá sem-
É certo que cada uma das partes defende, em primeiro pre que for necessária a produção de provas em audiência,
plano, interesses individuais, mas em segundo deve haver como depoimentos das partes, oitiva de peritos e, princi-
essa cooperação, sobretudo no aspecto relativo às provas, palmente, testemunhal. Será, assim, o ato derradeiro da
e para tanto é de suma relevância a intervenção do Estado, produção de provas, que encerrará a fase probatória para
pois o magistrado, como sujeito processual imparcial, pode dar abertura à fase de julgamento.
e deve servir de fiel da balança, quanto ao cumprimento
desse dever.
Art. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará
Atrelado ao dever de cooperação entre os sujeitos pro-
aberta a audiência de instrução e julgamento e manda-
cessuais, está o princípio da aquisição processual ou da co-
rá apregoar as partes e os respectivos advogados, bem
munhão da prova, o qual, em síntese, indica que a prova na
como outras pessoas que dela devam participar.
verdade não pertence às partes, mas sim ao processo, pois
Art. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conci-
em última análise, a prova tem como destinatário natural
liar as partes, independentemente do emprego anterior
o julgador.
de outros métodos de solução consensual de conflitos,
Quando se parte da premissa de que as provas, após
serem produzidas, pertencem ao processo, fica evidente como a mediação e a arbitragem.
que existe, antes de tudo, o dever de cooperação entre os Art. 360. O juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-
sujeitos processuais, tendo o julgador como o fiscal natural -lhe:
do jogo de ônus e sujeições existente entre todos os parti- I - manter a ordem e o decoro na audiência;
cipantes da relação jurídico-processual. II - ordenar que se retirem da sala de audiência os que
Art. 378. Ninguém se exime do dever de colaborar se comportarem inconvenientemente;
com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade. III - requisitar, quando necessário, força policial;
Art. 379. Preservado o direito de não produzir prova IV - tratar com urbanidade as partes, os advogados, os
contra si própria, incumbe à parte: membros do Ministério Público e da Defensoria Pública
I - comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for e qualquer pessoa que participe do processo;
interrogado; V - registrar em ata, com exatidão, todos os requerimen-
tos apresentados em audiência.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

II - colaborar com o juízo na realização de inspeção


judicial que for considerada necessária; Art. 361. As provas orais serão produzidas em audiên-
III - praticar o ato que lhe for determinado. cia, ouvindo-se nesta ordem, preferencialmente:
Art. 380. Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão
causa: aos quesitos de esclarecimentos requeridos no prazo e
I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que na forma do art. 477, caso não respondidos anterior-
tenha conhecimento; mente por escrito;
II - exibir coisa ou documento que esteja em seu poder. II - o autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoi-
Parágrafo único. Poderá o juiz, em caso de descumpri- mentos pessoais;
mento, determinar, além da imposição de multa, outras III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub- serão inquiridas.
-rogatórias. Parágrafo único. Enquanto depuserem o perito, os as-
sistentes técnicos, as partes e as testemunhas, não po-
derão os advogados e o Ministério Público intervir ou
apartear, sem licença do juiz.

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Art. 362. A audiência poderá ser adiada: § 3o O escrivão ou chefe de secretaria trasladará para os
I - por convenção das partes; autos cópia autêntica do termo de audiência.
II - se não puder comparecer, por motivo justificado, § 4o Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o
qualquer pessoa que dela deva necessariamente parti- disposto neste Código, em legislação específica e nas
cipar; normas internas dos tribunais.
III - por atraso injustificado de seu início em tempo § 5o A audiência poderá ser integralmente gravada em
superior a 30 (trinta) minutos do horário marcado. imagem e em áudio, em meio digital ou analógico, des-
§ 1o O impedimento deverá ser comprovado até a aber- de que assegure o rápido acesso das partes e dos órgãos
tura da audiência, e, não o sendo, o juiz procederá à julgadores, observada a legislação específica.
instrução. § 6o A gravação a que se refere o § 5o também pode ser
§ 2o O juiz poderá dispensar a produção das provas re- realizada diretamente por qualquer das partes, indepen-
queridas pela parte cujo advogado ou defensor públi- dentemente de autorização judicial.
co não tenha comparecido à audiência, aplicando-se a Art. 368. A audiência será pública, ressalvadas as ex-
mesma regra ao Ministério Público. ceções legais.
§ 3o Quem der causa ao adiamento responderá pelas
despesas acrescidas.
Art. 363. Havendo antecipação ou adiamento da audi- #FicaDica
ência, o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, deter-
Apregoadas as partes, tenta-se uma nova con-
minará a intimação dos advogados ou da sociedade
ciliação entre as partes.
de advogados para ciência da nova designação.
Frustrada, passa-se à colheita de prova (1º pe-
Art. 364. Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao ad- rito e assistentes, 2º depoimentos pessoais, 3º
vogado do autor e do réu, bem como ao membro do oitiva das testemunhas do autor, 4º oitiva das
Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, suces- testemunhas da defesa).
sivamente, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada Encerrada a instrução, entra-se na fase de jul-
um, prorrogável por 10 (dez) minutos, a critério do juiz. gamento e realizam-se debates orais (20 mi-
§ 1o Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o nutos prorrogáveis por mais 10 minutos) ou
prazo, que formará com o da prorrogação um só todo, então (o que é muito comum) abre-se prazo
dividir-se-á entre os do mesmo grupo, se não convencio- para apresentação de memoriais escritos (pra-
narem de modo diverso. zo sucessivo – primeiro autor e depois réu – de
§ 2o Quando a causa apresentar questões complexas de 15 dias).
fato ou de direito, o debate oral poderá ser substituído Feitos debates, o juiz profere sentença na pró-
por razões finais escritas, que serão apresentadas pelo pria audiência ou então escolhe proferir sen-
autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se tença por escrito.
for o caso de sua intervenção, em prazos sucessivos de
15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.
Art. 365. A audiência é una e contínua, podendo ser 3. Distribuição do ônus da prova
excepcional e justificadamente cindida na ausência de
perito ou de testemunha, desde que haja concordância a) Diferença entre ônus e dever
das partes. No presente tópico, discutiremos uma questão de no-
Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realiza- menclatura muito relevante: por que se falar em ônus da
ção da instrução, do debate e do julgamento no mesmo prova? É incorreto se falar num dever de provar? De início,
dia, o juiz marcará seu prosseguimento para a data mais vale apontar os critérios doutrinários que implicam em se
próxima possível, em pauta preferencial. falar em ônus da prova e não em dever ou em obrigação
Art. 366. Encerrado o debate ou oferecidas as razões da prova.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

finais, o juiz proferirá sentença em audiência ou no Ônus é o imperativo do próprio interesse; é a neces-
prazo de 30 (trinta) dias. sidade de que seja adotado certo comportamento como
Art. 367. O servidor lavrará, sob ditado do juiz, termo condição para que seja alcançado ou mantido algum be-
que conterá, em resumo, o ocorrido na audiência, bem nefício para sujeito onerado. Dever é a necessidade de se
como, por extenso, os despachos, as decisões e a senten- observar certas ordens ou comandos, sob pena de san-
ça, se proferida no ato. ção (no ônus não há sanção, se não cumprir a parte sofre
§ 1o Quando o termo não for registrado em meio eletrô- consequências não sancionatórias). Obrigação é o vínculo
nico, o juiz rubricar-lhe-á as folhas, que serão encader- jurídico pelo qual o credor pode exigir do devedor uma
nadas em volume próprio. prestação. O cerne da questão está no fato de que ao se
§ 2o Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o mem- considerar algo como ônus, será um imperativo do próprio
bro do Ministério Público e o escrivão ou chefe de se- interesse. Não se pode impor a ninguém cumprir um ônus,
cretaria, dispensadas as partes, exceto quando houver embora consequências possam advir da inércia.
ato de disposição para cuja prática os advogados não
tenham poderes.

49
Ônus são aquelas atividades que a parte realiza no pro- Sobre as regras de distribuição do ônus da prova,
cesso em seu próprio benefício. A lei não obriga as partes a quando uma questão de fato se apresenta como irreduti-
fazer prova, mas, se elas o fizerem, obterão a vantagem de velmente incerta no processo, o juiz poderá, teoricamente,
demonstrar suas alegações, e, se se omitirem, sofrerão as deixar de resolvê-la ou então insistir em resolvê-la. Adota-
consequências da ausência disso. da a segunda postura, será possível: que o problema seja
Além disso, se a prova fosse considerada um dever, ca- adiado por uma decisão provisória, que seja utilizado um
beria coagir uma parte a produzi-la, aplicando sanções à meio mecânico de prova (como o duelo ou o juramento)
pessoa em caso de descumprimento. Se tomarmos como ou então, o que parece mais adequado, empregar as regras
pressuposto que a um dever corresponde um direito, ha- de distribuição do ônus da prova. Trata-se do único critério
veria direito da parte contrária de ver a prova produzida. equânime e racional. A premissa do ônus da prova é a de
Talvez seja exatamente o ponto citado logo acima que que a parte que deseje obter sucesso numa demanda judi-
configure a questão primordial para se distinguir ônus de cial irá buscar de todas as formas convencer o magistrado.
dever, ou seja, no dever, por existir uma responsabilidade, Assim, as partes não têm apenas o encargo de alegar, mas
há o correspondente meio de coerção que pode ser uti- também de provar. Faz-se uma distribuição porque não se-
lizado para fazer com que a parte seja coagida a cumprir ria justo que apenas uma das partes tivesse o ônus.
a obrigação que lhe incumbe, lembrando, conforme nos Não se pode olvidar ainda que as regras sobre ônus da
ensina a doutrina civilista que as obrigações são compostas prova são imprescindíveis dentro da sistemática do Direito
pelos elementos subjetivo (sujeitos das obrigações), objeti- Processual Civil, porém, nos dias atuais, podem ser con-
vo (prestação) e vínculo jurídico (responsabilidade que su- ceituadas como mecanismos processuais a serem levados
jeita o devedor a cumprir determinada prestação em favor a cabo de forma subsidiária, isso com o fim de se obter,
do credor). É justamente esse último elemento que o ônus o mais próximo possível, uma decisão que espelhe senti-
não possui, de modo que não é tecnicamente possível se mento de justiça no seio da sociedade. Com isso, o que se
falar em dever ou obrigação de provar. pretende dizer é que as regras de ônus da prova somente
Basicamente, a implicância em se falar num dever de devem ser aplicadas ao final do pleito judicial, como forma
provar é a de permitir a coação, bem como a sanção pelo de se solucionar eventual defeito ou desídia das partes no
não cumprimento. Na prática, não há nenhum dos dois no que toca às provas que lhes incumbiam, isso em razão do
ônus. Basta pensar que é reconhecido o direito de não pro- magistrado se deparar, de um lado com a perplexidade de
duzir prova contra si mesmo de maneira pacífica nas cortes provas inconclusivas e de outro com o dever de dar a res-
brasileiras, do que se extrai a ausência de dever, de obriga- posta judicial ao caso que lhe fora apresentado, dever esse
ção de produzir esta ou aquela prova. Trata-se de faculda- que deriva do conhecido adágio “non liqued”, o qual indica
de, a qual, caso colocada em prática, somente à parte que que o Judiciário não pode se eximir de dar resposta ao caso
detém o ônus beneficia. Além disso, é possível que uma apresentado alegando deficiência na Lei ou mesmo defi-
parte que não atenda ao ônus não sofra qualquer conse- ciência no processo. Ainda que não seja uma resposta de
quência: basta pensar num réu que não comprove um fato mérito, incumbe ao magistrado ou aos órgãos colegiados
modificativo alegado, ele poderá não ser condenado se o dar uma resposta à demanda que chegou ao juízo.
autor não comprovar o fato constitutivo de seu direito. Considerando o aspecto objetivo, o ônus serve quan-
do a convicção do juiz não tiver sido formada a ponto de
ter certeza do ocorrido e, como o juiz não pode se eximir
b) Premissas teóricas do ônus da prova
de julgar, precisará de uma regra que direcione sua ação
O ônus da prova, como o próprio processo, em nosso
quando as provas produzidas não forem suficientes para
sentir busca sua razão de ser, seu fundamento, no esco-
julgar a ação. Mas, considerando o aspecto subjetivo do
po da jurisdição, ou seja, na necessidade do Estado intervir
ônus, entende-se que tais regras são um norte para as par-
nas relações travadas entre particulares, a fim de que seja
tes, no sentido de que elas sabem o que deverá ser com-
possível a estabilização das relações jurídicas e, em última
provado no processo, bem como quem tem a incumbência
escala, a pacificação social, sempre com o máximo de se- de fazê-lo, além de ficarem estabelecidas, desde o início,
gurança para os pronunciamentos jurisdicionais, pois acre-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

quem poderá ser prejudicado pelo não atendimento das


ditamos que a razão de existir as regras de distribuição do regras sobre os ônus da prova. A tendência é que a cada
ônus da prova é a legitimação das decisões judiciais, ou dia prevaleça mais o aspecto objetivo do ônus da prova,
seja, ao se conceder às partes a oportunidade de produzir perdendo importância o aspecto subjetivo em virtude dos
as provas sobre o que lhes interessa, bem como ao se fixar maiores poderes probatórios conferidos ao juiz.
regras de distribuição do ônus, com consequências pro- c) Disciplina Jurídica no CPC
cessuais para o descumprimento, o pano de fundo de tal No âmbito civil, o principal dispositivo que trata do ônus
estrutura é na verdade a tentativa de se conceder à parte da prova é o artigo 373 do novo CPC, correspondente ao
o sentimento de que teve oportunidade de influir na deci- antigo artigo 333 do Código de Processo Civil de 1973, em
são que lhe diga respeito. Entra em tal estrutura, como se que grifamos as alterações em relação à disciplina anterior:
nota, o efeito psicológico da parte ter, efetivamente à sua Art. 373. O ônus da prova incumbe:
disposição, meios de participar da produção e valoração da I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
prova, o que, em tese, confere sentimento de justiça para II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, mo-
os pronunciamentos judiciais, legitimando-os. dificativo ou extintivo do direito do autor.

50
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculia- numa dúvida concretamente verificável não é considerada
ridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à fato constitutivo, de modo que não se estaria aplicando em
excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos ter- sentido estrito o disposto no artigo 333.
mos do caput ou à maior facilidade de obtenção da Relembra-se o teor do §3º do artigo 373 do CPC, pelo
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus qual “é nula a convenção que distribui de maneira diversa
da prova de modo diverso, desde que o faça por de- o ônus da prova quando: I - recair sobre direito indisponí-
cisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte vel da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte
a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi o exercício do direito”. Como a regra do caput, na maio-
atribuído. ria das vezes, é dispositiva, estabelecida no interesse das
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode partes, estas podem modificar livremente os critérios legais
gerar situação em que a desincumbência do encargo adotados, sem que isto viole garantia legal ou constitucio-
pela parte seja impossível ou excessivamente difícil. nal. Excepcionam a regra de liberdade de regulamentação
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também do ônus da prova os incisos §3º.
pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando: Entretanto, o novo CPC inova ao incorporar a regra da
I - recair sobre direito indisponível da parte; distribuição dinâmica do ônus da prova. Em virtude tam-
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício bém da preocupação com a efetivação dos direitos funda-
do direito. mentais e do acesso à justiça, sobretudo no que diz respei-
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebra- to à aplicação das regras de distribuição do ônus da prova,
da antes ou durante o processo. é reconhecida pela doutrina e jurisprudência a denomina-
da teoria dinâmica do ônus da prova, a qual foi divulgada
Numa interpretação literal do caput do artigo 373, CPC, de forma ampla no meio hispânico-americano e interna-
retiram-se as seguintes assertivas: 1) o autor só poderá cional por JORGE WALTER PEYRANO, jurista argentino, o
dar consistência de objeto à sua pretensão se afirmar a qual mencionou tal teoria pela primeira vez em 1981, em
existência ou não de fatos pertinentes ao Direito pleiteado obra de sua autoria.
que se pretende ver reconhecido; 2) se o réu, ao se de- A teoria em questão tem o mérito de alterar a forma
pela qual se interpreta a produção probatória, uma vez que
fender, fizer afirmações em sentido contrário, terá o dever
fomenta a interpretação das regras de distribuição do ônus
de prová-las, mas se não o fizer a ele não caberá nenhum
da prova não apenas sob o prisma de preenchimento de
ônus.
regras formais e abstratas, mas sim por meio de interpreta-
Fato constitutivo é aquele que dá vida a uma vontade
ção que busque fazer incidir sobre tais regras o critério da
concreta da lei, que tem essa função específica e que nor-
justiça, o que seria feito, principalmente, lançando-se mão
malmente produz esse efeito. Extintivo, porque faz cessar
dos PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO e das GARANTIAS
essa vontade. Impeditivo é inexistência do fato que deve PROCESSUAIS, sendo, por tal motivo, ela interpretada em
concorrer com o constitutivo, a fim de que ele produza nosso país sempre em consonância com o prisma consti-
normalmente os seus efeitos; enquanto o fato constitutivo tucional do processo, objetivando-se uma valoração maior
é causa eficiente, o impeditivo é a ausência de uma causa dos elementos e sujeitos do processo no que diz respeito
concorrente. ao acesso efetivo à justiça.
Constitutivo é aquele fato que dá fundamento ao pedi- Como podemos notar, a teoria dinâmica do ônus da
do, ao direito postulado. Impeditivo é aquele que, existen- prova traz em seu bojo, em sua essência, a evolução do
te, desconfigura algum elemento do fato constitutivo, não próprio Direito Processual Civil contemporâneo, isso na
permitindo que o direito seja garantido. Extintivo é aquele tentativa de se suprir as imperfeições, lacunas e injustiças
fato que fez cessar o fato constitutivo, por exemplo, paga- que poderiam surgir da aplicação fria e formal das regras
mento numa ação de cobrança. Modificativo é aquele que de distribuição do ônus da prova previstas na legislação de
confere nova roupagem à situação fática. regência.
O resultado da atividade probatória, em regra, decorre Nota-se que a intensa transformação da sociedade in-
do que contribuíram as partes, com sua atividade, para o
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
dicou que uma aplicação inflexível do antigo artigo 333 do
processo. Há exceções, por exemplo, quem alega um fato CPC não era mais viável, conferindo-se nova redação no ar-
positivo deve prová-lo prioritariamente a quem alega um tigo 373 do novo CPC. Daí se autorizar a sua exceção, per-
fato negativo, salvo se o fato negativo trouxer uma afirma- mitindo a distribuição dinâmica do ônus da prova quando,
tiva a ele inerente. Ainda, não cabe incidência do ônus da presentes certas circunstâncias, uma das partes estiver em
prova sobre fatos que dispensam a prova. melhores condições de produzir a prova que a outra.
Marinoni e Arenhart (2004, p. 317) asseveram que há d) Inversão do ônus da prova
dúvida sobre a incidência do artigo 333 nas ações decla- Em geral, ônus é de quem alega, de quem tem interesse
ratórias negativas, nas quais o autor postula que o juiz de- na comprovação, regra que se altera na inversão. A inver-
clare inexistente um direito, cabendo ao autor provar que são do ônus pode ser:
existe um estado de incerteza objetivo (não meramente - Convencional, quando decorrer da vontade das par-
subjetivo) que paira sobre o direito. Se o réu contesta que tes no contrato, não sendo permitido se dificultar demais o
o direito existe, cabe-lhe provar o fato que embasa o direi- direito de defesa (artigo 373, §3º, CPC).
to, ou seja, o fato constitutivo do direito que o autor alega
ser inexistente. Assim, a prova da inexistência com base

51
- Legal, quando decorrer da lei, se verificando quando § 1o Se a parte, pessoalmente intimada para prestar de-
for prevista em lei alguma presunção relativa (por exemplo, poimento pessoal e advertida da pena de confesso, não
quem ostenta o título, presumivelmente, o pagou). Somen- comparecer ou, comparecendo, se recusar a depor, o juiz
te na presunção relativa há inversão porque o adversário aplicar-lhe-á a pena.
pode provar a inveracidade do fato presumido (as simples § 2o É vedado a quem ainda não depôs assistir ao interro-
decorrem da observação do que acontece, as legais da lei). gatório da outra parte.
Sobre a inversão do ônus da prova como decorrência § 3o O depoimento pessoal da parte que residir em co-
de presunções, considerando a já apontada inconveniência marca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde
da aplicação dos critérios de distribuição do ônus da prova, tramita o processo poderá ser colhido por meio de video-
previsto no art. 333 do CPC, em algumas situações (tornan- conferência ou outro recurso tecnológico de transmissão
do difícil ou até mesmo impossível o exercício do direito à de sons e imagens em tempo real, o que poderá ocorrer,
prova), afirma parte da doutrina nacional a possibilidade de inclusive, durante a realização da audiência de instrução
o julgador do caso valer-se das presunções simples (também e julgamento.
conhecidas como presunções judiciais), bem como da teoria Art. 386. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar
dos fatos ordinários e extraordinários para estipular, de acor- de responder ao que lhe for perguntado ou empregar eva-
do com a realidade fática e o direito material, o ônus da pro- sivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e os ele-
va no caso concreto. De acordo com tal técnica, os fatos or- mentos de prova, declarará, na sentença, se houve recusa
dinários são presumidos, enquanto os fatos extraordinários de depor.
devem ser provados. Ainda segundo o autor, tal modalidade Art. 387. A parte responderá pessoalmente sobre os fa-
de distribuição do ônus da prova é manifestamente fundada tos articulados, não podendo servir-se de escritos ante-
em critérios lógicos baseados em máximas de experiência, ou riormente preparados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a
seja, o normal conhecimento da vida e das coisas. consulta a notas breves, desde que objetivem completar
Neste sentido, preconiza o artigo 373 do novo CPC: “O esclarecimentos.
juiz aplicará as regras de experiência comum subministra- Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos:
das pela observação do que ordinariamente acontece e, I - criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar
a estas, o exame pericial”. sigilo;
Através da presunção, permite-se inferir, do conheci- III - acerca dos quais não possa responder sem desonra
mento da ocorrência de um fato, a grande probabilidade própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de paren-
de que tenha ocorrido outro fato. Interessa, para a ativi- te em grau sucessível;
dade probatória, a presunção relativa, já que a presunção IV - que coloquem em perigo a vida do depoente ou das
absoluta é ficção legal que não admite prova em contrário. pessoas referidas no inciso III.
Estabelecida uma presunção relativa, inverte-se o ônus da Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de
prova. Um exemplo seria a presunção da paternidade do estado e de família.
réu que recusa se submeter ao exame de DNA, conforme
veremos em detalhes mais adiante. SEÇÃO V
- Judicial, a decidida pelo juiz quando autorizado pela DA CONFISSÃO
lei (como no caso em que o juiz pode inverter o ônus em
favor do consumidor, que também será analisado poste- Art. 389. Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a
riormente em detalhes). parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse
Para parte da doutrina, como Watanabe, quando a e favorável ao do adversário.
lei determina ou autoriza a inversão do ônus da prova não Art. 390. A confissão judicial pode ser espontânea ou pro-
caberia falar em prevalência do artigo 130, CPC. Para outra, vocada.
como Bedaque, o magistrado não pode pautar sua atuação § 1o A confissão espontânea pode ser feita pela própria
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

processual com fulcro em garantir eventual direito que tenha parte ou por representante com poder especial.
a parte a favor da qual se inverteu o ônus, devendo o juiz § 2o A confissão provocada constará do termo de depoi-
buscar sempre um resultado justo, não havendo que se falar mento pessoal.
em alteração de postura devido à quebra do ônus da prova. Art. 391. A confissão judicial faz prova contra o confitente,
não prejudicando, todavia, os litisconsortes.
4. Provas em espécie no CPC Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imó-
veis ou direitos reais sobre imóveis alheios, a confissão de
SEÇÃO IV um cônjuge ou companheiro não valerá sem a do outro,
DO DEPOIMENTO PESSOAL salvo se o regime de casamento for o de separação abso-
luta de bens.
Art. 385. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da Art. 392. Não vale como confissão a admissão, em juízo,
outra parte, a fim de que esta seja interrogada na audiên- de fatos relativos a direitos indisponíveis.
cia de instrução e julgamento, sem prejuízo do poder do § 1o A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz
juiz de ordená-lo de ofício. de dispor do direito a que se referem os fatos confessados.

52
§ 2o A confissão feita por um representante somente é eficaz Art. 403. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a
nos limites em que este pode vincular o representado. efetuar a exibição, o juiz ordenar-lhe-á que proceda ao
Art. 393. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se respectivo depósito em cartório ou em outro lugar desig-
decorreu de erro de fato ou de coação. nado, no prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao requerente
Parágrafo único. A legitimidade para a ação prevista no que o ressarça pelas despesas que tiver.
caput é exclusiva do confitente e pode ser transferida a seus Parágrafo único. Se o terceiro descumprir a ordem, o
herdeiros se ele falecer após a propositura. juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se
Art. 394. A confissão extrajudicial, quando feita oralmente, necessário, força policial, sem prejuízo da responsabili-
só terá eficácia nos casos em que a lei não exija prova literal. dade por crime de desobediência, pagamento de multa e
Art. 395. A confissão é, em regra, indivisível, não podendo outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou
a parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no tópi- sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação
co que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, da decisão.
Art. 404. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em
porém cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos
juízo, o documento ou a coisa se:
novos, capazes de constituir fundamento de defesa de direi-
I - concernente a negócios da própria vida da família;
to material ou de reconvenção.
II - sua apresentação puder violar dever de honra;
III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao
SEÇÃO VI terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou
DA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO OU COISa afins até o terceiro grau, ou lhes representar perigo de
ação penal;
Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documen- IV - sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo
to ou coisa que se encontre em seu poder. respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo;
Art. 397. O pedido formulado pela parte conterá: V - subsistirem outros motivos graves que, segundo o pru-
I - a individuação, tão completa quanto possível, do docu- dente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exibição;
mento ou da coisa; VI - houver disposição legal que justifique a recusa da
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se rela- exibição.
cionam com o documento ou com a coisa; Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os incisos
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para I a VI do caput disserem respeito a apenas uma parcela
afirmar que o documento ou a coisa existe e se acha em do documento, a parte ou o terceiro exibirá a outra em
poder da parte contrária. cartório, para dela ser extraída cópia reprográfica, de
Art. 398. O requerido dará sua resposta nos 5 (cinco) dias tudo sendo lavrado auto circunstanciado.
subsequentes à sua intimação.
Parágrafo único. Se o requerido afirmar que não possui o SEÇÃO VII
documento ou a coisa, o juiz permitirá que o requerente DA PROVA DOCUMENTAL
prove, por qualquer meio, que a declaração não corres- SUBSEÇÃO I
ponde à verdade. DA FORÇA PROBANTE DOS DOCUMENTOS
Art. 399. O juiz não admitirá a recusa se:
I - o requerido tiver obrigação legal de exibir; Art. 405. O documento público faz prova não só da
II - o requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no sua formação, mas também dos fatos que o escrivão,
processo, com o intuito de constituir prova; o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor declarar
que ocorreram em sua presença.
III - o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Art. 406. Quando a lei exigir instrumento público como
Art. 400. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verda-
da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais
deiros os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a
especial que seja, pode suprir-lhe a falta.
parte pretendia provar se:
Art. 407. O documento feito por oficial público incom-
I - o requerido não efetuar a exibição nem fizer nenhuma
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
petente ou sem a observância das formalidades legais,
declaração no prazo do art. 398; sendo subscrito pelas partes, tem a mesma eficácia
II - a recusa for havida por ilegítima. probatória do documento particular.
Parágrafo único. Sendo necessário, o juiz pode adotar Art. 408. As declarações constantes do documento
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub- particular escrito e assinado ou somente assinado pre-
-rogatórias para que o documento seja exibido. sumem-se verdadeiras em relação ao signatário.
Art. 401. Quando o documento ou a coisa estiver em Parágrafo único. Quando, todavia, contiver declaração
poder de terceiro, o juiz ordenará sua citação para res- de ciência de determinado fato, o documento particu-
ponder no prazo de 15 (quinze) dias. lar prova a ciência, mas não o fato em si, incumbindo
Art. 402. Se o terceiro negar a obrigação de exibir ou a o ônus de prová-lo ao interessado em sua veracidade.
posse do documento ou da coisa, o juiz designará audi- Art. 409. A data do documento particular, quando a
ência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como
seu respeito surgir dúvida ou impugnação entre os liti-
o das partes e, se necessário, o de testemunhas, e em
gantes, provar-se-á por todos os meios de direito.
seguida proferirá decisão.

53
Parágrafo único. Em relação a terceiros, considerar-se- Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu au-
-á datado o documento particular: tor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar,
I - no dia em que foi registrado; por todos os meios permitidos em direito, que os lan-
II - desde a morte de algum dos signatários; çamentos não correspondem à verdade dos fatos.
III - a partir da impossibilidade física que sobreveio a Art. 418. Os livros empresariais que preencham os re-
qualquer dos signatários; quisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor
IV - da sua apresentação em repartição pública ou em no litígio entre empresários.
juízo; Art. 419. A escrituração contábil é indivisível, e, se dos
V - do ato ou do fato que estabeleça, de modo certo, a fatos que resultam dos lançamentos, uns são favorá-
anterioridade da formação do documento. veis ao interesse de seu autor e outros lhe são con-
Art. 410. Considera-se autor do documento particular: trários, ambos serão considerados em conjunto, como
I - aquele que o fez e o assinou; unidade.
II - aquele por conta de quem ele foi feito, estando Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte,
assinado; a exibição integral dos livros empresariais e dos docu-
III - aquele que, mandando compô-lo, não o firmou mentos do arquivo:
porque, conforme a experiência comum, não se cos- I - na liquidação de sociedade;
tuma assinar, como livros empresariais e assentos do- II - na sucessão por morte de sócio;
mésticos. III - quando e como determinar a lei.
Art. 411. Considera-se autêntico o documento quan- Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exi-
do: bição parcial dos livros e dos documentos, extraindo-se
I - o tabelião reconhecer a firma do signatário; deles a suma que interessar ao litígio, bem como repro-
II - a autoria estiver identificada por qualquer outro duções autenticadas.
meio legal de certificação, inclusive eletrônico, nos ter- Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fo-
mos da lei; tográfica, a cinematográfica, a fonográfica ou de outra
espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das
III - não houver impugnação da parte contra quem foi
coisas representadas, se a sua conformidade com o do-
produzido o documento.
cumento original não for impugnada por aquele contra
Art. 412. O documento particular de cuja autenticida-
quem foi produzida.
de não se duvida prova que o seu autor fez a declara-
§ 1o As fotografias digitais e as extraídas da rede mun-
ção que lhe é atribuída.
dial de computadores fazem prova das imagens que re-
Parágrafo único. O documento particular admitido
produzem, devendo, se impugnadas, ser apresentada a
expressa ou tacitamente é indivisível, sendo vedado à
respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possí-
parte que pretende utilizar-se dele aceitar os fatos que
vel, realizada perícia.
lhe são favoráveis e recusar os que são contrários ao § 2o Se se tratar de fotografia publicada em jornal ou
seu interesse, salvo se provar que estes não ocorreram. revista, será exigido um exemplar original do periódico,
Art. 413. O telegrama, o radiograma ou qualquer outro caso impugnada a veracidade pela outra parte.
meio de transmissão tem a mesma força probatória do § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à forma impressa
documento particular se o original constante da esta- de mensagem eletrônica.
ção expedidora tiver sido assinado pelo remetente. Art. 423. As reproduções dos documentos particulares,
Parágrafo único. A firma do remetente poderá ser re- fotográficas ou obtidas por outros processos de repeti-
conhecida pelo tabelião, declarando-se essa circuns- ção, valem como certidões sempre que o escrivão ou o
tância no original depositado na estação expedidora. chefe de secretaria certificar sua conformidade com o
Art. 414. O telegrama ou o radiograma presume-se original.
conforme com o original, provando as datas de sua ex- Art. 424. A cópia de documento particular tem o mesmo
pedição e de seu recebimento pelo destinatário. valor probante que o original, cabendo ao escrivão, in-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Art. 415. As cartas e os registros domésticos provam timadas as partes, proceder à conferência e certificar a
contra quem os escreveu quando: conformidade entre a cópia e o original.
I - enunciam o recebimento de um crédito; Art. 425. Fazem a mesma prova que os originais:
II - contêm anotação que visa a suprir a falta de título I - as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do
em favor de quem é apontado como credor; protocolo das audiências ou de outro livro a cargo do
III - expressam conhecimento de fatos para os quais escrivão ou do chefe de secretaria, se extraídas por ele
não se exija determinada prova. ou sob sua vigilância e por ele subscritas;
Art. 416. A nota escrita pelo credor em qualquer parte II - os traslados e as certidões extraídas por oficial público
de documento representativo de obrigação, ainda que de instrumentos ou documentos lançados em suas notas;
não assinada, faz prova em benefício do devedor. III - as reproduções dos documentos públicos, desde que
Parágrafo único. Aplica-se essa regra tanto para o do- autenticadas por oficial público ou conferidas em cartó-
cumento que o credor conservar em seu poder quanto rio com os respectivos originais;
para aquele que se achar em poder do devedor ou de
terceiro.

54
IV - as cópias reprográficas de peças do próprio pro- Art. 432. Depois de ouvida a outra parte no prazo de 15
cesso judicial declaradas autênticas pelo advogado, (quinze) dias, será realizado o exame pericial.
sob sua responsabilidade pessoal, se não lhes for im- Parágrafo único. Não se procederá ao exame pericial se
pugnada a autenticidade; a parte que produziu o documento concordar em retirá-
V - os extratos digitais de bancos de dados públicos e privados, -lo.
desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que Art. 433. A declaração sobre a falsidade do documento,
as informações conferem com o que consta na origem; quando suscitada como questão principal, constará da
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documen- parte dispositiva da sentença e sobre ela incidirá tam-
to público ou particular, quando juntadas aos autos pe- bém a autoridade da coisa julgada.
los órgãos da justiça e seus auxiliares, pelo Ministério
Público e seus auxiliares, pela Defensoria Pública e seus SUBSEÇÃO III
auxiliares, pelas procuradorias, pelas repartições públi- DA PRODUÇÃO DA PROVA DOCUMENTAL
cas em geral e por advogados, ressalvada a alegação
motivada e fundamentada de adulteração. Art. 434. Incumbe à parte instruir a petição inicial ou
§ 1o Os originais dos documentos digitalizados menciona- a contestação com os documentos destinados a provar
dos no inciso VI deverão ser preservados pelo seu detentor suas alegações.
até o final do prazo para propositura de ação rescisória. Parágrafo único. Quando o documento consistir em re-
§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo ex- produção cinematográfica ou fonográfica, a parte de-
trajudicial ou de documento relevante à instrução do verá trazê-lo nos termos do caput, mas sua exposição
processo, o juiz poderá determinar seu depósito em car- será realizada em audiência, intimando-se previamente
tório ou secretaria. as partes.
Art. 426. O juiz apreciará fundamentadamente a fé que Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar
deva merecer o documento, quando em ponto substan- aos autos documentos novos, quando destinados a fazer
cial e sem ressalva contiver entrelinha, emenda, borrão prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para
ou cancelamento. contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
Art. 427. Cessa a fé do documento público ou particular Parágrafo único. Admite-se também a juntada poste-
sendo-lhe declarada judicialmente a falsidade. rior de documentos formados após a petição inicial ou
Parágrafo único. A falsidade consiste em: a contestação, bem como dos que se tornaram conheci-
I - formar documento não verdadeiro; dos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo
II - alterar documento verdadeiro. à parte que os produzir comprovar o motivo que a im-
Art. 428. Cessa a fé do documento particular quando: pediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz,
I - for impugnada sua autenticidade e enquanto não se em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo
comprovar sua veracidade; com o art. 5o.
II - assinado em branco, for impugnado seu conteúdo, Art. 436. A parte, intimada a falar sobre documento
por preenchimento abusivo. constante dos autos, poderá:
Parágrafo único. Dar-se-á abuso quando aquele que I - impugnar a admissibilidade da prova documental;
recebeu documento assinado com texto não escrito no II - impugnar sua autenticidade;
todo ou em parte formá-lo ou completá-lo por si ou por III - suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do
meio de outrem, violando o pacto feito com o signatário. incidente de arguição de falsidade;
Art. 429. Incumbe o ônus da prova quando: IV - manifestar-se sobre seu conteúdo.
I - se tratar de falsidade de documento ou de preenchi- Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, a im-
mento abusivo, à parte que a arguir; pugnação deverá basear-se em argumentação especí-
II - se tratar de impugnação da autenticidade, à parte fica, não se admitindo alegação genérica de falsidade.
que produziu o documento. Art. 437. O réu manifestar-se-á na contestação sobre
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

os documentos anexados à inicial, e o autor manifestar-


SUBSEÇÃO II -se-á na réplica sobre os documentos anexados à con-
DA ARGUIÇÃO DE FALSIDADE testação.
§ 1o Sempre que uma das partes requerer a juntada de
Art. 430. A falsidade deve ser suscitada na contestação, documento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a ou-
na réplica ou no prazo de 15 (quinze) dias, contado a tra parte, que disporá do prazo de 15 (quinze) dias para
partir da intimação da juntada do documento aos autos. adotar qualquer das posturas indicadas no art. 436.
Parágrafo único. Uma vez arguida, a falsidade será § 2o Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o
resolvida como questão incidental, salvo se a parte re- prazo para manifestação sobre a prova documental pro-
querer que o juiz a decida como questão principal, nos duzida, levando em consideração a quantidade e a com-
termos do inciso II do art. 19. plexidade da documentação.
Art. 431. A parte arguirá a falsidade expondo os moti- Art. 438. O juiz requisitará às repartições públicas, em
vos em que funda a sua pretensão e os meios com que qualquer tempo ou grau de jurisdição:
provará o alegado.

55
I - as certidões necessárias à prova das alegações das § 1o São incapazes:
partes; I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental;
II - os procedimentos administrativos nas causas em II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento
que forem interessados a União, os Estados, o Distrito mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia
Federal, os Municípios ou entidades da administração discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não está
indireta. habilitado a transmitir as percepções;
§ 1o Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos;
máximo e improrrogável de 1 (um) mês, certidões ou IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender
reproduções fotográficas das peças que indicar e das que dos sentidos que lhes faltam.
forem indicadas pelas partes, e, em seguida, devolverá § 2o São impedidos:
os autos à repartição de origem. I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o des-
§ 2o As repartições públicas poderão fornecer todos os cendente em qualquer grau e o colateral, até o tercei-
documentos em meio eletrônico, conforme disposto em ro grau, de alguma das partes, por consanguinidade
lei, certificando, pelo mesmo meio, que se trata de ex- ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou,
trato fiel do que consta em seu banco de dados ou no tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não
documento digitalizado. se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute
necessária ao julgamento do mérito;
SEÇÃO VIII II - o que é parte na causa;
DOS DOCUMENTOS ELETRÔNICOS III - o que intervém em nome de uma parte, como o
tutor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o
Art. 439. A utilização de documentos eletrônicos no advogado e outros que assistam ou tenham assistido as
processo convencional dependerá de sua conversão à partes.
forma impressa e da verificação de sua autenticidade, § 3o São suspeitos:
na forma da lei. I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo;
Art. 440. O juiz apreciará o valor probante do docu-
II - o que tiver interesse no litígio.
mento eletrônico não convertido, assegurado às partes o
§ 4o Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento
acesso ao seu teor.
das testemunhas menores, impedidas ou suspeitas.
Art. 441. Serão admitidos documentos eletrônicos pro-
§ 5o Os depoimentos referidos no § 4o serão prestados
duzidos e conservados com a observância da legislação
independentemente de compromisso, e o juiz lhes atri-
específica.
buirá o valor que possam merecer.
Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre
SEÇÃO IX
DA PROVA TESTEMUNHAL fatos:
SUBSEÇÃO I I - que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu côn-
DA ADMISSIBILIDADE E DO VALOR DA PROVA juge ou companheiro e aos seus parentes consanguíneos
TESTEMUNHAL ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau;
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar
Art. 442. A prova testemunhal é sempre admissível, não sigilo.
dispondo a lei de modo diverso. Art. 449. Salvo disposição especial em contrário, as tes-
Art. 443. O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas temunhas devem ser ouvidas na sede do juízo.
sobre fatos: Parágrafo único. Quando a parte ou a testemunha, por
I - já provados por documento ou confissão da parte; enfermidade ou por outro motivo relevante, estiver im-
II - que só por documento ou por exame pericial pude- possibilitada de comparecer, mas não de prestar depoi-
rem ser provados. mento, o juiz designará, conforme as circunstâncias, dia,
Art. 444. Nos casos em que a lei exigir prova escrita hora e lugar para inquiri-la.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

da obrigação, é admissível a prova testemunhal quando


houver começo de prova por escrito, emanado da parte SUBSEÇÃO II
contra a qual se pretende produzir a prova. DA PRODUÇÃO DA PROVA TESTEMUNHAL
Art. 445. Também se admite a prova testemunhal quan-
do o credor não pode ou não podia, moral ou mate- Art. 450. O rol de testemunhas conterá, sempre que
rialmente, obter a prova escrita da obrigação, em casos possível, o nome, a profissão, o estado civil, a idade, o
como o de parentesco, de depósito necessário ou de hos- número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas, o
pedagem em hotel ou em razão das práticas comerciais número de registro de identidade e o endereço completo
do local onde contraída a obrigação. da residência e do local de trabalho.
Art. 446. É lícito à parte provar com testemunhas: Art. 451. Depois de apresentado o rol de que tratam
I - nos contratos simulados, a divergência entre a vonta- os §§ 4o e 5o do art. 357, a parte só pode substituir a
de real e a vontade declarada; testemunha:
II - nos contratos em geral, os vícios de consentimento. I - que falecer;
Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pes- II - que, por enfermidade, não estiver em condições de
soas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. depor;

56
III - que, tendo mudado de residência ou de local de tra- Art. 455. Cabe ao advogado da parte informar ou inti-
balho, não for encontrada. mar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do
Art. 452. Quando for arrolado como testemunha, o juiz local da audiência designada, dispensando-se a intima-
da causa: ção do juízo.
I - declarar-se-á impedido, se tiver conhecimento de fatos § 1o A intimação deverá ser realizada por carta com avi-
que possam influir na decisão, caso em que será vedado à so de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos
parte que o incluiu no rol desistir de seu depoimento; autos, com antecedência de pelo menos 3 (três) dias da
II - se nada souber, mandará excluir o seu nome. data da audiência, cópia da correspondência de intima-
Art. 453. As testemunhas depõem, na audiência de ins- ção e do comprovante de recebimento.
trução e julgamento, perante o juiz da causa, exceto: § 2o A parte pode comprometer-se a levar a testemu-
I - as que prestam depoimento antecipadamente; nha à audiência, independentemente da intimação de
II - as que são inquiridas por carta. que trata o § 1o, presumindo-se, caso a testemunha não
§ 1o A oitiva de testemunha que residir em comarca, se- compareça, que a parte desistiu de sua inquirição.
ção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita § 3o A inércia na realização da intimação a que se refere
o processo poderá ser realizada por meio de videocon- o § 1o importa desistência da inquirição da testemunha.
ferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e § 4o A intimação será feita pela via judicial quando:
recepção de sons e imagens em tempo real, o que pode- I - for frustrada a intimação prevista no § 1o deste artigo;
rá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e II - sua necessidade for devidamente demonstrada pela
julgamento. parte ao juiz;
§ 2o Os juízos deverão manter equipamento para a III - figurar no rol de testemunhas servidor público ou
transmissão e recepção de sons e imagens a que se re- militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da
fere o § 1o. repartição ou ao comando do corpo em que servir;
Art. 454. São inquiridos em sua residência ou onde IV - a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério
exercem sua função: Público ou pela Defensoria Pública;
I - o presidente e o vice-presidente da República;
V - a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454.
II - os ministros de Estado;
§ 5o A testemunha que, intimada na forma do § 1o ou do
III - os ministros do Supremo Tribunal Federal, os con-
§ 4o, deixar de comparecer sem motivo justificado será
selheiros do Conselho Nacional de Justiça e os ministros
conduzida e responderá pelas despesas do adiamento.
do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal Mi-
Art. 456. O juiz inquirirá as testemunhas separada e suces-
litar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior
sivamente, primeiro as do autor e depois as do réu, e provi-
do Trabalho e do Tribunal de Contas da União;
denciará para que uma não ouça o depoimento das outras.
IV - o procurador-geral da República e os conselheiros
Parágrafo único. O juiz poderá alterar a ordem estabele-
do Conselho Nacional do Ministério Público;
V - o advogado-geral da União, o procurador-geral do cida no caput se as partes concordarem.
Estado, o procurador-geral do Município, o defensor pú- Art. 457. Antes de depor, a testemunha será qualificada,
blico-geral federal e o defensor público-geral do Estado; declarará ou confirmará seus dados e informará se tem
VI - os senadores e os deputados federais; relações de parentesco com a parte ou interesse no ob-
VII - os governadores dos Estados e do Distrito Federal; jeto do processo.
VIII - o prefeito; § 1o É lícito à parte contraditar a testemunha, arguin-
IX - os deputados estaduais e distritais; do-lhe a incapacidade, o impedimento ou a suspeição,
X - os desembargadores dos Tribunais de Justiça, dos Tri- bem como, caso a testemunha negue os fatos que lhe
bunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Tra- são imputados, provar a contradita com documentos ou
balho e dos Tribunais Regionais Eleitorais e os conselheiros com testemunhas, até 3 (três), apresentadas no ato e in-
dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal; quiridas em separado.
XI - o procurador-geral de justiça; § 2o Sendo provados ou confessados os fatos a que se re-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

XII - o embaixador de país que, por lei ou tratado, conce- fere o § 1o, o juiz dispensará a testemunha ou lhe tomará
de idêntica prerrogativa a agente diplomático do Brasil. o depoimento como informante.
§ 1o O juiz solicitará à autoridade que indique dia, hora § 3o A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse
e local a fim de ser inquirida, remetendo-lhe cópia da de depor, alegando os motivos previstos neste Código,
petição inicial ou da defesa oferecida pela parte que a decidindo o juiz de plano após ouvidas as partes.
arrolou como testemunha. Art. 458. Ao início da inquirição, a testemunha prestará
§ 2o Passado 1 (um) mês sem manifestação da autorida- o compromisso de dizer a verdade do que souber e lhe
de, o juiz designará dia, hora e local para o depoimento, for perguntado.
preferencialmente na sede do juízo. Parágrafo único. O juiz advertirá à testemunha que in-
§ 3o O juiz também designará dia, hora e local para o corre em sanção penal quem faz afirmação falsa, cala
depoimento, quando a autoridade não comparecer, in- ou oculta a verdade.
justificadamente, à sessão agendada para a colheita de Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes
seu testemunho no dia, hora e local por ela mesma in- diretamente à testemunha, começando pela que a arro-
dicados. lou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir

57
a resposta, não tiverem relação com as questões de fato § 2o De ofício ou a requerimento das partes, o juiz pode-
objeto da atividade probatória ou importarem repetição rá, em substituição à perícia, determinar a produção de
de outra já respondida. prova técnica simplificada, quando o ponto controverti-
§ 1o O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes do for de menor complexidade.
quanto depois da inquirição feita pelas partes. § 3o A prova técnica simplificada consistirá apenas na
§ 2o As testemunhas devem ser tratadas com urbanida- inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto contro-
de, não se lhes fazendo perguntas ou considerações im- vertido da causa que demande especial conhecimento
pertinentes, capciosas ou vexatórias. científico ou técnico.
§ 3o As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no § 4o Durante a arguição, o especialista, que deverá ter
termo, se a parte o requerer. formação acadêmica específica na área objeto de seu
Art. 460. O depoimento poderá ser documentado por depoimento, poderá valer-se de qualquer recurso tecno-
meio de gravação. lógico de transmissão de sons e imagens com o fim de
§ 1o Quando digitado ou registrado por taquigrafia, es- esclarecer os pontos controvertidos da causa.
tenotipia ou outro método idôneo de documentação, o Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto
depoimento será assinado pelo juiz, pelo depoente e pe- da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega
los procuradores. do laudo.
§ 2o Se houver recurso em processo em autos não ele- § 1o Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias con-
trônicos, o depoimento somente será digitado quando tados da intimação do despacho de nomeação do perito:
for impossível o envio de sua documentação eletrônica. I - arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se
§ 3o Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o for o caso;
disposto neste Código e na legislação específica sobre a II - indicar assistente técnico;
prática eletrônica de atos processuais. III - apresentar quesitos.
Art. 461. O juiz pode ordenar, de ofício ou a requeri- § 2o Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5
mento da parte: (cinco) dias:
I - a inquirição de testemunhas referidas nas declarações I - proposta de honorários;
da parte ou das testemunhas; II - currículo, com comprovação de especialização;
II - a acareação de 2 (duas) ou mais testemunhas ou de III - contatos profissionais, em especial o endereço ele-
alguma delas com a parte, quando, sobre fato determi- trônico, para onde serão dirigidas as intimações pesso-
nado que possa influir na decisão da causa, divergirem ais.
as suas declarações. § 3o As partes serão intimadas da proposta de honorá-
§ 1o Os acareados serão reperguntados para que expli- rios para, querendo, manifestar-se no prazo comum de 5
quem os pontos de divergência, reduzindo-se a termo o (cinco) dias, após o que o juiz arbitrará o valor, intiman-
ato de acareação. do-se as partes para os fins do art. 95.
§ 2o A acareação pode ser realizada por videoconferên- § 4o O juiz poderá autorizar o pagamento de até cin-
cia ou por outro recurso tecnológico de transmissão de quenta por cento dos honorários arbitrados a favor do
sons e imagens em tempo real. perito no início dos trabalhos, devendo o remanescente
Art. 462. A testemunha pode requerer ao juiz o paga- ser pago apenas ao final, depois de entregue o laudo e
mento da despesa que efetuou para comparecimento à prestados todos os esclarecimentos necessários.
audiência, devendo a parte pagá-la logo que arbitrada § 5o Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o
ou depositá-la em cartório dentro de 3 (três) dias. juiz poderá reduzir a remuneração inicialmente arbitra-
Art. 463. O depoimento prestado em juízo é considera- da para o trabalho.
do serviço público. § 6o Quando tiver de realizar-se por carta, poder-se-á
Parágrafo único. A testemunha, quando sujeita ao regi- proceder à nomeação de perito e à indicação de assis-
me da legislação trabalhista, não sofre, por comparecer tentes técnicos no juízo ao qual se requisitar a perícia.
à audiência, perda de salário nem desconto no tempo Art. 466. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

de serviço. que lhe foi cometido, independentemente de termo de


compromisso.
SEÇÃO X § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e
DA PROVA PERICIAL não estão sujeitos a impedimento ou suspeição.
§ 2o O perito deve assegurar aos assistentes das partes o
Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames
ou avaliação. que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos
§ 1o O juiz indeferirá a perícia quando: autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias.
I - a prova do fato não depender de conhecimento espe- Art. 467. O perito pode escusar-se ou ser recusado por
cial de técnico; impedimento ou suspeição.
II - for desnecessária em vista de outras provas produ- Parágrafo único. O juiz, ao aceitar a escusa ou ao julgar
zidas; procedente a impugnação, nomeará novo perito.
III - a verificação for impraticável. Art. 468. O perito pode ser substituído quando:
I - faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;

58
II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no de terceiros ou em repartições públicas, bem como ins-
prazo que lhe foi assinado. truir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos,
§ 1o No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocor- fotografias ou outros elementos necessários ao esclare-
rência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, cimento do objeto da perícia.
impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da cau- Art. 474. As partes terão ciência da data e do local de-
sa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo. signados pelo juiz ou indicados pelo perito para ter iní-
§ 2o O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) cio a produção da prova.
dias, os valores recebidos pelo trabalho não realizado, sob Art. 475. Tratando-se de perícia complexa que abran-
pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo ja mais de uma área de conhecimento especializado, o
prazo de 5 (cinco) anos. juiz poderá nomear mais de um perito, e a parte, indicar
§ 3o Não ocorrendo a restituição voluntária de que tra- mais de um assistente técnico.
ta o § 2o, a parte que tiver realizado o adiantamento dos Art. 476. Se o perito, por motivo justificado, não puder
honorários poderá promover execução contra o perito, apresentar o laudo dentro do prazo, o juiz poderá conce-
na forma dos arts. 513 e seguintes deste Código, com der-lhe, por uma vez, prorrogação pela metade do prazo
fundamento na decisão que determinar a devolução do originalmente fixado.
numerário. Art. 477. O perito protocolará o laudo em juízo, no pra-
Art. 469. As partes poderão apresentar quesitos suple- zo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da
mentares durante a diligência, que poderão ser respondi- audiência de instrução e julgamento.
dos pelo perito previamente ou na audiência de instrução § 1o As partes serão intimadas para, querendo, mani-
e julgamento. festar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo co-
Parágrafo único. O escrivão dará à parte contrária ciência mum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico
da juntada dos quesitos aos autos. de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu
Art. 470. Incumbe ao juiz: respectivo parecer.
I - indeferir quesitos impertinentes; § 2o O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15
(quinze) dias, esclarecer ponto:
II - formular os quesitos que entender necessários ao es-
I - sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer
clarecimento da causa.
das partes, do juiz ou do órgão do Ministério Público;
Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher
II - divergente apresentado no parecer do assistente téc-
o perito, indicando-o mediante requerimento, desde que:
nico da parte.
I - sejam plenamente capazes;
§ 3o Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a
II - a causa possa ser resolvida por autocomposição.
parte requererá ao juiz que mande intimar o perito ou
§ 1o As partes, ao escolher o perito, já devem indicar os o assistente técnico a comparecer à audiência de instru-
respectivos assistentes técnicos para acompanhar a reali- ção e julgamento, formulando, desde logo, as perguntas,
zação da perícia, que se realizará em data e local previa- sob forma de quesitos.
mente anunciados. § 4o O perito ou o assistente técnico será intimado por
§ 2o O perito e os assistentes técnicos devem entregar, res- meio eletrônico, com pelo menos 10 (dez) dias de ante-
pectivamente, laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz. cedência da audiência.
§ 3o A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a Art. 478. Quando o exame tiver por objeto a autentici-
que seria realizada por perito nomeado pelo juiz. dade ou a falsidade de documento ou for de natureza
Art. 472. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as médico-legal, o perito será escolhido, de preferência, en-
partes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as tre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especiali-
questões de fato, pareceres técnicos ou documentos eluci- zados, a cujos diretores o juiz autorizará a remessa dos
dativos que considerar suficientes. autos, bem como do material sujeito a exame.
Art. 473. O laudo pericial deverá conter: § 1o Nas hipóteses de gratuidade de justiça, os órgãos e
I - a exposição do objeto da perícia; as repartições oficiais deverão cumprir a determinação
II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; judicial com preferência, no prazo estabelecido. NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e § 2o A prorrogação do prazo referido no § 1o pode ser
demonstrando ser predominantemente aceito pelos es- requerida motivadamente.
pecialistas da área do conhecimento da qual se originou; § 3o Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da
IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados letra e da firma, o perito poderá requisitar, para efeito
pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. de comparação, documentos existentes em repartições
§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamen- públicas e, na falta destes, poderá requerer ao juiz que a
tação em linguagem simples e com coerência lógica, in- pessoa a quem se atribuir a autoria do documento lance
dicando como alcançou suas conclusões. em folha de papel, por cópia ou sob ditado, dizeres dife-
§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua de- rentes, para fins de comparação.
signação, bem como emitir opiniões pessoais que exce- Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com
dam o exame técnico ou científico do objeto da perícia. o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os as- que o levaram a considerar ou a deixar de considerar as
sistentes técnicos podem valer-se de todos os meios ne- conclusões do laudo, levando em conta o método utili-
cessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, zado pelo perito.
solicitando documentos que estejam em poder da parte,

59
Art. 480. O juiz determinará, de ofício ou a requerimen- A disciplina do novo CPC é bem mais extensa do que a
to da parte, a realização de nova perícia quando a ma- dos artigos 846 a 851 do antigo CPC, antes localizada entre
téria não estiver suficientemente esclarecida. as cautelares específicas.
§ 1o A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos
sobre os quais recaiu a primeira e destina-se a corrigir Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida
eventual omissão ou inexatidão dos resultados a que nos casos em que:
esta conduziu. I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impos-
§ 2o A segunda perícia rege-se pelas disposições estabe- sível ou muito difícil a verificação de certos fatos na
lecidas para a primeira. pendência da ação;
§ 3o A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabili-
ao juiz apreciar o valor de uma e de outra. zar a autocomposição ou outro meio adequado de
solução de conflito;
SEÇÃO XI III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou
DA INSPEÇÃO JUDICIAL evitar o ajuizamento de ação.
§ 1º O arrolamento de bens observará o disposto nesta
Art. 481. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, Seção quando tiver por finalidade apenas a realização
pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pes- de documentação e não a prática de atos de apreensão.
soas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato que § 2º A produção antecipada da prova é da competência
interesse à decisão da causa. do juízo do foro onde esta deva ser produzida ou do
Art. 482. Ao realizar a inspeção, o juiz poderá ser assis- foro de domicílio do réu.
tido por um ou mais peritos. § 3º A produção antecipada da prova não previne a
Art. 483. O juiz irá ao local onde se encontre a pessoa competência do juízo para a ação que venha a ser pro-
ou a coisa quando: posta.
I - julgar necessário para a melhor verificação ou inter- § 4º O juízo estadual tem competência para produção
antecipada de prova requerida em face da União, de
pretação dos fatos que deva observar;
entidade autárquica ou de empresa pública federal se,
II - a coisa não puder ser apresentada em juízo sem
na localidade, não houver vara federal.
consideráveis despesas ou graves dificuldades;
§ 5º Aplica-se o disposto nesta Seção àquele que pre-
III - determinar a reconstituição dos fatos.
tender justificar a existência de algum fato ou relação
Parágrafo único. As partes têm sempre direito a as-
jurídica para simples documento e sem caráter conten-
sistir à inspeção, prestando esclarecimentos e fazendo
cioso, que exporá, em petição circunstanciada, a sua
observações que considerem de interesse para a causa.
intenção.
Art. 484. Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar
Art. 382. Na petição, o requerente apresentará as ra-
auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto zões que justificam a necessidade de antecipação da
for útil ao julgamento da causa. prova e mencionará com precisão os fatos sobre os quais
Parágrafo único. O auto poderá ser instruído com de- a prova há de recair.
senho, gráfico ou fotografia. § 1º O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da
parte, a citação de interessados na produção da prova
1. Produção Antecipada de Provas ou no fato a ser provado, salvo se inexistente caráter
contencioso.
Não raras vezes, a parte se vê na necessidade de pro- § 2º O juiz não se pronunciará sobre a ocorrência ou a
duzir provas antecipadamente para a justa composição da inocorrência do fato, nem sobre as respectivas conse-
lide a fim de evitar ou superar o perigo de tornar impossí- quências jurídicas.
vel ou deficiente a produção da prova se tiver que aguardar § 3º Os interessados poderão requerer a produção de
a propositura da ação principal e a chegada da fase instru- qualquer prova no mesmo procedimento, desde que re-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

tória, isto é, o perigo de perderem os vestígios necessários lacionada ao mesmo fato, salvo se a sua produção con-
à comprovação de fatos que sejam de vital importância do junta acarretar excessiva demora.
julgamento da lide. § 4º Neste procedimento, não se admitirá defesa ou
Basicamente a produção antecipada de provas tem ca- recurso, salvo contra decisão que indeferir totalmente a
bimento quando existe o fundado receio que não se possa produção da prova pleiteada pelo requerente originário.
fazê-la no momento processual oportuno, ou porque o fato Art. 383. Os autos permanecerão em cartório durante
é passageiro, ou porque a coisa ou a pessoa podem desa- 1 (um) mês para extração de cópias e certidões pelos
parecer ou perecer. Em não existindo este risco, não há de interessados.
se falar em cabimento da produção antecipada de provas, Parágrafo único. Findo o prazo, os autos serão entre-
tornando a produção antecipada desnecessária e onerosa. gues ao promovente da medida.
Embora a produção antecipada de provas se encontre
disciplinada no novo Código de Processo Civil em meio à
disciplina das provas, não perde a sua natureza, que é de
medida cautelar.

60
e) Decisões monocráticas – as proferidas por um dos
SENTENÇA. ELEMENTOS, CONTEÚDO E integrantes do colegiado, por exemplo, relator do
EFEITOS. VÍCIOS DAS SENTENÇAS. acórdão. Cabe recurso, o agravo interno ou regimen-
tal (mesmo os embargos de declaração, se interpos-
tos, poderão ser recebidos como agravo interno).
A disciplina acerca da sentença e da coisa julgada se
encontra como etapa final do processo de conhecimento, b) Classificação das sentenças
denominada fase do julgamento. Com efeito, o processo já
passou pelo saneamento, pela produção de provas (dentro - Quanto à resolução do mérito
e fora de audiência) e agora será proferido o julgamento a) Terminativas ou processuais – artigo 485, CPC/2015.
por meio da sentença. b) Definitivas ou de mérito – artigo 487, CPC/2015 –
A sentença se insere dentro dos atos do juiz (expressão Podem ser típicas ou próprias (no caso do inciso I, em que
se acolhe ou se rejeita o pedido) e atípicas ou impróprias
utilizada em sentido amplo, abrangendo ministros, desem-
(incisos II a V). Em sentido estrito, só é de mérito a sentença
bargadores, etc.).
que decide a pretensão formulada. Contudo, o legislador
O CPC de 1973 havia acabado com as controvérsias do
optou por um conceito mais amplo.
CPC de 1939 ao definir sentença como o ato que põe fim Enfim, são duas as espécies de sentença, ou acórdãos,
ao processo. Contudo, a Lei n. 11.232/05 alterou a reda- que podem ser proferidas no processo de conhecimento:
ção do artigo 162, §1º (alguma das situações dos artigos as que apreciam a pretensão formulada, seja em sentido
267 e 269 – a sentença voltou a ser considerada confor- afirmativo ou negativo, e que por isso são denominadas de
me o seu conteúdo). Não importava mais em necessária mérito; e aquelas em que não foi possível, pelas mais varia-
extinção do processo. O recurso cabível ainda seria o de das razões, apreciar a pretensão do autor em face do réu,
apelação, ao menos em todos os casos em que os autos que são as de extinção sem resolução do mérito.
de processo possam integralmente subir à segunda instân- O objetivo natural do processo é atingir uma sentença
cia. A razão da alteração do texto legal é que a partir da com resolução do mérito. As sentenças sem resolução do
Lei n. 11.232/05 o processo não mais se encerrava com a mérito são anômalas, pois ele foi encerrado sem ter cum-
sentença, mas apenas a fase de conhecimento, podendo prido sua finalidade.
continuar com uma fase de execução (processo sincrético). Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
O artigo 203, §1º do novo Código de Processo Civil I - indeferir a petição inicial;
mantém em partes o referido conceito de sentença, agora Trata-se do não preenchimento dos requisitos da pe-
fazendo menção aos artigos 485 e 487, que no novo CPC tição inicial. Se o vício é sanável, antes de extinguir o juiz
correspondem aos artigos 267 e 269 do CPC/1973: “§ 1º manda emendar em 15 dias. Se o vício é insanável, extin-
Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos gue o processo, mas deve dar à parte o direito de se mani-
especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual festar. Na sentença de indeferimento da inicial o juiz nem
o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase sequer determinou a citação do réu.
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a Obs.: O juiz pode indeferir a petição inicial em razão de
execução”. O dispositivo inova ao colocar como sentença prescrição e decadência, mas nestes casos a extinção é com
também ato que ponha fim ao processo de execução com resolução do mérito.
base nos arts. 485 e 487, por exemplo, caso acolhidos em- II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano
bargos do devedor. por negligência das partes;
A hipótese é rara, pois devido ao princípio do impulso
oficial, dificilmente o juiz deixará o processo parado por
a) Espécies de atos do juiz
mais de 1 ano. É necessário que o processo não possa se-
No âmbito dos atos do juiz estão diversos provimentos
guir, que exista omissão da prática de um ato indispensável
ou pronunciamentos, notadamente: e que o autor, conforme o §1º, seja intimado a dar anda-
a) Despacho ou despachos de mero expediente – são os
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
mento ao feito em 5 dias sob pena de extinção (vide §2º
atos desprovidos de conteúdo decisório, dos quais deste artigo quanto às custas).
não cabe recurso algum. III - por não promover os atos e as diligências que lhe in-
b) Decisões interlocutórias – quando o juiz, no curso cumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
do processo, resolve uma questão incidente, profere É necessário que o processo não possa seguir, que exis-
decisão durante o trâmite processual. ta omissão da prática de um ato indispensável pelo autor
c) Sentenças – art. 203, §1º – é o ato do juiz que implica e, conforme §1º, que ele seja intimado pessoalmente a dar
numa das situações, isto é, que contém uma das ma- andamento ao feito em 5 dias sob pena de extinção (vide
térias, previstas nos artigos 485 ou 487, desde que §2º deste artigo quanto às custas). Nos termos da súmula
coloque fim ao processo todo ou à fase de cognição 240 do STJ, o processo não será extinto nestes termos sem
ou de execução. que tenha havido prévio requerimento do réu. Neste senti-
d) Acórdãos – decisões tomadas por um órgão cole- do, o §6º do artigo no novo CPC: “Oferecida a contestação,
giado. a extinção do processo por abandono da causa pelo autor
depende de requerimento do réu”.

61
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e X - nos demais casos prescritos neste Código.
de desenvolvimento válido e regular do processo;
Há pressupostos cuja inobservância pode acarretar a Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve
extinção do processo, mas antes o juiz deve permitir a re- o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a
gularização. Por exemplo, capacidade processual ou capa- ação.
cidade postulatória. § 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos
Todavia, há pressupostos processuais cuja ausência é casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da
insanável e levará irremediavelmente à extinção do proces- nova ação depende da correção do vício que levou à senten-
so. Por exemplo, capacidade para ser parte. ça sem resolução do mérito.
Se a inicial for recebida e, após citação do réu, se ve- § 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem
rificar que ela estava irregular, entende-se que deixou de a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos ho-
haver pressuposto processual de desenvolvimento válido norários de advogado.
do processo, aplicando-se este inciso. § 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença
Por vezes, a ausência de um pressuposto gerará nuli- fundada em abandono da causa, não poderá propor nova
dade, não extinção do processo. Por exemplo, juízo com- ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressal-
petente (declara-se nulidade e remete-se ao juízo compe- vada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu
tente). direito.
A falta de um pressuposto processual é matéria de or- Nota-se que a principal diferença entre a extinção sem
dem pública, devendo ser declarada de ofício pelo juiz a julgamento do mérito em relação à extinção com julga-
qualquer tempo e grau de jurisdição, salvo em sede de re- mento do mérito é que nada obsta que a ação seja propos-
curso especial e extraordinário. ta novamente. Afinal, as decisões são terminativas, apenas
V - reconhecer a existência de perempção, de litispen- encerram aquele processo, não colocam fim ao litígio que
dência ou de coisa julgada; surgiu entre as partes. A única exceção é o inciso V, pois
Abrange o inciso anterior, pois são todos pressupostos uma vez que ocorrer perempção, litispendência ou coisa
processuais negativos. Perempção é quando por 3 vezes o
julgada torna-se impossível sanar o vício.
juiz extingue a causa do autor por abandono, não se per-
O único óbice é a exigência de que custas e honorários
mitindo ajuizar uma quarta vez (perda do direito de ação).
do processo anteriormente extinto sem resolver o mérito
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse
tenham sido quitados; bem como, evidentemente, a corre-
processual;
ção dos vícios que geraram a extinção.
Estas matérias não se sujeitam à preclusão. Alterada a
redação, excluindo-se a possibilidade jurídica do pedido,
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
conforme doutrina mais moderna sobre as condições da
I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou
ação.
VII - acolher a alegação de existência de convenção de na reconvenção;
arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua com- Somente esta é a verdadeira sentença de mérito, na
petência; qual o pedido é apreciado. Trata-se da sentença de mérito
Se já foi resolvido em arbitragem, não pode ser resolvi- típica.
do pelo Estado. O STF ainda discute a constitucionalidade II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrên-
desta hipótese. cia de decadência ou prescrição;
VIII - homologar a desistência da ação; A rigor, seria meramente terminativa, mas como jamais
A desistência pode ser proferida a qualquer momento, deixará de decair ou de estar prescrita, faz sentido ser com
desde que não proferida a sentença de mérito. Desistência resolução do mérito. Podem ser alegadas em qualquer
não é o mesmo que renúncia porque possui caráter pro- tempo ou grau de jurisdição.
cessual, não material. III - homologar:
Vide §4º. Se o prazo correr in albis (em branco), a desis- a) o reconhecimento da procedência do pedido for-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

tência não depende do assentimento do réu (revel). Justi- mulado na ação ou na reconvenção;
fica-se a necessidade de consentimento, pois a desistência Não precisa da anuência da outra parte, como a senten-
não impede a repropositura da demanda. Cabe a desistên- ça tem o mérito resolvido.
cia até a sentença (previsão do §5º). b) a transação;
Pode haver desistência parcial do autor em relação a É o acordo celebrado entre as partes, mesmo que extra-
um dos litisconsortes passivos, mas o litisconsórcio não judicial. Não pode haver desistência unilateral, no máximo,
pode ser necessário. Se a desistência for só em relação a arrependimento bilateral (distrato, que nada mais é que
um, somente ele deve consentir. outra transação). Dispensa-se a participação de advogados.
O réu não pode se opor à desistência de maneira injus- c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na
tificada, deve fundamentar sua oposição. reconvenção.
IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada A renúncia unilateral, diferente da desistência, atinge o
intransmissível por disposição legal; e; próprio direito material em discussão. Dispensa a anuência
Certas ações possuem cunho personalíssimo, como se- da outra parte.
paração e divórcio, anulação de casamento, interdição.

62
- Quanto à eficácia preponderante
A classificação de Pontes de Miranda é dividida em 5 categorias.
a) Meramente declaratórias (certificação) – É aquela pela qual o juiz atesta ou certifica a existência ou não de uma re-
lação / situação jurídica controvertida ou a falsidade / autenticidade de um documento. Natureza ex tunc. Não forma
título executivo. Ex.: investigatória de paternidade, usucapião, nulidade de negócio jurídico, sentenças de improcedência,
interdição (posição majoritária).
Obs.: Em toda sentença, mesmo que o pedido tenha por essência outro cunho, o juiz declara quem tem razão. Então,
toda sentença é declaratória, ainda que não em sua essência.
b) Constitutivas ou desconstitutivas (inovação) – É aquela pela qual o juiz cria (positivas, constituem), modifica (modi-
ficativas, alteram) ou extingue (negativas, desconstituem) uma relação ou situação jurídica. Natureza ex nunc. Não
forma título executivo. Ex.: adoção, adjudicação compulsória, ação de revisão de cláusula contratual, modificação de
guarda, divórcio, desconstituição do poder familiar, ação rescisória e rescisão de contrato. Perceba-se que a ação
constitutiva pode ser voluntária (há litígio) ou necessária (não há litígio mas a lei obriga).
c) Condenatórias (execução forçada) – É aquela em que se reconhece um dever de prestar cujo inadimplemento autoriza
o início da fase de cumprimento e de execução. Resulta na formação de um título executivo judicial. O juiz não só
declara a existência do direito em favor do autor, mas concede a ele a possibilidade de valer-se de sanção executiva,
fornecendo-lhe meios para tanto. A eficácia é ex tunc, retroagindo à data da propositura da ação. Ex.: cobrança, inde-
nizatória, repetição de indébito, ação de regresso.
Em geral, as sentenças condenatórias já indicam qual o bem devido pelo réu e sua quantidade. No entanto, admitem-se
sentenças condenatórias alternativas (decide pela existência de uma obrigação de dar coisa incerta ou de uma obrigação
alternativa, reconhecendo ambas, embora só uma deva ser cumprida), genéricas ou ilíquidas (é necessário propor uma fase
de liquidação da sentença determinando o quantum), e condicionais (exigência condicionada de evento futuro certo – ter-
mo – ou incerto – condição).
d) Executivas lato sensu (autoexecutoriedade) – É aquela que contém mecanismos que permitem a imediata satisfação
do vencedor sem a necessidade de início da nova fase no processo. Têm natureza condenatória e dispensam a fase
de execução para que o comando da sentença seja cumprido, isto é, a satisfação não é obtida em 2 fases, mas em
uma só. Logo que transita em julgado, é expedido mandado judicial para cumprir a sentença, sem que se exija outro
ato processual. Ex.: despejo, reintegração de posse, todas as demandas para entrega de coisa que sejam procedentes.
e) Mandamentais ou injuncionais (ordem) – São aquelas que contêm uma ordem que deve ser cumprida pelo próprio
destinatário (e não por um serventuário), sob pena de crime ou multa e penas do artigo 14. Enfim, o juiz profere uma
declaração reconhecendo o direito, condena o réu, aplicando uma sanção, que não é simplesmente a condenação, é
também a imposição de uma medida, um comando, que permite a tomada de medidas concretas e efetivas para o
vencedor satisfazer seu direito sem a necessidade de processo autônomo de execução. Descumprida a ordem, o juiz
pode determinar providências que pressionem o devedor, como a fixação de multa diária, conhecidas como astrein-
tes. Ex.: mandado de segurança, obrigações de fazer ou não fazer.
Obs.: A principal diferença entre a executiva lato sensu e a mandamental é que na mandamental quem tem que cumprir
é o devedor, ao passo que na executiva, se o devedor não cumprir espontaneamente, o Estado o fará.
Não obstante, há quem defenda uma sexta categoria. A categoria “f” seria a das sentenças determinativas ou dispositi-
vas (normatização) – Alguns autores estabelecem esta categoria – É aquela em que o juiz, com sua vontade, complementa
a vontade do legislador e cria uma norma jurídica específica para o caso concreto. Ex.: regulamentação de visitas, revisão
de cláusula contratual.
Marcus Vinícius Rios Gonçalves, contra a classificação de Pontes de Miranda, diz que mandamental e executiva são 2
espécies de tutela condenatória.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
Constitutiva ou
Declaratória Condenatória Executivas lato sensu Mandamental
Desconstitutiva
Declaratória X
Constitutiva ou
X X
Desconstitutiva
Condenatória X X
Executivas lato
X X X
sensu
Mandamental X X X

63
c) Elementos da sentença e) Defeitos da sentença
- Relatório – É onde se relata tudo que ocorreu no pro- A inobservância de requisitos de forma e substância
cesso até o momento de forma resumida. Dispensa- gera a nulidade da sentença. Em processo civil, as nulida-
-se no JEC (procedimento sumaríssimo). Indicar-se-á des podem ser de duas naturezas: absoluta ou relativa.
o nome das partes, o resumo da pretensão do autor Somente a nulidade absoluta permite a rescisão da sen-
e seus fundamentos, a defesa do réu, as principais tença. E mesmo as nulidades absolutas acabam por sanar-
ocorrências do processo (como incidentes processu- -se, passado o prazo de 2 anos da ação rescisória. Assim,
ais e provas produzidas) e o conteúdo das alegações a sentença nula se reveste da autoridade da coisa julgada,
finais. mas pode ser rescindida. A nulidade absoluta pode decor-
- Fundamentação ou motivação – É onde o juiz explica rer de vícios intrínsecos da própria sentença, ou se vícios pro-
o porquê de ter tomado aquela decisão, afinal, é de- cessuais anteriores, não sanados, que nela repercutem.
ver do juiz expor o raciocínio que adotou. Enfim, são Os vícios intrínsecos são aqueles que se encontram nos
os fundamentos de fato e de direito sobre os quais o três elementos fundamentais da sentença: relatório, funda-
juiz apoiará sua decisão. A Constituição Federal de- mentação e dispositivo. A falta (não inclusão na sentença) ou
termina que os atos judiciais sejam fundamentados deficiência (ausência de correlação lógica, julgamento ultra
(artigo 93, IX, CF). A motivação deve ser coerente, ou extra petita) de relatório ou fundamentação geram nuli-
isto é, manter vínculo com o relatório e com o dis- dade, ao passo que a falta de dispositivo gera inexistência. A
positivo. sentença citra petita é válida no que decide, cabendo ao au-
Nem sempre o juiz precisará apreciar todos os funda- tor propor nova ação na parte em que o juiz deixou de julgar.
mentos levantados pelas partes. Por vezes, o reco- Há, no entanto, vícios que comprometem de forma mais
nhecimento ou a rejeição de um fundamento, logica- profunda a sentença e são insuperáveis. Quando ocorrem,
mente, exclui a obrigação de apreciação do outro. O a sentença é inexistente em termos jurídicos. Mesmo que
importante é a sentença apreciar exatamente os pe- passe o prazo da ação rescisória, o vício não se convalida.
didos feitos no processo, sob pena de ser citra petita, No caso, caberá ação declaratória de inexistência.
logo, nula. A fundamentação também não precisa Em regra, a alteração da sentença somente cabe nas
ser extensa, mas deve deixar claro porque o julgador hipóteses do art. 494 do CPC/2015: “Art. 494. Publicada a
tomou a decisão. sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de
- Dispositivo – Decisão ou decisum – Pelo que já foi ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou
dito, é aqui onde o juiz julga procedente, improce- erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração”.
dente, com ou sem resolução do mérito. O dispositi- A correção pode ser feita a qualquer tempo no caso do in-
vo deve manter estreita correspondência lógica com ciso I e não suspende ou interrompe o prazo dos recursos.
as partes anteriores. É sobre o dispositivo da senten- Já a hipótese do inciso II é um recurso em si, servindo para
ça que recairá a coisa julgada material quando não sanar obscuridades ou omissões na sentença. Além destes
couber mais recurso. dois casos, somente se corrige sentença via ação rescisória.
Falta de relatório e de fundamentação gera nulidade,
ao passo que falta de dispositivo gera inexistência da sen-
tença. #FicaDica

d) Oportunidades em que pode ser proferida a sen- Sentença – classificação quanto à resolução do
tença mérito
A sentença pode ser proferida em diversas situações, - Com resolução do mérito: extingue o proces-
sendo que a ocasião propícia levará em conta sua natureza so e a relação jurídico-processual
(terminativa ou definitiva) e a necessidade ou não de pro- - Sem resolução do mérito: extingue apenas o
dução de provas. processo
As sentenças terminativas podem ser proferidas a qual-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

quer momento no processo, inclusive logo após a propo-


situra da demanda, a partir da detecção do vício insanável,
impossibilitando prosseguir com o exame de mérito. As
matérias que geram este tipo de extinção são de ordem COISA JULGADA. LIMITES SUBJETIVOS E
pública, podendo ser reconhecidas de ofício a qualquer OBJETIVOS.
momento no processo, de ofício ou a requerimento.
Já as sentenças definitivas, em regra, são proferidas
após a audiência de instrução e debates, exceto em dois Basicamente, coisa julgada é o fenômeno que impede a
casos: a) aplicação da improcedência liminar do pedido; b) propositura de uma ação que já foi anteriormente julgada
julgamento antecipado da lide, quando a matéria for so- em seu mérito, transitando em julgado a decisão, diga-se,
mente de direito ou, sendo de direito e de fato, não forem não cabendo mais recurso da decisão.
mais necessárias provas a serem produzidas. Art. 502, CPC/2015. Denomina-se coisa julgada mate-
rial a autoridade que torna imutável e indiscutível a de-
cisão de mérito não mais sujeita a recurso.

64
Esgotados os recursos, a sentença transita em julgado, Em outras palavras, se mantida a mesma pretensão e a
e não pode mais ser modificada. Até então, a decisão não mesma causa de pedir, resolvidos e discutidos estarão to-
terá se tornado definitiva, podendo ser substituída por ou- dos os argumentos expressos quanto os que lá poderiam
tra. Sem a coisa julgada, não haveria segurança jurídica nas ser levantados e não foram. Por exemplo, se alegou pa-
decisões, que sempre poderiam ser modificadas. gamento da dívida e ele não foi reconhecido na ação que
A coisa julgada é um fenômeno único ao qual corres- produziu a coisa julgada material, não poderá no futuro
pondem dois aspectos: um meramente processual ou for- propor ação semelhante na qual alegue remissão da dívida
mal, que ocorre no processo em que a sentença é proferida, (deveria ter alegado as duas coisas antes).
independentemente dela ser de mérito ou não, apenas im-
pedindo outro recurso daquela sentença naquele processo
c) Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada
(endoprocessual); outro que se projeta para fora do pro-
A coisa julgada material possui limites objetivos e sub-
cesso e torna definitivos os efeitos da decisão, chamado de
coisa julgada material, impedindo que a mesma pretensão jetivos que se relacionam com os elementos da ação.
seja rediscutida posteriormente em outro processo, que a) Limites objetivos: de todas as partes da sentença,
ocorre apenas nas sentenças de mérito (extraprocessual) somente o dispositivo, que contém o comando emi-
(se a sentença irrecorrível não for de mérito, a pretensão tido pelo juiz, fica revestido da autoridade da coisa
pode ser objeto de outra demanda). Assim, num processo julgada material.
sempre haverá coisa julgada formal, mas nem sempre coisa Como se depreende do artigo 504 do CPC/2015, “não
julgada material. fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes
para determinar o alcance da parte dispositiva da senten-
a) Aspectos da coisa julgada ça; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento
Em resumo, tem-se o seguinte: da sentença”. Aquilo que serviu de fundamento de uma
a) Coisa julgada formal: consiste na imutabilidade da sentença torna-se imutável apenas no processo em que foi
sentença contra a qual não caiba mais recurso dentro do utilizado, mas não projeta seus efeitos para outros, como
processo em que foi proferida. Mesmo que não caiba mais ocorre com o dispositivo.
recurso, que a sentença coloque fim ao processo, isso não b) Limites subjetivos: a sentença faz coisa julgada às
significa que a matéria não possa ser colocada em discus- partes entre as quais é dada, não beneficiando nem
são noutro processo – isso é a produção de coisa julgada prejudicando terceiros. São incluídos autores, réus,
formal. Em toda sentença encontramos a coisa julgada for-
denunciados, chamados ao processo, opoentes e
mal, que pode ou não estar acompanhada da coisa julgada
nomeados que tenham sido admitidos, bem como o
material.
b) Coisa julgada material: é própria dos julgamentos de assistente litisconsorcial que tenha ou não intervin-
mérito, podendo ser definida como a imutabilidade não do e o assistente simples que tenha participado do
mais da sentença, mas de seus efeitos. Projeta-se para fora processo. São excluídos os terceiros que não parti-
do processo em que ela foi proferida, impedindo que a ciparam do processo, até porque não puderam se
pretensão seja novamente posta em juízo. Aquilo não pode manifestar e nem defender ou expor suas razões.
mais ser discutido em juízo, não apenas naquele processo, Neste sentido: “Art. 506. A sentença faz coisa julga-
mas em qualquer outro. da às partes entre as quais é dada, não prejudicando
Evidencia-se a natureza substancial deste aspecto da terceiros”.
coisa julgada, além do meramente processual decorrente
da coisa julgada formal. O fundamento constitucional da d) Questão prejudicial e coisa julgada
coisa julgada material é o art. 5º, XXXVI, CF: “a lei não pre- Segundo Carnelutti, questão é um ponto duvidoso, de
judicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa fato ou de direito. Já prejudicial é aquilo que deve ser jul-
julgada”. gado antes. Logo, questão prejudicial é aquela que deve
ser julgada antes no processo para poder ser apreciada
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
b) Eficácia preclusiva da coisa julgada material a matéria que é objeto central da lide. Ex.: a ação reivin-
Em outras palavras, devido à sua eficácia preclusiva, dicatória discute propriedade, se o réu argumenta que é
a coisa julgada material impede não só a repropositura da
proprietário porque usucapiu, então a usucapião é uma
mesma demanda, mas a discussão, em qualquer outro pro-
questão prejudicial que deverá ser decidida antes da rei-
cesso com mesmas partes, das questões decididas, confor-
me art. 508, CPC/2015: “Transitada em julgado a decisão vindicatória em si.
de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas Antes do CPC/2015, as questões prejudiciais não eram
as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto atingidas pela coisa julgada, salvo quando expressamen-
ao acolhimento quanto à rejeição do pedido”. Essa regra te houvesse requerimento neste sentido mediante ação
é denominada por alguns de princípio do “deduzido e do declaratória incidental. Significa que o juiz decidiria a
dedutível”, pois a autoridade da coisa julgada material im- questão para julgar o mérito, mas que se tal questão fos-
pede a rediscussão não apenas das questões que tenham se levantada em outro processo poderia. O CPC/2015, no
sido expressamente decididas no dispositivo, porque ex- entanto, excluiu a ação declaratória incidental do sistema,
pressamente alegadas pelas partes, mas também das que mas estabeleceu casos em que a questão prejudicial pode
poderiam ter sido alegadas, mas não foram. ser julgada com força de coisa julgada em seu artigo 503.

65
Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões
mérito tem força de lei nos limites da questão principal já decididas relativas à mesma lide, salvo:
expressamente decidida. I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continu-
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão ado, sobreveio modificação no estado de fato ou de
prejudicial, decidida expressa e incidentemente no pro- direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do
cesso, se: que foi estatuído na sentença;
I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; II - nos demais casos prescritos em lei.
II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efe-
tivo, não se aplicando no caso de revelia; A autoridade da coisa julgada material sempre foi con-
III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da siderada um dogma absoluto no processo. A lei estabelece
pessoa para resolvê-la como questão principal. expressamente apenas um mecanismo apto a relativizá-la,
§ 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo cabível em situações excepcionais e no limite temporal de
houver restrições probatórias ou limitações à cognição 2 anos, a ação rescisória. Passado tal prazo, eventual nuli-
que impeçam o aprofundamento da análise da questão dade se convalida, não cabendo mais rediscutir a sentença.
Contudo, entende-se que a coisa julgada material, em
prejudicial.
situações excepcionais, pode ser relativizada. Isso só ocorre-
rá caso o respeito à coisa julgada material vá acarretar gra-
e) Julgamento antecipado parcial de mérito e coisa
ve ofensa a valores éticos e garantias constitucionais (tais
julgada parcial
valores ultrapassam a coisa julgada material e a segurança
Tradicionalmente se estudou a coisa julgada como um jurídica em termos de importância). A aplicação da relativi-
fenômeno único, que ocorria apenas uma vez no processo. zação deve ser vista com reservas e somente reconhecida
Significa que enquanto houvessem controvérsias não se for- em situações teratológicas. É o exemplo das investigações
maria coisa julgada com relação a nada e tudo no processo de paternidade improcedentes da época em que não havia
transitaria em julgado a um só tempo. No entanto, atendendo o exame de DNA e dos laudos periciais fraudulentos de valor
ao dinamismo demandado nas relações jurídico-sociais leva- extremamente elevado em ações de desapropriação.
das em litígio ao Judiciário, o CPC/2015 criou o julgamento
antecipado parcial de mérito, que possibilitará a formação de
coisa julgada parcial antes da extinção do processo. #FicaDica

SEÇÃO III Sentença com resolução do mérito – forma


DO JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉ- coisa julgada plena – formal e material.
RITO Sentença sem resolução do mérito – forma
apenas coisa julgada formal.
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando
um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos REMESSA NECESSÁRIA.
termos do art. 355.
§ 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá
reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. A remessa necessária não é recurso porque não está no
rol, bem como porque não manifesta/pressupõe inconfor-
§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a
mismo (decorre da lei), não tem prazo, não tem razões, não
obrigação reconhecida na decisão que julgar parcial-
tem preparo. Trata-se de exigência legal de que a sentença
mente o mérito, independentemente de caução, ainda
só transite em julgado depois de examinada pelo Tribunal,
que haja recurso contra essa interposto.
sendo assim condição de eficácia da sentença.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

As hipóteses estão previstas no artigo 475 e em outras leis


da decisão, a execução será definitiva. especiais, como a do mandado de segurança e da ação popular.
§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não
parcialmente o mérito poderão ser processados em au- produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tos suplementares, a requerimento da parte ou a critério tribunal, a sentença:
do juiz. I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Fede-
§ 5o A decisão proferida com base neste artigo é impug- ral, os Municípios e suas respectivas autarquias e fun-
nável por agravo de instrumento. dações de direito público;

f) Relativização da coisa julgada São as sentenças proferidas contra a Fazenda Pública


Destaca-se que não são somente as sentenças sem re- (sucumbência da Fazenda Pública). Não existe reexame
solução de mérito que não se sujeitam à coisa julgada ma- necessário de decisão interlocutória e nem de acórdão,
terial. Há ainda as sentenças de jurisdição voluntária, as que mesmo em ação contra a Fazenda Pública de competência
conferem tutela cautelar (por sua natureza provisória) e as originária do Tribunal (aí só teria 1 grau de jurisdição, mas a
que se referem a relações continuativas. palavra sentença deve ser interpretada de maneira estrita).

66
O fato de haver reexame necessário não impede a Fa- III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais
zenda Pública de recorrer, até mesmo porque o recurso Municípios e respectivas autarquias e fundações de di-
permite o que o reexame não permite: apresentar razões, reito público.
ou seja, tentar convencer o Tribunal, argumentar. O novo CPC aumentou os valores do CPC/1973, que
No reexame necessário não é possível piorar a situação era de apenas 60 salários mínimos, para valores maiores
da Fazenda Pública, conforme súmula 45 do STJ. Assim, o conforme a unidade federativa.
Tribunal só reexamina o que a Fazenda Pública sucumbiu, § 4o Também não se aplica o disposto neste artigo
exceto no caso de matéria de ordem pública que tenha quando a sentença estiver fundada em:
passado despercebida em 1ª instância (pode rever mesmo I - súmula de tribunal superior;
que prejudique a Fazenda Pública). Logo, quando o pro- II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou
cesso sobre para reexame necessário, o Tribunal analisará: pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de re-
a) sucumbência da Fazenda Pública; b) matérias de ordem cursos repetitivos;
pública (ponto no qual há algum risco de piora para a Fa- III - entendimento firmado em incidente de resolução de
zenda Pública). demandas repetitivas ou de assunção de competência;
Obs.: Obviamente, se a outra parte recorrer da parcela IV - entendimento coincidente com orientação vinculan-
da sentença em que a Fazenda Pública não foi condenada é te firmada no âmbito administrativo do próprio ente pú-
possível que sua situação piore. blico, consolidada em manifestação, parecer ou súmula
Ex.: Fazenda Pública pediu 100, ganhou 60, recorre de administrativa.
80. O Tribunal pode dar 100? Pela súmula 325 do STJ, todas
as parcelas de sucumbência podem ser reexaminadas, en- Se fundada em jurisprudência do STF ou súmula de STF,
tão, sim, pode dar 100. STJ, TST ou TSE, bem como em julgamentos de deman-
Se houver acórdão não unânime que reforme sentença das repetitivas no STF ou STJ, há grandes chances de que
de 1ª instância em grau de reexame necessário caberão em- a sentença seja mantida, não fazendo sentido submetê-la
bargos infringentes? Isto é, se a Fazenda Pública não recor- a reexame necessário. O mesmo vale para decisão admi-
reu a princípio e no reexame um dos votos foi mais favorá- nistrativa vinculante do próprio órgão. Nestes casos, não
vel a ela enquanto que os outros 2 mantiveram a decisão de
importa o valor da condenação.
1ª instância, ela pode agora exercer seu direito de recorrer
Obs.: Casos de reexame necessário em leis especiais: a)
e tentar fazer prevalecer o voto minoritário pelos embar-
Lei nº 12.016/09, artigo 14, concessão de mandado de se-
gos infringentes? A súmula 390 do STJ diz que não cabem
gurança; b) Lei nº 4.717/65, lei de ação popular, sentença
embargos infringentes em reexame necessário, conferindo
de improcedência ou extinção sem julgamento do mérito.
interpretação restritiva ao texto da lei, então não pode.
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os em-
bargos à execução fiscal. #FicaDica
Assim, a Fazenda Pública é exequente, o que ocorre nas
chamadas execuções fiscais. Na verdade, trata-se de hipó- A remessa necessária ou o reexame necessário
tese dispensável, pois os embargos à execução têm natu- são requisito para a eficácia da decisão, caben-
reza de processo de conhecimento e a decisão final neles do ao juiz remeter de ofício o processo ao grau
proferida é sentença, logo, encaixaria no inciso I. recursal independente de recurso em certas
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta condenações da Fazenda Pública. Não pode
a apelação no prazo legal, o juiz ordenará a remessa ser considerado recurso, pois não efetua mani-
dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do festação de inconformismo.
respectivo tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal
julgará a remessa necessária.
Logo, o juiz é obrigado a submeter o processo a ree- RECURSOS. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
xame necessário, sob pena dele não produzir seus plenos EFEITOS. TEORIA GERAL DOS RECURSOS.
efeitos, já que o reexame é condição para o trânsito em
julgado da sentença condenatória.
No entanto, há duas exceções, hipóteses em que mes-
mo que a Fazenda Pública seja condenada não será feito o Recurso é uma manifestação de inconformismo da par-
reexame necessário: te que busca um novo pronunciamento judicial, em regra,
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a por parte de outro órgão judicial, modificando a decisão a
condenação ou o proveito econômico obtido na causa qual lhe foi desfavorável.
for de valor certo e líquido inferior a: Recursos são remédios processuais de que podem se
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respec- valer as partes, o MP e os terceiros interessados prejudica-
tivas autarquias e fundações de direito público; dos para submeter uma decisão judicial a nova apreciação,
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, modificando-a, invalidando-a, esclarecendo-a ou comple-
o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações mentando-a, sanando, assim, eventuais vícios desta, enfim,
de direito público e os Municípios que constituam capi- purgando-a de erros. Em regra, é apreciado por órgão di-
tais dos Estados; verso de que proferiu a decisão.

67
1. Características 2. Atos processuais sujeitos a recursos

- Todo recurso é interposto em relação jurídica-proces- Só cabe recurso contra atos processuais que possuam
sual existente. Não cria um novo processo. Mandado de se- conteúdo decisório. Os atos das partes, dos serventuários
gurança, ação rescisória e habeas corpus não são recursos. da justiça ou do MP não se sujeitam a ele. Contra despa-
- É da essência dos recursos impedir que a decisão/ chos, espécie de atos do juiz, também não cabe recurso.
sentença se torne definitiva. Logo, ainda pode ser alterada. Contra as sentenças cabe apelação. Contra decisões in-
Impede-se a preclusão (com relação às decisões interlocu- terlocutórias, agravo. Contra ambas, embargos de decla-
tórias) e o trânsito em julgado (com relação às decisões de- ração. Contra acórdãos, cabem embargos de declaração,
finitivas). além de recurso especial e extraordinário.
Enquanto há recurso pendente, as decisões não são de-
finitivas nem imutáveis. Para que isso ocorra, é preciso que 3. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos re-
se esgote o prazo para interpor recursos ou então que os cursos
recursos interpostos tenham sido apreciados.
Obs.: Se tiver agravo de instrumento correndo no Tribunal Antes de apreciar o mérito dos recursos, é preciso que
e chegar o momento de juiz sentenciar não poderá deixar de sejam examinados os requisitos de admissibilidade. São
fazê-lo. Assim, o juiz sentencia e se o agravo for improvido a pressupostos indispensáveis para que o recurso possa ser
sentença de convalida. Contudo, se o agravo for provido todos conhecido. A matéria é de ordem pública.
os atos posteriores à decisão agravada serão anulados. Se denegado o prosseguimento de um recurso por falta
Todos os recursos interpostos no mesmo processo de- de requisito de admissibilidade, cabe desta decisão agravo.
vem ser julgados pela mesma câmara/turma, julgando-se Os requisitos podem ser reexaminados até que se passe
primeiro o agravo eventualmente pendente e depois a ape- ao mérito do julgamento do recurso.
lação (pois se o agravo for provido à sentença não terá efi-
cácia e a apelação ficara prejudicada). Isso vale inclusive se 4. Requisitos de admissibilidade
a parte não apelar.
- Os recursos servem para corrigir o error in procedendo A doutrina varia ao trazer os requisitos de admissibilida-
e o error in judicando, isto é, erros em relação ao procedi-
de, mas a lista mais completa deles é a de Barbosa Morei-
mento adequado e erro em relação ao julgamento (erro de
ra, que os divide em intrínsecos (cabimento, legitimidade,
forma ou erro de fundo).
interesse) e extrínsecos (tempestividade, regularidade for-
- Como regra geral, não é possível inovar nos recursos:
mal, preparo, inexistência de fato impeditivo ou extintivo).
não se pode invocar em fase recursal matéria que não foi
discutida ou questionada no juízo inferior.
a) Intrínsecos
Exceções:
Dizem respeito à decisão recorrida em si mesma, seu
a) Artigo 493, CPC5 – Fato modificativo, constitutivo ou
conteúdo e forma. Os requisitos intrínsecos se assemelham
extintivo do direito que influa no julgamento da lide
posterior à propositura da ação. às condições da ação: cabimento – possibilidade jurídica;
b) Artigo 1014, CPC6 – Se a parte provar que não susci- legitimidade – legitimidade; interesse – interesse de agir.
tou a questão antes da apelação por motivo de força
maior. - Cabimento
c) Matérias de ordem pública e prescrição podem ser Recurso cabível é aquele que tem previsão legal. Cada
alegadas a qualquer momento. recurso é típico e adequado para certas circunstâncias. O
rol legal dos recursos é taxativo (numerus clausus), tanto é
- O órgão que proferiu a decisão impugnada é o a quo e que o Código de Processo Civil, no artigo 994, enumera os
o que vai julgar é o ad quem. Nos embargos de declaração é recursos nele previstos. Além disso, leis especiais podem
o próprio juízo a quo que julga. Os recursos são interpostos prever outros recursos.
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

perante o juízo a quo e remetidos ao juízo ad quem, exceto


no caso de agravo de instrumento. O juízo a quo processa o - Legitimidade
recurso, adiantando o trabalho do Tribunal. Perante o juízo É das partes, intervenientes, Ministério Público (parte/
ad quem é feito o juízo de admissibilidade (conhece ou não fiscal), terceiro prejudicado (mesma pessoa que antes po-
conhece o recurso e, uma vez conhecido, julgara o mérito deria ser assistente simples).
do recurso, isto é, dará ou negará provimento). Quando o juiz submete um processo ao reexame ne-
5 “Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato consti- cessário, também conhecido como recurso de ofício, signi-
tutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do fica que está recorrendo? Não, apesar do nome, o recurso
mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a reque- de ofício não é um recurso, então o juiz não pode recorrer.
rimento da parte, no momento de proferir a decisão. Parágrafo único. Predomina que perito só pode discutir seus honorários
Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele em ação própria, não em recurso. Então, não pode recorrer.
antes de decidir”.
6 “Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior
O advogado também tem legitimidade de recorrer, em
poderão ser suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de nome próprio, mas apenas no tocante aos honorários ad-
fazê-lo por motivo de força maior”. vocatícios. O STJ reconhece este direito devido à previsão

68
da Lei nº 8.906/1994, que no artigo 23 diz que os hono- ciente). Não há efeito interruptivo se os próprios embargos
rários de sucumbência, fixados na sentença, pertencem de declaração forem opostos fora do prazo (só embargos
ao advogado, podendo ele executá-los em nome próprio. de declaração tempestivos interrompem o prazo).
Também é possível recorrer sobre honorários em nome da
parte, conforme for mais conveniente ao advogado (vamos - Preparo
supor que tenha que recorrer de outros aspectos, não ape- São as custas com o processamento do recurso, des-
nas dos honorários advocatícios). tinadas à Fazenda Pública da esfera da federação em que
se encontra a justiça (federal – União, estadual – Estados).
- Interesse Embargos de declaração não têm preparo. Leis estaduais
Para o interesse é preciso sucumbência. Isto é, para se podem eximir o preparo de outros recursos no âmbito de
recorrer é necessário ter sucumbido. Tecnicamente, sucum- seus Judiciários.
bir é não obter o melhor resultado que seria possível na- Para Recurso Especial e Recurso Extraordinário, além do
quele caso concreto. preparo, exige-se porte de remessa e retorno, todos pre-
Por exemplo, se A pediu 120 e o juiz deu 100, pode re- vistos nos regimentos internos do STJ e do STF, respecti-
correr. vamente.
Ou então, se A pediu 100 e o juiz deu 120, também pode Fazenda Pública é dispensada do preparo por ser a be-
recorrer, pois apesar de ter recebido mais que o pedido, a neficiária do mesmo.
sentença é ultra petita, logo, nula e, se A não recorrer, pode Ministério Público é dispensado por sua natureza.
se arriscar a sofrer ação rescisória no futuro. Também são dispensados os beneficiários da Lei nº
As partes podem recorrer da extinção sem julgamento 1.060/1950.
do mérito? Sim, pois para elas pode ser melhor uma sen- Calcula-se com base no valor da causa ou no valor da
tença de procedência ou improcedência, que fazem coisa condenação.
julgada material. No ato de interposição do recurso deve ser comprova-
Em regra, não há interesse para recorrer da fundamen- do o recolhimento do preparo, sob pena de não ser ad-
tação, apenas do resultado, sendo exceções: as ações civis mitido – artigo 1007, CPC. O STJ tem dado ao artigo 1007
públicas e ações populares – nelas, se a improcedência uma interpretação rigorosa, não bastando que o preparo
for por insuficiência de provas, a sentença não faz coisa jul- seja recolhido no prazo recursal, sendo preciso que já esteja
gada material (chamada coisa julgada secundum eventun recolhido no ato de interposição (se esquecer de juntar a
litis, que só faz coisa julgada material se o fundamento for guia, mas tiver pago antes da interposição, aceita-se junta-
diverso de insuficiência de provas, por exemplo, melhor se da posterior).
reconhecer a inexistência do dano do que a insuficiência de Pelo artigo 1007, §2º, CPC, se o preparo for recolhido a
provas da autoria). menor, é concedido o prazo de 5 dias para recolher a dife-
Não há interesse em recorrer de sentença que homo- rença. Não dá para aplicar o dispositivo se ao menos uma
loga acordo, pois recorrer de acordo é ato logicamente in- parte do preparo não for recolhida. A diferença não pode
compatível (preclusão lógica), a não ser que o juiz vá além ser tamanha que caracterize erro grosseiro.
do acordo celebrado.
Se o autor formula pedidos alternativos (quer um ou ou- - Regularidade formal
tro sem ordem e preferência), não pode recorrer se um for Para um recurso ser admitido, deve preencher os requi-
concedido; mas se os pedidos forem subsidiários (prefere sitos de forma. Por exemplo, forma escrita (em regra, sal-
um ao outro), pode recorrer para obter o que mais queria. vo agrado retido em audiência da instrução e julgamento);
b) Extrínsecos acompanhamento das razões no ato de interposição (sob
São fatos externos ao recurso em si, nem é preciso ler o pena de preclusão consumativa, isto é, de não ser possível
recurso para analisa-los. complementar posteriormente o recurso interposto, salvo
se tiver apelado antes do julgamento dos embargos de de-
- Tempestividade claração opostos pela outra parte que mudem a sentença, NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO
O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto devendo o aditamento versar sobre os aspectos alterados).
em lei, notadamente: embargos de declaração em 5 dias,
demais recursos em 15 dias. - Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do di-
Para a contagem do prazo, inclui-se o dia do final e reito de recorrer
exclui-se o dia do início. Além disso, contam-se apenas os Normalmente, a doutrina enumera como fatos extinti-
dias úteis. vos a renúncia e a aquiescência, e como impeditivos a de-
Exceções: artigos 180, 183, 186 e 229, CPC (dobro para sistência. A finalidade da distinção é que os fatos extintivos
Fazenda Pública, Ministério Público, Defensoria Pública e li- são prévios à interposição do recurso, ao passo que os im-
tisconsortes com procuradores diversos). peditivos exigem recurso interposto (só dá para desistir do
Atenção: Embargos de declaração, quando opostos, in- recurso interposto).
terrompem o prazo para interposição de outros recursos. Renúncia é um ato unilateral irrevogável do interessado
Opondo de má-fé, apenas protelatórios para ganhar tempo, pelo qual ele manifesta a vontade de não recorrer (o que
o juiz não pode retirar a eficácia interruptiva dos embargos se ganha com isso é a antecipação do trânsito em julgado).
de declaração, mas pode aplicar multa (1% a 10% do valor Aquiescência é a prática de um ato incompatível com a
da causa, ou 10 vezes o salário mínimo se o valor for insufi- vontade de recorrer (ex: pagamento no prazo do recurso).

69
Desistência, tal como a renúncia e a aquiescência, é A Fazenda Pública tem prazo em dobro para recorrer,
sempre ato unilateral, não dependendo da concordância da mas o prazo para contrarrazões é simples. Então, deve in-
parte contrária; também é sempre ato irrevogável; se desis- terpor recurso adesivo no prazo em dobro ou no prazo
tir, transita em julgado. É possível desistir de um recurso simples? Para o STJ, como se trata de forma de interposição
até o início do julgamento. de recurso, o prazo dobra, havendo descompasso entre o
prazo das contrarrazões e do recurso adesivo.
5. Princípios fundamentais do direito recursal - Reexame necessário
Questão estudada no tópico anterior.
a) Princípio da taxatividade
O rol dos recursos previsto em lei é taxativo, numerus - Pedidos de reconsideração
clausus. Tanto é que o Código de Processo Civil, no artigo Significa pedir para que o juiz mude de ideia e volte
994, enumera os recursos cabíveis. Há também outros re- atrás em sua decisão. Contudo, a regra é que a decisão do
cursos em leis especiais, por exemplo, o recurso inominado juiz é irretratável. Então, o juiz só pode conceder o pedido
dos juizados especiais cíveis. de reconsideração se recair sobre decisão da qual possa
No entanto, somente é recurso o que a lei diz que é se retratar, notadamente: agravo, apelação de sentença de
recurso, sendo necessário cuidado para não confundir com improcedência liminar do pedido, apelação de sentença de
estes outros incidentes processuais, notadamente: extinção sem julgamento do mérito por inépcia da inicial.
Quer dizer que o juiz sempre pode mudar de ideia nestas
- Recurso adesivo decisões? Ou não, que apenas pode fazê-lo se a parte recor-
É uma forma de interposição de alguns recursos, que rer? Enfim, entende-se que somente pode mudar a decisão,
são: apelação, recurso extraordinário e recurso especial. retratando-se, se a parte recorrer ou então se expressamente
Assim, recurso é a apelação, o recurso extraordinário e o fizer o pedido de reconsideração, senão a decisão se convali-
recurso especial, sendo “adesivo” apenas uma forma de da, houve preclusão. Contudo, existem as matérias de ordem
interpor estes recursos de maneira acessória à forma prin- pública e, com relação a elas, o juiz pode mudar de decisão
cipal. independentemente de ter sido ou não interposto recurso.
O requisito essencial para utilizar esta forma é a sucum- O pedido de reconsideração não é recurso, será exa-
bência recíproca, isto é, ambas as partes teriam interesse minado pelo mesmo juiz (que pode nem recebe-lo) e não
para recorrer porque o resultado não foi o mais favorável impede que a decisão preclua por si só (se o juiz não mudar
possível para nenhuma delas. a decisão, não pode recorrer depois). O comum – e correto
No entanto, mesmo quando o resultado não é o mais – que tem sido feito é constar o pedido de reconsideração
favorável possível, é comum que a parte se conforme em na petição de interposição ao juízo a quo ou então na peti-
perder parte do desejado para obter em troca a finalização ção de informação ao juízo a quo do agravo de instrumen-
da lide, com o seu trânsito em julgado. Ex.: Pediu danos to interposto perante o juízo ad quem, então se o juiz não
materiais e morais, mas o juiz só deu os danos materiais, mudar de ideia não há preclusão da decisão.
contentando-se a parte com isso desde que o processo
acabe e receba a parte que o juiz considerou devida. Per- - Correição parcial
ceba-se que quem recorre adesivamente é aquele que, em Tem natureza administrativa. Contudo, no CPC/1939 a
princípio, estava conformado com a decisão. Contudo, a jurisprudência aceitava em alguns casos como recurso. É
outra parte, que também sucumbiu, recorre, deixando de que nele o sistema recursal não era perfeito, ao passo que
existir a expectativa do trânsito em julgado do processo, no atual CPC o agravo e a apelação cobrem todas as pos-
caindo por terra o fundamento que levou uma das partes a sibilidades, não sobrando espaço para a correição parcial.
não recorrer. Assim, já que o outro está recorrendo, decide
legitimamente também o fazer. b) Singularidade ou unirrecorribilidade
O recurso adesivo é interposto no prazo das contrarra- Contra cada tipo de ato judicial só cabe um tipo de re-
zões (apresenta-se duas peças, uma com as contrarrazões curso postulando a sua reforma. Os embargos de declara-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

e outra com as razões do recurso adesivo e a respectiva ção cabem contra qualquer decisão, mas não se confundem
folha de interposição, sendo que na primeira se pede a ma- com o recurso específico para modificá-la. A única exceção
nutenção do que foi concedido e na segunda o que ainda ao princípio é que contra o mesmo acórdão pode caber
não foi concedido). E, já que a parte preferiria o trânsito recurso especial e recurso extraordinário (a rigor, nem seria
em julgado em vez de recorrer, seu recurso é considerado exceção, pois cada qual trata de uma parte específica da
acessório ao recurso principal interposto pela outra parte, decisão, respectivamente, violação de lei federal e violação
de modo que somente será apreciado se o recurso princi- de Constituição Federal).
pal for admitido. Devido ao princípio da singularidade é preciso ficar
Se apresentado o recurso adesivamente, abre-se prazo atento nas audiências de instrução e julgamento: das de-
para contrarrazões. cisões interlocutórias tomadas em seu curso cabe agravo,
O recurso adesivo se sujeita aos mesmos requisitos de mas da sentença cabe apelação, sendo necessário interpor
admissibilidade que o recurso principal. ambos recursos se de interesse, sob pena de preclusão da
Quem recorreu sob a forma convencional exauriu seu decisão interlocutória caso se interponha apenas a apela-
direito de recorrer, não podendo recorrer de novo na for- ção. Por isso mesmo, cabe interpor agravo retido oralmen-
ma adesiva, há preclusão consumativa. te e reiterar o pedido de sua apreciação na apelação.

70
c) Fungibilidade No aspecto extensão, se houver cumulação de pedidos
Expressão que remonta a coisa que pode ser substituída o juiz deve apreciar todos, mas se o réu recorrer de apenas
por outra. Há institutos processuais fungíveis entre si, por um deles irá limitar o que será examinado pelo Tribunal.
exemplo, ações possessórias, cautelares. Existe também a Assim, O RECORRENTE CONFERE A EXTENSÃO DO RECUR-
fungibilidade entre os recursos, mas o CPC/1973 não a pre- SO, devolvendo ao Tribunal a parte da decisão que impug-
viu de forma expressa e nem o CPC/2015 o faz, ao contrário nou. Isto é, o efeito devolutivo no aspecto da extensão é
do CPC/1939, que trazia a fungibilidade de maneira expres- a qualidade do recurso de devolver ao órgão ad quem o
sa, exigindo que não houvesse erro grosseiro e nem má-fé. conhecimento apenas da matéria impugnada – tantum de-
Mas o sistema de recursos atual é muito mais organizado, volutum quantum appelatum.
sendo raros os casos de dúvida objetiva quanto ao recurso No aspecto profundidade, imagine-se ação proposta
a ser interposto, de modo que o autor do projeto conside- com um único pedido (por exemplo, anulação de contrato)
rou que a fungibilidade era dispensável. mas com dois fundamentos (por exemplo, anulabilidade por
Ainda assim, surgiram situações de dúvida na jurispru- ser relativamente incapaz e por coação), sendo que cada fun-
dência, por exemplo, impugnação à concessão de justiça damento pode, por si só, gerar a procedência do pedido se
gratuita, sendo necessário ressuscitar o princípio da fungi- o juiz constatar que um deles ficou provado desde logo po-
bilidade, enquanto princípio implícito. derá julgar sem nem ao menos abrir a instrução. Se ao final
Hoje, se exige dúvida objetiva sobre o recurso cabível julgar improcedente, deverá apreciar os 2 fundamentos. Se
(a dúvida subjetiva é a que só a pessoa tem e decorre de for julgar procedente, pode apreciar apenas 1 fundamento,
uma ignorância, ao passo que a dúvida objetiva pressupõe acolhendo o pedido (claro, se feitos 2 pedidos cumulados
controvérsia na doutrina e na jurisprudência em decorrên- tem que apreciar os 2). No exemplo, se o réu apelar e o Tri-
cia da lei). bunal rejeitar a tese da incapacidade relativa, ele não deve
desde logo reformar a sentença de procedente para impro-
d) Proibição da reformatio in pejus cedente, pois é necessário apreciar o outro fundamento (tese
Quanto o Tribunal examina recurso de um dos litigantes da coação). O recurso permite que o Tribunal aprecie não
não pode piorar a situação dele. Afinal, no recurso só se só os fundamentos da sentença, mas todos os fundamentos
pede a melhora e o Tribunal fica restrito ao recurso. Claro, discutidos no processo (artigo 1013, §2º). Se não houverem
pode piorar ao examinar recurso do adversário. Entretanto, elementos necessários (no exemplo, não há elementos para
há a questão das matérias de ordem pública, que devem apreciar a coação porque o juiz não instruiu o processo), para
ser reconhecidas de ofício, podendo o Tribunal piorar a si- que o Tribunal aprecie o outro fundamento deverá anular a
tuação de quem recorreu. sentença e devolver o processo a 1º grau para produzir as
provar e proferir nova sentença (que agora excluirá um dos
e) Duplo grau de jurisdição fundamentos e só apreciará a questão da coação). Sendo as-
Não há nenhum dispositivo expresso determinando o sim, o aspecto da extensão tem a ver com a causa de pedir,
respeito ao duplo grau de jurisdição. Ele está implícito na com os fundamentos dos pedidos feitos no processo.
Constituição Federal, que criou juízes e Tribunais, atribuin- Nos termos do artigo 1013, §3º, o juiz extingue sem
do à 2ª instância a competência para rever as decisões de julgamento do mérito e, havendo apelação, o Tribunal
1ª. Não há triplo/quádruplo grau pois os recursos ao STJ e pode julgar o mérito, se presentes todos os elementos, por
ao STF são excepcionais. exemplo, réu já citado, contestação. Se julgar improceden-
Como não há disposição expressa, o sistema admite, te, o Tribunal estará piorando a situação do autor? Não,
excepcionalmente, situações em que não há duplo grau pois reformatio in pejus pressupõe que as duas instâncias
de jurisdição. Ex.: ações de competência originária do STF; tenham examinado o mérito, e no caso da sentença mera-
execuções da Fazenda Pública contra particulares de pe- mente extintiva não houve este exame.
queno valor. Obs.: apesar de a sentença que reconhece a prescrição
ser sentença de mérito, apenas o é para formar a coisa jul-
6. Efeitos dos recursos gada material e evitar reproposituras, na prática se aproxi-
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

Em regra, quem dá é a lei e quanto o juiz recebe num ou mando mais da sentença sem julgamento do mérito. Sob
noutro efeito nada faz senão declarar os efeitos atribuídos o efeito em estudo, cabe ao Tribunal, se afastá-la, apreciar
na lei. Se o juiz se equivocar quanto ao efeito atribuído o mérito propriamente dito, ou julgando pelo artigo 1013,
pela lei pode a qualquer tempo mudar (matéria de ordem §3º ou determinando que volte à 1ª instância.
pública não sujeita a preclusão). Dos efeitos, a parte pode
agravar de instrumento (não agrava o recebimento de ape- b) Suspensivo
lação, mas os efeitos atribuídos ao recurso). Aptidão que alguns recursos tem de paralisar a eficácia
da decisão recorrida. Todo recurso adota uma regra (tem
a) Devolutivo ou não) e tem exceções (não ou tem). Em regra:
Todos os recursos têm. Consiste na aptidão de devolver
à apreciação do Judiciário a matéria questionada. Em regra,
o órgão julgador é diverso do que proferiu a decisão (salvo
embargos de declaração). O efeito devolutivo deve ser exa-
minado em 2 planos – extensão e profundidade.

71
TEM NÃO TEM Quer dizer, inclui o agravo. Se nele verificada a falta de
uma condição da ação ou a prescrição, por exemplo, pode
• Agravo o Tribunal extinguir o processo. Os embargos de declaração
• Embargos de declaração também possuem este efeito, podendo gerar uma reviravol-
• Apelação • Recursos aos Tribunais Superiores ta no processo.
(Recurso Ordinário, Recurso Especial,
Recurso Extraordinário e Embargos de d) Regressivo
Divergência) É a aptidão de alguns recursos de permitir que o órgão a
quo reconsidere a sua decisão, tornando com isso o recurso
Se a apelação é parcial, o efeito suspensivo de que é do- prejudicado. Por essência, por natureza, o recurso que sempre
tada será total ou parcial? O efeito suspensivo será total ou tem este efeito é o agravo (retido, regimental ou de instrumen-
parcial conforme a extensão do efeito devolutivo do recur- to), isto é, no agravo sempre é possível o juízo de retratação.
so? Se os pedidos da inicial forem autônomos entre si, o Em duas hipóteses específicas a apelação tem efeito re-
capítulo da sentença que os analisa terá partes autônomas e gressivo: a) sentença de indeferimento de petição inicial
independentes, assim, parte transita em julgado e parte não. – o juiz nem sequer mandou citar o réu – geralmente, o
Se os pedidos forem inter-relacionados, o capítulo será uno, processo foi extinto sem o julgamento do mérito (exceto
o trânsito em julgado não será parcial, pois se o Tribunal prescrição e decadência) e, conforme artigo 331, havendo a
reformar um pedido terá que reformar o outro. Neste caso, apelação o juiz poderá reconsiderar a sua sentença no pra-
embora a apelação seja parcial, o efeito suspensivo é total. zo de 5 dias; b) sentença de improcedência liminar – artigo
Em suma: quando houver cumulação de pedidos na inicial 332 – no caso, o pedido da inicial foi examinado e julgado
o juiz deve decidir todos no dispositivo se eles gozarem de no mérito improcedente de plano, sendo que se houver
autonomia e, se houver apelação parcial, o efeito suspensivo apelação o juiz tem 5 dias para reconsiderar.
será parcial; se eles forem independentes, ainda que a ape-
lação seja parcial, o efeito suspensivo será total. e) Expansivo
Uma apelação pode ser parcial mesmo que o pedido seja O efeito expansivo pode ser visto sob duas perspecti-
único, por exemplo, condenado a 100 apela só de 40. Do vas: objetivo e subjetivo.
capítulo único, recorreu só de uma parte. Existe risco de o No efeito expansivo objetivo, embora o recurso só te-
autor ficar sem nada? Sim, por causa do efeito translativo, nha um objeto, o Tribunal poderá apreciar outros pedidos
que permite o reconhecimento de matérias de ordem públi- inter-relacionados com aquele que foi objeto, isto é, au-
ca. Então, cabe executar a parte da qual não se recorreu, mas
menta-se o objeto do recurso. Pressupõe que na petição
a execução será provisória.
inicial tenham sido formulados pedidos interligados. Por
Resumo:
exemplo, o acolhimento de alimentos depende do resul-
- Há pedido único ou cumulação de pedidos?
tado positivo na investigação de paternidade nesta ação
- Havendo cumulação, os pedidos são autônomos ou in-
cumulada. Se a parte só apelar da investigação de pater-
terligados?
nidade e o Tribunal acolher, modificará a questão dos ali-
Se autônomos, o efeito suspensivo é parcial, se não é
total. Se pedido único, a execução é provisória, isto é, efeito mentos.
suspensivo parcial com ressalvas. No efeito expansivo subjetivo, pressupõe-se a existên-
Se a apelação for interposta somente no 15º dia, antes cia de litisconsórcio unitário (aquele em que forçosamente
disso poderia ter sido executada? Não, pois o efeito suspen- o resultado final do processo tem que ser o mesmo para
sivo existe desde antes da interposição, bastando a possibi- todos os litisconsortes).
lidade de interposição.
Apelação contra sentença cautelar não tem efeito sus- #FicaDica
pensivo, mas apelação no processo principal sim. Se o juiz
der só uma sentença, tem que discriminar no recebimento Cognição do Tribunal
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

os efeitos. - Objeto do recurso (devolutivo)


- Matéria de ordem pública (translativo)
c) Translativo - Pedido interligado (expansivo objetivo)
É a aptidão dos recursos em geral de permitir ao órgão - Litisconsórcio unitário (expansivo subjetivo)
ad quem examinar matérias de ordem pública, mesmo não
suscitadas no recurso (exame de ofício). De maneira geral,
todos os recursos ordinários são dotados de efeito trans-
lativo.
Recursos extraordinários lato sensu (Recurso Extraordiná-
rio, Recurso Especial e Embargos de Divergência) não pos-
suem este efeito. STF e STJ são pacíficos no sentido de que
Recurso Extraordinário e Recurso Especial não possuem o
efeito: só se conhece do que foi questionado, não importan-
do o que esteja fora disso, ainda que se trate de matéria de
ordem pública.

72
4. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP -
PROCURADOR - VUNESP/2017) Quanto ao pedido de
HORA DE PRATICAR! desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do
Código de Processo Civil vigente, assinale a alternativa cor-
reta.
1. (CÂMARA DE MOGI DAS CRUZES - SP - PROCURA-
DOR JURÍDICO - VUNESP/2017) Caio ajuizou a compe- a) Pode ser decretada de ofício ou a requerimento do Mi-
tente ação de indenização por danos materiais e morais nistério Público.
contra Gaio, em razão de acidente automobilístico. Toda- b) O incidente é cabível até a fase recursal do processo.
via, o autor deixou de indicar a quantificação dos danos c) Está dispensada a instauração do incidente, se o pedido
morais sofridos. O juiz da ação determinou que Caio emen- for feito na inicial.
dasse a inicial, indicando a quantificação dos danos morais d) O sócio da pessoa jurídica será intimado para se mani-
sofridos em razão do infortúnio. festar no prazo de 15 dias.
O caso descrito refere-se ao princípio processual e) O incidente será resolvido por sentença.

a) da vedação da decisão surpresa. 5. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO (INTE-


b) do contraditório e da ampla defesa. RIOR) - VUNESP/2018) Processa(m)-se durante as férias
c) da motivação. forenses, onde as houver, e não se suspendem pela super-
d) do dispositivo. veniência delas:
e) da cooperação.
a) a homologação de desistência de ação.
2.(PC-BA - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP/2018) A b) os procedimentos de jurisdição voluntária e os neces-
respeito dos critérios para a modificação da competência sários à conservação de direitos, quando puderem ser
do juízo cível, é correto afirmar que: prejudicados pelo adiamento.
c) os processos que versem sobre arbitragem, inclusive so-
a) a competência absoluta poderá modificar-se pela cone- bre cumprimento de carta arbitral.
xão ou pela continência. d) o registro de ato processual eletrônico e a respectiva
b) reputam-se continentes 2 (duas) ou mais ações quando intimação eletrônica da parte.
lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. e) a realização de audiência cujas datas tiverem sido de-
c) antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abu- signadas.
siva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que
determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de 6.(TJ-SP - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E DE RE-
domicílio do réu. GISTROS - PROVIMENTO - VUNESP/2018) Sobre os
d) se dá a conexão entre 2 (duas) ou mais ações quando atos processuais, é correto afirmar:
houver identidade quanto às partes e à causa de pedir,
mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o a) poderão ser concluídos após as 20 horas os atos inicia-
das demais. dos antes, quando o adiamento prejudicar a diligência
e) a citação do réu torna prevento o juízo. ou causar grave dano.
b) serão realizados em dias úteis, das 6h às 22h.
3. (TJ-RS - JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO - VU- c) quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição
NESP/2018) O ente sem personalidade jurídica: em autos eletrônicos, esse deverá ser protocolado no
horário de funcionamento do fórum ou tribunal, con-
a) poderá ingressar em juízo por possuir personalidade ju- forme o disposto na lei de organização judiciária local.
diciária. d) as citações, intimações e penhoras poderão realizar¬-se,
b) não poderá ingressar em juízo sem representação es- desde que com autorização judicial, no período de férias
NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

pecial. forenses, onde houver, e nos feriados.


c) não poderá ingressar em juízo em nome próprio.
d) não poderá ingressar em juízo por não responder patri- 7. (PREFEITURA DE MARÍLIA - SP - PROCURADOR
monialmente. JURÍDICO - VUNESP/2017) O juiz resolverá o mérito
e) poderá ingressar em juízo desde que autorizado em seus quando:
estatutos.
a) a petição inicial for indeferida.
b) verificar a ausência de pressupostos de constituição do
processo.
c) reconhecer a existência de coisa julgada.
d) homologar a desistência da ação.
e)homologar a transação.

73
8.(CÂMARA DE BARRETOS - SP - ADVOGADO - VU-
NESP/2017) A sentença não se considera fundamentada, ANOTAÇÕES
quando:

a) se limite a reproduzir ato normativo, ainda que explique ___________________________________________________


sua relação com a causa ou a questão decidida.
b) empregar conceitos jurídicos determinados, sem expli- ___________________________________________________
car o motivo concreto de sua incidência no caso.
___________________________________________________
c) invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão. ___________________________________________________
d) não enfrentar todos os argumentos deduzidos no pro-
cesso capazes ou incapazes de, em tese, infirmar a con- ___________________________________________________
clusão adotada pelo julgador.
e) no caso de antinomia jurídica, utilizar o método da con- ___________________________________________________
jugação elisiva. ___________________________________________________

___________________________________________________
GABARITO ___________________________________________________

___________________________________________________
1 E
2 C ___________________________________________________

3 A ___________________________________________________
4 C ___________________________________________________
5 B
___________________________________________________
6 A
7 E ___________________________________________________
8 C ___________________________________________________

___________________________________________________

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___________________________________________________

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NOÇÕES DE TEORIA GERAL DO PROCESSO

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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