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INTRODUÇÃO
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O Art. 205 da Constituição Federal de 1988 define a educação e seus objetivos. Forma-se uma
concepção ampla de educação como direito de todos e dever do Estado, para depois, nos artigos
subsequentes, ou seja, nos artigos 206 ao 214, qualificar esse direito.
A infância no Brasil tem uma história quando se pensa em seus direitos, como
mostra Irene Rizzini (2009), no trabalho “Crianças e menores – do Pátrio Poder ao
Pátrio Dever, um histórico da legislação para a infância no Brasil”. E a história da luta
pelos seus direitos nasce com a “descoberta” da infância, quando ela passa a ter um
papel importante na sociedade, mesmo que tomada ao mesmo tempo como problema e
como solução para o país, questão evidenciada pela autora citada. Esta autora mostra
que a história da legislação referente às crianças se destaca desde a independência do
Brasil (1822), quando a sociedade passa a se preocupar e a discutir sobre questões como
a concepção de criança, como moldá-la, regular seus destinos, quem se responsabiliza e
deve ter o poder sobre ela (o Estado, a Sociedade, a Igreja?), que papéis têm a família, a
escola, a igreja e o estado sobre ela, dentre outras questões. É assim que a criança-
menor passa a protagonizar essa história, trazendo à tona a questão da assistência, das
responsabilidades da sociedade, as ações dirigidas a ela – caridade, filantropia,
regulamentação (social e penal), entre outros aspectos; é assim que a infância vira uma
“magna causa”, pois “salvar uma criança é defender a nação”, esclarece Irene Rizzini
(2009).
Nesta parte do artigo, dados aos limites de espaço, deter-nos-emos apenas na
questão de como os direitos das crianças, no Brasil, de modo especial o direito à
educação, firmam-se e se estruturam a partir da Constituição de 1988.
É importante que se esclareça que a definição dos direitos sociais no Brasil,
como defende Bobbio (1992, p. 76), é fruto de um processo complexo, e tem íntima
relação com as transformações globais e centrais da sociedade:
Como podemos inferir, não há produção de direito sem que esse direito seja
fruto de transformações. E só há transformações, capazes de gerar direito, quando a
ESCOLA E SOCIEDADE: CONSTRUTOS HISTÓRICO-CULTURAIS 165
sociedade coloca-se em estado de luta. Em última análise, podemos dizer que a
cidadania não é, numa sociedade marcada por históricas e sistemáticas desigualdades e
injustiças, uma dádiva do estado, é resultado da luta social e política que a sociedade
empreendeu e empreende no interior dessa mesma sociedade, o que nos leva a
concordar com Horta (1998, p. 2), quando defende que “a vida, a liberdade, a igualdade,
a propriedade privada e a segurança jurídica foram primeiros direitos reconhecidos,
proclamados e protegidos”.
No que tange especificamente ao direito à educação, Bobbio (1992) também nos
informa que, apesar de sua extrema importância, só se incorporou aos demais direitos de
cidadania, depois de grande atraso, processo caracterizado pela lentidão, ambiguidade e
contradição. O referido autor afirma que
[...] esse direito não fora posto no estado de natureza porque não emergia na
sociedade da época em que nasceram as doutrinas justanaturalistas, quando as
exigências fundamentais que partiam daquelas sociedades para chegarem aos
poderosos da Terra eram principalmente exigências de liberdade em face das
Igrejas e dos Estados, e não ainda de outros bens, como o da instrução, que
somente uma sociedade mais evoluída econômica e socialmente poderia
expressar (BOBBIO, 1992, p. 75).
Vemos assim que a ideia de ensino como direito de todos os cidadãos começa a
se firmar na modernidade, a partir do século XVIII, mas se institui e começa a se
consolidar no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, quando assistimos a um
acentuado processo de democratização do ensino e a um aumento da duração da
escolaridade obrigatória. Esse processo é decorrente da institucionalização dos direitos
advindos com a Declaração Universal de Direitos Humanos, proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, onde constatamos no Art. 26 “Toda
pessoa tem direito à instrução [...]” (BRASIL/UNESCO, 1998, p. 5); com a Declaração
dos Direitos da Criança, aprovada também pela Assembleia das Nações Unidades em
1959. Nessa última, o Art. 28 afirma: “Os Estados Partes reconhecem o direito da
criança à educação e tendo, nomeadamente, em vista assegurar progressivamente o
exercício desse direito na base da igualdade de oportunidades [...]” (UNICEF, 2004, p
20).
A Constituição Federal de 1988, no Art. 208, inciso IV, apresenta a educação
infantil como um direito subjetivo das crianças de 0 a 5 anos e como direito dos/das
trabalhadores/ras urbanos/nas rurais em relação aos seus filhos e dependentes (Art. 7,
XXV). Trata-se, como constatamos nos referidos artigos, de um direito indivisível e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ANGOTTI, M. Educação infantil: para que, para quem e por quê. In: ANGOTTI, M
(Org.). Educação infantil: para que, para quem e por quê? Campinas: Alínea, 2006.
BOBBIO, N. A. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
_____. Organização das Nações Unidades para a Educação/Seção Brasil. Resolução 217
A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Brasília, 1998.