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RELIGIÃO

18/02/2019 | domtotal.com

Os evangélicos e o poder na América


Latina
A força religiosa crescente do evangelismo e o enfraquecimento do
catolicismo se traduz também na vontade dos evangélicos de conquistar
espaços e condicionar processos.

A incursão na política partidária dos novos evangélicos não se produz em razão de um


pensamento social. (Reprodução/ Vatican Insider)

Por Alver Mettalli*

De uma atitude de distância, passando pelo colateralismo, até chegar ao


compromisso político direto, o caminho do movimento pentecostal latino-
americano praticamente completou seu trajeto. O crente de fé protestante
que meio século atrás se cuidava muito para se envolver na política, agora
considera completamente natural que o “irmão deve votar pelo irmão”.
Tendo alcançado a maioridade, os modernos herdeiros da antiga Reforma
Protestante levantam as bandeiras da política partidária praticamente em
todo o continente. Porque os evangélicos – escreve um atento estudioso
da sua encarnação e desenvolvimento na América Latina, o peruano José
Luis Pérez Guadalupe – “chegaram ao continente latino-americano para
ficar, ficaram para crescer e cresceram para conquistar”.

A que se deve essa transformação que na realidade foi surpreendente e


relativamente rápida, da visão tradicional do evangelismo latino-
americano?

A metamorfose evangélica, ao passo do proclamado distanciamento ao


neocolateralismo e dali ao compromisso político, com partidos e
candidatos próprios é, em primeiro lugar, o resultado de sua mesma
expansão e, portanto, da consciência de que constituem uma força de
choque eleitoral capaz de modificar os equilíbrios políticos de um país e de
uma região.

Os estudos sobre as modificações do universo religioso no continente


latinoamericano não são muitos, e entre os poucos eu há convém citar
aqueles mais conhecidos: os da Corporation Latinobarometro, uma
agência privada com sede central em Santiago do Chile e os da Pew
Research Center, uma think tankestadunidense com sede em Washington,
ambos especializados em pesquisas de opinião sobre temas de alcance
continental. Segundo um informe da primeira dessas instituições,
Latinobarometro, o catolicismo latino-americano diminuiu 13 pontos
percentuais entre 1995 e 2014, com retrocessos mais acentuados em
países da América Central como Nicarágua (-30), Honduras (-29) e Costa
Rica (-19). Nesses mesmos países, os evangélicos cresceram de maneira
inversamente proporcional ao retrocesso católico, confirmando dessa
maneira que a grande maioria dos herdeiros de Lutero na América Latina
são novos convertidos provenientes das filas católicas.

Os resultados do Pew Research Center atualizados também em 2014


mostram que os católicos latino-americanos baixaram a 69% da população
total, enquanto os evangélicos em seu conjunto subiram a 19%. Nos três
países da América Central anteriormente citados – Nicarágua, Honduras e
Costa Rica – a realidade evangélica pentecostal cresceu a tal ponto que
no futuro próximo poderia tirar a Igreja Católica de seu primado histórico,
alcançando a distância que ainda a separa do catolicismo romano (6% em
Honduras, 7% na Guatemala e Nicarágua e 10% no Panamá).

Frente ao generalizado crescimento evangélico, há duas exceções que


vale a pena apontar porque poderiam constituir a tendência no futuro.
Uruguai é o único país da região latino-americana onde o segundo grupo
majoritário não são os protestantes em suas diversas denominações, mas
sim os ateus sem filiação religiosa declarada. Ainda mais anômalo é o
caso chileno, que se caracteriza por uma impressionante perda de
confiança na Igreja Católica que nesse momento tem 124 processos de
pedofilia em curso, com 222 vítimas declaradas e 178 investigados, dos
quais 105 são padres e 8 bispos. A última pesquisa de 2018, feita pelo
Centro de Estudios Públicos, uma fundação acadêmica chilena dedicada a
análise de temas públicos, mostra que somente um de cada 10 chilenos
conserva certa confiança na Igreja, com uma diminuição dos que avaliam
positivamente sua doutrina e sua obra de 51% a 13%, em duas décadas.
Mas a diferença de outros países como Brasil ou Guatemala, onde os
evangélicos conquistam quase todo o terreno que Igreja Católica deixou
livre, no Chile o maior crescimento se observa entre aqueles que não se
identificam com nenhuma religião, que se triplicaram nas últimas duas
décadas, passando de 7% aos 24% atual.
Fica compreensível que a força religiosa crescente do evangelismo e o
enfraquecimento do catolicismo se traduza também na vontade dos
evangélicos de conquistar espaços e condicionar processos a favor da
realidade que representam. A tentação de envolver na política uma massa
de votantes de consideráveis proporções se tornou irresistível com o
passar do tempo. E se no começo do século XX a luta dos protestantes –
luteranos, anglicanos, presbiteranos, batistas, metodistas e pentecostais –
se orientava a afirmar e promover a liberdade de consciência e a
separação entre a Igreja e o Estado, ainda o preço de audazes alianças
com a maçonaria e outros movimentos declaradamente anticatólicos, hoje
os objetivos mudaram completamente e as multas denominações
pentecostais mostram uma aguda sensibilidades pelas batalhas eleitorais
onde estão em jogo valores que caracterizam no sentido antropológico a
convivência de uma sociedade.

Observando o comportamento político dos evangélicos em um número


crescente de países da América Latina, se pode ver que sua força eleitoral
se coagula em primeiro lugar em torno de muitos “nãos” pronunciados em
relação com a modificação de leis para “atualizar” os parâmetros morais
vigentes em um país, em função das mudanças culturais profundas que se
produziram na sociedade. Os pastores das denominações pentecostais se
opõem ao aborto, às uniões homossexuais, à legalização da maconha, à
introdução da educação de gênero nas escolas, ao que se soma a luta
contra a corrupção em nome da moralização da política e o endurecimento
de leis contra a criminalidade. E quando esses temas entram nos
programas eleitorais dos partidos laicos, a convergência dos evangélicos
em candidatos próprios ou “externos” para neutralizá-las foi sendo cada
vez mais maciça.

Cabe perguntar qual foi a fisionomia, ou a performance mais recente, do


movimento evangélico que incorporou a participação política direta como
forma de sua presença e de sua relação com as sociedades da América
Latina. Samuel Escobar, professor emérito de Missiologia, na Palmer
Theological Seminary of Pennsylvania, fala da sua própria experiência
como pastor, de uma “segunda onda de missionários, mais modernos e de
evidente influência conservadora américa” que “conseguiu posicionar
socialmente os evangélicos ao ponto de que já não se fala de
protestantes: ser evangélico é uma forma especial de ser protestante”.

O teólogo protestante alemão – e pastor luterano – Heinrich Schäfer,


aponta a mudança profunda que se produziu nas filas dos descendentes
de Lutero centrando a atenção no conceito de graça, que “no
protestantismo histórico é fortemente objetivo e assume a missão e a
educação como modos de exercer influência na sociedade”, quanto no
protestantismo evangélico prevalece “um conceito de missão, fortemente
de conversão, orientado a um crescimento quantitativo da igreja e sua
ética social está subordinada aos interesses da missão”.

A incursão na política partidário dos novos evangélicos não se produz em


razão de um pensamento social que tenha acompanhado seu
desenvolvimento e transformação, mas sim pelo potencial eleitoral e uma
clara influência conservadora americana, baseada em uma teologia da
prosperidade e uma visão reconstrucionista do mundo. Em síntese,
estamos na presença de “um novo tipo de protestantismo, politicamente
mais conservador, anticomunista e antiecumênico, vale dizer anticatólico
que, contrariamente aos seus predecessores, alcança um notável
crescimento numérico por meio de estratégias de evangelização e difusão
massivas, incluindo os meios de comunicação e tecnologias de
informação”.

Falar de meios de comunicação massivos é falar de poder, e falar de


poder é falar de política. Os evangélicos aprenderam com rapidez e na
América Latina implantam amplamente e em função política o poderoso
arsenal de meios dos quais dispões, apontando sempre a novas
aquisições. A última foi anunciada no início de 2019 e se refere nada
menos que à cadeia de televisão CNN. Douglas Tavolaro, neto e biografo
do magnata brasileiro e pastor evangélico Edir Macedo, fundador da Igreja
Universal do Reino de Deus, será o administrador chefe da CNN Brasil,
uma franquia da cadeia estadunidense. É um negócio sem precedentes na
história do Brasil que se concretizou quando Macedo alinhou publicamente
seu império midiático com a posição do governo do presidente eleito
Bolsonaro. Para ter uma ideia da magnitude do projeto basta pensar que,
segundo as declarações publicadas pela agência argentina Télam, a CNN
se dispõe a incorporar 800 pessoas, entre elas 400 jornalistas, e terá
redações em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

IHU/ Vatican Insider - Tradução: Wagner Fernandes de Azevedo.

*O DomTotal é mantido pela Escola de Engenharia de Minas Gerais


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