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AULA 5

TEORIA E PRÁTICA DA
TRADUÇÃO

Profª Simone Christina Petry


CONVERSA INICIAL

Nesta aula vamos estudar aspectos da formação e do trabalho profissional


do tradutor pela perspectiva da abordagem funcionalista da tradução,
especialmente com base na reflexão de Christiane Nord. Começaremos traçando
alguns pressupostos do funcionalismo alemão para em seguida apresentarmos
estratégias que auxiliam tanto o ensino da tradução quanto a sua prática efetiva.

CONTEXTUALIZANDO

O funcionalismo diz respeito a uma corrente de pensamento que começa a


ser aplicada à tradução a partir da elaboração da teoria do escopo, desenvolvida
desde o final da década de 70 – no período em que estudiosos europeus iniciaram
o processo de criação de uma área de estudos voltados à tradução –, pelo
trabalho rigoroso do alemão Hans J. Veemer com colaboração direta da
pesquisadora alemã Katharina Raiβ. As reflexões apresentadas por esses autores
defendem que a tradução de um mesmo texto pode oferecer resultados diversos
a depender do encargo, ou do projeto, ao qual o tradutor estiver vinculado. Essas
reflexões promoveram, na época, uma mudança de paradigma que libertava a
noção de tradução da exclusividade do princípio da equivalência, por isso
causaram um forte impacto na noção de tradução contemporânea, sobre a qual
estamos discutindo desde a nossa primeira aula. A “didatização” do trabalho
elaborado por Veemer e Raiβ ficou a cargo de Christiane Nord, que desenvolveu
um modelo funcionalista de análise textual com vistas a suprir as demandas
exigidas pela tarefa da tradução.

TEMA 1 – BREVE REFLEXÃO SOBRE O FUNCIONALISMO ALEMÃO

O termo funcionalismo alemão é comumente utilizado nas pesquisas do


âmbito dos Estudos da Tradução para fazer referência a uma abordagem
funcionalista, iniciada na Alemanha no final da década de 1970. O primeiro
pesquisador a assumir esse tipo abordagem no seu discurso teórico foi o alemão
Hans Vermeer, em 1978, em artigo intitulado “Estrutura fundamental para uma
teoria geral da tradução”1.

1Do que nos consta, ainda não há tradução desse artigo para o português. Seu título em alemão
é Ein Rahmen für eine allgemeine Translationstheorie. A tradução do título que usamos aqui é de
Alice Leal (2007).
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A teoria desenvolvida por Vermeer é conhecida como Teoria do Escopo.
Segundo essa teoria, a escolha do processo tradutório está diretamente ligada à
função do texto de chegada, ou da tradução propriamente dita. Como bem
observa Leal (2007), o mais importante para Vermeer era “romper com a noção
tradicional da teoria linguística da tradução” (p. 26), que defendia, de um modo
geral, a necessidade absoluta de busca por equivalência ao se traduzir um texto
qualquer, e, a partir disso, o autor queria demonstrar que as questões da tradução
iriam muito além de um simples trabalho processual linguístico. Para o teórico,
existiriam inúmeras outras questões para ser levadas em conta antes mesmo de
o tradutor pensar no processo linguístico, e as respostas para essas questões
dependeriam do escopo (encargo ou projeto) do texto de chegada. Por isso, um
mesmo texto poderia ter resultados diversificados. Nisso residiria, portanto, um
início de quebra de paradigma nos estudos voltados para a tradução, que
coincidiria com o momento das discussões para a criação de uma área de estudos
específicos.
Talvez, no âmbito dessa disciplina, o mais importante para nós seja tomar
conhecimento de que, entre todos os aspectos que envolvem o processo
tradutório – que Vermeer considera até mais importantes que o processo
puramente linguístico –, o mais relevante para o teórico alemão é aquele “que se
refere à condição da tradução como uma ação (Handlung) humana, ou seja, uma
ação intencional e repleta de propósitos (daí a ideia de escopo), que ocorre numa
determinada situação” (Leal, 2007, p. 27). Vermeer ainda “acrescenta que
qualquer ação humana (nesse caso, a tradução, especificamente), ao mesmo
tempo em que é parte de uma situação, pode também modificá-la, estabelecendo
uma espécie de circularidade entre essas ações e o mundo” (Leal, 2007, p. 27).
Se estivermos atentos a nossas discussões anteriores, lembraremos, aqui,
facilmente da questão da Bildung alemã, que discutimos quando tratamos da
história da tradução na Alemanha primeiro romântica; com base nisso,
percebemos que outro aspecto da tradução relevante para Vermeer é também a
questão cultural. Como sugere Leal (2007), com isso, o teórico alemão, através
da sua teoria do escopo, estaria propondo desviarmos a atenção de uma teoria
linguística para a tradução para, no seu lugar, pensarmos em algo mais amplo
como uma “teoria cultural da tradução, que abranja as particularidades dos
sistemas culturais envolvidos no processo tradutório” (p. 27).

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Isso tudo se abre para que possamos, dentro dessa perspectiva teórica,
considerar como base de nossa prática tradutória toda a desconstrução que
fizemos nesta disciplina dos conceitos de texto, de original, de autor, de leitor, de
tradução, de tradutor, de fidelidade e, também, de intraduzibilidade, entre outros.
No âmbito do funcionalismo alemão:

Nada mais natural, portanto, que texto de partida e texto de chegada


sejam compreendidos como textos absolutamente distintos, não só no
tocante às suas respectivas funções, mas também aos seus propósitos
comunicativos nas suas respectivas culturas, às informações contidas
em cada um dos textos, e às maneiras como tais informações estão
dispostas no texto[...]. Sob esse aspecto, um mesmo texto de partida
poderá dar origem a inúmeros textos de chegada distintos, em função
de diferentes propósitos comunicativos. (Leal, 2007, p. 32)

TEMA 2 – MODELO NORD

Próximo à década de 1990, a professora e pesquisadora Christiane Nord,


apoiando-se em seus estudos consolidados de análise textual, “didatizou” as
reflexões apresentadas no âmbito do funcionalismo alemão, visando criar
parâmetros metodológicos, com base na teoria funcionalista de análise de texto
que servisse aos propósitos tanto do ensino quando da prática profissional do
tradutor.
Nord (2016)2 afirma que o mais importante para o tradutor, antes de
começar qualquer trabalho de tradução, é analisar o texto a ser traduzido do modo
mais abrangente possível, não visando a um amplo entendimento do texto de
origem, mas também para antecipar possíveis problemas de tradução e a melhor
forma de resolvê-los durante o ato tradutório. Segundo a autora, o problema se
dá, no entanto, na tendência dos tradutores de “se basear em modelos de análise
de textos que foram desenvolvidos em outros campos de estudo, como o dos
estudos literários, do texto ou da análise do discurso, ou até mesmo no campo da
teologia” (p. 15). Isso, segundo a autora, dificulta em muito o trabalho específico
da tradução. Para a autora alemã:

A análise textual orientada para a tradução não deve apenas garantir a


plena compreensão e interpretação correta do texto, tampouco explicar
suas estruturas linguísticas e textuais e sua relação com o sistema e as
normas da língua fonte (LF). Deve também fornecer uma base confiável
para qualquer decisão tomada pelo tradutor em um processo de
tradução em particular. Com essa intenção, tem que ser integrada em

2Atenção para o fato de que estamos trabalhando, aqui, com a tradução para o português de texto
escrito originalmente em 1988.
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um conceito global da tradução, que serve como uma referência
permanente para o tradutor. (Nord, 2016, p. 15-16)

Como resume Leal (2007, p. 34), para Nord a tradução deve ser
considerada “comunicação intercultural, já que tanto o texto de partida quanto o
texto de chegada são culturalmente determinados pela situação comunicativa em
que são recebidos”. Além disso, a autora alemã não defende a análise rigorosa
do texto de partida como determinante para a função do texto de chegada, para
isso é preciso que o tradutor, de modo objetivo, a defina pelo “propósito do texto
de chegada na comunicação intercultural”. Leal ainda finaliza dizendo que

Para a teórica, o tradutor é um produtor textual, na língua de chegada,


que adota as intenções do emissor do texto de partida a fim de produzir
um instrumento comunicativo (ou um documento de uma comunicação
ocorrida em outra cultura) para a cultura de chegada. No que concerne
os leitores de chegada, Nord afirma que a recepção do texto dependerá
diretamente das expectativas, do conhecimento de mundo e das
necessidades comunicativas desses receptores. Ademais, uma vez que
um texto é apenas uma oferta de informação, ele deve ser considerado
um ato comunicativo provisório, que se completa somente no momento
da recepção. (Leal, 2007, p. 34)

O Modelo Nord pode ser resumido então em um modelo de análise textual


especificamente pensado para a tradução. Na elaboração dessa análise ganham
destaque a figura do iniciador (o responsável por solicitar a tradução, por
determinar seu encargo, podendo ser um editor, uma pessoa jurídica, uma pessoa
física, ou o próprio tradutor) e a figura do tradutor, este participando de todo
processo com alto grau de autonomia e visibilidade, especialmente quando ele
mesmo for o iniciador da tarefa.

TEMA 3 – A APLICAÇÃO DO MODELO NORD: OS FATORES DE ANÁLISE DO


TEXTO FONTE

Partindo do princípio de que “a função comunicativa é o critério


determinante para a textualidade” (Nord, 2016, p. 73), a teórica alemã Christiane
Nord divide os fatores da situação comunicativa, indispensáveis para o bom
andamento do seu modelo de análise textual, em dois grandes grupos: fatores
extratextuais (que podem ser elaborados antes da leitura do texto fonte) e fatores
intratextuais (que dizem respeito ao texto em si), conforme vamos descrever na
sequência.

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Antes, porém, ressaltamos a importância de levar sempre em
consideração, durante o processo de análise que o Modelo Nord realiza, o
movimento circular no qual essa análise deve se apoiar (tal qual a circularidade
entre as ações humanas e o mundo relevadas por Vermeer), pelo qual

[...] a teórica enfatiza que, a despeito da distinção estabelecida entre os


dois grandes grupos de fatores e entre os fatores em si, é essencial que
a análise de cada fator não se encerre sobre si mesma, mas sim que
cada etapa do processo descreva um movimento circular de ida e volta,
de modo que uma decisão tradutória faça o tradutor repensar as
decisões tomadas anteriormente, e traga implicações para as decisões
ainda a serem tomadas. (Leal, 2007, p. 36)

Desse modo, para cada um dos fatores a serem analisados, a autora


oferece algumas perguntas de apoio que devem ser respondidas tanto em relação
ao texto de partida (texto original) quanto para o texto de chegada (a tradução),
promovendo sempre um diálogo entre os grupos.

3.1 Fatores extratextuais

Trata-se do “estado da arte” da análise. Os fatores extratextuais são, na


verdade, “fatores situacionais” que dizem respeito ao entorno da emissão do texto,
como: quem é o emissor, qual a sua intenção, para qual receptor ele escreve e
com que função. Conforme Nord, podemos considerar que essas questões são
quase sempre levadas em conta pelos autores dos textos e seria possível levantá-
las textualmente, embora não em todos os seus detalhes. Outras questões não
são discutidas tão abertamente nos textos, mas poderíamos pressupô-las, como
é o caso daquelas que se incluem entre os “os fatores da situação comunicativa”
que fazem referência normalmente a lugar e tempo ou a motivação para a
comunicação (Nord, 2016, p. 77).
Para apresentarmos cada um desses fatores é preciso antes ter em mente
uma distinção fundamental quando tratamos do Modelo Nord nessa primeira
etapa do processo de análise:

Quando nos referimos à “situação”, estamos falando da situação real na


qual se utiliza o texto como um meio de comunicação, e não de qualquer
situação imaginária de uma história em um texto de ficção. As
características de uma pessoa que fala em um texto ficcional não
pertencem à dimensão do emissor, tal como nós a entendemos, mas têm
que ser consideradas um fator intratextual que é analisado no contexto
da dimensão intratextual do “conteúdo”. É o autor do texto que deve ser
considerado “produtor” da situação fictícia, considerando-se que o
orador fictício é um emissor “secundário”. (Nord, 2016, p. 79)

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Entendemos, com isso, que o modelo de análise proposto por Nord não
trata especificamente de tradução de textos literários, embora a teórica afirme em
seu discurso que o modelo pode ser utilizado também com esse fim – talvez essa
afirmação de Nord seja o único ponto do modelo proposto que careça de
problematização e adaptação na sua utilização prática. Por isso, nessa aula,
vamos nos concentrar no tipo de tradução para a qual esse modelo é efetivamente
fundamental, ou seja, para a tradução de textos técnicos e especializados.
Nesse sentido, os fatores extratextuais que devem ser analisados nesse
modelo são divididos da seguinte maneira (Cf. Nord, 2016, p. 83-143):
 Emissor: O emissor do texto deve sempre ser analisado em relação
ao produtor do texto. O emissor é a pessoa que elabora o encargo (ou
projeto) para a realização do texto. Por exemplo: um editor ou uma
empresa. O produtor é aquele que efetivamente realiza o texto sob os
encargos determinados pelo emissor. O produtor, por sua vez, pode
exercer o encargo com maior ou menor criatividade, a depender da
liberdade que lhe é concedida pelo emissor e pela “normas e
convenções textuais da cultura alvo” (p. 86). Na tradução, o tradutor
pode ser relacionado diretamente com o produtor do texto. Lembrando
que em alguns casos emissor e produtor são a mesma pessoa. A
pergunta que se faz, aqui, é: quem/sob o encargo de quem foi
produzido o texto? A resposta pode ser encontrada no paratexto, mas
também no conhecimento do receptor ou do tradutor, que pode ser
ativado apenas pelo nome do autor etc. (Nord, 2016, p. 83-91).
 Intenção do emissor: Para uma compreensão desse fator é preciso
considerar que ele se realiza em dois momentos: no momento da
elaboração da proposta e no momento da recepção dessa proposta. A
intenção do emissor propriamente dita (lembrando que ele também
pode ser o próprio produtor do texto) será apresentada através dos
propósitos do encargo textual, porém, como sabemos, esses
propósitos foram recebidos pelo leitor do texto, e não sabemos, por
esse motivo, se o resultado esteve totalmente em conformidade com
eles. Sendo isso inquestionável, a intenção do emissor só estará
“completa” quando analisarmos também a função e o efeito
apresentados pela situação de recepção do texto. O efeito do texto
apenas pode ser analisado após a recepção (o efeito causado no

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leitor), já a função é mais complexa, porque ela englobará todos os
fatores situacionais que apresentaremos aqui. A função do texto
começaria antes da recepção, com os propósitos do emissor, e
finalizaria com as expectativas do receptor. Assim, a pergunta que
caberia realizar para analisar esse fator complexo, que é a intenção do
emissor, seriam: para que o texto foi elaborado? e com que função?
Para respondê-las, com vimos, é preciso primeiramente colocá-las em
diálogo com as respostas encontradas para os outros fatores
extratextuais/situacionais; podemos também encontrar essas
respostas questionando o próprio emissor, encontrá-las no texto (com
base na informação do emissor ou do produtor), e também nas
impressões causadas pela nossa própria leitura do texto etc. (Nord,
2016, p. 91-97).
 Público ou receptor: Para quem foi destinado o texto? É a pergunta
que sustenta esse fator. Lembrando que o público para quem se
destina o texto fonte nunca será o mesmo público que receberá o texto
alvo, simplesmente porque já de partida o público da tradução é
composto de “membros de outra comunidade cultural e linguística” (p.
99). Outra questão importante a ser considerada, é que nem sempre o
receptor de determinado texto é aquele para o qual ele foi direcionado,
então, é preciso também prever os receptores eventuais. Ao tradutor
cabe, portanto, uma tarefa mais árdua do que a do produtor do texto
fonte, porque, além de analisar as características dos receptores do
texto fonte e suas relações com o mesmo, ele terá de entender as
características dos receptores da tradução, cuja leitura vai causar
impacto na função e efeito do texto alvo, que por sua vez impactará o
resultado da sua tradução em relação ao texto original. Assim,
entendemos que algumas adaptações deverão ser realizadas pelo
tradutor no momento das suas escolhas tradutórias. (Nord, 2016, p. 97-
106).
 Meio: Trata-se mais especificamente do suporte pelo qual o texto foi
transmitido ou comunicado. Em que meio o texto foi apresentado?, é a
pergunta que se sugere, aqui, à análise do tradutor. É preciso saber se
foi uma comunicação oral ou escrita, se ela ocorreu diante do receptor
ou não. Como Nord (2016) nos chama a atenção,

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O meio de transmissão não afeta apenas as condições de recepção, mas
também as condições de produção, porque determina a forma como as
informações devem ser apresentadas no que diz respeito ao nível de
explicitação, arranjo dos argumentos, escolha dos tipos de frase,
características de coesão, uso de elementos não verbais como mímica
e gestos, etc. (p.106)

Considerando que textos falados podem ser reproduzidos na escrita e vice-


versa, precisamos estar atentos para não refletir sobre o meio de modo a
estabelecer apenas “etiquetas”, como diz a autora, sem esmiuçar as caraterísticas
intrínsecas a cada meio em nossa análise (Nord, 2016, p. 106-113).
 Lugar: Onde esse texto foi elaborado, e onde foi apresentado?. Nessa
dimensão espacial faz-se necessário não apenas considerar o “lugar
de produção do texto”, mas também o seu “lugar de recepção”.
Aspectos linguísticos, condições culturais e políticas são importantes
para essa análise, bem como compreender os aspectos que
diferenciam e aproximam o lugar analisado do lugar mais amplo do qual
ele é parte constituinte (Nord, 2016, p. 113-118).
 Tempo: Quando o texto foi produzido?. A dimensão temporal está
estritamente ligada à dimensão espacial, mesmo assim Nord entende
que é necessário, na análise do tradutor, tratá-las distintamente, para
que não percamos os detalhes relevantes para a produção textual.
Pensando nas transformações linguísticas que a língua sofre ao longo
do tempo, e que essas transformações não são desvinculadas de
mudança socioculturais pelas quais o lugar passa, é indispensável que
o tradutor esteja atento à situação histórica da língua no momento da
produção do texto original, bem como da situação histórica da língua
da tradução no momento da produção textual. É preciso estar atento
também, como lembra Nord, para o fato de que o tempo não transforma
apenas a língua, mas os gêneros textuais, do mesmo modo que dá
indícios dos receptores do texto entre outros fatores situacionais. Sem
esquecer tudo aquilo que estudamos nos aspectos da construção
histórica da tradução, que são as próprias concepções de tradução e
as imposições para a sua realização atuantes em cada época. Isso tudo
traz implicações fundamentais para escolhas e adaptações que o
tradutor vai fazer (Nord, 2016, p. 118-125).
 Motivo: Por que o texto foi produzido?. Basicamente o motivo está
ligado à razão pela qual se produziu ou se produzirá um texto e pela
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ocasião pela qual se produziu um texto. Para Nord, esses dois aspectos
se diferenciam pelo foco que tomamos em nossa análise. “No primeiro
caso, o interesse é focado no motivo do produtor do texto” (p. 126), por
exemplo: algo aconteceu e deve ser noticiado, o anúncio de uma festa,
de um lançamento de livro etc.; “no segundo caso, olhamos para a
motivação do receptor referente à recepção do texto” (p. 126), por
exemplo: uma declaração de amor, a escrita de um poema para alguém
que faz aniversário, uma homenagem póstuma etc. O motivo está
diretamente relacionado com o tipo do texto, portanto, também com o
meio e com o tempo. Nord alerta apenas para cuidarmos em não
confundir os fatores tempo e motivo: “Enquanto a dimensão do tempo
é parte da situação comunicativa [...], a dimensão do motivo relaciona
a situação comunicativa e os interlocutores ao acontecimento [...]” (p.
127). Sendo assim, podemos ampliar um pouco a nossa pergunta
inicial para que ela abarque as duas principais dimensões do fator
motivo; por qual razão o texto foi elaborado (ou transmitido)? E para
qual ocasião o texto foi elaborado (transmitido)? (Nord, 2016, p. 125-
129).
3.2 Fatores intratextuais

Esses fatores dizem do texto propriamente dito, mas fazem a todo


momento referência à realidade extralinguística abordada anteriormente, sem a
qual a análise do tradutor não ficaria completa. Nord fará uma divisão de fatores,
por questões didáticas, da seguinte maneira (Cf. Nord, 2016, p. 143-227).
 Assunto: Sobre o que trata o texto?. Segundo Nord, a importância em
se analisar o assunto do texto reside no fato de que, para além de
dominar todo o texto apontando sua coerência ou não, ele pode indicar
características do contexto cultural no qual está inserido, ajudando a
restringir o número de realidades extralinguísticas, apontando a
traduzibilidade do texto, ajudando a identificar a função do título e do
cabeçalho e, também, auxiliando na análise de certos fatores
extratextuais quando suas informações não possam ser encontradas
fora do texto (Nord, 2016, p. 151-160).
 Conteúdo: O que diz o texto?. A importância de o tradutor dominar
bem a língua do texto a ser traduzido elimina praticamente toda a

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dificuldade em se determinar o conteúdo do texto, difícil para quem
ainda não adquiriu tal competência. Nord entende por conteúdo

a referência textual a objetos e fenômenos da realidade extralinguística,


reais e/ou fictícios, expressos pela informação semântica das estruturas
lexicais e gramaticais (palavras e frases; padrões sintáticos; tempo
verbal; modo etc.) empregados no texto. (p. 161-62)

Assim, para essa análise é possível verificar os fatores extratextuais que


são verbalizados e como são verbalizados; se existem problemas de coerência e
coesão; etc. (Nord, 2016, p. 160-170).
 Pressuposições: O que não está no texto, mas podemos inferir?. As
pressuposições que interessam a Nord são aquelas de ordem
pragmática, ou seja, pressuposições situacionais. Estas só funcionam
considerando que o falante as aceita porque acredita que o ouvinte
também o faz, “se o falante e o ouvinte aceitarem, implicitamente, uma
quantidade suficiente das mesmas pressuposições” (p. 170). As
pressuposições abrangem tanto aspectos extratextuais quanto
aspectos intratextuais. Como as pressuposições são normalmente
informações não verbalizadas, exige-se de novo um profundo
conhecimento do tradutor em relação a aspectos da cultura do texto de
partida para que ele tenha condições de percebê-las. Um exemplo
prático pode ser a redundância: a sua presença no texto pode indicar
que o emissor pressupõe o alcance do conhecimento prévio do
receptor ou do leitor (Nord, 2016, p. 170-178).
 Estruturação: Em que ordem o texto se coloca? Esse fator deve ser
pensando em nível de micro e macroestrutura. Grosso modo, podemos
entender que a macroestrutura textual está delimitada por partes do
texto como parágrafos, notas de rodapé, capítulos etc., e a
microestrutura textual seriam as orações e tudo o que podemos
analisar a partir delas. Analisando ambas separadamente podemos ter
uma ideia bastante detalhada da estrutura geral do texto (Nord, 2016,
p.178-190).
 Elementos não verbais: Com auxílio de quais elementos não verbais
o texto se fez?. Esse fator dispensa maiores explicações. Trata-se
exatamente de analisar elementos como fotos, ilustrações, gráficos,
gestos (no caso da transmissão oral) etc., e como eles interferem no

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texto, como e o que dizem sobre o mesmo para complementar nossa
análise (Nord, 2016, p. 190-196).
 Elementos estilísticos: Os três últimos fatores vamos agrupar, aqui,
em elementos estilísticos, porque a intenção dessa análise também fica
bastante clara após a explicação de todos os fatores anteriores. Trata-
se, portanto, do léxico, para o qual nos perguntaríamos: Com que tipo
de palavras o texto foi elaborado?; da sintaxe, em que nos interessaria
saber com que tipo de frases o texto foi elaborado?; e, por último, as
características suprassegmentais, quando a melhor pergunta
possivelmente seria: em que tom? ou com que marcas o texto foi
elaborado? – este fator estaria, segundo Nord, diretamente ligado ao
meio em que o texto foi escrito (Nord, 2016, p. 196-223).

TEMA 4 – O MODELO NORD E A REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A TRADUÇÃO

O modelo criado por Nord para ser aplicado à tradução, ao ter como base
a teoria funcionalista alemã, para além de auxiliar imensamente o trabalho inicial
do tradutor, auxiliar os professores de tradução na sua atividade didática, tem
como escopo mais amplo defender a tradução daquilo que temos falado desde a
nossa primeira aula, mostrando na prática que “Traduzir é muito mais do que uma
mera operação de transcodificação linguística” (Nord, 2016, p. 283).
O modelo Nord apresenta aos professores e alunos de tradução a
quantidade de competências que precisam ser desenvolvidas para além da mera
prática de “traduzir” um texto, o que nos mostra que teoria e prática
necessariamente devem caminhar de mãos dadas nos cursos de tradução; e esse
modelo dá um suporte muito amplo tanto para a tradução em si quanto para a
reflexão sobre o trabalho de tradução e sobre o desenvolvimento de cada projeto
(ou encargo) especificamente.
O modelo também oferece aporte para pensarmos e elaborarmos com mais
consistência a crítica de tradução, pois lhe dá caráter mais objetivo e menos
simplista. Para Nord (2016)

Uma forma mais objetiva de crítica de tradução deve ser baseada em


uma análise comparativa tanto do texto fonte como do texto alvo, e
fornecer informações sobre as semelhanças e diferenças das estruturas
da LA [língua alvo] e da LF [língua fonte] representadas nos dois textos,
assim como sobre o processo individual de tradução, as estratégias e os
métodos usados. Também deve mostrar se o texto alvo é adequado para
o skopos [objetivo] exigido da tradução. Esse tipo de crítica de tradução

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preocupa-se principalmente com os fatores e componentes que
determinam o processo de tradução e com o próprio processo tradutório.
(p. 282-283)

A autora, na verdade, propõe uma crítica específica para a tradução,


porque para ela a simples comparação entre texto fonte e texto alvo serve apenas
à linguística contrastiva e à estilística, sendo muito pouco útil para a tradução,
especialmente para o ensino da tradução “[...] visto que a didática de tradução
deve também levar em conta as condições extralinguísticas do processo
tradutório” (Nord, 2016, p. 283). Desse modo, a crítica da tradução está apta para
auxiliar tanto professores quanto alunos.
Nord (2016) apresenta um diagrama para que possamos visualizar que a
crítica de tradução apoiada por seu modelo de análise, em vez de se preocupar
apenas como aspectos pontuais do texto fonte foram “transferidos” para o texto
traduzido, preocupa-se, de modo mais adequado, “com o contraste dos dois textos
em situação” (p. 290):

PERFIL DO TEXTO ALVO

situação do TF situação do TA

TEXTO FONTE TEXTO ALVO

PRINCÍPIOS DE
TRANSFERÊNCIAS

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TEMA 5 – TABELA DE APLICAÇÃO

Vamos oferecer, agora, uma releitura do método Nord em uma tabela que
poderá ser usada tanto por professores e alunos/tradutores quanto por críticos de
tradução, com função didática ou não. Fizemos pequenas adaptações para tornar
mais fácil o uso da tabela, por exemplo, separando em dois momentos da análise
extratextual o fator intenção do autor, que será apresentado como propósito e
função3.Também dividimos a tabela em dois momentos, um para análise do texto
fonte e um segundo momento para a elaboração do projeto de tradução, que ficará
em coluna paralela, para que o analista já possa ir registrando suas possíveis
escolhas tradutórias enquanto analisa o texto a ser traduzido. No final, depois da
tradução, essa tabela completa serve ao crítico de tradução.

3 Neste fator aproveitaremos para incluir a análise de dois tipos de textos mais comuns aos
objetivos da tradução: documental, que serve, como o próprio termo diz, para documentar uma
comunicação; e a instrumental, que serve para passar uma mensagem do autor do texto fonte
para o receptor do texto alvo, ela pode ser de três tipos: equifuncional, pode ter a mesma função
tanto no texto fonte como no texto alvo (manuais de instruções, por exemplo); heterofuncional,
uma adaptação de função sem contradizer as intenções do emissor (a tradução da Odisseia para
crianças, por exemplo); e homóloga, quando se reproduz a função do texto fonte para obter na
cultura alvo o mesmo efeito que obteve na cultura fonte.
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TEXTO DE PARTIDA TEXTO DE CHEGADA

FATORES EXTRATEXTUAIS

Emissor QUEM
Sob encargo
Produtor DE QUEM

QUEM
Emissor
Sob encargo
Produtor DE QUEM

Receptor PARA QUEM

Propósito PARA QUÊ

Meio/Suporte EM QUE MEIO

Lugar ONDE

Tempo QUANDO

Motivo POR QUE

Função COM QUE


FUNÇÃO

Tradução documenta
documental O QUÊ
Equifuncional
Tradução
Heterofuncional
instrumental
Homóloga

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TEXTO DE PARTIDA TEXTO DE CHEGADA

FATORES INTRATEXTUAIS

Assunto SOBRE O QUÊ

Conteúdo O QUÊ

Pressuposições O QUE NÃO

Como PARTE
de uma unidade
Hierarquização da unidade maior (qual?)
textual ou como
unidade
autônoma

Estruturação COMO ESTÁ


(macro e micro) ORGANIZADO

Com auxílio de
Elementos não verbais que elementos
NÃO VERBAIS
Com que tipo
Léxico
de PALAVRAS
Com que tipo
Elementos Sintaxe
de FRASES
estilísticos
Em que TOM
Elementos
ou com que
suprassegmentais
MARCAS

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FINALIZANDO

Nesta aula, visando apresentar material teórico-instrumental para utilização


efetiva em sala de aula, e na prática tradutória em si, apresentamos alguns
aspectos da abordagem funcionalista da tradução, mais conhecida na área como
funcionalismo alemão. A partir dessa breve explanação, pudemos mostrar como
esses aspectos foram utilizados pela professora e pesquisadora Christiane Nord
de modo a elaborar uma metodologia de análise textual voltada para a tradução
capaz de, de modo eficaz, auxiliar tanto o professor quanto o aluno no
aprendizado da tarefa. Do mesmo modo como cria sustentação para uma crítica
específica de tradução. Por fim, numa releitura do modelo analítico de Nord,
criamos uma tabela para ser utilizada de modo a facilitar seu entendimento e sua
aplicação.

LEITURA COMPLEMENTAR

Texto de abordagem teórica

Esse artigo de Alice Borges Leal, de 2006, discute criticamente aspectos do


Modelo Nord relacionados a textos literários. Texto interessante para
complementar nossa aula, que foi pautada no uso do modelo apenas em textos
técnicos e especializados. Para quem quiser ampliar seus estudos. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/scientia/article/view/12916/12060>. Acesso
em: 23 maio 2018.

Entrevista com Christiane Nord

Entrevista concedida a Monique Pfau e Meta Zipser, na qual a professora Nord


oferece mais detalhes sobre sua metodologia de análise textual para a tradução
e, também, discute sobre outras questões teóricas relevantes para a sua reflexão.
Leitura obrigatória para o melhor aproveitamento dessa aula. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/21757968.2014v2n34p
313/28206>. Acesso em: 23 maio 2018.

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Saiba mais – A tradução pedagógica: experimentos e exercícios para uso
em aula

A professora da UERG, Elisa Corrêa, apresenta excelente artigo para quem tem
interesse na aplicação da tradução no ensino de língua estrangeira.
Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/entrelinguas/article/view/9225/696>.
Acesso em: 23 maio 2018.

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REFERÊNCIAS

LEAL, A. B. Funcionalismo alemão e tradução literária: quatro projetos para


a tradução de The Years de Virginia Woolf. Florianópolis, 2007. Dissertação de
Mestrado em Estudos da Tradução. Universidade Federal de Santa Catarina.

NORD, C. Análise textual em tradução: bases teóricas, métodos e aplicação


didática. Tradução e adaptação coordenadas por Meta Elisabeth Zipser. São
Paulo: Rafael Copetti Editor, 2016.

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