Conteúdo Para se situarem as modificações constitucionais, importa, antes de mais, partir de um conceito mais lato – o conceito de modificações constitucionais, ou sejam, quaisquer eventos que se projectem sobre a subsistência da Constituição ou de algumas das suas normas. As modificações são de uma gama variadíssima, com diferente natureza e manifestação, e podem dividir-se em cinco grandes critérios, nomeadamente: a) Quanto ao objecto, quando às normas constitucionais que são afectadas, as modificações podem ser totais e parciais. As primeiras atingem a Constituição como um todo, trate-se de todas as suas normas ou trate-se, tão-somente, dos seus princípios fundamentais. As segundas atingem apenas parte da Constituição e nunca os princípios definidores da ideia de Direito que a caracteriza. b) Quanto ao modo, como se produzem, tendo em conta a forma como através delas se exerce o poder ou se representa a vontade constitucional, as modificações – e, desta feita, as modificações – podem ser expressas e tácitas. No primeiro caso, o evento constitucional produz-se como resultado de acto a ele especificamente dirigido; no segundo, o evento é um resultado indirecto, uma consequência que se extrai depois de um facto normativo historicamente localizado. No primeiro caso, fica alterado o texto; no segundo, permanecendo o texto, modifica-se o conteúdo da norma. c) Quanto ao alcance, quanto às situações da vida e aos destinatários das normas constitucionais postos em causa pelas modificações, há que distinguir modificações de alcance geral e abstracto e modificações de alcance concreto ou excepcional. Ali, têm-se em vista todas e quaisquer situações de idêntica ou semelhante contextura e todos e quaisquer destinatários que nelas se encontrem. Aqui, situações, verificadas ou a verificar-se, e alguns dos destinatários possíveis abrangidos pelas normas. d) Quanto às consequências sobre a ordem constitucional, distinguem-se as modificações que não colidem com a sua integridade e, sobretudo, com a sua continuidade e que correspondem, portanto, a uma evolução constitucional e as modificações que equivalem a um corte, a uma solução de continuidade, a uma ruptura. e) Quanto à duração dos efeitos, distinguem-se modificações de efeitos temporários e modificações de efeitos definitivos. Aquelas são as suspensões da Constituição lato sensu. Portanto, as modificações constitucionais expressas constituem a grande maioria das modificações; afirmam-se como actos jurídicos; tanto podem ser totais como parciais; e entre elas contam-se, designadamente, a revisão constitucional, a derrogação constitucional, a revolução, certas formas de transição constitucional e de ruptura não revolucionária. Já as modificações tácitas são necessariamente parciais, ainda que de alcance geral e abstracto; e englobam o costume constitucional, a interpretação evolutiva e a revolução indirecta. Desta feita, apenas as modificações parciais implicam rigorosamente modificações constitucionais. As modificações totais, essas correspondem à emergência de nova Constituição, quer por via de ruptura esta que entende- se como uma revolução, ou por via evolutiva, ou seja, a transição constitucional. De igual modo, as modificações de alcance geral e abstracto podem ser totais ou parciais; não as de alcance individual, concreto ou excepcionais essas entendidas como derrogações constitucionais, por definição sempre parciais. As modificações sem quebra de continuidade são quase todas parciais, determinam meras modificações; as modificações com ruptura alinham-se quase todas, ao invés, como totais. Mas pode haver modificações totais na continuidade – contanto que a nova Constituição advenha com respeito das regras orgânicas e processuais anteriores – e modificações parciais na descontinuidade – as rupturas não revolucionárias. As modificações de efeitos temporários ou suspensões da Constituição podem ser totais ou parciais e feitas nos termos da Constituição ou sem a sua observância. A suspensão total da Constituição redunda sempre em revolução. Bibliografia: CANOTILHO, J. J. Gomes, Direito Constitucional, Coimbra, Livraria Almedina, 1993 GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito Constitucional de Moçambique, IDiLP, Lisboa, 2015, pp. 670