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O vigésimo primeiro
e o vigésimo segundo
aminoácidos:
o código genético
expandido
Tabela 1.
Trincas do código genético e os
seus significados. De um total
de 64 trincas, 61 codificam
aminoácidos (representados
pelos seus símbolos de três
letras) – sendo que a trinca
AUG corresponde ao códon
de iniciação, que codifica
Metionina (símbolo em
verde); apenas três trincas
correspondem a stop códons
ou códons de parada, mas nem
sempre sinalizam o final da
tradução, como será discutido
adiante.
Figura 1.
Visão geral da síntese proteica,
mostrando os processos centrais
(transcrição, processamento
do mRNA e tradução) e as
interações entre alguns dos
um dos braços, cada tRNA contém uma principais componentes
OS RIBOSSOMOS E OS envolvidos: o DNA, os três tipos
trinca de nucleotídeos chamada anticódon,
RNAS TRANSPORTADORES que é complementar à sequência do códon
de RNA, os ribossomos e os
aminoácidos (representados por
Cada ribossomo é composto por duas subu- no mRNA. Dessa forma, permite um pare- pequenas esferas coloridas).
nidades, a grande e a pequena, que se asso- amento perfeito que medeia o acoplamento [Observação: com exceção
ciam antes de iniciar o processo de tradução. de certo aminoácido ao seu códon específico. da Figura 8, todas as demais
Embora apresentem variação de tamanho e foram elaboradas por um dos
Para cada um dos 20 aminoácidos, existem autores (Santos, E.R.) com base
de composição, a estrutura tridimensional de 1 a 4 tRNAs. nas imagens do capítulo 12 do
dos ribossomos é basicamente a mesma tan- livro-texto Principles of genetics
to em procariotos quanto em eucariotos. Para que o tRNA execute a sua função, ele (SNUSTAD; SIMMONS, 2012)]
deve ligar-se a um aminoácido específico. Em
Do ponto de vista químico, já se sabia que outras palavras, o tRNA deve ser carregado
uma interação direta entre os aminoácidos com um aminoácido. Para tanto, deve ocor-
e os códons era inviável. Assim, em 1958, rer uma reação enzimática em duas etapas,
Francis Crick propôs que deveria existir al- catalisadas pelas mesmas enzimas, as amino-
guma molécula que mediasse tal interação. acil-tRNA sintetases, específicas para cada
Essas moléculas, inicialmente denominadas um dos 20 aminoácidos. A primeira etapa
adaptadoras, foram identificadas como pe- envolve gasto de energia sob a forma de ATP,
quenas moléculas de RNA. Posteriormen- para que ocorra a ativação do aminoácido; a Loops ou alças - regiões de
te, foram designadas RNA de transferência, seguir, o aminoácido ativado é ligado ao seu formato circular que fazem
ou RNA transportador (tRNA). Observe tRNA, formando os substratos para a síntese parte da extremidade de dois
que sua estrutura é peculiar (Figura 2), com braços do tRNA.
proteica nos ribossomos: os aminoacil-tR-
formato semelhante a uma cruz, contendo NAs. Por exemplo, se o aminoácido ativado é
braços e alças (loops). Na extremidade de a alanina, forma-se alanil-tRNA.
Figura 2.
Estrutura de um tRNA,
destacando a composição de
nucleotídeos incomuns (vide
legenda) e a localização do
Cada aminoacil-tRNA pode se ligar ao ri- OS ESTÁGIOS DA TRADUÇÃO
anticódon. bossomo por meio de três locais ou sítios
O mRNA a ser traduzido consiste em uma
de ligação (ver Figura 3): o sítio A (ou
sequência de códons: um de iniciação, segui-
“aminoacil”) liga o aminoacil-tRNA que
do pelos que especificam aminoácidos, e um
está por chegar, carregando o próximo ami-
de terminação. Cada mRNA é derivado de
noácido a ser incorporado à cadeia poli-
uma outra sequência chamada de ORF (do
peptídica em formação; o sítio P (ou “pep-
inglês Open Reading Frame) ou quadro aber-
ORF - segmento de DNA tidil”) liga o tRNA ao qual o polipeptídeo
to de leitura. Presume-se que cada ORF co-
contendo a sequência em formação está ancorado; e o sítio E (ou
necessária à codificação de uma difique uma proteína.
“de saída”) liga o tRNA que descarregou o
proteína. O processo traducional pode ser dividido em
aminoácido e que está prestes a deixar o ri-
bossomo. três estágios: iniciação, alongamento e termi-
Figura 3.
Detalhes da estrutura do
ribossomo ligado ao mRNA
e aos tRNAs, durante o
nação. Em cada um deles, atuam diversas pro- A síntese é iniciada por um tRNA especial, processo de síntese proteica,
teínas solúveis que participam como fatores de carregando o aminoácido metionina, que destacando suas subunidades
apoio. Serão priorizados os aspectos de cada responde ao códon de iniciação (geralmen- (30S e 50S) e os três sítios de
ligação envolvidos (sítios E, P
estágio que sirvam para ilustrar os propósitos te AUG). Assim, no sítio P do ribossomo, o e A). Os pequenos retângulos
deste artigo, ou seja, para a compreensão da anticódon UAC emparelha-se com o códon coloridos representam os
síntese dos aminoácidos SeC e PiL. Por essa AUG do mRNA, sinalizando o início da códons (sequência superior)
razão, não serão exploradas certas diferenças tradução (Figura 4). e os anticódons (sequência
inferior). Os aminoácidos estão
da tradução entre procariotos e eucariotos.
representados por esferas
coloridas, cada qual com
símbolos de três letras (Ala =
alanina, Phe = fenilalanina, Pro
= prolina, Arg = arginina, Tyr =
tirosina, Met = metionina).
Figura 4.
Configuração inicial da
tradução, sinalizada pelo
posicionamento do tRNA
carregando a metionina no
sítio P. São destacados apenas
o códon de iniciação (AUG)
e o seu anticódon (UAC)
correspondente.
A partir daí, ocorre o estágio de alongamen- rou o aminoácido são deslocados dos sítios
to, com a adição sucessiva dos aminoácidos. A e P para os sítios P e E, respectivamen-
Cada aminoácido é adicionado em três eta- te. Portanto, logo após as três etapas, com a
pas: (1) um aminoacil-tRNA liga-se ao sítio translocação do ribossomo, tem-se: no sítio
A do ribossomo; (2) a cadeia polipeptídica E, o tRNA que logo será liberado; no sítio
em crescimento é transferida do tRNA no P, o tRNA com a sequência de resíduos
Resíduos de aminoácidos sítio P para o tRNA que acabou de se ligar de aminoácidos em crescimento; e o sítio
- nome dado aos aminoácidos ao sítio A, formando uma nova ligação pep- A livre, pronto para receber o próximo ami-
quando incorporados em uma tídica; (3) o ribossomo move-se ao longo do noacil-tRNA (Figura 5). Assim, iniciam-se
proteína, devido à exclusão
mRNA (translocação), de forma a posicio- novamente as três etapas, consecutivamente,
de uma molécula de água na
reação de formação de cada nar o próximo códon no sítio A. Dessa ma- até atingir o estágio de terminação, em que
ligação peptídica. neira, durante a etapa (3), o tRNA contendo um dos três códons de terminação (UAA,
o polipeptídeo nascente e o tRNA que libe- UAG ou UGA) ocupa o sítio A.
Figura 5.
Etapa do alongamento
da cadeia polipeptídica,
mostrando a cadeia peptídica
já acrescida do aminoácido Phe
(fenilalanina) ocupando o sítio
P. Para realizar a adição de Phe,
ocorreram as seguintes etapas Conforme descrito, pode-se considerar que SÍNTESE E TRADUÇÃO DA
sequenciais: i) seu aminoacil- as reais tradutoras do código genético são as
tRNA (fenilalanil-tRNA) ligou- aminoacil-tRNA sintetases, uma vez que são
SELENOCISTEÍNA (SEC)
se ao sítio A; ii) a Met já ligada essas enzimas que promovem a ligação dire- A síntese e a incorporação da SeC são bem
no sítio P foi transferida para o compreendidas em E. coli, e as considerações
sítio A e ligada à Phe, formando
ta entre o anticódon e o aminoácido ativado
ligado ao seu tRNA específico. Uma vez que aqui descritas são válidas para este mode-
o dipeptídeo fenilmetionina; iii)
o ribossomo movimenta-se no se atinja um dos três códons de terminação, lo bacteriano. A princípio, pensou-se que a
mRNA, de modo que os tRNAs qualquer um deles é capaz de sinalizar o final SeC fosse produto de uma modificação pós-
desloquem-se para os sítios P e da tradução. O processo realmente chega ao -traducional, mas tal hipótese foi aos poucos
E, deixando o sítio A livre para perdendo força.
receber o próximo aminoacil- fim, uma vez que ocorre a desmontagem de
tRNA. toda a maquinaria: o polipeptídeo formado A SeC é sintetizada a partir do aminoácido
e a molécula de mRNA são liberados do ri- convencional serina. Como ocorre com qual-
bossomo. Além disso, as subunidades maior quer aminoácido tradicional, primeiro a seri-
e menor do ribossomo dissociam-se, e o na é ativada e, em seguida, ligada ao tRNA.
mRNA é degradado. No entanto, aqui começam as particularida-
Todos os 20 aminoácidos convencionais são des – nos organismos que utilizam a SeC,
adicionados à cadeia polipeptídica por meio existem dois tipos de tRNA que ligam se-
dos estágios descritos. A seguir, será detalha- rina: um que reconhece e é responsável pela
do o que ocorre no caso da SeC e da PiL. incorporação de serina à cadeia polipeptídica
Figura 6.
Incorporação da selenocisteína
à cadeia polipeptídica em
resposta à SECIS. O esquema
superior representa a ligação
do selenocisteil-tRNA ao sítio
A, e destaca os elementos
contextuais que permitem
que o códon de terminação
especifique a inserção da SeC (a
esfera maior representa o fator
de alongamento específico). No
esquema inferior, observa-se
a SeC (pequena esfera roxa) já
incorporada à cadeia peptídica.
A seguir, ocorre o deslocamento
do ribossomo, deixando o
sítio A livre para a próximo
aminoacil-tRNA (vide Figura 5).
É interessante notar que, do ponto de vista mente pela presença de um átomo de selênio
estrutural, a SeC difere da cisteína unica- no lugar de um átomo de enxofre (Figura 7).
Figura 7.
Estruturas da cisteína e da
SeC, destacando o elemento
diferencial entre as duas.
Figura 8.
Etapas propostas para a
biossíntese da pirrolisina
[Reproduzida com permissão
da Macmillan Publishers Ltd:
NATURE, Ragsdale, S.W. How
two amino acids become one, v.
471, n. 7340, p. 583, copyright
2011]. Consistem em quatro
Proteínas que contêm a SeC são coletiva- de sinalização que envolvem o peróxido reações enzimáticas sequenciais,
com participação de duas lisinas
mente conhecidas como selenoproteínas, as de hidrogênio (H2O2). Já as iodotironina
e gasto de ATP (detalhes no
quais exibem dezenas de tipos diferentes e deiodinases participam da regulação da texto).
distribuem-se em mais de 50 famílias iden- atividade dos hormônios tireoidianos, sen-
tificadas, mas nem todas com função co- do que existem três isoenzimas conheci- Sítio ativo - região de
nhecida. São três as famílias bem estudadas das. Quanto às tiorredoxina redutases, são uma enzima que acomoda o
(LABUNSKYY et al., 2014; LU; HOLM- também três isoenzimas identificadas em substrato e é responsável pela
conversão do substrato em
GREN, 2009), nas quais a SeC está presente mamíferos, envolvidas em vários processos produto.
no sítio ativo de cada membro: i) glutatio- fisiológicos, tais como a defesa antioxidan-
na peroxidases; ii) iodotironina deiodinases; te, a regulação de fatores de transcrição e a
e iii) tiorredoxina redutases. Em comum, as apoptose. É válido mencionar que a tior- Apoptose - processo de morte
três famílias caracterizam-se por apresentar redoxina redutase é a única enzima capaz celular programada que se inicia
enzimas com diferentes localizações subcelu- de reativar a proteína tiorredoxina (LU; com sinalização mitocondrial.
lares e distribuição tecidual. HOLMGREN, 2009), cujo papel é crucial
para a síntese de DNA, pois mantém fun- Isoenzimas - enzimas que
No caso das glutationa peroxidases, exis-
cional a ribonucleotídeo redutase, enzima catalisam a mesma reação,
tem pelo menos cinco isoenzimas em e são expressas em locais
que converte ribonucleotídeos em sua for-
seres humanos, que participam do sistema intracelulares (compartimentos
ma desoxigenada.
de defesa antioxidante das células e de vias subcelulares) diferentes ou em
tecidos diferentes.
Além das três famílias descritas, merece des- Em contraste com a diversidade funcional e
taque a selenoproteína P, uma outra família de ocorrência da SeC, a PiL tem sua distri-
que apresenta vários resíduos de SeC (10 buição restrita a certas arqueias metanogê-
ao todo) por molécula proteica. Essas sele- nicas e a um número bastante reduzido de
noproteínas circulam no plasma humano bactérias. É componente de pouquíssimas
e têm como principal função transportar e proteínas, as quais atuam como enzimas do
distribuir selênio aos tecidos (LU; HOLM- tipo metiltransferases, responsáveis pela sín-
GREN, 2009). tese de metano a partir de metanol e/ou me-
tilaminas (BORREL et al., 2014).
Em geral, outras funções atribuídas às se-
lenoproteínas são: reparo de proteínas que Apenas como curiosidade, são conhecidos
sofreram dano oxidativo, controle da mon- dois organismos (bactérias) que utilizam
tagem do citoesqueleto celular e apoio ao ambos os aminoácidos SeC e PiL: a Desulfi-
enovelamento proteico (LABUNSKYY et tobacterium hafniense e a deltaproteobactéria
al., 2014). Recentemente, as selenoproteínas simbiótica.
têm sido implicadas na diferenciação e fun-
ção de enterócitos e adipócitos, além de um CONSIDERAÇÕES FINAIS
possível papel na secreção e ação da insulina A descoberta da SeC e da PiL levou, no
(STEINBRENNER et al., 2016). mínimo, a rever o conjunto dos 20 amino-
Ao contrário do que ocorre com os 20 ami- ácidos codificados. Embora representados
Pool - quando associada a noácidos tradicionais, não existe um pool por trincas nucleotídicas que normalmente
aminoácidos, essa palavra de SeC livre nas células e, no catabolismo funcionam como códons de parada, e assim
designa o conjunto de proteico, a SeC é completamente degradada. estejam indiretamente codificados, é comum
aminoácidos livres no interior
das células. Tudo isso ocorre basicamente devido à alta atribuir à SeC e à PiL as designações “21º” e
reatividade deste aminoácido, que poderia “22o” aminoácidos, respectivamente, de acor-
ser incorporado no lugar da cisteína ou gerar do com a ordem cronológica de descoberta.
espécies reativas de oxigênio (LU; HOLM- Dessa maneira, pode-se considerar que o
GREN, 2009). conjunto de aminoácidos universais ou natu-
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