Sei sulla pagina 1di 27

Atualidades

Alexandre Pinto

1ª Atualização da Unidade V – Temas mais debatidos pela mídia 
 
Introdução 
Olá  caro  leitor,  você  que  busca  se  preparar  para  Concursos  Públicos,  ou  simplesmente  busca  Entender  o 
Mundo  Contemporâneo,  esse  material  traz  alguns  dos  temas  mais  debatidos  pela  imprensa  brasileira.  Ele 
completa  seu  livro,  mas  não  é  uma  atualização  do  mesmo,  pois  como  propusemos  no  livro,  produziremos 
sempre os temas mais debatidos pela mídia. 
Cito  como  destaques  do  nosso  Mundo  Globalizado,  o  viés  mais  econômico  do  nosso  trabalho,  a  situação  de 
crise  que  ainda  aflige  os  EUA  e,  sobretudo,  a  Europa.  E  do  outro  lado,  a  Força  dos  Emergentes  que 
comentávamos no livro e tem se confirmado. 
 Com  relação  à  Sustentabilidade  o  destaque  foi  o  vazamento  de  petróleo  no  Golfo  do  México  em  campo 
operado pela British Petroleum, mas também a emissão de metano pelo gado brasileiro, devido o sucesso do 
agronegócio. 
 Nas Relações Internacionais, as armas nucleares voltaram ao centro do debate, seja pelo acordo EUA‐Rússia ou 
pela pressão contra o Irã. 
No Brasil Contemporâneo, três destaques: a eterna briga entre as alas conservadora e desenvolvimentista do 
governo sobre crescimento, juros e inflação; a discussão sobre a necessidade ou não da construção da Usina de 
Belo Monte e as perspectivas do agronegócio brasileiro. 
Nessa edição, você pode sentir falta de algum tema debatido pela, como a discussão do processo eleitoral, por 
exemplo, já que esse foi disparado o tema mais debatido pela mídia nos últimos seis meses. Isso basicamente 
se deve a dois motivos: primeiro, política partidária não cai em prova e, infelizmente, nessas eleições a mídia 
tomou partido de forma intensa e vou precisar de mais um tempo para diluir o que é tema importante e o que 
é propaganda política; em segundo lugar, comecei a escrever esses temas antes do fim do segundo turno. Esse 
esclarecimento  se  faz  necessário  nessa  primeira  edição  online.  Evitaremos  discutir  temas  que  tem  pouca 
probabilidade de cair em prova e depois de fachada planilha com os principais temas, somente introduziremos 
temas que forem imprescindíveis, nesse último caso, os temas não discutidos ficarão para próxima edição. 
Uma dica ao ‘concurseiro’ é a opinião sobre o assunto é o que menos importa. O importante é você entender 
cada  assunto na  complexidade  dele.  Não quero  dizer  com  isso  que  você  não  possa  ter  opinião,  você  pode  e 
deve. Algumas vezes me esforço para não deixar a entender minha opinião, outras, sou claramente a favor de 
certos posicionamentos, mas o que realmente importa é você. Não que concorde comigo, mas que se intere do 
que está sendo debatido, que tenha condições de discutir sobre todos os assuntos, para que você possa fazer 
qualquer prova e dissertar sobre qualquer tema numa redação. 
Gostaria de terminar lembrando que Conhecimentos Gerais/Atualidades está em quase todo concurso. Mesmo 
quando não há uma prova específica, há uma redação sobre temas atuais 
Um abraço e boa leitura. 
 
Alexandre Pinto 
 

1
Atualidades
Alexandre Pinto

Capítulo 1 – Mundo Globalizado 
 
1 – Crise global1 
a) Recuperação 
Com exceção da Europa, o mundo segue se recuperando, ainda que de forma lenta, do tsunami econômico de 
setembro  de  2008.  A  ONU  tem  apontado  para  a  melhora  nos  investimentos  este  ano.  Na  Conferência  das 
Nações  Unidas  sobre  Comércio  e  Desenvolvimento  (Unctad),  China  e  Irlanda  foram  apresentadas  como  as 
primeiras  nações  a  registrar,  fluxo  de  investimento  estrangeiro  direto  nos  níveis  anteriores  aos  da  recessão 
global. Outro dado que representa a recuperação é o avanço mundial no turismo de 7%. 
Na América Latina, relatório feito pela CEPAL aponta que aplicações de capital estrangeiro que caíram em 2009 
devido  à  crise  estão  sendo  recuperado  e  deve  crescer  até  50%  em  2010.  O  relatório  da  CEPAL  afirma  que  o 
aporte estrangeiro direto na região da América Latina e Caribe deve superar US$ 100 bilhões, após queda de 
42% no ano passado. A rápida recuperação latino‐americana, no entanto, tem sido desigual.  
Nem por isso os sintomas da grave crise deixarão de ser sentido. Segundo a mesma ONU, a crise impediu que 
53 mi deixassem pobreza extrema, desacelerando o alcance dos Objetivos do Milênio no mundo. Apesar disso, 
o número total de pobres em 2015 deverá ser 1 bilhão a menos do que em 1990. 
 
b) Fraudes 
A  recuperação  da  economia  tem  sido  lenta  pela  falta  de  confiança  dos  investidores.  Também  pudera,  até  o 
Goldman Sachs, o mais lucrativo banco de investimento da história e único dos “quatro grandes” de Wall Street 
a não precisar de verbas do Estado durante a crise econômica foi acusado de fraudar, ao menos, um bilhão de 
dólares, e segundo o ProPublica, isso é apenas a ponta do iceberg, para a agência, as atitudes do Goldman são 
de causar inveja em Bernard Madoff2. 
Muitos bancos venderam títulos lastreados em hipotecas de alto risco, ao mesmo tempo criaram derivativos 
apostando  na  queda  desses  títulos,  o  que  é,  no  mínimo,  estranho,  mas  não  é  ilegal.  O  Goldman  foi  além, 
segundo a SEC (o similar da Comissão de Valores Monetários – CVM ‐ no Brasil) vendeu títulos propositalmente 
concebidos para beneficiar um cliente à custa de outros. 
No início de 2007, o fundo de Hedge Paulson & Co. foi ao Goldman disposto a apostar pesado no estouro da 
bolha imobiliária. Para isso, precisava de um número suficiente de pessoas apostando no contrário, ou seja, no 
crescimento indefinido do mercado imobiliário. O banco atendeu lançando dois bilhões de dólares em títulos 
chamados  Abacus  e  mentindo  aos  compradores  dizendo  que  outro  agente  financeiro  o  ACA  Management 
referendava os papéis. Na verdade, o Paulson escolhia os piores papéis e o ACA os referendava. O ACA também 
foi iludido pelo Goldman que apresentava o Paulson como um comprador. 
Um  dos  maiores  perdedores  da  fraude  foi o  ABN  Amro,  que  teve  de  ser  estatizado  e  vendido  ao Santander. 
Quando agora vemos no Brasil o Banco Real sumindo para dar lugar ao Santander, é difícil imaginar que uma 
fraude nos EUA levaria ao fim uma das marcas mais antigas e populares de bancos no Brasil, isto é globalização. 
Igualmente perigosas para as finanças globais foram as operações do Goldman com o governo da Grécia para 
iludir as autoridades da UE quanto ao seu endividamento. As receitas futuras de aeroportos, pedágios e loterias 
do Estado foram “trocadas” por dinheiro vivo, o que equivale na prática a contrair empréstimos garantidos por 
essas receitas, mas não se revelava como dívida nos demonstrativos oficiais. O JP Morgan realizou operações 
semelhantes com a Itália. 
 
c) Regulação 
Por  tudo  isso,  a  maioria  dos  analistas  não  comprometidos  com  instituições  financeiras,  defende  uma  maior 
regulação  da  economia.  O  governo  Obama  decidiu  reformar  o  sistema  financeiro.  Wall  Street,  no  entanto, 
partiu para o ataque acusando o presidente de “anticapitalista”, “caluniador”, “cara da máfia de Chicago”. Mas 
para  o  Nobel  de  economia  Paul  Krugman,  o  governo  fez  uma  reforma  moderada,  quando  a  maioria  dos 
cidadãos,  indignados  com  os  bônus  bilionários  distribuídos  aos  banqueiros  (algumas  vezes  com  dinheiro 
público!) queria esganá‐los. 

1
A discussão da crise global e suas consequências mais perenes para economia global estão no Capítulo 1 da
Unidade 5 pags 163-179.
2
Para uma discussão sobre as falcatruas que levaram a prisão de Madoff pela maior fraude de Wall Street, veja,
“Alavancagem excessiva”. Unidade V, capítulo 1, pag 168.

2
Atualidades
Alexandre Pinto

Para os críticos do neoliberalismo, os banqueiros têm de pagar pela irresponsabilidade que deixou 15 milhões 
de  pessoas  sem  emprego,  Nouriel  Roubini,  que  primeiro  previu  o  desastre  dos  subprimes,  alega  ser  um 
absurdo deixar os banqueiros a vontade e não aproveitar a oportunidade para criar regras que os impeçam de 
repetir os mesmos absurdos. 
A alegação dos banqueiros, é que não houve nada de errado com uso de verbas públicas, já que cumpriu seu 
objetivo. O importante era salvar a economia, e se os banqueiros lucravam com isso, qual o problema? 
Os banqueiros não se interessam pelo passado ou pelo futuro, somente pela próxima operação, não enxergam 
nada  além  de  seus  próprios  lucros,  comportando‐se  como  crianças  mimadas,  que  são.  Desde  os  tempos  de 
Jimmy  Carter,  quando  as  regulações  criadas  por  Roosevelt  começaram  a  ser  destruídas,  os  governos  não 
somente permitem que façam o que quiserem, mas os apóiam. Qualquer tentativa, como a do governo Obama 
ou do G203 de evitar a perda dos contribuintes leva a choradeira da turma da bufunfa. 
 
d) Crise na Europa 
Em 1º de maio, um grupo de ativistas gregos, sobretudo estudantes, saiu às ruas para protestar e invadiu lojas, 
destruiu vidraças de bancos e travou batalhas com a polícia pelas ruas de Atenas. Dois dias depois professores 
invadiram a TV estatal e leram um manifesto contra o FMI e o congelamento das contratações. No quarto dia 
uma greve geral de 48 horas, com direito a milhares de pessoas junto ao parlamento grego protestando contra 
o pacote de medidas anunciada pelo governo. Ao final, três pessoas morreram. 
O motivo do protesto? Os gregos que já estavam sufocados por uma taxa de desemprego de 10,3%, terão que 
arcar  com  as  conseqüências  do  pacote  anunciado  pelo  governo  para  aliviar  a  crise  econômica  que  se  abate 
sobre o país4. Os impostos sobre o valor agregado subirão de 21% para 23%, as aposentadorias serão adiadas 
por pelo menos mais três anos e terão redução brusca em seu valor, haverá “liberalização” dos transportes, da 
energia e das profissões regulamentadas, que segundo críticos, levará a tarifas mais altas e salários mais baixos. 
Além  disso,  os  funcionários  públicos  terão  seus  salários  congelados  até,  pelo  menos  2014,  limitação  ou 
eliminação nos 13º e 14º salários e fim de mais de 8% das licenças previstas. 
Ironicamente, as sonegações de impostos pelos mais ricos parece algo comum. Segundo o próprio governo, a 
estimativa é de 23 bilhões de euros, algo em torno de 10% do PIB. Pessoas que declaram receber menos de 12 
mil euros por ano, portanto isentas, mas têm carros, casa própria, casa de campo, etc. Apenas 324 moradores 
declararam ao fisco terem piscinas em casa, mas o Google Earth mostra 16.974 residências nessa situação. 
Pior  foi  a  reação  dos  países  da  UE  em  relação  à  situação  grega.  A  maioria  de  seus  políticos  e  também  suas 
populações foi contra o socorro dado à Grécia, porém, 3/4 da dívida grega, pública e privada, está nas mãos de 
bancos e seguradoras do continente e as importações gregas são feitas majoritariamente (62%) do continente, 
ou seja, se a Grécia quebrar, os demais países da Europa serão os mais prejudicados. 
A  situação  é  mais  grave  ainda  quando  se  leva  em  conta  que  a  crise  na  Grécia  é  apenas  a  ponta  do  iceberg, 
todos os Piigs estão contaminados, com dívida que somadas chegam a 1,54 trilhão de euros com outros países 
europeus.  Em  27  de  abril,  Portugal  teve  sua  classificação  de  risco  rebaixada,  no  dia  seguinte  foi  a  vez  da 
Espanha. Se esses países passarem pelo mesmo problema da Grécia poderia ser o fim do próprio Euro. 
 
e) A UE a beira do caos5 
A Bélgica corre risco de sumir do mapa. A crise econômica exacerbou as dificuldades da convivência das duas 
etnias belgas, os flamengos e os valões. Em 13 de junho, o partido mais votado foi a Nova Aliança Flamenga, 
direitista, separatista e populista, cujo líder se recusa a assumir o governo de um país que não acreditam, e o 
líder do segundo partido mais votado, o Socialista, teme ser usado pelos separatistas. As tensões também têm 
seu  viés  econômico.  Os  conservadores  de  Flandres  defendem  a  redução  dos  gastos  públicos  enquanto  os 
socialistas da Valônia querem mais bem‐estar social e controle dos preços. 

3
Para conhecimento das propostas do G20 para regulação financeira internacional, veja “O G20 e o Consenso de
Londres”. Unidade 1, Capítulo 5, pag 27.
4
Para um melhor entendimento das causas da crise grega, que afeta toda Europa, veja “A bolha Européia”.
Unidade 5, capítulo 1, pag 175
5
Inspirado no artigo de COSTA, Antonio Luiz M.C. Um Continente em Xeque, in Carta Capital, ano XV, nº
601, de 23 de junho de 2010.

3
Atualidades
Alexandre Pinto

Cisões  semelhantes  ocorrem  na  Europa  como  um  todo,  observou  The  Economist.  O  sul,  liderado  por  Paris, 
acredita  em  estímulos  fiscais  para  sair  da  crise,  e  o  norte,  liderado  por  Berlim,  mostra‐se  obcecado  por 
disciplina fiscal e competitividade. 
O  superávit  alemão  em  conta  corrente  é  de  5,5%  do  PIB,  quase  tão  alto  quanto  o  chinês  (6,2%)  enquanto  a 
zona do Euro como um todo tem as contas equilibradas, em torno de 0,2% do PIB. Isso mostra que o superávit 
alemão  foi  conseguido  dentro  da  Europa,  em  outras  palavras,  para  que  a  Alemanha  tivesse  esse  superávit 
elevado outros países como Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália tiveram que ter suas contas deficitárias. 
O corte de gastos que esses países estão sendo obrigados a fazer, levará a redução do superávit alemão, divido 
a diminuição das exportações, o que na prática pode significar menos empregos na Alemanha. 
Para que a Europa como um todo seja significativamente superavitária, há uma grande dependência dos EUA, 
que exerceram o papel de importador de última instância durante muito tempo, financiando esse déficit com 
emissões  monetárias  e  graças  ao  poder  sem  par  do  dólar  como  moeda  de  conta  internacional.  O 
endividamento excessivo dos EUA gerou o estouro da bolha das hipotecas de alto risco 2008/2009 e os EUA 
não tem demonstrado mais disposição para manter a depreciação de sua capacidade econômica6, através de 
endividamento em excesso. 
A solução encontrada pelos europeus para enfrentar a crise é um autoflagelo. O corte de gastos anunciados 
pelos governos dos PIIGS afetados e o corte de gastos anunciados em países centrais como Alemanha e Reino 
Unido poderá vir a ser catastrófica. 
O  caso  da  Alemanha  é  especialmente  perverso,  porque  o  reequilíbrio  da  economia  européia  deveria  passar 
pelo crescimento da demanda interna dos países superavitários e compensar a redução das importações por 
países em dificuldades. Cortes de gastos públicos fariam sentido se houvesse superaquecimento da economia, 
espirais inflacionárias ou formação de bolhas, nada disso está nem próximo de acontecer. Aparentemente os 
governos  correm  para  satisfazer  as  exigências  do  mercado.  Ironicamente,  a  maior  parcela  de  endividamento 
dos governos dos países centrais se deve ao socorro que fora feito ao sistema financeiro. 
A comemoração dos defensores do neoliberalismo foi estampada nos jornais. Em 13 de maio o jornal O Globo 
estampou, de forma exultante, em sua manchete principal “Espanha: socialista corta pensão e salários” e no 
dia seguinte: “O estado de bem‐estar social na encruzilhada. Portugal e Reino Unido também cortam gastos”. 
Na prática, as receitas do mercado só fizeram agravar a situação no bloco. 
A Alemanha ao tentar “salvar” o euro com uma política de austeridade fiscal, mesmo que ninguém desconfie 
dos títulos alemães, disparou o gatilho de um ciclo nada virtuoso de redução dos gastos e retração do sistema 
de bem‐estar social, que embora tenha alegrado os neoliberais, que viviam, como vimos às turras com as ondas 
de regulação, não acalmou os mercados como previam e os títulos dos PIIGS, continuam mal avaliados. 
Ao reduzir o bem‐estar dos países, a U.E. pode disparar uma onda de enfrentamento popular aos ditames das 
autoridades  supranacionais.  No  qual  os  protestos  gregos,  seriam  somente  o  início  de  uma  grande  onda.  Os 
povos chamados a pagar a conta não se sentem devidamente representado em Bruxelas, capital da Bélgica e 
também  da  União  Européia.  As  grandes  decisões  do  bloco  são  tomadas  sem  consentimento  da  maioria  dos 
cidadãos, os governos não desejam ceder mais poder para a UE e os países centrais sabem que uma ampliação 
legitimamente  democrática,  da  representação  proporcional  dos  países  do  leste  europeu,  diluiria  ainda  mais 
seus poderes. 
 
2 – Os BRIC7: Potências Emergentes 
Em abril, uma reforma no Banco Mundial (Bird) ampliou poder de voto dos emergentes, que passaram a somar 
pouco mais de 47% do total. Brasil e México foram os principais beneficiados pela mudança, o que na prática 
significa  dizer  que  a  América  Latina  terá  mais  poder  na  instituição.  Na  esteira  desse  acontecimento,  o 
presidente  do  Bird  Robert  Zoellick  disse  que  o  “conceito  de  3º  Mundo  é  antigo  e  ultrapassado”',  e  que  essa 
idéia já não se aplica mais à economia global multipolar. 
As  frases  do  presidente  do  Bird  fazem  mais  sentido  quando  levamos  em  conta  quatro  países  emergentes, 
Brasil, Rússia, Índia e China, os chamados BRIC. Desde a invenção de Jim O’Neil até hoje, a idéia dos BRIC era 
muito  mais  um  indicativo  de  investimento  do  que  um  grupo  organizado.  Em  15  de  abril,  entretanto,  eles  se 

6
Para entendimento, veja “Conseqüências da Crise – Fim do sistema de financiamento das exportações”.
Unidade 5, capítulo 1, pag 170.
7
Para entendimento da criação do acrônimo BRIC e o crescimento de sua relevância internacional, veja “A
balança virou: a força dos emergentes”. Unidade 5, Capítulo, pag 177.

4
Atualidades
Alexandre Pinto

reuniram mais uma vez em Brasília para traçar estratégias globais em conjunto, no ano passado já haviam se 
reunido na Rússia, e a idéia começa a tomar forma. 
Os BRIC são importantes pelo seu peso econômico. Eles são as quatro maiores economias fora da OCDE, uma 
espécie de clube dos ricos. São também as únicas economias em desenvolvimento com PIBs anuais superiores 
a um trilhão de dólares e atravessaram, com exceção da Rússia, o tsunami provocado pelas hipotecas de alto 
risco8 bem melhor do que os tidos países ricos. 
A China, como sabemos, é o maior destaque e já é o maior exportador mundial9. 
Talvez o dado mais relevante dos BRIC é que eles acumulam 40% das reservas cambiais do mundo. Novamente 
o destaque é a China, que 2,4 trilhões de dólares, o suficiente para comprar dois terços das empresas cotadas 
na  Nasdaq,  a bolsa  eletrônica  de  Nova  York.  Para  se ter uma  noção  da  grandeza  dessas  reservas,  se  os  BRIC 
decidissem usar apenas um sexto delas poderiam criar um fundo equivalente ao FMI. 
Enquanto  a  maioria  dos  países  ocidentais  se  esforça  para  conter  os  déficits  orçamentários  e  as  dívidas 
crescentes,  a dívida  pública dos  BRIC  em geral  é  modesta  e  estável,  a  exceção  é  a  Índia.  Todos  têm  grandes 
mercados  internos,  com  grandes  índices  de  pobreza,  e  por  isso  política  de  crescimento  econômico  e 
antipobreza são prioridades nas suas agendas. 
No  entanto,  não  devemos  nos  iludir  com  a  capacidade  dos  BRIC  de  comandar  ou  mesmo  coordenar  uma 
agenda global. Os países competem tanto entre si como com os EUA ou a UE. Três são potências nucleares, o 
Brasil abriu mão do programa de armas nucleares no início dos anos 1990. Somente dois (Rússia e China) têm 
assento  permanente  no  Conselho  de  Segurança  da  ONU.  A  Rússia  tem  15  mil  dólares  de  renda  per  capta,  o 
Brasil 8,5 mil, a China 6,6 mil e a Índia apenas 3 mil dólares o que mostra a disparidade de suas economias. 
Muito embora todos tenham grandes territórios e populações, a comparação das populações de China (1,34 
bilhão)  e  Índia  (1,1  bilhão)  com  as  populações  de  Brasil  (190  milhões)  e  Rússia  (140  milhões)  é  por  demais 
desigual. 
Há  ainda  mais  uma  coisa que  os  BRIC têm  em  comum, mas  que não é  motivo  para  comemorar: a  China  é  o 
maior emissor de carbono do mundo10, a Rússia é o terceiro e a Índia é o quarto, figurando os BRIC na lista da 
vergonha, daqueles que mais contribuem para o aquecimento global. O Brasil é o único que se destaca, sendo a 
décima11 economia do mundo, é apenas o 18º maior emissor. 
 
3 – Ciência & Tecnologia 
a) Lançamento do Ipad 
A  Apple  anunciou  o  lançamento  do  novo  Ipad,  um  computador  portátil  com  altíssima  interatividade.  Em 
princípio, mas umas das muitas inovações, entretanto, os norte‐americanos enfrentam fila para ter Ipad e as 
vendas surpreenderam e chegaram a 700 mil em poucos dias. 
A que se deve o sucesso do Ipad? Talvez esteja mais ligado ao histórico de sucesso da Apple, do que na virtude 
ou pretensão da nova tecnologia. Dito de outra forma, se uma empresa desconhecida tivesse afirmando todas 
as inovações do Ipad, elas seriam recebidas com entusiasmo, mas também com desconfiança. 
Em 1977 Steve Jobs e Steve Wozniak da Apple lançaram o “Apple II”, o primeiro “computador caseiro”, a idéia 
foi tão inovadora que, alguns anos depois (1981), a IBM lançou o Computador Pessoal (Personal Computer – 
PC, em inglês), nome pelo qual ficariam conhecidos todos os computadores doméstico: os “PCs”. Já em 1985, a 
primeira versão do sistema operacional Windows fora lançado, e a versão aprimorada, o Windows 3.0, lançado 
em  1990,  tornou  a  utilização  dos  PCs  muito  mais  fácil.  O  surgimento  desses  computadores  com  o  Windows 
tornou, realmente, o uso dos computadores pessoal. Agora as pessoas poderiam utilizar os computadores sem 
necessariamente serem programadores e nas suas próprias casas. Esse feito ampliou o limite da quantidade de 
informação que um único indivíduo poderia acumular, criar, manipular e difundir. 
Na prática, o PC com Windows permitiu que milhões de indivíduos se tornassem, pela primeira vez, autores do 
seu próprio conteúdo em forma digital. Esse exército passou a acessar e criar conteúdos sem precisar ser um 

8
Para entendimento da crise econômica provocada pelas hipotecas de alto risco nos EUA, “A crise econômica
mundial”. Unidade 5, capítulo 1, pag 165.
9
Para entendimento do papel da China na economia globalizada, veja “China a Potência mais dinâmica do
mundo”. Unidade 1, capítulo 6, pag 29.
10
Lista dos maiores emissores de carbono do mundo (tradução livre de: List of countries by carbon dioxide
emissions) in: [http://mdgs.un.org/unsd/mdg/SeriesDetail.aspx?srid=749&crid=]
11
Embora o Brasil venha a se consolidar este como 8º maior economia do mundo, o dado da ONU referente as
emissões é de 2007, quando o Brasil era a 10ª maior economia.

5
Atualidades
Alexandre Pinto

privilegiado,  entendido  de  computação  ou  trabalhador  de  uma  empresa  na  qual  poderia  ter  acesso  a  esse 
mundo digital. Pense no que uma pessoa pode fazer com uma máquina de escrever, agora pense no que uma 
pessoa pode fazer com um PC! Um dos lemas de Bill Gates12 para Microsoft era que o objetivo da empresa era 
dar a cada indivíduo “IAYF” – Informação na ponta dos dedos (information at your fingertips, em inglês).  
O passo seguinte foi a descoberta de que a união dos PCs com Windows a rede telefônica, através um modem 
dial‐up,  permitiria  que  computares  do  mundo  inteiro  se  conectarem.  Inicialmente  essa  tarefa  não  era  fácil, 
pois,  os  parâmetros  eram  diferentes,  quando  a  Word  Wide  Web,  padronizou  o  sistema  com  seu  protocolo 
www,  a  informação  se  difundiu  como  nunca  antes  fora  possível.  A  Imprensa,  o  Rádio  e  a  Televisão  foram 
revolucionários  na  difusão  da  informação,  mas  a  interatividade  da  internet  era  inimaginável.  Agora  se  faz 
representação de tudo em formato digital, a difusão de redes sociais é somente a sequência quase lógica dessa 
evolução. 
Se  nos  séculos  XV  e  XVI  a  expansão  marítima  globalizou  os  Estados,  nos  séculos  XVIII  e  XIX  as  Revoluções 
Industrias globalizaram as empresas, no final do século XX e início do XXI a Web está globalizando as pessoas e 
o primeiro passo relevante para isso foi dado pela Apple, que agora promete inovar ainda mais a navegação na 
Web, com o novo Ipad. 
 
b) Empregos.Com 
Para  o  bem  ou  para  o  mal  a  tecnologia  é  um  caminho  sem  volta.  Afeta  a  tudo  e  todos,  a  forma  como  nos 
relacionamos  e  os  tipos  de  empregos  que  teremos.  Alguns  estudos  tem  se  pautado  na  perspectiva  das 
mudanças  que  a  tecnologia  tem  proporcionado  no  mercado  de  trabalho.  Além  da  terceirização  e  da 
terciarização13, os empregos têm se tornado “ponto com”. Na verdade, a difusão cada vez maior da rede e de 
seus  benefícios  multifacetados,  tem  levado  milhões  de  pessoas  a  tornarem  profissionais  independentes, 
freelancers em inglês. Muitos desses trabalhadores têm procurado esse tipo de trabalho em virtude da crise 
global que fez sumir milhões de vagas formais no mundo, mas também há aqueles que têm optado por essa 
alternativa por preferirem ficar em casa, por comodidade ou para ficar próximo e poder cuidar dos seus filhos 
ou pais. 
Logicamente, foi o desenvolvimento tecnológico que permitiu esse avanço. A combinação de conexões rápidas 
a  internet  em  qualquer  lugar  e  o  acesso  ao  computador,  cada  vez  mais  barato,  e  softwares  que  permitem 
monitorar e administrar funcionários remotos permitiu o avanço desses últimos anos. Segundo a empresa de 
pesquisa de mercado IDC, havia 12 milhões de freelancers nos EUA em 2009. 
É preciso entretanto não superestimar esse efeito para todo o mundo, Computador pessoal e acesso a rede de 
banda  larga,  embora  esteja  em  grande  processo  de  desenvolvimento,  são  ainda  bastante  restritos  em  boa 
parte do mundo. O Brasil nesse campo é emblemático, embora seja um dos campeões da rede em quase tudo, 
mais da metade de seus lares não tem acesso a internet. 
Em 2020, talvez apenas 1% a 2% da mão de obra será de profissionais independentes, mas quando a maioria da 
população já tiver acesso ao computador e a rede, e uma nova geração, já nascida num mundo tomado pela 
tecnologia estiver no poder, os empregos remotos darão um salto espetacular, afirmam os especialistas. 
 
c)  Genética 
A genética é, de longe, a ciência que deixa o senso comum mais perplexo. As muitas boas notícias14 são sempre 
ofuscadas  pelas  polêmicas  criadas  com  setores  mais  conservadores.  Em  19  de  maio,  tivemos  uma  dessas 
inovações  polêmicas,  o  cientista  Craig  Venter  anuncio,  através  da  revista  científica  Science,  que  sua  equipe 
científica havia criado pela primeira vez uma vida em laboratório. O experimento seria uma bactéria viva criada 
a partir de material sintético, inserindo um genoma produzido em computador em uma célula. O projeto seria 
criar  a  possibilidade  dotar  bactéria  com  funções  pré‐estabelecidas,  como  produzir  combustível  fóssil  ou 
medicamento. 

12
Bill Gates é co-fundador da Microsofit e considerado o homem mais rico do mundo.
13
Não confundir terceirização, quando certos serviços são entregues a execução de terceiros; e terciarização,
quando a mão de obra migra para o setor terciário da economia, o de comércio e serviços.
14
Somente em uma semana em junho foram diversas descobertas positivas como em 09 de junho, cientistas
anunciaram que o Genoma do autismo poderia levar a tratamentos; ou em 24 de junho, que as células tronco são
capazes curar certos tipos de cegueira; Em 24 de junho, a mais impressionante, cientistas em experiências com
ratos, criaram um Pulmão em laboratório.

6
Atualidades
Alexandre Pinto

O feito, em si memorável, no entanto, gerou um conjunto de críticas. O pesquisador é acusado por parte da 
comunidade científica de ser “viciado em aplausos”, ou seja, estar muito mais preocupado em fama e dinheiro 
do que no avanço da ciência. Assim, enquanto alguns o aplaudiam outros ficavam apáticos ou céticos. 
Venter desperta esses sentimentos antagônicos na comunidade científica desde o programa para decodificar 
os genes humanos, o Projeto Genoma. O Projeto demorou 15 anos e consumiu cerca de 5 bilhões de dólares, 
mas Venter , que havia se associado a equipe de pesquisadores, anunciou que poderia fazer o mapeamento 
bem mais rapidamente e com menos custo com capital privado. A tensão ficaria ainda maior quando Venter 
anunciou  que  patentearia  as  suas  descobertas.  Alguns  alegam  que  Venter  chegou  primeiro  ao  final  do 
mapeamento  genético,  porém  o  anúncio  fora  feito  conjuntamente  pelas  equipes  sob  pressão  do  presidente 
dos EUA, Bill Clinton. 
Para além das disputas acadêmicas, a descoberta de Venter, se confirmada pela comunidade cientifica, abrirá 
outra frente de batalha com os setores religiosos. Para esses setores mais conservadores, a genética não era 
capaz de produzir vida, apenas manipulava a vida originalmente criada por Deus, o feito de Venter desmente 
essa assertiva. 
 
4 – Diretos Humanos 
 
a) Fome 
Todos os anos, 18 milhões de seres humanos morrem de problemas relacionados à pobreza. Desse total, 10 
milhões  são  crianças.  Em  2008,  o  mundo  comemorou  a  segunda  maior  colheita  da  história,  mesmo  assim,  5 
milhões  de  crianças  morreram  de  fome  devido  a  falta  de  acesso  à  comida.  Estes  e  outros  dados,  estão  no 
estudo  do  economista  argentino  Bernardo  Kliksberg,  que  trabalha  no  Programa  das  Nações  Unidas  para  o 
Desenvolvimento (Pnud) e em outros organismos multilaterais como Unesco e Unicef. 
Convivemos no mundo com 3 bilhões de pobres, dos quais 1,2 bilhão são extremamente pobres e 2,6 bilhões 
sequer tem um banheiro. Uma em cada seis pessoas passa fome, num mundo onde se produz alimentos para 
uma população maior do que a atual. 
Esses  fatos  se  constituem  em  “Armadilhas  da  pobreza”,  ou  seja,  crianças  que,  por  nascer  na  pobreza, 
enfrentam trabalho precoce, não conseguem concluir o secundário e, portanto, estão destinadas a ficar fora da 
economia  formal.  Uma  gestão  social  eficiente  deve  atuar  sobre  o  conjunto  de  causas,  somando‐se  políticas 
públicas  ativas  à  responsabilidade  social  das  empresas  privadas  e  à  mobilização  da  sociedade  civil.  A  mídia 
pode  dar  grande  contribuição,  tornado  visível  o  invisível  (os  pobres),  mostrando  as  boas  práticas  sociais, 
divulgando  as  experiências  comparativas  e  elevando  o  nível  de  qualidade  do  debate  social.  Quanto  mais 
próximos estiverem dos problemas reais da população, como a pobreza, mais êxitos os meios de comunicação 
terão. 
No estudo a América Latina tem enfoque destacado. O fato de a América Latina ser a região mais desigual do 
mundo é a chave para se entender a intensidade da pobreza da região e, sem dúvidas, as políticas ortodoxas 
são responsáveis por aumentar ainda mais a distância entre ricos e pobres. 
Entretanto,  o  autor  revela  que,  novos  ventos  sopram  na  América  Latina,  onde  os  cidadãos  buscam  por 
diferentes  caminhos,  uma  economia  com  rosto  humano.  O  reflexo  disso  é  uma  nova  geração  de  políticas 
sociais  com  maior  destinação  de  recursos,  mais  ativa,  com  melhor  gestão,  e  buscando  a  participação  das 
comunidades atendidas. 
Há progresso em toda América Latina mas há que se redobrar os esforços. Ainda há 190 milhões de pobres na 
região tão rica potencialmente. Mais de um em cada três latino‐americanos carecem do essencial. O motor é 
impulsionar a participação cidadã. Quanto maior ela for, melhor qualidade terão as políticas públicas. 
Bons exemplos, segundo o autor, são os Programas como o Fome Zero e o Bolsa Família, implementados no 
Brasil  pelo  presidente  Lula,  ganharam  respeito  e  se  transformaram  em  referência  internacional  por  vários 
motivos; têm a maior escala, jamais conhecida em matéria de política social no continente; conseguem maior 
distribuição  progressiva  de  renda  para  os  mais  pobres;  melhoram  sua  situação  e  envolvem  os  pais  na 
responsabilidades  relacionadas  a  educação  e  saúde  para  com  seus  filhos;  e  também  conseguem  conectar  os 
pobres aos serviços do Estado. 
 
b) Saúde 

7
Atualidades
Alexandre Pinto

Comitê da ONU avaliou que a reação dos países e da OMS ao H1N1 foi positiva, mas a gripe aviária ainda é uma 
ameaça à saúde humana. A doença foi eliminada em mais de 60 países, todavia ainda persiste no Egito, China, 
Indonésia, Bangladesh e Vietnã. FAO15 diz que até extinção do vírus haverá riscos. 
Fundo de População das Nações Unidas lamenta número anual de óbitos na 1ª semana de vida e cobra acesso 
à saúde materna e a trabalhos de obstetrícia. Segundo a ONU, Serviços inadequados ainda matam 3 milhões de 
recém‐nascidos e a diarréia mata mais de 4.000 crianças por dia. Número abrange somente as menores de 5 
anos.  Documento  afirma  ainda  que  mais  da  metade  das  escolas  primárias  em  60  países  não  possuem 
saneamento adequado. 
Outro problema internacional é a pecuária. Segundo a FAO alerta para novos surtos de febre aftosa. Agência da 
ONU  pede  aumento  da  vigilância  global  sobre  a  doença,  que  é  altamente  contagiosa  entre  bovinos,  ovinos, 
caprinos e suínos, após três visitas recentes ao Japão e à Coreia do Sul. Campanha de vacinação começa sábado 
no Brasil. 
 
c) Justiça 

A boa notícia do período foi a condenação, ainda que tardia, pelo tribunal federal argentino de Benito Bignone, 
último ditador do país a 25 anos de prisão. Os últimos meses do ditador foram dedicados a destruir arquivos 
relacionados a prisão, tortura e assassinatos de opositores e a promulgar uma anistia geral aos militares, que 
diferente do Brasil não foi considerada ampla e irrestrita pelo sistema democrático. 
Em 1976, Bignone comandou a ocupação militar do Hospital Posadas, transformado em centro de detenção e 
tortura.  Com  acusação  de  dar  assistência  a  guerrilheiros,  foram  presos  e  torturados  no  mínimo  38  médicos, 
quatro  dos  quais  continuam  desaparecidos.  Bignone  também  dirigiu  o  Campo  de  Mayo,  uma  das  principais 
bases e o principal centro de tortura e execução de presos políticos. 
Bignone foi condenado por sequestros, assassinatos e desaparecimentos. 
No mais, são dias difíceis para os direitos humanos. A carreira do juiz espanhol Baltazar Garzón, que em 1988 
fez  prender  o  ex‐ditador  chileno  Augusto  Pinochet  e  desde  então  ganhou  o  respeito  dos  defensores  dos 
direitos humanos investigando crimes das ditaduras sul‐americanas, o terrorismo dos separatistas bascos e os 
abusos dos EUA em Guantánamo, corre o risco de ser encerrada. 
 O  Supremo  Tribunal  o  indiciou  por  violar  a  anistia  de  1977  com  investigação,  iniciada  em  outubro  de  2008, 
sobre  114  mil  desaparecidos  da  ditadura  franquista.  O  relator  do  processo  foi  Adolfo  Prego,  um  público 
defensor  da  ditadura,  que  aceitou  a  denúncia  movida  por  três  organizações  surgidas  da  cisão  da  Falange,  o 
partido fascista espanhol. 
O juiz argumenta que seqüestro é crime continuado e a anistia não se aplica a crimes contra a humanidade e 
teve a seu lado, além do apoio popular, testemunho de promotores e juízes do Tribunal Penal Internacional e 
da Suprema Corte argentina. Nada adiantou, o arguto defensor dos direitos humanos foi suspenso. 
A condenação de um juiz por investigar crimes contra a humanidade não tem precedentes no mundo. Somente 
confirma que a transição espanhola para a democracia, assim como a brasileira, não se completou. 
Ao  choro  de  Garzon,  após  ser  suspenso  pelo  judiciário  espanhol,  soma‐se  o  daqueles  que  defendem  o 
humanismo e os parentes das vítimas das ditaduras na Espanha e no mundo. 
 
5 ‐ Mídia 
No dia 03 de junho, Dia da Liberdade de Imprensa, a Unesco pediu silêncio por 77 jornalistas mortos. A agência 
da ONU lembrou jornalistas que morreram no ano passado no exercício da profissão. A situação é mais trágica 
no  México16,  de  longe,  o  país  com  o  maior  número  de  homicídios  de  jornalistas.  Mas  em  países  como 
Honduras, a situação também é grave, somente em março cinco jornalistas morrem foram assassinados. E essa 
não é a pior notícia em relação a liberdade de informação 
Para  democracia,  a  pior  notícia  é  que  a  decadência  mundial  dos  meios  de  comunicação  tem  acelerado  a 
concentração da propriedade nas mãos de poucos magnatas. 

15
A FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) é uma agência da ONU e tem por
objetivo elevar os níveis de nutrição e de desenvolvimento rural.
16
Para entendimento da situação da crise política no México hoje veja “México: Livre Comércio, Drogas e
Guerra ”, para o entendimento geral da crise que envolve a mídia veja no, “Tensões Midiáticas”. Unidade 5,
capítulo 3, pag 216 e da Unidade 5, capítulo 1,pag.180, respectivamente.

8
Atualidades
Alexandre Pinto

Não obstante o momento ruim, o célebre Carl Bernstein, jornalista do Washington Post que, em parceria com o 
colega Bob Woodward, desvendou os mistérios do caso Watergate e provocou a renúncia do presidente dos 
EUA  Richard  Nixon,  fez  meia  culpa,  alegando  que  a  mídia  dilapida  seu  único  patrimônio:  a  veracidade  das 
informações. “Devemos encorajar uma nova cultura de responsabilidade, do contrário não seremos levados a 
sério  quando  trouxermos  questões  relativas  à  liberdade  de  expressão”.  “Se  usarmos  mal  essa  liberdade, 
serviremos ao interesse da ignorância e da tirania”, disparou em seminário no Brasil no início de maio. 
 
6 – Pedofilia na Igreja Católica17 
A  Igreja  Católica  decidiu,  enfim,  reagir  e  sair  do  córner  que  se  encontrava  em  virtude  das  acusações 
sistemáticas  de  pedofilia  contra  a  eclésia.  O  Papa  recebeu  vitimas  de  abusos  e  chorou  com  elas. 
Aparentemente, poderia ser visto como jogo de cena, mas ao discursar que “perdão não substitui a justiça”, 
demonstrou um avanço, em relação a posição anterior, que de forma deliberada tentava encobrir os casos de 
pedofilia,  como  discurso  do  bispo  do  Rio  Grande  do  Sul,  que  jogou  a  culpa  na  sociedade,  alegando  que  a 
sociedade é que seria pedófila18. 
No entanto, o esforço deu em nada. O caso do referendo Lawrence Murphy, denunciado pelo New York Times, 
caiu  como  uma  bomba  sob  a  cúpula  católica.  Murphy,  diretor  de  uma  instituição  para  meninos  surdos  em 
Wisconsin, entre 1950 e 1964 violentou 200 crianças. A aterradora história chegou ao Vaticano somente em 
1996, quando o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, era prefeito da Congregação Doutrina da Fé, herdeira 
da inquisição, seu braço direito era Tarciso Bertone, atual secretário de Estado, e Murphy ainda estava vivo. 
A  análise  do  caso  se  arrastou  por  dias  anos  e  o  reverendo  pedófilo  morreu.  A  Igreja  então,  como  de  praxe, 
silenciou e o caso somente veio a tono em abril com a referida reportagem do jornal de nova‐iorquino. 
Agora,  os  norte‐americanos querem  levar  Papa  a  tribunal.  Se  a  idéia  for  a  frente,  o  estrago  será  irreparável. 
Mesmo que não seja possível punir o papa, chefe de Estado do Vaticano, o comparecimento de sua santidade a 
um tribunal, algo improvável, ou a sua condenação a revelia, seria uma mancha na imagem da Igreja. 
 
7 ‐ Notas: 
Acidente Aéreo. Para quem acredita em milagres, o dia 12 de maio foi um marco. Um menino holandês de 8 
anos  foi  o  único  sobrevivente  na  queda  de  um  Airbus  A330‐200  na  Líbia,  minutos  antes  da  aterrissagem  no 
aeroporto  de  Trípoli.  O  menino  teve  várias  fraturas  nas  pernas,  mas  foi  operado,  e  se  recupera  bem.  A 
aeronave  saíra  de  Johannesburgo,  na  África  do  Sul,  e  a  maior  parte  dos  passageiros  faria  conexão  para  a 
Europa.  Todas  as  outras  103  pessoas  a  bordo  morreram.  Em  2009,  uma  criança  também  foi  a  única 
sobrevivente na queda de outro Airbus na África.  
 
Indígenas.  Bird  chama  atenção  para  sofrimento  indígena.  Relatório  do  Banco  Mundial  lançado  em  fórum  na 
sede da ONU, em Nova York, afirma que, embora representem somente 4,4% da população global, índios estão 
entre os 10% mais pobres. 
 
Sistema  Prisional.  “A  América  Latina  não  dá  dignidade  aos  presos”,  palavras  do  ministro  Cezar  Peluso, 
presidente  do  Supremo  Tribunal  Federal,  em  congresso  da  ONU  em  Salvador,  no  dia  23  de  abril,  explicita  o 
desleixo do sistema prisional no continente. Estranhamente, os setores mais conservadores da sociedade ainda 
acham  que  há  “muitas  regalias”  aos  presos.  Ao  contrário  dos  argumentos  desses  setores,  o  desleixo  nos 
presídios  permitiu,  por  exemplo,  a  criação  das  principais  organizações  criminosas  do  país,  como  o  Comando 
Vermelho no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital em São Paulo. 
 

17
Para ampliar a discussão sobre o problema da pedofilia na Igreja, veja: “Pedofilia na Igreja Romana”. Unidade
5, capítulo 1, pag 182.
18
O Globo, 05 de maio de 2010.

9
Atualidades
Alexandre Pinto

Capítulo 2 – Meio Ambiente e Sustentabilidade 
 
1. Desastres 
 
a) Golfo do México 

Em  20  de  abril,  uma  explosão  no  campo  Deepwater,  operado  pela  British  Petroleum  no  Golfo  do  México  se 
transformou  no  maior  desastre  ambiental  dos  EUA,  quiçá  do  mundo.  A  oposição  republicana  decidiu  que  o 
gigantesco vazamento de petróleo na costa da Lousiana seria o equivalente para o governo Obama do que foi o 
furacão Katrina para o governo Bush, sobretudo devido a resposta lenta dada pelo governo. 
Todavia, as diferenças são enormes. O governo Bush sabia da chegada do Katrina, teve tempo para se preparar, 
mas  o  presidente  Bush  apareceu  comemorando  o  aniversário  do  senador  John  MacCain,  e  o  vice‐presidente 
Dick  Cheney  tirou  férias.  Mesmo  a  clara  demora  do  governo  Obama,  deve‐se  mais  a  falta  de  instrumentos, 
devido a desregulamentação defendida pelos republicanos, do que a inoperância. 
Outras acusações, como a de que Obama foi condescendente com a indústria petrolífera por ter recebido cerca 
de  900  mil  dólares  em  doação  para  campanha  não  se  sustentam,  já  que  seu  adversário  republicano  John 
MacCain recebera 2,4 milhões. 
Subtraindo‐se a disputa partidária, a atuação dos governos dos EUA no episódio é lamentável. Um relatório do 
Departamento  do  Interior  mostrou  que  é  rotina  para  os  inspetores  do  MMS  (Serviço  de  Administração  de 
Minerais) aceitar presentes de empresas que deveriam fiscalizar. Muitos dão questionários de inspeção para 
que as empresas para preencham. Tudo isso desde muito antes de Obama, é verdade, mas o que ele fez para 
acabar com as práticas corruptas? 
Na avaliação técnica do desastre, a situação também é grave. No Brasil, por exemplo, a segurança de petróleo 
em  alto‐mar  é  maior,  especialmente  por  conta  de  um  dispositivo  acionado  por  controle  remoto  que 
interrompe a extração em casos de acidentes. Sem tal dispositivo, a British gastou 13,6 bilhões de dólares na 
operação,  levou  três  meses  e  vinte  dias  para  o  fechamento  do  poço,  corroeu  ainda  mais  a  imagem  do 
presidente Obama e causou danos incalculáveis ao meio ambiente. 
Obama compreendeu bem o problema. Segundo ele, o “vazamento de óleo e o 11 de Setembro ambiental”. 
Esse, entre outros problemas, como o desgaste para reforma da saúde, explicam a desmobilização de setores 
progressistas  e  a  mobilização  dos  setores  conservadores  da  sociedade  norte‐americana,  o  que  viria  a  se 
confirmar no desastre eleitoral no dia 02 de novembro. 
 
b) Haiti19 
Depois  de  todo  alvoroço  midiático  em  torno  da  tragédia  humanitária  causada  pelos  terremotos  no  Haiti,  a 
imprensa  internacional,  mais  uma  vez,  esqueceu‐se  do  país.  A  situação  no  Haiti  ainda  é  terrível.  Segundo  a 
subsecretária Asha‐Rose  Migiro  da ONU,  apesar  do  registro  de alguns avanços  em  educação  e  infraestrutura 
desde o terremoto de janeiro, caos ainda assola o país caribenho. Somente no início de junho foi completada a 
primeira fase de realojamentos. Na qual pouco mais de 7 mil pessoas  deixaram áreas de risco na capital, Porto 
Príncipe,  com  ajuda  da  agência  da  ONU  para  migrações,  num  total  de  3  milhões  desabrigados.  O  próprio 
presidente da ONU alertou para momento de 'alto risco' no Haiti. Em carta ao Conselho de Segurança, Ban Ki‐
moon reforçou a necessidade de implementação de metas em política, segurança, proteção e reconstrução do 
país. 
Não  obstante,  houve  avanços.  O  Banco  Mundial  anunciou  o  fim  da  dívida  do  Haiti  e  prometeu  disponibilizar 
US$ 479 mi, até junho de 2011, para recuperação e desenvolvimento do país. Segundo o UNICEF, a resposta 
rápida evitou uma crise maior no Haiti, desde terremoto, número de mortes por doenças ou desnutrição não 
teve aumento significativo, até pelo menos o surto recente de cólera. 
O Brasil foi um dos países que mais contribuíram, somente para agricultura foram R$ 3,5 milhões. O valor foi 
repassado  à  FAO  e  será  usado  na  compra  e  distribuição  de  sementes,  fertilizantes,  ferramentas  e  outros 
insumos agrícolas para famílias haitianas, que se recuperam do terremoto. 
 
2. Aquecimento Global20: o Brasil no cento do debate 

19
Para uma discussão sobre a tragédia no Haiti veja “Fúria da Natureza, Tragédia e Humanismo: as lições dos
terremotos que abalaram o Haiti e o Chile”. Unidade 5, capítulo 2, pag. 195.

10
Atualidades
Alexandre Pinto

Em  22  de  abril,  foi  comemorado  o  Dia  Internacional  da  Terra.  O  secretário‐geral  da  ONU  afirmou  que  as 
“mudanças  climáticas  e  alterações  no  ozônio  são  os  principais  exemplos  da  falta  de  proteção”.  No  caso 
específicos  das  mudanças  climáticas,  o  Brasil,  embora  ainda  seja  um  país  cujo  crescimento  se  dá  com  baixa 
emissão de carbono, está no centro do debate. 
O caminho da sustentabilidade global não pode avançar sem o engajamento do Brasil. Sobretudo por causa da 
Amazônia, mas também pelo fato do Brasil ter o maior rebanho bovino do mundo, o que não necessariamente 
é  motivo  para  comemoração.  Com  205  bilhões  de  cabeças  de  gado,  faturamento  de  250  bilhões  de  reais  e 
perspectiva de crescimento bastante alta – só no primeiro semestre deste ano as exportações cresceram 40% ‐ 
o que preocupa os ambientalistas é a emissão de gases poluidores pelo rebanho. 
As críticas aos pecuaristas vêm de todos os lados: ambientalistas, autoridades de saúde, grupos vegetarianos e 
até de outros produtores rurais. Os pecuaristas brasileiros são acusados de desmatar a Amazônia e o Cerrado, 
consumir água em excesso, poluir rios, contaminar áreas de pastagens, fazer lavagem de dinheiro, de fazerem 
mal a saúde humana e ampliar o efeito estufa pela ampliação da emissão de metano. 
Os  pecuaristas,  por  sua  vez,  defendem‐se  dizendo  que  produzem  10%  da  riqueza  nacional,  dólares  para  a 
balança comercial e empregos no interior, diminuindo a pressão dos centros urbanos. 
Segundo a FAO, a pecuária mundial é a principal responsável pelas mudanças climáticas. As fazendas de gado 
respondem  por  18%  das  emissões  de  gases  do  efeito  estufa,  especialmente  pela  emissão  de  metano  no 
processo digestivo dos animais, mas também pela derrubada de florestas. O índice supera o dos transportes, 
responsável por 11% das emissões, até então a maior vilão. A FAO chega a propor uma taxa sobre a carne, de 
forma que desestimule o consumo. 
Voltando para o caso brasileiro, a pecuária é o maior responsável pela destruição de biomas importantes como 
a  Mata  Atlântica  e  o  Cerrado.  Hoje  na  Amazônia  a  situação  é  dramática.  Parte  da  soja  produzida  é  para 
alimentar o gado, a maior parte dos dejetos dos animais vão parar nos rios, contaminado as águas. A socióloga 
Marly Wenckler faz uma ligação interessante: “estamos exportando água de qualidade, um bem cada vez mais 
escassos, em forma de carne”.  
Soma‐se a tudo isso, o peso da pecuária na emissão de gases de efeito estufa no país está em torno de 50% e 
do total do desmatamento amazônico a pecuária é responsável por 75%. 
Entretanto, segundo Ivens Domingos, analista da respeitada WWF, diz que “é preciso reconhecer o problema. 
Mas também é preciso mostrar que há tecnologias e meios para buscar soluções”. O melhoramento genético e 
a  gestão  eficiente  da  propriedade,  que  permite  o  rebanho  ganhar  peso  e  aumentar  a  produtividade,  (mais 
animais por hectare) por meio de confinamento ou semiconfinamento, são exemplos de meios de mitigar os 
impactos ambientais. 
Como precisamos acabar com a fome no mundo e preservar o meio ambiente, a solução passa por pesquisas e 
investimentos tecnológicos para que possamos produzir mais, agredindo menos. 
 
2 –  
 
3 ‐ Notas 
a) Vulcões  ‐  O  Vulcão  Eyjafjallajokull  entrou  em  erupção  na  Islândia  e  interrompeu  o  tráfego  aéreo  na 
Europa, prejudicando 10 milhões de passageiros. No total, mais de 100 mil vôos foram cancelados na Europa, 
mas até nas regiões onde não houve cancelamentos foi prejudicada pela interrupção do tráfego na maior parte 
da  Europa.  Diante  do  imenso  prejuízo,  algo  em  torno  de  1,7 bilhão  de dólares,  as  companhias  pressionaram 
para reabrir espaço aéreo, mesmo com as nuvem ainda densas. 
 
b) Biodiversidade  ‐  No  Dia  Mundial  das  Aves  Migratórias,  ONU  lançou  advertência  para  prevenir 
desaparecimento desses pássaros e pede ajuda para preservar espécies em risco. Segundo a organização, risco 
de extinção atinge 11% de aves migratórias. 
 

20
Para uma melhor compreensão do fenômeno do Aquecimento Global, suas causas e consequências, veja
“Aquecimento Global”. Unidade 2, capítulo 3, pag 53.

11
Atualidades
Alexandre Pinto

c) Lixo ‐ O estado do Rio de Janeiro joga um terço do lixo em rios e aterros irregulares. Diariamente, 879 
toneladas sequer são recolhidas de ruas e favelas do estado, segundo reportagem do jornal o globo de 23 de 
maio de 2010. 
 

12
Atualidades
Alexandre Pinto

Capítulo 3 – Relações Internacionais 
1 – Armas Nucleares 
Depois  do  fim  da  Guerra  Fria,  as  armas  atômicas  voltaram  ao  topo  da  agenda  internacional  com  o  governo 
Barack Obama. Clinton havia ignorado, como se fora coisa de segunda importância e Bush júnior, congelou as 
negociações  iniciadas  pelo  seu  pai,  pela  clara  opção  de  favorecer  o  complexo  industrial  militar.  Obama  se 
mostrou disposto a trazer a temática de volta seja nos acordos com a Rússia, e que lhe renderia um criticado 
Nobel da Paz, ou na tentativa mais agressiva de impedir o Irã de ter acesso a tecnologia nuclear. 
 
a) Acordo EUA ‐ Rússia 
Os EUA propuseram, nos 12 e 13 de março, em Washington, na conferência para revisão do Tratado de Não‐
Proliferação  Nuclear  (TPN),  que  é  realizada  a  cada  cinco  anos,  “um  mundo  livre  de  armas  nucleares”.  O 
secretário‐geral  da  ONU,  Ban  Ki‐moon,  elogiou  bastante  a  proposta  norte‐americana,  já  que  para  ele  “o 
desarmamento é chave para o futuro”. 
No entanto, o acordo deve ser entendido, antes de tudo, como uma maneira dos EUA de manter o status co 
geopolítico  com  um  menor  custo  militar  e  econômico.  Com  isso  não  quero  negar  a  importância  do  feito, 
certamente a atitude é mais positiva do que o unilateralismo de Bush júnior21, mas não pode ser vista como 
uma  aceitação  dos  norte‐americanos  de  que  o  mundo  é  multipolar,  antes  é  um  esforço  para  salvar  a 
hegemonia em risco. 
A principal parte do acordo se dá entre Washington e Moscou e prevê a redução dos arsenais nucleares e uma 
revisão da estratégia nuclear dos EUA, segundo a qual, mesmo se o país for atacado com “armas de destruição 
em massa”, promete não usar tais armas contra países que não possuam, desde que estes cumpram o TPN. 
O novo acordo sequer exige que as ogivas nucleares postas fora de serviço sejam inutilizadas, podem ficar de 
reserva e reativadas em questão de dias se a conjuntura mudar. Críticos alegam que o acordo é um retrocesso 
em relação a postura dos Estados Unidos antes da paranóia bushiana, que apostava em ataques nucleares de 
“pequeno impacto” contra o eixo do mal. Antes os EUA se comprometiam a utilizar armas nucleares somente 
contra potências de peso, como Rússia e China, agora Obama vincula a não utilização de tais armas a aceitação 
do TPN. Ou seja, os Estados Unidos ampliaram a pressão para que os países venham a aderir o Tratado. 
Não sejamos inocentes a ponto de achar que tais declarações têm algum valor além da retórica. Os Estados são 
poderes em busca de expansão22. Afinal, promessa por promessa, o Irã garante que jamais irá produzir, estocar 
ou  usar  armas  nucleares,  nesse  caso  com  um  adendo,  é  proibido  por  uma  fatwa  do  líder  supremo  Ali 
Khamenei,  fundamentado  sobre  a  lei  islâmica,  o  que  a  torna  quase  impossível  de  revogar,  mas  os  países  do 
Conselho de Segurança, como veremos abaixo, têm motivos para duvidar. 
Em  resumo,  os  EUA  desejam  que  em  troca  de  promessas  que  podem  ser  mudadas  em  horas,  países 
abandonem anos ou décadas de investimentos e pesquisas. Isso, obviamente, consolidaria a superioridades das 
potências que hoje fazem parte do clube nuclear. 
Para  Celso  Amorim,  ministro  das  Relações  Exteriores  do  Brasil,  o  tratado  nuclear  é  injusto,  pois  o  pacto  em 
vigor  é  fruto  de  uma  época ultrapassada  e  congela  as  negociações  com  as  nações  em  patamares  diferentes, 
algumas são potências e outras devem permanecer subordinadas. Em favor da posição norte‐americana, está o 
fato de que um ataque nuclear mudaria o mundo para sempre, e o risco de terrorismo nuclear cresce quanto 
maior for o número de países que dominem a tecnologia. 
Outro  problema  do  acordo  é  a  postura  de  Israel,  que  se  recusou  a  participar  da  Cúpula,  mesmo  sendo  uma 
potência nuclear. Certamente sofreria pressão dos países árabes para que aderisse o TNP. Dessa forma, Israel 
continua a ignorar o mundo, com anuência da mídia e consentimento dos EUA. Obama nada fez para que essa 
postura mudasse. 
Ainda  que  a  retórica  de  Obama  ‐  “um  mundo  livre  de  armas  atômicas”  –  pudesse  ser  levado  a  sério,  o 
programa de Conventional Prompt Gobal Strike23 (CPGS) anunciado em abril, mostra claramente que os EUA 
nada mais fazem do que tentar manter sua hegemonia de ataque em todo globo, pois prevê desenvolvimento 
de  armas  convencionais  de  longo  alcance,  que  teriam  o  mesmo  poder  de  dissuasão,  porém  de  forma  mais 
precisa. Nesse caso, Moscou certamente, e talvez até Pequim, não conseguiriam acompanhá‐los. 

21
Para a discussão sobre a política unilateral dos EUA, veja “Governo Bush: unilateral, belicista e isolacionista”.
Unidade 3, capítulo 2, pag. 87.
22
Para essa discussão veja “Bases para discussão”. Unidade 3, Capítulo 1, pag. 81.
23
Ataque Global Imediato Convencional – tradução livre.

13
Atualidades
Alexandre Pinto

Como dissemos já dissemos24: Os EUA “continuarão a ser um império e agirão como tal. Não há nada que faça 
crer que os EUA abrirão mão da posição que conquistaram ao longo do século passado. Mas Obama pretende 
reestruturar prestígio dos EUA. Para isso, ele deve por o combate ao terrorismo em segundo plano e levar a 
sério o compromisso de exercer uma liderança multilateral, inclusive aceitando negociar com inimigos. Lógico, 
em primeiro lugar para defender o interesse dos EUA”. 

b) Tensão EUA ‐ Irã 
Tendo a estratégia acima descrita como prioridade geopolítica, a secretária de defesa dos EUA, Hillary Clinton, 
conseguiu levar o Conselho de Segurança (CS) da ONU a aprovar uma nova rodada de sanções ao Irã, embora 
sem  unanimidade.  Dos  15  votos,  dois  foram  contrários  (Brasil  e  Turquia)  e  um  se  absteve  (Líbano).  Em 
consequência o Irã declarou nulo o acordo de troca de combustível nuclear negociado por Brasil e Turquia. 
Para ter o voto da Rússia e da China, Hillary abriu mão de embargos a bancos e empresas iranianas, salvo as 
controladas pela guarda revolucionária. 
Apesar da vitória formal dos EUA, o saldo das semanas de negociações em torno do Oriente Médio é bem mais 
ambíguo. Ao contrário do que foi publicado na grande mídia nacional25, com suas iniciativas, Brasil e Turquia 
ganharam  projeção  à  custa  dos  países  ricos.  Vários  atores  tentaram  forçar  o  Irã  a  negociar,  incluídos  aí  a 
própria ONU, os EUA, a Rússia e a China, mas somente Brasil e Turquia conseguiram. Com isso, mostraram que 
o centro de gravitação geopolítica mundial está em movimento26 e que o Irã não está tão ilhado quanto os EUA 
gostariam. 
Entretanto, tanto Brasília quanto Ancara querem mais do que marcar posição27. Opuseram‐se as sanções, por 
interesses comerciais importantes com o Irã, mas também estratégicos. A Turquia, vizinha do Irã, deseja um 
Oriente Médio em paz, qualquer desestabilização, além das já corriqueiras na região, é desfavorável. Ao Brasil, 
mesmo sem vínculos diretos com o Irã ou o Oriente Médio, além do comercial, não convém abrir precedentes 
para  que  as  potências  apliquem  sanções  contra  nações  emergentes  que  usem  energia  nuclear,  para  fins 
pacíficos, que é o caso brasileiro. 
Já em 2004, o Brasil, para proteger de espionagem industrial sua tecnologia, vetou a inspeção das centrífugas 
de  urânio  em Resende (RJ), permitindo  à Agência  Internacional  de  energia  Atômica (AIEA)  apenas monitorar 
válvulas e tubos para medir a produção, o que foi aceito. Imagina se não fosse aceito e o CS tentasse impor ao 
Brasil sanções? 
A  tese  do  Irã  de  “energia  nuclear  para  todos,  armas  nucleares  para  ninguém”,  é  defensável  sob  o  prisma 
idealista, e inocente do ponto de vista do realismo28. Além da retórica, há algo que todos concordam com o 
discurso  de  Obama,  é  muito  sério  e  grave,  o  risco  de  que  haja  desvio  de  equipamentos  nucleares  e  esses 
passem  a  mão  de  grupos  terroristas,  que  já  demonstraram  que  não  teriam  o  menor  melindre  em  utilizá‐los 
contra alvos civis. Segundo a CIA, a Al Qaeda tenta adquirir equipamentos nucleares a 15 anos e sabe‐se de 18 
casos de roubo ou desaparecimento desses materiais no mundo. Embora seja consenso que esses grupos ainda 
não tenham tecnologias para operar, desenvolver ou produzir bombas, isso se tornaria muito mais fácil com a 
difusão do conhecimento tecnológico. 
Ainda assim, o maior risco de desvio de armas nucleares não vem do Irã, cujo regime, embora autocrático, é 
estável, mas do Paquistão, que tem um sistema em convulsão e forças armadas cheias de fundamentalistas, a 
ponto de favorecerem ao Al Qaeda e o Talibã na fronteira norte do país. Mas, os EUA deixam o Paquistão de 
lado, simplesmente pelo fato de precisarem do país na luta no Afeganistão. Ou seja, os EUA tão quanto Brasil e 
Turquia,  estão  mais  marcando  posição  do  que  buscando  uma  solução  prática  para  o  problema  do  desvio  de 
armas atômicas. 
 

24
Veja página 94.
25
“Brasil vota a favor do Irã e se isola dentro da ONU”, foi a principal manchete do Jornal O Globo de 10 de
junho de 2010.
26
Sobre as mudanças na geopolítica, veja “A força dos Emergentes”, Unidade 5, capítulo 1, pag. 177 e “China: a
potência mais dinâmica do mundo, Unidade 1, capítulo 6, pag. 29.
27
Para uma discussão sobre entendimento da posição brasileira e a polêmica dos EUA, veja “Política Externa”.
Unidade 5, capítulo 4, pag. 244.
28
Para entendimento de idealismo e realismo nas Relações Internacionais veja “Bases para discussão”. Unidade
3, capítulo 1, pag. 81.

14
Atualidades
Alexandre Pinto

3 – Por dentro do Irã29 
Já  que  o  Irã  virou  destaque  internacional  devido  as  sanções  impostas  pelo  CS,  faz‐se  necessário  um  melhor 
entendimento  do  país.  O  Irã  dos  aiatolás  e  de  Ahmadinejad  vive  como  nenhum  outro  país  do  mundo  um 
dualismo  entre  a  vida  privada  e  a  vida  pública.  No  ocidente  estamos  acostumados  a  ver  políticos  e 
personalidades terem posturas diferentes no cotidiano e diante das câmaras, mas isso é pouco para entender o 
que acontece no Irã. Há uma pessoa que se apresenta diante de todos que é totalmente falsa, enquanto dentro 
de quatro paredes, junto de amigos, essa pessoa se revela, passa a ser o que ela de fato é, ou desejaria ser. 
Segundo o professor de História iraniana Touraj Daryaee, “os iranianos tem convivido com essa dicotomia há 
mil anos e aprenderam a viver assim. Sempre que o governo é mais restritivo, a diferença entre o jeito que as 
pessoas agem nos ambientes público e privado se expande”. O contraste tem ficado mais evidente nas duas 
últimas  gerações,  ou  seja,  após  a  Revolução  Islâmica  de  197930,  e  se  agravado  ainda  nos  últimos  cinco  anos 
comandado pelo linha‐dura Mahmoud Ahmadinejad, período que o país regrediu, ao menos em público. 
Nas  ruas,  entre  as  mulheres,  os  gestos  são  contidos,  suas  roupas,  longas  e  negras.  A  punição  para  mulher 
flagrada  sem  véu  é  de  40  chibatadas!  As  conversas,  se  tocam  em  religião  e  política,  baixa‐se  o  tom,  viram 
suspiros. Homens e mulheres desconhecidos raramente conversam. Casais mal se tocam. Tudo fica ainda mais 
formal com um mulá passeando, olhar em riste, Corão na mão. 
No espaço privado, nas casas, outro Irã aparece. Mulheres sem véu flertam abertamente. Homens criticam o 
regime  a  primeira  oportunidade,  enquanto  abrem  uma  garrafa  de  vodka,  obviamente  contrabandeada,  e 
oferecem aos visitantes. 
Segundo  Farzim,  engenheiro  químico,  filho  de  família  milionária,  embora  a  polícia  esteja  em  cada  canto 
fiscalizando os gestos e atitudes dos cidadãos, quem tem dinheiro não fica preso no Irã: “você paga uns 200, 
300 dólares em propina e ninguém te prende. Sai uns 10 dólares a chibatada. O Irã é corrupto, meu amigo: se 
você tem dinheiro, pode tudo, até comprar as chibatadas. Se você não tem, então é melhor rezar segundo a 
cartilha”. Para quem pode pagar a realidade dói menos, para o grosso da classe média, que não pode conseguir 
um  passaporte  sem  prestar  quase  dois  anos  de  serviço  militar  e  acaba  presa  por  fotos  nos  protestos  pós‐
eleições, o Irã é um fardo. A dor é ampliada quando se entende que, em linhas gerais, o povo é nacionalista e 
apaixonado pelo passado de glória dos persas. 
Nas  ruas,  onde  sobram  placas  com  números  da  inteligência  do  governo  para  incentivar  as  denúncias  de 
“comportamento  estranho”,  é  comum  para  o  estrangeiro  perguntar  as  horas  e  ser  convidado  para  um 
casamento. Mas nenhum iraniano vai a uma festa sem que um amigo ateste que é segura. Candidatos a povo 
mais  hospitaleiro  do  mundo,  eles  se  derretem  em  polidez  diante  do  estrangeiro.  Querem  mostrar  que  a 
imagem de um presidente a vociferar contra a América e perseguir armas atômicas destoa daquela do cidadão 
comum. Nas palavras de Farzad, engenheiro industrial de 30 anos: “nossa cultura é persa, é mais européia do 
árabe.  Nossa  classe  média  ignora  qualquer  ódio  contra  Israel  ou  os  EUA.  Eles  seriam  bem‐vindos  para  nos 
ajudar a derrubar esse regime autoritário”. 
Nas  últimas  décadas,  ao  menos  na  classe  média,  os  iranianos  tentam  viver  de  forma  mais  liberal  e 
ocidentalizada. No passado recente era raro um casal namorar antes do casamento, hoje quase todos os jovens 
de  cidades  grandes  namoram.  Mas  nos  últimos  cinco  anos  o  cerco  tem  se  fechado.  É  comum  ver  policiais 
flagrando flertes na rua, dando multas, prendendo gente. Os ônibus continuam separando homens e mulheres 
– a traseira do veículo é exclusiva para as mulheres, que segue vazia, e a parte da frente é masculina e segue 
entupida. 
Outros problemas, além da falta de liberdade, afligem o Irã. Dentre eles o mais importantes são desemprego e 
inflação, ambos de dois dígitos, cujos números são maquiados pelo governo, mas são sentidos no dia‐a‐dia pelo 
cidadão  comum.  Azad,  engenheiro  químico,  formado  na  Alemanha  e  fluente  em  quatro  línguas,  15  anos  de 
experiência, busca ocupação há um ano. Recebeu uma proposta do governo, mas declinou. “Se o sujeito não 
for  religioso  e  não  defender explicitamente  o  regime,  não  consegue  se  manter  em  emprego  público.  Eu  não 
posso  apoiar  um  regime  que  prende  meus  amigos.  O  Irã  hoje  é  um  país  de  mentira.  Todo  iraniano  se 
especializou  em  representar  um  papel  para  a  sociedade.  Todos  têm  duas  caras:  uma  pública  e  outra 

29
Inspirado na reportagem de: VIEIRA, Willian. Sob o véu da censura: a crescente repressão leva os iranianos a
uma vida dupla. In Carta Capital nº 593, 28 de abril de 2010.
30
Movimento revolucionário, na época da Guerra Fria que transformou o Irã de uma monarquia autocrática
numa república islâmica. Assim, o Irã foi o primeiro país desde a Revolução Francesas (1789), quando os
Estados laicos foram se estabelecendo, a fazer um movimento contrário, ou seja, fez novamente a fusão do
estado com a religião.

15
Atualidades
Alexandre Pinto

verdadeira. Numa sociedade que é baseada na farsa, não se pode confiar em ninguém. Hoje você é meu amigo, 
amanhã, meu delator”. 
O Irã também é um país religioso. O maior país xiita do mundo: 89% de seus cerca de 67 milhões de habitantes 
são  xiitas.  Acreditam  na  existência  de  12  imãs  que  se  seguiram  ao  profeta,  conferindo  devoção  especial  ao 
primeiro, Ali. Assim, tudo é sagrado: tumbas, locais de nascimento, retratos vivem dependurados nas paredes, 
no  espelho  dos  taxis,  no  pescoço  dos  cidadãos.  Isso  é  considerado  uma  aberração  para  os  sunitas,  grupo 
majoritário no mundo islâmico. 
Porém, muitas pessoas acham que a polícia religiosa que está prendendo os manifestantes é o Islã e por isso 
têm  se  afastado  da  mesquita  e  se  fechado  em  si  mesma.  Os  iranianos,  assim  como  os  sauditas,  tendem  a 
frequentar  menos  as  mesquitas  durante  as  orações  diárias  do  que  países  de  população  islâmica  com  regime 
laico. Quando um governo religioso autoritário impõe um discurso monolítico à sociedade, de cima para baixo, 
leva a um declínio da religiosidade geral pública. 
Para boa parte da classe média iraniana, especialmente da capital, o dia após os resultados das eleições, 12 de 
junho de 2009, foi o estopim que levou à explosão uma geração de frustrados, um povo que viu seu país ser 
lançado a segunda classe internacional, regredir nas liberdades civis e se tornar mais dependente da economia 
do  petróleo,  processo  coroado  por  um  governo  que,  acreditam,  corrompeu  as  eleições  para  se  manter  no 
poder. Queriam a mudança, mas a repressão que se seguiu afundou o país ainda mais na injustiça, violência e 
morte. 
Nos protestos de 2009, um rastro de sangue ficou exposto. Segundo a Anistia Internacional, só entre a eleição 
e  a  posse  de  Ahmadinejad,  em  5  de  agosto,  foram  112  execuções,  embora  o  governo  só  confirme  nove, 
algumas  em  público.  A  partir  daí  até  dezembro  o  Irã  deteve  mais  de  cinco  mil  pessoas.  Lembrando  que  os 
protestos  eram,  inicialmente,  pacíficos,  levando  milhares  de  pessoas  às  ruas  e  praças  do  país,  vestidas  de 
verde, pedindo liberdade, e acabou por se transformar na maior crise política desde a Revolução islâmica, no 
final dos anos 1970. 
  O melhor exemplo das atrocidades perpetradas pelo regime foi o caso da estudante de filosofia Neda Soltan, 
assassinada com um tiro na cabeça por um integrante da milícia Basij, durante um protesto pacífico em Teerã. 
Outro manifestante filmou a execução de Neda com um celular. O vídeo rodou o mundo, arrancando gritos de 
protestos contra o regime, seguido de outras prisões midiáticas como a do cineasta Jafar Panahi, autor de O 
Círculo, crítico filme sobre o papel da mulher no Irã. 
No entanto, também não é correto dizer que o governo de Ahmadinejad representa uma volta aos princípios 
fundamentalistas que vinham se arrefecendo no Irã desde a Revolução. Em certo sentido ele representa uma 
mudança,  a  transferência  de  poder  dos  religiosos  representantes  da  Revolução  para  a  linha  dura  nascida 
durante  a  guerra  contra  o  Iraque,  mas  que  também  é  contrária  as  reformas  liberalizantes.  O  governo  usa  e 
abusa da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), espécie de polícia criada para proteger a Revolução, mas que 
investiga a população, está infiltrada nas universidades e controla qualquer tensão social com violência. 
Sem  o  apoio  maciço  dos  clérigos  de  30  anos  atrás,  o  governo  sabe  que  só  pode  se  manter  no  poder 
intimidando  e  punindo.  A  resposta  aos  protestos  tem  sido  didáticas:  jornais  da  oposição  fechados,  sites  da 
internet controlados, polícia moral com efetivo aumentado e conversas telefônicas gravadas. 
Foi  assim  que  o  aparato  repressivo  conseguiu  esmorecer  os  ânimos.  Moussavi,  candidato  derrotado  nas 
eleições  disse  que  “não  vale  a  pena  derramamento  de  sangue”.  Mensagens  chegaram  aos  celulares  dos 
manifestantes com ameaças e protestos foram cancelados depois que o governo anunciou que iria responder 
“com  dureza”.  As  pessoas  querem  mudanças,  mas  não  estão  dispostas  a  bancar  uma  guerra  civil  e  o 
consequente derramamento de sangue. 
Muitos que participaram do protesto, obviamente, não gostaram da intromissão brasileira na discussão sobre 
acordos nucleares. “É uma vergonha países como o Brasil apoiar um governo que mata manifestantes no meio 
da rua”, diz Hashar, engenheiro eletrônico. “Será que seu presidente sabe que está lidando com um regime que 
tem  sistematicamente  abusado  dos  direitos  humanos,  com  casos  documentados  de  tortura  generalizada, 
estupros e assassinatos? Fico chocado que um governo democrático como o seu e uma pessoa confiável como 
o Lula tenham ignorado tais atrocidades e apoiado Ahmadinejad. Como ficam os direitos de milhares de mães 
que viram suas crianças espancadas até a morte e nem sequer tiveram os corpos entregues de volta?” Lula e 
Amorim deveriam responder tais questionamentos. 
Mas,  o  reconhecimento  do  problema  é  o  princípio  que  move  as  mudança.  Homens  e  mulheres  mais  jovens 
cada  vez  mais  educados  e  alinhados  a  outro  mundo,  as  restrições  soam  mais  irracionais.  Eles  comem  pela 
beirada:  véu  menor,  roupas  coloridas,  botas  e  cabelos  diferentes  para  os  rapazes  são  os  símbolos  dessa 
resistência. Assim desafiam o status co e iniciam a mudança. 

16
Atualidades
Alexandre Pinto

 
3 – Os EUA e a Guerra ao Terror 
Se  no  Irã,  as  demandas  internas  por  liberdade  levam  ao  governo  a  ampliar  o  autoritarismo  de  um  lado  e  o 
radicalismo  na  política  externa  de  outro,  nos  EUA,  para  que  uma  guerra  seja  bem  sucedida  é  preciso 
engajamento  da  opinião  pública31.  Assim,  em  13  de  junho,  o  New  York  Times  anunciou  a  descoberta  de  1 
trilhão  de  dólares  em  riquezas  minerais  no  Afeganistão,  incluindo  ferro,  cobre,  cobalto,  ouro  e  lítio. 
Ironicamente,  os  levantamentos  preliminares  foram  feitos  ainda  pelos  soviéticos,  e  era  um  dos  motivos  da 
invasão daquele país no final dos anos 1970. 
O que estaria por traz dessa “velha descoberta”? A tentativa de reanimar a disposição do público e dos aliados 
a  continuar  a guerra  mais  longa da  história  dos  EUA.  Politicamente,  a situação  é complicada  para  o  governo 
Obama,  O  discurso  anti‐guerra  mobilizou  os  setores  conservadores  pelo  medo  de  novos  ataques,  e  o  efeito 
prático da ampliação das tropas no Afeganistão, ajudou a decepcionar o público mais progressista, que exigem 
o cumprimento das promessas de campanha, o quanto antes.  
Na prática as perspectivas não melhoraram substancialmente no Afeganistão desde a posse de Obama, mesmo 
com o aumento do contingente de 30 mil para 100 mil soldados. Várias ofensivas estão estacionadas ante da 
resistência.  Mesmo  onde  as  tropas  avançam,  não  é  possível  estabilizar  a  situação  ou  eliminar  a  presença  do 
Taleban.  
O  presidente  afegão  Hamid  Karzai,  reeleito  contra  a  vontade  de  Washington,  parece  não  mais  acreditar  na 
vitória  militar.  Convocou  uma  assembléia  de  chefe  tribais,  principalmente  pashtus  do  sul,  o  que  indica  a 
tentativa de tentar acordo com o Taleban. 
Enquanto isso, dentro dos EUA, grupos terroristas voltaram a atacar alvos norte‐americanos, na verdade uma 
tentativa frustrada de explodir um carro‐bomba em Nova York. Os EUA alegam que o principal suspeito de ter 
preparado o ataque treinou no Paquistão.  O suposto terrorista paquistanês é naturalizado norte‐americano e 
foi preso ao tentar fugir para Dubal. 
A CIA alega que o Talibã financiou ataque a Nova York e prometeu maior segurança em voos nos EUA. 
 
4 – Venezuela: chavismo em crise 
A tese, um tanto de futebolística, de que a melhor defesa é o ataque se encaixa perfeitamente nas ações de 
Hugo Chávez na Venezuela. O presidente bolivariano32 responde a crise econômica, marcada pela escassez de 
alimentos,  inflação  e  desvalorização  da  moeda  com  ataques  ao  empresariado.  O  Estado  tem  desapropriado 
distribuidoras de alimentos e prendido corretores de câmbio. 
Seguiu‐se  a  intervenção  do  Banco  Federal,  de  propriedade  de  um  dos  sócios  da  Globovision,  Nelson 
Mezerhane,  e  a  ordem  de  prisão  contra  ele  e  Guillermo  Zulouca,  principal  acionista  da  emissora,  um  dos 
principais  instrumentos  da  oposição,  sob  acusação  de  usura  e  conspiração.  Ambos  estão  fora  do  país,  sob 
ameaça de terem suas propriedades confiscadas, caso não se apresentem a Justiça. 
O relator da ONU sobre liberdade de expressão e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pediram a 
retirada das ordens de prisão, que consideram motivas pelas críticas ao governo, principalmente a denúncia de 
que a PDVSA armazenava três mil toneladas de alimentos em decomposição, destinados a mercados populares 
do Estado, por má gestão na distribuição. 
 
5 – África do Sul: Copa do Mundo e Aarthaid33 
Não é fácil um país deixar para trás um passado de discriminação e violência racial de forma tão intensa como 
foi na nação mais desenvolvida do continente, a África do Sul. Pouco antes da Copa do Mundo, o líder racista 
Eugene  Terre’Blanche  foi  assassinado,  o  suficiente  para  reabrir  as  feridas.  Pouco  importa  nesse  caso,  se  o 
assassinato em si não tenha sido uma vingança, oficialmente, ao menos, foi um “acerto de contas” por dívidas 
trabalhistas. Terre’Blanche foi morto na cama com uma barra de ferro e um facão por dois empregados de sua 
fazenda, um de 15 e outro de 28 anos, a quem não pagava o salário prometido (de 40 dólares por mês) desde 

31
Para entendimento do peso da opinião pública nas Relações Internacionais veja: “Bases para discussão”.
Unidade 3, Capítulo 1, pag. 81.
32
Para uma discussão sobre a Revolução Bolivariana e a política chavista, veja: “Revolução Bolivariana”.
Unidade 3, capítulo 2, pág. 96.
33
Inspirado na reportagem de: COSTA, Antonio Luiz M. C. O tempo reabre as feridas: As tensões herdadas do
aparthaid se acirram. In Carta Capital nº 591, 14 de abril de 2010.

17
Atualidades
Alexandre Pinto

de dezembro, quando os contratara. A reação prometida pelos grupos racistas pode desencadear uma onda de 
violência racial. 
A  história  do  grupo  neonazista  de  Terre’Blanche  ajuda  a  entender  a  situação.  Depois  de  ter  servido  na  ex‐
colônia  do  sudoeste,  hoje  Namíbia,  e  na  guarda  presidencial,  rebelou‐se  contra  o  pragmatismo  do  primeiro‐
ministro  John  Vorster  (1966‐78)  um  ex‐nazista  que  permitiu  que  diplomatas  negros  morassem  em  “bairros 
brancos” e não quis reconhecer o governo “branco” da Rodézia (atual Zimbábue). 
Terre’Blanche  fundou  o  Movimento  de  Resistência  Africâner,  cujo  primeiro  ato  relevante  foi,  junto  com  40 
brutamontes,  cobrir  de  piche  e  pena  um  professor  de  história  branco  que  questionou  o  feriado  religioso  do 
“Dia  da  Promessa”,  feriado  sul‐africano  que  comemorava  a  vitória  do  boêres  sobre  os  zulus.  No  governo 
reformista de Pieter Brotha, que deu direito a voto a mestiços e indianos, Terre’Blanche foi preso por posse 
ilegal de armas e explosivas. 
Quanto mais o apartheid degringolava, mais o seu grupo ameaçava com guerra racial e desafiava a ordem com 
desfiles,  uniformes  e  bandeiras  neonazistas.  Em  1993,  ele  e  seu  grupo  invadiram  o  prédio  que  abrigava  as 
negociações  sobre  o  fim  do  apartheid  com  um  carro  blindado,  arrebentando  as  vidraças  e  espancando  os 
policiais.  Mas,  em  outra  invasão  que  matou  dezenas  de  civis,  três  de  seus  “oficiais”  foram  capturados  e 
executados. O grupo humilhado, perdeu força e se exilou. 
As negociações de Nelson Mandela e os líderes brancos levaram ao fim do apartheid e uma anistia de todos os 
crimes políticos. Criou‐se uma comissão da verdade, similar a do PNDH3 no Brasil, para manter viva a memória. 
No  entanto,  Terre’Blanche  foi  novamente  preso  por  espancar  dois  empregados  negros  (um  dos  quais  ficou 
inválido) por denunciarem a polícia um jovem branco que arrombara a farmácia de seu posto de gasolina. 
Libertado  por  bom  comportamento  após  quatro  dos  sete  anos  a  que  fora  condenado,  disse  “não  ser  mais 
racista, mais xenófobo, que prefere gente do seu próprio tipo”. Em março de 2008, relançou seu movimento, 
agora para criar uma república branca separada, pregando separar do Estado corroído pela morte, pelo crime e 
pelo  assassinato.  Ironicamente,  desde  o  fim  do  apartheid,  a  criminalidade na África do  sul tem  diminuído. O 
número de homicídios para cada 100 mil habitantes que era de 66,9 em 1994, passou para 40,3 em 2004 e 38,6 
em 2007. 
De outro lado, a política conciliatória de Mandela que ajudou a construir uma elite negra, facilitou a ascensão 
social e permitiu a formação de um empresariado negro, não fez a reforma agrária, e as mudanças depois de 
1994, ficaram bem aquém das prometidas pelo Congresso Nacional Africano (CNA) de Mandela, originalmente 
marxista. A concentração de renda aumentou, o Índice de Gini34 subiu de 0,59 em 1994 para 0,67 em 2008. Dos 
4% mais ricos na África do Sul apenas um quarto é negro, sendo que esses correspondem a 80% da população. 
A  situação  piorou  em  2009  com  a  crise  econômica  internacional.  O  PIB  despencou  2,2%  e  os  empregos 
temporário  promovidos  pela  Copa  do  Mundo  já  não  existem  para  atenuar  o  problema  do  desemprego  que 
atinge 28,6% dos negros e 4,9% dos brancos. 
A frustração revela‐se na rivalidade entre etnias e no rancor racial. Julius Malena, líder da juventude do CNA 
choca os brancos ao propor uma divisão das fazendas da elite branca e ao entoar o hino símbolo da luta contra 
o apartheid que prega “mate o bôer”. 
 
6 ‐ Coréias a beira da guerra 
Em  26  de  março,  a  corveta  sul‐coreana  Cheonan  afundou  após  uma  explosão  inexplicada  perto  da  fronteira 
entre as duas Coréias, provocando a morte de 46 dos 104 tripulantes. A suspeita de que o navio fora afundado 
por  um  submarino  norte‐coreano  surgiu  desde  o  início,  mas  havia  também  a  possibilidade  de  uma  explosão 
interna, ou choque com uma mina flutuante. 
Mas,  em  20  de  maio,  Seul  anunciou  que  uma  comissão  internacional  concluíra  que  o  navio  fora  mesmo 
afundado  por  um  torpedo.  Partes  dele  teriam  sido  recuperadas,  com  inscrições  semelhantes  às  de  outras 
torpedos norte‐coreanos e compatíveis à descrição técnica da arma em brochuras para exportação. 
De  imediato,  o  governo  da  Coréia  do  Sul  proibiu  os  navios  da  Coréia  do  Norte  de  entrar  em  suas  águas, 
embargou quase todo o comércio e iniciou uma propaganda pelo rádio direcionada a seus habitantes. O Norte 

34
O Coeficiente de Gini é uma medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini, e
publicada no documento "Variabilità e mutabilità" ("Variabilidade e mutabilidade"), em 1912. É comumente
utilizada para calcular a desigualdade de distribuição de renda mas pode ser usada para qualquer distribuição. Ele
consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda (onde todos têm a mesma
renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm).

18
Atualidades
Alexandre Pinto

reagiu colocando  suas  tropas  em  alerta,  cortou  as  comunicações  e  acordos  com  o Sul,  que  visavam  prevenir 
confrontos. 
Não  está  claro  qual  o  interesse  do  Norte  em  causar  o  incidente,  quando  sua  precária  economia  estava  se 
beneficiado do comércio com o Sul. Nem porque Seul chamou apenas peritos de países aliados (EUA, Austrália, 
Reino  Unido  e  Suécia)  quando  a  credibilidade  da  acusação  exigiria  o  endosso  de  países  menos  engajados. 
Rússia e China se dizem céticas com o resultado do relatório, querem provas indiscutíveis. Isso impôs limites a 
posição de Washington e Seul de impor sanções a Pyongyang no CS. 
 
7 ‐ Notas: 
 
a) História ‐ A ONU comemorou os 65 anos do término da 2ª Guerra em 06 de junho. O secretário‐geral 
lembrou que 40 milhões de civis e 20 milhões de soldados foram mortos no conflito, classificando‐o como uma 
das mais épicas lutas pela liberdade. 
 
b) Acidente mata presidente da Polônia ‐ No dia 10 de abril, após acidente aéreo, morreu o presidente 
da Polônia, Lench Kaczynski, sua esposa e mais 94 integrantes da elite política e militar do país. Em Cracóvia, 
centenas de pessoas manifestaram, umas a favor, outras contra o enterro do presidente na cripta da catedral 
do castelo de Wawel. Wawel é o panteão de reis e heróis. 
 
c) Imigração ‐ O relator especial da ONU disse que direitos básicos dos migrantes no Japão, muitas vezes, 
são ignorados no país asiático, onde residem aproximadamente 280 mil brasileiros. 
 

19
Atualidades
Alexandre Pinto

Capítulo 4 – Brasil Contemporâneo 
 
1 – Crescimento, inflação e juros. 
Durou  pouco  o  afinamento  entre  a  Fazenda,  ala  desenvolvimentista  do  governo  Lula,  e  o  Banco  Central,  ala 
conservadora  do  mesmo  governo.    Ainda  em  abril,  quando  o  FMI,  ala  conservadora  da  econômica 
internacional,  elevou  a  previsão  de  crescimento  da  economia  brasileira  e  alertou  para  o  risco  de 
superaquecimento – que se refletiria em inflação se medidas de contensão não fossem tomadas –, um novo 
ciclo de aperto foi iniciado (em 28 de abril) pelo Copom35. Ironicamente, dias depois chegava o relatório sobre 
a inflação no mês de março, demonstrando queda nos preços médios. 
Novamente  o  BC  justifica  sua  atitude  devido  o  risco  de  descontrole  da  inflação  em  meio  ao  crescimento 
acelerado  da  economia.  Ou  seja,  ao  primeiro  sinal  de  que  o  país  deixou  para  trás  a  crise  financeira 
internacional, o BC joga uma ducha de água fria na economia real. Para o ministro da Fazendo Guido Mantega, 
a alta dos preços esteve influenciada pelo excesso de chuvas no início do ano, e tenderia a se dissipar durante o 
ano. Entretanto, mais uma vez prevaleceu a visão afinada com o mercado financeiro, que logicamente, ganha 
mais dinheiro com juros altos. 
O roteiro é previsível. Poucos dias antes do Copom se reunir, o noticiário sobre inflação esquenta. Os discursos 
de alta de preços na economia ganham destaque. Não importa se a inflação esta sob controle, a classe rentista 
defende o aumento da Selic por outros motivos, mas esses operadores de mercado são os únicos ouvidos pela 
mídia quando ao assunto é inflação e juros. A manchete do jornal O Globo de 09 de junho expõe a contradição: 
“PIB recorde mostra risco de superaquecimento. Expansão foi de 9% no trimestre. Consumo das famílias cede 
apos 6 anos”. 
Ora! Se o PIB cresceu e o consumo das famílias diminuiu, somente há duas leituras possíveis: o investimento 
cresceu acima do consumo, o que afasta o risco de inflação, ou a base de comparação é fraca, o que nega o 
superaquecimento. 
Na verdade as duas coisas aconteceram. O crescimento de 9% PIB no primeiro trimestre somente se deu pois a 
base de comparação (1º trimestre de 2008) era muito fraca devido o pior momento da crise internacional no 
Brasil. A formação bruta de capital fixo foi de 7,4%, crescendo bem acima da demanda. Em outras palavras, a 
capacidade de produzir da economia cresceu acima do consumo, afastando as pressões inflacionárias. Ainda há 
outros argumentos: a inflação começou a desacelerar em maio, depois do momento ruim para agricultura com 
as chuvas do início do ano; a crise na Europa e nos EUA tende a diminuir as exportações, ampliando a oferta de 
produtos internamente; produtos a preço baixo no mercado externo forçam a inflação para baixo. 
De  nada  adianta  tais  argumentos.  Nas  planilhas  do  BC  contém  uma  “lógica”  que  explica  a  capacidade  de 
crescimento  brasileiro  em  torno  de  5%,  qualquer  coisa  acima  disso,  pressionaria  a  inflação.  Essa  “lógica” 
baseia‐se  na  tese  de  que  a  oferta  não  acompanha  o  ritmo  da  demanda  e  que  a  capacidade  instalada  da 
indústria brasileira estaria próximo do seu limite. 
Contra essa tese, o Nível da Capacidade Instalada (Nuci) medido pela FGV, atingiu 84,3% em março, abaixo dos 
85,1% de antes da crise. Segundo a Fiesp, no entanto, o mais correto seria a utilização de um outro medidor, o 
Nível de Utilização da Produção Plena (Nupp). A diferença fundamental entre os dois dados, é que o Nupp leva 
em  conta  a  possibilidade  de  contratar  mais  funcionários,  reativar  máquinas  e  adotar  turnos  extras  para 
aumenta o ritmo de trabalho. Considerando apenas as empresas paulistas, o Nuci fecharia abril em 79,23% e o 
Nupp em apenas 69,20%. Traduzindo a linguagem econômica: não há nenhum indício de que esteja faltando 
produtos no mercado, ou que isso venha a ocorrer em período próximo, logo não há limites numéricos para o 
crescimento. 
Há ainda quem questione a capacidade da Selic em conter a inflação, que estaria sendo motivada pela elevação 
da capacidade de gasto e endividamento da “classe C”. Num país com os maiores spreads bancários do mundo, 
se  o  mercado  entender  que  há  espaço  para  o  crescimento  do  crédito  de  forma  segura,  os  juros  para  os 
contribuintes podem diminuir ainda que a Selic aumente. 
O pior é que o efeito do aumento da selic sobre a dívida pública é sempre catastrófico. Segundo o consultor 
Amir Khair, mestre em finanças públicas pela FGV e ex‐secretário de finanças da prefeitura de São Paulo, 37,7% 
dos  títulos  emitidos  pelo  governo  estão  atrelados  diretamente  a  Selic.  O  especialista  calcula  uma  despesa 
adicional de 13 bilhões de reais aos cofres públicos, com a Selic a 11,25%. Como os títulos lastrados pela Selic 

35
Para uma discussão sobre a função do Comitê de Política Monetária (Copom) dentro do Sistema DE metas de
Inflação atual, veja “Política Monetária”. Unidade 4, Capítulo1, pag. 145.

20
Atualidades
Alexandre Pinto

afetam os demais papeis, a transferência do governo para a classe rentista poderá chegar a 35 bilhões de reais 
até o final do ano. 
Outro problema do juro alto é que ele torna o Brasil mais atrativo para o capital especulativo, o que tende a 
atrair mais dólares, valorizando o real e prejudicando ainda mais as exportação nacionais, que passam por um 
momento difícil devido ao estrangulamento da demanda internacional pela crise. 
Depois do banho de água fria da alta dos juros, restou a ala desenvolvimentista do governo dar novo alento ao 
setor produtivo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou no dia 5 de maio um conjunto de medidas 
para estimular as exportações e se contrapor à valorização do real, potencializada pelo novo ciclo de aumento 
da Selic. 
Especialistas em política industrial e empresários ligados ao comércio exterior foram unânimes em aplaudir a 
criação  da  Agência  de  Crédito  a  Exportação  –  Exim  Brasil  ‐,  sucessora  da  Finame,  com  maior  agilidade  e  um 
leque de atuação mais amplo. Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, “a análise de financiamento 
que demorava três ou quatro meses sairá em 30 dias, sem aumento de custos”. 
Além  da  criação  da  agência,  o  governo  anunciou  um  corte  de  gasto  de  10  bilhões  de  reais.  A  tentativa  da 
Fazenda é retirar do BC os argumentos da necessidade de controlar os preços com aumento dos juros. Ainda 
serão anunciados até o final do ano medidas para tentar frear o valor do dólar, mas todo esse esforço dará em 
nada se a Selica continuar sua trajetória de alta. 
 
2 – Belo Monte: Solução ou Problema?36 
Projetada ainda no período autoritário e engavetada diversas vezes, a usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser 
construída no meio da Amazônia, parece que enfim sairá do papel. Será? A licitação da obra foi vencida por um 
consórcio  pouco  coeso  e  no  intervalo  entre  duas  ações  que  proibiam  a  licitação  pública  da  obra,  o  que 
demonstra a dificuldade enfrentada até agora e a que virá. 
Para os defensores da construção da usina, incluindo aí o governo brasileiro, Belo Monte (que será a terceira 
maior usina do mundo, atrás apenas da chinesa Três Gargantas e Itaipu) seria a solução para o país continuar 
crescendo,  gerando  emprego  e  reduzindo  a  miséria,  com  energia  razoavelmente  limpa,  sobretudo  porque  o 
período  de  maior  vazão  de  Belo  Monte  coincide  com  o  período  dos  reservatórios  mais  vazios  no  sul  e  no 
sudeste. 
Do lado dos setores contrários, ONGs e ativistas de diversos países, o protesto do Greenpeace, despejando três 
toneladas de esterco em frente a sede da Agência Nacional de Energia Elétrica em Brasília com uma faixa sobre 
os dejetos que dizia: "um belo monte de... problemas”, explicita a questão. 
Uma  grande  batalha  Judicial  foi  montada  contra  a  realização  da  obra.  Somente  o  juiz  federal  de  Altamira 
acolheu  três  denúncias  contra  o  leilão.  Todos  encaminhados  pelo  Ministério  Público,  que  trazia  erros  e 
inconsistências no projeto e no edital de licitação, mas o TRF‐DF aceitou os argumentos da Advocacia Geral da 
União,  que  antes  de  se  preocupar  em  rebater  cada  falha  apontada,  alegou  que  a  não  realização  do  leilão 
representaria prejuízo ao País. 
O Plano Nacional de Energia 2030, aponta para necessidade de ampliação de oferta de energia. Em um cenário 
de crescimento médio de 4,1%, que hoje já pode ser considerado conservador, ante uma taxa mundial de 3%, 
nossas necessidades de energia vão aumentar em 4,3% ao ano, e em 2030, será preciso contar praticamente 
com o dobro da capacidade de geração atual. Em outras palavras, é preciso adicionar cinco mil megawatts por 
ano a oferta de energia, e ainda assim, o consumo per capta previsto seria de 2,3 kWh, sete vezes menor do 
que  o  dos  norte‐americanos,  como  a  renda  tem  melhorado  é  possível  prever  também  um  aumento  do 
consumo per capta, o que demandaria mais energia. 
Não  há  possibilidade  de  suprir  essa  nova  demanda  por  outras  fontes  renováveis  não  poluidoras.  Tanto  as 
fontes  eólicas  quanto  a  biomassa  são  importantes  para  complementar  o  sistema,  mas  não  como  energia  de 
base37, alega o Ministério de Minas e Energia. 
Essa avaliação diverge dos argumentos apresentados pelo Greenpeace que, em princípio, é contrário quaisquer 
projetos  hidrelétricos  no  bioma  amazônico.  “Há  pesquisas  avançadas  na  Europa  e  nos  EUA  que  mostram  a 
viabilidade  de  manejar  super‐redes  de  usinas  eólicas  e  obter  energia  firme  nessa  modalidade”,  afirma  o 
coordenador da campanha de energia da ONG, Ricardo Baitelo. 

36
Inspirado na reportagem de: SIQUEIRA, André. Um mal necessário. O impasse socioambiental permanece,
mas o Brasil precisa da força das turbinas de Belo Monte. In Carta Capital nº 593, 28 de abril de 2010.
37
Para uma discussão das vantagens e desvantagens das fontes alternativas veja “O desafio energético”. Unidade
2, Capítulo 3, pag. 63.

21
Atualidades
Alexandre Pinto

Para a WWF a preocupação é a população diretamente afetada. Os 16 mil cidadãos projetados podem estar 
subestimados, pois o assoreamento do reservatório poderá elevar as águas mais três metros acima do previsto 
inicialmente. 
Dal  Marcondes,  da  Envoverde,  alega  que  o  mesmo  dinheiro  investido  na  construção  da  usina  poderia  ser 
utilizado  na  redução  de  perdas  de  energia  linhas  de  transmissão,  como  o  mesmo  resultado.  As  perdas  na 
Europa são de 5%, no Japão 1% e no Brasil chegam a 15%. 
Todas as ONGs citam ainda as falhas do passado como argumento contrário a construção. Por exemplo, a usina 
hidrelétrica de Samuel, em Rondônia, construída na década de 1980, inundou uma área de 540 km2 no leito do 
rio Jamari, portanto maior que a de Belo Monte, e produz apenas 240 MW de energia. Segundo dados do Inpe, 
em 1990, a usina emitiu 11,6 mais gazes causadores do efeito estufa do que uma térmica a petróleo38, e dez 
anos  depois  ainda  emitia  2,6  vezes  mais.  Outras  acusações  de  pragas  e  insetos  que  passaram  a  ocupar  os 
vilarejos próximos às usinas, ou de casas ao lado das usinas e que não tinham acesso a energia elétrica, são 
provas de que o projeto macro desprezava as necessidades e especificidades de cada região. 
Hoje  no  Brasil,  as  usinas  para  serem  construídas  levam  em  conta  vários  aspectos  que  englobam  a  proteção 
ambiental a segurança e o destino das populações no entorno. O projeto atual, inúmeras vezes alterado desde 
sua concepção, reduziu a área alagada para 516 km2, cerca de um terço do previsto inicialmente. A indústria 
vai  operar  no  modelo  de  fio  d’água,  ou  seja,  vai  contar  apenas  com  a  vazão  do  rio  para  gerar  energia, 
praticamente  sem  armazenar  água.  Se  isso  reduz  os  danos  ambientais,  também  diminui  a  capacidade  de 
geração  de  energia.  Ironicamente  Para  o  coordenador  da  WWF,  Pedro  Bara  Neto,  na  tentativa  de  reduzir 
impactos ambientais a usina se tornou inviável, referindo‐se ao fato de que será gerado em média na usina 4,5 
mil MW, menos da metade de capacidade nominal 11,2 mil MW. 
O que os ambientalistas não estão levando em conta é o histórico brasileiro. Somos donos da matriz energética 
mais  limpa  e  invejada  do  planeta,  desenvolvida  a  pouco  menos  de  meio  século  para  garantir  o 
desenvolvimento  econômico,  principalmente  para  suprir  o  parque  industrial  a  preços  competitivos  em  nível 
internacional. 
É quase uma tragédia o que ocorreu no setor elétrico brasileiro, desde quando os governos abandonaram os 
grandes projetos estrategicamente planejados e permitiram que as coisas fossem se deteriorando até chegar 
ao  apagão  elétrico  de  2001.  A  matriz  original  foi  sendo  lentamente  destruída.  Deixados  de  lado  os  grandes 
projetos hidrelétricos, que garantiam a oferta de energia pouco poluidora e barata, o país precisou recorrer em 
pleno  apagão  e  nos  anos  seguintes  à  geração  de  energia  térmica,  de  origem  basicamente  nos  derivados  de 
petróleo. Elevando os custos de produção e sujando ainda mais o meio ambiente. Em outras palavras, a partir 
daí  sujamos  a  matriz  e  aumentamos  os  custos  de  forma  desproporcional,  com  imposto  de  toda  sorte  e 
contribuições  que  passaram  a  incidir  sobre  as  tarifas  de  fornecimento  de  energia,  tornando  a  energia 
consumida no Brasil uma das mais caras do mundo. 
Felizmente estamos recuperando os projetos que irão expandir a oferta da energia hídrica. Até 2005, quando 
novamente foram retomados os grandes projetos hidráulicos, as hidrelétricas recuaram 7% no total da matriz 
elétrica brasileira. Se levarmos em conta todos os projetos existentes hoje para hidrelétrica na Amazônia, vão 
inundar 0,03% do espaço da floresta, ou seja, menos que o desmatado num único ano como o de 1991, ano 
que menos se queimou floresta em toda série histórica acompanhada pelo Inpe. 
Não é somente em termos ambientais que as hidrelétricas são vantajosas. Como vimos, as térmicas além de 
mais poluidoras são mais caras. O atraso na construção de hidrelétricas previstas até 2017, o custo do uso das 
térmicas será de 2 bilhões de reais, aumentando a conta de luz paga pelo consumidor. 
Fora da discussão ambiental também há problemas em Belo Monte. Pouco depois de anunciada a vitória do 
consórcio vencedor, a estatal Chesf, líder do grupo vencedor, com 49,98% de participação, anunciou que um 
dos  maiores  parceiros,  a  empreiteira  Queiroz  Galvão,  dona  de  uma  cota  de  10,2%,  ameaçara  abandonar  o 
projeto. O temor é que a remuneração não seria suficiente para cobrir os custos da usina. 
Ganhou o leilão quem se comprometeu a vender por um preço baixo a energia a ser gerada. O lance vencedor 
foi  6%  inferior  ao  estabelecido  pelo  governo  de  83  reais  por  MWh.  Além  da  Chesf  e  da  Queiroz  Galvão, 
integram  o  consórcio  a  Gaia  Energia  (10,02%)  ligada  ao  grupo  Betin  e  as  construtoras  J.  Malucelli  (9,98%), 
Galvão Engenharia (3,75%), Mendes Júnior (3,75%), Contern (3,75%) e Cetenco (5%). Mas tudo indica que essa 
estrutura, montada para vencer o leilão, será outra na assinatura do contrato. 

38
Para entendimento da emissão de gases de efeito estufa por uma hidrelétrica veja “Fontes Alternativas”.
Unidade 2, Capítulo 3, pag 65.

22
Atualidades
Alexandre Pinto

Somente  a  Queiroz  Galvão  considerou  o  lance  de  78  reais  agressivo  demais.  Não  deve  ser  problema  para  a 
Chesf  encontrar  outra  empresa  para  substituí‐la.  Com  a  economia  em  crescimento,  empresas  grande 
consumidoras  têm  interesse  em  garantir  participação  nas  hidrelétricas.  Para  se  ter  uma  idéia,  a  energia 
utilizada pela Vale  em  um  ano  equivale  a toda demanda  residencial de  estados como  o  Rio  Grande  do Sul  e 
Paraná juntos! 
Resumindo a questão: mesmo com todos os problemas, Belo Monte é a nossa melhor opção. 
 
Matriz de Energia 
Percentual 
Elétrica 
Hidráulica 68,10
Gás Natural 10,47
Biomassa 5,52
Petróleo 5,17
Nuclear 1,73
Carvão 1,32
Eólica 0,74
Importada 7,04
Fonte Aneel. Abril de 2010 
 
3 – Suape e a Indústria Naval39 
O  bom  momento  na  economia  experimentado  pelo  Brasil  fica  bem  demonstrado  pelo  ressurgimento  da 
Indústria Naval. Desde os anos 1990 quando os negócios minguaram, esse é o melhor momento, seja no Rio de 
Janeiro, onde sempre a indústria naval foi mais forte, ou em novos pontos, como em Pernambuco, no Porto de 
Suape. 
Além do momento da economia, a industria naval ressurgiu por causa de dois eventos. O primeiro foi a criação 
do  Programa  de  Modernização  e  Expansão  da  Frota  (Promef)  da  Transpetro,  nas  duas  primeiras  fases  do 
Promef foram contratados 49 navios, 22 deles construídos no Estaleiro Atlântico Sul (EAS). O segundo se deu 
pelo conjunto de oportunidades criadas pela descoberta de grande quantidade de petróleo na camada pré‐sal. 
Os estaleiros estão mais modernos, possuem parcerias tecnológicas com grande mercado global, se deslocam 
em  direção  ao  Nordeste,  nesse  caso,  encontrando  “boa  receptividade”  no  porto  de  Suape,  na  região 
metropolitana de Recife. Somente em Suape, a nova indústria planeja investimento superiores a 2,2 bilhões de 
reais e pretende criar 11 mil empregos diretos. 
Além dos estaleiros que chegam e os que ameaçam vir, Suape virou canteiro de obras da futura Refinaria Abreu 
e  Lima,  sociedade  entre  a  Petrobras  e  a  venezuelana  PDVSA.  Estaleiros,  refinaria,  pólo  petroquímico    outras 
empresas representam investimentos privados superiores a 25 bilhões de reais. 
Mesmo assim a infraestrutura não é o maior diferencial de Suape, sua posição geográfica é o grande trunfo. O 
porto está entre os mais próximos da África, onde a exploração de petróleo na costa ocidental está crescendo, 
fica perto da Venezuela, do Golfo do México e integra importantes rotas do Atlântico Sul.  
A  posição  geográfica  é  boa  também  do  ponto  de  vista  do  mapa  do  Brasil.  Antes  de  conquistar  sua  condição 
como pólo industrial, o argumento para atração de investimento no porto enaltecia sua localização estratégica 
no Nordeste. O Recife está a aproximadamente 800 km de Salvador, Fortaleza e Petrolina. A localização atraiu 
diferentes indústrias alimentícias, de bebidas, de materiais de construção civil e distribuidoras de automóveis. 
Transformações como essa explicam muito melhor a melhora de situação do nordeste do que o Bolsa Família, 
apesar de todo preconceito contra os nordestinos depois das eleições de outubro. 
 
4 – Agronegócio: perspectivas e desafios 
Nos próximos anos, o país caminhará para se consolidar não só como grande produtor de grãos, mas também 
de carne açúcar, mineiro de ferro, petróleo e uma série de outros bens de grande consumo cujos preços são 
cotado internacionalmente, as chamadas commodities. E o melhor é que, diferentemente do que pregavam as 

39
Inspirado na reportagem de: CALHEIROS, Celso. A Boa Maré em Suape. O porto pernambucano consolida-
se e atrai novas empresas. In Carta Capital nº 591, 14 de abril de 2010.

23
Atualidades
Alexandre Pinto

teses cepalinas40 nos anos 1960, uma grande participação no setor primário da economia não representa mais, 
necessariamente, uma ameaça a industrialização e à diversificação das atividades. 
A  exploração  dos  recursos  naturais  não  garante  o  desenvolvimento  por  si  só,  mas  sem  os  recursos  o 
desenvolvimento  é  mais  difícil.  Nos  últimos  cinco  anos  a  participação  das  commodities  nas  exportações 
brasileiras  se  ampliou  a  um  ritmo  médio  superior  a  6%  ao  ano,  de  acordo  com  os  dados  da  Secretaria  de 
Comércio  Exterior  (Secex). Em  2009, quando  a  crise  internacional  fez  encolher  as  exportações  brasileiras  em 
30%, a parcela dos produtos primários passou de 44,8% para 50,2%, e contribuiu para evitar déficit na balança 
comercial. 
O mais importante, entretanto, é que as atividades que antes eram básicas, hoje são sofisticadas. A superação 
das  dificuldades  para  a  introdução  das  culturas  de  soja  e  algodão  no  Centro‐Oeste  e  a  complexidade  da 
exploração do petróleo na camada pré‐sal são exemplos que essas atividades incorporaram uso intensivo de 
tecnologia.  Mesmo  a  descoberta  de  novas  jazidas  de  minerais  são  cada  vez  mais  raras,  e  dependem  da 
utilização de tecnologias utilizadas nas pesquisas espaciais. 
O  próprio  debate  do  início  do  século  XX  sobre  a  “vocação  agrícola  brasileira”,  retorna  sob  novas  bases.  O 
presidente da Vale, Roger Agnelli, diz que “a vocação do Brasil é ser o maior país agrícola, o maior minerador e 
o maior produtor de petróleo”, mas isso nada tem a ver com o mote do passado – em se plantando tudo dá – 
seremos os maiores porque “somos bons, nada veio de graça”, completa o executivo. 
O  Brasil  tem  se  beneficiado  da  boa  fase  dos  bens  primários  no  comércio  internacional.  Desde  o  início  da 
década,  cresce  a  participação  dos  alimentos,  minérios  e  petróleo  no  comércio  internacional,  e  os  preços 
acompanharam  a  trajetória  de  alta.  A  boa  notícia  é  que  os  países  asiáticos,  apontados  como  principais 
causadores desse movimento, não dão sinais de exaustão. Entre 1998 e 2008, a Ásia aumentou de 23% para 
30% sua participação nas compras mundiais de produtos básicos e manteve estável sua fatia desde então. Por 
isso,  banqueiros  chineses  têm  demonstrado  imenso  interesse  em  fornecer  financiamento,  infraestrutura  e 
máquinas para o Brasil. 
Outra  vantagem  em  relação  ao  passado  é  que  os  produtos  primários  tem  se  valorizado  mais  do  que  os 
manufaturados devido a concorrência desses últimos. “Antes era necessário vender 15 toneladas de minério de 
ferro  para  comprar  um  computador,  hoje  são  necessárias  três”,  diz  Agnelli.  Segundo  informe  da  Intel,  a 
produção mundial de microprocessadores vai duplicar nos próximos cinco anos e os preços cairão pela metade. 
Isso não quer dizer que vender produtos primários seja hoje o melhor negócio do mundo. Simplesmente que é 
uma oportunidade para os países alavancarem o crescimento. Os países do Oriente Médio têm cobrado altos 
impostos para extração de petróleo como forma de consolidar ganhos internos. Outra forma de agir, é o que se 
tem  feito  no  Brasil,  na  tentativa  de  alargar  as  cadeias  produtivas  estimulando  parcerias  com  fornecedores 
locais e a criação de infraestrutura de energia, tecnologia, transporte e serviço.  
A grande questão então é como expandir a produção e, ao mesmo tempo, constituir laços para contribuir com 
a economia local. Daí a posição acertada do governo Lula, embora criticada pela mídia neoliberal, de demandar 
navios e plataforma da Petrobras preferencialmente de estaleiros radicados no Brasil. Assim, a Petrobras, com 
alto  índice  de  nacionalização  de  fornecedores  e  investimentos,  tornou‐se  um  exemplo  internacionalmente 
reconhecido. 
Com as reservas do pré‐sal situando‐se entre 14 bilhões e 30 bilhões de barris, a estatal brasileira poderá se 
tornar  a  maior  empresa  do  mundo  nos  próximos  anos.  Diante  disso,  e  com  a  preferência  da  Petrobras  em 
comprar produtos produzidos no país, o setor naval brasileiro saiu da estagnação, como vimos acima. A Vale 
por sua vez, teve papel crucial na reativação da indústria ferroviária, com a compra de 259 locomotivas e 12,5 
mil vagões desde 2003. 
Na agricultura, as vantagens também são evidentes. De acordo com as estatísticas de comércio internacional 
da  ONU,  o  Brasil  é  o  maior  produtor  mundial  de  carne  (bovina,  suína  e  frango),  açúcar,  café  e  tabaco.  Esse 
sucesso se deve a vantagens naturais, como água abundante, sol o ano inteiro e terras férteis e baratas, mas 
também  a  um  pacote tecnológico, com  destaque  para  atuação da Embrapa  e  de  outras  instituições  estatais. 
Como  exemplo  podemos  citar  a  técnica  de  plantio  direto,  que  permite  o  uso  quase  contínuo  do  solo  e  a 
obtenção de três safras durante o ano, ao cobrir a plantação com a palha da colheita anterior. 

40
O termo se refere às teses da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) criada em 1948
pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas com o objetivo de incentivar a cooperação econômica
entre os seus membros. Uma das teses mais defendidas pela Cepal era da Divisão Internacional do Trabalho.
Essa divisão provocava desigualdades, pois os países em desenvolvimento, adquiriam tecnologias a preços altos,
enquanto que os produtos exportados por eles não atingiam preços satisfatórios, favorecendo os países ricos.

24
Atualidades
Alexandre Pinto

Não  são  poucas  as  áreas  de  pesquisa  promissoras  no  Brasil.  O  Brasil  que  já  é  líder  na  produção  de 
biocombustíveis41  vive  a  expectativa,  segundo  Raul  Calfat,  diretor‐geral  da  Votorantim,  de  que  uma  nova 
geração de biocombustíveis seja produzida a partir de cavacos de madeira. Se o prognóstico se confirmar será 
uma  oportunidade  única  de  agregar  valor  ao  resíduo  da  produção  de  celulose,  além  de  reduzir  impacto 
ambiental. 
A biotecnologia está na fronteira da tecnologia mundial, e não é diferente no Brasil: “há variedades de cana‐de‐
açúcar  que  ainda  nem  estão  no  campo,  mas  serão  capazes  de  ampliar  a  produtividade  em  40%”,  discursa 
Mendonça de Barros, sócio‐diretor do MB associados. A necessidade de aumento da produtividade se impõe 
na  produção  de  alimentos,  onde  mesmo  com  o  aumento  da  demanda  mundial,  os  preços  caíram  5%  nos 
últimos 30 anos. Somente a tecnologia e a pesquisa permitem que o setor se manter lucrativo. 
A  aproximação  entre  produção  industrial  e  a  de  commodities  suprimiu  a  fronteira  entre  as  duas  atividades, 
assim  como  a  produção  asiática  extingui  a  divisão  internacional  do  trabalho.  A  periferia  agora  produz 
tecnologia e o setor primário ficou secundário. Assim, “o Brasil não pode prescindir da indústria que já criou e 
nem abandonar uma vantagem natural que já se tornou dinâmica”, afirma Luiz Gonzaga Belluzo, professor de 
economia da Unicamp. 
A maior evidência de que os produtos primários não são entraves, mas sim alavancas para o desenvolvimento é 
o  desempenho  de  países  como  EUA,  Canadá,  Austrália  e  Noruega.  Tratam‐se  de  casos  de  sucesso  de  quem 
soube estruturar o setor industrial em torno de uma base de recursos naturais. 
Diante  do  sucesso  do  agronegócio  no  Brasil,  cada  vez  mais  investidores  de  outros  países  desembarcam  no 
Brasil com o objetivo de investir nesse ramo de atividade. Aparentemente, mais uma prova do bom momento 
do agronegócio, mas o movimento tem sido tão forte que levou o Congresso Nacional a discutir uma forma de 
limitar a compra de terras por estrangeiros. 
Em nenhuma outra cadeia esse movimento é tão claro como no setor de cana‐de‐açúcar. Nos últimos meses, o 
mercado testemunhou uma verdadeira avalanche de fusões e aquisições bancada pelo capital estrangeiro. No 
fim do ano passado, a multinacional americana Bunge arrematou cinco usinas do Grupo Moema por 1,5 bilhão 
de dólares, triplicando sua capacidade de moagem e assumindo o posto de terceiro maior produtor de açúcar e 
álcool  do  país.  Em  setembro,  a  francesa  Louis  Dreyfus  Commodities  comprou  o  controle  da  Santelisa  Vale, 
criando  a  segunda  maior  companhia  do  setor  em  todo  mundo.  Este  ano  a  holandesa  Shell  uniu‐se  a  Cosan, 
maior empresa de álcool e açúcar do mundo, e formou uma gigante com faturamento de 40 bilhões de reais. 
Segundo dados da Datagro, a participação de estrangeiros na moagem de cana no Brasil era de apenas 4% em 
2003, passou para 12,4% em 2008, 23,2% em 2009 e já está em 25,6%. Até 2020, metade da produção deve 
estar na mão de capitais estrangeiros. O que também levaria a concentração do capital. Hoje há 179 grupos 
controlando 457 usinas, a estimativa é de que em 15 anos sejam apenas 50 ou 60 grupos, estima Plínio Nastari, 
presidente da Datagro. 
O interesse estrangeiro pelos biocombustíveis está associado a necessidade de substituição da matriz fóssil42, 
seja pela escassez, seja pelos problemas ambientais. Na fase atual, em torno de 60% da produção de cana‐de‐
açúcar será destinada a produção de combustível e não de açúcar. Ou seja, essa atividade cada vez mais é uma 
indústria de energia e não de alimentos. 
No entanto, o mesmo movimento de avanço do capital estrangeiro acontece no Centro‐Oeste e Nordeste do 
país, regiões que predomina a cultura de soja. Nos últimos cinco anos várias empresas estrangeiras, financiadas 
por  fundos  de  investimentos,  começaram  a  produzir  em  áreas  isoladas  como  o  Mapito  (enclave  entre 
Maranhão,  Piauí  e  Tocantins)  e  o  oeste  baiano.  Ao  menos  20  grupos  estrangeiros  exploram  essas  fronteiras 
agrícolas. 
Algumas  dessas  empresas  especializaram‐se  em  comprar  terras  de  baixo  custo,  como  áreas  de  pastagens 
degradadas ou que foram desmatadas por produtores que não tiveram capital suficiente para produzir nelas, 
com o objetivo de valorizá‐las e vendê‐las por preços muito mais altos. A Tiba Agro é uma dessas empresas. Até 
bem  pouco  desconhecida  no  Brasil,  capturou  mais  de  300  milhões  de  dólares  em  fundos  europeus  e  norte‐
americanos e afirma possuir estoque de aproximadamente 320 mil hectares, duas vezes a área do município de 
São Paulo, nos estados de Mato Grosso, Bahia e Piauí. 

41
Para entendimento da Saga dos biocombustíveis no Brasil veja: “História: 30 anos do Próalcool”. Unidade 5,
capítulo 4, pag 259.
42
Para entendimento da necessidade de substituição das fontes fósseis e suas dificuldades veja “O dilema do
petróleo”. Unidade 2, capítulo 3, pag. 65.

25
Atualidades
Alexandre Pinto

A  discussão  de  que  os  biocombustíveis  podem  restringir  as  áreas  de  alimentos,  ampliou  o  problema  da 
escassez de terras no mundo inteiro. Nesse contexto, o Brasil é o único país do mundo politicamente estável e 
com  economia  pujante  que  tem  condições  de  oferecer  terra  para  a  produção  tanto  de  alimento  como  de 
combustíveis. 
 
5 ‐ Tecnologia da Informação 
Sob protestos do setor privado e da mídia neoliberal, o governo decidiu reativar a Eletrobrás para execução do 
Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Entre os países tecnologicamente mais avançados, o Brasil tem um dos 
piores serviços de internet e dez vezes mais cara do que a média, segundo reportagem do jornal O Globo de 27 
de abril de 2010. 
Estudo do Ipea define o problema do serviço de banda  larga no Brasil como alarmante. Permanecendo dessa 
forma  o  Brasil  irá  se  distanciar  cada  vez  mais  do  restante  do  mundo  na  oferta  desse  serviço.  No  ranking  da 
União  Internacional  das  Telecomunicações,  órgão da ONU,  o Brasil  ficou  em  60º  lugar,  atrás de  países  como 
Argentina (49º), a Rússia (48º) e a Grécia (30º). 
O modelo brasileiro permite rentabilidade às operadoras sem a internet, então elas se agarram às regras para 
frear o avanço da internet, cujo uso permite, por exemplo, baixar os custos das ligações de longa distância. É 
como se tivéssemos trocado o monopólio estatal, por vários monopólios privados. 
O  PNBL  prevê  capitalização  da  estatal  em  3,22  bilhões  de  reais,  além  de  um  conjunto  de  investimentos  e 
desonerações fiscais que podem levar o custo total a 13 bilhões de reais. O objetivo é levar acesso à internet 
em alta velocidade a 40 milhões de lares nos próximos cinco anos. Hoje, a cobertura da banda larga no Brasil 
chega a 12 milhões de lares, dos 57 milhões existentes no país. Ou seja, planeja‐se a universalização do serviço. 
O plano parte da constatação de que o serviço oferecido no Brasil, além de caro e de má qualidade, é limitado 
à  parcela da população  que capaz  de garantir  maior  rentabilidade  às operadoras. Na  prática,  trata‐se  de  um 
esforço para ampliar a cobertura geográfica do serviço e estimular a competição privada na oferta do acesso.  
À Telebrás caberá, prioritariamente, dar uso comercial a rede de mil quilômetros de fibras ópticas pertencentes 
a empresas públicas do setor elétrico. As companhias precisam dos cabos para controlar seus equipamentos, 
mas usam uma ínfima parte da capacidade de dados. Uma tentativa de vender a banda excedente foi feita, na 
década passada, pela Eletronet. Mas a empresa quebrou e o governo recuperou, na justiça, o direito de utilizar 
a infraestrutura pública. 
A  estatal  terá  de  aumentar  as  ramificações  de  rede,  para  levá‐la  a  locais  onde  a  estrutura  utilizada  pelas 
grandes  operadoras  não  chega.  Mas  a  conexão  dos  postes  até  as  casas  e  empresas  seria  feita  por  empresas 
privadas  sem  distinção  entre  grandes  e  pequenas  operadoras.  É  possível  atualmente  alugar  redes  das 
concessionárias  telefônicas, mas,  em  geral,  os  preços  oferecidos  aos concorrentes  são  calculados de  modo a 
inibir a competição ou restringi‐los a pequenos nichos de mercado. 
O  acesso  à  internet  só  seria  oferecido  diretamente  pela  estatal  nas  localidades  onde  ninguém  mais  se 
interessar  em  vender  o  serviço.  A  Telebrás  também  se  incumbirá  de  conectar  os  órgãos  da  administração 
pública e espaços como universidades, hospitais e escola. É nesse ponto que surgem as maiores divergências, 
nem  sempre  explicitas,  com  as  grandes  operadoras,  que  perderão  uma  preciosa  fonte  de  recursos  do  setor 
público,  que  gasta  mais  de  200  milhões  de  reais  com  serviço  de  telecomunicações.  Essa  receita,  combinada 
com a venda da capacidade às operadoras, daria a Telebrás condições de operar no azul. 
Durante  o  anúncio  do  PNBL,  o  governo  garantiu  que  o  seu  objetivo  não  é  “limitar  ou  substituir”  a  iniciativa 
privada,  mas  independente  da  posição  das  operadoras,  o  governo  irá  universalizar  o  serviço:  “se  a  iniciativa 
quiser  fazer  a  última  milha,  ótimo.  Se  não  quiser,  nós  faremos”,  disparou  o  ministro  do  Planejamento  Paulo 
Bernardo. 
Até o fim de 2010, apenas cem cidades estarão cobertas pela rede, mas é nelas que serão feitos os estudos que 
definirão o modelo de expansão do programa. A capacidade de transmissão de dados, inicialmente na casa de 
512 Kbps, a um custo máximo mensal de 30 reais, ainda é muito baixa e cara na comparação com a maioria dos 
países desenvolvidos, onde a velocidade é cerca de 200 vezes maiores e a preços em geral mais baixos dos que 
oferecidos no Brasil. Mas é o começo de um processo que não pode mais ser adiado. 
 
6 – Copa de 2014: atraso e ganância 
Segundo a Fifa o alerta de perigo para a Copa no Brasil foi acionado. O Secretário‐Geral da entidade, Jerome 
Valcke, no início de maio criticou duramente o atraso das obras nos estádios das sedes no país: “Há diversos 
estádios  com  luz  vermelha  acesa.  É  incrível  como  o  Brasil  já  está  atrasado”.  O  prazo  para  início  das  obras 
espirou em 3 de maio e nenhum estádio está com obras avançadas até agora. O deputado federal pelo PSDB 

26
Atualidades
Alexandre Pinto

Silvio  Torres,  da  subcomissão  da  Câmara  para  fiscalizar  a  Copa  ironizou:  “O  presidente  da  República  e  o 
presidente do Comitê organizador Local, Ricardo Teixeira, disseram que iríamos fazer a melhor Copa de todas, 
no entanto estamos recebendo um puxão de orelha internacional. A África do Sul esteve sob intervenção da 
Fifa, nós estamos correndo o risco de sofrer o mesmo, o que seria um vexame internacional”. 
Diante  da  crise,  a  Confederação  Brasileira  de  Futebol  (CBF),  chegou  a  admitir  a  possibilidade  de  mudar  as 
cidades  sedes.  Depois  de  tanto  atraso  e  da  tensão  acima  exposta,  o  governo  baixou  Medida  Provisória 
autorizando a Infraero a gastar quase R$ 5 bi com reforma de terminais para Copa, ou seja, os Aeroportos terão 
obras sem licitação!  
O pior ainda estava por vir. Em nota oficial publicada no site de Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no 
dia 16 de junho, o Comitê Organizador Local (COL) comunicou que o projeto de reforma do Morumbi estava 
descartado. A justificativa do presidente das duas entidades, Ricardo Teixeira, é que o São Paulo Futebol Clube, 
proprietário  do  estádio,  não  apresentou  as  garantias  necessárias  para  a  capacidade  de  investimento  de  650 
milhões de reais, segundo o projeto de reforma. O time paulista chegou a apresentar um projeto substituto de 
R$ 250 milhões, que não chegou a ser analisado. 
O projeto de um novo estádio seria mais interessante. O que demonstra a falta de boa vontade com o projeto 
do Morumbi. A Folha de São Paulo divulgou nota sobre a visita do prefeito da cidade, Gilberto Kassab (DEM) a 
fazenda  de  Ricardo  Teixeira  onde  os  dois  teriam  discutido  o  projeto,  antes  ainda  do  descarte  do  Morumbi. 
Teixeira  negou  qualquer  encontro  com  o  prefeito,  mas  Kassab,  que  confirmou  o  encontro,  alegou  que 
defendeu a escolha do estádio do São Paulo para abertura da Copa. 
A  novela  em  torno  da  candidatura  do  Morumbi  começou  no  início  de  2009,  quando  o  primeiro  projeto  de 
reforma, orçado em 135 milhões, foi descartado. O clube voltou a apresentar três outras opções mais caras e 
contratou a empresa alemã GMP, responsável pela reforma de três estádios na Copa de 2006 na Alemanha e 
de três na Copa de 2010 na África do Sul. 
As acusações de que a ganância excluiu o Morumbi são graves. Com a exclusão do estádio, não haveria outra 
arena  em  São  Paulo  capaz  de  abrigar  jogos  de  abertura  da  Copa.  O  Pacaembu,  tombado  pelo  Patrimônio 
Histórico, não pode ter reformas bruscas em sua infraerstrutura e a Arena Palestra, do Palmeiras, em reforma, 
terá  apenas  45  mil  lugares,  poderia  ser  sede  da  Copa,  porém  não  palco  da  abertura,  já  que  a  Fifa  exige  ao 
menos 65 mil lugares. Pouco para maior cidade do país. 
Nesse  caso,  restariam  apenas  duas  opções:  a  transferência  da  abertura  também  para  o  Maracanã,  pois 
somente  Rio  e  São  Paulo  tem  infraestrutura  e  rede  hoteleira  capaz  de  absorver  os  eventos  de  abertura  e 
encerramento do mundial, ou a construção de um novo estádio. 
É aí que entra o projeto de estádio do Corinthians que ainda não tem previsão de dinheiro para construir seus 
65  mil  lugares,  nem  a  chancela  da  Fifa.  Mas  a  arena  em  Itaquera  conseguiu  a  indicação  do  COL  (Comitê 
Organizador Local) para ser a abertura da Copa‐2014 em 08 de novembro de 2010.  
Além do COL, o estádio tem o aval do governo e da Prefeitura de São Paulo, que oficializaram o local para o 
Mundial: "É a maior festa da humanidade, que é a abertura da Copa", declarou o prefeito paulistano, Gilberto 
Kassab.  Mas, como vimos, o comitê não indicou o Morumbi à abertura quando este passava por escrutínio da 
Fifa e tentava levantar dinheiro para reformas.  
O orçamento da arena corintiana girava em torno de R$ 400 milhões para 48 mil lugares. Com a ampliação para 
65 mil, necessária para a realização da abertura, não há valor fechado, mas estimativa de R$ 600 milhões. No 
plano inicial, a construtora Odebrecht bancaria a obra, mas o Corinthians teria de pagá‐la depois com direitos 
ou dinheiro. O montante seria levantado com o BNDES. Mas não se sabe de onde sairão outros R$ 200 milhões. 
"Dois terços dos recursos foram viabilizados", disse o governador Alberto Goldman.  
A comprovação de fonte de verba só será exigida após aprovação do projeto pela Fifa, como em outras sedes. 
Só que as outras cidades tiveram de entregar as garantias até o meio do ano e terão de acabar as obras no final 
de 2012. O estádio corintiano tem conclusão prevista para o final de 2013.  
A prova cabal de que havia, desde o início, má vontade com o Morumbi ou que o estádio fora descartado por 
interesse difusos vieram nas palavras do arquiteto Antonio Paulo Cordeiro, do escritório que trabalha no plano 
corintiano: "Nós e o COL sempre estivemos lado a lado na elaboração do projeto, alinhando o nosso projeto ao 
que eles pediam. Agora, eles vão fazer um pente fino. Acredito que as mudanças sugeridas não serão grandes".  
Se o projeto tem sido feito juntamente com o comitê, isso significa, no mínimo, concorrência desleal, já que a 
função do COL é ver os planos, fazer vistorias e exigir modificações. 

27

Potrebbero piacerti anche