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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH
CURSO DE LETRAS

ADRIANA SANTOS BRITO

AS PARCEIRAS: PEÇAS FEMININAS NO JOGO LUFTIANO

São Luís
2018
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ADRIANA SANTOS BRITO

AS PARCEIRAS: PEÇAS FEMININAS NO JOGO LUFTIANO

Monografia apresentada ao Curso de Letras da


Universidade Federal do Maranhão, para obtenção
do grau de Licenciatura Plena em Letras.

Orientadora: Prof.ª Dr. ª Maura Cristina de Melo


Silva

São Luís
2018
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ADRIANA SANTOS BRITO

AS PARCEIRAS: PEÇAS FEMININAS NO JOGO LUFTIANO

Monografia apresentada ao Curso de Letras da


Universidade Federal do Maranhão, para obtenção
do grau de Licenciatura Plena em Letras.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Orientador (a): Prof.ª Dr. ª Maura Cristina de Melo Silva

___________________________________________________
Prof.ª Ms.ª

___________________________________________________
Prof.ª Ms.
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Dedico aos meus pais, pessoas justas e


que durante todos esses anos não
deixaram de acreditar que esse sonho se
tornaria realidade. E ao meu filho, Davi por
ser meu maior incentivo. É por ele que
busco a cada dia ser uma pessoa do bem,
consciente e justa.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por me conduzir a cada caminho e


sempre me abençoar.
Agradeço aos meus pais, Carlos Alberto Rabelo Brito e Francivalma Santos
Brito, por acreditarem em minhas escolhas e me apoiarem até mesmo nas decisões
mais teimosas. Ao meu filho, Davi Brito Lima, por me proporcionar ver o milagre da
vida e por me dedicar tanto amor que me fortalece a cada dia, saiba que esse amor é
recíproco.
Aos meus irmãos, Carla Ingryd, Clayton, Cíntia Clayne e Carlos Hudson e
aos cunhados Kleyton, Stefani, Ana Paula e Adonias pelo incentivo de tantos anos
para que conseguisse concluir a graduação. Ao meu sobrinho querido, Daniel Isaac
que chegou em nossas vidas para nos trazer ainda mais alegria.
Aos familiares e amigos, em especial a minha avó paterna, Raimunda
(Mundica), por toda a colaboração nessa etapa e na vida de um modo geral.
Ao meu amigo e pai do meu filho, Nilton Carlos, por todo companheirismo
dedicados a mim nessa etapa, me motivando nos momentos mais difíceis, sempre
com muita paciência e cuidado.
Aos meus amigos de trajetória: Fernanda Marques, Rafael Coelho, jamais
irei esquecer do quanto sorrimos juntos e apoiamos um ao outro durante a graduação.
A duas amigas em especial, a Idinéa Bezerra pela sua amizade e por sempre me
incentivar a buscar conhecimentos e aperfeiçoamento na área em que decidir atuar.
Aos professores do Curso de Letras por cada aula, por cada desafio, por
cada conversa descontraída. Em especial, a professora e orientadora Maura Cristina
Melo, por sua disponibilidade.
Sou grata também, a todas as experiências profissionais vivenciadas por
mim na área da educação, por cada aluno que passou em minha vida, eles foram fator
determinante para que insistisse na conclusão do Curso, por entender que ensinar vai
muito além de uma profissão, é um dom divino e eu sou muito feliz por poder ajudar e
levar conhecimento a tantas pessoas. A toda ajuda atribuída a mim, obrigada!
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RESUMO

Abordagem arquetípica de As Parceiras, romance de Lya Luft. Fundamentando a


teoria sobre o arquétipo feminino. Para tanto, será necessário um breve histórico
sobre a literatura luftiana, enfatizando a importância da referida obra intimista em
estudo. Notando, também, a presença do arquétipo feminino da Mulher Selvagem e
suas ligações com as personagens da obra. Pontuando o quanto as extensões dessas
imagens arquetípicas influenciam o desenredamento da história.

Palavras-chave: Arquétipo feminino. As parceiras. Lya Luft.


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RESUMÉN

Abordaje arquetípica de Las parejas, romance de Lya Luft. Fundamentando la teoría


sobre el arquetipo feminino. Para tanto, será necesario un breve histórico sobre la
literatura luftiana, dando énfasis a la importancia de la referida obra intimista en
estudio. Notando, también, la presencia del arquétipo feminino de la mujer selvaje y
sus ligaciones con las personajes de la obra. Puntuando lo cuánto las extensiones de
esas imágenes arquetípicas influencian el desarrollar de la historia.

Palabras claves: Arquetipo feminino. Las parejas. Lya Luft


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09
PARTE I: ESSÊNCIA E ESTRUTURA DA PSIQUE ........................................... 11
Consciência e inconsciente ............................................................................. 13
A Persona e a sombra ....................................................................................... 16
Self (Si mesmo) ................................................................................................. 19
Processo de individuação ................................................................................ 20
PARTE II: O ARQUÉTIPO FEMININO NO JOGO LUFTIANO ........................... 22
O Arquétipo do feminino selvagem ................................................................. 25
Peças femininas no jogo d’As parceiras: do cotidiano a contemplação ..... 28
A mulher - lobo na parceria luftiana ................................................................ 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 46
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 47
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INTRODUÇÃO

A escritora brasileira Lya Luft tem como qualidade uma literatura de base
intimista e psicológica, em que suas histórias giram sempre em torno de dramas e
tragédias individuais ou familiares. Seus protagonistas mergulham dentro do seu
próprio reflexo, em busca de autoconhecimento, observando o que se apresenta em
seu redor como uma extensão do seu “eu” que lhe escapa. Essa imersão é quase
sempre em um ambiente hostil, não pelo local físico, mas pelas relações frágeis,
ambíguas e avessas, em que o sentimento predominante é de impotência ante a vida
de aparência de uma triste realidade.
Luft Luft consegue traduzir vários sentimentos de famílias devastadas,
conjectura nas linhas dos romances aquilo que se tenta esconder no seio familiar.
Fatos e pensamento que são ocultos, em que os personagens preferem não notar, ou
“varrem para debaixo do tapete” veem a tona nas entrelinhas ou submergem a cada
trecho da obra. Notamos em suas histórias aqueles fatos que estão no “embaixo”, no
escuro ou no obscuro; Os quais são segredos inconfessos, até a si mesmo, pois que
são obscuridades recônditas do íntimo. Em suas narrativas há a necessidade da fuga
diante do estado terrível da realidade para um mundo de sonho, quase uma “terra do
nunca”.
Observamos a decifração do sonho, do irreal e a instabilidade das
personagens na vivência desses sonhos que formam as principais peculiaridades que
compõe no enredo aquilo que há de mais sensível em termo de emoção. Esses
escapes alheios à realidade fazem com que personagens luftianas sofram pela
exclusão e marginalização do meio social, ou do próprio lar.
Tais narrativas são permeadas de sentimento, sensação, introspecção e
repressão dos personagens em suas narrações. Pela genialidade da escritora Luft e,
inclusive, pela originalidade de seu trabalho há vasto campo e profundidade luftiana
para ser estudado em torno da extensa obra. Eis, portanto, o motivo da escolha; Além
do apresso pessoal pelo supracitado romance. Nosso trabalho culmina em mais uma,
ou uma das poucas contribuições e apreciações no curso de Letras (UFMA), mais
precisamente, precursora pela abordagem arquetípica da sua obra As Parceiras.
Em As parceiras, a partir de uma temática de caracterização da melancolia
refletida no momento em que o indivíduo passa a se sentir essencialmente só,
abstraído da sociedade pela sensação de existir isoladamente. Analisa-se a
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personagem central da narrativa citada quando esta se torna incapaz de estabelecer


contato com os demais ou mesmo com a sociedade, na sua totalidade, da qual está
segregada pela incomunicabilidade.
Pretende-se, então, mostrar a importância da personagem desta narrativa
visa compreender não só a própria construção narrativa da autora, mas como essa
representação indica a composição do mundo globalizado que habita, no qual cobra-
se a extroversão, a ação e o raciocínio rápido para ser bem aceita. Imobilizada pela
própria sociedade que lhe cobra um posicionamento ativo, entenderemos esse olhar
desiludido da personagem como base de uma crítica reflexiva acerca desta realidade
totalizadora.
Para alcançar esse objetivo, faz-se necessário a divisão do trabalho em
três partes. A primeira parte discorrerá sobre uma introdução aos estudos e estruturas
da psicologia de Jung. Na segunda parte, nos prenderemos a um pequeno histórico
das obras de Lya Luft, em que observaremos e pontuaremos os principais traços e
peculiaridades presentes em sua obra completa, bem como a uma visão sobre
arquétipo feminino refletidos nas personagens da obra, e; na terceira parte, a
conclusão do trabalho.
Temos o intuito de observar o romance na sua alternância entre o presente
vivido pela protagonista com as lembranças do seu passado, compreender as
características marcadas pela tragédia na vida da personagem e ainda investigar as
construções femininas adotadas por Lya Luft, ressalvando procedimentos estéticos da
constituição das figuras femininas.
11

PARTE I: ESSÊNCIA E ESTRUTURA DA PSIQUE

Carl Gustav Jung dividiu a sua psicologia analítica numa parte teórica com
principais pontos; primeiro, a estrutura da psique; segundo as leis de
desenvolvimento e atuação da psique; e em outra parte, entendida como prática, a
qual se tem a teoria aplicada como um método de cura.
A Dra. Jolande Jacobi afirma que “se quisermos chegar a uma dele,
reconhecendo com ele a realidade plena de todo o psíquico” (2013, p. 15). Daí o nosso
ensejo de irmos até as fontes primarias dos conceitos junguianos do próprio Autor.
Para o mesmo teórico segundo Jacobi, “todo o psíquico não é menos real
do que todo corpóreo”, isto é, “é passível de experiência e observação plena e clara
em sua imediaticidade” (2013, p.15). Logo, como anteriormente citado, Jung
reconhece a realidade plena de todo o psíquico. Este, portanto, “trata-se de um mundo
por si, regido e estruturado por leis e equipado com recursos de expressão próprios”
(2013, p. 15).
Em se tratando disso, Jacobi faz o seguinte comentário: “tudo que sabemos
sobre o mundo, assim como tudo que sabemos sobre nosso próprio ser, chega a nós
apenas através da intermediação do psíquico” (2013, p. 15).
Para melhor explicar, Jacobi utiliza como empréstimo tal citação: “a psique
não faz qualquer exceção da regra geral, segundo a qual a essência do universo só
pode ser constatada na medida em que o permite nosso organismo psíquico” (JUNG,
OC 10/3, § 68).
Logo, podemos conceber que tal psicologia moderna e empírica tanto
participa das ciências da natureza quanto às ciências do espírito, assim como dissera
Jung:
Nossa psicologia considera tanto o ser humano natural quanto cultural, e em
consequência disso, em suas explicitações, deve focar sua mirada nos dois
pontos de vista, no biológico e no espiritual. [A considerar] o ser humano
como um todo (OC 17, § 160).

A psicologia junquiana “investiga as razões da diminuição da capacidade


adaptativa, causa da doença, seguindo os caminhos tortuosos do pensar e sentir
neuróticos, para sondar aquela via que reconduz do extravio de volta para a vida’
(JUNG O.C 17, $172), por isso tal psicologia é também como uma ciência prática.
Com o pressuposto supracitado, Jung apresenta em desenvolvimento sua
teoria, não como puro psicologismo (no sentido depreciativo), tampouco como
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psiquismo esotérico. Mas sim, “investigar esse ‘psíquico’ como o ‘órgão’ a nós
concedido para apreender o mundo e o ser, para observar seus fenômenos, descrevê-
los e arranjá-los numa ordem de sentido, é a meta e o objetivo de Jung”
(JACOBI,2013, p.17).
Logo, sendo assim, o nosso pensador e psicólogo mantêm sua fidelidade
ao ponto de vista psicológico, edificando um conhecimento fundamental e profundo
da realidade psíquica, erguido sobre uma base sólida da experiência. Tal edificação
tem duas colunas mestras, a saber:
1) o princípio da totalidade psíquica.
2) O outro é o princípio da energia psíquica.
Na consideração mais detalhada desses dois princípios, assim como do
emprego prática da teoria, devem ser usadas na medida do possível as
definições e explicitações dadas pelo próprio Jung [...]. Ao mesmo tempo, é
preciso mencionar aqui que, quando se trata de procedimento prático da
análise psicológica, Jung emprega a expressão “psicologia analítica” para
identificar sua teoria. [...]. Mas tarde cunhou o conceito da “psicologia dos
complexos”, que empregava sempre que apareciam no plano de frente
pontos de vistas relativos a princípios e à teoria; com esse conceito queria
destacar que, em contraposição com outras teorias psicológicas [...], sua
teoria ocupava-se com fatos psíquicos complexos, ou extremamente
complicados (JACOBI 2013 ,p.p 17/18)

Mencionamos também que o procedimento prático da análise recebe a


expressão “psicologia analítica” para identificar a sua mais conhecida teoria,
diferenciando-se do termo Freudiano “psicanálise”. Bem como atualmente tanto no
aspecto prático quanto no teórico são empregados geralmente a expressão
“psicologia analítica” para se referir e designar a totalidade da teoria de Carl Gustav
Jung.
Mas, qual é essência da psique, e como a concebemos em sua estrutura
junguiana?
Começamos por evitar a confusão oriunda do emprego da linguagem
coloquial que utiliza os termos “alma”, “espirito”, “intelecto” ora num sentido estrito, ora
num sentido mais abrangente, impedindo a compreensão do pensamento psicológico,
esforçamo-nos juntamente com os junguianos por delimitar cada um dos termos num
âmbito de significado mais determinado e definido.
Sob conceito alma, que na terminologia junguiana recebe um significado
específico, deve se compreender aqui determinado complexo funcional
delimitado, cuja a melhor forma de caracterização seria como uma espécie
de personalidade interior, como o sujeito, frente ao qual a consciência de eu
do indivíduo tem uma relação igual ao objeto exterior. Na definição de Jung,
significa “o sujeito apreendido como objeto interior, mas é, porém, o
inconsciente [..]. A “personalidade interior” é o modo como alguém se
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comporta para com os processos psíquicos interiores; é a atitude [..] é a


atitude interior, o caráter com o qual se volta ao inconsciente. Eu identifico
essa atitude interior[..] como alma. A mesma autonomia que se atribui tão
usualmente à atitude exterior é reivindicada também para atitude interior, a
alma[..] ela costuma conter, de acordo com a experiência, todas aquelas
propriedades humanas gerais que faltam à atitude consciente (OC 6,
$803,805,806). Aqui deve-se compreender por “intelecto” a força racional de
pensar e compreender que está a disposição da consciência [...]; Mas por
“espírito” deve-se compreender uma capacidade igualmente pertencente ao
âmbito da consciência, mas, [atrelada] ao inconsciente, que leva [..] ao
desempenho estético- criativo e religioso – moral. [..]. com esses três
conceitos foram compreendidos sempre “sistemas parciais” da totalidade
psíquica; mas, ao contrário, onde estão em questão todos os aspectos desse
todo[...] que abarca ao mesmo tempo o lado consciente e também o lado
inconsciente, ali empregou-se sempre a expressão “ psique” ou “psíquico”.
(JACOBI, p.p.19/20)

Jacobi se matem fiel ao ponto de vista psicológico junguiano deixando a


psique estruturada em sua natureza abrangente de consciente e inconsciente,
observado no tópico seguinte.

Consciência e inconsciente

Como havíamos nos referido acima em se tratando da essência e estrutura


da psique, Jacobi dar a seguinte explicação:
Por psique Jung não compreende apenas aquilo que em geral identificamos
com a palavra “alma”, mas a totalidade de todos os processos psíquicos, tanto
consciente quanto os inconscientes. Portanto, algo mais abrangente, mais
amplo que a alma, que para ele representa apenas um determinado
“complexo funcional limitado”. A psique consiste de duas esferas que se
complementam, mais duas esferas que contrapõem em suas propriedades: a
consciência e o assim chamado inconsciente”. Nosso “eu” tem participação
nos dois âmbitos. (2013, pp. 19,20).

Esse eu entre as duas esferas complementares ou compensatórias, para a


melhor compreensão, posso ser disposto na seguinte representação (diagrama I):
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Diagrama I

A linha divisória que separa as duas esferas uma da outra em nosso eu pode
deslocar-se para as duas direções, como vem indicado na ilustração por meio
das setas e das linhas pontilhadas. Pensar que o eu se encontre
precisamente no centro é naturalmente apenas uma representação como
recurso e uma abstração. Da possibilidade de deslocamento se depreende
que, quanto menor a parte superior, tanto mais estreita a consciência e vice-
versa.
Se considerarmos a relação dessas duas esferas entre si, vemos que nossa
consciência perfaz apenas uma mínima parte do todo da psique [...]. Está
como que nadando como uma pequena ilha sobre o ilimitado mar do
inconsciente, mar imensurável e que abarca o mundo inteiro (JUNG, OC 11/1,
§ 141).

Em relação ao eu no âmbito das esferas do diagrama II, apresentado na


obra A psicologia C.G.Jung (2013) Jacobi faz o seguinte comentário:
O diagrama II, ilustra um pequeno ponto escuro no centro de nosso eu.
Rodeado e sustentado pela consciência, representa aquele lado da psique,
[...] pensado sobretudo como a adequação à realidade exterior. “Por eu,
compreendo um complexo de representações que perfaz em mim o centro do
campo da minha consciência e que parece ser de alta continuidade e
identidade consigo mesmo” afirma Jung [..]. Todavia, ele define a consciência
como “a função ou atividade que mantem a relação dos conteúdos psíquicos
com o eu “O eu, é denominado por Jung como “sujeito da consciência”. Toda
a nossa experiência do mundo externo ou interno tem de passar
necessariamente por nosso eu para poder ser percebida. Isso porque, “as
relações com o eu, enquanto não são sentidas como tais por este, são
inconscientes”. O próximo círculo mostra como a esfera da consciência está
envolta por conteúdos que se encontram no âmbito do inconsciente. Aqui
estão os conteúdos que são recalcados [...], mas que podem subir à
consciência a qualquer momento; lá estão aqueles que reprimimos porque
nos são desagradáveis por diversos motivos [...]. Jung chama a esse âmbito
de “inconsciente pessoal”, para distingui-lo daquele “inconsciente coletivo”,
vem ilustrando no diagrama III.(JACOBI,2013 pp 22 – 25) Isso porque essa
parte coletiva do inconsciente não abarca apenas conteúdo específicos do
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nosso eu individual [...], mas “das possibilidades herdadas do funcionamento


psíquico como tal, a saber, da estrutura do cérebro herdada”. Esse patrimônio
herdado provém do humano em geral, ou até quem sabe, do animalesco em
geral, formando a base fundamental de todo a psique individual. (JOLANE,
2013, p. p. 21/25).

Ao assumir com sucesso essa árdua tarefa de expor resumidamente tais traços
fundamentais das teorias junguianas, Jacobi ainda explica que “essa parte coletiva do
inconsciente não abarca apenas conteúdos específicos de nosso eu individual ou
provenientes de aquisição pessoal, mas ‘das possibilidades herdadas do
funcionamento psíquico como tal a saber, da estrutura do cérebro herdada’”,
(2013,p.25), como dissera o próprio Jung (OC 6,$841). Ambos concebem esse
patrimônio herdado como proveniente do humano em geral, ou até, quiçá, do
animalesco e instintivo, formando a base estrutural de todo psíquico individual.
Concluímos então, segundo a argumentação de Jacobi, que “o inconsciente é mais
antigo que a consciência. É o que é dado originariamente, a partir de onde se destaca
a consciência” assim, a consciência edifica-se apenas “secundariamente sobre a
verdadeira atividade anímica, que é um funcionar do inconsciente” (2013, p.p. 25,26)

Diagrama II
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Diagrama III

A Persona e a sombra

Diante de um mundo circundante, implicado na maneira abrangente de


comportamento psíquico do ser humano, surge a persona para a adaptação à
sociedade.
17

O diagrama IV apresenta um sistema de relação psíquica no qual o ser


humano contacta com o mundo externo, envolvendo ao íntere o eu encapsulado
contra o mundo como se fosse uma “casca” (casca – eu), a persona. Jung a define:
“A persona é um complexo funcional, que surgiu por razões de adaptação ou de uma
necessária comodidade, mas que não é idêntico com individualidade. Refere-se
exclusivamente à relação dos objetos, com exterior” (O.C.6, $ 803). Em “O eu e o
inconsciente”, ele afirma que “a persona é um compromisso entre individuo e
sociedade como alguém aparenta ser” (O.C 07/02, $466).
Quando a psique humana tem boa adaptação ao mundo exterior quanto ao
interior, sua persona é como um muro protetor “necessário”, entretanto flexível,
assegurando-lhe melhor compreensão com o mundo circundante. Porém, tal
comodidade com a qual sua real natureza se adapta e se esconde também pode lhe
proporcionar perigo quanto a isso, segundo Jacobi, a persona “ enrijece”, torna-se
mecânica e se transforma, no verdadeiro sentido da palavra em uma máscara bem
talhada, por trás da qual a individualidade, aquilo que a pessoa humana é na sua
verdadeira essência começa a definhar, caminhando rumo a uma toda asfixia (2013
p.p.53/54)
A inadequação persistente, bem como a identificação com a persona, com o
passar do tempo incorre em perturbações que podem tomar vulto ao ponto de se
transformar em crises existenciais e graves enfermidades da alma. Vejamos então
no seguinte diagrama
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Tem -se como sombra “a parte inferior da personalidade”. Isto se dá, diz Jung , “
devido à sua incompatibilidade com a forma de vida conscientemente vivida, a soma
de todas as disposições psíquicas pessoais e coletivas não é vivida e se aglutina numa
personalidade [...] autônoma, com tendências contrárias no inconsciente” (JUNG,
apud ROTH, 2011, p.85). Ela tem características compensatória em relação a
consciência, causando efeito tanto positivo quanto negativo. É importante salientar
que, enquanto figura onírica, a sombra faz parte do inconsciente pessoal, mas a pode
se manifestar como entidade do inconsciente coletivo pertencente ao arquétipo.
Wolfgang Roth comenta a importância individual da sombra, ou seja, a mesma
pode ser concebida no âmbito do inconsciente que se refere a repressão de conteúdos
que não estão de acordo com a consciência, [...] com a forma de vida conscientemente
vivida, torna-se patente a dicotomia” no entanto ele argumenta que “a sombra deve-
se sua existência ao trabalho de repressão que é realizado para apresentar e
conservar uma persona” (2011, p.86). Logo, a sombra se opõe diretamente a persona.
Portanto aquela será apresentada como adversária direta desta.
Segundo explicação de Roth,
Se a persona é qualificável como “máscara” e função adaptativa em primeiro
lugar a partir da situação individual de vida, deve-se aplicar à sombra,
igualmente em primeiro lugar, a qualidade de apropria-se desses conteúdos
pessoais, isto é, representar um campo do inconsciente individual. (2011, p.87)
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Se por um lado a sombra significa a “parte inferior” dissociada da personalidade


“irmão obscuro e manipulador” da personalidade consciente do eu; por outro lado a
sombra também pode dispor de valiosas aptidões e qualidades de um individuo que
tiveram por repressão que definhar ao longo da individuação. O sujeito não tem
consciência de sua sombra, daí projetar no outro. As projeções geralmente pertencem
a esfera da sombra e transformam o mundo externo na concepção própria, mas
desconhecida, o individuo sonha com um mundo cuja a realidade é inatingível, há um
sentimento de incompletude. Jung relata que “como se sabe, não é o sujeito que
projeta, mas o inconsciente. Por isso, não se cria a projeção: ela já existe antemão.”
(C. G. JUNG O. C IX/02 p. 07)
Projeção é o processo espontâneo em que os conteúdos do inconsciente de
alguém são percebidos como estando em outra pessoa ou objeto externo. Jung relata:
Todos os conteúdos de nosso inconsciente são constantemente projetados
em nosso ambiente, e só na medida em que reconhecemos certas
peculiaridades de nossos objetos como projeções, como imagines [imagens],
é que conseguimos diferenciá-los dos atributos reais desses objetos. Mas se
não estamos conscientes do caráter projetivo da qualidade do objeto, não
temos outra saída senão acreditar, piamente, que esta qualidade pertence
realmente ao objeto (A natureza da psique - $ 507)

A consequência da projeção é um isolamento do sujeito em relação ao mundo


exterior, pois em vez de uma relação real o que existe é uma relação ilusória. Mas a
também pode ser positiva ao facilitar as relações do individuo com o mundo e quando
entendida, ser o meio de perceber a si mesmo através das projeções feitas nos outros.
“Por isso, enquanto o interesse vital, a libido, puder utilizar essas projeções como
fontes agradáveis e úteis, ligando o sujeito com o mundo, tais projeções constituem
facilitações positivas para a vida (JUNG; A natureza da psique - $ 507)

Self (Si mesmo)

O mais importante dos arquétipos na Psicologia junguiana representa o centro


ordenador da psique, e é ao mesmo tempo o núcleo fundamental do inconsciente e a
totalidade do psíquico.
Arquétipo da ordem e totalidade, abrangendo o consciente e o inconsciente, e
que embora polares, não representam opostos, mas sim uma relação de
complementaridade, tendo o Self como mediador e gestor dos recursos e conteúdo
do indivíduo. Segundo Jung, toda personalidade é formada a partir de um centro que
20

é responsável pelo desenvolvimento, ou seja, o Self não é apenas o ponto central,


mas abarca a totalidade. Assim, através dos acessos e ativações dos arquétipos,
motiva a formação e desenvolvimento do ego.
A conexão dialética mediadora entre o ego e o Self é a meta primordial do
processo do desenvolvimento da personalidade humana, a que Jung denominou
Processo de Individuação. Jung identificou nos mitos e nas religiões as Imagens
Arquetípicas do Self (Si-mesmo) como representação da meta a ser atingida por todo
homem. Atingir o Self é a máxima realização que um ser humano pode almejar e
conseguir. Essa conquista não significa que a perfeição foi atingida de uma maneira
definitiva, essa conexão permitirá que a personalidade possa ter um guia mais claro e
seguro para os passos que devem ser dados na senda da sua existência. A conexão
sempre existiu. Segundo Jung, o self ou si -mesmo “[...] não é apenas o ponto central,
mas também a circunferência que engloba tanto o consciente quanto o inconsciente.
Ele é o centro da totalidade, do mesmo modo que o eu é o centro da consciência” (
JUNG 1994, p.91)
A concepção de Self apontada por Jung é circunscrita como algo indefinido, ,
indefinível e indescritível. Enfim, uma totalidade impossível de ser abarcada
empiricamente pela consciência. Diante destas características, só podemos percebe-
lo através de suas inumeráveis manifestações simbólicas de sua própria infinitude

Processo de individuação

Para Jung, o processo pelo qual a Consciência de um individuo se individualiza


ou se diferencia das outras é o Processo de individuação. Na concepção de Jung, o
termo ‘individuação’ nos remete a um processo através do qual o ser humano se torna
realmente um ‘individuum psicologico’, ou seja, ele se transforma em uma unidade
autônoma e indivisível, se tornando totalidade.
O processo de individualização é considerado o conceito central da Psicologia
Junguiana, pois este processo é a realização do Si -mesmo. Jung relata que “O
processo psicológico da individualização está intimamente vinculado à assim
chamada função transcendente .“A função transcendente não se desenvolve sem
meta, mas conduz à revelação do essencial no homem. No início não passa de um
processo natural. Há casos em que ela se desenvolve sem que tomemos consciência,
21

sem a nossa contribuição, e pode até impor-se à força, contrariando a resistência do


indivíduo” [...] (JUNG 2008. $ 186. Grifo do autor).
O processo de individuação consiste em confrontar os vários aspectos
sombrios, reconhecendo-os e despindo-se da persona e das imagens primordiais.
Segundo Jung, o processo de individuação nada tem de individualismo, muito pelo
contrário, é um processo que estimula o indivíduo criar condições para que cada um
desperte o melhor de si e do outro, o tempo todo, fazendo-o sair do isolamento e
empreender uma convivência mais ampla e coletiva, por estar mais próximo,
conscientemente da totalidade, mas ainda mantendo sua individualidade. A
individuação consiste em aproximar o mundo do indivíduo e não excluí-lo do mesmo.
“A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser
individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser
distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de diferenciação
que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual. (…) Uma vez que o
indivíduo não é um ser único mas pressupõe também um relacionamento coletivo para
sua existência, também o processo de individuação não leva ao isolamento, mas a
um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente. (JUNG, 2009, § 853.
Grifo do autor)”.
Individualização significa: tornar-se um ser único e, nessa medida em
que por individualização compreendemos nossa unicidade íntima,
última e incomparável, significa tornar-se um si-próprio. Assim,
poderíamos traduzir “individualização” também por “torna-se si
mesmo” (Verselbstung) ou como “realização do si-mesmo”
(Selbstverwirklichung) (JUNG, OC 7,§ 266)

O processo de individuação está em ato num individuo quando a sua vida


começa a ser guiada pelo seu Self (Si mesmo), e no início é de modo muito
intermitente, episódico. Mas, se ele tem a aspiração de prosseguir, essa conexão
começa a se dar num ritmo mais frequente, com resultados positivos e cada vez mais
duradouros e abrangentes. O Self, centro regulador e organizador em conexão com o
ego, cria um processo de desenvolvimento psíquico no indivíduo. Gradualmente, vai
emergindo na pessoa uma personalidade mais madura, que, pouco a pouco se torna
efetiva e perceptível pelos demais
~
22

PARTE II: O ARQUÉTIPO FEMININO NO JOGO LUFTIANO

O tema dos arquétipos representa o cerne da psicologia analítica de Carl


Gustav Jung. Ele conceitua arquétipo como “derivado da variada e repetida
observação de que, por exemplo, os mitos e contos de fadas da literatura mundial’
contêm certos motivos que aparecem sempre em todos os lugares”.
Segundo o pensador, tais motivos são encontrados nas fantasias, sonhos,
delírios e alucinações da psique humana de ontem e hoje. Logo, essas imagens e
associações frequentemente típicas são denominadas de “representações’’ ou “ideias
arquetípicas”. Inclusive, quanto mais nítidas as mesmas forem, tanto mais surgirão
acompanhadas de tons sentimentais e emocionais bastante vivos.
Jung aborda o quanto elas essas ideias arquetípicas são influenciadoras,
impressionantes e fascinantes; ao ponto de tais representações de imagens
arquetípicas terem “sua origem no arquétipo em si”, que é uma forma, também
representável, “inconsciente” e preexistente que parece ser parte da estrutura
hereditária da psique e que pode, por isso, manifestar-se como fenômeno espontâneo
em qualquer “lugar”(JUNG, OC.10, $ 847).
O termo “arquétipo” tem sua origem provinda da Grécia no qual seu
significado se intitula como “modelo primitivo”, pois a composição dessa palavra vem
da junção do termo “Arkhé” que significa “antigo”, “primeiro”, “original”, e do termo
“Typos” que tem o significado de “modelo”, “molde”; ambos os termos são também de
origem grega.
A ideia de arquétipo pode ser usada tanto na filosofia, como na psicologia e
na crítica literária. Schimidtt apud Ramos coloca a seguinte etimologia para arquétipo:
O primeiro elemento Arkhé significa início, origem, causa, fonte primal,
e princípio, mas também significa posição de liderança, domínio
supremo e governo (em outras palavras, um tipo de “dominante”) [...].
O conceito de arquétipo deriva, então, das palavras arkhé (começo,
origem, princípio) e typos (forma, imagem, modelo).

Por sua vez, Wolfgang Roth alerta que o termo “arquétipo”, no sentido de “tipos
desde tempos remotos”, tome seu lugar na linguagem cotidiana; ou seja, sua
compreensão psicológica ainda causa embaraços e dificuldades. Segundo ele, “a
denominação inicial de imagens “primordiais” é mais compreensível, até porque Jung
pesquisou a origem das mesmas com a ajuda de imagens, ou símbolos concretos,
23

como formas de expressão dos processos inconscientes como eles se apresentam,


por exemplo, nos sonhos. (2011, p.107)
Acerca disso, permeando as teorias junguianas, Roth nos faz entender com a
seguinte explicação:
O conceito dá sempre ensejo a mal-entendidos porque faz supor
erroneamente que no inconsciente coletivo se encontre prontas imagens
acabadas, que determinadas situações de vida se mostram à consciência nos
sonhos, fantasias, ou outras possibilidades de expressão. Os arquétipos não
são absolutamente “imagens prontas” que teriam sua sede no inconsciente
coletivo, mas instâncias ordenadas com a “capacidade” de produzir, de
maneira significativa, imagens e símbolos e assim torná-los acessíveis à
consciência [...]. Em sua concepção do inconsciente coletivo, Jung parte da
ideia de que, além dos conteúdos adquiridos individualmente, portanto
durante a história da sua vida, existe um campo muito mais profundo da
psique humana, campo entendido como sendo a sede dos arquétipos (2011,
p.p 107,108).

Em sua concepção, Jung afirma que as experiências primitivas, contidas


no inconsciente coletivo são “a herança filogenética da história da humanidade”. Aliás,
“este tesouro experimental, que chega bem fundo no campo dos impulsos, instintos e
desenvolvimento da consciência o [arquétipo] de “caráter junguiano” vem ao mundo”,
informa-nos Roth (2011, p. 109).
Em se tratando que, os conteúdos do inconsciente coletivo não seguem
uma divisão aleatória, mas vem ordenados a partir dos temas centrais do conteúdo;
ou seja, que eles ficaram interligados a certos elementos em torno dos quais se
agrupam tematicamente bem concentrados. “Esses elementos centrais de
ordenamento representam os arquétipos que emprestam sua estrutura ao
inconsciente coletivo”, diz W. Roth (2011, p. 109)
Ao fazer uma introdução às Obras Completas da psicologia de Jung,o autor
acima supracitado, salienta a distinção entre “arquétipo em si” e o arquétipo
perceptível enquanto imagem e sua manifestação; inclusive, argumenta sobre modos
de ação e reação arquetípica, seus cursos e processos como, por exemplo, o devir do
eu e as formas de vivência; ou seja, formas de sofrimento, concepções e ideias
arquetípicas que, visíveis, abandonam seu funcionamento e que até então,
transcorriam de maneira inconscientes.
Para Jolande Jacobi o arquétipo “pode brotar em muitas camadas e níveis nas
mais diversas constelações, em sua forma de manifestação, em sua “indumentária”
adapta-se à respectiva situação, [mas] sua estrutura fundamental continua [...] – como
a melodia – transponível” (2013, p. 77).
24

Inclusive, há vários esquemas das teorias junguianas que estão contidos


alguns aspectos de manifestações da psique em sua essência e estrutura; entre eles
o esquema de alguns aspectos do “fenômeno”, salientado aqui por Jacobi. Com a
citação, porém longa, mas necessária:
Assim, por exemplo, [...] o arquétipo é mãe, no sentido estrutural - formal já
mencionado, pré-existente em e superior a toda a forma estrutural de
manifestação do “materno”. É um núcleo de significado que permanece
inalterável, que pode ser preenchido com todos os aspectos e símbolos do
“materno”. O protótipo da mãe e os traços da “grande mãe”, com todas as
suas propriedades paradoxais, na alma humana atual são as que dos tempos
míticos. A distinção do eu da “mãe” está no começo de todo e qualquer se
tornar-se consciente. Todavia, torna-se consciente, ou consciencialização, é
tornar-se mundo através da distinção. Criar consciencialiadade formular
ideias, isso é o princípio paterno dos logos, que numa luta infinita se arranca
das trevas originária do seio materno, do reino do inconsciente. No principio
ambos eram um, e jamais um poderá ser sem o outro, assim como a luz seria
privada de seu sentido num mundo no qual o escuro não estivesse
contraposto. “O mundo só persiste porque seus contrários mantêm o
equilíbrio.” (2013,pp.78,79)

É importante frisar que a linguagem do inconsciente é feita por meio


de imagens; logo, os arquétipos também surgem em forma de imagens quer sejam
personificadas ou simbólicas. Portanto, para melhor compreensão do arquétipo
feminino” remetemos ao seguinte diagrama:
Diagrama V

A massa primordial destes fatores arquétipos forma o legítimo


conteúdo do inconsciente coletivo, como argumenta Jacobi, “seu número é
relativamente limitado”, pois corresponde ‘às possibilidades das vivências
25

fundamentais típicas’, que o ser humano já experimentou desde os primórdios. Seu


sentido para nós reside precisamente naquela ‘experiência originária’ que apresenta
e comunica, exatamente o que acontece na obra “As Parceiras” de Lya Luft. (2013,
pp 80,81)

O Arquétipo do feminino selvagem

“A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção”,


fala-nos em lamentoso prenúncio a autora de Mulheres que correm com os lobos
(1992), denunciando por “esmagamento da natureza instintiva feminina”
(ÉSTES,2018, p.15). Consequentemente o instintivo feminino é banido para as
regiões mais profundas e sofridas da psique, isto porque as terras espirituais da
Mulher Selvagem ao longo do percurso histórico foram saqueadas e seus refúgios
destruídos à força pela sociedade patriarcal.
Sabemos que o aspecto Selvagem é um ponto de contato com a vibração
da natureza que pulsa em cada ser. Esses aspectos naturais que habitam os viventes
revelam o princípio de organização e formam a consciência. Por isso, o perigo do
instinto selvagem encontra-se com a negação de seu poder. Isto porque a sociedade
patriarcal projeta nos lobos, ursos, coiotes e mulheres selvagens uma reputação cruel,
perigosa e voraz por todos eles compartilharem arquétipos instintivos.
O instinto nada mais é do que a vivacidade e a labuta da mulher que uiva,
ama, chora, guerreia, e que se deixa tocar pela Vida, e pelo Eros que percorrem as
suas veias, suas matas virgens, se encantando com cada encontro e sentindo a
pulsação do universo na sutileza e singularidade do instante.
O que os lobos e as mulheres saudáveis têm em comum? Decerto,
ouvíssemos juntamente com Clarissa Pinkola Éstes os uivos e instintos das mulheres
que correm com os lobos; porque nossa estudiosa do aspecto selvagem vem nos
responder com a seguinte afirmação:
...percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade
para devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza,
curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente
intuitivos e têm grande preocupação com seus filhotes, seu parceiro e
sua matilha. Têm experiência para se adaptar a circunstâncias em
constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem
(1999,p.16).
26

Todas as mulheres sentem falta destas características quando são


“domesticadas” pela cultura. A compreensão do selvagem é uma prática, um
conhecimento da alma. Portanto, ir ao encontro desse arquétipo é retornar a si
mesma.
A Mulher Selvagem (ESTÉS, 1999), é a memória das intenções femininas
na atemporalidade, equilibrando a dança que realiza com o outro, é o ponto onde o
Eu e o Tu se beijam, onde a mente e os instintos se fundem, formando o espaço da
racionalidade e do mito. As palavras “Mulher” e “Selvagem” revelam uma passagem
das profundas camadas da psique, onde é despertada pela intuição e da recordação
ancestral do ser alfa matrilinear.
Segundo a autora citada, do ponto de vista da psicologia arquetípica, a
mulher selvagem é a “alma feminina”, mais do que isto é a origem do feminino. “Ela é
tudo que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base”:
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a
que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a
continuarem a ser multilíngues: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão,
da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no
terreno da alma da mulher um pelo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses
sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la. (...)
Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a
noite, a treva e o amanhecer. Os pássaros que nos contam segredos
pertencem a ela. Ela é a voz que diz: ‘Por aqui, por aqui’.( ESTÉS, 1999, p.
27).

Talvez o primeiro passo para libertar a mulher selvagem seja ter coragem
para se destacar da massa e seguir seu próprio caminho, isto é, realizar o processo
de diferenciação. Em nossa cultura há um estigma voltado para tudo o que é diferente,
haja vista a necessidade da criação da política da inclusão social; tal fato, pode ser
observado pelas denúncias de Lya Luft em seu romance As Parceiras e seus
personagens femininos estigmatizados.
Então, para ser mulher e você mesma empoderada, deve o feminino deixar
fluir o que naturalmente emana de si, é preciso ter ousadia. Isto, na maioria das vezes,
acaba se tornando um caminho solitário, tal qual o caminhar das personagens
luftianos principalmente o da protagonista e veranista Anelise.
Outras vezes, a própria mulher se perde por caminhos e atividades que
roubam e/ou desviam a sua energia. É preciso estarmos atentas aos predadores
externos e internos. Trilharmos o rumo certo é um desafio para a grande maioria. Diz
a autora: “Há uma necessidade correta e oportuna de acordar para um movimento
27

destrutivo dentro da própria psique; para aquilo que está furtando nosso fogo;
intrometendo-se na nossa energia; roubando de nós o lugar, o espaço, o tempo e o
território para a criação” (Ibid., p. 94).
Muitas vezes isto vem expresso na forma de sonhos. Existe um sonho
iniciático universal entre as mulheres: o sonho com o “homem sinistro”. Em geral são
terroristas, estupradores, bandidos que a aterrorizam e ameaçam sua integridade
física e psicológica. O “homem sinistro” surge na obra As Parceiras logo no início,
referente ao capitulo domingo no diário de Anelise. Surge como um jogo surjo, assusta
e agride como um predador, a priori como “o destino zeloso e patriarcal na vida de
Catarina von Sassen:
O destino foi zeloso: caçou-a pelos quartos do casarão, seguiu-a pelos
corredores, ameaçou arrombar os banheiros chaveados como arrombava dia
e noite o corpo imatura. Mais tarde, entenderam que os arroubos de meu avô
eram doentios: nada aplacava suas virilhas em fogo (LUFT, 2007,p.13)

O sonho dessa natureza ameaçadora (representada pelo homem sinistro)


afirma que a vida da mulher precisa mudar, revela que a sonhadora ficou enredada
em algum estado inercial como Catarina aprisionada em seu sótão:

Chamava de sótão a esse quarto do terceiro piso do casarão [...]. Combinava


bem o nome: uma palavra triste e sozinha. A porta rangeu como essas velhas
madeiras... [eis que surge] a mulher de branco, moradora do sótão, voltou
para nós um rosto interrogativo. Parecia alegre por nos ver mas também
assustada como se não soubesse o que lhe trazíamos: o bem, o mal [...]
casamento era para ela a noção difusa de abraços e beijos demorados, e
alguma coisa mais assustadora. Algo de que nunca falavam direito. Como as
doenças e a morte [...] no esconderijo branco, [...] Catarina von Sassen
murmurava, falando com gente que só existia para ela. Ou espreitava o
jardim, pela a porta de vidro. (LUFT, 2007, pp 12-17)

Essa natureza ameaçadora nos sonhos e pesadelos femininos, está


relacionada a alguma escolha difícil, onde a mulher reluta em dar o passo seguinte,
evitando arrancar sua própria força das mãos do predador.
A intimidade com a natureza da vida-morte-vida talvez seja o traço mais
marcante da Mulher Selvagem. Trata-se de um ciclo de animação, desenvolvimento,
declínio e morte, que sempre se faz seguir de uma reanimação. Esse ciclo afeta toda
a vida física e todas as facetas da vida psicológica.
Diz a lenda que a Mulher-lobo (uma das facetas da mulher selvagem) em
sua caminhada pelo deserto, tem o trabalho de recolher todos os ossos que encontra
pelo caminho, particularmente os dos lobos. Quando consegue reconstituir um
esqueleto inteiro de um destes animais, ela se aproxima, ergue seus braços sobre ele
28

e começa a entoar um hino. Lentamente o esqueleto começa a se forrar de carne até


que a criatura começa a respirar. Portanto
Se quisermos ser alimentados por toda a vida, precisamos encarar e
desenvolver um relacionamento com a natureza da vida-morte-vida. Quando
temos esse tipo de relacionamento, não saímos mais por aí à caça de
fantasias, mas nos tornamos conhecedores das mortes necessárias e
nascimentos surpreendentes que criam o verdadeiro relacionamento
(ESTÉS,1999, p. 171).

Segundo Pinkola Estés (1999), três aspectos diferenciam a vida a


partir da alma, da vida a partir do ego: - a capacidade de pressentir novos caminhos
e de aprender com eles; - a tenacidade necessária para atravessar uma fase difícil; -
a paciência para aprender o amor profundo com o tempo. O ego, no entanto, tem uma
queda e uma predisposição para evitar o aprendizado. A paciência não é seu forte.
Nem o relacionamento duradouro. Portanto, não é a partir do ego inconstante que
amamos o outro, mas sim, do fundo da alma selvagem.
Para ela, a experiência plena e o viver de acordo com a sabedoria
da Mulher Selvagem, latente em todas nós é uma etapa fundamental da diferenciação
e do desenvolvimento da personalidade para todas as mulheres, especialmente
aquelas que já transitam na linha tênue entre o mundo visível e o invisível. Isto pode
ajudá-las a terem uma vivência plena de totalidade e a se apropriarem de seu poder
pessoal na sua mais ampla manifestação: como no jogo das parceiras luftianas.

Peças femininas no jogo d’As parceiras: do cotidiano a contemplação

Entendemos por necessário fazer uma breve apresentação da autora do


romance enquanto objeto do nosso estudo. Referimo-nos à renomada gaúcha Lya
Luft, escritora e tradutora brasileira nascida em 1938. Senhora de si e de uma vasta
importante contribuição no que se trata a literatura brasileira. Bem como, destacando-
se pelas traduções de autores destacados pela literatura universal, dentre eles,
Virgínia Woolf, Herman Hesse e Thomas Mann. Teve participação como colunista da
Revista veja, além disso lançou-se na escrita literária pela coleção de contos “Matéria
do Cotidiano” e em 1980 publica seu primeiro romance As parceiras. O romance
“Reunião de Familia” (1982) foi lançado nos Estados Unidos com o título “The Island
of the Dead”. Em 1985, separada do marido passa a viver no Rio de Janeiro, com o
escritor Hélio, Lya voltou a viver com Celso Luft, de quem ficou viúva em 1995.
29

Lya Luft teve obras premiadas tais como: O rio do meio considerada a
melhor obra de ficção de 1996, com o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de
Arte. Em 2013 recebe o prêmio Machado de Assis pela academia brasileira de Letras
com a obra O tigre na sombra (2012) eleita como melhor ficção do ano na categoria
romance.
Na obra As Parceiras, somos apresentadas a protagonista Anelise que,
enquanto narra a histórias femininas da família, procura no passado as razões para
seu infortúnio no jogo da vida. Sua narrativa compõe os capítulos do romance em
questão, cujos os capítulos são divididos em sete dias da semana intitulados como se
fossem folhas de um calendário; é o tempo em que a protagonista passa na praia, no
Chalé de sua família de mulheres. É o tempo de rememorar trazendo as narrativas
íntimas e marcantes. É o passar das páginas do tempo, do passado e do presente,
onde Anelise busca a coragem para enfrentar antigos fantasmas, inclusive conduzindo
o público leitor a sua dimensão torturada. Apresentam-nos ao universo feminino de
sua família conturbada por traumas da infância e suas sequelas.
As Parceiras é um romance sobre mulheres, sem que isto signifique literatura
feminista. É uma visão feminina sob uma família marcada pela loucura, pela
morte, por um mundo decadente que a envolve e desagrega. A vida de
Anelise, narradora desta história, está à beira do caos. Mas ela busca no
passado as razões para seu infortúnio e encontra coragem para enfrentar os
fantasmas que a perseguem: a avó Catarina – uma menina linda, obrigada a
se casar aos 14 anos com um homem rude, o que a leva a um isolamento
físico e mental; tia Beata – uma figura grotesca que marca a sua infância; a
amiga Adélia – a ausência para sempre sentida; a irmã Vânia – seu oposto,
uma mulher forte, mas que esconde um segredo.
No casarão da família, as lembranças de outrora se confundem com o tempo
presente. Anelise tem medo da casa, das vozes na cozinha, do barulho do
vento nas frestas e, principalmente, do sótão, lugar proibido, lugar de
confinamento. Numa narrativa construída sobre uma circularidade de
elementos que dão suporte ao texto, Lya permite que Anelise uma as pontas
soltas de sua história e, assim, vá lutando contra o fardo de sua herança,
contra a repressão da sociedade e contravalores hipócritas. ( CITAÇÃO DE
CAPA)

Eis as peças do jogo [quando] não tinham começado a sumir ou a


confundir-se no “tabuleiro”, dissera a protagonista luftiana enquanto pensava na avó
Catarina (LUFTY,2007,p.11)

Personagem Catarina

Catarina um nome feminino que inicia essa obra de Luft; fizera-se mulher
quando ainda menina, aos 14 anos, mal começara a sua vida menstrual quando
30

casou, teve que descobrir precocemente, e de um jeito assustador e doentio, o que


era um casamento. Uma quase menina a se esconder da fúria sexual de seu
experiente marido, Catarina acabou fechando-se no seu próprio mundo. Fez do sótão
um ponto de refúgio, eximindo-se de qualquer responsabilidade que recaísse sobre
ela.
Sucumbida a um terror sexual, a personagem vivia em agonia e tinha
compulsão por fugir desse mundo que a deixava cada vez mais desiludida e menos
lúcida.

Lembro-me da minha avó: roupas brancas, alfazema, solidão. E medo.


Hoje, sei todos os detalhes que há para saber sobre sua vida, mas a verdade
perdeu-se entre aquelas paredes.
Quando casou Catarina von Sassen mal começara a menstruar. E, se já não
acreditava piamente que o sinal no dorso de sua mão vinha duma bicada da
cegonha, também não tinha certeza de como os bebês entravam e saíam da
barriga das mães [...]. Casando, Catarina deixou na cama de solteira três
bonecas de rosto de porcelana. [...] O destino foi zeloso: [...] mas tarde,
entenderam que os arroubos do meu avó eram doentios: nada aplacava suas
virilhas em fogo.
Catarina sucumbiu a um fundo terror do sexo e da vida. Não os medrosos
pruridos de muitas noivinhas do seu tempo, mas uma agoniada compulsão
de fugir [...]; ela se refugiou onde pode: um mundo branco e limpo que
inventava e onde se perdia cada vez mais

Catarina assumiu um ar distraído e alienado como uma tentativa de fuga


diante de uma sociedade patriarcal repressora representada na obra em questão pela
personagem do marido machista e fogoso que oprime a natureza instintiva e feminina
Era uma tentativa de fuga de uma sociedade patriarcal representada na
figura do seu marido. Pinkola Éstes comenta que “embora a causa de grande parte
do sofrimento humano possa ser atribuída a uma criação negligente, existe dentro da
psique um aspecto contra naturam inato, uma força voltada “contra a natureza” [...]
que se opõe ao que for positivo: ele é contra ao desenvolvimento, contra harmonia e
o que for selvagem. Trata-se de um antagonista debochado e assassino [...] sua única
função é a de tentar transformar todas as encruzilhadas em ruas sem saídas (1999,
p.32). A personagem tinha o seu arquétipo feminino reprimido pelo que a vida lhe
reservou, trancando-se e vivendo apenas para seus interlocutores invisíveis.
Jung nos traz basicamente um conceito de arquétipo “formas dadas a
algumas experiências e memórias de nossos antepassados, ou seja, não nos
desenvolvemos de forma independente do resto da sociedade, sem que a conjuntura
cultural e histórica nos influencie intensamente, conduzindo a moldes de pensamento
31

e de experimentação da vida real. Por outro lado, se buscarmos uma perspectiva


individual, os arquétipos passam a ser padrões que envolvem emoções e
comportamentos que adaptam nossa maneira de processar percepções, imagens e
sensações como um todo, passando a ser um “sentido” (OC. (?))
O nome Catarina provêm do grego e denota “casta - pura” definição que
guia a existência da personagem na obra, mesmo quando casa e tenta manter a sua
pureza e depois ao fechar-se em seu quarto branco no sótão para recompor-se, a
personagem do sótão é levada a viver em um mundo paralelo, alienando-se da
realidade e convertendo-se em loucura. A narradora relata:
Com o tempo, minha avó foi perdendo a lucidez a intervalos cada vez
menores. Por fim, baixou a penumbra definitiva. Os médicos acharam que
sua mania de morar no sótão não era de todo má: livrara-a da
responsabilidade por uma casa que não podia administrar, e das três filhas
que não tinha condições de criar. Ficou ela com seus duendes. No esconder
o branco, atendida por alguma empregada, pela governanta e pela filha
Beatriz, Catarina Von Sassen murmurava, falando com gente que só existia
para ela. Ou espreitava o jardim, pela porta de vidro ( LUFT, 1980, pp. 12,13)

O acúmulo de experiências individuais uma vez conscientes, ora


inconscientes, mas que foram reprimidas, assim a avó Catarina foi se delineando ao
se distanciar do mundo, tentando resgatar a pureza perdida com o casamento, tendo
sua castidade e sua inocência arrancada brutalmente, deixando-a em devaneios e
penumbra.
O arquétipo da Mulher Selvagem aspira por sua contraparte, aquele que,
ao invés de roubar o seu fogo e ceifar-lhe a vida, como aconteceu com o marido da
personagem com o marido da personagem Catarina. vem para legitimar os seus
símbolos e comungar consigo na aspereza do seu pelo grosseiro; vem para, em união
com ela, ajudá-la a se apropriar de seus poderes instintivos: o insight, a intuição, a
resistência, a tenacidade no amor, a percepção aguçada, o alcance da sua visão, a
audição apurada, os cantos sobre os mortos, a cura intuitiva e o cuidado com seu
próprio fogo criativo, e assim fazê-la vicejar na sua plenitude.
Segundo Pinkola Éstes para amar uma mulher, o parceiro deve também
amar sua própria natureza primitiva. Se a mulher aceitar um companheiro que não
possa amar ou que não ame esse seu outro lado, ela sem dúvida sofrerá algum tipo
de dano.
Situada em uma sociedade patriarcal e tendo que ceder forçadamente aos
desejos do marido, Catarina teve a sua pureza e “empoderamento” tirados e a
32

alternativa que encontrou para continuar a sua existência, foi isolar-se no seu mundo
irreal até deparar-se com a morte definitiva.

Personagem Beata

Filha mais velha de Catarina, Beatriz gosta de dedicar-se à igreja e, por


isso foi denominada em toda a trama como “Tia Beata”. Fora casada, porém tornou-
se viúva três semanas após o seu casamento. Desconsolada, resolveu cuidar do
casarão e se dedicar às sobrinhas. Assim como sua mãe Catarina, teve problemas
em relação ao matrimônio e ao sexo. A autora coloca que ela era uma “viúva-virgem”,
pois, o marido não conseguiu saciar seus ardores e, então por não cumprir com o seu
papel de marido, suicidou-se deixando a “tia Beata” viúva, o que contribuiu para que
ela buscasse na religião o seu isolamento. Sobre a “tia Beata”, a autora revela na fala
da narradora assim:
Em compensação, tia Beata vinha seguidamente à nossa casa. Sempre na
igreja. Padres convidados para o almoço, o jantar. Novenas, promessas.
Dedicação absoluta a Bila e ao casarão. Tia Beata interessava-se por nós,
que não gostávamos dela. Vinha, queria saber da nossa roupa, do nosso
estudo, era solícita e boa, mas sem carinho.
Devíamos ser-lhe uma obrigação a mais, a educação negligenciada, o
domino das empregadas, a fragilidade de mamãe, a complacência de meu
pai.
Desconfiei sempre de que tia Beata não se importava de não ser amada pelas
sobrinhas: o contato físico, mesmo conosco, a repugnava. Ou assustava? O
rosto seco, severo, o beijo rápido, com pelos espetando, me deixavam
encolhida e hostil. (LUFT, 1980, pp. 21, 22).

A personagem levava uma vida amarga e triste por conta da desventura da


sua vida conjugal, esquivava-se de todo e qualquer carinho ou contato físico mesmo
com as sobrinhas, compartilhando da mesma sina que sua mãe Catarina. Essa fuga
da realidade pela religiosidade mostra em tia Beata mais uma marca das mulheres da
sua família.
Caracterizada pelas amarguras sentidas, as experiências da Tia Beata
retratam uma vida que se configura em uma triste e banal história de alguém que não
quis ir em busca de algo novo, simplesmente se entregou à sua sina de tia virgem,
uma quase mãe dos sobrinhos; e isso a isolou do restante do mundo, colocando sua
existência como irrelevante. Assim a autora relata a vivência da personagem no
romance, como justifica a narradora em sua fala:
Um mundo triste o da minha tia, que crescera sob império da Frãulein, a mãe
louca no sótão da casa enorme, as duas irmãs mais novas tendo que ser
33

protegidas, o pai raro e grosseiro. Magra e taciturna, mesmo nas poucas fotos
de menina. Casara e enviuvara em pouco tempo, voltara ao casarão, a mãe
enfurnada lá em cima. Começou a cuidar dela, depois de Bila. (LUFT, 1980,
p. 25).

Mesmo depois de assumir as rédeas do casarão e tentar educar as


sobrinhas após a morte dos pais delas, Tia Beata é frustrada mais uma vez por não
conseguir, devido à resistência que as sobrinhas impuseram a sua influência. Então,
julga sua missão com a família terminada e muda-se para um convento “caminhos de
Deus. As Parceiras riam dentes amarelos”. (LUFT, p. 31) Onde vive seus últimos dias,
como discorre a autora na fala da narradora:
Minha tia, já tão religiosa, de certo se julgou predestinada à virgindade.
Passos rápidos, xalinho no ombro, cheiro de leite-de-rosas, santos e rezas,
Bíblia na cabeceira, tantas boas intenções. Retidão, nunca vi tanta retidão.
Dentes grandes, amarelos, que quase não riam. Vida difícil, alma
amargurada. Todo mundo tão precário ao seu redor, loucura, suicídio, aleijão.
[...] Julgou sua missão cumprida para com aquela família complicada. Foi
morar num quarto de um convento a quem doara parte do seu dinheiro, e que
há muitos anos costumava visitar para consolar-se com as freiras suas
amigas. Viveu ali o resto dos dias, freira sem votos. (LUFT, 1980, p. 28).

Sobre a personagem tia Beata podemos relacionar com o arquétipo da


deusa Hera – Juno (Deusa do casamento, do compromisso e esposa) que como
deusa do casamento, Hera foi reverenciada e injuriada, honrada e humilhada. Ela,
mais do que qualquer outra deusa, tem atributos marcadamente positivos e negativos.
O mesmo ocorreu com a tia Beata casou e foi humilhada com o suicídio de seu marido
no qual os boatos de sua morte se deu por murmúrios de não cumprir com seus
deveres de marido.
Esse arquétipo da deusa Hera, a mulher sente-se fundamentalmente
incompleta sem um companheiro. Seu desgosto por estar sem um conjunge pode ser
uma experiência interior profunda e ofensiva; fato que pode levar tal parceira a
desenvolver um espírito vingativo contra outras mulheres, mas nunca contra o
homem, embora tia Beata não tenha se vingado de outras mulheres, ela simplesmente
deixou de buscar novos romances, refugiando, desvencilhando suas experiências
negativas do casamento através do convento como uma reclusa porém reprimida
válvula de escape para não buscar outro relacionamento amoroso.

Personagem Sibila
34

Nascera fruto de um estupro, quando sua mãe Catarina havia se recluído


em seu mundo branco, no sótão do casarão. Logo depois do nascimento foi rejeitada
pela mãe “louca” que não quisera nem olhar para ela recém-nascida. Vivia afastada
de todos; apenas aos 3 anos de idade fora vista por sua mãe Catarina. Não era como
as outras crianças; provavelmente não era uma criança feliz; Bila era repugnada pela
mãe e por todos, excluída por ser a anã da família, por não ser loura e bonita como
todos queriam e esperavam que ela fosse. Sibila era uma criança atípica em relação
as outras da sua família. A narradora relata sua pouca convivência com a mãe como
surpreendente:
Surpreendentemente, quando todos se tinham habituado àquilo, Catarina
'pediu para ver Sibila, que já tinha uns três anos. Talvez soubesse que era
sua filha. Talvez a memória obscurecida registrasse a gravidez, o parto, o
primeiro grito. Talvez lembrasse o terror da concepção. Pode ser que tivesse
notado o problema da menina, porque logo quis que a levassem embora, e
chorou muito. Depois, voltou a ignorar sua existência. Possivelmente criou-
se uma filha loura e perfeita, incida entre as personagens do sótão. É querido
me vira naquela minha única visita, perguntara se eu era Sibila. (Luft, 1980,
p, 44).

Mantida sobre os cuidados das empregadas do casarão e também de sua


irmã Beatriz, ela não tinha o contato e o carinho da própria mãe que nem mesmo
lembrava-se dela. Viveu pouco, mas o suficiente para ser condenada a olhares,
maldições e repulsões. Era tida como o monstro da família. encontra-se em Jung
(2001) algo que possa ajudar a compreender como ao arquétipo podem ser
colocados:
Quer o homem compreenda ou não o mundo dos arquétipos, deverá
permanecer consciente do mesmo, pois nele o homem ainda é natureza e
está conectado com suas raízes. Uma visão de mundo ou uma ordem social
que cinde o homem das imagens primordiais da vida não só não constitui uma
cultura, como se transforma cada vez mais numa prisão ou num curral. Se as
imagens originárias permanecerem de algum modo conscientes, a energia
que lhes corresponde poderá fluir no homem. (Jung, 2001, p. 102).

A vida da personagem transformou numa prisão por sua natureza, sua


forma de vir ao mundo na qual originou um círculo de incertezas. Embora se mostrava
feliz em certas ocasiões, “Bila” não tinha consciência de suas raízes, mas estava
conectada a mesma por sua transfiguração decorrida ao fato de como fora concebida
e da vida de sua mãe Catarina que por diversas vezes fora violentada pelo próprio
marido.
Por tanto Sibila era perturbada enquanto elemento perturbador por sua
patologia, por seu ananismo, porem sua perturbação sem sentido acabou que
35

purificando o coração de sua irmã Beatriz que a cuidava com um amor fraternal-
materno e como Jung coloca na citação acima o clarão que Sibila acendera com a
sua transformação colocando todas as vítimas da história de sua família como peças
de seu quebra cabeça insignificante.

Personagem Dora

Dora era a segunda filha de Catarina nascida viva. Parecia ser a mais
diferente da família. Sua profissão era de pintora, não se prendia a casamentos, vivia
entre um e outro e tinha uma vida aparentemente “livre” da sina que assolava as
mulheres daquela família. A narradora retrata Dora como um exemplo a ser seguido,
um modelo que sinaliza um afastamento do grupo de mulheres que rompe o vínculo
de pertencimento entre elas.
A personagem fora uma das tias que menos a narradora conheceu. Ela
quase não ia ao casarão visitar a família e também não tinha o costume de levá-las
ao seu ateliê. As impressões trazidas da vivência de infância da narradora Anelise
com a sua tia Dora foram baseada nos poucos momentos que tiveram juntas. A
narradora relata que sua tia era bonita, ressalta qualidades que a encantava e ainda
dizia que queria que fosse como ela. Em um de seus relatos sobre as tias ela coloca:
Havia também as minhas tias: a pintora nos visitava pouco, e não nos
levavam nunca ao seu ateliê. Eu sabia que tivera vários maridos, que viajava
muito, que adotara aquele meu único primo, Otávio, um menino esquivo mas
simpático. Tia Dora era bonita, parecia alegre também, de uma vitalidade que,
nos raros encontros, me impressionava: assim que eu queria ser. Assim
desejava que fosse minha mãe: interessada, viva, falastrona, exuberante.
(Luft, 1980, p. 21).

Essa vitalidade toda de Dora foi aos poucos se mostrando como ela não
diferia tanto da sina das mulheres de sua família quanto a narradora pensara no início
dos relatos de sua tia. Embora ela não tenha se firmado a um casamento falido como
o de sua mãe Catarina e de sua irmã Beatriz ela tinha a angustias da solidão mesmo
quando adotara o seu filho Otávio, teve tanta solidão quanto às outras mulheres de
sua família tiveram. Essa solidão se concretiza no afastamento que a tia Dora prefere
manter de sua família.
Tia Dora tinha essa autoconfiança, esse espirito independente, pois ela não
se prendia a ninguém matrimonialmente, e seus objetivos foram colocados no terreno
da arte e de cuidar de seu filho adotivo Otávio.
36

Personagem Norma

Norma seria a terceira filha de Catarina, a mais que se parecera com ela
fisicamente. Sua presença na história teve pouca relevância embora tenha sido a
personagem que se deu “bem” no casamento tivera uma relação materna de
distanciamento com suas filhas. Parecia ser frágil e necessitar de cuidados extremos.
Encontrou no marido o refúgio que precisava para fugir de suas obrigações de mãe e
de dona de casa. Vivia para ao marido e ele para ela, e mesmo assim não deixou de
ganhar o amor de suas filhas. Anelise relata:
Mas, embora minha mãe fosse assim, alheada com seus livros e músicas, eu a
amava muito, e sabia que ela me amava também, na sua maneira etérea e infantil.
Era uma mulher alta, clara, bonita, parecendo com minha avó. Apenas, tão
esquecida: sempre perdendo suas coisas, pedia que ajudássemos a encontrar o
livro, a partitura, o lenço. Depois sorria um sorriso inocente, parecia um pouco
admirada de nos ver ali, ao seu redor, de sentir-se amada e necessária. Uma
menina crescida, com quem se tinha vontade de brincar de comidinha e casa de
bonecas. (Luft, 1980, p. 22).

Essa forma de viver levou Norma a ter um mundo só dela. Anelise a coloca
como uma fada, linda e boa, ainda tentou algum diálogo sobre sua avó, mas Norma
ao ouvir sempre dava evasivas e ficava triste quando lhe era indagada se realmente
a mãe era louca. A narradora descreve Norma como frágil, que necessitava de muitos
cuidados e que dependia para sobreviver de todos os cuidados que o seu pai lhe
dedicara ao longo de seu casamento.
Assim era Norma, com sua fragilidade de menina, sua jovialidade, tinha
apenas entendimento para compreender o horror que fora a história de sua família e
no mais vivia para o marido e amava as filhas à sua maneira, porém tinha um mundo
paralelo a todos.

Personagem Vânia

Vânia irmã mais velha de Anelise, vivia ausente de sua companhia. A


chamava de “boboca” e quase não tinha tempo para ela. Se fazia de superior e não
compartilhava os mesmos medos que a menina sentira na infância por conta da
história de sua família. Anelise conhece pouco da infância e adolescência de sua irmã,
mas relata que “Vânia era objeto de minha admiração constante: forte, independente,
altiva. Parecia com tia Dora” (LUFT, 1980, p. 33 e 34). Anelise descreve um pouco de
como sua irmã Vânia se comportava com ela:
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Dava risada, fazia ar superior, me chamava de boba. Eu era a ‘boboca'. Vânia


tinha suas amigas, umas mocinhas quietas e sérias, com quem se fechava
no quarto, falando baixo, dando risadinhas, comentando coisas de que nunca
pude participar. Nem dormíamos no mesmo quarto como outras irmãs. Eu
ficava sozinha, com meus duendes e medos. (Luft, 1980, p. 20)

Vânia simplesmente achava que a sina de sua família não podia atingi-la,
achava que era diferente das mulheres que eram predestinadas a maus histórias de
amor, mal sabia o que lhe reservava ao casar com o homem de seus sonhos.
Ao começar seus laços matrimoniais, a jovem foi vista como uma “sortuda”
que tinha arranjado o casamento perfeito e que nada poderia abalar a sua vida ao
lado de seu príncipe. “Por muito tempo acreditei que Vânia não tinha nenhum medo,
nenhum problema, que não gastava preocupação alguma com nossa família” (LUFT,
1980, p. 34), descreve Anelise. Ao encontrar-se com a irmã, a protagonista, descobriu
a farsa por detrás do seu casamento perfeito, que sonhara com uma vida de união
preenchida e satisfatória. “Vânia fora a única aparentemente predestinada a uma vida
normal. Corajosa, forte, independente. Merecia escapar”. (LUFT, 1980, p. 72). Na
verdade ela vivia uma vida de aparência com seu lindo marido. Anelise descreve:
Tia Dora me ajudou muito, até Vânia me fez companhia, de repente achei
mesmo que ela tirara a máscara de superficialidade. A dor nos fazia irmãs.
Para me distrair dos meus dramas, punha-se a falar dos seus. Foi assim que
fiquei sabendo da promessa que o marido exigira antes de casar: nada de
filhos, ele não podia arriscar, com aquela família, a tia anã, a avó doida. O
casamento começara a desmoronar ali: ninguém se prende a vida toda numa
criatura desanimada e insatisfeita. Se o marido a amasse, não teria exigido a
promessa. (Luft, 1980, p. 86).

Para ter uma vida feliz, prometera não ter filhos e isso lhe angustiava após
ver sua solidão quando seu cônjuge saia para uma vida de orgias com outras mulheres
e a deixava sozinha com sua amargura de não poder ter filhos. Triste vida de Vânia.
Arquétipos femininos que retratam essa personagem Neumam (1955) apud
Fonsenca (2000) coloca que:
Neumann (1955) quando analisa o arquétipo feminino refere-se, dentro dos
aspectos de estudo da psicanálise, à imagem primordial ou arquétipo da
Grande Mãe como a uma "imagem interna, trabalhada no interior da psique
humana". A relação existente entre a construção e elaboração dessa psique,
sofre influência de uma historicidade e, como tal, opera transformações,
marca e define. Crê o mesmo autor, que a expressão simbólica deste
fenómeno psíquico fundamenta-se nas figuras das Grandes Deusas,
representadas nos mitos e criações artísticas do gênero. (FONSECA, 2000,
P. 226).

A historicidade da vida de Vânia influenciou deveras no seu casamento.


Definiu seu pensamento quanto ao fato de ter filhos ou não, apesar da grande paixão
38

que sentia pelo seu esposo, ela foi marcada definitivamente pela falta de um amor
materno. E isso lhe custara um complexo de negação de sua identidade materna.
Jung (2000) coloca isso como:
De todas as formas de complexo materno é na segunda metade da vida que
ela tem as possibilidades de ser bem-sucedida no casamento, mas isso só
depois de sair vencedora do inferno do apenas-feminino, do caos do útero
materno que (devido ao complexo negativo) é sua maior ameaça. Um
complexo só é realmente superado quando a vida o esgota até o fim. Aquilo
que afastamos de nós devido ao complexo, deveremos tragá-lo junto com a
borra, se quisermos desvencilhar-nos dele. (Jung, 2000, p. 107).

Vânia tinha esse complexo negativo do materno. Negava-se a si mesmo de


ser mãe por amor ao seu homem e para manter a aparência de seu casamento que
já estava falido, antes mesmo de ser consumado. “Olhar para frente”, porém faz com
que o mundo se abra para ela pela primeira vez na clara luz da maturidade,
embelezada pelas cores e todos os maravilhosos encantos da juventude e, às vezes,
até da infância”. JUNG, (2001, p. 107). O que ainda lhe influenciava a viver era a
beleza e juventude que ainda tinha.

Personagem Anelise – narradora personagem

Anelise, vivera sua infância em meios a tragédias. Perdera sua melhor


amiga, com quem compartilhava seus medos, suas dores, seus segredos. Perdera os
pais na adolescência e fora criada pela tia Beatriz. “Os primeiros meses que passei lá
foram um tormento. Eu estava nervosa, perturbada com a morte súbita de meus pais”.
(LUFT, 1980, p. 52). Sua adolescência também fora um pouco conturbada pois vivera
aos cuidados das regras rígidas da tia e por vezes ela a desafiava. Porém, com a
chegada do seu primo Otávio essa convivência foi mais suportável. Com seu primo
descobrira sua primeira paixão de adolescente, tivera sua primeira experiência de
beijos e sexo e isso Anelise descreve assim:
Otávio era muito especial, eu não entendia bem por que, achava tudo nele
diferente, amava tudo, os olhos, a pele, o cheiro, a boca, o cabelo, as mãos
de pianista.
E o que nos uniu, breve e fulgurante, até hoje continua em mim, embora
mudado. Foi Otávio quem me deu o primeiro beijo na boca, me fez partilhar
de uma primeira, incompleta e assustada experiência de sexo, me ajudou a
enxergar outra v ida além dos paredões sombrios daquela casa. (Luft, 1980,
p. 51).
39

Viveu seus dias de gloria quando seu primo estava em sua companhia no
casarão, mas tão logo ele fora embora sua vida nostálgica voltara a ser como antes e
assim sua convivência com sua tia Beatriz voltou a ser entediante. “Quando fiz dezoito
anos, a convivência com tia Beata se tornou insuportável. Ela não podia mais comigo,
repetia a todo instante. Afinal, tia Dora concordou em ficar comigo, eu não era mais a
criançola precisando de controle”. (LUFT, 1980, p. 57).
Ao ir morar com a tia Dora, Anelise, teve uma vida mais sociável, “a
Faculdade me impunha novos horários, eu precisava de mais liberdade” (LUFT, 1980,
p. 59). Adaptou-se com uma espantosa rapidez, fez novas amizades e namorados,
estava a espera dessa vida por muito tempo.
Conviveu alguns anos com a tia Dora, mas logo conheceu Tiago seu futuro
marido. “Finalmente pertencia a alguém, e queria pertencer mais ainda, partilhar tudo:
casa, cama, pensamentos, corpo, recantos que até eu ainda estava por descobrir”.
(LUFT, 1980, p. 63). Ao se juntar em matrimonio, Anelise vivera momentos de plena
felicidade. “A felicidade dos primeiros tempos de casados me fizera achar que o mal
sumira como aquelas flores do campo, bolinhas de plumas de seda, a gente sopra e
somem no ar. Dente-de-leão” (LUFT, 1980, p. 80). Chegou até a pensar que sua vida
amorosa seria diferente da vida das mulheres de sua família, até que resolveu que
queria ter um fruto desse amor.
A história vinha de longe. Todo mundo queria ter filho, mas em mim isso foi
mais que um sentimento natural. Depois das tempestades da paixão, comecei
a sentir falta de uma criança junto de Tiago e de mim. E, sem notar quase,
também iniciei um jogo de esconde-esconde com meus antigos medos. Como
costumavam ser as crianças na nossa família? A avó, louca. A tia, anã. Bila
era uma criança da nossa família. (Luft, 1980, p. 79).

A certeza de que queria ser mãe foi tomada por Anelise durante muito
tempo,e isso contribuiu para muitos acontecimentos em sua vida. Estava tão ansiosa
por realizar esse papel que começou a ser seu objetivo principal. Apesar de seu
cônjuge compartilhar do mesmo desejo, ela queria incessantemente. Porém houve a
primeira decepção.
Foi aí que tive o meu primeiro aborto. Dor, repouso, hemorragia, pedaço de
carne vermelho, escura na mão do médico. Chorei muito, porque queria estar
na ala da maternidade do hospital — só que a criança deveria ter esperado
mais seis meses. (Luft, 1980, p. 80).

Anelise não desanimou. Tão logo passou o período de repouso e de espera


para uma nova gravidez ela logo se dispôs a uma nova tentativa. E por ironia do
40

destino sem êxito. E durante algum tempo houve essas tentativas e todas sem
sucesso. Uma até teria se estendido até o sétimo mês, era a sua concepção mais
demorada. E estava feliz, pois achava que desta vez a gravidez iria vingar. Inútil sua
esperança. Sua vida se transformava em um deserto no qual sua única vontade de
viver era a esperança e segurança de uma gravidez que vigasse. Eis que os meses
se passaram e o casamento foi desabando aborto após aborto.
Não sobrava tempo para Tiago, nem calor. A paixão dos primeiros anos se
apagara, nos períodos de gravidez não podia fazer amor, se pudesse teria
medo demais de qualquer jeito: e se Tiago matasse a criança na minha
barriga?
Quando queria engravidar, podia amar à vontade, mas ficava hirta, seca,
implorando: por favor, meu Deus, este filho tem de ser perfeito, tem de nascer,
tem de dar certo.
Um patético fingimento de amor, Tiago se afastava depois, quieto e sombrio.
Estávamos apenas inaugurando uma nova morte, eu pensava, para que
alegria? (Luft, 1980, p. 84).

Quando Anelise não mais pensava em filhos e simplesmente esquecera


essa ideia, eis que a vida lhe prega mais uma peça. A personagem não esperava que
uma gravidez acontecesse naquele momento, principalmente porque seu casamento
estava num estado defasado e sem amor. Porém resistiu, prosseguiu com a gravidez
e aguentou até o último minuto seguindo sempre as ordens médicas para segurar a
criança em seu ventre. E por fim deu certo.
Tiago e eu viajamos, depois recomecei a trabalhar, pedi novo setor, novas
colegas, tudo novo.
Era só a superfície, mas não complicava as coisas, no fundo o rio de águas
sujas deslizava, eu fingia nem notar. Só quanto Tiago dormia, ficava
escutando o rumor, o rumor.
Fazíamos amor uma e outra vez, mas sabíamos que não havia mais amor.
Tiago devia ter amantes, quem sabe uma amante que lhe desse o esplendor
que existira comigo outrora. Outrora. Nossos encontros agora eram tão raros
e sem graça, que as vezes eu tentava lembrar: quando foi a última vez? E
não lembrava.
E, quando já me acostumara a essa vida fácil, quando até já conseguia olhar
as crianças de minhas amigas sem nenhuma amargura, engravidei pela
quinta vez. (Luft, 1980, p. 88).

Entretanto sua felicidade foi breve, sua maternidade tão desejada outrora
foi dissipada como um sopro de uma vela. Seu bebê não tivera nem tempo de
desfrutar da família perfeita que Anelise queria para ele; em um acidente na hora do
parto, nascera com uma paralisia cerebral, lhe deram apenas nove meses de vida.
“Agora eu tinha o filho tão desejado. Bonito e bonzinho, Tiago e eu tínhamos brincado
sobre a minha provável atrapalhação com um bebê quase aos quarenta”. (LUFT,
1980, p. 93).
41

O que lhe parecia o começo de uma nova vida foi apenas o início do fim de
suas esperanças para com o seu casamento e sua família perfeita. Não se trancou
num sótão por que não havia nenhum no apartamento em que ela morava, seu sótão
era ela mesma, até pensou consigo que poderia ter feito como sua irmã Vânia que
prometera não ter filhos, mas sabia que não iria aceitar uma proposta dessa vinda de
seu amado marido, queria a todo custo a prova de como é ser mãe e a experiência de
todo esse processo até cegar nas vias de fato que é realmente ser mãe. “Não haveria
promessa alguma, eu queria aquela prova, precisava dela. A prova estava estendida
ao lado da minha cama”. (LUFT, 1980, p. 94).
Anelise agrupava várias imagens dentro de si. Sua avó Catarina, sua mãe,
suas tias e sua irmã. Todas contribuíram para formar a personalidade dela. Jung
(2001) chama a isso de inconsciente coletivo:
O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um
inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência
pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o
inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram
conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido
esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca
estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente,
mas devem sua existência apenas à hereditariedade. Enquanto o
inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de complexos, o conteúdo
do inconsciente coletivo é constituído essencialmente de arquétipos. (Jung,
2000, p. 53).

O consciente coletivo de Anelise trazia consigo as existências hereditárias


de sua família, uma vez que toda a torrente vivida ainda na infância dela, Anelise não
trazia complexos e sim algo intrínseco entre ela e o seu passado que embora não
entendesse o porquê do que havia acontecido refletiu deveras em sua vida amorosa.
Jung também traz o conceito de arquétipo da citação acima: “O conceito de arquétipo,
que constitui um correlato indispensável da ideia do inconsciente coletivo, indica a
existência de determinadas formas na psique, que estão presentes em todo tempo e
em todo lugar”. (JUNG, 2001, p. 53).
A personagem não tinha para onde fugir já que sua vida já estava
predestinada a ser como as mulheres de sua família, ou seja, a vida amorosa e os
casamentos malsucedidos marcaram para sempre a vida de todas sem chance de
escapatória e com Anelise não foi diferente. Porém, a personagem precisou de tempo,
uma semana como relata a história, para fazer uma tomada de consciência, para isso
ela fez projeções com as demais mulheres de sua família, as suas parceiras e, ao
encontrar-se com a veranista ela precisou encarar e desenvolver um relacionamento
42

com a natureza da vida-morte-vida. “Quando temos esse tipo de relacionamento, não


saímos mais por aí à caça de fantasias, mas nos tornamos conhecedores das mortes
necessárias e nascimentos surpreendentes que criam o verdadeiro relacionamento”
(Ibid., p. 171).
Não existia mais o medo da natureza da vida-morte-vida, em especial do
aspecto da morte. Em grande parte da cultura ocidental, o personagem original da
natureza da morte foi encoberto por vários dogmas e doutrinas até o ponto em que se
separou em definitivo de sua outra metade: a vida. Fomos ensinados
equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos e
profundos da natureza selvagem. Aprendemos que a morte é sempre acompanhada
de mais morte. No desfecho da história, a morte esteve sempre no processo de
incubar uma nova vida.

A mulher -lobo na parceria luftiana

Precisamos desvelar que a mulher- lobo d’ As Parceiras não é uma


divindade feminina que divaga pelos meandros de labirintos e dunas do deserto para
retornar completamente altiva de sapiência, quiçá plena de alma. Uma vez que “a
alma é a parte viva do ser humano, aquilo que vive de si mesmo e que causa vida”
(JUNG, OC,1958 – 1981).
“Por que não morremos num período assim? Antes que tudo comece a
esbordar”, certamente indagara a narradora diante da tristeza não partilhada... “ Nem
sei se é no fundo ou na superfície que começa a erosão” (LUFT,2007,P.86); quiçá,
“começou a desfiar ali em cima uma espécie de ladainha que com os anos impregnou
todo casarão, e que eu jurava ouvir ainda quando morei lá” (p.14).
No entanto, uma das parceiras viaja pelos (in)cômodos dos corredores e
quartos, espalhando suas raízes mais caprichadas da “árvore” temida, a árvore
familiar de que eu também fazia parte” (LUFT, 2007, p. p. 13-14).
Assim, a narradora luftiana proporciona seu e nosso relacionamento de
intimidade com a natureza instintiva “das personagens, ajudando-nos na
compreensão das “histórias como se estivéssemos dentro delas, ao ‘molde de Éstes’;
em vez de encararmos como se elas fossem alheias a nós, como explica a autora de
Mulheres que correm com os lobos:
43

Penetrando numa história pela porta da escuta interior. A história falada toca
no nervo auditivo, e [seus impulsos] são transmitidos para cima, para o
consciente, ou, segundo dizem, para a alma... dependendo da atitude de
quem ouve (ÉSTES, 2018, P.39)

Pelos caminhos nas profundezas do cérebro, nosso ouvido funciona em


diferentes níveis: primeiro, o das conversas cotidianas; segundo, o contemplado à
aprendizagem e às Artes; e o terceiro, para que a alma possa adquirir orientação e
conhecimento de si em sua estadia na Terra. “Ouçam, portanto com a escuta da alma
agora, pois é essa a missão das histórias”, norteia-nos a Dra. Clarissa P. Estés (2018
p.40)
Sabia da história da minha avó Catarina a do sótão conhecia fragmentos da
loucura, das falas, das cartas, da morte misteriosa. Quem me contava era
Vânia, mas desinteressada como se falasse de uma pessoa desconhecida. As
empregadas também falavam muito nisso [...], me contavam histórias de almas
penadas e mexericavam sobre nossa família [...]. Uma avó louca, uma tia anã.
[...]
Nossa família era isso: os pais, felizes e alheados, pouco falavam conosco [...].
Papai indagava da escola, mas não éramos nós sua verdadeira preocupação:
era mamãe.[...]. E me senti mais só ainda.
Adélia me salvava: nos metíamos no meu quarto ou em cima de alguma árvore
do pátio, e inventávamos histórias, falávamos dos mortos e dos vivos, do nosso
cemitério da praia [...] Adélia não tinha medos: era só alegria, desejo de viver,
de amar. [...]
Havia também as minhas tias: a pintora nos visitava pouco e não nos levava
nunca ao seu ateliê. [...]; não se importava de não ser amada pelas pessoas:
o contato físico, mesmo conosco, a repugnava. Ou assustava? [...] Mas
embora minha mãe fosse assim alheada com seus livros e músicas eu a
amava muito, e sabia que ela me amava também na sua maneira etérea
pudesse lhe dar. Por isso, mais que meu pai, ele foi sempre o marido de Norma
[...]. Fiquei órfã de uma hora para outra. Tinha catorze anos: a idade da minha
avó quando casara. [...] Vânia e eu tivemos de viver com a tia Beata no
casarão. [...]
Enquanto eu me debatia sob uma superfície de fingido alheamento, as
parceiras ocultas, se divertiam comigo. A vida, uma vida boa, clara, alegre,
tinha de existir em algum lugar: eu a experimentara com Adélia [...] com meus
pais em raros momentos. Sabia que existia, fervia dentro de mim às vezes
como reflexo de algo afastado mas ainda assim meu. Em algum lugar.
Certamente não naquela casa, em que a única voz jovem era a do sótão
(LUFT, 2007, pp.24-29)

Assim, adentramos nas histórias ouvidas e narradas pela protagonista


Anelise, acompanhando relatos confidenciais de sua vida e de sua família de mulheres
perdedoras:
Éramos uma família de mulheres doidas, segundo Tia Dora. Pelo menos uma
família de mulheres, na qual os poucos homens entraram pelo casamento e
meu primo Otávio, pela adoção.
--- Só sai mulher ao meu saco ---disse meu avô Norma das raras vezes que o
vi. [...] Resmungava que naquela casa havia um bando de mulheres inúteis “.
Um bando de mulheres: diziam que até os abortos de Catarina tinham sido
meninas (LUFT, 2007, p. 17).
44

Acompanhamos assim como se parceiras fossemos, “como se a vida fosse


um jogo em que as peças mudam, mas as jogadoras são as mesmas” (LUFT,
2007,p.15). A princípio, incógnitas quando adentramos, quando “as peças do jogo não
tinham começado a sumir ou a confundir-se no tabuleiro” (LUFT,2007,p.11).
Decerto, isso também tivesse sido mais um “jogo sujo”, travessias do
destino, da “morte a derrubar do tabuleiro subitamente duas peças juntas, uma não
podia viver sem a outra. Poeira de gente no mar (LUFT, 2007, p. 27) ...são os pais de
Anelise.
Penetramos no romance luftiano pelos corredores (in)cômodos de suas
raízes, ao redor e nas entranhas do velho casarão da família de mulheres:
Vim no Chalé resolver minha vida, se é que ainda há o que resolver. Deve
uma carta para Tiago [...]. Então ajeitei o cachorro no banco de trás do carro,
e logo estava aqui. Cidadezinha de veraneio, [...] junto ao mar. Os pescadores
chamam nossa casa de “casa dos fantasmas”. Dizem que aqui se vêem
coisas, se ouvem vozes. Mas para nós, da família, sempre foi “o chalé”. Uma
construção grande e antiga, feia, de maneira pintada em cor ocre parece um
caranguejo saindo da praia, tentando escalar o morro que surge inesperado
das ondas. [...]
Passei aqui muitos dias deliciosos quando Adélia e meus pais eram vivos.
Hoje só eu me interesso em conservar o Chalé, que a caseira abre de vez em
quando para espantar o cheiro de morfo. Aparentemente nada mudou nem a
cor da madeira. Só que agora as paredes rangem mais (LUFT,2007,p.15).

Como a cidade ou o templo, a casa ocupa seu lugar representativo do


centro do universo; aqui, ela é a imagem do mundo familiar, isto é, a metáfora do
gênero feminino, quer seja como protótipo da família de mulheres, bem como um
reflexo feminino sobre interioridades da alma
Aqui da varanda vejo um entardecer macio. O mar fingindo não ter segredos,
nem outras vozes que não dele. Hora de solidão. Eu queria solidão para não
ferir aos outros nem ser machucada. Arestas demais. Agora, moça, você tem
sua solidãozinha, com a caseira, o cachorro e a veranista que volta e meia
aponta no morro. Um bando de mulheres sozinhas e doidas (LUFT, 2007, p.
46)

Uma vez no Chalé (com suas paredes que rangem o mofo das tristezas e
solidão) ressurge inesperadamente das ondas maternais como se do consciente
coletivo. Isto porque a casa significa o ser interior e os seus diversos estados
anímicos. “Vagava entre canteiros simétricos com flores”. (LUFT, 2007, p.52);
beirando suas raízes selvagens, o velho e arquétipo da família.
Se “a casa é símbolo feminino, com o sentido de refúgio, de mãe, de
proteção de seio maternal” (CHEVALIER e CHEERBRANT, 2002,p.197); por sua vez,
“ o caranguejo é o símbolo lunar [...] figurado na carta da lua do Tarô, porque esses
45

“as lembranças do passado a se confundirem com o tampo presente” na construção


da narrativa de Lya Luft.
46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A obra As Parceiras faz uma análise do passado da narradora Anelise,


para buscar nas suas raízes, uma melhor compreensão da saga das mulheres de sua
família, mostrando histórias vividas por todas.
Considerando que as personagens do livro de Luft, tiveram uma forte
propensão a maus casamentos e relacionamentos amorosos, elas não deixaram de
ligarem-se sentimentalmente quando algo lhe roubavam a paz assim como aconteceu
com os abortos de Anelise que serviu para que ela e sua irmã ficassem mais próximas.
Entretanto pode-se afirmar que embora não seja hereditário essa sina de
relacionamentos maus sucedidos, porém é uma ligação intrínseca entre as mesmas
pois foram, experiências vivenciadas desde crianças quando ainda estavam em
companhia da avó Catarina.
Anelise passou a vida inteira temendo ser como as outras mulheres de sua
família, que pareciam aceitar aquelas vidas incompletas, o que a fez lutar de todas as
formas que pôde contra esse desfecho.
Dessa forma, essa mesma luta levou-a diretamente a esse final, assim
como todas as mulheres da sua família. Elas são parceiras na tristeza e na tragédia,
cada uma a seu modo.
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REFERÊNCIAS

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