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São Luís
2018
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São Luís
2018
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Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Orientador (a): Prof.ª Dr. ª Maura Cristina de Melo Silva
___________________________________________________
Prof.ª Ms.ª
___________________________________________________
Prof.ª Ms.
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
RESUMÉN
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09
PARTE I: ESSÊNCIA E ESTRUTURA DA PSIQUE ........................................... 11
Consciência e inconsciente ............................................................................. 13
A Persona e a sombra ....................................................................................... 16
Self (Si mesmo) ................................................................................................. 19
Processo de individuação ................................................................................ 20
PARTE II: O ARQUÉTIPO FEMININO NO JOGO LUFTIANO ........................... 22
O Arquétipo do feminino selvagem ................................................................. 25
Peças femininas no jogo d’As parceiras: do cotidiano a contemplação ..... 28
A mulher - lobo na parceria luftiana ................................................................ 42
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 46
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 47
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INTRODUÇÃO
A escritora brasileira Lya Luft tem como qualidade uma literatura de base
intimista e psicológica, em que suas histórias giram sempre em torno de dramas e
tragédias individuais ou familiares. Seus protagonistas mergulham dentro do seu
próprio reflexo, em busca de autoconhecimento, observando o que se apresenta em
seu redor como uma extensão do seu “eu” que lhe escapa. Essa imersão é quase
sempre em um ambiente hostil, não pelo local físico, mas pelas relações frágeis,
ambíguas e avessas, em que o sentimento predominante é de impotência ante a vida
de aparência de uma triste realidade.
Luft Luft consegue traduzir vários sentimentos de famílias devastadas,
conjectura nas linhas dos romances aquilo que se tenta esconder no seio familiar.
Fatos e pensamento que são ocultos, em que os personagens preferem não notar, ou
“varrem para debaixo do tapete” veem a tona nas entrelinhas ou submergem a cada
trecho da obra. Notamos em suas histórias aqueles fatos que estão no “embaixo”, no
escuro ou no obscuro; Os quais são segredos inconfessos, até a si mesmo, pois que
são obscuridades recônditas do íntimo. Em suas narrativas há a necessidade da fuga
diante do estado terrível da realidade para um mundo de sonho, quase uma “terra do
nunca”.
Observamos a decifração do sonho, do irreal e a instabilidade das
personagens na vivência desses sonhos que formam as principais peculiaridades que
compõe no enredo aquilo que há de mais sensível em termo de emoção. Esses
escapes alheios à realidade fazem com que personagens luftianas sofram pela
exclusão e marginalização do meio social, ou do próprio lar.
Tais narrativas são permeadas de sentimento, sensação, introspecção e
repressão dos personagens em suas narrações. Pela genialidade da escritora Luft e,
inclusive, pela originalidade de seu trabalho há vasto campo e profundidade luftiana
para ser estudado em torno da extensa obra. Eis, portanto, o motivo da escolha; Além
do apresso pessoal pelo supracitado romance. Nosso trabalho culmina em mais uma,
ou uma das poucas contribuições e apreciações no curso de Letras (UFMA), mais
precisamente, precursora pela abordagem arquetípica da sua obra As Parceiras.
Em As parceiras, a partir de uma temática de caracterização da melancolia
refletida no momento em que o indivíduo passa a se sentir essencialmente só,
abstraído da sociedade pela sensação de existir isoladamente. Analisa-se a
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Carl Gustav Jung dividiu a sua psicologia analítica numa parte teórica com
principais pontos; primeiro, a estrutura da psique; segundo as leis de
desenvolvimento e atuação da psique; e em outra parte, entendida como prática, a
qual se tem a teoria aplicada como um método de cura.
A Dra. Jolande Jacobi afirma que “se quisermos chegar a uma dele,
reconhecendo com ele a realidade plena de todo o psíquico” (2013, p. 15). Daí o nosso
ensejo de irmos até as fontes primarias dos conceitos junguianos do próprio Autor.
Para o mesmo teórico segundo Jacobi, “todo o psíquico não é menos real
do que todo corpóreo”, isto é, “é passível de experiência e observação plena e clara
em sua imediaticidade” (2013, p.15). Logo, como anteriormente citado, Jung
reconhece a realidade plena de todo o psíquico. Este, portanto, “trata-se de um mundo
por si, regido e estruturado por leis e equipado com recursos de expressão próprios”
(2013, p. 15).
Em se tratando disso, Jacobi faz o seguinte comentário: “tudo que sabemos
sobre o mundo, assim como tudo que sabemos sobre nosso próprio ser, chega a nós
apenas através da intermediação do psíquico” (2013, p. 15).
Para melhor explicar, Jacobi utiliza como empréstimo tal citação: “a psique
não faz qualquer exceção da regra geral, segundo a qual a essência do universo só
pode ser constatada na medida em que o permite nosso organismo psíquico” (JUNG,
OC 10/3, § 68).
Logo, podemos conceber que tal psicologia moderna e empírica tanto
participa das ciências da natureza quanto às ciências do espírito, assim como dissera
Jung:
Nossa psicologia considera tanto o ser humano natural quanto cultural, e em
consequência disso, em suas explicitações, deve focar sua mirada nos dois
pontos de vista, no biológico e no espiritual. [A considerar] o ser humano
como um todo (OC 17, § 160).
psiquismo esotérico. Mas sim, “investigar esse ‘psíquico’ como o ‘órgão’ a nós
concedido para apreender o mundo e o ser, para observar seus fenômenos, descrevê-
los e arranjá-los numa ordem de sentido, é a meta e o objetivo de Jung”
(JACOBI,2013, p.17).
Logo, sendo assim, o nosso pensador e psicólogo mantêm sua fidelidade
ao ponto de vista psicológico, edificando um conhecimento fundamental e profundo
da realidade psíquica, erguido sobre uma base sólida da experiência. Tal edificação
tem duas colunas mestras, a saber:
1) o princípio da totalidade psíquica.
2) O outro é o princípio da energia psíquica.
Na consideração mais detalhada desses dois princípios, assim como do
emprego prática da teoria, devem ser usadas na medida do possível as
definições e explicitações dadas pelo próprio Jung [...]. Ao mesmo tempo, é
preciso mencionar aqui que, quando se trata de procedimento prático da
análise psicológica, Jung emprega a expressão “psicologia analítica” para
identificar sua teoria. [...]. Mas tarde cunhou o conceito da “psicologia dos
complexos”, que empregava sempre que apareciam no plano de frente
pontos de vistas relativos a princípios e à teoria; com esse conceito queria
destacar que, em contraposição com outras teorias psicológicas [...], sua
teoria ocupava-se com fatos psíquicos complexos, ou extremamente
complicados (JACOBI 2013 ,p.p 17/18)
Consciência e inconsciente
Diagrama I
A linha divisória que separa as duas esferas uma da outra em nosso eu pode
deslocar-se para as duas direções, como vem indicado na ilustração por meio
das setas e das linhas pontilhadas. Pensar que o eu se encontre
precisamente no centro é naturalmente apenas uma representação como
recurso e uma abstração. Da possibilidade de deslocamento se depreende
que, quanto menor a parte superior, tanto mais estreita a consciência e vice-
versa.
Se considerarmos a relação dessas duas esferas entre si, vemos que nossa
consciência perfaz apenas uma mínima parte do todo da psique [...]. Está
como que nadando como uma pequena ilha sobre o ilimitado mar do
inconsciente, mar imensurável e que abarca o mundo inteiro (JUNG, OC 11/1,
§ 141).
Ao assumir com sucesso essa árdua tarefa de expor resumidamente tais traços
fundamentais das teorias junguianas, Jacobi ainda explica que “essa parte coletiva do
inconsciente não abarca apenas conteúdos específicos de nosso eu individual ou
provenientes de aquisição pessoal, mas ‘das possibilidades herdadas do
funcionamento psíquico como tal a saber, da estrutura do cérebro herdada’”,
(2013,p.25), como dissera o próprio Jung (OC 6,$841). Ambos concebem esse
patrimônio herdado como proveniente do humano em geral, ou até, quiçá, do
animalesco e instintivo, formando a base estrutural de todo psíquico individual.
Concluímos então, segundo a argumentação de Jacobi, que “o inconsciente é mais
antigo que a consciência. É o que é dado originariamente, a partir de onde se destaca
a consciência” assim, a consciência edifica-se apenas “secundariamente sobre a
verdadeira atividade anímica, que é um funcionar do inconsciente” (2013, p.p. 25,26)
Diagrama II
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Diagrama III
A Persona e a sombra
Tem -se como sombra “a parte inferior da personalidade”. Isto se dá, diz Jung , “
devido à sua incompatibilidade com a forma de vida conscientemente vivida, a soma
de todas as disposições psíquicas pessoais e coletivas não é vivida e se aglutina numa
personalidade [...] autônoma, com tendências contrárias no inconsciente” (JUNG,
apud ROTH, 2011, p.85). Ela tem características compensatória em relação a
consciência, causando efeito tanto positivo quanto negativo. É importante salientar
que, enquanto figura onírica, a sombra faz parte do inconsciente pessoal, mas a pode
se manifestar como entidade do inconsciente coletivo pertencente ao arquétipo.
Wolfgang Roth comenta a importância individual da sombra, ou seja, a mesma
pode ser concebida no âmbito do inconsciente que se refere a repressão de conteúdos
que não estão de acordo com a consciência, [...] com a forma de vida conscientemente
vivida, torna-se patente a dicotomia” no entanto ele argumenta que “a sombra deve-
se sua existência ao trabalho de repressão que é realizado para apresentar e
conservar uma persona” (2011, p.86). Logo, a sombra se opõe diretamente a persona.
Portanto aquela será apresentada como adversária direta desta.
Segundo explicação de Roth,
Se a persona é qualificável como “máscara” e função adaptativa em primeiro
lugar a partir da situação individual de vida, deve-se aplicar à sombra,
igualmente em primeiro lugar, a qualidade de apropria-se desses conteúdos
pessoais, isto é, representar um campo do inconsciente individual. (2011, p.87)
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Processo de individuação
Por sua vez, Wolfgang Roth alerta que o termo “arquétipo”, no sentido de “tipos
desde tempos remotos”, tome seu lugar na linguagem cotidiana; ou seja, sua
compreensão psicológica ainda causa embaraços e dificuldades. Segundo ele, “a
denominação inicial de imagens “primordiais” é mais compreensível, até porque Jung
pesquisou a origem das mesmas com a ajuda de imagens, ou símbolos concretos,
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Talvez o primeiro passo para libertar a mulher selvagem seja ter coragem
para se destacar da massa e seguir seu próprio caminho, isto é, realizar o processo
de diferenciação. Em nossa cultura há um estigma voltado para tudo o que é diferente,
haja vista a necessidade da criação da política da inclusão social; tal fato, pode ser
observado pelas denúncias de Lya Luft em seu romance As Parceiras e seus
personagens femininos estigmatizados.
Então, para ser mulher e você mesma empoderada, deve o feminino deixar
fluir o que naturalmente emana de si, é preciso ter ousadia. Isto, na maioria das vezes,
acaba se tornando um caminho solitário, tal qual o caminhar das personagens
luftianos principalmente o da protagonista e veranista Anelise.
Outras vezes, a própria mulher se perde por caminhos e atividades que
roubam e/ou desviam a sua energia. É preciso estarmos atentas aos predadores
externos e internos. Trilharmos o rumo certo é um desafio para a grande maioria. Diz
a autora: “Há uma necessidade correta e oportuna de acordar para um movimento
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destrutivo dentro da própria psique; para aquilo que está furtando nosso fogo;
intrometendo-se na nossa energia; roubando de nós o lugar, o espaço, o tempo e o
território para a criação” (Ibid., p. 94).
Muitas vezes isto vem expresso na forma de sonhos. Existe um sonho
iniciático universal entre as mulheres: o sonho com o “homem sinistro”. Em geral são
terroristas, estupradores, bandidos que a aterrorizam e ameaçam sua integridade
física e psicológica. O “homem sinistro” surge na obra As Parceiras logo no início,
referente ao capitulo domingo no diário de Anelise. Surge como um jogo surjo, assusta
e agride como um predador, a priori como “o destino zeloso e patriarcal na vida de
Catarina von Sassen:
O destino foi zeloso: caçou-a pelos quartos do casarão, seguiu-a pelos
corredores, ameaçou arrombar os banheiros chaveados como arrombava dia
e noite o corpo imatura. Mais tarde, entenderam que os arroubos de meu avô
eram doentios: nada aplacava suas virilhas em fogo (LUFT, 2007,p.13)
Lya Luft teve obras premiadas tais como: O rio do meio considerada a
melhor obra de ficção de 1996, com o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de
Arte. Em 2013 recebe o prêmio Machado de Assis pela academia brasileira de Letras
com a obra O tigre na sombra (2012) eleita como melhor ficção do ano na categoria
romance.
Na obra As Parceiras, somos apresentadas a protagonista Anelise que,
enquanto narra a histórias femininas da família, procura no passado as razões para
seu infortúnio no jogo da vida. Sua narrativa compõe os capítulos do romance em
questão, cujos os capítulos são divididos em sete dias da semana intitulados como se
fossem folhas de um calendário; é o tempo em que a protagonista passa na praia, no
Chalé de sua família de mulheres. É o tempo de rememorar trazendo as narrativas
íntimas e marcantes. É o passar das páginas do tempo, do passado e do presente,
onde Anelise busca a coragem para enfrentar antigos fantasmas, inclusive conduzindo
o público leitor a sua dimensão torturada. Apresentam-nos ao universo feminino de
sua família conturbada por traumas da infância e suas sequelas.
As Parceiras é um romance sobre mulheres, sem que isto signifique literatura
feminista. É uma visão feminina sob uma família marcada pela loucura, pela
morte, por um mundo decadente que a envolve e desagrega. A vida de
Anelise, narradora desta história, está à beira do caos. Mas ela busca no
passado as razões para seu infortúnio e encontra coragem para enfrentar os
fantasmas que a perseguem: a avó Catarina – uma menina linda, obrigada a
se casar aos 14 anos com um homem rude, o que a leva a um isolamento
físico e mental; tia Beata – uma figura grotesca que marca a sua infância; a
amiga Adélia – a ausência para sempre sentida; a irmã Vânia – seu oposto,
uma mulher forte, mas que esconde um segredo.
No casarão da família, as lembranças de outrora se confundem com o tempo
presente. Anelise tem medo da casa, das vozes na cozinha, do barulho do
vento nas frestas e, principalmente, do sótão, lugar proibido, lugar de
confinamento. Numa narrativa construída sobre uma circularidade de
elementos que dão suporte ao texto, Lya permite que Anelise uma as pontas
soltas de sua história e, assim, vá lutando contra o fardo de sua herança,
contra a repressão da sociedade e contravalores hipócritas. ( CITAÇÃO DE
CAPA)
Personagem Catarina
Catarina um nome feminino que inicia essa obra de Luft; fizera-se mulher
quando ainda menina, aos 14 anos, mal começara a sua vida menstrual quando
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alternativa que encontrou para continuar a sua existência, foi isolar-se no seu mundo
irreal até deparar-se com a morte definitiva.
Personagem Beata
protegidas, o pai raro e grosseiro. Magra e taciturna, mesmo nas poucas fotos
de menina. Casara e enviuvara em pouco tempo, voltara ao casarão, a mãe
enfurnada lá em cima. Começou a cuidar dela, depois de Bila. (LUFT, 1980,
p. 25).
Personagem Sibila
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purificando o coração de sua irmã Beatriz que a cuidava com um amor fraternal-
materno e como Jung coloca na citação acima o clarão que Sibila acendera com a
sua transformação colocando todas as vítimas da história de sua família como peças
de seu quebra cabeça insignificante.
Personagem Dora
Dora era a segunda filha de Catarina nascida viva. Parecia ser a mais
diferente da família. Sua profissão era de pintora, não se prendia a casamentos, vivia
entre um e outro e tinha uma vida aparentemente “livre” da sina que assolava as
mulheres daquela família. A narradora retrata Dora como um exemplo a ser seguido,
um modelo que sinaliza um afastamento do grupo de mulheres que rompe o vínculo
de pertencimento entre elas.
A personagem fora uma das tias que menos a narradora conheceu. Ela
quase não ia ao casarão visitar a família e também não tinha o costume de levá-las
ao seu ateliê. As impressões trazidas da vivência de infância da narradora Anelise
com a sua tia Dora foram baseada nos poucos momentos que tiveram juntas. A
narradora relata que sua tia era bonita, ressalta qualidades que a encantava e ainda
dizia que queria que fosse como ela. Em um de seus relatos sobre as tias ela coloca:
Havia também as minhas tias: a pintora nos visitava pouco, e não nos
levavam nunca ao seu ateliê. Eu sabia que tivera vários maridos, que viajava
muito, que adotara aquele meu único primo, Otávio, um menino esquivo mas
simpático. Tia Dora era bonita, parecia alegre também, de uma vitalidade que,
nos raros encontros, me impressionava: assim que eu queria ser. Assim
desejava que fosse minha mãe: interessada, viva, falastrona, exuberante.
(Luft, 1980, p. 21).
Essa vitalidade toda de Dora foi aos poucos se mostrando como ela não
diferia tanto da sina das mulheres de sua família quanto a narradora pensara no início
dos relatos de sua tia. Embora ela não tenha se firmado a um casamento falido como
o de sua mãe Catarina e de sua irmã Beatriz ela tinha a angustias da solidão mesmo
quando adotara o seu filho Otávio, teve tanta solidão quanto às outras mulheres de
sua família tiveram. Essa solidão se concretiza no afastamento que a tia Dora prefere
manter de sua família.
Tia Dora tinha essa autoconfiança, esse espirito independente, pois ela não
se prendia a ninguém matrimonialmente, e seus objetivos foram colocados no terreno
da arte e de cuidar de seu filho adotivo Otávio.
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Personagem Norma
Norma seria a terceira filha de Catarina, a mais que se parecera com ela
fisicamente. Sua presença na história teve pouca relevância embora tenha sido a
personagem que se deu “bem” no casamento tivera uma relação materna de
distanciamento com suas filhas. Parecia ser frágil e necessitar de cuidados extremos.
Encontrou no marido o refúgio que precisava para fugir de suas obrigações de mãe e
de dona de casa. Vivia para ao marido e ele para ela, e mesmo assim não deixou de
ganhar o amor de suas filhas. Anelise relata:
Mas, embora minha mãe fosse assim, alheada com seus livros e músicas, eu a
amava muito, e sabia que ela me amava também, na sua maneira etérea e infantil.
Era uma mulher alta, clara, bonita, parecendo com minha avó. Apenas, tão
esquecida: sempre perdendo suas coisas, pedia que ajudássemos a encontrar o
livro, a partitura, o lenço. Depois sorria um sorriso inocente, parecia um pouco
admirada de nos ver ali, ao seu redor, de sentir-se amada e necessária. Uma
menina crescida, com quem se tinha vontade de brincar de comidinha e casa de
bonecas. (Luft, 1980, p. 22).
Essa forma de viver levou Norma a ter um mundo só dela. Anelise a coloca
como uma fada, linda e boa, ainda tentou algum diálogo sobre sua avó, mas Norma
ao ouvir sempre dava evasivas e ficava triste quando lhe era indagada se realmente
a mãe era louca. A narradora descreve Norma como frágil, que necessitava de muitos
cuidados e que dependia para sobreviver de todos os cuidados que o seu pai lhe
dedicara ao longo de seu casamento.
Assim era Norma, com sua fragilidade de menina, sua jovialidade, tinha
apenas entendimento para compreender o horror que fora a história de sua família e
no mais vivia para o marido e amava as filhas à sua maneira, porém tinha um mundo
paralelo a todos.
Personagem Vânia
Vânia simplesmente achava que a sina de sua família não podia atingi-la,
achava que era diferente das mulheres que eram predestinadas a maus histórias de
amor, mal sabia o que lhe reservava ao casar com o homem de seus sonhos.
Ao começar seus laços matrimoniais, a jovem foi vista como uma “sortuda”
que tinha arranjado o casamento perfeito e que nada poderia abalar a sua vida ao
lado de seu príncipe. “Por muito tempo acreditei que Vânia não tinha nenhum medo,
nenhum problema, que não gastava preocupação alguma com nossa família” (LUFT,
1980, p. 34), descreve Anelise. Ao encontrar-se com a irmã, a protagonista, descobriu
a farsa por detrás do seu casamento perfeito, que sonhara com uma vida de união
preenchida e satisfatória. “Vânia fora a única aparentemente predestinada a uma vida
normal. Corajosa, forte, independente. Merecia escapar”. (LUFT, 1980, p. 72). Na
verdade ela vivia uma vida de aparência com seu lindo marido. Anelise descreve:
Tia Dora me ajudou muito, até Vânia me fez companhia, de repente achei
mesmo que ela tirara a máscara de superficialidade. A dor nos fazia irmãs.
Para me distrair dos meus dramas, punha-se a falar dos seus. Foi assim que
fiquei sabendo da promessa que o marido exigira antes de casar: nada de
filhos, ele não podia arriscar, com aquela família, a tia anã, a avó doida. O
casamento começara a desmoronar ali: ninguém se prende a vida toda numa
criatura desanimada e insatisfeita. Se o marido a amasse, não teria exigido a
promessa. (Luft, 1980, p. 86).
Para ter uma vida feliz, prometera não ter filhos e isso lhe angustiava após
ver sua solidão quando seu cônjuge saia para uma vida de orgias com outras mulheres
e a deixava sozinha com sua amargura de não poder ter filhos. Triste vida de Vânia.
Arquétipos femininos que retratam essa personagem Neumam (1955) apud
Fonsenca (2000) coloca que:
Neumann (1955) quando analisa o arquétipo feminino refere-se, dentro dos
aspectos de estudo da psicanálise, à imagem primordial ou arquétipo da
Grande Mãe como a uma "imagem interna, trabalhada no interior da psique
humana". A relação existente entre a construção e elaboração dessa psique,
sofre influência de uma historicidade e, como tal, opera transformações,
marca e define. Crê o mesmo autor, que a expressão simbólica deste
fenómeno psíquico fundamenta-se nas figuras das Grandes Deusas,
representadas nos mitos e criações artísticas do gênero. (FONSECA, 2000,
P. 226).
que sentia pelo seu esposo, ela foi marcada definitivamente pela falta de um amor
materno. E isso lhe custara um complexo de negação de sua identidade materna.
Jung (2000) coloca isso como:
De todas as formas de complexo materno é na segunda metade da vida que
ela tem as possibilidades de ser bem-sucedida no casamento, mas isso só
depois de sair vencedora do inferno do apenas-feminino, do caos do útero
materno que (devido ao complexo negativo) é sua maior ameaça. Um
complexo só é realmente superado quando a vida o esgota até o fim. Aquilo
que afastamos de nós devido ao complexo, deveremos tragá-lo junto com a
borra, se quisermos desvencilhar-nos dele. (Jung, 2000, p. 107).
Viveu seus dias de gloria quando seu primo estava em sua companhia no
casarão, mas tão logo ele fora embora sua vida nostálgica voltara a ser como antes e
assim sua convivência com sua tia Beatriz voltou a ser entediante. “Quando fiz dezoito
anos, a convivência com tia Beata se tornou insuportável. Ela não podia mais comigo,
repetia a todo instante. Afinal, tia Dora concordou em ficar comigo, eu não era mais a
criançola precisando de controle”. (LUFT, 1980, p. 57).
Ao ir morar com a tia Dora, Anelise, teve uma vida mais sociável, “a
Faculdade me impunha novos horários, eu precisava de mais liberdade” (LUFT, 1980,
p. 59). Adaptou-se com uma espantosa rapidez, fez novas amizades e namorados,
estava a espera dessa vida por muito tempo.
Conviveu alguns anos com a tia Dora, mas logo conheceu Tiago seu futuro
marido. “Finalmente pertencia a alguém, e queria pertencer mais ainda, partilhar tudo:
casa, cama, pensamentos, corpo, recantos que até eu ainda estava por descobrir”.
(LUFT, 1980, p. 63). Ao se juntar em matrimonio, Anelise vivera momentos de plena
felicidade. “A felicidade dos primeiros tempos de casados me fizera achar que o mal
sumira como aquelas flores do campo, bolinhas de plumas de seda, a gente sopra e
somem no ar. Dente-de-leão” (LUFT, 1980, p. 80). Chegou até a pensar que sua vida
amorosa seria diferente da vida das mulheres de sua família, até que resolveu que
queria ter um fruto desse amor.
A história vinha de longe. Todo mundo queria ter filho, mas em mim isso foi
mais que um sentimento natural. Depois das tempestades da paixão, comecei
a sentir falta de uma criança junto de Tiago e de mim. E, sem notar quase,
também iniciei um jogo de esconde-esconde com meus antigos medos. Como
costumavam ser as crianças na nossa família? A avó, louca. A tia, anã. Bila
era uma criança da nossa família. (Luft, 1980, p. 79).
A certeza de que queria ser mãe foi tomada por Anelise durante muito
tempo,e isso contribuiu para muitos acontecimentos em sua vida. Estava tão ansiosa
por realizar esse papel que começou a ser seu objetivo principal. Apesar de seu
cônjuge compartilhar do mesmo desejo, ela queria incessantemente. Porém houve a
primeira decepção.
Foi aí que tive o meu primeiro aborto. Dor, repouso, hemorragia, pedaço de
carne vermelho, escura na mão do médico. Chorei muito, porque queria estar
na ala da maternidade do hospital — só que a criança deveria ter esperado
mais seis meses. (Luft, 1980, p. 80).
destino sem êxito. E durante algum tempo houve essas tentativas e todas sem
sucesso. Uma até teria se estendido até o sétimo mês, era a sua concepção mais
demorada. E estava feliz, pois achava que desta vez a gravidez iria vingar. Inútil sua
esperança. Sua vida se transformava em um deserto no qual sua única vontade de
viver era a esperança e segurança de uma gravidez que vigasse. Eis que os meses
se passaram e o casamento foi desabando aborto após aborto.
Não sobrava tempo para Tiago, nem calor. A paixão dos primeiros anos se
apagara, nos períodos de gravidez não podia fazer amor, se pudesse teria
medo demais de qualquer jeito: e se Tiago matasse a criança na minha
barriga?
Quando queria engravidar, podia amar à vontade, mas ficava hirta, seca,
implorando: por favor, meu Deus, este filho tem de ser perfeito, tem de nascer,
tem de dar certo.
Um patético fingimento de amor, Tiago se afastava depois, quieto e sombrio.
Estávamos apenas inaugurando uma nova morte, eu pensava, para que
alegria? (Luft, 1980, p. 84).
Entretanto sua felicidade foi breve, sua maternidade tão desejada outrora
foi dissipada como um sopro de uma vela. Seu bebê não tivera nem tempo de
desfrutar da família perfeita que Anelise queria para ele; em um acidente na hora do
parto, nascera com uma paralisia cerebral, lhe deram apenas nove meses de vida.
“Agora eu tinha o filho tão desejado. Bonito e bonzinho, Tiago e eu tínhamos brincado
sobre a minha provável atrapalhação com um bebê quase aos quarenta”. (LUFT,
1980, p. 93).
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O que lhe parecia o começo de uma nova vida foi apenas o início do fim de
suas esperanças para com o seu casamento e sua família perfeita. Não se trancou
num sótão por que não havia nenhum no apartamento em que ela morava, seu sótão
era ela mesma, até pensou consigo que poderia ter feito como sua irmã Vânia que
prometera não ter filhos, mas sabia que não iria aceitar uma proposta dessa vinda de
seu amado marido, queria a todo custo a prova de como é ser mãe e a experiência de
todo esse processo até cegar nas vias de fato que é realmente ser mãe. “Não haveria
promessa alguma, eu queria aquela prova, precisava dela. A prova estava estendida
ao lado da minha cama”. (LUFT, 1980, p. 94).
Anelise agrupava várias imagens dentro de si. Sua avó Catarina, sua mãe,
suas tias e sua irmã. Todas contribuíram para formar a personalidade dela. Jung
(2001) chama a isso de inconsciente coletivo:
O inconsciente coletivo é uma parte da psique que pode distinguir-se de um
inconsciente pessoal pelo fato de que não deve sua existência à experiência
pessoal, não sendo, portanto, uma aquisição pessoal. Enquanto o
inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram
conscientes e no entanto desapareceram da consciência por terem sido
esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca
estiveram na consciência e, portanto, não foram adquiridos individualmente,
mas devem sua existência apenas à hereditariedade. Enquanto o
inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de complexos, o conteúdo
do inconsciente coletivo é constituído essencialmente de arquétipos. (Jung,
2000, p. 53).
Penetrando numa história pela porta da escuta interior. A história falada toca
no nervo auditivo, e [seus impulsos] são transmitidos para cima, para o
consciente, ou, segundo dizem, para a alma... dependendo da atitude de
quem ouve (ÉSTES, 2018, P.39)
Uma vez no Chalé (com suas paredes que rangem o mofo das tristezas e
solidão) ressurge inesperadamente das ondas maternais como se do consciente
coletivo. Isto porque a casa significa o ser interior e os seus diversos estados
anímicos. “Vagava entre canteiros simétricos com flores”. (LUFT, 2007, p.52);
beirando suas raízes selvagens, o velho e arquétipo da família.
Se “a casa é símbolo feminino, com o sentido de refúgio, de mãe, de
proteção de seio maternal” (CHEVALIER e CHEERBRANT, 2002,p.197); por sua vez,
“ o caranguejo é o símbolo lunar [...] figurado na carta da lua do Tarô, porque esses
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
JUNG, C.G.; Civilização em transição; tradução de (?). --- Petrópolis, RJ: Vozes,
(s/d) OC., vol.10/03,
ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do
arquétipo da mulher selvagem; tradução de Waldéa Barcelos. --- 1° ed.--- Rio de
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ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do
arquétipo da mulher selvagem;--- Rio de Janeiro; 1999
CHEVALIER, Jean [et al.] GHEERBRANT, Alain; tradução de Vera da Costa e Silva...
[et.al]. ---17° ed. -- Rio de Janeiro: José Olimpyo, 2002