Sei sulla pagina 1di 9

ARTIGO ORIGINAL

Rodrigo Silva Perfeito1


O jogo como ferramenta no
desenvolver cognitivo, psicomotor,
afetivo e social de crianças e
adolescentes à luz de autores clássicos
The game as a tool in developing the cognitive, psychomotor,
affective and social of children and adolescents in the light of
classical authors

> RESUMO
Objetivo: Sugerir o jogar como alternativa que irá afetar positivamente o desenvolvimento global de crianças e adolescentes,
tendo em vista que a estimulação corporal e cognitiva, através de jogos, tem vital importância para o desenvolvimento
global de crianças e adolescentes, influenciando em diversos aspectos, como: habilidades psicomotoras, coordenação,
relação/espaço temporal, visão periférica, equilíbrio físico e manutenção da saúde. Métodos: Trata-se de uma pesquisa
qualitativa analítica, em que são utilizados autores clássicos para discorrer sobre os benefícios do jogo para o grupo em
questão. Conclusão: Por fim, é possível concluir que os jogos, quando bem planejados, podem estimular a integração dos
aspectos sociais, afetivos e motores destes indivíduos.

> PALAVRAS-CHAVE
Jogos e brinquedos, desenvolvimento do adolescente, educação física e treinamento.

> ABSTRACT
Objetive: To suggest the game as an alternative that will positively affect the overall development of children and
adolescents, having in mind that body and cognitive stimulation, through games, has vital importance for the overall
development of children and adolescents, influencing in several aspects, such as: psychomotor skills, coordination, relation/
temporal space, peripheral vision, physical balance and maintenance of health. Methods: This is a qualitative analysis, in
which classical authors were used to discuss the benefits of the game for the group in question. Conclusion: Finally, it is
possible to conclude that games, when well planned, can stimulate the integration of social, emotional and motor aspects
of these individuals.

> KEY WORDS


Play and playthings, adolescent development, physical education and training.

1
Mestrando em Ciências da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Especialista em Educação Física Escolar
(UERJ). Fundador e Diretor do Instituto de Pilates, Fisioterapia e Educação Fisart. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Suporte Financeiro: Financiado pelo Instituto de Pilates, Fisioterapia e Educação Fisart -www.fisart.com.br
Rodrigo Silva Perfeito (rodrigosper@yahoo.com.br) - Estrada Adhemar Bebiano, 4595, casa 91, Engenho da Rainha - Rio de
Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20765-171.
Recebido em 23/01/2013 – Aprovado em 30/07/2013

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013
8 O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, Perfeito
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

> INTRODUÇÃO na compreensão de algumas atitudes emprega-


das pelos adolescentes e crianças.
A estimulação corporal e cognitiva, através Realizando uma busca simples pelos prin-
de jogos, tem vital importância para o desen- cipais bancos de dados de artigos, é possível
volvimento global de crianças e adolescentes, observar que um dos assuntos mais discutidos
influenciando em diversos aspectos, como: ha- sobre o grupo em questão é a epidemia mun-
bilidades psicomotoras, coordenação, relação/ dial de obesidade dos jovens adolescentes3,4,5,6,7.
espaço temporal, visão periférica, equilíbrio físi- São criados diversos programas sociais e edu-
co e manutenção da saúde. cacionais que utilizam o jogo para minimizar
Em primeiro lugar, é importante expor o seus danos à saúde. Esta abordagem trabalhará,
que é autor clássico, já que vários serão utiliza- não com os aspectos de promoção da saúde,
dos neste trabalho. Segundo Murad1, clássico é mesmo sabendo que são fundamentais para o
tudo aquilo que foi importante para sua época desenvolvimento do adolescente, mas sim com
e, após anos, continua sendo relevante e atual questões pedagógicas e de cunho simbólico,
aos pensamentos contemporâneos. que irão ajudar a contextualizar o indivíduo
Para incidir uma aprendizagem significati- diante da trama do jogar.
va, o processo educacional deve advir por meio Simbólico para Cassirer8 é tudo aquilo que
da progressão pedagógica, evoluindo até al- permite pensar na representação do ser humano
cançar atividades mais complexas. Uma forma embasado. não somente na racionalidade, mas
de estimular esse desenvolvimento progressivo também na ideia de que o Homem é condicio-
é por meio da expressão motora, que permite nado por comportamentos, ideais, emoções,
diferentes níveis de complexidade. Assim, desde pensamentos e ações moldados pela essência
seus primeiros anos de vida, o indivíduo deve ser simbólica, que é inerente à vivência de cada um.
excitado a se autorreconhecer e a reconhecer o Relata, ainda, que a evolução do processo cultu-
seu ambiente por movimentos proporcionados ral humano está diretamente ligada à constru-
pelo jogar. Por exemplo, a utilização da pegada ção da vida através dos símbolos.
com as mãos em algum material do jogo pode Para tanto, o objetivo deste artigo se distin-
refletir em maior habilidade com a escrita. gue, pois visa sugerir o jogar como alternativa
Portanto, além de estímulos ocorridos que irá afetar positivamente o desenvolvimento
em ambiente familiar, é de grande valia que o global de adolescentes e crianças. É importante
professor de Educação Física utilize jogos diver- que o docente compreenda que suas ativida-
sificados que introduzam valências psicomoto- des devem impulsionar, também, sentimentos
ras, cognitivas, afetivas e sociais, auxiliando no positivos sobre a imagem corporal, tema mui-
desenvolvimento global do aluno. A atividade to discutido, principalmente em adolescentes
bem orientada permite, também, que o mes- que sofrem perturbações emocionais, como o
mo possa ultrapassar e entender suas próprias bullying. Diante de pesquisas de Auxter et al.9,
dificuldades. foram constatadas influências favoráveis, por
Porém, a atividade desconstituída de estru- meio de atividades físicas bem elaboradas, onde
tura pedagógica não trará resultados satisfatórios. o autoconceito de pessoas cognitivamente atra-
Deve-se pensar, por exemplo, nas classificações sadas foi afetado positivamente.
comportamentais típicas de crianças em confli- Agregando as inserções de Vygotsky10 e pen-
to, que serão abordadas com maior propriedade sando em nossa cultura popular, é sugestivo afir-
à frente, desenvolvidas por Reinert2, que são: o mar que o jogo é importante ferramenta de co-
comportamento de “acting-out”, comportamen- nhecimento de vida e de manifestação da cultura.
to de afastamento, comportamentos defensivos No momento atual, estamos consumidos pela
e comportamentos desorganizados, auxiliando manifestação de globalidade, na qual crianças

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013 Adolescência & Saúde
Perfeito O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, 9
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

e adolescentes permanecem restritas a estímu- Os jogos e o desenvolvimento psicomotor


los tecnológicos, predominantemente estáticos, de crianças e adolescentes
perspectivados apenas em ambiente residencial. Ao ser estimulado o corpo, é possível desen-
Assim, faz-se de suma importância alertar para a volver o sistema nervoso central (SNC), que, por
importância de atividades lúdicas e estímulos mo- sua vez, é responsável pela coordenação, comu-
tores propiciando a experimentação de diferentes nicação entre os sistemas e suporte às funções
esferas da vida pelo palpar do jogo. cognitivas. Portanto, a imagem corporal de um
Tal pesquisa justifica-se por tratar de um bebê amadurece aos poucos, na medida em que
tema estudado abundantemente pelo autor, o mesmo experimenta estímulos do ambiente,
sendo de seu contentamento a continuidade das como o toque, a exploração do espaço, a mani-
reflexões já publicadas e por possuir fácil cons- pulação e contato com objetos e suas cores. Ini-
trução do estudo da arte, devido ao acúmulo de cialmente, a pessoa não consegue separar e dis-
livros e de trabalhos salvos em biblioteca pessoal tinguir seu corpo dos demais corpos animados
ao longo dos anos. É relevante, pois resultará ou inanimados. Gradativamente, ao se maturar,
numa publicação que auxiliará nas discussões crescer e desenvolver, compreende que seus mo-
em torno do jogo como elemento simbólico que vimentos são diferenciados dos demais objetos12.
auxilia no desenvolvimento global de indivíduos, Assumindo a importância da estimulação
decorrendo em mais uma possibilidade de fonte corporal para o desenvolvimento global do in-
científica, além de sugerir e revelar estudos im- divíduo, é necessário explanar também sobre as
portantes para solidificar a atuação profissional habilidades psicomotoras, que incluem: a resis-
do professor de Educação Física Escolar, auxilian- tência à fadiga, a visão periférica, o equilíbrio
do no tão sonhado objetivo de formar cidadãos. físico, a destreza manual e digital, a coordena-
ção mãos e olhos, entre outras. A escrita é, en-
quanto conjunto dos movimentos coordenados,
> MÉTODOS
excelente exemplo destes aspectos. Desta for-
Trata-se de uma pesquisa qualitativa ana- ma, valências psicomotoras do comportamento
lítica, aquela que utiliza informações para ten- da criança e, posteriormente, do adolescente
tar explicar e sugerir aplicações em fenômenos podem ser condições para o desenvolvimento
complexos11, construída com auxílio de artigos de determinados aspectos cognitivos. Somados,
científicos e, em maior abundância, livros nacio- ambos os estímulos podem ainda, determinar
nais e internacionais clássicos sobre a temática, aspectos positivos ou negativos quanto ao de-
publicados entre os anos de 1941 e 1989, com senvolvimento afetivo e social.
algumas exceções, com o intuito de retratar Da mesma maneira, em caminho inverso,
como é entendido o desenvolvimento infantil as condições emocionais desfavoráveis podem
através de jogos e ludicidade. prejudicar questões referentes ao escopo psico-
Após seleção, o material foi fichado e se- motor e cognitivo13. Em complemento, uma das
lecionado a fim de melhor representar o corpo maneiras de estimular tais desenvolvimentos ci-
referencial. Diante de autores clássicos, foram tados seria com o jogo:
adotadas algumas obras nas línguas francesa e O jogo põe em função, de maneira extremamente
inglesa, respeitando as escrituras originais e evi- variada, todas as possibilidades da pessoa: força
tando transcrições errôneas. muscular, flexibilidade das articulações, resistência
Por último, em presença de todo o mate- ao cansaço, respiração, precisão de gesto, habili-
rial, os conteúdos foram conflitados e seleciona- dade, rapidez de execução, agilidade, prontidão
dos para construção do presente estudo. de resposta, reflexos, equilíbrio, etc14.

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013
10 O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, Perfeito
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

Portanto, o jogo se torna atividade funda- Nem sempre a proposta é facilmente trans-
mental no desenvolvimento dos jovens e deve ser cursada na prática, visto que em uma turma he-
trabalhado na escola pelo professor de Educação terogênea existe uma grande dificuldade de se
Física. Bandet e Sarazanas15 fizeram várias obser- ajustar atividades para as especificidades e capa-
vações sobre a versatilidade dos jogos (Quadro 1). cidades de cada sujeito.
Há relações entre a atividade intelectual e O maior problema do desenvolvimento
motora que possibilitam a conversa entre uma psicomotor para o docente é o de compreen-
e a outra. A primeira pode ser considerada de- der e ajustar a atividade física às capacidades e
corrente da segunda e a segunda influenciada proporções corporais, afetivas e intelectuais dos
pela primeira16. No entanto, a maturação é fun- discentes19. Assim sendo, a educação psicomoto-
damental para que essa quase homogeneização ra deve ser pensada em função das dificuldades
ocorra, sendo pertinente a estimulação motora apresentadas por cada aluno, e não em função
primeiramente. Isto ocorre, pois, nos primeiros dos métodos de ensino existentes20.
anos da infância, o cérebro apresenta uma vis- Se trabalhadas de modo correto, as ativida-
cosidade mental, que torna impossível o funcio- des se apresentam como uma forma de autoco-
namento intelectual autônomo. nhecimento e de corpo informativo. É no jogo
“Na criança, sem ação motora ou verbal, a que se revelam os estados cognitivo, visual, au-
ideia necessita de vigor para se formar ou para ditivo ou tátil-motor; aprender, interagir e entrar
se manter”17. Assim, a Educação Infantil deveria numa relação cognitiva com o mundo, eventos,
“fazer agir antes de fazer falar”16. pessoas e símbolos estão unidos ao jogar 21.
Com o passar dos anos e com tal pensa- No início da adolescência, uma pessoa já
mento aflorado, foi elaborada grande varieda- deve possuir um maior desejo de aprender e
de de atividades e jogos para ajudar crianças se desenvolver. Algumas competências e com-
e adolescentes a desenvolver suas habilidades portamentos devem se destacar nessa época,
motoras e afetivas, facilitando a transição para como: a motricidade – correr, agir, sentar, saltar
a vida pós-escola. O método objetiva promover –, a atenção – ver, escutar, observar –, a lingua-
autoconfiança e segurança com o auxílio das ati- gem – contar, falar, expressar –, e a inteligência
vidades jogadas18. – analisar, compreender. Muitos jogos realiza-

Quadro 1. Observações versáteis dos jogos.

Observações Descrição

O jogo tem poder de integração, ampliando o entender de mundo. Propicia ao sujeito ser mais
Observação 1
curioso e pronto para intervir diante de problemas. Permite transformar o mundo à sua maneira.

Através das descobertas, o corpo humano se torna o primeiro jogo da criança. É um campo
Observação 2 de novos achados. Após desvendar o corpo da mãe, passa a entender seu próprio corpo
através de testes no ambiente.

Existem diversos tipos de jogos. Os de ficção são importantes para trabalhar as representações
Observação 3
de vida. Jogos de faz de conta são um exemplo.

Os jogos de aquisição são importantes para o aprendizado, existindo diversos que se adequam a
Observação 4
cada faixa etária. Alguns simulam a aquisição de bens, como na vida fora da atividade.

Os jogos de fabricação também possuem papel fundamental na vida social, pois auxiliam na
Observação 5
criatividade e no raciocínio estratégico.
Fonte: adaptação dos estudos de Bandet e Sarazanas15.

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013 Adolescência & Saúde
Perfeito O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, 11
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

dos espontaneamente na infância permitem o rio no seu desenvolvimento pessoal ou educacio-


desenvolvimento e o alcance de tais objetivos e nal. As decorrências não desejáveis podem variar
competências22. consideravelmente de uma pessoa para outra em
Uma educação psicomotora sustentada em termos de gravidade e prognóstico2. O autor clas-
pressupostos da prevenção de dificuldades pe- sificou e destacou alguns dos comportamentos
dagógicas deve atribuir importância à expressão típicos de adolescentes em conflito (Quadro 2).
pelo corpo, buscando o desenvolvimento global Tal classificação serve apenas como recur-
do estudante. Se o principal papel da escola é so para ajudar a encontrar soluções para o en-
o de preparar seus alunos para a vida ou para a frentamento de problemas apresentados e sua
sociedade, é preciso que a educação seja siste- identificação. Os conflitos relatados por Reinert2
matizada, empregando diversos, e não somente podem ser associados a questões de identidades
um, métodos pedagógicos que campeiem aju- sociais, como se poderá presenciar a seguir.
dar a criança e o adolescente a se desenvolver Quando um indivíduo sofre preconceitos
da melhor maneira possível, contribuindo, dessa através de um sinal ou signo de descrédito, re-
forma, para uma adequada formação da vida cebe informações negativas a todo o momento
social12. O jogo é ferramenta exemplar para o na sociedade, moldando sua identidade social
dado objetivo. e virtual, fazendo com que realmente se sinta
uma pessoa incapaz e indesejada23. Uma das
O jogo e o desenvolvimento afetivo-social possíveis estratégias para se modificar o quadro
Existem diversos aspectos emocionais inde- relatado é a educação pelo jogo e o lúdico, já
sejados e identificados como agressores do pro- que estes têm o poder de aproximar atividade
cesso ensino/aprendizagem, como: autoconcei- e realidade ou vida real, proporcionando, diante
to nulo ou de descrédito, ansiedade e conflitos do divertido, o adentrar no mundo construído
de identidade afetiva. Estas características, se por regras e respeito ao outro24.
manifestadas, podem representar obstáculos à Em complemento, os recursos existentes
aprendizagem. para auxiliar na resolução de tais problemas po-
Um indivíduo em conflito é aquele cujo dem advir dos jogos terapêuticos e da ludotera-
comportamento manifesto tem sintoma deleté- pia. O primeiro é a estruturação de atividades

Quadro 2. Comportamentos típicos de adolescentes em conflito.

Conflitos Descrição

Comportamentos O adolescente passa a mentir, evitar tarefas que acredita ter probabilidade de errar,
defensivos ou de defesa entre outros.

Comportamentos Devido à própria insegurança com sua identidade social e corpo, passa a apresentar
desorganizados características como: desatenção e afastamento da realidade, similar ao autismo.

Comportamento de Nesse grupo, o indivíduo passa a adotar comportamentos que visam à desordem,
“acting-out” agressão e atrito, em estabelecimentos ou com os outros.

A pessoa regride em seu desenvolvimento motor e intelectual, apresentando atitudes


Comportamento de como: chupar o dedo, movimentar somente partes do corpo que não podem ser
afastamento analisadas pelos outros, evitando movimentos amplos e, por fim, deixa de usar a
linguagem corporal e oral.
Fonte: adaptação dos estudos de Reinert 2.

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013
12 O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, Perfeito
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

lúdicas de tal forma que se obtém o máximo de uma das mais construtivas e úteis experiências
benefícios para melhorar a prontidão da pessoa para o ser humano. Nas atividades propostas,
para outros jogos e atividades escolares. Já a lu- dependendo da faixa etária, o lúdico inserido no
doterapia é um tratamento lúdico ou divertido, jogo é fundamental para a vida na sociedade29.
que também pode ser aplicado na escola2. Em defesa da construção cognitiva alcan-
O jogo é moldador do ambiente. A paz for- çada nos jogos perspectivados pelo professor de
necida pela atividade solitária, ou em presença Educação Física, podemos entender que a ima-
de um adulto simpático, ou de outra criança, ginação cognitiva não se constitui somente em
irradia por algum tempo, pelo fato dos partici- uma série de combinações possíveis, a partir de
pantes encontrarem no ambiente uma fonte de elementos e imagens já existentes anteriormen-
reconhecimento e de afeto, fatores necessários te; ou seja, a construção cognitiva depende de
para a “cura” psicológica. Portanto, o jogo pode estímulos adequados nas faixas etárias recorren-
ser considerado recurso autoterapêutico de ex- tes e não somente da maturação simplesmente
trema importância25. ocorrida; pois, se assim fosse, a imagem seria
Nesse aspecto, os jogos empregados na reduzida a outras funções psíquicas, como a
área educacional objetivam promover um me- memória, e a atividade de imaginar seria apenas
lhor equilíbrio emocional dos alunos. Apesar o reproduzir ou recordar o passado10.
de existirem há anos, somente depois de al- A imaginação cognitiva tem como base
gum tempo de sua essência foram estudados a atividade criadora e se manifesta em todas
na vertente do assunto aqui. Após as pesquisas, as esferas da vida cultural, permitindo a cria-
foi constatado que o método conhecido como ção artística e científica, assim como o espíri-
educativo-terapêutico consiste em um modo de to criativo nas atividades propostas e na vida,
“tratar” educativamente crianças “difíceis” inse- como um todo10,30. O poder de simbolizar é o
ridas no âmbito normal da educação, por meio que diferencia o Homem das demais espécies
de conversação, encorajamento, jogos, etc26. animais. Sua capacidade de imaginação e sim-
Atividades recreativas e físicas, se bem con- bolização lhe possibilita produzir sentidos que
duzidas, podem influenciar positivamente vários articulam sua vivência social e cultural, com-
aspectos afetivos e sociais das crianças e adoles- pondo sistemas de normas, valores e crenças
centes. Possibilitam, por exemplo, a alteração de diferentes sociedades. A imaginação foi por
da imagem corporal do indivíduo com pertur- muito tempo relegada pela ciência, que credi-
bações emocionais. O autoconceito de pessoas tava unicamente à razão a primazia da verdade,
mentalmente atrasadas também pode ser afeta- provocando, assim, a fragmentação constitu-
do positivamente por atividades físicas9. cional do Homem8,31.
Pela análise do jogo, foi percebido, há mui- Ao observar as formas de imaginação rela-
to tempo, que é possível alcançar ganhos pes- cionadas com a criatividade, orientadas para a
soais e intrínsecos de alunos. “[...] filósofos de realidade, vemos que a fronteira entre o pensa-
Platão a Sartre notaram que as pessoas são mais mento realista e a imaginação se apaga, que a
humanas, integradas, livres e criativas quando imaginação é um momento necessário, insepa-
elas jogam”27. rável do pensamento realista10.
O jogo, por meio da manipulação simbó- Ao se sustentar o discurso de que os jogos
lica do ambiente, contribui para desenvolver estimulam, além da motricidade, a cognição e
um ego mais forte naquele que está realmente a emoção, os mesmos podem ser considerados
jogando, ou seja, inserido totalmente na ativida- uma importante fonte de promoção do desen-
de. É possível, ainda, desenvolver a moralidade volvimento. Em etapas da infância, não há limite
autônoma28. Assim, quando bem organizado, é estruturado entre a realidade e a imaginação.

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013 Adolescência & Saúde
Perfeito O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, 13
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

Embora relatados com maior abundância os jo- entre o emocional, motor e social de indivíduos
gos de faz de conta, é sabido que. mesmo na- de diversas faixas etárias. Apesar da temática
queles que possuem regras rígidas, a imagina- exaustivamente já debatida, este trabalho se
ção também é trabalhada, como na criação de justifica na facilidade em alcançar as referên-
estratégias para vencer. cias bibliográficas, e tem sua relevância dian-
A representação, para o jogo ou para vida, te da importância aqui atribuída pelo autor,
possui como base, a atividade de criar e repro- na possibilidade e necessidade de manipular a
duzir seus efeitos de forma cultural, estimulando atividade, conforme as carências específicas do
a criação artística e científica10. aluno ou do grupo inseridos nas aulas de Edu-
Pelo jogo, o discente aprende a operar sua cação Física Escolar, propiciando um melhor
realidade, com significados e sentidos culturais. desenvolvimento e inserção na sociedade pós-
Por meio de uma situação imaginária, encontra -escola. Além disso, quando o docente entende
a forma de satisfazer seus desejos imediatos não a importância do jogo, pode auxiliar crianças,
realizáveis, criando, então, uma área de desen- adolescentes, e até adultos, que possuem dis-
volvimento proximal, zona essa, responsável por túrbios motores, mentais, emocionais e/ou es-
novos aprendizados que ficam subentendidos. tresses familiares.
Pela atividade, o participante se lança para além Em diferentes regiões do Brasil, foi utiliza-
de suas capacidades, pois a situação imaginária, do o mesmo jogo, ainda que de modo carac-
fundamento do jogar, impulsiona processos de terístico, para trabalhar movimentos variados e,
desenvolvimento31. com isso, estimular a progressão motora. Além
Num jogo em que é o ator principal ou pro- do pensamento motor, muito recorrente nos
tagonizador, a criança - ou o adolescente -cons- trabalhos científicos, o professor deve estimular
trói, por meio de uma situação real/imaginária, seu aluno através de atividades imaginárias tam-
seu contexto de vida, e não apenas reproduz a bém. Os jogos cantados, por exemplo, podem
realidade sociocultural na qual está inserida. Isso instigar a integração, aguçando, assim, a afetivi-
ocorre, pois manipula simbolicamente seu con- dade, a imaginação e o simbolismo, fundamen-
texto, expressando e transformando o ambiente tais para uma vida em sociedade.
em prol da atribuição de sentidos e significados. Organizar as atividades por parte do pro-
Portanto, o jogo trabalha a imaginação, criativi- fessor de Educação Física não é algo simples.
dade, fantasia, emoções e motivação10. Deve-se ter em mente que toda conquista não
Por fim, estabelecendo que a imaginação é tida em apenas uma aula, mas sim em uma
possua estreita ligação com as emoções, é im- progressão, a ser planejada por periodizações
portante que o professor entenda o jogo como previamente estipuladas e embasadas cientifi-
atividade que constrói por meio da imaginação, camente. Para resultados relevantes em educa-
cognição, afetividade, cultura, consciência de ção, o docente necessita realizar um acompa-
mundo, entre outros, um imaginário social que nhamento coletivo e individual do seu grupo
o representará como aquele indivíduo, e não trabalhado, estimulando resultados apontados
como o outro, tornando-o único32. para o desenvolvimento e agregação de valo-
res. Os jogos podem ser uma ferramenta para
> alcançar tal objetivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalizando este trabalho, o autor deixa cla-
ro que, como limitação de estudo, há um tex-
A utilização de jogos é vastamente de- to redigido em linhas gerais. É importante que
batida por diversos autores, como os citados ocorram pesquisas que se preocupem em, por
neste trabalho, geralmente traçando relações exemplo, comparar considerações de autores

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013
14 O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, Perfeito
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

das décadas de 60, 70 e 80 com as publicadas NOTA


>
na atualidade, além do conflito de outras ferra-
mentas educacionais e desenvolvimentistas com Este trabalho recebeu suporte do Instituto
os jogos, para assim averiguar outras possibili- de Pilates, Fisioterapia e Educação Fisart para a
dades que, talvez, se apresentem melhores ou compra de livros, cedendo local de estudos e
piores no aprimoramento das valências psicofisi- proporcionando alimentação adequada e trans-
cossociais nas diversas faixas etárias. porte ao pesquisador.

> REFERÊNCIAS
1. Murad M. A sociologia clássica. In: Murad M. Sociologia e educação física: diálogos, linguagens do corpo,
esportes. Rio de Janeiro: FGV; 2009. p. 29-35.
2. Reinert H. Children in conflict: educational strategies for the emotionally disturbed and behaviorally
disordered. Saint Louis: Mosby; 1976.
3. Must A, Dallal G, Dietz W. Reference data for obesity: 85th and 95th percentiles of body mass index (wt/
ht2) and tríceps skinfold thickness. Am J Clin Nutr. 1991;53(4):839-46.
4. Jebb S, Moore M. Contribution of a sedentary lifestyle and inactivity to the etiology of overweight and
obesity: current evidence and research issues. Med Sci Sports Exerc. 1999;31(11 Suppl):S534-41.
5. Dietz W. The obesity epidemic in young children. BMJ. 2001;322(7282):313-4.
6. Salbe A, Weyer C, Harper I, Lindsay R, Ravussin E, Tataranni P. Assessing risk factors for obesity between
childhood and adolescence: II. Energy metabolism and physical activity. Pediatrics. 2002;110(2):307-14.
7. Balaban G, Silva G. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de uma escola da
rede privada de Recife. J Pediatr (Rio J). 2003;77(2):96-100.
8. Cassirer E. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins
Fontes; 1994.
9. Auxter D, Zahar E, Ferrini L. Body image development of emotionally disturbed children. Am Correct Ther
J. 1967;21(5):154-5.
10. Vygotsky L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3a ed.
São Paulo: Martins Fontes; 1989.
11. Thomas J, Nelson J, Silverman S. Métodos de pesquisa em atividade física. 6a ed. Porto Alegre: ArtMed; 2012.
12. Le Boulch J. Desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas; 1985.
13. Chateau J. O jogo e a criança. São Paulo: Summus; 1987.
14. Jacquin G. A educação pelo jogo. São Paulo: Flamboyant; 1963.
15. Bandet J, Sarazanas R. L´enfant et lês jouets. Tournai: Casterman; 1972.
16. Legrand L. Psicologia aplicada à educação intelectual. Rio de Janeiro: Zahar; 1974.
17. Wallon H. L´evolution psychologique de l´enfance. Paris: A Colin; 1941.
18. Taetzsch S, Taetzsch L. Preschool games and activities. Belmont: Fearon; 1974.
19. Harrow A. A toxonomy of the psychomotor domain. Nova York: David McKay; 1972.
20. Vayer P. A integração da criança deficiente na classe. São Paulo: Manole; 1989.
21. Frank L. Playing in personality development. In: Seidman J. The child: a book of readings. Nova York:
Holt, 1958.
22. Bourcier A. Traitment de la dyslexie. Paris: ESF; 1971.

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013 Adolescência & Saúde
Perfeito O JOGO COMO FERRAMENTA NO DESENVOLVER COGNITIVO, 15
PSICOMOTOR, AFETIVO E SOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
À LUZ DE AUTORES CLÁSSICOS

23. Perfeito R. A educação física e o bullying: a desutilização da inteligência. Rio de Janeiro: Livre expressão; 2011.
24. Perfeito R. O jogo como um relevante conteúdo de ensino na formação do sujeito e na prática escolar.
Revista EFDeportes. 2011. Ano 15(153).
25. Erikson E. Clinical studies in childhood play. In: Barker R, Kounin JS, Wright HF. Child behavior and
development. Nova York: McGraw Hill; 1943.
26. Henz H. Manual de pedagogia sistemática. São Paulo: Herder; 1970.
27. Czikszentmihalyi M, Bennett S. An exploratory model of play. Am Anthropol. 1971;73(1):45-58.
28. Piaget J. O juízo moral na criança. 2a ed. São Paulo: Summus; 1994.
29. Rosamilha N. Psicologia do jogo e aprendizado infantil. São Paulo: Livraria Pioneira Editora; 1979.
30. Cameron J. Criatividade: a mina de ouro - seja criativo e conquiste seu espaço. 2a ed. Rio de Janeiro:
Ediouro; 1998.
31. Capitoni C, Costa V. Vivendo o lúdico na educação física escolar: uma abordagem sócio-histórica. In:
Ferreira C. Psicomotricidade: da educação infantil à gerontologia: teoria e prática. São Paulo: Lovise; 2000.
32. Retondar J. Teoria do jogo: a dimensão lúdica da existência humana. Petrópolis, RJ: Vozes; 2007.

Adolescência & Saúde Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 10, supl. 3, p. 7-15, outubro 2013

Potrebbero piacerti anche