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M U L H O L L A N D
UMA A N A LIS E DE
C O LO SS EN SES E
FILEM OM
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Shedd, Russell P.
Epístolas da prisão : uma análise de Efésios,
Filipenses, Colossenses e Filemom / Russell P. Shedd
& Dewey M. Mulholland. — São Paulo : Vida Nova, 2005.
05-0900 CDD-227.07
ISBN 978-85-275-0329-7
C oordenação editorial
Robinson Malkomes
C apa
Julio Carvalho
C oordenação de produção
Roger Luiz Malkomes
D iagramação
Conteúdo
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E P Í S T O L A S DA P R I S Ã O
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Prefácio dos
Editores
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
textual, parece ter sido escrita para várias igrejas e não apenas
para uma. Nesse aspecto ela é semelhante ao livro de Apocalipse,
que foi dirigido a Efeso e a mais seis igrejas da Ásia.
A grande ameaça levantada pelos judaizantes, que Paulo
combatera em Gálatas, Romanos e em parte de lCoríntios, já não
era mais problema. O gnosticismo incipiente começa, com o seu
dualismo total e profundo, a ameaçar a igreja cristã. Em Colos-
senses, Paulo trata especialmente dessa doutrina alheia à verdade.
“Assim”, escreve Robinson, “ele ficou livre para dedicar-se a uma
suprema exposição, não controvertida, positiva, fundam ental, da
grande doutrina da sua vida, isto é, da hum anidade de Cristo, da
hum anidade em Cristo e do propósito de Deus para o mundo,
através da igreja”.
Interpretação
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
0 contexto e o tema de 1 .1 - 1 4
A epístola divide-se basicamente em duas partes: os três primeiros
capítulos falam principalmente de doutrina e história, aquilo que
Deus já fez e está fazendo; enquanto os capítulos 4, 5 e 6 nos desa
fiam a fazer alguma coisa, em decorrência do que Deus faz e já fez.
Encabeçando assim a prim eira parte da epístola, nos versículos 1
14, Paulo faz um convite a um a tom ada de posição quanto à
adoração, numa doxologia: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo”. Essa oração introduz o mais longo período que se
conhece na literatura bíblica, pois termina somente no versículo 14.
Do versículo 15 até o fim da capítulo temos uma oração
apostólica; o capítulo 2 desenvolve alguns temas implícitos nessa
oração (depois observaremos os pedidos centrais na oração do
capítulo 1 e como ela se relaciona com o capítulo 2). O capítulo 3
apresenta a vocação apostólica de Paulo e como isso se relaciona
com o tema da epístola toda, que é particularm ente doutrinária.
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S E F É S i O S
ele está dizendo que não há bênção espiritual que não seja em
Cristo; todas as bênçãos são cristocêntricas. Haverá alguma bênção
que não emane de Cristo? No fim tornar-se-á outra coisa, mas
não uma bênção; transformar-se-á numa ameaça, ou talvez numa
maldição.
Outro aspecto é que todas as bênçãos nos são concedidas
não apenas por Cristo, mas em Cristo. Note-se esta frase: que nos tem
abençoado. Deus, à frente de todas as bênçãos, nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual em Cristo. A frase em Cristo significa
um relacionamento íntimo com ele, com a intimidade de uma vida
transformada, de uma vida resgatada, salva; uma vida em que Cristo
é realmente Senhor, aquele a quem já nos entregamos. A ele, repre
sentante da m inha vida, eu me entrego, da mesma forma como
fazemos ao eleger um deputado ou um presidente: nós nos colo
camos debaixo do seu controle; ele pode criar leis, pode controlar
nossa vida, porque estamos “em ele”. Portanto, a expressão em Cristo
tem a idéia de representação, uma representação total de nossa vida.
Não devemos nos esquecer também de que estar em Cristo quer
dizer estar no Espírito e ter o Espírito Santo em nós, unindo-nos a
Cristo e uns aos outros no seu corpo, a igreja.
Mas esta outra frase, nas regiões celestiais, não aparece em
outras epístolas paulinas. O que ela quer dizer? Os eruditos não
têm m uita certeza quanto ao que Paulo queria transm itir com ela.
Mas já que Cristo, no versículo 20, está sentado à direita da auto
ridade soberana de Deus, nos lugares celestiais, parece-me que
Paulo quer cham ar a nossa atenção à realidade de que, quando
estamos em Cristo, já estamos como que retirados deste mundo, e
m uitos fatores que norm alm ente controlariam nossa atitude assu
mem uma nova realidade: a realidade da exaltação de Cristo. O
que isso implica em nossa vida? Ainda que estejamos neste mundo,
“lugares celestiais” é outra m aneira de dizer o que Paulo fala em
2Coríntios 2.14: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre
nos conduz em triunfo”. Cristo já conquistou a vitória sobre as
forças que se opõem; e, ainda que essa vitória não se veja e não se
realize em nossas vidas constantem ente, a possibilidade dessa
vitória é nossa. Isso se torna mais claro quando, pela última vez,
Paulo usa a mesma frase em 6.12, dizendo que a nossa luta é
contra as forças do mal, as forças satânicas, nas regiões celestiais.
Somente quando estivermos em Cristo, que, sentado à destra do
Pai, já conquistou a vitória por nós, é que seremos vitoriosos.
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EPÍSTOLAS DA PR ISÃ O
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S E F É 3 I O S
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
não pode ser contrariado neste seu propósito — que todas as coisas
um dia vão convergir em Jesus Cristo, que estará encabeçando
tudo. Tudo mesmo!
No fim da oração do prim eiro capítulo (v. 22) vemos que,
para a igreja e para nós, essa realidade já está em atuação, ao
passo que o m undo pecador, as forças satânicas, a criação, tudo
geme na esperança de justiça (Rm 8.23), a justiça final, o julga
mento de Deus. Nós, que fazemos parte da sua igreja, o seu povo,
aguardam os que ele seja o cabeça de todas as coisas em nossa
vida. Ele já foi colocado como cabeça da sua igreja e está operando
essa convergência, este encabeçar, para que todas as coisas nele
subsistam (Cl 1.17), de forma que se possa reconhecer isso agora,
na igreja. .
A quinta bênção (v. 11): nele, os judeus (note-se o contraste
entre o nós dos versículos 11-12 e o vós do versículo 13) — Paulo
e toda a linhagem judaica — foram feitos herança de Deus, predes
tinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas
segundo a sua vontade. Romanos 9-11 explica essa frase, mos
trando como o judaísmo não é um aparente fracasso nos planos
de Deus. O versículo 12: a fim de sermos (nós) — Paulo, os outros
apóstolos (também judeus convertidos), a igreja de Jerusalém e
todos os judeus que serão ainda salvos (Rm 11.25-26) — para
louvor da sua glória. Sem dúvida por causa da dureza do seu
coração, costuma-se dizer que uma das coisas mais difíceis de
acontecer é um judeu se converter, se entregar a Cristo! Mas, para
a glória de Deus, a própria nação judaica vai se converter ao seu
Messias, Cristo, segundo a promessa de Deus.
Em quem também vós, isto é, pessoas como nós, gentios, que
não temos direito nenhum em Abraão, depois que ouvistes a palavra
da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido,
fostes selados com o Santo Espírito da promessa. Pedro teve a coragem
de batizar Cornélio e outros recém-convertidos de Cesaréia, mesmo
sem ter, àquela altura, a mente claramente aberta para o grande
m istério de Efésios. Mas teve a coragem de batizar esses novos
crentes gentios por causa do Espírito Santo que os selara.
Termino esta breve exposição do prim eiro parágrafo de
Efésios com estas palavras: nosso direito de nos reconhecer como
participantes da herança dada a Cristo (Jo 17.24: aqueles que Deus
deu a seu Filho) deve-se unicam ente à participação, em nossa
vida, clara e definida, do Espírito Santo. Se não há evidência dele,
EPÍSTOLA DE P A U L O A O S EFÉSiOS
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
Paulo dirige seu pedido a Deus (v. 17), o Deus de nosso Senhor
Jesus Cristo. E trata-se de uma oração bíblica; não de uma oração
dirigida ao Espírito, nem diretam ente a Jesus Cristo, mas através
de Cristo a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória
neste trecho. Lembremo-nos de que em João 14 toda a visão de
Deus que queremos ter, segundo o propósito divino neste mundo,
é a imagem de Deus formada em vidas à imagem de Cristo e sua
atuação em resposta à oração. Não entendo com profundidade o
que significa ser escolhido ou predestinado, nem como as nossas
petições, chegando à presença de Deus, m udam , transformam!
Não sou da opinião de que Deus muda de idéia só porque eu lhe
peço que mude. Não, ele já pretendia fazer o que estou pedindo,
porque a m inha oração é real quando eu penso junto com Deus os
seus pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, D eus restringe as suas
bênçãos de vida, de crescimento, de formação da sua imagem, se
eu deixar de orar.
Num sentido m uito real, oração é colaboração com Deus (lC o
3.9). Dirigimos assim nossa petição a ele, que não é qualquer Deus,
mas o único Deus que se revela em Jesus Cristo como o Pai da
glória. Jesus Cristo (o Senhor da glória segundo Tg 2.1) é aquele
que nos revelará a glória de Deus, nos elevará a mente, se concentrará
em nossas petições, para que essa glória se manifeste na terra.
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Talvez não seja tão essencial que façamos muitos pedidos a Deus.
Seria como aqueles anúncios que, às vezes, por serem muitos, se
perdem.
O versículo 17 tem a seguinte petição:para que [...] vos conceda
espírito. Convém mudar um pouquinho a tradução, talvez num ponto
crítico: “que vos conceda Espírito (com inicial m aiúscula) de
sabedoria e de revelação no pleno conhecim ento dele”. Tenho
convicção de que, quando realmente recebi a Jesus Cristo, recebi o
seu Espírito regenerador. Sou salvo por ter nascido do Espírito. Eu
e todos os que são filhos de Deus somos filhos através da rege
neração do Espírito. Mas há uma passagem, justamente em Lucas
11, em que Jesus Cristo, ao responder a esta pergunta — como
devemos orar? — ensina a oração conhecida como “Pai Nosso” ou
“Oração D om inical” (v. 2-4); depois ele continua m ostrando a
necessidade de insistir com Deus, com importunação, frente às portas
do céu, e nos dá a segurança de que seremos atendidos (v. 9-12).
Mas, quando chegamos ao v. 13, temos um a informação quase
inédita, pelo menos nos evangelhos, que devemos pedir o Espírito,
já tendo o Espírito. “Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito
Santo àqueles que lho pedirem?” Como resolvemos esta aparente
contradição: ter o Espírito e ainda recebê-lo? A solução está no
seguinte sentido: o Espírito é fonte de vida e, portanto, fonte da
nossa oração; temos de orar — segundo Judas 20 e Efésios 6.18 —
no Espírito, porque não há outra oração senão no Espírito. Podemos
e devemos, ao mesmo tempo, pedir o Espírito no sentido de sua
atuação e de sua presença real em nossa vida. Pode-se dizer o mesmo
com respeito à adoração (Jo 4.24).
Pare agora um instante para lem brar quando foi a última
vez que você orou; talvez tenha sido hoje, espero que sim. M eu
amado irmão em Cristo, você orou mesmo? Você sentiu que Deus
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
Sabedoria
No Antigo Testamento, sabedoria significa olhar para a vida com
os olhos de Deus e perceber o que ele está fazendo, para então
envolver-se nisso.
E P Í S T O L A DE PAULO A OS E F É S I O S
Revelação
Esta outra palavra, revelação, significa uma visão de todas as coisas,
não apenas deste m undo que está desaparecendo, segundo Paulo
(ICo 7.31), mas uma visão dos valores tal como são traduzidos no
céu. Jesus Cristo, ao falar com os seus discípulos, em Mateus 6,
chama-lhes a atenção para a m aneira de valorizar seu dinheiro,
colocando-o no Banco C elestial. Isso requer a revelação das
realidades invisíveis e ninguém o faz a não ser que receba uma
revelação, isto é, veja que vale a pena investir num mundo além
deste, atentando para aquele mistério de Deus, que vê o fim e não
apenas os passos difíceis de agora. A revelação que o Espírito dá
abre-nos a visão. Faltando essa revelação, diz Provérbios, “o povo
perece”. O Brasil perecerá, a África perecerá, o mundo perecerá
sem essa visão da revelação e da sabedoria.
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
As três cessas
A prim eira delas é o entendimento, uma compreensão da esperança
do nosso chamado, que é duplo — primeiro, para servirmos aqui;
segundo, para fazermos herança com ele lá no céu.
A segunda, que estes olhos, já milagrosamente abertos pelo
poder de Cristo e por sua iluminação, tenham capacidade de olhar
para o sol celestial, sem serem ofuscados. Eu já tentei ver o eclipse
do sol e, apesar de que não ser total, fiquei como cego por causa
da incidência dos raios solares. Mas aqui se está dizendo que com
o coração pode-se ver a verdadeira glória do Senhor. Essa glória
vem, então, residir em nós. Jesus pede essa mesma bênção em
João 17.24, que os seus discípulos vejam a sua glória. Em lCoríntios
3.18, vemos que essa glória é transformadora e realmente santifica.
A riqueza da glória (1.18): veremos a riqueza da glória de Deus, da
herança que ele tem em nós? Essa herança está ainda incompleta?
A glória de Cristo pode ser percebida quando se olha para Apoca
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S EFÉSIOS
itpiieação
M eu irmão, se alcançarmos sabedoria e tivermos a revelação, se
sentirmos profundam ente a esperança do nosso chamado, chamado
de um a vida que se realiza fazendo alguma coisa que dure por
toda a eternidade, dentro da missão de Cristo; se sentirmos e virmos
algo de sua glória; mas se não tivermos poder, seremos de imediato
derrotados.
Esta Epístola aos Efésios é uma orientação para vencermos
as forças invisíveis que nos cercam, já que essas forças, quando
quisermos fazer alguma coisa, tentarão enganar-nos e fazer-nos
tropeçar.
Mas o versículo 19 mostra-nos que o mesmo Espírito de
revelação e de sabedoria nos dará a vitória através do seu poder,
se estivermos dispostos a lutar juntam ente com ele contra o diabo
e as hostes do mal, com a mesma atitude que Cristo lutou, ou
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EPÍSTOLAS da prisão
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S EFÉSIOS
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
k condição a n te rio r •
A prim eira palavra que Paulo usa para descrever a situação do
pagão, do incrédulo sem Cristo, é a palavra morte: mortos em delitos
e pecados. Esta palavra, para descrever o pecador, à prim eira vista
não parece ter sido bem escolhida, porque o incrédulo aparente
mente não está morto: ele tem raciocínio, tem capacidade de en
tender, inclusive palavras da Bíblia. Ele pode repetir nomes como
“C risto”. Ele sabe algo da história de Jesus; aparentem ente ele
não está tão morto, como parece pela palavra escolhida por Paulo.
Mas ao entendermos a razão pela qual Paulo escolheu essa palavra,
começamos a perceber que a Bíblia coloca o pecador em situação
bem diferente da que talvez nós atribuiriam os a ele. Porque a idéia
de morte (que talvez tenha surgido da condenação de Adão e Eva,
no capítulo 3 de Gênesis: “no dia em que comeres deste fruto,
m orrerás”) carrega em si profundas realidades sobre a situação
moral e espiritual do homem sem Deus. De que forma?
Prim eiram ente, a pessoa morta não pode se movimentar;
ela está totalmente inerte e perde por completo aquilo que cha
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— fica cada vez m ais decaído, cada vez m ais desprezado pelos
outros e por si mesmo, doente, com fome, quase nu, esperando a
morte terrível junto aos porcos, sozinho, na verdadeira miséria.
Mas longe, em casa, está o seu pai esperando. Podemos deparar
aqui com uma descrição autêntica da ira de Deus. É uma ira cheia
e transbordante de amor, mas que não pode atravessar aquela
distância até o filho amado, a não ser que o próprio filho amado
caia em si (o que a Bíblia chama de arrependim ento). A ira de
D eus sempre afasta, entrega, perm ite ao filho ir cada vez mais
longe da casa paterna, enquanto espera, busca e ansiosam ente
aguarda o filho rebelde.
A condenação do mundo, então, é tríplice: é uma condenação
de morte, de decomposição e de incapacidade de se movimentar na
direção de Deus. É uma fila de escravos, andando segundo o curso
deste mundo, debaixo do terrível e cruel mandato de Satanás, e
ainda uma condenação inevitável da separação do verdadeiro lar.
Mas S e u s... -
O homem, filho da ira, fica realm ente dom inado por essa ira,
afastado e longe de Deus. Nesta situação totalm ente desesperadora
é que aparecem duas palavras em 2.4: as palavras Mas Deus. Deve-se
sublinhar, deve-se m arcar essas palavras, porque elas são a única
esperança de todos os pecadores deste mundo! Mas Deus introduz
o am or e a m isericórdia de D eus frente ao hom em perdido.
Rapidamente, vejamos como esse amor se manifesta em compaixão
m isericordiosa, perdoadora, ativa. Ele atua de três form as; e
lembremo-nos de que essas formas descrevem o poder supremo
de Deus demonstrado na ressurreição de Cristo. Porque o mesmo
poder que se opôs às forças da m orte, no túm ulo de José de
Arimatéia, e ressuscitou Jesus dentre aqueles mortos, é a mesma
força, diz Efésios, que transform ará a situação do homem morto
em delitos e pecados, escravizado às forças satânicas e condenado
à ira eterna. Essas três formas são expressas por três palavras, ou
três frases, nos versículos 5 e 6:
Primeira: Nos deu vida juntamente com Cristo; no original,
co-vitalizados (vitalizados com Cristo). Se nós em nossa morte
nos reconhecermos como mortos, podemos nos aliar com o corpo
inerte de Jesus no túm ulo de José para sentirmos a mesma força
que levantou Jesus para novidade de vida. A nossa morte em pecado
EPÍSTOLA DE P A U L O A O S EFÉSIOS
Fé
Cabe aqui uma pergunta: e essa restauração? Que acontece com o
escravo? Com o corpo inerte? Com o filho da ira? Que acontece
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e p í s t o l a s da p ri s ã o
dentro dele? Como ele se liberta? Como ele com partilha disso?
Paulo usa a palavra que já conhecemos tão bem, que em todo o
Novo Testamento se refere a alcançar a mão de Deus, de apelar
para ele, de invocar o seu nome: a palavra fé. Porque pela fé é que
recebemos tão grande graça. Fé. John Wesley, que talvez tenha
sentido bem mais do que nós o poder do pecado em sua vida, a
força da morte no seu ser, procurou por todos os meios encontrar
a saída, mesmo depois de ser missionário na Geórgia; mas não
encontrava a resposta. “Como posso com partilhar dessa vitória?
Como posso sentir a força da ressurreição em m inha vida? Como
posso ter vida juntam ente com Cristo?” E ninguém conseguia
explicar-lhe. Ele perambulava cada vez mais desesperado, sentindo
que teria de deixar o m inistério (ele já era ordenado, servia e prega
va, mas não sentia essa vitória). E um dia, num pequeno recinto na
rua Aldersgate, em Londres, ouviu umas palavras de introdução de
Romanos, escritas por Lutero, que diziam que a fé é a operação de
Deus em nós. E ele sentiu, naquele instante: “Fé é Deus falando em
m im , é Deus apelando para si mesmo, através de mim. E Deus
levantando a minha mão para receber aquilo que ele quer me dar”.
E naquele instante ele caiu de joelhos e empolgou toda aquela reunião
com a declaração de que, agora sim, ele entendia o que era fé!
As p a la v ras que seguem n e ste p a rá g ra fo de E fésio s
descrevem de uma forma tão impressionante essa realidade: não
por obras nossas! Não há como o cadáver se levantar, como os
escravos cortarem as correntes, nem como o filho da ira se afastar
dessa ira; mas Deus oferece a sua salvação tão grande, de graça!
Ele paga o preço integral dessa salvação para nós, inundando-nos
com seu amor; sua compaixão nos envolve. E a resposta do coração
hum ano não pode ser outra, senão: “Obrigado, Senhor!” E esse
obrigado tão simples é a fé. Atente para estas palavras: Porque pela
graça sois salvos, mediante (a atuação hum ana) a fé; e isto não vem de
vós, é dom de Deus. A palavra “isto” não se refere à fé, mas refere-se
à salvação, à m isericórdia, a tudo que está envolvido nestas
palavras: Mas Deus (v. 4).
0 privilégio presente
O que significa essa nova situação em que nos encontramos, salvos
em Cristo? O versículo 10 descreve com um a palavra o nosso novo
privilégio. É-a palavra feitura; no original: poema (de onde vem a
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A feitura de Deus
Nos versículos 11 e 12 Paulo descreve não mais a nossa situação
moral e espiritual, mas a nossa situação social e espiritual. Um
gentio sem Deus, incircunciso, sem esperança, sem possibilidade
nenhum a de fazer parte da nova hum anidade em Cristo, mostra a
condição dos pagãos sem Deus. Novam ente duas palavras, no
versículo 13, cham am a nossa atenção: Mas agora, que corres
pondem ao Mas Deus, do, versículo 4. Só que, agora, refere-se aos
que estão em Cristo. Os que estavam longe são aproximados pelo
sangue de Cristo, e nele temos paz; os alienados agora se amam;
os que não tinham cidadania agora são cidadãos; os que eram
bastardos e ilegítimos agora se tornam verdadeiros filhos de Deus;
os que eram inimigos agora são reconciliados. E uma descrição da
feitura de Deus: as duas sociedades, a gentílica e a judaica, estavam
totalm ente rompidas pela hostilidade e com as relações em caos,
por isso odiavam uns aos outros; e quando, na experiência de
Paulo, especialm ente na igreja de Antioquia, se viam judeus e
gentios se abraçando, comendo e contando “piadas espirituais”
juntos, vivendo um a verdadeira vida familiar, na mais profunda
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alegria, Paulo pensa: “É isto que Deus tem em vista para toda a
e te rn id a d e ”; para que nunca m ais cor, raça, c u ltu ra, cabelo
comprido ou curto, barba ou rosto barbeado, nada, nada mais
crie barreiras entre os filhos de Deus; porque em um Espírito, o
Espírito de amor, o Espírito de alegria, o Espírito de bondade e
perdão está sendo criada uma cidadania, uma família, uma igreja,
um templo, uma unidade que descreve perfeitamente a integridade
da própria personalidade de Jesus Cristo. Porque a igreja local é a
universal, já que é microcosmo da outra, não podem ser outra
coisa senão um edifício bem ajustado, que está crescendo dina
micamente. E este am or que temos uns pelos outros se estende,
transborda para o m undo, porque Cristo o amou prim eiro. As
boas obras se estendem para ele e crescem para um santuário
dedicado ao Senhor, que significa, para mim, um lugar de perfeita
paz, onde meu destino e as agitações da m inha vida desaparecem
completamente, e a m inha alma descansa tal como num a grande
catedral, onde há um perfeito silêncio. Estou rodeado pelos meus
irmãos e amigos e, acima de tudo, sentindo a presença da cabeça,
que é Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas. Tal como a pirâm ide
em que o ápice determ ina a forma de tudo, assim também Cristo,
a pedra angular, dá à igreja toda a sua forma e destino. Os apóstolos
e p rofetas, esp ecialm en te os escrito res dos livros do Novo
Testamento, criaram o fundam ento da igreja através de ensina
mentos pelo Espírito Santo.
No fim (v. 22) Deus habita no meio do seu povo — Emanuel.
E por isso que Deus nos salvou de tão grande ruína. Por isso é
perigoso negligenciar tão grande salvação. E por isso também que
a ira de Deus recai não apenas sobre o mundo, mas sobre a igreja
de Cristo que se afasta de tão grande meta. Ela deve realmente
refletir a misericórdia e o amor de Deus, na sua feitura perfeita e
no seu “poema” como obra de arte do grande Deus Criador.
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Co-herdeiros
A prim eira declaração, que os gentios (nós, antigos pagãos em 2.1-10)
agora são co-herdeiros com Abraão, Isaque, Jacó, Gideão, José e todos
os santos do Antigo Testamento. Estamos incluídos plenamente
no povo de Deus, ao qual pertencem aqueles santos, que estão
gozando a sua herança como heróis na presença do Senhor. Somos
co-herdeiros de toda a herança da cidade celestial que Abraão e
Moisés procuravam, sendo que eles também foram chamados para
fora dos seus lares para sofrer (Hebreus 11:8-27).
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e p í s t o l a s da p r i s ã o
Co-mcorporados
A segunda palavra que descreve esse mistério é a participação dentro
do mesmo corpo como membros. É serem “co-incorporados”, isto é,
sentirem a força vital do corpo de Cristo que os santos do passado
sentiram; mas não como agora, em que o Espírito de Deus, através
de uma célula para outra, passou a expandir e espalhar a vitalidade
de Cristo. Porém, de uma pessoa para outra foi se espalhando por
todo o império até os confins do mundo. Co-incorporados deve ser
uma palavra que Paulo criou para transm itir este relacionamento
espiritual entre todas as gerações e indivíduos, dentro do povo salvo
por Deus.
Co-participantes
E, finalmente, a terceira frase: co-participantes dapromessa em Cristo.
Significa que os gentios, que antes não tinham a Bíblia nem os
oráculos de D eus, ficaram , assim, sem Cristo, o M ediador das
promessas de Deus. Agora nos é concedida de graça a Palavra de
Deus e por meio dela, Cristo, a sua Promessa. E nós, que abrimos
as Escrituras com toda a liberdade e assentamos nossa fé nesta
Palavra, somos co-participantes de Cristo, juntam ente com todos
os benefícios por ele concedidos, agora e eternamente.
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E P Í S T O L A DE P A U LO A OS EFÉSiOS
A paternidade de Deus
Recordemos, inicialmente, por que é que Paulo ora, e veremos que
é o peso da responsabilidade. M uitas pessoas estavam sendo
edificadas sobre Paulo, e ele sentia esse peso, tal como os profetas
do Antigo Testamento sentiram o peso da Palavra do Senhor. Ele
sentia a necessidade da oração e da intercessão por estes novos
cristãos. Aí está a causa.
Paulo dirige sua oração ao Pai. Por que ao Pai, em vez de a
Deus? Talvez porque, lá na prisão, Paulo estivesse pensando em si
como, de certa forma, o pai espiritual daqueles crentes, através
dos seus discípulos que evangelizaram aquela região; ao mesmo
tempo, ele está pensando: “Eles são novos filhos do Pai, de Deus”!
E Paulo precisa dar-lhes a entender a natureza da fam ília, da
responsabilidade, dos costumes da fam ília, da sua unidade na
família de Deus. Então escreve uma frase interessante “de quem
toma o nom e...”. Isto significa que a paternidade de Deus é “arque-
típica”, não havendo nada neste mundo que não tenha a sua origem
em Deus, da seguinte forma: Quando pensamos em Deus como
pedra (SI 18.2 e 42.9), a idéia “arquetípica” original de pedra é Deus
como imutável, seguro e estável. Quando pensamos em luz, a idéia
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S EFÉSIQS
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EPÍSTOLAS da prisão
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EPÍSTOLA DE P A U L O AOS EFÉSIOS
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EPÍSTOLAS DA P R IS Ã O
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E P Í S T O L A DE P A U L O A O S E F É S I O S
A ceboia
Quanto a esse discipulado negativo que o parágrafo 17-24 fala
(pôr à parte o velho homem), penso em mim mesmo como uma
grande cebola (não sei se alguém já pensou assim). A cebola, como
todos sabem, tem um a casca seca por fora; tira-se essa casca para
poder comê-la, mas é interessante que, tirando aquela prim eira
casca, é possível tirar outra, e ainda outra, que se vai tirando, tirando,
e nunca acaba, a não ser quando acaba a cebola. E este o conceito
da renovação contínua que põe à parte o velho homem, as velhas
práticas, as velhas atitudes. Seja o que for que esteja aprendendo
hoje, terei de reaprender amanhã ou, pelo menos, conscientizar-me
amanhã em termos de vaidade, endurecimento e insensibilidade,
de dissolução (aquilo que destrói em vez de edificar), de ambições e
de avareza (em vez de generosidade). Enfim, somos cebolas mesmo!
E eu gostaria de saber, enquanto vou sendo descascado, onde estou.
Sem dúvida já entregamos a nossa vida para a operação de Cristo
por meio do Espírito; ele já tirou a prim eira casca. Já sou salvo,
graças a Deus, e o perfume de Cristo já começou a exalar de mim.
Vamos explicar melhor, não é bem como o cheiro da cebola, mas,
como afirma 5.2, é “um bom aroma”. Cristo quer fazer muito mais,
transform ando cada um desses níveis da nossa personalidade,
incutindo nela sua mentalidade.
O parágrafo seguinte (4.25-5.21) aborda particularm ente
problem as do m undo antigo, mas que são tam bém do nosso
mundo. Fala em termos de contrastes. Vejamos rapidam ente seis
contrastes que Paulo menciona.
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
Enchei-vos d® Espírito
Podemos dividir os versículos 15-21 da seguinte forma: 15-18 mos
tram uma caminhada e que o Espírito pode nos encher; os versículos
19-21 descrevem a conseqüência desse enchimento. Primeiramente,
a frase vede prudentemente como andais. A palavra prudentemente
significa cautelosamente.
Refere-se possivelmente à Palavra de Deus, aos conselhos
de Cristo, às ordens dele na sua Palavra. É andar passo-a. passo
em Cristo. Se sairmos para a esquerda ou para a direita, poderemos
nos perder em nosso caminho. Andemos bem na vereda, ou seja,
andemos com cuidado. Cuidado com o que os outros estão dizendo
e como estão percebendo o nosso andar em Cristo. Este andar
prudente é, antes de mais nada, um andar sábio. É um andar que
realm ente está com o pensam ento concentrado em C risto. A
segunda coisa que caracteriza este andar é um a nova postura
quanto ao tempo (kairós).
Já que a noite está chegando e não temos a eternidade para
trabalhar, lutar contra o mal e espalhar a luz de Cristo, estamos
“resgatando” o tempo. Essa idéia de resgatar o tempo, porque os
dias são maus, é o conceito desta era. Esta era pertence a Satanás,
e o cristão tem a capacidade de usar o seu tempo (tal como pode
usar o seu dinheiro, suas capacidades, seu conhecim ento, sua
mente) para retirar o tempo das mãos de Satanás. É resgatar do
poder satânico aquilo que ele já escravizou no mundo. A carac
terística do nosso século é gastar mais e mais o tempo sem proveito
divino. Satanás nos tenta apertar para não pensarm os sobre os
valores reais, pela falta de tempo. Nós não podemos rom per o
tempo para a glória de Cristo? O Senhor deseja que resgatemos as
horas para ele.
Não vos tomeis insensatos (v. 17). Não vos torneis insensatos mo
ralmente. Paulo enfrentava o que nós enfrentamos hoje: novas idéias
sobre a moralidade, certas práticas que supostamente não são tão
más assim para um mundo liberal. Mas isto é insensatez e destrói o
discipulado de Cristo. Transmite corrosão ou mesmo veneno da célula
viva para outra célula que está dependendo de nós.
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E P Í S T O L A S OA P R I S Ã O
E não vos embriagueis com vinho (v. 18), isto é, não devemos
procurar, através de fontes alheias e externas, uma alegria para a
alma que só o Espirito pode proporcionar. Procuremos, sim, a ação
do Espírito para produzir comunicação, adoração e a verdadeira
gratidão; finalmente, para criar verdadeira comunhão na sujeição
uns aos outros.
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
Introdução
Lembremo-nos rapidam ente do que Deus nos tem dito em Efésios.
O pensam ento-chave é que D eus planejou que todas as coisas
sejam encabeçadas e somadas em C risto (l.lO ).Para essa fina
lidade, ele nos escolheu, nos predestinou, nos remiu, nos perdoou,
nos desvendou a sua revelação, nos deu o seu Espírito e nos con
cedeu o privilégio de orar. O capítulo 2 sublinha que fomos redi
midos de um a força tão escura, tão baixa, e colocados sobre a
pedra que é Cristo, alicerçando-nos para a edificação de um templo
novo, unido. Esse templo tem todas as características que Deus
deseja do seu lar, porque ele habitará no meio do seu povo (2.22).
O capítulo 3 mostra-nos que, com o propósito de criar este novo
homem, este templo de Deus na terra, ele escolheu homens como
Paulo, o pioneiro, e está nos escolhendo também. O capítulo 4
aborda nossa vocação na igreja e exorta-nos a nos esforçarmos
para m anter a unidade da igreja. Do v. 7 em diante, Paulo nos diz
como Deus está nos equipando e nos preparando para servir dentro
da sua igreja. Depois de toda essa transformação m ental que vimos
no trecho de 4.17-5.21, agora nesta últim a parte do estudo vamos
pensar ainda sobre três ou quatro outras áreas em que este propósito
de Deus precisa ser vivido e encarnado.
Intitulo esta seção, que começa em 5.22 e vai até 6.4, “O
Discipulado de Cristo no L ar”; a seção começando com 6.5, “O
D iscipulado de C risto no Trabalho”; e, finalm ente, a epístola
term in a colocando a nossa vocação nas fileiras da lu ta , nas
fronteiras da batalha contra o mal, contra o próprio poder de
Satanás; e para isso precisaremos de toda a arm adura de Deus.
O apóstolo começa, em 5.15, a exortar os leitores a andarem
cuidadosamente, com sabedoria, remindo o tempo, compreendendo
a vontade de Deus para a vida. Quando isso acontece, o Espírito
começa a ter abertura no coração e se expande no espaço íntimo
que domina. D aí decorre este clímax quanto à nossa vocação, a
necessidade de darmos cada vez mais espaço para que o Espírito
nos encha em todos os aspectos, áreas e responsabilidades de nossa
vida: na mente, na ação, no trabalho, nas viagens, nas palavras;
enfim, em tudo o que chamamos de vida. Já vimos que isso influi
E PÍS T OLA DE PAULO AOS EFÉ SIOS
As mulheres
M ulheres, apoiem seus maridos; tornem-se realmente pessoas que
estão prontas a consumir todas as energias, o tempo e os interesses
para apoiar o marido. Como submissão significa colocar-se debaixo
da missão de outra pessoa, há uma importância prioritária dada
àquele com quem se casa. Se for um casamento no Senhor (e não
é perm itido outro tipo de casamento ao crente), deve-se conhecer,
antes de se comprometer, essa obediência que não tem nada a ver
com a escravatura. E semelhante ao conceito que Cristo desenvolve
em João 15.15, quando disse: “Já não vos cham o servos [ou
escravos], mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto
ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer”. Essa é uma descrição
muito bela da esposa submissa, que consagra a sua vida a apoiar
o marido dentro da missão dele. A razão disso é que o marido é o
cabeça, isto é, aquele que se expõe em sua missão e tem que
enfrentar as resistências do mundo. Então a esposa, no lar, ajuda-o
em tudo para que ele possa vencer. Que ele possa descansar bas
tante em casa; caso contrário, não vai se dar m uito bem lá no
mundo. Que ele possa se alim entar bem, tendo-a como a cozinheira
que todo dia prepara “aquele” banquete (não esbanjando também,
porque talvez gastar demais contrarie a missão do marido). Mas,
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
pelo m enos, que ela faça o m elhor possível com aquilo que o
orçamento propicia. Por que se deve fazer isso? Este trecho diz que
nós, como membros de um lar cristão e, ao mesmo tempo, m em
bros da igreja de Cristo, precisam os aceitar o modelo ideal da
igreja, para o aplicarmos no lar, que também é um microcosmo da
igreja. Entendo que o meu lar (minha esposa Patrícia e meus cinco
filhos) é a igreja de Cristo na rua onde moro. Sendo a igreja de
Cristo, eu represento Cristo para a m inha esposa e meus filhos,
como o cabeça desse lar. Ali está o meu sacerdócio; a esposa e os
filhos são os m em bros da igreja que se subm etem e obedecem
com a finalidade de tornar o marido o pai e o herói daquela comu
nidade, como assim fazemos com relação a Cristo. Todos os mi
nutos e até horas de adoração e de louvor que temos oferecido são
para cada vez mais incutir, em nosso coração, que Cristo é o nosso
herói. Nós estamos plenam ente satisfeitos com ele. Não temos
nenhum a crítica a levantar contra ele, pois estamos completamente
engajados na sua missão! O lar se constrói para ser um lar de
alegria e harm onia como uma pequenina igreja, um microcosmo
da igreja de Cristo! E por isso que Paulo dá m uita atenção à respon
sabilidade do marido.
Os maridos
O m arido precisa am ar a esposa. Se a m ulher tem que apoiar,
preparando todas as coisas do lar para que o m arido seja um
sucesso, então o marido tem que dar tudo o que está incluído na
palavra amor para ela e para a família. Assim a esposa é para o
marido a pessoa m ais importante-no mundo. Não se pode comparar
outra pessoa, no m undo, com a esposa. A palavra am ar é a palavra
agape ou agapao; não é a palavra eros nem storge, nem qualquer
outra palavra que possa ser traduzida por “amor”. É que este amor
que o marido deve ter para com a sua mulher, para ser um amor
exemplar, modelado em Cristo, é um amor que m uitas vezes contra
ria as emoções do m arido. M uitas vezes não quero dar a mim
mesmo, como Cristo se deu a si mesmo na cruz, por m inha esposa
ou pelos filhos. Possivelmente não tenho de fato o desejo de san
tificá-la para mim, isto é, de amá-la de modo que ela não possa
ter alegria em nada mais que não seja neste pleno amor que eu lhe
esteja dando. Vê-se que o dever de amar vem a ser uma responsa
bilidade das mais difíceis de cum prir e das mais altas em padrão.
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tem que ser um modelo para a igreja também. No fim deste trecho
(v. 31), o apóstolo Paulo cita uma passagem do Antigo Testamento
(Gn 2.24), onde Deus estipula que o homem deixe seu pai e sua
mãe e se una à sua mulher, e ambos assim passem a ser uma só
carne. Por que Deus mandou essa separação? Por que não fez com
que o novo lar fosse sempre uma extensão direta do lar onde se foi
criado? Em outras palavras, que nos casássemos com os nossos
irmãos ou irmãs (parece um tanto esquisito, mas seria natural).
Nós já estaríamos acostumados com ele (ou ela); saberiamos de
suas m anias, de seus egoísmos, já que fomos forçados a viver
juntos. Vejo isso constantem ente com os meus filhos: são forçados
a viver naquele lar, quer queiram, quer não. Mas chega o dia em
que Deus, querendo m ostrar este modelo de Cristo para com a
igreja, coloca no coração do rapaz, ou da moça, o propósito de
deixar o seu lar e de, voluntariam ente, am ar outra pessoa. A
diferença entre o amor que temos para com os nossos pais e nossos
irmãos, este um amor natural, e o amor para com outra pessoa
está no fato de ser voluntário. E se puderm os entender que este
amor voluntário une pessoas com m uito mais vínculo e menos
egoísmo, com m uito mais alegria do que o amor natural, começa
remos a entender o desejo de Deus para sua igreja e o o seu ideal
para o lar. Para concluir este parágrafo, a m ulher tem uma responsa
bilidade tão simples, tão fácil de aprender. E sim plesm ente se
submeter, simplesmente respeitar (v. 33). São duas coisinhas só!
E é mais fácil ainda para o marido se lem brar do seu dever: ele
tem só uma coisa a fazer: é amar, am ar e amar!
Os filhos
Por que em tantos casos (espero que não seja a maioria) filhos de
crentes se afastam de Deus e, conseqüentemente, estão longe dos
seus pais? Por que será tão difícil discipular um filho, quando é
relativam ente fácil discipular os filhos dos outros? Talvez seja
porque não dam os su ficiente atenção aos q u atro p rim eiro s
versículos deste capítulo 6. Vejamos rapidam ente o que deve
acontecer no lar quanto aos filhos:
Primeiramente, os filhos não têm nenhuma escolha quanto à
obediência e a honra que devem a seus pais: Filhos, obedecei a vossos
pais (6.1). Tenho visto no meu lar que os filhos não fazem isso
autom aticam ente. Não é pelo sim ples am or aos pais que eles
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homens, mas como quem trabalha com coisas que ninguém mais
supervisionará, como no caso de produtos que saem da seção para
serem vendidos; o funcionário sabe que os aparelhos estão perfeita-
mente montados, e sente-se bem com sua consciência, porque de
boa vontade serviu o seu Senhor.
Quanto aos empregadores a palavra é esta: E vós, senhores,
de igual modo (v. 9). A expressão de igual modo significa que temos
de servir àqueles que estão servindo a nós e à nossa indústria ou
projeto. Temos que fazer isto porque o Senhor nos julgará. De
fato, talvez neste mundo estejamos num a alta posição, com respon
sabilidades de liderança e de chefia. Mas no outro m undo não
será assim. Notemos que no m undo vindouro todos estarão nivela
dos. No outro mundo, aquele homem mais simples, analfabeto,
que não sabe fazer quase nada, mas que está trabalhando para
mim, será igual a mim, porque diante do Senhor não há acepção
de pessoas. E devemos cuidar daquele irmão com essa lembrança
de que um dia talvez ele venha a se lem brar (se de fato houver lá
recordação) de como o tratei. Que eu não tenha vergonha de me
encontrar com ele naquele outro mundo!
0 exército de Deus
O últim o parágrafo nos convoca para a guerra. Somos todos
chamados a nos fortalecer na força do poder de Deus. Esta última
palavra não é apenas para mulheres e maridos, chefes e servos,
filhos e pais, mas é para todos: Quanto ao mais, sede fortalecidos no
Senhor e na força do seu poder (v. 10). Novamente sentimos a neces
sidade de o E spírito Santo vir e encher a nossa vida para que
possamos realmente transform ar este m undo para Cristo. Porque,
como percebemos logo no v. 12, este m undo é dominado por forças
destrutivas do mal, que criam miséria, injustiça, enchendo-o de
toda espécie de maldade e crueldade (como certam ente já foi no
caso de Hitler, de Stalin e de tantos outros.). Essas forças, pouco
a pouco, passaram a controlar cada vez mais a mente desses homens
e as suas decisões, de modo que eles se tornaram verdadeiros
anticristos. Essa é a m aneira bíblica de se referir à m ente que
aceita o mal e que cada vez mais vai sendo dom inada por essas
forças que operam de modo satânico nos filhos da desobediência.
Não somos imunes a essas forças do mal, às suas tentações;
o próprio Senhor Jesus Cristo, ao enfrentar a cruz, no Getsêmani,
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a nossa luta não é contra carne e sangue, mas sim contra as forças
demoníacas invisíveis, temos de ficar dependentes da oração. A
única m aneira pela qual podemos nos vestir de toda a armadura
de D eus é orando, com a súplica específica, orando em toda a
oportunidade, no Espírito, e para isso vigiando (alertas, acordados,
ressuscitados dentre os mortos), e com toda a perseverança e súplica
por todos os santos. Paulo, que tanto poder na oração demonstrava,
não teve a ousadia de insinuar que não precisava das orações dos
seus irmãos. O v. 19 mostra que a força da palavra e a coragem
que Paulo necessitava para o b ter sucesso na evangelização
dependiam da oração. Também Paulo estava orando pelos crentes
da Ásia, para que a paz, o am or e a fé fossem fortalecidos por
Deus, o qual oferece a sua graça a todos os que o amam (6'.23, 24).
Concluindo, desde a doxologia dos lugares celestiais até a
vida cotidiana, encontramos a centralidade de Cristo que cria a
unidade na igreja e se manifesta em amor e crescimento. Vivamos
no amor dele enquanto o servimos, amando a todos os que ele ama.
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Introdução
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Agora, vejamos de perto o que Paulo tinha a dizer para esta igreja.
É bem diferente do que imaginamos. Em vez de dizer: “São Paulo
e São Timóteo, aos servos do Senhor em Filipos, com os bispos e
diáconos”, ele escreve o oposto. Nosso texto diz: “escravo Paulo e
escravo Timóteo, escravos de Jesus Cristo, aos santos de Cristo Jesus
que moram em Filipos”. Parece estar invertido, não é mesmo?
Dr. H arry Ironside, o famoso pastor da igreja de Moody em
Chicago, contou de uma viagem de trem de três dias que havia
feito em certa ocasião, do litoral do Pacífico até Chicago. Havia
duas freiras católicas no seu vagão, e ele, então, quis divertir-se um
pouco às suas custas. Depois de ter travado conhecimento com elas,
perguntou-lhes: “Já viram um santo?”. Elas responderam que nunca
tinham visto, pensavam que seria maravilhoso ver um santo de ver
dade. “Eu gostaria que vocês conhecessem um santo”, ele disse.
Ficaram entusiasmadas! Onde, como poderíam conhecer esse santo?
Estaria viajando num caixão de ouro, ou seria visto descendo do
céu? (Segundo o pensamento popular católico-romano, os santos
têm que morrer primeiro.) Dr. Ironside disse: “Eu sou Santo H arry”.
Conheceram Santo Harry, mas isso pouco as impressionou.
Não sei se foi exatamente bíblico, chamar-se de santo. É ver
dade que a igreja de Filipos era composta de santos, mas não sei se
havia ali alguém que fosse mesmo um santo. Existe uma diferença.
No Novo Testamento, Paulo nunca é chamado de São Paulo. E a
Bíblia sempre usa “santos” no plural quando se refere a pessoas. A
razão disso, acredito, é que o plural “santos”, “pessoas santas”,
comunica o conceito do corpo de Cristo, a igreja santa (universal
ou local) de Jesus Cristo: todos que estão na igreja, ou “em Cristo”,
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 segurança de Paute
Vejamos o que esta passagem diz sobre a segurança. Que certeza
você tem hoje de que irá para o céu quando Jesus Cristo voltar, ou
quando você m orrer (se isso acontecer antes da segunda vinda)?
Paulo nos apresenta as bases de uma perfeita confiança a respeito
de nosso destino eterno. Existem cinco razões a garantir que, se você
se converteu e conhece a Jesus Cristo, você irá para o céu:
1. Graça. Em prim eiro lugar, está a graça. O v. 2 diz “Graça e
paz a vocês da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”.
Se você não recebeu a graça de Deus, e se você não tem a paz dele
em seu coração, é simplesmente impossível ter a segurança de que
Paulo fala. Graça e paz vêm primeiro, não só como saudação, mas
como alicerce.
2. Obra de Deus. Vejamos o v. 6: “Estou plenamente certo de
que aquele que começou boa obra em você há de completá-la até ao
dia de Cristo Jesus”. Esta é a segunda garantia de que você é salvo: a
obra de Deus. Se o Senhor começou boa obra em você, então agora
ele está trabalhando e completando-a eficientemente (ver 2.13).
C. S. Lewis, no seu livro Surpreendido pela Alegria, descreve
vivamente sua conversão. Em certa noite de 1929, ele era o conver
tido mais relutante, mais infeliz e abatido de toda Inglaterra. Sua
situação era pior que a do filho pródigo, pois este cam inhou
espontaneamente de volta para o lar, ao contrário de Lewis que entrou
em casa depois de m uita resistência, dando socos e pontapés no pai.
E então mais tarde, Lewis escreve para um amigo da América que
ainda não era cristão: “Suponho que o Espírito Santo o tenha
apanhado e que você já esteja preso na sua rede. Não adianta relutar
mais. Deus começou um trabalho em você”. Sim, e em você, leitor,
Deus já começou uma obra? Você reconhece o poder com o qual ele
o está chamando, não só para a comunhão, não só tornando agradável
a participação nos cultos da igreja, mas principalmente atraindo-o
para si? Ele deseja realizar aquela obra da graça no seu coração. Se
Deus já começou a operar em você, cuidado, pois é muito difícil
escapar de seus braços insistentes e amorosos (cf. Elb 12.4-11).
3. Amor fraternal. Elá um a terceira base para a grande
esperança que Paulo tem referente à igreja: o fato de ele se encontrar
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Conclusão
Pense em um homem como John Newton, que viveu há anos atrás,
no século 18. Começou a vida num lar cristão onde viveu por uns
seis anos. Ficou órfão e então foi criado por uma família não-crente,
em que o evangelho e o cristianismo eram ridicularizados. Como
nessa casa ele era perseguido, fugiu para o mar, porque o pai tinha
sido m arinheiro na M arinha Britânica por algum tempo. Alguma
coisa não deu certo, e ele fugiu novamente, escolhendo a África
como um bom lugar para esconder-se. Tornou-se sócio de um portu
guês, traficante de escravos.
A esta altura ele estava longe, bem longe de Deus. A péssima
vida que levava colocou-o em algumas situações horríveis. Chegou
até ao ponto de ser obrigado pela esposa do traficante a comer no
chão. Foi até mesmo forçado a ser um escravo, mas fugiu para o
litoral, onde deu sinais a um navio que passava, e que o acolheu
por compaixão. Quando estava a bordo, o capitão descobriu que
ele entendia de navegação e puseram-no como imediato do navio.
Para m ostrar como Newton era irresponsável, devo acres
centar que ele roubou o estoque de rum , distribuiu-o a todos os
com panheiros e, na bebedeira, caiu no mar. Um m arinheiro o
apanhou com o arpão e o puxou para o convés. Daquela arpoada
ele ficou com uma cicatriz do tam anho de um punho, mas ainda
não sentiu Deus operando em sua vida. Porém, naquela mesma
viagem, quando se aproximavam da costa da Escócia, uma tempesta
de violenta apanhou o navio. Ele teve que m anejar as bombas junto
com os m arinheiros, para evitar o naufrágio. Trabalhando nas
bombas, foi dominado pelo medo da morte. Foi nessa crise que
começou a recordar os versículos que havia memorizado antes dos
seis anos de idade. Ao repetir essas Escrituras, Deus lhe falou ao
coração, e ele se converteu de form a m aravilhosa. Não só se
converteu, como também tornou-se um pregador poderoso e com
positor de hinos. Foi ele quem escreveu o hino tão apreciado,
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
Uma oração-modelo (1 .9 -1 1 )
9E tam bém faço esta oração: que o vosso amor
aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a
percepção, 10para aprovardes as coisas excelentes e serdes
sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, ucheios do
fruto de justiça, o qual é m ediante Jesus Cristo, para a
glória e louvor de Deus.
Introdução
Poucas pessoas tiveram o privilégio que eu tive, de crescer num lar
cuja prim eira lembrança é a de mamãe ajoelhada junto à cama.
Nunca vou esquecer o seu vulto ajoelhado, embora eu não tivesse
mais de quatro anos de idade quando a cena me impressionou pela
primeira vez. D urante várias ocasiões, em silêncio, intercedendo
por nós, os filhos, e pèla igreja da Bolívia, m inha mãe criava em
volta de si uma atmosfera sagrada. Não havia a luz de uma auréola,
nenhuma halo, mas nós crianças sempre passávamos quietinhos
quando mamãe orava. Foi uma experiência que se repetiu todos os
dias, um privilégio que teve realmente um papel im portante na
formação de meus primeiros ideais com respeito à oração. Embora
ela intercedesse m uito silenciosamente, sabíamos o que ela estava
pedindo. Nós crianças estávamos no topo da lista. Sabíamos quais
os principais assuntos das suas orações porque a nossa fam ília
sempre se reunia para orar antes do café da manhã. As orações de
meus pais eram muito longas para um garotinho: eu já acordava
com fome, e o culto dom éstico atrasava o café. Dr. D onald
Barnhouse (pastor da Filadélfia, m undialm ente conhecido, já
falecido) costumava dizer: “Sem Bíblia não há café!” Nossos pais
se mantiveram firmes naquele moto, que incluía também a oração.
Paulo também aprovava essa espécie de piedade cristã. Orava
incessantemente. Exortou os leitores de sua epístola em Tessalônica
a que orassem sem cessar (lTs 5.17). Mas Paulo não estava tão
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Conclusão
Paulo quer fazer-nos entender que, no final, Deus será louvado e
glorificado pela resposta a essa oração. Seja qual for o resultado
produzido por Cristo em nós em termos de vida justa, inevita
velmente, Deus será honrado e exaltado. Bondade produzida hum a
namente glorifica o homem (cf. Jo 5.44)., mas logo que descobrimos
que dentro de nós “nenhum bem habita”, somos forçados a diri
gir-nos ao nosso Senhor em busca dessa justiça miraculosa que
reflete o louvor e glória de Deus (v. 1lb). Duvido que muitas orações
tenham esta m eta. É freqüente orarm os im plorando alívio de
aflições e dores, ou o suprim ento daquilo que supomos necessitar
e desejar. Quando somos conscientizados para orar como Paulo
orou, podem os a g u ard ar a conseqüência, m aravilhosam ente
apresentada nesta curta passagem de Filipenses, além de experi
m entar a verdade de que Deus tem prazer em dar-nos as coisas que
desejamos, mas não pedimos (Mt 6.33).
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Introdução
Uma biografia, para valer a pena, tem de contar mais do que os
simples fatos da vida de uma pessoa. Lendo Filipenses, capítulo 1,
versículos 12 a 26, é preciso compreender que há mais do que meros
fatos naquilo que o apóstolo conta. Nestes versículos vemos, prim ei
ram ente, atitudes, um modo de ver, uma m aneira de avaliar as
circunstâncias e as pessoas.
Confiamos no Pai, autor dessas palavras preciosas, para que
ele faça brilhar em nossos corações a glória de uma vida que lhe foi
totalmente dedicada, a fim de podermos im itar este seu servo, Paulo,
compreendendo como tornar nossas as suas atitudes e o seu modo
de pensar. Que Deus desafie a nossa vontade enquanto estudamos
a Palavra e abrimos os corações ao m inistério do Espírito.
Os versículos 1 a 11, que j á examinamos, revelam como Paulo
agradecia e orava a Deus pelos cristãos de Filipos. Os versículos
12-26, no entanto, são seu testemunho pessoal. Aqui, vemos Paulo
erguendo os olhos para o m undo ao redor, para seu passado, seu
presente e seu futuro. Ele os examina de um certo ponto de vista.
A avaliação correta da vida e até mesmo da pessoa que somos
não depende do que nos aconteceu durante a vida, nem de onde
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que Paulo observava seu mundo e experimentava tudo que lhe acon
tecia, reconheceu o maravilhoso trabalho do oleiro que formava e
moldava a massa flexível e receptiva do seu coração. Ele se regozijava
então nos seus sofrimentos (Cl 1.24), reagindo sempre com atitude
de aceitação positiva e nunca com amargura ou auto-piedade com
relação àquilo que Deus estava fazendo em sua vida.
Olhemos agora, mais uma vez, para o versículo 12: “As coisas
que me acontecem têm antes contribuído para o progresso do
evangelho”. Paulo não disse que gostou de suas circunstâncias. Não
estava dizendo: “Eu estou completamente louco e por isso gosto
desses acontecimentos dolorosos, ruins, pois m inha mente não está
funcionando bem ”. Porém, o que Paulo afirmou foi o seguinte: “Eu
avalio as coisas más que têm acontecido em m inha vida em termos
de como elas contribuem para o bem superior, o que realmente faz
valer a pena e torna o investimento compensador. Esse bem é o
progresso do evangelho”.
No original, a palavra traduzida por “progresso” é um termo
militar que retrata trabalhadores com machetes e machados abrindo
caminho através da mata, a fim de preparar a passagem para o
exército. Era de máxima importância abrir caminho para o exército
avançar. Paulo estaria dizendo assim: “Já estive ali na frente,
sofrendo os ferimentos bem como a oposição do inimigo, mas louvo
a Deus porque o nosso exército está avançando — o evangelho tem
progredido porque o caminho foi aberto. Esta palavra que ele usa
novamente um pouco adiante, fornece uma chave para compreen
dermos o entusiasmo de Paulo. No versículo 25, o “progresso” que
Paulo espera ver na igreja filipense se refere ao crescimento deles
na fé e na m aturidade espiritual. Aqui ele fala no “progresso do
evangelho” no sentido de o evangelho “se tornar conhecido em toda
a guarda pretoriana” (v. 13).
Antes que a arqueologia nos informasse m elhor sobre esta
palavra, pensávamos que o pretório se referisse somente ao palácio
do im perador em Rom a ou do governador na capital de um a
província (At 23.35; M t 27.27). Através de algum as inscrições
descobrimos agora que o pretório também pode referir-se à guarda,
que era especialm ente os “olhos e ouvidos” do im perador nas
principais cidades em todo o m undo romano. É possível mesmo
que Filipenses tivesse sido escrito em Éfeso porque devem ter havido
componentes da guarda pretoriana para zelar pelos interesses do
imperador ali. Em Roma, a guarda pretoriana se compunha de cerca
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Senhor. Afinal de contas, Pedro negou seu Mestre, não só uma vez,
mas três vezes. Que vergonha terrível deve ter oprim ido o apóstolo
veterano quando confessou seu ato covarde a Paulo. Por isso, Paulo
pede as orações fervorosas de seus amigos de Filipos, para que não
fique envergonhado quando chegar o momento de tom ar posição
por Cristo, a fim de que o faça da m aneira mais perfeita possível. E
assim continua seu pensamento: “Em nada serei envergonhado; antes,
com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido
no meu corpo, quer pela vida quer pela morte” (v. 20).
O importante é que aqui se ensina como devemos encarar o
corpo, aquela nossa parte que valorizamos tanto. Sem dúvida alguma,
ele é muito importante. A maior parte do tempo, trabalhamos e
lutamos pelo corpo, para que ele esteja vestido, alimentado, bem
agasalhado debaixo de um teto, aquecido, subimos e descemos as
ruas da cidade como também pagamos bem para transportá-lo aos
lugares mais lindos e confortáveis do mundo. Não se pode negar que
o corpo seja importante. Mas Paulo tinha apreendido na prisão outra
coisa sobre o corpo, que influenciava seu ponto de vista. Ele
descobrira que o mais importante com relação a seu corpo não era
nenhuma das coisas que nos preocupam a maior parte do tempo. A
grande preocupação dele é que seu corpo seja um sacríficio sem
mácula, perfeito, para Jesus Cristo. Se o seu sangue fosse derramado
no altar de m ártir e suà cabeça rolasse no pó, não seria nenhuma
tragédia. Antes, sua morte havería de glorificar a Deus de modo mara
vilhoso. Através da morte e através de meu corpo sacrificado, afirma
Paulo, Cristo será exaltado. Ora, esta é realmente a coisa mais im
portante do mundo, que todo corpo seja um sacríficio na morte ou
na vida (Rm 12.1). .
Mas, e se Deus o deixar viver? Nesse caso, esse corpo terá
que viajar um pouco mais. O apóstolo tinha m uita vontade de ver
de novo os filipenses. Se Deus o levasse nessa direção, uma série de
bênçãos viríam a acontecer. Em prim eiro lugar, Paulo aguarda um
trabalho frutífero (v. 22), que nesse caso seria o crescimento espi
ritual e numérico da igreja em Filipos. Paulo precisa de seu corpo
lá na Macedônia para que isso se realize. Em segundo lugar, ele
diz: “Poderei dar-lhes mais assistência” (v. 24). E em terceiro lugar,
ele tem esperança de estimulá-los no progresso na fé e increm entar
sua alegria em Cristo. A igreja filipense amava muito a Paulo, então
esperava ansiosamente que ele viesse visitá-la e lhe pregasse outra
vez as maravilhosas verdades de Jesus Cristo.
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Conclusão
Nesse pequeno resumo autobiográfico, temos o retrato de um homem
que tem um ponto de vista cristão integrado sobre a vida e a morte.
Já foi dito, e é verdade, que quem não tem o ponto de vista certo
sobre a morte, não terá também o conceito correto sobre a vida.
E. Stanley Jones nos deixou um exemplo de uma atitude
correta para com a vida e a morte, quando viajava num avião que
sobrevoava o aeroporto de Saint Louis nos Estados Unidos. O
aeroporto estava fechado, e o avião dava voltas por duas horas. Temos
aqui o que o veterano missionário escreveu quando pensou que estava
vivendo os últimos instantes de sua vida: “Estou em paz espiritual
mente, sem tensões, porque creio que a hipótese central de minha
vida está correta. A vida é só uma longa verificação dessa hipótese
central. Esse fato me dá um senso de estabilidade. Estou aqui em
cima, neste avião. Há duas horas o avião dá voltas acima destas nu
vens. Se não aterrisarmos com segurança, gostaria de deixar meu
último testamento para meus amigos e companheiros seguidores de
Cristo. Ei-lo: Existe paz, a perfeita paz, independente de m inha
fidelidade ao Soberano. Não tenho pesares ou remorsos sobre o curso
geral de m inha vida. A vida com Cristo é a maneira de viver. Nesta
hora, há segurança, há Deus por fundamento, debaixo de todas as
incertezas da existência humana. Portanto, descanso em Deus. Que
ele dê o melhor para todos vocês. Vivendo ou morrendo, eu sou dele,
só dele. Glória. Assinado: E. Stanley Jones”.
Gostaria que você examinasse a hipótese central de sua vida.
Qual é mesmo o centro de sua vida? É Cristo? São os bens mate
riais? É alguma posição com que você tem sonhado, talvez a de
chefe de alguma companhia? São notas altas que você está ansioso
por alcançar? M eu caro amigo e irm ão em C risto, só há uma
hipótese central capaz de se provar verdadeira ao longo de toda sua
vida e que o guie com segurança até o fim: é Jesus Cristo como seu
Senhor e Salvador. Se você ainda não o conhece, espero que sua
oração agora seja: “Senhor, salva-me. Dou-lhe m inha vida”.
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EP ÍS T O LA S DA P R I S Ã O
Até este ponto (1.27) em Filipenses, Paulo não tinha feito nenhum a
exortação (embora seja fácil notar que há nos versículos anteriores
numerosas exortações implícitas). Mas neste ponto, no v. 27, Paulo
parte para o corpo da epístola: começa a divulgar o verdadeiro
motivo de a estar escrevendo. O novo parágrafo começa com o
imperativo, “Vivei”, como se Paulo quisesse pedir a maior atenção
possível para o que está para dizer. “Acima de tudo” são palavras
que também chamam atenção para uma prioridade. Nos parágrafos
anteriores ele falava sobre si mesmo: Filipenses, em primeiro lugar,
é uma epístola autobiográfica. Mas agora ele deseja que seus amados
leitores dêem atenção especial ao que vai dizer. E quanto a nós,
será que estamos prontos para nos concentrarmos e esperarmos no
Senhor, a fim de receber dele uma mensagem particular através
desta porção im portante de sua Palavra?
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EPÍSTOLAS DA P R IS Ã O
Mão intimidados
Por que o povo de Deus tem causado tão pouco impacto em nosso
mundo? Um motivo im portante é sua desunião e individualismo.
Que esta prim eira exortação de Paulo aos filipenses nos ensine isso,
convencendo os corações para pormos em prática essa decisão de
nos mantermos unidos no evangelho.
Em segundo lugar, negativamente, Paulo aponta o perigo que
os cristãos enfrentam , no versículo 28. Os cristãos perseguidos
correm o risco de se assustarem ou saírem em debanda quando o
inimigo lhes apresenta qualquer ameaça. Essa expressão faz-nos
imaginar um quadro cheio de cavalos excitáveis, que facilmente
entram em pânico. Há muitos anos atrás, antes dos dias em que as
rodas facilitavam a locomoção, como fazem hoje, m eu pai era
missionário na Bolívia e era dono de um cavalo chamado Príncipe,
que o levava às vilas remotas nas altas montanhas dos Andes. Aquele
cavalo era um perigo para qualquer pessoa, exceto meu pai. Só ele
podia aproximar-se do Príncipe, pegá-lo pela rédea e montá-lo
calmamente o dia todo. Conosco, o Príncipe pulava para frente ou
para trás e dava coices, rápido como relâmpago. Não que o Príncipe
tivesse raiva de nós, só tinha medo excessivo. O encorajam ento
que Paulo dá é para que não tenham os medo de coisa alguma.
Qualquer que seja a ameaça com que o inimigo consiga assaltar,
não tem a, C risto é m ais forte. N unca se in tim id e dian te do
adversário, pois Cristo ganhará a batalha por você.
Os filipenses deviam tam bém lembrar-se que a oposição ao
evangelho, a oposição perseguidora, evidencia claramente o destino
final daqueles que m ostraram os crentes (v. 28). Os que tanto
desejam fazer sofrer os cristãos são assinalados pela marca da des
truição, enquanto que os crentes, quando perseguidos, revelam que
são recipientes da salvação, e que isso vem de D eus. Sofrer
perseguição por causa de Jesus Cristo, sem voltar-lhe as costas,
confirma sua fé nele e é um sinal seguro de que você está no seu
caminho para o céu. Norm alm ente os cristãos que são perseguidos
têm certeza de sua salvação.
Paulo chega ao ponto de declarar que sofrer por Cristo se
constitui num privilégio (v. 29). Aqui a palavra chave é graça, signi
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EPÍSTOLAS DA P R IS Ã O
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melhores para mim ”. Se você acha que sua vida cristã está parada
em um só nível, dedique algum tempo para receber novamente o
encorajamento de Jesus Cristo.
A segunda frase se refere à “consolação de amor”: Creio que
esta pode ser uma parte de uma passagem trinitariana, embora se
omita a palavra “D eus”. A palavra “consolação” tem aqui o valor
de estímulo, de um empurrãozinho por trás. O sentido está bem
ligado ao “encorajamento” que retrata chegar ao lado de alguém e
tomar a mão da pessoa. O amor faz isso: dá ao cristão que sofre de
letargia, um impulso para a frente.
Se Paulo estava pensando na trindade, deixou de usar a
palavra “D eus”, mas pode bem ser que estivesse focalizando o
encorajamento de Cristo, o amor de Deus, e a participação no
Espírito. A trindade aparece em várias passagens do Novo Testa
mento em ordens diversas. Portanto, acredito que é o amor de Deus
que deve ser o nosso incentivo.
Foi esse mesmo amor divino que motivou a humilhação de
Cristo, como veremos nos v. 5-8 a seguir. Foi o amor de Deus por
nós que, tão intenso, fez com que ele desse seu Filho para m orrer
por nós a fim de que não perecéssemos, mas nos deleitássemos
eternamente na glória de sua presença. Por causa do amor de Deus,
somos levados a cultuá-lo, honrá-lo e servi-lo incessantemente. Tão
grande assim é o incentivo do amor de D eus concretizado no
Calvário, que também nos impulsiona à frente, para sermos re
cebidos em seus braços acolhedores. Foi amor dessa natureza que
acolheu o filho pródigo quando o pai o abraçou e o beijou, dizendo:
“Você estava perdido mas agora foi achado. Que alegria tê-lo de
volta”. É um incentivo dessa natureza que foi criado pelo amor de
Deus. Que seu infinito amor por você possa motivá-lo a chegar-se
aos seus braços abertos, se você ainda não voltou para o lar do Pai.
A frase seguinte é a “comunhão do Espírito”. Participar da
comunhão significa sair do individualismo para criar uma vida em
comum. Esse mutualismo é produto da vida do Espírito em nós. É
claro que o Espírito já entrou em com unhão conosco quando
escolheu morar em nós. Porém, somos convidados a dar um passo
à frente ativamente, para viver continuamente com ele, buscando
uma comunhão mais íntim a com o Espírito. Lembre-se também
que o Espírito oferece aos homens espirituais o privilégio de ver
coisas que o mundo não pode ver, ouvir coisas que ninguém antes
ouviu (ICo 2.9). Realidades espirituais assim são impossíveis de se
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Conclusão
Eis a palavra do Senhor para nós hoje. E agora, como vamos pô-la
em prática? O que vamos resolver? Em Cristo e sua- salvação ele
nos ofereceu a perfeita unidade do céu. Se um de nós receber o
chamado para ir ao lar da glória, há de experimentar a mais perfeita
comunhão pessoal, na mais excelente comunidade possível. Será
muito m elhor do que qualquer um de nós pode imaginar. Como
não haverá pecado nem egoísmo, não haverá competição, ou rivali
dades políticas. Não haverá desacordo, todos terão a mesma mente
e o mesmo amor. Deus nos diz nesta passagem: “Olhem, quero que
vivam essa vida celeste aqui na terra o tempo todo. Vivam-na em
casa, com a esposa, e ela com o cabeça da casa. Dêem sempre qual
quer vantagem à outra pessoa. Estejam realmente preocupados com
a outra pessoa em prim eiro lugar. Em vez de ser o número um, dê
este lugar ao outro”.
Que prazer há em encontrar a palavra exata na ocasião exata!
E esta ocasião exata, veja bem, é aquela em que, habitualm ente,
buscamos a vantagem de nosso irmão ou irmã mesmo quando signi
fica nossa própria desvantagem. O que importa? Por fim, a vantagem
eterna é a glória de Deus e sua missão de ser embaixador da vida
celeste aqui na terra. Você pode discordar desse tipo de vida
abnegada. Os filósofos e pensadores gregos discordaram. Você só
vai concordar com esta vida quando conhecer Jesus Cristo interna
m ente. Se você o conhece pessoalm ente, se ele entrou em seu
coração e no seu viver, então creio que concorda comigo em que
essas palavras são mesmo celestiais, e vale a pena viver e lutar para
a glória de Deus.
0 centro da história ( 2 .5 - 1 1 )
5Tende em vós o mesmo sentim ento que houve
também em Cristo Jesus, 6pois ele, subsistindo em forma
de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
7antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de
servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhe
cido em figura hum ana, 8a si mesmo se hum ilhou, tor
E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
Introdução
Os primeiros quatro versículos do segundo capítulo de Filipenses
foram escritos para incentivar a igreja a viver sua fé cristã sob o
impacto total do ministério da Trindade: o encorajamento de Cristo,
a participação do Espírito, e o amor de Deus. Paulo conclui esse
trecho, dedicado à unidade da igreja filipense, apresentando o
exemplo comovente de Jesus, nosso Senhor, durante seu ministério,
seguido de sua gloriosa exaltação.
Já faz alguns séculos que os pensadores vêm procurando a
chave para a explicação de toda a história. Para alguns homens
como Camus ou Jean Paul Sartre, é óbvio que a história não tem
sentido nenhum. As peças teatrais de Samuel Beckett expressam
esse ponto de vista — que tudo que ocorre, acontece inteiram ente
por acaso. E visto que não há sentido na história, não há nenhum
enredo. E como o enredo de um dicionário. Já ouviu contar da
pessoa que parou de ler o dicionário, porque não dava para pegar o
fio da história? Era apenas um a porção de palavras, definições,
idéias desconexas, isoladas. Jean Paul Sartre e os existencialistas
modernos que o acompanham, negam o controle soberano de Deus
sobre a história e m antém um a visão sem elhante dos eventos
históricos. Não se descobre neles nen h u m propósito interno
relacionador nem um plano mestre, nem sequer algo comparável à
ordem alfabética que se impõe ao dicionário. Essa visão desespera-
dora da história contrasta-se com o ponto de vista dos gregos da
antigüidade, tais como Heródoto e outros historiadores que viveram
antes de Cristo. Observavam o cenário que passava, os eventos que
pareciam significativos, e imaginavam ver um traçado, uma confi
guração. Não tinham a capacidade de explicar por que aquela
configuração se faz presente na história, mas viam que m isterio
samente ela correlaciona e integra certos eventos em um todo. Para
os gregos, a história era como uma roda que gira. E aquelas nações
afortunadas que estivessem do lado de cima por um tempo, veriam
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de seu senhorio, estão todos juntos para trazer m aior glória a Deus,
o Pai. O propósito da vida cristã se centraliza na glória de Deus. O
evento mais glorificante que já aconteceu, foi a morte de Jesus Cristo
no Calvário. E justamente por isso se torna o ponto central de toda
a história. Deus fez com que se tornasse a chave que explica a trama
central de tudo que está acontecendo na história. Através de toda a
eternidade será impossível esquecer a cruz. O reino m ilenar há de
refletir a luz que jorra da cruz (conf. Ap 5.6,9). A glória de Deus, o
Pai, demonstrada com brilho radiante em seu Filho, em quem muito
se agrada, reflete da cruz. Assim também têm glória refletida da
cruz aqueles que se curvam perante Jesus, e que confessam o seu
nome. Eles têm o privilégio de renunciar a seus próprios direitos,
derramando suas almas e subjugando seu próprio egoísmo com
escolhas conscientes. Só assim podem “carregar cada dia a sua cruz”
(Lc 9.23). Jesus o fez por causa de sua atitude de amor sacrificial
para com seu Pai e para com a hum anidade.
Esta passagem afirma, também, que os demônios (“debaixo
da terra”) irão dobrar os seus joelhos diante do Senhor. Não só os
cristão irão se curvar, não só os anjos que servem a Deus no céu. O
versículo 10 se refere a criaturas inteligentes na terra, i.e., os
homens. Então, o versículo fala de seres abaixo da terra, referindo-se
aos poderes demoníacos, no seu ódio rangente e amargurado contra
Jesus. Será que também confessarão a Jesus como Senhor? Certa
mente, não irão confessar sua bondade e grandeza de bom grado,
como também não o farão as pessoas da terra que não O conhecem
pessoalmente, e não O receberam como Senhor e Salvador de suas
vidas. Os inimigos pecaminosos de Deus não reconhecerão a Jesus
como Senhor porque o desejam, mas assim mesmo o farão. Lem-
bra-se quando Jesus chegou perto de um hom em possuído por
demônios? Reconheceram-no im ediatamente como Senhor (conf.
Mc 5.7). Não puderam calar nem que o quisessem. É por isso que
esse trecho da Bíblia esclarece que há uma decisão a ser feita antes
que venha o juízo. C ertam ente, quando Cristo voltar, ninguém
deixará de dar a honra devida ao Senhor. Você pode tornar-se
co-herdeiro com Jesus dobrando os joelhos e confessando com o
coração que ele é Senhor (Rm 8.15-17). Se você quiser alegrar-se
com ele, precisa tornar-se como ele, ter a sua mente. Realmente
queremos ser seguidores de Cristo? E impossível ser um seguidor
de longe. O egoísmo e o orgulho nos m antêm longe dele, sem a
atitude de mente que ele deseja formar em nós. Você está disposto
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Um trabalho obediente
A salvação que recebemos, então, precisa ser desenvolvida. Assim
se tornará uma salvação obediente. Voltemos ao versículo 12, onde
Paulo diz: “Vocês sempre obedeceram na m inha presença”. Todos
nós estamos familiarizados com o poder invisível que tem o olhar
de um professor vigiando... ou do chefe que observa como tudo
está sendo feito, para verificar se tudo está em ordem. Quando o
professor ou o chefe saem, então você se relaxa, pode até sair para
tomar um cafezinho mais demorado. A obediência, Paulo diz aos
filipenses, não só é crucial quando estou presente, mas m uito mais
quando estou ausente. Algumas das paíabolas de Jesus batem na
mesma tecla. Pouco antes do m estre partir, ele dá aos escravos
talentos com os quais devem trabalhar e investir (Mt 25.14,15).
Antes do mestre viajar, nada acontece, mas logo que sai, começa o
movimento. Assim é na vida cristã. A prova é feita principalm ente
na hora em que você está sozinho, nás horas silenciosas, quando
ninguém lhe pressiona, nem o elogia, ou diz o que deve fazer. E
seria fácil concluir que não é preciso prestar contas, visto que o
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Senhor não lhe está dando nota, nem abono, como prêmio por
qualquer progresso extraordinário.
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não foi completada em vão. Ele não terá desperdiçado todo aquele
esforço e energia nas viagens e na pregação missionária (v. 16b).
Quando uma igreja, ou mesmo um cristão individualmente, morre
ou abandona a fé, todo o esforço e sacrifício gasto em seu favor resulta
em nada. E essa conclusão infeliz torna-se um motivo de vergonha,
em vez de ser de alegria e orgulho, como o que Paulo aguarda ansio
samente para o “Dia de Cristo” (v. 16). Este será o dia em que nosso
maravilhoso Senhor e Rei há de voltar, todo o trabalho feito para ele
terá sua avaliação, e tudo que foi digno, terá a recompensa.
Paulo prossegue, no v. 17, considerando a possibilidade de
sua vida inculpável ser sacrificada com derramam ento de sangue
sobre o altar da fé dos filipenses. Seria motivo de alegria. Nos sacri
fícios pagãos, depois que o adorador preparava o altar e matava o
animal sacrificial, ele o punha sobre o altar, e preparava-se para
acender o fogo. As vezes o adorador derramava por cima uma libação
de vinho para consagrá-lo. Por isso aqui Paulo diz aos filipenses
que a fé que eles demonstram é o sacrifício. Paulo tinha vivido por
eles, e, em conseqüência, estava consagrando a fé e o serviço deles
ao Senhor. Mas a vida de Paulo, que a qualquer hora podería ser
derramada em m artírio, serviría como libação para a fé e a obra
dos filipenses. Se Paulo não tivesse servido a Deus em lugares como
Filipos, Tessalonica, Corinto, e em todo o império romano oriental,
não estaria correndo o risco de seu sangue ser derramado sobre o
altar da fé das igrejas. Portanto, agora, se nossas vidas não são luzes
brilhantes, mas estão ocultas debaixo de qualquer coisa, como um
vasilhame de medida (“alqueire” em M t 5.15) haverá pouco ou
nenhum perigo de perseguição. Ninguém teria pensado em prender
Paulo, e ameaçá-lo de morte, se sua luz não tivesse aparecido com
tanto brilho no meio da sociedade pervertida e corrupta de sua
época. Deus espera que nossa vida cristã seja obediente, assim como
foi obediente a vida de Cristo, e, portanto, de m aneira igualmente
dispendiosa. Seu precioso sangue foi derramado sobre o sacrifício
da cruz. E nós somos convidados a participar de seus sofrimentos,
enquanto desenvolvemos essa salvação (Cl 1.24).. E colocado dian
te de nós o mesmo problema da vontade que Jesus Cristo enfrentou
no Getsêmane, quando disse: “Pai, passa de mim este cálice!” Mas
Deus não o retirou. Nós temos o problema idêntico com o mundo.
Podemos reagir ao mundo na mesma medida, culpando, criticando,
m urm urando e contendendo. Só que, fazendo isto, seríamos cristãos
desobedientes e repreensíveis.
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S F I L 1 P E N S E S
Introdução
Paulo, Timóteo (lT m 6.11) e Epafrodito eram homens de Deus.
Mas como tornar-se homem ou m ulher de Deus?
No Antigo Testamento esta frase representava um profeta
(cf. 1Sm 2.27, lR s 12.22; 17.18,20.28 etc. e lT m 6.11), isto é, alguém
que falava da parte de Deus. Para ser um embaixador do Rei do
universo, o profeta devia se assemelhar ao seu Senhor em atitudes
e interesses. O nde há hom ens de D eus, deve ser notável a
aproximação da atmosfera divina, um perfume celestial (cf. 2Co
2.15) fácil de detectar e que atrai os que “cheiram ” o “aroma de
vida”.
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pode negar que homens de Deus são os que são os alvos da oração
de homens de Deus. Se o Espírito de Deus é derramado em resposta
à oração (Lc 11.13), seu amor também transforma o caráter de todos
em que ele habita (Rm 5.5, E f 5.18, G1 5.22).
Igualm ente im portante é a convivência com hom ens de
Deus. O desafio de comer, dormir, conversar e observar a vida de
um servo consagrado ao Senhor, deve influenciar profundam ente
quem tiver esse privilégio. A própria igreja deve fornecer aos novos
crentes, especialm ente aos jovens, um modelo de santidade nos
seus líderes (cf. Hb. 13.7), fornecendo um desafio constante para
que sejam transform ados paulatinam ente em hom ens de D eus
(cf. C l 1.28).
Paulo expressa no v. 16 deste segundo capítulo, que sabia
exatamente para onde corria. Tinha um destino, para não correr em
vão ou inutilmente, enquanto preservava ou segurava firmemente a
palavra da vida. No cap. 3, declara, “prossigo para o alvo” avançando
para as coisas que diante de mim estão (v. 14,13). Sabemos que ele
cogitava a possibilidade de ser “oferecido como libação sobre o sacri
fício da fé” dos filipenses. Tudo isso mostra a determinação de Paulo
por um lado e o desafio das circunstâncias nas quais Deus o colocara,
por outro lado. Homens de Deus são produzidos tam bém pelos
desafios e se recusam a se desanimar. Creio que quem tem direito a
este elogio de ser homem de Deus deve ser alguém que não vive para
sí, mas para os outros (cf. 2Co 5.14,15). sua vida é derramada para
beneficiar aos outros. Como canal ou aquaduto, a vida do homem de
Deus conduz a graça divina para o coração humano. Muitas vidas
assemelham-se mais a uma torneira fechada do que a um canal entre
Deus e a hum anidade sedenta. Sem auto-jactância, Paulo podia
afirmar que, não importando de que maneira sua vida terminasse,
não teria corrido em vão.
Em mensagens anteriores tivemos oportunidade de observar
que a prisão de Paulo, mesmo sendo ele inocente, não foi capaz de
criar ressentimento no apóstolo. Nem os irmãos que, pelo ódio e
ciúme, tentavam suscitar tribulação às cadeias do missionário, fo
ram capazes de criar mágoa ou aborrecimento ao coração daquele
Homem de Deus (1.15, 18). Como se explica fenômeno tão raro?
As circunstâncias difíceis não criaram barreiras para a sua corrida,
mas apenas pontes para cada vez refletir mais a encarnação da vida
de Cristo na de Paulo (cf. G1 2.20).
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E P ÍS T O L A DE PAULO AOS F I L IP E N S E S
Timóteo
Além de Paulo, descobrimos neste trecho a breve descrição de um
segundo hom em de D eus. Paulo esperava m an d ar T im óteo
brevem ente para os filipenses. Assim, teria um a avaliação de
confiança ao receber notícias de volta na sua prisão. Também
Timóteo deveria levar notícias aos filipenses sobre o resultado do
seu processo, a ser brevemente definido (v. 24).
Timóteo significa em grego “quem honra a Deus” ou “alguém
honrado por D eus”. Quem passeia por um cemitério observa os
nomes dos esquecidos, indivíduos do passado longínquo. Nunca
os conhecemos, nem ouvimos falar deles; não sabemos de nada
significante que fizeram. Suas vidas não são detalhadas em biografia
alguma. A história os deixou de lado. Desapareceram como a água
na superfície da areia. Teria sido assim com Timóteo, não fosse os
desafios determ inantes da sua vida. Primeiro foi sua avó Lóide,
uma m ulher de fé (2Tm 1.5). Certamente ela amou as Escrituras
como a profetiza Ana (Lc 2.36-38), e a mãe de Samuel, também
chamada Ana (ISm 1.2-2.11). Se Timóteo conhecia “desde a infân
cia... as Sagradas Letras” (2Tm 3.15), concluímos que Lóide e sua
filha Eunice, mãe de Timóteo, o ensinaram. Bendito é o privilégio
de aprender, desde o colo dos pais, o convívio com as verdades
depositadas nas páginas da Bíblia.
O apóstolo declara que não havia ninguém (disponível) com
o sentimento (gr. isopsuchon, lit. “alma igual”) que Timóteo tinha.
Provavelmente só este jovem de alma semelhante ao do apóstolo.
O conhecimento da Lei de Deus e o convívio no lar, com mulheres
consagradas e depois com o seu pai na fé, juntos, fizeram de Timóteo
um jovem de Deus destacado. Facilmente imaginamos as conversas,
ao transcorrer as centenas de quilômetros nas viagens paulinas pela
Ásia M enor e Grécia, em que as passagens bíblicas conhecidas há
anos se transform aram em verdade viva para Timóteo. Quem, a
não ser os próprios discípulos de Jesus, teria tido tão equilibrado e
profundo curso teológico como este jovem companheiro? Por isso,
Paulo o chamou de “amado filho” (2Tm 1.2) e “amado filho fiel”
(ICo 4.17). Aos filipenses revela que “serviu ao evangelho, junto
comigo, como filho ao pai” (2.22). Provavelmente o pai de Timóteo
não era convertido (ou possivelmente tinha morrido) criando assim
uma inevitável separação entre parentes que devem ser os mais
íntimos. Paulo tomou o lugar do pai, trazendo todo o impacto bené
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S FILIPENSES
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Epafrodito
Em terceiro lugar quero dar uma visão de Epafrodito. Este homem
de Deus não é mencionado em outra parte da Bíblia. Não podemos
opinar se era jovem ou mais velho, se se converteu nos primeiros
dias da igreja em Filipos, evangelizada por Paulo, ou se recen
temente se entregara ao Senhor Jesus Cristo. Mesmo sabendo tão
pouco, Paulo focaliza alguns fatos im portantes a respeito deste
extraordinário homem.
Primeiro notamos que Paulo o chama de “o irm ão”. Baseado
no fato que Paulo distingüe “os irmãos” de “todos os santos” (4.21,
22), alguns estudiosos chegaram à conclusão de que “irm ão” servia
de título como hoje usamos “obreiros”. Talvez os “irmãos” recebe
ram ajuda financeira òu alimentos para poder dar tempo ao trabalho
de evangelizar (cf. 2Ts 3.8-10; Cl 4.6), ou viajar como Epafrodito
fizera.
Sendo, o significado de “irmão” incerto, passeamos para o
termo “cooperador” (gr. sunergon, “quem trabalha junto com ou
trem ”, v. 25). Através da história a igreja demonstrou a forte tendên
cia de formar uma hierarquia, os líderes importantes sobem a escada
de honra e autoridade. Creio que Paulo teria julgado esta inclinação
contrária à vontade de Cristo (cf. Lc 22.24-27). Epafrodito não foi
considerado superior, nem inferior a Paulo; mas simplesmente um
trabalhador ao lado de Paulo. Valioso é reconhecer na igreja que
todos trabalham em equipe. Somos sunergoi com Cristo, a cabeça,
Senhor de todos os que cooperam na sua obra. Como formigas que
sem obrigação nem domínio externo (cf. “nicolaítas”, no grego quer
dizer dominadores do povo”, Ap. 2.6) trabalham espontaneamente
em todas as áreas necessitadas: ensino, contribuição, evangelização,
cuidado com os necessitados, trabalho missionário distante etc. De
acordo com o dom recebido, devemos colaborar.
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E P ÍS T O LA S DA P R IS Ã O
introdução
Uma das coisas estranhas sobre um homem como Paulo é que no
mesmo instante em que está insistindo em que os leitores tenham
alegria, está também furioso.
E não vê nenhum a contradição entre essas duas fortes emo
ções contrastantes. E intensa sua hostilidade para com os judai-
zantes perseguidores, que o estão seguindo e se infiltrando nas
igrejas que ele fundou (3.2). Mas Paulo diz aos filipenses que devem
alegrar-se (3.1). Há dezesseis referências à palavra “alegria” ou
“regozijo” nesta epístola cu rta, o que indica a significância
espiritual que a alegria tem para Paulo.
Mas, como estar alegre e furioso ao mesmo tempo? Como se
pode experim entar esta “alegria no Senhor” e a hostilidade junta
mente? E por falar nisso, é possível cometer um erro sério quando
se confunde “alegria” com “felicidade”. Feliz e afortunado são
termos paralelos. Afortunado vem da palavra latina “fortuna” que
tem a ver com situações externas mas que afetam a você pessoal
mente. Poderiamos chamá-la de emoção circunstancial. Se suas
circunstâncias são favoráveis, então sua reação para com elas é
positiva e você fica feliz. Mas alegria é outra coisa bem diferente
porque tem a ver com as profundezas de seu ser. Compare tal esta
bilidade com o mar. A poucos quilômetros de profundidade no
oceano, a m ilhares de metros abaixo da superfície, você descobre
que nenhum efeito é causado por qualquer circunstância que ocorra
na superfície. Nas profundezas a tem peratura permanece constante.
Nenhum a tempestade ou bater de ondas perturba o fundo do mar.
Como nas camadas inferiores dos oceanos, é a alegria inspirada
por Deus. Existem coisas surpreendentes na Bíblia, por exemplo,
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
A hostilidade de Paulo
E enquanto Paulo experimenta esta alegria e encoraja os cristãos
em Filipos a “regozijarem-se no Senhor” ele acrescenta: “Acau-
telai-vos dos cães”. A palavra “cães”, usada para descrever estes
obreiros maus, é uma forma particularm ente judaica de falar. Não
que Paulo sentisse aversão especial pelos animais de estimação que
temos. É que um cão era considerado animal impuro, visto que
não podia ser sacrificado nem comido. Em conseqüência disso,
“cães” tornava-se uma palavra útil para descrever os gentios, aqueles
que não eram incluídos no pacto de D eus. Os gentios eram
“pecadores” (G1 2.15), e excluídos da presença de Deus por causa
de sua imundície cerimonial e religiosa. Portanto, quando Paulo
fala nos adversários farisaicos da salvação gratuita pela graça de
Deus, ele diz: “estas pessoas que se consideram povo verdadeiro de
Deus são realmente “Cães”, são alienados, são gente de fora. Fica
mais claro ainda no versículo 2 quando Paulo os chama de “maus
obreiros”. A razão é que proclamam um evangelho diverso, que
realm ente destrói a fé dos gentios que creram . Faz deles, não
candidatos para os céus, mas iludidos, sem alento, a caminho do
inferno. É um a situação que deixa Paulo extremamente infeliz, mas
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S FILIPENSES
não sem alegria. Fica furioso, mas não perde o regozijo. Prossegue
descrevendo os falsos mestres como “cortadores”, como diz uma
tradução, “m utiladores”. “Eles se m utilam ” significa que estão
praticando a circuncisão. Não que Paulo se opusesse à circuncisão;
ele próprio circuncidou a Timóteo (Atos 16.3). O que condenava
era dar a este ritual judaico um valor que não podia ter mais,
especialmente no caso dos gentios convertidos. Toda vez que uma
cerimônia religiosa adquire um significado à parte, sem ser o de
engrandecer o valor de Cristo Jesus, há um deslize da natureza
daquele em que incorreram os heréticos judaizantes, que semeavam
mentiras nas igrejas fundadas por Paulo. Na verdade, Filipenses
3.2 precisa ser lido em combinação com toda a epístola aos gálatas.
Basta lem brar o que o apóstolo diz em Gálatas 1.9: “Se alguém lhes
prega evangelho que vá além daquele que receberam apresentando
outra forma de ser salvo, que seja anátema”. Esse alguém era mestre
perigoso, era mesmo um cão devorador. Era pessoa para ser evitada,
excluída da comunhão dos santos.
A verdadeira adoraçã®
Então, Paulo continua com uma afirmação inesperada, no versículo
3: “Nós somos a circuncisão verdadeira”. Há várias passagens na
Bíblia que falam da circuncisão ser “verdadeira”. Aqui há o con
traste subentendido. Se há um a circuncisão verdadeira, deve haver
uma falsa. A circuncisão era o sinal característico do homem judeu,
significando que ele estava incluído nas promessas da aliança de
Deus feitas a Abraão e aos seus descendentes. O pacto fez com que
Israel fosse o povo eleito de Deus. Dois versículos adiante (3.5)
Paulo faz uma lista de seus bens religiosos, e põe a circuncisão
como o prim eiro que perdeu a fim de ganhar a Cristo. Pela circun
cisão Paulo estava incluído, segundo acreditavam os judeus, no povo
da aliança de Deus. O sinal externo desse concerto era a circuncisão.
Paulo diz que os representantes da religião judaica não são a
verdadeira circuncisão, mas que são “cães”. Como descrentes na
graça, são de fora e são im puros. Os cristãos se tornaram os
verdadeiros israelitas. Paulo inclui os gentios incorporados em
Cristo pela fé. A igreja de Jesus Cristo se tem tornado o único
herdeiro legítimo das promessas salvadoras de Deus dadas a Abraão.
A circuncisão à qual Paulo se refere em Romanos 2.29, chamada “a
circuncisão do coração”, é a única circuncisão verdadeira. Não é
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
Conclusão
Cada um de nós nos envolvemos na mesma questão de Paulo. Temos
uma vontade ingênua de equilibrar as contas das duas colunas, de
tal forma que nenhum lado perca. Será que cada um de nós também
não deseja poder ganhar algo que venha da carne; alguma vantagem,
algum reconhecim ento, alguma posse na qual possa estar mais
seguro? Paulo nos diz que até o ponto e na proporção em que nos
firmamos nestes recursos, já perdemos a Jesus Cristo (conf. G15.2).
Por outro lado, se você já perdeu tudo, toda a esperança auto-pro-
duzida da aprovação de Deus, toda sua justiça própria, tudo que
você faz em questões espirituais, então Cristo pode ser de valor
eterno para você. A palavra “carne” significa simplesmente o que
você pode fazer sozinho, independente do auxilio de Deus incluindo
todo o bem que já fez e que não foi considerado perda. Se você está
dependendo da “carne”, então você não chegou a conhecer Cristo
de maneira nenhuma! Ninguém faz de Deus o seu devedor.
Conhecera Cristo realm ente significa um cancelam ento
definitivo, riscar completamente aquela prim eira coluna de recur
sos, cheia das provas de nossas boas obras. Na outra coluna está
somente Cristo. “Só ali pode ser visto o valor supremo de ter Jesus
como Senhor e Salvador. Conhecer o Filho de Deus está muito,
muito acima de todo o valor ganho com esforço próprio que antes
pensava possuir”.
O valor real em troca de supostos recursos é para você tam
bém, se conhece a Cristo como Paulo o conhecia. Se você o conhece
pela fé, se o conhece como aquele de quem tudo se origina, se o vê
como quem lhe deu a vida, e tem todo direito ao seu amor e lealdade,
então você o “ganhou”. Se você se apega a ele, chegando-se a Cristo
naquele relacionamento de concentração total, então o verá como
Aquele de quem procedem todas as coisas para você, e saberá que
tudo existe para ele. Em termos bíblicos, isto é expresso em uma
pequena frase que se refere a Deus: “Porque dele e por meio dele e
para ele são todas as coisas” (Rom. 11.36). Se é assim que você
considera a Jesus Cristo, você perdeu tudo para ganhar a pérola de
grande preço. As escolhas significativas e a volta da estrada foram
ordenadas por ele, não por você. A m aneira de você pensar e usar
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deste modo para pregar o evangelho não onde Cristo já fora anun
ciado...” (15.16, 20).
Tudo isto deixa bem claro por que o apóstolo não corria sem
meta. Declarou ele: “...luto, não como desferindo golpes no ar”
(ICo 9.26). É certo, porém, que muitos componentes do “exército
da salvação”, ainda não foram conscientizados com respeito à luta.
Não perseguem a perfeição nem anseiam a conquista do alvo para
o qual Deus os chamou. Estão contentes com a salvação gratuita,
mas a ambição de conhecer a Cristo e participar nos seus sofri
mentos e exercer seu poder não se manifesta!
Qual seria a explicação para essa anomalia? Creio que pode
mos descobrir um motivo, que se subentende das entrelinhas dos
versículos 13-15.
Paulo não se colocava entre os que julgavam que já haviam
alcançado o alvo divinamente escolhido para cada um. Parece que
em Filipos, como também em outras igrejas gregas, surgira a teologia
perfeccionista. Raízes deste erro se descobriam no gnosticismo elitista
de um lado e no judaísmo do outro (ver a frase relevante do v. 6,
“quanto à justiça que há na lei, irrepreensível”, tratando da vida no
farisaísmo de Saulo/Paulo). O gnóstico, iniciado nas especulações
acerca do distante Deus bom e imaterial, e também acerca do mundo
mau, por ser material, possuía duas tendências: uma ascética e a
outra libertina (veja os v. 18,19). Pelo conhecimento (gnõsis), o adepto
poderia subir a suposta escada da perfeição, desligando-se do “imper
feito”. Semelhantemente, o fariseu orava no templo agradecendo a
Deus por sua perfeição (Lc 18.11,12).
Pela sua conversão radical, Paulo se distanciou totalmente
desse tipo de auto-conceito. A perfeição de Jesus Cristo fez contraste
com este tipo, como a escuridão da meia-noite o faz com o brilho do
sol ao meio-dia. A profunda revelação da depravação íntima, à luz
da santidade divina, convenceu o apóstolo que ele era não o mais
perfeito dos santos, mas o “principal dos pecadores”’ (lT m 1.15).
Por isso se esquecera “das coisas que para trás ficam” (3.13). Tudo
que conseguira, por sacrifício e abnegação, não pesava na balança.
Eram como trapo imundo uma vez que agora estava revestido com a
justiça imaculada que Deus lhe proporcionara (v. 7-9). Aliviado da
necessidade de se convencer de que merecia um galardão da parte
de Deus, Paulo então pode se dedicar, sem tréguas, à conquista do
alvo. O termo “avançando” (gr. epekteinomenos, “estendendo-se”,
“esticando-se ao máximo”), mostra a obsessão do homem de Deus
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EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
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Conclusão
Ao m editar nesta declaração autobiográfica, não é fácil escapar à
acusação íntim a de que somos espectadores. Nossas ambições estão
mais voltadas para vantagens mundanas do que para prêmios celes
tiais. Mas Deus é capaz de refocalizar nossa visão e renovar nossa
ambição pelo alvo.
0 corpo (3 .1 7-2 1 )
l7Irmãos, sede imitadores meus e observai os que
andam segundo o modelo que tendes em nós. lsPois
muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu
vos dizia e agora vos digo até chorando, que são inimigos
da cruz de Cristo: 190 destino deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia; visto
que só se preocupam com as coisas terrenas. 20Pois a nossa
pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Sal
vador, o Senhor Jesus Cristo, 2Io qual transform ará o
nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da
sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de
até subordinar a si todas as coisas.
Introdução
Facilmente confundo os fatos, mas se a m inha memória não falha,
li há tempos que a preocupação prioritária do norte-americano é a
saúde. Creio que seria nossa preocupação também aqui. Quando
perguntamos, “Como está?” normalmente indagamos “Como está
fisicamente?”. “Como está o seu corpo?” Está doente ou saudável?”
“Está com dor de cabeça ou se sente capaz de voar?”, se tivesse
asas, claro. Para nós, então, o corpo é o que mais importa. Talvez os
cristãos afirmariam, “Não, não é meu corpo, mas a m inha alma,
meu espírito que destaca-se com proeminência”.
Não seria difícil mostrar que a Bíblia concede um significado
imenso ao corpo. Não tanto a “meu corpo”, sendo que biblicamente
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S FILiPENSES
Na ceia, Jesus nos oferece o seu corpo “que é dado por vós”
(ICo 11.24). Porque será que não nos oferece o seu Espírito assim?
Deve ser porque através da união com seu corpo, nos é oferecido
seu Espírito. A vida está no corpo, não nos membros separados,
assim como os ramos de uma videira gozam da vida unicamente
pela perm anência no tronco Qo 15.1-9). Evidentemente, trata-se
de conceitos hebreus, não gregos. Nós pensamos de maneira grega,
Paulo de maneira hebraica. É o corpo que manifesta a vida de Cristo
(ICo 10.16,17). Por isso, é sumamente im portante que os membros
do corpo se reúnam dando localização e objetividade a persona
lidade do Senhor que vive no corpo, a igreja. Devemos constan
tem ente reconhecer nossa dependência uns dos outros e a vida
comum que sustenta o corpo. L.S. Thornton intitulou seu livro, A
Vida Comum no Corpo, o que transm ite a verdade central. Nossa
vida em Cristo não é em prim eira instância, uma vida unida indivi
dualm ente a Cristo, mas um a vida com partilhada com nossos
irmãos em Cristo (Rm 12.5).
Por esta razão, Paulo diz aos coríntios, “o corpo não é para
impureza, mas para o Senhor” (ICo 6.13). Nossos corpos são com
prados, destinados por meio da transformação da ressurreição a
transm itir a perfeição do corpo de Cristo, porque nossos “corpos
são membros de Cristo”(ICo 6.15).
O crente que comete fornicação ou adultério toma um
membro de Cristo (o corpo) e o faz membro de m eretriz (ICo 6.15,
16). Assim, pelo corpo nos unimos a Cristo, ou nós nos separamos
dele. Se pelo corpo hum ano reconhecemos as máculas e a beleza
da pessoa, a Bíblia indica que semelhantemente o corpo manifesta
por um lado a formosura de Jesus e os defeitos humanos. Com
razão o apóstolo aponta para o corpo como “corpo de hum ilhação”
(3.21), repleto de limitações e deficiências. Mas também é concre
tização da personalidade, membro do corpo de Cristo, garantia da
nossa existência eterna que aguardamos (v. 21).
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EPÍSTOLAS DA P R IS Ã O
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Epicureus e estoicos
Também pelo fato de a vida ser corporal, devemos refletir uns ins
tantes sobre a morte. Os epicureus gregos (cf. At 17.18) conceberam
a morte como os psicólogos modernos que seguem o pensamento
de B.F. Skinner da U niversidade de H arvard. A morte é sim
plesmente a desintegração das moléculas que, juntas, mantém a
vida corporal. Assim como cortar um nervo, cessa a transmissão de
um sentido porque o impulso elétrico não pode passar, a vida cessa
quando não há mais impulsos elétricos no cérebro. Para o epicureu
que aprendeu com Demócrito ou Lucrécio, ou o homem moderno
que lim ita o significado da vida a processos mecânicos e biológicos,
a influência mecânica atinge diretam ente seu modus vivendi. “Se os
mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã m orre
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EPÍSTOLAS DA PR I SÃ O
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EPÍSTOLA DE P A U L O A OS F I L I P E N S E S
Conclusão
Paulo começou este parágrafo exortando os filipenses a imitá-lo, o
que significa que devem valorizar seus corpos como ele o fez. Nós
tratam os o corpo como se fosse pessoal, i.e., o m ais precioso
sacrifício que podemos oferecer ao nosso amado Senhor. Especial
m ente devemos nos lem brar que quem entregou seu corpo ao
Senhor, apenas está reconhecendo a verdade fundam ental que ele
não só nos criou, mas também nos comprou pelo sacrifício do seu
próprio corpo (ICo 6.19, 20). O corpo não pertence mais a nós.
Até que ponto nosso corpo reflete nossa cidadania celestial?
Temos, como Paulo, subordinado e escravizado nosso “homem
exterior” ou o estamos idolatrando? Somos inimigos da cruz de
C risto ou carregam os diariam ente nossa cruz e o “m orrer de
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EPÍSTOLAS DA P R IS Ã O
0 contentamento ( 4 .1 - 7 )
Introdução
Aprendi a dirigir com um primo que dava voltas num caminhão
que apanhava leite ao longo dos caminhos poeirentos da Carolina
do Norte, nos Estados Unidos. João dirigia um caminhão que levava
as latas de vinte ou trinta litros de leite das chácaras e sítios para a
usina onde se condensava e se enlatava o leite. O rótulo das latas de
leite comunicava aos consum idores que o leite viera de vacas
contentes. Eu sei pessoalmente que nem todas as vacas que forne
ceram esse leite para a companhia “Carnation” estavam sempre
contentes. Tirando leite em certa ocasião, a vaca deu um coice no
balde que me molhou com todo aquele líquido branco. Então, eu
fiquei descontente!
O prim eiro parágrafo de Filipenses 4 tem muito a dizer sobre
contentamento. Leiamos o texto dos prim eiros sete versículos.
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0 contentamento de Paulo
Um dos termos básicos de Filipenses é a palavra “alegria”. Quatorze
vezes em forma nominal ou verbal o apóstolo menciona a alegria
que invade a vida cristã real. Da sua injusta prisão ele expressa seu
contentam ento em primeiro lugar pela sua família em Cristo que
ele chama de “irmãos”. Mesmo estando preso, e ainda mais, enfren
tando a possibilidade de morte violenta, o velho apóstolo pensa
nos seus “filhos amados” duas vezes neste primeiro versículo. Em
prega o mesmo vocábulo grego que Deus Pai usou ao declarar que
Jesus era seu filho amado (Lc 3.22).
Amor pelos irm ãos que compuseram a igreja de Filipos
encheu o coração daquele que investiu suor e sangue para ganhá-los.
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EP ÍS TO LA S DA PR1SA0
IS Cl •
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o segredo do contentam ento e lem brar das inúm eras alegrias com
que Deus galardoa nossas vidas.
Assim, faremos a nossa alma bendizer ao Senhor e não se
esquecer de nem um só de seus benefícios (SI 103.2).
Alegria no Senhor
A. W. Tozer observou com perspicácia que “quem tem Deus e mais
tudo o que há no mundo, não está mais bem colocado na vida do que
o homem que tem só Deus”. Foi semelhante verdade profunda que
Paulo desejava expressar com sua exortação repetida, “regozijai-vos
no Senhor, sempre”. Isaías predisse, 700 anos antes de Cristo, que os
remidos tirariam com alegria “águas das fontes da salvação” (12.3).
Apesar desta e outras prom essas encorajadoras, m uito crentes
revelam profunda insatisfação. As circunstâncias que Deus destinou
para sua disciplina, produziram ressentimentos e amargura. As fontes
da salvação não jorram águas alegres, louvor e gratidão, mas azedas
reclamações. Enquanto uns aprendem (como Paulo aprendera, v. 11)
a viver contentes e a extravazar um doce e suculento suco, outros se
assemelham a vinagre! Porque não aprender que Jesus Cristo é a
fonte de alegria do crente? Poderemos buscar nele, a qualquer
momento, o m edicam ento que substituirá nossa depressão com
alegria. Davi disse: “Como suspira a corça pelas correntes das águas,
assim por ti, ó Deus, suspira a minha alma” (SI 42.1, cf. v. 5,11). O mais
famoso filósofo dinamarquês do século passado, Soren Kierkegaard,
procurou durante sua vida o segredo de paz e contentamento. Era
religioso, mas no luteranismo do seu dia-a-dia, a hipocrisia reinava.
Encontrou muito pouco relacionamento pessoal com o Senhor vivo,
ressurreto, nas igrejas. Religião formal, nominal e morta abundava.
Kierkegaard escreveu o seu livro poderoso, entitulado Temor e Tre
mor, no qual imaginava Abraão preparando-se e viajando até o Monte
Moriá. Mesmo nessa crise mais dura da vida, descobrimos Abraão,
por causa da sua fé dominante, quase alegre. Assim foi também com
nosso Salvador que nas horas precedendo sua traição e crucificação,
ofereceu a seus discípulos sua alegria e paz (Jo 14.26, 27; 15.11).
Kierkegaard externou um profundo cinismo com respeito à igreja
européia. Tinha anseio insaciável por uma fé que não ficasse prostrada
pelo confronto com a dureza da vida. Paulo mais do que exorta,
manda, em nome do Senhor, que os seus leitores (e nós) nos re
gozijemos sempre no Senhor.
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E PÍST O LA S DA P RISÃO
Moderação evidente
Além da constante alegria que o crente deve m ostrar, tam bém
necessita de moderação que o m undo observará (4.5). A palavra
grega epieikês comunica uma atitude de consideração e grandeza
de coração, capaz de perdoar e desprezar os próprios direitos justos.
Contrasta-se com a brutalidade, excesso de rigor na aplicação da
lei em detrim ento do réu. No AT este vocábulo expressa a graciosa
gentileza do governo de D eus (cf. ISm 12.22; SI 86.5). No N T
aponta para a personalidade m ansa de Jesus que convidou os
fracos, necessitados e cansados a gozarem do seu alivio (Mt
11.28-30). A m ansidão e benignidade de Jesus C risto (2Co 10.1),
formam um a base para a exortação de Paulo aos coríntios que tão
obviamente careciam dessa qualidade. Mas a igreja de Cristo deve
ter renom e pela benignidade e gentileza que a caracterizam .
D em onstrar serenidade é um a das qualidades m ais aparentes no
contentam ento. O cristão que reivindica para si o direito de julgar
o próximo (cf. Tg 4.11, 12), condenando sem brandura ou m an
sidão, toma o lugar do amoroso juiz, Jesus, apontado para julgar
os homens. Fica patente que, à m edida que a igreja perde sua
benignidade “diante dos hom ens”, perde tam bém sua qualidade
de povo convidativo e contente.
A paz do Senhor
Um dos m andamentos menos observados pelos filhos de Deus é o
de não perm itir que a ansiedade sobre coisa alguma penetre no
coração (v. 6). Talvez você seja semelhante a uma panela de pressão
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E P ÍS T O LA DE PAULO AOS F IL IP E N S E S
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
Conclusão
O direito do crente é o contentamento. A insatisfação representa o
sintoma de algo errado, precisando ser corrigido. Neste parágrafo
tao sugestivo, Paulo apontou para sua satisfação com a comunidade
dos filipenses e seus auxiliadores que labutavam no m inistério
pastoral. Ficou descontente, sem dúvida, com o desentendim ento
que tornou as cooperadoras Evódia e Síntique inimigas, mas contava
com um fiel companheiro junto a Clemente e outros obreiros para
resolver a questão.
Os fatores elementares do contentamento, frisados por Paulo,
são: 1) alegria no Senhor, não nas circunstâncias sujeitas a tão
bruscas mudanças. 2) um espírito tolerante e misericordioso que
se afasta da obrigação de cobrar todos os direitos, ou vingar-se de
todas as injustiças. 3) Paulo apresenta a ansiedade como pecado, o
oposto da oração e gratidão. Por meio da petição e confiança no
Senhor, podemos usufruir da sua paz interna, não im portando as
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E PÍS T OLA DE PAULO AOS F IL IP E N S E S
Introdução
Poucos anos atrás, dorm indo num a dependência de um acam
pamento no Piauí, acordei bem antes do sol despontar. Ouví o ruído
fam iliar de asas batendo dentro do quarto sem teto. Só depois de
algumas horas verifiquei que não se tratava de um passarinho como
pensava, mas morcegos. Agilmente entravam e saíam a procura de
insetos invisíveis na escuridão. Os morcegos equipados com um
tipo de radar sonoro não encontravam dificuldade alguma em
descobrir aberturas por onde entrar e sair. Lembrei-me da obser
vação verdadeira. Não podemos evitar que os “morcegos” sobrevoem
nossas cabeças, mas não somos forçados a lhes perm itir fazer ninhos
em nossos cabelos!
Pensamentos são companheiros constantes enquanto vivemos
acordados. O apóstolo aprisionado deve ter contemplado o apare
cimento de inúmeros pensamentos.
No v. 6 acima, Paulo exortou os filipenses a não andarem
ansiosos de coisa alguma. A ansiedade reflete pensamento sobre
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
Pensamentos vigiados
No versículo 8 Paulo reapresenta o lado positivo em relação à mente.
Um filho do Rei dos Reis, deve prestar homenagem ao Deus que
lhe concede paz que não pode ser explicada hum anam ente (v. 7),
concentrando sua atividade m ental em “tudo que é verdadeiro, tudo
o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é
amável, tudo o que é de boa fam a”.
Creio que Deus quer que tornemos um hábito esta triagem
do nosso pensamento. Aprendemos com a assistência do Espírito,
que foi outorgado para santificar nossa mente, a vigiar as aberturas
por onde entram “morcegos”. Tanto ‘virtude” como “louvor” ofere
cem uma meta para focalizar a ocupação da mente (v. 8b).
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
parece ser, à prim eira vista, não apenas uma recomendação boa,
mas fácil de entender. O ser hum ano, por natureza, quer ser
apreciado e amado. Amizade representa o que mais valorizamos
na vida. Porque encontramos então uma ordem divina para pensar
de modo amável?
A resposta a tal pergunta, parece estar num fato fácil para
verificarmos. Não é difícil acum ular pensamentos positivos acerca
das pessoas de nosso círculo que nos apoiam, que nos valorizam e
nos fazem sentir bem. Mas dos rivais e concorrentes é bem difícil
não pensar criticamente. Suspeitas e invejas caracterizam o oposto
de pensarem tudo o que é amável.
Pelo grande número de palavras que Paulo usa para descrever
as obras da carne que separam os irmãos, devemos concluir que a
mente está mais disposta a pensar belicamente do que amavelmente.
Considere esta lista: “Inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias,
dissenções, facções e invejas” (G15.20,21). Todas são qualidades más.
In felizm ente, aparecem no relacionam ento e n tre irm ãos na
comunidade da graça e exteriorizam assim o que se passa nas mentes.
Estes “morcegos” devem ser expulsos o quanto antes sendo substi
tuídos pelo fruto do Espírito (G1 5.22, 23). Jesus declarou no mais
famoso sermão de todos os tempos, “Não julgueis para que não sejais
julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereisjulgados” (Mt 7.1,2).
Pensamentos longânimos, que suportam os irmãos em amor
(Ef 4.2) são úteis para tecer laços de amizade. Perdão oferecido na
mente e em seguida por palavras, sinaliza o perdão divino que todos
os crentes reivindicam (Ef 4.32; M t 6.14). Porque não concentrar
um amor deliberado no irmão menos amável da igreja? Porque não
levantar uma onde de comentários positivos e verídicos a respeito
do irmão que mais desprezo suporta? Pensar em tudo que conduz
para amizade granjeia um grande galardão.
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E P ÍS T O L A DE PAULO AOS F I L IP E N S E S
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uma vez renovou sua bondade por interm édio dos filipenses (4.10).
“Renovastes” representa o vocábulo, anathallõ, literalm ente uma
planta que brota com folhas e flores de novo. A preocupação dos
filipenses por causa da prisão de Paulo, finalmente causou ação no
levantam ento e envio do donativo. Acredita-se que eles teriam
mandado o donativo antes, mas não descobriram meios propícios.
Mas o apóstolo não deseja que a igreja se sinta culpada porque
não conseguiu enviar antes sua oferta. “Digo isto, não por causa da
pobreza” (lit. husterêsis, quer dizer, falta). A fé de Paulo não perm itiu
que guardasse uma palavra como “falta” no seu vocabulário. Paulo
confessa que aprendera a (emathon, “ser instruído como discípulo)
viver contente em toda situação (v. 11). Quem ensinou ao apóstolo
tão im portante lição? Não seria o próprio Senhor Jesus que recusou
fazer de pedras pães, ainda que passando cruciante fome depois de
40 dias de jejum (Mt 4.3, 4)? Foi ele quem combateu a preocu
pação desnecessária dos discípulos com o pão (Mc 8.16-21) e
reivindicava um a com ida não m a te ria l desconhecida pelos
discípulos (Jo 4.32-34).
Paulo empregou um term o apreciado pelos estóicos para
com unicar seu contentam ento: autarkês, lit. “auto-suficiente”,
indicando independência de circunstâncias externas, usado também
para quem se auto-sustenta. Revela uma força interior arraigada
na fé num Deus todo-poderoso que faz com que “todas as coisas
cooperem para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28).
A vitória interna de Paulo sobre a ansiedade não foi obtida
pela força de pensamento positivo, ao modo de Norm an Vincent
Peale ou R. Schuller, mas por meio de um aprendizado que segue
naturalm ente à crucificação com Cristo (G1 2.20). Por isso ele
escreve: “...sei estar humilhado” (v. 12). Saber, vem pela experiência,
observação e interpretação do m undo exterior no fundo do coração
em que a fé cria convicção absoluta. “De tudo (gr.panti, singular) e
em todas as circunstâncias (pasin, plural) tenho experiência (memuêmai,
lit. “tenho sido iniciado num a religião m istério”). Faz uso desta
palavra para dizer quão profunda foi a experiência de ser inserido
na plena confiança de depender de Deus em tudo, inclusive o
afastamento da preocupação natural hum ana com o pão cotidiano.
“Hum ilhado”, neste contexto, não se- refere a reação psicológica
que cria ou revela a vergonha, mas uma diminuição de recursos
m ateriais. Fome ou m iséria sim plesm ente não preocupavam a
Paulo. Estava profundam ente contente.
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E P ÍS T O L A S DA PRISÃO
Conclusão
Esta passagem começou apelando para o pensamento controlado
por Deus. Prosseguiu com um convite para praticar os ensinamentos
transmitidos por palavras e pela vida de Paulo, assegurando-nos a
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E P ÍS T O L A DE PAULO AOS F I L IP E N S E S
Introdução
Enquanto meditava na mensagem destes versículos, ocorreu-me
um novo pensamento, ainda que velho, sem dúvida, para alguns.
Surgiu-me a idéia de que Deus desenhou este m undo para funcionar
no princípio de necessidade e suprim ento. Esta ecologia global
explica satisfatoriamente tudo que doutra forma seria apenas mis
tério. Por exemplo, imagine uma semente sem terra onde fosse capaz
de germinar, se desenvolver e criar plantas que produzem outras
sementes. Semente sem solo seria um ponto de interrogação — não
imaginaríamos porque veio a existir. Mesmo que acreditássemos
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E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
ricos p ara com D eus. P or esta razão, Jesus afirm ou: “M ais
bem-aventurado é dar que receber” (At 20.35).
Quem supre a necessidade de um irmão, com partilha sua
vida com ele. É o verdadeiro significado do vocábulo grego que
Paulo usou em 1.7 e novamente neste último parágrafo de Filipenses
(4.14 sugkoinõneõ). Assim as células do corpo se gastam, oferecendo
suas vidas para a vida do corpo inteiro. Não podemos especular
quanto à quantia que os filipenses m andaram a Paulo. Ele escreve,
“Recebi tudo (isto é, pagamento completo) e tenho em abundância;
estou suprido” (v. 18). Se recebeu o suficiente para pagar o aluguel
da casa em Roma (At 28.30) e comprar uns mantimentos, era “abun
dância”. Sobrava para os companheiros (cf. At 20.34), visto que as
necessidades do apóstolo eram m uito reduzidas. E tolice guardar
para mim o que meu irmão precisa, sob pretexto de que eu não
tenho acum ulado o suficiente para cobrir m inhas necessidades.
Feliz o crente que sabe que todas as suas necessidades estão su
pridas, não porque acum ulou terras, propriedades e tem cem
milhões na poupança, mas porque faz parte de um a comunidade
que, por amor a Deus, cuida dos seus membros crentes e confia no
Senhor que tudo supre para suas ovelhas (SI 23.1).
0 significado do donativo
Já vimos no v. 17 que o donativo que a igreja m andou a Paulo foi
comparado a fruto que aumentava o crédito dos filipenses. O fruto
de uma árvore aum enta quando plantamos sua semente em terreno
preparado. Anos depois de crescer a árvore, finalmente aparece o
fruto abundante, m ultiplicando m uitas vezes o valor da semente
plantada. Terá semelhante aumento no crédito celeste, o donativo
investido no bem-estar de Paulo.
A oferta, em segundo lugar, recebe a descrição de “aroma
suave” no v. 18 (gr. osmên euõdias, “fragrância de um cheiro bom”,
correspondendo a frase comum no Antigo Testamento para o bom
aroma que subia de um holocausto, Gn 8.21, Lv 1.9, 13 etc.), Em
conseqüência da morte substitutiva de Jesus por nós na cruz, não
há sacrifícios de animais que podemos oferecer a Deus que sejam
aceitáveis. Porém, há sacrifícios que Deus não só aceita, mas que
também o agradam. Primeiro devemos oferecer nossos corpos em
sacrifício a Deus, corpos vivos, santos ê agradáveis a ele (Rm 12.1).
Segundo, devemos oferecer a Deus “sempre, sacrifício de louvor, que
é o fruto de lábios que confessam seu nome” (Hb 13.15). Corpos entre
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Epílogo
A fé que confia em Deus como Pai para um futuro desconhecido,
também quer que toda glória lhe seja tributada (v. 20). Os santos
em Cristo Jesus devem receber a saudação individual e carinhosa
do apóstolo preso. N enhum santo (crente) deve ser esquecido. Os
com panheiros de Paulo tam bém m andam saudações com as de
Paulo. “Os santos”, provavelmente, se distingüem dos “irmãos” que
fazem parte da equipe de Paulo, porque são componentes da igreja
(em Roma ou talvez em Éfeso). Os santos da “casa de César” se
referem aos cristãos que moravam e trabalhavam no palácio do
governo onde Paulo estava encarcerado. Tinham oportunidades
freqüentes para encontrar, ouvir e orar com ele.
Paulo term ina esta epístola tão bela com a petição a Deus
para que a graça do Senhor Jesus Cristo seja com o espírito dos
filipenses, isto é, com a igreja como uma entidade ou organismo
vivo. Amém.
RUSSELL P. SHEDD
Introdução
219 -
e p í s t o l a s da p ri s ã o
Antecedentes
Uma curiosidade é que Paulo, mesmo estando sempre a orar pelos
colossenses, nunca chegara a visitar essa igreja, até então. Assim,
não nos é difícil im aginar o cuidado com que ele ouviu o relato de
Epafras, procurando informar-se de todas aquelas idéias que os
mestres heterodoxos estavam divulgando naquela pequena cidade.
Para nós, hoje, não é tão fácil entender o que realmente perturbava
a fé cristã daqueles que se tinham convertido durante o m inistério
de Paulo em Éfeso, na sua terceira viagem missionária (52-55 A.D.),
quando “todos os que m oravam na Ásia ouviram a palavra do
Senhor, tanto judeus como gregos”. O instituto bíblico de Éfeso,
fundado e dirigido por Paulo nas dependências da escola de Tirano
(At 19.9), desempenhou um im portante papel na preparação de
obreiros, tais como Epafras e Arquipo. Estes, evidentemente, eram
os líderes da igreja de Colossos (Cl 4.17) na ocasião em que Paulo
escreveu esta epístola. Mas eles não se sentiam capazes de vencer
de uma vez, naquele confronto com as novas correntes teológicas,
que traziam um a heresia sincretista. M eu amigo e antigo professor,
James Stewart, da cidade de Edimburgo, certa vez observou que
toda a controvérsia do Novo Testam ento pode ser reduzida à
batalha da liberdade evangélica contra o legalismo dos judaizantes,
de um lado; e, do outro, à luta da verdade salvadora contra o gnos-
ticismo. Paulo entendeu plenamente a deficiência doutrinária dos
gnósticos que menosprezavam a Cristo mas supervalorizavam os
anjos; que davam pouca atenção à m oralidade e à ética, porém
muita à especulação teosófica; que dim inuíram o papel da história
mas exaltavam o misticismo.
No combate levantado na Epístola aos Colossenses, perce
bemos que a heresia era uma mistura ou apanhado de elementos
judaicos e gnósticos. “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida
e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábado, porque tudo isso
tem sido sombra das coisas que haviam de vir” (Cl 2.16, 17). Esta
frase faz-nos lem brar do judaísmo. “Culto aos anjos”, “visões”,
“rudimentos do m undo” e proibições de tocar, manusear e provar
(Cl 2.18-21) indicam uma forte inclinação para o gnosticismo.
Logo após a invasão da cultura grega no Oriente Médio, em
conseqüência da vitória de Alexandre sobre os persas, no quarto
século antes de Cristo, a filosofia grega fez-se sentir tal como a
cultura ocidental perm eia o m undo de nossos dias. O prim eiro
século caraterizou-se por um profundo anseio pela salvação. Onde
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EPÍSTOLA DE PAULO AOS C OL OSS ENSE S
0 problema fundamental
Depois de terem ouvido e crido no evangelho salvador, como foi
que os colossenses se sentiram atraídos por conceitos tão inferiores?
Convém observar que o desafio surgiu da luta hum ana contra o
poder do mal e do azar. Como se podería adm itir a realidade de um
Deus criador, todo-poderoso, onisciente e bom, que permitisse o
sofrimento no seu universo? Os gnósticos propuseram a solução da
separação, quase infinita em distância, do Deus bom, de um lado;
e do mundo material, de outro. O homem, pelo conhecimento (gnosis,
isto é, conhecimento esotérico) e acertada adoração, podería influen
ciar os poderes angelicais e demoníacos que dominavam o espaço
entre Deus e o mundo. Com m uito sacrifício se propunha uma
caminhada intelectual especulativa do nível material para o espi
ritual. Os gnósticos hão achavam necessário negar o poder de Cristo
para salvar os homens do pecado, mas criam que o sofrimento e a
morte de Jesus mostravam inconfundivelmente que ele mesmo fora
vítima do azar, condenado a sofrer um caprichoso fatalismo do
mundo material. Assim vieram a apoiar uma teologia que, por um
lado, era ascética, de privação do material para se elevar e escapar;
e que, de outro, defendia a posição antinomista, que consistia em
comer, beber e entregar-se às orgias sexuais, já que o ser humano
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E P ÍS T O LA S DA PRISÃO
A reação de Paulo
Diante deste quadro, que lhe fora pintado por Epafras, Paulo não
fica inerte. O apóstolo desem bainha a sua espada contra toda
essa sutileza filosófica e escreve a epístola aos colossenses. Como
veremos, ele emprega quatro métodos em sua luta:
(1) Advertência: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar
com sua filosofia e vãs sutilezas. . .” (2.8). Não pode haver um
casamento entre a verdade evangélica e as m entiras inventadas
por mentes não ilum inadas pelo Espírito de Deus.
(2) Usa os termos-chaves dos hereges contra as suas próprias
doutrinas. Exemplos temos em palavras tais como, “plenitude”
(gr.plerõma, que aparece dez vezes em Colossenses), “conhecimento
pleno” (gr. epignõsis) e mistério (gr. mystõríon).
(3) Dá à história o seu devido lugar, como percebemos nos
pretéritos repetidos, ao destacar o que realmente aconteceu nos
eventos da morte, ressurreição e entronização de Jesus Cristo.
(4) Exalta Cristo, o Filho de Deus, que se tornou carne por
nós, homens. Afirma que ele agora preenche m uito mais do que os
gnósticos esperavam dos poderes angelicais; e enfatiza que Cristo,
o Senhor, está sobre todos esses poderes. Assim Jesus Cristo, o
verdadeiro m ediador, dá acesso ao D eus único. E nquanto o
gnosticismo colocou a m atéria em oposição a Deus, a encarnação
traz o D eus transcendente para dentro da nossa hum anidade. Não
é a m atéria, em oposição a Deus, o antagonismo fundam ental;
mas ela é o meio pelo qual Deus se revela no corpo de Cristo. Não
é a m atéria o obstáculo ao progresso, mas o veículo pelo qual
Deus nos salva por meio da cruz e do túm ulo vazio.
Em síntese, Paulo nos m ostra, em Colossenses, que é no
senhorio de Jesus Cristo que jaz toda a esperança da humanidade.
O primeiro credo da igreja, Cristo é o Senhor, é o tema desta epístola
aos Colossenses. Paulo destaca o fato de que o cristão não somente
aceitou a Cristo como Senhor, num momento de sua vida, mas
deve viver nesta mesma condição, ou seja, sob o senhorio de Cristo:
“Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele... ” (2.6).
Vejamos a seguir como este tem a é desenvolvido nesta
belíssima obra de arte, escrita há quase dois milênios, mas ainda
atualíssima na sua abordagem da verdade libertadora do evangelho.
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Análise e
Interpretação
0 autor
O autor se apresenta como apóstolo: no sentido técnico da palavra,
um mensageiro, um agente autorizado, com os direitos de um
procurador. Ele é, pois, um mensageiro de Jesus Cristo, pela vontade
de Deus. Falsos apóstolos, condenados por Paulo em 2Coríntios
11.3 e por Cristo em Apocalipse 2.2, são homens que agem por
conta própria, sem essa autorização plena que recebe no apostolado
uma testem unha da ressurreição, especificamente comissionada
por Cristo (cf. ICo 9.1; 15.8ss). Pelo que se deduz de Efésios 2.20,
Paulo parece endossar a afirm ação do Talm ude judaico: “Um
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
Os destinatários
Os destinatários são descritos como santos e fiéis, designação carac
terística do Novo Testamento.
O termo santo tem profundas raízes no m undo hebreu do
Antigo Testamento. Literalm ente, refere-se a algo ou alguém dife
rente. Da raiz, que quer dizer saudável, passou a significar separado,
para indicar possessão e uso exclusivos de Deus. Os santos recebem
essa qualificação pelo preço da redenção, que os comprou (1 Co
6.20), e pela presença do Espírito Santo, que os santifica.
A palavra fiéis refere-se aos que crêem; não há, no grego,
qualquer distinção entre quem crê e quem é fiel. A ênfase diz respeito
à entrega confiante a Cristo, que passa, então, a controlar todos
os aspectos dessa vida que descansa nele. A fidelidade evidencia
uma fé realmente salvadora (Cl 1.23; Hb 3.14).
Irmãos são os membros da mesma família, da qual Deus é o
Pai. No judaísm o, podia-se cham ar de irmão tanto a um com
patriota quanto a alguém que tivesse aderido à religião judaica.
Não esqueçamos que, como filhos adotivos de Deus, tornamo-nos
igualmente irmãos de Jesus Cristo e cada cristão, um do outro.
Mas nem sempre temos dado o justo valor aos nossos irmãos de
outras raças ou denominações; não temos reconhecido devidamente
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que pertencemos a uma mesma família. Paulo diz que os irmãos
estão em Cristo; ou, em outras palavras, só num a relação vital
com Cristo é que existe alguma veracidade no privilégio de ser
santo ou um fiel membro da família de Deus.
Asaudação
Paulo saúda os irm ãos com os term os graça e paz. O prim eiro
lembra a saudação comum no grego, que traduzimos por “Ave!”.
Graça é todo favor que Deus nos concede incessantemente. Paz
traduz um a palavra grega que reflete o conceito hebraico de
“shalom”, indicador de prosperidade e bem-estar outorgados por
Deus apenas àqueles que o amam.
Fé e amor
Apesar de nunca ter tido o privilégio de conhecê-los pessoalmente,
Paulo amava os novos convertidos que com punham a pequena
comunidade cristã de Colossos. Esse amor, ele o expressava dando
constantem ente graças por eles ao Pai de Jesus Cristo, e fazendo
petições em favor daqueles que criam no Senhor (Cf. 1.12; 2.6;
3.15, 17).
O que motivou o apóstolo à oração foi a notícia da fé em
Cisto, sinal do poder que operava nos colossenses a convicção da
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E P ÍS T O LA S DA P RISÃO
0 evangelho
Consideremos como o evangelho é descrito aqui: em prim eiro lugar,
é uma mensagem que consiste na verdade. Logos, o termo escolhido por
Paulo, e que em português se traduz por palavra, diz respeito à
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EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES
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e p í s t o l a s da p ri s ã o
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS COL OSSENSES
Sabedoria e entendimento
Os termos sabedoria e entendimento espiritual indicam as qualificações
da vontade de Deus, ou os critérios pelos quais distinguimos essa
vontade das atraentes e convincentes “vontades” contrárias àquilo
que Deus quer.
Sabedoria fala de revelação divina, ao contrário de soluções
intelectuais e humanas. Na literatura sapiencial (Provérbios, Jó, Ecle-
siastes) refere-se ao relacionamento humano e à responsabilidade.
Entendimento espiritual (isto é, concedida pelo Espírito) diz-nos
da aplicação pormenorizada da revelação que Deus nos deu na
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS C OL OSS ENSE S
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- 232 -
EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLO SS ENSE S
A redenção presente
Enquanto o v. 13 coloca no passado o resgate e o transporte de um
reino para o outro, o versículo seguinte declara a verdade da
salvação presente. Em Cristo temos a redenção por intermédio de
um redentor (no hebraico, “goel”: um parente ou interm ediário que
tinha possibilidades e direitos para readquirir o que tinha sido
vendido ou escravizado, como se vê em Rute 2.20 e 4.1-12). Outro
exemplo de destaque na Bíblia encontra-se no Êxodo, quando Deus
redim iu da escravidão o seu povo Israel. Redenção envolve o paga
mento do preço, ou algo oferecido em troca do valor da pessoa ou
objeto a ser redimido. Efésios 1.7 revela a imensidão do preço que
nos resgatou: nada menos que o sangue do próprio Rei da glória,
vítima de violenta morte! Desta forma, os direitos com que o império
das trevas segurava os seus súditos foram substituídos pelos
direitos plenos que nos impõe o cativeiro gracioso de Cristo (Ef
4.8ss; 2Co 2.14ss; ICo 6.19, 20).
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS C O LO SS EN SE S
-2 3 5
E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
A primazia de Cristo
Após declarar a razão por que Cristo merece ser o primogênito de
toda a criação, no v. 17 Paulo passa a apresentar duas verdades
que apoiam a absoluta prim azia de Jesus.
Em primeiro lugar, “Ele é antes de todas as coisas”. Quando
Jesus surpreendeu os judeus, ao declarar que já existia antes de
Abraão (Jo 8.58), lançou a base para o que Paulo diz aos colossenses
aqui. Além disso, Jesus empregava a frase “Eu sou” (no grego, ego
eimi), colocando-se a si mesmo acima do tempo, no sentido em que
os homens o vivem; ele era sem início e sem fim, “o mesmo ontem,
hoje e para sempre” (Hb 7.3; 13.7). No pensamento antigo, quem
vem antes merece o primeiro lugar. Confrontamo-nos, assim, com
a prioridade de Jesus, evidenciada no fato de que, já que todas as
coisas lhe são posteriores, logo ele é superior a tudo que existe.
Considere-se, em segundo lugar, o fato de Cristo integrar
todo o universo. “Nele tudo subsiste” significa que ele é o centro de
coerência ou coesão. Sendo ele o segredo da unidade, que interliga
e dá simetria a todas as leis da física ou da química, da biologia
como também da astronomia, os sistemas de leis que regem todo
o universo são manifestações para dar lugar aos novos céus e à
nova terra. Talvez assim possamos entender melhor a declaração
do v. 20, que aponta a cruz como o veículo de reconciliação de
“todas as coisas”. Os rabinos judaicos acreditavam firm em ente
que a prim eira criação tinha sido o modelo ou o tipo da nova
criação. A redenção não se efetivou num vácuo, mas no centro da
história e do universo. Deus encara com tanta seriedade a ordem
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EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES
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E PÍST O LA S DA PRISÃO
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS C O LO SS EN SE S
A reconciliação
Reconciliação reflete duas palavras hebraicas que expressam a
remoção da inim izade, criando, por um lado, um a atm osfera
agradável e, por outro, acalmando atitudes hostis. Objetivamente,
no sacrifício expiatório e substitutivo de Cristo Deus removeu a
inim izade criada pelo pecado hum ano, apaziguando essa rebelião.
Ao notar a condição em que estavam os colossenses quando
foram alcançados pelo evangelho, Paulo aponta para a situação
dos gentios, tão necessitados de reconciliação. Eram estranhos,
isto é, pertenciam literalmente a outro rei ou dono, que os hostilizara
com Deus. Eram alienados, cidadãos de outra potência que os
mobilizara numa rebelião contra a autoridade de Deus. A expressão
no entendimento (v. 21) indica que essa alienação e hostilidade contra
Deus eram o resultado de um a persuasão de Satanás, que levara
suas m entes e imaginação a concluírem que as obras malignas
estavam certas. Ideologias como o marxismo, ou mesmo a conversa
informal de um a turm a de jovens num a grande cidade, são exem
plos de como a mente hum ana concorda com a maldade e racio
naliza qualquer ação repreensível praticada no corpo.
Ao outrora do passado (v. 21) segue-se o hoje presente (v.
22), caracterizado pela reconciliação dentro do corpo de Jesus, por ele
oferecido voluntariam ente na cruz. O corpo da sua carne ferida
pelos cravos mortíferos possibilitou uma nova harmonia com Deus.
E são as testemunhas vivas dessa harm onia que compõem o novo
povo de Deus, a igreja.
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EP ÍS TO LA DE PAULO AOS COLOSSENSES
“ <*.*•!• S
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EPÍSTOLA DE P A U L O A O S C O L O S S E N S E S
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
Um ministério pastoral
O método usado por Paulo para desenvolver a sua tarefa de “adm i
nistrador do m istério” girava em torno de três atividades pastorais.
1) Em princípio, era-lhe necessário, bem como à sua equipe,
anunciar o senhorio de Cristo, o Salvador. Em 2Coríntios 4.5, ele
aborda o perigo sutil e constante de se anunciar a si mesmo ao
invés de Jesus Cristo como Senhor, ou seja, reivindicar para si
próprio algum direito ou privilégio especial. O anúncio enfatiza
especialmente a disponibilidade de Cristo para salvar qualquer
pessoa que queira ser redimida.
2) Não se cumpre a responsabilidade de despenseiro apenas
divulgando a verdade do evangelho. M uitas pessoas são apáticas,
necessitando, portanto, de advertência; e este é um termo negativo
que aponta para o grande perigo que corre aquele que não atende
ao convite do evangelho. Quase sempre que a palavra advertência
(nouthetêo, nouthesia) é usada no Novo Testamento, ela se refere a
crentes. Isto indica que precisam ser readvertidos para os riscos
na vida cristã. (Veja At 20.31, ICo 4.14, lTs 5.12 e também aqui,
onde se destaca o trabalho pastoral de admoestar e advertir; em
Rm 15.14, Cl 3.16, lTs 5.14 e 2Ts 3.15, é um serviço que deve ser
prestado pelos membros da igreja.)
3) Anunciar as Boas Novas e advertir os ouvintes, e isto sob
a bênção de Deus, produz conversões. Paulo nunca achou que o
fato de ganhar almas o desobrigava de integrá-las no corpo vivo
de Cristo. Daí a sua declaração quanto a se responsabilizar pelo
ensino de todos com “toda a sabedoria” de Deus; trata-se da cuida
dosa catequese dos cristãos gentios, discipulando-os na doutrina
e na prática cristã (cf. At 20.20, 27, 32). Jesus, logo antes da sua
ascensão, ordenou aos onze que fizessem discípulos de todas as
nações, batizando-os e ensinando-lhes tudo que ele mesmo lhes
havia ensinado a guardar, tudo que lhes ordenara (Mt 28.19, 20).
O objetivo final do bom despenseiro de Deus não deixa de ser a
apresentação de “todo homem perfeito em C risto”. Perfeito (em
grego, teleios) significa maduro, adulto, e não quem jamais pecou
(veja F p 3.12-15). Um cristão adulto, em contraste com o im aturo
(ICo 3.1,2; Hb 5.12-14), pode servir ao Senhor, conduzindo outros
à m aturidade. A criança na fé fica na dependência da ajuda e
sustento do cristão mais maduro, sendo incapacitada de continuar
sem esse apoio. Neste curto v. 28, Paulo fala em “todo homem”
E P ÍS T O L A S DA P R IS Ã O
Um ministério de trabalho
O apóstolo não apenas sofre (v. 24) e desempenha sua mordomia
(v. 25-28); ele trabalha. “Também me afadigo, esforçando-m e
(agonizo) o mais possível, segundo a sua eficácia (energeia) que
opera e fic ie n te m e n te (energoum enên... en dunam ei)”. Se
compararmos este versículo com Filipenses 2.12,13, verificaremos
que o esforço hum ano pode abrir caminho para a manifestação do
poder divino. A Paulo não importava desgastar o seu corpo e ficar
bem cansado (“me afadigo” traduz bem o grega “kopioõ” com o
sentido de trabalhar tanto até se cansar m uito). O seu esforço,
porém, não se realizava na “carne”, mas no Espírito. Provavelmente
ele estava falando da oração, já que na prisão não lhe era possível
gastar m uita energia física em favor dos colossenses.
Só Paulo, no Novo Testamento, emprega nove vezes o vocá
bulo aqui traduzido por “eficácia” (veja E f 1.19; 3.7; 4.16; Fp 3.21).
A nossa palavra “energia” vem do grego, mas o original enfatiza a
eficiência da energia usada. M uitas vezes sentimos cansaço no
trabalho de Deus sem ver um resultado correspondente. Por quê?
Não se explicaria este fenômeno pelo esforço carnal em vez da
oração do justo, que “muito pode, por sua eficácia” (Tg 5.16)? O
elemento chave é a fé, sem a qual não é possível agradar .a Deus, e
muito menos efetivar o seu serviço espiritual.
Paulo prossegue, em 2.1, expondo a im portância da oração
na sua estratégia de b atalh a. N ão queria que os cristãos de
Colossos e Laodicéia pensassem que ele, por não conhecê-los
pessoalmente, deixava de lutar por eles de um a forma absorvente,
concentrando todo o seu ser nessa “agonia” (gr. agõna. Compare
com Fp 1.30 e lT m 6.12). À semelhança do conflito de Jesus no
G etsêm ani, o apóstolo se em penhou na batalha pela salvação
das almas que Cristo com prara com o seu precioso sangue. Essa
luta de joelhos, na prisão de Roma, vencia as forças satânicas
que avançavam contra os m al p rotegidos cristão s da Ásia.
Combate idêntico ele já travara outrora em favor dos gálatas e
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e p í s t o l a s da p ri s ã o
A ira de Deus
Deus reage em ira contra todas as transgressões. A palavra thumos,
“ira”, significa uma violenta, fervente e rápida reação emocional de
oposição e vingança contra o pecado. Romanos 1.18-32 revela que a
ira divina cai sobre os “filhos da desobediência”, em forma e tempo
presente, entregando os iníquos aos seus pecados. Futuramente, essa
ira será terrivelmente manifestada no juízo final (Rm 2.5; 2Ts 1.6-9).
Enquanto estes pecados da antiga vida dos colossenses os separavam
da comunhão com Deus (v. 7), provocando a sua justa ira contra
eles, na lista que segue no v. 8 deparamos com práticas pecaminosas
que separam o homem do seu próximo. Todas estas obras da carne
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EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLQSS ENSE S
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
qualquer razão revelada pela qual ele teria escolhido alguns para
gozar os eternos benefícios de sua graça; e m uito menos a eleição
teria sua explicação em alguma qualidade inerente ao pecador.
Porém o objetivo dessa maravilhosa seleção foi partilhar a santi
dade de Deus com pecadores.
Santos é mais um termo tirado do Antigo Testamento para
descrever o povo de D eus. Israel devia cu m p rir a m issão de
manifestar a santidade de Deus no m undo (Êx 19.6), mas falhou,
lançando sobre o Novo Israel esta incumbência (cf. D n 7.13- 21).
Amados tem raízes profundas no amor declarado por Deus para
com seu povo (Is 5:1; Os 2.25). No Novo Testamento aplica-se este
termo exclusivamente para descrever o objeto do amor de Deus,
primeiramente declarado a respeito do Filho (Mt 3.17; 12.18; Lc 9.35;
cf. Is 42.1) e depois aos que lhe pertencem. Sendo Cristo o eixo, por
intermédio dos raios inclui o aro, pois ele é tudo em todos (v. 11).
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS C O LO SS EN SE S
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exige que ele tam bém fique atento: não estará ele mesmo pecando
contra um seu irmão? Que procure a reconciliação perdoando,
bem como pedindo hum ildem ente o perdão do seu parceiro (cf.
M t 5.23-25). D eixar de perdoar não pode ser um a opção para o
filho de D eus, já que ele m esm o foi absolvido de toda a sua
iniqüidade pelo perdão que recebeu de Deus gratuitam ente (Mt
18.21-35).
8) “Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo d
perfeição” (v. 14). O amor “agapê ” isto é, amor desprendido, sacri-
ficial, que visa o benefício do próximo, é aqui descrito como o
principal vestido exterior. Ele m antém no lugar apropriado cada
uma das outras peças de roupa. O amor seria, então, como o polo
norte para a bússola da vida, orientando o cristão para a direção
prática que deve tomar.
O termo vínculo (sundesmos) descreve o elemento unificador
e, portanto, a integração e a coerência. Cristo é declarado o prin
cípio de coerência do universo inteiro, segundo 1.17. Vemos agora
que o “agapê ” é o princípio integrante de toda conduta realmente
cristã. Não devemos perder de vista, no entanto, que Cristo é a
fonte e a perfeita expressão desse amor, não criado nem produzido
por nós, mas recebido por interm édio do Espírito (G1 5.22) que
Deus nos concedeu através da regeneração.
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EPÍS TOL A DE PAULO AOS C OL OSS ENSE S
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EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES
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epísto las da prisão
esta. Toda vocação e qualquer serviço que se puder fazer para o Senhor
deve ser feito de coração (v. 23), pois este é o cumprimento da respon
sabilidade de todo filho de Deus, a de colocar sobre o altar do Senhor
a sua vida inteira. Já que o serviço foi feito, não “para homens” (v.
23b) mas para o Senhor, ele galardoará tudo que for colocado aos
seus pés. Assim se evidenciará a verdade de que “a Cristo, o Se
nhor, é que estais servindo” (3.24b).
O obreiro ou trabalhador deve estar consciente de que quem
realmente paga o seu salário (em grego antapodosin, “recompensa”)
não é o seu patrão, mas o Senhor. Evidentem ente, esse “paga
m ento” será futuro, na volta de Jesus Cristo. Essa recompensa
será “a herança” (v. 24), incluindo o direito de gozar plenam ente
os benefícios da vida celestial. E provável que essa referência à
herança tenha como pano de fundo a lem brança dos israelitas
que trabalharam sob a opressão egípcia até a sua libertação, que
resultou finalm ente no recebim ento da herança, a Terra Pro
m etida.
Por outro lado, Deus não deixará de pagar com o merecido
juízo os pecados cometidos contra os indefesos escravos e traba
lhadores que, através da história, têm sofrido os condenáveis frutos
da injustiça hum ana. Aquele que criou todos os hom ens com
direitos iguais aplicará a sua justiça a todos, sem acepção.
Vimos, assim, os motivos cristãos para servir bem e evitar
fazer um trabalho mal feito ou injusto. Deus equilibrará tudo no
dia em que finalmente se prestarão e pagarão todas as contas.
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e p í s t o l a s da p r i s ã o
Tíquico
Este companheiro de Paulo era dotado de preciosas qualidades.
Era irmão amado, sem dúvida por causa do seu interesse pelo
apóstolo e por seus companheiros. Evidentemente foi o portador,
junto com Onésimo, desta epístola e também das epístolas aos
E fésios e a F ilem om . N ão podem os a firm a r se T íq u ic o se
prontificou a fazer esse serviço por amor ao apóstolo ou porque
viajaria para Efeso e Colossos de qualquer forma. E suficiente
lembrarmos quanto sacrifício exigia uma viagem de Roma até a
Ásia. T íquico foi tam bém denom inado fiel ministro, porque
desempenhava o seu serviço (em grego, diakonia) com fidelidade.
Comparemos com a descrição de Epafras em 1.7.
Conservo vem da palavra grega “sundoulos” (escravo junto com),
evidência de que Paulo o reconhecia como colega sob o jugo de
Cristo no serviço de Deus.
Os versículos 7 e 8 m ostram até que ponto a situação do
primeiro século dependia de comunicações verbais. A comunicação
e p ís t o l a DE PAULO AOS COLO SS ENSE S
por epístola era bastante rara e, por isso mesmo, usada apenas
para transm itir uma mensagem de grande importância. As infor
mações do dia-a-dia eram comunicadas oralmente. Atos 28 mostra
que a vida de Paulo como preso, durante os dois anos em que
aguardava uma decisão de César, não era tão difícil. Por isso devia
alentar os corações dos irmãos a quem se destinava esta epístola (v.
8), isto é, consolá-los.
Onésimo
Este filho espiritual de Paulo (Fm 10), dantes um escravo foragido,
era agora um homem regenerado, tendo voltado para o seu antigo
patrão, Filem om , m em bro da igreja de Colossos. Aqui ele é
denominado fiel e amado irmão, sinal da alta posição que Cristo
lhe dera (cf. Tg 1.9). De acordo com a lei romana, Filemom podería
aplicar a Onésimo a penalidade máxima, por ter fugido e roubado
do seu dono. M as Paulo não hesitou em m andá-lo de volta,
garantindo, com confiança: “Ele, antes, te foi inútil; atualmente,
porém, é útil, a ti e a m im ” (Fm 11).
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E P Í S T O L A S DA PR1SÁO
Epafras (veja 1.7) era outro membro da igreja colossense que não
estava voltando para a Ásia na ocasião; por isso Paulo inclui a
sua saudação. Suas qualidades eram notáveis. Paulo o chama
literalm ente de escravo de Cristo Jesus, indicando a sua dedicação e
obediência a Cristo (cf. Rm 1.1). Era também grande homem de
oração: se esforça (em grego agonizomenos) continuamente por vós, nas
orações. Já notam os a palavra esforço usada duas vezes para
descrever as orações de Paulo em favor dos colossenses nessa
conjuntura perigosa da sua vida eclesiástica (1.29; 2.1).
Epafras era um homem de fé e esperança. Não deixava de
suplicar a Deus pelos crentes de Colossos, pedindo que se m an
tivessem em pé, maduros (ou perfeitos) e plenam ente convencidos
da verdade do evangelho como sendo a plena vontade revelada de
D eus. Que quer dizer tudo isto? Sim plesm ente que Epafras,
fundador da igreja de Colossos, não se conformava com a erosão
da fé dos seus filhos espirituais. O amor de Deus no seu coração o
levara a agonizar nas orações para que os colossenses não perdessem
a tão grande salvação que o Senhor lhes outorgara.
Não devemos esquecer a relação entre a. preocupação (literal
mente, “luta”) e a oração (v. 13a). Quem não se envolve na vida
dos outros, tal como os pais se preocupam pelos filhos, pouca
ansiedade sentirá. Não era o caso de Epafras, nem de Paulo. As
lutas para form ar o corpo de Cristo nas três igrejas do vale do
Lico forçosamente levaram Epafras a se esforçar na oração, tal
como o fizera na luta para ganhar e instruir os cristãos neófitos.
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
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Introdução
A ocasião da epístola
A vida do apóstolo Paulo foi marcada por uma série de situações
difíceis. Pouco tempo depois da sua conversão a Cristo na estrada
para Damasco, o zeloso fariseu que perseguira os cristãos fugiu
dos judeus que tramavam a sua morte (At 9.23, 29). Durante os
anos seguintes, como ele afirmou mais tarde em 2Coríntios 11.23-
27, ele foi açoitado terrivelmente, surrado com varas e chicotes.
Várias vezes ele havia enfrentado a morte em terra e m ar e experi
mentado fome, sede, frio e nudez.
D urante um dos períodos freqüentes em que estava preso,
Paulo escreveu a Filemom e à igreja que se reunia em sua casa, a
respeito de uma situação delicada. Um escravo de nome Onésimo
fugira de Filemom, seu dono. Paulo fizera amizade com Onésimo e
havia pouco tempo o levara ao Senhor. As autoridades romanas
não viam com bons olhos quem ajudasse um fugitivo. O envol
vimento de Paulo com Onésimo poderia representar um obstáculo
à sua própria soltura da prisão. Ele podia até ser punido pela lei
romana e responsabilizado pelo trabalho que o escravo deixara de
fazer.
:89 -
EPÍSTOLAS DA P R I S Ã O
A estrutura literária
Esta breve epístola segue um padrão encontrado no Antigo Testa
mento e em várias parábolas de Jesus chamado de “paralelismo
invertido” (muitas vezes chamado de modo abrangente de quiasmo,
palavra derivada da letra grega chi, “x”). A prim eira unidade
corresponde à sétima, a segunda à sexta e a terceira à quinta. A
unidade central (v. 15-17) forma o clímax da epístola. Nossos títulos
para essas unidades refletem essa organização:
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E P ÍS T O L A S DA PRISÃO
-2 9 2 -
Análise e
Interpretação
293 -
E P ÍS T O LA S DA PRISÃO
toda a igreja, pois Paulo insere um pedido que diz respeito à igreja
inteira. Além disso, a ênfase de Paulo na unidade do corpo de Cristo,
em todas as suas epístolas, apóia sua participação. Ao incluir essa
epístola no cânon, o Espírito Santo confronta a igreja de todas as
épocas com sua mensagem.
Paulo costuma se apresentar como apóstolo. Esta é a única
epístola em que ele se apresenta como prisioneiro. A semelhança
do escravo Onésimo, ele sabe o que é perder a liberdade; a diferença
é que Paulo é um prisioneiro que perdeu sua liberdade espon
taneamente, por amor a Jesus Cristo (cf. Fp 3.7-8). Ele irá apelar a
Filemom para que este tome um a decisão difícil por causa do evan
gelho. Com a simples palavra “prisioneiro” Paulo deixa suben
tendido que partilha da dor de Onésimo, o escravo. Ele sabe o
dilema que seu pedido representará para Filem om, o senhor do
escravo.
Timóteo é um homem mais jovem que serve a Paulo com
fidelidade, “como filho ao pai” (Fp 2.22). Ele é co-autor da epístola,
pois era alguém que tinha interesse genuíno pelo bem-estar dos outros
(Fp 2.20). A expressão “o irmão Timóteo” volta a atenção para o
relacionamento que eles tinham com os crentes em Colossos. Na
verdade, esta epístola é uma correspondência entre irmãos em Cristo,
membros da família de Deus. Como tais, eles partilham dos interesses
do reino de Deus.
Filem om , ao que parece um gentio rico que morava na
pequena cidade de Colossos, na província da Ásia,1 é o principal
destinatário da epístola. Ele se converteu a Cristo por intermédio
do m inistério de Paulo (v. 19b) e se tornou seu grande amigo e
colaborador. Paulo muitas vezes chama seus colegas de colaboradores
ou cooperadores, para enfatizar o trabalho em equipe pelo evan
gelho (Rm 16.3, 9, 21; 2Co 8.23; F p 2.25; 4.3; Cl 4.11).
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A EPÍSTOLA, SEMPRE RELEVANTE, DE PAULO A FI LE M O M
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A EPÍ STOLA» S E M P R E R E L E V A N T E , DE PAULO A FIL E M O M
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A EPÍSTOLA, SEMPRE RELEVANTE, DE PAULO A FI LE M O M
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E P ÍS T O L A S DA P RISÃO
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e p í s t o l a s da p ri s ã o
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A EPÍSTOLA, SEMPRE RELEVANTE, DE PAULO A FIL E M O M
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e p í s t o l a s da p ri são
para casa. Escravo ou livre, sua nova vida em Cristo pode evidenciar
um modo de vida alternativo.
elevou E ster à condição de rainha (Et 4.14)? Não foi D eus quem
fez a condição de José como escravo red u n d a r em bem (Gn
50.20)?
Esse “acredito” de Paulo também pode ser uma palavra de
cautela. Os cristãos precisam evitar declarar categoricamente, com
base em Romanos 8.28-29, que dado evento se deu de acordo com o
propósito de Deus. Nossa percepção é uma questão de fé, pois, nas
palavras de Paulo: “Quão insondáveis são os juízos [de Deus], e
quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33).
Se Filemom aceitar Onésimo como irmão amado, essa sepa
ração tem porária trará benefícios perm anentes a ambos, pois o
corpo de Cristo terá sido enriquecido. Não im porta a condição fu
tura do escravo, a reconciliação somente será válida se resultar em
comunhão continuada num só corpo em Cristo.
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A EPÍSTOLA, SEMPRE R ELEV A N TE, DE PAULO A FILEMOM
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E P ÍS T O L A S DA PRISÃO
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EPÍSTOLAS D A PRISÃO
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Apêndice
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E P Í S T OL A S DA PRI SÃO
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A E P Í S T OL A , S E M P R E R ELEVANT E, DE PAULO A FI LEMOM
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A EPÍ STOLA, SEMPRE RELEVANTE, DE PAULO A F iL E M O IV I
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E P Í S T OL A S DA PRI SÃO
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Bibliografia
SCOTT, Ernest F. Man and Society. New York: Chas. Scribners’ Sons,
1947.
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RUSSELL P. SHEDD, Ph.D., é fundador de
Edições Vida Nova, conferencista internacional
e pastor, intensamente preocupado com a
educação teológjca e a formação de líderes
para a igreja brasileira e dos países de língua
portuguesa, foi durante mais de 40 anos
professor de Novo Testamento nas melhores
escolas teológicas de São Paulo e escreveu
inúmeras obras publicadas por Edições Vida
Nova e pela Shedd Publicações.
VIDA NOVA
www.vidanova.com.br