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Psiquiatra, Psicanalista, Especialização em Psiquiatria, Psicologia Clínica/Psicanálise, Medicina
Psicosomática, Homeopatia e Psicoterapia Somática/Biosíntese. Membro do EPSI – Espaço Psicanalítico,
do NEPSI – Núcleo de Estudos e Produção em Clínica e do Círculo Psicanalítico de Pernambuco. E-mail:
gloriacarvalhobarros@yahoo.com.br
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buscando ajuda podem ser submetidos a uma análise. O método que iremos utilizar
neste processo dependerá das condições emocionais e clínicas em que ele se encontra.
Na visão winnicottiana, para que ocorra o acolhimento de forma irrestrita, não
podemos nos colocar de forma a manter a análise protegida por um setting rigoroso,
pois desta forma cairemos no risco de reforçar as nossas defesas como analista e as
defesas do paciente, impossibilitando o acolhimento radical da loucura. Assim,
perderemos de vista elementos fundamentais que mostrarão todo o arsenal do
sofrimento e da psicopatologia manifestada pelo paciente.
Para este autor, o analista deve se abster do autoritarismo e da doutrinação,
permitindo uma fruição mesmo desorganizada ao longo das sessões. É fundamental que
o analista vivencie um estado de relaxamento e espontaneidade, acolhendo de forma
ativamente passiva e ativamente expectante os conteúdos emergentes para que seja
estabelecida uma base de confiança para que o processo caminhe.
Verificamos que à medida que foi se ampliando o conhecimento sobre os
processos psíquicos, houve necessidade de transformação da técnica clássica no
processo de análise. Freud, em 1914, constatava que em alguns casos por ele
acompanhados, o processo não evoluía, sugerindo então que se promovesse
modificações na técnica. Neste contexto, Ferenczi foi um dos psicanalistas que mais se
debruçou sobre esse assunto procurando saídas para os impasses encontrados na sua
clínica cotidiana. Assim, focaremos a visão desse autor que procurou promover
modificações no setting para facilitar mudanças psíquicas no processo psicanalítico,
além de analisarmos a teoria de Winnicott, assim como reflexões sobre este tema de
alguns autores contemporâneos.
Na "Conferência XXXIV", Freud afirma que "por maiores que sejam a
elasticidade da vida mental e a possibilidade de reviver antigas situações, nem tudo
pode ser trazido à luz novamente" (Freud, 1933, p.152), já que certas modificações na
vida psíquica parecem ter se tornado definitivas, permanecendo sob a forma de
processos mentais enrijecidos. Diante de tal comportamento nos pacientes por ele
acompanhados, Freud encontra duas saídas: considerar o caso não analisável ou
prolongar a duração do tratamento.
Em se tratando da análise das resistências, no V Congresso Psicanalítico
Internacional realizado em Budapeste, Freud recomenda uma mudança de atitude do
analista: nos casos em que a análise da transferência não se apresenta como recurso
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obstáculo maior nessas análises residia na “insensibilidade” dos próprios analistas, que
resistiam à experiência de afetação mútua promovida pelo encontro analítico.
O privilégio dado à expressão de afetos na análise provocou, assim, uma
ampliação cada vez maior dos limites do permitido na clínica, chegando-se à
formulação de um princípio de relaxamento como contraponto ao de abstinência.
Ferenczi, ao privilegiar a expressão e o encontro de afetos para a produção de sentido,
acabou por configurar uma clínica psicanalítica com muita sensibilidade.
Ferenczi aborda o conceito de contratransferência não como algo que dificultaria
a análise, mas fazendo parte da própria técnica a ser empregada. Ele propõe ao analista
saber dosar a simpatia exercitando um rígido domínio da contratransferência, lidando
com tato a capacidade de ¨sentir com¨. O manejo técnico deve dosar bem estes
elementos sendo o processo melhor conduzido a partir da análise pessoal do analista que
o capacitará para analisar a situação analítica a distancia.
A introdução do termo enquadre foi dada por Bleger, na Argentina, e Winnicott,
na Inglaterra. Winnicott define o enquadre como: "Conjunto das condições de
possibilidade requeridas para o exercício da psicanálise. Isso compreende as disposições
materiais que regulam as relações entre analisando e analista".
Partindo da experiência clínica, Winnicott sentiu que era vital reexaminar sua
técnica, pois suas observações apontavam para a necessidade de uma adaptação do
setting para promover uma evolução favorável do paciente, ajudando-o no
fortalecimento e evolução de sua personalidade.
Neste contexto, traremos alguns fragmentos da análise de Marina, paciente que
bem se adequa ao tema que escolhemos para discutir. Para melhor ilustrarmos o
presente trabalho traremos algumas situações clinicas vivenciadas durante sua análise,
que durou cerca de doze anos, entremeadas por uma reflexão sobre o setting analítico.
Constatamos a importância do acolhimento sustentado ao longo de todo o seu
processo analítico contribuindo para a manutenção de um campo de confiança e um
vínculo transferencial. Apesar de termos encerrado sua análise há mais de dez anos, a
mesma continua me procurando, através dos contatos telefônicos, nos seus momentos
de alegria ou maior aflição.
Marina relata que iniciara a terapia no Recife num momento de agravamento da
sua depressão. Foi um longo processo, mais de dez anos, focando seu desamparo,
medos e insegurança. A partir deste acompanhamento enfrentou o medo de engravidar
além de vir à tona o abuso sexual sofrido aos cinco anos de idade, fato adormecido
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dentro de si, só se manifestando nos sintomas sem mostrar a causa inicial. Foi aí que
começou a trabalhar “o estrago que este fato provocara na sua vida”.
Quando Marina iniciou sua analise comigo, era grande a sua fragilidade. Após
um longo tempo, o abuso sexual vem à tona e, a partir daí, este tema ia e vinha ao longo
de muitos anos de seu processo psicoterapêutico, até se esgotar. Depois de um tempo de
calmaria, este tema voltava a bailar novamente com toda força. Tempo, paciência e
tolerância eram vitais neste processo, tanto para ela quanto para mim. Marina
caminhava muito lentamente nas suas elaborações. Nós não poderíamos ter pressa.
Juntas passamos a viver em muitos momentos uma experiência de mutualidade.
Dentro da visão winnicottiana, o setting analítico deve comportar os aspectos
relacionados à mãe-ambiente, em que o analista oferece constância, previsibilidade e
confiabilidade, tanto pelo ambiente físico quanto pela qualidade do cuidado pessoal,
procurando ajustar-se às expectativas do paciente para assim possibilitar o
estabelecimento de comunicações mais profundas.
Desde o inicio percebi que as sessões de Marina não poderiam durar 50 minutos.
Era necessário duas horas em cada encontro. Caso contrário, ela saía da sessão com
tanta angústia que necessitava fazer contato telefônico várias vezes na semana. No
contrato terapêutico também foi estabelecida a possibilidade de fazermos sessões por
telefone nos momentos de maior agravamento do seu quadro.
Acredito que a criação de um setting adaptado às necessidades de Marina,
durante uma etapa do seu processo analítico, propiciou fortalecimento e crescimento.
Numa sessão, ao chegar com dor de cabeça por fome, Marina solicitou algo para comer.
Pude lhe oferecer uma papa, resgatando assim cuidados bem primitivos que faltaram na
sua vida. Quanta emoção foi suscitada com este gesto. Ela voltou à sua infância,
regredindo a estágios bem primitivos.
Este fato ilustra bem o que Safra (1989, p.55) define como momento mutativo,
em que a paciente sentiu-se confiante de regredir, buscando no analista um objeto com o
qual pudesse estabelecer uma experiência prototípica que não havia sido possível no
passado. Esta experiência não só mudou a visão que a paciente tinha do mundo, das
relações objetais e de si mesmo, mas também reintegrou no seu psiquismo aspectos que
até então encontravam-se dissociados. A partir daí ela aprendeu também a se cuidar,
fazendo uma papa para si quando não estava bem, relembrando os cuidados recebidos.
Para Winnicott, é necessário que o terapeuta se adéqüe à demanda do paciente.
Assim, o setting analítico adquire grande importância, pois o processo não está
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Marina sentia-se espremida pelas contingências da vida, sendo difícil dar conta
das exigências tanto internas como externas, aumentando ainda mais os seus conflitos.
A análise foi construindo nela um caminho num terreno mais confiável. O vinculo
estabelecido abriu espaço para novas relações no seu cotidiano. Ela foi, aos poucos,
construindo novas imagens e sua mente precisou formular novas modalidades para fazer
frente às adversidades que a vida lhe impõe.
Graças à confiança estabelecida com a analista, que pôde oferecer um ambiente
suficientemente bom, houve a retomada de seu desenvolvimento emocional com um
crescimento e amadurecimento pessoal neste processo.
Como bem coloca Daniel Kupermann,
REFERÊNCIAS