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Quid iuris ?
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António celebrou com Bento e Carlos um contrato de comodato, nos termos do disposto
nos artigos 1129.º do Código Civil, enquanto negócio jurídico real quod constitutione, no
qual o tipo contatual se corporiza apenas com a entrega da coisa ao comodatário.
O detentor tem o controlo do corpus, não lhe sendo, contudo, reconhecida a posse, não
lhe sendo reconhecida qualquer tutela em relação à detenção de que é titular sob
determinada coisa.
Bento ao enviar a carta para António está a inverter o título da posse, nos termos do
disposto na alínea d), do artigo 1263.º do Código Civil e do artigo 1265.º.
A doutrina critica o nomen iuris inversão do título da posse, uma vez que apresenta
equivocidade, uma vez que parece ter mais que ver com um classificação possessória
v.g. posse titulada e não titulada do que com a substituição efectiva de detenção para
posse, por aplicação efectiva desta figura.
O mesmo é criticado pelo Professor Orlando de Carvalho por este modo de aquisição da
posse não se tratar nem de um título, nem de uma inversão.
O Professor Menezes Cordeiro critica também o preceito, uma vez que entende o artigo
1265.º do CC ao referir oposição directa do detentor do direito contra aquele em cujo
nome possuía, parece estar a limitar a hipótese de inversão do título da posse aos casos
da alínea c), do artigo 1253.º, mas pode haver também inversão do titulo da posse nos
casos das alíneas a) e b) do artigo 1253.º.
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Os professores Pires de Lima e Antunes Varela falam que se pode verificar inversão do
título da posse se alguém que anteriormente é detentor, persuadido de que é titular de
um direito real, passa a comporta-se como possuidor, sem nada dizer, porém, ao
proprietário .
O Professor José Luís Ramos critica este entendimento, defendendo que tem de haver
uma oposição directa do detentor ao possuidor, não bastando um autoconvencimento.
No caso em análise há, assim, a constituição de uma nova posse, a favor de Bento,
enquanto anterior detentor.
Desta forma Bento obtém, ex novo, uma nova situação possessória, com referência à
detenção que detinha anteriormente sobre o imóvel.
Como refere o Professor Carvalho Fernandes, o título pelo qual se exercia detenção
sobre a coisa muda.
O abandono invocado por Bento à partida não ser procedente, tendo em conta os dados
da hipótese.
Assim sendo, é dito que António emprestou aos seus amigos o imóvel, para que estes
vivessem no mesmo ao longo do seu percurso universitário.
O abandono tem natureza unilateral e material, sendo certo que os actos que alicercem
o abandono devem ter uma intensidade mínima, e ser publicitados aos interessados.
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O artigo 1265.º tem como inspiração o artigo 1141.º do Código Civil italiano, sendo certo
que a inversão do título da posse pode verificar-se em duas situações distintas, como
refere Menezes Cordeiro a saber:
Bento considera assim que passa a agir como titular de um direito real de gozo próprio
sobre a coisa.
Tendo em conta que António considerava ser o legítimo proprietário do imóvel, e que
todos os seus direitos reais de gozo sobre o imóvel se mantinham, devíamos discutir se
há a sua oposição enquanto anterior possuidor.
A oposição poderia ser exercida de forma judicial ou de forma extrajudicial, sendo certo
que apesar de a oposição não ter que ser comunicada ao novo possuidor, a oposição
tem de reconhecível por ele.
Caso António não se opusesse à posse de Bento, não haveria inversão do título
possessório, mas apenas uma traditio brevi manu.
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Por fim o acto próprio de terceiro capaz de transferir a posse tem que ver com a
celebração de negócio jurídico pelo detentor com terceiro, idóneo a constituir uma nova
posse ex novo.
O negócio jurídico deve ter eficácia real, mas não tem necessidade de ter validade
jurídica do ponto de vista substantivo.
Por exemplo existiria inversão do título da posse se António adquirisse a um terceiro por
escritura pública o imóvel propriedade deste, mesmo tratando-se de uma venda de bens
alheios.
Bento teria o direito de ser indemnizado pelas benfeitorias úteis que realizou no imóvel,
nos termos do disposto no número 1, do artigo 1273.º do Código Civil, no que concerne
à ampliação da sala e da cozinha, podendo levantar o abrigo de madeira, ao abrigo da
mesma norma.
Teríamos assim de aplicar o número 2 do artigo 1275.º do Código Civil, não sendo Bento
indemnizado pelas benfeitorias realizadas, por ser possuidor de má fé, em virtude da
sua posse se ter constituído por inversão do título da posse.
Cabe ver se em relação à conduta de Carlos, com a aquisição legítima do imóvel ao seu
proprietário, haveria, na esteira de Carvalho Fernandes uma aquisição derivada da
posse, por constituto possessório, nos termos do disposto no número 1, do artigo 1264.º
do Código Civil e alínea c), do artigo 1263.º do Código Civil, ou factos translativos da
posse para o Professor Carvalho Fernandes.
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Carlos, anterior detentor, passa a ser possuidor e também proprietário pela
circunstância de ter celebrado com António um contrato de compra e venda daquela
fracção, ou seja, pela prática de um acto constitutivo de direitos reais.
Este terceiro requisito seria cumprido se por exemplo António tivesse celebrado com
Carlos um contrato de arrendamento do imóvel, após a celebração do contrato de
compra e venda de tal imóvel, uma vez que aí já existiria uma causa jurídica válida, isto
é, o arrendamento para a detenção da coisa.
A posse de António aconteceu assim por tradição simbólica, nos termos do disposto na
alínea b), do artigo 1263.º do Código Civil.
Em relação a Bento espalhar na vizinhança que Carlos não era titular de qualquer direito
real e que não tinha legitimidade para aí viver, cabe referir que Carlos gozada da
presunção da titularidade do direito de propriedade sobre aquela fracção, nos termos
do disposto no número 1, do artigo 1268.º do Código Civil.
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Trata-se de uma presunção ilidível mediante prova em contrário.
Assim, Bento tinha o direito de uso e fruição daquele imóvel, enquanto possuidor de
boa fé, enquanto conteúdo essencial deste direito real de gozo.
Carlos, ao entregar o imóvel ao seu irmão perde a posse por cedência, nos termos do
disposto na alínea c), do número 1, do artigo 1267.º do Código Civil.
O cedente passa assim a ser o novo possuidor daquela fracção com tudo o que a
compõe.
Esta figura é algo semelhante à tradição da coisa, podendo a cedência, tal como a
tradição da coisa, ser material ou simbólica.