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LICENCIATURA EM DIREITO

ANO LECTIVO: 2018/2019

DIREITOS REAIS – 3.º ANO – TURMA B

REGÊNCIA: PROFESSOR DOUTOR JOSÉ ALBERTO VIEIRA

SUBTURMAS: 10, 11, 12 E 15

Caso Prático N.º 8

António, abastado comerciante de Lisboa, emprestou dois apartamentos com quintal


de que era proprietário a Bento e a Carlos, seus amigos de sempre, para que estes
pudessem residir durante a frequência destes na universidade.
Após tal decisão, Bento fez um abrigo de madeira para os arrumos e para convívio no
quintal da fracção, tendo, ainda, ampliando a cozinha e a sala para o quintal e pintado a
fachada que estava em prefeito estado, de branco, por ser a sua cor favorita.
António, sabendo que Bento sempre fora dado a partidas, nada faz, tendo consciência,
porém, que continuava a ser o legítimo proprietário da fracção e que todos os seus
direitos reais de mantinham.
Carlos que fora o melhor aluno do Curso de Direito, e que arranjara um estágio bem
remunerado numa pomposa sociedade da Avenida da Liberdade, decide fazer uma
proposta de compra do imóvel a António, o qual anui, vendendo-lhe a respectiva
fracção.
Bento, que nunca gostara de Carlos pelo seu sucesso escolar, e sabendo do negócio que
este fizera com António, decide espalhar na vizinhança que Carlos não era titular de
nenhum direito real sobre aquela fracção, e que não tinha legitimidade para viver ali.
Carlos, que recebera entretanto uma proposta de outro escritório em Londres, decide
emigrar, entregando as chaves da casa ao seu irmão, afirmando “cedo-te esta casa com
todo o que ela tem lá dentro”.

Quid iuris ?

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António celebrou com Bento e Carlos um contrato de comodato, nos termos do disposto
nos artigos 1129.º do Código Civil, enquanto negócio jurídico real quod constitutione, no
qual o tipo contatual se corporiza apenas com a entrega da coisa ao comodatário.

Bento e Carlos têm a detenção respectivamente de cada um dos imóveis na qualidade


de comodatários, uma vez que tem o gozo de uma coisa corpórea imóvel, em virtude da
tolerância e cortesia do titular do direito real de propriedade e de posse de António.

O detentor tem o controlo do corpus, não lhe sendo, contudo, reconhecida a posse, não
lhe sendo reconhecida qualquer tutela em relação à detenção de que é titular sob
determinada coisa.

Bento e Carlos possuem em nome alheio, através da celebração do comodato, isto é,


em nome de António razão pela qual teremos de aplicar a alínea c), do artigo 1253.º do
Código Civil.

Todas as situações previstas no artigo 1253.º do Código Civil têm em comum a


circunstância de o detentor não exteriorizar um direito real de gozo próprio sobre
determinada coisa corpórea

Na detenção há, assim, a actuação sobre uma coisa alheia.

Bento ao enviar a carta para António está a inverter o título da posse, nos termos do
disposto na alínea d), do artigo 1263.º do Código Civil e do artigo 1265.º.

A doutrina critica o nomen iuris inversão do título da posse, uma vez que apresenta
equivocidade, uma vez que parece ter mais que ver com um classificação possessória
v.g. posse titulada e não titulada do que com a substituição efectiva de detenção para
posse, por aplicação efectiva desta figura.
O mesmo é criticado pelo Professor Orlando de Carvalho por este modo de aquisição da
posse não se tratar nem de um título, nem de uma inversão.
O Professor Menezes Cordeiro critica também o preceito, uma vez que entende o artigo
1265.º do CC ao referir oposição directa do detentor do direito contra aquele em cujo
nome possuía, parece estar a limitar a hipótese de inversão do título da posse aos casos
da alínea c), do artigo 1253.º, mas pode haver também inversão do titulo da posse nos
casos das alíneas a) e b) do artigo 1253.º.

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Os professores Pires de Lima e Antunes Varela falam que se pode verificar inversão do
título da posse se alguém que anteriormente é detentor, persuadido de que é titular de
um direito real, passa a comporta-se como possuidor, sem nada dizer, porém, ao
proprietário .

O Professor José Luís Ramos critica este entendimento, defendendo que tem de haver
uma oposição directa do detentor ao possuidor, não bastando um autoconvencimento.

No caso em análise há, assim, a constituição de uma nova posse, a favor de Bento,
enquanto anterior detentor.

Desta forma Bento obtém, ex novo, uma nova situação possessória, com referência à
detenção que detinha anteriormente sobre o imóvel.

Como refere o Professor Carvalho Fernandes, o título pelo qual se exercia detenção
sobre a coisa muda.

O abandono invocado por Bento à partida não ser procedente, tendo em conta os dados
da hipótese.

Assim sendo, é dito que António emprestou aos seus amigos o imóvel, para que estes
vivessem no mesmo ao longo do seu percurso universitário.

Ora o abandono é a cessação voluntária pelo possuidor do corpus, nos termos do


disposto na alínea a), do artigo 1267.º do Código Civil.

O abandono tem natureza unilateral e material, sendo certo que os actos que alicercem
o abandono devem ter uma intensidade mínima, e ser publicitados aos interessados.

No caso em concreto, não há indícios do abandono da posse e da propriedade do imóvel


por parte de António.

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O artigo 1265.º tem como inspiração o artigo 1141.º do Código Civil italiano, sendo certo
que a inversão do título da posse pode verificar-se em duas situações distintas, como
refere Menezes Cordeiro a saber:

- A oposição do detentor do “direito” contra aquele em cujo nome possuía;

- O acto de terceiro capaz de transferir a posse.

Na primeira situação, há uma quebra da posse de António, em virtude da carta enviada.


Com o envio de tal declaração de vontade, passa a existir uma posse em nome próprio.

Bento considera assim que passa a agir como titular de um direito real de gozo próprio
sobre a coisa.

Tendo em conta que António considerava ser o legítimo proprietário do imóvel, e que
todos os seus direitos reais de gozo sobre o imóvel se mantinham, devíamos discutir se
há a sua oposição enquanto anterior possuidor.

António teria de se opor material e/ou juridicamente à inversão do título da posse,


sendo certo que a sua conduta não teria necessariamente de ser comunicada a Bento.

A oposição poderia ser exercida de forma judicial ou de forma extrajudicial, sendo certo
que apesar de a oposição não ter que ser comunicada ao novo possuidor, a oposição
tem de reconhecível por ele.

Por exemplo se António se dirigisse ao apartamento para mudar a fechadura do imóvel,


haveria a oposição material, não comunicada, mas reconhecível por parte de Bento.

Caso António não se opusesse à posse de Bento, não haveria inversão do título
possessório, mas apenas uma traditio brevi manu.

Desta forma a inversão do título da posse acarreta sempre, obrigatoriamente o esbulho


do detentor, resultante de uma conduta activa e efectiva contra o anterior possuidor,
isto é, contra António.

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Por fim o acto próprio de terceiro capaz de transferir a posse tem que ver com a
celebração de negócio jurídico pelo detentor com terceiro, idóneo a constituir uma nova
posse ex novo.

O negócio jurídico deve ter eficácia real, mas não tem necessidade de ter validade
jurídica do ponto de vista substantivo.

Por exemplo existiria inversão do título da posse se António adquirisse a um terceiro por
escritura pública o imóvel propriedade deste, mesmo tratando-se de uma venda de bens
alheios.

Bento fez benfeitorias úteis no imóvel, designadamente o abrigo de madeira e a


ampliação da cozinha e da sala, nos termos do disposto na segunda parte, do número 3,
do artigo 216.º do Código Civil, em virtude de aumentarem o valor do imóvel.

Bento teria o direito de ser indemnizado pelas benfeitorias úteis que realizou no imóvel,
nos termos do disposto no número 1, do artigo 1273.º do Código Civil, no que concerne
à ampliação da sala e da cozinha, podendo levantar o abrigo de madeira, ao abrigo da
mesma norma.

No que se refere à pintura do imóvel de branco tratam-se de benfeitorias voluptuárias,


nos termos do disposto nos termos do disposto na parte final, do número 3, do artigo
216.º do Código Civil, em virtude de as mesmas não aumentarem o valor da coisa.

Teríamos assim de aplicar o número 2 do artigo 1275.º do Código Civil, não sendo Bento
indemnizado pelas benfeitorias realizadas, por ser possuidor de má fé, em virtude da
sua posse se ter constituído por inversão do título da posse.

Cabe ver se em relação à conduta de Carlos, com a aquisição legítima do imóvel ao seu
proprietário, haveria, na esteira de Carvalho Fernandes uma aquisição derivada da
posse, por constituto possessório, nos termos do disposto no número 1, do artigo 1264.º
do Código Civil e alínea c), do artigo 1263.º do Código Civil, ou factos translativos da
posse para o Professor Carvalho Fernandes.

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Carlos, anterior detentor, passa a ser possuidor e também proprietário pela
circunstância de ter celebrado com António um contrato de compra e venda daquela
fracção, ou seja, pela prática de um acto constitutivo de direitos reais.

O constituto possessório é uma forma de tradição simbólica, isto é, a entrega da coisa


sem modificação do seu controlo material da mesma que implica que haja o
cumprimento cumulativo de três requisitos como refere o Professor José Alberto Vieira:

1.Um negócio jurídico translativo de direitos reais de gozo;


2. Que o transmitente alienante seja o possuidor da coisa corpórea alienada;
3. Que haja uma causa jurídica válida para a detenção da coisa.

Atenção que o constitiuto possessório constitui uma novidade em face do Código de


Seabra que não consagrava esta figura.

Este modo de aquisição da posse distingue-se do apossamento, em virtude da


desnecessidade da prática de actos materiais e da traditio por dispensar aquando da
transmissão do direito, a entrega material ou simbólica da coisa.

No nosso caso há a verificação de apenas os dois primeiros requisitos, mas já não do


terceiro requisito, pelo facto de António não ser detentor daquela fracção.

Este terceiro requisito seria cumprido se por exemplo António tivesse celebrado com
Carlos um contrato de arrendamento do imóvel, após a celebração do contrato de
compra e venda de tal imóvel, uma vez que aí já existiria uma causa jurídica válida, isto
é, o arrendamento para a detenção da coisa.

A posse de António aconteceu assim por tradição simbólica, nos termos do disposto na
alínea b), do artigo 1263.º do Código Civil.

Em relação a Bento espalhar na vizinhança que Carlos não era titular de qualquer direito
real e que não tinha legitimidade para aí viver, cabe referir que Carlos gozada da
presunção da titularidade do direito de propriedade sobre aquela fracção, nos termos
do disposto no número 1, do artigo 1268.º do Código Civil.

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Trata-se de uma presunção ilidível mediante prova em contrário.
Assim, Bento tinha o direito de uso e fruição daquele imóvel, enquanto possuidor de
boa fé, enquanto conteúdo essencial deste direito real de gozo.

Veja-se o artigo 1270.º em relação aos frutos da titularidade do possuidor.

Carlos, ao entregar o imóvel ao seu irmão perde a posse por cedência, nos termos do
disposto na alínea c), do número 1, do artigo 1267.º do Código Civil.
O cedente passa assim a ser o novo possuidor daquela fracção com tudo o que a
compõe.

Esta figura é algo semelhante à tradição da coisa, podendo a cedência, tal como a
tradição da coisa, ser material ou simbólica.

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