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Tentarei neste texto analisar alguns aspectos da obra Eros e Civilizaçao: uma
releitura filosófica de Freud do filósofo Hebert Marcuse, através do que acredito que
seja uma das controvérsias em relação a Freud fundadoras de sua obra e que o permite
fazer toda uma reelaboração ou duplicação conceitual dos conceitos do fundador da
psicanalise, transformando o caráter universal da teoria de Freud sobre a civilização em
possibilidades de aplicação histórica e sociológica. Visando conciliar na análise a
dimensão material da realidade em que os autores se inserem com a dimensão
propriamente teórica da controvérsia na obra e seus desdobramentos; e, levando-se em
conta a abordagem de Marcuse de buscar a importância dos pressupostos e elaborações
conceituais, assim como sua análise em certas passagens da evolução histórica
conceitual, a opção de basear a análise e utilizar ferramentas descritas por Dascal e
Koselleck se mostra interessante.
As controvérsias exercessem um papel crucial na teoria de Dascal para se captar
a ciência em seu momento operante, consistem em discordâncias pontuais de
intelectuais que chamam a atenção de diversas críticas e tem a capacidade de levantar
discussões para muito além do ponto fundacional, revendo-se metodologias,
pressupostos, utilização de conceitos, e gerando implicações que reverberam em outras
teorias. O autor identifica dois planos epistemológicos oponentes na ciência logico-
positivista, o plano normativo e o descritivo, ambos, em sua concepção, fracassaram em
suas aproximações por não abrirem espaço para a existência destas grandes
controvérsias – no sentido elaborado por Dascal -, tentaram ao contrário extingui-las ou
resolvê-las. Da exclusão da controvérsia do quadro teórico, resulta uma polarização de
todas as polêmicas em duas categorias por ele elaboradas ao lado das controvérsias: a
discussão, que de fato permite a identificação e correção de um erro seja esse
interpretativo, metodológico ou de outra natureza; e a disputa, em que a discordância
parte de pressupostos tão fundamentalmente distintos que não pode existir de fato o
confronto em uma questão especifica, pois envolvem diferentes concepções de mundo
incompatíveis, comprimir as controvérsias a uma dessas duas categorias é sob seu ponto
de vista uma perda notável.
O plano normativo, já mais consensualmente ultrapassado, aproxima-se da
lógica positivista como é correntemente abordada, pauta-se na certeza da possibilidade
de confirmação das teorias, como se fosse possível elencar um grau de confirmação a
cada teoria baseando-se nos fatos disponíveis. Popper reformula este paradigma
elaborando a noção da refutabilidade teórica: a aceitação da teoria depende da
persistência da mesma diante de várias tentativas de refutá-la. Ainda assim, a
abordagem é passível das críticas que posteriormente os autores descritivistas elaboram:
a normatividade pressupõe que as ideias surgem descontextualizadas e
despersonalizadas, como se os cientistas e o mundo intelectual fossem isentos de
interesses pessoais e estivessem unicamente interessados em contribuir para o progresso
científico, assim estas seriam suas únicas motivações ao confirmar ou refutar uma
teoria. A questão para Dascal, é que ao tentar tornar a ciência menos normativa e mais
aberta a interpretações causais extra-teoricas levando-se em consideração os contextos
teóricos, os possíveis interesses institucionais, ideológicos, econômicos e políticos por
trás do objeto, extinguem-se todos os crivos de atribuições causais e pode-se muitas
vezes cair na desqualificação de um determinado argumento simplesmente por sua
origem ou qualquer outro fator a priori, em vez de realmente se proceder uma análise e
qualificação.
Visando não cair em uma super-relativização de pontos de vista que não permita
quaisquer tentativas de objetividade diante de uma discordância ou ainda uma
ignorância do plano concreto aonde emergem as ideias e os seus sujeitos, é necessário
uma conciliação dos dois planos. Além das abordagens de levantamento do contexto
histórico, contexto de recepção da obra, contexto institucional, e a própria analise do
objeto teórico: a obra, todos em conjunto, Dascal e Koselleck tem uma solução
convergente para abarcar nas análises discursivas tanto o texto como o contexto do
debate: a linguagem. Os conceitos e pressupostos conceituais tem a capacidade de
remeter a diferentes significados relativamente à época, ao local, ou ainda à própria
lógica de pensamento do autor, dependendo do emprego ou ainda das definições
explicitas do autor. O próprio Marcuse entendia como a linguagem e as atribuições
conceituais tinham a capacidade de denunciar o contexto e as relações causais para além
da teoria:
“A mudança de significado, de pertinente aos sentidos para pertinente à beleza
e à arte, tem um significado muito mais profundo do que uma simples inovação
académica. A história filosófica do termo estética reflete o tratamento
repressivo dos processos cognitivos sensuais”.
E também compreendia como a linguagem pode funcionar como limitante às teorias,
suas reelaborações conceituais o permitiram dar voz e lógica ao seu vislumbre de
libertação do homem e da civilização, o que sob os conceitos universalizantes de Freud
não faria sentido. Este texto visa colocar a controvérsia abordada como ponto chave
para a abertura da teoria de Marcuse à sua elaboração de utopia, e estas reelaborações
conceituais como possibilitantes linguísticos para a coesão lógica de sua elaboração.
Da controvérsia
Da reelaboração conceitual
Da materialidade e do contexto
BOURDIEU, Pierre "O Campo Científico". In Renato Ortiz, org. Pierre Bourdieu -
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