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A controvérsia Freud-Marcuse como

possibilitadora: duas visões sobre a


civilização

Produção final da disciplina de História Intelectual


Bruna Perrotti, RA: 165088
Da teoria e epistemologia

Tentarei neste texto analisar alguns aspectos da obra Eros e Civilizaçao: uma
releitura filosófica de Freud do filósofo Hebert Marcuse, através do que acredito que
seja uma das controvérsias em relação a Freud fundadoras de sua obra e que o permite
fazer toda uma reelaboração ou duplicação conceitual dos conceitos do fundador da
psicanalise, transformando o caráter universal da teoria de Freud sobre a civilização em
possibilidades de aplicação histórica e sociológica. Visando conciliar na análise a
dimensão material da realidade em que os autores se inserem com a dimensão
propriamente teórica da controvérsia na obra e seus desdobramentos; e, levando-se em
conta a abordagem de Marcuse de buscar a importância dos pressupostos e elaborações
conceituais, assim como sua análise em certas passagens da evolução histórica
conceitual, a opção de basear a análise e utilizar ferramentas descritas por Dascal e
Koselleck se mostra interessante.
As controvérsias exercessem um papel crucial na teoria de Dascal para se captar
a ciência em seu momento operante, consistem em discordâncias pontuais de
intelectuais que chamam a atenção de diversas críticas e tem a capacidade de levantar
discussões para muito além do ponto fundacional, revendo-se metodologias,
pressupostos, utilização de conceitos, e gerando implicações que reverberam em outras
teorias. O autor identifica dois planos epistemológicos oponentes na ciência logico-
positivista, o plano normativo e o descritivo, ambos, em sua concepção, fracassaram em
suas aproximações por não abrirem espaço para a existência destas grandes
controvérsias – no sentido elaborado por Dascal -, tentaram ao contrário extingui-las ou
resolvê-las. Da exclusão da controvérsia do quadro teórico, resulta uma polarização de
todas as polêmicas em duas categorias por ele elaboradas ao lado das controvérsias: a
discussão, que de fato permite a identificação e correção de um erro seja esse
interpretativo, metodológico ou de outra natureza; e a disputa, em que a discordância
parte de pressupostos tão fundamentalmente distintos que não pode existir de fato o
confronto em uma questão especifica, pois envolvem diferentes concepções de mundo
incompatíveis, comprimir as controvérsias a uma dessas duas categorias é sob seu ponto
de vista uma perda notável.
O plano normativo, já mais consensualmente ultrapassado, aproxima-se da
lógica positivista como é correntemente abordada, pauta-se na certeza da possibilidade
de confirmação das teorias, como se fosse possível elencar um grau de confirmação a
cada teoria baseando-se nos fatos disponíveis. Popper reformula este paradigma
elaborando a noção da refutabilidade teórica: a aceitação da teoria depende da
persistência da mesma diante de várias tentativas de refutá-la. Ainda assim, a
abordagem é passível das críticas que posteriormente os autores descritivistas elaboram:
a normatividade pressupõe que as ideias surgem descontextualizadas e
despersonalizadas, como se os cientistas e o mundo intelectual fossem isentos de
interesses pessoais e estivessem unicamente interessados em contribuir para o progresso
científico, assim estas seriam suas únicas motivações ao confirmar ou refutar uma
teoria. A questão para Dascal, é que ao tentar tornar a ciência menos normativa e mais
aberta a interpretações causais extra-teoricas levando-se em consideração os contextos
teóricos, os possíveis interesses institucionais, ideológicos, econômicos e políticos por
trás do objeto, extinguem-se todos os crivos de atribuições causais e pode-se muitas
vezes cair na desqualificação de um determinado argumento simplesmente por sua
origem ou qualquer outro fator a priori, em vez de realmente se proceder uma análise e
qualificação.
Visando não cair em uma super-relativização de pontos de vista que não permita
quaisquer tentativas de objetividade diante de uma discordância ou ainda uma
ignorância do plano concreto aonde emergem as ideias e os seus sujeitos, é necessário
uma conciliação dos dois planos. Além das abordagens de levantamento do contexto
histórico, contexto de recepção da obra, contexto institucional, e a própria analise do
objeto teórico: a obra, todos em conjunto, Dascal e Koselleck tem uma solução
convergente para abarcar nas análises discursivas tanto o texto como o contexto do
debate: a linguagem. Os conceitos e pressupostos conceituais tem a capacidade de
remeter a diferentes significados relativamente à época, ao local, ou ainda à própria
lógica de pensamento do autor, dependendo do emprego ou ainda das definições
explicitas do autor. O próprio Marcuse entendia como a linguagem e as atribuições
conceituais tinham a capacidade de denunciar o contexto e as relações causais para além
da teoria:
“A mudança de significado, de pertinente aos sentidos para pertinente à beleza
e à arte, tem um significado muito mais profundo do que uma simples inovação
académica. A história filosófica do termo estética reflete o tratamento
repressivo dos processos cognitivos sensuais”.
E também compreendia como a linguagem pode funcionar como limitante às teorias,
suas reelaborações conceituais o permitiram dar voz e lógica ao seu vislumbre de
libertação do homem e da civilização, o que sob os conceitos universalizantes de Freud
não faria sentido. Este texto visa colocar a controvérsia abordada como ponto chave
para a abertura da teoria de Marcuse à sua elaboração de utopia, e estas reelaborações
conceituais como possibilitantes linguísticos para a coesão lógica de sua elaboração.

Da controvérsia

Freud compara o desenvolvimento da repressão instintiva nos níveis


ontogenético e filogenético, sendo que sua teoria do desenvolvimento da civilização,
contemplada pelo segundo, parte da elaboração psicológica da repressão instintiva
direcionada ao individuo (abarcada pelo primeiro). A transição do individuo do que ele
denomina principio de prazer, onde a satisfação precisa ser imediata, para o princípio
de realidade, quando o individuo tem a satisfação adiada e o prazer restringido em prol
de uma maior segurança, dá-se através do ego internalizando o mundo externo na
linguagem menos abrasiva possível, executa assim sua principal função de coordenação,
alteração e organização dos impulsos instintivos do id, neste processo a própria
substancia do prazer do individuo é alterada pelo principio de realidade.
Ontogenicamente, o processo ocorre na infância sendo este principio imposto pelos
próprios pais ou outros educadores, já em sua transposição para a teoria de civilização,
Freud elabora o conto da Familia Primordial para ilustrar a origem da repressão
civilizatória, que também teria início com os pais na infância, sendo ao longo do tempo
transposta à instituições sociais que incorporariam e reproduziriam a repressão.
A repressão instintiva então remonta as bases da civilização para Freud, e foi
transmitida ao longo dos séculos por estas instituições sociais que nunca poderiam ser
dissolvidas, e que por intensificarem no individuo o sentimento de culpa, causariam a
perda de felicidade, Freud afirma que este é o preço inevitável do progresso e a fonte do
mal-estar na civilização. É possível atribuir a diferença categórica nos sentidos das
elaborações de Freud e Marcuse, segundo o que Marcuse afirma na obra Eros e
Civilização, à uma discordância pontual que justificaria para Freud a arregimentação
repressiva dos instintos e impediria que um dia a civilização alcançasse uma libertação.
Para Freud, segundo Marcuse:
“No princípio de realidade está subentendido o fato fundamental de
Ananke ou carência (Lebensnot), o que significa que a luta pela existência tem
lugar num mundo demasiado pobre para a satisfação das necessidades humanas
sem restrição, renúncia e dilação constantes. Por outras palavras, qualquer
satisfação que seja possível necessita de trabalho, arranjos e iniciativas mais ou
menos penosos para a obtenção dos meios de satisfação das necessidades.
Enquanto o trabalho dura, o que, praticamente, ocupa toda a existência do
indivíduo amadurecido, o prazer é suspenso e o sofrimento físico prevalece. E
como os instintos básicos lutam pelo predomínio do prazer e a ausência de dor,
o princípio de prazer é incompatível com a realidade, e os instintos têm de
sofrer uma arregimentação repressiva.”
A carência ou escassez, Marcuse esclarece, já foi há muito tempo superada pela
civilização capitalista industrial, se sua ilusão persiste, é porque a distribuição da
escassez foi imposta por tal civilização, assim como o modo de trabalho, sob uma
racionalidade de dominação que não teve comprometimento algum com uma
distribuição coletiva visando as necessidades individuais, mas sim esteve ligada a
grupos interessados em manter sua estrutura de privilégios. O instrumento dessa
superação, a tecnologia, avançou durante o capitalismo industrial de forma que hoje
existem os meios necessários para que o homem não precise se dedicar a labuta e possa
desenvolver suas capacidades e vontades de forma livre desenvolvendo seus instintos. A
racionalidade, entretanto, que desenvolve esta tecnologia faz com que a civilização
caminhe na direção oposta, criam-se novas formas alienantes de necessidades, lazer,
trabalho, para que o sistema se mantenha como está, apenas se expandindo.
Esta discordância resulta do fato de Marcuse situar o individuo em seu tempo e
contexto específicos, rompendo com o universalismo freudiano e é o que o permite
elaborar as consequências da libertação e desenvolvimento dos instintos como
potencialidades de reversão da lógica repressiva, ou seja, um passo que Freud não deu.

Da reelaboração conceitual

As criticas à Freud de que este teria transformado contingências históricas em


necessidades biológicas, para Marcuse, possuem fundamentos e ainda que não
deslegitimem sua generalização, remetem ao filósofo à necessidade de retomar a
substância histórica dos conceitos freudianos, já que as instituições sociais do mundo
externo, assimilado na passagem do princípio de prazer para o de realidade, representam
e atingem agentes sociais específicos. A partir daí Marcuse realiza uma operação, em
suas palavras, de duplicação conceitual:
“Os termos freudianos, que não diferenciam adequadamente entre as
vicissitudes biológicas e as histórico-sociais dos instintos, devem ser
emparelhados com os termos correspondentes que assinalam o componente
histórico-social específico.”
A operação revela uma dicotomia que perpassa toda a obra de Eros e Civilização
e que se manifesta ainda em A Ideologia da Sociedade Industrial: a polarização do que
seria algo intrínseco a qualquer organização de sociedade, pois estaria associado à
natureza biológica instintiva, em oposição ao que seria algo específico e adicional,
modificado principalmente pela imposição do sistema capitalista industrial. Assim,
Marcuse torna os conceitos de Freud espécies de “tipos ideais” universais que nunca
foram puramente encontrados, mas sempre perpassaram os vários princípios de
realidade específicos, enquanto constrói os instrumentos linguísticos para abordar
dentro da teoria freudiana a superação deste princípio especifico e o vislumbre de um
próximo, em conformidade com o que propiciou sua discordância sobre a necessidade
da arregimentação repressiva dos instintos.
Na polarização abordada, em qualquer civilização, para Marcuse, que contasse
com uma mínima divisão do trabalho esperar-se-ia encontrar alguma espécie de
exercício de autoridade; a dominação, entretanto, difere de tal exercício e pressupõe
uma repressão adicional: denomina-se então para Marcuse mais repressão os controles
adicionais gerados pelas instituições específicas de dominação que podem constituir
desde valores, relações sociais até leis.
Diferentes modos de dominação corresponderiam então, a diferentes formas
históricas de princípios de realidade. Na tentativa de explicitar o teor de repressão na
civilização contemporânea, Marcuse busca enfocar as características especificas
historias do princípio de realidade denominando-o princípio de desempenho afim de dar
destaque ao fato de que, sob o seu domínio, a sociedade é estratificada de acordo com
os desempenhos econômicos concorrentes dos seus membros. Com esta denominação
coloca o princípio de realidade como um tipo puro universal referente à civilização em
qualquer contexto e momento e o princípio de desempenho como referente a um
contexto específico com agentes específicos. Com o conceito de mais-repressão,
Marcuse também acredita que se tem um possível instrumento para evidenciar os
diferentes graus de repressão nas civilizações.
Da possibilidade de Utopia

Marcuse tenta mostrar que a noção de libertação e constituição de uma


civilização não repressiva só era impossível para Freud devido a fatores exógenos à
natureza instintiva. Segundo Marcuse, a elaboração de Freud da eterna conflituosidade
entre os dois instintos básicos Eros e Thanatos não parece ser totalmente consistente,
pois surge e perpetua-se graças a Ananke (carência ou escassez). O Eros, instinto de
vida associado à sexualidade e que promove a união dos homens em formas sociais,
estaria sendo arregimentado pela civilização e inibido em suas finalidades para que sua
energia se transforme em energia produtiva que possa ser utilizada no trabalho, este
processo denomina-se sublimação do Eros, mesmo no ato sexual onde teoricamente
poderia se manifestar livremente, a energia é ainda canalizada para instituições como a
monogamia, ou restrita a finalidade reprodutiva devido a moral religiosa.
Com a sublimação do Eros, este perderia sua capacidade de subjulgar, segundo
Freud, a totalidade dos elementos destrutivos que estavam previamente combinados
com êle, e [tais elementos] são libertados na forma de inclinações para a agressão e a
destruição. Tais inclinações são a consequência do instinto básico Thanatos, instinto de
morte, que manifesta a tendência da matéria a voltar a sua origem propulsionando
impulsos agressivos que a conduziriam a tal. A agressão e destruição se não subjugadas
pelo Eros como ocorre com este reprimido, é canalizada em objetos que exerçam poder
sobre a natureza, como se assim também tais instintos fossem inibidos em sua
finalidade de forma produtiva. Neste ponto surge uma discordância de Marcuse em
relação à leitura corrente, parece a ele que estes impulsos agressivos não sofreram uma
arregimentação e sublimação tão intensivas quanto Eros, afinal sua lógica é condizente
com a lógica do progresso civilizatório, destruição extrovertida não deixa de ser
destruição, e o progresso tem frequentemente se associado ao aniquilamento da vida e
da natureza através do avanço tecnológico.
Como dito, Marcuse aponta estes processos de arregimentação e sublimação
como determinados por fatores externos:
O fator aqui é Ananke, a luta consciente pela existência. Impõe os
controles repressivos dos instintos sexuais (primeiro, através da violência brutal
do pai primordial; depois, através da institucionalização e da internalização),
assim como a transformação do instinto de morte em agressão e moralidade
socialmente úteis. Essa organização dos instintos (realmente, um longo
processo) cria a divisão civilizada do trabalho, o progresso, a lei e a ordem;
mas também deflagra a cadeia de eventos que conduz ao progressivo
enfraquecimento de Eros e, por conseguinte, ao desenvolvimento da
agressividade e do sentimento de culpa. Vimos que esse desenvolvimento não é
inerente à luta pela existência, mas tão somente à sua organização opressiva; e
que, no presente estágio, a conquista possível da carência torna essa luta ainda
mais irracional.
Colocada essa questão de que a repressão instintiva já se prova irracional, pois
só se legitima devido a fatores externos à natureza instintiva e ultrapassados em sua
visão, Marcuse considera que a solução se encontra na própria elaboração freudiana da
teoria instintiva. Como a libido tem a capacidade de subjugar os instintos repressivos, o
destino destes dependem necessariamente do destino de Eros. Por consequência, a
hipótese de civilização não repressiva depende da demonstração de que a sexualidade
pode ser qualitativamente transformada no contexto da civilização amadurecida.
Já que a repressão da sexualidade visa transformar o individuo em um
instrumento socialmente produtivo, a redução do trabalho em tempo e energia, ou seja, a
redução da nova finalidade a qual o Eros foi repressivamente sublimado, associada a
não manipulação do tempo livre, abalaria as bases da repressão e a libido se libertaria.
Conforme a divisão do trabalho se reorientasse para a satisfação das necessidades
individuais o corpo deixaria de ser objetificado e seria ressexualizado como um
instrumento de prazer, e as instituições da monogamia e da família patriarcal se
desintegrariam. Sob a visão da racionalidade civilizatória atual este processo parece
caótico e irracional, entretanto Marcuse adverte que a própria emancipação da
civilização para uma realidade não-repressiva envolve uma regressão da razão objetiva,
seria ainda uma regressão, mas à luz da consciência madura e guiada por uma nova
racionalidade.
A idéia do caos e descontrole é gerada pela associação da libertação do Eros
sob esta nova racionalidade à uma explosão de sexualidade reprimida sob as instituições
de dominação, situação facilmente encontrada em distúrbios e em situações extremas,
que pode ainda estar associadas às formas coercivas e destrutivas da sexualidade
fomentadas pela cultura repressiva. Na lógica da libertação do Eros, a sexualidade passa
pela auto-sublimação, que permitiria a tendência dos instintos para relações livres e
duradouras:
O termo implica que a sexualidade pode, sob condições específicas,
criar relações humanas altamente civilizadas sem estar sujeita à organização
repressiva que a civilização estabelecida impôs ao instinto. Tal auto-sublimação
pressupõe o progresso histórico para além das instituições do princípio de
desempenho, as quais, por sua vez, permitiriam a regressão instintiva.

Da materialidade e do contexto

Aparentemente a concretização de uma utopia econômica, as décadas de 1950 e


1960 impactaram o mundo de forma irreversível, as heranças do desenvolvimento
tecnológico acelerado promovido pelas pesquisas de tecnologia militar começam a se
manifestar. Convertidas em tecnologia para o uso civil, elas não só revolucionam a vida
do cidadão médio proporcionando-lhe o conforto de vários eletrodomésticos, televisão,
computador, como transformam todo o aparato de produção. O consumismo e a
superprodução estão cada vez mais presentes, e manifestam uma relação paradoxal com
a contracultura emergente, e uma juventude estudantil politicamente ativa em formação,
é neste contexto que Hebert Marcuse está inserido.
O filósofo concluiu seu doutorado na Alemanha e dez anos mais tarde se mudou
para os Estados Unidos fugindo da ascensão nazista em 1940, se deparava então com
essas questões enquanto escrevia Eros e Civilização, em 1955, e sua crítica da
sociedade industrial, A Ideologia na Sociedade Industrial, em 1964. Com todas as
pulsões vindo à tona e cobrando maior liberdade individual em manifestações contra um
sistema alienante e opressor, sua teoria acaba por dialogar com os movimentos
emergentes e ele se torna um defensor ávido das manifestações contra a Guerra do
Vietnã e contra as repressões sociais diversas que se manifestavam no cotidiano. O
resultado deste diálogo é que a teoria de Marcuse nos Estados Unidos foi disseminada
para muito além dos acadêmicos da Universidade de Harvard onde lecionava Ciência
Política, suas aparições em veículos de massa eram frequentes e ele é considerado na
década de 60 o “pai da nova esquerda”.
Segundo Bourdieu, a luta pela autoridade cientifica, espécie de capital social,
tem por principal característica a de ter como possíveis clientes seus principais
concorrentes: quanto mais autônomo for o campo, mais a validação e legitimação
científica das produções fica inscrita no próprio circulo restrito de acadêmicos que
compartilham do mesmo objeto, diversos mecanismos atuam para que isso se mantenha,
a linguagem e os jargões inacessíveis a alguém de fora são um exemplo. Aquele que
busca uma legitimação exteriormente ao campo científico para suas produções, só pode,
segundo o autor, atrair sobre si o descrédito deste campo. Seguindo este raciocínio fica
fácil entender porque a recepção da teoria de Marcuse na academia foi tão negativa,
ainda hoje por vezes é mais considerado um ensaísta polêmico do que um filósofo de
vasta e complexa obra.
Outro fator que com certeza influiu negativamente em sua recepção foi o fato de
ter adentrado em um “território proibido” dentro da crítica marxista: o de desenhar a
utopia de uma sociedade para além do capitalismo e da repressão, o tabu pode se dever
à influência de uma leitura pobre do materialismo histórico que não permite aceitar que
as idéias influenciam a realidade. Como afirma Martin Jay:
Whatever the source of the taboo, only Marcuse of the major figures
connected with the Frankfut School has dared in recente years to break it. Only
Marcuse has tried to speak the unspeakable in an increasingly urgent effort to
reintroduce a utopian cast to socialista theory. Eros and Civilization was his
first attempt to outline the contours of the society beyond repressive domination.
Estes fatores têm de ser levados em consideração na análise das críticas feitas ao
autor. Uma das críticas em particular que Eros e Civilização sofreu foi a de que
Marcuse teria tentado por de acordo a teoria freudiana com as categorias do marxismo,
e neste processo teria caído em uma redução de Freud à Marx, alguns ainda afirmam
que a tentativa de união dos dois autores de fato ocorreu, mas não a redução, pois
Marcuse mostra categorias críticas na psicanálise que não estavam contidas no
marxismo, e ainda há quem diga que a mera associação dos dois autores na obra (que
nunca foi nominalmente realizada por Marcuse) é falsa, já que o procedimento de
Marcuse era mostrar os conceitos históricos sociais que já estariam implícitos na
psicanálise. As leituras de aproximações das reelaborações conceituais de Marcuse com
conceitos marxistas, entretanto, só são interessantes na medida em que não são
reducionistas do pensamento do autor.
Referencias

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