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1.

Amanda tinha 16 anos, Rodrigo, 18. Hormônios, álcool, tesão. Na quebrada, um canto, corpos no
chão. Dois meses depois. Rodrigo, o que eu faço? Não sei, nem sei se o filho é meu. Rodrigo, eu era
virgem. E eu como eu vou ter certeza. Amanda não terminou a escola, o pai evangélico deixou bem
claro que lugar de puta é na rua. Agulha de crochê. O feto entupiu o encanamento de um dos
prédios do conjunto habitacional. Hoje, nove meses depois, Amanda está morta. Rodrigo
acompanha os jogos da rodada no boteco perto de sua casa.
2.
Renata mora no Morumbi. 30 anos. Vida feita. Conheceu Oswaldo em um jantar. Mulher culta, não
usa pílula por causa dos efeitos colaterais. Quero continuar magra. A camisinha fura. Não tem
problema, tenho um contato. Muita discrição e milhares de reais, clínica de fachada em Moema.
Renata continua magra, está se tratando com um psicoterapeuta da moda. Nunca mais Oswaldo
ligou...
3.
Ana luta para pagar o aluguel do apartamento em Pinheiros. Entre as indas e vindas da faculdade e
do trabalho, conheceu Jorge. A pílula tem 1% de chance de falhar – constata Ana ao ver o resultado
do teste da farmácia. Jorge diz que a apoiará em tudo. Ela se arrepende de ter cedido a pressão para
não usar camisinha, mas tava tão gostoso... Ela atrasa o aluguel para comprar Citotec que Jorge
conseguiu com um amigo. Fica internada por causa de complicações no hospital.Enfermeiros e
médicos a maltrataram muito quando notaram do que se tratava, isso gerou mais complicações de
saúde ainda. Hoje Jorge procura ajuda para Ana que há meses não sai de casa por causa da
depressão.
4.
Clara foi morar com a tia quando a mãe faleceu. Nunca soube quem era seu pai. Sua mãe sempre
disse a Clara que ela era filha de um estupro e por isso a odiava. A tia nunca conseguiu trazer Clara
para perto dela. Hoje Clara está viciada em crack como sua mãe. Já se prostituiu para comprar pedra
e por isso acabou engravidando. Seu tio, religioso, disse que não ia cuidar de outra criança perdida.
Clara tentou pedir ajuda em outros lugares, mas acabou se jogando na linha do trem. O bebê em sua
barriga sobreviveu. Levaram o bebê prematuro e doente para um abrigo. Claudio e Jonas tentaram
adotar a criança. Não conseguiram por serem um casal homoafetivo.
5.
Joana é pastora. Criou seus filhos dentro da palavra do Senhor. Principalmente Mariana, sua filha
caçula. Na igreja Mariana conheceu Caio quando tinham 14 anos. Mariana não entendia muito bem
porque Jesus podia ser contra algo tão gostoso. A barriga de Mariana começou a crescer até ela não
esconder mais. Quando sua mãe percebeu, ela já estava grávida de 4 meses. Sua mãe vendeu o carro
que havia comprado e a mandou para outro estado em uma clínica de um conhecido. Mariana hoje é
assídua frequentadora do culto em seu bairro, mas continua sem entender porque Jesus é contra,
porém aceitou, assim como aceita as agressões de seu atual marido. Caio tem dois filhos de duas
mães diferentes. Não registrou nenhum deles.
6.
Cleusa sustenta seus quatro filhos com o dinheiro que ganha da limpeza. Como na Cohab é mais
fácil conseguir Citotec que em Perdizes, ela arrumou os comprimidos pra uma de suas patroas,
Aline, que é casada. Aline não planejava mais um filho e o orçamento da família vai ficar muito
apertado com mais um bebê. Aline e Sandro decidem interromper a gravidez. Aline estava muito
abalada quando foi à clínica particular fazer a raspagem no útero. Sandro estava muito tranquilo e
agradeceu a faxineira pela ajuda. No domingo durante a missa agradeceu também a Deus por haver
resolvido o problema. Aline chora de vez em quando, mas é só beber um vinho e um rivotril que
passa.
7.
Jéssica voltava da escola no Jardim Miriam quando dois homens a pegaram. Chegou em casa toda
machucada, sangrando. Seus pais disseram que ela não deveria voltar pelo caminho do terreno
aquela hora sozinha. Não deram queixa. Jéssica notou depois de algumas semanas que seu corpo
estava diferente. Conversou com as amigas. No banheiro tentou limpar o sangue e jogar fora a
agulha que usou. Desmaiou antes. Seu pai quando a viu entendeu o que estava acontecendo. Deixou
a filha sangrando antes de socorrê-la, para aprender. Hoje Jéssica gostaria de ter um filho com seu
marido. Não pode mais.
8.
Eduardo no bar vê Dona Diva passar na rua com muita dificuldade por causa da idade e dos
inúmeros problemas físicos que tem. Não lembra mais o nome da filha dela. Na época, ele disse pra
menina que assumiria a criança, mas não poderia ajudar com mais nada além do nome. Custou a
acreditar quando chegou à casa de Dona Diva e encontrou a filha dela, morta, numa poça de sangue
com um pedaço de arame do lado de seu corpo. Ela era tão bonita. Por que ela fez isso? Seria
difícil, mas ela e sua mãe iam conseguir criar a criança. Dona Diva não criou cinco filhos sozinha?
Falei pra não fazer, Eduardo pensa, mas a escolha foi dela. O corpo é meu - como a novinha gostava
de dizer - o corpo era dela, azar o dela, conclui, enquanto dá mais um gole na sua cerveja gelada.

A cada dois dias, uma mulher morre vítima de aborto inseguro no Brasil. Todos os anos, ocorrem 1
milhão de abortos clandestinos.

São 250 mil internações no SUS (Sistema Único de Saúde) e R$ 142 milhões gastos por causa de
complicações pós-aborto.

Uma em cada cinco mulheres até os 40 anos já abortaram no país, segundo a Pesquisa Nacional do
Aborto, desenvolvida pela Anis – Instituto de Bioética.

As mulheres que abortam são, em geral, casadas, já têm filhos e 88% delas se declaram católicas,
evangélicas, protestantes ou espíritas.

Cerca de 20 milhões dos abortos são realizados no mundo de forma insegura todos os anos,
resultando na morte de 70 mil mulheres, sobretudo em países pobres e com legislações restritivas ao
aborto.

97% dos abortos clandestinos ocorrem em países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, 80% dos
países desenvolvidos permitem o procedimento.

Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde e do Instituto Guttmacher (EUA), publicada em


2016, demonstrou que nos países em que o aborto é proibido o número de procedimentos não é
menor do que em lugares onde é legalizado.

Em 2007, Portugal autorizou o aborto até as 10 semanas de gestação. Dez anos depois, pesquisa da
ONG Associação para o Planejamento da Família mostra que o número de abortos caiu e as mortes
decorrentes da prática são quase nulas. Na década de 1970, eram 100 mil abortos, sendo que 2%
deles resultavam em morte, enquanto dados de 2008 mostram que o país registrou 18 mil abortos e,
hoje, este número está em queda constante.

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