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PRODUÇÃO CAPITALISTA
RESUMO: Este artigo tem como objetivo refletir sobre as concepções de pobreza e seu
enfrentamento pela sociedade capitalista, como uma expressão da “questão social. Para tanto,
recorremos à pesquisa bibliográfica, tendo como orientação de estudo a compreensão da pobreza e da
“questão social” no modo de produção capitalista. Partimos de autores como Siqueira (2013), Netto
(2006 e 2007), Montaño (2012) aproximando-nos de seus debates referentes à concepção marxista da
pobreza e seus enfrentamentos, as concepções da pobreza na sociedade capitalista, perpassando pela
análise no capitalismo concorrencial, monopolista e na ordem neoliberal e o modo como a “questão
social” foi tratada em cada período. Nesse sentido,argumentamos sobre a exponenciação da “questão
social” na ordem social contemporânea e os seus rebatimentos nas condições de vida da população
trabalhadora, cujos direitos sociais historicamente conquistados estejam sendo dilapidados pelo êxito
da ofensiva do capital; é exatamente nas lutas sociais que depositamos a possibilidade de inversão
desta para outra sociabilidade.
PALAVRAS-CHAVE: Pobreza; questão social; modo de produção; acumulação capitalista.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo aprofundar o debate desenvolvido no âmbito da
disciplina do curso de Serviço Social, de Núcleo Temático de Seguridade Social: cujo tema
para o ano letivo de 2014 é a organização dos/as trabalhadores/as do Sistema Único da
Assistência Social –SUAS.
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Discente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE. Discente da
Disciplina de Núcleo Temático de Seguridade Social: Organização dos Trabalhadores/as do Sistema Único
Assistência Social-SUAS. E-mail: alessandra_orlandini@hotmail.com
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Discente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE. Discente da
Disciplina de Núcleo Temático de Seguridade Social: Organização dos Trabalhadores/as do Sistema Único
Assistência Social-SUAS. E-mail: carlacaio2011@hotmail.com
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Docente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE. Membro do
Grupo de Pesquisa: Fundamentos do Serviço Social:trabalho e questão social. E-mai: crikonno@gmail.com
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Discente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE. Discente da
Disciplina de Núcleo Temático de Seguridade Social: Organização dos Trabalhadores/as do Sistema Único
Assistência Social-SUAS. E-mail: taynadiass@hotmail.com
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Propomos-nos a discutir os fundamentos da pobreza na sociedade capitalista como
manifestação da “questão social”, portanto, sua relação vinculada ao modo de produção capitalista.
Para tanto usamos da pesquisa bibliográfica tendo como referência o debate realizado por
Siqueira(2013), que dialoga sobre a leitura marxista da pobreza. Na sequência, refletimos sobre as
concepções e pobreza e seu enfrentamento na sociedade capitalista: capitalismo concorrencial,
capitalismo monopolista e o no seu atual estágio neoliberal/financeiro.
Para tanto partimos da premissa que a pobreza é ineliminável à ordem social vigente,
sendo não produzida e reproduzida pela mesma, mas necessária para a expansão da
acumulação capitalista.
Nesse sentido, consideramos a pobreza e as desigualdades como expressões da
“questão social” que na ordem social contemporânea encontra-se exponenciada pelo êxito
alcançado pelo capital, frente à intensificação da exploração de parte dos trabalhadores que se
encontram inseridos formalmente no mercado de trabalho e ao simultâneo empobrecimento de
outra parte que se encontram em condições precárias de trabalho ou exercendo atividades
degradantes. Para além disso, estamos certos da pressão que o desemprego provoca não só
pela concorrência aos demais trabalhadores, como na tendência da queda dos salários. Os
trabalhadores, empregados ao se depararem com um salário insuficiente para satisfazer suas
necessidades e de sua família, sofrem com o processo de empobrecimento.
A abordagem recorre aos autores como José Paulo Netto, Carlos Montaño, Marcelo
Braz, bem como as referências que respaldam o debate da “questão social” e política social
na área de serviço social.
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da acumulação capitalista”.5 Para tanto, a autora parte dos seguintes pressupostos: de que a
pobreza só pode ser explicada no âmbito da sociedade capitalista dada a sua contradição
fundamental - a produção social da riqueza pelos trabalhadores e a apropriação privada dessa
riqueza pelos capitalistas – e o conseqüente processo de luta de classes, deflagrando a
denominada “questão social”; para a compreensão da “questão social” é necessário conhecer
as determinações postas pelo modo de produção capitalista e as formas de enfrentamento
propostas pelo Estado/sociedade civil, considerando a ordem social contemporânea (a
financeirização do capital).
Com as análises empreendidas acima, a pobreza não é um fenômeno isolado,
individual ou meramente conjuntural, pelo contrário, requer relacioná-la com as
particularidades que assume na sociedade capitalista. Dessa forma, a mesma não é resquício
de sociedades pré-capitalista, sendo produto de um desenvolvimento insuficiente, mas sim,
como resultado do próprio capitalismo, que, de um lado, engendra o processo de acumulação
e, simultaneamente, por outro, produz a pauperização absoluta e relativa. Ou seja, o aumento
da riqueza socialmente produzida, não só não reduz a pobreza, como pelo contrário, a produz
e amplia – quanto maior o desenvolvimento capitalista, maior a pauperização. Portanto, a
pobreza não é um fenômeno residual e/ou transitório do capitalismo, mas é inerente ao seu
desenvolvimento, portanto, é estrutural.
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SIQUEIRA, Luana. A leitura marxista sobre a pobreza: a outra face da acumulação. In: Pobreza e
Serviço Social: diferentes concepções e compromissos políticos. São Paulo: Cortez, 2013. (161-
164).
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Tal questão explica-se com o avanço das forças produtivas, pois a mudança qualitativa na
produção mecanizada, acaba por expulsar parte da força de trabalho do processo de produção, ao
mesmo tempo em que a expansão qualitativa das fábricas absorve força de trabalho.
À medida que há o avanço das forças produtivas, há uma crescente diminuição da necessidade
do capital variável. (...) Mas a verdade é que a acumulação capitalista tende a produzir uma
população trabalhadora supérflua, isto é, que ultrapassa as necessidades médias de expansão do
capital, tornando-se, desse modo, excedente (SIQUEIRA, 2013 p.165).
Nesse sentido, os sujeitos que (...) se submete a este fenômeno de expulsão e exclusão de
mercado de trabalho, da possibilidade de vender a sua força de trabalho, se insere num
processo de empobrecimento ou pauperização absolutos, sem conseguir obter pelos seus
próprios meios os bens e serviços para sua reprodução, individual e familiar. (SIQUEIRA
apud MARX, 2013, p.173).
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e de microcrédito, resultando em iniciativas paliativas, já que permanece intocável os
fundamentos do problema.
Afirma a mesma, que a pauperização absoluta não se constitui apenas pelos
trabalhadores desempregados, pois, se um dos efeitos do exército industrial de reserva,
conforme já mencionamos, é a queda do salário, este (o salário) torna-se insuficiente para
suprir as necessidades do trabalhador e de sua família, degradando as suas condições de vida,
ou seja, sofre o processo de pauperização absoluta.
Quanto à pauperização relativa, a autora, caracteriza pelo seu estudo, “como um
processo de progressivo aumento da distância entre o valor produzido pelo trabalhador e a
parcela dessa riqueza produzida da qual se apropria” (SIQUEIRA, 2013 p.173). Ainda que o
trabalhador tenha um salário capaz de garantir ótimas condições de vida, sua parte da riqueza
será sempre menor em relação a riqueza total produzida.
Por estas considerações, corroboramos com a obra aqui estudada que a pobreza é
inerente e fundamental ao modo de produção capitalista, sendo, portanto, ineliminável. Ao
aumento da riqueza, aumenta-se a pobreza. Esta relação, independente das condições
econômicas, em todos os espaços que se desenvolver a acumulação capitalista, o resultado
sempre será a polarização riqueza/pobreza. São estas condições que fazem perdurar o modo
de produção capitalista – a permanência da lei geral de acumulação – o que nos remete ao
debate da “questão social” fundada no capitalismo.
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Após dois séculos, em 1834, um outro tratamento passa a ser desenvolvido a partir do
pensamento de Malthus, que entende que a beneficência estimula os costumes e hábitos dos
pobres. O sujeito que recebe a assistência acomoda-se reproduzindo a sua condição de
pobreza. Logo, no lugar de ações filantrópicas/assistenciais, para o tratamento da pobreza,
desenvolve-se ações de repressão e reclusão. “A ideológica expressão de “marginal” começa a
adquirir uma conotação de “criminalidade”. O pobre, aqui identificado com “marginal”, passa
a ser visto como ameaça à ordem (MONTAÑO, 2012 p. 273). Neste momento ocorre a
separação entre pobre – ao qual destina-se ações assistenciais por mendicância e vadiagem e o
trabalhador, ao qual destina-se os serviços de saúde e previdência social.
Na expansão do capitalismo monopolista, no segundo pós-guerra, predomina-se a produção
fordista permeada pela organização e luta dos trabalhadores, obrigando o capital a desenvolver
estratégias que incorporassem as necessidades e demandas da classe trabalhadora.
O capital utiliza-se de mecanismos extraeconômicos, exigindo que o Estado assumisse
funções condizentes a esta fase de acumulação capitalista. O Estado age inibindo e
institucionalizando os conflitos sociais da classe trabalhadora.
A “questão social” passa a ser internalizada na ordem social, sendo que agora não
mais era tida como um problema individual, mas como conseqüência do insuficiente
desenvolvimento social e econômico. Deixa de ser tratada como caso de polícia para ser
tratada como caso de políticas sociais. E como tal, passa a ser segmentada e fragmentada em
setores, emergindo as políticas sociais setoriais: educação, saúde, moradia, etc.
Assim a pobreza e a miséria como expressões da “questão social” são compreendidas
como um problema de distribuição do mercado, cujas ações do Estado deve intervir para
amenizar/compensar esse descompasso. Para dar conta do desemprego e seus desdobramentos
sobre as condições de vida da população, o Estado intervém tanto respondendo às
demandas/necessidades reclamadas pelos trabalhadores, sobretudo os desempregados, ao
mesmo tempo em que cria condições para a produção e consumo, mediante as políticas
sociais, permanecendo intocável os fundamentos da ordem do capital.
No contexto da ordem neoliberal, o pauperismo é retomado como um problema
individual-pessoal, devolvendo-o à filantropia, cuja responsabilidade de tratamento, se dá
mediante intervenção social, calcada em pilares como: voluntariado, solidariedade,
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autoajuda; substituindo o que o processo de lutas sociais historicamente garantiu – os direitos
sociais, como dever do Estado e direito do cidadão.
Outro determinante é o entendimento que concebe a pobreza como um problema de
distribuição, ou seja, vincula-a a um déficit de oferta de bens e serviços como se fosse um
problema de escassez.
A atual estratégia de enfrentamento da pobreza é diferente da concepção clássica,
distinta então da perspectiva pós 1835 que pensou o pauperismo como mendicância e crime,
tratando-o com repressão e reclusão. Diferente também da perspectiva posterior que
considerou a pobreza/pauperismo como um problema social decorrente do desenvolvimento
econômico social, tratando-a sistematicamente mediante a implantação de políticas sociais,
por meio de fornecimento de bens e serviços.
Tal estratégia se baseia em uma intervenção tripla: a primeira desenvolvida pela ação do
Estado, quem implementa políticas sociais destinadas à população mais empobrecida, sendo estas
focalizadas, precarizadas e regionalizadas; a segunda ação, refere-se a mercantil, desenvolvida pelas
empresas, voltada para a população consumidora com poder de comprar no mercado os serviços
sociais, então como mercadoria e a terceira ação, desenvolvida pelo terceiro setor, abrange a
população que não foi atendida nos dois casos anteriores, mediante ação filantrópica.
CONCLUSÃO
O processo de ofensiva do capital advém da desconstrução do Estado de Bem-Estar
Social, implantado no segundo pós-guerra, combinado com a repressão do movimento
sindical europeu, bem como ao colapso da União Soviética e do bloco socialista,
acompanhados da reestruturação produtiva e dos processos que redimensionaram a economia
capitalista, quais sejam: a privatização, a desregulamentação e a flexibilização, alavancando o
capitalismo para a cena contemporânea, marcada peal financeirização.
Podemos pensar que o êxito da ofensiva do capital sobre o trabalho na atual ordem
societária, demarca a liquidação de um capitalismo democrático, também nos revela,
conforme NETTO (2007) a incompatibilidade de uma vinculação entre o capitalismo e a
supressão da “questão social” e suas manifestações como a pobreza e as desigualdades. Pois
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indica que o capitalismo suporta cada vez menos reformas que viabilizam e fortalecem os
direitos sociais.
Logo, corroboramos com NETTO (2007) quando este assinala que este estágio do
capitalismo não previu a exponenciação das expressões da “questão social”, tornando-se
flagrante o desastre social referente às condições de vida classe trabalhadora e subalterna, a tal
ponto em que a aplicação dos planos de ajuste econômico e social do capital se viu impelido a
“correções de rota”. Pois, as mesmas instituições internacionais que patrocinaram as políticas
de ajuste, revelaram-se preocupadas com o agravamento do quadro social, sobretudo em
relação à pobreza, admitindo riscos políticos contidos no agravamento das tensões sociais.
A “questão social” marcada pelas sua primeira manifestação no pauperismo,
permanece presente na sociedade capitalista, ampliando-se para outras dimensões das
desigualdades sociais, assumindo novas expressões: violência urbana, conflitos etinos/raciais
e culturais, de gênero, religioso; “seja pela refuncionalização de velhas práticas sociais
submetidas à lógica contemporânea da acumulação e da valorização (trabalho escravo, tráfico
humano, prostituição, turismo sexual), seja pela emergência de fenômenos, que vinculam-se
aos padrões de globalização” (NETTO, 2007 p.156)
Para aprofundarmos o debate o autor acima reforça nossas considerações anteriores
onde concebemos a pobreza e, portanto, as desigualdades sócias, constitutivas da ordem do
capital, podendo variar seus níveis e padrões, a depender das políticas implementadas no
combate à pobreza e as desigualdades. Aborda sobre os programas sociais de combate à
pobreza os seguintes traços:
Por isso considera que o impacto dessas ações tem obtido resultados pouco efetivos,
uma vez que não podem evitar a redução da pobreza, confirmam o crescimento cada vez
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maior da pobreza o que torna-se uma ameaça a ordem, as respostas às manifestações das
expressões da “questão social” tem conjugado o assistencialismo com a repressão policial.
Para NETTO (2007), embora não vivenciamos respostas democráticas e
humanistas, não podemos admitir o triunfo do capitalismo sem confrontos e resistências,
supondo que as lutas sociais tenham sido vencidas. Pois, se houve êxito do capitalismo,
concomitante houve luta de classes, pois não há como admitir um capitalismo sem classes
sociais, cujas resistências alimentadas pelo caráter antidemocrático e prejudicial à
humanidade, se colocarão na contemporaneidade rebeladas pelas novas contradições.
REFERÊNCIAS
CFESS, Conselho Federal de Serviço Social. ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS DO/A ASSISTENTE
SOCIAL: EM QUESTÃO. Ano de 2012.
NETTO, José Paulo & BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. São Paulo.
Editora Cortez, 2006.
MONTAÑO, Carlos. Pobreza, “Questão Social” e seu Enfrentamento. In: Revista Serviço Social e
Sociedade. São Paulo. Editora Cortez, n.110. 2012.
TONET, Ivo. . Cidadania ou emancipação humana?. Revista Eletrônica Espaço Acadêmico, Maringá -
PR, v. 44, 2005. Disponivel em: http://www.espaçoacademico.com.br/044/44ctonet.htm. Visualizado
em 17 de junho de 2012.
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