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ESPECIAL / LEGISLAÇÃO DE INCÊNDIO

EXIGÊNCIAS
CONTRA INCÊNDIOS
Atualização e
padronização de
leis e normas são
fundamentais para
elevar a segurança
contra incêndio
no Brasil
BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM

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P ode um empreendedor, ao instalar
um sistema de proteção contra in-
cêndio em uma edificação, ter a sua
disposição uma série de regulamentos téc-
seguir. Mesmo assim, um esboço do que
pode vir a ser o código nacional de prote-
ção contra incêndio será, enfim, regulamen-
tado. Talvez em 2010, ainda. “Vamos fazer
nicos e, mesmo assim, enfrentar dúvidas um código com as condições básicas de se-
sobre que parâmetros utilizar? No Brasil, gurança, mas cada estado terá suas diferen-
pode. Essa é realidade nacional da segu- ças”, adianta.
rança contra incêndio, estabelecida por uma O código nacional é uma evolução natu-
série de códigos estaduais, regulamentos ral de um setor em constante aprimoramen-
municipais, normas técnicas, norma regula- to. Na última década, mais estados estabe-
mentadora e instruções técnicas dos cor- leceram leis e normas de proteção contra
pos de bombeiros. incêndio, enquanto outros revisaram seus
Apesar da variedade de legislações, inves- regulamentos técnicos. Há quem adote co-
tir em diferentes regiões do Brasil esbarra mo modelo o regulamento do estado de
na falta de padronização dos critérios de São Paulo, considerado como um dos mais
dimensionamento e das tabelas de exigên- completos e exigentes do Brasil. O código
cias. Os conflitos entre os textos norma- paulista também utiliza normas técnicas
tivos resultam na instalação de sistemas dis- elaboradas pelo CB-24/ABNT. O comitê
tintos de proteção, como extintores, hidran- possui um conjunto de mais de 60 normas
tes, sinalização e iluminação de emergên- que definem critérios de requisitos e dimen-
cia, detecção e alarme de incêndio. sionamento de itens de segurança contra
Assim, uma construtora poderá implan- incêndio.
tar projetos de segurança contra incêndio Jorge Alexandre Alves, especialista em
diferentes em edificações similares, apesar combate a incêndios e emergências e dire-
de atender a legislações oficiais, o que é visto tor da Fire & Rescue College Brasil, desta-
como inadmissível pelo engenheiro José ca entre as normas brasileiras a NBR 15219
Carlos Tomina, superintendente do CB-24 (Plano de emergência contra incêndio), a
(Comitê Brasileiro de Segurança contra In- NBR 14276 (Brigada de Emergências) e a
cêndio), da ABNT (Associação Brasileira NBR 14608 (Bombeiro Profissional Civil)
de Normas Técnicas). “O fogo é o mesmo como textos referência para o melhor
em qualquer localidade”, enfatiza. “Por e- dimensionamento de recursos e prepara-
xemplo: se for aceito como correto que os ção para resposta a incêndios.
shoppings centers devem ser protegidos Historicamente, a evolução dos regula-
por sistemas de chuveiros automáticos, tan- mentos de proteção contra incêndio é moti-
to faz se o empreendimento for construído vada por tragédias. De grandes incêndios
no Sul ou no Norte do País, já que os seus saíram ideias de aperfeiçoamento dos crité-
ocupantes estarão expostos aos mesmos rios de segurança e, a partir deles, aumenta-
riscos”, exemplifica. ram as exigências e reduziram as ocorrências.
Thiago Palácio John, capitão do CBMDF Marco Aurélio Rocha, técnico em emer-
(Corpo de Bombeiros Militar do Distrito gência com materiais perigosos, bombeiro
Federal), mestre e doutorando em Geren- profissional civil e especialista em incên-
ciamento de Incêndios e Emergências, re- dio estrutural e petroquímico, lembra que
força que a maioria das normas de prote- as primeiras legislações com parâmetros de
ção contra incêndio é baseada em fatos ci- prevenção de incêndio e de resposta a es-
entíficos e em experimentos, os quais de- sas ocorrências foram criadas na década de
vem ser válidos para qualquer estado ou 70: o Código de Segurança contra Incên-
município. “A jurisdição, nesse caso, é dio e Pânico do Rio de Janeiro, em 1976, e
irrelevante”, salienta. a NR 23 (Norma Regulamentadora de Pro-
Segundo o presidente da Ligabom (Liga teção Contra Incêndio, do Ministério do
Nacional dos Corpos de Bombeiros) e co- Trabalho e Emprego), que é de 1978. Se-
mandante do CBMPE (Corpo de Bombei- gundo ele, os dois regulamentos carecem
ros Militar de Pernambuco), coronel Carlos de atualização, o que também dificulta a a-
Eduardo Poças Amorim Casa Nova, há en- plicabilidade dos códigos. Outro ponto que
traves legais que prejudicam a padroniza- necessita de reparos, apontam especialis-
ção das exigências. Explica ele que, na área tas, é a fiscalização dos regulamentos e a
de segurança contra incêndio, os estados, formação dos profissionais que elaboram
por meio dos corpos de bombeiros, têm as normatizações.
autonomia de legislação e um regulamento
federal não pode impor o que eles devem Reportagem de Rafael Geyger
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São Paulo é referência


cionalmente reconhecidas. Sua aplicação
demonstra que os profissionais já absor-
veram seus objetivos e um passo a ser
vencido é equalizar e difundir o conhe-
Regulamento paulista tem alto grau de exigência e alguns cimento sobre esse tema a todos os pro-
de seus requisitos são adotados por outros estados fissionais que atuam nesta área”, a-
credita.
Explica o major que o regulamento
CRISTIANE REIMBERG

paulista prevê o controle de materiais


de acabamento e revestimento, a possi-
bilidade de utilização de mangotinhos,
a adoção de simbologia de padrão inter-
nacional para apresentação de projetos,
a mudança da classificação das ocupa-
ções com base na carga de incêndio e a
exigência do sistema de controle de fu-
maça.
Miranda lembra que a lei contempla
soluções de ordem técnica que se utili-
zam de sistemas, cujo avanço tecnoló-
gico exige um acompanhamento cons-
tante. Também conceitos e formas de
Legislação de São Paulo permite construção evoluem rapidamente e os
restringir ocorrências a locais em que a
intervenção dos bombeiros possa ser textos não conseguem contemplar toda
feita de maneira eficiente e eficaz a gama de variações apresentadas.
“Constantemente, novas tecnologias são
A data é 31 de agosto de 2001 e o De- São Paulo), a legislação tem a capacida- apresentadas como solução e temos que
creto tem o número 46.076. O cumpri- de de restringir as ocorrências a locais estudar, sempre focados nos objetivos
mento de suas exigências se restringe ao em que a intervenção dos bombeiros da legislação, para que isso se converta
estado de São Paulo, mas bombeiros, possa ser feita de maneira eficiente e em segurança para as pessoas que utili-
projetistas e demais profissionais de se- eficaz. O CBPMESP atende a 500 mil zam as edificações”, diz. Como exem-
gurança contra incêndio de outras regi- ocorrências por ano, aproximadamen- plos dessa precaução, ele cita a necessi-
ões têm no regulamento uma referência te. Em torno de 11%, ou 55 mil atendi- dade de incluir o uso da tubulação de
para sua atuação. Para Sérgio Baptista mentos, são de incêndios. chuveiros automáticos em CPVC, pos-
de Araújo, tenente-coronel da reserva do “O Decreto 46.076/01 foi um case de sivelmente também para os hidrantes,
CBMERJ (Corpo de Bombeiros Militar sucesso, pois colocou a legislação de além do uso de cortinas e vidros corta-
do Rio de Janeiro) e diretor da Sygma segurança contra incêndios de São Pau- fogo como elementos de compartimen-
Fire Protection Engineering, quando o as- lo alinhada com especificações interna- tação.
sunto é legislação brasileira de incêndio, Ajustes nas exigências, revisão e cria-
JOSÉ GOMERCINDO - SECS/PR

há de se fazer uma distinção de estado ção de ITs são outras medidas para man-
para estado. São Paulo, afirma, possui ter atual a legislação contra incêndio.
um código em sintonia com o que há Dentro dessa perspectiva, contemplar as
de mais avançado no mundo. instalações elétricas é uma necessidade,
Como pontos positivos da legislação baseada nas estatísticas que as apontam
paulista, ele cita a estruturação e a defi- como causa de princípios de incêndio.
nição de todas as ocupações e as classi- Ocupações destinadas a hangares, hos-
ficações de risco de forma pormenori- pitais, estabelecimentos prisionais e
zada, a apresentação de todos os pro- subsolos ocupados, dentre outras, tam-
cessos administrativos para a formata- bém necessitam de aprimoramento na
ção de projetos e a regularização das edi- regulamentação, adianta o major. “Com
ficações e a atualização tecnológica pe- a aplicação da legislação nós aprende-
las ITs (Instruções Técnicas), inserindo mos muito”, refere, lembrando que a
novos conceitos e sistemas à medida que experiência obtida pelos bombeiros no
elas são incorporadas ao mercado. campo operacional se une aos aspectos
Segundo o major Nilton Miranda, che- conceituais na revisão da legislação.
fe da Divisão de Legislação e Análise
do DSCI/CBPMESP (Departamento CAPACIDADE
de Segurança Contra Incêndios do Cor- Na opinião do presidente da Ligabom
po de Bombeiros da Polícia Militar de Casa Nova: segurança num mesmo padrão e comandante do CBMPE, coronel Car-
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los Eduardo Casa Nova, São Paulo pos- entanto, acredita que futuramente a “Nós não vamos conseguir unificar
sui uma realidade específica de grande união é o caminho. “Um dia isso terá todas as 27 legislações numa só lei, de-
capacidade econômica, o que lhe per- que se unificar, pois segurança deve exis- talhando sistemas e as tabelas de exigên-
mite um maior grau de exigência nos tir na indústria, no comércio e nas resi- cias, para que todos exijam a mesma
sistemas de segurança contra incêndio. dências num padrão mínimo e igual para coisa em todo o lugar. Será algo novo,
Para obter sistemas com um grau de qualquer edificação construída em qual- com considerações básicas para que to-
segurança maior, no entanto, as exigên- quer estado do Brasil”, completa. do estado adote como norma, sem en-
cias paulistas levam a modelos mais ca- Sobre essa questão, o superintenden- trar em detalhes, dizendo o que vai ser
ros e sofisticados. Por isso, Casa Nova te do CB-24, José Carlos Tomina, de- exigido e como deve ser instalado”, diz.
entende que não é possível adotar parâ- fende que não se deve utilizar o viés fi- Conforme Casa Nova, a Ligabom dis-
metros semelhantes em estados de me- nanceiro para justificar o estabelecimen- cute, juntamente com a Senasp (Secre-
nor poderio econômico. “As construto- to de diferentes níveis de segurança para taria Nacional de Segurança Pública) e
ras vão criticar, assim como o consumi- vidas humanas. “Constitucionalmente, o Gabinete da Presidência da Repúbli-
dor que comprar um apartamento e que não há cidadãos de primeira ou de se- ca, a forma legal de aprovação do códi-
irá reclamar do seu preço”, entende. No gunda classe”, afirma. go em âmbito nacional. O entrave está
no aspecto constitucional: a segurança

Código vai para o papel


pública requer legislação estadual (por
isso, cada estado tem seu regulamento).
Para a Senasp, informa o assessor de As-
suntos de Bombeiros da Secretaria, ma-
Texto que padroniza a proteção contra incêndio jor Roberto do Canto Wilkoszynski, a
será apresentado em versão básica pela Ligabom Ligabom é o órgão que possui legitimi-
dade e representatividade para postu-
Especialistas reivindicam a criação de mento nacional ao constituir uma câma- lar o código e sua publicação. “À Se-
um código nacional de proteção contra ra técnica para elaborar um projeto bá- nasp, caberá respeitar a postura adota-
incêndio, os corpos de bombeiros o de- sico. Integram o grupo oficiais bombei- da pelos Corpos de Bombeiros Milita-
sejam e os projetistas clamam por ele, ros de diferentes regiões do Brasil, com res sobre esse assunto”, declara.
mas nem a vontade de todas as partes experiência na área de Engenharia de Uma das possibilidades aventadas pela
coloca em prática uma proposta que mo- Proteção e Combate a Incêndio, inclu- Liga é encaminhar o código por meio da
tiva debates na área de segurança con- indo engenheiros de Segurança e proje- Secretaria Nacional de Defesa Civil, apro-
tra incêndio há muito tempo. “Escuto tistas, com conhecimento sobre as nor- veitando-se de uma brecha legal que per-
sobre o código nacional há pelo menos mas brasileiras e internacionais. mite a aprovação de lei nacional na área
15 anos”, lembra Sérgio Baptista de Ara- O presidente da entidade, coronel de Defesa Civil. Outra forma, seria cada
újo, tenente-coronel da reserva do Carlos Eduardo Casa Nova, diz que foi estado republicar seu regulamento, ado-
CBMERJ e diretor da Sygma Fire. A sua feito um levantamento sobre a forma tando o que for definido como padrão.
elaboração, contudo, permanece na fase correta de formatar o código e concluiu- Essa segunda opção, no entanto, é a
de estudos. se que um texto básico é a opção viável. mais improvável, avalia o coronel Casa
Há três anos, a Ligabom deu impor- A expectativa é ter o regulamento pa- Nova. Isso porque estados com maior
tante passo na construção do regula- drão ainda em 2010. nível de exigência, como São Paulo, não

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abririam mão do seu padrão de prote- em seus códigos para atender de forma boração de um regulamento único pas-
ção e não exigiriam menos do que já re- específica suas peculiaridades. sa pela criação de uma norma brasileira.
querem há anos. “Dentre todas as esferas de governo, Ao justificar esse entendimento, ele des-
é o município que tem a obrigação de taca o processo democrático de desen-
REFERÊNCIA saber quais são os riscos locais específi- volvimento das normas pelo CB-24, que
O caminho escolhido pela câmara téc- cos e qual planejamento de investimen- requer as participações equilibradas de
nica da Ligabom é semelhante ao suge- tos deve ser feito para o cumprimento todos os interessados.
rido pelo superintendente do CB-24, Jo- das medidas de prevenção e controle de Marco Aurélio Rocha, técnico em e-
sé Carlos Tomina. Ele acredita que o có- incêndios a curto, médio e longo prazo, mergências, bombeiro profissional civil
digo nacional poderá funcionar como como já fazem com seus planos direto- e especialista em incêndio estrutural e
uma referência mínima para a constru- res e códigos de obras e construções”, petroquímico, tem entendimento seme-
ção das leis estaduais ou municipais, fi- pondera. lhante. Segundo ele, um código de segu-
cando a critério de cada autoridade lo- rança contra incêndio deve ser criado
cal exigir mais, se entender necessário. CONTEÚDO por câmaras técnicas regionais com
Tomina coordena o projeto Brasil Sem Para o major Canto, da Senasp, ape- vivência e conhecimento das reais neces-
Chamas, encomendado pelo Ministério sar das diferenças existentes, as legisla- sidades de cada estado. “Também deve
da Ciência e Tecnologia, que deve ter ções estaduais têm conteúdo rico e se- haver perfeito entrosamento entre as
seu relatório final publicado em junho, guem linha semelhante. Por isso, acre- entidades públicas e privadas, assim
propondo, inclusive, a elaboração do dita, a maturação dessas iniciativas pode como é feito pela Associação Brasileira
regulamento nacional para solucionar a formar a base e dar suporte técnico para de Normas Técnicas, por meio de seus
falta de padronização existente. um futuro regulamento nacional. “Essa comitês regionais e nacional”, diz.
Para Jorge Alexandre Alves, especialis- construção ocorrerá de maneira gradu- Pela Ligabom, o coronel Casa Nova
ta em combate a incêndios e emergênci- al, baseada na doutrina das iniciativas reforça a existência de uma câmara de
as e diretor da Fire & Rescue, de posse que deram bons re-sultados nos esta- oficiais bombeiros estudando o novo
das diretrizes mínimas estabelecidas por dos e municípios”, refere. código, mas diz que não vê dificuldades
um texto nacional, os municípios devem Na opinião de José Carlos Tomina, em ter um melhor aproveitamento das
propor um maior nível de detalhamento uma forma bastante adequada para a ela- normas da Associação Brasileira de Nor-

CONFLITOS LEGAIS E NORMATIVOS Por Alexandre Rava Campos*

Além da falta de uniformidade na aplicação de Por outro lado, o Código de Porto Alegre é de 1998 Por sua vez, a NBR 9441/1998 (Execução de
critérios técnicos nos municípios do Rio Grande do e não é revisado sistematicamente, deixando de a- sistemas de detecção e alarme de incêndio) é ta-
Sul, haja vista o grande número de legislações (esta- companhar a evolução tecnológica. Há certa resis- xativa ao afirmar, no item 5.4.1, que “quando exis-
duais e municipais), regulamentos (seguradoras ou tência quanto à aplicação de novas tecnologias, tente, toda tubulação integrante de um sistema de
critérios particulares), normas e instruções técnicas, muitas delas já contempladas em edições atualiza- detecção e alarme de incêndio deve atender ex-
não há um regramento único para a condução dos das das normas ABNT. Podemos citar a não aceita- clusivamente a este sistema.” Com isso, os pro-
processos junto aos órgãos competentes. ção do uso de sinalização de balizamento e de segu- fissionais ficam a mercê da interpretação daqueles
Na capital, Porto Alegre, a proteção contra in- rança pelo emprego de placas fotoluminescentes, que forem avaliar os planos de proteção contra in-
cêndio deve obedecer ao prescrito no Código de conforme disposto na NBR 13434/2004 (Sinalização cêndio (normalmente bombeiros).
Proteção Contra Incêndio, que, por sua vez, em de Segurança Contra Incêndio e Pânico). Sob o ponto de vista técnico, são inúmeras as
algumas situações, apresenta parâmetros bas- A maioria dos municípios do Rio Grande do Sul discrepâncias entre as legislações, normas técni-
tante divergentes em relação às normas técnicas adota as prescrições expressas no Decreto Esta- cas e regulamentos da área de seguros, sem falar
da ABNT. dual, que remete às normas da ABNT, ficando a nas normas internacionais. Por exemplo, é reque-
Vigora um convênio firmado entre Prefeitura cargo do Corpo de Bombeiros do respectivo muni- rida em Porto Alegre a vazão de 200 litros por mi-
Municipal e Corpo de Bombeiros, que avalia os cípio a avaliação das exigências de sistemas e de nuto no risco pequeno. Em contrapartida, a NBR
planos de proteção contra incêndio. Previamente sua aplicação. 13714 (Sistemas de Hidrantes e Mangotinhos)
a isso, é preciso que a Prefeitura aceite um docu- Há, ainda, significativos conflitos entre as próprias estabelece como requisito para o risco pequeno
mento chamado Memorial Descritivo da Proteção normas técnicas. É possível citar a NBR 10898/1999 vazões entre 80 a 100 litros por minuto.
Contra Incêndio a Executar. Ele aponta as exigên- (Sistema de Iluminação de Emergência), que, no item É importante destacar que muitas leis municipais
cias de acordo com as características das ocupa- 4.8.9, diz que “os eletrodutos utilizados para condu- e estaduais preconizam pressões mínimas, vazões
ções da edificação. tores da iluminação de emergência não podem ser mínimas e diâmetros mínimos para os requintes
É inegável a facilidade advinda do fato de Porto utilizados para outros fins, salvo instalação de de- dos esguichos dos hidrantes e mangotinhos sem
Alegre possuir, em um único código, as diretrizes tecção e alarme de incêndio ou de comunicação, con- determinar as relações entre eles, gerando dúvidas
necessárias para que os profissionais do setor forme a NBR 5410, contanto que as tensões de ali- e interpretações distintas para a mesma legislação,
possam embasar seus memoriais, planos e insta- mentação estejam abaixo de 30Vcc e os circuitos e, principalmente, comprometendo a segurança
lações de todos os sistemas de proteção contra devidamente protegidos contra curtos-circuitos”. nas edificações.
incêndio, diferentemente dos demais municípios
do Estado, onde é necessário recorrer a normas *Engenheiro civil e de Segurança do Trabalho, diretor-secretário do CB-24/ABNT e conselheiro da ASTEC
técnicas da ABNT para cada sistema. (Associação Técnica Sul Brasileira de Proteção Contra Incêndio). Colaborou Tiago Kolhrausch, arquiteto.

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mas Técnicas. “É preciso que haja in- “O Brasil ainda não possui uma agência diversos outros setores, diferentemente
tegração dos oficiais de cada estado com reguladora representativa o bastante da National Fire Protection Association ame-
a Associação Brasileira de Normas Téc- para reger esse processo. A própria As- ricana, que dedica-se exclusivamente à
nicas para legislar em conjunto. Alguns sociação Brasileira de Normas Técnicas área de proteção contra incêndio”, afir-
estados já adotam as normas, mas isso não é uma entidade exclusiva e abrange ma.
não quer dizer que não podemos evo-

Sistema desarticulado
luir mais”, afirma.

FOCO EXCLUSIVO
Para o capitão do Corpo de Bombei-
ros Militar do Distrito Federal Thiago Conflitos originados na falta de padronização entre leis
Palácio John, atualmente cursando nos e normas de incêndio dificultam a sua aplicação
Estados Unidos o doutorado em Geren-
ciamento de Incêndios e Emergências, Se uma empresa possuir unidades em atender aos requisitos estabelecidos na
falta ao Brasil uma entidade representa- Santa Catarina, no Rio de Janeiro e no NR 23. As residências e instalações co-
tiva, governamental ou não, com foco Distrito Federal, deverá atender a três merciais e industriais também obedecem
exclusivo em segurança contra incêndio critérios distintos ao instalar um extin- aos códigos estaduais, muitas vezes, re-
e com força política para implementar e tor e ao definir a área protegida pela gulamentados por instruções técnicas.
fiscalizar a aplicação de um código unidade extintora. Esse é um típico con- Há, ainda, municípios com seus própri-
nacional. flito gerado pela falta de padronização os códigos e exigências. Por fim, as nor-
Ele lembra que os EUA têm a FEMA de leis e normas de segurança contra in- mas técnicas da ABNT complementam
(Federal Emergency Management Agency) e cêndio no Brasil, mas ele não se restrin- o sistema, servindo de referência para
a USFA (United States Fire Administration), ge a essas localidades. alguns desses regulamentos. Seus parâ-
duas agências governamentais que regu- Os diferentes parâmetros exigidos nos metros, contudo, só se tornam obrigató-
lamentam as atividades relacionadas a estados e em alguns municípios brasi- rios quando citados em lei.
incêndio e gerenciamento de emergên- leiros quanto à altura máxima do extin- Relata o coronel Carlos Eduardo Casa
cias, além da NFPA (National Fire tor e a área de proteção (veja Box na Nova, presidente da Ligabom e coman-
Protection Association), que é independente página 36) são dois exemplos de um sis- dante do CBMPE, que construtoras das
e responsável pela elaboração das nor- tema desarticulado. regiões Sul e Sudeste, por vezes, recla-
mas de proteção e combate a incêndio. Legalmente, locais de trabalho devem mam quando vão executar obras em ou-

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tras regiões. O motivo: as exigências são Outro regulamento bastante antigo, o trutivas mudaram, surgiram novos tipos
diferentes, assim como as formas de código do Rio de Janeiro, o primeiro do de empreendimentos, como as constru-
aprovação de projetos. “Isso leva a uma Brasil, completa 34 anos em 2010. Para ções em aço e novos materiais de uso
dificuldade muito grande, acarreta cus- Sérgio Baptista de Araújo, tenente-co- na arquitetura. Apesar disso, lamenta,
tos e gera demora”, avalia Casa Nova. ronel da reserva do CBMERJ e diretor prédios são aprovados sem possuírem
De acordo com Marco Aurélio Rocha, da Sygma Fire, o texto é positivo em um sistema de controle de fumaça. “Há
técnico em emergências, bombeiro civil muitos aspectos e funcionou bem nas a escada enclausurada, mas até chegar
e especialista em incêndio estrutural e décadas de 70 e 80, sendo a referência lá, as pessoas vão andar nos corredores
petroquímico, uma lei ou norma de ins- de toda a legislação brasileira em todos por 30, 40, 50 metros no meio da fuma-
tância inferior pode ser mais rígida sem os estados. Seus requisitos enfatizam a ça?”, questiona.
que esteja ferindo a esfera superior. Isso supressão de incêndio, mas ignoram Sérgio Baptista também revela preo-
se aplica a códigos municipais mais exi- itens preventivos importantes, como cupação com a proteção contra incên-
gentes do que os adotados por seu esta- detecção dos incêndios, sistemas de con- dio existente para o Brasil receber gran-
do ou pela NR 23. “Hierarquicamente, trole de fumaça e iluminação de emer- des eventos, como a Copa do Mundo
a menor lei pode ser mais rigorosa, mas gência, indica Baptista. de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
nunca mais branda”, ilustra. “Saio de Paraty/RJ, onde resido, ando Segundo ele, grande parte dos hotéis no
70 quilômetros e chego a Ubatuba/SP. Rio de Janeiro seriam contraindicados
DESATUALIZAÇÃO Lá, qualquer restaurante tem iluminação por não atenderem dispositivos de uso
Se, no conjunto, as leis e normas so- de emergência, vários extintores e sina- internacional, como a NFPA 101 - Life
frem com a falta de padronização, indi- lização fotoluminescente. Se qualquer Safety Code e a diretiva europeia Fire Safety
vidualmente, o problema é a desatuali- município fluminense ficar duas horas in Hotels - Recommendation 86/666/EEC.
zação. A NR 23 é a referência em âmbi- sem energia elétrica, não há iluminação “Não se pode recomendar um hotel que
to federal quanto à prevenção de incên- de emergência em restaurantes, hotéis e não tenha padrões de aceitabilidade, um
dios. Criada em 1978, ela se encontra supermercados, porque não é obrigató- sistema de alarme, de detecção, sinali-
desatualizada e fora dos novos contex- ria pelo Código, da mesma forma que zação e portas adequadas. Há hotéis no
tos de segurança contra incêndio, avalia não é obrigatória a detecção de fumaça Rio de Janeiro com 20 andares e com
Marco Rocha. “Suas últimas alterações em quartos de hotéis e de hospitais. Isso escada única, o que é exigido pela NFPA
em nada acrescentaram para a melhoria é algo a ser revisto”, reclama. 101 desde seus primeiros itens, redigi-
e adequação à realidade em que vive a Ele lembra que, nas três décadas de dos em 1913. O código precisa ser re-
sociedade”, diz. vigência do código, as tipologias cons- formulado urgentemente”, acrescenta.

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APLICABILIDADE os requisitos exigidos tornam-se impra-
Para Thiago Palácio John, capitão do ticáveis para a maioria dessas cidades.
CBMDF e mestre em Gerenciamento Além disso, falta divulgação e disponi-
de Incêndios e Emergências, reside na bilidade das legislações para consulta.
aplicação das leis e normas uma defici- Quem se interessar por conhecer e ad-
ência da área de segurança contra in- quirir os materiais tem que se deslocar
cêndio no Brasil. Ele diz que há casos até o departamento técnico das corpo-
em que, justificadamente, as normas são rações nas capitais de seu estado.
inaplicáveis, como ocorre em uma fave- Por parte dos bombeiros, a reivindi-
la, por exemplo. “Lá, não existe plane- cação é sobre a aprovação de projetos
jamento urbano e, muito menos, a real de proteção contra incêndio de prefei-
possibilidade de aplicação de tal regu- turas. Conforme o coronel Casa Nova,
lamentação”, diz. ainda há municípios que não exigem o
Já para Jorge Alexandre Alves, espe- aval dos corpos de bombeiros e, assim,
cialista em combate a incêndios e emer- as edificações são construídas à revelia.
gências e diretor da Fire & Rescue, há “Quando tomamos conhecimento, te-
problemas de acesso aos regulamentos mos que entrar com a fiscalização, com
técnicos. Como eles não consideram que rigor e multa, e isso é complicado para
apenas um número pequeno de muni- o empreendedor, que fica com um pa-
cípios conta com postos de bombeiros, drão de segurança prejudicado”, diz.

Como evoluir mais


Qualificação profissional é peça-chave para produção
de melhores normas e adaptação de textos internacionais
Investir no profissional, ofertando a naturalmente incluso nas concepções de
ele uma formação específica e continu- edificações.
ada, é uma medida que qualifica a cria- Alexandre Itiu Seito, coordenador do
ção e revisão de normas e a adaptação GSI/NUTAU/USP (Grupo de Pesqui-
de textos estrangeiros. Para Sérgio Bap- sa em Segurança contra Incêndio do
tista de Araújo, tenente-coronel da reser- Núcleo de Pesquisa em Tecnologia de
va do CBMERJ e diretor da Sygma Fire, Arquitetura e Urbanismo da Universi-
isso se refletirá na qualidade dos regula- dade de São Paulo), acredita que os re-
mentos elaborados. “Quanto menor é a gulamentos não são suficientes para pro-
formação técnica no assunto por parte ver a segurança. Segundo ele, é preciso
dos bombeiros, conhecimento de inglês haver um corpo técnico para aplicar ade-
técnico e o domínio sobre as normas, quadamente, por exemplo, os sistemas
mais pobre é o código estadual”, acre- de detecção e combate a incêndio, as-
dita. “Um código é escrito a partir de sim como um corpo de fiscalizadores
estudos técnicos. Requer capacitação, capaz de verificar o atendimento ao re-
conhecimento técnico, pessoas especia- gulamento.
lizadas, conhecimento de língua estran- Seito também defende a criação no
geira, participação e promoção de semi- Brasil do curso de graduação em Enge-
nários e fóruns de discussão”, salienta. nharia de Segurança contra Incêndio.
Na opinião do major Nilton Miranda, “Para elaborar projetos, é preciso ter
chefe da Divisão de Legislação e Análi- engenheiros capacitados e com forma-
se do DSCI/CBPMESP, a inclusão da ção nessa área do conhecimento”, diz.
matéria Segurança contra Incêndio nos Sérgio Baptista lembra que a profis-
cursos de formação e a capacitação de são de Engenheiro de Segurança contra
profissionais para atuação na área são Incêndio já existe na Inglaterra desde
fundamentais para a melhora nos siste- 1907. Ele conta ter trazido de Portugal
mas das edificações. Isso passaria tam- para o Brasil a ideia de pós-graduação,
bém pelo ensino superior e o desenvol- mestrado e doutorado na área. “Há cin-
vimento de dissertações e teses na área, co anos, o programa está pronto, o ma-
chegando a um nível em que o tema seja terial está pronto, há interessados, mas
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se esbarra na burocracia”, lamenta Bap- por serem desenvolvidas por especialis-
tista. tas, é recomendável que as agências re-
A Senasp projeta como ação futura a gulamentadoras, os poderes legislativos
criação de cursos de pós-graduação, e todas as esferas de governo utilizem
mestrado e doutorado para profissionais as normas técnicas como referências
de segurança pública, incluindo as áreas quando da elaboração de regulamenta-
técnicas de bombeiros, adianta o major ções, portarias e leis de prevenção e
Roberto do Canto Wilkoszynski, asses- combate a incêndios.
sor de Assuntos de Bombeiros da Secre-
taria. O tema segurança contra incêndio INTERNACIONAIS
pode estar incluso nos conteúdos, mas O uso de referências internacionais
não como formação específica. Para também é um caminho para a evolução
2010, o curso de nível superior previsto da legislação brasileira. Thiago Palácio
é o de Tecnólogo em Segurança Públi- John, capitão do CBMDF e mestre em
ca, com duração de dois anos e com dis- Gerenciamento de Incêndios e Emergên-
ciplinas da área de bombeiros. cias, afirma que, quando um profissional
estuda os comportamentos extremos do
NORMAS TÉCNICAS fogo ou a “linguagem” da fumaça, por
No CB-24, a qualificação dos profis- exemplo, não há diferença na química ou
sionais proporciona a elaboração de na física da combustão, estando ele no
normas de referência técnica adequada, Brasil ou nos EUA. Porém, salienta, nem
estabelecendo as características de siste- toda norma de segurança pode ser apli-
mas, equipamentos ou dispositivos a se- cada sem se considerar uma adaptação.
rem utilizados na segurança contra in- Jorge Alexandre lembra que já é prá-
cêndio. Sustenta José Carlos Tomina, su- tica no Brasil utilizar referências de tex-
perintendente do CB-24, que os textos tos estrangeiros para a elaboração de
produzidos no comitê impulsionam o normas nacionais, mas considera muito
desenvolvimento industrial, disseminam importante que se conheça os regula-
os avanços tecnológicos e permitem o mentos internacionais e se entenda a
compartilhamento de boas práticas. necessidade de modificar alguns conteú-
Consequentemente, colaboram com a dos com sobriedade. Assim, a norma se-
melhoria contínua da qualidade de pro- rá construída de forma a preservar os
dutos e serviços e com a competitivida- critérios de estudos e ensaios já efetua-
de na área. dos em laboratórios estrangeiros, que
Apesar do empenho dos especialistas, não encontram similar no Brasil, alte-
há mais de 40 normas que precisam ser rando apenas conceitos relacionados à
revisadas ou elaboradas com maior prio- geografia, cultura e recursos disponíveis.
ridade, o que demanda investimentos de “A melhor referência em legislações de
recursos públicos e privados no CB-24, proteção contra incêndios ainda é dos
informa Tomina. Estados Unidos”, opina Jorge, ressaltan-
Para Alexandre Seito, é preciso uma do o papel da NFPA na proteção contra
maior participação de consumidores de incêndio norte-americana, com a maior
produtos e serviços de segurança con- e mais atualizada quantidade de normas
tra incêndio (fábricas, edifícios comer- técnicas.
ciais, shoppings) na elaboração das nor- Ele acredita que, dentre esses textos,
mas para contribuir ainda mais com as as normas NFPA 1710 e NFPA 1720
regulamentações estaduais e municipais. deveriam ser utilizadas para o desenvol-
Sobre o aspecto da obrigatoriedade de vimento de similares no Brasil, pois for-
uso da norma só quando citada em lei, necem critérios mínimos para implan-
Tomina lembra que o Código de Defe- tação, funcionamento e desempenho
sa do Consumidor (lei federal 8.078/ dos serviços de emergências públicos
1990) veda ao fornecedor dispor no (profissionais e voluntários) nos muni-
mercado produtos ou serviços em de- cípios. Ambas são utilizadas como cri-
sacordo com as normas expedidas pe- térios de desempenho para as avaliações
los órgãos oficiais competentes ou, do ISO (Insurance Services Office), que au-
quando essas não existirem, pela ABNT. dita e classifica as cidades quanto ao ní-
O diretor da Fire & Rescue, Jorge Ale- vel de proteção pública e é um dos cri-
xandre Alves, especialista em combate térios para o cálculo do valor de todos
a incêndios e emergências, ressalta que, os tipos de seguros nos municípios.
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