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Christian Ginsburg em seu livro sobre os Essénios começa por dizer que “é muito
surpreendente que os essénios, cujas virtudes exemplares conquistaram a
irrestrita admiração até de gregos e romanos, e cujas doutrinas e práticas
contribuíram tão materialmente para a disseminação do Cristianismo, sejam tão
pouco conhecidos entre os cristãos bem-informados”.
Até ao séc. XX, o pouco que se sabia desta comunidade, desaparecida no período
apostólico, foi-nos transmitido pelo testemunho de antigos historiadores como
Fílon, Plínio, Josefo, Solino, Porfírio, Eusébio e Epifânio. A partir destes
testemunhos, sobretudo o de Flávio Josefo, sabia-se que esta comunidade
guardava um relacionamento estreito com o mundo dos anjos. Um dos
juramentos que os neófitos tinham de fazer ao entrar na comunidade era
justamente o de “preservar os escritos da sociedade e o nome dos Anjos”.
Contudo, esse indício não era suficiente para conhecer a angeologia essénia. A
descoberta de manuscritos em algumas grutas junto ao Mar Morto no final da
década de 40 e durante a década de 50 trouxe nova luz a este tema.
Podemos dividir os manuscritos encontrados em dois tipos: textos propriamente
essénios e outros textos judaicos de origem não-essénia mas tidos em boa conta
pela comunidade.
Entre os manuscritos de origem não-essénica encontram-se vários livros da
Bíblia. Talvez o maior achado tenha sido a descoberta do livro de Isaías, que é a
cópia mais antiga que se possui deste texto e nos confirma a autenticidade do
texto recebido pela tradição. Encontraram-se também muitos exemplares dos
Salmos e do livro apócrifo de Henoch, que muito fala sobre os anjos, o que
mostra que eram textos tidos em boa conta e bastante utilizados pela
comunidade.
Entre os escritos de origem essénica encontra-se a Regra da comunidade,
comentários aos livros bíblicos e outros textos. A totalidade desses textos só em
1991 vieram a público.
A demora na publicação destes manuscritos foi motivo de controvérsias no
mundo científico. Apenas um pequeno grupo tinha acesso aos textos e a
velocidade com que trabalhavam era lenta. Só depois de muita pressão do mundo
académico, os fac-similes dos manuscritos tornaram-se acessíveis aos
especialistas. A partir de então começaram a aparecer as traduções para as
línguas modernas e os primeiros estudos sobre o conteúdo desses escritos.
Sobre a angeologia essénica alguns estudos especializados foram realizados
desde então. Contudo, pelo seu carácter pioneiro, eram ainda bastante
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incompletos e continham algumas imprecisões que só o progresso nos estudos
dos manuscritos do Mar Morto em geral poderiam solucionar. Encontramo-nos
de momento naquilo que se poderia chamar de 2ª geração de estudos sobre os
manuscritos do Mar Morto. Houve um tempo de maturação e desenvolvimento
que permitiu uma visão de conjunto sobre a teologia e os costumes subjacentes
aos manuscritos encontrados.
Neste sentido, em 2016, o Prof. Dr. Matthew Walsh, apresentou a sua tese de
doutoramento na McMaster University (Canadá), com o título: “Angels
associated with Israel in the Dead Sea Scrolls: a study of angelology and
community identity at Qumran” (Anjos associados a Israel nos pergaminhos do
Mar Morto: um estudo da angeologia e da identidade comunitária de Qumran).
Este trabalho ganhou vários prémios do mundo académico e constitui hoje o
melhor estudo sobre a angeologia essénia.
A partir do material encontrado nos manuscritos do Mar Morto, o autor dividiu a
sua pesquisa em quatro partes:
1 – Anjos-guardiães de Israel nos textos encontrados de origem não-essénia.
2 – Anjos-sacerdotes nos textos encontrados de origem não-essénia.
3 – Anjos-guardiães de Israel nos textos encontrados de origem essénia.
4 – Anjos-sacerdotes nos textos encontrados de origem essénia.
Anjos-guardiães de Israel
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Miguel é o líder das hostes angélicas que constituem o Israel celeste, a
cujo destino está intimamente ligado o Israel terrestre.
Existem 7 arcanjos que estão na presença de Deus.
Os anjos são chamados de vigilantes (aqueles que estão acordados), pois
lhes foi confiada a guarda do céu e da terra.
Os anjos fiéis encarceraram os anjos rebeldes depois da sua revolta.
Os anjos fiéis existem e atuam a fim de trazer vingança e paz a toda a
ordem criada.
A história é um campo de batalha onde Deus, os anjos e os demónios
competem pela possessão e controlo dos homens.
Miguel é considerado o Escriba celeste.
Nem todos os gentios e judeus apóstatas serão destruídos no dia da ira
divina. Haverá uma nova Jerusalém e um novo Templo, ressurreição e
conversão. Haverá uma transformação da humanidade que a fará voltar à
justiça e perfeição originais. Miguel será aquele que, por ordem de Deus,
incentivará tudo isso e estará à frente dessa humanidade transformada.
Os anjos testemunharão em favor dos justos no dia do julgamento divino.
O futuro dos justos passa por um relacionamento maior com os anjos que
lhes prestarão assistência e estarão como intercessores junto deles.
Anjos sacerdotes
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É atribuído a um homem - Henoch - funções sacerdotais no Templo
celeste (acesso ao Santo dos Santos celeste e papel de intercessor junto a
Deus pelos homens) que o põe acima de muitos anjos.
Este mesmo homem é transportado ou transladado a um alto lugar por três
dos sete arcanjos (Uriel, Raguel, Remiel) e de lá vê o que se passa na terra
e testemunha a ação dos outros quatro arcanjos (Sariel, Rafael, Gabriel e
Miguel) que atuam como agentes do julgamento divino contra os anjos
caídos e todos os seus sequazes.
Os anjos aparecem vestidos de linho branco, vestuário próprio dos
sacerdotes da Antiga Lei.
Levi - o patriarca da casta sacerdotal - é chamado de Sacerdote do
Altíssimo, o mesmo título dado a Melquisedech. Há uma correspondência
entre o sacerdócio terrestre e o sacerdócio celeste.
Melquisedech é considerado como um anjo sacerdote-guerreiro e pensam
ser o próprio Miguel.
Quem revestiu Levi com as vestes sacerdotais foram os sete arcanjos. O
sacerdócio terrestre foi legitimado pelo céu.
Os sacerdotes terrenos devem ter como modelos os sacerdotes celestes
(anjos).
A revelação foi feita a Moisés através dos anjos.
Israel tem ligação com os mais altos graus dos anjos: os Anjos-da-
presença e os Anjos-da-santidade. Abaixo destes anjos estão os Anjos-
dos-fenómenos-cósmicos.
O anjo que revelou a Moisés alguns segredos contidos no livro dos
Jubileus foi um Anjo-da-presença, que também foi o Anjo do Êxodo, e
que é identificado como sendo Miguel.
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Verdade ou Príncipe da Luz (Miguel) na grande batalha cósmica entre o
bem e o mal.
No final dos tempos Melquisedeque/Miguel irá libertar aqueles que estão
cativos e libertá-los das suas iniquidades. Esse tempo será um dia de
expiação para o povo de Deus.
O ano da graça dar-se-á por uma intervenção de Melquisedeque/Miguel.
Ele realizará a vingança dos juízos de Deus.
Miguel julgará o quinhão de Belial. Auxiliado pelos exércitos celestes irá
combater Belial e as suas forças.
Tinham Melquisedeque/Miguel como um redentor angélico.
Identificavam-se como pertencendo ao quinhão ou herança de
Melquisedeque/Miguel.
Um dos privilégios dos membros da comunidade era o de ter uma
proteção especial de Miguel.
Possuíam uma ligação muito próxima com os anjos da sua guarda.
Cada anjo possui três nomes.
A pertença a esta comunidade incluía uma poderosa união humano-
angélica.
A presença dos anjos exigia dos membros um elevado estado de pureza
cerimonial e limpeza.
Diz no Rolo da Guerra: "Eles devem ser todos voluntários para a guerra,
perfeitos no espírito e na carne, e estarem prontos para o Dia da
Vingança."
Os anjos eram considerados, portanto, companheiros de armas e exigiam
pureza ritual da parte dos guerreiros humanos que lutavam a seu lado.
Estes homens eram conhecidos como aqueles que "viam os anjos".
Tanto os membros da comunidade pertenciam aos anjos, como os anjos
pertenciam aos membros.
Os anjos lutavam pelos e em conjunção com os membros.
Em determinado momento, todo o Israel se uniria a eles. Era a época
messiânica.
Acreditavam usufruir do especial socorro angélico que anteriormente
estava ao dispor de toda a nação, agora apóstata.
A aderência à comunidade incluía a comunhão marcial com o exército
celeste, liderado pelo guarda da nação por excelência: S. Miguel.
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Tinham uma ligação direta (sem intermediários) com os anjos da presença
(os mais altos).
Os seus sacerdotes tinham uma comunhão com os anjos-sacerdotes mais
altos do céu: os anjos da presença, isto é, os sete arcanjos.
A vida dos membros da comunidade consistia numa imitatio angelorum,
por serem a contraparte fiel e companheiros no louvor destes sacerdotes
arquetípicos do Israel celeste.
Eles deveriam imitar os anjos-sacerdotes com os quais estavam em
comunhão.
Num dos textos, um humano (não se sabe bem quem seja) foi/será
exaltado acima dos anjos. Trata-se do Sumo-sacerdote dos tempos
escatológicos, também chamado Messias de Aarão (sacerdotal), possuidor
de um trono no céu.
Alguns dos membros teriam uma glória, conhecimento e grau acima de
alguns anjos no céu.