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ARTIGO ORIGINAL

PÉ DIABÉTICO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DIFERENTES


FORMAS DE APRESENTAÇÃO CLÍNICA E TRATAMENTOS
DIABETIC FOOT: COMPARATIVE STUDY BETWEEN DIFFERENT FORMS OF
CLINICAL APRESENTATION AND TREATMENTS

Alessandra Carolina Vedolin,1 Cristiano Marcos D´Alcantara Schmitt,1 Caroline de Fátima Gomes Bredt,1
Marcello Barbosa Barros,2 Luís Henrique Gil França,2 Rodrigo Garcia Branco,2 Henrique Jorge Stahlke Júnior3

Trabalho realizado no Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do


Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná
Recebido em 12/01/2002
Aceito para publicação em 12/02/2003

RESUMO
Foram estudados trezentos pacientes diabéticos com lesões nos pés, no período de janeiro de 1990 a março de 1997,
no HC-UFPR, comparando-se as diferentes formas de apresentação clínica, sua morbidade e mortalidade. Cento e
cinqüenta e oito (158) pacientes eram do sexo masculino e cento e quarenta e dois (142) do sexo feminino. A idade
média foi de 62 anos. Os pacientes foram divididos em três grupos: I – pé diabético isquêmico (91 pacientes); II –
pé diabético isquêmico-infeccioso (80 pacientes); III – pé diabético neuropático-infeccioso (129 pacientes). No
grupo I, 52 pacientes foram tratados com revascularização arterial e 39 com desbridamentos ou amputações. Onze
pacientes foram a óbito, seis dos revascularizados e cinco dos que foram amputados. Os resultados do grupo II
mostraram 14 revascularizações dos membros inferiores e 66 desbridamentos ou amputações. Seis pacientes morreram,
dois que foram submetidos a revascularização e quatro submetidos a amputação. Finalmente, no grupo III, 83
submeteram-se a desbridamentos e 46 a amputações nos membros inferiores. Cinco pacientes morreram, quatro
entre os que foram amputados e um no grupo submetido a desbridamento. Como conclusão, podemos afirmar que
o pé diabético é uma doença grave e a incidência de amputação é maior no grupo isquêmico-infeccioso. A mortalidade
é similar quando comparamos os três grupos.

PALAVRAS-CHAVE
Pé diabético; Neuropatia diabética; Amputação; Reconstrução arterial.

ABSTRACT
Three hundred patients with the diagnosis of diabetic foot were studied at the HC-UFPR from January 1990
through march 1997 in order to compare the different clinical presentations with their morbity and mortality rates.
One hundred fifty eight patients were male and 142 female. The mean age was 62 years. The patients were divides
according to three main groups: I – ischemic diabetic foot (91 patients); II – ischemic-infected diabetic foot (80
patients) and III – neuropathic-infected foot (129 patients). As far group I is concerned 52 patients were treated
with arterial revascularization and 39 patients with debridement and amputation. Eleven patients died, six from
those revascularized and five from who had amputations. The result of group II showed 14 submitted to lower limb
revascularizations and 66 to debridements and amputations. Six patients died, two from those submitted to
revascularization and four from those submitted to amputation. Finally, from the group III, 83 patients were
submitted to debridements and 46 to lower limbs amputations. Five patients died, four from the amputed series and
one from the debridement group. As conclusions one may state that all the diabetic foot are serious diseases and that
the incidence of amputations is greater in the ischemic-infected group of patients. The mortality is similar when
comparing the three groups.

KEY WORDS
Diabetic foot; Diabetic neuropathy; Amputation; Arterial reconstruction.

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INTRODUÇÃO parece haver dificuldade na difusão de oxigênio tecidual nos


diabéticos.13
Os diabéticos são mais suscetíveis à ulceração nos pés.
Isto, porém, não guarda relação com o grau de isquemia. A
diabetes é uma doença crônica caracterizada por me- oclusão crônica arterioesclerótica da artéria femoral superfi-

A tabolismo anômalo dos hidratos de carbono, cursan-


do com níveis elevados de glicemia que levam a com-
plicações neurológicas e vasculares importantes dos mem-
cial, por exemplo, pode manifestar-se com claudicação inter-
mitente sem lesão cutânea nos pés; entretanto, se acrescen-
tarmos o diabetes a este quadro, poderá ocorrer ulcera-
bros inferiores. O acometimento dos nervos periféricos no ção.3,14,15
diabético faz com que haja uma diminuição da sensibilidade. A neuropatia é uma complicação do diabetes melito,
Com a piora da circulação, pelo acometimento precoce das predispondo a traumas nos pés e infecção. A lesão nervosa
artérias decorrente da arteriosclerose obliterante, aumenta a ocorre devido à desmielinização segmentar dos nervos, le-
possibilidade de infecção, especialmente no diabético des- vando a um retardo na velocidade de condução dos estímu-
compensado. Estes fatores deixam estes pacientes mais vul- los sensitivos, facilitando a ocorrência de traumas repetitivos
neráveis a problemas graves nos pés e pernas, tornando-se nos pés que poderão desencadear feridas.16
um fenômeno médico-hospitalar e social de custo elevado.1 A neuropatia especial, que consiste principalmente em
A aorta e as artérias ilíacas não são tão comprometidas perda ou diminuição da percepção dolorosa, da propiocepção
nos diabéticos e a doença oclusiva manifesta-se mais inten- e da atividade simpática, atinge as articulações. Esta entida-
samente ao nível da artéria femoral superficial, poplítea e de foi primeiramente descrita, em 1868, por Jean Martin
vasos tibiais, sendo a artéria fibular e a artéria dorsal do pé Charcot, que a associou à sífilis terciária. A primeira descri-
menos freqüentemente atingidas. A arteriopatia diabética não ção deste tipo de artropatia neuropática no diabetes foi feita
difere muito das formas graves de arterioesclerose. Todavia, por Joslin, em 1936. A primeira série publicada de casos de
reconhece-se que, no diabético, ela é mais extensa e rapida- neuropatia diabética foi feita pela Joslin Clinic, em 1947.17 No
mente progressiva.2 Além disso, os vasos apresentam-se pé de Charcot, as articulações estão sujeitas às suas ampli-
mais calcificados, incluindo as arcadas plantares e os vasos tudes extremas de movimento sem os benefícios dos meca-
metatársicos, o que raramente ocorre nos indivíduos não nismos protetores normais, resultando em estiramento capsu-
diabéticos. As artérias colaterais digitais são também mais lar e ligamentar, frouxidão articular, distensão e subluxação.
afetadas na diabetes, o que raramente acontece na arterioes- Posteriormente ocorrerão fragmentação osteocondral e fra-
clerose.3,4 turas articulares. O osso fraturado faz protusão plantar, cri-
O índice pressórico (IP) nos dá uma boa indicação da ando uma área de atrito, formando inicialmente uma calosidade
circulação dos membros inferiores.5 É também chamado índi- plantar e que depois irá ulcerar-se e infectar-se, originando o
ce isquêmico (pressão sistólica da artéria tibial posterior e/ pé diabético neuropático.
ou pediosa dividida pela pressão sistólica da artéria braquial Quando ocorre infecção, a doença é mais rapidamente
de cada dimídio) e constitui um teste não invasivo simples. progressiva e envolve perda de membro e alto índice de
Um índice isquêmico abaixo de 0,7 implica encaminhamento mortalidade.18
para avaliação mais detalhada com arteriografia.6 As úlceras do pé diabético localizam-se freqüentemente
Nos últimos anos houve considerável progresso no nos dedos, nas faces laterais de zonas de compressão inter-
conhecimento e controle da doença vascular periférica as- digital e nos bordos laterais do pé. As infecções podem as-
sociada ao diabetes melito. No passado, o controle clínico sumir um caráter superficial limitadas à pele e ao tecido celu-
era dificultado por uma suposição generalizada e incorreta lar subcutâneo, mas podem se estender em profundidade,
de que o diabetes estava associado à lesão oclusiva na micro- envolvendo fáscias, tendões e estruturas osteoarticulares.19
circulação. A análise microscópica de membros amputados Este estudo tem como objetivo comparar as diferentes
de diabéticos e não diabéticos por isquemia não confirmava formas de apresentação do pé diabético e o seu tratamento.
a existência de lesões, quer nas arteríolas, quer nos capila-
res.7,8,9,10
A denominação de microangiopatia diabética deve-se
ao envolvimento das pequenas artérias e arteríolas; na nos-
sa casuística em particular, as metatarsianas e digitais pela
doença oclusiva. O exame histológico destas lesões mostra 1. Médico residente do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular
espessamento da íntima das arteríolas e capilares resultando Periférica – HC/UFPR.
em espessamento da membrana basal. Este fenômeno pro- 2. Médico especializando do Serviço de Angiologia e Cirurgia
gride com a duração da diabetes e impede a difusão de nutri- Vascular Periférica – HC/UFPR.
entes através da parede capilar dificultando a migração de 3. Chefe do Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular Periférica –
leucócitos para as zonas de infecção.11,12 Por outro lado, não HC/UFPR.

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PACIENTES E MÉTODOS sempre que as freqüências esperadas fossem maiores do


que 5. Quando não foi o caso, adotou-se o teste Exato de
Fisher reduzindo-se a comparação a tabelas 2 x 2. Em todos
os testes foi adotado o nível de significância de 5%.21
oram analisados trezentos pacientes portadores de di-
F abetes melito, com lesão trófica em membros inferio-
res, atendidos pelo Serviço de Cirurgia Vascular Peri-
férica do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal RESULTADOS
do Paraná (UFPR), no período de janeiro de 1990 a março de
1997 (dando continuidade ao estudo feito no período de
1990 a 1995, onde foram avaliados 225 pacientes retrospec-
tivamente por Stahlke e Abrão).18 s lesões do pé diabético foram avaliadas segundo a
Os pacientes foram classificados conforme o mecanis-
mo fisiopatológico predominante:
A classificação de Wagner. Dos trezentos pacientes, 15
indivíduos (5,0%) foram classificados no grau 0; 28
(9,3%) no grau 1; 105 (35,0%) classificaram-se no grau 2; 75
I – pé diabético isquêmico – 91 pacientes com evidên-
cia de doença arterioesclerótica de membros inferiores, com (25,0%) no grau 3; 48 casos (16,0%) no grau 4, e 29 (9,7%) no
índice isquêmico igual ou menor a 0,7, com confirmação por grau 5 (Gráfico 1). Encontramos 241 indivíduos (80,3%) que
angiografia, com lesões tróficas no pé sem infecção associa- sabiam ser portadores do diagnóstico de diabetes melito.
da; Havia 246 pacientes (82,0%) que realizavam algum tipo de
II – pé diabético isquêmico-infeccioso – 80 pacientes tratamento para a doença básica, sendo que 130 indivíduos
com as mesmas características do anterior acrescido de in- (43,3%) faziam uso regular de hipoglicemiantes orais, 39
fecção em ferida no pé; (13,0%) não sabiam que tinham diabetes, 55 (18,3%) faziam
III – pé diabético neuropático-infeccioso – 129 doentes uso de insulina, 28 casos (9,3%) faziam uso de insulina e
sem sinais de isquemia, índice isquêmico de 1, com predomí- hipoglicemiantes orais, 28 (9,3%) faziam somente dieta e vin-
nio de características neuropáticas. te pacientes (6,7%) sabiam que eram diabéticos mas não tra-
A classificação adotada foi a do pé diabético proposta tavam (Gráfico 2).
por Wagner, que se baseia na extensão, intensidade e pro-
fundidade da infecção, osteomielite e necrose. Gráfico 1
O grau 0 é o pé em risco, presença de fissura interdigital
Lesão Inicial segundo Classificação de Wagner
ou no calcâneo, sem infecção aparente.
O grau 1 apresenta infecção superficial micótica e/ou
9,7% 5% 9,3%
bacteriana leves.
O grau 2 corresponde a uma infecção profunda, atin- 16%
gindo tecido celular subcutâneo, tendões e ligamentos, sem 35%
osteomielite.
25%
No grau 3 ocorre infecção profunda, com abscesso na
região média do pé, com tendinite ou sinovite purulentas e
Grau 0 Grau 1 Grau 2 Grau 3
osteomielite.
Grau 4 : infecção e gangrena localizada em dedos, re- Grau 4 Grau 5
gião plantar anterior e calcanhar e grau 5, infecção e gangre-
na de todo pé.20
Todos os pacientes foram internados, receberam anti- Gráfico 2
bióticos por via intravenosa, e curativos foram realizados
nas lesões dos pés. Foi colhido material das úlceras para Tratamento do Diabetes antes da Chegada
identificação dos microorganismos e os pés foram radiogra- ao Hospital de Clínicas
fados para a verificação de comprometimento ósseo pela 9,3% 13%
infecção. 6,7%
As variáveis clínicas estudadas foram: sexo, idade, tipo 9,3%
43,3%
de diabetes, grau das lesões pela classificação de Wagner,
classificação fisiopatológica, tratamento inicial, evolução pós- 18,3%
operatória e seguimento após a alta do paciente.
Não tratavam Insulina
Quando da comparação de duas variáveis nominais, Não sabiam Hipoglicemiante Oral
testou-se a hipótese de independência entre elas aplicando- Dieta Insulina + Hipoglic. Oral
se o teste de Qui-quadrado com correção de continuidade,

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Os pacientes foram classificados conforme o mecanis- b) Pé Diabético Isquêmico-Infeccioso


mo fisiopatológico predominante em três grupos.

a) Pé Diabético Isquêmico

Dos 91 pacientes portadores de pé diabético isquêmico


(Figura 1), 52 (57,1%) foram submetidos a revascularização
do membro inferior, sendo a cirurgia mais comumente realiza-
da a ponte fêmoro-poplítea em 22 pacientes, seguido pela

Fig. 2 – Evolução da necrose em pé desbridado

No grupo de oitenta pacientes onde o componente in-


feccioso estava associado ao componente isquêmico, 14 pa-
cientes (17,5%) foram submetidos a cirurgia de revasculari-
zação. Em dez casos (71,4%) foi realizada ponte fêmoro-
poplítea e três indivíduos (21,4%) submeteram-se a pontes
distais. Em um paciente (7,1%) foi realizada endarterectomia
da artéria femoral comum. Nesse grupo, em 15 pacientes
Fig. 1 – Pé isquêmico (22,7%) foi realizado desbridamento cirúrgico na lesão dos
com necrose de artelhos pés (Figura 2), 27 casos (40,9%) submeteram-se a amputação
supracondiliana, 18 (27,3%) a amputação infracondiliana e
ponte aortobifemoral em dez casos. Em oito indivíduos fo- seis pacientes (9,1%) foram submetidos a amputação trans-
ram realizadas pontes distais aos vasos poplíteos para a ar- metatarsiana.
téria fibular e artéria dorsal do pé e três pacientes submete- Quatorze indivíduos foram submetidos a cirurgia de re-
ram-se a angioplastia percutânea (nas artérias ilíaca direita, vascularização, quatro (28,6%) evoluíram sem necessidade
ilíaca esquerda e femoral superficial) e houve quatro casos de reoperação e dez (71,4%) necessitaram reoperação. Dos
com fibrilação atrial, que foram submetidos a embolectomias 14 pacientes que se submeteram a desbridamentos, quatro
por oclusão arterial aguda durante internamento. evoluíram sem reoperação (28,6%) e dez necessitaram
Dos 39 pacientes restantes deste grupo, 12 (30,8%) fo- desbridamentos (71,4%). Dos 52 pacientes submetidos à
ram submetidos a desbridamentos cirúrgicos e os outros 27 amputação, quarenta (76,9%) evoluíram sem necessidade de
não apresentavam condições de revascularização do mem- reoperação e 12 (23,1%) submeteram-se a reamputações.
bro pelo vulto das lesões isquêmicas e foram submetidos a Houve seis óbitos (7,7%), sendo quatro em pacientes
amputações, sendo a supracondiliana em 16 (41,0%) casos, que se submeteram a amputação e dois em indivíduos que
a infracondiliana em sete (17,9%) e quatro (10,2%) foram sub- foram revascularizados.
metidos à amputação transmetatarsiana.
Dos 52 pacientes submetidos a revascularização dos c) Pé Diabético Neuropático-Infeccioso
membros inferiores, 29 pacientes (55,8%) tiveram evolução
sem necessidade de reoperação; seis (11,5%) foram a óbito. Dos 129 pacientes nos quais o mecanismo fisiopato-
Foram realizadas 13 amputações no pós-operatório, sendo lógico foi o componente neuropático associado a infecção,
sete amputações supracondilianas (30,4%), quatro infra- o desbridamento cirúrgico foi a opção inicial para 83 pacien-
condilianas (17,4%) e duas transmetatarsianas (8,7%). Fo- tes (64,3%). Quarenta e seis pacientes (35,5%) foram subme-
ram ainda realizados dois redesbridamentos (8,7%) e três tidos a amputação, sendo 25 (19,4%) amputações supracon-
revisões de coto de amputação (13,0%). Em cinco pacientes dilianas, 14 (19,8%) infracondilianas e, em sete casos (5,4%),
houve nova tentativa de revascularização no pós-operató- foi realizada amputação transmetatarsiana. Nenhum pacien-
rio sendo quatro pontes fêmoro-poplíteas (17,4%) e uma te apresentou indicação de revascularização.
embolectomia femoral (4,3%). Ocorreram seis óbitos (11,5%) Dos 83 indivíduos submetidos a desbridamentos cirúr-
em pacientes que se submeteram a revascularização e cinco gicos, 45 (54,2%) evoluíram para cicatrização e 38 (45,8%)
óbitos (18,5%) nos que foram amputados. tiveram que ser redesbridados nos pés. Dos 46 pacientes

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amputados, trinta (65,2%) evoluíram sem reoperação e 16 Gráfico 3


(34,8%) necessitaram de nova amputação. Houve um óbito
Resultado Final de Mortalidade e
(1,2%) nos pacientes que se submeteram a desbridamentos
Sobrevida nos Grupos
e quatro óbitos (8,7%) nos submetidos a amputações.

100%
90%
80%
DISCUSSÃO
70%
60%
Mortalidade
50%
Sobrevida
paciente diabético pode ser considerado vulnerável 40%

O para desenvolver lesões tróficas nos membros inferio-


res.22 Todo esforço deve ser feito para a prevenção do
30%
20%
aparecimento dessas lesões e o médico que faz este primeiro 10%
atendimento deve ter esse conceito.19,23 0%
Qualquer lesão nos pés como uma calosidade, uma Isquêmico Isquêmico- Neuropático-
fissura no calcanhar, uma micose interdigital deve ser enca- Infeccioso Infeccioso
rada como potencialmente desencadeadora da perda do mem-
bro ou da vida.24,25,26
Nos Estados Unidos, a diabetes e suas complicações Gráfico 4
constituem a terceira principal causa de morte. Cinco de cada
seis grandes amputações de membro são realizadas em paci- Indicação de Amputação nos Grupos
entes diabéticos. Em vista das múltiplas complicações e da
natureza debilitante da diabetes, 14% da população diabéti- 80%
ca é hospitalizada anualmente com uma média de seis sema-
60%
nas para cada internação.27 Sim
No Hospital de Clínicas da Universidade Federal do 40% Não
Paraná, utilizamos os recursos humanos existentes com trei- 20%
namento da enfermagem tanto no setor de ambulatório como
na unidade de internação. No atendimento ao pé diabético 0%
Isquêmico Isquêmico- Neuropático-
deve-se ter uma equipe multidisciplinar, com endocrinolo- Infeccioso Infeccioso
gista, cirurgião vascular, ortopedista, enfermagem treinada,
assistente social e psicólogo.28
Comparando-se o tratamento dos pacientes do grupo cando a existência de dependência entre grupos e o resulta-
isquêmico com os do grupo isquêmico-infeccioso, houve do final .
57,1% de cirurgias de revascularização no grupo isquêmico Dos pacientes que retornaram ao Hospital de Clínicas,
e 17,5% no grupo isquêmico-infeccioso, havendo 42,9% de 54,3% são do grupo neuropático-infeccioso. Neste grupo,
amputações e desbridamentos no grupo isquêmico e 82,5% 45,8% dos pacientes que se submeteram a amputações tive-
de amputações e desbridamentos no grupo isquêmico-in- ram que ser reamputados (p = 0,3045). Comparando-se os
feccioso, demonstrando que, no paciente diabético, a isque- grupos em relação à amputação, houve 29,7% de amputação
mia e a infecção têm incidência 27% maior de amputação que no grupo isquêmico, 63,8% no grupo isquêmico-infeccioso
quando existe somente isquemia. Houve 39,6% mais cirurgia e 35,7% no grupo neuropático-infeccioso (Gráfico 4). Pode-
de revascularização no grupo isquêmico que no grupo isquê- se perceber que o percentual de pacientes que tem necessi-
mico-infeccioso, o que pode explicar o menor índice de am- dade de amputação é maior no grupo isquêmico-infeccioso
putações no grupo isquêmico. por ser o primeiro tratamento uma amputação pela extensa
No grupo isquêmico houve 11 óbitos (12,1%), no grupo infecção e necrose nos membros inferiores.
isquêmico-infeccioso seis óbitos (7,5%) e cinco (3,9%) no Ao analisarmos os grupos do pé diabético em relação
grupo neuropático-infeccioso (Gráfico 3). Analisando-se os ao seguimento, verificamos que, no grupo isquêmico, 40,7%
óbitos nos três grupos e aplicando-se os testes Qui-quadra- dos pacientes tiveram que ser reoperados, demonstrando
do e Exato de Fisher, em todos eles foi adotado o nível de que os percentuais são mais ou menos iguais nos três gru-
significância de 5%. O resultado do teste do Qui-quadrado pos no tocante a reoperações.
teve um p = 0,0707. Entretanto, observou-se que, num nível Ao compararmos os tipos de tratamento e a necessida-
de significância de 10%, esta hipótese seria rejeitada, indi- de de reoperação no grupo isquêmico, encontramos 44,2%

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de reoperações nos pacientes que foram submetidos a revas- 6. Pedrosa HC. Pé diabético: aspectos fisiopatológicos, tratamento
cularização, 58,3% foram submetidos a desbridamentos, e e prevenção. RBNP 1997;1:131-5.
25,9% foram reamputados (p = 0,1190). 7. Ferrier TM. Comparative study of arterial disease in amputated
No grupo isquêmico-infeccioso, os pacientes que se lower limbs from diabetics and non diabetics. Med J Aust
submeteram à revascularização, 71,4% tiveram que ser reope- 1967;1:5.
rados; 71,4% que se submeteram a desbridamentos tiveram 8. Lo Gerfo FW, Coffman JD. Vascular and microvascular disease
que ser redesbridados e 23,1% que foram submetidos a of the foot in diabetes. Is for foot in diabetes. Ims for foot care.
amputações tiveram que ser reamputados. Observando-se N Engl J Med 1984;311:1615-19.
os resultados, percebe-se que o percentual de pacientes que 9. Rosemblat MS, Sidawy AN et al. Lower extremity veni graft
necessitou de reoperação é menor entre aqueles que tiveram reconstruction: Results in diabetic and non diabetic patients.
como tratamento a amputação, no grupo isquêmico-infecci- Surg Gynecol Obstet 1990;171:311-55.
oso. No grupo neuropático-infeccioso, 45,8% dos pacientes 10. Towne JB. Management of foot lesions in the diabetic patient.
submetidos a amputações, tiveram que ser reamputados In: Rutherford R: Vascular Surgery. 4th. Ed. W. B. Sanders
Company. Philadelphia, 1995.
(p = 0,3045). Comparando-se os tipos de tratamento em rela-
ção à mortalidade no grupo isquêmico, houve 11,5% de óbi- 11. Sipersteni MD, Unger RH, Madisson LL. Studies of muscle
capillary besement membrane in normal subjets diabetic and
tos nos pacientes revascularizados e 12,8% naqueles que
prediabetic patients. J Cl Invest 1998;47:1973-99.
foram desbridados ou amputados (p = 1,0000).
No grupo isquêmico-infeccioso, houve 14,3% de mor- 12. Katz MA, McCuskey P, Beggs JL. Relationship between
microvascular function and capillary structure in diabetic and
talidade nos pacientes que se submeteram a revascularização
non diabetic. Human skin. Diabetes 1989;38:1245-50.
e 6,1% de mortalidade nos pacientes que se submeteram a
13. Wyss CR, Matsen FA, et al. Transcutaneous oxygen tension
desbridamentos ou amputações (p = 0,2808).
measurements on limbs of diabetics and non diabetics peripheral
Nos pacientes do grupo neuropático-infeccioso, hou-
vascular disease. Surgery 1984;95:339-46.
ve 1,2% de mortalidade nos pacientes que se submeteram a
14. Brownlee M, Cerami A, Vlassara H. Advanced glycosylation
desbridamentos e 8,6% de mortalidade nos pacientes que
and products in tissue and the biochemical basis of diabetes
foram amputados (p = 0,0542). complications. J Med N Engl 1998;318:1315-21.
Ao analisarmos as diferentes formas de apresentação
15. Pham HT, Economides PA, Veve A. The role of endothelial
clínica do pé diabético concluímos que o pé diabético isquê- function on the foot. Microcirculation and wound healing in
mico, isquêmico-infeccioso e o neuropático-infeccioso dife- patients with diabetes. Clin Podiatr Med Surg 1998;15:85-93.
rem na incidência de amputações nos membros inferiores, 16. Akbari CM, Gibbons GW et al. The effect of arterial
eles se assemelham no índice de mortalidade e o pé diabético reconstruction on the natural history of diabetic neuropathy.
isquêmico-infeccioso é mais grave que os demais por apre- Arch Surg 1997;132:148-52.
sentar um maior índice de amputações. 17. Sanders LJ, Frykberg RG. Diabetic neuropathicehaviors
Este estudo teve conclusões semelhantes ao trabalho predicting foot lesions in patients with non insulin osteo
feito por Stahlke e Abrão possuindo informações comple- arthropathy. The charcot foot. In: Levin ME, O’Neal LW,
mentares decorrentes da alta complexidade do doente diabé- Bowker JH: The Diabetic Foot. 5th. Ed. St. Louis, Masby Year
tico, que deve ter um acompanhamento multidisciplinar na Book, 1993.
tentativa de prevenir as suas inúmeras complicações, dentre 18. Stahlke HJ, Abrão E. Pé diabético: análise de 225 casos. Cir
elas o pé diabético.18 Vasc Angiol 1997;13:154-61.
19. Armstrong DG, Lavery LA, Harkless LB. Who is at risk for
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Rua Dr. Theodorico Bittencourt, 350 – Jardim Social
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ley a combined approach to foot ischemia and neuropathic Tel: (41)363-4693 ou 9117-5394
ulceration in patients with diabetes mellitus. A five year e-mail: avedolin@yahoo.com.br
experience. Diabetes Care 1994;17:983-7.

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Vasculogênica Organizador: Dr. Paulo Roberto Mattos da Silveira
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