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Encontro de Jongueiros: um projeto de extensão da UFF e seus desdobramentos

Relato

Encontro de Jongueiros: um projeto de extensão


da UFF e seus desdobramentos

Elaine Monteiro*
O jongo tem que ter,
Ter dançadeiro pra valer, tem
Tem que ter, que ter que rodar, tem que ter
No baticum
A roda vai crescer
E o povo vai fazer fuzuê
Que nem seu Exu-kêkêrêkê. Resumo
Tem que ter Sá-moça catita Este trabalho se dispõe a relatar a ex-
Tem que ter a voz de vovó de Vassuncê periência do Projeto Rede de Memó-
ria do Jongo e do Caxambu. É desa-
Tem que ter um canto nagô, fio e compromisso deste projeto gerar
Tem que ter um de Ioruba, tem que ter espaços e tempos para a troca de ex-
Saravá pro seu Benguelê. periências e saberes entre jovens e ve-
lhos das comunidades jongueiras, a
reflexão sobre a cultura do Jongo e o
Vem pro jongo, desenvolvimento local comunitário.
Encontros e organização das comuni-
Ô vem jongueiro ver, dades jongueiras em Rede resultaram
João-Congo, na solicitação do registro do Jongo
como patrimônio imaterial da cultura
O jongo tem que ter brasileira.
Mais um herdeiro Os Encontros de Jongueiros deram vi-
Nesse terreiro sibilidade ao Jongo na região Sudeste
e permitiram que os jongueiros se reu-
Pro jongo não morrer. nissem para a troca de saberes, expe-
(Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro) riências e para a discussão de seus pro-
blemas e necessidades. A Rede de
Memória do Jongo e do Caxambu
facilitou e fortaleceu a organização das
O Jongo comunidades jongueiras e agregou
professores, pesquisadores, ONGs,
O Jongo é uma dança de origem rural da universidade e demais instituições
época da escravidão. A cultura do Jongo remon- parceiras.
ta às relações de sociabilidade que os escravos Palavras-chave: Jongo, cultura, ex-
tensão
estabeleceram nas fazendas de café e cana-de-
açúcar. Também chamado de Caxambu, devido
ao tambor de mesmo nome, o Jongo é referência
cultural em várias regiões dos estados do Rio de
Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais.
As matrizes africanas do Jongo estão ligadas
aos negros de origem bantu, que foram trazidos
como escravos para o trabalho nas fazendas de
*Professora-adjunto do Departamento de Educação Matemática (GEM), da UFF.
café do Vale do Rio Paraíba. Os Bantus são mem- E-mail: elaine@vm.uff.br

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bros da grande família etnolinguística dos negros área de cultura, na Vila Campelo, distrito de
chamados Angolas, Congos, Cambindas, Bengue- Santo Antônio de Pádua. O II Encontro foi rea-
las, e Moçambiques. A influência da nação ban- lizado em 1997, na praça principal de Miracema
tu foi fundamental na cultura brasileira. e o III Encontro em 1998, em Santo Antônio de
A roda de Jongo acontece com um solista Pádua. Apesar desses três primeiros encontros
ao centro, que canta pontos respondidos em coro terem uma dimensão local, restringindo-se aos
pelos participantes, numa empolgante combina- municípios de Santo Antônio de Pádua e Mira-
ção de batuque, canto, dança, religiosidade e cema, eles já começaram a dar visibilidade ao
brincadeira. Alguns núcleos familiares de afro- Jongo e a articular jongueiros, pesquisadores e sim-
descendentes persistem em manter viva a tradi- patizantes em torno dessa manifestação cultural,
ção do Jongo. Dança-se o Jongo no dia 13 de uma vez que alguns visitantes começaram a apa-
maio, nos dias de santos católicos de devoção da recer nos encontros do Noroeste Fluminense.
comunidade, nas festas juninas, nos casamentos Após os três primeiros encontros, os jonguei-
e em apresentações públicas. ros avaliaram que os encontros precisariam alçar
novos vôos, congregar mais comunidades, para
que tanto o Jongo quanto os encontros em si pu-
O projeto de extensão “Encontro de
dessem ter continuidade. Foi assim que, em 1999,
Jongueiros” o IV Encontro foi organizado nos Arcos da Lapa,
Eu vim aqui Centro da Cidade do Rio de Janeiro, e contou
Não vim pra demorá com outras comunidades, além daquelas do No-
Eu vim cumprimentá roeste Fluminense. Compareceram ao Encontro
O povo desse lugar. os grupos da Serrinha, do Quilombo São José, de
(Domínio Público) Angra dos Reis e de Guaratinguetá (SP), dando
uma nova dimensão ao evento.
O projeto de extensão “Encontro de Jon- De lá para cá os encontros só fizeram cres-
gueiros” teve início no curso de Licenciatura em cer e se enriquecer em suas atividades. No V
Matemática da UFF, em Santo Antônio de Pá- Encontro, em Angra dos Reis, no ano de 2000,
dua (RJ), no ano de 1996, por iniciativa do Prof. organizado pela Faculdade de Educação da UFF
Hélio Machado de Castro, professor de Sociolo- e por grupos de jongo locais, pela primeira vez foi
gia da Educação do referido curso à época. realizada uma mesa de debates. De lá saiu ainda
O Caxambu de Pádua persistiu devido à a criação da Rede de Memória do Jongo e do
resistência de Dª Sebastiana II, neta de escrava Caxambu. Em 2001, no VI Encontro, em Valen-
africana, que o preservou até o seu falecimento, ça, foi comemorado, paralelamente ao evento, o
em 1995, em uma sociedade que não aceitava o centenário da jongueira Clementina de Jesus e
Caxambu por ser “coisa de negro” ou “coisa de lançado o manifesto dos jongueiros em favor da
gente pobre”. A manifestação era condenada desapropriação das terras do Quilombo São José,
devido às suas origens africanas e os grupos fol- comunidade onde vivem, há mais de 150 anos,
clóricos da região refugiaram-se em Centros e 200 negros que lutam por suas terras. O VII En-
Terreiros, se afastando das comunidades. Esse contro foi realizado em 2002, em Pinheiral, cida-
fenômeno se deu em vários municípios do Noro- de marcada pela forte presença do Jongo. Os or-
este Fluminense. ganizadores desse Encontro privilegiaram a rea-
Diante desse quadro e da ausência de Dª lização de um trabalho sobre o Jongo junto às es-
Sebastiana II, o professor Hélio percebeu que o colas da rede pública de ensino. No ano de 2003,
Caxambu corria o risco de perder a sua identida- o VIII Encontro foi realizado pela primeira vez
de como manifestação cultural local e viu que no Estado de São Paulo, na cidade de Guaratin-
seria interessante criar, junto com os jongueiros, guetá, dando prosseguimento ao caminho do Vale
um Encontro para manter vivos os aspectos cul- do Paraíba.
turais do interior fluminense. No ano de 2004, as comunidades jonguei-
No ano de 1996, foi realizado o I Encontro ras retornaram aos Arcos da Lapa, para o IX En-
de Jongueiros, como um projeto de extensão na contro, que teve um formato diferente dos ante-

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riores porque, pela primeira vez, o Encontro de ção do Prof. Paulo Carrano, do Observatório Jo-
Jongueiros foi organizado com o patrocínio cul- vem da UFF, na qual foi discutida, a partir dos
tural de uma grande empresa. Os encontros an- vídeos, a tradição entre Mestres e Jovens no Jon-
teriores foram sempre organizados com esforços e go. Na parte da tarde, foram realizadas oficinas
parcerias locais para o transporte, alimentação e de jongueiros, uma delas direcionada para cri-
infra-estrutura do próprio evento, o que, em al- anças e adolescentes, sob a coordenação de Ro-
guns momentos, causou constrangimentos a or- gério, do Caxambu de Miracema, e de Gil, do
ganizadores e jongueiros. Depender de um lan- Jongo de Piquete, que desenvolvem trabalhos com
che aqui, um ônibus ali, um equipamento de som crianças e adolescentes em suas comunidades.
acolá, tendo que mobilizar grupos de jongueiros À noite, antes do início da Roda de Jongo, hou-
de diversos lugares, nem sempre foram tarefas ve uma cerimônia na qual representantes do
tranqüilas e nem sempre foram atividades trata- IPHAN e do Ministério da Cultura, com a pre-
das com a devida dignidade e respeito que um sença de representantes da UNESCO e da Se-
evento desta natureza merece. A despeito de tudo cretaria de Promoção da Igualdade Racial (SEP-
isso, a solidariedade e a colaboração viabilizaram PIR), fizeram a proclamação pública do Jongo
os oito Encontros anteriores, mas o fato é que, como Patrimônio Cultural do Brasil e deram a
em função do patrocínio recebido, apenas no IX titulação às comunidades jongueiras. Depois dis-
Encontro os quinhentos jongueiros participantes so, foi feita uma homenagem a Dona Sebastiana
puderam contar com hospedagem, além de po- II, que contou com a presença de sua família,
derem aprofundar o debate sobre temas relacio- com o compromisso de que no dia 13 de maio de
nados às suas problemáticas em um seminário que 2006 seria inaugurada a praça do Caxambu em
se estendeu por dois dias e foi dividido em seis Santo Antônio de Pádua. Logo depois, teve iní-
painéis. cio a grande Roda de Jongo, com apresentação
No ano de 2005, o projeto “Encontro de Jon- de todas as comunidades.
gueiros” retornou ao seu local de origem, Santo No espaço onde foi realizado o evento, ha-
Antônio de Pádua, em uma justa homenagem ao via uma exposição sobre os Encontros de Jonguei-
seu idealizador, que soube antever a necessidade ros para visitação do público participante. No dia
e o potencial de resistência existente no encon- 18, pela manhã, as lideranças das comunidades
tro das comunidades jongueiras. Talvez ele não fizeram uma reunião da Rede de Memória do
dimensionasse o impacto que aquela idéia pu- Jongo e do Caxambu para decidir o local do
desse vir a ter anos depois. Talvez o importante encontro de 2006, que deverá ser realizado no
fato de o Jongo ter recebido o seu registro no Ins- mês de setembro, dentro do Quilombo São José,
tituto do Patrimônio Histórico e Artístico Naci- em Valença.
onal (IPHAN) como Patrimônio Cultural do Bra- Do Rio de Janeiro, participaram as comuni-
sil, no ano de 2005, não tenha sido mero acaso, dades de Santo Antônio de Pádua, Miracema,
mas resultado da resistência e da organização das Porciúncula, Quissamã, Barra do Piraí, Angra dos
comunidades jongueiras. Reis, Pinheiral, Serrinha e Valença (Quilombo
Esse Encontro marcou uma verdadeira ce- São José). De São Paulo, participaram as comu-
lebração do trabalho realizado pelas comunida- nidades de Campinas, Guaratinguetá e Piquete.
des de preservação do Jongo, uma das importan- E, de Minas Gerais, participou a comunidade de
tes raízes da cultura brasileira. Vale lembrar que, Carangola. Além desses grupos, participaram um
em todas as comunidades, esse trabalho, via de pequeno grupo de Campos (RJ) e dois grupos fol-
regra, é realizado em condições sociais e econô- clóricos, um de Duque de Caxias (RJ) e um da
micas precárias e adversas. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O X Encontro, que também contou com o Os Encontros têm crescido em número de
patrocínio de uma grande empresa, teve início comunidades neles representadas, possibilitando
do dia 16 de dezembro, com uma mesa de aber- a identificação e a organização de comunidades
tura, homenagens e um painel sobre Patrimônio jongueiras na região Sudeste. A cada ano, novas
Imaterial do Jongo1. No dia 17, pela manhã, foi idéias e atividades são desenvolvidas e, talvez o
realizada uma mostra de vídeos, sob a coordena- resultado maior, os Encontros de Jongueiros ga-

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nharam vida própria porque jongueiros e jonguei- ção do registro do Jongo como patrimônio imate-
ras deles se apropriaram e deles fizeram um espa- rial, como pode ser observado no artigo escrito
ço de organização comunitária e de manifesta- pela equipe do CNFCP:
ção de sua cultura e da identidade jongueira. Nesse sentido, o Registro do Jongo como patrimônio
cultural do Brasil é o reconhecimento por parte do
Desdobramentos dos Encontros, Estado da importância desta forma de expressão
para a conformação da multifacetada identidade
desafios para as comunidades
cultural brasileira. Este Registro chama a atenção
jongueiras e papel da extensão
para necessidade de políticas públicas que promo-
universitária vam a eqüidade econômica articulada com a
Plantei batata pluralidade cultural; políticas que garantam a qua-
No terreiro da rainha lidade de vida e cidadania. E condições de auto-
Sete metros de lenha determinação para que as comunidades jongueiras
A batata não cozinha. mantenham vivo o Jongo nas suas mais variadas
(Domínio Público) formas e expressões.
Desse modo, recomendamos que as ações de sal-
Os encontros de jongueiros, simultanea- vaguarda do bem em questão articulem diferentes
mente aos momentos anuais de dança, canto e instâncias oficiais nos âmbitos nacional, dos esta-
festa, promoveram comunicações entre diferen- dos e municípios no sentido de: 1) promover o aper-
tes sujeitos e instituições. As comunidades urba- feiçoamento das leis de incentivo à cultura e de-
nas e rurais de jongo se mostraram generosamen- senvolvimento de instrumentos que facilitem o
te abertas para os apaixonados e comprometidos acesso direto dos detentores dos saberes às diferen-
com esse patrimônio cultural, que se mantém tes instâncias de patrocínio e financiamento para a
renovado mesmo nas difíceis condições de vida produção cultural no país, de modo que tenham
das comunidades jongueiras. autonomia e agilidade, sobretudo para o financia-
Na ocasião do V Encontro de Jongueiros, mento do Encontro Anual de Jongueiros e a
foi iniciado o movimento da Rede de Memória implementação da Rede de Memória do Jongo;
do Jongo e do Caxambu. A idéia foi criar canais 2)estimular a interlocução entre as esferas da soci-
para o estreitamento de laços de solidariedade edade e dos poderes públicos de modo a incentivar
entre as comunidades e demais interessados em o apoio oficial às associações, comunidades e gru-
participar do trabalho coletivo de preservação da pos de jongueiros para que tenham condições de
memória do Jongo e apoiar as lutas por melhores controlar, manter e promover a transmissão dos sa-
condições de vida dos territórios jongueiros. As beres relacionados ao bem, conforme seus interes-
comunidades jongueiras são ameaçadas por gra- ses; 3)promover a inclusão, valorização e
ves problemas sociais, pela negação do direito à aprofundamento dos temas relacionados ao bem
terra e predatórios processos de urbanização, que cultural nas agendas escolares e programas
incidem sobre os elementos materiais e simbóli- educativos do Estado, de modo que sejam apre-
cos dessa cultura de origem rural. É desafio e sentados como patrimônio - testemunhos da riqueza
compromisso da Rede de Memória do Jongo e cultural do país. (CNFCP/IPHAN)
do Caxambu gerar espaços e tempos para a troca A criação da Rede de Memória do Jongo
de experiências e saberes entre jovens e velhos e do Caxambu e a criação do Encontro de Jon-
das comunidades jongueiras, a reflexão sobre a gueiros fazem, portanto, parte de uma mesma his-
cultura do Jongo e o desenvolvimento local co- tória, a história da organização das comunidades
munitário. jongueiras, que teve como conquista a aprova-
Encontros e organização das comunidades ção do registro do Jongo como Patrimônio Cultu-
jongueiras em Rede resultaram na solicitação do ral do Brasil pelo Conselho Consultivo do IPHAN,
registro do Jongo como patrimônio da cultura em reunião realizada no dia 10 de novembro de
brasileira e o apoio a essas duas ações por parte 2005. Os Encontros de Jongueiros deram visibili-
do Estado está recomendado no Inventário do dade ao Jongo na região Sudeste e permitiram
Jongo do Sudeste, que fundamentou a solicita- que os jongueiros se reunissem para a troca de

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saberes, experiências e para a discussão de seus No ano de 2005, inicialmente com o esforço
problemas e necessidades. A Rede de Memória das comunidades e posteriormente com uma pe-
do Jongo e do Caxambu facilitou e fortaleceu a quena ajuda financeira do SESC Rio de Janeiro,
organização das comunidades jongueiras e agre- viabilizada por uma das instituições que partici-
gou professores, pesquisadores, ONGs, universi- pam da Rede, as comunidades realizaram reuni-
dade e demais instituições parceiras. ões durante o ano. Nessas reuniões, foram discu-
A partir do relato da experiência do Projeto tidos problemas das comunidades e a organiza-
de Extensão Encontro de Jongueiros, pode-se ção do X Encontro de Jongueiros. Foram realiza-
dizer que a criação da Rede de Memória do Jon- das cinco reuniões, o que permitiu uma integra-
go e do Caxambu e que o próprio fato de o Jongo ção maior entre as comunidades, a presença de
ter recebido o registro como Patrimônio Cultural novas comunidades, instituições e parceiros.
do Brasil apresentam-se, em parte, como desdo- As comunidades se prepararam, durante
bramentos deste projeto extensionista que per- todo o ano, para o X Encontro, em particular
mitiu a organização das comunidades. Há, no para receberem o registro do Jongo como Patri-
entanto, desafios decorrentes desses desdobra- mônio Cultural do Brasil, como evidencia o pa-
mentos que devem continuar a ser enfrentados inel de debates por elas organizado na abertura
pela extensão universitária. do X Encontro, intitulado “Jongo do Sudeste,
Até o ano de 2005, a Rede se reunia basica- patrimônio imaterial: por quê e para quê?”. A
mente durante os Encontros, uma vez que seus partir dos debates e das trocas de experiências
membros não tinham condições de arcar com o travadas entre jongueiros, professores, estudan-
custo de reuniões mensais. Questões como as tes, pesquisadores e representantes das institui-
condições sociais das comunidades jongueiras, o ções presentes, no dia 18 de dezembro, em reu-
desenvolvimento de atividades que permitissem nião da Rede durante o Encontro, as lideranças
o trabalho com crianças e jovens, o reconheci- jongueiras saíram de Pádua com uma agenda
mento do Jongo como importante manifestação propositiva para o ano de 2006. A idéia era ga-
da cultura popular por parte do Estado eram dis- rantir encontros mensais das lideranças e par-
cutidas nas reuniões da Rede. ceiros da Rede no Centro Nacional de Folclore
e Cultura Popular não só para a organização do
A cada reunião, a Rede também decidia o XI Encontro de Jongueiros, mas também para a
local de realização do Encontro no ano seguinte.
interlocução com pesquisadores e com repre-
Esta tem sido, ao longo dos anos, uma decisão
sentantes do governo em todas as esferas, para
política. Reunidas em Rede, as lideranças jon- a elaboração conjunta de propostas que consubs-
gueiras, a partir das questões colocadas em cada
tanciassem políticas públicas de salvaguarda do
uma das comunidades, decidem qual comunida-
Jongo/caxambu.
de será fortalecida no ano seguinte pela realiza-
ção do Encontro. Ao tratarem de determinados Como muitas lideranças viajam muitas ho-
temas e questões e ao renderem suas homena- ras para participar desses encontros, que se reali-
gens, com a visibilidade dos Encontros, as comu- zam sempre aos sábados no CNFCP, ficou decidi-
nidades jongueiras marcam posições que acabam do que se procuraria otimizar os encontros, que
por assumir a luta de uma determinada comuni- passariam a ser feitos nos períodos da manhã e da
dade, região, ou até mesmo de todas as comuni- tarde. Pela manhã, reunião das lideranças e, à
dades. Foi assim com a questão das terras do tarde, visita de um pesquisador ou representante
Quilombo São José, foi assim com a realização do de governo para o debate de um tema específico
X Encontro em Pádua, que não só rendeu home- que viesse a subsidiar a elaboração de políticas
nagens às origens dos Encontros, mas também públicas de salvaguarda do Jongo/caxambu. Essa
procurou fortalecer as comunidades do Noroeste proposta implicava a captação de recursos que
Fluminense e devolver ao Caxambu de Pádua o viabilizassem os encontros mensais da Rede, so-
seu território, perdido para a construção da Pra- bretudo no que se refere a passagens, hospeda-
ça da Bíblia1. Foi assim com o próprio reconheci- gem de um dia e alimentação das lideranças jon-
mento do Jongo como Patrimônio Cultural do gueiras que saem de suas comunidades para a
Brasil, debatido no IX Encontro, em 2004. cidade do Rio de Janeiro.

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A primeira reunião da Rede de Memória dade pública em um projeto dessa natureza é fun-
do Jongo e do Caxambu estava marcada para o damental para a constituição da Rede como es-
final do mês de janeiro. A pauta da reunião era: paço de fortalecimento de um movimento cultu-
avaliação do X Encontro de Jongueiros, planeja- ral e social comprometido com o coletivo de to-
mento do XI Encontro de Jongueiros e constru- das as comunidades.
ção da Agenda de Trabalho da Rede para 2006. Nesse sentido, pelo envolvimento e pelo
Infelizmente, reunião alguma aconteceu por fal- compromisso assumido com as comunidades jon-
ta de recursos. gueiras, o Observatório Jovem e o Departamento
A Universidade Federal Fluminense tem de Educação Matemática da UFF em Santo An-
tido, ao longo dos anos, uma participação rele- tônio de Pádua se encontram diante do desafio
vante na organização das comunidades jonguei- de procurar viabilizar as reuniões da Rede de
ras e entende que, por seu caráter público, deve Memória do Jongo e do Caxambu. No momen-
continuar cumprindo este papel. O Observatório to, a continuidade das reuniões é fundamental à
Jovem tem participado intensamente dos Encon- elaboração de propostas de políticas públicas de
tros de Jongueiros e cumprido relevante papel na salvaguarda do Jongo. Um projeto para a garan-
Rede de Memória do Jongo e do Caxambu. Da tia dessa atividade foi elaborado e enviado ao
mesma forma, tem contribuído com o registro Ministério da Cultura e a universidade espera
audiovisual dos Encontros e tem colocado o seu poder vir a contribuir para que o reconhecimen-
acervo à disposição das comunidades, estudan- to do Jongo como Patrimônio Cultural do Brasil
tes e pesquisadores. possa efetivamente resultar em condições con-
Além da universidade, participam das reu- cretas para a salvaguarda deste patrimônio.
niões da Rede representantes do Centro Nacio- Além disso, o Encontro é hoje um momento
nal de Folclore e Cultura Popular e de ONGs de festa, de celebração das comunidades, mas di-
ligadas à cultura popular. Fica claro, nas reuni- ante das demandas que estão colocadas para to-
ões, que o que move cada uma das instituições das as comunidades jongueiras, o Encontro deve
participantes está diretamente ligado à identi- ser compreendido como uma das atividades da
dade da instituição. Desta forma, o que move Rede. Esta deve acrescentar à sua pauta de dis-
uma ong que trabalha com cultura popular é di- cussão os resultados dos Encontros e os produtos
ferente do que move uma instituição pública, por eles gerados. E aqui a universidade também
como a universidade. cumpre um importante papel junto às comunida-
Todas as instituições animam a Rede e con- des jongueiras ao procurar promover na Rede o
tribuem para o seu fortalecimento, mas o papel debate sobre o confronto entre as necessidades e
da UFF tem ficado evidente, uma vez que é uma os direitos das comunidades e o mercado cultural.
instituição que tem tido uma intensa atuação na O desenvolvimento tecnológico permite
Rede e que por sua própria natureza participa de que os ricos momentos dos Encontros sejam re-
sua articulação de forma “desinteressada”, no gistrados de diversas formas. Hoje, de um En-
sentido gramsciano do termo, tão bem explicado contro de Jongueiros podem sair livros, CDs,
por Nosella (2004; 42): DVDs, fotografias, exposições etc. A discussão
(...) o termo “desinteressado” (cultura desinteres- sobre os direitos de veiculação e de comerciali-
sada, escola e formação desinteressadas) que zação de todo esse acervo que vem sendo reco-
conota horizonte amplo, de longo alcance, isto é, lhido ao longo de anos e o retorno desses produ-
que interessa objetivamente não apenas a indiví- tos para as comunidades jongueiras se configu-
duos ou a pequenos grupos, mas à coletividade e ram como uma questão emergente na Rede.
até à humanidade inteira. É certo que todas as instituições e comuni-
dades têm um papel fundamental na condução
Da mesma forma que a universidade públi-
deste debate na Rede, mas talvez caiba à univer-
ca é o local privilegiado de produção do conhe-
sidade, mais uma vez por sua natureza e identi-
cimento “desinteressado”, do conhecimento que
dade, a animação de um debate “desinteressa-
não é imediatamente interessado e que visa ao
do” sobre essa questão. Isso só poderá acontecer
bem comum, que é público, o papel da universi-
com a garantia de reuniões periódicas da Rede e

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Encontro de Jongueiros: um projeto de extensão da UFF e seus desdobramentos

com a compreensão de todos os participantes,


sobretudo das lideranças jongueiras, da Rede
Abstract
como um espaço público de discussão e, conse- This paper aims to report the
experience of Rede de Memória do
qüentemente, de preservação de um patrimônio
Jongo e do Caxambu project. It is its
também público que pressupõe a existência de challenge and commitment to create
um sujeito coletivo. spaces and times to exchange
experience and knowledge between
young and elder people of Jongo
comunities.
Bibliografia Through Rede de Memória do Jongo
CARRANO, Paulo. Rede de Memória, VIII Encontro de e do Caxambu, Jongo has been
Jongueiros, Guaratinguetá, SP, 21 e 22 de novembro de 2003, registered as immaterial Brazilian cul-
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impresso). Keywords: Jongo, culture, extension.
CASTRO, H.M. Pequena História dos Encontros de
Jongueiros, VIII Encontro de Jongueiros, Guaratinguetá, SP, 21
e 22 de novembro de 2003, São Paulo, Associação Cultural
Cachuera!, 2003. (Programa impresso).
CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA
POPULAR/IPHAN. Jongo, patrimônio imaterial brasileiro.
Patrimônio – Revista Eletrônica do IPHAN. Disponível em
www.revista.iphan.gov.br. Acesso em 13 de julho de 2006.
IX Encontro de Jongueiros, Rio de Janeiro, RJ, 17 E 18 de
dezembro de 2004, Associação Brasil Mestiço, 2004
(Programa Impresso).
NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. São Paulo, Cortez,
2004.

Notas
1
Os homenageados da noite foram o Prof. Hélio Machado de
Castro, idealizador do Encontro de Jongueiros; Mestre
Orozimbo, do Caxambu de Pádua; Mestre Nico, líder do grupo
de Pádua, e Dona Aparecida Ratinho, grande mestra do
Caxambu de Miracema. Participaram do Painel a Profª Elizabeth
Travassos, da UNI-Rio, coordenadora da pesquisa “Jongo do
Sudeste”, a pesquisadora Rita Gama, do Centro Nacional do
Folclore e Cultura Popular/IPHAN, e o pesquisador Paulo Dias,
da Associação Cultural Cachuêra.
2
Em uma articulação de pastores evangélicos e vereadores da
cidade, o local onde Dona Sebastiana II dançava o Caxambu
com seu grupo, diante de um Cruzeiro às margens do Rio Pom-
ba, foi urbanizado e transformado em Praça da Bíblia, local
designado para a realização de eventos e cultos evangélicos. No
dia 13 de maio de 2006, a Prefeitura de Santo Antônio de
Pádua cumpriu o compromisso estabelecido durante o X En-
contro de Jongueiros de reinaugurar o Cruzeiro em um novo
local destinado ao Caxambu. O Cruzeiro foi reinaugurado, o
local do Caxambu, que deverá se chamar Praça Sebastiana II,
ainda precisa ser demarcado e adequado aos eventos do
Caxambu.

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