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LÓGICA—Vamos falar da lógica de um modo geral, expondo as diversas concepções definidas acerca
da sua tarefa própria; este esboço histórico concluirá com uma discussão sistemática sobre o
problema da natureza da lógica. São necessárias duas advertências: 1) Incluem-se na lógica certos
tipos de pensamento, com a lógica dialéctica, lógica histórica, lógica concreta, etc, que muitos
autores não consideram pertencer à lógica estrita. 2) Alguns autores distinguem entre lógica e
logística como se designassem dois tipos completamente diferentes de lógica. O termo _lógica
designa, para nós, um conjunto muito amplo de investigações que compreende igualmente a lógica
tradicional e a lógica nova ou logística. HIST RIA DA L GICA: Segundo alguns autores, a história da
lógica apresenta três períodos de grande desenvolvimento: de Aristóteles ao estoicismo; na idade
média nos séculos doze, treze, catorze e parte do século quinze; a época contemporânea. Apesar de
haver na tradição grega consideráveis elementos há que chegar a Aristóteles para que estes se
harmonizem e alcancem plena maturidade. Além de um doutrina silogística muito completa e de
vários trabalhos de lógica indutiva, encontramos em Aristóteles várias teorias metodológicas, ou a
discussão a fundo dos chamados princípios lógicas e outras análises de noções lógicas fundamentais
como a de oposição e a dos predicáveis.... Durante muito tempo, pensou-se inclusive que a lógica
aristotélica era simplesmente a lógica. Aristóteles oscilou entre duas ideias acerca da índole da
lógica. Por um lado, concebeu-a como introdução a qualquer investigação científica, filosófica ou
pertencente à linguagem vulgar; por isso a lógica não é uma parte da filosofia mas, em suma, um
átrio de entrada para a filosofia. Por outro lado, a lógica aparece como a análise dos princípios
segundo os quais a realidade se encontra articulada; em alguns casos, a lógica de Aristóteles parece
seguir o traçado de uma ontologia. A lógica dos estóicos é principalmente uma lógica das
proposições. Da lógica formal aristotélica passou-se, por diversas gradações, para uma lógica
formalista; certos raciocínios que, em Aristóteles, aparecem como silogísticos são entendidos pelos
estóicos como regras de inferência válidas. Mesmo quando, em muitos casos, os estóicos
conceberam a lógica como aquela parte da filosofia destinada a apoiar a solidez dos seus ideais
éticos, a lógica constituiu um dos campos onde surgiram contributos mais originais.. Os estóicos
esclareceram também questões semânticas a que nos referiremos no artigo _paradoxos. A partir do
século doze e até ao século quinze, deu-se um novo florescimento da lógica, e o inventário dos
contributos desta época à lógica está ainda em formação. Deve destacar-se que a lógica medieval
propõe novos campos de estudo. sobre os termos sincategoremáticos, sobre as propriedades dos
termos, sobre os insolúveis, sobre a obrigação e sobre as consequências. Devem juntar-se-lhe os
inúmeros estudos de filosofia da linguagem especialmente através da gramática especulativa :...
Quanto á ideia da lógica defendida pelos escolásticos medievais, muitos concordam em que a lógica
é uma “ciência de julgar correctamente”, mas dividiram-se na interpretação desta opinião: uns
entenderam-na como designando um processo que conduz ao conhecimento verdadeiro; outros,
como um processo que permite obter raciocínios correctos ou formalmente válidos. Esta segunda
interpretação acentua o formalismo... Muitos filósofos modernos interessaram-se menos pela lógica
do que pelo estudo dos métodos da ciência natural. De qualquer modo, fizeram-se esforços para
desenvolver a lógica como um cálculo e houve também tentativas para constituir uma lógica
estreitamente ligada à epistemologia. A figura principal da primeira das citadas tentativas é Leibniz.
Este limitou-se não só a assentar as bases de uma “característica universal”, mas também a tocar
muitos dos pontos desenvolvidos pela posterior lógica simbólica, mas o carácter fragmentário da
sua obra e as suas finalidades filosóficas gerais impediram-no de levar a cabo um a trabalho
completo em qualquer das muitas vias encetadas. Além do mais, a ideia da formalização da lógica
estava estreitamente ligada, em Leibniz, à ideia de que os princípios lógicos são simultaneamente
princípios ontológicos. Em Kant, a lógica parece assumir um aspecto formal igualmente afastado da
ontologia e da psicologia. É Kant quem procura estabelecer uma lógica ao mesmo tempo
determinada pela epistemologia e fundamento da epistemologia. Com o fim de dar maior
informação sobre as tendências lógicas na última metade do século dezanove e a parte decorrida
deste século, dever-se-ia ampliar o quadro até limites que a presente obra não consente. Limitar-
nos-emos a uma rápida enumeração das mesmas. 1) A lógica empírica ou da indução supõe que os
objectos de que trata são o resultado de generalizações empíricas efectuadas sobre o real por meio
de uma abstracção. Esta lógica converte-se cada vez mais numa metodologia do conhecimento
científico. O seu representante mais característico é John Stuart Mill. 2) Para a corrente psicologista,
os princípios lógicos são pensamentos e a lógica revela-nos a estrutura objectiva dos mesmos. 3) A
corrente normativista propõe que a lógica responda à seguinte pergunta: “como devemos pensar
para que o nosso pensamento seja correcto?” 4) A lógica metodológica cultiva de preferência os
problemas centrados em torno do modo do raciocínio científico. 5) A lógica gnoseológica afirma que
a lógica não é senão uma teoria do conhecimento. Não podem apresentar-se normas que não
signifiquem algo; e como o significado é o conhecimento, resulta que as formas da lógica são formas
do conhecimento.. 6) A lógica metafísica entende que o correlato das operações lógicas é uma
realidade metafísica ou considerada como tal. O grande exemplo deste tipo de lógica é a lógica
dialéctica de Hegel. 7) A lógica fenomenológica defende que o objecto da lógica é o objecto ideal,
que não se pode reduzir nem a uma forma inteiramente vazia nem tão pouco a uma essência de
índole metafísica. O objecto ideal é o objecto pensado, isto é, o conteúdo intencional do
pensamento. O representante mais conhecido da corrente é Husserl. 8) A lógica novo ou logística é
a corrente que vai adquirindo o primado sobre todas as outras. Introduziu uma profunda revolução
fundando a matemática na lógica e contribuindo com análises fundamentais sobre a designação e a
e a significação; introduziu a importante distinção entre a menção e o uso dos signos; propôs uma
nova definição do número, etc. Os PRINCIPIA MATEMáTICA de Whitehead e Russell constituem um
dos grandes marcos na história da logística moderna, porque constituíram uma nova
fundamentação da matemática. Seria impossível ao menos o resumo das diferentes lógicas que
desde então surgiram. Cabe, contudo, destacar que os trabalhos de logística suscitaram muitas
vezes questões de carácter geral filosófico, e assim se deu um novo sentido às questões ontológicas.
NATUREZA DA L GICA: Como qualquer ciência, a lógica apresenta-se sob a forma de uma linguagem.
Esta linguagem é, como a de todas as ciências, de tipo cognoscitivo. Além disso, como qualquer
linguagem, a da lógica tem um determinado vocabulário. Ora, enquanto o vocabulário da ciência
compreende as expressões que se referem a factos e expressões que não se referem a factos, o
vocabulário da lógica abrange só estas últimas expressões. A lógica tem como objecto os termos do
vocabulário lógico, os quais se organizam em determinadas estruturas. Quando as estruturas são
verdadeiras obtêm-se verdades lógicas. Por isso se diz que o enunciado é logicamente verdadeiro
quando o é unicamente devido à sua estrutura ou à sua forma. na lógica usual, há não só termos
lógicos, estruturas lógicas e verdades lógicas, mas também enunciados acerca deles. Estes
enunciados fazem parte de uma disciplina: a metalógica. Tanto a lógica como a metalógica são
disciplinas formais e têm carácter dedutivo. Aquilo a que se chamou por lógica indutiva usa também
a dedução como método. De qualquer modo, pode distinguir-se entre ambas sempre que se
entenda que se fala mais de grupos de problemas do que de certas formas de operação lógica.
Outra questão consiste em saber se as linguagens lógicas são informativas. Alguns autores
declararam que a lógica é integralmente composta por enunciados tautológicos e que o seu carácter
de completa certeza se deve certamente à _vacuidade desses enunciados.
ANALOGIA—É, em termos gerais, a correlação entre os termos de dois ou mais sistemas ou ordens,
isto é, a existência de uma relação entre cada um dos termos de um sistema e cada um dos termos
do outro. A analogia equivale então à proporção. Falou-se também de analogia como semelhança
de uma coisa com outra, da similitude de uns caracteres ou funções com outros. Neste último caso,
a analogia consiste na expressão de uma correspondência, semelhança ou correlação. Precisamente
em virtude das dificuldades que este último tipo de analogia oferece, houve frequentemente a
tendência para sublinhar a exclusiva referência da analogia às relações entre termos, isto é, à
expressão de uma similaridade de relações. Platão apresentou a ideia de analogia em A República;
também no Timeu, ao comparar o Bem com o Sol, e ao indicar que o primeiro desempenha no
mundo inteligível o mesmo papel que o último desempenha no mundo sensível. Esta analogia é
reforçada com a relação estabelecida por Platão entre o Bem e o Sol, que é, a seu ver, comparável à
que existe entre um pai e o filho, pois o Bem gerou o Sol à sua semelhança. Alguns pensadores
posteriores adoptaram e desenvolveram estas concepções de Platão, entre outros Plotino.
Aristóteles aplicou a doutrina de “a igualdade de razão” aos problemas ontológicos por meio
daquilo a que se chamou “a analogia do ente” (v. à frente). O ser (v.), afirmou Aristóteles, “diz-se de
muitas maneiras”, embora se diga primeiramente de uma maneira: como substância (v.). Os
Escolásticos aceitaram e elaboraram a doutrina aristotélica. Muitos deles, ao referirem-se aos
nomes ou termos, distinguiram entre um modo de falar _unívoco, um modo de falar _equívoco e
um modo de falar _análogo. O termo ou nome comum, que se predica de vários seres ditos
inferiores, é _unívoco, quando se aplica a todos eles num sentido totalmente semelhante ou
perfeitamente idêntico. É _equívoco, quando se aplica a todos e a cada um dos termos em sentido
completamente distinto (por exemplo,_touro, como animal ou constelação). É _análogo, quando se
aplica aos termos comuns em sentido não inteiro e perfeitamente idêntico ou, melhor ainda, em
sentido distinto, mas semelhante de um ponto de vista determinado de uma determinada e certa
proposição (como “esperto” aplicado a um ser que não dorme e a um ser que tem uma inteligência
viva). O termo análogo é o que significa uma forma ou propriedade que está intrinsecamente num
dos termos (o analogado principal), estando, em contrapartida, nos outros termos analogados
secundários), por certa ordenação à forma principal. Partindo desta base, pode dizer-se também
que a analogia é _extrínseca (como o mostra o exemplo “são”) ou _intrínseca (como o mostra o
exemplo de “ser”, que convém a todos os incriados ou criados, substanciais ou acidentais). Neste
último caso, a analogia também se diz _Metafísica. Embora quase sempre se tenha concordado em
que o ente análogo constitui o objecto mais próprio da Filosofia Primeira, compreendendo também
os entes de razão e ainda qualquer privação do ente enquanto inteligível, formaram-se
principalmente três escolas . Enquanto a escola de Suárez indicava que o ente é formalmente
transcendente e que deve entender-se a analogia no sentido de analogia metafísica de atribuição, a
escola de Escoto propendia para defender a univocidade do ente, o qual se limita às noções
inferiores mediante diferenças intrínsecas. E a escola Tomista, que advogava uma analogia de
proporcionalidade. Com efeito, dos três modos de analogia a que, segundo a escola Tomista, podem
reduzir-se todos os termos análogos—analogia de igualdade, analogia de atribuição e analogia de
proporcionalidade, mencionados por Aristóteles, embora com terminologia diferente --, só o último
constitui, a seu ver, a analogia. Em geral, pode dizer-se que, para o Tomismo, compete a todos os
seres existir numa relação semelhante de um modo intrinsecamente diverso, pois, sem dúvida, o
ser nunca é um género que se determine por diferenças extrínsecas, mas ao mesmo tempo sustenta
uma analogia de atribuição entre o Criador e os seres criados, e entre a substância e os acidentes,
pois o ser dos últimos depende do dos primeiros. Em todo o caso, a noção analógica do ser
pretende resolver o problema capital da Teologia escolástica: o da relação entre Deus e as criaturas,
portanto, embora na ordem do ser Deus exceda tudo o que é criado, como causa suficiente dos
entes criados, e de todo o ser, contém actualmente todas as suas perfeições. A tendência geral da
filosofia moderna consistiu quase sempre em se referir à analogia ou então no sentido de uma
similaridade de relações nos termos abstractos ou então no sentido de uma semelhança nas coisas,
dando portanto neste último caso à analogia um sentido claramente metafórico A referência
propriamente metafísica ficou deste modo eliminada. Especialmente nas correntes fenomenistas e
funcionalistas que abandonaram formalmente a noção de substância.