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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS


HUMANAS

BRUNO GORGUEIRA PADALKO

DROGAS, DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS: BALANÇOS E


PERSPECTIVAS

GUARULHOS
2014
Gorgueira Padalko, Bruno
Drogas, democracia e direitos humanos: Balanços e
perspecitvas.
66 p.
Graduação em Ciências Sociais - Trabalho de conclusão de curso –
Universidade Federal de São Paulo, Escola de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, 2014.

Orientador: Liana de Paula


Drugs, Democracy, and Human Rights: summary and
perspectives

1. Democracia. 2. Sociedade. 3. Direitos. 4. Drogas.


5. Políticas públicas

2
Bruno Gorgueira Padalko

Democracia, drogas e direitos humanos: balanços e


perspectivas

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à universidade Federal
de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do grau em
Bacharel em Ciências
Sociais.

Orientador: Prof. Dra. Liana de Paula

Guarulhos 2014

3
Bruno Gorgueira Padalko

Democracia, drogas e direitos humanos: balanços e


perspectivas

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à universidade Federal
de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do grau em
Bacharel em Ciências
Sociais.

Aprovado em: , de 2014

Prof. Dra. Liana de Paula


UNIFESP

4
Resumo

A presente pesquisa procura situar o leitor no debate que acontece sobre as drogas
psicotrópicas. Para tanto, foi posto e analisado materiais do período dos últimos anos sobre
principais fatores de influência na questão, como legislação, políticas públicas de reabilitação,
de combate, de prevenção, de consumo e sociedade civil. A pesquisa visa trazer através da luz
da democracia, e dos direitos humanos, um balanço, como também apresentar as divergentes
perspectivas do assunto. Ao tempo em que houve aumento em quase todos os parâmetros no
que confere ao número de drogas1, de usuários, houve gradativamente e paralelo a isso uma
maior intenção do debate na sociedade civil, e uma paulatina mudança de opinião referente ao
desenvolvimento das pesquisas científicas, que estão a par com o desenvolvimento de novas
políticas de atuação. O processo de redemocratização é o fator histórico contextual, em que
começou a acontecer uma maior discussão do assunto, chegando à atualidade em que o debate
se encontra no espaço público sob instituições que defendem políticas que por vezes são
divergentes, ora com maior respaldo aos direitos humanos, ora com maior ênfase no caráter
combativo2. Enfim, serão balanceadas as experiências internacionais ocorridas a partir de um
processo de gradativa transformação política sob o fenômeno em comparação com a
conjuntura brasileira que se formou essa discussão, com as drogas, a democracia, os direitos
humanos, ponderando e contemplando as diversas consequências das políticas de combate, de
prevenção, de reabilitação, de consumo e de sociedade.
Palavras chave: Drogas. Democracia. Direitos humanos. Violência. Criminalidade.
Sociabilidade. Consumo. Liberdade política. Garantias de direitos. Inclusão Social.
Desenvolvimento social.

1
Dados CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas - Ver também - UNDOC -
http://www.unodc.org/documents/lpo-brazil//Topics_drugs/WDR/2013/PT-Referencias_BRA_Portugues.pdf

2
Ver http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u532147.shtml

5
Abstract

The present research aims to situate the reader in the debate that is taking place about
psychotropic drugs. In order to achieve that, material from last few years has been posted and
analyzed about the main influential factors of the issue, such as legislation, combat,
prevention and rehabilitation public policies and consumption and civil society. This
investigation aims to bring, through the lights of democracy and human rights, a summary and
also to present the conflicting perspectives of the issue. At the same time that there has been
an increase in all the parameters regarding the number of drugs3 and users, there has been a
gradual and parallel intention to carry out a debate in the civil society and a growing opinion
regarding the development of scientific research which is aware of the new policies. The re-
democratization is the contextual historic factors which spawned a greater discussion,
reaching the present in which the debate finds itself under institutions that defend policies
that may be conflicting, at times with greater respect to human rights, at times with greater
emphasis on the repressive character4. At last, it will be shown international experiences that
have taken place based on gradual political transformation of the phenomenon in comparison
with Brazilian scenario in which this discussion has occurred regarding democracy, human
rights, pondering and contemplating the diverse consequences of policies of repression,
prevention, rehabilitation, consumption and society.
Key words: Drugs. Democracy. Human Rights. Violence. Criminality. Sociability.
Consumption. Political freedom. Rights Guarantees. Social Inclusion. Social. Social
Development

3
Dados CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre drogas psicotrópicas - Ver também - UNDOC -
http://www.unodc.org/documents/lpo-brazil//Topics_drugs/WDR/2013/PT-Referencias_BRA_Portugues.pdf

4
Ver http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u532147.shtml

6
Sumário

1 Introdução 9

2 Objeto de pesquisa: Definição de drogas 17

2.1 Álcool 18

2.2 Cocaína, Crack e Merla 18

2.3 Maconha 20

2.4 Tabaco 21

2.5 Perturbadores Sintéticos (Alucinógenos) 22

2.6 Desenvolvimento de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) 23

3 Balanços de perspectivas 25

3.1 Experiências Internacionais 25

3.2 Regulamentação e descriminalização (caso TRANSFORM e Martins Jelsma) 26

3.2.1 Desenvolvimento Alternativo 27

3.2.2 População carcerária 28

3.2.3 Descriminalização 28

3.2.4 Desenvolvimento do que segue 28

3.3 Martins Jelsma “Novos planos Legislativos” 29

3.3.1 Descriminalização segundo Transnational Institute 29

3.3.2 Descriminalização, população carcerária e redução de danos. 29

4. Projeto de regulamentação no pós-guerra as drogas “Transform Drugs Policy


Fundation” 32

4.1. Detalhes práticos de regulamentação 33

4.2. Controle de produção 33

4.3. Controle de disponibilidade 34

7
4.4. Controle do produto 34

4.5. Controles do Fornecedor e Pontos de Venda 34

4.6. Controles sobre o comprador e usuário Final 35

4.7. Aplicação da regulamentação 35

4.8. Necessidade de uma regulamentação gradativa 35

5. Balanço das experiências nacionais 37

5.1. Ronaldo Laranjeira 37

5.1.1 Problemas da redução de danos 40

5.1.2 Legalização e aumento global de danos 42

5.2. Problemas do álcool 43

5.3. O controle do tabagismo no Brasil de Tânia Maria Cavalcanti 46

5.4. Política Nacional de Tratamento ao Crack 49

6. Políticas de reabilitação do uso de drogas e a Lei 10.216/2001 51

6.1. Internações involuntárias, ou internação compulsória 52

6.2. Revisões das medidas de internação 53

6.3. Tratamentos da dependência química 54

6.4. Princípios de tratamentos efetivos 54

6.5. Transtornos relacionados ao uso de substâncias - Princípios e alternativas de


tratamento psiquiátrico em geral 56

6.6. Unidades terapêuticas 58

7. Conclusão 60

8. ANEXO UM 61

Referências Bibliográficas 64

8
1 Introdução

Durante anos na política nacional, e mundial, há a discussão sobre as consequências,


as causas e possíveis soluções que possam ser levadas como critério de ação quando se debate
sobre as políticas relacionadas ao consumo e tráficos de drogas psicotrópicas. No Brasil há
relatos de abusos diversos: de transgressão da lei, de violência policial, de guerras entre
traficantes, de acúmulos de detentos, de mercados paralelo-clandestinos, de verdadeiras
indústrias do crime, e todos esses problemas de segurança tem forte intimidade com o tráfico
transnacional de drogas, de forma ampla; Já o tráfico corriqueiro, cotidiano, de todos os dias,
que não parece ter algo de pernicioso na sociedade, de uso recreativo das drogas, presente em
quase todos os cantos da cidade, quase sempre, está relacionado também à violência, ao
crime, as organizações criminosas transnacionais, a marginalidade e a segregação 5, e é alvo de
maiores preocupações do Estado nacional.
Tráfico de drogas existe há tanto tempo quanto o próprio país 6, e durante muitos anos
o Brasil foi um terreno distante do grande problema que é o tráfico de drogas transnacional,
sua regulamentação moderna se desenvolveu seguindo algumas normas internacionais de
combate às drogas, normas que paulatinamente estão sendo revistas, e reinventadas, como
vem ocorrendo no Uruguai, e em alguns estados dos EUA, como já acontecia em alguns
países de alto padrão de vida, como é o caso da Holanda.
A atuação no Brasil, a partir da segunda metade do Sec. XX não seguiu os modelos de
guerra às drogas norte americano (que foram os pioneiros e os mais incisivos no mundo),
tanto pela ineficácia da atuação política e financeira brasileira de combate a outras esferas da
ordem de segurança interna, como corrupção, criminalidade, organizações criminosas, etc.;
como também por não haver a mesma necessidade, sendo o Brasil um terreno de segundo
plano, tanto quanto consumidor, quanto produtor de drogas, até então. No Brasil não houve a
mesma política intrusivista, como no México, no Paraguai, e na região andina, houve alguns
projetos e programas específicos na esfera policial e de redução de demanda de drogas 7.
A partir dos anos de 1970 houve um aumento expressivo do consumo e tráfico de
drogas ilícitas, e também seu desenvolvimento, em todo mundo, se tornando a partir de então,
umas das maiores preocupações mundiais, principalmente por seu setor financeiro, que
movimentava milhões de forma ilegal. Paralelo a isso aconteceu uma corrente de maior
preocupação, liderada pelo Órgão das Nações Unidas (ONU), e através de convenções foi
estipulado um consenso mundial contra o tráfico ilícito de narcóticos e substâncias
psicotrópicas. Essa convenção uniu vários aspectos de combate às drogas, estabeleceram
compromissos de prevenção, fiscalização, controle e repressão, formas de cooperação em
planos regionais e sub-regionais, como elaboração de políticas nacionais antidrogas. Apesar
do esforço mundial, somente a partir das cúpulas realizadas no Equador, no ano de 1995 é que
houve uma maior unidade e homogeneização consensual, e consequentemente uma maior

5
Segundo dados da unidade de pesquisa em álcool e drogas, CEBRID, OBID.

6
Ver Guido Fonseca. “O submundo dos tóxicos em São Paulo: séculos XVIII, XIX e XX”

7
Ver: A Questão das drogas nas relações internacionais Uma perspectiva brasileira. Luiza Lopes da Silva

9
efetividade na questão, naquilo que se refere às drogas, principalmente dentre os países da
América Latina, onde são situados os maiores produtores de cocaína e onde quatorze países
signatários definiram de forma clara uma posição frente ao narcotráfico, decidindo unificar
suas respectivas legislações antidrogas8.
No Brasil, em 1967 ocorreu a reforma de lei sobre tóxicos, que até então havia sido
estipulada no inicio do século, com a preocupação do mercado mundial com o ópio. Essa
reforma se deu através da “Convenção Única sobre entorpecentes”, o mais completo
documento proibicionista de abrangência internacional, assinado na sede da ONU, em 1961.
Houve a aderência em um acordo Sul-Americano sobre Estupefacientes e Psicotrópicos, em
1973, e em base neste, baixou a Lei 6.368/1976 que separou as figuras penais do traficante e
usuário. A lei também fixou a necessidade de laudo toxicológico para comprovar o uso9. E em
1988 a constituição passou a determinar que o tráfico de drogas seja crime inafiançável, sem
anistia. Baseado na convenção de Viena do mesmo ano fora promulgado em 1990 a
Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas. A
convenção leva em consideração principalmente a crescente tendência a produção, a
demanda, e a ameaça presente dos entorpecentes, para a saúde, o bem estar humano, e os
efeitos sobre as bases econômicas, culturais, e políticas da sociedade, reconhecendo que há
fortes vínculos do tráfico ilícito a outras atividades criminosas organizadas, e que essas
minam a estabilidade, a segurança e a soberania dos Estados10.
Em 1991 começou a operar o Fundo de Prevenção, Recuperação e Combate às Drogas
de Abuso (FUNCAB), criado em 1986 com a pretensão de gerenciar os bens provenientes do
CONFEN (Conselho Federal de Entorpecentes), do qual sua criação havia sido conturbada, e
sem o devido respaldo financeiro. O FUNCAB passa a financiar programas de treinamento,
educação, prevenção, tratamento, confisco e campanhas de conscientização pública, além da
própria participação de representantes brasileiros em reuniões internacionais. Esse foi o
cenário e instância brasileira em que despontavam as primeiras iniciativas regionais de
cooperação na esfera das drogas. A partir da década de noventa, a estrutura antidrogas
brasileira seria consolidada e aperfeiçoada, contando para isso com o apoio de órgãos
regionais e crescente visibilidade do tema11.
A lei de drogas, decretada em 2006 (Lei 11.343/06) eliminou a pena de prisão para o
usuário e dependente, ou seja, para aquele que tem droga ou planta para consumo pessoal.
Concretizando uma expectativa de início de descriminalização do uso da droga. Essa lei
pretende reinserir o usuário a sociedade, seguindo de sua conscientização; apesar de haver um
início de descriminalização, ainda continua proibido em todo o território nacional as drogas,

8
O Brasil no contexto dos acordos e políticas internacionais para o combate as drogas: das origens a atualidade. GEHRING, Marcos Roberto

9
Ver http://www.senado.gov.br/NOTICIAS/JORNAL/EMDISCUSSAO/dependencia-quimica/iniciativas-do-governo-no-combate-as-
drogas/historia-do-combate-as-drogas-no-brasil.aspx

10
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0154.htm

11
A questão das drogas nas relações internacionais, uma perspectiva brasileira. Luiza Lopes da Silva .

10
bem como plantio, cultura, e colheita, de vegetais e substratos que possam ser extraído ou
produzido as drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal 12.
A questão institucional no governo brasileiro possui um aspecto bem avançado. Há
órgãos e unidades específicas para o tratamento do tema na Presidência da República,
ministérios da Justiça, Fazendo e Saúde e no Itamaraty, entre outros. O órgão colegiado
temático – conselho Nacional Antidrogas (CONAD) – possui atribuição de delinear as
políticas brasileiras na matéria. Na esfera legislativa o resultado tem sido mais substancial, ao
exemplo da aprovação da nova lei sobre drogas em 2006; Ainda nos avanços institucionais, há
o retorno da Secretaria nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) para a estrutura do
Ministério da Justiça em janeiro de 2011, no Início do governo Dilma. No Fim do mesmo ano,
o Conselho Nacional sobre Drogas (CONAD) foi incorporado àquela pasta, passando o cargo
de presidente do CONAD a ser acumulado pelo ministro da justiça. Em 2002 foi lançado
durante a Semana Nacional Antidrogas o Observatório Brasileiro de Informações sobre
Drogas – OBID, projeto desenvolvido pela secretaria nacional de políticas sobre Drogas, com
apoio financeiro do Ministério da Saúde, tem por objetivo reunir e coordenar o conhecimento
disponível sobre drogas para fundamentar o desenvolvimento de programas e intervenções
dirigidas à redução de demanda e oferta de drogas. O portal do OBID foi possível graças a
uma parceria entre SENAD e Embaixada dos Estados Unidos que financiou o
desenvolvimento do novo portal, concluído em 200813.
Além do OBID há algumas instituições sem fins governamentais que procuram
estudar o fenômeno das drogas, de forma a estipular parâmetros de combate e prevenção,
dentre elas há duas de maior importância: O CEBRID – Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas é uma entidade sem fins lucrativos, e visa ser útil a sociedade civil
em primeira instância. O CEBRID organiza pesquisas e reuniões sobre drogas, também
publica livros e levantamentos sobre o tema, mantém banco de trabalhos científicos, enfim,
uma das instituições mais presentes e influentes em São Paulo quando o assunto são as drogas
psicotrópicas, ligada ao departamento de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, a
Escola de Medicina de São Paulo, uma das escolas mais influentes do mundo na área de
saúde. Outro centro de estudo é o GREA – Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de
Álcool e Drogas, sediado no Instituo de psiquiatria da Universidade de São Paulo, desenvolve
trabalhos na área de pesquisa, ensino, assistência e prevenção de álcool, tabaco e outras
drogas desde 1981. Através de uma abordagem multidisciplinar, com equipe formada por
psiquiatras, psicólogos, terapeutas, etc. O grupo é considerado hoje centro de Excelência para
o tratamento e prevenção de drogas, pela secretaria nacional de políticas sobre drogas –
SENAD.
Além da representação institucional dentro do colegiado e do governo, há também
várias organizações da sociedade civil que se formaram no intuito de discutir sobre o uso, e a
criminalização das drogas. Uma das mais atuantes, e ativas é a “marcha da maconha”, em
inglês “Global Marijuana March”, orientada e organizada por uma repórter da “Canabis

12
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm

13
http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/index.php

11
Magazine”, é realizada um dia por ano, e organizada simultaneamente em várias cidades ao
redor do mundo. No Brasil sua atuação ainda gera debate, por ser protagonizada por usuários
de drogas assumidos, tem geralmente seu desfecho um confronto direto com a polícia. Em
2011, o Supremo Tribunal Federal declarou legítima a manifestação, e liberou a realização da
marcha, a sua repressão acarretaria um sério exercício de força contra a liberdade de
expressão e manifestação14.
As principais argumentações dos Ativistas da Marcha da Maconha, ou que defendam o
uso recreativo das drogas, é a distinção entre o usuário e o tráfico, a descriminalização, a
liberdade de expressão, de consumo, a necessidade da sociedade civil de políticas que
garantam o direito de consumir aquilo que o indivíduo escolhe, a liberdade de fazer uso como
convir dos artifícios que lhe dão prazer. Nesse debate a argumentação se estende aos
parâmetros científicos, que muitas vezes entram em choque direto em suas resoluções. A
minoria representada por usuários, que defendem o uso medicinal, recreativo e religioso da
maconha, por exemplo, alega não haver veracidade na argumentação científica dos principais
órgãos do colegiado médico. O que por sua vez, é fortemente contrariado, pelas instituições
governamentais, não governamentais, mas bancadas por instituições acadêmicas, que
argumentam os malefícios da Canabis, como qualquer outra droga, e pior, como uma droga
que causa sérios danos a saúde física e mental. Ao debater essa questão o problema se
estende, partindo de uma disciplina puramente da área de saúde, para um parâmetro
multidisciplinar, em que vários fatores da sociedade são envolvidos, portanto tem-se um
debate sobre o social, o político e comportamental. O indivíduo em primeira instância é um
deles, a estrutura familiar, como instituição primária é outro, a questão da inclusão social, da
marginalização pela droga, de epidemias, de tratamentos de reabilitação e inclusão social
também fazem parte de um mesmo problema, que abarca todas essas questões quando visto
de uma forma ampla, multidisciplinar, de forma a englobar a questão de social, de saúde
pública, política ideológica e comportamental.
Este debate tem sério teor institucional ideológico, em que várias partes têm suas
razões, porém, sem um devido consenso, ao momento em que há as manifestações da
sociedade civil contrária às políticas do governo; como também há a manifestação da
sociedade acadêmica que são contrárias as várias atitudes do governo, como foi o caso da
internação compulsória, e a invasão da “cracolândia” 15 em São Paulo, no governo
Alckmin/Kassab.
Portanto, o dissenso político que acontece representado principalmente pelas ações sobre os
usuários, nesse último caso da invasão da cracolândia, é um exemplo da importância e motivo
do debate, que extrapola a ciência médica, voltada unicamente a área da saúde, e toma por
foco a questão social, mais especificamente a questão de como garantir a devida proteção aos
direitos humanos da sociedade em geral.
É fato que a maioria dos usuários de dentro das grandes metrópoles no Brasil, e São
Paulo não é exceção, fazem uso do tráfico ilegal de drogas. Esse tráfico tem intimidade direta
14
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/06/1290511-marcha-da-maconha-ocupara-av-paulista-com-shows-e-blocos-
tematicos.shtml

15
http://noticias.uol.com.br/album/120104cracolandia_album.htm#fotoNav=

12
com a criminalidade, estando ligadas as mais danosas organizações criminosas do planeta.
Portanto, é de fácil dedução, que o usuário está em contato direto com “o fator”, que se não
gera a criminalidade, é fortemente influenciado por ela, e muitas vezes, esse usuário está à
mercê das forças do conflito presente, “polícia x crime organizado.” Então, mesmo
descriminalizado, o usuário ainda permanece em uma zona de risco, imerso meio a um fogo
cruzado, entre ações políticas que acontecem sem a parcimônia da sociedade civil, acadêmica,
ou até mesmo de órgãos competentes do governo, estando locadas como decisões isoladas de
qualquer processo deliberativo. E muitas vezes essas ações tomadas sem a devida deliberação
causam danos a todas as partes envolvidas, seja a sociedade civil, que refém de ambos os
lados se vê contrariada, e sem poder de decisão, seja pela parte governamental, que boicotada
por disputas políticas internas, acaba por não conseguir valer aquilo que o estado deveria
garantir, e seja pelos próprios indivíduos que se utilizam do tráfico e do uso das drogas, e que
em minorias, são segregados da sociedade, e voltados especificamente à atividade criminal.
Apesar de todo esforço dos Estados, das associações e das comissões, não houve uma
diminuição substancial, no que se refere às drogas, nem do consumo, nem de seu mercado, ou
de seu desenvolvimento. Pelo contrário, na América Latina, por exemplo, é contabilizada uma
maior produção e consumo de cocaína, e também uma maior importação do produto como
também aumento da violência e marginalização relacionada a esse. Seu uso é dado de forma
banal e esta escancarada na forma de “cracolândias”, uma questão de grave preocupação, por
parte das comunidades cientificas e do governo, que acontece em meio ao espaço urbano da
cidade de São Paulo. As cracolândias são caracterizadas pelo alto índice de violência, por se
desenvolverem em barracos em torno de redes de tráficos de drogas, principalmente crack e
cocaína, e por estarem em estado severo de degeneração social, sendo os usuários os mais
vitimados por tais condições, que beirão a sub-humanidade, e vinculadas seriamente à vida do
crime, ocasionando um problema além de saúde, de segurança pública.
Muitos autores têm pesquisado a questão, e uma parte destes influem a pensar que as
políticas atuais de combate às drogas que tiveram início nos anos 70, tem falhado
consecutivamente em relação ao controle, a prevenção e ao tratamento do fenômeno. Não só
pelo enfrentamento a atitude criminosa do tráfico, que se sabe que tem ligação com as mais
perigosas organizações do crime internacional, transnacional, mas também pelas políticas
para com os usuários. O crime em si é um dos fatores de maior preocupação política, de
segurança pública, e muitos discursos de combate às drogas soam com tom alarmista devido à
intimidade das organizações criminosas com o tráfico de drogas. É sabido que tais
organizações fazem uso do tráfico para garantir seu mercado, principalmente pela demanda a
essa ligada, pela rentabilidade que possui a venda de drogas. Tal é a discrepância da lei de
combate às drogas em relação ao costume do uso, e de seu desenvolvimento, que há dados
que explicitam que em 10 anos no Rio de janeiro houve cerca de 33.000 mortes, sendo o
projeto penal de combate e repressão às drogas o principal fator de tais mortes. Há cerca de
1.000 homicídios por ano em confrontos com a polícia. Com crescente também o número de
policiais mortos em combate, com a mesma faixa etária e extração social de seus inimigos 16.
O número de vítimas fatais desse processo cresce, enquanto os meios de comunicação
disparam argumentos alarmistas, frisando principalmente a alta periculosidade do mundo das
drogas. É, portanto, preciso repensar os rumos de tais políticas, principalmente na questão do
respaldo aos direitos essenciais a vida humana. O direito a vida e a dignidade é o artigo

16
Salo de Carvalho A política Criminal de Drogas no Brasil (Estudo Criminológico e Dogmático da lei 11.343/06) 6 edição. 2013

13
primeiro da proclamação universal dos direitos humanos, e de tal importância a ser
preservado que está é a base para nossa atual sociedade.
Quando o problema das drogas se estende para além da questão da saúde a sociedade
como um todo perece em torno de problemas de ordens diversas. A relação do crime
organizado, da violência gerada por esse, é na realidade, um problema muito além das drogas.
As políticas de inclusão, as desigualdades sociais, a péssima distribuição de renda no Brasil
são fatores tão alarmantes quanto às drogas. A droga, em si, aparece como bode expiatório
para o combate e repressão, e também o inverso, como um dispositivo de “resignificação” da
identidade cultural de determinados grupos. Então, além da questão de saúde e segurança, a
questão passa por problemas de política/econômica, há a questão antropológica, e
psicossocial, de comportamento, do viés que tem a droga no costume e na vida da sociedade.
É preciso entender que os múltiplos fatores que levam as drogas, estão intimamente
relacionados a problemas enraizados na cultura brasileira. E que tais políticas que frisam o
combate, que possuem o respaldo de uma parte da população, são na realidade uma dinâmica
de um descompasso da democracia, com sérias violações aos direitos humanos, de ambas as
partes.
Portanto a criminalização das drogas, conteúdo muito debatido, com diversas opiniões
institucionais e retóricas perpassando o tema, é na realidade tão presente quanto qualquer
outro fator na vida social. Faz parte de um debate público em que várias instituições se
contradizem, sendo estas: parte da sociedade civil, Organizações não governamentais
(ONGs), ou governamentais, essas instituições estão argumentando muitas vezes com um
forte caráter ideológico e não toma a questão de forma clara e objetiva, pautada em resultados,
mas em crenças sem embasamentos científicos confiáveis. Exemplo disso é a discussão que
aconteceu, e ainda acontece em relação ao tabaco. Apesar de este ser uma droga psicotrópica
lícita, legalizada, sua regulamentação e controle é uma das preocupações debatidas em escala
mundial, e tem crescido seu anseio por caráter de controle, em que o governo tome em relação
a sua produção e políticas de venda. Enquanto grandes multinacionais, indústrias do tabaco,
se pautam em pesquisas tendenciosas, que direcionam política de vendas para o consumo,
sem o mínimo de veracidade em suas publicações, a saúde da população em geral piora
devido ao uso indiscriminado e sua venda livre no mercado. Portanto tais políticas de venda
de tabaco acabam batendo de frente com questões da saúde pública.
O debate que se desenrola, na realidade, é formado muito mais pela questão do terreno
que o sustenta, do que da possibilidade de uma droga fazer ou não mal para o indivíduo ou
sociedade. É compreensivo o caráter alarmista de muitas entidades governamentais, ou
acadêmicas, que pensam na questão da vulnerabilidade, da suscetibilidade, e da epidemia que
pode se instaurar com o abuso de drogas, ou com seu principio de uso, principalmente em
relação às camadas mais vulneráveis da sociedade. Porém, a nossa sociedade está sobre uma
política de liberdade de consumo, de atuação, de informação e de manifestação, sempre que
algum país ocidental, democrático, visa mudar alguma lei referente ao uso de drogas,
principalmente no que confere as drogas mais leves ilícitas ou lícitas, é preciso debater a
influencia que existe dentro da sociedade, a liberdade humana de atuação. Isso fica muito
claro na questão do tabaco e álcool, e é algo que tem se debatido muito em questão da
maconha, pela incrível capacidade de adeptos de usuários dessas drogas.
A questão do álcool é um bom exemplo de como é difícil regular o consumo de drogas
na sociedade. O álcool é consumido pela humanidade a milhares de anos, e sempre foi ativo e
presente na vida das culturas quase no mundo inteiro. Largamente consumido, o álcool possui
vários adeptos assíduos, e a própria comunidade médica considera que seu consumo
moderado deve fazer bem a saúde, principalmente prevenindo os problemas do coração, e do
sistema cardiovascular. Porém o álcool também possui o fator da compulsividade, muito pela
sensação de prazer e euforia que provoca seu consumo, e seu uso abusivo causa sérios danos,

14
inclusive para a estrutura e função do cérebro, quanto para a psique do usuário. É consenso na
academia médica, que o álcool é um problema de saúde pública, principalmente quando
utilizado por muitas pessoas de forma abusiva. O álcool causa dependência, e a imprudência
que leva seu uso abusivo, de forma compulsiva é a causa de grande mortalidade no Brasil.
Em São Paulo, há um banco de dados específico que estuda os desdobramentos do
álcool na área da saúde. Desde 2004 e em parceria com a (AmBev) - Companhia de Bebidas
da América, começou-se os trabalhos do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool).
Qualificado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). O centro de
informações sobre Saúde e Álcool é uma organização não governamental (ONG) sem fins
lucrativos, cujo objetivo é gerar fonte de informações sobre saúde e álcool. O centro dispõe de
publicações científicas reconhecidas nacional e internacionalmente, em dados oficiais
(governamentais) e na informação de qualidade publicada em jornais e revistas destinadas ao
público. O CISA considera inaceitável o consumo de bebidas alcoólicas por menores de 18
anos, por grávidas, por pessoas em situações de atenção e reação, como direção de veículo
automotor ou operação de máquinas, por pessoas com dependência do álcool ou em uso de
medicamentos cujos efeitos possam ser alterados pelo uso concomitante de bebidas
alcoólicas.
Essa pesquisa visa levantar dados suficientes para esclarecer o leitor a que ponto se
encontra o debate sobre as políticas de drogas. Seja a questão de implementação de políticas
públicas, de mercado, de combate e repressão, de prevenção, de regulamentação, de
criminalização ou legalização, etc. Como são levadas as deliberações, as condutas de
repressão e reinserção de usuários, a questão das garantias de direitos, e das diversas formas
de consumo; Como se manifestam os usuários, como se relacionam os comportamentos de
usuários e drogas; Quais as causas e consequências do fenômeno em São Paulo. Basicamente
o que será levantado nessa pesquisa é dado bibliográficos, com breves analises que procuram
esclarecer o conteúdo para que seja entendido.
A pesquisa está embasada no método de análise bibliográfica através de um levantamento feito
na internet, principalmente nos sítios de maior influencia na questão. Os dados aqui apresentados são
públicos e foram selecionados com a ressalva da importância que eles possuem para o debate
institucional que ocorre quando o assunto são drogas psicotrópicas. A pesquisa permanece na linha de
raciocínios das obras utilizadas para a referencia. São inúmeras e por vezes contraditórias. Elas
compõem o debate institucional que ocorre em nível mundial, e também em nível local. Para tanto é
preciso compreender as linhas de raciocínios do resguardo dos direitos democráticos, das ressalvas da
proteção aos direitos humanos, e da questão comportamental e psicossocial que permeia a conjuntura
do assunto.
Muitas instituições tem se preocupado com a questão, preocupação essa que gerou o
nascimento de vários ideais com fins de estudar o fenômeno. Líderes mundiais, representantes, ex-
presidentes tem aderido à discussão de forma assídua, e formulam resolução política com a finalidade
de esclarecer a questão. Como é o caso do interesse anti proibicionista. Principalmente com discursos
paralelos a Comissão Brasileira de Drogas e Democracia (CBDD) apresentam alternativas de ação
quando a questão é referente a regulamentação, a segurança da sociedade e o fim da guerra ao tráfico.
Fernando Henrique Cardoso é um dos líderes brasileiros envolvidos na questão, tendo participado de
um filme documentário sobre o tema, e assíduo debatedor em prol de uma resolução para os
problemas oriundos dessa guerra. Este parte da premissa que as drogas são inevitáveis, e também seu
problemas, e que seria desejável, devido a isso, uma implementação política para diminuição de tais
problemas.
Outras fontes de dados, principalmente de caráter acadêmico e científico, são instituições

15
multidisciplinares que buscam entender como erradicar os problemas das drogas, e apresentam
pesquisas sobre o fenômeno de forma concisa e sobre os parâmetros as quais se encaixam. Ao ver a
questão das drogas na perspectiva da saúde pública, se tem um tom mais proibicionista, não tão
punitivo quanto o combate direto, mas combativo em referencia ao tráfico, e a defesa da proibição
total. O uso recreativo é aceito, mas não, mas indesejado. E centros de pesquisas têm políticas
consensuais de ação e reabilitação de usuários, que respeitam os direitos humanos e a vontade dos
indivíduos.
Portanto, tais centros são referencias de pesquisa, que através do método de comparação
bibliográfica, da analise de dados bibliográficos, houve a resolução da clareza da questão. A pesquisa
não procura gerar uma conclusão analítica, e sim apresentar a comparação dos dados elucidando a
questão que ainda permanece espinhosa, e de obscura.
Para tanto serão apresentados à definição de drogas, seus efeitos no campo físico, mental e
sobre o comportamento dos indivíduos. Esses efeitos variam de droga para a droga, e podem aparecer
de formas diversas. Apresentam em geral transtornos para a mente, devido ao fato das drogas
psicotrópicas agirem diretamente no Sistema Nervoso Central (SNC).
Apresentado o objeto de pesquisa, será apresentada a questão das drogas na experiência
internacional, que contemplará o fenômeno visto de forma mundial. A questão política da
combatividade, a questão de como assegurar os direitos humanos em meio à repressão, a questão da
redução de danos, e da mudança gradual de políticas em quesito de criminalização. Após apresentado
às questões primárias, será explicitado um projeto de possível regulamentação das drogas
psicotrópicas, após o fim do combate a elas.
Em seguida será feito um balanço das mudanças graduais nas políticas internacionais em
comparação com a questão nacional. Quais são as políticas nacionais, como foram e estão
implementadas, suas reformas, seus problemas, e quais os programas de ação para tanto, enfim como
está acontecendo o debate nacional.
Para tanto será apresentado à questão sob a ótica e perspectiva das comunidades científicas em
vias de entender as drogas como problema de saúde publica e não de segurança. Será apresentada
também a dificuldade de controle e regulamentação do álcool e do tabagismo. A questão da política
nacional do crack, e a questão da reforma manicomial, das garantias dos direitos dos pacientes com
transtornos devido à dependência química, e a questão das comunidades terapêuticas e dos tipos de
internações.

16
2 Objeto de pesquisa: Definição de drogas

A medicina define droga como sendo: qualquer substância que é capaz de modificar a
função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento17.
Quando somada a palavra psicotrópica é referente à atração ao psiquismo, ou drogas
psicotrópicas: são aquelas que atuam sobre o cérebro, alterando de alguma maneira o
psiquismo. As alterações psíquicas dependem do tipo de droga ingerida. Aparecem em três
grupos diferentes18, esses podem diminuir a atividade do cérebro, podem aumentar a atividade
cerebral, ou pode perturbar o cérebro, fazendo este agir de forma, como o nome já diz
perturbado. Portanto, estes podem aparecer em três grupos, depressores da atividade do
Sistema Nervoso Central (SNC) [psicolépticos], estimulantes da Atividade SNC
[psicoanalépticos, noanalépticos, timolépticos, etc;] e Perturbadores da Atividade do SNC
[psicoticomiméticos, psicodélicos, aluginógenos, psicometamórficos, etc]. O sistema nervoso
central (SNC) é onde está locada a maioria das reações instantâneas do corpo, e onde acontece
o maior número de reações às drogas no corpo humano.
Álcool, sonifedores ou hipnóticos, ansiolíticos, opiáceos ou narcóticos, inalantes ou
solventes são exemplos de depressores da atividade cerebral; anorexígenos [anfetaminas],
cocaína são exemplos de estimulantes da atividade cerebral. Mescalina (cacto mexicano),
THC (Maconha), Psilocibina (cogumelos), lírio (trombeteira, zabumba ou sai branca), ou de
origem sintética LSD-25, Êxtase são exemplos de perturbadores da Atividade cerebral 19.
Outra definição de drogas de acordo com a organização mundial de Saúde (OMS,
1981): “qualquer entidade química ou mistura de entidades (mas outras que não aquelas
necessárias para a manutenção da saúde, por exemplo, água e oxigênio) que alteram a função
biológica e possivelmente a sua estrutura.” Já as drogas Psicoativas, também pela OMS
(1981): são aquelas que alteram comportamento, humor e cognição”, significa que essas
drogas agem preferencialmente nos neurônios, afetando o sistema nervoso central. As
psicotrópicas “agem no sistema nervoso central produzindo alterações de comportamento,
humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçada sendo, passiveis de auto
administração (uso não sancionado pela medicina)”. Em outras palavras, essas drogas levam à
dependência. Drogas de abuso são definidas em livros de Farmacologia como sendo
“qualquer substância (tomada através de qualquer forma de administração) que altera o
humor, o nível de percepção ou funcionamento do sistema nervoso Central (desde
medicamentos até álcool e solventes)20.

17
Cebrid http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/folhetos/drogas_.htm

18
Cebrid http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/folhetos/drogas_.htm

19
Cebrid http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/folhetos/drogas_.htm

20
http://www.imesc.sp.gov.br/pdf/artigo%201%20-
20DROGAS%20PSICOTR%C3%93PICAS%20O%20QUE%20S%C3%83O%20E%20COMO%20AGEM.pdf

17
2.1Álcool

O álcool também é considerado uma droga psicotrópica, atua no sistema nervoso


central, provoca mudança no comportamento de quem o consome além de ter potencial para
dependência. Álcool é uma das poucas drogas que tem consumo admitido e até incentivado
pela sociedade. E é encarado de forma diferenciada quando comparado com outras drogas.
A pessoa que consome álcool ao longo do tempo, e de forma excessiva, pode
desenvolver dependência, chamada alcoolismo. Os fatores que levam ao Alcoolismo são
variados, podem ser de ordem biológica, psicológica, sócio cultural, e ter contribuição de
todos esses fatores. A dependência de álcool é condição frequente que atinge cerca de 5 a 10%
da população brasileira adulta.
A transição ao alcoolismo ocorre de forma lenta, e apresenta alguns sinais, como
desenvolvimento de tolerância, necessidade de maiores quantidade de álcool, aumento da
importância do álcool na vida pessoal, percepção do desejo de beber e falta de controle em
relação de quando parar, síndrome de abstinência e aumento da ingestão de álcool para aliviar
síndromes de abstinência. Essa síndrome é um quadro que aparece com a redução ou para de
ingestão de bebidas alcoólicas após período de consumo crônico. A síndrome é caracterizada
pelo tremor das mãos, acompanhado de distúrbios gastrointestinais, de sono e um estado de
inquietação geral.
Os indivíduos dependentes do álcool podem desenvolver varias doenças, as mais
frequentes são as do fígado (hepatite alcoólica, cirrose, etc.), também problemas no aparelho
digestivo (gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite) e no sistema cardiovascular
(hipertensão e problemas no coração).
Durante a gravidez, o consumo de bebidas alcoólicas pode trazer consequências para o
recém-nascido, sendo que, quanto maior o consumo, maior a chance de prejudicar o feto. É
recomendável que toda gestante evite o consumo de bebidas alcoólicas, não só ao longo da
gestação como também durante todo o período de amamentação. Cerca de um terço dos bebês
de mães dependentes do álcool, que fazem uso excessivo durante a gravidez, são afetados pela
“Síndrome Fetal pelo Álcool”. Tais recém-nascidos apresentam sinais de irritação, mamam e
dormem pouco, além de apresentarem tremores. As crianças severamente afetadas e que
conseguem sobreviver aos primeiros momentos de vida podem apresentar problemas físicos e
mentais que varia de intensidade de acordo com a gravidade do caso.

2.2 Cocaína, Crack e Merla

Cocaína é substância natural, extraída das folhas de uma planta exclusiva da América
do sul: a Erythroxylon coca, conhecida como coca ou epadú, este último nome dado pelos
índios brasileiros. Chega ao consumidor sob forma de sal, o do cloridrato de cocaína, pó,
farinha, que é solúvel em água, portanto, serve para ser aspirado ou dissolvido em água para
uso endovenoso – ou sob a forma de base – o crack, que é pouco solúvel em água, mas que se
volatiza quando aquecida e, portanto é fumada em cachimbos.
Por apresentar aspecto de pedra, ou pasta, tanto o crack, quanto o merla não pode ser
aspirado ou injetado. Há ainda a pasta de coca, que é um produto grosseiro, obtido nas

18
primeiras fases de separação da cocaína das folhas da planta quando estas são tratadas com
álcali, solvente orgânico como querosene ou gasolina e ácido sulfúrico. Essa pasta contém
muitas impurezas tóxicas e é fumada em cigarros chamados de “basukos”.
A cocaína acentua a ação principalmente da dopamina e da noradrenalina. Esses
neurotransmissores são excitatórios, o resultado é a estimulação do Sistema Nervoso Central
(SNC), produzindo euforia, ansiedade, estado de alerta, etc. Tanto o crack como a merla
também são cocaína, portanto todos os efeitos provados por um ocorrem por outro. Porém a
via de uso dessas formas pulmonares faz toda a diferença do crack e da merla com o pó.
O crack e a merla são fumados, alcançam o pulmão, que é órgão intensivamente
vascularizado e com grande superfície, levando absorção instantânea. Através do pulmão, cai
quase imediatamente na circulação cerebral, chegando rapidamente ao SNC. Pela via
pulmonar o crack e a merla em curta o caminho, aparecendo os efeitos da cocaína muito mais
rápido do que por outras vias. Em 10 a 15 segundo ocorrem os primeiros efeitos. Essa
característica faz do crack uma droga poderosa do ponto de vista do usuário, por ser
instantânea.
Porém a duração dos efeitos do crack é rápida, em média 5 minutos, enquanto a
injeção ou inalação em torno de 30. Essa pouca duração faz com que o usuário volte a utilizar
a droga com mais frequência que as outras vias, levando-o a dependência mais rapidamente
do que por via nasal. Essa frequência se dá o nome de fissura, é uma vontade incontrolável de
sentir os efeitos que a droga provoca. Essa fissura é avassaladora, já que os efeitos são rápidos
e intensos.
O crack e a merla também provoca estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda
de sensação de cansaço, falta de apetite. Esse último é muito característico. Em menos um de
mês ele perde peso, e em pouco maior tempo de uso, ele perde as noções básicas de higiene.
O craqueiro perde o interesse sexual. Experimentando, após uso intenso e repetitivo,
sensações desagradáveis de cansaço e depressão.
O aumento da dose de uso acaba por levar o usuário a comportamento violento,
irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao aparecimento de paranoia. Provoca medo
nos usuários, que vigiam o local, e passam a ter grande desconfiança, levando-os a situações
extremas de agressividade. Podem ter, eventualmente, alucinações e delírios. Dar-se o nome
ao conjunto desses sintomas de “psicose cocaínica”, ou popularmente “nóia”.
Os efeitos podem produzir aumento das pupilas, afetando a visão, dor no peito,
contrações musculares, convulsões e coma. A pressão arterial pode elevar-se, e o coração
pode bater muito mais rapidamente. Em casos extremos chega à parada do coração por
fibrilação ventricular. A morte também pode ocorrer devido à diminuição da atividade de
centros cerebrais que controlam a respiração. O uso crônico pode levar a degeneração
irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
A cocaína também induz a tolerância. Não há descrição convincente de síndrome de
abstinência quando a pessoa para de tomar cocaína abruptamente: ela não sente dores no
corpo, cólicas, náuseas, etc. O que acontece é a pessoa ficar tomada por grande fissura, mas
não para diminuir o sofrimento.

19
2.3 Maconha

A planta Canabis sativa, mais conhecida no Brasil como maconha, já é conhecida há


pelo menos 5000 anos, sendo utilizada para fins medicinais, ou para produzir risos.
O THC (tetraidrocanabinol) é uma substancia química fabricada pela própria maconha,
e o principal responsável pelos efeitos da planta. Dependendo da quantidade (que varia de
acordo com o solo, clima, estação do ano, época de colheita, tempo decorrido, etc.) a maconha
pode apresentar potenciais diferentes, produzindo mais ou menos efeitos.
O mecanismo de sua ação ainda não está bem esclarecido. Foram descobertas
substâncias endógenas (que o próprio corpo produz) no SNC que atuam de forma semelhante
à maconha. Foram denominadas de anandamidas. É a partir dessa descoberta que o
mecanismo de ação está começando a ser elucidado.
Os efeitos no SNC dependerão da qualidade da maconha fumada, e da sensibilidade de
quem fuma. Para uns há a sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento,
sentir-se menos fatigado, vontade de rir. Para outros, os efeitos são mais desagradáveis, como
angústia, temor, ficam aturdidas, tremuladas, suando.
Há ainda evidente perturbação na capacidade de calculo de tempo e espaço, e um
prejuízo na memória e atenção. Sob a ação da maconha a pessoa erra grosseiramente na
discriminação do tempo. Na memória se manifesta principalmente na chamada memória em
curto prazo, aquela que nos é importante por alguns instantes.
Aumentando a dose e dependendo da sensibilidade os efeitos psíquicos agudos podem
chegar a alterações mais evidentes, com predominância de delírios e alucinações. Delírio é
uma manifestação mental pela qual a pessoa faz um juízo errado do que vê ou ouve; Esta
mania de perseguição (delírios persecutórios) pode levar ao pânico e, consequentemente, a
atitudes perigosas. A alucinação é uma percepção sem objeto, a pessoa pode ouvir ou ver, sem
na realidade não existir nada que apresenta suas cognições. As alucinações também podem ter
fundo agradável ou terrificante.
Há também os efeitos psíquicos crônicos (consequências que aparecem após o uso
continuado). O uso continuado interfere na capacidade de aprendizagem e memorização e
pode induzir um estado de amotivação, em outras palavras não sentir vontade de fazer mais
nada, pois as coisas perdem a graça e importância. Esse estado é chamado de síndrome
amotivacional. A maconha pode levar algumas pessoas a um estado de dependência, elas
passam a organizar suas vidas de maneira a facilitar o uso de maconha, e o resto passa a
perder o valor.
Há provas científicas de que se a pessoa tem doença psíquica qualquer, mas que ainda
não está evidente, ou está controlada, a maconha piora o quadro. Ou pode fazer surgir à
doença, isto é, a pessoa não consegue mais se controlar, ou neutraliza o efeito do
medicamento e a pessoa passa a apresentar de novo os sintomas da doença. Fato esse tem sido
descrito com frequência na doença chamada esquizofrenia.
Os efeitos físicos agudos são muito poucos: olhos ficam avermelhados, a boca fica
seca e o coração dispara. Os efeitos físicos crônicos já são de maior monta. Com o uso
continuado vários órgãos do corpo são afetados. Os pulmões são exemplo disso. Leva a
problemas respiratórios (bronquites), mas o pior é o alto teor de hidrocarbonetos contidos na

20
fumaça da maconha e entre eles existe uma substância chamada benzopireno, conhecido
agente cancerígeno. Ainda não há provas científicas que o usuário de maconha cronicamente
está sujeito a contrair câncer com maior facilidade, mas indícios em animais de laboratório
são cada vez mais fortes.
Outro efeito físico adverso do uso crônico da maconha refere-se a baixa produção do
hormônio masculino, a testosterona. O homem apresenta o número bem reduzido de
espermatozoides, e esses efeitos desaparecem quando a pessoa deixar de fumar a planta.

2.4 Tabaco

O tabaco é uma planta de nome científico Nicotiana tabacum, da qual é extraída


substância chamada nicotina. Podem ser fumados na forma de cigarros, charutos ou
cachimbos.
Os principais efeitos no sistema nervoso são: elevação leve no humor (estimulação) e
diminuição do apetite. A nicotina é considerada um estimulante leve apesar de grande número
de fumantes relatar que se sentem relaxados quando fumam. Essa sensação de relaxamento é
provocada pela diminuição do tônus muscular. Essa substância, quando usada ao longo do
tempo pode provocar o desenvolvimento de tolerância, ou seja, a pessoa tende a consumir um
número cada vez maior de cigarros para sentir os efeitos originais; Alguns fumantes podem
sentir fissura ao suspender repentinamente o consumo, irritabilidade, agitação, prisão de
ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e dor de cabeça. Esses
sintomas caracterizam a síndrome de abstinência, desaparecendo dentro de uma ou duas
semanas.
A tolerância e a abstinência são alguns dos sinais que caracterizam o quadro de
dependência provocado pelo uso de tabaco.
A nicotina produz pequeno aumento no batimento cardíaco, na pressão arterial, na
frequência respiratória e na atividade motora. Quando uma pessoa fuma cigarro, a nicotina é
imediatamente distribuída pelos tecidos. No sistema digestivo provoca queda da contração do
estômago, dificultando a digestão. Há um momento da vasoconstrição e na força das
contrações cardíacas.
A fumaça do cigarro contém varias substancia tóxicas ao organismo, dentre as
principais a nicotina, o monóxido de carbono e o alcatrão. O uso intenso e constante aumenta
a probabilidade de ocorrência de algumas doenças como pneumonia, câncer de pulmão,
problemas coronarianos, bronquite crônica, além de câncer em regiões do corpo que entram
em contato direto com a fumaça como garganta, língua laringe e esôfago. O risco de
ocorrência de enfarte do miocárdio, angina e derrame cerebral é maior nos fumantes quando
comparado aos não fumantes. A nicotina também pode causar úlceras gastrointestinais,
náuseas, dores abdominais, diarreia, vômitos, cefaleia, tontura, bradicardia e fraqueza.
Quando na gravidez, a mãe fumante passa as substâncias tóxicas do cigarro através da
placenta. A nicotina aumenta o batimento cardíaco no feto, redução do peso do recém-
nascido, menor estatura, além de alterações neurológicas importantes. O risco de abortamento
espontâneo, entre outras complicações durante a gravidez, é maior nas gestantes que fumam.

21
Durante a amamentação as substâncias tóxicas do cigarro são transmitidas para o bebê através
do leite materno.

2.5 Perturbadores Sintéticos (Alucinógenos)

Fabricados em laboratório essas substâncias não são de origem natural, e são capazes
de promover alucinações no ser humano. O LSD-25 (abreviação de dietilamina do ácido
lisérgico) é, talvez, a mais potente droga alucinógena existente. É utilizado habitualmente por
via oral, embora possa ser misturado ocasionalmente com tabaco e fumado. Alguns
microgramas já são suficientes para produzir alucinações no ser humano. O efeito
alucinógeno do LSD-25 foi descoberto em 1943.
O MDMA (metilenodioxometanfetamina), conhecido como êxtase foi sintetizado e
patenteado por Merck em 1914, inicialmente como moderador de apetite. É uma droga de uso
relativamente recente e esporádico no Brasil. Além do efeito alucinógeno, caracterizado por
alterações na percepção do tempo, diminuição da sensação de medo, ataques de pânico,
psicoses e alucinações visuais, provoca efeitos estimulantes como o aumento da frequência
cardíaca, da pressão arterial, boca seca, náusea, sudorese e euforia. Em resumo o MDMA é a
droga que, além de produzir alucinações, pode também produzir um estado de excitação, o
que é duplamente perigoso.
O LSD-25 atua produzindo uma serie de distorções no funcionamento do cérebro,
trazendo como consequência uma variada gama de alterações psíquicas. A experiência com o
LSD-25 e outros alucinógenos depende da personalidade do usuário, suas expectativas quanto
ao uso da droga e o ambiente onde ela é ingerida. Enquanto alguns indivíduos experimentam
estado de excitação e atividade, outros se tornam quietos e passivos. Sentimentos de euforia e
excitação alternam-se com episódios de depressão, ilusões assustadoras e sensação de pânico.
Outros aspectos que caracteriza os efeitos do LSD são os delírios. Estes são o que se
chama de juízos falsos da realidade. Uma realidade, um fato qualquer, que a pessoa não é
capaz de avalia-la corretamente. Os delírios causados pelo LSD costumam ser de natureza
persecutória ou de grandiosidade.
O LSD tem poucos efeitos no resto do corpo. Aumento de pulso, pupilas dilatadas,
além de sudoração, a pessoa passa a sentir com certa excitação. Raramente é descrito casos de
convulsão. Mesmo doses grandes não chegam a intoxicar seriamente uma pessoa do ponto de
vista físico.
O perigo do LSD não está tanto na sua toxidade para o organismo no sentido físico,
mas no fato de sua perturbação psíquica, com perda da habilidade de percepção, e avaliação
de situações comuns de perigo. Há também, descrições de casos de comportamento violento,
gerado principalmente por delírios persecutórios. Há também descrições de pessoas que após
tomarem o LSD passaram a apresentar longos períodos de ansiedade, depressão ou mesmo
acessos psicóticos. O flashback é uma variante deste efeito em longo prazo: semanas ou até
meses após uma experiência com LSD, a pessoa repentinamente passa a ter todos os sintomas
psíquicos daquela experiência anterior e isto sem ter tomado de novo a droga. Pode ser uma
experiência psíquica muito dolorosa, pois a pessoa não estava procurando ou esperando ter os
sintomas, e assim, acabam por aparecer em momentos impróprios.

22
Apresenta a tolerância rapidamente, mas também há o desaparecimento rápido da
mesma com o parar do uso. Não leva a dependência e não há descrição de síndrome de
abstinência se um usuário crônico interromper o uso da droga. Assim como outras drogas
alucinógenas pode provocar dependência psíquica ou psicológica, uma vez que a pessoa faz
uso deste como remédio para todos os males da vida, acaba por se alienar da realidade do dia
a dia, aprisionando-se na ilusão do paraíso na terra. (Para informações de outras substâncias
ver “ANEXO UM”)

2.6 Desenvolvimento de Novas Substâncias Psicoativas (NSP)

As substâncias aqui citadas são drogas psicotrópicas, altera de alguma forma o


comportamento do corpo humano, transformando, em diversos níveis, principalmente a
psique humana. Além de produzir várias consequências no plano físico. Tanto as drogas
lícitas, quanto as ilícitas, consumidas de forma inescrupulosas e em massa, podem acarretar
em consequências desastrosas para a sociedade. Podem-se citar índices alarmantes de
acidentes de trânsito relacionados ao Álcool, mortes devido a complicações médicas
relacionadas ao tabaco, sem falar das drogas ilícitas no Brasil, como maconha, cocaína,
sintéticos e alucinógenos naturais, que acarretam danosas consequências aos usuários, e que
estão intimamente ligados a criminalidade e a violência urbana.
Nos últimos anos pode-se observar um aumento do comércio ilegal de drogas, além da
desenvoltura tecnológica que esse passou a possuir. Em alguns anos vê-se elevado número de
desenvolvimento de drogas, sintéticas, naturais, algumas mais danosas que as que existem
hoje, outras mais amenas, lícitas e ilícitas, e que estão cada vez mais atuantes no mercado,
rendendo e movimentando bilhões de dólares 21.
Esse novo patamar que atingiu o tráfico de drogas é uma preocupação atual das nações
unidas, devido a seu alarmante aumento. As chamadas Novas Substância Psicoativas (NSP),
no relatório Mundial sobre Drogas, este que servirá como compromisso de plano de ação para
2014, realizado pela comissão de narcóticos das nações unidas, são uma preocupação
internacional, transnacional, e que para os órgãos governamentais, aparecem como séria
preocupação de ordem pública social, além de saúde.
A proliferação de novas drogas cresce num ritmo sem precedentes, criando desafios
inesperados na área de saúde pública. O número de NSP comunicadas pelos Estados-
Membros para o UNODC (diretório das nações unidas sobre drogas e narcóticos) subiu de
166 no fim de 2009 para 251 em meados de 2012, aumento de mais de 50%. O sistema
internacional de controle de drogas enfrenta um desafio devido à velocidade e a criatividade
do fenômeno das NSP. Apesar de serem lícitas vendidas abertamente, inclusive pela internet,
as NSP não passam por testes de segurança, podem ser mais perigosas do que as drogas
tradicionais. Nomes como “space”, “miau-miau”, “sais de banho” levam a acreditar que é
diversão de baixo risco.
Em nível global, as nações unidas admitem que a demanda por drogas não tenha sido
substancialmente reduzida e que existem desafios na aplicação do sistema de controle de
drogas, na violência gerada pelo tráfico de drogas ilícitas, na rápida natureza evolutiva de
novas substâncias e nas medidas legislativas nacionais que podem resultar em violações de
direitos humanos22.
21
http://www.onu.org.br/agencia-da-onu-registra-aumento-substancial-do-uso-de-drogas-legais-em-2013/

22
http://www.onu.org.br/agencia-da-onu-registra-aumento-substancial-do-uso-de-drogas-legais-em-2013/

23
O reconhecimento das nações unidas também perpassa a questão do crime organizado.
Na América central, o tráfico de cocaína aumentou os níveis de violência, porém o problema
não será resolvido se as drogas forem legalizadas. O crime organizado, por seu fator de
adaptabilidade, se descola para outras formas de negócios igualmente rentáveis e violentos.
Combater o problema das drogas em conformidade com princípios de direitos
humanos requer ênfase no espírito fundamental das convenções de drogas existentes, que é
sobre saúde. A defesa da perspectiva de saúde mais forte e um reequilíbrio interconectado dos
esforços de controle de drogas devem ser efetivados. A experiência tem demonstrado que a
redução da oferta e a da demanda por si só não são capazes de resolver o problema. Por essa
razão, a ONU reconhece que uma abordagem mais equilibrada pra lidar com o problema das
drogas é necessária. Inclui esforços de prevenção e tratamento, e fundos dedicados para esses
fins.
O relatório Mundial sobre Drogas deste ano mostra a extensão do problema associado
com novas substâncias psicoativas, e o impacto mortal que elas podem ter sobre seus
usuários. A falta de conhecimento sobre os impactos adversos e riscos para a saúde pública e
segurança aliado ao fato de que as novas substâncias psicoativas não estão sob controle
internacional, ressalta a importância de medidas de prevenção inovadoras e compartilhamento
de boas práticas entre os países.
Alguns países adotam abordagens inovadoras para reduzir o aumento destas
substancias, mas a natureza global do problema requer uma resposta com base em cooperação
internacional e cobertura universal. A detecção, a identificação de substâncias emergentes, é
passo fundamental para avaliação dos potenciais riscos a saúde, apresentados por novas
substancias. Informações científicas, epidemiológicas, forenses e toxicológicas sobre estas
substâncias precisam ser coletadas, atualizadas e disseminadas.

24
3. Balanço de perspectivas

3.1 Experiências Internacionais

Há na discussão global inúmeras respostas a atual política transnacional de combate às


drogas. Localmente, ou regionalmente, há muita diversidade de aplicações de leis e
regulamentação. Em âmbito global é possível verificar várias instituições, estados, e nações
utilizando de drogas de forma regulamentada e lícita, seja para assegurar a tradição cultural,
como uso farmacológico ou medicinal, ou como simples recreação, neste caso,
regulamentada. A droga psicoativa que seria ilícita em alguns países, como é o caso do Brasil,
não o é em outros, estes que tem ido de frente com as resoluções proibicionistas mundiais,
lideradas principalmente pelo governo dos EUA, nos anos 70.
A recente regulamentação da maconha no Uruguai abriu espaço para a discussão atual.
Através de uma política de liberação parcial e regulada, causou reboliços no senado 23 daquele
país. Outros países como a Holanda, e alguns estados nos EUA também adotam políticas
semelhantes; desde tentativas de liberação total de algumas drogas a regulamentação.
Políticas de redução de danos também estão implícitas nessas condições de regulamentação, e
muitos acreditam, apesar do dissenso dentro da comunidade acadêmica, de que essa seria uma
saída para a tentativa de reabilitar, e reinserir de forma plena os indivíduos que fazem uso de
drogas pesadas, no ambiente social.
Recentemente foi publicado no CBDD (Comissão Brasileira de Drogas e Democracia)
um artigo chamado “Depois da Guerra contra as Drogas: Um plano para a regulamentação
(feito pela instituição Transform Drug Policy Foundantion)”. O artigo apresenta diversas
questões de regulação das drogas, seu métodos de aplicação, e suas ressalvas. Soa meio
ideológico, e acusatório, principalmente contra o proibicionismo. Porém, é muito elucidativo
na questão de como assegurar a manutenção, e aplicar a regulamentação de drogas dadas
como ilícitas na maioria dos países.
O controle das drogas tem o anseio de proteger o bem-estar da sociedade. A fase
inicial do primeiro tratado de controle de drogas da ONU em 1961 fala com preocupação dos
riscos a saúde física e moral da humanidade. E mesmo assim, desde então a economia das
drogas ilícitas cresceu exponencialmente. As estratégias para combatê-la levaram a uma
guerra em grande escala, na qual se chegou ao extremo de operações militares contra
pequenos agricultores de cultivos ilícitos, a fumigação química de cultivos ligados às drogas,
encarceramentos massivos de usuários e inclusive pena de morte para transgressores da lei
das drogas em alguns países. A proibição põe o mercado lucrativo do comércio ilícito das
drogas em mãos de organizações criminosas, e criou enormes fundos ilegais que estimulam a
corrupção e os conflitos armados em todo o mundo. (Jelsma, 2008).
O controle de substâncias psicoativas existe, atualmente no mundo, em grande
variedade, assim como existem diferenças nas sanções administrativas e penais aplicadas a
cada país. As convenções da ONU estabeleceram normas mundiais a este respeito: a
convenção única de 1961 com as listas de narcóticos; a convenção de substâncias
psicotrópicas de 1971; a convenção contra o tráfico ilícito de 1988 com listas de precursores;
e a convenção marco sobre controle de tabaco da OMS (Organização Mundial de Saúde) de
2003. Essas normas estabelecidas apresentam-se como espinha dorsal do controle
proibicionista, e são as pautas para a falta de efetividade referente à questão.

23
http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-12-25/mujica-promulga-lei-que-legaliza-maconha-no-uruguai

25
3.2 Regulamentação e descriminalização (caso TRANSFORM e Martins Jelsma)

As sanções promulgadas pelas nações unidas têm sido acusadas de grande incoerência
devido à falha de aplicação com efeito positivo para sociedade, quando em relação às drogas.
Ao invés de promover a vida e o bem estar da sociedade, parece que as políticas de combate e
repressão, desde 1961, estão produzindo o efeito inverso, com uma reação prejudicial à vida
humana em varias nações.
O verdadeiro desafio quando se fala em definir políticas públicas de drogas é
estabelecer certo controle por um lado e as consequências negativas oriundas de controle
repressivo por outro. Um grupo crescente de países começou desde os anos oitenta a desviar-
se do enfoque de tolerância zero em direção a maior equilíbrio entre repressão e proteção.
Houve a organização e criação de redes internacionais, como a associação internacional de
redução de Danos (IHRA) e o Consórcio Internacional sobre Política de Drogas (IDPC),
apoiando estratégias que impulsionem uma melhora gradual das atuais políticas de drogas,
que não tem tido a devida eficácia na redução do consumo, e da criminalidade relacionada. O
objetivo é conseguir verdadeiramente proteger o bem-estar humano, garantindo certos
controles sobre substâncias potencialmente prejudiciais, ainda com flexibilidade, e que ponha
limites ao nível de repressão em primeiro lugar para usuários, cultivadores, e micro-
traficantes. Para tanto surgiram uma série de princípios que poderão guiar as políticas na
direção adequada.
Evidência - As mudanças devem estar baseadas na evidência e na avaliação séria das
políticas, em vez de suprir princípios ideológicos.
Diferenciação - É necessário diferenciar as substâncias com base nos danos que
apresentam para a saúde (os níveis de danos da maconha não são os mesmos que o da
heroína); diferenciar entre plantas naturais e derivados concentrados e entre os usos
predominantemente recreativos e os usos mais problemáticos.
Redução de danos - Não vai existir um mundo sem drogas. A ideologia de tolerância
zero será substituída pelo principio da redução de danos, que ofereçam políticas que consigam
reduzir os danos associados ás drogas para o consumidor e para a sociedade em geral.
Flexibilidade - Devem ser levados em consideração ás diferenças socioculturais.
Normas que são estabelecidas a nível mundial devem deixar margem de manobra para que
países ajustem certos princípios de direito nacional, ou de proteção dos direitos de povos
indígenas, em relação a suas práticas e costumes.
Proporcionalidade - O controle das drogas deve respeitar plenamente os direitos
humanos, para o qual deve haver proporcionalidade nas sanções.
Participação - No desenho das políticas de drogas deve haver plena participação dos
principais atores: cultivadores, usuários, trabalhadores de saúde, etc.
A última década foi caracterizada por avanços em programas de redução de danos,
principalmente entre usuários de drogas por via intravenosa, com objetivo de diminuir o
contagio de doenças como HIV/AIDS e hepatite. Em muitos países foram amplamente
difundidos programas de troca de seringas e tratamento de substituição. Em redução de danos
passou a ser uma posição comum da União Europeia, ratificada em 2004, sendo inclusa na
Estratégia de Drogas e o plano de ação sobre drogas. O Observatório Europeu das Drogas e
das Toxicomanias (OEDT) afirmou que existem numerosas provas que confirmam a
possibilidade de que o fornecimento de agulhas e seringas de troca pode servir como uma
importante contribuição para reduzir a transmissão de HIV entre os toxicômanos que se
injetam. Além disso, é uma via de acesso para o conduto e outros serviços de tratamento por
drogas, e saúde primária a essa população de risco. Além disso, afirmam que não existem

26
provas convincentes de que este fornecimento repercuta de forma negativa sobre a prevenção
ou atividades de controle de drogas.
Durante a última década o enforque repressivo para a produção foi endurecido, o que
tem causado uma erradicação forçosa e a implementação rigorosa de uma proscrição do ópio,
com consequências nefastas na área andina, no sudeste asiático e no Afeganistão, que levaram
a um aprofundamento dos conflitos sociais e armados e a dramas referentes à destruição dos
meios de vida.
Há debates sobre os contextos de programas que sejam mais pragmáticos na questão
do cultivo ilícito. O endurecimento judicial e falta de flexibilidade das convenções gera
obstáculos às tentativas de permitir esquemas de redução gradual, mais realistas e menos
repressivos, que sejam harmônicos com o tempo a ser assegurado uma redução na demanda.
O tema das drogas se atrela cada vez mais a uma questão complexa, a qual deve ser
dada respostas que levem em conta aspecto das áreas de desenvolvimento, governabilidade, e
resolução de conflitos. O plano de ação sobre Cooperação internacional em erradicação de
cultivo ilícito e desenvolvimento alternativo, aprovado pela Assembleia Geral das Nações
Unidas de Assuntos Especiais (UNGASS), menciona o objetivo “promover opções legais e
sustentáveis socioeconomicamente para estas comunidades e povos que recorreram aos
cultivos ilícitos como a única forma de obter o sustento, que contribuam de forma integral
para a erradicação da pobreza.” Foi o reconhecimento oficial por parte da ONU e da
importância do desenvolvimento alternativo.

3.2.1 Desenvolvimento Alternativo

A questão do desenvolvimento alternativo não deveria ser condicionado à eliminação


previa do cultivo de entorpecentes, nem deve forçar uma redução dos mencionados cultivos
enquanto não tenham sido fortalecido grau suficientes de componentes lícitos das estratégias
de subsistência. O relatório das Organizações das Nações Unidas contra Drogas e Delitos
(ONUDD) é o melhor exemplo dos avanços no debate sobre o desenvolvimento alternativo. O
relatório indica que há poucas provas de que as erradicações reduzam os cultivos ilícitos em
longo prazo, pois estes se deslocam, as tecnologias produtivas evoluem e a produção total
diminui muito vagarosamente na melhor das hipóteses. O relatório pede que aumentem o
apoio ao desenvolvimento rural em regiões e povoados afetados pelo cultivo ilícito, e que
facilitem maior acesso aos mercados para os produtos do desenvolvimento alternativo.

3.2.2 População carcerária

As últimas décadas mostraram crescimento da população carcerária em quase todo o


mundo, em parte pelo endurecimento das leis antidrogas sob influência das Nações unidas
contra o Tráfico ilícito de Drogas de 1988. A convenção introduz de forma obrigatória que
países signatários devem adotar medidas necessárias para tipificar como delitos penais as
atividades relacionadas com produção, venda, transporte, distribuição etc., das substâncias
incluídas nas listas mais restritas das convenções de 1961 e 1971. Também deve estar sujeito a
sanções penais o cultivo da papoula, o arbusto de coca ou a planta de maconha com o objetivo
de produzir entorpecentes. O texto faz a ressalva para a diferenciação entre o objeto de tráfico
e de consumo pessoal, em que a pessoa com aquisição ou cultivo de entorpecentes ou
substâncias psicotrópicas para o consumo pessoal deve ser tipificado como delito penal,
apesar da reserva de seus princípios constitucionais e dos conceitos fundamentais do
ordenamento jurídico. EUA, Rússia e China se produziram encarceramentos massivos, e em
grande parte da Europa e América Latina se registrou forte aumento da população carcerária.

27
A ausência de impacto positivo em termos de redução de mercado das drogas serviu para
impulsionar campanhas de descriminação de diferentes tipos.

3.2.3 Descriminalização

No caso da maconha, a substância ilícita de maior consumo massivo no mundo, que se


estima que exista 200 milhões de usuários. Em vários países existem políticas mais tolerantes
com relação aos consumidores de maconha, apesar de estar classificada na categoria da ONU
igualmente a heroína. Nesses países o sistema judicial simplesmente diminui a prioridade da
perseguição ao usuário de maconha. Holanda, Suíça, Bélgica, Luxemburgo, Portugal, Irlanda
e uma dezena de estados nos EUA procederam com mudanças nas leis para despenalizar ou
descriminalizar a posse de maconha em pequenas quantidades.
Durante anos tem ocorrido um processo de transformação legal, de arrocho em
referência a algumas drogas, e principalmente devido a maior a aceitação pública, e o
fracassado sistema de controle, que contabiliza vidas em contrapartida do combate e da
repressão as drogas.

3.2.4 Desenvolvimento do que segue

Sistemas como redução de danos, desenvolvimento alternativo, e descriminalização de


algumas drogas estão se tornando pauta de discussão na maioria dos congressos de países,
principalmente desenvolvidos e emergentes, e contam com um bom potencial de atuação, e de
reformulação das leis.
Esta parte da discussão se propõe demonstrar que diversas perspectivas se chocam, e a
contradição que se reproduz em um debate ideológico, que tanto a comunidade médica e
acadêmica, quanto vários setores da política e de aliança com a possível perspectiva de
descriminalização, possuem teores ideológico-partidários, e pretendem demonstrar seu
argumento de forma concisa. A questão que fica clara é que na realidade, qualquer tentativa de
implementação política em referência à política internacional de drogas não passa de
experimentação, sem a devida carga de pesquisa necessária para a atuação. Tanto pelo lado
combativo, quanto pelo lado regulamentador, há uma enorme variedade de fundamentos e
fatos de interação, que integram políticas para o desenvolvimento de uma sociedade que
consiga viver sem os problemas referentes ao fenômeno das drogas. A questão, portanto que
segue, não tem seus aspectos somente na saúde, mas também na questão política-social, uma
vez que a droga, seu consumo e controle se tornam objeto de ostentação na comunidade
internacional e estão ligadas as mais perigosas organizações criminosas do planeta.

28
3.3 Martins Jelsma “Novos planos Legislativos”

3.3.1 Descriminalização segundo Transnational institute

Coordenador do programa sobre Drogas e Democracia do Transnatinal Institute (TNI),


com sua base em Amsterdã, Martins Jelsma se dedica ao estudo e pesquisa sobre drogas e a
promoção de diálogos entre oficiais de governo e especialistas na Europa, América Latina e
Ásia. Produção do documento Inovações legislativas em políticas sobre Drogas
(TRANSNATIONAL INSTITUTE), que será mais um documento de balanço do presente
estudo; este foca em uma perspectiva menos unilateral combativa, repressiva, e também sem
tendência ideológica legalista, com um teor mais humanista, faz uma leitura da questão a
cerca dos direitos humanos.
A evidência do estudo sugere que a legislação que reduz a criminalidade, através de
abordagens menos punitivas, tenham impactos reais no consumo de drogas e nos danos
associados sobre o indivíduo e a sociedade. Segundo o autor medidas que favoreçam o
deslocamento de recursos alocados em atividades de repressão e encarceramento para a
prevenção, tratamento e redução de danos, é mais efetivo na redução dos problemas
relacionados ás drogas. Os temores de que o relaxamento das leis antidrogas e sua aplicação
produzam um aumento do consumo provam ser infundados. O centro dessas reformas situa-se
na Europa, mas também tem sido realizadas reformas na Austrália, no Canadá e em diversos
estados no EUA, com forte impulso na América Latina, região que pode se tornar um novo
centro para esse fomente de reforma.
Tem acontecido um foco maior no tratamento que na punição criminal, uma sensação
de desproporção entre as sentenças de privação de liberdade, e o consumo ilícito de drogas; e
uma percepção de que a canabis é menos perigosa para a saúde em comparação com outras
drogas24.
Há uma forte tendência promulgada por reforma legislativa na Europa que vem
ganhando força na América Latina, consiste em eximir os usuários de drogas de prisão e de
processos penais pelo consumo de drogas e por atos preparatórios como aquisição, porte ou
cultivo para uso pessoal. Não há argumentos, segundo o autor, embasados em méritos
científicos suficientes contra esse nível de descriminalização.

3.3.2 Descriminalização, população carcerária e redução de danos.

A comissão latina americana sobre drogas em 2008, precedida por Jelsma, leva em
consideração, que assim como as medidas de controles repressivas sobre drogas tem efeitos
prejudiciais para a sociedade, à ausência de certas medidas de controle também pode afetar de
forma negativa a saúde pública.
A descriminalização, portanto, não é vista como um agravante no nível de aumento do
consumo de drogas, mas alivia consideravelmente a pressão sobre as agências de aplicação da
lei e sobre os sistemas penais e judiciais, remove barreiras que impedem os consumidores
com padrões problemáticos de uso para poderem procurar serviços de tratamento e redução
danos.
As dúvidas e os dilemas em matérias de política giram em torno da precisa distinção
legal entre porte para consumo e porte com intenção de fornecimento. Algumas reformas

24
Disponível em www.drugsanddemocracy.org

29
legislativas estabelecem limites quantitativos, outras definem distinção em termos de certos
critérios e princípios e deixam ao promotor e ao juiz a decisão sobre a aplicação em cada
caso. Algumas reformas removeram todas as punições (descriminalização total), enquanto
outras só retiraram sanções criminais e sentenças de prisão, embora mantendo penalidades
administrativas ou indicação para tratamento ou educação.
Em Portugal, por exemplo, a descriminalização levou a redução do número de
prisioneiros condenados por delitos relacionados ás drogas, declinando de 44% em 1999 a
28% em 2005. (Martins Jelsma, 2008)
Diminuir os prisioneiros condenados por drogas contribui para uma considerável
redução da superpopulação carcerária. Em 2005 o número de prisioneiros já não excedia mais
a capacidade oficial das penitenciárias. O efeito da descriminalização sobre os níveis de uso
de droga permite diferentes interpretações. O consumo de heroína caiu consideravelmente,
mas o de cocaína e canabis aumentaram, especialmente entre os jovens. Experimento com
medidas menos repressivas também estão sendo aplicados por delitos como tráfico de rua,
furtos de lojas, roubo a residências a transeuntes. Número significativo desses presos
apresenta padrões problemáticos de abuso de drogas e recorre ao micro tráfico, ou a pequenos
crimes para financiar seu consumo. Deve-se ressaltar uma distinção clara na categoria
descrita. A maioria das pessoas detidas por simples posse não necessita de tratamento (por
consumo ocasional e recreativo), e obrigar as pessoas a segui-lo demonstrou ser amplamente
ineficaz. Entretanto, muitos delitos criminais estão arraigados no problema de uso de droga.
Os delitos obviamente não podem ser descriminalizados, mas encarcerar os infratores não
soluciona a causa principal e conduz a um círculo vicioso, de múltiplas infrações, que
respondem por uma proporção significativa dos delitos menores. Por este motivo vários
países adotaram planos de orientação ou tribunais especializados em drogas para tratar delitos
relacionados às drogas, oferecendo aos infratores uma opção entre prisão e tratamento.
Nos tribunais especializados em drogas nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e
Irlanda, o juiz é auxiliado por uma equipe de profissionais que assessoram sobre opções de
tratamento mais apropriadas, em lugar de sentenças de privação de liberdade. O principal
objetivo é a redução da delinquência, oferecendo aos infratores não violentos a chance de
escapar ao circulo de drogas-crime-prisão.
O reino Unido introduziu em 1999 um programa de orientação, que oferecia a pessoas
presas por problemas de consumo de drogas a possibilidade de assistência terapêutica
apropriada imediatamente após a detenção. Após isso houve uma percepção dos policiais que
além de poupar tempo e recursos, também foi o modo mais eficaz que tinham visto para
combate o roubo as residências, com a contínua escolha ao tratamento após a questão com
drogas. Em algumas cidades adotou-se uma abordagem mais integral, identificando o
pequeno grupo de delinquentes e oferecendo a cada um deles um pacote personalizado de
reabilitação, que incluía moradia, emprego, cuidados com saúde e assim por diante. Os
índices de delitos menores caíram drasticamente. Uma avaliação do programa conclui que
essas medidas podem ser eficazes para reduzir o consumo de drogas e o crime, e melhorar a
saúde mental e a integração social. Deveria ser considerada uma alternativa viável ao
encarceramento. Deve-se prestar atenção às questões relacionadas ao processo de tratamento e
a coordenação entre os sistemas de tratamento e de justiça criminal, com objetivo de oferecer
tratamento coerente e de alta qualidade, que permita aperfeiçoar os resultados para os
indivíduos e a sociedade em geral.
Um plano de ação sobre as drogas 2001-2004 da União Europeia propôs que os
Estados Membros estabeleçam mecanismos concretos para oferecer alternativas ao
encarceramento, especialmente para jovens infratores consumidores de drogas. A avaliação do
plano de ação confirmou aumento geral das alternativas comunitárias, não apenas por posse
de drogas, mas para os delitos não relativos ás drogas, cometidos por usuários com padrões

30
problemáticos. Prender os dependentes por delitos cometidos para financiar seus hábitos de
consumos de drogas leva a limitar as chances de tratamento de sucesso.
Na questão legislativa, até então a tendência tinha sido endurecer as leis sobre drogas e
as diretrizes de penalização, estipulando sentenças mínimas obrigatórias, sentenças de prisão
desproporcionais. Esta abordagem cada vez mais punitiva pode ser interpretada como
politicamente motivada, que não produziu qualquer impacto sobre a oferta de drogas nem nas
cifras de prevalência. Pesquisa realizada sobre encarceramento realizada pelo governo
canadense concluiu que infratores que eram encarcerados apresentavam a mesma
probabilidade de reincidência que aqueles que recebiam penas alternativas de serviços
comunitários. As pesquisas realizadas nesse campo revelam a ineficácia de sentenças de
prisão longas, especialmente entre infratores da lei contra as drogas que não incorreram em
violência. E ao mesmo tempo a capacidade do sistema judicial é ultrapassada, muito além
dos limites, resultando em procedimento lentos, longos períodos de detenção preventiva e
superpopulação de prisões.
Segundo o autor a última década se caracterizou por avanços importantes em
programas de redução de danos, particularmente entre os consumidores de drogas injetáveis,
com o objetivo de reduzir a disseminação de doenças como HIV/AIDS e hepatite e diminuir
as mortes por overdose. As práticas de redução de danos estão sendo disseminadas, mesmo
em países com leis antidrogas muito rígidas. A China deu inicio a programas de troca de
agulhas há vários anos e planeja ter mil clinicas de metadona em funcionamento até o final da
década. Países como Irã, Paquistão e Vietnã estão agora abertamente prestando serviços
básicos semelhantes. Os EUA mantém há tempos uma cruzada ideológica contra a redução de
danos, embora estados adotem programas de troca de agulha e tratamentos de substituição de
opiáceos.
A implementação efetiva de serviços de redução de danos só é possível em um
ambiente legal em que os usuários de drogas não são processados judicialmente. O acesso a
esses serviços de cuidados de saúde não requer dos solicitantes que parem de usar drogas,
permitindo ingressar em programas sem medo de serem presos. Países como Holanda,
Alemanha, Suíça, Espanha, Noruega, Dinamarca, Canadá e Austrália continuam
experimentando práticas mais avançadas de redução de danos, incluindo a prescrição de
heroína e as salas para consumo de drogas, para os grupos de usuários mais problemáticos.
Há atualmente cerca de 65 salas de consumo em diferentes países, instalações
supervisionadas onde os consumidores de drogas tem permissão para consumir em condições
higiênicas, sem medo de prisão. Estes projetos exigem ajustes jurídicos especiais, tais como
registro de heroína como medicamento, providência legal para programas de manutenção com
drogas, ou licenças especiais e isenções legais para as salas de consumo.
Há um volume convincente de evidências de avaliações sobre a eficácia destas
medidas na redução de mortes por overdose, melhoria das condições de saúde dos usuários de
heroína, sua utilidade para fazer com que os usuários problemáticos entrem em contato com
as opções de tratamento que de outra forma desconheceriam, e taxas declinantes de crimes
relacionados às drogas.
No continente americano estão sendo feitas experiências com programas de redução
de danos centrados em estimulantes fumados ou inalados (crack/paco ou pasta base de coca).
Ao compartilhar cachimbos, os usuários podem transmitir doenças, como herpes, tuberculose,
hepatite e HIV/AIDS. O uso de crack muitas vezes implica também comportamento sexual de
risco. Brasil, Canadá e Estados Unidos, os profissionais dos programas de redução de danos
distribuem kits para uso mais seguro de crack, com preservativos, cachimbos, piteiras, lenços
de papel, vaselina e creme para os lábios, com intuito de combater infecções e doenças
sexualmente transmissíveis. No Brasil há relatos positivos de experiências com tratamento por

31
substituição de maconha para usuários de crack, na tentativa de aliviar os sintomas de
abstinência.
A ideologia de baixa tolerância consagrada em tratados, que atualmente se encontram
anacrônicos, datados das décadas de 1960 e 1970, acabou por dificultar o desenvolvimento de
respostas mais focadas e eficientes que levem em conta suas propriedades específicas e
completamente diferentes e os motivos pelos quais as pessoas as usam. A questão
fundamental e mais delicada politicamente é como lidar de forma mais eficaz com a Canabis,
que representa a maior parte das drogas ilícitas. Estudos indicam que existem riscos de longo
prazo associado ao seu uso intensivo, mas também apontam com clareza para os méritos
medicinais. Muitos países já introduziram legislação ou diretrizes judiciais diferenciando a
Canabis de outras drogas. Assim sistemas Coffeshops e o modelo de maconha para uso
medicinal adotado na Califórnia se aproxima de uma situação de mercado regulado.
Há evidências de que as medidas de execução da lei não são meios eficazes para
reduzir a extensão do mercado das drogas ilícitas. A aplicação excessivamente repressiva do
regime de proibição global causou muito sofrimento, destruindo vidas e impondo aos
condenados penas desproporcionais em condições abomináveis. Sobrecarregou o sistema
judicial e a capacidade carcerária e consumiram recursos gigantescos que poderiam ter sido
destinados a tratamentos mais eficazes, programas de redução e prevenção ao crime.
A remoção das sanções criminais para a posse de drogas não conduz um aumento
significativo do uso de droga ou dos danos relacionados a essas. Criminalizar os usuários
afasta-os dos serviços de saúde com medo de serem presos, leva-os para a sombra e encarcera
em prisões que tem servidos como escolas do crime.
Portanto a discussão que se desenrola sobre a possibilidade de descriminalizar as
drogas, da sua corrente legalização, das políticas de reabilitação e redução de danos ainda
permanece em nível de experimentação, sem consenso que seja concreto e passível de
aplicação universal. Por um lado vários governos têm utilizado do argumento proibicionista e
punindo traficantes e usuários de forma correlata. Em outra perspectiva, muitos países
principalmente desenvolvidos e emergentes, tem reconciliado a questão da reabilitação ao uso
de drogas, e a não punição aparece como um preceito a ser seguido. A dificuldade de lidar
com a questão está justamente na complexidade do tema, na motivação da questão criminal,
na questão das consequências do abuso das drogas para a saúde e para sociedade, etc. A
intenção dessa pesquisa não é comprovar, ou demonstrar que as drogas sejam ou não o fator
principal do problema da criminalidade, ou vice versa, mas apresentar os dados institucionais,
do debate que tem ocorrido nos últimos anos. Portanto não cabe aqui indagar se a
criminalização do usuário de drogas, ou a descriminalização são questões com fator
sociológico para análise. Mas demonstrar que tais políticas vêm ocorrendo, de forma que
configuram contextos diferentes nos casos em que são aplicadas. E que a conjuntura política
de cada lugar que ela é instituída, é de certa forma, influente na qualidade da problemática
[droga/crime/punição/reinserção] oriunda do uso de drogas.

4 Projeto de regulamentação no pós-guerra as drogas “Transform Drugs Policy


Fundation”

Segundo a “Transform Drugs Policy Fundation” há cinco possíveis modelos de


regulamentação da produção de drogas. Estas opções residem entre duas abordagens extremas
de gerenciamento. Em um dos extremos há o modelo atual de proibição/criminalização, que
proíbe toda a produção fornecimento e uso de drogas não médicas. No outro extremo a
legalização do mercado livre, que torna legal a venda de drogas de maneira irrestrita. Ambos
são radicais, e tratam uma variedade de substâncias de maneira generalizada, sem ressaltar as

32
diferenças do gerenciamento do fornecimento e uso de cada uma das drogas. A ideia de
regulamentação responsável distancia-se de soluções generalizadas. Essa demonstra a
possibilidade de várias abordagens de gerenciamento apropriadas de acordo com as
necessidades e propriedade especifica de cada uma. A fundação inglesa identifica cinco
modelos para tal gerenciamento:
Prescrição - O modelo mais controlador, seria equivalente a modelos atuais de
prescrição para drogas médicas e a alguns programas de provisão a dependentes de narcóticos
(sala de injeção de heroína, por exemplo, existentes em alguns países da Europa).
Vendas em farmácia - As drogas estariam disponíveis em farmácias ou
estabelecimentos similares, tanto sob prescrição (no caso das mais danosas) como no balcão
(para as drogas mais leves).
Vendas licenciadas - Vendedores receberiam uma licença para vender drogas
específicas sob condições claramente definidas, em locais com a devida permissão.
Locais Licenciados - Vendedores receberiam licença para gerenciar locais onde as
drogas seriam vendidas e consumidas, como estabelecimentos públicos e bares.
Vendas sem Licença - Certas substâncias de baixo risco poderiam ser gerenciadas
através de legislação alimentícia e de bebidas, da forma que – por exemplo – o café é
atualmente gerenciado.

4.1 Detalhes práticos de regulamentação

4.1.2 Controle de produção

Grande número de empresas da indústria farmacêutica já trabalha na produção de


drogas psicoativas para uso médico. Estas funcionam inteiramente dentro dos sistemas legais
regionais, nacionais e globais. Uma expansão gradual da produção de drogas, no decorrer de
vários anos baseada em parâmetros legais é complemente possível. Quase a metade da
produção de ópio é legalmente produzida para a produção de vários produtos farmacêuticos
(como a morfina, por exemplo), em um total de dezoito países pelo mundo. As agências de
combate às drogas da ONU e governos nacionais trabalham juntos para monitorar e controlar
esse comércio. Uma produção expandida sob esse modelo existente seria válida. Tal mudança
iria, entretanto levantar questões de desenvolvimento para o Afeganistão, que atualmente
produz 93% do ópio ilícito no mundo (contribuindo com mais da metade de seu PIB) 25.
A produção legal de coca/cocaína também ocorre, embora em menor escala que o
ópio. Tal produção está locada basicamente na região Andina, onde as folhas de coca são
mastigadas ou usadas em chás tradicionais, comidas e remédios. Os EUA também são
importantes nesse mercado; as folhas são processadas para dar sabor a refrigerantes e a
cocaína para uso medicinal.
A Canabis tem sido legalmente produzida mundo afora por muitas décadas,
principalmente para usos medicinais. Alguns países importantes na produção são: Reino
Unido, EUA e Canadá. Isso tem permitido uma aquisição substancial em termos de
experiência no que se refere à produção, segurança e controle de qualidade, fornecendo uma
base sólida para uma produção comercial não médica. Drogas farmacêuticas já estão sob
produção rigidamente regulada e cuidadosamente controlada. Ou seja, o controle da produção
é possível, e até desejável, já que a produção existe, e ocorre muitas vezes de forma
inescrupulosa, principalmente quando acontece de forma ilegal, no âmbito da criminalidade.

25
Fonte TRANSFORM – Drugs Policy Fundation

33
A questão que sugere o artigo nesse sentido, não é tanto o discurso contra ou a favor
da legalização, mas a necessidade da regulamentação séria, e controlada da produção, para
que não seja feita de forma perniciosa para a política dos estados, mas resaltando o bem estar
das nações. O que claramente não vem acontecendo, pois a maior parte do mercado mundial
das drogas acontece de forma ilícita, e sem nenhum controle nuclear. Ocasionando mais
problemas como criminalidade, e a aumento da mortalidade do fenômeno.

4.1.3 Controle de disponibilidade

Limitar disponibilidade das drogas é meta principal de qualquer governo. Entretanto,


difícil é medir a disponibilidade quando se trata de mercados ilícitos, e o conceito de
disponibilidade em si tem sido muito pouco explorado. Limitar a disponibilidade legal
também pode criar oportunidade no mercado para fornecimento ilícito.
Uma consciência maior sobre os reagente de fornecedores pode ajudar a apoiar a
criação de um regime regulador que progressivamente desencoraja usuários de se envolverem
com produtos de alto risco. Flexibilidade essa, é um dos benefícios centrais da disponibilidade
regulada. Ela apoia os fins práticos detalhados acima; e mais, ela assegura que o controle de
mercados de drogas seja retirado das mãos daqueles menos qualificados ou propensos a
gerenciá-los de forma irresponsável, e sejam devolvidos a organismos locais, regionais e
internacionais, mais qualificados e sujeitos a uma análise pela sociedade civil, profissionais e
elaborados de políticas. A maior regulamentação, em tese, iria incidir na vida social voltada
aos usuários, dando subsídios ao governo, de maior controle e consciência, seria maior a
respostas políticas para os usuários.

4.1.4 Controle do produto

Há riscos associados a qualquer droga e é essencialmente relacionada à preparação, a


dosagem e aos diferentes modos de consumo. A instituição recomenda que as drogas sejam
preparadas em unidades padronizadas, com a unidade base para cada droga cuidadosamente
calculada. Quanto mais perigo representar o produto, maior restrição ao seu acesso. Os
preços também têm de ser cuidadosamente controlados, seja por taxação, ou por fixação
direta. Estes devem ser estabelecidos de maneira a desencorajar o uso impróprio e ao mesmo
tempo reduzir os incentivos para que vendedores ilícitos entrem no mercado. Considerações
sociais mais amplas também devem ser levadas em conta; por exemplo, preços mais altos
podem levar certos tipos de usuários a tomar atitudes extremas para ter acesso à droga, o que
acontece muito no Brasil, e que é consenso na política de atuação da polícia militar do estado
de São Paulo, quando esta entende o usuário de drogas ilícitas (principalmente de crack)
como individuo incapaz de encontrar subsídio financeiro legal para adquirir a droga e por
isso, este está sempre vinculado a práticas de roubo, furto e outros crimes.

4.1.5 Controles do Fornecedor e Pontos de Venda

Tanto fornecedores de drogas como pontos de venda deveriam ser cuidadosamente


controlados. Como prioridade, o primeiro passo de qualquer regime licenciado deveria ser
sempre a proibição completa da propaganda, promoção e marketing de drogas, incluindo
atividade envolvendo álcool ou tabaco. Controles amplos de gerenciamento de mercado
também deveriam ser aplicados. A localização e a densidade de pontos de venda de drogas
deveriam ser controladas, com restrições impostas em locais públicos.

34
Acordos de licenciamento poderiam garantir que vendedores sejam parcialmente
responsáveis pelos incidentes de distúrbio social resultante do uso de drogas em seu recinto.
As vendas poderiam ser gerenciadas pela limitação dos volumes de venda a usuários
individuais. Um prazo de tempo poder ser estabelecido entre encomenda da droga e
recebimento da mesma limitando o consumo excessivo.

4.1.6 Controles sobre o comprador e usuário Final

É essencial que o acesso não adulto a qualquer droga seja restritos ou completamente
prevenidos. Não há duvidas de que tais controles assegurariam amplo apoio social. E também
é um benefício chave para uma regulamentação legal. Para menores de idade, o papel de
controle da liberação seria transferido dos fornecedores ilícitos de drogas, cuja principal
preocupação é expandir o mercado, para organismo de controle regional e estatal, cuja
preocupação principal é a saúde pública.
Uma disponibilidade rigidamente controlada apoiaria esforços de prevenção,
reforçados por investimentos em informações precisas e claras sobre o uso de drogas e os
riscos que implicam. Prevenção em longo prazo e esforços para redução de danos vai
envolver investimento em capital social; Abordando as causas sociais do uso problemático,
para jovens em riscos, fornecendo alternativas significativas para o uso da droga, tal qual
clubes para jovens ou atividade relacionadas. Naturalmente alguns ainda terão acesso e usarão
drogas, e é vital que tenham acesso a tratamento adequado e programas de redução de danos
sem ter medo.
Uma variedade de controles deveria ser posta em prática para os usuários adultos. De
forma imediata, o grau de intoxicação poderia ser medido; as drogas não deveriam ser
vendidas aos que não estão em condições de usa-las com responsabilidade. Os vendedores
também poderiam ter que testemunhar o consumo de certas substâncias. Compradores
poderiam ser obrigados a mostrar uma autorização para certa droga antes de sua compra.
Aquisição de licença poderia depender de teste, assegurando que o licenciado entendeu os
riscos inerentes ao uso da droga. Outros controles poderiam incluir a necessidade de
comprovação de residência fixa para a compra, que seria particularmente útil no controle do
uso cultural de drogas específica. Os compradores podem ter que comprovar associação a
clube ou grupo relevante como condição de compra; tais grupos funcionariam de forma
similar a órgãos normativos profissionais, assegurando certos padrões de conhecimento e
comportamento entre seus membros. Ainda, locais de uso poderiam ser bem definidos, da
mesma forma que o consumo de álcool fora de residência é, em muitos países, completamente
restrito a locais autorizados.

4.2 Aplicações da regulamentação

4.2.1 Necessidade de uma regulamentação gradativa

A regulamentação legal de mercados de drogas representa uma considerável mudança


cultural e jurídica. Como citado já existem grandes experiências na ação de regulamentação;
porém as especificações desta regulamentação de drogas atualmente oferece uma página em
branco, em relação as suas consequências. Procedendo de um principio preventivo, qualquer
nova regulamentação tende a uma forma cautelosa e progressiva, representa mais a forma
construtiva e responsável de desenvolver esses regimes. Tal abordagem assegura que cada
passo regulatório possa ser cuidadosamente avaliado e reavaliado caso consequências
negativas inesperadas apareçam; é o caso de países e regiões que foquem sua abordagem de

35
acordo com suas próprias dinâmicas e normas de comportamento cultural e econômico. Sob
esse tipo de abordagem é provável que a Canabis seja a primeira droga a ter modelos legais
mais seriamente desenvolvidos e explorados. Já em relação ao uso problemático de
estimulantes (crack e cocaína), modelos iniciais de prescrição de manutenção médica devem
surgir. De forma geral a maioria dos projetos piloto deve começar com as drogas com menos
probabilidade de estarem associadas a danos sociais ou pessoais, e que podem ser vendidas
em fórmulas mais segura e menos potente.
Há duas ordens de danos a saúde que deve ser levada a consideração, sendo os danos
primários a saúde relacionada ao uso pessoal, e divididos entre vício e toxicidade. Os danos
secundários, por sua vez, estão relacionados principalmente ao contexto social em que
acontece o uso de drogas, no caso das drogas pesadas, a heroína, por exemplo, é levado em
consideração o fator de risco, e a saúde secundária da injeção da droga e da transmissão de
doenças, o que não está relacionado à droga em si, mas a ação do contexto do uso das drogas.
A toxicidade aguda refere-se ao tamanho da margem entre dose e efeito de droga. A
toxidade crônica está relacionada a danos ao longo do tempo de uso da droga. A toxicidade
aguda e crônica para drogas distintas nem sempre combina. O tabaco, por exemplo, possui
baixo risco agudo, mas alto risco crônico. A dependência de drogas tem dominado o discurso
sobre as drogas a mais de um século. Os aspectos fisiológicos da dependência são geralmente
bem pesquisados e entendidos, entretanto, problemas da dependência são complicados pela
grande gama de fatores psicossociais que interagem com processos fisiológicos. Embora seja
muito importante determinar os riscos da dependência e comportamentos, estes não são bem
entendidos. A complexa área da dependência ainda tem muito a ser estudada.
Assim diferenças na vulnerabilidade dos usuários, como preparam da droga, método
de ministra-la e comportamento advindo do uso podem afetar o risco associado ao uso de uma
droga específica. Isso é evidente nos usuários de drogas a base de cocaína. Cada vez mais esse
uso está associado a uma grande variedade de níveis de risco.
Outros danos apresentados sobre os riscos secundários às drogas são os contextos
sociais em que as pessoas utilizam das drogas. O uso de heroína injetável, por exemplo, é
fator de risco para transmissão, principalmente por sua utilização em ambientes sem nenhuma
segurança, ou controle. Ou seja, são inúmeros os riscos a que se expõe o usuário de drogas,
não só pelo nível primário, mas também pelo secundário, quando este, impõem ao indivíduo
diversas formas de atuação, que devido à criminalidade, aumenta o risco de problemas de
saúde.
Ao longo desses anos, a proibição de drogas vem cumprindo papel político. Ao propor
uma variedade de opções viáveis para a regulamentação, controle de produção e fornecimento
e uso das drogas, a entidade espera acabar com a polarização e os entraves relacionados ao
debate sobre a reforma da legislação. Está claro que qualquer que seja o regulamento e a
forma de controle em vigor no mundo pós-proibição, os desafios econômicos e sociais
referentes ao uso de drogas serão diferentes, e de uma escala significativamente menor. Não
haverá a necessidade de desperdiçar recursos em uma batalha invencível contra problemas
criados pela guerra contra “sãs drogas”. Concentrar as energias em abordar, de forma humana
e eficaz as consequências destrutivas e o uso problemático, e suas causas inerentes são o foco
da questão.

36
5 Balanço das experiências nacionais

Acontece que além da questão ideológica, há fatos; países tem aderido a novas formas
de utilização das drogas, que não seja por meio ilegal. Porém, no Brasil o debate se encontra
em meio espinhoso, instituições governamentais e sem fins governamentais (nesse caso
principalmente médicas) utilizam de tom proibicionista, com o contundente intuito de
disseminar a proibição total das drogas, divulgando pesquisas que comprovam o quão
pernicioso é o uso da droga para o individuo e para a sociedade. E dados assustadores, com
certo teor alarmista, tem ancorado a questão no Brasil a essa função proibicionista. Porém,
sobre esse tom alarmista, tem ocorrido uma reviravolta na reflexão sobre a aplicação das leis
referentes à proibição. As formas de combate e repressão às drogas tem tido um aumento de
foco, e a questão passou a apresentar um dissenso refletivo. Algumas organizações,
principalmente as formadas pela sociedade civil, tem reconhecido que o fenômeno do
combate, as política de repressão, tem agido de forma tal, que ao invés de suprir o problema
das drogas, tem ocasionado consequências desastrosas e mortíferas para a sociedade.
Principalmente com a questão da intimidade das drogas com a criminalidade, seja pelo
desenvolvimento de criminalidade sobre a questão de pequenos delitos referentes à
sustentação da compulsão dos vícios que representam as drogas, seja como uma questão
macrossociológica, na formação de cartéis de drogas do crime organizado que agem
hediondamente sobre a sociedade.
Algumas instituições, organizadas pela sociedade civil, e que (hora) prestam serviços
para o governo (seja federal, estadual ou regional), também caminha pela questão das
políticas da descriminalização, de redução de danos, de regulamentação das drogas, de
reabilitação compulsória e assistida, e mencionam que em países de primeiro mundo não tem
surtido os efeitos que eram esperados das recentes políticas implementadas, e que, além disso,
houve a forja de novos problemas sociais, diante da mudança da dinâmica das drogas.
Portanto, esta parte segue justamente para apresentar as diferentes ideias e opiniões referentes
à questão da regulamentação, legalização e seus afins. As diferentes perspectivas do debate
demonstra principalmente o forte teor ideológico, que permanece no campo político das
sociedades, e não tem tanto haver como uma questão puramente da área da saúde. Demonstra-
se que as políticas para a resolução do problema ainda permanecem sendo aplicadas de forma
simplista e ineficiente.

5.1 Ronaldo Laranjeira

As questões apresentadas neste documento seguem as premissas de uma ação política


fundamentada nos direitos humanos, civis, e foi pensada de acordo com toda humanidade
possível. São defendidas por figuras mundiais 26, desde ex-presidentes a representantes, todos
com influência na política internacional. O texto das ideias que aqui foram apresentadas foi
escrito para se pensar uma política seguindo da premissa que o combate e a repressão às
drogas não tem tido a devida efetividade. O que é defendido por muitos estudiosos da área,

26
Dados CBDD

37
que dizem que o aumento da criminalidade é também por consequência do tráfico, e do
combate truculento e opressor a este. E essa é uma questão que se encontra em dissenso.
Sob diversas acusações, o outro lado da moeda da última questão apresentada, há o
pesquisador e psiquiatra da Unifesp, Ronaldo Laranjeira, que utiliza do conhecimento
adquirido por anos de pesquisa para debater a questão, se a legalização é realmente possível,
ou desejável, e admite que seja imprescindível que haja a repressão e o combate, mesmo a
droga sendo um problema de saúde pública, muito pelo forte fator epidêmico desta.
Para o pesquisador, do ponto de vista da saúde pública é errado legalizar as drogas. A
solução é promover a prevenção e o tratamento baseados em evidências e não em ideologia. A
ciência tem obtido respostas claras e válidas, na farmacologia, os mecanismos de ação da
maioria das drogas são muito bem conhecidos, e para cada droga é possível prever a ação de
imediato e de uso crônico. Os epidemiologistas já são capazes de mostrar o impacto do uso,
do abuso, da dependência e o custo social de cada uma das drogas. O pesquisador lamenta a
ênfase ideológica que tem o debate atual, e á obscuridade a respeito da melhor política a ser
seguida. Também comenta a característica duvidosa das fontes, que são dúbias e fora de
contexto. O pesquisador segue a teoria de que a legalização não traria apenas benefícios.
Através de uma ideia de “nível agregado de dano”, este liga a legalização da maconha, como
exemplo, a uma das possibilidades de maior consumo global da droga, e possivelmente um
consumo preterivelmente da população mais jovem, o que ocorre com as drogas lícitas como
o álcool e tabaco. A legalização traria, talvez, um menor número de crimes violentos,
relacionados com a ação do tráfico ilícito, mas por outro lado à população mais jovem teria
maiores complicações na escola, e talvez, transfigure algum novo tipo de criminalidade
menos violenta para conseguir pouco de dinheiro para o consumo de drogas 27.
O pesquisador, apesar de ser contrário a legalização, admite que a proibição total de
uma droga produz dano, e a medida que a droga progride na escala de legalidade, e sua
disponibilidade aumenta, o número de usuários aumenta, aumentando também o nível global
de dano. As drogas lícitas oferecem as maiores evidências para esse modelo de pensamento. O
álcool, por exemplo, centenas de pesquisas mostraram que quanto menor o preço e maior a
disponibilidade num país, maior é o número de pessoas com problemas relacionados com uso
de álcool. É preciso instituir uma estratégia para diminuir o consumo global de todas as
drogas, em primeiro lugar. A partir dessa diminuição é que pode variar de droga para droga, a
depender do momento histórico que uma sociedade vive.
A tendência mundial tem mostrado que o álcool e o fumo estão cada vez mais
próximos da proibição, ou de controles mais rígidos, através de leis e restrições ao uso das
mais variadas. No caso da maconha não há uma nítida tendência mundial, há alguns países
adotando penas mais leves ou um grau de tolerância maior, mas em nenhum lugar há uma
legalização aberta. E no caso das drogas mais pesadas a tendência é marcante em relação à
proibição. O pesquisador aponta como hipocrisia social existir políticas diferentes para drogas
diferentes. Na realidade, deveria ser atitude pragmática de uma sociedade que queira
efetivamente responder ao problema das drogas. Uma política de drogas baseada em
resultados e não em retórica e debate ideológico deveria ser julgada pelo seu efeito na
diminuição do custo social de todas as drogas e não somente de uma droga específica.
Segundo Ronaldo Laranjeira, os argumentos em prol da legalização ainda permanecem
em um nível muito superficial. Quando aprofundado nos argumentos da questão eles caem
por terra. O primeiro argumento de que a grande quantidade de crime associado ao uso de
drogas, e a consequente legalização transferiria o lucro do traficante, e a diminuição dos
crimes. O segundo argumento é que tornando as drogas disponíveis legalmente teríamos
27
http://www.mvb.org.br/userfiles/ESTUDO_PROF_LARANJEIRA.pdf?acao3_cod0=b67abb50bd568cb33057119ac6241605

38
benefícios à saúde pública, por exemplo, o combate a doenças como Hepatite e AIDS, devido
ao compartilhamento de seringas e agulhas. O principal argumento contra a legalização é o
aumento do consumo devido ao aumento da disponibilidade. A ação direta de qualquer droga,
com potencial de dependência reforça a chance de que ela venha a ser usada novamente. As
drogas produzem dependência, ativam os circuitos cerebrais, que são ativados normalmente
por reforçadores naturais como fome, ou sexo. A ativação desses circuitos está na raiz do
aprendizado que ocorre o começo do processo da dependência química. De forma simples,
devido ao fato que essa droga produz prazer, o indivíduo terá maior chance de querer repetir a
experiência. O uso repetido mudará os circuitos cerebrais com grande chance de produzir
dependência. Mesmo pessoas que não venham desenvolver uma dependência plena, o
aumento da experimentação, ou uso regular das várias drogas disponíveis acarreta em um
aumento do número de problemas. Como drogas ilícitas acarretam comprometimento das
funções cognitivas e motoras no mínimo aumentam o risco de vários tipos de acidentes e
diminuição de produtividade.
Outro aspecto que foi levado em consideração pelo pesquisador, foi à questão dos
adolescentes. Teoricamente estão protegidos legalmente da venda de cigarros e álcool. Após
uma legalização eles também estariam protegidos da venda de maconha, cocaína e das demais
drogas. O problema é que as leis funcionam melhor no plano das teorias. O uso de tabaco e
álcool é um grande problema de saúde pública para os adolescentes. Especialmente nas
periferias. Há grandes chances das classes socais mais desprotegidas pagarem um alto preço
pelo acesso facilitado a droga, além de existir uma dificuldade maior no acesso ao tratamento
público da dependência química.
Mesmo entre os adultos existiria aumento dos problemas relacionados a essas
substâncias. Portanto o argumento de proteger a saúde pública com a legalização das drogas,
definitivamente não se sustenta no caso do Brasil. E também acontece assim em relação ao
crime. Mesmo que aparentemente o discurso caminhe para legalização, com alguns benefícios
como aumento da arrecadação do governo, com a venda das drogas, e que haveria a
possibilidade de reverter esse fundo para a sociedade na forma de tratamento ou prevenção.
Essa fala ainda ignora dois fatores. Subestima o custo da dependência para os indivíduos e
suas famílias. Muito embora o custo seja difícil de calcular, quando há famílias afetadas por
alguém dependente de drogas, pode-se avaliar como incomensurável o custo e sofrimento por
um número significante de pessoas, não somente o usuário, mas várias as pessoas ao seu
redor.
Outro fator é a discussão que se encontra sobre a diminuição do crime devido à
legalização. A maioria dos usuários de drogas não tem condições de manter empregos fixos e
estáveis, não existe razão para acreditar que muito deles ainda continuariam roubando para
sustentar o consumo. Muitos criminosos começaram a sua carreira no crime antes de usarem
qualquer droga. Uma suposta fonte de suprimento de drogas, que seja legal, eventualmente
coordenada pelo governo, é provável que mude os determinantes comportamentais, e sociais
das pessoas envolvidas no crime. Portanto qualquer análise de custo é difícil de ser feita, pois
aborda muitas questões ainda a serem discutidas.
Mesmo que possa ser demonstrado o custo, o Dr. Laranjeira ainda encontra uma
última barreira. Ninguém apresentou um plano operacional de legalização das drogas. Ideia
que pode soar como boa no abstrato, mas necessita ser mostrada de forma realista para
substantivamente analisada. Dificilmente há apresentação desse plano por aqueles que
defendem a legalização das drogas. E mesmo que apresentado, esse ainda permanece de
forma superficial ou teórica, com muitas questões a serem discutidas e estudadas.
O Pesquisador reconhece o uso continuo de substâncias psicoativas por milênios, e
continua argumento que nos últimos 200 anos houve o começo de tentar controlar a produção,
distribuição e uso dessas substâncias. Poucas ações tiveram sucesso. Muitas vezes, segundo o

39
Doutor, é que um problema complexo sobre as substâncias acabam por terem soluções
aparentemente simples e possivelmente erradas.
O consumo de qualquer substância psicoativa produz uma doença cerebral em
decorrência do uso inicialmente voluntário de drogas. A consequência é que a partir do
momento que a pessoa desenvolve a dependência o uso passa a ser compulsivo e acaba
destruindo muito das melhores qualidades da pessoa, contribuindo para a desestabilização da
relação do indivíduo com a família e a sociedade.
O uso de substância altera mecanismos cerebrais responsáveis pelo humor, memória,
percepção, estados emocionais e controles dos comportamentos. O uso de drogas regular
modifica a estrutura cerebral e pode demorar alguns anos para voltar ao normal. Essas
modificações de vários circuitos cerebrais são responsáveis pelas distorções cognitivas e
emocionais que caracterizam as pessoas dependentes. O uso de droga modifica o circuito de
controle de motivação natural, tornando o uso da droga quase a única prioridade do indivíduo.
A maioria da comunidade de especialistas considera a dependência de drogas uma doença
cerebral que provoca mudanças na estrutura e função do cérebro.
Essa visão sobre o “gerar dependência” é controversa, principalmente nas pessoas que
tem a tendência de visão unidimensional de um problema complexo. Quando na realidade
existe grande conexão entre cérebro e comportamento. Essa visão não significa que o
dependente é vítima indefesa e sem responsabilidade por seus atos. Na realidade o uso
começa por ato voluntário, e isso implica que a pessoa tem responsabilidade pelo seu
comportamento, e também pela sua recuperação. Portanto ter uma doença cerebral com essas
características não exime de responsabilidade o dependente. Mas o fato de ter uma doença
cerebral implica que muitas vezes é necessário um tratamento médico para produzir mudança
sólida no comportamento. A defesa do ponto de vista do Doutor continua, quando este pensa
através dos autores Robert MacCoun e Peter Reuter em seu livro Drug War Heresies, onde foi
feita uma revisão de literatura científica das últimas décadas no assunto, e mostram as
consequências incertas da questão. Com a legalização por um lado pode haver a redução da
criminalidade, mas por outro, aumento significativo do consumo em até 500%.
Muitos ativistas defendem que a sociedade estaria melhor com a legalização das
drogas, mas a experiência com as drogas legais não tem um resultado encorajador. Em relação
ao tabaco, a história de sucesso em vários países desenvolvidos e literalmente todos os
fumantes sabem dos riscos envolvidos no comportamento de fumar. Nos EUA o número de
fumantes tem se mantido o mesmo e a influência política e social da indústria do tabaco se
mantém. Aconteceu fato semelhante na Holanda, quando após a legalização, e a
regulamentação do uso da maconha em coffeshops, houve um aumento significativo de 15%
do uso da substância. Existe grande dificuldade em transformar boas intenções em benefício
social. A maioria dos países pratica tipos de políticas de drogas, mas raramente ela é avaliada
de forma consistente, o que faz com que aspectos fundamentais passem despercebidos.

5.2 Problemas da redução de danos

Outra questão apresentada e debatida pelo pesquisador Ronaldo Laranjeira é a questão


da redução de danos. Este defende, em nível geral, que se não há meios de erradicar os
problemas das drogas, é preciso diminuir seus danos. A reforma legal não é prioridade, mas
prática concreta. Defendem a tolerância com os usuários de drogas, o que se transforma numa
descriminalização de fato do uso de substâncias. Busca-se a aderência ao tratamento com
todas as alternativas possíveis.
Existem dilemas teóricos práticos com essa abordagem. A diminuição do dano de
alguns indivíduos possa produzir uma diminuição global do dano. Suponhamos que haja uma

40
diminuição de danos de um grande número de usuários. No entanto se isso acarretar um
excesso de facilitação ao uso de drogas na população em geral o número de usuários poderá
aumentar, tornando um dano maior à sociedade. O objetivo de uma política de redução de
danos deveria ser a redução total dos danos das drogas. Deve-se fazer a distinção entre micro
e macro na redução de danos. A questão apresentada do Dr. Laranjeira condiz com a proposta
organizada por MacCoun e Reuter (2001) que sustentam que é preciso olhar as políticas de
drogas de forma mais analítica e levando em consideração a complexidade da situação, com
várias áreas que se relacionam de forma causal, como a cultura, o governo, as políticas de
drogas, o uso de drogas e o impacto do uso de drogas.
O sistema de controle de drogas da Suécia é um dos mais debatidos por, nos anos
recentes, ir de frente a corrente que acontece na Europa. Ele é mais restritivo, o uso de drogas
não tolerado, na realidade em 1977 foi declarado um dos objetivos do sistema criar uma
sociedade livre de drogas. Para implementação desse objetivo, quantidade substancial de
dinheiro tem sido alocado para prevenção e informação, política de controle e tratamento, que
são os três pilares do sistema sueco. Os indicadores mostram que o número de dependentes
químicos nesse país é relativamente baixo quando comparado com outros da Europa.
Para entender esse modelo de política restritiva de drogas, é essencial discutir as bases
ideológicas e científicas. Autor influente Nils Bejort, que fez uma distinção entre vários níveis
de dependência, e em especial, o conceito de dependência epidêmica. Esse conceito ressalta
que pessoas psicológica e socialmente instáveis começam a usar drogas que não são aceitas
socialmente para obter euforia. O ponto importante é o significado de epidêmico que mostra o
caráter de doença com incomum alta incidência definido no tempo, lugar e pessoas,
comparado com experiência prévia. Além disso, há o caráter de contagio, ou seja, influência
de um usuário sobre o outro. Considera que a epidemia do uso de substâncias com alto grau
de contagio psicossocial onde a disponibilidade da substância é o fato mais importante no
desenvolvimento dessa forma de abuso. Formado um grupo de usuários, cria uma subcultura
de droga que contamina a sociedade. E daí também decorre o termo de a maconha ser a porta
de entrada para outras drogas. Justamente devido ao fato epidêmico, e de suscetividade
individual referente às drogas.
Psicologicamente a suscetividade individual é difícil de influenciar; A exposição às
drogas pode ser influenciada pela política de combate as drogas. A consequência é que a
sociedade deve restringir o acesso ás drogas e que isso teria efeito no número pessoas usando
as substâncias. A política deveria olhar para o usuário que é a parte central da corrente das
drogas, pela sua influencia direta em outros usuários. Para modificar o sistema é preciso olhar
para os usuários, devido sua permanência, e sustentação desse mercado.
Embora o uso de droga seja considerado inaceitável o objetivo da política não é punir
os indivíduos. Ao oferecer cuidado e tratamento o usuário deveria se tornar livre das drogas e
ser reabilitado e reintegrado a sociedade. Se o indivíduo é pego usando drogas em público
este é encaminhado por uma assistente social para tratamento, se necessário compulsório. Por
isso investe-se uma grande quantidade de dinheiro no setor.
Os anos 80 foram marcados por uma mudança conceitual importante do sistema que
passou a buscar reduzir a demanda de drogas. O objetivo não mais era os traficantes, mas os
usuários, que foram considerados como a engrenagem do tráfico. O uso tornou-se
criminalizado. Essa abordagem potencialmente permitiu identificar novos usuários e oferecer
tratamento. Esse tipo de modelo acaba usando muito o sistema policial.

41
5.1.3 Legalização e aumento global de danos

O Dr. Ronaldo Laranjeira admite que o modelo sueco de restrição, de combate e


repressão, com o encaminhamento de usuários para serviços de tratamento adequado, é a
melhor opção para se disseminar políticas contra os problemas dos usos abusivos das drogas,
e seria o caminho ideal para a erradicação dos seus problemas.
Tecnicamente os dois pontos apresentados: a regulamentação e a repressão em
métodos de atuação tipificados possuem vantagens e desvantagens. No primeiro a
regulamentação aparece como a melhor alternativa de conciliação entre liberdade de
consumo, inclusão, reintegração e regulamentação social. Porém ainda permanece com
inacessível e de difícil atuação, devida a sua fraca aderência e seu molde ainda não
plenamente experimentado, de pouca assimilação governamental, e alto fator de risco para
saúde e bem estar da sociedade. Principalmente pela não oportunidade de se ter experiências
desse tipo, e de ainda ser preciso debater muito para obter conclusões sobre os problemas que
cercam as drogas em nível social, que são inúmeros e que permanecem ainda em local
obscuro na academia. Apesar das fortes iniciativas em alguns países, ainda há grande receio
como praticamente consenso mundial sobre a questão da regulamentação, principalmente no
que se refere à influência da criminalidade na sociedade, uma preocupação com a vida e o
bem estar social; O consumo da droga é pernicioso para a saúde do indivíduo, mas a
preocupação maior das nações é principalmente quanto à quantidade de drogas utilizadas por
muitos indivíduos, desestabilizando os sistemas sociais, econômicos, e mergulhando a
sociedade em uma provável onda de criminalidade acentuada.
O segundo modelo, Sueco, de forte combate e repressão, vai de frente contra a
liberdade de consumo, mas é perceptível uma boa aceitação da sociedade, e principalmente
referente com os resultados da diminuição dos problemas com as drogas. Portanto, leva-nos a
pensar que esse modelo seria o mais plausível de atuação, justamente por estar alçado nas
prerrogativas do consenso social e da democracia, no caso Sueco. Porém a aplicação desse
modelo na realidade não se aplica aos demais países. A Suécia é um país conhecido por altos
índices de sua educação e desenvolvimento humano. O que não é o caso do Brasil, que
historicamente é conhecido pela desigualdade social, falta de acesso à educação e pobreza.
A discussão que se apresenta tem forte teor ideológico, principalmente no que se refere
ao nível de atuação democrática. Se essa realmente será gerida pela sociedade civil, e se a
sociedade civil se encontra em acordo consensual para a aceitação de políticas, seja de
aceitação a legalização, ou regulamentação, ou o inverso, o combate e a repressão. A questão,
portanto, é suprida fortemente pelos aspectos democráticos, por suas questões mais essenciais.
De inclusão, de garantia de direitos, de liberdade de expressão, de manifestação, de
comportamento, etc. O que foi o fator mais admirável na nação sueca que justamente infere
através da sociedade civil, uma luta não punitiva de combate às drogas. Na realidade, o que
aparece evidente, apesar de não haver comprovações científicas válidas para afirmar é que: a
relação entre democracia, e droga, é o que realmente infere na problemática do fenômeno das
drogas, e não o contrário, como é a preocupação de diversos governos. A droga em si é uma
válvula de escape de diversos outros problemas sociais, e esses são a raiz da verdadeira
criminalidade e através dela forma-se um “bode expiatório” de atuação política combativa. A
falta de entendimento, de igualdade, de liberdade, de inclusão, as falhas de representatividade,
a transformação e o choque de culturas são problemas políticos oriundos de qualquer
sociedade, e que influem diretamente sobre essas.
A reflexão que proponho é que as políticas de legalização ou de combate dependem
muito mais das aspirações que possui o consenso [principalmente no que confere a noção de
cidadania e garantias de direitos] da sociedade em questão, do que realmente aquilo que a
droga pode provocar. O problema de saúde pública da droga, realmente se torna um problema

42
devido ao uso abusivo ou crônico das substâncias, com seu consumo global feito por camadas
representativas da sociedade, por um grande contingente de usuários. É possível que se
regulamentada, as coisas corram bem, e que as drogas possam ser dadas como substâncias
comuns e bens utilizáveis para recreação. Porém, sem o uso consciente, sem o consenso
necessário, a sociedade malograda pelas consequências dos problemas sociais que se
traduzem também nas drogas acaba por entender a questão como caso de combate e repressão,
e influem em forte teor punitivo para o caso. O que pode gerar complicações para as garantias
de direitos da população. Portanto, neste caso, pensar justamente, que a melhor solução seria
consensual, uma sociedade organizada para gerar uma solução de problemas, essa seria a
melhor alternativa. O tom político da situação que se encontra é justamente o que entrava a
resolução da questão, e não somente como questão de saúde pública, mas como questão de
segurança e política ideológica.
A Suécia é um bom exemplo de combate e repressão, e de consenso social, porém as
outras nações não possuem os mesmo nível de interação política, e talvez a questão não se
desenrole da mesma forma, através dos mesmos moldes. Portanto, uma especificidade do
método político para cada questão é aquilo que deveria ser repensado, estudado, deliberado,
para uma ação que seja profunda e duradoura, em relação ao problema das drogas.

5.2 Problemas do álcool

Os problemas do álcool para o indivíduo não se mantém apenas na esfera da questão


do trânsito, o abuso, uso problemático de álcool e sua dependência são os transtornos
comumente relacionados ao consumo de álcool. Embora sejam comuns, são potencialmente
letais, podendo mimetizar e exacerbar as condições psiquiátricas individuais pré-existentes,
podendo diminuir em até 10 anos as expectativas de vida das pessoas afetadas.
O curso clínico dos transtornos relacionados ao consumo de álcool é previsível (na
ausência de transtorno psiquiátricos maiores como transtornos psicóticos, de humor e
ansiedade). O álcool provoca amnésias anterógradas assim como déficits cognitivos
temporários, dificuldades de resolução de problemas de abstração de memória e aprendizado.
O uso pesado do álcool afeta o sistema cardiovascular, aumenta a pressão arterial, o nível
sanguíneo de colesterol do tipo LDL, o risco de desenvolvimento de arritmias e
cardiomiopatia. A incidência de câncer é a segunda causa de morte precoce entre sujeitos com
transtorno relacionados ao uso de álcool, possivelmente refletindo o efeito da substância no
sistema imune, podendo, exacerbar o curso de Hepatite C e complicar o tratamento
medicamentoso para AIDS. O uso pesado também leva a incidência de gastrite hemorrágica,
pancreatite e alterações hepáticas. Além dos acidentes fatais e problemas em recém-nascidos
que devem e são considerados consequências graves decorrentes do uso pesado do álcool. O
uso continuado aumenta em 3 a 4 vezes a taxa de morte precoce e a mortalidade por álcool
tem contribuído para 2 a 4% das mortes entre adultos. Quanto ao tratamento, cerca de 50 a
60% dos pacientes com dependência tornam-se abstinentes ou têm melhora substancial após
um ano de tratamento. A maioria desses tratamentos busca a abstinência e poucas abordagens
favorecem o comportamento de beber controladamente.
Cercar de 50% dos pacientes dependentes de álcool desenvolvem sintomas
clinicamente relevantes de abstinência, os quais geralmente representam um rebote dos efeitos
usuais da intoxicação por álcool, tendo início cerca de 8 horas após a redução acentuada da
concentração sanguínea de álcool. Os sintomas podem persistir por meses e gera quadro de
ansiedade, insônia e disfunção autonômica, inclusive de elevações de pressão arterial, pulso e
taxa de respiração, transpiração e tremores. Menos de 5% dos dependentes de álcool
desenvolvem crise durante o período de abstinência ou estado de confusão grave. Os dias e
meses de sobriedade subsequentes aos primeiros dias de abstinência são seguidos por um

43
comportamento de beber controlado e temporário, que carrega uma probabilidade aumentada
de aumentar o uso, assim como um aumento dos problemas e ele associado. Em termos
epidemiológicos, menos de 10% dos pacientes com dependência alcoólica desenvolvem
longos períodos de uso não problemático.
A reabilitação deve manter a motivação alta e diminuir o risco de recaída. A
abordagem cognitivo-comportamental é frequentemente utilizada para esse fim. A reabilitação
pode ser oferecida em grupos em que pacientes participantes são encorajados a falar sobre
seus problemas relacionados ao uso de álcool, considerar como o álcool contribui para as
dificuldades gerais da vida, desenvolver laços de amizades e de apoio com os companheiros
de grupo, melhorar os relacionamentos socais, lidar com o estresse, aproveitar o trabalho, o
tempo livre, e evitar recaídas. A intenção é fazer os pacientes reconhecerem a situação de
risco de recaída, ensinando-os a evitá-las e como restabelecer a sobriedade caso retornem ao
uso pesado. O programa dos alcoólicos anônimos é um exemplo desse tipo de reabilitação.
Embora o núcleo do tratamento seja motivacional, através do emprego de entrevistas
motivacionais, intervenções breves e abordagens cognitivo-comportamentais, muitos médicos
confiam no uso de medicamentos. Tem sido destacado o uso de naltrexona, acomprosato,
dissulfiram e topiramato. Seu uso é possibilitado por prescrição médica e as condições
médicas e de saúde geral dos pacientes devem ser detalhadamente consideradas para que a
medicação seja eficiente. Na ausência de tratamento formal ou programas de autoajuda,
apenas cerca de 20 a 30% dos pacientes apresentam remissão, a longo-prazo, dos problemas
relacionados ao uso de álcool.
A maior preocupação em referência ao uso de álcool é sua mortalidade, que acontece
muito devido à imprudência de seu uso abusivo, e a complacência da população referente ao
seu uso. Segundo o CISA, acidentes de trânsito envolvendo vítimas fatais devido ao uso de
álcool são frequentes. E apesar da maioria da população saber da relação entre as altas taxas
de mortalidade no trânsito e o consumo dessas substancia, ainda persistem muitas dúvidas
sobre o uso de álcool por motoristas, principalmente sobre seus efeitos no organismo e os
riscos que se corre ao dirigir embriagado. A noção de espacialidade, a destreza e outras
habilidades necessárias para a direção, como tomada de decisões, são prejudicas muito antes
dos sinais físicos da embriaguez começar a aparecer. Já nos primeiros goles o álcool atua
como estimulantes e pode deixar as pessoas temporariamente com sensação de excitação. No
entanto as inibições e a capacidade de julgamento são afetadas rapidamente, aumentando a
probabilidade de tomarem decisões equivocadas. Tempo de reação e reflexos sofrem
alterações comprometendo ainda mais as habilidades necessárias para o ato de dirigir. A
bebida alcoólica pode também causar sonolência ou até mesmo ocasionar a perda da
consciência ao volante.
Com base nisso, um estudo norte-americano publicado na revista científica Addiction,
fez um levantamento de todos os acidentes automobilísticos fatais ocorridos entre 1994 e
2008 – totalizando 1.495.667 casos – com o objetivo de analisar a relação entre consumo de
álcool e acidentes de trânsito. Só um dado de comparação, a Guerra do Iraque que teve seu
início no ano de 2003 e formalmente encerrado no fim de 2011, tem estimativamente 500.000
fatalidades. Ou seja, o número de vítimas fatais ocasionadas por acidentes de trânsito no EUA
durante um período de tempo próximo, é quase três vezes mais mortífero. Portanto, o
consumo de álcool no trânsito pode ser mais fatal do que uma guerra declarada.
Segundo a pesquisa comparada aos motoristas sóbrios, aqueles que beberam estavam
mais propensos a dirigir em alta velocidade, não usar cinto de seguranças e conduzir o veículo
causador da colisão. Além disso, quanto maior a Concentração de Álcool no Sangue (CAS),
maior a velocidade média e a gravidade dos ferimentos causados pelo acidente. Os fatos
foram observados até mesmo quando a CAS era considera baixa, com risco significativo
maior de acidentes.

44
No Brasil de acordo com o Vigitel (Sistema de monitoramento de fatores de Risco e
Proteção para doenças Crônicas Não Transmissíveis por meio de Inquérito Telefônico), 1,5%
foi à frequência de adultos que conduziram veículos motorizados após o consumo abusivo de
bebida alcoólica, em pelo menos uma ocasião nos 30 dias anteriores à pesquisa, em 2010.
A melhor forma de prevenir os acidentes é a informação e a motivação, além de apoiar
e divulgar pesquisas científicas, é importante trilhar novas alternativas, com ações e
campanhas de conscientização e prevenção contra a direção de veículos automotores sob a
influência dos efeitos dessa substância- uma das maiores causas de acidentes de trânsito em
todo o mundo.
Os efeitos da substância no corpo são duradores e não devem ser subestimados. O
álcool é metabolizado a uma velocidade de 0,15 gramas por litro por hora. Por exemplo, uma
dose de 0,2g/l, o equivalente a um copo de choop ou cerveja, uma taça de vinho, meio dose de
uísque ou cachaça, leva cerca de uma hora e meia para ser totalmente eliminada. Esse tempo
varia um pouco de pessoa para pessoa e de acordo com o gênero, uma vez que as mulheres
são mais vulneráveis ao álcool do que os homens. O álcool continua a afetar o cérebro,
prejudicando a coordenação, a capacidade de julgamento até mesmo horas depois da ingestão
da última dose. Dessa forma alguns fatos estão evidentes: não existe maneira de acelerar a
recuperação do cérebro após a embriaguez, ou tomar boas decisões ao volante quando você já
bebeu. Bebida e direção formam uma combinação perigosa e fatal para qualquer quantidade
de álcool consumida.
Em dezembro de 2012 foi sancionada a Lei nº 12760, que reforça a popularmente
conhecida “Lei Seca” (Nº11. 705/2008). Trata-se de uma alteração no Código de Trânsito
Brasileiro que, além de aumentar o valor da multa administrativa (de R$ 957,29 para R$
1.915,38, podendo dobrar em caso de reincidência no período de 12 meses), amplia as
possibilidades de provas da infração de dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer
substância psicoativa, as quais foram disciplinadas pelo Conselho Nacional de Trânsito
(COTRAN) na Resolução Nº 432 de 23 de janeiro de 2013;
A direção de veículos sob efeito do álcool ou de outra substância psicoativa poderá ser
atestada por meio de teste de etilômetro (“bafômetro”), exame de sangue/laboratorial, exame
clínico, ou constatação pela autoridade de trânsito de conjunto de sinais que indiquem
alteração de capacidade psicomotora. Podem também fazer uso de testemunhas, imagem,
vídeo ou qualquer outra forma de prova admitida em direito.
A infração ocorre caso o condutor apresentar qualquer concentração de álcool por litro
de sangue, medição igual ou superior a 0,05 mg de álcool por litro de ar alveolar expirado ou
sinais de alteração de capacidade psicomotora. A penalidade consiste em multa, suspensão do
direito de dirigir por 12 meses, recolhimento da carteira de motorista e retenção de veículo.
O crime é configurado nos casos em que o motorista apresenta concentração igual ou
superior a 0,6 g de álcool por litro de sangue, medição igual ou superior a 0,34 mg de álcool
por litro de ar alveolar expirado, ou sinais de alteração da capacidade psicomotora. O conduto
fica sujeito a detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter
carteira de motorista.
A capacidade psicomotora, um conjunto de sinais deverá ser avaliado pelas
autoridades de trânsito como aparência: sonolência, vermelhidão nos olhos, vômito, soluções,
desordem nas vestes e odor de álcool no hálito; atitude: agressividade, arrogância, exaltação,
ironia, falante e dispersão; Orientação: se o indivíduo sabe onde está, data e hora. Memória:
se sabe seu endereço e lembra-se dos atos cometidos; Capacidade motora e verbal: dificuldade
no equilíbrio e fala alterada 28.

28
Dados ANVISA

45
Após a aplicação da lei foram realizadas estimativas referentes à sua atuação.
Considerando a quantidade de motoristas abordadas pela fiscalização policial ou o número de
vítimas de acidentes de trânsito atendidas em salas de emergência. No entanto, há poucas
pesquisas da Lei nº 11.705 que mostram de maneira rigorosa e imparcial o impacto dessa lei,
que esta em vigor desde junho de 2008.
Utilizando uma técnica estatística chamada “análise por série temporal”, pesquisadores
do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP) avaliaram acidentes de trânsito ocorridos na cidade e no Estado de São Paulo,
entre janeiro de 2001 e junho de 2010. Tal análise minimiza erros de interpretação causados
por fatores externos, como sazonalidade dos acidentes de trânsito, mais frequentes em
períodos de festas e feriados.
O estudo avaliou 1.471.087 casos não fatais e 51.561 casos fatias (acidentes seguidos
de morte) em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo. Os dados foram coletados
pelo serviço de Segurança Pública do Estado de São Paulo. No que diz respeito ás vítimas
fatais, após a lei seca houve uma redução de 16% na capital e de 7,2% nos demais municípios.
Já em relação aos acidentes com vítimas não fatais, houve uma redução de 2,3% na capital e
1,8% no restante do Estado.
Nota-se que a nova lei foi mais efetiva em reduzir o número de mortes do que o de
feridos em acidentes de trânsito. Segundo os autores, estes dados sugere que houve um maior
impacto nos indivíduos que apresentam um padrão de uso mais pesado e que,
consequentemente, provocam acidentes mais graves. É interessante notar as maiores reduções
observadas na capital podem estar relacionadas à fiscalização policial reforçada em
comparação as demais cidades.
O presente estudo não considera os acidentes de trânsito avaliados envolvendo
condutores sob efeito do álcool, já que a coleta sistemática desse tipo de informação é escassa
em nosso país, mas traz conclusões importantes. Para os pesquisadores, uma vez que o poder
aquisitivo dos brasileiros e a frota de automóveis aumentaram consideravelmente em 2001 e
2012, a redução dos acidentes pela nova lei é mais que satisfatória. Ainda a problemas de
aplicação desta, como a agressividade e a recusa dos condutores em se submeter ao teste do
bafômetro.
Estudos como este auxiliam na criação de novas medidas de combate aos acidentes de
trânsito relacionados ao consumo de álcool. As políticas públicas dever ser guiadas por
princípios científicos imparciais. É necessário o olhar direcionado ao usuário a fim da
conscientização de que a bebida alcoólica até pode ser consumida, mas de modo que não
coloque em risco a integridade física de outras pessoas29.

5.3 O controle do tabagismo no Brasil 30 de Tânia Maria Cavalcanti

A aliança de controle do tabagismo (ACT) é uma organização não governamental


voltada à promoção de ações para a diminuição do impacto sanitário, social, ambiental e
econômico gerado pela produção, consumo e exposição ao tabaco. Composta por
organizações da sociedade civil, associações médicas, comunidades científicas, ativistas e
pessoas comprometidas com a redução da epidemia tabagista.

29
ANVISA

30
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000500006

46
Em fase desenvolvimento, foi realizada em São Paulo, em dezembro de 2003 uma
primeira reunião onde estiveram presentes representantes de organizações não
governamentais, e governamentais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande
do Sul, Bahia e Distrito Federal. A reunião foi uma iniciativa da REDEH (rede de
desenvolvimento humano) e em parceria com a Health Bridget, com apoio da Agência de
Cooperação internacional do Canadá (CIDA). A ACT possui equipe multidisciplinar formada
por profissionais da área de medicina, sociologia, psicologia, direito, engenharia,
comunicação e marketing. Localizada em São Paulo, Rio de Janeiro e com representantes em
Brasília, está voltada a uma ação conjunta e transversal para solução viável em relação à
epidemia do tabagismo, que é dado como grave problema de saúde pública resultante de
interesses comerciais.
Publicações da ACT (Aliança de controle do tabagismo) demonstram e comprovam os
prejuízos decorrentes do tabaco. O aumento do consumo e de suas inferências, e as manobras
do Brasil para a questão.
Embora haja extensa comprovação dos prejuízos decorrentes do consumo do tabaco,
seu uso continua a aumentar globalmente, á custa do crescimento do consumo em países
desenvolvidos. A ausência de medidas abrangentes para controle do tabagismo torna-os
vulneráveis as agressivas estratégias de marketing das grandes companhias transnacionais de
tabaco. Mesmo sendo o segundo maior produtor mundial de tabaco e o maior exportado de
tabaco em folhas, o Brasil tem conseguido escapar dessa tendência. Há 15 anos o ministério
da saúde, por meio do instituto nacional de Câncer, vem articulando, nacionalmente, ações
com a parceria das secretarias estaduais e municipais de Saúde e de vários setores da
sociedade civil organizada. Através do controle, há a importância de diferentes medidas
intersetoriais para controlar as várias determinantes sociais e econômicas da expansão do
consumo de tabaco.
O consumo global de tabaco aumentou cerca de 50% durante o período de 1975 a
1996, ás custas do crescimento do consumo em países em desenvolvimento. Na china o
crescimento foi de 8%, 6,8% na indonésia, 5,5% na Síria e 4,7% em Bangladesh (World
Bank, 1999; WHO, 2001b).
As políticas de controle do tabagismo ainda são incipientes em grande parte dos países
em desenvolvimento, tornando-os vulneráveis aos planos de expansão das grandes
transnacionais de tabaco. As multinacionais, as grandes empresas de tabaco estimam o
crescimento da indústria e do comércio deste produto, mesmo em detrimento da saúde e da
integridade da população, mesmo os adolescentes e mais jovens. Portanto, dessa forma,
qualquer ação dirigida ao controle do tabagismo deve ter foco além da dimensão individual,
deve abarcar as variáveis sociais, políticas e econômicas que contribuem para que tantas
pessoas ainda comecem a fumar quanto os fatores que aqueles que se tornaram dependentes
parem de fumar e se mantenham abstinentes.
Em 1990 a assembleia mundial da saúde (AMS) convocou seus Estados Membros a
adotarem com urgência, estratégias abrangentes para o controle do consumo de tabaco. O
reconhecimento de que a epidemia do tabagismo é um problema de saúde pública globalizada
que transcende fronteiras de países, de que existem medidas intersetoriais comprovadamente
efetivas para controlar a sua expansão e de que a eficácias dessas medidas dependa de ampla
cooperação internacional levou a 49ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em maio de
1996 a adota uma resolução voltada para a elaboração do primeiro tratado internacional de
saúde pública, a Convenção Quadro para Controle do Tabaco da OMS.
Tratado que foi negociado durante quatro anos por 192 países, entre 1999 e 2003. Em
maio de 2003, o texto final da convenção foi aprovado, durante a 56ª AMS. Entrou em vigor
em fevereiro de 2005, depois que 40 países ratificaram a adesão ao tratado. O Brasil foi eleito

47
por consenso, para presidir o Órgão Negociador Intergovernamental da Convenção (ONI)
durante todo o seu processo de negociação.
Resoluções de assembleias mundiais da saúde para o controle do tabagismo instaurou
medidas para reduzir a demanda por tabaco, e medidas para reduzir a oferta por tabaco, são:
Aumento de impostos incidentes sobre os cigarros, publicações dos resultados de pesquisas
sobre os efeitos do fumo sobre a saúde, informações aos consumidores por meio de rótulos de
advertência, informações aos consumidores baseados em contra propaganda de massa,
proibições em propaganda e promoção, programas de educação de controle de tabagismo nas
escolas, restrições ao fumo em locais públicos e ambientes de trabalho, terapias de reposição
de nicotina e outras intervenções de cessação; Medidas para reduzir a oferta por tabaco são:
restrições ao acesso dos jovens ao tabaco, substituição e diversificação da fumicultura,
restrição ao apoio e aos subsídios relativos ao preço do tabaco, eliminação do contrabando 31.
(WHO, 2001b)
No Brasil o controle do tabagismo implica uma série de constantes desafios. Sendo o
segundo maior produtor e maior exportador de tabaco, o Brasil tem conseguido desenvolver
ações para controle do tabagismo fortes e abrangentes, o que lhe tem conferido
reconhecimento de liderança internacional na área.
Há inquéritos domiciliares sobre comportamentos de risco e morbidade referida de
doenças e agravos não transmissíveis, realizado pelo ministério da Saúde em 15 capitais
brasileiras e no Distrito Federal entre 2002 e 2003 esses mostram que a prevalência total na
população acima de 15 anos foi cerca de 20%, variando de 13% em Aracaju a 25% em porto
alegre. De acordo com pesquisa nacional de Saúde e nutrição do IBGE a prevalência de
fumantes em 1989 era de 32%.
O monitoramento do consumo per capita de cigarros no Brasil, realizado pelo INCA,
que caiu em torno de 33% entre 1989 e 2004, mesmo computando-se estimativas de
consumos provenientes do mercado ilegal. Mas ainda há muitas dificuldades a serem
enfrentadas. Dados do Inquérito sobre tabagismo entre escolares, realizado entre 2002 e 2003
pelo Instituo Nacional de
Câncer (INCA), envolvendo estudantes de 13 a 15 anos de idade em 12 capitais brasileiras,
mostraram que a experimentação de cigarros até os 13 anos de idade variou no sexo
masculino em 58% em fortaleza a 36% em vitória. A prevalência da experimentação foi maior
entre meninos do que entre meninas em todas as capitais pesquisadas exceto Porto Alegre e
Curitiba. O Vigescola também demonstrou que 40% a 50% dos escolares relataram que
compram cigarros em lojas, botequins ou camelôs e que entre 76% a 97% deles não foram
impedidos de comprar cigarros nesses espaços devido a sua pouca idade (Ministério da
Saúde/INCA 2004b).
Essas informações somadas ao fato de o cigarro brasileiro ser um dos mais baratos do
mundo colocam grandes desafios que precisam ainda ser enfrentados para o controle do
tabagismo. O fácil acesso físico e o preço baixo são fatores potencializadores da iniciação ao
tabagismo. E esse cenário é agravado pelo amplo mercado ilegal de cigarros, que hoje
responde 35% do consumo nacional, inserindo no mercado brasileiro cigarros ainda mais
baratos que os legais, segundo informações do Ministério da saúde.
Ainda morrem no país cerca de 20.000 pessoas por ano, provavelmente como
consequência dos efeitos tardios da expansão do consumo de tabaco, que teve início nas
décadas de 50 e 60 do século passado. O câncer de pulmão é o tipo de câncer que mais mata
homens no Brasil e a segunda causa de morte por câncer entre as mulheres. Constantes
desafios colocados por grandes corporações transnacionais instaladas no Brasil. A Britsh
31
Fonte: WHO, 2001b

48
American Tobacco (BAT), representada no Brasil pela Companhia Souza Cruz, e a Philip
Morris, dominam o mercado nacional de tabaco e têm mantido fortes e contínuas estratégias
de contraposição as ações de controle do tabagismo.
Essas empresas atuam de forma articulada buscando explorar as vulnerabilidades
individuais por meio de atividades voltadas para induzir crianças e adolescentes a iniciar o
consumo, assim como explorar as vulnerabilidades coletivas por estratégias para impedir a
disseminação do conhecimento científico sobre os riscos causados pelo tabagismo e para criar
e aumentar a aceitação social dos seus produtos, tornando-os objeto de desejo coletivo.
Buscam explorar vulnerabilidades políticas por meio de estratégias para criar “boa vontade
política”, costumam assediar políticos, parlamentares, governantes, com discursos
politicamente corretos, em troca de acordos voluntários que beneficiem seus negócios, mesmo
que signifique colocar em jogo medidas efetivas para salvar vidas pela redução do tabagismo.
Essas estratégias tem ganhado forma cada vez mais agressiva. E estão descritas em suas
próprias palavras da BAT em documentos internos, abertos ao público por meio de litígio.
Documentos que descrevem alguns objetos e estratégias dos programas corporativos de
responsabilidade Social da BAT e deixam claras as suas reais intenções, que são obtenção do
lucro e parcerias nos negócios, sem o menor cuidado com a saúde de seus usuários.
Esse cenário torna evidente que ações de controle do tabagismo dependem da
articulação de diferentes tipos de estratégias e de diferentes setores sociais, governamentais e
não governamentais. É sob a ótica da promoção da saúde que, desde 1989 o INCA, órgão do
ministério da Saúde responsável pela Política Nacional de Controle do Câncer, coordena as
ações nacionais do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), desenvolvidas em
parcerias com secretarias estaduais e municipais de Saúde e de vários setores da sociedade
civil organizada, sobretudo da sociedade científicas e de conselhos profissionais da área.
O programa tem objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente
mortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco no Brasil, e envolve dois grandes
objetivos específicos: reduzir a iniciação do tabagismo, principalmente entre jovens e
aumentar a cessação de fumar entre os que se tornaram dependentes, e proteger todos os
riscos do tabagismo passivo.
Envolvem criação de contexto social e político favorável a redução do consumo de
tabaco; a equidade, integralidade e intersetorialidade nas ações; construção de parcerias para
enfrentamento das resistências ao controle do tabagismo; redução da aceitação social do
tabagismo; redução dos estímulos para iniciação; redução do acesso aos produtos derivados
do tabaco; proteção contra os riscos do tabagismo passivo; redução das barreiras sociais que
dificultam a cessação de fumar; Aumento do acesso físico e econômico ao tratamento para
cessação de fumar; controle e monitoramento dos produtos de tabaco comercializados no país,
desde seus conteúdos e emissões até as estratégias de marketing e promoção dos mesmos;
monitoramento e vigilância das tendências de consumo e dos seus efeitos sobre saúde,
economia e meio ambiente.
Todas as ações envolvem um problema contundente da sociedade, e da difícil
regulamentação que passa pela produção e consumo do Tabaco. É perceptível a dificuldade do
governo, em manter o controle, principalmente em nível regional. O tabaco toma importância
direta na vida de seus usuários, e em pouco tempo passa a fazer parte das ânsias de seus
consumidores.
Portanto, as mazelas e a dificuldade do governo em lidar com a questão é pauta
discutida e debatida, e que mesmo possuindo várias ações de combate ao aumento do
consumo do tabaco, este ainda permanece no centro de muitas preocupações. Desde questões
como propagandas, como questão da acessibilidade, e da dificuldade de se encontrar centro de
saúde específico para cuidados médicos referentes ao seu uso.

49
5.4 Política Nacional de Tratamento ao Crack

O governo do Estado de São Paulo atualmente reconhece as medidas de reabilitação


do crack da forma que se institui uma política de atuação 32. Para tanto parte de alguns
pressupostos.
A principal decorrência doentia do uso do crack é a dependência, essa é dada pela
sociedade brasileira de medicina, e observada pelo Dr. Ronaldo Laranjeira como uma doença
cerebral crônica e recidivante. Esse admite que as drogas mudem o cérebro, a sua estrutura e
sua função, e, portanto, torna-se uma doença complexa. Há a possibilidade de cura e
reparação do cérebro, mas para tanto é preciso de um processo que demanda tempo, e
recursos necessários. A dependência também pode ser gerenciada, e a pessoa pode continuar a
viver sem a droga.
O Governo do Estado de São Paulo reconhece que o consumo do crack se transformou
em problema de saúde pública de primeira ordem, e que medidas necessárias são urgentes
para proteger os usuários e suas famílias dos efeitos das drogas.
A dependência do crack é uma doença crônica e necessita de múltiplos recursos em
longo prazo. Além do tratamento, é preciso também a reintegração do usuário a sociedade.
Chamada de reinserção social de longo prazo. Há, atualmente, alguns modelos de tratamento
sendo testados nos últimos anos pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) e que poderão ser
ampliados e abranger todo o estado de São Paulo. A participação em setor de autoajuda como
narcóticos anônimos, grupos de familiares, organizações comunitárias e religiosas, deve fazer
parte central na organização de resposta.
O Governo do Estado de São Paulo reconhece e institui que o uso do crack nas ruas
não será tolerado, todo agente público, assistente social, agente comunitário ou policial deverá
encaminhar imediatamente os usuários para os serviços de saúde. Os usuários identificados
deverão ser monitorados pelos serviços de saúde para avaliar a adesão ao tratamento.
As famílias deverão receber todo o apoio necessário para ajudar os usuários de crack a
permanecer em tratamento, ao longo tempo de recuperação. O sistema de internação deverá se
organizar para receber os três tipos de internação prevista na Lei 10.216/2001 (voluntária
involuntária e compulsória).
É compromisso fundamental que o sistema de tratamento para os usuários deverá estar
aberto à influência e participação ativa da comunidade, em especial os familiares. O governo
deve investir na estrutura de serviços, o sistema de tratamento que visa à estabilização física e
mental deverá trabalhar em sintonia com o setor de reinserção social, que visa uma vida sem
drogas e a volta da plenitude das atividades acadêmicas, profissionais e familiares.
O sistema formal de tratamento e reabilitação deverá trabalhar em sintonia com o
sistema informal de autoajuda. Escolas e usuários mais jovens terão prioridade no
atendimento. Parceria entre sistema de saúde e sistema judiciário deverá ocorrer para ajudar
os usuários infratores, com o objetivo de evitar recorrer a prisões. Vários tipos de serviços
devem estar disponíveis de forma regionalizada, a ponto de que cada região de cerca de 1-2
milhões de habitantes tenha acesso a todos os níveis de tratamento. Serviços como CAPS,
programas ambulatoriais, prontos socorro de psiquiatria, enfermarias especializadas, moradias
assistidas, comunidades terapêuticas, serviços de reinserção social, etc.
Portanto o sistema de ação de reabilitação do consumo de crack é uma das maiores
preocupações governamentais, e o governo reconhece que é preciso utilizar recursos para a

32
http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/index.php/publicacoes

50
melhora da saúde pública, da segurança e da saúde mental da sociedade como um todo.
Formalmente o governo reconhece tais ações e patrocina tal política, porém os
acontecimentos em contradição aos termos de ação geram contraversões, não só pelas
políticas de reabilitação, quanto a propriedade do governo em atuar segundo a questão; por
vezes têm agido de forma truculenta e por vezes implementa políticas desastrosas.

6 Políticas de reabilitação do uso de drogas e a Lei 10.216/2001

Dentro do contexto psiquiátrico brasileiro, houve a partir do Movimento Nacional da


Luta antimanicomial, de 1987, o início de um processo de transformação que tinha por base
negar a hospitalização como forma primeira de tratamento e propor novas formas de
atendimento ao indivíduo portador de transtorno mental, do qual muitos usuários de drogas se
encaixam na categoria.
A maioria dos países desenvolveu legislações específicas para tratamentos
involuntários, porém nenhuma dessas orientações contempla em sua totalidade os
procedimentos, critérios, condições e patologias que sejam aceitas sem contestações. As
normas legais mais recentes no Brasil, Lei federal 10.216/01, portaria MS/GM 2.391/02 e as
diversas Leis estaduais sobre a reforma não especificam os riscos que devem ser considerados
pelo médico ao determinar uma internação involuntária. As iniciativas políticas foram criadas
buscando políticas que garantam cuidado digno e consolidado de respeito e cidadania a esses
pacientes. Em 2001 foi aprovado a Lei 10.216 de 06/04 daquele ano que dispõe sobre a
proteção e os direitos das pessoas portadores de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Esta lei é considerada a Lei da reforma Psiquiátrica. Essa lei
ainda permanece segundo alguns autores, como cheia de anacronismos e inadequações
acumuladas diante os cem anos de avanço do conhecimento médico referente à questão. Mas
é uma lei que trouxe avanços na regulamentação de atos médicos envolvendo pacientes
portadores de transtornos mentais. Com relação às internações psiquiátricas, a lei define suas
modalidade e justificativas.

“São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:


I – Internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário
II – Internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de
terceiro; e.
“III – Internação compulsória: aquela determinada pela Justiça”

Uma questão que se apresenta está relacionada aos direitos humanos dos portadores de
diagnóstico de doença mental. Há uma série de contradições entre o enfoque da saúde pública
e os direitos humanos, entre a psiquiatria e o Direito. Quando relacionado à questão dos
dependentes químicos a questão é ainda mais difícil. Definir emergência psiquiátrica, sobre
dependência química e abordar o procedimento médico é tocar num dos pontos álgicos da
existência humana, um tema espinhoso.
A justificativa principal para as internações psiquiátricas involuntárias, aquela
realizada sem o consentimento expresso do paciente, como em muitos casos com a figura de
terceiros, é de que o paciente não tendo capacidade de discernir o que é melhor para si é
passível de internação. Para essa ocorrência, alguém tem de tomar às mãos as deliberações
sobre a vida desse paciente.
O critério legal para definir capacidade tem como foco o entendimento do paciente
sobre sua doença e suas consequências. E está vedada ao médico segundo o código de ética

51
médica, efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento
prévio do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida.
Apesar de a autonomia ser um dos pilares da atuação ética na assistência à saúde, há
casos em psiquiatria que a capacidade de decidir autonomamente do indivíduo está
prejudicada. A adesão nas situações de emergência psiquiátrica depende tanto de
conhecimento técnico quanto de informações sobre o marco legal que regulamente a atividade
profissional, os direitos dos pacientes e os direitos e deveres dos médicos.
Portanto fica instituído, que mesmo sob o prisma da internação involuntária, ainda
assim, o paciente permanece com os direitos assegurados, sob normas da lei, para averiguação
e contemplação de que como será efetuado o procedimento de reabilitação.

6.1 Internações involuntárias, ou internação compulsória.

A questão da internação compulsória se estende para o fenômeno de interação dos


problemas sociais, da dependência química, a involuntariedade da obsessão pela droga, e o
dever do Estado de garantir a vida dos cidadãos.
Em São Paulo foi aprovado em 2012 um projeto que visa ampliar a atuação do
governo em referência à situação dos moradores de rua que são viciados em drogas 33. A
questão da internação compulsória a muito vem sido debatida, e é influente em muitos
aspectos. A maioria das reflexões sobre o tema é na questão de assegurar a vida e o bem estar
da sociedade. Especialistas na questão aprovam a atitude do governo de ampliar o método da
internação compulsória e através de algumas pesquisas realizadas entendem que esse é um
método eficiente, e tem repercutido em muitos lugares do mundo.
De acordo com a lei 10.216/2011 se a pessoa não quiser se internar, pode-se recorrer à
internação involuntária ou compulsória. Na internação involuntária o familiar pode solicitar a
internação desde que o pedido seja feito por escrito e aceito pelo médico psiquiatra. A lei
determina que os responsáveis do estabelecimento de saúde tenham prazo de 72 horas para
informar o ministério público sobre a internação e seus motivos. O objetivo é evitar que a
internação seja utilizada para prática de cárcere privado. A internação compulsória não é
necessária à autorização familiar. Na lei se estabelece a possibilidade da internação
compulsória, sendo esta sempre determinada pelo juiz competente, depois de pedido formal,
feito por um médico, atestando que a pessoa não tem domínio sobre sua condição psicológica
e física.
Profissionais e especialistas da área defendem a internação compulsória em São Paulo,
com uma ação em conjunto com o sistema jurídico e de saúde, prevê a não utilização de
entidade como a polícia militar. Os médicos entendem que não é um direito do ser humano o
suicídio, e depois da fissura relacionada à droga, o paciente acaba agradecido pela guarda à
vida. A internação nesse caso serve como uma chance de reabilitar pessoas que vivem em
estado deplorável, com as piores condições de vida que se conhece. Porém a ressalva é que a
internação compulsória não deve ser usada de forma inescrupulosa, ou como regra, e sim
como exceção para casos extremos de crise. Quando o usuário está perdido na fissura, e não
tem alternativa, o objetivo da ação é a segurança do próprio usuário.

33
http://www.abead.com.br/noticias/exibNoticia/?cod=973

52
6.2 Revisões das medidas de internação

As políticas de internação para usuários, principalmente em caráter involuntário e


compulsório, existem devido ao extremo processo de risco em que o paciente é levado devido
à fissura da droga. As consequências que acarretam que acompanham o uso abusivo das
drogas é uma enorme preocupação, mundial, nacional, médica, familiar, etc. Em uso de
drogas pesadas o usuário apresenta diversos sintomas de doenças, desde fissura a transtornos
mentais. A questão perpassa o problema de saúde, de sociedade e de segurança, e passa a ser
um problema multidimensional. Em que toda a sociedade é influenciada direta ou
indiretamente pela questão. Problemas como criação de cracolândias, de cartéis de drogas, do
crime, e indústrias voltadas para a ação criminal são questões que tem preocupado, e
permanecido na agenda pública por décadas. E por este forte caráter de resposta imediata, o
governo tem tomado diversas atitudes, uma delas foi à ação do dia 14 de fevereiro de 2014, o
prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, juntamente com o governador do Estado, Geraldo
Alckmin instituíram uma ação de prevenção ao uso do crack, apesar do desfecho não ter sido
como esperavam os órgãos governamentais, a ação representa a nova conduta em relação ao
problema, tratado de forma mais humana e menos revanchista 34.
Nesta ação foram removidos do centro de São Paulo cerca de 160 barracos e 300
pessoas. Usuários de drogas, que ali se locavam com único intuito de conseguir a droga foram
encaminhados para quartos de hotéis da região. Houve uma remoção de entulho, em que
foram necessários 15 caminhões. Os usuários estarão assistidos pelo governo, e receberão a
oportunidade de trabalho, recebendo R$15,00 por dia de trabalho além de custar R$1.086 por
mês ao município. O governador e o prefeito conversaram e os dois pretendem formar um
grupo de trabalho para dar destino aos terrenos abandonados no município e no Estado, que
servem de moradia para os usuários. O fato causou algum reboliço na comunidade acadêmica,
a Doutora Psiquiatra da Unifesp, Ana Cecília Marques se manifestou da seguinte forma:

“Em vez de ajudar, a iniciativa pode criar uma condição de frustração. O cérebro desses
indivíduos está comprometido. Eles não têm capacidade de planejamento e de resolver
problemas. Eles não vão trabalhar. São pessoas com motivação instável. No primeiro dia de
abstinência vão passar mal e não vão conseguir trabalhar, nem se concentrar. Para mim, a
medida é muito ingênua. O ideal é o uso de moradias assistidas com profissionais
especializados.” – Ana Cecília Marques; Psiquiatra, Unifesp

Nesse contexto os acontecimentos formam uma forte repercussão de toda a


comunidade científica, desde setores governamentais, a setores da sociedade civil, como é o
caso da psiquiatra da Unifesp. A intenção do governo, claramente emergencial, se caracteriza
por uma política superficial, ideológica e simplista da questão. Com uma ação que não visa
retirar os indivíduos do mundo das drogas, mas simplesmente relocá-los a outra situação
social. O desfecho desse acontecimento é que as retiradas desses moradores das ruas de São
Paulo não foram plenas, e eles acabaram voltando logo no primeiro dia de trabalho para o uso
das drogas. Essa imagem dos acontecimentos demonstra a dificuldade de se lidar com a
questão da dependência, da abstinência e da fissura. Os usuários dificilmente possuem o
estado mental necessários para manter uma vida social estável sem o uso de drogas.

34
Fonte: http://www.abead.com.br/noticias/exibNoticia/?cod=973

53
Outras medidas estão sendo mantidas pelo governo, como é o caso da facilitação da
medida de internação compulsória no centro de São Paulo em relação à cracolândia. Essa
facilitação significa um maior interesse do governo em relação à vida e o futuro dos usuários.
Vista por muitos como uma ação truculenta, essas medidas na realidade funcionam como um
aumento das chances e dos fundos para tentar tirar esses usuários das condições degradantes
que estão vivendo em decorrência do uso compulsivo das drogas.
Apesar das tentativas mantidas pelo governo, em comunhão com a regionalidade e a
especificidade de cada lugar, há muitas ocorrências, como momentos de tensos confrontos
com essa população que vive a beira da humanidade, e à margem da sociedade.
Minoritariamente representada, essa população que faz uso de drogas psicotrópicas pesadas,
tende a ter conflitos diretos com a polícia, muito devido a sua proximidade com o tráfico, e
também com a criminalidade sobre a sociedade civil, em sua maioria, em forma de pequenos
delitos devido à necessidade de obter as drogas, quando em fissura e abstinência, e sem a
oportunidade de se manter em relação empregatícia devido à compulsão e a vida degradante,
que transforma o usuário em um sub-humano, principalmente pelas características de falta de
saúde e higiene.

6.3 Tratamentos da dependência química

6.3.1 Princípios de tratamentos efetivos

Quando se pensa no tratamento das dependências químicas faz-se necessário e útil


estabelecer seus princípios gerais, para que possa afastar preconceitos marginalizantes,
proporcionar eficácia baseada em evidência científica e obter avanços na assistência aqueles
que sofrem com este problema. Duas importantes instituições reconhecidas normatizadas do
assunto servem de parâmetro para o OBID (Observatório Brasileiro de Informação sobre
Drogas) em questão do tratamento a dependência química. Instituto Nacional de Abuso de
Drogas (National institute on Drug abuse- NIDA)/EUA e Associação Psiquiátrica Americana
– APA (American Psuchiatric Association).
O governo, através do OBID entende que quando em referência ao tratamento de
dependência química não há um único que seja apropriado para todos, é importante que haja a
combinação adequada entre tipo de ambiente, intervenções e serviços para cada problema e
necessidade da pessoa, contribuindo para o sucesso do tratamento e para o retorno à vida
produtiva na família, trabalho e sociedade. O tratamento deve ser disponível considerando que
os dependentes químicos possam ter duvida se devem ou não ter tratamento, é importante
aproveitar quando estes estiverem prontos para seu início. O tratamento deve estar disponível
imediatamente.
O tratamento efetivo deve contemplar as várias necessidades da pessoa, não somente
seu uso de drogas deve ser dirigido a isso, mas também a qualquer outro problema médico,
psicológico, social, profissional e jurídico da pessoa. O plano de tratamento deve ser
continuamente avaliado, e modificado caso seja para assegurar a manutenção da harmonia
deste com as mudanças das necessidades da pessoa. Um paciente pode necessitar de
combinações de serviços que variam durante o tratamento e recuperação. Além de
aconselhamento, o paciente pode necessitar também de medicamentos outros serviços
médicos, terapia familiar, orientação educacional, vocacional, e outros serviços sociais ou
legais. É fundamental que o tratamento esteja apropriado a idade, sexo, grupo étnico e cultural
do paciente.
É importante que o paciente permaneça durante um período adequado de tempo no
tratamento. A duração apropriada do tratamento para uma pessoa depende de seus problemas

54
e necessidades. Investigações indicam que na maioria das vezes verifica-se melhora depois de
três meses de tratamento. Neste ponto, os tratamentos adicionais podem culminar em uma
recuperação acelerada. Considerando que muitas pessoas abandonam cedo os processos, os
programas devem incluir estratégias que comprometam e mantenham os pacientes no
tratamento.
O aconselhamento e outros tipos de psicoterapias comportamentais são componentes
indispensáveis do tratamento efetivo para a dependência. Durante a terapia os pacientes
tratam de problemas de motivação, desenvolvem habilidades para recusar o uso da droga.
Substituem atividades em que se utilizavam das substâncias por outras úteis e construtivas em
que não há o uso de drogas e melhoram suas estratégias para a resolução do problema. A
psicoterapia comportamental também melhora as relações interpessoais e facilita a reinserção
do indivíduo em sua família e na própria comunidade.
Os medicamentos formam um elemento importante do tratamento, especialmente
quando se combinam com as diferentes terapias. A metadona e o L-a-acetilmetadol (LAAM)
são muito efetivos para ajudar aqueles indivíduos dependentes de heroína e outros opióides,
auxiliando na estabilização de suas vidas e na redução do uso de drogas. O naltrexone
também é um medicamento eficaz para dependentes de opióides que sofrem dependência a
álcool ao mesmo tempo. Para os fumantes, os produtores que substituem a nicotina (adesivos
e gomas de mascar) ou a medicação (bupropiona) podem ser componentes efetivos do
tratamento. Para pacientes com transtornos mentais associados à dependência de drogas, a
combinação de tratamentos psicológicos e medicamentosos é crucial para o sucesso. No
Brasil as medicações podem ser utilizadas na prática clínica como adjuvantes no tratamento
específico da dependência de substâncias psicoativas - Álcool: dissulfiram, naltrexon e
acamprosato; Nicotina: bupropiona e reposição de nicotina. Opióides: naltrexone e clinidina.
A metadona (opióide sintético, tem de ser de uso preconizado em nosso meio como
analgésico), embora efetiva como fármaco de reposição em dependência à opióides, não tem
seu uso liberado oficialmente para este fim no Brasil.
No caso de indivíduos com problemas de dependência ou abuso de drogas, que
apresentam outros transtornos mentais, deve-se tratar os dois problemas de maneira integrada.
Frequentemente se veem transtornos de dependência e outros transtornos mentais num mesmo
indivíduo. Os indivíduos apresentam as duas condições, e devem ser avaliados e tratados
conforme ambos os transtornos. A desintoxicação médica é apenas a primeira etapa de
tratamento para a dependência e pouco faz para modificar o uso de drogas em longo prazo.
Esta trata cuidadosamente de sintomas físicos agudos da síndrome de abstinência que ocorrem
quando se deixa de usar alguma droga. Ainda que a desintoxicação por si só raramente seja
suficiente para ajudar as pessoas dependentes a conseguir abstinência em longo prazo, para
alguns indivíduos serve como precursor fortemente indicado para tratamento efetivo da
dependência de drogas.
O tratamento não precisa ser voluntário para ser efetivo. Este pode ser facilitado pela
forte motivação do paciente. Entretanto medidas compulsórias ou recompensas dentro da
família, do ambiente de trabalho ou do próprio sistema judiciário podem incrementar
significativamente a porcentagem de indivíduos que entram e que se mantém no processo
bem como o sucesso do tratamento da dependência de drogas.
O uso de drogas durante o tratamento deve ser supervisionado constantemente. O
tratamento não exclui os riscos de recaídas ao uso de substâncias psicoativas, a supervisão
objetiva do uso de drogas e álcool durante o tratamento, incluindo análise de urina e outros
exames pode ajudar o paciente a resistir a seus impulsos de usar estas substâncias. Este tipo
de supervisão também pode proporcionar uma evidência precoce do uso de drogas para que o
plano do paciente possa ser reajustado. Informar os resultados aos pacientes pode ser um
elemento importante no processo de tratamento.

55
Os programas de tratamento devem incluir exames para HIV/AIDS, hepatite B e C,
tuberculose e outras enfermidades infecciosas, conjuntamente com a terapia necessária para
ajudar aos pacientes a modificar ou substituir os comportamentos que os colocam a si e aos
outros em risco de serem infectados. A terapia pode ajudar aos pacientes a evitar
comportamentos de alto risco. Também pode ajudar as pessoas que já estão infectadas a
manejar sua doença.
A recuperação da dependência de drogas pode ser um processo em longo prazo e
frequentemente requer várias tentativas de tratamentos. Tal como em outras doenças crônicas,
a recaída pode ocorrer durante ou depois de tentativas exitosas de tratamento. Os pacientes
podem necessitar de tratamentos prolongados e várias tentativas de tratamento para poder
conseguir a abstinência em longo prazo e um funcionamento completamente restabelecido.
Participação em programas de autoajuda durante e depois do tratamento serve de apoio para a
manutenção da abstinência.

6.3.2 Transtornos relacionados ao uso de substâncias – Princípios e alternativas de


tratamento psiquiátrico em geral

Baseado na tradução de parte de uma publicação da APA (faz parte de guia pratico de
tratamento de pacientes com transtornos pelo uso de substâncias como álcool, cocaína e
opíóides), recomenda-se o seguinte.
O tratamento de indivíduos com transtornos relacionados ao uso de substâncias
psicoativas requer a consideração de muitos fatores e não pode ser adequadamente revisado
em um breve resumo. Há três blocos de categorias de recomendações que representam vários
níveis de confiabilidade clínica: 1- Recomendado com substância confiabilidade; 2 -
Recomendado com moderada confiabilidade; 3 - Podem ser recomendados com base em
circunstâncias individualizadas.
Os pacientes apresentam heterogeneidades em relação às características clínicas
importantes, como número de tipos de substâncias utilizadas, severidade do transtorno e grau
de prejuízo no funcionamento associado, condições médicas gerais e psiquiátricas associadas,
forças (fatores protetores e de adaptabilidade) e vulnerabilidade próprias de cada paciente,
contexto social e ambiental no qual o indivíduo vive e será tratado. Tais pacientes serão
afetados em várias áreas de seu funcionamento e requer tratamento multiprofissional, este
pode ser pensado em fases: avaliação, tratamento de quadros de intoxicação e abstinência,
desenvolvimento e implementação de estratégia global de acompanhamento.
Fase de avaliação psiquiátrica completa é essencial para guiar o tratamento de
indivíduos com problemas de dependência ou transtornos por uso de drogas. Esta avaliação
inclui história atual e progressa detalhada do uso de substâncias e seus efeitos sobre o
funcionamento cognitivo, exame e história médica geral e psiquiátrica, história dos
tratamentos psiquiátricos prévios e seus resultados, história familiar e social, teste
toxicológico de drogas de abuso, e outros exames laboratoriais para ajudar a confirmar a
presença ou ausência de comorbidades frequentemente associadas ao problema.
Gerenciamento psiquiátrico é à base do tratamento do transtorno. O manejo
psiquiátrico tem os seguintes objetivos: estabelecer e manter uma aliança terapêutica,
monitorar o estado clínico do paciente, tratar os estados de intoxicação e abstinência,
desenvolver e facilitar aderência ao plano terapêutico, prevenir a recaída, providenciar psico-
educação sobre os transtornos, reduzir a morbidade e sequelas associadas.
Geralmente o manejo psiquiátrico combinado a tratamentos específicos levados em
colaboração e coparticipação de profissionais de várias disciplinas e atuantes em vários tipos e

56
locais de tratamento, incluindo comunidades terapêuticas, clínicas, hospitais, programas de
desintoxicação, tratamentos ambulatoriais e de internação.
Tratamentos específicos, com abordagens farmacológicas e psicossociais são
estudados e aplicados nos contextos de programas de tratamento que combinam diferentes
modalidades. É incomum que uma única abordagem seja efetiva, quando utilizada
isoladamente.
Tratamentos farmacológicos são benéficos para determinados pacientes. As categorias
são: medicamentos para tratar estados de intoxicação e abstinência, medicamentos para
reduzir os efeitos reforçadores das substancias de abuso (promovem ou facilitam a
autoadministração); Medicações que desencorajam o uso de substâncias por induzir
consequências desagradáveis através da interação do fármaco com a droga de abuso ou
através do acoplamento do uso da droga causando um desprazer; Terapia de substituição por
agonista; Medicações para tratar comornidades psiquiátricas.
Tratamentos psicossociais são componentes essenciais de um programa completo de
tratamento dos transtornos. Embora haja poucos estudos controlados e muitos deles tenham
limitações metodológicas, as informações disponíveis, somados à experiência clínica indicam
que as seguintes formas de tratamento são eficazes: psicoterapia cognitivo-comportamental;
psicoterapia comportamental; psicoterapia psicodinâmica/interpessoal; psicoterapia de grupo
e familiar; participação em grupos de autoajuda (AA – Alcoólicos Anônimos, NA –
Narcóticos Anônimos, outros).
Formulação e implementação de um plano de tratamento, com objetivos e metas de
tratamento, e a escolha de modalidades específicas necessárias para atingir estas metas podem
variar entre diferentes pacientes e para um mesmo paciente em diferentes fases de transtornos.
Já que muitos desses são condições crônicas, os pacientes usualmente requerem tratamento de
longo tempo embora à intensidade e os componentes específicos possam variar no tempo. Um
plano de tratamento é desenvolvido incluindo os seguintes elementos: Gerenciamento
psiquiátrico; estratégia para promover abstinência ou reduzir os efeitos do uso de substâncias
psicoativas; Esforços para aumentar a adesão continuada ao programa de tratamento à
prevenção da recaída e à melhora do funcionamento global do sujeito; tratamentos adicionais
necessários para pacientes com comorbidades clínicas ou psiquiátricas.
O regimento de tratamento pode variar em função da disponibilidade de modalidades
específicas de tratamento, do grau de restrição ao acesso ás substâncias que são
provavelmente abusadas, da disponibilidade de cuidados médicos gerais e psiquiátricos e do
meio geral e filosofia de tratamento a ser indicado. Pacientes devem ser tratados no regime
menos restritivo possível e que provavelmente sejam seguros e eficazes. Decisões acerca do
regime devem ser baseadas: na habilidade do paciente em cooperar com o tratamento
oferecido e se beneficiar dele; na estrutura e suporte necessários; na habilidade do paciente
em conter seu uso de substâncias psicoativas; na habilidade de evitar comportamentos de
risco; na necessidade de tratamentos específicos somente disponíveis em certos regimes.
Pacientes move-se de um nível de cuidado a outro baseado nos fatores acima e deve-se
avaliar a sua habilidade de beneficiar-se seguramente através dos diferentes níveis de
cuidados.
Os regimes incluem: regimes hospitalares; regimes de tratamento residencial
conhecidos em nosso meio comumente por comunidades terapêuticas; hospitalização parcial
comumente chamado de centro-dia ou hospital dia; regimes ambulatoriais.
A duração do tratamento deve ser determinada de acordo com as necessidades de um
dado indivíduo e podem variar de poucos meses a vários anos. A monitoração para o uso de
substância deve ser intensificada nos períodos de alto risco para recaída, incluindo os estágios

57
de tratamento períodos de transição para níveis menos intensivos de cuidado e no primeiro
ano seguinte ao termino do tratamento.
Há algumas características clinicas que influenciam o tratamento e o planejamento e
implementação do tratamento deve considerar: as condições médicas gerais e existência de
comorbidades psiquiátrica; fatores relacionados ao gênero (incluindo possibilidade de
gravidez); idade; ambiente social e de moradia; fatores culturais; características familiares.
A alta prevalência de transtornos psíquicos concomitantes e a distinção diagnóstica
entre os sintomas do uso da substância e outros transtornos devem receber particular atenção e
tratamento específico para comorbidades deve ser providenciado.

6.4 Unidades terapêuticas para dependência química

A linha que separa a dependência química e usuário é tênue, mas não é invisível. A
percepção por parte das comunidades de tratamento a diferenciação entre o uso recreativo das
drogas, e o uso abusivo é ainda um enclave no debate. Mesmo quando as drogas são lícitas e
de uso corriqueiro, o seu uso abusivo é ainda considerado preocupante e apresenta um quadro
de consumo global mais grave.
Após a reforma manicomial acontecida em 2001, tem ocorrido séria discussão sobre
os rumos das unidades terapêuticas para reabilitação de dependência química. Tornou-se
anacrônico, ou no mínimo, inviável pensar que a reabilitação necessita de vida assistida por
profissionais qualificados. O que tem causado muito dissenso na comunidade científica e
governamental. O governo federal tem um programa de financiamento para unidades de
tratamento e reabilitação desse tipo de problema. Individualmente é um problema grave, a
dependência química é uma doença, que não tem cura, mas é tratável, administrável. E,
portanto é difícil a manutenção de dependentes em unidades terapêuticas por longos períodos
de tempo, para que sejam assistidas a sua recuperação.
Durante anos, e logo a reforma manicomial, ainda havia diversos relatos, documentos,
como fotos e vídeos de comunidades terapêuticas que mostravam cenas de maus tratos, de
extorsão de familiares e inúmeros constrangimentos. Recentemente o tema tomou uma
enorme dimensão, com crescimento do uso de crack.
O conselho Regional de Psicologia de São Paulo lançou nota pública repudiando as
ações do programa: “O decreto n 7.179, de maio de 2010, ao instituir o Plano Integrado de
Enfrentamento ao Crack e outras drogas, tenta suprir a deficiência de uma política de saúde
integral. Após este decreto, o Ministério da Saúde, em conjunto com a Secretaria Nacional de
Política sobre Drogas (SENAD), promove editais que destina apoio financeiro a projetos de
utilização de leitos de acolhimento para usuários de crack e outras drogas em comunidades
terapêutica. Porém, o nome comunidade terapêuticas abarca toda e qualquer instituição que
se proponha a cuidar do usuário de álcool e outras drogas na forma jurídica que melhor lhe
couber, nos princípios e diretrizes dos proprietários dessas formas jurídicas – ONGS, grupos
de autoajuda, instituições religiosas (...). Em um momento em que a Reforma Psiquiátrica
Brasileira vem sendo atacada por setores econômicos estratégicos, assistimos ao
investimento em 2.500 leitos, em instituições que não fazem parte da Rede Substitutiva de
Atenção à Saúde Mental do SUS em detrimento da ampliação do número de Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) e leitos em Hospitais Gerais. O que se pode observar é que, em
grande maioria, as comunidades terapêuticas não promovem ações que visam reconstruir os
laços comunitários e a inserção social dos internos; não tem articulação com a rede SUS e
SUAS do município; não promovem a construção de Projeto Terapêutico Individualizado,

58
com a participação dos usuários e seu familiar, com alternativas de continuidade após a
saída do estabelecimento” 35.
O governo defendeu o investimento, através da fala do Ministro da Justiça José
Eduardo Cardozo, que diz que não é possível fechar os olhos para as comunidades
terapêuticas. Entende que haja polêmicas e controvérsias com certos segmentos da sociedade,
mas há a vontade do governo de criar condições para que essas entidades façam um trabalho
melhor. Querem serviços mais ágeis, rápidos, com maior número de leitos.
Além da polêmica da existência de unidades e permanência de usuários e dependentes
químicos em comunidades terapêuticas, há também a polêmica e questão da implementação
de políticas de internação involuntárias e penas mais duras para envolvidos nessa questão das
drogas, ou seja, de como devem atuar essas comunidades terapêuticas. Para alguns políticos o
problema do crack é certo desvio de conduta. Tem partes dessa discussão que pensam que
essa é mais uma questão de violência do que de saúde publica. E defendem as unidades
terapêuticas, as internações compulsórias e o afastamento dos infratores das regiões que
geram o consumo de drogas.
Em 2011, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) fez uma inspeção em 68
comunidades terapêuticas em todos os estados do país e constatou violações de direitos
humanos em todas elas. Na época, o programa “Crack É Possível Vencer” estava em fase de
lançamento e já se falava no financiamento ás instituições; segundo o coordenador da
Comissão de Direitos Humanos do CFP, Pedro Paulo Bicalho, estas inspeções aconteceram
por causa do grande volume de denúncias de maus tratos e violações de direitos que estavam
chegando através da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial (Renila).
Conta o coordenador que através de uma rede formada pelos conselhos regionais em
parceria com o ministério público, defensorias e parceiros locais, equipes fizeram uma
varredura pelas comunidades. Infelizmente foi constatado violações em todas as instituições
que foram investigadas. Em algumas as violações eram mais evidentes como punições e
castigos. Em outras mais sutis como trabalho forçado travestido de laboterapia ou o
desrespeitos ao ser humano ou a identidade de gênero que se dá através de dogmas religiosos,
que na opinião do conselho regional, não são compatíveis com Estado laico de Direito. Apesar
de o relatório ser encaminhado aos ministérios e audiências públicas, o financiamento, ainda
assim foi consolidado36.
O plano foi aprovado envolvendo a participação de três ministérios, o da educação, o
da saúde e o da justiça. Nenhum conselho foi consultado ou ouvido neste processo. Não
houve discussão com a sociedade civil e não houve nenhuma participação social na
construção dessa política. Não há como saber nem quais foram os critérios reais para a
escolha dessas entidades e quem será o responsável pela fiscalização e monitoramento. Essa
ação, segundo o coordenador do conselho de psicologia, Pedro, foi uma ação política. E
segundo ele o que importa para essa ação é tirar essas pessoas da rua, cumprindo uma política
higienista muito oportuna em momentos em que o país precisa se preparar para os grandes
eventos. O psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Programa de Orientação e
Assistência a Dependentes, concorda com o raciocínio de Pedro: “Nas cracolandias já houve
internações compulsórias através de medidas judiciais, e essa é uma lógica muito perversa
porque se atribui a miséria social como consequência do uso da droga e isso não é verdade.

35
A nota pode ser lida na integra: http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=376

36
http://www.crpsp.org.br/portal/midia/pdfs/Relatorio_Inspecao_Direitos_Humanos.pdf

59
Ninguém chega a esse estado por usa droga. Chegaram a esse estado por um tremendo
descaso do Estado. São pessoas abandonadas, que não tem acesso à educação, saúde e
moradia e a situação de miséria favorece que ele se torne um dependente. Estes modelos
ultrapassados de internação tiram das vistas, mas não resolvem o problema” 37.
Portanto a discussão, apesar de não acontecer dentro dos moldes políticos
democráticos, de inclusão e representação, ainda está valendo. A sociedade civil que
permanece omissa, sem meios de agir, também deveria se prontificar, e o governo, de diversas
entidades deveria estar contando com o apoio destas entidades para deliberar tais ações, que
fogem a regra da política democrática do estado brasileiro. Portanto ainda é muito presente a
questão da reforma manicomial, das políticas de reabilitação, e das ações do governo
brasileiro a cerca da qualidade e da eficiência dos programas de atuação frente aos usuários de
drogas.
A maioria da população ainda desconhece tais ações, e não percebe o caráter
pernicioso das políticas oriundas das comunidades políticas fechadas, que não abrem seus
programas a discussão no espaço público. Portanto, a deliberação de políticas na realidade
deveria perpassar todos os meios da sociedade, e responder a democracia e os direitos
humanos de forma plena, e não superficialmente.
Um exemplo desta política superficial, ineficiente, sem deliberação é o estado do
Centro de assistência Psicossocial Capela do Socorro, na região sul de São Paulo, que deveria
ser referencia para 200 mil habitantes da região, mas por falta de outros centros, acabam
servindo as regiões vizinhas e hoje é referencia para quase um milhão de habitantes. Cem
pessoas são atendidas ali por dia e a cada mês são 170 novos acolhimentos. O centro atua de
portas abertas, atendendo qualquer pessoa, mesmo sem documentos, funciona das sete da
manhã ás sete da noite, de segunda à sexta-feira e que há planos para atendimentos para 24
horas.
E apesar dos incentivos insuficientes os CAPS são pensados para um cuidado intenso,
em um modelo de inserção familiar, cultural, esportiva sem tirar a pessoa de seu ambiente,
sem a noção de internação. Inclusive os funcionários respeitam as escolhas dos usuários.
Muitos dizem que querem o tratamento, mas não querem parar de usar as drogas. E na pratica
acaba funcionando um trabalho de redução de danos, com oferecimento de insumos como
preservativos, piteiras, protetores labiais, etc.
Por a dependência química ser uma doença crônica, incurável, mas tratável, é preciso
fazer com que o paciente se aproprie do conceito para se cuidar da melhor maneira que este
achar possível. Pois isso será para a vida toda.

7 Conclusão

O debate que tange as políticas de drogas nos últimos anos tomou forte patamar
preventivo e combativo. Muito devido ao descontentamento oriundo de seus problemas.
Todas as partes, sofrem com a falta de uma implementação política eficiente. As drogas em si
causam um grande mal a saúde. Mas não é só, causam também sérios danos à vida em
sociedade. O tema ainda é espinhoso, e não foi amplamente estudado para uma resolução que
consiga erradicar tais problemas. Permanece sendo levado para a ação política governamental
de forma simplista e sem a devida atenção. A comparação de programas políticos, por parte

37
http://www.apublica.org/2013/11/contra-crack-disciplina-oracao-trabalho/

60
na questão internacional, e por parte na vida brasileira tentou demonstrar as diferentes
possibilidades de ação quando se fala em políticas de drogas. Cada lugar concebe uma
política de ação oriunda de seus anseios democráticos, de seus valores como sociedade. Não
se pode subjulgar nenhuma ação como sendo a ideal para universalizar uma política de
erradicação dos problemas das drogas. O intenso combate ás drogas tem sido pernicioso para
a vida em sociedade, alguns autores afirmam (Michel Misse, 2011), que quanto mais incisivo
for a repressão ao tráfico, mais a capacidade deste tem de reagir com violência a altura da
repressão que sofre.
Portanto, não basta uma política que combata o tráfico, é preciso uma política que
reabilite a sociedade em si, para viver em sociedade. O que parece ser muito mais difícil e
menos vantajoso em questão financeira do que agir de forma truculenta. A forma que a
questão tem sido vista é evidentemente ideológica, de todas as partes. É preciso que a
sociedade siga um consenso de coação para a melhora da saúde pública da sociedade, sem
privar os indivíduos do bem estar mútuo e da liberdade. Porém essa solução tem sido cada vez
mais difícil principalmente nos termos de consumo exarcebado da conjuntura atual. O tráfico,
como é explicitado por diversos autores aqui estudado, tem seus programas de adaptação ao
mercado, e este faz uso desses instrumentos para se fortalecer, sem o mínimo de escrúpulo
para com a sociedade civil. Porém é difícil de imaginar que o Estado brasileiro tenha poder o
suficiente para conseguir fazer valer uma política de consumo regulamentado de drogas,
mesmo que sejam as mais leves.
Muitas questões que aqui foram apresentadas não permanecem no campo da saúde
pública, pelo contrário, a questão da saúde só existe como problema, devido a uma falha da
eficiência política em relação ao problema das drogas. É possível haver programas de
reabilitação mais eficientes, porém é necessário mais investimentos em ações concretas.
Muitos dos programas ainda permanecem a serem discutidos, ou são retrógados, anacrônicos,
não fazem parte daquilo que acontece na prática. Outra questão ainda é a ideologia. Muito se
tem debatido sem a real intenção científica do debate. O debate acontece em âmbito
superficial, e não aprofundado, com pesquisas sérias, que demonstrem os argumentos de
ambos os lados. Como é explicito no caso do Tabagismo. Quando multinacionais utilizam de
evidências sem nenhum valor científico para valorizar seus produtos em detrimento da saúde
da população.
O levantamento bibliográfico aqui apresentado tem por objetivo esclarecer o leitor
sobre alguns pontos de vista, sobre as questões política que o autor julga mais importante no
que se refere ao balanço sobre o assunto, para que possa elucidar as diferentes razões. A
apresentação da questão da regulamentação das drogas ilícitas, a questão do consumo abusivo
e do comportamento dos usuários, do mercado, em referência as drogas, assim como as
políticas de internação e reabilitação ainda permanecem em campo incerto e muito tem que
ser analisado para erradicação de seus problemas, principalmente devido à ideologia e ação
política direta em que essa questão ainda se encontra. O fato do combate e repressão ao tráfico
de droga ser mortífero ao ponto de gerar uma verdadeira guerra é uma preocupação mundial,
no nível da localidade as ações políticas muitas vezes não garantem os direitos humanos dos
envolvidos na questão.
A questão está sendo abordada de diversas formas em diversos lugares. Em São Paulo,
formalmente, é vista da forma devida pelo governo, mas a ação referente ainda continua
imersa em ações simplistas, ideológicas e preconceituosas, não respeitando nem a
comunidade médica, e por vezes nem as resoluções políticas. Mesmo que formalmente
aconteçam projetos de implementação de prevenção e reabilitação das drogas, ainda também
acontecem sérias violações aos direitos democráticos, constitucionais, e também violações aos
direitos humanos. Portanto, o forte entrave político que permanece no Brasil, é ainda o grande
motivo da ineficiência em relação aos problemas do consumo abusivo de drogas e suas

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possíveis soluções. As drogas em, si fazem mal a saúde, é uma questão séria. Mas as políticas
e as questões oriundas dessas políticas são de caráter urgente, e carecem de maiores atenções,
financeiras, e científicas por parte das ações governamentais. E não só no Brasil, este ainda é
um grande problema em escala mundial, e sem uma solução em curto prazo. Há algumas
remediações, para problemas que são de ordem micro social, mas não há, ainda que seja
necessária, uma ação conjunta para a erradicação do significado que as drogas têm para o
âmbito global. Portanto repensar a questão, refletir passo a passo do que pode ou deve ser
feito é apenas um começo. E apesar de o ser humano lidar com as drogas milenarmente, os
problemas que elas causam ainda persistem e tem piorado. Esse problema não permanece só
na área da saúde, pelo contrário, antes de tudo é um problema de coexistência de indivíduos
dentro da sociedade.

8 ANEXO

8.1 Solventes ou inalantes

Um número enorme de produtos comerciais contém solventes, como esmaltes, colas,


tintas, thiners, propelentes, gasolina, removedores, vernizes, etc. Esses produtos contém
substância química do grupo dos hidrocarbonetos, como tolueno, xilol, acetado de etila,
tricloroetileno, etc, que são responsáveis pelo efeito psicotrópico.
Produto muito conhecido no Brasil é o “loló” ou “lança perfume”. De preparo
clandestino, á base de clorofórmio mais éter e utilizado só para fins de abuso. Por ser
clandestino, não se sabe bem qual mistura que apresenta sua composição, o que complica
quando se tem casos de intoxicação aguda.
O mecanismo de ação dos solventes é muito complexo, por esse motivo ainda não
totalmente esclarecido. Alguns autores consideram a ação como inespecífica, atuando nas
membranas de todos os neurônios. Outros consideram que os solventes atuam em alguns
sistemas de neurotransmissão específicos. O início dos efeitos é rápido, questão de segundos.
O usuário repete as aspirações várias vezes para que as sensações durem mais tempo. Os
efeitos são divididos em quatro fases: Primeira fase é a chamada fase de excitação, a pessoa
fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais.
Segunda fase a depressão do SNC começa a predominar com a pessoa ficando em confusão,
desorientada, voz meio pastosa, visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça,
palidez, a pessoa passa a ver e ouvir coisas. Terceira fase a depressão se aprofunda com
redução acentuada do alerta, incoordenação ocular (a pessoa não fixa os olhos nos objetos),
incoordenação motora com marcha vacilante, a fala enrolada, reflexos deprimidos; Já podem
ocorrer evidentes processos alucinatórios. E quarta fase a depressão tardia, que pode podem
chegar à inconsciência, queda da pressão, sonhos estranhos, pode ainda apresentar surtos de
convulsões. Essa última ocorre com frequência entre aqueles cheirados que usam saco
plástico e após certo tempo, já não conseguem afasta-lo do nariz, assim a intoxicação torna-se
mais perigosa, podendo levar ao coma e morte.
Sabe-se que a aspiração repetida crônica dos solventes leva a destruição de neurônios,
causando lesões irreversíveis no SNC. Além disso, pessoas que usam solventes cronicamente
apresentam-se apáticas, tem dificuldade de concentração e déficit de memória.

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Os solventes tornam o coração humano mais sensível à adrenalina, o que faz o número
de batimentos cardíacos aumentar. Essa adrenalina é naturalmente liberada toda vez que o
corpo humano tem que exercer um esforço extra, por exemplo, correr, praticar esportes etc.
Assim, uma pessoa que inala um solvente e logo faz esforço físico, pode ter complicações
cardíacas. A literatura médica já conhece vários casos de morte por síncope cardíaca,
principalmente em adolescentes.
Solventes quando inalados cronicamente podem levar a lesões da medula óssea, dos
rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os nossos músculos. Principalmente
quando existe no solvente uma impureza, o benzeno, mesmo em pequenas quantidades pode
haver diminuição de produção de glóbulos brancos e vermelhos pelo organismo.
A dependência naqueles que abusam cronicamente de solventes é comum, sendo os
componentes psíquicos de dependência os mais evidentes: o desejo de usar, perda de outros
interesses que não seja o de usar solvente. A síndrome de abstinência, embora em pouca
intensidade, está presente na interrupção abrupta do uso dessas drogas, aparecendo com
ansiedade, agitação, tremores, câimbras e insônia. Pode ocorrer a tolerância, talvez não tão
dramática como nas outras drogas. Dependendo da pessoa, a tolerância se instala ao fim de 1
ou 2 meses.

8.2 Anticolinérgicos

Pode ser utilizado como medicamento (triexifenidil), comercializado com o nome de


Artane (utilizado para o mal de Parkinson), também existem plantas como o lírio (trombeta,
zabumba, saia-branca), que eram muito usadas na década de 80, na forma de chá.
Essas substâncias bloqueiam os efeitos da acetilcolina, neurotransmissor que atua no
sistema colinérgico, e por isso sua denominação anticolinérgicos. Tanto de origem vegetal
como os sintetizados em laboratório, quando em doses elevadas, atuam principalmente
produzindo delírios e alucinações. São comuns descrições de pessoas intoxicadas de se
sentirem perseguidas, de verem pessoas, bichos, etc. Esses feitos dependem bastante da
personalidade da pessoa e de sua condição. Assim, os usuários dessas drogas descrevem
visões de santos, animais, estrelas, fantasmas, etc. Efeitos esses são bastante intensos,
podendo demorar até três dias. Apesar disso, o uso de medicamento é muito útil no tratamento
de algumas doenças, como o mal de Parkison.
As drogas anticolinérgicas são capazes de produzir muitos efeitos periféricos. As
pupilas ficam dilatadas, a boca seca, o coração dispara. Os intestinos ficam paralisados (tanto
que são usadas como medicamento como antidiarreicos), e a bexiga fica preguiçosa, ou há a
retenção de urina.
Anticolinérgicos podem produzir grande aumento da temperatura do corpo, que chega
a 41ºC. Nesses casos, a pessoa apresenta-se com a pela seca e quente, com vermelhidão no
rosto e pescoço. Pode provocar convulsões e por isso essas substâncias são bastante perigosas.
Algumas pessoas descreveram terem engolido a língua, e se sufocarem por causa disso. Essas
drogas não desenvolvem tolerância no organismo, e não há descrição de síndrome de
abstinência após a para de uso contínuo.

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