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Antropologia Filosófica

Tema do trabalho de grupo – as perguntas (grupo 9)


Apresentação do trabalho – 13/11/2014 (13h00)

Aula 3 (02-10-2014):
Um Ponto de Partida

Porquê começar com Karl Jaspers?

A sua actualidade – 2006, Royal Institution, “The greatest mind to have changed
our minds”:
 Beck – terapia cognitiva
 Eysenck – enquadramento científico da psicoterapia
 Freud – psicanálise
 Jaspers – filósofo e moralista alemão, legado para a psicopatologia e para a
psicologia

Legado vs. Fama

O seu legado:
 A “visão do mundo” – um argumento conceptual (Homem vs. Técnica +
Saúde vs. Doença)
 A obra – um fundamento psicopatológico
 A pessoa – um fundamento ético (psicologia e clarificação existencial)

A “Viagem” – de que trata a antropologia filosófica?

A pessoa como ser em situação – há sempre um espaço e um tempo em que


nos enquadramos/integramos, que nos influenciam e transformam a cada
momento.

“Nasci na cidade de Oldenburg. O meu pai era natural de Jeverland e a mi-


nha mãe de Butjadingen, situadas ambas perto da costa do Mar do Norte. Durante
toda a minha infância permanecemos nas Ilhas Frisian, e cresci junto ao mar. Mas
lembro-me de que, quanto tinha quatro ou cinco anos de idade, estávamos na ilha
de Spiekeroog. Aí, não me recordo que houvesse mar. Somente casas e arbustos
(…)”.
(Karl Jaspers)

A importância do mundo e do estar-no-mundo:


 O espaço, as casas e as coisas
 O objecto e o conhecimento objectivo

“Dois anos mais tarde, já estávamos na Ilha de Norderney e, à noite, eu per-


corria, pela mão do meu pai, o longo caminho até à praia. Era maré baixa e a cami-
nhada pela praia fresca e limpa era surpreendente e inesquecível. Como a maré
baixa era muito profunda, caminhávamos cada vez mais adiante até alcançar a á-
gua. Aí, havia alforrecas e estrelas-do-mar. Eu ficava encantado (…)”.

(Karl Jaspers)

A dimensão do ser – a pessoa-no-tempo e a sua gradual profundidade (como a


maré baixa)

“Pela primeira vez, eu vi o mar. E não pensei. Não pensei: “a Infinitude”. Mas,
desde então, o mar é para mim a origem mais auto-evidente da vida.
Nomeadamente, a presença da infinitude. As próprias ondas, infinitas. Não há duas
ondas iguais. Tudo está sempre em movimento. Nada é permanente, não obstante a
infinita firmeza da sua substância. Ver o oceano foi, desde esse momento, a coisa
mais maravilhosa que se pode ver no mundo natural. Porque o mar está sempre em
mu-dança, na grandeza da sua Infinitude. Como um espelho da vida e da filosofia.
Tudo é constante, numa ordem maravilhosa, segura e estável, indispensável. Mas há
algo mais: a Infinitude do mar. Isto faz-nos livres.”.
(Karl Jaspers)

A Consciência-de-Si-em-Situação – o Ser-em-si, o limiar da Transcendência na Exis-


tência

Um ponto de chegada:

Face à Situação Real do indivíduo, a Existência não é integral para o


conhecimento, nem como história nem como presente. Toda e qualquer descrição é
sem-pre lacunar, constituída por elementos “acidentais”.

Mas apesar de serem imagens parciais e parcelares da Situação-em-si, estes


elementos “são como esperas capazes de despertar o indivíduo e ajudá-lo a
encontrar-se no que, de facto, lhe é importante”.

“Encontrar saídas na necessidade, saber conduzir-se consigo mesmo,


educar--se, eis a tarefa de todo aquele que é saudável; e, nas dificuldades acrescidas,
o ou-tro homem pode iluminar os caminhos”.
(Karl Jaspers, 1998: 116-7)
Aula 4 (09-10-2014):
Ser-Em-Situação

Cada época histórica tem uma forma de viver. Mas ao longo do tempo há
uma continuidade de assuntos que foram abordados de maneira diferente, devido à
nossa espácio-temporalidade, à nossa maneira de ver as coisas.

Paradigma = conjunto de valores de cada época; visão geral do mundo

Perguntas e respostas:

 “Se o nariz de Cleópatra tivesse sido mais pequeno, o mundo teria sido com-
pletamente diferente.” (René Pascal, Pensées, XVII)
 “De que modo a tecnologia revelou novos domínios de ignorância e
outorgou aos nossos tempos o direito de serem uma época de descoberta
negativa?” (Daniel Boorstin, O Nariz de Cleópatra, 1994)
 “Hoje, somos anões empoleirados às cavalitas de gigantes.” (Daniel Boors-tin,
O Nariz de Cleópatra, 1994)

É a sensibilidade humana que conduz a teoria, ou seja, as perguntas e as


respostas emergem da nossa experiência pessoal. Estas respostas são sempre singu-
lares, parciais e contextualizadas no tempo e no espaço.

Enquadramento histórico-conceptual:

1) Aristóteles (IV a.C.) – unidade = psique (anima)

O conceito de Alma foi muito debatido ao longo dos tempos, chegando a ter
inúmeros significados.

2) Helenismo (III a.C. – II d.C.) – pragmatismo, conquista

3) Idade Média (III-XIV) – teocentrismo, Alma

O teocentrismo subjugou aquilo que existia no Homem, a própria Alma. O


que tinha valor era a vida depois da morte, a imortalidade. Uma vez que a vida
terrena era inevitavelmente pecadora, sem qualquer valor, quanto mais curta,
melhor.

4) Descobrimentos (XV-XVI) – descoberta, razão (Alma)

O grande espírito científico reside no espírito de descoberta, sendo este o


aspecto revolucionário em relação à Idade Média. A partir deste período, passou a
ser aceitável a contestação, através da descoberta de novas realidades. Ao descobrir
um Cosmos novo, o ser humano descobre um Homem novo, percebendo que foi ele
quem resolveu os seus obstáculos e os seus objectivos.

O tipo de respostas muda, pois agora procuram-se respostas objectivas. To-


do o espírito científico nasce verdadeiramente. O que dá valor agora ao Homem,
aquilo que o define é a Razão, e não a Alma.

5) Descartes (XVI-XVII) – cogito, solipsista

Transforma a maneira de ver o Mundo e de ver Deus. O Ateísmo


contemporâneo começa em Descartes, apesar de possuir uma grande influência da
Idade Média. A sua dinâmica é: para chegarmos ao conhecimento sem ter dúvida,
temos que começar por ela, ou seja, temos que incluir a dúvida na ciência. Portanto,
co-meça por questionar tudo, põe tudo em causa – o Homem, o Mundo e até Deus.

Aula 5 (16-10-2014):
Conclui que, uma vez que não se criou a si próprio, pode duvidar de Deus
mas não o pode eliminar. Como resolver a dúvida? Definindo-a. A Razão permite,
então, saber, sem margem de dúvida, que o Homem existe, enquanto pensa, e não
enquanto sente – “penso, logo, existo”. Assim, porque pensa e enquanto pensa, o
Homem não tem dúvidas de que existe. Desta forma, apercebe-se que, criado à i-
magem e semelhança de Deus, uma vez que pensa, Deus existe. Quando se fala de
conhecimento verdadeiro, todo o Homem pensa da mesma maneira, pois usando as
mesmas regras, chega-se às mesmas conclusões.

Solipsista (sozinho) – remete para o isolamento, processo autista, centrado no Ho-


mem e no pensamento

6) Kant (XVIII) – Razão (sensibilidade, entendimento), “Luz” (Iluminismo)

A Razão só pode ser luz se o que iluminar passar a ter valor com a luz da
Razão, ou seja, o que dá luz à Razão é o facto de poder iluminar. Se o cogito já e-
xistia e a grande descoberta do Iluminismo é a Razão, então Kant descobriu a sensi-
bilidade.

7) Séc. XIX – positivismo, espírito científico (psicologia científica vs. psicanálise,


epistemologia, fenomenologia)

O objectivo torna-se a criação de leis científicas. Ao mesmo tempo que


temos o espírito positivista como resposta à ciência, nasce também aquilo que
permite resolver os obstáculos ao positivismo – a epistemologia.

8) Séc. XX – o Homem (intersubjetividade)


9) Séc. XXI – o Eu (Consciência/Cérebro)

Resumo:

As perguntas e o modo de perguntar reflectem o contexto em que emergem


e reflectem, por isso, um modo próprio de ser-em-situação. É a temporalidade das
respostas que evidencia a intemporalidade das perguntas fundamentais.

Relativiza-se os padrões de “Verdade” (imperfeita, mas perfectível) e valoriza


o seu carácter subjectivo, confere-se relevância ao “conhecimento prévio” (uma es-
pécie de Douta Ignorância: “sei que não sei tudo e ainda não sei tudo o que sei”,
confere centralidade à experiência pessoal na construção de significado/sentido.

As novas tecnologias vieram revelar novos domínios de ignorância e outorgar


aos nossos tempos o direito de sermos uma época de descoberta negativa – “Temos
tendência para esquecer ou subestimar a dificuldade da descoberta negativa,
porque é muito mais fácil encontrar uma nova ilha (…) do que provar a inexistência
de uma faceta, há muito admirada, da imaginação”.

Actualmente, “os dados, sempre em aceleração, fornecem uma multidão de


respostas a perguntas não formuladas, o que obriga o descobridor a um esforço em
constante expansão. Já não se limita a procurar respostas para questões
convencionais, nem a exigir que factos escassos proporcionem significados
cósmicos reconfortantes. (…) Pelo contrário, aplaudimos todas as pessoas que
colocam questões inimagináveis, todas as que realizam descobertas negativas”.

“A história da ciência ocidental con-firma o aforismo de que a grande


ameaça ao progresso não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento.”.

(Daniel Boorstin, O Nariz da Cleópatra, 1994)

Aula 6 (23-10-2014):
Ser-em-situação:

Pessoa = Ser-em-Situação
A pessoa é um ser no espaço e no tempo com consciência de si, que
estabelece um compromisso existencial que pode derivar do Dever ou “Destino” em
li-berdade.

A temporalidade das respostas evidencia a intemporalidade das perguntas


fundamentais. Estas, por sua vez, evidenciam simplesmente a necessidade de
construção de significado e a procura de um sentido último.

Carácter existencial das perguntas fundamentais

Porque é importante perguntar? Pela procura de significado e/ou sentido


último. Esta é a principal motivação do ser humano – a procura de significa/sentido
último (esta é a principal diferença em relação à teoria de Freud). Existe, portanto,
uma correlação entre vazio existencial e sentido potencial, quase como se fosse um
ciclo, e isto traduz-se no carácter existencial das perguntas/dúvidas. Ou seja, esta é
a “natureza” e a “origem” da consciência.

“Natureza” e “origem” da consciência

A consciência constitui um cruzamento (uma relação) entre a realidade (i-


mediação) e a experiência/pensamento (mediação).

Todos nós existimos no tempo e no espaço, mas o que caracteriza os


humanos, independentemente de como as épocas nos vão definindo, é precisamente
o facto de a maneira como vivemos articular significados.

É a Consciência-de-Si que dá significado à nossa vida. Referimo-nos à


consciência como uma realidade, algo que pretendemos que seja específico,
independentemente da sua natureza. O ser humano afirma-se por diferenciação de
tudo o que não é ele próprio, ou seja, precisamos de tudo o que está fora de nós
para nos afirmarmos como subjectivos. A Consciência é o que estabelece a ligação
entre o real e a profundidade do nosso interior. A Consciência é o centro, é o dá
sentido às coisas. Sem ela, a realidade (imediação) e a experiência e os pensamentos
(media-ção) são meros quadrados vazios, não têm significado.

Estamos a assumir uma maior consciência e uma maior responsabilidade.


Culturalmente, estamos muito dependentes/reféns dos outros, da maneira como
estes nos veem e do que acham que está bem, e das educações que recebemos. As-
sim, estes são factores condicionantes da nossa liberdade.

Cada um de nós, consciente ou inconscientemente, directa ou


indirectamente, deixa uma impressão digital, mesmo que não seja na humanidade
inteira, em termos racionais e de significado. Assumimos assim um compromisso
no sentido da liberdade, na medida em que a nossa vida é vivida através das nossas
esco-lhas.

Por exemplo, o que é a boa acção? É a que eu pratico porque está nas “re-
gras sociais” ou é a que faço pelo meu dever para com o ser humano, pela natureza
da minha acção, pelas “regras morais”?

Aula 7 (06-11-2014):
Ideias gerais dos textos:

Texto 1 – Hoje, o ser humano parece animado de uma coragem nova: a coragem da
verdade. Talvez por isso, nunca como hoje, o Homem é um problema para Si
Mesmo. Hoje, para além dos círculos filosóficos, também os biólogos, assim como
os médicos, os psicólogos e os sociólogos se esforçam e empenham na constituição
de uma nova representação da estrutura essencial do ser humano.

Texto 2 – Nessa procura pela verdade, a consciência é trazida à relação com “algo”
que é diferente dela-mesma. A dúvida/pergunta emerge, portanto, na consciência
cuja natureza é a afirmação de um contrário e é produzida pela tríade que a torna
possível.

A realidade é imediação – a ideia é mediação – a consciência é relação

Texto 3 – Cada situação com que nos deparamos no dia-a-dia constitui uma
exigência em relação a nós-mesmos e confronta-nos com uma pergunta a que
damos resposta através do modo como agimos nessa mesma situação concreta.
Uma exigência de significado e sentido último. Nenhum outro animal, ou seja,
somente o ser humano tem o dom dessa pergunta. Há 3 caminhos que nos
permitem construir significado e dar sentido à vida: o afecto, o trabalho e a
transformação/superação de nós-mesmos (dar o melhor de nós).

Aula 8 (13-11-2014):
Cérebro, Mente e Consciência

Despertar:
 “De que é feita a consciência?
 Parece-me que terá de ser a mente com algumas peculiaridades, visto que
não podemos estar conscientes sem uma mente da qual podemos estar
cons-cientes.
 Mas de que é feita a mente?
 Virá do ar ou do corpo?
 As pessoas inteligentes dizem que vem do cérebro, que se encontra no
cérebro, mas a resposta não é satisfatória.
 Como é que o cérebro faz a mente?”
(Damásio, 2010: 21)

“É verdade que a simples presença de imagens organizadas que se


encadeiam numa corrente produz uma mente, mas a menos que se lhe acrescente
um novo processo, a mente permanece inconsciente. A essa mente inconsciente
falta um eu. (…) Para que o cérebro se torne consciente, precisa de adquirir uma
nova propriedade: a subjectividade – e um traço de subjectividade que a define é o
sentimento que percorre as imagens que experienciamos de forma subjectiva.”

(Damásio, 2010: 27-8)

Concluindo, não se trata de uma coisa ou da outra, o equilíbrio, a


funcionalidade e a saúde mental assentam na coerência entre estes dois processos
(coerência cerebral). A consciência é, portanto, o produto de uma infinidade de
conexões e combinações das experiências de vida que são experiências
únicas/sentidas no singular: fisiologia + fenomenologia.

A mudança de paradigma de António Damásio:

Consciência é a mente com algumas peculiaridades, já que não podemos es-


tar conscientes sem uma mente da qual podemos estar conscientes.

A mente vai para além do cérebro, já que, sem um "eu", a mente permanece
inconsciente. Precisa de adquirir a subjetividade, e um traço que a define é o
sentimento que percorre as imagens que experimentamos de forma subjetiva.

António Damásio vem tematizar que as respostas mais concretas e mais se-
guras para tomar decisões têm uma base emocional muito forte. A aprendizagem
emocional faz parte do dia-a-dia, é um conhecimento que não se encontra nos li-
vros, está dentro de nós e pode chegar a ser confundido com conhecimentos inatos.
Ocorre, assim, uma mudança de paradigma – deixámos de nos reger pelo dualismo
cartesiano, que separava o corpo da alma.
Possuímos marcadores somáticos, que não são mais do que marcas que fi-
cam através da nossa experiência. São sentimentos (experiência) de conhecimento,
o conhecimento pressupõe os sentimentos. Ao sentirmos o que sentimos,
aprendemos, pensamos; os sentimentos são fruto da nossa experiência, e o sentir
ajuda a pensar. As nossas experiências são como marcadores de um livro, marcam
os momentos mais importantes; são bases evidentes e seguras para tomar decisões.
Isto representam a ultrapassagem definitiva do dualismo cartesiano. Não
pensamos se não sentirmos. Mais ainda, pensamos e intelectualizamos melhor em
função do que sentimos e como sentimos.

Passamos então a distinguir duas fases do desenvolvimento evolutivo da i-


dentidade: a substituição de um Eu-Objecto por um Eu-Conhecedor/Consciente
(com profundidade e subjectividade).

As bases do eu:

Proto-eu – o corpo é o alicerce da mente consciente (união básica fundamental)

Sem a dimensão biológica, não chegamos a lado nenhum. Mas, ao mesmo


tempo, esta dimensão sem a componente subjectiva, também não somos nada.

Eu-nuclear – a acção (sequência de imagens que descrevem a interacção com e a


modificação do proto-eu)

Felizmente, a dimensão biológica possui um conjunto dinâmico de inter-


-acções/acções – uma dimensão intersubjectiva que comunica e transforma com a
dimensão biológica.

Eu-biográfico – o Eu “social” e/ou “espiritual” (conhecimento biográfico ligado ao


passado e ao futuro antecipado)

O lado mais interior (espiritual) e o mais exterior (social) da dimensão


intersubjectiva, tudo articulado no Eu, que se caracteriza pela consciência-de-si, que
se articula como ser que existe, que se reconhece como tal.

A subjectividade:

“A subjectividade não é essencial para a existência de estados mentais, é a-


penas essencial para que venham a ser conhecidas [a nível privado].”

(Damásio, 2010: 34)


A consciência:

“O derradeiro produto da consciência ocorre a partir desses inúmeros locais


cerebrais funcionando ao mesmo tempo. Não ocorre num local único, e assim se
assemelha à execução de uma peça sinfónica, que não resulta do trabalho de um
único músico, nem de uma só secção de uma orquestra.”
(Damásio, 2010: 42-3)

Aspectos nucleares:
Do ponto de vista formal, a consciência não pode ser definida. Surge então
uma questão/aspecto central que a consciência levanta: qual a diferença entre
consciente e inconsciente (o que acontece no cérebro como diferenciador entre
consciente e inconsciente?). Qualquer explicação científica deve reconhecer e
integrar o pressuposto de que a característica quintessencial (característica mais
preciosa) da consciência é a subjectividade (de natureza qualitativa). Apesar de a
imagiologia nos permitir identificar o local do cérebro onde se manifestam os
estímulos e quan-tificar a intensidade com que ocorrem, o que despoleta a
consciência é qualitativo e subjectivo.

Não existe um “centro da consciência”: não há uma área cerebral específica


onde se localize a consciência, é o conjunto de todas as partes a funcionar que ope-
ram a consciência. A imagiologia mostra uma multiplicidade de áreas/zonas
cerebrais a operar em simultâneo. Os estímulos sensoriais e os estímulos cognitivos
despertam estados distintos de consciência: infância (conectividade modesta),
sonho (estímulos sensoriais menos intensos), esquizofrenia (modulação anormal).

Actividade da zona pré-frontal do cérebro:


 Activação fraca/reduzida:
o (Mais) sensorial
o Sentimentos fortes
o Aqui e agora
o Força do ambiente externo prevalece
o Pouca significação
o Fraco sentido do Self
o Bebés e crianças
 Activação forte:
o (Mais) cognitivo
o Pensamentos fortes
o Passado/presente/fantasia
o Força das percepções internas prevalece
o Significação reduzida
o Forte sentido do Self
o Jovens e adultos

Assumpções finais:

 Coerência cerebral
 Consciência = produto de uma infinidade de conexões e combinações das
experiências de vida, que são experiências únicas/sentidas no singular
 Fisiologia (ser vivo/corpo) + Imagiologia (ser Humano/Eu/experiência de Si)

Aula 9 (20-11-2014):
Ideias fundamentais dos textos:

Texto 7 – Representa a mudança de paradigma. Passa-se de uma realidade fechada


(Eu) para uma identidade reflexiva e dinâmica (de inter-relação entre o Eu e o Si)

A identidade de uma pessoa pressupõe o seguinte: permanência no tempo e,


ao mesmo tempo, mudança/transformação. Somos todos influenciados pelos outros
e influências para os outros, o que se reflecte na nossa identidade (as marcas que os
outros deixam em nós e as marcas que deixamos nos outros). A nossa trans-
formação ao longo do tempo não hipoteca a nossa maneira de ser.

Todos nós levamos um estilo de vida agarrado ao passado ou projectado no


futuro, não vivemos o presente. A nossa saúde passa por um equilíbrio entre estes
três momentos: viver o presente, recordar o passado e pensar sobre o futuro.

Identidade Reflexiva

Hermenêutica do Si:

3 Intenções:
 Primado da mediação reflexiva – Eu vs. Si
 Dialética do Si – mesmidade (Eu, base biológica e material da pessoa, a di-
mensão da permanência no tempo, que me assegura a continuidade neste
tempo, dimensão corpórea, enquanto corpo vivido) / ipseidade (Si, eu
transformo-me sem deixar de ser quem sou, há um outro de mim mesmo
que se pressupõe neste amadurecimento, dimensão da transformação)
 Dialética do Si e do diverso de Si – ipseidade / alteridade (o Outro/Alter E-
go, fora de nós, o que está para além de nós mas que nos influencia, inclu-
indo quem eu era anteriormente)

Enquanto antigamente só tínhamos o Eu e o Outro, hoje em dia temos o Si


como um terceiro elemento que estabelece a ligação entre os dois primeiros. Resu-
mindo, há três dimensões: a mesmidade, a ipseidade e a alteridade.

Primado da mediação reflexiva – Eu vs. Si:


 “Eu penso” – “Eu sou”
 “Eu sou” (designar-se, nomear-se, sentir-se) – Si
 Si – “Eu”, “Tu”, “Ele/a”, “Nós”

Dialética do Si:

Identidade = mesmidade (permanência no tempo) – ipseidade (transformação do


mesmo)
A alteridade é constitutiva da ipseidade = ipseidade (Si) – alteridade (Outro: Alter
Ego)

Aula 10 (27-11-2014):
Dimensão narrativa da identidade:

Atestação:
 Acção
 Testemunho
 Reconhecimento

Ao agir, dizemos e mostramos quem somos, inevitavelmente: o Si revela-se e


materializa-se através da acção. Esta mesma acção dá o testemunho (impressão
digital), ou seja, todos nós deixamos uma marca, o nosso tal testemunho, que per-
manece depois de vivida a nossa vida. Por outras palavras, estamos
permanentemente a escrever a nossa história, e este testemunho informa os outros
de quem fomos e de como fomos. O reconhecimento do outro joga-se ao nível das
relações intersubjectivas: quando sou importante para alguém, e vice-versa, é
notável na nossa maneira de estar e nosso bem-estar. Este permite a realização e a
confirmação da nossa existência, através do outro, é a maneira como Si dá prova de
si.

Aula 11 (04-12-2014):
A identidade é um percurso de construção pessoal: “Ser intencional por ex-
celência, o homem constrói-se – mais do que é construído”, “As relações pessoais
(interpessoais) significativas, ditas «relações de objecto» - na sua essência, relações
intersubjectivas – são a base e o veículo da construção identificativa que nos forma
e, a todo o tempo, transforma.”, “O meio, sobretudo o ambiente afectivo-humano e
sociocultural, modela-nos e, até certo ponto, pode transformar-nos.” A identidade é
“(…) o produto, mais ou menos estável, de uma ou várias operações – as tarefas
indentificatórias”.
(Coimbra de Matos, 2002)

Com isto, Coimbra de Mato tenta dizer que a nossa identidade somos nós
que a construímos, ainda que sejas influenciados e influenciemos os outros.

Identificação-construção de identidade:

Identificação imagóico-imagética – identificação à imagem que o outro me


transmite de mim
Identificação à imagem que o outro nos dá/devolve de nós mesmos. Um e-
xemplo disto são as relações precoces. O olhar que o outros no devolve acerca de
nós próprios é estruturante para a construção da nossa identidade. E tudo isto a-
contece pela via do olhar, sem palavras.

Identificação idiomórfica – identificação à sua própria forma, ao que fazemos de


nós-mesmos a partir da nossa própria experiência individual

Vamo-nos reconhecendo nas nossas acções, o que fazemos, como estamos,


etc., ou seja, reflectimo-nos nas nossas acções, o que nos dá uma imagem de nós
próprios e nos ajuda a modelar-nos.

Identificação alotriomórfica – identificação ao modelo, ao “objecto” eleito, escolhi-


do, admirado

É o plano intersubjectivo, o afecto. Não são as pessoas que estiveram lá des-


de o início, mas são aquelas que elegemos, consciente ou inconscientemente, numa
fase mais tardia. O único obstáculo é o facto de não a conhecermos por completo,
apenas seleccionamos um traço ou uma característica que nos são atraentes.

Intersubjectividade e Empatia

Requisitos:
 Acção (escolha) – Responsabilidade (responder pelo sentido das escolhas)
vs. Culpa (desresponsabilizante)
 (Dar) testemunho (dizer/ensinar/educar/exemplificar através da acção) –
Acção vs. Força (coagir/manipular)
 Reconhecimento (o Tu é um Eu) – Reciprocidade (o Tu emerge do encontro
entre dois Eus)

Inter-relação vs. intersubjectividade:

Rompe-se com o solipsismo e surgem duas dimensões da identidade: inter--


relacional e intersubjectiva.

(1) Inter-relacional – Eu/Objecto (objecto físico-psicológico: motivos, razões,


cognições, etc.)

(2) Inter-relacional – Eu/Mundo (sujeitos que experienciam o Mundo: são uma par-
te do Mundo)

(3) Intersubjectivo – Eu/Tu (o Mundo também é experienciado pelo Outro: partilha


de experiências, significados, etc.)

O que está implicado no Tu é a questão do reconhecimento. Quando


olhamos para o ser humano apenas como corpo, apenas na sua dimensão material,
o-lhamos para ele como se fosse um Objecto – isto é uma visão redutora. No
entanto, olhamos também para os sujeitos de forma mais rica, mais subjectiva. Só
ao nível das relações intersubjectivas é que podemos falar de ética e empatia.
As pessoas que nos influenciaram e tiveram impacto na nossa vida – de cer-
to forma, que estão dentro de nós – não são objectos, mas sim incorporações signi-
ficativas (significativo = afectivo = intersubjectivo). A intersubjectividade é relação
humana mais dinâmica numa inter-relação, ou seja, entre dois sujeitos que se ligam
através do afecto.

A “humanidade” do Homem: “O sentido da partilha de valores é um aspecto


muito específico da socialidade humana”.

(Rochat, Passos-Ferreira & Salem, 2009)


Intersubjectividade:

“A intersubjectividade apreende-se/refere-se à maneira como as pessoas se


compreendem e se relacionam umas com as outras”, “É o fenómeno pelo qual par-
tilhamos experiências uns com os outros”, “A percepção da partilha de experiências
e valores desenvolve-se através de um processo de reciprocidade que está para a-
lém da mera imitação e/ou reflexo mimético” e “Implica/requer, portanto, a
existência de uma ponte entre o meu auto-(re)conhecimento e o meu
(re)conhecimento dos outros”.
(Rochat, Passos-Ferreira & Salem, 2009)

Níveis de intersubjectividade:
 Espelhamento – envolvimento/compromisso cara-a-cara, imitação automáti-
ca
 Intersubjectividade primária – trocas diádicas recíprocas, co-regulação
emocional
 Intersubjectividade secundária – trocas triádicas acerca das coisas,
comunicação e experiência intencionais
 Intersubjectividade terciária – trocas triádicas acerca do valor das coisas,
projecção e identificação do Self para os outros
 Nível ético – decisão acerca do valor das coisas, “negociação” do valor das
coisas com os outros, narrativa

Empatia:

A empatia pressupõe a combinação entre correspondência afectiva,


orientação para o outro e diferenciação Eu-Outro. O ponto-chave da empatia é a
distinção entre esta e compreensão empática.

Quando se fala de empatia, quer dizer que possuímos uma base empática
que nos permite jogar com isso, ou seja, compreendemo-nos a partir do
testemunho dos outros e da identificação com as situações dos outros. Por outras
palavras, pomo-nos no lugar do outro.
A compreensão empática, por outro lado, é o olhar do outro sobre nós, ou
nós a olhar para o outro, no seu sofrimento, na sua experiência, em que
conseguimos acompanhar o outro sem sair da sua experiência, mas sem deixar de
sermos nós próprios (não nos colocamos literalmente no lugar do outro). Vamos
amadurecendo e apercebendo-nos melhor acerca de nós próprios e do outro. Não
nos descentramos do foco, mesmo que partilhemos a nossa própria experiência e
por muito semelhantes que ambas sejam. Esta questão pressupõe um olhar
diferente e consiste em saber preservá-lo em situações/experiências semelhantes, ou
seja, não desviamos o foco do outro para nós.

Aula 12 (11-12-2014):
A empatia envolve simultaneamente um processo cognitivo (abertura e
compreensão que se pressupõe que tenhamos à experiência do outro) e um
processo afectivo. Envolve a representação dos estados de espírito de outra pessoa
– esses estados de espírito são activados, mas não directamente acessíveis, através
da percepção do “observador”. Mantendo um sentido claro da diferenciação Eu-
Outro, o “observador” reconstrói/ajuda a reconstruir as experiências de outra
pessoa.

Pressupostos:
 Mediação reflexiva, ou seja, o processo que permite reconstruir a experiência
subjectiva do outro
 Similaridade e diferenciação
 Compromisso intersubjectivo

A correspondência afectiva ocorre quando o estado de espírito do


“observador” e da outra pessoa são qualitativamente idênticos (podem variar em
grau, mas não em qualidade), e ocorre também quando o “observador” experiencia
o mesmo tipo de emoção ou afecto que a outra pessoa.

Diferentes orientações:

Auto-orientação para o Outro – construir como é, para mim, estar na tua situação
(a pessoa representa-se a si mesma na situação do outro)

Esta orientação, apesar de ser a mais comum, não é a correcta.

Orientação para o Outro – a pessoa representa a situação do outro a partir do


ponto de vista do outro, o que é diferente do que sendo ela-mesma

Compreender – a experiência do outro

É importante sentir-se apoiado sem ser invadido.

Diferenciação Eu-Outro:
A pessoa mantém uma consciência clara de si-mesma e da sua própria
experiência da sua representação do Outro e das experiências do Outro – bi-
direccional. Também mantêm uma consciência clara de que o Outro é uma pessoa
distinta, ou seja, tem os seus próprios pensamentos, experiências e características –
únicos.

A Ética e o Cuidado de Si

O Self é Eu que se vive de forma consciente, a maneira como estamos no


mundo externo. O Ego representa a consciência de Si, o que gosto, o que quero, o
que desejo, a necessidade emocional, o todo, a densidade do presente (Eu – Eu). A
grande diferença entre este e o Self é muito difícil de encontrar, porque a realidade
em si é a mesma, o ângulo em que é olhada é que varia.

A ipseidade não existe sem o alter-ego, o que está tudo ligado mas que re-
mete para a tomada de consciência. Já implica, nesta vivência, os outros e a minha
transformação (a outra de mim mesma).

O mundo interno e o mundo externo reflectem-se um no outro. O Cosmos


tem valor para nós, mas não para ele próprio, o que faz com que não tenha capaci-
dade para se compreender.

Eu – Ego – Self:

“Qual é a relação entre o mundo interno (de significado privado) e o mundo


externo (de interacção)?”. Em termos epistemológicos, o Eu é fundamentalmente
paradoxal porque é, em termos subjectivos e ao mesmo tempo, privado e social. O
Eu privado e o Eu social operam, em simultâneo, como 2 focos organizadores sepa-
rados (que se desenvolvem um ao outro).

Eu privado:
 Auto-regulação autónoma (obtém de dentro o seu sentido de coerência e
continuidade do Eu)
 Sistema selectivo homeostático que mantém a sua continuidade
 Consciência de si-mesmo
 Foco privado – autónomo

Eu social:
 Intersubjectividade dependente (vulnerável na sua dependência da
apreciação dos outros, que tanto podem apoiar como romper o sentido de
coerência e continuidade do Eu)
 Sistema intersubjectivo
 Consciência do Outro
 Foco social ou intersubjectivo – dependente (da completude do Eu no
Outro)
“Fechando-se a si mesma aos outros, uma pessoa fecha-se, inadvertidamente,
a si mesma de si mesma”.

Ética – a “humanidade do Homem humano”:

A questão da ética é uma questão de liberdade de escolha, que em si é abs-


tracta, e a única coisa que a torna concreta é a responsabilização pelas nossas ac-
ções. Cada caminho só é bom ou mau de acordo com as escolhas que fazemos, com
o sentido que faz para nós naquele momento, naquele contexto.

(1) Liberdade – Responsabilidade:


 “Eu” = o agente das suas escolhas e o autor das suas acções
 Acção (tipo de acção) – mostra o carácter do “Eu”, diz quem se é
 Responsabilidade = capacidade de se auto-designar como autor das suas ac-
ções, como protagonista da sua vida

Designar ≠ designar-se (toda a escolha e toda a acção têm consequências; enquanto


Ser-em-situação, o “Eu” é igualmente o seu agente e o seu autor)

(2) Respeito – Dignidade/Cuidado:


 Respeito de Si (a estimar-se no contexto das normas e do conflito dos
deveres) – Estima de Si (estimar-se como autor das suas acções)

Sabedoria práxica

Em termos profissionais ou deontológicos:


 A ética e o cuidado de Si na base da prática profissional, e não a prática
profissional na base da ética e do cuidado de Si
 Perfilar a prática/desempenho profissional tendo por referência o respeito
pela natureza humana ao invés de uma ética e um cuidado de Si perfilados
em função dos contextos e das suas funcionalidades e interesses particulares

(3) Similitude – Diferença:


 Todo o ser humano, independentemente das suas diferenças e da sua singu-
laridade própria, é um ser ético
 Semelhante na alteridade, Outro na similitude
 É pela forma como cada Ser-em-situação faz acontecer essa “condição
humana” comum a todos que os seres humanos se identificam e diferenciam
entre si

A Comunicação

Palavra/discurso/comunicação:
A palavra humana é sempre acção. Por isso, o discurso é atestação de Si, a
sua autenticidade é uma responsabilidade individual.

O Si (Ser-em-situação) diz o mundo, mas não fala/dialoga com ele:


fala/dialoga com o Outro (alter ego – alteridade), para ir ao encontro deste. A
linguagem é, portanto, um entre: é um meio de ligação e partilha, de reciprocidade.

Ou seja, esse entre requer 2 intenção complementares:


 Expressar (dizer-se a Si-mesmo = dizer o Eu)
 Comunicar (pôr em comum = participar no social = ouvir dizer-se do Outro/
ouvir e ser ouvido)

A natureza da nossa sociedade passou a ser comunicativa, temos algo em


comum para partilhar.

A comunicação como problema:

“Sem a comunicação não existem relações humanas nem vida humana


propriamente dita”, “A comunicação é improvável. É-o apesar de diariamente a
experimentarmos e praticarmos e de não podermos viver sem ela”. Esta
improbabilidade tornou-se imperceptível.
(Niklas Luhmann, 1999)

A improbabilidade da comunicação:

(1) “É improvável que alguém compreenda o que o outro quer dizer tendo em con-
ta o isolamento e a individualização da sua consciência. O sentido só se pode enten-
der em função do contexto, e para cada um o contexto é, basicamente, o que a sua
memória lhe faculta”.

(2) A 2ª improbabilidade assenta na extensão espacial e temporal. É improvável a-


ceder aos receptores porque “é improvável que uma comunicação chegue a mais
pessoas do que as que se encontram presentes numa situação dada”. Os indivíduos
têm diferentes interesses em situações distintas.

(3) É improvável obter o resultado desejado, ou seja, que o receptor adopte a infor-
mação como premissa do seu próprio comportamento. “Nem sequer o facto de que
uma comunicação tenha sido entendida garante que tenha sido também aceite”.

(Niklas Luhmann, 1999)

“Sem a comunicação não podem formar-se sistemas sociais. Por conseguinte,


as improbabilidades do processo de comunicação e a forma em que as mesmas se
superam e de transformam em probabilidade regulam a formação dos sistemas so-
ciais. (…) Assim, deve entender-se o processo de evolução sociocultural como a
transformação e ampliação das possibilidades de estabelecer uma comunicação com
probabilidades de êxito, graças à qual a sociedade cria as suas estruturas sociais”.

“A ordem surge porque, apesar de tudo, a comunicação improvável torna-


-se possível e normaliza-se nos sistemas sociais. (…) Haveria que perguntar-se se as
estruturas da sociedade moderna não serão constituídas de tal forma que em si
mesmas dificultem reciprocamente as soluções dos problemas e originem
constantemente novos problemas”.
(Niklas Luhmann, 1999)

A sociedade em rede – a rede e o Self:

Tese central – génese de um novo mundo:


 “Uma revolução tecnológica, centrada nas tecnologias de informação,
começou a remodelar, de forma acelerada, a base material da sociedade”
 Entre o final da década de 60 e meados da década de 70 do séc. XX, teve o-
rigem um novo mundo – a Sociedade em Rede
 Resultou de uma convergência histórica de 3 processos independentes:
o A revolução da tecnologia da informação
o A crise económica tanto do capitalismo como do estatismo, e
respectiva reestruturação
o O apogeu dos movimentos socioculturais
 A interacção entre estes processos, aliada às reacções que desencadearam,
fez surgir:
o Uma nova estrutura social dominante – Sociedade em Rede
o Uma nova economia – a economia informacional/global
o Uma nova cultura – a virtualidade real

A nova estrutura social que emerge da Era da informação é designada por


Manuel Castells como Sociedade em Rede por ser constituída por redes de
produção, poder e experiência que constroem a cultura do virtual nos fluxos
globais, que transcendem o tempo e o espaço.

A virtualidade real designa um sistema em que a realidade em si (ou seja, a


existência material/simbólica das pessoas) está completamente imersa num
ambiente de imagens virtuais, no mundo do faz-de-conta. Neste mundo do faz-de-
conta, os símbolos não são apenas metáforas, eles abarcam a própria experiência
real.

Pelo seu modo de vida no espaço de fluxos e no tempo intemporal, a


realidade virtual é capaz de dominar a imaginação e os sistemas de representação
das pessoas.

Espaço de fluxos – as funções e os valores dominantes da sociedade são organizados


em simultâneo e sem continuidade, em fluxos de informação que se libertam em
qualquer lugar
Tempo intemporal – os valores e interesses dominantes da sociedade são
construídos sem referência ao passado ou ao futuro, no panorama atemporal das
redes de computadores e dos media electrónicos em que todas as expressões ou são
instantâneas ou não apresentam uma sequência previsível

Alguns dos principais desafios desencadeados pelo informalismo ao nível das


dinâmicas inter-pessoais:
 Há um enorme desajuste entre o sobre-desenvolvimento tecnológico e o
sub-desenvolvimento social
 A fronteira entre a exclusão social e a sobrevivência diária está cada vez mais
indistinta para um grande número de pessoas em todas as sociedades
 As novas tecnologias de informação estão a integrar o mundo em redes glo-
bais de instrumentalidade que veio impulsionar a construção da acção social
e política em torno de identidades primárias numa busca ansiosa por signifi-
cado e espiritualidade
 As nossas sociedades estruturam-se, cada vez mais, em torno de uma
oposição bipolar entre a Rede e o Self:
o Nesta condição de esquizofrenia estrutural entre função e significado,
os padrões de comunicação estão sob tensão crescente
o As identidades tornam-se mais específicas e gradualmente mais
difíceis de partilhar

O(s) Afecto(s)

O afecto molda-nos: “O meio, sobretudo o ambiente afectivo-humano e


sociocultural, modela-nos e, até certo ponto, pode transformar-nos”.

(Coimbra de Matos, 2002)

Razões por que o afecto é tão importante:

“A prova da realidade vivida diz-me que penso porque existo e existo porque
fui amado; sem isso, não seria reconhecido”.
(Coimbra de Matos, 2002)

A qualidade da relação parental influencia tanto a bioquímica como a


estrutura do cérebro. Os comportamentos mais frequentes das figuras parentais
ficam “ancorados” nas “auto-estradas” neutrais do bebé, funcionando como guias
que, mais tarde, se transformam em aprendizagens emocionais. Isto equivale a uma
im-portante aprendizagem na regulação intersubjectiva.

Esta aprendizagem social é tão crucial que fornece os meios para:


 Gerir situações de mal-estar
 Ultrapassar situações difíceis e desencadeadoras de stress
 Nos tornarmos auto-suficientes na regulação das emoções

“Estas competências regulatórias constituem-se como fundações do nosso


bem-estar emocional. Quando falham, a psicopatologia surge.”.

É esta aprendizagem social que nos confere competências empáticas:


 Capacidade para escutar e ouvir
 Dar significação
 Responder de modo “ajustado” às emoções dos outros

Requer um tipo de espaço mental alocado aos sentimentos e uma grande


disponibilidade interior para dar prioridade às relações intersubjectivas.

“Os bebés de hoje e dos próximos anos serão os mais adultos que irão cuidar
de nós quando formos mais velhos” e “O tipo de adultos que eles serão reflectirá
seguramente o modo como foram amados e valorizados”.

(Susan Gerhardt, 2004)

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