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Resenha

COMO MANIPULAR PESSOAS: para uso exclusivo de pessoas de bem.


Jean-Léon Beauvois e Robert-Vincent Joule. Trad. Marly Peres. São Paulo:
Ed. Novo Conceito, 2010. 341p. ISBN 9788563219084.

Dêner Lima Fernandes Martins *

E sse livro trata da utilização de mani-


pulação para alcançar objetivos pes-
soais ou profissionais por pessoas que
cionando, assim, seu comportamento
futuro, mesmo não sendo essa a decisão
mais racional. Essa técnica é utilizada
não dispõem de meios de coerção como também para trabalhos em grupo, pois
poder ou dinheiro. O livro visa a três pú- as pessoas são levadas a pensar e a agir
blicos alvos: pessoas indiferentes às téc- conforme a decisão que o grupo toma.
nicas de manipulação, mas que podem
se beneficiar com elas; pessoas receosas,
que gostariam de saber como se defen-
der em situações complicadas; e pessoas
interessadas, que procuram se beneficiar
de técnicas de manipulação. Repleto de
comentários jocosos, o livro é uma ótima
leitura para leigos e profissionais que uti-
lizam técnicas de manipulação em suas
atividades cotidianas.

Capítulo I – Armadilhas da decisão - in-


troduz o conceito de submissão livre-
mente consentida, que ocorre quando
se torna difícil para uma pessoa recusar
um pedido em uma situação social for-
mal. Nesses casos, há a tendência de se Quando o indivíduo opta por manter a
tomar a iniciativa de executar uma ação linha de ação na qual já havia investido
não desejada simplesmente por se ter as- anteriormente e não por adotar a mais
sumido um compromisso anterior. Esse vantajosa ou promissora que se apresen-
comportamento é chamado de efeito de ta no momento, ocorre o que é deno-
congelamento: uma pessoa adere a uma minado de “a despesa irreversível” ou
decisão tomada anteriormente, condi- “a armadilha da decisão não racional”.

* Oficial de Inteligência, professor da Escola de Inteligência/ABIN.

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Dener Lima Fernandes Martins

É com esse tipo de armadilha, que im- maior a pressão sobre o indivíduo e me-
plica a escalada do comprometimento, nor o seu comprometimento com a deci-
que as casas de jogos conseguem extrair são tomada, já que ele havia sido forçado
todo o dinheiro do jogador compulsivo; a tomá-la.
afinal de contas ele está “quase” ganhan-
do o jogo, então, por que pararia? Os Os autores desenvolvem ainda o concei-
autores mostram que, antes de cair na to de submissão livremente consentida
armadilha, o indivíduo deve estabelecer para designar situações em que o indi-
limites a não ultrapassar para interrom- víduo executa ações de acordo com suas
per o ciclo vicioso. convicções ou mesmo contrariamente a
elas apenas por estar sob pressão explíci-
Capítulo II – O chamariz – explica a téc- ta. Nesses casos, o comprometimento do
nica de manipulação denominada cha- indivíduo está associado ao aspecto pú-
mariz baseia-se na persistência do pro- blico do ato, ao seu caráter irrevogável,
cesso decisório. Uma isca usada como à sua repetição, ao seu custo e à sensa-
vantagem inicial deixa de existir no final ção de liberdade experimentada. Para os
da negociação; não obstante, o indivíduo autores, o grau de comprometimento de
sente-se sem a opção de recuar e fica um indivíduo ao ato por ele praticado é
constrangido a não desistir do negócio. medido por sua fusão ao ato e, por isso,
a avaliação formal mais comum de uma
Nem sempre o aplicador da técnica tem pessoa na sociedade humana é baseada
consciência da manipulação. Muitas ve- em seus atos.
zes, isso não passa de uma simples téc-
nica de venda para fazer o freguês entrar Os autores apresentam também estudos
na loja. O objetivo é enfatizar ao cliente que mostram que, quanto maior o com-
a “liberdade de escolha” para que ele se prometimento de um indivíduo por uma
sinta mais confortável, mas sem perder o decisão, maior será sua resistência em
vínculo com a primeira decisão (comprar alterar sua posição e vice-versa, o que
a “oferta” da vitrine). abre caminho para mecanismos de ma-
nipulação via incentivos do tipo financei-
Capítulo III – Um pouco de teoria - os ros, por exemplo.
autores mostram que a liberdade de es-
colha influi no efeito da perseverança de Capítulo IV – O pé calçando a porta - é
uma decisão, por meio de inúmeros ex- descrita uma técnica bastante utilizada
perimentos. Quando havia liberdade de por comerciantes, conhecida como “O pé
escolha, verificava-se o efeito da perse- calçando a porta”. Essa técnica consiste
verança. Quando ocorria uma decisão em preparar o alvo da ação por meio de
forçada por pressão do experimentador, outras ações aparentemente inofensivas e
não se verificavam os efeitos da perseve- desconexas e que exigem dele respostas
rança. O fenômeno é devido ao que os voluntárias não comprometedoras. As-
autores denominaram de “sentimento de sim que o alvo for “preparado”, aconte-
liberdade”: quanto maior a recompensa, ce a solicitação real e comprometedora,

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à qual o indivíduo não teria acedido tão Capítulo VI – Da gafe à hipocrisia: ou-
facilmente caso não houvesse ocorrido o tras técnicas de manipulação - os autores
esquema de manipulação preparado an- descrevem diversas técnicas que podem
teriormente. O efeito de “pé calçando a ser utilizadas de forma conjunta para se
porta” é mais uma prova cabal do efeito construir um contexto psicológico mais
da perseverança sobre uma decisão ante- favorável antes do pedido ser formulado
rior feita livremente. Muitas campanhas ao indivíduo.
públicas começam com uma decisão li-
A técnica do toque é muito utilizada por
vre e espontânea, como o ato simples de
vendedores que “capturam” a vítima se-
usar um adesivo no carro ou na roupa,
gurando seu braço, liberando-a logo
passando logo em seguida para a militân-
depois que ela exibe o comportamento
cia no bairro visando a arrecadar fundos
esperado. Essa técnica é conhecida por
para uma causa nobre.
predispor o cliente mais favoravelmente
Esse tipo de procedimento preparatório às ações que acontecem a seguir. O toque
deixa de ser eficaz após um período de pode também sofrer variações de acordo
sete a dez dias. É importante ressaltar com a cultura do povo estudado. No Bra-
que essa preparação deve ser da mesma sil, a técnica tem mais chances de dar cer-
natureza que o comportamento espera- to do que na Inglaterra, onde o contato
do, para predispor o alvo mais favoravel- físico entre as pessoas é mais formal.
mente aos objetivos desejados. A técnica da gafe começa com uma per-
Capítulo V – A porta no nariz – os auto- gunta sobre como a pessoa está, à qual,
por motivos de convenção social, ela
res explicam a técnica “porta no nariz”,
usualmente responde “tudo bem”. Com
que utiliza uma recusa a uma solicitação
isso, o percentual de aceitação aumenta
desmedida para se obter o comporta-
sensivelmente para as ações subsequen-
mento esperado. A preparação pode ser
tes. A técnica diminui o percentual de
um pedido feito ao indivíduo para doar
recusa por parte do público alvo, estabe-
uma grande quantia de dinheiro, o que
lecendo um diálogo inicial positivo.
seria prontamente recusado, para logo
então conseguir o seu consentimento, A situação de medo e alívio, por exem-
por exemplo, para a participação volun- plo, já foi muito utilizada por interroga-
tária em um evento beneficente qualquer. dores experientes em regimes políticos
Os especialistas alegam que as duas soli- autoritários ou em situações controla-
citações devem ter naturezas semelhan- das em delegacias de polícia. A pessoa
tes e custos diferenciados de venda. é submetida a uma situação de estresse
para logo em seguida passar para outra
Essa técnica, embora de conhecimento de alívio. Isso faz com que haja um rela-
de vendedores, ainda não foi suficiente- xamento por parte da pessoa e a predis-
mente explicada por modelos teóricos de põe a colaborar com o experimentador
comportamento da psicologia moderna. ou interrogador. Essa técnica pode ser
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utilizada também para se conseguir doa- mento por parte do indivíduo. Essa técni-
ções por parte do público alvo. ca consiste em fazer o indivíduo participar
de uma ação voluntária aparentemente
Quando o experimentador qualifica uma inofensiva, que, depois de ter sido inte-
pessoa positivamente por suas qualidades riorizada, começa a modificar as atitudes
pessoais (asseio, organização etc.), está dele em relação ao assunto abordado. A
utilizando a técnica da rotulagem, muito técnica da hipocrisia pode ser vista como
empregada na educação de crianças. um “pé calçando a porta” mais sofistica-
da, com a diferença de que, após o ato
Outra forma de conseguir uma resposta
comprometedor realizado em total liber-
mais positiva do interlocutor é apertar
dade, o aplicador da técnica começa com
sua mão com firmeza, mas sem exage-
um discurso aparentemente inofensivo
ro, olhando-o diretamente nos olhos e
lembrando ao ouvinte de como o mundo
falando com voz tranquilizadora. Essa
seria melhor se determinadas situações
técnica é conhecida por quebrar o gelo
não acontecessem ou se nós fizéssemos a
no contato inicial.
nossa parte. Com essa finalização, o apli-
Quando se trata de conseguir dinheiro na cador da técnica consegue fazer o ouvin-
rua, a técnica de “um pouco é melhor do te pensar sobre as próprias atitudes com
que nada” é muito eficaz. O pedinte pede certo sentimento de culpa, cristalizando
uma quantia relativamente grande para a ainda mais em sua psique as mudanças de
situação exposta, mas logo em seguida hábito pretendidas.
abaixa sua expectativa de recompensa e,
Capítulo VII – Rumo a manipulações
assim, consegue um favor menor.
cada vez mais complexas – é mostrado o
Outra técnica envolve dobrar ou aumen- uso combinado de técnicas de manipula-
tar instantaneamente a oferta e assim ção, para se ganhar mais eficácia.
convencer alguém a comprar algo. Pri-
A rotulagem interna como fase prepara-
meiramente, o experimentador ou ven-
tória para a técnica do “pé calçando a
dedor oferece um bem por um valor X.
Imediatamente a seguir, após o indivíduo porta” é muito utilizada por pesquisa-
mostrar desinteresse pelo negócio, o dores. Antes de solicitar ao alvo o com-
vendedor oportunamente se lembra de portamento desejado, os experimenta-
que na verdade são dois bens pelo va- dores pedem a ele, ainda que de forma
lor X, quebrando assim a resistência do simulada, não real, que participe em um
cliente. Essa técnica é conhecida como experimento ou situação na qual alguma
“tudo ou nada”. qualidade interna dele é exaltada. Logo
a seguir, vem outro pedido envolvendo
Entrando no campo da psicologia social, comprometimento e evocando o mesmo
os autores abordam ainda a técnica da tipo de atitude ou opinião do indivíduo,
hipocrisia, que também sugere uma ação lembrando sempre a ele que há liberdade
preparatória envolvendo um comprometi- de escolha.

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O encadeamento de diversas técnicas que, nas relações sociais, existem casos


é enfatizado pelos autores como forma em que as normas vigentes colocam os
de potencializar as chances de sucesso indivíduos em situações assimétricas de
nos experimentos de manipulação. Essa poder, como chefe e subordinado, por
perspectiva, alicerçada na psicologia do exemplo. Assim, não haveria necessida-
comprometimento, possibilitou inúme- de de um chefe lançar mão de técnicas
ros tipos de intervenção utilizados pelos de manipulação, pois a lei lhe confere o
cientistas do comportamento para de- poder necessário para exigir do subordi-
senvolvimento de práticas terapêuticas nado uma ação ou um comportamento
e mudanças comportamentais de grupos requerido. Entretanto, nem sempre o
sociais inteiros. Essas mudanças compor- princípio da autoridade inconteste é uti-
tamentais podem ter efeitos duradouros lizado, pois acarretaria a criação de um
de vários meses, podendo fazer parte de ambiente sufocante e insuportável para
programas sociais. os subordinados.
Capítulo VIII – A manipulação no dia a Poucas organizações, como as forças
dia – 1. Amigos e negociantes – come- armadas ou a máfia, aceitam o exercício
ça com uma discussão sobre os aspec- do poder como valor supremo e méto-
tos éticos e morais presentes no estudo do natural e inconteste para se conseguir
dessas técnicas de manipulação e em sua uma ação ou uma mudança de compor-
divulgação para o público. Em geral, há tamento de um membro. Com o desen-
uma publicação tardia desses resultados
volvimento econômico e a globalização,
em função da prudência. Os autores res-
a tendência dos métodos de gestão mo-
saltam que, na disputa entre princípios
dernos é enfatizar cada vez mais o sen-
éticos e objetivos reais, como nos ramos
timento de liberdade e responsabilidade
do marketing e da política, os primeiros
de cada indivíduo pelo sucesso da orga-
usualmente perdem para os segundos.
nização no mercado. Deve-se levar em
A manipulação do tipo “porta no nariz” conta que, quanto maior for a liberdade
é pouco utilizada normalmente, talvez de escolha das pessoas no processo de-
por ela não ter muita afinidade com nos- cisório, maior será o seu grau de com-
sas intuições iniciais. A técnica de “cha- prometimento com ele.
mariz”, embora bastante intuitiva, em
Muitas vezes, o pretenso ambiente livre
algumas situações pode ser considerada
ilegal, como, por exemplo, ocorre com existente em uma estrutura organizacio-
a propaganda enganosa. Já a técnica do nal para se tomar uma decisão escon-
“pé calçando a porta” é a mais largamen- de um jogo de manipulação embutido,
te empregada, até mesmo por que não como, por exemplo, nas relações de
há restrições legais quanto ao seu uso. comprometimento de indivíduos com as
decisões de suas equipes. O que acon-
Capítulo IX - A manipulação no dia a tece frequentemente nas organizações e
dia – 2. Chefes e pedagogos – explica nos grupos sociais é a tendência a repro-

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duzir as relações de poder nos diversos ou seja, se ele precisa tomar uma nova
níveis da sociedade: família, empresas e decisão, esqueça o que já decidiu ante-
governo. riormente. O terceiro conselho diz para
o leitor não superestimar a sua liberdade,
Capítulo final – Para concluir – apresenta
dando a ela o devido valor. É justamente
uma bem humorada encenação dos au-
esse “sentimento de liberdade” que nos
tores de uma suposta entrevista à Rádio
torna tão vulneráveis às técnicas de ma-
Nacional da Dolmácia, país fictício cria-
nipulação. Nós devemos sempre levar
do por eles para ilustrar os exemplos das
em consideração os fatores ambientais
diversas técnicas de manipulação apre-
como pressão familiar, necessidades pes-
sentadas no livro. Os autores explicam
soais e outras até chegarmos à situação
nessa entrevista que as técnicas de ma-
nipulação são eficazes somente em uma de “liberdade de escolha”.
sociedade livre onde há liberdade real de
O livro proporciona uma leitura agradá-
escolha, e que esse deve ser o objetivo
vel cativando o leitor até a última página.
de uma verdadeira democracia.
Os autores procuram administrar o con-
Os autores dão aos leitores três conse- teúdo com equilíbrio, evitando explica-
lhos importantes sobre como evitar ser ções demasiado acadêmicas e exemplifi-
manipulado. O primeiro é que o leitor cando situações práticas com profusão.
deve aprender a voltar atrás em uma de- As técnicas aqui explicadas são úteis
cisão. O segundo diz que o leitor deve para lidar tanto com as situações do co-
estar atento para considerar duas deci- tidiano quanto para as enfrentadas pelo
sões sucessivas como independentes, profissional de Inteligência.

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