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É com esse tipo de armadilha, que im- maior a pressão sobre o indivíduo e me-
plica a escalada do comprometimento, nor o seu comprometimento com a deci-
que as casas de jogos conseguem extrair são tomada, já que ele havia sido forçado
todo o dinheiro do jogador compulsivo; a tomá-la.
afinal de contas ele está “quase” ganhan-
do o jogo, então, por que pararia? Os Os autores desenvolvem ainda o concei-
autores mostram que, antes de cair na to de submissão livremente consentida
armadilha, o indivíduo deve estabelecer para designar situações em que o indi-
limites a não ultrapassar para interrom- víduo executa ações de acordo com suas
per o ciclo vicioso. convicções ou mesmo contrariamente a
elas apenas por estar sob pressão explíci-
Capítulo II – O chamariz – explica a téc- ta. Nesses casos, o comprometimento do
nica de manipulação denominada cha- indivíduo está associado ao aspecto pú-
mariz baseia-se na persistência do pro- blico do ato, ao seu caráter irrevogável,
cesso decisório. Uma isca usada como à sua repetição, ao seu custo e à sensa-
vantagem inicial deixa de existir no final ção de liberdade experimentada. Para os
da negociação; não obstante, o indivíduo autores, o grau de comprometimento de
sente-se sem a opção de recuar e fica um indivíduo ao ato por ele praticado é
constrangido a não desistir do negócio. medido por sua fusão ao ato e, por isso,
a avaliação formal mais comum de uma
Nem sempre o aplicador da técnica tem pessoa na sociedade humana é baseada
consciência da manipulação. Muitas ve- em seus atos.
zes, isso não passa de uma simples téc-
nica de venda para fazer o freguês entrar Os autores apresentam também estudos
na loja. O objetivo é enfatizar ao cliente que mostram que, quanto maior o com-
a “liberdade de escolha” para que ele se prometimento de um indivíduo por uma
sinta mais confortável, mas sem perder o decisão, maior será sua resistência em
vínculo com a primeira decisão (comprar alterar sua posição e vice-versa, o que
a “oferta” da vitrine). abre caminho para mecanismos de ma-
nipulação via incentivos do tipo financei-
Capítulo III – Um pouco de teoria - os ros, por exemplo.
autores mostram que a liberdade de es-
colha influi no efeito da perseverança de Capítulo IV – O pé calçando a porta - é
uma decisão, por meio de inúmeros ex- descrita uma técnica bastante utilizada
perimentos. Quando havia liberdade de por comerciantes, conhecida como “O pé
escolha, verificava-se o efeito da perse- calçando a porta”. Essa técnica consiste
verança. Quando ocorria uma decisão em preparar o alvo da ação por meio de
forçada por pressão do experimentador, outras ações aparentemente inofensivas e
não se verificavam os efeitos da perseve- desconexas e que exigem dele respostas
rança. O fenômeno é devido ao que os voluntárias não comprometedoras. As-
autores denominaram de “sentimento de sim que o alvo for “preparado”, aconte-
liberdade”: quanto maior a recompensa, ce a solicitação real e comprometedora,
à qual o indivíduo não teria acedido tão Capítulo VI – Da gafe à hipocrisia: ou-
facilmente caso não houvesse ocorrido o tras técnicas de manipulação - os autores
esquema de manipulação preparado an- descrevem diversas técnicas que podem
teriormente. O efeito de “pé calçando a ser utilizadas de forma conjunta para se
porta” é mais uma prova cabal do efeito construir um contexto psicológico mais
da perseverança sobre uma decisão ante- favorável antes do pedido ser formulado
rior feita livremente. Muitas campanhas ao indivíduo.
públicas começam com uma decisão li-
A técnica do toque é muito utilizada por
vre e espontânea, como o ato simples de
vendedores que “capturam” a vítima se-
usar um adesivo no carro ou na roupa,
gurando seu braço, liberando-a logo
passando logo em seguida para a militân-
depois que ela exibe o comportamento
cia no bairro visando a arrecadar fundos
esperado. Essa técnica é conhecida por
para uma causa nobre.
predispor o cliente mais favoravelmente
Esse tipo de procedimento preparatório às ações que acontecem a seguir. O toque
deixa de ser eficaz após um período de pode também sofrer variações de acordo
sete a dez dias. É importante ressaltar com a cultura do povo estudado. No Bra-
que essa preparação deve ser da mesma sil, a técnica tem mais chances de dar cer-
natureza que o comportamento espera- to do que na Inglaterra, onde o contato
do, para predispor o alvo mais favoravel- físico entre as pessoas é mais formal.
mente aos objetivos desejados. A técnica da gafe começa com uma per-
Capítulo V – A porta no nariz – os auto- gunta sobre como a pessoa está, à qual,
por motivos de convenção social, ela
res explicam a técnica “porta no nariz”,
usualmente responde “tudo bem”. Com
que utiliza uma recusa a uma solicitação
isso, o percentual de aceitação aumenta
desmedida para se obter o comporta-
sensivelmente para as ações subsequen-
mento esperado. A preparação pode ser
tes. A técnica diminui o percentual de
um pedido feito ao indivíduo para doar
recusa por parte do público alvo, estabe-
uma grande quantia de dinheiro, o que
lecendo um diálogo inicial positivo.
seria prontamente recusado, para logo
então conseguir o seu consentimento, A situação de medo e alívio, por exem-
por exemplo, para a participação volun- plo, já foi muito utilizada por interroga-
tária em um evento beneficente qualquer. dores experientes em regimes políticos
Os especialistas alegam que as duas soli- autoritários ou em situações controla-
citações devem ter naturezas semelhan- das em delegacias de polícia. A pessoa
tes e custos diferenciados de venda. é submetida a uma situação de estresse
para logo em seguida passar para outra
Essa técnica, embora de conhecimento de alívio. Isso faz com que haja um rela-
de vendedores, ainda não foi suficiente- xamento por parte da pessoa e a predis-
mente explicada por modelos teóricos de põe a colaborar com o experimentador
comportamento da psicologia moderna. ou interrogador. Essa técnica pode ser
Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, n. 7, jul. 2012 111
Dener Lima Fernandes Martins
utilizada também para se conseguir doa- mento por parte do indivíduo. Essa técni-
ções por parte do público alvo. ca consiste em fazer o indivíduo participar
de uma ação voluntária aparentemente
Quando o experimentador qualifica uma inofensiva, que, depois de ter sido inte-
pessoa positivamente por suas qualidades riorizada, começa a modificar as atitudes
pessoais (asseio, organização etc.), está dele em relação ao assunto abordado. A
utilizando a técnica da rotulagem, muito técnica da hipocrisia pode ser vista como
empregada na educação de crianças. um “pé calçando a porta” mais sofistica-
da, com a diferença de que, após o ato
Outra forma de conseguir uma resposta
comprometedor realizado em total liber-
mais positiva do interlocutor é apertar
dade, o aplicador da técnica começa com
sua mão com firmeza, mas sem exage-
um discurso aparentemente inofensivo
ro, olhando-o diretamente nos olhos e
lembrando ao ouvinte de como o mundo
falando com voz tranquilizadora. Essa
seria melhor se determinadas situações
técnica é conhecida por quebrar o gelo
não acontecessem ou se nós fizéssemos a
no contato inicial.
nossa parte. Com essa finalização, o apli-
Quando se trata de conseguir dinheiro na cador da técnica consegue fazer o ouvin-
rua, a técnica de “um pouco é melhor do te pensar sobre as próprias atitudes com
que nada” é muito eficaz. O pedinte pede certo sentimento de culpa, cristalizando
uma quantia relativamente grande para a ainda mais em sua psique as mudanças de
situação exposta, mas logo em seguida hábito pretendidas.
abaixa sua expectativa de recompensa e,
Capítulo VII – Rumo a manipulações
assim, consegue um favor menor.
cada vez mais complexas – é mostrado o
Outra técnica envolve dobrar ou aumen- uso combinado de técnicas de manipula-
tar instantaneamente a oferta e assim ção, para se ganhar mais eficácia.
convencer alguém a comprar algo. Pri-
A rotulagem interna como fase prepara-
meiramente, o experimentador ou ven-
tória para a técnica do “pé calçando a
dedor oferece um bem por um valor X.
Imediatamente a seguir, após o indivíduo porta” é muito utilizada por pesquisa-
mostrar desinteresse pelo negócio, o dores. Antes de solicitar ao alvo o com-
vendedor oportunamente se lembra de portamento desejado, os experimenta-
que na verdade são dois bens pelo va- dores pedem a ele, ainda que de forma
lor X, quebrando assim a resistência do simulada, não real, que participe em um
cliente. Essa técnica é conhecida como experimento ou situação na qual alguma
“tudo ou nada”. qualidade interna dele é exaltada. Logo
a seguir, vem outro pedido envolvendo
Entrando no campo da psicologia social, comprometimento e evocando o mesmo
os autores abordam ainda a técnica da tipo de atitude ou opinião do indivíduo,
hipocrisia, que também sugere uma ação lembrando sempre a ele que há liberdade
preparatória envolvendo um comprometi- de escolha.
duzir as relações de poder nos diversos ou seja, se ele precisa tomar uma nova
níveis da sociedade: família, empresas e decisão, esqueça o que já decidiu ante-
governo. riormente. O terceiro conselho diz para
o leitor não superestimar a sua liberdade,
Capítulo final – Para concluir – apresenta
dando a ela o devido valor. É justamente
uma bem humorada encenação dos au-
esse “sentimento de liberdade” que nos
tores de uma suposta entrevista à Rádio
torna tão vulneráveis às técnicas de ma-
Nacional da Dolmácia, país fictício cria-
nipulação. Nós devemos sempre levar
do por eles para ilustrar os exemplos das
em consideração os fatores ambientais
diversas técnicas de manipulação apre-
como pressão familiar, necessidades pes-
sentadas no livro. Os autores explicam
soais e outras até chegarmos à situação
nessa entrevista que as técnicas de ma-
nipulação são eficazes somente em uma de “liberdade de escolha”.
sociedade livre onde há liberdade real de
O livro proporciona uma leitura agradá-
escolha, e que esse deve ser o objetivo
vel cativando o leitor até a última página.
de uma verdadeira democracia.
Os autores procuram administrar o con-
Os autores dão aos leitores três conse- teúdo com equilíbrio, evitando explica-
lhos importantes sobre como evitar ser ções demasiado acadêmicas e exemplifi-
manipulado. O primeiro é que o leitor cando situações práticas com profusão.
deve aprender a voltar atrás em uma de- As técnicas aqui explicadas são úteis
cisão. O segundo diz que o leitor deve para lidar tanto com as situações do co-
estar atento para considerar duas deci- tidiano quanto para as enfrentadas pelo
sões sucessivas como independentes, profissional de Inteligência.